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BOLETIM INFORMATIVO do Tribunal Administrativo | Dezembro de 2013 | 3.ª Edição Linhas da contadoria de contas e auditoria DR. JEREMIAS ZUANDE AMÂNCIO CHISSICO PÁGS. 4 A 8 PÁGS. 10 A 11 PÁG. 9 TA APRECIA 84118 PROCESSOS DE VISTO DE PESSOAL EM 2012 DE ESTOFADOR A OFICIAL DE JUSTIÇA

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BOLETIM INFORMATIVO do Tribunal Administrativo | Dezembro de 2013 | 3.ª Edição

Linhas da contadoria

de contas e auditoriaDR. JEREMIAS ZUANDE

AMÂNCIO CHISSICO

PÁGS. 4 A 8

PÁGS. 10 A 11PÁG. 9

TA APRECIA 84118 PROCESSOS DE VISTO DE PESSOAL

EM 2012

DE ESTOFADOR A OFICIAL DE JUSTIÇA

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EditorialDezembro de 2013

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PARA o efeito, decorreu, nos dias 17 e 18 de Dezembro de 2012, em Maputo, um workshop, onde tomaram parte, técnicos das áreas estratégicas do Tribunal

Administrativo (TA), concretamente, da Contadoria do Visto, da Contadoria da Conta Geral do Estado, do Contencioso Administrativo, do Contencioso Fiscal e Aduaneiro, da área de Auditorias de Obras e de Prestação de Contas de Gerência.

TA pretende melhorar a sua tramitação processual

O Tribunal Administrativo lança o terceiro número do Boletim Informativo denominado “Linha In-formativa TA”.

Esta edição tem a particularidade de vir até si depois da cerimónia de lançamento, a 9 de Agos-to do corrente ano. Queremos aproveitar este

espaço para manifestarmos o reconhecimento e gratidão a todos aqueles que, imbuídos de um profissionalismo digno de realce se empenharam para que a Linha Informativa TA fosse uma realida-de. Convidamos o caro leitor a contribuir para o sucesso deste, es-crevendo artigos, criticando positivamente, dando sugestões, por forma a juntos alcançarmos os objectivos que se pretendem com a criação deste canal.

Depois de, na primeira e segunda edições, o Linha Informativa TA ter apresentado matérias ligadas ao surgimento da ideia de emitir trimestralmente este Boletim, neste número publicam-se maté-rias referentes à criação dos primeiros tribunais administrativos provinciais, à futura sede do TA, entre outras matérias, na presente edição, abordamos, ainda, na rubrica Entrevista, as grandes linhas da Contadoria de Contas e Auditoria, com a dissertação do Dr. Jere-mias Zuande, Contador-Geral da área, onde são aflorados aspectos ligados à criação da área, ao crescimento da mesma, os problemas enfrentados, os desafios que se colocam no seu dia-a-dia laboral, entre outras matérias.

Na rubrica “Planos” apresentamos, de forma resumida, as gran-des realizações do TA no ano de 2012, no quadro da implementação do Plano Corporativo 2011 - 2014.

A preocupação do Tribunal no que diz respeito ao melhoramen-to da tramitação processual com vista a tornar os processos mais céleres, simplificados, modernos e uniformes, é apresentada na ru-brica Destaques.

A presente edição aborda, ainda, a solidariedade automobilística e, no Perfil, trouxemos a história de vida do senhor Amâncio Chis-sico, Chefe da Secretaria-Geral do TA.

Boa leitura.

Januário GuibundaJuiz Conselheiro

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Destaque 3Dezembro de 2013

TA pretende melhorar a sua tramitação processual

Segundo a Directora Nacional de Sis-temas de Informação e Comunicação do TA, Dra. Elzira Tundumula, falando no início do evento, o workshop visava identificar os constrangimentos exis-tentes nos processos, as possíveis cau-sas e lacunas para, de seguida, propor melhorias na tramitação processual.

Dentre as melhorias saídas do workshop com vista ao melhoramento da tramitação processual, destaca-se a distribuição electrónica de processos, a formação dos técnicos em matérias

ligadas à organização de documentos e a tecnologias de informação e comu-nicação, à divulgação das instruções para as petições, à criação da Contado-ria Judicial e dos cartório do plenário e d Contadoria da Conta Geral do Estado, à implementação de sistemas de alerta, entre outros aspectos.

