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Poder Judicirio da UnioTribunal de Justia do Distrito Federal e dos Territrios
rgo 1 Turma CvelProcesso N. Apelao Cvel 20100110901256APCApelante(s) M. S. A. C. E OUTROSApelado(s) OS MESMOSRelator Desembargador TEFILO CAETANORevisor Desembargador GILBERTO PEREIRA DE OLIVEIRAAcrdo N 711.316
E M E N T A
DIREITO DE FAMLIA. DIVRCIO. DISSOLUO DA SOCIEDADECONJUGAL. DECRETAO. PEDIDO. FORMATO LITIGIOSO.CONVERSO EM CONSENSUAL. CONDIES PARA DISSOLUO DOVNCULO. IMVEL. PARTILHA. RECONHECIMENTO. ARREPENDIMENTOUNILATERAL DO VARO. INEFICCIA. ALCANCE DA LIDE MODULADO.DIREITO DISPONVEL. NEMO POTEST VENIRE CONTRA FACTUMPROPRIUM. 1. Convencionando o casal a convolao do pedido de divrcio litigioso em
consensual, estabelecendo as condies que devem pautar a dissoluo do
vnculo e rateio do patrimnio amealhado durante sua constncia, o
convencionado, conquanto ainda no homologado o transacionado,
implicando, contudo, nova modulao causa, pois, aliada convolao do
pedido em consensual, houvera a fixao das bases que devem nortear a
dissoluo da vida conjugal dos litigantes, deve pautar a soluo do dissenso
estabelecido acerca da destinao do patrimnio comum, no sendo apto a
ensejar a desconsiderao do convencionado manifestao unilateral
subsequente materializada por um dos cnjuges, inclusive quando volvida
desconsiderao somente de parte do acordado (CPC, art. 264).
2. Convolado o pedido em divrcio consensual, as clusulas que devem
pautar a extino do vnculo devem ser observadas em observncia
justamente aos limites e contornos impostos ao pedido pelos litigantes,
inclusive porque a ao de divrcio encerra direito indisponvel quanto ao seu
contedo principal, ou seja, o status familiae dos cnjuges, mas disponvel no
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APELAO CVEL 2010 01 1 090125-6 APC
que tange partilha dos bens adquiridos na constncia do casamento, por se
tratar de direito patrimonial, no decorrente da personalidade, sendo facultado
ao titular dele abdicar, devendo prevalecer, portanto, o convencionado acerca
da partilha do patrimnio amealhado ao ser pautada ao.
3. O princpio nemo potest venire contra factum proprium encerra proibio ao
comportamento contraditrio e a no aceitabilidade do venire no se firma
apenas no comportamento conflitante, mas, sobretudo, na quebra da
confiana que fora gerada em terceiros, conduta que no pode ser acobertada
pelo Judicirio, que, diante de tais situaes, deve comprometer-se com o
caso e aplicar o direito de forma sistmica, como um todo que , e no em de
forma fragmentada, resultando que, pautadas as condies que nortear a
dissoluo do vnculo conjugal, devem prevalecer, no se afigurando possvel
que o varo, aps convencionar o rateio do patrimnio amealhado na
constncia do vnculo, almeje desconsiderar parcialmente o acordado e na
parte em que lhe reputara prejudicial.
4. Recursos conhecidos. Apelaes da autora e do Ministrio Pblico
providas. Apelo adesivo do ru prejudicado. Unnime.
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A C R D O
Acordam os Senhores Desembargadores da 1 Turma Cvel do Tribunal deJustia do Distrito Federal e dos Territrios, TEFILO CAETANO - Relator,GILBERTO PEREIRA DE OLIVEIRA - Revisor, LEILA ARLANCH - Vogal, sob aPresidncia do Senhor Desembargador TEFILO CAETANO, em proferir aseguinte deciso: CONHECER DOS APELOS, DAR PROVIMENTO AOSRECURSOS DO AUTOR E DO MINISTRIO PBLICO E JULGARPREJUDICADO O APELO ADESIVO DO RU, UNNIME, de acordo com a atado julgamento e notas taquigrficas.
