Biodiesel o Leo Residual

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  • UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLNDIA

    PROGRAMA MULTI - INSTITUCIONAL DE DOUTORADO EM

    QUMICA - UFG/UFMS/UFU

    TESE DE DOUTORADO

    BIODIESEL DE LEO RESIDUAL: PRODUO

    ATRAVS DA TRANSESTERIFICAO POR

    METANLISE E ETANLISE BSICA,

    CARACTERIZAO FSICO-QUMICA E

    OTIMIZAO DAS CONDIES REACIONAIS

    TATIANA APARECIDA ROSA DA SILVA

    UBERLNDIA, MG

    DEZEMBRO - 2011

  • UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLNDIA

    PROGRAMA DE PS-GRADUAO MULTI-INSTITUCIONAL

    DE DOUTORADO EM QUMICA - UFG/UFMS/UFU

    TESE DE DOUTORADO

    BIODIESEL DE LEO RESIDUAL: PRODUO ATRAVS DA

    TRANSESTERIFICAO POR METANLISE E ETANLISE

    BSICA, CARACTERIZAO FSICO-QUMICA E

    OTIMIZAO DAS CONDIES REACIONAIS

    TATIANA APARECIDA ROSA DA SILVA

    Tese apresentada ao Programa Multi-

    institucional de Doutorado em Qumica da

    UFG/UFMS/UFU, como parte das exigncias

    para obteno do ttulo de Doutora em Qumica

    Orientador: Prof. Dr. Manuel Gonzalo Hernndez-Terrones

    Co-Orientador: Prof. Dr. Waldomiro Borges Neto

    UBERLNDIA, MG

    DEZEMBRO 2011

  • Dados Internacionais de Catalogao na Publicao (CIP) Sistema de Bibliotecas da UFU MG, Brasil

    S586b

    Silva, Tatiana Aparecida Rosa da, 1982- Biodiesel de leo residual : produo atravs da transesterificao por metanlise e etanlise bsica, caracterizao fsico-qumica e otimizao das

    condies reacionais / Tatiana Aparecida Rosa da Silva. - 2011. 151 f. : il. Orientador: Manuel Gonzalo Hernndez-Terrones. Co-orientador: Waldomiro Borges Neto. Tese (doutorado) Universidade Federal de Uberlndia, Programa de Ps-Graduao em Qumica.

    Inclui bibliografia. 1. Qumica - Teses. 2. Biodiesel - Teses. I. Hernandez-Terrones, Manuel Gonzalo. II. Borges Neto, Waldomiro. III. Universidade Federal de Uberlndia. Programa de Ps-Graduao em Qumica. IV. Ttulo. CDU: 54

  • O Tempo Certo

    De uma coisa podemos ter certeza: de nada adianta querer

    apressar as coisas.

    Tudo vem ao seu tempo, dentro do prazo que lhe foi previsto.

    Mas a natureza humana no muito paciente.

    Temos pressa em tudo!

    A acontecem os atropelos do destino, aquela situao que voc

    mesmo provoca, por pura ansiedade de no aguardar o tempo

    certo.

    Mas algum poderia dizer:

    - Mas qual esse tempo certo?

    Bom, basta observar os sinais. Geralmente quando alguma coisa

    est para acontecer ou chegar at sua vida, pequenas

    manifestaes do cotidiano, enviaro sinais indicando o caminho

    certo. Pode e com certeza, o sincronismo se encarregar de colocar

    voc no lugar certo, na hora certa, no momento certo, diante da

    situao ou da pessoa certa!

    Basta voc acreditar, pois nada acontece por acaso!

  • Dedico mais esta vitria primeiro a

    Deus, ao meu amado filho Vincius,

    que veio como presente de Deus, ao

    meu marido Marco Polo e aos meus

    pais Joo e Ftima, vocs so a

    minha fortaleza para conseguir

    vencer!!!

    Amo vocs!!!

  • Agradecimentos

    Primeiramente, a Deus por me iluminar e me dar sade e foras para vencer

    sempre. Aos meus pais que sempre sonharam em ter uma filha doutora, eis aqui o fruto

    da excelente educao que vocs me deram.

    A voc prncipe da mame, obrigado por chegar nesta fase da minha vida, voc

    a minha alegria e inspirao. Ao meu esposo Marco Polo pela ajuda incondicional.

    Aos meus familiares que se orgulham da minha vitria.

    A todos que sempre torceram por mim, a Marildinha pelas palavras sbias e

    ditas nos dias e momentos certos, a ngela pelos conselhos sempre experientes, a

    Mayta pela ateno e boa vontade.

    Aos meus amigos pela admirao, como Vanessa, Silvia, Sabrina, Diego e em

    especial ao Douglas que sempre me apoiou e ajudou muito para concluso deste

    trabalho.

    Aos companheiros LABIQ-UFU pelo apoio e prestatividade. Aos colegas de

    laboratrio ter sido sempre companheiros e pelos momentos de brincadeira no decorrer

    dos acertos e erros. Aos funcionrios e companheiros do IQUFU pela presteza.

    Aos meus professores que contriburam para minha formao e que sempre

    deram conselhos, em especial ao meu orientador Manuel por sempre acreditar na minha

    competncia, a Waldomiro pelas contribuies e a eterna Tia ngela pelo exemplo de

    ser humano que ela .

    Ao CNPQ pela bolsa concedida.

    E a todos que direta ou indiretamente contriburam para este trabalho que foi

    puro produto de um grande esforo e que gerou um brilhante resultado e imensos

    aprendizados.

    OBRIGADA!!!

  • NDICE GERAL

    RESUMO .................................................................................................................. i

    ABSTRACT ............................................................................................................ iii

    LISTA DE SIGLAS ................................................................................................. iv

    LISTA DE TABELAS .............................................................................................. v

    LISTA DE FIGURAS ............................................................................................. vii

    1. JUSTIFICATIVAS ............................................................................................... 1

    2. INTRODUO .................................................................................................... 3

    2.1. Problemtica do Petrleo ................................................................................ 3

    2.2. Biocombustveis e Seu Histrico ..................................................................... 6

    2.3. Programas Scio-Econmicos de Incentivo Produo de Biodiesel .............. 8

    2.3.1. Programa Nacional de Produo de Biodiesel ............................................. 9

    2.3.2. Selo Combustvel Social e Agricultura Familiar ........................................ 10

    2.4. Biodiesel ....................................................................................................... 11

    2.5. Especificao do Biodiesel e Suas Propriedades ............................................ 13

    2.6. Cenrio do Biodiesel no Brasil e Mundo ....................................................... 14

    2.7. Matrias Primas Para a Produo de Biodiesel .............................................. 17

    2.7.1. leos e Gorduras ...................................................................................... 17

    2.7.2. Principais Matrias Primas Utilizadas no Brasil ........................................ 19

    2.8. Utilizao do leo Residual para Produo de Biodiesel ............................... 23

    2.8.1. Descarte do leo Residual ........................................................................ 23

    2.8.2. Biodiesel a Partir de leo Residual ........................................................... 26

    2.9. Processos de Produo de Biodiesel .............................................................. 29

    2.9.1. Reao de Transesterificao.................................................................... 30

    2.9.2. - Mecanismo para a Transesterificao Alcalina ....................................... 32

    2.9.3. - Mecanismo para a Transesterificao e Esterificao cida ................... 34

    2.9.4. Biodiesel Produzido por Catlise Homognea Utilizando leo Residual .. 36

    2.9.5. Variveis da Transesterificao que Influenciam no Rendimento Reacional

    ................................................................................................................. 43

    2.9.5.1. Composio em cidos graxos ............................................................... 43

    2.9.5.2. Razo molar, Temperatura, Tempo e Rotao ........................................ 44

    2.9.5.3. Tipos de Catalisadores. .......................................................................... 45

  • 2.9.5.4. Umidade ................................................................................................ 46

    2.9.5.5. ndice de Acidez. ................................................................................... 47

    2.9.5.6. Tipos de lcool ..................................................................................... 49

    2.10. Planejamento Experimental Estatstico .......................................................... 50

    2.11. Coeficiente Expanso Trmica e Densidade .................................................. 52

    3. OBJETIVOS ....................................................................................................... 54

    4. METODOLOGIA EXPERIMENTAL ................................................................. 55

    4.1. Reagentes, Materiais e Equipamentos ............................................................... 55

    4.2. Produo do Biodiesel ...................................................................................... 55

    4.2.1. Catlise Alcalina ...................................................................................... 56

    4.2.2. Catlise cida .......................................................................................... 57

    4.3. Estudo da Secagem do Biodiesel ...................................................................... 57

    4.4. Caracterizao Fsico-Qumica para o leo Residual e para o Biodiesel ........... 58

    4.4.1. Determinao da cor ASTM ..................................................................... 59

    4.4.2. ndice de Acidez....................................................................................... 59

    4.4.3. ndice de Perxidos .................................................................................. 60

    4.4.4. ndice de Saponificao ............................................................................ 61

    4.4.5. Teor de gua ........................................................................................... 62

    4.4.6. Densidade 200C ..................................................................................... 62

    4.4.7. Viscosidade Cinemtica a 40C ................................................................ 63

    4.4.8. Ponto de Fulgor ........................................................................................ 64

    4.4.9. Estabilidade Oxidao ........................................................................... 65

    4.4.10. Determinao do resduo de carbono ...................................................... 65

    4.4.11. Glicerina Livre ....................................................................................... 66

    4.5. Algoritmo e Coeficiente de Expanso Trmica ................................................. 67

    4.6. Otimizao das condies reacionais ................................................................ 67

    4.7. Caracterizao por Anlise Trmica, FTIR e Cromatografia ............................. 68

    4.7.1. Anlise Trmica - TGA/DTA ................................................................... 68

    4.7.2. Espectroscopia no Infravermelho com Transformada de Fourier (FTIR) ... 69

    4.7.3. Cromatografia de Camada Delgada .......................................................... 69

    4.7.4 Cromatografia Gasosa ............................................................................... 70

    5. RESULTADOS E DISCUSSO ......................................................................... 71

    5.1. Caracterizao fsico-qumica do leo residual ................................................. 71

  • 5.2. Caracterizaes fsico-qumicas dos biodieseis obtidos na transesterificao

    alcalina.................................................................................................................... 72

