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Boletim n o 16 | 8 de março de 2016 Boletim da ADUNIRIO Seção Sindical do ADUNIRIO Reitoria entrega servidores da Unirio à Ebserh Lutas e debates feministas Consepe derruba ad referendum da reitoria que suspendia retroatividade financeira na correção de interstícios pág 3 pág 5, 6 e 7 pág 4 Contrato assinado por Jutuca prevê que docente cedido à Ebserh tenha que pedir autorização à empresa para dar aula na Unirio.

Boletim da Adunirio n.16

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Boletim da Adunirio

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Page 1: Boletim da Adunirio n.16

Boletim no 16 | 8 de março de 2016

Boletim daADUNIRIO

Seção Sindical do

ADUNIRIO

Reitoria entrega servidores da Unirio à Ebserh

Lutas e debates feministasConsepe derruba ad referendum da reitoria

que suspendia retroatividade financeira na correção de interstícios

pág 3

pág 5, 6 e 7pág 4

Contrato assinado por Jutuca prevê que docente cedido à Ebserh tenha que pedir autorização à empresa para dar aula na Unirio.

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Diretoria: Presidente: rodrigo Castelo | Vice-Presidente: Leonardo Vilela de Castro | Secretário Geral: rodrigo Vilani| 1º Secretário: Giselle Souza | 2º Secretário: igor Silva Gak | 1º tesoureiro: andréa thees | 2º tesoureiro: elizabeth Sarah Lewis ConSeLho FiSCaL titulares: Willian G. Soares, Dayse Martins hora, enedina Soares | Suplentes: Íris a. Cerqueira, Viviane narvaes ConSeLho De rePreSentanteS: Carla Daniel Sartor, Carlo romani, José Damiro, Fábio Simas, Marcelo Carneiro de Lima aDMiniStratiVo: Claudinea Castro CoMUniCaÇÃo: Bruno Marinoni

Boletim da adunirio no 16 | 8 de março de 2016

Índice

Por uma democratização da Uniriopágina 2

Reitoria entrega servidores da Unirio à Ebserhpágina 3

reunião do Conselho de representantes analisa cenários e tarefas para 2016

página 4

Consepe derruba ad referendum da reitoriapágina 4

eleições andes-Sn e Conselho Fiscal da aduniriopágina 4

Governo Federal quer avançar na privatização da previdência social

página 5

II Encontro Nacional de Educação acontece em junhopágina 5

Lutas e debates feministas marcam o dia

internacional da mulherpágina 5

Debates: Dia internacional da Mulherpágina 6 e 7

Mobilização e greve dos professores da EaD do Rio de Janeiro

página 8

2

Cada vez mais se intensifica o processo de criminalização das lutas sociais, a restrição dos espaços de participação democrática e as medidas arbitrárias no Brasil e no mundo. Junto a isto, temos uma polarização política na qual a direita tem levado a melhor momentaneamente. Em lugares como na Unirio, em que há um esforço de mais de três décadas para se livrar do entulho autoritário herdado por uma instituição criada sob o jugo direto do ditador de plantão, pode-se observar fatos que expressam retrocessos nesse sentido. Vê-se a administração da universidade optando por seguir a cartilha que receita o fechamento do diálogo e a perseguição dos discordantes.No Brasil, embora anunciada como uma “marolinha”, a crise capitalista mundial chegou com força e trouxe consigo todo a lógica de recrudescimento da repressão e de restrição do espaço democrático. O governo federal decidiu acelerar as contrarreformas em curso desde a década de 90, que tem desmantelado a previdência social, a saúde e a educação públicas, além de reduzir os direitos trabalhistas e a capacidade de resistência dos movimentos sociais. Herdeiros de uma sociedade que se desenvolveu praticamente sem rupturas, e sim reacomodando os interesses das elites, não foi difícil para os antigos setores conservadores e as elites emergentes mobilizarem instrumentos assentados no racismo e no ódio de classe. A Ditadura empresarial-militar reluziu tardiamente, então, em instrumentos como as Unidades de Polícia Pacificadora (UPP), o Manual de Garantia da Lei e da Ordem e a Lei Antiterrorismo.Para a educação pública, diante do incremento na transferência do dinheiro público para a iniciativa