O worshop enquadra-se no processo de implementação do Plano Director de Sistemas de Informação (PDSI), plano que traça o caminho organizacional no âmbito dos sistemas de informação,

envolvendo todas as áreas do TA. Este documento define a arquitectura

dos sistemas de informação no TA, de forma a melhorar os processos organi-zacionais e a rentabilizar as tecnologias disponíveis. Uma vez feito o levanta-mento dos constrangimentos, descrita a situação actual e identificadas as me-lhorias a serem feitas, o Plano prevê a aquisição, o desenho e a implementação de softwares que venham a tornar os processos mais céleres, simplificados, modernos e uniformes

Imagens sobre o ”Workshop” que visava identificar os constrangimentos existentes nos processos, as possíveis causas e lacunas.

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EntrevistaDezembro de 2013

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Linha Informativa (LI) - De forma sucinta, de que é que trata a Contadoria de Con-tas e Auditoria?

Jeremias Zuande (JZ) – A CCA é o sector encarregue

de analisar as Contas de Gerência e realizar auditorias de qualquer tipo ou natureza a todas entidades sujeitas ao controlo financeiro por este órgão de controlo externo. Este sector an-tes chamava-se CCAF - Contadoria de Contas e Auditorias Financeiras). Inicialmente, o sector contava apenas com sete técnicos. Em 1992, foi apro-vada a Lei n.º 5/92, de 6 de Maio e, por esta Lei Orgânica do TA, são atribuídas competências de modo a que, nessa altura, o Tribunal começasse a de-sempenhar, de facto, o seu papel, no sentido de fiscalizar as contas das en-tidades públicas e disciplinar o gestor no que diz respeito à prestação de con-tas, como obrigação constitucional. As duas componentes eram feitas num mesmo sector.

LI - Desde quando o TA analisa Con-tas de Gerência e realiza auditorias?

JZ – O TA começa a analisar as con-tas, desde o ano de 2000, embora na altura poucas entidades submetiam as suas contas ao TA. As que o faziam, submetiam-nas mal instruídas devido ao facto de que, as primeiras instru-

As grandes linhas da Contadoria de Contas e AuditoriaÉ a pensar no papel exercido pelo Tribunal Administrativo (TA) especificamente pela 3ª sec-ção, como órgão de controlo externo em Moçambique, conforme o instituído nas alíneas a) a d) do nº 2 artigo 230 da Constituição da República de Moçambique, que fixa as competências deste órgão, nos procedimentos de fiscalização das contas dos organismos do Estado no des-conhecimento das reais funções e objectivos da Contadoria de Contas e Auditorias (CCA) que o “Linha Informativa” foi conversar com o Dr. Jeremias Francisco Zuande, Contador Geral da CCA. Jeremias Francisco Zuande (JZ) nasceu em Inharrime, na Província de Inhambane, em 1970. É formado em Contabilidade e Finanças. Ingressou no TA em 1999. Em 2003 é nomeado Contador Verificador Chefe da CCA, função que exerceu até Agosto de 2008. No mesmo ano, é indicado para exercer a função de Contador-Geral Adjunto na mesma Contadoria e, em Março de 2010, é nomeado Contador Geral da CCA, função que exerce até a actualidade. Seguem-se os extractos da conversa.

ções que definiam as formas como as entidades públicas deveriam elaborar as suas contas de gerências, terem sido aprovadas em Dezembro de 1999. Portanto, reinava um desconhecimen-to no seio dos gestores públicos sobre esta matéria de prestação de contas. Por exemplo, em 2000 tinham dado entrada um número reduzido de Con-tas. Esta foi uma das razões que, em 2001/2002, obrigou a Direcção deste Tribunal a, dentre várias actividades que se desenvolviam neste âmbito, abraçar o desafio de fazer a 1ª divul-gação sobre a matéria de prestação de contas de gerências para todos os gestores públicos em que também fiz parte, como formador. Esta foi uma ac-ção muito importante para o TA; o que-brar do silêncio por parte deste, já que, na altura o TA, era conhecido como “o Tribunal dos Vistos”. Em relação à realização de auditorias, o TA inicia, em 2001/2002. Evidentemente, havia consciência de que era preciso primei-ro, consolidar os conhecimentos sobre a análise das contas, segundo, treinar o jovem corpo técnico em auditoria e persuadir as entidades públicas sobre a importância de prestarem contas ao TA.

LI - Fala-nos do crescimento da Contadoria em relação aos recursos humanos.