    5.3. Estudo da Secagem do leo Residual e do Biodiesel ........................................ 76

    5.4. Coeficiente de Dilatao Trmica e Algoritmo Matemtico .............................. 79

    5.4.1. Determinao do Coeficiente de Dilatao Trmica.................................. 80

    5.4.2 Determinao do algoritmo para a correo da densidade ....................... 84

    5.4.3. Aplicao do Algortmo e sua Importncia Financeira .............................. 88

    5.5. Otimizao da Catlise Bsica da Rota Etlica .................................................. 90

    5.6. Otimizao da Catlise Bsica Rota Metlica .................................................... 97

    5.7. Estudo do Rendimento da Reao Atravs da Variao do ndice de Acidez .. 103

    5.8. Catlise cida Metlica .................................................................................. 106

    5.9. Caracterizao dos Biodieseis Produzidos por TGA, FTIR e Cromatografia ... 109

    5.9.1. Anlise Trmica (TGA e DTA) .............................................................. 109

    5.9.2. Espectroscopia do Infravermelho com Transformada de Fourier (FTIR) . 112

    5.9.3. Cromatografias ....................................................................................... 113

    5.9.3.1. Cromatografia de Camada Delgada(CCD1) .......................................... 113

    5.9.3.2. Cromatografia Gasosa (CG) ................................................................ 114

    6. CONCLUSES E PERSPECTIVAS................................................................. 116

    7. REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ............................................................... 119

    8. ANEXOS .......................................................................................................... 131

  • i

    RESUMO

    Atualmente os problemas ambientais requerem uma tomada de atitude por parte

    da humanidade no sentido de minimizar a poluio ambiental. Uma maneira de

    desacelerar tal perturbao a utilizao de combustveis menos poluentes, como os

    biocombustveis. Dentro dessa vertente este trabalho contribui atravs do estudo da

    produo de biodiesel atravs do reaproveitamento do leo de fritura, pois o descarte

    indevido do leo gera resduos slidos prejudiciais ao meio ambiente.

    No presente trabalho descreve-se a obteno de biodiesel proveniente da

    transesterificao do leo de fritura atravs da catlise bsica, via rotas etlica e

    metlica. O biodiesel teve suas propriedades fsico-qumicas estudadas e suas variveis

    de reao otimizadas.

    Atravs da tcnica de coeficientes de dilatao trmica dos biodieseis metlicos e

    etlicos e os correspondentes algoritmos matemticos, para cada um dos biodieseis pode

    observar diferenas significativas entre os modelos matemticos estabelecidos

    confrontados com os resultados pressupostos pela norma EN 14214.

    Para a otimizao das condies reacionais estudo-se as variveis: razo molar

    (RM), rotao, tempo de reao, tipo de catalisador, concentrao de catalisador e

    temperatura. Para o biodiesel metlico as duas ltimas variveis citadas, so as que

    revelaram maior importncia operacional, enquanto que para o biodiesel etlico a

    concentrao de catalisador e o tempo so mais relevantes. As condies de rendimento

    mximo determinado pelo planejamento fatorial foram: hidrxido de potssio (KOH)

    como catalisador; RM de lcool:leo 7:1; rotao de 80 rpm; concentrao do

    catalisador de aproximadamente 1,7% (m/m); temperatura de 48 oC, para o biodiesel

    metlico, e 30 oC, para o biodiesel etlico, e tempo de reao de 30 min, para biodiesel

    etlico, e 60 min, para biodiesel metlico. O processo apresenta uma tolerncia para as

    variveis de maior influncia sobre a reao, o que significa que pequenas variaes

    quantitativas individuais das condies no afetam significativamente o rendimento

    global. O teor de cidos graxos livres altera o rendimento da reao, sendo a etanlise

    mais sensvel a esta varivel.

    Quanto s caracterizaes feitas ambos biodieseis satisfizeram as exigncias da

    Agncia Nacional de Petrleo. A anlise termogravimtrica mostrou a perda de massa

  • ii

    juntamente com a volatilizao e decomposio da amostra. O infravermelho revelou as

    principais bandas referentes aos steres metlicos e etlicos.

    A cromatografia confirmou a transformao dos triglicerdeos em steres, com

    alto teor de steres de 99,99%, sendo a principal composio em steres do cido

    linolico de aproximadamente 46%, semelhante ao leo de soja.

    PALAVRAS-CHAVE: Biodiesel, leo residual e Otimizao

  • iii

    ABSTRACT

    Today's environmental problems require action on the part of mankind to

    minimize environmental pollution. One way to slow down such disturbance is the use of

    "clean" fuels like biofuels. Within this scope this work contributes by studying the

    production of biodiesel through the reuse of frying oil, which generates harmful waste.

    The present work was the transesterification of biodiesel from used frying oil by

    basic catalysis, via ethyl and methyl routes. Biodiesel has its physico-chemical variables

    studied and their optimal reaction.

    Through the technique of thermal expansion coefficients of methyl and ethyl

    biodieseis and the corresponding mathematical algorithms for each of biodieseis can

    observe significant differences between the mathematical models established

    assumptions compared to the results by EN 14214.

    The optimization of reaction conditions studied the variables: molar ratio (RM),

    speed, reaction time, catalyst type, catalyst concentration and temperature. Methylic

    biodiesel from frying oil (BMR) for the last two mentioned are the ones that were more

    operational importance, while for the ethylic biodiesel from frying oil (BER) of catalyst

    concentration and time are more relevant. The conditions of maximum yield were

    determined by factorial design: potassium hydroxide (KOH) as catalyst; RM de

    7:1 alcohol:oil; rotation of 80 rpm, catalyst concentration of about 1.7% (m/m),

    temperature 48 C for the BMR, and 30 oC for the BER, and reaction time of

    30 minutes for BER, and 60 minutes for BMR. The process sets a tolerance for the

    variables of greatest influence on the reaction, which means that small quantitative

    variations of individual conditions do not affect the overall yield. The content of free

    fatty acids changes the reaction yield, ethanolysis being more sensitive to this variable.

    The characterizations made to specifications for both biodiesel met the

    requirements of National Petroleum Agency (ANP). The thermogravimetric analysis

    showed the weight loss along with the volatilization and decomposition of the sample.

    The infrared showed the main bands related to methyl and ethyl esters.

    Chromatography confirmed the transformation of triglycerides into esters with

    high ester content of 99.99%. As the main composition of linoleic acid esters of about

    46%, similar to soybean oil.

    KEYWORDS: Biodiesel, Residual oil and Optimization

  • iv

    LISTA DE SIGLAS

    ABIOVE Associao Brasileira das Industrias de leos Vegetais

    AGL cidos graxos livres

    ANP Agncia Nacional do Petrleo

    AOCS American Oil Chemists Society

    ASTM American Society for Testing and Materials

    BER Biodiesel etlico de leo residual

    BMR Biodiesel metlico de leo residual

    CCD1 Cromatografia de camada delgada

    CCD2 Delineamento de composto central

    d Densidade final

    d0 Densidade inicial

    DTAAnlise Trmica Diferencial

    EN Norma europia

    FTIREspectroscopia do Infravermelho com Transformada de Fourier

    CG Cromatografia Gasosa

    IA ndice de acidez

    LABIQ-UFU Laboratrio de Biocombustveis - Universidade Federal de Uberlndia

    MAPA Ministrio da Agricultura, Pecuria e Abastecimento

    OR leo residual

    P&D Pesquisa e Desenvolvimento

    PNPB Programa Nacional de Produo de Biodiesel

    PR-LCOOL Programa Nacional do lcool

    RM Razo Molar

    T Temperatura final

    T0 Temperatura inicial

    TGA Anlise Termogravimtrica

    L Litros

  • v

    LISTA DE TABELAS

    Tabela 1. Qualidade do biodiesel versus desempenho do motor . ................................ 14

    Tabela 2. Composio tpica de alguns leos e gorduras, em cidos graxos. ............... 18

    Tabela 3. Caractersticas de algumas culturas de oleoginosas e gordura animal com

    potncial de uso energtico ....................................................................... 19

    Tabela 4. Especificaes do leo diesel e do biodiesel do oleo de frituras. .................. 27

    Tabela 5. Propriedades complementares atribudas ao biodiesel em comparao ao leo

    diesel comercial. ....................................................................................... 28

    Tabela 6. Parmetros e normas para caracterizao fsico-qumica de biodieseis ........ 58

    Tabela 7. Propriedades fsico-qumicas do leo residual ............................................. 71

    Tabela 8. Propriedades fsico-qumicas do biodiesel metlico obtido por

    transesterificao alcalina do leo residual. ............................................... 73

    Tabela 9. Propriedades fsico-qumicas do biodiesel etlico obtido por transesterificao

    alcalina do leo residual. ........................................................................... 74

    Tabela 10. Determinao do teor de umidade do BMR e BER refinado submetidos a

    mtodos utilizando sais secantes. .............................................................. 76

    Tabela 11. Determinao do teor de umidade do BMR e BER refinado submetidos a

    mtodos utilizando estufa e rota evaporador. ............................................. 78

    Tabela 12. Valores medidos da densidade em funo da temperatura do biodiesel

    metlico e etlico de leo residual, BMR e BER. ....................................... 80

    Tabela 13. Valores usados em cada nvel das variveis estudadas na transesterificao

    do BER no planejamento experimental ..................................................... 91

    Tabela 14. Matriz do planejamento fatorial 26-2

    para o BER ...................................... 91

    Tabela 15. Matriz do planejamento composto central para o BER .............................. 93

    Tabela 16. Condies operacionais para a reao de transesterificao etlica do OR.. 96

    Tabela 17. Caracterizao fsico-qumica do BER otimizado. ..................................... 96

    Tabela 18. Valores usados em cada nvel das variveis estudadas na transesterificao

    do BMR no planejamento experimental. ................................................... 97

    Tabela 19. Matriz do planejamento fatorial 25-1

    para o BMR. ..................................... 97

    Tabela 20. Matriz do planejamento composto central para o BMR. ............................ 99

    Tabela 21. Condies operacionais para a reao de transesterificao metlica do OR

    ............................................................................................................... 102

  • vi

    Tabela 22. Caracterizao fsico-qumica do BMR otimizado. .................................. 102

    Tabela 23. Rendimento da reao de transesterificao em funo do ndice de acidez

    ............................................................................................................... 103

    Tabela 24. Valores usados em cada nvel das variveis estudadas na esterificao do

    leo residual no planejamento experimental ............................................ 106

    Tabela 25. Matriz do planejamento fatorial 26-2

    para o esterificao do leo residual

    ............................................................................................................... 107

