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Boletim n o 9 | 30 de julho de 2014 Boletim da ADUNIRIO filiada ao ADUNIRIO MPF move ação civil pública em defesa do HUGG Pauta local de reivindicações é negociada com reitoria Lutar não é crime! pág 3 pág 8 Editorial na pág 2 e artigos nas pág 6 e 7

Boletim 9

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Boletim da Adunirio n. 9

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Boletim no 9 | 30 de julho de 2014

Boletim daADUNIRIO

filiada ao

ADUNIRIO

MPF move ação civil pública em defesa do HUGG

Pauta local de reivindicações é negociada com reitoria

Lutar não é crime!

pág 3

pág 8

Editorial na pág 2 e artigos nas pág 6 e 7

Page 2: Boletim 9

Diretoria: Presidente: Viviane B. Narvaes | Vice-Presi-dente: Camila M. Moraes | Secretário Geral: Carla Silva-na Sartor| 1º Secretário: Bruno oliveira | 2º Secretário: Leonardo Villela de Castro | 1º tesoureiro: rodrigo Cas-telo | 2º tesoureiro: rafaela de Souza ribeiro CoNSeLho FiSCaL titulares: Willian G. Soares, Dayse Martins hora, enedina Soares | Suplentes: Íris abdallah Cerqueira CoN-SeLho De rePreSeNtaNteS: alexandre Magno Carva-lho, Clarisse t. Gurgel, elisabeth orletti, Jadir anunciação de Brito, Janaína Bilate Martins, Natália ribeiro Fiche, Pedro rocha de oliveira, rafael Forte Soares e renato almeida de andrade aDMiNiStratiVo: Claudinea Gon-çalves CoMUNiCaÇÃo: Bruno Marinoni

Boletim no 9 | 30 de julho de 2014

Ofensiva contra as lutas sociais

Conad e ENE reúnem docentes de todo país em agosto

ADUNIRIO

Dois eventos nacionais irão reunir docen-tes de todo o Brasil no mês de agosto. O primeiro deles será o Encontro Nacional de Educação (ENE), realizado nos dias 8 e 10 de agosto na cidade do Rio de Janeiro, e que tem como proposta discutir “um novo ponto de partida para as lutas em defesa da escola pública”.No ENE, além dos professores, irão partici-par sindicatos e movimentos sociais com-prometidos com a causa da educação. O desafio será construir uma proposta que se contraponha ao atual modelo educacional do país de privatização das políticas educa-cionais e expresso pelo atual PNE.

Índice

ofensiva contra as lutas sociais página 2

Conad e ENE reúnem docentes de todo o país em agosto

página 2

MPF move ação civil pública em defesa do hUGGpágina 3

Greve dos técnicos enfrentou um governo fechado ao diálogo

páginas 4 e 5

Carta de Florianópolis repudia criminalização dos movimentos sociais e sindical

página 6

Lutas populares e a (re)militarização do Estado autocrático brasileiro

página 7

Pauta local de reivindicações é negociada com reitoria

página 8

Comissão se reune para regulamentar plano de carreira na Unirio

página 8

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Nos últimos meses, foi possível observar o recru-descimento da repressão contra trabalhadores e movimentos sociais em luta no Brasil. Com o pre-texto de garantir a segurança durante o período da Copa, foram colocados nas ruas 15 mil segu-ranças privados contratados pela Fifa, 57 mil ho-mens das Forças Armadas mobilizados pelo país e 100 mil homens das polícias estaduais e federal. Este aparato repressivo para “manter a ordem” se traduziu em efetiva violência contra manifestan-tes nas ruas e violação de direitos fundamentais.Os diferentes governos e as organizações patro-nais, por outro lado, apostaram nas demissões de integrantes dos movimentos grevistas como forma de intimidar os lutadores e lutadoras que têm se levantado por direitos trabalhistas no país. Foi assim com os garis e rodoviários, com os 42 metroviários demitidos, com os 500 professores exonerados do estado do RJ e com outros 64 pro-fessores exonerados da rede municipal carioca. Além disso, manifestantes foram investigados em sua privacidade, constrangidos em suas casas por agentes de polícia, levados a delegacias para in-quéritos, alvos de mandados de busca e apreen-são, tendo seus pertences sequestrados pelo Esta-do, grampeados e presos sumariamente.A retirada dos direitos conquistados e a crimina-lização daqueles que lutam por esses direitos são a resposta governamental para a sociedade que rei-vindica o diálogo e a negociação das suas pautas.