Braslia (DF), 4 de setembro de 2013
Certificado n: 6D6119FB00070000149312/09/2013 - 18:43
Desembargador TEFILO CAETANORelator
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R E L A T R I O
Cuida-se de ao de divrcio direto litigioso ajuizada por M. S.C. em desfavor de A. da C. C. objetivando, em sede de antecipao de tutela,que lhe fosse deferida a posse do imvel situado na Quadra 02, Bloco N, Tipo B,
Casa 50, Cruzeiro Velho/DF, garantindo-se acesso ao ru to somente para
retirar seus pertences pessoais, e, alfim, confirmadas essas medidas, a
concesso da guarda definitiva do filho autista do casal, G. A. S. C., em seu
favor, a condenao do ru ao pagamento de alimentos ao aludido descendente
no importe de R$ 510,00 (quinhentos e dez reais), por padecer de incapacidade,
a decretao do divrcio do casal, com a consequente efetivao das anotaes
derivadas da extino do vnculo conjugal, e a partilha dos bens comuns
adquiridos na constncia do vnculo proporo de 50% (cinquenta por cento)
para cada um dos consortes.
Como estofo das pretenses, argumentara, em suma, que os
litigantes passaram a conviver maritalmente no dia 13/09/1985, vindo a se casar
no dia 05 de agosto de 1994, sob o regime da comunho parcial de bens,
advindo da unio 02 (dois) filhos, um j maior e outro portador de incapacidade
permanente. Informara que o casal encontra-se separado de fato desde o dia 09
de agosto de 2008, data em que fora posta para fora de casa. Comunicara que,
nos ltimos 3 (trs) anos do relacionamento, vinha sendo agredida fisicamente
pelo ru, tendo registrado ocorrncias que geraram processo que transita no 2
Juizado Especial Criminal de Taguatinga/DF.
Esclarecera que, durante a convivncia em comum, o casal
adquirira o imvel identificado como casa n 50, tipo B, bloco N, quadra 02, do
SER/SUL, Cruzeiro Velho, Braslia/DF e que, durante o casamento, o cnjuge
varo dera entrada no inventrio de seus pais, resultando da herana dois
imveis situados, respectivamente, SHCES, quadra 1205, bloco K, loja 24 e 48
(valor venal: R$ 52.700,00) e QND 36, lote 27, Taguatinga/DF (valor venal: R$
350.000,00). Postulara a partilha de todos os bens adquiridos na constncia do
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vnculo, reclamando que lhe seja destinado o imvel localizado no Cruzeiro
Velho/DF, que ao ru seja assegurado o imvel situado em Taguatinga/DF e que
os demais bens fossem repartidos na proporo de 50% para cada um.
Destacara a necessidade do deferimento da guarda do filho incapaz em seu
favor, j que fora diagnosticado autista, necessitando, portanto, de cuidados
especiais e acompanhamento psiquitrico, que no podem ser administrados
pelo pai, que, em contrapartida, deve ser compelido a lhe fomentar alimentos.
O pedido de antecipao de tutela fora indeferido1. Aperfeioada
a relao processual, o ru veiculara defesa tempestiva, anuindo com o pedido
de divrcio, ante a dissoluo da vida em comum, contestando, contudo, a
proposta de partilha, sustentando que bens arrolados pela autora no se
comunicam, vez que todos seriam fruto de herana, sendo da sua exclusiva
titularidade, pois no adquiridos a ttulo oneroso na constncia do casamento.
Consignara que a autora j esteve internada diversas vezes em clnicas para
recuperao, mas que, infelizmente, tem recebido notcias de que estaria
envolvida com a utilizao de pesadas drogas ilcitas. Postulara, assim, a
realizao de estudo multidisciplinar, com psiclogo, psiquiatra e assistente social
para anlise e opinio acerca da guarda do filho deficiente do casal. Anotara que,
se a guarda do filho for deferida me, compromete-se, desde j, a pagar-lhe
penso no valor de R$ 510,00.2
Oficiando no processo, observara o Parquet que o segundo filho
do casal (G. A. S. C) maior3, e ao que consta incapaz para os atos da vida civil,
sendo assim, incabvel o disciplinamento da guarda, devendo ser excluda a
anlise do pedido de guarda, alimentos e convivncia familiar, vez que os
cuidados com o incapaz devem ser remetidos para procedimento especfico de
interdio e nomeao de curador ao mesmo.
