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RELAÇÃO DE ADVOGADOS (E/OU PROCURADORES) CONSTANTES NESTA PAUTA ÍNDICE DE PESQUISA DA 1ª TURMA RECURSAL ACLIMAR NASCIMENTO TIMBOÍBA-41 ADELIA MARIA BRIÃO PINHEIRO BARRETO-7 ADENILSON VIANA NERY-42, 53 Adriana Moreira de Oliveira-25 ADRIANA ZANDONADE-55 AFONSO CEZAR CORADINE-89 ALESSANDRA JEAKEL-68, 70 ALEXANDRE DE SOUZA MACHADO-72 ALICE DESTEFANI SALVADOR-121 ALINE FELLIPE PACHECO SARTÓRIO-6 ALINE TERCI BAPTISTI BEZZI-13 Allan Ferreira Bernardo-79, 90, 92 ALMIR GORDILHO MATTEONI DE ATHAYDE-35 ANA BEATRIZ LINS BARBOSA-52, 62, 63 ANA CAROLINA DO NASCIMENTO MACHADO-7 ANA CAROLINE SOUZA DE ALMEIDA ROCHA-43 ANA MARIA DA ROCHA CARVALHO-60 ANA PAULA BARRETO MONTEIRO ROTHEN-115, 117, 33, 82, 83, 87, 91 ANDERSON MACOHIN-121 ANDRE COUTINHO DA FONSECA FERNANDES GOMES-23 ANDRÉ DIAS IRIGON-1, 30, 31 ANDRE LUIZ MOREIRA-104 ANDRÉIA DADALTO-37 ANTONIO LUIZ CASTELO FONSECA-48 APARECIDA SERRANO DE MELO-52 ARLETE AUGUSTA THOMAZ DE OLIVEIRA-15 ARMANDO VEIGA-2 BERNARDO JEFFERSON BROLLO DE LIMA-120 BRUNA MARCHIORI-15 BRUNA NASCIMENTO HONÓRIO-23 BRUNO MIRANDA COSTA-88, 90, 94 CAIO AFONSO CARDOSO-79, 90, 92 CAIO FREITAS VAIRO-109, 94 CARLOS AUGUSTO NUNES DE OLIVEIRA-65 CARLOS BERKENBROCK-115, 116, 117, 122 CARMEN LEONARDO DO VALE POUBEL-35 Carolina Augusta da Rocha Rosado-74 CAROLINA VICENTINI MADEIRA-109, 87, 94 CHRISTOVAM RAMOS PINTO NETO-105, 27, 33, 68, 70, 76 CLARISSE JORGE PAES BARRETO-109, 87, 94 CLÁUDIO LÉLIO DOS ANJOS-44 CLEBER ALVES TUMOLI-37 CLEBSON DA SILVEIRA-26, 28 CLENILTON DE ABREU PIMENTEL-101 CRISTINA ARREBOLA-34 DANIEL ASSAD GALVÊAS-66 DANIEL DIAS DE SOUZA-68, 70 DANIEL FERREIRA BORGES-109, 87, 94 DANILO THEML CARAM-39 DARIO PEREIRA DE CARVALHO-52 DEBORA FABRIS BARCELLOS-72 DIANNY SILVEIRA GOMES BARBOSA-107 DICK CASTELO LUCAS-19

BOLETIM TR/ES 2013-232-SESSAO DIA 13-11-2013

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RELAÇÃO DE ADVOGADOS (E/OU PROCURADORES) CONSTANTES NESTA PAUTA:

ÍNDICE DE PESQUISA DA 1ª TURMA RECURSAL

ACLIMAR NASCIMENTO TIMBOÍBA-41ADELIA MARIA BRIÃO PINHEIRO BARRETO-7ADENILSON VIANA NERY-42, 53Adriana Moreira de Oliveira-25ADRIANA ZANDONADE-55AFONSO CEZAR CORADINE-89ALESSANDRA JEAKEL-68, 70ALEXANDRE DE SOUZA MACHADO-72ALICE DESTEFANI SALVADOR-121ALINE FELLIPE PACHECO SARTÓRIO-6ALINE TERCI BAPTISTI BEZZI-13Allan Ferreira Bernardo-79, 90, 92ALMIR GORDILHO MATTEONI DE ATHAYDE-35ANA BEATRIZ LINS BARBOSA-52, 62, 63ANA CAROLINA DO NASCIMENTO MACHADO-7ANA CAROLINE SOUZA DE ALMEIDA ROCHA-43ANA MARIA DA ROCHA CARVALHO-60ANA PAULA BARRETO MONTEIRO ROTHEN-115, 117, 33, 82, 83, 87, 91ANDERSON MACOHIN-121ANDRE COUTINHO DA FONSECA FERNANDES GOMES-23ANDRÉ DIAS IRIGON-1, 30, 31ANDRE LUIZ MOREIRA-104ANDRÉIA DADALTO-37ANTONIO LUIZ CASTELO FONSECA-48APARECIDA SERRANO DE MELO-52ARLETE AUGUSTA THOMAZ DE OLIVEIRA-15ARMANDO VEIGA-2BERNARDO JEFFERSON BROLLO DE LIMA-120BRUNA MARCHIORI-15BRUNA NASCIMENTO HONÓRIO-23BRUNO MIRANDA COSTA-88, 90, 94CAIO AFONSO CARDOSO-79, 90, 92CAIO FREITAS VAIRO-109, 94CARLOS AUGUSTO NUNES DE OLIVEIRA-65CARLOS BERKENBROCK-115, 116, 117, 122CARMEN LEONARDO DO VALE POUBEL-35Carolina Augusta da Rocha Rosado-74CAROLINA VICENTINI MADEIRA-109, 87, 94CHRISTOVAM RAMOS PINTO NETO-105, 27, 33, 68, 70, 76CLARISSE JORGE PAES BARRETO-109, 87, 94CLÁUDIO LÉLIO DOS ANJOS-44CLEBER ALVES TUMOLI-37CLEBSON DA SILVEIRA-26, 28CLENILTON DE ABREU PIMENTEL-101CRISTINA ARREBOLA-34DANIEL ASSAD GALVÊAS-66DANIEL DIAS DE SOUZA-68, 70DANIEL FERREIRA BORGES-109, 87, 94DANILO THEML CARAM-39DARIO PEREIRA DE CARVALHO-52DEBORA FABRIS BARCELLOS-72DIANNY SILVEIRA GOMES BARBOSA-107DICK CASTELO LUCAS-19