Para o capital, que exige a privatização da educa-ção, da saúde, dos espaços urbanos e da vida de uma forma geral, os governos têm mostrado os braços mais abertos do que os do Cristo sobre o Corcovado. Para os movimentos mostra os pu-nhos cerrados respondendo com violência, sem negociação e com judicialização.Na realidade objetiva da vida universitária, a ten-tativa de caracterização da ilegalidade da greve dos servidores técnicos administrativos revelou uma faceta autoritária que não se viu na história das universidades, nem sequer nas greves ocorri-das durante a ditadura empresarial militar. Além disso, pode-se refletir sobre o aparelhamento na gestão das universidades públicas que ficou evi-denciado pelo fato de os requerentes da ação de ilegalidade da greve junto ao STF serem as pró-prias universidades. A Unirio, por exemplo, apro-vou em seu conselho superior uma moção de apoio a greve e consta na lista de requerentes da ação.O processo de desrespeito a autonomia univer-sitária e desmonte da universidade pública, vem aparecendo de forma mais contundente na medi-da em que se aprofunda a precarização do traba-lho do professor, se desestrutura a carreira docen-te e permanece a desvalorização salarial. Por isso o movimento docente têm focado sua luta nesses eixos, capazes de traduzir no cotidiano a dinâmi-ca dos projetos políticos implementados no país.

O segundo evento será o 59º Conselho Na-cional do Andes-SN (CONAD), realizado do dia 21 a 24 de agosto, em Aracaju (SE), e que tem como tema “Luta em defesa da Educação: autonomia da Universidade, 10% do PIB exclusivamente para a Educa-ção Pública”.Cada seção sindical tem direito a eleger um delegado para o CONAD em assembleia geral. As seções sindicais também podem indicar, em assembleia geral, seus obser-vadores, que terão direito a voz durante o CONAD. O credenciamento prévio de de-legados e observadores poderá ser realizado do dia 2 de junho a 20 de agosto.

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Ofensiva contra as lutas sociais

O Ministério Público Federal moveu, no dia 30 de junho, uma ação civil pública em defe-sa do Hospital Universitário Gaffrée e Guinle baseada na investigação que concluiu haver: (1) irregularidade na contratação de recur-sos humanos, (2) redução drástica na oferta dos serviços de saúde, (3) precariedade dos vínculos profissionais, (4) inviabilidade de execução da proposta da União para a solu-ção de problemas de recursos humanos e (5) existência de concursos públicos em vigên-cia com candidatos aprovados e ainda não convocados.Diante do que foi apurado pelos inquéritos civis, o MPF resolveu requerer que a Univer-sidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio) e a União concluam, autorizem e promovam concursos públicos para cargos efetivos, substituindo todos os bolsistas e temporários que atualmente exercem fun-ções sem qualquer respaldo contratual no HUGG. O MPF também pede que sejam re-alizadas a nomeação e a posse de todos os candidatos aprovados em concursos vigen-tes, no prazo máximo de 60 dias, para assu-mir as vagas ocupadas por bolsistas. A ação determina ainda que sejam conta-tados temporariamente profissionais para

MPF move ação civil pública em defesa do HUGG

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substituição dos bolsistas, enquanto são fei-tos procedimentos para realização de con-cursos públicos. Além disso, a Unirio deve apresentar, no prazo de 60 dias, o redimen-sionamento atual e adequado dos recursos humanos do hospital da universidade com a organização e planejamento das atividades a serem desenvolvidas para evitar retrocessos no ensino e nos serviços de saúde do HUGG. Em caso de descumprimento de quaisquer das exigências, o MPF requer a aplicação de uma multa diária de R$ 50 mil.Segundo o Plano de Reestruturação do HUGG elaborado pela Unirio em 2010 e encaminhado para o MEC, o hospital era composto por 961 funcionários, sendo 673 servidores efetivos e 288 funcionários “bol-sistas”. Além da necessidade de substituição dos 288 “bolsistas” por servidores públicos, o plano ainda previa como necessário o acréscimo de mais 816 servidores públicos para o funcionamento total do HUGG. Nem a nomeação e posse dos novos servidores nos últimos anos, nem a deflagração de con-cursos públicos da Unirio são hoje suficien-tes para suprir a demanda atual de recursos humanos no HUGG.