privada (principalmente por meio do serviço da dívida e dos programas de financiamento indireto das instituições privadas de ensino), sobrou o corte de verbas e a tentativa de esvaziar os espaços democráticos, transferindo os centros de decisão para entidades exteriores (Organizações Sociais, Ebserh etc.) ou restringindo-os às cúpulas.Alguns fatos específicos ocorridos nos últimos meses dão bem a dimensão de como o projeto conservador tem sido assumido por setores da Unirio. Tivemos a cassação da voz dos conselheiros em sessão do Consuni; o açodamento do processo eleitoral para reitor e para os Conselhos Superiores que redundaram em uma série de irregularidades; o grande número de decisões tomadas ad referendum (incluindo aquelas que dizem respeito a temas estruturais como orçamento, prestação de contas, calendário acadêmico etc.); a adesão à Ebserh sem decisão nas instâncias devidas e com a cessão automática de servidores da universidade para a empresa (algo que não ocorreu em nenhum outro contrato até agora); a derrubada de agentes discordantes (como no caso das exonerações da Progepe e da destituição da comissão de concursos); a criminalização dos movimentos sociais e mesmo a destruição do patrimônio público sem a observância dos processos necessários, como no caso da demolição da “Casa da Bruxa”.Por essas razões, é preciso se preocupar com os caminhos tomados pela Unirio. O momento exige um processo de reagrupamento e unidade das forças de esquerda da Unirio com a pauta da democratização universitária, atuando em temas como estatuto, orçamento, CPPD, Comissão de Carreira e HUGG.

Por uma democratização da UnirioEditorial

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Reitoria entrega servidores da Unirio à Ebserh

O contrato assinado com a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh) pelo reitor Jutuca no dia 16 de dezembro cede os trabalhadores do Hospital Universitário Gaffrée e Guinle (HUGG) à empresa. A assinatura foi firmada dois dias antes do recesso de fim de ano sem a aprovação do Conselho Universitário (Consuni), que teve a sessão do dia 11 de dezembro suspensa, diante das manifestações de crítica à proposta da reitoria de alienar o controle do hospital. De acordo com a cláusula quinta do contrato,

a escala de trabalho, a distribuição interna de competências, a alocação de pessoal, as férias, os afastamentos, o controle de frequência, de produtividade e de horas extras dos técnicos do HUGG são definidos pela Ebserh e não mais pela Unirio, instituição para a qual prestaram concurso.Nos casos em que o cedido for docente, o contrato prevê que a Ebserh “poderá disponibilizar a sua participação em atividades teóricas das disciplinas acadêmicas de seu Departamento de origem, conforme grade

curricular previamente apresentada, com carga horária semanal de até oito horas”. Em outras palavras, o professor cedido terá que pedir autorização à Ebserh para dar aula na Unirio.A Asunirio, sindicato dos técnicos da universidade, afirma em seu jornal que “o contrato firmado entre a Ebserh e a Unirio foi o pior dentre todos já assinados entre a empresa e as outras universidades”, pois o comum é que formalmente se garanta a opção ao técnico.A luta contra a cessão de trabalhadores das universidades para a Ebserh tem sido um capítulo à parte na disputa contra privatização dos hospitais universitários. No dia 3 de março, os servidores da Universidade Federal do Rio Grande de Norte divulgaram uma vitória no Tribunal de Contas da União na qual ficava garantida a sua manutenção sob a administração da UFRN. Os técnicos da Universidade de Brasília (UnB) também vêm se manifestando fortemente contra a cessão desde fevereiro. No dia 11, centenas lotaram o auditório em que era realizada audiência com o reitor vestidos com camisas com os dizeres “Cessão NÃO! Sou RJU e exijo respeito”.No Paraná, uma funcionária do Hospital das Clínicas conseguiu na justiça no dia 15 de fevereiro o direito a retornar ao trabalho após ter sido afastada por denunciar o assédio moral que vinha sofrendo por parte da gestão da empresa. A servidora, após a denúncia, estava sendo impedida de entrar na unidade. Conforme a decisão, a direção do hospital está sujeita a multa diária de R$ 500 caso a descumpra. O assédio é apontado pelos críticos da Ebserh como uma tática da empresa para constranger funcionários a abandonarem o RJU e optarem pela cessão à Ebserh sob o regime de contratação da CLT e para afastar os mais resistentes.Além de problemas referentes à cessão de servidores, notícias sobre a crise dos hospitais geridos pela Ebserh tem sido cada vez mais frequentes. Superlotação, falta de recursos e pessoal são a dura realidade dos hospitais geridos pela empresa em Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Paraná, Pernambuco, Ceará e Piauí, provando como essa é uma falsa solução.