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DIOGO ASSAD BOECHAT-66EDSON DA SILVA JANOARIO-46, 47EDSON ROBERTO SIQUEIRA JUNIOR-14ELAINE DE FÁTIMA DE ALMEIDA LIMA-78ELIAS ASSAD NETO-29ELIETE BONI BITTENCOURT-58, 62, 63, 64ELZA ELENA BOSSOES ALEGRO OLIVEIRA-20, 77ERILDO PINTO-54EUGENIO CANTARINO NICOLAU-71FABIOLA DE FREITAS CARVALHO-109, 87, 94FELIPE CASTRO DE CARVALHO-79, 90, 92FELIPE ZANOTTI BRUMATTI-74, 82FLAVIA AQUINO DOS SANTOS-38FLAVIA SCALZI PIVATO-7FREDERICO AUGUSTO MACHADO-77, 84Frederico Guilherme Siqueira Campos-40GABRIEL SCHMIDT DA SILVA-109, 94GERALDO BENICIO-111GERALDO PEREIRA FUNDÃO DOS SANTOS-103, 73GUSTAVO CABRAL VIEIRA-118, 21, 5, 6HENRIQUE BICALHO CIVINELLI DE ALMEIDA-44, 76ILDESIO MEDEIROS DAMASCENO-7INGRID SILVA DE MONTEIRO-39IRIS SALDANHA BUENO-109, 87, 94Isabela Boechat B. B. de Oliveira-10, 16, 38JEANINE NUNES ROMANO-20, 32JEFFERSON R. MOURA-11JOÃO EUGÊNIO MODENESI FILHO-85JOAO FELIPE DE MELO CALMON HOLLIDAY-21JOAO WALTER ARREBOLA-34JOCIANI PEREIRA NEVES-7JONES ALVARENGA PINTO-54JOSE ANTONIO GRACELI-113JOSÉ DE OLIVEIRA GOMES-36JOSÉ GHILHERME BARBOSA DE OLIVEIRA-108, 112JOSÉ GUILHERME BARBOSA DE OLIVEIRA-18, 22, 40JOSE IRINEU DE OLIVEIRA-15JOSÉ LUCAS GOMES FERNANDES-4JOSÉ NASCIMENTO-36JOSÉ VICENTE SANTIAGO JUNQUEIRA-104, 121, 122, 65, 67, 85, 96JOYCE DA SILVA PASSOS-102, 112, 67, 69, 89, 91, 97, 98JOZIANE LOPES DA SILVA-68, 70JULIANA ALMENARA ANDAKU-54JULIANA BARBOSA ANTUNES-24JULIO FERNANDES SOARES-88KARIME SILVA SIVIERO-7KARLA CECILIA LUCIANO PINTO-85LARA CHAGAS VAN DER PUT-7LARISSA FURTADO BAPTISTA-28Lauriane Real Cereza-43LEILA APARECIDA PEREIRA DE ALMEIDA-78LIDIANE DA PENHA SEGAL-10, 18, 22, 57, 8LILIAN BERTOLANI DO ESPÍRITO SANTO-113, 68, 70LÍVIA NOGUEIRA ALMEIDA-120LUCIANA CAMPOS MALAFAIA COSTA-3LUCIANO BRANDÃO CAMATTA-68, 70, 76

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Luciano José Ribeiro de Vasconcelos Filho-29LUCIANO MOREIRA DOS ANJOS-25Luis Guilherme Nogueira Freire Carneiro-2LUIZ CARLOS BARRETO-110LUIZ CARLOS BISSOLI-68, 70, 76LUIZ CARLOS DA SILVA JUNIOR-46, 47, 49LUIZA MARTINS DE ASSIS SILVA-66MARCELA BRAVIN BASSETTO-116, 60, 66, 69, 79, 84, 9, 97MARCELO ALVARENGA PINTO-54MARCELO CARVALHINHO VIEIRA-26MARCELO DUARTE FREITAS ASSAD-66MARCELO MIGUEL NOGUEIRA-7MARCILIO TAVARES DE ALBUQUERQUE FILHO-109, 87, 94MÁRCIO LUIZ LAGE VIEIRA-83MARCOS ANTONIO DURANTE BUSSOLO-118, 119Marcos Figueredo Marçal-110, 8MARCOS JOSÉ DE JESUS-119, 120MARCOS ROGERIO FERREIRA PATRICIO-50, 51MARIA DE FATIMA MONTEIRO-120MARIA DE LOURDES COIMBRA DE MACEDO-103, 73MARIA ELIANA SOUZA-17MARIA JOSE LUCINDO DE ALMEIDA BARBOSA-12MARINA RIBEIRO FLEURY-56, 59MARIZA GIACOMIN LOZER-123, 50, 51MAURA RUBERTH GOBBI-7Miguel Vargas da Fonseca-109, 87, 94NANCI APARECIDA DOMINGUES CARVALHO-32Olivia Braz Vieira de Melo-36PATRÍCIA CAMPOS-20PATRICIA NUNES ROMANO-20PAULA GHIDETTI NERY LOPES-42PAULO HENRIQUE MARÇAL MONTEIRO-120PAULO WAGNER GABRIEL AZEVEDO-44PEDRO GALLO VIEIRA-114, 58, 64PHILIPI CARLOS TESCH BUZAN-5PRISCILLA FERREIRA DA COSTA-38PRISCILLA THOMAZ DE OLIVEIRA-15Rafael Antônio Freitas-24, 45RAFAEL GONÇALVES VASCONCELOS-66RAFAELLA CHRISTINA BENÍCIO-111RAPHAEL SODRÉ CITTADINO-104RENACHEILA DOS SANTOS SOARES-101RENATO JUNQUEIRA CARVALHO-5RICARDO FIGUEIREDO GIORI-61, 9, 96RODRIGO COSTA BUARQUE-106, 123, 50, 51RODRIGO FIGUEIREDO-116, 117, 122RODRIGO MARIANO TRARBACH-83RODRIGO PIRES CARVALHO-16RODRIGO SALES DOS SANTOS-46, 47, 48, 49RODRIGO STEPHAN DE ALMEIDA-14, 25, 45, 53ROGÉRIO FERREIRA BORGES-109, 87, 94ROGÉRIO NUNES ROMANO-20, 32RONI FURTADO BORGO-68, 70, 76RONILCE ALESSANDRA AGUIEIRAS-7ROSEMBERG ANTONIO DA SILVA-27Ruberlan Rodrigues Sabino-31