Depois de muito insistir na necessidade de se elaborar uma solução para o HUGG que não se dobre à chantagem do Governo Fe-deral, o qual insiste em impor a adesão à Ebserh, os três segmentos mobilizados da Unirio (professores, técnicos e estudantes) conseguiram estabelecer um diálogo efetivo com a justiça, resultando na abertura de in-quéritos e na ação civil pública editada no fim de junho.

A Justiça Federal determinou que o Hospi-tal Universitário da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) reabra os 65 leitos desativados neste ano pela Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh), que administra a unidade. A Ebserh, empresa de direito privado criada pelo governo para privatizar os HUs fede-rais, informou que ainda não foi notificada oficialmente da determinação judicial. Con-forme o Ministério Público Federal (MPF), que moveu a ação, o fechamento dos 65 lei-tos ocorreu por uma decisão administrativa da Ebserh.O HU da UFMS tem cerca de 250 leitos e é administrado pela Ebserh desde dezembro de 2013. O deficit no hospital seria de quase 800 profissionais, sendo 220 médicos e 493 outros profissionais da área de saúde.

A última reunião com o MPF aconteceu no dia 13 de março, na qual também estiveram presentes membros da administração da Universidade. No encontro, foram feitos al-guns esclarecimentos e houve a entrega de parte dos documentos necessários para a re-alização das investigações promovidas pela justiça. Os três segmentos permanecem mo-bilizados e têm resistido às inistentes tentati-vas de se impor a Ebserh na Unirio.

Ação do MPF é fruto da mobilização na Unirio

Justiça manda HU reabrir leitos no Mato Grosso do Sul

Acima da placa de gratidão em uma das enfermarias fechadas, um comunicado informa a falta de insumos básicos

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O que levou os técnicos à greve de 2014?BC- Primeiro, a intransigência do governo em sentar para discutir com qualquer uma das ca-tegorias que trabalham com ele. Tanto com os técnico-administrativos, com quem ele não con-versa de jeito nenhum, quanto com os professo-res, representados pelo Andes-SN. A greve dos técnicos em 2014 tem, na verdade, algumas pau-tas voltadas para a questão da educação pública. A primeira delas é em relação a Ebserh. Pelo fim da lei inconstitucional da Ebserh, que privatiza os hospitais universitários, dos quais a Unirio tem um, o HUGG. A outra pauta é das 30 horas, porque o projeto do Reuni, levado a cabo pela gestão dos últimos governos, criou uma circuns-tância nova nas universidades que são três tur-nos funcionando. Não existe possibilidade dos servidores atenderem os três turnos. Isso gera uma inconsistência, porque se o aluno chega aqui à noite ele não tem serviço administrativo atendendo-o à noite. Que se tenha três turnos contínuos, com 30 horas de trabalho atendendo as demandas discentes e docentes.O terceiro ponto é o acordo da pauta da greve de 2012, que não foi cumprido. Tirando o reajuste de 15% em 3 parcelas, o resto do acordo que o governo traçou com a gente não foi executado. Então, essa é a relação que o governo vem tendo com a qualidade do ensino público. Percebe-se que a menor questão da nossa pauta

Greve dos técnicos enfrentou um governo fechado ao diálogo

Entrevista

é a salarial. Na verdade, a maior parte são ques-tões políticas, de política educacional, que im-pactam na qualidade do ensino.E tem também a questão das creches nas univer-sidades federais para atender os técnicos, assim como docentes e discentes.Existiu algum motivo específico para fazer a greve neste momento e não em outro?BC- Sim. A gente tinha um acordo traçado em 2012 que era para resolver esses problemas e o governo vem intransigentemente não acatando o que ele assinou no acordo. Vocês têm alguma avaliação sobre o porquê de o governo insistir nessa postura de intransi-gência?BC- O projeto político da gestão atual não é manter o ensino público de qualidade como a gente está pleiteando (nós todos que estamos li-gados à causa da educação pública, 100% laica e de qualidade). Isto não está no foco dele pro médio e longo prazo. O projeto é privatizar, é desviar os recursos públicos para as iniciativas privadas.Existe alguma diferença dessa greve para as anteriores?BC- Nós não temos uma avaliação do conjunto do CLG sobre isso. Vou te dar a minha. O mo-vimento de luta, na verdade, não é único. Tem momentos em que a gente vai para a greve e tem momentos em que a gente avança sem greve.

