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Boletim Especial 38ª Reunião Anual da SBQ

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Boletim Especial da 38ª RASBQ - Sociedade Brasileira de Química - SBQ. Editor Científico: Luiz Fernando Silva Jr Editor Executivo: Mario Henrique Viana Reportagem e Textos: Juliana Elias e Mario Henrique Viana Fotografia: Gerson Cordeiro Projeto Gráfico e Layout: Editora Cubo

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Goiânia 2016O Centro-Oeste foi escolhido como sede da próxima Reunião Anual da SBQ, que será realizada de 30 de maio a 2 de junho, no Centro de Convenções de Goiânia. A participação das secretarias regionais de Goiás, Distrito Federal e Mato Grosso do Sul será fundamental na organização e no sucesso do evento. Será a primeira RA nesta região.

O planejamento da 38a Reunião Anual da SBQ começou um ano antes ainda em Natal durante a 37a RA. Foram várias reuniões, milhares de e-mails, centenas de cartas, inúmeros telefonemas. Um trabalho árduo e contínuo com algumas noites sonhando que tudo seria perfeito, outras madrugadas pensando no que poderia dar errado.

O evento é planejado contando com a participação voluntária de muitas pessoas. O impacto positivo causado nos participantes com novas ideias nos antigos projetos e novos planos para a carreira acadêmica é o melhor resultado da Reunião. Assim, não teria nenhum efeito a presença de ilustres palestrantes se a plateia estivesse vazia. Também não teria sentido ter uma excelente banda tocando para ninguém. Enfim, são realmente muitas as dúvidas que passam pela cabeça de quem está organi-zando um evento deste porte! É sem dúvida um longo ano até chegar o dia da abertura.

Felizmente quase duas mil pessoas vieram para Águas de Lindóia! As salas estavam cheias com as mentes fervilhando com novos pensamentos. Impossível ficar insensível com as palavras fortes do prêmio Nobel sobre a importância de buscar as melhores instituições durante a formação. Certamente planos diversos foram reali-zados durantes as inúmeras atividades. Novos projetos de colaboração foram delineados em computadores, guardanapos ou mesmos na pele da mão. Também foi bom ver os sorrisos pelos corredores e muitos dançando pela madrugada.

Nesta revista destacamos algumas das atividades que ocorreram durante a 38a Reunião Anual. Foi preciso eleger algumas prioridades devido a restrições de espaço.

Esta revista faz um registro histórico da 38a RA, sendo uma excelente oportunidade para recordar ou para ver o que perdeu.

Quero agradecer aos meus colegas das Comissões Organizadora e Científica, à Diretora Executiva da SBQ, Sra. Dirce Campos, e a todos os funcionários da secretaria da SBQ em São Paulo. Agradeço também aos assessores ad hoc pela avaliação dos quase 1.500 resumos subme-tidos. Toda esta equipe é igualmente importante. FAPESP, CAPES e CNPq são valiosos parceiros no financiamento deste evento de forma contínua.

A atmosfera da RA foi tão leve e bem-humorada, que o Nobel convidado recebeu de presente uma lata de doce de leite, um presente bem brasileiro, que ele ergueu feliz como se fosse um outro prêmio. É por isso a imagem que escolhemos para a capa desta revista.

Foi muito gratificante receber elogios de diversos alunos e pesquisadores durante e após o evento. Contudo, o melhor foi ouvir acidentalmente ao caminhar pelos corredores dois alunos falando um ao outro do quanto estavam gostando do evento. Algo assim renova as energias e motiva para tentar fazer da 39a Reunião Anual da SBQ um evento melhor! E já começamos a tra-balhar para a 39a RA que será realizada pela primeira vez na região Centro-Oeste de 30/maio a 02/junho de 2016 em Goiânia. Reserve esta data. Nos vemos em Goiânia!

Forte abraço,

Luiz F. Silva JrSecretário Geral da SBQ

Presidente da Comissão Organizadora da 38a e da 39a RAs

Editorial

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Com auditório para 1.500 pessoas lotado, a 38ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Química foi aberta em clima bem-humorado e festivo. Em seu discurso, o presidente da SBQ, Adriano D. Andricopulo, destacou a trajetória da entidade que conseguiu, pela primeira vez, trazer para o Brasil o mais importante evento da comu-nidade Química internacional, o Congresso da IUPAC. Ele anunciou que o evento de 2017 será realizado em São Paulo, de 9 a 14 de julho, em meio às comemorações de 40 anos da entidade.

Andricopulo fez um balanço das recentes ações da entidade, que retomou a realização de encontros regionais em 2014, voltando ao Nordeste depois de 25 anos, e na Região Norte, onde houve Encontros Regionais em Manaus e em Belém. “Cabe aqui valorizar estas ações e o envolvimento essencial de nossas Secretarias Regionais na promoção do debate de vários temas ligados à Química das regiões, porque precisamos cada vez mais reconhecer os

Andricopulo celebra conquistas recentes da SBQ, anuncia data da IUPAC 2017 e alerta para gravidade da crise econômica

Adriano D. Andricopulo, presidente da SBQ

desafios locais e buscar oportunidades de integração e desenvolvimento”, declarou o presidente da SBQ.

Ele manifestou preocupação com os rumos da economia e suas consequências na educação: “No vasto campo das preocupações, devo me referir aos abalos sofridos pela economia brasileira com

crises internas e internacionais de gravíssimas proporções, que tem afetado o crescimento e diminuído as oportunidades em vários setores importantes. Devo me referir aos rumos da educação, da ciência e da tecnologia em nosso país, e ao seu impacto na desigualdade econômica e social e na própria desigualdade científica e tecnológica, que, evidentemente, se manifesta em todos os espaços nacionais. Contudo, a complexidade e as dificuldades do

momento não são motivos para timidez, desânimo e recuo; ao contrário, mais do que nunca, é necessário que possamos identificar os nossos interesses e estarmos prontos para defendê-los a fim de encontrar soluções.”

“O momento exige que estejamos prontos para

defender nossos interesses a fim

de encontrarmos soluções”

SESSÃO DE ABERTURA

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entretanto, que a habilidade em manipular moléculas se voltou para a busca de medicamentos voltados para as doenças tropicais deixadas de lado pela indústria.

Em 2008 teve um projeto selecionado pela Organização Mundial da Saúde para a pesquisa de

soluções para a doença de Chagas e, em 2012, foi convidado a participar da rede internacional de pesquisadores de duas ONGs especializadas nesses tipos de distúrbio, ambas sediadas em Genebra: a Medicines for Malaria Venture (MMV), voltada ao combate desta que ainda é a doença parasitária que mais mata no mundo, e a Drugs for Neglected Deseases initiative (DNDi), que, além da malária e Chagas, também busca tratamentos para leishmaniose, doença do sono, HIV infantil e outras.

“A nossa meta é desenvolver um candidato clínico forte para a doença de Chagas e a malária, duas doenças endêmicas do Brasil, em até cinco anos, com o objetivo de erradicá-las”, diz o professor. Isso não significa que ainda

não exista nenhuma forma de tratamento para elas, mas as opções disponíveis atualmente ainda pecam em uma série de fatores que acabam diminuindo sua eficácia, como os longos períodos de dosagem, os fortes efeitos colaterais e a criação de resistência nos parasitas. “São remédios muito tóxicos e que devem ser tomados por cerca de 40 dias, então as pessoas acabam abandonando o tratamento no meio”, segundo Dias.

Outro desafio perseguido pelos colaboradores da DNDi e da MMV passa pela necessidade de compostos

Será possível imaginar um mundo onde a malária, uma doença que ainda mata 580 mil pessoas por ano, sendo 80% crianças, esteja erradicada? Ou então livre da doença de Chagas, distúrbio que contabiliza atualmente 7 milhões de infectados em grande parte dos países em desenvolvimento?

