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Módulo Inicial – Diversidade na
Biosfera
1. A biosfera
1.1. Diversidade biológica
A biodiversidade ou diversidade biológica dos sistemas, é entendida como a multiplicidade dos seres
vivos presentes na biosfera e pode exprimir-se em diferentes níveis de integração:
Diversidade ecológica: refere-se à diversidade de comunidades presentes nos diferentes
ecossistemas.
Diversidade de espécies: é relativa à variedade entre espécies encontradas em diferentes
habitats do planeta,
Diversidade genética: inclui variedade genética dentro e entre populações pertencentes à mesma
espécie.
A diversidade espécies de uma comunidade abrange duas componentes: uma em riqueza em espécies, ou
seja, o número total de diferentes espécies da comunidade, e outra é a abundância relativa das diferentes
espécies, que diz respeito ao número de indivíduos de cada espécie. Duas comunidades podem ter a mesma
riqueza de espécies mas apresentarem uma abundancia relativa muito diferente.
Pode considerar-se espécie corresponde a um conjunto de indivíduos, em regra morfologicamente
semelhantes, que podem cruzar-se entre si originando descendência fértil.
A diversidade da vida pode ser organizada em vários níveis:
À escala global fica a biosfera, que abrange os seres vivos e todos os meios da Terra onde existe vida. A
biosfera inclui o nível de ecossistema, que engloba os organismos que vivem numa determinada área, bem
como os componentes abióticos do meio tais como o ar, água, solo, luz solar e respetivas interações. O
conjunto de seres vivos e as relações que estabelecem entre si constitui uma comunidade biótica. Dentro da
comunidade, um grupo de seres vivos da mesma espécie que habitam numa determinada região, num dado
período de tempo, constitui uma população. Na hierarquia, abaixo do nível da população está o organismo.
Num organismo complexo, a hierarquia continua a revelar-se. Há sistemas de órgãos, tal como o sistema
circulatório, o sistema digestivo ou o sistema nervoso, em que vários órgãos trabalham em conjunto na
realização de funções específicas. Cada órgão é constituído por diferentes tecidos, cada um com uma dada
função realizada pelo grupo de células semelhantes que a formam.
Numa célula pode identificar-se vários organelos, estruturas que desempenham uma função específica na
célula, e, finalmente encontramos o nível molécula, conjunto de átomos unidos por ligações químicas.
Que relações tróficas se estabelecem num ecossistema?
Produtores: Realizam a fotossíntese, ou seja, captam energia luminosa que transformam em energia
química. Ao longo deste processo são fabricados compostos orgânicos a partir de matéria mineral.
Exemplos: plantas, algas e algumas bactérias.
Consumidores (Macroconsumidores): Alimentam-se direta ou indiretamente a partir dos produtores. Os
consumidores podem ser de primeira ordem (se se alimentam diretamente dos produtores) ou de segunda,
terceira… ordem (se se alimentam de outros consumidores e, portanto, indiretamente a partir dos produtores)
Exemplos: animais e protozoários.
Decompositores (Microconsumidores): são consumidores que obtêm o seu alimento transformando em
matéria inorgânica a matéria orgânica contida nos restos mortais e outros seres e em produtos de excreção
(fezes e urina).
Pode concluir-se que diferentes processos que ocorrem nos ecossistemas, envolvem fluxos de energia e
ciclos de nutrientes onde intervém produtores, consumidores e decompositores.
Numa estrutura trófica, uma importante implicação do declínio da energia que se verifica ao longo dos
diferentes níveis tróficos é que a percentagem de energia disponível no último nível de consumidores é muito
pequena comparada com a que se verifica em níveis mais baixos. Pode referir-se que quanto mais pequena é
uma cadeia alimentar menores são as perdas que se verificam do que resultam uma maior economia do
alimento.
1.2. Extinção e conservação de espécies Atualmente o ser humano é considerado o principal responsável pelo cenário preocupante pela extinção
de espécies, ou seja pela redução do número de indivíduos de cada espécie até ao seu desaparecimento.
Todavia o ser humano desenvolve também esforços no sentido de preservar a biodiversidade.
Extinção de espécies
As espécies de um ecossistema interagem através de relações tróficas. O desaparecimento de um elo de
uma cadeia trófica pode interferir na dinâmica de um ecossistema e colocar em perigo outras espécies.
Define-se espécie em perigo aquela cuja sobrevivência é considerada duvidosa se continuarem a atuar
os fatores que a ameaçam.
As plantas também estão a ser vertiginosamente ameaçadas. As florestas contêm a maioria das espécies
vivas, mas elas são vítimas de uma destruição incessante e crescente iniciada pelo ser humano.
A deflorestação incide hoje, essencialmente nas florestas tropicais. Não resulta somente do corte
destinado a alimentar a indústria da madeira mas também de uma destruição intencional, muitas vezes por
incêndio, com a finalidade de aumentar a superfície agrícola útil. A degradação da vegetação modifica as
características físicas da superfície dos solos e provoca a sua erosão acelerada, podendo conduzir a uma rotura
do equilíbrio dos ecossistemas com a diminuição importante da biodiversidade. Pode considerar-se que a
destruição de habitats ou a sua profunda alteração são das ameaças mais graves para a extinção de espécies.
Conservação de espécies
O risco de extinção de espécies, com consequente perda da diversidade biológica, devido às atividades
humanas, conduziu à necessidade de conservação.
A tomada de consciência da necessidade de proceder à conservação da biodiversidade tem levado muitos
países, entre outras medidas, à criação de zonas de proteção especial ou áreas protegidas. Estes locais
pretendem manter as espécies e os ecossistemas relativamente livres da ação do Homem, permitindo
conservar um património natural, não só para as gerações atuais como também para as gerações futuras.
2. A base celular da vida
2.1. Célula – unidade de estrutura e de função
A Teoria Celular assenta nos seguintes pressupostos:
A célula é a unidade básica estrutural e funcional de todos os seres vivos (isto é, todos os seres
vivos são constituídos por células, onde ocorrem os processo vitais);
Todas as células provêm de células pré-existentes;
A célula é a unidade de reprodução, de desenvolvimento e de hereditariedade dos seres vivos.
Organização celular
Existem dois tipos fundamentais de células, de acordo com o grau de organização estrutural – as células
procarióticas e as células eucarióticas.
Tanto as células procarióticas como as eucarióticas apresentam na sua constituição alguns aspetos
comuns:
Componente celular Estrutura/Função
Membrana celular ou membrana plasmática Invólucro que mantém a integridade celular, sendo responsável pela troca de substancias entre o meio intracelular e o meio extracelular.
Citoplasma Apresenta uma massa semifluida, aparentemente homogénea, designada citosol, no seio do qual se encontram várias estruturas.
Ribossomas
Pequenas estruturas, constituídas por duas porções (subunidade menor e subunidade maior), por vezes associadas ao retículo endoplasmático, onde se efetua a síntese de proteínas de acordo com as instruções do material genético.
Material genético Contém as informações que regulam as atividades celulares.
Células procarióticas: representadas pelas bactérias, são estruturalmente mais simples do que as células
eucarióticas. Não possuem núcleo, o DNA constitui o nucleóide e, em contraste com o núcleo da célula
eucariótica, não têm invólucro nuclear. Exteriormente à membrana plasmática, a maioria das células
procarióticas tem uma complexa parede celular que protege a célula e ajuda a manter a sua forma. Em alguns
procariontes, a rodear a parede celular, existe uma outra estrutura, chamada cápsula, que tem também uma
função protetora. Alguns procariontes apresentam ainda na sua superfície prolongamentos designados por
flagelos.
Células eucarióticas: são células complexas com um elevado número de organelos.
Possuem um núcleo organizado, isto é, o material nuclear encontra-se localizado numa determinada zona
de célula, separado do citoplasma por uma membrana nuclear.
Há organelos membranares (componentes funcionais rodeados de membranas) presentes nas células
animais e nas células vegetais, mas há também estruturas que permitem distinguir estas duas categorias de
células.
Org
anel
os
com
un
s Componente celular Estrutura/Função
Núcleo É o maior organelo celular e encontra-se delimitado por uma membrana com poros. O núcleo controla a atividade celular.
Citoplasma
Mitocôndrias
Organelos que possuem duas membranas, uma interna e outra externa. Esta última pode apresentar invaginações para o interior. As mitocôndrias estão envolvidas em processos de obtenção de energia por parte da célula. O interior das mitocôndrias é ocupado pela matriz mitocondrial.
Membrana celular plasmática
Complexo de Golgi Conjuntos de cisternas achatadas e de vesiculas, que intervém em fenómenos de secreção.
Ribossomas
Reticulo endoplasmático
É constituído por um sistema irregular de cisternas e por vesiculas. No retículo endoplasmático rugoso (RER) as membranas das cisternas apresentam, na zona externa, ribossomas. O RER intervém no transporte de proteínas e de outras substâncias dentro da célula. O reticulo endoplasmático liso (REL) não tem ribossomas associados e intervém na síntese de vários compostos orgânicos como proteínas e lípidos.
Org
anel
os
cara
cte
ríst
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as
célu
las
vege
tais
Vacúolos Organelos de tamanho variável, rodeados por uma membrana. Os vacúolos podem armazenar no seu interior gases, pigmentos, açucares, proteínas ou outras substâncias.
Parede celular Parede rígida que envolve as células vegetais e bacterianas, conferindo-lhes proteção e suporte.
Cloroplastos Organelos que possuem uma membrana dupla, onde se encontram pigmentos envolvidos na fotossíntese.
Org
anel
os
cara
cte
ríst
ico
s d
as c
élu
las
anim
ais
Lisossomas Estruturas esféricas, rodeadas por uma membrana simples, que contêm no seu interior enzimas (hidrolases), que intervêm na decomposição de moléculas e estruturas celulares.
Centríolos Estruturas de aspeto cilíndrico, constituída por microtúbulos. Intervêm na divisão celular.
2.2. Constituintes básicos de uma célula
Água – importância biológica
A água é uma substância com elevada coesão molecular, apresenta ponto de ebulição elevado, o seu
calor específico é o mais elevado de todos os líquidos vulgares e a sua condutibilidade térmica é mais alta de
todos os corpos não metálicos. Estas propriedades favorecem a importante intervenção da água na vida dos
organismos:
Intervém nas reações químicas;
Atua como meio de difusão de muitas substâncias;
É um regulador da temperatura, pois em presença de grandes variações de temperatura do meio
experimenta pequenas variações;
Intervém em reações de hidrólise;
Excelente solvente, serve de veículo para materiais nutritivos necessários às células e produtos
de excreção.
De todas as funções que a água realiza na matéria viva, destaca-se o seu poder de dissolver
numerosos compostos orgânicos e inorgânicos, sendo, por isso, denominada solvente universal.
Compostos orgânicos
Alguns compostos orgânicos são constituídos por moléculas relativamente pequenas. Outras são
moléculas gigantes, constituídas pela associação de várias moléculas unitárias. Estas moléculas, grandes e
complexas, as macromoléculas, são polímeros, isto é, cadeias com um grande número de unidades básicas
(monómeros), unidas por ligações químicas.
Através de reações de condensação os monómeros unem-se e formam cadeias maiores, originando
polímeros. Por cada ligação de dois monómeros que se estabelece é removida uma molécula de água.
Através de reações de hidrólise, os monómeros que constituem um polímero podem-se separar-se uns
dos outros. Tanto as reações de hidrólise como as reações de condensação são essenciais a nível celular.
Hidratos de carbono ou Glícidos
Compostos orgânicos ternários (constituídos por C,O e H).
Importância biológica dos hidratos de carbono
No âmbito da importância biológica dos glícidos, podem referir-se duas funções fundamentais:
Função energética: muitos monossacarídeos são utilizados diretamente em transferências energéticas.
Alguns oligossacarídeos e polissacarídeos constituem uma reserva energética. É o caso da sacarose, do amido
e do glicogénio.
Função estrutural: certos glícidos, como a celulose, a quitina e outros, desempenham funções estruturais.
Lípidos
Os lípidos constituem um grupo de moléculas muito heterogéneo, do qual fazem parte as gorduras
(animais e vegetais). Geralmente são compostos de O, H e C, mas também podem conter outros elementos,
como S, N ou P.
A insolubilidade na água e a solubilidade em solventes orgânicos, como o benzeno, o éter e o
clorofórmico, são características comuns deste tipo de substância com estrutura e propriedade químicas
diferentes.
Triglicerídeos (lípidos simples): constituem um dos principais grupos de lípidos com funções de reserva.
Na síntese de um triglicerídeo unem-se três moléculas de ácidos gordos a uma molécula de glicerol.
Fosfolípidos: os fosfolípidos são os constituintes mais abundantes das membranas celulares. A sua
estrutura resulta da ligação de uma molécula de glicerol com dois ácidos gordos e com uma molécula de ácido
fosfórico.
Os fosfolípidos são molécula anfipáticas, isto é, possuem uma parte polar (hidrofílica) e uma parte apolar
(hidrofóbica).
Hidratos de Carbono ou
Glícidos
2 a 10 monossacarideos
Oligossacarideos
Dissacarideos (2 monossacarideos)
- Sacarose (Glicose + Frutose)
- Maltose (Glicose + Glicose)
- Lactose (Glicose + Galactose)
+ de 10 monossacarídeos
Polissacarideos
- Celulose
- Amido
- Glicogénio
ligação glicosidica
Monossacarídeos
(unidades estruturais dos glícidos)
Pentoses (5C)
- Ribose - Desoxirribose
Hexoses (6C)
--Glicose - Frutose - Galactose
Importância biológica dos hidratos de carbono
De entre as funções que este grupo de compostos orgânicos desempenha nos organismos podem
destacar-se várias.
Reserva energética: as gorduras constituem uma importante fonte de energia.
Função estrutural: alguns lípidos, como os fosfolípidos e o colesterol, são constituintes de membranas
celulares.
Função protetora: há lípidos, como os óleos ou as ceras, que revestem folhas e frutos de plantas, bem
como a pele, pelos e penas de muitos animais, tornando essas superfícies impermeáveis à água.
Função vitamínica e hormonal: vitaminas, como as vitaminas E e K, bem como algumas hormonas,
nomeadamente hormonas sexuais, são também de natureza lipídica.
Prótidos – polímeros de aminoácidos
Os prótidos são compostos quaternários, constituídos por C, H, O e N, podendo também conter outros
elementos como S, P, Mg, Fe, Cu, etc. de acordo com a sua complexidade, os prótidos podem classificar-se em
aminoácidos, péptidos e proteínas.
Aminoácidos: são os prótidos mais simples, constituindo as unidades estruturais dos péptidos e das
proteínas, já que podem ligar-se entre si, formando cadeias de tamanho variável.
Existem cerca de 20 aminoácidos que entram na constituição dos prótidos de todas as espécies de seres
vivos e todos eles possuem um grupo amina (NH2), um grupo carboxilo (COOH) e um átomo de hidrogénio,
ligados ao mesmo átomo de carbono. Existe ainda uma porção da molécula (R), que varia de aminoácido para
aminoácido.
Péptidos: os péptidos são o resultado da união entre dois ou mais aminoácidos, que se efetua através de
uma ligação química covalente, denominada ligação peptídica. A ligação peptídica estabelece-se entre o grupo
carboxilo de uma aminoácido e o grupo amina de outro.
As cadeias peptídicas podem conter mais de cem aminoácidos.
Proteínas: são macromoléculas constituídas por uma ou mais cadeias polipeptídicas (mais de 20
aminoácidos) e apresentam uma estrutura tridimensional definida. São moléculas com vários níveis de
organização.
A estrutura primária das proteínas designa uma sequência de aminoácidos unidos por ligações peptídicas.
