12
Ano IV • nº 14 • setembro de 2005 Publicação do Instituto de Estudos Socioeconômicos - Inesc 14 O insustentável esverdeamento do governo Lula A prioridade dada pelo governo federal ao produtivismo centrado no setor exportador, e sua sub- missão aos interesses e demandas do setor financeiro in- ternacional, nos levam a concluir que o Governo Lula não conseguiu produzir e implementar uma agenda al- ternativa à do governo anterior. O que se pensava ser uma possibilidade realizável por meio da capacidade estratégi- ca, conceitual e argumentativa do setor socioambiental – o “esverdeamento” do Governo Lula, é uma crença que necessita ser urgentemente revista. 1 A frustração dos "verdes" e os setores democráticos da sociedade civil pudessem resumir em uma única palavra seu estado de espírito em relação ao desempenho da política socioambiental do governo federal, certamente iriam falar em frustração. Ou de- cepção. No penúltimo ano de mandato, o pre- sidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, oferece aos ambientalistas vários moti- vos para pôr fim à expectativa daqueles que acreditavam que a esperança venceria o medo. Há questões centrais especialmente preocupantes, como o fortalecimento do apoio ao agronegócio exportador e o enfraqueci- mento da ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, que se esperava fosse ter mais apoio político e financeiro para encaminhar soluções de problemas antigos, apoiada em valores como o combate à desigualdade e a defesa da justiça socioambiental. O Ministério do Meio Ambiente sofreu um corte orçamentário significativo, superior a 40%, e fracassa na sua tentativa de tornar a questão socioambiental um eixo transversal da ação do governo. Neste estudo, o Instituto de Estudos Socioeconômicos - Inesc - apresenta uma análise da política pública socioambiental, utilizando como principal instrumento de ava- liação os dados orçamentários relativos ao ano de 2005. A publicação é uma parceria entre o Inesc e a Fundação Heinrich Boll. E D I T O R I A L S www.inesc.org.br

Boletim Orcamento Socioambiental 14

Embed Size (px)

DESCRIPTION

Boletim Orcamento Socioambiental 14

Citation preview

Page 1: Boletim Orcamento Socioambiental 14

Ano IV • nº 14 • setembro de 2005Publicação do Instituto de Estudos Socioeconômicos - Inesc

14

O insustentávelesverdeamento dogoverno Lula

A prioridade dada pelo governo federal aoprodutivismo centrado no setor exportador, e sua sub-missão aos interesses e demandas do setor financeiro in-ternacional, nos levam a concluir que o Governo Lulanão conseguiu produzir e implementar uma agenda al-ternativa à do governo anterior. O que se pensava ser umapossibilidade realizável por meio da capacidade estratégi-ca, conceitual e argumentativa do setor socioambiental –o “esverdeamento” do Governo Lula, é uma crença quenecessita ser urgentemente revista. 1

A frustração dos"verdes"

e os setores democráticos da sociedade civil

pudessem resumir em uma única palavra seu

estado de espírito em relação ao desempenho

da política socioambiental do governo federal,

certamente iriam falar em frustração. Ou de-

cepção. No penúltimo ano de mandato, o pre-

sidente da República, Luiz Inácio Lula da

Silva, oferece aos ambientalistas vários moti-

vos para pôr fim à expectativa daqueles que

acreditavam que a esperança venceria o medo.

Há questões centrais especialmente

preocupantes, como o fortalecimento do apoio

ao agronegócio exportador e o enfraqueci-

mento da ministra do Meio Ambiente,

Marina Silva, que se esperava fosse ter mais

apoio político e financeiro para encaminhar

soluções de problemas antigos, apoiada em

valores como o combate à desigualdade e a

defesa da justiça socioambiental.

O Ministério do Meio Ambiente sofreu

um corte orçamentário significativo, superior

a 40%, e fracassa na sua tentativa de tornar a

questão socioambiental um eixo transversal da

ação do governo. Neste estudo, o Instituto de

Estudos Socioeconômicos - Inesc - apresenta

uma análise da política pública socioambiental,

utilizando como principal instrumento de ava-

liação os dados orçamentários relativos ao ano

de 2005. A publicação é uma parceria entre

o Inesc e a Fundação Heinrich Boll.

E D I T O R I A L

S

www.inesc.org.br

Page 2: Boletim Orcamento Socioambiental 14

2 setembro de 2005

Toma conta deparcela considerável

do movimentosocioambientalista

brasileiro uma certafrustração com o

rumo tomado pelogoverno federal para

promover ochamado

desenvolvimentosocial e econômico

do país

Passados 33 meses do Governo Lula, toma con-ta de parcela considerável do movimentosocioambientalista brasileiro uma certa frustra-ção com o rumo tomado pelo governo federalpara promover o chamado desenvolvimento so-cial e econômico do país. 2

Numa cena dominada pelo debate entremonetaristas e desenvolvimentistas do governo(ramos da mesma matriz de pensamentoeconomicista, que focaexclusivamente os aspec-tos econômicos), o Minis-tério do Meio Ambientefoi relegado a um papelde ator coadjuvante, por-tador dos “panos quen-tes” para acalmar os seg-mentos da sociedade civilmais revoltados com orumo das coisas. Os pro-blemas não são poucos:liberação dos transgê-nicos; dificuldade paraimplantar e implementarações de monitoramento e controle dodesmatamento na Amazônia; apoio financeiro etecnológico ao agronegócio exportador; parali-sia de vários programas de interesse social;contingenciamentos; retrocessos na políticaindigenista; aprovação da transposição do rio São

Francisco; atuação social e ambientalmente per-versa em países vizinhos, como é o caso das em-presas Petrobrás e Odebrecht na Bolívia e noEquador, entre outros. 3

Os interesses do capital financeiro e as idéiase concepções de desenvolvimento econômico demeados do século passado acabaram predomi-nando nas decisões do Executivo federal, cen-tralizadas no Ministério da Fazenda e na CasaCivil da Presidência da República. O adjetivo“sustentável” foi posto, muitas vezes, ao lado dosubstantivo “desenvolvimento”, com umaconotação eminentemente econômico-financei-ra. Nesse contexto, a sociedade aparece comoum acessório do mercado; as relações sociais fi-cam embutidas na economia - quando deveriaocorrer exatamente o contrário – e tudo deveser passível de medição, ter um valor econômi-co traduzível em termos monetários.

O cenário idealmente projetado em 2002 porambientalistas do campo social vem sendo atro-pelado pelas mesmas forças sociais, econômicas epolíticas que, ao longo de decênios, vêm explo-rando e expandindo o reino da economia mer-cantil sobre o ambiente e sobre as relações sociaise políticas no Brasil.