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O Conselho de Representantes (CR) se reuniu na tarde do dia 24 de fevereiro com a diretoria da Adunirio para iniciar os trabalhos do ano de 2016. Durante a discussão foi destacado o crescimento das restrições à democracia universitária na Unirio e a necessidade de se pautar a luta por democracia e autonomia com a comunidade universitária por meio dos fóruns deliberativos da instituição e de outras formas coletivas de diálogo.O CR e a diretoria da Adunirio se propuseram a desenvolver instrumentos de capilarização das pautas do movimento docente junto aos seus associados, por meio de medidas como a efetivação dos já previstos Grupos de Trabalho temáticos. Além disso, o grupo manifestou interesse ampliar a representação do CR, em especial naquelas Unidades Acadêmicas que se encontram hoje sem representação, como o CCBS e CCJP.

Reunião do Conselho de Representantes analisa cenários e tarefas para 2016

Primeira reunião do ano contou com 80% dos membros.

Consepe derruba ad referendum da reitoria Os membros do Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (Consepe), na sessão realizada no dia 3 de março, criticaram de forma contundente a proposta de resolução da reitoria que suspendia efeitos retroativos de progressões e promoções. Assinado pelo reitor Jutuca e apresentado pelo pró-reitor pro tempore Carlos Guilhon, o ad referendum precisava da ratificação dos conselheiros para continuar em vigor. Diante da resistência manifestada, a reitoria decidiu recuar e suspender a proposta. A diretoria da Adunirio apresentou durante a sessão do Consepe um parecer jurídico no qual se defende a garantia dos interstícios dos professores e os seus efeitos financeiros.A Resolução 4330 formulada pela Comissão de Carreira e aprovada pelo Consepe regulamentou internamente os processos de promoção e progressão, que sob o regime anterior sofriam uma série de distorções como o atraso nos interstícios, o que trazia prejuízos financeiros aos docentes.

Entretanto, diante da necessidade de retroagir os efeitos financeiros do “conserto” dos interstícios, a reitoria propôs suspender os direitos dos professores ao recebimento dos valores atrasados sem mesmo consultar a Comissão. Com a medida a reitoria propunha atuar sobre uma resolução que havia sido revogada com a aprovação da 4330 e retroagir ao modelo da política do antigo RH, que retirava direitos e vinha sendo superado pela Comissão de Carreira e pela recém destituída gestão da Pró-Reitoria de Gestão de Pessoas (Progepe).A Comissão de Carreira foi constituída a partir da Pauta Local de Reivindicações docente, construída em assembleia em 2014 e apresentada à reitoria. O grupo formado vem debatendo desde então uma série de medidas para regulamentar internamente e corrigir distorções na carreira docente advinda de problemas em processos anteriores.

Eleições Andes-SN e Conselho Fiscal da Adunirio

As eleições para a diretoria do Andes-SN biênio 2016/2018 serão realizadas nos dias 10 e 11 de maio deste ano em todo o Brasil e na Unirio, como de costume, acontecem juntamente com a escolha do Conselho Fiscal da Adunirio.Este ano, apenas a chapa “Unidade na Luta” se inscreveu para participar do processo eleitoral do sindicato nacional dos docentes da educação superior. Entre os seus participantes se encontra o professor da Unirio Bruno José Oliveira, 1º Secretário da gestão anterior da diretoria da Adunirio. O Rio de Janeiro também está representado na candidatura à presidência do Andes-SN, pela professora Eblin Farage, que já dirigiu a Seção Sindical do Andes-SN na UFF, e por Luiz Acosta, professor da UFRJ e membro da atual gestão do Sindicato Nacional.O Conselho Fiscal da Adunirio, responsável pelo acompanhamento das contas do sindicato, atualmente é composto por três professores aposentados.