    Tabela 26. Valores escolhidos para esterificao do leo residual. ............................ 108

    Tabela 27 . Composio percentual de cidos graxos nas amostras de biodiesel. ...... 115

    Tabela 28 . Composio percentual de cidos graxos para o leo de soja. ................. 115

  • vii

    LISTA DE FIGURAS

    Figura. 1. Projeo da demanda energtica mundial at 2015 ....................................... 5

    Figura. 2. Oferta Mundial de Energia por combustvel em 2010. Total: 11,741 milhes

    de toneladas equivalentes de petrleo. ......................................................... 5

    Figura. 3. Grfico das fontes de energia renovvel e no renovvel no Brasil 2010 .... 15

    Figura. 4. Previso evoluo do marco regulatrio do biodiesel no Brasil................... 15

    Figura. 5. Exemplos de cidos graxos de ocorrncia natural ....................................... 18

    Figura 6. Principais Matrias-Primas Utilizadas na Produo de Biodiesel no Brasil em

    2010.......................................................................................................... 20

    Figura 7. Capacidade de Processamento de leos Vegetais, por Unidade da Federao,

    2008 ......................................................................................................... 21

    Figura 8 . Produo de leos vegetais e tendncias regionais brasileiras ..................... 22

    Figura 9 . Reao de transesterificao dos triglicerdeos com alcois ........................ 30

    Figura 10. Mecanismo da transesterificao metanlica do leo catalisada por base . . 32

    Figura 11. Hidrlise dos triglicerdeos para formar AGL . ......................................... 33

    Figura 12. Mecanismo de saponificao dos triglicerdeos ........................................ 33

    Figura. 13. Mecanismo de reao de transesterificao metlica via catlise cida ...... 34

    Figura. 14. Mecanismo de reao de esterificao metlica ......................................... 35

    Figura. 15. Esquema geral da produo de biodiesel via catalise bsica ...................... 55

    Figura. 16. Colormetro Orbeco-Hellige para determinao de cor ASTM ................. 59

    Figura. 17. Aparelho de Karl Fischer utilizado para determinao de gua nos leos e

    biodieseis .................................................................................................. 62

    Figura. 18. Analisador de viscosidade automtico utilizado para determinao de

    viscosidade do leo e dos biodieseis.......................................................... 63

    Figura. 19. Aparelho para determinao do Ponto de fulgor ....................................... 64

    Figura. 20. (A) Analisador de estabilidade oxidativa marca Metrohm; (B) Esquema de

    funcionamento do Biodiesel Rancimat 873 ............................................... 65

    Figura. 21. Analisador de densidade automtico utilizado para determinao de

    densidade nos leos e biodieseis ............................................................... 67

    Figura. 22. Equipamento para anlise de TGA e DTA ................................................ 68

    Figura. 23. (A) Espectrofotmetro FTIR e (B) acessrio de ATR ............................... 69

    Figura. 24. Cromatgrafo a gs da Agilent Technologies ........................................... 70

    Figura. 25. Processo de produo de biodiesel de leo residual .................................. 72

  • viii

    Figura. 26. Comparativo de cor entre o leo residual e o biodiesel formado ............... 73

    Figura. 27. Porcentagem de gua retirada em cada processo para o BMR ................... 77

    Figura. 28. Porcentagem de gua retirada em cada processo para o BER .................... 78

    Figura. 29. Porcentagem de gua retirada em cada processo para os biodieseis........... 79

    Figura 30. Grfico para determinao do coeficiente de dilatao trmica do biodiesel

    etlico. ....................................................................................................... 81

    Figura 31. Resduo versus valor previsto para os dados da Figura 30. ......................... 82

    Figura. 32. Grfico para determinao do coeficiente de dilatao trmica do biodiesel

    metlico..................................................................................................... 83

    Figura. 33. Resduo versus valor previsto para os dados da Figura 32 ......................... 83

    Figura 34. Regresso linear da densidade versus temperatura do biodiesel (A) metlico

    e (B) etlico de leo residual...................................................................... 85

    Figura. 35. Resduo versus valor previsto para os dados do biodiesel metlico de OR . 86

    Figura. 36. Resduo versus valor previsto para os dados do biodiesel etlico de OR .... 86

    Figura. 37. Distribuio dos resduos em torno da reta que indica normalidade do

    biodiesel metlico ...................................................................................... 87

    Figura 38. Distribuio dos resduos em torno da reta que indica normalidade do

    biodiesel etlico ......................................................................................... 87

    Figura 39. Grfico de pareto resultante do planejamento fatorial fracionado no

    rendimento da reao de transesterificao etlica do leo residual ............ 92

    Figura 40. Rendimento percentual do BER observado no experimento vs valor previsto

    no modelo de regresso ............................................................................. 94

    Figura 41. Superfcie de resposta para o tempo vs a concentrao de catalisador. ....... 95

    Figura 42. Grfico de contorno para o tempo vs a concentrao de catalisador. .......... 95

    Figura 43. Grfico de pareto resultante do planejamento fatorial fracionado no

    rendimento da reao de transesterificao metlica do leo residual. ........ 98

    Figura 44. Rendimento percentual do BMR observado no experimento vs valor

    previsto no modelo de regresso. ............................................................ 100

    Figura 45. Superfcie de resposta para concentrao de catalisador vs temperatura.

    ............................................................................................................... 101

    Figura 46. Grfico de contorno para a concentrao de catalisador vs temperatura. . 101

    Figura 47. Grfico do rendimento da reao de transesterificao do BMR vs IA do

    leo usado .............................................................................................. 104

  • ix

    Figura 48. Grfico do rendimento da reao de transesterificao do BER vs IA do leo

    usado ..................................................................................................... 105

    Figura 49. Grfico de pareto resultante do planejamento fatorial fracionado na

    porcentagem de esterificao do leo residual ........................................ 108

    Figura 50. Grfico da TGA e DTA para o leo residual. ........................................... 110

    Figura 51. Grfico da TGA e DTA para o biodiesel metlico. ................................... 110

    Figura 52. Grfico da TGA e DTA para o biodiesel etlico. ...................................... 111

    Figura 53. Espectro do FTIR para o leo residual e os biodieseis. ........................... 113

    Figura 54. Cromatografia de camada delgada para o leo (1), BMR (2) e o BER (3).

    ................................................................................................................................. 114

  • 1

    1. JUSTIFICATIVAS

    Nos ltimos anos a procura por combustveis renovveis tem aumentado muito,

    seja pelo crescente preo do petrleo ou pela preocupao com o meio ambiente, devido

    s mudanas climticas induzidas pelo uso de combustveis fsseis, tornando as fontes

    renovveis de energia extremamente importantes 1-4

    .

    Neste contexto, o biodiesel assume um papel de destaque, principalmente no

    Brasil, apresentando vantagens econmicas, sociais e ambientais. Em termos

    econmicos, a vantagem da rota etlica em relao metlica para a produo de

    biodiesel a oferta do lcool etlico em todo territrio nacional, possibilitando com isso

    custos diferenciados de fretes para o abastecimento do etanol. Tambm com etanol tm-

    se um combustvel ecolgico correto, com ambas as fontes lcool e leo sendo

    renovveis. Apesar disso, a produo de biodiesel com metanol mais rpida (ocorre a

    separao da glicerina dos steres com maior facilidade) e com menor custo operacional

    5-6.

    No campo ambiental, apesar do aumento da emisso dos compostos

    nitrogenados, o biodiesel proporciona a reduo de poluentes como materiais

    particulados, monxido de carbono, hidrocarbonetos aromticos policclicos (compostos

    cancergenos) e xidos de enxofre em relao ao diesel do petrleo. O papel do

    biodiesel trazer benefcios, contribuindo ainda para a longevidade e eficincia dos

    motores a diesel, atendendo a mercados que requisitem um combustvel mais limpo e

    seguro 1-6

    .

    Assim, a reduo do custo da matria-prima utilizada na produo de biodiesel

    torna-se essencial. Matrias-primas baratas como leos e gorduras residuais tm atrado

    a ateno de produtores de biodiesel devido ao seu baixo custo. A reciclagem do leo de

    fritura como biocombustvel no somente retiraria um composto indesejado do meio

    ambiente, mas tambm permitiria a gerao de uma fonte de energia alternativa,

    renovvel e menos poluente, constituindo-se, assim, em um forte apelo ambiental. Por

    esta razo, o biodiesel tem se tornado um dos mais importantes biocombustveis, no

    apenas devido produo oriunda de diversas oleaginosas, mas principalmente pela

    anlise da possibilidade de reaproveitamento de gordura animal (sebo) ou leos

    residuais (leo de cozinha usado) para obteno do leo combustvel, transformando

    o que seria resduo descartvel em fonte de energia.

  • 2

    O emprego de leos usados para produo de biodiesel transforma esse

    importante resduo em matria-prima, uma vez que representa uma alternativa

    potencialmente barata e ambientalmente correta, devido origem renovvel do leo

    vegetal, alm de ter destino nobre, pois no so descartados de maneira incorreta.

    Embora tenha valor agregado, parte desses leos encaminhada a rede de esgoto,

    lixes, aterros sanitrios, solos e cursos dgua, o que gera problemas tanto para a fauna

    quanto para a flora. Isto quer dizer que, ao analisar os efeitos causados ao meio

    ambiente, possvel aliar o destino correto do leo residual produo de biodiesel, que

    consideravelmente menos poluente que o leo diesel 7.

    Diante de todo este contexto que veio a motivao para a realizao deste

    trabalho que envolve desde a etapa da reciclagem do leo residual de fritura, passando

    pela produo e caracterizao do biodiesel com essa matria-prima e, por fim, sua

    utilizao em um motor diesel que aciona um gerador de eletricidade.

    Faz parte deste trabalho tambm a determinao do algoritmo para correo da

    densidade e do coeficiente de expanso trmica, uma vez que so especficos de cada

    matria-prima como comprovado por trabalhos do grupo LABIQ-UFU.

    Na reao de metanlise e etanlise, a otimizao das condies reacionais

    tambm foi conduzida a fim de determinar qual a condio experimental a ser utilizada

    nos processos de produo. Tal informao importante, tendo em vista que a matria

    prima utilizada pode ter composio variada, sendo necessrio o estudo do processo.

