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INTRODUÇÃO O historiador Ch. Pétit-Dutaillis nos ensina (em ‘La Monarchie Féodal’) que ‘a História é mais complexa e contém tantos fatos que não é possível a um historiador sabê-los e dizê-los’. Ao abordar os assuntos, tive necessidade de mencionar muitos fatos, nomes e datas, dando a impressão que estou simplesmente narrando os eventos... O meu objetivo foi apenas de enfocá-los em sua complexidade e seqüência cronológica. Quanto mais complexos, menor a capacidade de ‘sabê-los e dizê-los’; o envolvimento, entretanto, dos mesmos nos traz à tona uma compreensão maior do passado e nos iluminam em conclusões menos simplistas da História. Até os termos ‘Idade Média’ nos levam a pensar que foi uma fase inexpressiva de evolução da Humanidade. Não sou historiador, mas deveria se repensar a periodização da História nessa época. Eu chamaria de Idade Média apenas o período dos séculos V ao VIII. Nos séculos IV e V do Mundo Antigo Ocidental, o Império Romano se desarticulou tanto internamente - com a falência de suas instituições, quanto externamente - ao ser alvo da convergência de migrações de povos nômades para a Europa Ocidental. A situação do Império Romano no século V era caótica. Em suas fronteiras, as guarnições militares eram constituídas mais de camponeses, que resistiram heroicamente às invasões. O comércio foi vedado aos ricos, nobres e funcionários públicos. A agricultura se reduzia praticamente ao autoconsumo; havia escassez de terras agricultáveis e, por isto, se construíram terraços nas montanhas para seu cultivo, drenaram áreas pantanosas, irrigaram desertos e criaram pequenos animais que comessem os restos das comunidades rurais. A concorrência do escravo tornava difíceis as condições de vida do artesão. A situação do mercado de trabalho era de tanta oferta de mão-de-obra que o moinho d’água, inventado no século I, só começou a ser utilizado de modo mais amplo no século IX, a fim de não provocar desemprego elevado. A partir daí se criou no século XV - pelos Humanistas - a rotulação de Idade Média ao período histórico desde o século V ao XV. Os historiadores mantiveram tal rotulação, menosprezando muitas evidências que a destroem pela profusão de novos dados, demonstrando a complexidade e a riqueza da ‘Idade Média’. Tal atitude nos embota o raciocínio com falsas expectativas e nos encaminha para uma reflexão plena de preconceitos. Este preconceito dos Humanistas criou a falsa idéia de “Idade das Trevas” como se a Humanidade tivesse sido subjugada pelo obscurantismo nesta época. Naquela fase de formação política da Europa, que sucedeu ao esfacelamento do Império Romano do Ocidente, surgiram os chamados ‘Reinos Bárbaros’, perpetuando, assim, o preconceito grego e romano de que só eles tinham o apanágio da cultura (só os que falavam sua língua e adotavam seus valores culturais, eram cultos, o resto do mundo era de ‘bárbaros’). Este mesmo preconceito é aquele que alimentou por quase 4 séculos da ‘Idade Moderna’ o crime hediondo da escravidão negra e indígena, como mercadorias dos brancos. Este mesmo modo distorcido de ver os outros como ‘bárbaros’ que explica o anti-semitismo durante toda a Idade Média e o Holocausto dos judeus, negros e ciganos pelos nazistas na ‘Idade Contemporânea’. É também este modo de ver e sentir a realidade, que deforma o modo de tratarmos as populações pobres das periferias urbanas e do meio rural, bem como nas relações internacionais entre centro-periferia (sobretudo o continente esquecido que é a África). Esta periodização criada pelos Humanistas é eurocêntrica, eu diria etnocêntrica, visto que realça apenas os valores da chamada ‘civilização ocidental e cristã’, desprezando o grande desenvolvimento assistido pela China (tanto sob o ponto de vista cultural, como, sobretudo administrativo - foi o primeiro país a instituir o mérito do sistema de avaliação através de concursos para ter seu corpo burocrático; foi o primeiro a colocar a ênfase na ética na política, através dos ensinamentos confucianos), pela Índia (que, embora desarticulada politicamente, manteve e mantém uma tradição espiritual até hoje), pelas civilizações pré-colombianas dos astecas, maias e incas; e mesmo pela civilização islâmica medieval (que era culta e tolerante com os judeus, ao contrário da cristã anti-semita). O antropólogo Jack Godoy, em sua obra ‘O Roubo da História’ (da Editora Contexto-2008) critica esta visão eurocêntrica realçando valores ocidentais (como a liberdade e a democracia) qualificando-a como um ‘roubo’ da História, encobrindo o colonialismo e o industrialismo europeu em contraponto às civilizações orientais. idéia de Idade Média nos coloca numa posição indefensável diante da luminosa expressão das monarquias feudais da Inglaterra e França e da arquitetura religiosa na Baixa Idade Média (eu chamaria de Idade Pré-Moderna), além do arremedo de um colonialismo europeu com as Cruzadas, e de que houve uma verdadeira Revolução Industrial nos séculos XII e XIII... Quanto ao conteúdo desta introdução, em cada unidade farei uma apresentação do assunto, a fim de delinear, ou melhor, tentar fixar uma abordagem interpretativa das narrativas, que serão esmiuçadas cronologicamente. Aí se corre o perigo de se anatematizar a História com o estigma de ‘decoreba’. Se hasteia a bandeira deste estigma e não se ensina mais a História que, como disse o grande orador romano Cícero, é ‘a mestra da vida’. Quem estuda História não tem o direito de errar no presente, porque conhece os erros do passado. Quem estuda História sem citar datas, acaba refém de uma verdadeira balbúrdia mental sem nunca estabelecer as bases da nacionalidade, pois não sabe como ela se formou ao longo do tempo... As datas, porém, devem ser contextualizadas através de cerimônias cívicas nas escolas e comunidades. Em nosso país, tais atividades foram anatematizadas como resquícios da ditadura. O não conhecimento da História nos faz ignorantes e massa de manobra dos demagogos... Raras são as escolas e comunidades e cidades que comemoram as datas cívicas. Não se cultivam as raízes da cidadania - quanto mais alienado for o indivíduo, mais manipulável ele se torna. O historiador russo V. Klinchevsky comenta que ‘a História nada ensina, apenas castiga quem não aprende suas lições’. Este ensinamento deveria alertar os políticos do Brasil que apostam na ignorância do povo, acreditando que a massa ignara é mais facilmente manipulável; se esquecendo, porém, de que analfabetismo, más condições médico-sanitárias e de distribuição da renda nacional, além (e sobretudo) o descrédito nas instituições representam um fermento revolucionário que pode estourar quando houver uma condição propícia, como aconteceu com as revoltas camponesas (na França e Inglaterra) e o hussismo (na Boêmia). No Brasil analfabeto do Período Regencial (1832-1840) estouraram revoltas populares, sufocadas violentamente; até a República Velha dizia-se que os pleitos sociais de melhoria e suas manifestações eram casos de polícia... Até 1985, as pessoas que pregavam e lutavam por melhorias sociais eram chamados de comunistas... Não é só na Idade Média que os políticos governam ‘de costas para o povo’. A República ainda não foi instaurada em pleno Brasil do século XXI. história política do império bizantino ‘L'Histoire de l'humanité peut être considérée comme une trame immense dont toutes les parties se tiennent et dont les premières mailles remontent aux plus lointaines origines de notre planète. Un phénomène historique quelconque est toujours le résultat d'une longue série de phénomènes antérieurs. Le présent est fils du passé et porte l'avenir en germe. Dans les événements actuels une intelligence suffisante pourrait lire l'infinie succession des choses.’ (Gustave Le Bon - Civilização Árabe) ‘A HISTÓRIA DA HUMANIDADE PODE SER CONSIDERADA COMO UMA TRAMA IMENSA EM QUE TODAS AS PARTES SE JUNTAM, AS PRIMEIRAS REMONTANDO ÀS MAIS ANTIGAS ORIGENS DE NOSSO PLANETA. QUALQUER FENÔMENO HISTÓRICO É SEMPRE O RESULTADO DE UMA LONGA SÉRIE DE FENÔMENOS ANTERIORES. O PRESENTE É FILHO DO PASSADO E GERMINA O FUTURO. NOS ACONTECIMENTOS ATUAIS, UMA PESSOA SUFICIENTEMENTE INTELIGENTE PODERIA LER UMA INFINITA SUCESSÃO DE COISAS.’ (GUSTAVE LE BON - em ‘A Civilização Árabe’) CONSIDERAÇÕES GERAIS Enquanto o Império Romano do Ocidente ruiu diante das invasões germânicas no século V, o do Oriente, com a capital em Constantinopla, caiu quase um milênio depois (em 1453). O Império Bizantino sofreu várias incursões estrangeiras em seu território, como a dos avaros, eslavos, hunos, búlgaros e árabes. Sua capital - Constantinopla (batizada pelos gregos antigos de Bizâncio) - ocupava uma posição estratégica e geográfica extremamente favorável no Estreito de Bósforo (entre os mares Negro e Mármara, este se comunicando com o Mares Egeu e Mediterrâneo pelo Estreito de Dardanelos) que lhe assegurou a posição ímpar de entreposto comercial entre o Oriente e o Ocidente. Constantinopla era uma das maiores cidades do mundo: chegou a ter a população absoluta de 250.000 habitantes, que contornava a península chamada de Chifre de Ouro; era guardada por uma muralha dupla, uma exterior, outra interna (esta com 9 metros de altura e 5 m. de largura e só rompida uma única vez: em 1453). Quando caiu Roma sob os hérulos em 476, o Império Romano do Oriente se limitava setentrionalmente com o Danúbio Médio e Baixo, a sudoeste os rios Sava e Drina até o Mar Adriático (até o Lago Santari - fronteira entre Albânia e Montenegro atualmente); no oriente começava a sudeste do Mar Negro, passava pelo Alto Eufrates-Tigre (se limitando com os Sassânidas) até o Golfo de Acaba no Mar Vermelho (abrangendo todo o corredor sírio- palestino); ao sul, abrangia o Egito até a I Catarata e em seguida a faixa litorânea até a Cirenaica na África. O qualificativo bizantino só começou a ser utilizado a partir do século XVII pelos historiadores, a fim de distinguir este império medieval em relação ao da Antiguidade. Na Idade Média, os Sassânidas persas e os árabes se referiam aos bizantinos como ‘romanos’. Há autores que consideram como bizantino, a História do Império Romano do Oriente a partir de Justiniano (século VI).Arnold Toynbee - historiador da segunda metade do século XX - se referia aos bizantinos como ‘romanos orientais’. Podemos considerar como Bizantino o império após o governo do imperador Heráclio, na 1

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INTRODUÇÃO

O historiador Ch. Pétit-Dutaillis nos ensina (em ‘La Monarchie Féodal’) que ‘a História é mais complexa e contém tantos fatos que não é possível a um historiador sabê-los e dizê-los’. Ao abordar os assuntos, tive necessidade de mencionar muitos fatos, nomes e datas, dando a impressão que estou simplesmente narrando os eventos... O meu objetivo foi apenas de enfocá-los em sua complexidade e seqüência cronológica. Quanto mais complexos, menor a capacidade de ‘sabê-los e dizê-los’; o envolvimento, entretanto, dos mesmos nos traz à tona uma compreensão maior do passado e nos iluminam em conclusões menos simplistas da História.

Até os termos ‘Idade Média’ nos levam a pensar que foi uma fase inexpressiva de evolução da Humanidade. Não sou historiador, mas deveria se repensar a periodização da História nessa época. Eu chamaria de Idade Média apenas o período dos séculos V ao VIII.

Nos séculos IV e V do Mundo Antigo Ocidental, o Império Romano se desarticulou tanto internamente - com a falência de suas instituições, quanto externamente - ao ser alvo da convergência de migrações de povos nômades para a Europa Ocidental. A situação do Império Romano no século V era caótica. Em suas fronteiras, as guarnições militares eram constituídas mais de camponeses, que resistiram heroicamente às invasões. O comércio foi vedado aos ricos, nobres e funcionários públicos. A agricultura se reduzia praticamente ao autoconsumo; havia escassez de terras agricultáveis e, por isto, se construíram terraços nas montanhas para seu cultivo, drenaram áreas pantanosas, irrigaram desertos e criaram pequenos animais que comessem os restos das comunidades rurais. A concorrência do escravo tornava difíceis as condições de vida do artesão. A situação do mercado de trabalho era de tanta oferta de mão-de-obra que o moinho d’água, inventado no século I, só começou a ser utilizado de modo mais amplo no século IX, a fim de não provocar desemprego elevado.

A partir daí se criou no século XV - pelos Humanistas - a rotulação de Idade Média ao período histórico desde o século V ao XV. Os historiadores mantiveram tal rotulação, menosprezando muitas evidências que a destroem pela profusão de novos dados, demonstrando a complexidade e a riqueza da ‘Idade Média’. Tal atitude nos embota o raciocínio com falsas expectativas e nos encaminha para uma reflexão plena de preconceitos.

Este preconceito dos Humanistas criou a falsa idéia de “Idade das Trevas” como se a Humanidade tivesse sido subjugada pelo obscurantismo nesta época. Naquela fase de formação política da Europa, que sucedeu ao esfacelamento do Império Romano do Ocidente, surgiram os chamados ‘Reinos Bárbaros’, perpetuando, assim, o preconceito grego e romano de que só eles tinham o apanágio da cultura (só os que falavam sua língua e adotavam seus valores culturais, eram cultos, o resto do mundo era de ‘bárbaros’). Este mesmo preconceito é aquele que alimentou por quase 4 séculos da ‘Idade Moderna’ o crime hediondo da escravidão negra e indígena, como mercadorias dos brancos. Este mesmo modo distorcido de ver os outros como ‘bárbaros’ que explica o anti-semitismo durante toda a Idade Média e o Holocausto dos judeus, negros e ciganos pelos nazistas na ‘Idade Contemporânea’. É também este modo de ver e sentir a realidade, que deforma o modo de tratarmos as populações pobres das periferias urbanas e do meio rural, bem como nas relações internacionais entre centro-periferia (sobretudo o continente esquecido que é a África).

Esta periodização criada pelos Humanistas é eurocêntrica, eu diria etnocêntrica, visto que realça apenas os valores da chamada ‘civilização ocidental e cristã’, desprezando o grande desenvolvimento assistido pela China (tanto sob o ponto de vista cultural, como, sobretudo administrativo - foi o primeiro país a instituir o mérito do sistema de avaliação através de concursos para ter seu corpo burocrático; foi o primeiro a colocar a ênfase na ética na política, através dos ensinamentos confucianos), pela Índia (que, embora desarticulada politicamente, manteve e mantém uma tradição espiritual até hoje), pelas civilizações pré-colombianas dos astecas, maias e incas; e mesmo pela civilização islâmica medieval (que era culta e tolerante com os judeus, ao contrário da cristã anti-semita).O antropólogo Jack Godoy, em sua obra ‘O Roubo da História’ (da Editora Contexto-2008) critica esta visão eurocêntrica realçando valores ocidentais (como a liberdade e a democracia) qualificando-a como um ‘roubo’ da História, encobrindo o colonialismo e o industrialismo europeu em contraponto às civilizações orientais. idéia de Idade Média nos coloca numa posição indefensável diante da luminosa expressão das monarquias feudais da Inglaterra e França e da arquitetura religiosa na Baixa Idade Média (eu chamaria de Idade Pré-Moderna), além do arremedo de um colonialismo europeu com as Cruzadas, e de que houve uma verdadeira Revolução Industrial nos séculos XII e XIII...

Quanto ao conteúdo desta introdução, em cada unidade farei uma apresentação do assunto, a fim de delinear, ou melhor, tentar fixar uma abordagem interpretativa das narrativas, que serão esmiuçadas cronologicamente. Aí se corre o perigo de se anatematizar a História com o estigma de ‘decoreba’. Se hasteia a bandeira deste estigma e não se ensina mais a História que, como disse o grande orador romano Cícero, é ‘a mestra da vida’. Quem estuda História não tem o direito de errar no presente, porque conhece os erros do passado. Quem estuda História sem citar datas, acaba refém de uma verdadeira balbúrdia mental sem nunca estabelecer as bases da nacionalidade, pois não sabe como ela se formou ao longo do tempo...

As datas, porém, devem ser contextualizadas através de cerimônias cívicas nas escolas e comunidades. Em nosso país, tais atividades foram anatematizadas como resquícios da ditadura. O não conhecimento da História nos faz ignorantes e massa de manobra dos demagogos... Raras são as escolas e comunidades e cidades que comemoram as datas cívicas. Não se cultivam as raízes da cidadania - quanto mais alienado for o indivíduo, mais manipulável ele se torna.O historiador russo V. Klinchevsky comenta que ‘a História nada ensina, apenas castiga quem não aprende suas lições’. Este ensinamento deveria alertar os políticos do Brasil que apostam na ignorância do povo, acreditando que a massa ignara é mais facilmente manipulável; se esquecendo, porém, de que analfabetismo, más condições médico-sanitárias e de distribuição da renda nacional, além (e sobretudo) o descrédito nas instituições representam um fermento revolucionário que pode estourar quando houver uma condição propícia, como aconteceu com as revoltas camponesas (na França e Inglaterra) e o hussismo (na Boêmia).No Brasil analfabeto do Período Regencial (1832-1840) estouraram revoltas populares, sufocadas violentamente; até a República Velha dizia-se que os pleitos sociais de melhoria e suas manifestações eram casos de polícia... Até 1985, as pessoas que pregavam e lutavam por melhorias sociais eram chamados de comunistas... Não é só na Idade Média que os políticos governam ‘de costas para o povo’. A República ainda não foi instaurada em pleno Brasil do século XXI.

história política do império bizantino‘L'Histoire de l'humanité peut être considérée comme une trame immense dont toutes les parties se tiennent et dont les premières mailles remontent aux plus lointaines origines de notre planète. Un phénomène historique quelconque est toujours le résultat d'une longue série de phénomènes antérieurs. Le présent est fils du passé et porte l'avenir en germe. Dans les événements actuels une intelligence suffisante pourrait lire l'infinie succession des choses.’ (Gustave Le Bon - Civilização Árabe)‘A HISTÓRIA DA HUMANIDADE PODE SER CONSIDERADA COMO UMA TRAMA IMENSA EM QUE TODAS AS PARTES SE JUNTAM, AS PRIMEIRAS REMONTANDO ÀS MAIS ANTIGAS ORIGENS DE NOSSO PLANETA. QUALQUER FENÔMENO HISTÓRICO É SEMPRE O RESULTADO DE UMA LONGA SÉRIE DE FENÔMENOS ANTERIORES. O PRESENTE É FILHO DO PASSADO E GERMINA O FUTURO. NOS ACONTECIMENTOS ATUAIS, UMA PESSOA SUFICIENTEMENTE INTELIGENTE PODERIA LER UMA INFINITA SUCESSÃO DE COISAS.’ (GUSTAVE LE BON - em ‘A Civilização Árabe’)CONSIDERAÇÕES GERAIS

Enquanto o Império Romano do Ocidente ruiu diante das invasões germânicas no século V, o do Oriente, com a capital em Constantinopla, caiu quase um milênio depois (em 1453). O Império Bizantino sofreu várias incursões estrangeiras em seu território, como a dos avaros, eslavos, hunos, búlgaros e árabes.

Sua capital - Constantinopla (batizada pelos gregos antigos de Bizâncio) - ocupava uma posição estratégica e geográfica extremamente favorável no Estreito de Bósforo (entre os mares Negro e Mármara, este se comunicando com o Mares Egeu e Mediterrâneo pelo Estreito de Dardanelos) que lhe assegurou a posição ímpar de entreposto comercial entre o Oriente e o Ocidente. Constantinopla era uma das maiores cidades do mundo: chegou a ter a população absoluta de 250.000 habitantes, que contornava a península chamada de Chifre de Ouro; era guardada por uma muralha dupla, uma exterior, outra interna (esta com 9 metros de altura e 5 m. de largura e só rompida uma única vez: em 1453).Quando caiu Roma sob os hérulos em 476, o Império Romano do Oriente se limitava setentrionalmente com o Danúbio Médio e Baixo, a sudoeste os rios Sava e Drina até o Mar Adriático (até o Lago Santari - fronteira entre Albânia e Montenegro atualmente); no oriente começava a sudeste do Mar Negro, passava pelo Alto Eufrates-Tigre (se limitando com os Sassânidas) até o Golfo de Acaba no Mar Vermelho (abrangendo todo o corredor sírio-palestino); ao sul, abrangia o Egito até a I Catarata e em seguida a faixa litorânea até a Cirenaica na África.O qualificativo bizantino só começou a ser utilizado a partir do século XVII pelos historiadores, a fim de distinguir este império medieval em relação ao da Antiguidade. Na Idade Média, os Sassânidas persas e os árabes se referiam aos bizantinos como ‘romanos’. Há autores que consideram como bizantino, a História do Império Romano do Oriente a partir de Justiniano (século VI).Arnold Toynbee - historiador da segunda metade do século XX - se referia aos bizantinos como ‘romanos orientais’. Podemos considerar como Bizantino o império após o governo do imperador Heráclio, na

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medida em que se consolidou a sua estrutura política e cultural.o O processo de caldeamento étnico no Império Bizantino (entre gregos, eslavos, escandinavos, persas, egípcios) foi mais rápido do que no Ocidente. O contato social entre os povos produz a troca de valores culturais e a civilização, mas também a desorganização e mudança (geralmente do grupo com menor acervo cultural). Não havia propriamente uma nacionalidade bizantina.No transcurso da sua História, os imperadores bizantinos procederam à transferência de populações. Assim, por exemplo, Justiniano II, em 687, levou 12.000 mardaítas (célebres por seu espírito guerreiro e independente) habitantes do Líbano (que não se amoldaram aos árabes muçulmanos) para o litoral da Ásia Menor, algumas ilhas do Mar Egeu e região de Nicópolis (às margens do Danúbio). Os imperadores iconoclastas, no século VIII, trouxeram para a capital parte dos sírios e armênios (que, como asiáticos, eram contrários à veneração de imagens). O imperador Teófilo (829-842) levou turcos e persas para a Península Balcânica.o Os bizantinos se julgavam superiores aos ‘bárbaros’ ocidentais (chamavam os saxões de ‘pellicei’, ou seja, ‘cobertos de pelos’, como se fossem animais); os germanos rebatiam colocando neles a pecha de efeminados (devido ás suas roupas luxuosas). Este preconceito foi um dos fatores de cisão entre o Leste (Império Bizantino) e o oeste (Europa Cristã). o Desde a época de Justiniano (527-565) houve mais outra cisão entre o Leste e o Oeste. O Império Bizantino abandonou o latim em seus documentos oficiais e começou a usar o grego, tornando-se um centro do helenismo na Idade Média. A Europa Ocidental teve no latim a sua escrita até o século XV, a Igreja Católica a teve como língua internacional até o último quartel do século XX. o Mais outra distinção entre o Ocidente e o Oriente foi o cristianismo e suas heresias. No Oriente, devido aos debates acalorados sobre a natureza humana e divina de Jesus Cristo e a Santíssima Trindade surgiram o monofisismo e o nestorianismo. Tais dificuldades, porém, não abalaram as relações culturais entre Oriente e Ocidente, como demonstraram os traços culturais bizantinos em Veneza, na Península Balcânica, na Rússia e Morávia (na Boêmia, atual República Tcheca) bizantina que se tornou católica. o O Império Bizantino foi - em quase toda a sua longa História - o único Estado cristão medieval centralizado nas mãos de um imperador que nomeava as autoridades religiosas (cesaropapismo), comandando um exército permanente, nomeando e fiscalizando o seu corpo administrativo e burocrático e subvencionando hospitais e escolas.

Como o grego foi usado como língua corrente, o imperador usava o título de ‘autokrator’ (tradução do latim ‘imperator’) - daí se originou o termo ‘autocrático’ em português. Do século VII ao X se usou o título de ‘basileus’ (rei), mas depois se retornou novamente à designação de ‘autokrator’.o As províncias bizantinas eram denominadas ‘temas’ - administradas pelo governo central através de um representante com poder civil e militar. Cartago l(ao norte da África) e Ravena (Norte da Itália) gozavam de um regime especial de administração: eram exarcados. O vocábulo ‘tema’ também se refere ao ‘corpo de armada’, ou seja, as forças armadas cujo recrutamento era feito entre os nativos das províncias; estes ‘temas’ desempenharam papel muito importante como escudo protetor do império nas fronteiras, tendo como comandantes os estrategos. No decurso do tempo, em vez de recrutamento, a armada teve o engajamento de mercenários - uma das razões da perda de sua eficiência militar na defesa do império.o A partir de 1204, o Império Bizantino ficou esfacelado pelas forças ocidentais em vários Estados; este verdadeiro esquartejamento político foi o palco de sua decadência e queda diante da força dos turcos otomanos em 1453.I) DESCRIÇÃO RESUMIDA DAS DINASTIAS BIZANTINAS.Ao longo de seus 1.000 anos de História o Império Bizantino foi governado por 13 dinastias, desde 395 até 1453, ocupadas por 107 governantes, sendo que 34 faleceram normalmente, oito morreram em guerras e o restante foi assassinado por golpes de Estado, ou abdicou do trono por revoltas internas. Mais adiante, sob o título ‘Resenha dos Governos dos Imperadores Bizantinos’ se detalhará mais este assunto. A partir de 1204, se quebrou a unidade imperial e, por conseguinte, governaram dinastias e reis distintos simultaneamente.A) DINASTIA TRÁCIA (457 a 518) - na qual se acentuaram as diferenças entre a Santa Sé e o Patriarcado de Constantinopla. Governavam de modo absoluto e centralizado à maneira oriental (bem ao contrário das monarquias ocidentais feudais) e ainda se tinha no latim a língua oficial sob o ponto de vista político (já que o clero usava o grego e cada vez mais era dependente do Estado).

Duas heresias criaram um fosso enorme entre a Santa Sé e Bizâncio: o nestorianismo e o monofisismo. A primeira teve o seu nome em função do seu criador, Nestório (Patriarca de Constantinopla), sustentando que Maria era mãe de Jesus-humano e não a mãe de Deus. Esta heresia foi condenada no Concílio de Éfeso (cidade do oeste da Anatólia - em 431). O monofisismo foi obra do monge Eutíquio de Constantinopla, que pregava uma só natureza para Jesus.B) DINASTIA JUSTINIANA (518 a 610) - o último grande imperador romano e primeiro bizantino foi o de um ex-camponês macedônico - Justiniano I que reinou por quase 40 anos (527-565) e pautou seu governo em duas linhas de ação: fortalecimento de sua autoridade e restauração do antigo Império Romano em sua orla mediterrânea, tornando este mar o centro convergente da economia bizantina. Seu governo foi designado como ‘primeira idade de ouro’ do império.

No começo de seu governo, Justiniano enfrentou a heresia monofisista, mas teve que tolerá-la mais tarde por influência de sua enérgica esposa Teodora. A preparação e manutenção de forças armadas permanentes exigiram o aumento da carga fiscal internamente. Enfrentamento inicial de heresia, aumento de impostos e uma eventual parcialidade em um esporte predileto dos bizantinos - a corrida de carros no hipódromo - condicionaram a Revolta Nika (palavra que significa vitória em grego) em 532 e durou apenas 8 dias. Os revoltosos chegaram a cercar o Palácio Imperial em Constantinopla. Justiniano quase fugiu diante desta pressão, mas Teodora o demoveu deste intento, levando-o a mandar seu general Belisário cercar os revoltosos, massacrando 30.000 pessoas.

Graças à ação deste general, em 533-534, se conseguiu submeter os eslavos meridionais (croatas e búlgaros) e se conquistaram a Dalmácia (litoral leste do Mar Adriático), o Reino Ostrogodo (Itália) e Vândalo (norte da África) e o extremo sudeste do Reino Visigodo (na Península Ibérica).

Tais conquistas militares bizantinas foram efêmeras, visto que não haviam condições logísticas para mantê-las e ainda sofria pressões do lado oriental (pagando tributos aos sassânidas a fim de contê-los) e nos Bálcãs (em face de invasões dos eslavos). Enquanto militarmente o reinado de Justiniano tenha tido sucesso apenas conjunturalmente, sob o ponto de vista cultural foi muito frutuoso: a elaboração do Corpus Júris Civilis, a construção da monumental Igreja de S. Sofia.622 A 987 – PERÍODO HISTÓRICO CONSIDERADO COMO A ALTA IDADE MÉDIA.C) DINASTIA HERACLIANA OU DOS HERÁCLIDAS (610-717) - criada pelo imperador Heráclio (610-641). Muitos autores consideram o advento da Dinastia Heracliana como o início do Império Bizantino propriamente dito, deixando de ser o Império Romano do Oriente. O historiador Rodolphe Guilland considera o período de 642 (quando subiu ao poder Constante II) a 775 como o de formação do Império Bizantino.o Foi durante a vigência desta dinastia que se procurou desarticular a força desagregadora dos latifundiários - contrários ao governo central - através da doação de pequenas propriedades a camponeses, que, em contrapartida, teriam que prestar serviço militar nas forças imperiais. Com esta medida, proliferaram as pequenas propriedades colocando em xeque o poder da aristocracia rural.

No campo, os pequenos proprietários formavam também as milícias, que desempenharam papel importante na defesa do império aos inimigos nas fronteiras. Os milicianos, no entanto, recebiam de soldo menos que o que pagavam de impostos. Daí sua função de defesa do que ofensiva militar, visto que esta última implicava em mobilização para outros locais, prejudicando-os no trato da terra. o Houve constantes conflitos no lado oriental com os reis Arsácidas sassânidas (persas); um deles (Khosroe II, que governou de 590 a 628) chegou a assediar Constantinopla em 617. O imperador Heráclio reagiu, reconquistando o Egito e Jerusalém e venceu os persas na Batalha de Nínive em 627 (com a ajuda dos khazares) e assinou definitivamente a paz com o imperador persa Buran (filho de Khosroe II), que devolveu um pedaço da Cruz de Cristo tomada em Jerusalém.Os kazares eram turcos ou hunos ocidentais. Em 627 auxiliaram os bizantinos em luta contra os persas sassânidas, o que lhes valeu uma aliança por

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muito tempo . Sua capital (Sarke), às margens do rio Don, foi construída pelos bizantinos. Seu reino (o de Khazar ou Cazária) se tornou uma barreira contra a expansão islâmica. Adotaram como religião o judaísmo - foi o único reino judaico medieval (só se reconstituiu um Estado judeu após a Segunda Mundial em 1948, com a criação de Israel).Colaboraram com o imperador Justiniano II a retomar o trono em 705 contra a poderosa aristocracia rural bizantina. No século VIII mantiveram contatos comerciais intensos com Bizâncio, através dos portos da Criméia. Por volta de 850 a regente Teodora tentou convertê-los ao cristianismo, junto com os morávios e búlgaros.No século XI (1016), após o casamento do príncipe russo Vladimir com a princesa bizantina Ana Porfirogeneta (filha do imperador Basílio II), fizeram uma aliança russo-bizantina que eliminou os últimos khazares remanescentes na região da Criméia; completou-se o seu extermínio em 1030.

Durante este período, o império continuou romano apenas na religião (mesmo com todas as rusgas entre a Santa Sé e o Patriarcado de Constantinopla), mas tornou-se cada vez mais bizantino no sentido da língua (adotando-se o grego como língua oficial) e nos costumes (mais orientais que ocidentais). O território bizantino esteve constantemente fustigado pelos sarracenos e persas (nas fronteiras orientais), mas conseguiu conter os lombardos e visigodos (nas fronteiras ocidentais), além de eslavos e avaros (nas fronteiras setentrionais). Os árabes cercaram Constantinopla em 673 quando era imperador Constantino IV, o Barbado - não conseguiram tomá-la graças ao uso do fogo grego pelos bizantinos. o O sucessor de Constantino IV - Justiniano II - enfrentou a sedição interna da nobreza por causa da excessiva carga fiscal; o imperador teve que se exilar, mas depois retornou ao poder e, evidentemente, tomou medidas retaliativas contra ela. Militarmente, Justiniano II colocou no Mar Egeu e Peloponeso os Mardaítas libaneses, famosos por seu espírito belicoso, a fim de dar cobertura em eventuais ataques dos eslavos.D) DINASTIA ISAURIANA (717-802) - nesta época se criaram os ‘temas’, nos quais as atribuições civis e militares se concentravam nas mãos de uma pessoa. o Leão III, o Isauriano (717-741) escreveu ao papa se colocando como sacerdote e imperador, outorgando-se o título de Isoapóstolo, seguido pelos seus sucessores. Esta unidade entre os poderes temporal e espiritual nas mãos do imperador recebe o nome de cesaropapismo.

Foi vencedor dos árabes, mas também o iniciador do movimento iconoclasta ao ordenar a supressão das imagens (ícones) dos templos, sob o argumento de que não podiam ser idolatradas. O patriarca de Constantinopla avalizou a sua ordem, mas os monges tradicionalistas conseguiram da Santa Sé a condenação dos iconoclastas como hereges.Querela Iconoclasta - Esta segunda fase da História de Bizâncio foi antecedida pela questão interna dos iconoclastas contra os iconódulos, isto é, dos destruidores de imagens (ícones) e contra seus adoradores, respectivamente. Os ícones eram imagens de santos fabricados pelos mosteiros (como o famoso Studios) em seus latifúndios (isentos de impostos) e vendidos no mercado.

Esta querela deve ser focalizada sob dois ângulos: primeiro, o de que venerar os ícones era idolatria (como pensavam os asiáticos residentes no império); segundo, o de que os monges eram objeto de inveja e censura por parte dos bizantinos por causa dos seus lucros e riquezas.

O imperador Leão III, o Isauriano (717-741) era de origem asiática. Ao conseguir evitar que os árabes fossem bem sucedidos no cerco à capital bizantina (718), angariou capital político para quebrar o monopólio e poder dos mosteiros: em 726 proibiu a fabricação de imagens, bem como seu uso nas igrejas, além da destruição das mesmas (foi o primeiro a fazer isto, ao deletar a imagem de Jesus Cristo que encimava a porta do seu palácio).

Levantou a ira dos Studitas e do clero em geral, que contaram com o apoio dos habitantes bizantinos da Península Balcânica, das ilhas Cíclades e Creta, além da maioria dos marinheiros (que eram gregos). Em retaliação, Leão III confiscou os bens dos mosteiros, inclusive suas terras (distribuindo-as entre os seus soldados asiáticos, em sua maioria).

Esta querela religiosa oscilou entre iconoclastas e iconódulos por mais de um século; só se encerrou em 843, quando a regente do trono bizantino, a basilissa Teodora (que era iconódula) convocou um concílio, no qual se revogaram todas as medidas iconoclásticas - as imagens tridimensionais continuaram proibidas, mas não as bidimensionais.. A partir de 843, o poder dos mosteiros cresceu a tal ponto que o basileus Nicéforo II Focas (1078-81) testemunhou que ‘os monges não têm nenhuma das virtudes evangélicas; pensam apenas na aquisição de terras, na construção de grandes edifícios e na compra de grande número de cavalos, bois, camelos e todo o tipo de criação.’

O fim da querela iconoclástica condicionou um renascimento cultural sob o impulso do patriarca Fócio (858-867 e depois entre 877-886); foi sob ele, outrossim, que se iniciou o cisma com a Igreja de Roma no Concílio de Constantinopla- este cisma durou apenas um ano (867-868).

Excepcionalmente, Leão III manteve relações amistosas com os búlgaros. No período de 717 a 740 sofreu 2 ataques árabes, mas as rechaçou fulminantemente na segunda vez na Batalha de Acroinon (Frígia); não conseguiu, entretanto, evitar que eles tomassem Creta 8 anos depois. De 731 a 751, os isaurianos estiveram em guerra com lombardos na fronteira ocidental. O rei lombardo Liutprand se apoderou de uma das cidades mais importantes do império: Ravena, no litoral norte-ocidental do Adriático (capital do Exarcado bizantino homônimo); os bizantinos conseguiram ficar com Veneza e Ístria no extremo norte do litoral adriático. o De 756 a 775, estiveram em contínuos conflitos com os búlgaros, estes cada vez mais expandindo seus territórios sobre os bizantinos. Foi nesta época que o imperador Constantino V quase conseguiu destruir o I Reino Búlgaro. O batismo do khan búlgaro (Telerig) em Constantinopla (777) pacificou as relações entre os dois Estados (até a emergência ao poder búlgaro do khan Krum - 803-815) e liberou Bizâncio para se dedicar mais à guerra contra os árabes. o A noroeste, Bizâncio se limitava com o Reino Franco, do qual tentou se aproximar sem sucesso; em 788, perdeu a Península de Istria (norte do Adriático) para o mesmo, além de se frustrar a tentativa de expulsão dos francos da Lombardia (em apoio aos lombardos que pretendiam ter acesso ao trono em Pavia).o No período de 775 a 867, o Império esteve submetido a constantes incursões, ataques e contra-ataques dos árabes, queimando plantações, capturando suas populações, sobretudo as de fronteira. Internamente, a aristocracia fundiária cada vez mais se assenhoreava das terras dos pequenos proprietários. Além da agropecuária, era importante a indústria artesanal voltada para a produção de artigos de luxo, visando o abastecimento dos mercados do Mediterrâneo, embora seus navios mercantes estivessem sujeitos à ação de corsários árabes. Veneza era a intermediária neste comércio entre Oriente e Ocidente.o De 775 a 886, segundo o historiador Rodolphe Guilland, ocorreu o período em que o Império Bizantino adquiriu sua maturidade, condicionando o apogeu do império sob a Dinastia Macedônica (que se iniciou em 867).E) DINASTIA DOS FOCAS (802-820) - inexpressiva não só pela pequena duração, como pelas derrotas e questões palacianas (usurpação do trono por umas vinte vezes). Os Focas eram uma das famílias aristocráticas que possuíam latifúndios na Ásia Menor.

Seu iniciador, Nicéforo I Focas assistiu ao avanço cada vez maior dos búlgaros (sob o comando do khan Krum) primeiro sobre a Macedônia e depois sobre a Trácia, quase a 100 km da capital bizantina (em 811). Envolveu-se em conflito com os francos (sob Carlos Magno) perdendo Veneza. Seus sucessores continuaram sofrendo pressões búlgaras, diminuindo com a morte de Krum e assinatura de trégua de 30 anos (815). F) DINASTIA FRÍGIA (820-867) - Praticamente se iniciou com uma rebelião militar da armada da Capadócia, cujo comandante foi aclamado imperador e cercou Constantinopla em 822, mas não conseguiu destronar o imperador de fato; este mesmo comandante perdeu uma batalha diante dos búlgaros em 823. Os imperadores frígios perderam o sul da Itália e toda a Sicília (menos Taormina e Siracusa) para os árabes.

Durante estes 47 anos de vigência da dinastia, na fronteira ocidental o império perdeu Creta - importante no comércio mediterrâneo - aos árabes da Espanha; os árabes do norte da África se apoderaram de vários pontos do litoral italiano e da ilha da Sicília. Na fronteira oriental, ao contrário, Petronas, sobrinho do imperador Miguel III, se destacou na guerra contra os árabes desde 856, vencendo-os na batalha de Posón (perto do rio Hális), na Península da Anatólia (863).A basilissa Teodora, em 844, perseguiu os adeptos do Paulicianismo, heresia surgida no século VII na Ásia Menor com seu conteúdo maniqueísta e se apelidando desta forma em referência a S. Paulo. Fermentou, sobretudo, entre os pobres da plebe urbana descontentes com a imensa riqueza dos mosteiros e do clero em geral. Pregavam o retorno aos primeiros tempos do Cristianismo e seus ideais de

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pobreza, sem o espírito da hierarquia eclesiástica e o culto às imagens e com participação popular nas cerimônias. o No ano de 860, quase que uma frota marítima russa conseguiu se apoderar da capital, Constantinopla. Em 863, dois missionários da Tessalônica - Cirilo e seu irmão Metódio foram convidados pela Grande Morávia, para onde levaram o alfabeto glagolítico - seu trabalho foi destruído pela Igreja Franca em 885. o Em 864, o khan (ou tzar) búlgaro Bóris l se converteu ao cristianismo, favorecendo a construção de mosteiros em seu país e, com eles, uma intensa exploração dos camponeses, já espoliados pela aristocracia fundiária - esta situação condicionou o surgimento de nova heresia: a dos bogomilos na primeira metade do século X. G) DINASTIA MACEDÔNICA - esta foi a mais longa dinastia imperial, que reinou por quase 200 anos (867 a 1057). Segundo o historiador Rodolphe Guilland, entre 886 e 963, os imperadores prepararam Bizâncio para ser hegemônico na Ásia Menor e nos Bálcãs; entre 963 e 1056, Bizâncio atingiu o apogeu (denominado de ‘segunda idade de ouro’).

Neste período, o império se reavivou com a presença de generais e imperadores fortes e com seu exército bem organizado. Destes imperadores fortes se destacaram no século X: Nicéforo II Focas, João I Tsimiscês e Basílio II. Logo no início desta dinastia deu-se a primeira cisão entre as igrejas de Constantinopla e de Roma, embora por apenas 1 ano (867-868).o Desenvolveu-se a indústria artesanal de produtos de luxo em oficinas do Estado; o comércio entre o Oriente e o Ocidente (através da ‘rota da seda’ que chegava até à China) tinha como eixo Constantinopla, mantendo-se Veneza como intermediária. Ocorreu a expansão territorial com a submissão destemida Bulgária e a retomada de Chipre e Creta (e portanto do comércio no Mediterrâneo Oriental). A conversão dos russos e dos húngaros ampliou a influência e poder do Patriarcado de Constantinopla.o As dificuldades pelas quais passavam os milicianos-pequenos proprietários e os impostos que pagavam os forçaram a vender suas terras para os grandes proprietários. O imperador Basílio I (867-886) deu-lhes cobertura, combatendo as venalidades praticadas pelos funcionários reais cobradores de tributos.

A situação destes pequenos proprietários tornou-se tão exasperante no século X, que o imperador Romano I Lecapeno (919-944) criou leis favoráveis a eles, incluindo o direito de preempção, segundo o qual se eles vendessem a sua propriedade, quando o comprador (geralmente um grande proprietário) quisesse vendê-la de novo, o antigo proprietário teria preferência para a recompra. Além disso, proibiu a venda de terras pelos pequenos proprietários.

Tais medidas do imperador Romano I Lecapeno foram tomadas em função do inverno rigoroso de 927-928 afetando a agricultura e os rendimentos dos pequenos proprietários, tornando-os mais vulneráveis à desigual competição dos latifundiários. Tais medidas, entretanto, foram derrubadas em 1028 em função das revoltas (em 976-79 e 987-89) da aristocracia rural contra o imperador Basílio II, que tomou a iniciativa de colocar unicamente sobre os ombros dos latifundiários o pagamento dos impostos e, simultaneamente, desonerando os pequenos proprietários desta obrigação.

Aliás, de 963 a 1057 houve revoltas da aristocracia rural contra o poder central resultando, inclusive, em sua ascensão ao trono (como ocorreu com o usurpador Bardas II, da família aristocrática dos Focas - poderosa desde o século V até hoje - que usurpou o trono em 971 e 987). De modo geral a atitude da aristocracia rural era desagregadora politicamente, daí ter sido alvo de iniciativas de Basílio II (em 988) para sufocar suas veleidades. Como ensinava M. Rostovtzeff, ‘a natureza aristocrática e exclusivista da civilização antiga’, mas que podemos estender aos bizantinos, foi uma das causas da decadência de sua civilização.o A partir de 850, a frota imperial que dava cobertura à capital se tornou tão poderosa, que seu comandante foi seduzido pela ambição de se associar ao trono (como Romano Lecapeno em relação ao imperador Constantino VII Porfirogeneta, em 912).o Ocorreu um processo de recuperação de terras perdidas aos árabes no sul da Itália; mas se retomaram as ofensivas búlgaras (sob o comando do rei Simeão) sobre o império, chegando mesmo a cercar Constantinopla (924). o Surgiu um novo protagonista externo na História de Bizâncio: o Principado de Kiev - em 911 (último ano do governo de Leão VI, o Sábio) se efetivou o primeiro tratado de comércio entre Bizâncio e o principado (sob o governo de Oleg), renovado em 945 (entre 911 e 945, o Patriarca de Constantinopla estendeu a ação missionária aos kievianos e em 989 o príncipe Vladimir foi batizado).o Nos inícios do século X, turcos pechenegues se instalaram nas estepes entre os baixos vales dos rios Dnieper e Danúbio, representando novo perigo fronteiriço ao império, só eliminado definitivamente no reinado de João II Comneno (em 1121).o Na época de Leão VI, o Sábio (886-912) os portos da Bulgária no Mar Negro (sob o rei Simeão) se tornaram intermediários no comércio de Bizâncio com a Rússia e a Europa Central. Quando os bizantinos decidiram realizar estas trocas pela Tessalônica, o rei búlgaro se sentiu prejudicado e ameaçou Constantinopla (em 894), se aproveitando de conflitos entre bizantinos e árabes.

Os húngaros, expulsos das estepes do sul da Rússia pelos pechenegues, se estabeleceram no Baixo Danúbio e se aliaram aos bizantinos contra os búlgaros (900). Em função desta circunstância, os búlgaros efetivaram um tratado de paz com Bizâncio, de duração efêmera visto que se apoderaram da Macedônia, tão logo os árabes terem tomado a Tessalônica, obstruindo aquele comércio bizantino.

Simeão I atacou mais duas vezes Constantinopla (a fronteira búlgara chegava perto da capital) em aliança com os Fatímidas do Egito - os bizantinos conseguiram resistir a estes ataques. Ao morrer Simeão, em 927, seu filho Pedro desposou uma princesa bizantina e assinou um tratado, devolvendo-lhes uma área em volta do Golfo de Burgas (no Mar Negro) em troca do título de basileus.Entre 927 e 934, surgiu uma heresia na Bulgária: o bogomilismo, nome originário de seu criador, o monge Bogomil, ou seja, ‘querido por Deus’ ou ‘merecedor da piedade divina’. Sua fonte foi o Paulicianismo (surgido no norte da Síria no século VII), que se embebeu no Maniqueísmo persa (século III). Dela se originou o Catarismo dos Albigenses no sul da França no século XII. A eclosão desta heresia se deveu ao acidente climático de 927, bem como à espoliação promovida sobre os camponeses pelos mosteiros búlgaros após a cristianização - seus sofrimentos anteriores (bem como a destruição de seus campos pelas guerras entre e Bulgária e Bizâncio) encontraram alívio nesta heresia. Acreditavam em Satã como criador do mundo e primogênito de Deus-Pai, cujo filho caçula - Jesus - foi enviado ao mundo para salvar a humanidade e combater Satã. Quando a Bulgária foi incorporada ao Império Bizantino em 1016, encontrou campo fácil para sua difusão pelo império; depois foi pregada na Bósnia, no norte da Itália (Toscana e Lombardia) e sul da França (Languedoc). Seus adeptos sofreram violenta repressão em 1040, sob Miguel IV, o Paflagônio (o quarto marido da basilissa Zoe). Cerca de 1157, surgiu uma variante radical e maniqueísta desta heresia na Bulgária. o Em 941 foi aniquilada a frota do príncipe kieviano Igor pelo fogo grego, próximo de Constantinopla. Em 944, ele se aliou aos pechenegues, tentou de novo por terra, mas não conseguiu nada. O imperador Romano I Lecapeno, para neutralizá-lo, renovou os acordos comerciais anteriores. Nesta década os bizantinos estavam com problemas com os Fatímidas (dinastia árabe da Tunísia desde 909) na Sicília e suas incursões à Calábria (extremo sudoeste da Península da Itália). o Em 961 os bizantinos se tornaram hegemônicos no Mediterrâneo Oriental, depois que reconquistaram a ilha de Creta aos muçulmanos. Em 966, o imperador alemão Óton I invadiu o sul da Itália, entrando em conflito com os bizantinos. Em 972, João I Tsimiskes venceu o Grão Príncipe Svíatoslav de Kiev, fazendo-o recuar até o sul da Rússia e assinando a paz. Basílio II (imperador de 976 a 1025) foi um dos maiores imperadores da Dinastia Macedônica. Desvencilhou-se da influência da aristocracia proprietária de prédios urbanos e, com o reforço militar do príncipe russo Vladimir I (que lhe enviou 6.000 soldados), venceu a rebelião de seus generais. Vladimir I se converteu e levou os russos a fazerem o mesmo. Ajudou os bizantinos a varrerem do mapa os kasares na Península da Crimeia.Pouco antes de se tornar imperador, em Roma estava havendo uma crise entre a nomeação de um papa (Bento VI) pelo imperador alemão Oton III; os bizantinos apoiaram o antipapa Bonifácio VII (escolhido pela aristocracia romana), recebendo-o em Constantinopla em 974 - este antipapa, com o apoio de Basílio II, conseguiu retornar ao poder papal entre 984 e 985.

Basílio II se revelou um grande comandante militar, mesmo em época de inverno e, durante quatro décadas de seu governo, levou as forças armadas bizantinas a quatro frentes de guerra: na Itália, no Cáucaso, na Ásia dos Fatímidas e na Bulgária. Restaurou as finanças reais e colocou um freio no processo de concentração de terras nas mãos da aristocracia rural (996).O rei búlgaro Samuel (980-1014) atacou a Grécia, tomou a cidade de Larissa (na Tessália) e chegou quase ao Istmo de Corinto. Basílio II estava às voltas com as rebeliões de generais e acabou sendo

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vencido em Sofia. Na última década do século X, eles tinham tomado 2/3 da Península Balcânica (inclusive Durazzo, no litoral do Adriático, controlando o Estreito de Otranto e colocando em xeque a dominação bizantina na Apúlia). Samuel se aproveitou da ausência de Basílio II na capital (enquanto ele fazia sua investida na Síria contra os Fatímidas) para atacá-la (embora não conseguisse ocupá-la) e invadiu de novo a Grécia em 996, onde sofreu derrota diante de um general bizantino, mas conseguiu dois anos depois se apoderar de Diocléia, atual Montenegro.

Na Itália, as milícias apoiadas pelos bizantinos não foram capazes de vencer os árabes e estes venceram o cunhado de Basílio II (o imperador alemão Óton II) em Crotona (extremo sul, na Calábria); os bizantinos, porém, conseguiram recuperar a região da Apúlia (no ‘calcanhar’ da península).

Em 989, se realizou um acordo entre o Principado de Kiev e o Império Bizantino assegurando a presença de mercenários eslavos no exército imperial; nove anos depois, se estabeleceu a assistência mútua entre os dois Estados.

Em pleno inverno de 995, atravessou a Anatólia e chegou à Síria (em Alepo), cujo chefe beduíno tinha solicitado seu auxílio. Os Fatímidas, diante desta investida bizantina, simplesmente abandonaram a região; os bizantinos conseguiram se apoderar de Cesaréia (em Israel) dos Fatímidas. Depois de submeter a Geórgia no Cáucaso, Basílio retornou à Constantinopla.

Basílio II foi cognominado ‘Bulgaróctone’, ou ‘Matador de Búlgaros’ pela caça implacável que lhes moveu de 1001 a 1014, depois que concluiu a paz com os Fatímidas. A sua crueldade se revelou no fato de que em cada grupo de 100 prisioneiros que fazia, cegava 99 e deixava apenas um com seus olhos, a fim de poder levá-los diante do rei Samuel. Depois de ter conquistado parcialmente a Bulgária, se dirigiu à Macedônia e venceu o rei búlgaro em Durazzo (Dyrrachium). De 1005 a 1014 venceu definitivamente os búlgaros no alto vale do rio Estrimon (que desemboca no Golfo de Tessalônica).

Com suas vitórias, toda a Península Balcânica se tornou possessão bizantina, o que não ocorria desde Justiniano I. Se não tivesse morrido em 1025, teria levado avante seu empreendimento guerreiro de tomar o sul da Itália, visto que os bizantinos tinham vencido os normandos (coligados aos lombardos) em Canas (em 1018) e conseguiram restaurar a soberania bizantina na Sicília (ao recuperar Messina em 1021).

As guerras e atrocidades movidas contra o II Reino Búlgaro de 971 a 1016 acarretaram, de um lado, a perda de autonomia da Bulgária (de 1016 a 1185); por outro lado, o império vitorioso sofreu uma crise gravíssima econômico-financeira, sendo obrigado a desvalorizar a sua moeda (chamada de ‘nomisma’) no governo de Constantino IX Monômaco (marido da imperatriz Zoê).

O grande imperador Basílio II, o ‘matador de búlgaros’, substituiu as milícias camponesas por mercenários (os georgianos ou iberos em 982 e os russos em 987); seus sucessores continuaram a política de contratação de mercenários. Após a morte de Basílio II, o Império Bizantino foi sacudido por intrigas palacianas e pela fraqueza dos governantes desta dinastia (de 1025 a 1057, quem governou de fato foram Zoê e, depois, Teodora, filhas de Constantino VIII) e conflitos internos entre a aristocracia militar e o poder civil da burocracia.o Em 1054 ocorreu o rompimento definitivo entre as igrejas de Roma e Constantinopla, chamado de ‘Grande Cisma do Oriente’, precedido por outros cismas envolvendo não apenas concepções doutrinárias como a consideração de supremacia sobre a Igreja tanto do Patriarca de Constantinopla como do Papa em Roma.

Havia uma série de distinções entre as igrejas cristãs romanas e bizantinas: nas primeiras, as cerimônias litúrgicas eram sempre rezadas em latim (até o papa João XXIII na década de 50 do século XX), enquanto nas segundas eram em grego. Na doutrina cristã houve poucas divergências na Igreja Romana, enquanto na Bizantina surgiram muitas heresias e não se acreditava na existência do Purgatório. A Igreja Cristã Oriental estava totalmente ligada ao Estado Bizantino (o imperador se julgava um apóstolo, um enviado de Deus e nomeava as autoridades religiosas); na Europa Cristã não havia esta subordinação e até ocorreram conflitos entre os poderes temporal (do rei) e espiritual (do papa), como na Querela das Investiduras (de 1075 a 1122).

Os protagonistas desta última e definitiva cisão entre as duas igrejas foram o Patriarca Miguel Cerulário e o Papa Leão IX (um dos reformadores da igreja romana, sendo teólogo e canonista), que se desentenderam sobre a jurisdição das dioceses no tema bizantino do sul da Itália - o primeiro era dado à violência e à ambição (calçava sapatos de cor púrpura, como o imperador), enquanto o outro foi santificado. A jurisdição envolvia o recebimento dos dízimos. Cerulário não concordou com a ideia da influência romana sobre a província italiana de Bizâncio; sua arrogância explica o fato de ter mandado o fraco imperador Constantino IX (terceiro marido da basilissa Zoê) desfazer os laços com a Igreja de Roma.

O papa estava às voltas com os normandos (que chegaram a aprisioná-lo em Civitate, em 1053) por causa da doutrina da transubstanciação (contestada por um teólogo francês Beranger de Tours) e tentava se unir aos bizantinos e lombardos para combater aquela contestação. A união entre Bizâncio e Roma cedeu lugar à uma desavença que não se desfez nunca mais. H) DINASTIA PROTO-COMNENA (1057-1081) - Neste período, Bizâncio teve cinco imperadores, demonstrando o declínio conjuntural e instabilidade política. A substituição de forças mercenárias no lugar dos milicianos camponeses foi um dos fatores da vitória turca sobre os bizantinos em 1071. o Cresceu o processo de feudalização do império em que os latifundiários (‘dynatoi’) se assenhoreavam das terras dos pequenos proprietários (de camponeses-soldados e produtores independentes), se constituindo numa força cada vez mais desagregadora do império. A feudalização fortaleceu, pois, a nobreza feudal e os mosteiros, colocando em xeque o poder central. o Surgiu um grande e novo perigo externo que irá colocar em xeque o Império Bizantino: os turcos seldjúcidas (incendiando, pilhando e se apoderando de cidades da Ásia Menor) no lado oriental do império; do lado ocidental, os normandos fustigaram os bizantinos no sul da Itália. Foi sob esta dinastia que os bizantinos perderam a Geórgia e a Síria; conseguiram tomar temporariamente a Sicília, mas a perderam (ficando apenas com cidade local de Messina). Em 1048 o império foi fustigado e invadido pelos pechenegues e pelos seldjúcidas (estes pela primeira vez).

Em 1065, os turcos seldjúcidas tinham se apoderado de grande parte da Ásia Menor, colocando em fuga suas populações; em 1071 ocorreu o grande desastre da Batalha de Manziquert (ou Malazgerd, próximo ao Lago Van, na Armênia), em que o imperador bizantino Romano IV Diógenes foi vencido e capturado. Esta derrota é considerada como o marco inicial do processo de fragmentação do império, pois a perda da Ásia Menor significou a falta dos melhores recursos humanos de suas forças armadas. Do lado ocidental, no mesmo ano, os normandos tomaram o sul da Itália (Apúlia e Calábria) e a Sicília aos bizantinos e criaram o Reino da Sicília.

Dez anos depois desta vitória, o sultão Solimão criou o Sultanato de Rum, abrangendo grande parte da Ásia Menor e conquistou a importante cidade de Nicéia, próxima de Constantinopla. o Como que compensando as perdas territoriais e o desastre de Manziquert, a partir de 1071, Bizâncio foi palco de um grande desenvolvimento artístico das miniaturas (como os mosaicos confeccionados em placas de metal ou em marfim) e do renascimento do misticismo. A arte e a religião bizantinas se expandiram pelo Principado da Rússia.I) DINASTIA DOS COMNENOS (1081 a 1185) - Constantinopla, em 1078, assistiu a uma série de problemas de sucessão dinástica com três pretendentes ao trono, um deles Nicéforo III Botaneiates, que conseguiu derrubar o imperador Miguel VII Ducas com o auxílio dos seldjúcidas, governou por 3 anos tumultuados por revoltas e sendo deposto em 1081 e internado em mosteiro por Aleixo Comneno, que se tornou I e inaugurou esta nova dinastia e exerceu um frutuoso governo de 37 anos.o De 1081 a 1180, sob os três primeiros imperadores Comnenos - Aleixo I, João II e Manuel I - houve uma ressurgência política do império graças à dinâmica de seus governos. Nenhum deles, porém, teve força suficiente para diminuir o poder desagregador da aristocracia rural, visto que eram procedentes de uma delas (os Comnenos). Não puderam, outrossim, eliminar o perigo turco seldjúcida (apenas o dos turcos pechenegues), nem as vantagens comerciais concedidas anteriormente aos comerciantes do norte da Itália. Suas conquistas territoriais foram conjunturais - duraram em seus governos, sendo perdidas pelos fracos governos subseqüentes e culminando com a sujeição dos bizantinos aos cruzados - e por trás deles, os venezianos - em 1204.

Os Comnenos tiveram que se empenhar em restringir o poder imobiliário da Igreja Ortodoxa e seus membros; tentaram impedir a disseminação das heresias dos bogomilos e paulicianos.

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o Aleixo I foi vitorioso contra os normandos e impôs um tratado a Boemundo. Concedeu privilégios para os comerciantes venezianos em Constantinopla. Se deixou abater internamente pelo poder da aristocracia rural, abolindo a pequena propriedade. Conseguiu reconquistar Niceia aos turcos seldjúcidas (que transferiram a capital do Sultanato de Rum para Iconium); se apoderou do litoral meridional do Mar Negro (até Trebizonda) e a região ocidental da Anatólia, além de Creta, Chipre e região balcânica até o rio Danúbio; no litoral do Adriático ocupou Ragusa (hoje Dubrovnik), importante para o comércio bizantino.

Em 1096, a I Cruzada patenteou a ojeriza entre os europeus e os bizantinos, visto que os primeiros os viam como cismáticos (em 1054 ocorreu o Cisma do Oriente, em que o Patriarcado de Constantinopla não mais obedecia a Santa Sé); por outro lado, Aleixo I e a sua corte os consideravam como rudes e muito orgulhosos.

Nesta época estava solapada a base dupla de sustentação política do Império Bizantino - as forças armadas e os ‘temas’. O exército e a marinha eram formadas, em sua maioria, por mercenários sarracenos, normandos e até de seldjúcidas - seu comando não era mais do imperador, mas de dinastias locais.o O sucessor de Aleixo I foi João II (1118-1143) que conseguiu eliminar a presença dos pechenegues de forma definitiva (ao norte do Baixo Danúbio, junto ao Mar Negro) e realizou incursões contra os húngaros (no Médio Danúbio); reconquistou a Cilícia, a Pequena Armênia, Edessa e Antioquia (ao sul da Anatólia), envolvendo o Sultanato de Rum. A fim de conter os normandos, tentou sem sucesso uma aliança com os alemães.o Manuel I (1143-1180) retomou a Ilha de Corfu (que pertencia ao Reino da Sicília). O imperador bizantino era aliado do alemão Conrado III; este, ao morrer, foi sucedido por Frederico I Barba Ruiva, com quem não tinha relações amistosas em face de suas pretensões hegemônicas sobre a Itália.

Veneza, por sua vez, era contrária à política bizantina em relação à Itália e se aliou ao Reino da Sicília para combater Manuel I - este caiu derrotado diante daqueles coligados na Batalha de Bríndisi, no sul da Itália (1155). Três anos depois, Frederico I pressionou os bizantinos a assinarem um acordo com Guilherme I (da Sicília) - a partir daí se encerraram as pretensões bizantinas em território italiano. Ainda em 1158, o imperador bizantino sufocou uma revolta na Pequena Armênia (região da Cilícia) e a incorporou aos seus domínios.

Bizâncio, em retaliação ao imperador Frederico I, além de apoiar o papa contra o imperador alemão, financiou as comunas do norte da Itália, levando os alemães à derrota de Legnano (1176). Frederico I, em vindita, tentou insuflar os turcos do Sultanato de Rum a entrar em conflito com Bizâncio. Manuel I revidou, tentando conquistar a capital do sultanato turco (Iconium ou Konia), mas foi batido fragorosamente pelos turcos em Miriokéfalon e perdeu a Frígia, naquele mesmo ano. Ainda em 1176, os sérvios sob a recente Dinastia dos Nemânidas, se aproveitaram desta situação, se livraram da dominação bizantina.

Ao morrer Manuel I, mais uma vez o império foi sacudido internamente por disputas sucessórias, conflitos com a aristocracia dona de imóveis, além de aumento da carga tributária - nesse quadro se desenvolveu o governo de 3 imperadores de 1180 a 1185.

A fase de 1180 a 1204 foi o prenúncio do fim de Bizâncio: começou a sua ruína e se desmembrou sua unidade territorial.J) DINASTIA DOS ÂNGELOS OU ANJOS (1185-1204) - foi uma fugaz e última dinastia do império como um Estado só, visto que em 1204 ele se esfacelou em três partes sob a ação militar dos venezianos à frente da IV Cruzada (criando o Império Latino do Oriente, tendo a capital em Constantinopla). Logo no início da dinastia - sob o governo de Isaac II Anjo - o normando Guilherme II, do Reino da Sicília, se apoderou de duas ilhas no litoral grego - a de Zante e a de Cefalônia (ou Kefallima, como hoje é chamada) e um general bizantino se sublevou e cercou Constantinopla. Os privilégios concedidos aos comerciantes italianos dentro do império anteriormente despertaram tanta animosidade que os massacraram em Constantinopla (1182).

Enquanto o império estava se dilacerando com problemas internos e externos, no mesmo ano de ascensão dos Ângelos ao poder bizantino, ressurgiu o II Reino Búlgaro com a Dinastia dos Assênidas se sublevando, junto com os valáquios, contra Bizâncio. Em 1191, um dos participantes da III Cruzada, o rei inglês Ricardo Coração de Leão, tomou a Ilha de Chipre aos bizantinos.

A IV Cruzada (1202-1204) - e por trás dela a burguesia comercial de Veneza - cercou e tomou Constantinopla 2 vezes: a primeira pelos barões (sob Isaac II Ângelo e o co-imperador Aleixo IV - assassinados cerca de 1 ano depois por Aleixo V Ducas, o ‘Sobrancelha Cerrada’); a segunda, em 1204, pelo conde Balduíno I de Hainaut, que dela se apoderou e criou o Império Latino (que durou até 1261). Houve saques e um verdadeiro massacre da população da capital por Balduíno.Esta atitude ignominiosa e sangrenta do cruzado Balduíno I contrasta com a do sultão Saladino quando tomou Jerusalém e acabou com o Reino Franco local (1187), mas permitiu a saída dos civis cristãos daí e não destruiu o Santo Sepulcro. K) ESTADOS BIZANTINOS - A queda de Constantinopla, em 1204, representou o fim da grandeza e unidade territorial e política do Império Bizantino, que se tornou tricéfalo, pois dele se originaram os Estados Bizantinos, constituídos por dois impérios (o de Niceia e Trebizonda) e o Despotado do Épiro (a oeste dos Montes Pindus, na Grécia, tendo como capital a cidade de Arta). O Império de Nicéia se situava entre o Império Latino Oriente e o Sultanato de Rum; o de Trebizonda numa nesga estreita do litoral do Mar Negro, ao norte do Sultanato de Rum.

O Império Latino do Oriente abrangia toda a área litorânea em volta dos estreitos de Bósforo e Dardanelos - de grande importância para o comércio com o Oriente, além do litoral norte do Mar Egeu e a Moréia (Grécia), por 2 pequenos reinos (de Tessalônica, Chipre), por um principado (o de Acaia, na Península do Peloponeso) e pelo Ducado de Atenas.

O Império de Niceia foi governado pelas Dinastias Lascariana (de 1206 a 1261) e dos Paleólogos (1261-1453); o de Trebizonda ficou sob os Comnenos até 1462 (tendo como imperador outro Aleixo I); no Despotado do Épiro continuaram os Ângelos (ou Anjos) até 1318 (mas também reinaram em Tessalônica de 1222 a 1430). Esta subdivisão e multiplicidade de Estados no antigo Império Bizantino geraram instabilidades provocadas por contínuos conflitos entre eles; bem como deles com os turcos (do Sultanato de Rum e depois com os otomanos), os Assênidas da Bulgária, os Anjou do Reino de Nápoles (no Épiro) e os aragoneses (no Ducado de Atenas). o Destes três Estados bizantinos, o mais importante e que deu prosseguimento dinástico ao império foi o de Niceia que conseguiu se apoderar do Despotado do Épiro e acabou com o Império Latino (se aliando com o II Reino Búlgaro), em 1261. O Império de Nicéia seria o antigo Bizantino se a ele tivessem aderido, em 1261, os outros 2 Estados Bizantinos - o que não ocorreu; mesmo a denominação ‘Nicéia’ não é historicamente correta desde 1366, quando esta cidade passou a ser parte do Império Otomano (sob Orkhan).

Durante a vigência da Dinastia dos Paleólogos no Império de Nicéia aumentou a miséria dos camponeses, enquanto crescia a dos grandes proprietários rurais. Estes últimos foram protagonistas da guerra civil de 1341 a 1347; João VI Cantacuzeno - representante desta aristocracia - usurpou o trono de João V Paleólogo.

Miguel VIII Paleólogo (1259-1282) é considerado o último dos grandes imperadores bizantinos. Reconstruiu Constantinopla e retomou os trabalhos da sua universidade. Iniciou a Dinastia dos Paleólogos, que acabou quando caiu Constantinopla em 1453 (governaram também o Despotado de Mistra de 1384 a 1460). Conseguiu deter Carlos I de Anjou em sua tentativa de conquistar o litoral do Adriático (Carlos I foi despojado do trono pela revolta chamada de Vésperas Sicilianas, expulsando os franceses da Sicília, em 1282).

Os genoveses, ao auxiliarem financeiramente, em 1261, o basileus Miguel VIII Paleólogo (que foi co-imperador junto com João IV Láscaris, em 1258) de Niceia a reconquistar Constantinopla, conseguiram firmar com ele o Tratado de Ninfeia pelo qual os privilégios concedidos aos venezianos passaram para eles (ficando com Gálata bem próximo da capital, portanto em lugar estratégico para o comércio entre os mares Negro e Mediterrâneo).

Além disso, os genoveses conseguiram as ilhas de Kios e Lesbos (no Mar Egeu) e o porto de Esmirna (no litoral ocidental da Anatólia) como pontos de apoio ao seu comércio; dos mongóis do Canato da Horda de Ouro, obtiveram o porto de Kaffa (na Península da Criméia, entre os Mares de Azov e Negro) onde puderam estabelecer contatos comerciais com os eslavos (trigo da Ucrânia, peixes salgados, peles russas) e com os orientais (seda).Desde o século XII já residiam em Constantinopla 10.000 venezianos. Eram isentos de tributação e seu comércio era regulado segundo normas

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venezianas. Já no século XIV seus lucros aí eram sete vezes superiores ao de Constantinopla. Venezianos e genoveses se tornaram tão audaciosos a ponto de lutar contra forças de segurança no interior das muralhas da capital bizantina.

Após a morte de Miguel VIII, o império vacilou até a queda de Constantinopla em 1453, embora dois imperadores da Dinastia dos Paleólogos tenham tentado evitar a débâcle. No período de 1321 a 1461 se assistiu o desenlace final dos Estados Latinos e do Império Bizantino.o No começo do século XIV, Constantinopla sofreu o assédio de mercenários catalães (a “Grande Companhia’ do Reino de Aragão), ocuparam o Ducado de Atenas por 80 anos e passaram a concorrer no comércio do Mediterrâneo Oriental com Gênova e Veneza. Além desta interferência política destes mercenários, o fraco imperador Miguel IX Paleólogo se deixou dominar pela sua esposa e não teve pulso para dominar uma anarquia religiosa. O restante do século foi permeado por intensas disputas pelo trono e guerras civis, além do permanente perigo representado pelos turcos otomanos (em 1374, Murad I se apoderou da Trácia, reduzindo ainda mais o território bizantino e, em 1396, Bajazé I cercou a capital após ter vencido fragorosamente a última cruzada em Nicópolis).o A queda definitiva de Constantinopla não ocorreu sob o sultão otomano Bajazé I, porque em 1402 Tamerlão (ou Timur Leng, fundador do II Império Mongol) o venceu e aprisionou em Angorá (ou Ancira, hoje Ancara, capital da Turquia), no Sultanato de Rum.o No século XV os bizantinos foram acossados pelo II Reino Búlgaro; na própria capital, pelos venezianos e genoveses, que agiam com rapacidade; a leste, perto da capital, em Bitínia, pelos turcos otomanos, que estabeleceram a sua capital em Bursa (ou Prusa - em 1326, sob Orkan) e depois em Andrinopla ou Edirne (na Trácia, em 1374). Em suma: estavam cercados em todas as suas reduzidas fronteiras.o Desde 1371, o Império Bizantino era um país reduzido ao redor de Constantinopla, à margem ocidental do Estreito de Bósforo (entre os Mares Negro e de Mármara), cercado pelo Império Otomano por todos os lados. O sentimento de superioridade dos bizantinos em relação aos cristãos ocidentais arrefeceu totalmente desde o século XIII, manifestado pelo pedido de apoio à Igreja Católica Romana: até Miguel VIII já tinha reconhecido a supremacia papal (1274), depois foi João V (em 1369), João VIII (em 1439, no Concílio de Florença, em que assinou até o Ato de União) e o último imperador Constantino XI Dragases.o Ao morrer João VIII - em 1448, sucedeu-o seu irmão - Constantino XI Dragases (1449-53). Em 1453, o turco Mehmed (ou Maomé) II Al Fatih, o Conquistador, sitiou e tomou Constantinopla. Depois de 4 meses de heróica resistência, os bizantinos capitularam. A capital bizantina tomou o nome de Istambul, que passou a ser capital do Império Otomano até 1922.

Mehmed II se cercou de sábios gregos para governar; a aristocracia aderiu interesseiramente aos novos donos do poder, juntamente com o Patriarca de Constantinopla, cujo palácio de Fanar manteve-se como reduto da cultura bizantina por muito tempo.A queda definitiva de Constantinopla nas mãos dos otomanos foi, talvez, a mais épica e dramática dos tempos medievais, tanto pelo número de combatentes, quanto pela infra-estrutura militar de armamentos, quanto pelas suas extraordinárias repercussões. O cerco à cidade iniciou-se desde o inverno de 1452 e apertou mais nas muralhas em 6/4/1453. Seus preparativos pelos otomanos foram espetaculares:* Colocaram diante das muralhas terrestres bizantinas (que protegia Constantinopla com seus 22 km de comprimento e 96 torres) um enorme canhão de bronze com 8 metros de comprimento e peso de sete toneladas (que foi puxado por 60 bois) e que atirava balas de ½ tonelada - era a Grande Bombarda.* O exército era constituído por cerca de 200.000 soldados (enquanto o dos bizantinos tinha apenas 60.000, sendo apenas 7,.000 treinados) e sua marinha estacionada no Corno de Ouro apresentava 26 navios de guerra.

Deste conjunto monumental de soldados, se sobressaíam os temíveis e famosos janízaros dos turcos (criados por Bajazé I), em número de 12.000. Era uma elite de infantaria treinada desde criança para a guerra. Estes infantes não podiam se casar e, consequentemente, ter família. Sua farda era uma túnica grande e um gorro pontiagudo; suas armas eram o arco, a flecha e o sabre. Obedeciam diretamente o sultão.

A cavalaria otomana apresentava maior mobilidade, visto que não tinha armaduras nem escudos (que pesassem e, assim, dificultassem seu deslocamento); suas armas eram a cimitarra (sabre grosso e curvo) e uma lança comprida.* Houve guerra de nervos de ambos os lados. Em 28 de abril os bizantinos decapitaram 260 presos e jogaram seus corpos de cima das muralhas para o lado dos otomanos. Antes do cerco à cidade, em seis de abril, o sultão deu ordens para mostrar 76 soldados cristãos empalados à população, como que demonstrando o que lhes iria acontecer.* Antes da queda da cidade, uma multidão numerosa estava numa de suas praças importantes, aguardando o surgimento de um anjo que a defendesse - houve uma verdadeira carnificina dos bizantinos por parte dos otomanos.

Este fato repercutiu intensamente na diminuição do comércio com o Oriente, de tal maneira que portugueses procuraram capturar novo caminho, fazendo o périplo africano para chegar às Índias. Culturalmente, eméritos professores da Universidade de Constantinopla já desde o século XIV foram os preparadores do Humanismo na Europa.II) A SOCIEDADE E A ECONOMIA BIZANTINA.A) A SOCIEDADE - Era muito miscigenada por eslavos (importantes na agricultura), de armênios (chegaram a ser imperadores), de italianos e escandinavos (na navegação) e de gregos. Os marinheiros - em grande número, visto que o comércio marítimo era uma atividade febricitante em Constantinopla - tinham o direito de regular sua vida conforme os seus costumes, como foi estabelecido no século IX no “Nómos Nautikós” (que fazia parte do código imperial Basílicas).

Por decretos imperiais da segunda metade do século VII e primeira metade do século VIII se criaram feudos militares, concedidos a soldados, na época dos Heráclidas. Tal concessão de terras vigorou até o século XI, desempenhando um papel importante na economia do tesouro imperial (que não precisava pagar os soldados, já que podiam tirar da terra a sua subsistência), no aumento das pequenas propriedades (em detrimento das grandes, diminuindo, pois, o poder da nobreza fundiária) e na inclusão social dos eslavos (um dos povos que pressionavam as suas fronteiras ocidentais).

Nos séculos IX e X haviam referências a camponeses chamados de ‘periecos’ que, presos à terra, mas sem ter sua propriedade, nela trabalhando para seus donos ( o Estado, ou o clero (mosteiros e igrejas), ou a nobreza rural).

Os latifundiários se apropriaram das pequenas propriedades, acarretando a extinção da classe dos camponeses livres, que se tornaram clientes destes grandes proprietários rurais (chamados de ‘dynatoi’). Estes se tornaram tão poderosos que muitas vezes arrostaram os funcionários reais e até encabeçaram revoltas contra o poder central (como a de Bardas Skleros em 987 contra Basílio II).

Em Constantinopla havia tantos mendigos, que um dos imperadores determinou o levantamento de seu número, a fim de serem recrutados em serviços pesados nas corporações. O imperador da Dinastia Macedônica Romano II ‘Porfirogênito’- ou ‘Nascido na Púrpura’ - (que reinou de 959 a 963) ordenou o fechamento dos pórticos das principais ruas da capital, a fim de proteger dos ventos os moradores de rua.

Depois que os bizantinos perderam o Egito (em 642 para os árabes) - que era grande produtor de trigo - foi extinta a distribuição de pão aos miseráveis urbanos. Os imperadores tentaram remediar a situação dos miseráveis incitando as elites a se despojar de seus excedentes. Para se estabilizar a economia se restringiu a exportação de víveres de primeira necessidade, bem como de metais preciosos.

O imperador Basílio II se agastava diante destes latifundiários, que formavam uma verdadeira aristocracia: “Deixaremos em suas mãos os bens dos pobres, roubados e despojados por eles indignamente?”. Ao se revoltarem contra o imperador, foram vencidos e Basílio II confiscou os bens de alguns deles e estabeleceu uma lei agrária contrária aos interesses da nobreza feudal em 996. Seus sucessores, porém, provinham desta aristocracia e, naturalmente, não deram continuidade à sua política social, desembocando na crise de 1025 a 1081.

No meio rural, além das grandes propriedades, haviam as vilas em que a terra era dividida entre os camponeses livres seus habitantes. A propriedade era hereditária; se o camponês seu proprietário morresse sem herdeiros, os moradores da sua vila tinham o direito de preempção (de compra em primeiro lugar). As vilas pagavam impostos ao poder central, exceto nos casos daqueles latifundiários que obtiveram tal prerrogativa do imperador. O feudalismo se desenvolveu sob a Dinastia dos Comnenos, reforçando o poder da nobreza feudal e dos mosteiros, em detrimento da aristocracia mercantil urbana e diminuindo a autoridade imperial. A partir do século XII, se acentuou o processo de concentração fundiária sobre os feudos militares e as pequenas propriedades dos camponeses livres, acarretando a fragmentação do poder central em benefício dos nobres feudais - uma das causas do desmoronamento do Império Bizantino.

O aumento dos impostos levou muitos camponeses livres à falência, tornando-os dependentes da aristocracia. Também os pequenos comerciantes caíram diante da presença da burguesia veneziana e genovesa a partir do século XIII.B) A ECONOMIA BIZANTINA - A sociedade bizantina era mais urbana que rural; a urbanização estava moldada nos parâmetros gregos e asiáticos. A passagem do escravismo antigo para o feudalismo se processou mais morosamente que na Europa.

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Além de Constantinopla (que no século IX era a cidade cristã mais populosa), se destacavam cidades de origem helênica (como Corinto e Tebas em Moréia) e helenística (como Alexandria - no Egito e Antioquia - na Síria). Os sírios, desde os tempos antigos até hoje são hábeis comerciantes; no Império Bizantino se dedicavam, igualmente, à atividade industrial de produção de seda.

Constantinopla, como centro urbano administrativo e cosmopolita, tinha seus alicerces econômicos no comércio (de seda, linho e perfumes), nas indústrias alimentares e da construção civil (para atender às demandas urbanas) e nas de luxo (jóias e pedras preciosas).

Tais atividades estavam sob o domínio de monopólios exercidos por corporações (que controlavam todo ciclo de produção e seus trabalhadores). O Estado exercia uma fiscalização severa através do prefeito da cidade, aplicando medidas protecionistas, supervisionando a contabilidade das corporações e as exportações.

Constantinopla, pela sua posição estratégica, era fundamental no contato entre Oriente e Ocidente - para ela convergiam as principais rotas comerciais terrestres e marítimas. Neste comércio, os bizantinos tinham como intermediários, paradoxalmente, os árabes e os persas seus inimigos. A rota terrestre da seda proveniente do Extremo Oriente passava pelo Império Sassânida (persa); a rota marítima da seda da China, das especiarias orientais e das pedras preciosas da Índia tinha como intermediários os árabes.

A expansão islâmica a partir do século VII dificultou a navegação das galeras bizantinas no Mar Mediterrâneo; apenas houve uma recuperação destas rotas marítimas mediterrâneas do final do século IX ao século XI.

A riqueza auferida por Constantinopla pela atividade comercial, despertou o interesse das cidades italianas (Veneza e Gênova) - primeiro agiram diplomaticamente (em 992, através de acordo com o imperador Basílio II) e depois pela força das armas (pelo desvio de função da IV Cruzada e conquista da cidade). A partir do século XIII se iniciou a ofuscação definitiva do brilhantismo e pujança da economia bizantina. III) A CIVILIZAÇÃO BIZANTINA.A) LITERATURA - ligada diretamente aos clássicos gregos através de suas bibliotecas públicas (como a de Constantinopla e a de Alexandria - esta destruída pelos árabes em 641, quando da conquista do Egito) e particulares (como a do Patriarca Fócio).O incêndio e conseqüente destruição da Biblioteca de Alexandria, durante o califado de Omar, é considerado um dos maiores crimes contra o acervo cultural do mundo antigo aí depositado - eram cerca de 700.000 itens.

As obras de autores clássicos gregos eram parte integrante da leitura nas escolas, obviamente ao lado dos escritos da Igreja. É o que ocorria, por exemplo, na Universidade de Constantinopla (fundada no século V por Teodósio II, muito antes das universidades européias). Aí pontificaram mestres como Pselo (século XI com estudos sobre Platão e História) e outros posteriores, que foram verdadeiros humanistas, antes mesmos dos pré-renascentistas europeus.

O grande defeito da literatura bizantina, mesmo sendo embebida na grega clássica, era sua apresentação em linguagem rebuscada, muito diferente do grego comum. Cerca de 50% de suas obras se referiam a temas religiosos - eram muito lidos os textos dos Padres da Igreja como S. Basílio (criador do monasticismo) e S. João Crisóstomo.Ainda hoje nos referimos ás discussões sem sentido como discussões bizantinas. A literatura teológica bizantina era um reflexo da sociedade que prezava discussões indefinidas.

O que expressa também o espírito bizantino é a poesia épica contando seus feitos guerreiros. Nesta poesia ressalta o Akritias, relembrando os akritas- os soldados de fronteiras, se enaltecendo com orgulho nacionalista sua defesa do império em relação aos inimigos.

As obras literárias e crônicas históricas bizantinas tiveram reflexos naqueles povos que sofreram sua influência cultural, como as traduções feitas pelos sérvios, russos, armênios e búlgaros.

Venezianos e genoveses, a partir do século XIII, ao comerciar em Constantinopla, também foram agentes de contato entre os mestres da Universidade local e os humanistas das cidades italianas.B) DIREITO - representa o maior legado bizantino. Foi a grande obra de Justiniano, com o fito de fortalecer a sua autoridade e de conferir maior eficiência á burocracia administrativa imperial. Auxiliado por juristas renomados da época (ex.: Tribônio) se elaborou o Corpus Júris Civilis, que se apresentava em quatro partes: Código Justiniano (compilação de todo o Direito Romano desde Adriano); Digesto ou Pandectas (resumo da jurisprudência anterior dos romanos); Institutas (resumo para a juventude que estivesse pretendendo estudar Direito); e as Novelas (ou conjunto de novas leis elaboradas na época de Justiniano).

Esta obra jurídica foi estudada desde o século VI até a Idade Moderna e representa a base dos códigos de direito da atualidade.C) ARTES - Sua primeira fase áurea foi no século VI (época de Justiniano); a segunda, nos séculos X e XI e a última, nos séculos XIV e XV. Na arte bizantina se mesclavam a sobriedade da arte grega antiga e o luxo típico do Oriente (sobretudo dos sassânidas e dos sírios). A pintura bizantina se difundiu pelos Bálcãs, pela Moscóvia e entre os eslavos de modo geral.

Na primeira fase, o símbolo da arte bizantina se revela na Igreja de S. Sofia (em Constantinopla) e a de S. Apolinário (no Exarcado de Ravena, na Itália). As igrejas com bases diferentes (octogonal, quadrada, semicircular) sã encimadas por cúpulas (representando a abóbada celeste e o poder teocrático do imperador). O chão é de mármore polido.A Igreja de S. Sofia (desde a conquista otomana é uma mesquita) foi construída de 532 a 537 por 10.000 operários. Sua cúpula é monumental com 31 metros de circunferência e 56 metros de altura, tendo como base quatro arcos enormes sustentados por 4 grandes pilares. Ela mede 70 m. de comprimento e 75 de largura; em seu interior há 107 colunas. Sua forma de planta com quatro braços semelhantes - a cruz grega - foi protótipo para outros no império e regiões sob sua influência. (ex.: Rússia). Suas colunas são emblemáticas da conjunção entre a Grécia (pelo seu estilo coríntio) e o Oriente (pela decoração profusa).

Em face da questão iconoclasta a escultura não se desenvolveu entre os bizantinos, fazendo-se representar através de baixos-relevos decorando os monumentos.

Passada a questão iconoclasta, a arte bizantina retomou seu brilhantismo nos séculos X e XI (segunda fase) até os Comnenos. Foi aí que se aprimorou a estrutura arquitetônica em forma de cruz grega, com suas cúpulas e paredes decoradas de ladrilhos e mosaicos - um exemplo é a Basílica de S. Marcos (em Veneza).

A terceira e última fase da arte bizantina, nos séculos XIV e XV, enquanto o império definhava politicamente, apareceu uma ‘arte enamorada de pitoresco e de vida’ conforme o historiador Charles Diehl, se expressando através de uma rica iconografia e pinturas identificadas por seus autores (uma novidade, porque antes eram anônimas).

Os mosaicos representam um atributo artístico por excelência dos bizantinos - para embelezar as abóbadas e as paredes. As figuras nos mosaicos são frontais e sem perspectiva e volume, Destacam-se os mosaicos representando madonas e Jesus Cristo com traços rígidos, mas coloridos e humanos.

Um dos grandes centros artísticos bizantinos foi Mistra, capital do Despotado de Moréia; suas igrejas demonstram influência árabe nas esculturas carregadas de enfeites ou com motivos ornamentais sobre fundo preto, realçando o contraste claro-escuro.D) RELIGIÃO - Havia uma simbiose entre os assuntos políticos e religiosos, o que gerou o cesaropapismo. O alto clero era constituído pelos metropolitas do Sínodo de Constantinopla e participavam do Senado. Os bispos exerciam certo poder na administração das cidades.

Os mosteiros possuíam latifúndios trabalhados por servos até o século VII. Quando o ascetismo conseguiu se difundir pelo império, houve conversão de gente humilde - camponeses livres - que doaram suas terras aos mosteiros para se tornarem monges.As Institutas e as Digestas de Justiniano foram elaboradas sob proteção divina - de acordo com seus organizadores. O Patriarca de Constantinopla exercia uma influência enorme sobre a corte e, às vezes, sobre o próprio imperador; era ele que batizava os príncipes e realizava casamentos da família imperial.

O monasticismo bizantino apresentou duas facetas: o ascetismo (sobretudo entre os sírios e os egípcios, portanto com tendências orientais e praticando uma verdadeira auto-tortura flagelando o corpo) e o monasticismo (de tendências helênicas). O primeiro teve como maior representante

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S. Sabas, que levava uma vida contemplativa, mas teve vertentes flagelatórias-ascéticas. O segundo aspecto do monasticismo teve como expressão máxima S. Basílio (bispo de Cesaréia no século IV) que criou uma nova

concepção monástica: a vida em comum e sob a autoridade de um superior (o abade). Na época de Justiniano havia 67 conventos masculinos e vários femininos na capital; o mesmo se repetia por todo o Império. Este

imperador regulamentou a assistência social ministrada pelo clero regular (asilos, orfanatos, hospitais). Nas cerimônias religiosas as mulheres conversavam entre si. Na 5ª feira santa, a comunhão era partilhada sob a forma de refeição dentro das igrejas. Havia um fervoroso culto às relíquias de santos e de ícones. Paralelamente ao cristianismo proliferavam pelo império cultos e manifestações religiosas como as superstições, os presságios, os oráculos, a astrologia, a oniromancia, o culto a Satanás... E) FILOSOFIA - lastreada nos ensinamentos de Platão (manifestando-se através do neoplatonismo) e de Aristóteles; tendo como principais protagonistas Fócio e Pselo. O primeiro foi Patriarca de Constantinopla na segunda metade do século IX; divulgou conhecimentos de Lógica e Dialética. Miguel Pselo (1018-1078) foi o introdutor do neoplatonismo no império e influiu na criação de uma Academia Platônica em Florença muito depois de sua morte (em 1459).

EFEMÉRIDES DA IDADE MÉDIACOMPILAÇÃO DO PROF. MANOEL DE MELLO SOUZA

resenha cronológica do império bizantinoMensagens: 1) ‘Historia magistra vitae est’ ou ‘A História é mestra da Vida’ – Marco Túlio Cícero (viveu entre 3 de janeiro de 106 aC a 7 de dezembro de 43 aC). 2) A História é um espelho do passado e uma lição para o presente – Provérbio persa.Observações: 1) Quando não consegui a data completa, numa sequencia de dados, eu coloco ‘Neste ano’, portanto, não sincronizado cronologicamente, de forma aleatória. 2) Separo um evento cronológico de outro através de hifens (---) e não através de marcadores em outra linha.3) O símbolo ~ é usado quando não se tem certeza absoluta sobre a data precisa do evento histórico.

SÉCULO IV* O Império Romano, mesmo sendo dividido em 395 em Oriental e Ocidental, ainda dominava o Mar Mediterrâneo. Antes de 395, o império esteve separado de 314 a 324 (governado por Licínio) e de 337 a 360 (sob Constâncio II).* Houve uma intensa militarização do império desde o fim do século III, continuando neste século.* Desde o século anterior até o século VII a Geórgia foi palco de disputa entre os Impérios Sassânida e Romano Oriental (bizantino). Neste período, Kartli (província central da Geórgia) e a área oriental deste reino estiveram permanentemente sob influência persa.* Após a conversão do imperador Constantino I, assim como ele erigiu a Igreja de S. Pedro em Roma, também mandou construir a Grande Igreja (berço da Igreja de S. Sofia), cujo crescimento se fez no mesmo ritmo da cristianização do império (embora tenha sido queimada em insurreições na cidade, sendo erigida depois). Esta cristianização, no entanto, foi permeada por heresias e acompanhada por distanciamento cada vez maior em relação à Igreja de Roma. Foi este imperador que reuniu o primeiro concílio ecumênico, o de Niceia, em 325, onde se discutiu a heresia do arianismo, que se declarava contra os dogmas da divindade de Jesus Cristo e da Santíssima Trindade. Também neste século surgiram mais duas heresias: as do donatismo e do pelagianismo (esta última professada pelos adeptos do livre arbítrio e criada pelo asceta bretão Pelágio na segunda metade deste século). * A hierarquia eclesiástica bizantina foi a segunda base do poder imperial (o primeiro, evidentemente, foram as estruturas políticas e militares).* Neste século ao IV ocorreram as Grandes Migrações Germânicas (‘Volkervanderung’) para o Império Romano Ocidental, continuadas com as dos eslavos no século VI no Império Romano Oriental. Tais migrações foram fatos determinantes na História da Europa, pois seu estabelecimento na região foi a semente dos Estados da Europa atual.* Do IV ao VIII séculos floresceu uma modalidade de monasticismo eremita no Egito em que nos dias úteis se viviam como ascetas isolados no deserto, mas no final da semana se reuniam nas igrejas dos povoados para cantarem seus hinos religiosos. Este tipo de ascetismo não totalmente isolado do convívio humano ainda é praticado no Wadi Natrum (no Deserto Líbico, a oeste da cidade do Cairo, no Egito).* Lendas medievais se referem a um certo godo chamado de Ermanarico que, por volta de 375, criou um grande reino que se prolongava desde o Mar Báltico ao Negro.301 - O primeiro Estado a oficializar o Cristianismo como sua religião foi o Reino da Armênia, sob Tirídates IV.305 – Encerrou-se a primeira tetrarquia do Império Romano formada por 2 Augustos (Diocleciano no Oriente e Maximiano Hércules no Ocidente) e 2 Césares (Galério no Oriente e Constâncio Cloro no Ocidente).305-306 – Em 1 de maio de 305, os Augustos Diocleciano e Maximiano abdicaram do poder, ensejando a vigência efêmera da segunda tetrarquia: 2 Augustos (Galério no Oriente e Constâncio Cloro no Ocidente) e 2 Césares (Maximino Daia no Oriente e Severo no Ocidente).306 a 324 – Guerra Civil da Tetrarquia.306 (julho) a 337 – Reinado do imperador Constantino I, o Grande no Império Romano.306 – O Império Romano foi governado pela terceira tetrarquia: 2 Augustos (Galério no Oriente e Severo no Ocidente, onde ocorreu a usurpação sucessiva de Maximiano Hércules e Maxêncio) e 2 Césares (Maximino Daia no Oriente e Constantino no Ocidente).307-308 – Ao morrer Severo neste ano, a terceira tetrarquia (na verdade uma triarquia) passou a ser constituída da seguinte forma: os 2 Augustos eram Galério (no Oriente) e Constantino (no Ocidente, sendo usurpado o trono por Maximiano Hércules e Maxêncio); em contraponto, havia apenas um César no Oriente e Ocidente, que foi Maximino Daia (em 308).308 – Maxêncio, em 11 de novembro, em reunião em Carnuntum (Danúbio), na província da Panônia, foi declarado inimigo público por Diocleciano, Maximiano Hércules e Galério. Licínio foi designado como Augusto no lado ocidental do império e ajudou Constantino a eliminar seus inimigos políticos. Maximino Daia, sobrinho de Galério, se proclamou Augusto no Oriente. Tais competições entre Césares e Augustos perdurou até 323. Enquanto havia esta reunião, Maximiano Hércules declarou o abandono de seu poder no Ocidente (na realidade despojado dele pelo filho). 308 a 311 – Desta reunião de Carnuntum até a morte de Galério, em 311, os governantes no Império Romano passaram a ser os seguintes: como Augustos ficaram Galério (em Constantinopla) e Licínio (no Ocidente, mas sendo usurpado em sua autoridade na Itália e Espanha por Maximiano Hércules e Maxêncio), como Césares permaneceram Maximimo Daia (em Constantinopla) e Constantino (no Ocidente). Em 310, Maximino Daia e Constantino tornaram-se Augustos.309 – No outono, Maximino Daia (sobrinho de Galério, que foi César e Augusto no Oriente) moveu perseguição aos cristãos no Oriente e mandou reerguer templos pagãos e determinou que todos participassem das libações e sacrifícios públicos. – Em 13 de novembro, em Cesareia da Síria, 3 cristãos tiveram suas cabeças cortadas a mando do governador Firmiliano por terem sustado um sacrifício; neste dia ainda uma cristã, Ennatas, foi queimada viva. Este mesmo governador mandou cegar um olho de vários egípcios, ou cortar um pé, ou matar aqueles egípcios que tinham chegado a Ascalon e iam para a Cilícia ajudar cristãos condenados às minas.—No inverno, Constantino I adotou o culto do Sol Invicto.310 – Maximiano Hércules abusou da hospitalidade de Constantino para voltar atrás em sua decisão na reunão de Carnutum, se proclamando imperador. Teve que ir para Marselha (na França), mas seus habitantes o mandaram de volta a Roma, onde morreu neste ano (se supõe que ele tenha sido executado a mando de Constantino).311 – Em 30 de abril, Galério (Augusto e tio de Maximino Daia) estabeleceu através de edito, na cidade de Serdica (Sofia), a tolerância religiosa em

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relação aos cristãos, revogando, desta forma, os editos de Diocleciano. Em 5 de maio ele morreu nesta cidade, sendo sucedido por Licínio. Maximino Daia mandou, então, seu prefeito do pretório, Sabino, obedecer tal edito e permitir o culto a nível doméstico. Logo depois desafiou Licínio, avançou em direção do Estreito de Bósforo, mas acabou concordando em partilhar o Oriente com ele (ficou com a Anatólia, o Egito e a Síria). Ele tornou a Bitínia (junto ao Bósforo), no oeste da Anatólia, sua base de apoio. Por outro lado, Licínio recebeu dele a Trácia, a Grécia e a Macedônia. ---- Constantino foi reconhecido como Augusto no Ocidente.312 – Em outubro, ocorreu a Batalha da Ponte Milvius (ou de Saxa Rubra, no rio Tibre) entre a armada de Maxêncio e a de Constantino I, vencida por este último. Maxêncio se afogou ao tentar atravessar o rio Tibre; seu corpo foi retirado do rio e decapitado; sendo sua cabeça mostrada em Roma e em Cartatago. Segundo a tradição cristã, a sua vitória se deveu ao fato de ter aparecido no céu um estandarte luminoso com a cruz, na qual estava escrito: ‘com este sinal vencerás’. ---- Maximino Daia teve que passar fome e exações (cobrança alta de imposto) por parte de bandidos na Cária (província da Anatólia), na época do inverno. ---- Neste ano: A conversão do imperador romano Constantino ao cristianismo e as normas criadas depois pelo Edito de Milão estimularam os cristãos persas que estavam sendo perseguidos pelos Sassânidas a buscarem refúgio junto ao Império Romano.313 – Licínio venceu Maximino Daia em 30 de abril, na Batalha de Andrinopla (na Trácia), começando a governar o Império Romano do Oriente. Licínio e Constantino se reuniram em Milão e mandaram publicar um edito de tolerância de culto aos cristãos; Licínio se casou com Constância, meio-irmã de Constantino. Em 13 de junho ele confirmou o Edito de Milão na cidade de Nicomédia (na Anatólia), outorgando a liberdade de cultos aos cristãos, restituindo-lhes o que foi confiscado. 315 – Os godos, sármatas e carpas sofreram ataques de Licínio e Constantino no Danúbio, ambos restabeleceram a segurança da fronteira romana na região. – Constantino transferiu sua capital para Sirmium (hoje chamada de Sremska Mitrovica, na Sérvia) e depois para Serdica (hoje, Sofia, capital da Bulgária).316 – Em 8 de outubro, Constantino I venceu Licínio (Augusto do Oriente) Battle of Cibalae na Panônia, este último perdendo as províncias da Grécia, Macedônia e as danubianas.317 – Em 1 de março, em Serdica, foi assinado um acordo de paz entre Constantino e Licínio, que designaram como Césares os seus filhos: Crispo e Constantino II (do primeiro, no Oriente) e Licínio, o Jovem (do segundo, no Ocidente).318 – Um simples membro do clero de Alexandria, no Egito, que também era teólogo e asceta, cujo nome era Ário, começou uma pregação herética negando a divindade da Trindade formada pela unidade entre Pai (Deus), Filho (Jesus Cristo) e o Espírito Santo; afirmando que o Filho é apenas uma criatura do Pai. O patriarca de Alexandria (chamado Alexandre) reuniu, 3 anos depois, um sínodo condenando Ário e seus seguidores. 320 – Novamente entraram em conflito Constantino e Licínio.321 – O imperador Constantino I tornou-se menos rigoroso com o donatismo (criado no norte da África em 307). O donatismo foi germinado nas perseguições aos cristãos, primeiro como cismáticos em relação à organização da Igreja, depois como uma heresia, pois seus adeptos eram considerados os ‘puros’ e ‘filhos de mártires’, descomprometidos com os demais cristãos (entregadores de coisas sagradas). Quem quisesse aderir a eles, deveria se batizar de novo (pois os padres eram indignos de realizar este sacramento, segundo seu entendimento).322 – Os sármatas saquearam as cidades danubianas na Panônia, sobretudo Campona (atual Budapeste, na Hungria); no verão, o imperador Constantino I empreendeu um ataque coroado de êxito contra eles. 323 – Os tervingues (como era chamados os ‘godos de oeste’, ou visigodos), sob o comando de Rosimod, devastaram e saquearam a região do Baixo Danúbio, na primavera. Retaliando, o imperador Constantino I determinou, em 28 de abril, que todo romano que ajudasse os ‘bárbaros’ seria condenado à morte. A seguir, invadiu o território dos tervingues, morrendo Rosimod. – Em outubro, houve a tentativa de Eusébio de Nicomédia de suspender a excomunhão de Ario em sínodo reunido em Bitínia.324 – Início do processo de cristianização do império. Além da Grande Igreja em Constantinopla, foram construídas outras em Jerusalém, onde os judeus foram obrigados a abandonar a cidade e se alojar na área do Monte das Oliveiras. –Finalizando as Guerras Civis da Tetrarquia, Constantino foi vitorioso sobre seu cunhado, Licínio (antes aliado a ele) nas proximidades de Andrinopla (na chamada Batalha de Andrinopla, no rio Evro, em 3 de julho) e em Crisópolis (Batalha do Helesponto, na província da Calcedônia), ainda em julho (na qual Crispo, filho de Constantino, à frente de uma esquadra, derrotou a frota naval do almirante Abanto, enviada por Licínio). Em 18de setembro, mais uma Batalha: a de Crisópolis (perto de Calcedônia) em que Constantino I obteve a vitória final sobre seu oponente, Licínio. Licínio, subjugado após estas derrotas, pediu perdão a Constantino, que o mandou para o exílio em Tessalônica, onde ele e seus filhos foram estrangulados (por ordem de Constantino). Constantino se apropriou da riqueza de Licínio e aglutinou em suas mãos todo o Império Romano. – Em 8 de novembro, Constâncio, filho de Constantino, foi alçado ao status de César (vice-imperador), juntamente com seus 2 irmãos (Constantino e Constant) e seu primo Dalmácio. --- Neste ano, em concílio reunido em Gangres (na Paflagônia) se admitiu uma certa tolerância à escravidão, mas não admitindo que escravos abandonem seus proprietários, alegando a doutrina cristã, sob pena de excomunhão. 325 - Em abril, em virtude de discussões acaloradas sobre o Arianismo, se reuniu um sínodo em Antióquia sob a direção de Ossius de Córdoba (confessor do imperador), condenando a heresia. ----Em 20 de maio iniciou-se o I Concílio de Niceia (na Bitínia) por convocação de Constantino I à frente de legados do papa Silvestre e 318 bispos contra a heresia ariana. Neste concílio se admitiram apenas os 4 evangelhos (os outros, considerados apócrifos) e a divindade de Jesus e estabeleceu o dogma da Santíssima Trindade e o de Cristo consubstancial ao Pai. Ário e Eusébio de Cesareia foram exilados. A Páscoa foi datada sempre no primeiro domingo após o plenilúnio da primavera. Em 19 de junho foi publicada a oração do Credo (até hoje rezada nas igrejas católicas do mundo todo nas missas). O concílio se encerrou em 25 de julho. – Neste ano: inaugurada a primeira Grande Igreja de Constantinopla, a da Sabedoria Divina.326 – O imperador Constantino mandou asfixiar sua esposa Fausta em banho de água fervente. Crise financeira abalou todo o império: fundição das Casas de Moeda foram fechadas (reabertas em 332 quando foram saqueados os bens dos templos); desvalorização de moedas; inflação e dificuldades na circulação de mercadorias e de abastecimento das cidades.327 – Ao iniciar-se este ano (alguns autores admitem que seja no começo de 328) Constantino se encontrou outra vez com Ário em Bizâncio. Em seguida, Ário e Eusébio de Cesareia pediram, por escrito, sua reintegração ao cristianismo. ---- Segundo a tradição, na Ilha de Chipre (pertencente ao Império Bizantino) acabou, milagrosamente,o flagelo da seca e da fome graças à presença da mãe do imperador Constantino, Helena, carregando um pedaço da Santa Cruz,330 - Fundação de Constantinopla (antiga Bizâncio grega), chamada de ‘a nova Roma’, em 11 de maio, pelo imperador romano Constantino, o Grande, na margem ocidental do Estreito de Bósforo, entre os Mares Negro (Ponto Euxino) e de Mármara (Propôntida) e daí para o Mar Mediterrâneo, através do Helesponto. Era, portanto, um lugar estratégico para o comércio entre Ocidente e Oriente. Ela se tornou a segunda capital do Império Romano. Suas obras continuaram até 336 e empenhou o trabalho de 40.000 godos. 330 a 518 – O Império Romano esteve sujeito a inúmeras invasões de povos ‘bárbaros’, primeiro de povos germânicos (na Europa Ocidental), depois dos eslavos (na Europa Oriental e nos Bálcas). Formaram novos Estados com a queda do Império Romano (em 476), que originaram muitos países da Europa atual. No Império Romano Oriental houve contínuas refregas com os eslavos.332 – Em 18 de fevereiro, o filho homônimo do imperador Constantino (futuro Constantino II) foi com sua armada para a planície aluvional do rio Tisza (afluente da margem esquerda do Danúbio) para auxiliar os sármatas para mover guerra contra os godos da região de Temes (atual Banat), obtendo vitória sobre eles. Simultaneamente, aliados de Constantino II (os gregos do Bósforo Cimeriano) atacaram os godos pelo lado oriental. Ariarico, novo rei dos tervingues (visigodos), por sua vez, se propôs a guarnecer as fronteiras do Baixo Danúbio. – O imperador Constantino I permaneceu quase um ano em Constantinopla (de 17 de outubro deste ano a 27 de setembro de 333).332 e 342 – O porto de Salamis (ou Salamina, hoje chamado de Famagusta), na Ilha de Chipre, importante para escala e armazenamento de mercadorias, foi destruído por um terremoto de grandes proporções.

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333 - O imperador romano oriental Constantino I se instalou em Antióquia e em Amida (atual Ntiarmpekir), esta última uma cidade fronteiriça fortificada de grande valor estratégico, o que motivou um grande descontentamento dos Sassânidas.333-334 – Em Chipre ocorreu a revolta de um simples ‘mestre dos carneiros e dos camelos’, Calocaerus (ou Kalokairos), que se outorgou o título de imperador. Constantino I mandou o censor Flávio Dalmácio para Chipre, onde prendeu Calocaerus e o mandou para Tarso (na Cilícia), aí sendo executado após seu julgamento. 334 – Em 17 de junho, as viúvas e órfãos conseguiram a proteção do Estado através de lei baixada pelo imperador. ---- Durante 1 mês e meio, de julho a agosto, o imperador esteve inspecionando seu território, passando por Singidunum (Belgrado atual), e Viminacium e Nish ou Nessus(na Mésia, atual Sérvia).---- Depois que o imperador Constantino procedeu a uma reorganização da cavalaria do exército imperial (para fazer frente à eficiente cavalaria persa) conseguiu se apoderar da Armênia neste ano.335 – Em 18 de setembro, o censor Flávio Dalmácio recebeu o título de César, atribuindo-lhe a região da Trácia, Aqueia (na Grécia) e Macedônia, até 337. ---- Em 23 de outubro, Nicópolis (à margem do Baixo Danúbio) recebeu a visita do imperador Constantino; em novembro, ele foi para Constantinopla.336 – De fevereiro a agosto, se reuniu um conciliábulo (reunião dos heréticos arianos) em Constantinopla, onde o bispo ariano Eusébio de Nicomédia conseguiu persuadir o imperador Constantino a exilar o patriarca de Alexandria, Atanásio, por sua omissão frente aos arianos e aos meletianos (que pretendiam separar a igreja egípcia deste patriarcado). O patriarca foi mandado para Tréves (na Gália). Também o bispo de Niceia, Marcelo de Ancira (atual Ancara), foi deposto e exilado por suposta ligação com outra heresia, a dos sabelianos (recuperou mais tarde seu cargo). 337 – Em 3 de abril, Constantino depois de assistir a cerimônia litúrgica da Páscoa (ressurreição de Jesus Cristo) em Constantinopla, se organizou com suas tropas para combater o Império Sassânida, cujo governante Shapur (ou Chahpur) II atacou a Armênia, prendeu e cegou o seu rei Diran. – Em 22 de maio, o imperador Constantino foi batizado na cidade de Nicomédia (perto de Constantinopla) pelo bispo ariano Eusébio, no dia de Pentecostes (celebração da descida do Espírito sobre os apóstolos). Após a cerimônia, ao meio-dia, ele morreu. Depois da campanha contra os persas, seu corpo foi levado para Constantinopla e enterrado na Igreja dos Santos Apóstolos. – De 16 de junho a 17 de agosto, a fronteira oriental do império foi invadida pelo sassânida Shapur II na Alta Mesopotâmia, cercando a fortaleza de de Nísibe, mas foi vencido e afastado daí pelo general Luciliano. Esta guerra continuou até 350 e, depois, de 359 a 363.337 a 361 - Após a morte de Constantino I em 22 de maio de 337, o Império Romano foi governado pelos filhos de Constantino (Constantino II, Constante e Constâncio), que suprimiram os seus tios e dividiram o império entre si: Constâncio II ficou com o Império Romano do Oriente; Constante, no Ocidente; Constantino II foi assassinado foi vencido e morto em Aquileia por Constante em 340 (governando com seu outro irmão até 350). 337 (continuação) – Com a morte de Constantino, eclodiram querelas sucessórias em Constantinopla, primeiro com um levante da guarda palaciana, que assassinou seus sobrinhos, Dalmácio e Hanibaliano, e seu pai (Flávio Dalmácio) e Cloro Flávio Júlio Constâncio (filho de Constâncio II e neto do imperador), atiçados pelos 3 filhos do imperador, que se proclamaram Augustos. --- Em 17 de junho, o novo imperador Constâncio II reabilitou o patriarca de Alexandria, Atanásio. Em agosto/setembro, empreendeu uma campanha militar contra os sármatas. ---- Ocorreu, em 9 de setembro, em conferência na cidade de Viminacium, a partilha do império entre Constâncio II, Constantino II e Constante. Constâncio II ficou com o Império Romano do Oriente (juntando as terras de Hanibaliano com a Trácia, Aqueia e Constantinopla até a Cirenaica, no norte da África); Constante ficou parcialmente com o Império Romano do Ocidente (Ilírico, Itália, ilhas mediterrâneas e norte da África) e Constantino II com a Gália, Bretanha (Inglaterra), a Espanha e extremo noroeste da África (mas com atribuições sobre a parte de Constante até 340, quando este o matou). Após esta conferência, Constâncio II foi para Constantinopla e daí para Antióquia, onde passou o inverno. 338 – Na primavera, Constâncio II, após passar em Cesareia da Capadócia, procedeu a uma intervenção militar na Armênia, onde restabeleceu no poder o seu rei Khosrov III. ---- Constante I esteve, em 12 de junho, em Viminacium, talvez em campanha militar contra os sármatas; em 27 de julho, estava em Sirmium.---- Em setembro foi ratificada a divisão do império entre os 3 irmãos. ---- Em 11 de outubro, Constâncio II esteve em Antióquia, 17 dias depois foi para Emeso e em 27 de dezembro retornou para Antióquia. ---- Neste ano, ocorreu o primeiro cerco, por 2 meses, de Nísibe (Antióquia Mygdonie, hoje Nusaybin, no sudeste da Península da Anatólia) pelo imperador persa Shapur II (com poderoso exército munido de máquinas de cerco e usando elefantes), não tendo sucesso diante da resistência do general romano oriental Luciliano e do bispo Jacó. 339 – Em 13 de agosto, Constâncio II determinou que seriam condenados à morte o casamento entre cristãos e judeus; bem como estes últimos procederem à circuncisão de escravos cristãos. ---- Ao morrer o rei da Armênia, o imperador sassânida a invadiu, aprisionou o seu novo rei Tigrane VII e o cegou. Houve reação da nobreza e da armada armenianas e, com o auxílio militar do novo imperador romano Constâncio II (adepto dos arianos), conseguiram vitória sobre os persas, assinando-se um tratado e se liberando o rei Tigrane VII.339 a 350 - Nestes onze anos, o imperador Shapur II tentou por 3 vezes se apoderar de Nísibe (Nusaybin, onde sediava uma escola teológica cristã e um dos locais de passagem de rotas comerciais), mas sem sucesso.340 – O imperador romano oriental Constâncio II moveu guerra contra Shapur II, invadindo seu território, no verão; em 12 de agosto atingiu Edessa, após atravessar o Eufrates; retornou à Antióquia no dia 9 de setembro. – No outono, em sínodo em Roma, o papa Júlio I condenou a heresia ariana e reconheceu a inocência do patriarca de Alexandria (Atanásio) e do bispo de Ancira (Marcelo). Chamou a atenção do clero oriental quanto à primazia papal sobre toda a cristandade, mas não teve ressonância em concílios (como os de Antióquia e Serdica) e sínodos. ---- Neste ano, em Aquileia, foi morto Constantino II em conflito com o irmão Constante I, este reinou com Constâncio II até 350. – Por volta deste ano surgiu a revolta dos ‘sem-terra’ ou ‘circoncellions’ norte-africanos (trabalhadores rurais itinerantes) que culpavam os funcionários imperiais e os proprietários rurais por sua miséria. Assim, forçaram estes últimos a libertar seus escravos e eliminar as suas dívidas. Estes trabalhadores rurais acabaram sendo adotados pelos donatistas (heresia criada por Donato na Numídia) em suas lutas. 341- Em 6 de janeiro, em Antióquia, se consagrou a catedral e se iniciou um concílio (denominado da ‘consagração’), presidindo-a o bispo Eusébio de Nicomédia; nele se estabeleceu um Credo ariano e se condenaram o patriarca Atanásio (substituído pelo bispo ariano Gregório da Capadócia) e Marcelo de Ancira. Cerca de um mês depois (em 12 de fevereiro), o imperador Constâncio II chegou à Antióquia, onde passou todo o inverno e avalizou a heresia. ~ 341 (ou 344) – O imperador sassânida Shapur II mandou executar o bispo de Selêucia-Ctesifon e os cristãos desta provínica; procedeu da mesma forma com os cristãos do Kuzestão (Beth Huzaye).342 – Em sua volta à Constantinopla, no início do ano, o imperador romano oriental Constâncio II destituiu o patriarca Paulo desta capital e o substituiu pelo bispo ariano Eusébio de Nicomédia, então seu conselheiro. A seguir, continuando a guerra contra os persas, atacou a fronteira na Alta Mesopotâmia, daí saindo o exército persa após a derrota em Singara ou Sinjar (que estava cercada por Shapur II). Retornando de sua campanha, ficou em Antióquia (onde ficou de 31 de março a 11 de maio) e voltou para sua capital, Constantinopla.343 – Em 18 de fevereiro, o imperador Constâncio II estava novamente em Antióquia; de 9 de junho a 4 de julho, fez uma estadia em Hierápolis (logo ao norte de Laodiceia, na Frígia), famosa por suas fontes de águas termais. Daí invadiu a fronteira persa e chegou em Adiabene (próximo do Eufrates) no verão; ao vencer a armada persa neste local, ele se autodenominou ‘Adiabênico’ (talvez no começo de 344). ---- Concílio de Sardica (ou Serdica, hoje Sofia, na Bulgária), convocado no outono por Constâncio II e seu irmão Constante, sob a presidência de Ossius de Córdoba, para acertar as diferenças entre os bispos arianos (que saíram deste concílio e excomungaram Ossius no Concílio de Filipópolis) e os cristãos ocidentais. Estes recolocaram o patriarca Atanásio em Alexandria e o bispo Marcelo em Ancira. Neste concílio se estabeleceram 21 cânones disciplinares. ---- – Neste ano: O imperador Sapor II se dirigiu para o norte da Mesopotâmia, onde submeteu a cerco o posto fortificado de Singara (a sudeste de Nísibe) dos romanos orientais. 344 – No verão, mais uma vez o imperador Constâncio II moveu guerra contra os persas: em abril chegou à Antióquia e daí partiu para Singara ou Sinjar (posto fortificado ao norte da Mesopotâmia, perto de Nísibe), sob cerco da armada do imperador sassânida Shapur II que se retirou após

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pesadas perdas de ambos os lados. Depois, o imperador persa assinou um tratado de paz com Constâncio II, por outro motivo também: a Transoxiana estava sendo atacada por nômades das estepes da Ásia Central.345 – O imperador, em 17 de abril, lançou as bases de construção das termas no Grande Palácio de Constantinopla.346 – Constante (que, junto com Constantino II, era adepto do cristianismo) conseguiu reverter a decisão de Constâncio II quanto ao patriarca Atanásio, reintegrando-o no cargo em Alexandria. ---- Novo ataque (o segundo) frustrado do imperador Sapor II à fortaleza de Nísibe.347 – Em 8 de março, o imperador esteve na cidade de Ancira (atual Ancara, na Turquia), onde o filósofo Temistios lhe entregou o seu primeiro panegírico na primavera.348 – Shapur II sufocou uma revolta dos Lakhmidas na Baixa Mesopotâmia.349 – O imperador Constâncio II, em 1 de abril, aportou em Antióquia passando com suas tropas, durante o verão, em Singara (ou Sinjar) e Emesa (hoje chamada de Homs, na Síria). Seu objetivo era fazer frente às tropas sassânidas na fronteira da Alta Mesopotâmia.350 – Na primavera Constâncio II estava ainda em Edessa em sua campanha militar contra Shapur (Sapor) II. O choque entre as forças adversárias ocorreu em Nisibe (que estava cercada pela terceira vez pelos persas) no verão. Como o Império Persa estava sendo ameaçado pelos Hunos Brancos (ou Chionitas-Heftalitas, ramo ocidental dos hunos da Bactriana, um dos povos nômades das estepes asiáticas), Shapur II acabou, oportunisticamente, assinando um armistício com os romanos orientais. Por outro lado, o imperador persa assinou com o líder huno, Grumbates, um armistício, em que houve concessões de terras persas para os hunos e, por outro lado, estes forneceram tropas para a guerra contra os romanos orientais. ---- Neste ano: Cirilo, grande intelectual (considerado um dos doutores da Igreja Católica) foi nomeado bispo de Jerusalém. ---- Os persas recuperaram a Armênia (dos romanos orientais), prendeu e cegou o seu rei, Tigrane VII, substituindo-o pelo filho Arsácio II.351 – Em 15 de março, Constâncio II designou Constâncio Galo como César, em Sirmium. Logo depois foi mandado para Antióquia, como governador do Oriente, para supervisionar a fronteira persa e combater os montanheses Isaurianos, enquanto o imperador tomava iniciativas contra o Magnêncio. --- Em julho, mesmo caindo em emboscada feita por Magnêncio em Adrana, conseguir ir para Cibalae (hoje, Vinkovci, na Croácia); enquanto isto Magnêncio se apoderava de Siscia. ---- Na Panônia ocorreu o conflito mais sangrento do século IV: a Batalha de Mursa (hoje chamada de Osijek, na Croácia), em 28 de setembro, entre o imperador Constâncio II e o usurpador Flávio Magno Magnêncio (que estava cercando Mursa), com perdas irreparáveis para os dois antagonistas (morreram cerca de 50.000 soldados). Magnêncio (traído por Cláudio Silvano pouco antes da batalha) conseguiu se evadir para Aquileia (em 352) mas foi perseguido por Constâncio II. 352 – Depois que Constâncio II atravessou a Cadeia dos Alpes (extremo norte da Itália) derrotou aliados de Magnêncio em Ticino (às margens do rio Pó, no norte da Itália; Magnêncio fugiu. ---- Em Sirmium, o imperador Constâncio II ficou de 26 de fevereiro a 12 de maio e convocou um concílio durante o outono; nele se publicou a chamada ‘primeira fórmula de Sirmium’ pelo qual se omitia a consubstancialidade do Filho (Jesus Cristo) como se estabelecera no Concílio de Niceia. O bispo Fotin foi deposto e exilado. – Em 26 de setembro,Constâncio II (então imperador único de Roma e Constantinopla) nomeou prefeito de Roma a Naerácio Cerealis. – Em Milão, em 3 de novembro, anulou toda a matéria legislativa decretada pelo usurpador Magnêncio. Ele prolongou sua estadia nesta cidade ao norte da Itália até 3 de julho de 353 – Neste ano houve uma rebelião dos judeus na Galiléia destruindo as cidades de Diópolis, Tiberíades e Diocesaréia. Constâncio Galo mandou o o general de cavalaria Ursicino para sufocá-la, matando milhares deles (inclusive crianças). 353 – Durante o verão, o César Constâncio Galo esteve em Antióquia, já que os Isaurianos estavam revoltados com o aprisionamento de alguns deles (para se tornarem gladiadores) e saqueavam navios em escala no litoral da Panfília (no sul da Anatólia) e impediam o acesso à Selêucia de Isauria (atual Silifke na Turquia). Simultaneamente os persas pressionavam a fronteira na Alta Mesopotâmia, bem como os sarracenos (árabes antigos) promoviam incursões e saques na região. ---- Em julho, o imperador Constâncio II, após atravessar os Alpes (em Montgenèvre) encontrou Magnêncio no Monte Seleuco (na Gália, hoje perto de La Bâtie-Montsaléon) derrotando-o em 11 de agosto na Batalha do Monte Seleuco; este último fugiu e se suicidou em Lugdunun (hoje, Lyon, no rio Ródano, na Gália), em agosto. A partir daí, Constâncio II se tornou o único governante do Império Romano. Em 6 de setembro, o imperador esteve em Lugdunum, de onde mandou emissários aos locais dominados por Magnêncio, com o objetivo de firmar sua autoridade ; entre eles o cruel Paulo, chamado ‘a Corrente’ (porque arrastava seus inimigos pelas ruas com correntes de ferro) na Bretanha. Constâncio II estava em Arles (no vale do Ródano, na Gália), onde recebeu legados do papa Libério, solicitando a convocação de um concílio para regulamentar a divisão da Igreja Católica. Constâncio II reuniu um sínodo nesta cidade, mas com bispos arianos, que destituíram o patriarca Atanásio do patriarcado de Alexandria. Foram censuradas as determinações deste sínodo, mas o bispo de Tréves, Paulino, amigo do patriarca, não concordou com esta censura e foi mandado em exílio para a Anatólia. ---- Neste mês de setembro, chegaram em Constantinopla notícias de preparativos de invasão da Mesopotâmia pelo general persa Nohadares. – No outono, em face da falta de víveres e consequente fome em Antióquia, o César Constâncio Galo determinou a diminuição da carga fiscal dos produtos básicos de alimentação (como o trigo) ; a esta determinação se opuseram os magistrados locais. Constâncio Galo mandou matar os chefes dos magistrados e prendeu os administradores públicos municipais, em novembro/dezembro. Foram salvos de condenação à morte por ação de Honorato, conde do Oriente.354 – Em março, Constâncio Galo saiu de Antióquia em direção à Hierápolis. Deixou em seu lugar, como governador da Síria, Teófilo que não pode debelar a crise reinante na cidade e morreu durante uma rebelião popular. Após esta sua saída de Hierápolis, Constâncio Galo foi levado para Flanone, na Dalmácia, onde foi executado por ordem de Constâncio II. ---- Na primavera, tropas comandadas pelo conde do Oriente, Nebrídio, foram para a região montanhosa de Isáuria para levantar o cerco da cidade de Selêucia de Isáuria. – Em 1 de dezembro, o imperador ordenou ao prefeito do pretório de Constantinopla, através de edito, que se fechassem todos os templos pagãos e se condenassem à morte os idólatras. – Um conjunto de ilustrações e textos (o ‘cronógrafo’) deste ano, mostrava a data de 25 de dezembro como do nascimento de Cristo, substituindo a festa tradicional, mas pagã, do Sol Invicto (de Mitra, de origem persa).355 – Em 11 de agosto, o general romano da Gália, Silvano (que tinha sido acusado de pretenso golpe contra seu chefe, o imperador Constâncio I, em 351) foi proclamado imperador por suas tropas em Colônia (na Germânia); menos de um mês depois (em 7 de setembro) acabou sendo morto por gente ligada ao imperador. A partir daí, Constâncio II adotou procedimentos típicos de imperadores ‘bizantinos’: despotismo ideologicamente ligado ao poder divino; cercou-se de eunucos na corte (no consistório e no conselho do príncipe, sob a direção do chanceler Eusébio) e os subordinados deveriam ficar em pé diante dele. – No verão, durante o segundo concílio efetuado em Milão, onde estava o imperador Constâncio II, seu secretário, Diógenes veio com a ordem de prisão do patriarca Atanásio de Alexandria, que não conseguiu em face da proteção de seus adeptos. Foi ordenada sua prisão, bem como o exílio de todos os bispos que seguiam a ortodoxia católica (como o bispo Hilário de Poitiers e até o papa Libério, mandado para Beroia, na Macedônia). - Neste ano: O imperador nomeou seu último parente vivo, Juliano, para o Oriente, conferindo-lhe o título de César e de comandante da armada.355-356 – O imperador sassânida Shapur II realizou incursão militar sobre a Armênia (aliada dos romanos sob o reinado de Arsácio III) e a Mesopotâmia. Seu irmão, Hormizd, se exilou junto ao imperador Constâncio II (acompanhando-o em sua visita à Roma em 357).356 – Musoniano, prefeito do pretório romano, foi enviado a Ctesifon para negociar um tratado de paz com o imperador Shapur II, mas este não se mostrou interessado.357 – Em 25 de janeiro, o imperador romano ameaçou, por edito, com a pena de decapitação a todos os astrólogos, adivinhos e harúspices existentes no império. – Em 24 de fevereiro entrou em Alexandria, sob escolta armada romana, o novo patriarca Jorge, nomeado por Constâncio II. ---- Neste ano, o imperador chamou Ursicino em Sirmium, antes de mandá-lo em missão de guerra contra os persas; este general fez de Nísibe seu quartel-general.357-359 – Constâncio II atacou os Sármatas (ancestrais dos sérvios) e os Sassânidas da Pérsia.357 a 379 – Constâncio II impôs as 3 vertentes do Arianismo: a mais radical, o anomeismo; a moderada, o homeusianismo (o Filho é igual ao Pai) e o homeismo (igualdade entre ambos, mas não comparando sua substância).358 – Em 25 de fevereiro, chegou em Constantinopla uma legação diplomática persa, tendo à frente Narsés, para reivindicar a posse da Mesopotâmia

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e da Armênia aos romanos. Em 10 de março, esta embaixada persa estava em Sirmium, onde se encontraram com o imperador Constâncio II para negociar aquela proposta; 10 dias depois, o imperador romano entregou a resposta. Em 25 de março foi a vez do imperador romano enviar sua embaixada com o tribuno Spectatus, o filósofo Eustáquio e conde Próspero, que retornou 7 meses depois (em 24 de agosto) sem nenhum resultado concreto. Na carta de negociação enviada pelo imperador Shapur II ele se intitulava pomposamente como ‘rei dos reis, companheiro das estrelas, irmão do Sol e da Lua’; o imperador romano mandou em sua carta para o imperador persa o título de ‘vencedor por terra e por mar, sempre Augusto...’.359 – Na primavera, o imperador Constâncio II iniciou a guerra contra os Sármatas na província de Valéria (região da Panônia em torno de Sopiane). Primeiro venceu os Limigantes (sármatas do leste do Danúbio) nas proximidades de Acimincum; em 22 de maio estava em Sirmium. Aí se apresentou a chamada ‘quarta fórmula de Sirmium’, baseado na tendência teológica do arianismo chamada de subordianista e redigido por Marco de Aretusa. – De 25 de julho a 6 de outubro, enquanto o imperador romano Constâncio II estava no Danúbio, Sapor II, rompendo o tratado de Nísibe foi para a Armênia, aliciou sua nobreza (com potes de vinho) e generais (como Vahan Mamiconiano e Meruzhan) e a reconquistou. Em seguida, Sapor II (com reforço militar do rei huno Grumbates) foi para a Síria, onde cercou Amida (ou Diyarbakir, no alto vale do Tigre, no Curdistão atual), conquistando-a após feroz resistência por 73 dias desta cidade. Em 6 de outubro. A cidade foi pilhada e seus habitantes deportados em retaliação à morte de Grumbates durante o evento. ---- Se reuniram os concílios de Rimini (no ocidente, no verão) e Selêucia de Isáuria (no Oriente, em setembro). O primeiro rejeitou a ‘quarta fórmula de Sirmium’; o segundo determinou o ‘homeismo’ como o parâmetro religioso para o clero recalcitrante, ainda apegado à ortodoxia. No concílio de Selêucia de Isáuria, se reuniram 150 bispos orientais, contando com o governador Bassídio Laurício mantendo a ordem contra os bandidos isaurianos. Em 31 de dezembro, o imperador determinou que todos os bispos tinham que se submeter ao credo pro-ariano.360 – Em janeiro, um sínodo de 50 bispos em Constantinopla aceitou as determinações teológicas do Concílio de Selêucia de Isáuria. No dia 27 deste mês, foi escolhido como patriarca Eudóxio nesta capital. – Em fevereiro estourou a revolta do César Juliano, na Gália, contra o seu primo Constâncio II, encontrando eco entre os que consideravam-no um autocrata política e religiosamente. – Em março, o imperador Constâncio II deixou Constantinopla em direção à Cesareia de Capadócia, onde recebeu a notícia da revolta de Juliano. Daí ele marchou para Edessa, onde chegou em 21 de setembro e daí visitou Amida, observando sua destruição feita pelos persas. A seguir, cercou, sem sucesso, Bezabde (às margens do alto vale do Tigre). Os persas, tendo à frente Sapor II, se apoderaram e destruíram, por sua vez, a fortaleza bizantina de Singara e tomaram Bezabde. O exército romano aí chegou, cercando esta cidade, tentando submeter os persas pela fome, mas acabou desistindo do cerco no começo do inverno, visto que seria difícil de se abastecer. ---- Em 30 de junho, Constâncio II atendeu a um apelo efetuado durante o Concílio de Rimini quanto às isenções tributárias gozadas pelo clero, exonerando-se o imposto predial dos bens da Igreja, mas não do clero. 361 – Em 3 de novembro, em Mopsueste (na Cilícia, junto ao Monte Tauro), febril, morreu Constâncio II em 3 de novembro, quando se organizava para enfrentar Juliano, o Apóstata. Este último, depois de passar por Nish (Nassus), Filipópolis e Heracleia entrou em Constantinopla. – Ao morrer Constâncio II, deixou uma esposa grávida, Faustina, que deu à luz a filha póstuma Flávia Máxima Constância, que se casou com o imperador romano ocidental Graciano. 361 (11 de dezembro) a 363 – Governo do Imperador Juliano, o Apóstata, sobrinho de Constantino I. Após sua coroação perseguiu os funcionários corruptos e os mandou para julgamento na Calcedônia. É chamado de apóstata porque se fez de cristão e depois, como imperador, tentou restaurar o paganismo, sem conseguí-lo, no entanto.362 – Foram nomeados, em 1 de janeiro, como cônsules romanos, Flávio Nevitta e Cláudio Mamertino. Este último, na cúria senatorial de Constantinopla, proferiu o panegírico do imperador, neste dia. ---- O imperador Juliano, em 4 de fevereiro, estabeleceu que todas as religiões deveriam ser toleradas e acabou com o exílio imposto aos donatistas, devolvendo-lhes seus lugares de culto. Ainda nesse mês ele recebeu uma legação diplomática vinda de Sarandib (Ceilão, hoje Sri Lamka), – Em Alexandria, no dia 21 de fevereiro, foi massacrado o patriarca Jorge de Capadócia, retornando ao cargo Atanásio. Na primavera, o patriarca reuniu o Sínodo de Alexandria (dos ‘Confessores’) procurando harmonizar os niceanos quanto às suas idéias sobre a Santíssima Trindade (Pai, Filho e Espírito Santo).---- Aos 31 de março, Constantinopla foi abalada por um sismo. ----Em 10 de junho: saída de Juliano de Constantinopla, em direção à Pérsia para a guerra contra o Império Persa, tendo ao seu lado o príncipe persa Hormizd e, no caminho (em Carrae, em meados de março de 363), o rei Arsace (ou Archak) III da Armênia. --- Em 17 de junho, o imperador determinou, através de edito, a interdição do ensino de gramática e da retórica aos cristãos. – Em 19 de julho, o imperador estava em Antióquia promovendo a conscrição militar para a campanha contra os Sassânidas. Nas proximidades desta cidade, em Dafné, foi queimado o Templo de Apolo, em 22 deste mês. Em outubro, ainda em Antióquia, o imperador aplicou uma tarifa sobre os gêneros alimentares de primeira necessidade (como o trigo, azeite) em vista de especulação pela má colheita anterior, bem como pela maior demanda pelo número de soldados na cidade, colocando em perigo o abastecimento da população. O imperador, acusando os comerciantes de reter mercadorias, mandou importar grãos de Calcis, de Hierápolis e do Egito. Os atacadistas, sorrateiramente, compraram os grãos subsidiados para vendê-los fora da cidade, entrando em conflito com o imperador que os ameaçou de prisão.---- Em 24 de outubro, o imperador determinou a exoneração e expulsão de Atanásio do patriarcado de Alexandria. ---- Em 2 de dezembro, a cidade de Nicomédia foi sacudida por um terremoto. 363 – Em 5 de março, imperador romano Juliano, o Apóstata, tomou à frente pessoalmente a guerra contra os persas, partindo de Antióquia. Quase um mês depois (em 4 de abril) estava invadindo aquele império; em 17 de abril travou a batalha de Thilutha (junto ao rio Eufrates); de 27 a 29 de abril, cercou e arrasou a cidade de Pirisabora (hoje chamada de Anbar, no centro do Iraque), no canal do Eufrates que ia para Ctesifon no rio Tigre; de 10 a 13 de maio, foi cercada e destruída a praça forte de Mahogamalcha (ou Maiozamalcha, no canal Eufrates-Tigre). De 26 a 29 de maio, avançou até a capital persa, Selêucia-Ctesifon (ou Nova Selêucia, fundada por Ardachir, no mesmo local de uma antiga criada em 165 pelo romano Avídio Cássio) por caminhos diferentes (Juliano seguindo o rio Eufrates, enquanto o rei armênio Arsácio II ia pelo norte da Mesopotâmia). Em 16 de junho, depois que atravessaram o rio Tigre, nesta capital ocorreu a Batalha de Ctesifon. A frota de abastecimento dos romanos orientais foi queimada pelos persas, obrigando-os a se dirigir para o norte em direção a Gordyena, sofrendo vários ataques em táticas de guerrilha da armada conduzida por Shapur II. Em 22 de junho, na Batalha de Maranga Tal (perto de Samarra, no rio Tigre) ocorreu o confronto com os persas comandados por Merena (um dos irmãos de Shapur); 4 dias depois, se deu o confronto final na Batalha de Samarra, em que Juliano foi ferido e morreu valentemente durante a batalha; seus soldados deixaram o campo de batalha. ---- Em 19 de maio, a Palestina foi abalada por um terremoto, que destruiu a cidade de Petra.363 (27 de junho) a 364 (17 de fevereiro) – Curto reinado de Joviano. 363 ( continuação) – O imperador romano Joviano (em julho de 363) assinou um tratado desonroso de paz por 30 anos, em Dara, com o imperador Chahpuhr II (Sapor II), este ficando com o território ocidental da Alta Mesopotâmia (Nísibe, Castra Maurorum e Singara) e a suserania sobre a Armênia, Ibéria e Geórgia, além de pagamento de tributo anual. A cidade romana de Amida recolheu os habitantes de Nísibe. O imperador persa pode, assim, guarnecer as defesas das ‘Portas Caucasianas’ com a construção de fortalezas e se proteger de ‘bárbaros’ do norte. – Em 27 de setembro, o novo imperador passou por Edessa e depois foi para Antióquia, em dezembro, daí foi para Tyana. 364 – Joviano iniciou seu governo em Ancira, em 1 de janeiro. Recebeu notícias de que Luciliano, seu enviado à Gália, foi morto durante uma rebelião militar. Ao chegar em Aspunes (Galácia) recebeu emissários de Jovino, a quem delegou o cargo de mestre de cavalaria na Gália. Na noite de 16 para 17 de fevereiro morreu acidentalmente (ou foi morto) em Dadastana (ou Tyana, segundo alguns autores), na Bitínia. O trono foi oferecido pelo alto escalão hierárquico da armada, em reunião em Niceia (capital da Bitínia) ao prefeito do pretório Salústio, amigo do falecido, que rejeitou a oferta. Foi então oferecido o cargo para o oficial panoniano Valentiniano, que associou o governo com o irmão Valente em 26 de fevereiro. – Em 1 de março, Valente recebeu o cargo de tribuno das estrebarias em Nicomédia. 27 dias depois foi proclamado imperador associado (co-imperador ou ‘Augustus’) a Valentiniano junto aos muros de Constantinopla (em Hebdomon, hoje Bakirkoy). --- Os filósofos Prisco e Máximo de Éfeso foram presos por serem amigos do falecido imperador Juliano; Prisco foi libertado pouco depois, o mesmo não acontecendo a Máximo de Éfeso por não poder pagar uma multa. – Em 13 de maio, Valentiniano I e Valente decretaram em Andrinopla (no caminho de Constantinopla para Nish) um edito ratificando o princípio da hereditariedade do cargo imperial; este edito foi mandado ao prefeito de pretório

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Mamertino. Em junho/julho passaram por Nish, depois Sirmium; aí partilharam o poder e se separam em agosto, ficando Valente com o Oriente (voltando, então, a Constantinopla, em 26 de dezembro) e Valentiniano I com o Ocidente (chegando a Milão entre 15 de outubro e 25 de novembro).365 – O fugaz imperador Valente determinou a exoneração e expulsão de Atanásio do bispado de Alexandria; este, em vez disso, se retirou para os arredores deste porto. ---- Em 21 de julho, um maremoto no Mediterrâneo provocou um tsunami que devastou a Ilha de Creta e arruinou o porto de Alexandra; o litoral da Itália, Grécia e Palestina sofreram seus efeitos. ---- Em 30 de julho, o imperador Valente saiu de Constantinopla em direção à Cesareia de Capadócia. Enquanto ele estava aí, Procópio (que foi comandante de parte de tropas de Juliano em campanha na Pérsia em 363) usurpou o trono em 28 de setembro, sendo apoiado pelos seus soldados e subornando 2 legiões chegando em Constantinopla. 365 (28 de setembro) a 366 (27 de maio) – Governo do Império Romano do Oriente pelo usurpador Procópio (que fora notário, tribuno e conde).365 (continuação) – O imperador-usurpador passou a controlar as províncias da Bitínia, da Trácia e da Panônia. ---- Em 2 de novembro, Valente ainda estava em Cesareia da Capadócia. Ao saber da usurpação, se dirigiu à província da Galácia e não teve êxito em tomar Calcedônia (na Bitínia), enquanto Procópio se apoderava de Niceia. Em 1 de dezembro, no entanto, ele entrou em Calcedônia, mas deixou o restante da província de Bitínia controlada por Procópio e se retirou para Ancira (atual Ancara). Quando já desanimava e estava para abdicar, recebeu reforços dos generais Arinteus e Lupicínio, mas perdeu Cízica (que estava sendo defendida por Sereniano).366 – Em 1 de fevereiro, Atanásio retornou ao bispado de Alexandria (após os 5 exílios anteriores, mas agora de modo definitivo). --- Valente, para reconquistar o trono, negociou com os generais de Procópio e conseguiu sua adesão. Em 4 de abril ocorreu a Batalha de Thyatira, na Lícia entre suas tropas e as do usurpador Procópio, prosseguindo na Batalha de Nacoleia, na Galácia, em 27 de maio. Procópio fugiu do campo de batalha, mas foi traído por dois de seus seguidores, sendo preso e decapitado. 366 (27 de maio) a 378) – Valente, irmão de Valentiniano I (imperador do Ocidente) foi o o governante do Império Romano do Oriente sem interrupção neste período.367 – De 10 a 30 de maio, o imperador Valente esteve em Marcianópolis, na Mésia, com o intuito de iniciar sua primeira investida militar contra os godos. Daí atravessou o Danúbio e se alojou na fortaleza de Dafnê, na confluência do rio Arges com o Danúbio e marchou no encontro do godo Atanarico. Por causa de enchente do Danúbio foi para Durostorum (Silistra, no baixo Danúbio), mas em 25 de setembro voltou para sua base de operações em Marcianópolis. ---- Em junho, o imperador romano ocidental Valentiniano teve que pedir para o general Teodósio, de origem espanhola, para fazer frente às incursões de bárbaros na fronteira nordeste, já que outros comandantes foram impotentes para conseguí-lo. – Em julho, Constantinopla sofreu uma violenta chuva de granizo. – No inverno, o bispo ariano de Cízica, Eunômio, foi deposto e exilado para a Mauritânia (no norte da África) por Auxônio (prefeito do pretório) por ter recebido Procópio durante sua fuga. --- Em pleno inverno, a Armênia foi invadida por Shapur II, queimando cidades, prendendo o rei Arsácio II (aliado dos romanos orientais) e colocando no poder os desertores e títeres Cilácio e Arrabânio, que receberam ordens de tomar a fortaleza de Artogerassa (onde estava a rainha P’aranjem, viúva de Arsácio). Ele tentou introduzir na Armênia o zoroastrismo, mas não conseguiu. ---- Neste ano, o imperador Valente concedeu ao filho Graciano (com apenas 8 anos de idade) o título de Augusto. 367-368 - Durante o inverno entre um ano e outro, os reis armênios títeres dos persas, Cilácio e Arrabânio, cercaram a fortaleza de Artogerassa, onde tinha se refugiada a rainha P’aranjem. Em face do mau tempo, a rainha conseguiu derrotá-los, enquanto seu filho Pap se refugiu no Império Romano do Oriente. Lá se encontrou de novo com o imperador Valente em Marcianópolis antes de 28 de março de 368. O imperador mandou alojar o príncipe em NeoCesareia (Adrianópolis).367 a 369 – I Guerra Gótica368 – O imperador Valente, de 9 a 28 de março, de retorno à Marcianópolis, recebeu a visita do príncipe Pap para retomar seu trono na Armênia aos persas. Procedeu à construção de fortaleza durante a primavera.---- Em 11 de outubro, um sismo abalou a cidade de Niceia, na Bitínia. ---- Musônio, vigário da Ásia (constituída pela Lídia, Cária, Frígia e Troade) interferiu contra os Isaurianos que tinham feito incursões e saques na Panfília e Cilícia. Como resultado foi preso por eles e retalhado em pedaços. 369 – Na primavera, Pap (ao conseguir a ajuda militar de Valente com a cessão de tropas, comandadas pelo general Terêncio) retornou à Armênia para retomar o seu trono. –--- Entre os dias 3 e 5 de julho, o imperador esteve em Noviodunum (ou Isaccea, em Dobruja, no baixo vale do Danúbio), atravessou o rio numa ponte de barcos e combateu, na Batalha de Noviodunun, os godos tervingues (futuros visigodos) e greutengues (mais tarde chamados de ostrogodos). Diante do ataque o tervingue Atanarico se evadiu. Em setembro foi assinado um acordo no médio Danúbio pelo qual os godos prometeram não mais invadir território romano. Noviodunum passou a fazer parte do Império Romano do Oriente. – No verão, o imperador sassânida Shapur II, sabendo da vinda de Pap, mandou uma armada atacar atacar a Armênia. Pap se escondeu em Lazica (Cólquida), próximo da fronteira romana oriental durante 5 meses. Enquanto isto, o general Terêncio conseguiu recuperar o trono da Ibéria do Cáucaso a Sormag (Soromaces) II, embora o rei títere dos persas Mirdat (Aspacures) III mantivesse a posse da região oriental do reino. No inverno, as tropas persas, por sua vez, cercaram a fortaleza de Artogerassa (onde estava a rainha Paranjem, viúva do rei Arsácio II da Armênia). ---- No outono, Valente entrou novamente em Marcianópolis. Entendimentos foram feitos entre o rei tervingue Atanarico e os generais Arinteus e Vítor. 370 – Até o final do inverno, a fortaleza de Artogerassa foi tomada pela armada do imperador persa Shapur II, sendo violada e assassinada a rainha Parandzem e seu tesouro saqueado. O imperador persa iniciou uma perseguição cruel a todos os cristãos armênios, bem como aos da Pérsia. Em face disto, o imperador Valente mandou o general Arinteus invadir a Armênia, em março. – Em fevereiro ou março, o imperador Valente, após os entendimentos anteriores de seus generais, assinou sobre um barco no Danúbio um acordo de paz com o rei tervingue Atanarico; logo depois retornou à sua capital. Aí chegando em 9 de abril, participou da liturgia de consagração da Igreja dos Santos Apóstolos. Ainda neste mês soube da morte do patriarca Eudóxio em Nicomédia, fazendo com que houvesse uma disputa entre os bispos arianos (nomeando Demófilo de Bereia) e ortodoxos (nomeando Evagro); o imperador interveio mandando exilar estes últimos. --- Em 30 de abril, o imperador chegou à Antióquia, daí partindo para Hierápolis (com suas águas termais). Nesta época, o imperador Shapur II estava em sua capital, Ctésifon, e estava preocupado com a aglomeração de soldados romanos em sua fronteira ocidental, enquanto na oriental sofria ataques dos kuchanos. ---- Em junho (ou setembro) deflagrou-se a ação do novo bispo de Cesareia, Basílio, contra o arianismo do imperador Valente. ---- No verão, o imperador recebeu uma legação diplomática de Shapur II reclamando da intervenção de suas tropas na Armênia, não tendo nenhum sucesso neste pleito. – Em 30 de outubro, o imperador Valente retornara à Constantinopla, aí chegando em janeiro/371. ---- Neste ano: Os imperadores romanos Valentiniano (do ocidente) e Valente (do Oriente) determinaram a interdição de compra de óleo de oliva e de vinho procedentes de regiões sob controle dos bárbaros. ---- O líder tervínguio Atanarico tomou uma posição defensiva no baixo vale do Dniester (na atual Romênia). ---- O patriarcado de Constantinopla esteve sob a disputa entre Demófilo e Eváglio, saindo vitorioso o primeiro.371 – Na primavera, o Reino da Armênia sofreu a invasão das forças do sassânida Shapur II. Reagindo, o imperador Valente mandou forças sob o comando dos generais Trajano e Vadomário; que se enfrentaram com os persas na Batalha de Bagavan (perto das nascentes do rio Arsanias), cuja vitória coube aos generais romanos; após alguns combates, retornaram ao império romano Corduena e Arzanena (perdidas em 363). – Em junho, Valente saiu de Constantinopla em direção à Cízica; em julho, chegou a Ancira, onde passou o verão se organizando para a guerra contra os persas; no final do verão foi acertada uma trégua entre eles, mas sem plena concordância de ambas as partes. Em 10 de novembro, mais uma vez, o imperador Valente estava em Antióquia, onde continuaram as negociações diplomáticas com os persas, culminando na assinatura de acordo de paz por sete anos. – Neste ano, o rei armênio Pap mandou envenenar o patriarca (‘catholicos’) Nersés, que era muito ligado aos romanos orientais. 371-372 – Tramou-se um golpe de Estado contra o imperador Valente: o notário Teodoro foi preso e condenado por crime de lesa-majestade, sendo executado com outros protagonistas deste complô.371-377 – Novos conflitos entre os persas e os romanos orientais pela partilha da Armênia. Nesta época, o imperador Châhpûhr (ou Sapor) II se preocupava, simultaneamente, com o Império dos Kuchan na fronteira leste (que sobreviveu até o fim do reinado de Kipunada, em 375) e a presença

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de forças romanas orientais na Armênia, depois que o rei Pap (que retornara de Lazica) mandou matar o patriarca (‘catholicos’) Narsés, que organizara a igreja católica local e mantinha boas relações com Constantinopla. O irmão do imperador romano Valentiniano I (Valente, que era o encarregado do Oriente desde 364) revidou este assassinato: matou Pap durante uma festa (375). Em 375, o imperador persa propôs a Valente a retirada de ambos da Armênia; houve a recusa parcial de Valente, que enviou uma missão diplomática (com Urbício da Mesopotâmia e Vitor Magistriano) para negociações. Como o Império Romano do Oriente estava sendo invadido pelos godos (em 376, pressionados pelos Hunos provenientes da Mongólia) na Trácia, Valente negociou um tratado para deter a invasão dos godos e se retirou da Armênia.372 – Em 4 de abril, o imperador chegava à Selêucia de Piéria (na foz do rio Orontes, importante como porto de Antióquia); 9 dias depois chegava à Antióquia (onde iria festejar os 10 anos de seu reinado no próximo ano). ---- O bispo Basílio de Cesareia convocou, em 13 de abril, um concílio em Capadócia , que se reuniu em junho, para discutir a divisão da província pelo imperador. O bispo de Tyane, Antímio, se outorgou o ‘status’ de metropolita; a questão foi solucionada mediante o aumento do número de bispados. Basílio de Cesareia, um pouco antes, nomeou como bispo de Sasimes a Gregório de Nazianza, mas este não ocupou o cargo. 372/373 – O general Teodósio esteve empenhado em guerra contra os sármatas no Danúbio.373 – Em Constantinopla, o imperador inaugurou um aqueduto de 971 metros para o abastecimento da cidade, batizando-o com o seu nome (restaurado pelos turcos otomanos e ainda existente em Istambul) ---- Em agosto, novamente o imperador Valente esteve nas termas de Hierápolis; durante o verão esteve em Edessa. Ao se converter ao arianismo, passou a perseguir os cristãos ortodoxos. ---- O rei armênio Pap (da Dinastia dos Arsácidas), ao mandar matar o patriarca Narsés e nomear um desconhecido (Husik), despertou a repulsa do patriarca de Cesareia (Basílio, que proibiu Husik de consagrar bispos na Armênia) e a inimizade do clero e da nobreza, sendo acusado de cumplicidade com os Sassânidas; daí foi exilado na Cilícia e executado pelos romanos orientais. ---- Em face disso, o imperador sassânida Shapur II declarou guerra ao Império Romano Oriental; para fazer frente à esta situação, o imperador Valente fez de Antióquia a base de operações de guerra contra a Pérsia. 374 – Neste ano, os hunos chefiados por Balamin (ou Balamber) atravessaram o Baixo Vale do Don, cujas estepes eram povoadas pelos alanos, forçando-os a migrarem para oeste, se juntando com os godos nos Bálcãs e, mais tarde, aos vândalos (que chegaram até a Cartago, no norte da África). – O imperador Valente convocou o rei armênio Pap para comparecer a Tarso (cidade da Cilícia). Pap não foi para Tarso, mas para um festim no campo de Khou (na província armênia de Bagrevand), onde foi assassinado. Foi sucedido por Vasazdad (ou Varazdat), tendo a regência de Musheg Mamiconiano (esta família era simpatizante dos romanos).375 – O imperador Valente, estando na Alta Mesopotâmia após a morte do rei Pap da Armênia, recebeu uma embaixada do imperador sassânida Shapur II, que lhe propôs a saída da Armênia ou da região do Cáucaso (Geórgia e Ibéria); obviamente não aceita pelo romano, que, ainda, lhe mandou um ultimato para que retirasse da Armênia o governo militar do ‘marzbân’ (guardião persa encarregado da defesa local). – Neste ano, no lado ocidental do Império Romano, Valentiniano I, combateu os Quades (germanos) e Sármatas no verão. Em novembro, morreu em ataque apoplético contra seus embaixadores. Iniciou-se, então, o governo de Graciano e Valentiniano II (até 392). 375-376 – No inverno entre um ano e outro, o imperador Shapur II mandou uma segunda legação diplomática ao imperador Valente propondo o que foi tratado no acordo de 363. Como resposta, Valente planejou mais uma invasão ao Império Sassânida.376 – Em 30 de maio o imperador Valente estavam em Antióquia; por volta de junho, enviou emissários (o mestre de cavalaria Vítor e o duque de Mesopotâmia, Urbício) ao imperador Shapur II para que se retirasse da região entre Masius e os Montes Taurus, que era um obstáculo para contatar as tropas romanas da Geórgia (no Cáucaso). ---- No outono, acossados pelos hunos, os visigodos ( ou ‘thervingis’, comandados por Fritigern) se estabeleceram na Mésia, ao sul do baixo vale do Danúbio, como federados com autorização do imperador (poderia assim recrutá-los na guerra contra os persas). 376 a 382 – II Guerra Gótica.377 - A venalidade dos funcionários imperiais nesta instalação dos visigodos na Mésia resultou em descontentamento e revolta dos visigodos em Marcianópolis (na Mésia Inferior, hoje chamada de Devnya, na Bulgária), no início do ano. Ao saber destas ocorrências em Antióquia, o imperador Valente, no início do ano, enviou o seu mestre de cavalaria, Vitor, para negociar a paz com o imperador Shapur II; podendo, assim, deslocar tropas para a Mésia. No final do verão, as tropas romanas orientais sob a chefia de Trajano e Profuturus, receberam reforços romanos ocidentais do conde Richomeres (mandados por Graciano), defrontando-se com os visigodos na Batalha de Salices (perto de Saules, no delta do Danúbio), também chamada de Batalha dos Salgueiros, com resultados indecisos já que houve severas perdas de ambos os lados. O imperador Valente mandou, então, o mestre de cavalaria Saturnino, que não teve sucesso, visto que os visigodos receberam reforços dos alanos e hunos (que passaram o Danúbio). As tropas romanas recuaram para Marcianópolis, enquanto os bárbaros saquearam a Trácia durante o outono. Mesmo sendo atacados por tropas de elite, a infantaria comandada pelo tribuno Bazimeres foi destroçada em Dibaltum. 378 – Os visigodos, empurrados nas planícies da Ucrânia, forçaram a passagem do Baixo Danúbio. Assim, o imperador Valente (não esperando a ajuda pedida ao seu sobrinho) saiu de Antióquia para combatê-los. Em 30 de maio estava de volta à Constantinopla, onde atribuiu ao general Sebastião a reorganização das forças romanas na Trácia. Em 11 de junho chegara à cidade de Niké, próxima de Andrinopla, sua base de operações contra os visigodos. Aí encontrou de novo Richomeres (das tropas ocidentais) e soube que os visigodos saíram da região de Rodope carregados de butim e e estavam indo para Andrinopla. Não esperou a vinda de Graciano para engrossar suas tropas e não quis negociar com o chefe visigodo Fritigern (que se juntara a outros godos e hunos que estavam entrincheirados nas proximidades de Beroe e Nicópolis). Em 8 de agosto, este chefe mandou uma carta para Valente negociando a cessão da Trácia e seus víveres (gado e colheita), mas sua proposta foi rejeitada. Em 9 de agosto, as tropas imperiais chefiadas pelo imperador e os generais Richomeres, Saturnino, Trajano, Sebastião e Vitor foram massacradas na III Batalha de Andrinopla (as outras duas anteriores ocorreram em 313 e 324). O imperador morreu (por uma flechada ou queimado numa casa de um camponês, perto do campo de batalha). Esta batalha é considerada como o marco inicial das Grandes Invasões pela penetração dos godos no Império Romano. Após a batalha, de imediato, os godos atacaram a cidade de Adrianópolis, tentaram escalar suas muralhas mas foram repelidos pelos defensores; a Trácia, no entanto, foi saqueada (exceto as cidades fortificadas). Se dirigiram à Constantinopla, mas o general e duque espanhol Flávio Teodósio (irmão do outro general Teodósio, o Velho), mandado por Graciano, conseguiu conter os visigodos. – No outono, o Augusto Graciano estava em Sirmium e soube do desastre militar em Andrinopla. Assumiu o controle do Império Romano do Ocidente, determinando, por edito, a liberdade de culto e o retorno dos bispos exilados por Valente. ---- Neste ano, na Armênia, Manuel Mamiconiano (que estivera junto com o imperador persa Shapur II no último conflito com os Kuchanos) se revoltou contra o rei Vasazdad (que assassinara Manuel Mamiconiano, logo depois da saída das tropas romanas orientais), forçando-o a fugir, pedindo asilo em Roma. A partir daí ele formou um governo provisório, aliado dos sassânidas, junto com a rainha Zarmandukht (esposa do finado Pap).379 – Em 19 de janeiro, em Sirmium (Sremska Mtrovica), o imperador romano ocidental Graciano, outorgou o título de Augusto a Flávio Teodósio do Oriente, incluindo as dioceses da Dácia, Macedônia (que estavam sob a ação predatória dos godos) para ajudá-lo na crise decorrente da derrota de Adrianópolis. O prefeito do pretório do Ilírico, Olíbrio, transferiu os generais e tropas da região para o exército romano oriental. Teodósio ficou em Tessalônica, desde a primavera (aí entrou sem dificuldade porque a Macedônia sofreu uma peste que forçou a saída dos godos). – Em 17 de junho, Teodósio, em Tessalônica, estabeleceu normas de recrutamento para refazer seu exército e começou a campanha militar contra Fritigern no norte. Alguns visigodos foram recrutados, como o general desertor Modarês, que conseguiu arrasar com um grupo de godos em saques na Trácia. Os visigodos, com Fritigern, se encaminharam para o Ilírico. ---- Em 6 de julho, Teodósio se encontrava em Scupi, onde recuperou o trajeto de comunicação com Roma através do vale do Sava (afluente do Danúbio).379 (agosto) a 380 (abril) – Em investida antiariana, o bispo de Milão, Ambrósio, agora também interventor na Ilíria e exercendo grande influência sobre o imperador Graciano, elaborou uma legislação interditando toda e qualquer propaganda ariana e confiscando os seus templos.379 a 395 – Graciano escolheu Teodósio como Augusto no Império Romano do Oriente: foi o imperador Teodósio I.380 - A religião católica tornou-se a oficial do Império Romano do Oriente pelo Edito de Tessalônica por Teodósio I, em 28 de janeiro, junto com os

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co-imperadores Graciano e Valentiniano II. Foram interditados tudo o que se referisse a cultos de paganismo e a doutrina herética de Ário, de acordo com os patriarcas de Alexandria e de Roma. – Em 8 de setembro, em Sirmium, Teodósio realizou uma campanha militar contra os ostrogodos na Panônia. Ainda neste mês, se realizou o Concílio de Antióquia que restaurou a ortodoxia do credo niceano no Oriente e expulsou os religiosos heréticos arianos, consolidando, assim, o Edito de Tessalônica. – Em Tessalônica, no dia 20 de setembro, Teodósio, muito doente, foi batizado pelo bispo Acholio. – Durante o verão e outono, Teodósio à frente de suas tropas moveu uma guerra sem sucesso contra o visigodo Fritigen, que tinha devastado a Macedônia e a Tessália. Por pouco, o imperador não foi morto em emboscada em novembro; conseguiu, no entanto, a devolução da Macedônia e Dácia. – Em 24 de novembro, Teodósio, acompanhado do godo Atanarico (inimigo de Fritigen), entrou triunfalmente em Constantinopla. Ele depôs o bispo ariano Demófilo, convocou um concílio ecumênico (junto com o papa S. Damásio) e nomeou novo patriarca, Gregório de Nazianzo.381- Em 25 de janeiro, morreu Atanarico após um banquete (contribuindo para selar um acordo de paz com godos em 382, não sem antes eles continuarem seus saques na Trácia). --- De maio a julho se realizou o I Concílio ecumênico de Constantinopla. Foi o segundo concílio ecumênico do Cristianismo. Até hoje nas igrejas católicas se reza o Credo Niceo-constantinopolitano, ratificando os dogmas daquele primeiro concílio, proclamando a divindade do Espírito Santo. Houve deliberações contra Manes, fundador do Maniqueísmo (que estabelecia dois princípios eternos, o Bem e o Mal) e contra Macedonius (negador da divindade do Espírito Santo). Criaram-se outros patriarcados além do de Constantinopla: em Alexandria, Antióquia, Jerusalém e Roma; tendo este último a primazia sobre os outros. – Em agosto, realizou-se uma campanha militar vitoriosa contra os godos, skiros, carpodaços aliados aos hunos, sendo repelidos para a margem esquerda do Danúbio. ---- Em setembro se reuniu o Concílio de Aquileia em que se ordenou a deposição dos últimos arianos da Ilíria. --- Em 20 de dezembro, o imperador interditou os sacrifícios pagãos a nível doméstico, além da atividade dos arúspices (adivinhação através da análise das entranhas de aves), sendo esta medida partilhada, outrossim, por Graciano e Valentiniano II. ---- Neste ano, a rainha Mawia (de sarracenos que habitavam o sul da Síria) impôs derrota às forças romanas orientais nesta região da Síria.381-382 – Mesmo com acordo de segurança mútua entre ostrogodos e romanos, os hunos, carpodácios e sciros passaram para a margem direita do Danúbio.382 – Em 3 de outubro, Teodósio I mandou o general Flávio Saturnino terminar o acordo de paz com os visigodos, sendo estes instalados como federados e ‘aliados do povo romano’ ao sul do rio Danúbio (na Mésia Inferior) na Trácia, sendo isentos de impostos, recebendo subsídios e fornecendo contingente militar subsidiário para proteção das fronteiras. ---- Na Panônia se estabeleceram como federados também os ostrogodos ---- Neste ano: Reuniu-se o II Concílio de Roma pelo papa Damásio I no qual se criou uma comissão de que se originou a Vulgata de Jerônimo (primeira versão oficial da Bíblia), se adotou o Trinitarismo, se condenou o Apolinarismo. O imperador Teodósio determinou a morte dos Maniqueístas. ---- O arcebispo de Constantinopla, João Crisóstomo, se referiu pela primeira vez, em sermão, à virgindade de Maria, mãe de Jesus Cristo.383 – Logo ao se iniciar o ano, o general Flávio Saturnino foi elevado ao ‘status’ de cônsul pelo sucesso na negociação de paz com os visigodos. ---- Em 19 de janeiro, o filho primogênito de Teodósio I chamado de Arcádio, com apenas 6 anos de idade, recebeu o título de Augusto. O exército romano da Britânia proclamou Magno Máximo como Imperador Romano do Ocidente. Em 25 de agosto, Graciano foi assassinado por ele em Lugdunum (Leão). As províncias da Itália e a Hispânia se declararam leais a ele e Teodósio o reconheceu. O Império Romano passou a ter simultaneamente 3 imperadores: Teodósio I, em Constantinopla; Valentiniano II em Milão (sob a tutela de sua mãe Justina, por ser menor) e Máximo em Treves. Teodósio foi para Milão, a fim de dar cobertura ao imperador Valentiniano II. ---- Teodósio I, antes de partir de Constantinopla, mandou o general Flávio Estilicão à corte sassânida em Ctesifon para negociar a partilha da Armênia e a paz.384 – Em 21 de janeiro, o imperador Teodósio II determinou a expulsão de todos os religiosos heréticos de Constantinopla. ---- Neste ano: S. Jerônimo começou a Vulgata, tradução feita em latim da Bíblia, feita por solicitação do papa Damaso I, ainda hoje usada pela Igreja Católica. ---- Embaixadores de Sapor III foram à Constantinopla para continuar os entendimentos de paz com o imperador Teodósio I, iniciados no ano anterior pelo general Flávio Estilicão, sendo homologado em 386. Este general, pelo mérito de sua missão diplomática, se casou com Serena, sobrinha adotiva do imperador. ---- O prefeito do pretório Cinégio (Cynegius) esteve no Egito, ordenado pelo imperador, para confiscar os bens dos templos pagãos, que foram transferidos para o tesouro imperial (‘res privata’); além disso, todos eles foram fechados por edito imperial. ---- Em Constantinopla, o imperador mandou construir o fórum, que foi denominado de ‘Forum do Touro’.385 – Em 25 de maio, o prefeito do pretório para o Oriente, Cinégio, recebeu do imperador a norma que interditava a ação dos arúspices. –– Em agosto, saiu de Roma para o Oriente, Jerônimo de Stridon, fundador em 386 de mosteiro em Belém, junto com Eustáquio e Paula. – Neste ano: Foi nomeado como patriarca de Alexandria, Teófilo, que se colocou em conflito contra os pagãos (foi destruído o famoso templo grego Serapeum e o neoplatonismo da Escola de Alexandria). ---- O novo papa Sirício proclamou a primazia da Igreja de Roma sobre todas as demais e o celibato clerical.386 – Em 26 de fevereiro, o prefeito do pretório do Oriente, Cinégio, recebeu a lei de Teodósio relativa à interdição de se desenterrar e vender relíquias de mártires. – Em 12 de outubro, o imperador comemorou a vitória sobre a liga multiétnica dos godos ao norte do Danúbio, em torno dos godos Greutungos (de que se originaram os ostrogodos), que eram comandada por Odoteu. Sua ação se estendia até a Trácia, defendida pelo general Promoto, que impediu um desembarque destes saqueadores. – Neste ano, na cidade de Apameia, seu bispo, Marcelo, mandou destruir o templo de Zeus Belos, onde agia um oráculo. ---- Efetivou-se o acordo entre o imperador Teodósio I e o sassânida Shapur II pelo qual se estabeleceu a partilha da Armênia entre os dois impérios, cabendo a parte ocidental (desde Erzurum a Mush) aos romanos orientais, governado por Arsácio III até 389. A maior parte, a oriental, ficou sob a suserania da Pérsia, que nomeou Khosrov V como rei e passou a ter o nome de Persarmênia, com sua capital em Dwin. Este acordo deveria durar por 36 anos. ---- Iniciou-se a construção da Basílica de S. Paulo em Constantinopla (mas fora de seus muros).386 a 395 – Neste período se fez sentir a ação do prefeito do pretório chamado Flávio Rufino, segunda autoridade mais importante do império.387 – Em 26 de fevereiro, logo após a decretação de um novo imposto, a população de Antióquia derrubou as estátuais da família imperial: foi a chamada ‘Revolta das Estátuas’. ---- Em agosto, no Império Romano do Ocidente, o general Máximo (vencedor de Graciano em 283) invadiu a Itália e, alegando que a mãe e regente de Valentiniano II chamada Justina era ariana, invadiu a Itália, forçando o imperador Valentiniano a buscar guarida ao imperador Teodósio I, em Tessalônica, em setembro. 388 – Em 19 de janeiro, Teodósio I celebrou suas ‘decennalia’, isto é, o decênio de seu reinado. De junho a agosto se envolveu em conflito com o usurpador do trono romano ocidental, Magno Máximo. Em 14 de junho estava em Stobi (na Macedônia) com sua armada composta de várias etnias, inclusive dos federados godos (além de hunos e alanos). O primeiro conflito (Batalha de Sava) ocorreu em Siscia (Sisak ou Sissek, na Croácia atual) entre as forças de Richomeres (com tropas romanas orientais) e Andragatio (com tropas romanas ocidentais). Em agosto, Magno Máximo foi vencido na batalha de Poetovio (Ptuj, às margens do Drava, afluente do Danúbio, na Panônia) diante das tropas de Teodósio I, depois foi preso em Aquileia e decapitado em 28 de agosto. ---- No início do mês de agosto, em Calínico (próximo de Edessa), cristãos queimaram uma sinagoga dos judeus e monges destruíram uma capela de gnósticos. Quando Teodósio quis obrigar o bispo local (Ambrósio) de tomar medidas punitivas contra isto, este último protestou e se recusou a fazê-lo. 389 – Em 13 de junho, Roma recebeu com triunfo o imperador Teodósio, acompanhado de seu filho Honório e de seu cunhado, o imperador romano ocidental Valentiniano II, ao qual entregou o domínio usurpado por Magno Máximo. Ao iniciar-se setembro, saiu de Roma e se dirigiu a Milão. Em 8 de novembro, em Treves, Teodósio colocou o imperador Valentiniano II sob a tutela do general franco Arbogast por ter apenas 20 anos. 390 – Em abril, em Tessalônica, artesãos e comerciantes arruinados se revoltaram por causa da prisão de um cocheiro por ter mantido relações homossexuais. Massacraram a guarnição imperial e seu comandante, Buterico. Teodósio mandou matar os insurgentes no circo e, em 6 de agosto, condenou, através de edito, à morte na fogueira os que mantivessem relações homossexuais. O bispo Ambrósio de Milão o excomungou, mas o absolveu no dia de Natal, porque o imperador se penitenciou publicamente. ---- O visigodo Alarico, liderando sua tribo e os hunos, invadiu a Trácia; em função disto, o comandante-em-chefe Flávio Estilicão organiza um exército e iniciou uma campanha contra estes ‘bárbaros’. ---- O imperador mandou deslocar um obelisco do Egito dos faraós para o Hipódromo de Constantinopla.391 – Em Milão, no dia 27 de fevereiro, Teodósio I proibiu sacrifícios pagãos em altares domésticos e de adoração de ídolos. Entre estes cultos o de

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Mitra de origem persa. Em 9 de maio, em Concórdia, ainda na Itália, condenou os apóstatas à infâmia, em 27 de maio estava em Vicência; 17 de junho, em Aquileia, mandou edito para o prefeito do Egito, Evágrio, e ao conde Romano relativo ao cumprimento da ordem quanto ao culto pagão; encarregou o patriarca de Alexandria de aplicar a lei (nesta cidade se destruiu o Serapeum e houve o incêndio da biblioteca em que se destruiu um grande acervo cultural da Antiguidade, como obras de Sófocles, de Eurípedes, Aristarco, etc..).— No meio do ano, Teodósio já estava no Oriente. Em 1 de julho autorizou a legítima defesa diante de vagabundos, soldados desertores e bandidos nas estradas (possivelmente por causa da revolta e massacre na Tessalônica e da existência de desertores gregos perambulando pelas estradas). Em 18 de julho, Teodósio estava em Constantinopla. – No outono, os visigodos federados se revoltaram, passaram pela Cadeia dos Bálcãs e seguiram em direção sul. Teodósio mandou Flávio Estilicão (vândalo a serviço do exército imperial) contra os godos revoltosos e os obriga a se acomodar. ---- Ainda havendo renitentes no culto pagão domiciliar, Teodósio I determinou que estes recalcitrantes seriam suscetíveis ao confisco de suas casas ou terras. 391/2 – O imperador deixou-se orientar por Ambrósio e sua ortodoxia católica, apenas permitindo no império a astrologia e o judaísmo (este praticado também pelos samaritanos).392 – Desde o ano de 286, as duas partes do Império Romano (Ocidental e Oriental) tiveram um governo único apenas no exíguo espaço de tempo de 25 anos. ---- O prefeito do pretório Flávio Rufino foi alçado ao cargo de cônsul, concomitantemente com o filho do imperador Arcádio. Em uma reunião, ele insultou o dignitário da Corte, Promotus, este reage aplicando-lhe um tapa. Rufino levou ao conhecimento do imperador e consegue seu apoio para mandar Promotus para a Trácia, onde bárbaros subornados o mataram em setembro. ~ 392 – Foi transacionado um acordo entre Teodósio e o rei Khosro IV da Armênia, este pretendendo se libertar da submissão aos persas (então sob o reinado do imperador Vahram IV). Teodósio, então, destronou Arsácio III, unificou a Armênia e coroou Khosro IV. O imperador persa, no entanto, invadiu a Pérsia, prendeu Khosro IV e o aprisionou no Castelo do Esquecimento, entregando o poder a seu irmão Vram Shahpu (ou Bahram I), que ficou no poder armênio até 414. Khosrov pediu a ajuda de Teodósio, mas este se recusou a interferir nesta questão sucessória armênia pelo tratado feito em 384 com Sapor III.– O império romano ocidental sofreu mais uma usurpação de poder: neste ano foi colocado no trono um funcionário público (Eugênio) pelo general Arbogast; tal fato vai despertar a reação de Teodósio em 394.393 – Em 23 de janeiro, para estabelecer sua sucessão, Teodósio I proclamou Augusto o seu filho Flávio Honório (mais conhecido por Honório), com apenas 9 anos de idade. --- Em agosto, por edito de Teodósio I, realizaram-se os últimos jogos olímpicos, pois eram considerados como pagãos.394 - Diz-se que neste ano, o imperador mandou emissário ao Egito a fim de consultar o monge João Cassiano, considerado um santo, sobre seu projeto de mover guerra contra o usurpador Eugênio no Ocidente. Assim, deixou em Constantinopla seu filho Flávio Honório e foi para a Itália à frente de poderoso exército, no qual se incluiam milhares de visigodos comandados por Alarico, mas este sob as ordens do general godo Gainas, causando-lhe, pois, descontentamento. Em 5 e 6 de setembro, o exército oriental, já em Venecia, enfrentou Arbogast e Eugênio na Batalha do Rio Frígido (ou do Rio Frio, ou Vipava, afluente da margem esquerda do Isonzo, na Eslovênia atual, perto da fronteira com a Itália), na qual Eugênio foi aprisionado e morto e o general Arbogast fugiu para as montanhas e se suicidou pouco depois. – Neste ano, o imperador Teodósio I mandou fechar o Templo de Vesta em Roma.395 – Em janeiro, os hunos, saindo da região do Cáucaso, passaram o gelado rio Danúbio e invadiram a Mésia, se aproveitando da circunstância, favorável a eles, de Teodósio ter retirado as tropas da fronteira oriental para sua campanha militar na Itália. Diante da incursão dos hunos, os godos (que tinham saqueado o Ilírico, a Mésia e Trácia) se deslocaram para o sul dos Bálcãs. ---- Teodósio, antes de morrer, colocou o general Flávio Estilicão como tutor de seus filhos. Ele estava na Itália com Honório e tal disposição de Teodósio contrariou os propósitos dos cortesãos em Constantinopla, que pretendiam usufruir vantagens sobre o fraco Arcádio. --- Em 17 de janeiro, morrendo Teodósio I (em Milão, de doença envolvendo edema), houve a divisão do Império Romano em Ocidental (capital Roma) e Oriental (capital Constantinopla) entre seus filhos Honório (ao qual se atribuiu o ocidente e a Diocese da Panônia, dos Alpes à Sérvia atual) e Arcádio (no oriente, com as Dioceses da Macedônia e Grécia).