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O segundo mandato do governo Dilma deu a largada para a realização de uma nova fase das contrarreformas da Previdência, seguindo os passos de FHC (1998), Lula (2003 e 2005) e do seu próprio primeiro mandato (2012), no qual foi criada a Fundação de Previdência Complementar do Servidor Público Federal do Poder Executivo (Funpresp). A partir do dia 8 de março, o Fórum de Debates sobre Políticas de Emprego, Trabalho e Renda e de Previdência Social segue o cronograma de um mês de reuniões proposto pelo Ministério do Trabalho e Previdência Social para discutir o tema. A idade mínima para aposentadoria de mulheres aos 60 anos e aos 65 para os homens encontra-se entre as principais medidas propostas pelo governo. O ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, defendeu no dia 19 de fevereiro, durante o anúncio da programação orçamentária para 2016, a necessidade de uma reforma fiscal a longo prazo, com destaque para a reforma da Previdência.O mito do déficit da Previdência Social, porém, tem sido desconstruído por especialistas no tema. Maria Lúcia Fatorelli, coordenadora nacional da Auditoria Cidadã da Dívida, em seu texto “Previdência Social e Dívida Pública” defende que “a falácia do déficit

visa a atender a interesses do setor financeiro privado, que deseja o enfraquecimento da previdência social pública para que todos os trabalhadores passem a constituir fundos privados de previdência sujeitos a regras de mercado e sem garantia do Estado. A recente crise financeira que abalou economias dos países europeus e até dos Estados Unidos demonstrou que essa modalidade de previdência não garante a segurança dos trabalhadores, mas garante lucros imensos ao setor financeiro”. Além disso, a pesquisadora e militante explica que “é evidente que o sistema [da Previdência Social] é sustentável; se não garantisse vultosos lucros, o setor financeiro privado não estaria tão interessado em criar fundos de previdência privada”.Para Denise Gentil, professora de Economia da UFRJ que dedicou seu doutorado à análise do sistema de seguridade social, existe uma distorção no cálculo que leva a uma farsa. Segundo ela, o artigo 195 da Constituição exige a participação da União na composição do tripé da Seguridade Social, composto pela Saúde, Assistência Social e a Previdência. Ignorando este fato, apresenta-se um distorcido déficit de R$ 87 bilhões de janeiro a novembro de 2015.Em entrevista ao site Brasileiros.com.br,

Gentil explicou que quando o financiamento da União, composto pelas receitas da CSLL (Contribuição Social sobre o Lucro Líquido), da Cofins (Contribuição para oFinanciamento da Seguridade Social) e de concursos de prognóstico (resultado de sorteios, como loterias e apostas), é computado, “obtém-se superávit de, por exemplo, R$ 68 bilhões em 2013 e de R$ 56 bilhões em 2014, mas essa informação não é repassada para a população, que fica com a noção de que o sistema enfrenta uma crise de grandes proporções e precisa de reforma urgente”. Os motivos para a pressa na contrarreforma são claros para a pesquisadora da UFRJ. “O objetivo é cortar gastos para dar uma satisfação ao mercado, que cobra o ajuste fiscal. Nada é dito sobre os gastos com juros, que entre janeiro e dezembro de 2015 custaram R$ 450 bilhões, o equivalente a 8,3% do PIB. Ocorre que o governo fez enormes desonerações desde 2011. Em 2015, chegaram a um valor estimado em R$ 282 bilhões, equivalente a 5% do PIB, sendo que 51% dessas renúncias foram de recursos da Seguridade Social. Essas desonerações não produziram o resultado previsto pelo governo, que era o de elevar os investimentos. Apenas se transformaram em margem de lucro”, afirma.

Governo Federal quer avançar na privatização da previdência social

Sem dúvidas se pode dizer que o ano de 2015 foi de destaque para a luta das mulheres no país. Frente a um período de grandes retrocessos institucionais e de ofensivas dos setores mais reacionários da sociedade, o feminismo saiu às ruas e mobilizou grandes multidões em torno de sua pauta. Ao que parece, 2016 não será diferente. No dia 8 de março, em que se celebra o Dia Internacional da Mulher, está marcado um ato público em frente à Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro com o lema “É pela vida das mulheres, legalizar o aborto já! Não podemos pagar pela crise!”, retomando a pauta que vinha sendo trabalhada no no ano anterior.As escadarias da ALERJ foram escolhidas para denunciar a CPI do aborto que aprofunda a criminalização das mulheres e precariza suas condições de saúde. O movimento segue rumo à Cinelândia, onde se encerra o ato com diversas atividades.

