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Boletim INFORMATIVO ORDEM DOS ADVOGADOS DE MOÇAMBIQUE Gilberto Correia Edição 04 | Agosto 2012 A covardia coloca a questão: É seguro? O comodismo coloca a questão: É popular? A etiqueta coloca a questão: É elegante? Mas a consciência coloca a questão: É correcto? Gilberto Correia [ BASTONÁRIO ] Pag 1 DESTAQUES Tomada de Posse do Delegado de Inhambane PONTOS DE VISTA Dos Impedimentos para Depor como Testemunha Breve Reflexao Sobre a Sociedade Por Quotas Entre Cônjuges O Acordo Revogatório A Dispensa da Declara- ção Prévia Como Condição ... Da Responsabilidade Civil Emergente De Acidente ... Pag 16 Pag 15 Pag 13 Pag 11 Pag 8 Pag 4 E chega a altura em que temos de tomar uma posição que não é segura, não é elegante, não é popular, mas o temos de fazer porque a nossa consciência nos diz que é a atitude correcta. Martin Luther King Jr.

Boletim Informativo - 4ª edição

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4ª Edição do Boletim Infomativo da Ordem dos Advogados de Moçambique

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Boletim INFORMATIVOORDEM DOS ADVOGADOS DE MOÇAMBIQUE

Gilberto Correia

Edição 04 | Agosto 2012

” A covardia coloca a questão: É seguro?O comodismo coloca a questão: É popular?A etiqueta coloca a questão: É elegante?Mas a consciência coloca a questão: É correcto?

Gilberto Correia[ BASTONÁRIO ]

Pag1

DESTAQUES

Tomada de Posse do Delegado de Inhambane

PONTOS DE VISTA

Dos Impedimentos para Depor como Testemunha

Breve Reflexao Sobre a Sociedade Por Quotas Entre Cônjuges

O Acordo Revogatório

A Dispensa da Declara-ção Prévia Como Condição ...

Da Responsabilidade Civil Emergente De Acidente ... Pag16

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E chega a altura em que temos de tomar uma posição que não é segura, não é elegante, não é popular, mas o temos de fazer porque a nossa consciência nos diz que é a atitude correcta.

”Martin Luther King Jr.

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Mais uma vez, no tão sacrificado sector da administração da justiça, presenciamos um processo que descredibiliza a justiça do nosso País e configura um retrocesso para o processo de consolidação do Estado de Direito democrático.

Trata-se do processo de candidatura de um jurista moçambicano a uma das 3 vagas de juízes do Tribunal Africano dos Direitos Humanos.

A República de Moçambique foi convidada pela União Africana a submeter a sua candidatura até ao dia 30 de Abril de 2012.

Os requisitos essenciais da referida candidatura eram, entre outros, os que a seguir destacamos:Ser jurista de elevada moral, carácter e irrepreensível integridade.Possuir reconhecida e estabilizada prática judicial ou competência académica e, ainda, experiência

na área dos direitos humanos.O candidato escolhido não poderia ter posições políticas, diplomáticas, administrativas ou ainda

desempenhar funções como assessor do Governo.A candidatura deveria resultar de um processo interno transparente e imparcial que desse garantias

de confiança pública na integridade do candidato.Era encorajada a participação no processo de selecção do candidato da sociedade civil, do poder

judicial, da Ordem dos Advogados (bar association), de académicos, de organizações de direitos humanos e de organizações de mulheres.

Em síntese, na sua comunicação-convite a União Africana sublinhava que qualquer candidatura que não obedecesse escrupulosamente aos acima indicados requisitos não seria sequer aceite (shall not be processed).

Em síntese: elevada moral, irrepreensível integridade, imparcialidade, independência, indiscutível competência jurídica técnica (sobretudo na área dos direitos humanos) e selecção a partir de um processo público, transparente e com apoio dos órgãos da administração da justiça e das organizações da sociedade civil, eram os requisitos cumulativos do processo de selecção do candidato.

Dada a forma como o processo foi gerido, não sabemos se havia mais cidadãos interessados. Mas, conhecendo a nossa comunidade jurídica, é de prever que existissem.

Contudo, sabemos que o Professor Giles Cistac, reputado académico, jurista e advogado, que é cidadão moçambicano (por naturalização), julgando reunir estes requisitos, iniciou contactos com o Governo, órgãos da administração da justiça, organizações da sociedade civil e de direitos humanos manifestando o seu interesse em concorrer.

Porém, porque o processo estava a ser gerido pelo Governo, neste caso particular pelo Ministério da Justiça, aguardava-se o início do processo de auscultação da sociedade civil sobre este e outros nomes de eventuais concorrentes a candidato (incluindo o proposto pelo Governo).

É neste ponto que as coisas se deterioraram. Alguém se lembra do processo público e transparente de auscultação? Não. Ninguém se lembrará,

porque simplesmente não houve qualquer actividade digna desse nome.A partir daqui, o que se soube é que foi proposto pelo Governo o nome do Dr. Ângelo Matusse,

académico e Procurador-geral Adjunto da República, cuja candidatura não foi aceite.

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EDITORIAL BOLETIM INFORMATIVO N° 4

A etiqueta coloca a questão: É elegante? Mas a consciência coloca a questão: É correcto? E chega a altura em que temos de tomar uma posição que não é segura, não é elegante, não é popular, mas o temos de fazer porque a nossa consciência nos diz que é a atitude correcta" Martin Luther King Jr.

" A covardia coloca a questão: É seguro? O comodismo coloca a questão: É popular?

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A nossa primeira perplexidade prende-se com o modo como correu o processo de indicação do candidato moçambicano a Juiz do Tribunal Africano dos Direitos Humanos. Foi um processo que não obedeceu às exigências contidas no Protocolo da Carta Africana dos Direitos do Homem e dos Povos, sublinhadas clara e expressamente pela União Africana na sua citada comunicação. Era importante que fossem ouvidas e tidas em conta a sociedade civil, as organizações de Direitos Humanos, os, órgãos da administração da justiça, entre outros.

Aliás, a comunicação da União Africana dizia também expressamente que a Ordem dos Advogados deveria ser envolvida neste processo de escolha do candidato. Mas, isso evidentemente não aconteceu.

Ainda que tal recomendação óbvia não fosse sublinhada pela União Africana, mesmo assim a nossa lei impunha a participação da Ordem dos Advogados de Moçambique neste processo. Visto que, conforme reza o artigo 4°/c) parte final do Estatuto da Ordem dos Advogados de Moçambique aprovado pela Lei n° 28/2008 de 29 de Setembro, a Ordem deve-se pronunciar sobre todos assuntos que interessem à boa administração da justiça (subentendendo-se que para se pronunciar deve logicamente ser chamada pelas entidades competentes a fazê-lo).

A segunda razão de espanto diz respeito ao facto do Governo ter proposto uma candidatura obtida a partir de num processo que não preenchia os requisitos necessários, impedindo que Moçambique tivesse alguma hipótese de ter um juiz no Tribunal Africano dos Direitos Humanos.

O terceiro motivo de estupefacção foi que se tivesse subvertido as regras de selecção do candidato, evitando a auscultação das organizações da sociedade civil, da Ordem dos Advogados e de outras que agremiações e entidades que também deveriam participar no processo de escolha do melhor candidato.

Mas, a nossa maior indignação vai para o facto de percebermos que o Governo preferiu apresentar um candidato que dificilmente seria eleito, do que abrir o processo ao escrutínio da sociedade civil e correr o risco de ser escolhido outro candidato ou até mesmo o Professor Cistac (cujas posições públicas não são do agrado de alguma elite política). Seja, preferiu provocar a derrota do candidato que apresentou do que dar a este país a nobre oportunidade de ter um representante naquele importante órgão judicial africano.