JZ - A CCA inicia as suas actividades com apenas 7 técnicos. Obviamente, para responder a demanda do traba-lho, este número de técnicos era mui-to insignificante. Foi para responder a este desafio que, a Direcção do TA de-cidiu, a partir de 2003 em diante, lan-çar concursos para o recrutamento de técnicos. Tendo, em 2003 incrementa-do o numero de auditores para 19. Este foi, na verdade, o ano das grandes re-formas para o sector de auditorias. Foi a partir 2003 que se investiu, não só no recrutamento de quadros, como tam-bém, na formação e colaboração com a AFROSAI-E - African Organization of Supreme Audit Institutions (Organiza-ção Africana das Instituições Supre-mas de Auditoria), desde 1996; Aliado a estas componentes, foram introduzi-das novas metodologias de trabalhos, sobre tudo no que se refere à adopção, nas auditorias, de normas recomenda-das pela INTOSAI – International Or-ganization of Supreme Audit Institu-tions (Organização Internacional das Instituições Supremas de auditoria), incluindo a implementação das ISSAIs. Ao longo desses anos, o TA chegou a contar com um corpo técnico de cer-ca de 150 auditores contra os, 80 au-ditores existentes, actualmente. Esta redução é derivada, de entre outros factores, das movimentações interna

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Entrevista 5Dezembro de 2013

As grandes linhas da Contadoria de Contas e Auditoria

e da competitividade no mercado de emprego a que o TA está sujeito. Este último factor levou a direcção do TA a lançar a mão na procura de mecanis-mos de criação de políticas para a re-tenção de quadros, trabalho ainda em curso e que se espera venha a elevar a auto-estima dos nossos auditores

LI - Para cumprir com o seu manda-to, para além da análise de Contas de Gerências, a Contadoria realiza ape-nas auditorias financeiras?

JZ – Não. O TA, como órgão de con-trolo externo, realiza, para além da tradicional auditoria financeira, que hoje, devido à mutações de conceitos é designado auditoria de regularidade, porque engloba aspectos financeiros e o cumprimento das normas que regu-lam as finanças públicas em Moçam-bique. A Contadoria realiza Auditorias de Regularidade, de Obras Públicas e de Desempenho, estando em curso a criação de condições para a instalação,

nesta Contadoria do Departamento de Auditorias Ambientais e as de Siste-mas de Informação. Este trabalho todo é desenvolvido na perspectiva de o Tribunal cumprir na íntegra com o seu mandato.

Hoje, em termos de formação, te-mos no sector, engenheiros, linguis-tas, aduaneiros e juristas, isto é, temos uma multiplicidade de técnicos porque cada uma dessas áreas tem uma abor-dagem específica nos procedimentos de uma auditoria, ou seja, não explo-ramos apenas a auditoria financeira, razão pela qual passamos a nos desig-nar CCA, de modo a englobar as várias áreas de abordagem. Hoje em dia, já não se fala necessariamente de audi-torias financeiras, uma vez que não te-mos, apenas, aspectos contáveis, mas também aspectos da legalidade e de qualidade.

LI - Desde 2003, o TA analisa contas e realiza auditorias. Qual é o seu senti-

mento em relação ao cumprimento do seu papel na qualidade de Contador--Geral da CCA, e que detém sob sua direcção um número considerável de funcionários?

JZ - É um sentimento positivo, em-bora prefira não partilhar, aguardando a melhor oportunidade, quando produ-zir o livro “a memória do auditor”. Este sector é muito exigente e complexo, tendo em conta que é o centro de todas as atenções e por isso, a pressão vem de todos os lados. No Plano Corporati-vo do TA (PLACOR 2007 – 2010) foram fixadas metas que era preciso cumprir, apesar dos escassos recursos, tanto financeiros, assim como humanos. De 2007 a 2010, o TA realizou 300 audito-rias e analisou 40 contas de gerências, tendo atingido o topo, em 2010, com a realização de 600 auditorias. Estes re-sultados exigiram por parte de todos os técnicos envolvidos, um esforço acres-cido, que começava pelo assumir des-tes, em abandonarem, periodicamente ,as suas famílias, em alguns casos, em trabalhar em condições deploráveis para defender os interesses da nação, ajudando e ensinando o gestor público, as melhores formas de gerir o dinheiro que é de todos nós, no meio de todas as dificuldades e riscos que esta activida-de acarreta.

LI - Acha que a CCA tem conseguido dar resposta às exigências que lhe são impostas, tendo em atenção a dinâmi-ca actual?

JZ – Embora com muitas dificulda-des, eu julgo que sim... porque temos feito esforço de cumprir as metas fixa-das, mantendo e aumentando a qua-lidade em todos os nossos trabalhos, apesar de, em algum momento não sermos entendidos pelos colegas, mas temos feito o nosso melhor como Con-tadoria.

Jeremias Zuande, Contador-Geral da CCA

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Entrevista6

LI – De forma breve, pode nos falar de melhorias, na actualidade, no pro-cesso de trabalho?