Lutas e debates feministas marcam o dia internacional da mulher

Na Unirio, estão programadas algumas iniciativas para tratar do tema, como é o caso do seminário “Discutindo gênero a partir do materialismo histórico-dialético”, promovido no dia 8, às 18h30, no auditório Vera Janacopulos, pelo Núcleo de Estudos de Trabalho, Gênero e Raça/Etnia (Negrem).A Escola de Enfermagem Alfredo Pinto (EEAP), do Centro de Ciências Biológicas e da Saúde (CCBS) da Unirio definiu como tema de sua aula inaugural o Dia da Mulher, com uma programação que inicia às 8h da manhã e segue até o fim da tarde do dia 8, também no Vera Janacopulos. Os debates envolvem questões relacionadas à saúde da mulher e à sua formação social.O Boletim da Adunirio destaca nas próximas duas páginas o debate sobre esse tema, reservando a seção de artigos para discuti-lo com professoras e militantes feministas convidadas.

II Encontro Nacional de Educação acontece em junho

O movimento nacional em defesa da educação promove, nos dias 16 a 18 de junho, em Brasília, o II Encontro Nacional de Educação (ENE). O evento é precedido por encontros estaduais preparatórios, que no Rio de Janeiro está sendo coordenado pelo Fórum Estadual em Defesa da Escola Pública (Fedep) e que tem se reunido na sede regional do Andes-SN.O tema escolhido para o II ENE é a palavra de ordem “Por um projeto classista e democrático de educação”.

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Os desafios postos na conjuntura brasileira não apenas convidam o feminismo para o campo da radicalidade, intima-o! A agudização da crise no país associada ao crescente fundamentalismo religioso tem desafiado diariamente o feminismo para a defesa dos direitos das mulheres.O desmonte das políticas sociais provoca uma sobrecarga para as mulheres em relação ao trabalho doméstico não remunerado – não valorizado como trabalho e desprotegido pela previdência. No capitalismo-patriarcal somos responsabilizadas em garantir a reprodução da força de trabalho ativa, em formação (as crianças) e pelos já descartados do mundo do trabalho (idosxs e doentes). Essa sobrecarga é dificultada pela falta de equipamentos como creches, hospitais, lavanderias e restaurantes públicos, centros de convivência para idosxs e crianças, escolas em tempo integral etc. Ausência de

equipamentos sociais, precarização das políticas sociais, carestia, desemprego, é um cenário que nos exige um preço muito alto a pagar pela crise. Os dados da violência contra a mulher no Brasil também sinalizam a dimensão dos nossos desafios e comprovam a persistência do patriarcado no país, além de atestarem a ausência de políticas capazes de prevenir e enfrentar a violência. São 5 espancamentos a cada 2 minutos (Fundação Perseu Abramo/2010); 1 estupro a cada 11 minutos (9º Anuário da Segurança Pública/2015); 1 feminicídio a cada 90 minutos (Violência contra a mulher: feminicídios no Brasil, Ipea/2013); 179 relatos de agressão por dia (Balanço Ligue 180 - Central de Atendimento à Mulher/jan-jun/2015) e 13 homicídios femininos por dia em 2013 (Mapa da Violência 2015/Flasco). Esse cenário é agravado pelo conservadorismo expresso no fundamentalismo religioso associado ao desrespeito com o princípio da laicidade do Estado que atacam diariamente os direitos sexuais e reprodutivos ao passo que fazem coro com um projeto de desenvolvimento que tem provocados crimes ambientais e humanos. Das grandes obras do PAC, por exemplo, tem sobrado às mulheres exploração e violência sexual, além da expropriação dos seus meios de trabalho. Felizmente, onde há opressão e exploração, há luta e resistência. As mulheres camponesas não cansam de denunciar o agronegócio, a indústria do veneno e a expropriação das sementes. As mulheres ribeirinhas e indígenas, resistem bravamente às hidrelétricas e barragens. As sem terra enfrentam o latifúndio envenenado, ocupando terras e

produzindo alimentos saudáveis. As negras em marcha contra o racismo. As lésbicas, bissexuais e trans pelo direito à diversidade. Somos muitas organizadas em diferentes movimentos que não cansamos de gritar: FORA CUNHA! “Nossos corpos nossas regras!” “Tirem seus rosários dos nossos ovários”! Por um mundo sem exploração, racismo, machismo e homofobia! O que está em jogo são projetos de classes antagônicas. O projeto de sociedade que implementa os ajustes estruturais e responsabilizam às mulheres pelas condicionalidades de programas sociais e pela garantia da reprodução da força de trabalho, é o mesmo que explora a nossa força de trabalho desvalorizada e que permite que os nossos corpos continuem sendo apropriados, violentados e criminalizados. Nessa sociedade, não dá pra falar de capitalismo sem patriarcado e racismo. Por isso, não da para falar de feminismo sem luta de classe e luta antirracista. Afinal, são as mulheres negras as que mais sofrem violência, que morrem por abortos clandestinos e estão nos trabalhos mais precarizados. Um projeto feminista articulado ao compromisso com a emancipação humana, demanda a luta contra o capitalismo, o racismo, o machismo e a homofobia. Isso significa ter coerência com valores revolucionários, contrários a todas as formas de opressão e exploração, inclusive, no interior da esquerda, na qual, ainda persistem “esquerdo-machos” que violentam suas companheiras, que reforçam a divisão sexual do trabalho e da política, que nos olham como objetos sexuais, além de expressarem, por vezes, homofobia e racismo.