Para tanto, não hesitou a recorrer a um processo de selecção obscuro, opaco, ilícito, parcial e exclusivo.

Fica claro que um processo que se exigia que fosse jurídico, transparente e democrático foi transformado num processo político, anti-democrático e secreto. No qual, o Estado de direito democrático e a credibilidade internacional do Estado Moçambicano foram colocados em plano secundário, em prol de interesses de outra índole.

Não defendemos que fosse indicado o Professor Cistac. Nem defendemos que no final de um processo regular não fosse seleccionado o Dr. Ângelo Matusse.

Apenas pugnamos que fosse indicado o melhor candidato, através de um processo que seguisse as regras estabelecidas para a apresentação de candidaturas a Juiz do Tribunal Africano dos Direitos Humanos. Defendemos que fosse indicado, sem nepotismos, o melhor candidato para aquele posto e com observância escrupulosa da normas de candidatura - ampliando as hipóteses do mesmo chegar ao posto do juiz daquele prestigiado e prestigiante Tribunal Africano. Pois, o nosso compromisso é com o Estado de Direito democrático e, em última instância, com a defesa da imagem internacional do sector da justiça em Moçambique.

E aqui neste caso, sentimos que estes valores foram severamente maculados.Evidentemente que, para além do Governo no seu todo, duas individualidades mais directamente

envolvidas no processo também saem beliscadas.Uma, é sem dúvidas a Ministra da Justiça. Por ter permitido que todo este processo embaraçoso corresse sob sua gestão. E ainda por nada de

evidente ter feito para respeitar as "regras de jogo" ou para prevenir este desenlace indecoroso. É escusado lembrar que a senhora Ministra da Justiça é magistrada judicial de profissão e apenas

Ministra de função. Os juízes, por natureza e por força do seu estatuto deontológico, devem primar sempre por actuações consentâneas com os valores da independência, imparcialidade e integridade - os quais são elementos indeclináveis da matriz da profissão.

É lícito, ao observar a condução deste processo, levantar a questão de saber se magistrados judiciais devem aceitar cargos políticos e, depois de cessarem funções, regressarem tranquilamente à profissão. Questionar se a actuação subordinada a valores eminentemente políticos, e algumas vezes até politiqueiros, não colidirá em algum momento com os valores clássicos da deontologia do magistrado. Hoje, a senhora Ministra da Justiça conduziu este processo de candidatura a juiz do Tribunal Africano dos Direitos Humanos com sacrifício de valores como a imparcialidade, a independência e a transparência. Amanhã,

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regressa ao exercício da sua profissão (provavelmente como Juíza Conselheira do Tribunal Supremo) e terá de reger-se pelos mesmos valores que ontem ignorou.

Será coerente? A outra individualidade que sai manchada é o próprio candidato não eleito: o Dr. Ângelo Matusse. Este respeitável jurista, académico e Procurador-Geral Adjunto tinha a especial obrigação de não

deixar o seu bom nome profissional ser envolvido nesta embrulhada. Tinha mesmo o dever, se pretendesse aceitar tal incumbência, de exigir que fossem respeitadas todas as regras previamente definidas.

Em nosso entender, deveria até ir muito mais longe e recusar-se a concorrer se verificasse, como parecia muito provável, que o processo da sua candidatura reduzia ao máximo as hipóteses termos um juiz moçambicano para o Tribunal Africano de Direitos Humanos.

O Dr. Ângelo Matusse deveria ter-se abstido de participar neste processo, pelo menos na forma como foi orientado e executado.

Porém, o mal já está feito. O resultado previsto e previsível já ocorreu.Certamente que nos meandros deste processo "reservado" devem existir várias justificações

urdidas para explicar o inexplicável. Mas, tais justificações não terão, garantidamente, o condão de apagar esta mancha indelével no processo de consolidação do Estado de Direito democrático.

Nada mais havendo para mudar no passado, a nossa preocupação agora vai para o futuro ao perguntarmo-nos: Será que aprendemos alguma coisa com isto tudo? Ou ad futurum tudo continuará a ser como foi antes?

Por uma Ordem empreendedora.

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O BastonárioGilberto Correia

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MANDAMENTOS DE SANTO IVO PADROEIRO DOS ADVOGADOS

Vindo da Idade Média até os nossos dias, os Mandamentos de Santos Ivo (1253/1303) podem ser considerados como primeiro embrião do actual Código de Ética dos Advogados.

I.O Advogado deve recusar o patrocínio de pleitos contrários à Justiça, ao decoro ou à própria consciência.

II. Deve poupar aos clientes gastos excessivos ou supérfluos.

III. Não deve utilizar, nos processos sob seu amparo, meios ilícitos ou injustos.

IV.Tratar das causas como se fossem suas.

V.Não poupar trabalho nem tempo para obter a vitória da causa sob seus cuidados.

VI.Não aceitar trabalho além dos que seu tempo lhe permita.

VII.Amar a Justiça e a Honra.

VIII.Indemnizar o cliente dos prejuízos que, por sua culpa, porventura venha ele a sofrer.

IX.Ser sempre verdadeiro, sincero e lógico.

X.Implorar a DEUS ajuda para o êxito de suas demandas, pois é Ele o primeiro protector da Justiça.

SANTO IVO

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TOMADA DE POSSE DO DELEGADO DE INHAMBANE

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Ordem dos Advogados de Moçambique empossa Delegado em Inhambane

No dia 16 de Junho de 2012, na sala de reuniões do complexo Tijamo, na Cidade de Inhambane, tomou posse como Delegado da Ordem dos Advogados de Moçambique nesta Província o advogado Grácio Abdula.

A sublime cerimónia foi presidida pelo Bastonário da Ordem dos Advogados de Moçambique e contou com a presença de figuras de relevo dos Órgãos de Administração da Justiça em Inhambane, como o Juiz Presidente do Tribunal Judicial Provincial, a Procuradora - Chefe, o Procurador Principal do Gabinete do Combate a Corrupção, Magistrados judiciais e do Ministério Público, os ilustres Advogados, Advogados Estagiários e residentes nesta província.Na sua intervenção, seguida da assinatura do livro de posse e ao juramento, o empossado disse a propósito que a responsabilidade que a Ordem lhe incumbia, só surtiria efeitos desejados se pudesse também contar com a participação dos profissionais ligados a justiça na Província. Enfatizando assim a união e o esforço entre a classe e pugnando por melhorias na área da justiça, dizendo: «temos o dever e a obrigação de ser a voz daqueles que clamam justiça».

Durante o seu discurso, o Bastonário manifestou a vontade de que o Dr. Grácio fosse o primeiro e último Delegado em Inhambane: «não porque queiramos ocupar o cargo vitaliciamente, mas porque seria sinal de que a população de advogados nesta Província cresceu rapidamente», aclarou o Bastonário. Sublinhou ainda, a necessidade premente do reforço de advogados residentes em Inhambane para responder à crescente demanda jurídica, edificando a Ordem de maneira multiforme.

Naqueles que são os objectivos do Governo de Inhambane, o representante do Governador salientou a importância de se continuar a trabalhar no combate a pobreza absoluta, sobretudo na área da administração da justiça e congratulou a Ordem dos Advogados por estar ligada a iniciativas de género.

É de Sublinhar que com esta tomada de posse, a Ordem dos Advogados estende a sua representatividade a 7 províncias, faltando apenas 4 províncias nomeadamente as províncias da Zambézia (com delegado nomeado, porém ainda não empossado), Cabo Delgado, Niassa e Gaza, cumprindo um dos objectivos estratégicos que é o de estar representado em todas capitais províncias do País.

