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1 Relações comerciais entre Piracicaba e China: outra realidade Boletim Bimestral: Janeiro/Fevereiro 2015 A inserção da China no comércio mundial alterou de maneira significativa a estrutura de mercado existente até então. Sua economia rapidamente tomou espaço e hoje se apresenta como indispensável parceira econômica de países de todo o mundo, inclusive para o Brasil. Com o país asiático, o fluxo comercial brasileiro tem crescido consideravelmente: em 2000, a China representava pouco mais de 4% do comércio exterior brasileiro todas as exportações e importações realizadas pelo país , enquanto essa participação foi de 34,3% em 2014, segundo dados do Ministério da Indústria, Desenvolvimento e Comércio Exterior (MDIC). No lado das exportações brasileiras, as cifras saltaram de US$ 1,08 bi para US$ 40,6 bi no mesmo período. As importações oriundas da China experimentaram semelhante crescimento: de US$ 1,2 bi em 2000 para US$ 37,3 bi em 2014. De forma análoga às relações comerciais com o Brasil, a China representa papel importante na balança comercial de Piracicaba. No entanto, ao contrário do que se observa nos fluxos nacionais, em que o mercado chinês aparece como maior importador de produtos brasileiros de baixo valor agregado, sobretudo soja e minério de ferro, e como maior exportador de produtos manufaturados, como produtos e componentes eletrônicos, no âmbito municipal a realidade é outra. No que se refere ao comércio exterior de Piracicaba, a China aparece de forma tímida como comprador do município, na 18ª classificação de destinos das exportações municipais. Sua maior representação foi em 2007, quando foi responsável por 1,93% do volume exportado e, atualmente, representa 0,94% dos destinos das vendas externas das empresas piracicabanas (Quadro 1). Já no lado das importações, apesar de participação menor que a observada em nível nacional, os chineses têm aumentado sua importância nas importações do município, tornando-se o terceiro principal parceiro comercial, respondendo por 6,37% do volume importado. Quanto ao tipo de mercadorias comercializadas entre Piracicaba e a China, a pauta de produtos é distinta daquela observada entre Brasil e China, principalmente quando se analisa o que é exportado para este país pelo município. Assim, ao realizar uma radiografia das exportações de empresas piracicabanas para o mercado chinês no ano de 2013, observa-se que dos US$ 8,4 milhões exportados, US$ 7,3 correspondem a máquinas e suas partes, ou seja, aproximadamente 87% do valor negociado. Detalhando-se ainda mais os dados, é possível identificar que 74,6% do valor total referem-se à venda de máquinas para a construção civil e para o agronegócio. Vemos, portanto, padrões comerciais diferentes nas transações China-Brasil e China-Piracicaba. Um dos motivos para essa dualidade consiste no fato de que, apesar da grande importância da agricultura na história e no desenvolvimento de Piracicaba, a cidade apostou na industrialização, no século XX, com investimentos em indústrias nos setores metalúrgico e mecânico, criando um parque industrial com a presença de grandes empresas estrangeiras. Algumas das indústrias, inclusive, fornecedoras de máquinas para o processamento da cana-de-açúcar, de origem agrícola e de grande relevância na agricultura regional. Na importação, os produtos mais comercializados também são máquinas e suas partes, com aproximadamente 68,7% de participação no total registrado em 2013. Porém, nessa situação, a gama de produtos importados, em sua maioria, corresponde a bens intermediários (motores, válvulas, cilindros, etc.), que serão incorporados ao processo produtivo a fim de gerar máquinas e bens de capital. Apresentadas as características das relações comerciais, é possível, então, analisar o fluxo desses agregados no tempo com maior clareza. Em relação à exportação, identifica-se uma tendên - Ano III 10ª Edição Por: Guilherme Augusto Nery de Andrade e Marcello Luiz de Souza Boletim Informativo Piracicaba e região Quadro 1 - Participação chinesa nos fluxos comerciais externos de Piracicaba SP (percentagem do volume comercializado) Exportação Importação 2005 0,94 2005 0,51 2006 1,78 2006 1,09 2007 1,93 2007 1,58 2008 0,84 2008 1,92 2009 1,3 2009 3,8 2010 0,5 2010 3,58 2011 0,5 2011 4,09 2012 0,84 2012 4,14 2013 0,005 2013 7,58 2014 0,94 2014 6,37 Fonte: Instituto de Pesquisa e Planejamento de Piracicaba (IPPLAP).

