BIOCOMBUSTÍVEIS NOS TRANSPORTES [AEA - 2004]

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    04Biocombustveis nos transportes: exploraras ligaes entre o sector da energia e o dostransportes

    Os biocombustveis esto a ser promovidos como meio de tornar mais ecolgico o sector dos transportes.Contudo, o impacte sobre o desenvolvimento de energias renovveis e a intensidade da utilizao de terrenosagrcolas devem ser tidos em conta aquando da avaliao dos benefcios ambientais globais.

    Vantagens da utilizaode biocombustveis nostransportes

    Os combustveis produzidos a partirde culturas energticas e de outrosmateriais orgnicos, os chamadosbiocombustveis, apresentamvrias vantagens para o sector dostransportes. Em primeiro lugar,

    podem contribuir para a reduo doaumento das emisses de dixidode carbono (CO2) com origem no

    sector e, desse modo, favorecer ocumprimento dos compromissosda UE no quadro do Protocolo deQuioto. Em segundo, ao reduzira dependncia dos transportesdo petrleo, presentemente de98 %, podem tambm contribuirpara a diversificao e o reforoda segurana do abastecimentode combustveis. Por ltimo, os

    biocombustveis podem constituirfontes alternativas de rendimentosem algumas zonas rurais da UE.

    Directiva da UE relativa abiocombustveis

    A Directiva de 2003 relativa abiocombustveis (1) visa umaumento significativo da utilizaodeste tipo de combustveisno sector dos transportes e,em particular, nos transportesrodovirios. Os Estados-Membros

    devero tomar medidas paraassegurar a substituio de 5.57 %de todos os combustveis fsseis(gasolina e gasleo) utilizadospara efeitos de transporte porbiocombustveis, at 2010.

    Para se ter uma ideia da dimensoda tarefa a realizar, refira-seque, em 2002, a proporo dosbiocombustveis no consumo totalde energia nos transportes na UEera de apenas 0.45 %. Todavia,

    apesar de os nmeros absolutosserem baixos, a produo debiocombustveis est a aumentarrapidamente. Em 1999, apercentagem destes combustveisna produo total era de apenas0.25 %, mas estimativas baseadasna capacidade de produoindicam que essa percentagempode atingir 1 % at 2004. Casosejam mantidas estas taxas decrescimento, a meta indicativa para2010 poder ser atingida em todos

    os pases da UE.

    Percentagem de biocombustveis no consumo total dos

    transportes 19942002

    0.0

    0.1

    0.2

    0.3

    0.4

    0.5

    %

    200220012000199919981997199619951994

    Fonte: Ver referncia (2).Nota: Os dados referentes a 2002 baseiam-se na produo de biocombustveis e no no seu

    consumo.

    Ano

    Agncia Europeia do Ambiente

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    04Quadro 1 Produo de biocombustveis para os transportes em

    2002, em 1 000 toneladas de petrleo equivalente

    Biodiesel Bioetanol Total

    Alemanha 401 401

    Frana 326 57 383

    Itlia 187 187

    Espanha 110 110

    Sucia 1 31 32

    ustria 22 22

    Dinamarca 9 9

    Reino Unido 3 3

    Total 949 198 1 147

    Fonte: Ver referncia (3).

    Cerca de dois teros dosbiocarburantes foram produzidosem Frana e na Alemanha, pasesem que o sistema fiscal encoraja asua utilizao. A Itlia e a Espanhaso tambm grandes produtores.

    Estando a Directiva a ter umefeito no sector dos transportes, importante alargar a perspectivasobre o seu impacto global.Dependendo das opes, no sas emisses de com origemna produo de energia e naagricultura podem aumentar, comoa produo de culturas energticaspara biocombustveis pode terincidncias na biodiversidade dasterras agrcolas. Esses efeitos

    secundrios devem ser tomadosem considerao aquando daavaliao dos benefcios ambientaisglobais para a sociedade. Estebriefing descreve os possveisimpactos noutros sectores.

    Produo de energia

    A converso das culturas(biomassa) em biocombustveispara os transportes gera menores

    economias e redues de gases

    decom efeito de estufa do queoutras utilizaes energticasda biomassa. A converso dabiomassa nos carburantesadequados necessita energia, oque supe, automaticamente,

    uma diminuio do rendimentoenergtico lquido. A ttulo decomparao, a combusto directade biomassa numa central elctricapara produo de electricidade significativamente mais eficienteem termos de rendimentoenergtico.

