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50 B. Téc. Senac: a R. Educ. Prof., Rio de Janeiro, v. 34, n.1, jan./abr. 2008. Ilustração: Cavalvante

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Boletim Técnico Do Senac v 34

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  • 50 B. Tc. Senac: a R. Educ. Prof., Rio de Janeiro, v. 34, n.1, jan./abr. 2008.

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    Qualificao Profissional de Jovens e adultos trabalhadores: o Programa

    nacional de estmulo ao Primeiro emPrego em discusso

    Carlos Soares Barbosa*Neise Deluiz**

    Resumo

    Este artigo analisa as aes de qualificao profissional voltadas para os jovens das camadas populares, do Pro-grama Nacional de Estmulo ao Primeiro Emprego (PNPE), no Rio de Janeiro. Resultados de pesquisa qualitativa indicaram que essas aes encaminham os jovens aos trabalhos precrios, responsabilizando-os pela no insero no mercado de trabalho formal. Ao no propiciar a formao de sujeitos polticos e sua participao na esfera pblica, se limitam aos benefcios secundrios, como sociabilidade e auto-estima, cumprindo o PNPE a funo reservada s polticas focalizadas de alvio pobreza, de conteno da questo social.

    Palavras-chave: Educao Profissional; Polticas Pblicas; Organizaes No-Governamentais; Juventude; Pro-grama Nacional de Estmulo ao Primeiro Emprego (PNPE).

    * Historiador, graduado pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e mestre em Educao pela Universidade Estcio de S (Unesa). Prof. de Histria das redes municipal e estadual de ensino do Rio de Janeiro e integrante da equipe de formadores de educadores e coordenadores do Programa Nacional de Incluso de Jovens (ProJovem) pela Fundao Darcy Ribeiro. E-mail: [email protected].

    ** Sociloga, doutora em Educao pela UFRJ. Prof. do Mestrado em Educao da Uni-versidade Estcio de S (Unesa). Prof. adjunta (aposentada) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). E-mail: [email protected].

    Recebido para publicao em: 20/02/08.

    1. introduo

    No contexto atual de estreitamento e volatividade do mercado de trabalho, de extremas exigncias de qualificaes profissionais e do excedente de mo-de-obra pouco escolarizada e qualificada, um dos maiores desafios a serem enfrentados a insero dos jovens no mundo do trabalho, j que estes so os mais penalizados com o desemprego e com a precarizao do trabalho, que se revela nos baixos rendimentos, altas jornadas de trabalho, instabilidade ocupacional, alta rotatividade e ausncia de mecanismos de proteo social e trabalhista.

    So os jovens na faixa etria de 15 a 24 anos das camadas po-pulares os mais atingidos pelas mudanas no mundo do trabalho, pelas fragilidades do sistema educacional e os mais destitudos de apoio de redes de proteo, encontrando-se em maior estado de vulnerabilidade social. Entre os principais problemas com os quais os jovens brasileiros se deparam hoje esto: o acesso restrito educao de qualidade, as frgeis condies para a permanncia no sistema escolar, a dificuldade de se inserirem no mercado de trabalho formal, a luta pelo primeiro emprego

    e a inadequada qualificao profissional. Tais dificuldades refor-am a necessidade urgente de polticas pblicas voltadas para o aumento da escolaridade do jovem, a qualificao profissional, a participao social, a garantia do primeiro emprego a fim de proporcionar-lhe experincia profissional , alm de uma poltica integrada de proteo social.

    Entre as polticas pblicas do atual Governo Federal em relao qualificao profissional de jovens trabalhadores, privilegiamos como foco de estudo o Programa Nacional de Estmulo ao Primeiro Emprego (PNPE)1, que em uma de suas linhas de ao o Consrcio Social da Juventude (CSJ)2 , pro-move aes de qualificao profissional atravs de uma rede de organizaes no-governamentais em parceria com o Ministrio do Trabalho e Emprego (MTE).

    Este artigo tem como objetivo identificar as finalidades das aes de qualificao profissional na concepo das ONGs parti-cipantes do Programa; a qualidade pedaggica dessas aes; e sua efetividade social e poltica, isto , os impactos que ocasionaram no desenvolvimento da dimenso econmica (trabalho e renda), da dimenso comunitria (participao na comunidade) e da dimenso poltico-social (exerccio da cidadania), na perspectiva de alunos e egressos dos cursos.

    O artigo tem o propsito de apresentar os resultados de pes-quisa desenvolvida com ONGs participantes do PNPE/CSJ no Rio de Janeiro3, em 2006-2007 e, para isso, a exposio buscar articular os trs eixos fundamentais da investigao: educao de jovens e adultos / educao profissional; ONGs e a parceria pblico-privado; e a relao juventude e trabalho, no contexto das reformas polticas, econmicas e sociais engendradas no Brasil

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    com a reestruturao do capital, que se intensificou a partir da ltima dcada do sculo passado.

    As polticas de Educao de Jovens e Adultos a partir dos anos 1990: focalizao, descentralizao e desre-gulamentao

    No Brasil, a educao bsica de jovens e adultos tem sido marcada pela falta de compromisso poltico por parte do Poder Pblico, considerada uma educao paralela educao ele-mentar comum. As reformas constitucionais implementadas na dcada de 1990, por meio de Projetos de Leis e Decretos, assim como a LDB em vigor (Lei n 9394/96), complementaram o movimento de reforar a educao de jovens e adultos (EJA) como uma educao de segunda classe (SAVIANI, 1997)4, se tomarmos como base a anlise das polticas pblicas em vigor nos ltimos anos.

    Alguns autores, como Ventura (2001)5 e Romo (2002)6, ressaltaram a constituio de uma nova identidade da EJA ao longo dos anos de 1990, quando passou a ser caracterizada, se-gundo Di Pierro (2001)7, pelos cursos de qualificao profissional de curta durao, focados nos segmentos mais vitimados pelo atual modelo de acumulao do capital. Esta (re)configurao identitria da EJA e suas conseqentes finalidades tornam-se mais compreensivas quando as analisamos frente ao conjunto de mudanas econmicas e polticas postas em prtica no Brasil com a adoo das polticas neoliberais.

    Essas polticas tiveram incio no governo de Collor de Melo e foram intensificadas nos governos de Fernando Henrique Cardoso, como condicionalidade imposta para a renegociao da dvida externa e o retorno do pas ao sistema financeiro internacional (FIORI, 1997)8. Cumprindo os postulados do Consenso de Washington, a Reforma do Estado Brasileiro foi pensada e articulada como meio de possibilitar lucros cada vez mais crescentes ao capital (MONTAO, 2007)9. Para os seus formuladores, a justificativa para a retirada da ao estatal dos setores sociais (sade e educao), culturais, de proteo ambiental e de pesquisa cientfica e tecnolgica era de que tais servios ga-nhariam qualidade e eficincia, se sassem do mbito do Estado e ficassem sob a responsabilidade de organizaes sociais pblicas no-estatais (BARRETO, 1999)10, voltadas ao atendimento do interesse pblico. Defendiam, assim, uma nova relao entre Estado e sociedade civil por meio da parceria pblico-privado.

    A rea social sofreu pro-fundamente os impactos das reformas, uma vez que a reduo dos gastos pblicos significou, na prtica, a redu-o dos gastos sociais, gerando conseqncias graves para as camadas populares, como de-teriorao das suas condies

    de vida e do trabalho, desemprego, crescimento do mercado informal de trabalho, explorao do trabalho infanto-juvenil, entre outras. Diante da crescente pauperizao de enormes parcelas da sociedade, o Estado passou a desenvolver polticas sociais focalizadas, atuando apenas por meio de medidas compensatrias nas conseqncias sociais mais extremas do capitalismo contemporneo (OLI-VEIRA; DUARTE, 2005)11.

    Essas polticas visam o alvio pobreza, ou seja, a retirada da condio de misria daqueles que sequer conseguiram alcanar as condies mnimas de sobrevivncia12, com o propsito de impedir que as pssimas condies de sobrevivncia de uma parcela significativa da populao causem convulses sociais e protestos que venham gerar obstculos governabilidade, assim como expanso e acumulao do capital. No mais orientadas pela lgica do cidado detentor de direitos, mas sim pela lgica do cidado-consumidor, as polticas focais no visam superao da condio de dependncia dos indivduos s polticas de ca-rter assistencialistas e nem a sua integrao sociedade salarial atravs do emprego formal, mas sim a sua insero na sociedade do no-emprego13.

    A educao no ficou ilesa a este contexto de reformas. As polticas educacionais passaram a exigir da educao produtivi-dade, eficincia e qualidade, obtidas por meio da relao custo-benefcio. Para os experts das agncias internacionais, os pases pobres deveriam investir naquilo que auferisse maiores ganhos futuros. Para eles, o maior retorno no viria com o investimento na escolarizao de jovens e adultos, ou no ensino mdio, tec-nolgico e superior, mas sim na educao bsica de crianas e adolescentes e na qualificao profissional inicial. Mas no em uma formao profissional cara e prolongada.