Ainda que se ganhe alguns pontos no varejo,como a criação de unidades de conservação –UCs -e a participação em alguns grupos de trabalho ecomitês temáticos, tem-se perdido muito no ataca-

Orçamento & Política Socioambiental: uma publicação trimestral do INESC – Instituto de Estudos Socioeconômicos, em parceriacom a Fundação Heinrich Böll. Tiragem: 1,5 mil exemplares. INESC - End: SCS – Qd, 08, Bl B-50 - Sala 435 Ed. Venâncio 2000 –CEP. 70.333-970 – Brasília/DF – Brasil – Tel: (61) 3212 0200 – Fax: (61) 3212 0216 – E-mail: [email protected] – Site:www.inesc.org.br. Conselho Diretor: Caetano Araújo, Eva Faleiros, Fernando Paulino, Gisela de Alencar, Iliana Canoff, NathalieBeghin, Paulo Calmon, Pe. Virgílio Uchoa, Pr. Ervino Schmidt. Colegiado de Gestão: Iara Pietricovsky, José Antônio Moroni.Assessores: Alessandra Cardoso, Caio Varela, Edélcio Vigna, Eliana Graça, Francisco Sadeck, Jair Barbosa Júnior, Luciana Costa,Márcio Pontual, Ricardo Verdum, Selene Nunes. Assistentes: Álvaro Gerin, Lucídio Bicalho. Instituições que apóiam o Inesc: ActionAid, CCFD, Christian Aid, EED, Fastenoffer, Fundação Avina, Fundação Ford, Fundação Heinrich Boll, KNH, Norwegian ChurchAid, Novib, Oxfam e Solidaridad. Editora responsável: Luciana Costa (DRT 258/82)

1 No texto “Cenário no campo socioambiental” (In.: O Inesc e a Agenda Brasileira 2003/2006, Brasília, abril de 2003, disponível no site do Inesc: www.inesc.org.br),já se anunciava essa tensão e a necessidade das organizações da sociedade civil preservarem e defenderem a autonomia e o senso crítico em relação ao novo governo,mantendo sua identidade sem aderir cegamente à liderança do Executivo.

2 Sobre o primeiro ano do governo Lula, ver o boletim Orçamento & Política Socioambiental nº 8, Inesc, Brasília, dezembro de 2003.3 O estudo de Guilherme Carvalho, A Integração Sul-americana e o Brasil: o protagonismo brasileiro na implementação da IIRSA, publicado em 2004 pela Rede

Brasil, Fase e Faor, é uma interessante leitura introdutória sobre o papel que o Estado brasileiro tem no processo em curso de modernização da infra-estruturaregional para facilitar o acesso, a exploração, o transporte e a comercialização dos recursos naturais e da biodiversidade da América do Sul, especialmente para ospaíses do hemisfério norte.

Page 3: Boletim Orcamento Socioambiental 14

3setembro de 2005

Velhas e novasoligarquias instaladas

no aparelho deEstado vêm limitandoo potencial criativo eaté libertário que se

esperava viesse a tero Ministério do Meio

Ambiente numGoverno que se

pretendia popular edemocrático

do. O mais traumático é ver que tal situação acon-tece num governo que muitas pessoas e coletivida-des, esquecendo-se de que se tratava de uma coali-zão com outros partidos (PP, PTB, PL, PCdoB e PPS,principalmente), chamaram de “o nosso governo”.

É bem verdade que várias ongs e vários movi-mentos de base, por interesses e paixões os maisdiversos, acabaram tornando-se quase que bra-ços administrativos auxiliares do governo fede-ral. Debilitados e enfra-quecidos na sua indepen-dência, muitos modera-ram sua posição crítica eacabaram perdendo par-cialmente sua capacidadede resistência social con-tra os agentes (governa-mentais e não-governa-mentais) responsáveispelo padrão elitista eantiecológico do chama-do desenvolvimento eco-nômico no Brasil.

No tocante à atuação do Ministério do MeioAmbiente - MMA, velhas e novas oligarquias ins-taladas no aparelho de Estado, alicerçadas em re-des na sociedade e em setores empresariais e fi-nanceiros nacionais, internacionais etransnacionais, vêm limitando o potencial criati-vo e até libertário que se esperava viesse a ter oMMA num Governo que se pretendia popular edemocrático.

Com um orçamento constrangido ao máximo,seja o autorizado pelo Congresso Nacional seja onão contingenciado (que não chega à casa de60%), fica difícil para o MMA exercer sua mis-são de “transversalizar” a preocupação e o cuida-do com a sustentabilidade ambiental nas açõesgovernamentais e no Estado nacional, ou seja,fazer com que os diversos órgãos públicos consi-derem a questão da sustentabilidade ambientalno planejamento de suas ações.

Como outros órgãos governamentais, o MMAacabou perdendo profissionais com grande po-tencial estratégico e operacional, que saíram do

campo governamental um tanto decepcionadoscom as condições de trabalho e com a freqüentesubordinação das posições do governo aos inte-resses do mercado agroexportador, das empresasde infra-estrutura (transporte, comunicação eenergia) e do sistema financeiro internacional.

Para 2005, o MMA teve R$ 2,10 bilhões noorçamento da União autorizado pelo CongressoNacional, sendo 3/4 destinados ao pagamento daprevidência de inativos e pensionistas da União(R$ 131,39 milhões), ao repasse para organismosinternacionais (R$ 4,44 milhões), ao apoio ad-ministrativo (R$ 604,06 milhões), ao cumpri-mento de sentenças judiciais (R$ 34,01 milhões),ao pagamento de juros e amortizações da dívidaexterna (R$ 93,03 milhões), e R$ 697,63 mi-lhões para a chamada “reserva de contingência”,que na prática nunca é utilizada.

Se considerarmos somente o orçamento auto-rizado para os 37 programas do MMA voltadospara as chamadas ações finalísticas, que totalizamum orçamento de R$ 541,76 milhões, até 11 desetembro passado temos uma execução orçamen-tária de somente 17,36% desse valor. Se compa-rado com o ano de 2004, verificamos que, em2005, o MMA teve um orçamento autorizadomaior, ou seja, R$ 53,58 milhões a mais, e umdesempenho financeiro inferior: em 2004, foramliquidados, até 11 de setembro, 21,04% do totalautorizado.

À semelhança da política indigenista governa-mental, na qual a esperada articulaçãointersetorial e o fortalecimento do protagonismoindígena ainda são miragens distantes, a anunci-ada transversalidade da variável “sustentabilidadeambiental” nas decisões governamentais aindapermanece como uma irrealidade.

Numa sociedade de mercado comandada porempresas transnacionais, na qual Estados como obrasileiro são meros instrumentos de garantia dosinvestimentos e lucros dessas megaempresas, suasrepresentações e seus aliados locais, não basta co-locar em postos-chave ícones conhecidos e res-peitados no meio socioambiental, por mais queeles estejam imbuídos de boa vontade e de pre-

Page 4: Boletim Orcamento Socioambiental 14

4 setembro de 2005

No CongressoNacional, a Proposta

de EmendaConstitucional que

dispõe sobre ainclusão dos

Cerrados comopatrimônio nacional

continua engavetadana comissão especial

criada para essafinalidade

missas morais e discursos politicamente adequa-dos e espirituosos. Teria sido possível fazer dife-rente? Esta é uma pergunta necessária ereveladora, que ainda está por ser respondida.