Por: Hafsa Yacoob, (funcionária da OAM)

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Hoje, dia 16 de Julho de 2012, a Ordem dos A d v o g a d o s d e M o ç a m b i q u e i n s t a l a - s e formalmente na Província de Inhambane.

Perto de completar 18 anos da sua criação e 16 anos da sua entrada em funcionamento, estão c r i a d a s a s c o n d i ç õ e s m í n i m a s p a r a o empossamento de um Delegado da Ordem dos Advogados na Província de Inhambane.

O desenvolvimento do nosso país e a consolidação do Estado de Direito democrático implicam novos e árduos desafios para o sector da administração da justiça no geral e à advocacia moçambicana em particular.

Como se sabe, ainda durante o Governo de Transição, o exercício da advocacia foi proibido em Moçambique, por ter sido julgado incompatível com o modelo de justiça popular que estava projectado. Alguns anos depois da independência nacional, foi igualmente encerrada a única faculdade de direito do país, a Faculdade de Direito da Universidade Eduardo Mondlane.

Com estas opções resultantes da convicção de que o melhor modelo de administração da justiça no Moçambique independente seria o de uma justiça sem advogados caminhamos até ao ano 1990. Altura em que o poder constituinte aprovou uma Constituição multipartidária que pugnava pela construção de um Estado de Direito, da economia de mercado, da separação de poderes, do direito do cidadão escolher livremente o seu defensor, entre outros princípios constitucionais que hoje nos são familiares.

Era evidente a inversão nos princípios orientadores e estruturantes da organização da máquina da justiça que prevaleciam até então. Era cristalino que, no que dizia respeito à advocacia, tudo tinha de ser recomeçado. Na verdade, a nível do Moçambique independente, tratava-se de criar, estruturar e colocar ao serviço do desenvolvimento país uma nova profissão: a profissão de advogado.

Passávamos assim de um modelo de justiça que dispensava os advogados para um outro em que o advogado era indispensável à administração da justiça.

Contudo, era e é condição para se ser advogado ser antes jurista. E o país naquela altura quase que não tinha juristas, pois a Faculdade de Direito da Universidade Eduardo Mondlane, que

continuava a ser a única do país, tinha sido reaberta em 1988 e estava ainda incapaz de fornecer juristas em qualidade e quantidade para todas as necessidades que entretanto surgiam.

Não obstante, à luz do novo modelo constitucional, um grupo de juristas iniciava os contactos necessários para a difícil tarefa da criação duma Ordem dos Advogados em Moçambique; visando a criação de uma instituição que congregasse todos os futuros advogados, que fosse o órgão regulador desta profissão legal que se pretendia - e se pretende - que se assumisse como independente de todos os demais poderes.

Assim, em 14 de Setembro de 1994, através da Lei n° 7/94, é criada a Ordem dos Advogados de Moçambique e aprovado o respectivo Estatuto. Por via desta mesma lei, a Ordem recebeu de imediato o estatuto de utilidade pública em função da relevantes atribuições de interesse público que o Estado moçambicano lhe acometeu. 2 anos depois, a instituição entrou finalmente em funcionamento com cerca de uma centena de advogados inscritos, quase todos residentes na cidade de Maputo.

Em consequência, neste ano de 2012 vamos completar 18 anos da criação desta Ordem e no dia do nosso aniversário, a 14 de Setembro, iremos proceder à entrega de carteiras profissionais a novos advogados - e nessa altura esperamos atingir o número de 1.000 advogados inscritos.

Neste momento somos cerca de 850 advogados. Temos advogados em todas as províncias do país. Não só nas capitais provinciais, como também já começamos a ter advogados em alguns distritos e vilas, como ilustra o exemplo do Delegado que acabamos de empossar que é um advogado com domicílio profissional na Vila de Vilankulos.

É importante ressalvar que já somos a maior profissão jurídica e, igualmente, a maior profissão forense de Moçambique. Em termos numéricos seria preciso juntar todos os magistrados judiciais, todos os magistrados do Ministério Público e todos os técnicos e assistentes jurídicos permanentes do Instituto de Patrocínio e Assistência Judiciária (IPAJ) para atingir o número de advogados inscritos na Ordem dos Advogados de Moçambique.

Um número ainda insuficiente e muito aquém das necessidades dos cidadãos e das pessoas colectivas públicas e privadas. Mas, claramente demonstrativo de que, considerando o circunstancialismo histórico envolvente a esta profissão legal, crescemos depressa e vamos crescer muito mais rápido nos próximos anos. Tudo isso na perspectiva de atingir o "sonho" real dos f u n d a d o r e s d e s t a O r d e m e d o E s t a d o

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INTERVENÇÃO NA TOMADA DE POSSE DO DELEGADO

DE INHAMBANE

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moçambicano que passa pela garantia do acesso à justiça pelos cidadãos e pelas pessoas colectivas através de um advogado livre, independente e competente. Dito doutro modo, quando alguém preste contas a justiça ou clame por justiça, que lhe seja garantida a possibilidade de estar representado por um advogado independente por si livremente escolhido.

Só assim poderemos assegurar que os direitos e garantias constitucionais dos cidadão, também neste domínio, estão a ser plenamente respeitados.

Alguns dos presentes poderão estar legitimamente a questionar-se sobre as reais motivações desta breve resenha sobre história da advocacia moçambicana. Eu explico: em alguns momentos é importante saber donde viemos, porque passamos e onde estamos; para melhor perspectivarmos para onde vamos e qual o melhor caminho para lá chegar.

O caminho é o da afirmação de uma advocacia livre e independente. Uma advocacia ao serviço do cidadão e do Estado de Direito democrático. Uma advocacia com valores e princípios éticos. Uma advocacia solidária, que defenda também os mais fracos, as vítimas de iniquidades e que seja a voz dos sem voz. Enfim, uma advocacia ao serviço de Moçambique e do seu desenvolvimento.

Pois, se é verdade que não existe desenvolv imento sem uma máquina da administração de justiça desenvolvida; também não é menos verdade que não existe verdadeira justiça sem advogados. Ou, como diria o bastonário de Portugal, justiça sem advogados quando não é uma farsa transforma-se numa tragédia.

A província de Inhambane vêm registando um crescimento acelerado. São evidentes os sinais desse crescimento económico nas área do Turismo e do gás. Existe também um importante e imprescindível corredor rodoviário que liga a capital Maputo e as Província de Maputo e Gaza ao resto do país.

Vários direitos e interesses conflituam-se nesta dinâmica de crescimento. Inúmeros conflitos próprios dum território que caminha para o crescimento económico e social podem surgir. Isto se quisermos falar apenas das oportunidades para uma advocacia contenciosa.

A nível da advocacia consultiva, inúmeros projectos de investimento nacional e estrangeiro carecem de aconselhamento e apoio jurídico para a sua implementação e operacionalização. Estes investidores precisam ainda de apoio jurídico na área do direito fiscal, do direito administrativo, da

negociação com a banca comercial, etc. Os cidadãos precisam de ajuda jurídica para negócios relativos à cedência de direitos sobre a terra, sobre a propriedade, para a constituição de sociedades comerciais e outras formas de parcerias económicas. Os trabalhadores precisam de conhecer perante cada situação concreta os seus direitos e os seus deveres.

Amiúde vê-se uma advocacia distante, e por isso ausente, a viajar de outros pontos do país para esta província para responder às necessidades locais e permanentes de ajuda jurídica. Esta não é a fórmula certa. Defendemos uma prestação advocatícia de proximidade, pois o procurador do cidadão não deve estar longe deste quando ele mais precisa. Inhambane têm os seus magistrados judiciais e do Ministério Público a viverem e a trabalhar nesta província. Precisa igualmente de advogados que vivam e trabalhem aqui.