    Muitas mudanas marcaram a educao de jovens ao longo da dcada de 1990, perodo em que essa modalidade foi se esva-ziando como poltica de Estado. Tal esvaziamento faz parte de um projeto que desloca uma parcela do atendimento de jovens e adultos para o Ministrio do Trabalho e Emprego (MTE), ampliando sua linha de atuao com a escolarizao e a formao profissional do trabalhador. Isso foi uma das conseqncias das alteraes efetuadas na formao profissional e na educao de jovens e adultos, a partir da promulgao da Lei de Diretrizes e Bases da Educao n 9394/96 e do Decreto n 2208/9714.

    A disperso das polticas e de aes entre os setores pblico e

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    privado foi uma das marcas das polticas de educao de jovens e adultos durante os dois governos de Fernando Henrique Cardoso. Atravs do Plano Nacional de Qualificao Profissional (Planfor), o atendimento s demandas por qualificao de uma populao jovem e adulta de baixa escolaridade se deu por uma rede de qualificao profissional formada por cursos de nvel bsico, fragmentados e de curta durao, dissociados da educao bsica e de uma poltica de formao continuada, tendo sua execuo deixada a cargo de diversas instituies da sociedade civil como ONGs, sindicatos, entidades religiosas, entre outras.

    Com a mudana do governo federal, o Planfor foi substitudo, em 2003, pelo Plano Nacional de Qualificao (PNQ), que buscava a superao da condio de poltica compensatria (BRASIL/MTE/SPPE/DEQ, 2003)15. Para isso, o governo, atravs do MTE, admite o problema do emprego como uma questo social e a qualificao profissional na perspectiva do direito social, devendo ser objeto de uma poltica nacionalmente articulada e controlada socialmente. Mais do que uma ao formativa de contedo tcnico, visando to somente uma incluso produtiva, a qualificao deveria orientar-se para a busca de uma incluso cidad (OLIVEIRA, 2007)16.

    No obstante o carter recente dos dados dos dois mandatos do governo em relao s polticas de educao profissional de jovens e adultos, o que tem se verificado at o momento que as propostas contidas no PNQ, na prtica, caminharam em outra direo. A poltica de educao profissional tem se processado mediante programas focais e contingentes, resultando em mera oportunidade de certificao, sem assegurar nem incluso, nem permanncia. Uma outra caracterstica dos programas do governo atual a continuidade do sistema de parceria pblico-privado, embora negado no plano do discurso. O que se verifica o crescente repasse de recursos pblicos para o setor privado justificado pela impossibilidade do Estado em cumprir com suas funes (KUENZER, 2006)17.

    Quanto educao profissional de jovens e adultos, per-manecem as lacunas constatadas no Planfor e criticadas pelos formuladores do PNQ, tais como a desarticulao das polti-cas pblicas de qualificao com as de educao; repasse dos recursos pblicos ao setor privado; o mau uso destes recursos diante das fragilidades e deficincias no sistema de planejamento, monitoramento e avaliao; nfase nos cursos de curta durao, voltados ao tratamento fundamentalmente das habilidades es-pecficas; segmentao e desarticulao das polticas pblicas, desenvolvidas por diversos Ministrios (Educao, Trabalho e Renda, Cincia e Tecnologia, Desenvolvimento e Combate Fome), que disputam, muitas vezes, o mesmo pblico, atravs de diversas aes18, que a nosso ver, em grande medida, se vinculam s polticas de alvio da pobreza.

    As ONGs e educao: a parceria privilegiada

    O crescimento das ONGs e sua parceria com o Estado so fenmenos globais, iniciados nos pases centrais do capitalismo mundial na dcada de 1980. A adeso do Brasil ao sistema de parceria pblico-privado se explicita no Plano Diretor da Refor-ma do Aparelho do Estado e, em especial, por meio da Medida Provisria n 1.591/9719, que dispe, entre outras coisas, sobre a criao do Programa Nacional de Publicizao20 e a qualificao de entidades como organizaes sociais. A partir dela, o conceito de pblico foi sofrendo alteraes profundas, principalmente com a desresponsabilizao do Estado na execuo de polticas sociais e o descompromisso com a garantia dos direitos sociais. Baseando-se em resultados e reduzindo direitos em servios, no qual o cidado transforma-se em cliente-consumidor, a transferncia de dinheiro pblico para as entidades do Terceiro Setor no s altera a relao cidado-Estado, uma vez que as demandas passam a se dirigir justia social, e no mais aos rgos da administrao estatal, como tambm reduz o espa-o pblico do cidado ao reduzir o seu poder de negociao (GOHN, 2002)21.

    O sistema de parceria tambm ocorreu nos programas de educao profissional de nvel bsico do Ministrio do Trabalho (MTE), na vigncia do Planfor e, posteriormente, do PNQ. Ainda que o envolvimento entre ONGs e educao no seja um episdio exclusivo da dcada de 1990, a participao dessas organizaes no campo educacional se intensifica legalizada pela nova LDB. Desde ento, as ONGs se voltaram para a qualifi-cao de jovens e adultos de baixa renda e escolaridade, junto com outras organizaes da sociedade civil, como sindicatos, instituies empresariais, escolas tcnicas pblicas e privadas, entre outras (DELUIZ; GONZALEZ; PINHEIRO, 2003)22. A atuao das ONGs nas aes de qualificao profissional se intensificam neste Governo com a implementao do Consrcio Social da Juventude (CSJ), uma das linhas de ao do Programa Nacional de Estmulo ao Primeiro Emprego (PNPE).

    Como se pode observar, descentralizao (da gesto e do financiamento), focalizao (dos programas e populaes beneficirias), privatizao dos servios e desregulamentao se tornaram caractersticas das polticas vinculadas a EJA nas

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    o conceito de pblico foi sofrendo alteraes

    profundas, principalmente com a desresponsabilizao

    do Estado na execuo de polticas sociais e o descompromisso com a

    garantia dos direitos sociais.

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    ltimas dcadas (DI PIERRO, 2001)23. Mas que formao tem sido oferecida aos trabalhadores? A que interesse ela atende?

    Trata-se de uma formao aligeirada, fragmentada e voltada s demandas do mercado. Contrrios a essa concepo de educa-o, Marx (1978)24 e Gramsci (1995)25 concebiam uma formao omnilateral, isto , que possibilitasse o desenvolvimento de todas as potencialidades humanas. Para isso, faz-se necessrio o rompimento de uma educao instrumental, especializada e tecnicista, uma vez que no vislumbra o Homem na sua totalidade e sim o aperfeioamento da mercadoria fora de trabalho. Uma educao discriminatria, visto que refora e perpetua as desigualdades, na medida em que, sendo unilateral, se preocupa apenas com um aspecto da formao.

    Gramsci (1995)26 denuncia que as escolas preocupadas em satisfazer interesses prticos imediatos tomam a frente da escola formativa. Neste sentido, defende a educao politcnica, isto , uma edu-cao que se apia na concepo de que as relaes de trabalho so tambm relaes pedaggicas, no se reduzindo a um mero instrumento til de preparao para o trabalho, mas sim a um processo de busca com fins superao da alienao do trabalho. Para tanto, a escola deve assegurar a cada governado a aprendizagem gratuita das capacidades e da preparao tcnica geral, necessria ao fim de governar27 e se orientar para a formao de intelectuais orgni-cos da classe trabalhadora, com vistas construo de projetos contra-hegemnicos.

    Juventude e trabalho: o desafio do primeiro emprego

    O desemprego dos jovens um dos mais graves problemas da atualidade, pois a dramtica situao da falta de postos de trabalho e as dificuldades de acesso rede de proteo social transformam a fase da juventude em uma etapa de incerteza.

    Ainda que o desemprego seja um problema geral desde os anos 1990, pesquisa realizada em 2005 pelo Dieese28 mostra que no Brasil, num universo com 3.241 milhes de trabalhadores sem emprego com mais de 16 anos, 1.473 milho est na faixa etria entre 16 e 24 anos, o correspondente a 45,5% do total. Tambm so bastante reveladores os nmeros sobre o desemprego ju-venil no primeiro mandato do Governo atual (2003-2006). De acordo com o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged)29, apenas 15% das novas oportunidades que surgiram nesse perodo foram ocupadas por pessoas na faixa etria de at 24 anos. A Sntese dos Indicadores Sociais / IBGE30 de 2006 mostrou que, de 2004 para 2005, a taxa de desemprego subiu de 18,9% para 20,8% entre jovens de 10 a 17 anos, e de 16,9% para 17,8%, ente jovens de 18 a 24 anos.