As vésperas do último ano de governo, crescena sociedade civil organizada um certo descon-forto e muitas interrogações, quando se conso-lida a presença e se anuncia a expansão dos or-ganismos geneticamente modificados (outransgênicos) no campo,adaptados aos mais dife-rentes ecoss istemas;quando estão a olhos vis-tos as dificuldades do go-verno para, por s i ,implementar as ações ne-cessárias - no curto e mé-dio prazos - para contera biopirataria e garantiros direitos das popula-ções tradicionais sobre osbenefícios econômicosgerados a partir dos seusconhecimentos; quando ainda é frágil a capaci-dade governamental para controlar o processode desmatamento e queima das áreas de Flores-ta e Cerrados; quando estão em curso e sãoanunciados para o próximo ano obras e empre-endimentos de infra-estrutura física - no Brasile nos países vizinhos - destinados a facilitar a ex-ploração, o escoamento e o comércio decommodities ambientais e agrícolas.

A via pragmática adotada por alguns setoresdo socioambientalismo talvez lhes permita galgaralguns postos e ocupar espaços na políticainstitucional - mas quais são os custos individuaise coletivos? Onde temos efetivamente avanços eonde esses avanços não passam de pintura exter-na (“esverdeada”) em moto-serras, tratores e cor-rentes? De fato, vive-se numa complexa florestade símbolos, com muitas cortinas de fumaça.

Uma avaliação independente da I ConferênciaNacional do Meio Ambiente (CNMA), realizadaem Brasília, de 27 a 29 de novembro de 2003, ain-da está por ser feita. A II Conferência Nacional,prevista para dezembro próximo, será capaz de cons-truir uma perspectiva diferente do padrãoneoliberal hoje hegemônico? Terá condições de pro-mover mudanças na forma como estão sendo to-madas as decisões no governo federal? Ou será maisuma pirotecnia ambiental para animar a galera? Isso,somente o tempo será capaz de nos dizer. 4

Cerrado serradoNo Congresso Nacional, a Proposta de Emenda

Constitucional no 115/95, que dispõe sobre a in-clusão dos Cerrados como patrimônio nacional,modificando o parágrafo 4o do artigo no 225 daConstituição Federal, continua engavetada na co-missão especial criada para essa finalidade.5 A pres-são da bancada ruralista e das “bases” do agronegóciotem sido, infelizmente, mais hábil e convincente,impondo seus interesses a um governo, infelizmen-te, refém do receituário financista neoliberal e docompromisso de gerar superávit primário.

Enquanto isso, em Roraima, no Mato Grosso,no Mato Grosso do Sul, no sul do Pará, noMaranhão, em Goiás, no oeste de Minas Gerais,na Bahia e no Piauí, a produção de grãos (soja)para o mercado externo avança a passos largos,levando de roldão a flora e a fauna nativas dosCerrados e as plantações de mandioca, milho,feijão e arroz dos agricultores familiares. Nemmesmo as comunidades indígenas locais, com seusterritórios demarcados pelo Estado nacional, es-tão livres de serem pressionadas a ceder suas ter-ras para a implantação da monocultura da soja.Os empresários do agronegócio alegam que, as-sim o fazendo, se desenvolverão e poderão suprirsuas demandas de consumo de bens industriali-zados. Aliás, é bom lembrar, encontra-se trami-tando na Câmara dos Deputados o projeto de lei

4 Neoliberalismo entendido como um sistema de crenças e práticas que se difundiu a partir dos anos 70/80 do século passado. Exige a crença nas supostas virtudesdo mercado e na alegada capacidade de produzir melhoria nas condições sociais. Implica em gastos públicos contidos, taxa de juros elevada, aberturas comerciale financeira e redução do papel do Estado ao mínimo institucionalmente necessário para viabilizar o “mundo dos negócios” ou o “jogo capitalista”. Pode havervariações qualitativas nessas características, mas o papel mediador do “mercado” é uma constante.

5 A área de domínio dos Cerrados totaliza 315 milhões de hectares, o equivalente a 37% do território nacional brasileiro.

Page 5: Boletim Orcamento Socioambiental 14

5setembro de 2005

Passados quase doisanos desde que aministra do Meio

Ambiente anunciouque seria criado umprograma específico

para esse bioma (oCerrado), muito

pouco ou quase nadasaiu do papel

5

no 2002/03, apresentado pelo deputado Ricartede Freitas (PTB/MT), que dispõe sobre a explo-ração agrícola em terras indígenas, por meio dochamado “contrato de parceria agrícola indíge-na”. Um projeto bem ao gosto dos sojicultores.6

Passados quase dois anos desde que a ministrado Meio Ambiente, Marina Silva, anunciou, du-rante encontro dos Povos do Cerrado, em 2003,que seria criado um programa específico para essebioma - a exemplo dosexistentes para a Amazô-nia e para a Mata Atlân-tica -, e mesmo após vá-rias consultorias e reuni-ões, a situação continuaa mesma: muito poucoou quase nada saiu dopapel. E o que é pior,vários ativistas que secomprometeram e atua-ram na materializaçãodesse sonho foram ficando pelo caminho e aca-baram se cansando com a falta de objetividade efirmeza do MMA na gestão do processo. É maisuma promessa não cumprida. E perde-se outraoportunidade de valorizar esse importante biomae fortalecer um sem-número de experiências lo-cais de manejo ambiental com múltiplas funções- que vão do sustento material e alimentar de pro-dutores familiares até a execução de serviçosambientais como a conservação do solo, da qua-lidade da água e da biodiversidade.7

Florestas e cortinas de fumaçaNas duas últimas semanas de agosto passado,

várias foram as avaliações positivas e até come-morações em torno da aparente queda na taxaanual de desmatamento da Amazônia, no perío-do que vai de agosto de 2004 a julho de 2005.Segundo o Instituto do Homem e Meio Ambi-ente da Amazônia - Imazon, a taxa “tenderia” aficar em torno de 16 mil quilômetros quadrados.

Ou seja, teriam sido desmatados no período cer-ca de 10 mil quilômetros quadrados de floresta amenos que no período 2003/2004, sendo quequase 92% dessa redução teria ocorrido em umúnico mês: em junho, período em que se intensi-fica a abertura de novas áreas agricultáveis oupara a implantação de pastagens. Confirmando-se esse fato, entre as suas causas estariam:

• Maior presença do Estado na região Ama-zônica;

• As ações de “fiscalização e controle” do go-verno federal;

• A operação Curupira; a criação do LimiteAdministrativo Provisório da BR-163; a cria-ção de unidades de conservação, especialmen-te na Terra do Meio (região entre os rios Xingue Tapajós); o reforço da atuação do Ibama e oaumento da presença das Forças Armadas emalgumas áreas de conflito agrário;

• O apoio e a participação de setores demo-cráticos da sociedade civil organizada;

• A valorização da moeda brasileira, o Real,frente ao Dólar americano; as elevadas ta-xas de juros; o endividamento de parte dosetor agropecuário e os baixos investimen-tos em infra-estrutura;

• A queda no preço dos produtos agrícolas, es-pecialmente a soja e a carne bovina, princi-pais “carros-chefe” do superávit almejado pelogoverno federal no comércio internacional;

Dois acordos de cooperação assinados no últi-mo dia 2 de setembro, entre o Ministério do MeioAmbiente e o governo de Mato Grosso, passampara as mãos do órgão ambiental estadual, a par-tir do início de 2006, a responsabilidade degerenciar toda a atividade florestal no estado.