Mas, eu acho que não são fatos separados. Uma greve não é diferente da outra. A greve de 2014 já era uma greve pautada. Em 2012, o governo assinou o acordo, no qual dava indicativo de que teríamos diálogo e possibilidade de proceder esse diálogo. Mas, de fato, em 2012, no diálogo com todas as categorias, a única coisa em que ele avançou foi na reposição das perdas inflacioná-rias. Mas, na verdade, não houve reposição das perdas inflacionárias, porque nós recebemos três reajustes de 5%, sendo que a inflação anual do período foi de 6%. O nosso salário ficou defasa-do nesse período. O debate político, de fato, é a tentativa de discutir e construir qual é a política pública dos próximos anos, e o governo não está travando esse debate nem com a gente nem com nenhuma das outras categorias. Tanto que eu acho que o Plano de Carreira docente que saiu em 2012 agravava vários problemas que a carrei-ra já tinha, em vez de indicar um avanço.Como a greve dos técnicos se articula com as demais categorias?BC- No quadro interno da Unirio, acho que essa foi uma greve diferente dos servidores. A gente de fato mobilizou praticamente todos os cantos dos servidores. Tivemos uma greve de real mo-bilização e a Unirio despontou como uma das grandes articuladoras do movimento paredista. Nesse sentido, conseguimos avançar numa orga-nização conjunta das greves, porque eram várias

A greve dos trabalhadores técnico-administrativos das IFES durou pouco mais de 3 meses, articulada com a paralisação de outros setores da socie-dade. Apesar da sua abrangência, não conseguiu arrancar de um governo intransigente a disposição para o diálogo sobre a pauta de reivindicações e terminou no final de junho, após enfrentar a judicialização da luta. Inte-grante do Comando Local de Greve (CLG) da Unirio, Bruno Cruz explica um pouco desse processo em entrevista aó boletim da Adunirio.

Bruno Cruz, membro do CLG, dá o seu recado durante ato em frente à reitoria da Unirio

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categorias em luta. Não só as do serviço público, mas também a dos rodoviários e dos garis. Nós conseguimos fazer uma “Plenária das Categorias em Luta”. Vislumbramos uma unidade de luta, porque todas as categorias, por incrível que pa-reça, tinham uma coisa que as unificava na tática da luta que era a falta de negociação. Nós não tínhamos uma negociação com o go-verno Dilma, e o Sepe, por exemplo, não con-seguia ter negociação com o Pezão nem com o Eduardo Paes. E os rodoviários também não conseguiam ter uma negociação com o sindica-to patronal e tinham uma situação diferente da nossa, porque tinham um sindicato pelego que jogava contra eles. Eles fizeram uma greve por cima do sindicato, assim como os garis. Mas, to-dos eles tinham de alguma forma a organização estatal como objetivo, pois em última instância era a prefeitura do Eduardo Paes que podia in-termediar a questão dos rodoviários e a dos garis também. E a gente conseguiu montar uma ple-nária que organizava e instituía a luta de uma forma unificada. Como se articula a pauta local com a pauta na-cional da greve?BC- Não só na Unirio, como nas outras univer-sidades, a gente conseguiu avançar pouco no

debate com o governo federal. Até porque o go-verno não está disposto a dialogar até hoje. Teve uma conversa com o MPOG, a Unirio inclusive participou da ocupação do ministério, fechando as suas portas. A resposta do Sérgio Mendonça na mesa é que não ia haver negociação, que o go-verno não estava interessado se o ensino público pararia por um ou mil dias. Assim, não conse-guimos avançar na pauta nacional. Mas, nas vá-rias universidades, a Unirio entre elas, a pauta local andou. Por exemplo, tentaremos montar uma creche dentro da Unirio, apesar de não ter conseguido estabelecer isso com o MEC. Vamos fazer um ensaio do que seria uma creche federal funcionando dentro de uma universidade públi-ca.Vamos avançar no ponto das 30 horas. Tiveram várias universidades que avançaram nessa ques-tão. Sergipe está na ponta de lança, pois conse-guiram aprovar as 30h. Aqui na Unirio, conse-guimos estabelecer uma comissão para viabilizar o processo de 30h.Em resumo, temos as comissões das 30h e da creche. E a nossa maior luta, dos três segmentos, é não deixar que privatizem o hospital universi-tário. Em determinado momento da greve vocês de-