    Devido s transformaes que os leos vegetais sofrem durante a coco de

    alimentos, suas propriedades fsico-qumicas so alteradas, o que pode influenciar nas

    reaes qumicas de converso de triacilglicerdeos em steres (biodiesel) e modificar a

    qualidade do combustvel. Por isso, questiona-se a eficcia das tecnologias atuais para a

    produo de biodiesel de leos residuais e desenvolvido um estudo com relao a

    variao da acidez do leo e o rendimento da reao.

    O uso deste resduo como biocombustvel, tambm se apresenta em nmeros

    incipientes no Brasil, sendo que apenas algumas cidades realizam algum tipo de coleta e

    aproveitamento deste resduo para fins energticos. latente a necessidade de uma

    ampla conscientizao tanto da populao, quanto dos empresrios para que o leo

    usado comece a ser aproveitado em larga escala para a fabricao de biodiesel, assim

    como forma de se evitar os impactos ambientais advindos da incorreta destinao do

    leo usado.

  • 3

    2. INTRODUO

    2.1. Problemtica do Petrleo

    Durante os ltimos 25 anos, o consumo de petrleo em todo o mundo tem

    aumentado constantemente, resultado dos melhores padres de vida, aumento do

    transporte terrestre, e aumento do uso de plsticos e outros petroqumicos 1.

    Em 1985, o total de petrleo consumido em todo o mundo foi de 2.807 milhes

    de toneladas, mas em 2008 atingiu 3.928 milhes de toneladas com uma taxa mdia de

    crescimento anual de quase 1,5%. No entanto, o petrleo uma fonte finita de

    combustvel que est rapidamente se tornando mais escasso e mais caro. No final de

    2008, de acordo com reviso estatstica de energia anual do mundo, as reservas de

    petrleo foram estimadas em 1,7 1011

    toneladas, com uma reserva/produo (R / P) de

    42 anos. Alm disso, produtos base de petrleo so uma das principais causas de

    liberao de dixido de carbono (CO2) para a atmosfera 2, 3

    .

    O mercado de petrleo foi marcado por dois sbitos desequilbrios entre oferta e

    demandas mundiais conhecidos como Primeiro e Segundo Choques do Petrleo na

    dcada de 70. Em resposta a estas crises, o mercado sentiu a necessidade de diminuir a

    dependncia do petrleo, levando ao investimento no desenvolvimento de tecnologia de

    produo e uso de fontes alternativas de energia. No incio do ano 2000, houve uma alta

    do petrleo no mercado internacional, e ao final do ano passado, este atingiu valores

    acima de US$150,00 o barril. Por isso, as fontes de energia renovvel assumiram papel

    crescente na matriz energtica mundial 5, 6

    .

    Hoje, o setor de transportes em todo o mundo quase totalmente dependente dos

    combustveis derivados do petrleo. Um quinto das emisses globais de CO2 gerado

    pelo setor dos transportes, que responsvel por cerca de 60% do consumo global de

    petrleo. No mundo, havia cerca de 806 milhes de carros e caminhes leves na estrada

    em 2007. Esses nmeros so projetados para aumentar para 1,3 bilhes em 2030 e mais

    de 2000 milhes de veculos at 2050 2.

    Este crescimento pode afetar a estabilidade dos ecossistemas e do clima global

    assim como as reservas mundiais de petrleo. Existem programas de investigao para

    reduzir a dependncia dos combustveis fsseis pelo uso de alternativas e fontes de

  • 4

    energia sustentvel e, assim aumentar o tempo que os combustveis fsseis continuaro

    a estar disponveis 3, 4

    .

    O transporte de cargas brasileiro apoiado, principalmente, em motores

    movidos a diesel, por via rodoviria. O diesel um combustvel derivado do petrleo,

    constitudo principalmente de hidrocarbonetos de cadeia longa e, em baixas

    concentraes de enxofre, nitrognio e oxignio 5.

    No Brasil se consome cerca de 40 bilhes de litros de diesel por ano, o potencial

    para o mercado de biodiesel de 800 milhes de litros, tendo a capacidade para

    consumir 2 bilhes de litros anuais at 2013. Para o Brasil, alm de reduzir a

    dependncia em relao ao petrleo, a produo do biocombustvel fortalece o agro

    negcio e cria um novo mercado para leos vegetais e gorduras animais 6.

    O consumo de combustveis fsseis derivados do petrleo apresenta um impacto

    significativo na qualidade do meio ambiente. A poluio do ar, as mudanas climticas,

    os derramamentos de leo e a gerao de resduos txicos so resultados do uso e da

    produo desses combustveis. A poluio do ar das grandes cidades , provavelmente,

    o mais visvel impacto da queima dos derivados de petrleo.

    A energia renovvel tem se destacado nos ltimos dez anos devido ao seu

    potencial para substituir combustveis fsseis, especialmente para o transporte. Fontes

    de energia renovveis como a energia solar, energia elica, energia hdrica, e energia da

    biomassa e dos resduos tm sido desenvolvidas com sucesso e utilizadas por diferentes

    naes para limitar o uso de combustveis fsseis 7.

    A Figura 1 apresenta a projeo de demanda mundial de energia em um futuro

    prximo indicando que h uma necessidade urgente de encontrar novas fontes de

    energias renovveis para garantir a segurana energtica no mundo 8.

  • 5

    Figura. 1. Projeo da demanda energtica mundial at 2015 7.

    Atravs de um estudo recente da Agncia Internacional de Energia (AIE),

    apenas a energia produzida a partir de fontes renovveis e de resduos tem maior

    potencial entre outros recursos renovveis 9, como mostrado na Figura.2. Combustveis

    renovveis e resduos representaram 10,1%, em comparao com 2,2% de energia

    hidreltrica e 0,6% outros (includo geotrmica, vento solar e calor). Assim, prev-se

    que a energia renovvel a partir de combustveis, como o biodiesel, vai entrar no

    mercado de energia intensamente at 2015, para diversificar as fontes de energia global.

    Figura. 2. Oferta Mundial de Energia por combustvel em 2010. Total: 11,741 milhes

    de toneladas equivalentes de petrleo7.

  • 6

    Dentre as fontes de biomassa mais adequadas e disponveis para a consolidao

    de programas de energia renovvel, os leos vegetais tm sido investigados no s pelas

    suas propriedades, mas tambm por representarem alternativa para a gerao

    descentralizada de energia, atuando como forte apoio agricultura familiar, criando

    melhores condies de vida (infraestrutura) em regies carentes, valorizando

    potencialidades regionais e oferecendo alternativas a problemas econmicos e scio-

    ambientais de difcil soluo 10

    .

    Como uma alternativa para combustveis de transporte baseados em petrleo, os

    biocombustveis podem ajudar a reforar a segurana energtica e reduzir as emisses

    dos gases com efeito estufa e poluentes do ar urbano. Vrias so as experincias

    realizadas com combustveis alternativos 1-13

    , comprovando a preocupao de

    pesquisadores, governos e sociedade em geral com o eventual esgotamento das reservas

    petrolferas e com a questo ambiental.

    2.2. Biocombustveis e Seu Histrico

    Sobre o aspecto da origem dos combustveis, existem dois tipos que podem ser

    citados: os renovveis e os no renovveis. Sendo os combustveis no renovveis

    aqueles originados do petrleo, produto de origem fssil, a exemplo da gasolina, diesel,

    gs liquefeito de petrleo e querosene de aviao. Os combustveis nucleares tambm

    so tidos como no renovveis. J os combustveis renovveis ou bicombustveis tm

    origem na biomassa, isto , no conjunto de produtos e resduos agrcolas, das florestas e

    de indstrias correlatas. Dentre os bicombustveis pode-se citar a madeira, o carvo de

    madeira, o lcool combustvel e o biodiesel de oleaginosas e mais recentemente o etanol

    vindo da cana de acar. O grande benefcio dos combustveis renovveis em relao

    aos combustveis fsseis a preservao que trazem ao meio ambiente, que por no

    serem agressivos poluem menos. Por outro lado, faz-se necessrio avaliar a questo do

    desmatamento causado pelas usinas processadoras de biomassa 10,11

    .

    O processo para fazer combustvel a partir da biomassa usado desde 1800

    praticamente o mesmo usado na atualidade. Em 1898, quando Rudolph Diesel

    demonstrou pela primeira vez seu motor de ignio por compresso na Exibio

    Mundial em Paris, ele usou leo de amendoim, aquele que seria o biodiesel original.

  • 7

    Os leos vegetais foram usados nos motores a diesel at a dcada de 1920 quando uma

    alterao foi feita nos motores, possibilitando o uso de um resduo do petrleo que

    atualmente conhecido como diesel ou petrodiesel 11

    .

    Com os conflitos econmicos que abalaram o mundo, na dcada de 30,

    retomaram-se as pesquisas de combustveis a base de leos vegetais. Um desses

    importantes avanos tecnolgicos foi a transesterificao de triglicerdeos (TG) via

    metlica e etlica, cuja patente "Procd de transformation d'huiles vgtales em vue de

    leurutilisation comme carburants" foi requerida pelo belga Charles George Chavanne,

    em 1937. O objetivo desta patente era transformar o leo vegetal em ster

    (metlico/etlico) de cidos graxos de cadeia longa, para aproveit-lo como insumo

    energtico nos motores diesel 12

    .

    Como consequncia, o pesquisador Chavanne tornou possvel, um ano depois de

    requerida a patente, em 1938, o percurso de mais de dois mil quilmetros do primeiro

    nibus utilizando biodiesel. Este marco no sistema rodovirio aconteceu na linha de

    passageiros entre as cidades de Louvain e Bruxelas, na Blgica 12

    .

    Os estudos acerca de combustveis alternativos iniciaram na dcada de 70 no

    Brasil, com a experincia do Pr-lcool (Programa Nacional para a utilizao do etanol

    obtido a partir da cana de acar), o qual foi implementado em funo do choque do

    petrleo. A partir desta data, o etanol anidro puro e misturado com a gasolina, vem

    sendo usado no Brasil como combustvel para motores de ciclo Otto. Esta experincia

    foi bem sucedida mundialmente em termos do uso de biocombustveis 13

    .

    O histrico realizado sobre a produo de biodiesel no Brasil contida no PNPB -

    Programa Nacional de Produo de Biodiesel, tambm revela que as pesquisas sobre o

    biodiesel tm sido desenvolvidas no pas h quase meio sculo. Em 1980 foi assinada a

    primeira patente brasileira de biodiesel, denominada inicialmente Prodiesel, em

    Fortaleza, pelo professor Expedito Parente. A pesquisa teve inicio em meados da dcada

    de 70 a partir de diferentes leos vegetais como soja, babau, amendoim, algodo e

    girassol, na Universidade Federal do Cear 13

    . Assim como Chavanne, a proposta era

    usar um catalisador bsico ou cido para produzir o biodiesel.