Para Luiz Carlos Dias, é. O brasileiro nascido em Balnerário Camboriu-SC, e radicado em Campinas (SP), onde coordena o Laboratório de Química Orgânica Sintética da Unicamp, é uma das peças-chave de um projeto global que visa o desenvolvimento de medicamentos eficientes e a erradicação destas e outras doenças semelhantes no mundo. “São as chamadas doenças negligenciadas”, explica. “Típicas de países pobres, elas não rendem lucros financeiros e despertam pouco interesse das grandes farmacêuticas.”

Dias foi o convidado da Sociedade Brasileira de Químicos (SBQ) para ministrar a palestra de abertura do 38ª. Reunião Anual da entidade. Na oportunidade, contou em detalhes sobre este e outros trabalhos que acontecem sob sua coordenação e têm colaborado para inserir o Brasil na linha de frente da pesquisa científica global.

Com graduação em Química pela Universidade Federal de Santa Catarina, doutorado pela Universidade de Campinas (Unicamp) e o pós-doutorado em Harvard, nos Estados Unidos, Dias se especializou em síntese orgânica, área à qual dedicou seus vinte anos de pesquisa acadêmica até aqui. Foi só nos últimos oito,

Um guerreiro contra as doenças neglicenciadasLuiz Carlos Dias, da Unicamp, falou sobre seu trabalho em Química Orgânica Sintética na conferência de abertura da 38ª. RASBQ

CONFERÊNCIA DE ABERTURA

“A nossa meta é desenvolver um candidato

clínico forte para a doença de Chagas e a malária, duas

doenças endêmicas do Brasil, em até cinco anos, com

o objetivo de erradicá-las”

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que sejam resistentes à umidade superior a 65% e às temperaturas acima dos 35 graus comuns às regiões onde esses parasitas se proliferam. “É um desafio enorme, mas, mesmo que não descubramos nada, eu vou poder olhar para trás, daqui a 20 anos, e ficar tranquilo porque pelo menos eu tentei”, diz Dias, emocionado. “Há crianças morrendo disso, e, em 2015, isso é inadmissível. É um trabalho que pode realmente salvar vidas.”

A conferência de abertura teve como novidade este ano o serviço de tradução simultânea para o Português. “É um trabalho importante, para que os cientistas estrangeiros possam participar melhor”, afirmou o secretário-geral da SBQ Luiz Fernando Silva Jr. E mesmo com o ritmo empolgante do conferencista o trabalho foi bem feito. Omar Yaghi, um dos conferencistas convidados para a RASBQ, elogiou o trabalho. “A tradutora certamente tinha bons conhecimentos em química e creio que não perdi nada da ótima conferência do professor Luiz Carlos Dias”, observou.

Lanousse Petiote, doutorando em Química Inorgânica na Unicamp, gostou da conferência de abertura. “Achei muito bacana. Eu já havia conversado com o professor Luiz Carlos Dias e o que ele falou hoje expressa de fato quem ele é”, disse o químico haitiano, que chegou ao Brasil em agosto de 2011, por meio de um programa de intercâmbio, e hoje é um aluno regular da pós-graduação.

A professora Rossimiriam Freitas, da UFMG, esteve presente à cerimônia de abertura e elogiou tanto a escolha do conferencista quanto a sua fala. “O Luiz Carlos Dias é fantástico, uma pessoa a quem admiro muito. A evolução de sua carreira é única em sua geração”, declarou.

Luiz Carlos Dias, professor e pesquisador da Unicamp

“É um desafio enorme, mas, mesmo que não

descubramos nada, eu vou poder olhar para trás,

daqui a 20 anos, e ficar tranquilo porque pelo

menos eu tentei”

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AS LIÇÕES E O LEGADO DE CIECHANOVERVencedor do Prêmio Nobel de 2004 por suas descobertas sobre o funcionamento da ubiquitina estimula a pesquisa básica

SESSÃO COM O NOBEL

Sua primeira publicação científica sobre o processo de degradação de proteínas intracelulares foi recusada por alguns periódicos em 1978 e acabou publicada em uma revista de “menor relevância”. Por mais alguns anos, apenas ele e seu entusiasmado grupo seguiam na pesquisa básica que grande parte da comunidade científica desprezava. “Eu ouvi de cientistas mais experientes que eu estava cavando minha própria sepultura, e fui em frente”, contou Aaron Chiechanover a cerca de mil presentes à sua conferência na 38ª. RASBQ.

Em 2004, seu trabalho tido como “de pouca relevância” em 1978 havia crescido e conquistava o Prêmio Nobel de Química. “Cerca de 50% do que descobrimos estava naquele artigo de 1978”, lembrou o bem-humorado cientista, que desvendou os segredos da ubiquitina e abriu caminho para novas formas de tratamentos de tumores com muito maior eficiência sobre as células malignas e sem o impacto indesejável – da antiga quimioterapia – de atacar também células saudáveis.

“Quando eu comecei, não tinha a menor ideia do que viria pela frente. Eu tinha apenas dúvidas, curiosidade, e muita vontade de trabalhar”, contou. Ciechanover, aos 30 anos de idade abandonou a carreira como cirurgião e voltou à academia. Desde 2004, suas descobertas não param de crescer. Hoje já são conhecidas mais de 2 mil proteínas intracelulares do sistema ubiquitina, muitos cientistas estão aprofundando suas investigações e seus primeiros artigos somam dezenas de milhares de citações.

PAIXÃO, PERSISTÊNCIA E BOA ORIENTAÇÃOCiechanover falou com exclusividade com Boletim Especial da SBQ sobre o que é preciso para formar bons pesquisadores, os desdobramentos de suas descobertas e a medicina personalizada.

A ciência é o motor do desenvolvimento?Não tenho dúvidas sobre isso. Os recursos humanos são mais importantes que as riquezas naturais, como petróleo, urânio e outras. Israel tem demonstrado isso. Quanto mais educado for um povo e o quanto mais avançado for um país, melhor para a democracia, a liberdade de pensamento e expressão, o desenvolvimento da saúde, da qualidade de vida e tudo o mais. Então depender de recursos naturais é destrutivo. É preciso dirigir os jovens para a ciência e a tecno-logia. Infelizmente no meu país a juventude hoje busca soluções fáceis das indústrias “pontocom”. Temos que ser proativos em mostrar a eles o quanto a ciência é importante do ponto de vista individual e coletivo.

O que é preciso para formar pesquisadores de sucesso?Muitas coisas. Trabalho duro, devoção, paixão... Para mim, ciência é um estilo de vida, não é

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um emprego. Se você não olhar para a ciência como um hobby, algo que você quer fazer o dia inteiro, não terá chance. Também é preciso se cercar de bons mentores e orientadores. Os meus foram excelentes, desde o ensino médio. Você tem que estar nas melhores instituições de ensino. Tem que ficar atento às oportunidades, porque as coisas mudam rapidamente. E sorte, que também requer atitude. Ninguém ganha na loteria se não comprar um bilhete.

Quais os avanços recentes do seu trabalho sobre a ubiquitina?O trabalho evoluiu muito. Hoje já dezenas de milhares de publicações, entendemos muito melhor seu funcionamento e a indústria farma-cêutica aderiu. As grandes empresas estão todas conduzindo pesquisas para encontrar nos alvos. Hoje temos muitos fármacos no mercado, um deles, muito eficiente contra o câncer, rende US$ 3 bilhões por ano e em breve teremos muitos outros medicamentos, cuja raiz é nossa descoberta dos anos 70. Se esse trabalho fosse só uma questão de aumentar o conhecimento da humanidade – como a constatação de que o universo está expandindo – ainda assim eu estaria satisfeito, porque sou um cientista. Mas nosso trabalho foi imediatamente aplicado para a produção de medicamentos que salvaram milhões de vidas. E isso me deixa especialmente feliz.