JZ - As melhorias são bem notáveis, sobre tudo, no quadro da política defi-nida pelo Governo, no Plano Quinque-nal, que é tomar o Distrito como pólo de desenvolvimento, o famoso e co-nhecido Programa Nacional de Finan-ças Descentralizadas (PNPFD), vulgo 7 milhões. Já é possível notar essas melhorias em vários aspectos a saber: a inserção de maior parte de entidades públicas no e-SISTAFE veio contribuir na redução dos “of- budget”. Um as-pecto que é de relevar e que constitui um dos resultados da actuação do TA, prende-se com o visível aumento da cultura de prestação de contas pe-las entidades públicas ao TA; nota-se

também a diminuição de discrepância de informação nas contas públicas e na melhoria de organização de arqui-vos. Hoje, o gestor preocupa-se em guardar documentos para justificar a saída de dinheiro no cofre do Estado; a instrução de processos, tanto para a prestação de Contas, assim como para a fiscalização preventiva, incluin-do a sua submissão dentro de prazos; as condições de alojamento, vias de acesso e electrificação, melhoraram consideravelmente ao nível das Admi-nistrações Locais.

LI – Acha que o TA está a cumprir com as recomendações da INTOSAI/AFROSAI-E, relativas a realização de Auditorias de acordo com os padrões internacionais?

JZ – A resposta é afirmativa, na medida em que auditar pressupõe o comprimento de certas regras e, para o caso concreto, este sector sempre

respeitou esta premissa, desde 2003, aquando da introdução do módulo de auditoria básica e outros módulos de formação com regras emanadas pela INTOSAI que, no início, fora ministra-da por um consultor contratado para o efeito. Desde então, periodicamente, esta Contadoria tem vindo a receber missões vindas da AFROSAI-e para avaliar o grau de implementação da utilização das normas internacionais na realização de auditoria, sendo que, no fim de cada missão, esta tem emiti-do relatórios com recomendações que, para nós, tem sido fundamental. A últi-ma missão foi recebida pela Contado-ria no ano passado, para além de par-ticipação de técnicos desta Contadoria em missões similares com o objectivo de avaliar outras Instituições Supre-mas de Controlo (ISC) sobre o grau de

Há vários manuais padronizados de auditoria... explica Dr. Zuande

Dezembro de 2013

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Entrevista 7Dezembro de 2013

implementação das mesmas normas sendo que a última foi assumida em 2012, em que o TA foi representado por técnicos deste sector, no Tribunal de Contas de Angola. Para além des-tas actividades, em 2010, o TA decidiu cumprir com uma das recomendações da INTOSAI, que é a utilização des-tas normas ajustadas a realidade de cada País, tendo se elaborado Manuais de Auditorias em colaboração com a AFROSAI-e que respeitam os padrões internacionais e as normas nacionais, como forma de salvaguardar e res-peitar o nosso ordenamento jurídico e a soberania do Estado Moçambica-no. A implementação destes manuais aguarda pela aprovação da proposta da revisão da lei n.º 26/2009, de 29 de Setembro. É importante frisar que estes manuais serão aprovados pela Direcção do TA, mas também terá a anuência do Secretário Executivo da AFROSAI-e de forma a assegurar que tudo está em conformidade com as normas internacionais. O nosso ob-jectivo é ser uma ISC de referência na implementação das ISSAIs na região, reconhece-se porém que é um desafio, mas acreditamos ser possível.

LI - Quando persistem os proble-mas identificados pelas auditorias, que mecanismos o TA encontra para ultrapassá-los?

JZ - O TA é uma daquelas institui-ções que trabalha muito à vontade, porque tudo está escrito, e legislado. Nada é feito de forma empírica. As situações auditadas e todas as reco-mendações passam para um relatório e um informe ao juiz. De notar que os nossos relatórios têm merecido um grande destaque, pela simplicidade de compreensão para quem o lê. Aliás, o próprio gestor consegue perceber fa-cilmente o que terá feito de errado, qual o risco de persistir na aplicação errada de uma norma e que recomendações são dadas para a reposição da legalida-de. Portanto, a partir daí, temos efecti-

vamente o trabalho mais facilitado e, se os problemas persistirem, a lei já diz o que o Tribunal deve fazer. Isso será o mesmo que dizer que quando uma en-tidade auditada não acata com as deli-berações do Tribunal, é sancionada.

LI – Quais foram os grandes ganhos do TA ao longo de todos estes anos?