Várias destas cadeias podem dispor-se paralelamente e ligar-se entre si por pontes de hidrogénio, formando
uma estrutura pregueada, que é um tipo de estrutura secundária. Por outro lado, as cadeias peptídicas podem
enrolar-se em hélice, devido ao estabelecimento de pontes de hidrogénio entre grupos amina e carboxilo de
aminoácidos diferentes. Esta estrutura em hélice constitui o tipo mais comum de estrutura secundária das
proteínas.
Na estrutura terciária, a estrutura secundária enrola-se e dobra-se sobre si mesma ficando com uma
forma globular.
Na estrutura quaternária várias cadeias polipeptídicas globulares estabelecem ligações entre si.
As proteínas quando submetidas a determinados agentes, como calor excessivo, radiações ou variações
de pH podem perder a sua conformação normal, que é sempre acompanhada pela perda da sua função
biológica. Diz-se que houve desnaturação da proteína.
Importância biológica das proteínas
As proteínas desempenham funções cruciais em diversos processos biológicos, podendo citar-se vários
exemplos.
Função estrutural: fazem parte da estrutura de todos os constituintes celulares.
Função enzimática: atuam como enzimas em quase todas as reações químicas que ocorrem nos seres
vivos.
Função de transporte: muitos iões e moléculas pequenas são transportados por proteínas. Por exemplo, a
hemoglobina transporta o oxigénio até aos tecidos.
Função hormonal: muitas hormonas, como a insulina, a adrenalina, hormonas hipofisárias, etc., têm
constituição proteica.
Função imunológica: certas proteínas altamente específicas reconhecem e combinam-se com substâncias
estranhas ao organismo, permitindo a sua neutralização.
Função motora: são os componentes maioritários dos músculos.
Função de reserva alimentar: algumas proteínas funcionam como reserva, fornecendo aminoácidos ao
organismo durante o seu desenvolvimento.
Ácidos nucleicos – macromoléculas de informação
Os ácidos nucleicos são as biomoléculas mais importantes do controlo celular, pois contêm informação
genética. Existem dois tipos de ácidos nucleicos: o ácido desoxirribonucleico (DNA) e o ácido ribonucleico
(RNA).
Importância biológica das proteínas
- Quer nos procariontes quer nos eucariontes, o DNA é o suporte universal da informação genética,
intervém na atividade celular e é responsável pela transmissão da informação genética de geração em
geração.
- A grande diversidade de moléculas de DNA confere diversidade à vida, pois cada organismo contém o
seu DNA que o torna único
- O DNA e o RNA intervêm na síntese de proteínas.
Unidade 1 – Obtenção de matéria
– Heterotrofia e Autotrofia
1. Obtenção de matéria pelos seres heterotróficos
Seres Heterotróficos são os seres vivos que para conseguir o seu alimento precisam consumir um
outro ser vivo.
1.1. Dos seres unicelulares aos seres pluricelulares
Membrana plasmática É a membrana celular que mantém a integridade da célula. Ela atua como uma barreira, separando dois
meios distintos, o meio intracelular e o meio extracelular, e como uma superfície de troca de substâncias, de
energia e de informação entre esses dois meios. Como a membrana celular apenas permite a entrada e a saída
de determinadas substâncias, ela constitui uma barreira seletiva.
Desde o início do século XX têm sido propostos vários modelos moleculares para a estrutura da
membrana celular. Estes modelos estão sujeitos a constantes alterações, devendo, por isso, ser considerados
representações hipotéticas baseadas em conhecimento que se foram aprofundando sobre a composição,
estrutura e função membranares.
O modelo de estrutura da membrana proposto por Singer e Nicholson, é atualmente o mais aceite. Este
modelo, também conhecido por modelo de mosaico fluido, é unitário, uma vez que se aplica a todas as
membranas existentes nas células. De acordo com ele a membrana é constituída por:
Bicamada de fosfolípidos, com as extremidades hidrofílicas das moléculas a formarem a face interna e
externa da membrana e as hidrofóbicas a ocuparem o interior;
Proteínas que, de acordo com a sua posição na bicamada, são designadas por proteínas intrínsecas ou
integradas, inseridas na dupla camada, e proteínas extrínsecas ou periféricas, situadas na superfície interna ou
externa. As proteínas membranares possuem composição e funções diferentes. Algumas apenas têm função
estrutural, outras intervêm na atividade celular como transportadoras de substâncias químicas através da
membrana celular (ex.: permeases), como enzimas, catalisando reações que ocorrem na superfície da célula
ou como recetores de estímulos provenientes do meio extracelular.
Colesterol, situado entre as moléculas de fosfolípidos da bicamada; tem um papel estabilizador da
membrana, pois evita que os fosfolípidos se agreguem, mantendo a fluidez;
Glicolípidos e glicoproteínas, localizados na superfície externa da bicamada. Estas moléculas
desempenham um papel importante no reconhecimento de certas substâncias pela célula através da sua
porção glicídica.
A membrana celular é uma estrutura dinâmica, uma vez que os seus constituintes realizam movimentos
de que são exemplos a mobilidade lateral das moléculas de fosfolípidos e das proteínas, trocando na mesma
camada de posição umas com as outras, e, pontualmente, os movimentos de fosfolípidos de uma camada para
a outra. É esta plasticidade, evidenciada pela membrana, que justifica a designação de mosaico fluído atribuída
ao modelo referido
Transporte de matérias através da membrana plasmática Em todas as células vivas, a membrana plasmática permite a entrada de substâncias de que as células
necessitam e a saída de produtos resultantes da sua atividade. Uma das suas propriedades fundamentais é a
permeabilidade seletiva, uma vez que facilita a passagem de certas substâncias e dificulta ou impede a
passagem de outras.
Os mecanismos pelos quais ocorrem as trocas de materiais através da membrana celular são variados.
Transporte não mediado
Corresponde ao transporte de moléculas de reduzidas dimensões através da membrana celular, sem
intervenção de moléculas específicas transportadoras.
Difusão simples
A difusão simples é o processo físico através do qual várias substâncias (O2, CO2, glicose, ureia, etc.)
atravessam a membrana plasmática a favor do gradiente de concentração, ou seja, do meio em que se
encontram em maior concentração para o meio onde se encontram em menor concentração. Esse movimento
é regulado pelas leis físicas de transporte e através de uma membrana permeável, ocorrendo sem gastos de
energia.
A velocidade de difusão é tanto maior, quanto maior for a diferença de concentração de uma
determinada substância entre dois meios e estabiliza quando se atinge o equilíbrio de concentrações.
Quando o equilíbrio de concentrações é atingido, o movimento de partículas contínua, mas a quantidade
de partículas que passam num sentido é igual à quantidade de partículas que passam em sentido contrário,
tratando-se, portanto, de um equilíbrio dinâmico. É a agitação térmica das partículas que desencadeia a sua
movimentação, designando-se esse movimento por difusão simples.
O movimento da água através de uma membrana seletivamente permeável é um caso particular de
difusão simples e é designado por osmose.
A pressão necessária para contrariar a tendência da água se mover, através de uma membrana
seletivamente permeável, da região onde há maior quantidade de molécula de água para a região onde há
menor quantidade de moléculas de água designa-se por pressão osmótica.
A existência de sais minerais, açúcares e outras substâncias dissolvidas no citoplasma confere às células
uma pressão osmótica especifica. A água tende, portanto, a mover-se de uma região com menor pressão
osmótica (solução hipotónica) para uma região com maior pressão osmótica (solução hipertónica).
No caso de o meio extracelular ser isotónico em relação ao meio intracelular, as células recebem água ao
mesmo ritmo que a perdem.
Osmose nas células vegetais
Nas células vegetais colocadas em água destilada, meio hipotónico em relação ao meio intracelular, a
água entra para o vacúolo e este aumenta de volume, comprimindo o citoplasma e o núcleo contra a parede
celular. Diz-se que a célula fica túrgida. Numa célula túrgida, o conteúdo celular exerce uma pressão sobre a
parede celular, denominada pressão de turgescência, que é contrabalançada pela resistência oferecida pela
parede (pressão de parede), impedindo o rebentamento da célula e alterações significativas do seu volume.
Nas células colocadas numa solução concentrada de cloreto de sódio, solução hipertónica em relação ao
meio intracelular, há um movimento de água do vacúolo para o exterior da célula. Ao perder a água o vacúolo
diminui de volume e o citoplasma retrai-se, depreendendo-se parcialmente da parede celular. Diz-se então
que a célula está plasmolisada.
Osmose nas células animais
Quando o meio envolvente é hipotónico em relação ao meio intracelular, a água entra para as células e as
células ficam túrgidas. Pode ocorrer mesmo um aumento de volume tão acentuado que a membrana celular
rompe, extravasando o conteúdo celular, o que conduz à destruição das células (lise celular).
A lise celular ocorre nas células animais por não existir parede celular.
Tal como a água, o oxigénio, o dióxido de carbono e outras pequenas moléculas atravessam a membrana
celular por difusão simples.
Transporte mediado
Corresponde ao transporte de moléculas de reduzidas dimensões através da membrana celular, com
intervenção de proteínas transportadoras especificas. Estão neste caso os processos de difusão facilitada e de
transporte ativo.
Difusão facilitada
Tal como na difusão simples, o transporte de certas substâncias como a glicose e os aminoácidos ocorre a
favor do gradiente de concentração, mas as partículas não se movimentam livremente, intervindo nesse
transporte proteínas transportadoras da membrana. Essas proteínas são específicas e designam-se por
permeases.
Neste transporte a velocidade com que uma substância atravessa a membrana aumenta inicialmente
como o aumento da concentração dessa substância mas, a partir de um determinado momento verifica-se
uma estabilização da velocidade até que fica constante, correspondendo à velocidade máxima. Isto verifica-se
quando, num dado momento, todos os transportadores da membrana se encontram saturados (ocupados).
Admite-se que o mecanismo de difusão facilitada ocorre sem mobilização de energia pela célula. Por tal
motivo, o processo de difusão facilitada, tal como o de difusão simples, é considerado um processo de
transporte passivo.
Transporte ativo
Caracteriza-se por ser o transporte de uma substância através de uma membrana biológica contra o
gradiente de concentração, ou seja, do local onde a sua concentração é mais baixa para o local onde a
concentração é mais elevada, o que implica mobilização de energia celular.
Tal como na difusão facilitada, intervêm proteínas específicas da membrana pelo que é também um
transporte mediado.
O transporte ativo permite que as células mantenham constante a concentração de certas substâncias no
citosol apesar de as suas concentrações serem diferentes em relação ao meio extracelular. Permite também
eliminar substâncias mesmo quando se encontram em concentração muito inferior à do meio e ainda captar
do meio substâncias mesmo que a sua concentração seja baixa.
Endocitose e exocitose
Endocitose: O transporte de macromoléculas ou de partículas com grandes dimensões para o interior da
célula por invaginação da membrana plasmática chama-se endocitose.
Neste processo o material é transportado através invaginações da membrana, que progridem para o
interior até se separarem da membrana, constituindo vesículas endocíticas.
Conhecem-se vários tipos de endocitose, como a fagocitose e a pinocitose.
Fagocitose: o material alimentar é englobado por pseudópodes, prolongamentos emitidos pela
célula, formando uma vesícula fagocítica.
Pinocitose: pequenas gotas de fluido são captadas por invaginações da membrana e acabam por se
separar formando vesículas pinocíticas.
Exocitose: O processo inverso à endocitose, no qual as células libertam para o meio extracelular
substâncias armazenadas em vesículas designa-se por exocitose. Neste processo vesículas contendo
macromoléculas movem-se até à membrana. Efetua-se a fusão da membrana da vesícula com a membrana
celular e o conteúdo da vesícula liberta-se no meio extracelular.
Por exocitose, através das vesiculas exocíticas, são lançados no meio extracelular produtos, como
hormonas e enzimas digestivas, sintetizadas por células glandulares. É também por exocitose que são
eliminados resíduos da digestão intracelular de partículas alimentares.
1.2. Ingestão, digestão e absorção
Como os alimentos contêm, em regra, moléculas complexas, nos seres heterotróficos, desde os seres
unicelulares até aos mais complexos, ocorre um conjunto de processos de modo que os constituintes dos
alimentos sejam simplificados para poderem ser aproveitados a nível celular. Desse modo, em regra, após a
ingestão, ou seja, a introdução dos alimentos no organismo, essas moléculas experimentam uma digestão,
processo de transformação das moléculas complexas dos alimentos em substâncias mais simples, por reações
de hidrólise, catalisadas por enzimas. As enzimas são moléculas de natureza proteica que atuam como
catalisadores biológicos, diminuindo a energia necessária para que as reações químicas se desencadeiem, sem
se gastarem nessas reações.
A digestão pode ocorrer no interior das células, digestão intracelular, ou fora das células, digestão
extracelular. As substâncias mais simples resultantes da digestão podem então experimentar uma absorção,
isto é, um movimento dos nutrientes através de membranas celulares.
Digestão intracelular
Os alimentos obtidos por pinocitose ou por fagocitose são submetidos a um processo de digestão
intracelular. Deste processo resulta a decomposição das macromoléculas que constituem aqueles alimentos
em moléculas mais simples, que, posteriormente, são difundidas pelo citoplasma. Neste processo de digestão
participam vários organitos celulares como o retículo endoplasmático, o complexo de Golgi, os lisossomas e os
vacúolos digestivos.
O retículo endoplasmático intervém na síntese de várias substâncias, nomeadamente nas proteínas
enzimáticas (enzimas). Estas enzimas são acumuladas em vesículas que, mais tarde, se soltam do retículo
transportando as enzimas para o complexo de Golgi onde ficam armazenadas. As enzimas são depois
transferidas para vesículas do complexo de Golgi, que se soltam posteriormente. Estas vesículas constituem os
lisossomas.
O processo de digestão intracelular ocorre, então, da seguinte forma: dá-se a ingestão do alimento
através da membrana celular, com formação de uma vesícula endocítica. Esta vesícula endocítica funde-se
com um lisossoma, o qual transporta as enzimas. Desta fusão resulta a formação de um vacúolo digestivo.
A partícula alimentar é digerida no interior do vacúolo digestivo e as moléculas simples resultantes desse
processo são difundidas para o citoplasma através dos diferentes mecanismos de transporte.
Os resíduos da digestão são acumulados em vesiculas que, mais tarde, se fundem com a membrana
celular, expulsando-os para o meio extracelular – exocitose.
Digestão extracelular
Nos animais a digestão é, em regra, extracelular, ou seja realiza-se fora das células, e efetua-se no
interior do corpo, digestão intracorporal.
Os sistemas digestivos foram evoluindo no sentido de um aproveitamento cada vez mais eficaz dos
alimentos.
A maior parte das vezes a digestão efetua-se em cavidades ou órgãos especializados, que apesar de se
localizarem no interior do organismo, correspondem a prolongamentos do meio exterior no interior do corpo.
A digestão em cavidades digestivas representa uma vantagem para os animais, visto que, permite a ingestão
de quantidade significativas de alimentos, logo a obtenção de uma maior quantidade de nutrientes, o que lhes
concede uma maior taxa metabólica. Para além disso, esses alimentos ficam armazenados nessas cavidades
digestivas e vão sendo digeridos durante um período de tempo mais ou menos longo, não necessitando de
estar continuamente a ingerir alimentos.
Na hidra e na planária, existe uma cavidade gastrovascular com uma única abertura que funciona como
boca e como ânus, por ela entram e saem os resíduos alimentares. Diz-se portanto que possuem um tubo
digestivo incompleto.
A cavidade gastrovascular funciona como órgão digestivo (gastro) e como órgão de distribuição (vascular).