395 (17 de janeiro) a 408 – Reinado do Arcádio no Império Romano do Oriente.395 (continuação) --- Arcádio, em 27 de abril, contraiu matrimônio com Eudóxia, filha do franco Flávio Bauto, que apoiara os arianos contra os ortodoxos. Ela teve forte influência no governo, sendo acompanhada em suas decisões pelo ministro Eutrópio. – Na primavera-verão, mais uma vez os federados visigodos comandados por Alarico se revoltaram, promovendo saques na Macedônia e na Trácia. No lado ocidental, Estilicão juntou suas tropas ocidentais com orientais, após renovar acordos com os francos e alamanos, para atacar os godos rebelados, atacando-os até a Tessália, quando, então, o imperador Arcádio ordenou para ele devolver as tropas do Oriente, para colocá-las sob as ordens de Gainas e continuar a intervenção armada contra os godos. Flávio Estilicão se desentendeu seriamente com Rufino, ministro de Arcádio sobre a questão da província do Ilírico Oriental (que Teodósio tinha desmembrado para fazer parte do Império Romano Ocidental). Depois que Flávio Estilicão voltou para o Ocidente; os visigodos, com

Alarico, avançaram e saquearam a Macedônia. ---- De agosto a novembro, a Anatólia sofreu incursão dos hunos vindos da região caucasiana. –– Somente em 9 de novembro é que foram realizadas as exéquias de Teodósio I em Constantinopla.---- Após um confronto militar em Ilíria, Gainas (general de Teodósio I) voltou para Constantinopla; em 27 de novembro, Arcádio e Rufino (prefeito do pretório de Teodósio e regente do imperador Honório do ocidente) supervisionaram a armada de Gainas diante dos muros da capital; este último (aplicando plano urdido por Flávio Estilicão) arrasou com as tropas de Rufino e o matou, sem nenhuma reação de Arcádio e se assenhoreou de Constantinopla. Estilicão ficou no lugar de Rufino como regente de Honório e nomeou Eutrópio como prefeito do pretório, prosseguindo este último a mesma política obstrucionista do finado Rufino executada anteriormente. ---- Neste ano: Os Hunos iniciaram suas incursões sobre o Império Romano do Oriente: invadiram a Armênia, Capadócia e algumas regiões da Síria, colocando em perigo Antióquia (atual Antakia).395 a 397 – As incursões e saques da Grécia por Alarico e seus soldados godos ocorreram durante todo este período.396 – Em outubro, os visigodos, com Alarico, e se dirigiram para a Grécia: passaram o desfiladeiro das Termópilas (sem nenhum obstáculo por parte do procônsul Antíoco), saquearam a Tessália, Beócia (exceto a cidade fortificada de Tebas) e Ática (menos Atenas por pagar suborno, mas saquearam Elêusis), atravessaram o Istmo de Corinto e saquearam Corinto e a Península do Peloponeso (vale do Eurotas e sua cidade de Esparta e, depois, Micenas e Olímpia). – Neste ano: O todo poderoso ministro eunuco Eutrópio (que substituiu Rufino e se impusera ao impotente Arcádio e à prefeitura do pretório exercida por Eutíquio e Cesário) mandou para o exílio seu antigo protetor, o general Abundâncio; outro exilado foi Timásio, sob acusação de traição, indo para a Líbia e sendo confiscado seu patrimônio. – Gainas (que antes era general da armada romana) e Tribigildo, ambos ostrogodos, saquearam a Anatólia e o entorno da capital bizantina; o imperador Arcádio, impotente, ainda os perdoou. – Os hunos, continuando suas investidas, se apoderaram da Valáquia (na atual Romênia).397 – Durante a primavera, o visigodo Alarico foi cercado por Flávio Estilicão (que viera pelo Mar Adriático) em Foloé (a oeste da Península do Peloponeso e leste de Élida, próximo de Arcádia). O cerco provocou a falta de suprimentos e água aos visigodos, que, enfraquecidos, ficaram doentes. Como Estilicão estava na região sem o beneplácito de Eutrópio, foi considerado inimigo. --- De 9 de julho a setembro, o tíbio imperador Arcádio deixou a capital sob a autoridade do prefeito do pretório Eutrópio) e foi para Ancira. --- No outono, Eutrópio fez um acordo com os visigodos, nomeando Alarico como general-em-chefe do Ilírico Oriental ou ‘prefeitura de Ilírico’, isto é, a área correspondente à Prevalitânia (hoje norte da Albânia e o Montenegro) e a Mésia Superior (hoje, a Sérvia). Alarico partilhou sua autoridade política e de coleta de impostos de maneira colegiada com os nobres da sua tribo. O Ilírico Ocidental ou ‘diocese de Ilírico’ compreendia a Panônia (hoje, Bósnia, Croácia, Dalmácia e Hungria) era de soberania romana ocidental.398 – Foi escolhido novo patriarca em Constantinopla em 26 de fevereiro: João ‘Crisóstomo’ (‘boca de ouro’ pela sua notável retórica; foi um dos doutores da Igreja Católica). --- Durante a primavera, o prefeito do pretório Eutrópio, promoveu uma campanha militar contra os Hunos na Capadócia, repelindo-os para a Armênia. ---- Foi por volta deste ano que acabou definitivamente o culto orgiástico da divindade grega ctônica grega Rhea ou Cibele na cidade de Pessinus ou Pessinunte, na Ásia Menor, com a nomeação de um bispo metropolitano e tornando esta cidade a capital da

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província de Galácia Salutaris. 399 – Em 9 de janeiro, Eudóxia foi elevada à condição de Augusta, sendo a primeira a ter este posto (mesmo sendo de origem franca). Estilicão (no ocidente) não reconheceu Aureliano como prefeito de pretório e ainda açulou o imperador Honório a protestar contra a elevação de Eudóxia à condição de Augusta. --- Na primavera, Tribigildo saiu de Constantinopla sob a alegação de passar em revista suas tropas. Se dirigiu à Nacoleia (na Frigia) e a saqueou; juntando-se a ele e suas tropas, muito descontentes. Eutrópio mandou Gainas (então comandante das tropas imperiais) e o general Leão (amigo do prefeito do pretório) para combater Tribigildo. Este saqueou a Pisídia, foi derrotado em Panfília, mas reagiu vencendo Leão, que morreu em combate. Enquanto isto, Gainas se juntou com desertores de Tribigildo, às margens do Estreito de Bósforo. ---- No fim de julho, Eutrópio caiu em desgraça por intervenção da imperatriz Eudóxia junto a Arcádio, já que o menosprezava. A razão da desgraça foi lhe atribuir a culpa por não ter debelado a revolta de Tribigildo na Anatólia. Ele se colocou sob a proteção do patriarca João Crisóstomo na Igreja de S. Sofia, onde o patriarca proferiu um discurso sobre a vaidade. Acabou sendo deportado para a Calcedônia, de onde teve que retornar no final do ano para ser julgado e executado. --- Em 17 de agosto, o novo prefeito do pretório de Constantinopla, Aureliano (inimigo de Estilicão) recebeu um edito com a sentença do afastamento de Eutrópio e o confisco de seu patrimônio todo. Aureliano adotou uma postura de oposição ao general Gainas. ---- Em Chipre, o bispo Epifânio considerou heréticas as idéias do sábio religioso Orígenes. Sua postura de autonomia religiosa despertaram animosidade por parte dos patriarcas de Antióquia.400 – No final do mês de abril, o general Gainas entrou em Constantinopla. Aí, em maio, teve a petulância de solicitar a cessão de uma igreja nesta capital para os godos arianos, prontamente recusada por Arcádio, por influência do patriarca João Crisóstomo. Após ter roubado dinheiro e queimado o palácio imperial, despertou a ira da população em 17 de julho, açulada pela imperatriz Eudóxia: foi massacrada uma parte de suas tropas, outra parte dela fugiu para a Trácia. Um outro comandante godo chamado Fravitta se dirigiu à Trácia para combatê-lo. No entanto, Uldin, governante do Império Huno, foi vitorioso sobre Gainas e seus godos federados estabelecidos então à margem esquerda do Baixo Danúbio, mandando sua cabeça para o imperador Arcádio em Constantinopla em 12 de dezembro. Desde o final deste século (395) até o fim do Império Bizantino (1453) reinaram 107 imperadores; destes, apenas 37 morreram de morte natural; oito, em conflitos ou por acidente; os restantes 62 abdicaram (por vontade própria ou obrigados) ou foram assassinados. Neste período houve 65 revoltas palacianas, ou militares ou populares.

SÉCULO V Desde este século se firmou uma arquitetura religiosa. Neste século ainda não havia referência ao termo ‘bizantino’ mas ‘romanos orientais’ ou ‘gregos’. Continuou neste século na Europa o ‘Völkerwanderung’, isto é, o grande processo migratório da periferia (com as tribos germânicas) para o centro do mundo ocidental (o Império Romano). Os romanos orientais se julgavam superiores aos ‘bárbaros’: chamavam os saxões de ‘pellicei’, ou seja, ‘cobertos de pelos’, como se fossem animais; os germanos rebatiam colocando neles a pecha de efeminados, devido às suas roupas luxuosas. Este preconceito das autoridades de Constantinopla foi um dos fatores da cisão política e religiosa (como as heresias ariana, monofisita e outras) entre os Impérios Romanos (o ocidental e o oriental). Estas heresias condicionaram a paulatina separação do Egito e da Síria, que adotaram o monofisismo. Desta heresia surgiu uma vertente denominada miafisita que ainda hoje é professada pelas igrejas pré-calcedonianas (como a copta, a siro-jacobita, a armêniana, etc.). Neste século V e no VI, o império foi invadido pelos hunos e eslavos meridionais (eslovenos, croatas e sérvios, que se estabeleceram a leste dos Alpes, no médio vale do Danúbio e na Península Balcânica até o Peloponeso). No início da segunda metade deste século, no Concílio da Calcedônia, se firmou em seu 28º cânon a situação de igualdade entre as Igrejas de Constantinopla e de Roma, tendo o patriarca as mesmas prerrogativas e poder que o papa. Esta medida canônica de autonomia continuou ao longo dos séculos, culminando no Cisma de 1054. Os historiadores consideram a divisão da História do Império Bizantino em 3 grandes períodos: o protobizantino (de 476 a 750), o mesobizantino (de 750 a 1204) e o pós-bizantino (de 1204 a 1453). Há, ainda, historiadores que consideram o período de 395 (divisão do Império Romano) a 610 (ascensão da Dinastia dos Heráclidas e início do processo de helenização) como o período protobizantino.401- Em 3 de janeiro, o imperador Arcádio, comemorou a vitória de Uldin e o presente mandado: retribuiu, enviando-lhe presentes e negociando uma aliança militar para o fornecimento de soldados hunos à armada imperial. ---- A Panônia, Nórica e Rétia foram invadidas pelos bárbaros (marcomanos, quades e vândalos silings), mas foram atacados no outono pelo general Flávio Estilicão, repelindo-os destas províncias. ---- No outono, rei visigodo Alarico I voltou seus objetivos conquistadores para a Itália: saiu da Macedônia, passou pelo Ilírico (violando tratados anteriores), depois por Sirmium, navegou pelo Sava e, em 18 de novembro, estava no norte da Itália. Iniciou-se, então, a chamada IV Guerra dos Godos (só concluída em 413). Atacou sem sucesso Aquileia, passou pela planície de Venécia e foi para Milão e Asti (aí cercou Honório). O imperador foi socorrido pelo general Estilicão à frente de um exército da Gália.402 – O filho do imperador Arcádio, Teodósio, o Jovem (ainda um bebê, pois nasceu em 19 de dezembro passado), foi proclamado Augusto em 11 de janeiro. --- O general Estilicão, em 6 de abril, saiu-se vitorioso sobre Alarico e seus visigodos em Pollentia (perto de Bra, na região italiana do Piemonte). ---- O prefeito do pretório em Constantinopla, Aureliano, no final deste ano, conseguiu afastar seu irmão Cesário do poder (também foi prefeito do pretório) por suas tendências barbarófilas; outro afastado foi Fravitta, general godo (que, mesmo sendo godo, enfrentara e vencera Gainas, em 400). ---- Na cidade de Gaza foram destruídos os templos pagãos por determinação de seu bispo, Porfírio (depois santificado).403 - No começo do verão (final de junho/começo de julho) o generalíssimo e cônsul Flávio Estilicão impôs nova derrota aos visigodos em Verona (na Planície do Pó), repelindo a presença de Alarico I na região por dois anos. Esta vitória teve uma comemoração em Roma, junto com Honório (foi a última feita nesta cidade). ---- Foi elevado ao status de cônsul do Império Romano do Oriente o filho do imperador Teodósio II (com apenas 2 anos de idade). ---- Em junho foi convocado um sínodo em Oak (Epi Dryn, perto da capital) por Teófilo de Alexandria e a imperatriz, inimigas de João Crisóstomo, bispo de Constantinopla, evidentemente objetivando exonerá-lo da função.403-404 – O Império Romano do Ocidente, governado por Honório (sob a tutela do cônsul Estilicão) rompeu com Arcádio por causa de sua reivindicação não atendida de incorporar a Ilíria oriental ao domínio ocidental. Não chegou a haver confronto, pois o ocidente não tinha força militar suficiente.404 – S. João Crisóstomo, patriarca (já designado naquela época de ‘Sua Santidade’ ou ‘Muito Santo e Mestre’ de Constantinopla, foi deposto e exilado novamente para Cucusus (na Armênia), em 20 de junho, por perseguição da esposa do imperador, Eudóxia. Tal determinação gerou uma revolta de seus partidários, que queimaram a Igreja de S. Sofia. Ele foi chamado de volta, mas depois foi exilado mais outra vez. – No verão, os bandidos montanheses isaurianos (na Isáuria, junto aos Montes Taurus, tendo ao norte a Frígia; ao sul, a Cilícia; a leste, a Licaônia e a oeste, a Pisídia) cercaram Cucusus (enquanto aí estava João Crisóstomo). – No início de outubro, a imperatriz Eudóxia morreu. 405 – Neste ano: O monge Mesrob Machtots criou o alfabeto armênio; a língua administrativa local era o persa, enquanto a língua literária era o grego, demonstrando a influência dos dois impérios sobre este reino. – Antêmio (ferrenho adversário de Estilicão) foi nomeado prefeito do pretório de Constantinopla. – Os hunos se fixaram na ‘pequena bacia do Danúbio’ (onde ele recebe seu afluente Traun). Tal fato repercutiu entre os vândalos, alanos e suevos no ocidente, que passaram o rio Reno.407- Teodósio, o Jovem recebeu a honraria de magistrado (Quinquennalia) em 11 de janeiro. ---- Em 1 de abril, a capital foi assolada por um furacão. ---- Em Antióquia, neste ano, ocorreu uma revolta de judeus, massacrados sob instigação de Calíope, um famoso vencedor de corridas de bigas na cidade.408 – Em 1 de maio faleceu em Constantinopla, no palácio imperial, o tíbio Arcádio, sendo sucedido por Teodósio II.408 (2 de maio) a 450 - Teodósio II imperador, sendo Antêmio regente (porque Teodósio tinha apenas 7 anos), prefeito do pretório, até 414; daí até 450 foi sua irmã mais velha Pulquéria, elevada à dignidade de Augusta e, continuamente, de sua esposa Eudóxia, revelando seu

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caráter fraco. Seu reino foi permeado, em função disso, por disputas entre os seus mercenários e entre seus palacianos. Por outro lado, se elaborou um código jurídico (o Teodosiano), se reuniu o Concílio de Éfeso Teve seu reino continuamente tutelado pela sua irmã Pulquéria. Foi cognominado de ‘o Calígrafo’ porque se esmerou em fazer cópias de grandes obras literárias. 408 (continuação) – Em maio-junho, o império foi invadido pelo huno Uldin que incendiou fortalezas na margem esquerda do baixo vale do rio Danúbio (desde seu afluente Olt até a Porta de Ferro); iniciou a conquista da Bulgária (Castra Martis, Kula) através dos Skires (seus aliados) e forçou o pagamento de tributo anual para sair de seu campo de operação. As tropas imperiais, no entanto, conseguiram rechaçá-los em 409. – O imperador romano do Ocidente, Honório (afastado do poder pelo usurpador Constantino III), se baseando no direito legal de que poderia reger o Oriente até o novo imperador completar 14 anos, saiu de Roma, passou em Ravena, mas foi dissuadido de seu intento quando chegou em Pávia em meados de maio. Por outro lado, de maio ao início de agosto, ocorreu a conferência de Bolonha (na Itália), onde o poderoso Estilicão também pensou em se apoderar do trono em Constantinopla com a ajuda das tropas do rei visigodo Alarico I. --- O rei visigodo Alarico I se aproveitou da morte do imperador Arcádio para reclamar o pagamento de tributo prometido pelo Senado de Roma; em setembro, cercou Roma e conseguiu o pagamento de metade do tributo combinado. ---- Neste ano, o povo da capital se rebelou contra a falta de abastecimento de trigo vindo do Egito, acarretando a fome; queimaram a casa do prefeito Monaxius. A revolta foi eliminada pelo regente Artêmio e pelo Senado regularizando o abastecimento e criando uma comissão organizadora das provisões deste alimento. 408 a 413 - Construção do Muro de Teodósio entre o Mar de Mármara e Blaquerna (perto do Corno de Ouro), sob a supervisão do prefeito pretoriano do Oriente e regente Antêmio.409-410 – No inverno, em Ravena (nordeste da Itália) o imperador romano ocidental Honório recebeu um reforço militar enviado por Teodósio II.

410 - Convocação, pelo imperador sassânida Yazdgard I, do Concílio em Selêucia-Ctésifon, em 1 de fevereiro depois da visita do bispo romano oriental de Maiferkat (chamado Maruthas); nele foram libertados os cristãos presos e suas igrejas reconstruídas, sendo nomeado como seu superior o bispo de Ctesifon (capital persa) e se adotando o Credo estabelecido no Concílio de Niceia (em 325). Concedeu liberdade, também, aos judeus. Foi a partir daí que ele teve o cognome de ‘o pecador’ entre os persas. Outorgou a independência à Igreja Síria Católica (que adotou então o nestorianismo). Ainda hoje é uma das igrejas católicas orientais, cujo chefe era o Patriarca de Antióquia e ‘de todo o Oriente dos Sírios.’ Neste concílio também se organizou a hierarquia dos bispados, tendo no cume da hierarquia o bispo da capital. Por outro lado, o imperador persa tinha a prerrogativa de decidir as reuniões dos concílios, nomear funcionários seculares para presidí-los e transformar em leis suas decisões. Os sacerdotes cristãos tinham o direito de livre circulação por todo o Império Persa e o bispo de Selêucia-Ctésifon foi considerado patriarca (‘catholicos’) do império. Estas conquistas para os cristãos persas duraram quase até a morte do imperador (em 421), mas foram restauradas em 422 por acordo com o Império Bizantino. Foi rompido em 454 novamente.— Este ano é considerado o início da queda do Império Romano do Ocidente pelo fato de, em 24 de agosto, o visigodo Alarico I, após seu terceiro cerco, entrou e saqueou Roma (só acontecera isto em 390 a.C.).412 – Foi nomeado patriarca de Alexandria, Cirilo (canonizado mais tarde), exercendo sua função até 444 e combatendo as heresias vigentes na época (como o Novatianismo e o Nestorianismo). ---- As fortalezas que tinham sido destruídas por ataques dos hunos no Danúbio foram reconstruídas e defesa naval foi implantada com nova frota.

413 – Conclusão do Muro Teodosiano por Antêmio. – Em Alexandria houve atritos entre o patriarca Cirilo e Orestes (prefeito pagão do Egito) e os judeus, por ter preso cristãos e permitido aos judeus os massacrarem após confiscarem seus patrimônios.414 - Antêmio morreu em 4 de julho; foi sucedido na regência por Pulquéria (com 15 anos e irmã do imperador que tinha 13 anos de idade), que se proclamou Augusta e se associou ao trono, tendo ao seu lado Helion, mestre dos ofícios, na ação governamental. – Em Alexandria, o patriarca Cirilo mandou demolir todas as igrejas dos hereges novatianistas e incentivou uma verdadeira guerra contra os judeus pelos cristãos (rivais em jogos circenses): estes destruíram sinagogas e perseguiram os judeus. O prefeito do Egito, Orestes, pediu a intercessão de Teodósio em favor dos judeus; por isto foi morto a pedradas pelos monges de Nitréia (do Uadi Natrun). ---- Neste ano, na Palestina, ocorreu a querela religiosa entre o monge Pelágio e Jerônimo de Stribon (o tradutor da Bíblia, depois canonizado). O discípulo de Pelágio chamado Celéstio foi para Constantinopla com o objetivo de buscar apoio ao Pelagianismo, mas não teve sucesso: foi expulso pelo patriarca Ático.415 – Em 10 de outubro, na capital romana oriental, foi inaugurada a nova igreja de S. Sofia. – Na quaresma deste ano (ou em 416) foi assassinada em Alexandria, a filósofa neoplatonista Hipátia, considerada virtuosa até pelos cristãos. Se supõe que foi o patriarca Cirilo que estava por trás deste assassinato. 416 – Em 28 de junho e 6 de julho se realizaram jogos em Constantinopla para celebrar a vitória sobre Atálio (prefeito do pretório de Roma que tomou o poder com o auxilio de Alarico, mas foi deposto em 410).418 a 421– O bispo de Susa (na Pérsia), Abdas, mandou demolir o templo do fogo local. Além disso se juntou ao bispo Maruthas para incendiar o templo do fogo na capital sassânida, Ctésifon. Como o bispo Abdas se recusou a cumprir determinação imperial de reconstruir o templo de Susa, foi executado por ordem imperial, que determinou, outrossim, que o clero zoroastriano destruísse todas as igrejas cristãs e mandasse prender o bispo Maruthas e mover perseguição a muitos cristãos,~ (cerca) de 420 - Aspebetos, chefe de tribo árabe, se converteu ao cristianismo e se tornou vassalo dos romanos orientais: foram os Gassânidas ( governando a Palmíria, Palestina e Transjordânia), que assim permaneceram até 636 e participaram das guerras mútuas entre persas e romanos orientais.421 - Matrimônio de Teodósio II com a grega Aélia Eudóxia (intermediado por Pulquéria) no dia 7 de junho. – Por causa da perseguição aos cristãos preparada no final do reinado de Yazdgard I e no início Vahram V, eles se refugiaram no Império Romano do Oriente. Vahram V solicitou, sem sucesso, sua repatriação ao imperador Teodósio II, o Jovem. Em face disto, eclodiu nova guerra entre persas e romanos orientais, de novo. Estes últimos mandaram forças comandadas pelo general Ardaburius (antes, um Alano) para a Armênia, onde foi derrotado o general persa Narsehi (em 6 de setembro de 421) e prosseguiram até Azarène (província da Armênia), devastando-a. A seguir, Ardaburius cercou Nísibe (perdida pelos romanos orientais em 363 e que tinha sido o local de fuga de Narsehi). Enquanto isto, Teodósio II mandou reforços de tropas (que estavam na Trácia, onde ele autorizou a instalação dos ostrogodos que estavam na Panônia). Mesmo com os reforços, Ardaburius saiu de Nísibe, atacou e cercou Teodosiópolis (no Alto Eufrates, hoje chamada de Erzurum), mas o abandonou ao se aproximarem as forças comandadas por Vahram V. ---- Nesta ocasião, a capital dos Lakhmidas (árabes aliados dos persas), a cidade de Hira, foi queimada pelos Gassânidas (árabes aliados dos romanos orientais). ---- As províncias romanas orientais da Trácia e Dácia foram invadidas pelos hunos chefiados por Rugila. Para proteger a fronteira da Trácia, o imperador pediu a ajuda dos ostrogodos da Panônia, estabelecendo-os na região. 421-422 - Após uma outra derrota, o imperador persa foi obrigado a assinar um tratado de paz que deveria durar um século (de 422 a 522). Por ele, se estabeleceu a liberdade de culto aos cristãos na Pérsia, reciprocamente aos zoroastrianos em Constantinopla; além disso, se comprometerem de não receber trânsfugas árabes (Lakhmidas dos persas e Gassânidas dos bizantinos). ---- Nesta ocasião, a capital dos Lakhmidas (árabes aliados dos persas), a cidade de Hira, foi queimada pelos Gassânidas (árabes aliados dos romanos orientais). 422 – Em 10 de janeiro, o imperador Teodósio comemorou suas ‘vincennalia’ (vinte anos de efetivo exercício de poder) na capital. – O conflito romano-persa iniciado no ano anterior se encerrou por negociação do patrício Helion, por causa da presença ameaçadora dos Hunos Heftalitas diante dos dois impérios. Pelo tratado de paz (que deveria durar 1 século) se fixou novamente a liberdade de culto dos cristãos no Império Sassânida, tendo como contrapartida a liberdade para os zoroastristas no Império Romano Oriental. Os Hunos Heftalitas, ainda neste ano, comandados pelo rei Rugas,

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atacaram o baixo vale do Danúbio (a Dácia Ripuária e a Mésia Segunda, na Bulgária atual) e devastaram a Trácia. 423 - No início de janeiro, a imperatriz Aélia Eudóxia, esposa de Teodósio II, foi proclamada Augusta. – Ao morrer Honório (tio de Teodósio II e imperador romano), em 15 de agosto, o trono foi usurpado por Joannes (um dos notários imperiais) e não por Valentiniano (seu sobrinho). Este último e sua mãe Gala Placídia (com a filha Honória) fugiram para Constantinopla, pedindo o auxílio de Teodósio II (sobrinho de Gala Placídia) para intervir na sucessão em Roma.424 – Em 23 de outubro, Valentiniano foi nomeado César em Tessalônica (segunda cidade mais importante do Império Romano Oriental).Teodósio destronou Joannes em Roma.~ (cerca de) 424 - Rugas, rei dos hunos, passou a ter a região do vale do Tisza como a sede de seu governo. Assinou, depois, um tratado de paz com Teodósio II, pelo qual este foi obrigado a pagar imposto anual. 425 - Criação da Universidade de Constantinopla por Teodósio II, em 27 de fevereiro, por influência da imperatriz Aélia Eudóxia, na qual os professores recebiam seus salários do governo e gozavam do monopólio do ensino superior em todo o império. Além da retórica (que englobava o ensino de sofística, gramática grega e latina e eloquência) se ministravam conhecimentos de direito e de filosofia. Sua biblioteca tinha um acervo de cerca de 120.000 volumes. ---- Em maio/ junho, foi deslocada uma armada para Roma sob o comando do general Ardaburius e seu filho Aspar, para garantir a posse de Valentiniano. O usurpador Joanes foi preso e decapitado. ---- Em maio de 425, subiu ao trono ocidental Valentiniano III (com apenas 6 anos de idade) , tendo sua mãe como regente e se casando mais tarde com a filha de Teodósio II, Licínia Eudóxia (em 437). ---- Neste ano, o imperador Teodósio II acabou com o patriarcado da Palestina. ---- Constantinopla não foi atacada pelos hunos por uma doença que afetou a maior parte de suas tropas quando para lá se dirigiam neste ano.426 – A partir de 28 de fevereiro o patriarcado de Constantinopla passou a ser ocupado por Sisinios I. ---- O imperador Teodósio II, em 13 de novembro, mandou destruir todos os templos e edifícios da Grécia que foram poupados pela pilhagem anterior executada pelas incursões de Alarico, entre os quais o mais famoso foi o de Olímpia. A estátua de Zeus foi mandada para Constantinopla. Mesmo os que restaram, após esta ordem imperial, foram praticamente destruídos pelos sismos de 522 e 551. 427 – Em 1 de janeiro, iniciou-se em Constantinopla o consulado de Ardaburius e Flávio Hierius. – Neste ano, a Panônia Segunda, pertencente ao Império Romano Ocidental, foi anexado ao romano oriental; com isto a linha de defesa contra os hunos passou a ser o Danúbio e a cidade de Sirmium, ponto estratégico no rio Sava (afluente da margem direita do Danúbio). Tal anexação foi homologada pelo imperador Valentiniano III 10 anos depois, quando ele foi se casar com a filha de Teodósio II.428 - Teodósio II nomeou como Patriarca de Constantinopla o pregador Nestório (da Síria) em 10 de abril. Ele foi o criador da heresia nestoriana segundo a qual Maria era mãe de Jesus Cristo humano (Christokos) e não de Jesus, filho de Deus (Theotokos); esta última afirmativa foi pregada pelo seu capelão, Anastios, em 22 de novembro.429 – Em nome dos católicos, o jurista Eusébio anunciou, em janeiro, um protesto contra a pregação de Nestório. O mesmo foi feito no dia da Anunciação (25 de março) pelo bispo de Cízica, Proclo, enaltecendo as características de Maria, mãe de Deus. ---- Neste ano: O imperador escolheu uma primeira comissão de juristas para coletar as leis desde o governo de Constantino I. Tal compilação só foi completada em 438, quando se publicou o Código Teodosiano, base do futuro código de Justiniano. ---- Na Acrópole de Atenas foi saqueado o Templo de Palas Ateneia. Os pagãos atenienses foram perseguidos. 430 – Em 1 de janeiro se comemorou a ‘tricennalia’ em Constantinopla, ou seja, os 30 anos da nomeação de Teodósio II como cônsul. ---- O papa Celestino I, em sínodo realizado em Roma, em 10 de agosto, condenou Nestório, patriarca de Constantinopla, por sua heresia. O patriarca de Alexandria, Cirilo, em 19 de novembro, formulou, então, os chamados ‘doze anatematismos’ resumindo a ortodoxia cristã e apresentou a Nestório, que não se dispôs a aceitá-los. A condenação papal foi homologada no Concílio de Éfeso (em 431), sendo exilado Nestório e toda sua obra queimada. – Neste ano: Os hunos começaram a se infiltrar no vale do Reno; o imperador os reconheceu como federados. 431 - Em 22 de junho, o Patriarca de Alexandria, S. Cirilo, abriu o Concílio ecumênico de Éfeso, com o apoio do papa Celestino I, para condenar o nestorianismo e o pelagianismo e afirmar a dupla identidade divina e humana de Jesus Cristo. Quatro meses depois (em 25 de outubro), Nestório foi destituído de seu cargo, colocando-se Maximiano como novo patriarca de Constantinopla. Em 30 de outubro, o patriarca Cirilo foi recebido com festas no Egito e Alexandria passou a ter grande conceito como capital da cristandade oriental. Muitos partidários de Nestório tiveram que se refugiar na Pérsia Sassânida, então sob o governo de Vahram V, o Onagro.432 – Em Roma, o papa Celestino I, em 5 de março, não só avalizou a nomeação do novo patriarca de Constantinopla (Maximiano), como todas as decisões tomadas pelo Concílio de Éfeso.---- Neste ano, a famosa Escola de Edessa (ou dos Persas) esteve dividida em duas facções doutrinárias: uma de vertente nestoriana com Ibas (diretor da escola, que adotava as idéias de Teodoro de Antióquia ou Mopsueste), outra de vertente dogmática tendo à frente o bispo de Edessa, Rabbula (que se alinhava à postura religiosa do patriarca Cirilo). 433 – Em 23 de abril, em Alexandria, o patriarca Cirilo declarou a paz entre ele e João de Antióquia e a união entre eles contra o nestorianismo. – Neste ano, o imperador Teodósio II mandou emissários junto às tribos Itimar, Boisque, Tonsur e Amilzur com o intuito de negociar uma aliança contra os hunos, despertando a contrariedade do rei Ruga, que mandou um emissário para Constantinopla para repelir tal tentativa diplomática; além disso, promoveu incursões sobre a Trácia neste ano e no outono de 434, ocasião em que morreu numa delas.434 - Em 12 de abril (6ª feira santa) , após o falecimento do patriarca Maximiano, foi escolhido para sucedê-lo o filósofo neoplatônico Proclus.---- No verão, os hunos comandados por Ruga ou Rugila (unificador das tribos hunas), pretendendo atacar Constantinopla, passou e devastou a Trácia, mas aí morreu fulminado por um raio diante da armada do imperador Teodósio II nesta província. O imperador subornou seus comandados, que não atacaram a cidade. Foi sucedido por seus sobrinhos Átila e seu irmão Bleda (filhos de Mundzuk). O temível Átila ficou governando o Baixo Danúbio, tendo sua capital perto da cidade rumena chamada atualmente de Buzău. Bleda ficou com o território banhado pelo rio Tisza (na parte oriental da Hungria atual.435 – O ex-patriarca Nestório foi exilado para um convento no deserto líbio, no dia 3 de agosto, por ordem imperial (que assim agiu por influência de sua irmã Pulquéria). – Em 14 de novembro, Teodósio II, através de edito, mandou matar todos os pagãos e ‘heréticos’ do império, admitindo apenas a presença dos judeus e sua crença. --- Neste ano (bem como em 441 e 447), Átila pilhou as províncias ‘bizantinas’ na Península Balcânica. Em face do perigo representado por ele, o imperador Teodósio, em novembro, mandou representantes seus (Epigeno e Plintas) negociarem um acordo, realizado perto de Margus, na foz do rio Morava (afluente do Danúbio, na Mésia Inferior) pelo qual concordaram em dobrar o tributo pago antes, além de libertar os hunos fugitivos. Além disso, o imperador mandou de volta dois príncipes hunos (filhos de Atakam e Mama), que tinham se exilado em Constantinopla, logo após a morte de Ruga. ---- Em 20 de dezembro, constituiu o grupo de juristas que iniciou a redação do Código Teodosiano (terminado em 438) – Ibas (Donato) foi escolhido como bispo de Edessa, iniciando a pregação em público do Nestorianismo e, assim, promovendo sua difusão. 435 a 440 – O Império Romano do Oriente sofreu revez diplomático diante dos Hunos: dobrou o pagamento de imposto anual e ainda prometeu não se aliar com tribos germânicas (como os visigodos e ostrogodos). Desta forma, o Império Húnico se estendeu os Alpes e aos rios Reno e Vístula (na Polônia atual).436 – O prefeito do pretório, Volusiano, adoentado, se converteu ao cristianismo diante de sua sobrinha e santa, Melanie, a Jovem e se batizou. 437 – Em 29 de outubro foi selada a aliança entre as duas partes do Império Romano com o casamento de Licínia Eudóxia com o imperador romano ocidental Valentiniano III. – Neste ano, uma reunião de bispos (sínodo) em Constantinopla pelo patriarca Proclo, tentou interferir na autoridade papal na Ilíria; o papa Sisto III, por sua vez, lembrou os bispos locais de sua ligação hierárquica com o vigário papal em Tessalônica (segunda cidade mais importante do Império Romano Oriental).438 – Em 27 de janeiro foram transladadas as relíquias de S. João Crisóstomo para Constantinopla e depositadas na Igreja dos Santos Apóstolos. ---- Em 15 de fevereiro foi promulgado o Código Teodosiano, em nome dos imperadores Teodósio II e Valentiniano III: ele representou a primeira súmula

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das constituições imperiais; foi complementado por inúmeras ‘novelas’ pelo Código Justiniano, mais tarde. ---- Na primavera, a imperatriz Aelia Eudóxia realizou sua primeira peregrinação a Jerusalém. – Em 25 de setembro, Constantinopla foi abalada por um sismo, provocando tanto pavor aos seus habitantes que fizeram procissão ao santuário de Hebdomon, pedindo a proteção divina. ---- Em outubro, quando os judeus estavam comemorando a ‘Festa dos Tabernáculos’ (nome original Sukkot, ou ainda Festa das Tendas ou das Cabanas), conforme suas tradições religiosas, em Jerusalém, houve seu morticínio por parte dos cristãos atiçados por Barsauma (ex-professor da Escola de Edessa); em função disto, foram presos 18 monges por ordem da imperatriz Aelia Eudóxia (que solicitara ajuda do governador de Cesareia), mas voltou atrás em sua decisão por pressão dos revoltosos.439 – O imperador, em 31 de janeiro, criou uma legislação antissemita e contra os Samaritanos, impedindo-lhes o exercício de funções públicas e de construir nova sinagoga; proibiu, também os sacrifícios de origem pagã e até pena de morte para quem os praticasse; foram condenadas, outrossim, todas as heresias. – Em 15 de maio, o patriarca de Alexandria, Cirilo, consagrou a Basílica de S. Estevão em Jerusalém. ---- Em 6 de agosto, Teodósio II elevou sua filha Licínia Eudóxia à condição de Augusta. 440 – Em 6 de janeiro, o mestre de ofícios Paulino foi banido de Constantinopla por desconfiança do imperador quanto às suas relações com a imperatriz Aelia Eudóxia. Ele foi executado em Cesareia de Capadócia; Eudóxia foi mandada para Jerusalém em 444. ---- O chefe huno Bleda, no outono, se aproveitando da invasão da Armênia pelos persas sassânidas, invadiu a Panônia Segunda (ou Inferior) atravessando o Danúbio em Viminacium (Kostolac), que foi arrasada; em seguida ocupou Margus (na Mésia), facilitada pela traição do bispo local. Depois ocupou as cidades de Singidinum Margus (atual Belgrado), cujos habitantes foram levados como prisioneiros. 441 – Em junho, findando a guerra na Armênia, o exército mandado pelo imperador persa Yazdgard II atacou Teodosiópolis e Satala (na Alta Mesopotâmia, próximo a fronteira entre os dois impérios). O exército romano oriental, comandado pelo cônsul Anatólio, apenas adotou uma posição defensiva. Foram entabuladas negociações de paz e se acertou a não construção de novas fortalezas na região fronteiriça dos dois impérios. ---- Na primavera, Teodósio II mandou uma frota naval com tropas da fronteira danubiana (desguarnecendo-a) sob o comando de Ansilas, Inobindos, Germano e Aerobindus, para atacar o Reino dos Vândalos no norte da África. Genserico, rei vândalo, iniciou negociações de paz e a frota naval chegou apenas até a Sicília. – Os hunos, sob Bleda, continuando sua incursão se apoderaram e destruíram a estratégica cidade de Sirmium (atual Sremska Mitrovica, na Sérvia), situada no rio Sava (afluente da margem direita do Danúbio), aprisionando e escravizando seus habitantes.441-442 – Desde o verão de 441 ao de 442, desenrolou-se o conflito entre o Império Romano do Oriente e os hunos Bleda e Átila; o primeiro atacou e ocupou Sirmium e, assim, a província de Panônia; o segundo, após negociação com Senator (representante de Teodósio II) se reuniu com o irmão, atravessou o Baixo Danúbio e, se apoderou de Ratiara (hoje Arcar, na Bulgária), do outro lado do rio. Depois se juntou com as tropas do seu irmão e conquistaram Naissus (hoje Nish), Serdica (Sofia), invadiu a Trácia, onde tomaram Filipópolis (Plovdiv) e Arcadiópolis, avançaram sobre Adrianópolis (Edirne) e Heracleia (Eregli), sendo, apenas aí, contidos pela armada imperial bizantina (antes às voltas com invasão persa). Em face de sua ameaça em relação à capital, o imperador foi forçado a novo tratado e pagamento de tributo anual. 442 – No verão, o general romano oriental Aspar (que viera da Sicília) foi vencido em Quersoneso por Átila e Blenda, ameaçando Constantinopla e forçando o imperador Teodósio II a novo tratado de paz, no qual se dispôs a pagamento de tributo anual. – Neste ano: Conflito dos persas com o imperador romano oriental Teodósio II por causa de construção de fortalezas em Carrhae, na Alta Mesopotâmia. Com um exército que incluía seus aliados hindus surpreenderam os romanos orientais; mas tiveram dificuldade de manter o conflito em face de enchente (de afluente do alto Eufrates). Em face desta situação, se realizou um tratado de paz, visto que Yazdgard II estava às voltas com as tribos hunicas dos Kidaritas (chamados pelos chineses de Ki-To-Lo) a nordeste do seu império. Foi estabelecida a não construção de novas fortalezas nas fronteiras entre os dois impérios. 443 – Os hunos Átila e Bleda, após terem tomado Nis (Naissus), Serdica (Sofia) e Arcadiópolis, atacaram Constantinopla, defendida por Flávio Zeno; em seus arredores venceram as tropas de Aspar, o Alano e dos germanos Areobindo e Arnegisclo. A seguir, Átila perseguiu as forças romanas até Quersoneso do Bósforo (na Península de Galípoli), onde derrotou Aspar. Em função disto, o imperador Teodósio II mandou o oficial da corte Anatólio entabular negociações com os hunos. Foi negociada a I Paz da Anatólia, em agosto, entre os impérios Húnico e Romano Oriental, pelo qual este pagou pelo resgate de prisioneiros e um imposto; também ficou intimado a extraditar os hunos que se homiziaram em Constantinopla e se recusar a acolher outros que viessem; os que se recusaram a retornar foram mortos. 444 – Ao falecer, em 27 de junho, o patriarca Cirilo em Alexandria, o sucedeu Dióscoro, que pretendeu se ascender ao título de patriarca ecumênico, portanto superior ao de Constantinopla, encontrando, pois, resistência neste local, que teve novo patriarca em julho de 446, Flaviano. ---- Átila implantou como sua área residencial o vale do Tisza (afluente da margem esquerda do Danúbio, na atual Hungria), de onde poderia organizar sua próxima invasão aos Bálcãs.445 – O patriarca de Antióquia, Domnus II, convocou um sínodo de bispos sírios, a fim de homologar a deposição de Atanásio de Perrha.446 – Em julho, ascendeu ao patriarcado em Constantinopla, Flaviano, que exerceu sua função até 449. Foi canonizado por sua luta contra a heresia do eutiquismo (ou monofisismo), criada pelo monge Eutíquio de Constantinopla e pelo patriarca Dióscoro de Alexandria, pregando a divindade de Cristo, já que sua natureza humana eliminou sua natureza divina. Tal heresia foi condenada no Concílio de Calcedônia realizado 5 anos depois. ---- O imperador persa Yazdgard II Sipahdost realizou, ao contrário da tolerância praticada desde o início de seu governo, nova perseguição antissemítica e contra os monofisitas.447 – Em 26 de janeiro, a capital romana oriental foi abalada por um sismo que destruiu boa parte da Muralha de Teodósio e a população ficou desabastecida de alimentos, já que algumas de suas torres serviam para armazenar cereais, como o trigo. Além da fome, grassaram doenças na cidade. – Na primavera, novamente os hunos se bateram contra os romanos orientais: Átila, servindo-se pela primeira vez de aliados germânicos (Ardarico, dos gépidas e Valamer, dos ostrogodos). O exército imperial saiu de Marcianópolis ( hoje chamada de Devnja, na Bulgária), atravessou a Mésia e se defrontou com eles no rio Utus (ou Vit, afluente do Danúbio). Depois do confronto, ele se dirigiu para Dobruja (Cítia Menor, mais tarde chamada de Valáquia) e impediu que as tropas hunas e seus aliados pudessem ir para Constantinopla, em Serdica (Sofia atual), permitindo, assim, que os romanos orientais pudessem refazer os estragos na Muralha de Teodósio ocasionados pelo terremoto (o responsável por esta reconstrução rápida foi Ciro). Não atacaram Constantinopla, mas saquearam as cidades imperiais até as Termópilas (na Península Balcânica) em sua volta para locais de origem no Império Húnico. Daí foram para o Império Romano do Ocidente, aliviando suas ameaças à Constantinopla.448 – A heresia do monofisismo pregada pelo monge (arquimandrita) Eutíquio de Constantinopla, foi condenada pelo patriarca Flaviano em um sínodo neste ano, enquanto o patriarca de Alexandria, Dióscoro, tentou reabilitá-lo em agosto de 449 no II Concílio (tumultuado) de Éfeso, a que se alcunhou como ‘Latrocínio de Éfeso’. --- Neste ano, se efetivou novo acordo com Átila, no qual este, além de exigir o pagamento de tributos (uma verdadeira vassalagem fiscal dos romanos orientais), também quis que fosse criada a fronteira na província de Mésia e um mercado em Naissus (Nish), mas não obteve sucesso. ---- O patriarca Flaviano de Constantinopla recebeu uma carta do papa Leão I, o Grande, onde demonstrava a doutrina romana da encarnação divina com a natureza divina e humana de Jesus Cristo: esta carta foi chamada de ‘Tomo de Leão’.449 – Entre os dias 8 e 13 de abril se reuniu um sínodo em Constantinopla para ratificar a condenação ao monofisismo feito no ano anterior. – No verão se urdiu um plano de assassinato de Átila pelo ministro Crisafio de Teodósio II, tentando corromper um rei bárbaro vassalo dele chamado Edika (pertencente à tribo germânica dos skiras originários de Mazuria, próximo da Lituânia atual). Átila teve conhecimento deste plano e solicitou a extradição de Crisáfio, mas não teve sucesso.---- Em 8 de agosto se realizou a chamada ‘Pilhagem’ de Éfeso, ou seja, um segundo concílio nesta cidade, entre o primeiro (de 431) e o da Calcedônia (em 451), convocado pelo imperador e pelo patriarca de Alexandria, Dióscoro. Antes mesmo de sua reunião, o papa Leão I a qualificou de ‘latrocínio’ ou pilhagem em face das disputas entre os bispos e patriarcas; este papa não reconheceu sua reunião e ainda excomungou os seus participantes. ---- Em novembro, após a deposição do patriarca Flaviano desde o ‘Latrocínio de Éfeso’ e seu falecimento, tomou posse no cargo Anatólio.450 - Em janeiro, ocorreu mais outro sismo em Constantinopla. – Na primavera foi acertado novo acordo com Átila através do patriarca Anatólio e de Nomus, pelo qual o rei huno abdicou de suas pretensões territoriais, deu a liberdade a vários prisioneiros romanos orientais e ao godo Vigila

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(suspeito de trama para matá-lo). ---- A co-imperatriz de Ravena, a romana ocidental Honória, estava detida em Constantinopla, aí exilada pelo seu irmão Valentiniano III; descontente com isto pediu ajuda a Átila e acabou sendo repatriada para Roma. ----Ao praticar equitação, Teodósio II sofreu um acidente e morreu em 28 de julho. Usurpou o trono o eunuco Crisáfio (ministro do imperador pertencente ao partido Verde), destituído por Pulquéria (irmã do finado), que se casou com o general Marciano (filho de Antêmio e adjunto de Aspar), consagrando-o como imperador, não respeitando o direito do imperador romano ocidental Valentiniano III de nomear o novo imperador em Constantinopla. ---- Neste ano: Ao lado dos conflitos políticos externos, o imperador persa Yazdgard II se aplicou na difusão da doutrina mazdeísta (religião antiga contida no livro sagrado do Zend-Avesta), enviando um emissário, o general Mihr-Nerseh, em missão religiosa à Armênia para forçar a conversão a esta prática religiosa e erradicar o cristianismo.450 (25 de agosto) a 457 - Reinado de Marciano, que teve papel importante na guerra contra os hunos de Átila (que atacara a Gália em 451 e a Itália em 452), recusando-se a pagar-lhe tributo (a que não retaliou pois estava às voltas com aquela campanha militar). Uma de suas primeiras medidas foi a mandar executar Crisáfio. Pertencia ao partido dos ‘Azuis’, ligado aos aristocratas e senadores.451 –Yazdgard II enviou 700 magos para a conversão dos armênios ao mazdeismo. Em face desta intromissão religiosa, em 2 de junho, houve uma revolta sob a chefia de Vardan Mamikonian, contando com o auxílio militar até de Átila e se chocando com Mihr-Narseh (com seus elefantes de guerra e a cavalaria ‘Savaran’) na Batalha de Awarair (ou Avarayr), em 2 de julho, na qual Vardan morreu. Yazdgard II deportou para a Pérsia os chefes das grandes famílias da Armênia. O patriarca armênio José e 10 membros do clero foram executados em 454. Por outro lado, retrocedeu na ordem da conversão forçada ao mazdeísmo. A revolta continuou, ainda, nas áreas montanhosas. --- As perdas militares de soldados com a sufocação da revolta armênia pelos persas impediram a sua reação armada contra a nova ameaça dos Hunos Heftalitas sobre a fronteira oriental do império. Até hoje, a Armênia celebra em fevereiro a ‘festa de Vardan’ tendo como tema esta batalha. ---- No outono, Átila ameaçou os romanos orientais por causa do não pagamento de tributo e não recebeu pessoalmente o emissário Apolônio e sua comitiva (estava às voltas com a guerra na Gália, onde foi derrotado na Batalha dos Campos Catalaúnicos em 22 de setembro). – Em 8 de outubro, o imperador Marciano e esposa Pulquéria convocaram o 4º concílio cristão: o de Calcedônia, na igreja de Santa Eufêmia, cujo tema básico foi o problema cristológico (Jesus apresenta a natureza divina e humana em si) e se corroborou a condenação da heresia monofisita de Eutíquio e Dióscoro. Se reconheceu o monasticismo, se proibiu a simonia e se nivelaram as atribuições do Patriarca de Constantinopla com o Papado em Roma. Dióscoro foi destituído de seu patriarcado e exilado, despertando a rebelião de seus adeptos em Alexandria, Antióquia e do Reino de Aksum (na África) contra os ortodoxos de Constantinopla (chamados de ‘melquitas’). No lugar de Dióscoro ficou Protérios.451 a 471 – O general de origem alana e patrício Flávio Ardabúrio Aspar exerceu papel importante no império durante o reinado de Teodósio II; influiu na ascensão de seu protegido Marciano ao trono e de Leão I em 457 (cuja filha se casou com seu filho Patrício).452 - O imperador Marciano enviou tropas para auxiliar Valentiniano III contra Átila em campanha no vale do Pó, saqueado por ele. ---- Neste ano, Veneza foi fundada por gente que estava fugindo das forças hunas de Átila; aí se estabeleceram em ilhas pequenas na laguna.453 - Átila voltou do ocidente vencido e cansado e morreu em 453 em 15 de março, com o nariz sangrando após uma noite de núpcias com a germana Ildico. Pretendia realizar uma campanha militar retaliativa contra o Império Romano Oriental. ---- Em julho, a imperatriz Pulquéria faleceu em Constantinopla; enquanto ela viveu aí, mandou erigir novas igrejas. O viúvo, Marciano, passou a sofrer grande influência de Flávio Aspar. A irmã de Marciano, Márcia Eufêmia, contraiu matrimônio com Antêmio, que recebeu o título de ‘comes’ (equivalente ao futuramente chamado de ‘conde’) e foi enviado para a região fronteiriça do Danúbio para reconstruir suas defesas. ---- A Península dos Bálcãs foi saqueada pelos ostrogodos (mais à vontade após a morte de Átila). ---- Na Palestina houve uma revolta de monges, sufocada por tropas imperiais. Em Alexandria, o imperador nomeou novo patriarca, Protério, após revoltas religiosas locais entre monofisita e ortodoxos. 454 – Em 17 de setembro, Dióscoro retornou ao patriarcado de Alexandria.455 –Na primavera, alguns hunos, se aproveitando das querelas sucessórias após a morte de Átila, se apresentaram para defender o Império Romano do Oriente contra os germanos orientais. Assim, para fazer frente aos gépidas, se instalaram nos vales dos rios Utus, Almus e Oescus (na Dácia Ripuária) os hunos UIltzindur e Emnetzur. Os ostrogodos, por sua vez, se instalaram na Mésia ou na Dobruja aceitando, nominalmente, a suserania imperial romana (não aceitaram de fato a suserania, já que saquearam províncias adjacentes). Ardarico, rei dos gépidas, se estabeleceu com sua tribo na região balcânica entre os rios Marosch (ao norte), Danúbio (ao sul) e à margem direita de seu afluente Tisza (a leste). Os esciros, com seu chefe Edika, se estabeleceram entre o Danúbio e a margem esquerda do Tisza. ---- Um dos filhos do finado Átila, Irnik, realizou uma incursão sem sucesso sobre Constantinopla. --- O general Aécio, acusado de conspirar contra o imperador Valentiniano III, foi degolado na frente deste. Um ano depois dois amigos de Aécio massacraram o imperador. A morte deste marcou o início da agonia do Império Romano do Ocidente, constituído apenas pela Itália e a Gália, duas décadas depois estava restrito à Ravena. Dos dez imperadores romanos, 4 foram nomeados por Bizâncio.456 – O patriarca de Jerusalém incitou, no mês de janeiro, os samaritanos a massacrar monges monofisitas de Nablus. ---- Em março, foi mandada uma legação diplomática pelo imperador Marciano para a cidade de Cartago, no norte da África, com o intuito de acabar com os ataques dos Vândalos no Mediterrâneo.457 - Em 26 de janeiro, morreu Marciano (talvez por uma gangrena nos pés por uma longa peregrinação religiosa, foi até canonizado pela igreja grega). Com sua morte acabou a Dinastia Teodosiana. Desde o dia de sua morte até 7 de fevereiro os dois impérios romanos sofreram um vazio imperial em seus tronos (em Roma foi deposto o imperador Avitus em outubro de 456). Marciano foi sucedido por Leão I, o Trácio, indicado pelo patrício Aspar, no intuito de fazer dele um fantoche até que seu filho Patrício pudesse sucedê-lo.457 (7 de fevereiro) a 474 - Imperador Leão I (Flávio Valério Leão), o Trácio (era um tribuno da Trácia, da tribo dos Besses do alto vale do Maritza): primeiro a ser coroado pelo Patriarca de Constantinopla. Subiu ao trono por indicação do godo (da tribo dos alanos) chamado Aspar (com o qual teve atritos até 471 no exercício do poder). Tentou transformar o imperador romano ocidental, Majoriano, em seu fantoche.457 (continuação) – No mês de fevereiro, Leão I elevou sua esposa Aélia Verina ao ‘status’ de Augusta. --- No dia 28 deste mês, Leão I mostrou sua ingerência no Ocidente: nomeou o general Ricimer como patrício. Em 1 de abril, Majoriano foi proclamado como imperador romano do Ocidente, mas Leão I não reconheceu o seu título de César; Majoriano, em 28 de dezembro, demonstrou sua indiferença, proclamando-se Augusto.– Em 29 de março, em Alexandria, os monofisitas assassinaram o patriarca Protério, que foi substituído por Timóteo. 457 a 518 - Dinastia Trácia, durante a qual se acentuaram as diferenças entre o Cristianismo de Roma e o de Constantinopla. Os imperadores governaram de modo absoluto à maneira oriental (ao contrário das monarquias ocidentais feudais). Nesta época ainda se considerava o latim como língua oficial politicamente (o grego era usado pelo clero).458 - Em 14 de setembro, Antióquia foi sacudida por um abalo sísmico. ---- Neste ano foi fundada, às margens do rio Kura, a cidade de Tbilisi pelo rei Vakhtang I da Ibérica Caucasiana. Por sua localização geográfica privilegiada controlava as rotas comerciais entre o leste e o oeste da Transcaucásia e foi objeto de conquista de bizantinos, persas e árabes.461 a 471 – Teodorico, o Amal (linhagem real de godos), filho de Teodemiro e Erelieva, esteve como refém em Constantinopla para garantir um tratado feito entre Teodemiro e o Império Romano do Oriente. Em Constantinopla foi educado e bem tratado pelos imperadores Leão I e Zenon, aprendendo como governar. Ele será o futuro rei ostrogodo Teodorico, o Grande, conquistador da Itália.462 – Um incêndio em Constantinopla, em 2 de setembro, destruiu a estátua de Zeus, considerada uma das sete maravilhas do mundo antigo. – Neste ano, Leão I conseguiu, através de negociação diplomática com Genserico (rei dos Vândalos Asdings, que conquistara Roma em 455), a liberdade da viúva de Valentiniano III (Eudóxia) e de sua filha (Placídia).462 a 468 – Com o domínio da Ilha da Sicília pelos vândalos, a pirataria grassou no Mar Mediterrâneo. Em função disso, Ricimer negociou uma aliança militar com o Império Romano do Oriente para por um termo final à pirataria.463 – Leão I recebeu uma embaixada dos Oghurs, Onoghurs e Saraghurs que tinham sido expulsos do litoral do Mar Negro pelos Sabirs, estes

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fustigados de suas terras pelos Ávaros. ---- Em Constantinopla, foi fundado o famoso Mosteiro de Studion. ---- Basiliskos, cunhado do imperador, comandante em chefe (dux) da Trácia, moveu ação militar com sucesso neste ano contra os proto-búlgaros chegados recentemente no Baixo Danúbio.464 - Basiliskos foi realçado ao posto de general de armada (magister militum) pelo imperador Leão I.465 – Em 1 de janeiro, o imperador nomeou seu cunhado Basiliskos (Flávio Basilisco) como cônsul no Oriente. ---- Em 15 de agosto, o genro do ex-imperador Marciano, Antêmio, foi mandado por Leão I a Roma (com o trono vazio por 18 meses desde a ascensão do fantoche Líbio Severo, indicado por Ricimer), sendo recebido festivamente aí. – No início de setembro, Constantinopla sofreu um incêndio. ---- Neste ano, o isauriano Tarasicodissa foi nomeado comandante das tropas da guarda imperial.466 – Foi promulgado o direito de homizio nas igrejas pelo imperador em 28 de fevereiro. ---- Dengitzic, filho de Átila (que retirou seu irmão primogênito Ellac do poder após a morte do pai) e seu irmão Ernac aumentaram seu domínio sobre o Ponto (região norte da Anatólia) e o baixo vale do Danúbio e mandaram emissários à Constantinopla para negociar um tratado de paz e sediar um mercado no baixo Danúbio, este último pleito foi negado pelo imperador Leão I. Tal atitude imperial resultou na invasão da Dácia Ripuária no inverno (466-467) por Dengitzic. Em função de exigências e ameaças à Constantinopla, em conflito em Serdica (Sofia) foi vencido pelas tropas imperiais. 466-467 – O imperador colocou o isauriano Tarasicodissa como general de armada no Oriente no lugar do primogênito de Aspar, resultando em guerra civil que continuou até 471. – Ocorreu um conflito de 466 a 467 entre a aliança gótico-húnica e o Império Romano do Oriente na Trácia.467 – Em janeiro, iniciaram-se as incursões dos vândalos sobre o Peloponeso, fazendo com que o imperador cortasse as relações com o rei Genserico. ---- Leão I foi o responsável pela ascensão de Antêmio (em vez de Severo) como imperador romano ocidental (em 12 de abril ele saiu de Constantinopla e foi para Roma, que avalizou a nomeação feita por Leão I), este foi morto em 472, sendo sucedido por Olibrio. 468 – No final de julho, o imperador determinou a exclusão de acesso de não-cristãos às funções judiciárias. No verão, ele enviou uma armada contra Genserico (vândalo Astings) sob o comando do irmão de sua esposa Verina, Flávio Basilisco, que foi um fiasco: foi incendiada pelos vândalos no promontório de Mercúrio (hoje Cabo Bom). Foi assinado um tratado de paz com Genserico; 6 anos depois este ‘bárbaro’ retomou o conflito. --- O isauriano Tarasicodissa se casou com Ariadne, filha de Leão I e adotou o nome de Zenon. – Em novo ataque ao império, o rei huno Dengitzic foi vencido em combate pelo general Anagaste, decapitado e sua cabeça mandada para Constantinopla. Ele foi sucedido pelo seu terceiro irmão Ernakh em 469. 469 – Em 8 de março foram tomadas medidas imperiais contra a simonia exercida nas consagrações dos bispos. ---- Neste ano: O príncipe visigodo Teodorico (que estava em Constantinopla) retornou à Panônia. ---- Os vândalos foram rechaçados do Peloponeso (sul da Grécia) e invadiram o Épiro (hoje, Albânia) e atacaram a Ilha de Zakintos ou Zante (no Mar Jônio); ao voltarem para Cartago foram esmagados por frota romana oriental.471 - Flávio Balilisco retornou do exílio e conspirou contra Aspar. ---- Na guerra civil entre montanheses de Isauria (Isaurianos, da Armênia atual), chefiados por Zenon e os godos (tendo à frente o alano Aspar), Zenon foi alvo de um atentado urdido por Aspar, quando estava em campanha na Trácia. O conflito se encerrou pela morte de Aspar e seu filho, Ardaburio, por traição numa festa neste ano; outro filho de Aspar, o césar Patrício, mesmo ferido conseguiu fugir. ----Acabou esta guerra civil, mas começou outra por duas décadas entre os Isaurianos e os ostrogodos federados sediados na Panônia: um parente de Aspar, Teodorico Strabo (o Estrábico), se revoltou arrasando o território da Trácia com os ostrogodos federados; tal conflito permaneceu até 473. Com a morte de Aspar acabou o recrutamento de mercenários bárbaros na armada imperial romana oriental. 471 a 489 –No Patriarcado de Constantinopla morreu Genádio I, sendo substituído por Acácio, exercendo sua função até 489.472 – Em 6 de novembro, o vulcão Vesúvio, no sul da Itália, teve uma erupção muito violenta, jogando cinzas em tal quantidade na atmosfera que chegaram à Constantinopla. 473 – O filho de Zenon e sobrinho do imperador, também chamado de Leão, foi nomeado César em 31 de outubro. 17 dias depois ele foi nomeado imperador associado (já que Leão I já estava com 72 anos). ---- Teodorico Strabo (o Estrábico), depois que saqueou a Trácia negociou um acordo de paz com o imperador. 474 – Em 18 de janeiro morreu Leão I. 474 (3 de fevereiro) a 10 de novembro de 474 - Ao morrer Leão I, o trono coube ao seu neto Leão II, o Jovem, com apenas 7 anos (filho de Zenon com Ariadne, esta filha de Leão I). Em 9 de fevereiro Zenon (genro de Leão I) foi nomeado co-imperador; ao morrer Leão II em 10 de novembro, ele se alçou ao trono. 474 (10 de novembro) a 491 - Reinado de Zenon I (Flávio Zenon). Pertencia ao grupo dos Isaurianos, dos Montes Taurus. Gostava muito de jogar ‘tabula’ (antecessor do gamão). Teve seu reinado entrecortado em dois períodos por causa de disputa de poder.475 –.Em 12 de janeiro, Flávio Basiliscos e seu irmão Trokundes, com o apoio de Teodorico, o Estrábico, de Illus e de seu sobrinho Armatus, se apoderou do trono, forçando Zenon a fugir para a Isáuria. Este foi caçado por Illos e Trokundes na região, sendo cercado em Sbidé, junto com seu irmão Longinos, sendo presos. Como Basiliscos não cumpriu promessas feitas a eles, foi solto Zenon. 475 (12 de janeiro) a 476 (agosto) – Reino do usurpador, o godo Flávio Basilisco, almirante e cunhado do imperador Leão I. Governou por 20 meses, enquanto o isauriano Zenon se refugiara nas montanhas de Isáuria desde janeiro de 475. Pressionou os bispos a homologar a ‘Encyclica’ (contra os princípios adotados pelo Concílio de Calcedônia). Mandou assassinar Patrício e se omitiu na matança de Isaurianos pela massa popular em Constantinopla. Teve que aumentar a arrecadação tributária porque Zenon, ao fugir de Constantinopla, levou os recursos do Tesouro Imperial. A maioria do clero não o aceitava por ser monofisita. 475 – Em 9 de abril, o usurpador do trono prometeu ao clero afirmar sua posição monofisita. ---- Neste ano, a Biblioteca de Constantinopla, com um acerco de 120.000 volumes, sofreu um incêndio, destruindo parcialmente este acervo. 476 - Os Isaurianos conseguiram repor no trono a Zenon no final de agosto: Zenon cercou a capital, cujas portas da muralha foram abertas pelo Senado. Basilisco, sem apoio de ninguém, se asilou dentro da Igreja de S. Sofia. Traído pelo patriarca Acácio, se entregou a Zenon sob promessa de que pouparia sua vida e dos familiares. Zenon os mandou para uma fortaleza na Capadócia, onde foram jogados num poço e aí morreram. – Em 4 de setembro, o Império Romano do Ocidente, governado por Rômulo Augústulo, caiu diante dos hérulos, comandados por Odoacro; este fato é considerado por muitos historiadores como o fim da Antiguidade e início da Idade Média. Há autores, no entanto, que consideram os anos de 395, 511 e 512. O conflito entre Zenon e Flávio Basilisco neutralizou qualquer investida contra os hérulos; pelo contrário: Odoacro foi reconhecido como ‘dux’ da Itália, ao mandar os símbolos de poder imperial de Roma para Constantinopla.—No inverno, Zenon assinou um tratado de paz com o rei vândalo Genserico reconhecendo-lhe o oeste da África, as Ilhas Baleares, de Sardenha e da Sicília. ---- Constantinopla sofreu mais um terremoto.476 a 491 – Segundo período de governo do Imperador Zenon I.476 A 750 – PERÍODO CHAMADO DE PROTOBIZANTINO PELOS HISTORIADORES.477 – Neste ano: Zenon nomeou o rei da Burgúndia (Chilperico) como mestre de milícia da Gália; este, no entanto, teve sua autoridade mais nominal que real no interior do seu reino. Ainda neste ano doou Marselha, Arles e Narbonne ao rei visigodo Eurico. – Armatus, tio de Flávio Basilisco e ‘magister militum’ (‘comandante militar’), foi assassinado pelo seu amigo Unulfo, por ordem do imperador Zenon. ---- O general Illus não era benquisto pela imperatriz Ariadne e sua mãe Verina: tentaram, pois, pela primeira vez urdir um plano para assassiná-lo, mas não deu certo. 478 – Nesse ano, Zenon conseguiu desfazer a aliança entre os Teodorico, o Amale e o Estrábico. O primeiro, no entanto, continuou o conflito atravessou a Macedônia e se apoderou de Dyrrachium (no litoral do Adriático) e aí mandou construir um forte. Ele se aliou com Teodorico, o Estrábico; Zenon tentou desfazer a aliança, não conseguindo. Marchou então contra Teodorico, o Amale, obtendo vitória. Assinou um acordo de paz com Teodorico, o Estrábico, enquanto o outro Teodorico saqueava a província da Trácia. – O general Illus foi nomeado cônsul e solicitou ao imperador para ficar em Isauria, sob pretexto da morte de seu irmão Aspalios. No final deste ano ou início de 479, o imperador lhe mandou Verina (sua sogra e irmã de Flávio Basilisco,que urdiu plano para assassiná-lo), que a prendeu num castelo local. 478-479 – Revolta dos ostrogodos de Teodorico, o Grande, mesmo sendo federados ao Império Romano do Oriente. 479 – O rei ostrogodo Teodorico, o Grande, iniciou campanhas militares contra o império: saqueou a região da Macedônia e chegou até o porto de

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Tessalônica. O imperador negociou acordo de paz através de emissários, enquanto Teodorico ameaçava Dyrrachium (Durazzo atual); depois saqueou a Mésia e Trácia e ainda ameaçou Constantinopla. No outono, o general romano Sabiniano o venceu, forçando-o a se retirar. ---- Eclodiu mais uma rebelião contra o imperador, liderada por Procópio e Rômulo (irmãos da ex-imperatriz Verina) e Marciano (genro do imperador), mas ela foi sufocada pelo cônsul Illus (isauriano como o imperador). – No final deste ano, o filho do imperador romano ocidental Antêmio, chamado de Marciano, tentou se alçar ao poder em Constantinopla. Fracassou e foi exilado na Capadócia, de onde conseguiu fugir, atacando Ancira, mas foi novamente preso por Trokundes. 480 - Houve referência pela primeira vez aos protobúlgaros ou onogures, habitando a área entre o Baixo Danúbio e o Mar Cáspio, ajudando o imperador Zenon em sua guerra contra os godos, estes, por sua vez, auxiliando os Ávaros na conquista da região ao norte do Mar Negro. Entre os chefes destes protobúlgaros se salientou Gostun. ---- Zenon eliminou a chamada ‘linha oeste dos imperadores’, que separava as duas partes do Império Romano.481 – Teodorico, o Estrábico, obteve uma vitória na Trácia sobre os búlgaros, marchando depois em direção à Constantinopla, mas desistiu por problemas logísticos. Ao retornar, voltando para a Grécia, nas proximidades de Filipes (na Macedônia Oriental) caiu de um cavalo sobre uma espada e morreu.481 – 482 – No inverno entre um ano e outro, talvez tenha havido nova conspiração (a terceira) de Ariadne contra Illus (que chegou a ter uma orelha cortada), mas sobreviveu: o imperador Zenon o nomeou mestre das milícias do Oriente; concedeu, também, a Trokundes, o cargo de cônsul.482 –.O imperador romano oriental mandou publicar o ‘Henotikon’ (‘Edito de União’) para conciliar os ortodoxos cristãos com os monofisitas; mas este edito levou à separação das igrejas de Roma e Constantinopla entre 484 e 519 em virtude de suas intransigências, disputas jurisdicionais e religiosas e as heresias. Nele se estabeleceram: aprovação das 12 excomunhões de Cirilo de Alexandria e a condenação das heresias de Nestorio e Eutiques. O papa Félix III considerou este edito muito influenciado pelo monofisismo.483 - Teodorico, o Amal, mais uma vez colocou em perigo Constantinopla. Para arrefecer seu objetivo, o imperador lhe outorgou o título de ‘mestre de milícias’ e lhe transferiu a posse da Mésia. ---- Terceiro terremoto registrado em Constantinopla.484 – Em 7 de fevereiro, Teodorico recebeu o título de cônsul do Império Romano do Oriente (no lugar de Trokundes, que morrera). – Em março, ocorreu uma revolta encabeçada por Verine (sogra do imperador, que também tinha tramado contra ele apoiando Basiliscus e saiu da prisão em Papyrium perto de Tarso), aliada com Illus, objetivando destituir Zenon e colocar no trono um usurpador, Leôncio (patrício e governador da Síria), que fora coroado imperador em Tarso, em julho. O rebelde Leôncio e o general Illus entraram em Antióquia; aí Leôncio nomeou Liliano como prefeito do pretório e foi reconhecido como imperador, transformando esta cidade como sua capital. Daí continuaram sua marcha em direção à Constantinopla, abortada por traição em Papyrium (Cilícia), submetida a cerco por tropas imperiais; em 488 foram entregues ao imperador que mandou cortar suas cabeças em Selêucia (em Isáuria). – Em 20 de maio estourou uma rebelião dos samaritanos nas cidades de Cesareia e Nablus (na Palestina), debelada por Zenon; depois disto ele mandou destruir um templo dos samaritanos e, em seu lugar, erigir uma igreja dedicada à Nossa Senhora no Monte Garizim. ---- Em 28 de julho, o papa Félix III mandou uma carta ao patriarca Acácio, lançando-lhe um anátema por causa do Edito do ‘Henotikon’ ser contrário às determinações do Concílio de Calcedônia; o patriarca retaliou mandando apagar o nome do papa dos dípticos (pinturas) litúrgicas.484 a 519 - Cisma entre as igrejas católicas de Roma e Constantinopla devido às discussões sobre a heresia monofisita. O papa Félix III lançou um anátema sobre o patriarca Acácio.485 – Em 5 de outubro chegou ao papado de Roma a notícia de que o patriarca de Antióquia, Calandion, foi destituído do cargo pelo imperador Zenon, em face de seu apoio à rebelião de Leôncio e Illus e ser contrário ao Edito de Henotikon. O imperador restaurou no cargo de patriarca Pedro, o Pisoeiro (introdutor da oração do Credo na Missa).486 – Em Selêucia-Ctesifon, na Pérsia, em fevereiro, reuniu-se um segundo concílio em que os cristãos locais acolheram o nestorianismo como sua religião.487 – Como se esgotaram os recursos naturais da Mésia, Teodorico Amale saiu de Noves (nesta província) e novamente tentou tomar Constantinopla, conseguindo apenas saquear os seus arredores. O imperador Zenon propôs ao rei ostrogodo Teodorico, o Grande, de reconquistar a Itália, que tinha sido tomada por Odoacro (antes legitimado, pelo mesmo imperador, como soberano dos hérulos e esquires). ---- Constantinopla foi abalada por um sismo.488 – Os Hunos Heftalitas foram contidos nos passos do Cáucaso por Zenon aliado com os persas sassânidas (Kavadh I). – Em setembro, em Selêucia de Isauria, o imperador mandou executar o patrício e conde isauriano Illus (Ilo) e o imperador-usurpador Leôncio. ---- No outono-inverno, Teodorico, atendendo à proposta do imperador, iniciou sua campanha militar de conquista da Itália, saindo de Noves (na Mésia) e saindo-se vitorioso sobre os gépidas e sarmatas na Ilíria.489 – Em agosto, Teodorico estava invadindo a Itália por Hrusica ( Floresta de Bimbaumer, com muitas fortalezas para dificultar invasões provenientes do leste). Não teve dificuldades para atravessar os desfiladeiros da região (entre a Eslovênia e Itália da atualidade). ---- Neste ano: Em face de divergências doutrinárias cristãs, a famosa Escola Teológica de Edessa (hoje Urfa, na Alta Mesopotâmia, às margens do rio Eufrates) sofreu uma cisão e teve suas portas cerradas por determinação imperial. Seus mestres foram para Nísibe, onde criaram uma nova escola teológica, que se tornou um centro de expansão do nestorianismo em vários lugares, inclusive na Arábia.490 – Com a morte de Fravitta, o patriarcado de Constantinopla passou para Eufêmio, no mês de março. Ele reconheceu as determinações do Concílio de Calcedônia e cancelou as relações religiosas com o patriarca de Alexandria.491- Em 9 de abril Zenon morreu sem ter filhos com Ariadne. Iniciou-se, então, uma querela sucessória entre Login (irmão de Zenon I) com apoio de milícias isaurianas, e a viúva Ariadne com apoio do Senado. Esta última, 2 dias depois, conseguiu nomear Anastácio, sendo coroado no Hipódromo pelo patriarca Eufêmio, que lhe pediu para obedecer os decretos do Concílio de Calcedônia. – Neste ano: Na Armênia reuniu-se um concílio em Vagharchapat, em que se concluiu que o Concílio de Calcedônia (em 451, condenando o monofisismo) não se harmonizava com o Concílio de Éfeso (realizando 2 anos antes dele). Este concílio armênio foi excomungado e igreja católica da Armênia considerada cismática. 491 (11 de abril) a 518 - Reinado de Anastácio I, cujo cognome era ‘Duas Pupilas’ (por ter um olho azul e outro preto). – Com o seu reinado e o anterior se embasou a concepção de uma monarquia oriental. - Seu governo foi tumultuado pela rebelião dos Isaurianos, alijados do poder, bem como pelo conflito com o Império Sassânida (sob Kavadh I), com as incursões dos eslavos, hunos e búlgaros. Para proteger a cidade de Constantinopla, mandou construir mais outra muralha a oeste da cidade (em 502). Ele acabou com danças licenciosas e espetáculos de lutas entre gladiadores e animais selvagens.491 (continuação) - Anastácio I, em 21 de maio, contraiu núpcias com Ariadne (filha de Leão I com Verina e viúva de Zenon) que o apoiara na sucessão. 492 – O papa Félix II morreu em 3 de janeiro, sendo sucedido por Gelásio I e permanecendo ainda o Cisma Acaciano (divisão da igreja em oriental, com sede em Constantinopla e tendo como patriarca Acácio) e a ocidental (em Roma, tendo à frente o papa). ---- O imperador, na chamada Guerra Isauriana, mandou uma armada sob o comando de João, o Cita, de João, o Corcunda e do príncipe Justino contra rebeldes Isaurianos, vencendo-os na Batalha de Cotyacon ou Cotyaeun (hoje chamada de Kutayeh), forçando-os a se embrenhar nas Montanhas Taurus, onde permaneceram ativos em guerrilha com o imperador até 497. 493 – O rei visigodo Teodorico se apoderou da importante cidade de Ravena (após longo cerco), capturou e matou Odoacro. Unificou o Reino da Itália mantendo as leis e estrutura jurídica romanas, mas deixando os godos manterem seus costumes. Conquistou depois a Rétia, Norica, Panônia e Dalmácia.494 – Gelásio (papa romano de 492 a 496) mandou uma carta ao imperador Anastácio I, colocando bem claro a superioridade do poder espiritual do papa sobre o poder temporal. – O importante porto mediterrâneo de Lataquia (antiga Laodiceia), na Síria, foi sacudido por um tremor de terra.

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495 – Em 13 de março, a rejeição do monofisismo pela papa Gelásio I, foi totalmente endossada pelos bispos reunidos no Sínodo de Roma. Demonstrou o papa sua indisposição com os esforços do imperador bizantino em estabelecer uma variante do nestorianismo: a doutrina miafisita.496 – Na primavera, o imperador Anastácio, retirou Eufêmio do patriarcado de Constantinopla e o exilou; nomeou como seu sucessor a Macedônio II.—Neste ano, deixou de pagar tributo aos persas sassânidas, resultando na renovação do conflito entre eles em 502. ---- O imperador romano oriental Anastácio I deixou de pagar o tributo aos persas.497 – Na primavera, o imperador Anastácio enviou alguns dos seus aparatos de autoridade (as chamadas ‘regalias’, como a insígnia imperial) ao rei visigodo Teodorico, o Grande, como mérito de reconhecimento de representação do império no Ocidente. ---- Neste ano: Em Constantinopla iniciou-se a construção dos Longos Muros como proteção contra ataques dos eslavos, búlgaros e hunos heftalitas (que ameaçavam os impérios Romano Oriental e Persa). --- Foi sufocada definitivamente a revolta dos Isaurianos pelas tropas imperais tomando suas fortalezas nas montanhas e e seus mentores (Atenodoro e Longin de Selinonte, este último irmão de Zenon) decapitados e suas cabeças colocadas como escarmento em Constantinopla. --- Anastácio I rompeu relações com os persas sassânidas ao não ratificar um acordo anterior de remunerar a guarnição persa que guardava as Portas Caspianas (na cidadela fortificada de Derbend, ou Ntermpent, ao norte da Pérsia, entre o mar e montanha), de vital importância para os dois impérios para a comunicação do norte com o sul do Mar Cáspio.498 - Em maio, foi executada uma reforma fiscal sobre o ‘chrysargyron’ (‘ouro e prata’) isto é, o imposto pago em ouro sobre a circulação de mercadorias entre os artesãos e comerciantes. Sua arrecadação deixou de ser executada pelo Senado e foi atribuída a funcionários ligados à Prefeitura do Pretório. Também foi feita uma reforma monetária, já que a moeda usada desde a época de Diocleciano (o ‘follis’) estava desvalorizada, alterando sua composição, conferindo-lhe maior valor de troca. Promoveu, assim, um saneamento financeiro do império.499 – A Trácia foi invadida e saqueada pelos búlgaros.500 – No Império Persa apenas o nestorianismo foi aceito, fora a religião oficial do Zoroastrismo. – A cidade de Edessa foi assolada pela fome por falta de trigo, de cereais em geral (como cevada). Esta situação gerou mendicância dos pobres, que durou até 501. No final deste século, as propriedades rurais, sobretudo as da Igreja, passaram a ter dificuldades de usar mão-de-obra, visto que a oferta de escravos foi menor que a procura. Os pequenos proprietários, no entanto, não tiveram problema, pelo contrário: o Estado bizantino aplicava uma carga fiscal menor às suas terras na primeira metade do século, depois não.

SÉCULO VI Neste início de século, o Império Romano do Oriente ocupava toda a Península da Anatólia (até os montes da Armênia), a Síria até a margem direita do Eufrates, o Egito, a Cirenaica e a Península Balcânica (exceto a sua região noroeste). Estava dividido em 64 ‘eparquias’ (províncias) e duas prefeituras do pretório, a do Ilírico (compreendendo a Macedônia) e a do Oriente (dioceses do Egito, Ponto, Ásia, Trácia). O historiador Charles Diehl considera este século como a primeira idade de ouro da arte bizantina. Também ensina que, desde este século, a ação missionária bizantina difundiu o cristianismo desde o Alto Nilo (região da Núbia, na África) ao litoral da Crimeia e ao deserto do Saara. Foi neste século, no governo de Justiniano I, que se elaboraram códigos jurídicos e o império atingiu o máximo de sua extensão. Desde meados deste século (537) até a primeira metade do século VIII (752) houve uma influência tão grande na escolha de papas em Roma, que este período foi denominado de ‘papado bizantino’.

501 – Houve inúmeras mortes, em maio, quando se protagonizaram as Brytae, uma festa pagã (segundo alguns autores permeada de licenciosidade) e houve conflitos entre as facções dos Verdes (formado pelas classes inferiores, como a dos artesãos) e Azuis (constituído por membros das classes altas, como os patrícios). Em 502 o imperador decretou a extinção da festa.502 – Em maio, o imperador Anastácio proibiu as danças e festas pagãs em todo o império. No inverno choveu na região de Edessa, acarretando o fim da fome pelas boas colheitas na primavera. ---- Em setembro/outubro, o imperador persa Kavadh I, auxiliado pelos Hunos Heftalitas e pelos seus aliados árabes de Hira (os Lakhmidas), invadiu a Mesopotâmia e se apoderou de Teodosiópolis (atual Erzurum), retomada depois pelos romanos orientais. Prosseguiu em direção a Amida, cercando-a por 3 meses.--- Neste ano, começaram as incursões dos Ávaros e Eslavos Meridionais ao sul do Danúbio. --- Internamente, o império se instabilizou com os conflitos entre as facções (‘demo’) dos Verdes (compostos pelo proletariado) e dos Azuis (formado pelas elites) e das disputas palacianas (como a de Vitaliano) em Constantinopla e a impopularidade do governo; o descontentamento nas províncias (sobretudo por causa da elevada carga fiscal). ---- O líder dos Ghassânidas (aliados dos romanos orientais) conseguiu o título de ‘filarca’ (chefe de tribo) da Arábia. 503 – Continuando sua guerra na Mesopotâmia, Kavadh I conquistou e saqueou a cidade de Amida (ou Diarbekir, no alto vale do Tigre), pertencente aos romanos

orientais, em 10 de janeiro, que tentaram reconquistá-la, mas foram derrotados em julho. Em agosto, Kavadh marchou sobre Osroene (na região noroeste da Mesopotâmia, ao norte do Monte Taurus), onde travou a Batalha de Sifrion derrotando tropas bizantinas comandadas por Patrício e Hipatio, que fugiram para Samosate. Em seguida, o imperador persa tentou por duas vezes (em 17 e 24 de setembro) tomar a cidade de Edessa (atual Urfa), na fronteira entre os dois impérios.504 – Em maio, novamente, tropas romanas orientais comandadas pelos generais Hipartio e Patrício submeteram Amida a cerco, sendo reforçados pelo general Celer no verão (depois de sua investida sobre Arzanena, na Grande Armênia). Enquanto isto, o cônsul Areobindus promovia saques na Persarmênia e perto de Nísibe (chamada hoje de Nis, na Sérvia).504 -505 – Em face da guerra romano-persa, a cidade de Amida foi submetida á desgraça da fome, forçando sua população a atos de canibalismo.505 - Como os hunos do Cáucaso invadiram a Pérsia nas Portas Caspianas (desfiladeiro de acesso difícil, hoje denominado de Passagem de Khauar) e as tropas romanas orientais e persas já estavam exauridas, em abril foi assinado um armistício por sete anos entre os Império Sassânida e Romano Oriental, este último às voltas com invasões e saques de eslavos e búlgaros na Trácia e com revoltas nos Bálcãs.506 – Rompendo o armistício do ano anterior, houve uma contra-ofensiva romana na Mesopotâmia; mas em 28 de novembro foi restabelecida a paz entre os dois impérios. Mais uma vez, os romanos orientais infringiram o acordo: o imperador Anastácio mandou fortificar a região fronteiriça em Dara, Edessa, Batnac e Amida, desrespeitando o tratado de 422 e despertando reações negativas dos Sassânidas. ---- A Dácia (região cárpato-danubiana) foi palco de atritos entre as forças armadas do rei visigodo Teodorico, o Grande e o imperador Anastácio I.507 – Em Antióquia, em 9 de julho, enquanto transcorriam os jogos olímpicos, a facção dos Verdes iniciou uma revolta pilhando uma sinagoga, um templo das Mussas e uma basílica. ---- A estratégica fortaleza em Dara (na Alta Mesopotâmia) foi concluída pelo imperador Anastácio I, erguendo as muralhas de 10 metros de altura e não se importando com os protestos da Pérsia. Por outro lado, mandou construir a Muralha de Anastácio desde o litoral da Propôntida (Mar de Mármara) até o Mar Negro, ao longo do Estreito de Bósforo (onde se situa Constantinopla) em face das depredações executadas pelos búlgaros e eslavos na Trácia.508 - Neste ano: O rei franco, Clóvis, recebeu o título honorífico de ‘cônsul’ e presentes do imperador bizantino Anastácio I por sua ajuda na luta contra os ostrogodos. Com isto, ficou, portanto, reconhecido o Reino Franco pelo Império Bizantino. – O litoral da Apúlia, no sul da Itália, foi arrasado até o porto de Tarento por uma frota naval mandada pelo imperador romano oriental.—Desde este ano, o imperador, que era propenso mais

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ao monofisismo, deixou-se influenciar pelo monge Severo, que tinha sido expulso do mosteiro de Maiuma pelo patriarca Elias I e, por isto, migrou com 200 companheiros para Constantinopla, onde ficaram até 511.511 – Em 7 de agosto, o patriarca de Constantinopla Macedônios II, foi destituído do cargo pelo imperador porque tinha se negado a receber o líder dos monofisitas do norte da Síria, o o bispo Filoxeno de Mabburgo, que tinha sido convidado por ele para visitar a capital. O mesmo aconteceu na recusa em receber os núncios do patriarca de Alexandria. – Neste ano: O patriarca de Constantinopla, Macedônio II, foi deposto, substituindo-o Timóteo I. ---- Antióquia foi tumultuada por conflito religioso entre os adeptos do patriarca Flaviano II e do imperador Anastácio I em relação ao não-calcedonianismo (aceitação do concílio de Éfeso de 431, mas não do Concílio de Calcedônia, em 451). 512 – Em novembro, o imperador Anastácio I abandonou sua política moderada e revelou ainda sua tendência monofisita: substituiu o patriarca Flaviano II de Antióquia, por um teólogo monofisita chamado Severo (de Sozópolis), despertando animosidade do clero ortodoxo, que foi punido com exílio e deposição de seus cargos. Ainda neste mês, estouraram revoltas na capital contra o imperador, sendo destruídas suas estátuas, saqueada a casa do prefeito do pretório (Marinos de Apameia) e a aclamação do cônsul Areobindo como imperador, mas este não aceitou. Em face desta instabilidade, o imperador foi para o palácio de Blachernes. Daí retornou dois dias depois e acalmou os revoltosos com promessas de anular suas decisões. ---- Neste ano: Concluiu-se a construção do Muro de Anastácio (o Longo Muro da Trácia), a 64 km de Constantinopla. – Emigrados hérulos (após sua expulsão da Itália) foram alojados pelo imperador na província de Ilírico (no litoral do Adriático, onde hoje é a Albânia).513 - O general Vitaliano (conde e chefe das tropas no baixo Danúbio e neto de Aspar), auxiliado por hunos, búlgaros e ortodoxos calcedonianos, se revoltou na Trácia contra Anastácio I, por ser monofisita. O imperador abateu a carga fiscal nas províncias próximas (como a de Bitínia) para neutralizar a revolta de Vitaliano. Este, com suas tropas, ficou acampado num subúrbio ao sul de Constantinopla (Hebdomon), onde exigiu a eliminação do ‘Trisagion’ (‘3 vezes santo’, canto entoado 3 vezes na liturgia) monofisita, a reintegração de posse dos patriarcas Macedônio II de Constantinopla e Flaviano II de Antióquia. Como o imperador se prontificou a atender suas exigências, Vitaliano se retirou daquele subúrbio e foi com seu exército para a Mésia Inferior, mas se manteve de prontidão. O imperador mandou a armada dos temas (províncias) de leste do Império em seu encalço, obtendo uma vitória inicial, mas sofrendo uma grande derrota no outono em Acris (Bulgária), quando o general Hipácio (sobrinho do imperador) foi aprisionado. Depois, Vitaliano se alinhou com suas tropas no Muro de Anastácio, ameaçando Constantinopla no final do ano. Sua movimentação armada contra o imperador continuou até a morte deste em 518. 514 –O general Vitaliano novamente cercou Constantinopla, agora com uma frota bloqueando o seu porto. Em face disso, o imperador negociou financeiramente com ele e conseguiu a liberdade do seu sobrinho Hipácio. Daí Vitaliano retornou para a Mésia Inferior. 515 – Em 12 de janeiro e 14 de maio foram remetidas 2 cartas ao papa Hormisdas pelo imperador em face da ameaça das tropas de Vitaliano perto da capital. Nelas, Anastácio I convidava o papa a presidir um concílio convocado em Heracleia (na Trácia) para terminar com o cisma provocado pelo patriarca Acácio. Em resposta, o papa, em 11 de agosto, mandou uma delegação chefiada pelos legados Fortunato de Catânia e Enodo de Pávia para Constantinopla, no intuito de recuperar as relações religiosas mútuas entre as duas igrejas. Para tal, ele determinava que os bispos do Oriente obedecessem as normas ditadas pelo Concílio da Calcedônia e o ‘Tome de Leão’ de 448. Esta negociação religiosa redundou em fracasso devido à posição renitente do imperador em não condenar as idéias de Acácio. – Durante o outono, Vitaliano se revoltou novamente: tomou o subúrbio da capital, Sycae (hoje chamada de Gálata), na margem norte da Península do Corno de Ouro, enquanto a frota naval se preparava a entrar pelo Estreito de Bósforo. A reação imperial foi dupla: por mar, a frota naval comandada por Marinus (prefeito do pretório do Leste) destruiu a frota naval dos rebeldes com o uso do fogo grego; por terra, ele sobrepôs às forças de Vitaliano em Sycae, forçando a sua fuga para a Trácia (voltou à Constantinopla em 518 com a ascensão de Justino ao trono). O imperador, para comemorar a vitória, realizou uma procissão até Sosthenion, na Igreja de S. Miguel Arcanjo. – A imperatriz Ariadne morreu em Constantinopla e foi enterrada na Igreja dos Santos Apóstolos. ---- Os Hunos do Cáucaso invadiram e saquearam os temas (províncias) orientais do Império do Oriente: a Armênia, a Capadócia, a Galácia e o Ponto.517 – O papa Hormisdas, em 3 de abril, mais uma vez mandou uma legação à Constantinopla para mais uma tentativa (fracassada) de união entre as duas igrejas, não contando com a anuência do imperador. ---- Em 5 de abril, em Constantinopla, faleceu o patriarca Timóteo I.--- As províncias da Macedônia, Tessália e Épiro foram invadidas pelos búlgaros.518 – Em 17 de abril, João II da Capadócia (de tendência monofisita) ascendeu ao patriarcado de Constantinopla. ---- Ao morrer o imperador Anastácio I, em 9 de julho, seu sobrinho e herdeiro, Hipácio, não conseguiu o poder por intrigas palacianas. Amâncio, seu ministro mais destacado e monofisita, tentou colocar no trono um membro de sua família. Acabou subindo ao poder, por indicação do Senado com apoio da população da capital, o comandante em chefe da guarda palaciana com 70 anos de idade: Justino, analfabeto (fora um camponês na Macedônia) e sem experiência administrativa. 518 ( 9 de julho) a 527 - Reino de Justino I, que associou ao trono o sobrinho e filho adotivo Justiniano (não tinha filhos com a esposa Lupicínia) e perseguiu os monofisitas. Foi o iniciador da Dinastia Justiniana. 518 a 610: Dinastia Justiniana, na qual se concretizou a ideia da universalidade do Império Romano, restaurado em sua orla mediterrânea, tornando este mar o centro de convergência da economia imperial bizantina até a emergência dos islâmicos.518 (continuação) – Em 15 de julho, o patriarca João II foi forçado por uma multidão irada a subir ao púlpito e reconhecer as normas do Concílio da Calcedônia e um edito do novo imperador determinou que todos os bispos e a população fizessem o mesmo. Tais medidas provocaram perseguições aos monofisitas em todo o Oriente. ---- Em 20 de julho, ocorreu o Concílio de Constantinopla desautorizando o que foi feito no Concílio de Calcedônia, depondo e excomungando o patriarca Severo e restaurando nos livros os nomes do papa Leão nos dípticos. Este concílio foi totalmente aprovado nos concílios realizados em Jerusalém e em Tiro neste ano. --- O imperador Justino, aconselhado por Justiniano, abjurou o Henótico e ajustou as relações religiosas entre Constantinopla e Roma. ---- Em 29 de setembro, o patriarca de Antióquia, Severo de Antióquia, que era monofisita, foi substituído por um ortodoxo e procurou abrigo junto ao patriarca de Alexandria. Seu sucessor foi Paulo, o Judeu. ---- A cidade de Scupi (depois chamada de Skopje), na Macedônia (antiga Mésia Superior) foi abalada por um sismo. 519 – Em 1 de janeiro, o imperador nomeou o visigodo Eutarico como cônsul do Ocidente e lhe outorgou a cidadania romana, ajustando, assim, as relações diplomáticas com Teodorico, o Grande (abaladas antes com a política monofisita de Anastácio I). A festa pelo consulado deu lugar a revoltas antissemitas em Ravena. ---- Em 28 de março, o patriarca João II subscreveu o formulário calcedoniano e a carta sinodal do Concílio de Constantinopla e mandou para o papa Hormisdas: foi o fim do cisma de Acácio, entre as igrejas católicas de Roma e de Constantinopla. 520 – Em 25 de fevereiro foi nomeado Epifânio como novo patriarca de Constantinopla. ---- Em julho, o general Vitaliano foi alçado à dignidade de cônsul, mas foi assassinado pouco tempo depois, talvez a mando de Justiniano, já que era sobrinho do imperador e aparentemente seria o seu sucessor. ---- Em setembro, o imperador acabou com os jogos olímpicos em Antióquia após uma revolta da facção dos Azuis. – Neste ano, o gramático latino chamado Prisciano, publicou a monumental obra ‘Fundamentos da Gramática’ em Constantinopla, base de consulta durante toda a Idade Média. 521 – Logo ao iniciar-se o ano, o imperador nomeou seu sobrinho Justiniano como cônsul. ---- Em 2 de fevereiro, o imperador estabeleceu como o dia da festa do Hipapanto (comemorando a apresentação do Menino Jesus no Templo de Jerusalém por Maria, sua mãe). 522 – O rei do Lazistão, antes chamada de Cólquida (região montanhosa desde Trebizonda a Batumi,na Geórgia), Tzath, foi para Constantinopla, onde foi batizado e recebeu as insígnias da realeza, além de uma esposa patrícia. Desta maneira, a região saiu da influência persa, fazendo com o seu imperador Kavadh I, ameaçasse a retomada do conflito com os romanos orientais, ao qual desistiu por ser convencido por Justino da necessidade dos dois impérios se unirem diante do inimigo comum: os Hunos e seu rei Ziligdès. Diante disso, o imperador persa solicitou que o imperador Justino I adotasse seu filho Khosro (futuro Ḵosrow I Anōšīravān), mas não teve sucesso porque o imperador romano julgava ser esta adoção um motivo para problemas diplomáticos. ---- Neste ano, o famoso Templo de Zeus em Olímpia (Grécia) foi destruído por um sismo.~ 522 – Em junho, o judeu Yusuf Asar Yathar (ou Dhu Nuwas) usurpou o trono himyarida do rei cristão Ma`adikarib Ya`fur, se declarou anticristão, perseguindo-os, além de massacrar a guarnição axumita sediada na capital Zafar. Dhu Nuwas se outorgou o título de ‘rei de todas as tribos árabes’. Em outubro, massacrou os cristãos do oásis de Najran por sua recusa em converter-se ao judaísmo; o rei Caleb não pode intervir em favor dos

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cristãos porque no inverno o Mar Vermelho estava revolto por ventos fortes. Em face disto, o imperador romano oriental (bizantino) Justino I solicitou ao rei Caleb (de Aksum), através do patriarca de Alexandria (no Egito), a intervenção na região, o que foi executado em 525.523 - Justiniano se casou com Teodora, antiga atriz (há autores que ensinam ser ela uma cortesã).524 – Em dezembro, foi publicado um edito imperial contra o arianismo, naturalmente devendo ser obedecido pelos federados godos e germanos que serviam o império; além disso, determinava o fechamento de suas igrejas em Constantinopla e a interdição de seus seguidores no exercício de funções civis e militares.525 – Em março, a Cilícia foi sacudida por um sismo, destruindo a cidade de Anazarbe, onde nasceu Justino I; este mandou reconstruí-la e passou a se denominar Justinópolis. – Edessa, em 22 de abril, foi arrasada por causa da enchente do rio Skirtos (Daisan). --- Coroando a política de Justiniano de combate às heresias e de aproximação com Roma, pela primeira vez Constantinopla recebeu a visita ilustre do papa João I, recebido de maneira triunfal. Ele, na realidade, fora para lá forçado pelo rei Teodorico, o Grande para tentar a anulação do edito imperial do ano anterior. 526 – Em 18 de maio, o papa João I, já na Itália de volta de Constantinopla, foi preso por ordem do rei Teodorico, porque ele não conseguiu a suavização do edito imperial antiariano de 524; ele morreu na prisão. O rei Teodorico, em contrapartida, mandou redigir um edito pelo qual ele confiscaria todas as igrejas ortodoxas de seu reino. ---- Em 29 de maio, a cidade síria de Antióquia sofreu um grande terremoto, morrendo milhares de pessoas e destruindo centenas de prédios. ---- Neste ano iniciou-se a Guerra da Ibéria (no Cáucaso) entre os Impérios Sassânida e o Romano Oriental, em virtude da guarida que Justino I deu cobertura ao rei da Ibéria, Gurgenes, em virtude de se opor ao imperador Kavadh I na tentativa de obrigar seus súditos a se converterem ao zoroastrismo. Justino I incitou os hunos de Toride (no Quersoneso) a se conflitarem contra os persas e mandou tropas para o Lazistão. O imperador persa, por sua vez, comandando um poderoso exército atacou a Ibéria, fazendo com que Gurgenes fugisse para o Lazistão, sendo perseguido pelos persas, que conquistaram várias fortalezas na fronteira. Justino I, em represália, atacou a Persarmênia e a Alta Mesopotâmia. ---- A cidade de Antióquia (no rio Orontes, na Síria) sofreu o terceiro terremoto após a conquista romana.527 - Em 1 de agosto, Justino I morreu, depois que outorgou (em 1 de abril) o ‘status’ de Augusto ao seu sobrinho, bem como de coroá-lo pelo patriarca de Constantinopla com sua esposa Teodora. 527 (1 de agosto) a 565 - Reino de Justiniano I, o Grande. Sua ação governamental o tornou uma figura proeminente da Antiguidade Tardia, não só pela sua política de restauração do esplendor do antigo Império Romano (foi a época de maior expansão territorial do império), bem como pelo esplendor das artes sobretudo da arquitetura e pela sua obra legislativa. É considerado santo pela Igreja Ortodoxa, festejando-o anualmente no dia 2 de agosto. 527 (continuação) – Em outubro, foi nomeado conde do Oriente o armênio Patrício, que foi mandado para a cidade de Palmira (na Síria) para sua reconstrução e ordenou ao seu comandante a fortificação da fronteira, abalada por incursões dos persas e hunos. ---- Justiniano I, o Grande, reforçou as fronteiras na Alta Mesopotâmia e nomeou o general Belisário para defendê-las, visto que o Reino da Ibéria (no Cáucaso) tinha sido invadido pela armada sassânida por ordem do imperador Kavad I. Aí, nesta região da Alta Mesopotâmia, mais precisamente em Dara, Belisário infrigiu uma derrota às forças sassânidas neste ano. 527-565 – O bispo de Edessa, Jaime Baradeu, promoveu a organização interna da Igreja Siríaca do Oriente, dita ‘monofisita’ que passou a ser designada Jacobita.528 – Em 6 de janeiro, Gretas, rei dos hérulos sediados no Danúbio, foi batizado em Constantinopla tendo como padrinho o imperador, com o qual ajustou uma aliança. Seu povo seguiu parcialmente o seu exemplo. O imperador também conseguiu a conversão dos Tzanes (habitantes da região montanhosa do Taurus), que se agregaram ao seu exército. Outro que se converteu foi o rei Gordas (dos Hunos habitantes do Quersoneso, na Península da Crimeia, no nordeste do Mar Negro). Este último, no entanto, foi morto por seu povo (que era pagão) quando retornou ao seu reino. Em face disto, Justiniano mandou tropas para reconquistar a região (que era o tema do Quersoneso, na Crimeia, onde se situa o Bósforo Cimeriano, que separa o Mar de Azov do Mar Negro). ---- Em 23 de fevereiro, o imperador determinou a formação de um grupo de juristas a fim de preparar um novo código das constituições imperiais, acrescentando as medidas judiciárias vigorantes no império após a publicação do Código Teodosiano e eliminando as leis já em desuso. ---- Os romanos orientais se juntaram com os Gassânidas para lutar contra os Lakhmidas, na primavera. – No verão, o general Belisário, foi atacado pelos persas comandados por Xerxes (filho de Kavadh) na Batalha de Tannurin (ou Thanuris, região desértica próxima de Dara), que destruíram a fortaleza de Midon (ou Minduos); Belisário bateu em retirada. --- Em 29 de novembro vários pontos da Anatólia sofreram abalos sísmicos (Mísia e Amaséia) e na Siria (Antióquia e Laodiceia). ~ 528 – O chefe da confederação dos Gassânidas (e filarca romano) Galaba (ou Jalaba) morreu em conflito (lutando ao lado de Belisário) com os Lakhmidas. Foi sucedido pelo filho Al Hârith ibn Jabala (mais conhecido como Aretas), ao qual os romanos orientais concederam o título de patrício e de ‘rei dos árabes’. 529 – Em 21 de março, o príncipe lakhmida de Hira, Mundhir (vassalo dos árabes), promoveu um ataque sobre o território sírio, chegando até Antióquia. – Em abril, Belisário foi nomeado supremo comandante das tropas no Oriente pelo imperador. ---- Em 7 de abril, deu-se a promulgação do Código Justiniano, tendo uma segunda edição em 534. Este código teve como objetivo imediato combater a corrupção dos funcionários do império. ---- Em 12 de maio fracassou a negociação de paz feita por Hermógenes em Antióquia pela recusa de qualquer entendimento por parte do imperador Kavadh I. ---- Em junho foi sufocada violentamente uma revolta dos samaritanos na Palestina pelos Gassânidas, sob o comando de Al-Harith (aliado dos romanos orientais). ---- Fechamento da Universidade de Atenas pelos estudos neoplatônicos, pelo fato ‘de ensinar filosofia’, ‘explicar as leis’. Tal iniciativa foi a última ação imperial contra a ‘cultura pagã’. Os professores de filosofia emigraram para a Pérsia e foram acolhidos pelo imperador Ḵosrow I Anōšīravān.---- Perseguição aos heréticos, judeus e pagãos.530 – Em junho, os generais romanos orientais Hermógenes e Belisário enfrentaram na Batalha de Dara as tropas árabo-persas (tendo um contingente árabe sob o comando de um chefe Lakhmida), chefiados pelos generais Sepahbod Azarethes, Firuz, Pityazes e Baresmanas (este morreu no confronto). A cavalaria persa dos ‘Imortais’ comandados por Firuz foi derrotada; a infantaria diante disso e pôs em fuga e foi perseguida por Belisário, conseguindo escapar.--- No verão, o general armênio Mihr-Mihroe (Mermeroes), a mando do imperador persa, foi derrotado na Batalha de Satala (atual Sadak, em vale ao redor de montanhas, ao norte do Alto Eufrates) pela cavalaria romana oriental comandada por Sittas e Doroteus; logo após a derrota, os persarmênios Narsés e seu irmão Arácio, passaram para o lado romano. Em agosto, o imperador sassânida Kavadh I resolveu receber, no outono, os emissários de Justiniano (Hermógenes e Rufino) enviados para negociar um tratado de paz. ---- Em 15 de dezembro, o funcionário imperial Triboniano presidiu uma segunda comissão nomeada por Justiniano com o objetivo de elencar todas as obras antigas de direito privado romano que pudessem ser adaptadas e aplicadas naquela época; desta comissão veio à lume, o ‘Digestas’ (Pandectas). ---- Neste ano, a Etiópia (Reino de Axum) recebeu a visita de embaixadores mandados por Justiniano I objetivando auxílio contra os persas, visto que estes precisavam do acesso ao Mar Vermelho para seu comércio de seda. Tal pedido imperial não teve retorno desejável por parte do Reino de Axum. ---- Neste ano, em continuação à Guerra da Ibéria, houve um confronto em Nusaybin (Nísibe) entre os romanos orientais (com Belisário) e os persas de Kavad I, com seus aliados Lakhmidas; estes foram os vencedores. ---- Justiniano mandou uma legação diplomática ao norte da África, mais precisamente a Cartago, para negociar com o rei vândalo Hilderico. Este último foi destronado por Gelimer, dando o pretexto para a intervenção dos romanos orientais na região.531 – Em 19 de abril Justiniano concedeu a Aretas (Harith-ibn-Gabala), chefe gassânida, o título de filarca, criando-lhe o Reino de Bostra (ou Bosra na Síria); seu objetivo era o de se contrapor ao Reino árabe de Hira. – Em 19 de abril, continuaram os confrontos entre Sassânidas (junto com forças dos Lakhmidas comandadas por Alamundaros) e Romanos Orientais na fronteira: obtiveram uma vitória difícil do general Azarethas sobre os generais romanos Belisário (tendo ao seu lado os Isaurianos) e Hermógenes na Batalha de Calínicon (junto ao rio Eufrates, hoje chamada de Ar-Raqqah, na Síria setentrional). No outono iniciaram-se as negociações de paz entre Kavadh e o general Hermógenes (acompanhado de Rufino). --- Neste ano, se realizaram os primeiros ataques nos Bálcãs pelos Antas (eslavos estabelecidos entre os rios Dniestr e Dnieper até o Mar Negro). ---- Para proteger a fronteira do Danúbio, Justiniano I mandou erigir fortalezas. 532 - De 11 a 18 de janeiro, ocorreu a Revolta de Nika entre as facções dos Azuis e Verdes no Hipódromo de Constantinopla, com uma semana de

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incêndios (como a casa do prefeito do palácio e a Igreja de S. Sofia) e mortes, sufocada pelo general Belisário. No dia 18, Justiniano tentou resolver a situação caótica, decretando uma anistia geral, mas os revoltosos o xingaram e Hipácio, sobrinho de Anastácio, foi proclamado imperador. Justiniano pensou até em fugir, mas sua destemida esposa Teodora o encorajou. Assim foi sufocada violentamente a revolta por Belisário e Narsés. Calculam-se entre 30 e 40 mil mortos no Hipódromo. ---- Em fevereiro iniciaram-se os trabalhos de reforma dos danos causados à Igreja de S. Sofia sob a supervisão de Antêmio de Trales e Isidoro de Mileto. --- Durante três meses houve intensas negociações entre Justiniano I (que tinha se desembaraçado da Revolta de Nika) e o novo imperador persa Khosro I para estabelecer uma ‘paz eterna’ entre os dois impérios, em setembro. A situação da soberania sobre territórios conquistados pelos romanos orientais ficou normalizada mediante o pagamento de valorosa quantia (os persas receberam de Justiniano I cerca de 3.548 kg de ouro para manterem suas fortalezas na região do Cáucaso); os persas deveriam se retirar de Lazica, mas, por outro lado, os romanos orientais deveriam sair de Ibéria. Logo após o tratado, Justiniano fixou na fronteira, mediante subsídios, os bárbaros, para que pudesse se lançar em campanha militar no lado ocidental do império. 533 - GUERRA DOS ROMANOS ORIENTAIS CONTRA OS VÂNDALOS: Na primavera o rei Gelimer mandou uma esquadra sob o comando de seu irmão Tzazo para a Ilha da Sardenha revoltada. Contra ela foram mandadas forças romanas orientais que tomaram Leptis Magna e Trípoli. Em junho, se reuniu uma assembléia em Constantinopla para discutir a unidade entre o papado e o patriarcado. Formou-se, também um conselho de guerra para mandar uma expedição ao norte da África. – No verão (21 de junho), os generais Belisário e Salomão (mais tarde também o lugar-tenente João Troglita), com 500 navios e 92 ‘dromons’ saíram de Constantinopla em direção à África, passando pela Grécia e Sicília. Em setembro, chegaram à Sicília, onde aportaram com autorização dos ostrogodos, que os auxiliaram para o ataque. Em 9 de setembro, desembarcaram com suas tropas na Tunísia (entre Sfax e Sousse) para destruir o reino vândalo na Tunísia atual, não encontrando praticamente resistência pelo despreparo dos vândalos e ineficiência de sua frota naval. Em 13 de setembro venceram a Batalha de Ad Decimum (a sudoeste de Cartago, em 13 de setembro), em seguida foi a vez de Cartago (dois dias depois) e de Tricamarum (ou Bulla Regia) contra Gelimer (em 15 de dezembro). Nesta última, Tzazo morreu e Gelimer se colocou em fuga para as montanhas de Tunis, se abrigando junto aos bérberes. Estas vitórias selaram o fim do Reino dos Vândalos no norte da África. – Em 16 de dezembro, em Constantinopla: Promulgação dos códigos ‘Digeste’ (ou ‘Pandectas’ ou Código Justiniano), ‘Institutes’ e ‘Novelles’: bases jurídicas do direito civil moderno. 534 – Em 1 de janeiro, o imperador alçou ao título de cônsul a Décimo Teodoro Paulino (foi o último a conseguir esta honraria no ocidente). ---- O exército romano oriental se apoderou de Cartago e prendeu Gelimer em Hipona (em março de 534). A Numídia passou a ser uma província romana oriental (findando o Reino Vândalo). Em março, o rei vândalo Gelimer, após sua derrota em Cartago, foi levado para Constantinopla, daí deportado para a província de Galácia, onde ganhou terras. Os guerreiros vândalos ora foram incorporados na cavalaria imperial, ora vendidos como escravos. --- Em 13 de abril, Justiniano determinou a reorganização administrativa do norte da África, que se tornou uma Prefeitura de Pretório, dividida em 7 províncias (até 698). O questor do general Belisário, Arquelau, se tornou prefeito do pretório do norte da África até Ceuta; Salomão ficou como governador militar (exarca). Tão logo Belisário se retirou da região, eclodiram revoltas dos bérberes em Bizaceno (região litorânea oriental da Tunísia atual), liderada por Iabdas (rei de Aurés) e se difundiu até a Numídia (sob a chefia de Cutzinas (da Tripolitânia), adotando tática de guerrilhas.---- No verão, Belisário estava de volta à Constantinopla e foi celebrado o triunfo sobre os vândalos. ---- Em 16 de novembro, o 'Codex Justinianus' foi publicado após uma revisão final. – Neste ano:Ocorreu mais outra invasão eslava na Trácia.535 a 540 – I fase da Guerra Gótica entre romanos orientais e os ostrogodos na Itália. 535 – Há referências de que, em fevereiro, ocorreu a estrepitosa erupção do vulcão Krakatoa (na Ilha de Java),em fevereiro, cuja fumaça repercutiu em mudanças climáticas posteriores. ---- GUERRA GÓTICA: O assassinato de Amalasonte (filha do rei ostrogodo Teodorico, o Grande) pelo seu esposo Teodato, na Itália, foi pretexto para a invasão romana oriental para reconquistar a Itália. Para isto, o imperador nomeou Belisário como comandante-em-chefe. No verão, chegou à Sicília, cercou a cidadela de Palermo (cujo nome antigo era Panormos) e bloqueou o seu porto, sem muita resistência local dos ostrogodos. Em dezembro, esta cidade capitulou e, assim, foi conquistada a Sicília. Nesta época, o imperador Justiniano I solicitara auxílio dos francos merovíngios na guerra contra os ostrogodos. ---- Ainda no verão, em junho, o general Mundus (ex-gépida incorporado ao exército romano), que já estava na Ilíria antes da morte de Teodorico, invadiu a Dalmácia e se apoderou de sua capital Salona aos ostrogodos. ---- Na primavera, o patrício e generalíssimo bizantino Solomon, derrotou os mouros rebelados nos Montes Mammes e Burgaon, se assenhoreou de Byzacena (Tunísia atual) e mandou construir fortalezas na região fronteiriça da Numídia. ---- Em abril, o imperador criou a Prefeitura da África, tendo como centro Cartago e como prefeito Solomon. Os mouros com suas táticas de guerrilhas e se aproveitando de motins das tropas romanas orientais, conseguiram vitórias sobre o governador militar Solomon. ---- Neste ano se codificou o monaquismo no império.—Foi aproximadamente neste ano que o imperador mandou fechar o templo da deusa egípcia Isis na ilha de Fila, que fora aberto às tribos da Núbia desde a época de Diocleciano. Desta forma o cristianismo, em sua vertente monofisita, se espalhou não só na Núbia, como na Península Arábica e na Etiópia. ---- Justiniano I decretou, através da ‘Lex Julia’ (‘Lei Júlia’), a nulidade legal da mulher em acusar o marido de adultério, impossibilitando, pois, o divórcio no império. – Foi criada a cidade de Justiniana Prima, na Sérvia, tornando-se a sede de arcebispado da região central dos Bálcãs. ---- Tropas imperiais, sob inspiração de extremistas monofisitas, indicaram o patriarca de Alexandria, Teodósio, como patriarca da Igreja Ortodoxa Oriental.535 a 536 – Em 5 de junho de 535, faleceu o patriarca Epifânio, sendo sucedido por Antímio I, por influência da imperatriz Teodora de tendência monofisita. Seu patriarcado durou apenas até 536 por ter se inclinado para o lado contrário às normas do Concílio de Calcedônia e manter-se irredutível neste assunto, mesmo com pressões do clero da capital, da Palestina e da Síria, decorrendo daí até a intervenção do papa Agapeto I em fevereiro de 536. Este conseguiu do imperador não só sua deposição como a do patriarca de Alexandria (Teodósio, também monofisita). Os praticantes desta heresia foram todos expulsos de Constantinopla.536 – Em 23 de março, Stotzas, comandando soldados arianos em Cartago, urdiu uma conspiração contra o governador Solomon, do norte da África, sendo obrigado a fugir para a Sicília junto ao general Belisário, que os submeteu em abril; voltando, depois, para a Sicília. Solomon é chamado de volta para Constantinopla e o imperador nomeou Germano, seu primo, em seu lugar. Junto com ele foi para Cartago uma força militar de elite e de cavalaria. ----Ainda em março, o rei ostrogodo Teodato se entendeu com os francos para mover guerra contra os romanos orientais, concedendo-lhes, em troca, a Provença e a Germânia Superior. Em seguida, invadiu a Dalmácia e reconquistou Salona (o general Mundus morreu defendendo-a). No verão (junho/julho), o bizantino Constantiniano, de Ilírico, retomou Salona e ocupou a Dalmácia. ---- Em outra frente da Guerra Gótica, ainda no verão (em junho), continuando a Guerra Gótica no sul da Itália, o general Belisário saiu da Sicília, atravessou o Estreito de Messina, invadiu a Calábria (sul da Itália), conquistou a cidade de Reggio e seguiu em direção à Nápoles, cercando-a em outubro e ocupando-a em novembro (outono). Daí foi para Roma, estacionando suas tropas junto ao Portão Asinariano. O rei ostrogodo, Teodato, fugiu de Roma, mas um soldado qualquer o matou no caminho para Ravena por influência de Vitigés que o sucedeu. Em 9 de dezembro, o general Belisário tomou a cidade de Roma (dos ostrogodos), enquanto Vitigés estava em Ravena. –De 2 de maio a 4 de junho ocorreu um concílio em Constantinopla por convocação de Mennas. Nele houve mais uma condenação ao monofisismo. Após o concílio houve perseguição brutal contra os monofisitas no Egito. Dentro deste princípio, em 6 de agosto o imperador destituiu o patriarca Antímio.---- Neste ano continuaram as calamidades climáticas e econômicas (quedas de temperaturas e quebras de safras agrícolas) no Hemisfério Norte por causa das cinzas vulcânicas originárias da erupção do Krakatoa.---- Foi reinaugurada a mais famosa igreja de Constantinopla: a de S. Sofia (transformada em mesquita pelos turcos em 1453 e existente até hoje).537 – Guerra Gótica:Em 21 de fevereiro, o rei Vitigés saiu de Ravena em direção à Roma, cujo cerco iniciou-se em 1 de março deste ano e se prolongou até 12 de março de 538. O general Belisário tentou no Portão Flaminiano cortar o cerco ostrogodo. Vitigés, de seu lado, criou 7 pontos de observação dos portões a fim de neutralizar qualquer tentativa de abastecimento de Roma por fora; além disso, bloqueou todos os aquedutos que abasteciam Roma e os moinhos de grãos da cidade. No dia 21 de março, Vitigés acometeu de assalto as muralhas norte e leste com torres de cerco, mas foi repelido no Portão Prenestine (Vivarium) pelos generais romanos Perânio e Bessas. Em abril, os ostrogodos se apoderaram do Porto Cláudio em Óstia, obrigando os romanos orientais fazerem a carga e descarga de suprimentos em Âncio (Anzio) e mandou mensageiros para Constantinopla pedindo reforços; ao recebê-los iniciou ataques aos ostrogodos. Em junho, os romanos orientais começam a se desesperar pela fome iminente;

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fazendo com que Belisário mandasse Procópio, seu secretário, à Nápoles para solicitar suprimentos e reforços. O rei ostrogodo, por seu turno, arrumou uma trégua de 3 meses e mandou emissários à Constantinopla. ---- Na primavera, o general Germano fulminou a revolta dos soldados arianos de Cartago, comandados por Stotzas, na Batalha de Scalae Veteres (na Numídia). ---- Em novembro, Belisário recebeu os reforços e suprimentos solicitados; enquanto isto, em manobra ofensiva, os romanos orientais forçaram os ostrogodos a desguarnecer o Porto Cláudio em Óstia. Assim, no inverno, Belisário pode mandar o general João, o Sanguinário com tropas para saquear o litoral leste (no Mar Adriático) para conseguir suprimentos; ao chegar na cidade litorânea de Rimini, foi bem recebido pela população local. 537 a 538 - Entre março de 537 até março de 538, as tropas de Belisário ficaram cercadas em Roma por tropas de Vitigés; enfrentando-as ocasionalmente fora das muralhas (como na Batalha da Porta Pinciana, no Muro de Aureliano).537 a 752 –A influência bizantina na escolha de papas em Roma foi de tal monta neste período que foi chamado de ‘papado bizantino’ (o primeiro da lista foi o papa Virgílio sucedendo ao papa Silvério, este deposto por Belisário sob a suposição de que ele tinha acertado uma aliança com Vitigés).538 – Em 12 de março, o rei ostrogodo Vitigés abandonou o cerco de Roma, visto que tinha entrado pelo porto de Ostia e estava subindo pelo rio Tibre uma frota romana oriental para auxiliar Belisário. Quando estava atravessando a Ponte Milviana sobre o Tigre foi atacado por Belisário, ocorrendo pânico entre os soldados ostrogodos, sendo mortos ou se afogando no rio. Vitigés com suas tropas se encaminhou para o litoral leste através da Via Flamínia. Em abril, Vitigés cercou a cidade de Rimini (ou Ariminum - porto no litoral do Adriático, no extremo oriental daquela estrada). Belisário mandou o general eunuco Narsés, junto com Martinho e Ildiger, para romperem o cerco imposto pelos ostrogodos em Rimini; simultaneamente, enviou o lugar-tenente Mundila (que tinha aportado em Gênova e atravessara a Itália), para conquistar Milão (Mediolanum). Esta última, no entanto, foi por pouco tempo: no final de março, a cidade de Milão foi retomada e incendiada pelos ostrogodos com Uraia, auxiliado por tropas burgúndias, após cerco de 9 meses; sua população masculina foi massacrada e a feminina vendida como escrava aos burgúndios do Valais e Sapodia. ---- Vitigés, fracassando em Rimini, se dirigiu à cidade de Ravena. ---- Em junho, desembarcavam reforços romanos, sob o comando do general Narsés, em Picenum. No outono, Belisário se apoderou de Urbino, mesmo não se entendendo bem com Narsés. Por estar se aproximando o inverno deixou a pretensão de atacar Osimo (perto de Ancona), mas iniciou o cerco de Orvieto (na Umbria), conseguindo tomá-la na primavera (539). – Neste ano: O imperador persa Khosro I recebeu uma legação diplomática do rei ostrogodo Vitigés (Wittigis) ofertando-lhe auxílio militar na luta contra os romanos orientais, esperando que houvesse uma retribuição persa quando os ostrogodos tivessem problemas em sua fronteira na Itália. ---- Na Armênia ocorreu uma revolta contra a carga fiscal onerosa, mas ela foi sufocada pelo general romano oriental Sittas, mas foi morto em combate frente a Artabanes, chefe dos revoltosos. 539 – Por causa de suas desavenças com Belisário, o general Narsés foi chamado de volta para Constantinopla. ---- Na primavera, o rei franco da Austrásia Teodeberto (ou Tiberto), sob o argumento de prestar ajuda militar a Vitigés, incursionou sobre a Ligúria, saqueando e matando grande parte da população de Gênova, depois a guarnição dos godos em Pavia e atacando os romanos orientais (bizantinos) e os ostrogodos (que estavam sob o comando de Vraias, sobrinho de Vitigés). No verão, retornaram ao Reino Franco assolados pela fome e pela disenteria. ---- No verão, foi nomeado prefeito do pretório no norte África, o general Solomon, que estabilizou o domínio romano oriental na região após sua vitória sobre o rei mouro Iodas (que se feriu em batalha em Aurès e fugiu para a Mauritânia) e se impor sobre as tribos de Hodna e de Sitif (Setif); além disso, fortificou as fronteiras diante do perigo representado pelos bérberes.– No outono, Belisário tomou Osimo e, no inverno, cercou Ravena por mar e por terra. – Em 29 de novembro, Antióquia foi abalada por terremoto. ---- Neste ano: A fronteira romana oriental do Danúbio foi acossada por incursões de eslavos, gépidas, búlgaros e Ávaros. ---- O imperador persa recebeu uma legação diplomática do rei ostrogodo Vitigés (Wittigis) ofertando-lhe auxílio militar na luta contra os romanos orientais, esperando que houvesse uma retribuição persa quando os ostrogodos tivessem problemas em sua fronteira na Itália.539 a 543 - O patrício bizantino Solomon, como generalíssimo e prefeito, pacificou e recuperou o norte da África.540 a 550 - Segunda fase de conflitos entre bizantinos e ostrogodos (estes sob o rei Totila, que sucedeu Vitigés em 541) na Itália, continuando a chamada ‘Guerra dos Godos’ (ou Guerra Gótica).540 – Justiniano mandou Belisário acertar a paz com Vitigés, mas o general não transmitiu a ordem. Em maio, ele se apoderou de Ravena, onde grassava a fome pelo longo cerco submetido pelo general romano, aprisionando o rei ostrogodo Vitigés e sua esposa Matassunta. Com esta vitória o norte da Itália, ao sul do vale do Pó, estava conquistado. As cidades de Verona e Ticino, na margem esquerda do rio Pó ficaram sob a posse dos ostrogodos. ---- Na primavera, o imperador persa Khosro I Anushirvan rasgou o tratado de paz ‘eterna’ feito anteriormente sob a justificativa de conflitos entre árabes federados a eles. ---- Belisário foi chamado por Justiniano de volta para Constantinopla (levando Vitigés e esposa junto), visto que os persas sassânidas atacaram, pilharam e queimaram a cidade de Antióquia (hoje Antakia) e deportaram sua população, em junho, incluindo artesãos metalurgistas, para uma nova cidade construída perto de Ctesifon (Khosro-Antióquia). ---- No outono, o novo rei ostrogodo (mas que era de origem visigótica), Ildibaldo, foi vitorioso sobre os romanos orientais em Treviso e retomou Venecia e Liguria. Este rei governou por pouco tempo: até maio de 541. ---- Neste ano: As províncias romanas orientais da Grécia (até o istmo de Corinto), Ilírico e Trácia foram invadidas e saqueadas pelos hunos, chegando perto de Constantinopla. 540 a 562 – Retomada dos conflitos entre os persas e os romanos orientais (bizantinos) por causa do controle da região caucasiana (a Armênia e Lazica, esta no litoral oriental do Mar Negro) e com a invasão da Síria por Khosro I, que se apoderou de Antióquia. —Nos anos posteriores o imperador persa invadiu Lazica (ou Lazistan, chamada de Colquida nos tempos antigos) e a Mesopotâmia. – O papa Vigílio mandou uma carta a Justiniano na qual ratificou as proposições do Concílio de Calcedônia e a carta anterior do papa Leão, excomungou os patriarcas Antonio (de Constantinopla), Severo (de Antióquia) e Teodósio (de Alexandria).541- Ao iniciar-se o mês de janeiro, foi alçado ao consulado Anício Fausto Albino Basílio, o último a ocupar este cargo no Império Romano do Oriente. ---- Em maio, João da Capadócia, ministro de Justiniano, foi acusado de tramar um golpe de Estado pela imperatriz Teodora, sendo exonerado do cargo, confiscados seus bens e teve que entregar seu palácio ao general Belisário. – O novo rei ostrogodo, Ildebado (ou Ildibaldo) foi assassinado; sendo sucedido por Erarico que tentou negociar o título de patrício com Justiniano sob promessa de trair suas tropas; por isto foi morto a mando de seu primo Totila, tornando-se este rei da Itália.– Na primavera, Belisário (que foi agraciado com o cargo de ‘generalíssimo’), após vencer os ostrogodos em Ravena, foi nomeado de novo comandante do exército no Oriente: foi mandado para a Mesopotâmia por Justiniano, comandando tropas da Itália e ostrogodos agregados, além dos gassânidas enviados pelo rei Aretas (al-Harith). --- Os persas, sob o comando do imperador Khosro I, atenderam ao apelo do rei Gubazes dos Lazes ou Lazica (antes chamada de Colquida), em 21 de junho, ocupando a fortaleza de Petra (em Lazica, no Cáucaso), pertencente aos romanos orientais. Iniciou-se, então, a Guerra Lazica. Em julho, o general Belisário, após atravessar a fronteira persa, e, logo depois, não teve sucesso na cidade de Nísibe (ou Nisibis, na Alta Mesopotâmia no outono), mas cercou e submeteu pela fome a fortaleza de Sisauranon. Como suas tropas estavam exauridas por doenças, ele foi forçado a se retirar.---- No outono, no mês de outubro, iniciou-se a chamada ‘peste de Justiniano’ (peste bubônica), a partir de Pelusa no Egito, que chegou à capital na primavera seguinte. Foi antecedida pelo aparecimento de um cometa (tido como mau augúrio). Daí se espalhou pela Palestina, Síria e Trácia, afetando não só a população (e daí as colheitas) e os animais.542 – Ainda na Guerra dos Godos, em 1 de março, os ostrogodos fizeram frente a uma investida de tropas romanas orientais em Verona. – Na primavera, a peste vitimou cerca de 300.000 constantinopolitanos. Por meio século ela se espalhou por todo o império chegando à Itália, se infiltrando pelos rios Ródano e Saone (no Reino Franco de Borgonha), chegando até à Inglaterra e Irlanda. --- No outono, Totila venceu os bizantinos em Faenza (Faventia, perto de Ravena) e depois em Mugello (ou Mucella), próximo de Florença, e se apoderou de quase toda a região central da Península Itálica (com exceção de Roma e Nápoles). – Na fronteira oriental,continuou a Guerra Lazica: tropas imperiais persas comandadas por Ḵosrow I Anōšīravān atravessaram o Eufrates, invadiram Eufratênia e cercaram a cidade de Sergiópolis (Resapa), atacaram e tomaram Calínico (Kallinicon, hoje chamada de Raqqa) e deportaram seus habitantes. O general Belisário, que reuniu suas tropas em Europos, às margens do Eufrates, em represália, no fim do ano, invadiu a Persarmênia (ou Nor-Shirakan, ou ainda, Adiabene) e chegou até Dwin, onde foi emboscado e derrotado. – Neste

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ano, o emir dos Gassânidas, Al-Harith (Aretas), de tendência monofisita, solicitou a consagração de dois bispos monofisitas à imperatriz Teodora, sendo um para atender os árabes e outro para os não-árabes. A imperatriz, retornando o pedido, mandou o patriarca Teodósio de Alexandria proceder à referida consagração: para bispo de Bosra foi nomeado Teodoro da Arábia, para bispo de Edessa foi Jaime Baradeia (este se tornou a partir daí um líder de formação de uma igreja monofisita autônoma em relação à oficial. 543 – Em janeiro, Constantinopla foi sede de mais um sínodo em que foi condenada a doutrina reincarnacionista de Orígenes (chamada de ‘apocatastasis’) . O imperador se colocou contrário à publicação desta doutrina em Jerusalém em fevereiro. ---- Neste ano: Totila conseguiu a adesão dos camponeses italianos à sua armada, ao proceder a uma reforma agrária nas áreas conquistadas por ele; para tal eliminou a corvéia, mas, por outro lado, despertou a insatisfação da nobreza senatorial fundiária. Aproveitando-se de divisões internas entre os chefes locais do Império Romano do Oriente se apoderou de Nápoles, atravessou o sul da Itália e atacou Otranto (porto no Mar Adriático). --- Os romanos orientais (ou gregos, como alguns chamam os bizantinos nesta época), com Belisário. sofreram derrota diante dos persas, sob o comando de Ḵosrow I Anōšīravān na Batalha de Anglon (na Armênia), porém estes não tiveram sucesso no cerco a Edessa.— Missionários coptas provenientes do Egito conseguiram converter ao cristianismo o reino núbio de Nobatia; Justiniano mandou para sua capital (Ballana) missionários ortodoxos, enquanto a imperatriz Teodora mandou o missionário monofisita Juliano, que conseguiu converter a esta seita o rei Nobates Silco. –A cidade de Cízica foi parcialmente destruída por um terremoto. 544 – Na primavera, no norte da África, os Bérberes, comandados por Antalas, conseguiram a vitória em Sufétula (Sbaïtla), em que Solomon foi morto. A África romana caiu na anarquia. --- Justiniano condenou, através de edito, as idéias religiosas, permeadas do nestorianismo, escritas por Teodoro de Mopsueste, Teodoro de Cyr e Ibas, às quais se deu o nome de ‘Três Capítulos’. Tal condenação semeou mais discórdias no seio da igreja católica e acarretou manifestações contrárias da Europa e dos bispos africanos. – No verão, o imperador Justiniano mandou Belisário para a Itália, a fim de conter a expansão militar de Totila; aí tomou Pesaro e as cercanias de Roma, (onde estava uma parte do exército de Totila) depois foi para Otranto (que estava cercada pelo rei ostrogodo). Totila se apoderou de Nápoles, mas teve a sabedoria de poupar sua população esfaimada, abastecendo-a de víveres. Em dezembro. Belisário estava em Ravena, onde prometeu uma anistia aos ostrogodos que passassem para o seu lado. 545 – Em 22 de novembro, foi extraditado para Constantinopla o papa Vigílio por ter condenado os ‘Três Capítulos’ e ficou um tempo na Sicília e chegou em 22 de janeiro de 546, por uma razão: a de ter condenado os ‘Três Capítulos’. ---- Na Itália, o rei ostrogodo Totila colocou a cidade de Tivoli (no centro da península) como seu centro de operações militares. Em dezembro, ele cercou Roma (foi o segundo, na Guerra Gótica), onde estava uma pequena guarnição bizantina sob o comando do general Bessass. Belisário voltou para a Itália e se instalou na foz do rio Tibre (no Porto) para organizar um confronto com Totila. – Neste ano: Assinada uma trégua entre os romanos orientais e os persas sassânidas, que foi renovada várias vezes até 562. Na região do Cáucaso, no entanto, a chamada Guerra Lazica se prorrogou até 557. ---- Justiniano I mandou o general Narsés junto ao governo dos hérulos com o objetivo de recrutar mercenários para as guerras na Síria e Itália.545 a 546 – De maio de um ano ao próximo, prosseguindo a Guerra dos Godos, o rei Totila se apoderou de Fermo, Ascoli, Spoleto e Assis. Asseguraram o controle sobre a Via Flamínia, dificultando o contato entre Ravena e Roma pelos romanos orientais. Em maio de 546, Totila se apoderou de Placentia (pela fome de seus habitantes, sofrendo o cerco da cidade). Enquanto isto, o general Belisário deixou Ravena e foi para Dyrrachium, onde esperou reforços. ---- Nestes dois anos, Constantinopla esteve ameaçada por incursões dos eslavos que tinham saqueado a Trácia.546 – Em 27 de janeiro, o papa Vigílio chegou à Constantinopla (para onde o imperador o convocara), tomando como medida imediata a suspensão do patriarca Mennas por ter endossado os ‘Três Capítulos’. O imperador não aceitou tal decisão. O papa reuniu um sínodo sem nenhum resultado e acabou retornando para Roma. ---- Em março, o rei Aerobindus (sobrinho do imperador Justiniano e governador da Numídia, na África) foi assassinado durante uma revolta do duque Guntarita. Este, a seguir, se apoderou de Cartago com a ajuda dos Mouros de Antalas. Para normalizar a situação, o imperador mandou tropas comandadas por João Troglita que sufocou a revolta em 548. ---- Em 17 de dezembro, Totila conseguiu se apoderar de Roma principalmente pela fome e pela traição do general Bessass e da população sofrendo o cerco da cidade quase por um ano. O general Belisário foi impotente para reagir em face de poucos recursos e falta de soldados em número suficiente para um ataque para abortar a iniciativa do ostrogodo. Totila abandonou Roma ao saber de derrota no sul de suas armadas. --- Neste ano, os lombardos (nômades parcialmente pagãos e arianos), com seu chefe Alduíno, foram instalados como ‘federados’ na Panônia, a fim de deter o avanço dos eslovenos na Ilíria e dos francos em Noricum (no vale do Danúbio). 546 a 548 – Epizootia (doença em animais) grassou na região oriental do Império Romano do Oriente.547 –. Dentro ainda da Guerra dos Godos, em abril-maio, as tropas imperiais comandadas por Belisário (mesmo sem reforços e suprimentos) retomaram Roma e recuperaram suas fortalezas, enquanto Totila empreendia uma incursão ao sul da Itália. Durante a época do verão, Belisário fracassou em sua investida sobre Perúsia (capital da Umbria); continuando sua marcha para o sul teve sucesso em tomar a fortaleza de Rossano na Calábria. Mesmo assim, a imperatriz Teodora influiu na decisão do imperador em substituí-lo pelo general eunuco Narsés em 548. Depois que Belisário saiu da Itália, a armada imperial se desorganizou --- Em 11 de maio, eclodiram revoltas entre as facções dos Verdes (Prasinianos) e os Azuis (Venetos). ---- Em 29 de junho houve a reconciliação do patriarca Mennas com o papa Vigílio.----. – Neste ano e em 551, os eslavos meridionais arrasaram o Ilírico. – No norte da África, o exército romano oriental comandado por João Troglita foi derrotado na Batalha de Marta (entre o planalto de Matmata e o litoral, na Tunísia) pelos mouros e teve que se refugiar na fortaleza de Laribus (nas proximidades da cidade atual de El Kef). ---- Na cidade de Ravena, o bispo local, Maximiano, consagrou a Basílica de S. Vital (típica do estilo bizantino).547 a 550 – O rei de Lazica se aliou com romanos orientais; estes, ao se dirigirem para lá, enfrentaram a resistência dos persas em Petra (em 549). Estes invadiram Lazica, mas não conseguiram superar os aliados.548 – O papa Vigílio foi forçado a ir para Constantinopla, onde se negou a endossar o edito imperial dos Três Capítulos; foi mais longe ainda, colocou a lume seu ‘judicatum’ (sentença papal) manifestando sua condenação ao mesmo (isto ocorreu no dia 11 de abril). Houve tantas reclamações (até dos seus adeptos) que ele voltou atrás em seu ‘judicatum’ e pediu para que o imperador convocasse novo concílio ecumênico. ----.No norte da África, na primavera, o general João Troglita (lugar tenente de Belisário) se sobrepôs a Antalas, chefe dos Bérberes, na Batalha das Planícies de Cato em Bizanceno). ---- No verão, se aproveitando da falta de recursos das tropas romanas orientais, o ostrogodo Totila, começou nova campanha de conquistas na Itália em 5 anos, retomando as ilhas da Córsega, Sardenha e parcialmente a Sicília. --- .Em 28 de junho, faleceu a imperatriz Teodora, talvez de câncer de mama (protetora de Belisário) e foi enterrada na Igreja dos Santos Apóstolos, em Constantinopla.--- Conspiração de Artabane, oficial do Grande Palácio Imperial e de membros da família real (logo após a morte de Teodora) contra Justiniano I. --- O imperador se aliou com o rei dos Hunos Uturgur (sob Sandilkh) e, juntos, fulminaram com os outros hunos inimigos deste último: os Kutrigur (na região do Mar de Azov).549 – Guerra dos Godos: Totila conseguiu recuperar, pela terceira vez, a cidade de Roma desguarnecida pelo retorno de Belisário à Constantinopla. Depois se dirigiu à Itália Central, onde se apoderou de Perugia, prendendo o bispo Herculano e mandando esfolá-lo (o soldado executor o decapitou e depois esfolou). Além disso, organizou uma frota naval (sob o comando de Indulfo, um bizantino desertor), que conquistou as ilhas de Córsega e Sardenha. ---- Na fronteira oriental: Na Guerra Lazica, foi assediada a fortaleza de Petra (a leste do Mar Negro) pelo general bizantino Dagisteus, associado com o rei Gubazes; mas os persas comandados pelo general Mermeroes (Mihr -Mihroë) forçaram sua saída e submeteram o rei de Lazes, Gubazes. Não conseguindo, porém, uma vitória decisiva sobre seus inimigos no rio Fase, Mermeroes recuou para a Persarmênia (região a oeste do Lago Urmia, na Ásia Menor). 550 – Em 16 de janeiro, o rei ostrogodo, Totila, retomou, após longo cerco, a cidade de Roma, pagando suborno à guarnição isauriana aí instalada pelos romanos orientais. Em seguida, no verão, se apoderou das ilhas de Córsega e Sardenha, saqueia a ilha da Sicília e conquistou as cidades de Reggio de Calábria e Tarento (no sul da Península Itálica) e mandou uma esquadra atacar o litoral ocidental da Grécia. ---- Em 18 de abril, mais uma vez, ocorreram confrontos entre as facções dos Azuis e Verdes no Hipódromo de Constantinopla. ---- Na primavera, os eslavos passaram pelos rios Danúbio e o Maritza (ou Hebro, na Bulgária) e saquearam a Trácia (a leste) e o Ilírico (a oeste, junto ao Adriático). Eles ocuparam Topiros (na Trácia) e marcharam até Naissus (hoje é Nis, na Sérvia) com o intuito de atacar Tessalônica, mas acabaram indo para a Dalmácia (junto ao Adriático), onde

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passaram o inverno. --- Em 26 de junho, o papa Vigílio, que estava preso em Constantinopla, se reconciliou também com o imperador.—Neste ano: Justiniano mandou dois monges nestorianos ara a Ásia Central a fim de pregar esta doutrina nesta região. ---- Começou a prática da sericicultura no Império Sassânida, acabando com a importação da seda da China e promovendo uma guerra comercial com a Índia e a Ásia Central. Bizâncio, para importar a seda, iniciou rota alternativa passando ao norte do Mar Negro, pelo reino dos khazares. Na segunda metade deste século, os persas tinham já assimilado uma série de técnicas militares com os bizantinos como máquinas de guerra (torres portáteis, balistas), bem como o sistema de fortificações.551 - Na primavera, continuou a Guerra Lazica: os romanos orientais, comandados pelo general Bessas (com auxílio militar dos aliados Sabir do norte do Mar Cáspio), cercaram pela segunda vez e se apoderaram de Petra e destruíram suas muralhas. Os que estavam na cidadela foram queimados vivos. Quando abandonaram a cidade, o general persa Mermeroes (Mihr-Mihroe) recuperou grande parcela de Lazica. O general Bessas retornou e se saiu vitorioso sobre Mermeroes em Arcadiópolis (em Lazica). Foi então, acertada nova trégua de 5 anos entre Justiniano I e Khosro I, pela qual este último recebeu dinheiro que serviu pagar os mercenários e manter as suas tropas em Lazica.. ---- Guerra Gótica: No outono, na Itália, ocorreu a Batalha naval de Sena Gallica (Sinigaglia ou Senigallia) em que se defrontaram os ostrogodos Indulfo e Gibal com os romanos orientais sob o comando de Valeriano e Iohannes; Gibal foi aprisionado e Indulfo fugiu para Ancona. ---- Germano, primo de Justiniano I e marido de Mathasonte (neta de Teodorico) foi enviado com grande armada para a Itália, a fim de colocar um termo final às veleidades de Totila (que ameaçava Corfu e o Épiro). Só em dezembro esta armada chegou à Itália, em face da morte de Germano (substituído por Narsés) e de nova investida dos eslavos no Ilírico. ---- Na ante-véspera do Natal, o papa Vigílio conseguiu se evadir de Constantinopla e se dirigiu à Calcedônia. 552 – Na primavera, o patrício Libério, conduzindo uma frota naval em Bética (onde foi a pedido do rei visigodo Atanagildo), ocupou o litoral entre Málaga e Valença, ---- Em 9 de fevereiro, através de bula, o papa Vigílio reclamou do modo como foi tratado por Justiniano; este aceitou a reclamação: eliminou o edito relativo aos Três Capítulos e mandou os bispos excomungados pelo papa em 551 que se aproximassem dele. Com esta atitude, o papa retornou à Constantinopla, mas se negou a participar de um concílio realizado em 553. – Guerra dos Godos na Itália: Depois de ter montado em Salona (no Adriático) sua base de operações militares, o general Narsés (com seus aliados hérulos, búlgaros e lombardos), atacou Veneza, que estava sendo defendida por forças ostrogodas (com Totila) e francas (com Teodebaldo), bloqueando o acesso para o vale do Pó (no norte da Itália). Narsés, com apoio dos venetos da laguna, e contornando Veneza (para evitar os francos e godos que aí estavam), conseguiu se apoderar de Ravena (em 6 de junho) e atacar a cidade de Ariminum (hoje, Rimini). No final de junho ou começo de julho ocorreu a Batalha de Busta Gallorum (ou Tagine), nas proximidades de Gualdo Tadino, na qual Narsés venceu e Totila foi morto e susbstituído por Teias; foi retomada Roma. No outono (outubro) ocorreu a vitórias romana oriental na Batalha do Monte Lactário (perto do vulcão Vesúvio) na qual Narsés venceu Teias, selando, assim, o poderio marítimo ostrogodo no Mediterrâneo. ---- Em maio (ou junho), na Batalha de Asfeld (na Panônia), os lombardos conduzidos por Alduíno (aliados dos romanos orientais) derrotaram os gépidas (com seu rei Thorisindo). ----Em 9 de julho, o porto de Beirute foi destruído por um terremoto, a que se seguiu um tsunami. ---- Neste ano, Os eslavos meridionais investiram sobre o porto de Tessalônica. ---- Em Constantinopla, ao morrer o patriarca Mennas, foi sucedido por Eutíquio.553 – Belisário foi o negociador imperial em relação ao papa Vigílio durante o V Concílio Ecumênico de Constantinopla (de 5 de maio a 2 de junho), por convocação do imperador Justiniano. Nele houve a condenação dos ‘Três Capítulos’ e das heresias nestoriana e origenista. O papa Vigílio, ainda preso na cidade, se recusou a comparecer nesta reunião, assim como a maioria dos bispos ocidentais (deixando de ser efetivamente ecumênico). O papa foi exilado numa ilha do Mar de Mármara; conseguiu, no entanto, retornar para Roma morrendo no trajeto de volta (na Sicília em 555).------ No verão (fim de junho ou começo de julho) a frota romana oriental comandada pelo general Narsés foi vitoriosa sobre o rei ostrogodo Totila na Batalha de Taginae (ou Busta Gallorum, ao norte de Roma, perto de Gualdo Tadino, na Umbria, na via Flaminiana), sendo este vencido e ferido (por um mercenário gépida chamado Asbad), morrendo pouco depois. Em Pavia, os ostrogodos remanescentes escolheram Teia como rei, que matou reféns romanos e pediu a ajuda dos francos (Thibaud, ou Teobaldo). Narsés recuperou Roma e cercou Cumas (em Campânia), onde se alojava o tesouro real ostrogodo. Teia veio atacar Narsés em Cumas, mas foi fragorosamente derrotado no Monte Lettere (ou Monte Lactarius ou Batalha de Vesúvio ou de Draco),em outubro (as batalhas de Taginae e Monte Lactarius ocorreram neste ano, segundo Luís Bréhier, mas há autores que consideram sua ocorrência em 552), onde se fez matar. Narsés depois disso acabou de se apoderar de Cumas e seu tesouro, além de Pisa, Luca e Florença. Esta vitória marcou o fim do Reino dos Ostrogodos na Itália. --- Em junho, o rei franco Thibaud liberou aventureiros alamanos (chefiados pelos irmãos e condes Leutharis e Butilin) para invadir e saquear o vale do Pó (norte da Itália). Leutharis, a seguir, se estabeleceu em Veneza. ---- Neste ano, Constantinopla foi agitada por uma revolta em face de reforma monetária determinada pelo imperador, procurando restabelecer o valor antigo da moeda de bronze. 554 – Guerra Gótica na Itália: Na primavera os aventureiros alamanos Leutharis e Butilino se dirigiram para o sul da Itália (onde estava o general Narsés), em duas frentes, ambas saqueando os litorais do Adriático (a leste da península) e Tirreno (a oeste). Em outubro, Narsés venceu Butilino na Batalha de Volturno (ou de Casilinum, ou de Cápua), nas proximidades de Cápua, enquanto Leutharis e suas tropas foram vitimados pela peste. ---- Em junho, em Calcis (Qinnasrin, no norte da Síria), os Lakhmidas sofreram derrota diante dos Gassânidas. ---- Na Itália, exaurida pelos conflitos anteriores, Justiniano I, em 13 de agosto, a pedido do papa Vigílio, estabeleceu a Pragmática Sanção (baseada nos códigos de 531), pela qual se combateram os abusos fiscais, mas suspendeu a libertação de escravos (feita por Totila), renovou a corvéia, favorecendo, assim, os bispos e a nobreza senatorial fundiária. A Itália ficou como Prefeitura, mas não tendo atribuição sobre a Sicília e Dalmácia. As ilhas de Sardenha e Córsega ficaram subordinadas ao governo da África. – Neste ano: Em face do conflito entre o rei Agila dos visigodos da Espanha e Atanagildo (que tentava usurpar-lhe o trono), o segundo pediu a ajuda bizantina. A armada imperial aportou em Cartagena. Com esta ajuda militar, Atanagildo venceu Agila (que morreu pouco depois) e entregou a Bética (no sudeste da Espanha) para Justiniano. 554 – Se aproveitando da revolta dos godos da Itália, os Francos e Alamanos fizeram incursão ao norte. ---- Nesta época, as terras de Aosta e Nice até a Sicília, bem como o sul da Espanha, as ilhas de Sardenha e Córsega e todo o litoral mediterrâneo da África estavam sob o domínio romano oriental.555 – Depois da derrota final dos ostrogodos na fortaleza de Conza (a nordeste de Salerno, na Campânia), na primavera, o general Narsés foi nomeado governador da Itália até 567. A Península estava então assolada por saques e doenças por 20 anos de guerra. – Na frente oriental continuou a Guerra Lazica: Na primavera, os romanos orientais sob o comando de Rústico, Bessas e Martinho foram derrotados pelo general persa Mermeroes (Mihr-Mihroë). No verão, o general Bessass teve que sair de Arqueópolis ou Nokalakev (na Geórgia) por ataque e conquista feita pelos persas. Em outubro, o rei Gubazes II da Geórgia foi convidado ardilosamente pelos generais Martinho e Rústico para observar o assédio de uma fortaleza persa; ao se encontrarem, um irmão de Rústico aplicou-lhe um golpe de adaga, fazendo-o cair do cavalo e um servo do general acabou de assassiná-lo. ---- Neste ano: Justiniano determinou o retorno dos camponeses em condições servis aos seus senhores (eliminando a reforma de Totila) na Itália; além disso o poder espiritual dos bispos pode interferir no poder temporal dos administradores locais. ---- Latakia, na Síria, sofreu enormemente com um terremoto. 556 - Na Itália, se estabeleceu a Lei de Moratória de 5 anos aos que contraíram dividas antes de 555. – Justiniano, em 16 de abril, nomeou Pelágio I como novo papa (pontificando até 561), após a morte do papa Vigílio (em 7 de junho de 555) em viagem para Siracusa (na Sicília). ---- Em 11 de maio, a população de Constantinopla se revoltou por falta de alimentos. ---- Continuando a Guerra Lazica: O cônsul Justino, à frente de exército romano oriental, conseguiu recuperar Arqueópolis. A cidade de Fase (em Lazica) foi cercada e conquistada pelos bizantinos. O imperador persa Khosro I iniciou entendimentos para se acertar um tratado de paz por 50 anos.557 - Ainda na Guerra Lazica, em junho, o bizantino Justino (filho de Germano) foi nomeado novo generalíssimo em Lazica. Foi realizada nova trégua entre os sassânidas e os romanos orientais (o acordo definitivo foi em 561).---- Os Ávaros solicitaram uma entrevista com o imperador através de Saros, rei dos Alanos do Cáucaso; a entrevista diplomática foi feita em janeiro de 558. – Em 14 e 23 de dezembro, a população de Constantinopla ficou assombrada com a destruição completa de quarteirões da cidade em virtude de um abalo sísmico. Até a cúpula da Igreja de S. Sofia foi abalada.---- Os Ávaros mandaram Kandikh como embaixador para Constantinopla, onde solicitou558 – Em janeiro, uma embaixada dos Avaros (que tinham ocupado a Planície Húngara junto com os eslavos), sob a chefia de Kandikh foi recebida

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em Constantinopla. Justiniano, com aval do Senado, incumbiu seu diplomata Valentino, junto aos Ávaros, para compeli-los a enfrentar os povos da estepe ucraniana (como os hunos Kutrigures e Utigures, os Antas e outros) mediante o pagamento de tributo e a promessa de receberem terras no Danúbio. ---- Em fevereiro, a população de Constantinopla padeceu sob mais uma epidemia de peste. ---- Em 7 de maio, a cúpula da Igreja de S. Sofia desabou definitivamente; o imperador mandou reconstruí-la o mais rápido possível. ---- No outono, Zabergan, khan da Bulgária, atravessou o Danúbio na altura da Mésia Segunda e da Cítia Menor e invadiu a Trácia, onde dividiu as tropas para atacar as Termópilas, o Quersoneso da Trácia e as muralhas de Constantinopla até 559. 559 – Em março, os grupos em que foram divididos o exército de Zabergan (de hunos e kutrigurs) chegaram aos seus três objetivos: Termópilas, Quersoneso e Constantinopla (aí foram detidos por ação de Belisário). No outono, a Trácia foi invadida e pilhada pelos Hunos Kutrigurs (turcos que habitavam na região entre os rios Don e Dniester, ao norte do Mar Negro), sob a liderança de Zabergan, chegaram à Constantinopla, romperam a Muralha de Anastácio, mas foram repelidos por Belisário (foi sua última campanha militar) na Batalha de Melanthius (Melantiasna ou Melantiada, na Trácia Oriental), uma região pantanosa. Enquanto isto, a Trácia, a Macedônia, o litoral da Península Balcânica sofreram incursões de uigurs, gépidas, kunis (bárbaros sediados em Nórica). – A cidade ‘bizantina’ de Ravena, no norte da Itália, foi assolada pela peste. 560 – Em dezembro, Constantinopla foi avariada por incêndio. --- Os Ávaros, agora aliados dos romanos orientais, vassalaram os Kutrigurs e Utigurs das estepes do norte do Mar Negro. ---- O último dos chefes ostrogodos, Widhin, auxiliado parcialmente pelos francos e pelos alamanos, iniciou uma revolta em Verona e Bréscia. 561 – Constantinopla sofreu mais outro incêndio em 12 de outubro. Em novembro, a facção dos Azuis foi atacada pelos Verdes no Hipódromo de Constantinopla. – A revolta do último ostrogodo, Vidhin, foi sufocada por tropas imperiais; ele foi levado preso para Constantinopla, onde foi executado neste ano (ou 562). Os remanescentes ostrogodos se converteram ao cristianismo e se estabeleceram em Ravena. ---- Os francos estabelecidos no alto vale do Pó (extremo noroeste da Itália) foram expulsos pelo general Narsés. ---- Os Ávaros invadiram a Bessasrábia (no baixo Danúbio), surgindo pela primeira vez diante da fronteira local do Império Romano do Oriente (Bizantino).561/2 – No final de dezembro/561 e janeiro/562, negociaram um tratado de paz (que deveria durar até 612) a Pérsia Sassânida (representado por Izad-Gushnasp) e Bizâncio na cidade de Dara, em que ficou estabelecido um tributo anual ao Grande Rei Kosro I, em troca de Lazes ou Lazica (Cólquida, hoje Geórgia). Além disso, ficou acertada a liberdade de culto nos dois impérios (os cristãos na Pérsia não podiam, contudo, pregar a religião em público) e o comércio livre entre eles. Com este tributo, os persas ficaram obrigados a tomar conta dos desfiladeiros nas montanhas do Cáucaso. Desembaraçado dos romanos orientais pelo tratado, o imperador persa teve mais campo aberto para se dedicar à luta contra os Hunos Heftalitas na fronteira oriental. Este tratado foi minado sistematicamente pelos romanos orientais se intrometendo na Armênia e Geórgia (sob influência da Pérsia) e Persarmênia (cujos habitantes cristãos estavam sendo perseguidos pelos persas), se aproveitando da nova presença dos turcos ocidentais na Ásia Central (intermediários na Rota da Seda, importante para ambos os impérios).562 – Em abril, a Trácia foi invadida mais uma vez, agora pelos Hunos Kutrigurs (da região do Mar de Azov). --- Em 25 de novembro, Belisário caiu em desgraça, sendo acusado de corrupção (por urdiduras palacianas de Procópio) e foi preso; o imperador o liberou, mas não teve nenhum comando e morreu praticamente pobre em 565. Ele foi substituído por Solomon. – No dia de Natal, já pronto o domo da Igreja de S. Sofia, ela foi novamente consagrada estando presente o imperador. – Neste ano, os Ávaros chegaram ao Baixo Danúbio e solicitaram ao imperador a cessão da região de Dobruja; o imperador, entretanto, lhes ofereceu a Panônia Segunda. --- O general Vidhin, o último ostrogodo, foi vencido em Verona e levado preso para Constantinopla. --- Nova rebelião das tribos mouras no norte da África. 563 – Em janeiro, na Numídia, estourou uma revolta contra o Império Romano do Oriente.---- Em 19 de julho, foi reabilitado o general Belisário. – Em novembro, na Itália, as cidades de Verona e Bréscia foram ocupadas pelo general Narsés.565 – Em 25 de janeiro foi exilado o patriarca Eutíquio (que já exercera o cargo antes) que se recusou a aprovar a ‘phtartodocétisme’, isto é , a crença de que o corpo de Jesus Cristo na cruz era incorruptível; o imperador Justiniano faleceu quando estava preparando um edito sobre esta doutrina egípcia. Eustíquio foi substituído por João Escolástico. – Em 13 de novembro, com 82 anos, morreu em Constantinopla, Flávio Pedro Justiniano Sabatio, ou simplesmente Justiniano I. ---- Fronteiras setentrionais estavam sob o domínio dos Ávaros, gépidas (que se apoderaram de Sirmium, ou Mitrovitza e Singidunun, depois chamada de Belgrado) e lombardos.