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SAYLES RODRIGO SCHUTZ-115, 116, 117, 122SIDINÉIA DE FREITAS DIAS-1, 24, 45SIMONE LENGRUBER DARROZ ROSSONI-101, 102, 109, 111, 57, 72, 78, 92, 98SIRO DA COSTA-3TARCIZIO PESSALI-68, 70, 76TATIANA MARQUES FRANÇA-7TELMA SUELI FEITOSA DE FREITAS-105, 19, 61THIAGO COSTA BOLZANI-17, 86THIAGO DE ALMEIDA RAUPP-100, 103, 42, 73THIAGO HUVER DE JESUS-121THIERS COSTA VERÍSSIMO-109, 87, 94UBIRATAN CRUZ RODRIGUES-11, 12, 13, 4, 41, 75, 80, 81, 93, 95, 99URBANO LEAL PEREIRA-36Valber Cruz Cereza-30, 43VANESSA MARIA BARROS GURGEL ZANONI-13vanessa ribeiro fogos-39VANESSA SOARES JABUR-102, 108, 112, 67, 69, 74, 82, 89, 91, 97, 98VERA LÚCIA FÁVARES-7VINICIUS DOMINGUES FERREIRA-15VITOR HENRIQUE PIOVESAN-68, 70, 76VIVIANE MONTEIRO-109, 87, 94WALESKA CHRISTINA FERREIRA ROCHA-113WANESSA ALDRIGUES CANDIDO-100, 106, 107, 71, 75, 80, 81, 86, 93, 95, 99YGHOR FELIPE DEL CARO DALVI-109, 87, 94

1ª Turma RecursalJUIZ(a) FEDERAL DR(a). BOAVENTURA JOAO ANDRADE

Nro. Boletim 2013.000232 DIRETOR(a) DE SECRETARIA LILIA COELHO DE CARVALHO MAT. 10061

20/11/2013Expediente do dia

FICAM INTIMADAS AS PARTES E SEUS ADVOGADOS DOS ATOS ORDINATÓRIOS/INFORMAÇÕES DA SECRETARIANOS AUTOS ABAIXO RELACIONADOS

91001 - RECURSO/SENTENÇA CÍVEL

1 - 0000650-82.2010.4.02.5051/01 (2010.50.51.000650-5/01) ANTONIO DE SOUZA (ADVOGADO: SIDINÉIA DE FREITASDIAS.) x INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS (PROCDOR: ANDRÉ DIAS IRIGON.).PROCESSO: 0000650-82.2010.4.02.5051/01 (2010.50.51.000650-5/01)

VOTO-EMENTA

1. Trata-se de recurso inominado, interposto por ANTÔNIO DE SOUZA, em face da sentença de fls. 239/240, quejulgou improcedente a pretensão deduzida na inicial de concessão do benefício de aposentadoria por invalidez. Orecorrente alega que o juiz pautou-se tão somente na perícia médica para concluir pela existência de capacidade laborativa,contrariando o conjunto de provas dos autos. Alega que é portador de doença degenerativa, sem cura e causadora deterríveis dores, que não cessam com medicações analgésicas ou tratamento fisioterápico. Destaca, por fim, que vemsofrendo com a doença desde 2005 e que, no decorrer dos anos, não houve melhora alguma em seu quadro clínico, nãoconseguindo mais executar suas atividades laborais até os dias atuais. Requer a reforma da sentença, condenando-se oINSS a conceder o benefício de Aposentadoria por Invalidez.

2. O autor, vaqueiro (campeiro), ensino fundamental incompleto, nascido em 05/04/1961, recebeu benefício deauxílio-doença entre 01/12/2005 e 30/06/2006; 27/10/2006 e 20/09/2007; 27/12/2007 e 15/09/2008. Teve o último vínculoempregatício na propriedade de Paulo José Machado Sasso, entre 15/01/2003 e 30/11/2005.

3. Trouxe aos autos os seguintes laudos e exames médicos do período controverso (após a cessação doauxílio-doença): laudo médico (fl. 30 – 29/10/2008) atestando osteoartrose com discopatia degenerativa em colunalombossacra e hérnia discal determinando leve compressão sobre a medula cervical; laudo médico (fl. 22 – 31/12/2008)indicando espondilodiscoartrose cervical e lombar com abaulamentos discais e radiculopatia; laudo médico (fl. 29 –17/02/2009) atestando resultado de exame que indicou a existência de Espondilodiscoartrose; laudo médico (fl. 43 –09/03/2009) indicando espondilodiscoartrose cervical e lombar com abaulamentos discais e radiculopatia; laudo médico (fl.

