Bioética texto 13

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    U n i t e r m o s :

    B iodir eito, B iotica e D ireito

    Princpios da Biot ica e do Biodir eit o

    Heloisa Helena Barboza

    A autora destaca a origem e o desenvolvimento da Biotica at os nossos dias e sal ienta os

    princpios do Biodirei to frent e aos problemas ticos gerados pelos avanos nas cincias biolg-

    icas e mdicas no mundo contemporneo, dando nfase, principalmente, necessidade de

    norm atizao de m uit as das si tu aes oriu ndas dest a relao. O Biodirei to , como in tegrant e do

    Direito , deve, cont udo , observar out ros princpios estabelecidos pelo Direi to, cincia com m to-

    dos e formulaes especficas.

    Heloisa Helena Barboza

    Professora titular de Direito Civil

    da UERJ

    209 - 216

    S I M PSIO

    1. O surgimento da Biotica: princpios

    Afinal o que B iotica? N a ltima dcada essa pergun -

    ta foi formulada inmeras vezes e muitas foram as res-postas apresentadas. Indica-se que o termo foi criado e

    posto em circulao em 1971, no ttulo do livro do on-

    cologista americano Van R. Potter, B ioeth ics, bridge to

    the future, referindo-se a uma nova disciplina que deve-

    ria permitir a passagem para uma melhor qualidade de

    vida (1). Contudo, em sua rpida difuso a expresso ad-

    quiriu significado especfico e cientfico de "uma nova

    dimenso da pesquisa no campo dos estudos acadmi-

    cos", surgindo, em menos de uma dcada, como discipli-

    na autnoma em universidade italiana (2), alm de ins-titutos dedicados a sua investigao. Em sua concepo

    alargada passou a designar os problemas ticos gerados

    pelos avanos nas cincias biolgicas e mdicas (3), pro-

    blemas esses que atingiram seu auge no momento em

    que se comeou a divulgar de modo amplo, certamente

    em proporo direta com o acelerado desenvolvimen to

    dos meios de comunicao, o poder do homem interfe-Biotica

    2000

    -vol8

    -n2

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    rir de forma eficaz nos processos de nascimen-

    to e morte, que at ento apresentavam "mo-

    mentos" ainda no "dominados". Talvez essa

    possibilidade - de controle da vida -, mais do

    que qualquer outra, tenha despertado a huma-

    nidade para a necessidade de preserv-la, esta-

    belecendo limites para o atuar do cientista.

    Na verdade, se aplicado o termo biotica no

    sentido simplista de "tica da vida" ou comodefinido na Enciclopdia de Biotica de

    1978: "estudo sistemtico da conduta huma-

    na na rea das cincias da vida e do cuidado

    da sade, quando esta conduta se examina

    luz dos valores e dos princpios morais", cons-

    tituindo, portanto, um setor da "tica aplica-

    da", movimento intelectual que surgiu nos

    Estados Unidos nas ltimas dcadas e que

    promove a reflexo filosfica sobre problemas

    morais, sociais e jurdicos propostos pelo de-senvolvimento da civilizao tecnolgica con-

    tempornea (4), constataremos que a "questo

    biotica" de h muito est posta, embora tal-

    vez neste sculo muito tenha se agravado.

    Basta lembrar o movimento eugnico do in-

    cio do sculo que an imou a criao, em diver-

    sas naes, de sociedades com este fim, a pri-

    meira delas em 1907, em Londres (Eugenics

    E ducation S ociety). E ssa tendncia m elho-

    ria da raa impulsionou aes moralmente re-gressivas, como a adotada pelos Estados Uni-

    dos, onde se esterilizaram muitas pessoas, a

    maioria contra sua vontade, por serem consi-

    deradas delinqentes ou retardados mentais,

    culminando as aes desse tipo com os sinis-

    tros e vergonh osos programas n azistas de me-

    lhoria da raa arian a, prom ovidos pela Alema-

    nha (5). Nessa linha, pode-se indicar, como

    emblemtica, a utilizao de armas nucleares

    e biolgicas. Na verdade, antigas e no resol-

    vidas questes - como a do aborto e a da eu-

    tansia - foram realimentadas com o advento

    das tcnicas de reproduo assistida e dos

    tran splant es de rgos e tecidos.