Estes animais possuem simultaneamente, uma digestão intracelular e uma digestão extracelular. O alimento
entra através da boca para a cavidade gastrovascular. Células glandulares segregam enzimas digestivas para a
cavidade gastrovascular, onde ocorre a digestão extracelular. As moléculas resultantes desta digestão são
posteriormente fagocitadas para células digestivas. Nestas células digestivas, realiza-se, ao nível dos vacúolos
digestivos, uma digestão intracelular, da qual resultam micronutrientes, que são difundidos para as células
adjacentes. Os produtos de excreção passam por exocitose para a cavidade gastrovascular, saindo com a água
para o exterior pela única abertura.
A planária possui um tubo digestivo completo mas, a sua cavidade gastrovascular já apresenta alguma
diferenciação. Este animal possui uma faringe que se projeta da foca, de forma a ingerir o alimento e, por sua
vez o tubo digestivo ramifica-se, de forma a ajudar na absorção e distribuição dos alimentos pelo organismo.
Muitos animais possuem um tubo digestivo completo, com duas aberturas, a boca, para a entrada dos
alimentos, e o ânus, para a saída dos resíduos alimentares.
O tubo digestivo completo confere vantagens aos organismos que o possuem.
Os alimentos deslocam-se num único sentido, o que permite uma digestão e uma absorção
sequenciais ao longo do tubo, havendo por isso, um aproveitamento muito mais eficaz.
A digestão pode ocorrer em vários órgãos, devido a diferente tratamento mecânico e à ação de
diferentes enzimas.
A absorção é mais eficiente, pois prossegue ao longo do tubo.
Os resíduos não digeridos acumulam-se durante algum tempo, sendo depois expulsos através do ânus.
A minhoca possui um tubo digestivo completo, diferenciado em órgãos especializados, onde os alimentos
são processados sequencialmente.
A faringe suga os alimentos da boca para o esófago e deste para o papo. Seguem depois para a moela,
onde são triturados devido às contrações da parede desse órgão. No intestino efetua-se a decomposição das
substâncias complexas por ação das enzimas. A superfície de absorção é aumentada pela existência de uma
prega dorsal da parede interna ao longo do intestino, denominada tiflosole. Os resíduos alimentares
absorvidos são eliminados pelo ânus.
Nos vertebrados, o tubo digestivo é também completo mas apresenta maior complexidade do que o da
minhoca. A constituição básica é semelhante nos animais dos diversos grupos, apresentando, no entanto,
diferenças relacionadas com o regime alimentar. Todos os vertebrados possuem no sistema digestivo dois
órgãos anexos, o fígado e o pâncreas, cujas secreções são lançadas no intestino, onde se misturam com os
alimentos. Alguns possuem também glândulas salivares.
No Homem, após a introdução dos alimentos na boca, a sua progressão faz-se ao longo do tubo digestivo,
devido às contrações involuntárias dos músculos das respetivas paredes.
Embora a digestão se inicie na boca e continue no estômago, é sobretudo ao nível do intestino que ela é
mais importante, graças à intervenção de uma maior diversidade de enzimas. As enzimas fazem parte dos
sucos digestivos que são produzidos em glândulas gástricas e em glândulas intestinas localizadas na parede
dos respetivos órgãos, ou em certos órgãos anexos ao tubo digestivo, como as glândulas salivares e o
pâncreas.
O fígado produz a bílis, que, embora desprovida de enzimas digestivas, desempenha também uma
atividade importante, pois emulsiona os lípidos, facilitando a sua digestão.
A absorção realiza-se essencialmente ao nível do intestino delgado. Neste órgão existem estruturas na
parede interna que aumentam, de forma significativa, a área de superfície de absorção. A parede interna do
intestino delgado apresenta pregas, as válvulas coniventes, que praticamente triplicam a superfície de
contacto com os alimentos. As válvulas coniventes, por sua vez, são recobertas por milões de pequenas
estruturas, as vilosidades intestinais. As células superficiais das vilosidades possuem, nas membranas voltadas
para o lúmen intestinal, numerosas microvilosidades.
A existência de válvulas coniventes, de vilosidades e de microvilosidades aumenta consideravelmente a
superfície interna do intestino, o que permite um melhor contacto entre os nutrientes e a parede intestinal,
facilitando a absorção intestinal ou seja, a passagem dos nutrientes para o meio interno, representado pelo
sangue e pela linfa.
2. Obtenção de matéria pelos seres autotróficos
A autotrofia envolve dois processos:
Fotossíntese: realizada por organismos fotossintéticos que são seres fotoautotróficos.
Quimiossíntese: realizada pelos organismos quimiossintéticos que são seres quimioautotróficos.
A fotossíntese é o mais comum dos processos considerados e é particularmente importante para a
maioria dos sistemas vivos.
2.1. ATP – fonte de energia nas células
A energia luminosa ou a energia química não podem ser utilizadas diretamente pelas células. Parte dessa
energia é transferida para um composto, adenosina trifosfato (ATP), que constitui a fonte de energia
diretamente utilizável pelas células. As moléculas de ATP são a forma mais comum de circulação de energia
numa célula, pois podem ser facilmente hidrolisadas.
Quando se dá a hidrólise ou a desfosforilação do ATP a reação é exoenergética, ou seja, a energia
mobilizada para romper as ligações químicas é menor do que a energia que se transfere quando se
estabelecem ligações de novas moléculas.
A reação inversa, a fosforilação do ADP (adenosina difosfato), conduz à formação de ATP e de H2O a
partir de ADP e de um ião fosfato. Esta reação é endoenergética, pois é maior a energia química contida no
ATP do que no ADP.
Na fotossíntese e na quimiossíntese, a produção de moléculas de ATP é fundamental para a produção de
compostos orgânicos.
2.2. Fotossíntese
Os seres fotoautotróficos utilizam a energia luminosa para produzir compostos orgânicos a partir de
dióxido de carbono e água. Pode por isso dizer-se que estes seres convertem a energia luminosa em energia
química.
De uma forma genérica, equaciona-se a fotossíntese da seguinte forma:
6CO2 + 12H2O C6H12O6 + 6 O2 + 6 H2O
O dióxido de carbono, a água e a luz são obtidos a partir do meio ambiente.
A clorofila é um pigmento de cor verde, sintetizado pelas células dos seres fotossintéticos, fundamental
para a captação de energia luminosa.
Mas será a clorofila o único pigmento presente nas células dos seres que realizam fotossíntese?
Pigmentos fotossintéticos das plantas Cor
Clorofilas b Verde-amarelada
a Verde-intensa
Carotenóides Xantofilas Amarela
Carotenos Laranja
Captação da energia luminosa
A energia emitida pelo Sol engloba um largo espectro de radiações com características diferentes.
As propriedades das radiações solares podem ser descritas em função do seu comprimento de onda e em
função da energia emitida em partículas, os fotões. Quanto mais longo for o comprimento de onda menor é a
quantidade de energia.
Será que todos os comprimentos de onda são igualmente eficazes no processo de fotossíntese?
A luz que incide sobre as folhas pode seguir diferentes processos devido ao comportamento dos
pigmentos fotossintéticos face às diferentes radiações.
As clorofilas absorvem, principalmente, as radiações do espetro visível de comprimentos de onda
correspondentes ao azul-violeta e ao vermelho alaranjado. Os carotenóides absorvem radiações de
comprimentos de onda correspondentes, aproximadamente à faixa violeta-azul do espectro. As radiações com
comprimentos de onda correspondentes à zona verde do espetro não são absorvidas, são refletidas, daí
vermos as folhas com cor verde.
(Experiência de Engelmann)
As taxas mais elevadas de fotossíntese ocorrem nas zonas correspondentes às radiações azul-violeta e
laranja-vermelho e é também nessas zonas que se verificam valores de absorção de radiações mais elevados.
A notável concordância entre o espectro de ação da fotossíntese, que representa a eficiência
fotossintética em função do comprimento de onda das radiações absorvidas, e o espetro de absorção da luz
pelos pigmentos fotossintéticos sugere que são eles os responsáveis pela captação da luz, fundamental para o
mecanismo fotossintético.
luz solar/clorofilas
Mecanismos da fotossíntese
(Experiências, pág.77)
Nos seres fotossintéticos ocorre:
Produção de oxigénio, proveniente da água (e não do CO2) quando expostos à luz;
Captação de CO2 que intervém na formação de compostos orgânicos, mesma na obscuridade no
caso de previamente haver um período de iluminação suficiente.
Assim pode admitir-se que a fotossíntese compreende duas fases sucessivas, estreitamente ligadas:
Fase fotoquímica, cujas reações dependem diretamente da luz;
Fase química, não dependente diretamente da luz
Fase fotoquímica:
Nesta fase, também designada por fase dependente da luz, a energia luminosa, captada pelos pigmentos
fotossintéticos, ao nível da membrana dos tilacóides, é convertida em energia química, que vai ser utilizada na
fase seguinte.
Nesta etapa ocorrem:
Fotólise da água: Desdobramento da molécula da água em hidrogénio e oxigénio na presença da
luz.
O oxigénio é libertado e os hidrogénios cedem os seus eletrões, que vão ser captados pela
clorofila a quando excitada. Por esta razão, a água é considerada o dador primário de eletrões.
Oxidação da clorofila a e redução do NADP+: A clorofila a, quando excitada pela luz, perde
eletrões, ficando oxidada. Esses eletrões vão ser transferidos ao longo de uma cadeia de
moléculas transportadoras de eletrões até serem captados pelo NADP+, que fica reduzido a
NADPH. Para a redução do NADP+ a NADPH contribuem também os protões (2H+) provenientes da
fotólise da água.
Fotofosforilação: Ao longo da cadeia transportadora de eletrões ocorrem reações de oxidação-
redução com libertação de energia. Esta energia é utilizada na fotofosforilação do ADP (adenosina
difosfato) em ATP (adenosina trifosfato) num processo denominado fotofosforilação.
Fase química:
Nesta fase, também designada por fase não dependente da luz, ocorre a redução do CO2 e a síntese de
compostos orgânicos num ciclo de reações conhecidas como Ciclo de Calvin. Este compreende basicamente as
seguintes etapas:
Fixação do dióxido de carbono: O CO2 combina-se com uma pentose (ribulose difosfato - RuDP),
formando um composto intermédio de seis átomos de carbono, que origina, quase imediatamente,
duas moléculas de três átomos de carbono cada uma – ácido fosfoglicérico (PGA).
Formação do aldeído fosfoglicérido (PGAL): As moléculas de PGA são fosforiladas pelo ATP e
reduzidas pelo NADPH, formado na fase fotoquímica, originando um composto de três átomos de
carbono, o aldeído fosfoglicérido.
H2O → 2H+ + 2e- + ½ O2
NADP+ + 2e- + 2H+ → NADPH + H+
ADP + Pi (fosfato inorgânico) + Energia → ATP + H2O
Regeneração da ribulose difosfato e síntese de compostos orgânicos: A maior parte das moléculas de
aldeído fosfoglicérido é utilizada na regeneração da ribulose difosfato (por cada 12 moléculas de
aldeído fosfoglicérido 10 são utilizadas na regeneração da ribulose). As moléculas de aldeído
fosfoglicérido que não intervêm na regeneração da ribulose são utilizadas na síntese de compostos
orgânicos, como a glicose.
As reações da fase química necessitam de uma grande mobilização de energia que é fornecida pela
hidrólise de moléculas de ATP sintetizadas na fase fotoquímica.
Assim, ainda que a fase química não necessite diretamente da luz, está completamente dependente dos
produtos da fase fotoquímica para a sua realização.
2.3. Quimiossíntese
A quimiossíntese é um processo de síntese de compostos orgânicos que utiliza, tal como a fotossíntese o
dióxido de carbono como fonte de carbono, mas em vez da energia solar, usa a energia proveniente da
oxidação de substâncias inorgânicas, como a amónia, os nitritos, o enxofre e o ferro.
Na quimiossíntese, tal como na fotossíntese, é possível distinguir duas fases:
Produção de moléculas de ATP e de NADPH: Da oxidação de compostos minerais (por exemplo,
H2S) obtêm-se eletrões (e-) e protões (H+) que vão ser transportados ao longo de uma cadeia,
ocorrendo a fosforilação do ADP em ATP e a redução do NADP+ em NADPH.
Redução do dióxido de carbono: Esta fase corresponde à fase química da fotossíntese, ocorrendo
também aqui um ciclo idêntico ao ciclo de Calvin, onde intervêm as moléculas de ATP e de NADPH
produzidas na fase anterior. Neste ciclo verifica-se a fixação do dióxido de carbono, que é
reduzido, permitindo a formação de substâncias orgânicas.
A fotossíntese e a quimiossíntese diferem basicamente em dois aspetos: na energia utilizada para a
síntese de compostos orgânicos e na fonte de protões (H+) e de eletrões (e-). Enquanto na fotossíntese é
utilizada energia solar e os protões e eletrões provêm da água, na quimiossíntese a energia, os protões e os
eletrões têm origem nos compostos minerais que são oxidados.
Unidade 2 – Distribuição de
matéria
1. O transporte nas plantas Ao nível da estrutura, podem considerar-se dois grandes grupos de plantas: plantas não vasculares e
plantas vasculares.
As plantas não vasculares, como, por exemplo, os musgos, são pouco diferenciadas e, em regra, não
apresentam tecidos condutores, isto é, tecidos especializados no transporte de materiais. Vivem geralmente
em zonas húmidas, o movimento da água efetua-se por osmose e as substâncias dissolvidas movimentam-se
por difusão de célula a célula.
Nas plantas vasculares, como os fetos e as plantas com sementes, existem complexos sistemas de
condução de água e de solutos.
O movimento de solutos orgânicos e de solutos inorgânicos no interior da planta através de tecidos
condutores designa-se por translocação de solutos.
As plantas vasculares possuem dois tipos de tecidos especializados no transporte de substâncias:
Xilema: Também conhecido por lenho ou tecido traqueano. Conduz a água e as substâncias minerais
dissolvidas que circulam no interior da planta (seiva bruta ou seiva xilémica), desde a raiz até às folhas onde
se realiza a fotossíntese.
Os elementos condutores mais importantes deste tecido são os vasos xilémicos, constituídos por células
mortas. As paredes laterais destes vasos têm diversos espessamentos embebidos numa substância
impermeável, a lenhina.
Floema: Também conhecido por líber ou tecido crivoso. Transporta em solução as substâncias
orgânicas produzidas nas células fotossintéticas (seiva elaborada ou seiva floémica) a todas as partes da
planta.
Os elementos condutores são os tubos crivosos, constituídos por células vivas cujas paredes transversais,
providas de orifícios, constituem as placas crivosas. No floema existem ainda outros tipos de células, como por
exemplo, as células de companhia, células vivas com atividade importante no funcionamento dos tubos
crivosos.
1.1. Sistemas de transporte
Onde se localizam os sistemas de transporte nas plantas?
Designam-se por feixes condutores (ou vasculares) os conjuntos que resultam do agrupamento dos
elementos que constituem os tecidos vasculares. Se um feixe condutor for constituído apenas por um dos
tecidos vasculares, xilema ou floema, diz-se simples. Se pelo contrário o feixe for constituído pelos dois tipos
de tecidos vasculares, diz-se duplo. Quanto à posição e à distribuição nos órgãos das plantas (raiz, caule e
folhas), os feixes duplos podem ser classificados em colaterais, quando se dispõem lado a lado, e alternos,
quando os feixes simples (de xilema ou de floema) alternam entre si.
Folha: os feixes condutores são duplos e colaterais, isto é, cada feixe tem xilema ou floema, estando
colocados lado a lado.
Caule: nos caules os feixes condutores são duplos e colaterais.