Sintetizando, a Província de Inhambane precisa de mais advocacia e mais advogados. Carece de profissionais que ajudem a sustentar o seu crescimento e apoiem todos os actores deste o processo onde e quando esse apoio profissional se afigure necessário. Necessita de advogados que contribuam para a promoção de uma justiça mais credível, mais célere, mais justa e mais amiga do cidadão.

Para ajudar neste desiderato, e sob proposta do Conselho Nacional, nomeamos o Dr. Grácio Abdula para Delegado da Ordem dos Advogados de Moçambique nesta Província que inicia hoje o exercício do seu importante magistério, por via do empossamento que acabaram de presenciar.

O primeiro Delegado da Ordem em Inhambane é um advogado experiente, formado e titulado em Portugal onde exerceu a advocacia durante alguns anos, tendo depois decidido regressar à sua pátria.

Ao contrário de muitos outros que se fixaram na capital do país ou na melhor das hipóteses nas capitais provinciais, o Dr. Grácio escolheu, e bem em nosso entender, fixar domicílio profissional na Vila de Vilankulos.

Por isso, para além dos seus atributos já conhecidos e reconhecidos, quisemos aproveitar este exemplo de confiança profissional no desenvolvimento das vilas e distritos deste belo Moçambique para associá-lo à singular experiência da Ordem dos Advogados que elegeu um bastonário que não reside na capital do país, p e r m i t i n d o - n o s c o m i s s o t r a n s m i t i r simbolicamente a ideia de que Moçambique é muito mais do que a sua capital e, neste caso concreto, que a Província de Inhambane vai muito

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para além desta bela cidade onde hoje estamos.É nossa convicção que a desconcentração

da advocacia e dos advogados é a ideia que melhor serve os desígnios de desenvolvimento real, simétrico, uniforme e solidário do nosso país.

Formalmente, e ao abrigo do disposto no artigo 51° dos Estatutos da Ordem dos Advogados de Moçambique, compete ao Delegado:· Manter actual izado o quadro dos advogados e advogados estagiário inscritos e com domicílio profissional na área territorial da delegação (al. a).· Tomar resoluções ou praticar actos conducentes à realização dos fins da Ordem dos Advogados na área territorial da delegação precedido de consulta ao Conselho Nacional, salvo o caso de manifesta urgência (al. b).· Prestar ao restantes órgãos da Ordem dos Advogados a colaboração que lhe for solicitada e cumprir pontualmente com as respectivas instruções (al. c)

Estas cláusulas gerais da competência dos delegados têm implicações implícitas. Desde logo, é nossa expectativa que o Delegado de Inhambane faça uma rápida radiografia das oportunidades que esta província oferece ao nível da advocacia e "venda" tais oportunidades aos outros advogados, sobretudo aos novos advogados, para que venham

fixar domicílio profissional nesta província e participem no seu processo de desenvolvimento.

Desejamos ainda que o Dr. Grácio Abdula seja o primeiro e o último delegado da Ordem dos Advogados de Moçambique na Província de Inhambane. Não porque o queiramos a ocupar o cargo vitaliciamente, mas porque seria sinal de que a população de advogados nesta província cresceu rapidamente. Deste modo seriamos compelidos a vir constituir um Conselho Provincial da Ordem dos Advogados, o que nos termos da lei só pode ocorrer quando uma província tenha mais de 15 advogados.

Por conseguinte, na certeza que nos movem interesses comuns a bem da justiça, solicito a colaboração de todos os presentes, incluindo dos colegas de profissão, e de todas as forças vivas desta província, com o novo Delegado. Que o auxiliem a levar a bom termo a sua difícil mas importante missão.Desejo também uma relação sinérgica, frutífera e próspera entre a Ordem dos Advogados de Moçambique, os cidadãos e todos os poderes desta província. Que seja uma parceria assente numa base de estreita colaboração, de respeito pelas especificidades das funções e obrigações de cada um e pela independência da Ordem e dos Advogados.

Bem haja Província de Inhambane.Muito Obrigado.

Inhambane, a 16 de Julho de 2012.

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ESTADO ACTUAL DAS OBRAS

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DOS IMPEDIMENTOS PARA DEPOR COMO TESTEMUNHA

"A verdade se corrompe tanto com a mentira como com o silêncio." (Cícero)

O presente artigo destina-se a abordar a questão dos impedimentos para uma pessoa física depor como testemunha, com base nas normas consagradas no Código de Processo Civil (CPC). O tema é motivado pelo facto de, da interpretação dos artigos 616 a 618, referentes as incapacidades e impedimentos para se depor como testemunha, resultar a possibilidade de qualquer pessoa depor como testemunha, independentemente dos laços familiares, profissionais ou de qualquer outra natureza que tenha com uma das partes.

A situação acima referida levanta a questão relacionada com o grau de imparcialidade e neutralidade da testemunha em relação aos factos e as partes.

Entretanto, fazendo uma interpretação sistemática das disposições relativas a prova testemunhal, mais concretamente o nr 2 do art. 635 (CPC) percebe-se a existência de uma prerrogativa ao serviço do juiz de poder “arbitrar” outros impedimentos do depoimento testemunhal.

Em face de tal faculdade do juiz, verifica-se um alargamento do rol dos impedimentos, sem que os mesmos estejam consagrados nas disposições expressamente dedicadas aos impedimentos e incapacidades.

Sendo de esperar da testemunha um certo grau de imparcialidade e neutralidade, seria razoável prever, entre os impedimentos para o depoimento de uma testemunha, o facto de a mesma possuir com a parte uma relação que possa reduzir a sua independência em virtude de um vínculo familiar, profissional ou afectivo.

De todo modo, no cenário actual, nada impede que pessoas com os referidos laços em relação a uma das partes possam depor contra ou a favor da mesma, cabendo ao juiz apreciar o mérito do depoimento, bem como a sua força probatória.

Com base no que resulta do CPC “... Podem depor como testemunhas todos aqueles que não sejam inábeis por incapacidade natural...”(Vide art. 616 CPC). Padecem de incapacidades naturais as pessoas nas situações previstas no no 1 do artigo 617 CPC nomeadamente:a) Os interditos por anomalia psíquica;b) Os cegos, os surdos e outros, naquilo cujo conhecimento dependa dos sentidos de que carecem;c) Os menores de sete anos.

Legitimidade e impedimentos Estão ainda impedidos de depor como testemunhas os que podem depor como partes na causa (art. 618 CPC).O rol de impedimentos e incapacidades referidos anteriormente levanta, quanto a nós, uma questão a qual é importante clarificar: a de saber se podem depor como testemunhas pessoas que com a parte mantenham: Ÿ Laços familiares (ex: marido como parte e

esposa como testemunha numa acção declarat iva de condenação para o pagamento de determinada quantia, interposta contra o marido);

para depor como testemunha

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TEAJNAM LUAR

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Sumário1

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Ÿ Laços de parentesco (ex: pai como parte e filho como sua testemunha numa acção declarativa de simples apreciação interposta pelo pai);

Ÿ Laços profissionais (ex.: empregador como parte e trabalhador como sua testemunha numa acção interposta por um outro trabalhador para a impugnação de despedimento ilícito).

Fundamentalmente, a questão prende-se com a va l idade do depoimento prestado pela testemunha, como meio probatório, nas situações descritas anteriormente.

Embora geralmente se defina a testemunha como o “simples particular chamado a depor em juízo, sob juramento, acerca de factos de que pessoalmente tenha tido conhecimento”, o princípio básico é que a testemunha tenha um certo grau de imparcialidade e neutralidade em relação a parte no processo.