JZ - Foram muitos os ganhos. Por exemplo, repare que a maior parte dos recursos do Estado são usados para pagar despesas relacionadas com in-fra-estruturas. Ora, essa foi uma das causas que nos fez acreditar na neces-sidade de se criar uma área específica que lidasse com essa matéria. Traba-lhamos muito nessa e outras áreas. Por exemplo, foi criado um Sistema de Administração Financeira do Estado – o SISTAFE, que trouxe mais-valias. Apesar de todo o trabalho do Governo na sensibilização de todos os gesto-res e cidadãos no geral sobre a grande importância de se introduzir este sis-tema, o entendimento era outro. Mas, se calhar o problema não tinha a ver com a percepção do sistema, o grande problema pode ter sido as grandes fa-cilidades que esse sistema veio cortar. Por exemplo, uma instituição podia ter sete ou nove, dez contas e poucos ou nenhum gestor conseguia justificar tantas contas para uma única insti-tuição. Na verdade, quase sempre, o “jogo” passava por espalhar o dinheiro por muitas contas perdendo-se de-pois o rasto. O Tribunal desempenhou um papel preponderante na criação do Sistema de Administração Finan-ceira, na medida em que foi fazendo chegar ao Governo o cenário caótico das inúmeras contas das nossas ins-tituições, foi então criada uma única conta, o e-SISTAFE, que veio, de facto, rentabilizar todos os procedimentos contabilísticos das instituições. Outro grande resultado que obtivemos é a redução dos “off budgets”. Havia muito dinheiro não orçamentado a entrar no País e parte desse dinheiro era dívida

para o Governo moçambicano. Conse-guimos reduzir drasticamente os “off budget”. Começa, então, a diminuir a discrepância de informação na Conta Geral do Estado, a informação passa a ser consistente. Mais ainda, cresce-mos até ao nível distrital, exactamente para “matar” essa percepção de maior parte das entidades e cidadãos conhe-cerem o Tribunal apenas como “ho-mem do carimbo”, só para dar vistos. Ou seja, as pessoas não sabiam que o Tribunal tem outras competências, daí que tenhamos descido até aos distri-tos, primeiro para eliminar a essa ideia primária do Tribunal e, segundo, para disciplinar o gestor, fazendo-o enten-der que o dinheiro que está a utilizar é de todos nós e, como tal, deve utilizá-lo de acordo com as normas.

LI – Quais são os problemas com que se deparam os auditores no âmbito da fiscalização das receitas e das despe-sas públicas?

JZ - Os problemas eram muitos e julgo que, para não tornar a nossa con-versa aborrecida e extensa, de forma resumida direi o seguinte: a 1ª cons-tatação é que havia uma fraca cultura de prestação de Contas, os que presta-vam, então, o faziam tardiamente; era comum recebermos contas que não estavam instruídas correctamente, isto é, sem obedecer as Instruções de Execução Obrigatórias; haviam tam-bém fraquezas na escrituração dos Livros Obrigatórios e problemas sé-rios com a organização de arquivos, consequentemente ausência total de documentos que pudessem justificar a utilização dos recursos públicos; era comum nas entidades públicas, o não envio de processos relativos aos con-tratos de empreitadas de obras públi-cas e aquisição de bens e prestação de serviços para efeitos de fiscaliza-ção prévia e consequente obtenção do Visto; havia uma ausência de fiscali-zação das obras, por parte das entida-

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EntrevistaDezembro de 2013

8des competentes consequentemente, muitas obras eram pagas na totalidade e, posteriormente, abandonadas pelos respectivos empreiteiros, para além da existência de obras concluídas e entregues sem a qualidade requerida; ausência total de contratos das obras para a reabilitação das estradas terci-árias, bem como do pessoal envolvido nas referidas obras; a outra situação prendia-se com o problema dos “off--budget”, entre outros.

Problemas enfrentados pelos auditores no exercício das suas actividades

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Planos 9Dezembro de 2013

ESTES dados foram apre-sentados no encontro de balanço havido, em Ma-puto, nos meados de 2013, entre quadros seniores do Tribunal Administrativo

(TA), os parceiros do Fundo Comum e os representantes do Governo. O en-contro aconteceu no quadro do Memo-rando de Entendimento para o apoio financeiro à implementação do Plano Corporativo do TA (PLACOR II) e tinha como objectivo, analisar o Relatório de Progresso e Financeiro referente ao exercício económico de 2012.

Segundo o Relatório de Progresso e Financeiro de 2012, relativamente ao primeiro imperativo estratégico do PLACOR II (aumentar a celeridade pro-cessual e de julgamento dos proces-sos do Contencioso Administrativo), transitaram para o presente ano 1.248 e deram entrada 341 processos, per-fazendo um total de 1.589. Destes, 269 (17%) foram julgados, havendo um re-manescente de 1.320 processos.

No que se refere ao aumento da ce-leridade processual e de julgamento dos processos do Contencioso Fiscal e Aduaneiro (segundo imperativo es-tratégico), transitaram para o presente ano 199 e deram entrada 58 processos, perfazendo um total de 257, sendo que 69 (26,8%) processos foram julgados, havendo um remanescente de 184 processos.