Raiz: na raiz os feixes condutores são simples e alternos, isto é, cada feixe tem somente xilema ou floema,
os quais alternam
Em cortes transversais de folhas é possível distinguir na superfície externa das folhas uma camada de
células vivas que constituem a epiderme. Na estrutura interna, entre a epiderme da página superior e a
epiderme da página inferior, a folha tem um tecido clorofilino designado por mesófilo, constituído por células
vivas, com parede celular fina, vacúolos desenvolvidos e numerosos cloroplastos. O tecido clorofilino,
nomeadamente o que se encontra junto da página inferior, pode apresentar numerosos espaços
intercelulares, as lacunas, que constituem uma verdadeira atmosfera interior. O mesófilo é percorrido por
tecidos vasculares que fazem parte das nervuras da folha. Na epiderme dos órgãos aéreos, especialmente nas
folhas, localizam-se os estomas. Cada uma destas estruturas é constituída por duas células oclusivas ou
células guarda, que delimitam uma abertura, o ostíolo, que comunica com o espaço interior, a câmara
estomática. É essencialmente pelos estomas que se efetuam as trocas gasosas entre as folhas e o exterior.
1.2. Absorção de água e de solutos pelas plantas
A maior parte da água e dos solutos necessários para as atividades da planta são absorvidos pelo sistema
radicular.
A eficiência da captação de água pela raiz é devida à presença de pelos radiculares, extensões de células
epidérmicas. A presença de pelos radiculares cria uma grande superfície de contacto entre a planta e a solução
do solo, que é uma solução mais ou menos rica em iões presentes entre as partículas do solo. Em regra, dentro
das células da raiz é maior a concentração de soluto do que no exterior, havendo pois, maior potencial da água
no exterior do que no interior das células epidérmicas. Assim, a água tende a entrar na planta por osmose,
movendo-se do exterior para dentro da raiz até atingir os vasos xilémicos.
Os iões minerais que estão presentes na solução do solo em concentração elevada podem entrar nas
células da raiz por difusão simples, através da membrana das células. Mas a solução do solo é usualmente
muito diluída e verifica-se que as raízes podem acumular iões minerais que são centenas de vezes maiores do
que as concentrações destes iões no solo. Nestas condições, o movimento destes iões contra o gradiente de
concentração requer energia, entrando nas células da raiz por transporte ativo.
O transporte ativo de iões faz aumentar a concentração de soluto, o que determina que a água tenda a
passar por osmose até ao xilema. A água e os solutos, constituídos principalmente por iões minerais, uma vez
chegados ao xilema, podem ascender, constituindo a seiva xilémica.
1.3. Transporte no xilema
Que forças fazem deslocar a seiva xilémica contra a gravidade?
Hipótese da pressão radicular
A ascensão da água no xilema pode, em alguma situações, ser explicadas por uma pressão que se
desenvolve ao nível da raiz, graças à ocorrência de forças osmóticas. A contínua acumulação de iões nas
células da raiz tem como consequência a entrada de água para a planta. A acumulação de água nos tecidos
provoca uma pressão na raiz, que força a água a subir no xilema.
O efeito da pressão radicular pode ser observado quando se efetuam podas tardias em certas plantas.
Nestas circunstâncias, verifica-se a saída de água pela zona dos cortes efetuados, num processo conhecido por
exsudação.
Em algumas ocasiões, quando a pressão radicular é muito elevada, a água é forçada a subir até às folhas,
onde é libertada sob a forma líquida. Este fenómeno designa-se por gutação.
Vários estudos sobre pressão radicular demonstram que os valores dessa pressão não seriam suficientes
para explicar a ascensão de água até ao cimo de certas árvores. Por outro lado, existem mesmo várias espécies
de plantas que não apresentam pressão radicular. Assim, embora se admita que a pressão radicular ajude na
ascensão da seiva xilémica, tem de haver outros fatores responsáveis por este fenómeno.
Hipótese da tensão-adesão-coesão
Na hipótese da tensão-adesão-coesão, relativamente ao movimento ascendente da coluna de água
intervêm vários fenómenos sequenciais.
Transpiração
A transpiração estomática, ao nível das folhas provoca uma tensão na parte superior da planta o que
provoca a ascensão da água dos vasos do xilema
A saída de água, por transpiração, através das células guarda, torna-as hipertónicas em relação às
células adjacentes do mesófilo foliar. A água movimenta-se por osmose das células do mesófilo foliar
para as células-guarda. A saída de água das células do mesófilo foliar torna-as hipertónicas
relativamente às outras que as envolvem. Devido á menor pressão osmótica do xilema relativamente
às células do mesófilo, a água movimenta-se do xilema para estas células.
Coesão e adesão no xilema
Devido a forças de coesão e adesão, as moléculas de água mantêm-se unidas umas às outras (coesão)
e aderem às paredes dos vasos (adesão), formando uma coluna de água contínua.
Entrada de água que vem do solo
A ascensão de água cria um défice de água no xilema da raiz, fazendo com que novas moléculas de
água passem para o xilema, o que determina a absorção ao nível da raiz e, consequentemente, o fluxo
de água do solo para o interior da planta.
Há assim um fluxo passivo de água de áreas de potencial de água mais elevado, a raiz, para áreas de
potencial de água mais baixo, as folhas.
A água ascende sob a forma de uma coluna contínua que se chama, corrente de transpiração. O
movimento brusco das plantas em dias de ventania pode levar à interrupção dessa coluna, ficando interpostas
bolhas de ar. Quando tal acontece, ou se estabelece novamente a continuidade ou o vaso xilémico deixa de
ser funcional.
Calcula-se que a tensão produzida pela transpiração seja suficiente para provocar a ascensão de água até
uma altura de cerca de 150 metros, em tubos com o diâmetro de vasos xilémicos. Por tudo isto, o mecanismo
de adesão-coesão-tensão é, hoje em dia, considerado o processo dominante da translocação xilémica na
maioria das plantas.
Controlo da transpiração
Os estomas podem controlar a quantidade de água perdida por transpiração, devido à capacidade que
têm de abrir e de fechar.
As paredes das células-guarda estão sempre húmidas, devido ao fluxo contínuo de água que alcança as
folhas vindo da raiz.
Quando as células estão túrgidas, a água exerce pressão sobre as paredes celulares, pressão de
turgescência. Como as paredes celulares que rodeiam o ostíolo são mais espessas do que as paredes que
contactam com as outras células da epiderme, tendo estas maior elasticidade, a deformação dessa região
delgada e elástica provoca a abertura do estoma.
Se as células guarda perdem a água, a pressão de turgescência diminui e o estoma retoma a sua forma
original, aproximando-se as células guarda e, em consequência, o ostíolo fecha.
1.4. Transporte no floema
A abundância de dados relacionados com a translocação da seiva floémica permitiu estabelecer a sua
composição química, bem como o sentido da sua translocação. De entre esses dados salientam-se:
- Cortes anelares de casca efetuados em caules de diferentes plantas, onde é visível um entumecimento
na parte superior do corte devido à acumulação de seiva, que permitiram determinar o sentido do movimento
da seiva dos órgãos produtores para os órgãos onde se verifica consumo ou reserva.
- A utilização experimental de afídios ou pulgões permitiu estabelecer a composição química da seiva
floémica (solução constituída por açúcares, sobretudo a sacarose, encontrando-se também em menores
quantidades aminoácidos, iões minerais, nucleótidos lípidos e as substancias reguladoras das plantas – as fito-
hormonas).
- O uso de substâncias radioativas, como marcadores dos solutos floémicos, permitiu observar alguns
aspetos fundamentais do seu transporte, como o fluxo bidirecional (translocação em dois sentidos: das folhas
para a raiz e desta para as folhas) e a variação da velocidade de translocação floémica ao longo do ano e ao
longo do dia.
Hipótese do fluxo de massa
Apesar de existirem várias explicações para o movimento da seiva elaborada no interior dos tubos
crivosos, a hipótese do fluxo de massa ou do fluxo de pressão é a mais aceite, podendo ser descrita da
seguinte forma:
A glicose elaborada nos órgãos fotossintéticos é convertida em sacarose que entra por transporte
ativo para o interior dos elementos dos tubos crivosos através das células de companhia.
À medida que aumenta a concentração de sacarose nos tubos crivosos, a pressão osmótica da solução
aumenta, ficando superior à das células envolventes, incluindo o xilema;
A água movimenta-se das células envolventes para os tubos crivosos, aumentando nestes a pressão de
turgescência, o que faz com que o conteúdo dos tubos crivosos, atravesse as placas crivosas, passando para os
elementos seguintes dos tubos crivosos, havendo pois um movimento de regiões de elevada pressão (de
turgescência) para regiões de baixa pressão.
A sacarose é retirada do floema para os locais recebedores de consumo ou de reserva possivelmente
também por transporte ativo. À medida que o açúcar sai dos tubos crivosos, a pressão osmótica diminui, a
água sai por osmose para fora do tubo crivoso e volta ao xilema;
Nos órgãos de consumo ou de reserva, a sacarose é igualmente convertida em glicose, que pode ser
utilizada na respiração, na construção de novos compostos, ou polimerizar-se em amido, que fica em reserva.
2. O transporte nos animais
Os animais mais simples, como as esponjas, as hidras e os corais, não possuem um sistema de transporte
diferenciado. Nele todas as células estão relativamente próximas da superfície corporal, efetuando-se uma
difusão direta de substâncias entre as células e o meio. Todavia nos animais mais complexos, o processo de
difusão mostra-se inadequado, porque se realiza muito lentamente.
A existência de sistemas de transporte que garantem a chegada rápida de substâncias às células e a
remoção eficiente dos produtos resultantes do metabolismo resultou de um processo evolutivo, estando esses
sistemas presentes em vários grupos de animais.
2.1. Sistemas de transporte
Um sistema de transporte tipicamente inclui:
- um fluido circulante, como, por exemplo, o sangue;
- um órgão propulsor de sangue, geralmente o coração;
- um sistema de vasos ou espaços por onde o fluido circula.
Os sistemas de transporte podem ser classificados em dois tipos fundamentais: abertos e fechados.
Em muitos invertebrados existe um sistema de transporte aberto, assim designado porque o sangue
abandona os vasos e passa para os espaços, as lacunas, fluindo diretamente entre as células. Neste tipo de
sistema não há distinção entre sangue e fluido intersticial, sendo o usado o termo hemolinfa para designar
esse fluido circulatório.
Gafanhoto
Nos gafanhotos e outros insetos o sistema de transporte apresenta um vaso dorsal que possui na zona
correspondente ao abdómen câmaras contrácteis que correspondem a um coração tubular. Quando estas
câmaras se contraem, o sangue é impulsionado para a aorta dorsal, que se estende até à cabeça. O sangue sai
da aorta dorsal por pequenos vasos, e passa para um sistema de cavidades do corpo chamadas lacunas (que
no seu conjunto formam o hemocélio), banhando os tecidos.
Quando as câmaras contráteis relaxam o sangue regressa a essas câmaras, entrando por orifícios laterias,
os ostíolos, que existem na sua parede.
As minhocas e outros animais vertebrados, têm sistema circulatório fechado, ou seja, todo o percurso do
sangue se faz dentro de vasos, mantendo-se o sangue distinto do fluido intersticial.
Minhoca
No sistema de transporte da minhoca existem dois vasos principais dispostos longitudalmente, um vaso
dorsal e um vaso ventral, que estão ligados por vasos laterais. Na zona anterior do vaso dorsal, existem alguns
pares de vasos laterais, designados por arcos aórticos ou corações laterais, que têm zonas contrácteis. Estes
vasos impulsionam o sangue para o vaso ventral. Os diferentes vasos ramificam-se, originando-se outros que
vão formando redes de capilares ao nível de todos os órgãos onde se efetuam as trocas de substâncias com o
fluido intersticial.
2.2. O transporte nos vertebrados
O sistema circulatório dos vertebrados, também designado por sistema cardiovascular é um sistema de
transporte fechado que, nos diversos grupos de animais, apresenta diferentes características de estrutura e de
função.
Independentemente das diferenças, em todos os vertebrados o sangue, circulando em veias, chega às
aurículas e para o(s) ventrículo(s), de onde sai para as diferentes partes do corpo circulando em artérias.
Com exceção dos peixes, que têm circulação simples, ou seja, no decurso de uma circulação completa, o
sangue passa uma só vez no coração, os outros vertebrados apresentam circulação dupla. Neste tipo de
circulação, o sangue percorre dois circuitos diferentes, passando em cada um destes circuitos pelo coração.
Assim, os animais com circulação dupla apresentam:
Circulação pulmonar: o sangue venoso sai do coração, vai aos pulmões, onde é oxigenado, e
regressa à aurícula esquerda pelas veias pulmonares;
Circulação sistémica: o sangue arterial sai do coração, dirige-se para todos os órgãos e regressa
venoso à aurícula direita.
Qual dos sistemas, com circulação dupla ou simples, é mais eficaz?
A circulação dupla é mais eficiente do que a circulação simples, pois assegura um fluxo vigoroso de
sangue para os diferentes órgãos, uma vez que o sangue dos pulmões volta ao coração, sendo impulsionado
sob pressão para os diferentes órgãos.
O número de cavidades do coração é um aspeto importante, pois a circulação dupla é mais eficientes
quando passa a haver quatro cavidades no coração, deixando de existir mistura de sangues.
Peixes
O coração tem duas cavidades - uma aurícula e um ventrículo. A circulação percorre apenas um circuito, é
pois uma circulação simples.
O sangue venoso, vindo dos diferentes órgãos, entra na aurícula. A contração auricular impele o sangue
para o ventrículo.
O sangue não oxigenado do ventrículo é bombeado para as brânquias, onde recebe oxigénio e de onde
parte para todas as células do corpo.
Ao nível dos diferentes órgãos, o sangue cede oxigénio e nutrientes e recebe dióxido de carbono e outras
substâncias, regressando ao coração, onde entra na aurícula. Durante a circulação, o sangue passa em duas
redes de capilares, uma ao nível das brânquias e outra ao nível dos diferentes órgãos. A pressão sanguínea
diminui quando o sangue passa pelos capilares branquiais e, consequentemente, o sangue arterial que sai das
brânquias para as outras partes do corpo flui lentamente e a baixa pressão, o que é consequência de os peixes
terem circulação simples.
Anfíbios
O coração tem três cavidades - duas aurículas e um ventrículo. A circulação é dupla, havendo, portanto,
dois circuitos, o circuito pulmonar e o circuito sistémico.
Na aurícula direita entra sangue venoso vindo dos diferentes órgãos e na aurícula esquerda entra sangue
arterial vindo dos pulmões e da pele. Por contração das aurículas o sangue passa para o único ventrículo.
Devido à existência de um só ventrículo, seria de esperar que ocorresse uma grande mistura sangue arterial e
de sangue venoso. Admite-se que essa grande mistura não ocorre devido, em grande parte, à não
simultaneidade de contração das duas aurículas. Embora haja alguma mistura de sangues no ventrículo, a
maior parte do sangue pouco oxigenado é lançado no circuito pulmocutâneo e a maior parte do sangue
oxigenado vai para o circuito sistémico.
Dada a ocorrência de misturas de sangues no ventrículo, considera-se que a circulação dos anfíbios,
embora sendo dupla, é uma circulação incompleta.
Mamíferos
O coração tem quatro cavidades – duas aurículas e dois ventrículos, não havendo mistura de sangues no
coração. Por isso, a circulação dupla nestes animais é uma circulação completa.
A evolução para um coração com quatro cavidades foi uma adaptação que corresponde a uma maior
disponibilidade em oxigénio, o que permite uma maior capacidade energética, característica dos mamíferos.