565 (15 de novembro) a 578 - Governo de Justino II, o Curopalato (antes, comandante em chefe de todos os guardas palacianos) após a morte do seu tio (Justiniano I) sem filhos. Foi um governo fraco; se casou com Sofia, sobrinha de Teodora. Os empreendimentos militares do seu tio deixaram um legado de dificuldades financeiras e militares. A partir de 573 quem efetivamente reinou foi Sofia, em virtude da sua loucura.565 (continuação) – Em 15 de novembro, Justino II, sobrinho de Justiniano I, se casou com Sofia, sobrinha da imperatriz Teodora. ---- Cinco dias após ser consagrado imperador, Justino II recebeu um emissário dos Ávaros chamado Targités, na presença do general Narsés, em que se reclamava a transferência de um tributo pago pelos Kutrigures e Utigures, vassalos do império, para eles; o imperador, porém, não aceitou. Em represália, os Ávaros promoveram saques na Península Balcânica. – O imperador chamou seu sobrinho, homônimo dele, por

pretender o trono, e o colocou sob prisão domiciliar. 566 – Baduário e Cunimundo após vitória inicial, não tiveram sucesso em sua investida contra os lombardos e ainda Cunimundo se recusou a entregar ao impérios as cidades de Sirmium (Mitrovitza) e Singidunum (Belgrado), como prometera antes, visto que o imperador romano oriental rompeu tratado com ele por estar com suas finanças corroídas pela administração anterior. ---- Em 3 de outubro, foram presos e decapitados o médico do imperador e o prefeito de Constantinopla por acusação de conspiração. ---- Neste ano: Justino exilou seu sobrinho também chamado de Justino para a Alexandria; aí foi instalado na casa do governador (‘prefectus) e morto enquanto dormia. Foi decapitado e cabeça enviada à Constantinopla (por trás disso tudo esteve, provavelmente, a esposa do imperador, Sofia). 566-567 - Baduário foi mandado para ajudar os gépidas (na Mésia ou Citia Menor, no Danúbio) contra os lombardos. A primeira batalha foi vencida pelos coligados, mas o rei Cunimundo dos gépidas não quis entregar a cidade de Sirmium (Mitrovitza) aos romanos orientais (conforme tinha sido acertado antes). Em nova batalha contra os lombardos (agora unidos aos Ávaros comandados por Bayan) os gépidas foram derrotados e Cunimondo foi morto. A partir de 567, o Reino dos Gépidas desapareceu e seu território dividido entre Ávaros e lombardos.567 - Neste ano: Sob pressão da esposa Sofia, Justino II mandou Narsés (sob acusação de exação fiscal e de enriquecimento pessoal) retornar para Constantinopla, deixando a Itália desguarnecida diante do perigo iminente dos lombardos. Ele se recusou a ir para lá, ficando na Itália mesmo (em Nápoles). ---- O imperador tentou pacificar as tendências religiosas, sobretudo dos Jacobitas (ortodoxos da Síria) e decretou um edito de união (Henotikon), sem se referir ao Concílio da Calcedônia. Por outro lado, o patriarca João III, procurou realizar um entendimento entre os monofisitas e os calcedonianos. – O imperador recebeu um embaixador sogdiano, Maniakh, representando o khan khan turco da Dzungaria Istami (Ishtemi ou Istami ou Silzibul), para negociar a liberdade de comércio (visto que não teve sucesso com os Sassânidas). Por outro lado, ao retornar Maniakh, foi junto com ele o emissário imperial Zemarcos (em 568), recebido por Istami em sua residência de verão (ao norte dos Montes T’ien-chan) se iniciando pela primeira vez o comércio com o Extremo Oriente pela rota Constantinopla-Samarcanda, tendo estes turcos como intermediários. ---- Alboíno, rei dos lombardos, com o auxílio de tropas do khan ávaro Baian, conseguiu findar com a presença dos gépidas no vale médio do Danúbio. A partir daí, os Ávaros passaram a ter o domínio desta região, tendo controle sobre as estepes do Volga, além da Panônia e parcialmente da Áustria atual. Assim, puderam expulsar os lombardos para a Itália e submeter os eslavos meridionais.567 a 570 – Na Península Ibérica, os romanos orientais pretenderam estender suas fronteiras desde sua capital (Córdoba) até os contrafortes de Serra Morena, mas não conseguiram pela ação militar de Atanagildo (rei dos visigodos, cuja capital era Toledo). Até 584 o domínio bizantino correspondia

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ao Algarve atual (em torno de Ossonoba e Lacobriga).568 - No início de janeiro, chegou a Ravena o patrício Flávio Longino, nomeado governador (no lugar do governador militar). ---- Os Lombardos (ou langobardos), nômades parcialmente arianizados, sob a chefia de Alboíno, saíram dos Alpes Julianos, atravessaram o colo de Nauportus e iniciaram suas incursões sobre o território bizantino na Itália. Em 20 de maio se apossaram de Aquileia e, assim, assumiram o controle da região de Venetia (exceto as ilhas no Adriático). Seu domínio sobre a Itália não sofreu praticamente resistência da população local em face da opressão fiscal a que sua população estava sendo submetida pelos romanos orientais. ---- Na primavera, os Ávaros (que viviam entre o Danúbio e seu afluente Tisza, na Hungria atual) começaram a invasão sobre a Dalmácia (no mar Adriático) e a Ilíria; Justino II teve que pagar tributo anual para eles. – Em agosto, novamente partiu de Constantinopla em direção ao Turquestão Ocidental uma embaixada sob a chefia do estratego Zemarcos para negociar um acordo com o khan Istami (dos Köktürks ou Göktürks, ‘turcos-azuis’) contra os persas.569 - Justino II outorgou aos bispos e nobres o direito de nomear e fiscalizar a administração dos governadores provinciais. ---- Na Mauritânia, o príncipe bérbere Garmul se revoltou contra o domínio romano oriental, sendo vitorioso neste ano, em 570 e 571; somente foi jugulada a revolta com sua derrota e morte em 578 pelo patrício romano Genádio. – Na África, os famosos Garamantas (habitantes na região meridional da Líbia atual, junto ao Maciço de Fezzan) entraram em acordo de paz com os romanos orientais e aderiram ao cristianismo. Ainda neste ano, o Reino de Alodia (na região onde se juntam os rios Nilo Azul e Branco) também se converteu ao cristianismo melquita pregado pelos missionários coptas do Egito. ----As províncias africanas sofreram incursões dos mouros (bérberes), apenas pacificados em 578. ---- Como os romanos orientais se negaram a pagar tributo aos Ávaros, estes mandaram os Kutrigures (seus aliados) invadirem e saquearem a Dalmácia. --- O líder gassânida Aretas morreu, sendo sucedido por Al-Mundhir (Alamundaros), que entrou em conflito com os Lakhmidas, conseguindo vitórias contra seu chefe Kaboz. Ao solicitar para o imperador Justino II uma quantia de ouro para pagamento de seus soldados, isto foi recusado e o imperador ainda mandou matá-lo. Ao saber disso, ele se retirou para o deserto junto com suas tropas. 569 (ou 570) – O khan Ishtami (Ištämi/Sizibul), açulado pelos romanos orientais, após terem dominado as áreas do Cáucaso pertencentes aos Ávaros, controlaram a Rota da Seda, atacaram e pilharam as áreas fronteiriças dos Império Sassânida. Este, para controlar os turcos, procurou negociar um tratado e, prudentemente fortificou as fronteiras das províncias de nordeste.570 – Em 20 de maio, mais uma vez houve um confronto, em Ain Obagh, entre os Lakhmidas (sob o rei Kabus) e os Gassânidas, estes vitoriosos; o rei Mondir III (também chamado Al-Mundir ou Alamundaros), dos Lakhmidas, morreu neste combate. – Neste ano ainda, o apoio bizantino aos armênios aguçou a animosidade com os Sassânidas. ---- Há estimativas demográficas que demonstram que a capital sassânida, Ctesifon, passou a ser a maior cidade do mundo, à frente, pois, de Constantinopla. ---- Foi mencionada pela primeira vez neste ano a suposta relíquia da lança que perfurou o coração de Cristo crucificado, chamada de Santa Lança ou Lança do Destino. ---- O rei visigodo Leovigildo promoveu incursão sobre a Hispânia (província romana oriental) e se apoderou de Córdoba. 571 – Em 21 de março, o imperador Justino II mandou publicar o Segundo Henótico (ou Programa) procurando resolver a crise monofisita e determinando que os bispos o subscrevessem (os que não o fizessem seriam presos) e o fechamento das igrejas desta heresia em Constantinopla. Os monofisitas, por sua vez, declararam sua rejeição às normas do Concílio da Calcedônia, eclodindo então novo cisma. ---- Em 30 de março, na Armênia, estourou uma revolta liderada por Vardan II Mamiconiano com o auxílio militar dos romanos orientais. – Neste ano: O reino dos Himyaritas do Iêmen (a bíblica Sabá) mantinha boas relações com os romanos orientais, mas foi conquistado pelo reino etíope de Aksum (que ia desde a Somália à Etiópia). Khosro I mandou uma frota naval comandada por Vahriz, que venceu os etíopes e anexou o Iêmen. Os romanos orientais não viram com bons olhos tal conquista, visto que os persas passaram a ter o controle sobre o comércio no Mar Vermelho até a conquista árabe no século VII. ---- Foi firmado um acordo com os Ávaros pelo qual os romanos orientais conseguiram o território antes habitado pelos Gépidas (com exceção de Sirmium Sirmium, atual Sremska Mitrovica, às margens do Sava, afluente da margem direita do Danúbio, na província de Voïvodine, na Sérvia). 572 – Na primavera, o imperador Justino II se recusou a pagar o que foi conveniado em 561/2 à uma legação diplomática sassânida em Constantinopla, daí nova Guerra Greco-Pérsica até 591. Assim, já no verão, o general Marciano invadiu a Pérsia, chegando a Osroena (noroeste da Alta Mesopotâmia), depois arrasou Arzanênia (província armeniana) no outono com facilidade, pois não encontrou nenhuma reação persa. – Os persas se apoderaram de Aden, se aproveitando do ataque dos árabes no norte do Iêmen. Aden ocupa uma posição econômica estratégica para o acesso marítimo ao Mar Vermelho.---- Internamente, o imperador abandonou a política de tolerância religiosa anterior, perseguindo os heréticos, por influência do patriarca João, o Escolástico. ---- Na Itália, após 3 anos de cerco, a cidade estratégica de Pavia (Ticinum) foi ocupada por Albuíno, rei Lombardo, passando a ser a capital. Em 28 de junho Albuíno foi assassinado, sendo sucedido por Klef. ---- Neste ano, na Península Ibérica, os visigodos retomaram Córdoba; os romanos orientais fizeram um tratado de paz com eles. Após o tratado se lançaram em direção oeste, objetivando se apoderar de terras dos suevos.572-573 – No inverno, o general Marciano continuou sua campanha militar chegando à linha natural de fronteira romano-persa, o rio Djaghdjagh (antes designado pelo nome de Migdônio).572 a 591 – Desde a primavera de 572 quando os romanos orientais se recusaram pagar imposto aos persas (em embaixada em Constantinopla), reiniciaram-se os confrontos entre persas e romanos orientais por disputas das estradas por onde transitavam os produtos orientais (entre as quais a Rota da Seda). A Pérsia se ocupava deste comércio com Constantinopla e precisavam ter boas relações com o Canato Ocidental dos ‘tu-kieu’ ou ‘turcos’, que tinha fronteiras com os sassânidas na Sogdiana (Transoxiana). No entanto, o khan turco Istami tinha melhores relações com os romanos orientais.573 – Em 19 de abril, o general romano oriental Marciano saiu de Dara (atual Oguz, na Turquia), na fronteira, e avançou sobre a Mesopotâmia persa, onde os venceu em Sargathon e cercou a cidade de Nísibe; foi abandonado este cerco porque ele foi chamado pelo imperador a Constantinopla, sob suspeição de querer usurpar o trono. ---- No verão, o general persa Adarmahan fez incursão sobre a Síria bizantina, devastou os arredores de Antióquia, cercou Apameia (após conquistá-la reduziu seus habitantes à escravidão) e, em seguida, cercou a fortaleza de Dara por 6 meses, retomando-a em 15 de novembro. – Neste ano: a capital, Constantinopla, foi assolada pela peste, matando milhares de pessoas. ---- Justino II teve um acesso de loucura, sendo substituído pela esposa Sofia, esta ajudada por Tibério. Sua doença ensejou a se negociar uma trégua com o Império Sassânida. --- O líder gassânida Al-Mundhir (ou Alamundaros) solicitou ajuda financeira romano oriental para pagar suas tropas, mas o general Justiniano (filho do general Germanos) não só recusou, como ainda mandou matá-lo. Ao saber disso, Alamundaros fugiu para o deserto da Síria. Em maio, o general Justiniano se apoderou de Dwin dos persas, mas não conseguiu obstar que eles, junto com os Lakhmidas (do Reino de Hira), saqueassem vários lugares da Síria e destruíram Heracleia Pôntica (na Bitínia) e Hama (Epifania). --- O rei visigodo Leovigildo, da Espanha, retomou Córdoba, que estava em poder dos bizantinos.574 – Na primavera foi celebrada uma trégua de 1 ano entre romanos orientais e sassânidas, mediante o pagamento de tributo por parte dos romanos. A trégua estava restrita à Mesopotâmia, não ao Cáucaso. --- Na corte imperial, em 7 de setembro, a imperatriz Sofia adotou Tibério (general trácio vencedor dos Ávaros), que foi nomeado César, em face da loucura do seu marido. --- O monge e futuro papa Gregório endossou o ato do bispo de Milão, Laurêncio, condenando os ‘Três Capítulos’. 575 – Na primavera, Khosroe (Chosroés) I, imperador sassânida, transgredindo a trégua do ano anterior, invadiu a Armênia Romana, mas não conseguiu se apoderar de Erzerum (ou Teodosiópolis), no Alto Eufrates, nem da Capadócia, mandou queimar Sebaste, mas foi vencido pelo general Justiniano (filho do general Germanos) em Melitene (ou Malatia, na Alta Mesopotâmia), com reforços armênios. A armada persa em fuga, ao atravessar o rio Eufrates, teve perdas por afogamento no rio. Após tudo isto, se assinou uma trégua de 3 anos entre os dois impérios (no outono de 576).------ Neste ano: Derrota dos bizantinos perto de Nápoles frente aos lombardos, cujo rei era Klef. ---- Por causa dos estragos feitos pelos lombardos na Itália, o novo papa Bento I sucedeu, em 2 de junho, o finado papa João III, mas só foi reconhecido pelos romanos orientais 11 meses depois.

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576 - Fracasso bizantino na tentativa de fazer aliança com o göktürk Tardu (ou Kara Cürün, filho de Istami, kaghan do Império Turco Ocidental, que morrera em sua residência no Alto Yulduz) contra a Pérsia, recebendo mal o emissário Valentinos, por terem os bizantinos feito um acordo anterior com os Ávaros (juan-juan). Em face disso, mandou uma cavalaria sua (sob o comando de Bokhan), reforçado por Anagai (último chefe huno Uturgur), atacar e cercar Panticapeia, cidade próxima da atual Kertch (na Crimeia) após ter atravessado o Bósforo Cimeriano. ---- Baduário foi mandado ao norte da Itália para sustar os lombardos em sua conquista da região e aí encontrou a morte dias após confronto com os mesmos. ---- Guerra greco-pérsica: Batalha de Melitene (ou Malatia, no Alto Eufrates onde o imperador persa se lançou em campanha militar, atacando Teodosiópolis e Cesaréia, sem sucesso; saqueou Sebasteia (Sivas) na Armênia. Ao chegar em Melitene foi cercado pelo comandante-em-chefe romano oriental Justiniano, abandonando aquela fortaleza no Alto Eufrates e ali deixando o produto de seus saques anteriores. Se aproveitando desta fuga dos persas, Justiniano invadiu a Albânia do Cáucaso e promoveu incursões no Mar Cáspio (no Azerbaijão). No outono, os persas, em manobra protelatória, propuseram um tratado de paz para atrapalhar os preparativos de revanche dos romanos orientais. No inverno, Justiniano foi substituído por Maurício à frente da armada romana oriental. 577 – Guerra greco-pérsica: No verão, o general persa Tamkhosrau saiu-se vitorioso sobre o general romano oriental Justiniano na Armênia. ---- Nesta época, o César Tibério criou uma base naval em Derbent para construir uma frota. ------ Ao morrer João III Escolástico em 31 de agosto, Eutíquio recuperou para si, em 3 de outubro, o patriarcado de Constantinopla, exercendo o cargo até 582, quando morreu. 578 - Os persas invadiram de novo a Armênia Romana, mas foram forçados a se retirar pelo general Maurício, que se apoderou da Arzanena persa, junto ao Lago Van, no verão-outono. --- Tibério foi nomeado (em 26 de setembro) Augusto em Bizâncio, exercendo efetivamente o poder no lugar do demente Justino II, que morreu em outubro. ---- Neste ano: Lombardos se apoderaram de Classis (porto de Ravena). --- Genádio (exarca de Cartago) venceu os Mouros chefiados por Garmul e estabilizou o domínio bizantino na região da Mauritânia. 578 (5 de outubro) a 582 - Tibério II Constantino imperador; foi benquisto por ter diminuído a carga fiscal. Casou uma de suas filhas com Maurício, famoso general oriundo de família romana sediada na Capadócia.578 (continuação) – Na época do inverno, o novo imperador reiniciou os entendimentos diplomáticos com os Sassânidas em busca da paz entre ambos.578-81 - Eslavos saquearam a Trácia e invadiram a Grécia; expulsos em 587 após vitória bizantina de Andrinopla. 579 – Na primavera-verão, os entendimentos diplomáticos para um acordo de paz entre romanos orientais e os persas foram protelados por estes de tal maneira, que, no outono, os romanos orientais começaram a se preparar para o conflito. ---- Na Espanha visigótica, Hermenegildo se casou com Ingonda, cuja fé católica incentivou o marido a se aproximar de Bizâncio.579 a 582 - Bizâncio moveu guerra contra os Ávaros, tomando-lhes Sirmium (na Panônia, às margens do rio Sava, afluente da margem direita do Danúbio).580 – Al-Mundhir, rei gassânida, proibiu ao general Maurício de atravessar seu território (atual Jordânia) para atacar a capital persa; mas, por outro lado, impediu que os persas invadissem terras romanas orientais.—Na primavera, Al-Mundhir foi recebido em Constantinopla pelo imperador, pleiteando a reconciliação entre os calcedonianos e monofisitas. ---- Neste ano, os Bálcãs sofreram incursões dos eslavos.580-581 – O rei Al-Mundhir participou, junto com o general bizantino Maurício (futuro imperador) da segunda campanha militar contra os persas, marchando contra sua capital, Ctesifon, que resultou em fracasso. Tibério II considerou Al-Mundhir traidor pelo fracasso, resultando em sua prisão em Constantinopla e na revolta de seu filho Al-Nu’man VI em 581. Este atacou a Síria, tomou Bosra (ou Bostra, cujo governador morreu nesta ocasião). Esta revolta durou 2 anos. Al-Nu’man VI foi tentar se entender com bizantinos em Constantinopla, mas aí foi preso e, depois, exilado na Sicília. 580-582 – Os avaros, sob o comando de Baian, cercou por dois anos e se apoderou de Sirmium (atual Sremska Mitrovica, na Sérvia), sem dificuldade pela fome de sua população. Esta cidade se transformou em centro de partida de incursões avaras em território bizantino na região dos Bálcãs. Daí saíram mediante pagamento de pesado tributo anual.581 - Neste ano, em Heliópolis da Síria, ocorreu uma revolta de pagãos, resultando em massacre de cristãos. – Os Ávaros começaram o cerco à cidade de Sirmium. ---- Na colônia bizantina da Crimeia, a cidade de Quersonesos Taurica foi cercada pelos göktürks comandados pelos qaghan Taspar. 582- Em junho ocorreu a Batalha de Constantina (na Mesopotâmia): vitória do general Maurício sobre os generais persas Adarmahan e Tamkosrau, em que este último foi morto. Depois as tropas vencedoras atravessaram o Eufrates e ameaçaram Ctesifon. Realizaram negociações de paz com o rei sassânida, mas sem sucesso. ---- No verão, no lado setentrional do império, o kaghan ávaro Bayan se apoderou de Sirmium (na Panônia) aos bizantinos; Tibério II conseguiu contê-lo pagando-lhe soma considerável e assinando um tratado de paz, que vigorou até 584. A conquista de Sirmium abriu o rio Sava para a colonização eslava. --- Em agosto (dia 13) morreu Tibério II (talvez envenenado), logo depois (dia 14) de ter outorgado o título de César ao seu genro Maurício (casado com sua filha Constantina). 582 (14 de agosto) a 602 - Reinado de Maurício. Foi o primeiro imperador bizantino de língua grega. Em seu reinado se editou o livro ‘Strategikon’ sobre o uso das armas, que se tornou um clássico da arte bélica, sendo consultado até a II Guerra Mundial.582 (continuação) –--- O general João Mystacon foi , nomeado comandante-em-chefe do Oriente, no outono.583 - Em abril, o fórum de Constantinopla foi destruído por um incêndio; em maio, a cidade foi sacudida por um terremoto. – Em maio, os Ávaros (com seu khagan Bayan) reclamaram, sem sucesso, um acréscimo no pagamento de tributo pago pelos romanos orientais. Em face disso, no verão, fizeram incursão nos Bálcãs, se apoderando de Singidunun (atual Belgrado, na Sérvia), depois Viminacium (na Mésia Superior) e chegaram até Anquialos (no Mar Negro). Aí se encontraram Bayan e uma embaixada romana oriental sob a chefia de Elpídio e Comentiolus. ---- No verão o general bizantino João Mystacon fez nova campanha militar contra os persas em Arzanena: cercou sem sucesso a fortaleza de Acbas (junto ao rio Batman, afluente do Tigre) até o outono. O insucesso se deveu à vinda do general persa Kardarigan ao local (abandonou o cerco à fortaleza de Aphumon) e a saída do legado Cursus. As tentativas de negociação de acordo de paz no inverno de 583-584 também fracassaram. ---- Neste ano, os gregos da Lacônia, pressionados pela invasão dos eslavos meridionais no Peloponeso, foram mais para o sul e fundaram Monemvasia (ou Malvoisia). 584 – Na primavera-verão, foi enviada uma missão diplomática de Constantinopla para Ctesifon (capital do Império Sassânida). – O general João Mystacom foi substituído pelo cunhado do imperador Maurício chamado Filípicos, que formou em Martirópolis a base de suas operações; ele recrutou mais soldados e fortificou Monocarton, que foi sitiada sem sucesso pelo general persa Kardarigan. Durante o outono, o novo comandante das tropas do Oriente devastou as planícies de Beth Arabaia, nas proximidades de Nísibe.---- Se negociou um tratado de paz com o khagan ávaro Bayan através de negociações de uma segunda embaixada sob a chefia do senador Elpídio. No verão, entretanto, Bayan sofreu uma derrota e foi perseguido pelo general Comentiolus nas proximidades do rio Erginia, depois que ele tinha avançado até o Muro de Anastácio (também denominado de Longo Muro da Trácia) em 585, mas aí foi contido. ---- Em 4 de outubro, o papa Pelágio II mandou carta a Gregório em Constantinopla relatando as ocorrências na Itália e pedindo ajuda contra os Lombardo. Para tal, foi criado no norte da Itália o Exarcado de Ravena; no norte da África, o de Cartago. O exarcado de Ravena teve como primeiro titular Smaragdus, embora com poderes ilimitados não dispunha de forças suficientes para lutar contra os lombardos. Também se militarizou a fronteira do Exarcado de Ravena com o Reino Lombardo (em Bolonha, Pádua, Mântua e Perúsia). — Entre os lombardos foi coroado rei Authari (filho de Clef), que por 6 anos esteve na condição de vassalo do rei franco da Austrásia, Childeberto II. Ameaçou Ravena, mas não teve sucesso em se apoderar desta cidade em função da intervenção da armada imperial bizantina coligada com os francos. ---- Difusão do nestorianismo na Ásia Central. 584 a 590 - A aliança anti-lombarda entre Bizâncio e o rei franco da Austrásia, Childeberto II, valeram 5 expedições francas à Península Itálica, mas nenhuma delas com sucesso, ora porque o rei franco foi inepto, ora porque pilhou as terras que deveriam ser defendidas por ele, ora porque até negociou com lombardos.585 –No verão, uma horda de eslavos comandados por Ardagast foi vencida pelo general Comentiolus nas proximidades do forte Ansinon, no distrito de Astice. – Neste mesmo período, na fronteira oriental, o general Filípicos continuou sua campanha militar contra os persas em Arzanena (na

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Armênia). --- No Concílio de Selêucia, convocado pelo Patriarca do Oriente e ‘katólicos’ Isoyabh, foi condenado o monofisismo.585-588 e 591 - O imperador Maurício estabeleceu uma cooperação financeira com o rei franco Childeberto II (da Austrásia e Borgonha) para atacar os lombardos no vale do Pó (norte da Itália).586 – Batalha de Solachon: Enquanto os persas tentavam renovar os entendimentos de paz com os romanos orientais, na primavera o general Filípicos reuniu suas tropas em Solachon (ou Arzamon), perto de Dara, assegurando o controle e acesso à planície da Mesopotâmia e ao rio Arzamon. Aí sofreu o ataque do general persa Kardarigan, mas o repeliu. No verão se dirigiu novamente para a região de Arzanena, mas fracassou no cerco da fortaleza de Chlomaron.--- Durante o outono, o alto vale do Tigre e suas imediações foram devastadas pelo general bizantino Heráclio, o Antigo. – Em setembro, o porto de Tessalônica foi atacado pelos eslavos, cercando-a por uma semana mas não conseguiram ocupá-lo (segundo a tradição por intervenção de S. Demétrio, padroeiro local).587 - Ação diplomática de Maurício contra Recaredo (rei visigodo da Espanha) e os lombardos da Itália. Recaredo abjurou o arianismo (no Concílio de Toledo, em 589) e aceitou as normas do Credo do Concílio de Nicéia. Os lombardos também se converteram ao cristianismo (em 588). ---- Nomeação do primeiro exarca de Cartago, Genádio, que enfrentou e venceu uma rebelião dos mouros, que estavam ameaçando Cartago. ---- Na primavera, o general Comentiolus iniciou sua campanha em Dobruja (Baixo Danúbio) contra os Ávaros por terem passado nos Bálcãs após a invasão da Mésia. O ávaro Bayan invadiu a Trácia, foi vitorioso contra o general Castus, mas depois foi vencido pelas tropas imperiais comandadas por Droctulfo e João Mystacon, próximo da cidade de Andrinopla (na Trácia). Desta forma, os eslavos meridionais foram rechaçados da Grécia e os Ávaros se retiraram para Sirmium. – No verão, a armada romana oriental atacou fortalezas persas na Alta Mesopotâmia. 587-588 – No inverno, os Antas foram influenciados pelos romanos orientais para fazer frente aos eslavos meridionais nas terras ao norte do baixo Danúbio. 588 – No início do ano, o rei franco Childeberto II e sua mãe Brunhilda mandaram emissários à Constantinopla para os preparativos da guerra contra os lombardos. ---- Revolta militar das tropas do Oriente, em 20 de abril, contra o imperador Maurício por sua política econômica de contenção de gastos para equilibrar as finanças, reduzindo inclusive as despesas militares; houve deserções, pilhagens e saques de colheitas. Em maio/junho foi novamente nomeado comandante do Oriente o general Filípicos; os amotinados continuaram sua revolta e escolheram Germano como seu comandante. Este, no verão, defendeu Constantina de um ataque de forças persas; ainda no verão, derrotou o general persa Marusas na Batalha de Martirópolis (ou Silvan), em represália ao seu ataque à capital bizantina, Constantinopla (para onde foi enviada a cabeça do general Marusas derrotado em Martirópolis). ---- No verão, o general Prisco realizou a sua primeira expedição militar na Grécia, mas não conseguiu impedir que os Ávaros se apoderassem de Nea Anchialos (na Tessália) e ainda foi cercado em Tzurulon (ou Tchorlu). No outono, os Ávaros voltaram para Sirmium. – Neste ano, a influência romana oriental se fez presente na Ibéria do Cáucaso ao conferir o título de ‘curopalates’ (intendente do palácio) a Guaram, que se tornou também o seu rei. 589 – Em 10 de abril acabou a amotinação das tropas imperiais no Oriente, depois que se regularizam os seus soldos; com isto, o general Filípicos foi aceito como comandante. ---- Na primavera, tropas persas retomaram Martirópolis aos romanos orientais, graças à traição de um deles chamado Sitta. No verão, esta cidade foi cercada pelo general Filípicos, a que abandonou em face do recebimento de reforços pelos persas. ---- Em junho, em Constantinopla, o patriarca João, o Jejuador, se outorgou o cargo de ‘ecumênico’, numa reunião de bispos nesta capital; o papa Pelágio II desaprovou esta atitude do patriarca, comunicando-a através do seu núncio Gregório (futuro papa Gregório I, o Grande) na capital bizantina. --- Neste ano: Os iberianos do Cáucaso, sob a chefia do príncipe Guaram, foram incitados a invadir a província persa do Azerbaijão pelo imperador Maurício (que tinha concedido o título de ‘intendente do palácio’ para Guaram). Esta ofensiva iberiana foi mal sucedida pela intervenção do general Bahran ‘Tchubin’ vencendo-os em Svanetia (na Geórgia). Outro feito deste general foi sua vitória sobre os romanos orientais ao atacar a Albânia do Cáucaso (graças à traição de um aliado dos romanos, o sheil Al-Mundhir, relatando ao imperador persa Hormizd IV as pretensões de Maurício). O imperador romano teve que se retirar, mas na fronteira Bahram perseguiu o seu exército. ----Ocorreu a Batalha de Araxes (no rio Aras, na fronteira atual entre Turquia e Irã) entre as forças romanas orientais conduzidas pelo general Romanus e as persas sob o general Bahram Tchubin (ou Chobin), sendo este derrotado. Por isto (bem como pela fama do general) o imperador o humilhou com roupas femininas.---- Na fronteira ocidental do Império Romano Oriental, os exarcas Smaragdus (de Ravena) e Romanus conseguiram retomar posições importantes aos lombardos na Itália como o porto de Classis. 590 - O general persa Bahram Tchubin, após ser humilhado, perdeu seu ‘status’ de sátrapa na Média pelo imperador Hormizd IV; em face disto, aderiu a uma revolta dos nobres feudais em Ctesifon e depôs o imperador. ---- O imperador persa Khosroe II foi para a Síria e daí se dirigiu para Constantinopla, onde foi bem acolhido pelo imperador Maurício (em março). ---- Em março, na Itália, o rei lombardo Authan determinou que todas as crianças lombardas deveriam ser batizadas dentro do rito da heresia ariana. – Em 26 de março, o imperador Maurício outorgou o título de Augusto ao seu filho primogênito, Teodósio (com apenas 4 anos de idade). ------ Na primavera-verão, mais uma vez fracassou a aliança franco-bizantina: enquanto o rei franco Childeberto II, à frente de uma coalizão franco-alamanos, se dirigia para Verona, o Exarca de Ravena atacava os lombardos, se apoderando de Altinum, Módena e Mântua. Não houve continuidade na ação franco-bizantina para o ataque a Milão contra os lombardos: os francos retornaram para seu reino (debilitados por falta de víveres e por doenças) e a aliança foi desfeita. – No outono, o imperador Maurício comandou suas tropas em ataque contra os Ávaros em Nea Ankialos (na Tessália). 591 – O imperador Maurício apoiou militarmente Khosro II sob a condição de que fosse reconhecida sua soberania sobre Amida, Harran (ou Carrhae, de importância estratégica pela sua posição em cruzamento de rotas comerciais de Damasco e Karkemish), Dara, Maiferkat e Nísibe; além disso, de não interferir no Cáucaso (Armênia, Geórgia e Lazica). Assinatura de tratado de paz entre Bizâncio e Pérsia (Khosroe II era casado com Sirin, que era católica e se supõe que um filho seu se casou com uma filha de Maurício). Em 9 de fevereiro, Khosro II recebeu a cabeça de um oficial aliado de Bahram chamado Zadesprate. Na primavera, o general Narsés (que substituiu Comentiolus, como chefe da armada do Oriente), ao lado de Khosroe II e do bispo Domiciano (de Melitene) realizou sua campanha militar primeiro numa fortaleza próxima de Dara (chamada de Mardes), depois recebeu reforços armênios. Enquanto isto, a capital persa, Ctesifon, foi ocupada pelo general persa Mabad, proclamou Khosroe II como imperador e eliminou os partidários (entre os quais judeus) do imperador-usurpador Vahram VI (ou Bahram). Em junho foi a vez dos generais Narsés e João Mystacon, junto com as forças de Khosro II vencerem Bahran na Batalha de Blarathon, perto de Ganzak (no Azerbaijão), fugindo para Khorassan e daí para Balkh, junto aos turcos ocidentais, que o mataram mais tarde. No outono, se acertou um tratado de paz bizantino-persa, pelo qual o imperador Maurício recebeu a Armênia (até o Lago Van e Tíflis), além de Dara e Martirópolis (Maiafarikin); por outro lado, Khosroe II se mostrou tolerante com os cristãos (os zoroastrianos locais alardearam que ele voltou de Constantinopla com costumes ‘heréticos’ e se casar com uma cristã chamada ‘Chirina’, ou ‘Doce’, pela qual era ardentemente apaixonado). O imperado persa mandou oferendas à Igreja de S. Sérgio, em Sergiópolis, como manifestação de agradecimento. --- Novamente os eslavos e Ávaros invadiram e saquearam os Bálcãs, se assenhorearam de fortalezas romanas orientais do Danúbio, cercaram Tessalônica e chegaram a ameaçar a capital bizantina. 591 a 598 - O bispo Domiciano (de Melitene) exerceu papel importante como assessor especial do imperador Maurício.592 – Em março-abril, o imperador Maurício com seu exército acrescido das tropas do Oriente (com a fronteira persa apaziguada) pôde combater os Ávaros e eslavos na fronteira danubiana, conseguindo retomar Singidunum (hoje a capital da Sérvia, Belgrado). Quando estava em Anchialos passou o comando para o general Prisco. Depois voltou à sua capital para acolher os emissários dos Sassânidas e embaixadores francos. --- No outono, o general Prisco conseguiu o comando das tropas da Trácia, acrescidas das do Oriente, e se dispôs a mover guerra contra os eslavos meridionais e os Ávaros. Ele tentou deter Bayan e seus aliados eslavos em Andrinopla (na Trácia), mas não tinha chance em face de sua inferioridade numérica; parou então em Tzurulon (Tchorlu), perto de Constantinopla. Como havia o pressentimento de que uma frota naval imperial estava para entrar no Danúbio, o ávaro Bayan fez um trato com Prisco e abandonou sua posição em Andrinopla mediante uma indenização. --- A questão lombarda teve outro rumo na Itália: omissão do Exarca de Ravena no ataque de Ariulfo (duque de Spoleto) à Roma (no verão), cortando o contato com Ravena; bem como um possível ataque a Nápoles por parte de Arigis de Benevento. Tais ameaças e a omissão do exarca de Ravena descontentaram o papa Gregório I, o Grande.

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593 - O general Prisco, na primavera, iniciou sua segunda campanha militar no Baixo Danúbio: entrou na Valáquia e tomou as áreas invadidas e pilhadas pelos eslavos meridionais. No outono voltou para a Trácia para passar o inverno, contrariando ordens imperiais. Os eslavos, se aproveitando disto, devastaram Dobruja (Aquis, Scupi e Zaldapa). Prisco não pode continuar sua ofensiva pelo Danúbio por causa de motim de suas tropas e ataques dos Ávaros (594-595). 594 – O papa, diante da omissão do Exarca de Ravena (Romano) e da fraqueza do império, assinou uma trégua com o rei lombardo Agilulfo (que estava prestes a tomar Roma) pagando-lhe um tributo. ---- Diante do ocorrido com o general Prisco no ano passado, o imperador Maurício o substituiu neste ano por seu irmão Pedro, como comandante-em-chefe na guerra contra os Ávaros. ---- Em Jerusalém, Amós sucedeu a João como patriarca ortodoxo. 595 - No primeiro dia do ano, o papa Gregório I, o Grande se colocou contra as idéias do patriarca de Constantinopla João IV, o Jejuador, de se proclamar ‘patriarca ecumênico’ com base no cânon 28 do Concílio de Calcedônia e no Código de Justiniano. --- Em 2 de setembro morreu este patriarca, sendo entronizado em seu lugar Ciríaco, que manteve o título de ‘patriarca ecumênico’. ---- Na primavera, o romano oriental Pedro iniciou uma expedição militar nos Bálcãs: com sua armada da Trácia, navegou pelo Danúbio para tentar por um termo final ao cerco de Singidunum pelos Ávaros, mas não teve sucesso. No verão, os Ávaros fizeram incursão à Dalmácia.596-597 - Estando muito adoentado, o imperador Maurício entregou a tutoria de seus filhos ao bispo de Melitene, Domiciano. 597 – Os Ávaros e os eslavos cercaram o porto de Tessalônica em 22 de setembro. – No outono, os Ávaros recomeçaram sua campanha contra as forças imperiais na Trácia e ao longo do rio Danúbio: impuseram um assédio ao general Prisco em Tomis (hoje, Constata, no delta do Danúbio) e se apoderaram de Drizipera (próximo da atual Luleburgaz). Ao surgirem diante da capital, o imperador Maurício assinou um tratado com eles em Drizipera, estabelecendo o Danúbio como fronteira e pagando um pesado tributo (ele não tinha conhecimento de que os Ávaros estavam em inferioridade numérica na ocasião por terem sido abalados por uma epidemia de peste).598 – O general Prisco não conseguiu retomar a cidade de Singidunum que tinha sido destruída pelos Ávaros (só em 601 conseguiu por em prática seu plano de ataque na região). – Em outubro: trégua entre Calínico (novo exarca de Ravena) e Agilulfo (rei dos lombardos), renovado em 603, atendendo ao apelo do papa Gregório I ao imperador bizantino e esperando converter o rei lombardo. Calínico conseguiu recuperar Perusa e se normalizaram as comunicações entre Roma e Ravena.--- Invasão dos Bálcãs pelos Ávaros e Eslavos impediu ajuda de Constantinopla ao Exarcado de Ravena. --- Perseguição implacável da Igreja Jacobita (na Síria) pelo bispo Dometiano (Domiciano). 598-99 - Os generais Prisco e Comentiolo reuniram suas tropas em Sirigidunum por determinação do imperador. O general Prisco atravessou o Danúbio depois de 5 confrontos com os Ávaros sob Bayan; tal sucesso do general bizantino se mostraram nulas em virtude da indisciplina dos soldados.599 - Em maio, Calínico, exarca de Ravena, recebeu felicitações do papa Gregório I pelas suas vitórias sobre os eslavos. – No verão, a paz assinada entre o imperador Maurício e o ávaro Bayan se desfez: os dois generais bizantinos Prisco e Comentiolo transpuseram o rio Danúbio pela fortaleza de Viminacium e venceram os Ávaros e eslavos (seus aliados) na Panônia.—No outono-inverno, o general Comentiolo passou a ponte de Trajano chegou facilmente com suas tropas em Filipópolis.600 – No verão, o general Comentiolo foi nomeado estratego novamente. --- Tratado entre Bizâncio e os eslavos, aliados dos Ávaros, em que os primeiros tiveram que pagar tributos. Como foi rompido neste ano, Prisco esmagou os eslavos em Viminacium e os perseguiu na outra margem (a esquerda) do Danúbio. ---- Neste ano: A Síria e Palestina tiveram suas populações às voltas com a fome. – O ávaro Bayan realizou incursão na região de Dobruja e cercou Tomi, possivelmente objetivando dificultar a navegação das frotas imperiais pelo rio Danúbio. – Os bizantinos instalaram os Ávaros na Europa Centro Oriental. ---- Estimativas demográficas calculam que a população terrestre neste ano era aproximadamente de 208 milhões de habitantes. No fim deste século, os romanos orientais na fronteira ocidental eram senhores da Dalmácia (litoral leste do Adriático), do sul da Itália, das ilhas da Sicília, Sardenha e Córsega, do Exarcado de Ravena, do Ducado de Roma e da Ligúria (no Golfo de Gênova). No final deste século e durante o século seguinte ocorreu a penetração dos eslavos e, depois, dos búlgaros no Império Bizantino, por pressão dos hunos. Tais migrações acarretaram miscigenação étnica entre invasores e populações da Península Balcânica, bem como a diminuição das cidades (ora pela sua destruição, ora pela fuga de seus habitantes) e sua economia baseada em corporações de ofícios. Os eslavos foram também instalados pelo imperador em seu território. Um historiador contemporâneo explicava que tais invasões eram menos perigosas que a sanha fiscal dos agentes do imperador cobrando impostos (muitos deles especulando em proveito próprio).

SÉCULO VII Período tenebroso da História Bizantina: recessão econômica (que se prolongou pelo século VIII); forças armadas diminutas frente às necessidades internas e de fronteira; incursões e perdas territoriais (Síria, Alta Mesopotâmia, Armênia, Egito e Anatólia até a Calcedônia) frente aos árabes; pressão dos búlgaros. A partir deste século que o Império Romano do Oriente passou a ser chamado de Império Bizantino, não só pelos costumes (mais orientais que ocidentais) como pela sua helenização (substituição do latim pelo grego), repercutindo nos seus entendimentos diplomáticos com vizinhos. A helenização, porém, não é completa pela heterogeneidade demográfica, por sua população ser mais rural (mais apegada às suas tradições). A população sofreu um decréscimo populacional por causa da peste, só eliminada por completo no meio do século VIII. A partir da segunda metade deste século o Império sofreu incursões e perdas territoriais no corredor sírio-palestino e no norte da África com o avanço da ‘guerra santa’ dos muçulmanos; bem como o não-provimento de trigo pelo Egito (também conquistado pelos árabes). Os ataques árabes (inclusive na capital) redundaram em migração das populações sujeitas às mesmas. --- Outros invasores do império foram os búlgaros (sobretudo na Trácia) e os lombardos na Itália. Internamente, a morte de imperadores foi sacudida por querelas sucessórias. A presença dos varegues se fazia sentir desde o Mar Báltico (na Escandinávia) até o Mar Cáspio desde o século VII ao X.601 – O ávaro Bayan, depois de tomar Anchialos, novamente devastou a Trácia, mas sofreu fragorosa derrota diante do general Prisco na Batalha de Viminacium (ou de Kostolac), perto de Sirmium e do rio Theiss (ou Tisza, afluente da margem esquerda do médio Danúbio, província de Ilírico, hoje Hungria).---- No outono, o irmão do imperador, Pedro, avançou sobre a Dardânia (região de Kossovo atual, na Sérvia); aí soube que Apsich, comandante ávaro, estava próximo às Portas de Ferro (no Danúbio). Não houve, entretanto, embate entre ambos, nem, tampouco, acordo. Pedro teve que ficar na região por ordem de seu irmão no inverno (601-602); como este foi rigoroso e faltaram víveres, as tropas se rebelaram, Pedro teve que fugir para Constantinopla e os soldados o substituíram pelo general Focas. (601-602); como este foi rigoroso e faltaram víveres, as tropas se rebelaram, Pedro teve que fugir para Constantinopla e os soldados o substituíram pelo general Focas. ----– Em novembro, ocorreu o casamento de Teodósio, primogênito do imperador Maurício, com a filha de Germano, chefe do partido dos Azuis, descontentando os irascíveis Verdes em Constantinopla. 601 a 606 - Continuaram as perseguições ao clero jacobita na Síria pelos bizantinos.602 - Em 2 de fevereiro, a fome (causada pela escassez de víveres decorrente do inverno rigoroso de 601/602) tomou conta de Constantinopla, gerando revolta dos Verdes (já magoados com o casamento de Teodósio), em 22 de novembro, que foi combatida pelo imperador, tornando-o impopular. A armada quis colocar o filho de Maurício, Teodósio, como novo imperador, ou então Germano (que era o César). Focas foi proclamado imperador pelos soldados (no outono) e marchou em direção à Constantinopla (esta tumultuada pelas revoltas). O imperador, sem tropas na capital, solicitou a ajuda dos Verdes e Azuis para defender a Muralha de Teodósio. Os Verdes (descontentes desde o ano passado) e os Azuis (descontentes pela prisão de Germano nesta ocasião) não atenderam o pedido imperial, queimaram a casa do Prefeito do Pretório e aclamaram Focas como Augusto e Rei dos Romanos. 602 (23 de novembro) a 610 - Reinado de Focas, militar sem estatura para reger, cruel e despótico, governando assessorado por elementos da

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escala inferior da armada e sobre os demagogos dos demos (cidades). Sofreu intensa oposição da aristocracia administrativa e mesmo parcialmente dos militares. 602 (continuação) – Em 23 de novembro, Focas e sua esposa foram coroados pelo patriarca de Constantinopla. O ex-imperador e seus 5 filhos foram mortos por ordem de Focas em 27 de novembro; suas filhas e cunhada, por influência do patriarca e dos Verdes, foram internadas em convento.---- Em face do assassinato do imperador bizantino Maurício, Khosro II se sentiu desobrigado em relação ao seu homizio anterior e acordos feitos em Constantinopla e começou a guerra contra os romanos orientais, tendo um exército bem preparado e generais do porte de Farrokan (‘Razmyozan’ ou ‘buscador de batalha’ e intitulado também ‘Schahrbaraz’ (ou ‘Sahrvaraz’, isto é, ‘Javali’ ou ‘Herói do Império’ e Shahin Vahmanzadegan (ou Šāhēn Vahmanzādagān, um dos quatro Spāhbeds). 602 a 628 – Conflito entre os romanos orientais (juntos com o Kaganato Turco Ocidental) e os Sassânidas (tendo ao seu lado o Principado da Ibéria do Cáucaso e os Ávaros). Sua primeira fase, até 622, foi francamente favorável aos Sassânidas e seus aliados. Seu clímax foi atingido em 626 com o cerco de Constantinopla. Inicialmente se apoderaram da Armênia, Edessa, Cesareia, Calcedônia (estas em 607). Além disso, conquistaram a Arábia, subjugaram o Reino dos Lakhmidas (e executaram seu soberano al-Nu'man III), que se tornou seu tributário, anexando-o em 611.602 a 642 - Segundo o historiador Luís Bréhier, neste período aconteceu a primeira divisão do Império Romano Oriental. Tudo o que foi construído por Justiniano foi desmantelado pelos seus sucessores nesta época.603 - Em março, o imperador romano oriental Focas mandou seu emissário Lilius para entabular conversações com Khosro II; este, ao saber de sua chegada à Dara, o enviou de volta à Constantinopla. Focas solicitou ao general Narsés (da armada do Oriente) para proteger Constantinopla contra um eventual ataque persa. Este general, no entanto, se revoltou contra o imperador bizantino e se alojou em Edessa; Focas mandou o general Germano (governador de Dara) contra Narsés, que pediu o apoio de Khosro II. ---- No norte da Itália, os lombardos se apoderaram da planície do Pó, da Toscana; no centro e sul, os ducados de Benevento e Spoleto. Devastaram a região da Campânia, no centro da Itália. O papa Gregório I, o Grande, intermediou uma trégua com os bizantinos. No mês de julho, Agilulfo, rei lombardo, abandonou a cidade de Milão para cercar Cremona, que capitulou em 21 de agosto; em 13 de setembro, a fortaleza de Vulturnia se entregou sem nenhuma resistência e foi ocupada Mântua. Ainda neste mês, o Exarca de Ravena e Agilulfo assinaram uma trégua de 1 ano e meio (para se encerrar em 1 de abril de 605). ---- Neste ano: Germano, do grupo dos Azuis, tramou sem sucesso um golpe contra Focas, aliciando a imperatriz Constantina (viúva de Maurício) e suas filhas. ---- O papa Gregório I nomeou o cardeal Bonifácio (futuro papa) legado papal em Constantinopla.604 – No verão, a fortaleza de Dara (ao sul de Damasco) foi reconquistada e destruída após longo cerco (de 9 meses) de um ano pelos persas sassânidas comandados por Kosroe II, justificando-a como vingança pela morte do imperador Maurício. 604 a 611 – Conflitos entre os Gassânidas (aliados de Bizâncio) e o Império Persa motivadas pela recusa do rei Nu’man (dos árabes gassânidas) à uma aliança matrimonial de sua filha com o imperador Khosro II. Este mandou tropas que foram batidas pelos Gassânidas em Dhu Qar (perto da capital dos Gassânidas, Hira). Esta vitória ensejou a penetração árabe na Baixa Mesopotâmia, importante para futuras conquistas.605 – Em 7 de junho, eclodiu o segundo golpe urdido por Germano, com parceria de altos dignitários, que fracassou: ao serem descobertos por denúncia de um traidor, foram condenados à morte, juntamente com Constantina e seus filhos. Os Verdes (de que Germano fazia parte) se revoltaram em função disso. Os Azuis, ao contrário, mesmo tendo sido perseguidos nestes 3 anos de governo, se uniram a Focas com o intuito de fazer frente aos persas. --- O general Narsés (que era governador da Mesopotâmia) foi queimado vivo em Constantinopla por sua revolta contra o imperador Focas, bem como pelo fato de ter ido à capital bizantina na qualidade de negociador de tratado de paz com o imperador persa Khosro II. 606 – Neste ano houve a divisão do patriarcado de Aquileia, na Itália: aí os bispos lombardos escolheram João, que era adepto dos ‘Três Capítulos’; em Ravena, o exarca Smaragda reuniu os bispos e escolhei Candidiano, como patriarca local, sendo este favorável ao II Concílio de Constantinopla. 606 a 624 – Neste período o Império Bizantino perdeu seus territórios ainda remanescentes na Península Ibérica diante de Sisebuto, rei visigodo de Septimânia e da Hispânia no período de 612 a 621. 607 – De 23 de janeiro deste ano a 610, o patriarcado de Constantinopla esteve nas mãos de Pedro Tomás.---- Na Armênia romana, foi tomada a cidade de Teodosiópolis por uma armada persa chefiada por Shahin Vahmanzadegan. Continuou sua campanha militar passando por Cesareia da Capadócia e chegando à Calcedônia, perto do Estreito de Bósforo (em 610). Na mesma época, outro persa (Schahrbaraz) se apoderou de cidades da Alta Mesopotâmia (Mardin, Amida e Edessa). – Mais um papa afinado com os romanos orientais: Bonifácio III, cujo papado foi curto: de 19 de fevereiro a 12 de novembro.607 a 610 – Os persas iniciaram o processo de atacar as cidades da Síria e da Anatólia pertencentes aos bizantinos. Se configuraram, então, duas frentes de ataques: uma, chefiada por Schahrbaraz, outra, sob o comando de Shahin Vahmanzadegan.608 - No verão, o exarca de Cartago (norte da África), Heráclio, o Antigo, teve o apoio da aristocracia e do general Prisco (genro de Focas) para lutar contra Focas. Em vez de atacar diretamente Constantinopla, Heráclio mandou ao Egito uma expedição chefiada pelo seu sobrinho Nicetas, cujo resultado inicial foi bom, tomando Alexandria e uma grande área do Baixo Egito, enquanto retinha a frota naval que iria transportar trigo para Constantinopla. – No verão, em 1 de agosto, o exarca Smaragda, de Ravena, mandou edificar uma coluna em Roma, na qual se assentaria a estátua de Focas. ---- Neste ano: Os persas chegaram à Calcedônia, pretendendo tomar Constantinopla, que ficava próxima. --- No interior do império bizantino reinava a turbulência de revoltas e conspirações: na Síria, por exemplo, os monofisitas se rebelaram contra editos imperiais, sendo reprimidos pelo conde do Oriente, Bonosa, sobretudo em Laodiceia e Antióquia. 609 - Os Verdes e Azuis (mudaram de lado pelas perseguições movidas por Focas contra os monofisitas nas províncias orientais) se coligaram contra Focas. - Armada bizantina com Nicetas tomou Alexandria (no Egito) e foi para a capital bizantina. --- A armada persa com Schahin Vahmanzadegan cercou Cesareia de Capadócia e mandou batedores explorar o caminho até o Estreito de Bósforo (na Calcedônia), colocando em perigo a capital bizantina. Na mesma ocasião, outra armada sob a chefia do general Schahrbaraz se apoderava da Alta Mesopotâmia (Amida, Edessa e Mardin).610 – Neste ano todo o império estava revoltado contra o imperador-usurpador. --- Em 18 de abril, o patriarca Pedro Tomás foi interditado pelo imperador sob a alegação de ter se proclamado ‘ecumênico’, para atrair o apoio do papa. Em seu lugar, nomeou Sérgio, que exerceu o cargo até 638. ---- Os judeus que moravam em Antióquia se rebelaram e assassinaram o patriarca Anastácio (em setembro). ---- Constantinopla sacudida por revolta dos Verdes e Azuis. Heráclio, o Antigo, exarca de Cartago, mandou o seu filho Heráclio, o Jovem para a capital, aí chegando com sua frota em 4 de outubro, entrando pela porta Sofiana aberta pelos Verdes, que o aclamaram imperador. Focas, impopular e sem nenhum apoio, se refugiou numa igreja, da qual foi retirado e morto em 6 de outubro.610 (6 de outubro) a 642 - Reinado de Heráclio, o Jovem, que iniciou a Dinastia dos Heráclidas. Este se empenhou em combater os persas não apenas por motivos políticos como religiosos (em defesa dos cristãos iranianos). Foi a partir do seu governo que se passou a fazer referência aos ‘bizantinos’ no lugar de ‘romanos orientais’, visto que se colocou o grego como língua oficial (antes era o latim). Criou a Dinastia dos Heráclidas. Mudou a forma de transmissão do cargo imperial, acabando com a escolha de um César, associando ao trono seus filhos Constantino (em 613) e Heraclonas (638). Ele foi o primeiro imperador a se outorgar o título de ‘basileus’.610 a 711 - Dinastia dos Heráclidas. 610 (continuação) --- Em 6 de outubro, Heráclio foi coroado pelo novo patriarca, Sérgio, como imperador na Igreja de S. Sofia. ---- Heráclio solicitou a paz com os persas, mas estes a recusaram. --- O general persa Shahin Vahmanzadegan se apoderou da Calcedônia e o imperador Khosro II chegou perto de Constantinopla: o Estreito do Bósforo. 611- Em maio: Invasão da Síria pelos sassânidas, comandados por Farrukhan Schahr Barâz (ou Shahrbaraz ou Schahryar), se apoderando de Antióquia, Cesareia e Apameia, mesmo sendo defendida por Heráclio (auxiliado pelos generais Filípicos e Prisco). 612 – Na primavera foi retomada Cesareia de Capadócia aos persas pelo general Prisco; mas em 5 de dezembro ele foi substituído pelo general Filípicos no comando da armada bizantina. ---- Em 13 de agosto, morreu a imperatriz Fábia Eudóxia; 2 anos depois Heráclio contraiu núpcias com a sua sobrinha Martina, de que resultou o nascimento de 9 filhos (este casamento não era legal, conforme as regras religiosas do império)

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613 – Foi coroado em Constantinopla como imperador associado, Constantino, filho de Heráclio (em 23 de janeiro). --- O Senado bizantino agiu como se fosse o governo (ainda incipiente e inexperiente) e mandou proposta de paz aos persas, que não só a recusaram, como ainda invadiram território romano oriental. ---- O imperador Chosroés II invadiu a Síria (tomando Apameia e Edessa), venceu as tropas romanas em Antióquia e Damasco e ocupou Tarso (na Cilícia).614 – Na primavera, Heráclio foi derrotado pelo general persa Schahrbaraz na Síria ao tentar livrar Antióquia da ocupação persa. ---- Em 31 de março, os Ávaros coligados aos eslavos se apoderaram de Salona (porto da Dalmácia no litoral do Mar Adriático). --- Continuando sua investida militar, Chosroés II invadiu a Palestina e se apoderou de Jerusalém (em 5 de maio), saqueando-a por três dias, destruindo a Igreja do Santo Sepulcro, matando milhares de cristãos e levando uma relíquia cristã extremamente preciosa (um pedaço da suposta cruz em que Jesus Cristo foi crucificado) para a capital, Ctesifon. A conquista da Palestina provocou a descontinuidade territorial entre a Anatólia e o Egito. Este corredor sírio palestino foi tumultuado pelo governo anterior com a repressão aos monofisitas locais. A conquista da Palestina selou o fim da Dinastia dos Ghassânidas, aliados tradicionais dos bizantinos ---- Em 14 de setembro, foi transferida para a igreja de S. Sofia a suposta Santa Esponja (esponja que fora embebida em vinho na Crucifixão de Cristo). 615 - O general persa Shahin (Chahin) Vahmanzadegan não sofreu resistência nenhuma para atravessar a Ásia Menor e ocupar a Calcedônia (Kadiköy), colocando em perigo a capital bizantina. ---- O imperador bizantino tentou entrar em entendimentos com Khosro II, mas não teve sucesso. ---- Neste ano foi assassinado o exarca João de Ravena (norte da Itália). ---- Começou a ser cunhada uma moeda de prata (‘miliarision’ ou hexagrama no império). ---- Os eslavos, tendo à frente Chatzon, tentaram, mas não conseguiram conquistar o porto de Tessalônica.616 – Durante a primavera e verão, o imperador Heráclio mandou o eunuco Eleutério para Ravena a fim de restabelecer a ordem na Itália bizantina. Ele debelou a revolta na Campânia liderada por João de Conza, que foi vencido e decapitado em Nápoles em 617. 617 – Enquanto na fronteira ocidental os bizantinos perdiam suas províncias, que caíram nas mãos dos visigodos espanhóis (Sisebuto e Swintila), a fronteira do Danúbio era invadida de novo pelos eslavos meridionais e Ávaros. --- Em 5 de junho, os Ávaros sob a chefia de seu novo khagan (filho de Bayan) ultrapassaram o Muro de Anastácio e chegaram até às proximidades de Constantinopla, submetendo a saque Blachernes (Vlaherna/Evlakherna). --- Conquista persa de Gaza (no litoral palestino) e Babilônia (antiga Cairo) no Egito por Khosro II, que atingiu a Etiópia (extensão máxima do Império Sassânida, como no antigo Império Aquemênida). Com a conquista do Egito, o Império Bizantino ficou sem o seu principal fornecedor de trigo. 617 a 619 - Nesta época, os reis visigodos Sisebuto e Swintila tomaram as terras bizantinas na Espanha. Por outro lado, os eslavos meridionais infestavam o Mediterrâneo com suas ações de pirataria e, junto com os Ávaros, se espalharam pela Península Balcânica, saqueando a Tessalônica, o Épiro, a Aqueia (Peloponeso), o Ilírico, a Trácia, várias ilhas do Mar Egeu e algumas áreas litorâneas da Anatólia. O filho do ávaro Bayan, saqueou os arredores (Blachernes) de Constantinopla.—A presença dos lombardos na Península Itália tornou-se cada vez maior.618 - O Império Bizantino foi assolado pela fome e pela peste: em agosto foi suprimida a doação de pães em Constantinopla. A situação social e econômica estava tão crítica que o imperador Heráclio pensou até em retornar a Cartago, junto ao seu pai; foi demovido pelo patriarca Sérgio, que o apoiou fortemente na recuperação econômica do império combalido, entregando-lhe os tesouros da igreja e reconstruindo a armada imperial. ---- Pelusa, no baixo vale do Nilo, foi tomada pelos persas.619 - O khagan dos Ávaros, em entrevista em Heracleia da Trácia, tentou sequestrar o imperador Heráclio e atacar a capital; ambos sem sucesso. — Em junho, o imperador persa Khosro II se apoderou completamente do Egito, ao tomar o porto de Alexandria no delta do Nilo. Em outro' front' de guerra seus generais tomaram a cidade de Ancira (Ancara), na Anatólia. ---- Uma legação búlgara (ou onogur) esteve em Constantinopla; seu chefe (Organa ou Ohran) recebeu a honraria de patrício e foi batizado; deixou aí como refém seu sobrinho Kubrat (ou Kurt), que foi educado na corte, assimilando a cultura bizantina e reinando futuramente na Bulgária. – Em Ravena, o exarca Eleutério se proclamou imperador, se aproveitando da situação dos preparativos militares romanos orientais para a guerra contra os Sassânidas e do clima de insatisfação na Itália. --- O imperador Heráclio teve que pagar tributo ao kaghan dos Ávaros, que estavam assediando Constantinopla, já que ele precisava organizar o exército para enfrentar os persas.---- O exarca Eleutério estava em Roma em busca de consentimento do papa Bonifácio em coroá-lo rei, mas foi assassinado por seus soldados na Fortaleza de Luceoli (na Úmbria), decapitado e sua cabeça enviada para o imperador Heráclio.620 - O imperador bizantino Heráclio I conseguiu repelir a invasão persa no alto vale do Eufrates. --- Os eslavos, aliados com os Ávaros, cercaram (desde 617) e se apoderaram de Tessalônica neste ano. --- Foi a partir deste ano que o grego substituiu o latim como língua oficial do império. 621 – O patriarca bizantino Sérgios cedeu ao imperador o tesouro da igreja de Constantinopla como ajuda financeira no conflito contra os persas. 622 - O imperador bizantino Heráclio I, após neutralizar a fronteira ocidental através de acordo com os Ávaros, pode iniciar a campanha militar contra os persas (antes, em 5 de abril, assistiu uma cerimônia litúrgica na Igreja de S. Sofia, tendo ao lado um estandarte bordado com o ícone de Cristo, contando, portanto, com o auxílio financeiro da igreja). No outono desembarcou na Cilícia (sudeste da Ásia Menor) e derrotou os persas em Issos. Sabedor de sua presença aí, o general persa Sharbaraz (Charbaraz) saiu da Calcedônia e margeou o rio Halis. Em agosto, às margens do rio Lico, se travou a Batalha de Oflimos, em que os persas abandonaram sua posição defensiva neste local (Oflimos) para perseguir uma fuga simulada pelos bizantinos comandados pelo imperador; os persas foram atacados pelos Optimates (tropas de elite) e foram derrotados. Os persas abandonaram a Capadócia e o Ponto. Como Constantinopla estava sendo ameaçada novamente pelos Ávaros, Heráclio retornou para sua capital e renovou mais uma vez uma trégua com os persas. 622-623 – A Anatólia foi retomada por Heráclio I aos Persas Sassânidas; além disso penetrou até a Armênia e a Média Atropatene (Azerbaijão).622 A 987 – PERÍODO HISTÓRICO CONSIDERADO COMO A ALTA IDADE MÉDIA.623 - Em 25/27 de março, Heráclio foi para a cidade de Nicomédia celebrar a Páscoa com a esposa Martina e seus filhos. Depois foi para Trebizonda com a família; daí continuou sua campanha militar. ---- Os persas tiveram que sair do Ponto e da Capadócia, após as vitórias de Heráclio diante do general persa Farrukhan Schahrbaraz junto às Montanhas Anti-Taurus (que separam a Capadócia da Armênia). Em seguida, entrou na Armênia persa, tomou Teodosiópolis, Dvin e Nakhitchevan. Depois atravessou o rio Araxe (afluente da margem direita do Kura, que deságua no Cáspio), se apoderou da região da Media Atropatena ou Azerbaijão (noroeste da Pérsia), em 20 de abril. Dois meses depois, foi vitorioso na cidade santa dos persas, Gandzak (ou Ganja, no Azerbaijão), onde destruiu o templo do Fogo (se desforrando do saque de Jerusalém), forçando a retirada de Khosro II levando o fogo sagrado. A região foi saqueada pelos mercenários isaurianos a serviço dos bizantinos. 623-624 - No inverno, o imperador Heráclio teve que ficar no vale do Kura (Cyrus) na Transcaucásia, onde recrutou soldados entre os cristãos na Albânia do Cáucaso e da Armênia. 624 – Na primavera, Heráclio iniciou a terceira campanha militar contra os Sassânidas: mesmo após 3 vitórias ele não conseguiu entrar na Pérsia. Em dezembro, conseguiu vencer, em Adana, perto do Lago Van, pela terceira vez o general Farrukhan Schahrbaraz. ---- Na Península Ibérica, os visigodos retomaram a região de Andaluzia (sul da Espanha) aos bizantinos (que aí dominaram por 70 anos).625 – O imperador Heráclio se retirou para a Alta Mesopotâmia (passando pelo rio Ninfios, por Amida, Samosate e pelas Portas Cilicianas no Monte Taurus), em 1 de março, sendo perseguido, então, pelo general Farrukhan Schahrbaraz; que se abateu sobre suas tropas na passagem do rio Sarus (hoje, Seyhan) sem sucesso. Ao chegar o inverno, as tropas bizantinas estacionaram junto ao vale do rio Halys (em Heraklion, no Ponto). 626 – Na Itália, na primavera, ao morrer o rei lombardo Adaloaldo (que tinha sido deposto no ano anterior), foi sucedido por Arioaldo, que estabeleceu a sede do reino em Pavia e reestruturou a administração de seu reino com base no sistema bizantino. --- Em meados de maio, soldados da guarda em Constantinopla se revoltaram por causa do aumento do preço do pão e por terem suprimido a distribuição de suprimentos de óleo e trigo; mas o patriarca Sérgio conseguiu contornar a situação ao tomar uma atitude severa contra o tesoureiro João Seismos. ---- Em 29 de junho, os Ávaros (aliados dos Sassânidas), comandados por Chaganos Bayan, cercaram Constantinopla por terra e por mar (no Estreito de Bósforo). Este cerco, de 2 a 7 de agosto, fracassou diante da resistência valorosa do general bizantino Bônus e do patriarca Sérgios alentando o povo da capital contra os sitiantes da cidade. Os bizantinos atribuíram à Nossa Senhora (Theotokos) a salvação da capital, bem como ao popular S. Demétrio a defesa de

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Tessalônica (segunda cidade mais importante do império). Além disso, o patriarca contribuiu, junto com Constantino (filho do imperador Heráclio) para fulminar com a esquadra dos Ávaros. Teodoro chegou à Constantinopla depois de tudo isto. ---- A derrota dos Ávaros foi o ponto de partida para a luta dos eslavos submetidos a eles por sua autonomia (como ocorreu na Morávia, na Boêmia, na Sérvia Branca e a Baixa Áustria (no norte da Áustria atual). ---- Enquanto os Ávaros atacavam Constantinopla, Khosro II, em manobra diversionista, mandou o vencido general Farrukhan Schahrbaraz ocupar a Calcedônia (no litoral do Mar de Mármara, e daí se juntar com os Ávaros no ataque à capital bizantina) e o general Shahin Vahmanzadegan atacar o imperador Heráclio. Este último, por sua vez, estava no Ponto (no alto vale do Halys) dividiu suas tropas em duplo contra-ataque : uma parte destinou à defesa da capital ; outra parte, comandada por seu irmão Teodoro, fez frente ao general Shahin (Chahin) Vahmanzadegan. Em julho, Teodoro se defrontou com Shahin (Chahin) Vahmanzadegan, vencendo-o em batalha travada entre Satala (ou Sadak) e Coloneia (Şebinkarahisar).627- Em maio, morreu o patrício Bônus, sendo enterrado no Mosteiro de S. João de Studios. – Em setembro, o imperador Heráclio estava em Lazica (no Cáucaso) se entendendo com os turcos Khazars (que habitavam no norte do Cáucaso e baixo curso do Volga) com o intuito de colocar a Pérsia entre dois fogos: a Khazária e o Império Bizantino; conversou, também, com os turcos ocidentais (tendo à frente seu qaghan Yabghu), em setembro. A partir deste mês a guerra entrou em sua derradeira fase. Daí continuou sua campanha, efetuando o cerco de Tiflis (hoje chamada de Tbilisi, na Geórgia), atravessou o Monte Ararat e marchou em direção à Mesopotâmia, pelo alto vale do Tigre onde abateu os persas, em 12 de dezembro, na Batalha de Zab (ou de Nínive, por se realizar próxima das ruínas de Nínive (capital dos antigos assírios), onde morreu seu comandante Tazatzes (esta vitória é considerado como o fim das Guerras Bizantino-Persas). Onze dias depois, Heráclio estava em Kirkuk (norte do Iraque atual), daí se encaminhou para a capital persa. 12 de dezembro 628 – Na iminência do ataque bizantino, o imperador Khosro II, doente, abandonou a capital, em janeiro, e foi para a vila real de Dastagerd (onde estava o seu enorme tesouro), perto de Bagdá. O imperador Heráclio, em 6 de janeiro, chegou a Ctesifon, saqueou suas vizinhanças e a atacou, saqueou a residência real de Dastagerd ou Dastagird, perto de Bagdá (em fevereiro) levando a enorme riqueza (inclusive várias bandeiras capturadas em batalhas). Khosroe II voltou para Ctesifon em fevereiro e se recusou a assinar a paz. Estourou uma revolta contra ele. Os notáveis persas libertaram o seu primogênito Shiroyê (Kavad II, proveniente da união de Khosro com a princesa bizantina Maria) em 25 de fevereiro (durante o ataque do imperador bizantino), que depôs o pai, o mandou a julgamento e foi executado 4 dias depois. O imperador Heráclio, por sua vez, se retirou (por causa da enchente no rio Tigre) em direção aos Montes Zagros e chegou a Ganzaq em 11 de março. ---- Com esta campanha anti-persa, Heráclio conseguiu retomar o domínio bizantino sobre a Anatólia e o Egito. ---- Pela primeira vez o triunfante imperador Heráclio recebeu o título de basileus. O grego (que era a língua comum) passou a ser a língua oficial, abandonando-se o latim (até Justiniano tida como a língua nacional e diplomática). Por este fato importante, muitos autores passam a usar o termo ‘bizantino’ em vez de ‘romano oriental’.--- Kavad II governou por apenas 6 meses, período em que mandou um embaixador a Constantinopla negociar a paz com Heráclio (em 3 de abril) e mandou as tropas persas saírem da Armênia. – Em 15 de maio a notícia da vitória bizantina chegou à Constantinopla; onde Heráclio foi recebido triunfalmente em setembro. 629 - Em 17 de julho, se deu o encontro entre Heráclio e o general persa Schahrbaraz (que se revoltara e mantivera o Egito e a Síria até o verão deste ano), em que este devolveu a relíquia da Santa Cruz de Jerusalém e saiu da Síria. Bizâncio reincorporou a Alta Mesopotâmia, o corredor sírio-palestino e o Egito Enquanto isto, seu arqui-inimigo, o Império Sassânida, estava sendo tumultuado por uma guerra civil de luta pelo poder (de 628 a 632 teve 9 imperadores). – Os bizantinos recuperaram Jerusalém, em setembro, aos persas, se aproveitando da instabilidade política reinante em Ctesifon. ---- Em todo o império houve perseguição aos judeus (por suposta ajuda deles aos persas) e se iniciaram as infiltrações dos árabes. Foi o começo da Guerra Bizantino-Árabe, que se manifestou na Batalha de Mutah (ou Mota, nas proximidades de Karak), a primeira entre as demais: de um lado as tropas romanas orientais comandadas pelo general Teodoro; de outro lado, os árabes liderados por Zayd ibn Haritha e Jafar ibn Abi Talib; foi um embate encarniçado em que estes líderes árabes foram derrotados, sendo substituídos por Khalid ibn al-Walid que precisou usar 9 espadas (que se quebraram durante o conflito). Ambos os lados conflitantes se outorgaram vitória. 630 – Neste ano morreu o khagan ávaro, de que os búlgaros eram aliados até então, mas solicitaram o título de khagan ao seu governante Kubrat. Não atendidos, os búlgaros se revoltaram, mas foram reprimidos pelos Ávaros. – Foi por volta deste ano, que o imperador Heráclio autorizou a instalação dos croatas e sérvios (vindos do alto Vístula e atravessando os Montes Cárpatos) como federados no oeste da Ilíria (Panônia e Dalmácia).630 a 635 – Conflitos do líder búlgaro Kubrat contra os Ávaros com o fito de se libertar de sua tutela, permeado pela união entre ambos, visto que Kubrat tinha como pai um ávaro e como mãe uma búlgara.631 - O aventureiro franco Samo liderou uma revolta eslava contra os Ávaros e conseguiu a libertação da Morávia, Boêmia, Sérvia Branca, de que se tornou chefe. – O imperador Heráclio criou o patriarcado de Alexandria, cabendo o cargo ao bispo de Fase chamado Ciro, conferindo-lhe, outrossim, autoridade política para estabilizar a situação política do Egito. 632 – Com a morte de Maomé neste ano se iniciou a ‘djihad’, a ‘guerra santa’ de conquista, tendo como obstáculos políticos externos os Impérios Romano do Oriente ou Bizantino (dominando a Ásia Menor, a Península Balcânica, parte da Itália, o norte da África e o corredor sírio-palestino e suas rotas) e Sassânida. ---- Feita a primeira incursão muçulmana sobre a Ilha de Chipre, na qual a cidade de Cition foi saqueada.632-634 - O primeiro califa islâmico, Abu Bakr, saiu-se vitorioso contra Bizâncio na Síria (ao submeter Damasco), mas recuou diante da aproximação do exército bizantino mandado por Heráclio.---- Para enfrentar o invasor muçulmano, o imperador persa Yazdgard III procurou fazer uma aliança com o imperador Heráclio e desposou a princesa bizantina Manyanh.633 –Em 3 de junho, se concretizou um acordo elaborado pelo patriarca Ciro, de Alexandria, pelo qual se harmonizaram os monofisitas e católicos através de 9 artigos. - O patriarca Sérgio, de Constantinopla, colocou a público o ‘Decreto’ (‘Psefos’) proibindo os debates sobre a natureza de Cristo. --- A Síria e a Palestina foram atacadas pelos muçulmanos durante o outono. 633 a 644 - Dominação do Império Persa pelos muçulmanos. Neste período houve emigração dos persas para as terras do Império Bizantino, onde fo-ram designados pelo nome de 'persas' e se incorporaram até à armada imperial e aí até ocuparam posições hierárquicas relevantes.634 - Em 21 de janeiro, o general Khalid ibn al-Walid foi vitorioso sobre a coligação armada bizantino-persa na Batalha de Firaz ou Firadz (no Alto Eufrates, área fronteiriça entre a Mesopotâmia persa e a Síria bizantina), em que os derrotados se jogaram no rio ou foram massacrados. ---- Em abril passou pelo deserto entre Síria e Iraque.— Em 4 de fevereiro se defrontaram os árabes comandados por Yazid ibn Abi Sufyân e os bizantinos (com o general Sérgio) na Batalha de Dathin (ou Wadi al-Arabá), perto de Gaza, em que este foi abandonado por suas tropas e morto. Logo depois, nova derrota em Rabbath Moab, agora as tropas imperiais sob o comando do enteado do imperador Heráclio (Teodoro). ---- Em abril houve uma quádrupla penetração em território bizantino, margeando o rio Yarmuk, sob o comando de Yazid, Amr, Abu Ubayda e Hassana. ---- Na última semana de abril, o general Khalid venceu os gassânidas na Batalha de Marj Rahit (ao norte de Damasco). Ao final de maio, Khalid tomou Bosra (ou Bostra). ---- Em 30 de julho, mais uma vitória muçulmana, então sob comando quádruplo na Palestina, na Batalha de Ajnadayn (entre Ramla e Bayt Jibrim) sobre as tropas bizantinas comandadas pelo irmão do imperador Heráclio (Teodoro), em que morreu o governador de Cesareia; as forças imperiais (com Teodoro) tiveram que recuar para Damasco (acolhidos por Tomás, governador local). Uma boa parte dos fugitivos se dirigiu para Jerusalém. De 21 de agosto a 19 de setembro, Damasco foi sitiada e conquistada pelo general Khalid ibn al-Walid (à noite, quando os sitiados estavam celebrando uma festa). Em setembro, perto de Antióquia, ocorreu a Batalha de Marj-ud-Deebaj (ou Batalha do Brocado), na qual, mais uma vez, o general Khalil ibn al-Walid, à frente de cavalaria de elite, atacou os romanos orientais em 4 direções; o general Khalid matou o governador de Damasco, aprisionando muitos, inclusive a filha do imperador Heráclio (viúva de Tomás, que foi devolvida ao pai, mediante pedido deste, sem nenhum resgate). ---- Edito imperial obrigando os judeus a se batizar a fim de se assimilarem à cultura bizantina; em função disto, houve sua migração para a Pérsia. ---- Neste ano, Sofrônio passou a ser patriarca monofisita de Jerusalém.635 – Em janeiro, ocorreu a vitória muçulmana sobre os bizantinos na Batalha de Tabaqat Fahil (ou Pella, ou Fehl, na Palestina). Mesmo vitoriosos, os muçulmanos viveram junto com os cristãos nesta cidade de Pella. Depois desta vitória foi a vez do cerco e conquista de Damasco (de março a setembro). ---- Neste ano: O imperador concedeu ao khan búlgaro Kubrat (Kovrat, sobrinho de Gostum) o título de patrício. ---- Os Ávaros

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concederam a este khan búlgaro a região da Grande Bulgária (deixando de ser a Onoguria), que englobava as tribos que habitavam entre os mares Cáspio, Azov e Negro. 635 (dezembro) a 636 (março) – No inverno de 635 para 636, o general Khalid ibn al-Walid estrategicamente se retirou de Edessa (Homs ou Hims, no norte da Síria), dando a impressão que estava abandonando o cerco a esta cidade. O governador desta cidade, Harbees, então foi ao encalço dos muçulmanos, que os envolveram e arrasaram com suas tropas. Edessa foi conquistada e teve que pagar tributo.636 - Na primavera, os muçulmanos saíram de Damasco e Emeso e foram para Bab al-Jabiya. Ainda na primavera, em maio, os bizantinos partiram de Antióquia (no rio Orontes, norte da Síria) para combater os muçulmanos na Palestina, onde foram derrotados fragorosamente na Batalha de Yarmuk (ou rio Hieromyaks) em 20 de agosto pelo general Khalid ibn al-Walid, utilizando habilmente sua cavalaria de elite e desorganizando as forças bizantinas, que fugiram e foram caçados impiedosamente. Esta batalha selou o fim do Emirato árabe dos Gassânidas (vassalo de Bizâncio, que dominava a Palestina, Transjordânia e Palmira. Neste conflito, os Gassânidas mudaram de lado porque o imperador bizantino não pagou os soldos devidos a eles. Esta batalha abriu possibilidade de conquista de todas as cidades da Síria e dos vales do Tigre e Eufrates aos bizantinos. Estas conquistas muçulmanas frente aos persas e bizantinos foram tão rendosas em espólios e tributos de guerra, que o califa os distribuiu generosamente entre seus generais, conforme o seu tempo de serviço no campo de batalha. ---- Se aproveitando de circunstâncias favoráveis na fronteira leste (desde a morte de Khosro II a Pérsia foi agitada por disputas sucessórias e pela conquista árabe), o imperador Heráclio, auxiliado pelo khan búlgaro Kowrat (Kubrat), cooptou as tribos eslavas dos servos e croatas, estabelecendo-os na Ilíria e cristianizando-os.636 (novembro) a 637 (abril) – Neste período os muçulmanos sob o comando dos generais Khalid ibn al-Walid e Abu Ubaidah cercaram a cidade de Jerusalém; seu patriarca, Sofrônio, diante da falta de alimentos aos bizantinos locais, negociou a rendição sob pagamento de tributo (‘jizya’); o califa veio à cidade para assinar o acordo. Os judeus aí residentes tiveram liberdade de culto.637 - A cidade de Alepo, de julho a outubro, foi submetida a cerco pelas tropas muçulmanas chefiadas pelos generais Khalid ibn al-Walid e Abu Ubaidah; foi defendida pelo bizantino Joaquim, que não contou com nenhuma ajuda do imperador Heráclio. Houve tentativas infrutíferas de rompimento do cerco; após a queda da cidade, os muçulmanos tiveram a grandeza de permitir a partida dos soldados da guarnição local. ---- Em outubro, se protagonizou a Batalha da Ponte de Ferro (sobre o rio Orontes) nas proximidades de Antióquia, para onde fugiram os soldados bizantinos de Damasco; mais uma vitória muçulmana. Após a conquista desta importante cidade de Antióquia, caíram, também, Laodiceia (Latakia) e Tartus Jablah. A partir desta batalha os Montes Taurus passaram a ser o limite geográfico ocidental do califado Rashidun.637 a 640 - Armada sarracena sob o comando do califa Omar conquistou Jerusalém, depois Edessa, a Mesopotâmia bizantina (esta última em 639) e Cesareia, capital da Palestina (em 640).638 - Em fevereiro, o califa Omar fez sua entrada em Jerusalém. No Monte do Templo se erigiu um lugar para as preces muçulmanas. Os judeus locais conseguiram estabelecer parte de suas famílias junto a Tiberíades (na Palestina). Em meados de agosto, foi a vez de Antióquia cair sob os muçulmanos. – Em 4 de julho, Heracleonas, filho de Heráclio, foi coroado imperador associado.---- Em setembro/outubro, se publicou um edito dogmático do Patriarca de Constantinopla, Sérgio (e seu sucessor, o higumeno Pirro) demonstrando a harmonização das vontades humana e divina de Jesus Cristo. O edito imperial teve o nome de ‘Ekthesis’ (ou ‘exposição’) e reforçou a doutrina monotelita e a cisão entre Roma e Constantinopla, falhando, também na tentativa de adesão dos jacobitas a este ensinamento.639 – Tropas bizantinas da Itália saquearam Latrão para forçar o papa Severino a confirmar o ‘Ecthesis’ do imperador Heráclio. ---- A cidade de Emaús (Amwas), na Palestina, foi flagelada pela peste bubônica (a que deram o nome de ‘Praga de Emaús’). ---- Uma grande armada sob a chefia do imperador Heráclio se dirigiu à Siria para atacar a cidade de Emeso (Homs). O árabe Abû `Ubayda conseguiu reforços de Damasco (com Yazîd ben Abî Sufyân), de Cesareia (com Moawia) e do general Walid e conseguiram sustar o avanço bizantino.639 a 641 – O general muçulmano Amru (Amr ibn El-As), comandando suas tropas da Síria, invadiu o Egito (enfraquecido por conflitos entre ortodoxos e coptas monofisitas) dos bizantinos, primeiro em El Arish (12 de dezembro de 639), depois Faramâ (Pelusa), em janeiro de 640. Em maio, houve uma incursão sobre Fayum e a queda de Nikiu. Em junho foram recebidos reforços enviados pelo Califa Omar. Em seguida, contornou a região pantanosa do delta do Nilo e se apoderou de Heliópolis (ou Ayn Chams, em julho). Depois foi a vez de cair Menf (Mênfis, capital copta, onde foi recebido sem resistência nenhuma), de onde os bizantinos saíram rapidamente para o porto de Alexandria (sua sede administrativa), onde eles se protegeram na fortaleza de Babilônia (ao norte de Mênfis e na margem direita do rio Nilo). 640 – Em 6 de julho ocorreu a Batalha de Heliópolis, cuja muralha foi escalada por Zubair e seus soldados, abrindo o portão para o exército principal doo general Amru (Amr ibn El-As), que venceu o bizantino Teodoro. Este conseguiu sobreviver à derrota, mas a maior de suas tropas foi presa ou morta. ---- E ---- Queda da cidade de Dvin, na Armênia, sob as forças muçulmanas em 6 de outubro. ---- Conquista de Cesareia, em outubro, encerrou a campanha militar de conquista da Palestina. ---- Em 21 de dezembro a fortaleza de Babilônia, defendida por Teodoro, foi tomada pelo general Amru (Amr ibn El-As). ---- Roma teve dois papas neste ano: primeiro foi Severino, escolhido em 28 de maio. Dirigiu-se à Constantinopla para obter o beneplácito à sua nomeação pelo imperador, mas este só o faria se ele aceitasse o edito ‘Ekthesis’, ao que ele se negou. A sede papal ficou vagante por 4 meses. Foi escolhido na véspera de Natal outro papa, João IV, cuja posse foi homologada pelo exarca de Ravena. ---- Neste ano: Porga, ou Borko, o primeiro duque da Croácia, solicitou ao imperador Heráclio que lhe enviasse professores cristãos.641 - Eclodiu novo cisma entre as igrejas de Roma e Constantinopla : o novo papa João IV condenou o monotelismo. --- Morreu Heráclio (em 11 de fevereiro, talvez envenenado pela esposa Martina), subindo Constantino III (filho do primeiro casamento de Heráclio) junto com Heraclonas, este com o título de Heráclio II (produto do segundo casamento de Heráclio com Martina) e Martina. Reinaram apenas de 12/2 a 25/5. 641 (continuação) – Desde a morte de Heráclio I até 25/5, Constantinopla foi sacudida pelos desentendimentos entre os dois irmãos e a viúva Martina tentando tirar Constantino III do poder. Constantino III morreu em 25/5 (de tuberculose ou por envenenamento de sua madrasta Martina) sem realizar o seu intento de comandar uma armada para socorrer Alexandria, cercada pelos árabes. Ocorreu, então, a revolta da armada da Ásia, em setembro, sob o comando de Valentino (que tinha ficado com a guarda dos dois filhos de Constantino III) forçando Heraclonas e sua mãe a se associar a Constante II (com apenas 11 anos de idade). Heraclonas foi destronado no início do ano de 642. ---- Em 13 de maio foi tomada Nikiu pelas forças árabes comandadas pelo general Amr ib al-As; no fim de junho foi atacado o porto de Alexandria. Em setembro foi cercada e tomada a fortaleza de Babilônia. Em outubro, iniciaram-se as conversações entre o general árabe e o patriarca bizantino de Alexandria (Ciro); este foi chamado à Constantinopla. ---- Em 8 de novembro foi ocupada a cidade de Alexandria pelo general Amr ib al-As; muitos soldados bizantinos, uma parte fugiu para Constantinopla. Foi permitida a permanência dos judeus locais. ---- Supõe-se que o califa tenha ordenado a queima dos últimos manuscritos na Biblioteca de Alexandria, depositária da cultura greco-helenística. Os bizantinos tiveram o prazo de sair definitivamente da cidade com seus bens no prazo de 11 meses. Aos judeus foi permitida sua presença na cidade. A conquista do Egito prejudicou enormemente o abastecimento de trigo do Império Bizantino. – Os cristãos monofisitas do Egito se refugiaram na Núbia (ao sul) e no norte da África. 642 – Em janeiro foi deposto o imperador Heraclonas, sendo cortado o seu nariz (supremo ultraje, como símbolo de feiúra) e deportado para a Ilha de Rodes. Sua mãe, por sua vez, teve a língua cortada. Ficou sozinho no trono Constante II.642 (janeiro) a 668 – Reinado de Constante II, filho de Constantino III. Subindo ao trono com apenas 11 anos de idade, foi tutelado pelo Senado e pelo patriarca de Constantinopla, Paulo (até 653). Teve como ministros favoritos um ex-monge Teodoto (logoteta do Tesouro) e o eunuco Estevão, ambos caracterizados pela brutalidade e dureza de comportamento diante dos outros.642 (continuação) - Em 24 de novembro foi escolhido como papa Teodoro I, considerado como ‘grego’, mas nascido em Jerusalém. Foi homologado pelo exarca de Ravena e lutou contra a heresia monotelita. ---- A conquista árabe em terras bizantinas, sob a égide do general Amru, continuou: Cirenaica, Pentápole, Trípoli e a invasão da Cilícia. --- Os búlgaros, tendo como khan Kubrat (aliado de Constante II), sofreram ataque dos Khazars, impondo-lhes sua suserania: uma parte deles, sob a chefia de Asparuk (filho de Kubrat ou Kowrat), migrou para a Dobruja (entre o delta do Danúbio e o Mar Negro). ---- Ao morrer o khan Kubrat da Bulgária neste ano, a unidade deste reino se desfez pela migração destas tribos: uma parte tomou a direção nordeste formando o Kanato Búlgaro do Volga (no médio curso deste rio na atual Rússia); outra parte foi para sudoeste formando um reino no

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baixo Danúbio, que se assimilou com os eslavos. 642 a 728 - Conforme o historiador Luís Bréhier, este período assistiu ao fim da idéia da universalidade de um Império Romano (como na Antiguidade).643 – Em 10 de agosto, os árabes não tiveram sucesso em uma incursão na Armênia.644-645 – A Armênia sofreu a primeira invasão muçulmana de sua História.645 – Em julho, houve debate em público entre Máximo, o Confessor e Pirro, ex-patriarca de Constantinopla sobre os dogmas; este último sendo

convencido por aquele, abjurou a doutrina monotelita em Roma defronte do papa Teodoro I. ---- O imperador bizantino Constante II mandou uma frota naval para retomar Alexandria no final deste ano, mas só pode manter sua ocupação até o próximo ano. 646 – No verão, entre Alexandria e Fostat ocorreu a Batalha de Nikiu (cidade-forte) em que o general Amru se sobrepôs aos bizantinos, recuperando Alexandria, cujas muralhas foram demolidas totalmente. Com esta vitória muçulmana, findou o período de quase um milênio de domínio desde a época dos romanos. 647 - No norte da África, o monotelismo foi objeto de condenação e mesmo de agitação política. O sucessor do exarca Jorge, de Cartago, chamado Gregório (primo do imperador Constante II), com o apoio da igreja do norte da África, chegou a ser aclamado imperador, mas morreu em combate com os invasores árabes (em Sufetula ou Sbaitla), estes retornaram ao Egito carregados de butim (foi a primeira invasão muçulmana neste exarcado). A sua anexação ao Império Islâmico só se efetivou em 660. ---- Neste ano de 647, o papa Teodoro I pressionou o patriarca Paulo a abjurar o monotelismo, este se recusou e foi excomungado.

---- O então governador da Síria, Moawia ibn Abi Soufvan (califa em 661) se apoderou da Capadócia, depois da Frígia e mandou seus lugares-tenentes invadirem a Armênia (aí destruíram a fortaleza de Dwin ou Dvin, onde se sediava a antiga capital armênia). Esta foi a segunda invasão árabe sofrida pela Armênia.647 a 965 – A Ilha de Chipre foi palco de constantes invasões dos árabes neste período.648 - Constante II, em setembro, estabeleceu o edito chamado de ‘Typos’ (a ‘regra’) colocando um termo final ao ‘Ekthesis’ (de Heráclio) e proibindo discussões sobre dualidade de Cristo e apoiando o monotelismo. O papa romano Teodoro I, em concílio nesta cidade, condenou o edito imperial, além de excomungar o patriarca de Constantinopla, Paulo II. ---- Os muçulmanos saquearam a cidade de Pafos na Ilha de Chipre.649 - O governador árabe da Síria, Moawia, se apoderou da ilha de Chipre aos bizantinos, colocando em xeque a supremacia comercial bizantina no Mediterrâneo Oriental. Ele mandou matar toda a população de Constantina pela recusa em se converter ao islamismo. As cidades litorâneas e as plantações foram destruídas.--- No Concílio de Latrão, de 5 a 31 de outubro, com 105 bispos, o papa Martinho I (desde 5 de julho,sucessor de Teodoro I , que morrera em 14 de maio) condenou os editos bizantinos ‘Typos’ e ‘Ekthésis’ (em outubro) com suas idéias monotelistas; por outro lado, endossou a postura religiosa de Máximo, o Confessor (monge em Crisópolis, perto de Constantinopla), também contrária ao monotelismo. 649 – Os búlgaros, em sua primeira invasão, se apoderaram da Cítia, Odessos (Varna) e a Mésia.

650 - Olimpios, encarregado de intervir contra o papa Martinho I (em outubro de 649), acabou sendo persuadido por ele e usurpou o poder do Exarcado de Ravena, onde ficou até 652. --- Foi organizado o primeiro tema: o dos Armeníacos. --- Foi reconstruída a marinha bizantina. --- O imperador Constante II foi vencido e preso perto do litoral da Lícia, quando tentava embargar uma iniciativa de Moawia de se apoderar de Constantinopla. – A Grande Bulgária foi conquistada pelos Khazars.651 – A Anatólia sofreu um saque generalizado por parte dos árabes. O mesmo fizeram no litoral da Sicília em 652.652 – Na guerra dos romanos orientais contra os árabes na Sicília, morreu vitimado pela peste o exarca de Ravena, Olímpios. 653 - Em 18-19 de junho, o imperador Constante II mandou o novo exarca de Ravena, Teodoro Kaliopas, prender o papa Martinho I (que estava na basílica de Latrão presidindo o concílio), daí levado para a Calábria, a ilha de Naxos e para Constantinopla, em setembro de 654. --- O patriarca de Constantinopla pressionou tanto os armênios em aceitar as resoluções do Concílio da Calcedônia, que gerou a revolta do chefe de sua armada (Teodoro Rechtuni), este

negociando com Moawia a abertura da região aos árabes. Mesmo a investida bizantina comandada por Constante II, 4 anos depois, submetendo grande parte da nobreza e do clero, seu domínio na região ficou restrito á uma parte da antiga Persarmênia (no lado ocidental do Lago Urmia). --- O monge, Máximo, o Confessor, contrário ao monotelismo, foi preso a mando de Constante II, na mesma ocasião que o papa Martinho I (depois santificado), estava aprisionado em Constantinopla. Ao se recusar a aderir à doutrina monotelita com o patriarca, foi torturado e, depois, exilado em Byzia (no Mar Negro.654 – Em abril, o primogênito de Constante II (com a imperatriz Fausta), chamado Constantino foi proclamado co-imperador do Oriente.—Em 17 de setembro chegou o papa Martinho I em Constantinopla; em 15 de dezembro foi condenado à morte, pena mudada para exílio em Quersoneso da Trácia, onde morreu doente por privação e doença em 655. – Neste ano: Após uma trégua de 3 anos, Moawia, comandando uma frota naval, se apossou da Ilha de Rodes, pertencente aos bizantinos. O famoso Colosso de Rodes (uma das 7 maravilhas da Antiguidade) ainda apresentava vestígios que foram saqueados. 655 – O governador árabe da Síria, Moawia, atacou as ilhas de Creta e Cós. Enquanto isto, uma armada muçulmana incursionou sobre a Capadócia e uma frota naval (comandada por Abd Allâh ibn Saad) saiu de Trípoli (na Síria) e penetrou pelos Estreitos de Dardanelos e de Bósforo infringindo uma séria derrota à frota bizantina comandada por Constante II no porto de Fenicus (hoje, Finike) no litoral da Lícia, na chamada ‘Batalha dos Mastros’ (ou Batalha do Monte Fênix de Lícia). O restante da frota naval bizantina que fugiu, foi destroçada por uma tempestade. Com estas conquistas muçulmanas, Bizâncio perdeu sua hegemonia marítima no Mediterrâneo Oriental. 656 - O assassinato do califa Othman (em junho), fez com que Moawia postergasse seu intento de atacar Constantinopla. ---- Os monotelitas tentaram subornar o monge Máximo, o Confessor (que retornara do exílio) a aderir ao edito ‘Typos’. Foi novamente preso com dois discípulos, morrendo como mártir (supliciado em Lazica em 13 de agosto de 662). 657 - As províncias bizantinas ocidentais sofreram reorganização administrativa. --- Início dos conflitos entre os búlgaros e os bizantinos. --- Da Armênia bizantina ficou apenas parcialmente a antiga Persarmênia; o restante passou para a dominação árabe. – Em 30 de julho, foi eleito papa Vitaliano, que mandou a notícia de sua eleição ao imperador Constante II, por prudência ou acomodação diante do poder bizantino em Roma, bem como pela ação imperial relativa ao seu antecessor Eugênio, irredutível quanto ao monotelismo. 658 - Constante II chefiou uma campanha militar contra os eslavos meridionais sediados no Épiro (a última campanha tinha sido há meio século atrás) para libertar Tessalônica; os eslavos aprisionados foram estabelecidos como colonos na Ásia Menor (tal prática foi continuada por seus sucessores). 659 – Em 2 de junho, foram associados ao poder, ao lado de Constantino, os seus irmãos Heráclio e Tibério. – Findou neste ano o segundo patriarcado de Pirro. ---- No outono, Moawia e Constante II assinaram um tratado de paz, sendo que o primeiro pagou imposto em dinheiro, cavalos e escravos (o árabe tentava, assim, neutralizar o bizantino, pois estava em luta pelo poder com o califa Ali). 660 - 663 - Constante II e sua armada de armênios deixaram Constantinopla (ficando a esposa Fausta e seus 3 filhos aí) e se dirigiu para Tessalônica

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(pelo Mar Egeu), depois para Atenas (por terra); daí para a Itália (em Tarento) para combater os Lombardos (do ducado de Benevento, em 663). 661-670 - Nesta década o Império Islâmico, sob o califa Moawia (iniciador da dinastia dos Omíadas), começou a adoção de instituições bizantinas, bem como de sua arte nas mesquitas.662 - Aparecimento dos búlgaros no Baixo Danúbio, onde seu khan Asparuk conseguiu a região de Dobruja por ter ajudado os bizantinos em luta contra os Ávaros. Dobruja se tornou o foco de origem e expansão do Reino Búlgaro e de suas investidas contra Bizâncio.663- Constante II, depois de passar por Roma (recebido pelo papa Vitaliano), foi para Tarento (na primavera). Aí iniciou a reconquista do ducado lombardo de Benevento, tendo ao seu lado reforços vindos de Nápoles. Tal iniciativa, no entanto, foi frustrada com a intervenção do rei lombardo Grimoaldo. Em sua ida para Nápoles foi surpreendido e derrotado no rio Calore (na Campânia) pelo conde Mitola, de Cápua. Na mesma época, tropas de Nápoles derrotaram o general bizantino Saburro em Fiorino. Em 5 de julho, o imperador chegou à Roma onde foi bem recebido pelo papa Vitaliano; assim mesmo ele saqueou a cidade. Aí ficou 12 dias, voltou para Nápoles; foi derrotado em Reggio de Calábria pelos lombardos. No início de setembro, ele estava em Siracusa (na Sicília), onde fixou residência no outono.663 a 668 - Constante II, em Siracusa (na Sicília) ordenou a vinda de sua esposa e filhos para o local, mas o Senado em Constantinopla não consentiu. Supõe-se que ele quis fazer de Siracusa a capital do império e que ele aí permaneceu para enfrentar os árabes do norte da África. 664 - O emirado de Ifrîqiya solicitou ajuda dos bizantinos contra o califado omíada de Damasco, mas a ajuda naval bizantina foi destruída em Sussa (Hadrusmetun) e foi ocupada a fortaleza de Ain Djelula. Depois desta ação bélica, as forças militares do califado se retiraram.665 - Eslavos meridionais da Ásia Menor foram conscritos ao exército contra os muçulmanos; mas acabaram sendo aliciados por estes últimos e foram instalados perto de Apameia (na Síria).668 – Na Sicília, em 15 de julho, ocorreu uma rebelião contra o imperador Constante II. Em Siracusa, em 15 de setembro, ele foi assassinado por um oficial do palácio, enquanto estava tomando banho (a golpes de vaso com água). Os insurretos indicaram como seu sucessor ao estratego Mizis (Mecétio ou Mezézio, de origem Armênia) na ausência dos filhos do finado imperador. –Subiu ao trono Constantino, o primogênito, com 14 anos, mesmo havendo a indicação de 3 imperadores pela armada da Anatólia.668 a 685 - Governo de Constantino IV ‘Pogonatus’ (o ‘Barbado’). Bizâncio, nesta época, comprou do arquiteto sírio Calinico, o segredo do ‘fogo grego’.668 (continuação) – Ele organizou uma expedição com o objetivo de atacar e matar o usurpador Mezézio, o que foi conseguido na primavera. – Os árabes penetraram até a região da Calcedônia (hoje chamada de Kodkoi, no noroeste da Anatólia).669 – Em Crisópolis, no tema dos Anatólicos, foi sufocada uma revolta da armada, que estava apoiando a partilha do poder imperial entre Constantino IV e seus dois irmãos. Estes foram enforcados na Galatia, arrefecendo a revolta.--- O califa mandou uma expedição sob o comando de seu filho Yazid para reforçar a ocupação da Armênia (que era do Império Bizantino). Este levou a armada até o lado asiático do Estreito de Bósforo, a Calcedônia e ocupou a cidade de Amorium. Esta ocupação foi efêmera: no inverno de 669-670 o imperador bizantino Constantino IV retomou a cidade e massacrou a guarnição militar muçulmana. 670 - Árabes sob o comando do emir Fadalas (subordinado a Moawia) se fixaram na Península de Cízica como ponta de lança de ataques à Constantinopla. ---- Neste ano, o general árabe Uqba ibn Nafi fundou Kairuan (em Ifriqiya, atual Tunísia), logo depois, entretanto, tomada pelos Bérberes até 688. Kairuan colocou em perigo a Sicília, que pertencia ao Império Bizantino.672 – O califa Moawia mandou, durante a primavera, frotas para atacar o litoral sul e ocidental da Anatólia, sendo bem sucedidas sobre a força naval bizantina (chamada de ‘karabisianoi’); decorrendo disso a permanência da frota muçulmana do emir Fadalas na península de Cízica (na província de Mísia, no Mar de Mármara, portanto próximo da capital), Lícia e Lídia (em Esmirna) durante o inverno de 672/3. 672 a 677 - Árabes tentaram se apoderar da capital bizantina por 5 vezes. 673 - Entre abril e setembro, a frota naval muçulmana realizou novo cerco fracassado à Constantinopla; pois a resistência local e o uso do ‘fogo grego’ ou fogo marinho (óleo de nafta lançado por propulsores em forma de tubo), inventado pelo sírio Calínico, os demoveu de continuar o cerco voltando para Cízica e aí passando o inverno. --- Criação dos temas de Armeníacos, Opsikon e Anatólicos na Ásia Menor, chefiados por um estratego, para fazer frente aos árabes.674 – O irmão de Moawia, Yazid, à frente de frota naval saiu do litoral oriental do Mar Egeu, entrou no Mar de Mármara passou em Cízica, depois em Hebdomon (em abril) e cercou a capital bizantina.675 – Neste ano ocorreu o quarto cerco fracassado de Constantinopla pelos árabes, segundo alguns autores. Outros relatam incursão dos árabes Abdallah ibn Qays e Fadhala ibn 'Ubayd sobre a ilha de Creta (onde ficaram durante o inverno), enquanto Malik ibn Abdallah atacou o litoral ocidental da Anatólia.676 – Em face dos insucessos anteriores, o califa mandou Yazid como reforço para os árabes empenhados no ataque à capital bizantina.677 - Os árabes começaram a cercar Constantinopla na primavera, tentando forçar a entrada pelo Corno de Ouro, mas a muralha de Teodósio se mostrou inexpugnável. Abandonaram o cerco em 25 de junho. No começo do verão, o imperador bizantino Constantino IV Pogonato cercou Cízica e aí os árabes perderam muitos soldados, obrigando a sua retirada. – Neste ano, o imperador e os lombardos assinaram um tratado de paz definitivo. ---- Nas proximidades de Ataleia (hoje chamada de Antalia, na Panfília) ocorreu a Batalha de Syllaeum vencida pelos bizantinos, graças ao ‘fogo grego’, a frota remanescente árabe foi perseguida pelos bizantinos e completamente aniquilada por tempestade.678 – A frota imperial naval bizantina conseguiu vitória sobre os árabes num confronto próximo de Syllaeum (no Mar de Mármara). Os navios árabes que escaparam foram a pique em tempestade no litoral da Panfília e por ataques da frota imperial. Com a vitória bizantina, os árabes tiveram que sustar o cerco à capital com a escassez de víveres no inverno, já que não havia mais a possibilidade de abastecê-los. Ao califa Moawia não restou outra saída que, conjunturalmente, assinar um tratado de paz com os bizantinos por três décadas. Findou-se, assim, o primeiro cerco árabe à capital bizantina.---- Este tratado se fazia mister, outrossim, porque o califa estava às voltas com os Mardaítas (cristãos que habitavam as áreas dos Montes Taurus, ou seja, sul da Anatólia, incluindo a Isauria, além da Síria e Líbano) realizando ataques nas planícies circunjacentes.679 – O imperador e enviados do papa Agathon em uma reunião em Duvno (atual Tomislavgrad, na Dalmácia) resolveram criar dois bispados diferentes para os Sérvios e os Croatas. Além disso, acertaram a reunião de concílio ecumênico no palácio imperial em Constantinopla (de novembro de 680 a 16 de setembro de 681). ---- Os khazares se expandiram até o Mar Negro e forçaram a ida dos búlgaros para o delta do Danúbio (região de Dobruja).680 - Fracasso de Constantino IV em expedição naval contra os búlgaros em Dobruja (no delta do Danúbio) na Batalha de Ongal (perto da ilha Peuce), em área pantanosa, sendo vencido por Asparuk, aliado com os eslavos, tendo que lhe pagar tributo anual de guerra. Os búlgaros se instalaram na Citia e se apoderaram, outrossim, do porto de Varna (no Mar Negro) e da Mésia (entre os Bálcãs e o Danúbio), em 680; esta última habitada pelos eslavos, havendo miscigenação étnica e cultural entre eles. Nesta região, os búlgaros representaram uma ameaça permanente a Bizâncio. ---- Foi criada neste ano a província da Trácia, a fim de garantir a presença fronteiriça dos bizantinos diante dos búlgaros.680-681 - VI Concílio ecumênico de Constantinopla,em 7 de novembro de 680, convocado pelo imperador (mas tendo a oposição do alto clero) que negociou, antes, com os papas Donus e Agathon a condenação do monotelismo e do monofisismo (em 681) e a restauração da ortodoxia dogmática da Igreja Católica. A partir daí, Bizâncio teve ótimas relações com Roma. Terminou em 16 de setembro de 681. A Igreja excomungou o Corão, Maomé, o Islamismo. --- Lombardos conquistaram temas italianos.681 – Em 9 de agosto, foi mencionada pela primeira vez o Estado búlgaro criado por Asparuk na Mésia, após vitória contra os bizantinos. Sua capital era Pliska (atual Aboba, nas proximidades de Chumen). Em setembro, Constantino IV assinou tratado com os búlgaros reconhecendo seu Estado. Esta data é reconhecida ainda hoje como o nascimento da Bulgária. ---- O imperador descartou de suas funções seus irmãos Tibério e Heráclio devido às suas intrigas; logo a seguir mandou cortar o nariz dos mesmos (assim não poderiam nunca pleitear o trono pela sua feiúra). ---- No fim deste ano ocorreu uma revolta no Canato dos Ávaros pelas populações de origem romano-bizantinas em Sirmium. Eles migraram para o sul até Tessalônica,

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guiados por um búlgaro chamado Kuver. O imperador os colocou na Trácia. ---- Iniciou-se uma revolta da Armênia, da Ibéria do Cáucaso e Albânia do Cáucaso contra o califa Yazid I. 683 – Neste ano ocorreu a Batalha de Tahuda, nas proximidades de Biskra (na Tunísia): o general Oqba ibn Nafa foi morto por Koceila, líder dos Bérberes. Os árabes fugiram do campo de batalha e Koceila se apoderou de Kairuan, governando aí por 5 anos; criando, assim, um principado aliado dos bizantinos e aliviando pressões sobre o Exarcado de Cartago. 684 – Se aproveitando das disputas pelo poder no califado árabe, o imperador bizantino mandou uma frota naval atacar e devastar os portos do Acre, Cesareia e Ascalão (no litoral da Palestina). Durante o outono, ele mesmo comandou uma expedição no leste da Anatólia, retomando a Cilícia e se apoderando de Mopsueste. ---- Ao morrer o papa Leão II, sucedeu-o Bento II, em 26 de junho, sendo homologado pelo imperador bizantino uns meses mais tarde.685 –Em 14 de setembro, acometido de disenteria, morreu Constantino IV com apenas 32 anos, o trono bizantino passou para o seu filho (com 16 anos) Justiniano, que foi o último imperador da Dinastia dos Heráclidas.685 (14 de setembro) a 695 - 1ª fase do reinado de Justiniano II, ‘Rhinotmetus’, ou seja, ‘Nariz Cortado’, continuando depois de 705 a 711 (neste período é que tinha efetivamente o nariz cortado). – Ele mandou editar em seu reinado a Lei Agrícola (ou Justiniana) que estabeleceu as bases para a criação e desenvolvimento da pequena propriedade livre inserida na política militar de ocupação e uso de terras aos soldados quando estivessem desmobilizados em campanhas militares. ---- O tio do khan búlgaro Tervel venceu os Avaros em Sirmium e levou seu povo para a planície de Keramissia (na Grande Macedônia); os bizantinos passaram a denominá-los de keramissianos a partir daí (antes eram sirmisianos, pela sua origem em Sirmium).685 (continuação) - O novo califa Omíada de Damasco, Abd al-Malik, assinou o segundo tratado árabe-bizantino com Justiniano II, pagando-lhe tributo em dinheiro, cavalos e escravos anualmente.686-687 - Justiniano II mandou o estratego Leôncio retomar a Armênia aos árabes, o que foi realizado com sucesso visto que o califado estava passando por guerras civis. Esta retomada foi esmaecida pelos saques efetuados pelas tropas, bem como pela pressão para que o clero da Armênia se submetesse às ordens do patriarca bizantino.687 – O imperador rompeu o tratado de paz feito com os búlgaros, atacando seus aliados, os eslavos, mas foi vítima de uma emboscada, tendo que negociar novo tratado.688 – O imperador bizantino Justiniano II e o califa Abd Al-Malik assinaram acordo de paz pelo qual os bizantinos ficaram com metade da ilha de Chipre; em sua administração tributária, política e militar atuavam árabes e bizantinos, por 3 séculos, mesmo havendo conflitos entre eles no continente. ---- Em Ifriqiya, os Bérberes derrotaram os muçulmanos em Kairuan, forçando-os a ir para Barqa (na Líbia); aí, tropas bizantinas os atacaram de surpresa e os massacraram.689 - Após uma campanha militar de Justiniano II contra os eslavos da Macedônia, uma parte deles (do tema de Opsikion) foi deportada da Trácia para Bitínia, a fim de dar cobertura a eventuais ataques à Constantinopla. ---- O imperador Justiniano II e o califa Abd Al-Malik negociaram tratado de paz por 10 anos através do qual o imperador aceitou deslocar os famosos guerreiros Mardaitas do Líbano (montanheses guerreiros cristãos do Amanus que não se converteram ao Islamismo com suas famílias para Atália na Panfília (Ásia Menor), regiões da Grécia (no Peloponeso, no Épiro e na ilha de Cefalônia), Cilícia e Trácia. Acertaram entre si, também, a partilha da carga fiscal aplicada em Chipre, na Armênia e na Ibéria do Cáucaso. 690 - 691 – Como pelo tratado de 688 os árabes cederam metade da ilha de Chipre para os bizantinos, estes levaram seus habitantes para a península de Cízica, que tinha sido despovoada durante a conquista árabe de 670. Aí fundaram a cidade de Justinianópolis, sede de um bispado ligado ao arcebispado de Chipre.692 – Concílio ecumênico de Constantinopla (chamado de ‘Quinisexto’), durante o outono, no palácio imperial para discutir disciplina canônica com temas inexpressivos como proibição de mulheres dançarem, a obrigação dos ermitões de cortar cabelo. Estas determinações foram recusadas pelo papa Sérgio I; o imperador mandou o exarca de Ravena prendê-lo, não conseguindo, pois foi defendido pelas milícias de Roma e de Ravena.--- Criada a ‘Pentarquia’ dividindo a igreja em 5 patriarcados (Roma, Constantinopla, Jerusalém, Antióquia e Alexandria). - Justiniano II recusou a moeda de ouro lançada pelo califa. Retaliando, os árabes, comandados pelo príncipe Muhammad ibn Marwan invadiram o seu território bizantino e derrotaram a armada bizantina na Armênia na Batalha de Sebastopol (hoje chamada de Sulusaray, província de Tokat). Os bizantinos estavam, nesta batalha, sob o comando de Leôncio (favorito de Justiniano II), tendo mercenários eslavos (cujo chefe era Nebulos). O comandante das tropas omíadas persuadiu financeiramente a deserção da maior parte destes mercenários, acarretando a derrota de Leôncio e seus comandados. O imperador ficou tão enraivecido e perplexo com esta atitude dos eslavos, que mandou matar o restante deles.693 - Se aproveitando da derrota bizantina, houve uma revolta na Armênia sob a liderança do príncipe Sembat VI Bagratuni, transferindo-se este da suserania bizantina para a sarracena. ---- Os árabes aproveitaram o abandono de Cartago (em Ifriqyia) pelos bizantinos para tomá-la; 3 anos depois, entretanto, uma armada bizantina sob a chefia do patrício João a recuperou.694 – No verão, o califa Abd al-Malik mandou tropas (de que faziam parte mercenários eslavos que foram aliciados em Sebastopolis) invadir a Cilícia, se sobrepondo aos bizantinos .----Neste ano, os bizantinos sofreram derrota nas proximidades de Amium (no Líbano) diante dos Maronitas. 695 – As guerras civis no Império Bizantino (até 715) o enfraqueceram de tal modo que os árabes puderam guarnecer melhor suas defesas na Anatólia. --- A política tributária opressiva e os excessos autoritários dos ministros favoritos de Justiniano II (o ex-monge Teodoto, que era logoteta do tesouro real e o eunuco Estêvão) despertaram o sentimento de revolta da aristocracia (expressa na facção dos Azuis) apoiada pelo patriarca Calínico I: o chefe de armada Leôncio (conquistador da Armênia) usurpou o trono em setembro, mandou queimar vivos os dois favoritos do imperador, sendo este levado ao Hipódromo (onde já estava Leôncio com a roupa púrpura imperial), aí foram cortados o seu nariz e língua e exilado em Quersoneia. Quanto aos ministros, tiveram os pés amarrados , carregados pelas ruas da capital e depois queimados vivos no Forum do Boi. ---- O califa Abd al-Malik enviou uma grande armada sob o comando de Hassan ibn al-Numan al-Ghassani para retomar Cartago aos bizantinos, o que foi conseguido; seus habitantes fugiram para a Sicília. Mesmo sendo libertada em 696 por uma expedição naval sob o comando do patrício bizantino João (se aproveitando da guerra entre Hassan e os rebeldes Bérberes de Kahena), em 698 foi recuperada definitivamente por Hassan.695 (setembro) a 698 – Governo do usurpador Leôncio, general isauriano que tinha sido nomeado estratego da Hélade pouco antes por Justiniano II.695 (continuação) - Bizâncio retomou a administração da Grécia com a criação do tema de Heládicos (ou Hélade, na Grécia Central). --- As guerras civis no império o enfraqueceram de tal modo que os árabes puderam guarnecer melhor suas defesas na Anatólia. – Neste ano, o exarcado de Cartago foi tomado e devastado por Hassan ibn al-Numan al-Ghassani (governador árabe de Ifriquiya, ou Tunísia); seus habitantes fugiram para a Sicília. Mesmo sendo libertado em 696 por uma expedição naval sob o comando do patrício João, em 698 foi retomado por Hassan.695 a 715 - Período de instabilidade política: Bizâncio teve 7 imperadores (inclusive de Justiniano que conseguiu voltar ao poder).696- 697 – Uma frota naval bizantina comandada pelo patrício João conseguiu retomar o Exarcado de Cartago.697 – Veneza conseguiu sua autonomia em relação ao Império Bizantino, escolhendo seu primeiro doge (primeiro magistrado), Paulo Lúcio Anafesto.697-698 – À frente de enorme frota naval Hasan ibn al-Nu’man al-Ghassani, na primavera-verão, se apoderou de Cartago (defendida por João Patrício, auxiliado pelo bérbere Amazigh), selando o fim deste exarcado bizantino. Esta capital do exarcado teve sua população praticamente dizimada, os que restaram foram escravizados; houve saques generalizados. Substituindo Cartago, os árabes fundaram Túnis. No norte da África os bizantinos ficaram apenas com Ceuta (chamada de Septem naquela época). ---- A expedição naval bizantina que estava em Cartago foi para a ilha de Creta e seus chefes proclamaram novo imperador ao drongário Apsimar (do tema de Cibyrrhéotes ou Cibirreotes). Com o apoio dos Verdes saqueou a capital bizantina, destronou Leôncio, cortou-lhe o nariz e o internou num mosteiro e adotou o nome de Tibério (III) na primavera. 698 (primavera) a 705 – Governo do antigo drongário Apsimar (do tema de Cibyrrhéotes ou Cibirreotes), que adotou o nome de Tibério (III). Em seu reinado, o árabe Hassan (e depois Muçâ) eliminou a presença bizantina no norte da África. Sofreu várias conspirações durante o governo. Conseguiu

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manter incólumes as fronteiras da Anatólia, graças ao seu irmão Heráclio. Conseguiu manter ilesas as fronteiras do império contra os árabes. Fracassou, no entanto, em invasão da Armênia, quando estava ocorrendo uma revolta contra os árabes chefiada pelo generalíssimo Sempad.698 (continuação) – No outono e inverno, Heráclio, irmão do imperador bizantino Tibério III, realizou incursão sobre a Síria destruindo uma armada árabe em Antióquia e chegando até Samosata (no Eufrates). ---- Pela reunião dos bispos em Aquileia (em Istria, norte da Itália) se encerrou definitivamente a heresia dos ‘Três Capítulos’, ainda em voga no seio da população romana e que tinha tumultuada a relação entre os imperadores bizantinos e o papado (como aconteceu co Vigílio e Pelágio I). 699 – Na primavera, Heráclio retornou de sua campanha militar na Síria carregado de butim e de prisioneiros. ---- Tropas omíadas atacaram a Armênia e submeteram o generalíssimo Sempad (Smbad VI Bagratuni). 700 – Se desforrando da campanha militar de Heráclio sobre a Síria em 698, o príncipe omíada Abdallah ibn Abd al-Malik (irmão do califa) se apoderou da fortaleza de Teodosiópolis, na fronteira e atacou a Armênia Menor ou Inferior. Às crises ocorridas nos séculos VII e VIII, o governo imperial respondeu com reformas no seio de suas forças armadas e nos temas, se ajustando, pois, às mudanças geopolíticas. No final deste século, prosseguindo até as duas décadas do próximo, houve um aumento das superstições, além do caos político e administrativo e revoltas nas forças armadas.

SÉCULO VIII A população cipriota voltou à ilha de Chipre, assolada por 24 incursões árabes por 250 anos. O Império Bizantino a recuperou e perdeu várias vezes, com exceção da época da Dinastia Macedônica (quando ficou mais tempo liberada dos ataques árabes). Apenas em 965 ela deixou de ser palco de ataques árabes e incorporada definitivamente ao Império Bizantino. Os imperadores iconoclastas favorecem a migração de armênios e sírios para Constantinopla. Deste século (717) ao século IX (867) com a Dinastia Macedônica se revitalizaram as instituições políticas e administrativas e se estimularam as artes. Sob esta dinastia a expansão imperial foi positiva no Oriente, mas no Ocidente foi marcada pela perda da Sicília. Também constituiu um risco a escolha do gênero feminino (como a imperatriz Irene) como fruto de alianças entre as famílias aristocráticas dominantes. Nos séculos VIII a X, as Dinastias Isauriana e Macedônia retomaram a tradição jurídica romano-bizantina se promulgando vários códigos e se compilando e atualizando as leis desde o século VI. Se organizou o sistema de defesa militar dos temas e se criaram distritos militares e administrativos. Manifestou-se mais ainda o cesaropapismo imperial neste século, a Igreja sendo um ‘instrumentum regni’: a igreja do Ilírico passou a ser de jurisdição do patriarcado de Constantinopla; se atribuiu à administração imperial o controle sobre a hierarquia episcopal e as dioceses; o imperador se apoderou dos bens pontificais romanos na Sicília e na Calábria (no reinado de Leão III). O império perdeu seu território italiano do Exarcado de Ravena diante dos lombardos. No período mesobizantino (da metade do século VIII ao começo do século XIII) a capital bizantina era a cidade de maior população absoluta do mundo cristão. No século IX tinha cerca de 250.000 habitantes. Era também o maior centro financeiro e econômico do império. A criação do tema de Strymon (na Macedônia) confirmou a submissão dos eslavos meridionais ao império. Também se impôs a autoridade bizantina sobre os eslavos que habitavam a Grécia.701 - A Armênia bizantina (no leste do Alto Eufrates) foi atacada por Muhammad ibn Marwan; o comandante local, Baanes, não ofereceu resistência e se rendeu; a população, por sua vez, aceitou um governador muçulmano. Com isto, todo o território bizantino correspondente à margem esquerda do rio Eufrates passou ao domínio muçulmano. 702 – A Armênia se revoltou contra o governador muçulmano tendo o apoio do Império Bizantino.703 – Mais uma vez os muçulmanos devastaram a Anatólia; além disso, invadiram a Armênia, que tinha se rebelado contra Bizâncio. ---- Mopsueste, na Cilícia, foi conquistada pelos muçulmanos sob o comando de Abdallah ibn Abd al-Malik (irmão do califa). Esta cidade foi fortificada e desempenhou papel importante na linha de fronteira (chamada de ‘Tughur e Awasim’) ao norte da Síria, Cilícia e Alta Mesopotâmia.704 – Uma armada árabe foi derrotada e destruída em Sisium (Adana na Cilícia) pelo general bizantino Heráclio. ---- Este ano marca o término da conquista sarracena da África bizantina, atingindo até o Oceano Atlântico, executada pelo general Musa ibn Nusair. – Na Armênia ocorreu nova revolta contra os muçulmanos; o califa mandou seu irmão Abdallah ibn Abd al-Malik atacar os revoltosos, suprimindo sua rebelião. 705 – Em 11 de janeiro morreu o papa João VI, sendo escolhido João VII como seu sucessor. Teve, como os anteriores, atritos doutrinários com Bizâncio. ---- Justiniano II fugiu de seu exílio em Quersoneso (do Reino de Khazar) e, com o auxílio de Terbel, khan búlgaro, retomou o trono de Tibério III (em 21 de agosto), que fugiu com a tomada do Palácio Imperial. Ele agraciou o khan búlgaro Terbel com o título de César (kaiser) e lhe concedeu o nordeste da Trácia (região de Zagora). 705 (21 de agosto) a 711 (dezembro) – Segundo governo do imperador Justiniano II.705 (continuação) - Justiniano II mandou matar todos os seus inimigos na capital, sobretudo a aristocracia que tramou sua deposição.705 a 712 - O Exarcado de Ravena não aceitou Justiniano II no trono, se separando do império neste período.706 – Em 15 de fevereiro, o imperador Justiniano II continuou sua vingança: presidiu a humilhação pública no Hipódromo de Constantinopla de Leôncio e Tibério III, mandando executá-los depois. O patriarca Calínico I foi, outrossim, preso e exilado, sendo substituído por Ciro.707 – Em 18 de outubro faleceu o papa João VII, mas a sede papal ficou vacante até a eleição do novo papa Sisínio pelo exarca de Ravena no início de 708. ---- Os muçulmanos de Ifrîqiya conquistaram o arquipélago das Ilhas Baleares (ao sul da Espanha). ---- Tiana, na Capadócia, foi cercada por forças muçulmanas sob o comando de Maslamah ibn Abd al-Malik, suportando-o no inverno todo.708 – Em março, a cidade de Tiana sucumbiu ao cerco imposto por Maslamah ibn Abd al-Malik; que continuou sua campanha anti-bizantina, vencendo-os nas proximidades de Amorium (na Frígia) no verão. ---- Em 25 de março foi escolhido como papa Constantino VI que, preocupado com as questões teológicas como o papa anterior, condenou o monofisismo. ---- Neste ano: O khan búlgaro Tervel invadiu a Trácia e infligiu derrota aos bizantinos comandados pelo imperador na I Batalha de Anchialus (perto da atual cidade de Pomorie), tendo o imperador que fugir para a capital. Esta vitória dos búlgaros resultou no domínio de seu território por 2 séculos. 709 - Maslamah ibn Abd al-Malik, continuando sua campanha militar, ocupou a Capadócia e promoveu ataques à província de Isauria (habitada por guerreiros montanheses junto ao Taurus). --- Do lado ocidental, os árabes se apoderaram de Ceuta sem resistência do príncipe cristão Juliano, que depois se apresentou ao governador de Ifrîqiya, Musa ibn Nusair, oferecendo-se para participar da conquista da Espanha. Em outubro ou novembro, ele atacou e saqueou a baía de Algeciras. ---- Em Ravena, houve a intervenção militar bizantina comandada pelo patrício Teodoro por causa da disputa entre o arcebispo local, Félix, pretendo ser autônomo em relação ao papa Constantino VI. Houve a execução militar da milícia local; o arcebispo e os notáveis da cidades foram aprisionados e levados para Constantinopla, sendo estes últimos condenados à morte, o bispo foi exilado em Quersoneso Taurica (na Crimeia).710 - O papa Constantino VI partiu de Roma em 5 de outubro e foi bem recebido em Constantinopla. – O guerreiro isauriano e general bizantino Leo (futuro imperador Leão III) retomou Abkhasia (ou Abasges, no Cáucaso) aos árabes. 711- O papa Constantino VI em Constantinopla, antes de retornar à Roma aprovou parcialmente as determinações do Concílio de 691 (Quinisexto). --- Justiniano II mandou 3 expedições contra Quersoneia (na Crimeia): a primeira comandada por Estevão, o Cruel; a segunda foi arrasada por tempestade; a terceira sob a chefia do general Maurus, mas este passou para o lado de Filipikos Bardanes (chefe de movimento pela autonomia da Crimeia). ---- Justiniano II, com tropa de búlgaros, não conseguiu resistir em Constantinopla: foi destronado e decapitado em 11 de dezembro e seu filho Tibério foi assassinado. --- O estratego armênio Vardan se declarou imperador com o apoio de Quersonéia (na Península da Crimeia), no final deste ano e se intitulou Filipikos Bardanes.

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711 (15 de dezembro) a 713 (3 de junho) - Governo de Filipikos Bardanes durante apenas 17 meses. Favorável ao monotelismo, depôs o patriarca Ciro e publicou um edito favorável à esta heresia.711 (continuação) – Novo rompimento de relações com Roma em face da atitude religiosa do imperador. Em Ravena também houve revolta, gerando o assassinato do exarca João Rhizocopio.--- Os armênios gregorianos se revoltaram contra Filipikos por motivos religiosos e se bandearam para o lado dos árabes. 711-712 - Revoltas de Roma e Ravena contra Bizâncio.—Os muçulmanos invadiram a Cilícia.711 a 715- Fase turbulenta em que houve constantes conflitos entre a aristocracia rural e a armada bizantina (esta no poder). 711 a 717 - O Império Bizantino se convulsionou em uma anarquia tendo 3 imperadores até a ascensão dos Isaurianos no poder (em 711).712 - O Emir da Mesopotâmia atravessou a Anatólia e se apoderou de Amaseia (na província do Ponto no Mar Negro), se aproveitando da instabilidade reinante no império. – Os búlgaros, sob o comando do khan Terbel I, estiveram nas proximidades de Constantinopla, colocando em perigo sua segurança, mas não foram adiante. – Os armênios foram transferidos pelo imperador bizantino para a cidade de Melitene (hoje Malatya). 713 – Cegamento e assassinato de Filipikos Bardanes (3/6) numa casa de banhos públicos por trama no tema de Opsikion, subindo ao poder o protosecretis Artemios, que passou a ter o nome de Anastácio II Artemios. 713 (3 de junho) a 715 (maio) - Reinado de Anastácio II. Puniu o conde de Opsikion e outros chefes da conspiração contra Constantino III e procurou restaurar a ortodoxia. 713 (continuação) - O imperador bizantino Anastácio, em início de governo, se preparou diante de eventuais ataques árabes: mandou emissários a Damasco para conseguir informações sobre os preparativos dos inimigos, além de provisão de trigo nos armazéns governamentais, ordens para que os habitantes de Constantinopla guardassem víveres por 3 anos, reparação dos muros da cidade e a aquisição de equipamentos para a frota naval bizantina. ---- O filho do califa, Al-Abbas ibn al-Walid, à frente de suas tropas, atacou e saqueou a cidade bizantina de Antióquia da Pisídia (ao norte da Lícia e Paflagônia) de tal maneira que ela nunca mais se recuperou desta rapinagem árabe.714 – Fim do Reino Visigodo da Espanha (após a vitória sobre o visigodo Rodrigo na Batalha de Guadalete) e começo de El-Andaluz (Espanha Muçulmana) que durou até 1492. O arcebispo de Toledo, em função disto, fugiu para Constantinopla. – Se aproveitando da situação política degradada no Império Bizantino, o califa omíada Walid organizou uma expedição contra Constantinopla e devastou a Galácia.715 – Em maio, a frota bizantina, que estava na Ilha de Rodes se preparando para atacar uma frota muçulmana, se revoltou e matou seu comandante, indo para Constantinopla, desembarcaram em Adramítio (na Mísia) e proclamaram um publicano, Teodósio, como imperador, a seu contragosto. Em agosto, o tema de Opsikon aderiu ao movimento rebelde. Os rebeldes se apossaram de Crisópolis, entraram em Constantinopla. O imperador, após certa resistência, abdicou do trono e foi para Tessalônica, onde viveu como monge. ---- Ainda neste mês de agosto, Germano I se tornou patriarca de Constantinopla.715 (agosto) a 717 - Governo do usurpador Teodósio III. Seu curto reinado se tumultuou: a maior parte dos temas da Ásia Menor não aceitou sua autoridade, sendo liderada a revolta pelos temas de Anatólicos e Armeníacos.716 – Em 18 de abril, o estratego do tema dos Anatólicos (o isauriano Leão) foi proclamado imperador com o auxílio do seu genro Artavasde (do tema dos Armeníacos). – Neste ano: A Bulgária (sob o khan Thervel) e Bizâncio negociaram um tratado de aliança e amizade, pelo qual os bizantinos reconheceram as fronteiras da Bulgária. ---- Neste ano, ainda, morreu aquele que seria o sucessor do califa Solimão; por isto, esse último mandou outro filho atacar a capital bizantina (agosto de 717), mas ele acabou retornando a Damasco por insistência dos conselheiros de Solimão, que consideravam melhor poupá-lo para poder suceder ao pai; ficou com a função de ataque a Constantinopla o seu tio Moslemah.

717 - Os estrategos Leão (do tema de Anatólicos, onde se situam os Montes Isaurianos) e Artavasde (de Armeníacos) fizeram coro aos outros descontentes da Ásia Menor, negociaram a passagem pela Galácia (no centro da Anatólia) aos árabes, e marcharam em direção à Constantinopla. Venceram Teodósio III em Nicomédia; este se tornou monge e foi para Éfeso. Leão foi coroado imperador, em 25 de março, pelo patriarca Germano. 717 (25 de março) a 741 - Reinado de Leão III, o Isauriano, iniciador da Dinastia Isauriana. Com sua ascensão ao trono acabou a fase de 22 anos de anarquia política que assolou o império.717 (continuação) - Apenas com 5 meses de reinado do imperador bizantino Leão III, uma armada árabe sob comando de Moslemah (ou Maslamah ibn Abd al-Malik, irmão do califa Sulayman) partiu da Galácia, se uniu com frota naval árabe que estava em Abidos, transpôs o Helesponto e cercou Constantinopla, em 15 de agosto deste ano a 15 de agosto de 718 (foi o segundo cerco árabe) sem sucesso ora pelo fogo grego, pela fome e por Leão III, e, ainda, foi dizimada por tempestade sua frota naval.--- Solimão resolveu escolher seu primo Omar ibn

Abdul Aziz como sucessor, antes de ir reforçar seu irmão no cerco de Constantinopla, quando morreu no trajeto (em Dabiq), em outubro de 717. — Na véspera de Natal, um terremoto destruiu as igrejas de Edessa (ao norte da Síria). 717 a 802: Dinastia Isauriana. Os Isaurianos criaram códigos mais atualizados: ‘Ecloga’ e seu suplemento, o Código Rural. No primeiro se estabeleceu a justiça gratuita e o princípio da igualdade de todos diante da lei; além disso, aumentou o número de castigos corporais e de mutilações em vez da pena capital de morte; conferiu, outrossim, maior estabilidade às famílias proibindo o concubinato e dificultando o divórcio. O Código Rural suprimiu a servidão e consolidou a pequena propriedade.718 – O novo califa, Omar II, mandou prover de víveres os árabes que tinham cercado Constantinopla e mandou Maslamah retornar; este, ao chegar a Damasco, tentou entrevistar o califa sem sucesso. ---- Segundo a tradição, em 15 de agosto, Constantinopla foi salva por milagre de Nossa Senhora, cuja imagem foi levada pelas muralhas da cidade e o imperador passou pelo Estreito de Bósforo com as relíquias da Santa Cruz. Ainda hoje, a Igreja Católica consagra o dia 15 de agosto como o da Assunção de Nossa Senhora, comemorada em todo o mundo católico. Na realidade, Leão III recebeu reforços do khan búlgaro Tervel e, assim, pode repelir os árabes. A armada árabe foi atacada próximo de Tyane e destruída (a esquadra remanescente afundou numa tempestade). ---- A população da capital bizantina foi assolada pela peste (mais provavelmente por causa do cerco e falta de abastecimento regular, minando suas defesas orgânicas). ---- Na fronteira ocidental do império, os duques lombardos de Spoleto e Benevento (no sul da Itália) procederam a ataque às províncias bizantinas.719 – Leão III teve à frente a revolta do ex-imperador Anastácio II, que se tinha proclamado imperador em Tessalônica (mesmo sendo monge nesta cidade) e pediu a ajuda dos búlgaros e do Conde de Opsikion, se dirigindo para Constantinopla, mas foi vencido e executado em Heracleia da Trácia (em 720). A partir daí, Artavasde se tornou conde de Opsikion (tendo sob sua jurisdição as tropas dos Estreitos de Bósforo e Dardanelos) e em torno de Constantinopla.720 – O filho caçula de Leão III, Constantino, foi alçado ao cargo de co-imperador. Leão III procedeu, também, ao repovoamento da capital (cuja população fora parcialmente arrasada com a peste de 718, propagada pelos árabes). Além disso, mandou cunhar uma nova moeda de prata.721 (722) – Todos os judeus habitantes no império foram obrigados a se converter ao cristianismo por determinação imperial, pelo pressuposto de que havia um movimento messiânico de um certo judeu (Severo ou Sereno), do norte da Síria, se julgando a reencarnação de Moisés e, assim, deveria guiá-los à terra prometida.---- O imperador fez o mesmo com os Montanhistas da Frígia (cujos adeptos adotavam uma crença profética e escatológica, em que mulheres desempenhavam papel de profetizas) forçando-os à conversão.722 - Em fevereiro-março os Khazars atacaram as fronteiras do Império Omíada na Armênia, onde venceram o governador local e o de Atropatene

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(atual Azerbaidjão). Revidando, o novo governador de Atropatene e Azerbaidjão, o muçulmano Al-Jarra al-Hakami, em 21 de agosto, atacou o Império Khazar e devastou a sua capital Balanjar (situada entre as cidades de Samanda e Derbent, ao norte do Cáucaso); logo depois ele recuou para Wartham (ao sul do Cáucaso). Por 15 anos (até 737) continuaram as hostilidades entre os Omíadas e os Khazars. Desde 722 (até 737) ocorreram conflitos constantes entre os Khazars (ao norte do Cáucaso) e os Árabes, os primeiros buscando aliança com os bizantinos para suportá-los723 - A primeira medida iconoclástica não partiu dos bizantinos, mas do califado omíada de Damasco que mandou destruir imagens nas casas e nas igrejas cristãs, seguindo as prescrições islâmicas de proibição de representação humana. Os bispos bizantinos Tomás de Claudiopolis (na Bitínia) e Constantino de Nacoleia (na Frigia) interditaram o culto de imagens e foram para a capital numa tentativa de conseguir o apoio do patriarca Germano. – A cidade de Konia (Iconia), na Anatólia, foi atacada e pilhada pelos muçulmanos; em outra campanha militar, ao se apoderarem do forte de Camachum (ou Camacha, na Cilícia) expulsaram os bizantinos da Armênia.725 – Mesmo havendo um acordo árabe-bizantino desde 688, a ilha de Chipre foi invadida e saqueada pelos árabes neste ano. ---- Foi por volta deste ano que a ilha de Córsega foi ocupada pelos lombardos (com o rei Liutprand), enquanto a Sardenha já era ocupada pelos sarracenos.726 – Na primavera, em 31 de março, o imperador publicou seu novo código, ‘Ecloga’ (ou ‘Escolha’) atualizando o Código Justiniano, estabelecendo a igualdade de todos perante a lei e a justiça gratuita (muitos autores consagram a data de 740 para este código) e outras novidades (como o fim do concubinato). Tinha um suplemento, o Código Rural, pelo qual se extinguia a servidão e assegurava o direito de propriedade aos camponeses. --- Destruído o ícone de Cristo do Palácio Imperial de Constantinopla por ordem do imperador: começo da Questão Iconoclasta contra os privilégios dos mosteiros. Leão III decretou o primeiro edito iconoclástico por admitir que o culto das imagens era uma prática pagã; além disto, decretou a diminuição dos mosteiros (cuja riqueza fundiária era assombrosa) e, por conseqüência, do número de monges em todo o império. Esta última medida foi apoiada pela armada imperial, pelas populações dos temas orientais e pelos funcionários.---- No verão (em agosto), uma violenta erupção submarina no mar Mediterrâneo fez surgir uma nova ilha entre Santorini (Thera) e Therasia, se propalando a ideia de castigo divino quanto ao culto de imagens.---- Os muçulmanos invadiram a Capadócia e saquearam a cidade de Cesaréia. ---- Em Veneza foi escolhido como doge Orso Ipato, ao qual o imperador bizantino conferiu o título de cônsul.727 – Neste ano: O papa Gregório II, que tinha condenado o edito do ano anterior (de destruição dos ícones) e se negou a voltar atrás em sua decisão, indo além (excomungou o exarca de Ravena); por isto, teve confiscados seu patrimônio na Sicília e na Calábria. ---- O rei lombardo Liutprand (se aproveitando da instabilidade em Ravena) atravessou o rio Pó (norte da Itália) e se apoderou das cidades de Bolonha, Osimo, Rimini e Ancona e mais outras cidades da Emília e Pentápole. Chegou, mesmo, a tomar Classis (porto do Exarcado de Ravena); em seguida, cercou Ravena, cuja defesa coube ao seu exarca Paulo. Este foi morto por uma rebelião interna e a capital do exarcado caiu sob o rei lombardo. --- Uma revolta se generalizara no império: na Hélade ela foi debelada; os gregos das Cícladas e do continente (sob o comando do general Cosmas do tema da Hélade) arregimentaram uma frota naval e ameaçaram a capital bizantina, mas foram afastados graças ao uso do fogo grego. – Se aproveitando da situação instável do Império Bizantino, tropas omíadas comandadas pelo general Mu'awiyah ibn Hisham (irmão do califa) e Abdallah ‘al-Battal’ (‘o Herói’) promoveram saque em Germanópolis (ou Gangra, hoje Çankiri, na Turquia) e cercaram Niceia, mas aí não tiveram êxito. 728 – O imperador nomeou Eutíquio como exarca de Ravena e ordenou-lhe a pacificação da Itália. Como Ravena estava sob o poder de Liutprand, ele foi para Nápoles, mas não conseguiu fazer nada, já que os duques lombardos de Spoleto (Trasamundo II) e de Benevento (Romualdo II), mesmo contrários ao rei Liutprand, eram favoráveis ao papa Gregório II. Eutíquio mandou um agente seu para Roma com o objetivo de matar o papa, mas tal plano foi descoberto e abortado.729 – Na Itália, o exarca Eutíquio, depois de uma derrota inicial de sua frota, auxiliado pela república de Veneza, marchou em direção à Ravena. Esta foi defendida por Hildebrando (sobrinho de Liutprand), mas foi incapaz de defendê-la: Ravena caiu e ele foi preso. Foram mandadas tropas lombardas para colaborar na defesa de Ravena, mas elas foram vencidas nas proximidades de Rimini. As guarnições militares de Ravena e de Pentápole foram esmagadas (diz-se que as águas do rio Pó ficaram sujas de sangue e ficaram sem peixes por 6 anos). O exarca Eutíquio, em seguida, se ajustou com o rei Liutprand para mover guerra contra o papa Gregório II e os duques lombardos de Benevento e Spoleto. Com a submissão de Spoleto, o duque de Benevento se submeteu sem afrontamento com as tropas lombardo-bizantinas. Estas, então, se dirigiram para Roma e a cercaram. O papa conseguiu convencer Liutprand de abandonar o cerco de Roma; tal desistência, porém, não evitou que Eutíquio submetesse Roma. Nesta situação instável na Itália, foi proclamado antiimperador bizantino em Toscana (Tibério Petásio), que foi morto pelos bizantinos e decapitado (sua cabeça foi mandada para Constantinopla). 730 – Em 7 de janeiro, o imperador reuniu os dignitários palacianos (a qual o patriarca Germano se negou a comparecer). Dez dias depois, ele promulgou o denominado ‘edito iconoclasta’. Como o patriarca não endossou a atitude imperial, ele foi logo depois destituído, sendo colocado em seu lugar o subserviente Anastácio, que homologou a decisão imperial. Contra estas medidas se colocou o teólogo João de Damasco (mais conhecido por S. João Damasceno), sendo forçado a se silenciar. Bispos iconódulos (favoráveis às imagens) foram destituídos de seus cargos. Aos funcionários que se recusassem a endossar a ordem iconoclasta imperial seriam demitidos sumariamente. – Foi feita uma aliança entre o imperador e os Khazars: Leão III pediu a mão de uma princesa khazar para o seu filho Constantino. Em face desta aliança (não efetivada de fato), em 9 de dezembro, Barjik, filho do kaghan dos Khazares, atacou as províncias persas de Jibal e Azerbaijão (ou Adaribaidjão), nesta última ele massacrou tropas omíadas comandadas por Abdullah ibn al-Djarrah (Al-Jarrah al-Hakami) na Batalha de Maj Ardabil (nas proximidades de Ardabil). Com esta vitória, o califado foi forçado a deixar de usar o principal caminho do Cáucaso, que era o Passo de Derbend. ----Neste ano: Um exército omíada atacou e saqueou a fortaleza bizantina de Charsianon (na Capadócia). ---- O Exarca de Ravena foi morto numa revolta apoiada pelo papa Gregório II. --- Surgimento da República de Veneza. 731 - O rei Liutprand dos lombardos se apoderou da cidade de Ravena. --- Sínodo de Roma excomungando os iconoclastas. --- Os khazars promoveram incursões no Azerbaijão (dos árabes), pressionando o califa a sair da principal rota do Cáucaso (o passo de Derbend). --- Em virtude da condenação do movimento iconoclástico pelo novo papa Gregório III (em março deste ano, com bispos de Ravena e Grado), o imperador bizantino suspendeu a ação pontifical de Roma sobre a Ilíria, Creta e Sicília (transferindo-a para o patriarcado de Constantinopla), aumentou em 100% os impostos fundiários na Sicília e Calábria, além de confiscar as propriedades papais nestas regiões (em 733). Este novo papa, Gregório III foi o último a ser confirmado por um imperador bizantino.732 - Após a vitória dos francos na Batalha de Poitiers contra os árabes, recomeçou o uso da palavra Europa, embora não adotada em todas as regiões por causa das disputas entre Bizâncio e reinos europeus. --- O filho do imperador Leão III e associado ao trono, Constantino, se casou com a filha do khagan Bihar dos khazares (que recebeu o nome bizantino de Irene) para selar uma aliança contra os árabes (tal aliança não se efetivou, porque no ano seguinte o reino foi invadido pelos árabes). 733 – O imperador mandou uma frota naval sob o comando do estratego do tema de Cibirreotas para retomar Roma e submeter o papa Gregório III, mas ela soçobrou em tempestade no Mar Adriático. Mesmo assim, ele tomou medidas de retaliação contra o papa por ter apoiado revolta na Itália contra o movimento iconoclástico. Uma das retaliações foi a retirada da jurisdição papal sobre a Península Balcânica, além da Sicília e Calábria.737 - Os Khazares, sob o comando de Hazer Tarkhan, sofreram derrota diante dos árabes sob a chefia de Maslamah ibn Abd al-Malik e Marwan ibn Muhammad (futuro califa Marwan II), que ocuparam Atil (sua nova capital).---- Cerca de 20.000 eslavos foram aprisionados e transportados para a Síria. ~737 – Liutprand, rei dos lombardos, se apoderou circunstancialmente de Ravena: o exarca reagiu prontamente com o auxílio do ducado de Veneza e apoio do papa romano Gregório III, conseguindo expulsá-lo.738 – Liutprand conquistou o Ducado de Spoleto (que era lombardo também, mas independente do Reino Lombardo), ficando, assim, com a posse de grande parte da península da Itália. O duque de Spoleto, Trasimundo II, se asilou em Roma, onde o papa Gregório III pediu ajuda ao franco Carlos Martelo, para poder se opor ao rei lombardo.739 - A servidão foi suprimida no império.

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740 – Em 26 de outubro, Constantinopla, Niceia e Nicomédia sofreram um sismo; na capital, várias edificações foram destruídas e as muralhas, parcialmente (foi decretado um imposto para sua reforma). ---- Neste ano: Publicação de ‘Ecloga’ e do ‘Código Rural’ (há autores que contestam a data, colocando-a em 726). ---- Ocorreu a memorável Batalha de Akroinon (hoje chamada de Afyon Karahisar, que significa ‘castelo negro do ópio’, na Frígia) entre os bizantinos (com o imperador Leão III e seu filho Constantino) e os árabes (com participação do filho do califa, Sulayman e comando de Mālik ibn Šubayb e ʿAbd Allāh Al-Baṭṭāl) com uma grande armada que passou pela Capadócia, se encontrando os dois exércitos em Akroinon. Os dois comandantes mencionados morreram durante o combate; Sulayman e outro contingente debandaram. Com esta vitória os bizantinos afastaram os árabes de sua pretensão de conquistar a Ásia Menor.740 a 775 - 9 campanhas militares bizantinas contra a Bulgária.741 – O imperador Leão III morreu de hidropsia em 18 de junho.741 (18 de junho) a 775 - Governo de Constantino V 'Coprônimo' ('excremento'), ou também ‘Caballinos’ (‘servo de estrebaria’), como o designaram os iconoclastas, seus inimigos, sob a chefia de seu cunhado Artavasde (estratego da província de Armeníacos e conde de Opsikion).741 – (continuação) – A armada imperial invadiu a Síria e o Alto Eufrates (Alta Mesopotâmia), levando seus habitantes para a Trácia. ---- Enquanto o imperador executava uma campanha contra os muçulmanos, Artavasde (ou Artabasdos) foi proclamado imperador pela armada da província de Opsikion. Ele se livrou da armada imperial sob a chefia de Beser e entrou na capital, onde foi sagrado pelo patriarca Anastácio (em 27 de junho). Associou seu filho primogênito Nicéforo ao trono e determinou a renovação do culto das imagens. --- Em 29 de novembro morreu o papa Gregório III. 741 (27 de junho) a 743 (novembro) – Usurpação do trono bizantino por Artabasdos. Restaurou oportunisticamente a ortodoxia. Outorgou à sua esposa Ana o título de Augusta e ao seu filho Nicéforo o cargo de co-imperador. 741-742 – Mesmo ocorrendo o conflito religioso entre Roma e Bizâncio por causa da questão iconoclasta, ambos mantinham relações estreitas em função da constante pressão dos Lombardos sobre seus territórios. Assim, Constantino V, não tendo condições de mandar forças para a Itália, conseguiu que o papa Zacarias negociasse com o rei lombardo Liutprand neste período, obtendo pleno êxito em 742-743.743 – Em maio, Constantino V foi vitorioso sobre o seu antagonista, o general Artavasde (genro de Leão III) na Batalha de Sardes, nas proximidades de Sardes (capital da antiga Lídia, às margens do rio Pactolo, denominada de Sartmahmut antes de 2005 e, hoje, é Sart); este fugiu para Constantinopla. Cerca de 3 meses depois, foi a vez de Niketas, filho de Artabasdos, ser derrotado por Constantino V que, em 2 de novembro, se apoderou da capital e submeteu o usurpador. Em festa no Hipódromo, Constantino V mandou cegar Artavasde e seus filhos e castigar o patriarca Anastácio com varas, montado em um asno (mas conseguiu manter suas funções religiosas). Em seguida, Artavasde foi executado.744 – Ao morrer o patriarca ortodoxo Estevão IV em Antióquia foi sucedido por Teofilacto.745 – Segundo o historiador Louis Brehier, Constantino V se apoderou de Marash (ou Germaniceu ou, ainda, Germanicia), Dolichê e Sozopetra na Síria; se aproveitava, para tal campanha, da situação instável do Califado Omíada de Damasco. 746 – Em meados de janeiro, a cidade palestina de Cafarnaum sofreu grandes danos por um abalo sísmico. – Neste ano: Em Kyrenia (cidade litorânea de Chipre) uma frota naval muçulmana foi destruída pelos bizantinos do tema de Cibyrrheotas (sul da Anatólia). Retomaram, assim, a ilha sob seu controle.746-747 - Despovoamento dos temas da Hélade e do Peloponeso pela peste; este esvaziamento demográfico propiciou a ocupação da área pelos eslavos, fazendo com que o Peloponeso ficasse quase livre da autoridade imperial. 747 - No início do ano, Constantinopla foi assolada pela peste proveniente da Sicília e Calábria; em face disso, o imperador (que se deslocara com família para a Nicomédia) mandou vir população da Grécia e de ilhas do Egeu para recuperar a perda demográfica, no ano seguinte. ---- Os bizantinos, comandados por Constantino V, arrasaram com uma frota naval egípcia mandada de Alexandria no porto de Cerines (Cerameia), em Chipre, retomando esta ilha e Creta, se aproveitando da revolta de Abu-Muslim (general iraniano) contra o califa Marwan II. 748 – Em janeiro, um sismo abala a região desde o norte do Egito o oeste da Alta Mesopotâmia, destruindo vários testemunhos da presença cultural bizantina. ---- Na primavera, a epidemia de peste atingiu o seu ápice em Constantinopla.749 - O imperador bizantino Constantino V se aproveitou da situação de transição no Império Islâmico (da dinastia dos Omíadas para os Abássidas) para fortalecer suas fronteiras e refazer sua ascendência na Armênia, que estava em revolta contra os árabes (749-750).750 a 770 – Bizâncio se lançou em várias campanhas militares contra os árabes e os Búlgaros (de 740 a 775 foram 9 campanhas).750 a 1204 – PERÍODO DENOMINADO DE MESOBIZANTINO PELOS HISTORIADORES.751- Foi alçado ao ‘status’ de co-imperador o filho de Constantino V, Leão (nascido em 750), em 6 de junho. ---- Neste ano: Fim do Exarcado de Ravena, tomado definitivamente pelo rei lombardo Astolfo (ou Ailstulfo); depois se dirigiu para Roma e se mostrou arredio a qualquer negociação com os bizantinos. Por sugestão de Constantino V, o papa Zacarias entrou em entendimento com o franco Pepino, o Breve para defender Roma contra os lombardos. – Armada imperial bizantina retomou Melitène (hoje, Malatya, no alto Eufrates) colocando abaixo suas muralhas e levando seus habitantes para colonizar áreas despovoadas do império; outra cidade foi a de Teodosiópolis (atual Erzurum na Turquia). 752 – Neste ano, o imperador ratificou a interdição ao culto das imagens e de sua existência nas igrejas.753 - Constantino V acabou com inúmeros mosteiros e conseguintemente com o número de monges. 754 – Do dia 10 de fevereiro a 8 de agosto se reuniu o Concílio de Constantinopla com Constantino V reunindo 338 bispos no Palácio Imperial de Hiereia (no lado asiático do Estreito de Bósforo): declaração da não representação de Cristo em imagem e proibição de seu culto nas ‘silentia’ ou ‘assembléias populares’. Além disso, condenou os iconódulos João Damasceno e o patriarca Anastácio; este foi substituído, em 8 de agosto, por Constantino de Syllaeum. 755 - O khan búlgaro Kormisoh rompeu o tratado de 716, exigindo tributo dos bizantinos devido ao povoamento da Trácia pelos habitantes de Teodosiópolis e Melitene, objetivando reforçar a fronteira balcânica. Como Constantino V recusou tal exigência, os búlgaros saquearam a Trácia, chegando até às muralhas de Constantinopla, mas aí foram repelidos.755 a 775 – O imperador Constantino V realizou 9 campanhas militares contra a Bulgária neste período. 756 – De abril a junho, enquanto o franco Pepino III, o Breve, estava cercando a cidade de Pavia (pela segunda vez), recebeu uma delegação do imperador Constantino V que tentou suborná-lo com boa quantia de dinheiro, desde que ele abandonasse Ravena e o exarcado; pelo contrário, ele entregou ao papa Estevão II o território de Roma e Pentápolis (conjunto das 5 cidades de Ancona, Senigallia, Rimini, Pesaro e Fano). Desta forma, o território bizantino na Itália ficou restrito ao litoral de Nápoles, à região de Otranto (no litoral do Mar Adriático) e à Calábria. ---- Os muçulmanos que tinham penetrado na Capadócia recuaram diante da aproximação de Constantino V; daí em diante os temas orientais conseguiram repelir suas incursões; não conseguiram, entretanto, que eles retomassem Teodosiópolis e Melitene. ---- Neste ano, o imperador se envolveu em campanha militar contra os búlgaros, agora governados por Vinekh. Uma frota naval bizantina saqueou a região do delta do Danúbio. À frente de suas tropas, Constantino V invadiu a Trácia e se defrontou com os búlgaros na Batalha de Marcellae (a primeira, junto ao castelo de Marcellae, hoje Karnobat, no sudeste da Bulgária), vencendo-a, mas com tantas perdas que assinou uma trégua com os inimigos.756 a 769 – Conversações diplomáticas de Bizâncio e do papado com os Lombardos e o Reino Franco Merovíngio. Constantino V mandou 3 delegações ao rei franco Pepino III, o Breve, instando-o a condenar o culto de imagens. Chegou a haver, mesmo, em Gentilly (na Ilha de França, onde fica Paris) um concílio iconoclasta (767). Estas conversações acabaram definitivamente com a ascensão ao papado de Estevão III (em 768), que condenou o movimento iconoclástico (769).756 a 775 - 6 ofensivas militares imperiais contra a Bulgária. Em 759, ocorreu a vitória bizantina em Marcellae; em 762, em Anchialos.757 – Em março, o rei Pepino III, o Breve recebeu o embaixador bizantino Jorge em Compiègne com vários presentes (inclusive um órgão), tentando induzí-lo a entregar Ravena (que tinha sido perdida para os lombardos e que os francos se apoderaram depois). – Neste ano, o imperador implantou os

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maniqueístas na fronteira balcânica com os búlgaros; eles representaram o núcleo de formação da heresia do Bogomilismo (em 927).758 – Os eslavos da Macedônia e Trácia se rebelaram contra Bizâncio, mas foi sufocada a rebelião e, mais tarde (em 762), milhares deles foram deportados para a Bitínia.759 – Incursões muçulmanas sobre a Anatólia no tema bizantino de Armeníacos, resultando na derrota do estratego Paulo no rio Melas e em saques valiosos. ---- O imperador, após a submissão dos eslavos da Trácia Ocidental, mandou expedição militar contra os búlgaros; seu comandante, Leão da Trácia, morreu em emboscada em desfiladeiro em Beregaba (ou Veregaba) na Batalha do Passo Rishki (nas montanhas orientais dos Bálcãs); foi a maior derrota dos bizantinos até esta data.761 – Em 16 de maio, o imperador mandou executar o monge iconódulo Pedro, o Calibita e começou a perseguir todos os que se obstinaram a não obedecer às normas impostas pelo concílio realizado no palácio de Hiereia.762 - Neste ano, fugitivos eslavos foram instalados pelo imperador no tema de Opsikion. – Constantinopla recebeu a visita de embaixadores do papa Paulo I e do rei franco Pepino III, o Breve.763 – Em maio, os patriarcas de Jerusalém, Antióquia e Alexandria, reunidos em Jerusalém, excomungaram o bispo de Epifania (na Síria) por furto de vasos sagrados. Firmaram, assim, sua posição contrária às determinações iconoclásticas imperiais, condenando-as e mandando carta ao papa Paulo I sobre isto.--- O imperador Constantino V infligiu ao novo khan búlgaro Telets (que incursionara na Trácia e não tivera paciência em abordar os bizantinos em passagens de montanhas, perto de Anchialos), em 16 de junho, uma grande derrota na II Batalha de Anchialos ( na planície de Anchialos, atual Sizebulu, no golfo de Burgas), impondo-lhe um tratado de paz. Os prisioneiros foram levados para Constantinopla e mortos cruelmente no Hipódromo 764 - Estevão, o Novo, monge de mosteiro perto de Calcedônia (no Monte Saint-Auxence) se recusou a adotar o pensamento iconoclástico por pressões do imperador bizantino; foi julgado por uma comissão episcopal e depois sofreu o exílio em Proconeso (ou Ilha de Mármara, neste mar homônimo), onde sofreu martírio em 24 de novembro. ---- Neste ano, houve perseguição tenaz contra os iconódulos com confisco de mosteiros e seus monges mutilados, além da destruição de afrescos, estátuas e ícones. --- Em face do inverno rigoroso, conforme o historiador Teófano, as águas do Mar Negro ficaram congeladas, passando os blocos de gelo pelo Estreito d Bósforo, diante da capital bizantina.765 - O imperador intransigente quanto ao pensamento iconoclástico ordenou que todos os bizantinos jurassem que não são iconófilos; o primeiro a ser forçado a tal juramento foi o patriarca de Constantinopla na igreja de S. Sofia. --- Ainda em 765, mandou os emissários Anthi e Sinésio ao rei franco Pepino III, o Breve para, mais uma vez, negociar apoio à questão iconoclástica, bem como de firmar aliança matrimonial com o noivado de seu filho com a princesa Gisla, filha do rei franco; não logrou êxito nesta diplomacia.766 – Em 21 de agosto, no Hipódromo, diante da turbamulta, o imperador forçou o casamento de monges com monjas. Quatro dias depois, no mesmo local, ele mandou executar o logoteta Constantino Podopagurus e seu irmão Estratégio (conde de Opsikion) por suposta conspiração. Foi nesta ocasião que o imperador dividiu o tema de Opsikion e criou o novo chamado de Bucelário. Ainda em sua sanha iconoclástica, o imperador mandou prender, em 30 de agosto, o patriarca de Constantinopla (Constantino II), por supostas conversas com os iconódulos, sendo submetido a humilhações e decapitado em 767. Em 16 de novembro foi escolhido novo patriarca de Constantinopla: Nicetas I, eunuco de origem eslava, adepto do iconoclastismo. ---- No outono, uma fortaleza bizantina na fronteira com a Pérsia, no leste da Anatólia, a de Kamasha, foi cercada sem sucesso por tropas abássidas. ---- Neste ano: A campanha de perseguição aos iconófilos se manifestou no tema de Tracesianos ou Trakesianos (antigas eparquias da Lídia, Caria, Frígia), cujo estratego Miguel Lacanodracon mandou seus soldados saquearem todos os mosteiros da região e levou sírios jacobitas para povoar a Trácia. 767 – Em 12 de agosto, o antipapa Constantino II recebeu uma carta endereçada ao seu antecessor (Paulo I) pelos patriarcas do Oriente, incluindo o de Constantinopla, avalizando a veneração de ícones, portanto contra a Querela Iconoclasta.---- Em 15 de outubro foi decapitado o ex-patriarca de Constantinopla, Constantino II. – Neste ano: Constantino V enviou cartas e emissários aos francos e lombardos tentando conseguir sua adesão à proibição de imagens; chegou a haver até um concílio iconoclasta em Gentilly, próximo de Paris. 768 - A estas missões iconoclásticas o novo papa Estevão III (escolhido em agosto, sucedendo aos antipapas anteriores Constantino II e Filipe) se contrapôs, convocando um concílio favorável às imagens em Gentilly e acabando com a subordinação papal ao imperador bizantino.769 – Em 1 de abril foi proclamada Augusta a esposa do imperador chamada de Eudóxia. Um dia depois foi foi a vez dos filhos Nicéforo e Cristóforo serem proclamados césares. ---- Durante o verão, ocorreu a invasão do tema bizantino dos Armeníacos, na Ásia Menor, em que os árabes cercaram seu governador Sérgio em Camachum (ou Camacha, na Cilícia). Com esta invasão, a partir da Alta Mesopotâmia, foram tomadas as cidades de Germaniceia (Marash) e Samosata (às margens do Alto Eufrates), sendo suas populações deportadas. ---- Neste ano: No Concílio de Latrão se determinou o espancamento e remoção da língua do antipapa Constantino II, permanecendo enclausurado numa cela monástica e se anulando todas as suas nomeações. Se estabeleceram normas mais duras nas eleições papais para diminuir o papel da nobreza romana neste sentido. Tudo o que foi decidido no Conselho de Hiereia quanto à devoção de imagens foi ratificado. 771 – Incursão árabe no litoral anatoliano do tema (província) de Cibirreotas, quando cercaram Sycae e se saíram vitoriosos sobre armada bizantina organizada pelo imperador Constantino V, quando tentava cortar sua saída da região. 772 – Em 24 de janeiro morreu o papa Estevão III; o novo, Adriano I, em 22 de abril, deixou de se datar as bulas papais pelas datas dos imperadores bizantinos, demonstrando a continuidade da política anterior de autonomia em relação à Constantinopla.773 (772 ou 774) – Batalha de Lithosoria vencida por uma frota naval bizantina enviada ao delta do Danúbio contra os búlgaros e a instalação de guarnições militares nas fortalezas fronteiriças pressionaram o khan Telerig a um acordo de paz com Constantino V, em outubro. Os bizantinos retornaram à sua capital carregados de butim. 774 - Em fevereiro/março, na Itália, os bizantinos ajudaram Adalgiso (mais conhecido por Didier, que se refugiara em Constantinopla no ano anterior) a subir ao trono do Reino da Lombardia. Ele foi o último rei lombardo, sendo derrotado por Carlos Magno. ---- Em outubro ocorreu a Batalha de Berzitia (na Macedônia, próximo da fronteira atual entre Grécia e Albânia) entre os bizantinos e os búlgaros (sob o khan Telerig), vencida pelos primeiros (que souberam da movimentação de tropas búlgaras em Pliska, através de espiões).do Reino da Lombardia. Ele foi o último rei lombardo, sendo derrotado por Carlos Magno.775 - Recomeçaram as perseguições aos iconódulos.--- Em 14 de setembro, morreu Constantino V ao retornar da guerra na Bulgária para sua capital, subindo ao trono seu filho Leão, produto do seu primeiro casamento com uma filha do khan dos Khazares. 775 (14 de setembro) a 780 - Reinado de Leão IV, o Khazar, filho de Constantino V e Irene de Khazária. --- Logo após a sua posse, Leão IV, cegou, tonsurou e exilou seus meio-irmãos, Nicéforo e Cristóvão (do terceiro casamento de seu pai), como eventuais herdeiros do trono.--- Continuou a política iconoclástica do pai, mesmo tendo uma esposa iconódula, a ateniense Irene.775 a 886 - Segundo o historiador Rodolphe Guilland, este foi o período em que o Império Bizantino adquiriu sua maturidade, condicionando o apogeu do império sob a Dinastia Macedônica (que se iniciou em 867).776 –14 de abril, domingo de Páscoa: Leão IV associou ao trono o seu filho Constantino (futuro Constantino VI). Em maio, exilou os dois Césares por acusação de armarem golpe de Estado contra ele. ---- O imperador realizou incursões sobre a Síria do Norte, penetrando até a cidade de Samosate; revidando, os árabes invadiram o império até Ancira (atual Ancara, na Ásia Menor. 777 - Batismo do khan búlgaro Telerig em Constantinopla, onde se casou com uma princesa bizantina e obteve o título de patrício. Com seu exílio em Constantinopla, sucedeu-o Kardam na Bulgária. 778 e 780 - O califado abássida de Al-Mahdi sofreu derrotas fragorosas frente aos bizantinos, comandados por Miguel Lacanodrakôn, nos temas da Cilícia (próximo de Germanicia) e de Armeníacos, respectivamente. Após estas vitórias, sírios jacobitas foram instalados na Trácia.780 – Em 6 de fevereiro, ao morrer o patriarca Nicetas foi sucedido por Paulo de Chipre, obrigado a abjurar o culto de imagens. Logo depois, o imperador mandou chicotear 5 altos funcionários palacianos por terem colocado secretamente imagens no quarto da imperatriz. --- Em 8 de

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setembro, ocorreu a morte súbita de Leão IV vitimado pelo carbúnculo (infecção que necrosa o tecido cutâneo) em Strongylon, em campanha militar na Bulgária. --- Querela sucessória entre Constantino VI (com apenas 10 anos) e Nicéforo (este apoiado pela mãe, a regente Irene, ambiciosa de poder).780 (8 de setembro) a 797 - Reinado de Constantino VI, o Cego (após revolta em 797). Teve como regente sua mãe Irene, auxiliada pelos eunucos Staurakios e Aécio (logotetas do dromo, ou dos negócios estrangeiros) e Tarasios (escritório da chancelaria); ela, por sua vez, deixou de ser iconoclasta.780 (continuação) – Em 18 de outubro, houve uma tentativa, por parte do estratego de Armeníacos (Bardas), de colocar no trono o meio-írmão do imperador, Nicéforo.781 – Em fevereiro, o governador da Sicília, Elpídio, foi ratificado em seu poder. Em abril, entretanto, se descobriu que ele participou no complô a favor de Nicéforo. Em face disso, ele foi chamado pela imperatriz Irene de volta para Constantinopla, mas ele se recusou; sendo, então, declarado rebelde (em 782), se refugiando na África do Norte.---- A imperatriz-regente Irene, em abril, entrou em entendimentos com o imperador franco Carlos Magno para fazer de sua filha Rotrude a noiva de Constantino VI. Para isto, foi enviado até um eunuco (Elissaios) para ensinar grego à princesa.---- A imperatriz-regente bizantina Irene foi obrigada a assinar um acordo pagando um pesado imposto ao califa Al-Mahdi, porque as fronteiras imperiais, já desguarnecidas, estavam ameaçadas mais ainda pela criação, por Harun al-Raschid (filho do califa), de uma Marcha militar ao redor de Tarso (entre a Cilícia e a Síria) com uma guarnição e com habitantes vindos de Khorassan.782 – Em retaliação ao saque de Hadath (em 779) o califa al-Mahdi mandou seu filho Harun al-Rashid e o general Yazid ibn al-Mayzad Shaybani em uma segunda campanha militar à Ásia Menor, derrotando as forças bizantinas (comandadas por Staurakios e João Lacanodrakon) na Batalha de Nicomédia (Izmit atual) e chegou com suas tropas até Scutari (ou Crisópolis), bem perto de Constantinopla (na outra margem do Estreito de Bósforo). Quando retornava de sua campanha (pelo vale do rio Sangarius) foi preso pelos bizantinos, mas, em face da deserção de Tatzates, fugindo para a Armênia, Harun al-Rashid reverteu a situação: foram presos o generalíssimo Antônio e o ministro eunuco Staurakios. A regente Irene de Atenas foi forçada a assinar uma trégua de 3 anos e pagar um resgate pelos aprisionados. 783 - Expedição militar vitoriosa sob o comando do eunuco Staurakios, contra os eslavos da Grécia meridional e no Peloponeso. ---- Piratas árabes procedentes da Ilha de Creta, invadiram a ilha de Chipre e capturaram seu governador.784 – Em janeiro, o eunuco Staurakios foi recebido solenemente em Constantinopla, no retorno de sua expedição à Grécia. – Em maio, Irene acompanhada de seu filho imperador, se dirigiu à Trácia, onde se procedeu à reconstrução de Filipópolis e Berroea, além do repovoamento dos vales do Hebro e do Strimon e a reconstrução da fortaleza de Anchialos. ---- Em 31 de agosto, o patriarca Paulo IV (que jurara contra as imagens no governo anterior) se exonerou de sua função, sendo sucedido por Tarasio, por influência de Irene, no dia de Natal. – Neste ano, após negociar com os bispos bizantinos, a regente Irene e o patriarca Tarasio mandaram uma carta ao papa Adriano I pedindo a convocação de um concílio sobre as imagens. Esta missiva apenas chegou às mãos do papa em 785. 784 a 813 - Restauração do culto de imagens no Império Bizantino.785 – Em 29 de agosto, o papa Adriano I respondeu à carta enviada, aceitando o convite feito e prometendo enviar representantes ao concílio. ---- Višeslav tornou-se o primeiro duque da Croácia, governando com o apoio do Império Bizantino e do papa Adriano I786 - Na Igreja dos Santos Apóstolos, na capital bizantina, se reuniu um concílio ecumênico, mas os bispos aí reunidos foram dispersos por soldados a mando de outros bispos e dos chefes da guarda imperial. A regente desarticulou este complô com a chamada de tropas da Trácia. 787 – Na primavera, foram cortados os entendimentos matrimoniais pela imperatriz-regente Irene com o Império Franco. ---- De 24 de setembro a 13 de outubro, se reuniu o II Concílio Ecumênico de Niceia com a presença do patriarca Tarásio, de legados papais e de centenas de bispos. Se condenaram todas as determinações do concílio iconoclasta anterior e se restabeleceu o culto das imagens; além disso, se restringiu a autoridade do poder temporal em sua interferência nas eleições de bispos. Esta norma serviu de balisa às reformas pretendidas pelos Studitas. Dez dias após a conclusão do concílio, o clero presente no mesmo se reuniu no palácio de Magnaura (em Constantinopla) colocando a regente Irene a par das decisões conciliares. O imperador Carlos Magno, no entanto, não avalizou todas estas decisões e incumbiu teólogos de elaborar uma réplica (os ‘Libri Carolini’) contra o concílio, mandada depois para o papa. ---- O duque de Benevento, Arichis II, foi vencido pelos francos e mandou seu filho Grimoal como refém a Carlos Magno. Quando este partiu de Benevento, ele firmou um acordo de cooperação militar com Bizâncio, recebendo o título de patrício e representante imperial bizantino junto ao papa. 788 – Em 20 de janeiro, desembarcou uma embaixada bizantina em Salerno (na Sicília). Pouco antes houve um acordo na Lucania, acertando uma ação militar conjunta do Ducado de Benevento contra Roma e o Império Franco. Ao saber desta urdidura, o papa Adriano I transmitiu ao imperador Carlos Magno o assunto. Na primavera, a imperatriz-regente Irene mandou uma armada para Calábria (sul da Itália) e ofereceu ajuda militar ao Ducado de Benevento contra os francos, tendo a frente o filho do finado rei lombardo Didier (ou Adalgiso). Este não conseguiu angariar ajuda dos lombardos; em contraponto, Grimoaldo (que ficara como refém na corte franca) junto com o duque de Spoleto, Hildebrando, foram mandados por Carlos Magno para combater os bizantinos, expulsando-os da Itália. Grimoaldo foi alçado ao cargo de duque de Benevento, como vassalo dos francos. Estes, por sua vez, se apossaram da península de Ístria (a nordeste da Itália, pertencente aos bizantinos). ---- Em setembro, tropas bizantinas dos temas Opsikion e Anatólicos sofreram revés em Podandus, na Capadócia, na Batalha de Kopidnados, diante de uma investida árabe, em que morreu o oficial Diógenes. Este personagem foi a semente de um poema épico do século XII, ‘Diogenis Akritas’. ---- Em novembro, a regente Irene e seu ministro, o eunuco Staurakios, desmancharam o noivado de Constantino VI com uma filha do imperador franco Carlos Magno e o constrangeram a se casar com Maria, a Armênia, escolhida num concurso de beleza (para escolha de imperatrizes) promovido por Staurakios. Deste casamento, nasceram dois filhos: Miguel (futuro Miguel II) e Irene (homônima da avó). ---- Neste ano: Os búlgaros armaram um emboscada no vale do Strimon (ou Struma) contra as tropas do estratego da Trácia, Fileto, matando-o no entrevero. 789 – Em fevereiro mais um terremoto abalou a capital bizantina. ---- Neste ano: Os búlgaros avançaram na Trácia através do rio Strymon, saqueando e matando o estratego Filites da Trácia. ---- Foi criado um novo tema ou província imperial: o da Macedônia, a oeste da Trácia, a fim de guarnecer melhor o império contra os búlgaros. Sua capital era Andrinopla e sua abrangência territorial compreendia parcialmente a Trácia Oriental (na Turquia européia atual), a Trácia Ocidental (na Grécia atual) e o extremo sul da Trácia Setentrional (sul da atual Bulgária). 790-791 – Constantino VI se manifestou contra o casamento com Maria, a Armênia; por isto chegou a sofrer chicotadas (em setembro) e sua mãe tentou sublevar as tropas presentes a não reconhecê-lo. As armadas da Ásia Menor (sob a liderança do tema de Armeníacos) não a reconheceram como basilissa, sendo internada em um palácio (o de Eleutheria), enquanto o ministro Staurakios foi tonsurado ou tosquiado (cabelo da cabeça cortado rente à pele) e exilado.791 - O imperador bizantino Constantino VI promoveu uma incursão militar na Anatólia até a cidade de Tarso, na Cilícia, sem nenhuma resistência árabe, mas não conseguiu nenhum resultado prático de sua iniciativa. ---- A fim de distrair a atenção búlgara da Macedônia e de se vingar da morte do estratego Filites da Trácia, o imperador bizantino Constantino VI iniciou uma campanha no norte da Trácia, em abril de 791. Os exércitos se encontraram perto da fortaleza de Provat (20 km a leste de Odrin) e os bizantinos foram forçados a recuar, mas sua derrota não foi decisiva.791-796 - Expedições bizantinas fracassadas contra os búlgaros.792 – Em 15 de janeiro, o basileus chamou sua mãe de volta ao palácio imperial, lhe concedendo o título de Augusta, bem como autorizou o retorno do eunuco Staurakios. Irrompeu uma revolta no tema de Armeníacos: as tropas foram deslocadas para o tema do Ponto e seu estratego Aleixo Mosele foi encarcerado. – O imperador atacou os búlgaros, seguindo orientação de um astrólogo de que teria sucesso: foi vencido na II Batalha de Marcellai, em 20 de julho, frente ao khan Kardan. Este se assenhoreou dos suprimentos e do tesouro dos bizantinos e perseguiu o imperador até perto de Constaninopla. Esta derrota repercutiu mal em suas tropas: foi tramado um golpe de Estado, em 13 de agosto, para colocar no trono o seu tio Nicéforo. Descoberto o complô, mandou cortar a língua de seus 4 irmãos uterinos e de Nicéforo (seu irmão primogênito) e de seus tios pelo lado materno (incluindo Aleixo Mosele).