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23 – 16/05/2009) indicando osteoartrose com discopatia degenerativa L3-L4-L5-S1-C3-C4 e também hérnia discal posteriormediano comprimida sobre a medula; laudo médico (fl. 24 – 24/06/2009) indicando espondilodiscoartrose cervical e lombarcom abaulamentos discais e radiculopatia; laudo médico (fl. 21 – 18/08/2009) indicando osteoartrose cervical, pequenahérnia discal e discopatia degenerativa na coluna lombar; laudo médico (fl. 23 – 14/09/2009) indicandoespondilodiscoartrose cervical e lombar com abaulamentos discais; laudo médico (fl. 20 e 230 – 09/11/2009) indicandoespondilodiscoartrose cervical e lombar com abaulamentos discais, referindo incapacidade para o trabalho; laudo médico(fl. 18 – 07/01/2010) contendo relatos de dor lombar e cervical e incapacidade para o trabalho; laudo médico (fl. 205 –03/11/2010) indicando espondilodiscoartrose e hérnia de disco cervical com abaulamento discal, não havendo condições detrabalhar como vaqueiro e devendo ser afastado do labor; laudo médico (fl. 212 – 13/03/2011) indicandoespondilodiscoartrose cervical, dorsal e lombar e hérnia de disco cervical, sem condições de labor como vaqueiro, devendoser afastado definitivamente; laudo médico (fl. 231 – 25/05/2011) indicando evidência de espondilodiscoartrose e hérniasdiscais, sem condições de trabalho como vaqueiro; laudo médico (fl. 228 – 20/03/2012) indicando espondilodiscoartrosecervical; exames de ressonância magnética (fls. 207, 208, 213, 214 e 215) e exames radiográficos (fls. 210, 218, 232 e234).

4. A perícia médica judicial (fls. 180/186) foi realizada em 14/10/2010. A perita diagnosticou espondilodiscoartrose ehérnia de disco, bem como o caráter degenerativo e/ou traumático das doenças, sem possibilidade de reversão do quadropatológico. Em que pese o fato de a expert afirmar categoricamente a inexistência de incapacidade laborativa, restouevidente o relato de que há incapacidade nos momentos de crise dolorosa, havendo em tais momentos, dor cervical, nosombros e braços, dor acentuada ao espirrar, levantar peso etc., deformidade postural da coluna e dificuldade para andar eflexionar a coluna, parestesia nos membros superiores, limitação e dor nos movimentos de flexão e extensão dos membrossuperiores.

5. Ao se analisar todo o contexto probatório colacionado aos autos, fixo as seguintes premissas: a perita atestou aexistência de espondilodiscoartrose e hérnia de disco e fez a ressalva de que a patologia não gera incapacidade para otrabalho, havendo, todavia, redução da capacidade laborativa nos momentos de crise dolorosa; há, nos autos (fls. 144/174),laudos periciais do INSS, que atestam histórico clínico de patologias ortopédicas e intensas dores na região da colunalombar e cervical, concluindo pela incapacidade laboral do autor; os laudos médicos particulares coligidos aos autosasseveram um estado clínico de proeminente incapacidade laboral desde a época da cessação do benefício; o recorrente,no momento da cessação, vivenciava constante quadro de crises dolorosas, conforme laudos de médicos assistentes;atualmente, o autor tem 52 anos de idade, não cursou integralmente o ensino fundamental e sua última atividade foi o laborrural, como trabalhador de pecuária polivalente.

Sendo assim, entendo que o autor faz jus ao restabelecimento do benefício desde 16/09/2008 até a data de intimação dopresente julgado e, a partir de então, a sua conversão em Aposentadoria por Invalidez. Conforme os próprios registros quehá no SABI, o autor é qualificado como trabalhador de pecuária polivalente e é intuitivo que tal atividade exige constanteesforço físico. Nesse sentido, não restou comprovada efetiva melhora no quadro clínico do recorrente, pelo contrário,observou-se a evolução do quadro incapacitante, com a ocorrência de constantes crises dolorosas e, inclusive, compressãoda medula cervical, não havendo que se falar em condições para o exercício de labor braçal. Ademais, ao seremconsiderados os aspectos sociais nos quais está inserido (idade, escolaridade, experiência profissional), será muito difícil,talvez até impossível, uma nova recolocação no mercado de trabalho. Afinal, existem fatores extralegais que podemautorizar a concessão da aposentadoria por invalidez, como bem demonstra o caso concreto ora analisado. Nesse sentido,foi elaborada a súmula 47 da TNU.

6. Posto isso, conheço do recurso da parte autora e a ele dou parcial provimento para reformar a sentença de fls.239/240 e condenar o INSS a restabelecer o benefício de auxílio-doença desde a sua cessação (16/09/2008) e convertê-loem Aposentadoria por Invalidez a partir da intimação do presente julgado. Os juros de mora seguem a taxa de 1% a.m apartir da citação e a correção monetária deve ser calculada pelo INPC. Afasto a incidência do art. 1º-F da Lei nº 9.494/97,com a nova redação dada pelo art. 5º da Lei nº 11.960/2009, tendo em vista o entendimento firmado no julgamento da ADI4357 pelo Supremo Tribunal Federal, assim como a decisão da Turma Nacional de Uniformização que cancelou a Súmulanº 61 (Processo nº 0003060-22.2006.4.03.6314, julgado em 09/10/2013).Custas ex lege. Sem condenação em honorários advocatícios.

É como voto.

Pablo Coelho Charles Gomes2º Juiz Relator da 1ª Turma Recursal

FICAM INTIMADAS AS PARTES E SEUS ADVOGADOS DOS ATOS ORDINATÓRIOS/INFORMAÇÕES DA SECRETARIANOS AUTOS ABAIXO RELACIONADOS

2 - 0000100-92.2007.4.02.5051/02 (2007.50.51.000100-4/02) (PROCESSO ELETRÔNICO) INSTITUTO NACIONAL DOSEGURO SOCIAL - INSS (PROCDOR: Luis Guilherme Nogueira Freire Carneiro.) x IGOR GARCIA DALMAZIO(ADVOGADO: ARMANDO VEIGA.).