O coração, órgão central do sistema cardiovascular, é constituído fundamentalmente por tecido muscular
cardíaco, o miocárdio. O músculo cardíaco é irrigado por artérias coronárias, que são ramificações da artéria
aorta na zona em que esta deixa o coração.
Os movimentos rítmicos de contração do coração, sístoles, e de relaxamento, diástoles, geram um fluxo
de sangue que percorre os vasos sanguíneos.
Vasos sanguíneos
Existem três tipos de vasos, que são diferentes tanto do ponto de vista morfológico como fisiológico.
As artérias ramificam-se em arteríolas, que originam redes capilares ao nível dos diferentes tecidos. Os
capilares reúnem-se formando vénulas, que convergem formando veias pelas quais o sangue regressa ao
coração.
As artérias têm paredes fortes e elásticas, o que permite dilatarem-se e contraírem-se em cada batimento
cardíaco.
As veias apresentam paredes mais finas e têm maiores diâmetros que as artérias correspondentes.
Funcionam como reservatórios de volume de sangue, contendo 50% a 60% do volume sanguíneo total.
Os capilares diferem estruturalmente das artérias e das veias pois as suas paredes são muito finas,
constituídas por uma única camada de células.
Pressão sanguínea
O sangue exerce uma pressão sobre a parede dos vasos, a pressão sanguínea, usualmente designada por
pressão arterial. Essa pressão atinge o seu valor máximo nas artérias, diminuindo ao longo das arteríolas e dos
capilares, e apresenta valores quase nulos nas veias, nomeadamente nas veias cavas. Ao nível da artéria aorta,
verifica-se um valor máximo da pressão, cerca de 120 mmHg, que corresponde ao momento de sístole
ventricular, pressão sistólica, e um valor mínimo, cerca de 80mmHg, correspondente à pressão no momento
da diástole ventricular, pressão diastólica.
Quando o ventrículo esquerdo se contrai injeta sangue sob pressão na artéria aorta. A pressão sanguínea
é determinada pela pressão exercida pelos ventrículos em sístole e, também, pela resistência oferecida pelas
arteríolas ao fluxo sanguíneo.
Hipertensão/Hipotensão
A pressão sanguínea pode atingir valores mais elevados do que o normal, em casos de hipertensão, ou
valores mais baixos do que o normal, em situações de hipotensão. A hipertensão afeta uma grande parte da
população adulta, sendo muitas vezes designada por “assassina silenciosa” pois, muitas vezes não revelando
sintomas exteriores, pode ter subjacentes problemas de saúde graves. A pressão sanguínea é na verdade um
indicador de saúde cardiovascular e, embora a hipertensão afete com mais frequência pessoas de mais idade,
pode também atingir adolescentes e jovens.
Nas veias a pressão sanguínea baixa para valores próximos de zero. Como regressa então o
sangue ao coração, sobretudo quando circula em veias localizadas em regiões inferiores do corpo?
Entre os principais mecanismos que contribuem para que o sangue que circula nas veias regresse ao
coração podemos referir:
As veias estão muitas vezes rodeadas por músculos esqueléticos que, ao contraírem-se durante
os movimentos, as comprimem, exercendo uma pressão sobre o sangue que nelas circula;
A existência de válvulas venosas impede o retrocesso do sangue, movimentando-se este em
direção ao coração;
Os movimentos respiratórios também contribuem para que o sangue das veias volte ao coração.
Durante a inspiração, a diminuição da pressão na caixa torácica provoca o deslocamento em
direção ao coração, do sangue contido nas veias mais afastadas;
O abaixamento da pressão nas aurículas durante a diástole também provoca um movimento do
sangue na direção do coração
Ainda no que se refere à dinâmica do fluxo sanguíneo, a velocidade desse fluxo é diferente nos vários
tipos de vasos. A maior velocidade do fluxo sanguíneo ocorre nas artérias, a velocidade diminui quando o
sangue flui para os capilares e aumenta novamente quando o sangue circula nas veias.
A baixa velocidade do fluxo sanguíneo ao nível dos capilares bem como a grande área que apresentam e
as suas paredes finas têm muita importância funcional. É ao nível destes vasos que se efetuam trocas de
materiais que circulam no sangue e são necessários à vida celular, e que outros materiais são removidos das
células e ingressam na corrente sanguínea.
2.3. Fluidos circulantes – sangue e linfa
As células do organismo recebem substâncias do meio e eliminam produtos resultantes do seu
metabolismo. Este intercâmbio de substâncias é possível graças à existência do movimento do sangue e da
linfa, fluidos extracelulares.
Qual a relação entre o sangue e a linfa?
A parede muito fina dos capilares sanguíneos facilita o intercâmbio de substâncias que se efetua entre o
sangue e o fluido intersticial. Neste intercâmbio intervêm a pressão sanguínea e a pressão osmótica. A direção
do movimento de substâncias para dentro ou para fora depende da diferença entre a pressão do sangue e a
pressão osmótica. Na extremidade arterial do capilar, a pressão do sangue excede a pressão osmótica,
havendo movimento de substâncias para fora do capilar. Na extremidade venosa do capilar a situação é
inversa, verificando-se movimento de substâncias para dentro do capilar. Os leucócitos podem também
abandonar os capilares sanguíneos, deslizando entre as células da parede desses vasos.
Forma-se assim o fluido intersticial ou linfa intersticial, fluido incolor e transparente constituído por
plasma e glóbulos brancos, que banha as células, fornecendo-lhes nutrientes e oxigénio. Este fluido difere do
plasma sanguíneo, fundamentalmente por não ocorrer proteínas, uma vez que as proteínas, sendo
macromoléculas, dificilmente atravessam as paredes dos capilares.
É para a linfa intersticial que as células lançam produtos resultantes do metabolismo, modificando, assim,
a composição do meio que as cerca. Grande parte do fluido intersticial volta a entrar no extremo venoso dos
capilares, pois, em consequência da filtração ocorrida, a pressão sanguínea diminui e o sangue torna-se
hipertónico em relação ao fluido intersticial. O fluido e leucócitos que atravessam as paredes dos capilares e
não regressam diretamente ao sangue ficam na linfa intersticial. O excesso deste fluido entra para capilares
linfáticos que existem nos diferentes órgãos entre vasos sanguíneos e que fazem parte do sistema linfático.
Os capilares linfáticos reúnem-se formando veias linfáticas que, tal como as veias sanguíneas, também
possuem válvulas. Uma vez dentro dos vasos linfáticos o fluido denomina-se linfa circulante ou, simplesmente
linfa e é igualmente constituída por plasma (sem proteínas) e leucócitos.
A linfa é lançada na corrente sanguínea em veias que abrem na veia cava superior.
A remoção constante do fluido intersticial permite que as células obtenham permanentemente as
substâncias de que necessitam e que para ele sejam eliminados produtos resultantes da atividade celular.
Podemos, então, referir que o intercâmbio de substâncias entre as células e o meio é possível graças ao
movimento do sangue e da linfa, fluidos extracelulares que fazem parte do meio interno de muitos animais.
Estes fluidos intervêm e asseguram várias funções vitais como:
Transporte de nutrientes provenientes do tubo digestivo ou da mobilização das reservas até às
células;
Transporte de oxigénio desde as superfícies respiratórias até às células;
Remoção de produtos resultantes da atividade celular;
Transporte de hormonas
Defesa do organismo através dos leucócitos.
Unidade 3 – Transformação e
utilização de energia pelos seres
vivos
1. Utilização dos materiais que chegam às células
Nas células de todos os seres vivos ocorrem numerosas reações químicas a partir dos materiais que a elas
chegam, reações essas acompanhadas por transferências de energia. O conjunto de todas as reações celulares
constitui o metabolismo celular.
O metabolismo celular compreende séries ordenadas de reações químicas que ocorrem nas células,
podendo considerar-se dois processos:
Anabolismo: conjunto de reações químicas que conduzem à biossíntese de moléculas complexas
a partir de moléculas mais simples. As moléculas sintetizadas são mais ricas sob o ponto de vista
energético do que as moléculas que lhes deram origem. Globalmente, as reações do anabolismo
são reações endoenergéticas;
Catabolismo: conjunto de reações de degradação de moléculas complexas em moléculas mais
simples. Os produtos são mais pobres em energia do que os reagentes. De modo global, as
reações do catabolismo são reações exoenergéticas.
A ocorrência de reações endoenergéticas de anabolismo é possível devido a transferências de energia que
se verificam por hidrólise de moléculas de ATP. No entanto, nas células não existe um armazenamento de
moléculas de ATP e, por isso, tem de haver regeneração dessas moléculas à medida que vão sendo
hidrolisadas.
São vários os processos catabólicos que em todas as células vivas, autotróficas ou heterotróficas,
permitem a transferência de energia de compostos orgânicos para moléculas de ATP. Esses mecanismos
podem efetuar-se em presença de oxigénio, isto é, em aerobise, ou na ausência de oxigénio, ou seja, em
anaerobise.
1.1. Fermentação
Alguns organismos como as leveduras são seres anaeróbios facultativos pelo facto de poderem mobilizar
energia de compostos orgânicos em condições de anaerobise e de aerobise. Mas existem outros seres, como
certos microrganismos, em que a mobilização de energia a partir da degradação de compostos orgânicos se
realiza exclusivamente por fermentação em meios desprovidos de oxigénio. São seres anaeróbios
obrigatórios.
Existem vários tipos de fermentação que conduzem à formação de diversos compostos orgânicos cuja
natureza varia conforme o tipo de substrato oxidado e as enzimas em atividade. Iremos considerar, apenas, a
fermentação alcoólica que se verifica, por exemplo, em leveduras e a fermentação láctica que se efetua, por
exemplo, em bactérias lácticas e em certas situações em células e músculos esqueléticos.
Fermentação alcoólica e fermentação láctica. O que há de comum? Em que
diferem?
A fermentação alcoólica, tal como a fermentação láctica, compreende duas fases sequenciais: glicólise e
redução do ácido pirúvico.
Glicólise
A glicólise é a primeira fase da fermentação láctica e
da fermentação alcoólica, ocorre no hialoplasma e
consiste na oxidação da molécula de glicose (6C) até
duas moléculas de ácido pirúvico (3C), com formação de
4 ATP e 2 NADH + 2 H+.
A glicólise compreende:
- uma fase de ativação, na qual:
A glicose (6C) é fosforilada por 2 ATP, formando-
se frutose difosfato
A frutose-difosfato se desdobra em duas
moléculas de aldeído fosfoglicérico (PGAL) – (3C - P)
- uma fase de rendimento, na qual:
O PGAL é oxidado, perdendo 2 hidrogénios (2 e- + 2 H+), os quais são utilizados para reduzir a molécula
de NAD+, formando-se NADH + H+;
Formam-se quatro moléculas de ATP
Após estas reações, forma-se ácido pirúvico uma molécula que contém, uma elevada energia química.
Pode-se traduzir a glicólise pela seguinte equação:
O saldo energético da glicólise é somente de duas moléculas de ATP, uma vez que fase de ativação
gastaram-se duas moléculas e na segunda formaram-se quatro, isto é: 4 ATP – 2 ATP = 2 ATP
Redução do ácido pirúvico
Os produtos finais da fermentação alcoólica e da fermentação láctica diferem em função das reações que
ocorrem a partir do ácido pirúvico.
Fermentação alcoólica
Na fermentação alcoólica, cada molécula de ácido pirúvico, resultante da glicólise, é descarboxilada (é
removida uma molécula de CO2), originando aldeído acético. Este composto é, então, reduzido pelo NADH,
formando-se etanol (álcool etílico).
Neste caso a glicólise é a única etapa em que se verifica a formação de moléculas de ATP, pelo que, o
saldo energético da fermentação alcoólica é de 2 ATP
A fermentação alcoólica é realizada por diversas células, sendo aplicada na indústria de produção do
álcool. As leveduras do género Saccharomyces são utilizadas na produção de vinho, de cerveja e de pão. No
caso do vinho e da cerveja, interessa, sobretudo, o álcool resultante da fermentação. No caso da indústria de
panificação, é o dióxido de carbono que interessa. As bolhas deste gás contribuem para levedar a massa,
tornando o pão leve e macio.
Glicose + 2 ATP + 2 ADP + 4 Pi + 2 NAD+ → 2 Ácido pirúvico + 4 ATP + 2 NADH + 2 H+
2 Ácido pirúvico + 2 NADH + 2 H+ → 2 Etanol + 2 CO2 + 2 NAD+
Fermentação láctica
Na fermentação láctica, o ácido pirúvico, resultante da glicólise, é reduzido pelo NADH, originando ácido
láctico (3C).
Na fermentação láctica, é também na glicólise a única etapa em que se verifica a formação de moléculas
de ATP. Desta forma o saldo energético desta fermentação é 2 ATP.
A fermentação láctica é efetuada por diversos organismos, alguns dos quais são utilizados na indústria
alimentar, nomeadamente, no setor dos lacticínios. O ácido láctico altera o pH do meio, sendo por isso
responsável pela coagulação das proteínas – processo fundamental para o fabrico de derivados do leite, como
o iogurte.
Em caso de exercício físico intenso, as células musculares humanas, por não receberem oxigénio em
quantidade suficiente, podem realizar fermentação láctica, além da respiração aeróbia. Desta forma,
conseguem sintetizar uma quantidade suplementar de moléculas de ATP.
A acumulação de ácido láctico nos músculos é responsável pelas dores musculares que surgem durante
estes períodos de intenso exercício. O ácido láctico, assim formado, é rapidamente metabolizado no fígado,
sob pena de se tornar altamente tóxico para o nosso organismo.
1.2. Respiração aeróbia
À medida que as células evoluíram, as suas necessidades energéticas foram aumentando. Nas células
eucarióticas surgiram organelos especializados – mitocôndrias – capazes de realizar a oxidação completa do
ácido pirúvico obtido na glicólise, originando compostos muito simples (água e dióxido de carbono). Este
processo só ocorre na presença de oxigénio, sendo, por isso, designado por respiração aeróbia.
A utilização do ácido pirúvico em condições aeróbias (presença de oxigénio) ocorre ao nível da
mitocôndria e compreende quatro etapas:
- Glicólise
- Formação de Acetil-CoA
- Ciclo de Krebs
- Cadeia transportadora de eletrões e fosforilação oxidativa
Glicólise
A glicólise é uma etapa comum à fermentação e à respiração aeróbia. Esta primeira etapa da respiração
ocorre no hialoplasma e conduz à formação de 2 moléculas de ATP, 2 moléculas de NADH + H+ e duas
moléculas de ácido pirúvico.
Formação de acetil-coenzima A
Na presença de oxigénio, o ácido pirúvico entra na mitocôndria, onde é descarboxilado (perde uma
molécula de CO2) e oxidado (perde um hidrogénio, que é usado para reduzir o NAD+, formando NADH + H+)
2 Ácido pirúvico + 2 NADH + 2 H+ → 2 Ácido láctico + 2 NAD+
Glicose + 2 ATP + 2 ADP + 4 Pi + 4 NAD+ → 2 Ácido pirúvico + 4 ATP + 2 NADH + 2 H+
Ciclo de Krebs
O ciclo de Krebs ou ciclo do ácido cítrico é um
conjunto de reações metabólicas que conduz à
oxidação completa da glicose. Este conjunto de reações
ocorre na matriz da mitocôndria e é mediado por um
conjunto de enzimas, destacando-se as descarboxilases
(mediadoras das descarboxilações) e as desidrogenases
(mediadoras das reações de oxidação-redução).
O ciclo de Krebs inicia-se com a combinação do
grupo acetil (2C) da acetil-coenzima A com o ácido
oxaloacético (4C), formando – se ácido cítrico (6C).