Não somos nós, mulheres trabalhadoras, as responsáveis pela crise. Não somos nós que devemos pagá-la!

Debates

Mirla Cisne - militante feminista e Profª de Serviço Social da UERN

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A Primavera das Mulheres, como ficou conhecida a grande mobilização pelo “Fora Cunha” ao longo do ano de 2015, expressa o nosso potencial organizativo nacional, com destaque para a Marcha das Mulheres Negras à Brasília, que reuniu cerca de 20 mil nas ruas. Nós mulheres estamos cada vez mais reafirmando nosso protagonismo, ocupando espaços historicamente “destinados” aos homens, como a política, a economia, algumas profissões, as Escolas (a exemplo da mobilização dxs secundaristas em São Paulo), construindo coletivos de esquerda, e sobretudo ocupando as universidades, sejam como discentes sejam como servidoras. Não sem sofrermos os históricos ataques à nossa condição de ser mulher. Em sua trajetória, o ensino superior brasileiro tem origem somente em 1808, com a chegada da família real portuguesa, visto que a Corte não permitia a criação de uma

A luta das mulheres e a universidade: ocupemos!

Janaína Bilate - militante feminista e Profª de Serviço Social da Unirio

Debates

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universidade em sua colônia, ao contrário da Espanha. Prenúncio do caráter elitista desta esfera educacional. A primeira faculdade foi a de Medicina, da Bahia, mesmo assim para atender necessidades militares. Somente em 1879 é permitido à mulher frequentar curso superior e, oito anos depois, a primeira ingressa numa faculdade no país. Dado um salto temporal, o Censo de 2014 revela que este quadro mudou consideravelmente. Quanto aos dados em relação às/aos discentes, o INEP não considera gênero, e sim sexo. Deste modo, vamos considerar o sexo e pensar no aumento da taxa de mulheres, o que não significa que estas sejam do gênero feminino. O Censo 2014 aponta que 57,91% do total de 13.695.024 milhões de matrículas no ensino superior (7.828.013 da rede pública e 5.867.011 na rede privada), considerando Universidades, Centros Universitários, Faculdades e CEFETs/IFETs, são de pessoas do sexo feminino, contra 42,09% de pessoas do sexo masculino. Quando verificamos os dados em relação aos concluintes, este número é de 61% de mulheres. Em relação às/aos docentes, dos 383.386 mil, 209.870 são do sexo masculino, contra 173.513 do sexo feminino; ou seja, 54,74% são homens e 45,26% são mulheres. Este dado é significativo, ao pensar que, desde 2001, segundo os Censos do Ensino Superior realizados pelo INEP, é mantida uma média em torno de 40% de docentes do sexo feminino (57,84 docentes do sexo masculino/42,16 docentes do sexo feminino, 2001). Longe de ser o que queremos! Os homens ainda são maioria no mercado de trabalho formal. De fato, a aparência do processo não revela os fatores que influenciam tanto no ingresso quanto no término. Discutir as relações patriarcais de gênero sob uma perspectiva