    Apesar dos possveis benefcios no emprego de leos vegetais como substituto

    ao diesel, barreiras do ponto de vista econmico e tico motivaram a busca de matrias-

    primas alternativas para a produo de biocombustveis.

  • 8

    Como possvel perceber, a balana de investimentos, no apenas do biodiesel,

    mas da maioria da cadeia produtiva de outros biocombustveis, sobe ou desce conforme

    a cotao e disponibilidade do petrleo no mercado mundial. Com isso, em meio crise

    do petrleo, que ocorreu na dcada de 70, os Estados se viram obrigados a diversificar a

    matriz energtica, o que criou novas possibilidades para a implantao de novos

    programas em defesa do uso do biodiesel 12,13

    .

    Biodiesel a denominao genrica dada a combustveis e aditivos de fontes

    renovveis. um biocombustvel 100% renovvel e alternativo ao diesel derivado do

    petrleo. E pode ser usado em qualquer motor diesel sem alteraes na parte mecnica,

    no havendo perda de potncia e rendimento. Assim como os motores chamados Flex

    Fuel, que so movidos tanto a gasolina quanto a lcool, os motores diesel podem usar

    tanto leo diesel quanto biodiesel, ou a mistura dos dois em qualquer proporo14

    .

    Mundialmente passou-se a adotar uma nomenclatura bastante apropriada para

    identificar a concentrao do Biodiesel na mistura com diesel. o Biodiesel BXX, onde

    XX a percentagem em volume do Biodiesel mistura. Por exemplo, o B2, B5, B20 e

    B100 so combustveis com uma concentrao de 2%, 5%, 20% e 100% de Biodiesel,

    respectivamente15

    .

    2.3. Programas Scio-Econmicos de Incentivo Produo de Biodiesel

    O Brasil possui grande destaque na produo de combustveis a partir da

    biomassa. Desde a dcada de 1970 o pas tem incentivado o desenvolvimento de

    biocombustveis para o setor de transportes. O Pr-lcool foi estabelecido em 1975 e

    hoje apontado como um grande sucesso com desdobramentos sociais, ambientais e

    econmicos 16

    .

    Durante a implantao do Pr-lcool, inseriu-se, no pas, o Pr-leo (Programa

    Nacional de Produo de leos Vegetais para Fins Energticos), criado pelo Conselho

    Nacional de Energia e o Programa OVEG (Programa Nacional de Alternativas

    Energticas Renovveis de Origem Vegetal), institudo pela Secretaria de Tecnologia

    Industrial do Ministrio da Indstria e Comrcio (STI/MIC), na dcada de 80. As metas

    do primeiro programa eram o incentivo produo de leos vegetais para fins

    energticos, a mistura de 30% (B30) de biodiesel ao leo diesel e a gradual substituio

  • 9

    total do diesel de petrleo pelo diesel vegetal. Inicialmente, deu-se nfase produo a

    partir da soja, posteriormente, empregou-se o amendoim, a colza, o girassol e o dend.

    Este seria o primeiro incentivo ao desenvolvimento de tecnologias para produo de

    biodiesel 17

    .

    O desenvolvimento de substitutos do diesel foi tentado com muito esforo no

    incio do Pr-lcool, como forma de reduzir ainda mais o consumo de petrleo e de

    manter o perfil de produo de derivados de acordo com a capacidade das refinarias do

    pas. O processo fracassou por vrias razes, entre elas os baixos preos do diesel na

    poca, e as atividades cessaram. O governo voltou a se interessar pelo biodiesel quando

    sua produo e consumo passaram a crescer na Europa, principalmente na Alemanha;

    tambm vislumbrou uma forma de fortalecer a agricultura familiar e assim melhorar a

    incluso social, um problema muito srio no Brasil 18

    .

    Nesse incio de sculo, a Portaria no 720, de 30 de outubro de 2002, instituiu o

    Programa Brasileiro de Biodiesel (Pr biodiesel), demonstrando o esforo do governo

    federal em empreender-se rumo ao desenvolvimento sustentvel, ou seja, balizando os

    aspectos econmicos, sociais e ambientais. Em 06 de dezembro de 2004 foi lanado

    oficialmente o PNPB, regulamentado pela Lei n- 11.097, de 2005 18

    .

    2.3.1. Programa Nacional de Produo de Biodiesel

    O PNPB um programa interministerial encarregado de promover estudos em

    diferentes linhas de ao sobre a viabilidade de utilizao de leos vegetais para fins

    energticos que visa, dentre outros objetivos implantar um desenvolvimento sustentvel

    promovendo a incluso social.

    A Lei 11.097, estabelece a obrigatoriedade da adio de uma porcentagem de

    biodiesel ao leo diesel comercializado em qualquer parte do territrio brasileiro. Para

    os atuais dados de mercado, a nova mistura dever gerar economia de divisas da ordem

    de US$ 1,4 bilho/ano devido reduo das importaes de leo diesel 19

    .

    O PNPB visa integrar os agricultores familiares ao fornecimento de matria-

    prima para a produo de biodiesel contribuindo para a equidade social a partir da

    gerao de renda. Para isso, foi criado o Selo Combustvel Social, concedido pelo

    Ministrio do Desenvolvimento Agrrio (MDA) aos produtores de biodiesel que

  • 10

    promovam a incluso social e o desenvolvimento regional, por meio da gerao de

    empregos 19

    .

    O selo social garante aos usineiros benefcios tributrios, facilidade de acesso s

    melhores condies de financiamento e o direito a participar dos leiles de biodiesel, em

    troca do fornecimento de capacitao e assistncia tcnica aos agricultores familiares 20

    .

    2.3.2. Selo Combustvel Social e Agricultura Familiar

    Alm das vantagens econmicas e ambientais, h o aspecto social, de

    fundamental importncia, sobretudo em se considerando a possibilidade de conciliar

    sinergicamente todas essas potencialidades do biodiesel.

    A rea plantada necessria para atender ao percentual de mistura B2 foi estimada

    em 1,5 milho de hectares, o que equivale a 1% dos 150 milhes de hectares plantados e

    disponveis para agricultura no Brasil. Este nmero no inclui as regies ocupadas por

    pastagens e florestas. As polticas do biodiesel permitem a produo a partir de

    diferentes oleaginosas e rotas tecnolgicas, possibilitando a participao do agronegcio

    e da agricultura familiar 16

    .

    O cultivo de matrias-primas e a produo industrial de biodiesel, ou seja, a

    cadeia produtiva do biodiesel tem grande potencial de gerao de empregos,

    promovendo, dessa forma, a incluso social, especialmente quando se considera o

    amplo potencial produtivo da agricultura familiar 16

    .

    O enquadramento social de projetos, ou de empresas produtoras de biodiesel,

    permite acesso a melhores condies de financiamento junto ao BNDES e outras

    instituies financeiras, alm de dar direito de concorrncia em leiles de compra de

    biodiesel. As indstrias produtoras tambm tem direito a desonerao de alguns

    tributos, desde que garantam a compra da matria-prima, preos pr-estabelecidos,

    oferecendo segurana aos agricultores familiares. H, ainda, possibilidade dos

    agricultores familiares participarem como scios ou quotistas das indstrias extratoras

    de leo ou de produo de biodiesel, seja de forma direta, seja por meio de associaes

    ou cooperativas de produtores 16

    .

    Para obter o selo, o produtor de biodiesel legalmente constitudo dever

    apresentar um projeto especfico junto ao MDA que o avaliar dentro de normas

    estabelecidas na Instruo Normativa n 01, de 05 de Julho de 2005. Aps anlise e

    auditoria, o MDA publicar um extrato no Dirio Oficial da Unio que conferir ao

  • 11

    produtor de biodiesel o acesso aos benefcios do selo. O produtor de biodiesel ter que

    adquirir, nas regies Nordeste e semirido, pelo menos 50% das matrias-primas da

    agricultura familiar. Nas regies Sudeste e Sul, este percentual mnimo de 30% e na

    regio Norte de 10%. A atividade de produo de biodiesel somente poder ser exercida

    pelas pessoas jurdicas constitudas na forma de sociedade, limitada ou annima, com

    sede e administrao no Pas, e que tenham a autorizao da ANP (Agncia Nacional do

    Petrleo), mantenham Registro Especial na Secretaria da Receita Federal do Ministrio

    da Fazenda e possuam capital social subscrito e integralizado no valor de R$ 500.000,00

    20.

    Para a autorizao da ANP so necessrios, dentre outros documentos, licena

    ambiental, alvar de funcionamento, laudo de vistoria do corpo de bombeiros e relatrio

    tcnico contendo informaes sobre o processo e a capacidade de produo da planta

    produtora de biodiesel 20

    .

    De acordo com Resoluo n 41 da ANP, o produtor de biodiesel somente

    poder vender o produto: (a) refinaria autorizada pela ANP; (b) ao exportador

    autorizado pela ANP, (c) diretamente ao mercado externo, quando for autorizado pela

    ANP para a exportao de biodiesel, ou (d) ao distribuidor de combustveis lquidos

    derivados de petrleo, lcool combustvel, biodiesel, mistura de leo diesel/biodiesel

    especificada ou autorizada pela ANP e outros combustveis automotivos.

    2.4. Biodiesel

    No Brasil, a ANP por meio do Regulamento Tcnico n 07/2008, define o

    biodiesel como sendo um combustvel composto de alquil steres de cidos graxos

    oriundos de leos vegetais ou gorduras animais, designado por B100 (biodiesel puro)15

    ou ainda pode ser definido como: Biocombustvel derivado de biomassa renovvel

    para uso em motores de combusto interna com ignio por compresso ou, conforme

    regulamento, para gerao de outro tipo de energia, que possa substituir parcial ou

    totalmente combustveis de origem fssil (Lei 11.097/2005).

    O biodiesel um biocombustvel derivado do monoalquil ster de cidos graxos

    de cadeia longa, provenientes de fontes renovveis21

    , possuindo propriedades fsico-

    qumicas similares ao leo diesel de petrleo. Pelas suas caractersticas um substituto

  • 12

    natural do diesel, podendo ser produzido a partir de leos vegetais, gorduras animais e

    leos utilizados em frituras de alimentos22

    .