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Recurso 0000100-92.2007.4.02.5051/02RECORRENTE: INSSRECORRIDO: IGOR GARCIA DALMAZIO

VOTO-VISTA

PREVIDENCIÁRIO. AUXÍLIO-DOENÇA. APOSENTADORIA POR INVALIDEZ. PROGRESSÃO OU AGRAVAMENTOSUPERVENIENTE DA DOENÇA.1. O INSS recorreu da sentença que o condenou ao pagamento de auxílio-doença desde a data do requerimentoadministrativo (13.04.2005), pelo período de pelo menos seis meses (quando então deverá ser realizada nova períciaadministrativa a fim de se aferir se ainda persiste a incapacidade do recorrido, ou até que seja ele inserido em programa dereabilitação). O recorrente sustenta que a incapacidade está presente desde 17/11/1979 (fl. 29), sendo preexistente àfiliação ao RGPS, já que a primeira contribuição apenas foi recolhida em 2004 (fl. 37). Se superada essa questão, sustentaque o laudo pericial constatou a capacidade laboral, a justificar a improcedência do pedido ou, no máximo, a fixação determo final ao benefício (16/07/2010).2. O autor, atualmente com 33 anos, é artesão (fl. 9). O laudo particular de fl. 12, datado em 18.02.2005, refere catetercefaloperitonial de drenagem liquórica, acentuadas alterações de postura, escoliose tóraco-lombo-sacra de convexidadepara D e com fixação metálica, defeitos de fusão dos arcos posteriores na transição lombosacra, calcificação dosligamentos longitudinais da coluna e articulações sacrilíacas, compatível com espondilite anquilosante, luxação congênitaem quadril E. Há laudo de perícia administrativa à fl. 29.3. O perito do juízo, especialista em ortopedia e traumatologia, em 09.07.2010, constatou mielomeningocele comdeformidade em coluna vertebral e membros inferiores (quesito nº 01 – fl. 86). Consignou o expert que, ao exame pericial, opericiado apresentou-se em cadeira de rodas, lúcido, orientado no tempo e espaço, respondendo satisfatoriamente àsperguntas que lhe foram feitas. Verificou a presença de cicatriz cirúrgica em coluna dorso lombo sacra e paravertebraldireita e escoliose dorso lombar e hipotrofia acentuada de membros inferiores; ausência de mobilidade ativa em membrosinferiores. Aquilatou que o periciado realiza satisfatoriamente funções em cadeira de rodas com os membros superiores,tendo habilidade manual, apresentando-se, portanto, capaz para realizar atividades como artesão ou outras correlatas(quesito nº 01 – fl. 87). Assegurou tratar-se de doença congênita, que leva à paralisia dos membros inferiores, incontinênciaurinaria e fecal. Concluiu pela ausência de incapacidade para o trabalho (quesito nº 02 - fl. 87).4. O recorrido filiou-se ao RGPS em 08.03.2004 (fl. 155), vertendo sua primeira contribuição à Previdência Social, naqualidade de contribuinte individual/artesão, em 11.03.2004 (fl. 154), cessando, todavia, suas contribuições em 14.03.2005(fl. 154). Requereu administrativamente a concessão de auxílio-doença previdenciário em 24.02.2005 (fl. 30).5. Voto do Relator, Juiz Federal Boaventura João Andrade, no sentido do desprovimento do recurso, pois, “embora se tratede patologia congênita e, portanto, inegavelmente preexistente à filiação, a incapacidade laborativa por ela geradamostrou-se superveniente, já que decorrente do agravamento ou progressão da doença. Referida conclusão emerge do fatode que o recorrido, conquanto portador de patologia congênita como já dito, somente veio a requerer a concessão debenefício por incapacidade aos 25 anos de idade, a dizer, quando, após alguns anos de labor, suas condições de saúdenão mais permitiram o regular exercício da atividade habitualmente desenvolvida (artesão).”6. Voto divergente apresentado pelo Juiz Federal Iorio Siqueira D’Alessandri Forti, dando provimento ao recurso, pois “aperícia não registrou agravamento significativo da patologia que acompanha o autor desde o seu nascimento: não há, comoatestado pela perícia, incapacidade temporária para o exercício da atividade de artesão, mas sim restrições, e nada apontapara o agravamento do mesmo grau de restrições já existente por ocasião da filiação ao RGPS.”7. Recurso do INSS conhecido e provido para julgar improcedente o pedido. As quantias já pagas à parte autora por forçade tutela antecipada são irrepetíveis, conforme orientação da Súmula 52 desta Turma Recursal.

IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTIJuiz Federal

FICAM INTIMADAS AS PARTES E SEUS ADVOGADOS DOS ATOS ORDINATÓRIOS/INFORMAÇÕES DA SECRETARIANOS AUTOS ABAIXO RELACIONADOS

3 - 0000181-36.2010.4.02.5051/01 (2010.50.51.000181-7/01) INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS(PROCDOR: LUCIANA CAMPOS MALAFAIA COSTA.) x ROSILENE ANACLETO DE OLIVEIRA (ADVOGADO: SIRO DACOSTA.).PROCESSO: 0000181-36.2010.4.02.5051/01

VOTO/EMENTA

1. Trata-se de recurso inominado interposto pelo INSS em face da sentença de fls. 88/90, que julgou parcialmenteprocedente o pedido inicial para conceder o benefício assistencial à parte autora a partir da juntada da pesquisasócio-econômica (22/04/2010). O recorrente alega que a renda familiar per capita não é inferior a ¼ do salário mínimo, e,inclusive, a família da parte autora, tem meios de prover a sua subsistência. Explica que a neta da autora não pode serconsiderada como integrante da família, pois não está elencada no art. 16 da Lei nº 8.213 de 24 de julho de 1991, assim, a

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renda familiar per capita é superior a ¼ do salário mínimo, tendo em vista a divisão de R$ 610,00 para quatro pessoas.

2. Nos moldes do artigo 20 da Lei nº 8.742/93, Lei Orgânica da Assistência Social, o benefício de prestação continuada égarantido no valor de um salário mínimo mensal à pessoa portadora de deficiência ou ao idoso com 65 (sessenta e cinco)anos ou mais que comprove não possuir meios de prover a própria subsistência e tampouco de tê-la provida por familiares.Para efeitos de aplicação do citado dispositivo, considera-se portadora de deficiência a pessoa incapacitada para a vidaindependente e para o trabalho e, de seu turno, considera-se incapaz de prover a manutenção o portador de deficiência ouidoso a família cuja renda mensal per capita seja inferior a ¼ do salário mínimo.