Luiz Henrique Catalani, vice-presidente da SBQ, e Aaron Ciechanover, em debate com o público

Ao final, muitos queriam mais uma palavrinha com o Nobel

Repercussão

Jeffrey I. Zink, conferencista convidado, UCLA: Gostei particularmente de seus comentários para os estudantes, sobre a importância de buscar bons mentores, de se dedicar ao trabalho, de sempre explorar e tentar novas coisas.

Rômulo Jesus, aluno da UFRJ: O discurso do Nobel foi bastante inspirador, principalmente para nós, cientistas jovens. Ele destacou a diferença que faz o incentivo do governo e o comprometimento com a qualidade de vida, que também o governo deve ter com a população.

Luiz Henrique Catalani, IQ-USP, Vice-Presidente da SBQ: Sua ciência é impactante, e a forma tão franca e relaxada como ele transmitiu sua visão de ciência e da carreira é muito importante para os jovens.

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CONFERÊNCIAS

Yaghi já estuda a segunda geração de MOFs

Omar Yaghi

MOFs: a revolução na química dos materiaisPolímeros, ligas metálicas e materiais compostos foram muito importantes no Século 20 – e ainda o são. Mas a realidade dos MOFs (Metal Organic Frameworks), criados pelo químico Omar Yaghi, na Universidade da Califórnia Berkeley, está abrindo novas possibilidades para a química dos materiais.

Essas estruturas, minúsculas e de enorme área de superfície, que são ao mesmo tempo orgânicas e inorgânicas, já tornam possível o armazenamento do combustível metano, da água ou do dióxido de carbono, com aplicações úteis à economia e ao meio-ambiente. Já existe o protótipo de um automóvel movido a hidrogênio, com um tanque de combustível construído com MOFs que permite o acumulo de três vezes mais combustível do que um tanque comum. Os MOFs também já são utilizados em filtros de emissões gasosas de usinas energéticas (movidas a carvão, petróleo ou gás natural) de modo a sequestrar o dióxido de carbono. Outra novidade é um dispositivo que retira água da atmosfera para liberá-la em concentrações maiores, com economia de energia.

Yaghi, que tem 357 artigos publicado com mais de 68 mil citações e índice h 103, tem apoiado a construção de laboratórios em diversos países, que permitem que estudantes do ensino médio produzam seus próprios MOFs a partir de suas próprias ideias para aplicações. “Atualmente a cada ano milhares de MOFs são produzidos por muitos químicos mundo afora”, contou.

Yaghi, que tem por hábito dormir cedo e manter a cabeça arejada a novas ideias ao ler livros de assuntos que desconhece, já pensa nos próximos passos: MOFs “inteligentes”, ou seja, materiais estruturados como os MOFs, mas com a característica de guardar informações diferentes. Ele os chama de MTV (Multi Variat)-MOFs. “São materiais quimicamente ricos em informações, e que terão mais versatilidade e mais aplicações”, descreve. “Meus alunos pensam em termos de aplicações. Eu penso em termos de novas descobertas.”

“Uma nova descoberta é a maneira que a natureza tem de se revelar às pessoas”

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Donna Blackmond

O doce mistério da origem da vidaDuas coisas podem acontecer se Donna Blackmond lhe estender mão direita, e você tentar cumprimentá-la com a sua mão esquerda: o cumprimento será desconfortável, frouxo, não funcionará; e talvez ela se disponha a tomar alguns minutos para lhe explicar sobre a homoquiralidade e as origens da vida, tema a que tem dedicado sua curiosidade, estudos e intensa pesquisa desde os anos 80. “Mão direita cumprimenta mão direita. É assim que funciona, e é assim que nossos aminoácidos e açúcares reagem”, afirma.

O que sempre a intrigou – e a muitos cientistas de diversas áreas – é por que todos os seres vivos são homoquirais, ou seja, seus aminoácidos e açúcares apresentam um dos dois formatos quirais possíveis. E se foram conectados a quirais opostos, coisas ruins podem acontecer. É o caso da talidomida, doença provocada pelo uso em grávidas de um fármaco testado apenas em homens. O fármaco era heteroquiral e, ao mesmo tempo que a parte da molécula que combinava com as enzimas humanas aliviava náuseas, a parte que não combinava impedia que se formassem os braços dos fetos. “Hoje já sabemos como produzir fármacos com a quiralidade funcional”, observa Donna, que vê resultados de seu trabalho teórico colocados em prática pela indústria farmacêutica.

“Se você tentar produzir aminoácidos em um laboratório, reunir os ingredientes e as condições necessárias, não há nenhum motivo para que naturalmente você consiga moléculas apenas ‘direitas’ ou ‘esquerdas’. Mas por algum motivo nos seres vivos é assim”, explicou, em sua conferência na RASBQ. “O resultado natural é uma amostra equilibrada entre as duas quiralidades. Então como os seres vivos só apresentam uma das formas? O que teria acontecido na ‘sopa pré-biótica?”, ela indaga para responder em seguida. “Jamais saberemos porque não estávamos lá, mas podemos saber o que pode ter acontecido.”

Sua pesquisa é acompanhada de perto pelo filho pré-adolescente que ficou preocupado certa vez quando viu a mãe na capa de uma publicação de Harvard e perguntou: “Quando desvendar o segredo da vida você não terá mais emprego?”

A pesquisa de Donna ajudou a desenvolver medicamentos melhores

“Se você tentar produzir aminoácidos em um

laboratório, reunir os ingredientes e as

condições necessárias, não há nenhum motivo para que naturalmente você consiga moléculas

apenas ‘direitas’ ou ‘esquerdas’. Mas por

algum motivo nos seres vivos é assim”

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Zink começou sua pesquisa por “pura curiosidade”

Jeffrey Zink

Pequenas soluções para grandes doençasO tratamento contra o câncer e algumas doenças infecciosas é o alvo da intensa pesquisa e dos repetidos experimentos do norte-americano Jefferey Zink. Seu desafio não é pequeno: ele se propôs a desenvolver uma nanoplataforma terapêutica que permite que as doenças sejam tratadas apenas nas células prejudicadas, de forma a diminuir substancialmente os efeitos colaterais de uma quimioterapia tradicional. Já obteve resultados favoráveis em testes com ratos e caminha na direção de testes em humanos. Na 38ª. RASBQ, ele a explicou a uma plateia formada por graduandos, pós-graduandos e pesquisadores.

“A plataforma é capaz de transportar grandes cargas de moléculas distintas, é programável para encontrar apenas as células tumorais ou infectadas, permite controle da válvula que libera os fármacos e tem níveis de toxicidade mínimos”, disse Zink.

Foi um percurso de trabalho intenso. “O primeiro desafio superado foi como obter partículas tão pequenas. Hoje já sabemos como fazê-las. Como colocar moléculas diferentes nestas partículas foi outro grande passo. Depois aprendemos a controlar as ações do dispositivo... Cada passo requer muito esforço. Você tenta construir, depois tem que demonstrar que construiu, depois tem que provar que funciona, que pode encontrar as células-alvo...”, explicou o cientista de UCLA.

As nanoválvulas de Zink são visíveis apenas com a utilização de microscópios eletrônicos. Elas medem 1 nm e são carregadas por partículas de 50nm.

Ele explicou que o “controle remoto” das válvulas pode ser acionado de três maneiras. Externamente pela aplicação raios infra-vermelhos, ou pelo acionamento de campos magnéticos. E internamente por reações químicas em que a o processo se beneficia de propriedades das células-alvo.

Quando ele embarcou nessa missão, que hoje abre um campo inédito para a medicina, não tinha noção da grandeza daquilo que viria a conquistar. “Comecei por pura curiosidade. Eu queria saber se seria possível construir coisas tão pequenas.”

“Cada passo requer muito esforço. Você tenta construir, depois tem que demonstrar que construiu, depois tem que provar que funciona”

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James Dumesic

Do petróleo à biomassaA trajetória do engenheiro químico americano James Dumesic é um bom reflexo da trajetória dos combustíveis na sociedade moderna. Hoje especialista nos processos químicos na produção de biocombustíveis e bioquímicos, nos anos 80 e 90 Dumesic trabalhou no refino de petróleo. Apenas nos últimos 15 que voltou seus conhecimentos em refino para as fontes renováveis.