Segue-se um conjunto de reações podendo destacar-se:
- 4 reações de oxidação-redução. São removidos 8 hidrogénios: 6 vão reduzir 3 moléculas de NAD+,
formando-se 3 moléculas de NADH; e duas são utilizadas para reduzir outro transportador de hidrogénio - o
FAD (Dinucleótido de Adenina Flavina) – originando FADH2 ;
- 2 descarboxilações, que conduzem à libertação de 2 moléculas de CO2. Note-se que estes dois carbonos
removidos foram introduzidos no ciclo pelo grupo acetil da acetil-CoA;
- uma fosforilação, que conduz à formação de uma molécula de ATP
Cada molécula de glicose conduz à formação de duas moléculas de ácido pirúvico, as quais originam duas
moléculas de acetil-CoA, que iniciam dois ciclos de Krebs.
Assim, por cada molécula de glicose degradada, forma-se no ciclo de Krebs:
- 6 NADH + 6H+
- 2 FADH2
- 2 ATP
- 4 CO2
Cadeia transportadora de eletrões e fosforilação oxidativa
As moléculas de NADH e FADH2 formadas durante as etapas anteriores da respiração, transportam
eletrões que vão, agora, percorrer uma série de proteínas, até serem captadas por um acetor final – o
oxigénio.
Estas proteínas acetoras de eletrões constituem a cadeia transportadora de eletrões ou cadeia
respiratória e encontram-se ordenadas na membrana interna das mitocôndrias, de acordo com a sua
afinidade para os eletrões.
1. Os eletrões transportados pelo NADH e pelo FDAH2 são cedidos aos acetores iniciando um fluxo, ao
longo do qual estas moléculas vão sendo sucessivamente reduzidas e oxidadas. Este fluxo é condicionado pela
disposição das moléculas transportadoras de eletrões. Cada transportador tem maior afinidade para os
eletrões do que o transportador anterior, garantindo-se dessa forma um fluxo unidirecional até ao acetor final
– o oxigénio.
O oxigénio, depois de receber os eletrões, capta os protões (H+) presentes na matriz da mitocôndria
formando-se água (H2O).
2. À medida que os eletrões passam de transportador em transportador, liberta-se energia. Essa energia
é utilizada para bombear iões H+ da matriz para o espaço intermembranar criando-se um gradiente de protões
entre estes dois locais – gradiente quimiosmótico.
3. A membrana interna das mitocôndrias possuem enzimas – ATP sintetases – que utilizam a energia do
fluxo de H+, que as atravessam (a favor do gradiente de concentração) para fosforilar o ADP, formando ATP.
Esse processo de produção do ATP está associado a fenómenos de oxidação-redução, pelo que é
normalmente, designado por fosforilação oxidativa.
Os eletrões transportados pelo NADH são transferidos para o primeiro acetor, enquanto que os eletrões
transportados pelo FADH2 são cedidos ao segundo acetor. Este facto vai condicionar o rendimento energético.
Assim, por cada molécula de NADH, que transfere os seus eletrões para a cadeia respiratória, formam-se três
moléculas de ATP, enquanto que por cada molécula de FADH2 que doa os seus eletrões, gera-se, somente,
duas moléculas de ATP.
Para além dos processos de fermentação e de respiração aeróbia existem seres vivos, como certas
bactérias, que vivem em meios privados de oxigénio e eu utilizam um mecanismo de mobilização de energia
designado por respiração anaeróbia. Neste processo o acetor final de eletrões é um ião inorgânico, como NO3
ou SO42+, e não o oxigénio.
1.3. Rendimento energético da fermentação e da respiração aeróbia
Os dois processos catabólicos, fermentação e respiração aeróbia, permitem a formação de moléculas de
ATP, constituindo a fermentação uma via mais rápida do que a respiração aeróbia.
O rendimento energético em termos de moléculas de ATP destes dois processos é:
Fermentação
Estrutura ATP
Formado Mobilizado
Citosol 4 2
Saldo 2 ATP
Formação de ATP em células musculares
O estudo fisiológico da atividade muscular nos seres humano evidencia que a renovação permanente de
ATP nas células musculares se pode efetuar por diferentes vias catabólicas, nomeadamente a respiração
aeróbia e a fermentação láctica. Essas vias catabólicas relacionam-se com a intensidade e a duração do
exercício físico.
Nas provas desportivas, no decurso de exercícios intensos e relativamente curtos, é necessária uma
renovação quase instantânea de ATP, tendo a fermentação láctica um papel muito importante. Em repouso e
durante as provas de longa duração, é especialmente a respiração aeróbias que intervêm.
Respiração aeróbia
Estrutura
ATP
Formado Mobilizado
Citosol 4 2
Mit
ocô
nd
ria
Matriz 2 -
Membrana interna
32 -
Saldo 36 ATP (2+2+32)
2. Trocas gasosas nos seres multicelulares
A maior parte das células realiza a respiração aeróbia para satisfazer as suas necessidades energéticas.
Neste processo, para além da degradação de moléculas orgânicas, ocorre consumo de oxigénio, pelo que o
fornecimento deste gás às células tem de ser continuamente assegurado. Deste processo resulta a produção
de CO2 que terá de ser removido para o exterior.
Nos seres unicelulares as trocas gasosas com o meio efetuam-se diretamente através da membrana
celular.
Nos seres multicelulares o modo como se efetuam as trocas gasosas com o meio depende da
complexidade dos organismos e do respetivo habitat.
2.1. Intercâmbio de gases nas plantas
As plantas realizam uma série de funções metabólicas, como sejam, a respiração, a fotossíntese e a
transpiração, indispensáveis à sua sobrevivência. Estas funções, que permitem a obtenção e transporte de
matéria até às células e a sua utilização na obtenção de energia, estão associadas a trocas gasosas. Assim,
durante a respiração, a planta capta oxigénio e liberta dióxido de carbono; durante a fotossíntese, a planta
capta dióxido de carbono e liberta oxigénio e, durante a transpiração a planta liberta vapor de água.
Não existem sistemas de órgãos especializados na troca de gases respiratórios nas plantas.
As plantas possuem algumas estruturas, como os estomas que permitem que estas trocas gasosas se
processem com eficiência e que controlem a quantidade de gases absorvidos e libertados.
2.2. Intercâmbio de gases nos animais
Os animais necessitam de um sistema que permita adquirir o oxigénio necessário à realização da
respiração aeróbia e retirar o dióxido de carbono produzido nesta reação.
Em muitos animais, o processo é simples, pois todas as suas células estão praticamente em contacto com
a água e os gases respiratórios difundem-se diretamente para todas as células, não necessitando por isso de
nenhuma estrutura para o fazer.
Nos animais mais complexos existe um conjunto de estruturas que constituem o sistema respiratório, do
qual fazem parte superfícies especializadas nas trocas gasosas entre o meio externo e o meio interno,
designadas por superfícies respiratórias.
A estrutura, ou o órgão, onde se realizam as trocas gasosas denomina-se superfície respiratória enquanto
que todo o conjunto de estruturas que permitem a realização das trocas gasosas constitui o sistema
respiratório. Isto significa que todos os animais possuem superfícies respiratórias, mas nem todos os animais
possuem um sistema respiratório.
O tipo de superfície respiratória varia com a diversidade animal, assim como com o ambiente em que
vivem, o que leva à existência de várias superfícies respiratórias.
Superfícies respiratórias
Nas superfícies respiratórias, as trocas gasosas podem ocorrer diretamente entre as células e o meio
exterior, através de difusão direta. No entanto, na maior parte dos casos, ocorre uma difusão indireta, uma
vez que os gases respiratórios são transportados por um fluido circulante que estabelece a comunicação entre
as células e a superfície respiratória. Neste caso, as trocas gasosas que ocorrem ao nível das superfícies
respiratórias, designam-se hematose.
Apesar da sua grande diversidade, as superfícies respiratórias apresentam, todas elas, um conjunto de
características comuns que permitem uma difusão eficiente.
São superfícies sempre húmidas, favorecendo, desse modo, a difusão do oxigénio e do dióxido de
carbono;
São estruturas de pequena espessuras, constituídas, em regra, por uma única camada de células
separando o meio externo do meio interno;
Possuem uma morfologia que permite uma grande área de contacto entre o meio interno e o meio
externo
Sempre que existe difusão indireta, a zona possui muitos vasos sanguíneos (muito vascularizada) para
que exista um meio para efetuar a troca.
Diferentes tipos de superfícies respiratórias
Em muitos organismos aquáticos, e mesmo terrestres, a superfície do corpo, o tegumento funciona como
superfície respiratória, não existindo um sistema respiratório diferenciado.
Porém, na maioria dos animais existem órgãos especializados no intercâmbio de gases respiratórios entre
o meio interno e o meio externo. É o caso das traqueias, por exemplo nos insetos, das brânquias, por
exemplo, nos crustáceos e nos peixes e dos pulmões nos vertebrados terrestres.
Tegumento: em animais como a minhoca a superfície do corpo atua como superfície respiratória. O
oxigénio passa através da pele para um fluido circulante, que se movimenta num sistema circulatório fechado
ao longo do organismo, chegando, desse modo, ao nível das células para as quais se difunde. Das células
difunde-se dióxido de carbono para o fluido circulante, sendo depois libertado, em regra, ao nível do
tegumento. Verifica-se, pois, uma difusão indireta, designada neste caso por hematose cutânea. Além da
minhoca e de outros animais invertebrados, esta hematose está presente também em vertebrados, como, por
exemplo, na rã, constituindo um complemento à hematose pulmonar.
Certas características da pele destes animais favorecem a hematose cutânea:
Numerosas glândulas produzem muco, permitindo que a pele se mantenha sempre húmida;
Uma extensa vascularização, favorecendo a difusão do oxigénio para o fluido circulante que o
transporte a todas as células, realizando o CO2 um percurso inverso.
Brânquias: são os órgãos respiratórios da maior parte dos animais aquáticos. Podem apresentar
diferentes graus de complexidade, sendo, em regra, formadas a partir de evaginações da superfície do corpo.
A sua localização pode ser externa ou interna, mas, habitualmente, estão restritas a uma região.
Nos peixes as brânquias são internas, localizando-se, nos peixes ósseos, em duas câmaras branquiais,
uma de cada lado da cabeça, recobertas por uma lâmina óssea de proteção, o opérculo.
Cada câmara branquial comunica com a água por uma fenda opercular.
Em cada câmara existem quatro brânquias, cada uma constituída por filamentos duplos, dispostos lado a
lado, suportados por uma estrutura óssea, o arco branquial. A membrana dos filamentos branquiais, muito
fina, possui filas de dobras, as lamelas branquiais contendo finos capilares.
A estrutura das brânquias permite que a superfície respiratória apresente uma grande área de contacto
entre o meio exterior e o meio interno.
A disposição dos capilares favorece também a eficiência da hematose branquial.
O sangue flui em sentido oposto ao sentido de movimento da água que banha as lamelas branquiais.
Assim, à medida que o sangue pobre em oxigénio vai passando por zonas em que a água, com muito oxigénio,
circula em sentido inverso, o oxigénio vai passando, por difusão, para o sangue.
Pela mesma razão, o dióxido de carbono difunde-se em sentido contrário. À medida que o sangue dos
capilares perde CO2 para a água, contacta com água cada vez mais pobre em CO2, permitindo que a sua
difusão se continue a verificar.
A ventilação, ou seja, o processo que se desencadeia, neste caso, o movimento da água é controlada pela
coordenação dos movimentos da boca e dos opérculos. Com as fendas operculares fechadas, a água entra pela
boca e, por contração desta, passa para a faringe, desta para as câmaras branquiais e sai pelas fendas
operculares que se abrem.
Sistema de traqueias: é constituído por uma rede de canais, cheios de ar, as traqueias.
As traqueias contactam com o exterior por aberturas na superfície do corpo e a sua parede é reforçada
por anéis de quitina. Estes canais ramificam-se sucessivamente ao longo de todo o corpo, estando os mais
finos, as traquíolas, em contacto direto com os tecidos. As minúsculas extremidades das traquíolas são
fechadas e contêm um fluido essencial para a difusão dos gases respiratórios.
As trocas gasosas com as células efetuam-se por difusão direta, não intervindo o sistema circulatório no
transporte de gases respiratórios.
Para os pequenos insetos a difusão dos gases respiratórios através das traqueias é suficiente, não
havendo ventilação ativa. Nos insetos voadores existem, junto aos músculos, sacos de ar que funcionam como
reservas de ar e facilitam a ventilação, pois o consumo de oxigénio durante o voo aumenta
consideravelmente. A ventilação é também assegurada em muitos casos, por movimentos rítmicos do corpo.
Pulmões: existem em todos os vertebrados terrestres, ainda que apresentem diferenças consideráveis na
sua estrutura.
A comparação da estrutura dos pulmões em diferentes grupos de vertebrados evidencia, dos anfíbios até
aos mamíferos, uma sucessiva complexidade com o aumento da área da superfície respiratória, que se
apresenta muito vascularizada e uma sucessiva especialização do processo de ventilação.
Em regra, o tamanho e a complexidade dos pulmões estão relacionados com a taxa metabólica dos
animais e, consequentemente, com a quantidade de oxigénio necessária nas células.
Nos seres humanos, como nos outros mamíferos, os pulmões localizados na cavidade torácica
apresentam uma grande eficiência nas trocas gasosas entre o meio externo, a cavidade dos alvéolos
pulmonares, e o meio interno, o sangue.
Para essa eficiência contribuem, nomeadamente:
a grande área da superfície alveolar, uma vez que existem milhões de alvéolos;
a fina espessura da parede alveolar;
a vasta rede de vasos capilares nas paredes dos alvéolos.
Que fatores desencadeiam a troca de gases?
São os mecanismos de inspiração e de expiração, desencadeados pela contração e relaxamento dos
músculos da cavidade torácica, nomeadamente o diafragma e os músculos intercostais, que permitem a
renovação de ar nos pulmões, condicionando as trocas gasosas alveolares.
Na difusão de gases respiratórios, quer ao nível dos alvéolos pulmonares quer ao nível das células, o fator
que condiciona o sentido dessa difusão depende das diferenças de pressão parcial de cada um dos gases
respiratórios ao nível dessas superfícies.
Assim, nos alvéolos pulmonares a pressão parcial de oxigénio é maior do que no sangue dos capilares e,
por tal motivo, este gás difunde-se dos alvéolos para o interior desses vasos. No caso do dióxido de carbono, a
pressão parcial desse gás é maior no sangue que irriga a parede dos alvéolos do que no interior dessas
cavidades, dando-se uma difusão em sentido contrario.
Ao nível celular, e como resultado da utilização do oxigénio na respiração aeróbia a pressão parcial deste
gás é menor nas células do que no sangue que a elas chega, ao passo que a pressão parcial de dióxido de
carbono é menor no sangue do que nas células onde se produz durante a respiração. Em consequência, o
oxigénio difunde-se dos capilares para as células, fazendo o dióxido de carbono o percurso inverso.
A concentração de gases respiratórios no sangue mantém-se em regra dentro de valores de equilíbrio.
Porém, se aumentar o consumo de oxigénio nas células, como no caso das células musculares durante um
esforço físico, a velocidade das trocas dos gases respiratórios aumenta no sentido de repor a concentração de
oxigénio no sangue, assegurando desse modo a sua chegada às células e a remoção do dióxido de carbono
produzido nas células e difundido para o sangue. Para tal, ocorre também o aumento da ventilação pulmonar
e do fluxo sanguíneo.
Unidade 4 – Regulação nos seres
vivos
1. Regulação nervosa e hormonal em animais
Todos os seres vivos são sistemas abertos que estabelecem constantes interações com o seu ambiente.
Por outro lado, apresentam condições no seu meio interno que têm de permanecer constantes.