Segundo o relatório em análise, no que diz respeito ao terceiro imperati-vo estratégico (aperfeiçoar o contro-lo das contas públicas), no âmbito da realização das actividades atinentes à elaboração do Relatório e Parecer So-

TA aprecia 84118 processos de visto de pessoal

EM 2012

bre a Conta Geral do Estado de 2011 e no cumprimento do plano de trabalho para o ano de 2012, o TA realizou 100 auditorias, das quais 50, 21 e 29 de âm-bitos Central, Provincial e Distrital res-pectivamente.

No concernente ao aumento da ce-leridade processual e do julgamento das contas (quarto imperativo estra-tégico), no tocante a fiscalização su-cessiva foram julgados 84 processos de auditorias, 17 contas de gerência e 1 processo resultante de uma visita de inspecção. Já no âmbito da fiscalização prévia, deram entrada na Contadoria do Visto, 69.378 processos relativos ao pessoal, tendo sido apreciados 84.118 processos. No mesmo período deram entrada na mesma área 4.831 proces-sos não relativos a pessoal, tendo sido apreciados no total 3.360 processos.

Em relação ao quinto imperativo es-tratégico (implementar e dinamizar técnica e organizacionalmente os tri-

bunais administrativos, fiscais e adu-aneiros provinciais), foram abertos os Tribunais Administrativos Provinciais de Tete e de Niassa.

No que tange ao sexto imperativo estratégico (aumentar e melhorar a comunicação e coordenação interna), foi publicado, pela Imprensa Nacional, o Relatório e Parecer da Conta Geral do Estado de 2010. Foram, igualmente, pu-blicados 2 acórdãos do Plenário de 2011, 205 acórdãos da 1.ª Secção de 2011, 79 acórdãos da 2.ª Secção, 5 acórdão da 3.ª Secção de 2011 e 10 despachos do Presi-dente do Tribunal Administrativo.

Recorde-se que o Relatório de Pro-gresso e Financeiro é elaborado nos termos do n.º 4.2, do artigo 4.º do Me-morando de Entendimento para o apoio financeiro a implementação do PLACOR e faz a apresentação dos as-pectos desenvolvidos pelo TA, tendo em conta os imperativos estratégicos plasmados no PLACOR II.

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PerfilDezembro de 2013

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Linha Informativa (LI) – Quem é, afinal Amâncio Chissico?

Amâncio Chissico (AC) – Amâncio Chissi-co foi o primeiro funcio-nário nomeado na car-

reira de Oficial de Justiça, na categoria de Oficial de Diligências, na história do Tribunal Administrativo (TA). Nasci em 24 de Abril de 1977, na aldeia remota de Matemule, localidade de Chidengue-le, Distrito de Manjacaze, na Província de Gaza. Frequentei o ensino primá-rio numa escola oficial Unidade 30, no bairro 25 de Junho B, na cidade de Ma-puto.

LI - Em Matemule?AC – Não! Aqui na cidade de Maputo.

Por acaso tive a minha infância aqui em Maputo, o que aconteceu é que minha mãe vinha de Inhambane, para Maputo , onde o meu pai já se encon-trava a trabalhar, concretamente de Quissico, teve que parar em Manjacaze porque já havia entrado no processo de parto, portanto da minha pessoa, Razão pela qual fui registado como na-tural de Manjacaze. Portanto, nasci em Manjacaze, mas, ingressei para o ensi-no primário, na escola a que me referi, no Bairro 25 de Junho, onde residiam os meus pais.

No entanto, em 1989, passei a fre-quentar o ensino primário de segundo

grau, na escola secundária da Polana. Já em 1994, vim a me matricular na Es-cola Secundário de Lhanguene, onde fiz os meus estudos secundários.

LI - O que o Sr. Amâncio Chissico fa-zia antes de vir trabalhar para o TA?

AC – Antes de vir para o TA era um procurador de caminho, isto é, ainda procurava definir o meu futuro. Para além de estudar, eu fazia comércio de frutas no Mercado Central, na bai-xa da Cidade de Maputo. Temos um estabelecimento ali. Até então, está a ser gerido pelos meus irmãos mais novos. Então, nessa altura eu fazia o comércio lá com o meu pai, vendendo fruta diversa. E como se não bastasse, meu pai me mandou aprender serviço de mecânica auto, sapataria e esto-faria. Meu pai procurava nos ocupar com qualquer coisa depois das aulas na escola. Mandava-nos também ir à igreja, para além da escola. Para ele tí-

nhamos que fazer alguma coisa para nos firmarmos como homens com um futuro brilhante. Daí que nos últimos anos, antes de vir ao TA, eu trabalhava como estofador de profissão. Portanto, essas cadeiras nas quais se encon-tram sentados…eu sei fazer. Para além de ser um jovem que ia à igreja, Igreja Congregacional Unidade de Moçambi-que, onde alimentei o espírito e o dom de cantar. Formei-me lá também, em 1996, como professor da Escola Domi-nical e mais tarde, maestro da juven-tude.