Boletim GECEI 10ª edição

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Barreiras comerciais entre Piracicaba e China

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Relações comerciais entre Piracicaba e China: outra realidade

Boletim Bimestral: Janeiro/Fevereiro 2015

A inserção da China no comércio mundial alterou de maneira significativa a estrutura de mercado existente até então. Sua economia rapidamente tomou espaço e hoje se apresenta como indispensável parceira econômica de países de todo o mundo, inclusive para o Brasil. Com o país asiático, o fluxo comercial brasileiro tem crescido consideravelmente: em 2000, a China representava pouco mais de 4% do comércio exterior brasileiro – todas as exportações e importações realizadas pelo país –, enquanto essa participação foi de 34,3% em 2014, segundo dados do Ministério da Indústria, Desenvolvimento e Comércio Exterior (MDIC). No lado das exportações brasileiras, as cifras saltaram de US$ 1,08 bi para US$ 40,6 bi no mesmo período. As importações oriundas da China experimentaram semelhante crescimento: de US$ 1,2 bi em 2000 para US$ 37,3 bi em 2014. De forma análoga às relações comerciais com o Brasil, a China representa papel importante na balança comercial de Piracicaba. No entanto, ao contrário do que se observa nos fluxos nacionais, em que o mercado chinês aparece como maior importador de produtos brasileiros de baixo valor agregado, sobretudo soja e minério de ferro, e como maior exportador de produtos manufaturados, como produtos e componentes eletrônicos, no âmbito municipal a realidade é outra. No que se refere ao comércio exterior de Piracicaba, a China aparece de forma tímida como comprador do município, na 18ª classificação de destinos das exportações municipais. Sua maior representação foi em 2007, quando foi responsável por 1,93% do volume exportado e, atualmente, representa 0,94% dos destinos das vendas externas das empresas piracicabanas (Quadro 1). Já no lado das importações, apesar de participação menor que a observada em nível nacional, os chineses têm aumentado sua importância nas importações do município, tornando-se o terceiro principal parceiro comercial, respondendo por 6,37% do volume importado. Quanto ao tipo de mercadorias comercializadas entre Piracicaba e a China, a pauta de produtos é distinta daquela observada entre Brasil e China, principalmente quando se analisa o que é exportado para este país pelo município. Assim, ao realizar uma radiografia das exportações de empresas piracicabanas para o mercado chinês no ano de 2013, observa-se que dos US$ 8,4 milhões exportados, US$ 7,3 correspondem a máquinas e suas partes, ou seja, aproximadamente 87% do valor negociado. Detalhando-se ainda mais os dados, é possível identificar que 74,6% do valor total referem-se à venda de máquinas para a construção civil e para o agronegócio.

Vemos, portanto, padrões comerciais diferentes nas transações China-Brasil e China-Piracicaba. Um dos motivos para essa dualidade consiste no fato de que, apesar da grande importância da agricultura na história e no desenvolvimento de Piracicaba, a cidade apostou na industrialização, no século XX, com investimentos em indústrias nos setores metalúrgico e mecânico, criando um parque industrial com a presença de grandes empresas estrangeiras. Algumas das indústrias, inclusive, fornecedoras de máquinas para o processamento da cana-de-açúcar, de origem agrícola e de grande relevância na agricultura regional. Na importação, os produtos mais comercializados também são máquinas e suas partes, com aproximadamente 68,7% de participação no total registrado em 2013. Porém, nessa situação, a gama de produtos importados, em sua maioria, corresponde a bens intermediários (motores, válvulas, cilindros, etc.), que serão incorporados ao processo produtivo a fim de gerar máquinas e bens de capital. Apresentadas as características das relações comerciais, é possível, então, analisar o fluxo desses agregados no tempo com maior clareza. Em relação à exportação, identifica-se uma tendên -

Ano III 10ª Edição

Por: Guilherme Augusto Nery de Andrade e Marcello Luiz de Souza

Boletim Informativo

Piracicaba e região

Quadro 1 - Participação chinesa nos fluxos comerciais externos de

Piracicaba – SP (percentagem do volume comercializado)

Exportação Importação

2005 0,94 2005 0,51

2006 1,78 2006 1,09

2007 1,93 2007 1,58

2008 0,84 2008 1,92

2009 1,3 2009 3,8

2010 0,5 2010 3,58

2011 0,5 2011 4,09

2012 0,84 2012 4,14

2013 0,005 2013 7,58

2014 0,94 2014 6,37

Fonte: Instituto de Pesquisa e Planejamento de Piracicaba (IPPLAP).

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cia crescente, até o ano de 2007, e, em face à crise mundial de 2008, os números caíram drasticamente, apresentando leves sinais de recuperação após 2011, porém sem tendência definida. A respeito da perspectiva de melhora, a crescente preocu-pação com a modernização da agricultura chinesa, que já resultou no crescimento de 810,82% nas importações totais chinesas de máquinas agrícolas entre 2000 e 2013, pode acarretar em um au-mento futuro no valor exportado de bens de capital. As importações têm aumentado desde 2004, sendo 2013 o ano em que ocorreu o maior crescimento, saltando de US$ 81,1 milhões para aproximadamente US$ 169,4 milhões (Figura 1). O principal fator desse grande salto foi o aumento nas importações de várias peças e partes de máquinas, cujo volume importado variou 151,05% entre 2012 e 2013.