    A reconverso de terrasinicialmente consagradas produo de outras culturasenergticas para a produo de

    biocarburantes para os transportesno deve ser encorajada, dadoessas outras culturas energticaspossurem globalmente umpotencial de reduo das emissesde CO2 muito maior. Para alm domais, tal reconverso dificultariao respeito, por um lado, da metaindicativa de 12 % de energiaproduzida a partir de fontes deenergia renovvel no consumointerno bruto total de energia at2010 (4) e, por outro, das metas

    indicativas fixadas para a quota de

    produo de electricidade a partir

    de fontes de energia renovveis (5).

    Agricultura

    Nos pargrafos a seguir assume-seque as culturas necessrias paraa produo de biocombustveisso produzidas na Europa. Aimportao de biocombustveisou das plantas para a suaproduo reduzir ou eliminaros impactes ambientais abaixo

    descritos, embora suscite outrasquestes, como o impacto sobrea biodiversidade nos pases deproduo. Uma das possibilidadesidentificadas a importao emlarga escala de bioetanol do Brasile de outros pases.

    Alteraes na utilizao dossolos

    A Directiva relativa aos

    biocombustves tem influnciasobre a procura de uma srie deculturas na Europa: as oleaginosas,como a colza, o girassol e asoja, para transformao embiodiesel, e as amilceas, comoo trigo e a beterraba sacarina,que fornecem as matrias-primaspara a extraco do bioetanol, umsubstituto da gasolina.

    Tendo em conta as estruturasde preos actuais e a procura

    de alimentos na Europa e nomundo, o aumento da procurade biocombustveis s podeser satisfeito e, ainda assim,parcialmente, atravs da reduoda produo de alimentos apartir das potenciais plantasenergticas (6). A superfcie totaldo solo consagrado produode culturas, portanto, teria deaumentar. Estudos (7) indicam queas culturas energticas tero deocupar entre 4 % e 13 % do total

    da superfcie agrcola da UE dos 25

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    04Quadro 2 Necessidade de utilizao de terras para diferentes

    combinaes de culturas energticas

    Combinao EU-15*% EU-25*%

    100 % colza 10.011.1 8.49.4

    50 % colza e 50% trigo 9.015.5 7.613.1

    50 % beterraba sacarina e 50 % trigo 5.611.8 4.710.0

    50 % beterraba sacarina e 50 % biomassa florestal 4.86.4 4.15.4

    100 % biomassa florestal 6.59.1 5.57.7

    (dependendo da escolha da culturae do desenvolvimento tecnolgico)caso se queira atingir a metade 5.75 % de biocombustveiscolocados no mercado estabelecidana Directiva e se todas asmatrias-primas forem cultivadasno interior da UE.

    Em termos de ocupao dossolos, a cultura que possivelmenteocuparia a menor parcela seria acultura metade beterraba sacarina/metade biomassa florestal,enquanto que as mais intensivasseriam a colza, em cultura nica, eas culturas mistas contendo trigo.

    Neste contexto, importante notar,em relao capacidade produo,que, na Europa, a procura de diesel superior procura de gasolina. O

    mercado do biodiesel , portanto,mais forte do que o mercado dobioetanol. No entanto, as culturaspara a produo de biodiesel (acolza, por exemplo) necessitamgeralmente de mais terras paraproduzir a mesma quantidade deenergia (carburante).

    Tendo em conta a necessidade deaumentar a produo de outrasculturas energticas para respeitaras metas indicativas de energias

    renovveis acima referidas, a

    superfcie total necessria para asculturas energticas dever ser daordem dos 1128 % da superfcieagrcola total actual da UE dos 25(7).

    Os eventuais impactos de um talaumento de procura de terrasso abordados nos pargrafos

    seguintes.

    Impacto sobre as emisses dedixido de carbono

    Se as terras de pousio de longadurao forem utilizadas para aproduo de culturas energtica oua produo intensiva de alimentospara satisfazer a procura acrescidade terras, as grandes quantidadesde CO2 que sero emitidas sero

    suficientes, possivelmente,para anular por muitos anosos benefcios em termos dereduo das emisses de CO2decorrentes da mudana para osbiocombustveis. Isto explica-sepelo facto de os solos libertaremCO2 durante a mineralizao damatria orgnica, um processoque acelerado com a aragem. Ossolos que tm grandes quantidadesde matria orgnica, e esto nestecaso os prados e as terras de

    pousio, libertam mais CO2 (8).