Dado que, a priori, verifica-se um certo envolvimento emocional, podendo prejudicar a produção da prova testemunhal.

Relativamente a questão anteriormente levantada, ou seja, se em sede de processo civil, pode depor como testemunha quem possua laços familiares, de parentesco ou profissionais, ou mesmo de afecto manifesto, a resposta, à luz da lei, deve ser no sentido afirmativo.

De facto, ao estabelecer a situação excepcional, o art. 618 CPC confirma a regra e valida o que anteriormente foi dito. Com base no disposto no artigo mencionado, podem recusar a depor como testemunhas, salvo quando se trate de verificar o nascimento ou óbito dos filhos (ex: caso da averiguação oficiosa da maternidade/paternidade o u a c ç õ e s d e i n v e s t i g a ç ã o d e maternidade/paternidade:a) Os ascendentes nas causas dos descendentes e os adoptantes nas causas dos adoptados, e vice-versa;b) O sogro ou a sogra nas causas do genro ou da nora, e vice-versa;c) Qualquer dos cônjuges ou daqueles que vivem em união de facto nas causas em que seja parte o outro cônjuge;d) Os que, por seu estado profissional estejam vinculados ao sigilo profissional.

Embora no ramo substantivo haja distinção, quanto a natureza, entre o Direito Civil e o Direito Penal, no ramo processual, integram-se ambos no âmbito do direito público.

É importante assinalar que, em sede de processo penal parece haver uma maior rigorosidade no que diz respeito a prova testemunhal sendo que desde logo distingue-se a prova testemunhal e a prova por declaração. A qualidade de declarante afere-se por exclusão de partes, ou seja, as pessoas inábeis para depor como testemunhas, podem depor como declarantes, caso o juiz o entenda necessário no exercício do seu poder discricionário, previsto no 2° do artigo 216 do Código de Processo Penal (CPP).

Numa clara medida tendente a garantir imparcialidade e neutralidade da testemunha, para além de outros impedimentos, em processo criminal, não podem ser testemunhas os ascendentes, descendentes, irmãos, afins nos mesmos graus, marido ou mulher do ofendido, da parte acusadora ou do arguido (n° 3 do artigo 216 CPP).

Embora geralmente se diga que o Direito Civil (incluindo o Processual Civil) se basta pela verdade formal, sendo a prova testemunhal um meio de prova válido e permitido, julgamos que deveria ser alargado o rol de incapacidades ou impedimentos devendo-se incluir como inábeis as pessoas referidas no já citado nº 3 do artigo 216 CPP, bem como outras pessoas ligadas à parte “em benefício da qual” vão testemunhar, por quaisquer outros laços que possam reduzir a sua independência e, consequentemente, a credibilidade do seu depoimento como testemunha.

O cenário actual, propicia uma situação de lei morta, dado que dificilmente o julgador pode atribuir validade de nível probatório ao depoimento prestado, por exemplo, pelo filho na qualidade de testemunha (a favor do pai) numa acção proposta pelo ou contra o seu pai. Do mesmo modo, em acções laborais, embora o juiz admita o depoimento do trabalhador arrolado como testemunha pelo empregador, reduz-se a valoração do depoimento daquele trabalhador como meio de prova.

Pode se dizer que justifica-se tal atitude do julgador, na medida em que dificilmente se pode esperar que a testemunha nessas circunstâncias diga algo adverso ou que possa prejudicar a parte (a favor de quem depõe) ou a si própria, embora seja

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As regras normais de convivência social revelam que tal grau de imparcialidade e neutralidade dificilmente pode ser obtido de alguém que esteja ligado ou vinculado à parte,

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legalmente obrigada a prestar juramento vinculando-se a dizer a verdade e só a verdade (vide o nº 1 art. 635, conjugado com o art. 559 CPC).Aspecto muito interessante é que nos termos do art. 635 CPC, o juiz, antes de inquirir a testemunha em relação a matéria processual controvertida, deve identificar a testemunha, perguntando-lhe se é parente amigo ou inimigo de qualquer das partes, se está para com eles, nalguma relação de dependência e se tem interesse, directo ou indirecto na causa (nº1 art. 638 CPC). Caso, pelas respostas às questões anteriormente referidas, o juiz verifique que o depoente é inábil para ser testemunha, não o admitirá a depor (no 2 do art. 635 CPC).

A questão que surge em resultado das disposições legais referidas, é a seguinte: exist i rão outros impedimentos ou incapacidades para depor em processo civil fora dos previstos nos artigos 616 a 618 CPC será que a faculdade conferida ao juiz de não admitir o depoimento de uma testemunha nos termos do no 2 do art. 635 CPC estende-se às situações em que o juiz verifique a existência de laços familiares, de parentesco, de amizade (ou inimizade) ou qualquer outra relação de dependência, interesse directo ou indirecto na causa. S e r ã o t a m b é m e s t a s s i t u a ç õ e s impedimentos para o depoimento na qualidade de testemunha?

Da leitura isolada dos artigos 616 a 618 CPC resulta como únicos impedimentos à prova

testemunhal as situações previstas naquelas disposições, ou seja , as incapacidades naturais e o impedimento por virtude de se ser parte. Entretanto, ao nível da aplicação do direito, apela-se sempre a uma interpretação sistemática e, com base nessa metodologia, não se pode ignorar o previsto no art. 635 CPC, o que faz com que prevaleça a dúvida de saber se o legislador pretende integrar as situações p r e v i s t a s n o a r t . 6 3 5 . 1 C P C , o u , contrariamente pretende excluí-las do rol dos impedimentos do depoimento como testemunha.

Julgamos que o local mais adequado para prever todos os impedimentos seria a subsecção sobre inabilidade para depor e não na subsecção da produção da prova testemunhal. Isto significa que a faculdade atribuída ao juiz deveria estar prevista na subsecção sobre inabilidades.

De todo modo, as disposições legais do CPC actualmente vigentes dão a entender que as ligações de parentesco, outros laços familiares, relações de amizade ou mesmo as relações profissionais (empregador-trabalhador) não constituem impedimento para o depoimento de uma testemunha.

S e n d o a s s i m , p o d e a p a r te n u m determinado processo, arrolar o seu cônjuge, filho ou amigo para depor como testemunha a seu favor, cabendo ao juiz a livre apreciação da prova testemunhal produzida.

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Advogado

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ENTRE CÔNJUGES

BREVE REFLEXÃO SOBRE A SOCIEDADE POR QUOTAS

Se, qualquer dos cônjuges independentemente da autorização do outro pode exercer a actividade empresarial, nada obstará que por consenso eles decidam constituir uma sociedade por quotas nos termos do art. 284 do Ccom.

Relativamente ao exercício singular do comércio a luz do art. 11 do Ccom, não se colocam grandes dúvidas uma vez que a lei reserva o direito de o outro cônjuge poder opor aos actos que julgar prejudiciais ao património do casal. De igual modo, pelas obrigações mercantis que contrair o cônjuge separado legalmente de pessoas e bens, ou simplesmente de bens, respondem todos os seus bens não dotais, podendo, para actos de comércio, empenhá – los, vendê – los, hipotecá – los e aliená – los de qualquer forma, sem autorização do outro cônjuge.

Algumas questões podem – se levantar relativamente ao que dispõe o art. 284 do Ccom. Nos termos deste artigo, não importa o regime de bens do casamento. Qualquer que seja o regime, a lei outorga o poder de os cônjuges constituírem uma sociedade por quotas. A primeira questão a colocar é a seguinte: Uma vez casados em regime de comunhão geral de bens, qual é o alcance prático da divisão do capital social entre eles em duas quotas. A segunda questão, é a de saber se uma vez casados em regime de comunhão de bens a sua participação e m t e r m o s p r á t i c o s n ã o c o n s u b s t a n c i a contitularidade da quota tal como se encontra previsto no n° 2 do art. 91 do Ccom e dai assumir – se, que o elemento pessoal da sociedade por quotas pluripessoal não está realizado? Em relação a primeira questão importa – nos dizer o seguinte:Na verdade, os lucros provenientes do exercício da empresa comercial serão quinhoados entre os sócios.