    O s antigos e novos problemas apresent aram-se,

    duran te cerca de setenta anos, sem que ocorres-se, ao menos concomitantemente, expressa dis-

    cusso sistemtica dos aspectos bioticos. Em

    outras palavras, constata-se que mais de meio

    sculo foi necessrio para que se sistematizasse,

    ou se tent asse sistematizar, a anlise e a discus-

    so de uma srie de situaes decorrentes dos

    avanos da tecnologia, da biotecnologia e da bi-

    omedicina que se imbricam e pem em cheque

    valores morais, por suas gravssimas conse-

    qncias para a continuidade da vida.

    Talvez esse o maior mrito da B iotica: sistema-

    tizar (ou ao menos tentar) o tratamento de

    questes diversas, mas que devem guardar entre

    si, necessariamente, princpios e fins comuns.

    J se assinalou que as ameaas que pendem so-

    bre a vida no planeta Terra e especialmente so-

    bre a espcie humana derivam do grau diferen-

    ciado de desenvolvimento entre as cincias da

    natureza e as da sociedade. Enquanto impor-tan tes conquistas das primeiras podem eliminar,

    mediante guerra nuclear ou por contaminao

    da atmosfera, o suporte da biosfera, as segundas

    foram incapazes de propor dispositivos institu-

    cionais aptos a evitar tais conseqncias poten-

    ciais e funestas: a humanidade foi incapaz de

    inventar um modelo organizacional adequado

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    s circunstncias tcnico-cientficas de nossa

    era. E ssas reflexes so perfeitam ente vlidas no

    campo dos avanos da Biomedicina e da Biotec-

    nologia que tm buscado, sem encontrar, apoio

    de out ras disciplinas para acomodar seus rumos,

    como se reiterou no Colquio da UNESCO

    em 1 97 5: "um dos problemas mais importantes

    que se propem em todo o mundo reside em

    que as cincias sociais e as do comportamento

    no progrediram no mesmo ritmo das cinciasnaturais e biolgicas. Disso resultou que seus

    efeitos na reflexo filosfica e moral, includos

    cdigos religiosos, ticos e civis, ficaram limita-

    dos. Com efeito, durante muito tempo as ditas

    cincias ignoraram, em geral, a necessidade de

    reajustar os sistemas de valores em funo das

    estruturas da sociedade moderna. Por isso, vi-

    ram minguar sua capacidade de influir de ma-

    neira apropriada nos sistemas polticos e sociais

    das coletividades e, por sua vez, na direo eaplicao do progresso tecnolgico" (6).

    Diante de tal quadro j se pode constatar o im-

    portante papel da Biotica, quer na definio

    antes referida, quer considerada como "ramo da

    filosofia moral que estuda as dimenses morais

    e sociais das tcnicas resultantes do avano do

    conhecimento nas cincias biolgicas. Como

    um dos seus primeiros resultados pode-se consi-

    derar a formulao dos "princpios da Biotica",em torno dos quais tem havido importante con-

    senso e que passaram a constituir o ponto de

    partida obrigatrio para qualquer discusso a

    propsito da eutansia, dos transplantes de r-

    gos, do genoma humano, da experimentao

    em humanos, do emprego das tcnicas de repro-

    duo assistida e de todas as demais questes

    que se possam enquadrar dentro do amplssimo

    espectro que tem sido reconhecido Biotica, a

    envolver, a um s tempo, desde a codificao do

    genoma humano at o equilbrio ambiental.

    O estabelecimento dos mencionados princpi-

    os da Biotica decorreu da criao, pelo Con-

    gresso dos Estados Unidos, de uma Comisso

    Nacional encarregada de identificar os princ-

    pios ticos bsicos que deveriam guiar a inves-tigao em seres humanos pelas cincias do

    comportamento e pela Biomedicina. Iniciados

    os trabalhos em 197 4, quatro anos aps publi-

    cou a referida Com isso o chamado In forme

    Belmont , cont endo trs princpios: a) o da au-

    tonomia ou do respeito s pessoas por suas

    opinies e escolhas, segundo valores e crenas

    pessoais; b) o da beneficncia, que se traduz na

    obrigao de no causar dano e de extremar os

    benefcios e minimizar os riscos; c) o da justi-a ou imparcialidade na distribuio dos riscos

    e dos benefcios, no podendo uma pessoa ser

    tratada de maneira distint a de outra, salvo ha-

    ja entre am bas alguma diferena relevan te. A

    esses trs princpios Tom L. Beauchamp e Ja-

    mes F. Childress acrescentaram outro, em

    obra publicada em 1979 (7), o da "no-male-

    ficncia", segundo o qual no se deve causar

    mal a outro e diferencia, assim, do princpio da

    beneficncia que envolve aes de tipo positi-vo: prevenir ou eliminar o dano e promover o

    bem, mas se trata de um bem de um contnuo,

    de modo que n o h uma separao significan-

    te entre um e outro princpio (8).