“Foram anos trabalhando com a catálise de petróleo. Era o que todos nós fazíamos”, conta. Desde a sua descoberta como uma poderosa fonte de energia, ainda no século 19, o petróleo se tornou o grande motor do mundo. Só nas últimas décadas dois grandes fenômenos passaram a abalar seu monopólio: primeiro foram os choques de preço provocados pela Opep nos anos 70, que acabaram de vez com a era do petróleo fácil e barato. Depois, na década de 80, a descoberta de que havia um buraco se abrindo na camada de ozônio e ameaçando o futuro do planeta inaugurou definitivamente a preocupação com os limites do nosso desenvolvimento.

“Foi em 1999 que eu comecei a me voltar para a biomasa e percebi que havia uma série de problemas para os quais muito pouco se havia olhado”, diz Dumesic. “Para um cientista como eu, era uma oportunidade fascinante de pesquisa. Tudo era completamente novo.”

Dumesic apresentou, durante a 38a Reunião da SBQ, o seu mais recente trabalho, que investiga as reações da biomassa durante a fase líquida. Trata-se de parte chave do processo de transformação de despejos orgânicos, como o bagaço de cana ou de milho, em combustíveis verdes e compostos químicos que substituam os derivados do petróleo. “A catálise surgiu e sempre foi feita com o petróleo, mas no estado gasoso”, explica. O problema é que a biomassa não suporta as mesmas temperaturas que o concorrente fóssil, e se deteriora antes de virar evaporar. “Ainda é o preço do barril de petróleo o que determina se vale ou não investir em fontes alternativas. Por isso toda forma de barateá-las e torná-las mais eficiente é bem vinda”.

“Ainda é o preço do barril de petróleo o que

determina se vale ou não investir em fontes

alternativas. Por isso toda forma de barateá-las e

torná-las mais eficiente é bem vinda”

Dumesic começou sua carreira na catálise de petróleo

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Química iluminadaExposição celebra Ano Internacional da Luz

ANO INTERNACIONAL DA LUZ

O uso químico da luz está em várias coisas ao nosso redor. Está nas fotografias que revelamos, no filtro solar que protege a nossa pele, nas chamas coloridas do fogão ou no branco das roupas dado pelo sabão em pó. “Na verdade o sabão não deixa as roupas brancas. Aquilo é a luz refletida em um agente fluo-rescente azulado que, quando o lençol é sacudido na janela, o sol faz parecer branco e esconde o amarelado", explica Etelvino Bechara, professor sênior do Instituto de Química da Universidade de São Paulo e um dos fundadores da SBQ. “A luz tem diversas aplicações, muitas delas sendo utilizadas pela indústria e nós nem sabemos”

A amostra do tecido com uma coloração diferente sob a luz negra com a ação de agentes do sabão em pó foi um dos experimentos apresentado na expo-sição “Ano Internacional da Luz”, que aconteceu ao longo dos quatro dias da 38a Reunião da SBQ, em Águas de Lindoia. A importância das várias formas de emissão de luz para a química e, por meio dela, para a sociedade, foi o tema escolhido para a exposição, aproveitando o ensejo internacional: em dezembro de 2013, a Assembleia Geral das Nações Unidas determinou que 2015 seria o Ano Internacional da Luz e das Tecnologias Baseadas em Luz, com o objetivo de estimular a promoção e pesquisa do tema de diversas formas.

“Para nós, foi uma oportunidade de fazer esta exposição e a divulgação de trabalhos científicos trabalhando para a popularização da ciência entre jovens e estudantes que, em algum momento, terão que escolher sua carreira”, disse Rossimiriam Freitas, professora da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e uma das organizadoras da exposição, ao lado do professor Etelvino Bechara, da USP e do professor Alfredo Luis Mateus, do Colégio Técnico da UFMG. A exposição recebeu a visita de mais de 300 alunos de ensino médio da rede pública de Águas de Lindoia, que tiveram a oportunidade de acom-panhar dez experimentos montados no estande,

Da ideia à exposiçãoVeja algumas considerações dos organizadores da exposição

Qual a importância de trazer os jovens para as ciências?Rossimiriam: Uma das propostas da SBQ é justamente que todos os encontros anuais tenham realizações como esta, de divulgação da ciência e da química para estudantes do ensino médio. Em 2011, por exemplo, tivemos o Ano Internacional da Química, também pela agenda da ONU. São pessoas que em determinado momento terão que escolher uma carreira.

Como foi feita a seleção dos experimentos que seriam apresentados?Alfredo: Pensamos então em dez experimentos que tivessem materiais bem simples, que o professor possa fazer em sala. Muita coisa pode inclusive ser feita em casa, como a do protetor solar (que mostra como o uso do filtro bloqueia o brilho das tintas sob a luz negra). Basta uma tinta fluorescente. São coisas que ajudam a mostrar que a carreira científica está aí e tem impacto na vida das pessoas.

Qual é a importância da luz para a química e para a sociedade?Etelvino: A interação da luz com a matéria é foco da curiosidade dos homens há milênios, o que permitiu que se fossem descobrindo mecanismos de produção de luz a partir de reações químicas. Isso está hoje nos lasers, nos LEDs, em corantes utilizados para sensibilizar a destruição da micose... Chamar a atenção para isso ajuda as pessoas a verem as coisas em ação. O que é fluorescência? Não é a promoção de uma molécula para o orbital superior de energia. É a marca na sua carteira de identidade, na nota de 10 reais, na camiseta. São coisas reais.

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todos relacionados ao uso da quimioluminiscência, fluorescência e fosforescência em nosso dia a dia.

Em um deles, por exemplo, podiam acompanhar um processo manual de revelação de negativos com uma lâmpada caseira de luz negra. Em outro, via-se o que acontece quando se passa protetor solar sobre uma tinta fluorescente que brilha quando iluminada por uma luz ultravioleta, como a luz negra ou o sol – com a camada de protetor, o brilho desaparece. Em uma câmara escura, uma luz negra ajudava a mostrar as diversas utilidades da fluorescência escondida dos materiais, como as tiras luminescentes presentes nos documentos de identidade ou nas notas de dinheiro, o que permite verificar sua legitimidade, a diferença de brilho entre o óleo de soja e o azeite, que ajuda a distinguir as misturas entre os dois, ou o caso citado dos tecidos brancos com sabão em pó.

Também fez parte da exposição diversos painéis explicativos sobre a história, o uso e a relevância da luz para a ciência, a natureza e a sociedade. “Essas são coisas que mudam a maneira como o aluno aprende”, disse Mateus. “O aluno aprende de fato, observando, presenciando o fenômeno. Sem isso, a química se torna apenas algo árido e distante.”

O globo de eletricidade fez sucesso com os estudantes

Grupo do Ensino Médio acompanha um experimento

Exposição de trabalhos sobre diferentes aspectos da luz

Da sala para a prática

As escolas públicas de Águas de Lindoia, como muitas outras do país, não possuem laboratório de ciências próprio para que os alunos possam experimentar o que aprendem em sala. “O que temos são kits, fornecidos pelo governo para cada escola, e que o professor leva para a sala quando quer mostrar alguma coisa”, diz Pedro Tortelli, coordenador pedagógico do Ensino Médio da Escola Estadual Dr. Vicente Rizzo. “Nem se compara com o que eles podem ver aqui.” Tortelli esteve na exposição durante a manhã de terça-feira, 26, com suas turmas de 3º. e 1º. Ano do Ensino Médio.

“A gente não tem as salas de experiência. Assim é muito melhor; conseguimos fazer na prática e o aprendizado é muito mais amplo”, diz Giovanna Ferla, aluna de 17 anos do 3º. ano, aspirante ao curso de Medicina e uma apaixonada por química. “Gosto de fazer experimentos, poder ver as células, o DNA”, disse.