    Entre as maiores dificuldades dos jovens est a conquista do primeiro emprego, uma vez que se encontram nas piores condies de competio em relao aos adultos que, com fre-qncia, acabam preenchendo as vagas antes mesmo de serem acessadas pelos jovens, j que possuem, na maioria das vezes, escolaridade mais elevada, alguma experincia profissional e qualificao. Assim, no primeiro mandato do Governo Lula, s uma em cada dez vagas com carteira assinada abertas no Brasil foi ocupada por algum que procurava se colocar no mercado pela primeira vez (POCHMANN, 2007)31.

    As dificuldades dos jovens de insero no mercado de tra-balho formal vm se agravando ao longo da dcada de 1990. Pochmann (2000)32 salienta que durante essa dcada, no Brasil, as ocupaes por conta prpria foram as mais geradas para os jovens. Elas tiveram um aumento de 51%, ao passo que o emprego assalariado para os jovens foi reduzido em 22,8%. Embora a reduo do emprego assalariado tenha ocorrido de maneira generalizada, ele encontra-se fortemente presente entre os jovens, tornando-se a ocupao autnoma a possibilidade cada vez mais vivel de insero dos jovens no mercado de trabalho. No final do sculo passado, a mdia entre dez ocupados com idade entre 15 e 24 anos era de quatro autnomos para seis as-salariados, vivendo toda a precariedade do trabalho autnomo: baixos rendimentos, instabilidade ocupacional, altas jornadas de trabalho, alta rotatividade e ausncia de mecanismos de proteo social e trabalhista.

    Quanto escolaridade da populao juvenil, a Pesquisa Nacional por Amostra de Domiclios (PNAD, 2005 apud SALGADO, 2005)33, realizada em 2003, revelou que, dos 23,4 milhes de jovens de 18 a 24 anos, 15,4 milhes estavam fora da escola, sendo que 4,9% (em torno de 753,4 mil) eram anal-fabetos e 35,3% (5,4 milhes) no haviam concludo o ensino fundamental. Precocemente afastados da escola, grande parte dos jovens de 18 a 24 anos tambm no estavam inseridos no mercado de trabalho formal e, dentre esses, 14 milhes (60%) desenvolviam algum tipo de ocupao.

    A passagem do jovem da escola para o mundo do trabalho determinada pelas dificuldades da sobrevivncia da famlia. Geralmente, quanto menor a renda familiar, maior a proporo de jovens que precisam trabalhar. Por outro lado, as mudanas realizadas no mundo do trabalho tm alterado as exigncias para

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    O desemprego dos jovens um dos mais graves problemas da atualidade, pois a dramtica situao da falta de postos

    de trabalho e as dificuldades de acesso rede de proteo social transformam a fase da juventude em uma etapa de

    incerteza.

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    a entrada no mercado, tornando cada vez mais prementes as necessidades de jovens e adultos trabalhadores em aumentar sua escolaridade e qualificar-se profissionalmente, o que procuram fazer, dentre outras formas, por meio de projetos ou programas estatais desenvolvidos em parceria com organizaes da socie-dade civil, como o caso do Programa Nacional de Estmulo ao Primeiro Emprego (PNPE).

    2. as ongs no camPo da Qualificao Profissional: o PnPe/csJ em discusso

    As entidades executoras investigadas34, participantes do PNPE / Consrcio Social da Juventude no Rio de Janeiro, apre-sentam algumas diferenas quanto prtica e forma de gesto. Embora haja uma referncia comum a seguir, estipulada pelo MTE, no se pode falar das entidades de modo nico, isto , como se as entidades operassem no Consrcio de forma semelhante. Alguns fatores so relevantes para essa diferenciao: (1) O perfil das entidades e dos educadores, sua misso e os

    posicionamentos polticos e ideolgicos dos seus gestores.(2) O critrio de seleo dos jovens. H entidades cuja demanda

    quatro vezes maior do que o nmero de vagas oferecidas, o que a leva realizar uma seleo no baseada somente na condio de vulnerabilidade dos inscritos, mas sim em outros critrios, como prova escrita, dinmica de grupo, entrevista coletiva e/ou prioridade aos que possuem ensino mdio completo ou estejam cursando o terceiro ano. Por outro lado, h entidades em que a demanda menor do que as vagas oferecidas e, para que o curso no deixe de ser realizado, matriculam todos os jovens que as procuram, independente se eles se enquadram ou no no perfil priorizado pelo Con-srcio.

    (3) O local onde o curso realizado. H cursos que so ofereci-dos dentro da comunidade onde mora a maioria dos jovens participantes do Programa. Nestes, o grau de relacionamento entre eles, de cumplicidade ou de animosidade, bem maior do que nos cursos oferecidos na rea central da cidade, que aceitam jovens oriundos de diferentes regies da cidade.

    (4) As oficinas oferecidas. H cursos que exigem dos jovens uma comunicao maior e o trabalho em equipe, ao passo que outras requerem um comportamento mais individualizado.

    Reconhecer as diferenas entre as entidades executoras in-vestigadas no significa dizer que elas no apresentem pontos convergentes. So esses traos comuns em relao s finalidades e qualidade pedaggica das aes de qualificao profissional na concepo das entidades executoras que ressaltaremos a princpio.

    Objetivos e finalidades das aes de qualificao pro-fissional na concepo das entidades executoras

    Reconhecendo o emprego juvenil como um dos principais desafios do Governo Lula, o Programa Nacional de Estmulo ao

    Primeiro Emprego /Consrcio Social da Juventude tem como foco o fomento gerao de postos de trabalho formais e preparao para o primeiro emprego (BRASIL. Ministrio do Trabalho e Emprego. Termo de Referncia, 2003)35. Para isso, as entidades conve-niadas tm o dever de inserir, no mnimo, 30% dos jovens nele matriculados, aps a concluso de no mnimo 80% da carga horria prevista para as aes de qualificao. Para o MTE, o primeiro emprego no se restringe ao emprego de carteira assinada e aos demais direitos trabalhistas garantidos. As diver-sas modalidades do mercado informal trabalho autnomo, prestao de servios, cooperativismo, empreendedorismo, servio temporrio e estgios , so consideradas na referida percentagem.

    A insero no mercado formal uma das principais dificul-dades apontadas pelos coordenadores das entidades pesquisadas, principalmente dos jovens que possuem baixa escolaridade e no tm experincia profissional. Essas dificuldades so ressaltadas por Mesquita (2006)36 quando aponta que o PNPE estimulou 38 mil empregos desde 2003, enquanto o universo no pas de quatro milhes de jovens desempregados. Segundo o autor, os contemplados pelo Programa trabalham por um ano e ainda assim encontram dificuldades de insero no mercado, pois no h uma poltica de continuidade.

    Diante disso, e em consonncia com os objetivos do Consrcio Social da Juventude37, a promoo de atividades autnomas e o despertar do esprito empreendedor so as finalidades principais da qualificao profissional para as entidades investigadas. Ob-servando os cursos oferecidos serigrafia, manicure, artesanato, marcenaria, construo civil, gastronomia, fotografia, dana, teatro, educadores sociais , percebe-se que eles conduzem para esse fim.

    Para justificar o empreendedorismo como o caminho vivel de insero dos jovens no mercado de trabalho, os agentes das entidades investigadas utilizam-se da idia de que a qualificao

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    profissional garante aos trabalhadores melhores chances no mercado, embora, aps as mudanas ocorridas com a reestru-turao produtiva no haja mais como garantir a linearidade entre qualificao e insero no mercado de trabalho, como j ressaltaram Frigotto (1998)38, Del Pino (2002)39 e Castel (1998)40. Tal discurso alimenta a falsa crena de que o problema do de-semprego reside na desqualificao dos trabalhadores, isto , de que trabalho no falta, o que falta so trabalhadores qualificados, atribuindo-se, assim, a responsabilidade pela insero profissional aos prprios indivduos.

    Sem questionar as causas estruturais do desemprego e as di-ficuldades de insero no mercado de trabalho, e sem mencionar a falta de uma poltica pblica efetiva de gerao de empregos, trabalho e renda, parte-se do pressuposto que as dificuldades de insero no mercado para os jovens so proporcionalmente minimizadas quanto mais eles se qua-lificam. A idia fomentada a de que eles esto se auto-investindo, posto que os indivduos devem se capacitar para serem empregveis. Na concepo das entidades investigadas, para garantir a empregabilidade os jovens devem investir no seu nvel de capital humano que, segundo Davenport (apud PIRES, 2005)41, agora compreende capacidade (entendida como conhecimento, habilidade e talento), comportamento (formas observveis de agir que contribuem para a realizao de uma tarefa) e empenho (aplicao consciente de recursos mentais e fsicos para determinado fim). Desse ponto de vista, no h mais mercado de trabalho, mas sim mercado de capital humano42, onde cada trabalhador um empreendedor: ganha mais se investe mais.