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792 - 793 – Em novembro, em face dos acontecimentos relativos ao complô para deposição do imperador e sua dura reação, os Armeníacos se rebelaram entre novembro de 792 e maio de 793; sua revolta foi sufocada pelo imperador em pessoa e foram castigados por traição.794 – Os prelados francos reunidos no Concílio de Frankfurt repeliram as normas de independência eclesiástica quanto à escola de bispos que foi objeto de resoluções tomadas pelo clero bizantino no Concílio de Niceia, 7 anos antes.795 – Em janeiro, Constantino VI se divorciou de Maria, a Armênia, por ter suposto sua participação no complô de 792 contra ele e a internou em convento. Na realidade, pretendia se casar com uma dama de companhia de sua mãe Irene chamada Teodota, que foi coroada imperatriz em agosto, se casando com ela no Palácio de Santo-Mamas em 4 de setembro. Tal separação contou com o apoio do patriarca, mas não do clero em geral. ---- Em 8 de agosto, o imperador venceu os muçulmanos em Anusan (no sul da Anatólia) e, ao chegar no porto de Éfeso (onde havia uma grande comunidade judaica) determinou a diminuição dos direitos alfandegários destes últimos.796 – A ex-regente do trono e então Augusta, Irene, se aproveitou da situação de antipatia criada pelo segundo casamento do seu filho e da sua ausência por ter ido visitar as ricas águas termais de Brussa (na Bitínia) para realizar seu desejo de usurpar-lhe o poder, incitando a guarda imperial contra ele em outubro.797 – Em março, o ‘higumeno’ (superior) do mosteiro de Sakkudion (em Bitínia) e seu sobrinho Teodoro se rebelaram ao segundo casamento do imperador; por isto foram presos, sendo exilado Teodoro em Tessalônica. --- Enquanto Constantino VI estava comandando uma expedição militar contra os árabes em março, sua mãe e Staurakios novamente atiçaram as tropas a traírem seu filho; em junho, tentaram pela primeira vez prender Constantino VI, não o conseguindo devido à cobertura militar feita a ele pelos temas do Oriente. Foi, no entanto, traído por seu alto comando e levado para Constantinopla, onde foi condenado por bigamia (em 15 de agosto) e cegado na cama púrpura em Porfira, onde nascera. Depois foi executado por ordem de sua mãe, que se apoderou do trono em 16 de agosto. A partir daí, o império se debateu em grave crise financeira e política. Nesta ocasião houve 17 dias de eclipse do Sol e de escuridão, atribuindo-se a isto a maldição do inferno, segundo a crença popular. ---- Os búlgaros se aproveitaram das tramas internas no Império Bizantino para alargar seus domínios na Valáquia, Bessarábia, vale do Dniester e na Transilvânia.797 (16 de Agosto) a 802 - Reino da usurpadora Irene, a Ateniense. Foi a primeira mulher a exercer o poder no Império Bizantino. Uma de suas primeiras medidas foi a de soltar Platão e chamar de volta seu sobrinho Teodoro para Constantino, instalando-os com seus monges no convento de Studios, na capital.797 (continuação) - A imperatriz bizantina Irene permaneceu impassível diante da incursão do califa na Ásia Menor, se apoderando de Amorium e erguendo uma Marcha militar perto de Tarso, entre a Cilícia e a Síria, que foi povoada por gente vinda de Khorassan, criando uma situação de perigo e instabilidade na fronteira dos dois impérios. Além disso, a imperatriz renovou o tratado de 781, pagando tributo aos árabes.797 e 799 - Embaixadas bizantinas enviadas à capital dos francos (Aix-la-Chapelle) fracassaram na tentativa de casamento entre a imperatriz-usurpadora Irene e o imperador Carlos Magno.798 - Irene favoreceu o comércio nos Bálcãs. ---- Neste ano, como já tinham efetuado em 781, tropas árabes fizeram incursão no Império Bizantino chegando novamente até o Estreito de Bósforo, portanto, perto da capital. Foram capturados os cavalos da estrebaria imperial de Malagina (ao norte da Bitínia, junto ao rio Sangario) e de Staurakios (eunuco bizantino que era um dos ministros da imperatriz Irene, a ateniense); além disso, saquearam a Lídia e venceram fulminantemente as prestigiadas tropas bizantinas do tema de Opsikion (a noroeste da Anatólia, junto à capital). Por outro lado, ergueram uma Marcha perto de Tarso (entre a Cilícia e a Síria), que foi povoada por gente vinda de Khorassan, criando uma situação de perigo e instabilidade na fronteira dos 2 impérios. Em vista desta situação, a imperatriz assinou uma trégua de 4 anos com o califa Harun al-Raschid; pagando-lhe um imposto anual. ---- No outono, a imperatriz mandou embaixadores à capital dos francos (Aix-la-Chapelle, antiga Aquisgrana, hoje Aachen, na Alemanha) comunicando a deposição de Constantino VI e a proposta de casamento entre a imperatriz e Carlos Magno; este ocupou Istria e Benevento.799 – Em fevereiro, o eunuco e ministro Staurakios tentou vãmente tomar o trono, enquanto a imperatriz estava doente. ---- Em 1 de abril, Irene passeou com trajes púrpuras imperiais nas ruas da capital num veículo puxado por 4 cavalos brancos e se intitulou ‘basileus’ (imperador).800 – Há registros comprovando que os sírios já não falavam grego (lembrança do período bizantino) nesta época, mas o árabe. ---- O maior golpe diplomático sofrido pelo Império Bizantino em sua área ocidental foi a coroação de Carlos Magno em 25 de dezembro como ‘imperador do Ocidente’, equiparando-o ao de ‘basileus’ como era denominado o imperador bizantino. O prestígio internacional de Carlos Magno mantendo relações diplomáticas com o califa Harun-al-Raschid aguçava mais ainda este sentimento de inferioridade de Constantinopla. Neste mês ainda, o patriarca Jorge I de Jerusalém reconheceu Carlos Magno como protetor dos Lugares Santos, enviando-lhe as chaves da cidade como sinal deste reconhecimento. No fim deste século despontou uma cultura realmente bizantina, se prolongando até o fim do século XII. É, no entanto, uma cultura eminentemente da elite política e religiosa. Seus expoentes foram Inácio (o Diácrio), o patriarca Fócio, João Gramático, o imperador Constantino VII Porfirogeneta, Miguel Psellos. Por outro lado, no final do século, ocorreu uma crise financeira, antecedendo uma crise política até os dois decênios do século IX com 3 imperadores neste período.

SÉCULO IX Na primeira metade do século a Europa Ocidental sofreu as incursões dos piratas vikings ao norte, dos árabes do norte da África no Mar Mediterrâneo e dos Narentanos (comerciantes de escravos) do arquipélago perto do litoral da Dalmácia no Mar Adriático, dificultando o seu comércio marítimo internacional, inclusive com os bizantinos. No final do século, os magiares ou húngaros atacaram a Itália, depois a Alemanha e a França. O fim da Querela das Imagens e uma melhoria das condições políticas e sociais foram as bases da identidade religiosa bizantina com sua ortodoxia balizada pelo imperador e pelo patriarca. Na primeira metade deste século o império perdeu a Sicília aos árabes do norte da África. Na segunda metade, houve o primeiro cisma entre as igrejas de Roma e Constantinopla (867/868). Neste século e se estendendo ao século X, a Anatólia e a capital foram as áreas de ação dominadora das famílias aristocráticas, atuando poderosamente na política e na economia agrícola do império. 801 - O eunuco e ministro Staurakios (que exercia grande influência no palácio imperial, juntamente com outro eunuco, Aécio) morreu de cólera.802 – Em agosto, uma embaixada (sob o comando do conde Helmgau e do bispo Jessé de Amiens) do imperador Carlos Magno chegou à Constantinopla propondo a aliança matrimonial entre os dois impérios. ---- Em 31 de outubro, ocorreu a derrubada de Irene pelos iconoclastas e pela aristocracia por um golpe de estado, sendo aclamado imperador Nicéforo I, o ‘Logoteta’ ou ‘supervisor da caixa do governo’ por assembléia de altos funcionários imperiais. 802 A 820 - Dinastia dos Focas - inexpressiva não só pela pequena duração, como pelas derrotas e questões palacianas (usurpação do trono por umas vinte vezes). Os Focas eram uma das famílias aristocráticas que possuíam latifúndios na Ásia Menor. 802 (31 de outubro) a 811 - Reinado de Nicéforo I agitado pelos partidos dos iconoclastas (formado por alguns bispos e pelos temas da Anatólia oriental), dos reformadores do Estado e da Igreja (iconódulos como os Studitas, sob a liderança do abade Teodoro, que não só lutavam pelo culto das imagens, mas também pela obediência às normas da Igreja tanto pelo clero como pelos leigos e pela família imperial) e da ordem e ortodoxia (cultuavam as imagens, mas pretendiam acabar com as rebeliões e desvios religiosos como o de se tornar monge apenas sendo do alto clero ou da alta burocracia estatal). Este último era o partido do novo imperador. --- Durante o seu governo foram suprimidos todos os privilégios tributários conferidos às propriedades da Igreja.802 (continuação) – Em 1 de novembro, foi coroado o novo imperador, que mandou exilar a ex-basilissa Irene para uma das ilhas dos Príncipes (arquipélago no Mar de Mármara, hoje denominado Adalar) e, em seguida, para Lesbos, onde morreu em 803. 802 a 842 - Os três partidos citados acima estiveram presentes no poder imperial neste período.

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803 – De 11 de julho a 13 de agosto, esteve em Salz (na Alemanha atual) uma embaixada bizantina negociando um projeto de tratado de paz com o imperador Carlos Magno e acertando suas fronteiras. Foi, então, assinada a ‘Pax Nicephori’, cujo valor efetivo foi em 810, pela qual se reconheceram seus limites e as fronteiras no Mar Adriático. ---- Em julho, um exército abássida tendo a frente um filho do califa Harum al-Rashid (Al-Qasim) invadiu a fronteira. Como o imperador Nicéforo I tinha fraturado o pé em maio, mandou o general Bardonios Turkos (comandante dos 5 temas da Ásia Menor) contra os árabes, chegando até Crisópolis (ou Scutari, hoje Üsküdar, na Turquia). Depois disto, no entanto, este general se revoltou contra Nicéforo I e avançou em direção à capital bizantina com suas tropas, mas não teve apoio, e foi entregue ao imperador pelos seus revoltados lugares-tenentes, em 19 de julho. Ele foi internado num convento e cegado. –– Em dezembro, o imperador associou seu filho Staurakios ao trono. ---- Neste ano: O Império Bizantino reconheceu a autonomia de Veneza. 804 – O imperador Nicéforo I se recusou a continuar o pagamento de tributos ao Abássida Harum-al-Raschid, que revidou incursionando sobre a Ásia Menor até Ancira e devastando as ilhas de Chipre e Rodes. Em agosto, Nicéforo I foi atacado de surpresa em Krases (na Batalha de Krases ou Crasus), na Frígia e foi vencido. Teve que assinar um acordo pelo qual o califa Harum al-Rashid (em face de tumultos em Khorassan) aceitou o pagamento de tributo bizantino e troca mútua de prisioneiros. 805 - Armadas bizantinas conseguiram resgatar o Peloponeso, após vencerem os sublevados eslavos (com auxílio dos sarracenos) em Patras. Estes foram obrigados a pagar taxas à igreja local de S. André. Este fato marca o início do processo de bizantinização da região. ---- Em dezembro, Venécia, no norte da Itália, pertencente aos bizantinos, foi ocupada por Pepino da Itália (um dos filhos de Carlos Magno).---- O patriarca de Aquileia (nordeste da Itália) mandou missionários francos à Croácia, batizando seu rei Vojnomir e convertendo seu povo, abalando o prestígio bizantino na Itália. 806 - Os Studitas Platão e Teodoro passaram a fazer oposição ao imperador após a morte do Patriarca Tarásio (em 18 de fevereiro); em 12 de abril, a nomeação do novo patriarca, o monge Nicéforo, não teve seu apoio. --- Desde 803, o imperador bizantino Nicéforo I se recusou a pagar imposto ao califado, valendo-lhe represálias. Por causa disto e dos ataques bizantinos na fronteira, Harun al-Rashid comandou a maior operação militar contra Bizâncio até então: atacou Ancyra (Ancara). Em agosto/setembro se sobrepôs aos bizantinos na Batalha de Heracleia Cybistra (ou Eregli), tomando esta cidade, saqueando e arrasando-a e escravizando sua população. Alem disso: as ilhas de Chipre e Rodes foram devastadas; e ocupou a cidade de Tyane (no tema da Capadócia), no caminho de Cesareia, tornando-a base de operações contra os bizantinos e construindo até uma mesquita aí. Diante disso, o imperador prometeu pagar tributos, mas não cumpriu sua promessa posteriormente. --- A Dalmácia caiu sob o Império Carolíngio neste ano. 807 - Em janeiro, uma frota naval bizantina conseguiu retomar Venécia e a Dalmácia no Mar Adriático ao Império Carolíngio. Em agosto, o rei da Itália, Pepino (segundo filho de Carlos Magno) negociou uma trégua com a frota bizantina. – Em setembro, o imperador bizantino Nicéforo I, após um ataque muçulmano à Ilha de Rodes, se comprometeu a pagar tributo ao califado. – Em 20 de dezembro, o imperador-associado e filho de Nicéforo I, Staurakios, se casou com Teófano, de origem ateniense. ---- No dia de Natal, 25 de dezembro, reacendeu-se a polêmica em Jerusalém entre os monges de São Sabas e os beneditinos do Monte das Oliveiras sobre o termo ‘filioque’ (‘e do Filho’) existente no Credo (ainda rezado nas missas das igrejas católicas); tal polêmica criou uma querela teológica entre o patriarcado de Constantinopla e o papado em Roma. ---- Neste ano: Vitória do czar Krum (dos búlgaros da Panônia, que auxiliaram Carlos Magno a destruir os Ávaros em 796) sobre os bizantinos na Macedônia. ---- Os habitantes de Patras (no Peloponeso, Grécia) conseguiram levantar o cerco da cidade feito pelos eslavos e por uma frota árabe (no Estreito de Corinto), antes que houvesse a intervenção bizantina. ---- Foi neste ano que os eslavos do Peloponeso foram convertidos ao cristianismo, após o estabelecimento de um estratego em Corinto.808 – Em fevereiro, o imperador sofreu a segunda tentativa de golpe de Estado, agora sob a égide do patrício Arsaber (irmão de Teodósia), que fracassou em seu intento. ---- Neste ano, o Mosteiro de Studion foi tomado pelas tropas imperiais.809 – Em janeiro, em um sínodo, Nicéforo I considerou legal o duplo casamento de Constantino VI, despertando a animosidade dos monges Studitas, tendo à sua frente Teodoro; estes foram condenados e exilados. ---- Em 8 de abril, os búlgaros, sob o comando do khan Krum, o Horrível) massacraram a guarnição bizantina na Batalha de Serdica (atual Sofia, ponto de encruzilhada de rotas na região) e a ocuparam; o imperador tentou sem sucesso retomá-la. Esta cidade passou a ser o núcleo de operações militares búlgaras de conquista do sul da região. – Neste ano: O papa Leão III, quando solicitado pelo Concílio de Aachen (antes Aix-la-Chapelle, uma das capitais do Império Carolíngio) realizado neste ano, determinou a proibição de acrescentar o ‘Filioque’ ao Credo de Niceia (medida tomada por ele em placas de prata colocadas na Basílica de S. Pedro). ---- Com a morte do califa Harun al-Rashid (e a guerra civil dela decorrente) e os conflitos constantes de Bizâncio com os búlgaros cessou por duas décadas a Guerra Árabe-Bizantina. 810 - O filho do imperador Carlos Magno, Pepino (rei da Itália), reconquistou Venécia e Ístria aos bizantinos, durante a primavera. Os moradores da laguna de Venécia foram forçados a ir para a Ilha de Rialto, que foi cercada por Pepino. A sede do governo local, diante da ameaça franca, passou de Malamocco para Rialto: foi o início da formação da atual cidade de Veneza, que pediu a cobertura bizantina para se opor aos francos. No verão, uma frota bizantina sob o comando do prefeito de Cefalônia obrigou Pepino a suspender o cerco. ---- Em 1 de outubro, o imperador Nicéforo I sofreu uma tentativa de assassinato por parte de um monge, que foi preso e colocado num asilo de loucos.---- Ainda neste mês, o imperador mandou uma embaixada a Aix-la-Chapelle, com o fito de finalizar o tratado de paz com Carlos Magno. Bizâncio conseguiu ficar com Veneza, a Liburnia, a Ístria e a Dalmácia.811- O imperador Nicéforo I aumentou a carga fiscal para arregimentar uma grande armada contra os búlgaros. O rei Krum destes últimos tentou fazer um acordo com ele, sem sucesso. O imperador e Staurakios passaram pela Mésia, atacaram e pilharam a residência real búlgara, mas entraram em uma área pantanosa e sofreram uma derrota humilhante na Batalha de Pliska (no passo de Verbitza ou Varbica, no dia 25 de julho, onde foram emboscados) diante de Krum, que saqueou e destruiu Pliska e avançou sobre a Trácia. Nicéforo morreu nesta batalha (Krum fez de seu crânio uma taça grande para bebidas) e Staurakios foi ferido no pescoço, voltou para a capital onde foi coroado imperador. Esta foi a maior derrota bizantina diante dos búlgaros. 811 (de 26 de julho a 1 de outubro) - Curto reinado de Staurakios, filho de Nicéforo I com Procópia.811 – Na primavera foi eleito doge de Veneza Ângelo Partecipatus, que pendia para o lado dos bizantinos. Ao retornar a missão diplomática bizantina, junto com emissários de Carlos Magno, para a capital bizantina, já era imperador Miguel I Rhangabe (em 1 de outubro, Staurakios, abdicou sem herdeiro e foi para um convento. Como estava fraco pelos ferimentos na Batalha de Pliska contra os búlgaros, morreu em 11 de janeiro de 812.811 (1 de outubro) a 813 (10 de julho) - Reinado de 22 meses de Miguel I Rhangabe. Era casado com a filha de Nicéforo I chamada Procópia. Iconódulo, chamou de volta os Studitas (e com eles o partido reformista), despertando animosidade da armada oriental da Ásia Menor. Teve um governo perdulário, arrasando as finanças estatais.811 (continuação) – Em 25 de dezembro, o novo imperador bizantino mandou emissários à capital franca (Aix-la-Chapelle) para reconhecer o título imperial de Carlos Magno.812 - Tratado de Aix-la-Chapelle, em 13 de janeiro, entre Bizâncio e o Império Franco, pelo qual a Dalmácia e a Ilíria (no Mar Adriático) foram divididas entre si: a Croácia Branca (ou Meridional, ou Dalmácia) para os francos (até 823, quando ficou sob influência dos búlgaros) e a Ilíria, com suas 3 ilhas e cinco cidades Split, Dubrovnik, Zadar, Trogir e Kotor, para Bizâncio; além disso, Veneza ficou com o litoral da Dalmácia. Bizâncio, porém, não conseguiu manter sua posse em face da independência dos eslavos meridionais (formando seus próprios Estados), bem como pelas ‘razzias’ de corsários dos Narentans que infestavam o Adriático a partir do arquipélago da Dalmácia e pela fraqueza de sua frota naval. Carlos Magno foi reconhecido como Imperador do Ocidente –Enquanto isto acontecia no Ocidente, o imperador Miguel I, em 17 de junho, junto com Procópio, avançou com suas tropas contra o búlgaro Krum (que tinha conquistado antes Develt no golfo de Burgas, no Mar Negro, destruiu a esta cidade e deportou seus habitantes), mas houve a insubordinação das mesmas, facilitando a incursão do khan búlgaro sobre a Trácia, saqueando-a e provocando a debandada de sua população (junho-agosto). O imperador diante disto aceitou negociar um tratado, mas não o cumpriu. Krum, retaliando, se apoderou de Mesembria (hoje Nessebar, no litoral ocidental do Mar Negro), incorporando-a ao I Império Búlgaro. A partir de novembro, o imperador

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começou a preparar um exército com tropas dos temas do Ásia e Europa para fazer frente aos búlgaros. – A Sicília, governada pelo estratego bizantino Gregório, sofreu a invasão dos Aglábidas e pediu ajuda da República de Amalfi (no litoral do Mar Tirreno) para defendê-la. 813 - Miguel I, em 1 de maio, com a armada dos temas orientais da Anatólia, partiu para o confronto com os búlgaros. Em 22 de junho, sofreu derrota acachapante frente ao khan búlgaro Krum na Batalha de Versinikia (entre Adrianópolis e Malamirovo, na Trácia), devido à defecção das tropas armênias sob o comando de Leão e à traição dos estrategos do temas bizantinos do oriente da Anatólia. Miguel I debandou para a sua capital. A armada bizantina se insubordinou e depôs Miguel I, proclamando imperador em 10 de julho a Leão V, o Armênio, estratego do tema de Anatólicos, entrando em Constantinopla sem nenhuma dificuldade. Miguel I foi internado em convento na Ilha de Plati. 813 (10 de julho) a 820 - Reinado de Leão V, o Armênio, que iniciou II fase da Questão Iconoclástica, visto que estava ligado aos temas da Ásia Menor, que eram contrárias à devoção das imagens. Renovou tratado franco-bizantino. 813 (continuação) - Poucos dias depois da coroação de Leão V, o khan Krum (em 17 de julho) cercou Constantinopla (criando pânico na população praticando sacrifícios humanos junto às suas muralhas), acampou fora das muralhas, saqueou seus subúrbios e o Estreito de Bósforo e destruiu Selímbria. Ao voltar para a Bulgária, cercou e tomou e saqueou Andrinopla, deportando seus moradores (que sucumbiram diante da fome pela qual estavam passando durante o cerco) para a Bulgária, junto ao Danúbio, após a batalha de Adrianópolis (outro nome para Andrinopla), no outono. ---- No Natal, Leão V associou ao trono o seu filho Symbatios, que passou a ter o nome de Constantino. ---- Ashot I Bagratuni se tornou o primeiro mandatário da Dinastia Bagrátida Georgiana como Príncipe da Ibéria do Cáucaso sob a proteção do Império Bizantino. ---- Ainda neste ano: Segundo a tradição iniciou-se neste ano a peregrinação a S. Tiago de Compostela, quando o eremita Pelágio descobriu a tumba deste santo na Galícia; sendo depois ratificado pelo bispo de Eira Flavia (em Braga) e pelo papa Leão III. 813 a 842 - Segunda fase da Querela das Imagens.814 – Ao iniciar-se este ano, uma delegação diplomática bizantina esteve na corte do imperador franco, Luís, o Piedoso, para negociar uma aliança contra os búlgaros. ----. Na Bulgária, Krum morreu abruptamente de hemorragia cerebral (13/4) antes de tentar de novo cercar Constantinopla (como pretendia e se preparara) sendo sucedido pelo filho Omortag. – No dia de Natal, foi convocado um concílio em Constantinopla pelo patriarca Nicéforo I (depois santificado por ser ardoroso defensor das imagens e, por isto, ser perseguido) para condenar o bispo Antonio, metropolita de Sileia, na Panfília (ao sul do Monte Taurus).814 a 820 – Foi proibida a atividade comercial dos bizantinos com os muçulmanos da Síria e do Egito pelo imperador Leão V, o Armênio.815 – Em 6 de janeiro, o imperador demonstrou claramente sua tendência iconoclástica ao não se ajoelhar diante da imagem de Cristo crucificado em cerimônia religiosa (este dia é até hoje consagrado à Epifania, quando o Menino Jesus recebeu a visita dos Reis Magos em Belém). Em fevereiro foi convocado um concílio em Constantinopla para ratificar a iconoclastia. No Concílio de S. Sofia se ratificaram as determinações iconoclásticas de 754 e se proibiu de novo o culto das imagens, acarretando a revolta dos Studitas, muitos dos quais foram perseguidos e exilados (como o seu líder Teodoro de Studion). O imperador Leão V, em 13 de março, retaliando, depôs e exilou o patriarca de Constantinopla (Nicéforo I) e nomeou um iconoclasta leigo, Teodoto Melisseno Cassiteras, em 1 de abril (dia de Páscoa). Neste dia, mais um concílio se reuniu no Palácio de Blachernes (na capital) definindo a doutrina iconoclástica e ratificando a perseguição aos iconódulos. Neste concílio João VII o ‘Gramático’ (‘Professor’) quebrou um ícone diante de todos, para demonstrar sua adesão à política religiosa imperial.815-816 – Leão V retomou o porto de Mesembria aos búlgaros. No inverno de 815/16 se assinou uma trégua de 30 anos com o khan Omortag e se fixou a fronteira na Trácia acompanhando o baixo e médio vale do Maritza (entre Adrianópolis e Plovdiv), a troca de prisioneiros e de populações de fronteira (como os eslavos). Omortag tornou seu reino mais permeável à cultura bizantina.817 – Uma vítima ilustre da perseguição ao culto das imagens: o nobre Teófano, o Confessor, que se tornou monge iconódulo, preso em 815 em Eleutério (Constantinopla) e exilado na ilha da Samotrácia, onde morreu neste ano. Foi também historiador.819 - Teodoro, o Studita, foi transferido da Bitínia para Esmirna; mesmo assim pode escrever para o papa Pascoal I e aos 3 patriarcas do Oriente.820- Um dos amigos do basileus Leão V (Miguel, o Amoriano) organizou um motim para depô-lo; foi descoberto e condenado à morte, mas a sentença não foi efetivada porque no dia de Natal seus partidários invadiram o palácio imperial e mataram Leão V. O amotinado Miguel foi aclamado imperador e sagrado pelo patriarca. 820 (25 de dezembro) a 829 ( 1 de outubro) - Governo de Miguel II, o Gago, ou o Amoriano (na Frígia), provindo daí o nome da dinastia. Criou nova dinastia e colocou um termo final às revoltas. Logo ao ascender ao trono associou o seu filho Teófilo (do primeiro casamento com Tecla, esta filha do estratego Bardanios Staurakios, de Armeníacos) ao poder. Determinou a proibição de discussões a respeito do culto de imagens e chamou de volta ao império os que foram exilados por causa disto. 820 a 867 - Dinastia Frígia (ou Amoriana).821- Em 12 de maio, Miguel II associou ao trono o seu filho Teófilo; neste mesmo dia, este último se casou com Teodora, que tinha sido escolhida num concurso de beleza. ---- O general Tomás, o Eslavo (que lutara ao lado de Bardanios Turkos contra Nicéforo I e se refugiara junto aos muçulmanos) se proclamou imperador em Antióquia com apoio dos eslavos da Ásia Menor e dos muçulmanos (então sob o califa Al-Mamun). Se declarou iconófilo. Em dezembro, após ter passado pelo Helesponto, cercou Constantinopla, mas não teve êxito. 822 - Durante a primavera, Tomás, o Eslavo, cercou a capital bizantina pela segunda vez, mas não teve sucesso pela intervenção do khan búlgaro Omurtag, obrigando-o a fugir para Arcadiópolis (na Trácia).823 – Em março, o khan Omurtag com suas tropas búlgaras invadiu a Trácia, obtendo vitória sobre Tomás, o Eslavo, em Diabasis, nas proximidades de Heracleia. Por outro lado, o imperador Miguel II pressionava os insurrectos com sua frota naval. Tomás, o Eslavo foi para Andrinopla (ou Arcadiópolis, segundo Louis Bréhier). Sitiadas, por 5 meses, suas tropas se entregaram após devorarem carne putrefata de seus cavalos. Os habitantes entregaram Tomás ao imperador em 15 de outubro, que mandou amputar seus pés e mãos e depois empalá-lo.824 - O imperador, em 14 de abril, mandou uma carta ao imperador carolíngio Luís, o Piedoso sobre seus intentos de revogação da Querela das Imagens e pediu o apoio do papa Pascoal I. A delegação diplomática que levava a carta chegou em Rouen no outono. ---- Os mouros expulsos do Emirado de Córdoba e refugiados em Alexandria se apoderaram da ilha de Creta (se aproveitando da revolta de Tomás, o Eslavo no Império Bizantino. 825 - Em 1 de novembro, um concílio realizado em Paris tentou resolver o conflito doutrinário sobre as imagens entre os Studitas e o imperador bizantino, apoiando as intenções deste último. --- O califa Al-Mamun recusou um acordo de paz proposto pelo imperador Miguel II; tal proposta teve continuidade por embaixada enviada pelo imperador Teófilo, tendo como chefe da delegação o seu preceptor, João, o Gramático, em 829. ---- Uma armada sob o comando de Umar Abu Hafs, saiu de Alexandria e chegou ao Cabo Charax, no Golfo de Messara sua capital, e repeliu uma tentativa bizantina de forçá-los a sair. A ilha de Creta foi totalmente conquistada até 828 e ficou sob domínio muçulmano até 961. 826 - O falecimento do monge Teodoro, o Studita, facilitou o movimento iconoclástico no império.827 – O general bizantino Eufêmio de Messina, governador da Sicília, se revoltou contra o imperador e pediu a ajuda do emir Aglábida da Tunísia,al-Kamuk, que mandou Assad ibn al-Furat. Este, em vez do auxílio, iniciou o processo de dominação da ilha (terminado em 831) desembarcou perto de Mazzara, em 15 de julho (com a anuência de Eufêmio); depois conquistou o litoral meridional da ilha e cercou a capital (Siracusa) até 828 (em 827 morrera Eufêmio), desbloqueada por uma frota bizantina. Mesmo assim ele se apoderou de Agrigento e Emma e, depois, Palermo (em 831). Assad morreu aí de peste. Esta conquista da Sicília abriu caminho para os árabes se estabelecerem no sul da Itália (em 840). 827/8 –Tentativas frustradas dos bizantinos em retomar Creta. A primeira, em 827, foi comandada por Foteinos (estratego do tema Anatólicos) e Damian (Conde de Stable), sendo derrotados por Abu Hafs (Damian foi morto em combate aberto). A outra armada foi em 828, sob o comando de Krateros, estratego de Cibirreotas, que foi vitorioso inicialmente, mas depois foi derrotado e fugiu para a Ilha de Kós, sendo perseguido e crucificado nesta ilha pelos árabes. Abu Hafs conseguiu, então, se assenhorear de modo absoluto da ilha, tornando-se seu emir e reconhecendo teoricamente a soberania dos abássidas. Até 961 esta ilha foi um foco de ações de pirataria dos árabes no Mediterrâneo Oriental.

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828 – No final de janeiro chegaram a Veneza supostas relíquias de S. Marcos, trazidas por 2 mercadores de Alexandria; o doge os recompensou pondo à sua disposição Rialto para venderem seus produtos. --- O Aglábida al-Kamuk se apoderou de Enna e fundou a cidade de Alcamo na Sicília.829 – Em 1 de outubro morreu o imperador Miguel II Psellos, sucedendo-o de imediato Teófilo829 (1 de outubro) a 842 - Reinado de Teófilo. Mandou justiçar os assassinos do seu predecessor e retomou a política contra as imagens.829 (continuação) -No outono, o imperador Teófilo enviou uma embaixada ao califado de Bagdá sob a chefia de seu preceptor João, o Gramático, para comunicar sua ascensão ao trono e abrir um canal de negociação para um tratado de paz (que novamente não foi efetuado). – Em outubro, o imperador mandou uma frota naval para atacar a base de corsários árabes em Creta; estes destruíram a esquadra bizantina na Batalha de Tasos, abrindo-lhes caminho para saques de várias ilhas no Egeu (como as Cíclades) e de Monte Athos (neste local o saque foi tão grande, que foi abandonado por muito tempo). ---- Neste ano também fracassou uma expedição naval bizantina-veneziana contra os árabes na Sicília.830 - Em 20 de março, o califa Al-Ma’mun, passando pela cidade de Harran (ou Carrhes, no oeste da Anatólia) em seu ataque ao Império Bizantino, encontrou sírios pagãos, aos quais iria exigir a conversão, desistindo, porém, ao saber que eram descendentes dos antigos Sabeanos, reconhecidos pelo Corão. ---- A esposa do imperador, Teodora (que era iconódula), foi coroada em 16 de junho. ---- Em função do enfraquecimento do Império Islâmico com a revolta do herege 'comunista' Babak, o imperador Teófilo realizou incursões sobre o território perso-árabe e negociou com os hereges. ---- Os russos do Principado de Kiev atacaram o litoral da Propôntida (Mar de Mármara) e a Paflagônia e saquearam os arredores de Constantinopla e a cidade de Amastrid (no Mar Negro). ---- Os Aglábidas receberam reforços africanos (da Tunísia) e do Califado de Córdoba para continuar o processo de conquista da Sicília. Em julho e agosto, os reforços espanhóis do Califado de Córdoba impuseram derrota ao comandante bizantino Teódoto. Em setembro iniciou-se o cerco de Palermo.831 - Continuando a Guerra Árabe-Bizantina, na fronteira oriental do Império Bizantino, o califa Al-Mamun, junto com Mutassin e seu irmão Al-Abbas ibn al-Mamun, atacaram os temas da Anatólia, tomando fortalezas na Capadócia e Heracleia Cibistra (no início de julho). Aí se dividiram: o califa continuou pela Capadócia e os outros continuaram devastando a Anatólia; Al-Abbas tomou Tiana e a saqueou, mas sofreu contra-ataque do imperador Teófilo, que atravessou os Montes Taurus e avançou até Tarso na Cilícia (alvo de saques) e foi vencido por Al Abbas. – A Sicília sucumbiu praticamente sob a ação de armada Aglábida (da Tunísia) e seus reforços, com a queda de Palermo, em 12 de setembro, passando a ter o nome de al-Madinah Balharm. Restou apenas a cidade de Siracusa; o imperador Teófilo não reagiu, porque estava às voltas com os Abássidas de Samarra. A partir daí eles criaram um emirato na região ocidental da Sicília e fizeram inúmeras incursões sobre províncias bizantinas no sul da Itália e até em Roma em 846. Os bizantinos (com Teodoto) fortificaram a cidade de Castrogiovanni (hoje chamada de Enna) como núcleo de defesa antimuçulmana. ---- Neste ano:Ao morrer Omurtag na Bulgária foi sucedido por Malamir, que governou até 836.832 – Neste ano, o o califa continuou sua investida sobre o Império Bizantino, se apoderou fortaleza de Lulon, situada em posição estratégica e regimentou mais tropas no final deste ano, com a intenção de conquistar e colonizar toda a Anatólia e conquistar a capital bizantina. ---- Reunião de concílio iconoclasta em Blachernes (na capital bizantina), a partir do qual o imperador Teodósio mandou destruir e queimar muitos ícones, prender bispos e monges iconódulos, além de perseguir a imperatriz Teodora (que venerava particularmente os ícones). 833 – Em 25 maio, Al Abbas, continuou sua campanha militar contra Bizâncio, fazendo de Tiana, o seu centro de operações, aí aguardando a chegada da armada do califa, seu irmão. ---- O imperador bizantino mandou Petronas à Kazária a fim de verificar como se encontrava este reino com o aparecimento dos magiares na região, bem como observar o andamento da conversão dos seus habitantes ao judaísmo. Não há evidências arqueológicas de sua missão arquitetônica à região.---- Em 10 de julho, houve uma tentativa dos Aglábidas em se apoderar da ilha de Malta, mas foram rechaçados pelos bizantinos. ---- Em 10 de agosto, morreu o califa Al-Ma’mun perto de Tarso, na Cilícia, em campanha militar contra o Império Bizantino. 833 a 837 – Não houve conflitos entre árabes e bizantinos neste período. Teófilo deu guarida aos Khurramitas (seita comunista persa) perseguidos pelo califa Al-Mu'tassim; aproveitou, também, para formar uma legião persa, comandada por um desconhecido Teófobo (que se julgava descendente de reis).834 – No processo de conquista da Sicília, os árabes tomaram as cidades de Platani, Caltabellota, Corleone, Marineo e Geraci, controlando, pois, a região ocidental desta ilha.835 – Frota bizantina mandada pelo imperador Teófilo para atacar a Sicília foi destruída pelos árabes.836 – Acabando o acordo de paz feito com os búlgaros, o imperador Teófilo atravessou a fronteira e devastou território búlgaro adjacente a ela. Em retaliação, Isbul atacou a Trácia chegando até Andrinopla e anexou Filipópolis (Plovdiv) e suas vizinhanças.837- Em 21 de janeiro, João VII Gramático (Morocharzianos), iconoclasta, foi nomeado patriarca de Constantinopla. ---- Reinício das hostilidades bizantino-árabes no Oriente Médio: tropas imperiais comandadas por Teófilo atacaram o alto Eufrates (na Alta Mesopotâmia) e se apoderaram de Samosate (Arsamosata) , cercou e destruiu a cidade de Zapetra (ou Sozopetra, onde tinha nascido o califa Al-Mutassim) e Melitene (esta sob vassalagem fiscal). Em represália, o califa al-Mutassim 838 – Os árabes Aglábidas da Tunísia saquearam Bríndisi e Tarento, pertencentes aos bizantinos, na Península Itálica.---- Na frente oriental, os bizantinos sofreram dupla invasão muçulmana em represália às ações militares de Teófilo no ano anterior: uma em Armeníacos (comandada por Afshin); outra (chefiada por Al-Mutassim). A coluna chefiada por Afshin foi para a região de Melitene (tema de Armeníacos) e se encontrou com as forças de Omar al-Aqta (emir de Melitene). A força militar do califa saiu de Tarso, passou pelas Portas Cilicianas, tomou Ancira e marchou em direção a Amorium , venceu os bizantinos na Batalha de Dazimon (Dasymon ou Anzen, hoje chamada de Tokat), em 22 de julho, em posição estratégica entre Tokate e Amaseia. As duas armadas muçulmanas se encontraram em Ancira (hoje Ancara, que foi tomada), derrotando os bizantinos na memorável Batalha de Amorium, capital do tema Anatólico (em que foi morto o general Manuel, o Armênio) em 12 de agosto, cercando e tomando a cidade do mesmo nome (onde nascera o imperador bizantino e seu pai e hoje é chamada de Hisarkoy) em 23 de setembro. Os habitantes que se refugiaram em igrejas foram simplesmente queimados, outros escravizados e levados para Samarra (morrendo de fome e sede no caminho). Apenas 40 sobreviveram, mas foram decapitados depois de 7 anos na prisão, por não abjurarem ao cristianismo (são os chamados ‘Quarenta e Dois Mártires de Amorium’, que foram santificados pela igreja ortodoxa grega). Novamente se dividiram em duas alas; sendo que uma delas venceu Teófilo em Anzen. O califa não continuou sua empreitada militar em direção à Constantinopla porque estourou uma revolta na Síria, onde se fazia necessária sua intervenção. – Neste ano, Constantinopla recebeu a primeira embaixada dos varegues (vikings) que aí chegaram pela rota oriental (passando pelo rio Volga). 839 – O imperador carolíngio Luís, o Piedoso, recebeu em 18 de maio, em Ingelheim, duas embaixadas: uma bizantina e outra dos varegues (mandada por seu ‘chaganus’, isto, seu rei); esta última foi vigiada inicialmente por suspeita de ser formada de espiões. – Neste ano: Uma frota naval de Veneza tentou impedir que os árabes Aglábidas se apoderassem de Tarento (onde ficaram até 880). Daí partiram para o ataque e pilhagem de Ancona, no centro da Itália. ---- No litoral sírio apareceu uma frota bizantina, prenunciando a guerra naval do Mar Egeu entre os Abássidas e o Império Bizantino. 839-840 – O imperador bizantino Teófilo mandou emissários ao emir Abd-er-Rhaman II de Córdoba (na Espanha) para que lutasse pela conquista do território do Califado Abássida, visto que este o tinha usurpado dos Omíadas; outra sugestão foi a de acabar com os piratas de Creta. Tais sugestões foram recusadas pelo emir de Córdoba.839 a 866 – Guerra naval entre os bizantinos e os Abássidas tendo como palco a área desde o Mar Egeu e ao litoral do Egito a fim de assegurar o controle das rotas que circulavam pelo Mediterrâneo Oriental, bem como coibir as ações de pirataria que infestavam a região. Em 839 uma frota naval bizantina estava no litoral da Síria. 840 – Missões diplomáticas foram mandadas pelo imperador Teófilo à Veneza. --- Os varegues (vikings) escandinavos partindo da Suécia, passando pelo Mar Báltico, pelo Principado de Kiev chegaram aos Mares Cáspio, Azov (onde se encontraram com os bizantinos de Crimeia) e Negro. 841 – Uma frota naval de Veneza, em acordo com bizantinos, tentou impedir que os árabes Aglábidas se apoderassem de Tarento (onde ficaram até

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880).Estes árabes se tornaram senhores de quase toda a parte oeste da Sicília. Depois que se apoderaram de Bari (no litoral ocidental do Adriático), eles atacaram navios venezianos, em retaliação ao fato do doge ter auxiliado os bizantinos na tentativa de recuperar Tarento. ---- Os bizantinos também perderam seus domínios na Ilíria e na Dalmácia.---- O duque lombardo de Benevento, Radalgis, contratou mercenários árabes para atacar e destruir Cápua, no litoral do Mar Tirreno (oeste da Itália), pertencente ao Império Bizantino. Os moradores desta cidade se refugiaram na Colina de Sicopoli. --- Uma frota naval sarracena objetivando tomar Constantinopla, não o conseguiu por um acidente climático: foi a pique por uma tempestade no litoral do tema dos Cibirreotas (no cabo Celidônia). 842 - Abatido física e moralmente pela queda de Amorium sob os árabes, morreu o imperador Teófilo em 20 de janeiro; tinha 5 filhas e apenas 1 filho com 6 anos, Miguel, seu sucessor, tendo como regente Teodora II até 15 de março de 856, junto com um conselho no qual se sobressaía Theoktistos. 842 (21 de janeiro) a 867 - Reinado de Miguel III (que recebeu depois o cognome de ‘o Alcoólatra’).842 (continuação) - No fim deste ano, os Aglábidas, prosseguiram seu objetivo de conquistar toda a Sicília (tomaram a cidade de Messina), se aproveitando da fraqueza do império, conseguindo-o em 859. 843 - A regente Teodora II retirou o patriarca de Constantinopla, João VII Gramático (Morocharzianos), de seu cargo, nomeando o monge siciliano Metódio na função em março, por ser favorável à veneração das imagens. Uma semana depois, reuniu um concílio que acabou com a Questão Iconoclástica, homologando as determinações do Concílio de Niceia, condenando os iconoclastas e as heresias precedentes. Neste concílio, a regente procurou resguardar a memória do seu filho Teófilo (que era iconoclasta). Ainda hoje, a Igreja Ortodoxa comemora este acontecimento no primeiro domingo da Quaresma como a Festa da Ortodoxia. --- Bardas, tio do imperador, verdadeiro administrador do império, caiu em desgraça, mas foi reabilitado em 862, como César. ---- Uma frota naval bizantina conquistou Creta aos muçulmanos, mas não conseguiu mantê-la. ---- Na Sicília, o general Fadl ibn al Djafar, auxiliado com tropas de André II de Nápoles, colocou a cidade de Messina sob cerco por terra e por mar, conquistando-a; desta forma continuou a conquista da Sicília. 844 - Se estabeleceu que, anualmente, se leriam as determinações tomadas no concílio antiiconoclástico do ano anterior. --- Guerra contra os Paulicianos (hereges foragidos sob a proteção do emir de Melitène e que formaram seu Estado na Ásia Menor, cuja cidade principal era Tefrik) na qual o ministro Theoktistos sofreu uma severa derrota na Batalha de Mauropótamos (rio no norte de Bitínia ou na Capadócia) frente às tropas daquele emir (Omar al-Aqta) e dos Paulicianos; grande parte de seus oficiais passou para o lado árabe e seus soldados foram mortos. --- Primeira evangelização dos eslavos do Peloponeso e Morávia, dos búlgaros e dos judeus Khazares. 845 - Foi mandada uma legação diplomática bizantina a Bagdá para negociar acordo após a derrota na Batalha de Mauropótamos; em reciprocidade, Bagdá mandou outra para Constantinopla. Resultado: em 16 de setembro, junto ao rio Lamos (fronteira da Cilícia) os bizantinos fizeram troca de prisioneiros com o califado abássida. Depois disso, no inverno, houve uma invasão fracassada das tropas do governador árabe de Tarso; em face desta iniciativa desastrada a fronteira árabe-bizantina permaneceu calma durante os próximos 6 anos. --- Na Sicília caiu a cidade de Módica e os bizantinos sofreram uma derrota nas proximidades de Butera. 846 - Em 4 de julho, o patriarca Metódio foi sucedido pelo eunuco Inácio (filho do ex-imperador Miguel I Rhangabe) por indicação de Teodora. O novo patriarca abandonou sua posição conciliadora anterior e perseguiu bispos que foram contrários à sua escolha. Onze anos depois, em face de atritos com Teodora e Bardas, este último o exilou na ilha de Terebinto. ---- O khan búlgaro Malamir não deu continuidade à trégua de 30 anos firmada com Bizâncio: incursionou sobre a Macedônia, se apoderou de Filipópolis e pressionou a fronteira bizantina em Tessalônica. ---- Piratas árabes do norte da África, na última semana de agosto, atacaram o porto de Ostia, avançaram pelo rio Tibre até Roma, pilhando tudo; violaram tudo que era sagrado na Basílica de S. Pedro. Foram rechaçados pelos lombardos sob o comando de Guy I, Duque de Spoleto. Para aprimorar sua defesa, o papa Sérgio II mandou erigir fortificações na margem direita do Tibre, ajudado financeiramente pelo imperador franco Lotário I. Este último delegou ao seu filho Luís II da Itália de iniciar conversas com nobres europeus para combater os muçulmanos.847 – Na última semana de janeiro, o rei Luís II da Itália (filho primogênito de Lotário I) reuniu tropas (formadas não só de francos, mas também de burguinhões e provençais) na cidade de Pávia (norte da Itália) contra os muçulmanos: foi bem sucedido na retomada de Benevento (no centro-sul), mas não conseguiu retomar o porto de Bari (no Mar Adriático), este defendido pelo líder bérbere Khalfun. Este último, em 10 de agosto, se assenhoreou deste porto.847-848 - Théoktistos Brienne, estratego do Peloponeso sufocou rebeliões de eslavos meridionais sediados no Peloponeso (Aqueia) e Élida. Neste ano, a regente Teodora conseguiu neutralizar diplomaticamente a ameaça do khan da Bulgária, Boris. 849 - No sul da Itália as cidades de Amalfi, Gaeta e Nápoles (antes pertencentes aos bizantinos), estimuladas pelo papa Leão IV, se uniram e infringiram uma derrota acachapante sobre os árabes na Batalha de Ostia (imortalizada em quadro do pintor renascentista Rafael); os prisioneiros foram levados para Roma onde foram obrigados a construir a ‘civitas leonina’, uma das muralhas da cidade. 850 – Os árabes da Sicília se apoderaram da Apúlia; aí, no porto de Bari (no Mar Adriático) o então emir Khalfun mandou construir uma fortaleza, de onde partiam para saques na Campânia. As esquadras punitivas enviadas por Constantinopla para a região foram quase todas eliminadas.851 – Na Sicília, ao morrer o emir Al-Aghlab Abu Ibrahim, foi sucedido por Abbas ibn Fadl, continuando as conquistas na ilha.852 - Em março o governador armênio nomeado pelo califa foi assassinado em Mus, na região de Sassum (no planalto armênio). Em função disso, o representante do califa prendeu o príncipe de Taron, Bagrat, da prestigiosa família aristocrática dos Bagratuni. Estes, então, se uniram aos Mamikonianos e outros armênios contra o califado. A reação árabe foi impiedosa e massacrante: mandou um grande exército comandado pelo general turco Bugha al-Kabir que, depois de passar o rio Kura (ou Cyrus) esmagou os armênios e arrasou com o país, praticamente eliminando estas famílias nobres (em agosto-setembro).853 –Em 22/23 de maio, uma frota bizantina atacou, saqueou e incendiou Damieta no Egito contra os árabes em represália às suas constantes incursões na Ásia Menor e as relações do Egito com os corsários de Creta. ---- Em outubro, o general turco Bugha al-Kabir foi enviado pelo califa, em outubro, para debelar uma revolta na Geórgia: incendiou sua capital Tíflis (hoje Tbilisi, sua capital) e conseguiu o seu intento. 855 – A regente Teodora e Bardas tramaram uma conjura contra o logoteta (como que um ministro das finanças gerente do caixa real) Teoktistos, que foi retirado do Palácio Real e morto em uma prisão no início de 856. Em seguida, a regente separou seu filho, Miguel III, de sua amante Eudokia Ingerina e colocou em seu lugar uma esposa, Eudokia Dekapolitissa, escolhida em concurso de beleza (Miguel III, porém, continuou sua relação com a amante). A partir daí se iniciou o governo fraco do imperador alcoólatra, tendo por trás seu ambicioso tio, nomeado césar em 862. 856 – Em 15 de março, o imperador, magoado com a interferência materna em sua vida conjugal, retirou o seu título de Augusta e associou ao trono o seu tio, Bardas. O ministro e ex-tutor do imperador Miguel III, Bardas, mandou seu irmão, o general Petronas, retomar ofensiva militar sobre a região do Alto Eufrates contra os árabes. ---- Em novembro, a cidade de Corinto (na Grécia) sofreu um grande terremoto com milhares de vítimas.857 –Bardas, tio de Miguel III, o influenciou na expulsão de sua mãe Teodora da regência, tornando-se, pois, a autoridade mais poderosa do império.858 - Em 24 de abril, ao morrer o papa Bento III, passou a pontificar Nicolau I, cujas relações com o Império Bizantino ficaram estremecidas com o afastamento do patriarca Inácio. ---- Bardas, em 23 de novembro, conseguiu a abdicação voluntária do patriarca Inácio, desde que não fosse substituído pelo seu inimigo, o bispo Gregório Asvestas (excomungado por ele). Bardas escolheu, então, um amigo deste último: Fócio. O novo patriarca, ao ser sagrado na função pelo bispo Gregório (no Natal) despertou a cizânia entre os bispos aliados de Inácio (que não o reconheceram como patriarca na Igreja de Santa Irene) e o sínodo aliado de Fócio. Esta foi a semente de uma cisão prolongada na igreja bizantina. 859 – Em 24 de janeiro, na Sicília, o emir Abbas ibn Fadl venceu os bizantinos comandados por Teódoto na Batalha de Castrogiovanni (cidade fortaleza na região central da ilha) e se assenhoreou do forte de Enna (ou Castrogiovanni, o mais poderoso da ilha). Todos os homens foram mortos; mulheres e crianças, escravizadas e vendidas em Palermo. ---- Bardas e Miguel III comandaram tropas contra a cidade de Samosate dos árabes, resultando na assinatura de uma trégua entre eles (os bizantinos foram obrigados a voltar para Constantinopla por ameaça de ataque dos russos).860 - No verão, os varegues e eslavos (russos) do Principado de Kiev, comandados por Askold e Dir (senhores de Kiev desde 842), desceram o rio Dnieper, até o Mar Negro, daí entraram no Estreito de Bósforo, onde saquearam habitações bizantinas e cercaram, pela primeira vez, a capital (18/6),

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onde não estava o imperador Miguel III (estava ocupado com conflito contra normandos e árabes no Mar Egeu), mas não conseguiram romper suas muralhas, graças à liderança do patriarca Fócio estimulando a resistência frente ao invasor e pedindo a intercessão de Nossa Senhora da Igreja de Blachernes (em procissão sobre as muralhas). Após este ataque, o imperador organizou uma missão religiosa e política, em que estiveram os monges Metódio e Constantino (ou Cirilo), junto ao Reino dos Khazars, se entendendo com rabinos judeus e encontrando as relíquias de S. Clemente em Quersoneso Taurico. O patriarca, por sua vez, iniciou o processo de cristianização dos eslavos e varegues (Askold foi batizado). ---- Neste ano, o patriarcado de Alexandria passou a Miguel I, sucedendo a Sofrônio I. 860-863 – Neste período, os árabes com o apoio dos maniqueístas Paulicianos de Karbeas (que fundaram um Estado no leste da a atual Turquia) fizeram incursões na Anatólia dos bizantinos.861 – Novo concílio em Constantinopla confirmou Fócio no patriarcado. – O príncipe Rotislav da Grande Morávia teve seu pedido de ter uma administração independente da igreja local recusado por parte do papa Nicolau I, o Grande. Em função disto, ele solicitou ao imperador bizantino que lhe mandasse missionários para pregar o Evangelho; o imperador mandou Cirilo e Metódio. 862 – Bardas Mamikonian (irmão de Petronas) foi elevado ao título de César (em 26/4) pelo imperador, tornando-se, verdadeiramente, o governante (já que o imperador era um gastador) e seu eventual sucessor. --- Na cidade de Shirakavan (na Armênia) se reuniu um concílio objetivando determinar a cristologia (estudo da pessoa de Jesus Cristo e seus ensinamentos) da igreja armeniana e procurando se aproximar daquilo que foi estabelecido no Concílio da Calcedônia (em 451) pelo clero bizantino. 863 - No início do ano, o papa Nicolau I, se atribuindo uma autoridade eclesiástica maior que a de Constantinopla, depôs e excomungou o Patriarca Fócio (nomeado por Bardas) no Concílio de Latrão; este último fez o mesmo em 867 (em abril) no Concílio de Constantinopla, causando o cisma entre as duas igrejas, a ocidental e a oriental. ---- Miguel III invadiu a Bulgária e submeteu o khan Boris, que aceitou a ida de missionários bizantinos ao seu reino, voltando atrás, portanto, em sua decisão anterior de aceitar a vinda de missionários latinos por aliança com o rei franco Luís, o Germânico (o que poderia acarretar desprestígio bizantino). – No verão, o emir de Melitene (Omar), junto com tropas de Tarso (e, talvez, os paulicianos com Karbeas) invadiu de novo o tema de Armeníacos de Bizâncio e tomou o porto de Samsun (ou Amisos, no litoral sul do Mar Negro). Em 3 de setembro, o general Petronas Mamikoniano (tio do basileus e irmão de Bardas), junto com Nasar, obteve vitória na Batalha de Poson (fronteiriça entre os temas de Armeníacos e Paflagônia, nas proximidades de Lalakaon, daí o outro nome de Batalha de Lalakaon) e retomou Melitene e o porto de Amisos (Samsun) e a Armênia sobre os árabes do emirato de Melitene (cujo emir, Omar, morreu nesta batalha). O filho do emir conseguiu fugir, mas foi perseguido e preso por Machairas. O general Petronas Mamikoniano voltou triunfalmente à Constantinopla. --- Na primavera, Karbeas, chefe do Paulicianos, foi morto e sucedido por Chrysocheir (‘mão de ouro’), seu sobrinho e genro. --- Constantino (Cirilo) e Metódio foram recebidos na Morávia pelo rei Ratislav: aprendizagem em grego no reino e introdução do alfabeto (ajustado às consoantes eslavas). Os livros de cerimônias litúrgicas e a Bíblia da igreja bizantina foram traduzidos para o eslavo ---- Bardas criou a escola da Magnaura (no palácio do mesmo nome), sob a direção de Leão de Tessalônica, o Matemático, onde se ensinava astronomia, geometria e gramática. ---- Mais uma prova do descontentamento dos árabes contra os turcos seldjúcidas da guarda pretoriana: a população de Bagdá se rebelou contra eles e, por outro lado, conclamou a uma nova guerra santa contra os bizantinos.864 - Boris I, khan da Bulgária, foi recebido festivamente em Constantinopla, a fim de receber o batismo, tendo como padrinho Miguel III. A partir daí passou a se chamar Miguel, em vez de Boris. Reagindo, o papa S. Nicolau I, o Grande, mandou missionários à Bulgária dois anos depois, mas retrocedeu em 869, ao aceitar aí a presença da igreja bizantina. 865 – Fundação da igreja búlgara, plasmada nos procedimentos litúrgicos criados por Cirilo e Metódio. – O khan Boris mandou seu filho para Constantinopla para ser educado na cultura bizantina. Os nobres (boiardos) fracassaram em revolta contra o khan, sendo executados 52 deles e suas famílias. O patriarca Fócio mandou uma correspondência ao khan Boris explicando a doutrina da igreja ortodoxa. O khan não aceitou esta interferência. ---- Pela primeira vez, a capital bizantina foi ameaçada pela presença de uma frota naval do Principado de Kiev (dos eslavos orientais chamados de russos). ---- Mais uma vez, Constantinopla foi abalada por um terremoto.866 - Durante a primavera (em abril) o imperador bizantino Miguel III e seu tio Bardas comandaram uma frota que teria como alvo a ilha de Creta, em punição aos piratas árabes, que atacavam e pilhavam as ilhas bizantinas no Mar Egeu. Ao fazerem escala na foz do rio Meandro (ao sul da Anatólia), Bardas foi assassinado (21/4), gorando a expedição punitiva.—Ainda na primavera, o khan Boris, em represália ao patriarca Fócio tentando se intrometer na igreja búlgara (o khan reclamou, mas não foi atendido), entrou em entendimentos com o imperador franco Luís, o Germânico e o papa Nicolau I. – Miguel III adotou o general macedônico Basílio (menosprezando dois filhos que tivera de Eudokia Ingerina) e o proclamou ’magistro’ (em 26/5). Ambos incitaram o assassinato de Bardas, cujo genro (Symbatios) armou um complô contra o imperador (mas tinha participado do assassinato do sogro). – As relações conflituosas entre o patriarca Fócio e o papa S. Nicolau I, o Grande se manifestaram, entre outros fatos, pelos entendimentos do primeiro com o imperador germânico Luís II para depor o papa. 867 – Em 29 de março, foi inaugurado o primeiro ícone pós-iconoclasta pelo patriarca Fócio e o imperador: a de Theotokos, isto é, da Virgem Maria e o Menino Jesus. – Na primavera, o patriarca mandou correspondência a todos os bispos do império declarando a autonomia de Constantinopla em relação à Roma. Determinou, também, a criação de um bispado em Kiev. Em agosto/setembro, em concílio convocado pelo imperador em Constantinopla se ratificou o cisma das duas igrejas: o papa Nicolau I foi excomungado, se condenaram suas intervenções na Bulgária e foi acusado de heresia pelas sua liturgia diferente e pela sua adesão ao Filioque (considerada heresia ocidental pelos bizantinos). ---- Assassinato de Miguel III por Basílio no Palácio de Santa-Mamas (24/9), que usurpou o poder.

867 (24 de setembro) a 886 - Reinado de Basílio I, o Macedônio.867 (continuação) - O novo imperador, um dia após a sua posse, destituiu o ambicioso patriarca Fócio de suas funções, restaurando Inácio neste cargo, a fim de facilitar as estremecidas relações entre as igrejas bizantina e romana. ---- Em 14 de dezembro, ascendeu ao pontificado romano o papa Adriano II. 867 a 878 – Período em que a Dalmácia foi um dos temas do Império Bizantino, residindo seu estratego em Zadar (ao norte da Dalmácia). 867 a 1057 - Dinastia Macedônica. Foi a mais duradoura do Império Bizantino, que se reavivou com a presença de generais e imperadores fortes e com um exército organizado. Desde 850 a armada imperial se tornou tão poderosa que seu comandante foi seduzido a se associar ao trono (como ocorreu com Romano Lecapeno em 905).868 - O porto de Ragusa (atual Dubrovnik, na Croácia) foi cercado por uma frota naval dos Aglábidas por 15 meses (desde 867); em função disto, os croatas pediram o

auxílio militar do novo imperador bizantino Basílio I. Este enviou uma poderosa esquadra de 100 navios que conseguiu desfazer o cerco muçulmano na primavera deste ano. Esta vitória consagrou a suserania bizantina sobre Veneza e o Mar Adriático, em que o império outorgou ao doge, Urso Partecipato (Orso Partecipazio), a honraria formal e palaciana de ‘protospatário’ (‘ordem militar e de nobreza’). Esta suserania no entanto, durou pouco. – No verão deste ano, nas proximidades de Siracusa, tropas bizantinas foram vencidas pelos árabes.868 - 870 - Negociação entre o papa Adriano II e o imperador bizantino para acabar com o cisma entre as igrejas de Roma e Constantinopla, sendo proclamada sua união novamente em fevereiro de 870. O papa Adriano II cedeu ao patriarca de Constantinopla a jurisdição religiosa sobre a Bulgária e restabeleceu as relações com os bizantinos. --- Aliança com Luís II (rei da Itália), resultando na retomada de Bari aos árabes em 871, mas rompeu-se a aliança (pela morte de Luís II em 875, em Bréscia) e retomada de Bari pelo governador bizantino de Otranto (no Natal de 876, estabelecendo aí sua sede administrativa).

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869 – Em 9 de janeiro, Constantinopla, mais uma vez, foi sacudida por um sismo que abalou a cúpula da Igreja da Santa Virgem do Sigma. – Durante o outono, uma frota naval mandada pelo imperador, sob o comando de Nicetas Orifas, entrou pelo Mar Adriático e cercou Bari (em poder dos muçulmanos), enquanto por terra ocorreu o cerco por tropas francas mandadas pelo rei da Itália e imperador do Ocidente, Luís II. Este último, porém, licenciou parte de seu exército para se dirigir a Venosa, onde ia se encontrar com seu irmão Lotário II. Esta atitude real descontentou Nicetas que abandonou o cerco por mar e foi para Corinto (na Grécia).869 (27 de setembro) a 870 (28 de fevereiro) – Reunião em Constantinopla do 4º concílio ecumênico para resolver o problema do cisma criado por Fócio. Foi convocado pelo imperador e pelo papa Adriano II. Em 5 de outubro, neste concílio, o patriarca Inácio condenou Fócio870 – Em 28 de fevereiro, ao se encerrar o 4º Concílio de Constantinopla, ficou estabelecido: condenação da tricotomia, sendo substituída pela dicotomia. Poucos dias depois, o imperador reuniu os bispos do Oriente com os emissários do papa e o patriarca Inácio para entendimentos com os enviados do khan Boris I da Bulgária, este conseguindo a autonomia da igreja local tendo seus próprios arcebispo e bispos. ---- Na primavera, o imperador bizantino Basílio I, através de seu embaixador Pedro, o Siciliano, tentou se articular com os Paulicianos para que abandonassem sua aliança com os muçulmanos. Chrysocheir, seu chefe, apresentou uma condição exorbitante para abandonar esta aliança: a de ficar com toda a Anatólia. Obviamente esta negociação diplomática não foi adiante. O objetivo da articulação era o de controlar os itinerários pelos quais os árabes invadiam o território bizantino. ---- Uma guarnição militar bizantina da Ilha de Malta conseguiu abortar uma abordagem do filho do emir Aglábida de Ifrîqiya, Ahmed. Este, no entanto, solicitou reforços da Sicília e se apoderou desta ilha aos bizantinos, além de algumas cidades ainda restantes à subordinação imperial de Constantinopla, em 29 de agosto de 870. --- Em 22 de dezembro, os legados do papa Adriano II chegaram à Roma, depois de terem participado do 4º concílio ecumênico de Constantinopla. Durante sua viagem de retorno foram aprisionados por piratas narentinos (croatas brancos de Pagânia, na Dalmácia), sendo soltos mediante resgate. Como castigo, uma frota bizantina arrasou a região litorânea, forçando os narentinos e sérvios costeiros a se submeter à suserania de Bizâncio. --- Neste ano: Basílio I associou o seu primogênito, Constantino, ao trono (que morreu 9 anos depois, deixando-o desconsolado). --- O missionário bizantino Metódio (que tinha sido nomeado arcebispo de Sirmium pelo papa Adriano II) foi preso na Baviera por um tribunal de bispos por suposta usurpação de suas funções. Foi solto 3 anos depois por intercessão do novo papa João VIII, mas o proibiu de celebrar missas em eslavo. 871- Em 3 de fevereiro, o rei Luís II, o Jovem (da Germânia e Baviera) reforçado pelas frotas do duque croata Domagoj, além de Veneza e do governador bizantino de Otranto (na Itália) retomou o porto de Bari, após longo cerco, aos muçulmanos. Em 28 de agosto, os príncipes de Nápoles e de Benevento, insatisfeitos com a presença de Luís II todo este tempo no sul da Itália, se coligaram e fizeram frente a ele, conseguindo prendê-lo, sendo liberado em 17 de setembro. Sua prisão, no entanto, arranhou muito seu prestígio, beneficiando os bizantinos. ---- Retomada dos desfiladeiros dos Montes Taurus e Anti-Taurus, impedindo futuras agressões dos árabes nas fronteiras bizantinas. Houve, também, uma tentativa fracassada em submeter os Paulicianos nesta região. 871- 872 – Se aproveitando da fraqueza conjuntural do Império Islâmico por seu desmembramento, os bizantinos realizaram campanhas militar contra os Paulicianos: a primeira fracassou em 871; na segunda, em 872, Cristóforo, genro do imperador Basílio, se apoderou da capital pauliciana, Tefriq, venceu e decapitou Chrysocheir na Galácia e mandou sua cabeça para Constantinopla. Acabou, assim, o Estado Pauliciano e, assim, Bizâncio pode controlar os desfiladeiros dos Montes Taurus e Anti-Taurus e o alto Eufrates até 882.872 - Em 14 de dezembro, em Roma, ao morrer o papa Adriano II, sucedeu-o João VIII (107º papa romano). Criou-se um mito para desprestigiar a Igreja Católica: este papa por seu caráter efeminado e pela tibieza diante do patriarca de Constantinopla foi a ‘papisa Joana’. ---- Neste ano (ou em 878, segundo alguns historiadores) ocorreu a Batalha de Bathys Ryax (ou seja, ‘Córrego Profundo’, em grego) no Passo de Kalinirmak, a oeste de Sivas, quando os bizantinos comandados pelos estrategos de Charsianon e Armeníacos foram vitoriosos sobre os Paulicianos. O líder pauliciano Chrysocheir conseguiu se evadir para a Galácia, mas foi capturado e decapitado por Cristóforo, genro do imperador Basílio; sua cabeça mandada para Constantinopla.873 – O restante dos Paulicianos se alojou na fortaleza de Melitène (na curva do Alto Eufrates), representando, pois, um perigo para Bizâncio. O imperador Basílio I empreendeu campanha militar isolando-a, inicialmente, ao se apoderar de Sebaste à Tefrik, mas não teve êxito em assediá-la, no verão, retornando, então, à Constantinopla. --- Novas campanhas militares bizantinas na frente ocidental contra os corsários árabes do Emirado de Creta, como a vitória de Nicetas Oryfas sobre eles no Golfo de Corinto.874 – Realizado um acordo com o Principado de Kiev. O patriarca Inácio de Constantinopla nomeou um arcebispo em Kiev. 874 a 881 – Simultaneamente às investidas sobre Melitène, o imperador bizantino ocupou a ilha de Chipre neste período; quando pretendeu transformá-la num dos temas (províncias) do império, encontrou resistência por parte de sua população, o que facilitou a sua retomada pelos muçulmanos em 881. 876 – O porto de Bari, então dominado pelos francos, foi retomado por frota naval bizantina. --- Neste ano foi editado o ‘Procheiron’, manual de leis penais que foi a base de futuras legislações jurídicas (como o Hexabiblos de Harmenopulos, em 1344). – Segunda investida militar do imperador bizantino Basílio I contra o emir de Melitène (ou Malatia) atacando a fortaleza local.877 - Em 7 de abril, o papa João VIII pediu a ajuda do rei da Frância Ocidental, Carlos o Calvo, na cidade de Compiègne (onde estava celebrando a Páscoa) contra as incursões dos árabes na Itália (realizadas em 11 e 13 de fevereiro). ---- Em 26 de outubro, morreu o patriarca Inácio, sendo sucedido por Fócio. O papa João VIII se dispôs a aceitar um novo concílio para eliminar as decisões tomadas em 869/870, que condenaram Fócio. ---- Neste ano: O imperador Basílio I, ainda persistindo em seu objetivo de atacar Melitène, retomou a fortaleza de Luluas (na rota de Tarso para a capital bizantina), na Cilícia (onde estavam os eslavos, que não se opuseram à ação militar do imperador bizantino). ---- O duque de Nápoles, Sérgio II, tinha sido excomungado pelo papa João VIII por ter se aliado aos Aglábidas, além disso, foi deposto do ducado, sendo substituído por seu irmão Atanásio (que era bispo), este último o cegou e o mandou prisioneiro para Roma. Esse papa tentou subornar as autoridades de Amalfi pelo ouro ou pressioná-las intimidando-as com a excomunhão para que se desligassem de suas relações comerciais com os árabes. 877 a 910 - Croácia sob o domínio do Império Bizantino.878 - A árdua conquista de Siracusa (na Sicília), em 21 de maio, após cerco de 10 meses pelos árabes comandados por Jafar ibn Muhammad al-Tamini, restringiu a soberania bizantina na ilha à Taormina e outras pequenas cidades (no lado oriental). --- Ainda em maio, o duque Zdeslav, da Croácia, aliado de Bizâncio foi assassinado durante uma revolta liderada por Branimir; resultando, em contrapartida, na intervenção imperial forçando Branimir a restaurar a igreja croata sob a autoridade de Roma. Foram criados então os ducados de Eslavônia e Croácia. ---- Na Itália se criaram os temas de Calábria e Longobardia. --- Edito imperial estabeleceu a legitimidade dos príncipes porfirogenetas. ---- Os emires muçulmanos do leste da Ásia Menor, sob a liderança de Abdallah-ibn-Rachid, reagindo à tomada da fortaleza de Luluas (entre Tarso e Constantinopla) pelos bizantinos, saquearam a região meridional da Capadócia. Forças bizantinas comandadas por Basílio I, os surpreenderam nas Portas da Cilícia (hoje, Gülek Boğazı, uma passagem importante nos Montes Taurus), vencendo-os fulminantemente na Batalha das Portas Cilicianas, em que Abdallah foi preso; assim, os bizantinos restabeleceram seu domínio entre Cesareia e Marach. 879 - Após a vitória bizantina na Batalha das Portas Cilicianas, cinco estrategos fizeram incursão em Adana, onde o imperador Basílio e seu filho Constantino vieram encontrá-los; daí atravessaram a fronteira síria e arrasaram algumas praças fortes. Após esta campanha militar, Constantino morreu, deixando seu pai desolado e sem iniciativa até 882. --- Em novembro se reuniu o VIII Concílio Ecumênico de Constantinopla sob a égide do patriarca Fócio, naturalmente invalidando as determinações do concílio de 869-870 que o excomungaram. Em contrapartida, este patriarca se submeteu à ação pastoral de Roma. 879-880 - Frota naval bizantina, sob o comando de Nasar (que substituíra Nicetas Oryfas), após sufocar uma rebelião dos remadores (em Methone ou Modon, na Península do Peloponeso), venceu os árabes numa batalha noturna e uma frota dos Aglábidas ao norte da Sicília (tomando Termini e Cefalu) e acabou com a frota inimiga nas Ilhas Lípari. Além disso, os bizantinos exerceram protetorado sobre Salerno, Cápua, Nápoles e Benevento. Estava, assim, reconquistado todo o sul da Itália e se criaram os ducados de Calábria e Langobardia; impuseram a suserania aos príncipes lombardos e

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criaram 2 bispados ortodoxos. Retornaram para Constantinopla carregados de butim. --- Neste ano foi estabelecida a legitimidade imperial como direito dos Príncipes Porfirogenetas, isto é, nascidos na ‘Câmara de Púrpura’ do palácio sagrado, procedendo à continuidade da sucessão dinástica imperial.880 – Em 1 de maio iniciou-se em Constantinopla a construção da ‘Ekklesia Nea’, isto é, da ‘Nova Igreja’, a sudeste do complexo do Grande Palácio, no estilo arquitetônico da ‘cruz-em-quadrado’, que plasmou como modelo de todas as igrejas ortodoxas daí em diante. – Uma grande armada bizantina, no outono, constituída por forças dos temas da Europa, em ação simultânea com outra vinda de Nápoles, se apoderou de Tarento aos árabes Aglábidas da Tunísia. – Neste ano: A Armênia sofreu intervenção de Bizâncio. ---- O missionário bizantino Metódio (agora arcebispo da Panônia) se dirigiu à Roma e conseguiu o atendimento de seu apelo de autorização da liturgia eslava criada por ele (5 anos depois, no entanto, o papa Estevão V não respeitou a morte de Metódio e sua obra meritória de evangelização e proibiu a liturgia eslava, muito ligada ao rito bizantino). ---- A Macedônia e a Trácia foram ocupadas pelos búlgaros, que passaram a ameaçar a capital bizantina. ---- O baixo Danúbio foi ocupado pelos magiares (húngaros), expulsos das estepes russas pelos pechenegues.881 – Chipre voltou ao domínio muçulmano, se aproveitando do descontentamento de sua população ao fato de Bizâncio transformá-la em tema do império. ---- Neste ano foi assassinado na Ibéria do Cáucaso o príncipe David I (que tinha o título honorífico bizantino de ‘curopalate’) pelo seu primo revoltoso Narsés, insuflado pelo imperador Basílio I e pelos Abkhazes.882 – O imperador bizantino Basílio I saiu de Cesareia e tentou tomar Melitene (praça forte na curva do Alto Eufrates, na Alta Mesopotâmia), mas não conseguiu porque esta cidade recebeu reforços de Khada e Marash (ou Maras, no Alto Eufrates). Tentou, outrossim, saindo de Cesareia numa segunda campanha, se apoderar destas duas cidades. – O missionário Metódio se apresentou ao imperador e ao patriarca Fócio para mostrar sua ação missionária entre os eslavos. Em Constantinopla ele deixou discípulos que iriam continuar seu trabalho entre os eslavos meridionais. ---- Após a morte do papa João VIII, subiu ao pontificado romano, em 16 de dezembro, Marino I que manteve a excomunhão do patriarca Fócio.883 – Ainda na tentativa de tomar Melitene, foi destruída, em 14 de setembro, uma armada bizantina (sob o comando de Kesta Stypiotes ou Styppeiotas) pelos árabes comandados por Yazaman ‘al Khadin’ (o Eunuco), emir (governador militar de Tarso) perto de Tarso (na Cilícia), aí morrendo o comandante bizantino. ---- Uma investida naval árabe contra a fortaleza bizantina de Euripos (ou Chalkis, na ilha de Eubéia, na Grécia) foi rechaçada pelo governador do tema da Hélade, utilizando o fogo grego. --- Na frente ocidental, o estratego Estevão Maxêncio sofreu derrota diante dos árabes na Calábria. Depois, o general Nicéforo Focas, comandando um exército com tropas dos temas da Ásia Menor, retomou a Calábria, submeteu diplomaticamente os lombardos e conseguiu restaurar a influência bizantina sobre todo o sul da Península Itálica. 884 - Em 26 de agosto, sagrou-se rei da Armênia, Achot, o Grande, da família aristocrática dos Bagrátidas, recebendo o título de príncipe dos príncipes pelo califa. Manteve boas relações com o imperador bizantino Basílio I, que lhe enviara uma coroa. Ele reinou até 890. --- No curto papado de Adriano III (884-885) continuou a política religiosa contra o patriarca Fócio, mandando-lhe uma carta criticando sua postura diante de Roma.884 a 1079 – Dinastia dos Pakraduni (ou Bagrátidas) da Grande Armênia, criada por Achot I , sendo coroado rei neste ano pelo califado em Ani. Foi a terceira dinastia armênia.885 - A igreja católica romana interveio na Morávia após a morte do monge Metódio em 6 de abril: o novo papa Estevão V condenou sua obra e nomeou o bispo alemão Wiching como arcebispo de Nitra (na Morávia, hoje na Eslováquia), no lugar de Gorazd (arcebispo de Sirmium, nomeado por Metódio); os seus discípulos, pressionados por uma revolta anti-bizantina e pelos missionários francos, tiveram que sair da Morávia, se dirigindo para a Bulgária (como Naum e Clemente, que foram bem acolhidos pelo khan Boris I, em Preslav); ou para a Macedônia e Dalmácia. Alguns deles foram vendidos como escravos.885 a 886 – O imperador, em 885, mandou o general Nicéforo Focas, o antigo (para não confundir com os futuros imperadores Nicéforo Focas) para a Itália, com tropas dos temas da Anatólia Oriental. Conquistou a Calábria aos árabes e, diplomaticamente, conseguiu submeter os governadores (‘gastalds’) lombardos do sul da Itália , o bispo de Nápoles e o príncipe de Salerno (na Sicília). 886 - O imperador se feriu em acidente de caça e morreu em 29 de agosto, mas antes estipulou como seus sucessores os filhos Leão e Alexandre (este como co-imperador) e nomeando o seu terceiro filho, Estevão, como patriarca no lugar de Fócio. Quem acabou se impondo no trono foi Leão, visto que Alexandre apreciava mais as futilidades que as responsabilidades imperiais.886 (29 de agosto) a 912 - Reino de Leão VI, apelidado de ‘o Sábio’ e de ‘o Filósofo’ (título maior concedido pela universidade imperial). O co-imperador era Alexandre. Teve como favorito principal o armênio Stilianos Tzautzes, a quem deixou a administração dos negócios governamentais como primeiro ministro. Sua influência era contrabalançada pelo religioso Eutímio. --- Os poderes do Senado foram diminuídos.886 (continuação) – No Natal, Fócio foi novamente destituído do patriarcado, ficando em seu lugar Estevão (com apenas 16 anos de idade). 886 a 919 - Segundo o historiador Luís Brehier, este foi um período de resistência do Império Bizantino, em que se procurou enfrentar a erosão de dificuldades internas e os fatores de sua destruição, bem como se prolongou a política de conquistas anteriores. Outro historiador, Emiliano Demougeot (da Pléiade) considera o período de 886 a 963 como de preparação à supremacia bizantina.886 a 900 - Fronteiras bizantinas foram constantemente alvo de ataques dos árabes.887 - A guarnição militar bizantina sediada em Bari (no litoral do Adriático, a leste da Itália) foi expulsa por Aion (conforme Louis Brehier, ou Aiulfo II, segundo outros autores), titular do Principado de Benevento. 888 - O rei da Grande Armênia (Aschod, o Bagrátida) assinou tratado político e comercial com Leão VI, renovado em 893 por Sempad (seu filho e sucessor, que, como o pai, foi reconhecido simultaneamente pelo imperador e pelo califa). --- Uma frota bizantina formada pelos temas do Ocidente conseguiu recuperar o porto de Bari ao príncipe lombardo Aion.890 a 912 – Reinado de Sembat I da Armênia, fundador da Dinastia Bagrátida.891- Em 23 de outubro foi atacada e cercada a fortaleza bizantina de Salandu (a oeste da Cilícia) pelo emir de Tarso, Yazam al Khadal, que foi alvejado por uma pedra lançada por catapulta, tendo que sustar o cerco e morreu na volta para Tarso, onde foi enterrado. ---- Neste ano: O estratego Simbatikios atacou e tomou o Principado lombardo de Benevento (que ficou sob o domínio bizantino até 895). --- Leão VI repudiou a imperatriz Teófano (sua primeira esposa, vivendo como uma religiosa no palácio e que não lhe deu filho) e se casou com a filha do ministro Stylianos, chamada de Zoê (cujo marido morreu), após a morte do patriarca Estevão (em 893). Zoê foi esposa por apenas 1 ano e 8 meses após seu pai cair em desgraça. --- Ataque muçulmano conjunto por terra e por mar ao porto bizantino de Salinda (antes chamado de Selinonte), na Anatólia. 892 - Reforma administrativa no tema de Langobardia (ou Longobardia) no sul da Itália, agrupando todas as províncias da região. 893 - Ao falecer o patriarca Estevão, foi escolhido para sucedê-lo o monge Antonio Cauleas, cuja preocupação maior foi a de criar um clima de entendimento entre os partidários dos ex-patriarcas Inácio e Fócio. – O Conselho de Preslav escolheu o búlgaro Simeão I, filho de Boris I (que se tornara monge), para suceder Vladimir. Ele foi cognominado ‘o meio-grego’ por ser muito aficionado pela cultura bizantina. Admirado pela beleza do palácio sagrado de Bizâncio sonhava com a colocação da coroa de basileus sobre sua cabeça. A capital foi transferida de Pliska para Preslav. O clero bizantino foi expulso da Bulgária e o grego foi substituído pelo búlgaro.893 a 903- Entendimentos sobre a vinculação entre as igrejas de Roma e de Constantinopla.894 - Em represália à transferência dos entrepostos comerciais dos portos búlgaros no Mar Negro, efetuada por 2 comerciantes ligados a Stylianos (Estiliano) Zaritses para portos da Tessalônica, o khan búlgaro Simeão invadiu a Trácia e a Macedônia, venceu uma expedição bizantina contra ele e se aproximou de Constantinopla, pressionando-a (a capital estava desguarnecida de tropas, que estavam às voltas com a guerra contra os árabes). ---- O imperador Leão VI, em função de sua política armeniana (de quem recebeu homenagem de vários feudatários, como o príncipe Gregório de Taron) mandou destruir todas as fortalezas árabes (que antes eram igrejas) e ocupou a cidade de Teodosiópolis, na Alta Mesopotâmia. 895- Tentativa do Ducado lombardo de Spoleto (cujo titular era Guido III) de refazer a unidade política do sul da Itália (atacando Benevento) foi frustrada pelo papa Formoso e pela aliança entre Leão VI e os reis carolíngios germânicos Arnulfo e Luís III, o Infante. ---- Os bizantinos procederam

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à uma aliança com o rei húngaro Arpad contra a Bulgária: Arpad, em navios da frota imperial bizantina, atravessou o Danúbio e invadiu a Bulgária.896 – Em 7 de junho, uma armada bizantina sob o comando de Leão Katakalon, reforçado com soldados que serviam na fronteira árabe, investiu contra o khan Simeão I de Bulgária, mas foi severamente derrotada na batalha de Eski-Baba (Bulgarofigon, também denominada de Achelus; hoje chamada de Babaeski, na Turquia). Os bizantinos tiveram que pagar tributo anual aos búlgaros. Simeão marchou contra Constantinopla, mas foi repelido por um exército formada do árabes prisioneiros (que estavam lutando por Bizâncio em troca de sua soltura). Simeão, por sua vez, tornou autônoma sua igreja cristã e nomeou um patriarca local. ---- Em 16 de setembro, através de uma trégua na guerra de fronteiras na Ásia Menor entre bizantinos e árabes, estes conseguiram resgatar 2.500 deles que estavam aprisionados. Em 897, porém, se retomaram as hostilidades até 900.896-898 - Afshin, governador árabe do Azerbaijão neste período, e depois seu irmão (Yussuf) incursionaram e promoveram saques na Armênia, em represália ao bom entendimento entre o rei armênio Sempad e o imperador bizantino. 896 a 911 - Estiliano Tzautsés caiu em desgraça e morreu em 896, sendo sucedido pelo eunuco Samonas (um árabe convertido), como 'parakimomeno', tornando-se o verdadeiro chefe de Estado do Império Bizantino até 911.897 - O litoral da Cilícia, pertencente ao Império Bizantino, foi atacado por terra e por mar pelos árabes.898 - Em julho, o imperador Leão VI, viúvo de sua primeira esposa Teófano, se casou com sua amante Zoê Zautsina, filha de Estiliano Tzautzés. --- Os árabes da Campânia, de sua posição estratégica em Garigliano, estavam constantemente fazendo pilhagens sobre áreas vizinhas: neste ano, se estabeleceram sobre a Abadia de Santa Maria de Farfa, visto que os monges beneditinos aí residentes a tinham abandonado em face da instabilidade em ficar ali, mesmo estando próximo de Roma (em Farfa). ---- O recém-escolhido papa João IX mandou uma embaixada à Constantinopla pela qual se negociou o desarmamento dos espíritos entre os partidários dos ex-patriarcas Inácio e Fócio e deles com Roma (Fócio foi reabilitado). ---- 898 - No litoral da Cilícia, uma frota bizantina sofreu derrota diante dos árabes. 898-9 – Os bizantinos estavam sempre às voltas com incursões dos árabes da Sicília. Para combatê-los, frotas bizantinas conseguiram ocupar o Estreito de Messina (entre a Sicília e a Calábria) e, assim, expulsar os árabes da Calábria. 899 - Em maio, a segunda esposa de Leão VI, Zoê Zautsina (que não teve nenhum filho), foi assassinada. Em julho, Leão VI negociou seu terceiro casamento com Eudóxia (ou Eudokia) do tema da Bitínia. ---- Ao iniciar-se o mês de setembro, foi publicado um livro sobre o sistema administrativo bizantino elaborado pelo mestre de cerimônias Filoteos, cujo título era ‘Kletorologion’. 900 - Eudóxia (ou Eudokia), terceira esposa do imperador Leão VI, morreu no domingo de Páscoa (20 de abril), deixando ao imperador um filho, que morreu pouco depois (conforme Louis Bréhier; outros historiadores ensinam que ele se casou com Eudóxia em julho deste ano).---- Em agosto, o irmão do emir Aglábida Ibrahim-ibn-Ahmed I chamado Abdallah II, após sufocar uma revolta em Ifrîqiya, se lançou contra o último ponto remanescente dos bizantinos na Sicília, que era Taormina (só foi tomada em 902). ---- Armada árabe da Cilícia invadiu o tema bizantino Anatólico, mas foi contida por Nicéforo Focas, que passou pelos desfiladeiros do Monte Taurus e a atacou em Adana (na Cilícia), conseguindo fazer muitos prisioneiros; continuou sua campanha vitoriosa na Alta Mesopotâmia e Armênia, arrebatando enorme butim, levado para Constantinopla. --- Os cargos eclesiásticos e os temas sofreram uma reorganização por edito imperial. --- Aliança de Bizâncio com os Magiares (estabelecidos no Baixo Danúbio desde cerca de 880) para combater Simeão I, mas praticamente desfeita pelo afastamento do general Nicéforo Focas. Durante este século e no próximo se acentuou a desigualdade entre os pobres (chamados de ‘penetes’ ou ‘débeis’) e os grandes proprietários rurais (‘dynatoi’). O imperador Romano I asseverava que a ação dos ‘dynatoi’ eram piores que a peste e a fome (em 934), visto que compravam as terras dos ‘penetes’ a ‘preço de pão’ (por causa de destruição de colheitas por acidente climático 6 anos antes). Da segunda metade do século passado (863) até a metade deste século (957) o Império Bizantino atingiu o apogeu. Até o final deste século os eslavos da Grande Morávia estiveram sob influência religiosa do clero franco ou germânico; passando, então, à influência bizantina (com a evangelização dos monges Cirilo e Método, da Tessalônica).

SÉCULO X Os muçulmanos para defender suas fronteiras com Bizâncio tiveram como seus agentes os emires Hamdânidas de Alepo, já que o Califado Abássida de Bagdá estavam em processo de decadência e desmembramento político. Neste século os bizantinos reconquistaram aos muçulmanos uma parcela do norte da Síria (Antióquia e Lataquia) e Edessa. O historiador Charles Diehl considera o período entre o século X a XII como o segundo período de ouro da arte bizantina. Na Anatólia grandes proprietários rurais, como os Dukas, Skleros, Focas, Maleinos, Paleólogos aumentaram seus latifúndios comprando terras dos pequenos proprietários a preços ridículos ou arrendando-as e não pagando-as; lançando os pequenos proprietários na miséria, diminuindo as colheitas e arredação de impostos, acabando com os feudos militares e desguarnecendo as fronteiras. Tal situação foi a gênese de revoltas camponesas.901 – Na Epifania (dia 6 de janeiro), o imperador nomeou Arethas como bispo de Cesareia de Capadócia. ---- Em 1 de março, em Constantinopla, o patriarca Antonio Cauleias foi sucedido por Nicolau I, o Místico (homem de confiança). Foi confessor de Leão VI. Teve como objetivos a disciplina da igreja e a ação missionária. Neste ano, estabeleceu uma hierarquia na Alania e fomentou a ação missionária nos principados vizinhos (na região do Cáucaso). ---- Os Aglábidas saquearam, em 10 de junho, a cidade bizantina de Reggio de Calábria (sul da Itália) e fulminaram a esquadra bizantina sediada nesta província italiana (Calábria). ----Tratado de paz entre Leão VI e o khan búlgaro Simeão I. 901-904 – Os bizantinos se aproveitaram da situação instável do califado abássida de Bagdá para promoveram incursões às fronteiras ocidentais da Pérsia Islâmica; mas, simultaneamente, sofreram revezes diante dos corsários muçulmanos de Creta e do litoral da Síria atacando e pilhando o litoral da Grécia e as ilhas do Mar Egeu. 902 –Entusiasmados pela ‘guerra santa’ e prosseguindo a disputa pelo sul da Itália e Sicília, Jafar ibn Muhammad al-Tamini desembarcou em Trapani e conquistou a última cidade ainda em poder dos bizantinos na ilha, Taormina (em 1 de agosto); l mês depois, atravessou o Estreito de Messina e desembarcou de novo na Calábria devastando tudo e cercando Cosenza (1 de outubro), mas morreu 22 dias depois, provocando a saída de sua armada do teatro de operações de guerra. Mesmo assim, ainda permanecia a ameaça dos árabes de Campânia, em sua posição estratégica de Garigliano. ~ 902 - Batismo do príncipe dos Alanos no Cáucaso por influência de Bagrat, príncipe de Abasgia, aliado de Bizâncio, aumentando a influência deste império na região. O patriarca de Constantinopla nomeou um arcebispo para a Alânia.902-903 – Continuaram os ataques de corsários árabes de Creta e do litoral da Síria sobre as ilhas do Egeu e do litoral da Grécia, pertencentes ao Império bizantino, cuja frota naval não pode defender sua população, insegura até em cidades fortificadas (como ocorreu na pilhagem de Demetrias (Volo atual, na Tessália).903 – Ainda perseguindo o objetivo de ter um filho, o imperador colocou no palácio uma favorita, Zoê ‘Carbonopsina’ (‘dos olhos negros’); se esta lhe desse um filho, ele se casaria com ela. Tal fato despertou a contrariedade do patriarca Nicolau e a animosidade entre focianos e inacianos. – Em 11 de maio, o imperador sofreu um atentado na Igreja de S. Mocio na capital, por uma conspiração frustrada de seu irmão Alexandre. --- Fracassou a revolta de Andrônico Dukas, comandante das tropas de fronteira da Ásia Menor (com o apoio do patriarca Nicolau) por denúncia do eunuco Samonas; Andrônico Dukas se refugiou junto aos árabes, tentando obter sua ajuda para destronar o imperador.904 – Em 29 de janeiro subiu ao pontificado romano o papa Sérgio III, criador da ‘era da pornocracia’. ---- De 29 a 31 de julho, o renegado grego Leão de Trípoli, à frente de piratas sarracenos da ilha de Creta, se apoderou de Atália (ou Adália), na Panfília (de onde ele se originou); daí atravessou o Helesponto, navegou pela Propôntida (nome antigo do Mar de Mármara) até Parion, pretendendo tomar a capital, mas desistiu do seu intento pela aproximação do generalíssimo Himérios, que o perseguiu. O renegado mudou de objetivo: no final de julho, saqueou por 10 dias o porto de Tessalônica (segunda maior cidade do império). ---- Como o império estava sendo ameaçado pelos búlgaros, o imperador celebrou um acordo com Simeão I, pelo qual ele com a região meridional da Macedônia e da Albânia.905- Em setembro, nasceu Constantino, filho de Leão VI com Zoê ‘Carbonopsina’ (‘de olhos negros’). --- Aliança entre o unificador da Croácia (Tomislav) e Bizâncio, conseguindo deste as cidades de Trogir, Split e Zadar (no litoral do Adriático). --- No final deste ano, o imperador soube das

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ligações entre o patriarca Nicolau e Andrônico Dukas (um desertor de sua armada entregou a carta do patriarca enviada a Andrônico).906 – Em 6 de janeiro, o patriarca batizou Constantino sob a condição de que Leão VI se separasse de Zoê ‘Carbonopsina’. Três dias depois, no entanto, ele contraiu matrimônio com ela. Efetivou-se, então, o caso chamado de ‘tetragamia’ do imperador. O patriarca Nicolau, após insistir inutilmente duas vezes, interditou ao imperador a entrada na igreja de S. Sofia no Natal deste ano e na Epifania (6 de janeiro).---- O generalíssimo bizantino Himérios, à frente de sua frota naval, fulminou os árabes no Mar Egeu, em 6 de outubro.--- Entre outubro deste ano e fevereiro de 907, o califa abássida tentou um acordo de paz com os bizantinos ; em resposta, o imperador Leão VI, o Sábio, mandou o emissário Leão Choirosfaktes a Bagdá, conseguindo este uma troca de prisioneiros.907 – Na Epifania (6 de janeiro), o imperador mandou prender o patriarca Nicolau Mysticos e o exilou num mosteiro sob a acusação de ter participado da tentativa de golpe de Andrônico Dukas. Em seu lugar, foi nomeado Eutímio como patriarca, que legitimou seu quarto casamento. Por outro lado, o papa Sérgio III (o mesmo da ‘pornocracia’, tendo como amante a lombarda Marozia) validou este casamento. ---- O sucessor do príncipe Rurik de Kiev (seu irmão Oleg I, o Sábio) cercou Constantinopla por terra e por mar e promoveu saques nos seus arredores, forçando o imperador a assinar um acordo favorável a ele, renovado em 911, pelo qual os mercadores russos (sediados em S. Mamas, ou Besiktas) tinham subsídios mensais e isenção de taxas na venda de escravos, peles e mel. 909 - O imperador Leão VI queria desestabilizar o foco de pirataria árabe da Síria. Para tal, através de emissários em Kairuan (na Tunísia), conseguiu negociar a neutralização do emirato Aglábida da África, mas não do emir de Creta (também foco de ações de corsários).910-911 - No verão de 910, o almirante Himérios, após confronto com os árabes, aportou na ilha de Chipre, onde instalou bases navais de operação militar contra a Síria (segundo maior centro de ações de pirataria, o primeiro era a ilha de Creta), se apoderou de fortalezas no litoral sírio (como o do porto de Laodiceia, hoje chamado de Latakia). Enquanto assim procedia, os árabes (comandados pelo renegado Damian) retomaram Chipre e saquearam as cidades que estavam sob domínio bizantino. 911- Em abril, ao morrer o papa pornocrata Sérgio III, foi eleito Anastácio II, com a ajuda de Marozia e sua mãe Teodora, a Antiga (esposa do senador romano Teofilacto); não se findando, pois, a pornocracia reinante na igreja de Roma. ---- Em 9 de junho, o patriarca Eutímio coroou Constantino VII Porfirogeneta, uma criança com 6 anos de idade, como imperador. 912 – Faleceu, em 11 de maio, o imperador Leão VI. Seu irmão, Alexandre e o filho Constantino VII ocuparam o trono.912 (11 de maio) a 913 (6 de junho) - Governo de Alexandre e Constantino VII.912 (continuação) – O imperador Alexandre se recusou a continuar a vassalagem fiscal em relação aos búlgaros, evidentemente sofrendo retaliações. – Em 15 de maio destituiu Eutímio e recolocou Nicolau Mysticos no patriarcado de Constantinopla. --- Em 8 de setembro, ocorreu a renovação do convênio comercial entre o Império Bizantino e o príncipe de Kiev, Oleg I, este recebendo vantagens para os comerciantes russos e concordando com a não-agressão entre ambos. – Em outubro, a frota naval de Himérios foi destruída pelos árabes ao largo da Ilha de Samos, próximo de Esmirna. 913 – Ao morrer Alexandre em 6 de junho, ficou sozinho no trono Constantino VII, com apenas 7 anos de idade, tendo como regente o patriarca Nicolau. Este último, mandou prender novamente Zoê, internando-a em mosteiro. Face à ameaça búlgara com Simeão, o Grande, diante de Constantinopla, o patriarca solicitou o auxílio de Constantino Dukas (filho de Andrônico Dukas), mas este foi morto ao chegar à capital por uma revolta (em junho). Simeão exigiu tributo e o casamento de uma de suas filhas com Constantino, mas o patriarca Nicolau conseguiu demovê-lo disto, ao coroá-lo como basileus. 913 a 919 - Crise interna com disputas pelo trono e crise externa com derrotas diante dos búlgaros. 913 a 959 - Reinado de Constantino VII Porfirogeneta ( nascido na Porfira ou púrpura, cor entre vermelho e violeta, na sala palaciana com lage de mármore vermelho), que efetivamente governou de 944 a 959. De 913 a 914 (fevereiro) teve a regência sob a chefia do patriarca Nicolau; de 914 a 919, governou sua mãe Zoê Carbonopsina; e, de 919 a 944, governou Romano Lecapeno.914– Como o patriarca Nicolau se mostrou incapaz, Zoê Carbonopsina, em fevereiro, retornou ao palácio imperial, destituiu em princípio Nicolau (que foi obrigado a se ater apenas às suas funções religiosas) e o conselho regente, governou como regente até 919.914 (continuação) –A imperatriz-regente Zoê Carbonopsina, a partir de fevereiro deste ano (até 919), governou com o auxílio da burocracia palaciana (concorrendo com influência do patriarca Nicolau Mysticos) e tinha como favorito o general Leão Focas. Sua primeira iniciativa foi a de retirar o que foi concedido ao khan Simeão I antes (concessão do título de basileus e do casamento de sua filha com o imperador-menino Constantino VII). Reiniciaram-se, então, as hostilidades: Simeão invadiu e saqueou a Trácia (em setembro), se apoderando de Andrinopla. Ao mesmo tempo, a imperatriz-regente firmou uma aliança com os turcos pechenegues (povo nômade da Ásia que se estabelecera recentemente no Baixo Dnieper, nas estepes da atual Ucrânia). ---- Na Itália foi eleito novo papa, João X, em 8 de março, que se articulou em campanha contra os árabes de Campânia (em Garigliano) organizando uma aliança cristã formada de príncipes lombardos (como Alberico, marquês de Spoleto), milícias de Gaeta e de Nápoles, gente de Toscana e até o estratego bizantino de Bari; o papa mesmo chegou a chefiar uma expedição pessoalmente.915 - A fronteira oriental de Bizâncio foi invadida pelos árabes de Tarso (na Cilícia), enquanto tropas imperiais incursionavam na Alta Mesopotâmia e tomaram a cidade de Marach. Foi assinado um acordo de paz diante disto. Desembaraçada na fronteira oriental, a regente Zoê organizou uma grande armada para combater os búlgaros. --- Na Itália, os árabes sofreram um duro ataque da liga formada pelo papa João X, sendo cercados por 3 meses no porto de Garigliano (ao norte de Nápoles); em função disso, fugiram para as montanhas próximas, mas foram massacrados. Desta forma foi eliminada a presença sarracena na Campânia e no sul da Itália. --- Neste ano, iniciou-se a heresia chamada de bogomilismo na Bulgária. 915-927 – A presença do Império Bizantino entrou em colapso na Península Itálica, neste período (até o desfecho dos conflitos búlgaro-bizantinos).916 - A regente bizantina Zoê Carbonopsina iniciou entendimentos, dirigidos pelo patriarca Nicolau Mysticos, para uma trégua com os Abássidas de Bagdá, em face da iminência de um ataque dos búlgaros.917 - Zoê Carbonopsina, mãe e regente do imperador Constantino VII Porfirogeneta, mandou dois embaixadores a Bagdá para efetuar troca de prisioneiros. Aí na capital abássida foram muito bem recebidos pelo emir Mu’niz, encarregado pelo califa Al-Muqtadir das negociações bem sucedidas em 25 de junho. ---- Invasão da Bulgária por tropas bizantinas comandadas pelo general Leão Focas; simultaneamente, outra armada entrava pela foz do Danúbio com Romano Lecapeno, juntamente com João Bogas, levando os aliados Pechenegues pelo rio. Por desavenças entre Romano Lecapeno e João Bogas, os Pechenegues abandonaram a aliança. Quando os bizantinos, conduzidos por Leão Focas, estavam se retirando para Mesembria foram surpreendidos pelo khan Simeão I e massacrados na sangrenta II Batalha de Anchialos (Pomorie atual), em 20 de agosto (Leão Focas conseguiu escapar). O restante da armada sofreu nova derrota em Katasyrtae (subúrbio de Constantinopla) por Simeão, que, a seguir, foi para a Macedônia e a Grécia até o Golfo de Corinto sem nenhuma dificuldade.. Estas derrotas enfraqueceram de tal forma o império, que fracassaram as tentativas de aliança com os húngaros e sérvios; por outro lado, os árabes romperam a trégua e recomeçaram os ataques na fronteira oriental. 918 – O khan (tzar) Simeão I invadiu o tema da Hélade (Grécia), penetrando até o istmo de Corinto. 919 – O patriarca Nicolau deixou suas funções religiosas para promover maquinações políticas, voltando novamente à regência e retirando de Leão Focas suas funções no palácio (em março). – No verão deste ano, o khan búlgaro Simeão I executou operações militares intimidatórias no Helesponto. A Igreja Ortodoxa da Bulgária se tornou autônoma, nomeando patriarca próprio. ---- Em 25 de março, o almirante Romano Lecapeno, a pedido de Constantino VII, se postou no porto de Bukoleon (onde ficava um dos palácios de Constantinopla), para impedir que o general Leão Focas tomasse o poder. Este general, com tropas dos temas da Ásia Menor, chegou até Crisópolis (hoje Uskudar), nas imediações da capital bizantina; aí, abandonado pelos seus soldados, foi aprisionado, cegado e jogado à fúria das turbas na capital. Em função da presença da frota naval junto às muralhas do palácio, interveio Romano Lecapeno para eliminar tal presença. No palácio ofereceu sua filha Helena como noiva de Constantino e se intitulou ‘basileo-pator’. A mãe de Constantino, Zoê Carbonopsina tentou inutilmente envenenar Romano Lecapeno, ao que este respondeu com sua prisão e exílio em um mosteiro. Em 24 de setembro, Romano Lecapeno se outorgou o título de César e em 17 de dezembro foi coroado basileus pelo patriarca Nicolau, diante de Constantino. --- Neste ano: O califa abássida Al-Muqtadir (Al-Moqtader) mandou uma coroa e conferiu ao rei armênio Achot II Bagratuni o título de ‘rei dos reis’ (‘shanshah’ ou “Šahnšah.”), em homenagem à sua participação, junto com os emires do Azerbaijão, no confronto contra as

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incursões de bizantinos.919 (17 de dezembro) a 944 - Governo do almirante e usurpador Romano I Lecapeno, de origem armeniana. --- Constantino VII se casou com sua filha Helena. --- Conforme os historiadores Louis Bréhier e Charles Diehl sua data de ascensão ao trono bizantino foi esta; mas há autores que consideram a de 920.919 a 924 - Tentativas frustradas de conciliação com Simeão I por parte do imperador e do patriarca Nicolau, o Mystico. 920 – Em 9 de julho, este mesmo patriarca reconheceu a legitimidade de Constantino VII no trono bizantino, embora condenasse a tetragamia de seu pai Leão VI. --- Neste ano: A Sérvia, insuflada por Romano I, se rebelou contra Simeão, que conseguiu derrotar o chefe sérvio Zacarias e deportou sua população. – O imperador-usurpador nomeou o seu filho Cristóvão como chefe da guarda do palácio. ---- Os húngaros expulsam os búlgaros do Danúbio, aniquilaram com a Grande Morávia e atacaram Kiev.~ 920/927 - A região da Hélade (Grécia) foi assolada pela fome, exigindo a intervenção do governo local na distribuição de alimentos, inclusive de populações pagãs do sudoeste de Argos (no Peloponeso). Além disso, sua população era constantemente flagelada por incursões de piratas árabes de Creta, que não se contentavam apenas em saquear, mas também em vender seus habitantes como escravos.921- Romano I coroou sua esposa em janeiro e nomeou o filho Cristóvão basileus em maio. Em 924, foi a vez dos filhos Constantino, Estevão e Teofilato. – O khan Simeão I enviou um ultimato ao império, se dirigiu a Constantinopla, mas sofreu derrota em sua periferia (em Katasyrtae). 921-924 - Os últimos eslavos ainda não assimilados a Bizâncio, os Melingues (habitando a região montanhosa do Taigeto) e os Ezeritas (na área litorânea do Golfo da Lacônia), no Peloponeso, se revoltaram sem sucesso contra os bizantinos, pacificando a região já que estavam livres das incursões búlgaras (de Simeão I) e dos árabes.922 - Tropas búlgaras, sob o comando de Teodoro Sigritsa, passaram pelas montanhas de região Strandzha e chegaram perto da Grande Muralha. O imperador Romano I mandou tropas comandadas pelo almirante Aleixo Mosele e por Argiros Pothos defrontando, entre 11 e 18 de março, com os búlgaros na Batalha de Pegae (hoje, Balakla, perto de Istambul), mas aí foram derrotadas (a maioria dos soldados morreu afogada, ou foi morta e presa, sendo que Aleixo Mosele morreu durante o combate). Os turcos queimaram palácios em Pegae e depois voltaram para sua capital, Preslav. --- Neste ano: Segunda tentativa de Simeão I sobre a capital bizantina, no verão, quando saqueou um dos palácios locais (o Palácio da Fonte). --- Ocorreu uma revolta do Peloponeso contra Bizâncio, abrindo caminho para a invasão dos búlgaros (era daí que se extraía a púrpura do molusco chamado múrex, ou murice). --- Os temas ocidentais de Bizâncio sofreram uma tríplice pressão externa: os árabes invadiram a Calábria, os magiares pilharam a região da Campânia e o Mar Adriático sofreu com as ações de pirataria de corsários eslavos. ---- Quando o renegado João de Trípoli, a serviço dos sarracenos, saqueava a ilha de Lemnos, foi surpreendido por frota naval bizantina comandada por João Radinos, tendo que sair em fuga para não ser preso. --- O rei armênio Achot II Bagratuni e o emir do Azerbaidjão persa, Subuk, infringiram derrota às tropas bizantinas invasoras nas proximidades de Dvin.922 a 926 - Inação bizantina total diante de incursões, pilhagens e conquistas árabes na Itália.922 a 934 - Romano I criou legislação favorável aos pequenos proprietários, como o direito de preempção. 923 - Simeão I invadiu a Trácia e tomou Andrinopla, abandonada logo depois com aproximação de armada bizantina. – Invasão frustrada do emir do Azerbaijão na Grande Armênia por causa da intervenção dos bizantinos, aliados desta. – O estratego do tema de Chaldia (no nordeste do império), Bardas Boeslas, promoveu e fracassou numa revolta contra Romano I, tido como usurpador, para alçar ao trono o verdadeiro imperador, Constantino. Sofreu derrota diante das tropas de João Curcuas (comandante em chefe da fronteira oriental) , foi aprisionado e internado num mosteiro. – O papa João X, mandou 2 bispos à capital bizantina alertados por uma carta do patriarca Nicolau ao khan Simeão e lançaram a excomunhão sobre a tetragamia de Leão VI; quando se propuseram a conversar com o khan Simeão, o patriarca os persuadiu a não fazê-lo alegando a insegurança do caminho até Preslav; na realidade, porém, ele temia uma suposta influência de Roma sobre a Bulgária. 924 - Em janeiro, nova rebelião da Sérvia, sob o comando do príncipe Paulo, vencida por Simeão I (o que não foi do agrado do imperador bizantino). --- Simeão I tentou uma aliança com os Fatímidas da África, a fim de conseguir o apoio de sua frota naval para atacar a capital bizantina, tanto por terra como pelo mar. Esta tentativa gorou porque seu emissário foi capturado pelos bizantinos. ---- Por outro lado, Bizâncio negociou aliança com húngaros e pechenegues contra os búlgaros. --- Durante o verão deste ano (em agosto), Simeão atacou e saqueou a Trácia e a Macedônia e novamente esteve ameaçando as muralhas de Constantinopla pela última vez, visto que não conseguia superar suas muralhas e suas fronteiras estavam sendo ameaçadas pelos sérvios. Em face desta situação, assinou, em 9 de setembro, uma trégua com o imperador-usurpador Romano Lecapeno, pela qual devolvia algumas fortalezas no Mar Negro, mas recebia tributo e muitos presentes bizantinos. --- Romano I nomeou 2 outros filhos (Estevão e Constantino) como basileus, em 20 de dezembro. Enquanto isto, Teofilato, seu filho caçula, foi encaminhado ao patriarcado. --- Neste ano: Os árabes comandados por Yusuf Beshir invadiram a Armênia, atacaram sua capital (Dvin), mas não conseguiram nada em relação ao rei Ashot (que se refugiou em ilha do Lago Sevan).~924-927 - O Império Bizantino sofreu ataques constantes do khan Simeão I em Serrés (hoje chamada de Serrai), Tessalônica e Tessália se aproveitando de revoltas dos eslavos (Melingues e Ezeritas) da região montanhosa do Taigeto, no Peloponeso. 925 - O khan Simeão I voltou atrás na decisão de devolver fortalezas (julgando que Bizâncio seria incapaz de se defender sozinho) e se outorgou o título de ‘basileus dos búlgaros e dos gregos’. ---- O imperador Romano I Lecapeno, depois que Constantinopla sofreu o cerco pelo rei búlgaro Simeão, por estar sem forças para proteger as fronteiras orientais contra os árabes, conseguiu uma troca de prisioneiros com o califado. ---- Em 15 de maio, faleceu o patriarca Nicolau Mysticos (verdadeiro primeiro ministro do império). Em agosto, o patriarcado coube a um velho bispo metropolita de Amaseia, Estevão. Sucedeu-o, por pouco tempo, um secretário do imperador, acusado de conspiração, foi deposto e internado em mosteiro. O imperador teria colocado como sucessor o seu filho Teofilato, mas tendo só 7 anos, o patriarca passou a ser Estevão II. ---- Por volta deste ano, o príncipe croata Tomislav, depois de ter repelido os húngaros para além do rio Drava, juntou a Croácia meridional (ou ‘Branca’) com a Croácia Panoniana, foi aclamado rei e conseguiu do imperador bizantino o título de procônsul, tendo autoridade sobre as cidades da Dalmácia. 926 - Em 15 de agosto, foi conquistada a cidade de Tarento (no sul da Itália) pelo emir da Sicília com apoio naval do eslavo Saian, impondo tributo à Calábria e Campânia. ---- Neste ano: Romano I Lecapeno mandou reorganizar a defesa na fronteira oriental contra os muçulmanos e mandou João Curcuas devastar área adjacente a Melitène, em face de recusa de chefes árabes em pagar tributos atrasados. ---- Neste ano: Devido à insolência do búlgaro Simeão em se julgar basileus, o imperador bizantino conseguiu do papa João X a homologação e exclusividade do seu título, além da elevação do arcebispado de Belgrado à condição de patriarcado. --- A Croácia, cujo príncipe Tomislav era aliado de Bizâncio, sofreu invasão dos búlgaros comandados por Alogobotur.927 – O tzar Simeão I reprimiu uma revolta dos sérvios. Depois disto, ele morreu (27 de maio) no Palácio Real de Preslav e foi sucedido pelo caçula Pedro (o primogênito, Miguel, fora deserdado e forçado a ir para convento), que, por ser menor, teve como regente Sursubul (irmão de Simeão). Começou, a partir daí, a decadência do Reino da Bulgária. Sua primeira iniciativa foi atacar a Trácia, mas antes que houvesse uma retaliação bizantina, negociou a paz como Romano I Lecapeno: Pedro recebeu título nominal de basileus dos búlgaros (em 8 de outubro); um mês depois, se casou com Maria (filha de Cristóvão Lecapeno), cujo nome foi mudado para Irene (‘a paz’). Sursubul assinou acordo com Romano I devolvendo as cidades do Golfo de Burgas e mudando a fronteira entre os dois Estados na Tessalônica. A paz com os búlgaros facilitou a ação militar bizantina contra os muçulmanos. --- O príncipe Tomislav da Croácia venceu as tropas búlgaras comandadas por Alogobotur na Batalha das Terras Altas da Bósnia (perto do rio Drina, na fronteira entre a Bulgária e a Croácia), em 27 de maio (em que muitos soldados búlgaros morreram, inclusive Alogobotur). Mesmo assim, Tomislav (temendo novo ataque búlgaro) assinou acordo de paz e desvinculou-se da aliança com Bizâncio. ---- Romano I proclamou seu filho Cristóvão como basileus.927 a 938 – I Guerra Bizantino-Árabe: o Império Bizantino pretendia fazer incursão na Alta Mesopotâmia e na Cilícia com a ajuda da Armênia. Assim, realizaram-se campanhas militares bizantinas sob o comando do general João Curcuas (ou Gurguen, fiel amigo do imperador desde sua ascensão ao trono) que se apoderou de Samosate (no vale do rio Eufrates, em 927), sofrendo resistência dos Hamdânidas (emires árabes de Mossul e

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Alepo); além disso, invadiu a Armênia árabe mas sem sucesso em Towin. A reação abássida foi nula em relação à invasão da Alta Mesopotâmia; se manifestando apenas em incursões na Anatólia. ---- De 927 a 934, existiu um tema bizantino chamado de Selêucia.928 – O império foi assolado por inverno rigoroso, daí decorrendo destruição de colheitas e a fome. Os mais prejudicados, além dos consumidores, foram os pequenos proprietários. O imperador, fiel às suas origens, afirmava que ‘a pequena propriedade é útil não só para o pagamento de impostos, como para o recrutamento militar. Se ela desaparecer, haverá perigo para todos’. Deste modo, criou uma legislação protegendo-os. Esta política lhe angariou a antipatia da aristocracia rural e mesmo de altos funcionários. --- O patriarca Estevão II, por sua idade avançada, morreu em dezembro deste ano, sendo substituído pelo modesto monge Trifão. – Neste ano, o general João Curcuas manteve o controle do Alto Eufrates e transformou as mesquitas das cidades conquistadas em igrejas. – Tentativa de complô para destronar Romano Lecapeno por parte do genro do príncipe Cristóvão Lecapeno (Nicetas); ao ser descoberto, Nicetas foi internado num convento e a esposa do príncipe (Sofia) foi expulsa do palácio. 930 – O patriarca de Constantinopla, Trifão, em agosto foi deposto (por não se alinhar com a política imperial, mas também por sua ingenuidade em assinar um documento de sua exoneração sem lê-lo). Finalmente, o imperador pode nomear seu filho Teofilato como patriarca (a partir de 933, quando completou apenas 15 anos), mesmo sem o aval dos bispos.931 – Em agosto morreu um dos filhos Romano I Lecapeno: Cristóforo. ---- Em represália à conquista de Samosate, na Alta Mesopotâmia, por João Curcuas, os árabes invadiram vários lugares da Anatólia. O emir de Tarso (Suml) saqueou Amorium e Ancira (atual Ancara). Em dezembro, os Hamdânidas, tendo a frente Said-ibn-Hamdan, conseguiram desfazer o assédio a que João Curcuas tinha submetido a cidade de Samosate e recuperaram Melitène.932 Mais uma tentativa fracassada de colocar no trono Constantino VII, agora por um aventureiro que se dizia chamar Constantino Dukas (antigo adversário do imperador).933 – Em 2 de fevereiro, o imperador usurpador nomeou seu filho adolescente e eunuco, Teofilato, para o patriarcado de Constantinopla. 934 – Mesmo havendo uma Bulgária como Estado-tampão com a Hungria, os magiares e os turcos pechenegues invadiram e saquearam a Trácia, se aproximando de Constantinopla, forçando a assinatura de acordo pelos bizantinos. --- Em 19 de maio, a cidade de Melitene (na Armênia) foi novamente ocupada por João Curcuas, que chegou depois à Edessa e Amida com a ajuda dos armênios. --- Em setembro, o imperador estabeleceu por edito a proteção da pequena e média propriedade, com o objetivo de reparar os estragos produzidos pelo inverno de 927-928. Os seus proprietários tiveram que vender pela metade do seu preço; agora a teriam de volta a sua posse. Por outro lado, proibiu aos latifundiários de comprar terras nas vilas onde não fossem proprietários. ---- Na fronteira ocidental, o príncipe lombardo de Cápua, Landolfo, foi obrigado a sair da Apúlia por determinação do patrício bizantino Cosmas, à testa de uma frota naval.935 – O imperador bizantino mandou uma embaixada com presentes a Hugo d’Arles, rei da Itália desde 926, a fim de conseguir sua adesão à luta contra os príncipes lombardos do sul da península. 937 a 941 – Bizâncio enviou provisões de trigo aos árabes da Sicília em rebelião contra os Fatímidas de Kairuan (Tunísia); com isto, findaram os ataques árabes sobre o litoral da Itália bizantina.938 – O novo emir hamdânida Seïf-ad-Daouleh invadiu a Alta Mesopotâmia, mas teve que recuar diante de João Curcuas momentaneamente, para depois, escolhendo um local estratégico, lhe infligir uma severa derrota. O imperador Romano I Lecapeno entrou em entendimentos com o califado de Bagdá para assinar uma trégua visando à permuta de prisioneiros. – Em agosto morreu o príncipe Cristóvão, que estava destinado à sucessão, pois os outros dois filhos do imperador (Constantino e Estevão) tinham um conceito público negativo de incapacidade para tal. 939 – Ao terminar o outono e mesmo começando o inverno, o emir Seïf-ad-Daouleh (ou Saif el-Dola) rompeu a trégua firmada com os bizantinos e promoveu incursões sobre a Armênia, destruindo uma cidade próxima de Erzerum (de tal forma que muitos chefes georgianos e armênios se entregaram a ele) e saqueou o tema de Armeníacos.939 a 945 - Segunda fase das refregas o Império Bizantino e o Califado de Bagdá. Os líderes da Armênia e da Geórgia se submeteram aos Hamdânidas de Mossul (estes se apoderaram de Antióquia e Emeso, hoje Homs).941 – O príncipe varegue de Kiev e unificador das tribos eslavas do vale do Dnieper, Igor, filho caçula de Rurik e sucessor do seu tio Oleg, atacou a capital bizantina (11 junho), mas foi surpreendido pelo fogo grego atirado pelas tropas sob o comando de Teófano; daí se retirou passando pela Bitínia, saqueando a área entre Heracleia e Nicomédia e torturando seus habitantes. Tropas de Bardas Focas os eliminaram, completando este trabalho a armada de João Curcuas. Quando, no outono, os remanescentes russos estavam passando pela Trácia praticamente foram exterminados por Teófano, restando uma minoria para voltar à Kiev. 942 – No outono, Hugo d’Arles, então rei da Itália e duque de Provença, por não ter esquadra no Mediterrâneo Ocidental, solicitou ao imperador bizantino Romano I Lecapeno, que tinha uma base naval em Sardenha, para ajudá-lo a combater os árabes de Fraxinetum. Ocorreu, então, o bloqueio naval desta fortaleza de piratas árabes (perto da atual Saint-Tropez, em Provença) pela esquadra bizantina, enquanto por terra por tropas provençais e piemontesas de Hugo d’Arles. Todo este aparato ruiu em face da desistência deste último, por ter que lutar contra o marquês Berenguer de Ivrée em disputas relativas ao trono italiano.942 a 944 - O general bizantino João Curcuas iniciou, em novembro de 1942, uma incursão sobre a Síria e Armênia, se apoderando de Djazira. Continuou na Armênia, se apoderando de Arzen (norte do Lago Van). A seguir, em 943, atacou os domínios do emir de Mossul e Alepo, na Alta Mesopotâmia, submetendo temporariamente as cidades de Martirópolis (Maïafaryqin), Diyârbékir, Dara e Nísibe. Daí foi para o alto vale do Eufrates, onde cercou e tomou Edessa (conseguiu de seu emir a relíquia chamada de ‘mandylion’, isto é, uma imagem milagrosa de Jesus Cristo estampada em um pano, em troca de prisioneiros). Ao terminar sua campanha ainda conquistou Marash (ou Germanicia), no sopé do Monte Anti-Taurus, importante como ponto de encontro de rotas comerciais entre a Ásia Menor e a Síria, bem como era base de operações de ataques árabes ao Império Bizantino. Voltou para Constantinopla, onde chegou em 15 de agosto de 944.943 – Um sismo destruiu Cízica. --- Em face da decretação de obrigatoriedade de se converterem ao cristianismo no Império Bizantino, os judeus se refugiaram na Kazária e depois no principado russo de Kiev. --- Renovou-se, neste ano, um tratado entre os bizantinos e os húngaros, cujos príncipes frequentaram o palácio imperial em Constantinopla e foram batizados.944 – Em 15 de agosto, João Curcuas (Kurkuas) entrou triunfalmente na capital bizantina carregando o ‘mandylion’ e a fama de suas vitórias. Constantino e Estéfanos, filhos do imperador, movidos pela inveja (tinham fama de corruptos e incapazes), conseguiram que ele fosse substituído por Pantherios (Foteinos Skleros). Este foi derrotado em campanha militar no norte da Síria por Seïf-ad-Dauleh. --- O príncipe Igor de Kiev, se juntando com eslavos meridionais e com os turcos pechenegues, organizou expedição cujo destino era, novamente, Constantinopla. O imperador soube disso através dos búlgaros e mandou uma embaixada com presentes que encontrou Igor e seus aliados no baixo Danúbio para negociar uma trégua. Na capital, Igor e Romano I negociaram um acordo comercial vantajoso para os russos, como os anteriores, além da promessa de não atacar Quersoneia. O príncipe Igor morreu logo após, em 945. – Neste ano de 944, Romano I mostrou-se arrependido de colocar Constantino Porfirogeneta como seu sucessor, em vez dos 2 filhos, descontentes com isto. --- Em setembro houve o casamento do filho de Constantino VII Porfirogeneta (também chamado Romano) com Berta de Provença, filha bastarda do rei da Itália, Hugo d’Arles, que passou a ter o nome de Eudóxia. Este casamento não era benquisto pelos Lecapenos. --- Em dezembro, Estevão e Constantino retiraram o seu pai, Romano I Lecapeno do Grande Palácio, o colocaram em uma embarcação e o levaram para a ilha de Proti (janeiro de 945), uma das nove ilhas do Arquipélago chamado de ‘Ilhas dos Príncipes’, próximo da capital. Aí exilado teve seus cabelos cortados e vestido de monge, morrendo em 15 de junho de 948. --- Em 30 de outubro, o Hamdânida Saif-el-Dola (ou Ali Seïf-ad-Dauleh, ‘o Gládio do Estado’) criou a Dinastia dos Hamdânidas na Síria, ao se apoderar de Alepo (ajudado pelo seu irmão Hassan Nasir al-Dawla), tendo esta cidade e Homs como centros de sua ação contra os bizantinos e governando até 967. ---- A partir deste ano, comerciantes do porto italiano de Amalfi (cuja moeda de ouro já circulava por toda a Itália) tinham sua área de negócio na capital bizantina. 944 (dezembro) a 959 - Governo pessoal de Constantino VII Porfirogeneta junto com Basílio, o Passarinheiro (filho bastardo de Romano I).

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Como era um erudito e intelectual não muito afeito à política, a ação governamental teve a presença constante de sua enérgica esposa Helena Lecapeno (filha de Romano I Lecapeno), além do general Bardas Focas, o Antigo com seus filhos Leão Focas e Nicéforo Focas.945 – Os dois filhos de Romano I que o depuseram em dezembro, tentaram organizar um complô contra o novo imperador, sendo enclausurados e exilados para o mesmo local onde eles tinham mandado o seu pai, a ilha de Proti. --- No domingo de Páscoa (6/4), o imperador mandou o patriarca Teofilato coroar como basileus o seu filho Romano (futuro Romano II), a fim de manter a continuidade dinástica. --- Constantino VII chamou de volta Bardas Focas e seus filhos Nicéforo e Leão. --- Em 31 de outubro, o imperador Óton I, do Sacro Império Romano Germânico, recebeu uma embaixada bizantina. --- Neste ano: Colocando o Império Bizantino em perigo, Seïf-ad-Dauleh (Saif el-Dawla) se estabeleceu em Alepo (na Síria), conquistada aos Ikhshididas; estes, mesmo retomando Alepo por pouco tempo, entregaram-na aos Hamdânidas, além das cidades de Emesa e Antióquia, em novembro. --- O tema italiano da Langobardia estava convulsionado por rebeliões.945 a 1004 – Os Hamdânidas, sob a direção de Seïf-ad-Dauleh, se tornaram senhores de toda a Síria (a partir de Alepo, conquistada aos Ikhshididas) e Jazira (ou Jezira - entre Tigre e Eufrates, tendo como capital a cidade de Mossul). Alepo se tornou a capital e se tornou um brilhante centro intelectual muçulmano. O Emirado Hamdânida, se situando entre os Impérios Islâmico e Bizantino, desempenhou papel político importante nesta época.946 – Estourou uma rebelião no porto italiano de Bari. --- Os árabes da Sicília, depois que se apaziguaram com os Fatímidas da Tunísia, se apoderaram de Reggio e outras cidades da Calábria.947- O Hamdânida de Mossul, Seïf-ad-Dauleh, entrou em conflito com os bizantinos e invadiu o Egito até Ramla, negociando um tratado de paz com os Ikhshididas do Egito sobre Alepo e Damasco (na Síria). --- O imperador bizantino seguiu a linha política social de seu antecessor: isentou de impostos os pequenos proprietários (para impedir que os grandes ‘engolissem os bens dos pobres’), os soldados, os pequenos funcionários e os mosteiros pequenos.947 e 949 – O Império Bizantino mandou 2 missões diplomáticas ao Califado de Córdoba a fim de efetuar gestões contra os corsários da Ilha de Creta, que estavam continuamente exercendo ações de rapina sobre o litoral da Grécia e nas ilhas do Mar Egeu. O califa Abd al-Rahmam III assinou um tratado de amizade (neutralizando as relações entre este califado e os corsários).948 – Luitprand, bispo de Cremona, foi mandado por Lotário III (filho de Hugo de Provença ou de Arles, rei da Itália desde 945), irmão da noiva do imperador associado Romano II, para negociar seu apoio. Sua ação diplomática ruiu pelo falecimento de Lotário III em 950. --- Houve incursão de forças bizantinas sobre território sírio, mas foi repelida por Seïf-ad-Dauleh; mesmo assim, elas saquearam e arrasaram com Adata (ou Al-Haddat al-Hamra), próxima dos Montes Taurus (na Cilícia). 948/9 - O generalíssimo (‘doméstico de escola’) Bardas Focas retomou cidades da Mesopotâmia e da fronteira da Armênia aos árabes (Germanicia ou Marash e Erzurum ou Teodosiópolis). O emir hamdânida Seïf-ad-Dauleh não reagiu a isto porque estava às voltas com problemas internos. 949 - Pequenas frotas árabes saíram do Mediterrâneo Ocidental e do Mar Adriático e conseguiram destruir, em ataque noturno, grande parte de armada bizantina sob o comando do eunuco inexperiente e incompetente Constantino Gongyles, em Creta.

950 – O emir hamdânida Seïf-ad-Dauleh iniciou em agosto sua ‘djihad’ contra o Império Bizantino avançando sobre o tema da Capadócia e se dirigindo para a capital, Constantinopla, mas foi abandonado parcialmente por seus aliados ao se aproximar o inverno, forçando-o a se retirar. O bizantino Bardas Focas, em 26 de outubro, o emboscou na Capadócia, infringindo-lhe enorme derrota e conseguindo volumoso butim. – Neste ano, foi assassinado pelo magiares o jupan Časlav Klonimirović, que conseguira unificar a Sérvia durante o seu reinado com o auxílio dos imperadores Romano I Lecapeno e Constantino VII. Foi o último rei da Dinastia dos Vlastimirović. --- O emir fatímida da Sicília lançou uma campanha militar no sul da Itália: a frota naval comandada pelo emir El-Hacen e por um general do califa Ismail Al-Mansur (Fareh, um escravo alforriado) submeteram a Calábria a saques (950/2). 951- Novamente o emir hamdânida Seïf-ad-Dauleh tentou penetrar na Capadócia dos bizantinos, visando atacar Constantinopla.952 - O trono da Armênia passou a ser ocupado por Achot III Bagratuni, que transferiu a capital para Ani e governou até 977. De 952 a 1064 a Armênia esteve em seu período

áureo. 952 a 959 - Os conflitos entre os Hamdânidas e Bizâncio alternaram vitórias e derrotas recíprocas na Cilícia e Mesopotâmia. A partir de 958, porém, o emir Seïf-ad-Dauleh começou a fraquejar.953 – Neste ano ocorreu a Batalha de Marash (cidade cujo nome atual é Kahramanmaras) em que o emir Seïf-ad-Dauleh conseguiu uma grande vitória sobre os bizantinos comandados por Bardas Focas; sendo aprisionado Constantino Focas e levado para Alepo.954 – O comando das armadas bizantinas passou para Nicéforo Focas (filho de Bardas Focas).955 – A princesa cristã Olga ou Helena (de Kiev, viúva de Igor) foi recepcionada em Constantinopla solenemente; alguns autores afirmam que foi neste ano, aí na capital, que ela foi batizada. Tal fato foi importante para a cristianização do Principado de Kiev. – O conceito político do Império Bizantino na Itália, e sobretudo em Roma, foi tanto que o papa João XII (filho de Alberico II, senador e príncipe romano) iniciou a datação de sua administração seguindo à do basileus (permanecendo assim até o meio do século XII). ---- Por outro lado, o prestígio político bizantino junto aos húngaros começou a minguar com a vitória esmagadora do imperador alemão Óton I sobre eles na Batalha de Lechfeld (próxima de Augsburgo), em 11 de agosto. 956 – Neste ano, o imperador bizantino Constantino VII mandou uma armada constituída pelos temas da Trácia e Macedônia, sob a chefia do patrício Marianos Argiros, para a Itália, onde foi na qualidade de estratego da Calábria (cuja cidade de Reggio fora ocupada pelos árabes da Sicília) e Longobardia. Marianos reprimiu as revoltas fomentadas pelos árabes, refez a influência bizantina na Campânia e atacou a Sicília onde se apoderou da cidade de Termini Imerese (norte da Ilha). --- O emir de Tarso, na Cilicia teve sua frota naval esmagada pelo estratego bizantino Basílio Hexamilites, entre setembro e outubro deste ano. 957 - Na primavera, os árabes da Sicília, revidando o ataque bizantino do ano anterior, fizeram uma contra ofensiva sobre a Calábria. 958 – Entre outubro e novembro deste ano, o general bizantino João Tsimiskés, sobrinho do imperador Nicéforo Focas, se apoderou de cidades da Mesopotâmia Setentrional, cercou Samosate e derrotou o emir hamdânida Saif-al-Dawla em Ra’ban (na chamada Batalha de Ra’ban). ---- Neste ano: Vitória esmagadora bizantina sobre os húngaros (que tinham invadido a Trácia). --- Na Itália Meridional, o governador bizantino Marianos Argiros defendeu seu território contra os príncipes lombardos e os árabes da Sicília. A frota muçulmana se retirou para Otranto (no Mar Adriático), mas foi afundada por tempestades em setembro, quando retornava para a Sicília. 959 – O imperador Constantino VII esteve nas termas de Pítia (na Bitínia) para tentar se curar de uma doença (talvez causada por veneno); em seguida realizou uma peregrinação em Olímpia (Çatal Hüyük onde havia o templo de Cibele, deusa-mãe) e morreu em sua volta para a capital em 9 de novembro. 959 (9 de novembro) a 963 - Governo de Romano II, o Jovem, tendo a forte assessoria administrativa e militar do eunuco Josef Bringas e a onipresença constante de sua esposa Teófano.959 (continuação) – Houve negociações diplomáticas de Bizâncio com o Principado de Kiev para tratar do seu auxílio no envio de uma armada para Creta.960 – Basílio (futuro Basílio II), uma criança de apenas 3 anos filho de Romano II, foi coroado imperador em 22 de abril. ---- Em 8 de novembro, Leão Focas (irmão de Nicéforo) emboscou e venceu o emir de Alepo Seïf-ad-Dauleh quando passava no Desfiladeiro de Andrassos (na passagem do

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Monte Taurus oriental, na chamada Batalha de Andrassos), este se retirou deixando no local um grande butim roubado por ele em ataque ao tema de Charsian (depois do vale do rio Halys). Toda a região oriental do Alto Eufrates passou a ser o tema da Mesopotâmia. 960 – 961 - No fim de junho de 960, saiu de Constantinopla Nicéforo Focas com destino à Creta, concentrando a frota e a armada ao sul de Éfeso (em Figeles), daí se dirigindo para Creta; foi até Candia ( ou Chandax, sua capital), cercando-a (foi a chamada Batalha de Chandax). Mesmo com o inverno (Bringas mandou provimentos) e com reações dos árabes, Candia caiu em 6/3/961; sua população foi massacrada ou aprisionada. Antes disso, o emir Abd al-Aziz ibn Shuayb desta ilha solicitou sem sucesso o auxílio militar do califa fatímida da Tunísia e do de Córdoba. Findou-se, desta maneira, este reduto de corsários, que infestavam o Mediterrâneo Oriental e o Adriático Adriático por 136 anos. Creta ficou sob o domínio bizantino até 1204.---- Enquanto estava havendo esta campanha bizantina em Creta, em novembro de 960, Seïf-ad-Dauleh estava invadindo a Anatólia.960 a 967 - Novas campanhas militares do Hamdânida Seïf-ad-Dauleh contra Bizâncio.961 – Na Armênia, sob a Dinastia dos Bagratuni (Bagrátidas), a capital passou a ser a cidade de Ani por ter uma posição estratégica: em seu lado oriental era protegida naturalmente por uma ravina do Rio Akhuriano; do lado ocidental pelo vale Bostanlar (Tzaghkotzadzor). 962 – Em janeiro-fevereiro, o general bizantino Nicéforo Focas, invadiu a Cilícia (grande foco de pirataria árabe), conquistou em 3 semanas de 50 a 60 cidades e castelos, aprisionando muitos muçulmanos e retornando para a Capadócia, a fim de promover ajustes em sua tropa. No outono, retomou sua campanha militar na Cilícia, tomou Anazart (Ain-Zarba ou Antep), ponto importante na rota da Síria. Após atravessar os Montes Taurus, sem resistência síria de Seïf-ad-Dauleh, tomou outras cidades e chegou a Hierápolis (Mabugh, no Eufrates), daí foi para a capital síria, Alepo, submetendo-a a cerco (de 20 a 31 de dezembro), mas desistiu de apoderar da mesma e voltou para Constantinopla levando rico butim e prisioneiros. –– Na fronteira ocidental, em 2 de fevereiro,em Roma, surgiu novo competidor por áreas de influência na Itália: o rei Óton I, que foi coroado imperador romano do ocidente, se outorgando o direito de receber a herança dos carolíngios e de influenciar no papado. ---- Em 24 de dezembro, a cidade de Taormina (que fora tomada em 902, mas reconquistada depois pelos bizantinos), foi cercada por 7 meses pelos muçulmanos e caiu definitivamente sob o seu poder. Aos bizantinos restou apenas a cidade de Rametta, na região leste da ilha. ----Neste ano: No Estreito de Messina, que separa a ilha da Sicília da Itália, foi arrasada a frota naval bizantina mandada para ajudar os cristãos que lutavam pela sua autonomia, na região oriental da ilha, frente ao emir Ahmed ibn Hasan. 963 – Em 15/3, morreu Romano II por excesso de fadiga (após suas diversões) ou talvez envenenado pela esposa Teófano. A esta coube a regência, devido à menoridade dos filhos Basílio II e Constantino VIII, juntamente com o ministro-chefe, o eunuco José Bringas. --- Teófano, inimiga de José Bringas, em abril, pediu proteção de Nicéforo Focas (que retornara da campanha contra os Hamdânidas e recebido com honras na capital); retaliando, Bringas ameaçou cegar Nicéforo Focas; este se asilou na igreja de Santa Sofia e foi para Cesareia da Capadócia. Em maio, conseguiu recuperar-se (como chefe da armada da Ásia) com o apoio do patriarca Polieuto, mesmo Bringas tentando contrapor-lhe dois fiéis amigos de armas (Romano Curcuas e João Tzimiskés). Em 2 de julho, Nicéforo Focas foi proclamado imperador em Cesareia da Capadócia e exigiu a renúncia de Bringas; em 9 de agosto já estava próximo de Constantinopla (em Crisópolis), onde estourou uma revolta contra Bringas. Uma semana depois, ele entrou triunfalmente na capital e foi coroado imperador pelo patriarca Polieuto. 963 a 967 – Contínuos conflitos entre os Hamdânidas e o Império Bizantino. 963 (16 de agosto) a 969 - Reinado de Nicéforo II Focas, pertencente à esta família de aristocratas militares. Era, simultaneamente, um grande soldado e místico.963 (continuação) - Em 20 de setembro, o imperador se casou com a viúva do seu antecessor, abrindo polêmica com o patriarca Polieuto sobre a validade da cerimônia nupcial. ---- A sucessão no império abriu uma brecha para que o emir Seïf-ad-Dauleh recuperasse Alepo e reconstruísse as muralhas de Anazarb (na Cilícia), mas teve que enfrentar a revolta de seu principal lugar-tenente. ---- O generalíssimo do Oriente, João Tsimiskés, fracassou em tomar Massissa (Mopsueste), mas venceu o emir de Tarso próximo de Adana (no verão deste ano). Não continuou, entretanto, suas operações militares em direção à Cilícia, que estava sendo assolada pela fome.963 a 976 – Campanhas militares bizantinas contra os muçulmanos na Itália e na Anatólia.964 – Na primavera, Nicéforo II Focas encabeçou expedição para retomar a Cilícia, atravessou as Portas Cilicianas e tomou Anazarb, Adana e vários castelos e Issus dos emires Hamdânidas de Alepo. No inverno recuou para sua base de provisões e armas (a Capadócia), aguardando a outra primavera (965) para continuar a campanha. --- Neste ano, se proibiu a fundação de novos conventos, visto que para os mesmos acorriam muitos homens, o que afetava o seu recrutamento para as fileiras da armada bizantina. 964-965 – Em 964 o imperador Nicéforo II Focas mandou uma frota naval para a Sicília sob o comando do almirante Nicetas Chalkutzes. Em 24-25 de outubro ocorreu a Batalha de Rametta (última praça fortificada ainda remanescente sob o domínio bizantino na ilha) entre a praia e a cidadela de Rametta de forma encarniçada e valente. Os árabes comandados por Ibn Ammar cercaram a cidade e solicitaram a rendição dos bizantinos sem sucesso. Na madrugada de 5 para 6 de maio de 965, os árabes conseguiram se apossar de Rametta, que foi saqueada e incendiada.965 – Leão Focas, por determinação de seu irmão e imperador Nicéforo Focas, cercou Tarso (na Cilícia), enquanto este último avançava com suas tropas e tomava a cidade de Massissa (ou Mopsueste), em 15 de julho; se juntaram os dois em Tarso, que caiu diante deles em 16 de agosto com sua vitória na chamada Batalha de Tarso (a cidade ficou sob o domínio bizantino por quase 100 anos). Com a tomada de Tarso findou o domínio hamdânida na Cilícia, que se tornou um tema do império. Em outubro, Nicéforo II Focas entrou na capital sendo recebido triunfalmente. ---- Em novembro uma armada bizantina comandada pelo almirante Nicetas Chalkutzes foi queimada pelos árabes em Reggio de Calábria, continuando esta província a pagar imposto aos muçulmanos.---- Nesta fronteira ocidental, o imperador criou uma nova organização administrativa, a fim de assegurar maior controle sobre os temas da Langobardia e da Calábria, sob um só magistros (comandante), embora com estrategos separados um do outro. ---- No inverno, o almirante Nicetas Chalkutzes recuperou ao domínio bizantino a ilha de Chipre, ocupada pelos muçulmanos. 966 – No verão (23/6), houve uma troca de prisioneiros árabes (Hamdânidas) por bizantinos às margens do Alto Eufrates. --- No fim deste ano, após a segunda campanha militar imperial na Síria, houve um espetáculo de guerra tão bem encenado por soldados da armada imperial no Hipódromo em Constantinopla, que os espectadores entraram em pânico na platéia e saíram em debandada, esmagando muitos deles. Foi neste fim de ano que o imperador mandou um patrício distribuir uma gratificação em ouro aos auxiliares russos. --- Neste ano, o imperador germânico Óton I foi para a Itália com uma armada objetivando se apoderar dos temas bizantinos de Calábria e Apúlia; para tal, procurou se associar com príncipes lombardos fronteiriços a estas províncias bizantinas. ---- Forças fatímidas ocuparam Ramallah, Tiberíades e Damasco. Antióquia foi retomada pouco depois pelos bizantinos e o califa abássida Al-Muti determinou sua retirada da Síria e Palestina. 967 - Ao morrer o maior inimigo oriental de Bizâncio (Seïf-ad-Dauleh ou Seïf-ad-Dauleh), de tumor no cérebro, em 9/2, o imperador Nicéforo II se lançou no inverno (967-68) sobre a Alta Mesopotâmia onde se situavam as praças fortes da antiga fronteira entre Bizâncio e a Pérsia Sassânida (como Dara, Nísibe, Mabugh); depois atingiu Antióquia. ---- No dia da Ascensão de Cristo (9/5) eclodiu nova revolta na capital, forçando Nicéforo II Focas a buscar guarida no mosteiro da Fonte, enquanto sua guarda castigou duramente os revoltosos. Em face disso, o imperador mandou fortificar o palácio imperial e construir um castelo forte no litoral do Mar de Mármara (em Bucoleão) para evitar a abordagem de revoltosos no futuro. --- Nicéforo II se aliou com Sviatoslav e invadiu a Bulgária se aproveitando da revolta dos bogomilianos e dos boliardos contra o tzar Pedro. Foram tomadas fortalezas búlgaras junto aos Montes Rodopé (no verão). O Império Bizantino passou ter suas fronteiras no Danúbio. ---- No Natal, em Roma, foi coroado imperador Óton II, a quem seu pai pediu a Nicéforo II que lhe concedesse uma princesa porfirogeneta como futura esposa (e pudesse, assim, ter os temas bizantinos da Itália); evidentemente, que este pedido foi recusado. ---- Ocorreu uma revolta no Mosteiro da Fonte (Balikli Manasteri) de oposição ao imperador, que mandou massacrar a população que aderiu à este sedição. ---- Entre o califa Al Muizz e o imperador Nicéforo II Focas foi assinado o Tratado de Mehedia pelo qual uniram forças contra os projetos de incursões do imperador Oton II sobre o sul da Itália.968 – Em janeiro, fracassou a missão diplomática bizantina em Cápua, na Itália, em conversações com o imperador Óton I. Este imperador, investiu, sem sucesso, sobre a cidade bizantina de Bari. ---- Proposta de aliança de Nicéforo II com o príncipe russo de Kiev, Sviatoslav, contra o tzar Pedro da Bulgária. Em abril, Sviatoslav invadiu a Bulgária e atacou os soldados que tinham se refugiado em Silistra, à margem direita do Baixo Danúbio,

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mas teve que voltar ao principado, ao saber que sua capital, Kiev, estava cercada pelos pechenegues (no verão). Depois de repelir os pechenegues voltou com o objetivo de se instalar nos Bálcãs. --- De 4/6 a 2/10 esteve em Constantinopla o emissário Luitprand mandado por Óton I; aí não foi bem recebido, nem conseguiu absolutamente nada quanto ao pedido de noiva bizantina para o filho do imperador alemão. Enquanto o emissário estava em Constantinopla, o imperador bizantino mandou uma frota naval para a Itália, enquanto Óton saiu de Ravena (norte da Itália), em 31/10, para combater os bizantinos no sul da Itália; no dia 25/12 estava na Apúlia. ---- No outono, Nicéforo II foi novamente para Alepo (que tinha sido retomada pelo filho de Seïf-ad-Dauleh ou Sayf ad-Dawlah), mas se decidiu a atacar o norte da Síria, tomando Emeso (Homs), Gabala (ou Djibleh), Cesareia do Líbano e chegando a Trípoli (em novembro), onde deixou uma guarnição. Daí retomou o caminho de volta para Constantinopla, passando por Antióquia, onde mandou construir o castelo de Bagras (estratégico junto ao desfiladeiro de Belém para Alexandreta). Aí deixou o seu sobrinho (Pedro Focas) e o patrício e general Miguel Burtzés com a incumbência de continuar o cerco de Antióquia. Em 28 de outubro ele se assenhoreou da maior parte das fortificações desta cidade; no dia 31, ao chegarem os reforços de Pedro Focas, ela foi conquistada.969 – Em janeiro, Nicéforo II (depois de retornar da campanha da Síria e chegar em Constantinopla) soube da intenção dos russos e firmou acordo de aliança com o tzar búlgaro Pedro contra o príncipe Sviatoslav de Kiev. No final deste mês, porém, morreu o tzar búlgaro, sucedendo-o Boris II, seu primogênito, não reconhecido pela maioria dos nobres (boiardos), ensejando uma guerra civil. Sviatoslav se aproveitou dessa instabilidade na Bulgária e conquistou toda sua área setentrional e ocupou a Grande Pereiaslavets (onde rapinou o tesouro real e prendeu os herdeiros do trono búlgaro), no outono. ---- Em 18 de abril, o imperador Óton I estava em Cosenza (porto da Calábria), colocando em perigo os temas bizantinos da Calábria e Apúlia. Ao iniciar-se o mês de maio, estava em Bovino (na Apúlia). Aí seu aliado Pandolfo, Cabeça de Ferro (Príncipe de Benevento e de Cápua), no sítio imposto a esta cidade, foi preso pelos bizantinos e levado para Constantinopla. As tropas bizantinas se apoderaram de Avelino (na Campânia) e cercaram Cápua, abandonando-a quando chegaram tropas de saxões e germanos recrutados pelo imperador alemão, que chegou em Nápoles. Em 26 de maio, ele chegava à Roma. ---- . Em 28 de outubro, o general Miguel Burtzés tentou se apoderar de Alepo; não conseguindo, pediu o auxílio do sobrinho de Nicéforo II (Pedro Focas), que aí chegou em 1 de novembro. No mês seguinte foi tomada esta capital dos Hamdânidas após a Batalha de Alepo vencida sobre o chanceler Karguyah, colocando em perigo os Fatímidas do Egito. O chanceler do emir hamdânida, Karguyah, assinou um termo de vassalidade ao Império Bizantino. Durou pouco tempo tal ato de vassalidade devido à invasão fatímida. --- Na noite de 10 para 11 de dezembro, em trama urdida pela imperatriz Teófano e seu amante (o general João Tzimiskés, que caíra em desgraça), este último assassinou o imperador Nicéforo II no castelo forte de Bucoleão e, na mesma noite, se coroou imperador na sala do Crisotriclinion do Palácio Sagrado. Aí João Tsimiskés chamou ao palácio Basílio Lecapeno. Tentando se harmonizar com o patriarca de Constantinopla, Polieucto, colocou a culpa do assassinato de Nicéforo II em dois patrícios e mandou exilar a ex-imperatriz Teófano. O patriarca o absolveu do assassinato do imperador e, no Natal, o coroou como novo chefe de Estado. 969 (25 de dezembro) a 976 - Governo de João I Tsimiskés. Era de origem Armênia (seu nome real era Tchemchkik ou Tchémeschaguig). Era ligado à aristocracia pelo lado paterno (aos Curcuas) e materno (aos Focas). --- Neste ano de sua subida ao trono ficou viúvo de sua primeira esposa (Maria, irmã de Bardas Skleros).--- Ele cedeu às condições impostas pelo patriarca para ascender ao trono e exilou Teófano para a ilha de Proti, bem como revogou determinações de Nicéforo II Focas contrárias ao clero (quanto à criação de novos mosteiros e à nomeação de bispos). 969 (continuação) – O novo imperador bizantino tentou negociar com Sviatoslav I por duas vezes, mas este se fechou a qualquer negociação, se apoderou de Filipópolis e continuou sua investida contra a capital bizantina, enquanto ia saqueando a Trácia. Em função disso, João I Tzimiskés confiou ao general Bardas Skleros o combate às tropas russas, fixando seu centro de operações em Andrinopla (ou Adrianópolis, atual Edirne), na Trácia. Nesta mesma época estourou uma revolta de Bardas Focas, impedindo ação imediata do imperador contra os russos. 970 - No início de janeiro, o patriarca Polieuto consagrou o eremita Teodoro de Coloneia como patriarca de Antióquia. Neste mês, ainda, o patriarca Polieuto morreu e o imperador convocou um sínodo para nomear como seu sucessor um asceta do Monte Olimpo (Basílio, o Escamandriano, em alusão ao rio Escamandro, hoje chamado de Karamenderes). ---- Os russos comandados por Sviatoslav, no verão, atingiram Andrinopla. O general Bardas Skleros, em retirada estratégica, foi para Constantinopla, mas depois armou uma emboscada e venceu Sviatoslav I na Batalha de Arcadiópolis (perto da atual Luleburgaz); logo depois foi chamado pelo imperador para combater Bardas Focas (os russos retornaram para Filipópolis e continuaram suas pilhagens na Trácia e Macedônia). Este último fugira da ilha de Lesbos e foi aclamado imperador em Cesareia da Capadócia; mas foi vencido por Bardas Skleros entre Éfeso e Cesareia. Ele (Bardas Focas) e membros de sua família foram internados num mosteiro na ilha de Kios (no Mar Egeu) no final deste ano. ---- Na Itália, em 23 de maio, a esposa de Pandulfo Testa de Ferro, Aloara de Cápua, e seu filho Landulfo, entrevistaram o imperador alemão Óton I, solicitando que ele retomasse a guerra contra os bizantinos no sul da Itália. O imperador renovou o cerco de Bovino e incendiou os seus arredores. Ele mandou um emissário à Constantinopla (o arcebispo de Colônia) que conseguiu, finalmente, negociar uma princesa bizantina (Teófano, filha de Romano II e sobrinha de João Tsimiskés) para o príncipe Óton II; como compensação, Óton I abandonou o cerco de Bovino (em agosto/setembro) e o projeto de conquista da Apúlia e Calábria. Por este acordo, também foi solto Pandolfo Cabeça de Ferro. ---- Em 14 de outubro, Djawar (Djauher) e suas tropas estavam em Damasco saqueando suas proximidades; uma semana depois se apoderaram da cidade, fazendo, pois, fronteira com o Império Bizantino. Em seguida, foi a vez de Emesa (hoje chamada de Homs) e Antióquia, cercada durante 5 meses (final de 970 e começo de 971). --- Neste ano: O imperador demonstrou como era devoto: além do cuidado com as comunidades religiosas e da nomeação de ascetas como patriarcas, ele criou a Federação de Monte Athos (comunidade monacal nesta região da Grécia). ---- Em dezembro, os árabes do Egito e da Mesopotâmia não se sentiram confortáveis com a conquista de Alepo (capital dos Hamdânidas), ao ser derrotado Karguyah por Pedro Focas, forçando-o a um acordo pelo qual se submetia como vassalo do Império Bizantino. 971 – No final de março, uma grande frota naval bizantina navegou pelo Mar Negro e entrou pelo baixo Danúbio para atacar a retaguarda dos russos, enquanto o imperador foi para Adrianópolis, onde se encontrou com João Curcuas. Em 2 de abril, Sviatoslav I passou facilmente pelos passos dos Bálcãs. Dois dias depois, o imperador venceu os russos que estavam em Preslav (Grande Pereiaslavets). Sviatoslav I não estava aí e sim em Dorystolon (ou Dorostol, ou Silistra, às margens do baixo Danúbio) que foi cercada pelos bizantinos em 13 de abril por 3 meses; após uma encarniçada batalha (chamada de Dorystolon) foi vencido e solicitou uma trégua e foi para Kiev (24 de julho). O imperador João Tzimiskés ingressou na capital bizantina de modo triunfal, levando como prisioneiro a Boris II da Bulgária. --- O imperador se casou pela segunda vez com a irmã de Romano II (Teodora), em novembro.972 - Anexação da Bulgária Oriental até a margem direita do Danúbio por João I que forçou o tzar Boris II a renunciar. Estava encerrado o ciclo de meio século da Guerra Bizantino-búlgara. ---- Na primavera, Sviatoslav I foi morto em emboscada feita pelos pechenegues no rio Dniepr. Subiu ao trono de Kiev o príncipe Jaropolk, que governou até 980. --- Feito acordo entre Bizâncio e o imperador germânico Óton II, este se casou com a princesa Teófano. 973 - Os temas bizantinos da Itália foram reorganizados, unificando os do sul sob um catapanato (Langobardia e Calábria). ---- O imperador bizantino João Tzimiskès mandou tropas sob o comando do generalíssimo Mleh (ou Melias, de origem armênia) para a Alta Mesopotâmia, onde executou uma política de terra arrasada, tomou Melitène (Malatia atual, às margens do Alto Eufrates), mas foi derrotado no cerco de Amida (Diyarbakir), na primeira semana de julho, pelo emir hamdânida de Mossul; foi mandado preso para Bagdá, onde morreu. 974 - Em março, o patriarca de Constantinopla (Basílio, o Escamandriano) foi acusado de não cumprir as regras canônicas, de ser incapaz de administrar o patriarcado e de uma suposta promessa de oferecer o trono a uma alta personagem; em virtude disso, foi deposto e exilado, sendo sucedido por outro asceta chamado Antonio III, o Studita. ---- Em outubro, o imperador bizantino João I Tzimiskés se aliou com o rei Aschod e príncipes da Armênia (em Taron, oeste do Lago Van) para reconquistar a Síria, se apoderando de Amida (no Tigre, cujo nome atual é Diyarbakir), queimando Mayfarikin e tomou Nísibe (em 12 de outubro) e Mossul (ainda no rio Tigre), cujo emir Hamdânida (Abû Taghlib) se tornou seu vassalo. Cheio de butim voltou à capital bizantina. --- Neste ano, foi recebido em Constantinopla um certo Francon, que se tornou o antipapa Bonifácio VII, que em 983 prendeu seu rival João XIV (escolhido pelo imperador Óton) na mesma ocasião e deixou-o morrer de fome na prisão.