“Uma das que eu mais gostei foi o globo que reage quando a gente coloca a mão”, contou Anderson Silva, 17, que pretende cursar Educação Física quando deixar a escola. “A energia sobe, porque a pele... Como fala?”, tentou explicar, referindo-se ao globo de plasma, um dos objetos da exposição. “É porque quando colocamos a mão ela vira a condutora de energia, por causa da voltagem”, completou seu colega, Elton Freire, também de 17 anos. “Eu não gostava de química. Até hoje. Agora eu gosto”, disse, entre risadas, Elen Paixão, aluna de 15 anos do 1º. ano da escola.

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Visões complementares sobre o futuro da química

SIMPÓSIO

Presidentes das sociedades de química de quatro países debateram quais os caminhos da ciência nos próximos anos

Em um tempo marcado por mudanças climáticas, crises econômicas e sérias questões sociais a serem resolvidas, a Química tem uma série de desafios e oportunidades pela frente e um papel fundamental a cumprir. Este tema foi foco de um simpósio que reuniu presidentes de quatro sociedades nacionais de química: a brasileira, a norte-americana, a cana-dense e a britânica.

Adriano D. Andricopulo, presidente da SBQ e coor-denador do simpósio, destacou a importância para o Brasil de investir em educação, ciência, tecnologia e inovação: “São os eixos estratégicos do desenvolvi-mento da nação”, declarou. “É por este caminho que poderemos consolidar nossa vocação para a química

de produtos naturais e nos guiarmos para uma econo-mia baseada em tecnologia e de baixo carbono.”

Ele enfatizou os esforços da SBQ para incrementar a internacionalização da quí-mica, por meio de maior intercâmbio e participação em eventos internacionais. Neste sentido, ressaltou o fato de que o Congresso da Iupac, de 2017 será reali-zado em São Paulo, de 9 a

14 de julho. “Em quase 100 anos de história, será o primeiro encontro da comunidade química interna-cional na América Latina.”

Youla Tsantrizos, presidente da Sociedade de Química do Canadá, demonstrou preocupação com a distância entre academia e o setor industrial. Ela defende uma abordagem pragmática em que as universidades formem talentos necessários para a indústria. “Temos visto muitas indústrias fecharem as portas. Ao mesmo tempo percebo uma febre por pós-doutorandos. É preciso dirigir estes talentos para as funções que as indústrias precisam. Na Alemanha, por exemplo, técnicos em química, aqueles que ‘metem a mão na massa’ são tão valorizados quanto pós-doutores que estão em laboratórios, na pesquisa básica”, declarou.

A canadense percebe o jovem dos dias de hoje um tanto acomodados diante das facilidades da vida. “A minha geração, aqueles que nasceram logo depois da Segunda Guerra, não tiveram opção: tínhamos que estudar, ir à luta e vencer. Hoje tudo parece muito fácil para os jovens. As coisas vêm prontas e há um certo risco de acomodação. É preciso que sejam estimulados”, alertou.

Para Tom Barton, presidente da ACS, Sociedade de Química dos Estados Unidos, a química passará por mudanças nos próximos anos. Ele acredita que algumas áreas terão menos importância e outras crescerão cada vez mais. Em uma palestra marcada pelo bom-humor, aconselhou os jovens a esquecerem a físico-química e investirem seus esforços na química analítica e na computacional.

“São certamente duas áreas em que veremos as maiores inovações e se farão cada vez mais

“Hoje tudo parece muito fácil para os jovens. As coisas vêm prontas e há um certo risco de acomodação. É preciso que sejam estimulados”,Youla Tazntrizos

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importantes”, declarou. “A compreensão do genoma humano é pura química analítica, e muito virá a partir dessa conquista.”

As preocupações de Dominic Tildesley, presidente da Real Sociedade de Química, da Grã-Bretanha, giram em torno de desafios científicos específicos. Especificamente lhe chamam atenção a questão da crescente resistência de bactérias, seja as ligadas à saúde humana ou as ligadas aos cultivos, e a questão energética.

“São dois campos em que os químicos não podem parar de descobrir novas soluções”, afirmou. “Precisamos desenvolver uma nova classe de agen-tes bactericidas, por meio de pesquisas extensas e aprofundadas, com o auxílio da química computa-cional para entendermos como eles agem, e assim que esta nova classe estiver testada e consolidada, precisamos partir para a próxima. Não é uma batalha que podemos vencer. É uma batalha em que temos de inovar constantemente. É uma questão grave.”

Sobre energia, em sua opinião o futuro é solar. “Precisamos colocar todos os nossos esforços para criar painéis sola-res de baixo custo, uso simples e transmissão eficiente. Podemos utili-zar a energia do sol para criar hidrogênio e este será o combustível dos veículos. O Brasil é um ótimo lugar para isso”, disse Tildesley. “Aqui a química entra com seu conhecimento sobre materiais para encontrar os caminhos mais eficientes para converter a luz do sol em eletricidade e hidrogênio”. As duas tecnologias já são possíveis, mas ainda não economicamente viáveis. Tildesley estima que uma área de 500 quilô-metros quadrados de painéis fotovoltaicos poderia fornecer energia para todo o planeta.

O cientista britânico defende que estas questões sejam parte de uma agenda comum da química internacional. “Não devemos pensar em termos de países, mas em termos do planeta.”

Tildesley, da RSC: Futuro da eletricidade vem da energia solar

Youla, da CCS: Químicos técnicos são tão importantes quanto os acadêmicos

Barton, da ACS: Hora e vez da química analítica e computacional

Andricopulo, da SBQ: Por uma economia baseada em tecnologia

“A batalha contra a resistência de bactérias não é

uma que podemos vencer, portanto

precisamos inovar constantemente.

Não devemos pensar em termos de países, mas em

termos do planeta”, Dominic Tildesley

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A IMPORTÂNCIA DOS QUÍMICOS QUE TRABALHAM COM ARTE PARA A PRESERVAÇÃO CULTURAL

Mesa dos participantes do debate sobre a química na arte

SIMPÓSIO

Não é preciso ser um Leonardo da Vinci, gênio da engenharia, anatomia e pintura, para misturar arte e ciência. A proximidade entre os dois ofícios é muito maior do que se imagina, e foi sobre ela que falou o simpósio “A química na arte e a arte na química”. O conhecimento que só o profissional conhecedor das diferentes reações tem é muito valioso para todos os campos da arte, para a conservação e compreensão da história da humanidade. Está na datação de artefatos arqueológicos, na restauração de obras e construções, na conservação de pinturas e escritos, na película do cinema, na essência da fotografia.

“Estamos falamos de coisas que são registros do que fomos e devem ser guardadas para as próximas gerações; e nós, como químicos, somos uma parte importante disso”, diz João Cura D’Ars Figueiredo Jr., da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Figueiredo é químico, e atualmente trabalha no Instituto de Belas Artes da UFMG, onde leciona no curso de Conservação de Bens Culturais. Uma de suas especialidades é a conservação de documentos antigos, já que tanto a celulose quanto a tinta utilizadas no passado geram processos de acidificação e auto-catalização no papel. “É o caso

da carta do Pero Vaz de Caminha, que foi toda escrita em tinta ferrográfica e está guardada em condições extremas de vedação e temperatura”, diz.

Já para a professora Dalva Lucia Faria, pesqui-sadora do Instituto de Química da Universidade São Paulo, o uso da luz e da radiação é essencial em seu trabalho de datar e verificar a origem de pinturas e outras peças. “Por meio da espectros-copia, coletamos a radiação que o quadro espalha e vemos que não é a mesma energia em cada ponto”, conta. “Isso nos permite dizer exatamente quais as substâncias químicas presentes na obra.”