3. In casu, o ponto controvertido cinge-se à aferição da renda per capita inferior a ¼ do salário mínimo.

4. Conforme relatório social (fls. 13/16), a unidade familiar é composta por ROSILENE ANACLETO DE OLIVEIRA (autora),ROBERTO CARLOS DE OLIVEIRA (marido da requerente), RAIANE ANACLETO DE OLIVEIRA (filha da autora e de Sr.ROBERTO), RAIRA ANACLETO DE OLIVEIRA (filha da autora e do Sr. ROBERTO) e LORENA DE OLIVEIRA SOUZA(filha de RAIANE). O cônjuge da autora é o único que aufere renda no valor de R$ 20,00 (vinte reais) por dia de trabalhorural e R$ 90,00 (noventa reais) proveniente do programa social bolsa família do governo federal. As despesas da família,de acordo com a autora, são de R$ 74,00 (setenta e quatro reais) com energia elétrica, R$ 5,00 (cinco reais) com águaencanada e R$ 37,00 (trinta e sete reais) com gás de cozinha. Citou que não faz compra mensal de alimentação e à medidaque os alimentos vão faltando vai providenciando.

5. A assistente social assevera, ainda, que a casa é própria, de alvenaria e em péssimas condições de habitação, malconservada e totalmente desprovida de higiene, composta por dois quartos, uma sala, uma cozinha e um banheiro, compiso de cimento e telhado de amianto e equipada com móveis bastante precários. Possui energia elétrica, água encanada erede de esgoto. Conclui que a autora vive em péssimas condições de moradia, em casa mal conservada e desprovida dehigiene. A renda da família é baixa e insuficiente para suprir com as suas necessidades básicas.

6. Aduz o INSS que a neta da recorrente não pode ser computada para fins de cálculo da renda per capita familiar. Ocorreque, com o advento da Lei nº 12.435/11, o dispositivo legal sofreu modificações, passando a integrar no conjunto familiar, omenor tutelado, desde que viva sob o mesmo teto. Deste modo, a família é composta por 5 (cinco) pessoas.

Neste entender, o requisito de miserabilidade se encontra satisfeito, visto que a renda familiar per capita (R$ 122,00) éinferior a ¼ do salário mínimo (R$ 127,50) vigente na época. Assim, a fundamentação do juízo a quo foi acertada, haja vista“que se o esposo da autora trabalhasse 26 (vinte e seis) dias mensais excluindo apenas os domingos a renda dele somadocom o bolsa família seria de R$ 610,00 (seiscentos e dez reais) e a renda per capita seria de R$ 122,00 (cento e vinte edois reais). Assim entendo que a parte autora atende ao requisito de miserabilidade fixado no art. 20,§ 3º da Lei nº 8.742/93”.

Recurso conhecido e improvido. Sentença mantida.

Custas ex lege. Condeno o recorrente ao pagamento de honorários advocatícios, ora fixados em 10% sobre o valor dacondenação.

É como voto.

Pablo Coelho Charles Gomes2º Juiz Relator da 1ª Turma Recursal

[Ato judicial assinado eletronicamente, nos termos do parágrafo único do artigo 164 do Código de Processo Civil. Acertificação digital consta na parte inferior da página]

FICAM INTIMADAS AS PARTES E SEUS ADVOGADOS DOS ATOS ORDINATÓRIOS/INFORMAÇÕES DA SECRETARIANOS AUTOS ABAIXO RELACIONADOS

4 - 0001169-17.2011.4.02.5053/01 (2011.50.53.001169-9/01) (PROCESSO ELETRÔNICO) CREUZA DA COSTA RAMOS(ADVOGADO: JOSÉ LUCAS GOMES FERNANDES.) x INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS(PROCDOR: UBIRATAN CRUZ RODRIGUES.).Processo nº. 0001169-17.2011.4.02.5053/01– Juízo de Origem: 1ª VF de LinharesRecorrente: CLEUZA DA COSTA RAMOSRecorrido: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSSRelator: Juiz Federal BOAVENTURA JOÃO ANDRADE

E M E N T ARECURSO INOMINADO. PREVIDENCIÁRIO. AUXÍLIO-DOENÇA. APOSENTADORIA POR INVALIDEZ. INCAPACIDADELABORAL NÃO VERIFICADA. RECURSO IMPROVIDO. SENTENÇA MANTIDA.

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Este recurso inominado foi interposto pela autora da demanda em primeiro grau às fls. 76-79, em razão da sentença (fls.73-74) que julgou improcedente o pedido de restabelecimento do benefício de auxílio-doença previdenciário NB521.801.837-72 ou concessão de aposentadoria por invalidez.Sustenta a recorrente, em suas razões, ser o laudo pericial contraditório, uma vez que, conquanto o perito do Juízo tenhareconhecido os inúmeros problemas de saúde de que padece, concluiu pela existência de capacidade laborativa. Informaque se encontra em tratamento de fibromialgia com antidepressivo e anti-ansiolítico, bem como faz uso de anti-inflamatóriospara artrose enquanto aguarda cirurgia. Argumenta que não se pode conceber que uma pessoa prestes a realizar cirurgiana mão possa desempenhar a profissão de costureira. Pretende, assim, seja conhecido e provido o recurso, para reformara sentença, julgando-se procedentes os pedidos deduzidos na inicial. Eventualmente, pugna pela anulação da sentença,com o consequente retorno dos autos ao Juízo de origem, a fim de que realizada nova perícia com outro especialista.