Assim, nesse cenário em que as importações brasileiras vindas da China crescem a ritmos maiores que as exportações brasi-leiras, é válido ressaltar o potencial que o município apresenta para assumir grande importância nas relações entre os dois países. A assinatura da “Comissão de Alto Nível” em 2012, docu-mento em que governos do Brasil e China acordam em encorajar as exportações brasileiras de alto valor agregado, coloca Piracicaba como município estratégico para atingir tais metas, visto que já vem desempenhando esse papel de exportador de bens manufaturados. Dessa forma, conclui-se que as relações comerciais existen-tes entre empresas piracicabanas e chinesas ainda estão em desen-volvimento e tanto as importações quanto as exportações mostram margem para crescerem.

Comércio Brasil - China

Entrevistado: Caio Marcos Mortatti Graduado em Economia pela Universidade de São Paulo, Mestre em Economia Aplicada e atualmente trabalha no grupo Itaú Uni-banco na Diretoria de Gestão de Risco e Capital (DGRC/ACGR), co-mo gerente teste de estresse e monitoramento de capital (SGIR). Por: Guilherme Augusto Nery de Andrade e Marcello Luiz de Souza. Pergunta 1. Como você percebe a inserção da China no mercado internacional nos últimos 10 anos? A inserção é muito evidente, com aumento consistente do grau de abertura da economia e da corrente de comércio. Isso se deve, em última instância, à capacidade do país de articular suas atividades econômicas num contexto de mundo cada vez mais glo-balizado. Dessa forma, a participação das empresas transnacionais, que promoveram a integração das cadeias de produção e a expan-são do comércio intra-firma, foram fundamentais. Além das políti-cas macroeconômicas, coordenadas pela Estado centralizado, que favoreceram a projeção dos fluxos comerciais, em especial a políti-ca cambial. Pergunta 2. Em sua opinião, quais as principais considerações a respeito do comércio Brasil-China para ambos os países? As relações comerciais sino-brasileiras evoluíram considera-velmente na última década, o Brasil tornou-se um importador de equipamentos industrializados e manufaturados, e exportador de commodities, como grãos de soja e minério de ferro. A essência da economia brasileira está na produção desses produtos primá-rios, nesse sentido, a China passa a ter um papel não só de grande parceiro comercial, mas um papel estratégico muito relevante para o crescimento da economia brasileira. Se olharmos os números, hoje a China é o mais importante parceiro para o Brasil, adquirindo papel mais preponderante do que a própria Europa. Pergunta 3. Considerando-se o perfil da pauta comercial entre Piracicaba e China, que perspectivas você visualiza para esse co-mércio? Em sua opinião, há chances de se reverter o saldo negati-vo do município com o país asiático? Piracicaba tem como característica principal ser um grande polo exportador de máquinas e equipamentos para o setor agrícola e outros bens industrializados, sendo essa a principal pauta no co-mércio com a China. A perspectiva de reversão do saldo negativo dependerá de vários fatores: (i) capacidade do município de melho-rar a qualidade dos produtos incentivando a geração de empregos; (ii) desempenho da economia brasileira, que mais uma vez desace-lera com efeitos agravantes da crise hídrica e impactos setoriais (petróleo); (iii) sustentação do crescimento chinês em altos pata-mares.

Figura 1 - Evolução dos fluxos comerciais totais entre Piracicaba e China,

2004 – 2014 (Milhões US$)

Fonte: Elaboração dos autores com dados do Aliceweb/MDIC.

Aline Fernanda Soares

Ariane de Oliveira Marcelino

Geiziane Amelia Mendes

Guilherme A. N. de Andrade

Gustavo Vitti

Isabella G. F. de Souza

Jéssica Juliana Bortoletto

Luana B.Fricks

Marcello Luiz de Souza Jr.

Mariana Tófoli da Silva

Paulo Henrique Trasferetti Rosa

Rodrigo Damasceno

Equipe Agradecimentos a:

Caio Marcos Mortatti

Prof. Coordenadora

Sílvia Helena Galvão de Miranda

Contato: [email protected]

É autorizada a transmissão do conteúdo disponibilizado neste informativo, sendo obrigatória a citação da fonte: "Boletim de

Comércio Internacional – elaborado pelo Grupo de Extensão em Comércio e Economia Internacional (GECEI), da Esalq/

USP".

Referências Bibliográficas

Base de Dados Aliceweb. Em: <http://aliceweb.mdic.gov.br//consulta-municipio/consultar>. Acesso em 15/02/2015.

Base de Dados Comtrade. Em: <http://comtrade.un.org>. Acesso em 15/02/2015.

Conselho Empresarial Brasil-China. Em: <http://www.cebc.org.br>. Acesso em 10/02/2015.

Instituto de Pesquisa e Planejamento de Piracicaba. Em: <http://ipplap.com.br/site/piracicaba-em-dados/>. Acesso em 12/02/2015. Receita Federal, Comércio Mercados Brasil e China. Em: <http://www.receita.fazenda.gov.br/Aduana/ComerMercadBrasil/2002/Brasilchina/comercio.htm>. Acesso em 10/02/2015.