“A mistura da arte e da ciência é ainda uma coisa recente no Brasil. Até 2002 nós nem tínhamos graduação em arqueologia”, apontou Maria Conceição Lage, que coordena o núcleo de pesquisa da Federal do Piauí (UFPI) para a conservação de pinturas rupestres e gravuras, algumas de até 25 mil anos, existentes no estado. “Mas isso está avançado rápido. Hoje já são 14 cursos de graduação, e acredito que não tarda até que o Brasil tenha um laboratório especializado só em pesquisas acerca de seus bens históricos, como já acontece em outros países”, conclui.

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Estudantes querem representação na comissão organizadoraCom a participação de entusiasmados estudantes de graduação de quatro regiões do Brasil, a SBQ Jovem reuniu-se durante a 38ª. RASBQ, com a disposição de fortalecer a interlocução entre os alunos de Iniciação Científica e a direção da entidade.

A coordenadora Mariana Romano, do IQ-USP, contou que o grupo vai pleitear uma vaga na Comissão Organizadora da 39ª. Reunião Anual com o objetivo de sugerir ações e programações diretamente ligadas às necessidades dos estudantes.

“Vamos tentar divulgar a Reunião Anual através dos centros acadêmicos das diversas Instituições para levar a mensagem a mais alunos. Pretendemos no ano que vem, em vez de realizar uma Reunião da SBQ Jovem, fazer eventos menores durante os quatro dias de programação”, explicou.

Outra ideia debatida pelo grupo foi uma revisão do estatuto da SBQ Jovem para aumentar a representati-vidade regional. “Vamos propor esta revisão à diretoria

Apesar do baixo número, a boa vontade dos participantes marcou a reunião

Jovens expõem seus trabalhosA sessão de painéis teve 1263 trabalhos de participantes de diversas regiões do País, em uma exposição que durou três dos quatro dias do evento. Cada seção da SBQ premiou três trabalhos. Para Norberto Peporine Lopes, professor da Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto, da USP, a sessão de painéis é importante por ser a primeira oportunidade para alunos de graduação exporem suas ideias e para mestrandos debaterem seus projetos com mais profundidade. Gabriela Frade Murari, mestranda da Universidade Federal de Ouro Preto expôs pela primeira vez. “É importante tanto para conhecer o tra-balho de outras pessoas, quanto para mostrarmos o que estamos fazendo”, afirmou.

Mais de mil trabalhos movimentaram três dias do evento

da SBQ. Entendemos que três representantes dos jovens para um País com as dimensões do Brasil é pouco”, declarou Mariana.

Participaram da reunião representantes dos estados de Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo, Bahia, Paraná e o Distrito Federal.

SESSÃO DE PAINÉIS

SBQ JOVEM

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Ricardo Neuding alerta para a escassez de recursos num futuro próximo

SESSÃO TEMÁTICA

O produto mais consumido pelos seres humanos é a água. O segundo é o concreto. Todos os prédios, ruas, monumentos e grandes obras construídos mundo afora, somados, representam 3 toneladas de cimento por pessoa ao ano. Como cada quilo de cimento gera um quilo de gás carbônico na atmosfera, dá para se ter uma primeira ideia dos impactos que a construção civil tem para a saúde do planeta, e da urgência em se repensar inteiramente a forma como a conhecemos hoje.

“A construção contribuiu com 30% das emissões de gases de efeito estufa e 10% da poeira emitida no mundo”, diz o Dr. Mauricio Garcia, engenheiro especia-lizado em química da divisão de construção civil da Basf. “Mas existem alguns caminhos, e o meio para conseguir isso é a química. Ela é a chave para melhorar o uso dos recursos naturais e o desenvolvimento de produtos com melhor performance e menor consumo de energia.”

Garcia foi um dos participantes da sessão temática “Soluções da química para a construção civil”. Também participaram do painel a responsável pela área de prolipropileno para construção da Braskem, Monica Evangelista, e o consultor da ATA Consultoria, Ricardo Neuding. O painel contou com a mediação da Dra. Mariana Doria, da Associação Brasileira da Indústria Química.

Neuding chamou a atenção para o fato de que o grosso dos impactos da construção civil está na verdade na indústria de seus materiais, e por isso a importância e a urgência de se repensar os processos pelos quais eles são produzidos. “As emissões não estão no canteiro de obras, mais de 90% delas vem da fabricação de materiais, sendo que cimento e aço sozinhos chegam até a 70%”, disse.

Em vista da responsabilidade, a Braskem desenvolveu há alguns anos o “plástico verde”, tipo de polietileno que substitui em parte de sua composição o petróleo por cana de açúcar, e já é aplicado na produção de tubos de PVC e outros materiais vendidos em todo o mundo. “Nosso trabalho é no sentido de ampliar o uso do plástico na construção”, disse Mônica. “Ele é

resistente, impermeável e pode substituir o aço e o concreto em diversas etapas.” Na Basf também há diversas pesquisas no sentido de criar aditivos químicos que, por exemplo, aumentam a durabilidade do concreto ou reduzam a necessi-dade de água em seu uso.

“Em 2050, a população mundial chegará a 9 bilhões de pessoas e os recursos disponíveis não serão suficientes”, disse Ricardo Neuding. “Na projeção da ONU, se manti-

vermos os mesmos padrões de produção e emissão de hoje, a temperatura global será 8 graus maior em 2100, o que é insustentável. Então precisamos urgentemente rever nossos processos.”

“A Química é a chave para melhorar o uso

dos recursos naturais e o desenvolvimento de produtos com melhor performance e menor consumo de energia”,

Maurício Garcia, Basf

QUÍMICA ESTÁ NA BASE DA REDUÇÃO DE EMISSÕES NA CONSTRUÇÃO CIVIL

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Pós-Graduação multicêntrica difunde a Química pelo interior de Minas Gerais

Poucos anos atrás, se alguém dissesse que em breve chegaria o dia em que fosse pos-sível formar doutores em Química no Vale do Jequitinhonha em Minas Gerais, essa afirmação seria percebida com descrença. Hoje, trata-se de uma realidade. A partir de uma iniciativa de instituições de ensino superior em Minas Gerais, foi criada, em 2009 a Rede Mineira de Química. E a partir dela, logo surgiu o Programa Multicêntrico de Pós-Graduação em Química, que une oito universidades federais e oferece cursos em 15 linhas de pesquisa, em uma abrangência geográfica que pega todas as regiões do estado.

O Programa de Minas Gerais, que tem conceito 4 da Capes, foi apresentado no Simpósio de Pós-Graduações Multicêntricas, dentro do Workshop de Pós-Graduação, que reuniu cerca de 70 coordenadores de programas espalhados pelo país.

Para o professor Luiz Henrique Catalani, diretor do IQ-USP, coordenador do Workshop, a presença do público superou as expectativas. “Não só pelo número de pessoas presentes, como pela profundidade do debate”, disse. De fato, depois das apresentações, perguntas se sucederam além do tempo esperado, demonstrando interesse da comunidade química por esta nova modalidade de pós-graduação.

A professora Juliana Fedoce Lopes, do IFQ-Unifei contou que há uma demanda reprimida pelo curso, que conta com bolsas da Capes, da Fapemig e das pró-reitorias das instituições envolvidas. Para o segundo semestre de 2015, foram 176 inscritos para o mestrado e 20 para o doutorado, para 29 vagas para mestrado e 15 para doutorado. “Infelizmente ainda temos poucas

Sala cheia para debater pós-graduação um dia antes da abertura oficial da RA

bolsas”, observa a professora. Atualmente, o programa tem 80 alunos ativos e as primeiras defesas deverão ocorrer no final deste ano.

Outras novidades apresentadas no simpósio foram o Programa Integrado de Pós-Graduação em Bioenergia, que reúne USP, Unesp e Unicamp, e o Programa de Pós-Graduação Internacional Biologia Celular e Molecular Vegetal, que reúne a Esalq e duas universidades dos EUA: a Rutgers, de Nova Jersey e a Ohio State University.