LI – Como é que o Sr. Amâncio Chis-sico entra para o TA e em que ano foi

AC – Na altura em que entrei para o TA, não se fazia concurso. Submeti um requerimento de pedido de emprego e o meu Curriculum Vitae, em 1997, re-querimento que veio a ser respondido pelo TA, em 1998, depois de passar por uma entrevista feita pela senhora Jo-

Amâncio Chissico, de Estofador a Oficial de JustiçaNa presente edição do Linha Informa-tiva TA, trazemos para a rubrica ‘Per-fil” uma conversa bastante animada com Amâncio Fabião Chissico, afecto à Secretaria Geral do Tribunal Admi-nistrativo. A conversa tem momentos de coragem, de dedicação, de amor ao trabalho e não só. Vale a pena ler até ao fim..

Amâncio Fabião Chissico

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Perfil 11Dezembro de 2013

sefina Ferreira, que na altura, exercia as funções de Secretária-Geral do TA, “já reformada” .Portanto, entro para o quadro do TA, no dia 13 de Abril de 1998. Lembro-me que o primeiro contacto que eu tive nessa altura no TA, foi com a senhora Rosa Fumo, que respondia pela área dos Recursos Humanos. É a primeira pessoa que conheci no TA , depois conheci a ve-lha guarda Chivite, Cuco, Helana Mavaieie e tantos outros colegas.

LI – No seu percurso profissional, o que lhe marcou pela positiva?AC – Um dos marcos importante na minha vida profissional, digno

de realce , foi vivido quando me encontrava a trabalhar na Província de Sofala, a dar o meu melhor no processo de implantação e entratada em funcionamento do Tribunal Administrativo de 1.ª Instância daquela província. tinha o dever de dar subsídios teóricos e práticos necessári-os para uma melhor actuação nos processos e, consequentemente, um desempenho eficiente e de qualidade naquele Tribunal. Este mo-mento marcou-me bastante.

LI - Quando não está a trabalhar… no final de semana, o que faz?AC – Cuido da minha família, da casa, vou à igreja, participo em con-

vívios familiares, e não só. No bairro onde vivo, para além de cuidar da minha família, tenho de cuidar dos interesses da comunidade do Bairro, na medida em que respondo na qualidade de presidente do Conselho de Policiamento Comunitário

LI – É muita responsabilidade…AC – É muita, mas é onde reside o desafio da vida! LI - Para além de cuidar da sua família, do bairro, etc…o que mais tem

feito? Joga futebol?AC – Jogo sempre que possível. Mas também, sou músico fora da igre-

ja, sendo que faço exercícios físicos antes de ensaiar o canto ou pegar qualquer instrumento musical. Resumindo, faço um pouco de tudo dentro do tempo possível e agendado para o efeito.

LI – Como podemos notar, o Sr. Amancio tem muitas coisas a fazer tem muitas responsabilidades e aparentemente é bem sucedido nes-sas tarefas. Qual é o segredo para ser bem sucedido.

AC – Assimilação dos aspectos essências do regime da responsabi-lidade na vida profissional, organização, em particular ser diligente, ze-loso nas tarefas que lhe forem confiadas, ser uma pessoa que se sente a divertir-se no seu dia-a-dia, para que logre um comportamento não atentório à ética e deontologia profissional. Procurar sempre desempe-nhar as tarefas de uma forma planificada.

LI – Tem alguma figura que lhe tenha marcado na sua vida? Seja na arena política, económica e social. E porque essa figura lhe marca bas-tante?

AC - Tenho, sim! O antigo Presidente da República, Joaquim Alberto Chissano.