    Impacto sobre a biodiversidade

    A UE fixou a si mesma o objectivode parar o processo de perdade biodiversidade na Europa at2010. A proteco dos terrenosagrcolas de grande valor naturalcaracterizados por uma agriculturapouco intensiva foi reconhecidacomo um factor crucial para aconsecuo de tal objectivo. Umrelatrio recente do Programa dasNaes Unidas para o Ambientee da AEA (9) ps em destaque

    a importncia desses terrenos eapontou para o declnio grave doestado de conservao dessesespaos.

    A eventual reconverso dosterrenos de agricultura extensivapara culturas energticas ou cultivointensivo de alimentos para darresposta ao aumento da procurade terras acarretar uma perda debiodiversidade dado que, na maiorparte dos casos, implicar padres

    de produo mais intensivos.No entanto, alguns sistemas deproduo de biocombustveis socompatveis com uma gesto dossolos respeitadora do ambiente,como caso do bioetanolproduzido a partir dos pradoscosteiros abandonados nos PasesBlticos.

    Concluses e trabalhoscomplementares

    As anlises em curso apontam paraalgumas concluses preliminarespara o desenvolvimento daproduo de plantas energticas:

    limitao da procura de terras.A utilizao menos intensiva deterras seria o cultivo combinadode beterraba sacarina ebiomassa florestal;

    explorao de solues win/win

    (satisfatrias do ponto de vista

    Fontes: Ver referncia (7).Nota: A gama indica as variaes estimadas da produtividade das culturas.

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    Agncia Europeia do AmbienteKongens Nytorv 61050 Copenhaga KDinamarca

    Tel. +45 33 36 71 00Fax +45 33 36 71 99

    Informaes: www.eea.eu.int/enquiriesStio na Internet: www.eea.eu.int

    econmico, social e ambiental),

    tais como a utilizao extensivade prados para a produode bioetanol a partir de erva,assim que estiveram disponveistecnologias;

    procura de alternativasmenos intensivas, tais comoa biomassa florestal, parasubstituir as culturas arveisque dominam actualmente omercado dos biocomb ustveis.

    A Agncia Europeia do Ambienteest a fazer um estudoaprofundado do impacte potencialda produo em larga escalade culturas energticas sobre autilizao das terras agrcolas, oshabitats agrcolas e a respectivabiodiversidade. Os resultadosdesse estudo serviro de base aavaliaes do impacte da directivados biocombustveis sobre aagricultura e a biodiversidade anvel dos Estados-Membros e da

    UE.

    Referncias

    (1) Directiva 2003/30/CE doParlamento Europeu e do Conselho,de 8 de Maio de 2003, relativa promoo da utilizao debiocombustveis ou de outroscombustveis renovveis nostransportes.

    (2) Eurostat, 2004: base dedados NewCronos (europa.eu.int/newcronos/) e EurObservER,2004: energies-renouvelables.

    org/observ-er/stat_baro/eufores/baro161.pdf.

    (3) European Biodiesel Board:http://www.ebb-eu.org/

    (4) COM (97) 599 final: livrobranco Energia para o futuro:fontes de energia renovveis.

    (5) Directiva 2001/77/CEdo Parlamento Europeu e doConselho, de 27 de Setembro

    de 2001, relativa promoo da

    electricidade produzida a partir de

    fontes de energia renovveis nomercado interno da electricidade.

    (6) World agriculture: Towards2015/2030 Uma perspectiva daFAO. Ed. Jelle Bruinsma. Earthscan,May 2003, Londres.

    (7) Peder Jensen (2003): ScenarioAnalysis of Consequence ofRenewable Energy Policies forLand Area Requirements forBiomass production Estudo

    para o Instituto de ProspectivaTecnolgica do CCI.

    (8) Well-to-wheels analysis offuture automotive fuels andpowertrains in the Europeancontext, CCI, Concawe, Eucar2004 http://ies.jrc.cec.eu.int/Download/eh/31

    (9) High nature value farmland:Characteristics, trends and policychallenges, PNUA e AEA, relatrio

    n. 1/2004 da AEA.

    Agncia Europeia do Ambiente

    PT