As medidas transferem do Ibama para a Se-cretaria Estadual de Meio Ambiente – Sema - aemissão de Autorizações para Transporte de Pro-dutos Florestais – ATPFs - e a aprovação de pla-nos de manejo em propriedades de qualquer ta-

6 Aguarda-se a deliberação da Comissão de Direitos Humanos e Minorias. O parecer do relator, deputado Luiz Alberto (PT-BA), definiu-se pela rejeição da proposição.7 Conferir o estudo publicado pela secretária executiva da Rede Cerrados, Mônica Nogueira, Quando o pequeno é grande: uma análise de projetos comunitários

no cerrado. São Paulo: Editora Annablume, 2005.

Page 6: Boletim Orcamento Socioambiental 14

6 setembro de 2005

O governo federalpublicou o Decreto5.523, alterando de

R$ 1 mil para R$ 5 mila multa por hectare

de floresta derrubadaem áreas de reserva

legal naspropriedades rurais.Paradoxalmente, na

contramão, a CasaCivil, instância federal

responsável pelacoordenação do

Plano da AmazôniaSustentável, anunciou

para breve aretomada do ciclo das

grandes obras naregião

manho (e não só em áreas de até 300 hectares).Os acordos foram firmados pela ministra MarinaSilva e pelo governador Blairo Maggi, durantereunião do Conselho Nacional do Meio Ambi-ente - Conama, em Cuiabá.

Trata-se de uma atitude no mínimo ousada.Se considerarmos os compromissos do governa-dor com o agronegócio no estado do Mato Gros-so e na região Amazônica, a ação passa a ser arris-cada. O que resultará dis-so, só o tempo dirá. 8

Mas, como consolidar eampliar a capacidade defrear a derrubada da flores-ta amazônica? No nosso en-tendimento, isso implicaria,entre outras medidas:

• Na ampliação dosrecursos financeirosnecessários parafortalecer os órgãosfederais na região;

• Na criação de con-dições políticas e fi-nanceiras para atransversalização dapreocupação com asustentabi l idadeambiental nos trêsníveis governo - ocontrole do des-matamento e o uso sustentável das florestasnão é tarefa apenas do Ministério do MeioAmbiente e do Ibama;

• Na promoção de ações de empoderamentoe na ampliação da participação e do con-trole social dos setores democráticos da so-ciedade civil organizada nesse processo;

• Na ampliação do fomento e do apoio técni-co e financeiro para atividades econômicasambientalmente sustentáveis na região;

• Na implementação efetiva do PlanoInterministerial de Prevenção e Controle doDesmatamento, anunciado em março de2004 e que já está necessita de ajustes;

• Na implementação do Plano da AmazôniaSustentável.

No início de setembro deste ano, o Fórum Brasi-leiro de Ongs e Movimentos Sociais para o MeioAmbiente e Desenvolvimento – Fboms, por meio doGT Florestas, lançou uma nota reconhecendo o im-portante passo do governo federal no tratamento daquestão do desmatamento na Amazônia. Mas reivin-dicou maior atenção dos gestores do Plano para aimplementação das unidades de conservação já cria-das; a intensificação do uso agroeconômico de áreasjá desflorestadas (por meio da recuperação de pasta-gens, do fomento à produção de culturas permanen-tes e da adoção universal de práticas de usoconservacionista do solo) e a formulação de um pla-no executivo interministerial para coordenar ações.

O governo federal publicou o Decreto 5.523,em 25 de agosto de 2005, alterando de R$ 1 milpara R$ 5 mil a multa por hectare de florestaderrubada em áreas de reserva legal nas proprie-dades rurais. Além dessa medida, a partir de ago-ra, quando veículos ou embarcações usados ematividades ilegais forem apreendidos pela fiscali-zação, não serão mais devolvidos aos proprietári-os com a simples apresentação de uma defesa àJustiça. Oxalá o Ibama tenha capacidade parafiscalizar e aplicar esse dispositivo legal.

Paradoxalmente, na contramão, a Casa Civil,instância federal responsável pela coordenação doreferido Plano, anunciou para breve a retomadado ciclo das grandes obras na região: a constru-ção da Usina Hidrelétrica – UHE - de Belo Mon-te; a construção de UHEs e da hidrovia do AltoMadeira; a desapropriação das terras ao longo dotraçado do gasoduto Urucu/Porto Velho e asobras de asfaltamento da BR-319. 9

8 Segundo avaliações feitas pela própria Casa Civil da Presidência da República, o Mato Grosso continua a ser o estado que mais desmata a floresta amazônica.9 Essas obras de infra-estrutura fazem parte de uma estratégia modernizante em curso na região, a denominada Iniciativa para a Integração da Infra-estrutura da

América do Sul - IIRSA, na qual o Brasil desempenha um papel de destaque, e que tem rebatimento nos chamados Eixos Nacionais de Integração eDesenvolvimento - Enid. Em 31 de agosto último, o Banco Mundial, tentando influir no debate, lançou o relatório intitulado Infra-estrutura na América Latinae Caribe: tendências recentes e principais desafios (www.bancomundial.org.br).

Page 7: Boletim Orcamento Socioambiental 14

7setembro de 2005

Infelizmente, odesempenho

orçamentário deprogramas-chave

definidos no PlanoPlurianual – PPA -

para a proteçãoflorestal tem ficadobastante aquém do

planejado eesperado. No caso

do programaAmazônia

Sustentável, dos R$65,58 milhões

autorizados, apenas6,72% deste total

havia sido liquidadoaté 11 de setembro

Infelizmente, o desempenho orçamentário deprogramas-chave definidos no Plano Plurianual– PPA - para a proteção florestal tem ficado bas-tante aquém do planejado e esperado. No casodo programa Amazônia Sustentável, dos R$65,58 milhões autorizados, apenas 6,72% des-te total havia sido liquidado até 11 de setem-bro. Já o programa Prevenção e Combate aoDesmatamento, Queimadas e Incêndios Flores-tais, com um orçamentoautorizado de R$ 41,30milhões, havia liquidadono mesmo período cer-ca de 44,86%, particu-larmente com as ações defiscalização. Por fim, oprograma Nacional deFlorestas, com R$ 36,62milhões autorizados, ha-via liquidado até 11 desetembro nada mais nadamenos que 8,76%.