Designada audincia de conciliao, instruo e julgamento, a
ela compareceram as partes, acompanhadas de seus patronos, tendo transigido,
1 - Fl. 90. 2 - Contestao, fls. 124/137. 3 - Documento, fl. 17.
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transformando o presente divrcio direto litigioso em divrcio direto consensual,
expondo as seguintes clusulas4: 1) o filho G. A. S. C incapaz e as partes
providenciaro sua interdio; 2) os cnjuges, de maneira recproca, dispensam
os alimentos; 3) aps a decretao do divrcio, o cnjuge virago voltar a assinar
o nome de solteira; 4) quanto ao patrimnio: 4.1) o imvel comercial do Cruzeiro,
o imvel de Taguatinga e as lojas na Asa Norte ficaro integralmente para o ru,
j que se tratam de bens incomunicveis, advindos de herana; 4.2) quanto ao
imvel do Cruzeiro Velho, as partes apresentaram duas propostas: a) ser doado
para os filhos, metade para cada um, tendo o casal usufruto compartilhado,
sendo o usufruto inalienvel. A autora residir no imvel juntamente com o filho
G. A. S. C. Em caso de o filho G. A. S. C no residir com a genitora, se ela
permanecer residindo no imvel, dever depositar mensalmente na conta
bancria do ru metade do valor de mercado do aluguel. Se ela sair do imvel,
este ser alugado e o valor ser gerido pelo ru, que repassar metade do valor
de mercado do aluguel para a autora. Ser requerida a desocupao do imvel
para uso prprio da famlia. Enquanto isso, metade do valor do aluguel ser
repassado pelo ru para a autora; b) o imvel ser vendido e caber 40% do
valor apurado para a autora e 60% para o ru. Da cota da autora, ser adquirido
um imvel a escolha dela, que ser colocado em nome dos filhos, metade para
cada um, e usufruto vitalcio dela. O imvel do Cruzeiro Velho ser avaliado pelas
partes e no prazo de at 30 dias as partes devero se pronunciar nos autos e
trazer o resultado das avaliaes. Devero ainda, no mesmo prazo indicar qual
das duas propostas ser firmada pelas partes para fim de extino do processo.
Em caso de ausncia de manifestao quanto s duas propostas ou divergncia
na escolha delas, caber deciso ao Juzo quanto melhor proposta.
Passados sete dias da audincia conciliatria, protocolizara o ru
petio5 comunicando a impossibilidade de dilogo com a autora e que, portanto,
seria invivel a escolha de qualquer das duas propostas, requerendo, ento, o
prosseguimento do processo. A autora, por sua vez, protocolara petio6
4 Termo de Audincia, fl. 257.5 - Fls. 259/261.6 - Fl. 266.
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informando que entrara em contato com a imobiliria responsvel pela
administrao do imvel que deveria ser partilhado, que impedira a corretora
contratada pela autora de proceder a avaliao do imvel, em total desrespeito
aos termos do acordo assinado. O ru, mais uma vez peticionara7 aduzindo a
falta de dilogo com a autora e asseverara que no teria interesse em nenhuma
das propostas ajustadas em audincia, pois os bens imveis so todos frutos de
herana e por isso, incomunicveis.
Oficiando novamente nos autos, registrara o Ministrio Pblico
que as propostas foram apresentadas pelas partes, o termo claro, fora subscrito
por ambos e seus respectivos advogados, e no houvera impugnao oportuna,
pugnando pela intimao da parte autora para pronunciamento e cumprimento
das providncias determinadas na ata da audincia8. Cancelada audincia
designada, j que encerrada a instruo processual e intimada a parte autora9,
protocolara o ru agravo retido aduzindo cerceamento do direito de defesa10.