Não foram apresentadas contrarrazões.A controvérsia diz com a existência ou não de incapacidade para o trabalho, encontrando-se preenchidos os demaisrequisitos (fls. 85-87).Antes de ingressar na análise de mérito, convém explicitar aspectos relevantes para a figuração da situação fáticaensejadora da causa de pedir recursal, esquematizados no quadro a seguir:Histórico previdenciário:Percepção de auxílio-doença previdenciário nos períodos de 27.11.2011 a 27.01.2012 e 21.10.2012 a 31.01.2013 (fl. 86).Histórico clínico:Laudos médicos particulares às fls. 18-21, em 17.04.2008, 03.09.2007, 17.10.2007, respectivamente, evidenciamacompanhamento médico na unidade municipal de saúde da prefeitura de Linhares desde 2006 em razão de fibromialgia ereumatologia. Constam queixas de dores em todo o corpo com conclusão de incapacidade para o labor;

Laudo médico particular à fl. 23, em 17.04.2008, refere acompanhamento devido à osteoartrose generalizada (M15.0);

Laudo médico particular à fl. 28, em 29.10.2009, atesta acompanhamento reumatólogico desde 2007, com diagnóstico defobromialgia e osteoartrite, dores generalizadas e quadro depressivo associado, sem previsão de alta (CID M 79.9-transtorno do tecido mole não especificado, M 25.5- dor articular);

Laudo médico particular à fl. 29, em 24.02.2010, atesta acompanhamento reumatólogico desde 2007, com diagnóstico defobromialgia e osteoartrite, dores generalizadas e quadro depressivo associado. Refere exarcebação dos sintomas emjoelhos, sem previsão de alta (CID M 79.9- transtorno do tecido mole não especificado, M 25.5- dor articular);

Laudo médico particular à fl. 33, em outubro de 2011, informa acompanhamento reumatólogico devido à fobromialgia eosteoartrite; manutenção do quadro de dores articulares, dores difusas e quadro depressivo associado. Em uso demedicação, sem melhora. (CID M 79.9- transtorno do tecido mole não especificado, M 25.5- dor articular);

Laudo médico particular à fl. 30, em 08.11.2010, refere acompanhamento reumatólogico desde 2007, com diagnóstico defibromialgia e osteoartrite, dores generalizadas e quadro depressivo associado. Consigna queixa de cervicalgia e politrargia,sem previsão de alta (CID M 79.9- transtorno do tecido mole não especificado, M 25.5- dor articular);

Laudo médico particular à fl. 34, em 22.11.2011, atesta acompanhamento reumatólogico em razão de fibromialgia eosteoartrite e artrite reumatóide soronegativa. (CID M 79.9- transtorno do tecido mole não especificado, M 25.5- dorarticular, M 06.0 – artrite reumatóide soronegativa);

Laudo de perícia médica administrativa: ( ) sim (x) nãoHistórico laboral:Idade: 53 anos (fl. 11)Profissão/ocupação: costureira (fls. 14- 16)Reabilitação profissional:( ) sim (x) não- Observações:

Conforme a perícia médica do Juízo (fl. 63), realizada por médico especialista em reumatologia na data de 25.05.2012, foiconstatada a existência de fibromialgia M79.0 e Rizarose M 18.0 (quesito nº 01 – fl. 63). Quanto à origem da enfermidade,atestou o perito tratar-se de lesão degenerativa (artrose) do polegar, inerente à faixa etária – Rizarose – e dor crônica semrespaldo em exame físico ou laboratorial que demonstre lesão de órgãos ou estruturas (quesito nº 02 – fl. 63). Asseverouque a data provável de início da doença é 2007 e que não há nexo de causalidade entre a doença/lesão apresentada e olocal de trabalho e o trabalho desenvolvido pela periciada (quesitos nº 03 e 05 – fl. 63). Concluiu pela capacidade para otrabalho, ressaltando que “embora exista relato de diagnóstico de artrite reumatóide não existe quadro clinico ou laboratorialque comprove. A cintilografia óssea não é conclusiva, já que as mesmas imagens aparecem em osteoartrose compatívelcom a faixa etária e profissão da autora. No momento está em tratamento para fibromialgia com antidepressivos eansiolíticos e antiinflamatórios para artrose enquanto aguarda tratamento cirúrgico da mão. O quadro doloroso dafibromialgia não tem respaldo ao exame físico que não apresenta sinais inflamatórios e/ou deformidades articulares,bloqueios ou limitações articulares que incapacite a autora” (fl.63).Por certo, o juiz não está adstrito ao laudo pericial, podendo formar a sua convicção com outras circunstâncias ou fatos

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�comprovados nos autos, ainda que não alegados pela parte (art. 131 do Código de Processo Civil - CPC ). Entretanto, nocaso em apreço, o substrato-fático realçado no item nº 5 não se mostra apto a afastar a conclusão do perito judicial,cabendo realçar, a bem desse particular, que a doença, por si só, não garante o benefício: a contingência amparada pelaLei é a incapacidade.Some-se a isso, a circunstância de que ”o laudo médico particular é prova unilateral, enquanto o laudo médico pericialproduzido pelo juízo é, em princípio, imparcial. O laudo pericial, sendo conclusivo a respeito da plena capacidade laborativa,há de prevalecer sobre o particular” (enunciado nº 8 desta Turma Recursal). Portanto, somente na via da excepcionalidadeo laudo oficial cede passo aos elementos de prova carreados pela requerente, vale dizer, diante de prova material robusta eharmônica ou comprovada e grave falha no laudo pericial, hipóteses não verificadas neste caso.Calha pertinente registrar, nesse diapasão, que “o médico não encarregado da perícia diagnostica e trata. Não lhe cabeaveriguar a veracidade dos fatos narrados pelo paciente, mas acreditar (esta é a base da relação médico-paciente), fazendoo diagnóstico nosológico e propondo o tratamento que considere mais indicado. Já o médico perito se preocupa em buscarevidências de que a queixa de doença incapacitante é verdadeira. Por isso, o diagnóstico emitido pelo médico assistentenão é fonte segura da existência da incapacidade para o trabalho” (Recurso nº 0000018-16.2011.4.02.5053/01, julgado nasessão de 14.12.2011 por esta Turma Recursal, da relatoria do Juiz Federal Rogério Moreira Alves).Descabido o pleito de realização de nova perícia. Nessa seara, imperioso ter em mente que o direito de produzir provas nãoé absoluto, sendo certo que seu indeferimento, por si só, não implicaria cerceamento de defesa, sobretudo quando a provarequerida é prescindível à elucidação do quadro clínico, como neste caso.Oportunamente, retifique-se a autuação, devendo nela constar como recorrente CLEUZA DA COSTA RAMOS, conformedocumento de fl. 09, ao invés de CREUZA DA COSTA RAMOS.Não merece reparo, portanto, a sentença recorrida.Pelo exposto, conheço do recurso e a ele nego provimento.Sem condenação em custas e honorários advocatícios ante o deferimento da Gratuidade de Justiça à fl. 41, nos termos doart. 55 da Lei nº 9.099/95 c/c o art. 1º da Lei nº 10.259/01.