    Ainda que as dificuldades da con-quista do primeiro emprego e a preca-rizao do trabalho se acentuem na medida em que as prticas neoliberais se tornam hegemnicas, as anlises dos grupos focais realizados com os jovens vo ao encontro do resultado das pes-quisas de Guimares (2005)43 e Batista (2007)44, que apontam o quanto o trabalho uma categoria central para os jovens. na esperana da obteno do primeiro emprego com carteira assinada e os demais direitos trabalhistas garantidos que os jovens participam do Programa. Suas expectativas, no entanto, so frustradas desde o momento de sua entrada, quando os gestores das entidades afirmam no haver como garantir a esperada insero.

    Nesse sentido, diante da impossibilidade de satisfao de empregos e em meio crise da sociedade salarial (CASTEL, 1998)45, as entidades investigadas buscam adequar os alunos ao contexto do no-emprego, fomentando o protagonismo juvenil e a busca de novas alternativas, como o empreendedorismo e

    o cooperativismo, como os caminhos viveis de sua sobrevi-vncia. Nas entrevistas realizadas com as coordenadoras, todas constataram a crescente seletividade do mercado e as mudanas operadas no mundo do trabalho sem, contudo, apontar suas causas estruturais. Naturalizam as mudanas ocorridas no mundo do trabalho e, como tal, no vislumbram quaisquer possibilidades de alterao do modelo socioeconmico constitudo.

    Isso significa que as entidades operam, em parte, pela lgica da racionalidade instrumental apontada por Singer (1996)46, medida que baseiam suas aes na mudana de comportamen-tos e valores que levam os jovens a se tornarem empregveis, adequando-se competitividade e seletividade do mercado.

    As entidades cumprem a funo reser-vada educao no sistema capitalista, como salienta Mszros (2005)47, de internalizar nos indivduos os valores do sistema a fim de criar um consenso, levando-os a defender como seus os interesses do capital.

    No tendo as entidades o compro-misso de insero para com todos os participantes do Programa e agindo mais na aparncia do que na essncia sobre a anlise da crescente restrio dos postos de trabalho e as finalidades da qualificao profissional, a insero de alguns interfere na subjetividade dos jovens no selecionados, levando-os muitas vezes a se auto-culpabilizarem por sua no insero, pelo seu fracasso, j que, segundo a retrica neoliberal, no mercado todos tm a mesma chance de oportunidade, tratando-se to somente de uma questo de mrito, competncia e talento.

    Apesar das coordenadoras afir-marem que as aes de qualificao profissional tm como objetivos, alm do conhecimento tcnico do ramo es-

    tudado, a construo da conscincia crtica e a incluso social, no PNPE/CSJ as aes visam instrumentaliz-los no caminho da empregabilidade, alm de fomentar outras formas de insero como meio de driblar as restries do mercado formal. As aes educativas se realizam mais na perspectiva de adaptao dos jovens ao modelo econmico vigente e aos trabalhos precarizados que demandam pouca qualificao e baixa escolarizao.

    Qualidade pedaggica das aes de qualificao profissional

    O estmulo elevao da escolaridade um dos objetivos do Consrcio Social da Juventude. Assim, para que o jovem possa participar do PNPE, alm no ter tido vnculo empregatcio anterior e de ser membro de famlia com renda mensal per capita de at meio salrio mnimo, preciso que esteja matriculado e

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    Tal discurso alimenta a falsa crena de que o

    problema do desemprego reside na desqualificao dos trabalhadores, isto ,

    de que trabalho no falta, o que falta so trabalhadores qualificados, atribuindo-se, assim, a responsabilidade

    pela insero profissional aos prprios indivduos.

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    freqentando regularmente estabelecimento de ensino fundamental ou mdio, cur-sos de Educao de Jovens e Adultos, ou ainda que tenha concludo o ensino mdio, entre outras exigncias. Apesar disso, o Programa no prev uma articulao com as Secre-tarias Municipal e Estadual de Educao, permanecendo a diviso de tarefas entre o MTE e o MEC em relao s polticas de Educao de Jovens e Adultos.

    A permanncia dessa divi-so entre as polticas pblicas dos referidos ministrios promove a continuidade da segmentao na educao

    profissional, apontada por Kuenzer (1999)48, em que oferecida para a grande maioria excluda do emprego ou submetida a trabalhos precarizados , formao simplificada, de curta durao e baixos custos, ao passo que a oferta de educao cientfico-tecnolgica mais avanada fica restrita a um pequeno nmero de trabalhadores.

    Analisando as polticas de educao profissional do Governo Lula, Leher (2005)49, Frigotto, Ciavatta e Ramos (2005)50 eviden-ciaram que apesar da edio do Decreto n 5154/0451 a poltica de integrao entre a educao bsica e a educao profissional no prioridade do novo Governo. Logo, o estmulo ao aumento da escolaridade to somente um princpio norteador na perspectiva do capital humano, onde o conhecimento torna-se a varivel estratgica do mercado e da competio capitalista.

    Com durao total de cinco meses52, as atividades educacio-nais no PNPE/CSJ so normalmente desenvolvidas dentro da lgica da fragmentao, sendo os primeiros meses reservados para a qualificao bsica53, cuja carga de 200 horas. Como os cursos se desenvolvem atravs de mdulos, os jovens tm contato com diversos educadores contratados para trabalhar determinados contedos.

    Em relao parte especfica, no existe um material prprio para as oficinas, e as aulas so predominantemente baseadas no fazer, na prtica. J em relao qualificao bsica, embora haja um material comum a todas as entidades executoras os Cadernos Pedaggicos54 , o planejamento no elaborado a partir desse material, mas sim de acordo com a concepo pedaggica de cada entidade, que se utiliza de outros recursos para facilitar a compreenso do contedo trabalhado.

    As metodologias utilizadas pelas entidades executoras valo-rizam o conhecimento prvio dos jovens. Entendem que estes, embora possuam graus de escolarizao diferentes, tm um conhecimento acumulado na sua experincia histrica. Metodolo-gicamente, todas as entidades executoras pesquisadas afirmaram seguir a linha construtivista, em que, a partir do levantamento dos

    contedos trazidos pelos jovens, os professores os conduzam a descobrir o que realmente esto mais propostos a fazer.

    A princpio, pode se ter a impresso de que o processo edu-cativo concilia cincia e trabalho (dimenso tcnico-cientfica), uma vez que a qualificao bsica pauta-se no apoio elevao da escolaridade e no trabalho atravs de temas transversais. En-tretanto, por meio das observaes de algumas aulas e pela coleta de dados com os diversos sujeitos da pesquisa, constata-se que a qualificao profissional no Consrcio no se conduz no vis da matriz crtica de Marx (1978)55 e Gramsci (apud MANACORDA, 1990)56, mas sim na perspectiva de Smith (1985)57, ou seja, uma educao mnima necessria para que no se coloque em risco a ordem econmico-social.

    Um curso de cinco meses tende mais ao disciplinamento do trabalhador ordem econmica o que seria possibilitado com a superao do empobrecimento cultural, posto que um povo instrudo e inteligente sempre mais decente e ordeiro do que um povo ignorante e obtuso (Smith, 1985)58 , do que formao de intelectuais orgnicos das classes trabalhadoras, como prope Gramsci (1995)59.

    Apesar disso, as coordenadoras afirmam que os cursos tm, tambm, a finalidade da construo do que chamam de conscincia crtica, que desenvolvida mais enfaticamente durante a formao bsica, nas aulas de cidadania. As aulas de tica e cidadania so mais enfatizadas pelas entidades (X,Y) que tm como misso a formao poltica dos sujeitos e a formao de lideranas locais, ao passo que as aulas de Lngua Portuguesa e Matemtica so mais priorizadas por aquela entidade (Z) em que a qualificao e a gerao de renda so a misso principal. No entanto, apesar das discusses sobre o mercado de trabalho, sua seletividade e as dificuldades encontradas pelos jovens na obteno do primeiro emprego ocorrerem no mdulo de cidadania, elas se do mais ...

    As metodologias utilizadas pelas entidades executoras valorizam o conhecimento

    prvio dos jovens. Entendem que estes, embora possuam

    graus de escolarizao diferentes, tm um

    conhecimento acumulado na sua experincia histrica.

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    na perspectiva da constatao e adaptao a essas dificuldades do que na investigao das suas causas estruturais.

    Nesse sentido, pela anlise do material didtico e pelos depoimentos coletados, a compreenso de cidadania no da cidadania pautada no incentivo dos jovens participao poltica na esfera pblica, mas sim, como afirma Gohn (2002), da cidadania outorgada, de cima para baixo, que promove a incluso de indivduos a uma rede de servios de forma assistencial, em que os novos cidados se transformaram em clientes de polticas pblicas administradas pelas entidades do Terceiro Setor 60.