Cumprido o itinerrio procedimental, sobreviera sentena, que,
julgando parcialmente procedente o pedido, decretara o divrcio do casal,
voltando a autora a utilizar o nome de solteira, determinando a partilha do imvel
comum imvel situado no SER/Sul, quadra 2, bloco N, casa 50, Cruzeiro Velho
-, na proporo de 6,82 % para cada um, pois reconhecera que 86,16% do imvel
seria impartilhvel por ter derivado de produto proveniente de herana recebida
pelo ru, tornando o quinho adquirido com o auferido impassvel de diviso,
restando debitado autora o pagamento das custas processuais e honorrios
advocatcios, que foram fixados em R$ 400,00, com a ressalva de que litiga sob o
plio da justia gratuita11.
Inconformada, a autora apelara almejando a nulidade da
sentena, sustentando, em suma, que, o decisum nulo, pois contrrio prova
dos autos. Sustentara que fora firmado e homologado acordo em audincia e
7 - Fl. 269/274.8 - Fls. 290/290-verso.9 - Deciso, fl. 292.10 - Fls. 297/322.11 - Sentena, fls. 400/401.
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que, quanto ao ajuste, pretende a venda e partilha do valor arrecadado com o
imvel comum - SER/Sul, quadra 2, bloco N, casa 50, Cruzeiro Velho - na
proporo de 40% para a si e 60% para o ru, ressalvando que, com a cota parte
que lhe cabvel, adquirir um imvel a sua escolha, que ser colocado em
nome dos filhos, metade para cada um, resguardando-lhe o usufruto vitalcio,
conforme avenado12.
O ru contrariara o apelo, defendendo, em suma, seu
desprovimento13 e, outrossim, recorrera adesivamente, sem reiterar o agravo
retido que interpusera no fluxo processual. Persegue, em suma, a reforma parcial
da sentena a fim de ser declarado que a ex-esposa no tem direito partilha,
ainda que no percentual de 6,82%, vez que o imvel in comento fora adquirido
com valores provenientes de herana legada por sua av paterna, tornando-se
impassvel de diviso14.
A autora contrariara o recurso adesivo, postulando a sua
improcedncia, tendo em vista a existncia de acordo entre as partes
homologado em juzo15.
O d. magistrado sentenciante abrira vista dos autos ao Ministrio
Pblico, oportunidade em que apresentara o Parquet recurso de apelao,
requerendo a reforma da sentena a fim de se julgar o mrito nos limites da
vontade das partes, disciplinando a questo patrimonial especfica com a escolha
de uma das propostas apresentadas no item 4.2 alneas a e b do acordo
entabulado em audincia16. Os litigantes deixaram fluir em branco o prazo para
contrariarem o recurso interposto pelo Ministrio Pblico17.
A douta Procuradoria de Justia opinara pelo conhecimento dos
recursos e, no mrito, pelo provimento dos recursos da autora e do Ministrio
Pblico, e pelo desprovimento do recurso adesivo manejado pelo ru18.12 - Apelao da autora, fls. 408/417. 13 - Contrarrazes, fls. 425/438. 14 - Recurso Adesivo, fls. 439/452.15 - Contrarrazes ao Recurso Adesivo, fls. 460/462.16 - Recurso Ministerial, fls. 464/468-verso. 17 - Fls. 470/472.
18 - Parecer de fls. 476/480.
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Os apelos principais e o adesivo so tempestivos, esto
subscritos por advogados devidamente constitudos e por presentante do
Parquet, foram corretamente processados, preparado o recurso da autora,
apesar de beneficiria da gratuidade de justia, devidamente preparado o recurso
do ru e isento de preparo o recurso ministerial19.
o relatrio.
V O T O S
O Senhor Desembargador TEFILO CAETANO - Relator
Cabveis, tempestivos, preparados o da autora e o do ru e
dispensado de preparo o do parquet, e subscritos por patronos devidamente
habilitados e municiados de capacidade postulatria e por presentante do
Ministrio Pblico, satisfazendo, pois, os pressupostos objetivos e subjetivos de
recorribilidade que lhes so prprios, conheo dos apelos principais e do adesivo.