Ainda no campo dagestão florestal, está noCongresso Nacional oprojeto de lei 4776/2005, de autoria do Po-der Executivo, que dis-põe sobre a gestão e ex-ploração de florestas pú-blicas. O projeto institui, na estrutura do Mi-nistério do Meio Ambiente, o Serviço FlorestalBrasileiro – SFB; cria o Fundo Nacional de De-senvolvimento Florestal - FNDF e dá outras pro-vidências. A matéria foi aprovada na Câmara dosDeputados em 6 de julho de 2005, e, desde 24de agosto, tramita em regime de urgência cons-titucional no Senado Federal.10

De autoria do Ministério do Meio Ambien-te, o projeto autoriza a União a oferecer flores-tas públicas para exploração privada. As enti-dades têm que apresentar projetos de manejo

10 Para acompanhar o andamento do projeto Gestão de Florestas Públicas (no Senado, foi renumerado para PLC 062/2005), acesse o site: http://www.senado.gov.br/sf/atividade/Materia/Detalhes.asp?p_cod_mate=74634.

sustentável, que, no caso de serem aprovados,permitirão ao empreendedor privado ou comu-nitário (coletivo) a gestão dos recursos florestais- mas não a posse da terra. Na Câmara dos De-putados, a participação de empresas e organiza-ções não-governamentais estrangeiras nas licita-ções para concessão foi restringida. Além disso,só poderão concorrer à exploração dos recursosflorestais (madeireiros, não-madeireiros e servi-ços ambientais) as empresas constituídas sob asleis brasileiras que tenham sede e administraçãono país.

Embora seja reconhecida a importância des-se instrumento normativo, sobram-nos dúvidassobre se o projeto de lei proporcionará efetiva-mente benefícios para as comunidades locais daAmazônia, ou, ao contrário, se se trata de umaforma mais moderna de tutelá-las aos interessesprivados (empresariais e financeiros) e de explo-rar comercialmente os recursos florestais emnome da “sustentabilidade”.

Para finalizar, gostaríamos de lembrar o pa-pel que, ao longo dos anos, a mobilização e apressão dos movimentos sociais e das entidadesambientalistas e socioambientais tiveram na pro-moção - ainda que modesta - de mudanças eavanços políticos e institucionais no Brasil, sejano sentido da ampliação da participação demo-crática e do controle social do Estado brasilei-ro, seja na promoção de um ambiente saudávelpara o conjunto da população e às futuras gera-ções. Se isso foi verdade para os governos ante-riores, não pode ser menos verdade para o atualgoverno. A desesperança e a apatia só contribuicom aqueles que não querem que essas mudan-ças e avanços ocorram.

Ricardo VerdumAssessor de Políticas Indígena e Socioambiental

Page 8: Boletim Orcamento Socioambiental 14

8 setembro de 2005

Os riscos daaprovação da Lei de

Biossegurança já sãovisíveis tanto no

campo nacional comointernacional. O

Brasil, não sendo umpaís livre de

transgênicos, podeperder uma

importante faixa domercado

internacional da soja

A Lei de Biossegurança aprovada em mar-ço de 2005, depois de vários debates noParlamento brasileiro e na sociedade civil,

ainda aguarda a regulamentação para que possaser aplicada. Dessa forma, isso significa que exis-tem espaços de intervenção no corpo da lei, quepodem amenizar seus impactos negativos, especi-almente no que diz respeito ao direito de preser-vação do meio ambiente, da saúde humana e ani-mal e da segurança ali-mentar. Ainda hoje, as or-ganizações da sociedadecivil do campo democrá-tico continuam construin-do articulações no Parla-mento, visando recuperaresses direitos.

Os riscos da aprovaçãoda Lei de Biossegurança jásão visíveis tanto no cam-po nacional como inter-nacional. O Brasil, nãosendo um país livre detransgênicos, pode perderuma importante faixa do mercado internacionalda soja, que fatalmente será ocupada pelos EUA,Argentina e Canadá, na medida em que seus car-regamentos de produtos convencionais poderão serquestionados em sua autenticidade. No segundosemestre de 2004, por exemplo, a China recusouquatro carregamentos de soja oriundos do Brasil,alegando que os grãos estavam misturados a semen-tes contaminadas com agrotóxicos, utilizados emsementes transgênicas.

Outro problema também é a rotulagem paraos produtos exportados, pois o cumprimento des-sa norma é de fundamental importância para al-guns países importadores. O Brasil ainda não re-solveu essa questão. Em abril de 2003, foi assina-do o Decreto da Rotulagem, estabelecendo queos produtos que utilizam ingredientes transgênicos

“Bioinsegurança”: os riscos do Brasil

acima de 1% devem conter a indicação na emba-lagem. No entanto, o símbolo a ser impresso nasembalagens de produtos só foi definido em dezem-bro do mesmo ano e o prazo de adaptação para aindústria foi prorrogado até o final de 2004. Masaté hoje o decreto não está sendo cumprido e nãoexiste nenhuma fiscalização que obrigue as empre-sas que utilizam transgênicos em sua composição aretirar seus produtos das prateleiras dos supermer-cados.

Esse cenário é conseqüência de um quadro decerta forma previsível. A posição adotada no gover-no Lula pela continuação da política econômicaortodoxa Malan-Palocci já poderia explicar comoseria a discussão no caso da liberação dostransgênicos. Para acalmar os mercados e, sobretu-do os setores financeiros nacional e internacional, ogoverno preferiu se auto-impor a busca de um ex-cedente primário na balança de pagamentos, o queo tornou refém do aumento substancial das expor-tações. Assim, os interesses corporativos dasmultinacionais fortificaram seu lobby dentro doCongresso Nacional e, com o apoio dos ruralistas esem qualquer olhar para impactos ambientais, en-traram num embate violento contra os preceitos docampo democrático da sociedade civil.

O governo Lula decidiu pautar a discussão dostransgênicos iniciada no governo FernandoHenrique. Surpreendendo a sua base social, comoo movimento dos pequenos agricultores, aprovouduas Medidas Provisórias – n.ºs 113/03 e 131/03,liberando a comercialização das sementestransgênicas. No início de 2004, o Executivo apre-sentou uma proposta de Lei de Biossegurança ini-ciando, no Congresso Nacional, o debate sobre oplantio, comercialização e produção de organismosgeneticamente modificados – OGMs - e a pesquisacom células-tronco embrionárias humanas.

Na Câmara dos Deputados, onde se iniciou oprocesso legislativo, o relator do projeto, deputa-do Renildo Canheiros (PcdoB/PE), fez pequenas

Page 9: Boletim Orcamento Socioambiental 14

9setembro de 2005

Existem algumasincoerências na Lei

de Biossegurança. Alei aprovada se choca

com um dispositivoconstitucional,

resultando em umainconstitucionalidade

que está sendojuridicamente

avaliada

alterações na proposição original orientado peloprincípio da precaução, conforme o Protocolo deCartagena, ratificado pelo Brasil, assumindo quea liberação comercial de transgênicos deveria sercompetência exclusiva dos Ministérios do MeioAmbiente e da Saúde.

O projeto de lei aprovado pela Câmara dos De-putados seguiu então para o Senado Federal. Nes-sa casa, aprovou-se um substitutivo, que previa aliberação dos transgênicos sem a necessidade pré-via de Estudos de Impacto Ambiental, contrari-ando o artigo 225 da Constituição Federal e atri-buindo plenos poderes à Comissão Técnica Naci-onal de Biossegurança –CTNBio - para decidirpela liberação ou não dostransgênicos, retirandouma decisão que era deresponsabilidade dos Mi-nistérios da Saúde e doMeio Ambiente. As orga-nizações da sociedade ci-vil comprometidas com apreservação do meio am-biente promoveram vári-as ações buscando sensibi-lizar e alterar a posição dos senadores favoráveis aesse substitutivo, mas o peso dos interesses doagronegócio foi muito mais forte. Em outubro de2004, os senadores aprovaram o substitutivo, pon-do em risco o meio ambiente do país.