    Ainda que o Programa reserve a carga horria de 200 horas para a qualificao bsica, ele no se operacionaliza de forma desinteressada, como Gramsci (1995)61 pensava a formao dos trabalhadores, isto , despida do utilitarismo que visa apenas formao rpida da mo-de-obra minimamente qualificada para o trabalho tcnico. Portanto, mesmo que valorizem o conheci-mento do aluno e integrem-no ao processo pedaggico, como se pretende na escola unitria, ainda que se tente conciliar o homo saber e o homo faber, ao garantir carga horria equivalente para a qualificao bsica e especfica, os cursos no se estruturam na perspectiva de uma educao integral e omnilateral.

    A qualificao desenvolvida no PNPE/CSJ, orientada para o desenvolvimento de competncias flexveis e empregveis (DELUIZ, 200462; KUENZER, 199963), e que capacita os jovens para ocupaes com relaes de trabalho precarizadas, no est voltada para desenvolver nesses trabalhadores um processo formativo integral na perspectiva da superao do trabalho alienado e nem preocupada com a formao de um novo tipo de homem, um intelectual que seja especialista e ao mesmo tempo dirigente (MANACORDA, 1990)64.

    Pelo exposto, embora as entidades executoras orientem sua prtica pedaggico-metodolgica para a valorizao da diver-sidade cultural, tnica, regional e de gnero e desenvolvam as temticas do trabalho e da cidadania, conforme proposto no PNQ, no so abordadas questes crticas sobre o mundo do trabalho ou as relacionadas s desigualdades sociais geradoras da excluso.

    Como afirma Gohn (2002)65, essas entidades atuam para incluir no sistema econmico atual, de forma precria e sem direitos sociais, os excludos do modelo econmico. Cumprem a funo reservada educao na sociedade capitalista e de-nunciada por Mszros (2005)66, que a de internalizar nos indivduos os valores do capital, a fim de legitimar a posio que lhes foi atribuda na hierarquia social, induzindo-os, atravs de condutas certas e expectativas adequadas, a um conformismo generalizado. Desse modo, como esperar que os jovens sejam estimulados crtica ao modelo socioeconmico e discutam perspectivas de mudanas se os gestores e coordenadores das entidades executoras assumem o discurso conformista de que no h mais possibilidade de mudanas?

    Efetividade social e poltica das aes de qualificao profissional

    O PNPE/CSJ, na sua essncia, no se diferencia das polticas implementadas na dcada de 1990, sob vis neoliberal. Assim como as polticas focalizadas, o PNPE tambm centra sua ateno nos mais vulnerveis e, ao oferecer bolsa auxlio de R$ 120,00 aos jovens participantes, segue o formato das polticas sociais que, como nos mostraram Oliveira e Duarte (2005)67, passaram orientar-se por meio da articulao, no mais entre trabalho e renda, mas sim entre renda e educao.

    No grupo focal realizado com os egressos constatamos que a efetividade social e poltica das aes realizadas pelas entidades participantes do Consrcio restringem-se a benefcios secund-rios, como maior sociabilidade, responsabilidade e auto-estima, j que o curso no rendeu nenhuma oportunidade de emprego, trabalho e renda para a maioria dos jovens participantes.

    Desmistificada a idia de que o Programa garante a insero dos jovens no seu primeiro emprego no mercado formal, a qualificao passa a ter um carter mais voltado para a mudana de comportamentos sociais, em face da situao de risco e vul-nerabilidade em que se encontra a maioria desses jovens. Neste sentido, os temas transversais: tica, cidadania, valores humanos, meio ambiente, sexualidade, violncia, igualdade racial e eqidade de gnero, so trabalhados na perspectiva da mudana de ati-

    ...

    a funo das ONGs na parceria pblico-privado servir de amortecedor

    das presses populares, redirecionando as demandas dos trabalhadores no mais aos rgos da administrao

    estatal, cabe-nos indagar at que ponto elas esto comprometidas com a

    transformao social e suas aes educacionais voltadas

    para a formao dos intelectuais orgnicos das

    classes trabalhadoras.

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    tudes e comportamentos, como o respeito diversidade (tnica, cultural, regional, sexualidade e gnero), o convvio com as diferenas, o respeito ao prxi-mo, entre outros temas. uma mudana de comportamento que pode ter, sem dvida, reflexo na minimizao das vulnerabilida-des desses jovens em relao violncia.

    Concordando com a premis-sa posta por Montao (2007)68 de que a funo das ONGs na parceria pblico-privado servir de amortecedor das presses populares, redirecionando as demandas dos trabalhadores no mais aos rgos da administrao estatal, cabe-nos indagar at que ponto elas esto comprometidas com a transformao social e suas aes educacionais voltadas para a formao dos intelectuais orgnicos das classes trabalhadoras. Sobrevivendo cada vez mais com os recursos advindos do Estado, estariam as ONGs engajadas na elaborao de um projeto contra-hegemnico de sociedade69 em que se opera a hegemonia do trabalho sobre o capital, como prope Mszaros (2002)70, ou simplesmente a servio do atual processo de reestruturao do capital e de toda lgica neoliberal?

    Wood (2003)71 e Montao (2007)72 evidenciaram a altera-o efetuada no conceito gramsciano de sociedade civil com a implementao da parceria pblico-privado. Segundo aqueles autores, as dimenses de luta e confronto pela hegemonia de diferentes projetos societrios foi cedendo lugar idia de interao, entendimento, consenso, colaborao e parceria. Mas pensar numa sociedade civil desarticulada, aptica, desmobilizada, deixar este espao para o controle hegemnico dos setores sociais que exercem a direo hegemnica na sociedade, afirma Montao (2007)73. Nesse sentido, ao considerar as organizaes da sociedade civil como articuladoras dos mesmos interesses o de promover o bem geral da populao , subtrai-se a viso de sociedade civil como espao contraditrio e tenso, entranhada de diversos mecanismos de coero (WOOD, 2003)74.

    Contudo, identificar os espaos de luta a fim de vislumbrar as potencialidades existentes. Desse modo, ao tempo em que as entidades cumprem suas aes no formato do Programa, em consonncia com os postulados neoliberais, elas tambm podem suscitar o incio de um novo ciclo de vida para alguns jovens, no s como constatamos no grupo focal dos alunos atuais e egressos por estimular a continuidade da vida escolar, podendo lhes possibilitar a conquista de outros espaos alm dos reservados s camadas populares, mas tambm por possibilitar, alm do encontro com outros jovens, um novo olhar sobre a sua realidade, novos conhecimentos e discusses polticas.

    Gramsci nos ajuda a pensar a escola no como lcus da reproduo sem resistncia, mas sim como espao de disputa de diferentes concepes da realidade e de projetos individuais e societrios em busca da hegemonia, o que nos leva a no

    identificar os jovens cursistas como passivos receptores da ideo-logia dominante, e os coordenadores e educadores como meros transmissores dessa ideologia. Se analisamos as ONGs conforme Gramsci (2005)75 pensou a escola e se as compreendemos no de modo nico, uma vez que elas tm objetivos/misses diferentes e trabalham com jovens, coordenadores e educadores com perfis diferentes76, podemos vislumbrar algumas possibilidades.

    No obstante o PNPE esteja estruturado com cursos frag-mentados e de curta durao, conduzidos pela perspectiva da empregabilidade, de fomento nos jovens do esprito empreen-dedor, de adequao sociedade do no-emprego e da auto-responsabilizao pela no insero no mercado de trabalho, as entidades executoras cumprem uma outra funo reservada escola: a socializao.

    Participar dos cursos oferecidos pelo Consrcio Social da Juventude algo relevante para os jovens, como constatamos nos grupos focais realizados. Os jovens brasileiros apresentam aspectos diferenciados, de acordo com suas condies econmica e social, de gnero, etnia, religio e local de moradia (centro e periferia, campo e cidade), que no podem ser desconsideradas. Todas essas especificidades, de certo modo, criam condies peculiares a cada jovem em relao escolarizao, exposio de riscos e luta pela entrada no mercado de trabalho. Nessa perspectiva, ainda que cinco meses seja um perodo insuficiente para uma boa qualificao, as aes das entidades executoras podem causar outros impactos aos jovens, como contribuir para a minimizao de suas vulnerabilidades sociais, atravs da conscientizao dessa sua condio e ao estmulo continuidade da escolarizao.