cidiram radicalizar. Qual a orientação para agora?BC- Essa decisão de radicalizar foi no momento em que o Sérgio Mendonça sentou com a gente e deu essa resposta de que não haveria nenhuma negociação. Como os 5% também foram menor do que a inflação, ou seja, a gente perdeu dinhei-ro, a gente queria que antecipasse a última par-cela [do reajuste]. Nenhum dos itens foi nego-ciado. O governo foi intransigente e a partir daí tiramos a radicalização do movimento. Aqui na Unirio a gente teve como um dos principais atos fechar o campus do 296. Fechamos durante al-gumas horas no período da manhã, aí a internet caiu e, como não era atividade essencial a ma-nutenção da internet, indicamos aos servidores para não realizarem essa atividade durante todo o dia 21. Isso foi feito aqui e em outras universi-dades. UFRJ e UFF também fecharam a reitoria. Foi uma indicação generalizada. Isso teve um ganho, pois conseguimos fazer com que o governo se mobilizasse. A Andifes pres-sionou o governo para haver negociação. Houve um recuo governamental. E, na sequência, en-caminhamos que a matrícula não se realizasse nacionalmente. Foi a Unirio que puxou isso. De novo, foi um outro momento de tensão. A gente avalia inclusive que este foi o fato que im-pulsionou o governo para a medida radical de judicialização. Infelizmente, as matrículas foram realizadas porque o governo forçou os docentes a assumirem a função dos administrativos, fa-zendo o desvio de função, assumindo o traba-lho que cabia aos administrativos e furando a greve dos técnicos. A gente entende que essa é uma proposta de luta. Faz parte desse amadure-cimento entender que as categorias não devem intervir na outra, deve-se respeitar os processos. O governo recuou e teve que fazer uma medida mais arbitrária, que foi judicializar a gente. Ele nos criminalizou. Mas foi tão frágil o que ele fez que, na sequência, fez uma outra reformando a primeira, indicando que a partir do dia 30 de ju-nho a liminar dele não vale mais. Fez isso para evitar o constrangimento de que isso fosse para o plenário do STJ e ficasse evidente a inconsis-tência da petição. E aí, diante desse quadro, com uma ameaça de multa de 200 mil por dia se a gente continuasse a greve, o Comando Local de-cidiu pelo “estado de greve”. Durante esses dias nós realizamos as atividades, pois a liminar indi-cou que precisamos garantir 80% delas.

Diante da intransigência do governo, técnicos radicalizaram ações. Greve durou pouco mais de 3 meses.

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A criminalização dos movimentos sociais e sindical expressa o aprofundamento da crise social decorrente do atual estágio de desen-volvimento do capitalismo e desvela a face autoritária do Estado brasileiro e da política econômica em curso. A luta por uma socie-dade mais justa, através das organizações da classe trabalhadora e da juventude, é algo que nenhum dos presentes neste Seminário está disposto a abrir mão.Nos últimos anos, no estado de Santa Cata-rina, vivenciamos grandes manifestações e atos públicos de reivindicação da classe tra-balhadora e da juventude por seus direitos e por melhores condições de vida e também vivemos um aumento das repressões e per-seguições aos movimentos sociais e popula-res e aos sindicatos por parte dos aparatos policiais a mando dos Governos (apoiados no Poder Legislativo) e do Poder Judiciário, além da perseguição criminosa de capangas contratados pelos patrões.Casos graves, como a perseguição e man-dados de prisão para quem se organiza para reivindicar terra e moradia, que são direitos básicos, como no caso de dezessete militan-