Como o projeto aprovado na Câmara foi alte-rado no Senado, regimentalmente ele teve quevoltar à Câmara para um segundo turno de vota-ção. O debate foi ainda mais intenso, pois o relatorRenildo Calheiros era consoante com a posição dasorganizações sociais democráticas, contrário aosubstitutivo aprovado no Senado. Mas, por forçada articulação política da bancada ruralista, orelator foi destituído e foi indicado para o cargoum relator defensor dos transgênicos. Essa estra-tégia dos ruralistas deu certo e a Comissão apro-vou, na íntegra, o substitutivo que veio do SenadoFederal. Com isso, o substitutivo do Senado teveum maior fôlego para ser aprovado no plenário

da Câmara dos Deputados, pois agregou o apeloemocional aos deficientes físicos, que esperavamver liberadas as pesquisas com células-tronco.

O grande acerto da estratégia dos ruralistas foiter associado, em um único projeto, as pesquisas comcélulas-tronco embrionárias humanas e a liberaçãodos transgênicos em plantas, pois mesmo aquelescontrários aos transgênicos eram favoráveis à libe-ração de pesquisas com células-tronco. Essa possi-bilidade dual de posições favoreceu a aprovação dalei. Dessa forma, a Lei de Biossegurança foi aprova-da com o apoio da base de sustentação do governoe parte da bancada do Partido dos Trabalhadores,de acordo com o substitutivo final, concedendo ple-nos poderes à CTNBio para a liberação dostransgênicos sem estudo de impacto ambiental e aliberação de estudos das pesquisas de células-tron-co embrionária humana.

A estratégia das organizações sociais, após a apro-vação no Congresso Nacional, foi promover algu-mas atividades de pressão para que o presidente daRepública, utilizando seu poder, vetasse os artigosque permitem a liberação de transgênicos no país,mas esse fato não ocorreu. Todo esse processo re-presentou um grande desgaste para o governo fe-deral, tanto internamente como no exterior, bemcomo para a ministra do Meio Ambiente, MarinaSilva, que demonstrou sua fragilidade política.

Existem algumas incoerências na Lei deBiossegurança. Uma delas ocorre em função daexistência de um dispositivo da Constituição Fe-deral que obriga que qualquer atividade com ris-co potencial de provocar danos ao meio ambienteseja submetida a um estudo prévio de impactoambiental. A Lei de Biossegurança aprovada sechoca com esse dispositivo, resultando em umainconstitucionalidade que está sendo juridicamen-te avaliada, por solicitação de alguns partidos po-líticos. Além do aspecto jurídico, a liberação dostransgênicos sem os devidos estudos relativos à saú-de e ao meio ambiente pode significar uma amea-ça à segurança alimentar da população.

Ana Paula Soares FelipeAssistente de Políticas de Segurança Alimentar

9

Page 10: Boletim Orcamento Socioambiental 14

10 setembro de 2005

2005

PROGRAMAS E AÇÕES Dotação Autorizado Liquidado % Liquidado

Inicial 11/09/2005 11/09/2005 AutorizadoProteção de Terras Indígenas, Gestão Territorial e Etnodesenvolvimento 14.517.119 14.517.119 516.076 3,55%Ministério do Meio Ambiente 14.517.119 14.517.119 516.076 3,55%Conservação e Recuperação da Biodiversidade em Terras Indígenas 100.000 100.000 0 0,00%Fomento a proj. gestão amb. dos povos indígenas da Amazônia (programa-piloto) 12.917.119 12.917.119 516.076 4,00%Fomento à Gestão Ambiental em Terras Indígenas 1.500.000 1.500.000 0 0,00%Biotecnologia 62.287.147 62.287.147 7.939.768 12,75%Ministério da Ciência e Tecnologia 48.291.851 48.291.851 7.687.995 15,92%Apoio a Projetos Estratégicos em Biotecnologia 828.000 828.000 89.180 10,77%Gestão e Administração do Programa 564.000 564.000 228.123 40,45%Fomento a proj. inst. para pesquisa no setor de biotecnologia (CT-Biotecnologia) 24.200.428 24.200.428 1.877.795 7,76%Capacitação de RH em pesquisa e desenvolvimento para o setor de biotecnologia 5.800.000 5.800.000 204.879 3,53%Fomento a Projetos de Pesquisa e Desenvolvimento em Biotecnologia 9.659.600 9.659.600 1.436.637 14,87%Fomento à Pesquisa na Rede de Laboratórios de Estudos Genômicos 1.400.000 1.400.000 0 0,00%Desenvolvimento de Pesquisas da Rede Nacional de Proteoma 1.512.800 1.512.800 777.390 51,39%Fomento à Pesquisa na Rede Nacional de Bioinformática 150.000 150.000 0 0,00%Pesquisa e Desenvolvimento no Laboratório Nacional de Bioinformática 417.023 417.023 180.991 43,40%Pesquisa e Desenvolvimento em Biologia Molecular Estrutural 2.860.000 2.860.000 2.860.000 100,00%Fomento a proj. biotecnologia produção de bioenergia em pequenas comunidades 900.000 900.000 33.000 3,67%Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio 13.600.000 13.600.000 155.173 1,14%Desenvolvimento produtos e processos no Centro de Biotecnologia da Amazônia - CBA 11.000.000 11.000.000 155.173 1,41%Desenvolvimento de Biotecnologia na Amazônia 2.600.000 2.600.000 0 0,00%Ministério do Meio Ambiente 195.296 195.296 96.600 49,46%Desenvolvimento produtos e processos no Centro de Biotecnologia da Amazônia - CBA 195.296 45.296 0 0,00%A CLASSIFICAR* 0 150.000 96.600 64,40%Ministério da Integração Nacional 200.000 200.000 0 0,00%Fomento a Centros de Ensino e Pesquisa na Área de Biotecnologia e Recursos Genéticos 200.000 200.000 0 0,00%Informações Integradas para Proteção da Amazônia 115.100.434 115.100.434 36.851.080 32,02%Presidência da República 96.600.434 96.600.434 32.820.379 34%Processamento de Sinais de Telemetria e Teleprocessamento 8.777.191 8.777.191 3.386.818 38,59%Capacitação de Recursos Humanos 1.050.000 1.050.000 37.888 3,61%Sistema de Informações para Proteção da Amazônia - SIPAM 78.958.293 78.958.293 29.338.399 37,16%Integração da Base de Dados e Informações do SIPAM 7.814.950 7.814.950 57.274 0,73%Ministério da Defesa 18.500.000 18.500.000 4.030.701 22%Instalação equipamentos sítios do Sistema de Vigilância da Amazônia - SIVAM 1.000.000 1.000.000 0 0,00%Manutenção do Sistema de Vigilância da Amazônia - SIVAM 4.000.000 4.000.000 512.323 12,81%Obras Civis do Sistema de Vigilância da Amazônia - SIVAM 13.500.000 13.500.000 3.518.378 26,06%Áreas Protegidas do Brasil 30.662.052 30.600.492 8.956.077 29,27%Ministério do Meio Ambiente 30.662.052 30.600.492 8.956.077 29,27%Apoio à Criação e Gestão de Unidades de Conservação 2.670.000 2.670.000 1.226.930 45,95%Conservação e Manejo do Patrimônio Espeleológico 526.480 526.480 99.632 18,92%Gestão e Administração do Programa 1.551.650 1.551.650 806.608 51,98%Fomento a Projetos Orientados ao Manejo e Consolidação de Áreas Protegidas 2.600.000 2.600.000 751.227 28,89%Criação de Unidades de Conservação Federais 641.040 641.040 111.668 17,42%Gestão de Unidades de Conservação Federais 21.113.062 21.113.062 5.590.012 26,48%Capacitação para Gestão de Áreas Protegidas 360.000 360.000 360.000 100,00%Regularização Fundiária das Unidades de Conservação Federais 1.054.320 992.760 10.000 1,01%Adequação de Infra-Estrutura para Uso Público em Unidades de Conservação Federais 145.500 145.500 0 0,00%Nacional de Ecoturismo 4.187.716 2.887.716 711.838 24,65%Ministério do Meio Ambiente 4.187.716 2.887.716 711.838 24,65%Apoio à Implantação de Infra-estrutura nos Pólos Ecoturísticos 3.186.215 1.886.215 246.900 13,09%A CLASSIFICAR* 0 144.332 144.332 100,00%Gestão e Administração do Programa 167.513 30.652 0 0,00%A CLASSIFICAR* 0 136.861 119.500 87,31%