    A formulao de tais princpios se d de modo

    amplo, para que possam reger desde a experi-

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    mentao com seres humanos at a prtica cl-

    nica e assistencial. Sua observncia deve ser

    obrigatria, sempre e quando no entrem em

    conflito entre si, caso em que se hierarquizam

    conforme a situao concreta, o que significa di-

    zer que no h regras prvias que dem priorida-

    de a um princpio sobre outro, havendo a neces-

    sidade de se chegar a um consenso entre todos os

    envolvidos, o que constitui o objetivo fundamen-

    tal dos comits institucionais de tica.

    Embora no constituam regras precisas ou

    hierarquizadas e tenham propositalmente con-

    tedo vago, h consenso em torno dos princ-

    pios da Biotica, fato que lhes tem conferido

    observncia bastante significativa em campo

    ainda to instvel.

    2. Biodirei to

    Se inmeras so as indagaes relativas Bio-

    tica, multiplicam-se quando h referncia ao

    Biodireito, h avendo m esmo corrente que nega

    sua existncia. Mas, o que Biodireito? Pode-

    se dizer, em um primeiro momento, que o Bi-

    odireito o ramo do Direito que trata da teo-

    ria, da legislao e da jurisprudncia relativas

    s normas reguladoras da conduta humana em

    face dos avanos da Biologia, da Biotecnologiae da Medicina. Todavia, para melhor compre-

    enso de seu contedo e complexidade, neces-

    srias se fazem algumas reflexes.

    Ramn Martn Mateo, ao discorrer sobre a di-

    menso moral das cincias da vida, esclarece

    que embora parea que as cincias em geral,

    ao menos em seu aspecto investigatrio, no

    devam ter restries intrnsecas, sempre se ve-

    taram determinadas prticas, por razes reli-

    giosas, ticas ou culturais, havendo na atuali-

    dade uma srie de regras que, se no condicio-

    nam o exerccio da inteligncia, ao menos res-

    tringem alguns experimentos e certas aplica-

    es prticas da Medicina. Tais normas restriti-

    vas por vezes tm um componente espiritualis-

    ta, como o respeito vida ou o livre arbtrio,mas em alguns casos atendem preocupaes

    inerentes aos prprios riscos da descoberta, co-

    mo na hiptese de novas bactrias ou vrus.

    Cert o que na maioria dos casos a adequao

    dos comportamentos cientficos axiologia ex-

    tracientfica se produz de forma espontnea,

    por meio de auto-restries e controles aut-

    nom os, o que n em sempre suficiente, deven-

    do ser aclarados externamente de alguma ma-

    neira os modelos que vo ser adotados. S egun -do ainda Mateo, para tais casos no basta a in -

    vocao da conscincia pessoal, que precisa de

    referncias coletivas. Para esses devem ficar es-

    tabelecidos os valores que a sociedade, em um

    mom ento h istrico determinado, considera re-

    levantes e merecedores, portanto, de proteo,

    superando o jogo de convices particulares, a

    necessidade do permitido ou do obrigatrio,

    transcendendo o sistema de proibies (9).

    A difcil tarefa de estabelecer esses valores tem

    sido desempenhada pelo Direito, embora o r-

    pido desenrolar dos acontecimentos no raro

    atropele o ordenamento, exigindo do jurista

    esforo interpretativo para adequar as normas

    existentes s novas situaes, mantendo nte-

    gro o sistema vigente, fato que tem se acentu-

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    ado nas ltim as dcadas graas ao acelerado de-

    senvolvimento tecnolgico e biomdico. Cabe

    ao Direito, atravs da lei, entendida como ex-

    presso da vontade da coletividade, definir a or-

    dem social na medida em que dispe dos mei-

    os prprios e adequados para que essa ordem

    seja respeitada. Contudo, em certos casos essa

    definio dificultada porque certos princpios

    estruturais do Direito so fundados na repre-

    sentao implcita do destino biolgico do ho-mem, como a indisponibilidade do corpo ou a