Amâncio Chissico, de Estofador a Oficial de Justiça

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FICHA TECNICA

PROPRIEDADE | Tribunal AdministrativoDIRECTOR EDITORIAL | Juiz Conselheiro Januário Fernando GuibundaCOORDENADORA EDITORIAL | Elzira TundumulREDAÇÃO | Elzira Tundumula Célia Mbebe Nalagi Faquir-Bay

COLABORADORES | Célio NdhimandhiEDIÇÃO E REVISÃO LINGUISTICA | Leonel MagaiaARTE E DESENHO GRÁFICO | Valdmiro VazFOTOGRAFO | Gerónimo MuiangaIMPRESSÃO | DCITIRAGEM | 2000 exemplaresREGISTO | 147/GABINFO/DEC/2012

Dezembro de 2013

O aumento do parque auto-mobilístico nos municípios de Maputo e de Matola é uma realidade preocupan-te, tanto para os munícipes bem assim para as res-

pectivas edilidades. Ademais, por mais hilariante que pareça, começa a ser mais cómodo caminhar a pé do que se fazer à boleia de um carro, sobretudo às horas de ponta, caracterizadas por um tráfego rodoviário intenso e insuportável, com particular destaque para a pululância de transportes semi-colectivos de passa-geiros com a lotação super-esgotada.

Com efeito, as evidências mostram que as longas filas de viaturas sujeitam qual-quer munícipe a experimentar extensas horas sobre o asfalto, para não falar dos gastos em termos de combustível.

Socorrendo-me à teoria, tendo em vis-ta o enquadramento do que se me oferece abordar, tenho a informar (ou lembrar) que, na análise da sociedade moder-na emergente, alguns teóricos do social como o célebre Émile Durkheim debruça-ram-se sobre o conceito de solidariedade social. Aliás, pertence àquele intelectual francês o forjamento deste conceito.

Visando poupar linhas na redacção des-te artigo, não vou trazer aqui a definição do conceito de solidariedade social na acepção durkheimiana. Todavia, é meu entendi-mento que a ideia de solidariedade automo-bilística pode ser vista como manifestação específica de solidariedade social.

Vou abrir um parêntesis nesta aborda-

Solidariedade automobilísticagem teórica para referir que temos assis-tido, nos últimos tempos, à uma mudança sem precedentes de comportamentos e atitudes de utentes que se fazem às es-tradas e ruas dos municípios acima refe-ridos. Estas mudanças – amiúde, positi-vas – impeliram-me a forjar esta ideia de solidariedade automobilística. Com efeito, apesar dos problemas anteriormente ar-rolados, tenho em mim que começam, por exemplo, a reduzir as situações em que vemos um condutor fazendo ultrapas-sagens perigosas ou a andar em contra--mão com o objectivo de fugir de uma su-posta longa fila de carros. Nesse aspecto, apenas os “chapeiros” continuam irredu-tíveis, diga-se de passagem.

Voltando ao cerne da questão, e para permitir uma melhor compreensão de que seja a solidariedade automobilística, interessa-me descrever a mesma em duas vertentes ou contextos, a saber: os contextos da “oficina” e da via pública.

As aspas colocadas no primeiro con-texto são propositadas. Não me refiro à oficina necessariamente como espaço físico, mas como um espaço social es-pecífico com dinâmicas de interacção social próprias. A reparação de uma via-tura ocorre em qualquer lugar – por-tanto, adequado à tal reparação –, desde que existam lá os elementos necessários como sejam o mecânico, as ferramentas e acessórios e, obviamente, a viatura. Pode ocorrer em plena autoestrada, no quintal do vizinho, no parque de estacionamento, entre outros lugares. Quando um condu-

tor como eu propõe-se socorrer-me ao reactivar a bateria do meu carro usando os battery jumper cables ou quando eu ajudo uma bela moça – sem segundas intenções, é claro – a rebocar o seu car-ro até à próxima estação de serviços ou ainda quando alguém se digna ceder-me, à título de empréstimo, o seu macaco hi-dráulico para que eu possa colocar o meu pneu sobressalente, pode dizer-se que estamos em presença da solidariedade automobilística no contexto da “oficina”.

No contexto da via pública, por sua vez, a solidariedade automobilística pode ser visualizada quando um condutor, tendo prioridade no sentido que toma, permi-te que um outro condutor à sua esquerda cruze a sua via ou entre na mesma e siga à sua frente (isto é frequente nos cruzamen-tos ou entroncamentos sem semáforos e sem polícias de trânsito, caracterizadas por longas filas de viaturas, especialmente nas horas de ponta) ou quando, em plena faixa de rodagem, eu chamo atenção a um outro condutor sobre uma porta do seu carro mal fechada ou sobre a necessidade de desligar as luzes se o mesmo ocorrer à luz do dia ou ainda sobre um pneu que não tem ar suficiente.

PS: Em tese, podemos assumir que o au-mento do parque automobilístico no contexto dos municípios de Maputo e de Matola esteja na razão directa do aumento dos casos ou si-tuações de solidariedade automobilística. To-davia, é um problema que carece de uma in-vestigação científica mais aprofundada para aferir a verosimilhança ou não do mesmo. Está, assim, lançado o desafio aos estudiosos (isto é, se é que o tema os interessa).