tes do MST que estão com mandado de pri-são; ações difamatórias, apoiadas na mídia privada, especialmente contra os povos in-dígenas e quilombolas que lutam pela justa demarcação de seus territórios tradicionais, como os Guarani no Morro dos Cavalos em Palhoça, os Kaingang, e o Quilombo São Roque, Praia Grande, no sul do Estado; re-moções forçadas e ameaças permanentes sobre ocupações de luta por moradia, como as ocupações Amarildo, Palmares e Contes-tado; perseguição e negação de direitos ele-mentares à população que vive em situação de rua; repressão policial e criminalização da população negra nas periferias, com nú-meros de assassinatos que configuram um verdadeiro genocídio da juventude negra; perseguição e discriminação à cultura e às manifestações religiosas de origem africana; ações autoritárias como a truculenta opera-ção das polícias Federal e Militar na UFSC, que atacam a autonomia universitária e que resultou em dezenas de pessoas feridas, e que ainda se desdobra num inquérito que tenta punir quarenta pessoas da comunida-de universitária; multas exorbitantes a sindi-catos e ações judiciais visando destituir suas diretorias e criminalizar dirigentes, como no caso do Sintespe – alvo do Governador Co-lombo, que faz lembrar a ditadura militar – cujos diretores foram intimados a depor na Diretoria Estadual de Investigações Crimi-nais. Igualmente inaceitáveis são a decisão judicial que mandou prender a Presidente do Sindicato dos Servidores Públicos Muni-cipais de Blumenau; os descontos salariais, processos administrativos e ameaças de de-missão promovidos pelo governo Colombo contra profissionais da educação que lutam por uma educação pública de qualidade, como os quatro professores afastados da escola João Gonçalves Pinheiro; o impedi-mento da liberdade de expressão e de livre

manifestação artística, como no caso da per-seguição política e punição às artistas res-ponsáveis pela mensagem “Cidade à Venda”, em Florianópolis.Estes atos dos poderes Executivo e Judiciário atentam contra os direitos de livre organiza-ção, manifestação e opinião, os direitos de greve e de organização sindical, direitos es-tes duramente conquistados pelos trabalha-dores na luta contra a ditadura militar e pela democratização. A repressão dos aparatos do Estado – como pelas Polícias e pelo Ju-diciário, assim como as ações dos Governos Municipais, Estaduais e Federal – tem como objetivo acuar a juventude e os trabalhado-res que buscam conquistar uma vida melhor se organizando e manifestando. Criminali-zam a pobreza e impõem, seletivamente, o peso da repressão sobre os pobres e os seto-res oprimidos da sociedade. Entretanto, lutar não é crime!Diante deste conjunto de atitudes autoritá-rias e repressivas, os presentes neste Semi-nário Estadual Contra a Criminalização dos Movimentos Sociais e Sindical, realizado no Auditório Antonieta de Barros da Assem-bleia Legislativa do Estado de Santa Catari-na, manifestam repúdio a esse processo de criminalização dos movimentos sociais e sindical e de seus militantes e exigem a reti-rada/arquivamento de todos os inquéritos e processos que atualmente tramitam no Mi-nistério Público Federal e Estadual, Justiça Estadual e Federal, Polícia Federal e Polícia Civil contra pessoas e organizações da classe trabalhadora em luta pelos direitos sociais, bem como a apuração de responsabilidade pela repressão policial e o cerceamento das liberdades democráticas de organização e luta em defesa dos direitos e conquistas so-ciais.

Florianópolis, 6 de junho de 2014

Carta de Florianópolis repudia criminalização dos movimentos sociais e sindical

Artigos

Diversas entidades de Santa Catarina, preocupadas com a violência e criminali-zação agenciadas pelos Estado brasileiro e que atingiu diretamente a comunidade acadêmica da UFSC no início do ano, se reuniram em um seminário sobre o tema em junho. Como resultado do evento, foi pu-blicada uma carta, assinada pelas entidades participantes, que faz uma síntese do que foi analisado e exige providências para que sejam salvaguardados direitos fundamen-tais dos cidadãos e cidadãs. Segue abaixo o conteúdo ca carta.