    Constituda por ONGs com perfis diferentes, o PNPE apresenta, em meio a uma formatao comum, diferentes con-figuraes, pois os educadores no s trabalham seus contedos de modo nico, como os jovens no se apropriam da informao e constroem o conhecimento de forma igual, j que vivenciam experincias cotidianas diferentes. No entanto, apesar das possi-bilidades apontadas, em geral, as aes das entidades executoras participantes do PNPE/CSJ cumprem o papel reservado educao bsica, formao tcnico-profissional e dos processos de qualificao e requalificao orientados pelo Banco Mundial, que de mormente, produzir cidados que no lutem por seus direitos e pela desalienao do/no trabalho, mas cidados participativos, no mais trabalhadores, mas colaboradores (FRIGOTTO, 199877).

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    Desse modo, apesar do discurso das entidades investiga-das de que trabalham na perspectiva da construo do sujeito crtico e se preocupam com a formao poltica dos jovens, a pesquisa constatou que as aes de educao profissional no propiciam a formao poltica dos sujeitos individuais e coletivos no sentido da sua participao na esfera pblica. Com o grupo focal de egressos, constamos que, finalizado o curso, eles no se envolvem em nenhum tipo de atividade realizada na comunidade, sejam elas de ordem poltica, cultural, esportiva, educativa ou recreativa, no se percebendo como sujeitos histricos ativos, agentes de mudana, nem mesmo local.

    Pelo exposto, em grande parte, os resultados da presente pesquisa vo ao encontro das concluses de Deluiz (2006)78, quando investigou a atuao das ONGs que desenvolveram aes de qualificao profissional no mbito do Planfor, no perodo de 2001-2003, no Estado do Rio de Janeiro, ou seja, de que as modalidades de educao de jovens oferecidas configuram-se como um paliativo ao desemprego, destinando-se a minimizar a presso social pela obteno de emprego e/ou participao. Muda-se o governo, mas permanece o formato das polticas focais, em nome da governabilidade.

    3. consideraes finais

    Chegamos s consideraes finais deste artigo ressaltando as diferenas das aes em meio unidade, visto que o institu-cional, as diferentes juventudes e o corpo docente fazem com que, na prtica, haja diferentes configuraes do PNPE/CSJ. Compreendendo que o conhecimento sempre aproximativo e provisrio, o presente trabalho no tem a pretenso de esgotar as aes do Consrcio Social da Juventude do Rio de Janeiro, formado por 17 ONGs que executaram aes no Estado do Rio de Janeiro, em 2006 e 2007, mas constituir-se em mais um instrumento de anlise das polticas pblicas implementadas na rea de trabalho e educao durante o Governo Lula.

    Apesar de o PNPE no apresentar diferenas marcantes da poltica de qualificao profissional do governo anterior, preciso estar atento s contradies a fim de vislumbrar os espaos de luta e as possibilidades existentes. Estas no suplantam, porm, a compreenso de que os cursos aligeirados e de curta durao oferecidos pelo PNPE reforam o apartheid social, reproduzindo e aprofundando as desigualdades sociais existentes, uma vez que, de forma unilateral, destinam aos jovens das camadas populares uma qualificao voltada para o segmento do trabalho repetitivo, de execuo e operacionalizao, ao passo que o trabalho cria-tivo, de concepo e elaborao fica reservado para um outro grupo social.

    Transmitido pelas entidades executoras no como um dever do Estado e um direito dos jovens, mas como uma oportuni-dade dada a eles pelo governo, o PNPE concebido como benesse pelos jovens, que agradecem pela oportunidade dada, parecendo ter aprendido a lio da pacincia, da conformao e da adaptao comportamento esperado de todo bom parceiro e colaborador.

    Diante de uma conjuntura potencialmente conflituosa, devido enorme desigualdade social e ao crescimento da violncia urbana, torna-se necessrio enfrentar o esgaramento e a fragmentao do tecido social. Apostando no capital social79, as polticas aca-bam por buscar (re)estabelecer os laos danificados pela lgica neoliberal, tal como a famlia e o sentimento de pertencimento comunidade e sociedade. Talvez este seja o propsito das 100 horas reservadas ao Servio Social Voluntrio que os jovens devem cumprir ao longo dos cinco meses, mesmo que no haja uma orientao de como ele deva acontecer. Nesse sentido, mais do que a construo de uma conscincia crtica ocorrida na prxis, o Servio Social Voluntrio deve promover nos jovens o fortalecimento de sua responsabilidade social, o que, em outras palavras, significa colaborar com a ordem econmica, poltica e social instituda. No por acaso que, no grupo focal realizado com os egressos, os jovens apontaram maior responsabilidade e sociabilidade como um dos principais benefcios ocorridos com eles, proporcionada pelos cursos realizados.

    Pelo exposto, observamos que, se anteriormente os movi-mentos sociais necessitavam da participao popular para o seu fortalecimento, atualmente, para as ONGs, em face da sua parceria com o Estado, essa participao j no mais vital, ocasionan-do, assim, uma mudana na compreenso acerca da cidadania. Esta deixa de ser compreendida como participao poltica dos sujeitos na esfera pblica, passando a ser concebida por meio da colaborao, da co-responsabilidade e da solidariedade social. Portanto, sabedor de que um curso de curta durao, aligeirado e fragmentado no proporciona uma qualificao profissional e ...

    as modalidades de educao

    de jovens oferecidas configuram-se como um paliativo ao desemprego,

    destinando-se a minimizar a presso social pela

    obteno de emprego e/ou participao. Muda-se o governo, mas permanece o

    formato das polticas focais, em nome da governabilidade.

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    social de forma decente, estaria o Governo Lula, com o PNPE, investindo no capital social, como forma de enfrentamento da questo social, como o propsito de toda poltica de alvio pobreza?

    notas:

    1 O PNPE vincula-se ao Plano Nacional de Qualificao (PNQ) e uma ao do Governo Lula com vistas ao estmulo ao primeiro emprego de jovens trabalhadores da faixa etria de 16 a 24 anos que esto fora do mercado de trabalho, preferencialmente para aqueles que no tiveram ainda uma experin-cia de emprego formal. Criado pela Lei n 10.748/2003, regulamentado pelo Decreto 5.199/2004, e estabelecido em regime de parceria pblico-privado, o PNPE recebe recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT); de diversos rgos governamentais, como os Ministrios da Cultura, da Educa-o, do Desenvolvimento Agrrio; e da iniciativa privada, como o Sistema S, direcionados para a qualificao social e profissional do jovem no seu primeiro emprego.

    2 A operacionalizao das aes do CSJ se d por meio de convnio entre o MTE e uma entidade da sociedade civil organizada, denominada entidade ncora, que, por sua vez, contrata uma rede de entidades para a execuo das aes de qualificao bsica, social e profissional e de insero de no mnimo 30% dos jovens no mundo do trabalho . BRASIL. Ministrio do Trabalho e Emprego. Plano Nacional de Qualificao (PNQ).Braslia: MTE/SPPE/DEQ, 2003.

    3 Trata-se da pesquisa Sociedade civil e as polticas de Educao de Jovens e Adultos: a atuao das ONGs no Rio de Janeiro (2006-2008), coordenada pela Prof. Dra. Neise Deluiz e financiada pelo CNPq , na qual se insere a dissertao de mestrado Juventude, trabalho e educao: o Programa Nacional de Estmulo ao Primeiro Emprego em discusso, defendida por Carlos Soares Barbosa, no mestrado em Educao e Cultura Contempornea da Universidade Estcio de S, em 2007.

    4 SAVIANI, Dermeval. A Nova LDB: limites e perspectivas. In: _____A nova lei da educao: trajetrias, limites e perspectiva, 3. ed, Campinas : Autores Associados, 1997. (Educao Contempornea). p. 189-238.

    5 VENTURA, Jaqueline. O Planfor e a educao de jovens e adultos traba-lhadores: a subalternidade reiterada. Dissertao (Mestrado em Educao). Universidade Federal Fluminense, 2001.

    6 ROMO, Jos E. Educao de jovens e adultos: problemas e perspectivas. In: GADOTTI, Moacir; ROMO, Jos. E. (Orgs.). Educao de jovens e adultos. 5.ed., So Paulo : Cortez, 2002.

    7 DI PIERRO, Maria Clara. Descentralizao, focalizao e parceria: uma anlise das tendncias nas polticas pblicas de educao de jovens e adultos. Educao e pesquisa, So Paulo, v. 27, n. 2, jul/dez. 2001, p. 321-337.

    8 FIORI, Jos Luiz. Os moedeiros falsos. Petrpolis : Vozes, 1997.

    9 MONTAO, Carlos. Terceiro setor e a questo social: crtica ao padro emergente de interveno social. 4. ed. So Paulo : Cortez, 2007.

    10 BARRETO, Maria I. As organizaes sociais na reforma do Estado brasileiro. In: PEREIRA, Luiz C. Bresser; GRAU, N. C. (Orgs.). O pblico no-estatal na reforma do Estado. Rio de Janeiro : FGV, 1999.