marxista é fundamental para o desvelamento desta realidade. O fato de estarmos ocupando os espaços não expressa uma conquista imediata das nossas pautas. Mais mulheres com ensino superior não refletem conquistas em nível de salário, por exemplo. Estes ainda continuam diferenciados para baixo em relação aos dos homens, salvaguardando as esferas que conquistamos a isonomia salarial. Ainda temos muito que enfrentar! No entanto, um estudo publicado na Revista Pesquisa Fapesp (dez/2015) sobre a carreira docente na Unicamp revela que professoras do sexo feminino têm mais dificuldade de chegar ao topo da carreira do que os do sexo masculino nas áreas de Linguística, Educação e Medicina, cursos em que as mulheres estão em maior número. Contraditoriamente, a mesma pesquisa revela que as professoras mulheres têm mais chances de atingir o topo de sua trajetória profissional nos cursos de Engenharia Mecânica e Agrícola, nos quais são a minoria do quadro docente. É necessário ainda aprofundar as pesquisas para compreendermos o quadro real. Mesmo com grandes conquistas, enfrentamos nas universidades as reproduções da sociabilidade burguesa e seus valores conservadores, dos quais podemos destacar o machismo, o sexismo, o racismo e a homofobia. Ainda sofremos com o machismo em diversos níveis: desde o ídeo-político à violência física (vide o recente “Manifesto das Estudantes Brasileiras contra a Violência Sexual nas Universidades”). Faz-se mister nos comprometermos a lutar por uma universidade plural e igualitária. A unidade da luta deve ter como norte uma pauta classista e anticapitalista, na direção da construção de uma outra sociabilidade, que tenha a liberdade como valor ético central. O protagonismo das mulheres é cada vez mais necessário! Ocupemos!

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Diante do atraso no pagamento das bolsas e da precariedade das condições de trabalho, as mobilizações dos professores da Educação a Distância (EaD) do estado do Rio de Janeiro em defesa dos direitos vêm crescendo. No dia 27 de fevereiros, os professores-tutores do polo Macaé entraram em greve com uma pauta em que cobram do Cederj (Centro de Educação Superior a Distância do Estado do Rio de Janeiro) a realização dos pagamentos atrasados de dezembro e janeiro, o estabelecimento de um calendário para os próximos pagamentos e a abertura de negociação por melhores condições de trabalho. Os pólos de Nova Friburgo e Caxias realizaram paralisação no dia 27 e prevêm a possibilidade de não realizarem as avaliações presenciais.O governo Pezão informou aos professores que recebem a bolsa Cederj que realizará o pagamento de dezembro no sétimo dia útil de março e que “foi feito um calendário para regularização destes atrasos, com o pagamento de duas bolsas em julho e duas bolsas em agosto”. A proposta é considerada absurda pelo movimento de educadores a distância.

Segundo a Associação dos Docentes e Profissionais da Educação a Distância (Adopead - SSind), os professores em Macaé, além de não receberem a bolsa, estão tirando dinheiro do próprio bolso para pagar material de trabalho como papel e toner, comprar água para beber no horário de serviço e custear o seu transporte que em boa parte das vezes é intermunicipal. Sem espaço garantido para as aulas, são obrigados a sair das salas em que realizam os encontros presenciais com os estudantes para ceder o espaço para os professores efetivos do Instituto Federal Fluminense (IFF) quando há conflito de horários.No início de fevereiro, os professores-tutores do Rio de Janeiro decidiram em assembleia promover um “apagão” nas atividades da plataforma Cederj, em protesto pelo atraso de três meses no pagamento das bolsas (o mês de novembro foi pago depois do carnaval) e pelas condições precárias de trabalho. A ação consistiu no ocultamento das atividades de Educação a Distância (EAD) disponíveis on-line até o dia 18 de fevereiro. No lugar,

foi publicada uma nota explicativa da situação em que se encontram.Em postagem nas redes sociais, os professores de Nova Friburgo denunciam que a desqualificação do trabalho dos educadores a distância tem afastado profissionais qualificados, embora a maior parte do quadro ainda seja de profissionais com pós-graduação. “Um trabalho realizado por profissionais de qualidade, mão de obra boa e barata. Ou melhor, de graça ... Aqui em Nova Friburgo, dos 53 tutores, apenas 10% possui apenas graduação. Os demais são especialistas, mestres ou doutores. Não temos os dados dos outros polos, mas temos a certeza de que não é diferente”, afirmam.A Adunirio recebeu em sua sede no dia 29 de fevereiro algumas integrantes da Adopead, que lhe repassaram um relato da situação enfrentada atualmente. A Adopead foi homologada como sessão sindical do Andes-SN no congresso realizado entre os dias 25 e 30 de janeiro. A educação estadual do Rio de Janeiro passa por uma grave crise. Já foram decretadas greves de professores e servidores na Uerj, na educação básica e técnica.

Mobilização e greve dos professores da EaD do Rio de Janeiro

Adopead visita polo de Macaé em greve.

Adunirio recebe Adopead para discutir apoio.