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975 – Na primavera, o imperador João I Tzimiskés dirigiu nova campanha na Síria: com sua armada se concentrando em Antióquia (em abril); daí se apoderou de Emesa (pagando-lhe imposto), depois Apameia e Baalbeck (cuja valorosa resistência, valeu-lhe pesado castigo). Pressionou e conseguiu a vassalagem do governador de Damasco, Alptakin. Em seguida foi para a Palestina, se assenhoreando de Tiberíades, Beirute, Nazaré, S. João d’Acre, Cesareia, Monte Tabor. Em setembro estava de volta para Antióquia, após conquistar toda a Síria.976 – Em 10 de janeiro morreu João I Tsimiskés (de tifo, contraído quando esteve hospedado na Bitínia, no retorno da campanha da Síria). Como não tinha filhos, o trono foi partilhado por Basílio II e o seu irmão adolescente Constantino VIII Porfirogeneta tutelados pelo chanceler eunuco Basílio Lecapeno (filho bastardo de Romano I Lecapeno, exercendo sua função até 985); este partilhando o poder com o general Bardas Skleros (genro do finado basileus, membro da aristocracia fundiária e grande vencedor dos russos e potentado feudal). ---- O Império Bizantino (com a morte do imperador João I e a a dificuldade de manter a vassalagem de áreas conquistadas) perdeu a Síria para o califa fatímida Al-Aziz (com tropas aquarteladas em cidades litorâneas), em maio. ---Neste ano, os árabes deram cobertura financeira e ajuda militar à revolta do general bizantino Bardas Skleros, usurpando o trono até 979.976 (10 de janeiro) a 979 e depois de 987 a 989 – Usurpação do poder imperial por Bardas Skleros.976 a 1025 – Governo partilhado de Basílio II com seu irmão Constantino VIII Porfirogeneta. 976 (continuação) – O general Bardas Skleros quis retirar de Basílio Lecapeno a tutela dos imperadores, sendo então demitido de seu comando das tropas dos temas da Ásia. Nomeado Duque da Mesopotâmia, se revoltou junto com seu filho Romano Skleros, tendo a adesão de suas tropas que o proclamaram imperador, irrompendo uma guerra civil (fruto da competição pelo poder entre a aristocracia militar e a fundiária) que durou até 989. Conforme o historiador Charles Diehl, Skleros reuniu em torno de si escroques, aventureiros e descontentes com a situação. Esta revolta teve a cobertura financeira e militar dos árabes. Basílio Lecapeno mandou tropas sob o comando de Pedro Focas (irmão de Bardas Focas) e, depois, Leão Melissenos. Bardas Skleros venceu estas duas expedições mandadas para combatê-lo e dominou toda a Anatólia, ameaçando a capital bizantina. Em função dessas derrotas, o chanceler Basílio Lecapeno chamou o general Bardas Focas (que estava preso num mosteiro na ilha de Kios, por causa de sua rebelião contra João Tzimiskês). ---- Em face desta instabilidade, o califa Al-Aziz retomou a Síria em maio; além disso, estouraram revoltas na Bulgária. Um dos revoltosos, Aarão Cometopuli, que tinha feito um acordo com os bizantinos, foi assassinado, em 14 de junho, em Dupnitsa. Subiu, então, ao trono búlgaro, Samuel I.976 a 989 - I fase de guerra de Bizâncio contra a Bulgária Ocidental.977 a 986 – Processo de reconstituição da Bulgária por Samuel I libertando a Bulgária danubiana, conquistando a Macedônia, a Tessália e chegando até o Peloponeso. 978 - Bardas Skleros se apoderou de Niceia (defendida por Manuel, dito ‘o Erótico’, da família dos Comnenos e pai do futuro imperador Isaac I), atravessou o Estreito de Bósforo, chegando à Constantinopla e a cercou. Daí saiu por manobras de Bardas Focas, mas este sofreu derrota diante de Bardas Skleros perto da cidade de Amorium (na Frigia), na chamada Batalha de Amorium, em 19 de junho. 979 - Em 24 de março, Bardas Skleros encontrou de novo e foi derrotado por Bardas Focas, este auxiliado pelo príncipe bagrátida Tornikios da Geórgia, na Batalha de Pankalia (a oeste de Cesareia da Capadócia), também chamada de Batalha de Aquae Saravenae (hoje Yalçav). Skleros, mesmo ferido, se refugiou em Bagdá, mas o vizir Aud-el-Doleh o prendeu para torná-lo, sem nenhum sucesso, moeda de troca em relação às conquistas bizantinas em território árabe. ---- Em Alexandria, no dia 28 de março, Filoteu foi nomeado patriarca.980 – Os búlgaros, sob Samuel (um dos 4 filhos que restaram do Conde Nicolau) formaram a Bulgária Ocidental na Macedônia centrada em Ocrida e incorporando a Albânia e o Épiro. Uma de suas primeiras iniciativas neste ano foi a invasão da Grécia (pertencente ao Império Bizantino). Samuel se intitulou ‘tzar’; em 982 recebeu uma coroa do papa Bento VII. 981 - Bizâncio se aliou com os árabes para fazer guerra contra o imperador germânico Óton II. --- No verão deste ano, Óton II estava no centro da Itália; nesta mesma época morreu o seu grande aliado, o príncipe de Salerno e Benevento (Pandolfo), enfraquecendo-o.981 (novembro), 983 e 986 - O general bizantino Bardas Focas comandou incursões contra o emir hamdânida Said atacando Alepo. Na última incursão em 986 despertou a reação do califa fatímida Al-Aziz, ao qual o emir hamdânida pediu proteção. Tal reação fatímida foi sustada por um acordo entre ele o imperador Basílio II (este às voltas com guerra civil internamente). 982 – Em janeiro, Óton II invadiu o tema da Apúlia (sul da Itália), se apoderando de suas cidades em 5 meses sem nenhuma resistência. Em 16 de março estava em Tarento, ocupando-a e logo depois foi a vez de Brindisi. Em maio estava na Calábria, onde venceu os bizantinos e árabes em Rossano e Crótona, mas foi contido pelos árabes da Sicília em conflito arrasador perto de Stilo (Batalha de Stilo ou Cabo Colonne), em 13 de julho. Fugiu a cavalo, foi acolhido em navio bizantino; depois conseguiu rearrumar seu exército em Rossano e foi para a Longobardia, daí para Roma, onde morreu em dezembro de 983. ---- Bizâncio recuperou a Apúlia após a derrota de Óton II. ---- Nova revolta de Bardas Skleros foi sufocada por Bardas Focas.--- Samuel, tzar da Bulgária Ocidental, manteve boas relações com o papado e os Otônidas.983 – Em setembro, o general Bardas Focas realizou um segundo ataque à cidade síria de Alepo. – Em 7 de dezembro, ao morrer o imperador alemão Óton II de malária; como seu filho sucessor, Óton III, tinha apenas 3 anos, ficou na regência sua mãe, a bizantina Teófano, junto com sua avó Adelaide. ---- Neste ano, a Grécia foi invadida até as Termópilas pelo tzar Samuel I da Bulgária. ---- O patriarcado de Constantinopla passou para Nicolau Crisoberges com o falecimento de Antônio III Studita.984 – Em 11 de junho, em Bari, livre da guarnição militar do Sacro Império Romano Germânico pelos irmãos Teofilato e Sérgio, receberam o título de ‘protoespatarius’. ---- O antipapa Bonifácio VII (ligado à aristocracia romana e contra o papa ligado a Óton II) se exilara em Constantinopla, e voltou para Roma com armada bizantina em abril deste ano. Aí chegando mandou prender o papa João XIV no Castelo de S. Ângelo, onde morreu de fome em 20 de agosto. 985 – Em face de intriga palaciana entre o tutor e chanceler, ou ‘parakoimomène’, Basílio Lecapeno e Basílio II, contaminando-se com entendimentos entre o primeiro e os generais Bardas Focas e Leão Melissenos (notando estes a autonomia cada vez maior de Basílio em suas decisões), o imperador forçou Basílio Lecapeno a se afastar do cargo e se tornar monge e confiscou seus bens. Por outro lado despojou Bardas Focas de seu cargo de generalíssimo das forças palacianas e lhe conferiu o de Duque de Antióquia; quanto a Leão Melissenos foi perdoado por suas intrigas. A partir destas medidas saneadoras no palácio, Basílio tornou-se imperador de fato até 1025 e não era amigo da aristocracia fundiária. Seu irmão, Constantino VIII Porfirogeneta, lhe transmitiu todas suas funções.986 – O tzar da Bulgária ocidental, Samuel (Samuil em búlgaro) I, se apoderou da cidade de Larissa (na Tessália) aos bizantinos e avançou até Golfo de Corinto, de onde foi repelido pelas tropas imperiais comandadas por Basílio II, mas, em 17 de agosto, sofreu uma grande derrota na Batalha das Portas de Trajano (no desfiladeiro do mesmo nome), nas proximidades de Sofia ( precisamente: em Ihtiman, que foi cercada por 20 dias) e daí atingiu o litoral ocidental do Mar Negro. ---- Neste ano: Basílio II assinou tratado com o califa fatímida El-Aziz; uma de suas normas era a da entonação do nome do califa nas orações da mesquita de Constantinopla. – Em Bari, o protoespatario Sergio foi morto em revolta do povo contra ele, mesmo tendo sido o responsável pela recuperação deste porto em anos antes. 986 -987 - O general bizantino Bardas Skleros conseguiu sua liberação do ‘emir dos emires’ (‘émir-al-oumarâ’) de Bagdá e chegou em Melitene (na Alta Mesopotâmia) em fevereiro de 987, onde foi, novamente, proclamado imperador (mas não o conseguindo de fato).986 a 1118 – Guerra de Bizâncio contra os búlgaros, ao fim da qual o imperador teve o cognome de ‘bulgaroctone’, ou seja, ‘matador de búlgaros’.987 - Samuel I seguiu para a Dalmácia, onde se apoderou do porto de Durazzo (ou Dyrrachium) e cercou, uma a uma, as cidades de Cattaro, Ragusa, Spalato, Trau e Zara, sem conseguir ocupá-las, mas saqueou e queimou a região. Continuou sua campanha militar atacando Diocléia (aí aprisionou seu príncipe Jovan Vladimir), que era aliada de Bizâncio. --- O rebelde Bardas Focas (apoiado pela nobreza da Anatólia, após derrota de Basílio II na Batalha das Portas de Trajano) convidou Bardas Skleros à divisão do império com ele (em 15 de agosto). Focas, suspeitando de traição de Skleros, o convidou ao seu castelo e o prendeu (em 14 de setembro) e, por sua vez, se proclamou imperador, conseguindo o apoio dos partidários de Skleros. ---- Neste ano, os habitantes do porto de Bari (no Mar Adriático) se revoltaram contra os bizantinos. ---- Nova revolta em

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Bari, em que foi morto Andraliscos (Adralestos) pelo líder revoltoso Nicolau.988 – Em janeiro, Bardas Focas estava em Crisópolis e mandou um dos seus aliados (Leão Melissenos) atacar Abidos (junto ao Mar de Mármara), com o objetivo de bloquear a capital bizantina. Para enfrentá-lo, Basílio II firmou um tratado com o príncipe varegue Vladimir de Kiev, sob promessa de ter como consorte a irmã do imperador (a princesa porfirogeneta Ana). No verão, foi mandada uma frota naval kieviana à Constantinopla. --- Em 4 de abril, Basílio II anulou a determinação do ex-imperador Nicéforo Focas, que proibia a construção de novos mosteiros. --- O tzar búlgaro ocidental, Samuel I, se dirigiu com sua armada para Tessalônica (onde tomou a cidade de Verria, ou Berrhoe) e, depois, se apoderou da Dalmácia (no litoral do Adriático), se aproveitando da instabilidade interna de Bizâncio. Enquanto Bardas Focas estava em Crisópolis, o imperador revogou a ordem do ex-imperador Nicéforo II Focas quanto à proibição de construir novos mosteiros. Nesta época o patriarca de Constantinopla era Nicolau Crisobergo. --- Estevão Drzislav, da Croácia, por ter participado da guerra contra o tzar Samuel, recebeu a honra dignitária de ‘patrício imperial’ (para administrar as cidades dálmatas), além dos símbolos reais (pela primeira vez) e o título de ‘rei da Croácia e da Dalmácia’. --- Mais uma vez, o porto de Bari foi atacado e saqueado por piratas, que levaram para a Sicília um bom número de camponeses.989 - Em 7 de abril, o príncipe Vladimir I cercou Bardas Focas em Quersoneia (base naval mais importante dos bizantinos na Crimeia), conseguindo se apoderar dela 20 dias depois pela traição do bispo local. Bardas Focas fugiu para a cidade de Abidos, onde foi vencido e morto pelo imperador Basílio II, associado aos russos (na Batalha de Abidos, em 13 de abril). --- Bardas Skleros (que estava preso, mas conseguiu se libertar com a ajuda da esposa de Bardas Focas) retomou o conflito contra o imperador: tentou interromper o abastecimento da capital bizantina, mas acabou negociando a paz com o imperador e foi para Didimótica (na Trácia), onde morreu. ---- Em 19 de maio, o príncipe Vladimir I renunciou ao paganismo, recebeu o batismo no domingo de Pentecostes em Quersoneso (na Igreja de S. Basílio); em seguida se casou com a princesa Ana Porfirogeneta. --- Em outubro, a Anatólia passou por adversidades naturais: temperaturas baixas gelando o litoral; terremoto (em outubro) destruindo cúpulas de 40 igrejas (como a de S. Sofia na capital bizantina). – Neste ano: Com o encerramento das revoltas, o imperador Basílio II procurou nomear, para os postos de maior relevo nas províncias, as pessoas que maior fidelidade ao império, como foi o caso, por exemplo, de Nicéforo Uranos como Duque de Antióquia. --- João Amirópulos, no porto de Bari, liquidou com uma revolta local (executando os revoltosos o hicanato Leão, o krités Nicolau e Porfírio). 989 a 999 - Neste decênio a Síria do Norte, cuja capital era Mossul, esteve sob o domínio do Império Bizantino.989 a 1001 - II fase de guerra contra a Bulgária Ocidental.990 – Continuando os tumultos no porto de Bari, talvez por causa da carga fiscal elevada imposta aos seus habitantes: foram assassinados os excubitores (comandantes de guarda) Bubalés e Pedro.990 a 994 - Basílio II em guerra, desde a primavera de 990, contra os búlgaros na Tessalônica, conseguiu retomar Verria (ou Berrhoea, na Grécia), continuada pelo generalíssimo do Ocidente, Nicéforo Uranos, em 995 (porque Basílio II teve que ir para o Oriente).991 - Incursões dos Fatímidas da Sicília nas províncias bizantinas do sul da Itália: Tarento foi cercada neste ano; 3 anos depois, foi tomada a cidade de Matera (na Calábria). 992 - Basílio II se aliou com Veneza, em março, para mover guerra contra os normandos que incursionavam sobre a Itália; também estabeleceu um tratado (‘Bula de Ouro’) com aquela cidade, diminuindo as tarifas aduaneiras no império. --- El-Aziz, califa fatímida do Egito, cercou a capital dos Hamdânidas, Alepo, já que Said-al-Dawla tinha morrido no ano anterior e deixou um filho menor de idade. Além disso, se apoderou das cidades de Shaizar e Apameia. 993/994 – Apameia foi cercada pelo governador fatímida de Damasco, o general turco Manjutakin; os Hamdânidas de Alepo pediram a ajuda do duque de Antióquia, Miguel Burtzés.994 – O duque de Antióquia, Miguel Burtzés, foi vencido próximo ao rio Orontes (na Síria, na chamada Batalha de Orontes) pelas forças fatímidas ao tentar socorrer os Hamdânidas cercados em Alepo (em 15/9). O fracasso de Miguel Burtzés resultou em sua substituição por Damiano Dalassenos e a participação pessoal do imperador nesta campanha militar contra os fatímidas. ---- Ao sul da Itália, a cidade de Matera (na Calábria) foi tomada pelos árabes, após longo cerco. 995 – O imperador Basílio II saiu de Tessalônica, atravessou a Anatólia em apenas 16 dias, foi para a Síria, atendendo ao pedido do mameluco Lulu-el-Kebir (regente Hamdânida), chegando em abril em Antióquia e infligiu severa derrota ao general fatímida Mangûtekîn (Manjutakin) em Alepo, tendo este que fugir para Damasco. Ao voltar para sua capital (no outono), o imperador ainda se apoderou de várias cidades sírias dos fatímidas.996 – Em 1 de janeiro, Basílio II, aplicou um golpe mortal contra os latifundiários (como os Focas e os Maleinoi) da Ásia Menor, que tinham reduzido à servidão os camponeses livres e tomaram as terras dos pobres. Por Edito imperial estabeleceu regras contrárias à feudalidade: prescrição de dívidas e de vendas de terras desde a época de Romano II (922). Restabeleceu o ‘allelengyon’ (‘caução mutual’). Ao mesmo tempo, Samuel invadiu de novo a Tessalônica (vencendo seu governador Aschod de Taron) e foi para a Grécia, chegando até o Golfo de Corinto; daí recuou para o norte e foi batido por Nicéforo Uranos nas Termópilas, forçando-o a fugir para a região montanhosa da Tessália e ir para a região do Épiro (no verão). ---- O imperador Óton III mandou embaixada (sob a chefia do arcebispo de Placência, norte da Itália) à Constantinopla para negociar o casamento com uma sobrinha de Basílio II.997 - Em 16 de julho ocorreu a Batalha de Spercheios (rio próximo da atual cidade de Lamia, na Grécia, que tivera uma enchente) entre o general Nicéforo Uranos e o tzar Samuel, sendo este derrotado e ferido (seu filho não foi preso porque se fingiu de morto entre soldados mortos). ---- Intervenção bizantina em Roma: Basílio II escolheu como anti-papa a João XVI (antes chamado de João Filagatos) contra o eleito pelo imperador alemão Óton III, que foi o seu sobrinho, Gregório V (expulso de Roma). 998 - O tzar búlgaro Samuel, mesmo tendo sido vencido por Nicéforo Uranos, não perdeu o ímpeto de conquistador: tomou a região de Montenegro (ou Diocléia), chegando, pois, até o litoral do Adriático. ---- Em 19 de julho, os bizantinos, sob a chefia de Damiano Dalassenos, duque de Antióquia, foram derrotados em Apameia (no rio Orontes), frente às tropas do califa fatímida El-Hakem (ou Al´Hakin, sucessor de El-Aziz). Neste conflito ele morreu, ao perseguir uma força composta por beduínos. Foi sucedido por Nicéforo Uranos. ---- Na fronteira oeste, Basílio II incumbiu o doge de Veneza, Pedro Orseolo, de garantir a proteção do tema da Dalmácia (no Adriático) de ações de corsários eslavos; isto só se realizou em 1001. 999 – Em 31 de março, o rei David III da Ibéria Caucasiana (atual Geórgia) foi morto, deixando em testamento seu reino ao Império Bizantino, na ocasião da revolta de Bardas Focas. --- Em setembro, o imperador bizantino Basílio II teve que voltar para a Síria por causa da derrota e morte de Damiano Dalassenos diante do califa fatímida Al-Hakin, no ano anterior. No dia 20 deste mês, Basílio II ameaçava a cidade de Antióquia, dos Fatímidas; depois ocupou Cesareia e Homs (ou Hims) na Síria (em outubro), mas teve que recuar em Trípoli (6-17 de dezembro) e passou o inverno em Tarso (na Cilícia). Foi aí que soube do assassinato do rei Davi III da Geórgia, tendo que se dirigir para lá, a fim de garantir a sua herança. ---- Nesta ocasião, na cidade do Cairo, foram massacrados centenas de mercadores de Amalfi, sob suspeita de terem queimado os navios que iriam socorrer os fatímidas em Antióquia e Tripoli (da Síria), que estavam ameaçados pelos bizantinos. ---- Neste ano subiu ao pontificado romano o monge Gerberto Aurillac, que se intitulou Silvestre II: foi ele que difundiu os algarismos arábicos (indianos) na Europa.1000 – Em 31 de março morreu o rei David III da Geórgia. Basílio II esteve até março deste ano em Tarso; atravessou a Mesopotâmia Setentrional e recebeu homenagens dos armênios e georgianos, se tornando rei da Geórgia. --- O litoral da Dalmácia foi oferecido à Veneza, mas sob a suserania de Bizâncio. ---- Tratado de paz entre o Império Bizantino e os Fatímidas (califa El-Hakem). ---- Iniciou-se na Hungria o reinado de Estêvão I (para alguns autores foi em 997), que governou até 1038; neste período as relações mútuas Hungria-Bizâncio foram as melhores possíveis.

SÉCULO XI Neste século, o baluarte de proteção do islamismo passou dos decadentes Abássidas para os turcos seldjúcidas, que reiniciaram as hostilidades contra o Império Bizantino. Foi assim que no final do século a maior parte da Anatólia e toda a Síria bizantina passou para o lado muçulmano. Até este século a arquitetura sacra da Croácia esteve plasmada pela influência bizantina. Iniciou-se o sistema tributário da ‘pronoia’ (ou previdência), pelo qual um leigo podia receber os impostos dos camponeses, obviamente

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tendo a contrapartida de ficar com uma parte desta arrecadação e de fornecer soldados (retirados do meio camponês) para o Estado. Este sistema acabou degenerando em concentração fundiária mais tarde. Neste século, enquanto emergiu uma família de militares (os Comnenos) encolheu a aristocracia urbana. Até o século XII também se engajaram nas fileiras da armada bizantina estrangeiros de estirpe nobre como os francos, armênios e normandos. ---- Por outro lado, a estrutura agrária ainda era dominada pelos latifundiários.1001- Em julho foi escolhido Sérgio II como patriarca ecumênico de Constantinopla. ---- Neste ano: O doge de Veneza (Pedro Orseolo), aliado de Bizâncio, afastou piratas eslavos do litoral da Dalmácia. --- Presença dos normandos no sul da França desde 890, colocando em perigo os temas bizantinos na Itália neste século XI. – O imperador alemão Óton III mandou uma segunda embaixada (com o arcebispo de Milão, Arnulfo) para conseguir uma princesa porfirogeneta em Constantinopla como noiva; teve sucesso parcial: ela desembarcou em Bari em janeiro de 1002, mas ele morreu em Paterno (leste da Sicília). – Quando Basílio voltava da Ibéria (no Cáucaso) para Constantinopla, Maleinos (grande potentado rural da Anatólia prejudicado pelas normas baixadas em 996) recebeu muito bem o imperador. ---- Basílio II invadiu a Bulgária tomando Serdica (atual Sofia) e a região danubiana, cortando o império de Samuel I em duas partes: a oriental (então sob domínio bizantino) e a ocidental (onde o império búlgaro resistiu até 1014).1001-1002 - O imperador atacou a planície de Serdica e a ocupou por seus lugares-tenentes, já que o tzar Samuel estava sofrendo problemas internos de revoltas e perigava em seu trono.1001 a 1004 - Vigência do primeiro tratado de paz de Bizâncio (sob o imperador Basílio II) com os Fatímidas do Egito (sob o califa Al-Hakim).1001 a 1025 - A Itália bizantina sofreu contínuas incursões sarracenas, além da rebelião dos lombardos aliados aos normandos e as invasões do imperador alemão Henrique I.1002 – Morreu o imperador alemão Oton III em Paterno, em janeiro, interrompendo a aliança matrimonial acertada entre bizantinos e alemães. --- Em 10 de agosto, os venezianos afastaram os piratas árabes de Bari, expulsando-os do Mar Adriático, favorecendo seu comércio por este mar. ---- Neste ano, os Hamdânidas (sob o governo de Lulu ou, de acordo com o original, Lû’lû) sofreram derrota diante de tropas bizantinas. 1003 - Basílio II foi para Tessalônica e recuperou Berrhoé e a Sérvia aos búlgaros; permaneceu um certo tempo na Tessália (onde mandou reconstruir o que foi destruído pelo rei Samuel). Os búlgaros que aprisionou foram mandados para colonizar Aenos (na foz do rio Maritza, na Trácia). No outono se apoderou da cidade de Vodena ( no noroeste da Bulgária), chegando perto do centro de operações do tzar búlgaro.1003/4 – Foi decretado pelo imperador a obrigatoriedade da aristocracia rural em pagar toda a carga fiscal regional de cada província; mas isentou os pequenos proprietários de tal encargo tributário.1004 - Cerco (por 8 meses) e ocupação de Vidin (no Danúbio), concluindo, assim, a conquista da Bulgária por Basílio II, na primavera. Mesmo assim, o tzar Samuel I, tentando afastar Basílio II do cerco de Vidin, saqueou e massacrou a população de Andrinopla, mas teve que sair daí na iminência da vinda das tropas bizantinas. Os dois soberanos, em setembro, com seus exércitos se encontraram no vale do Vardar (em Ursuk ou Skopje, na Macedônia Ocidental), sendo derrotado fragorosamente Samuel (aí deixando o saque conseguido em Andrinopla). O governador de Skopje (Romano, filho caçula do tzar Pedro) se entregou a Basílio II, que o nomeou estratego de Abidos. --- Piratas árabes saquearam a cidade italiana de Pisa. --- Negociação, sem sucesso, entre Bizâncio e o Califado de Córdoba para suspensão de suas ações de pirataria no Mar Tirreno. --- Na fronteira ocidental, os venezianos sob o doge Pedro Orseolo, cumprindo acordo anterior com Bizâncio, socorreram o porto de Bari, que estava cercado pelos árabes da Sicília. Recompensando esta ação militar veneziana, Basílio II solicitou a vinda do filho do doge para Constantinopla, onde lhe ofereceu em casamento uma patrícia.1005 – Em janeiro/fevereiro, o emir samânida Ismail II foi morto, ao solicitar abrigo junto aos árabes da cidade de Merv (ou Antióquia de Margiana, cidade-oásis da Rota da Seda em Khorassan, perto da atual cidade de Mary, no Turcomenistão). Com isto, ficaram obstruídas as relações comerciais entre o porto bizantino de Trebizonda (ao sul do Mar Negro) e a Ásia Central. ---- Neste ano: Os bizantinos retomaram o porto de Durrés (Dyrraquium), de extrema relevância para os búlgaros no Mar Adriático. A Bulgária ficou restrita ao território da Albânia.1005 a 1014 – Foram realizadas campanhas militares de Basílio II sobre o território búlgaro restrito à região dos grandes lagos ( Ohrid, Prespa e Dojran, na fronteira norte da Macedônia atual), as montanhas da Albânia e o curso superior do rio Strimon. 1006 – Em julho chegou o novo catapan da Itália, Aleixo Xífias (ou Aleixo Caronte); em 6 de agosto, auxiliado pelos pisanos, venceu uma batalha naval contra os árabes em Reggio de Calábria (no estreito de Messina, entre a Sicília e o extremo sudoeste da Itália).1007 – Entre março e agosto deste ano morreu o catapan da Itália, Aleixo Xífias. ---- Neste ano: O imperador se apoderou de Skopje, conquistando a baixa e média Macedônia aos búlgaros.1008 – Em maio, na Itália, chegou o general João Curcuas para substituir Aleixo Xífias. 1009 - Em maio, na fronteira ocidental do império, em Bari, dois aristocratas lombardos (Meles e seu cunhado Datto), com apoio das milícias deste porto, se rebelaram em função do fraco destacamento militar lá existente e dos abusos tributários dos funcionários bizantinos. 1009 a 1018 – A revolta de Bari encabeçada por Melos e Datto se espalhou pela Apúlia, com apoio do imperador Henrique II, do Sacro Império Romano Germânico e do príncipe de Salerno, o lombardo Guaimer (recrutando reforços na Normandia). 1010 – Em janeiro (ou fevereiro) morreu João Curcuas na Itália. O imperador mandou Basílio Argiros (apelidado Mesardonitas), estratego de Samos e Leão Tornício, estratego de Cefalônia, que aí chegaram em março. Em 11 de abril cercaram Bari, que se submeteu a eles em junho. Melos e seu cunhado Dattos fugiram para Benevento e daí para a corte do imperador alemão Henrique II, o Santo, que outorgou a Melos o título de Duque da Apúlia. A esposa de Melos, Maralda, e seu filho foram mandados para Constantinopla como reféns. ---- Mais uma vez a capital bizantina foi assolada por um terremoto.1011 - Na Itália, Basílio Argiros, em outubro, se entrevistou com monges de Montecassino na cidade de Salerno, aos quais se determinou a proteção de seus domínios. No final deste ano, Meles se encontrou com normandos (que tinham voltado de peregrinação em Jerusalém e estava na Igreja de S. Miguel de Monte Gargano.1013 - O ‘califa louco’ do Egito, Al-Hakim, tornou-se mais condescendente em relação aos cristãos e judeus: o de professarem sua religião ou de emigrar para o Império Bizantino; mas determinou a substituição dos funcionários cristãos por muçulmanos.1014 - Vitória retumbante de Basílio II (atacando frontalmente) e Nicéforo Xífias (atacando pela retaguarda) sobre os búlgaros no alto vale do Strimon (no passo de Kimbalongos, na Albânia), no caminho entre Serrés e Melnik (em 29 de julho), na chamada Batalha do Passo de Keidion (hoje, Klyuch). Esta vitória foi manchada pela crueldade do imperador: dos 15.000 presos cegou 14.850, ficando 150 com a visão, ou seja, 1 para guiar os outros 99 até o tzar Samuel; este fato lhe valeu a alcunha de ‘Bulgaroctone’, ou seja, ‘Matador de Búlgaros’. O tzar búlgaro morreu de apoplexia diante disso (em 6/10 ou em 15/9, segundo Charles Diehl); sucedendo-o o filho Gabriel Radomir. O imperador ocupou Melnic (na vertente oeste do Monte Rodopé) e parte da Macedônia Ocidental no final de dezembro. A guerra bizantino-búlgara, no entanto, só foi concluída em 1018. ---- Na fronteira caucasiana, se aproveitando do fato de que Bizâncio estava às voltas com os búlgaros, o rei Giorgi (de Abasgia, ou mais comumente chamado de Abkhasia) se apropriou de territórios cedidos pelo seu pai (Bagrat III, que morreu em 7 de maio) ao império, bem como parte da herança do rei Davi (a região de Basian). Era indispensável, pois, a intervenção de Basílio nesta região caucasiana, não só por este fato, como pela presença recente dos turcos seldjúcidas.1015 –.No Principado de Kiev, ao morrer Vladimir, em 15 de julho, na Batalha de Berestovo (perto de Kiev) foi sucedido pelo filho Jaroslav, que governou até 1054, continuando à obra de seu pai, fazendo de Kiev a capital, transformando-a numa das cidades mais bonitas da Europa Oriental, rivalizando com Constantinopla. --- No outono, o voivode búlgaro Ivats derrotou o estratego Jorge Gonitsiates em Bitola, postergando a conquista definitiva da Bulgária pelo imperador Basílio II, que invadiu a Macedônia ocidental em dezembro. 1016 – Em janeiro, Basílio II mandou uma frota naval pelo Mar Negro para atacar o Reino da Kazaria, se apoderando da Crimeia. --- Em agosto, em sua campanha militar contra os búlgaros remanescentes, Basílio se assenhoreou da fortaleza de Moglena. Os búlgaros ficaram restritos às áreas

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montanhosas da Pelagônia (região de Monastir); Gabriel Radomir foi assassinado pelo sobrinho João Vladislau, que o sucedeu e ofereceu inutilmente sua submissão ao imperador. Basílio II tomou Ochrida (antiga capital de outono de Samuel), apertando o cerco em torno deles. 1017 – Basílio II submeteu a cerco a cidade de Castoria, na Macedônia ocidental (na primavera). Houve uma tentativa de acordo do búlgaro João Vladislau com os pechenegues contra o imperador bizantino. Este retornou à Pelagônia para combater João Vladislau e seus filhos, vencendo-os em Setina, no outono. --- Em maio, na Apúlia, o catapan Leão Tornikios (que substituíra Basílio Argiros desde maio) mandou seu lugar-tenente Leão Paciano enfrentar o lombardo Melos de Bari e suas tropas normandas mercenárias em embate de resultado duvidoso em Arenula; em 22 de junho ocorreu um segundo confronto nas proximidades de Civitate, em que os bizantinos chefiados por Leão Tornikios sofreram derrota (e Leão Paciano foi morto). Em julho ocorreu novo conflito entre eles em Vacarizza, onde os bizantinos sofreram uma segunda derrota. Melos e seus mercenários se apoderaram de todas as fortalezas da província. O catapan foi chamado à capital bizantina; em seu lugar foi mandado Basílio Bojoanos, que chegou em dezembro na Itália, junto com o patrício Balantés e um numerosa tropa (na qual também participavam os russos). 1018 - O último tzar búlgaro João Vladislau morreu, em fevereiro, na tentativa de tomar o porto de Dyrraquium, no litoral do Adriático (em janeiro). Basílio II entrou em Ohrid (última capital búlgara). Foi capturado e cegado traiçoeiramente o último líder búlgaro, Ibatzes (ou Ivatz) em agosto pelo estratego Eustathios Dafnomeles. Findou-se, assim, o I Império Búlgaro; os bizantinos passaram a ter fronteira no rio Sava e Danúbio. O imperador Basílio II respeitou os costumes búlgaros, mas os submeteu a vassalagem fiscal em forma de pagamento em mercadoria. À aristocracia búlgara se conferiram dignidades áulicas e foi estimulada à aliança matrimonial com o império. Em outubro, no caminho de volta para Constantinopla, passou em Atenas e agradeceu na Igreja de Nossa Senhora (no antigo Partenon da Grécia Antiga) a Deus por suas conquistas. --- Na fronteira ocidental (Itália), de janeiro a outubro, o catapan Basílio Bojoanes, substituto de Leão Tornikios, conseguiu reprimir a revolta e vencer os lombardo-normandos Melo e Gilberto Buatero na Batalha de Canas (à margem direita do rio Ofanto), na Apúlia, em outubro. Melos fugiu de novo para a Alemanha. Basílio Bojoanos validou os bens do Mosteiro de Montecassino e finalizou acordo de paz com o príncipe Lombardo de Cápua, Pandolfo IV. O patrimônio dos revoltosos foi repartido para as abadias e os grandes proprietários rurais. 1018 a 1025 - Pacificação da Itália por Basílio Bojoanes. Na fronteira oriental, houve conquista da região do Cáucaso. 1019 – Morreu o patriarca Sérgio II (oriundo da família de Fócio e que não concordou com as leis sociais de Basílio II), sendo sucedido por Eustátio.1020 – Em 17 de abril, o imperador alemão Henrique II acolheu a visita do papa Bento VIII que lhe solicitou ajuda contra os bizantinos no sul da Itália ameaçando a soberania de Roma. Atendendo-o, o imperador foi para Verona, onde organizou uma expedição para combatê-los, em 6 de dezembro.1021 – Em junho, em Trani (que fazia parte de Bari), um preposto do catapan Basílio Bojoanes, por sua ordem, aplicou uma série de medidas repressivas à sua população por sua insubmissão ao governo bizantino, como ocorreu com um certo Maraldo que teve seu patrimônio transferido para o Mosteiro de Monte Cassino. ---- Ainda na Itália, o imperador alemão Henrique II tentou se apoderar do forte bizantino de Troja (situado no Monte Gargano, na Apúlia), cercando-o de abril a junho e conseguindo uma suposta submissão dos príncipes lombardos de Salerno e Cápua, que retrocederam logo após seu retorno para a Alemanha, se submetendo a Bizâncio. ---- Neste ano: Basílio II, depois que logisticamente centralizou seu exército em Filomelion (no tema da Anatólia) se dirigiu para Erzerum (ou Erzurum, na região de Karin do Alto Eufrates), na primavera, onde o rei Giorgi (de Abasgia) se submeteu falsamente à sua autoridade. Daí atravessou o divisor de águas das bacias do Eufrates e Araxe, onde ocorreu o conflito entre suas forças e as de Giorgi; este se refugiou na Abkásia. No seu encalço, Basílio II foi devastando as cidades do reino de Abasgia (Abkásia), até chegar a Tíflis (ou Tbilisi, na Geórgia); retrocedendo para Trebizonda (hoje Trabzon), no litoral do Mar Negro para passar o inverno (menos rigoroso em área litorânea). Aí o rei da Grande Armênia, João Sempad, em 1022, se submeteu à sua autoridade e lhe prometeu o seu reino após sua morte. O rei de Vaspurakan (no sul do Lago Van), impotente diante da pressão dos turcos seldjúcidas, fez um acordo com Basílio II cedendo-lhe o seu reino em permuta do governo do tema da Capadócia. Terminando sua campanha caucasiana, o rei Giorgi foi obrigado a aceitar a soberania bizantina na iminência do ataque de Basílio II à Abkásia.~ 1021-1022 – Vaspurakan, que tinha sido anexado ao império, teve como catapan a Basílio Mesardonites, por pouco tempo, exonerado em função de sua incompetência administrativa.1022 - Na primavera, houve nova intervenção de Basílio II na Transcaucásia diante do rei Giorgi de Abasgia que fomentou a revolta do general Nicéforo Xífias, estratego da Anatólia, tendo ao seu lado Nicéforo Focas (filho de Bardas Focas). Em 15 de agosto Nicéforo Xífias matou Nicéforo Focas. Para debelar esta revolta, o imperador mandou o estratego dos Armeníacos que aprisionou Nicéforo Xífias (o outro Nicéforo foi assassinado), e exilou nas Ilhas dos Príncipes. Basílio II, em setembro, venceu de uma vez por todas, o rei Giorgi (em Basian, perto de Erzurum), arrebatando-lhe toda a sua riqueza e ainda seu único filho (Bagrat, uma criança de 3 anos de idade).1023 – Após a conquista da Armênia e Geórgia, o imperador fez uma demonstração militar a noroeste do Lago Urmiah (limite de terras cristãs na Ásia Menor) e depois retornou para Constantinopla no início do ano.1023 a 1079 – O emirado da Síria setentrional esteve sob a dinastia dos Mirdassidas, cujos governos foram acossados constantemente pelos bizantinos (rivais antigos) e turcos seldjúcidas (penetrando na Anatólia neste século).1024 – Ao papa João XIX, recém-eleito, foi oferecida a sugestão, da parte do patriarca Eustato de Constantinopla, de uma diarquia entre as igrejas ocidental e oriental. Se propôs também a autonomia do patriarca de Constantinopla. --- Incursão frustrada do corsário russo Crisocheir (parente do príncipe Vladimir de Kiev) indo até a ilha de Lemnos (no Mar Egeu), mas foi contido pelos estrategos de Tessalônica e de Cibirreotas. 1025 - Em abril, o imperador bizantino Basílio II mandou uma grande esquadra sob o comando de Orestes (seu ‘protospathere’, ou seja, ‘chefe dos escudeiros’) para atacar os fatímidas da Sicília, cuja cidade de Messina era foco de pirataria contra o Catapanato do sul da Itália. O governador bizantino da Itália, Basílio Bojoannès, recuperou as fortalezas de Reggio de Calábria (no sul da Itália), atravessou o Estreito de Messina e ocupou a cidade com este nome, mas a frota naval de Orestes foi derrotada pelos árabes, frustrando o objetivo final de ficar com aquela cidade siciliana. ---- Incursão dos turcos pechenegues sobre Sirmium (atual Sremska Mitrovica), contido pelo governador desta. ---- Basílio II iria pessoalmente realizar nova investida contra árabes na Sicília, mas faleceu de mal súbito, em 15 de dezembro. Pouco antes de morrer nomeou o monge Aleixo (superior do mosteiro de Studios) para suceder Eustato, que tinha morrido. A partir do dia 16 de dezembro ficou como único imperador Constantino VIII.1025 (16/12) a 1028 (11/12): Reino de Constantino VIII Porfirogeneta, irmão de Basílio II. De saúde frágil, na realidade quem governou foram os eunucos do palácio, que destituíram os melhores funcionários e chefes militares de seu irmão e aplicaram altos impostos sobre os pequenos proprietários de terra (ao contrário da política anterior). Do casamento com Helena Alipios teve 3 filhas: a primogênita Eudóxia foi colocada à força em convento; as outras duas, Zoê e Teodora foram imperatrizes consorciadas com seus maridos, que arruinaram toda a obra feita por Basílio II, de 1028 a 1057.1026 - Os turcos pechenegues ultrapassaram o Danúbio, aumentando o perigo sobre a Trácia, mas foram contidos por Constantino Diógenes. Estes ataques se repetiram em 1061, 1064, 1087, 1088, 1089 e 1090. 1027 - Constantino VIII não teve sucesso na anexação da Geórgia, insubmissa após a morte do rei Jorge (Giorgi). --- Tratado entre Constantino VIII e

o califa fatímida Al-Zahir para a reconstrução da Igreja do Santo Sepulcro, em Jerusalém. – Uma frota naval de corsários provenientes do norte da África foi afundada pelos estrategos de Samos e Kios no Mar Egeu. 1028 - Constantino VIII, doente, deixou a administração imperial nas mãos dos eunucos e dos nobres Romano Argiro e Constantino Dalassenos. – O aristocrata rural Romano Argiro (era casado, foi obrigado a se divorciar e sua mulher internada em convento) se casou, por determinação imperial, com Zoê, cujo pai morreu em 11 de novembro, sucedendo-o junto com seu marido. 1028 (12 de novembro) a 1034 - Governo de Zoê com Romano III Argiro. Zoê, por viver abandonada pelo marido, teve como amante um paflagônio, também eunuco, Miguel, que afogou Romano nos banhos do

palácio em 1034.

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1028 a 1057 - Instabilidade política: governo imperial nas mãos de príncipes consortes e um adotado pela imperatriz Zoê.1029 – O normando Renulfo (ou Rainolfo), irmão de Gilberto de Batuerio, que participara do conflito de Canas (em 1018), conseguiu do duque de Nápoles a mão de sua filha, o título de conde e o feudo de Aversa. Esta presença territorial dos normandos aí foi mais um entrave para a presença bizantina no sul da Itália. --- Photos Argyros, aparentado ao imperador, esteve no ducado de Antióquia, onde capturou o líder muçulmano Nasr ibn Mussarraf. 1030 - Os últimos remanescentes khazares foram eliminados. --- Zoê mandou internar sua irmã, Teodora, num convento em Petrion. --- Desastre militar de Romano III Argiro diante do governador fatímida de Alepo Shib al-Dawla Nasr (que tinha proposto um acordo de paz ao imperador, mas ele não aceitou), fugindo após derrota na Batalha de Azaz (nas proximidades de Alepo), em 10 de agosto. Esta vergonha foi suavizada pela ação de Jorge Maniakés (resistindo aos árabes ao atacar suas fortalezas) e do duque de Antióquia, Nicetas (que promoveu contra-ataques contra estes inimigos de Bizâncio em 1031). ---- Neste ano, o sul da Itália (dos bizantinos) começou novamente a sofrer ataques dos árabes da Sicília.1030-31 - Novas incursões dos árabes da Sicília sobre o Catapanato da Itália, enfraquecido com a desgraça do catapã Bojoannes. 1031 - Nicetas e Jorge Maniakés: reação bizantina contra o emir de Alepo na Batalha de Edessa, se apoderando desta cidade e forçando-o a assinar um tratado de vassalagem a Bizâncio (em setembro). Em seguida ao tratado, foi constituído o Catapanato da Baixa Idade Média, juntando os emirados de Alepo e de Trípoli, tendo como ocupante Jorge Maniakés. ---- Constantinopla foi assolada por um terremoto.1032 – Novas incursões dos fatímidas da Sicília nos Mares Jônico e Adriático foram contidas pela coalizão de forças do estratego de Nauplia e da República de Ragusa (hoje Dubrovnik, no litoral da Dalmácia).1033 - Nova investida pechenegue sobre territórios bizantinos. --- Neste ano, a trégua assinada entre o Império Bizantino e o Califa Fatímida Al-Zahir foi desfeita: enquanto uma frota naval bizantina se acercava de Alexandria, o emir de Trípoli (cassado por armada egípcia) era reposto no poder pelos bizantinos. ---- Milhares de cristãos peregrinaram em direção à Jerusalém (hoje considerada uma cidade santa por cristãos, judeus e muçulmanos) para rezar na Igreja do Santo Sepulcro, visto que, no seu entendimento e fé, estava para se completar o milenário da crucificação de Jesus Cristo no Gólgota. Outro fator a estimular este medo foi o aumento enorme de temperatura na primavera européia.1034 - Romano III foi encontrado morto no banho em 11 de abril.--- A imperatriz Zoê contraiu segundas núpcias com o eunuco epiléptico chamado Miguel, que foi o imperador Miguel IV, o Paflagônio. 1034 (11 de abril) a 1041 - Governo de Zoê com Miguel IV, o Paflagônio. Este último, antes de ser imperador-consorte, foi cambista, como o seu irmão Nicetas. Seu irmão mais velho, João Orfanotrofe, era um eunuco e esteve trabalhando na corte com Romano Argiro, foi ele que aproximou Miguel de Zoê. 1034 (continuação) - Em 3 de agosto foi exilado para a Ilha de Plati o patrício Constantino Dalassenos, por denúncia do governador Nicetas em ter insuflado as revoltas ocorridas em Antióquia. ---- Neste ano, um sismo abalou a capital bizantina.1035 - Em maio, foi acertada uma trégua entre o imperador consorte bizantino Miguel IV, o Paflagônio e o emir fatímida da Sicília. ---- Constantino Monômaco considerado muito próximo de Zoê, foi exilado em Mitilene (na Ilha de Lesbos, no lado oriental do Mar Egeu). ---- Ações militares da República de Ragusa (nordeste da Itália) e do estratego de Nauplia (sul da Grécia) forçaram, em maio, o emir da Sicília a assinar uma trégua com o imperador-consorte bizantino Miguel IV. --- Roberto I, o Magnífico, duque da Normandia, foi para Jerusalém em peregrinação; no seu retorno, morreu (talvez envenenado), em julho de 1035, em Niceia, onde foi enterrado na Igreja de S. Maria. Um dos seus filhos, foi o bastardo Guilherme, o Conquistador. ---- De 5/11 deste ano a 24/10/1036, peregrinos muçulmanos que estavam em romaria para Meca foram massacrados ou escravizados pelos chamados ‘Sanavina’ da Armênia (que tinham tomado castelos fortes próximo de Khelat). O resultado deste saque foi entregue aos bizantinos. Os árabes tomaram medidas punitivas contra os armênios e de segurança contra os bizantinos. --- O tema dos Bucelários (à margem direita do rio Sakarias e a leste de Niceia) foi abalado por sismo tão forte que formou uma fissura no solo, na qual sucumbiram 5 localidades da região. ----Neste ano, corsários árabes do norte da África tentaram reprisar sua incursão sobre as ilhas bizantinas de Samos e Kios (no Mar Egeu), como fizeram em 1027, mas sua frota naval foi arrasada pelos estrategos destas ilhas. 1035-37 - Tentativas frustradas dos emires muçulmanos de Trípoli e Alepo em retomar Edessa e desfazer o Catapanato de Vaspurakan dos bizantinos. 1036 - Em 18/12, Constantinopla sofreu 3 abalos sísmicos. --- Neste ano: O príncipe russo de Kiev, Iaroslav, infligiu derrota aos turcos pechenegues, expulsando-os das estepes do Baixo Danúbio. Daí recomeçaram a fazer incursões sobre o Império Bizantino. --- Tratado de paz entre Bizâncio e os Fatímidas do Egito (então sob a regência da mãe de Al-Mostansir billah, cujo nome de fato era Ma'd Abu Tamiz).1037 – Se aproveitando de conflitos entre árabes da Sicília e da Tunísia, o catapan da Itália, Constantino Oropos, foi para a Sicília, venceu os árabes da Tunísia, libertou escravos cristãos, mas depois teve que se retirar da ilha.1037 – 1038 – No inverno, entre um ano e outro, na Diocléia (no litoral oriental do Mar Adriático) o príncipe sérvio Estevão Voislav (marido de uma neta do finado tzar Samuel, que fugira de Constantinopla, onde esteve preso) se revoltou contra o domínio bizantino, conseguindo sua autonomia e fundando a Dinastia dos Vojislavljević (que governou até 1186).1038 - Fracasso do generalíssimo Constantino, irmão de Miguel IV, na Armênia. – Na Apúlia eclodiu uma revolta, resultando na morte do catapano e seu filho em Bari. Em função disto, o irmão do imperador-consorte, João Orfanotrofe, organizou uma grande expedição para a Itália, comandada por Jorge Maniakés, com tropas de elite e mais um corpo de normandos (sob o comando de Guilherme ‘Braço de Ferro’ e de Dreu) e de varângios noruegueses (sob a chefia do seu rei Harald, o Severo). No verão, eles reconquistaram Messina e Rametta aos árabes. --- Em outubro, os turcos seldjúcidas promoveram uma verdadeira carnificina dos curdos e dos árabes da Armênia, depois se voltaram contra os Mirdassidas do norte da Síria, que entregaram Edessa aos bizantinos, a fim de manter livre a fronteira deste lado. ---- Toghrul Beg, turco seldjúcida islamizado sunita, revoltou-se contra o sultão ghaznávida Massud e se apoderou da Transoxiana e depois de Khorassan, em cuja capital (Nishapur) se intitulou emir. O califa abássida de Bagdá, esperançoso de uma recuperação de sua autoridade, o reconheceu como seu lugar-tenente. Os turcos seldjúcidas, a partir daí, começaram a ameaçar a estabilidade territorial do Império Bizantino, do califado de Bagdá e do Reino da Armênia.1038 a 1041 - As conquistas bizantinas na Sicília de 1038 a 1040 se arruinaram por causa dos atritos pessoais e financeiros da armada, ora porque os normandos e e varângios mal pagos voltaram para a Itália, ora porque Jorge Maniakés criticou Estêvão por ter deixado fugir o líder sarraceno vencido em Troina. Maniakés foi chamado à capital bizantina onde foi preso. Seus sucessores na Itália não tiveram capacidade de enfrentar os sarracenos, de tal forma que em 1041, eles conquistaram toda a Sicília, após a vitória sobre o armênio Kekomenos Katakalon; aos bizantinos ficou apenas a cidade de Messina.1039 – O príncipe de Salerno (Guaimar V) se apoderou de Amalfi (cujo príncipe João II teve que ir para Constantinopla), em abril; cerca de 3 meses depois foi a vez de Sorrento sucumbir diante dele (com a ajuda de Rainulfo e dos normandos de Aversa). Esta última cidade foi doada por ele ao irmão, o conde Guido de Conza, sob sua suserania. No fim deste ano, praticamente todo o sul da Itália (exceto Benevento, Nápoles e o condado de Aversa) estava sob a suserania do Principado de Salerno. – Novamente a Anatólia esteve abalada por sismos, além de chuvas.1040 – Em fevereiro, houve terremotos em vários locais, como em Esmirna (atual Izmir), onde seus efeitos foram mais danosos.--- No sul da Itália, em maio, houve perturbações em Mottola (onde o juiz imperial Miguel Cherospactesi foi morto) e em Matera (onde foi massacrado um alto funcionário bizantino); tal agitação se expandiu até Bari. ---- Na Sicília, Jorge Maniakés, continuando sua campanha contra os árabes desde 1038, chegou até Siracusa, mas a abandonou; no verão se saiu vitorioso em Troina (a noroeste do vulcão Etna), voltou à Siracusa, conquistando-a no verão. – Neste ano: Revolta fracassada na Bulgária tendo à frente um aventureiro (Pedro Dolianos), devido à cobrança de impostos em dinheiro dos camponeses. Dolianos se proclamou tzar, avançou sobre a Tessalônica, mas foi vencido e cegado (em 26/10) por outro búlgaro (Alusianos), este, por sua vez, derrotado por Miguel IV, mesmo estando vitimado de hidropsia (em 1041). --- Neste ano, mais uma conspiração contra imperadores em Constantinopla: desta feita um dos conjurados foi o patrício Gregório Taronitas II.1040-1041 – De setembro de 1040 a agosto de 1041 houve conflitos na fronteira asiática entre os bizantinos e os Fatímidas, saindo estes vencedores.1041 - Revolta de Arduíno (por afrontas feitas anteriormente por Jorge Maniakés) em Melfi, no mês de março, aliando-se com normandos (Rainulfo

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Drengot e Guilherme de Hauteville) e se espalhando pela Apúlia, derrotando, em 17 de março, o catapan Miguel Dukeianos na Batalha de Olivento (perto deste rio, aos pés do Monte Vulture, na Apúlia), que fugiu para a cidade de Bari. Os vitoriosos, após a batalha, ocuparam Ascoli, Venosa, Gravina e Puglia. ---- Em março, se enviou uma armada composta de mercenários russos e de tropas dos temas asiáticos de Opsikion e dos Trácios e milícias italianas sob o comando de Exaugusto Bojoannes (filho de Basílio Bojannes, que substituiu Miguel Dukeianos). ---- Em 4 de maio, o normando Guilherme de Hauteville saiu-se vitorioso na Batalha de Montemaggiore (em Ofanto, perto de Canas) sobre Miguel Dukeianos (muitos de seus soldados se afogaram no rio Ofanto ao debandarem desordenadamente). Em 3 de setembro, na Batalha de Montepeloso (ou do Monte Siricolo, nas proximidade de Montepeloso) os normandos venceram e aprisionaram Exaugusto Bojoannes. — Na Sicília, os bizantinos ficaram (e por poucos meses) apenas com Messina, devido à vitória de Katakalon Kekomenos (entre seus comandados estava Argiros), estratego do tema de Armeníacos, sobre os árabes do oeste desta ilha e do norte da África (em 10/5, dia de Pentecostes). Árabes, em dezembro, retomaram toda a ilha de Sicília pela desunião da frota e armada bizantinas. Fracasso de Jorge Maniakes em manter o domínio bizantino na Sicília o fez cair em desgraça. --- Em 3 de julho, na Bulgária, Alusianos cegou o seu competidor Pedro Dolianos. O imperador Miguel IV realizou campanha militar contra os búlgaros submetendo todo este reino (até dezembro). ---- Neste ano: João Orfanotrofe mandou armada para conter a rebelião do sérvio Estevão Boithslav; chegando em Diocléia os bizantinos foram até a região do lago de Zenta, onde sucumbiram diante dos amotinados. Mesmo tendo sido enviada nova expedição pelo imperador Miguel IV, não teve sucesso em face da inexperiência de seu comandante (Jorge Probatas). ---- Miguel IV morreu no mosteiro de S. Cosme e Damião ou Santos Anargiros (10 de dezembro); antes disso, Zoê proclamou seu sobrinho Miguel como César. — Após a morte do imperador Miguel IV, Zoê adotou outro Miguel como novo imperador-consorte. 1041 a 1042 – Governo de Zoê com seu sobrinho Miguel V, o Calafate. Seu governo foi extremamente exíguo: de apenas 132 dias (de 10/12/1041 a 21/4/1042). Agradou a Zoê, concedendo-lhe o título de ‘nobilíssima’o seu tio, João Orfanotrofe exerceu grande influência em seu reinado; outro tio, Constantino, foi nomeado chefe da casa militar. Miguel V foi muito impopular e manteve constantes atritos com a irrequieta aristocracia bizantina.1042 - Em fevereiro, em Bari (Itália), ao filho do lombardo Melos chamado Argiros (que fugira de Constantinopla, onde estava preso desde 1029) foi delegada a posição de chefe dos normandos e dos lombardos na Igreja de S. Apolinário (foi o primeiro lombardo a chefiar um catepanato). Da Itália meridional, restaram aos bizantinos apenas Tarento, Otranto e Brindisi até a ascensão de Constantino IX ao poder. --- Em 18 de abril, na capital bizantina, Miguel V mandou prender Zoê no Gineceu e depois a exilou para as Ilhas Príncipe ou Prinkipo, perto de Constantinopla (acusando-a de tentativa de envenenamento); depois tentou ir contra o patriarca Aleixo, que estimulou uma revolta da guarda russa, que cercou o Grande Palácio (20/4). Miguel V e seu tio Constantino fugiram para o mosteiro de Studios. Aí, a imperatriz Teodora (retirada do mosteiro de Petrion pelos sublevados) mandou cegá-los e interná-los em convento. Zoê e Teodora se entenderam no Grande Gineceu; voltando Teodora ao convento e Zoê às suas maquinações matrimoniais e políticas. ---- Jorge Maniakés foi mandado por Miguel V (ainda imperador) à Itália (aportando em Tarento em abril/1042), onde atacou as cidades que apoiaram os normandos. Por tramas políticas na capital bizantina, ele foi destituído de sua missão na Itália, se revoltando e sendo proclamado imperador (outubro). Ao ser encurralado em Otranto por Argiros, atravessou o Adriático e se alojou em Dyrrachium (Durazzo ou Durrés, no litoral); daí partiu por terra através do território sérvio (tinha se aliado com o rebelado Estevão Boithslav), onde se encontrou com armada imperial e foi ferido mortalmente (janeiro/fevereiro de 1043). – Em 12 de junho, Zoê, com 62 anos de idade, se casou (pela terceira vez), agora com Constantino Monômaco. Sua irmã, Teodora, foi novamente afastada do governo..1042 (12 de junho) a 1055 (11/1) - Governo de Zoê com Constantino IX ‘Monômaco’ (‘o homem que combate sozinho’). Este terceiro marido de Zoê era proveniente da nobreza. Seu passado não era recomendável: conspirou contra Miguel IV. --- A nobreza rural cresceu em poder durante o seu reinado; concomitantemente a armada bizantina diminuiu; as tropas nacionais passaram a ter mais mercenários (russos, escandinavos, normandos, anglo-saxões); descuidou-se da defesa nas fronteiras. Constantino IX foi pródigo com suas amantes (favoritas, uma delas, antes do casamento, era filha de Bardas Skleros) e favoritos da corte, gastando o que seus antecessores acumularam. 1042 (continuação) - Em Matera, sul da Itália, em setembro, os normandos, em sua maior parte, escolheram como seu líder Guilherme de Hauteville, o Braço-de-Ferro. No inverno, se reuniram em Melfi os líderes Rainulfo de Aversa e Guaimar de Salerno com 12 normandos e dividiram a Apúlia bizantina entre si. ---- Em outubro, ao ser chamado de volta à Constantinopla devido a intrigas, o general Jorge Maniakés (sendo substituído por Skleros, irmão de sua amante) se recusou e sua armada o proclamou imperador. Depois que ele foi cercado em Otranto por Argiros, ele foi para o porto de Durazzo (Dyrrachium); daí pretendeu chegar à capital bizantina pela Via Egnata, contando com seu aliado sérvio Vojislav (príncipe de Diocléia). ---- Neste ano: Fracasso militar bizantino na Grande Armênia em Ani, ao intervir na sucessão do rei Ashod; foi consagrado como rei o filho deste último, Kakig II. ---- A importante cidade de Edessa (atual Urfa) foi conquistada pelos bizantinos. ---- Em Chipre se revoltou o governador Teófilo Eróticos contra Bizâncio; sua revolta foi sufocada e ele foi mandado para Constantinopla, onde, no Hipódromo foi humilhado cavalgando um cavalo com roupas femininas; depois disso seus bens foram confiscados, mas ficou livre.1043 – Em fevereiro, na Batalha de Ostrovo (perto do lago Vegoritis não longe de Tessalônica),o general Jorge Maniakés morreu de um chute de cavalo após o confronto com tropas imperiais (para alguns autores ele foi mortalmente ferido neste conflito); sem comandante, suas tropas debandaram. Foi decapitado e a cabeça mandada para Constantinopla. ----Após a morte de Maniakés, Guaimar V de Salerno se intitulou Duque da Apúlia e de Calábria. --- Em 25 de março, Miguel Cerulário foi nomeado patriarca de Constantinopla, não vendo com bons olhos, desde o início de seu patriarcado, os latinos moradores da capital que não respeitavam os ritos litúrgicos bizantinos, nem a sua autoridade. – Em junho ocorreu o cerco frustrado de Constantinopla pelos russos (chefiados pelo príncipe Vladimir de Novgorod, filho de Iaroslav de Kiev) devido à morte de um comerciante de Novgorod no subúrbio de Santo-Mamas. Foram derrotados pelo almirante Basílio Théodôrokanos em julho. Iniciou-se a Guerra Bizantino-Russa entre Kiev e Bizâncio, que durou até 1046. --- Constantino IX nomeou o seu protegido (e de sua amante Sklerene) e filósofo Pselo chefe da chancelaria imperial; ao jurista João Bizantios (chamado Mauropus) confiou o cargo de conselheiro íntimo. --- Em julho, houve uma tentativa de golpe contra o imperador por parte de Estevão, o Sebastoforo. 1043 a 1046 - Os normandos, sob o comando dos Hauteville (Guilherme Braço de Ferro, Drogon ou Dreux e Onfroi), aliados a Guaimar, iniciaram processo de conquista dos temas bizantinos na Itália, espalhando terror e semeando atrocidades na área.1044 – Sklerene, sobrinha da primeira esposa do imperador Constantino IX, com a qual ele vivia quase-conjugalmente, morreu em março (sendo enterrada no Mosteiro dos Manganês); substituiu-a por uma jovem de procedência, mas não a colocou no palácio imperial. 1045 – O rei da Armênia, Kakig (ou Gagik) II, diante da iminência de ataque de seu reino pelo emir turco de Dwin e instigado pelo patriarca Petros foi negociar com o imperador Constantino IX (que se pretendia com o direito ao reino por herança de João Sempad). Aí acabou renunciando ao reino, recebendo em troca os temas da Capadócia e Licandos (centro e leste da Anatólia). Na época do verão deste ano, ocorreu a ocupação definitiva do Reino Armênio de Ani pelos bizantinos, pondo fim à Dinastia dos Bagrátidas (só não foi ocupada a região de Qars).1045-1047 – Armada bizantina contra o emir de Dwin (ou Dvin, no Cáucaso) o forçou a devolver parcialmente algumas fortalezas armenianas que ele tinha conquistado. Ainda nesta época, o imperador Constantino IX interferiu em questões internas da Geórgia e a submeteu à sua suserania. O crescimento territorial do império não o tornou forte diante da ameaça turca, visto que a política do imperador enfraqueceu a defesa das suas fronteiras.1046 – O normando Guilherme de Hauteville (Braço de Ferro), em 8 de maio, no cerco de Trani, saiu-se vitorioso sobre os bizantinos. No final do ano ele morreu, sendo sucedido pelo irmão Drogon de Hauteville como Conde da Apúlia (cuja cidade estratégica de Otranto tinha sido saqueada por eles). ---- Somente 3 anos depois do cerco frustrado de Constantinopla, foi assinado um acordo de paz entre bizantinos e russos (cujo príncipe ganhou uma princesa bizantina, filha do imperador, como consorte). Os russos recuperaram seus direitos comerciais acertados em 944 e tiveram seus soldados como mercenários bizantinos. --- Argiros de Bari (Itália) foi chamado à capital bizantina, ameaçada pela revolta do general Leão Tornikios. Aí ficou até 1051, mas teve atritos com o patriarca Miguel Kerularios. 1047 – Em fevereiro, o imperador alemão Henrique III, depois de ter deposto 3 papas, influiu na escolha do papa Clemente II em Roma (1046-1047);

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além disso, instalou sua corte em Cápua e se apoderou do principado homônimo (do príncipe Guaimar de Salerno) e outorgou aos normandos (entre os quais Dreu ou Drogon de Hauteville) o título de príncipes soberanos. Obviamente, tais ações políticas germânicas eram contrárias aos interesses bizantinos.--- Revolta fracassada do general Leão Tornikios (armênio da família real dos Bagrátidas ou Pagratidas), devido ao antimilitarismo de Constantino IX; em Andrinopla (em 14/9) foi proclamado imperador por generais dos temas do Ocidente, entre eles João Vatatzés. Onze dias depois estava diante de Blachernes (subúrbio da capital). Constantinopla foi defendida por 4 dias pelo imperador (25 a 28/9). O insurrecto retornou a Arcadiópolis (Luleburgaz), na Trácia, depois cercou a derradeira cidade ainda ligada ao imperador no lado ocidental, a de Rodosto; abandonou o cerco pela chegada de tropas dos temas do Oriente em Arcadiópolis. Aí suas tropas o abandonaram, sendo vencido e cegado (quando foi capturado em Bulgarofigon), juntamente com João Vatatzés, em dezembro. 1047 – 1048 – Renovação de acordo de paz de Constantino IX com o califa fatímida Al-Mostancer Mustansir Bi-lah (ou Mustansir), promovendo relações amigáveis entre eles. 1048 – Pela primeira vez o Império Bizantino sofreu uma incursão dos turcos seldjúcidas, que saquearam o Vaspurakan. A cidade de Arzen (no tema bizantino de Ibéria e Armênia), perto de Erzerum (dos turcos), foi destruída pelos turcos sob Ibrahim Yinal (irmão de Toghrul-beg, chefe turcomano da Transoxiana) . De 10 a 17 de setembro ocorreu a Batalha de Kapetrou ou Kapetron (hoje chamada de Pasinler ou Basean na Turquia; para alguns autores é Hasan Kale, na Armênia) entre a aliança de Bizâncio (sob Constantino IX) e Geórgia (com Liparit IV Orbéliani) e ainda tendo à frente os generais Aarão e Katakalon Kekaumenos contra os turcos seldjúcidas (sob o comando de Ibrahim Yinal, irmão do sultão Toghrul) acampados junto ao castelo de Gabudru (que os bizantinos chamavam de Kapetrou). Ocorreu esta batalha à noite. As forças coligadas cristãs tentaram envolver seus inimigos; estes, comandados por Ýbrahim Yýnal (Ibrahim Yinal) foram derrotados fulminantemente pelos generais Katakalon Kekaumenos e Aarão, mas conseguiram fugir com o saque feito anteriormente. Liparit IV foi aprisionado pelos turcos e levado para Isfahan (na Pérsia). --- Em dezembro, se asilou em Constantinopla o militar pechenegue Kegenis, que se atritara com o khan Tyrach. Este último, em dezembro, atravessou o Danúbio gelado, mas foi vencido por tropas dos temas do Ocidente com a cobertura de Kegenis. Muitos pechenegues derrotados foram cooptados pela armada bizantina e foram combater os turcos seldjúcidas na Bitínia. --- Neste ano: Em Jerusalém foi levantada a Igreja de S. Maria dos Latinos e de um prédio para hospedar os comerciantes italianos de Amalfi e cuidar dos peregrinos cristãos. – Uma esquadra bizantina tentou retomar a Ilha de Malta aos muçulmanos, mas não teve sucesso.1048 a 1053 - Conflitos com invasores turcos seldjúcidas. 1049 - O turco seldjúcida Ýbrahim Yýnall, irmão de Toghrul Beg, impôs derrota à armada bizantina na planície de Pazin (na Croácia).—Foi escolhido em Roma como papa o grande reformador Leão IX, que lutou contra as práticas imorais de simonia, nicolaísmo, bem como pelo desregramento do clero em relação aos cânons da Igreja. ---- Os pechenegues, cooptados como mercenários ao exército bizantino, se revoltaram, atravessaram o Estreito de Bósforo e se estabeleceram em território búlgaro, na planície de Sofia; aí se encontraram com outros pechenegues.1050 – No início deste ano, foi assinada uma trégua entre Constantino IX e o turco seldjúcida Toghrul beg para livrar o chefe georgiano Liparit IV Orbeliani e seu contingente da prisão. ---- Em 8 de junho se travou a Batalha de Andrinopla, na qual o general Nicéforo Focas, auxiliado por francos e varegues, venceu os pechenegues, expulsando-os da Trácia. Seu chefe, Tyrach se instalou na Bulgária danubiana e tomou a cidade de Preslav. ---- O imperador enviou armadas para a Trácia para combater os pechenegues, estes, embora as tenham repelido por 3 vezes, não conseguiram se apoderar de Andrinopla e tiveram que sair da Trácia. ---- O letrado Constantino Licudes (que fazia parte dos protegidos do imperador e renovou a Universidade de Constantinopla), por ter criticado a gastança do imperador, caiu em desgraça e foi substituído por João, o Logoteta, mais maleável. Logo depois foi a vez de João Mauropus. O filósofo Psellos se retirou para um mosteiro. ---- Faleceu neste ano a ex-imperatriz Zoê.1051 – Em 10 de agosto, o normando Dreu foi assassinado e, com ele, aumentou a expectativa bizantina de suavizar o espírito aventureiro normando. Assim, Constantinopla mandou Argiros com os títulos de Duque da Itália, Sicília e Calábria e com muito dinheiro para comprar ajuda para a guerra contra os normandos.1052 – Argiros, catapan da Itália, realizou entendimentos com o papa Leão IX, em Nápoles (no mês de junho) contra os normandos. Depois se bateu contra estes últimos, sofrendo derrotas em Tarento, Crotona e Siponto (em 1052-1053). --- Neste ano: Constantino IX mandou tropas dos temas asiáticos para combater os pechenegues. – A cidade de Edessa (Urfa) foi conquistada pelos bizantinos ao emir Marwanida, Nasr al-Dawla Ahmad, da Alta Mesopotâmia. – As igrejas de rito latino de Constantinopla tiveram suas portas fechadas por determinação do patriarca Miguel Cerulário.1053 – Neste ano: A Síria muçulmana estava passando por falta de alimentos; o imperador bizantino a abasteceu de trigo; como compensação, seu emir ajudou na reconstrução da Igreja do S. Sepulcro em Jerusalém e protegeu, de certa forma, os cristãos sediados na Palestina. – O imperador reuniu forças militares dos temas do Oriente e do Ocidente para desalojar os pechenegues que estavam na Bulgária danubiana; foram, no entanto, derrotados na passagem dos Bálcãs. Mesmo vitoriosos, os pechenegues solicitaram a paz, mediante pagamento de imposto e de fornecimento de novas terras e dignidades áulicas. Muitos deles, entretanto, permaneceram na Bulgária.1053-54- Campanha fracassada de Toghrul Beg em Vaspurakan, por sua derrota em Mantzikert (ou Malzgerd, junto ao Lago Urmia, na Armênia). 1054 – Em janeiro, o virulento patriarca de Constantinopla, Miguel Cerulário, enviou carta ao papa Leão IX exigindo a independência e a igualdade jurisdicional entre o papado e o patriarcado. – Aliança contra os normandos negociada por Argiros com o papa reformador Leão IX (antes de sua morte em 19 de abril, tendo maior influência sobre os bispos do sul da Itália do que o patriarca) diante da má vontade e dos obstáculos criados pelo patriarca Cerulário. Este patriarca, em 16 de julho, foi excomungado pelo cardeal Humberto de Moyenmutier, legado papal, na Igreja de S. Sofia. Estourou uma revolta popular, mas o imperador não pode debelá-la; conseguiu, apenas, mandar de volta os legados papais em 21 de julho (que tinham sido excomungados em sínodo convocado por Cerulário, um dia antes). Tais atritos foram os prolegômenos do Grande Cisma de 1054, separação entre as duas igrejas, a católica romana e a ortodoxa (havendo uma tentativa de unificação em 1962 com o Concílio Vaticano II). Um dos fatores de sua eclosão: o novo papa eleito, Bento VIII, com o apoio do imperador alemão Henrique II, lhe presenteou com um globo de ouro tendo uma cruz (símbolo do domínio universal), considerado ofensivo por Constantinopla. 1054 a 1056 – Os normandos (depois da vitória na Batalha de Civitate em junho de 1053 contra uma coalizão papal) conseguiram expandir seu território no sul da Itália pela inação bizantina.1055 - Morte de Constantino IX, cerca de 6 meses após o Grande Cisma (em 11 de janeiro). Subiu ao trono Teodora, irmã de Zoê, que tinha sido internada em convento. 1055 (12 de janeiro) a 1056 - Reinado de Teodora Porfirogeneta. Governou 1 ano e 7 meses. Neste período, o governo foi efetivamente administrado por eunucos. Houve uma tentativa de usurpação do trono por parte de Nicéforo Brienne, com suas tropas na Ásia Menor, que chegou até Crisópolis, mas foi declarado rebelde e preso. Foi descartada a sugestão do patriarca Miguel Cerulário de lhe arrumar um esposo. Em seu governo se acentuaram as arestas entre o governo central e a aristocracia militar.1055 – A imperatriz mandou sustar o fornecimento de trigo para os sírios. O califa Al-Mustansir reagiu, criando situações embaraçosas para os cristãos de Jerusalém, bem com proibiu aos peregrinos de entrar no Santo Sepulcro (em 1056). --- O khan turco seldjúcida Toghrul-beg se tornou o protetor do califa abássida de Bagdá e, petulantemente, exigiu que se trocasse o nome do califa fatímida na oração da mesquita de Constantinopla pelo seu. – Ao cair em desgraça o patriarca Cerulário, o general Argiros veio à capital bizantina e conseguiu o aval da imperatriz para implementar uma aliança com os poderosos do Ocidente, como os contatos diplomáticos diretos entre Teodora e o imperador alemão Henrique III.1056 - A basilissa Teodora, pouco antes de morrer, em 31 de agosto, adotou o general Miguel (indicado pelos eunucos), que se tornou imperador com o nome de Miguel VI Stratiotikos (ou seja, ‘o Belicoso’).1056 (31 de agosto) a 1057 - Reinado de Miguel VI ‘Stratiotikos’ (‘o Belicoso’). Reinou por apenas 1 ano e dez dias, pouco tempo mas muito convulsionado por fortes atritos entre os eunucos e os chefes de armadas. Foi o último imperador bizantino da Dinastia Macedônia. 1057 - Miguel VI recusou atender o pedido do estratego da Capadócia, Nicéforo Brienne, de lhe serem restituídos seus bens confiscado sob o governo de Teodora, mesmo ele tendo prestado seus serviços em lutas contra os turcos. Conspirou contra o imperador, sendo preso e cegado. --- Em

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30 de março, o imperador rompeu com os chefes dos exércitos da Ásia Menor, deflagrando sua sublevação com o apoio do patriarca de Constantinopla. Foi urdida uma trama na Igreja de S. Sofia para destronar o imperador. Um destes chefes, Isaac Comneno, que se notabilizara em luta contra os turcos, foi proclamado (em 8/6) imperador em Gomaria (tema de Paflagônia) depois que o general Katakalon esteve treinando suas tropas como que ordenado pelo imperador. Em 20 de junho se juntaram a Isaac Comneno os outros militares rebeldes (como Nicéforo Botaneiates). Assim, venceu tropas imperiais comandadas pelo eunuco Teodoro na Batalha de Hades (ou Petroe, perto de Niceia (20/8). Quatro dias depois, Isaac Comneno recebeu, na Nicomédia, Psellos, como emissário de Miguel VI, junto com senadores, oferecendo-lhe a honraria de César. Isaac Comneno aceitou e mandou contra-propostas para o imperador através destes emissários, em 30 de agosto. Neste dia, no entanto, eclodiu uma revolta popular na capital, insuflada pelo patriarca Cerulário e tendo a cobertura da armada e o apoio de Nicéforo Brienne: Miguel VI foi deposto em 1 de setembro e mandado para convento. Um dia depois, Isaac Comneno ingressou solenemente em Crisópolis, porto de Constantinopla. Em 1 de novembro foi coroado imperador. 1057 a 1081 - Dinastia Proto-Comnena - Neste período, Bizâncio teve cinco imperadores, demonstrando o declínio conjuntural e instabilidade política. A substituição de forças mercenárias no lugar dos milicianos camponeses foi um dos fatores da vitória turca sobre os bizantinos em 1071. Cresceu o processo de feudalização do império em que os latifundiários (‘dynatoi’) se assenhoreavam das terras dos pequenos proprietários (de camponeses-soldados e produtores independentes), se constituindo numa força cada vez mais desagregadora do império. A feudalização fortaleceu, pois, a nobreza feudal e os mosteiros, colocando em xeque o poder central. 1057 (1 de setembro) a 1059 - Governo de Isaac I Comneno até o dia de Natal de 1059, quando teve que abdicar (após 2 anos e 3 meses de exercício de poder). Nem todos os historiadores o consideram criador da Dinastia dos Comnenos. --- O imperador se fez representar nas moedas com um sabre na mão. Recompensou todos os seus companheiros de armas e encheu de presentes os que o ajudaram de forma direta a subir no trono, em especial Psellos. Miguel Cerulário e Constantino Lichudés (nomeado patriarca em 2 de fevereiro de 1059). --- Na Itália, o normando Roberto Guiscard iniciou a conquista da Calábria e foi escolhido como chefe depois do falecimento de Hunfroi, seu irmão, aumentando sua área de soberania. 1057 (continuação) – No início de setembro, o novo imperador concordou com o patriarca Cerulário quanto à colação de ofícios na igreja de S. Sofia (este pleito foi feito infrutiferamente junto a Miguel VI e Teodora). ---- Em outubro, os turcos seldjúcidas assaltaram e pilharam Malatia (ou Melitène). 1057 a 1071 – Ruína completa de tudo o que foi feito pela Dinastia Macedônica: perda total da Itália; a fronteira danubiana caiu; a Anatólia foi invadida pelos turcos seldjúcidas e o império ficou ameaçado de perder os Bálcãs.1058 – O papa Estevão IX pretendeu se aliar ao Império Bizantino, mas faleceu em fevereiro deste ano, quando o seu embaixador, o abade de Monte Cassino (Didier) estava se aprontando para ir à Constantinopla. ---- Em junho, o normando Conde Ricardo I Drengod de Aversa (em Campânia) se apoderou da cidade de Cápua (cujo príncipe Pandolfo V morrera). --- O patriarca Miguel Cerulário teve conversas ásperas com o imperador e, depois, passou a usar sapatos tingidos de púrpura (exclusividade do poder imperial); em 8 de novembro, ele foi destituído do cargo. 1059 – Em janeiro foi escolhido novo papa: o reformador Nicolau II, que se entendeu com os normandos para expulsar de Roma o antipapa Bento X escolhido pelos Tusculum (família aristocrática romana que fora a responsável pela escolha de Bento IX em 1047, sendo este filho do conde Alberico III de Túsculo). Em agosto, no concílio de Melfi, o papa Nicolau II consagrou Ricardo I Drengod como príncipe de Cápua e a Roberto I Guiscard (ou Hauteville) como o primeiro duque da Apúlia. Estava, assim, selada a conciliação entre o papado e os normandos. ---- Em julho, Toghrul beg foi considerado sultão (‘al-umara’, ou seja, ‘emir dos emires’), iniciando guerra santa contra Bizâncio cristão: invadiu a Capadócia e devastou a Armênia e pilhou a cidade de Sebaste (cujo nome foi mudado para Sivas e permanece até hoje). --- Em 7 de novembro o imperador mandou prender Miguel Cerulário; daí foi levado a Proconeso (Ilha de Mármara, no mar do mesmo nome) e, depois, para a Ilha de Imbros (no Mar Egeu, próximo do Estreito de Dardanelos). Como se recusou a abdicar do patriarcado perante uma comissão de metropolitas mandada pelo imperador, foi colocado em navio, aí acorrentado, e levado para Madita (arcebispado no litoral do Quersoneso da Trácia, no atual Estreito de Dardanelos). Diante de tanto sofrimento, aí morreu nos braços do arcebispo local. ---- Os húngaros (que mantiveram relações amistosas com o império bizantino durante o reinado de Estevão, até 1038) se juntaram com os pechenegues e atravessaram o Danúbio, mas retrocederam diante da investida de Isaac Comneno e assinaram um tratado de paz. ---- O imperador Isaac I, doente, abdicou do trono em favor do seu irmão João Comneno, que recusou a oferta, em 24 de novembro. Sofrendo a hostilidade da burocracia imperial e do clero foi obrigado a aceitar a indicação de Constantino Dukas, membro da aristocracia urbana e seu companheiro de armas, como seu sucessor, no dia de Natal. – 1059 (25/12) a 1067 (21/5) - Governo de Constantino X Dukas. Ao contrário do governo anterior (mais pautado pelo militarismo), teve um reinado sob o domínio da burocracia imperial, que se tornou cada vez mais poderosa, em detrimento do poder militar. Tal manipulação enfraqueceu o império de tal maneira, que sofreu incursões e saques dos turcos seldjúcidas, pechenegues, normandos e húngaros. Teve como co-imperador Miguel (futuro Miguel VII), ao qual se juntaram seus irmãos Constâncio (em 1060), Andrônico (em 1068); seu padrasto (que se casou com Eudokia em 1068) ocupou o poder de 1068 a 1071. Era casado com uma sobrinha do ex-patriarca Miguel Cerulário (Eudokia Makrembolitissa).1060 - Os normandos da família Hauteville, na primavera, recomeçaram a ofensiva militar sobre territórios bizantinos na Itália. Em maio, Roberto ‘Guiscard’ (‘o avisado’) se assenhoreou de Tarento e Bríndisi (na Apúlia); ao mesmo tempo, seu irmão Rogério de Hauteville venceu os bizantinos em Oria (também na Apúlia). Os dois irmãos se apoderaram das cidades de Reggio de Calabria e Scilla, completando o seu domínio sobre toda a Calábria (no verão). Em setembro/outubro, Rogério realizou campanha militar na Sicília, tentando se apoderar de Messina; voltou para Reggio de Calábria e foi para a Apúlia ao saber que o imperador bizantino estava aprontando uma contra-ofensiva. Em outubro, a frota imperial aportou em Bari; após vitória sobre os dois irmãos normandos se apoderaram da maior parte do Condado da Apúlia, inclusive ameaçando sua capital, Melfi. ~ 1060 – Benjamin de Tudela, judeu espanhol, relatou que na capital bizantina havia uma comunidade de mercadores judeus de várias procedências (Egito, Palestina, Pérsia, Principado de Kiev, Ibéria Moura ou Espanha). 1060 a 1063 - Constantino X forçou a permanência de autoridade religiosa armênia de Ani (o ‘católico’ Khatchig) na capital bizantina neste período, para pagamento de impostos da região. O imperador, por outro lado, não teve sucesso na imposição da liturgia bizantina na Armênia.1061 - O imperador Constantino X tentou o apoio do papado, mas era época de eleição em Roma (Nicolau II faleceu em 27 de julho), conturbada pelas disputas rotineiras entre a nobreza romana e o imperador alemão (Henrique IV). ---- O normando Rogério de Hauteville, quando estava em Mileto (no litoral ocidental da Anatólia), recebeu emissários cristãos de Messina (da Sicília) que lhe solicitaram ajuda militar para libertar esta cidade siciliana do jugo muçulmano dos Ziridas. Em setembro/outubro, tentou tomar a cidade siciliana, mas teve que retornar para a Apúlia, ameaçada por uma contra-ofensiva bizantina aí no sul da Itália.1062 - Em agosto/setembro, os normandos Hauteville na pessoa de Rogério (que recebeu de seu irmão, Roberto I Guiscardo, a investidura de Conde de Sicília), cercou a cidade de Troina (na Sicília) durante 4 meses. 1063 - Em junho, na cidade de Cerami, na Sicília, os ziyridas sofreram derrota diante do normando, o duque Rogério I de Hauteville. Dando suporte às suas conquistas na Sicília, uma esquadra de Pisa, comandada por João Orlandi, atacou Palermo. 1064 – Em junho (ou 16 de agosto) Alp Arslan (novo sultão turco seldjúcida) se apoderou da Armênia Meridional, após tomar Ani e massacrar uma parte de sua população, outra parte foi mandada para Bagdá. Apenas o reino armênio de Lorri conseguiu manter sua autonomia por 100 anos.---- Ocorreu também a primeira incursão turca seldjúcida na Geórgia, onde tomaram a cidade de Akhalkalaki e arrasaram o país. – Neste ano: O imperador foi impotente diante do ataque de Salomão, rei da Hungria, no Danúbio, cercando durante 3 meses e tomando Belgrado, em retaliação a supostos saques dos búlgaros em território húngaro. --- Morreu o patriarca Constantino Lichudes (nomeado por Isaac Comneno, quando abdicou do trono), passando o cargo a outro erudito como ele, João Xifilin. – Na Itália, houve revoltas na Apúlia, então sob normando Roberto I Guiscardo (de Hauteville); o catapan bizantino, oportunisticamente, ofereceu reforços aos revoltosos.

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1065 – O sultão turco Alp Arslan, continuando sua incursão militar do ano anterior, atacou Edessa (ou Urfa), não tomada pela resistência do duque de Antióquia), se dirigindo, depois para Constantinopla. --- Invasão dos turcos oguzes (do mesmo grupo dos seldjúcidas) ao norte do Império Bizantino a partir do norte do Mar Cáspio, pressionados para oeste pelos turcos polovicianos (chamados de kumanos pelos bizantinos). Estes turcos passaram pelo Danúbio, aprisionaram Nicéforo Botaneiatés e saquearam a região desde a Tessalônica à Macedônia, chegando até a Tessália. Ao retornarem com seus saques, foram atacados pelos búlgaros e massacrados em parte (outra parte foi cooptada pelo imperador Constantino X, que os alojou na Macedônia e os colocou na armada bizantina ao lado dos turcos pechenegues, após um acordo com seus líderes. 1066 – Uma pequena expedição bizantina (do corpo de guarda russa) foi para Bari, a pedido do seu arcebispo ao imperador, retomando Tarento e Bríndisi aos normandos. ---- Há historiadores (sobretudo ingleses) que consideram este ano o início da Alta Idade Média (foi o ano da conquista da Inglaterra pelo normando Guilherme, o Conquistador). 1067 – Durante a primavera, a Ásia Menor sofreu duplo ataque dos turcos seldjúcidas: um ao nordeste, em que o sultão Alp Arslan invadiu o Ponto e chegou à cidade de Cesareia de Capadócia (saqueando-a após a Batalha de Cesareia, ao vencer o imperador); outro a sudeste, em que a fronteira da Cilícia foi devastada. --- Constantino X (em 21 de maio) faleceu. Ele tinha colocado para sucedê-lo os 3 filhos Miguel (passou a ser Miguel VII), Andrônico e Constantino, sob a regência de sua mãe Eudokia de Macrembolitissa por 7 meses. --- Em maio, na Itália, o normando Roberto I Guiscard, teve que deixar de lado a conquista da Sicília, para afastar uma invasão bizantina e continuar sua investida em 1068.1068 – Em 1º de janeiro, a viúva e regente Eudokia de Macrembolitissa se casou (contrariando desejo do finado marido) com o estratego de Sofia (ou Triaditza), Romano Diógenes, que foi proclamado basileus pelos generais em função da menoridade dos filhos de Constantino X.1068 (1 de janeiro) a 1071 – Governo de Romano IV Diógenes.1068 (continuação) - Em 5 de agosto, na Itália, o normando Roberto I Guiscardo, deixou de lado a conquista da Sicília e iniciou o cerco do porto de Bari, no Adriático, que só capitulou 3 anos depois (16 de abril de 1071). O novo imperador bizantino nomeou Avartutelas como governador de Bari e lhe forneceu uma frota naval para combater os normandos. ---- Em 10 de dezembro, uma aliança formada por Alp Arslan com o o rei Gurgen II de Lorri, o emir de Tíflis e o príncipe Aghsartan I de Kakétia (no Cáucaso) contra o rei da Geórgia (Bagrat IV), resultou na devastação das províncias de Argvétia e Kartli até julho de 1069.1069 – Por causa de saques efetuados pelos turcos em várias cidades da Ásia Menor, o novo imperador bizantino Romano IV Diógenes, com tropas de mercenários realizou uma campanha militar contra eles. Na primavera, sufocou uma revolta do mercenário normando Roberto Crispino, na fortaleza de Maurokastron (no tema de Armeníacos). Continuando sua campanha, expulsou os turcos do tema do Ponto (no sul do Mar Negro), perseguindo-os com suas tropas de elite, obstruindo sua fuga em Tefrik (no tema de Sebaste), procedendo a um grande massacre deles. Enquanto ele se dirigia com suas tropas em direção ao Lago Van, seu lugar-tenente Filaretos Brakhamios foi derrotado pelos turcos (que tinham voltado para a Capadócia, atravessaram e Licaônia e conquistaram Konia, mas as tropas imperiais de Romano IV Diógenes conseguiram forçar sua saída de Konia). Depois passou por desfiladeiros dos Montes Taurus e avançou sobre o norte da Síria, vencendo os muçulmanos em Mabugh ou Mambij (Hierápolis da Síria, a nordeste de Alepo) em 20 de novembro. Ao retornar para Constantinopla, recuperou a cidade de Iconium (Konia), mas não conseguiu impedir que os turcos seldjúcidas tomassem a cidade de Amorium (no tema de Galácia). ---- Neste ano chegou a Bari a frota naval bizantina comandada por Avartutelas, derrotado por Roberto I Guiscardo, que, a seguir, conquistou as cidades de Gravina e Obbiano. 1070 - Na primavera, o imperador bizantino Romano IV Diógenes colocou Manuel Comneno (primogênito de João Comneno) no comando da campanha militar contra os turcos na Ásia Menor, se apoderando de Hierápolis Bambyce, mas sendo vencido e aprisionado na Batalha de Sebaste (ou Sivas) pelo turco Er-Sighun (ou Arisiagh, filho de Yusuf Inal e enteado de Alp Arslan). (O historiador Louis Bréhier atribui ao turco Krudj este feito). Er-Sighun foi convencido pelo Manuel Comneno a lutar pelo poder turco seldjúcida e ambos voltaram à capital bizantina. Enquanto isto, o sultão Alp Arslam vassalizou o príncipe da dinastia Mirdassida de Alepo (se aproveitando de disputas na tribo dos Kilabitas), mas não teve sucesso em cercar Edessa; depois atacou a ilha de Lesbos (no Mar Egeu) e saqueou o mosteiro de Chonai.1071 --- Em 13 de março, o imperador Romano IV Diógenes, junto com o turco Krudji (Er-Sighun?) e Manuel Comneno (este morrendo durante o trajeto) e mercenários turcos, francos e normandos (além de tropas da Armênia e Geórgia), se defrontou com o sultão turco Alp Arslan em Teodosiópolis (no Alto Eufrates, na Armênia, hoje denominada Erzurum) e se apoderou de Mantzikert ou Malazgerd (no Alto Eufrates), conseguindo recuperá-la (na Batalha de Mantzikert, ao norte do lago Van, no dia 19 de agosto). Em manobra desastrosa, no entanto, ficou sem defesa ao enviar reforços para um de seus auxiliares normandos (Russel de Bailleul) que estava para chegar no Lago Van. O sultão, aproveitou o momento para atacar Romano IV, que perdeu também o apoio dos mercenários turcos (que o traíram no momento do ataque). Assim, foi derrotado, ferido e preso pelo sultão em Mantzikert (em 26 de agosto), considerada a maior derrota da História Bizantina. O imperador Romano IV foi levado para Bagdá coberto de terra e de sangue; Alp Arslan o libertou uma semana depois. Tal vitória deu origem ao novo ramo turco: o dos Seldjúcidas de Rum ou da Anatólia. A partir desta derrota, muitos clãs turcos se instalaram na Ásia Menor. ---- Na Itália, Roberto I Guiscardo se apoderou da cidade de Bari (a última ainda controlada pelos bizantinos), em 15 de abril. ---- Neste ano: A imperatriz Eudokia mandou trazer o César João Dukas de volta do exílio para Constantinopla, este optou por aclamar como imperador seu sobrinho (Miguel Dukas), pressionou a imperatriz a se internar em mosteiro e mandou exilar na Ilha dos Príncipes Ana Dalassena (mãe dos Comnenos). O imperador Romano IV, por sua vez, ao saber das ocorrências na capital, tomou Amaseia (no Ponto), mas foi derrotado pelo segundo filho de João Dukas (Constantino), indo para uma fortaleza (Tyropoion), onde recebeu a ajuda do armênio Khatchatur e depois foi para a Cilícia para enfrentar Miguel Dukas. ---- Estava patente no meio rural bizantino, a completa alienação dos camponeses quanto à ocupação do império por outros povos (como tinha ocorrido na Síria e Egito em 633).1071 (24/10) a 1078 (7/1) - Reino de Miguel VII Dukas Parapinace (primogênito de Constantino X pelo casamento com Eudokia). O governo, na realidade, foi exercido por conselheiros controlados por João Dukas, já que era mais afeito aos estudos de teologia (era discípulo de Psellos). Seu governo marcou a predominância do partido civil dos burocratas na administração imperial.1071 a 1081 - O império foi sacudido por guerras externas, conflitos internos (guerras civis e entre as próprias forças armadas), facilitando a conquista da Ásia Menor pelo sultão Alp Arslan. 1071 a 1084 – Aproveitando-se da situação instável do Império Bizantino, Filaretos Brakhamios, armênio aventureiro que fora soldado do imperador Romano IV Diógenes, com tropas formadas principalmente de mercenários francos (como Russel de Bailleul, Hervé Frankopulos e Raimbaud) se apoderou de fortalezas nos Montes Taurus, assegurando abrigo a cristãos refugiados dos seldjúcidas; não quis, no entanto, ser tutelado pelo imperador Miguel VII Dukas. Ele governou Melitene (Malatia), Marach, Edessa e Antióquia e a Cilícia, tomadas pelos turcos de 1084 a 1095. Esta área foi a semente da Pequena Armênia. 1072 – No começo deste ano, Romano IV capitulou diante de Andrônico Dukas (talvez um de seus traidores em Malazgerd) em Adana, sob condição de ser mantido vivo. João Dukas, porém, mandou cegá-lo próximo de Amaseia e o deportou para a Ilha de Proti, onde morreu. --- Em 10 de janeiro, o normando Roberto Guiscard finalizou a conquista da Sicília aos Fatímidas, após ter se apoderado da cidade de Palermo, cercada durante 5 meses. Ele ficou com esta cidade, metade de Messina e o Val Demone (nordeste da ilha); o restante da ilha ficou com o seu irmão Rogério I de Hauteville após vencer o emir Ben Avert e se apoderar de Trapani (1077) e Taormina (1079). 1073 – O imperador mandou emissários à Roma, aí chegando em 9 de julho, solicitando o auxílio do papa Gregório VII para mover a guerra contra os turcos. O papa designou o patriarca de Grado (Domingos) para levar a resposta ao imperador em Constantinopla. ---- Neste ano, os turcos seldjúcidas procederam a uma reforma agrária na Ásia Menor acabando com o latifúndio e conquistando a simpatia dos pequenos proprietários bizantinos. ---- O aventureiro armênio Filaretos Brakamios, se aproveitando da instabilidade interna do Império Bizantino, constituiu seu exército de armênios e se apoderou de praças fortes junto aos Montes Taurus, na Cilícia, para servir de refúgio dos cristãos migrantes por causa dos turcos; nesta região ocupada por ele, no entanto, não aceitou a soberania bizantina do imperador Miguel VII. Nesta época o seu território compreendia desde a Antióquia à Melitène (no Alto Eufrates).1073-1074 – Miguel Bogislav, jupan (chefe) dos sérvios, esteve por trás de mais uma revolta dos búlgaros, enviando-lhes o seu filho Constantino

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Bodin, proclamado tzar deles em Prizrend. Embora este último tenha sido vitorioso contra os bizantinos do tema da Bulgária, ele sofreu derrota na planície de Kossovo e levado preso para a Síria. Daí conseguiu fugir com a ajuda de Veneza, em 1078.1074 - Em 14 de março subiu ao trono da Hungria o rei Geza I, com apoio do imperador bizantino (que lhe mandou uma coroa). ---- Tentativa do comandante dos normandos do exército bizantino dos temas orientais, Russel (ou Ursell) de Bailleu em estabelecer um principado no tema de Licaônia (ao sul da Galácia, na Ásia Menor) após marchar até Sebaste (Sivas), saqueando tudo em sua marcha. Este normando forçou o césar João Dukas (após vencê-lo em Zompi, perto de Amorium) a proclamá-lo imperador e marchou até Crisópolis ((Üsküdar ou Scutari), diante de Constantinopla (na outra margem do Estreito de Bósforo), queimando-a. Diante deste perigo o imperador Miguel VII Dukas tentou inutilmente se entender com ele sem sucesso. Em função disto o imperador bizantino Miguel VII pediu a ajuda do sultão Malik-chah, que enviou um exército sob o comando do seu primo Suleyman ibn Kutulmuch (ou Solimão ibn Kutlumuch) para fazer frente à Russel de Bailleul; este sofreu derrota diante do turco seldjúcida em Nicomédia (Izmit) sendo preso e levado para Constantinopla e jogado num calabouço. Após isto, o turco se instalou na Capadócia (núcleo do Sultanato de Rum). ---- O papa e santo Gregório VII teve em mente um plano de liderar pessoalmente um exército ocidental (especialmente do Reino da França) com o intuito de livrar a igreja oriental dos muçulmanos. Primeiro, esta armada deveria combater os seus inimigos normandos (liderados Roberto Guiscardo). Seu plano, contudo, não teve nenhuma ressonância no mundo cristão ocidental. --- Em agosto, Roberto Guiscardo assinou um tratado com Bizâncio pelo qual se realizou um contrato matrimonial (uma de suas filhas se casaria com um sobrinho do imperador) e de defesa contra os turcos seldjúcidas.1075 – Em 2 de agosto morreu em Constantinopla seu patriarca João VIII, sendo escolhido como seu sucessor Cosmas I. – Neste ano: Enquanto Nicéforo Brienne, estratego e general bizantino, estava combatendo os búlgaros, seu exército (por ser composto de mercenários normandos, alemães, pechenegues) se revelou rapace (saqueando tudo o que podia na Bulgária) e insubordinado: uma parte dele formado de pechenegues e de soldados do tema de Paristion e seu duque Nestor ameaçou a capital bizantina, mas foi contido pelo eunuco, duque de Antióquia, Nikeforitzes, favorito do imperador, que corrompeu os mercenários, forçando a retirada de Nestor e os líderes do motim. --- Os turcos seldjúcidas são expulsos do tema da Caldéia (Chaldia) pelo estratego bizantino Teodoro Gabras, retomando o porto de Trebizonda (litoral sul do Mar Negro) e aí governando como príncipe independente até 1098. ---- Damasco e a Síria Meridional foram conquistadas pelo capitão turco Atsiz ben Auq (que tinha se apoderado da Palestina em 1071) aos califas fatímidas do Egito. Este território ficou sob a dependência nominal (não real) do Grande Seldjúcida da Pérsia.1076 – O duque da Croácia, Zvonimir, em Spalato, foi coroado por legados papais (de Gregório VII) como rei da Croácia e Dalmácia. --- O Império Bizantino foi assolado pela fome e peste, além de ataques dos turcos seldjúcidas na Anatólia, além disso, grassava a indisciplina entre os militares. 1077 - O ministro e favorito do imperador Miguel VII, Nikeforitzes (ambos malquistos pelo povo), armou intrigas contra o estratego e general Nicéforo Brienne, o Antigo (até então leal ao imperador), que se revoltou e foi aclamado imperador por suas tropas em Trajanópolis (3/10). Uma semana depois, a armada do Oriente proclamou o seu chefe e generalíssimo Nicéforo Botaneiatés (estratego de Anatólicos) como imperador. Diante desta situação de dois pretendentes à usurpação do trono, o imperador Miguel VII e Nikeforitzes mandou uma expedição sob o comando de Basilakés contra Nicéforo Brienne, que foi vitorioso (apoiado pelo turco Suleyman, sobrinho de Alp Arslan, que deveria estar ao lado das tropas do imperador), mas não atacou a capital. Em novembro, João Brienne (mandado por seu irmão Nicéforo Brienne) atacou a capital bizantina, passou pelos Blachernes, atravessou o Corno de Ouro e saqueou os subúrbios. ----Neste ano: O califa al-Muqtadi) enviou expedição contra a capital bizantina, mas seu objetivo foi contido pelos generais bizantinos Tatikios e Manuel Butumités. 1077 -1078 – A importante cidade bizantina de Niceia (atual Iznik) esteve submetida a ataques do turco Solimão (Suleyman ibn Kutulmuch), que a tomou várias vezes, mas foi retomada também sucessivas vezes por Aleixo Comneno. Tal situação decorria da instabilidade política no Império Bizantino com o afastamento do imperador Miguel VII por Nicéforo III Botaneiatés. A decisiva e última conquista da cidade se efetivou em 1078. Há historiadores que colocam esta data como o início do Sultanato de Rum; outros colocam em 1081, quando Solimão conquistou o litoral da Bitínia e estabeleceu a capital em Niceia, tornando-se o senhor do litoral oriental do Mar de Mármara (Propôntida e Bósforo).1078 – João Brienne foi colocado em fuga no início deste ano por tropas bizantinas chefiadas conjuntamente pelo aventureiro Russel de Bailleul (solto pelo imperador Miguel VII Dukas), Aleixo Comneno e Constantino Dukas (irmão do imperador). ---- O imperador bizantino Miguel VII, através de Nikeforitzes, solicitou a ajuda do sultão Suleyman I (de Rum) contra Nicéforo Botaneiatés. O sultão se deparou com as forças de Nicéforo Botaneiatés entre Niceia e Cotyaeum; este convenceu-o a aderir a sua revolta, corrompendo-o com promessas maiores que as oferecidas por Miguel VII. Feito isto, ele entrou triunfante em Niceia, onde manteve comunicação com seus emissários da capital, sacudida por motins que exigiam a renúncia do imperador (24/3). Este último renunciou, deixou a capital sob a responsabilidade de Aleixo Comneno para defendê-la e indicou para sucedê-lo o irmão Constantino, que não aceitou e foi prestar homenagem ao pretendente Nicéforo Botaneiatés, que, em 2 de abril, entrou na capital e, um dia depois, foi coroado imperador na Igreja de S. Sofia com a aprovação do clero e da aristocracia. Miguel VII foi para o arcebispado de Éfeso e Nikeforitzés foi mandado para a Ilha de Oxia, onde morreu. 1078 (3 de abril) a 1081 (1/4) - Governo do usurpador Nicéforo III Botaneiatés. Teve como favoritos na corte os eslavos Germano e Boril. Ele considerou Filaretos Brakamios como seu vassalo, mas esta vassalagem foi nominal.1078 (continuação) - Casamento da imperatriz Maria de Alânia com Nicéforo III Botaneiatés, enquanto ainda vivia Miguel VII, causando revolta e tumultos para futura sucessão. ---- Na primavera foi sufocada a rebelião de Nicéforo Brienne o Antigo (com mercenários turcos pechenegues) por Aleixo Comneno com a cavalaria dos ‘Imortais’ (ajudado por turcos enviados pelo sultão Suleyman) na Batalha de Kalavrya, ou das Belas Fontes (na Trácia, hoje chamada de Ereglisi), sendo preso e cegado Nicéforo Brienne. Mesmo assim, Aleixo Comneno foi recebido friamente na capital e foi mandado para debelar outra revolta (de Nicéforo Basilakés, ou Basilakios), duque de Durazzo, que se proclamara imperador na Tessalônica e se apoderou da Macedônia. Também foi vencido e levado para a capital bizantina e aí foi cegado, no verão. ---- Em novembro, o papa Gregório VII enviou uma coroa de rei para o jupan sérvio Miguel Bogislav e lhe concedeu o título de ‘rei dos eslavos’. --- Pechenegues foram instalados em Niceia como guarnição militar bizantina – O imperador mandou Constantino Dukas (irmão do ex-imperador Miguel VII) para fazer frente aos turcos; ao chegar em Crisópolis, no entanto, suas tropas o proclamaram imperador; Nicéforo III pagou propina aos seus oficiais, que o levaram para Constantinopla, onde foi tonsurado e asilado numa ilha da Propôntida.1078 a 1307 – Sultanato de Rum sob os turcos seldjúcidas. Fundado por Solimão (Suleyman I ibn Kutulmuch). Era de tendência sunita. Criou-se, então, o Quarto Ramo dos Turcos no Sultanato de Rum, na Anatólia. Com sua presença no local, a população rural bizantina local migrou para outras áreas, restando apenas as populações litorâneas e urbanas. As terras foram ocupadas pelos pastores turcos.1080 – O armênio Vaçag Bahlavuni, duque de Antióquia, foi assassinado, sendo substituído por Filaretos Brakamios, a pedido dos armênios. O imperador Nicéforo III, por sugestão do patriarca Emiliano, deu-lhe a missão de defender os desfiladeiros do Monte Taurus e lhe conferiu o título de ‘curopalate’ (comandante-em-chefe), desde que ele aceitasse a condição de prestar-lhe vassalagem. ---- No outono, um cunhado dos Comnenos cujo nome era Nicéforo Melissenos, se revoltou na Ásia Menor, à frente de seus mercenários turcos; após vitória sobre tropas imperiais mandadas contra ele, ainda instalou os turcos em Niceia, Cízica e outras cidades da Anatólia. Esta revolta só se encerrou em abril de 1081. --- Neste ano, os chefes armênios, Ochim e Rubem, se fixaram em castelos fortificados de Lambron e Bartzeberd, respectivamente, na Cilícia (para onde migraram desde 1071, quando os seldjúcidas tomaram a Armênia); eles formaram as dinastias Hetumiana e Rubeniana. Estava, assim, iniciada o Reino da Armênia Ciliciana, independente de Bizâncio. --- A capital bizantina, Constantinopla, recebeu emissários do sultão Malik Shah I, solicitando ao então imperador usurpador Nicéforo III Botaneaites que prendesse os filhos de Kutulmush (um deles Suleyman), pois eles eram um obstáculo ao seu projeto de conquista do Egito. Evidentemente não teve sucesso o pedido, visto que consideravam como o maior perigo para os bizantinos o próprio sultão Malik Shah I (na realidade quem iniciou a dominação do oeste da Ásia Menor foi Suleyman ibn Kutulmush).1080 a 1090 – Tzakhas, poderoso emir turco de Esmirna, procurou reunir em federação os beylicados (principados) da Anatólia contra os bizantinos, que tinham retirado a sua soberania sobre o litoral do Mar Egeu, além das ilhas de Samos, Lesbos, Kios e Rodes. O imperador bizantino Aleixo I recriou sua frota naval e derrotou Tzakhas no Mar de Mármara.

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1081- O imperador Nicéforo III Botaneiatés indicara para sucedê-lo um de seus primos, contrariando o direito legítimo de Constantino (filho de Miguel VII com Maria). Aleixo Comneno e seu irmão deixaram a capital (15/2) em função das maquinações dos ministros do imperador contra eles pelo seu prestígio, bem como pelo fato de Maria ter adotado Aleixo como seu filho. Foram até Tchorlu (na Trácia), daí se reuniram com suas tropas e foram para Cízica para combater os turcos seldjúcidas. Em Cízica, Aleixo Comneno foi proclamado imperador. ---- No mês de março, o revoltoso general Nicéforo Melissenos estava em Damalis (margem asiática do Estreito de Bósforo). No final de março, Aleixo Comneno estava na capital bizantina; seu cunhado, Nicéforo Melissenos tentou negociar a repartição de poder com ele, sem sucesso inicial, mas aderiu a ele sob concessões dignitárias. Em 1 de abril entrou em Constantinopla sem resistência do imperador (que foi para um mosteiro) e dos mercenários alemães (que traíram o imperador). 1081 (1 de abril) a 1118 – Reino de Aleixo I Comneno. Ao subir ao trono, Bizâncio não possuía mais nada na Itália; os eslavos, normandos e venezianos pressionavam os Bálcãs; a leste, o avanço turco era cada vez mais presente na Mesopotâmia e na Ásia Menor. De 1081 a 1095, este imperador manteve a estabilidade interna do seu império e lutou contra os inimigos externos, procurando resguardar a unidade política do império. Ao longo do seu reinado aumentou a carga fiscal, alterou o valor das moedas (aumentando o custo de vida), confiscou bens de nobres revoltados e da Igreja; tais práticas facilitaram a conquista turca e dos cumanos (estes na Trácia em 1095). -- Como os normandos estavam arquitetando a conquista da Península Balcânica, ele concedeu privilégios à Veneza e Gênova (mais tarde irão causar a ruína da marinha e do comércio bizantinos). A ascensão de Aleixo I Comneno ao trono é considerada como o fim do Período Médio Bizantino. 1081 (1 de abril) a 1185 - Dinastia dos Comnenos.1081 --- Coroação do imperador na igreja de S. Sofia (1/4). ---- Contrariando a sua mãe, Ana Dalassenos, o imperador mandou coroar sua esposa Irene Dukas, 2 semanas após sua coroação. Outorgou, também, a Nicéforo Melissenos o título de César e governador da Tessalônica. Ao irmão do imperador foi concedida a dignidade de ‘sebastocrator’ (superior ao de césar). ---- Primeira investida dos normandos (com Roberto Guiscardo, sob pretexto de vingar Miguel VII) nos Bálcãs bizantinos, primeiro com Boemundo de Hauteville (filho de Roberto) invadindo a baia de Avlona e, em maio, o próprio Roberto Guiscardo tomou a ilha de Corfu e atacou Durazzo (ou Dyrrachium), na Dalmácia, em 17 de junho. Em agosto, os venezianos, aliados dos bizantinos, mandaram uma frota naval contra os normandos e os venceram ao largo do porto de Durazzo. Para organizar a campanha militar contra os normandos, Aleixo I confiscou bens da igreja, visto que o tesouro real estava exaurido e procurou a ajuda militar de inimigos dos normandos, além de contratar mercenários turcos. Esta sua campanha foi infeliz: sofreu derrota (junto com Nicéforo Melissenos, seus aliados sérvios e turcos seldjúcidas) perto de Durrés (Durazzo) em 18/10 na Batalha de Dyrrachium diante de Roberto Guiscardo (duque da Apúlia e Calábria). Este, após sua vitória, se apoderou de Corfu. O jupan sérvio Constantino Bodin, aliado e vassalo dos bizantinos, traiu Aleixo I ao se retirar desta batalha. Boemundo de Hauteville ainda se manteve no litoral do Adriático, junto à costa da Albânia (citada pela primeira vez), e, depois, se lançou em direção à Tessália (deste ano até 1083), na Grécia, onde a maioria dos seus lugares-tenentes foram corrompidos pela promessa de maiores soldos pagos pelos bizantinos. ---- Aleixo I Comneno, tentou fazer um acordo com o sultão turco seldjúcida Suleyman ibn Kutulmich pelo qual ele podia fazer de Niceia sua capital e controlar todo o centro e oeste da Ásia Menor, exceto o litoral do Mar Egeu. --- Em 19 de dezembro, a cidade e fortaleza de Shaizar (ou Larissa, em posição estratégica no rio Orontes, entre Apameia e Hama, na Síria), pertencente a um bispo bizantino, foi tomada pelo emir árabe Ali Ibn Munqidh. Aí estabeleceu a Dinastia dos Munqidhitas (Banu-Munqidh). O Império Bizantino tentou reconquistá-la, mais tarde, várias vezes sem sucesso, no entanto. ---- Os turcos seldjúcidas comandados por Solimão I (do Sultanato de Rum), primo de Malik-Chah, conquistaram todo o litoral da Bitínia e conseguiram permanecer nos lugares conquistados. Niceia se tornou a capital do Sultanato de Rum até 1097, daí até 1302 foi Iconium (Konia). ---- Neste ano, o porto de Esmirna e as ilhas de Samos e Rodes foram conquistadas pelo turco Çaka Bey (ou Tzachas). --- Os turcos já estavam praticamente em toda a Ásia Menor, só que ainda dispersos.1081 a 1090 – Tzakhas (Çaka Bey), um arrivista turco, se estabeleceu em Esmirna (no litoral do Egeu), se proclamou rei e procurou reunir em federação pequenos reinos da Anatólia contra os bizantinos, dos quais retirou a soberania do litoral do Egeu, além das ilhas de Samos, Lesbos, Kios e Rodes; pior ainda, com a aprovação de muitos bizantinos que participavam de sua esquadra. Foi o primeiro poder marítimo na História turca. O imperador bizantino Aleixo I recriou sua frota naval e derrotou Tzakhas no Mar de Mármara (em 1090). 1082 - Os normandos se assenhorearam do porto de Durazzo (em 21/2 e cercada desde o ano anterior), aí ficando até 1085. Em seguida se encaminharam por terra para atacar Constantinopla, mas Roberto Guiscardo, seu comandante, teve que voltar para a Itália, a fim de atender apelo do papa Gregório VII (em perigo diante do imperador alemão Henrique IV). Em seu lugar ficou o seu filho Boemundo, que (por ordem do seu pai), em maio, invadiu e conquistou a Macedônia Ocidental (cercando primeiro a cidade de Janina ou Yoannina), daí foi para a Tessália (onde cercou Larissa até 1083). Veneza prestou ajuda aos bizantinos visando direitos de comércio (ter um quarteirão em Constantinopla e isenção fiscal), forçando os normandos a recuarem provisoriamente.1083 - Na primavera, Aleixo I e Nicéforo Melissenos conseguiram salvar Larissa do cerco de Boemundo, que se retirou para Castoria (norte da Grécia); daí voltou para a Itália (por falta de dinheiro para pagar seus soldados) e esta cidade foi ocupada pelas tropas imperiais (em outubro). ---- Ao nascer uma filha de Aleixo I com a imperatriz Maria, ela foi prometida a Constantino Dukas, que herdaria o trono. – O imperador mandou para o exílio os líderes dos heréticos maniqueístas Paulicianos; estes negociaram acordos com os turcos pechenegues (situados no nordeste da Bulgária atual) para invadir o império.1084 - Em agosto foi escolhido Nicolau III como novo patriarca de Constantinopla, exercendo o cargo até 1111. ---- No final deste ano (outono-inverno), o normando Roberto Guiscardo realizou uma segunda campanha contra Bizâncio, junto com seu filho Boemundo, nos Bálcãs, sendo derrotados na Batalha de Larissa (na Tessália, centro da Grécia) pelo imperador Aleixo I Comneno (com turcos seldjúcidas). ---- Em 13 de dezembro, o sultão seldjúcida Solimão I, se apoderou de Konya (Iconium), depois invadiu a Armênia Ciliciana e tomou Antióquia ao general bizantino e aventureiro armênio Filaretos Bracâmio (Vahram). Desta forma, teve sob sua soberania quase toda a Ásia Menor. ---- Diante da impotência de Bizâncio, Malik-chah realizou uma partilha dos territórios entre os seus emires e mandou suas tropas para a Síria, a fim de ratificar sua autoridade; ao mesmo tempo, os emires da Anatólia tentavam se tornar independentes. ---- Ainda neste ano, os bogomilianos (da Trácia) se revoltaram contra Bizâncio e solicitaram o auxílio militar dos pechenegues. 1085 - Aleixo I Comneno reorganizou a frota imperial que tinha sido dizimada pelos conflitos com os turcos seldjúcidas. – Em janeiro, o normando Rogério Guiscardo tomou a ilha de Corfu (no Adriático) após vitória sobre uma frota naval de Veneza. Na ilha próxima de Cefalônia, seu pai, Roberto de Hauteville, morreu de disenteria, em 17 de julho, na baia de Atheras, onde se preparava para a sua conquista. Com seu falecimento sucederam conflitos sucessórios entre Rogério (como duque da Calábria e da Apúlia) e seu irmão Boemundo, facilitando a retomada de Durazzo pelos bizantinos. – Sulayman ibn Kutlumuch, não podendo atacar Constantinopla, se voltou para a Síria. Alepo, então, pediu a ajuda de Tutuch; este, junto com Ortoq, em julho, venceram o sultão de Rum próximo de Alepo, morrendo no decurso do confronto. Kilitch (Kiliç) Arslan (filho único de Solimão) foi aprisionado e Alepo entregue ao turco Ak Chungkur, pai do futuro Zengi. Tutuch ocupou o norte da Síria e se proclamou sultão de toda a Síria.---- Diante da impotência de Bizâncio e do crescimento do poder de Tutuch, Malik-Chah realizou uma partilha dos seus territórios entre os seus emires e mandou suas tropas para a Síria a fim de ratificar sua autoridade; ao mesmo tempo, os emires da Anatólia tentavam se tornar independentes. O enfraquecimento do Sultanato de Rum na Anatólia foi um dos fatores do sucesso da I Cruzada em 1097/99. - O imperador Aleixo I não pode se aproveitar desta situação porque estava às voltas com a invasão dos pechenegues, ocupando a área entre o Danúbio e os Bálcãs. 1086 - Em 6 de janeiro, o bispo Leão da Calcedônia reclamou do imperador ter usado os bens das igrejas (inclusive os ícones), acusando-o de sacrílego. Aleixo I o destituiu do cargo por um sínodo reunido em Blachernes. ---- Na primavera, os pechenegues (sob o comando de Traulos) conjugaram suas forças com as dos turcos polovicianos (chamados de cumanos e kiptchak) para invadir a Trácia e venceram e mataram o generalíssimo Gregório Pakurianos na Batalha de Beliatova, mas retrocederam diante da nova armada bizantina comandada pelos generais Tatikios (ou Taticius) e Manoel Butumités, bloqueando o caminho de Andrinopla e Filipópolis no final do ano. – Neste ano: Um rebelde turco Abu'l-Qasim (Qasim Ebul Saltuk) se apoderou do trono de Niceia. O turco seldjúcida Tutuch se apoderou de Antióquia, em seguida se dirigiu para o Sultanato de

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Rum para desalojar Abû’l-Qasîm em Niceia, mas as forças bizantinas o impediram. Esta capital do Sultanato de Rum foi cercada pelo general bizantino Tatikios, da qual desistiu. Em revide, Abu’l-Qasim atacou a capital bizantina, mas foi repelido pelos generais Manuel Butumités e Tatikios. 1087 –Novamente, na primavera, os pechenegues, após terem tomado a Trácia (com auxílio húngaro), invadiram o território bizantino até o Mar de Mármara (Propôntida), mas foram vencidos por tropas imperiais e voltaram para seu território. No outono, o imperador Aleixo I reagiu enviando uma dupla armada: uma por mar (pelo Mar Negro e penetrando o Danúbio) e outra terrestre (pela Península Balcânica). Os pechenegues diante desta ameaça solicitaram, em 1 de agosto, um acordo de paz, mas foi recusado; do conflito entre eles em Dristra (ou Silístria, no Danúbio) as tropas imperiais foram derrotadas e Aleixo I teve que fazer uma retirada em direção a Berrhoe. – Neste ano: O sultão Malik Shah conquistou a cidade de Edessa (Urfa), cujo governador (o general Filaretos Brakamios) foi forçado a ir para a fortaleza de Germanicia.1088 – Nascimento de João Comneno (4 anos depois foi associado ao trono). O imperador retirou as insígnias imperiais de Constantino Dukas (desfazendo o seu ato de 1083) e internou a imperatriz Maria em convento. Desta maneira, alijou os Dukas e Ana Porfirogeneta (casada com Nicéforo Brienne) de qualquer pretensão ao trono. – Em 12 de março foi escolhido como papa em Roma Urbano II, que acreditava ser necessária uma reconciliação com o patriarcado de Constantinopla, a fim de livrar o clero oriental da dominação turca. Neste sentido de aproximação anulou o ato de excomunhão ao imperador feito pelo papa Gregório VII.1088-1089 – Mais outra incursão dos pechenegues na Trácia, pressionados pelos Qipchak (komanoi ou ainda cumanos como eram chamados pelos bizantinos). 1089 - Na primavera, os pechenegues retomaram as invasões na Trácia e infligiram um massacre dos bizantinos em Chariupolis ( ou Irebol, Aireboli, Khairebolou) e prosseguiram sua marcha até Ipsala (na região de Edirne ou Andrinopla), obrigando o imperador a solicitar um armistício. ---- Em 4 de agosto, o Conde de Flandres, Roberto, o Frísio, fez uma peregrinação aos Lugares Santos, passando primeiro por Constantinopla, onde conversou com o imperador, este solicitando a ajuda ocidental contra os muçulmanos. O nobre cristão prometeu mandar-lhe 500 cavaleiros, que engrossaram as tropas bizantinas em lutas contra os invasores. ---- No 3º Concílio de Melfi, de 10 a 17 de setembro, o papa Urbano II suspendeu uma excomunhão que pesava sobre o imperador bizantino, iniciando-se conversações diplomáticas entre os dois para a formação de uma cruzada contra os muçulmanos e o resgate de Jerusalém. O imperador Aleixo I, por sua vez, mandou emissários ao Concílio de Piacenza, que expuseram os vexames impostos aos peregrinos cristãos no Oriente. 1090 – Os bizantinos sofreram duplo ataque: por mar (pelo arrivista turco Tzakas de Esmirna, que fugira de Constantinopla desde a ascensão de Aleixo I Comneno ao trono) e por terra (pelos seldjúcidas do Sultanato de Rum). Em 19 de maio ocorreu a Batalha das Ilhas Koyun (próximas da Ilha de Kios, no Mar Egeu), em que os bizantinos (comandados por Constantino Dukas, cunhado do imperador) sofreram derrota diante de Tsakas. Este último negociou com os turcos pechenegues para cercarem Constantinopla por terra. Simultaneamente, Abul-Qasim (do Sultanato de Rum) saiu de Niceia e atacou o porto de Nicomédia (atual Izmit, do outro lado do Estreito de Bósforo, perto da capital bizantina). Este porto foi defendido por cavaleiros mandados pelo Conde de Flandres. No inverno de 1090-1091, os pechenegues bloquearam a capital bizantina por terra, tendo como base a cidade de Arcadiópolis,na Trácia (hoje, Lülleburgaz, na Bulgária); enquanto isto, o imperador Aleixo I pessoalmente avançou pelo Mar de Mármara contra os pechenegues, para neutralizar os acessos litorâneos à capital bizantina e, naturalmente, o encontro das forças de Esmirna e dos pechenegues (que centralizam a logística de suas ações no vale do Maritza, na Trácia.). Ele foi derrotado em Rodosto (hoje chamado de Tekirdag), mas se fortificou em Tchorlu (ou Tzurulon), onde conseguiu se defender dos pechenegues. 1091 – O governador de Chipre, Rapsomatés, se revoltou contra o Império Bizantino; Aleixo I mandou o general Manuel Butumités para sufocar a revolta. --- Aleixo I Comneno reuniu seu contingente militar em Aenos (no delta do rio Hebros ou Ebros, na Trácia, ponto estratégico de controle de comércio marítimo); aí encontrou o césar Nicéforo Melissenos (que recrutara tropas na Macedônia). Os pechenegues, por sua vez, se apoderaram de Galípoli (supervisionando passagem de navios pelo Estreito de Dardanelos) por influência do emir de Esmirna (Tzachas), que estava equipando sua frota. Para impedir que Çaka Bey (ou Tzachas) e os pechenegues unissem suas tropas, Aleixo I pediu a ajuda dos polovicianos (cumanos) e esmagou fulminantemente os turcos pechenegues na colina de Leburnion (no litoral ocidental do Mar Negro, perto de Constantinopla), em 29 de abril- foi a chamada Batalha de Leburnion (ou Levunioun, no litoral ocidental do Mar Negro, perto de Aenos). Os turcos estavam com suas mulheres e filhos e foram trucidados. Esta vitória marcou o início do ressurgimento do poder militar bizantino. ---- O aliado de Çaka Bey (ou Tzachas), Abul Qasim, do Sultanato seldjúcida de Rum, enviou expedição contra a capital bizantina, mas seu objetivo foi contido pelos generais bizantinos Tatikios e Butunités. Celebrou, então, um tratado de amizade com Aleixo I; este, interesseiramente, prestou-lhe ajuda quando Niceia foi atacada pelo sultão Malek (ou Malik) Schah. – O papa Urbano II mandou embaixada à Constantinopla a fim de acertar com o imperador um concílio; na primavera, ele entrou em negociação com os pechenegues, para contratá-los como mercenários de Roma. --- Em julho, Veneza conseguiu destruir a frota normanda; como compensação de suas concessões comerciais no império. --- Neste ano, o rei húngaro da dinastia de Arpad, Ladislau I, invadiu a Croácia, enquanto o imperador Aleixo I retomava o litoral dálmata e açulava os cumanos a fazer incursão sobre a Hungria. disso, Ladislau I ficou com a Croácia setentrional ou panoniana.1092 - Os bizantinos aceitaram uma aliança oferecida pelo sultão Malik Chah I da Pérsia, depois que este mandou matar Abû’l-Qasîm, regente do Sultanato de Rum. Com a morte do sultão, o filho de Suleyman I (Kilitch ou Qilidj Arslan, que era prisioneiro do sultão) veio para a Anatólia e se proclamou sultão de Rum no final do ano. ---- Neste ano: Tzachas (emir de Esmirna) estava preparando novo ataque ao império, mas foi contido por frota sob o comando de Constantino Dalassene e João Dukas, que atacaram Mitilene (na ilha de Lesbos). Tzachas foi forçado a voltar para Esmirna. --- Após a morte de Malik Chah, eclodiu uma guerra civil. O momento foi propício para o imperador Aleixo recapturar Cízica e Apolônia; manteve, outrossim, bom relacionamento diplomático com o novo sultão de Niceia, Qilidj Arslan.1093 – Na primavera, o emir turco de Esmirna, Çaka Bey (ou Tzachas), cercou Abidos para controlar a navegação para Constantinopla pelo Estreito de Dardanelos. O imperador bizantino Aleixo I se aliou com o filho e sucessor de Solimão (o sultão Qilidj Arslan) e se juntou com exército comandado por Constantino Dalassene; diante disso, Tzachas encerrou o cerco de Abidos e foi buscar refúgio junto ao sultão; este o embriagou e depois lhe cortou a garganta. ---- Na primavera, mais uma vez o governador de Chipre, Rapsomatés, se rebelou pelo mesmo motivo da anterior: a carga tributária elevada imposta pelo Império Bizantina; ela foi sufocada novamente pelo general Manuel Butunités. --- Nos Bálcãs, Constantino Bodin (filho e sucessor de Miguel Bogislav) saiu-se vitorioso sobre os ‘jupans’ de Rascie (na Sérvia) e, assim, pode mudar-se de Scutari (em Diocléia ou Montenegro) para esta região. 1093-4 - Expedição bizantina sob o comando de João Comneno (sobrinho do imperador) contra um dos ‘jupans’ (chefes de tribos) da Sérvia (Bolkan ou Vulcan) por ter invadido a Macedônia e ter incendiado a cidade de Lipljan (ou Ulpiana, na Albânia), no ano anterior. Em função desta investida bizantina, Bolkan assinou um tratado de paz, colocando um termo final aos conflitos entre Constantino Bodin e seus parentes e as agressões dos sérvios contra Bizâncio.1094 – Enquanto Aleixo I negociava o tratado de paz com o sérvio Bolkan, os cumanos invadiram o império sob a chefia de um suposto filho de Romano IV Diógenes, chegando até o rio Maritza (em Andrinopla), que foi defendido por Nicéforo Brienne, prendendo-o e levando-o à capital bizantina. Os cumanos, sem chefia, acabaram se dispersando, mas pilhando o vale do Danúbio em sua retirada. --- Constantino Dukas revelou ao imperador, em maio-junho deste ano, a urdidura de uma trama golpista contra ele, tecida pelo cunhado dele (o armênio Miguel Taronites) associado a Nicéforo Diógenes (irmão de Miguel VII e cunhado da imperatriz) e Kekomenos Katakalon. Estes 2 últimos foram cegados no verão; a imperatriz Maria de Alânia, acusada de participar neste complô, foi internada no convento de Principô. ---- O imperador, valendo-se do seu cesaropapismo, criou novas estruturas do patriarcado, centralizando cada vez mais sob o poder imperial a hierarquia dos metropolitas e bispos (mais na capital e não em suas sedes provinciais, facilitando os sínodos na capital). 1095 - De 1 a 7 de março, na cidade de Placência (Itália) se reuniu um concílio por Urbano II, no qual estiveram emissários de Aleixo I relatando os sofrimentos dos cristãos frente aos turcos seldjúcidas, pedindo ajuda contra eles. Em 27 de novembro, em outro concílio (o de Clermont), o papa fez um apelo à cristandade ocidental contra os muçulmanos: daí surgiu a I Cruzada. ---- Jorge Paleólogo, João Taronités e Nicéforo Melissenos foram

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mandados pelo imperador para defender Beroe (hoje chamada de Stara Zagora na Bulgária atual) dos ataques promovidos pelos cumanos. ---- Neste ano, o imperador bizantino Aleixo I Comneno se aproveitou da instabilidade no Império Turco Seldjúcida após a morte de Malek-Chah para reconquistar Cízica e Apolônia. Por outro lado, a carga fiscal bizantina opressiva foi o fator principal da preferência de habitantes do império preferirem o domínio estrangeiro ora de cumanos, ora de turcos seldjúcidas na Anatólia. O exército bizantino, por sua vez, estava se tornando impotente, visto que era composto cada vez mais por mercenários, como os normandos da Itália, os francos, os turcomanos e os anglo-saxões. ---- Teodoro Gavras, estratego do tema da Caldéia, estabeleceu um principado independente em Trebizonda (porto importante no litoral sul do Mar Negro).1095 a 1099 - Nova contra-ofensiva da cristandade ocidental contra o Mundo Islâmico com a Primeira Cruzada tomando Jerusalém; ao mesmo tempo, os normandos promoveram aguerrida competição pelo domínio do Mediterrâneo Oriental com os turcos seldjúcidas. Criaram-se o Reino de Jerusalém e os Estados Latinos do Oriente. O restabelecimento do comércio entre a Europa e o Oriente mediterrâneo criou melhores condições econômicas para a Ilha de Chipre, onde mercadores de Veneza se fixaram em Famagusta. 1096 – Cruzada dos pobres: de 29 de setembro a 17 de outubro, seu contingente formado de italianos e alemães, conduzido por um desconhecido Renaud, foram cercados, mortos ou presos pelos turcos seldjúcidas de Rum em Xerigordon, perto de Niceia. Em 21 de outubro, a ‘armada dos peregrinos’ foi desviada pelos bizantinos para Civitot , onde os mesmos turcos a trucidaram (seus poucos sobreviventes foram reconduzidos para Constantinopla pelos bizantinos). No fim de outubro, um terceiro grupo de cruzados sob o comando de Raimundo de Saint-Gilles, Conde de Toulouse, saiu de Provença no sul da França em direção à Constantinopla. ---- Em novembro chegou à Constantinopla o primeiro cruzado franco, o barão Hugo de França, que prestou vassalagem ao imperador Aleixo I Comneno. No final deste ano até maio de 1097, chegou a Cruzada dos Barões, que se desentendeu com Aleixo I em Constantinopla. Ele e outros barões não aceitaram a exigência imperial de submetê-los à homenagem feudal e a de que suas conquistas fossem revertidas para Bizâncio. A maioria deles aceitou isto, exceto Tancredo de Hauteville (príncipe normando) e Raimundo de Saint-Gilles, Conde de Toulouse. Haviam estereótipos também entre cruzados (achando que bizantinos eram afeminados) e bizantinos (achando que cruzados eram bárbaros) criando barreiras em seu entendimento. ---- Neste ano, as cidades da Trácia aceitaram passivamente a entrada dos Cumanos na área, tal era o descontentamento diante do imperador, que adotara duras medidas fiscais contra suas populações, além de modificar o valor das moedas (aumentando a inflação e o custo de vida) e transferindo bens dos mosteiros para leigos.1097 - Campanha militar da I Cruzada: Em 20 de janeiro, os cruzados Godofredo de Bulhão, duque da Baixa Lorena, Balduíno de Bolonha (seu irmão) e seus vassalos, após longas negociações após sua chegada à Constantinopla, prestaram juramento de vassalagem ao imperador Aleixo I Comneno que, em troca de abastecer suas tropas, recebeu a promessa dos cruzados em lhe entregar as terras que o império tinha perdido aos muçulmanos e da aceitação como vassalos dele. Em 9 de abril, o cruzado normando Boemundo de Tarento chegou a Constantinopla, onde procedeu ao juramento de vassalagem ao imperador (embora antes tivesse sido seu inimigo). No dia 21 deste mês, chegou à capital bizantina Raimundo IV de Saint-Gilles, Conde de Toulouse, mais um cruzado, que não concordou em se vassalar ao imperador, 5 dias após sua chegada voltou atrás em sua decisão. ---- Neste mês de maio, o imperador Aleixo I mandou emissários ao Cairo, para comunicar ao vizir Al-Afdal ‘Shâhânshâh’ (‘o Melhor’) sobre a chegada dos cruzados à Constantinopla; o vizir mandou votos de sucesso. ---- Em 14 de maio, iniciou-se o cerco de Niceia. Enquanto ocorria o cerco e a tomada de Niceia, o imperador bizantino firmou um acordo com os cruzados no sentido de respaldar sua segurança no seu território e de liderá-los por ocasião de uma futura tomada de Jerusalém. Após 5 dias de cerco, os cruzados tomaram Niceia (mas a guarnição turca se rendeu ao imperador, desmerecendo o feito dos cruzados). O sultão de Rum, Kılıç (ou Quilidj) Arslan, à frente de armada de socorro à Niceia foi vencido. Em face disso, firmou uma trégua com o emir Danichmendita da Capadócia, retrocedeu e teve que ficar perto de Iconium (Konia), em 21 de maio. --- Assim que uma parte dos cruzados saiu de Niceia (em 26 de junho), o sultão Kiliç Arslan, junto com o emir Danichmendita e outros emires turcos da Anatólia, se dirigiram à Konia (nova capital do Sultanato de Rum). ---- Em 1 de julho emboscaram os cruzados normandos da Itália (comandados por Boemundo de Tarento) próximo de Dorileia (na chamada Batalha de Dorileia), mas não tiveram sucesso: Kiliç Arslan e os Danichmenditas tiveram que fugir diante da reação da cavalaria cruzada, que massacrou os turcos remanescentes no campo de batalha. Os cruzados continuaram seu rumo pelo sultanato e pelos Montes Antitauro. ---- Nesta mesma época, o bizantino João Dukas (cunhado do imperador Aleixo I), comandando uma frota naval, tomou Esmirna (cujo emir era cunhado do sultão Kiliç Arslan), Éfeso, Sardes e parcialmente o tema de Cibirreotas (sul da Anatólia) até a cidade de Atália, enquanto o imperador retomou o tema de Bitínia aos turcos.— No final do mês de julho, os cruzados ocuparam a cidade de Antióquia de Pisidia (ou Yalvach, no centro da Anatólia); em 15 de agosto estavam em Konia e aí permaneceram uma semana para se recuperar fisicamente.. ---- Em 14 de setembro, o cruzado normando Tancredo de Hauteville, contrariado com o plano de ocupação de Antióquia de Pisídia, saiu de Heracleia com sua guarnição, atravessou as Portas Cilicianas; uma semana depois atingiu a cidade de Tarso, onde se juntou com o cruzado Balduíno de Bolonha. Ambos afugentaram as guarnições militares da Cilícia durante este mês de setembro. Balduíno também firmou uma aliança com os armênios na Alta Mesopotâmia (muitos deles antigos vassalos de Filareto Brakamios) e foi adotado pelo príncipe armênio de Edessa. ---- Em 5 de outubro, o exército principal dos cruzados estava em Coxon (Goksun, fortaleza bizantina que controlava rotas comerciais), onde foram bem acolhidos pelos moradores armênios; 8 dias depois chegaram à cidade de Marash, aí permanecendo 3 dias e onde o cruzado Boemundo de Tarento se juntou com a cruzada principal. Depois se dirigiram para Antióquia (com 12 km de muralhas e suas 400 torres) no litoral da Síria, que foi cercada desde 21 de outubro (este foi o primeiro cerco). Em 28 de dezembro, os cruzados Roberto de Flandres e Boemundo de Tarento saíram de Antióquia para pilhar seus arredores, a fim de garantir suprimentos para as forças cruzadas. Um dia depois, a guarnição militar árabe de Antióquia, tendo à frente Yaghi Siyan, fizeram uma incursão sobre os cruzados, sem demovê-los do cerco. Um sismo semeou o medo entre os cruzados. O cruzado Raimundo IV de Saint-Gilles se dirigiu ao rio Orontes para atacar as tropas muçulmanas de Yaghi Siyan, mas perdeu parte de seus soldados ao atravessar a ponte sobre o rio e retrocedeu. Nos dois últimos dias do ano, os cruzados Roberto de Flandres e Boemundo de Tarento sofreram um ataque noturno por parte de um reforço muçulmano do emir de Damasco, Duqaq, em al-Bara (bispado bizantino a noroeste da Síria). Roberto de Flandres e Boemundo de Tarento conseguiram dispersar as forças de Duqaq, que retornou a Damasco. Os cruzados, não conseguindo superar a poderosa muralha de Antióquia, continuaram sua campanha militar para a conquista do corredor sírio-palestino.1098 - Continuação da campanha militar da I Cruzada: O governador de Antióquia, o turco Yaghi Siyan, pediu a ajuda do seu genro Fakhr al-Mulk Radwan (filho de Tutush e irmão de Duqac) de Alepo. O seu filho, Chams ad-Dawla, não conseguiu fazer frente aos cruzados, rendendo-se em Alepo. Em função disso, os cruzados saquearam a região para se aprovisionar de víveres. Fakhr al-Mulk Ridwan, por sua vez, chegou perto de Antióquia em 9 de fevereiro, se aquartelando próximo de Antióquia. Aí foi abatido pelos cruzados sob o comando de Boemundo de Tarento (ou Boemundo I de Hauteville). As cabeças dos vencidos foram jogadas por catapultas em direção às muralhas de Antióquia. --- Em 7 de março, em Edessa, ocorreu uma rebelião contra o príncipe armênio Thoros, resultando na tomada do trono pelo seu filho adotivo Balduíno de Bolonha (irmão de Godofredo de Bulhão) que criou o Condado de Edessa. ---- Em 3 de junho, finalmente foi tomada e saqueada Antióquia (governada por Yaghi-Siyan) por Boemundo de Tarento e seus habitantes foram massacrados; dois dias depois chegaram reforços do emir de Mossul, Kerbogha, cercando a cidade e dificultando o seu abastecimento. --- Em 10 de junho, abandonaram a cidade de Antióquia vários cruzados (como Estevão, Conde de Blois e de Chartres) que se encontraram com o imperador bizantino Aleixo I em Filomelion colocando-o a par da situação. O imperador devastou tudo na Anatólia em seu caminho de volta à Constantinopla, adotando a tática de terra arrasada, evitando, assim, o aprovisionamento do inimigo turco em uma eventual invasão. ---- Em 28 de junho, tropas numerosas enviadas pelo sultão persa foram esmagadas diante das muralhas de Antióquia; mas começaram dissensões internas entre os cruzados: uns, como Boemundo, que se recusaram a aceitar a suserania do imperador bizantino Aleixo I; outros favoráveis, como Raimundo IV de Saint-Gilles (Conde de Toulouse e Marquês de Provença). Boemundo de Tarento foi nomeado governador de Antióquia. – Em 23 de novembro, o cruzado Raimundo de St.-Gilles deixou Antióquia para começar o assédio de Ma'arrat al-Numan, na Síria do Norte, que foi tomada em 11 de dezembro, havendo mais um banho de sangue: sua população foi cruelmente massacrada; um mês depois, suas muralhas destruídas e casas queimadas. Bandos cristãos de fanáticos chamados de Tafurs eram verdadeiros canibais, devorando turcos e árabes cativos. ---- Fora da campanha militar da I Cruzada: Neste ano, a cidade de Pisa conseguiu uma concessão comercial em Jaffa.

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1098 a 1144 – Condado Franco de Edessa, tendo como primeiro governador o cruzado Balduíno de Bolonha. Foi o primeiro Estado cristão do Oriente a cair: em 1144.1098 a 1268 – Criação do Principado de Antióquia; seu 1º governador foi o cruzado ítalo-normando Boemundo I de Hauteville (príncipe de Tarento). 1099 – (continuação da I Cruzada) - Depois da destruição de Ma'arrat al-Numan (ao sul de Alepo), em 13 de janeiro, Raimundo IV de Saint-Gilles e seus comandados foram para Jerusalém. Em 28/29 de janeiro, atacaram, mas não conseguiram se apoderar de Hosn-el-Akrad (chamada de ‘cidadela dos curdos’), que 4 décadas depois se tornou o ‘Krak dos Cavaleiros’, importante estrategicamente para o controle das rotas comerciais que demandavam a Homs. De 14 de fevereiro a 13 de maio, eles cercaram a cidade de Arqa (a nordeste de Trípoli), resistindo bravamente. Depois se apoderaram de Trípoli com o auxílio naval de Gênova. Neste período, os cruzados receberam uma carta do imperador bizantino Aleixo I Comneno, solicitando a evacuação de Antióquia por Boemundo e a continuação da campanha cruzadística até S. João d’Acre. ---- Em 19 de maio, os cruzados passaram o rio do Cão (norte de Beirute), entrando em território fatímida. Em 7 de junho, Godofredo de Bulhão, Raimundo IV de Saint-Gilles (Toulouse), Roberto II de Flandres e Tancredo começaram o cerco à cidade de Jerusalém, tomada em 15 de julho. Calcula-se que, nesta época, restaram 20 mil dos cruzados que tinham partido da Europa em 1097, dizimados pela fome, peste, lutas internas e conflitos com muçulmanos. --- Jerusalém foi conquistada pelos cruzados de forma tão monstruosa e cruel, que espalhou pânico nas cidades litorâneas, que se renderam sem luta. Segundo relatos, Godofredo de Bulhão cavalgou ‘com sangue até os joelhos’, não restando nenhum judeu na cidade santa. Mesmo com esta crueldade, uma semana depois o papa Pascoal II lhe conferiu os títulos de ‘Procurador da Santa Sé’ e de ‘Defensor do Santo Sepulcro’ e foi escolhido como seu rei. – Em 22 de julho foi fundado o Reino de Jerusalém. ---- Em 1 de agosto, Arnoldo Malcorne foi eleito patriarca de Jerusalém; em 26 de dezembro, porém, foi destituído, sendo substituído, 5 dias depois, pelo arcebispo Daimberto de Pisa (que ajudara antes a Boemundo na ofensiva militar contra o emir de Alepo e os armênios da Pequena Armênia). --- Em 12 de agosto, os cruzados venceram os fatímidas na Batalha de Ascalon (no porto de Ascalon, ao norte de Gaza); cujo combate se fez em 3 frentes dos cruzados: à direita, pelo mar, comandada por Raimundo IV de Saint-Gilles; à esquerda, por terra, feita por Godofredo de Bulhão; ao centro, pelos condes de Normandia e de Flandres. As tropas fatímidas eram comandadas pelo vizir Al-Afdhal (que chegaram a Jerusalém atrasados) e os cruzados por Godofredo de Bulhão. O vizir não foi atendido na proposta de acordo com os cruzados se eles abandonassem a Palestina. Em setembro, Raimundo de St.-Gilles chegou no porto sírio de Lataquia (antiga Laodiceia), onde estava havendo o cerco da guarnição militar bizantina por parte de Boemundo de Tarento, aliado à frota naval de Pisa sob o comando do arcebispo Daimberto. Esta região litorânea, de grande importância comercial, estava sendo palco de conflitos entre Boemundo (príncipe normando de Antióquia), os bizantinos (que reivindicavam a região e que tinha mandado em abril uma expedição naval comandada por Tatikios contra os pisanos, que faziam incursões pelo Mar Egeu) e os muçulmanos da Síria.---- Em 31 de dezembro, Daimberto (Dagoberto) de Pisa foi escolhido Patriarca de Jerusalém. ---- Fora da campanha militar da I Cruzada: Neste ano, a cidade de Pisa conseguiu uma concessão comercial em Jaffa. 1099-1100 - Godofredo de Bulhão conquistou a Judéia até Samaria e Galileia.1099 a 1187 – Reino de Jerusalém, tendo como capital a cidade de Jerusalém; de 1187 até 1291 chamo de Reino de ‘Jerusalém’, pois ficou reduzido, na maior parte do tempo, ao litoral mediterrâneo, tendo a capital em Tiro (até 1191), em S. João d’Acre (até 1229), voltou a Jerusalém por 15 anos (1229 a 1244) e acabou novamente em S. João d’Acre (ou Acre, de 1244 a 1291).1100 –– Eventos dos Cruzados: Em janeiro é investido como príncipe de Antióquia o cruzado Boemundo de Tarento por Daimberto de Pisa, seu aliado; em junho renovou sua guerra contra o emir de Alepo e os Armênios da Cilícia. --- Em maio, Godofredo de Bulhão iniciou o processo de conquista da Judéia até a Samaria e Galileia.--- Raimundo IV de Saint-Gilles, em maio ou junho, foi para a capital bizantina, onde solicitou a ajuda e permissão de Aleixo I para conquistar Trípoli. – Em 18 de julho morreu Godofredo de Bulhão, que quase entrara antes em conflito de atribuições com o patriarca Daimberto que, teocraticamente, pretendia ter Jerusalém como posse da Igreja, por considerá-la uma cidade santa. ---- Duqac (filho de Tutuch e irmão, mas também rival, de Ridwan), emir turco seldjúcida de Damasco tentou infrutiferamente, em Nahr al-Kab (ao norte de Beirute), impedir o Conde de Edessa (Balduíno, irmão do finado Godofredo de Bulhão) de receber a coroa de rei em Jerusalém. ---- Em 1 de agosto, saiu de Gênova uma frota naval em direção à Lataquia (antiga Laodiceia), aí chegando em 25 de setembro. Ainda neste mês, o príncipe de Antióquia, Boemundo I de Tarento (Hauteville), ao tentar ajudar o governador armênio Gabriel, foi preso em Malatia (Melitene) pelo emir danichmendita Ghazi ibn Danishmend de Sivas. Em face disso, seu sobrinho, Tancredo de Hauteville ficou na regência do principado. – Em 20 de agosto, o senhor de Tiberíades, Tancredo de Hauteville, se apoderou de Haifa, concluindo a empreitada de expulsão dos muçulmanos da Palestina. --- O conde de Edessa, Balduíno de Bolonha, ao saber da morte do seu irmão Godofredo de Bulhão, saiu daí em direção a Jerusalém em 2 de outubro, deixando como regente de Edessa o seu primo (Balduíno de Burgo). Ao passar pelo Nahr al-Kalb (rio do Cão, ao norte de Beirute) foi atacado pelo emir turco seldjúcida de Damasco, Duqaq (ainda neste mês). Ele conseguiu se safar deste ataque, chegando em Jerusalém em 11 de novembro; no Natal foi coroado rei de Jerusalém pelo patriarca Daimberto na Igreja da Natividade, passando a ser Balduíno I. --- Fora da ação dos Cruzados no Oriente Médio: ---- Toros I, rei armênio da Dinastia Rubeniana na Cilícia (até 1129), se apoderou de Sis e da fortaleza de Anazarbe aos bizantinos.1100 a 1118 – Balduíno I de Bolonha, foi rei de Jerusalém (foi também conde de Edessa de 1098 a 1100) neste período. De 1101 a 1105 tornou o litoral do reino seguro contra invasões pelo mar; de 1106 a 1110 estendeu a fronteira setentrional até o Principado de Trípoli. Em 1115 e 1116 criou obstáculos no trajeto entre Damasco e Cairo através de fortalezas no litoral oriental de Araba (entre o Mar Morto e o Golfo de Ácaba). Neste final de século, o imperador organizou uma nova hierarquia das dignidades mais ligada à consanguinidade com a família imperial e não às funções exercidas na administração. Também realizou uma reforma monetária, desvalorizando a antiga moeda de ouro (chamada de ‘nomisma’) e criando uma nova (a ‘hyperpére’) cuja avaliação cresceu de tal forma que passou a ser uma das principais moedas do mundo mediterrâneo (competindo com o dinar do Egito).A partir do final deste século e no século XII, a História de Bizâncio e do Império Islâmico (no corredor sírio-palestino) esteve permeado pela ação das Cruzadas. O papa Urbano II, ao chamar os muçulmanos de ‘raça maldita’, inaugurou uma ‘anti-djihab’, nem sempre apoiada de fato pelos bizantinos (preconceituosos em relação aos ocidentais). No final deste século o II Reino Búlgaro (no leste da Bulgária) se afastou da influência bizantina e seu centro cultural mudou de Ohrid para Tarnovo.

SÉCULO XII Os bizantinos perderam seus territórios na Itália frente à expansão normanda. A tentativa dos Comnenos em reconquistar a Ásia Menor aos turcos seldjúcidas foi apenas parcial. -- Houve uma tentativa de resgatar o valor da moeda bizantina, desvalorizada no século XI. O crescimento populacional, desde o século X, promoveu o desenvolvimento urbano e de suas atividades. Desde o século XI até o final do XII houve várias revoltas destronando imperadores, nas quais as massas urbanas tiveram participação, evidentemente a reboque da alta aristocracia. Se ampliou cada vez mais a aversão entre os bizantinos e os latinos com as Cruzadas. O Estado deixou suas atribuições de comércio internacional nas mãos de mercadores venezianos, genoveses e pisanos; estes competindo entre si e se atrevendo a entrar em conflito com o governo quando seus interesses não fossem atendidos. Desde 1185 a 1325 o império sofreu um processo de decadência política e econômica. Houve uma interação cultural entre os bizantinos e os turcos seldjúcidas do Sultanato de Rum. Entre este século e o XIV os ocidentais, notadamente os italianos e os franceses, colonizaram o Oriente Médio (a região litorânea do corredor sírio-palestino, Chipre) e a Península Balcânica (Atenas e Peloponeso) e ilhas do Mar Egeu. Até as duas primeiras décadas deste século as fronteiras de operação européia chegaram até Mossul e Edessa (na Alta Mesopotâmia).1101 – Ações das Cruzadas: Em fevereiro e março partiram da Europa, para servirem na Cruzada, os nobres franceses Guilherme II (Conde de Auxerre e de Nevers) e Guilherme IX de Aquitânia, respectivamente. --- Também em abril, os cruzados sob o comando de Balduíno I se apoderaram de Arsûf (ou Apolônia); em 17 de maio foi a vez de Cesareia; 9 dias depois foi tomado o porto de S. João d’Acre. --- Em abril-maio, saiu de

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Constantinopla uma armada de cruzados lombardos sob a chefia de Raimundo de Saint-Gilles (que o imperador Aleixo I lhes indicou como guia) com o objetivo de libertar Boemundo de Hauteville (Boemundo I de Antióquia, foi aprisionado pelos turcos Danichmenditas no ano anterior), estes cruzados foram massacrados pelos turcos comandados por Fakhr al-Mulk Radwan, o sultão Kiliç Arslan I e os Danichmenditas entre Ancara e Amasia, em julho-agosto.— Em junho chegou à capital bizantina o nobre francês Guilherme IX de Aquitânia (que era poeta lírico também). – Em setembro, duas armadas sob a chefia de Guilherme IX de Aquitânia, Guilherme II de Nevers e Welf IV de Baviera tentaram atravessar a Anatólia para chegar ao Reino de Jerusalém, mas foram massacrados pelos turcos Kiliç Arslan e Danichmenditas nas proximidades de Eregli (Heracléia Cybistra) na Capadócia; poucos cavaleiros conseguiram se safar e ir para Jerusalém. --- Em 7 de setembro, o rei Balduíno I foi vitorioso contra os fatímidas (em muito maior número) na I Batalha de Ramla. ---- O sultão Barkiyaruq, em abril, conseguiu entrar na capital abássida, Bagdá, mas teve que se retirar em setembro, em face de sua derrota diante dos seus dois irmãos coligados; retomou e perdeu de novo em outubro. Em dezembro, conseguiu ficar através de entendimentos com seus irmãos. Por causa destas lutas entre eles, os cruzados francos puderam consolidar suas conquistas na Síria e Palestina.1102 – Cruzadas: Em fevereiro, os genoveses se juntaram ao cruzado Raimundo IV de Saint-Gilles (ou de Toulouse) e se apoderaram de Tortosa, Djubail (antes chamada de Biblos) e Trípoli, pertencentes aos emires árabes de Trípoli, hoje al-Mina, chamados Banu-Ammar, que viviam sob a suserania dos fatímidas). Raimundo IV se tornou, nominalmente, Conde de Trípoli deste ano até 1105. – Queda de Laodiceia (Latakia) sob o cruzado normando Tancredo de Hauteville, após 18 meses de cerco. – Em março, Tancredo de Hauteville atravessou a fronteira e efetivou saques ao redor de Alepo, cujo emir, Ridwan, foi constrangido a colocar uma cruz grande no topo da mesquita local. --- Em 17 de maio, os fatímidas se desforraram da derrota do ano anterior em Ramla (próximo de Jaffa) com uma vitória sobre Balduíno I de Jerusalém; nesta derrota dos cruzados morreu Estevão de Blois (genro do famoso normando Guilherme, o Conquistador da Inglaterra). Em Jaffa, porém, Balduíno I reverteu a situação, conseguindo vitória sobre os Fatímidas. Outra versão deste fato: Em 19 de maio, os egípcios comandados por Charaf (filho do vizir Al-Afdhal, foram para a Palestina e encontraram de surpresa as tropas do rei Balduíno I, nas proximidades de Jaffa; no confronto entre eles, o rei foi capturado e seu exército dizimado, ora por morte ou prisão. É a chamada II Batalha de Ramla. ---- Ações fora das Cruzadas: --- Neste ano: Daimberto (Dagoberto) de Pisa, Patriarca de Jerusalém, foi deposto em setembro de 1102, pois era mais um chefe militar do que um religioso (comandava a esquadra naval pisana). ---- Em Sidon, os venezianos inauguraram um -armazém de carga e descarga de mercadorias. 1102-1103 – Contínuas investidas dos francos na Síria, na cidade de Damasco; neste período, cercaram Muslimiyya, próxima de Alepo.1102 a 1289 – Existência do Condado de Trípoli no litoral palestino (atual Líbano), tendo como primeiro governante a Raimundo de Saint-Gilles. 1103 – Logo no início de maio, Janâh al-Dawla, emir de Homs e sogro de Ridwan de Alepo e Mossul, foi assassinado pelos ‘batini’ (como os cruzados francos chamavam os ‘Assassinos’) na grande mesquita de Alepo. Os Assassinos mandaram o ismailita Abu Tahir, ‘o ourives’, como novo conselheiro para o emir Ridwan (que era ismailita como eles). – Em 7 de maio, os cruzados Balduíno de Burgo (conde de Edessa), Joscelino (Juscelino) de Curtenay, Boemundo II de Antióquia (já libertado) e Tancredo de Hauteville (de Tarento) se aproveitaram da anarquia no Sultanato de Rum, cercaram a fortaleza de Harran (no leste da Anatólia, importante no acesso a Mossul e Bagdá) travaram a Batalha de Harran com o atabegue de Mossul, ajudado pelos turcos Soqman ibn Ortoq (irmão de de Il Ghazi) e Jekermish, estes destruíram totalmente a armada de Edessa (sob chefia de Balduíno de Burgo e Joscelino (Juscelino),que foram capturados). Tancredo foi para Edessa (onde ficou como regente) ---- Neste ano: Ao saber que Boemundo I de Hauteville (príncipe de Antióquia) estava preso, o imperador Aleixo I se prontificou a pagar seu resgate ao emir Danichmendita de Siwas, Malik-Ghazi; este, porém, foi convencido a negociar com os francos, o que foi feito através de acordo de aliança em maio. Ao ser libertado, Boemundo I foi para seu principado e se aliou com o conde de Edessa (Balduíno), durante o verão se atirando contra o emir de Alepo, submetendo-o tributariamente. ---- Os bizantinos ajudaram financeiramente Raimundo de Saint Gilles a erigir uma fortaleza (‘Qalaat Saint-Gilles’) como proteção estratégica do Condado de Trípoli contra invasões muçulmanas. ---- Em Damasco morreu Duqaq, sendo sucedido por Tugtekin, que estabeleceu um principado de breve duração na Síria.1104 – Cruzadas: Raimundo de Saint-Gilles, Conde de Trípoli, continuou suas conquistas: se apoderou do porto Djubail (antiga cidade fenícia de Biblos), em 23 de abril, auxiliado pelos genoveses. ---- Em 26 de maio, ainda no processo de conquista do litoral palestino, o rei Balduíno I de Jerusalém se apoderou de S. João de Acre. – Neste ano: Invasão bizantina (sob o comando de Cantacuzeno) ao Principado de Antióquia por mar, tomando o porto de Laodiceia (Lataquia) aos cruzados; simultaneamente os turcos de Alepo invadiram o principado por terra (a partir das proximidades de Harran) e retomaram cidades perdidas antes. O conde de Edessa, Balduíno de Burgo, tentou tomar Harran, mas foi derrotado e preso pelos turcos junto com seu primo Joscelino de Courtenay. ---- Fora da ação das Cruzadas: O juiz Fakhr al-Mulk (o último de Trípoli) pediu a ajuda de Soqman para romper o cerco a que estava sendo submetida sua cidade pelo cruzado Raimundo de Saint Gilles (ou IV de Toulouse); mas ele morreu de angina no meio de sua caminhada em direção a ele. 1104 a 1111 – Tancredo de Hauteville retomou a regência no Principado de Antióquia, visto que Boemundo II tinha ido para a Europa buscar ajuda contra os bizantinos que tinham atacado e tomado Lataquia. 1105 - Em 28 de fevereiro morreu Raimundo de Saint-Gilles sem ter tomado a fortaleza de Monte Pelegrino, mas sua empreitada militar continuou com seu primo Guilherme Jordão (que governou Trípoli até 1109). --- Em 20 de abril : Tancredo de Hauteville (regente de Antióquia) obteve vitória contra os turcos seldjúcidas de Alepo, em At Tizin (ou Artah, na Síria), retirando-lhes a soberania sobre os cantões de Zerdana, Atarib, Ma’arrat e Cafartab. – Em 27 de agosto, na III Batalha de Ramla, o rei de Jerusalém, Balduíno I, conseguiu afastar uma ofensiva dos Fatímidas, que tiveram a cobertura do atabegue de Damasco. ---- Em 19 de outubro, frotas navais de Veneza e da Noruega ajudaram os cruzados a cercar Sidon, que caiu em 4 de dezembro. ---- Neste ano: Casamento do príncipe João (futuro imperador João II Comneno) com Prisca (ou Irene) de Hungria, filha do rei Geisa.1105 (janeiro) a 1107 (outubro) – Boemundo I deixou Tancredo de Hauteville regendo o Principado de Antióquia e foi para a Europa tentando organizar uma cruzada contra o imperador Aleixo I, por considerá-lo traidor da causa cruzadística contra os muçulmanos. Primeiro esteve na Apúlia, depois na França (conversando com o rei Filipe I) e com o papa Pascoal II.1106 - Tancredo de Hauteville continuou suas investidas, conquistando Apameia (no médio vale do Orontes) aos muçulmanos em 14 de setembro. --- Neste mês ainda, o turco Kiliç (Kilitch) Arslan se apoderou de Mayyafarikin (hoje, Silvan) e Melitène (ou Malatya), na Alta Mesopotâmia aos Artuquidas. ---- Foi por volta deste ano que os cruzados cercaram e se apoderaram de Trípoli, mesmo havendo um ataque das tropas de Tugh Tegin, atabegue de Damasco. ---- Nos céus de Constantinopla passou um cometa, deixando apavorado o imperador; que pediu, então, para o patrício e senador Basílio Xerus para explicar a natureza do fenômeno celestial.1107 – Boemundo I, em 9 de outubro, desembarcou suas tropas em Avlona e cercou o porto de Dyrrachium (Durazzo ou Durrés, no litoral do Adriático, na Albânia atual), pertencente aos bizantinos. Aleixo I, coligado com o turco seldjúcida de Rum (Qilidj Arslan) se dirigiu para lá, queimou as máquinas de guerra de Boemundo I e submeteu sua armada à fome.1108 - Tancredo de Hauteville não avalizou a submissão de Boemundo: auxiliado por esquadra de Pisa retomou o porto de Lataquia (Laodiceia) neste ano, bem como terras aos seldjúcidas de Alepo (em 1110, estes lhe pagando tributo). ---- Em agosto/setembro, Balduíno II, Conde de Edessa, foi liberado por Jâwali Saqâwa, atabegue de Mossul, fazendo com ele uma aliança. Ao voltar para Edessa, Tancredo de Hauteville se negou a devolver-lhe o condado de Antióquia. Balduíno deixou Antióquia para se juntar com Jâwali, mas Tancredo de Hauteville tentou impedí-lo. Apenas com a intermediação do patriarca de Antióquia, os dois cruzados chegaram a um acordo: Tancredo devolveu Antióquia. Ao retornar de novo para Edessa, Balduíno libertou muçulmanos presos e executou funcionários cristãos que tinham proferido injúrias contra o Islamismo.--- Em 11 de maio, Tugh Tegin de Damasco armou uma emboscada na Galiléia, aprisionou Gervásio de Bazoche (oficial de Balduíno que era príncipe de Galiléia e Tiberíades) e ofereceu-lhe a liberdade desde que lhe entregasse Acre, Caifa e Tiberíades; como ele se recusou, foi morto. --- Em setembro: depois que o cruzado ítalo-normando Boemundo de Tarento executou um ataque frustrado contra a capital bizantina (Constantinopla) e recuou diante dos bizantinos em Ilírico, foi obrigado a assinar o Tratado de Deabolis (ou Devol) pelo imperador Aleixo I, tornando-se seu vassalo e, como tal, não podendo fazer incursões em território bizantino e armênio, bem como teve que devolver o que tinha tomado aos bizantinos após 1097 (Cilícia e Laodiceia). ---- Em

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outubro, Tancredo de Hauteville (que adotara o título de Emir de Antióquia e usava turbante com uma cruz em cima) se aliou com o emir Ridwan de Alepo contra o atabegue de Mossul, Jawali, coligado com Balduíno II (Conde de Edessa) e conseguiu vitória em Tell Bacher ou Turbessel, feudo de Joscelino (Juscelino)I de Courtenay, primo de Balduíno (em outubro de 1108). Jawali se refugiou em Isfahan e obteve um governo de província na Pérsia por parte do sultão Muhammad I. ---- Em novembro, saiu da Noruega a cruzada de seu rei Sigurdh Magnusson Jorsolafari, passando por S. Tiago de Compostela, pela Sicília e chegando em Jerusalém no final de 1110.1109 – Em 12 de julho, o rei de Jerusalém, Balduíno I, rei de Jerusalém, auxiliado por Bertrando (filho de Raimundo de Saint-Gilles), Balduíno de Burgo (de Edessa), de Tancredo de Hauteville (de Antióquia), de Guilherme Jordão e uma frota genovesa, sitiou e se apoderou de Trípoli (considerada o ‘Gibraltar Sírio’, hoje chamada de Tarabulus) ao Emirato de Damasco, conseguindo a partilha das receitas tributárias da planície de Beqa, situada entre os Montes Líbano e Anti-Líbano (Jabal Ash Sharaq). – Neste ano, Tancredo de Hauteville (de Antióquia) se apoderou do porto de Banyas (ou Valenia, no Mar Mediterrâneo, entre Lataquia e Tartus), entregando-o a Renaud I Masoiers.1109 a 1289 – Condado de Trípoli, cujo primeiro governante foi Bertrando, filho de Raimundo IV de Saint Gilles (Guilherme Jordão foi assassinado).1110 – Cruzados: O rei Balduíno I de Jerusalém, continuando suas conquistas no litoral palestino, em fevereiro começou o sítio de Beirute por terra; por mar foi auxiliado por esquadras genovesa e pisana. Beirute resistiu galhardamente (inclusive destruindo suas torres de assalto) e sucumbiu em 13 de maio; como castigo pela sua resistência, a população foi massacrada. Em junho, este rei franco foi combater o atabegue de Mossul, Modud, que estava cercando Edessa (às margens do Eufrates), a mando do sultão. Ele livrou Edessa do cerco, retirou a população da outra margem do Eufrates e a massacrou no meio do caminho. – Em abril, Tugh Tegin de Damasco cercou e se apossou de Ba’albek, deixando como governador o seu filho Buri. --- No verão chegaram os navios da frota norueguesa do rei Sigurdh Magnusson Jorsolafari; sua esquadra e a do doge Ordelafo Falier, assediaram por mar a cidade de Sidon (Saida), enquanto por terra foi feito o mesmo por Balduíno I. A população, com medo de sofrer o mesmo destino da população de Beirute, se rendeu em 4 de dezembro e migrou para Damasco e Tiro. O rei norueguês, como prêmio, recebeu do rei Balduíno I e do patriarca de Constantinopla relíquias sagradas, como um suposto fragmento da cruz em que Cristo foi crucificado: quando voltou para a Noruega, as depositou na igreja de Trondheim.1110 a 1115 – Em contra-ataque, o sultão seldjúcida do Irã, Muhammed I, enviou 4 expedições contra Estados Cruzados da Síria e Palestina, mas não contou com a concordância do atabegue de Mossul. O objetivo principal do sultão era conter o avanço territorial das conquistas dos francos na região.1111 – Cruzados: Em fevereiro, o juiz xiita e patriota de Alepo Ibn al-Khachab chegou a Bagdá a fim de pedir o auxílio do sultão Muhammed I contra Tancredo de Antióquia (que impusera medidas antipáticas aos alepinos como o envio de seus melhores cavalos, de entrega de fortalezas, de pagamento de tributo anual). Não teve o apoio do califa Al-Mustazhir, mas o conseguiu do sultão, conclamando os emires turcos a uma guerra santa contra os cruzados. O atabegue ortoguida de Mossul, Modud (ou Mawdud) ibn Altuntash, atendendo ao sultão, foi para Alepo, tendo ao seu lado o atabegue de Alepo, Ridwan (que fora omisso na reação contra Tancredo) e tropas do sultão. Em julho, ao se aproximarem de Alepo, Ridwan mandou fechar as portas da cidade e prender o juiz Ibn al-Khachab e seus partidários. As tropas do sultão, sem abastecimento de víveres, se amotinaram e pilharam as imediações da cidade. Diante disto, fracassou a iniciativa da guerra contra o cruzado Tancredo (então príncipe de Antióquia, desde a morte do seu tio Boemundo na Itália, onde fora procurar reforços), em 17 de março deste ano. Este príncipe, denunciou as premissas do Tratado de Deabolis feito com o Império Bizantino. ---- O rei Balduíno I de Jerusalém foi novamente para Ascalon, cujo governador fatímida Chams al-Khilafa, atemorizado pela fama de crueldade do rei franco, se submeteu. A população palestina local, no entanto, se chocou com a sua tibieza, solicitou a ajuda do califa fatímida do Cairo e conseguiu massacrar a guarnição franca na cidadela junto com a guarda bérbere do governador, assassinado pelos revoltosos (em julho). ---- Neste ano, tentou se realizar uma contra-cruzada dos seldjúcidas da Pérsia (com auxílio secreto do imperador Aleixo I); mas sua desunião propiciou uma reação vitoriosa de forças francas coligadas. ---- O rei Balduíno I, junto com Bertrand (Conde de Trípoli), Balduíno (Conde de Edessa) e Tancredo de Hauteville (regente de Antioquia e também príncipe, de novo, da Galileia ou Tiberíades) se envolveram em atrito com Modud (de Mossul), Toghtekin (de Damasco) e Sukman al Qutbi Bursuqi na Batalha de Shaizar (fortaleza na Síria) sem resultados definidos, em que os turcos não puderam conter os cristãos. --- No Império Bizantino: Em 6 março, morreu Boemundo I de Hauteville, príncipe de Antióquia na Itália (para onde tinha retornado após derrota frente a Aleixo I). Seu sobrinho e regente, Tancredo não aceitou nenhuma das cláusulas do tratado de Deabolis (ou Devol). ---- No outono frustrou-se a tentativa do imperador bizantino Aleixo I de retomar Antióquia, enviando, sem sucesso, o emissário Manuel Butumités para Jerusalém e Trípoli para formar uma aliança neste sentido. ---- Neste ano: Do lado oeste, na Itália, o imperador alemão Henrique V com o intento de impor ao papa as investiduras, prendeu Pascoal II e o forçou a coroá-lo como imperador (12/2). Como no reino normando tinham morrido Rogério I e Boemundo I, não oferecendo, pois, nenhuma interferência ao projeto bizantino de se fazer presente na região.1111 e 1113 - Incursões e ataques dos turcos sobre a Trácia e a cidade de Niceia, nestes anos respectivos. 1112 – Como tinham morrido Rogério I Borsa (de Apúlia) e Boemundo I, não oferecendo, pois, nenhuma interferência ao projeto bizantino de se fazer presente na Itália, o imperador Aleixo I mandou carta à Roma (em janeiro) mostrando-se perplexo diante da prisão do papa e seu desejo de receber a coroa imperial lá. Em resposta, os romanos se mostraram receptivos ao imperador bizantino (em maio); a que Aleixo I propôs a reunião das igrejas de Roma e Constantinopla (em junho), ao que o papa deu aval convocando um concílio. Como as duas igrejas tiveram problemas culminando com o Cisma de 1054, todas estas manobras diplomáticas de Aleixo I fracassaram. ---- Depois do desastre da guarnição franca em Ascalon (em julho de 1111), o rei Balduíno I se voltou para conquistar Tiro (o maior foco de imigração dos muçulmanos em fuga diante das conquistas francas). Cercou a cidade e mandou construir uma torre de assalto móvel, com um aríete para quebrar sua muralha; os sitiados tentaram desequilibrar a torre ou queimá-la. Após 4 meses e meio de tentativas, Balduíno I se retirou, em 10 de abril, com suas tropas de tal maneira a deixar armas durante a retirada, depois resgatadas pelos sitiados. – De abril a julho, o atabegue de Mossul, Modud (Mawdûd) tentou conquistar Edessa, mas não teve sucesso. --- Morreu Tancredo de Hauteville, em 12 de dezembro, deixando o principado de Antióquia ao seu sobrinho Rogério de Salerno, mas respeitando os direitos de Boemundo II (que tinha apenas 5 anos de idade), bem como solicitando-lhe que promovesse o matrimônio de sua viúva com o Conde Pons de Trípoli, para ensejar uma aliança entre Antióquia e Trípoli. 1113 – Em 15 de fevereiro, foi homologada pelo papa Pascoal II a Ordem dos Hospitalários (Hospital S. João de Jerusalém), criada por Geraldo Tenque. --- O sultanato seldjúcida do Irã enviou expedição contra Balduíno I, sob o comando de Modud (atabegue de Mossul), que estabeleceu o quartel-general de suas operações perto de Damasco, sendo recebido pelo atabegue desta cidade, o turco Toghtekin (ou Tughtekin). Teve um confronto e venceu Balduíno I (de Jerusalém) em Sin an-Nabra (perto do Lago Tiberíades, na Palestina), em 28 de junho. Não continuou sua campanha até Jerusalém, porque Balduíno recebeu reforços por parte de Bertrando de Saint-Gilles (Conde de Trípoli) e do normando Tancredo de Hauteville (então regente de Trípoli). Modud voltou para Damasco em 30 de agosto. Sua missão de guerra foi abortada quando, por desavenças com o atabegue Toghtekin, foi apunhalado em 2 de outubro dentro de uma mesquita em Damasco por trama deste último (que se eximiu disto, acusando o emir de Alepo, Ridwan e os Assassinos como os responsáveis). Mossul passou a ser governado por Aq Sonqor Bursuqî. ---- Niceia foi atacada por tropas turcas dos emires descontentes com a perda de províncias aos bizantinos, mas foram rechaçadas pelo imperador.1114 - Anarquia no emirato de Alepo, quando foi assassinado seu emir Alp Arslan pelo eunuco Lulu, em setembro, colocando este no poder um outro filho de Ridwan de apenas 6 anos. A situação tumultuada se retratava nos conflitos entre escravos e soldados e os habitantes procurando se defender de pilhagens. ---- Em novembro, o Principado de Antióquia foi abalado por um sismo, destruindo casas mas também suas fortificações; em função disto, o príncipe Rogério de Salerno (ou Hauteville) se apressou em reconstruí-las, sobretudo as de fronteira. ---- Neste ano, mais uma vez, os cumanos (ou polovicianos) atacaram o Império Bizantino. 1115 - Na primavera de 1115, o príncipe Rogério de Salerno (ou de Hauteville) de Antioquia soube que o sultão seldjúcida persa Muhammad I encarregou ao atabegue de Mossul, Aq Sonqor il- Bursuqî, de organizar uma anticruzada contra os cristãos, incluindo seu principado. Emires muçulmanos da Síria (como Toghtekin de Damasco, Lulu de Alepo e Il-Ghazi de Mardin), receosos de perderem seu poder diante deste ataque se aliaram com Rogério de Salerno, juntamente com o Conde de Edessa. Em 14 de setembro, as duas forças antagônicas se encontraram na Batalha de Tell Danith, ou Batalha de Sarmin (nesta cidade síria), a leste do rio Orontes. Em emboscada, Rogério de Salerno e seus aliados venceram. ----

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Neste ano: Balduíno I, de Jerusalém, tomou a região de Moab (Transjordânia) e de Uadi-Musa (neste local erigiu a fortaleza de Chaubac ou Montreal).1116 – Massud, irmão de Malik Chah, o destronou do Sultanato de Rum, cegando-o e estrangulando-o depois. --- Um acordo comercial com os mercadores de Pisa feito pelo embaixador bizantino (18/4) não foi homologado inicialmente; no entanto, diante do iminente ataque de uma armada naval de Pisa e Gênova à Constantinopla, Aleixo I teve que assinar novo acordo com Pisa, concedendo-lhe vantagens comerciais e não criando obstáculos aos cruzados desta república italiana. ---- Neste ano, entre os cruzados: O rei de Jerusalém, Balduíno I, continuou suas conquistas, tomando o porto de Ailah, no golfo de Acaba, no Mar Vermelho, controlando, pois, rotas comerciais entre a Síria e Egito e, assim, podendo aumentar as rendas obtidas com taxas impostas sobre a circulação de mercadorias. Com estas conquistas, ele também bloqueou o contato terrestre entre as regiões africanas e asiáticas do Mundo Islâmico. ---- Outro cruzado, Rogério de Salerno (de Antióquia), conquistou fortalezas nas proximidades de Alepo, assegurando o controle das rotas de comércio e de peregrinos muçulmanos que iam para Meca, obtendo vantagens financeiras. ---- Os polovicianos (ou Kumanos) tentaram ultrapassar o Danúbio, mas foram contidos pelo imperador em Vidin. 1117 - Em abril-maio, o eunuco Lulu, que estava no poder em Alepo, foi morto pelos soldados de sua guarda. Outro escravo que o sucedeu, pediu o auxílio militar de Rogério de Salerno (príncipe de Antioquia), que cercou a cidade. O juiz Ibn al-Khachab, não aceitando tal interferência franca, se reuniu com os notáveis da cidade e chamou o emir Ilghazi (ou Najm ad-Din Ilghazi ibn Artuq), governador turco de Mardin (perto da atual cidade de Batman, no Alto Eufrates). ---- Neste ano ocorreu a Batalha de Filomelion (hoje Aksehir) com uma série de embates entre as tropas bizantinas comandadas pelo imperador Aleixo I Comneno e as do Sultanato de Rum com Massud I; durantes estes embates foram usadas novas táticas de guerra por Nicéforo Brienne, o Jovem e o enteado do imperador. A vitória coube aos bizantinos; os turcos tiveram que reconhecer as fronteiras de Bizâncio.