    11 OLIVEIRA, Dalila A; DUARTE, A. poltica educacional como poltica social: uma nova regulao da pobreza. Perspectiva, Florianpolis, v. 23, n. 2, p. 255-278, jul./dez. 2005. p. 286.

    12 Id. Ibid., p. 285.13 As polticas de integrao so desenvolvidas atravs de diretrizes gerais num

    quadro nacional. o caso das tentativas para promover o acesso de todos aos servios pblicos e instruo, proporcionando ao indivduo encontrar um lugar pleno na sociedade, inscrevendo-se na condio salarial com suas sujeies e garantias (CASTEL, Robert. As metamorfoses da questo social: uma crnica do salrio. Petrpolis, (RJ): Vozes, 1998). As polticas de insero obedecem a uma lgica de discriminao positiva: definem com preciso a clientela e desenvolvem estratgias especficas para elas. Como afirma Castel (1998) op. cit, p. 5559), o sentido das polticas de insero ocupar-se dos vlidos invalidados pela conjuntura.

    14 BRASIL. Leis, Decretos. Lei n. 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Dirio Oficial da Unio, Braslia, v. 134, n. 248, p. 27833-27841, 23 dez. 1996. Seo I. Estabelece as diretrizes e bases da educao nacional. Texto integral da lei de diretrizes e bases da educao nacional; Id. Decreto n.o 2.208, de 17 de abril de 1997. Dirio Oficial da Unio, Braslia, v. 135, n.o 74, p. 7760-7761, 18 abr. 1997. Regulamenta o pargrafo 2 do art. 36 e os art. 30 a 42 da Lei n.o 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educao nacional.

    15 BRASIL. Ministrio do Trabalho e Emprego. Plano Nacional de Qualifi-cao (PNQ).Braslia: MTE/SPPE/DEQ, 2003.

    16 OLIVEIRA, Roberto Vras de. A qualificao profissional como poltica pblica. In: SAUL, Ana Maria; FREITAS, C. (Orgs). Polticas pblicas de qualificao: desafios atuais. So Paulo : A + Comunicao/Unitrabalho, 2007.

    17 KUENZER, Accia. A educao profissional nos anos 2000: a dimenso subordinada das polticas de incluso. Educao & Sociedade, Campinas, v. 27, n. 96, p. 877-910, out, 2006. Nmero Especial.

    18 Como o Programa de Estmulo ao Primeiro Emprego; o Programa Fbrica de Escola; o Programa de Integrao da Educao Profissional Tcnica de Nvel Mdio ao Ensino Mdio na Modalidade de Educao de Jovens e Adultos Proeja; o Programa Nacional de Incluso de Jovens: Educao, Qualificao e Ao Comunitria Projovem; o Brasil Alfabetizado, entre outros.

    19 BRASIL. Leis, Decretos. Medida Provisria n. 1.591, de 09, outubro de 1997. Dirio Oficial da Unio, Braslia, 10, out., 1997. p. 022835 Seo 2. Dispe sobre a qualificao de entidades como organizaes sociais, a criao do Programa Nacional de Publicizao, a extino do Laboratorio Nacional de Luz Sincrotron e da Fundao Roquette Pinto e a absoro de suas atividades por organizaes sociais, e da outras providencias.

    20 Segundo Barreto (1999) op. cit., p. 112), entende-se por processo de publicizao a transferncia dos servios no-exclusivos do Estado para o setor pblico no-estatal ou terceiro setor mediante transformao de entidades estatais em organizaes pblicas no-estatais, denominadas organizaes sociais.

    21 GOHN, Maria da Glria. Educao, trabalho e lutas sociais. In: GENTILI, Pablo; FRIGOTTO, Gaudncio. (Orgs.) A cidadania negada: polticas de excluso na educao e no trabalho. 3 ed. Rio de Janeiro : Cortez , 2002.

    22 DELUIZ, Neise; GONZALEZ, Wania; PINHEIRO, Beatriz. ONGs e polticas pblicas de educao profissional: propostas para a educao dos trabalhadores. Boletim Tcnico do Senac, Rio de Janeiro, v. 29, n. 2, maio/ago., 2003.

  • 62 B. Tc. Senac: a R. Educ. Prof., Rio de Janeiro, v. 34, n.1, jan./abr. 2008.

    23 DI PIERRO, Maria Clara. (2001), op.cit.24 MARX, Karl. Manuscritos econmico-filosficos e outros textos esco-

    lhidos. 2. ed. So Paulo : Abril Cultural, 1978. Os Pensadores25 GRAMSCI, Antonio. Os intelectuais orgnicos e a organizao da cultura.

    9 ed., Rio de Janeiro : Civilizao Brasileira, 1995.

    26 Id. ibid., p. 136.27 Id. ibid., p. 137.28 Dados publicados no Jornal O Globo, Caderno Economia, Rio de Janeiro,

    14 de setembro de 2006.

    29 Dados publicados no Jornal O Globo, Caderno de Economia, Rio de Janeiro, 21 de dezembro de 2006.

    30 Dados publicados no Jornal O Globo, Caderno de Economia, Rio de Janeiro, 30 de outubro de 2006.

    31 POCHMANN, Marcio. Sntese da anlise feita pelo referido economista sobre os nmeros do MTE para o primeiro governo Lula da Silva, publicado no Jornal O Globo, Caderno de Economia, segunda-feira, 26 de fevereiro de 2007. p. 13.

    32 Id. A batalha pelo primeiro emprego: as perspectivas e a situao atual do jovem no mercado de trabalho brasileiro. So Paulo : Publisher Brasil, 2000.

    33 SALGADO, M.U.C. (Org.). Programa Nacional de Incluso de Jovens (Projovem): manual do educador. Braslia, Presidncia da Repblica/ Secretaria Geral, 2005. Os dados no abrangem a rea rural da Regio Norte, exceto Tocantins.

    34 Das 17 entidades que participaram do PNPE/CSJ no Rio de Janeiro, nos ano de 2006 e 2007, oferecendo oficinas de qualificao profissional a jo-vens de 16 a 24 anos em estado de vulnerabilidade social, selecionamos trs delas como objeto deste artigo, aqui denominadas de X, Y e Z. Os sujeitos da presente pesquisa foram as coordenadoras (pedaggica e administrativa) das referidas ONGs, os alunos que estavam cursando poca e egressos. A coleta de dados nestas ONGs se deu em duas etapas, em 2006 e 2007, e as tcnicas utilizadas foram cinco entrevistas semi-estruturadas, realizadas com as coordenadoras, e trs grupos focais realizados com jovens, sendo um de egressos, com o intuito de compreender os significados produzidos sobre os cursos ministrados. Cada grupo focal contou com a participao de nove jovens.

    35 BRASIL. Ministrio do Trabalho e Emprego. Termo de Referncia, 2003. Disponvel em: Acesso em: 01, ago., 2006.

    36 MESQUITA, Marcos Roberto. O desemprego dos jovens e as polticas pblicas no Brasil ps 1990. Dissertao (Mestrado em Cincias Sociais), Instituto de Filosofia e Cincias Humanas, Unicamp: Campinas, 2006.

    37 Tais objetivos so: (I) inserir jovens no mundo do trabalho por meio da inter-mediao de mo-de-obra e promoo de atividades autnomas; (II) preparar os jovens para o mercado de trabalho e ocupaes que possam despertar o esprito empreendedor dos jovens; (III) proporcionar qualificao e atividades que possam despertar o esprito empreendedor dos jovens BRASIL. Ministrio do Trabalho e Emprego. (2003) op. cit.

    38 FRIGOTTO, Gaudncio. Educao, crise do trabalho assalariado e do desenvolvimento: teorias em conflito. In: FRIGOTTO, Gaudncio. (Org.). Educao e crise do trabalho. Petrpolis : Vozes, 1998. p. 25-54.

    39 DEL PINO, Mauro. Poltica educacional, emprego e excluso social. In: GENTILI, Pablo; FRIGOTTO, Gaudncio (Orgs). A cidadania negada: polticas de excluso na educao e no trabalho. 3 ed. Rio de Janeiro : Cortez, 2002.

    40 CASTEL, Robert. (1998) op. cit.

    41 PIRES, V. Economia da educao: para alm do capital humano. So Paulo : Cortez, 2005. p. 82.

    42 Id. ibid., p. 77.

    43 GUIMARES, N.A. Trabalho: uma categoria-chave no imaginrio juvenil? In: ABRAMO, H. W; BRANCO, P. P. M. Retratos da juventude brasileira: anlises de uma pesquisa nacional. So Paulo : Fundao Perseu Abramo,

    2005.

    44 BATISTA, Ftima da Silva. Jovens atores sociais em interlocuo com o mundo do trabalho: possveis mediaes so feitas pela escola de Ensino Mdio?. : Rio de Janeiro, 2007. Dissertao (Mestrado em Educao), Uni-versidade Estcio de S, 2007.