Manter a vida implica manter em equilíbrio as condições do meio interno, isto é, manter a homeostasia.
Os mecanismos homeostáticos variam consoante as espécie e o seu habitat.
Na verdade, a capacidade de sobrevivência dos organismos depende, em larga medida, da possibilidade
de detetarem alterações no ambiente, quer interno, quer externo, e de responderem de forma adequada a
essas alterações. Estas funções estão centradas em dois sistemas: o sistema nervoso e o sistema hormonal,
responsáveis, respetivamente, pela regulação nervosa e hormonal.
1.1. Coordenação nervosa
O sistema nervoso dos animais complexos é responsável pela coordenação nervosa, ou seja, permite aos
organismos detetarem variações das condições do meio externo e do meio interno e dar as respostas mais
adequadas. O sistema nervoso está organizado em dois sistemas:
- o sistema nervoso central, constituído pelo encéfalo e pela medula espinal. Nele dá-se a integração, isto
é a interpretação dos estímulos provenientes quer do meio interno quer do meio externo e a preparação de
respostas adequadas aos estímulos recebidos.
-o sistema nervoso periférico, constituído pelos nervos cranianos, com origem no encéfalo, e pelos
nervos raquidianos ou espinais, com origem na espinal medula, por onde os estímulos e as respostas
circulam, de e a todas as partes do corpo.
Os órgãos do sistema nervoso central ficam ligados aos diferentes sistemas de órgãos, como músculos,
órgãos dos sentidos, órgãos do sistema respiratório, circulatório e excretor. Os elementos centrais desta
verdadeira rede de comunicações são as células nervosas, ou neurónios, células especializadas que variam de
tamanho e de forma, mas que mantêm um padrão comum.
Cada neurónio, unidade de estrutura e de função, possui:
Dendrites, prolongamentos celulares muito ramificados que recebem informações nervosas do
ambiente ou de outro neurónio;
Corpo celular, zona com o núcleo e o citoplasma, que integra e trata as informações, emitindo
mensagens;
Axónio, prolongamento celular que termina numa arborização terminal e que transmite as
mensagens em regra, a outro neurónio ou a um órgão efetor. Este é assim designado por que
efetua a resposta ao estímulo.
Os estímulos externos são captados por recetores e transmitidos ao sistema nervoso central, onde a
informação é processada. A informação resultante deste processo é conduzida aos efetores, onde se dá a
resposta ao estímulo.
As vias nervosas responsáveis pela transmissão da informação desde os recetores até aos centros
nervosos são denominados vias aferentes ou nervos sensitivos. Os neurónios que integram os nervos
sensitivos designam-se por neurónios sensitivos.
Pelo contrário, as vias nervosas responsáveis pela transmissão da informação desde os centros nervosos
até aos efetores são denominadas vias eferentes ou nervos motores. Os neurónios que integram os nervos
motores designam-se por neurónios motores.
Os interneurónios, ou neurónios de associação, localizados no encéfalo ou na espinal medula, integram a
informação que chega dos neurónios sensitivos e preparam a mensagem que sai pelos neurónios motores. As
ligações entre os neurónios podem estabelecer-se entre o axónio de um neurónio e o corpo celular ou as
dendrites do neurónio seguinte, sendo que a informação chega ao neurónio pelo corpo celular ou pelas
dendrites e sai sempre pelo axónio.
Há, na verdade, uma embaraçosa rede de conexões que desencadeia decisões e promove ações precisas e
concertadas.
Transmissão de mensagens nervosas
Como se processa a transmissão do impulso nervoso?
Designa-se impulso nervoso ou influxo nervoso à informação que percorre os neurónios. Nesta
transmissão do impulso nervoso, a membrana celular dos neurónios desempenha um papel fundamental. De
facto, verifica-se uma diferença do potencial elétrico entre o interior e o exterior da membrana celular, sendo
o exterior positivo e o interior negativo. Esta diferença de potencial é denominada potencial de repouso e
corresponde a um estado polarizado da membrana. O mecanismo de polarização da membrana está
relacionado com a desigual distribuição dois iões nas duas faces. Esta distribuição desigual dos iões é, por sua
vez, uma consequência da permeabilidade seletiva dos iões através da membrana.
Quando um neurónio é suficientemente estimulado, o valor do potencial de repouso varia, como
consequência da alteração da permeabilidade seletiva da membrana. Esta alteração produz, localmente uma
despolarização, ou seja, internamente, a membrana fica positiva e, externamente, negativa. Esta modificação
local do potencial da membrana é denominada potencial de ação, que acaba por ser o ponto de partida para o
impulso nervoso. A propagação do impulso nervoso ao longo do axónio inicia-se, então, no local da membrana
que foi inicialmente despolarizada. Este local, por sua vez, vai perturbar o local imediatamente vizinho, que
entretanto se despolarizará. À medida que esta onda despolarizadora percorre o axónio, os locais
anteriormente despolarizados retomam a situação elétrica inicial, ou seja, ficam novamente polarizados (diz-
se que ocorreu repolarização)
Se todas as células apresentam potencial de repouso, poucas são as que geram potenciais de ação.
Apenas as células nervosas, células musculares e alguns tipos de células endócrinas e de células do sistema
imunitário o podem fazer.
Quando o potencial de ação atinge a extremidade do axónio enfrenta uma zona de junção com outro
neurónio ou com um órgão efetor.
Como comunicam os neurónios entre si?
Quando o impulso nervoso atinge a extremidade do axónio pode deparar-se com outro neurónio ou com
um órgão efetor: músculo, glândula ou outro tecido. A zona de comunicação entre neurónios, ou de um
neurónio com um órgão efetor, designa-se por sinapse. Numa sinapse é notória a existência de um espaço
extra celular ou fenda sináptica, através da qual a mensagem nervosa deve passar. O neurónio que leva
informação para a sinapse é o neurónio pré-sináptico, enquanto o neurónio que recebe informação nessa
sinapse se designa por neurónio pós-sináptico. Quando o impulso nervoso atinge a extremidade do axónio
não pode ultrapassar a fenda sináptica. A mensagem elétrica converte-se então em mensagem química. Na
extremidade do axónio existem vesiculas sinápticas que armazenam substâncias químicas produzidas pelo
neurónio, os neurotransmissores. Quando o potencial de ação atinge a sinapse, as vesículas movem-se para a
zona da membrana do neurónio pré-sináptico e fundem-se com ela, libertando o seu conteúdo na fenda
sináptica, por exocitose. Os neurotransmissores difundem-se então através da fenda sináptica e são recebidos
por recetores específicos localizados nas dendrites do neurónio pós-sináptico. Essas substâncias alteram a
permeabilidade da membrana do neurónio, podendo desencadear um potencial de ação no neurónio pós
sináptico, e a mensagem nervosa prossegue.
Um neurónio pós-sináptico pode ter recetores para diferentes tipos de neurotransmissores. A
transmissão das mensagens nervosas é, pois, um processo eletroquímico.
1.2. Coordenação hormonal
Muitos animais, além do sistema nervoso, possuem um outro sistema de coordenação, o sistema
hormonal ou endócrino, que através de hormonas, contribui para a regulação e a integração de todos os
outros sistemas. As hormonas são substâncias químicas de natureza muito variada, produzidas por glândulas
endócrinas, localizadas em várias regiões dos organismos, e que vão atuar sobre células-alvo. O sistema
endócrino inclui células, tecidos ou mesmo órgão cuja função é produzir e segregar hormonas, lançando-as
diretamente no sangue ou nos fluidos intersticiais.
Embora em quantidades muito reduzidas, em cada momento podem circular no sangue mais de 50
hormonas diferentes que vão atuar de forma seletiva apenas em células específicas, as células-alvo.
Como atuam as hormonas?
As hormonas, produzidas em células de glândulas endócrinas de uma determinada região do organismo,
desencadeiam alterações mais ou menos localizadas em diferentes tecidos ou órgãos. Uma dada hormona
uma vez na corrente sanguínea, chega às diferentes células do organismo atuando apenas naquelas que
possuem recetores específicos para essa hormona.
A maioria das vezes as moléculas recetoras localizam-se na membrana plasmática, mas podem também
localizar-se no citoplasma das células-alvo. A ligação da hormona ao recetor da célula alvo desencadeia
alterações diversas que conduzem ao aparecimento de um determinado efeito, efeito esse que é a resposta da
célula-alvo à hormona. Estas interações são geralmente reguladas por mecanismos de retroação negativa ou
feedback negativo.
Um mecanismo de feedback negativo é, habitualmente, um processo em que a partir de um estímulo,
que causa uma mudança, é gerada uma resposta que cancela a ação desse estímulo.
1.3. Coordenação neuro-hormonal – termorregulação e osmorregulação
A coordenação nervosa e a coordenação hormonal estão estritamente relacionadas.
A conexão mais importante entre o organismo e o cérebro é assegurada pelo complexo hipotálamo-
hipófise. A hipófise é uma glândula situada na base do cérbero e junto de uma região chamada hipotálamo,
possui dois lobos, o lobo anterior e o lobo posterior, ambos profundamente dependentes do hipotálamo. Este
recebe informações de diferente proveniência e envia sinais hormonais diretamente para a hipófise. Esta
responde através da produção de hormonas que atuam em diferentes partes do corpo, nomeadamente
estimulando ou inibindo outras glândulas endócrinas. A tiroide, as suprarrenais e as gónadas são algumas das
glândulas endócrinas que respondem a hormonas provenientes da hipófise que são lançadas na corrente
sanguínea e vão atuar nas células dessas glândulas.
Na coordenação neuro-hormonal ocorre a transmissão de mensagens de natureza eletroquímica e
hormonal de forma coordenada, que desencadeiam respostas fundamentais para muitos dos acontecimentos
centrais da vida, nomeadamente o controlo da homeostasia.
Regulação da temperatura corporal
A maioria dos animais dispõem de elaborados mecanismos de termorregulação, isto é mecanismos
fisiológicos, estruturais e comportamentais que permitem manter a temperatura do seu corpo dentro de
certos limites, apesar da oscilação da temperatura de meio externo.
No ambiente aquático a temperatura da água não apresenta grandes oscilações ao longo do dia. Talvez
por isso, na evolução dos organismos aquáticos não surgiram, em regra, importantes mecanismos
especializados para regular a temperatura do seu corpo. Já o ambiente terrestre apresenta grandes oscilações
de temperatura entre, por exemplo, a noite e o meio-dia, o verão e o inverno. Nestas circunstâncias a
sobrevivência dos indivíduos depende de mecanismos homeotérmicos, ou seja, mecanismos de regulação da
temperatura mais ou menos complexos. No que diz respeito à temperatura corporal podem distinguir-se dois
grandes grupos de indivíduos: os seres exotérmicos, ou ectotérmicos e, os seres homeotérmicos ou
endotérmicos.
Seres exotérmicos: os indivíduos exotérmicos são também chamados poiquilotérmicos uma vez que,
virtualmente não têm mecanismos muito evidentes para regular a temperatura, apresentando temperatura
variável em função da temperatura do ambiente. No entanto, os seres ectotérmicos possuem
comportamentos e algumas características que permitem dosear a quantidade de calor de que necessitam
utilizando a energia do sol.
Seres endotérmicos: as aves e os mamíferos, assim como algumas espécies de peixes como o atum e
alguns insetos, são seres cuja temperatura interna se mantém sensivelmente constante apesar das oscilações
de temperatura do ambiente exterior. São chamados seres homeotérmicos. É, pois, natural que estes
indivíduos apresentem mecanismos comportamentais, morfológicos e fisiológicos que lhes permitam manter a
temperatura dentro de limites restritos apesar das variações exteriores.
Termorregulação no organismo humano
Nos seres humanos, como em outros mamíferos a regulação da temperatura faz-se através de um
interação coordenada entre o sistema nervoso e o sistema hormonal, permitindo manter uma temperatura
que não se afaste muito do 36 a 37oC.
Quais os mecanismos que controlam a temperatura do corpo humano?
Os mecanismos que permitem aos seres endotérmicos regular a temperatura corporal podem:
Aumentar ou diminuir a produção de calor interno, sobretudo atuando ao nível do metabolismo
e da contração muscular;
Aumentar ou diminuir as perdas de calor para o ambiente.
Estes objetivos são atingidos mobilizando uma rede de coordenação onde interagem o sistema nervosos e
o sistema hormonal envolvendo mecanismos de feedback negativo. A rede de interação inclui as seguintes
etapas:
1. Estimulo (aumento da diminuição da temperatura para além dos limites desejáveis)
2. Recetor sensorial deteta o estímulo (recetores térmicos de natureza nervosa)
3. Transporte da mensagem por nervos sensitivos ou aferentes até um órgão integrador.
4. Órgão integrador (hipotálamo, interpreta o estímulo e prepara a resposta adequada)
5. Transporte de mensagem por nervos motores ou eferentes até aos órgãos efetores ou por
hormonas.
6. Nos órgãos efetores surge a respostas, que tende a compensar o desvio provocado pelo estímulo
agindo de forma contrária no caso do feedback negativo.
De um modo geral, quando há um aumento da temperatura do corpo, os seres humanos sentem-se
prostrados ficam corados e começam a transpirar. Estas reações são a face visível do que se passa ao nível dos
mecanismos da termorregulação. A informação acerca do aumento de temperatura é recebida no centro
regulador da temperatura que se localiza no hipotálamo. Este integra a informação e envia mensagens para os
órgão efetores, onde se desencadeiam ações destinadas a fazer baixar a temperatura.
Diminui a atividade muscular: a contração muscular é um processo metabólico que liberta calor.
A sua redução ajuda o organismo a baixar a temperatura.
Ocorre uma vasodilatação dos vasos periféricos: a vasodilatação, isto é o aumento do calibre dos
vasos, neste caso dos capilares superficiais da pele, faz aumentar a quantidade de sangue à
superfície do corpo permitindo a libertação de calor para o meio, o que faz baixar a temperatura
do corpo.
Aumenta a transpiração: quando a transpiração aumenta, como a evaporação do suor requer
energia a temperatura da pele diminui.
Quando a temperatura do corpo diminui os seres humanos ficam pálidos e frequentemente sentem
tremores. As mensagens do hipotálamo para os órgãos efetores vão agora no sentido de fazer aumentar a
temperatura corporal.
Ocorre uma vasoconstrição, isto é uma diminuição do calibre dos vasos, neste caso dos capilares
periféricos. A quantidade de sangue que circula à superfície diminui, diminuindo as perdas de
calor.
Há estímulos nervosos que desencadeiam a contração de alguns músculos, causando arrepios e
estímulos hormonais que fazem aumentar o metabolismo das células do organismo e,
consequentemente a respiração celular, libertando-se calor, o que ajuda a aumentar a
temperatura corporal
Na manutenção da temperatura do corpo humano dentro de determinados limites estão envolvidos
mecanismos por feedback negativo. Quando a temperatura sobe (+), os órgãos efetores desencadeiam ações
destinadas a faze-la baixar (-) e, quando ela baixa (-), ocorrem destinadas a fazê-la subir (+).
Como resultado de infeções ou de outros processos patológicos, a temperatura do corpo pode subir para
valores anormais. Por vezes, é necessário intervir com medicação, toalhas de água fria ou mesmo banhos de
emersão no sentido de ajudar a temperatura a baixar. Isto porque, quando a temperatura se aproxima dos
42oC, os mecanismos de feedback negativo passam a mecanismos de feedback positivo. Isto é à medida que a
temperatura aumenta (+) os órgãos efetores desenvolvem ações que, em vez de fazerem baixar a temperatura
pelo contraio, fazem-na aumentar (++). Temperaturas elevadas alteram os processos vitais, nomeadamente a
integridade de enzimas e proteínas, podendo conduzir à morte.