    O biodiesel compe, junto com o etanol, importante oferta para o segmento de

    combustveis. Ambos so biocombustveis por serem derivados de biomassa (matria

    orgnica de origem vegetal ou animal, que pode ser utilizada para a produo de

    energia), menos poluentes e renovveis23

    .

    Existem diversas fontes potenciais de oleaginosas no Brasil para a produo de

    biodiesel. Essa uma vantagem comparativa que o pas possui em relao a todos os

    outros produtores de oleaginosas. Alm dessa vantagem existem outras mais especficas

    para a utilizao do biodiesel 2:

    a) Vantagens ecolgicas: a emisso de gases da combusto dos motores que

    operam com biodiesel no contm xidos de enxofre, principal causador da chuva cida

    e de irritaes das vias respiratrias. A produo agrcola que origina as matrias-

    primas para o biodiesel capta CO2 da atmosfera durante o perodo de crescimento, sendo

    que apenas parte desse CO2 liberado durante o processo de combusto nos motores,

    ajudando a controlar o efeito estufa, causador do aquecimento global do planeta 2.

    b) Vantagens macroeconmicas: a expanso da demanda por produtos agrcolas

    dever gerar oportunidades de emprego e renda para a populao rural; a produo de

    biodiesel poder ser realizada em localidades prximas dos locais de uso do

    combustvel; o aproveitamento interno dos leos vegetais permitir contornar os baixos

    preos que predominam nos mercados mundiais aviltados por prticas protecionistas 2.

    c) Diversificao da matriz energtica: necessrio definir uma metodologia

    especfica para os estudos de alternativas de investimentos na introduo de novas

    tecnologias para a produo, distribuio e logstica dos biocombustveis 2.

    d) Vantagens financeiras: a produo de biodiesel permitir atingir as metas

    propostas pelo Protocolo de Kyoto, pelo Mecanismo de Desenvolvimento Limpo,

    habilitando o pas a participar no mercado de bnus de carbono 2.

    e) Desenvolvimento regional: a dinmica da globalizao a renovao contnua,

    sendo uma realidade que, todo padro de consumo capitalista, ditado pelas escalas

    mais elevadas, ou seja, pelos pases detentores do padro tecnolgico mais avanado.

    Logo vital uma reestruturao do sistema produtivo, demonstrando a necessidade por

    inovaes produtivas, inserindo-se a a constituio de uma cadeia competitiva do

    biodiesel como resposta de desenvolvimento local ante ao desafio global 2.

  • 13

    2.5. Especificao do Biodiesel e Suas Propriedades

    No Brasil, a especificao dos padres de qualidade do biodiesel foi realizada

    segundo a norma da Associao Brasileira de Normas Tcnicas (ABNT) e normas

    internacionais como a American Society for Testing and Materials (ASTM),

    International Organization for Standardization (ISO) e Comit Europen de

    Normalisation (CEN), sendo essas regulamentadas pela ANP em 2008. Vrias

    propriedades fsicas e qumicas foram padronizadas, tais como massa especfica,

    viscosidade cinemtica, ponto de fulgor, teor de enxofre, nmero de cetano, teor de

    glicerina livre e total, dentre outras. de grande importncia que o biodiesel brasileiro

    atenda s especificaes mnimas de qualidade, o que no somente preservaria a

    integridade dos veculos automotores, mas tambm atenderia aos padres internacionais

    do produto 24

    .

    A especificao do biodiesel destina-se a garantir a sua qualidade e

    pressuposto para se ter um produto adequado ao uso. Os focos principais da

    especificao do biocombustvel so: assegurar a qualidade; garantir os direitos do

    consumidor e preservar o meio ambiente. O biodiesel s ser efetivamente vendido aos

    consumidores, se os postos de combustveis atenderem a essas especificaes tcnicas

    exigidas pela norma brasileira (Resoluo ANP n 42/04). Revogada pela Resoluo

    ANP n 7, de 19/03/08 para garantir o perfeito funcionamento dos veculos e satisfao

    do consumidor. Independente da matria-prima e da rota tecnolgica, o biodiesel

    introduzido no mercado nacional de combustveis com especificao nica. Ainda que

    cada oleaginosa tenha suas prprias caractersticas, tanto o biodiesel de mamona, soja,

    palma, girassol, leo de fritura so passveis de atender qualidade definida nesta

    especificao definida pela ANP 15

    .

    O biodiesel pode ser caracterizado positivamente por: ausncia de enxofre e

    aromticos; nmero de cetano elevado; baixa viscosidade e maior ponto de fulgor,

    quando comparado ao diesel convencional; e apresenta mais vantagens ambientais como

    pode ser visto na Tabela 1 24

    .

  • 14

    Tabela 1. Qualidade do biodiesel versus desempenho do motor 24

    .

    Parmetro O que expressa Efeito

    Viscosidade

    cinemtica

    Resistncia ao fluxo sob gravidade Funcionamento adequado dos sistemas

    de injeo

    gua e sedimentos Excesso de gua medida da limpeza Reao com ster; Crescimento

    microbiano; Formao de sabo

    Ponto de fulgor Temperatura de inflamao da amostra Segurana no manuseio; Indicao de

    excesso de lcool.

    Resduo de carbono Resduo de carbono aps combusto do motor Entupimento dos injetores por resduos

    slidos.

    Cinzas Teor de resduos minerais Danos ao motor

    Enxofre total Contaminao por material protico e/ou resduo

    de catalisador ou material de neutralizao do

    biodiesel

    Emisses de SO2

    Na, K, Ca, Mg, P Resduos de catalisador, resduos de fosfolipdios

    e metais presente em leos usados.

    Danos ao motor; Entupimento de

    injetores;

    Acidez Medida da presena de cidos graxos livres,

    sintoma da presena de gua.

    Corroso

    Glicerina livre Separao incompleta da glicerina aps

    transesterificao.

    Depsitos de carbonos no motor.

    Glicerina total Soma da glicerina livre e da glicerina ligada,

    transeseterificao incompleta.

    Depsitos de carbonos no motor.

    Mono, di,

    triacilglicerdios

    Transesterificao incompleta Depsitos de carbonos no motor;

    Formao de sabo.

    Estabilidade

    oxidao

    Degradao ao longo do tempo Aumento de acidez e corroso;

    Resduos

    2.6. Cenrio do Biodiesel no Brasil e Mundo

    De acordo com a Agncia Nacional de Energia Eltrica (ANEEL), a energia

    consumida no Brasil provm de fonte hdrica (69%), trmica (16%), renovvel (6%),

    nuclear (2%) e de importaes (8%). Na Figura 3 tem-se o perfil da matriz energtica

    brasileira em 2010 de acordo com as fontes.

  • 15

    Figura 3. Grfico das fontes de energia renovvel e no renovvel no Brasil 2010 25

    .

    O biodiesel insere-se na matriz energtica brasileira a partir da criao de seu

    marco regulatrio lanado em 6 de dezembro de 2004 pelo Governo Federal, por meio

    da Medida Provisria 214, convertida na Lei 11.097/2005, publicada no Dirio Oficial

    da Unio em 13/01/2005. Conforme definido nesse marco, autorizou-se a mistura de 2%

    em volume de biodiesel ao diesel (B2), desde janeiro de 2005, tornando-a obrigatria

    em 2008, quando foi autorizado o uso de 5% (B5)26

    . O marco regulatrio constitudo

    por atos legais, em que se definem os percentuais de mistura do biodiesel ao diesel, a

    forma de utilizao do combustvel e o regime tributrio. Na Figura 4, segue uma linha

    da previso da projeo histrica22

    . Estas aes iro contribuir para a reduo da

    dependncia da utilizao dos recursos fsseis como combustveis.

    Figura 4. Previso evoluo do marco regulatrio do biodiesel no Brasil 27

    .

    ade

  • 16

    Atualmente, devido aos srios problemas ambientais como o efeito estufa, a falta

    de recursos fsseis no futuro, o problema social que enfrentamos com a mudana do

    homem do campo para os grandes centros urbanos e, principalmente a conscientizao

    dos pesquisadores e polticos destes problemas, houve um aumento das pesquisas e da

    produo de combustvel obtido a partir de leo vegetal para uso em motores21

    .

    A substituio de 2% de diesel por biodiesel retira do mercado cerca de 800

    milhes L/ano de diesel, para um consumo anual em torno de 40 bilhes de litros,

    minimizando assim o impacto das importaes, que esto em torno de 10% (4 bilhes

    de litros de diesel importado) na balana de pagamentos do pas. Como o setor de

    transportes de cargas e passageiros representa, aproximadamente, 38 bilhes de L da

    demanda interna de diesel, este dever sofrer os primeiros impactos nos custos. Com

    relao ao B2, cria-se um mercado interno potencial, nos prximos trs anos, de pelo

    menos 800 milhes de L/ano para o novo combustvel, sendo necessrios cerca de 1,5

    milhes de hectares, o que representa apenas 1% da rea plantada e disponvel para

    agricultura no pas 24

    .

    Devido ao fato da capacidade de produo brasileira ser suficiente para atender o

    percentual de adio de biodiesel de 5% em 2010 e de acordo com os benefcios

    econmicos, sociais e ambientais foi estabelecida a adio de 5% de Biodiesel em

    Diesel (B5), que comeou a vigorar a partir de janeiro de 2010. Esta regra foi

    estabelecida pela Resoluo n 6/2009 do Conselho Nacional de Poltica Energtica

    (CNPE), publicada no Dirio Oficial da Unio (DOU) em 26 de Outubro de 2009 26

    .

    O biodiesel uma fonte energtica que tem sido utilizada comercialmente como

    combustvel desde 1988 em muitos pases Europeus. Uma deduo de 90% nos

    impostos, proposta pela comunidade europeia para o uso de biodiesel, possibilitou a

    venda na Europa com preos competitivos com o combustvel diesel convencional,

    sendo que a Unio Europeia produz anualmente mais de 1,35 milhes de toneladas de

    biodiesel, em cerca de 40 unidades de produo. Isso corresponde a 90% da produo

    mundial de biodiesel 28

    .

    A Alemanha se encontra em plena utilizao do biodiesel como combustvel,

    sendo que atualmente ela pode ser considerada a maior produtora e consumidora desse

    tipo de combustvel, responsvel por cerca de 42% da produo mundial. Sua produo

    feita a partir da colza, produto utilizado principalmente para nitrogenizao do solo. O

  • 17

    leo distribudo de forma pura, isento de mistura ou aditivos, para a rede de

    abastecimento de combustveis composta por cerca de 1700 postos29

    .