Clécio Souza Ramos, representante do curso de pós-graduação em Química da Universidade Federal Rural de Pernambuco, veio a Águas de Lindóia apenas para acompanhar este Workshop. E a viagem valeu. “O workshop foi ótimo! É muito importante estabelecer contato com as demais universidades e conhecer essas novas modalidades. Esclareci muitas dúvidas e volto para casa com informações importantes para nortear possíveis novas ações da UFRPE”, afirmou.

WORKSHOP

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EDUCADORES DEBATEM FLEXIBILIZAÇÃO DO CURRÍCULO

final de 2014, a comissão que fez o trabalho apresentou algumas propostas para nortear as mudanças em um workshop aberto a todos os docentes do IQ, entre as quais envolver o estudante na formação do seu conhecimento e evitar apenas aulas expositivas tradicionais. “Espera-se que para o próximo ano, possamos ter uma proposta concreta de modificação do currículo a ser levada a apreciação da Congregação do IQ-UNICAMP”, afirma Ronaldo Aloise Pilli, professor titular da Unicamp.

Catalani, da USP, com cerca de 50 educadores dos cursos de graduação

Simpósio Luso-Brasileiro para fomentar a cooperaçãoO II Simpósio Luso-Brasileiro de Química Orgânica contou com a participação de professores e pesquisadores dos dois países, e foi realizado para fomentar a cooperação já existente e aproximar os setores químicos. José Silva Cavaleiro, professor catedrático da Universidade de Aveiro coordena um programa de cooperação entre sua instituição e a Universidade Federal Fluminense, por meio da Capes e da FCT, de Portugal, que rendeu dezenas de publicações nos últimos anos. “São muitos os benefícios para ambos os lados. É preciso que tenhamos mais cooperação, e que os convênios passem por avaliações regulares para que tenham continuidade”, declarou. O professor Artur Silva, também de Aveiro, e vice-presidente da Sociedade Portuguesa de Química, foi um dos presentes, e falou sobre organocatalizadores e carboidratos, como fonte para compostos quirais.

Artur Silva, de Aveiro, fala sobre organocatalizadores e carboidratos

WORKSHOP DE GRADUAÇÃO

Coordenadores de cursos de graduação participaram de workshop em que debateram a adoção de algumas mudanças na graduação. As ideias giram em torno da flexibilização da grade curricular e da diminuição de horas aula em favor de mais tempo de estudo do aluno. O coordenador do workshop, Luiz Henrique Catalani, diretor do IQ-USP e vice-presidente da SBQ, avaliou a participação como acima do esperado: cerca de 50 educadores de diversas instituições participaram.

Uma das propostas é caminhar na direção de um currículo customizado, em que o aluno pode optar por disciplinas que ache mais importantes para sua carreira. Na USP, este sistema já vigora há dois anos. “Temos as disciplinas obrigatórias e as optativas ou eletivas, que o aluno escolhe. Assim ele já vai se especializando ou complementando suas próprias necessidades durante a graduação”, contou Catalani.

Na Unicamp, no segundo semestre de 2013 iniciou-se uma análise do currículo dos cursos de Bacharelado. Ao

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PESQUISADORES INTERNACIONAIS DE DIVERSAS ÁREAS ESTIVERAM PRESENTESVeja quem são os conferencistas estrangeiros e os temas abordados

Artur M. S. Silva, professor de Química Orgânica e Produtos Naturais na Universidade de Aveiro, Portugal, falou sobre o desenvolvimento de novos métodos de síntese para novos compostos heterocíclicos de oxigênio e nitrogênio.

Frances Illas, professor no Instituto de Química Teórica e Computacional da Universidade de Barcelona, Espanha. Sua conferência foi sobre a aproximação entre modelos e realidade: A estrutura e a reatividade de catalisadores suportados.

James Clark, professor no Centro de Excelência de Química Verde na Universidade de York, Inglaterra. Sua conferência “Química Verde para uma Bio-Economia” foi sobre como buscar sustentabilidade para a cadeia de suprimentos químicos para a indústria.

Jaume Bastida Armengol, professor no Departamento de Produtos Naturais, Biologia das Plantas e Ciências do Solo, da Faculdade de Farmácia, da Universidade de Barcelona. Ele falou sobre os alcaloides das plantas Amaryllidaceae.

Kirk S. Schanze, professor do Departamento de Química da Universidade da Flórida, nos EUA. Ele pesquisa as interações da luz com polímeros e moléculas pequenas. Sua conferência foi sobre polieletrólitos conjugados, e suas aplicações.

Pulickel M. Ajayan, professor do Departamento de Ciências Materiais e Nanoengenharia da Rice Uinversity, em Houston, EUA. Sua conferência foi sobre a ciência das camadas atômicas bidimensionais, sobretudo o que veio depois da descoberta do grafeno.

Sarah E. Reisman, professora do Departamento de Química e Engenharia Química do California Institute of Technology, em Pasadena, EUA. Ela falou sobre novas estratégias e táticas para a síntese de produtos naturais policíclicos.

Suchi Guha, professora de Física e Astronomia, da Faculdade de Física, da Universidade de Missouri, nos EUA. Ela falou sobre o papel de semicondutores poliméricos solúveis para a eletrônica orgânica.

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Wendell Coltro e Luiz Henrique Catalani

Norberto Peporine Lopes e Vanderlan Bolzani

Frank Herbert Quina e Watson Loh

Luiz Carlos Dias e Adriano D. Andricopulo

Nubia Ribeiro e Vitor Francisco Ferreira

LEWIS JOEL GREENE É PREMIADO POR SUA DEDICAÇÃO ÀS PUBLICAÇÕES CIENTÍFICAS NO BRASILEditor da BJMB recebe homenagem especial por mais de três décadas de seu incansável trabalho

Lewis Joel Greene e Hans Viertler

Boa parte do reconhecimento da pesquisa científica brasileira no mundo se deve a uma pessoa: Lewis Joel Greene. O bioquímico de origem americana ajudou a criar e formou o primeiro time de editores do Brazilian Journal of Medical and Biological Research. Sob sua direção a partir de 1981, a revista foi a primeira publicação nacional escrita totalmente em inglês. “Para conter a resistência, dizíamos que, embora fosse toda em inglês, a publicação aceitaria papers escritos também

em português”, conta o professor. “Mas nunca aceitamos nenhum. Para nós, quem não pode escrever em inglês não está a par da literatura internacional. É como um analfabeto.”

Greene mudou-se de vez para o Brasil nos anos 60 e naturalizou-se brasileiro nos 80. Hoje, aos 80 anos, ainda é ele quem dá a última palavra em cada artigo publicado. Os 35 anos ininterruptos de paixão e dedicação foram chave para que Greene fosse o primeiro agraciado do Prêmio PubliSBQ Angelo da Cunha Pinto, criado neste ano com o objetivo

de reconhecer os trabalhos em edição e difusão científica.E isso é só uma amostra do seu trabalho. Foi também sua influência que

permitiu, no final dos anos 90, na criação do Scielo, sistema inovador que disponibiliza online, gratuitamente, os principais artigos publicados no país. Em laboratório, foi o primeiro a isolar, junto ao farmacologista Sérgio Ferreira e o biomédico Maurício Rocha, ainda nos anos 70, diversos peptídeos utilizados hoje nos principais medicamentos para hipertensão.

Além de Greene, a sessão de homenageados da 38a Reunião da SBQ premiou outros cinco profissionais de trabalho notório:

A Medalha de Honra JBCS foi para o professor Frank Herbert Quina, autor do artigo de química produzido no Brasil com maior número de visualizações até hoje, segundo o ISI.

Wendell Coltro recebeu o Prêmio QN para Jovens Autores, que reconhece pesquisadores de até 35 anos com colaboração relevantes à revista Química Nova.

Por sua colaboração com artigos e edições especiais, Nubia Ribeiro recebeu o Prêmio Revista Virtual de Química.

O Prêmio SBQ de Inovação “Fernando Galembeck” foi outorgado a Norberto Peporine Lopes, pelo suporte essencial na criação e manutenção do parque tecnológico da USP em Ribeirão Preto.