Orçamento ambiental da União - 2005Florestas e biodiversidade

T abela 1

Page 11: Boletim Orcamento Socioambiental 14

11setembro de 2005

A CLASSIFICAR* 0 148.696 148.696 100,00%A CLASSIFICAR* 0 196.300 0 0,00%Capacitação para o Ecoturismo 201.024 52.328 8.951 17,11%Capacitação e Assistência Técnica em Pólos de Ecoturismo na Amazônia (PROECOTUR) 439.924 243.624 43.459 17,84%Implantação sist. de informações georreferenciadas p/ o desenv. do ecoturismo 193.040 48.708 0 0,00%Amazônia Sustentável 65.623.682 65.586.182 5.040.772 7,69%Ministério do Meio Ambiente 65.623.682 65.586.182 5.040.772 7,69%Apoio a estruturação do sist. gestão recursos naturais (programa-piloto) 28.445.030 28.445.030 2.846.192 10,01%Gestão e Administração do Programa 3.050.001 3.012.501 0 0,00%Fomento a Projetos de Gestão Ambiental e Desenvolvimento Sustentável na Amazônia 6.226.560 6.226.560 0 0,00%Fomento a proj de desenv. sustentável e conservação Amazônia (programa-piloto) 16.998.578 16.998.578 794.869 4,68%Fomento ao Manejo Florestal na Amazônia (Programa-Piloto) 4.070.000 4.070.000 95.600 2,35%Fomento ao Manejo de Recursos Naturais de Várzeas na Amazônia (Programa-Piloto) 1.600.000 1.600.000 100.000 6,25%Disseminação boas práticas uso sustentável recursos naturais (programa-piloto) 5.233.513 5.233.513 1.204.111 23,01%Prevenção e Combate ao Desmatamento,Queimadas e Incêndios Florestais - Florescer 42.454.829 42.454.829 18.529.257 43,64%Ministério do Meio Ambiente 41.304.829 41.304.829 18.529.257 44,86%Gestão e Administração do Programa 50.000 50.000 0 0,00%Prevenção e combate no Arco do Desmatamento na Amazônia - PROARCO 1.000.000 1.000.000 0 0,00%Manutenção de Brigadas de Prevenção e Combate a Incêndios Florestais 368.600 368.600 0 0,00%Fiscalização de Atividades de Desmatamento e Queimadas 25.356.490 25.356.490 15.402.578 60,74%Prevenção e Controle de Desmatamentos e Incêndios Florestais 14.529.739 14.529.739 3.126.679 21,52%Ministério da Ciência e Tecnologia 1.150.000 1.150.000 0 0,00%Monitoramento de Queimadas e Prevenção de Incêndios Florestais 1.150.000 1.150.000 0 0,00%Nacional de Florestas 38.482.906 36.620.995 3.208.467 8,76%Ministério do Meio Ambiente 38.482.906 36.620.995 3.208.467 8,76%Apoio à Recuperação de Ecossistemas e Áreas Degradadas 3.113.434 3.113.434 300.000 9,64%Implantação do Sistema Nacional de Informações Florestais 800.000 200.000 0 0,00%Gestão e Administração do Programa 984.200 552.032 174.481 31,61%Controle e Monitoramento das Atividades Florestais e Desmatamentos 1.215.000 1.215.000 228.740 18,83%Publicidade de Utilidade Pública 600.000 150.000 0 0,00%Capacitação em Atividades Florestais 1.650.000 1.650.000 0 0,00%Certificação Florestal de Produtos Extrativistas 337.500 337.500 0 0,00%Pesquisa e Desenvolvimento Florestal 800.000 800.000 47.772 5,97%Monitoramento e Controle da Reposição Florestal Obrigatória 700.000 700.000 394.729 56,39%Assistência Técnica ao Pequeno Produtor Rural para a Produção Florestal Sustentável 6.483.685 6.483.685 650.088 10,03%Fomento a Projetos de Extensão Florestal 1.500.000 1.120.257 143.346 12,80%Apoio à Gestão dos Recursos Florestais 3.857.901 3.857.901 543.271 14,08%Recomposição Florestal de Matas Ciliares 2.000.000 2.000.000 0 0,00%Manejo de Florestas Públicas 3.500.000 3.500.000 0 0,00%Modernização dos Sistemas de Licenciamento e Controle de Atividades Florestais 9.341.186 9.341.186 726.040 7,77%Instalação de Centros de Capacitação em Manejo Florestal 1.600.000 1.600.000 0 0,00%Conservação, Uso Sustentável e Recuperação da Biodiversidade 35.383.227 35.371.977 5.707.044 16,13%Ministério do Meio Ambiente 35.273.227 35.261.977 5.707.044 16,18%Apoio à Integração de Jardins Botânicos 120.000 112.500 0 0,00%Gestão e Administração do Programa 1.474.394 1.399.394 992.878 70,95%Conservação das Espécies da Fauna Ameaçadas de Extinção 1.115.000 1.115.000 243.725 21,86%Controle, coleta, transporte, importação e exportação de recursos genéticos 350.000 350.000 240.421 68,69%Fomento a Projetos de Conservação e Manejo Sustentável da Flora e da Fauna 2.900.000 2.900.000 408.920 14,10%Pesquisa em Diversidade Vegetal do Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro 203.504 96.254 35.373 36,75%Licenciamento para Manejo de Espécies da Fauna com Potencial de Uso 750.000 750.000 419.622 55,95%Proteção, Conservação e Uso Sustentável de Espécies da Flora 215.000 215.000 21.388 9,95%Fomento a proj. conservação e utilização sustentável diversidade biológica (PROBIO) 8.280.755 8.280.755 2.404.037 29,03%A CLASSIFICAR* 0 75.000 0 0,00%A CLASSIFICAR* 0 107.250 31.443 29,32%A CLASSIFICAR* 0 195.800 0 0,00%A CLASSIFICAR* 0 195.300 0 0,00%Controle, Triagem, Recuperação e Destinação de Animais Silvestres 17.300.200 17.300.200 109.824 0,63%Controle, Manejo e Monitoramento de Fauna Invasora e em Desequilíbrio 500.000 500.000 46.561 9,31%