No caso vertente, os sócios são os cônjuges casados em regime de comunhão geral de bens e como tal, o património comum é constituído por todos os bens presentes e futuros, que não sejam exceptuados por lei. Ora, uma vez existindo bens que não compõem o património comum quais sejam, o usufruto, o uso ou habitação, e demais direitos estritamente pessoais, entre outros previstos no art. 152 da Lei n° 10/2004 de 25 de Agosto – Lei da Familia, o cônjuge detentor destes direitos poderá usa – los para comparticipar na sociedade. E quid júris os dividendos que resultarem dessa sua participação assumindo que a lei estabelece que são bens comuns os presentes e futuros não exceptuados por lei? Aqui começa o interesse por parte do legislador em regular tal questão. É que, os frutos que derivam dos bens próprios, são comunicáveis, ou seja, os dividendos que resultarem da participação do cônjuge – sócio através de bens incomunicáveis na sociedade, passam a ser bens comuns do casal atento ao que dispõe o nr 2 do art. 152 da Lei da Familia.No fundo, somos levados a pensar que o interesse associado ao exercício comum da empresa pelos cônjuges casados em regime de comunhão geral de bens, há – de corresponder em última instancia a um interesse comum do próprio casal sem descurar as vantagens que podem advir do conhecimento mútuo e convergência maior de interesses, pelo menos, potencialmente quando comparados com o interesse de sócios não cônjuges ou cônjuges casados em regime de comunhão de adquiridos ou de separação.

Quanto a contitularidade ou não da quota e por isso inexistência do preenchimento do elemento pessoal, relevante para a constituição de sociedade por quotas pluripessoal, importa dizer que o casamento ainda que em regime de comunhão geral de bens não põe em causa a natureza individual da personalidade. O único problema que a comparticipação dos cônjuges coloca, é relativamente ao próprio património que no final de contas pertente a uma mesma unidade “família”. Desse facto, entendemos que até traz maiores vantagens para terceiros e/ou credores sociais que

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encontram na confiança presumida dos cônjuges uma garantia do fim comum do exercício da empresa comercial. Por fim, há sim o elemento pessoal preenchido e no caso em apreço, com dois

sócios que embora cônjuges, serão regidos pelo que é aplicável aos sócios de umas sociedade por quotas em geral.

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Advogado Estagiário

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CURSO DE LIDERANÇA

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O ACORDO REVOGATÓRIO

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O acordo revogatório é uma das formas de extinção do contrato de trabalho que se materializa através da convergência da manifestação das vontades entre o trabalhador e o empregador no sentido de pôr termo ao contrato de trabalho outorgado. Esta forma de extinção do contrato, o nosso legislador prevê nos artigos 124, nº 1, al. b) e art. 126 ambos da Lei do Trabalho (LT). O acordo revogatório é um negócio jurídico formal, o legislador impõe que conste num documento escrito, assinado entre o trabalhador e o empregador, contendo de forma expressa a data da assinatura do acordo bem como a de início da produção dos efeitos jurídicos conforme estabelece o art. 126, nº 1 da LT. A falta de forma escrita do acordo revogatório, torna o mesmo ineficaz uma vez que lhe falta uma circunstância extrínseca que integra no acordo para produzir os efeitos, tanto mais que os efeitos jurídicos da cessação do contrato só se produzem dando a conhecer a contraparte através de um documento escrito (art. 124, nº 3 da LT). O legislador permite que o trabalhador possa enviar o acordo tanto ao órgão sindical como ao órgão da administração do trabalho para ser apreciado (art. 126, nº 2 da LT).

Naturalmente que o trabalhador poderá solicitar a apreciação do acordo a um Advogado ou técnico jurídico. Para que o trabalhador possa gozar tal direito, é necessário facultar a cópia do acordo ao trabalhador e não simplesmente “exigir” que o trabalhador assine o acordo na empresa como tem acontecido nos acordos revogatórios dissimulados.

Depois do início da produção dos efeitos jurídicos do acordo, nada obsta que o trabalhador faça cessar os mesmos, designando-se este acto por revogação do acordo revogatório. Alguns chamam este direito de fazer cessar os efeitos jurídicos do acordo, por “direito ao arrependimento”. Para fazer cessar os efeitos jurídicos do acordo, o legislador impõe no

a r t . 1 2 6 , n º 3 d a LT c e r t a s c o n d i ç õ e s designadamente: 1ª comunicar ao empregador por escrito no prazo de sete dias e 2ª devolver todo o valor de forma imediata se o empregador tiver pago ao trabalhador como compensação pecuniária.

O trabalhador ao fazer cessar os efeitos jurídicos do acordo, revogando o acordo revogatório, pretende regressar ao seu posto de trabalho para exercer a sua actividade normalmente. No entanto, pode suceder que o trabalhador tenha feito cessar os efeitos jurídicos do acordo legalmente, observando as condições impostas pelo legislador, mas o empregador rejeita o regresso do trabalhador, proibindo assim exercer a sua actividade. Nestes casos diz-se que o empregador rescindiu o contrato de trabalho sem justa causa, arcando daí todas as consequências legais que advêm.

Uma das questões que se pode colocar é de saber, que direitos assistem ao trabalhador em caso de extinção do contrato por meio do acordo?

Tem sido comum a celebração de acordos revogatórios dissimulados e que são verdadeiras cessações de contrato por vontade unilateral do empregador. Por outro lado, há acordos que têm sido celebrados pelos trabalhadores com autêntica afronta à Lei.

Voltando a questão anteriormente colocada, primeiro temos a dizer que é preciso fazer uma análise casuística. Pode suceder que haja extinção do contrato de trabalho por meio do acordo e não haja qualquer consequência patrimonial, por exemplo pagamento de indemnização como sucede nos casos de rescisão sem justa causa. Porém, nada impede que sejam pagos ao trabalhador os seus créditos. Pode suceder que o trabalhador tenha feito trabalho extraordinário ou

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excepcional e que não tenha sido pago, ou mesmo tenha férias não gozadas. A própria remuneração, pode não ter sido paga antes da celebração do acordo, devendo nestes casos ao trabalhador ser paga a remuneração conjuntamente com o trabalho extraordinário, excepcional bem como a substituição das férias por uma remuneração suplementar. Por outro lado, a cessação do contrato de trabalho não prejudica a inscrição do trabalhador na Segurança Social.

Do acima exposto, deve entender-se que, qualquer que seja a forma de extinção do contrato de trabalho, a mesma só determina o termo das obrigações entre as partes inerentes ao cumprimento do contrato de trabalho, mas são constituídos direitos e deveres que a própria lei prevê (art. 124, nº 2 da LT), não podendo o

trabalhador ser prejudicado dos seus direitos com o disfarce de acordo.Assim, é por exemplo contrário à lei o acordo revogatório em que se estabelece que o trabalhador renuncia a sua remuneração, uma vez que contraria o art. 121 da LT. É contrário à lei o acordo que estabelece que o trabalhador renuncia os direitos inerentes a sua inscrição na Segurança Social. Este facto ocorre principalmente com empregadores que não canalizam as contribuições à Segurança Social.É preciso retermos que a Lei do Trabalho contém normas dispositivas e imperativas, não dando estas últimas a hipótese de serem substituídas por meio de vontade das partes ou de vontade do empregador e uma suposta vontade do trabalhador.