A Medalha Simão Mathias, a mais alta condecoração da SBQ, foi entregue ao professor Luiz Carlos Dias, pelo conjunto de seu trabalho para a química brasileira.

SESSÃO DE HOMENAGENS

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Introdução aos conceitos e cálculos da química analíticaOrlando Fatibello Filho

Química orgânica – um curso experimentalHugo Tubal Schmitz Braibante

Iniciação no laboratório de químicaDaltamir Maia

Introdução à química experimentalRoberto Ribeiro da Silva, Nerilso Bocchi, Romeu C. Rocha-Filho e Patrícia Fernandes L. Machado

Planejamento fatorial em químicaEdenir Rodrigues Pereira Filho

Tecnologias no ensino de químicaBruno Silva Leite

"A Essência de J": uma história de transformações e QuímicaRochel Lago, Juliana Tristão e Daltamir Maia

Show de química: aprendendo química de forma lúdica e experimentalHonerio Coutinho de Jesus

Princípios ativos de plantas superioresEmerson F. Queiroz, Jean-Luc Wolfender, Kurt Hostettmann e Paulo C. Vieira

Introdução às técnicas de planejamento de experimentosSérgio Luis Costa Ferreira

Preparo de amostras para análise de compostos orgânicosKeyller Bastos Borges, Eduardo Costa de Figueiredo, Maria Eugênia Costa Queiroz

Gestão de qualidade em laboratóriosIgor Renato Bertoni Olivares

Lanç

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VRO

SAssembleia Geral

Durante a Assembleia Geral da SBQ, realizada no encerramento da Reunião Anual, foi anunciada a cidade de Goiânia como sede da 39ª. RASBQ, entre 30 de maio e 2 de junho de 2016. “É a primeira vez que teremos nosso maior evento na região Centro-Oeste”, afirmou o secretário geral, Luiz Fernando Silva Jr. O evento será realizado no Centro de Convenções de Goiânia, instalado em uma região com muitos hotéis e facilidades para os visitantes. Silva Jr. destacou a importância que a secretaria regional do Centro-Oeste terá na preparação do evento. Ele também fez uma avaliação da 38ª. RA e divulgou os trabalhos premiados. A Assembleia ainda aprovou as contas de 2014 apresentadas pela tesoureira Rossimiriam Freitas. A entidade teve um superávit operacional de cerca de R$ 68 mil e pouco mais de R$ 310 mil das agências de fomento.

Mesa diretora da Assembleia Geral

Plateia cheia para o encerramento da 38ª RASBQ

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EXPEDIENTEEditor Científico: Luiz Fernando Silva JrEditor Executivo: Mario Henrique VianaReportagem e Textos: Juliana Elias e Mario Henrique VianaFotografia: Gerson CordeiroProjeto Gráfico e Layout: Editora Cubo

DIRETORIA & CONSELHOPresidente: Adriano D. Andricopulo (IFSC-USP)Presidente Sucessor: Aldo José Gorgatti Zarbin (UFPR)Vice-Presidente: Luiz Henrique Catalani (IQ-USP)Secretário Geral: Luiz Fernando da Silva Jr. (IQ-USP)Secretário Adjunto: Silvio do Desterro Cunha (UFBA)Tesoureira: Rossimiriam Pereira de Freitas (UFMG)Tesoureiro Adjunto: José Daniel Figueroa Villar (IME)Conselho Consultivo: Antonio Luiz Braga (UFSC)Conselho Consultivo: Fernando Galembeck (UNICAMP)Conselho Consultivo: Hans Viertler (IQ-USP)Conselho Consultivo: Maria Domingues Vargas (UFF)Conselho Consultivo: Marília Oliveira Fonseca Goulart (UFAL)Conselho Consultivo: Vanderlan da Silva Bolzani (UNESP/Araraquara)Conselho Consultivo: Vitor Francisco Ferreira (UFF)Conselho Fiscal - Titular: Paulo Cezar Vieira (UFSCar)Conselho Fiscal - Titular: Roberto de Barros Faria (UFRJ)Conselho Fiscal - Titular: Sérgio de Paula Machado (UFRJ)Conselho Fiscal - Suplente: Ricardo Bicca de Alencastro (UFRJ)Conselho Fiscal - Suplente: Fernando Antonio Santos Coelho (UNICAMP)

COMISSÃO ORGANIZADORALuiz F. Silva Jr – Secretário Geral SBQ, Presidente da Comissão OrganizadoraAdriano D. Andricopulo – Presidente SBQRossimiriam Pereira de Freitas – Tesoureira SBQDirce Maria Fernandes Campos – Diretora Executiva SBQDouglas Wagner Franco – Diretor da Divisão de Alimentos e BebidasDalmo Mandelli – Diretor da Divisão de CatáliseCarlos Alberto Marques – Diretor da Divisão de Ensino de QuímicaPedro de Lima Neto – Diretor da Divisão de Eletroquímica e EletrolíticaHamilton Varela – Diretor da Divisão de Física-QuímicaCarla Cristina S. Cavalheiro – Diretora da Divisão de FotoquímicaJoão Henrique Ghilardi Lago – Diretor da Divisão de Produtos NaturaisAnne Helene Fostier – Diretora da Divisão de Química AmbientalMaria das Graças A. Korn – Diretora da Divisão de Química AnalíticaRoselena Faez – Diretora da Divisão de Química de MateriaisShirley Nakagaki Bastos – Diretora da Divisão de Química InorgânicaCarlos Mauricio R. de Sant ´Anna – Diretor da Divisão de Química MedicinalRodrigo Octavio M. A. de Souza – Diretor da Divisão de Química OrgânicaSilvio do Desterro Cunha – Secretário Adjunto da SBQ

COMISSÃO CIENTÍFICAAdriano D. Andricopulo – Presidente SBQAldo José Gorgatti Zarbin – Presidente Sucessor SBQLuiz Henrique Catalani – Vice-Presidente SBQLuiz Fernando da Silva Jr. – Secretário Geral SBQSilvio do Desterro Cunha – Secretário Adjunto SBQRossimiriam Pereira de Freitas – Tesoureira SBQJosé Daniel Figueroa Villar – Tesoureiro Adjunto SBQAntonio Luiz Braga – Conselho Consultivo SBQFernando Galembeck – Conselho Consultivo SBQHans Viertler – Conselho Consultivo SBQMaria Domingues Vargas – Conselho Consultivo SBQMarília Oliveira Fonseca Goulart – Conselho Consultivo SBQVanderlan da Silva Bolzani – Conselho Consultivo SBQVitor Francisco Ferreira – Conselho Consultivo SBQDouglas Wagner Franco – Diretor - Alimentos e BebidasDalmo Mandelli – Diretor SBQ - CatáliseCarlos Alberto Marques – Diretor SBQ - Ensino de QuímicaPedro de Lima Neto – Diretor SBQ - Eletroquímica e EletroanáliticaHamilton Varela – Diretor SBQ - Físico-QuímicaCarla Cristina S. Cavalheiro – Diretor SBQ - FotoquímicaJoão Henrique Ghilardi Lago – Diretor SBQ - Produtos NaturaisAnne Helene Fostier – Diretora SBQ - Química AmbientalMaria das Graças A. Korn – Diretora SBQ - Química AnalíticaRoselena Faez – Diretora SBQ - Química de MateriaisShirley Nakagaki Bastos – Diretora SBQ - Química InorgânicaCarlos Mauricio R. de Sant ´Anna – Diretor SBQ - Química MedicinalRodrigo Octavio M. A. de Souza – Diretor SBQ - Química OrgânicaJavier Alcides Ellena – Seção de Química Estrutural - IFSC-USPHans Viertler – Seção de Química Tecnológica - IQUSPReinaldo Camino Bazito – Seção de Química Tecnológica - IQUSPVânia Gomes Zuin – Seção de Química Verde - UFSCarNito Angelo Debacher – Departamento de Química - UFSC