Cuida-se de ao de divrcio direto litigioso ajuizada pela esposaem desfavor do marido objetivando, em sede de antecipao de tutela, que lhe
fosse deferida a posse do imvel situado na Quadra 02, Bloco N, Tipo B, Casa
50, Cruzeiro Velho/DF, garantindo-se acesso ao ru to somente para retirar
seus pertences pessoais, e, alfim, confirmadas essas medidas, a concesso da
guarda definitiva do filho autista do casal, G. A. S. C., em seu favor, a
condenao do ru ao pagamento de alimentos ao aludido descendente no
importe de R$ 510,00 (quinhentos e dez reais), por padecer de incapacidade, a
decretao do divrcio do casal, com a consequente efetivao das anotaes
derivadas da extino do vnculo conjugal, e a partilha dos bens comuns
adquiridos na constncia do vnculo proporo de 50% (cinquenta por cento)
para cada um dos consortes.
19 - Instrumentos de mandatos de fls. 10 e 121, deciso de fl. 90 e guias de preparo de fls. 418/419 e454/455.
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Cumprido o itinerrio procedimental, durante o qual houvera a
realizao de audincia na qual fora entabulo acordo destinado transformao
do pedido em consensual com o alinhamento de diretrizes para a partilha do
patrimnio comum, sobreviera sentena, que, julgando parcialmente procedente
o pedido, decretara o divrcio do casal, voltando a autora a utilizar o nome de
solteira, determinando a partilha do imvel comum imvel situado no SER/Sul,
quadra 2, bloco N, casa 50, Cruzeiro Velho -, na proporo de 6,82 % para cada
um, pois reconhecera que 86,16% do imvel seria impartilhvel por ter derivado
de produto proveniente de herana recebida pelo ru, tornando o quinho
adquirido com o auferido impassvel de diviso, restando debitado autora o
pagamento das custas processuais e honorrios advocatcios, que foram fixados
em R$ 400,00, com a ressalva de que litiga sob o plio da justia gratuita.
Inconformada com a partilha do imvel comum, a autora apelara
almejando a cassao ou reforma da sentena nessa parte, defendendo a
observncia dos limites do acordo entabulado entre as partes em audincia, onde
restara ajustada a venda e partilha do imvel e do valor arrecadado, proporo
de 40% para a ex-esposa e 60% para o ex-marido. O ru, por sua vez, recorrera
adesivamente requerendo a reforma parcial da sentena a fim de ser declarado
que a ex-esposa no tem direito partilha do imvel indicado na sentena, ainda
que no percentual de 6,82%, vez que teria sido adquirido com valores oriundos
de sentena. De sua parte, almeja o Ministrio Pblico a reforma da sentena a
fim de que o mrito da lide seja julgado nos limites da vontade das partes,
disciplinando a questo patrimonial especfica com a escolha de uma das
propostas engendradas no acordo entabulado em audincia.
Antes do exame dos apelos deve ser assinalado que o ru no
reclamara expressamente o conhecimento do agravo retido que interpusera em
face da deciso que negara a produo de provas, porquanto tal postulao no
est assinalada na pea recursal. Essa omisso obsta, portanto, o conhecimento
do inconformismo, pois, na forma do artigo 523, 1, do CPC, o conhecimento do
agravo aviado sob a forma retida tem como pressuposto a formulao de
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requerimento expresso destinado sua apreciao pelo rgo revisor.
Alinhados esses argumentos, como no houve pedido expresso volvido aoseu conhecimento, no conheo do agravo retido interposto pelo ru.
Do alinhado afere-se que, diante do objeto da ao e dos apelos,
o cerne do conflito de interesses estabelecido entre os litigantes e o Parquet
cinge-se aferio do acerto do provimento singular por ter desconsiderado o
acordo firmado entre as partes em audincia de instruo e julgamento acerca da
partilha de bem que, sob o prisma do ru, seria incomunicvel. Emoldurado os
objetos dos apelos, deve ser assinalado que, conquanto a autora tenha
reclamado a anulao da sentena, a verdade que persegue a reforma do
decidido de forma a ser observado o que teria acordado entre as partes em
audincia no tocante converso do pedido de divrcio consensual e acerca da
partilha do patrimnio partilhvel, que cinge-se ao imvel situado no SER/Sul,
quadra 2, bloco N, casa 50, Cruzeiro Velho, inclusive porque alinhara
argumentao apta a aparelhar a ventilada nulidade.