    fronteira entre as pessoas e as coisas, o que no

    mais necessariamente compatvel com o no-

    vo domn io do homem sobre os seres human os

    (10). Alm disso, a regulamentao de deter-

    minadas situaes colocar, certamente, em

    discusso problemas que ela no resolver: a

    criao de um estatuto sobre o embrio impli-

    car em debates envolvendo o m oment o de in-

    cio da vida, a existncia ou no do direito a seter um filho, e mesmo o aborto. O utra dificul-

    dade reside no tipo de norma que deve ser ado-

    tada: leis gerais, fixando grandes princpios, ou

    mais casusticas. De qualquer modo, como

    acentuou o prof. Douste-Blazy, perante a

    U N E S CO , "as leis sobre a Biotica devero se

    adaptar s evolues futuras da cincia".

    Esclarece Lavaialle que adaptar a lei no deve

    significar que essa deva evoluir ao sabor dosprogressos cientficos, fornecendo conceitos

    adaptados s mudanas sociais que a pesquisa

    cientfica induz na definio de vida, visto que

    isso seria reduzir o Direito a uma funo ins-

    trumental, livre de todas as referncias a valo-

    res. Em outras palavras, no basta ao Direito

    adaptar as categorias jurdicas existentes ou for-

    mu lar novas regras para apreender as n ovas tc-

    nicas e relaes interpessoais decorrentes, pois

    isto seria colocar o D ireito reboque da cincia,

    subvertendo ou desconhecendo sua natureza ci-

    entfica dotada de princpios, mtodos e formu-

    laes prprios. O bserve-se que ainda que um

    imperativo deont olgico fosse reconh ecido e ri-

    gorosamente respeitado pelos profissionais,

    problemas estritam ente jurdicos no seriam re-

    solvidos, como os relativos filiao, o acesso adeterminadas informaes, a disponibilidade do

    corpo. No suficiente, portanto, a existncia

    de regras. O Direito no soment e um conjun-

    to de regras, de categorias, de tcnicas: ele vei-

    cula tam bm um certo nm ero de valores. Por

    conseguinte, se o Direito deve evoluir para dar

    conta dos progressos cientficos e assim se

    adaptar aos avanos mdicos que permit em mu-

    dar a vida e no apenas prolong-la, deve neces-

    sariamente ordenar essas intervenes sobre ohom em. O sistema jur dico feito de regras que

    constrem uma sociedade fundada em certos

    valores, tais como a liberdade ou a igualdade

    que geram um a concepo de homem. O Direi-

    to a regra que uma sociedade se d. As inter-

    venes sobre o corpo humano, como as tcni-

    cas de reproduo assistida, as manipulaes ge-

    nticas, as experimentaes em humanos, os

    transplantes e clonagem, conduzem automati-

    camente a uma reificao do ser humano, semantidas determinadas categorias clssicas do

    Direito. O estabelecimento de regras sobre es-

    ses fatos poder manter esse entendimento ou

    definir novas categorias, ou adaptar as existen-

    tes de modo a assegurar a perman ncia do pri-

    mado da pessoa humana, pedra-de-toque de

    nossa civilizao jurdica, sobre toda viso redu-

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    cionista que faz com que se perca sua singula-

    ridade absoluta (11).

    3. Princpios do Biodireito

    Como se v, passar da Biotica, j efetiva, a

    um Biodireito no simples, principalmente

    se considerados os valores que esto em jogo.

    Estruturar o Biodireito requer, antes de tu-do, ter em mente que no se pode reduzir o

    Direito a um papel meramente instrumen tal,

    substituindo, como j se afirmou, "os direi-

    tos do homem pelos direitos de um homem

    em funo de suas predisposies genticas"

    (12 ). O objeto do Biodireito matria com-

    plexa, heterognea e que confronta normas

    existentes que na maioria das vezes lhe so

    estranhas. Contudo, como integrante do

    nosso sistema jurdico deve, necessariamen-te, submeter-se aos princpios que o regem.