1118 – O rei Balduíno I realizou uma campanha militar contra os Fatímidas do Egito: após passar pela Península do Sinai se apoderou da cidade de Pelusa (Farama). Ao chegar ao Baixo Nilo ficou doente. Retornando à Palestina, morreu no caminho em El-Arish (nordeste do Sinai), em 2 de abril. ---- No domingo de Páscoa (14 de abril) foi coroado como rei de Jerusalém, Balduíno II (antes conde de Edessa), sendo preterido o irmão de seu antecessor chamado de Eustáquio III de Bolonha. ---- Mesmo com a vitória bizantina em Filomelion (1117), os seldjúcidas de Rum continuaram suas incursões sobre terras imperiais: foi assim que retomaram Laodiceia da Frigia, isolando Antalya do restante do território. ---- Em 11 de junho, o príncipe de Antióquia, Rogério de Salerno, se apoderou de Azaz, pertencente aos turcos seldjúcidas. Junto com Joscelino I de Edessa, avançou até a Alepo. ---- Morreu Aleixo I (em 15 de agosto, com 70 anos no Palácio de Manganes), sendo sucedido por João II Comneno, seu filho. 1118 a 1131 – O Reino de Jerusalém passou a ser governado por Balduíno II. Teve como esposa uma armeniana (como seu pai).

1118 (15 de agosto) a 1143 - Reinado de João II Comneno. O Império Bizantino, quando começou seu governo, tinha como países limítrofes na Anatólia: o Emirado de Melitène (sob a autoridade de Toghrul Arslan, filho de Qilidj Arslan, fazendo fronteira com a Cilícia, sofrendo ataques por parte dele); o Sultanato de Rum (com a capital em Konia ou Iconium, sob a autoridade do sultão Massud, fazendo suas incursões guerreiras sobre a planície de Dorileia e o vale do Meandro) e o Emirato Danichmendita de Siwas (governado por Malik-Ghazi, que estava pretendendo acessar os portos do Mar Negro). Como tais Estados muçulmanos criavam uma barreira entre Atalia e o vale do Meandro, ele conquistou esta área. Ele foi chamado de ‘o maior dos Comnenos’ pela sua política agrária e de consolidação do império.1118 (continuação) – João II Comneno forçou sua coroação na Igreja de S. Sofia, nem assistindo ao enterro de seu pai. --- O doge de Veneza pretendia que o imperador homologasse as vantagens fiscais e alfandegárias gozadas pelos comerciantes venezianos feitas anteriormente com Aleixo I, mas ele se recusou. --- Neste ano: Em Kemakh-Erzindjan, ou Erzindjan simplesmente (ao sul de Trebizonda, na Ásia Menor), se criou uma nova dinastia turca: a dos Mengüdjedidas (ou Mengüçoglu). --- Entre os cruzados: O cavaleiro Hugo de Payns (ou de Pains) da I Cruzada, de origem francesa, fundou a Ordem do Templo para resguardar a segurança dos peregrinos cristãos e suas rotas de peregrinação. --- O condado de Edessa perdeu a cidade de Gargar (hoje chamada de Yüksekova) para os turcos. ---- Sardes (a famosa cidade do antigo Império Persa, na Anatólia), agora domínio dos turcos seldjúcidas, foi tomada pelo general bizantino Filocales. ---- Na região do Cáucaso, os turcos seldjúcidas perderam a cidade de Lori ao rei David IV da Geórgia, que estabeleceu tribos dos Kipchaks em seu território1119 – Na primavera, Ana Comneno, irmã do imperador, conspirou para matar o seu irmão no Palácio de Filopation para colocar no poder o seu marido Nicéforo Brienne. Descoberto o complô, ela foi internada em mosteiro (como era comum naquela época) e os bens da família foram confiscados. ---- Em 28 de junho ocorreu um confronto (chamado de ‘Batalha do Campo de Sangue’) na Planície de Sarmada, perto de Artah (entre Alepo e Antióquia), em que o exército de atabegue de Mardin, Ilghazi (ou Najm ad-Din Ilghazi ibn Artuq) emboscou o dos cavaleiros do Principado de Antióquia (comandados por Rogério de Salerno); estes últimos foram massacrados numa verdadeira carnificina (conferindo ao local o nome de ‘ager sanguinis’, ou ‘Campo de Sangue’); entre os mortos estava Rogério de Hauteville (dito de Salerno). O rei Balduíno II de Jerusalém saiu de Jerusalém para socorrer Antióquia, colocou em fuga Ilghazi, conseguiu deter o avanço turco e assumiu a regência do principado. --- Do final deste ano e início de 1120, enquanto o duque de Trebizonda (junto ao Mar Negro) se intrometia nas disputas entre os emires turcos da Anatólia, o imperador bizantino João II Comneno retomou a cidade de Laodiceia (na foz do rio Meandro, daí podendo chegar até o seu alto vale, onde erigiu uma fortaleza). Sendo chamado à Constantinopla, deixou a responsabilidade do cerco a João Axuch, que terminou por conquistá-la ao emir Abuchar. ---- Neste ano: Os sarracenos emboscaram 700 peregrinos cristãos que tinham saído de Jerusalém e se dirigiam ao rio Jordão: 300 deles foram assassinados e 60 escravizados.1120 a 1137 – Retomada do litoral da Cilícia pelo imperador em conflitos com os Seldjúcidas da Pérsia.1120 – Em 23 de janeiro, o rei Balduíno II reuniu o Concílio de Nablus (ou Naplusa) em Jerusalém , no qual foi criada a milícia dos ‘Pobres Cavaleiros de Cristo e do Templo de Salomão’, tendo à frente Godofredo de Saint-Omer e Hugo de Pains. Esta milícia foi o núcleo original dos célebres Templários. Sua séde inicial se localizava no Monte do Templo (antiga Mesquita al-Aqsa), junto ao palácio real de Balduíno II. ---- Neste ano: O imperador João II Comneno se apoderou de Sozópolis (ou Uluborlu, antiga Apolônia, na Pisídia, entre o planalto da Anatólia e o vale do Meandro) aos turcos seldjúcidas de Rum, facilitando contato terrestre entre Constantinopla e o porto de Atália (no sul da Anatólia). Simultaneamente, mandou o duque de Trebizonda, Constantino Gabras, atacar os Danichmenditas (comandados por Amir Ghazi Gumuchtegin) e o ortoquida Ilghazi, a leste. O duque de Trebizonda, mesmo auxiliado pelo beylicado de Menguchek (região de Erzincan, no Alto Eufrates), foi derrotado por eles, que se desentenderam após a vitória, não tendo proveito com ela. 1120 a 1137 – Retomada do litoral da Cilícia pelo imperador bizantino em conflitos com os Seldjúcidas da Pérsia.1121 – Em 12 de agosto se desenrolou a Batalha de Didgori (no monte Didgori, noroeste de Tblisi), na qual o rei Davi, o Construtor (da Geórgia) derrotou um exército muçulmano quase 6 vezes maior que o dele. --- No outono, o imperador e João Axuch entraram triunfalmente em Constantinopla; em outubro, fez concessões aos comerciantes de Pisa. --- Conflito entre o imperador João II (por influência de sua esposa) e Estêvão II, filho e sucessor de Koloman da Hungria, por ser favorável à ascensão ao trono do irmão do defunto. Estêvão subiu ao poder em 1128. 1122 – A cidade de Tíflis foi retomada pelo rei armênio Jorge David IV, o Construtor, aos muçulmanos, em fevereiro. ---- Em 27 de fevereiro, Zardana (no principado de Antióquia) foi cercada pelo atabegue de Alepo, o ortoquida Ilghazi (Il Ghazi ibn Ortoq). O regente Balduíno II, com o apoio de Joscelino (Juscelino) de Edessa, conseguiu afastar Ilghazi. ---- Em 8 de agosto, os venezianos embarcaram no porto de Lido (em Veneza) com cruzados e peregrinos para auxiliar o rei Balduíno II; seu objetivo principal, no entanto, era o de retaliar os bizantinos em face de concessões aos seus concorrentes em Constantinopla, onde chegaram na mesma época da Batalha de Beroia. ---- Em 13 de setembro, Joscelino (Juscelino) de Edessa e o senhor de Bira (no Alto Eufrates), Galerano de Puiset, resolveram atacar os Danichmenditas para prender Balak ibn Bahram ibn Ortok. A situação se inverteu: este último, ajudado por Ilghazi, os aprisionou em confronto em Kharput (ou Carput, fortaleza em Amida, hoje Diyarbequir). Em

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novembro morreu Ilghazi em Diyarbequir, sendo sepultado em Mayyafariqin (atual Silvan). Balak ibn Bahram ibn Ortok o sucedeu em Alepo, enquanto seus irmãos Timurtash e Solimão o substituíram em Mardin.---- Na primavera, o imperador bizantino João II Comneno restabeleceu o domínio sobre os Bálcãs, ao vencer os pechenegues em Beroia, na Bulgária com a tropa de elite dos varegues. Esta Batalha de Beroia (ou Eski Zagra) selou o fim dos pechenegues independentes, que migraram e se miscigenaram com os húngaros e búlgaros. A área dos pechenegues passou a ser ocupada pelos turcos oghuzes. ---- Neste ano, o imperador associou ao trono o seu filho primogênito, Aleixo. 1122 (outono) a 1123 (primavera) – Uma frota naval veneziana, depois de uma parada em Bari, atacou e cercou neste período a ilha de Corfu (antiga Córcira, hoje Kerkira, no Mar Jônio, perto do litoral da Grécia), mas não conseguiu se apoderar dela. Como que para se compensar deste ataque frustrante, navegaram para o Mar Egeu saqueando as ilhas de Rodes, Kios e Lesbos.1123 – Os armênios investiram contra a fortaleza de Kharput, favorecendo a fuga de Joscelino (Juscelino) para Edessa, de onde partiu com seu exército para devastar o território sob jurisdição de Alepo. O rei Balduíno II (não sabendo que Joscelino tinha conseguido fugir) invadiu o território ortoquida para resgatá-lo e acabou sendo preso, em 18 de abril, na fortaleza de Kharput pelo emir ortoquida Balak ibn Bahram ibn Ortok; tentou, sem sucesso, se evadir dela. Em face de sua ausência, um conselho em Jerusalém nomeou Eustáquio de Grenier como regente (ele já era bailio e condestável). Em 29 de maio ele conseguiu repelir um ataque dos Fatímidas em Ibelino. Cerca de 15 dias depois ele morreu, sendo substituído por Guilherme de Bures. ---- Em 30 de maio, uma poderosa frota naval veneziana irrompeu no litoral palestino e destruiu a frota egípcia que estava ancorada em Ascalon. ---- O patriarca de Jerusalém, Warmundi, e o doge veneziano Domenico Michele negociaram um tratado pelo qual os venezianos passaram a ter uma série de direitos comerciais no Reino de Jerusalém: foi o chamado 'Pacto Warmundi'.1124 – Guilherme de Bures (senhor de Tiberíades e regente do Reino de Jerusalém), auxiliado pela frota veneziana comandada por Domenico Michel, cercou Tiro (de 15 de fevereiro a 7 de julho) e a conquistou aos Fatímidas do Egito; neste período sua população ficou sem água e pediu a ajuda militar do emir Balak e pediu a ajuda militar do atabegue Balak (Balak ibn Bahram ibn Ortok) de Alepo. Este último, em 6 de maio, se decidiu a ajudar os sitiados, mas foi mortalmente ferido por uma flechada desferida das muralhas da cidadela de Alepo e morreu logo depois. . Após a tomada de Tiro, os venezianos instalaram uma base comercial aí. ---- Em 29 de agosto, o rei de Jerusalém Balduíno II foi libertado, mediante resgate em dinheiro, pelo novo emir de Alepo, Timurtach (que foi para sua cidade de origem, Mardin). Pouco tempo depois, Balduíno II saiu de Jerusalém e foi cercar Alepo, defendida pelo juiz Ibn al-Khachab que solicitou, inutilmente, a ajuda militar de Timurtach; depois, a do atabegue de Mossul, al-Borsoki (ou Bursuqui), que rechaçou Balduíno, mas anexou Alepo ao seu domínio territorial. Antes da vinda de Bursuqui, o governador da cidadela de Alepo e o da cidade autorizaram os soldados se servirem dos bens dos grandes e notáveis da cidade, visto que estavam sem seus soldos. No fim do ano, Balduíno II quase conquistou Alepo em face da cumplicidade dos beduínos. --- Neste ano, o sultão seldjúcida de Rum Massud I teve que guerrear contra os emires da Anatólia em suas veleidades autonomistas: foi assim que se apoderou de Melitène (a leste), forçando o seu emir Toghrul a se refugiar na capital bizantina.1124 a 1128 – Conflitos entre Bizâncio e Hungria, mesmo o imperador tendo como esposa Piroska (que passou a ter o nome comum de Irene), que era filha do rei Ladislau I. Nesta época o rei era Estevão II que invadiu o império e chegou até Sofia, mas foi vencido pelo imperador João II Comneno.1124-1125 e 1126 - Como o imperador João II Comneno se recusou a atender o pedido do doge de Veneza (em 1118) quanto às vantagens comerciais auferidas pelos seus navios, os venezianos atacaram e saquearam, em represália, o litoral da Dalmácia e as ilhas do arquipélago dessa região no Adriático (1124-5) e se apossaram da ilha de Cefalônia (em posição estratégica diante do Golfo de Corinto, na Grécia).1125 - De 11 a 13 de junho, Balduíno II, auxiliado por Jocelin I de Courtenay (conde de Edessa) e Pons (conde de Trípoli) conseguiu derrotar os turcos (Bursuqui, atabegue de Mossul, e Toghtekin, atabegue de Damasco) na Batalha de Azaz, ao norte de Alepo. A seguir cercou Alepo, cujo ‘cadi’ (juiz), Ibn al-Khachab, solicitou a ajuda do atabegue de Mossul, al-Borsoki (ou Bursuqui), já que o emir Timurtach não atendeu ao seu apelo. Balduíno II conseguiu um butim tão relevante que pode libertar os reféns que ainda se encontravam na fortaleza de Kharput. --- Neste ano: Os venezianos, continuando suas represálias contra os bizantinos, saquearam a ilha de Rodes e devastaram Lesbos e Samos; por fim, ocuparam Kios. ---- Em face de disputa sucessória no Sultanato de Rum, o sultão Massud I, em conflito pelo poder com seu irmão Arab, teve que se refugiar na capital bizantina. 1126 - Em 25 de janeiro, o rei Balduíno II invadiu a Síria de novo, para conquistar Damasco, passando pela região de Hauram e reencontrando o exército damasquino ao sul da capital do emirado, derrotando o atabegue Toghtekin na Batalha de Tell al-Shaqhab (ou Chaqab). Prestigiado com a vitória em Chaqab, Balduíno II tentou se apoderar de Damasco, auxiliado por forças dos Templários, mas o emir Toghtekin o impediu. Por outro lado, o mameluco Khutlugh se apoderou de Alepo, mas não conseguiu a adesão dos seus habitantes. Em face disso, apresentaram-se dois candidatos ao poder em Alepo: o seldjúcida Ibrahim ibn Ridwan e um ortoquida, Suleyman. Balduíno II, em virtude desta instabilidade em Alepo, pretendeu se apoderar desta cidade, mas foi impedido pelo atabegue de Mossul. ---- Em agosto, o imperador João II Comneno, pressionado por uma demonstração de força naval dos venezianos ocupando Cefalônia, renovou os privilégios comerciais concedidos em 1082 e facilitou o acesso deles às ilhas de Chipre e Creta. Obviamente, os comerciantes bizantinos tiveram prejuízos enormes com tais concessões. ---- Neste ano: Arab, irmão caçula do sultão de Rum, Massud, colonizou Ancira (Ankara) e Kastamonu e se dirigiu com seu exército à Iconium (Konia) para ocupar o trono dos turcos seldjúcidas. Massud se aliou com o imperador João II Comneno para lutar contra Arab, vencendo-o e forçando-o a se asilar na Cilícia; permitindo a retomada de Kastamonu. Tais entreveros permitiram ao emir danichmendita Amir Ghazi Gumuchtegin dominar até o litoral sul do Mar Negro. Massud, por sua vez, lançou campanha militar e voltou-se para atacar os territórios a oeste; chegando à Cilícia, saiu-se vitorioso sobre os cruzados e dominou até o Alto Eufrates. Em face destas conquistas, o sultão persa Ahmed Sanjar lhe conferiu o título de ‘Mali’ (rei). Ao assegurar o controle de boa parte da Ásia Menor, Gumuchtegin colocou em perigo o Império Bizantino.1127 – Neste ano, Alepo estava sendo submetida à pressão do exército franco composto por Boemundo II de Antióquia e o filho de Boemundo de Tarento, criando uma instabilidade local em face da presença de 4 emires partilhando o poder. – Por estimativas demográficas, a capital bizantina suplantou a capital do Império da China, Kaifeng, como a maior cidade do mundo.1127 a 1129 –Neste período, os sérvios lutaram sem sucesso para se libertar do domínio bizantino.1128 - O imperador João II, talvez instigado pela sua esposa de origem húngara (Irene), se intrometeu na questão sucessória do Reino da Hungria após a morte de Kolomano: ao invés de apoiar Estevão II (filho do rei), apoiou o seu irmão Almos (o primeiro foi o vencedor). --- No verão, os húngaros, chefiados pelo rei Estevão II, atravessaram o Danúbio, penetrando em terras bizantinas, mas foram contidos pela vitória do imperador João II Comneno na Batalha de Haram (ou Chramon, hoje chamada de Nova Palanka, na Sérvia). --- Alepo esteve à mercê dos seus inimigos: primeiro foram os cristãos francos; depois, o emir Zengi que se apoderou da cidade em 18 de junho, se definiu como seu atabegue, se casou com a filha do finado Ridwan (viúva de il-Ghazi e de Balak) e conseguiu o reconhecimento do sultão seldjúcida Mahmud II como governador da Síria e do Norte do Iraque (região de Mossul). Zengi podia assim lutar pelo ideal de unificação da Síria muçulmana e criar meios para sua luta contra os Estados Cristãos. Em busca da unidade muçulmana, no entanto, apenas um o apoiou, os outros aderiram ao emir de Damasco ( Taj al-Muluki Buri). --- Neste ano, as cidades de Buzā‘a (e sua cidadela) e Manbiǧ, importantes nas comunicações entre Mossul e Alepo, foram disputadas entre Zengi e os bizantinos.– Balduíno II teve o auxílio dos Hospitalários (representado pelo seu grão-mestre Raimundo de La Puy) em incursão sobre a fortaleza de Ascalão.1129 – Em setembro, frustrou-se a tentativa do rei Balduíno II em sua conspiração junto com os Nizaritas (Assassinos) contra o atabegue de Damasco, Taj al-Muluk Buri. Foi descoberta a trama por este governador que mandou matar o vizir al-Mazdaghani, protetor dos Assassinos, cujos chefes foram crucificados e os seus partidários massacrados. Os Nizaritas restantes à chacina refugiaram-se na Palestina, onde foram protegidos pelo rei Balduíno II, depois que eles lhe devolveram a Fortaleza de Banyas (ou Paneias), junto ao monte Hermon (no caminho entre Damasco e Jerusalém). – No início de dezembro, o emir Taj al-Muluki Buri teve diante de sua capital, Damasco, uma numerosa armada cristã composta de tropas de Trípoli, Edessa, Palestina, Jerusalém e Antióquia. Diante disso, Taj al-Muluk Buri recrutou às pressas tribos árabes e nômades turcos e atacou de surpresa os cristãos na Planície de Ghuta. Balduíno II de Jerusalém abandonou o cerco imposto a Damasco depois que uma tempestade encheu de lama a planície dificultando a movimentação das tropas. ---- Neste ano: No sul da Itália, a Apúlia e o Principado de Cápua se vassalaram ao normando

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Rogério II de Hauteville; este se tornando duque da Apúlia; unificando-se, assim, os Estados normandos. ---- Desta feita foi a vez do turco seldjúcida Arab se asilar em Constantinopla, visto que seu irmão Massud I retomou o poder no Sultanato de Rum com o auxílio de Gumuchtegin (seu sogro).1130 – O imperador teve pela frente mais um complô para destroná-lo, desta vez pelo seu irmão, Isaac (que tinha se refugiado junto aos turcos seldjúcidas). --- O príncipe de Antióquia, Boemundo II, em fevereiro, partiu em missão militar para o norte, mas foi morto em emboscada pelo emir Danichmendita Malik Ghazi II Gümüchtegin (que estava ao lado do príncipe armênio Leão I). Foi decapitado e sua cabeça embalsamada foi enviada ao califa abássida Al-Mustarchid em Bagdá. Ao saber da notícia, a sua viúva Alix ou Alice (de Jerusalém), filha de Balduíno II de Jerusalém, se alçou ao poder em Antióquia com o apoio de bizantinos, sírios e armênios que viviam lá. Sabendo que Balduíno II apoiava Constança (uma criança) como herdeira do trono, considerando-a usurpadora, Alix pediu a ajuda militar do emir Zengi. Tal urdidura pelo poder foi descoberta por Balduíno II que entrou em Antióquia e exilou Alix no porto de Lataquia. O emir danichmendita Malik Ghazi II Gümüchtegin, a partir deste ano, e o imperador bizantino João II Comneno estiveram em constantes guerras pela posse de Kastamonu (ao norte da Anatólia). --- No Natal foi coroado rei da Sicília pelo antipapa Anacleto, em Palermo, Rogério II de Hauteville. No poder se manifestou hábil político, respeitando as leis e costumes dos muçulmanos, cuja elite manteve suas terras e seus palácios. --- A partir deste ano aumentou muito o recrutamento militar nos Lugares Santos por causa da crescente participação das novas ordens de cavalaria nas lutas contra os muçulmanos.1131 - O atabegue de Damasco, Taj al-Muluki Buri, foi ferido (em 7 de maio) em atentado urdido pelos Nizaritas (Assassinos), mas só morreu 13 meses depois. ---- Em 21 de agosto morreu Balduíno II, rei de Jerusalém, mais por desgosto com sua filha Alix (Alice), que deportara para Lataquia por ter usurpado o trono do Principado de Antióquia (que deveria ser atribuído à sua filha Constança). Foi sucedido por seu genro Folco de Anjou, já que não tinha herdeiro masculin. Este último era casado com a irmã mais velha de Alix, cujo nome era Melissenda. Ele foi coroado em 14 de setembro. ---- Outro que morreu neste ano foi o Conde de Edessa, Joscelino I: ao cercar uma fortaleza muçulmana entre Mabbug e Alepo foi ferido gravemente. Quando um emir cercou Kaisun; ele solicitou a ajuda de seu filho, mas este se negou (alegando insuficiência de força armada). Joscelino, numa liteira, foi socorrê-lo, suspendendo o cerco, mas morreu pelo esforço na investida militar.1131 a 1135 - O imperador João II Comneno realizou, neste período, na Anatólia, cinco campanhas sucessivas e vitoriosas contra Gumuchtegin, já que este dominava uma boa parte da região. 1131 a 1143 – Reinado de Folco de Anjou em Jerusalém. Sua primeira iniciativa para manter seu poder foi a de reprimir a nova revolta de Alix, tentando ser regente de Antióquia; outra foi a de se impor sobre o conde Pons de Trípoli. Circularam boatos sobre a infidelidade de sua esposa, Melissenda com o cavaleiro Hugo II do Puiset-Jaffa. Este fugiu para o Egito; os Fatímidas deram-lhe o comando tropas que tomaram Jaffa (em 1132).1132 – Em 6 de junho, Taj al Muluk Buri, atabegue de Damasco, já convalescente de seu ferimento, com imprudência foi passear a cavalo, abrindo sua ferida e morrendo. Foi sucedido por Shams al-Muluk Isma’il (Ismail ou Ismael), que retomou, em agosto, as cidades de Hama, Shaizar e a fortaleza de Shâqîf Tirun (pertencentes a Zengi); além da fortaleza de Baniyas (junto ao monte Hermon. no caminho entre Damasco e Jerusalém) dos Nizaritas (esta última em 15 de dezembro).1132 a 1135 – O emir danichmendida de Siwas (Malik Ghazi II Gümüchtegin) estava representando um perigo para Bizâncio por ocupar o Alto Eufrates e pressionar o Ponto. Em função disto, João II invadiu várias vezes este emirato neste período se apoderando (mas perdendo também) a fortaleza de Kastamuni (na Paflagônia) até conquistar Gangres (em Galácia). Ao morrer Malik Ghazi II Gümüchtegin (em setembro de 1134) , João II conseguiu a aliança do sultão Massud (de Rum). Desta forma, o Império Bizantino recuperou toda a área litorânea meridional do Mar Negro desde o Estreito de Bósforo até a foz do rio Tchorok (a leste de Trebizonda).1133 - Em outubro, bandos nômades turcomanos atacaram o Condado de Trípoli e cercaram o conde Pons em Montferrand (Bar’in), mas foi salvo pela investida do rei Folco de Anjou de Jerusalém. --- Os Assassinos (ou Nizaritas), que se centravam na região montanhosa entre Hama e Lataquia (na Síria), adquiriram a fortaleza de Qadmûs (denominada Cademois pelos cruzados) do senhor da fortaleza de Al-Kahf, Sayf ad-Dîn. Entre dezembro de 1133 e janeiro de 1134, ocorreu a Batalha de Qinnesrin (antiga Cálcis, ao sul de Qadmûs), entre os turcos de Alepo (sob o emir Sawar) e as forças coligadas dos Ismaelianos de Qadmûs e o rei de Jerusalém, Folco de Anjou. Os coligados atacaram à noite e fizeram uma verdadeira carnificina e conseguiram grande butim.1134 - Em setembro, o rei Folco V de Jerusalém invadiu Hauram (na Síria). Ismail, o novo atabegue de Damasco, conseguiu o recuo do invasor franco, procedendo a uma contra-ofensiva sobre o Reino de Jerusalém e forçando-o a assinar uma paz temporária. Internamente, porém, Ismail conseguiu contrariar os damascenos ao elevar a carga fiscal, não seguindo os conselhos de seu pai, nem de seu avô Tughtekin. Sob a justificativa de que os chefes dos descontentes tramavam sua morte, mandou encarcerá-los e executá-los; entre eles até o seu irmão Sawinj, que morreu de fome num calabouço. A situação interna ficou tão instável que Ismail entregou Damasco a Zengi. ---- O emir danichmendita Malik Ghazi II Gümüchtegin ao morrer, em setembro, deixou um vazio permeado de guerra civil, facilitando ao imperador João II Comneno em tomar a cidade de Gangra (na província de Galatia), onde ficou uma guarnição militar, assinando, antes, um acordo com o sultão Massud I de Rum. Desta forma, o Império Bizantino voltou a ser uma potência marítima, afirmada mais ainda com a submissão do Reino da Pequena Armênia (Cilícia). ---- Ao morrer o patriarca João IX, foi nomeado Leão Styppes como o seu sucessor em Constantinopla.1135 - Neste ano, Alix de Jerusalém foi auxiliada por Melissenda (sua irmã e esposa de Folco de Anjou, rei de Jerusalém, regendo Antióquia, contrariando o patriarca local, Raul de Donfront) em arrumou o casamento de Constance com Raimundo de Poitiers (príncipe da Aquitânia), mas insinuando que era para casar com Alix. Esta ludibriada pelo patriarca, deixou o príncipe entrasse em Antióquia e, enquanto Alix esperava no palácio, o patriarca casou Constança com Raimundo de Poitiers na catedral (abril de 1136). Alix, em face disso, acabou se retirando para Laodiceia. – O emir Malik Ghazi II Gümüchtegin recebeu o título de ‘malik’ do sultão e do califa de Bagdá e morreu neste ano; a partir daí o emirato passou a sofrer constantes ataques do Sultanato de Rum e do Império Bizantino. ---- Para neutralizar o rei Rogério II de Hauteville, da Sicília, o imperador João II Comneno mandou embaixadores à corte do imperador Lotário III (do Sacro Império Romano Germânico); este aceitou depois de longos entendimentos e pelo apoio do papa Inocêncio II e, melhor ainda, com a sustentação financeira do Império Bizantino. 1135 a 1138 – O imperador bizantino João II Comneno realizou operações militares com incursões e conquistas na Galacia (tomando Gangra) e Cilícia (se apoderando de Kastamuni) e Alta Mesopotâmia (conquistando Melitene) aos turcos Danichmenditas. Em 1137 os Armênios da Cilícia e Raimundo de Poitiers (príncipe de Antióquia) se submeteram a ele. Com tais conquistas o Império Bizantino estendeu suas fronteiras até os rios Halys (na Palestina) e Alto Eufrates, voltando a ser uma potência marítima.1136 - Em abril, a Ordem dos Hospitalários recebeu de presente a fortaleza de Bethgibelin, entre Hebron (nas colinas da Judéia) e Ascalão (no litoral do Mediterrâneo Oriental). --- Em novembro, Balduíno II realizou ataque à cidade de Damasco, ajudado por Guilherme de Burres e pelo grão-mestre Templário Hugo de Payns. Guilherme de Burres, objetivando saquear a cidade, sendo o primeiro a atacar, mas suas tropas foram praticamente massacradas pelos muçulmanos. Balduíno II não pode prosseguir o ataque por causa de uma chuva violenta que paralisou sua movimentação.1137 --- Na primavera uma grande armada imperial saiu de Constantinopla sob o comando do imperador João II Comneno, junto com seus filhos e ainda turcos seldjúcidas, pechenegues e até armênios contrários ao rei Leão I da Armênia. ---- .Em março, Zengi (atabegue de Mossul) atacou o Condado de Trípoli e travou combate com seu conde, Pons, em Monte Pelegrino, de resultado duvidoso; os soldados do emir, no entanto, entraram na tenda do conde franco, o capturaram e o levaram a Zengi, que mandou executá-lo. --- Após várias incursões armadas na região entre os Montes Taurus e o Alto Eufrates contra principados armênios independentes, a armada imperial bizantina (em 19/4) se aglomerou em Atália, aí chegando o imperador pelo mar. ---- Zengi, em junho, assediou a cidade de Homs (Emeso) que era do emirado de Damasco; este (sob o governo de Mu'in ad-Din Unur) solicitou a ajuda ao rei de Jerusalém (Folco V de Anjou). Zengi os enfrentou, cercou as fortalezas de Baarin ou Montferrand (ou Barin) e de Rafaneia, aprisionou o rei de Jerusalém e o novo conde de Trípoli (Raimundo II), em 10/20 de agosto; depois os libertou sem resgate na iminência de ataque do imperador João II Comneno. ---- Este, em julho, se apoderou de Anazarbe (na Armênia, hoje Aǧaçli, na Turquia), depois de longo assédio de 37 dias. Tudo o que o rei armênio Leão I, o mais importante da região, tinha conquistado naquela região (Adana, Tarso e Mopsueste), foi tomado pelas forças imperiais. Ele e seus filhos se evadiram para os Montes Taurus. ---- O imperador bizantino partiu da Cilícia, cercou Antióquia e impôs

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a vassalagem ao príncipe Raimundo de Poitiers (em 10-20 de agosto). ---- Na frente ocidental do Império Bizantino, o imperador alemão Lotário de Suplimburgo, com ajuda financeira de João II Comneno, invadiu os domínios continentais de Rogério II de Hauteville (primeiro rei normando da Sicília e duque da Apúlia) e se apoderou da Apúlia (cujos vassalos de Rogério estavam revoltados) e fez com que o antipapa Anacleto II (com pontificado paralelo ao de Inocêncio II) investisse Rainolfo d’Alif (genro do rei) como duque da Apúlia. Tal intervenção bizantina fracassou em 4 de dezembro: o imperador Lotário de Suplimburgo morreu no Tirol (quando voltava para a Alemanha), enquanto o rei Rogério II de Hauteville recuperava a Apúlia com ajuda árabe.1138 – Em abril, o imperador bizantino João II Comneno colaborou com o príncipe de Antióquia, Raimundo de Poitiers, na retomada de praças entre Antióquia e Alepo. Em 1 de abril tomou al-Balat; uma semana depois, Bizaa; em 20 de abril desistiu de ocupar a fortaleza de Sawar por ter recebido reforços de Zengi. Desviou-se para o sul e se apoderou de Athareb, 2 dias depois; a seguir, foi a vez de Maarat al Numan e Kafartab (dias 25 e 27 de abril). Sitiou a cidade-fortaleza de Chaizar (ou Schaiar, no vale médio do rio Orontes) defendida pelo emir Sultan ibn Munqidh, em 28 de abril. Este último firmou a paz com o imperador e lhe prometeu entregar a cruz perdida na Batalha de Mantzikert (em 1071). João II Comneno fracassou, porém, contra Alepo (capital de Zengi); em Antióquia, teve que recuar ao estourar uma revolta liderada por Joscelino (Juscelino) II de Edessa. ---- Em 11 de outubro ocorreu um sismo devastador em Alepo. ---- Ao retornar para sua capital, o turco seldjúcida Zengi renovou sua soberania sobre os territórios invadidos pelo imperador. Simultaneamente, o imperador João II Comneno se defrontou com o sultão Massud, que tinha invadido território bizantino e o venceu. Chegou à Constantinopla depois de 3 anos de guerras levando como prisioneiros o rei Leão I e seus filhos Rupen e Thoros (capturados na Fortaleza de Vahka, hoje Feke, na Turquia), sendo Rupen executado, enquanto Leão I e Thoros ficaram presos. 1139 – O sucessor do antipapa Anacleto II, o papa Inocêncio II, decretou a excomunhão do duque Rogério II de Hauteville e armou uma expedição militar contra ele, sendo derrotado e preso em Garigliano (22/7); mas foi bem tratado por aquele, reconhecendo-o como tal (Duque da Apúlia e Príncipe de Cápua), poucos dias depois. --- Em junho, o meio irmão do atabegue de Damasco, Mahmud, chamado Jemal ad-Din Muhammad, o sucedeu após seu apunhalamento por 3 de seus escravos, enquanto dormia. ---- De 19 de agosto a 21 de outubro, o emir Zengi cercou e tomou Baalbek (no vale de Bekaa), massacrando sua guarnição damascena. Em 6 de dezembro, Zengi cercou Damasco, se aproveitando da saída dos bizantinos da região e do assassinato do seu atabegue. A resistência ao cerco coube ao emir regente Aynard (Unur ou Mu’im ad-din Unur) e se prolongou até maio de 1140 sem sucesso. ---- Neste ano, o imperador bizantino João II Comneno, junto com seu sobrinho João Tzelepes, realizou uma campanha militar na Anatólia contra o emir danichmendida Malik Ghazi III Gümüchtegin (por ter invadido a Alta Cilícia e tomado a fortaleza de Vakha ou Feke), que se aliara ao duque bizantino Constantino Gabras (de Trebizonda) contra o imperador. 1140 – Ao iniciar-se o ano, o emir regente de Damasco (Mu’im ad-din Unur) enviou a Jerusalém (sob o rei Folco de Anjou) uma embaixada sob a chefia de Usama Ibn Munqidh para negociar uma aliança frente ao cerco de Damasco por Zengi e de união contra futuros perigos e cobertura dos gastos militares pelos damascenos. Os aliados tomaram a fortaleza de Baniyas e forçaram Zengi a sair de Damasco, em 4 de maio e depois de Baalbek. Zengi, em seguida, passou a guerrear os Ortoquidas e os Curdos em torno de Mossul. Unur, por sua vez, colaborou com o rei de Jerusalém, como forma de gratidão, para se apoderar de Paneias (na Alta Cilícia, fronteira com o emirado de Zengi).— Simultaneamente, o príncipe de Antióquia encarregou um dos seus notáveis de aumentar o poder de defesa de Margat. ---- O imperador João II e seu sobrinho João Tzelepes retomaram a fortaleza de Vakha, repeliram Malik Ghazi III da Bitínia e Paflagônia, o perseguiram até a fortaleza de Niksar ou Neocesareia (ao norte da Anatólia, no Ponto), que foi cercada sem sucesso por 6 meses (final de 1140). João Tzelepes abandonou o imperador neste cerco ( segundo alguns autores foi aprisionado), indo para a corte do sultão Massud de Rum; se converteu ao islamismo e se casou com uma das filhas dele. Enquanto o imperador retornava para Constantinopla pelo Mar Negro, os turcos seldjúcidas chegaram até próximo de Antalia. ---- João II realizou acordo com o imperador alemão Conrado III Hohenstaufen para invadir o Reino da Sicília; cunhada do imperador alemão (Berta de Sulzbach) foi prometida ao príncipe bizantino Manuel.1141 - Em 16 de fevereiro foi coroado rei da Hungria, Geza II; mas o exercício de seu poder foi abortado após 6 semanas pelo imperador bizantino que colocou no trono o seu tio Estevão IV. No final deste ano: Em face da emergência do Reino da Sícilia sob o normando Rogério II, o imperador selou um acordo com o Sacro Imperador Romano Germânico, na pessoa de Conrado III de Hohenstaufen, homologado com a promessa de matrimônio entre Berta de Sulzbach (cunhada do imperador alemão) com Manuel, 4º filho de João Comneno. Bizâncio prometia a neutralidade de Gênova e Veneza nesta guerra.1141 a 1222 - As estepes russas ao norte dos mares Cáspio e Negro foram ocupados pelos turcos Qiptchak (polovicianos).1142 – O imperador João II Comneno realizou nova campanha militar na Síria com o intuito de recuperar Antióquia, acompanhado de seus 4 filhos. Quando chegou a Antalia, seu filho e herdeiro do trono, Aleixo, morreu de uma febre fulminante, em 2 de agosto. Incumbiu, então, seus filhos Andrônico e Isaac a levarem o corpo de Aleixo para enterrar em Constantinopla, ficando com o filho Manuel. --- Raimundo de Poitiers recusou a entrada do imperador João II Comneno em Antióquia (25 de setembro). Em represália, o imperador promoveu uma devastação no entorno da cidade.— Neste ano: O imperador mandou uma carta ao papa Inocêncio II propondo a reunião das duas igrejas. ---- Devido à ameaça do emir Zengi, o conde Raimundo II de Trípoli entregou aos Hospitalários a guarda da Fortaleza do Krac, de notável posição estratégica nos Montes Líbano.1143 - João II Comneno se feriu por flecha envenenada, praticando a caça perto de Mopsueste na Cilícia; gangrenando de tal maneira que faleceu no domingo de Páscoa (8 de abril). Três dias antes de falecer, em uma reunião com seus conselheiros, o imperador doente escolheu para a sucessão seu filho caçula, Manuel, que estava em Antalia. João Axuch (que era turco seldjúcida, mas fiel ao imperador e ao príncipe) foi rápido para Constantinopla, a fim de assegurar a posse de Manuel. 1143 (5 de abril) a 1180 - Reinado de Manuel I Comneno. Tomou medidas contra o patrimônio da Igreja Ortodoxa e aumentou os impostos, mas continuou a pretensão de seu pai em reunir as Igrejas Cristãs Ortodoxa (de Constantinopla) com a Católica Romana (1167). 1143 (continuação) - Com a morte de João II, alforriou-se o Condado de Antióquia da suserania imposta por ele. Raimundo de Poitiers, conde de Antióquia, se aproveitou para arrasar a Cilícia, mas o novo imperador Manuel I mandou tropas para fazer o mesmo no condado. – Em 26 de junho, foi abortado um ataque a Trípoli por parte dos normandos da Sicília. Seu rei, Rogério II, conseguiu, entretanto, sucesso em Djidelli, Sussa e Sfax. Deste ano até 1146, durante o verão, ele saqueou o litoral de Ifriqiya. ---- Em julho, o patriarcado de Constantinopla passou para Miguel II Curcuas. ---- Em 15 de agosto houve a coroação de Manuel I. ---- Por volta de 10 de novembro, o rei Folco de Jerusalém morreu após cair do cavalo. Foi sucedido pelo filho menor Balduíno III, tendo como regente a sua mãe Melissenda. ---- Raimundo de Poitiers e Joscelino (Juscelino) II de Edessa se aproveitaram da morte do rei de Jerusalém (Folco de Anjou, em 10 de novembro) para extravasar seu ódio recíproco, condicionando a invasão do Condado de Edessa por Zengi em 1144.1143 (10 de novembro) a 1163 - Reino de Balduíno III, filho de Folco V d’Anjou, em Jerusalém, inicialmente tendo como regente Melissenda durante a sua menoridade até 1152.1144 – Aproveitando-se do momento da morte do rei Folco de Jerusalém e da ascensão ao trono do seu filho menor Balduíno III, o atabegue (ou ‘atabek’) Zengi, turco seldjúcida de Mossul, no final de novembro, Zengi cercou a cidade de Edessa (Urfa), cuja defesa coube ao bispo Hugo II, que se negou à rendição proposta pelo emir. A artilharia muçulmana cavou a muralha e tomou a cidade na antevéspera de Natal. Todos os habitantes cristãos foram reduzidos à escravidão, ficando livres apenas os sírios e armênios. Depois Zengi e seu exército ocuparam o condado até o rio Eufrates. Sua vitória lhe valeu a fama de ‘defensor da fé’ entre os muçulmanos. A queda de Edessa causou tal perplexidade no Ocidente, que o Abade de Claire começou a pregar outra cruzada: foi a II Cruzada de 1147. Com a conquista de Edessa, a soberania de Zengi se estendeu pela Mesopotâmia Setentrional e pelo interior da Síria. ---- Neste ano: Raimundo de Poitiers (de Antióquia) foi forçado a vir à Constantinopla por pressão de Manuel I, onde renovou sua vassalagem e teve que aceitar um patriarca bizantino em Antióquia. – Uma frota naval bizantina não teve sucesso em ataque à Ilha de Malta, procurando reconquistá-la. 1144 a 1146 – O imperador bizantino Manuel I Comneno, preocupado com a penetração dos turcos seldjúcidas pelos vales do Gediz e do Meandro, se aliou com o emir danishmendida de Siwas mandou expedições contra o sultão de Rum (Massud) neste período. Ele conseguiu expulsar os turcos e

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obteve uma vitória em Akşehir, após devastar os arredores de Konia (Iconium, capital seldjúcida de Rum).1145 – O emir de Mossul, Zengi, continuando sua incursão anterior sobre o Condado de Edessa, se apoderou de Saruj (em fevereiro) e cercou Bira (em março), mas não conseguiu conquistar esta última cidade. ---- Em novembro chegou em Viterbo uma embaixada armênia pedindo a ajuda do papa Eugênio III para a luta contra o emir de Mossul que se apoderara do Condado de Edessa. Em 1 de dezembro, este papa publicou uma encíclica, pela qual concedia indulgência aos que lutassem no socorro ocidental ao Patriarcado Latino de Jerusalém: era o germe religioso da II Cruzada e do princípio jurídico do ‘privilégio de cruz’. ---- Estimativas demográficas demonstram que Merv (hoje chamada de Mary), importante ponto na Rota da Seda, tinha uma população superior à da capital bizantina. 1146 – Em 23 de março, em uma assembléia na cidade religiosa de Vezelay, na França, S. Bernardo de Clairvaux pregava a II Cruzada em face da queda de Edessa --- Em campanha militar contra o principado de Qal'at Ja'bar, seu súdito, que dificultava a ligação entre Alepo e |Mossul, o emir Zengi foi morto por um eunuco, na noite de 14 para 15 de setembro. Em 27 de outubro, a população armênia de Edessa, aproveitando-se do assassinato de Zengi (em 15 de setembro), se revoltou tendo a ajuda de Joscelino II, despertando o revide de Nur ad-Din (filho e sucessor de Zengi) atacando e tomando a cidade em 3 de novembro, antes mesmo que Jocelin II pudesse se defender, não lhe restando senão a alternativa da fuga para a Armênia; enquanto isto, os armênios foram trucidados e os que puderam fugiram para a Cilícia. --- Esta queda definitiva de Edessa repercutiu tanto no Ocidente, que suscitou a formação da II Cruzada. --- Em 27 de dezembro, na Dieta de Spira, o imperador Conrado III da Alemanha se decidiu a participar da II Cruzada, frustrando o intento do imperador Manuel I em se aliar com ele para atacar o rei da Sicília (o normando Rogério II de Hauteville). A tentativa que Manuel I fez com o rei capetíngio Luís VII (da França) também fracassasse neste objetivo anti-normando: este último também participou da II Cruzada.1147 a 1149 – II Cruzada ou Cruzada dos Reis, pois era chefiada pelo imperador Conrado III (do Sacro Império Romano Germânico) e do rei capetíngio da França, Luís VII (junto com sua esposa Leonor de Aquitânia, que acabou sendo acusada de incesto com seu tio Raimundo de Poitiers, príncipe de Antióquia, durante sua estada aí) e constituída de senhores feudais franceses, alemães, normandos, ingleses, flamengos, bem como de ‘ladrões, assassinos e peregrinos’, conforme o seu próprio pregador, S. Bernardo de Clairvaux. Saíram em maio de 1147 e chegaram à Constantinopla no começo de outubro; aí se desentenderam com o imperador Manuel I.1147 - Devido à aproximação da II Cruzada (que chegou em Constantinopla em setembro/outubro, mas não foi bem recebida), o basileus Manuel I resolveu fazer acordo de paz com o sultão turco Massud (do Sultanato de Rum). --- Rogério II, rei da Sicília, aproveitando-se da presença dos cruzados na Anatólia, se apoderou da ilha de Corfu (no Mar Jônio), na época do verão. Em seguida, tomou Nauplia (hoje Navplion, no sul da Grécia), saqueou o litoral da ilha de Eubeia, tomou a cidade de Tebas (onde seqüestrou tecelões de seda e os levou para Palermo, que já era grande produtor deste tecido e concorrente dos bizantinos), atacou e pilhou Corinto, voltando para a Sicília com grandes despojos de guerra. --- Ao mesmo tempo das investidas de Rogério II, no dia 26 de outubro, ocorreu a Segunda Batalha de Dorileia em que o imperador alemão Conrado III (um dos chefes da II Cruzada) sofreu baixas enormes de seu exército pelas ações de emboscada pelo turco seldjúcida Massud I (filho de Kiliç Arslan I) em Esqui-Cheir (Dorileia), forçando-o a retroceder para a cidade de Niceia (atual Iznik na Turquia). ----Nur ad-Din se apoderou de Artah ou Artésia ao principado de Antióquia (governado por Raimundo de Poitiers). 1147 a 1158 - Manuel I esteve em campanhas retaliativas contra seu arquiinimigo Rogério II da Sicília, fazendo alianças com Veneza (renovando seus acordos comerciais em outubro/1147 e março 1148), com o imperador alemão Conrado III (no Natal de 1149), retomando a ilha de Corfu (inverno de 1148-1149) e se aliando com rebeldes da Apúlia (que fazia parte do Reino da Sicília). 1148 - II Cruzada: Em 6 de janeiro, o rei Luís VII, após seguir o caminho do litoral da Anatólia, sofreu perdas imensas diante dos turcos na Batalha do Monte Cadmos (no desfiladeiro de Pisídia). Mesmo assim, chegou ao porto de Antalia (Adália ou Satália), em fevereiro. Em 25 de março ele e sua mulher Leonor de Aquitânia chegaram à Antióquia, onde se enciumou pelas intimidades da esposa com o seu tio, Raimundo de Poitiers, príncipe de Antióquia. Em função disso se recusou a combater o atabegue Nur-ad-Din, de Alepo e libertar Edessa. De Antióquia foi para Jerusalém, onde se encontrou com o imperador alemão Conrado III de novo (que aí chegara em abril). Os nobres locais acertaram com eles uma reunião em S. João d’Acre, onde se acertaram detalhes da ofensiva antimuçulmana contra Damasco. Nesta reunião estavam presente as tropas dos reis Conrado III da Alemanha e Luís VII da França, além dos Condes de Auvergne e Savóia, do Marquês de Montferrat; ingleses, flamengos e frísios (estes 3 últimos ajudaram o rei português Afonso Henrique de Portugal a retomar Lisboa aos mouros). Em 24 de junho, a reunião esteve sob a presidência do rei de Jerusalém, Balduíno III, e sua mãe (a notória Melissenda) que vieram com barões e bispos dos Estados Cristãos. Tomou-se a decisão de atacar Damasco. Em julho o exército franco passou por Banias e, em 24 de julho, iniciou-se o cerco de Damasco, acampando as tropas, primeiro ao sul e depois a leste da cidade (na planície cultivada do Oásis de Ghuta). Ocorreram os conflitos em 4 dias: no dia 24, houve ataque dos damascenos (tendo à frente seu atabegue Mu'in ad-Din Unur) sem sucesso e os cristãos deixaram seu acampamento; no dia seguinte, no entanto, continuaram os confrontos; no dia 26, começaram a vir reforços muçulmanos de cavaleiros curdos, árabes, turcos e mesmo de Nur ad-Din de Alepo e seu irmão de Mossul (Saifeddin ou Sayf ad-Din Ghâz), a pedido do governador de Damasco, Mu'in ad-Din Unur; no dia 27, o governador de Damasco fustigou com sua cavalaria os cruzados, que se retiraram para Jerusalém. Assim terminou em fracasso a II Cruzada; com o seu retorno à Europa firmou-se o conceito de que o Império Bizantino era um estorvo aos intentos dos Cruzados. ---- Em setembro, o filho de Afonso Jordão, Bertrando, pleiteou o Condado de Trípoli e, assim, cercou e se apoderou da fortaleza de Araîma (perto de Tortosa). Raimundo II, conde de Trípoli, pediu a ajuda militar de Nur ad-Din, retomando Araîma e prendendo Bertrando. ---- Neste ano: Rogério II, rei da Sicília, se apoderou dos Abruzzos e Benevento aos bizantinos.1149 - Em 29 de junho, na Batalha de Inab (ou Font-Muret), Raimundo de Poitiers, príncipe de Antióquia, foi preso numa campanha contra Nur ad-Din (que tinha dominado as áreas adjacentes ao castelo de Hârim) e decapitado por Shirkuh (general curdo a serviço de Nur ad-Din), sendo sua cabeça mandada ao califa de Bagdá. O Principado de Antióquia (reduzido a cerca da metade pelas conquistas de Nur ad-Din de Apameia, Harim, Albarah, Artah) passou a ser governado por Reinaldo de Chatillon e sua esposa Constança. – Em 29 de julho o rei Luís VII desembarcou em Calábria; em agosto teve encontro com o rei da Sicília, Rogério II, demonstrando claramente sua antipatia em relação aos bizantinos. – O imperador Manuel I renovou acordos com o imperador alemão Conrado III, que se propôs a atacar o rei Rogério II no Natal deste ano e retomar Corfu no verão (auxiliado pelos venezianos). 1149-1150 – Enquanto Manuel I Comneno realizava operações militares e diplomáticas na Itália, estourou uma rebelião na Sérvia sob o comando de Uroš II Primslav, neto de Vukan, atiçado pela diplomacia normanda dos Hauteville. A revolta foi sufocada com a vitória bizantina junto à montanha de Tara (a oeste da Sérvia atual), em 1150; submetendo os sérvios à carga fiscal pesada.1150 – Durante a II Cruzada, os Fatímidas fortificaram com 56 torres a cidade de Ascalão, no litoral sírio-palestina, visto que era estratégica para eles, pois protegia a estrada litorânea em direção ao Egito, além de servir de ponto de apoio de ataques aos Estados Cristãos da Palestina. Ela era abastecida por mar por navios vindos de Alexandria; por terra, através de caminhos na Península do Sinai.--- Para cercar esta fortaleza egípcia os cristãos construíram outra nas ruínas de Gaza, ao sul. ---- Na Hungria, o tutor do rei Geiza II (seu tio, Belus) influenciou Tschudomil (ou Tihomir), príncipe da Sérvia, de ir contra a suserania bizantina sobre a Hungria. O imperador Manuel I, após sua empreitada militar contra Rogério II da Sicília, foi para a Hungria e submeteu o príncipe Tschudomil. ---- Joscelino (Juscelino) II, saiu de Edessa para a Antióquia para solicitar auxílio militar, mas, no caminho, foi aprisionado por bandidos, que o venderam a Nur ad-Din, sendo levado para Alepo, onde ficou por 9 anos. ---- Neste ano, a cidade fortificada de Turbessel (próxima da cidade hoje chamada de Gaziantep), a última ainda restante do Condado de Edessa, foi cedida ao imperador Manuel I.---- O porto de Faselis, na Lícia (sul da Anatólia) foi ocupado pelos seldjúcidas. ---- A primeira referência textual em relação aos ciganos foi feita neste ano: eles exerciam a função de músicos na capital bizantina.1151 - Em 12 de julho, a cidade de Turbessel, que havia sido cedida pela condessa Beatriz de Edessa aos bizantinos, foi tomada por um lugar-tenente de Nur ad-Din. Este, por sua vez, conseguiu tomar Edessa e todo o condado. ---- Thoros II, rei da Pequena Armênia ou Cilícia, filho e sucessor de Leão I, fugiu da prisão e conseguiu retomar seu reino: ele conseguiu superar dois ataques armados dos bizantinos. --- O imperador alemão Conrado

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III se apoderou de Ancona e se aliou com os vassalos revoltosos do rei Rogério II na Apúlia. – O imperador Manuel I comandou uma expedição militar contra a Sérvia, que se rebelara com o auxílio do rei Geza (Geiza) II da Hungria; após submeter a Sérvia, atacou a Hungria. Só conseguiu, no entanto, dobrar o rei húngaro após mais dois ataques à Hungria em 1152 e 1156, impondo-lhe tratados. ---- O imperador Manuel I nomeou Andrônico(futuro imperador) como duque da Cilícia, no qual, porém, não se desempenhou a contento.1152 - Falecimento de Conrado III e ascensão ao trono germânico de Frederico I Barba Ruiva, eliminando virtual aliança com Bizâncio. ---- Neste ano: A situação dos Estados Francos da Síria estava difícil em virtude da aliança entre o sultão Massud (de Rum) e o emir Nur-ad-din. --- Balduíno III entrou em atrito com sua mãe, a notória Melissenda, culminando na divisão de poder entre eles. Se encerrou a querela com a sua rendição, internando-a num convento em Betânia — O conde de Trípoli foi morto após desentendimentos com sua esposa Hodierna de Jerusalém. Sucedeu-o o filho menor Raimundo III, tendo como regente o rei Balduíno III.1152 e 1156 - Expedições bizantinas contra o rei Geiza (Geza) II da Hungria por dar cobertura às rebeliões na Sérvia.1153 - Ocorreram intensas negociações diplomáticas, através de delegações enviadas por Manuel I ao imperador alemão Frederico I Barba Ruiva, embora não tenham tido sucesso, de maio a novembro. ---- .Em maio, Constança, viúva de Raimundo de Antióquia, voltou ao principado e se apaixonou pelo arrivista e cruel Renaud (Reinaldo) de Chatillon, logo depois se casou com ele. Suas arbitrariedades o tornaram odiado pelos antioquinos, bem como pelos turcos do Emirado de Alepo e do Sultanato de Rum.---- Uma força militar constituída pelas tropas do rei Balduíno III de Jerusalém (já livre da regência de sua mãe Melissenda), do Hospitalário Raimundo de Le Puy e do Templário Bernardo Tremelay atacaram a Fortaleza de Ascalon, em agosto. No dia 15, seus defensores atearam fogo à torre de assalto construída pelos cristãos; tal incêndio abriu uma brecha na muralha da fortaleza, por onde penetraram, no dia seguinte, os Templários, mas eles foram massacrados e seus corpos decapitados (incluindo o de Bernardo Tremelay) foram pendurados na muralha. Os cristãos não esmoreceram: no dia 19 de agosto, Balduíno III, chefiando suas tropas, conseguiu tomar esta fortaleza, que era o último bastião fatímida na Palestina. --- Em 22 de agosto foi escolhido, como grão-mestre da Ordem dos Templários, André de Montbard (o último dos 9 membros fundadores desta ordem), em vez de outro cavaleiro da ordem (Guilherme II de Chanaleilles), favorito do rei francês Luís VII, afastando, pois, a influência deste sobre os Templários. 1154 - Morreu Rogério II (26/2) e ascendeu ao trono Guilherme I de Hauteville, cognominado de ‘o Mau’ como rei da Sicília (sagrado na catedral de Palermo em 4/4). Ele manifestou boa vontade de negociar diplomaticamente um tratado de paz com o imperador bizantino, se predispondo até à devolução de saques feitos por seu pai na Grécia; Manuel I, no entanto, não aceitou, confiando nas negociações com Frederico I. ---- Um ano depois da queda de Ascalon, os Templários emboscaram forças egípcias do vizir Abbas e seu filho Nasir al-Din, que estavam fugindo após o saque no golpe contra o califa. Abbas morreu e Nasir al-Din foi preso e entregue aos egípcios, sendo mutilado e despedaçado pelas turbas. ---- O príncipe Andrônico foi aprisionado por ter insuflado uma conspiração contra o imperador (fugiu em 1158, foi preso de novo e se evadiu pela última vez em 1164).1155 - Frederico I foi coroado imperador alemão pelo papa Adriano IV (18/6). Como ele teve que abandonar a conquista da Apúlia ao rei Guilherme I, o imperador Manuel I mandou Miguel Paleólogo (seu preposto político e militar na Itália), se entender com os vassalos da Apúlia revoltados contra o rei da Sicília e enviou uma armada de mercenários invadir (em agosto/setembro) e tomar Bari, Trani, Giovinazzo, Andria, Barletta, Tarento e Brindisi. Até mesmo o papa Adriano IV invadiu território normando, com auxílio militar bizantino. No verão, os bizantinos, comandados pelos generais João Dukas e Miguel Paleólogo, aportaram em Ancona, depois cercaram e retomaram Bari ao Reino da Sicília (em 1556, a cidade retornou à posse da Sicília através de ação militar do rei Guilherme I). Este porto era importante para controlar o Estreito de Otranto, entre o Mar Adriático e o Mar Jônico; além de evitar possíveis abordagens ao porto de Dyrraquium (Durazzo), na Dalmácia, onde começava a Via Egnata, que dava acesso terrestre ao território bizantino nos Bálcãs. Em seguida foram para o Golfo de Tarento. ---- Os mercadores genoveses conseguiram vantagens comerciais em Constantinopla, em 18 de outubro. 1156 – O rei Thoros II da Pequena Armênia (na Cilícia), na primavera, se juntou com o afoito aventureiro Reinaldo de Chatillon (marido de Constança de Poitiers, Princesa de Antióquia) e atacaram a ilha de Chipre, prenderam o sobrinho do imperador bizantino Manuel I (João Comneno, governador da ilha) e o general Branas, saquearam toda a ilha (não respeitando igrejas nem conventos e cortaram o nariz dos padres e monges) e agiram cruelmente com sua população: cortaram as gargantes de crianças e idosos, violentaram as mulheres e mutilaram os adultos. Esta crueldade de ambos contrariou a política de aproximação diplomática iniciada pelo rei Balduíno III d’Anjou, de Jerusalém, com o imperador bizantino. ---- O rei Guilherme I da Sicília sufocou a revolta em Bari, derrotou os bizantinos João Dukas e Aleixo Brienne na Batalha de Brindisi (os mercenários abandonaram os bizantinos por não receberem aumento pleiteado) e depois em Tarento. Humilhou o papa no cerco de Benevento. As derrotas de Brindisi e de Tarento selaram o fim da presença bizantina na Itália. 1157 - Na primavera, Guilherme I atacou a ilha de Eubeia (na Grécia), obrigando Manuel I a negociar um tratado de paz. ---- Em junho, Nur ad-Din obteve a vitória na Batalha do Lago Meron (ou Vau do Jacó) sobre os Templários, aprisionando seu Grão-Mestre Bertrand de Blanquefort. ---- Em agosto a Síria foi abalada por um grande sismo: as muralhas de Alepo foram destruídas, sua população amedrontada fugiu para os campos; em Harran, a fissura do terreno colocou a lume uma cidade antiga. As ondas do terremoto foram sentidas em Trípoli, Beirute, Tiro, Homs, Maara, Hama e Shayzar (dos Monqiditas), esta última foi invadida e saqueada pelos Nizaritas (Assassinos) e cristãos, antes da intervenção do emir Nur ad-Din. Em outubro, este emir, supervisionando as obras de reconstrução de muralhas, ficou doente por cerca de 18 meses. Os cristãos se aproveitaram desta circunstância para devastar as proximidades de Damasco. 1158 – O rei Balduíno III de Jerusalém e Teodorico de Flandres retomaram Harim (na Síria do Norte) ao emir Nur ad-Din (por estar doente), em janeiro-fevereiro. ---- Na primavera foi assinado um acordo de paz entre os bizantinos e os normandos da Sicília por 3 décadas em Constantinopla. Nesta mesma época, mais precisamente em março, o imperador determinou que os mosteiros (que possuíam grandes propriedades) não podiam mais aumentar o tamanho das propriedades, nem o de camponeses que neles trabalhassem; quem desobedecesse tal ordem, seria passível de confisco dos bens patrimoniais. ---- Em abril, Nur ad-Din já estava recuperado de sua doença; seu general Shirkuh atacou a fortaleza de Ḥabīs Ǧaldak, a noroeste de Aḏri‘āt (no Reino de Jerusalém), mas foi derrotado e a maioria dos seus soldados capturados. ---- Em dezembro, o imperador bizantino Manuel I Comneno foi para a fronteira entre Síria e Cilícia, em face disso o rei Thoros II foi forçado a fugir para as montanhas. --- Neste ano: O grão-mestre Templário acompanhado por mais 87 irmãos da sua Ordem e mais 300 cavaleiros, ao atravessarem o rio Jordão, foram emboscados e capturados pelos árabes (nestas ações oportunistas os muçulmanos usavam com maestria as comunicações através de pombos correios principalmente em áreas geográficas de relevo acidentado). --- O imperador Manuel I Comneno renovou seu poder e autoridade sobre Chipre.1159 – O imperador bizantino, continuando sua expedição iniciada em dezembro de 1158, esteve, em abril, na cidade de Antióquia, foi acertada uma aliança contra Nur ad-Din, entre ele e o rei Balduíno III, este contratando matrimônio com sobrinha do imperador bizantino, Teodora Comneno. Tal aliança não se concretizou: Manuel I assinou uma trégua com o emir, que lhe devolveu os prisioneiros Templários (em maio-junho). --- Também em Antióquia, Reinaldo de Chatillon pediu perdão pelo seu banditismo em Chipre e reintegrou o patriarca de Antióquia (que se opusera ao seu ataque a esta ilha e fora preso).1160 – Em julho, morreu o califa adolescente fatímida Al-Faiz, passando o califado para o seu irmão Al-Adid (quem governava de fato era o vizir Shawar). Os vizires do Egito passaram a pagar tributo aos cristãos francos, para não serem atacados por eles, já que tinham conquistado a estratégica fortaleza de Ascalão. ---- Em novembro, Reinaldo de Chatillon, príncipe de Antióquia, foi preso pelos soldados de Alepo durante uma incursão de pilhagem (roubando gado) na Síria e Armênia; ficou na prisão por 16 anos, sendo resgatado pelo imperador bizantino, que pagou cerca de 500 kg de ouro. --- Foi realizada uma trégua oportunista entre Nur ad-Din e o rei Balduíno III de Jerusalém, para que o primeiro pudesse guerrear no norte da Síria sem ser embaraçado pelo segundo. ---- Neste ano, Qilidj Arslan II, governante do Sultanato de Rum, não teve sucesso em ataque ao exército bizantino e teve que se submeter à vassalagem ao seu império através de tratado, sendo muito bem recebido em Constantinopla. Pelo tratado se obrigou a fornecer tropas complementares à armada bizantina em casos de necessidade, além de devolver cidades conquistadas. ---- Os genoveses receberam a posse de um quarteirão inteiro em Constantinopla e a concessão de comércio em todo o império, pagando 4% de suas transações.1160-1161 – Houve um entendimento para o matrimônio de Melissenda (irmã do conde Raimundo III de Trípoli) com o imperador bizantino Manuel

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I; como este se desinteressou, Raimundo III mandou uma frota naval atacar o litoral bizantino.1161 - Em setembro morreu Melissenda possivelmente de um acidente vascular cerebral que a impediu de participar dos negócios de Estado por falhas em sua memória. --- Neste ano: Bizâncio mais uma vez interveio na Hungria, depôs o grande jupan (príncipe) da Sérvia, Pervoslan Urosh. --- Os Estados Cristãos Latinos se aproximaram dos Fatímidas diante da emergência cada vez maior de Nur ad-Din.1162 – Em 31 de maio, Estevão III Arpad, filho de Geiza, subiu ao trono da Hungria. Foi a primeira fase do seu reinado, interrompido por intervenção do imperador Manuel I em 15 de julho, colocando no poder o subserviente Ladislau II, seu tio, que governou somente até 14 janeiro do próximo ano. Este precisou se refugiar em Constantinopla, após ter sido derrotado pelo seu sobrinho. O imperador simplesmente fez um acordo com Estevão III, pelo qual seu irmão Bela foi para a capital bizantina e ficou noivo de Maria (filha do imperador). --- Neste ano, o quarteirão dos genoveses em Constantinopla foi saqueado pelos venezianos e pisanos. ---- Ao morrer Balduíno III de Jerusalém, foi sucedido pelo seu irmão Amauri I, que governou até 1174. --- Em 21 de dezembro, o vizir fatímida Al-Adil Ruzzîk foi destituído do cargo por Abu-Schuga Schawer (Shawar), se apropriando de seu patrimônio e massacrando-o junto com sua família.1162 a 1165 – Manuel I organizou campanhas contra Estevão III, a fim de restabelecer no trono da Hungria o usurpador Estevão IV (irmão de Geisa II, portanto tio de Estevão III).1163 – O reino da Hungria teve novo reino efêmero: de 15 de janeiro a 19 de junho de Estevão IV (sucessor de seu irmão Ladislau II); a exiguidade do governo deveu-se à luta contra o seu sobrinho Estevão III, filho de Geisa (ou Geza) que o venceu nas proximidades de Székesfehérvár, com tropas mercenárias da Áustria e apoio do imperador Frederico I do Sacro Império. Estevão IV precisou se refugiar em Constantinopla. O imperador simplesmente fez um acordo com Estevão III, pelo qual seu irmão Bela foi para a capital bizantina e ficou noivo de Maria (filha do imperador). --- Em face dos desatinos e cupidez de Abu-Schuga Schawer e de sua família no Cairo, revoltando a população local, um dos seus lugar-tenentes Dirgham (que tinha sido nomeado chanceler por ele) se rebelou, forçando sua fuga junto a Nur ad-Din, pedindo-lhe apoio para restaurar seu poder mediante o pagamento de 1/3 das rendas do Egito (janeiro/fevereiro). Sabedor desta situação, o rei Amauri I de Jerusalém invadiu, pela primeira vez, o Egito, cercando a cidade de Bilbéis, abandonando-a por causa de enchente do Nilo. --- Neste ano, o imperador concedeu a outro Estevão, o Nemania, o feudo de Dubocica e o título de zupan (jupan), na Rascia Oriental, nas cercanias do vale do Toplica. 1163-1164 - Estevão III da Hungria se apropriou dos apanágios do seu irmão Estevão IV (a Dalmácia e a Sirmia). No inverno de 1163-64, houve nova intervenção bizantina na Hungria e se assinou novo tratado com a intermediação do rei Ladislau da Boêmia. – Estevão I Nemania (originário de família ilustre de Raska ou Rascie, na Sérvia), recebeu a região de Leskovac após entrevista com o imperador Manuel I.1164 – Nova intervenção política bizantina na Hungria por suposto desrespeito de Estevão III a acordo feito. Foi imposto o nome de Bela como novo rei, que esteve em Constantinopla, na primavera, e se casou com Maria, filha do imperador. Este se aproveitou da situação para se apoderar da Croácia, Dalmácia e Bósnia. A morte de Estevão IV em abril de 1165 acabou com a insatisfação de seus partidários (que tinham solicitado a ajuda do imperador alemão Frederico I Barba Ruiva). ---- Em abril/maio, o atabegue Nur ad-Din mandou expedição ao Egito sob o comando do general curdo Shirkuk (ou Chircu, tio de Saladino) junto com Shawar. Em 24 de abril ele se apoderou de Bilbéis (Bilbais), venceu Dirgham (que fugiu, mas foi morto durante a fuga) e recolocou Shawar em seu cargo em 1 de maio. Este, no entanto, não apreciou ser tutelado por Chircu e se descomprometeu ao cumprimento da promessa feita a Nur ad-din e solicitou ajuda ao rei Amauri I de Jerusalém. Chircu foi para Bilbais, onde foi cercado por Amauri I e Shawar. Enquanto isto, Nur ad-Din não podia ajudar seu general porque invadira o Principado de Antioquia. Diante desta situação, o rei Amauri se viu na necessidade de defender Antioquia. Assim, saiu do Egito ao mesmo tempo que o general Chircu. ---Nur ad-Din se lançou contra o Principado de Antióquia e cercou a fortaleza de Harenc. Boemundo III foi até lá com tropa constituída de armênios, bizantinos e antioquinos e Templários, forçando Nur ad-Din a abandonar o cerco. Boemundo III imprudentemente foi ao seu encalço, o atabegue simulou uma retirada, os francos avançaram sobre os turcos, que os envolveram e massacraram. Em 11 de agosto, o conde de Trípoli, Raimundo III de Poitiers, foi preso por Nur ad-Din na Batalha de Harim; sendo solto apenas em 1172. Em outubro, depois que Nur ad-Din se apoderou da planície de Banias, impôs ao rei de Jerusalém a partilha de rendas do distrito de Tiberíades. --- O armênio Mleh tentou assassinar seu irmão, o rei Thoros II (da dinastia dos Rupenidas da Armênia); descoberta a trama, Mleh teve que se evadir para o Principado de Antióquia (onde se fez postulante ao ingresso na Ordem dos Templários) e daí foi 1164-1165 – Andrônico Comneno (primo e inimigo de Manuel I), depois que escapou da prisão pela segunda vez neste ano, foi para a corte do russo Yaroslav I Osmomysl, na Galícia. Despertou, assim, temores de seu tio, Manuel I, quanto ao perigo de conspirar pelo acesso ao trono. 1165 – O rei de Jerusalém, Amauri I, que tinha sido preso por Nur-ad-in, foi libertado e se dirigiu para Constantinopla, a fim de se casar com a princesa Teodora, conforme tinha sido acertado pelo acordo de 1158. --- Revolta na Hungria expulsou os bizantinos deste reino e os venceu em Semlin (Zemun). Esta revolta se espalhou pela Dalmácia e Transilvânia. --- Os cruzados perderam Cesareia de Filipe aos muçulmanos.1165-66 – O atabegue Nur ad-Din, no período de novembro de 1165 a outubro de 1166 cercou e se apoderou dos castelos de Moinetra (Muneïtra, que significa em árabe 'pequena belvedere) e Akkar (ou Gibelakar, em área montanhosa ao norte do Líbano atual), se apropriando de todas as suas riquezas e massacrando ou aprisionando seus ocupantes. Através desta ação, Nur ad-Din tinha a intenção de dificultar as incursões de seus inimigos em Baalbek e fechava o desfiladeiro que dava acesso ao litoral.1165 e 1166 – O rei magiar Estevão III não foi fiel ao tratado feito com Bizâncio; daí o imperador Manuel I organizou alianças para recolocar Estevão IV no poder, mas este foi envenenado pelo seu sobrinho (11/4/1165), enquanto o imperador atacava Semlin, impondo novo acordo com Estevão III.1166 – Em 7 de maio, morreu o rei da Sicília, Guilherme I; ficou na regência Margarida, com a qual o imperador bizantino propôs sua filha como esposa do rei Guilherme II (ainda menor de idade). Tal proposta, porém, não prosperou no momento. Apenas em 1171 foi feita nova proposta, que foi aceita por Guilherme II, que foi a Tarento inutilmente para tal; este fato criou um clima de animosidade entre os dois países. – Neste ano, (Estevão) Nemania, príncipe de Rascie (ou Raska) se tornou o ‘grande zupan’ da Sérvia, após ter vencido o seu irmão Tihomir. Ele foi o criador da Dinastia dos Nemânidas, que governou a Sérvia até 1371. --- Neste ano: o atabegue Nur ad-Din cercou e tomou sem resistência nenhuma dos Templários uma caverna-fortaleza na Transjordânia. O rei Amauri I, sem saber do ocorrido, se encaminhou com suas tropas para lá a fim de ajudá-los, mas ao tomar conhecimento do ocorrido, ficou tão irado que mandou executar os Templários. Tal atitude do rei azedou suas relações com aquela ordem militar, pois ela estava submetida juridicamente apenas ao papa. Quando ele pediu ajuda militar aos Templários para invadir o Egito em 1168, eles se recusaram (os Hospitalários não se recusaram por causa de sua situação financeira ruim). --- O senhor de Barut (em Cesareia), Gautier III de Brisebarre, para conseguir meios financeiros a fim de pagar resgate de sua mãe aos muçulmanos, vendeu Barut para o rei de Jerusalém; este, em contrapartida, cedeu-lhe a Fortaleza da Guarda Branca; a partir daí passou ele a adotar para seu ramo de família o nome de ‘Guarda Branca’.1167- Logo em janeiro, Nur ad-Din mandou seu general Shirkuh (Chircu) comandando uma terceira expedição para invadir e se apoderar do Egito dos Fatímidas. No final deste mês, o vizir egípcio Shawar pediu a ajuda militar a Amauri I de Anjou, rei de Jerusalém. Este, impotente diante dos ataques do atabegue Nur ad-din e de manter suas posições no Egito dos Fatímidas (ora em decadência), solicitou a ajuda do imperador Manuel I Comneno. Este mandou uma frota que levou as tropas francas de Ascalão para Bilbais. Em 18 de março ocorreu o confronto das forças antagônicas na Batalha de Bâbain (al-Balbein ou Ashmûnain), no Alto Egito, vencida pelas forças coligadas, que depois foram para o Cairo. Enquanto isto, Shirkuh tomou Alexandria (deixando-a sob a guarda do seu sobrinho Saladino). No final de junho, o rei Amauri I e o exército egípcio assediaram Alexandria, que se rendeu em 8 de agosto. O general Shirkuh se viu obrigado a se retirar do Egito, retornando para Damasco. O vizir Chawar (Shawar), como forma de gratidão, pagou tributo a Jerusalém e aceitou a presença de destacamento militar na capital egípcia. --- Em 8 de julho, ocorreu a vitória do megaduque bizantino Andrônico Kontostefanos sobre os húngaros (Estevão III) na fortaleza de Semlin. Com esta vitória, Bizâncio ficou com a Bósnia, a Croácia meridional e os portos do litoral da Dalmácia (exceto Zadar), além da Sirmia (antiga Sirmium, ao sul do Danúbio) e parcialmente de Bacska (Voivodine de hoje).1167-1168 – Manuel I ajudou financeiramente a Liga das Cidades Lombardas contra o seu inimigo, o imperador alemão Frederico I Barba Ruiva. Com o mesmo propósito entrou em entendimentos com Pisa, Gênova e Veneza (até 1170). 1168 - Amauri I de Anjou, rei de Jerusalém, inebriado pela vitória anterior, resolveu conquistar o Egito, levando Chawar a pedir auxílio ao ex-

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inimigo Nur ad-Din, que mandou Chircu ao Egito, forçando Amauri a sair de Damietta.---- Em setembro, o rei Amauri I e o imperador bizantino Manuel I Comneno resolveram fazer um acordo de partilha do Egito, negociado por Guilherme de Tiro. Os Estados Latinos do Oriente ficariam sob a suserania do Império Bizantino. Em 20 de outubro, as forças bizantina e franca partiram de Ascalão para invadir o Egito. Al-Adid, califa egípcio, pediu a ajuda de Nur ad-Din, que novamente mandou Shirkuh, junto com Saladino (Çalah-ad-Din). Em novembro, as forças coligadas tomaram Bilbeis e massacraram seus habitantes; ao avançarem sobre a capital, ela foi incendiada (em 13 de novembro). No final do ano, Shirkuh forçou a retirada das forças cristãs do Egito.—Neste ano, o castelo de Qal'at Ja'bar, junto ao rio Eufrates, foi entregue por Nur ad-Din ao seu filho, que empreendeu uma série de reformas nele. ---- O príncipe sérvio Tihomir Zavidović, com o auxílio bizantino, não teve sucesso em reconquistar o trono.1168 – 1171 – O imperador bizantino se envolveu em entendimentos diplomáticos para se organizar um cruzada dirigida por ele para se retomar o Oriente islâmico com a ajuda das cruzadas européias e dos Estados Francos da Síria; obviamente tudo dentro dos seus objetivos de restabelecer o ‘status’ anterior do império.1169 – Ao iniciar-se janeiro, o rei Amauri I de Anjou, rei de Jerusalém, saiu do Egito; no dia 8, o general Chircu entrou como libertador no Cairo. Dez dias depois, Saladino (Salah al-Din ibn Ayyub) assassinou o vizir Shawar numa emboscada com a aprovação do último califa fatímida Al Adid (pela versão do historiador Luís Brehier, sua garganta foi cortada por conspiração contra Nur ad-Din), substituindo-o pelo tio, o general Shirkuh; este, em 23 de março, morreu durante uma refeição. Saladino (que era curdo e sunita como o tio) se tornou vizir do califado xiita fatímida, se impondo como autoridade. ---- Com o objetivo de invadir o Egito dos decadentes Fatímidas, em julho, o imperador Manuel I mandou o megaduque Andrônico Kontostefanos com uma poderosa esquadra naval para Chipre, onde se entendeu com o rei Amauri I de Anjou, rei de Jerusalém, seguindo para Tiro (no litoral do Reino de Jerusalém), no final de setembro, onde se juntou com a esquadra deste rei. Daí partiram para o assédio do porto de Damieta (no delta do Nilo, no Egito) de 27 de outubro a 13 de dezembro. Houve, no entanto, sérios desentendimentos entre Amauri I e Kontostefanos, resultando no fracasso desta investida franco-bizantina. Este fracasso repercutiu em maior poder de Saladino, enquanto os Estados Francos da Síria ficaram em posição difícil.1170 – O rei armênio Mleh, irmão de Toros II (da Dinastia Rubeniana) conseguiu se apoderar do trono com a ajuda de Nur-ad-din (ao se apoderar da Cilícia em 1969), após mandar assassinar o regente Tomás e o rei Rubem II.1171-2 - Derrota imperial na Dalmácia diante da aliança de Estevão Nemania (que atacou servos vassalos de Bizâncio) com Veneza. --- O imperador acusou os venezianos de terem destruído os armazéns genoveses no porto de Gálata.1172 - A Sérvia (com Estevão Nemania) tentou se coligar com o Sacro Império Romano Germânico, Veneza e o Reino da Hungria contra os bizantino. Ficando sozinho, foi vencido e preso por Manuel I e mandado para a capital bizantina. Aí, no entanto, ganhou a confiança do imperador e não perdeu seu governo na Sérvia.1173 – O imperador alemão Frederico I Barba Ruiva atacou sem sucesso a cidade de Ancona (norte da Itália, que estava em poder da Liga Lombarda) e estimulou o sultão Qilidj Arslan a atacar o Império Bizantino. --- Morte de Estevão III da Hungria; por imposição de Bizâncio, subiu ao trono Bela III (genro de Manuel I), que reinou até 1196. O novo rei húngaro mandou uma guarnição magiar (comandada pelo ban da Croácia e pelo voivode da Transilvânia) para auxiliar o imperador Manuel I em confronto contra Qilidj Arslan II (do Sultanato de Rum); o imperador foi ferido e salvo por dois húngaros. Em função deste fracasso militar de Bizâncio, se negociou um tratado com o sultão, este em situação confortável visto que tinha acrescido em seu território o Emirato Danichmendita e estava propenso a se aliar com o atabegue Nur-ed-din para mover guerra contra os Estados Francos da Síria. Mesmo com a assinatura do tratado com os bizantinos, começou, então, um processo de unificação dos turcos na Anatólia e se assinou uma aliança entre Nur ad-Din e Qilidj Arslan II, tendo em vista o inimigo comum: os cruzados dos Estados Francos da Síria. – Neste ano, Manuel I Comneno reconheceu como rei da Pequena Armênia (ou Cilícia) a Mleh, depois que este se apoderou das cidades de Adana, Mamistra e Tarso, findando com a presença bizantina em seu território. 1174 – Ao morrer Nur ad-Din (15/5), seu herdeiro foi o filho As-Salih Ismail al-Malik (ou Malik as-Salih Ismail, segundo alguns autores), um menino com apenas 11 anos. --- Em 11 de julho morreu o rei de Jerusalém, Amauri I, sem ter realizado o plano conjunto com o imperador bizantino de lutar contra Saladino e os Zengidas de Alepo e Damasco. O governo local passou para Balduíno IV, o Leproso, um adolescente com 14 anos, tendo como conselheiro Raimundo III de Trípoli. --- No final de julho, a frota naval do rei Guilherme II, da Sicília, ameaçou a cidade de Alexandria, no delta do Nilo, mas foi repelida por Saladino. Em 27 de setembro, Saladino entrou em Damasco, a pedido do seu atabegue Ibn al-Muqaddam, onde foi bem recebido pela população e se proclamou virtualmente regente de As-Salih Ismail al-Malik ; daí tomou Homs (10 de dezembro), Hama (18 dias depois) e em 30 de dezembro colocou a cerco a cidade de Alepo. Desta forma controlou a Síria. ---- No início de outubro, Raimundo III de Poitiers, Conde de Trípoli, se casou com Eschiva de Bures, viúva de Walter (Gualtério) de Saint-Omer, passando a ter grande parte do território ao norte do Reino de Jerusalém como príncipe da Galiléia e Tiberíades. ---- Neste ano, no Egito, foram perseguidos os coptas, por suposta adesão aos Estados Cruzados; a catedral de Alexandria foi destruída. ---- Os francos tentaram sem sucesso instabilizar o governo de Saladino no Egito, fomentando uma revolta xiita que foi debelada. ---- Os turcos seldjúcidas de Rum findaram com o domínio dos Danichmenditas de Sivas (cujos governantes tinham o título de ‘melik’, ou seja, rei). Observação: a Enciclopédia Irânica atribui este feito ao emir zênguida Nur ad-Din em 1173.1174 (15 de maio) a 1181- O Zêngida As-Salih Ismail al-Malik (ou Malik as-Salih Ismail, segundo alguns autores), um menino com apenas 11 anos, filho único e sucessor de Nur ad-Din, governou Damasco, Alepo e Mossul. Sua regência foi disputada pelos governadores de Alepo, Damasco (Ibn al-Muqaddam), Mossul e até do Cairo. Ele governou Alepo até 11811174 (11 de julho) a 1185 – Reino de Jerusalém sob Balduíno IV, o Leproso, um adolescente com 14 anos. Sua regência foi disputada por 2 grupos: um que advogava a nomeação do conde de Trípoli, Raimundo III de Poitiers, por sua experiência; outro apresentando os nomes da sua mãe (Agnés de Courtenay), ou Guy (Guido) de Lusignan e sua esposa Sibila. O primeiro grupo ganhou a disputa: Raimundo de Trípoli (que já era bailio ou ministro-chefe de Amauri I) foi regente até 1176. Ele era diferente dos demais cruzados francos: falava fluentemente árabe e apreciava o estudo de livros islâmicos; sua primeira iniciativa foi a de acertar uma trégua de 4 anos com Saladino.1174 a 1193 – O Egito foi governado pelo sultão Saladino (Salah ad-Din Yusuf ibn Ayyub), que criou a Dinastia dos Aiúbidas. Seus grandes objetivos foram a recuperação do sunismo e o de expulsão dos Cruzados da Síria. Um ano antes de morrer conseguiu reduzir o Reino de Jerusalém a uma faixa litorânea desde Jaffa a Antióquia. 1175 – O imperador Manuel I, após trocas de embaixadas com o doge de Veneza, negociou tratado de paz, visto que houve uma aproximação entre venezianos e o imperador alemão, Frederico Barba Ruiva, e com o rei Guilherme II da Sicília (os venezianos não tinham esquecido as perseguições anteriores feitas por Manuel I). – Neste ano, mais uma ofensiva interna do imperador contra a estrutura agrária dos mosteiros e sua utilização de mão de obra camponesa: negou ao Mosteiro de Patmos o privilégio que tinha de estabelecer em suas terras quantos camponeses quisesse. 1176 - No início deste ano, na Anatólia, o sultão de Rum, Kilij Arslan II se negou a entregar ao imperador bizantino Manuel I Comneno as conquistas feitas aos Danichmenditas, iniciando-se, assim um novo conflito entre eles. Manuel I preparou as fortalezas de Dorileia (importante para acesso terrestre para o leste da Anatólia) e de Sublaion para sua ofensiva sobre as tropas do sultão. O exército comandado por Andrônico Vatatzés caminhando para Amasia, sofreu uma emboscada e ele foi morto. Manuel I continuou a incursão objetivando tomar a capital turca (Konia), passando por desfiladeiros cobertos de florestas, onde foi emboscado próximo da fortaleza de Myrioképhalon, ocorrendo a Batalha de Myrioképhalon (nas proximidades do Lago Beysehir) em 17 de setembro, onde sofreu derrota fragorosa. Esta batalha, como o desastre de Manzikert (em 1071), deixaram o Império Bizantino debilitado, fortalecendo a presença turca na Anatólia. Manuel I foi forçado a assinar um tratado com o sultão de Iconium (ou Konia), Kilij Arslan II. ---- Logo no início de agosto, o novo rei de Jerusalém, Balduíno IV, o Leproso, venceu Turan Shah (irmão de Saladino), atabegue de Damasco, na planície de Bekaa. ---- Neste ano, Raimundo III, conde Trípoli, saiu de Giblet, passou pelo Líbano (na altura de Moinetre) e chegou ao norte do vale de Bekaa e executou saques na área adjacente a Baalbek. ---- Morreu o historiador e secretário (‘grammatikos’) do imperador Manuel I chamado Kinnanos.1177 – O imperador Manuel I mandou emissários ao Reino de Jerusalém para que o rei Balduíno IV, o Leproso (tendo ao seu lado o conselheiro

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Raimundo de Trípoli) homologasse o tratado feito anteriormente pelo seu pai. A frota naval que tinha sido enviada para invadir o Egito, aportou em S. João d’Acre. O seu comando foi oferecido a Filipe I da Alsácia (em novembro, foi convidado por Balduíno a representá-lo em Jerusalém, visto que foi guerrear contra Saladino), este recusou; sendo o comando entregue ao aventureiro Reinaldo de Chatillon. Os barões e o rei de Jerusalém (que, em princípio, eram favoráveis à missão daquela frota naval) não apreciaram tal situação, malogrando totalmente o convite à aliança e o objetivo da frota bizantina. ---- Durante este ano, o imperador não respeitou o acordo realizado com o sultão Kilij Arslan II após sua derrota em Myriokefalon. Assim, este sultão mandou tropas ao território imperial para exigir o cumprimento do acordo. O imperador, por sua vez, mandou tropas comandadas pelo seu sobrinho, João Vatatzes, auxiliadas por outras chefiadas por Miguel Aspietes e Constantino Dukas. Os turcos, ao atravessarem o rio Meandro, foram emboscados e derrotados na Batalha de Hyelion e Leimocheir pelos bizantinos. 1178 – As igrejas da Terra Santa tiveram generosas subvenções do imperador bizantino: como manifestação desta generosidade, na Basílica de Belém há mosaicos com seu nome, em vez do rei de Jerusalém. ---- Territórios Danichmenditas (no centro da Ásia Menor) foram anexados pelo Sultanato de Rum (com Kilij Arslan II), selando o fim da Dinastia dos Danichmenditas de Malatia (cujos governantes adotavam o título de emir, sendo Nasir ad-Din Muhammad o último deles).1179 – Em março se reuniu o III Concílio de Latrão, ao qual o imperador mandou emissários solicitando ajuda na luta contra os muçulmanos, sem nenhuma ressonância entre os bispos lá reunidos. Neste concílio se estabeleceu a interdição de pagar pela administração de sacramentos, além de proibir torneios e de fornecer armas aos muçulmanos (sob pena de excomunhão) entre outras determinações. Em 10 de junho, na Batalha de Marj Ayun (ou Marjayun, que significa ‘terra da fonte’, no Líbano), Saladino saiu-se vitorioso, aprisionou Odon de Saint-Amand (que morreu preso cerca de um ano depois); no combate morreu o condestável Onfroy II de Toron (que salvou a vida de Balduíno IV); os que puderam fugir, foram para a Fortaleza de Beaufort (perto de Tiro). No verão, Saladino assediou uma fortaleza (a de Chastelet) junto ao rio Jordão no chamado ‘vau do Jacó’ (em posição estratégica dominando a planície fértil do Banias). Balduíno IV foi para lá, auxiliado por forças dos Templários (sob Odon de Saint-Amand) e de Trípoli, mas foi vencido, sendo destruída esta fortaleza em 29 de agosto. ---- Em outubro, Saladino mandou frota naval que atacou os portos do Acre e Tiro, do Reino de Jerusalém. ---- Manuel I esteve presente financeiramente na ajuda ao papa Alexandre III que venceu e prendeu, em setembro, em Camerino o arcebispo de Mogúncia, Cristiano. Durante o pontificado deste papa (1159 a 1181) se nomearam 3 antipapas. 1180 – Em fevereiro, o filho do marquês italiano Guilherme V de Montferrat (a quem Manuel I doou feudos por sua luta contra Frederico I Barba Ruiva na Itália) chamado Rainier (rei da Tessalônica) veio à capital bizantina para se casar com Maria Porfirogeneta (filha do imperador); feito isto, recebeu o título de César. —Em 2 de março, foi a vez do príncipe Aleixo, só com 11 anos, associado ao trono, de se casar com a filha do rei capetíngio Luís VII (sobrinho de Guilherme de Montferrat), Agnes de França. Neste mês, o imperador mandou delegação à Roma (papa Alexandre III) para mostrar as condições da passagem da cruzada do rei francês Luís VII no império: ter um cardeal agregado à expedição, devolver cidades pertencentes ao império que fossem resgatadas aos muçulmanos. ---- Em maio, foi negociada uma trégua de 2 anos entre o sultão Saladino e o rei Balduíno IV de Jerusalém, mais por causa da seca que assolou a região, se correndo o risco de desabastecimento das cidades. A trégua foi rompida, no entanto,em 1181, pelo ex-príncipe de Antióquia, o aventureiro Reinaldo de Chatillon, que possuía o Krac de Moab (Querac) e Montreal (Chaubac), e, assim, tinha posição privilegiada no caminho entre a Síria e o Egito; ele atacou e assaltou uma caravana comercial árabe que ia para Meca, despertando reação negativa entre os muçulmanos. Saladino reclamou junto ao rei Balduíno IV, mas este não tomou nenhuma iniciativa. ---- Saladino tentou um ataque contra Antióquia (governado por Raimundo III) antes de proceder a um acordo semelhante com Raimundo III. Nesta ocasião, o templário Arnaldo de Torroja, Rogério de Moulins (grão-mestre Hospitalários) e Heráclio (um padre semi-analfabeto e vaidoso) foram para a Itália, França e Império Romano Germânico para pedir ajuda financeira aos Estados Latinos do Oriente. ---- Em julho, Andrônico Comneno, caído em desgraça pelo imperador, foi à capital pedir perdão ao mesmo, se ajoelhou aos seus pés e prometeu ser fiel ao seu filho Aleixo. O imperador o mandou para uma cidade junto ao Mar Negro; foi daí que saiu para usurpar o trono cerca de 2 anos depois. --- Em 24 de setembro morreu doente Manuel I Comneno, sendo sucedido pelo filho Aleixo; sua morte selou o fim da hegemonia dos Bálcãs pelos bizantinos. 1180 (24 de setembro) a 1183 (24 de setembro) - Reinado de Aleixo II Comneno (sobrinho de Manuel I), tendo como regente sua mãe Maria de Antióquia (de setembro de 1180 a abril de 1182). Seria regente enquanto durasse a menoridade do filho, a partir daí deveria se tornar monja. Ela não era benquista pelo povo, pela nobreza e pelos príncipes da família imperial por sua origem estrangeira. Este curto reinado foi sobressaltado pelos confrontos entre dois grupos: o dos nobres tradicionalistas (ao lado de Maria, filha do imperador Manuel I e contando com a participação do clero e do povo) e do governo apoiado pelos estrangeiros e ricos.1180 (continuação) – Tentativa fracassada de golpe de Estado pela princesa porfirogeneta Maria Comneno e seu esposo Rainier de Montferrat, que acabaram se refugiando na Igreja de S. Sofia, pois não se sentiam seguros na corte palaciana. – O sultão Qiliç (ou Kilij) Arslan II (de Rum), se aproveitando da situação sucessória em Bizâncio, se aliou com o sultão Saladino e conquistou o litoral sul da Anatólia.1180 a 1204 – Período de decadência política e econômica do Império Bizantino.1181 – Em julho deste ano a regente prometeu afastar Aleixo II, mas não cumpriu seu intento. O césar Rainier de Montferrat e Maria Comneno voltaram ao palácio. Pretextando fidelidade ao imperador, Andrônico Comneno (primo de Manuel I Comneno) mandou uma carta de protesto ao imperador e ao patriarca, reclamando da situação de balbúrdia no interior do palácio e do excesso de poder ao césar Rainier. ---- Neste ano: Shems ad-Dawla Turan Shah (irmão de Saladino e emir do Iêmen) morreu ao invadir o Egito, em Alexandria. Saladino colocou em seu lugar no Iêmen outro irmão Saif al-Ishim Tughgtebin. ---- Rompimento da trégua anterior pelo ex-príncipe de Antióquia, Reinaldo, cometendo ato inominável de saquear caravana de Meca, despertando ira pan-islâmica.1182 - Na primavera, Andrônico Comneno se revoltou contra o menino-imperador Aleixo II, foi com suas tropas até Nicomédia, onde derrotou outro Andrônico (Anjo) na Batalha da Nicomédia e daí continuou até Calcedônia. Aleixo II mandou uma frota contra ele, sob o comando do megaduque Kontostefanos, que aderiu a Andrônico Comneno. Este ingressou na capital em setembro, mandou coroar Aleixo II como imperador na Igreja de S. Sofia, bem como ordenou o envenenamento de Maria Comneno e Rainier de Montferrat ( levando a família deste a se colocar de novo ao lado de Frederico Barba Ruiva na Itália) e obrigou o imperador assinar a sentença de morte de sua mãe Maria de Antioquia (por suposta relação de conluio com o rei da Hungria). ---- Em mais uma empreitada militar, agora punitiva contra Reinaldo de Chatillon (senhor de Além-Jordão, cuja capital era Montreal), Saladino saiu do Cairo (11 de maio), chegou a Damasco (22 de junho), em julho invadiu as terras daquele aventureiro (Samaria e Galiléia), saqueando os arredores de Baisan, Jenin e Acre. Os francos vieram atacá-lo, dando-se o embate na Batalha de Belvoir (entre Belvoir e Forbelet), sem resultado positivo para ambos os lados (em julho). Depois disso, Saladino tentou romper a ligação entre o Condado de Trípoli e o Reino de Jerusalém tomando Beirute (na fronteira entre os dois Estados francos) e atacando a fronteira entre o Egito e o Reino de Jerusalém, em agosto. Em manobra diversionista para atrair Saladino, o rei Balduíno IV e Raimundo de Trípoli atacaram as proximidades de Damasco, em outubro.—No final do ano, durante o inverno, o aventureiro Reinaldo de Chatillon mandou galeras (que estavam no Mar Morto) retalhadas e levadas para Eilat (no Golfo de Acaba), onde foram montadas e singraram o Mar Vermelho, promovendo verdadeiras ações de pirataria (saques de navios e peregrinos), desembarcando em Rabigh para uma incursão sobre a cidade santa de Meca, no caminho pilhou peregrinos muçulmanos.1183 - Em janeiro, Reinaldo de Chatillon voltou para suas terras, carregado de saques. Seus companheiros (desembarcados em Rabigh, no litoral da Arábia) continuaram os assaltos e se dirigiram para Meca com o objetivo funesto de ir à Meca para roubar o corpo de Maomé, o Profeta. Al-Adel, irmão de Saladino, mandou navios para capturar estes bandidos; eles foram levados para Meca e decapitados em público em maio. ---- Ainda em maio, o sultão Saladino estava diante de Alepo, cuja população se mantinha irredutível como das vezes anteriores. Ardilosamente, o sultão corrompeu os assessores do emir Imad ad-Din, que avaramente não pagou os defensores da cidade, mas se dispôs a conversar com Saladino, entregando-lhe Alepo (em junho), mas recebendo as fortalezas de Sinjar, Raqqa, Saruj e Nisibin e deixando a cidade com seu patrimônio. O emir de Mossul se tornou vassalo de Saladino. Unificando a Síria, Saladino fechou o cerco aos Estados Latinos do Oriente. A partir daí Saladino foi sultão de Alepo (já era de Damasco) e sua dinastia (a dos Aiúbidas) governou até 1260. ---- Em novembro, Saladino comandou incursões sobre as terras de Reinaldo de Chatillon, chegando a cercar a Fortaleza de Kerak (Krac de Moab), a que abandonou com a intervenção do rei Balduíno IV. ---- Em setembro, em

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Niceia estourou uma rebelião atiçada pelos filhos de Andrônico (Isaac e Teodoro, que fugiram da Palestina), levando seu pai,Andrônico, que estava na Cidade Imperial, se proclamar co-imperador e mandou prender Maria de Antioquia, que foi estrangulada na prisão; destituiu todos os altos funcionários do palácio; o patriarca Teodósio (por se recusar a realizar o casamento entre uma bastarda do usurpador com um bastardo de Manuel I) foi substituído por Basílio Kamateros, que lhe era favorável. Em 24 de setembro, o imperador Aleixo II Comneno foi estrangulado enquanto dormia e seu corpo jogado no mar (no Estreito de Bósforo).1183 (setembro) a 1185 - Governo do usurpador Andrônico I. Reinou tumultuadamente com as finanças do império em crise, desvalorização monetária e diminuição dos tributos para camponeses (despertando ira da aristocracia). Procurou lutar contra nobreza fundiária, que representava um perigo para a estabilidade política do império. Ele, um imperador senil, se casou com a viúva de Aleixo II chamada Agnes, com apenas 10 anos de idade.1183 (continuação) – O patriarca Basílio Kamateros coroou, em setembro, Andrônico na igreja de S. Sofia. --- O sultão seldjúcida de Rum, Kilij Arslan II se aproveitou da turbulência política gerada com a usurpação de Andrônico I para assegurar o controle do litoral meridional da Anatólia e se apoderou de Cotyaeum (hoje Kutaya) e Sozópolis antes de realizar um acordo de paz com Isaac II (3 anos depois). ---- Isaac Dukas Comneno, que se rebelara contra o tirânico imperador bizantino Andrônico Comneno, se valendo de cartas falsas, se declarou autônomo governador de Chipre, independente de Constantinopla. ---- Em novembro, Saladino comandou incursões sobre as terras de Reinaldo de Chatillon, chegando a cercar a Fortaleza de Kerak (Krac de Moab), a que abandonou com a intervenção do rei Balduíno IV. ---- Em 20 de novembro, foi coroado rei de Jerusalém, o menino Balduíno V (cujo tio, Balduíno IV, estava cada vez mais tomado pela lepra), tendo como tutor o Conde de Edessa, Joscelino (Juscelino) III, seu avô e senescal do reino. Na mesma cerimônia foi nomeado bailio do reino, Raimundo de Trípoli. No reino foram criados impostos para aumentar a arrecadação fiscal, a fim de prover os gastos militares.1183 a 1190 - Se aproveitando da virulência interna e instabilidade em Constantinopla, o rei Estêvão (da Dinastia sérvia dos Nemânidas) conquistou a Dalmácia, Herzegovina, Montenegro e a Sérvia danubiana.1184 – Na primavera, Andrônico I sufocou impiedosamente as revoltas eclodidas em cidades importantes da Ásia Menor. Também iniciou conversações diplomáticas com os venezianos no intuito de firmar um pacto contra os normandos, na primavera. Como Isaac Comneno, também Gabras em Trebizonda, os grandes latifundiários feudais (Cantacuzenos, Branas, Sguros) se tornavam praticamente autônomos em relação ao poder central; a desmoralização chegou até nos mosteiros; a carga fiscal era pesada e massacrante. Para se vingar de Isaac Comneno, Andrônico I mandou prender seus parentes. Semeou o terror na capital, tornando-se odiado pela população. --- Em 30 de setembro morreu o grão-mestre dos Templários, Arnoldo Torrojas, sendo escolhido como sucessor o senescal desta ordem em Jerusalém, Geraldo de Ridefort. ---- Em 29 de outubro, uma ameaça começou a pairar sobre o Império Bizantino: seus inimigos europeus, o Reino da Sicília e o Sacro Império Romano Germânico, se aproximaram diplomaticamente com o noivado do príncipe Henrique (filho de Frederico I Barba Ruiva), futuro imperador Henrique VI, com a princesa Constança de Hauteville (filha póstuma de Rogério II, herdeira do Reino da Sicília). O casamento ocorreu dois anos depois. – Isaac Comneno (primo do imperador-usurpador Andrônico), governador de Tarso (na Cilícia) se apoderou de Chipre e aí se outorgou o título de basileus. Conseguiu repelir uma frota naval bizantina,com a ajuda do rei normando da Sicília, Guilherme II de Hauteville. Como Andrônico I não podia atingí-lo diretamente, se vingou dele castigando os seus parentes que estavam em Constantinopla. ---- Ao morrer Jorge III, rei da Geórgia, subiu ao trono Tâmara I, que governou até 1213. Sob seu reinado a Geórgia teve crescimento territorial (desde Trebizonda no Mar Negro ao Mar Cáspio e do Cáucaso ao Azerbaijão) e cultural.1185 - Em 15 de março faleceu o rei Balduíno IV de Jerusalém, com 25 anos de idade, corroído pela lepra. Foi sucedido por Balduíno V, com apenas 7 anos de idade, filho de Sibila (irmã do imperador falecido) e Guilherme de Montferrat (Conde de Jaffa e Ascalão). Teve como tutor Raimundo III de Poitiers. Seu reinado foi curto : morreu em S. João d’Acre em agosto de 1186, ocorrendo mais disputas sucessórias. ---- Início do II Reino búlgaro, tendo à frente a Dinastia dos Assênidas, criada por Pedro e João Assen, que anexaram a Valáquia e retomaram a Bulgária do Norte. –--- Andrônico I, demonstrando seu desapreço pelos europeus, ensaiou um tratado com o sultão Saladino para partilhar os Estados Latinos do Oriente e ainda ajudá-lo a conquistar a Palestina. Não foi bem sucedido visto que o sultão fizera uma trégua neste ano com os francos, rompida em 1187. ---- Guilherme II de Hauteville, o Bom, rei da Sicília, partiu desta ilha em 11 de junho, se assenhoreou de Durazzo (no Adriático, em 24/6, importante por ser ponto inicial da Via Egnatia, caminho terrestre que chegava à Constantinopla), seguiu por esta estrada e chegou diante de Tessalônica (segunda cidade mais importante do império), onde se encontrou com sua frota naval em 15 de agosto; cercou esta cidade e 9 dias depois se apoderou dela e a saqueou. Tal notícia causou ansiedade no poder central em Constantinopla. – Em 15 de agosto, a rainha da Geórgia, Tâmara, consagrou a famosa Igreja da ‘Dormição de Teotokos’ (‘Morte de Maria, Mãe de Jesus’) na cidade caverna de Vardzia. Revolta em Constantinopla, se escolhendo novo imperador (Isaac II Anjo), em 11/12 de setembro, forçando a fuga do imperador Andrônico I, que foi capturado na saída do Bósforo para o Mar Negro (pensando em fugir para a Crimeia) e levado de volta para a capital, onde foi despedaçado vivo pela população. 1185 (12 de setembro) a 1195 - Reinado de Isaac II Anjo. Segundo o historiador Charles Diehl, seu governo apressou a decadência política do império.1185 (continuação) – A iniciativa imediata do novo imperador foi a de afastar a ameaça normada (então comandada por Ricardo de Acera e Balduíno) que estavam no Mar de Mármara (na ilha dos Príncipes) e sua armada que pilhava a Trácia. A expedição imperial, sob o comando de Aleixo Branas, os derrotou na Batalha de Demetritzes (ou Demechissar, ou ainda Dimitri sobre o Strimon na Macedônia, hoje chamada de Sidirokastro), em 7 de novembro, forçando-os a voltar para a Sicília, mas se apoderando de Zante e da Cefalônia neste retorno. ---- Movimento separatista de Teodoro Maniafas em formar um Estado em Filadélfia e Lídia; foi expulso pelo duque Basílio Vatatzés e ele se refugiou no Sultanato de Rum, onde conseguiu recursos para invadir e pilhar províncias bizantinas. --- O imperador incumbiu ao seu tio Teodoro Kastamonites a administração do tesouro imperial; este agiu insaciavelmente na cobrança de impostos, provocando revoltas no império. ---- O sultão Kilij Arslan II negociou um tratado de paz com Isaac II Anjo. ---- O general Aleixo Branas, após repelir rebeldes búlgaros em invadir a Grécia, tentou usurpar o trono.1185 a 1204 - Dinastia dos Ângelos ou Anjos - foi uma fugaz e última dinastia do império como um Estado só, visto que em 1204 ele se esfacelou em três partes sob a ação militar dos venezianos à frente da IV Cruzada (criando o Império Latino do Oriente, tendo a capital em Constantinopla).1185-1187 – Desde setembro ou novembro de 1185, se prolongando até 1187, estouraram rebeliões dos búlgaros, sérvios e valáquios contra a esmagadora carga fiscal imposta a eles pelo tio do imperador. Os bizantinos colecionaram derrotas sobre derrotas em expedições militares para sufocar tais revoltas.1186 – Em setembro, morreu Balduíno V (suspeita-se por envenenamento feito por Raimundo III de Poitiers, que pretendia ser rei e tinha entrado em entendimentos com Saladino através de emissários). Conforme o desejo de Balduíno IV o seu sucessor deveria ser escolhido por indicação conjunta dos reis da Inglaterra e França, além do papa e do imperador germânico. Na prática, porém, por falta de sucessor na linha masculina, o trono foi ocupado por Sibila (irmã de Balduíno IV), esposa do inoperante Guy (Gualtério) de Lusignan, sem a concordância dos barões, mas com apoio de Reinaldo de Chatillon (feudatário da Transjordânia) e do grão-mestre Templário, Geraldo de Ridefort. Foi coroada pelo então patriarca de Jerusalém, Heráclio (padre semi-analfabeto que fora amante de sua mãe). Revoltado com tudo isto, Raimundo III de Poitiers pediu a cobertura de Saladino à sua aspiração. ---- Neste ano: Foi cobrado um tributo especial sobre os proprietários de rebanhos com o objetivo de cobrir as despesas de casamento do imperador com a princesa húngara, Margarida (filha de Bela III), com o qual fez acordo de aliança militar contra os búlgaros e sérvios. Tal tributo causou uma rebelião de pastores valáquios dos Bálcãs; daí se espalhou pelo baixo vale do Danúbio (sob o comando dos búlgaros João e Pedro Assen, de Tirnovo) e pela Valáquia. Eles se aliaram com o ‘jupan’ (príncipe) sérvio Estêvão Nemânia e com os polovicianos, tendo como centro a cidade de Tirnovo, em cuja igreja de S. Demétrio, Pedro Assen recebeu o título de tsar, inaugurando a Dinastia dos Assênidas, que governou até 1258, e organizando o II Reino Búlgaro. – Uma frota naval bizantina foi enviada para Chipre (onde Isaac Comneno tinha se proclamado imperador), mas sofreu derrota fragorosa diante da frota siciliana mandada pelo rei Guilherme II (para dar apoio a Isaac Comneno), que estava sob o comando de Margaritone, que recebeu do rei siciliano, como prêmio, Zante e Cefalônia, no Mar Adriático.

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1186-1187 – O imperador mandou 4 expedições contra os búlgaros, conseguindo impedí-los de invadir a Trácia. 1187 -. Em 1 de maio, os Templários (com Geraldo de Ridefort) e Hospitalários (com Rogério de Moulins) foram derrotados por Saladino na Batalha de Cresson (onde tinham parado para se dessedentar numa fonte), perto de Nazaré. ---- O rei Guy (Guido) de Lusignan de Jerusalém não atendeu aos conselhos de Raimundo III de Poitiers, nem de Reinaldo de Chatillon e Geraldo de Ridefort, indo ao encontro das forças de Saladino (que tinha atravessado o rio Jordão em 1 de julho, em Sennabra). O rei franco parou suas tropas em Lubiya (perto de Tiberíades) para se dessedentar, mas o poço d’água estava seco; foi, então, para o planalto dos Cornos de Hattin (de onde se via o exército de Saladino). ---- Em 4 de julho, o exército franco (praticamente exaurido pela sede) foi massacrado na Batalha de Hattin (perto de Tiberias), sendo aprisionado o rei Guido (levado para Damasco), o seu irmão Amauri, além de Humphrey (Onfroi) de Toron e Reinaldo de Chatillon (tão insolente que Saladino decepou-lhe a cabeça com sua espada). Os cavaleiros templários foram todos decapitados Com esta vitória avassaladora, Saladino demoliu a Síria franca. Depois tomou Acre (em 10 de julho), Sayda ou Sidon (em 29 de julho), Beirute (6 de agosto), Ascalão (4 de setembro). 16 dias depois, Saladino estava cercando Jerusalém (com ajuda até de Isaac Comneno, governador de Chipre). Em 2 de outubro (data de comemoração da visita de Maomé, o Profeta, ao céu) Saladino conquistou Jerusalém; aí o sultão teve uma grande visão de estadista (incomum naquela época): deixou que os cristãos da cidade saíssem da cidade e não destruiu o Santo Sepulcro (sendo por isto chamado de ‘Cavaleiro do Islam’). A Igreja dos Templários se tornou a Mesquita de Al-Aqsa. A cruz situada no topo da Cúpula da Rocha foi arrastada e golpeada por 2 dias pela cidade. O Reino de Jerusalém ficou reduzido somente ao litoral a partir daí (apenas tendo Tiro como cidade principal); do Principado de Antióquia ficaram apenas Antióquia e o castelo de Marcab; do Condado de Trípoli ficou apenas sua capital Trípoli, além do Krac dos Cavaleiros e Tortosa. --- A queda de Jerusalém gerou comoção na Europa Cristã: em 29 de outubro, o papa Gregório VIII expediu bula conclamando a uma III Cruzada. ---- No verão deste ano, o arcebispo de Tiro, Josias, chegou a Palermo, na Sicília, levando a notícia da queda de Jerusalém diante de Saladino. O rei da Sicília, Guilherme II ficou tão indignado que se vestiu de estopa por 4 dias de penitência e depois mandou uma esquadra de 50 galeras para ajudar os Estados Francos do Oriente. ----Em novembro, Saladino cercou Tiro no litoral, que foi defendida valentemente por Boemundo e pelo cruzado aportado aí recentemente, o marquês Conrado de Montferrat. --- Neste ano: O ‘grande jupan’ Estevão Nemânia, da Sérvia, antes amarrado a promessas ao imperador Manuel I, além de apoiar a revolta dos valáquios e búlgaros, se aliou neste ano ao rei Bela III (da Hungria) e conseguiu tomar a cidade de Nish e a região entre a Diocléia (Montenegro) e a Dalmácia (até a foz do rio Cattaro), a fim de abrir caminho terrestre até o litoral do Adriático. ---- O general Aleixo Branas (Vranas), em segunda tentativa de usurpar o poder, atacou Constantinopla,que foi defendida por Conrado de Montferrat, ferindo o general, cuja cabeça foi cortada e levada ao Palácio Imperial onde foi tratada como uma bola de futebol.1187 a 1219 - Leão II, o Grande, conseguiu do imperador Henrique VI de Hohenstaufen e do papa Celestino III a elevação do Principado de Armênia ao ‘status’ de reino.1188 – No primeiro dia do ano, Saladino abandonou o cerco de Tiro, que se tornou centro de resistência dos cristãos. ---- No final de maio, Saladino esteve próximo do Krac dos Cavaleiros (entre Homs e Trípoli), mas passou adiante, seguindo para Tortosa, que foi saqueada (mas não conseguiu tomar a cidadela dos Templários aí). Nesta ocasião, chegou uma frota naval comandada pelo Almirante Margaritus de Brindisi (mandada pelo rei Guilherme II da Sicília), que salvou Trípoli do assédio feito por Saladino. ---- Os valáquios e búlgaros se aproveitaram da sedição do general Aleixo Branas para invadir a Trácia, mas foram repelidos daí durante a primavera por Isaac II Anjo; e tiveram que deixar o produto do seu saque na região e ainda foram perseguidos até a planície de Sofia. Aí o imperador bizantino entrou em acordo com eles, concedendo-lhes a área entre o Baixo Danúbio e os Bálcãs. – Em 27 de março, o imperador alemão Frederico I Barba Ruiva notificou Isaac II Anjo de que iria atravessar o Império Bizantino em sua cruzada. Em função disto, em setembro, foi assinado um acordo em Nuremberg pelo qual Isaac II concordava com esta passagem dos alemães pelo seu território, desde que não houvessem violências. Algumas semanas depois, no entanto, o imperador bizantino rompeu o acordo e entrou em entendimentos com Saladino. ---- Em julho, Saladino foi vencido em Valania (no condado de Trípoli) pelos Hospitalários; depois libertou Guy de Lusignan (do reino de ‘Jerusalém’), mediante a promessa (não cumprida) de não combater mais os muçulmanos. Saladino, no final de julho, se apoderou de Saone e dos portos de Djabala e Lataquia (do Principado de Antióquia); em agosto, neste principado, se apoderou de Bourdieu e Bakas Shork; em setembro, ainda neste principado, foi a vez de Gaston. ---- Na Inglaterra (sob os Plantagenetas) e parcialmente na França (sob os Capetíngios) se cobrou da população o chamado ‘dízimo de Saladino’, para financiar nova cruzada. 1189 – Em janeiro, os reis Henrique II da Inglaterra e Filipe II da França, começaram a reunir seus exércitos para a III Cruzada. ---- No final de junho, as forças imperiais alemãs comandadas por Frederico I Barba Ruiva começaram a entrar em território bizantino, onde encontraram, entretanto, dificuldades de toda sorte (falta de víveres, estradas interditadas e prisão dos embaixadores em Constantinopla). Em meados de agosto tiveram que enfrentar obstáculos criados pelas forças bizantinas. Diante destas circunstâncias adversas impostas por Isaac II Anjo, o imperador Frederico I saqueou a Trácia para forçar a liberação dos seus embaixadores em Constantinopla, o que foi feito em meados de outubro. Os embaixadores relataram os maus tratos sofridos na capital bizantina e a aliança entre Isaac II e Saladino. Tomando consciência desta situação, Frederico I se dirigiu a Andrinopla ( tomada em 22 de novembro), depois de ter vencido forças bizantinas em Didimótica. ---- No final de agosto, Guy de Lusignan (ajudado por saxões, frísios, daneses, flamengos e franceses) e Geraldo de Ridefort (e seus templários) iniciaram o cerco de Acre, sendo por sua vez sitiado por Saladino numa verdadeira guerra de trincheiras que durou 2 anos. ---- Saladino soube, em outubro, que o imperador alemão Frederico I Barba Ruiva chegara ao território bizantino com poderoso exército; em função dessa notícia, ele conclamou, mais uma vez, os muçulmanos a uma guerra santa contra os cristãos. Sua ação militar se fez sentir na conquista dos castelos de Montreal e Kerak (no vale do Jordão), pertencentes aos cruzados. 1189 a 1192 - III Cruzada com os 3 reis mais importantes da Europa: o plantageneta Ricardo Coração de Leão, o imperador alemão Frederico I Barba Ruiva e o rei capetíngio Filipe II Augusto. Nesta expedição figuravam noruegueses e dinamarqueses. As Cruzadas, até então, criaram um efeito multiplicador no comércio marítimo, de que se aproveitaram os genoveses, venezianos, marselheses e pisanos. Os marselheses tinham uma frota comercial tão grande que puderam transportar todo o exército de Ricardo Coração de Leão.1190 – Na primavera se travou a Batalha de Tryavna (no centro da Bulgária), em que as tropas bizantinas, com Isaac II, ao atravessarem um desfiladeiro, foram emboscados pelas tropas búlgaras, comandados por Ivan Assen, jogando-lhes pedras e flechas, descontrolando-os em fuga. Os búlgaros conseguiram como despojo de guerra o tesouro imperial ( como o capacete de ouro do imperador e um relicário, também de ouro, onde estava uma lasca da suposta cruz em que Jesus Cristo foi crucificado). --- Em fevereiro, Frederico I queimou Berrhoe e Filipópolis (hoje chamada de Plovdiv) e se apoderou de fortalezas bizantinas na Macedônia Oriental e Trácia; fez acordo com o rei sérvio Estêvão Nemânia e os Assênidas da Bulgária. Em 14 de fevereiro, o imperador Isaac II teve que assinar o Tratado de Andrinopla, eliminando todas as adversidades impostas por ele aos cruzados do imperador Frederico I Barba Ruiva. Este imperador chegou a Galípoli (final de março), passou pelos temas (províncias) bizantinos da Lígia e Frígia, invadiu o Sultanato de Rum (se apoderando de sua capital Konia, em 18-20 de maio) e assinou um tratado de paz com o sultão Qilidj Arslan II. Enviou emissários ao Principado de Antióquia avisando de sua chegada, preocupando os armênios da Cilícia (Pequena Armênia) que pediram a Saladino que lhes desse cobertura contra a invasão do imperador. Seu plano de invadir a Síria fracassou de modo inusitado: ele se afogou no rio Selef, ao pé do Monte Taurus (na Cilícia), em 10 de junho. Seu exército desarvorado se dispersou e apenas algumas centenas deles estiveram com Frederico de Suábia no cerco do Acre. ---- Os outros dois reis, Filipe Augusto e Ricardo I não tiveram relações amistosas desde que partiram de Vezelay (na França) em 4 de julho. --- Em 19 de dezembro, durante o cerco de Acre, foram ordenados pelo patriarca de Jerusalém os 40 primeiros cavaleiros da Ordem dos Monges Teutônicos. ---- Neste ano, Isaac II Anjo venceu o sérvio Estêvão Nemânia no rio Morava (Batalha do Morava, no sul da Sérvia), forçando-o a se retirar para montanhas próximas; os bizantinos continuaram sua campanha queimando até o Tribunal Real da Sérvia em Kursumlija. Para concluir, foi negociado um acordo de paz com Estevão Nemânia, que foi obrigado a devolver os lugares recentemente conquistados por ele a Bizâncio, mas mantendo os anteriores. O segundo filho deste rei sérvio se casou com uma sobrinha de Isaac II Anjo chamada Eudóxia Angelina e recebeu o título de 'sebastokrator' (superior ao de 'césar' e equivalente ao de 'augusto'). Por este acordo, o Principado da Sérvia ficou sob a vassalagem de Bizâncio até 1345. 1191 – O rei Filipe Augusto desembarcou no porto do Acre em 20 de abril. – Na ilha de Chipre, houve uma rebelião dos bizantinos contra os

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Templários, em 5 de maio. --- Ricardo I Coração de Leão, devido a tempestades, chegou na Ilha de Chipre em 6 de maio, conquistando-a em 21 de maio com a vitória em Tremitussia sobre os bizantinos (dos quais recebera mau tratamento antes, em sua passagem por Constantinopla), anexando a ilha em 6 de junho. Neste mês ainda, o rei Ricardo I Coração de Leão transferiu a ilha para Guido de Lusignan (antipatizado em Jerusalém por causa da derrota de Hatin), que facilitou a imigração dos francos que saíram de Jerusalém com a conquista de Saladino. Com esta medida neutralizou o papel dos bizantinos na ilha. Com ele iniciou-se a Dinastia dos Lusignan na ilha, que governou até 1489, quando caiu sob os otomanos. --- Em 12 de julho, os dois reis, já reunidos, se apoderaram de S. João d’Acre a Saladino; mas nesta luta morreu o grão mestre dos Templários, Geraldo de Ridefort, sendo sucedido por Roberto IV de Sable. Em face de novos desentendimentos com Ricardo I, Filipe Augusto retornou ao seu reino na França em 2 de agosto, mas suas tropas ficaram à disposição dos cruzados. Nesta ocasião, o imperador bizantino, em correspondência com Saladino, propôs-lhe uma aliança para atacar Chipre. --- Em 22 de agosto, Ricardo I tomou Haifa a Saladino; prosseguiu o caminho litorâneo (acompanha por uma esquadra no Mediterrâneo) e em 7 de setembro, venceu (junto com as Ordens dos Cavaleiros do Hospital e dos Templários) o sultão na Batalha de Arsuf (no litoral, ao sul de S. João d’Acre); logo após iniciando negociações com ele. Nesta batalha, o rei inglês perdeu seu cavalo; Saladino mandou dois de seus cavalos árabes para ele. --- Neste ano, Isaac Anjo cercou Tirnovo, mas teve que desistir de tomá-la pela iminente invasão dos polovicianos. ---1192 – De janeiro a abril, Ricardo Coração de Leão fortificou Ascalão antes de ir para Gaza. --- Em 28 de abril, em Jerusalém, Conrado de Montferrat (casado com a Princesa Isabel) foi assassinado por dois ismaelianos Nizaritas (Assassinos), quando estava para ser proclamado rei de Jerusalém. Os barões francos do reino (agora tendo a capital em Acre) escolheram para sucedê-lo a Henrique II de Champagne, nobre francês sobrinho de Ricardo Coração de Leão, e o fizeram casar com a viúva Princesa Isabel (que era a herdeira final do reino), reinando este até 1197. --- Em abril, os Templários sufocaram violentamente uma revolta em Nicósia (Chipre) pela alta carga fiscal imposta aos cipriotas. Concluindo que não podiam se manter na ilha mesmo com a vitória em Nicósia, os Templários abandonaram a ilha (que foi governada por Guido de Lusignan, nomeado por Ricardo Coração de Leão). ---- Nos dias 1 e 5 de agosto, Ricardo Coração de Leão obteve vitórias em Jaffa, mas não teve sucesso em Jerusalém. --- Em 26 de agosto, ao falecer o sultão turco seldjúcida de Rum Qilij Arslan II, o sultanato foi palco de guerra civil entre os seus 12 filhos, disputando o trono, saindo vitorioso Kay Khusraw I. --- Quase um ano depois da vitória em Arsuf, Ricardo I Coração de Leão assinou, em 2 de setembro, em Ramla, uma trégua com Saladino por 3 anos, pelo qual este ficou com o interior (tendo os cristãos o direito de peregrinar em Jerusalém) e Ascalon; enquanto o litoral palestino de Tiro a Jafa ficou sob o controle dos cruzados (seria o ‘reino de Jerusalém’ sem a posse de fato de Jerusalém até 1291). Durante estes entendimentos para o acordo, foi veiculada a proposta de casamento de Joana da Inglaterra (irmã de Ricardo I) com o irmão de Saladino (Al-Adel), mas a proposta não foi adiante. Os garantidores sob juramento deste acordo foram os grãos mestres dos Templários e Hospitalários, Henrique de Champagne e Balião de Ibelin (senhor do castelo neste local entre Jafa e Ascalon). ---- Em 9 de outubro, o rei inglês, estafado pelos conflitos e preocupado com urdiduras entre o rei francês Filipe Augusto (seu inimigo) e o seu irmão João Sem Terra, se decidiu retornar para a Inglaterra. --- Em 3 de novembro, o sultão Saladino chegou a Damasco. --- Em novembro, o comércio de Veneza foi prejudicado em virtude de facilidades obtidas por Gênova e Pisa no Império Bizantino. ---- Neste ano, houve o sequestro dos embaixadores que o sultão Saladino mandou para entrevistar o imperador bizantino, por ordem do genovês Guilherme Grasso. ---- A partir deste ano, a arquitetura em estilo gótico se difundiu na ilha de Chipre.1192 a 1499 – Reino da Dinastia dos Lusignan em Chipre, iniciada com Guy (Guido) de Lusignan (que governou até 1194), que assentou a ilha em bases feudais, distribuindo feudos a muitos cavaleiros da Terra Santa.1193 – Neste ano: Constantino Anjo (primo do imperador), governador de Filipópolis, conseguiu evitar que os búlgaros invadissem a Trácia; envaidecido por isto se deu o direito de ser proclamado imperador pelos seus soldados, mas foi vencido em Adrianópolis (Andrinopla) e cegado. – Foi escolhido como doge de Veneza Henrique Dandolo, adepto da idéia de conquista do Império Bizantino, diante do mau conceito firmado por este com o mau tratamento aos cruzados. – Foi preso Teodoro Mancafas (que se pretendeu ser imperador na cidade de Filadélfia e todo o entorno do tema dos Trácios) após ser vencido pelo general Basílio Vatatzes.1194 – No início do ano, Tancredo de Lecce (rei da Sicília) e seu filho Rogério V, duque da Apúlia (casado com a filha de Isaac II chamada Irene) morreram. Sucedeu-o Guilherme III de Hauteville, que foi o último rei normando da Sicília e sucumbiu diante do imperador germânico Henrique VI, o Cruel, que foi coroado rei em Palermo (no Natal) e começou a empreender o plano de conquistar o Império Bizantino e reconquistar a Península Balcânica aos búlgaros. --- Em abril, em Chipre, morreu Guido de Lusignan, sendo sucedido por Amauri II que governou até 1205. ---- Na primavera, o rei de ‘Jerusalém’, Henrique II de Champagne, fez um acordo com Sinan, mestre dos Nizaritas (Assassinos) na fortaleza de Al-Khaf. --- Neste ano: Acabou a Dinastia seldjúcida da Pérsia, restando apenas a de Rum, que fizera inúmeras incursões em território bizantino. ---- Navios bizantinos que estavam no porto de Abidos (Estreito de Dardanelos) foram atacados por uma esquadra de Pisa. --- Ocorreu o conflito entre o príncipe da Armênia, Leão II, e Boemundo II, príncipe de Antióquia, na fronteira por causa do Castelo de Bagras, aí sediado. A situação se resolveu por acordo matrimonial dos filhos de ambos. 1194-1195 – Os Assênidas da Bulgária saquearam a Trácia e venceram 2 armadas imperiais, próximo de Arcadiópolis (a leste de Filipópolis, na cidade hoje chamada de Lülleburgaz) sobre Basílio Vatatzés (morto durante o conflito) e Aleixo Gidos (foi obrigado a fugir). O imperador bizantino pediu ajuda a Bela III, rei da Hungria (seu genro). Na primavera de 1195, planejou iniciar sua campanha militar, quando, então, ocorreu um complô contra ele liderado pelo seu irmão Aleixo e outros parentes ‘hostis e sem fé’ (como Teodoro Branas), que o depôs, o cegou e o jogou num calabouço, em 8 de abril. 1194 a 1463 – Existência do Condado de Cefalônia e Zante por conquista de Guilherme II da Sicília, passando depois à Dinastia capetíngia de Anjou-Sicília e aos comerciantes venezianos da família dos Tocco.1195 - Em 8 de abril, Aleixo III destronou e cegou o seu irmão Isaac II, cujo filho (que seria o sucessor) Aleixo IV fugiu para Veneza e pediu a ajuda do doge (realizada com a IV Cruzada).1195 (8 de abril) a 1204 – Reino de Aleixo III Anjo Comneno. Quem na verdade governou foi sua esposa Eufrosina Dukas e seu favorito Constantino Mesopotamitas. Editou uma lei importante contra a venalidade dos cargos.1195 (continuação) – Logo após seu advento ao trono, Aleixo III propôs um acordo de paz com o tzar João Assen I do II Reino Búlgaro, este não aceitou; o imperador, retaliando, mandou o generalíssimo Isaac (seu genro) para combater o rei assênida, mas foi derrotado e preso próximo de Anfípolis (na foz do rio Strimon, na Macedônia Oriental). ---- Em outubro, o rei de Chipre, Amauri II de Lusignan mandou uma embaixada ao imperador alemão Henrique VI, o Cruel para obter o título de rei de Chipre. 1196 – Em 20 de fevereiro, foi instaurada uma hierarquia eclesiástica latina paralela à bizantina em Chipre, por bula do papa Celestino III, a pedido do rei Amauri. Obviamente, os bens fundiários e os doados ao clero latino foram preservados. ---- O nobre búlgaro Ivanko (assassino do rei João Assen I influenciado pelo genro do imperador bizantino, Isaac) se apoderou de Tirnovo, mas foi cercado por Pedro Assen (que tinha se associado ao trono de seu irmão Johannitza, ou João, que esteve preso em Constantinopla durante o governo de Isaac II e odiava os bizantinos). Houve duas tentativas frustradas do imperador mandando expedições de socorro a Ivanko, que conseguir escapar ao cerco e foi para Constantinopla, onde Aleixo III o designou governador de Filipópolis. --- No fim deste ano, o imperador alemão Henrique VI enviou um ultimato a Aleixo III exigindo o pagamento de elevado tributo e a organização de uma frota naval para dar suporte à cruzada alemã que iria para a Palestina guerrear contra Saladino. --- Ainda no fim deste ano, o imperador Aleixo III propôs ao sultão de Rum a devolução de Teodoro Mangafas (Branas?), sob promessa de que sua vida seria poupada. O sultão consentiu e Teodoro foi solto (provavelmente em 1204).1197 - Ascensão ao trono búlgaro de João II Assen (Johannitzas ou Kalojean, ou ainda João, o Bom), grande inimigo de Bizâncio, que governou até 1207 - Em setembro, um chanceler de Henrique VI (imperador da Alemanha e rei da Sicília) coroou Amauri de Lusignan como rei de Chipre, na Catedral de Nicósia (capital desta ilha), que reconheceu sua suserania. --- Em 10 de setembro morreu, em Chipre, Henrique de Champagne acidentalmente (caiu de uma janela de seu palácio na capital do reino de ‘Jerusalém’, a cidade do Acre); os barões passaram o trono ao rei de Chipre, Amauri II de Lusignan (coroado no outono em Nicósia, capital da ilha, pelo chanceler imperial alemão Conrado de Hildesheim). ---- O imperador Henrique VI mandou expedição para reconquistar Jerusalém, sob o comando do Duque de Brabante; em 23 de outubro, se retomaram Beirute e Sidon

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(renovando, pois, o contato terrestre entre Acre e Trípoli), comandados por Amauri II de Lusignan e continuaram seu roteiro para Jerusalém, mas tiveram que cercar Toron (26 de novembro a 2 de fevereiro de 1198). Ao saberem da morte de Henrique VI em Messina (na Sicília, em 28 de setembro), esta expedição retornou em março de 1198. --- Neste ano, o emir de Ancira (ou Angora, hoje chamada de Ancara) conquistou a cidade de Dadibra (no tema da Paflagônia) e expulsou seus habitantes para povoá-la com turcos. --- No Sultanato de Rum, Kay Khusraw II foi destronado por seu irmão Sulayman II e buscou guarida em Damasco, depois na capital bizantina.1198 – Em 6 de janeiro, Leão II foi coroado rei da Armênia por um cardeal alemão, portanto fora da órbita de poder da igreja de Constantinopla e se colocando sob a proteção do imperador Frederico II. --- Ainda neste mês, o novo e teocrático papa Inocêncio III começou a pregar nova cruzada (a quarta) para livrar Jerusalém dos muçulmanos. --- Amauri II de Lusignan, a partir de janeiro, começou a governar o reino de ‘Jerusalém’ (já era rei de Chipre desde o ano anterior), depois que se casou com Isabel de Jerusalém. --- Em 2 de fevereiro, os cruzados alemães abandonaram o assédio a Toron e retornaram para a Europa em março, por causa da morte do imperador. --- Em 5 de março, uma assembléia reunida em S. João d’Acre transformou a Ordem dos Cavaleiros Teutônicos em força militar. ---- Em 14 de julho, o príncipe Boemundo I de Antióquia concedeu privilégios comerciais aos genoveses e lhes permitiu a construção da Igreja de S João no local. ---- Em novembro, mais uma vez os venezianos conseguiram ampliar seus direitos comerciais no império. ---- Neste ano: A sobrinha de Aleixo III se casou com Filipe de Suábia (irmão de Henrique VI) que se tornou imperador de 1198 a 1208; este último continuou, no entanto, a política anti-bizantina de seu irmão e foi um dos inspiradores do desvio de objetivo da IV Cruzada. --- O nobre búlgaro Dobromir Strez (Crisos de Nicetas), com 500 guerreiros, passou para o lado dos bizantinos: o imperador Aleixo III premiou este mercenário como governador de Strumitza (na Macedônia). --- Kay-Khosraw, governante do Sultanato de Rum, se apropriou de dois cavalos árabes que Saladino tinha presenteado ao imperador Aleixo III; este retaliou, prendendo comerciantes que exerciam suas atividades com Iconium (capital daquele sultanato). Kay-Khosraw não deixou sem resposta esta retaliação bizantina: saqueou todo o vale do Meandro na Anatólia (sem encontrar nenhuma resistência). ---- O genovês Gafforio atacou e pilhou o porto de Edremit (ou Adramyttion, no Golfo de Edremit, em cuja entrada está a ilha de Lesbos), derrotou um pirata da Calábria a serviço de Bizâncio mandado contra ele e ainda capturou uma esquadra bizantina em Sestos (em Galípoli). Por tudo isto, Aleixo III fez um acordo com este genovês, após o qual contratou uma esquadra de Pisa que o atacou, tomou a frota de Gafforio e o matou.1199 –O traidor e mercenário búlgaro Dobromir Strez se declarou independente de Bizâncio e conquistou áreas próximas a Strumitza. Como o imperador Aleixo III não conseguiu subjugá-lo, ofereceu-lhe uma de suas sobrinhas como esposa e concedeu–lhe a Alta Macedônia (no alto vale do Vardar). --- O conde francês Teobaldo III de Champagne foi nomeado chefe da IV Cruzada. --- Em março deste ano, o imperador entrou em entendimentos com os genoveses, que culminaram com a paz entre ambos e a recuperação de tudo o que lhes pertencia (em outubro de 1201). O mesmo foi feito com os venezianos (pedindo reparações pelo massacre de 1182) e os pisanos. --- Neste ano, o papa Inocêncio III incumbiu o padre Folco (da paróquia de Neilly) de continuar a pregação da IV Cruzada, mas não teve ressonância seu apelo por causa dos problemas de relacionamento entre o rei Filipe Augusto (da França) e João Sem Terra (da Inglaterra), além da Reconquista Cristã (na Península Ibérica contra os muçulmanos).1199-1200 – Os kumanos (ou polovicianos) fizeram incursões e saques na Trácia, com a passividade militar dos bizantinos; pretenderam, mesmo, atacar a capital bizantina, se não fosse uma derrota infligida a eles pelo príncipe russo Halicz, na Galícia, teriam chegado à capital bizantina. 1199 a 1375 – Reino da Pequena Armênia na Cilícia, tendo como primeiro governante Leão II, o Magnífico, da Dinastia Rubeniana (em 6 de janeiro). Foi ele que obteve do papa Inocêncio III e do imperador alemão Henrique VI o título de rei, tornando-se autônomo em relação ao Império Bizantino e ligado ao Oriente latino (casou-se com Isabel de Antióquia e Sibila de Lusignan).1200 – O búlgaro desertor Ivanko, em março, se revoltou contra Bizâncio; a expedição enviada contra ele foi exterminada. O imperador Aleixo III, ardilosamente, o convidou para uma entrevista e prometeu-lhe uma série de benefícios; ao vir para a entrevista em Constantinopla foi preso. Ao se encerrar este século, se calcula que as áreas centrais do Império Bizantino apresentavam menor população relativa que na primeira metade do século VI. O Império Bizantino, no final deste século, estava sendo assediado por incursões dos normandos e húngaros; os turcos avançaram mais ainda sobre a Ásia Menor. Por outro lado, se deterioram as relações com o Ocidente com o massacre de latinos em Constantinopla (em 1182) e, 3 anos mais tarde, dos bizantinos pelos normandos. Internamente, o império estava sendo sacudido por revoltas e golpes de Estado.

SÉCULO XIII Foi neste século que se realizou a maior parte das Cruzadas ocidentais, tidas por historiadores muçulmanos como a primeira manifestação

do colonialismo europeu, sobretudo da França capetíngia, bem como do colonialismo econômico de Veneza e Gênova. Deste colonialismo nada restou na Idade Moderna, visto que tinha mais caráter administrativo que colonialista de fato. Elas, entretanto, colocaram em contato o

Oriente com o Ocidente através do Mar Mediterrâneo. Há estimativas demográficas de que o Império Bizantino neste século teria cerca de 5.000.000 de habitantes. A conquista de Constantinopla pela IV Cruzada marcou o início do Período pós-bizantino, ou Império Bizantino Tardio, que durou até o seu fim (em 1453), sob os otomanos. A partir daí, apenas o Império de Nicéia se chamou de bizantino, por manter a capital em Constantinopla.1201 – Em maio, morreu o conde Teobaldo III de Champanhe; elegeu-se, então, para a chefia da IV Cruzada o marquês Bonifácio I de Montferrat (em 14/9), que planejava restituir o trono a Isaac II Anjo. --- Kalojean (ou João II Assen), novo rei da Bulgária, invadiu a Alta Macedônia (colocando em fuga o trânsfuga e mercenário búlgaro Dobromir); em 23 de março conquistou o porto de Varna (no Mar Negro) e massacrou seus habitantes. Mais uma vez, o fraco imperador-usurpador Aleixo III teve que reconhecer as conquistas de Kalojean (do Mar Negro ao vale do Vardar), através de tratado. Pouco depois, Kalojean conseguiu do papa Inocêncio III o título de rei e a formação de uma igreja nacional. --- Aleixo III, em 12 de outubro, determinou novas regalias financeiras aos comerciantes genoveses. ---- Em 31 de julho ocorreu um breve golpe de Estado, protagonizado pelo nobre João Comneno, o Gordo, abortado no mesmo dia e este nobre sendo decapitado. ---- No dia de Natal, o novo chefe da cruzada (Bonifácio I de Montferrat) se encontrou com o novo imperador alemão Filipe de Suábia em Haguenau (na Alsácia). --- Neste ano, a IV Cruzada fez um acordo com os venezianos, desvirtuando-a da finalidade das anteriores: ficou subordinada aos interesses econômico-financeiros de Veneza. ---- O príncipe Aleixo (que seria Aleixo IV) escapou da prisão e se dirigiu para a Europa a fim de pedir ajuda para destronar Aleixo III. ---- Como Raimundo III de Trípoli adotara uma criança da casa de Antióquia, se efetivou, neste ano, o governo dos dois Estados francos nas mãos de Boemundo IV de Antióquia (que já governava Trípoli desde 1189).1202 – Em 13 de maio, Veneza formalizou acordo comercial com o vice-rei aiúbida do Egito, Al Kamel, pelo qual seus navios mercantes tinham acesso a portos importantes egípcios como Damieta e Alexandria, sob promessa de que não daria cobertura à qualquer expedição ocidental contra o sultanato. Por outro lado, a despeito deste acordo, fez outro com os ocidentais para transportar os cruzados mediante pagamento. ---- Em agosto, iniciaram-se as primeiras negociações de Aleixo, o Jovem, filho de Isaac II Anjo com os cruzados e com o imperador alemão Filipe de Suábia, tendo como intermediário Bonifácio I de Montferrat para tratar da restauração do seu poder em Bizâncio. ---- Em 27 de julho ocorreu a Batalha de Basian, na qual tropas georgianas comandadas por Davi Soslan (esposo da rainha Tâmara) impuseram derrota aos turcos seldjúcidas de Rum (sob a chefia de Rukn ad-Din Süleymanshah II). ---- Veneza impôs aos cruzados a tomada de Zara (hoje chamada de Zadar, na Croácia, porto no litoral do Adriático), de 13 a 24 de novembro. Foi o primeiro sintoma do ‘desvio’ de objetivo da IV Cruzada (em vez de ir ao Oriente para lutar contra os muçulmanos foi para conquistar Constantinopla). 1202-1204 – IV Cruzada constituída de franceses, lombardos, flamengos, alemães e normandos e custeada por Veneza. Foi organizada pelo papa teocrático Inocêncio III e pregada na França por Folco de Neuilly. Foi uma cruzada mais comercial que religiosa. A burguesia veneziana financiou seu transporte, daí partiu de Zara (hoje Zadar, na Croácia, conquistada em novembro), no Mar Adriático e foi para Constantinopla.1203 – Em janeiro, Aleixo, o Jovem foi à Zara para tratar do retorno de seu pai ao trono de Bizâncio, comprometendo-se ao pagamento do auxílio dos

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cruzados, além se vincular novamente com o papado e de colaborar com a conquista dos Lugares Santos aos muçulmanos, além de unificar a igreja de Constantinopla com a de Roma. --- Em abril, a armada estava em Corfu, onde Aleixo, o Jovem foi proclamado imperador bizantino sob o nome de Aleixo IV. Em 23 de junho, a esquadra estava em S. Estevão, no Mar de Mármara. Cerco por terra e por mar e tomada de Constantinopla, ultrapassando pela primeira vez a Muralha de Teodósio. Aleixo III, sem possibilidade de combater os cruzados, fugiu (de 23/6 a 17/7) de navio com o tesouro real. Antes de sua deposição morreu o nobre Aleixo Paleólogo, seu irmão. --- Em 6 de julho foi tomada a fortaleza de Gálata; de 11 a 17 deste mês, ocorreu o primeiro cerco da cidade; no dia 18 a cidade caiu nas mãos dos cruzados. Subiu ao poder novamente Isaac II Anjo Comneno, associando ao trono seu filho Aleixo IV (em 1/8). Este não pagou aos cruzados o que foi prometido em Zara e foi derrubado (em 25/1/1204). --- Instabilidade na capital por revoltas populares e entre barões das cruzadas e o imperador. Liderando uma das revoltas estava um parente do imperador, Aleixo Dukas. 1204 - Em 25 de janeiro, eclodiu uma revolta dos bizantinos contra os europeus ocidentais e seus apaniguados, derrubando Aleixo IV e ensejando a Aleixo Dukas tomar o poder de 5 de fevereiro a 12 de abril deste ano sob o nome de Aleixo V Dukas ‘Murzufle’ (‘Sobrancelhas cerradas’), exatamente no período do segundo e último cerco imposto à Constantinopla. Prendeu Isaac II (que morreu na prisão) e mandou estrangular Aleixo IV (8 de fevereiro) . Se recusando a pagar aos cruzados, estes tomaram a capital, pilharam igrejas, palácios e monumentos (de 9 a 12/4). ---- Em 12 de março se assinou um tratado de partilha do império entre os cruzados e o doge Henrique Dandolo. ---- Em 13 de abril, fugiu o efêmero imperador bizantino Aleixo V Dukas para a Trácia; sendo eleito (mas não tomando posse) o genro de Aleixo III, Teodoro Láscaris, que fugiu para Bursa e depois Niceia, ajudado pelo sultão de Konia, Kay Khosraw. Aí em Niceia fundou novo império englobando a Bitínia, Frígia, Lídia e os arquipélagos. A capital, vazia sem poder, foi saqueada pelos cruzados de 13 a 15 de abril. O Império Bizantino foi desmembrado: a) Despotado do Épiro (para Miguel Anjo Comneno); b) Reino de Tessalônica (a Bonifácio de Montserrat); c) Moreia franca-Ducado de Atenas (Othon de la Roche); d) Jônia (aos venezianos). ---- Em 16 de maio, criou-se o Império Latino do Oriente, tendo como capital Constantinopla, sendo escolhido como governante Balduíno I (que era Balduíno IX de Flandres), sendo alijado o outro pretendente Bonifácio de Montferrat (que teve como compensação o Reino de Tessalônica, isto é, a Macedônia, no outono, e se casou com a viúva de Isaac II, Margarida de Hungria). ---- Em setembro, o rei Amauri (sem a ajuda dos cruzados que tinham tomado Constantinopla) ficou sem meios de recuperar Jerusalém; desta forma foi forçado a solicitar ao sultão Al-Adel para renovar a trégua por mais 6 anos. ---- Kalojean teve reconhecidas todas as suas conquistas e se intrometeu na questão sucessória da Sérvia dos Nemânidas, se apoderando de Belgrado, Nish e Braniceno. Em 8 de novembro, foi coroado como tzar da Bulgária e Valáquia pelo legado do papa Inocêncio III na catedral de Tirnovo (a coroa foi mandada pelo papa, revelando o seu prestígio); no dia anterior, foi sagrado o patriarca da Bulgária, completamente separado da igreja de Constantinopla. ---- Em novembro, Aleixo V foi executado (antes ele pedira, sem sucesso, a ajuda militar do sultão Solimão, de Rum). ---- Em 6 de dezembro, Teodoro Láscaris foi derrotado por Luís de Blois em Poimanenon (na Mísia). ---- A partir deste ano, o doge de Veneza Henrique Dandolo se tornou déspota de Constantinopla e se proclamou ‘senhor de ¼ e meio do império grego’. Como despojos de guerra, partes do império foram concedidas, como Rodes (a Leão Gabalas), as cidades de Filadélfia (a Mankafas), de Argos e Corinto (a Leão Sguros).

1204-1205 – Os Hospitalários novamente entraram em confronto com o emir de Hama, Malek al-Mansur, fazendo incursão e devastando a região até o rio Orontes, perto de Hama. Enquanto eles se dirigiam contra Homs, outro grupo de Hospitalários (de Margat e do Krac) junto com tropas de Trípoli fizeram incursão contra Djibal e Lataquia (então, sob os muçulmanos). O governador de Alepo, Malek Zahir Ghazy, mandou tropas, sob o comando de Mubariz ad Din Akdja para cercar Margat; mas ele morreu por uma flechada, resultando em fracasso a operação militar. --- Foi também neste período de 2 anos que o Sultanato de Rum foi governado por Kilij Arslan III.1204 a 1205 – O bizantino Teodoro Branas passou para o lado dos latinos, estes lhe concederam, como prêmio, a cidade de Neápolis (Apros), que foi conquistada no verão de 1206 por Kalojean. Neste período Aleixo Aspietas e outras famílias bizantinas procuraram, sem sucesso, partilhar um poder autônomo em relação aos búlgaros e latinos na área compreendida entre Andrinopla e Filipópolis (na Trácia) até o litoral do Mar Egeu. 1204 a 1222 - Teodoro I Láscaris, imperador de Niceia. Os francos tentaram, sem sucesso, retirá-lo do trono no fim de 1204 e de 1206.1204 a 1261 – Império Latino do Oriente (tendo como capital a cidade de

Constantinopla). Este império esteve tutelado o tempo todo por Veneza sob o ponto de vista comercial e naval. Depois da autoridade do imperador vinha a do podestade (como que um cônsul) veneziano. Enquanto Veneza gozava de franquias alfandegárias, Pisa e Gênova tinham que pagar altas tarifas aduaneiras.1204 a 1453 - PERÍODO DESIGNADO SOB O NOME DE PÓS-BIZANTINO PELOS HISTORIADORES (ou de Império Bizantino Tardio). 1204 a 1461 – Dinastia Comneno do Império de Trebizonda, criado por Aleixo e Davi Comneno. Aleixo I foi o primeiro imperador de Trebizonda, no Ponto, no litoral meridional do Mar Negro.1205 - Na primavera, os barões francos, à frente o historiador e cavaleiro Godofredo de Vilaharduíno (Geoffroi de Villehardouin) ee Guilherme de Champlitte se lançaram em campanha militar para conquistar Moréia; se apoderaram de Methoni (com o auxílio de João Cantacuzeno) e se defrontaram perto de Koroni (na Messênia), na chamada Batalha de Kunduros, com o governador bizantino do Peloponeso, Miguel Comneno (Miguel Anjo Comneno Dukas) e Miguel Cantacuzeno que, embora mais numerosos, foram vencidos pelos barões francos. Miguel Comneno fugiu para o Épiro onde criou o despotado do mesmo nome. ---- Se aproveitando da situação caótica em Constantinopla, o imperador bizantino Constantino XI Láscaris atacou o líder cruzado (e futuro imperador latino) Henrique I de Hainaut (Flandres) em seu acampamento em Adramítion, mas não resistiu à cavalaria latina e foi derrotado em 19 de março (na chamada Batalha de Adramítion, atual Edremit), sendo provavelmente ferido e morreu. ---- Grande vitória do tzar búlgaro Kalojean (desprezado pelos ocidentais, mas bem acolhido pelos bizantinos revoltados, que pediram sua ajuda em janeiro) em Andrinopla (em 14/4) diante de Balduíno I, aí aprisionado, morrendo na prisão. Este último foi sucedido pelo seu irmão Henrique de Hainaut, primeiro como regente e depois como imperador em 1206. ---- Neste ano: Devolução de Sidon pelo sultão aiúbida Malic al-Adid em trégua assinada com Amauri I de Lusignan, rei de ‘Jerusalém’ (restrito ao litoral). ---- Teodoro Láscaris se saiu vitorioso sobre Davi Comneno (irmão do imperador de Trebizonda), que pretendia se apoderar de Nicomédia, bem como de Manuel Maurozomes (que pretendia organizar um governo autônomo na Frígia). ---- O antigo Império Bizantino ficou dividido, entre outros Estados, em 4 principais: o Império Latino do Oriente (de 1204 a 1261) e 3 bizantinos, sendo 2 impérios (de Niceia e de Trebizonda) e um despotado (o de Épiro, sob Miguel I Anjo Comneno; o despotado durou até 1391); destes o que mais durou foi o de Trebizonda (até 1461). Os historiadores chamam o Império Latino de România; considera-se como bizantino o Império de Niceia porque seu primeiro imperador Teodoro de Láscaris era genro de Aleixo III e desde 1261 foi reconquistada Constantinopla. 1205 a 1207 – Os barões francos Geoffroi de Villeharduin e Guilherme de Champlitte e seus cavaleiros se apoderaram do Peloponeso (chamado pelos francos de Moreia) em 1205. ---- Neste mesmo período, o veneziano Marco Sanudo conquistou o Arquipélago das Cíclades (no Mar Egeu), desalojando piratas genoveses que tinham como foco a ilha de Naxos (deste arquipélago). Aí se formou o Ducado de Naxos. --- Neste período o rei Kalojean promoveu várias incursões devastadoras na Macedônia, como vingança pela crueldade de Basílio II, se proclamando ‘Romaioctone’, isto é, ‘matador de Romanos’. Ele morreu em 1207, provavelmente assassinado.