Alinhadas essas ressalvas e pontuado o objeto dos recurso, o
recurso do Ministrio Pblico e da autora devem ser resolvido primeiramente por
serem de maior amplitude, pois almejam a observncia da composio de
vontades estabelecida entre partes em sua extenso exata. Alinhados esses
registros, passo, portanto, ao exame do mrito dos apelos, iniciando o exame
pelo recurso ministerial.
Resplandece do cotejo dos autos a inexorvel evidncia de que,
no dia 20 de junho de 2011, as partes compareceram audincia de instruo e
julgamento aprazada, devidamente acompanhadas de seus patronos, ocasio em
que transigiram e, transmudando o divrcio direto litigioso em divrcio direto
consensual, defenderam a decretao da extino do casamento, ressalvando
que a cnjuge virago voltar a usar o nome de solteira, que ambos dispensavam
alimentos, que a questo do filho incapaz do casal ser tratada na sede
apropriada, que os demais imveis arrolados, por serem incomunicveis, seriam
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destinados exclusivamente ao varo e, quanto ao imvel situado no SER/Sul,
quadra 2, bloco N, casa 50, Cruzeiro Velho, acordaram o seguinte20:
4.2) quanto ao imvel do Cruzeiro Velho, as partesapresentaram duas propostas: a) ser doado para os filhos, metade paracada um, tendo o casal usufruto compartilhado, sendo o usufrutoinalienvel. A autora residir no imvel juntamente com o filho G. A. S. C.Em caso de o filho G. A. S. C no residir com a genitora, se ela permanecerresidindo no imvel, dever depositar mensalmente na conta bancria doru metade do valor de mercado do aluguel. Se ela sair do imvel, este seralugado e o valor ser gerido pelo ru, que repassar metade do valor demercado do aluguel para a autora. Ser requerida a desocupao do imvelpara uso prprio da famlia. Enquanto isso, metade do valor do aluguel serrepassado pelo ru para a autora; b) o imvel ser vendido e caber 40% dovalor apurado para a autora e 60% para o ru. Da cota da autora, seradquirido um imvel a escolha dela, que ser colocado em nome dos filhos,metade para cada um, e usufruto vitalcio dela. O imvel do Cruzeiro Velhoser avaliado pelas partes e no prazo de at 30 dias as partes devero sepronunciar nos autos e trazer o resultado das avaliaes. Devero ainda, nomesmo prazo indicar qual das duas propostas ser firmada pelas partespara fim de extino do processo. Em caso de ausncia de manifestaoquanto s duas propostas ou divergncia na escolha delas, caber decisoao Juzo quanto melhor proposta.
Ante o convencionado, o curso processual fora suspenso pelo
prazo de 30 dias, com a ressalva de que, em caso de ausncia de manifestao
quanto s duas propostas ou divergncia na escolha delas, caberia a deciso ao
juzo quanto a que melhor atendesse aos interesses das partes. Ocorre que dias
aps o ajuste, as partes se desentenderam e o cnjuge varo desistira do
20 Termo de Audincia, fl. 257.
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acordo, alegando basicamente a incomunicabilidade do imvel que seria
partilhado, por se tratar de imvel adquirido com valor proveniente da herana de
sua av paterna e o regime de casamento adotado fora o da comunho parcial
de bens, ilidindo a partilha de bens advindos de herana. Juntamente s suas
alegaes, acostara documentos com o intuito de provar a origem do dinheiro
para a compra do imvel situado no Cruzeiro Velho.
A despeito do arrependimento do ru, sua manifestao no
pode ser acolhida. que, conquanto o acordo no tivesse sido homologado,
inexoravelmente implicara, com a anuncia de ambos os litigantes, nova
modulao causa, pois, aliada convolao do pedido em consensual, houvera
a fixao das bases que devem nortear a dissoluo da vida conjugal dos
litigantes. Ou seja, a ao fora modulada quanto ao seu objeto e os prprios
litigantes traaram os limites do pedido, que, a seu turno, devem nortear a
resoluo da controvrsia (CPC, art. 264). que, convolado o pedido em divrcio
consensual, as demais clusulas que devem pautar a extino do vnculo foram
estabelecidas, devendo ser observadas em observncia justamente aos limites e
contornos do pedido. Assim que a manifestao subsequente do ru j restara
desprovida de eficcia, pois, de forma unilateral, no podia alterar os limites
agregados ao pedido, tornando invivel que a partilha do imvel situado no
SER/Sul, quadra 2, bloco N, casa 50, Cruzeiro Velho, fora resolvida de forma
diversa da convencionada.