    45 CASTEL, Robert. (1998), op. cit.

    46 SINGER, Paul. Poder, poltica e educao. Revista Brasileira de Educao, Rio de Janeiro, n. 1, p. 5-15, jan./fev./mar/abr. 1996.

    47 MSZROS, Istvan. A educao para alm do capital. Campinas : Boi-tempo, 2005.

    48 KUENZER, Accia. Educao profissional: categorias para uma nova pe-dagogia do trabalho. Boletim Tcnico do Senac, Rio de Janeiro, v. 25, n. 2, p. 19-29, maio/ago, 1999.

    49 LEHER, Roberto. Educao no Governo Lula da Silva: reformas sem projeto.

    Revista ADUSP, Associao dos Docentes da USP, n. 34, maio, 2005.

    50 FRIGOTTO, Gaudncio; CIAVATTA, Maria; RAMOS, Marise. A poltica de

    educao profissional no Governo Lula: um percurso histrico controvertido.

    Educao & Sociedade, Campinas, v. 26, n. 92, p. 1087-1113, 2005.

    51 BRASIL. Leis, Decretos. Decreto n. 5.154, de 23 de julho de 2004. In: BRASIL.

    Ministrio da Educao. Secretaria de Educao Profissional e Tecnolgica.

    Educao profissional e tecnolgica : legislao bsica. 6. ed. 2005. p. 5-7. Disponvel: https://www.planalto.gov.br//ccivil_03/_Ato2004-2006/2004/

    Decreto/D5154.htm.Regulamenta o paragrfo 2 do art. 36 e os art. 39 a 41

    da Lei n. 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e

    bases da educao nacional, e d outras providncias.

    52 Os jovens passam por um processo de qualificao, durante cinco meses, de

    segunda a sexta-feira, com carga de 500 horas, distribudas em duas etapas. Na

    primeira etapa, reservam-se 200 horas para aes da qualificao bsica, que

    inclui aulas de informtica, valores humanos, sade, promoo da igualdade

    racial e equidade de gnero, estmulo escolaridade (competncias em Lngua

    Portuguesa e Matemtica), tica e cidadania e educao ambiental. A outra

    etapa consiste em uma capacitao profissional, de tambm 200 horas, com

    oficinas-escolas, de acordo com a demanda de emprego da regio, alm de

    100 horas de trabalho voluntrio em projetos comunitrios (Servio Social

    Voluntrio) (distribudas em 20 horas mensais). Durante esse processo, os

    jovens participantes recebem uma bolsa cidadania de R$ 120,00 para possi-bilitar sua permanncia no curso.

    53 No h uma compreenso nica por parte das entidades executoras sobre

    o contedo da qualificao bsica. No caso das aulas de Matemtica, por

    exemplo, para a entidade X, tratam-se de aula de raciocnio lgico; para Z,

    trata-se de matemtica instrumental, voltada para uso no mercado de trabalho

    e dia-a-dia dos jovens, ao passo que Y no desenvolve aula de Matemtica.

    54 Produzido pelo Consrcio Social da Juventude do Paran, so trs os Ca-dernos Pedaggicos: o Bsico, no qual so trabalhadas as questes referentes cidadania (tica, mercado de trabalho, leis trabalhistas, meio ambiente e

    qualidade de vida); o de Incluso digital e o de Estmulo ao aumento da escolaridade (Portugus e Matemtica).

    55 MARX, Karl. (1978), op. cit.

    56 MANACORDA, Mario Alighiero. O princpio educativo em Gramsci.

  • 63B. Tc. Senac: a R. Educ. Prof., Rio de Janeiro, v. 34, n.1, jan./abr. 2008.

    Porto Alegre : Artes Mdicas, 1990.

    57 SMITH, Adam. Riqueza das naes: investigao sobre sua natureza e suas causas. 2. ed. Trad. de Joo Barana. So Paulo : Nova Cultural, 1985. v. 2.

    58 Id. Ibid., p. 217.

    59 GRAMSCI, Antonio. (1995), op. cit.

    60 GOHN, Maria da Gloria. Educao, trabalho e lutas sociais. In: GENTILI, Pablo.; FRIGOTTO, Gaudncio. A cidadania negada: polticas de excluso na educao e no trabalho. 3 ed. Rio de Janeiro : Cortez , 2002. p. 95.

    61 GRAMSCI, Antonio (1995), op. cit.

    62 DELUIZ, Neise. A globalizao econmica e os desafios formao pro-fissional. Boletim Tcnico do Senac, Rio de Janeiro, v.30, n. 3, set./dez., 2004.

    63 KUENZER, Accia. op. cit.

    64 MANACORDA, Mario. (1990), op. cit., p. 184.

    65 GOHN, Maria da Gloria. G. (2002), op. cit.

    66 MSZROS, Istvan. (2005), op. cit.

    67 OLIVEIRA, Dalila. A; DUARTE (2005), op. cit.

    68 MONTAO, Carlos. (2007), op. cit., p. 273.

    69 Id ibid.

    70 MSZROS, Istvan. Para alm do capital. Campinas : Boitempo, 2002.

    71 WOOD, E. M. Democracia contra capitalismo: a renovao do materialismo histrico. Campinas : Boitempo, 2003.

    72 MONTAO, Carlos. (2007), op. cit.

    73 Id. Ibid. , p. 262-263.

    74 WOOD, E. M. (2002), op. cit.

    75 GRAMSCI, A. (1995), op. cit.

    76 Encontramos, entre os educadores entrevistados, membros do sindicato dos professores, participantes de movimentos sociais, mestres e pesquisadores da rea de trabalho e educao e de polticas pblicas de juventude, conscientes da problemtica aqui exposta e orientando suas aes para uma outra direo, isto , para a formao do sujeito poltico.

    77 FRIGOTTO, Gaudncio. (1998), op. cit., p. 48.

    78 DELUIZ, Neise. As organizaes da sociedade civil e suas propostas e prticas de educao profissional: um estudo das ONGs do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, 2006. Relatrio Final de Pesquisa/ CNPq.

    79 O conceito de capital social foi desenvolvido por Robert Putnam ( The pros-perous community: social capital and public Life. The American Prospect., n. 13, mar. , 1993. Apud SOUZA, Jorge Renato. Desenvolvimento regional endgeno, capital social e cooperao. Disponvel em: < http://nutep.ea.ufrgs.br/pesquisas/Desenvolvreg.html> . Acesso em: 09.02.2008), como o conjunto das caractersticas da organizao social, que englobam as redes de relaes, normas de comportamento, valores, confiana, obrigaes e canais de informao que, quando existente em uma regio, torna possvel a tomada de aes colaborativas que resultem no benefcio de toda comunidade. O capital social pode ser considerado a base de uma das principais estratgias de desenvolvimento econmico nas prximas dcadas: a cooperao. Tanto a idia de capital social quanto a de cooperao tm sido destacadas nos ltimos anos por organismos internacionais, em revistas especializadas e em diversos estudos e polticas de desenvolvimento.

    ABSTRACT

    Carlos Soares Barbosa; Neise Deluiz. Vocational qualification of young and adult workers: discussing the National Program to Stimulate the First Job.

    This article analyzes vocational qualification actions geared to young people from low-income sectors covered by the National Program to Stimulate the First Job (PNPE) in Rio de Janeiro. Qualitative research results indicate that these actions refer young people to precarious jobs, making them responsible for non-insertion into the formal labor market. Because the Program does not foster the development of political actors and their participation in the public sphere, it is limited to secondary benefits, such as the promotion of sociability and self-esteem. Thus, the PNPE program plays the role reserved to focused policies geared to alleviate poverty and control social struggles.

    Keywords: Vocational Training; Public Policies; Non-Government Organizations; Youth; National Program to Stimulate the First Job.

    RESUMEN

    Carlos Soares Barbosa; Neise Deluiz. Calificacin profesional de jvenes y adultos trabajadores: el Programa Nacional de Estmulo al Primer Empleo en discusin.

    El artculo analiza las acciones de calificacin profesional dirigidas hacia los jvenes pertenecientes a los sectores populares del Programa Nacional de Estmulo al Primer Empleo (PNPE), en Ro de Janeiro. Los resultados de una investigacin cualitativa indican que dichas acciones conducen a los jvenes a trabajos precarios, hacindolos responsables por la no insercin en el mercado de trabajo formal. Al no propiciar la formacin de sujetos polticos ni su participacin en la esfera pblica, se limitan a facilitar beneficios secundarios, como la sociabilidad y la autoestima, cumpliendo entonces el PNPE la funcin reservada a las polticas centradas en el alivio de la pobreza y en la contencin de la lucha social.

    Palabras clave: Educacin Profesional; Polticas Pblicas; Organizaciones No Gubernamentales; Juventud; Programa Nacional de Estmulo al Primer Empleo.