Organismos homeotérmicos vs. Organismos exotérmicos
Os organismos homeotérmicos apresentam vantagens relativamente aos exotérmicos pois conservam a
sua atividade normal constante porque não têm grandes oscilações na temperatura corporal. Desde que as
variações exteriores não sejam extremas. Por sua vez, os organismos exotérmicos passam por períodos de
inatividade e mesmo de hipnose quando a temperatura do seu corpo é demasiado baixa. Em contrapartida, a
vantagem dos organismos homeotérmicos implicam metabolismo mais elevado e, portanto, uma necessidade
maior de consumir alimentos.
Os valores da homeostasia variam consoante os indivíduos e o seu habitat.
Regulação da concentração osmótica
A água é a biomolécula mais abundante na generalidade dos seres vivos e encontra-se distribuída nos
meio intra e extracelular. Ao nível extracelular, a água é o componente essencial do plasma e do fluido
intersticial. Ora, sendo a água o componente mais abundante dos seres vivos, é natural pensar que variações
na sua quantidade poderão ter um grande impacto na sobrevivência dos seres vivos. Com o objetivo de
manter o equilíbrio osmótico no meio extracelular, ou seja a homeostasia, é necessário a ocorrência de trocas
de água e de solutos com o meio envolvente. Designa-se osmorregulação o conjunto de mecanismos capazes
de controlar o potencial hídrico e a concentração de solutos no interior de um organismo, ou seja, os
mecanismos capazes de controlar a pressão osmótica.
O ambiente marinho é relativamente estável no que diz respeito à concentração de sai. A maioria dos
invertebrados marinhos está em equilíbrio osmótico com a água do mar. São, por isso, designados por seres
osmoconformantes, uma vez que a concentração dos seus fluidos corporais varia com a concentração de iões
de água que os rodeia. Já os seres que vivem, por exemplo em zonas de estuário, com grandes oscilações de
salinidade, são seres osmorreguladores, isto é, possuem mecanismos que lhes permitem manter uma
concentração ótima de sais no organismo apesar das oscilações que se verificam no meio. A maioria dos peixes
e dos animais do ambiente terrestre são osmorreguladores, sendo os órgãos excretores também órgãos
osmorreguladores.
Osmorregulação nos vertebrados
Os vertebrados ocupam uma grande diversidade de ambientes: ambiente terrestre, ambiente marinho e
mesmo zonas com condições extremas, como o deserto.
Em resposta a todos estes ambientes surgiram, durante a evolução mecanismo diversos de
osmorregulação.
Osmorregulação nos seres humanos
Em muitos vertebrados, nomeadamente nos seres humanos, o sistema excretor, para além de eliminar as
excreções, tem um papel crucial no controlo da concentração de água e de iões do meio interno.
De que forma o sistema excretor humano intervém na osmorregulação?
O sistema urinário tem como órgãos centrais dois rins, de cada um dos quais parte um ureter que termina
na bexiga. A urina produzida nos rins é transportada pelos ureteres até à bexiga, onde se acumula.
Periodicamente, a urina contida na bexiga é eliminada para o exterior através da uretra pelo orifício urinário.
Cada rim apresenta duas zonas concêntricas, a mais externa é designada zona cortical e a mais interna
zona medular. A zona medular rodeia uma cavidade chamada bacinete.
Ao microscópio é possível observar cerca de um milhão
de unidades funcionais, os nefrónios. Cada nefrónio inclui
um tubo urinífero, unidade estrutural do rim, e uma rede de
vasos sanguíneos que se relacionam com esse tubo. O rim é
um órgão ricamente vascularizado cujos vasos sanguíneos
assumem especificidades ao nível dos tubos uriníferos.
Assim, a cápsula de Bowman possui no seu interior um
novelo de capilares o Glomérulo de Malpighi, que resulta da
capilarização de uma arteríola que entra na cápsula e que
por isso, se chama arteríola aferente. Os capilares do
glomérulo voltam a reunir-se noutra arteríola, que
abandona a cápsula de Bowman, a arteríola eferente. Toda
a porção tubular do tubo urinífero, tubo contornado proximal, ansa de Henle e tubo contornado distal, é
abundantemente irrigada por capilares peritubulares. Vários tubos uriníferos drenam o seu conteúdo para um
tubo chamado tubo coletor.
O rim controla a composição do plasma sanguíneo. A função renal que se resume ao nível de cada
nefrónio inclui três processos básicos: filtração, reabsorção e secreção. Estes fenómenos ocorrem em
diferentes regiões do nefrónio e deles resulta a urina.
Filtração: a filtração do sangue vai ocorrer ao nível do glomérulo de Malpighi e da cápsula de Bowman.
Diversas substâncias (água, ureia, glicose, aminoácidos, vitaminas, sais, etc.) passam dos capilares sanguíneos
para a cápsula de Bowman e desta para o interior do tubo urinífero. Estas substâncias constituem o filtrado
glomerular que em termos de composição, é idêntico ao plasma sanguíneo (exceto no que diz respeito a
macromoléculas que não são capazes de atravessar as paredes dos capilares e da cápsula de Bowman).
Reabsorção:
1. Após a filtração que ocorre na cápsula de Bowman, muitas substâncias são reabsorvidas, quer por
difusão, quer por transporte ativo. No tubo contornado proximal, resíduos de medicamentos, glicose e
aminoácidos, por exemplo, regressam à corrente sanguínea.
O filtrado glomerular desloca-se para a ansa de Henle, que é a parte do tubo urinífero que se encontra na
zona medular do rim.
2. As células da porção descendente da ansa de Henle possuem membranas impermeáveis aos sais e aos
iões mas deixam-se atravessar pela água. Esta passa do tubo urinífero para o sangue por osmose. A saída de
água faz aumentar a concentração do filtrado glomerular.
3. A porção ascendente da ansa de Henle é agora impermeável à água mas permeável aos sais e aos iões.
Estes saem do tubo urinífero para o fluido intersticial, fazendo aumentar a pressão osmótica deste fluido. É o
caso do sódio, que passa por transporte ativo.
O tubo contornado distal volta a ser permeável à água e, como o fluido intersticial fora do tubo é muito
concentrado, a água vai sair do tubo urinífero por osmose sendo reabsorvida aa nível do tubo contornado
distal.
4. O filtrado passa então para o tubo coletor que se situa na medula renal. Ao longo do tubo coletor são
reabsorvidas ureia e água
Secreção: Ao longo do tubo urinífero, nomeadamente no tubo contornado distal, ocorrem ainda
fenómenos de secreção. Determinadas substâncias, como amónia e iões H+, passam dos capilares
peritubulares para o tubo urinífero. A secreção destas substâncias permite não só depurar o sangue mas
também, no caso dos iões H+, ajustar o seu pH.
Como são controlados os mecanismos de osmorregulação?
Quando no organismo ocorre uma perturbação, por exemplo, uma perda acentuada de água por
transpiração, por mecanismos de feedback negativo desencadeiam-se os ajustes necessários para que a
pressão osmótica do meio interno não se altere.
A quantidade de urina produzida depende da quantidade de água ingerida ou da quantidade de água que
se perde, por exemplo, por transpiração. Quando bebemos pouca água ou transpiramos muito, o volume do
plasma sanguíneo diminui e, portanto, a concentração de iões aumenta, fazendo aumentar a pressão
osmótica. Determinados recetores situados no hipotálamo, os osmorrecetores, captam alterações do volume
e da osmolaridade do sangue e estimulam o lobo posterior da hipófise a libertar a hormona antidiurética
(ADH), que aqui está armazenada embora seja produzida no hipotálamo. Esta hormona atua em células-alvo
dos tubos coletores do rim, fazendo aumentar a sua permeabilidade à água. Deste modo aumenta a
reabsorção, o que faz aumentar o volume de água no plasma e diminuir a pressão osmótica. A urina produzida
é, portanto, mais concentrada e em menor quantidade.
Se, pelo contrário, ingerimos muita água, o volume do sangue aumenta e a pressão osmótica diminui. Os
osmorrecetores captam esta informação e atuam no lobo posterior da hipófise no sentido de diminuir a
libertação da ADH. A permeabilidade dos tubos coletores diminuir e é reabsorvida menos água, o que faz
diminuir o volume do plasma sanguíneo e aumentar a sua pressão osmótica. Forma-se então urina mais
diluída e em maior quantidade.
Osmorregulação em vertebrados do ambiente aquático
Que mecanismos de osmorregulação estão presentes nos peixes ósseos?
Atualmente pode encontrar-se peixes em água doce e outros em água salgada, mantendo a pressão
osmótica dos seus fluidos em homeostasia.
Os peixes ósseos de água doce têm uma concentração de solutos nos seus fluidos internos muito
superior à da água onde vivem, sendo esses fluidos hipertónicos em relação ao meio. Apesar de possuírem
escamas e muco retardam a entrada de água, estes peixes não bebem água e excretam grande quantidade de
urina diluída, facto este que é favorecido pela presença de grandes glomérulos, que aumentam a taxa de
filtração, e pela ausência de ansas de Henle, o que diminui a reabsorção. As perdas de iões por difusão são
compensadas ao nível das brânquias porque nestes órgãos existem células que reabsorvem sais da água por
transporte ativo. Muitos anfíbios, como, por exemplo, a rã, possuem mecanismos semelhantes aos dos peixes
de água doce mas nos anfíbios o transporte ativo de sais ocorre ao nível da pele.
Nos peixes ósseos do ambiente marinho os fluidos corporais são hipotónicos em relação ao meio. Estes
animais têm tendência para perder água por osmose e captar sais do meio por difusão. Para compensar as
perdas de água estes peixes:
- bebem muito água do meio, que contém naturalmente muitos sais minerais;
- retêm água reduzindo a filtração e, portanto, a quantidade de urina, que é naturalmente concentrada
uma vez que os glomérulos são muito pequenos ou estão mesmo ausentes;
- eliminam o excesso de sais por transporte ativo, em células especializadas situadas nas brânquias.
Osmorregulação em vertebrados do ambiente terrestre
Uma grande diversidade de mecanismos de osmorregulação está também presente em vertebrados
terrestres.
Répteis marinhos e algumas aves que retiram o alimento do mar eliminam o excesso de iões através de
glândulas chamadas glândulas do sal, situadas na cabeça.
De um modo geral, no ambiente terrestre, um dos fatores adaptativos mais importantes é a capacidade
para economizar água. Apenas as aves e os mamíferos possuem ansas de Henle que lhes permitem produzir
urina mais concentrada do que os seus fluidos corporais. Os casos extremos envolvem indivíduos do deserto,
como o camelo e o rato-canguru.
Quer a termorregulação quer a osmorregulação evidenciam processos através dos quais os seres vivos
enfrentam oscilações no meio interno e no meio externo. Contudo, estes mecanismos atuam apenas dentro
de certos limites. Uma vez ultrapassados esses limites, a vida pode tornar-se impossível. Há, pois, numerosas
condições do meio que funcionam para as espécies como fatores limitantes, isto é, são condições cuja
ausência, excesso, ou deficiência se podem tornar incompatíveis com a sobrevivência dos indivíduos,
condicionando a distribuição das populações.
2. Hormonas vegetais
Tal como nos animais, o crescimento e o desenvolvimento das plantas depende de interações entre
fatores externos, como a luz, e fatores internos.
Em resposta a fatores externos, as plantas produzem mensageiros químicos, as hormonas vegetais ou
fito-hormonas, que atuam em células alvo, desencadeando respostas anatómicas, fisiológicas e
comportamentais.
Em resposta a estímulos como por exemplo a luz as plantas respondem evidenciando movimentos. Estas
respostas das plantas designam-se por tropismo que, no caso de o estímulo ser a luz é o fototropismo.
2.1. Principais fito-hormonas
As hormonas das plantas são menos específicas do que as hormonas dos animais, quer ao nível das
células onde atuam, quer nos efeitos que provocam. Cada hormona pode ter diferentes efeitos dependendo
da sua concentração, do local onde atua, do estado de desenvolvimento da planta e do equilíbrio que se
estabelece entre diferentes tipos de hormonas. São produzidas por células não especializadas, que se
encontram dispersas e transportadas pelo floema.
Podem considerar-se cinco tipos de hormonas, e cada tipo inclui várias hormonas: auxinas, giberelinas,
citocininas, etileno e ácido abcísico.
Auxinas
Promovem o alongamento das células e o desenvolvimento de raízes.
As auxinas estimulam o crescimento das raízes em baixas concentrações. Contudo, o crescimento das
raízes é fortemente inibido por auxinas em concentrações que promovem o alongamento em caules e
coleóptilos.
Como as auxinas promovem o desenvolvimento de raízes mesmo em caules já cortados, são muito
utilizadas em horticultura e floricultura, bem como no desenvolvimento dos frutos. Estão também envolvidas
nos fenómenos de tropismo, isto é, movimentos nas plantas em reposta a estímulos do meio. Por exemplo, o
fototropismo e o heliotropismo que se observa nos girassóis quando se orientam em direção ao Sol.
Giberelinas
Estimulam o alongamento das células e a divisão celular, provocando o alongamento do caule.
As giberelinas encontram-se em grande quantidade nas sementes e desempenham um papel
fundamental na germinação. Afetam, também, a floração e a formação dos frutos sendo, como as auxinas,
utilizadas por muitos agricultores para obter, por exemplo, uvas de maior tamanho.
Citocininas
Estimulam a divisão celular. Em conjugação com as auxinas são responsáveis pelo aparecimento dos
órgãos nas plantas e retardam a sua degradação.
Quando se corta um ramo de uma planta, ele rapidamente se degrada, isto é, entra em senescência.
Pulverizando-o com citocininas, ele mantém-se durante mais tempo. As citocinininas são um ingrediente
indispensável num meio de cultura de tecidos vegetais.
Etileno
Influencia sobretudo o amadurecimento dos frutos e a queda das folhas.
Os tomates e as bananas são frutos que, quando maduros, são difíceis de transportar e manipular. São,
por isso, colhidos ainda verdes, sendo depois pulverizados com etileno de forma a promover o seu
amadurecimento.
Acido abcísico
Inibe o crescimento e promove a dormência nas plantas bloqueando a germinação de sementes.
O ácido abcísico interfere ainda com a permeabilidade das células estomáticas, provocando o fecho dos
estomas.
Tendo em conta a variabilidade de hormonas, de um modo geral, pode afirmar-se que:
as auxinas, as giberelinas e as citocininas estimulam a divisão celular e o alongamento das
células;
o ácido abcísico é um inibidor do crescimento, induzindo ou mantendo a dormência;
o etileno é um gás que afeta o amadurecimento dos frutos e a queda das folhas.
Hormonas vegetais: uma revolução agrícola a que preço?
O conhecimento das hormonas vegetais e o seu modo de atuação vieram permitir o controlo sobre o
crescimento e o desenvolvimento de determinadas espécies vegetais com interesse económico. Em
laboratório conseguiu-se determinar a constituição química das hormonas vegetais, o que tornou possível a
síntese de hormonas sintéticas, substâncias quimicamente idênticas que provocam a mesma ação na planta.
Deste modo, tornou-se possível controlar várias funções vegetais, como o crescimento, a floração e a
frutificação, em plantas utilizadas na alimentação ou noutros setores económicos. A manipulação destas
substâncias permite aumentar a produtividade de algumas espécies vegetais e, consequentemente, a
obtenção de maiores lucros.
A utilização sistemática de hormonas vegetais poderá acarretar, por outro lado, não só riscos para a
saúde pública, mas também riscos ecológicos decorrentes do seu uso abusivo. Este tipo de uso pode provocar
desequilíbrios ecológicos, ao favorecer o desenvolvimento de determinadas espécies vegetais e inibindo o
crescimento de outras