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1205 a 1210 – No Sultanato de Rum, Kay Khosraw I reassumiu o poder (perdendo-o Kilij Arslan III) e perseguiu a meta de restaurar a unidade política do sultanato. Enquanto o imperador bizantino instalou a capital em Niceia, o sultão de Rum procurou estabilizar a sua fronteira oriental através de acordo com os Artukidas de Kharput e de Mardin e também com o Aiúbidas de Alepo; desembaraçado nesta fronteira, voltou-se à expansão territorial para a fronteira ocidental, em território bizantino.1205 a 1318 - Miguel Anjo Comneno, tio de Isaac II e Aleixo III, se tornou Déspota do Épiro; os Anjos formaram uma dinastia reinante aí (até 1318) e no Reino de Tessalônica (de 1222 a 1430). O despotado ia desde o Golfo de Lepanto até Durazzo (no Mar Adriático).1205 a 1429 - Principado de Moreia ou Aqueia (na Grécia) surgido pela ocupação do Peloponeso pelos irmãos Champlitte (Guilherme, Luís e Eudes, que eram de Champagne, na França). 1205 a 1458 – Ducado de Atenas surgido pela ocupação da península da Ática (onde se situa Atenas) e a cidade de Tebas por Oto de La Roche (do Franco Condado), formando a Dinastia dos La Roche, que aí governou até 1311; o Partenon se tornou uma igreja católica.1205 a 1669 – A ilha de Creta (pertencente ao Império Bizantino) esteve sob o domínio dos venezianos.1206 – Nos 3 últimos dias de janeiro travou-se o confronto em Rhusion (nas proximidades de Rodosto, hoje Tekirdag) entre os búlgaros (com seus aliados cumanos) e os latinos; coube a vitória aos primeiros, que chegaram a ameaçar Constantinopla. ---- Em abril, Guilherme de Champlitte, partiu de Corinto venceu Miguel Comneno em Kato Aqueia (próximo de Patras), finalizando a conquista do Principado de Moreia. Teve habilidade política para se articular com a nobreza local e se aliar com Veneza. ---- Teodoro Láscaris, genro de Aleixo III, proclamado imperador de Niceia, mas só foi coroado em 1208 como Teodoro I de Láscaris. – Em junho, Henrique I de Hainaut e Flandres (novo governante do Império Latino do Oriente) retomou Andrinopla aos búlgaros, que foram obrigados a recuar até Burgas. --- No fim do ano, os francos tentaram desalojar Teodoro I de Láscaris de Niceia, só conseguindo se apoderar parcialmente da Bitínia.---- Os venezianos e Teodoro Branas assinaram um tratado comercial em agosto, em que os primeiros receberam direitos comerciais em cidades (como Andrinopla) cedidas como feudos.1206 a 1216 – Governo de Henrique I de Hainaut e Flandres no Império Latino do Oriente.1206 a 1261 – Dinastia dos Lascaridas governou o Império bizantino de Niceia.1207 - Em fevereiro, ocorreu a aliança entre Teodoro I Láscaris, Kalojean e o pirata calabrês João Stirion, que resultou na tomada de Cízica e se impediu que Henrique I de Flandres pudesse enfrentar os búlgaros que estavam atacando Andrinopla. Em maio/junho foi assinada uma trégua de 2 anos entre os imperadores Teodoro I de Láscaris e Henrique I. --- Em outubro, quando Kalojean tentava tomar Tessalônica, foi assassinado. Seus filhos João (que o sucederia) e Alexandre se refugiaram na Rússia, enquanto o poder foi usurpado por Boril, que governou até 1218. ---- Teodoro I, neste ano, invadiu o Reino de Tessalônica, se aproveitando de sua instabilidade política (onde morreu Bonifácio I de Montferrat, sendo sucedido por Demétrio, seu filho). Por outro lado, o sultão Kay Khusraw de Rum cercou e se apoderou da cidade de Antalia (ou Atalia), a mais importante do Império de Niceia. ---- Os Aiúbidas colocaram um termo final à Dinastia dos Shah Arman (um dos beylicados ou principados da Armênia-Geórgia). 1207 a 1566 – Ducado de Naxos (no arquipélago das Cíclades, tendo como centro a ilha de Naxos). Foi governado pela Dinastia dos Sanudos (venezianos) até 1383.1208 - Em abril, Teodoro I Láscaris foi coroado ‘basileus’ na catedral de Niceia pelo novo patriarca e na presença de vários bispos e se declarou o continuador da tradição imperial bizantina. --- Henrique I de Flandres (e Hainaut), imperador latino, em 30 de julho, venceu os búlgaros em Filipópolis (no alto vale do rio Maritza) em represália à morte do rei de Tessalônica (Bonifácio I de Montferrat); depois conquistou a Bitínia e a Mísia aos bizantinos de Niceia.1209 a 1470 – A Ilha de Eubeia (Negromonte), na Grécia, esteve sob a suserania de Veneza até a conquista turca otomana.1210 - A rainha de ‘Jerusalém’, Maria de Montferrat, se casou, em 14 de setembro, com o sexagenário Barão de Champagne, João de Brienne, sendo coroados em Tiro em 3 de outubro. ---Em setembro, a trégua de 1204 entre o reino de ‘Jerusalém’ e o sultanato aiúbida do Egito não foi renovado por interferência dos Templários. O sultão al-Adel, então, mandou erigir uma fortaleza no Monte Tabor, muito estratégica pela visão completa da Planície de Acre (capital do reino de ‘Jerusalém’). --- Harmonização de interesses entre o clero ortodoxo e os barões feudais latinos de Constantinopla.---- Godofredo de Villeharduino I (de Moreia) conquistou a Lacônia e a Arcádia e cidadelas de Corinto ao Império Latino do Oriente. --- Guilherme de Champlitte voltou à França para receber a herança de seu irmão; Geoffroi de Villeharduíno ficou primeiro como regente e depois como rei (até 1218).1211 - Em junho, o sultão Kay Khusraw (de Rum) foi vencido e morto na Batalha de Antióquia-no-Meandro pelo imperador bizantino de Niceia, Teodoro I Láscaris. O Sultanato de Rum foi sacudido por disputas sucessórias internas após a morte de Kay Khusraw, emergindo como sultão seu primogênito Kay Kawus I. O imperador bizantino se aproveitou desta circunstância para se apoderar da Caria, Capadócia e Galácia. Em junho, o sultão Kay Khusraw (de Rum) foi vencido e morto na Batalha de Antióquia-no-Meandro pelo imperador bizantino de Niceia, Teodoro I Láscaris. O Sultanato de Rum foi sacudido por disputas sucessórias internas após a morte de Kay Khusraw, emergindo como sultão seu primogênito Kay Kawus I. O imperador bizantino se aproveitou desta circunstância para se apoderar da Caria, Capadócia e Galácia. --- Aleixo III foi preso e internado em mosteiro em Niceia. --- Teodoro I renovou um acordo com os Vlaco-Búlgaros e atacou o Império Latino do Oriente, mas seu imperador, Henrique I de Flandres, os venceu na Batalha do rio Rhyndacus (atual Mustafakemalpasha, no noroeste da Anatólia), em 15 de outubro. Teodoro I foi obrigado a assinar tratado em janeiro de 1212. ---- Em julho, o rei de ‘Jerusalém’, João de Brienne renovou uma trégua com o Sultanato de Rum por um quinquênio; simultaneamente mandou emissários ao papa Inocêncio III, a fim de conseguir auxílio militar para uma ofensiva antimuçulmana que seria lançada no verão de 1217. 1212 – Em janeiro, houve acordo pelo Tratado de Ninféia sobre a divisão de terras entre o Império Latino do Oriente (Henrique I de Hainaut) e Teodoro I Láscaris: este último ficou com Niceia, Brussa e a área entre Esmirna e o porto de Adramyttion; Henrique I, daí deste porto ao sul, além do noroeste da Bitínia (a marca de fronteira passou pela cidade de Kalamos, hoje Gelembe). ----Em 20 de maio estava concluída a construção da Fortaleza do Monte Tabor pelo sultão al-Adel. --- Neste ano: Godofredo I (de Moreia) conquistou Nauplia e Argos (Niceia ficou apenas com o porto de Malvasia, ou Momembasia, no Peloponeso, até 1248). ---- Há referências nebulosas sobre uma ‘cruzada das crianças’ formada na Alemanha e França; na prática sem efeito nenhum, por ser devastada pela fadiga e fome; poucos chegaram ao porto de Marselha (sul da França), naufragando alguns navios morrendo ou sendo vendidos como escravos pelos muçulmanos.1213-1214 – O imperador de Niceia, Teodoro I Láscaris, durante o inverno, atacou o Império de Trebizonda, se apoderando de Amastris e Heracleia, restringindo a soberania dos Comnenos apenas a Sinope, no antigo tema da Paflagônia. – As relações entre Teodoro I Láscaris e o papado (ainda sob o teocrático Inocêncio III) eram boas neste período: o imperador mandou o metropolita de Éfeso para Constantinopla a fim de tratar com o legado papal (o cardeal Pelágio) a união das duas igrejas (mais uma vez sem sucesso desde 1054).1214 – Em novembro, Kay Kawus I capturou o imperador de Trebizonda, Aleixo I, quando estava caçando; mesmo soltando-o, Trebizonda teve que lhe entregar a cidade de Sinope e o imperador se tornou vassalo do sultanato. Desta forma, o seu império passou a ter como limites ocidentais os rios Íris e Termodon. ---- Ao ser assassinado o déspota do Épiro, Miguel I, o trono passou ao seu irmão Teodoro Ducas Anjo, que estava em Constantinopla, onde tinha feito juramento de fidelidade ao imperador Teodoro Láscaris. Ele combateu os francos e manteve a capital em Arta.~1216 - Teodoro Anjo, déspota do Épiro se apoderou de grande parte da Macedônia e Tessália, se aproveitando da fraqueza da Bulgária e do Império Latino de Tessalônica (este caiu sob seu poder em 1222).1216-1217 - Morreu Henrique de Hainaut; seu sucessor, Pedro de Courtenai (Conde de Auxerre) foi sagrado em Roma, mas não chegou lá: foi preso pelo Déspota do Épiro (Teodoro Anjo), quando atravessava a Albânia em sua ida para Constantinopla, morrendo na prisão (1217). O trono do Império Latino ficou com a regente Iolanda de Hainaut ou de Flandres (viúva de Pedro de Courtenay e irmã dos finados Balduíno I e Henrique de Hainaut) até 1220. – Teodoro I de Láscaris, se aproveitou desta situação para tentar entrar pacificamente em Constantinopla: negociou matrimônio dele com uma das filhas de Iolanda de Hainaut.1217 - Em 9 de abril foi coroado Pedro de Courtenay como governante do Império Latino do Oriente, em Roma pelo papa Honório III. ---- No final de agosto, o rei da Hungria, André II e o duque da Áustria, Leopoldo VI, ambos comandando a V Cruzada, embarcaram em Spalato, no Mar

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Adriático; chegaram na capital do reino de ‘Jerusalém’, o porto do Acre, em setembro; se juntaram a eles João de Brienne e o jovem rei de Chipre, Hugo I. De 29 de novembro a 7 de dezembro, ocorreu o fracasso dos cristãos diante da Fortaleza do Monte Tabor defendida pelos aiúbidas.1217 a 1221 – V Cruzada pregada pelo papa Honório III tendo à frente o rei da Hungria André e o duque da Áustria, Leopoldo VI. 1218 – V Cruzada: Em 18 de janeiro, o rei André II retornou para a Europa passando pelo Krac dos Hospitalários e a fortaleza de Margat (estabelecendo para eles uma parte da renda real obtida nas salinas de Szalacs, na Hungria); depois, atravessou a Anatólia com seus soldados carregando relíquias como a cabeça de S. Estevão e um dos jarros das bodas de Caná. Uma parte dos húngaros ficou na Palestina, onde construíram a fortaleza do Castelo Peregrino (junto ao Monte Carmelo). ---- Em 26 de abril chegaram novos reforços (frísios e renanos) a João de Brienne no Acre. Com estes reforços, ele acreditava que ‘as chaves de Jerusalém estavam no Cairo’, isto é, só atacando o Egito é que poderiam resgatar a antiga capital e cidade santa. Assim, em 24 de maio partiram do Acre para atacar Damieta, metrópole oriental egípcia e porto no delta do Nilo, chegando lá 3 dias depois e cercaram este porto. Cinco dias após, morreu de febre o grão-mestre dos Templários, Guilherme de Chartres, sendo sucedido por Pedro de Montaigu. Em 24 de agosto atacaram um forte na entrada do rio Nilo e no dia seguinte conseguiram se apoderar da cidadela de Damieta; no final do mês morreu o sultão al-Adel, passando o governo aiúbida a Malik al-Kamel (Malic al-Camil) como sultão do Egito e da Síria. ---- No outono, chegaram novos reforços de cruzados espanhóis, ingleses, franceses e italianos e do papa Honório III, representado pelo cardeal Pelágio. Diante desta situação, em 9 de outubro, o sultão Malik al-Kamel propôs a troca de Damieta pelo antigo Reino de Jerusalém, com exceção da Transjordânia. O legado papal Pelágio (que substituíra João de Brienne no comando das tropas), no entanto, com sua intransigência não aceitou esta proposta e continuou o cerco a Damieta até 5 de novembro de 1219. ---- Fora das Cruzadas: Em 11 de maio, foi selada a paz entre venezianos e genoveses, em que estes ficaram com os direitos comerciais negociados antes do saque de Constantinopla. ---- Começou a reinar na Bulgária, em continuidade da Dinastia dos Assênidas, João III Assen II, que governou até 1241 e procurou manter alianças com os latinos de Constantinopla contra os bizantinos. 1218 a 1253 - Reino de Chipre sob Henrique I, tendo como regente sua mãe Alix (pois tinha apenas 9 meses). Esta contraiu matrimônio com o príncipe de Antioquia, abandonando Chipre, que foi abalada por conflitos entre os nobres locais, de que a família dos Ibelinos controlou o bailio do reino.1219 – Em 1 de maio, na Armênia, pouco antes de morrer o rei Leão II, a sucessão coube à sua filha Zabel, que, por ter apenas 3 anos de idade, teve como regente Adão de Bagras. O sobrinho de Leão II, Raimundo Rubem de Antióquia não aceitou isto, capturou a cidade de Tarso e se proclamou rei com o auxílio militar dos Hospitalários; o condestável e nobre Constantino, senhor de Lambron, reagiu, vencendo e aprisionando-o. Zabel foi a última governante da Dinastia Rubeniana da Armênia da Cilícia. ---- O Conde de Trípoli, Boemundo IV, interveio em Antióquia em função de um complô contra Raimundo Rubem, tendo à frente Guilherme de Farabel. Raimundo Rubem foi preso e o Principado de Antióquia foi incorporado ao Condado de Trípoli. ---- Em julho, o papa Honório III mandou Francisco de Assis em missão de paz ao Egito, sendo recebido pelo sultão aiúbida Malik al-Kamel, que aceitou até sua pregação entre os muçulmanos. Sua missão se frustrou; retornando à Itália, Francisco de Assis entregou a direção de sua ordem de frades menores para Pedro de Catânia. ---- Em 5 de novembro, Damieta caiu diante das tropas do rei de ‘Jerusalém’, João de Brienne. O Cardeal Pelágio decidiu atacar o Egito na época mais inadequada: a das enchentes do Nilo. Os cruzados marcharam em direção ao Cairo, onde ficaram ilhados, mas a magnanimidade do sultão permitiu-lhes que saíssem desde que entregassem Damieta. O sultão mandou construir a fortaleza de Mansurah para proteger sua capital, Cairo. ---- Neste ano: O imperador bizantino Teodoro I Láscaris e o patriarca Manuel I Sarantenos concederam a independência da Igreja da Sérvia a Sava Nemanjic (filho de Estevão Nemânia), sendo este o primeiro arcebispo local. ---- Pedro de Courtenay, governante do Império Latino do Oriente, preso desde 1217 pelo déspota do Épiro, Teodoro Anjo Comneno Dukas em Salônica, morreu na prisão neste ano. ---- O papa Inocêncio III mandou seu legado, Pelágio, à ilha de Chipre, indo à Nicósia para reforçar a Igreja Latina (em contraponto à bizantina).1220 - No verão deste ano, o sultão aiúbida Malik al-Kamel organizou uma frota a oeste do delta do Nilo (próximo de Alexandria) e arrasou com uma esquadra ocidental no litoral de Chipre. Novamente ele ofereceu a proposta de troca de Damieta por Jerusalém, mas foi rejeitada por Pelágio. 1221 – Zabel da Armênia, em 25 de janeiro, contraiu matrimônio com o jovem Filipe de Poitiers, filho de Boemundo IV e Plaisance de Gibelet, da Antióquia. Como ele quis afrancesar a Armênia e de ligar a igreja local à de Roma, despertou a revolta liderada pelo nobre Constantino e foi executado 5 anos depois. ---- Em fevereiro, Tiflis, na Geórgia (sob o governo do Bagrátida Jorge IV, o Brilhante), caiu sob os lugares-tenentes de Gêngis Khan, os generais Subotai e Djebe (de origem yesut); depois saquearam Maragha (no Azerbaijão) e degolaram sua população (em março), se dirigindo depois para Bagdá. No final de fevereiro, Tolui (filho de Gengis Khan) tomou Merv, em Khorassan, degolando quase toda sua população. --- Em julho, os cruzados receberam novos e insuficientes reforços alemães sob o comando do duque Luís da Baviera (em vez de Frederico II), o cardeal Pelágio (mesmo contrariando a opinião contrária de João de Brienne) resolveu marchar contra a capital aiúbida do Egito, Cairo, na véspera das enchentes do Nilo, visando tomar Al-Mansurah; foram vencidos pelos egípcios porque estavam praticamente atolados em pântanos. O sultão permitiu sua retirada, desde que devolvessem Damieta. Sem outra alternativa, concordaram em 30 de agosto. 1221 a 1240 – Os Templários conseguiram se apoderar de terras pertencentes ao governo aiúbida de Alepo, tendo como ponto de ação Gaston, nos Montes Amanus (na região chamada antes de Aram).1222 – Houve um concílio latino em Famagusta (em Chipre) que determinou a superioridade da igreja latina sobre a grega (as sedes episcopais dos 4 bispos existentes na ilha foram ocupados pelos latinos). Em 11 de maio, esta ilha sofreu um sismo. ---- Teodoro I Láscaris morreu em novembro; tendo apenas filhas, subiu ao trono, em 15 de dezembro, o seu genro João III ‘Vatatzes’ (‘o Misericordioso’, pela sua política favorável aos pequenos proprietários), nobre aparentado aos Dukas e proveniente de Didimótica; governou até 1254. ---- Neste ano: Teodoro Ducas Anjo, déspota do Épiro, conquistou a Tessalônica e a Macedônia ao Império Latino do Oriente (este reduzido apenas ao Corno de Ouro); bem como entrou em conflito com João II Assen (da Bulgária). – No Império de Trebizonda, morreu Aleixo I Comneno (chamado, ‘o Grande’), sendo sucedido por Andrônico I Gidos, seu genro, que governou até 1235. ---- Em S. João d’Acre, capital do Reino de ‘Jerusalém’ houve conflito entre genoveses e pisanos, estes venceram e, assim, genoveses tiveram que abandonar o porto. 1222 (5 de dezembro) a 1254 (3 de novembro) – Reinado de João III Dukas Vatatzés, o Misericordioso, no Império bizantino de Niceia. No início de seu governo, este império era um arremedo: na verdade era um minúsculo reino que abrangia apenas as antigas províncias romanas no oeste da Península da Anatólia. Transformou este império numa potência regional. Sua ascensão ao poder foi contestada pelos irmãos de Teodoro I, Aleixo e Isaac, que solicitaram a ajuda militar de Roberto de Courtenay, do Império Latino do Oriente.1223 - Demétrio de Montferrat (rei de Tessalônica) solicitou ao papa Honório III para intervir junto a Teodoro Anjo por sua conquista anterior de Tessalônica, mas o papa não teve nenhum êxito com suas censuras em relação a ele. Além disso, pressionou o arcebispo de Ochrida a coroá-lo basileus e os bispos do despotado em sua capital como libertador do ‘jugo latino e búlgaro’, gerando protestos do imperador João Vatatzés e dos bispos de Niceia.1224 - No início do ano, o fraco imperador latino, Roberto de Courtenay perdeu para João III Vatatzés de Niceia a cidade de Andrinopla, depois da derrota na Batalha de Poimanenon (ou Poemanenum, na Cilícia); além disso, este último se apoderou da Península de Troade (oeste da Anatólia) e as ilhas de Lesbos, Samos e Kios; aprisionou na batalha os irmãos Isaac e Aleixo Láscaris, que foram cegados. ---- As tropas latinas foram também derrotadas em Serrés (norte da Grécia) por Teodoro Ducas Anjo, que anexou esta localidade ao seu despotado do Épiro. Em dezembro: Teodoro Dukas (meio irmão de Miguel I Dukas)k déspota do Épiro se apoderou de Tessalônica (então sob o domínio do rei latino Demétrio de Montferrat).1225 - Em 9 de novembro, a princesa Iolanda de Jerusalém, filha de João de Brienne, se casou com o imperador alemão Frederico II na catedral de Bríndisi (na Itália). O objetivo político do casamento era atrair este imperador para a causa cruzadística. --- Neste ano: Teodoro Ducas Anjo do Épiro conquistou Durazzo e Corfu (no Adriático) aos venezianos; além de Xanteia, Didimótica (na Trácia), a Roberto de Courtenay e Andrinopla de João III Vatatzés.--- Na iminência do ataque epirota à Constantinopla, Roberto de Courtenay se aproximou de João III Vatatzés e aceitou suas conquistas. 1226 a 1269 – Hetum I, filho do nobre Constantino de Lambron, se casou com Zabel (ou Isabel) de Armênia e exerceu o reinado aí neste período. Enquanto a rainha Isabel é considerada a última da Dinastia dos Rupenidas, Hetum I é considerado o primeiro da Dinastia dos Hetumidas (ou

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Hetumianos, também chamada de Casa de Lambron) que governou a Pequena Armênia (ou Armênia Ciliciana) até 1341. 1227 – O sultão do Egito, Malik al-Kamil mandou embaixadores para negociar com o imperador alemão Frederico II, em Palermo (na Sicília), tentando o apoio do mesmo na luta contra o seu irmão e inimigo, o sultão de Damasco. Em 13 de novembro, subiu ao poder de Damasco, o sultão aiúbida An-Nasir Dâ'ûd em face da morte de seu pai Al-Moazzam. Inexperiente e muito jovem, criou a expectativa do sultão aiúbida do Egito, Al Kamel, de poder conquistar Damasco sem a ajuda de Frederico II, criando, assim, um Estado-tampão entre o Egito e a Síria. ---- Neste ano: O déspota do Épiro, Teodoro Ducas Anjo, se proclamou imperador e rompeu sua aliança com os búlgaros.1228 - O imperador alemão Frederico II de Hohenstaufen, protagonista da VI Cruzada (cujo pregador foi o papa Gregório IX), partiu de Brindisi (Itália), parou em Chipre (de 21 de julho a 1 de setembro, onde o rei Henrique I de Lusignan se colocou sob sua proteção e retirou João de Ibelino da função de bailio) e ancorou em Acre em 7 de setembro. Começou as negociações sobre os Lugares Santos com o seu amigo sultão do Egito, Al Kamel. ---- Neste ano: No principado de Aqueia foi alçado ao poder Geoffroy II de Villeharduin. – O imperador latino Roberto de Courtenay foi para a Europa tentar a formação de nova cruzada contra muçulmanos; ao retornar para Constantinopla morreu, deixando o trono para o seu irmão Balduíno II. --- João III Vatatzes, imperador de Niceia, atacou a capital do Império Latino do Oriente, que foi defendida heroicamente pelo octogenário João I de Brienne (rei de ‘Jerusalém’ e regente do trono latino devido à menoridade de Balduíno II). 1228-1229 – Cruzada do imperador alemão Frederico II de Hohenstaufen aos Lugares Santos, quando se tornou rei de Jerusalém em acordo diplomático avançado com o sultão Saladino (os barões imediatistas não apoiaram este acordo). – Na Sérvia morreu o grande jupan (rei) Estevão I Nemania, sucedendo-o o filho Radoslav, que se casou com Jovana I Andjela, filha do déspota do Épiro (Teodoro Ducas Anjo). Por ter uma política favorável aos bizantinos, contrariou a aristocracia sérvia, resultando em sua deposição 5 anos depois.1229 - O imperador Frederico II, em 18 de fevereiro, diplomaticamente assinou um tratado com o sultão aiúbida do Egito Al-Kamil pelo qual conseguiu reaver sem conflito as três cidades santas (Jerusalém, Nazaré e Belém), o feudo de Toron (Tibnin, no sul do Líbano atual), o interior de Sidon e uma trégua de 10 anos, 5 meses e 40 dias; permaneceram no controle muçulmano os territórios que sob domínio dos Templários e dos Hospitalários. Em 17 de março, ele entrou em Jerusalém (cuja igreja do S. Sepulcro ficou para os cristãos, mas as mesquitas de Omar e Al-Aqsa continuaram muçulmanas) para ser coroado na Igreja do S. Sepulcro. Ficaram longe dele os Templários e os Hospitalários, só o acompanhando os Cavaleiros Teutônicos e os bispos de Winchester e de Exeter. Ele mesmo se coroou porque o patriarca de Jerusalém não o fez porque ele tinha sido excomungado pelo papa Gregório IX. A antipatia ao imperador se manifestou quando saiu da cidade em 1 de maio, de madrugada, para o porto do Acre: ao passar pela rua do Açougue, populares jogaram detritos sobre ele. – Em 14 de julho, João de Ibelino, que tinha sido despojado da regência de Henrique I, o Gordo, de Chipre, atacou Nicósia contra as forças imperiais de Frederico II (quase um ano depois tomou o castelo de Dieud’amour (Deus-de-amor), último foco da presença alemã na ilha). ---- Neste ano: João III Vatatzés manteve entendimentos diplomáticos com Frederico II a partir de sua saída de Jerusalém (do qual tinha sido proclamado rei, em detrimento do seu sogro João de Brienne) em 1 de maio. ---- João de Brienne, que fora rei de ‘Jerusalém’, foi escolhido imperador (do Império Latino do Oriente) pelos barões de România (como chamavam o Império Latino do Oriente) no Tratado de Rieti (em abril). Os Assênidas da Bulgária se sentiram ultrajados por terem oferecido a tutela de Balduíno II (imperador menor de idade do Império Latino), mas os barões preferiram o rei de ‘Jerusalém’, João de Brienne. Se aproveitando desta mágoa, o imperador João Vatatzés fez uma aliança com o tzar búlgaro João III Assen II contra os Epirotas e os Latinos, homologando-a pelo noivado da filha do tzar com Teodoro, filho do basileus. 1230 - Contrariado pelo fato de Teodoro Anjo do Épiro ter invadido seu território após uma aliança mútua, o tzar búlgaro João III Assen II, se aliou com a Sérvia e se lançou sobre as tropas epirotas, em 9 de março, esmagando-as em Klokonitza ou Klokotnica (entre Andrinopla e Filipópolis, perto da atual Khaskovo, no sul da Bulgária), na qual o déspota do Épiro foi preso e cegado, perdendo a Macedônia e Albânia (até Durazzo) e ficando apenas com o Épiro; seu irmão, Manuel Anjo conseguiu fugir. Ao reino búlgaro, portanto, à Velha Sérvia, Tessália e Trácia, se acresceram a Macedônia e a Albânia. ---- Em maio, João de Ibelino se apoderou do castelo de Dieud’Amour na ilha de Chipre.1231 - O octogenário João de Brienne (que fora rei de Jerusalém), se tornou regente e conselheiro de Balduíno II do Império Latino do Oriente, em Constantinopla. Este império, neste ano, se restringia à Constantinopla e suas imediações e sofria a ameaça dos búlgaros, dos bizantinos de Niceia e do despotado do Épiro.1232 – Em maio, aportou em Chipre uma frota sob o comando do marechal Ricardo Filangieri, mandado pelo imperador alemão Frederico II para sufocar a rebeldia de nobres locais. Tal objetivo se frustrou em função da derrota deste marechal na Batalha de Agridi frente a João de Ibelino e aos nobres da ilha, com apoio dos Templários, em 15 de junho. – Neste ano, o rei búlgaro, ao se desentender com o papa e a igreja da Bulgária, saiu da órbita de influência romana, retornando à bizantina, com o aval dos patriarcas orientais e do de Niceia; instalando-se um patriarca ortodoxo em Tirnovo. Tal fato favoreceu enormemente a negociação de uma aliança política entre o imperador bizantino João III Vatatzés e João III Assen II.1233 – João de Brienne desembarcou com sua armada em Lampsacus (noroeste da Anatólia), enquanto a frota bizantina estava se dirigindo para a ilha de Rodes; sendo assim, João III Vatatzés ficou sem poder cortar suprimentos para os latinos. Mesmo os latinos se assenhoreando de um castelo nas proximidades de Cízica, abandonaram suas pretensões contra os bizantinos. Em contra-ofensiva, João III tentou retomar Constantinopla. --- O imperador bizantino forçou o governante da ilha de Rodes, o genovês João Gabalas, à sua suserania. – O rei Radoslav da Sérvia foi deposto pela aristocracia, sendo colocado no trono o neto de Estevão Nemânia, Vladislau I Nemânia IV, que governou por um decênio. --- Neste ano, o Krac dos Cavaleiros se tornou o centro de convergência dos mesmos, bem como de tropas dos reinos de Jerusalém, de Chipre, do Principado de Antióquia e dos Templários com o objetivo de atacar Hama. ---- Em Chipre, os Ibelinos resgataram sua autoridade sobre toda a ilha e exerceram influência sobre o que restou do 'reino' de Jerusalém.1234 – Na capital bizantina, Niceia, em 19 de janeiro, se reuniram bispos em um sínodo para discutir o pão ázimo e a velha controvérsia do ‘filioque’. – A heresia dos Bogomilos se expandiu da Bulgária para a Bósnia, fazendo com que o papa Gregório IX, em 14 de outubro, pregasse uma cruzada somente com o objetivo de combatê-la. ---- Neste ano: O tzar búlgaro João III Assen II entrou em entendimentos com o imperador João III Vatatzés para se coligarem contra o Império Latino do Oriente.1235 – Na primavera, o imperador niceano João III Dukas Vatatzés coligado com João III Assen II, da Bulgária, se apoderou de Galípoli (Kallipolis), pretendendo conquistar a Macedônia e a Trácia. Nesta cidade de Galipoli, o futuro imperador Teodoro II Láscaris se casou com a filha do rei búlgaro (Helena); aí se realizou, também, um concílio que estabeleceu a capital búlgara, Tarnovo, como a sede da igreja local independente. ---- Os latinos, sob o comando de João de Brienne , conseguiram sustar o cerco imposto a Constantinopla por João III Vatatzés e João III Assen II; simultaneamente uma frota veneziana (comandada por Ângelo Sanudo) destruía a frota bizantina (no verão). No inverno (1235/6) houve nova tentativa que fracassou porque os latinos conseguiram a ajuda militar de Godofredo de Villeharduino II (príncipe da Moreia) e pela vitória do bailio veneziano de Constantinopla fechando o Estreito do Bósforo e, assim, protegendo a capital contra a vinda da nova frota naval dos bizantino-búlgaros. 1236 - Em março, ao retornar de uma caçada, João de Ibelino, levou um coice de um cavalo, sendo ferido gravemente e morrendo em S. João d'Acre.--- Protetorado mongol (do Canato Qipchak ou da Horda de Ouro, governado por Batu) sobre a Geórgia, em 1239 sobre a Armênia e sobre os turcos seldjúcidas da Ásia Menor em 1243.--- Novamente a Geórgia foi atacada pelo mongol Tchormaghan, que se apoderou de Tiflis, antes queimada pelo seu governador, que fugiu na iminência de ser preso. Devido à tomada de Tiflis, a rainha da Geórgia, Russadane (ou Rusudane), transferiu a capital para Kutaissi. --- Também neste ano, a capital da Armênia, Ani, foi tomada e saqueada pelos mongóis; os Zacaridas continuaram a governá-la mas sob a suserania mongol e não da Geórgia. 1237 – João de Brienne, antes de morrer em 23 de março (com 89 anos), mandou o jovem Balduíno II (seu sucessor no Império Latino) à Itália em busca de socorro contra os bizantinos de Niceia; o papa Gregório IX tentou persuadir João III Vatatzés em seu projeto de tomar Constantinopla, por julgá-lo legítimo. ---- Em 31 de maio morreu o sultão de Rum Kay Qubadh I, passando o poder para o seu filho Kay Khusraw. ---- Ashraf, sultão de Damasco, morreu em 27 de agosto, quando estava para guerrear contra o seu irmão, Malik al-Kamil, sultão do Egito; seu sucessor, Al-Salih Ismael tentou continuar o conflito, mas Damasco foi sitiada e conquistada por Malik al-Kamil, prendendo-o em 29 de dezembro.

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1237 -1241 - Os turcos Cumanos emigraram para a Hungria por pressão dos invasores mongóis. 1238 – Foi libertado o déspota do Épiro, Teodoro Anjo, que (por estar cego) passou o poder ao filho João Anjo, que manteve o título de basileus. O imperador João III Vatatzés não logrou submeter os epirotas: tinha já atravessado o Helesponto e, costeando o litoral da Trácia, recebeu a notícia da derrota dos turcos do Sultanato de Rum diante dos mongóis e teve que voltar para Niceia. – Ainda neste ano, João III Vatatzés perdeu o apoio do aliado búlgaro João III Assen II que, influenciado pela esposa que era sobrinha de Balduíno II, passou para o lado do Império Latino do Oriente. Além disso, o tzar búlgaro negociou, sem sucesso, uma eventual reconciliação com a Igreja de Roma e cercou uma guarnição bizantina em Tzurulon (ou Tchorlu). Ao saber da morte de familiares, o tzar abandonou o cerco de Tzurulon e reatou com o imperador bizantino (no final do ano). --- O papa Gregório IX tentou formar uma cruzada contra a Bulgária por julgá-la protetora dos heréticos bogomilos, patarinos, maniqueus e albigenses.1239 – Em 20 de março, o papa Gregório IX excomungou o imperador Frederico II (do Sacro Império Romano Germânico), abortando-lhe o projeto de uma nova cruzada. Além disso, em julho, se encerrou a trégua acordada entre Frederico II e o sultão Al-Kamil, daí o papa Gregório IX pregou uma nova cruzada, a que os reis da Inglaterra e França não se engajaram, mas sim nobres, dos quais se destacaram Teobaldo (Thibaud) IV, Conde de Champagne e rei de Navarra (chamado ‘o Cancioneiro’, por ser compositor musical, a quem coube o comando desta cruzada extra, entre a VI e a VII), além de Hugo IV(duque de Borgonha), Pedro Mauclerc (Conde de Bretanha) e Henrique de Bar. Em agosto uns partiram do porto de Marselha, outros do porto de Águias-Mortas em direção à capital do Reino de ‘Jerusalém', o porto de S. João d’Acre. Em 1 de setembro, os novos cruzados aportaram em Acre para tentar tomar Jerusalém; daí passaram em Ascalão (2 de novembro), em 12/13 de novembro foram trucidadas as tropas comandadas pelo conde Henrique de Bar, nas proximidades de Gaza, pelos egípcios. ---- Neste período de janeiro a novembro, As-Salih Ismael , sultão aiúbida de Damasco, propôs acordo com os francos e cruzados contra o sobrinho As-Salih Ayyub, sultão do Egito, dando em troca as fortalezas de Safed e Beaufort. Este acordo gerou descontentamento dos damascenos, que passaram para o lado dos egípcios; bem como entre os Templários e os Hospitalários (estes fizeram acordo com As-Salih Ayyub). --- Al-Salih Ismael, de surpresa, em 7 de dezembro, conquistou Jerusalém, que foi recuperada por Teobaldo IV de Champagne; este último, por sugestão de João de Ibelino e dos Templários, tentou inutilmente negociar com o sultão de Damasco. – Neste ano ainda: A Armênia sofreu a invasão por parte do mongol Tchormagan, que massacrou a população de Ani e Kars e depois saqueou e queimou estas cidades pertencentes à família do condestável Ivané da Geórgia. - João III Vatatzés (do Império bizantino de Niceia) conquistou a Galiléia e Ascalon aos Aiúbidas.1240 – Os turcos Qiptchak (polovicianos ou kumanos) foram forçados a migrar para oeste pela invasão mongol. --- Balduíno II e sua cruzada os acolheram como mercenários (os turcos eram grandes guerreiros) e se apoderaram de Tzurulon (na Trácia). --- Uma esquadra de barões franceses destruiu a frota bizantina (reorganizada por João III Vatatzés).1240 a 1250 – Os mongóis mantiveram-se na Pérsia neste período, outorgando-se o poder de intervir em sucessões dinásticas, de exigir tributos e mesmo de manter a autonomia de certos Estados, como a Geórgia. Toleraram, outrossim, a manutenção da seita dos Assassinos e o Califado Abássida de Bagdá. 1240 a 1267 - Governo de Balduíno II Porfirogeneta, filho de Pedro II de Courtenay no Império Latino do Oriente. Manteve relações muito estreitas com a corte francesa do capetíngio Luís IX.1241 – Em 23 de abril, outro cruzado, o nobre inglês Ricardo I de Cornualha (futuro imperador alemão junto com Afonso de Castela) não se digladiou em nenhuma batalha, mas conseguiu renovar o tratado de 1229, bem como realizar um acordo satisfatório com o sultão egípcio Malik al-Salih Ayyub (entregando aos francos a região de Sidon, o leste da Galiléia e a região de Jafa e Ascalão). ---- Em 24 de junho se assinou uma trégua entre o imperador latino Balduíno II e o bizantino João III Dukas Vatatzés. Neste dia, morreu o tzar João III Assen II, deixando como herdeiro do trono um menino. O imperador bizantino se aproveitou do momento para retomar a Macedônia e a Trácia aos búlgaros e chefiou uma armada contra Tessalônica, pertencente ao despotado do Épiro (o déspota João Anjo teve que renunciar ao título de ‘basileus’ e ficou sob a dependência de João III Dukas Vatatzés). 1242 - Armando de Perigord, grão mestre dos Templários, ao atacar Hebron (na Palestina), colocou por terra os entendimentos anteriores com Malik al-Salih Ayyub e Ismail. Tal atitude foi reforçada mais ainda com a conquista de Nablus pelos Templários, que massacraram sua população e queimaram a mesquita local. --- Nesta mesma época, ainda os Templários, juntos com Balião de Ibelino (chefe dos barões latinos) boicotaram a ação do bailio imperial Ricardo Filagieri no Acre para resgatar sua autoridade local e dificultaram, também, a assistência e alimentação dos doentes e feridos no hospital do Acre pelos Hospitalários.--- Pierre de Vieille-Brioude, grão-mestre dos Hospitalários, estando em conflito com o sultão de Alepo, fez de Margat o centro das operações militares para coordenar suas operações bélicas.1243 – Em 5 de junho, os barões do reino de ‘Jerusalém’ reunidos em Tiro se recusaram a prestar homenagem a Ricardo Filangieri, representante, neste momento, do imperador Conrado IV (filho de Frederico II) do Sacro Império. Uma semana depois, um destes barões, Balian III de Ibelino (filho de João de Ibelino) se apoderou de Tiro, passando este porto para Filipe de Montfort, um de seus parentes. Com isto, os Ibelinos passaram a ter o domínio de Cesareia, Beirute, Arsuf e Jafa. ---- Em 26 de junho, o sultão Kay Khusraw II (de Rum, filho de Kay Qubadh), mesmo com a ajuda do imperador de Trebizonda (Manuel I) foi vencido fragorosamente pelas tropas mongóis, tendo à frente Baidju, na Batalha de Köse Dagh (que significa ‘Monte Calvo’), perto de Erzindjan (no Alto Eufrates-Alta Mesopotâmia). O sultão pediu a ajuda do imperador bizantino de Niceia, João III Vatatzés. O general Baidju se apoderou e pilhou a cidade de Sivas; depois devastou Tokat e Kaiseri (Qaïçariya) que tinham se revoltado contra ele. Impôs a suserania sobre o Sultanato de Rum e o Império de Trebizonda. Com isto, o Império Mongol chegava até as bordas da fronteira do Império bizantino de Niceia. Iniciou-se, portanto, o protetorado do Canato mongol da Horda de Ouro (dos turcos Qiptchaks) sobre o Sultanato de Rum. Este canato estendia seu domínio tributário sobre a Europa Oriental dos eslavos kievianos. Após esta derrota na Batalha de Köse Dağ se iniciou o segundo período dos beylicados na Anatólia. ---- Neste ano: A nobreza sérvia despojou Vladislau do trono, empossando Estevão IV Uroš I Nemânia V, que governou por 33 anos mantendo boas relações com Bizâncio, já que a Hungria ameaçava o equilíbrio político dos Bálcãs com Bela IV.1244 - Em junho, cavaleiros turcos de Kharezm, fugindo dos mongóis, se encaminharam para a Síria, onde saquearam cidades (inclusive as vizinhanças de Damasco e os campos de Ghuta); daí foram para Jerusalém, que foi pilhada e incendiada em 11 de julho; 1 mês depois tomaram a cidadela da Torre de Davi; os que puderam fugir, foram para Gaza. ---- Em 17 de outubro ocorreu a Batalha de La Forbie (planície arenosa perto de Herbiya), na qual os damascenos, os cavaleiros Templários, Hospitalários, Teutônicos da Palestina e beduínos (sob o comando de An-Nasir, senhor de Kerak) foram derrotados pelos kharezmianos e muçulmanos do Egito (sob Ayyub). Esta segunda perda de Jerusalém reduziu ainda o território do reino cristão do Acre (nome mais adequado que reino de ‘Jerusalém’) e levou o rei francês Luís IX a organizar mais uma cruzada, que só saiu da França 4 anos depois. ---- Neste ano: João III Vatatzés adotou uma política matrimonial de conciliação com o imperador alemão Frederico II de Hohenstaufen, através de casamento com sua filha bastarda de apenas 12 anos (tida em sua relação amorosa com Bianca Lancia), chamada de Constância. ---- O rei Hetum I (da Dinastia Hetumiana da Armênia) perscrutou que a aliança com os mongóis lhe seria propícia na luta contra os turcos e os cristãos: se colocou como vassalo; 3 anos depois mandou o condestável Sembat como embaixador junto a eles; 10 anos depois ele próprio foi a corte na Mongólia (na capital, Karakorum) prestar vassalagem.---- Foi neste ano que chegou a Iconium (capital do Sultanato de Rum), o místico persa sufista Chams al-Din Tabrizi, que influenciou Djalâl al-Dîn Rûmi, criador da dança espiritual (sama) e da Ordem Mahlawi (ou Mevlev) dos dervixes ainda existentes. 1245 - Em 16 de abril, o papa Inocêncio IV mandou um legado seu, João de Plan Carpin, à corte dos mongóis no Oriente para tentar selar uma aliança contra os turcos, chegando em Caracorum em 1246. ---- Em 2 de outubro, o sultão Malik al-Salih Ayyub do Egito, com auxílio militar de mercenários kharezmianos, se apoderou de Damasco, forçando a fuga do seu tio Al-Salih Ismael para Baalbek. Como os kharezmianos se pareceram muito vorazes em tomar a Palestina para si, os príncipes aiúbidas deixaram seus antagonismos de lado, se uniram e dizimaram definitivamente estes mercenários (em 1246). --- Na Geórgia ocorreram problemas sucessórios com a morte da rainha Rusudan I (que era casada com um mongol); o general Bayju prestigiou o sobrinho dela, Davi Ulu, como herdeiro do trono. No entanto, o khan de Qipchak (Canato da Horda de Ouro) apoiou o filho dela, David Narim. Os dois Davi foram à Mongólia pedir a intercessão do grande khan Guyuk, que entregou a Imeretia à Davi Narin e Karthlie para Davi Ulu.

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1246 – Em face da morte do tzar búlgaro Koloman e sua sucessão por um menor de idade, o imperador bizantino João III Vatatzés se apoderou de cidades da Macedônia Oriental (Serrés, Melnic, Skoplje ou Uskub, Stenimacho) e da Pelagônia, na região de Monastir (até Prilep). A regente Irene da Bulgária negociou um acordo com ele, homologando estas conquistas. --- Em dezembro, João III Vatatzés se apoderou de Tessalônica (capital da Macedônia), se aproveitando da ausência do déspota do Épiro, Demétrio (sucessor de João Anjo, que morreu em 1245) que estava na Ásia Menor, bem como de uma revolta local. ---- Neste ano, o imperador Manuel I Comneno de Trebizonda teve que ir para Karakorum, como vassalo do Império Mongol, para assistir a eleição do Grande Khan Guyuk numa assembléia geral.1246 a 1278 - Guilherme de Villeharduino se tornou príncipe de Aqueia (1246), governando brilhantemente até 1278 (no Parlamento de Aqueia, quando os homens faltavam, as mulheres os representavam, o que era excepcional na época).1247 - Os territórios perdidos por Miguel I Anjo na Bulgária foram reconquistados por seu filho Miguel II Anjo (do despotado do Épiro), após a morte de João II Assen. --- João III Vatatzés, em face da ausência de Balduíno II Porfirogeneta (imperador latino de Constantinopla, que estava na França), se apoderou de Tzurulon (na península do Corno de Ouro) e de Bizyé.1248 - Em 25 de agosto, partiu do porto francês de Aigues-Mortes, no Golfo de Marselha (sul da França), uma nova cruzada (a VII) sob o comando do rei Luís IX (S. Luís), com sua esposa Margarida e filhos e João de Joinville (senescal de Champagne); chegaram em Chipre em 7 de setembro, onde ficaram durante 8 meses. Aí mandou 2 frades dominicanos à corte do grande khan mongol para tentar uma aliança anti-islâmica. Em 20 de dezembro recebeu uma embaixada de mongóis que lhe ofereceram uma pretensa conversão ao cristianismo. --- Em outubro, o imperador Balduíno II Porfirogeneta voltou da França para Constantinopla sem condição financeira e militar para recuperar Tzurulon e Bizyé. ---- Neste ano: Guilherme de Villeharduin (príncipe de Moreia) retirou dos bizantinos a posse da sua última praça forte no Peloponeso (Momembasia). ---- Em Rodes, se aproveitando da ausência do governador João Gabalas (em campanha militar do Império Bizantino de Niceia contra o Império Latino do Oriente, nas proximidades de Nicomédia) os genoveses promoveram um ataque noturno à sua capital, a partir daí conquistaram toda a ilha. 1248- 1249 - Batalha de Rodes: vitória dos bizantinos João Cantacuzeno (e depois Teodoro Kontostefanos), mandados pelo imperador João III Vatatzés (sob pedido de João Gabalas), contra os invasores genoveses (ajudados por cavaleiros franceses que estavam em Chipre, como o príncipe de Aqueia, Guilherme II de Villeharduíno. O imperador bizantino não entregou a ilha a João Gabalas e, sim, a tornou uma província. ---- No período de setembro de 1248 a março de 1249, o rei Luís IX esteve em Chipre.1248 a 1254 - VII Cruzada sob o comando de Luís IX, rei da França. Balduíno II Porfirogeneta participou inexpressivamente desta cruzada.1249 - Durante 3 semanas, em fevereiro-março, no Acre, houve conflitos sangrentos entre os genoveses e pisanos.---- No final de maio, os cruzados de Luís IX partiram do Reino de Chipre em direção ao Sultanato do Egito, seguindo a logística de que só vencendo os aiúbidas se poderia retomar Jerusalém. Na madrugada de 5 para 6 de junho, desembarcaram e conquistaram Damieta ao inimigo egípcio Fakhr ad-Din (amigo de Frederico II), notado pelas suas armas de ouro brilhando ao sol. Os egípcios queimaram parcialmente a cidade antes de se retirar. Não se importando com a proposta do sultão Ayyub de trocar Damieta por Jerusalém, Ascalão e Galiléia, os cruzados, em vez de atacar Alexandria (como sugeriram os barões), marcharam em direção ao Cairo (por sugestão de Roberto d’Artois, irmão do rei), embora fosse época das enchentes do rio Nilo (julho-setembro). Iniciaram a marcha sobre a capital aiúbida em 20 de novembro, sendo acompanhados pelos Templários (com seu grão-mestre Guilherme de Sonac) e de ingleses (sob o comando do Conde de Salisbury). Em ataque contra Fakhr ad-Din, este foi morto (quase seminu, porque estava tomando banho) pouco antes pelos Templários. Ao se aproximarem da capital, o caminho estava fechado pelo canal Bar aç-Çaguir, em cuja parte posterior se situava a cidade fortificada de Mansurah (que estava defendida pelo mameluco Runcinado-Din Baibars Bunduklari). ---- Guerras entre Miguel II (do Épiro) e os sicilianos e os latinos nas quais perdeu Durazzo aos venezianos, mesmo se aliando com Guy I de la Roche (Ducado de Atenas) e Guilherme II de Villeharduíno (de Moreia ou Aqueia). 1250 – VII Cruzada: Em 8 de fevereiro, o rei Luís IX conseguiu atravessar o canal Bar aç-Çaguir com suas tropas; houve muitas perdas e seu irmão, Roberto d’Artois, foi morto pelo mameluco Baibars ao atacar Mansurah sem nenhum planejamento. Em vez de se retirar para Damieta neste momento, Luís IX ficou na defensiva; quando se decidiu retirar, suas tropas já estavam debilitadas pelo tifo e ele estava com disenteria (abriram até um buraco na sua ceroula). Nestas condições, foram fustigados pelos egípcios na Batalha de Fariskur, sendo presos Luís IX e seus dois irmãos (Carlos d’Anjou e Afonso de Poitiers) em 6 de abril. --- Em 2 de maio, os Mamelucos mataram o novo e último sultão aiúbida, filho de Ayyub, Turã-xá (ou Al-Malik al-Mu`azzam Tûrân Châh Al-Mu'adham), iniciando sua dinastia (chamada Bahrita) com ‘Izz ad-Dîn Aybak (esta dinastia durou até 1381), que se casou com a sogra do finado Turã-xá, Chajar ad-Durr ou Shagrat al-Durr. ---- Luís IX quase foi morto na prisão, mas acabou sendo solto junto com seu exército 4 dias depois da tomada do poder pelos Mamelucos, em 6 de maio, mediante o pagamento de resgate (pago pelos Templários forçadamente frente à pressão de João de Joinville, de família nobre de Champagne). ---- Em 13 de maio, o rei Luís IX aportou no Acre, aí leu cartas de sua mãe pedindo para voltar, mas se decidiu a ficar na Terra Santa para restaurar as fortalezas do Acre, Cesareia, Jaffa e Sidon, se dedicar a normalizar a situação política instável no Principado de Antióquia (dividida por questões familiares) e de harmonizar suas relações com a Armênia. Ficou aí até 24 de abril de 1254. ---- Segundo estudos científicos atuais, este ano representou a transição do Período Quente Medieval (ou Anomalia Climática Medieval) para a Pequena Idade do Gelo (com médias térmicas baixas no Atlântico Norte). 1251 - Em 16 de abril, na França, com a pretensão de libertar o rei Luís IX se organizou a chamada ‘ I Cruzada dos Pastorezinhos’ de camponeses e pastores armados apenas com suas ferramentas. Sob a justificativa de que eram contra prelados, bispos e os cavaleiros (na realidade desprezando os pobres) eles foram reprimidos até pelas forças da realeza da França (como em Bordéus, sob Simão V de Montfort). Seu movimento se espalhou pelo norte da Itália e Renânia. Mesmo perseguidos, os poucos que restaram chegaram a Marselha e daí foram para Acre, se juntando aos Cruzados. 1252 – Em abril, foi feito o Tratado de Cesareia entre o rei Luís IX e o sultão Mameluco do Egito, ‘Izz ad-Dîn Aybak, pelo qual foram soltos os cruzados prisioneiros no Egito e acertada uma aliança contra os Aiúbidas da Síria e a promessa de devolução de Jerusalém, Belém e quase todo o antigo Reino de Jerusalém. Tal tratado malogrou já no ano seguinte quando Mamelucos e Aiúbidas fizeram a paz entre si por intermediação do califa abássida de Bagdá. ---- Neste ano: O grande mestre dos Cavaleiros Templários entrou em acordo com o sultão aiúbida de Damasco, enquanto Luís IX estava em entendimento com os Mamelucos do Egito sobre Jerusalém.1252 – 1253 - Em sua última campanha militar, João III Vatatzés empreendeu uma campanha militar contra o déspota do Épiro, Miguel II (cuja autoridade se fazia sentir sobre o Épiro, a Tessália, a Etólia e parte da Macedônia Ocidental) e o seu tio Teodoro, o Cego (que tinha como apanágio Ostrovo e Vodena, na Macedônia). O imperador de Niceia se apoderou de Vodena e, no inverno (fim de 1252-começo de 1253) atacou Miguel II, que se colocou em fuga em direção à área montanhosa da Macedônia (Montes Pindus), perseguido por Aleixo Strategopoulos. Miguel II, ao ser traído pelo governador de Castoria (na área dos Montes Pindus), foi constrangido a assinar tratado com o imperador João III entregando-lhe as cidades de Prilep, Veles, Kroai (na Albânia) e as conquistadas por ele durante a guerra. Teodoro, o Cego foi preso e a neta de João III se tornou noiva de Nicéforo, filho de Miguel II. 1253 - Em 16 de setembro, partiu de Constantinopla o franciscano flamengo Guilherme de Rubuquis (ou Ruysbroeck), mandado pelo rei Luís IX, para negociar um acordo com os mongóis (Mongka, o Grande Khan de Caracorum, na Mongólia) contra os islâmicos. Lá chegou em 4 de janeiro de 1254; encontrando-se com muitos cristãos deportados e conversando com monges que acreditavam na transmigração das almas. Este franciscano foi o primeiro a relatar que o Mar Cáspio não tinha ligação com o Oceano Glacial Ártico (embora os vikings o soubessem disso antes dele). ---- O rei Luís IX tentou uma aliança com os Assassinos (ou Ismaelianos), cujo chefe era Djibal Alauita e seu grande senhor, o chamado ‘Velho da Montanha’.1253 a 1267 - Período de governo de Hugo II de Lusignan (sucedendo ao seu pai Henrique o Gordo) no Reino de Chipre, sob a regência inicialmente de sua mãe Plaisance de Antioquia.1254 – Os cruzados e Luís IX partiram do porto de S. João d’Acre em navios dos Templários, de volta para a França, em 24 de abril, confiando o reino do Acre (chamado de Jerusalém) ao nobre Geoffroy de Sergines como senescal e seu representante. Acre, no entanto, se transformou num ‘reino sem rei’ tumultuado por conflitos internos, como entre os genoveses (apoiados pelos Hospitalários, catalães e o senhor de Tiro, Filipe de Montfort) e venezianos (estes tendo ao seu lado os Templários, os Cavaleiros Teutônicos, os pisanos, os senhores de Beirute e Jaffa), que se envolveram na

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chamada ‘guerra de S. Sabas (de 1256 a 1258). ---- Em 21 de maio, o alemão Conradino (ao morrer sua mãe Iolanda de Brienne), foi nomeado rei de ‘Jerusalém’, mas nunca apareceu aí. ---- O rei armênio Hetum I esteve pessoalmente na Mongólia prestando vassalagem diante do grande khan mongol Mongka, irmão de Hulagu.---- Em 3/11, ao voltar do Épiro, morreu o imperador João III Dukas Vatatzés em Kemalpasa (perto de Esmirna, no sudoeste da Anatólia), quando estava em entendimentos com o imperador Balduíno II Porfirogeneta, sendo sucedido pelo filho Teodoro. Entendimentos conciliatórios entre o imperador bizantino e o papa Inocêncio IV sobre as igrejas de Roma e de Constantinopla fracassaram de novo: este papa morreu em 7 de dezembro; com o novo papa, Alexandre IV, se fecharam as conversações em 1256, mesmo enviando uma legação junto ao imperador Teodoro II Láscaris . 1254 (3 de novembro) a 1258 (agosto) – Reino de Teodoro II Dukas Láscaris no Império bizantino de Niceia. Embora instruído (escreveu até um livro sobre o Espírito Santo e a Santíssima Trindade), era violento, mas se cercou de sábios como Jorge Acropolitas e Nicéforo Blemmydes. O seu favorito tinha origem modesta: foi Jorge Muzalon. Ele se apoderou da Trácia (que era dos búlgaros na ocasião) e moveu guerra contra os turcos e o Despotado do Épiro.1254 (continuação) - Se travou a Batalha de Adrianópolis entre os bizantinos, tendo à frente seu imperador, e os búlgaros comandados pelo rei Miguel Assen I; este pretendiam retomar terras tomadas por aquele; seu intento não foi atingido, visto que foi derrotado e ferido quando fugia. 1255 - Em 15 de agosto, aportou no Acre o frade Guilherme de Rubroek, vindo da Mongólia. ---- Foi neste ano que o imperador concedeu as ordens eclesiásticas ao patriarca Arsênio, tutor de João IV.1255-1256 – Teodoro II neutralizou a fronteira oriental com o Sultanato de Rum, renovando aliança feita pelo seu finado pai com o sultão turco seldjúcida; depois deixou seu favorito Jorge Muzalon na capital para administrar o império e foi lutar contra o tzar búlgaro Miguel II Assen I (que se aproveitara da sucessão em Niceia para ocupar o que tinha sido entregue em 1246, tendo como aliados os kumanos). Na primavera, Teodoro II derrotou os búlgaros em Bulgarofigon (no passo de Rupel) e na passagem do rio Maritza (em março). O tzar Miguel II negociou, em 1256, um tratado de paz por meio de seu sogro Rostilav (do principado russo de Galícia), devolvendo o que tinha tomado e entregando a fortaleza de Tzepaina (estratégica para a defesa da Trácia) ao imperador bizantino.1256 – Em outubro, Hulagu mandou Baiju atacar o Sultanato de Rum, saindo-se vitorioso sobre Kay Kawus II e tomando a Anatólia. ---- Neste ano: O papa Alexandre IV, sucessor de Inocêncio IV, mandou seu legado à Niceia para tentar sem sucesso o reinício dos entendimentos entre bizantinos e latinos de Constantinopla. ---- O tzar Miguel II Assen foi morto durante uma trama encabeçada pelo seu primo Koloman II, subindo ao trono búlgaro e se casando com a viúva (a princesa russa Ana, filha de Rostilav Mikhailovich). A nobreza búlgara se revoltou contra ele, instabilizando o reino; a situação política só se normalizou com a escolha de Constantino I Tech, em 1257, apoiado pelos sérvios (antes estava asilado em Constantinopla). Foi o fim da Dinastia dos Assênidas na Bulgária.1256 a 1258 – Teodoro II se aliou com Miguel II Anjo Comneno (déspota do Épiro e da Tessália), através de casamento; mas pressionou, em contrapartida para a devolução de Durazzo, não sendo atendido, começou uma guerra entre eles (tropas bizantinas sob o comando de Miguel Paleólogo).1257 - O sobrinho do rei Estêvão Nemania, o sérvio Constantino Tach (Tech) se proclamou tzar dos búlgaros, abandonou sua esposa e se casou com uma filha de Teodoro II. – Este imperador mandou o general Miguel Paleólogo para a Macedônia para por fim às incursões do déspota Miguel II Anjo Comneno na Albânia; mas o general não conseguiu seu objetivo: Miguel II tomou a Macedônia e prendeu o governador de Prilep, levando-o para sua capital (Arta).1258 - Guilherme de Villeharduino (príncipe da Moreia), com a vitória no monte Caridi, impôs sua suserania sobre o ducado francês de Atenas (governado por Guy I de la Roche). --- Em 24 de junho, no reino de ‘Jerusalém’, acabou a ‘Guerra de S. Sabas’ com a vitória naval dos venezianos sobre os genoveses. --- Teodoro II Láscaris sofria de epilepsia e morreu com apenas 37 anos, em 16 agosto, sendo sucedido, por João IV Dukas Láscaris que, sendo um menino, teve como regente Jorge Muzalon por 9 dias, pois mercenários francos o degolaram (por trás disso esteve Miguel Paleólogo).1258 (16 de agosto) a 1261 – O Império Bizantino esteve sob o governo de João IV Dukas Láscaris, filho de Teodoro II, tendo como regente sua mãe Teodora e como imperador associado Miguel Paleólogo. Teve como tutor o patriarca Arsênio Autorianos que estava mais a fim de resguardar seus direitos e foi envolvido por Miguel Paleólogo, que conseguiu em janeiro de 1259, o título de ‘basileus’ (endossado pelo patriarca).1258 (continuação) - Em dezembro, Balduíno II de Constantinopla acertou uma trégua com Miguel Paleólogo pela qual restituiu Tessalônica e a Trácia ao Império de Niceia. – O déspota Miguel II Anjo Comneno do Épiro se coligou com o príncipe de Moreia, Guilherme de Villeharduíno, e com Manfredo da Sicília contra o Império de Niceia. Miguel Paleólogo tentou negociar inutilmente. Em 1 de dezembro, enquanto estavam ocorrendo as exéquias de Teodoro II em Magnésia, Miguel Paleólogo estava sendo proclamado imperador associado. --- Neste ano, o alemão Manfredo de Suábia foi coroado rei da Sicília (fim do período normando nesta ilha). – Este ano assinalou o fim do Califado Abássida de Bagdá: o khan mongol Hulagu tomou esta capital e mandou executar o califa Al-Mustassim. Com isto, o comércio com o Extremo Oriente não passava mais pela Pérsia, voltando para o Império de Trebizonda, desenvolvendo-o sob os governos dos filhos de Manuel I Comneno (de 1262 a 1297). 1258-59 – Conflitos entre Gênova (que não apreciaram a tomada de Constantinopla por Veneza desde 1204) e Veneza. Em 1258, após derrota frente ao venezianos em batalha naval, foram para Tiro. O papa Alexandre IV tentou arbitrar esta rivalidade entre elas (abril 1259) em S. João d’Acre, mas não conseguiu demover os venezianos. Os genoveses, em função desta recusa, ofereceram a Miguel Paleólogo toda a ajuda para tomar Constantinopla. 1259 - Em 1 de janeiro Miguel VIII Paleólogo, depois do assassinato do regente Jorge Muzalon, foi coroado imperador pelo patriarca Arsênio e colocou Teodora e João IV num castelo do Bósforo. O patriarca, contrariado com tal atitude, foi para um mosteiro; Miguel Paleólogo mandou escolher como seu sucessor a Nicéforo. –Se encerraram as disputas sucessórias na chamada ‘guerra de sucessão de Negroponte’, na ilha de Eubéia, em que se confrontaram Guilherme II de Villeharduin e o duque de Atenas (Guido de la Roche, ao lado de senhores venezianos), este sendo vencido na batalha de Megarida (junto ao Monte Karydi). Em agosto, o doge Reniero Zeno acertou a paz com Guilherme II de Villeharduin e depois a suserania sobre a ilha da Eubéia (em 1262). ---- O déspota do Épiro (Miguel II Anjo Comneno), se aliou com Guilherme II de Villeharduin (príncipe de Moreia), Manfredo de Hohenstaufen (rei da Sicília) e com apoio dos sérvios e albaneses, se lançou contra Miguel VIII Paleólogo; encontraram-se no vale do Vardar (Alta Macedônia), sofrendo derrota e sendo aprisionado na Batalha de Castoria ou Pelagônia (na Pelagônia ou Monastir), em 11 de setembro, junto com o príncipe de Moreia (que se escondera num monto de feno, mas foi encontrado e capturado); a capital do despotado, Arta, foi ocupada e as tropas bizantinas fizeram incursão sobre a Tessália e Grécia, chegando até à cidade de Tebas. ---- No fim deste ano e começo de 1260, se negociou um tratado entre o imperador bizantino e o déspota do Épiro, antes do qual o filho do déspota, Nicéforo, recebeu ajuda militar de Manfredo de Hohenstaufen e recuperou parte do que foi conquistado pelo imperador bizantino. --- Os irmãos genoveses Manuel e Benedito Zacarias receberam do imperador Miguel VIII Paleólogo a região de Foceia (porto no Golfo de Esmirna), rica em alúmen. 1259-1261 - Na Armênia oriental eclodiram revoltas contra o o il-khan Hulagu, que foi prontamente debelada por Argun Aka, prendendo e executando o seu chefe (Zacarias). O mesmo desfecho ocorreu com a revolta do armênio Hassan Jalal, príncipe de Khachen (Grand Artsakh, atual Nagorno-Karabakh).1260 - Acordo entre Miguel VIII Paleólogo e os mongóis invasores da Ásia Menor, sem levar em conta sua aliança com o Sultanato de Rum. ---- Tentativa de Miguel VIII Paleólogo de tomar Constantinopla com a ajuda de Gênova e de Manuel Comneno (de Trebizonda): na primavera, a armada bizantina passou pelo Helesponto e ocupou Selímbria, mas, não conseguindo se apoderar de Constantinopla, assinou uma trégua com Balduíno II, em agosto (que deveria durar um ano). ---- Neste ano, o papa Alexandre IV, através de bula, confirmou o que tinha sido deliberado no Concílio de Famagusta (em 1222) quanto à submissão do clero bizantino diante do romano tanto sob o ponto de vista de autoridade como do dízimo. 1260 a 1277 - Os Canatos mongóis da Pérsia (sob Hulagu) e da Horda Dourada (ao norte dos Mares Negro e Cáspio, sob o khan Berké) e o

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Sultanato dos Mamelucos precisavam dos Estreitos do Bósforo e dos Dardanelos para se comunicarem, assim estavam na dependência do Império Bizantino para ter acesso livre aos estreitos.1261 – Tratado de Constantinopla pelo qual o príncipe de Moreia ou Aqueia (Guilherme de Villeharduin) foi solto em troca da devolução de fortalezas bizantinas na Moreia (como Mistra e Momembasia) e dos distritos de Krystaina e Mani para Miguel VIII, que impôs sua suserania sobre o principado. Seu irmão, Constantino, foi nomeado governador da Moreia e se instalou em Mistra. ---- Na mesma época, Licário de Verona, a serviço do imperador, tomou a ilha de Eubeia, exceto sua capital, Negroponte. ---- Em 13 de março, foi feito um tratado defensivo e ofensivo em Ninfeia entre Miguel VIII e Gênova contra Balduíno II (imperador latino de Constantinopla) e Veneza; como compensação, Gênova conseguiu bases de apoio para seu comércio em Esmirna e nas ilhas de Lesbos e Kios (no lado oriental do Mar Egeu). --- Em 25 de julho, o general Aleixo Strategopulus retomou Constantinopla, abrindo caminho para a entrada de Miguel VIII nesta capital, em 15 de agosto, já que os venezianos ainda estavam na confluência do Estreito de Bósforo com o Mar Negro. Balduíno II, o patriarca latino e os venezianos tiveram que fugir. Após a reconquista de Constantinopla, o imperador adotou o símbolo heráldico da águia com duas cabeças: uma voltada para leste (a Anatólia), outra para oeste (para os temas da Itália). Este símbolo heráldico serviu de modelo para casas reais até o século XX.1261 (15 de agosto) a 1282 – Reino do usurpador Miguel VIII Paleólogo. Sua política interna foi favorável à aristocracia, ao contrário do governo anterior de João Vatatzés.1261 a 1453 - Dinastia dos Paleólogos.1261 (continuação) - En 1261, Michel VIII passa en ce lieu, le 14 août, la nuit qui précéda son entrée dans la capitale reconquise sur les Latins Após ter passado a noite do dia 14 de agosto no Mosteiro de S. Cosme e Damião, no dia 15, Miguel VIII Paleólogo foi coroado novamente pelo patriarca Arsênio na Igreja de S. Sofia. --- O novo papa, Urbano IV, escolhido em 28 de agosto, começou a pregar mais uma cruzada e anulou o tratado feito anteriormente entre o basileus e Guilherme de Vileharduino. --- Miguel VIII começou a governar sozinho, melhorando as condições urbanas da capital, mas mandando cegar e prender em uma fortaleza João IV Láscaris, além de mutilar seu secretário, Manuel Holobolos (no dia de Natal). O patriarca Arsênio ficou horrorizado com isto e se sentiu envergonhado de tê-lo coroado, excomungando-o. Tal atitude valeu-lhe a deposição, sendo substituído por Germano. A crueldade de Miguel VIII despertou a beligerância do tzar búlgaro Constantino Assen, pois este era cunhado de João IV Láscaris. --- Depois de 1261 se estreitaram as relações entre Uros I, da Sérvia, com Bizâncio: Miguel VIII ofereceu sua filha Ana ao segundo filho do rei sérvio (chamado Milutin), embora os sérvios tenham ficando chocados com o luxo e ostentação da princesa, não existentes entre eles. --- A região do Cáucaso (onde estavam os Reinos da Armênia e Geórgia) foi palco, a partir deste ano, dos confrontos entre os Canatos da Pérsia e da Horda de Ouro.1261 a 1300 - Os otomanos dominaram toda a Anatólia no lugar dos bizantinos e dos seldjúcidas do Sultanato de Rum. 1262 —No Império de Trebizonda, ao morrer Manoel I Comneno, subiu ao poder seu filho Andrônico II que governou até 1266. --- Miguel VIII aceitou o pedido do sultão egípcio Baibars de livre passagem de escravos eslavos adquiridos na Rússia nos estreitos de Bósforo e Dardanelos, que seriam incorporados ao exército dos Mamelucos. Em contrapartida, o imperador solicitou o estabelecimento de um patriarcado melquita em Alexandria. --- No fim deste ano o imperador Miguel VIII enviou uma expedição para o Principado de Moreia, sob o comando de seu meio-irmão Constantino, à frente de mercenários turcos e exércitos da Anatólia. Após algumas vitórias ele se apoderou da Lacônia.1262 a 1272 – Foram enviadas ao Cairo no mínimo 8 embaixadas para entabular entendimentos políticos com o sultão mameluco Baibars sobre a passagem dos Estreitos de Dardanelos e Bósforo. 1263 - Na primavera, continuando sua campanha militar, o meio-irmão do imperador (Constantino), ao se dirigir para a capital do Principado de Aqueia (a cidade de Andravida) foi derrotada no Batalha de Prinitza (nas proximidades da antiga cidade grega de Olímpia, no Peloponeso), onde foram arrasados num desfiladeiro (o de Prinitza) por João Katavas (Constantino fugiu para Mistras). ---- Em 13 de fevereiro, o papa Urbano IV mandou Alberto, o Grande fazer a pregação de nova cruzada no Sacro Império Romano Germânico. ---- O imperador Miguel VIII manteve entendimentos diplomáticos no sentido de se harmonizar com este papa, propondo realizar novamente a unidade religiosa entre Roma e Constantinopla, contrariamente às aspirações do clero ortodoxo Em 18 de julho, o papa mandou-lhe uma carta pela qual ele aceitava negociar uma trégua com o príncipe Guilherme II de Villeharduin. ---- Em maio-julho, uma frota naval bizantino-genovesa sofreu derrota na Batalha de Settepozzi (ou Spetses) diante dos venezianos; estes voltaram a ter condições anteriores ao Tratado de Ninféia anterior. ---- Neste ano foram concluídos os acordos comerciais entre o Canato da Horda de Ouro (sob o mongol Berké) e o imperador bizantino, garantindo o tráfego marítimo pelos estreitos, vitais para o comércio de escravos turcos para os Mamelucos do Egito. Se articulava, assim, o porto de Sarai (no Volga e capital do canato) como elo de ligação entre o Oriente e o Ocidente e o norte da Europa (mercadores genoveses e venezianos aí compravam peles, além de escravos). – Entre este ano e o próximo, findaram-se as expectativas bizantinas de reconquistar o Principado de Moreia, após a derrota e prisão dos generais João Makrenos, Aleixo Files e Aleixo Kabalarios na Batalha de Makryplagi (nas proximidades de Gardiki, entre a Arcádia e a Messênia), já que suas tropas estavam enfraquecidas pela derrota anterior e ainda sofreram a perda de seu contingente de mercenários turcos (que passaram para o lado inimigo).

1264 - A política imperial bizantina de aproximação através de casamentos com o despotado do Épiro (cujo titular, Nicéforo Dukas, era genro de Manfredo) não deu certo: Miguel VIII foi derrotado em Moreia frente a Manfredo de Hohenstaufen (rei da Sicília e príncipe de Tarento) e Balduíno II (ex-imperador em Constantinopla). Por outro lado, o 'sebastocrator' João Paleólogo (irmão do imperador) foi mandado para o Épiro, conseguindo a vitória na Batalha de Tessalônica sobre Nicéforo Dukas. ---- Os genoveses, demonstrando que seus interesses comerciais eram maiores que a aliança com os bizantinos, tramaram com Manfredo para tomar Constantinopla. --- Miguel VIII conseguiu se apoderar parcialmente da Macedônia aos búlgaros. 1265 – Política interna de Miguel VIII

Paleólogo contrária à anterior (de João Vatatzés e Teodoro Láscaris) mais ligada à aristocracia, retirando direitos dos pequenos proprietários rurais. ---- Em 5 de fevereiro, ascendeu ao pontificado Clemente IV pela morte de Urbano IV; este papa exerceu uma política de aproximação com o Reino da Sicília. ---- O sultão Baibars, realizando o seu intento de restringir os Estados francos cada vez mais próximos do litoral, se apoderou da cidade de Cesareia (no litoral da Palestina e pertencente ao Reino de Jerusalém desde 1101), em 27 de fevereiro, e de Arsuf, em 26 de abril, após garantir a neutralidade do imperador bizantino e do Sultanato de Rum. Tais conquistas reacenderam o intento ocidental de criar mais uma cruzada: a VIII. --- Neste ano: O vizir seldjúcida de Rum, Mu‘in ad-Dîn Suleyman (também chamado de Pervane), regente de Kay Khusraw III, tomou o porto de Sinope aos bizantinos. – Ao morrer o khan mongol Hulagu (do Il-Kanato da Pérsia), o Império de Trebizonda se livrou da suserania mongol (no reinado de Andrônico II, filho de Manuel I Comneno). --- Miguel VIII retomou Filipópolis aos búlgaros e depois ocupou os portos de Anchialos e Mesembria, no

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Mar Negro. O tzar búlgaro solicitou a ajuda do Canato da Horda Dourada, governado por Berké (os Kiptchak eram seus aliados); com isto, ocorreu a invasão da Trácia, na primavera, onde derrotaram os bizantinos e saquearam a região. O imperador teve que fugir em um navio genovês para voltar à Constantinopla. Esta invasão decorreu do desguarnecimento das fronteiras pelos ‘akritai’, isto é, os colonos destas áreas, que as defendiam militarmente em troca de isenções fiscais (este privilégio tributário foi retirado por Miguel VIII). --- Neste ano, Bizâncio se apoderou de Janina pertencente ao Despotado do Épiro. ---- O turco oguz Ertogul (Ertogrud) tomou a cidade de Sogut (no vale do Sakaria, que desemboca no Mar Negro) aos bizantinos e aí criou um pequeno reino entre o Sultanato de Rum e o Império Bizantino; este pequeno reino, chamado de Sogut, foi o embrião do famoso Império Otomano. Há autores que colocam este evento em 1278.1266 - Em 26 de fevereiro, Manfredo de Hohenstaufen foi vencido e morto por Carlos I de Anjou, que se tornou rei da Sicília e tinha como intenção máxima conquistar Constantinopla. --- Em setembro, o patriarca Germano renunciou ao cargo, sendo escolhido, em dezembro, José de Constantinopla como seu sucessor. --- Em 25 de julho, o sultão mameluco Baibars sitiou por 16 dias e se apoderou da fortaleza e castelo de Safed pertencente aos Templários, defendida em sua maior parte por cristãos sírios, que seriam poupados se se rendessem. Um sargento cristão sírio, Leon Cazelier, negociou a rendição, mas só ele foi poupado, o restante não; os Templários foram decapitados, as mulheres e crianças vendidas como escravas. Sua posse garantiu a Baibars o controle da Galiléia e o caminho para Acre, Sidon e Tiro (entre esta cidade e Damasco, se apoderou da maior fortaleza dos cruzados, a de Toron). Em 24 de agosto, Baibars partiu em direção ao território armênio para castigar o rei Hethum I por sua aliança com os mongóis: venceu a Batalha de Mari, perto de Alexandreta, na Cilícia (na qual foi preso seu filho Leão e o outro, Toros, foi morto), arrasou as suas cidades, bem como sua capital, Sis; sua população massacrada em sua maioria. Baibars impôs um tratado oneroso para a Armênia, que não se recuperou mais deste golpe. 1267 – Em 2 de fevereiro, o patriarca José de Constantinopla aboliu o anátema lançado pelo ex-patriarca Arsênio ao imperador. ---- Tratado de Viterbo (em 27 de maio) entre Carlos I d’Anjou, o príncipe Guilherme II de Villeharduin (o ‘Grande Dente’de Aqueia) e Balduíno II (que tinha sido retirado do poder em Constantinopla); estes 2 últimos, para terem cobertura contra os bizantinos, se vassalaram diante de Carlos I; a partir daí a Moreia e territórios latinos tornaram-se dependentes do reino ítalo-angevino de Carlos I. Para dispor futuramente do trono de Constantinopla, Carlos I ofereceu sua filha Beatriz para casamento com Filipe de Courtenay, filho de Balduíno II. Este tratado foi homologado pelo papa Clemente IV. ---- Carlos I d’Anjou fez aliança com o rei Bela IV da Hungria. 1268 - O sultão mameluco Baibars, continuando sua ofensiva contra os francos, lhes retomou Jafa, em 7 de março, e massacrou sua população. Depois foi a vez de Beaufort (em 15 de abril), defendida pelos Templários; bem como Antióquia, a maior cidade cristã no ultramar, em 18 de maio (na chamada Batalha de Antióquia), defendida pelo condestável do príncipe Boemundo VI (que estava em Trípoli), Simão Mansel, que foi derrotado, a cidade demolida (nunca mais foi restaurada) e sua população massacrada ou escravizada. Em função deste último evento, Boemundo VI, que era príncipe de Antióquia-Trípoli, ficou com seu governo restrito apenas ao condado de Trípoli. Trípoli, S. João d’Acre e Sidon eram as últimas possessões cristãs no litoral da Síria-Palestina. Nove dias depois desta derrota foi assinada uma trégua entre os francos e o sultão. Esta situação poderia ser revertida pela VIII Cruzada, mas esta foi desviada para a Tunísia. ---- Miguel VIII e Veneza assinaram uma trégua, em 4 de abril, pelo período de um quinquênio; foi endossada em 30 de julho na República de Veneza. Os venezianos recuperaram seus escritórios em Constantinopla. ---- Miguel VIII Paleólogo, concedeu aos genoveses um subúrbio de Constantinopla (Pêra-Gálata), que se tornou uma comuna independente e, no século XIV, monopolizou o comércio da capital bizantina. ---- A vitória de Carlos I d’Anjou sobre Conradino (filho do imperador alemão Conrado IV) em Tagliacozzo (na Itália, em 23 de agosto) tornou sua situação melhor naquela península; com isto ele armou uma grande frota naval e mandou dinheiro e tropas ao príncipe de Aqueia, Guilherme II de Villeharduin. ---- No Reino de ‘Jerusalém’ iniciou-se o governo do rei Hugo III de Chipre em 24 de setembro, tumultuado pela má vontade dos Templários, das comunas e dos barões de tal maneira, que ele foi para Chipre em 1276. --- Neste ano: A Cilícia foi abalada por um terremoto, matando milhares de pessoas e destruindo cidades.1269 – Em agosto, o rei ítalo-angevino Carlos I assinou tratado com os genoveses. ---- O sultão egípcio Baibars, no final do ano, fez incursões duas vezes em Hama, para cercar a fortaleza de Margat, mas não teve sucesso diante da resistência dos Hospitalários. ---- Neste ano: Fracassou uma embaixada bizantina enviada para a corte do rei da Sérvia, Urosh I, para acertar os detalhes do casamento de Ana (filha de Miguel VIII Paleólogo) com Milutin (filho do rei). O motivo principal era o luxo da princesa, contrastando com a modéstia dos servos. ---- O filho e sucessor de Hetum, Leão III, rei da Armênia, pediu a ajuda de Abaqa, khan da Pérsia, contra os Mamelucos; Abaqa não pode atendê-lo porque estava às voltas com ataques dos Djaghataidas a nordeste de sua fronteira.1270 – Enquanto estava partindo da França, a VIII Cruzada de Luís IX (S. Luís), seu irmão Carlos I de Anjou estava preparando sua frota naval para tomar Constantinopla. Durante esta cruzada, o imperador Miguel VIII tentou, através de embaixadas, junto ao rei Luís IX para que este desenvolvesse esforços para conter o desejo de Carlos I d’Anjou em atacar o Império Bizantino. ---- No final de janeiro, Baibars invadiu a Síria e continuou seus ataques ao Krac dos Hospitalários, saqueando suas vizinhanças até maio. Em 25 de maio, tinha voltado para sua capital, Cairo, se preparando contra o ataque da VIII Cruzada. --- Em 18 de julho, a VIII Cruzada cercou Cartago, nas proximidades de Túnis. Durante o verão o sultão Baibars reuniu suas tropas para auxiliar os tunisianos, mas abandonou seu projeto ao receber a notícia do emir Al-Mustansir, de Túnis, de que, em 25 de agosto morreu o rei Luís IX (de peste bubônica ou disenteria) durante o cerco daquela cidade. Sua morte deixou sem esperança os cristãos da Palestina e Síria em reverter sua situação diante de Baibars. Em 30 de outubro, Carlos I (irmão do rei Luís IV e rei da Sicília) assinou um tratado favorável ao seu reino na Sicília. Em 10 de novembro, quando o exército francês (com Carlos I) estava saindo de Túnis, chegou atrasado e inutilmente o príncipe Eduardo da Inglaterra. ---- Em 25 de setembro, Ascalão foi tomada por Baibars.1271 - Em fevereiro, o sultão Baibars se apoderou, sem resistência, de Chastel Branco (ou ‘torre branca’ em Safilt, entre Trípoli e Tortosa) dos Templários, que puderam sair em direção a Acre. Entre 15 de março e 8 de abril, Baibars tomou a poderosa fortaleza do Krac dos Cavaleiros Hospitalários (Hosn-al-Akrad). Em maio, Baibars assinou trégua com o príncipe Boemundo VI de Trípoli por 10 anos. Em 1 de maio, após um sítio de 2 semanas, caiu o Castelo de Akkai; em 12 de junho, foi a vez de Montfort, dos Cavaleiros Teutônicos, depois de resistirem por 5 dias. – Em 9 de maio, chegaram reforços da IX Cruzada ao Acre sob o comando de Teobaldo Visconti, arcediago de Liège e legado papal em Londres, onde conseguiu o apoio do príncipe inglês Eduardo (filho e herdeiro do rei Henrique III). O príncipe encontrou uma situação desmoralizante na cidade do Acre, em que sua Alta Corte permitia que comerciantes genoveses vendessem escravos (comprados dos muçulmanos) e venezianos vendessem madeira e metal (que serviriam de matérias primas para a confecção de armas dos muçulmanos). Teobaldo Visconti tentou sanar isto, mas não conseguiu e teve que voltar para a Europa: em 1/9 foi escolhido novo papa, Gregório X, que não endossava a política de Carlos I d’Anjou em seu intento cruzadístico contra Bizâncio (ele era favorável à uma cruzada que se destinasse a libertar os Lugares Santos). ---- Em 28 de maio se casaram Filipe (filho de Carlos I) e Isabela (filha de Guilherme II de Villeharduin, Príncipe de Aqueia) em Trani: mais um passo para que o angevino deu para seu objetivo máximo de conquista do trono bizantino, fazendo de seu filho o herdeiro do principado grego. ---- No final de outubro, os arredores de Alepo foram arrasados por tropas enviadas pelo il-khânida Abaqa sob o comando do general Samagar. Em 12 de novembro, foram repelidos pelo sultão Baibars, indo para o vale do Eufrates. ---- Miguel II Anjo Comneno foi destronado do Épiro e seus Estados desmembrados; subiu ao poder Nicéforo I Anjo Comneno no Épiro e litoral ocidental, enquanto seu meio-irmão, o bastardo João Anjo Comneno ficou como duque de Neopatras e déspota da Tessália e vale do Spercheios, com o título de Déspota de Blaquia e se denominando João I de Blaquia. Este, mesmo sendo bem recebido em Constantinopla, procedeu a uma política antibizantina, ora invadindo seus territórios, ora se coligando com seus inimigos, ora dando guarida aos antiunionistas. 1271-1272 – Na volta para a Sicília (da VIII Cruzada), o rei Carlos I de Anjou tomou a Albânia (onde foi proclamado rei) e selou acordos com João I de Blaquia e Constantino Assen (tzar sérvio da Bulgária) para a guerra contra Constantinopla. Ao mesmo tempo, o imperador Miguel VIII se aliava com Afonso X de Castela (adversário de Carlos I d’Anjou e candidato ao trono da Alemanha), com o rei da Hungria (Uroch I) e reatava suas relações amistosas com os genoveses para se defender de um eventual ataque do rei da Sicília, Carlos I.1271 a 1276 – Pontificado do papa S. Gregório X, durante o qual Miguel VIII procurou acertar uma cruzada para o Oriente; em contrapartida, negociou a unidade eclesiástica entre Roma e Constantinopla.

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1271 a 1287 - Viagem do célebre mercador de Veneza chamado Marco Pólo até a corte do mongol Kubilai Khan, em Pequim; na ida passou por S. João d’Acre, seguiu pela Síria, o leste da Anatólia, a Pérsia, o norte do Afeganistão e Ásia Central; voltou pelo Oceano Índico, Golfo Pérsico, Pérsia, Trebizonda, Mar Negro, Constantinopla e daí para Veneza.1272 – Em 21 de fevereiro o rei Carlos I d'Anjou se proclamou rei da Albânia em Durazzo (Dyrrachium), porto estratégico para o caminho terrestre em direção ao Império Bizantino. Também se aliou com Constantino Tich (rei da Bulgária) e Urosh I (da Sérvia) contra o imperador bizantino. Este, em contrapartida, se aliou com o general mongol da Horda de Ouro, Nogai, concedendo-lhe uma de suas filhas em casamento; desta forma mandou expedições militares contra Constantino Tich. ---- Em 22 de maio, foi assinada uma trégua de 10 anos e 10 meses entre o Reino de ‘Jerusalém’ e o Sultanato do Egito, no Acre; o príncipe Eduardo, porém, já precavido pelos antecedentes do sultão Baibars, mandou construir uma torre de observação na cidade, atribuindo sua defesa à Ordem de S. Eduardo (criada por ele). Ele foi para a Inglaterra buscar reforços para a IX Cruzada, mas seu pai, Henrique III, morreu em 16 de novembro e, assim, ele teve que ficar lá para dar continuidade à Dinastia dos Plantagenetas. ---- O imperador Miguel VIII nomeou o seu primogênito Andrônico como imperador-associado; este se casou com a filha do novo rei da Hungria, Estevão V.1272 - 1273 - O rei ítalo-angevino Carlos I d'Anjou esteve na Tessália com o príncipe João Anjo (filho bastardo do déspota Miguel II do Épiro) e depois na Sérvia e Bulgária.1273 - Ao morrer Tomás de Berard, grão-mestre da Ordem dos Templários, foi escolhido, em 13 de maio, Guilherme de Beaujeu, que tinha sido preceptor na Sicília e, nesta época, estava na cidade de Acre. ---- O ex-patriarca Arsênio morreu neste ano e seus seguidores permaneceram arredios à comunicação com os seus sucessores (desde 1266, quando foi deposto). ---- Outro que morreu foi o último governante do Império Latino do Oriente, Balduíno II de Courtenay.1274 - Concílio de Lyon (na França), em sua 4ª sessão, em 6 de julho: nova proposta de união entre as igrejas de Roma e de Constantinopla feita por Miguel VIII e o papa (S. Gregório X). O objetivo político do imperador bizantino era o de impedir as pretensões imperiais de Carlos I e neutralizar o papado. Neste Concílio, o papa recebeu emissários do il-khanida da Pérsia, Abaqa, tentando juntar este mongol com o imperador bizantino Miguel VIII Paleólogo em cruzada contra os muçulmanos. Ainda neste concílio esteve participando Guilherme de Beaujeu, em 4 de maio, quando o papa deu continuidade à sua ação militar no Acre à uma cruzada contra os muçulmanos, no caso o sultão Baibars. --- A filha de Nicéforo I do despotado do Épiro, Tâmara (Thamar) ou Catarina Anjo, se casou com Filipe I de Tarento (4º filho de Carlos I d’Anjou, era também príncipe de Aqueia); nesta ocasião, se criou, outrossim, um novo despotado: o latino de România, englobando os despotados de Blaquia e do Épiro. --- (Cabe lembrar que os europeus também chamavam de România ao Império Latino do Oriente). ---- O imperador Miguel VIII retomou no Épiro sua ofensiva contra as tropas angevinas, neste ano. 1275 - Em janeiro, como efeito do Concílio de Lyon, foi assinada uma trégua entre Carlos I e Miguel VIII; o patriarca José de Constantinopla abdicou de sua função (em 11 de janeiro). No dia 16 foi reconhecido nominalmente a união das duas igrejas (na prática não valeu, pois não foi avalizada pela igreja local). No dia 26 de maio foi eleito novo patriarca, João XI Vecos, favorável à união de Roma com Constantinopla. Em função desta situação, reuniu-se um concílio antiunionista na Tessália contra Miguel VIII e o patriarca João XI Vecos. ---- Segundo o historiador Charles Diehl, nesta época um exército bizantino comandado pelo irmão do imperador, João Paleólogo, e do general Aleixo Kaballarios, foi derrotado no ataque à fortaleza de Neopatras (Batalha de Neopatras, hoje Ypati, Fithiotida, na Grécia Central) pelo déspota João Dukas (filho de Miguel II Dukas, déspota do Épiro) aliado com o duque de Atenas (João I de la Roche). --- Em junho, o grão-mestre Templário Guilherme de Beaujeu se negou a avalizar ao rei Hugo III de Chipre em ser governante do reino de ‘Jerusalém’, visto que apoiava a pretensão de Carlos I de Anjou, que comprara o direito de ser rei daí em transação financeira feita com Maria de Jerusalém e mandara o bailio Rogério de S. Severino como seu preposto no Acre. ---- Neste ano: Partiram da China em peregrinação a Jerusalém os monges nestorianos Rabban Bar Sauma e Yaballah; este último foi escolhido como patriarca de Bagdá (em 1281), o primeiro foi embaixador do il-khan da Pérsia em Paris e Roma (em 1287). 1276 – Em 6 de janeiro morreu o papa Gregório X, abortando o seu desejo de pessoalmente chefiar uma expedição à Terra Santa e e expulsar os turcos da Anatólia. Com a sua morte, reiniciaram-se as negociações entre Miguel VIII e o sultão egípcio Baibars, o Besteiro; por outro lado, findou o projeto de nova cruzada para os Lugares Santos e a tentativa unionista entre Roma e Constantinopla. ---- O rei Hugo III de Chipre até outubro deste ano governava Chipre e Acre, mas abandonou este último em função da falta de apoio dos barões e das comunas, das hostilidades dos Templários e da pretensão de Carlos I de Anjou. ---- Este ano foi o único na História da Igreja Católica em que foram escolhidos 4 papas: Gregório X, Inocêncio V, Adriano V e João XXI.1276 (janeiro) a 1277 (maio) – Neste pequeno período de tempo foram escolhidos 3 papas (Inocêncio V e Adriano V, em 1276; e no restante do tempo, João XXI) por influência de Carlos I d’Anjou; sendo, assim, antiunionistas.1276-78 – Foi tomada a Ilha de Eubeia (exclusive sua capital, Negroponte) por Licário de Verona. Neste período o imperador Miguel VIII conseguiu ampliar seu território na Península Balcânica sobre o Despotado do Épiro e do Estado Vlaco-búlgaro.1277 - O rei da Sicília, Carlos d’Anjou, adquiriu o Reino de ‘Jerusalém’ mediante um pagamento a Maria de Antióquia (sobrinha de Amauri II). Com o apoio integral do grão mestre dos Templários, Guilherme de Beaujeu, em 15 de janeiro, mandou um representante seu, Rogério de S. Severino, para tomar posse em Acre. Em relação ao governo local se dividiam os partidários de Hugo III (rei de Chipre) e Carlos d’Anjou. --- O governador turco seldjúcida de Sinope, Mu’in al-Din Suleyman (Pervane, também vizir do Sultanato de Rum) pediu a ajuda de Baibars para sua luta de autonomia em relação aos mongóis da Pérsia. Baibars, atendendo ao seu apelo, saiu-se vitorioso em 18 de abril na Batalha de Elbistan (ou Albistan, no alto vale do Djihun, na Capadócia) e, em seguida, avançou até Kayseri ou Qaiçariya (junto ao Monte Erciyes), em 23 de abril, seguindo depois para a Síria. Diante da omissão de Mu’in al-Din Suleyman, Baibars voltou para Cairo. ---- Em julho, o Il-Khan Abaqa, sabendo das vitórias de Baibars, invadiu a Anatólia e reuniu um conselho militar, que condenou Pervane à morte (seu corpo foi retalhado em pedaços e dispersos nos lugares por onde passou) no dia 23 deste mês. A partir daí, a Anatólia tornou-se um protetorado do Il-Canato da Pérsia. ---- Em 15 de maio, o príncipe (bey) de Karaman (Cilícia), Mehmed (ou Shams al-Dîn Muhammad I), se apoderou de Iconium, capital do Sultanato de Rum em nome dos turcos seldjúcidas. – Em 1 de julho, morreu envenenado o sultão Baibars, sendo sucedido pelo seu primogênito Baraka Khan; este passou o governo ao caçula Salamish, em 1279. Nesta época o Sultanato dos Mamelucos ia desde a Núbia (o reino de Dongola era vassalo do Egito) ao Mar Mediterrâneo (sentido N-S) e desde a fronteira do Canato da Pérsia até o deserto da Líbia (sentido leste-oeste). ---- No final do ano, o déspota da Tessália João I Dukas (ou João I, o Bastardo) se saiu vitorioso na Batalha de Farsália (no centro da Grécia) sobre a armada bizantina sob o comando de João Sinadenos (que foi aprisionado) e Miguel Kaballanos (que morreu depois por ferimentos durante a batalha). ---- Nesse ano: Na Bulgária, o tzar Constantino Assen sofreu um acidente e deixou como regente do trono a Maria Paleóloga, despertando a insatisfação dos camponeses e dos nobres (boiardos), destronando-o e colocando no trono um simples zelador de porcos chamado de Ivailo, líder dos camponeses (em 1278, que governou até 1280 em Tirnovo). Dai em diante eclodiram guerras civis no reino, gerando constantes intromissões de Miguel VIII (que apoiava João Assen III e teve que fugir), sequioso de colocar a Bulgária sob sua influência.1278 - Guilherme II de Villeharduin (de Moreia ou Aqueia) morreu (em 1 de maio), sendo sucedido por Carlos I d’Anjou (em outubro), mas sofrendo contínuas investidas dos bizantinos aquartelados em Mistra. --- Em maio foi eleito o papa simoníaco Nicolau III que, ao contrário dos anteriores, não apoiava as pretensões imperiais do rei angevino da Sicília, Carlos I, mas também pretendia a submissão do clero ortodoxo bizantino à sua autoridade. --- Neste ano (ou 1265, segundo alguns autores), os turcos oguzes (chamados de Kei-Kan-Kli), vindos do Khorassan (leste da Pérsia) por pressão dos mongóis, se colocaram a serviço do sultão Alaeddin (do Sultanato de Rum) e foram assentados em Sogut (ou Sugyut, entre Brusse e Kutayeh), sob o comando de Ertogrul, com autorização do sultão Aladin Kaykubad I. Estava plantada a semente do grande e famoso Império Otomano. ---- Com a invasão mongol houve deslocamentos de populações que habitavam na Anatólia, enquanto os turcos a ocupavam. Formaram-se emirados independentes aí, como o de Karaman. 1279 - O papa Nicolau III fez exigências quanto à união das igrejas de Roma e Constantinopla, mas elas não foram aceitas por Miguel VIII Paleólogo. --- Em 17 de julho, João Assen III, mesmo com auxílio de armada bizantina (sob o comando de Aprin), sofreu derrota na Batalha de Devnya, na

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passagem de Kotlensi, perto da capital búlgara Tirnovo (ou Tarnovo) diante de Ivailo, auxiliado pelo mongol Nogai, conseguindo Ivailo se manter no poder por pouco tempo: João Assen III corrompeu Nogai que mandou assassinar Ivailo durante um banquete. Este assassinato foi sucedido por uma ‘jacquerie’ (revolta camponesa) na Bulgária. 1280 – Subiu ao poder no Império de Trebizonda o filho de Manuel, João II Comneno, depois que o khan mongol capturou o seu irmão Jorge. Seu reinado durou até 1297. A partir de seu governo, os imperadores locais passaram a adotar o nome de ‘Grandes Comnenos’ e deixaram de ter a denominação de ‘imperadores dos romanos’ para não ferir os direitos a que se pretendiam os governantes bizantinos. No final de 1280, contudo, um kumano chamado Jorge Terter ocupou o trono (João Assen não foi aceito por ser amigo dos bizantinos), enquanto Ivailo negociava com Nogai, foi assassinado; tornou-se Jorge Terter I (governando até 1292) e assinou uma aliança com Carlos I d’Anjou contra Miguel VIII. A morte de Ivailo representou o fim da ‘jacquerie’ búlgara. ---- O capitão-general Hugo de Sully, por ordem de Carlos I d’Anjou, foi atacar a Albânia; saiu de Durrés (Durazzo, no litoral oriental do Adriático), depois assediou e tomou a cidade de Berat (centro-sul da Albânia), ponto nevrálgico de defesa do Império Bizantino. 1281 – Em janeiro, o novo sultão do Egito Al-Mansur Qala’ûn assinou com o imperador bizantino Miguel VIII Paleólogo um tratado pelo qual o Egito conseguiria se prover de escravos através da rota dos Estreitos de Dardanelos e do Bósforo. ---- Em fevereiro, os muçulmanos atacaram e cercaram Margat, mas os Hospitalários conseguiram repelí-los. ---- O imperador mandou uma armada sob o comando dos generais Miguel Tarchaneiotas e João Sinadenos à Albânia, retomando Berat em 3 de abril. Hugo de Sully (o 'Vermelho', por causa de seus cabelos ruivos) foi levado preso para Constantinopla. Carlos I não se deu por vencido: realizou alianças (por intermediação do papa Martinho IV, recém-eleito, seu aliado, que excomungou o imperador bizantino) com Filipe de Tarento e os venezianos (pelos Tratados de Orvieto, em 3 de julho). ---- Neste ano: Saque do vale do Meandro e a Caria, na Ásia Menor, por hordas turcas e mongóis. Miguel VIII mandou seu filho e imperador-associado Andrônico para proteger a fronteira, onde rebatizou a cidade destruída de Tralles com o nome de Andronicópolis, sem nenhuma condição infraestrutural. Os turcos a tomaram e colocaram o nome de Aydin em 1284. Esta derrota acarretou a perda de domínios bizantinos a sudoeste da Anatólia. Miguel VIII, por sua vez, expulsou os turcos da Bitínia e fortificou as margens do rio Sangarios. ---- O papa Martinho IV avalizou a formação de uma cruzada contra o Império Bizantino: frotas navais francesas e venezianas navegaram em direção à Constantinopla, mas foram forçadas a retornar no ano seguinte. ---- Bizâncio ocupou uma boa parte do Reino da Albânia (dez anos antes ocupada pelo rei Carlos I de Anjou a partir do Despotado do Épiro).1281-1282 – João II Comneno, imperador de Trebizonda, veio à capital bizantina para assinar uma aliança com Miguel VIII e se casar com sua filha (setembro de 1282), para homologar o acordo.1282 – Em fevereiro, no Principado de Antióquia, Boemundo VII mandou enterrar vivo Guido (Guy) II do castelo de Biblos ou Gibelet (Djubail), com o qual estava em clima de guerra. --- Em 15 de abril, os Templários do Castelo de Tortosa (no Condado de Trípoli) conseguiram uma trégua do sultão egípcio Qala'um. ---- Miguel VIII, em 11 de dezembro, morreu em Pachomios (na Trácia), quando em campanha para conquistar a Tessália, com ajuda militar dos mongóis do Canato da Horda de Ouro. Foi sucedido pelo filho Andrônico II. ---- Neste mês, morreu o historiador e estadista Jorge Akropolita em Constantinopla. --- Em 30/31 de março ocorreu a expulsão dos franceses da Sicília, nas chamadas Vésperas Sicilianas. Carlos I de Anjou perdeu seu prestígio com este fato (seu reino passou para o sul da Itália, com a capital em Nápoles), afetando sobremaneira o embasamento político do grão-mestre Templário Guilherme de Beaujeu. Outro que perdeu prestígio foi o bailio de Carlos de Anjou no Acre, Odon Poilechien; este foi obrigado pelos Templários e Hospitalários a entregar o reino a Hugo III de Chipre. O plano de Carlos I (com apoio do papa Martinho IV) de realizar uma cruzada contra Miguel VIII em 1283, foi abortado. Na Sicília foi proclamado rei Pedro III de Aragão em Palermo, no mês de agosto.1282 (11 de dezembro) a 1328 – Reinado de Andrônico II Paleólogo. De 1295 a 1320 seu poder esteve associado a Miguel IX Paleólogo, seu filho. O poder, na verdade, esteve nas mãos de Teodoro Metochita e Nicéforo Chumnos. Seu reinado estava sob a ameaça da Sérvia dos Nemânidas (que pretendiam chegar até o Mar Egeu), do Reino de Sogut (turcos otomanos) e dos emirados turcos na Ásia Menor. Praticou uma política claramente antiunionista, resultando numa sucessão de 9 patriarcados durante seu governo. – Diante da situação econômica do império, promoveu uma reforma financeira que resultou na diminuição dos quadros de seu exército; mesmo assim, tentou conter o avanço turco na Anatólia.1282 (continuação) - Andrônico II repudiou totalmente as tentativas de reaproximação das igrejas de Roma e Constantinopla (a partir do Concílio de Lyon). – Em dezembro, o imperador mandou desenterrar o corpo de seu pai desrespeitosamente; depois afastou o patriarca João XI Veccos (no Natal), renomeando Josefo I para sucedê-lo (30/12) e perseguindo os unionistas. ---- Neste ano: O déspota do Épiro, Nicéforo I Ducas se aliou com o imperador Andrônico II por influência de sua ambiciosa esposa Ana (que pretendia unir dinasticamente Bizâncio e Épiro com o casamento de sua filha Tamar com Miguel, filho do imperador bizantino). ---- Neste ano: Na Sérvia, subiu ao trono Estêvão Milutine (com a abdicação de seu irmão Estevão Dragutin) que se apoderou parcialmente da Macedônia (pertencente aos bizantinos), após o cerco e conquista de Skopje.1282-3 – Estevão Milutine (Estevão Urosh II Milutine Nemanjic), rei da Sérvia, se apoderou de Skopje ou Scupit (que passou a ser a residência real) e de 2/3 da Macedônia bizantina, chegando até Serrés (hoje Sirra), passando a fronteira em Prilep, Stip e Ohrid e ameaçando Tessalônica através do vale do rio Vardar. O imperador Andrônico II mandou um exército turco para combatê-lo, mas foi um fracasso.1282 a 1302 – O imperador Andrônico II perseguiu uma política antiunionista, procurou fazer aliança com Veneza e Gênova e dirigiu seus esforços para conter a ameaça turca na Ásia Menor. 1283 – Ao iniciar-se o ano, o ex-patriarca João XI Vecos foi obrigado a ir um concílio antiunionista e assinar sua abdicação, sendo depois proscrito para Brussa. Em março, o patriarca Josefo morreu, sendo sucedido por Gregório de Chipre, ensejando revolta dos partidários do finado patriarca Arsênio (unionistas). ---- Em 3 de junho, foi renovada a trégua entre o Reino de ‘Jerusalém’ (Acre) e o sultanato mameluco do Egito (Saif al-Mansur-ad-Din al-Alfi Qala'ûn); este não fez o mesmo com Trípoli e os Hospitalários por terem se aliado com os mongóis. Na realidade a trégua durou até 1290 por causa de um massacre de muçulmanos no Acre. ---- Neste ano: O general Miguel Tarchaniotas foi mandado para a Tessália para auxiliar o déspota Nicéforo I Ducas (do Épiro) em conflito contra seu irmão João Ducas (de Tessália), este adotando uma política contrária aos interesses bizantinos. O general bizantino e seu exército foram, no entanto, dizimados pela malária. Esta expedição militar à Tessália teve como fundo financeiro a cobrança do dízimo sobre os camponeses que trabalhavam para a aristocracia rural e os mosteiros. ---- A célebre caverna da cidade de Vardzia, na Geórgia, ficou reduzida a 1/3 do seu tamanho por destruição provocada por um terremoto.1284 – Nicéforo I Dukas e sua esposa Ana atraíram o sobrinho Miguel (filho de João Dukas, déspota da Tessália), a Arta, capital do despotado do Épiro, sob a perspectiva de uma aliança dinástica entre os dois despotados; mas chegando lá, ele foi preso e mandado para Constantinopla por causa da política do seu pai . ---- Tropas turcas do beylicado de Menteshe conquistaram a cidade bizantina de Aydin (Tralles) e seus habitantes escravizados. 1285 – De 17 de abril a 25 de maio, o sultão Kalaun, após destruir parcialmente uma muralha, sitiou e ocupou o castelo-fortaleza de Marqab (Margat) dos Hospitalários (considerada inexpugnável), deixando-os sair ilesos e com seus pertences para Trípoli. Após esta ocupação, ele exigiu que Boemundo VII, conde de Trípoli, destruísse a fortaleza. ---- Neste ano: O déspota da Tessália, João Ducas, retaliando a prisão de seu filho Miguel, atacou o despotado do Épiro, arrasando os arredores de Arta. ---- Durante a procissão do Espírito Santo em Constantinopla se convocou um concílio para se esclarecer a sua origem. Neste concílio, os unionistas João Beccos, Jorge Metochitas e Constantino Meliteniotas foram condenados por suas idéias e presos (e, assim, morreram). 1286 - De 24 a 29 de junho, o filho e sucessor de Hugo III de Chipre, Henrique II (que governou de 1285 a 1324), mesmo sendo abalado frequentemente por ataques de epilepsia, se apoderou do Acre aos Angevinos (que estavam sob a chefia de tenente Carlos Hugo Pelerin), sendo coroado rei de ‘Jerusalém’ em 15 de agosto (aí governando até 1290). O governo de Chipre foi exercido, de fato, pelos irmãos de Henrique II (Guido e Amauri).1287 – Ao morrer Guilherme de La Roche, Duque de Atenas, subiu ao poder seu irmão Guy (Guido) II de la Roche, seu filho. Ele, como os dois duques anteriores (João e Guilherme) exerceram protetorado sobre a Tessália (também chamada de Grande Valáquia).---- Lataquia (último porto

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cristão do Principado de Trípoli), defendido pelos Hospitalários, foi tomado por Qalaun, em agosto. ---- De setembro a novembro, o emissário do il-khan Arghun, o monge nestoriano Rabban Bar Sauma esteve nas cortes de Filipe IV, o Belo (em Paris), de Eduardo I da Inglaterra (em Bordeaux), mas não conseguiu realizar sua missão de concretizar uma aliança contra os Mamelucos do Egito.1288 – O monge Rabban Bar Sauma continuou sua missão européia: esteve com o papa Nicolau IV, em 28 de março, mas não conseguiu nada. – Neste ano: Em Trípoli morreu Boemundo VII sem deixar herdeiros com sua esposa Margarida do Acre; veio da Europa sua irmã Lúcia, que não foi aceita. O sultão mameluco Qalaun se aproveitou desta situação para preparar um ataque à cidade. ---- O comerciante genovês Benedito Zacarias conseguiu a concessão da ilha de Foceia, onde explorou minas de alúmen até 1307.1289 - Após a Páscoa (10 de abril), o il-khanida Argun mandou o genovês Buscarel de Gisolf como seu embaixador para a Europa, a fim de propor ao papa Nicolau IV, aos reis Filipe IV, o Belo (da França) e Eduardo I (da Inglaterra) uma aliança contra os muçulmanos para tomar os Lugares Santos; não obteve resultados concretos (nem em 1290, com o mesmo propósito). ---- Em 27 de abril, mesmo um espião (o emir al-Fakhri) tendo contado o plano do sultão egípcio ao grão mestre Templário Guilherme de Beaujeu, Qalaun atacou e tomou Trípoli (se aproveitando de disputas internas), morrendo em combate o comandante templário Pedro de Moncada. Todos os homens foram mortos (menos os que puderam fugir nas águas do Mediterrâneo), as mulheres e crianças vendidas como escravas e depois a cidade foi arrasada. Com isto foi selado o fim do Principado de Trípoli. Ao chegar a notícia da queda de Trípoli em Acre, o rei Henrique III mandou emissários à corte papal de Nicolau IV para solicitar reforços. --- De 15 de julho a 30 de setembro, o papa recebeu também o emissário do il-khanida Argun, o genovês Buscarel de Gisolf, para ajudar na guerra contra os Mamelucos do Egito; em novembro-dezembro estava na corte do rei francês Filipe IV, o Belo, mas nada conseguiu de concreto. ---- Neste ano: O patriarca Gregório de Chipre, diante das revoltas dos unionistas contra ele, abdicou; seu sucessor, Atanásio (um eremita do Monte Athos) tentou restabelecer a ordem na Igreja, sem conseguir. --- Ao morrer o déspota da Tessália, João Ducas, reacendeu a questão das terras bizantinas ao norte da Grécia. O imperador Andrônico II ficou ressabiado com a libertação de Carlos II d’Anjou por Pedro de Aragão na Sicília e sua ascensão ao trono em Nápoles, pretendendo recuperar a soberania angevina na Albânia e no litoral ocidental da Grécia. ---- Florêncio d’Avesnes (ou de Hainaut), casado com Isabela de Villeharduin, cunhada e vassala de Carlos II, rei de Nápoles promoveu a reorganização do Principado de Moreia ou Aqueia e assinou uma trégua com Bizâncio. --- Na Armênia, em função de perseguição aos notáveis e príncipes, eclodiram revoltas que duraram até 1295, reprimidas violentamente pelo general Qutlug Chah, que pilhou e arrasou com o norte da Armênia e o leste da Geórgia.1290 - O papa Nicolau IV, respondendo ao apelo do rei Eduardo I (da Inglaterra), mandou publicar uma bula de cruzada. ---- O rei Afonso III de Aragão e Catalunha e os venezianos mandaram tropas para o Acre, onde já encontraram soldados desordeiros no começo do verão. Estes foram os responsáveis pelo massacre de muçulmanos, por suposta sedução de uma cristã. O sultão egípcio Kalaun exigiu que lhe entregassem os envolvidos no massacre, mas não teve retorno. Em 4 de novembro, ele rompeu a trégua feita em 1283-1290 e saiu do Cairo para atacar o Acre, mas morreu adoentado no meio do trajeto (ou foi envenenado, conforme outra versão).1290 a 1300 – Os otomanos, sob o comando de Osman (ou Othman) começaram o seu processo de conquistas em relação aos vizinhos, inclusive os bizantinos. Eram inicialmente vassalos dos turcos seldjúcidas de Rum. 1291 – Em março, o sultão egípcio Al-Ashraf marchou com tropas sírias e egípcias se apoderou de Tiro, Beirute e e, em 5 de abril iniciou o cerco a S. João do Acre. A defesa local foi reforçada por tropas mandadas pelo rei Henrique II de Chipre, além de franceses (capetíngios chefiados por João de Grailly) e ingleses (sob o comando de Oto de Granoso), além do grão mestre da Ordem dos Hospitalários (João de Villiers) e seu marechal (Mateus de Clermont). Depois de 40 dias, em 18 de maio, a cidade foi conquistada pelo exército mameluco munido de 100 apetrechos enormes de cerco, de muitas catapultas e manganelas. O fraco rei Henrique II de Lusignan fugiu, junto com os nobres para Chipre. Dez dias depois (28 de maio) a cidadela, defendida pelos Templários, também caiu. Foi feita a evacuação durante o verão das cidades de Tiro (em maio), Sidon, Beirute (em julho), Tortosa e o Castelo Pelegrino (em agosto) e arrasadas pelas tropas mamelucas. Dos Estados Francos do Oriente restou apenas o Reino de Chipre, que sobreviveu até 1499, quando caiu sob o domínio turco otomano. Os Hospitalários se estabeleceram nesta ilha a partir de 1291. O único porto cristão aberto oficialmente para o comércio com o Oriente foi o de Alexandreta (pertencente antes ao Principado de Antióquia). ---- Esta queda de S. João d’Acre representou a perda do último ponto comercial de Veneza na região; em face disso, se voltou para o Mar Negro, monopolizado pelos genoveses estabelecidos na Crimeia (antiga possessão bizantina). ---- O rei francês de Nápoles, Carlos II, projetou nova cruzada após a queda de Acre, com a unificação das ordens militares, uma aliança com os mongóis e o bloqueio do Egito. --- Neste ano: Constantino, irmão do imperador Andrônico II, teve seus bens confiscados por suposta trama para usurpar o trono. ---- Por causa de novo ataque mongol (do Canato da Horda de Ouro) na Bulgária, seu rei Jorge I se refugiou em Constantinopla; os bizantinos, entretanto, o prenderam por receio de ataque dos mongóis. 1293 – A confusão no seio da igreja ortodoxa grega se fez sentir mais uma vez: o patriarca Atanásio abdicou primeiro em 16 de outubro (após ter se internado à noite no Mosteiro de S. Cosme e Damião, em Constantinopla) e depois em 1310, desta vez definitivamente. --- O ex-patriarca Veccos morreu em novo exílio (ao qual se dirigiu depois de ter sido obrigado a ir um sínodo e ter confundido seus inimigos). --- O general Miguel Strategopulos teve apoio popular para tramar um golpe de Estado contra o imperador bizantino, mas não teve sucesso. ---- O líder da igreja armeniana (‘catholicos’) se estabeleceu na cidade de Sis, na Cilícia. 1293 a 1299 - Conflitos entre Gênova e Veneza pela disputa do comércio marítimo no Mediterrâneo e Mar Negro. Neste último, os genoveses tinham a lucrativa colônia de Cafa (na península da Crimeia), desde 1280, cobiçada pelos venezianos (que se aliaram com khan Nogai do Canato da Horda de Ouro). Como o imperador bizantino favorecia mais os genoveses, a tendência era de haver ataques venezianos a Constantinopla, que nem sempre tinha uma defesa eficiente dos genoveses.1294 – O patriarca Atanásio foi substituído pelo monge Cosmas de Sozópolis, passando a ter o nome de João XII Cosmas. 1295 – Após ter pressionado a João Láscaris (o filho de Teodoro II que estava preso em fortaleza na Bitínia) reconhecer sua legitimidade como imperador, Adriano II empossou como imperador-associado o seu primogênito Miguel (de seu casamento com a primeira esposa Ana de Hungria), em 21 de maio. Um dia depois, nomeou como déspota o primogênito João (do seu casamento com a segunda esposa Iolanda de Montferrat, ou Irene, descendente dos latinos do Reino de Tessalônica). --- Neste ano: Na Armênia, em função de perseguição aos notáveis e príncipes, eclodiram revoltas que duraram até 1295, reprimidas violentamente pelo general Qutlug Chah, que pilhou e arrasou com o norte da Armênia e o leste da Geórgia.1296 – Em 16 de janeiro, houve uma aliança de Bizâncio com o rei Hethum II da Pequena Armênia (Cilícia) através do matrimônio entre o imperador-associado Miguel (futuro Miguel IX) e a irmã deste rei. A razão da aliança foi a eclosão iminente de novo perigo para os bizantinos: os turcos otomanos tendo como eixo de infiltração o vale do Sakaria, no sudoeste da Anatólia. – Ocorreu mais um abalo sísmico em Constantinopla, tido como castigo divino contra a corrupção e o desrespeito às leis. Ao tribunal do Hipódromo se nomeou uma corte de 12 juízes formado por senadores e bispos para tentar sanear estes males. --- Em julho, os venezianos incendiaram Gálata e Pêra e tentaram entrar na península do Corno de Ouro, enquanto os genoveses refugiados destes 2 lugares massacraram os venezianos dentro de Constantinopla como represália. Veneza, para desforrar, destruiu pontos de comércio de Gênova no Mar Negro. --- Estevão Urosh II Milutine (Sérvia) se assenhoreou do norte da Albânia; força bizantina, sob a chefia do estratego Miguel Glabas, enviada contra ele sofreu derrota. Diante disso, o imperador tentou fazer acordo através de matrimônio, primeiro com sua sobrinha Eudokia (viúva do imperador de Trebizonda), depois com sua filha Simonide, ainda criança (esta foi a responsável pela introdução da cultura bizantina na Sérvia). --- Neste ano esgotaram-se as possibilidades da tentativa do imperador bizantino, iniciada desde 1288, em realizar o casamento de Catarina I de Courtenay (neta de Balduíno II e filha de Filipe I de Courtenay), a fim de eliminar as rivalidades que existiam entre os Paleólogos e os latinos. Ela acabou se casando com Carlos de Valois, irmão do rei francês Filipe IV, o Belo. --- A guarnição da fronteira de Bizâncio com o Reino turco otomano de Sogut demorou porque, em dezembro deste ano, o imperador teve que sufocar uma revolta militar do general Aleixo Filantropenos (vitorioso contra os turcos na Cária e no vale do Meandro), que foi vencido e cegado. Ao mesmo tempo, Bizâncio perdeu suas províncias marítimas para os emires turcos de Karaman, Sarukan e Kermian. 1297 – O príncipe de Aqueia (ou Moreia), Florent (Florêncio) de Hainaut (ou d’Avesnes) faleceu em 23 de janeiro; sucedeu-o a viúva Isabel de

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Villeharduin, que colocou o Conde de Cefalônia (Ricardo Orsini) como bailio.1297 a 1330 – Império de Trebizonda: reinado de Aleixo II Comneno, sucessor de João II por ser seu primogênito (filho do casamento de João II com Eudóxia Paleólogo, filha de Miguel VIII). Foi o imperador mais importante de Trebizonda, se livrando da influência de Constantinopla e se aproximando da Geórgia.1298 - Em 7 de setembro, a frota naval veneziana sofreu fragorosa derrota no Mar Adriático (entre a ilha de Curzola e o litoral da Dalmácia) frente aos genoveses. – O imperador mandou o general João Tarcaniotas (sucessor de Aleixo Filantropenos, no comando das tropas no sul da Anatólia) para combater os turcos, obtendo vitórias iniciais, mas abandonando sua missão devido à ingerência do patriarca (que foi contrário à sua nomeação por suas idéias arsenitas). --- O sultão seldjúcida Mas`ûd de Rum se dirigiu a Tabriz (antes chamada de Tauriz, no Azerbaijão), capital dos Il-Khânidas, para solicitar o auxílio deles no sentido de retomar o controle da Anatólia, onde estavam cada vez mais presentes os turcomanos. Neste mesmo ano, Mas`ûd perdeu o trono e teve que ir para a Armênia; sucedendo-o seu sobrinho `Ala' ad-Dîn Kay Qubâdh (ou Kay Kubadh III), proclamado como sultão por Ghazan Mahmud (que nomeara, também neste ano, como seu vizir. o persa Rashid al-Din). 1299 – Em 25 de maio, Gênova e Veneza assinaram um tratado de paz em Milão, sem exigências mútuas de reparações, mas pressionaram Bizâncio em 1302/3 para compensar suas perdas financeiras. --- No outono, os Mamelucos arrasaram a região de Diyarbakir (Amida) e tomaram a cidade de Mardin. Ghazan, da Pérsia, retaliando, invadiu a Síria, junto com seu general Kutlug, tomou Alepo (exceto sua cidadela), em 12 de dezembro; 8 dias depois acampou perto de Salamiya; em 22-23 de dezembro aconteceu a Terceira Batalha de Homs, ou Batalha de Wadi al-Khazandar, na qual obteve uma vitória expressiva sobre os Mamelucos (seu sultão, An-Nâsir Muhammad, chegou atrasado ao campo de batalha, retirando-se para a capital). Nesta vitória Ghazan recebeu reforços dos reis Hethum II (da Armênia), de Chipre e dos Hospitalários. --- Constantinopla ficou desabastecida e, assim, grassou a fome até 1303. O patriarca culpou o desabastecimento pelos atacadistas de grãos (sobretudo de trigo), diminuindo sensivelmente a oferta e aumentando muito seus preços internamente, enquanto exportavam o produto para o ocidente. --- Neste ano, houve acordo matrimonial de Bizâncio com a Sérvia em Tessalônica, tendo como dote a devolução da Macedônia.1300-1301 - Desde 1300 o turco Osman realizou incursões vitoriosas sobre o Império Bizantino, conseguindo pela primeira vez, em 1301, se sobrepor às tropas imperiais diante de Nicomédia.1300 a 1326 – O chefe do clã turco oguz de Sogut, Othman I (ou Osman), filho de Ertogrul, se tornou o primeiro sultão da Dinastia Otomana e foi apelidado ‘o Vitorioso’, após conquistas na região, inclusive em território bizantino. No final deste século: Até 1924 os turcos otomanos criaram um grande império, cuja extensão máxima foi atingida em 1699 e compreendia terras nos Bálcãs, no norte da África (até Argélia), grande parte do Oriente Médio (exceto a Arábia). Sua expansão se deveu ao enfraquecimento do Im-pério Bizantino (desde o começo deste século com a criação do Império Latino do Oriente) e dos turcos seldjúcidas frente aos mongóis. Chefes de tribos turcomanas foram colocados em posições-chave no baixo vale do Sakaria, junto às cidades de Niceia (Iznik), Brus-sa (Bursa) e Nicomédia (Izmit). Não restou mais nada das Cruzadas no Oriente Médio, ora por causa dos conflitos entre os próprios cristãos, ora pela incapacidade da administração feudal franca em territórios que eram colônias militares. Acre foi a última capital franca do então chamado Reino de ‘Jerusalém’ (que estava reduzido ao litoral, a cidade de Jerusalém era domínio dos Mamelucos).

SÉCULO XIV No início deste século se efetivou um renascimento do monasticismo cristão pelo Hesicasmo no Monte Athos: pela contemplação interior (‘esykhia’) se chega ao contato com Deus. Em 1351 foi declarado ortodoxo este misticismo. Nos séculos XIV e XV humanistas bizantinos transportaram manuscritos antigos, verdadeiro repertório da cultura clássica, para a Itália. Os próprios antecedentes do Renascimento Italiano, o Trecento, sofreram influência da arte e iconografia bizantinas. O descompasso social entre a elite (sobretudo a rural) e as classes baixas continuou neste século, como ocorreu em Andrinopla. Tal desigualdade gritante foi uma das razões da inércia das populações do campo diante da conquista turca otomana (contribuindo, também, a pesada carga fiscal). No meio deste século, a grande epidemia da Peste Negra assolou parcialmente a Ásia, o norte da África e a Europa (que perdeu 1/3 de sua população). Esta peste bubônica se disseminou pelos genoveses que foram contaminados por lançamento de cadáveres leprosos pelos mongóis do Canato da Horda de Ouro durante o cerco de Tana (perto do Mar de Azov).1301 - Neste ano, o turco Othman I rompeu a linha de fronteira com o Império Bizantino chegando à Nicomédia, no litoral da Propôntida (Mar de Mármara). --- Filipe I de Sabóia se tornou o governante do Principado de Aqueia (ou Moreia) pelo seu casamento com Isabel de Villeharduino. Como esta não solicitou autorização para o matrimônio a Carlos II, este destituiu Filipe I de Sabóia-Aqueia (em 1307) e colocou no principado o seu filho Filipe I de Tarento. Os bizantinos de Mistra molestaram Filipe I de Tarento (ou Filipe II d’Anjou, titular de Tarento desde 1294) com ataques constantes ao principado. Os venezianos pressionaram o imperador Andrônico II a lhes restituir o mercado de Constantinopla e devolver-lhes, parcialmente, as ilhas Cíclades (no Mar Egeu). --- Neste ano, o rei francês Filipe IV, o Belo conseguiu a união matrimonial de Catarina de Courtenai (de Nápoles, neta de Balduíno II, que o imperador Andrônico II tentou esposá-la com seu irmão Miguel) com seu irmão Carlos de Valois.1302 – Bloqueio de Constantinopla por navios venezianos, para exigir indenização dos danos sofridos em 1296, forçando Andrônico II a acordo vantajoso comercialmente para eles em 4 de outubro. ---- Diante da ameaça turca otomana, o imperador bizantino Andrônico II recrutou forças dos Alanos do Cáucaso e os engajou em armada sob o comando do seu filho Miguel IX Paleólogo e do general Jorge Muzalon; estes foram cercados em Magnésia, desfizeram-se do corpo dos Alanos e suas tropas foram esmagadas, em 27 de julho, na Batalha de Bafeus (Koyunhisar), por Osman I (que tomou as fortalezas entre Nicomédia e Niceia); Miguel IX Paleólogo teve que se retirar em direção à Cilícia para se refugiar junto ao rei Hetum II, da Armênia Ciliciana (segundo Louis Bréhier ele foi para Cízica, para outros ele foi para Pérgamo, onde continuou a resistência diante dos otomanos até janeiro de 1304). --- Enquanto isto, o imperador de Trebizonda, Aleixo II Comneno, saiu-se vitorioso contra turcos seldjúcidas da Ásia Menor em Kerasonte. ---- Em 26 de setembro, os muçulmanos conquistaram a última fortaleza cruzada no Oriente, a de Ruad (ou Arwad, na ilha do mesmo nome, na Síria). ---- Veneza negociou tratado de comércio com os Mamelucos do Egito e com o Império Bizantino (com este último em 4 de outubro). 1303 – Na primavera, a armada bizantina da Anatólia (com tropas de Kestel, Bidnos, Adranos e Kete) fez incursão até Yenisehir (perto de Bursa), aí se defrontando com os otomanos chefiados por Osman I na Batalha de Dimbos, onde foram derrotados. ---- Em 1 de maio, Gênova conseguiu direitos aduaneiros no entreposto comercial de Pera-Gálata. --- No verão, Miguel IX tinha chegado a Pérgamo em direção à Cízica. --- O Farol de Alexandria (uma das Sete Maravilhas do Mundo Antigo) foi destruído por um sismo, em 8 de agosto --- Em setembro aportaram os mercenários Almugavares com suas famílias na capital bizantina e demonstraram sua índole agressiva: massacraram os genoveses por terem cobrado a Rogério de Flor (cujo nome verdadeiro era Rutger de Blum, um ex-Templário expulso da ordem por roubo), seu chefe, o pagamento de dívidas. ---- O rei Hethum II (da Armênia Ciliciana ou Pequena Armênia) abdicou do trono em favor do seu filho Thoros II e foi para um mosteiro franciscano. 1303 a 1328 – O Império Bizantino, neste período, esteve submetido à ação direta dos mercenários catalães (Grandes Companhias ou Almugavares) e dos italianos; internamente, sua estrutura política abalada fermentou revoltas. --- Os Almugavares dominaram parte do império, tirando proveito disso os reis Jaime II de Aragão e Frederico III da Sicília.1304 - Os Almugavares, em janeiro, foram mandados pelos bizantinos para Cízica (que estava cercada pelos turcos do Emirado de Karasi, chefiados pelo bey Karesi, que foram massacrados), sob o comando de Rogério de Flor e aí passaram todo o inverno. Em abril, esmagaram os turcos que estavam cercando a cidade de Filadélfia. Daí se encaminham para o oeste; no litoral do Mar Egeu, em Magnésia, onde se saíram vitoriosos Se juntaram com seu companheiro Rocafort em Éfeso e promoveram saques na região. --- Os cismáticos seguidores do patriarca Arsênio (chamados arsenitas) influenciaram o povo a exigir o afastamento do patriarca João Cosmas e sua substituição por Atanásio (23 de agosto). ---- Em 24 de outubro, Mehmed, um filho de Aydin, se apoderou da cidade de Éfeso, saqueando-a, matando uma parte de sua população e outra parte sendo

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deportada para Tiro. Foi a semente da criação do beylicado (principado) de Aydin, no extremo sudoeste da Anatólia, inicialmente dependente dos Germiyanidas e sob a suserania dos Huleguidas. Tornou-se um centro de pirataria no Mar Egeu. ---- Neste ano: O genovês Bento Zacarias (que já era concessionário de exploração mineral com seu irmão Martim) conseguiu dos bizantinos a ilha de Quios, importante pelas plantações de lentisco, do qual se extraía uma resina, matéria prima para a fabricação de mástica (pasta que serve para fixar vidros); em 1329, os bizantinos a reconquistaram, mas a perderam de novo em 1346. ---- O imperador mandou depreciar a moeda corrente e aumentar os impostos sobre o trigo e cevada para pagar o soldo dos mercenários Almugavares. ---- Perto de Sozopol (na Bulgária) aconteceu a Batalha de Skafida (às margens do rio homônimo) em que se defrontaram os búlgaros (comandados pelos czar Teodoro Svetoslav) e os bizantinos (com Miguel IX Paleólogo). Este venceram inicialmente, mas, ao atravessarem uma ponte no rio Skafida (sabotada antes pelos búlgaros), muitos soldados se afogaram neste rio. Assim, os búlgaros venceram os bizantinos, conseguindo controlar a Trácia.1304-1305 – O imperador bizantino Andrônico II Paleólogo, diante da ameaça otomana, pediu, inutilmente, a ajuda do khan mongol da Pérsia, Ghazan; como este morreu em 11 de maio de 1304, repetiu o pedido ao seu sucessor Uldjaytu, nada conseguindo. ---- Neste período, outrossim, os Mamelucos fizeram incursões e saques no reino da Pequena Armênia (Cilícia), vassala do Canato da Pérsia.1305 - O tzar da Bulgária,Teodoro Svietoslav (filho e sucessor de Terter), fez incursão sobre áreas de domínio bizantino e colocou em perigo sua soberania nos portos do Mar Negro. Foi enviado para combatê-lo o imperador associado Miguel, que foi derrotado nas proximidades de Andrinopla, mas conseguiu reagir ao receber reforços. Para consolidar sua posição, seu pai, Andrônico II, pensou em mandar tropas mercenárias (dos catalães), mas Miguel não aceitou devido à iminência de revolta de suas tropas por uma eventual presença destes mercenários. ---- Em 5 de abril, os Alanos armaram uma emboscada para o líder mercenário Rogério de Flor em Andrinopla e o mataram. Na mesma época os bizantinos massacraram aragoneses e catalães na capital. ---- Em 7 de junho, os Almugavares se revoltaram em Galípoli por não terem recebido seus soldos (a revolta durou até 1311). Nesta época estavam sendo liderados por Berenguer d’Entença. Em julho, tropas imperiais foram vencidas pelos Almugavares na Batalha de Apros, visto que os mercenários Alanos abandonaram os bizantinos antes. Daí foram para Rodosto (ainda no litoral do Mar de Mármara), que se tornou base de operações na Trácia e Macedônia até 1307. --- Em agosto, Berenguer de Entença e Bernardo de Roquefort, atravessaram a Anatólia quase toda e infligiram séria derrota aos turcos nas Portas de Ferro, junto aos Montes Taurus da Cilícia, resultando em grande despojo de guerra. 1305-1306 – O imperador desistiu de mandar os Almugavares (que estavam em Galípoli) para a Bulgária; ao tentar enviá-los para a Ásia Menor eles se negaram, reclamando do pagamento de seus soldos militares. Pretensos reforços chegados a Madyte, sob o comando de Berenger d’Entença encobriam as intenções do rei Jaime II de Aragão, o Justo (rei de Aragão-Catalunha e da Sicília) , fazendo de Berenger seu agente na conquista de pontos para comerciar na Ásia Menor. 1306 – Em dezembro (segundo Luís Bréhier) o imperador concedeu a Berenguer d’Entença o título de megaduque. --- Neste ano: O rei Henrique II de Chipre, menosprezado desde a queda de Acre aos Mamelucos, foi retirado do poder por seu seu irmão, Amauri II de Lusignan e o asilou na Cilícia em fevereiro de 1310, juntamente com vários nobres legalistas. ---- A aliança dos venezianos com Filipe I de Tarento criou uma nova oportunidade para exercer domínio econômico sobre as rotas comerciais marítimas da região, partilhadas com os comerciantes genoveses e pisanos.1306-1307 – Na época do inverno, enquanto se celebrava uma faustosa cerimônia litúrgica na Igreja de S. Sofia e grassava a fome na cidade, o clero secular, sem seus hábitos, celebrava outra cerimônia, fazendo uma greve para exigir o pagamento dos seus salários. A greve fracassou e o patriarca Atanásio I pediu demissão em 1309.1306-1316 – O imperador Aleixo II Comneno de Trebizonda esteve em conflitos com os genoveses.1307 – Em julho, os Cavaleiros Hospitalários da Ordem de S. João de Jerusalém, iniciando a conquista da Ilha de Rodes, comandados pelo Grande Mestre Folco de Vilaret e auxiliados pelo corsário genovês Vignolo di Vignoli, atacaram o castelo de Filermos. Em 5 de setembro, o papa Clemente V lhes confia a posse da ilha, embora sua conquista só tenha se efetivado em 1309 (ou 1310). ---- Expulsão dos Frades Menores de Constantinopla por Andrônico II, por influência do patriarca Atanásio. ----Neste ano: Encerrou-se o governo de Massud II (ou Ghiyâth ad-Dîn Mas`ûd II), o último sultão seldjúcida de Rum, na Anatólia; tão enfraquecido estava o sultanato que foi desmembrado em 20 principados turcomanos sob a suserania mongol. Foi, portanto, o fim do Sultanato de Rum e início da Época dos ‘Beylicados’ (‘bey’ era um chefe de clã) que durou até a conquista otomana. ---- O tzar búlgaro Teodoro Svetoslav assinou um tratado de paz com Bizâncio, este reconhecendo suas conquistas de Mesembria e Anchialos (portos bizantinos no Mar Negro). ---- Os bizantinos, às voltas com os turcos dos beylicados e com os catalães Almugavares, assistiram impotentes os turcos otomanos, sob Othman I, chegarem às imediações de sua capital. ---- A corte angevina de Nápoles interveio no Principado de Moreia, destituindo o príncipe Felipe de Sabóia (segundo marido de Isabela de Villeharduin) e colocando, em 1313, sua filha Matilde de Hainaut.1307 – 1308 – Carlos I de França, conde de Valois, sogro de Carlos II d’Anjou, ambicionando restaurar o Império Latino do Oriente e ocupar seu trono em Constantinopla, conversou com eventuais aliados nesta empreitada, como o rei Frederico II de Aragão (rei de Nápoles, que lhe ofereceu o auxílio dos mercenários catalães Almugavares); além disso, com o rei armênio Leão III (que morreu neste ano, passando o trono para Hetum II). Em abril de 1207 teve contato com o papa Clemente V em Poitiers, conseguindo a cobrança do dízimo para financiar sua expedição. Em 1308, após negociar o apoio do rei da Sérvia, iniciou a operação mandando tropas sob a chefia de Thibaud (Teobaldo) de Chepoy. Todo este projeto fracassou, ora porque Thibaud de Chepoy foi derrotado, ora por morte da imperatriz Catarina II de Valois-Courtenay (titular nominalmente do Império do Oriente), ora porque voltou seus interesses para o Sacro Império Romano Germânico (em 1308).1308 – Neste ano: Os Almogavares, tendo Tessalônica como centro de suas investidas, atacaram e pilharam várias cidades por onde transitavam, o mesmo fazendo com a Península de Cassândria (na Calcídica) e saquearam o Mosteiro de Monte Atos. ---- Walter V de Brienne, duque de Atenas, sucessor de Guido II a partir deste ano, chamou a atenção dos Almugavares contra ele, ao não pagá-los, suscitando sua revolta e fundação do Ducado de Neopatria. Eles atacaram e pilharam a Tessália (pertencente a João II Dukas). --- Neste ano os osmanlis (otomanos) comandados por Othman, penetraram novamente na península da Nicomédia (no Mar de Mármara), atacaram Brussa, conseguiram derrotar os mongóis que os atacaram por acordo com o imperador bizantino. Um aliado de Othman, o emir Saisan se apoderou de Éfeso (no litoral oriental do Mar Egeu). ---- Se efetivou uma aliança entre Filipe de Tarento e o rei sérvio Estêvão Milutine, enquanto o papa Clemente V excomungava Andrônico II.1309 – A partir de 15 de agosto, os Cavaleiros da Ordem de S. João (a partir daí Hospitalários) concluíram a conquista de Rodes, tornando-se esta ilha sua sede, aí permanecendo até a conquista otomana. Sua ação de soberania se estendeu às ilhas de Kós, Limônia, Simi, Alimnia, Nissiros, Tilos, Leros e até o porto de Esmirna. ---- O rei da Sicília, Frederico II de Aragão, enviou para Galipoli o infante Fernando de Maiorca para assumir a chefia da companhia dos catalães (Almugavares), ao que se opôs o seu chefe Bernat de Roquefort, obrigando-o a abandonar a cidade. Entrementes, o catalão Ramon Muntaner abandonou a companhia e passou para o lado de Carlos I de França, Conde de Valois. Este o aprisionou em Nápoles, onde morreu neste ano. 1310 – Em fevereiro, a nobreza do Reino de Chipre mandou para o exílio o rei Amauri II de Lusignan na Cilícia. Este, em 5 de junho, foi assassinado pelos defensores do rei Henrique II (que tinha sido destituído), reposto no poder pelo seu chefe Ague de Betsã. ---- Em 5 de março, no Egito, iniciou-se terceiro governo do sultão mameluco An-Nâsir Muhammad ben Qalâ'ûn (ou simplesmente Kalaun), após vitória e fuga do circassiano usurpador Baibars II (Rukh al-Din Baybars), que foi estrangulado na frente dele; livrou-se também de Sayf al-Din Safar. Kalaun moveu tenaz perseguição aos coptas. --- Em setembro, o patriarca Nifon publicou uma encíclica consagrando a unidade da igreja ortodoxa; mesmo assim persistiram alguns movimentos dos Arsenitas (mais político que religioso, visto que eram partidários da família Láscaris, desde quando Miguel VIII usurpou o trono de João IV Láscaris; este foi visitado na prisão pelo imperador Andrônico, que lhe pediu perdão). ---- Neste ano: A imperatriz Irene propôs a divisão do império entre todos os filhos, depois que morresse o imperador, mas este não aceitou. Em face disso, a imperatriz foi para Tessalônica com os filhos mais novos. 1311 – Os Almugavares, repelidos pela penúria da região litorânea de Galípoli, foram até a garganta de Tempê (pela qual se acessa a planície da Tessália). O duque Valter V de Brienne, de Atenas, pediu sua ajuda para mover guerra contra o déspota do Épiro e Andrônico II, recuperando grande parte de fortalezas perdidas; atacando e pilhando, a seguir, a região da Tessália (nordeste da Grécia). Aí, após a vitoria em Domocos, houve discórdias

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com os Almugavares. O duque de Atenas determinou sua saída, mas eles se recusaram, ficando nas proximidades de Tebas. Em função disso, pediu a ajuda do Principado de Moreia e do rei de Nápoles, Roberto I d’Anjou. Os catalães abriram sulcos nas áreas planas, transformando-as em pântanos (das águas provenientes do Lago Copais). Em 15 de março ocorreu a Batalha do Lago Copais (ou de Halmyros), às margens do baixo vale do Cefiso (que desemboca neste lago), na Beócia, em que a maioria da cavalaria francesa pereceu, incluindo Valter V de Brienne (o último governante deste ducado pertencente à Casa de La Roche). Este Ducado de Atenas e Tebas ficou sob o domínio de Aragão até 1387, tendo como 1° governante Manfredo, filho de Frederico II da Sicília (apenas nominalmente, já que os catalães estabeleceram aí uma república militar). --- Os turcos saquearam a Trácia e dificultaram o acesso de Constantinopla ao porto de Tessalônica. O imperador Andrônico II Paleólogo autorizou seu chefe, Halil Pasha, atravessar o império, mas desistiu, cobiçando o butim. Halil Pasha foi interceptado no Helesponto, mas solicitou reforços e venceu o exército imperial sob o comando de Miguel IX, filho do imperador. Os turcos permaneceram na Trácia por mais 3 anos. ---- O rei Henrique II de Chipre mandou emissários ao Concílio de Viena, onde solicitaram o auxílio do papa Clemente V para pregar uma nova cruzada à Terra Santa. 1312 – Ainda no Concílio de Viena, em 2 de maio, o papa Clemente V, suprimiu a Ordem dos Templários através da bula ‘Ad providam’; seus bens foram entregues aos Hospitalários. ---- Após 8 anos de patriarcado, Atanásio se afastou, ensejando uma crise que prolongou até 1323, em que houve duas vacâncias e a sucessão de 5 patriarcas. ---- Em novembro, o imperador Andrônico II estabeleceu que o Mosteiro de Monte Atos (a ‘Montanha Santa’) passaria a obedecer o patriarca Nifon de Constantinopla; portanto, a nomeação do seu primado seria feita por este último. ---- Neste ano ocorreu a Batalha de Galípoli na qual se coligaram os bizantinos (com Miguel IX), os sérvios (com Estevão Urosh II Milutine) e os genoveses (para impedir fuga pelo Mar de Mármara) contra o turco Halil Pasha (que dominava a Trácia), sendo este último vencido. ---- Filipe I de Tarento (filho do rei angevino Carlos II de Nápoles) deveria ser o sucessor de Nicéforo I Anjo, mas Ana Cantacuzeno Paleólogo (regente do Despotado do Épiro) indicou Tomás Dukas; Felipe I aceitou esta decisão.1313 – Filipe II d’Anjou, príncipe de Tarento e duque de Moreia (Aqueia), passou este ducado para Mahaut (ou Matilde) de Hainaut (filha de Isabela de Villeharduino e Florent de Hainaut), que se casou, ainda neste ano, com o rei de Tessalônica, Luís de Borgonha (irmão de Eudes IV, duque de Borgonha).—Na Sérvia, o rei Estevão VI Uros II Nemânia VII, ou simplesmente Estevão Milutine descobriu uma trama golpista do seu filho Estevão em Zeta; este foi preso e cegado pelo pai (de acordo com o costume bizantino, quem estivesse cego não poderia ocupar o trono) e depois mandado para Constantinopla junto com sua família. — Os Cavaleiros Hospitalários de Rodes incentivaram a colonização da ilha para preencher o seu vazio demográfico. – Filipe I de Tarento passou a ser Filipe II, imperador latino do Oriente (apenas o título, não de fato).1314 – Em 14 de março, os 4 principais dignitários da Ordem do Templo foram queimados vivos em Paris (na Ilha da Cidade); um deles, o grão-mestre Jacques de Molay lançou a maldição sobre o rei Filipe IV, o papa Clemente V e Guilherme de Nogaret (ministro do rei), segundo a qual ele os julgaria no Tribunal de Deus no prazo de 1 ano. Sua maldição se efetivou: todos os 3 morreram neste prazo, sendo que o rei foi pelo ataque de um javali numa caçada em Pont-Saint-Maxence e faleceu de um duplo derrame cerebral em Fontainebleau. A cruz e o coração do rei ficaram na igreja do Mosteiro de Poissy e foram incinerados por um raio certeiro e fulminante em 21/7/1695. O dia 14 de março foi uma sexta-feira: daí a superstição sobre este dia da semana. ---- Neste ano: Os Cavaleiros Hospitalários de Rodes conquistaram a ilha de Kós. --- O imperador Aleixo II de Trebizonda deixou de isentar os impostos sobre as mercadorias transacionadas pelos genoveses, irrompendo um conflito entre eles, marcado pela queima dos entrepostos comerciais genoveses. Só assinatura de convênios neste ano e em 1316 findaram o conflito.1315 – Os Cavaleiros de Rodes se apoderaram da ilha de Nisiros (do arquipélago do Dodecaneso, no sul do Mar Egeu). --- O príncipe Fernando de Aragão, infante de Majórica, pretendeu se apoderar da Aqueia para o seu filho, ainda bebê, Jaime (sua mãe morreu logo depois que ele nasceu neste ano), preparando a expedição para tal em junho; em julho se apoderou de várias cidades, entre as quais Clarentza e teve a aceitação dos altos barões de Aqueia. ---- Neste ano: o patriarca Nifon de Constantinopla foi condenado por prática de simonia e foi substituído por João XIII Glykys.1316 - O infante de Majórica, Fernando de Aragão, teve que enfrentar, no Principado de Aqueia, outra pretendente que era Matilde de Hainaut (prima de Isabel de Sabran), que estava sendo apoiada pelos venezianos, enquanto Fernando esperava sem sucesso o apoio dos sicilianos. Este último, na Batalha de Manolara (ou de Espero, conforme ensina a Cosmovision) foi vencido e morto, em 5 de julho. Pouco tempo depois morreu Luís de Borgonha, em setembro (talvez envenenado). Sua viúva, Mahaut (Matilde) de Hainaut, se casou secretamente com Hugo da Palisse, despertando o descontentamento de Carlos II d’Anjou, rei de Nápoles, que sequestrou Mahaut e doou o principado de Aqueia a João da Sicília. --- O filho de Miguel IX (e neto de Andrônico II) obteve a honraria de ‘déspota’ e foi associado ao trono de Bizâncio. 1317 - Andrônico II se apoderou do Despotado de Blaquia. --- O príncipe de Aragão Afonso Frederico (filho natural de Frederico II, que chefiara os Almugavares) se tornou governador do Ducado de Atenas. --- O emir de Aydin, Mehmed Beg Aydinoglu se apossou da cidade de Esmirna (Izmir), que passou a ser um ponto de saída de ataques de pirataria contra a família Zacarias (na Ilha de Kios) e os Cavaleiros de S. João de Rodes. ---- O exército otomano passou a ser comandado por Orhan (Orkhan), filho de Othman I. Foi ele que iniciou o cerco de Brussa, que caiu em 1326.1318 – Ao morrerem Tomás do Épiro e João da Tessália, a família aristocrática dos Orsini de Roma (já reinante no Condado da ilha de Cefalônia), na pessoa de Nicolau Orsini, passou a reinar também no Despotado do Épiro por 40 anos, portanto até 1358. ---- O estróina e ambicioso Andrônico, príncipe filho de Miguel IX, foi forçado a um melhor entendimento com seu avô e imperador Andrônico II por sua vida desregrada, tentativa de golpe e negociatas com os genoveses. 1319 – Os latifundiários bizantinos, devido à carência de trabalhadores rurais, tentaram retirar os ‘parèques’ (camponeses sem terra) dos outros proprietários rurais. Foram, no entanto, desautorizados pelo imperador Andrônico II Paleólogo. ---- Nesta época estavam se expandindo às custas do Império Bizantino os otomanos sob Othman I; daí uma aliança feita entre Andrônico II e Abu Said Bahadur (il-khan da Pérsia).1319 – 1320 – Os turcos invadiram o Império de Trebizonda e cercaram Cerasus (Kerasonte) e o porto de Sinope no Mar Negro, mas as tropas do imperador Aleixo II Comneno conseguiram repelí-los.1320- Andrônico III, neto do imperador, assassinou o seu irmão Manuel, para que ele fosse o único imperador-associado; seu pai, Miguel IX, morreu desgostoso em Tessalônica (em 12 de outubro). O basileus, aborrecido com todos estes fatos, nomeou como seu sucessor o bastardo do seu segundo filho, Constantino. O neto do imperador, se julgando preterido, começou a urdir um plano de ascensão ao trono bizantino em parceria com João Cantacuzeno (alto dignitário do palácio) e com o apoio de Estevão VI Urosh II Milutine, kral da Sérvia. Foi a primeira guerra civil durante a Dinastia dos Paleólogos. --- O tzar búlgaro Teodoro Svetoslav se casou com a filha de Miguel IX (com aquele nome já tradicional de Teodora). Como a situação econômico-financeira do império estava muito ruim, o imperador aumentou a carga fiscal, causando revolta da população, especialmente sabendo que os latifundiários da Trácia gozavam de uma situação extremamente confortável. Politicamente o império tinha praticamente perdida a Anatólia. ---- Se realizou neste ano uma nova cruzada (a segunda) dos Pastores na Normandia (França) que foi massacrada pelos saques feitos por ela, como ocorreu com cruzada de 1254.1321 – O imperador Andrônico II, pretendendo condenar seu neto homônimo à prisão perpétua, exigiu sua presença em um tribunal (em 5 de abril). Iniciou-se, então, uma guerra civil com o príncipe Andrônico à frente em Andrinopla, aliando-se com o generalíssimo João Cantacuzeno, com amigos e o novo Kral da Sérvia, Estevão VII Urosh III Nemânia VIII (ou Stefan Uroš III Dečanski). Chefiando uma armada, ele se dirigiu à Constantinopla. Andrônico II Paleólogo, já cansado com seus 71 anos, concordou em partilhar o império entre Constantino e Andrônico (em 6 de junho); este último ao saber, porém, que o avô o estava espionando, não aceitou, reiniciando-se a guerra civil (em agosto). ---- Neste ano: O sultão mameluco do Egito, Kalaun, deflagrou uma perseguição contra os cristãos coptas, destruindo igrejas e mosteiros.1321 a 1328 – Guerra civil no Império Bizantino entre o imperador e seu neto homônimo. Entre 1322 e 1327, houve uma acomodação das forças antagônicas, neto e avô-imperador.1322 –Andrônico II (avô) retomou as cidades conquistadas pelo neto. Andrônico III, em contrapartida, cercou sem sucesso a cidade de Heracleia do Ponto, pois suas tropas não se propuseram a continuar sem o pagamento dos seus soldos; ele acabou se adoentando em Didimótica (na Trácia). Quem resolveu esta situação financeira foi seu aliado João Cantacuzeno. Os dois, na primavera, se dirigiram para Constantinopla; no caminho, se apoderaram das cidades e lhes ofereceram o perdão de impostos, bem como aos camponeses. A cidade de Tessalônica aderiu à revolta e lhes entregou

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Constantino (que seria o sucessor). Foi enviado um grupo de mercenários turcos para se confrontar com o príncipe, mas este os colocou em debandada. Diante da iminência do cerco à capital, em julho, foi feito novo acordo entre o imperador e seu neto, instaurando uma diarquia, mas quem reinava de fato era o imperador, enquanto o neto morava em Didimótica. 1323 – O tzar búlgaro Jorge Teter II (mesmo sendo sobrinho de Andrônico III), em face da debilidade imperial motivada pela guerra civil interna (‘guerra dos 2 Andrônicos’), invadiu a Trácia, tomou Filipópolis, chegando até Andrinopla. Aí travou combate com o príncipe Andrônico III, mas teve que se retirar; o príncipe invadiu a Bulgária. Jorge Teter II morreu pouco depois sem herdeiros, acarretando disputas entre os nobres (boiardos). Surgiram dois pretendentes: Boeslav e Miguel Sisman (de origem cumana); este foi escolhido como tzar Miguel IV Sisman (ou Chichman I, que reinou até 1330), que se casou com a viúva de Svetoslav (Teodora) e acertou um tratado de paz com o velho imperador bizantino. Boeslav se refugiou na capital bizantina.---- O jovem Andrônico cercou Filipópolis, mas abandonou o cerco, deixando seu lugar-tenente Jorge Brienne para realizar a missão de tomá-la. Ocupou, então, a função de imperador associado de Bizâncio. 1324 – Renovação de tratado comercial entre Veneza e Bizâncio, em outubro. --- Neste ano: O Despotado do Épiro foi tomado pelo rei da Sicília. ---- Bento Zacarias (que governava Foceia e a ilha de Kios junto com seu irmão Martinho), não conseguindo superar seu irmão na administração, pediu a ajuda bizantina. ---- Neste ano morreu a esposa de Andrônico III, Irene de Brunswick; casando-se, dois anos depois, com Joana de Savóia que se converteu, então, ao cristianismo ortodoxo. ---- Em Chipre subiu ao trono Hugo IV (que governou até 1359), cujo reinado assistiu ao maior desenvolvimento econômico desta ilha (Famagusta se tornou o maior centro comercial do Mediterrâneo Oriental).1325 - Em 2 de fevereiro, o imperador Andrônico II Paleólogo coroou seu neto Andrônico II como co-imperador, tentando, inutilmente, findar a 'guerra dos dois Andrônicos'. ---- Em 26 de maio, o rei de Nápoles (Carlos d'Anjou, também duque de Calábria) , comandou uma frota naval e cercou Palermo em tentativa fracassada de conquistar a Sicília. 1325-1326 – Na ‘guerra dos dois Andrônicos’ o príncipe Andrônico III conseguiu adesão do tzar Miguel IV Sisman, enquanto seu avô Andrônico II realizou um tratado de aliança com o novo kral da Sérvia Estêvão Dečanski.1326 –Na luta pela hegemonia da Ásia Menor entre otomanos e mongóis, o turco Orkhan Gazi (filho e sucessor de Othman ou Osman I), tendo como base de operações (como seu pai) o vale do Sakarya (noroeste da Anatólia) se apoderou da cidade de Bursa (ou Brussa), em 6 de abril, na Bitínia (chegando ao litoral do Mar de Mármara), tornando-a capital do seu reino (deixando a capital anterior, Sogut), aproveitando-se da fragilidade bizantina, engolfada em guerra civil. Pouco depois, o seu pai, Othman (ou Osman I) morreu, ficando ele como sucessor. --- Neste ano, para aumentar mais ainda a instabilidade interna no império, o sobrinho de Andrônico II, João Paleólogo, governador de Tessalônica, se revoltou contra seu tio, pedindo a ajuda sérvia; sua revolta terminou neste ano mesmo. ---- Neste ano, mais uma vez a idéia de Cruzada foi aventada pelo rei Carlos IV da França, enviando o Conde de Valois à Roma para se organizar uma expedição para os Lugares Santos com o papa João XXII; este não avalizou a proposta sob a suspeita de que o rei francês iria usar o financiamento da campanha militar em proveito próprio e não para a Cruzada. 1327 - Novo desentendimento, em maio, entre os dois Andrônicos - o avô e o neto (este, instigado por Andrônico Paleólogo e Teodoro Metochites com intrigas de que o avô preparava novo confronto entre eles). Andrônico III foi chamado à capital, onde o patriarca, seu aliado, foi mandado para um convento. Estas novas arestas foram aplainadas pelo tzar búlgaro Michel Sismanivic (ou Sisman, ou ainda, Miguel III Chichman I, cunhado de Andrônico III). ---- O emir mais poderoso da Anatólia, Kermian (da Frígia, cuja capital era Kutayeh, antiga Cotyaeum) conseguiu, por ter uma potente armada, que Timur Miran chah não o atacasse, embora este tivesse realizado incursões até o litoral do Mediterrâneo. ---- Embaixadores bizantinos estiveram na corte do rei Carlos IV, o Belo (o último da Dinastia dos Capetos na França) pedindo ajuda para formação de uma nova cruzada, restaurando, em compensação, a unidade das igrejas cristãs de Constantinopla e de Roma. A morte deste rei em 1328 e a queda de Andrônico II fizeram sucumbir tais propostas diplomáticas.1328 - Após desistir da conciliação com o avô, que estava na Macedônia bizantina, Andrônico III foi para lá para combatê-lo; ao ser chamado pelo povo de Tessalônica, aí entrou e conseguiu a rendição das cidades macedônicas em janeiro. Em 23 de maio se apoderou de Constantinopla (junto com João Cantacuzeno, onde foi aclamado imperador no dia seguinte. Seu avô, já idoso (com 78 anos) e quase cego, foi deposto e se internou em um mosteiro. Como o imperador Andrônico II, nesta disputa sucessória, teve o apoio do rei sérvio Estevão Uroš III Dečanski, despertou contínuas retaliações entre ambos. ---- Neste ano, a cidade de Niceia foi cercada pelos turcos otomanos, caindo sob seu poder em 1331.1328 (24 de maio) a 1341 – Governo de Andrônico III Paleólogo, cuja administração esteve nas mãos de João Cantacuzeno (como primeiro ministro), visto que apreciava praticar a caça e jogos eqüestres e a guerra contra os sérvios (Estevão Uroš III Dečanski) e os otomanos. 1328 (continuação) - Ocorreu uma incursão búlgara na Trácia, chegando até a cidade de Andrinopla; o tzar Miguel III Chichman I, no entanto, preferiu acertar um acordo de paz pelo qual se comprometeu a não invadir o território bizantino durante o reinado de Andrônico III1329 – Em 1 de junho, Andrônico III resolveu enfrentar os otomanos cada vez mais afoitos: 9 dias depois ocorreu a Batalha de Pelekanon (próximo de Nicomédia, na Bitínia), na qual a armada bizantina foi vencida por Orkhan I (pelo boato da morte do imperador Andrônico III), abrindo caminho para a tomada de Niceia (em 1331). João Cantacuzeno conseguiu, após a derrota, reorganizar os soldados em sua volta para Constantinopla pelo mar. ---- Neste ano: Andrônico III, ajudado por emires turcos (de Esmirna e de Kutayeh), apoiou uma revolta dos genoveses, comandados por Leão Kalotetos, na ilha de Quios, contra Martim Zacarias; este foi preso e mandado para Constantinopla. A ilha passou à soberania bizantina e sob o governo daquele lidere revoltoso (embora os genoveses a recuperassem de novo em 1346 e a entregassem a Mahone, companhia bancária, que aí permaneceu até 1566, quando foi conquistada pelos turcos). ---- O imperador recolocou Isaias no patriarcado e libertou o traidor Syrgiannis (que estava em prisão perpétua por ordem de seu avô). Este último foi nomeado chefe da armada do ocidente, foi acusado de tramar contra o imperador, foi julgado, mas fugiu para a ilha de Eubéia (Negroponte), onde morreu em conflito dos sérvios (de que participava) com os bizantinos. ---- O imperador remodelou a hierarquia judiciária, nomeando 4 supremos magistrados (dois religiosos e dois laicos) com o título de 'Juízes Universais dos Romanos', aos quais conferiu autoridade para a formulação de leis contra a corrupção de funcionários.1330 - Morreu em Trebizonda, em 3 de maio, o imperador bizantino Aleixo II Comneno, iniciando-se o processo de decadência e turbulência política deste império até 1350. Sucedeu-o o primogênito Andrônico III Comneno que, em apenas 2 anos de reinado, mandou matar dois irmãos seus. Um outro, Basílio conseguiu fugir para Constantinopla. – O imperador bizantino Andrônico III Paleólogo recuperou a ilha de Lesbos e o porto de Foceia. --- Ele se coligou com o tzar Miguel III Chichman I da Bulgária (que foi ajudado por Basarab da Valáquia) contra o rei Estêvão VII Uroch III Nemânia VIII Detchanski da Sérvia, este (com um exército experiente e mercenários catalães e saxões) os venceu na batalha de Velbazhd ou Velbudj (perto de Kyustendil), em 28 de julho, quando morreu em combate o tzar búlgaro. Estêvão VII conquistou Nisch e parcialmente o oeste da Macedônia e interferiu na sucessão de Miguel III na Bulgária ---- Neste ano: O emir turco de Aydin (na Anatólia), Umur Bey, executou várias incursões navais contra ilhas pertencentes ao Império Bizantino no Mar Egeu e áreas litorâneas dos Bálcãs até 1345. ---- Morreu em Constantinopla o teólogo, tradutor e gramático Máximo Planudes., 1331- Enquanto Andrônico III estava no Mar Egeu, o sultão otomano Urkhan (Orkhan ou Orhan) tomou Niceia, em 2 de março. ---- Na primavera, os búlgaros reagiram contra a intervenção do novo rei sérvio Estêvão VII Uroch IV Nemânia IX, impondo como regente do trono o seu neto (o filho do finado Miguel III Sismanivic era menor): o expulsaram e escolheram como tzar João Alexandre Sisman (sobrinho do falecido, sob o nome de João IV Assen). Em junho/julho o imperador bizantino interveio na Bulgária; em 19 de julho acertou um tratado de paz com o novo tzar local. --- De agosto deste ano até o verão de 1332, Walter VI de Brienne (condestável da França e conde de Brienne) tentou retomar o Ducado de Atenas em mãos da Grande Companhia Catalã (Almugavares). Também atacou o Despotado do Épiro, cercou sua capital, Arta, e impingiu a suserania angevina ao déspota João II Orsini. Quando Walter VI voltou para a Europa, João II Orsini recuperou sua autonomia e anexou a Tessália.1332 – Ao morrer o imperador de Trebizonda, Andrônico III Comneno, seu filho Manuel II Comneno sucedeu-o (em janeiro) com apenas 8 anos, mas apenas durante 8 meses. Neste período, o emir turco de Chalybia, Bayram Beg, invadiu sem sucesso este império. --- A derrota de Andrônico III Paleólogo diante dos búlgaros em 1330 e a escolha de novo tzar não foram deixadas sem resposta: ele avançou sobre as fronteiras e se apoderou do porto de Mesembria (no Mar Negro), não conseguiu fazer o mesmo, porém, no porto de Anchialos. O tzar João IV Assen (ou João Alexandre Sisman)

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ofereceu a troca de Pliska (Diampolis) por Anchialos por um tratado; após a assinatura deste, no entanto, ele atacou os bizantinos, forçando-os a se retirar da Bulgária. Depois se prontificou a respeitar o tratado, desde que o imperador bizantino concedesse sua filha como esposa do seu filho e herdeiro, a que Andrônico III Paleólogo acedeu (em julho). – Em agosto, o imperador Manuel II Comneno de Trebizonda foi deposto e internado em convento, passando o poder ao seu tio, o bizantino Basílio I Comneno. – Em setembro, foi organizada uma liga naval antiturca constituída pelos Cavaleiros de Rodes (com Helionde Villeneuve), pelo Império Bizantino de Niceia (com Andrônico III Paleólogo) e Veneza. Um dos seus objetivos imediatos era colocar um paradeiro final às incursões de pirataria procedentes de Esmirna, do principado de Aydin. Esta aliança só foi efetivada em 1334 em Avignon (França). 1332 - 1333 - O emir de Aydin (beylicado do sudoeste da Anatólia), Umur Beg, executou expedições de pirataria a partir do porto de Esmirna, atraindo, pois, a atenção da liga naval antiturca para eliminar este foco de pirataria. ---- Se aproveitando da morte do 'sebastocrator' Estêvão Gabrielopulos, o imperador se apoderou da Tessália.1333 – Catarina II de Courtenay-Valois (segunda esposa de Filipe I de Tarento) colocou uma família de financistas e comerciantes florentinos, os Acciaiuolli, em Moreia. --- O litoral da Trácia sofreu incursão do emir de Sarukhan (da Anatólia), saqueando a Samotrácia, encontrando as tropas imperiais (estas sem condições de combate). Depois os turcos tomaram Rodopo (perto de Constantinopla), mas daí foram rechaçados por Andrônico III. --- No Império de Trebizonda, ocorreu uma revolta dos partidários de Manuel II contra Basílio I, este a sufocou e mandou matar Manuel no convento. Governou Trebizonda por 7 anos e se aproximou de Bizâncio pelo matrimônio com Irene Paleólogo, mas a repudiou em 1339. ---- Neste ano, o rei sérvio Estevão Uroš IV Dušan (ou Estevão VIII Uroch IV Nemânia IX) se apoderou de Strumicu (ou Strumitza), Prilep, Ohrid e Kostur influenciado pelo governador de Tessalônica (Syrgiannés), revoltoso contra Andrônico III. Syrgiannés foi assassinado por um dos oficiais do imperador Andrônico III (chamado de Sphrantzès Paleólogo). Seu assassinato facilitou a ação diplomática de Bizâncio para um tratado com a Sérvia em 1334.1333-1337 - Após a queda de Niceia, os turcos otomanos se voltaram à conquista da última cidade bizantina mais importante na Ásia Menor: a Nicomédia (atual Izmit), o que foi realizado na Batalha de Nicomédia, cercando-a em 1333 e se apoderando dela em 1337.1333 a 1341 - Bizâncio, mais uma vez, envolvida em outra querela religiosa - a do Hesicasmo. 1334 – Em agosto, foi feito um tratado entre Bizâncio e a Sérvia, em que o primeiro recuperou Castoria e homologou as conquistas feitas pelo rei sérvio Estevão Uroš IV Dušan. ---- À aliança de Bizâncio com os Hospitalários de Rodes e Veneza contra os turcos, se juntaram o papa João XXII e o rei francês Filipe IV, o Belo. Na mesma época, Andrônico III manifestou ao papa a intenção de reunificar as igrejas de Roma e Constantinopla, mas fracassou devido à omissão de seu emissário, bem como pela morte do papa em dezembro. Aquela aliança também fracassou não só pelo novo papa (Bento XII) ser mais suscetível a ajudar os armênios da Cilícia (também perigando diante dos turcos), como pelo desinteresse de Filipe, o Belo. Mesmo assim, no verão deste ano, uma expedição naval desta liga operou no Egeu, obteve vitória sobre o emir de Karesi em Adramition (atual Edremit), mas não conseguir avançar sobre Esmirna. --- Neste ano, os húngaros atacaram a Sérvia e chegaram até Jitcha; em função disto,o rei sérvio Estevão Uroš IV Dušan (ou Estevão VIII Uroch IV Némania IX) solicitou a ajuda do imperador bizantino e conseguiu colocar a fronteira no rio Sava (afluente da margem direita do Danúbio). ---- Enquanto o imperador bizantino e João Cantacuzeno estavam em Tessalônica, os turcos invadiram o Golfo Termaico (Golfo Tessalônica), mas não tiveram sucesso diante da investida imperial.1335 – Em 14 de junho, o patriarca latino de Constantinopla (da Igreja Católica de Roma desde 1204) chamado Cardinalis Moraceno, morreu, sendo eleito como seu sucessor Gozio Bataglia. – Neste ano: Os otomanos, continuando sua política expansionista, iniciaram a conquista, sob a batuta do sultão Orkhan, do beylicado de Karasi ou Karesi (sob o vassalo bizantino, o emir Demirham), só concluída em 1345. Assim, os otomanos estenderam seu território até o Mar de Mármara. Mesmo com suas conquistas, continuaram as ações de pirataria turca no litoral do Egeu oriental e da Trácia. ---- No Despotado do Épiro, Nicéforo II Orsini foi afastado do poder pela sua mãe Ana Paleólogo, que mandou embaixada ao imperador bizantino em Constantinopla para reconhecer sua vassalagem ao mesmo. ---- O imperador bizantino interveio na Grécia, assegurando o controle sobre a Tessália. João II Orsini, então, retornou à Arta, capital do Épiro, tumultuado pela nobreza dividida em grupos pró-bizantinos e pró-angevinos. Nesta situação, João II Orsini morreu repentinamente, provavelmente envenenado. ---- Umur Beg, príncipe de Aydin, negociou um acordo com o imperador bizantino Andrônico III e deu suporte militar para a retomada da Ilha de Lesbos (então sob o genovês Domingos Cattaneo).1336 – Montanheses albaneses atacaram a região de Berat e de Kanina na Albânia. O imperador Andrônico III e João Cantacuzeno, que estavam ao norte do Épiro, mandaram uma parte de suas tropas (de mercenários turcos acostumados a lutar em áreas montanhosas) para a Albânia, submetendo-os a ferro e fogo (matanças e escravização). Simultaneamente, o imperador promoveu negociações com a população da Acarnânia (região litorânea da Albânia) submetida ao Despotado do Épiro e a anexou ao império (por 3 anos, porém, enfrentou a rebelião de parte da população que aderiu a Nicéforo II Orsini, o herdeiro legítimo do despotado. A regente do Épiro, Ana Paleólogo, aceitou a suserania do Épiro e foi levada para Tessalônica. A aristocracia epirota, por sua vez, levou Nicéforo II Orsini para Tarento, junto à corte de Catarina de Courtenay-Valois, portanto ficando protegido pelos angevinos.1337 – Neste ano (ou mais tarde como nos ensina o historiador Louis Bréhier), a armada turca otomana, sob o comando de Orkham, se apoderou de Nicomédia, no Mar de Mármara, próximo de Constantinopla, mesmo tendo sido atacado várias vezes pelo imperador bizantino Andrônico III Paleólogo, enquanto o otomano estava cercando esta cidade. Foi por esta ocasião, que o sultão otomano interveio no Emirato da Mísia (a noroeste da Anatólia), se apoderando de várias cidades, das quais a mais importante era a de Pérgamo. No verão deste ano, o ministro do imperador Andrônico III, João Cantacuzeno, massacrou um bando de turcos que incursionavam nas proximidades de Constantinopla.---- A partir deste ano, do Império Bizantino (de Niceia) restou apenas a cidade de Filadélfia (ou Heracleia do Ponto) em toda a Anatólia; o restante estava sob o domínio turco otomano. 1338 - Catarina II de Courtenay-Valois, imperatriz titular (nominal) de Constantinopla, à frente de uma frota, foi para o seu Principado de Aqueia ou Moreia (no Peloponeso), com os objetivos de legitimar a validade dos direitos legítimos de Nicéforo II Orsini e fazer valer suas prerrogativas. --- O príncipe Manoel quase rompeu seu noivado com Bertha de Sulzbach (porque não queria ser genro de conde alemão), mas desistiu diante da ameaça do imperador Conrado III de não mais participar da aliança militar contra o normando Rogério de Hauteville.1339 –Ao papa de Avignon, Bento XII, em agosto, Barlaam, o Calabrês, demonstrou que qualquer matéria de ordem religiosa entre Constantinopla e Roma só poderia ser debatida em concílio ecumênico. ---- O protegido de Catarina de Courtenay-Valois, Nicéforo II Orsini, foi para o Épiro, mas a armada bizantina interveio e Nicéforo II foi abandonado pelas tropas de Catarina em novembro de 1340, quando lhe foi oferecido uma filha de João Cantacuzeno como sua esposa.1340 – No Império de Trebizonda, o trono ocupado por Manuel II Comneno (desde 1332) foi usurpado por Irene Paleólogo, esposa de Basílio I (em 6 de abril), mas foi despojada do poder pelo partido nacionalista, passando a coroa imperial a Ana Anachutlu (irmã de Basílio), em 17 de julho de 1341. ---- Estevão VIII Uroch IV Nemânia IX cercou Salônica e se fez proclamar rei dos sérvios e dos gregos (bizantinos) em Skopje. --- Neste ano, os bizantinos reconquistaram Foceia. – O imperador bizantino retomou o Épiro (cujo governador passou a ser João Cantacuzeno) e a Tessália. ---- Até este ano, o turco otomano Orkhan expandiu as fronteiras do seu reino até Scutari, próximo do Estreito de Bósforo. 1341- Em 10 de junho, ocorreu o Concílio de S. Sofia em Constantinopla, presidido pelo imperador e tumultuado pelos hesicastas, dos quais ele exigiu desculpas por ataques aos monges não-hesicastas. 1341 (15 de junho) a 1391 – O trono deveria ser, de direito, ocupado, neste período, por João V Paleólogo, tendo na regência Joana de Sabóia, mas, de 1347 (19 de outubro) a 1355, João VI Cantacuzeno usurpou o trono; de 1355 a 1357, Mateus Cantacuzeno foi imperador associado. Apenas de 1357 a 1391, João V Paleólogo reinou de forma efetiva; mesmo assim, teve de novo o trono usurpado pelo filho Andrônico IV (de 1376 a 1379) e pelo neto João VII (em 1390). 1341 (continuação) – Em 15 de junho, morreu o imperador Andrônico III Paleólogo. Foi sucedido por João V Paleólogo que, por ter 9 anos, teve como regente a imperatriz Ana (ou Joana de Sabóia), impopular por ser católica romana, mas que governou até 1347. Quem deveria ser regente seria João Cantacuzeno, mas, como sempre, iniciaram-se as contendas pelo poder, sendo contrários a ele a imperatriz Joana, o patriarca João Calecas e o

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ambicioso e arrivista Aleixo Apocoque (Apokaukos). Este último chegou a propor-lhe para que se apoderasse do trono, a que João Cantacuzeno se recusou. A imperatriz o mandou enfrentar os turcos que tinham atacado a Trácia. O arrivista moveu intrigas junto ao patriarca e à imperatriz acusando João Cantacuzeno de traidor e usurpador em 28 de setembro, aprisionando seus partidários em setembro. ---- João Cantacuzeno, na Trácia, fizera de Didimótica o seu quartel-general; foi aí que ele foi proclamado imperador pela nobreza de Andrinopla, iniciando uma rebelião popular e se alastrando por outras províncias. Iniciou-se então a II Guerra Civil de Bizâncio durante a Dinastia dos Paleólogos, que se prolongou até 1347. ---- Se aproveitando da crise sucessória em Constantinopla, os sérvios (com Estevão VIII Urosh IV Dusan) e albaneses invadiram o Despotado do Épiro, forçando Nicéforo II Orsini a ir para a Trácia. ---- O Império de Trebizonda foi palco de mudanças politicas tumultuadas: Ana Anachutlu (irmã de Basílio, também chamada de Ana de Trebizonda), deixou de lado o hábito de monja, se aproveitando de uma revolta popular, apoiada pelos nobres e por tropas do rei Jorge V (da Geórgia) se apresentou diante de Trebizonda e foi aclamada imperatriz em 17 de julho. Irene Paleóloga foi deposta. Em 30 deste mês, uma frota naval bizantina com Miguel Comneno (tio de Ana, mandado para casar com a deposta Irene Paleólogo) foi reconhecido como herdeiro do trono por parcela da nobreza e pelo metropoliita de Trebizonda. Reagindo, Ana e suas forças georgianas atacaram e pilharam a frota bizantina (em 7 de agosto), exilando Miguel Comneno e forçando a fuga de Irene para Constantinopla. Ana continuou governando, mas sob o controle da nobreza; por isto e pelos ataques dos otomanos, a população se afastou cada vez mais dela. ---- Em outubro, na Armênia, foi coroado rei Guido de Lusignan (de Chipre). Seu sobrinho, Leão V, da Armênia Ciliciana, foi assassinado em 28 de dezembro deste ano, findando a Dinastia Hetumiana. Assim, as duas Armênias passaram a ter como rei a Dinastia de Lusignan.1341 -1342 – O Império de Trebizonda foi sacudido por questões sucessórias, nas quais se intrometeu João Cantacuzeno. Neste período instável, os genoveses e turcos tomaram cidades deste império.1341-1347 – II Guerra civil de Bizâncio entre Aleixo Apocoque (sustentado pelo partido dos Zelotas, democrático, formado por pequenos artesãos e camponeses, apoiando a regente Joana de Sabóia) e João Cantacuzeno (com apoio dos místicos hesicastas, dos monges e dos arcontes da aristocracia fundiária).1341 a 1351 – Querela dos Hesicastas (ou seja, ‘estar em paz, guardar o silêncio’), misticismo religioso pregando o silêncio em Deus e a serenidade na alma. 1342 - A regente Joana mandou coroar João V Paleólogo, e conferiu autoridade a Aleixo Apocoque (que prendeu a mãe de João VI Cantacuzeno). – Em março, João VI Cantacuzeno se dirigiu para Tessalônica, parou no meio do caminho quando soube da revolta dos zelotas (democratas, em junho) contra a aristocracia local. Em função disto, João Cantacuzeno se aliou com o rei da Sérvia (Estêvão VIII) e seguiu no seu intento de atacar Tessalônica; mas com a chegada de Apocoque, ele abandonou o cerco e foi para Berrohé (Verria), próximo daquele porto. Os Zelotas ocuparam o poder em Tessalônica, expulsando a aristocracia local e constituindo um governo popular que sustentou João V Paleólogo e a imperatriz-regente Joana (até 1349, quando foi eliminado o governo). Movimentos como o dos Zelotas e com o mesmo sentido popular ocorreram em Andrinopla e Verria (ou Beroia, no centro da Grécia). ----. Após entendimentos de dois líderes dos nobres de Trebizonda (Nicetas e Gregório) em Constantinopla, conseguiram o apoio imperial para o príncipe João Comneno (filho de Miguel Comneno) para o trono de Trebizonda. Em setembro, o príncipe se apresentou em Trebizonda, tendo como aparato militar de apoio os genoveses. A imperatriz Ana Anachutlu tentou resistir, mas foi abalada por uma revolta popular, dando chance ao príncipe de se apoderar de Trebizonda. Em 4 de setembro ele foi coroado como João III Comneno, sendo estrangulada Ana Anachutlu. --- Neste ano: O sultão turco otomano Orkhan (ou Orhan ‘Ghazi’, isto é, ‘combatente da fé’) iniciou a conquista da província de Balikesir na Anatólia, fazendo fronteira com o principado dos Karesioğulları (junto ao Estreito de Dardanelos e do Mar de Mármara); três anos depois este principado foi submetido por Orkhan. 1342-3 – Os exércitos da Tessália e da Macedônia se reuniram à armada de João VI Cantacuzeno, que tinha Didimótica como ponto de apoio em sua investida contra Aleixo Apocoque.1342 a 1344 - Em outubro, na Armênia, iniciou-se a Dinastia dos Lusignan com Guy (Guido) de Lusignan. Seu governo durou apenas 2 anos em face da tentativa de estabelecer uma união com a Igreja Católica de Roma, despertando a ira da nobreza local, ciosa de sua igreja cristã monofisita de rito gregoriano. 1343 - Desde abril, o partido de Apocoque perdeu o apoio de grande parte das cidades da Tessália e da Macedônia, voltando-se ao reconhecimento de João Cantacuzeno como imperador. Ele acabou ficando isolado em Tessalônica. Em face do reconhecimento feito pela Tessália e Macedônia, se esfriaram as relações entre Bizâncio e a Sérvia. João VI Cantacuzeno, por sua vez, se aproximou dos turcos do beylicado de Aydin, enquanto o rei sérvio (Estevão Dusan) fica do lado de João V Paleólogo (selado com aliança matrimonial entre Uros, filho de Usan e uma irmão de João V). ---- João VI Cantacuzeno, ainda aliado ao emir de Esmirna (Aydin) Omur-beg, tentou novamente se apoderar do porto de Tessalônica, sem sucesso. Em novembro, retornou para a cidade de Didimótica. ---- Na Armênia houve tumultos contra Guido de Lusignan e seu irmão (João) foi assassinado em 10 de outubro. 1344 – Em 17 de abril foi morto Guido de Lusignan por revolta dos barões armenianos, que introduziram no trono um primo distante hetumida, Constantino IV (que reinou até 1363 - Obs.: Isto é o que nos ensina o historiador René Grousset, mas há outros historiadores que dizem ser Guido de Lusignan e Constantino IV as mesmas pessoas). ---- Em 28 de outubro, o rei Hugo IV de Chipre organizou a ‘cruzada do Arquipélago’, ou ‘Santa União’ com o papa, os Cavaleiros de Rodes e Veneza, conquistando Esmirna ao turco Umur Bey. Os Cavaleiros de Rodes aí permaneceram até 1402. A frota turca, por sua vez, sofreu sério revés em Imbros (ilha de Creta), posto comercial genovês. João VI Cantacuzeno, portanto, não pode mais contar com Umur Bey; passou a ter, no entanto, o apoio de João Vatatzés (parente do patriarca Kalekas) e de Manuel Apocoque (filho de Aleixo Apocoque). ---- O rei sérvio Estevão Uroš IV Dušan e o tzar João Alexandre da Bulgária, açulados pela regente bizantina Joana de Sabóia, invadiram a Trácia. Por sua vez, o patriarca Kalecas constituiu um exército de voluntários em Constantinopla e Aleixo Apocoque (em Heracleia) falhou em mandar matar João Cantacuzeno. – Em dezembro, neutralizou-se a ação armada de Estevão Uroš IV Dušan na Trácia; por outro lado, João Cantacuzeno obrigou os búlgaros a recuar na Trácia e recuperou as cidades tomadas por eles; seu tzar João Alexandre Sisman (João IV Assen) não teve outra alternativa senão a de assinar um tratado de paz.1345 - Em janeiro, João VI Cantacuzeno se apoderou de Andrinopla, onde foi proclamado imperador. ---- Em Constantinopla , Aleixo Apocoque, seu grande inimigo, foi linchado, em 11 de junho, por prisioneiros (que ele mesmo tinha trancafiado) quando visitava uma prisão, desaparecendo, assim, o braço armado de Joana de Sabóia. ---- O búlgaro mercenário dos bizantinos, Momchil, que se tornou governante autônomo em Rhodope, sofreu derrota e morte diante de João VI Cantacuzeno e Umur Bey (emir de Aydin, seu aliado) na Batalha de Peritheorion (próximo de Xanthi). ---- De julho a agosto, em Tessalônica, os nobres foram massacrados pelos Zelotas, constituindo estes um governo popular que durou até 1349. ---- Neste ano, em concílio, sob a presidência do patriarca João Calecas, foi condenado o teólogo hesicasta Palamas (que era monge do Monte Atos); como ele partilhava da amizade de João Cantacuzeno, a regente Joana de Sabóia mandou prendê-lo. Quando João Cantacuzeno tomou Constantinopla, Palamas foi libertado. – Estevão Dushan (não mais aliado de João Cantacuzeno) se apoderou de Serrès (na Macedônia Central), da península da Calcídica e Monte Athos (cujos monges o consideraram defensor da ortodoxia). Em Serrès ele se declarou imperador no Natal. ---- A partir deste ano, os otomanos puderam controlar a passagem do Estreito de Dardanelos (do Mar Egeu para o de Mármara) com a anexação do Emirato turco de Karasi ou Karesi (ou beylicado dos Karesiogullari). 1346 – Na primavera iniciou-se a Peste Negra na Crimeia; quando chegou outubro/novembro grande parte das populações urbanas locais tinha sido dizimada. ---- O metropolita de Pec, em sínodo reunido em Skopje no dia de Páscoa (13/4), foi escolhido como patriarca dos sérvios. ---- Em 16 de abril, Estevão Dushan foi proclamado 'Imperador dos Sérvios e dos Gregos' na presença do arcebispo de Ohrid, dos patriarcas da Bulgária e da Sérvia e de vários monges de Monte Atos, se plasmado em cerimônias, costumes e administração bizantinos. ---- Em 21 de maio, João VI Cantacuzeno é confirmado como imperador em Andrinopla pelo patriarca de Jerusalém; aí ele se recusou a proclamar seu filho Mateus como imperador associado. ---- De 16 de junho a 3 de setembro, Gênova reconquistou a ilhas de Kiós (que tinha perdido em 1329). --- Neste ano: Roberto II d’Anjou e Tarento, primogênito de Catarina II, a sucedeu em Moreia; como ele estava ausente deste principado deixou-o cada vez mais sob o controle bizantino (sua mãe vivia também mais em Nápoles que Moreia e deixou o principado mais nas mãos do seu favorito o banqueiro Nicolau Acciaiuolli, de Florença). ---

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Mais uma vez, a igreja de S. Sofia foi restaurada.1347 - Em 3 de fevereiro João VI Cantacuzeno, auxiliado pelos turcos de Aydin, se apoderou da capital bizantina e fez acordo com a imperatriz-regente Joana de Saboia (que era apoiada pelos búlgaros) e o patriarca João XIV Kalékas. Este patriarca foi demitido neste mês (tinha sido indicado por Andrônico III Paleólogo). Ele mudou o sistema administrativo de divisão do império dos temas para o sistema de apanágios, sendo repartido em 3 regiões: Moréia (onde colocou seu filho Manuel como déspota de Mistra), Trácia (incluindo a capital) e Tessalônica (com os Paleólogos).1347 (continuação) - O novo patriarca, Isidoro I, coroou João VI Cantacuzeno como imperador associado a João V Paleólogo na Igreja da Virgem dos Blachernes (a situação econômica estava tão precária que em vez das jóias da coroa usaram contas de vidro). ---- Em maio, a filha de João VI Cantacuzeno (Helena), com 15 anos de idade, se casou com João V Paleólogo. Neste mês, navios genoveses contaminados pela Peste Negra aportaram em Constantinopla, disseminando a doença na cidade; em setembro ela chegou em Marselha (França); no outono, foi a vez dos Mamelucos e depois a Pérsia. ---- Neste ano: Os Zelotas na Tessalônica não reconheceram João VI. --- Os genoveses retomaram a ilha de Kios e aí fundaram uma sociedade comercial chamada ‘a Mahone’. – Nesta época, genoveses e venezianos tinham o controle de rotas e rendas bizantinas. --- O turco otomano Orhan se casou com Teodora, filha do imperador bizantino João VI Cantacuzeno1348 – O rei da Sérvia Estevão Uroš IV Dušan se apoderou da Macedônia (exceto Tessalônica). Houve tentativa de João VI Cantacuzeno em negociar com ele, mas não obteve sucesso (março-abril). Em face disso, João VI Cantacuzeno conseguiu a ajuda do turco otomano Orkhan, conseguindo expulsar os sérvios de Feres (na Tessália), mas os turcos devastaram a área. Os sérvios continuaram suas conquistas (Épiro, toda a Tessália, Acarnânia e Etólia) e tentaram acordo com Veneza para atacar Constantinopla. ---- Em 15 de agosto, ocorreu a chamada ‘Guerra de Gálata’ os genoveses (aborrecidos por medidas aduaneiras tomadas pelo imperador em proveito da burguesia de Constantinopla) do subúrbio de Gálata (em Constantinopla) se aproveitaram da ausência do imperador na capital (estava combatendo os sérvios) para incendiar casas e bloquear a entrada do Corno de Ouro. Este conflito terminou em 1349. ---- No fim deste ano, Estevão Uroš IV Dušan se apoderou da Macedônia (exceto Tessalônica) e de Feres (na Tessália), mas fracassou em entrar em Tessalônica devido à presença das tropas imperiais bizantinas. O imperador fez de Mistra um despotado, abrangendo a área do Peloponeso. ---- Foi neste ano que a Peste Negra chegou em Constantinopla, morrendo muita gente, inclusive filhos de João VI Cantacuzeno. ---- Kerasonte, no Império de Trebizonda, foi alvo de ataque dos genoveses; a seguir foi a vez da capital. – Os Alberti, banqueiros de Florença, instalaram uma filial na capital bizantina. ---- Neste ano: Na tentativa de retomar Esmirna aos Cavaleiros de Rodes, o emir de Aydin, Umur Bey, foi morto por uma flechada. --- Foi por volta deste ano que houve a peregrinação do monge Estevão de Novgorod, e mais outros 8 companheiros, ao Mosteiro de S. Cosme e Damião em Constantinopla.1349 – O bloqueio da entrada do Corno de Ouro pelos genoveses dificultou a entrada de víveres à capital, acarretando desabastecimento e fome até março. João VI Cantacuzeno ao voltar de sua campanha contra os sérvios, teve seus navios afundados pelos genoveses na entrada do Estreito de Bósforo. A situação só foi resolvida pelo senado genovês, que acabou o conflito em função da iminência de mais uma guerra com Veneza. --- O imperador Miguel de Trebizonda foi forçado à abdicação, sendo ocupado o trono por Aleixo III (com 11 anos), filho de Irene de Trebizonda e Basílio, que governou até 1390 sob o nome de Aleixo III Comneno. --- Em 25 de outubro, foi criado o Despotado de Mistra, abrangendo toda a Moreia bizantina. O terceiro filho do imperador, Manuel Cantacuzeno, recebeu o título de ‘déspota’ de Mistra. ---- O imperador bizantino, se aproveitou de dificuldade do tzar sérvio com o ban da Bósnia, saiu de Tessalônica e invadiu a Sérvia, tomando Veriju e Voden (na Macedônia), mas foi contido pelo duque Preljub. Este, junto com o tzar sérvio, recuperaram pouco depois estas cidades; o governante sérvio, no entanto, revoltado contra esta atitude de João VI Cantacuzeno, cercou Tessalônica e adotou uma política de apoio a João V Paleólogo contra João VI.