    A utilizao nos EUA comea a generalizar-se a partir da motivao americana

    em melhorar a qualidade do meio ambiente, com vrias iniciativas, entre elas o

    programa intitulado de Programa Ecodiesel. A proporo de mistura do biodiesel ao

    leo diesel que tem sido mais cogitada a de 20%, chamada de EcoDiesel B20 13

    ,

    possuindo atualmente 53 plantas de biodiesel com capacidade de 1,18 milho de t/ano.

    Na Argentina a aprovao pelo Congresso de uma lei (Decreto Governamental

    129/2001) isentando de impostos por 10 anos toda a cadeia produtiva do biodiesel teve

    por consequncia o preo baixo das oleaginosas, no inicio da dcada de 2000. Embora,

    na Argentina, a produo de biocombustveis continua em uma etapa virtualmente

    artesanal, a implantao de vrias fbricas de biodiesel comprova o interesse dos

    usurios pelos combustveis alternativos, entre as indstrias encontram-se as de leos e

    petroleiras de maior faturamento no pas, que j consideraram projetos prprios para a

    produo de biodiesel. A capacidade prevista pelo total da usinas a instalar de 3,1

    milhes de toneladas anuais.

    2.7. Matrias Primas Para a Produo de Biodiesel

    2.7.1. leos e Gorduras

    leos e gorduras so conhecidos como triacilglicerdeos, ou seja, tristeres

    formados a apartir de trs molculas de cidos graxos superiores e uma molcula do

    propanotriol (conhecido como glicerina)30

    .

    Os leos so, em geral, grandes fontes de triglicerdeos disponveis para a

    produo de biodiesel, entre eles, os leos de soja, girassol, canola, palma, milho, que

    so bem conhecidos e vem sendo descritos em diversos trabalhos 21, 31-33

    .

    Os cidos graxos so cidos orgnicos lineares que diferem pelo nmero de

    carbonos, e tambm pela presena e quantidades de insaturaes (ligaes duplas entre

    os tomos de carbono) em sua cadeia hidrofbica, ou ainda pela presena de algum

    grupo funcional na cadeia carbnica. Os cidos graxos sem ligaes duplas so

    conhecidos como saturados e aqueles que as possuem so chamados de insaturados ou

  • 18

    poli-insaturados (uma ou mais duplas ligaes, respectivamente). A distino entre

    gorduras e leos est baseada nas suas propriedades fsicas. Na temperatura ambiente,

    as gorduras so slidas e os leos so lquidos 34

    .

    Existem diversos cidos graxos de ocorrncia natural, sendo alguns

    exemplificados na Figura 5. A Tabela 2 apresenta a composio tpica de alguns leos e

    gorduras, em termos de cidos graxos 34

    .

    Figura 5. Exemplos de cidos graxos de ocorrncia natural 35

    .

    Tabela 2.Composio tpica de alguns leos e gorduras, em cidos graxos 34, 36

    .

  • 19

    2.7.2. Principais Matrias Primas Utilizadas no Brasil

    O grande destaque do Brasil na produo de biodiesel encontra-se na sua grande

    biodiversidade e produtividade de gros que podem ser utilizados na fabricao de leos

    vegetais (soja, mamona, pinho-manso, girassol, canola, amendoim, dend, pequi,

    macaba e outros). Isto se deve, em parte, sua dimenso continental, localizao em

    uma regio tropical, pela existncia de recursos hdricos abundantes (22 a 24% da gua

    doce do planeta), alm de imensas reas desocupadas. O desafio o do aproveitamento

    das potencialidades regionais para a produo de biodiesel 15,37,38

    .

    O Brasil apresenta fontes variadas de extrao do leo vegetal com potencial

    para produo de biodiesel. Na Tabela 3 so apresentadas algumas caractersticas da

    gordura animal e de algumas oleaginosas com potencial de uso para fins energticos

    (produtividade, ciclo econmico e rendimento de leo). Merecem destaque o dend, o

    coco e o girassol em relao ao seu rendimento em leo por hectare. Tambm merece

    ser comentada a cultura da mamona, pela resistncia seca e a soja pelo seu plantio em

    abundncia, destacando-se a gordura animal em seu contedo de leo de 100% e

    independncia da poca de colheita 37

    .

    Tabela 3. Caractersticas de algumas culturas de oleaginosas e gordura animal com

    potencial de uso energtico 37, 38

    .

    Espcie Origem do

    leo

    Contedo

    do leo(%)

    *CME

    (anos)

    Meses de

    colheita

    Rendimento

    (t.leo/h)

    Gordura

    animal

    - 100 - - -

    Dend amndoa 20 8 12 3,0 6,0

    Soja gro 17 Anual 3 0,2 - 0,4

    Coco fruto 55-60 7 12 1,3 1,9

    Babau amndoa 66 7 12 0,1 0,3 Girassol gro 38-48 Anual 3 0,5 1,9

    Colza/Canola gro 40-48 Anual 3 0,5 0,9 Mamona gro 43-45 Anual 3 0,5 0,9

    Amendoim gro 40-43 Anual 3 0,6 0,8 Algodo gro 15 Anual 3 0,1 0,2

    (*) CME: ciclo de mxima eficincia em anos

  • 20

    A obteno do leo vegetal, em geral, realizada utilizando mtodos fsicos e

    qumicos sobre as sementes de oleaginosas atravs dos processos de prensagem e

    extrao com solventes. Os leos vegetais crus contm impurezas, como cidos graxos

    livres, que podem afetar negativamente a qualidade do leo e a estabilidade oxidao,

    o que torna necessrio remov-los pelos processos de purificao e refino 39

    .

    De acordo com o Programa Nacional de Produo e Uso do Biodiesel (PNPB), o

    pas no deve privilegiar rotas tecnolgicas, matrias-primas e escalas de produo

    agrcola e agroindustrial. No entanto, a soja ainda a oleaginosa preponderante (Figura

    6). Segundo a ANP, em 2010, as principais matrias-primas utilizadas na produo de

    biodiesel foram: de leo de soja, de sebo, de leo de algodo e outros materiais graxos

    39.

    Figura 6 - Principais Matrias-Primas Utilizadas na Produo de Biodiesel no Brasil

    em 2010 40

    .

    Normalmente por questes de reduo no custo de logstica de praxe as

    unidades produtivas se localizarem prximas matria-prima. Embora o biodiesel possa

    ser produzido com qualquer cido graxo, os leos vegetais so considerados a principal

    matria-prima para produo de biodiesel. No entanto, nem todo importante estado

    produtor de gros oleaginosos destaca-se na produo de leos vegetais (Figura 7) ou

    mesmo de biodiesel.

  • 21

    Figura 7. Capacidade de Processamento de leos Vegetais, por Unidade da Federao,

    2008 41

    .

    O Rio Grande do Sul produz soja, amendoim e classificado como o segundo

    maior produtor brasileiro de girassol. Na safra 2007/2008, Gois ocupou o quarto lugar

    na produo de gros com destaque para soja e algodo, e o terceiro lugar na produo

    de biodiesel. O Mato Grosso destaca-se na produo nacional de gros de soja, girassol

    e de algodo, sendo a terceira maior capacidade para esmagamento de oleaginosa (7,4

    milhes de t/ano), e com quatro usinas de biodiesel. O Paran sedia a maior parte de

    instalaes para produo de leos vegetais do Brasil, perfazendo um total de 10,5

    milhes de t/ano. O Estado o primeiro produtor de oleaginosas sendo que os principais

    gros cultivados so: soja, algodo e amendoim 41

    .

    As tendncias regionais das oleaginosas brasileiras so apresentadas na Figura 8.

    As culturas da palma e do babau predominam no norte brasileiro; a soja, o girassol e o

    amendoim nas regies sul, sudeste e centro-oeste do pas, e a mamona e o algodo so

    predominantes na regio nordeste 41

    .

  • 22

    Figura 8. Produo de leos vegetais e tendncias regionais brasileiras 42

    .

    Como j mencionado anteriormente, a matria-prima mais abundante para a

    produo de biodiesel no Brasil o leo de soja, porm medidas governamentais tm

    incentivado o uso de outras matrias-primas como a mamona e palma nas regies semi-

    ridas nordestinas. No obstante, o elevado preo dos leos vegetais tem tornado o

    biodiesel no-competitivo economicamente frente ao diesel de petrleo, sendo

    necessrios programas e incentivos do governo. Combustveis alternativos ao diesel de

    petrleo devem apresentar, alm de competitividade econmica, uma tcnica de

    produo definida, aceitabilidade ambiental e disponibilidade 41

    .

    Alguns setores de movimentos sociais e ambientalistas so crticos severos em

    relao nova tecnologia em pauta. Apontam como dados alarmantes os possveis

    aumentos de desmatamentos, a expanso de monoculturas e de todos os problemas

    decorrentes como a perda da biodiversidade, os prejuzos em relao soberania

    alimentar, a elevao dos ndices de poluio provocados pelo aumento do uso de

    insumos qumicos nas lavouras e uma maior vulnerabilidade do pequeno produtor 39

    .

    Uma das alternativas seria a reutilizao de leos e gorduras vegetais residuais

    (OR) de processos de frituras de alimentos que tem se mostrado atraente, na medida em

    que aproveita o leo vegetal como combustvel aps a sua utilizao na cadeia

    alimentar, resultando assim num segundo uso, ou mesmo uma destinao alternativa a

    um resduo alimentcio. A utilizao de rejeitos gordurosos economicamente e

  • 23

    ambientalmente mais vantajoso que o biocombustvel obtido a partir do leo vegetal

    refinado por no competir com a alimentao humana e aproveitar um resduo

    usualmente descartado no meio ambiente.

    2.8. Utilizao do leo Residual para Produo de Biodiesel

    2.8.1. Descarte do leo Residual

    Alm dos leos e gorduras virgens, constituem tambm matria-prima para a

    produo de biodiesel, os leos e gorduras residuais, resultantes de processamentos

    domsticos, comerciais e industriais 13

    . O processo de fritura pode ser definido como o

    aquecimento do leo em temperaturas entre 160 e 220 C na presena de ar durante

    longos perodos de tempo. Durante o processo de fritura ocorrem alteraes fsico-

    qumicas no leo 43, 44

    como:

    Aumento da viscosidade e calor especfico;

    Diminuio do nmero de iodo (nmero proporcional ao teor de insaturao);

    Mudana na tenso superficial;

    Mudana no aspecto (cor);

    Aumento da acidez devido formao de cidos graxos livres;

    Odor desagradvel (rano);

    Aumento da tendncia do leo em formar espuma.