Advogado CP n° 731

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EXAME NACIONAL

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A DISPENSA DA DECLARAÇÃO PRÉVIA COMO CONDIÇÃO PARA INTERPOSIÇÃO DE RECURSO NA LEI N.º 29/2009 DE 29 DE SETEMBRO

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Os crimes praticados no âmbito das relações domésticas e familiares e de que não resultem morte são regulados pela lei n.º 29/2009 de 29 de Setembro.

Prevê o artigo 33 da referida lei que os crimes correspondentes a pena de prisão maior, o processo segue os termos do processo de querela. O que quer dizer, que os crimes que correspondam a pena menor que aquela, seguem as outras formas de processo nomeadamente a forma sumária e polícia correccional.

Mais adiante no n.º 2 do artigo 34, da lei que temos vindo a nos referir, prevê-se que a interposição do recurso não depende de qualquer declaração prévia da acusação ou da defesa.

Regra geral as decisões de julgamentos sumários ou de polícia correccional só são recorríveis se a defesa e/ou acusação declararem previamente que não prescindem de recurso. Caso contrário, porque o i nte r ro g ató r i o d o ré u, d e p o i m e nto d a s testemunhas, declarações dos ofendidos e outra pessoas serão verbais e não escritos, portanto não serão ditados a acta, a sentença não será susceptível de recurso ordinário.

A declaração de que não se prescinde de recurso, que deve ser feita logo no início, antes do interrogatório do réu, requer muita atenção das partes interessadas. Casos há em que por mera distracção ou falta de conhecimento daquela previsão legal os pretensos interessados não a fazem, perdendo deste modo o direito do recurso ordinário.

A referida exigência cujos fundamentos não cabe aqui discutir já se mostra inoportuna. Todavia a gr a d a a a l g u n s p ro f i s s i o n a i s d o fo ro,

nomeadamente juízes, procuradores e advogados nomeados oficiosamente, pois há que assinalar que o ditado a acta requer certa habilidade por parte dos juízes e prolonga por mais tempo o julgamento.

O artigo 34 da Lei n.º 29/2009, de 29 de Setembro traz uma grande inovação ao prever a não dependência de tal declaração para o recurso da decisão tomada pelo tribunal.

Sendo a Lei n.º 29/2009 de 29 de Setembro, uma lei especial em relação ao CPP prevalece sobre esta. Quer isso dizer que todo o julgamento à luz das infracções prevista na Lei n.º 29/2009, de 29 de Setembro, ainda que de sumário crime se trate deve ser ditado a acta, mesmo que os representantes da acusação e/ou da defesa não tenham declarado prévia e expressamente que não prescindem do recurso.

Salvo melhor opinião contrária julgamos ser nulo o julgamento que de tal forma correr.

Um exemplo a Seguir

Advogado

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A questão que se coloca é de se saber como será no caso do juiz habituado a “incómoda” declaração prévia da não despensa de recurso em sumário crime de polícia correccional não dita à acta a prova produzida e o interveniente vencido queira recorrer da decisão.

Oportuno seria no âmbito da reforma do Código do Processo Penal, em curso, alargar o regime da dispensa da declaração prévia como condição sine quo non de interposição de recurso para toda as formas de processo penal.

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DA RESPONSABILIDADE CIVIL EMERGENTE DE ACIDENTE ESTRADAL

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No ano de 2011 foi aprovado o novo Código da Estrada, pelo Decreto-Lei n.º 1/2011, de 23 de Março, que revogou o antigo Código da Estrada aprovado pelo decreto-Lei n.º 39672, de 20 de Maio de 1954.

Com a aprovação do Novo Código pretendia-se, fundamentalmente, uma ac tual ização e condensação num único diploma, do regime jurídico do trânsito rodoviário.

Uma das matérias que foi objecto de alteração é a da responsabilidade civil emergente de acidente de viação.

Segundo o Código da Estrada de 1954, que no Capítulo I do Título VI tratava da responsabilidade civil, todo o acidente causado por veículo em trânsito nas vias públicas que atinja qualquer pessoa na sua integridade física ou no seu património dá ao lesado o direito a indemnização pelos prejuízos causados – art.º 56.º

Mais – conforme estabelecia o n.º 4 do artigo 56.º do Código de 1954 – o proprietário ou possuidor do veículo causador do acidente, quando estes não transitem contra a sua vontade, responderá solidariamente com o autor pelos danos causados, sem prejuízo do seu direito de regresso contra o condutor, quando o acidente lhe fosse imputável.

Mas a condenação solidária não operava “ope legis”. Para que o condutor, ou o proprietário do veículo causador do acidente, ou ainda, a entidade para a qual se mostrasse transfer ida a responsabilidade civil respondesse solidariamente com o comissário ou condutor causador do acidente, era necessário que fossem demandados nos termos do art. 67°, n° 2 do Código da Estrada de 1954.

Estabelecia esta disposição que o lesado pode, na acção penal, deduzir o pedido de indemnização numa petição articulada e acompanhada dos duplicados exigidos pelo artigo 152.º do Código de Processo Civil, contra as pessoas que só sejam civilmente responsáveis pelo acidente causado pelo arguido, até 8 dias depois de este ser notificado do despacho de pronúncia ou equivalente. Nos termos do art.o 3o, n.o 2 do Decreto – Lei n° 28/75, de 1 de Março, o despacho que designa a data do julgamento equivale ao despacho de pronúncia.

Uma vez dada a entrada da petição, as pessoas contra as quais fosse deduzido o pedido de indemnização deveriam ser notificadas para contestar no prazo de 8 dias a contar da data da notificação, podendo requerer a instrução contraditória dentro de 5 dias.

Só após o exercício do contraditório podia ser admissível a fixação de indemnização, a cargo dos só civilmente responsáveis, em sede de sentença penal condenatória por acidente estradal.

Era um ónus legal inafastável decorrente da repristinação dos artigos 29° a 31° inclusive, do Código de Processo Penal e do art.o 67° do Código da Estrada, operada pelo art. 2°, n.os 1 e 2 da Lei n° 9/92, de 06 de Maio, os quais haviam sido revogados pelo art. 19° do Decreto – Lei n° 4/75, de 16 de Agosto.

Concludentemente, a condenação dos só civilmente responsáveis no pagamento das indemnizações constantes da sentenças não antecedidas das competentes acções cíveis traduzia-se no conhecimento de questões de que o juiz não devia ter tomado conhecimento, o que equivale a dizer, que cometia-se uma ilegalidade

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que tornava nula a sentença – art. 668°, n° 1, al. d), 2ª parte, do Código de Processo Civil.

Consequentemente, a subsequente acção executiva que fosse apensa aos autos também se mostrava nula, dada a inexistência do indispensável título executivo que, conforme se depreendia, era nulo por consistir numa sentença manifestamente injusta e ilegal.

Esta questão, de Direito, constitui jurisprudência assente, tanto entre nós, (cfr. Acórdão do Tribunal Supremo, datado de 13 de Julho de 2004), como em Portugal (cfr. Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça, de 3 de Maio de 1961), que consideram que ninguém pode ser condenado, inclusive em indemnização, sem que se lhe faculte a possibilidade de se defender. Eram essas as regras aplicáveis na vigência do Código da Estrada de 54.

Hoje, com a entrada em vigor do Código da Estrada de 2011 e a inerente revogação do de 1954, não se encontram no novo regime jurídico da Estrada disposições equivalentes a algumas que constavam do Código revogado, relacionadas com a matéria da resposabilidade civil por acidente estradal. São os casos dos artigos 56.º, na parte referente ao direito do lesado à indemnização, e 67.º, no que tange ao exercício da acção cível em conjunto com a acção penal.