1350 – Em janeiro, o tzar Estevão Uroš IV Dušan abandonou a Sérvia e veio à Macedônia para assinar um tratado de paz com o imperador bizantino (que tinha tomado a capital sérvia, Skopje, em fins de 1349); através do qual suas conquistas no ano anterior retornaram à posse de Bizâncio. Este tratado se invalidou pouco depois com as desavenças entre João VI e João V. --- Em 10 de junho, foi escolhido como sucessor do patriarca Isidoro I, em Constantinopla, um monge do Monte Athos, Calisto, adepto do hesicasmo. --- Em dezembro, os Zelotas foram forçados a sair de Tessalônica pelo basileus João VI Cantacuzeno com a ajuda de corsários turcos (cuja frota foi aliciada na foz do rio Strimon ou Struma). --- O rei Estevão Uroš IV Dušan desistiu de atacar Tessalônica (que os Zelotas tinham lhe oferecido antes). – No Império de Trebizonda, Aleixo III Comneno mandou Miguel I para um convento e conseguiu superar tramas urdidas pela aristocracia feudal e se protegeu numa fortaleza nas proximidades da capital (em

Trípoli). – Neste ano, o novo patriarca Calisto de Constantinopla, nomeado por João VI Cantacuzeno, excomungou o rei sérvio Estevão Uroš IV Dušan e o patriarca da Sérvia Joannicius II, além de retirar as terras da Igreja Ortodoxa local. Esta excomunhão vigorou até 1375. 1351 - Nova guerra civil tendo à frente João V Paleólogo (contrário ao tratado feito por João VI com Veneza), a partir de Tessalônica, negociando ajuda dos sérvios (o rei Estevão Uroš IV Dušan o reconheceu como o único imperador, em junho). ---- Em 28 de maio, João VI Cantacuzeno presidiu um concílio no Palácio de Blachernes, onde foi declarado alinhamento do hesicasmo à ortodoxia. Em agosto, João Cantacuzeno assinou acordo vantajoso com os venezianos, depois que os genoveses bombardearam os muros da capital devido a um ataque veneziano contra Gálata. Em setembro, o almirante genovês Paganino Doria saqueou Heracleia e Sozópolis colocando em perigo Constantinopla, sem nenhuma dificuldade, pois tinham queimado os navios bizantinos na capital. Por outro lado, ainda neste mês, os venezianos aliados aos bizantinos e aragoneses, expulsaram os genoveses (com Paganino Doria) de Negroponte (ilha de Eubéia). --- Império dividido (não mais em temas): a Trácia ficou com João VI Cantacuzeno e João V Paleólogo, este ficou também com a Tessalônica. – No Império de Trebizonda, Aleixo III Comneno se casou com a sobrinha de João VI

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Cantacuzeno, chamada de Teodora.1351-1355 – Fracassaram os entendimentos diplomáticos entre Bizâncio e Bulgária para fazer frente ao perigo turco otomano.1352 - Em 13 fevereiro, os venezianos (comandados por Nicolau Pisani), com reforço aragonês do rei Pedro IV e do Império Bizantino (com Constantino Tarcaniotas), entraram em conflito com o almirante genovês Paganino Dória na Batalha Naval do Bósforo (no meio do Estreito de Bósforo). Uma tempestade marítima causou estragos em ambos os lados. Os genoveses, com o auxílio do sultão otomano Orhan, cercaram a capital bizantina. --- Em 6 de maio, João VI Cantacuzeno teve que assinar acordo com genoveses, outorgando-lhes Selímbria e Héracles e maior espaço em Gálata. Com isto, a frota bizantina ficou sem acesso ao Mar Negro. --- João VI Cantacuzeno veio lutar contra Paganino Dória (em junho), entrou em acordo com Veneza. Depois com os turcos osmanlis (comandados por Solimão, filho de Orkhan) derrotou os sérvios (comandados por Borilovic) e búlgaros na Batalha de Didimótica (os búlgaros abandonaram o campo de batalha, deixando os sérvios sozinhos), em setembro, que apoiavam João V. A Trácia e a Macedônia o reconheceram como imperador. Enquanto isto, João V fugiu para a ilha de Tenedos, no leste do Mar Egeu (não sem antes tentar que Solimão ficasse do seu lado e despojar as igrejas da capital para pagar-lhes, além de prometer-lhes a entrega de fortalezas na Trácia). ---- Morreu neste ano Basarab I, voievode (governador) de Arges, antigo vassalo da Hungria, que criou o Principado da Valáquia desde a vitória de Potada sobre os húngaros (em 1330). --- Aleixo III Comneno, de Trebizonda, fez aliança com o emir turco Fakhr-ud-Din (da Dinastia do Carneiro Branco da Pérsia Ocidental) através do casamento deste com uma de suas irmãs.1353 - João V Paleólogo desistiu de desembarcar na capital (teve pela frente a imperatriz Irene) e foi para Tessalônica (em março). ---- Mateus Cantacuzeno (filho primogênito de João VI) foi proclamado como imperador associado em 13 de abril. O patriarca Calisto I se recusou a coroar Mateus (por ser apoiado pelos hesicastas); por isto, foi destituído por João VI Cantacuzeno, que nomeou um partidário, Filoteu Kokkinos, em seu lugar (em novembro). 1354 - Os turcos osmanlis comandados por Solimão (Suleyman) Pasha, tomaram a fortaleza de Tzympé, próximo de Galípoli, junto ao Estreito de Dardanelos, abordando, pela primeira vez, território europeu. ---- Galípoli (hoje Gelibolu), porto bizantino no Mar de Mármara, abandonado após um terremoto (em 2 de março), foi ocupado pelos turcos osmanlis (otomanos), sob o comando de Solimão Pasha (filho de Orkhan) ficando eles, assim, com o controle absoluto do Estreito de Dardanelos e de sua navegação. O imperador bizantino João VI Cantacuzeno pagou-os para saírem da fortaleza de Tzympé, mas eles não aceitaram a saída de Galípoli. Com esta atitude acabou a aliança entre eles. ---- Constantinopla foi assolada por um sismo.1355 - Em abril, o doge de Veneza recebeu uma carta de Marino Faliero, dando-lhe a sugestão de se apoderar de Constantinopla, antes que ela caísse em poder dos turcos otomanos. ---- Em junho, o turco Solimão Pasha (filho de Orhan) invadiu e saqueou a Trácia e proibiu a colheita por seus habitantes (para dificultar o abastecimento de Constantinopla). Pouco depois, o monge Gregório Palamas se dirigindo à Constantinopla por mar, foi aprisionado pelos turcos osmanlis e levado para Lampsaque (cidade antiga famosa pelo culto de Priape, representado pelo símbolo fálico), situada junto ao Estreito de Dardanelos. ---- Em junho, João VI Cantacuzeno tentou fazer um acordo com João V Paleólogo, mas este recusou. Este último fugiu do mosteiro de S. Mamas na ilha de Tenedos (no Egeu Oriental, perto da entrada do Helesponto) com ajuda do genovês Francisco Gattilusio e voltou para Constantinopla, em 22 de novembro onde foi bem acolhido pelo povo, que se revoltou contra João VI e saqueou o Arsenal dos Manganes, mas sua revolta foi sufocada pela guarda catalã. João VI, cercado no palácio, assinou com ele, inicialmente, um acordo de divisão do poder imperial em 1 de dezembro. Em 10 de dezembro, João VI abdicou do trono e se tornou monge, tomando o nome de Joaspah Cantacuzeno no Convento de São Jorgte dos Manganês, em Constantinopla; depois foi para Mistra onde morreu junto ao seu filho em 1383. --- Neste ano: Os turcos otomanos invadiram a Bulgária pretendendo tomar sua capital Sofia; o encontro entre eles e búlgaros ocorreu na Batalha de Ihtiman (perto da capital), com grandes perdas de ambos os lados, mas os turcos não atingiram o seu objetivo final.1355 (continuação) - João V Paleólogo reinou de 1355 (10 de dezembro) a 1376. O Império Bizantino ficou reduzido territorialmente à Tessalônica, Trácia e algumas ilhas orientais do Mar Egeu. 1355 (continuação) - João V Paleólogo, pelo apoio dos genoveses na ascensão ao trono, cedeu a ilha de Lesbos aos Gattilusio (família importante de comerciantes de Gênova), em 17 de julho. Também reconheceu a posse da Trácia pelos turcos osmanlis. --- Como alguns de seus antecessores, João V tentou, através de ato solene, em 15 dezembro, mais uma vez (aconselhado pela sua mãe Joana de Sabóia) em se aproximar do papa Inocêncio VI para que este organizasse uma cruzada para combater os muçulmanos; no entanto, o máximo que ele conseguiu foi o envio de uma frota naval reduzida (sob o comando do legado papal) que ocupou Lampsaque por pouco tempo.--- Em 20 de dezembro, ocorreu a morte do rei sérvio Estêvão VIII Uroch IV Nemânia IX , ou simplesmente Estevão Dusan (talvez envenenado), sendo sucedido por Estevão IX. Como o governo não era respeitado por todos os governadores (voievodes), acabou se dividindo a Sérvia em duas partes: a setentrional e a meridional. Nesta época, o principado de Kossovo estava sob o domínio do sérvio Vuk Branković.1355 a 1389 – O Império Bizantino em processo de agonia. 1356 – Nicéforo II Orsini, na primavera, conseguiu reaver o Despotado do Épiro; morrendo 3 anos depois (em combate às margens do rio Achelus, contra os albaneses revoltosos comandados por Carlos Topia), quando os sérvios recuperaram o Épiro. ---- Matheus Cantacuzeno continuou a luta contra o imperador após a morte de seu pai, solicitando o auxílio militar de seu cunhado, o sultão otomano Orkhan. ---- Neste ano: Novamente Bizâncio propôs a unificação das igrejas de Roma e Constantinopla: o imperador João V propôs ao legado papal em Constantinopla, Pedro Tomás (santificado depois) tal união e mandou carta através dele ao papa Inocêncio VI. Embora o imperador tivesse o respaldo da nobreza, esta aproximação fracassou em face da oposição do clero ortodoxo. ---- O patriarca confirmou como metropolita de Kiev a Aleixo, já exercendo a função desde 1354 com a morte do seu antecessor e patrono, Teognoste.1357 - Roberto II d’Anjou e de Tarento concedeu o condado de Cefalônia à família italiana dos Tocco. ---- Em dezembro, depois de conflitos e intrigas, Manuel Cantacuzeno foi entregue a João V Paleólogo por um traidor. Foi, então, obrigado a abandonar seus intentos e exilado em Moreia, junto com o pai. Seu irmão, Manuel Cantacuzeno, príncipe de Moreia, apaziguou ânimos internos e arrumou uma frota para combater corsários.1357 a 1361 – Os turcos osmanlis (otomanos) primeiro sob a chefia de Solimão Pasha (que morreu em 1357 em acidente de caça) e depois de seu irmão (Murad) conquistaram a Trácia, ocupando Tchorlu, Didimótica, Kirk Kilisse e Andrinopla. 1358 – Aleixo III Comneno enfrentou bravamente os turcos dos emirados limítrofes ao Império de Trebizonda; neutralizando um deles, o emir de Chalibia, Hadji Omar, ao qual casou sua segunda filha, ainda menor de idade.1359 - Os Mamelucos se apoderaram das cidades armênias de Adana e Tarso ao rei Constantino IV, tendo este sua autoridade restrita ao entorno de Sis (chamada pelos turcos de Ḳōzān, e hoje de Kozan), capital da Armênia.1359 a 1369 - O Reino de Chipre foi governado por Pedro I, filho de Hugo IV, renovando o espírito cruzadístico contra os muçulmanos.1360 - Um líder romeno da região de Maramuras (norte da Transilvânia) se apoderou do vale do Moldava ao rei Luís I, o Grande (da Hungria), expulsou o governador da região e criou o Principado de Moldávia. ---- Em virtude do poder marítimo genovês no Mar Negro, o imperador Aleixo III de Trebizonda tentou retomar as relações de comércio com os venezianos, a fim de contrabalançar o poder genovês nesta atividade. ---- Morreu o astrônomo e historiador bizantino Nicéforo Gregoras.1361 - – O rei Pedro I de Lusignan, de Chipre, em 15 de janeiro, se apoderou do porto de Coricos (na Cilícia) aos turcos; em 24 de agosto, foi a vez do porto de Adália ou Satália (no litoral da Panfília), conquistado aos turcos do Emirato de Tekê. ---- – Murad I,o novo sultão otomano, foi vitorioso sobre bizantinos em batalha a nordeste de Lulle Burgas (no litoral da Bulgária).1362 - Em janeiro, o sultão Murad I tomou a cidade de Andrinopla ( Edirne atual) aí instalando sua capital. Depois que tomou a cidade de Filipópolis (Plovdiv atual), praticamente finalizou a conquista da Trácia e cortou o caminho terrestre de acesso de Bizâncio ao interior da Península Balcânica, a partir deste ano. ---- Chipre, governada por Pedro I, foi atacada pelo emir turco Tacca (senhor de Alaya ou Candeloro), em 13 de abril, véspera de Páscoa, mas sem sucesso. Ao mesmo tempo, João de Sur, almirante desta ilha, abasteceu a cidade de Satalia e navegou pelo litoral da Lícia. Em outubro, este rei solicitou ajuda militar da Itália, do Sacro Império Romano Germânico (governado por Carlos IV) e da França (cujo rei era João II, o

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Bom, da Dinastia de Valois) em sua empreitada militar contra os Mamelucos do Egito.1363 - O sultão otomano Murat I, após vitória sobre os sérvios no vale do Maritza, se apoderou da parte oeste da Trácia e a Bulgária. ---- Nas proximidades de Megara (na Ática, Grécia) uma frota naval bizantina conseguiu uma vitória sobre uma frota otomana.1363-1364 - João V tentou fazer um acordo de defesa com a Sérvia em Serrés, mas fracassou. --- O sultão Murad I fez um tratado comercial com Ragusa e transferiu a capital de Brussa para Andrinopla.1364 – Neste ano: Aleixo III Comneno, imperador de Trebizonda, negociou tratado com Veneza, restaurando-lhe privilégios comerciais e lhe outorgando um armazém no porto de Trebizonda. Mesmo assim, os venezianos não se mostraram satisfeitos. – O imperador João V moveu guerra contra o João Alexandre, tzar búlgaro, se apoderando de Anquialos (hoje, Pomoriê). --- Filoteu Kokkinos, retornou à função de patriarca de Constantinopla neste ano, exercendo-a até 1376. 1365 –Em 25 de janeiro, o papa Urbano V (de Avignon, no Reino Franco) proclamou uma cruzada contra os turcos, que seria formada pelos reis da Hungria e de Chipre e pelo conde de Sabóia, Amadeu VI (primo de João VI). De 10 a 16 de outubro se efetivou a chamada ‘Cruzada de Jerusalém’: o rei Pedro I de Lusignan (de Chipre) e os cruzados do legado papal Pedro Tomás se apoderaram do porto de Alexandria (no delta do Nilo), mas não tiveram condição de manter sua ocupação, porque afetava os interesses comerciais de Veneza e Gênova. Após sua saída, o sultão Shakhban se apropriou dos bens das igrejas. ---- O imperador João V atravessou o Danúbio para se encontrar novamente com o rei Luís I d’Anjou, o Grande, da Hungria, mas não teve sucesso em suas conversações de aliança contra os búlgaros. Sua armada foi bloqueada pelas forças do tzar João (Ivan) Alexandre em Vidin, às margens do Danúbio. ---- Ao morrer o tzar búlgaro João Alexandre, o reino se fragmentou em 3 partes: Vidin (com Strasimir), Turnovo (com João Sisman III) e a região litorânea do Mar Negro (com Dobrovitch). --- O rei Luís I, o Grande, da Hungria conquistou o principado de Vidin da Bulgária, instabilizada por crise sucessória e pelas interferências dos turcos. 1366 - João V, quando voltava para Constantinopla, foi capturado pelos búlgaros. Para resgatá-lo, no verão, Amadeu VI, Conde de Sabóia, com navios venezianos, retomou Galípoli dos turcos (em 24 de agosto, na Batalha homônima) e solicitou a liberação do imperador bizantino. No fim deste ano, ele atacou portos búlgaros (Messembria e Varna) no Mar Negro, forçando o príncipe búlgaro João Sisman III a soltar João V. ---- No Natal, o papa Urbano V (agora em Roma) conclamou os católicos, através de bula, à nova cruzada contra os turcos.1367 – No início do ano, Amadeu de Sabóia, junto com Paulo de Esmirna (patriarca latino de Constantinopla escolhido pelo papa Urbano V) conseguiram fazer uma reunião em Sozópolis objetivando a tão almejada união das igrejas de Roma e Constantinopla. Estas conversas continuaram na capital bizantina, onde o imperador chamou Joasaf (João VI Cantacuzeno, agora monge em Manganes) para ouvir sua opinião no Palácio de Blachernes, bem como a de Paulo de Esmirna. ---- Em maio, Amadeu VI de Sabóia atacou castelos dos turcos otomanos no Helesponto. – Neste ano: Pedro I (de Chipre) destruiu Trípoli, Laodiceia e Jafa no litoral da Síria e foi para a Europa, novamente, para solicitar a ajuda ocidental em cruzada contra os turcos.1368 - Em abril, numa reunião de bispos em Constantinopla, foi canonizado Gregório Palamas.---- Neste ano, os genoveses mandaram construir a torre de Gálata (ao norte do Corno de Ouro). ---- O rei Pedro I de Chipre retornou da Europa sem conseguir nada; em Chipre encontrou uma situação embaraçosa pelo mau comportamento de sua esposa Eleonora de Aragão e a nobreza descontente.1369 - Em 17/18 de janeiro, o rei Pedro I de Chipre foi assassinado pelo seu irmão João, mancomunado com os nobres; foi sucedido pelo seu filho menor, Pedro II, que reinou até 1382. ---- Viagem pessoal de João V Paleólogo à Roma, partindo da capital em abril, chegando em Castellamare em 7 de agosto. Neste mês, o papa de Avignon que fora para Roma, Urbano V, estava em Viterbo em conversações com o patriarca latino Paulo de Esmirna e o emissário do imperador, Demétrio Cydonés. Em 13 de outubro, Urbano V estava em Roma recebendo o imperador João V, que abjurou sua religião ortodoxa, a fim de negociar ofensiva militar ocidental de cruzada contra o sultão otomano Murad I. Ele deixou em Constantinopla, em seu lugar, o primogênito Andrônico; em Tessalônica ficou outro filho, o segundo, chamado de Manuel; 3 dias depois o papa acolheu o pedido de abjuração. Enquanto isto, o patriarca Filoteu Kokkinos tentava organizar uma cruzada oriental ortodoxa antiunionista e antiturca, se intrometendo, pois, na iniciativa do governo imperial. – O sultão Murad I entrou no Golfo de Burgas, se apoderando do porto homônimo, no Mar Negro; pressionou o tzar João IV Assen (ou João Alexandre Sisman) a se tornar seu vassalo e lhe entregar sua irmã para seu harém. 1369-1370 - Durante o inverno 1369/1370, João V esteve em Veneza ficando até a primavera de 1371, com o propósito de saldar a enorme dívida bizantina com aquela república (tendo empenhado até as jóias imperiais) e de renovar tréguas.1369 a 1371 – Enquanto o imperador estava na Itália, o patriarca Filoteu Kokkinos negava o apoio do clero ortodoxo à união das igrejas de Roma e Constantinopla. Interveio nos patriarcados orientais para que se opusessem à intromissão de Roma e que se perfilassem na luta contra as conquistas turcas.1370 - Entre 25 de agosto e dezembro, na ilha de Chipre foram realizadas negociações de paz entre o governo local (o rei Pedro II era menor, tendo como regentes sua mãe Eleonora e seus tios paternos João de Antióquia e Jaques) e o Sultanato Mameluco do Egito. ---- O tzar búlgaro João IV Assen (ou João Alexandre Sisman), com tropas cedidas pelo otomano Murad I, tomou Vidin;desta forma, pela primeira vez os otomanos chegaram ao baixo vale do Danúbio. ---- Na primavera, o imperador bizantino saiu de Roma para Veneza, junto com seu filho Manoel, para negociar a anulação de dívidas contraídas e a cessão da Ilha de Tenedos; em troca solicitou a restituição de jóias imperiais empenhadas antes e o fornecimento de navios. Seu filho Andrônico não concordou com a cessão da Ilha de Tenedos. Os venezianos, retaliando, prenderam o imperador; solto mediante pagamento de resgate feito pelo filho Manoel. ---- Neste ano, o rei Luís I d'Anjou, rei da Hungria, ao se tornar também rei da Polônia, vassalou o príncipe sérvio Lázaro Hrebeljanovic da Sérvia, iniciando uma série de conflitos contra os turcos otomanos.1371 – Em 5 de janeiro, foi escolhido como papa de Avignon, Gregório I (sobrinho de Clemente VI) sucedendo a Urbano V (que morrera em 19 de dezembro de 1370). ---- Como Murad I estava indo com suas tropas em direção à Sofia, o tzar João IV Assen (ou João Alexandre Sisman), se juntando com forças sérvias e e Manuel Paleólogo, tentou contê-lo sem sucesso, sendo derrotado em Samakov (no vale do Isker) e fugindo com seus aliados para as Montanhas Rodopé. Em 17 de fevereiro morreu João IV Assen. Ao penetrarem na região das Montanhas Rodope os turcos encontraram resistência dos búlgaros nas termas de Tzepina, em Bitolice e Rakovitza; bem como na Trácia (em Yambol e Karnobat). ---- Em abril, João V saiu de Veneza (onde estava junto com seu filho Manuel Paleólogo) com frota naval conseguida através de acordo com o doge. Em outubro chegou à capital bizantina. Aí se comprometeu a ser leal aos otomanos para evitar que eles a atacassem.---- Dois nobres da corte sérvia, originários da Dalmácia, os irmãos Vukasin Branković e João Ugliesia, criaram uma província autônoma entre Serrés e o Danúbio, sob o nome de Kossovo, tendo Vukasin Branković como seu primeiro déspota. Formaram um exército de húngaros, valáquios e sérvios e atacaram os turcos otomanos, mas foram esmagados e mortos na travessia do rio Maritza, na chamada Batalha do Maritza ou de Tchernomen, na Bulgária (26/9). ---- Manuel Paleólogo, governador da Macedônia e Tessalônica, se aproveitou desta circunstância para se apoderar de Serrés em novembro.---- João V assegurou maior justiça social ao secularizar o patrimônio fundiário dos mosteiros e passar seus domínios de terra sob a forma de ‘pronoiai’ aos camponeses, sob promessa destes de prestarem serviço militar.1372 – Em maio, o papa Gregório XI (sabendo da derrota dos aliados cristãos no vale do Maritza) convidou o rei Luís I d’Anjou, o Grande (da Hungria e da Polônia, então) e a República de Veneza a juntar forças contra os muçulmanos e convocou um congresso de todos os Estados Cristãos no ducado de Atenas e Tebas, governado pela Grande Companhia Catalã. ---- Em 12 de outubro, enquanto Pedro II (rei de Chipre) estava sendo coroado, também, como rei de Jerusalém em Famagusta (porto mais importante da ilha), eclodiu um conflito entre mercadores venezianos e genoveses. ---- Neste ano: O bey Evrenuz (antigo príncipe de Karasi) foi mandado pelo sultão Murad I para a Bulgária (debilitada por uma revolta anterior fomentada pela Hungria) e ocupou a área banhada pelos rios Vardar (a Velha Sérvia), parte da Albânia e a Bósnia (até os Alpes Dináricos) e Strimon, ameaçando Tessalônica. A Sérvia ficou dividida em Sérvia do Norte e do Sul, ficando esta última sob o governo de Marko Kralievitch, filho de Vukasin Brankovic, com o título de Kral, mas vassalado aos otomanos.1373 – O congresso dos países cristãos que deveria se reunir no ducado de Atenas e Tebas não saiu da intenção (deveria ser aberto em outubro). ---- O imperador João V mandou o unionista João Láscaris Kaloferos sem nenhum sucesso à corte do rei francês Carlos V (às voltas com a Guerra dos

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Cem Anos) e à de Luís I d’Anjou, o Grande (rei da Hungria e Polônia). --- Em outubro, uma esquadra genovesa se apoderou do porto de Famagusta, o principal de Chipre, aprisionando seu rei Pedro II que obteve a soltura assinando acordo de cessão daquele porto para Gênova, além do pagamento de indenização de guerra. 1374 – O imperador mandou o unionista João Láscaris Kaloferos à Europa para solicitar uma cruzada antiotomana, mas não conseguiu nada com o papa em Avignon, com o rei Carlos V em Paris, nem com o rei Luís I d'Anjou, o Grande. Em outubro, o papa de Avignon mandou um emissário à Constantinopla comunicando que tal pleito bizantino seria facilitado se houvesse a união das igrejas. ---- Neste ano:Enquanto o príncipe Manuel Paleólogo estava resistindo aos turcos em Tessalônica antes de julho, João V Paleólogo assinou tratado com Murad I se vassalando fiscalmente (pagando-lhe imposto) a ele e avisou o papa de Avignon em dezembro através de seus embaixadores. Neste período, associou ao trono seu filho caçula e favorito, Manuel, em vez de Andrônico, seu primogênito, menos maleável ao sultão Murad I (o que pressupõe sua influência na decisão do imperador). Este se revoltou sem sucesso contra o pai, envolvendo até o filho de Murad I (Saudj). Ao serem presos, Murad I cegou o seu filho e mandou João V fazer o mesmo com Andrônico (este ficou apenas com um olho e levado para a ilha de Lemnos). Este, obviamente, guardou um rancor profundo em relação ao pai. – Lázaro I Hrebeljanovic passou a ocupar o governo da Sérvia do Norte.1375 – Em 13 de abril, Leão VI de Lusignan, rei da Armênia, após resistência heróica diante dos Mamelucos desde 1374 em sua capital Sis, foi capturado e levado para o Egito. Este fato representou o fim da Dinastia dos Lusignan e a extinção do Estado da Armênia Ciliciana ou Pequena Armênia e o triunfo da guerra santa muçulmana. --- A princesa Tamara, filha de Manuel II Paleólogo, foi doada como esposa para Murad I. ---- Neste ano: O rei Luís I d'Anjou, o Grande (da Hungria e Polônia) fez frente à campanha turca na Valáquia.1375-1376 - Como nos ensina o historiador Louis Bréhier, 'a indiferença e as divisões dos Estados Cristãos (da Europa, como a Inglaterra e França na Guerra dos Cem Anos) foram os melhores auxiliares dos turcos': todos eles fizeram ouvidos moucos à pregação de nova cruzada pelo papa de Avignon, Gregório XI, para combater o crescente perigo otomano.1376 – Em julho, Andrônico foi resgatado na Ilha de Lemnos pelos genoveses (estes fazendo represália a João V por colocar a ilha de Tenedos à disposição dos venezianos em 1370), auxiliado por Murad I. Ele devolveu Galípoli a Murad I para ter sua armada. Em seguida, ainda auxiliado por Gênova, cercou e tomou a capital (12/8) e aprisionou seus pais e o irmão Manuel, subindo ao trono sob o título de Andrônico IV. 1376 (12 de agosto) a 1379 – Reinado do usurpador Andrônico IV Paleólogo. Seu reinado se tumultuou pela guerra civil decorrente da usurpação; os atritos entre membros da família imperial foram estimulados pelo sultão Murad I (como o imperador de fato, João V, verdadeiro joguete do otomano, assistindo à queda de cidades bizantinas sem poder fazer nada). 1376 (continuação) – Andrônico IV outorgou, em 23 de agosto, a ilha de Tenedos (em posição estratégica diante dos Estreitos e do Mar Negro) aos genoveses, mas os venezianos não se retiraram de lá, enviando uma frota naval e iniciando (em 1378) a chamada Guerra de Chioggia. ---- Em outubro, Andrônico IV foi coroado.1376-1377 - No Império de Trebizonda ocorreu um complô, alimentado por Veneza, esta apoiando o déspota de Dobruja (Dobrotitsa, inimigo dos genoveses) no sentido de colocar no trono seu cunhado Miguel Paleólogo (filho de João V Paleólogo). Tal complô foi abortado com o assassinato de Miguel Paleólogo.1377 – O rei Luís I d'Anjou realizou uma incursão na Valáquia, entre 5 de julho e 14 de agosto, contra seu príncipe e fundador Radu I Basarab. ---- Fracassaram as tentativas diplomáticas feitas entre Constantinopla, Gênova e Veneza.1378 – No Mar Tirreno (oeste da Itália) ocorreu um ataque da frota naval veneziana comandada por Vettor Pisani contra os genoveses, fazendo muitos prisioneiros em 6 de agosto, ao largo de Chioggia: foi o início da chamada Guerra de Chioggia que durou até 1381. ---- A situação social e política de Constantinopla era crítica: ao lado de duplicidade de imperadores e disputas da família imperial, os que moravam fora da cidade estavam dominados pelos otomanos; os que habitavam seu interior eram oprimidas pelas revoltas e miséria.1379 - Em maio, a esquadra de Veneza sofreu derrota em Pola (em Ístria, no norte do Mar Adriático) e os genoveses se apoderaram de Chioggia e fortalezas venezianas. João V e Manuel Paleólogo (antes subordinados aos genoveses) se evadiram da prisão com auxílio dos venezianos. Se encontraram com Murad I para pedir ajuda, este lhes forneceu uma armada em troca de tributos e da cidade de Filadélfia (na Ásia Menor). João V entrou na capital em 1 de julho e retomou o trono.1379 (1 de julho) a 1391 – Reinado de João V Paleólogo.1379 (continuação) - Andrônico IV fugiu para o mercado genovês de Pera, junto com sua mãe Helena Cantacuzeno e seu avô João Cantacuzeno (então monge Joasaf). Não conseguindo arregimentar forças contra o pai, voltou à capital e pediu perdão ao mesmo, que lhe concedeu Selímbria (hoje chamada de Silivri) como apanágio e a honraria nominal de co-imperador.1379 (28 de dezembro) a 1380 (22 de junho) - Enfrentamento naval entre os venezianos (comandados pelo almirante Carlos Zeno) e os genoveses (com menos da metade da frota veneziana), estes últimos nem ousaram atacá-los e capitularam diante deles.1380 - Prosseguindo a expansão otomana sobre o oeste da Península Balcânica, o sultão Murad I ocupou Monastir (antes chamada de Bitola) na Macedônia e Istip (na Sérvia), na bacia do Vardar. --- O déspota de Mistra (ou Moreia), Manuel Cantacuzeno (filho de João VI), morreu; sendo sucedido por seu irmão Mateus, falecendo este em 1383; por sua vez sucedido pelo primogênito Demétrio, falecido um ano depois.1381 – Finda a Guerra de Chioggia em 8 de abril, pelo tratado de paz de Turim: genoveses saíram da Ilha de Tenedos, mas puderam permanecer em Famagusta. As atividades comerciais na Dalmácia se fizeram dentro de normas venezianas; à Veneza passaram todas as regalias comerciais em Constantinopla e comércio livre em todo o Mar Negro. ---- Manuel Paleólogo voltou a ser o governador de Tessalônica. ---- Em Dubrovnik, nas proximidades de Paracin (na Croácia atual), ocorreu a memorável vitória cristã na chamada Batalha de Dubrovnik dos sérvios comandados pelos generais Vitomir e Crep venceram os otomanos. 1382 – Em agosto chegou no Mosteiro Jasna Gora (na Polônia), procedente de Jerusalém, a pintura icônica da chamada 'Madona Negra de Czestochowa', ainda hoje reverenciada. ---- A cidade de Serdica (atual Sofia), na Bulgária, foi ocupada pelos turcos otomanos, após 2 anos de cerco. 1383 – Ordenado por Murad I, o turco Kaireddin, em 19 de setembro, se assenhoreou de Serrés (cidade importante da Macedônia, cuja capital era Tessalônica, e era governada por Manuel Paleólogo, filho de João V Paleólogo). Manuel Paleólogo se juntou com os nobres revoltados desta cidade de Serrés e massacrou a guarnição militar otomana deixada ali por Murad I. Este retaliou, cercando Tessalônica, que resistiu por 4 anos.---- A partir deste ano, os filhos caçulas dos Paleólogos passaram a ter o direito de usar o título de ‘déspota’. --- O Ducado de Naxos (no arquipélago do mesmo nome no Mar Egeu) esteve até então sob a Dinastia dos Sanudo, passando, a partir deste ano, para os Crispo, que aí governou até 1418, passando a governar os venezianos.1383 a 1387 – Tessalônica, porto e capital da Macedônia, conseguiu aguentar o cerco imposto por Murad I (em represália ao massacre em Serrés) durante este período, caindo depois. Tal insucesso repercutiu negativamente para Manuel Paleólogo, que foi responsabilizado por ele, perdeu seus títulos e exilado para a ilha de Lemnos pelo imperador João V (5 anos depois fizeram as pazes).1385 – Em 18 de setembro, os turcos otomanos sob o comando de Hayreddin Pasha, derrotaram os sérvios (chefiados por Ivaniš Mrnjavčević e Balša II) na Batalha de Sawra (Savra), próximo de El-Bassan. Cerca de 1 ano depois, foi a vez de caírem Croia e Scutari. Muitos albaneses, a partir dessas derrotas, se islamizaram e participaram da armada turca otomana. 1386 – O príncipe sérvio Lázaro Hrebeljanović, que tinha formado uma união de senhores sérvios contra os otomanos, foi obrigado a se vassalar a Murad I.1386 e 1387– Murad I conseguiu se apoderar de dois centros de convergência de rotas terrestres que iam para os Mares Egeu e Adriático e o rio Danúbio: a planície de Sofia (ou Serdica) aos búlgaros (1386) e a cidade de Nish aos sérvios. 1387 – Em 9 de abril, o importante porto da Tessalônica (capital da Macedônia, pertencente aos bizantinos) foi tomado pelos turcos otomanos, após um cerco de 4 anos por Murad I. ---- Neste ano: O ducado de Atenas e Tebas foi conquistado por Nério I de Acciaiuolli, acabando a suserania exercida pelos reis aragoneses da Sicília (aí presentes desde 1311). --- O sultão Murad I tentou conquistar o maior dos emirados turcos da Ásia

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Menor, o de Karaman, cujo titular Alaeddin, era seu genro. O confronto entre os dois, perto de Konia (antiga capital do Sultanato de Rum) não teve vencedores nem vencidos; assinando-se, logo após, um tratado de paz entre ambos. ---- Na Hungria, morreu a rainha Maria, esposa de Sigismundo de Luxemburgo, este, já rei, recebeu o pedido do papa Bonifácio IX e do imperador bizantino João V Paleólogo para realizar uma cruzada contra os otomanos, o que foi aceito, visto que a presença otomana no Danúbio representava um enorme perigo ao seu reino. --- O príncipe Lázaro I da Sérvia do Norte, objetivando se livrar da suserania turca, se rebelou e pediu a ajuda a Stjepan (Estevão) Tvrtko I, rei da Bósnia. Perto de Prokuplje, no vale do Toplitsa, ao sul da Sérvia atual, ocorreu a segunda batalha entre os otomanos (comandados por Şahin Bey ou Kula Şahin Bey) e o exército sérvio e bósnio: foi a Batalha de Pločnik (ou Plochnik), em que se notabilizou o cavaleiro sérvio Miloš Obilić, em que os sérvios foram os vencedores. Observação: alguns autores situam cronologicamente esta batalha em 1386.1387-1388 – Murad I não se incomodou com a autonomia do reino da Bósnia, governado por Stjepan (Estevão) Tvrtko I, que se apoderou da Croácia e parcialmente da Dalmácia; ao morrer em 1391 possuía uma frota naval capaz de afrontar os venezianos no Adriático. – Nerio Acciaiuoli substituiu os catalães em Atenas, da qual se intitulou ‘senhor do Ducado de Atenas’ e foi reconhecido como tal pelo rei Ladislau (de Nápoles). 1388 – Os sérvios e bósnios conseguiram vitórias em Rudnik e Bilece (ou Bileca, na batalha do mesmo nome em 27 de agosto contra o turco Lala Şahin Paşa), se espalhando a revolta antiturca por toda a Península Balcânica (como o albanês Jorge Castriota, os príncipes búlgaros Ivanko e Sisman e o príncipe da Valáquia). --- Em 12/9, a viúva de Pedro Corner, Maria d’Enghien (Condessa de Lecce, rainha, por parte de maridos, de Nápoles, Hungria e Jerusalém) vendeu, mediante uma renda anual, suas senhorias de Nauplia e Argos para Veneza, mas sem sucesso. 1389 - Reação de Murad I diante de revolta nos Bálcãs: mandou Ali-Pasha contra o príncipe Sisman da Bulgária, vencendo-o após o cerco de Nicópolis, forçando-o à entrega de Silistra (Dorostol).---- Na primavera, Murad I e seu filho Bajazé atacaram a Sérvia moraviana, onde entraram em confronto com os sérvios (com o príncipe Lázaro I e seus aliados cristãos) na Batalha de Kossovo Polje (Campo dos Melros), ao norte de Skoplje. Esta batalha foi árdua: os aliados romperam uma ala do exército otomano; o nobre sérvio Miloš Obilić, conseguiu chegar à tenda de Murad I e o apunhalou; mas os turcos conseguiram a vitória final com a traição do genro do príncipe Lázaro Hrebeljanovic (Vuk I Brankovic, déspota de Kossovo), em 15 de junho. Conforme o historiador Louis Bréhier, o resultado deste conflito foi duvidoso.---- O príncipe Lázaro I, preso durante a batalha junto com outros nobres, foi supliciado por Bajazé pela morte de seu pai; foi, entretanto, complacente com seu filho, Estevão Bulcovic (que passou a governar a Sérvia como Estevão III). Morrendo o sultão Murad I nesta batalha, de imediato sucedeu-o o filho Bajazet I ‘Yıldırım’ (o ‘Relâmpago’), que governou até 1403; sua primeira medida foi a de mandar estrangular seu irmão Iakub, que era popular no exército e poderia lhe criar problemas futuramente. ---- Neste ano: Houve uma revolta fracassada dos sírios contra os Mamelucos Bjorditas (Cairo estava tumultuado neste ano pela retomada temporária de poder pelo Baharita As-Sâlih Zayn ad-Dîn Haji), de junho deste ano até fevereiro de 1390.1389-1390 – O príncipe de Aqueia, Pedro de Saint Exupéry (um dos chefes da companhia navarrina de aventureiros), temia uma aliança entre Nerio I Acciaiuolli (senhor de Corinto, duque de Atenas e de Tebas) e Teodoro I Paleólogo (filho de João V, que era déspota de Mistra). Em face disso, aprisionou Nerio I e o obrigou a empenhar a cidade de Mégara para soltá-lo (no final de 1390).1390 - No Império de Trebizonda, ao morrer Aleixo III em 20 de março, foi sucedido pelo seu filho Manoel III Comneno. ---- O imperador João V foi desautorizado pelo sultão otomano Bajazé I na construção de novas muralhas em Constantinopla, tendo que demolir o que tinha construído (se não o fizesse, cegaria seu irmão Manuel). Este sultão exigiu pagamento de imposto ao imperador João V e que este lhe enviasse um reforço militar para suas lutas contra os emires da Anatólia. Foi este sultão, outrossim, que ajudou o filho de Andrônico IV (João VII Paleólogo, que escapou dos genoveses), na primavera, para ocupar Constantinopla, destronar o seu avô, o imperador João V Paleólogo em 14 de abril, se mantendo no poder até 7 de março de 1391. João V se colocou em abrigo na fortaleza das Sete Torres nas proximidades da Porta de Ouro. ---- A cidade bizantina de Filadélfia (a última da Anatólia ainda independente em relação aos otomanos) caiu sob o domínio de Bajazé. 1391 - Ao morrer o imperador (desalojado do poder no ano passado) João V, em 16 de fevereiro, vitimado pela gota (ou, segundo outra versão, por crise nervosa em face das sucessivas humilhações sofridas); seu filho Manuel fugiu de Brussa (onde estava preso pelos otomanos), atravessou o Estreito de Bósforo e voltou à capital bizantina, onde foi recebido triunfalmente, em 7 de março e desalojou o usurpador João VII Paleólogo do trono. João VII fugiu para junto do sultão Bajazé I, que lhe concedeu o distrito de Selímbria (no litoral da Trácia no Mar de Mármara ou Propôntida) como apanágio. 1391 a 1393 - Neste período, Os otomanos tomaram a cidade de Larissa e se apoderaram da Tessália, pertencente ao Império Bizantino.1391 (16 de fevereiro) a 1425 (22 de julho) – Governo de Manuel II Paleólogo. Teve como co-imperadores: Andrônico V Paleólogo (de 1403 a 1407) e João VIII Paleólogo (1421 até o fim de seu governo e seu sucessor).1391(continuação) – Em 8 de junho, o imperador Manuel II Paleólogo saiu de Constantinopla (deixando sua mãe Helena Cantacuzeno como regente aí) para a Anatólia para se reunir com seu suserano Bajazé I. O imperador deixou sua mãe, Helena Cantacuzeno, na regência e se pôs a disposição do sultão, em 8 de junho. ---- Neste ano:Bajazé I cercou Constantinopla por 7 meses e mandou atacar Moreia (governada por Teodoro Paleólogo). Impôs ao novo imperador, Manuel II, a implantação de uma guarnição militar otomana em Gálata, a criação de uma mesquita na capital e a vassalagem fiscal e o envio de tropas para sua campanha militar no sul e leste da Anatólia. Praticamente ¼ de Constantinopla ficou nas mãos de Bajazet. ---- Bajazet I tentou se apoderar de Esmirna (que estava sob a soberania dos Cavaleiros Templários desde 1345), após a conquista dos emirados marítimos de Sarukhan, Aydin e Menteshe; devastou as ilhas de Kios, Eubeia (Negroponte) e o porto de Adalia (do emirado de Tekke), este se tornando o primeiro porto otomano no Mar Mediterrâneo. ---- Em Jerusalém, monges franciscanos ousaram insultar o profeta Maomé, acarretando sua decapitação.1391 - 1393 - Os otomanos ocuparam a cidade de Larissa e se apoderaram da Tessália, pertencente ao Império Bizantino.1392 ---- Uma armada sob o comando do rei da Hungria Sigismundo I de Luxemburgo forçou o sultão otomano a suspender o cerco de Constantinopla. ---- Ao voltar para a capital bizantina, no início do ano, o imperador Manuel II procurou uma esposa para manter a dinastia, visto que só tinha filhos bastardos. Em 11 de fevereiro foi coroado na Igreja de S. Sofia pelo patriarca Antônio IV e logo depois se casou com a filha do rei Constantino Dragas (da Sérvia), a princesa Helena. ---- No verão houve trocas de cartas entre os imperadores Manuel II e Sigismundo de Luxemburgo, da Hungria (sucessor de Luís I, o Grande), tendo como intermediário o príncipe da Valáquia, Mircea I. ---- Os otomanos invadiram o Reino da Bósnia, cujo rei Estevão Dabisa mandou o duque Hrvoje Vukčić enfrentá-los, conseguindo repeli-los. 1392 a 1402 - A capital bizantina, Constantinopla, foi cercada pelos otomanos, bloqueando-a até 1402. Para ajudar os bizantinos, os venezianos mandaram uma esquadra. 1393 – A Bulgária (cujo tzar Ivan Chichman ou Shishman era suspeito de ações diplomáticas com Sigismundo de Luxemburgo para se livrar do domínio turco) perdeu definitivamente sua autonomia depois que um filho de Bajazé (Solimão Celebi), em 17 de julho, se apoderou de sua capital (Tirnovo ou Tarnovo), cujos habitantes foram deportados para a Anatólia e o nome Bulgária foi eliminado dos documentos oficiais. O tzar foi decapitado em 1395. --- Nerio I, duque de Atenas, foi obrigado a se tornar tributário de Bajazé I. ---- A partir deste ano, a Igreja Ortodoxa Russa deixou de lado o procedimento litúrgico em homenagem ao imperador bizantino; gerando reclamação inútil do patriarca Antônio IV em setembro/outubro ao grão-duque da Rússia. ---- A Tessália (na Grécia) dos bizantinos foi conquistada pelos otomanos. --- O soberano de Chipre, Jaime I, obteve o título nominal de rei da Armênia após a morte do soberano local Leão VI, mas realmente os governadores eram os Mamelucos do Egito. 1393 a 1394 - Bajazé I empreendeu a construção da fortaleza de Anadoluhisari (no litoral asiático do Estreito de Bósforo) para realizar um segundo cerco da capital bizantina.1394 - Bajazet I demonstrou o apogeu do seu império ao reunir todos os seus vassalos (em abril e maio) na corte que reuniu em Serrés (no baixo vale do Strimon, na Tessália). Nesta reunião, intimidou e humilhou publicamente o rei sérvio Estevão Lazarevic e o imperador Manuel II. Este ao voltar para Constantinopla, começou a se organizar para mover guerra contra o sultão. No outono, tropas turcas cercaram a capital até 1395. ---Pedro de Saint-Exupéry (de Aqueia) e Paulo Mamonas pediram a ajuda de Bajazet na Grécia. O primeiro por estar ameaçado por Teodoro I Paleólogo (déspota

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de Mistra) e seus aliados (os Acciaiuolli); o segundo, que era governador de Monenvasia (na Península do Peloponeso) que pretendia ser autônomo em relação do déspota de Mistra. Bajazet os convocou a Serrés, primeiro condenando-os à morte, segundo cegando seus conselheiros, retrocedeu relativamente à condenação à morte, mas exigiu que Teodoro I Paleólogo lhe entregasse Argos e suas praças fortes para serem ocupadas por guarnições otomanas. ---- Em 25 de setembro, morreu Nerio (ou Rainier) I (da família Acciauioli de banqueiros florentinos), duque de Atenas e Tebas, deixando a cidade de Atenas para a Igreja e colocando-a sob a proteção de Veneza. Corinto ficou sob a ocupação de seus genros (primeiro o déspota de Arta, depois do déspota de Mistra). O imperador, impotente diante desta situação, mandou embaixadores junto à corte húngara de Sigismundo de Luxemburgo. ---- Em 10 de outubro, a Valáquia (sul da atual Romênia), sob a chefia do voivode Mircea I Batran conseguiu se opor à invasão dos turcos otomanos (comandados por Bajazé I, junto com tropas dos seus vassalos búlgaros e sérvios) na Batalha de Karanovasa (ou Batalha das Trinceiras), perto da margem do rio Arges, ao sul dos Montes Cárpatos. ---- Neste ano: Começo de gestões diplomáticas do rei Sigismundo (da Hungria) com Carlos VI de Valois (da França, que desde 1392 mostrava os primeiros sinais de demência), com o Duque de Lancaster (da Inglaterra) e outros nobres europeus numa cruzada contra os turcos. 1394 a 1398 - No outono de 1394 os turcos iniciaram o segundo cerco à Constantinopla, que se encerrou 4 anos depois.1395 – Em fevereiro, o rei da Hungria, Sigismundo de Luxemburgo, diante do perigo otomano no rio Danúbio, concedeu aos saxões da Transilvânia (na Hungria) o direito de fortificar as igrejas da cidade de Kirchenburgen (ainda mantidas hoje como tradição histórica); no dia 18 deste mês, estava em Brasov (na Valáquia), onde outorgou benesses aos seus comerciantes. Em 7 de março, acertou acordo de coalizão anti-otomana com o príncipe Mircea I (o Antigo) de Valáquia. Em 17 de maio ocorreu a Batalha de Rovina (Arges), na Valáquia, cujo príncipe, Mircea I junto com Andrijaš Mrnjavčev e Sigismundo de Luxemburgo enfrentaram as tropas otomanas de Bajazé I (e seus vassalos Marco Mrnjavčević, Constantino Dragaš e Estevão Lazarević). Mesmo vencendo, Mircea I (por causa de uma rebelião dos nobres ou boiardos) se colocou sob a proteção de Sigismundo e foi para a Transilvânia. Bajazé colocou no seu lugar Vlad I, o Usurpador, que aceitou a suserania turca, a qual pagou tributos. Quando a notícia desta vitória chegou a Paris foi celebrada festivamente com um Te Deum na Igreja de Notre-Dame. ---- As cidades de Cesareia da Capadócia e de Siwas foram entregues forçadamente pelo emir da Capadócia (Burhaneddin) a Bajazet I, que invadira o emirado. ---- O emir de Kastamuni teve que se refugiar junto aos mongóis, enquanto seu emirado foi atacado por Bajazet I, que se apoderou dos portos de Samsum e Sinope no Mar Negro. Na região litorânea deste mar apenas restou o Império de Trebizonda livre dos otomanos. – Neste ano nasceu no Império de Trebizonda João Bessasrion, que foi teólogo, cardeal e humanista, protagonizando o Renascimento na Itália.1396 - Em fevereiro, uma embaixada bizantina chegou à cidade húngara de Buda (às margens do Danúbio), onde se formalizou a ajuda de Sigismundo de Luxemburgo a Manuel II contra os otomanos. ---- A última grande expedição militar ocidental, a ‘Cruzada de Nicópolis’ liderada pelo rei húngaro Sigismundo de Luxemburgo e tendo a participação do marechal Boucicault, do duque de Borgonha (João sem Medo) e do almirante João de Viena. Os cruzados se uniram na cidade de Buda e se dirigiram para a capital bizantina no verão, navegando pelo Danúbio. Se encontraram, no entanto, com os aguerridos janízaros da infantaria turca sob o comando de Bajazet, na cidade de Nicópolis (hoje chamada de Nikopol, à margem direita do Baixo Danúbio, na Bulgária), em 12 de setembro (conforme o historiador René Grousset). Os franco-borgonheses cometeram o erro flagrante de combaterem direto os janízaros, sem esperar os húngaros. O resultado foi uma derrota vergonhosa: Sigismundo (cuja vida foi salva pelo conde Herman II de Celje) fugiu em um barco pelo Danúbio, os franco-borgonheses foram massacrados e seus chefes tiveram que pagar resgate. ---- A Valáquia se tornou a província de Eflak do Império Otomano, após a vitória sobre Mircea, o Grande (um dos derrotados em Kossovo), que foi mandado para Brussa, onde foi forçado a assinar tratado de vassalagem. ---- A República de Ragusa, existente desde 1358, no litoral da Dalmácia (no litoral nordeste do Mar Adriático) se tornou vassala do Império Otomano com a garantia de Bajazé I de ser uma intermediária comercial entre ocidente cristão e oriente muçulmano.1397 - Depois da vitória esmagadora de Nicópolis, Bajazé I despejou sua ira sobre os bizantinos e venezianos principalmente: tomou Selímbria (praça forte avançada de Constantinopla no Mar de Mármara); apoderou-se, em 2 de junho, de Argos (sul da Grécia, pertencente aos venezianos), submetendo a Moreia a saques (até Modon), deportando sua população (30.000 habitantes) para a Ásia Menor e vencendo a armada de Teodoro I Paleólogo próximo de Leontarion (em 21/6) e, depois, se retirando para a Tessália. --- O imperador Manuel II mandou para a Europa seu tio Teodoro Cantacuzeno para solicitar ajuda contra os otomanos: em outubro, em Paris, o rei Carlos VI, o Louco, consentiu em mandar uma pequena armada tendo à frente o marechal Boucicault. ---- Os turcos otomanos capturaram o último rei remanescente da Bulgária: Ivan Sratsimir de Vidin, que sumiu após sua prisão. Restou ainda o seu filho, Constantino II, que morreu exilado na Sérvia e nem consta como governante búlgaro. ---- O príncipe legendário Evrenos, auxiliado pelo déspota bizantino de Mistra, atacou as cidades gregas de Salona (Amfissa, Atenas, Acaia), liberando-as do domínio franco e normando.1398 – Em 11 de novembro, no Reino de Chipre, Jaime I foi sucedido por Jano, que pleiteou, também, o trono da Pequena Armênia. ---- Neste ano: Bajazé I mandou suspender o cerco à Constantinopla (iniciado em 1394) na iminência da invasão das terras otomanas por Tamerlão. 1399 - Só em 26 de junho deste ano saiu a expedição naval francesa do porto de Aigues-Mortes (sul da França) mandada pelo rei Carlos VI, o Louco, para Constantinopla (chegou no outono), recebendo antes reforços venezianos de Rodes e de Lesbos (em Tenedos, em novembro). Boucicault, seu comandante, tendo uma pequena frota, se resumiu a desalojar posições turcas no Mar de Mármara e no Estreito de Bósforo (onde destruiu a praça forte de Riva no litoral da Anatólia na entrada do Mar Negro). ---- O imperador Manuel II saiu, em 10 de dezembro, de Constantinopla para a Europa em esquadra de Boucicaut, para buscar ajuda contra os otomanos. Boucicault persuadiu o imperador a deixar no trono João VII Paleólogo enquanto estivesse na Europa; ele, por sua vez, deixou na capital uma guarnição sob o comando do general João de Chateaumorand. ---- Neste ano, Bajazé I invadiu o território Mameluco da Síria, despertando a animosidade de Tamerlão, que pretendia fazer o mesmo. ---- Tropas otomanas invadiram o Principado de Aqueia, mas não lograram êxito em face da tenaz resistência local. 1399 a 1403 - Manuel II Paleólogo deixou o trono sob a responsabilidade de seu sobrinho João VII e foi pessoalmente (desde 10 de dezembro, ao partir de sua capital) a Veneza, Paris e Londres em busca de ajuda para combater os otomanos, mas não conseguiu nada. 1400 – Depois de passar em Moreia (fevereiro), Manuel II chegou a Veneza (em abril), onde foi bem recebido, mas só recebeu promessas. Em 27 de maio, o papa Bonifácio IX conclamou os católicos, através de encíclica, a ajudar financeira e militarmente o imperador. Depois de passar em Pádua e Milão (recebido pelos Visconti), foi acolhido solenemente em Paris (3 de junho até outubro), onde conseguiu nova ajuda financeira e militar (novamente sob o comando de Boucicault). Em 21 de dezembro esteve em Londres, onde o rei Henrique IV o cobriu de promessas (ele foi o único imperador bizantino a visitar a Inglaterra). ---- Enquanto isto, Tamerlão voltou-se contra o sultão Faradj do Egito: os emissários enviados a ele foram presos, daí a sua declaração de guerra. Na primavera se encaminhou para a Geórgia, devastada por ele, instalando uma guarnição militar na cidadela de Tiflis, enquanto o rei Jorge VI se pôs em fuga nas montanhas. ---- Enquanto isto na Ásia Menor, Bajazet I não agia diplomaticamente com Tamerlão, despertando sua ira ao querer impor sua suserania sobre os emires vassalos deste último (que tinham se acolhido junto a ele) e recebeu um inimigo dele (o khan da Pérsia Ocidental, da dinastia do Carneiro Negro, Kara Yussuf). ---- Em agosto, Tamerlão penetrou na Anatólia, onde o emir turco de Erzincan (no leste da Anatólia), Taherten, lhe prestou homenagem. Venceu, em seguida, o turcomano Kara Yussuf (dos Qara Koyunlu, do Irã Ocidental, que se pôs em fuga para o Egito). Iniciou sua incursão sobre o Império Otomano tomando a cidade de Siwas (no alto Eufrates, a leste do império) após cerco de 20 dias (onde milhares de guerreiros armênios foram enterrados vivos, as mulheres foram atadas a cavalos em cavalgada e as crianças pisadas pelos cavalos), matando Ertogrul,filho de Bajazé. Em 15 de setembro foi a vez de Malatiya (posição avançada dos Mamelucos na Anatólia, no alto Eufrates) cair, mesmo sendo defendida pelo sultão mameluco Faradj. Tomou o caminho de Aintab em outubro; no dia 30 deste mês, em Alepo derrotou Timurtach, comandante de tropas mamelucas, usando até elefantes (que trouxera do Sultanato de Delhi para amedrontar os soldados egípcios) e saqueou esta cidade comercial. Depois foi a vez de Hama, Homs e Baalbek. Em 25 de dezembro, venceu Faradj em Damasco, que foi saqueada e a grande mesquita dos Omíadas foi incendiada (junto com as pessoas refugiadas nela), a população massacrada fazendo a habitual pirâmide de cabeças, apenas respeitando a vida dos artesãos, artistas e sábios que foram levados para Samarcanda. Aí ficou até março de 1401.

No final deste século:

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Se protagonizou a última grande cruzada da Europa Ocidental, a chamada ‘Cruzada de Nicópolis’, que foi um fracasso flagrante diante dos otomanos. O turco Timur Leng (Timur, o Coxo, mais conhecido por Tamerlão), julgando-se descendente de Gengis Khan, criou um grande império cuja capital era Samarcanda, na Transoxiana; ele não atacou o Império Bizantino, porque estava mais preocupado com os otomanos e os Mamelucos do Egito.

SÉCULO XV Neste século, os bizantinos estavam cercados de todos os lados: a oeste e norte pelo II Reino Búlgaro; a leste pelo crescente Império Otomano. Internamente era corroído pela rapacidade dos genoveses e venezianos e pelo desânimo e alheamento da própria população. Na década de 60 caiu o último reduto bizantino frente aos otomanos: foi o Império de Trebizonda. Em 1453 caiu Constantinopla sob os turcos otomanos. Este fato desfavoreceu o comércio com o Oriente. Culturalmente, eméritos professores da capital bizantina migraram, desde o século XIV, para a Europa, contribuindo para a eclosão do Humanismo neste continente.1401 (fevereiro) a 1403 (22 de novembro) – Manuel II Paleólogo permaneceu na França em sua campanha de angariar recursos e ajuda militar contra os otomanos. Todo este esforço diplomático do imperador bizantino estava fadado ao fracasso porque estava ocorrendo a chamada Guerra dos Cem Anos (entre França e Inglaterra desde 1353) e o Grande Cisma ou Cisma Ocidental (desde 1378 a 1429).1402 --- Na primavera, João VII Paleólogo, que tinha perdido Selímbria e a Trácia aos otomanos, estava prestes a sucumbir diante deles, mas isto não correu por causa da derrota de Bajazé I diante de Tamerlão em 20 de julho. ---- Em junho, Tamerlão invadiu o território dos Mamelucos (da Síria) e começou a incursão sobre a Ásia Menor. O imperador Manuel III Comenno de Trebizonda teve que fornecer navios para ele. --- No ducado de Atenas, o filho bastardo de Nerio chamado Antônio (herdeiro da Beócia com a morte do pai, mas desejoso de se apossar do resto do ducado) declarou guerra à Veneza e passou a perseguir os venezianos de Atenas. Para não sofrer a intervenção otomana, reconheceu-se como vassalo do sultão Bajazé I. ---- Em 20 de julho, deu-se o combate entre as forças de Tamerlão e os janízaros de Bajazé I em Ancira ou Ancara (mais precisamente em Tchibukabad, a nordeste de Ancira): as tropas turcas da Ásia Menor abandonaram o palco da luta; a ala dos sérvios morreu heroicamente; os janízaros foram esmagados. Bajazé I ao tentar se evadir, seu cavalo foi morto; ele foi preso junto com um dos seus filhos. Seu filho mais velho, Sol imão, conseguiu sair ileso da batalha, graças aos sérvios dando-lhe cobertura na retirada, indo para Brussa junto com o vizir Ali Pasha. ---- Após a batalha de Ancara, João VII Paleólogo pagou tributo a Tamerlão (antes pagava a Bajazé). --- Esta vitória de Tamerlão deu uma sobrevida de mais 50 anos ao Império Bizantino. Durante este tempo, muitos artistas e sábios bizantinos foram protagonistas de uma verdadeira ‘fuga de cérebros’ para a Itália (um dos fatores do chamado Renascimento). ---- Em dezembro, Tamerlão conquistou várias localidades turcas da Ásia Menor e da cidade de Esmirna aos Cavaleiros de Rodes (por recusa ao pagamento de tributo); estes últimos construíram um castelo em Bodrum (antiga Halicarnasso) para defendê-la de incursões futuras. 1402 a 1413 - Guerra civil no Império Otomano com disputas entre os filhos de Bajazé I: Solimão na Bulgária e Trácia (capital - Andrinopla ou Edirne); Isa em Brussa; Mehmet I em Amásia; Musa (ou Mussa) em Balikesir. O grande império otomano ficou restrito à Bitínia e parcialmente à antiga Frígia, na Anatólia. Os emires turcos da Anatólia restauraram seus territórios.1403 - Em fevereiro foi assinado tratado de paz de Galípoli entre João VII Paleólogo, Estevão Lazarevic, Veneza, Gênova, Solimão (filho de Bajazé) e o duque de Naxos pelo qual os bizantinos ficaram livres da suserania aos otomanos, que lhes restituíam o Monte Atos, a Tessalônica, ilha do Mar Egeu, o litoral da Trácia no Mar Negro até Mesembria ao norte. ---- Manuel II Paleólogo passou por Gênova (de que o marechal de França, João Bucicolt, era o governador), em 22 de janeiro; e embarcou em Veneza (em 5 de abril), passou em Modon (em Messênia, Grécia) e aportou em Constantinopla em 9 de junho. Aí exilou ou o seu sobrinho João VII na Ilha de Lemnos (já que era vassalo dos otomanos), mandou demolir ou fechar as mesquitas e eliminou os privilégios comerciais aos muçulmanos. Negociou um tratado de paz, no outono, com Solimão, este lhe devolvendo a região da Tessalônica, portos fluviais do Strymon, a Moreia, portos do Mar Negro e ilhas do litoral da Trácia. (Observação: para alguns autores, Manuel II, em Galípoli, ratificou o acordo feito em fevereiro com João VII Andrônico, que não foi exilado e sim premiado com o apanágio sobre a região de Tessalônica). ---- Com a morte de Bajazé (em 8/3) se acirrou a guerra civil no território otomano entre seus filhos. ---- O marechal Boucicault, governador de Gênova, em 3 de abril, saiu desta cidade para levantar o cerco imposto à cidade de Famagusta em Chipre pelo rei Janos de Lusignan, não só vencendo-o, como forçando-o a assinar um tratado em 7 de julho, mantendo o monopólio comercial genovês na ilha. Este marechal se dirigiu à Moreia, onde foi derrotado na Batalha naval de Modon pelo almirante veneziano Carlo Zeno, em 7 de outubro. ---- Neste ano: Manuel III Comneno, do Império de Trebizonda, manteve seu império intacto, graças ao seu cunhado turco (o emir de Erzindjian) que conseguiu ter a simpatia de Tamerlão e por ter fornecido navios e tropas que participaram do conflito em Ancara. Mesmo assim, ele deixou parte de seu exército em Kerasonte, naquele império, promovendo saques até o limite das montanhas que cercam esta cidade. ---- O Reino da Geórgia, na região caucasiana, foi devastada por Tamerlão, arrasando com 700 burgos, massacrando seus habitantes, inclusive da capital, Tíflis, cujas igrejas foram destruídas.1403 a 1406 - Nova onda de peste negra assolou a população egípcia, dizimando 1/5 dela e provocando dificuldades econômicas ao Erário por menor entrada de impostos com a menor produção).1404 – Neste ano: Solimão, filho de Bajazé, se vassalou aos bizantinos e entregou aos venezianos todas as escalas comerciais na Ásia Menor, a cidade de Atenas e terras em frente de Negroponte (na ilha de Eubéia). --- Maomé, filho de Bajazé, expulsou o seu irmão Isa de Brussa (ou Bursa); mas, por sua vez, foi expulso daí por Solimão, este preocupado com seus avanços e do emir Djuneid (este herdando o território de Omur-beg, emir de Aydin) no final do ano de 1406. ---- No Principado de Aqueia (na Grécia) a veneziana Maria II Zacarias foi sucedida por Centurione II Zacarias, que legou suas terras para Tomás Paleólogo, cujo filho, mais tarde passou para o rei Fernando II de Aragão.1405 – Neste ano: Na Ásia Menor continuaram os atritos entre os filhos de Bajazé: Maomé expulsou o seu irmão Isa de Brussa (ou Bursa); mas, por sua vez, foi expulso daí por Solimão, este preocupado com seus avanços e do emir Djuneid (este herdando o território de Omur-beg, emir de Aydin) no final do ano de 1406. Isa tentou recuperar Bursa com a ajuda de Solimão, mas Maomé mandou assassiná-lo. 1406 - O déspota da Sérvia, Estevão Lazarevic (governante de 1389 a 1427), prestou homenagem à Hungria (antes feita ao sultão Bajazé) e à Bósnia. --- O centro de convergência dos inimigos do otomano Solimão era a Valáquia (sob o príncipe Mircea I, o Antigo). --- Solimão, após ter vencido o seu irmão Musa nos muros de Constantinopla, foi reconhecido como sultão mais uma vez. Como senhor da rica região de Rumelia, preocupado pelo fato de seu irmão Mehmet (Maomé) ter se apoderado de Brussa, realizou incursão sobre o noroeste da Anatólia, forçando-o a reconhecer-lhe a região desde Ancara ao Mar Egeu. Em face disso, os emires seldjúcidas da Anatólia solicitaram a ajuda do príncipe Mircea I, o Antigo, para sustar este avanço otomano. ---- O emir karamânida Nâsıreddin Mehmed foi forçado a entregar a Maomé os seus domínios territoriais. Em contraponto, o emir cercou Brussa e a destruiu, voltando para o seu beylicado; em 1414 e 1415 ele reprisou suas incursões ao Império Otomano1407 - Em junho, o déspota de Mistra (Moréia), Teodoro I Paleólogo (irmão de Manuel II), morreu sem herdeiros, sendo sucedido por outro Teodoro (filho de Manuel II). O despotado foi convulsionado por revoltas dos nobres. 1407-1408 - A guerra civil entre os otomanos se circunscreveu a Solimão e Maomé; tendo Solimão conquistado Ancara, enquanto Maomé fracassou diante de Brussa; entretanto, se recuperou tendo ao seu lado, o irmão Musa (que fora preso junto com seu pai na Batalha de Ancara). 1408 – Em 20 de abril, o turcomano Qara Yussuf venceu e matou Miran Shah , que estava tentando reaver o Azerbaijão ao seu filho Abu Bekr. Tal fato merece registro pelo efeito de eliminar totalmente as conquistas de Tamerlão no Iran Ocidental (onde seus herdeiros foram perseguidos em 1411). Tabriz continuou sendo a capital do Azerbaijão. Depois Qara Yussuf se apoderou da Armênia, onde foi feito rei o seu irmão Iskandar, passando a se chamar Shah-i Armen. ---- Em agosto, morreu João VII Paleólogo sem herdeiros e, assim, Tessalônica passou para Manuel II, que o entregou ao seu filho Andrônico. ---- Neste ano: Solimão invadiu Carniola (parte da Áustria atual) e acertou um tratado comercial com Veneza, que se comprometeu a pagar imposto pelos seus entrepostos comerciais na Albânia (em 1409).1409 – Musa passou por Sinope, Cafa e o litoral da Valáquia e fez acordo com o príncipe Mircea, em julho. Depois invadiu a Bulgária, onde, desde junho, por 9 meses, esteve em conflito com seu irmão Solimão. --- O rei Ladislau d’Anjou-Duras (rei de Nápoles e da Hungria) praticou o que foi

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chamado de ‘mercado infame’: em julho deste ano vendeu para Veneza todos os seus direitos sobre a Croácia e a Dalmácia. 1410 – Em 13 de fevereiro, Musa (ou Musa Çelebi) enfrentou as tropas de Solimão (que promovera antes saques na Bósnia) em Yamboli (no rio Tunja, na Trácia, hoje na Bulgária), vencendo-o e se apoderou de sua residência real em Andrinopla. Os dois irmãos se digladiaram na Bulgária por cerca de 9 meses (desde junho de 1409). Musa foi derrotado por Solimão em 15 de junho.1411 - Em 17 fevereiro, Solimão foi vencido e morto próximo de Andrinopla por seu irmão, Musa Çelebi, este aliado ao príncipe Mircea (da Valáquia). Musa, se instalou na residência real de Andrinopla e se proclamou sultão e procurou reconquistar Galípoli. Em 12 de agosto, rompeu o tratado feito entre seu irmão morto (Solimão) e Veneza e marchou sobre Constantinopla, cercando-a sem sucesso (por falta de acessórios de guerra para romper suas muralhas); depois, recuou para Selímbria e Tessalônica (no outono) diante da aliança feita por Manuel II com seu irmão Mehmet (Maomé), reforçando suas tropas. 1412 - Qara Yussuf saiu-se vitorioso, em dezembro, sobre o rei da Geórgia, Constantino I, e seu aliado Ibrahim I (de Shirvan) na Batalha de Chalagan (perto da cidade do mesmo nome, no Azerbaijão); Constantino I e seu meio-irmão foram executados após o confronto. Subiu ao trono da Geórgia, Alexandre I. – Neste ano: No Egito, morreu o sultão mameluco Faradj; sendo substituído por Al-Mustain, califa abássida de Bagdá, aí refugiado, mas foi retirado do poder por El-Muayyad. ---- Maomé (Mehmet I) recebeu uma embaixada do imperador bizantino Manuel II Paleólogo, solicitando sua ajuda contra Musa Çelebi, que cercava a Constantinopla pela segunda vez. Ele colocou à disposição do imperador embarcações para transporte de suas tropas, a fim de defendê-la.1412 a 1415 – O rei da Polônia, Ladislau II Jagellon (um dos fundadores da Ordem do Dragão para mover guerra contra os muçulmanos, sobretudo os otomanos) manteve constantes entendimentos diplomáticos, neste período, com o imperador bizantino, que se reencontraram depois no Concílio de Constança para negociar a questão da união religiosa entre as igrejas com o papa Martinho V. 1412 a 1420 - No Egito, El Muayyad, antigo chefe circassiano (originário do noroeste do Cáucaso), governou como califa mameluco, ao tomar o lugar do califa abássida de Bagdá Al-Mustain, que estava no Cairo, e tinha sido indicado para tal cargo. Realizou campanhas militares na Cilícia e na Anatólia para tentar restaurar a fronteira setentrional do sultanato até os Montes Taurus.1413 – Em junho, Maomé (Mehmet) chegou à Trácia (bem recebido porque a população não suportava autoritarismo de Musa Çelebi) com sua armada (cujo transporte foi feito por navios bizantinos), onde recebeu reforços dos sérvios (Estevão Lazarevic) e búlgaros; daí reencontrou Musa em Tschamurli (no vale do Isker, próximo de Samokov). Este último foi traído e ferido, depois estrangulado a mando de seu irmão, em 5 de julho. Em seguida foi para Sofia e se proclamou sultão (Maomé I ou Mehmed I Çelebi). 1414 - Se aproveitando das rixas entre os otomanos, o imperador Manuel II lançou-se à reconquista do Peloponeso, na Grécia. Saiu com suas tropas de Constantinopla (deixando em seu lugar aí ao primogênito João) em 25 de julho, se safou de um ataque naval dos genoveses na Ilha de Tassos e passou o final do ano (inverno) em Tessalônica. 1415 – Ainda em Tessalônica, em 13 de março, Manuel II recebeu a homenagem de Centurione II Zaccaria (príncipe de Aqueia) próximo de Corinto. Ele mandou restaurar, em 8 de abril uma muralha (a de Hexamilion) para barrar e defender o istmo entre os Golfos de Corinto e de Sarônica (ficando pronta em apenas 25 dias, mas seu custo foi repassado com impostos e não agradou aos nobres ou arcontes e se revoltaram mas foram vencidos pelo imperador em 15 de julho. --- Desde março, Veneza começou a efetuar ataques contra corsários turcos que punham em perigo seus domínios na Ilíria (no Mar Adriático). --- No outono, Maomé I passou pela ilha de Tenedos com sua esquadra e venceu os emires Djuneid (que tinha tomado Éfeso, Esmirna e Pérgamo) e o de Karamania, em Brussa. Veneza, nesta ocasião, fazia jogo duplo: se fazia aliada da liga contra os otomanos, mas procurava renovar acordos comerciais com o Maomé I (feito na época de Musa). Uma esquadra veneziana comandada por Pedro Loredano foi para o Mar de Mármara a fim de supervisionar a movimentação de frota naval turca. Ajudado por uma frota das ilhas do Egeu Oriental (em sua maioria dominadas por Veneza) passou a controlar esta via marítima. -------- Em 15 de novembro, o patriarca de Constantinopla excomungou o metropolita de Moscou, Gregório Tsamblak. --- Neste ano: Os Estados cristãos estimularam a competição entre o sultão Maomé I e Mustafá (pretenso descendente de Bajazé I), este conseguindo os apoios de Mircea I (do principado da Valáquia), do emir de Karamania, do imperador Manuel II Paleólogo e de Veneza. 1416 - Em 30 de junho ocorreu um intenso combate naval entre as frotas veneziana (sob o comando do almirante Loredano) e otomana ao largo de Galípoli (no Estreito de Dardanelos); esta última foi arrasada (e seu almirante, Çali Bey foi morto), afastando, assim, o perigo de um domínio marítimo otomano no Mediterrâneo. Foi firmado um acordo entre Veneza e otomanos (tendo como intermediário o imperador bizantino) pelo qual se trocaram prisioneiros, acertaram o compromisso mútuo de combater a pirataria e Veneza teve vantagens comerciais com os otomanos. Este acordo, no entanto, só foi homologado em 1419. Esta perda de controle sobre o Estreito de Dardanelos pelos otomanos facilitou a ida do pretenso irmão de Maomé I, Mustafá (que estava abrigado na Valáquia) para os Bálcãs, onde liderou revolta contra Maomé. O imperador, por sua vez, mandou seu primogênito João para Tessalônica. No outono, Maomé I venceu Mustafá em Tessália (tendo ao seu lado Djuneid). Mustafá foi para Tessalônica, onde foi recebido pelo príncipe João. Maomé I, por sua vez, acertou um acordo com o imperador bizantino Manuel II Paleólogo pelo qual Mustafá foi mandado para a ilha de Lemnos e Djuneid foi internado em um mosteiro na capital bizantina. 1416-1417 – Enquanto o sultão otomano Maomé I (Mehmet) I estava às voltas com os venezianos e Sigismundo de Luxemburgo (rei da Hungria), eclodiu em Karaburum (em Nicomédia) uma revolta social comunista e anti-islâmica protagonizada por Bedreddin (antigo juiz de armada de Musa) e seus companheiros (Kemal, Torlak e Borkluce Mustafá), liderando fanáticos dervixes (ou daroes) pregando a igualdade das religiões e dos bens materiais. Borkluce Mustafá conseguiu vencer expedições militares contra ele por duas vezes, mas foi subjugado pelo grande vizir de Maomé I, o albanês islamizado Bajazé-Pacha na batalha do Vale da Tormenta (entre a baía de Gerence e a vila de Balikliova, próximo de Karaburum) e, depois, crucificado. Bedreddin foi encontrado mais tarde e enforcado (em 1420). Foi, assim, eliminada esta revolta igualitária.1417 – Em janeiro/fevereiro, o rei Mircea I (ou Mircea cel Batran, isto é, o Velho) de Valáquia, por ter abrigado Mustafá, sofreu a invasão de seu país pelo sultão Maomé I, obrigando-o a se vassalar e entregando-lhe a região de Dobruja (junto à foz do Danúbio no Mar Negro), mas gozando de liberdade internamente sob o ponto de vista dinástico e religioso, pagando tributo e tarifas sobre o comércio (a Valáquia tornou-se importante na relação comercial entre a Ásia e Europa, pelo Mar Negro) e aceitando a construção de fortalezas turcas no Danúbio. 1417-1418 – Como Centurione Zaccaria quis se desfazer da suserania de Bizâncio (em maio de 1417), o príncipe João VIII e Teodoro II Paleólogo (déspota de Moreia) o atacaram. Veneza mediou o conflito: no final de 1418, o príncipe João VIII abandonou Moreia deixando como substituto seu irmão Tomás. O Principado de Aqueia foi incorporado ao Despotado de Moreia. À Veneza, por outro lado, não agradava esta dominação efetuada pelos Paleólogos.1417 a 1429 – Ao morrer Manuel III Comneno em 5 de março de 1417, o Império de Trebizonda passou a ser governado por Aleixo IV Mega Comneno, tendo que enfrentar os genoveses descontentes com as vantagens concedidas aos venezianos. Manteve a política matrimonial dos seus antecedentes, unindo com o príncipe João VIII Paleólogo, Jorge Brankovic e até o emir do ‘Carneiro Negro’.1418 – No final deste ano, o governo de Moréia passou de João VIII para o príncipe Tomás, seu irmão, ajudado pelo historiador Frantzés. ---- O Ducado de Naxos, até então governado pelos Crispo, passou à suserania de Veneza até a conquista turca em 1566. ---- Morreu na Valáquia o rei Mircea, o Grande, daí decorrendo conflitos internos pela posse do trono.1420 – No fim do ano, os otomanos Djuneid e Mustafá foram colocados em liberdade e cercaram Galípoli, deixando uma armada bizantina aí. Mustafá foi para Andrinopla, onde derrotou as forças mandadas por Maomé I. --- Neste ano, em Scutari houve entendimentos amistosos entre Maomé I e o imperador bizantino Manuel II Paleólogo. --- Em Scutari houve entendimentos amistosos entre Maomé (Mehmed Çelebi) I e o imperador Manuel II. Em agosto, no entanto, o imperador mandou uma missão diplomática para a Europa a fim de solicitar o auxílio contra os turcos, passando primeiro em Veneza e depois junto à corte do rei da Polônia, Ladislau II Jagellon.1421 - Em 19 de janeiro, João VIII, filho de Manuel II, se casou com Sofia de Montferrat (família reinante em Tessalônica) e se tornou co-imperador. --- Mehmed I ou Mehmed Çelebi foi acometido por um ataque de apoplexia em Andrinopla, morrendo 41 dias depois (em 26 de maio) em Brussa. Segundo Luís Bréhier ele morreu em acidente de caça, talvez armado pelo filho Murad. Houve ligeira disputa sucessória entre Murad (que exercia o

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poder na Anatólia) e Mustafá (que governava a parte européia do império), em que o primeiro foi o vencedor sob o nome de Murad II. Ao morrer Maomé I em 1421, o clima amistoso foi se apagando ao poucos entre otomanos e bizantinos. ---O emir karamânida Nâsıreddin Mehmed, já libertado pelos mamelucos e retomando o poder em seu beylicado, aproveitou-se do conflito sucessório entre os otomanos Murad II e Mustafá para atacar e cercar a cidade de Adalia (Antalia), mas aí foi morto em 1423. --- Em setembro, os otomanos Mustafá e Djuneid se safaram da prisão de Lemnos, cercaram Galípoli (que fora tomada por Murad II), deixando uma guarnição bizantina diante deste porto no Mar de Mármara. Mustafá se encaminhou para Andrinopla (Edirne), onde se saiu vitorioso sobre tropas mandadas por Murad II, no fim deste ano. --- O emir karamânida Nâsıreddin Mehmed, já libertado pelos mamelucos e retomando o poder em seu beylicado, aproveitou-se do conflito sucessório entre os otomanos Murad II e Mustafá para atacar e cercar a cidade de Adalia (Antalia), mas aí foi morto em 1423.1421 a 1425 – Tudo o que o Império Bizantino conseguiu até a morte de Maomé II foi perdido; pior ainda, voltou ao domínio turco e teve sua existência política cada vez mais perigando.1422 - Em janeiro, a guarnição otomana em Galípoli se rendeu à Mustafá, diante da notícia da derrota em Andrinopla (no final do ano anterior). Mustafá, no entanto, não permitiu a entrada das tropas bizantinas aí, tendo estas que retornar para Constantinopla. O imperador bizantino tentou renegociar um acordo com o sultão otomano Murad II, não conseguindo nada em face de suas exigências. O sultão, por sua vez, negociou um bom tratado com os genoveses da Nova Foceia. --- Mustafá, se precavendo de um possível ataque do sultão, foi para a Ásia junto com Djuneid; quando se deparou com as forças do sultão, foi traído por Djuneid e sem suas tropas (em 20 de janeiro), fugiu, mas foi perseguido por Murad II, que o prendeu em Edirne (Andrinopla) e amarrado num poste para suplício diante do povo. --- Aborrecido com a atitude anterior de Manuel II, o sultão Murad II em 13 de junho cercou Tessalônica e em 24 de agosto atacou a capital bizantina, abordando o lado da Porta S. Romano (Top Kapu). Aí estava João VIII (seu pai estava no Mosteiro de Peribleptos, em Mistra), que tentou em vão um acordo com o otomano. Corax, um dos embaixadores bizantinos, foi acusado de se mancomunar com o sultão e foi linchado quando a artilharia otomana se posicionou desde o Corno de Ouro ao Mar de Mármara. Havia uma profecia muçulmana de que, no dia 24 de agosto, Constantinopla cairia. Mesmo assim, em 6 de setembro, o sultão determinou a saída parcial de suas tropas (uma parte ficou aí ainda), diante da resistência bizantina e de revolta de um irmão de Murad II (no outono). --- Em 17 de dezembro, o déspota Teodoro II e o príncipe de Aqueia acertaram uma trégua no conflito entre eles sob pressão dos venezianos.1422 (13 de junho) a 1430 - Por causa das intromissões bizantinas na política interna de Murad II, este mandou cercar, em 13 de junho de 1422, Tessalônica (a segunda cidade mais importante do Império Bizantino). Quem a defendeu, realmente, foi Veneza, já que Bizâncio não tinha condições para tal. Após sua queda em 1430, esta cidade ficou sob o domínio turco até 1912. 1423 – No início do ano, o sultão Murad II venceu o irmão (que tinha tomado Niceia no final de 1422) e mandou estrangulá-lo. Este sultão, em maio, mandou uma expedição militar contra o despotado bizantino de Moreia (capital Mistra no Peloponeso) sob o comando do general Turakhan-beg (que estava na Tessália), que destruiu a muralha de Hexamilion e arrasou o despotado, exceto Mistra que resistiu ao ataque. Após a saída do general otomano, reiniciaram-se as hostilidades locais. --- Depois de realizarem incursões na Albânia, os turcos cercaram Tessalônica, cujo impotente e epiléptico déspota, Andrônico Paleólogo, propôs sua venda, bem como também a do baixo vale do Vardar e da península de Kassandreia (em Tessalônica), aos venezianos. Estes aceitaram (em julho), mas não conseguiram o aval de Murad II para a ocupação do despotado. O sultão não moveu guerra contra Veneza porque estava às voltas com conflitos com emires da Anatólia e intervindo em querelas sucessórias na Valáquia. --- João VIII deixou o governo sob o seu irmão Constantino Dragases e saiu de Constantinopla em 23 de novembro para a Europa a fim de conseguir alianças contra os otomanos.1424 – Em fevereiro, os emissários (entre os quais o historiador Frantzes) de Constantino Dragases se encontraram com o sultão Murad II em Éfeso e assinaram um tratado vergonhoso vassalando Bizâncio, sendo obrigado a pagar tributo e ainda entregar-lhe portos no Mar Negro (exceto Derkos e Mesembria), só mantendo o vale do Strimon. 1425 - Na primavera, João VIII tinha passado em Veneza, Milão, Hungria e Moldávia, retornando para Constantinopla sem conseguir nada. ---- Manoel II Paleólogo, como que pressentindo a morte, em junho jurou votos de monge (se atribuindo o nome de Mateus); em 21 de julho morreu, sendo sucedido pelo filho João VIII Paleólogo. ---- No Império de Trebizonda, uma revolta estourou contra os genoveses, sendo saqueados todos os seus bens. 1425 (21 de julho) a 1448 – Reinado de João VIII Paleólogo. Pretendia ter ao seu lado o eficiente Jorge Frantzés, mas seu irmão, o déspota Constantino Paleólogo, pediu-lhe para que ele ficasse ao seu serviço; sendo atendido pelo imperador. Sua autoridade se resumia ao território entre Constantinopla e Selímbria. O então pequeno território do império foi dividido entre os 7 irmãos por João VIII, visto que estava sob a pressão turca otomana e veneziana. 1426 – Em 5 de julho se abateu sobre o Reino de Chipre uma expedição militar enviada pelo sultão mameluco Al-Ashraf Sayf-ad-Din Barsbay, que destroçou o exército local em Khirokita (ou Quieroquitia), em 7 de julho, aprisionou o rei Jano. Mesmo antes de retornar, os egípcios saquearam a capital de Chipre, Nicósia, de 10 a 12 deste mês. Quem ficou no governo provisório de Chipre foi o arcebispo de Nicósia, Hugo de Lusignan, tendo que pagar tributo anual. ---- No outono, o imperador e seu irmão Constantino Dragases fizeram incursão sobre o Peloponeso, atacando a cidade de Clarência, pertencente a Carlos I Tocco.1426-1427 – Revolta de camponeses gregos em Chipre contra os latinos (barões e clero) jugulada em maio de 1427.1426-1430 – No maior emirado da Anatólia, o de Karamania, o emir Ibrahim, depois de conflitos com Murad II, negociou um acordo de vassalagem (a partir de 1468 foi anexado definitivamente ao Império Otomano).1427 --- O rei Jano de Chipre conseguiu sua liberdade no Cairo ao se vassalar ao sultão mameluco burjita Al-Ashraf Sayf-ad-Din Barsbay, pagando tributo ao Egito.----O sultão otomano Murad II impôs vassalagem sobre Jorge (Durad) I Brankovic (sobrinho de Estêvão Lazarevic e primeiro governante da Sérvia), que foi forçado a negar a suserania exercida pelos húngaros. Com esta ação otomana, os sérvios perderam sua capital Krusevac; em face disso, Durad formulou o projeto de uma nova sede administrativa em Smeredevo (ou Semendria). 1427-1428 – Ao iniciar-se 1427, continuou a campanha de João VIII na Moreia, segunda área mais importante da frágil defesa bizantina diante dos otomanos. Junto com forças de Mistra se confrontou com Carlos I Tocco (dos condados palatinos de Cefalônia e Zante e déspota do Épiro), vencendo-o nas ilhas Equinades (perto do Golfo de Corinto); que lhe entregou Clarência e prometeu sua sobrinha em casamento para Constantino Dragasés. Ao retornar da campanha na Moreia, João VIII mandou reconstruir a Grande Muralha em Constantinopla. Esta vitória naval bizantina nas Ilhas Equinades foi a última de sua História. 1428 - O Principado da Moldávia se apoderou do porto de Kilia (no delta do Danúbio, próximo do porto de Likostomo do Império Bizantino).1429 – Em 5 de junho, Constantino Dragasés (governante de Moreia junto com o irmão Teodoro) conquistou (com aval do sultão e descontentamento dos venezianos) o porto de Patras, importante estrategicamente no Estreito de Corinto. --- Tomás Paleólogo (filho de Manuel II e irmão do déspota de Esparta) se apoderou do Principado de Aqueia (vencendo Centurione e tomando-lhe a fortaleza de Chalandritza) e se proclamou déspota em Kalavrita e em Clarência, além de exigir a filha de Centurione como sua esposa. ---- Em 4 de julho, morreu o déspota de Moréia, Carlos I Tocco, sendo sucedido pelo irmão Carlos II. ---- Em outubro, o imperador de Trebizonda Aleixo IV Comneno sofreu a revolta do seu filho João IV, que urdiu um golpe assassinando-o. 1429 a 1458 – Governo de João IV Comneno no Império de Trebizonda. Continuou a ter problemas com os genoveses. Como teve pela frente a hostilidade do sultão Murad II, mandou emissários ao Concílio de Florença para solicitar sua ajuda. Com a queda de Constantinopla, em 1453, acolheu os refugiados de lá. Ao morrer, deixou apenas um filho homônimo (que seria João V, mas tendo 4 anos de idade, foi sucedido pelo irmão Davi).1430 – Em 26 de março, o sultão Murad II, depois de ocupar os arredores de Tessalônica desde 1425, cercou e tomou esta cidade aos venezianos, transformando suas igrejas em mesquitas e repovoando-a com muçulmanos. Esta circunstância levou João VIII, em agosto, a pedir ao papa Martinho V a reunião de um concílio ecumênico em Constantinopla para se organizar uma cruzada cristã contra os otomanos. Os mosteiros de Monte Atos

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mantiveram sua autonomia mediante o pagamento de tributo anual. ---- O território restante de Aqueia foi tomado pelos déspotas de Mistra, neste ano. ---- Em 1430 quase toda região do Peloponeso (onde se situava Moreia ou Aqueia) era bizantina, exceto os portos de Modon e Coron (pertencentes aos venezianos).1431 – A morte do papa Martinho V (20/2) abortou, em Moreia, a primeira embaixada que aí estava e deveria ir à Roma para negociar uma nova cruzada, retornando, então, para Constantinopla. Sucedeu-o o papa Eugênio IV em 23 de março num conclave de apenas 14 cardeais (os outros estavam no Concílio de Basiléia, reunido desde o início de março até 1440). Foi enviada, então, uma segunda embaixada bizantina à Roma. --- Durante a primavera, os turcos otomanos chegaram até o Istmo de Corinto, no Despotado de Moreia, e destruíram o muro de Hexamilion. ---- Em 9 de outubro, o sultão Murad II despojou Carlos II Tocco (déspota do Épiro, cuja família governava o condado de Cefalônia desde 1358) da posse de Janina e impôs suserania sobre o Épiro e Acarnânia (na Grécia). ---- Neste ano: Na Valáquia: morreu, em confronto com otomanos, Dan II (que tinha se subordinado à suserania de Sigismundo da Hungria), em junho, e houve disputa pelo trono entre Bassarab (filho de Dan), Vlad (o Drácula) e Aldea (estes 2 últimos filhos de Mircea I, sendo que Aldea tinha por trás o príncipe Alexandre da Moldávia e Vlad, o rei Sigismundo). Os otomanos vitoriosos impuseram como governante um filho ilegítimo de Mircea I, Aldea, que adotou a denominação de Alexandre Aldea e governou até 1436. Nesta época, ainda na Valáquia, foi agraciado como príncipe Vlad Drácula, outro filho de Mircea I, por parte do rei Sigismundo de Luxemburgo da Hungria; foi também admitido como membro da Ordem do Dragão, se estabelecendo em Sighisoara, na Transilvânia (hoje parte da Romênia), cuja fronteira meridional ficou sob sua responsabilidade. Aí ele tinha o direito de cunhar sua própria moeda. Além disso, Murad se apoderou de Semendria. Tais conquistas otomanas despertaram receios na Europa, mas não houve nenhuma reação militar, mesmo se encaminhando uma embaixada da Hungria à Veneza, em setembro, para solicitar o envio de uma cruzada. 1431 a 1437 – Intensas negociações diplomáticas entre Bizâncio, o papa e o concílio: 5 enviadas pelo imperador João VIII Paleólogo (em 1431, 1435 e 1436 mandadas ao papa Eugênio IV e mais duas ao Concílio de Basileia, em 1434 e 1436); em resposta vieram para Constantinopla, também 5 embaixadas ao imperador (3 do concílio em 1433, 1435 e 1437; sendo duas do papa, em 1434 e 1436).1432 –- Em fevereiro, a pedido do príncipe Filipe III de Borgonha (cognominado, o Bom), iniciou-se a viagem do famoso Bertrandon de la Broquière para o Oriente Médio, saindo de Gand (na Bélgica) e indo até Jerusalém, depois, na volta, passando por Constantinopla (em setembro, testemunhando a vassalagem do imperador bizantino em relação ao sultão otomano, bem como um cristão se vestindo como muçulmano) e a Península Balcânica, deixando um relato minucioso de sua viagem, que durou até julho de 1433 (quando chegou a Pothières, em Borgonha). ---- Esteve na capital bizantina Jorge Frantzés, quando o imperador lhe concedeu o título de ‘protovestiário’ (chefe privativo do guarda-roupa). 1433 - No Concílio de Basiléia houve o debate entre o poder papal e o conciliar (dos cardeais em concílio, se julgando superiores ao papa). No início deste ano foram mandados representantes bizantinos à Europa, que ficaram divididos entre conversações em Roma (lutando pelo poder papal) e Basiléia (tentando sobrepor ao papa o poder conciliar). Outra discussão era a de que Bizâncio poderia tirar muito proveito se renunciasse ao Cisma de 1054. Estas discussões conciliares não tiveram boa acolhida em Constantinopla. Desta forma, o imperador bizantino mandou ao concílio João Dishipatos (o último governador da capital), seu irmão Demétrio (Déspota de Moreia) e o abade (‘higumeno’) Isidoro. ---- Eclodiu novo conflito entre Gênova e Veneza; esta última mandou uma esquadra naval atacar a colônia genovesa de Gálata-Pera, em setembro. O Imperador bizantino foi solicitado como árbitro e conseguiu sustar o confronto entre elas. – Só no final deste ano e começo do próximo voltou à capital bizantina a primeira embaixada que fora enviada à Europa e que estava em conversações tanto em Roma como em Basileia.1434 - Em 29 de fevereiro, uma das igrejas de maior objeto de devoção bizantina em Constantinopla, a de S. Maria dos Blachernes, sofreu um incêndio tão grande, que dela restou apenas a fonte sagrada. --- Foi mandado pelo imperador à Gênova um embaixador solicitando que os funcionários genoveses de Pera respeitassem as normas e convenções acertadas entre eles, bem como de se cumprir a lei em caso de penalidades praticadas naquela colônia. Esta carta foi remetida após problemas que o imperador teve ao rechaçar um ataque de frota genovesa proveniente da Crimeia e ter cercado Gálata-Pera para impor suas condições no local. ---- O imperador recebeu a primeira legação papal; por outro lado, foi mandada a primeira delegação bizantina ao Concílio de Basiléia.1435 - Morreu Antonio I Acciaiuolli, duque de Atenas e Tebas, filho bastardo de Nério I, após 33 anos de brilhante governo. A partir daí iniciou-se o processo de decadência deste ducado. --- Na colônia genovesa de Pera foi nomeado como podestá (primeiro magistrado) Estevão de Marini, que mandou construir a muralha que protegia o quarteirão comercial, nela colocando o símbolo heráldico de Bizâncio, como para demonstrar seu respeito ao imperador. ---- Neste ano, Constantinopla recebeu a segunda embaixada do Concílio de Basiléia, sob a direção do dominicano João de Ragusa; mas também foi mandada a segunda embaixada ao papa Eugênio IV, que foi para Basileia e se negou a aceitar a decisão da maioria dos cardeais que convocavam os bizantinos em Avignon (França); enquanto isto uma minoria de cardeais queria que a reunião conciliar fosse numa cidade italiana.1435 (setembro) a 1436 (junho) – Como o imperador não tinha filhos pendia para sucedê-lo o irmão Constantino Paleólogo Dragasés (com o apoio de Tomás), em vez de Teodoro (segundo filho de Manuel II, que se julgava o sucessor legítimo). Os dois irmãos, Teodoro e Tomás, procuraram a cobertura do sultão otomano, ensaiando, assim, uma nova guerra civil no já tão debilitado Império Bizantino. O imperador mediou a questão, ficando Teodoro em Moreia e Constantino na capital bizantina. Esta situação beligerante despertou no imperador o desejo de negociar a união das igrejas ortodoxa e católica e, assim, sonhar com o envio de uma cruzada para defender seu império contra os otomanos islâmicos.1436 – Novas negociações diplomáticas: terceira expedição do imperador bizantino ao papa Eugênio IV, dirigindo-se pela segunda vez à reunião dos cardeais em Basiléia. Relatos deste ano demonstram que o clero bizantino estava mais propenso a aceitar a dominação muçulmana dos otomanos do que a presença de nova cruzada cristã européia (como estava sendo negociado): adoção de hábitos turcos e arcebispos pedindo autorização para exercer seu ofício junto aos otomanos. --- O Reino de Chipre, então sob o governo de João II, sofreu ataque de uma frota naval egípcia enviada pelo sultão Barsbay em represália contra os comerciantes catalães nesta ilha. Estes, por sua vez, retaliaram pela última vez, atacando o porto de Abukir (no norte do Egito). No ano seguinte, eles foram expulsos desta ilha. 1436-1437- Atrito entre Constantino Dragasés (irmão de João VIII, que o preferia para sucedê-lo) e o segundo filho de Manuel II (Teodoro da Moreia), ambos procurando o apoio de Murad II.1437 –Continuaram as negociações diplomáticas de Bizâncio na Europa (a terceira enviada ao Concílio em Basileia): o papa Eugênio IV aceitava que se fizesse um concílio para decidir a União entre as duas igrejas e a cruzada em Constantinopla; já os cardeais só aceitavam que se reunissem em Avignon (outra sede papal), enquanto Bizâncio preferia uma cidade italiana. Em setembro e novembro chegaram à Constantinopla emissários do papa e dos cardeais, respectivamente.--- O humanista e monge João Bessarion, partidário do unionismo, foi nomeado arcebispo de Niceia, em novembro. – Em 27 de novembro, a delegação bizantina chefiada pelo imperador saiu de Constantinopla com destino ao concílio na cidade italiana de Ferrara, passando em Veneza. Esta delegação era composta por altos dignitários eclesiásticos (como o patriarca e mais 21 metropolitas e arcebispos, como João Bessasrion). Como ele saiu de Constantinopla sem a aprovação de Murad II, este quase atacou a capital, mas foi persuadido a não fazê-lo pelo seu vizir Khalil. ---- Em 9 de dezembro, o rei Sigismundo de Luxemburgo, rei da Hungria e da Boêmia e imperador do Sacro Império Romano Germânico, morreu; o príncipe Vlad Drácula da Valáquia ficou sem sua proteção. 1437 a 1440 - Enquanto João VIII estava na Europa, quem estava governando em Constantinopla era Constantino Dragasés, acirrando disputa com Teodoro e seus correligionários neste período. Ambos, no entanto, eram unionistas, enquanto outro irmão, Demétrio era contrário (esteve no Concílio de Florença, mas o abandonou, para não assinar a União).1438 –Em janeiro, os otomanos invadiram o sul da Hungria e impuseram vassalagem fiscal a Vlad Drácula na Valáquia. Para garantir sua vassalagem a Murad II, Vlad Drácula enviou seus filhos como reféns à Porta de Ferro, no Danúbio. O sucessor de Sigismundo, Alberto II de Habsburgo, em seu curto reinado de apenas um ano, não deixou de continuar a guerra contra os otomanos. --- Em 8 janeiro, em Ferrara (na Itália) iniciou-se o concílio dito da União, ao qual participaram o imperador João VIII e sua legação (que chegaram em Veneza em 8 de fevereiro e em Ferrara em março). O imperador proferiu um discurso inaugural em 8 de outubro, bem como conferiu ao metropolita de Éfeso, Marco Eugenikos, a responsabilidade de defensor da posição da igreja bizantina. --- Neste ano: O Sultão Mameluco Barsbay faleceu, sendo seu herdeiro o filho adolescente Yusuf, que passou

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a se denominar Al-Aziz Jamal ad-Din e presenteou largamente os Mamelucos quando tomou posse, a fim de angariar seu apoio. Eclodiu, então, um complô visando destroná-lo: de um lado, seu oponente Jaqmaq, alto funcionário; de outro, o sultão e os Mamelucos na cidadela. Nesta disputa, o vencedor foi Jaqmaq. 1439 - O mesmo concílio ecumênico (de número XVII) de Basiléia (iniciado em 23 de julho de 1431) foi mudado de lugar, para Ferrara (pelo papa Eugênio IV, em 1437) e, de 10 para 16 de janeiro deste ano, foi para Florença (já que em Ferrara grassava uma peste). Este concílio se encerrou definitivamente em 1442, em Roma. ---- Em 6 de julho (na Igreja de S. Maria del Fiore, na 16ª sessão do concílio, por leitura do arcebispo João Bessasrion) ficaram unidas temporariamente as igrejas de Roma e Constantinopla, no qual o papa Eugênio IV prometeu recursos para o imperador bizantino em seu objetivo de lutar contra Murad II. O metropolita russo de Kiev, Isidoro, se juntou ao grupo unionista, mas o príncipe de Moscou, Vassili III, não endossou sua atitude, liberando a igreja ortodoxa russa de Constantinopla. Uma parte do clero bizantino presente no concílio se manifestou, outrossim, contra a união, não comungando na missa solene durante a reunião. ---- Após a última reunião solene do Concílio de Florença (26 de agosto), o imperador e sua comitiva zarparam de Veneza (em 11 de outubro) de volta à sua capital. ---- Em 15 de dezembro, o papa Eugênio IV promoveu Isidoro de Kiev e João Bessasrion ao ‘status’ de cardeal. ---- Murad II se apoderou de Semendria (em agosto) e forçou o déspota da Sérvia, Jorge I Brankovic, a se refugiar em Ragusa (Dubrovnik), depois em Veneza; sua soberania territorial ficou restrita a apenas algumas cidades do Adriático (1440). 1439 - 1441 - No Concílio de Florença, os representantes religiosos etíopes de Jerusalém faziam parte do grupo que pregava a unidade cristã contra o Islam. Foi em 1439 que o papa Eugênio IV pregou nova cruzada anti-muçulmana (ao saber da intervenção de Murad II na Sérvia), a qual aderiram a Sérvia, a Valáquia, Hungria e Veneza.1440 - Chegada de João VIII e sua comitiva em Constantinopla, em 1 de fevereiro. Não declarou a União de Florença na Igreja de S. Sofia em face da forte oposição à ela pelos dignitários e pelo clero ortodoxo (já habituado com os turcos e preferindo a eles do que aos ocidentais) que não endossavam esta política de João VIII e, pior ainda, se articularam com os otomanos. ---- O papa mandou legados à Constantinopla com a missão de defender a União.--- Na primavera, o imperador nomeou um bispo de Cízica, Metrofano, favorável à União. Esta nomeação despertou a reação dos anti-unionistas como Marco de Éfeso e seu irmão João Eugenikos. O imperador determinou que Marco voltasse ao seu bispado em Éfeso, mas ele tentou se refugiar no Mosteiro do Monte Atos, sendo impedido por ter sido preso por ordem imperial. Mesmo preso, conseguiu, pelas suas cartas a adesão do secretário imperial Jorge Scholarios. ---- O sultão Murad II cercou a cidade de Belgrado; mesmo provocando inúmeros estragos nela não conseguiu conquistá-la. ---- O sultão Djamaq do Egito, em 15 de setembro, mandou uma frota naval à ilha de Rodes, atacando e vencendo os Cavaleiros de Rodes e se apoderando de Kastelórizo; em Kós, no entanto, esta frota naval sofreu derrota diante de João de Lastic (grão-mestre daquela ordem de cavalaria). 1440-1441– Tentativas fracassadas de Murad II em se apoderar de Belgrado aos búlgaros.1440-1442-1444 - João de Lastic, Grão-mestre dos Cavaleiros do Hospital de S. João de Jerusalém, mais conhecida como Cavaleiros Hospitalários, conseguiu conter 3 investidas dos mamelucos do Egito sobre Rodes.1441 – O imperador João VIII, considerando perigoso o seu irmão, Demétrio, retirou-lhe parcialmente seu apanágio, que compreendia Selímbria (no Mar de Mármara) e a região litorânea do Mar Negro entre Derkos e Mesembria. Por sua vez, Constantino Dragasés, em outubro, mandou seu emissário Frantzés propor a troca de Moreia pelo apanágio da região litorânea do Mar Negro de seu irmão Demétrio (anti-unionista e protetor de Marco de Éfeso); este não apreciou tal proposta e partiu para o conflito. – Ao voltar para Moscou, o metropolita Isidoro de Kiev, desistiu de sua adesão ao unionismo Roma-Constantinopla; mesmo assim, o príncipe Vassili III o mandou para um mosteiro. --- João Hunyade se tornou o governante da Transilvânia e líder do comitato de Temes (entre os rios Marosh e Danúbio).1441Concile de l’Église arménienne réunit à Vagharchapat. Il décide le rétablissement du catholicos à Etchmiadzin ; le catholicos de Sis, en Cilicie, qui ne participe pas au concile, refuse cette décision, de sorte qu’à partir de cette date il y aura deux catholicossats10---26 avril : transfert du concile de Florence à Rome11441 - No inverno (de 1441 para 1442) o lugar-tenente de Murad II, Mezid (bey de Vidin), invadiu a Transilvânia, saqueou a cidade de Hermanstadt e continuou sua arremetida pela planície húngara do vale do Maros. Enquanto isto, João Hunyade (filho de Voicu),‘o cavaleiro branco dos Valáquios’, ispan do comitato de Temes (entre o Danúbio e o rio Maros), se preparava à frente de tropas romenas dos Sete Distritos. --- O grande filósofo e humanista bizantino chamado João Argyropulos, no inverno de 1441/2, com a ajuda de João Bessarion, se deslocou de Constantinopla para a cidade italiana de Pádua, onde se doutorou em 1444. --- Neste ano: Criação do Canato da Crimeia sob o governo de Haci Giray, se emancipando do Canato da Horda de Ouro com o auxílio do Grande Ducado da Lituânia.1441 a 1451 - O califado abássida no Cairo foi ocupado por Abû ar-Rabî` Sulaymân al-Mustakfî bi-llah (Al-Mustakfî II), tutelado pelo sultão mameluco burjita Jaqmaq.1442 - Entre 18 e 25 de março (final do inverno e começo da primavera) ocorreu a Batalha de Hermannstadt (entre Sibiu e Sântimbru,ou Maros-Szent-Imre) em que os cristãos (João Hunyade, Gyïorgy Lepes e Simon Kamonyai) derrotaram os otomanos Mesid bey e Chehab-Uddin (ou Shehabbedin), mas morreram Gyïorgy Lepes e Simon Kamonyai e Chehab-Uddin (há a versão de que este último morreu na Batalha de Vasag, em 23 de março, diante de João Hunyade). Após esta vitória, João Hunyade colocou no trono da Valáquia um dos filhos de Dan, Bassarab Il (que tinha fugido para a Transilvânia). Em 2 de setembro, infligiu, coligado com os valáquios, nova derrota aos turcos sob o comando de Sehabeddin (Shihâb Ad-Dîn Pacha), no rio Ialomita (afluente da margem esquerda do Baixo Danúbio) e partilhou seu poder na Transilvânia com Miklos Ujlaki. --- Em julho/agosto, o príncipe de Eflaq (Valáquia) Vlad Drácula, foi intimado pelo sultão Murad II a se entregar em Edirne (Andrinopla), e depois foi mandado preso para Galípoli por estar sendo acusado de traição. Quem assumiu o poder em Eflaq, em seu lugar, foi Bassarab II que governou somente até 1443. --- Demétrio, irmão do imperador bizantino João VIII Paleólogo, com ajuda de tropas búlgaras (de seu cunhado Assen) e turcas, cercou sem sucesso a capital bizantina (de abril a julho). Constantino Dragasés de Moreia foi ajudar João VIII, mas foi abordado por esquadra turca e ficou bloqueado na ilha de Lemnos (até outubro). --- Morreu o historiador egípcio Al-Maqrizi. --- Novamente o sultão egípcio Jaqmaq sofreu uma segunda derrota em ataque às ilhas de Chipre e de Rodes. --- Demétrio, irmão de João VIII, com ajuda de tropas búlgaras (de seu cunhado Assen) e turcas, cercou sem sucesso a capital bizantina (de abril a julho). Constantino Dragasés de Moreia foi ajudar João VIII mas foi abordado por esquadra turca e ficou bloqueado na ilha de Lemnos (até outubro). ---- Neste ano: Mircea substituiu temporariamente seu irmão Vlad II Drácula no governo da Valáquia.--- Novamente o sultão egípcio Jaqmaq sofreu uma segunda derrota em ataque às ilhas de Chipre e de Rodes.1443 – Logo no início do ano (1/1) deveria se efetivar a Cruzada de Varna conforme o que foi acertado com o papa Eugênio IV; na primavera, entretanto, os húngaros não acertaram detalhes corretamente com os turcos do Emirado de Karaman, cujas tropas foram destroçadas pelos otomanos. ---- Demétrio não recuperou seu apanágio da região litorânea do Mar Negro e entregou em março a cidade de Selímbria (ou Silivri) a Constantino Dragasés (futuro imperador Constantino XI Paleólogo). Este, por sua vez, em 10 de outubro, trocou Selímbria por Moreia, pertencente a Teodoro II Paleólogo. Este último, sonhando com o trono bizantino, se aliou com Demétrio e Tomás (de Aqueia) contra o imperador João VIII. Os dois foram denunciados ao imperador, que mandou prender Demétrio, mas este conseguiu escapar e ir para Gálata; daí negociou com João VIII que lhe concedeu em apanágio várias ilhas. ---- No inverno, João Hunyade com Vlad, o Drácula (hospodar da Valáquia) e Jorge I Brankovic, atravessaram o Danúbio em Belgrado, passaram pelo vale do Morava (na Sérvia), infligiram séria derrota a Murad II em Nish (em 3/11) e depois em Serdica, atual Sofia (4/12). – Em 28 de novembro o grande herói da resistência albanesa contra os turcos, Jorge Castriota (chamado de Iskander Beg ou Scanderbeg, ou seja, Alexandre, o Grande) se revoltou contra o Império Otomano e libertou a cidade de Kruja de seu domínio. ---- Neste ano, o imperador bizantino planejou uma discussão pública entre dois bispos latinos e Marco de Éfeso (bispo desta localidade, que era ultra-ortodoxo, antiunionista e defendia o dogma do Purgatório e do Filioque). 1443 a 1468 - O grande herói da Albânia, Jorge Castriota (ou Scanderbeg, isto é, Alexandre, o Grande) resistiu por 5 vezes aos ataques dos otomanos.1444 - Em 2 de março se constituiu a Liga Albanesa (ou de Lezhë, estabelecida nesta cidade) que proclamou Scanderbeg como o chefe da resistência

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albanesa diante dos otomanos. Em 29 de junho, ele, à frente da Liga Albanesa, venceu os turcos na Batalha de Torviolli ( ou da Baixa Dibra, na planície de Shumbat, ou Torvioli). --- Em 12 de julho, João Hunyade (que vencera na Sérvia e Bulgária) e Murad II, em Edirne, assinaram uma trégua (este último ficou sem as conquistas obtidas na região) por 10 anos. O sultão otomano se propôs a consentir com o restabelecimento do poder sérvio sob Jorge Brankovic, renunciando às suas províncias danubianas e à Bulgária. A trégua, no entanto, foi derrubada na Dieta da Hungria por pressão do legado pontifício do papa Eugênio IV (que desde a bula de 16 de janeiro de 1443 decretara nova cruzada antiotomana). --- Neste mês, o sultão abdicou em favor de seu filho Mohammed (Mehmed II al Fatih, o Conquistador), com apenas 12 anos, visto que morreu o seu primogênito e herdeiro `Alâ’ Ad-Dîn. --- Em julho, novamente uma frota egípcia foi mandada pelo sultão mameluco Jaqmaq contra Rodes, mas em face de sua resistência, ela voltou ao Egito e foi assinado um tratado de paz com os Cavaleiros Hospitalários. --- Em 4 de agosto, os cristãos assinaram o Manifesto de Szeged (na Hungria), rompendo acertos diplomáticos de trégua com otomanos em Edirne e esperando a vinda de uma frota de Veneza; em 1 de setembro partiram para a guerra; em 18-22 deste mês estavam transpondo o rio Danúbio. Murad II, que tinha abdicado do trono em favor do filho Mehmed II, voltou ao comando dos otomanos na guerra contra a ‘última grande cruzada’ sob o comando de João Hunyade, Mircea II e o rei Ladislau III Jagellon (participando tropas dos reinos da Boêmia, Hungria, Polônia e Croácia, do Ducado da Lituânia, dos Cavaleiros Teutônicos, e rebeldes búlgaros), massacrada em Varna (aí morrendo o rei Ladislau III Jagellon da Polônia e Hungria, chamado de Władysław III Warneńczyk na Polônia), em 10 de novembro. As esquadras veneziana (sob o comando de Loredano) e papal chegaram atrasadas neste confronto. Esta vitória otomana na Batalha de Varna teve enorme repercussão entre os muçulmanos. 1444 a 1446 – O Despotado de Mistra, sob o governo de Tomás Paleólogo e Constantino Dragasés, se tornou o lugar de maior resistência à ameaça otomana com a reconstrução da Muralha do Hexamilion. Por outro lado, Constantino Dragasés exigiu que Nerio Acciaiuolli (duque de Atenas) lhe pagasse tributo (e não aos otomanos, de quem era vassalo) e se apoderou do território grego até os Montes Pindo. 1445 - O grão mestre dos Hospitalários, Jacques de Milli, conseguiu impedir a ocupação de Rodes por Murad II. --- Em 29 de agosto, navios com tropas do papa e do ducado de Borgonha (da França) atravessaram o Mar Negro, entraram pela foz do Danúbio e atacaram forças turcas em Silistra, Turtucaia, Girgui e Rusciuc. Em 12 de setembro, estas tropas se juntaram com as de João Hunyade (regente da Hungria porque seu rei Ladislau IV ainda era uma criança), que tinha recebido o legado papal estimulando-o à guerra. – Em 10 de outubro, o albaniano Scanderbeg derrotou tropas otomanas comandadas por Firuz Pacha na Batalha de Mokra, nas proximidades de Prizren, Kosovo (na Sérvia, então vassalada aos otomanos). Foi a segunda vitória albanesa sobre os otomanos. ---- Neste ano, o imperador colocou no patriarcado Gregório Mamma, adversário de Marco de Éfeso, e tão antipatizado por Jorge Scolarios (também antiunionista e amigo de Marco de Éfeso), que o achincalhou publicamente na Igreja de S. Sofia. Também mandou embaixadas à Europa objetivando, novamente, negociar a formação de cruzada anti-otomana, mas sem obter nenhum sucesso. 1446 – Em 25 de fevereiro, o almirante Loredano acertou um tratado de paz com o sultão Mohammed II, demonstrando, pois, a saída de Veneza da cruzada. O sultão Murad II, seu pai, em 2 de agosto, voltou à Magnésia e abrandou a revolta dos janízaros simplesmente com sua presença. Predisposto a retaliar os bizantinos por terem cooperado com os cruzados: invadiu o despotado de Mistra (ou Moreia), junto com o general Turahan beg (governador da Tessália), em outubro, bombardeou (com canhões) a Muralha de Hexamilion (matando e aprisionando seus defensores) em 10 de dezembro, colocou fogo em Corinto, invadiu o Peloponeso e devastou Patras. Recolocou Nerio Acciaiuolli em Atenas e perseguiu o déspota Constantino Dragasés (futuro imperador Constantino XI Paleólogo). ---- Em 27 de setembro, mais uma vez o exército da Liga dos Lezhë comandado por Scanderbeg foi vitorioso sobre os otomanos (sob o comando de Mustafá Pacha) na Batalha de Otonetë (na Albânia).1447 - Em maio, João Hunyade entrou em entendimentos com Veneza para uma cruzada contra os otomanos. --- Em dezembro, o herói albanês Jorge Castriota (Scanderbeg) se aliou com Afonso V de Aragão, o Magnânimo (rei de Nápoles desde 1442), este cobiçando os Bálcãs (como os normandos e os Anjou, anteriormente), contrariando, pois, interesses venezianos. ---- Neste ano, o déspota Constantino Dragasés (futuro imperador Constantino XI Paleólogo) entregou ao seu fiel servidor Frantzés a administração de Esparta e cidades vizinhas. ---- Em dezembro, foram assassinados Mircea e seu irmão Vlad II Drácula (governador da Valáquia) por Vladislau, que se tornou o novo rei sob o nome de Vladislau II com o apoio de João Hunyade.1447 (5 de dezembro) a 1448 (outubro). ---- Guerra Albanesa-Veneziana em que Veneza associada aos turcos otomanos se envolveu em conflito com os albaneses capitaneados por Scanderbeg, envolvendo a disputa pela fortaleza de Dagnum entre Veneza e a família aristocrática Dukagjini .1448 - Em março, João Hunyade se entendeu inutilmente com Scanderbeg (que estava ligado a Afonso V de Aragão e Jorge Brankovic, da Sérvia, contra os venezianos) e conseguiu a cobertura da Republica de Ragusa (no litoral do Adriático) em seus objetivos bélicos antiotomanos. ---- Teodoro e Tomás Paleólogo tentaram aliciar Demétrio para nova conspiração contra o imperador João VIII Paleólogo. Este último se negou, mas aceitou ir à Selímbria. Em julho morreu Teodoro, irmão do imperador. ---- Em 23 de julho, os venezianos conseguiram vitória sobre a Liga Albanesa na ponte de Scutario (Shkodër). Ainda neste dia, o sultão Murad II, insuflado por Veneza, invadiu a Albânia, mas recuou ao chegar em Croia (Kruja). ---- Em 14 de agosto, os venezianos junto com turcos otomanos (tendo à frente Mustafá Pasha) foram derrotados pela Liga Albanesa (ou de Lezhë) na I Batalha de Oronichea (ou Oranik). --- Em 28 de setembro, os cruzados passaram o rio Danúbio (na altura do castelo de Severino) e prosseguiram até Nish. ---- Em 4 de outubro, Scanderbeg, após a assinatura de tratado de paz com Veneza, veio ajudar João Hunyade. ---- De 17 a 19 de outubro, houve a última tentativa de João Hunyade de livrar os Bálcãs do domínio otomano: sofreu derrota novamente na II Batalha de Kossovo, onde sofreu a traição do rei sérvio Jorge Brankovic (que o prendeu) e a desistência do contingente romeno (que fugiu em direção a Belgrado). Foi solto depois mediante resgate, além de devolução dos gastos pelo noivado do primogênito dele com uma princesa sérvia. – Morreu João VIII Paleólogo em 31 de outubro, tendo como sucessor seu irmão mais velho Constantino Dragasés, déspota de Moreia. Este, no entanto, não contava com o apoio dos antiunionistas, que desejavam colocar no trono ao outro irmão, Demétrio. Enquanto Constantino estava na Moreia, Demétrio ficou em Constantinopla objetivando a tomada do poder. Em 13 de novembro, Tomás Paleólogo desembarcou na capital e ficou do lado de Constantino na sucessão; este último teve, pois, assegurado o trono para si.1449 (6 de janeiro) a 1453 – Reinado de Constantino XI Dragasés (Paleólogo) - último imperador bizantino.1449 – Constantino XI Dragasés foi coroado imperador em Mistra (em 6/1); em 12 de março estava em Constantinopla, tendo ao seu lado o fiel Frantzés. Daí mandou presentes para Murad II, que assinou novo tratado com Bizâncio. Constantino concedeu em apanágio ao seu irmão Demétrio a região do Mar Negro, ainda nas mãos de Bizâncio; a Moreia seria repartida entre ele e Tomás Paleólogo, para onde partiram em agosto-setembro. Aí, entretanto, Tomás tomou a parte que deveria caber a Demétrio (com ajuda militar dos turcos); em função desta usurpação de terras, Demétrio solicitou a intermediação de Murad II, que obrigou Tomás a retroceder em sua atitude. ---- O sultão Murad II, com numeroso exército, em 14 de maio, em guerra contra a Liga das Lezhe (de principados da Albânia) cercou a fortaleza de Svetigrado (hoje chamada de Dervenik, situada no alto vale do Dibra, na Macedônia) conseguindo, penosamente, se apoderar dela. 1450 – Murad II realizou 5 cercos sucessivos, de julho a 23 de novembro, à fortaleza de Kruja (Croia), na Albânia, mas não teve sucesso diante do heroísmo de Scanderbeg, mesmo sendo alvo da hostilidade veneziana, mas com a ajuda militar da República de Ragusa. Só no fim deste ano que Constantino XI conseguiu apaziguar, por um certo tempo, os seus irmãos Demétrio e Tomás. ---- Segundo alguns historiadores, este ano é o prenúncio da chamada ‘Era das Descobertas’ ou das Grandes Navegações, entre o final da Idade Média e a Idade Moderna (continuou até o século XVII), marcada por relevantes conhecimentos de oceanos e continentes e povos.1451- Em 5 de fevereiro, Murad II morreu próximo de Andrinopla, vítima de apoplexia. Sucedeu-o o filho Maomé II, o Conquistador, cuja primeira medida foi a de mandar estrangular o bebê que Murad tivera de uma princesa de Sinope. Seu primeiro e grande desejo era o de conquistar Constantinopla. --- Na primavera reiniciaram-se as hostilidades entre Tomás e Demétrio Paleólogo, mas em maio se reconciliaram novamente com a intervenção de Turakan-beg, enviado pelo sultão otomano. ---- Em abril, Constantino XI mandou legação à Roma para proclamar a união com o papa Nicolau V (sucessor de Eugênio IV). Este a aceitaria, mandando frota cedida por Veneza, desde que houvesse a reintegração de Gregório no patriarcado de Constantinopla. Tal união, entretanto, não era do agrado do clero ortodoxo antiunionista. – Em maio, o rebelado emir de Karamania, Ibrahim, se submeteu simplesmente com a aproximação de Maomé II; ocorreu o mesmo com os descendentes dos emires de Kermian. Ainda neste

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mês, o sultão voltou para Edirne e empreendeu o seu grande desígnio de conquistar Constantinopla. Em 10 de setembro, Maomé II tomou a primeira medida visando isolar Constantinopla: assinou um acordo com Veneza (indisposta com o imperador bizantino); depois, em 20 de novembro, negociou um tratado com João Hunyade, se comprometendo a não erigir fortalezas novas no Danúbio, nem criar problemas nas relações entre a Hungria e Vladislau (príncipe da Valáquia). ---- Em 11 de outubro, o papa Nicolau V recomendou ao imperador a extrema necessidade da união das duas igrejas, conforme foi proclamado no Concílio de Florença; prometeu, também, enviar navios (por parte de Veneza) e exigia a reintegração de posse do patriarca Gregório. ---- Alguns autores ensinam que, no final deste ano, o sultão mandou iniciar a construção, no lugar chamado de Asomata (na margem européia do Estreito de Bósforo), de um castelo-fortaleza, o Bogas-Kessen (chamado hoje de Rumeli-Hissar). Do outro lado do estreito, no litoral da Anatólia, já existia desde 1394 a fortaleza otomana Anadolu Hisari (mandada erigir por Bajazé I). Controlava-se, portanto, toda a navegação pelo Estreito de Bósforo (que liga o Mar Negro ao Mar de Mármara) e impedia qualquer ajuda aos bizantinos.

1451/2 - Na primavera de 1451, os irmãos de Constantino XI reiniciaram suas hostilidades mútuas. Apenas quando Turakhan-beg, emissário do novo sultão Maomé II, interveio é que Demétrio e Tomás se reconciliaram: Demétrio aceitou a repartição das terras (em maio de 1452). 1452 - Em 31 de agosto se concluiu a construção do castelo-fortaleza chamado Rumeli-Hissar. Logo no início de setembro, o sultão otomano Maomé II e sua armada estiveram, acintosamente, diante de Constantinopla, atiçados pelo dervixe Ak-Chems-ed-Din, sem nenhuma reação das autoridades bizantinas. Pouco depois, diante da inércia bizantina, a infantaria turca dos janízaros queimou as colheitas na área rural de Constantinopla e massacraram os camponeses que estavam tentando proteger o fruto de seu trabalho. O imperador mandou uma nota de protesto ao sultão, este lhe respondeu com uma declaração de guerra. ---- Em outubro, o governador da Tessália, Turakhan Beg, destruiu pela quarta vez a Muralha de Hexamilion e arrasou com o Peloponeso, neutralizando, pois, o Despotado de Moréia em eventual apoio à capital bizantina, quando fosse cercada. ---- Navios mercantes venezianos carregados de trigo, saindo do Mar Negro e navegando pelo Estreito de Bósforo foram afundados, em 10 de novembro, quando estavam diante do castelo-fortaleza de Rumeli-Hissar. Só diante deste fato é que Veneza rompeu relações com o Império Otomano e se propôs a ajudar militarmente os bizantinos, mas já era muito tarde (só chegou em 15 de maio de 1453). ---- Ainda em novembro, os emissários papais Leonardo de Kios e o cardeal Isidoro de Kiev (protagonistas da União de Florença) chegaram à Constantinopla com um reforço diminuto de 200 soldados. Enquanto o sultão otomano bloqueava Constantinopla (desde novembro), internamente ocorriam os conflitos verbais de oposição entre unionistas

(tendo à frente João Bessasrion) e antiunionistas: no momento em que estava sendo proclamada a União de Florença na Igreja de Santa Sofia (estando presente o imperador, os legados do papa Nicolau V e o patriarca Gregório), os antiunionistas impunham penitências aos 300 membros do clero (além de pessoal da corte, membros do senado) que estavam no interior da igreja em 12 de dezembro, seguindo o rito litúrgico romano. As pessoas que estavam na igreja, quando ouviram falar o nome do cardeal Isidoro (bispo de Sabino) como oficiante da missa, saíram gritando indignadas. ---- Enquanto a capital bizantina vivia esta situação dramática, antes do início do cerco otomano, no Despotado de Moreia havia a pretensão de não se ajudar Constantinopla; por outro lado, a Albânia estava às voltas com a intervenção do rei Afonso V, não podendo, pois, ajudar o imperador bizantino. ---- Neste ano (para outros autores foi em 1420-30) aconteceu uma das maiores erupções vulcânicas (como a da Ilha Santorini, no Mediterrâneo) : a das Ilhas Epi e Tongoa (na Oceania) formando a ilha de Kuwae (na Oceania), causando perturbações climáticas em todo o mundo pelo lançamento de fumaça na atmosfera entre os anos de 1453 a 1457. Na véspera da queda de Constantinopla, a Lua ficou encoberta pelas nuvens vulcânicas, tidas como presságio de sua queda.1452/3 - No verão (até o mês de abril) a expedição otomana enviada à Albânia foi vencida por Scanderbeg, mas este não pode ajudar Constantinopla porque estava às voltas com a guerra contra Afonso V, o Magnânimo, ou o Sábio (rei aragonês das Duas Sicílias, ou seja, Nápoles e Sicília), que se fizera reconhecer como rei da Albânia (desde abril de 1452) e pretendia ser imperador bizantino.1453 – Em janeiro, chegaram em Constantinopla reforços genoveses de Kios (2 navios e 700 marinheiros) sob o comando do almirante Jerônimo Giustiniani. Contava ainda com a ajuda do bailio veneziano de Constantinopla, Girolamo Minotto e parcialmente, dos genoveses de Pera (hoje chamada de Beyoglu). --- Em fevereiro, os otomanos se apoderaram de cidades próximas da capital, aprisionando grande parte de sua população. --- Como prenúncio ao assalto à Constantinopla, em abril, os otomanos tomaram Studius (onde se localizava o famoso mosteiro) e o almirante Baltaoglu conquistou o arquipélago das Ilhas Príncipes (no Mar de Mármara, próximo da entrada sul do Estreito de Bósforo). --- De 2 a 6 de abril as tropas otomanas se postaram diante das muralhas em posição de ataque à cidade. A porta S. Romano, que seria a parte mais vulnerável ao ataque, foi ocupada por Jerônimo Giustiniani. --- Os bombardeios iniciais da poderosa artilharia otomana (com 14 baterias e 4 grandes canhões, inclusive aquele construído em Andrinopla pelo húngaro Orban com 7,80 m de comprimento) ocorreram de 11 a 18 de abril. Logo após houve a primeira tentativa dos otomanos em penetrar na cidade, mas foram repelidos pelo fogo grego jogado do alto das muralhas e pela defesa de Jerônimo Giustiniani e do megaduque Lucas Notaras. Em 20 de abril chegaram 3 galeras genovesas e 1 navio com provisões e soldados; Maomé II mandou o renegado búlgaro Baltoglu impedí-los de entrar no porto, sem sucesso. Na noite de 22 para 23 de abril, os otomanos fizeram a proeza de transportar por terra 70 navios, contornando Gálata, levando-os até o Corno de Ouro. No dia 23, diante do crescente avanço turco, o imperador tentou um acordo de paz mediante pagamento de tributo a Maomé II, mas este se negou prontamente. Na noite de 28 de abril, o comandante veneziano Jacó Cocco de uma galera quis incendiar a frota otomana, mas sua trama foi denunciada por genoveses de Gálata, colocando tudo a perder. Nos dias 7 e 12 de maio ocorreram novas investidas otomanas pelos buracos abertos por sua poderosa artilharia, mas foram rechaçados pelos bizantinos valentemente, chefiados pessoalmente pelo imperador. A partir de 14 de maio as ações de bombardeio da artilharia otomana se intensificaram, usando até uma elevada torre de assalto (que os bizantinos conseguiram queimar). Houve 14 tentativas de se tomar o palácio de Blachernes (sendo 4 entre os dias 21 e 25 de maio). --- Em 23 de maio chegou a notícia, por um navio veneziano, de que o socorro à capital bizantina tinha falido; no mesmo dia, Maomé II lançara um ultimato a Constantino XI, este não o aceitou. Em 26 de maio, o sultão reuniu um conselho de guerra e foi decidido o ataque final; no dia seguinte, ficou acertado com os soldados que eles teriam direito a todo o produto do saque da cidade. De 28 para 29 de maio, ocorreu o ataque sob um alarido geral e som de cornetas e luzes dos navios para criar um clima de pânico entre os já cansados bizantinos. O imperador se atirou no meio da horda guerreira otomana com apenas dois ou três elementos, segurando uma espada e uma faca, num misto de loucura, martírio e heroísmo. Em 29 de maio, além da morte do imperador, também morreram Lucas Notaras (megaduque do império), o patriarca Atanásio II e Demétrio Paleólogo Metochitas (governador de Constantinopla). Do final de maio a junho, caíram os subúrbios Epibatos e Selímbria, de Constantinopla. --- A cidade ficou à mercê da sanha dos otomanos saqueando, tudo o que encontravam. Os que puderam, foram para a Igreja de S. Sofia esperando um derradeiro milagre; os turcos quebraram a golpes de machado as portas da igreja, a saquearam, assassinaram ou escravizaram os que lá se encontravam. Depois de toda a carnificina, Maomé entrou na igreja junto com um iman, rezou uma prece, subiu ao altar e pisou em cima dele Os comerciantes genoveses de Gálata

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(subúrbio de Constantinopla) se renderam e Maomé II lhes concedeu as vantagens antes auferidas com os imperadores bizantinos. --- A capital foi completamente dominada em 29 de agosto... Assim acabou tristemente a Constantinopla dos bizantinos, passando a ser a Istambul dos turcos otomanos. Cumpria-se a tradição apocalíptica islâmica turca da ‘maçã vermelha’. Caiu a chamada ‘Segunda Roma’, dando lugar à Terceira Roma, isto é, Moscou, como foi proclamada pelo monge Filoteos de Pleskau. --- As autoridades políticas e religiosas que puderam, fugiram para o Império de Trebizonda.1454 - O sultão otomano designou, em 6 de janeiro, como patriarca de Constantinopla a Jorge Scholarios (ou Genádio II), líder anti-unionista. --- O papa Nicolau V, em 8 de janeiro, através de bula, autorizou o rei de Portugal a escravizar os ‘muçulmanos, pagãos e outros inimigos de Cristo’. ---- Em 18 de abril, o sultão renovou as concessões comerciais para Veneza. Em junho/julho cercou Smeredevo, capital da Sérvia, tumultuada pela invasão de nobres do Condado de Cilli (atual Eslovênia). Em 20 de setembro, João Hunyade veio socorrer esta capital; os otomanos se retiraram em direção à Bulgária. Uma parte deste exército em retirada foi derrotada por João Hunyade nas proximidades de Krusevac, no rio Morava e depois incendiou a cidade de Vidin (na Bulgária). O sultão continuou sua retirada, indo para Edirne (Andrinopla). --- Em outubro, esteve na Grécia o turco Umur Pacha com o objetivo de normalizar a situação política local, mandando Manuel Cantacuzeno para o exílio. Continuaram, no entanto, as divergências entre os irmãos Demétrio e Tomás Paleólogo no Despotado de Moreia; além disso, os latifundiários locais tinham autonomia para suas ações, instaurando o caos na região. ---- João IV Comneno (ou Kalojoannes), imperador bizantino de Trebizonda teve que assinar tratado de vassalagem diante do governador de Amaseia, Khitir-beg, que invadiu este império com facilidade porque estava assolado pela peste.1455 - O papa Calixto III, em 15 de maio, através de bula, mandou organizar uma nova cruzada contra os turcos otomanos. --- Em junho, Rodes foi atacada pelo almirante turco Hamza Pacha, visto que os Cavaleiros de Rodes se negaram a pagar seu imposto ao sultão. O almirante turco atacou a ilha de Lesbos, cujo governador genovês lhe entregou presentes ; depois investiu sobre as ilhas de Kios, Rodes e Cós, nesta última cercou por 22 dias a fortaleza de Racheia. Em seguida, voltou com sua frota para a ilha de Kios, mas no trajeto perdeu uma nave, onde grassou um motim. ---- Em 30 de junho, o sultão declarou guerra a Kios, sob a responsabilidade de novo almirante, Yunia Pacha (o outro caiu em desgraça). ---- Em 5 de outubro, se firmou um tratado de paz entre a Moldávia e o Império Otomano, depois que uma frota otomana (com apoio dos Tártaros) ocupou o litoral. O príncipe da Moldávia se sujeitou a um pagamento anual de tributo. ---- No final do mês de outubro e na véspera de Natal, a frota naval turca se apoderou de Foceia (porto no Golfo de Esmirna), pertencente aos genoveses, determinando o fim da presença dos Mahone, companhia bancária italiana, que ficou apenas com a Ilha de Kios. Aí neste porto, o almirante Yunis procedeu à prisão e escravização de cerca de 100 jovens. 1456 - Na Hungria, a Dieta de Buda, em 6 de abril, declarou guerra contra os turcos otomanos. ---- Em 18 de maio, os turcos otomanos sofreram derrota na II Batalha de Oronichea frente à Liga Albanesa comandada por Scanderbeg. ---- Em 4 de junho, os otomanos se apoderaram de Atenas, capital do ducado do mesmo ano, pertencente à dos Acciaiuoli, família de banqueiros de Florença. Permaneceu em suas mãos apenas a Acrópole, em que Francisco II Acciaiuoli resistiu heroicamente até 1458. ---- Em 9 de junho, os comerciantes de Cetatea Alba começaram a ter acesso ao mercado otomano, em face de tratado de paz entre Maomé (Mohammed) II e a Moldávia. ---- Em 11 de junho, a frota naval mandada pelo papa Calixto III, sob o comando do Cardeal Ludovico, deixou o porto de Ostia para Nápoles, chegando à Sicilia em 6 de agosto ; em dezembro, aportava na Ilha de Rodes. ---- As forças otomanas iniciaram o cerco de Belgrado em 4 de julho (Batalha de Belgrado ou Nándorfehérvár) ; 10 dias depois, a frota naval turca no Danúbio foi dispersada por ataque de João Hunyade; em 21/22 de julho, ele e seus cruzados conseguiram desfazer o cerco de Belgrado, forçando a retirada de Mehmed (Mohammed) II, ferido por uma flecha. Esta vitória foi alardeada pelo papa Calixto III pelo mundo cristão europeu. ---- Neste ano, o sultão Mehmed II mandou cunhar moedas de ouro, que se tornaram prestigiadas no comércio.1457 - Em agosto, a frota naval papal conseguiu se sobrepor à do sultão otomano diante da Ilha de Lesbos, no Mar Egeu. ---- Em 7 de setembro, o grande patriota albanês Scanderbeg (Jorge Castriota) conseguiu mais uma vitória sobre os otomanos, agora na Batalha de Albulena (em Uji Bardhe ou Albulena). ---- No inverno (1457-1458), o sultão Mehmet II passou a sede administrativa do seu império para Constantinopla, a partir daí teve o nome de Istambul.1458 - Invasão turca da Moreia (onde disputavam o poder Tomás e Demétrio Paleólogo) conquistando as cidades de Corinto (depois de cerco de 4 meses) e Patras, após notável resistência, em maio; reduzindo a soberania territorial dos Paleólogo ao sul do Peloponeso e submetendo-os à vassalagem fiscal. Além disso, Demétrio teve que mandar sua filha Helena para o harém do sultão (em setembro/outubro). ---- João IV de Trebizonda morreu; seria seu sucessor o filho Aleixo V, com apenas 4 anos de idade; mas quem subiu ao trono foi seu irmão Davi, que renovou acordo feito entre João IV e Uzun-Hassan, sultão turco da Dinastia do Carneiro Branco da Pérsia Ocidental; além disso, pediu sem sucesso ajuda ao papa Pio II em formar mais uma cruzada. Davi II foi o último imperador bizantino de Trebizonda.1459 – Em janeiro, estimulado por notícias auspiciosas de vitórias de Scanderbeg e de uma nova cruzada em organização pelo papa Pio II, Tomás Paleólogo resolveu cometer a bravata de se rebelar contra o sultão. Imprudentemente, em vez de procurar a aliança do irmão Demétrio, atacou seu território; este, em contrapartida, pediu a ajuda do sultão. Este, à frente de poderoso exército, se dirigiu à Moréia com o objetivo de subjugá-la definitivamente. ---- Em 20 de junho, ocorreu a conquista otomana de Semendria (ou Semendire ou Smerendevo, no norte da Sérvia, na embocadura do Morava com o Danúbio). A partir daí a Sérvia passou ao domínio do Império Turco. ---- Houve, pela primeira vez, a menção da palavra Bucareste (hoje capital da Romênia), onde Vlad Drácula mandou erigir sua residência. Para pagar os mercenários que defendiam seu principado dos turcos, ele mandou cunhar moedas. ---- Neste ano iniciou-se a construção do Palácio de Topkapi, em Istambul, que foi inaugurado em 1465, tornando-se a residência urbana oficial dos sultões otomanos até o ano de 1853. 1460 - Em 14 de janeiro, mais uma vez, o papado tendo à frente Pio II, em Mântua, decretou, através de bulas, a formação de uma cruzada para sustentar a resistência dos albaneses e húngaros diante da pressão otomana; mas ela, de fato, nem saiu da Itália. ---- Em maio, os otomanos tomaram Tebas e mataram Francisco II Acciaiuolli, acabando com o domínio local desta dinastia de banqueiros florentinos sobre o Ducado de Tebas. Em 31 de maio, se apoderaram de Mistra (capital da parte da Moreia do sul pertencente a Demétrio). A cidade se tornou grande centro comercial e produtor de seda. Demétrio se vendeu por dinheiro aos otomanos e ainda ganhou algumas ilhas do Mar Egeu como apanágio. Tomás Paleólogo procurou resistir na Messênia, mas acabou fugindo para a ilha de Corfu e daí para Roma (junto ao papa Pio II, em novembro). Os governadores ainda restantes na Grécia que resistiram à ocupação foram vencidos e supliciados. ---- Jaques de Lusignan, o Bastardo, arcebispo de Nicósia, pediu a ajuda do sultão mameluco Achraf, voltou à ilha de Chipre, se apoderou de Larnaca, ganhou o apoio dos cipriotas, destronou a rainha Carlota e usurpou o trono sob o título de Jaques II. 1461 – Na primavera, Maomé II se apoderou de Sinope (no Mar Negro), cujo emir Ismael era aliado de David II Comneno, de Trebizonda. Logo depois atravessou os desfiladeiros do Monte Taurus e, 17 dias depois, atacou Diarbekir, capital de Uzum-Hassan, que se submeteu e fugiu para Trebizonda. Este porto foi cercado por terra e mar por Maomé II, após 28 dias caiu em 15 de agosto. Assim desapareceu o último Estado Bizantino. ---- Neste ano: O líder albanês Scanderbeg efetivou um tratado de paz com o sultão otomano Mehemet II, que durou até 1465, quando o albanês derrotou os otomanos em Croia. --- A Moreia se tornou um ‘pachalik’, isto é, uma província governada por um paxá. De toda a região, apenas conservou sua autonomia o porto de Monemvasia, no sul do Peloponeso, graças ao destemor de Manuel Paleólogo, que se pôs sob a proteção do papa Pio II (este morrendo em 1464, o porto ficou protegido por Veneza, que aí se manteve até 1540).1462 - Em 4 de junho, os otomanos passaram o Baixo Danúbio (em Vidin, cidade búlgara, à margem direita do rio) e penetraram na Valáquia. Duas semanas depois, eles foram atacados à noite, de surpresa, por Vlad III Drácula, para tentar aprisionar o sultão em sua tenda, mas não tiveram sucesso. O exército turco continuou sua campanha chegando à Targovista (cidade valáquia, à margem esquerda do rio Ialomita, afluente do Danúbio), onde encontrou milhares de valáquios empalados; depois foram para Braila, ainda em território valáquio. ---- Sobre as ruínas da Igreja dos Santos Apóstolos, Maomé II mandou construir a primeira mesquita imperial otomana de Istambul.1462 a 65 - Após a conquista da Bósnia e Herzegovina, os Bálcãs passaram totalmente ao domínio otomano.1463 – Em 3 de abril, os pontos fracos da cidade de Argos (no Peloponeso), pertencentes aos venezianos, foram ocupados pelos otomanos. ---- De 29 de maio a 10 de junho, o sultão Maomé II se apoderou de Jajce (na Bósnia), aprisionando e decapitando o príncipe Estevão Tomasevic. Matias I, dito

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Corvino (filho de João Hunyade), rei da Hungria desde 1458, com o auxílio do papa Pio II, retomou a cidade de Jajce em 16 de dezembro e repeliu os otomanos. --- O rei Tiago II, o Bastardo, de Chipre, em setembro-outubro, se apoderou do Castelo de Cerines aos últimos legitimistas, partidários da ex-rainha Carlota. – O papa Pio II solicitou para que os cruzados (entre os quais Filipe III de Borgonha) se reunissem em Ancona, mas ao morrer aí, em 1464, o projeto cruzadístico anti-otomano gorou totalmente. ---- Em 1 de novembro, o sultão otomano mandou trazer Davi II de Trebizonda e seus 7 filhos da prisão perto de Serrés para Istambul. Aí foram forçados a escolher entre o Islamismo ou a morte; escolheram a morte: foram decapitados um a um e seus corpos retalhados e espalhados pelo campo. A imperatriz Helena, às escondidas, recolheu o que pode de seus restos mortais e morreu de tristeza pouco tempo depois.– Neste ano foi estabelecido o tratado de aliança e confederação entre o senhorio de Veneza e os reis Jorge de Podebrady (que não se afinava com o novo papa Paulo II), da Boêmia, e Luís XI de Valois (da França) para promover uma resistência à expansão otomana na Europa e organizar uma cruzada contra Maomé II.1464 - No início de janeiro, Tiago II, o Bastardo, rei de Chipre, retomou o porto cipriota de Famagusta aos genoveses. Também neste ano, procedeu ao massacre da guarda mameluca, sem retaliação do sultão Ashraf. ---- Neste ano, o papa Paulo II, levado pelo espírito de Cruzada, nomeou Scanderbeg como general-capitão da Santa Sé, além do título honorífico de ‘Atleta de Cristo’; em função disto, o herói albanês abandonou o tratado de paz feito com os otomanos realizado no ano anterior e atacou as tropas otomanos nas proximidades de Ohrid. 1465 - Morreu na Itália, em 12 de maio, Tomás Paleólogo, clamando pelo trono bizantino em seu leito de morte.1466 – O Reino da Geórgia foi palco de anarquia política, resultando em seu desmembramento em outros estados (Imeretia, Kartli, Samtskhe-Saatabago e Kakheti) e pequenos principados, assim continuando até 1490.1466-1467 – As tentativas otomanas de conquistar a Albânia foram rechaçadas por Scanderbeg liderando outros senhores de guerra da região. Mesmo este grande herói morrendo em 1468, os otomanos foram contidos até 1480. – Neste período, o sultão entrou em entendimento com a República de Ragusa para conseguir duas obras latinas sobre uma obra de Avicena intitulada ‘Canon’ (enciclopédia de medicina).1467 - Em 28 de julho, o sultão Maomé II, cercou Croia (Kruje), na Albânia, pela terceira vez inutilmente: não conseguiu se apossar da fortaleza. ---- Neste ano: A igreja de Chipre conseguiu sua independência após acordo com o papa Paulo II.1468 - O grande herói albanês Scanderbeg morreu de malária em 17 de janeiro, quando tentava reunir a nobreza para discutir planos para reerguer a economia nacional, arruinada pelas guerras constantes. ---- Em 10 de julho, o rei Jaques II de Lusignan (o Bastardo) se casou, através de procuração, com a veneziana Catarina Cornaro (nesta procuração se estabelecia que Chipre passaria ao controle de Veneza, se o rei morresse sem herdeiro). 1470 - A ilha grega de Eubéia (Negroponte em 1204) foi tomada pelos otomanos em 12 de julho aos venezianos.1472 - Ao morrer Tiago II de Chipre em 6 de julho de 1473, subiu ao trono seu filho menor, Tiago III, mas quem reinou de fato foi sua mãe, sob influência veneziana. Em 1489 o controle de Veneza foi total até 1 de agosto de 1571, quando a ilha caiu sob o domínio otomano. ---- A sobrinha do finado imperador Constantino XI, Zoe (Sofia) se casou com o príncipe de Moscou, Ivan III. Nesta época Istambul era chamada pelos russos de Tsargrad (cidade do tzar).1474 - O vizir turco otomano Mahmud Pacha Angelovic (de origem bizantina) foi executado em 18 de julho em face de suposta negociação com os venezianos para restaurar o Império Bizantino em seu proveito. 1480 - O grão mestre dos Hospitalários, Pedro de Aubusson foi chamado de ‘escudo da cristandade’ ao impedir a tomada da ilha de Rodes por Maomé II (só aconteceu isto em 1522 pelo sultão Solimão) em investida de junho a 18 de agosto. 1489 - A rainha Catarina Cornaro de Chipre abdicou do trono em favor de Veneza, que confinou na cidade de Pádua os filhos e a filha ilegítimas do rei Jaques II, o Bastardo. Os venezianos (através do governo de seus 'reitores') continuaram a sujeição fiscal aos Mamelucos do Egito.1492 - O sultão otomano Bajazé II mandou uma frota naval para a Espanha, a fim de recolher os milhares de judeus que tinham sido expulsos pelos reis católicos Fernando e Isabel. Em 1493 eles se estabeleceram em Istambul. Em 1497 foi a vez dos refugiados judeus de Portugal.000000000000000000000000000000000000000000000000000000000000000000000000000000000000000000000000000000000000000000000000LIVROS E SITES PESQUISADOS: Schlumberger, Gustave: L’Epopée byzantine à la fin do Xème siécle- Hachette-Paris-1896-1905 –versão virtual no site www.mediterranee-antique.info GIBBON, Edouard: Histoire de la décadence et de la chute de l’Empire romain Toynbee, Arnold – A Humanidade e a Mãe-Terra – Uma História Narrativa do Mundo –Zahar Editores- Rio de Janeiro-1982 The Times – Folha de S. Paulo – Atlas da História do Mundo - 1995 Bréhier, Louis – Le Monde Byzantin – I volume : Vie et mort de Byzance –Paris-1946/9- Éditions Albin Michel:uqac.ca/classiques/brehier_louis/monde_byzantin/brehier_vie_et_mort_byzance.pdf e da Université de Paris XI-Orsay – Courriel : [email protected] Diehl, Charles – Histoire de l’Empire Byzantine – Auguste Picard, Éditeur-Paris- 1924 --- versão virtual no site www.mediterranee-antique.info Guilland, Rodolphe – La Formation de l’Empire Romain d’Oriente – 395-518 – Encyclopédie de la Pléiade-Histoire Universelle I- Editions Gallimard – Paris – 1956. Guilland, Rodolphe – L’Empire Byzantin – Encyclopédie de la Pléiade- Histoire Universelle II- Editions Gallimard – Paris – 1957 Palou, Christiane e Jean – La Perse Antique – Presses Universitaires de France – 1962- pág. 77 a 87 Grousset, René – As Cruzadas – Difusão Européia do Livro -1965 fr.wikipedia.org/ (Foi a base deste trabalho, mas apenas em francês e inglês, visto que em português é muito deficiente nos dados) Dictionnaire Chronologique d’Histoire Universelle Du Moyen-Age par Daniel Legrand --- Liens: http://www.dictionnaire-chronologique.cabanova.fr ---- http://danielgr.free.fr/Dictionnaire%20Chronologique.pdf WHKLMA: www.zum.de www.cosmovisions.com/encyclo.htm http://www.roman-emperors.org/ http://www.persee.fr/web (Revue des études byzantines) http://his.nicolas.free.fr/ http://www1.fhw.gr/chronos/10/en/p/pb5/ (período bizantino tardio de 1204 a 1453) http://www.qantara-med.org http://crm.revues.org ---- Cahiers de Recherches Medievales et Humanistes http://www.gutenberg.org/files/37756/37756-h/37756-h.html http://trivium.revues.org (Revista franco-alemã de ciências humanas e sociais) books.google.fr/books http://www.cairn.info/revue-le-moyen-age http://invasionsbarbares.free.fr/Page1.htm (Invasões bárbaras de 364 a 479) http://www.fordham.edu/halsall/byzantium/ http://byzantinemilitary.blogspot.com.br/ http://imperiobizantino.wordpress.com/historia/ (Mapas e textos) www.historyorb.com www.clio.fr/CHRONOLOGIE http://www.byzantium.xronikon.com/battle.php?byzbat=b5_01 (todas as guerras em que esteve envolvido o Império Bizantino)

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http://www.persee.fr/web/revues/home/prescript/article/rebyz_0766-5598_1962_num_20_1_1285: Loenertz R.-J. Notes d'histoire et de chronologie byzantine (deuxième série). In: Revue des études byzantines, tome 20, 1962.- pp. 171-180. http://www.lefaiseurderipailles.fr/pages/catastrophes-naturelles-et-famines-au-moyen-age/seismes-et-tremblements-de-terre-durant-la-periode-medieval

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