    A reciclagem de resduos agrcolas e agroindustriais vem ganhando espao cada

    vez maior, no simplesmente porque os resduos representam "matrias primas" de

    baixo custo, mas principalmente porque os efeitos da degradao ambiental decorrente

    de atividades industriais e urbanas esto atingindo nveis cada vez mais alarmantes.

    Vrios projetos de reciclagem tm sido bem sucedidos.

    Existem trs principais vantagens decorrentes da utilizao de leos residuais de

    fritura como matria-prima para produo de biodiesel: a primeira, de cunho

    tecnolgico, caracteriza-se pela dispensa do processo de extrao do leo; a segunda, de

    cunho econmico, caracteriza-se pelo custo da matria-prima, pois por se tratar de um

    resduo, o leo residual de fritura tem seu preo de mercado estabelecido; e a terceira,

    de cunho ambiental, caracteriza-se pela destinao adequada de um resduo que, em

  • 24

    geral, descartado inadequadamente impactando o solo e o lenol fretico e,

    consequentemente, a biota desses sistemas 34

    .

    Hoje segundo a ABIOVE 41

    , so produzido no Brasil 4,8 bilhes de litros de

    leo por ano para mercado nacional e cerca de 2,4 bilhes se destinam para fins

    comestveis. No pas apenas 2,5 a 3,5% do leo vegetal comestvel descartado

    reciclado. O Mercado anual de leo de fritura reciclado da ordem de 30 milhes de

    litros, coletados para processo industrial ou reciclagem caseira.

    No Brasil, parte do leo vegetal residual oriundo do consumo humano

    destinado fabricao de sabes e, em menor volume, produo de biodiesel.

    Entretanto, a maior parte deste resduo descartado na rede de esgotos, sendo

    considerado um crime ambiental inadmissvel. A pequena solubilidade dos leos

    vegetais na gua constitui como um fator negativo no que se refere sua degradao em

    unidades de tratamento de despejos por processos biolgicos e, quando presentes em

    mananciais utilizados para abastecimento pblico, causam problemas no tratamento da

    gua 24

    .

    A produo de um biocombustvel a partir deste resduo traria inmeros

    benefcios para a sociedade, pois haveria diminuio de vrios problemas relacionados

    ao seu descarte, sendo que, alm destes benefcios, ainda haveria a possibilidade de

    aumentar a produo e a utilizao de biocombustvel, como no caso o biodiesel,

    diminuindo a emisso de gases de efeito estufa, contribuindo com o meio ambiente 39

    .

    Apesar de no haver, ainda, uma legislao especfica para descarte de leos,

    consta no decreto federal n 3179, de 21 de setembro de 1999, artigo 41, pargrafo 1,

    inciso V, a aplicao de multas de at R$ 50 milhes "a quem causar poluio de

    qualquer natureza em nveis tais que resultem ou possam resultar em danos sade

    humana, ou que provoquem a mortandade de animais ou a destruio significativa da

    flora, atravs do lanamento de resduos slidos, lquidos ou gasosos ou detritos, leos

    ou substncias oleosas em desacordo com as exigncias estabelecidas em leis ou

    regulamentos" 20

    .

    O projeto de lei n 296, publicado no Dirio do Senado Federal em 2005,

    estabelecia que devia constar no rtulo das embalagens de leo comestvel, advertncia

    sobre a destinao correta do produto aps uso, mas foi vetado em 2007.

    Cada litro de leo despejado no esgoto urbano tem potencial para poluir cerca de

    um milho de litros de gua, o que equivale quantidade que uma pessoa consome ao

  • 25

    longo de quatorze anos de vida43

    . Ao ser descartado desta maneira, h entupimento e

    mal funcionamento das tubulaes, tornando necessrio o uso de produtos qumicos que

    so txicos, o que implica danos ambientais. Alm disso, ao ser despejado nas redes de

    esgoto, o leo encarece o tratamento de gua em at 45% 45

    .

    A presena deste material, alm de acarretar problemas de origem esttica,

    diminui a rea de contato entre a superfcie da gua e o ar atmosfrico impedindo a

    transferncia do oxignio da atmosfera para a gua, e tambm os leos e graxas em seu

    processo de decomposio, reduzem o oxignio dissolvido elevando a DBO (Demanda

    Bioqumica de Oxignio), causando alterao no ecossistema aqutico. A DBO

    normalmente considerada como a quantidade de oxignio consumido durante um

    determinado perodo de tempo, numa temperatura de incubao especfica. Um baixo

    teor de oxignio dissolvido nas guas fatal para a vida que comprometida

    diretamente quando jogamos um leo vegetal na pia da cozinha 45

    .

    Devido menor densidade do leo em relao gua, o leo fica na superfcie,

    criando uma barreira que dificulta a entrada da luz e a oxigenao da gua, o que traz

    danos a todos que pertencem quele habitat. Somado ao desequilbrio na vida marinha,

    quando os leos residuais chegam aos cursos dgua, aumenta-se o efeito estufa, pois o

    leo decomposto e libera gs metano, que 21 vezes mais poluente que o gs

    carbnico devido a maior reteno de radiao solar. Quando so depositados no solo,

    em depsitos clandestinos, ou at mesmo quando chegam aos cursos dgua e se

    acumulam nas margens, estes resduos tm a capacidade de impermeabilizar o solo,

    agravando os efeitos das enchentes 46

    .

    Os leos residuais de frituras apresentam grande potencial de oferta. Algumas

    possveis fontes dos leos e gorduras residuais so: lanchonetes e cozinhas industriais,

    indstrias onde ocorre a fritura de produtos alimentcios, os esgotos municipais onde a

    nata sobrenadante rica em matria graxa, guas residuais de processos de indstrias

    alimentcias 46

    .

    Para se ter uma idia, a fritura um processo que utiliza leos ou gorduras

    vegetais como meio de transferncia de calor, cuja importncia indiscutvel para a

    produo de alimentos em lanchonetes e restaurantes comerciais ou industriais a nvel

    mundial. Em estabelecimentos comerciais, utilizam-se fritadeiras eltricas descontnuas

    com capacidades que variam de 15 a 350 litros, cuja operao normalmente atinge

    temperaturas entre 180 a 200 C. J em indstrias de produo de empanados,

  • 26

    salgadinhos e congneres, o processo de fritura normalmente contnuo e a capacidade

    das fritadeiras pode ultrapassar 1000 litros. O tempo de utilizao do leo varia de um

    estabelecimento para outro, principalmente pela falta de legislao que determine a

    troca do leo usado 46

    .

    De um modo geral, o aproveitamento integrado de resduos gerados na indstria

    alimentcia pode evitar o encaminhamento destes para aterros sanitrios, permitindo o

    estabelecimento de novas alternativas econmicas e minimizando o impacto ambiental

    do acmulo destes resduos.

    2.8.2. Biodiesel a Partir de leo Residual

    O biodiesel de leo residual apresenta vantagens sob o ponto de vista ecolgico,

    em relao ao leo diesel derivado do petrleo e tambm em relao ao biodiesel

    produzido a partir de outros leos. Em comparao com o diesel, o ster de OR possui a

    vantagem de no emitir, na combusto, compostos de enxofre, responsveis pela chuva

    cida, alm de ser rapidamente biodegradvel no solo e na gua.

    Apesar do biodiesel de leo de fritura ser de um leo parcialmente oxidado,

    apresenta caractersticas bastante semelhantes aos steres oriundos de leos refinados. A

    Tabela 4 traz as especificaes do leo diesel e do biodiesel. Atravs dela possvel

    perceber a semelhana das caractersticas, o que justifica que a adio de biodiesel,

    como para o B20, no requer adaptaes nos atuais motores do ciclo diesel 16

    .

  • 27

    Tabela 4. Especificaes do leo diesel e do biodiesel do leo de frituras 47

    .

    Caractersticas leo Diesel Biodiesel

    Massa Especfica 15 C (Kg m-3

    ) 0,85 0,89

    Ponto inicial de destilao (C) 189 307

    10% (C) 220 319

    20% (C) 234 328

    50% (C) 263 333

    70% (C) 286 335

    80% (C) 299 337

    90% (C) 317 340

    Ponto final de destilao (C) 349 342

    Aromticos 31,5 nd

    Carbono (%) 86,0 77,4

    Hidrognio (%) 13,4 12,0

    Oxignio (%) 0,00 11,2

    Enxofre (%) 0,30 0,03

    ndice de cetano 46,1 44,6

    Nmero de cetano 46,2 50,8

    Valor calrico (MJ Kg-1

    ) 42,3 37,5

    A diferena de propriedades entre o diesel e os leos vegetais resulta

    principalmente da diferena molecular entre esses dois grupos de substncias. O diesel

    constitudo de hidrocarbonetos com nmero mdio de carbonos em torno de quatorze 48

    .

    Os leos vegetais so tristeres da glicerina, ou seja, produtos naturais da condensao

    da glicerina com cidos graxos, cujas cadeias laterais tm nmeros de carbonos

    variando entre dez e dezoito, com valor mdio de quatorze a dezoito para os tipos de

    leos mais abundantes. Alm do grupo funcional e do tipo de ster, os leos vegetais

    possuem peso molecular cerca de trs vezes maior que o diesel.

    A Tabela 5 resume as propriedades complementares atribudas ao biodiesel

    comparadas ao leo diesel convencional.

  • 28

    Tabela 5. Propriedades complementares atribudas ao biodiesel em comparao ao leo

    diesel comercial 49

    .

    Caractersticas Propriedades complementares

    Caractersticas

    qumicas

    apropriadas

    Livre de enxofre e compostos aromticos, alto nmero de cetanos,

    ponto de combusto apropriado, excelente lubricidade, no txico e

    biodegradvel.

    Menos poluente Reduz sensivelmente as emisses de (a) partculas de carbono

    (fumaa), (b) monxido de carbono, (c) xidos sulfricos e (d)

    hidrocarbonetos policclicos aromticos

    Economicamente

    competitivo

    Complementa todas as novas tecnologias do diesel com desempenho

    similar e sem a exigncia da instalao de uma infraestrutura ou

    poltica de treinamento

    Reduz

    aquecimento

    global

    O gs carbnico liberado ab