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Boletim no 9 | 30 de julho de 2014

Desde meados dos anos 2000, divulga-se aos quatro ventos a ideia que o Brasil viven-ciaria um novo ciclo de desenvolvimento, conjugando de forma inédita crescimento econômico, justiça social e ampliação da cidadania. Tal farsa ideológica sustentou-se por pouco tempo e desmoronou a partir do levante popular iniciado em junho de 2013. As lutas de classes acirraram-se no país e a polarização política ficou visível: não era mais possível sustentar o discurso da har-monia social.A resposta das classes dominantes foi ime-diata. Diante da ebulição dos levantes popu-lares, o Estado operou um conjunto de me-didas consensuais e coercitivas. No plano do consenso, o governo federal propôs um pac-to social. O primeiro ponto era a manuten-ção da política fiscal que drena 45% do orça-mento público para o pagamento da dívida interna e resulta, afinal, em parcos investi-mentos nas políticas públicas garantidoras de direitos sociais, como educação, saúde, habitação, transporte e lazer, justamente aqueles direitos clamados pelos manifes-tantes. Como expandir e melhorar serviços públicos com o saque promovido pelos ren-tistas ao orçamento? A equação não fechava e a plebe rapidamente percebeu a manobra da economia política dos rentistas. As ruas continuaram ocupadas.Em compasso com a violência da espoliação das finanças públicas, seguiu-se a intensifica-ção do uso dos aparelhos coercitivos estatais contra militantes organizados e manifestan-tes em geral. A natureza autocrática do Esta-do brasileiro, construída historicamente em períodos ditatoriais como o Estado Novo e o golpe empresarial-militar de 1964, nunca foi de fato demolida. Assim, o Estado colo-cou em marcha seus aparatos repressivos,

Lutas populares e a (re)militarização do Estado autocrático brasileiro

Rodrigo Castelo - prof da Unirio

Artigos

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reatualizando antigos métodos e, em certas localidades, como o Rio de Janeiro, aumen-tou o seu poder coercitivo. Passamos a viver, então, a (re)militarização da questão social, etapa superior da criminalização das lutas políticas e das desigualdades sociais.São inúmeros fatos que corroboram tal tese. Lembremos de alguns significativos. Em ju-lho de 2013, a grande mídia noticiou que o Exército monitorou as redes sociais, utili-zando-se de técnicas similares às da Agên-cia Nacional dos Estados Unidos (NSA). Os dados foram repassados às Polícias Federal e militares, usados para investigar e prender manifestantes. Dois meses depois, a Polícia Civil de São Paulo prendeu militantes com base na Lei de Segurança Nacional; neste mesmo período, a Polícia Civil do Rio de Janeiro utilizou-se da Lei de Organizações Criminosas para encarcerar manifestantes black blocks.No final de outubro, o ministro da Justiça José Eduardo Cardozo propôs a federali-zação das investigações contra as manifes-tações populares. Os primeiros estados a aderirem ao projeto foram São Paulo e Rio de Janeiro. Dias depois, o ministro Cardo-zo anunciou a criação de forças-tarefa para julgamentos sumários nas áreas de conflitos políticos. Nos últimos dias de dezembro, Celso Amorim, ministro da Defesa, assinou uma portaria para regulamentar o uso das Forças Armadas para a garantia da lei e da ordem, nas palavras oficiais.O quadro continuou se agravando em 2014, ano da Copa. O governo não poupou esfor-ços para garantir a segurança dos investi-mentos privados no megaevento e seus re-tornos bilionários. Segundo documento da Matriz de Responsabilidades da Copa do Mundo, foram gastos R$ 1,9 bilhão na se-

gurança do megaevento. Tais recursos foram destinados à modernização das forças milita-res com equipamentos bélicos de última ge-ração. Cursos de treinamento fornecidos pelo FBI e outras agências de segurança estaduni-denses foram ministrados aos agentes brasi-leiros, com o objetivo de aperfeiçoar técnicas de controle de “distúrbio civil”. A vigilância eletrônica, desenvolvida pela Polícia Federal e a Agência Brasileira de Inteligência (Abin), intensificou-se e acordos de cooperação inter-nacional foram assinados para apertar o cerco sobre os militantes.O Complexo da Maré foi ocupado militar-mente, a partir de 5 de abril, por uma força de 2750 soldados do Exército, Marinha e polícias, reeditando o que já havia acontecido no Com-plexo do Alemão no processo de “pacificação” das comunidades locais. Por fim, o governo federal enviou 27 mil soldados da Força Na-cional, sua guarda pretoriana, às cidades-sede dos jogos da Copa. O efetivo total dos mili-tares mobilizados ultrapassou a marca de 180 mil soldados, um recorde em todos eventos promovidos pela Fifa.O que está se desenrolando agora no Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e São Paulo ao fim da Copa, com a prisão arbitrária de militantes de organizações políticas – em flagrante viola-ção dos direitos humanos –, não é, portanto, um raio em céu de brigadeiro. É uma longa construção das classes dominantes em pro-duzir a “paz social” pelo uso intensificado dos meios militares contra as lutas sociais dos se-tores mais combativos da classe trabalhadora. A novidade é que tal militarização é pensada, articulada e executada por antigos setores da esquerda brasileira aliados aos setores mais retrógrados da nossa sociedade (e mundial), hoje empenhados na manutenção da acumu-lação dos 1% mais ricos e do status quo.