Ora, conforme anotara o parquet, as partes livremente
dispuseram sobre o aspecto patrimonial do casamento, com excluso de bens
incomunicveis que devero ser revertidos exclusivamente ao cnjuge-varo, por
serem provenientes de herana, e a melhor forma de partilhamento do imvel
comum, que assim restara reconhecido. O convencionado, pautando o objeto da
controvrsia, ilidira, pois, a discusso sobre a participao das partes na
aquisio do imvel situado no Cruzeiro Velho, que, como expresso e
autoridade do avenado, deve ser observado e pautar a resoluo da
controvrsia remanescente. Logo, os limites da lide foram estipulados por ato de
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vontade das partes, maiores e capazes, devidamente representadas por
advogados particulares que subscreveram o termo sem qualquer impugnao.
Em suma, o acordo que ensejara a converso do pedido de
divrcio litigioso em consensual, com as respectivas clusulas, revestira-se de
eficcia e validade jurdica, pois implicara a modulao do pedido, mediante
aditamento, no molde do convencionado, que, portanto, deve nortear a resoluo
do dissenso que sobejara o convencionado, que, ademais, previra essa
ocorrncia, conferindo poderes ao juiz da causa para optar por um das propostas
formuladas para a destinao do imvel situado no SER/Sul, quadra 2, bloco N,
casa 50, Cruzeiro Velho. Na verdade, o que se verificara que restara
caracterizado arrependimento do cnjuge-varo, situao que no autoriza a
desconsiderao do convencionado, pois, frise-se, determinara a modulao da
ao e do objeto do dissenso. De mais a mais, a ao de divrcio traz direito
indisponvel quanto ao seu contedo principal, ou seja, o status familiae dos
indivduos, e disponvel no que tange partilha dos bens adquiridos na
constncia do casamento, por se tratar de direito patrimonial, no decorrente da
personalidade, sendo facultado ao titular dele abdicar. Ou seja, o convencionado
alcanara direito disponvel, no estando permeado por nenhum vcio.
Ademais, constata-se claramente a violao boa-f objetiva
praticada pelo ru em detrimento da autora, j que criara nesta expectativa falsa
de acordo, quando na verdade, pretendia, desde o princpio, nada partilhar. A
expresso nemo potest venire contra factum proprium denota a proibio ao
comportamento contraditrio. Na conceituao trazida por Menezes Cordeiro, o
venire contra factum proprium consubstancia o exerccio de posio jurdica
contrria a uma atuao anteriormente assumida. H dois comportamentos lcitos
e diferidos no tempo que so ligados por um liame; a segunda conduta segue
direo oposta primeira. Em verdade, a vedao ao comportamento
contraditrio no probe qualquer comportamento incoerente. O que no se
admite, que o sujeito atue frustrando as expectativas que criou em outrem, em
razo daquele comportamento anterior. A no aceitabilidade do venire no se
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firma apenas no comportamento conflitante, mas, sobretudo, na quebra da
confiana que foi gerada em terceiros.
Importa destacar que, mesmo residindo a expectativa em um
mpeto subjetivo, a proibio ao comportamento contraditrio no decorre da
anlise da inteno do agente, tampouco do animus daquele que se prejudicou
em decorrncia do venire. A anlise se houve ou no o rompimento da confiana
perpassa pela compreenso da probabilidade de que aquele antigo ato
perdurasse. A expectativa, portanto, seria analisada pela possibilidade dela ser
razovel dentro dos padres de condutas existentes. No qualquer expectativa
que ser abarcada pela proibio ao comportamento incoerente, mas somente
aquela que for fundada em uma convico razovel.