T abela 1 (continuação)

2005

PROGRAMAS E AÇÕES Dotação Autorizado Liquidado % Liquidado

Inicial 11/09/2005 11/09/2005 Autorizado

Page 12: Boletim Orcamento Socioambiental 14

12 setembro de 2005

Fomento a Projetos de Manejo de Recursos Faunísticos por Comunidades Tradicionais 100.000 100.000 238 0,24%Conservação e Uso Sustentável de Polinizadores na Agricultura 258.783 62.983 62.983 100,00%Revisão Taxonômica da Flora Neotropical 260.507 65.207 65.207 100,00%Monitoramento e Controle da Flora Invasora 56.640 56.640 16.464 29,07%Rede de Informações em Biodiversidade 387.760 387.760 387.760 100,00%Fiscalização de Fauna Silvestre 395.000 395.000 87.049 22,04%Conservação do acervo de coleções do Jardim Botânico do Rio de Janeiro 300.000 300.000 31.279 10,43%Conservação do Acervo Botânico Especializado 74.500 70.750 0 0,00%Fomento a Bionegócios de Uso Sustentável da Biodiversidade 231.184 231.184 101.872 44,07%Ministério da Integração Nacional 110.000 110.000 0 0,00%Banco Genético de Espécies da Região Nordeste 110.000 110.000 0 0,00%Mudanças Climáticas e Meio Ambiente 631.558 631.558 97.559 15,45%Ministério do Meio Ambiente 631.558 631.558 97.559 15,45%Apoio a Projetos de Redução e Absorção de Gases de Efeito Estufa 347.350 347.350 0 0,00%Gestão e Administração do Programa 284.208 284.208 97.559 34,33%Conservação e Uso Sustentável de Recursos Genéticos 2.648.411 2.332.711 1.115.407 47,82%Ministério do Meio Ambiente 2.648.411 2.332.711 1.115.407 47,82%Gestão e Administração do Programa 296.382 296.382 115.132 38,85%A CLASSIFICAR* 0 150.000 0 0,00%Repartição benefícios decorrentes do uso de recursos genéticos e do conhecimento 100.000 78.700 37.038 47,06%Capacitação em Biossegurança de Organismos Geneticamente Modificados 147.560 147.560 147.560 100,00%Fomento a proj. pesq. e proteção conhecimento tradicional associado à biodiversidade 195.520 45.520 30.000 65,91%Capacitação para o Combate à Biopirataria 738.680 738.680 666.502 90,23%Fomento bioprospecção e desenv. produtos e processos derivados da biodiversidade 388.800 94.400 17.136 18,15%Pesquisa para o Uso Sustentável dos Recursos Genéticos de Plantas Medicinais Nativas 75.000 75.000 0 0,00%Fomento à implant. sist comunitários de conservação e uso agrobiodiversidade 706.469 706.469 102.039 14,44%Comunidades Tradicionais 16.217.630 15.026.590 2.135.746 14,21%Ministério do Meio Ambiente 16.217.630 15.026.590 2.135.746 14,21%Apoio às Organizações Extrativistas da Amazônia 5.439.768 5.439.768 255.000 4,69%Gestão e Administração do Programa 1.560.173 465.180 6.921 1,49%A CLASSIFICAR* 0 1.094.993 299.199 27,32%Assistência técnica à produção e à comercialização de produtos extrativistas na Amazônia 708.246 708.246 287.636 40,61%Capacitação de Comunidades Tradicionais 799.286 733.246 76.736 10,47%Fomento a proj. de gestão ambiental reservas extrativistas Amazônia (programa-piloto) 5.442.466 5.442.466 762.588 14,01%Fomento a Projetos de Desenvolvimento Sustentável de Comunidades Tradicionais 1.500.005 375.005 0 0,00%Gestão Ambiental em Terras Quilombolas 767.686 767.686 447.666 58,31%Proambiente 5.181.512 5.181.512 1.805.106 34,84%Ministério do Meio Ambiente 4.285.512 4.285.512 1.634.434 38,14%Apoio à Implantação de Pólos Pioneiros do Proambiente na Amazônia Legal 833.050 833.050 454.013 54,50%Remuneração por Prestação de Serviços Ambientais Certificados 109.920 109.920 50.160 45,63%Gestão e Administração do Programa 670.970 670.970 478.556 71,32%Certificação de Serviços Ambientais 113.280 113.280 103.280 91,17%Fomento a Projetos de Preparação e Execução dos Pólos do Proambiente 1.120.000 1.120.000 0 0,00%Implantação de Unidades de Gestão Ambiental Rural (GESTAR) 1.438.292 1.438.292 548.425 38,13%Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento 896.000 896.000 170.672 19,05%Avaliação e Validação Científica das Iniciativas Inovadoras de Produção Rural 896.000 896.000 170.672 19,05%Conservação e Recuperação dos Biomas Brasileiros 18.055.795 18.055.795 1.589.257 8,80%Ministério do Meio Ambiente 18.055.795 18.055.795 1.589.257 8,80%Apoio a Projetos para o Uso Sustentável dos Biomas 900.000 900.000 657.064 73,01%Implantação de Corredores Ecológicos 14.960.275 14.960.275 305.150 2,04%Gestão e Administração do Programa 415.520 415.520 134.235 32,31%Fomento a Projetos de Gestão Ambiental e Desenvolvimento Sustentável na Amazônia 1.000.000 1.000.000 192.808 19,28%Recuperação de Áreas Degradadas 580.000 580.000 100.000 17,24%Monitoramento da Ação Antrópica 200.000 200.000 200.000 100,00%TOTAL 451.434.018 446.655.057 94.203.454 21,09%Fonte: SIAFI/STN - Base de Dados: Consultoria de Orçamento/ CD e ProdasenElaboração: INESCNotação das colunas: % Execução - Obtido através da divisão da despesa autorizada pela despesa liquidada.Nota: A liquidação da despesa constitui a verificação do direito adquirido pelo credor, tendo por base os títulos e documentos comprobatórios do respectivo crédito.* O banco de dados disponibilizado pela Câmara Federal ainda não classificou essas ações.

T abela 1 (continuação)

2005

PROGRAMAS E AÇÕES Dotação Autorizado Liquidado % Liquidado

Inicial 11/09/2005 11/09/2005 Autorizado