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Agenda Política Adunirio

30/7 - Ato público nacional “Protestar não é crime!”31/7 - Ato público contra a privatização do HUGG 31/7 - Debate “Saúde pública em de-bate: alternativas para os hospi-tais universitários do Rio de Janeiro” 4/8 - Reunião com a reitoria para discutir a implementação da pauta de reivindicação dos professores8 a 10/8 - Encontro Nacional de Educação (ENE)21 a 24/8 - 59º CONAD

A Adunirio se reúne no dia 4 de agosto com a reitoria para dar prosseguimento à nego-ciação da pauta local, apresentada à reitoria durante a paralisação dos professores no dia 21 de maio. As reivindicações foram cons-truídas pelos professores em assembleia, no dia 8 de maio, quando também se aprovou a manutenção do indicativo de greve (retirado no dia 4 de junho).No dia 31 de maio, a diretoria da Adunirio se reuniu com a administração da universidade para discutir a implementação da pauta, que tinha como principais eixos as condições de trabalho e os direitos dos trabalhadores, infraestrutura, democracia universitária e a crise do HUGG. A reitoria da Unirio se comprometeu a na próxima reunião apresentar um cronograma de entrega do Bandejão e uma nota pública sobre o andamento da construção do prédio do CCH, além de providenciar a rearticula-ção do Conselho Gestor do HUGG.

Outro ponto a ser enfrentado é o debate so-bre a implementação do Reuni na Unirio, com suas realizações e, principalmente, seus objetivos não alcançados. O vice-reitor José da Costa, que ficou responsável por parte dessa tarefa, disse que se enxerga “adminis-trando fracassos” diante dos projetos que não saíram do papel ou mesmo aqueles que não tiveram recursos suficientes para um bom andamento. Sobre a abertura de concursos, a Progepe informou que a Unirio encaminhou ofício ao MEC pedindo 50 vagas para docentes e, até o momento, não houve sequer resposta. A expectativa da reitoria é de que não hajam concursos até o ano de 2015.O problema com a falta de pagamento das Retribuições por Titulação (RTs) foi, por fim, solucionado pela Progepe. Embora ain-da estejam pendentes os retroativos referen-tes ao ano de 2013, a pró-reitoria já se com-prometeu a sanar o problema.

Pauta local de reivindicações é negociada com reitoria

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De acordo com o que havia sido definido pela pauta local de reivindicações dos do-centes da Unirio construída na assembleia do dia 8 de maio, foi instalada uma comis-são que reúne a Adunirio e as pró-reitorias com o intuito de regulamentar localmente a carreira dos professores. A primeira reunião, que definiu a metodo-logia a ser adotada pela comissão, elaborou também os princípios gerais que devem nor-tear todo o trabalho a ser desenvolvido.Entre esses pontos, foi ressaltada a neces-sidade de valorização da carreira docente, com o fortalecimento do tripé ensino-pes-quisa-extensão e com a ausência de diferen-ciação entre a educação presencial e o ensi-no à distância.

Comissão se reune para regulamentar plano de carreira na Unirio

Foi destacada também a defesa da educação pública e gratuita como um direito social garantido pelo Estado, da autonomia e da democracia na Universidade, assim como a importância de valorizar a estabilidade e o regime de trabalho de dedicação exclusiva.Além disso, apontou-se para a busca do for-talecimento do caráter único e integrado da carreira docente.Há um consenso por parte dos integrantes da comissão que tem discutido a carreira que o trabalho a ser realizado consiste, em boa medida, em uma espécie de “redução de danos” proporcionados pelo Plano de Car-reira e Cargos do Magistério Federal (Lei n. 12.772), apresentado pelo governo federal em 2012 em conluio com o Proifes.

Ato na reitoria no dia 21 protocolou pauta local e promoveu “brunch sem glamour”