    A partir de 19 88 instaurou-se no B rasil uma

    nova ordem jurdica que encontra na Cons-

    tituio da Repblica seus princpios estru-

    tu rais. Tais princpios compreendem, em sua

    maioria, direitos fundamentais do homem,

    traduzindo os valores primordiais de nossa

    sociedade. Se certo que a recepo nos tex-

    tos constitucionais de uma srie de valores

    fundamentais, como a vida, a dignidade hu-mana, a liberdade e a solidariedade e sua pro-

    teo enquanto direitos, tornou-os pedras

    angulares da Biotica moderna (13), no

    menos certo dizer-se que esses direitos de-

    vem constituir, por tal razo e, principal-

    mente, por terem natureza jurdica, a rede

    estrutural do Biodireito.

    Em conseqncia, no podero as normas do

    Biodireito, a qualquer ttulo, preterir esses

    princpios, verdadeiros balizadores da atuao

    do legislador. Como indicado, tem a Biotica

    princpios que lhe so prprios, mas a anlise

    e regulamentao jurdicas dos problemas bio-

    ticos devero observar outra ordem de valo-

    res, outro mtodo e diversa formulao, perti-

    nentes ao Direito.

    Impe-se observar que no h em n ossa Con s-

    tituio um captulo "dedicado" ou "pertinen-

    te" Biotica e nem se deve restringir os prin-

    cpios do Biodireito queles atinentes rea da

    sade, do meio ambiente ou da tecnologia.

    Como qualquer norma jurdica, a disciplina

    das matrias que se possam classificar como

    integrantes do Biodireito deve ser harmnica

    com o ordenamento, acorde com seus cno-

    nes. Nesse sentido, o princpio do respeito dignidade humana, fundamento da Repblica,

    basilar para toda e qualquer norma jurdica.

    Mas no s esse deve ser observado, j que,

    concomitantemente, outros se impem. As-

    sim, a regulamentao sobre transplantes de

    rgos encontrou limitao no art. 199 , 4 ,

    da Constituio, que vedou todo tipo de co-

    mercializao. Nessa linha, a Lei de Biossegu-

    rana (Lei n 8.974/95) se ateve aos ditames

    do art. 225, 1, II e V, estabelecendo nor-mas destinadas a preservar a diversidade e a in-

    tegridade do patrimnio gentico do pas e a

    fiscalizar as entidades dedicadas pesquisa e

    manipulao de material gentico, normas es-

    sas que acabaram por proibir a manipulao

    gentica de clulas germinais humanas, impe-

    dindo assim a clonagem de seres humanos no

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    Brasil. Por igual motivo, a normatizao que

    vier a ser estabelecida sobre as tcnicas de re-

    produo humana assistida dever atender

    igualmente os princpios da plena igualdade

    entre os filhos, da paternidade responsvel, do

    melhor in teresse da criana.

    Se, de um lado, a existncia de princpios j

    assentes facilita de algum modo o trabalho do

    legislador, de out ro a diversidade da mat ria e

    sua extrema complexidade a abranger, a um

    s tempo, direitos aparentement e contradit-

    rios, sem dvida exigir-lhe-o aprofundado

    conhecimento da cincia e do sistema jurdi-

    cos que podero fornecer elementos para a

    soluo mais adequada. Acrescente-se, por

    fim, que os princpios da Biotica no deve-

    ro ser preteridos pelo legislador, na medida

    em que tm por fundam ento valores reconhe-

    cidos pelo Direito.

    ABSTRACTPrinciple s of Bioeth ics and BioLaw

    The author highlights the origin and the development of Bioethics up to the present day

    and points out the principles of BioLaw in light of the ethical problems generated by the

    advancements in biological and medical sciences in the modern world, giving emphasis,

    especially, to the need for the normalization of many of the situations that arise from thisrelationship. BioLaw, as part of Law, should, however, observe other principles established

    by Law for science, with specific methods and formulations.

    RESUME

    Principios de la Biotica y del Bioderecho

    La autora destaca el origen y el desarrollo de la Biotica hasta nuestros das y destaca los

    principios del Bioderecho frente a los problemas ticos generados por los avances en las

    ciencias biolgicas y mdicas en el mundo contemporneo, dando nfasis, principalmente,

    a la necesidad de normalizacin de muchas de las situaciones oriundas de esta relacin. El

    Bioderecho, como integrante del Derecho, debe, no obstante, observar otros principiosestablecidos por el Derecho, ciencia con mtodos y formulaciones especficas.

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    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

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    R ua Oliv eira Fausto 45, apt 204

    CE P: 22.280-090

    R io de Janeiro - R J - Brasil

    E -mail: h2b@ centroin.com.br

    ENDEREO PARA CORRESPONDNCIA