De clareza solar, pois, o comportamento contraditrio do ru,
pois, aps convencionar a modulao do pedido e a partilha do imvel admitido
como comum, pretender elidido o convencionado nessa parte, o que no pode
ser admitido. Sua postura se revela ainda mais inadmissvel quando deseja a
eliso do acordado to somente no tocante ao imvel comum, pretendendo que,
quanto ao mais, o acordado sobeje vigendo, notadamente no que se refere
excluso da partilha dos demais imveis arrolados pela autoral. Sua postura, por
bvio, no pode ser acobertada pelo Poder Judicirio que, diante de tais
situaes, deve comprometer-se com o caso e aplicar o direito de forma
sistmica, como um todo que , e no em tiras, isoladamente, analisando nica e
exclusivamente dispositivo inserto no subttulo do regime de bens entre os
cnjuges.
Alis, no pode deixar de ser consignado que o ordenamento
jurdico veda a reserva mental, situao subsumida hiptese dos autos. O ru,
em verdade, jamais pretendera partilhar o imvel situado no Cruzeiro Velho,
entretanto fizera a autora acreditar na falsa proposta composta por duas
alternativas que, a dele depender, no se concretizariam. A reserva mental fora
regulada e repugnada pelo novo Cdigo Civil nos seguintes termos:
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Art. 110. A manifestao de vontade subsiste ainda que oseu autor haja feito a reserva mental de no querer o que manifestou, salvose dela o destinatrio tinha conhecimento.
Alinhados esses argumentos afere-se que, diante do
convencionado, que implicara nova modulao ao dissenso estabelecido entre as
partes que deveria ser resolvido, o convencionado acerca da partilha do imvel
situado no SER/Sul, quadra 2, bloco N, casa 50, Cruzeiro Velho, que restara
assimilado como comum, deve ser observado. Assim sendo, sobejando duas
alternativas para a destinao, a que se afigura mais plausvel, de fcil
implemento e de eficcia material, a derradeira opo convencionada, que
previra o seguinte: o imvel ser vendido e caber 40% do valor apurado para a
autora e 60% para o ru. Da cota da autora, ser adquirido um imvel a escolha
dela, que ser colocado em nome dos filhos, metade para cada um, e usufruto
vitalcio dela. que essa soluo permite que cada litigante, dissolvida a vida
em comum, assuma vida independente, o que no se afigura vivel com a
derradeira proposio. O apelo do parquet e da autora devem, portanto, ser
providos e o do ru, de sua parte, resta prejudicado, pois almejava a
desconsiderao do convencionado.
Diante do exposto, provejo os recursos da autora e doMinistrio Pblico e, reformando a ilustrada sentena guerreada quanto aoponto, ratifico a composio entabulada entre as partes em audincia,estabelecendo que o imvel situado no SER/Sul, quadra 2, bloco N, casa 50,Cruzeiro Velho, dever ser alienado, cabendo do produto arrecadado 40%(quarenta por cento) autora e 60% (sessenta por cento) ao ru, com aressalva de que o destinado autora dever ser de imediato revertido aquisio de um imvel da sua escolha, o qual dever ser colocado emnome dos filhos, metade para cada um, resguardando-lhe o usufrutovitalcio. Ressalvado que, enquanto no ultimada a alienao, encontrando-se o imvel locado, os locativos devero ser revertidos aos litigantes na
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mesma proporo da partilha. Reputo, outrossim, prejudicado, o recursoadesivo do ru. Alfim, ante a resoluo empreendida, reputo elidida asucumbncia, pois pautada a soluo pelo convencionado, devendo cadaparte arcar com os honorrios dos respectivos patronos e as custas finaissero custeadas pelo ru. Quanto ao mais, mantenho intacta a sentena.
como voto.
O Senhor Desembargador GILBERTO PEREIRA DE OLIVEIRA - Revisor
Com o Relator
A Senhora Desembargadora LEILA ARLANCH - Vogal
Com o Relator.
D E C I S O
CONHECER DOS APELOS, DAR PROVIMENTO AOSRECURSOS DO AUTOR E DO MINISTRIO PBLICO E JULGARPREJUDICADO O APELO ADESIVO DO RU, UNNIME.
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