O artigo 56.º estabelecia que as pessoas que fossem lesadas física ou patrimonialmente por acidente de viação tinham direito a indemnização pelos prejuízos e ou danos sofridos.

O artigo 67.º estabelecia que, nos casos de acidente estradal, o exercício da acção cível em conjunto com a acção penal era regulado pelos artigos 29.º a 34.º do Código de Processo Penal, salvas algumas excepções já acima referidas.

Não estando previstas estas duas situações pode questionar-se qual, então, a via para o ressarcimento pelos prejuízos sofridos em virtude de acidente de viação.

A solução encontra-se no regime geral previsto na legislação cível, processual penal e processual civil.

Pesem embora estas diferenças entre os Códigos da Estrada de 1954 e de 2011, mantem-se a obrigatoriedade de o pretenso ofendido deduzir pedido cível adentro da acção penal relativa ao acidente estradal, contra o suposto culpado.

Tal obrigatoriedade é mais premente quando haja pessoas só civilmente responsáveis, porque a condenação do condutor em processo crime não constitui caso julgado em relação a outros responsáveis que não intervieram nesse processo, designadamente quanto ao montante da indemnização fixada, – neste sentido, cfr. Acórdão do S.T.J., de 21 de Junho de 1963; B.M.J., 128, 529.

Aliás, o artigo 3° do Código de Processo Civil é peremptório quando determina que o tribunal não pode resolver conflitos de interesses sem que a parte contrária seja chamada a deduzir oposição.

É, por outras palavras, necessária a propositura de uma acção cível adentro da acção penal por acidente estradal, através de uma petição inicial acompanhada dos duplicados legais, na qual se requer a condenação dos pretensos responsáveis civilmente. Estes devem ser citados para contestar, querendo, devendo a acção correr seus termos até final.

Sem acção cível os só civilmente responsáveis não podem ser condenados, muito menos executados.

Advogado CP n° 460

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Portanto, para que a pessoa só civilmente responsável (nos termos do artigo 503.º do CC) responda solidariamente com o comissário ou condutor causador do acidente, é necessário que seja também demandada nos termos do art. 28.º do CPC, e 29.º a 34.º do CPP, por forma a que tenha a oportunidade de se defender.

Se antes o processo de acidente estradal seguia regras específicas no que tange à responsabilidade civil, hoje este processo obedece à regra geral. Isto é, obedece ao estabelecido nos artigos 29.º a 34.º do Código de Processo Penal, já sem excepções.

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BREVES

CUSTÓDIO DUMA ELEITO PRESIDENTE DA COMISSÃO NACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS O advogado, Duma, foi o membro indicado pela Ordem dos Advogados de Moçambique. A Ordem felicita o Ilustre Colega e almeja que este seja a voz da defesa da dignidade do cidadão moçambicano e da denúncia da violação dos direitos humanos, pugnando alcançar o Estado de Direito Democrático e de Justiça Social.

Custódio

CURSO DE LIDERANÇADecorreu no dia 20 de Julho, no Hotel Polana, o curso de liderança. Com a participação de 24 advogados e advogados estagiários, o curso pugnou por uma abordagem moderna e de grande interactividade, testando os conhecimentos pré concebidos sobre liderança. Os consultores da “High Play Institute”, Mário Henriques e Sylvie Cardoso, através de quatro exercícios práticos, sujeitaram os presentes a uma reflexão e experimentação de novos estilos de liderança, que implicam necessariamente o interacção com os outros, conquistando-os para a mesma visão.

NOMEADO DELEGADO DA PROVÍNCIA DA ZAMBÉZIA Foi nomeado pelo Bastonário, após proposta do Conselho Nacional, o Delegado da Província da Zambézia, Dr. Anastácio Nhomela. Advogado e activista de Direitos Humanos, tomará posse em Agosto do presente ano.

EXAME NACIONAL DE ACESSOCom resultados bastante positivos, decorreu o 3º Exame Nacional de Acesso nas três zonas do País, Norte, Centro e Sul. Estavam inscritos 37 advogados estagiários e técnicos do IPAJ, e realizados os exames escritos e as provas orais aprovaram 33 e reprovaram 4, significando que o número de 1000 advogados até ao fim deste ano é já certo.

SEMANA DO ADVOGADODecorrem os preparativos da realização da Semana do Advogado, que promete ser um evento de interesse e impacto, não somente para os membros da Ordem, mas também para todos os actores da administração da justiça.

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CURSO DE ENERGIA E DE GESTÃO DE TEMPOEm breve a abertura de duas formações em áreas de grande interesse na actual advocacia, o CURSO DE GESTÃO DE TEMPO E O CURSO DE ENERGIA, ministrado por consultores e professores brasileiros.

Fique atento!

CURSO DE ARBITRAGEMA Ordem e o escritório de advogados PMLJ organizam nos dias 15 e 16 de Agosto o Curso de Arbitragem, ministrado por advogados portugueses, curso que visa capacitar os advogados e advogados estagiários, em meios alternativos de resolução de conflitos, que pode proporcionar oportunidades menos burocratizadas e eventualmente mais céleres de desfecho dos litígios.

Fique atento!

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Não recebe informação electrónica da OrdemPor favor envie o seu email para:

[email protected] ? FICHA TÉCNICAEdição: OAMDirector: Gilberto CorreiaDirector Adjunto: Laurindo SaraivaCoordenação: Vânia Xavier e Tânia WatyMaquetização: Ramalho Nhacubangane

PARA MAIS INFORMAÇÕES CONTACTE:Av.: Vladimir Lenine, nr 1935 R/C

Maputo-MoçambiqueTel.: +258 21 4147743Fax: +258 21 4147744Cel: +258 82 3038218

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ANEDOTAS

NO TRIBUNAL, O JUIZ: Então acusaram você de roubar um relógio de ouro. O que é que você tem a dizer em sua defesa? Ai senhor doutor Juiz não fui eu, é tudo falso, falso, falso. Primeiro não roubei nenhum relógio e segundo o relógio não era de ouro

O VELHOTE DIZ AO ADVOGADO Eu queria fazer o meu testamento, mas... Não sei bem como o fazer... Não se preocupe, eu trato disso. Deixe tudo comigo. O velhote fica um pouco indignado e diz: Bem, quer dizer... Eu já estava à espera que me quisesse lixar, mas ao menos deixava a minha família ficar com qualquer coisinha, não?

Qual é o problema com as anedotas de advogados? Os advogados não lhe acham piada e as outras pessoas não acham que sejam anedotas

ADVOGADO DE ACUSAÇÃO PERGUNTA À TESTEMUNHA Você disse que foi à casa do réu no dia 12 de Dezembro. Pode-nos dizer o que foi que ele lhe disse? O outro advogado de defesa protesta: Objecção! Segue-se uma longa discussão entre os advogados e o juiz para decidir se a pergunta devia ser respondida ou não. Os ânimos exaltam-se, 45 minutos passam, e finalmente o juiz decide aceitar a pergunta. O advogado de acusação pergunta novamente à testemunha: Disse portanto que foi à casa do réu no dia 12 de Dezembro. Pode-nos então dizer o que foi que ele lhe disse? Nada... não estava ninguém em casa!

CONFERENCIA ANUAL DA SADC LAWYERS ASSOCIATION Este ano a Conferencia Anual da SADC Lawyers Association, realizar-se-á na Suazilândia, entre os dias 23 e 26 de Agosto de 2012. Para mais informações contactar: Email: Mrs. Makanatsa Makonese - [email protected] ou [email protected] Email: Mrs. Prudence Mabena - [email protected] ou [email protected].