A C Ó R D Ã O

Decide a 1ª Turma Recursal do Juizado Especial Federal da Seção Judiciária do Estado do Espírito Santo conhecer dorecurso e a ele negar provimento, na forma da ementa supra que passa a integrar o julgado.

Vitória 30 de outubro de 2013.

Boaventura João AndradeJuiz Federal Relator – 1º RelatorAssinado eletronicamente

JESXMMS/jesgecs

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5 - 0004772-73.2012.4.02.5050/01 (2012.50.50.004772-6/01) (PROCESSO ELETRÔNICO) INSTITUTO NACIONAL DOSEGURO SOCIAL - INSS (PROCDOR: GUSTAVO CABRAL VIEIRA.) x JOÃO BATISTA BERNARDES DA SILVA(ADVOGADO: RENATO JUNQUEIRA CARVALHO, PHILIPI CARLOS TESCH BUZAN.) x OS MESMOS (ADVOGADO:PHILIPI CARLOS TESCH BUZAN, RENATO JUNQUEIRA CARVALHO. PROCDOR: GUSTAVO CABRAL VIEIRA.).Autos n.º 0004772-73.2012.4.02.5050/01

VOTO-EMENTA

PREVIDENCIÁRIO – APOSENTADORIA ESPECIAL – CONVERSÃO – RUÍDO – CANCELAMENTO DA SÚMULA 32 DATNU – PREVALECE ENTENDIMENTO DO STJ A RESPEITO DOS NÍVEIS DE RUÍDO QUE CARACTERIZAM AINSALUBRIDADE – RECURSOS PROVIDOS EM PARTE.

1. Trata-se de RECURSOS INOMINADOS interpostos por ambas as partes contra a sentença que julgouparcialmente procedente o pedido e condenou o INSS “...a computar como especial os períodos de trabalho do autor JOÃOBATISTA BERNARDES DA SILVA, referentes a 07/08/1989 a 25/10/1993, 26/10/1993 a 30/04/1995, 09/06/1997 a19/06/2000 e 01/11/2006 a 18/09/2009 e 20/06/2000 a 31/10/2006, bem como convertê-los em tempo comum, e, por fim,conceder-lhe o benefício de aposentadoria por tempo de contribuição integral, com DIB em 06/01/2010.” (fl. 113).

Síntese do recurso do INSS: (a) No que tange aos períodos reconhecidos na Sentença como “tempo especial”, verifica-seque a avaliação do local de trabalho é extemporâneo e não especifica os níveis de ruído durante o desempenho de todas astarefas pelo Autor; os períodos em que foram apresentados PPP e/ou Laudos Técnicos, a conclusão foi no sentido de que oAutor não esteve exposto de modo habitual e permanente aos agentes nocivos indicados; o Autor não apresentouhistograma ou memória de cálculo de medições de ruído durante toda a jornada de trabalho, tendo apresentado um valorúnico de avaliação, razão pela qual não foi enquadrado o período como especial. (b) Uso de EPI: a atividade exercidasujeita a condições agressivas à saúde não mantém o caráter especial quando o equipamento de proteção individual reduza nocividade a nível inferior ao limite de tolerância; se o EPI é eficaz a especialidade do trabalho prestado é afastada.

Síntese do recurso do autor: Conforme PPP juntado às fls. 36/38, no período de 01/05/95 a 08/06/97, o Autor exercia afunção de operador de estação de tratamento biológico, exposto a esgoto e ácido fosfórico; ambos os agentes seriamnocivos à luz do disposto na legislação de regência. Pedido recursal: reconhecer a natureza especial da atividade exercidano período de 01/05/95 a 08/06/97,

2. Recurso do autor: conversão do período entre 01/05/95 a 08/06/97.

No que refere ao período em questão, a fundamentação explicitada na sentença restringiu-se a afirmar que não haviaenquadramento, nos seguintes termos:

“Já em relação ao período de 01/05/1995 a 08/06/1997, a atividade desenvolvida pelo autor não se enquadrou comoespecial, nos termos da legislação vigente à época (Decreto nº 83.080/79 – anexo I; Decreto nº 53.831/64 – Item 1 esubitens; Decreto nº 2.172/97).”(fl. 112).

Conforme consta no PPP, nas fls. 36/37, no período em questão o autor trabalhava operando estação de tratamentobiológico, executando amostragens de diversos pontos da estação de tratamento biológico do licor amoniacal da coqueria,dentre outras atividades similares (cf. item 14.1 e 14.2, fl. 36). O autor labora na ArcelorMittal Brasil S.A., ou seja, ematividade siderúrgica.

O PPP não menciona que essa exposição seria habitual e permanente. Contudo, o PPP não contém campo próprio paraexplicitar esse ponto.

Não posso presumir que inexistia exposição permanente apenas pelo fato de inexistir menção explícita a esse dado noPPP.

Ao revés, embora o PPP não afirme, de modo expresso, que tal exposição se dava de modo habitual e permanente,presumem-se tais circunstâncias em razão da descrição pormenorizada das atividades desempenhadas pelo autor queconsta do referido formulário. Descrição esta que não menciona qualquer atividade de ordem burocrática. Com efeito, eis oteor da descrição no campo 14.1, fl. 36:

Período: 01/05/1995 a 31/10/2006

0010003562 – OP ESTACAO TRAT BIOLÓGICOEXECUTAR AMOSTRAGENS DE DIVERSOS PONTOS DA ESTACAO DE TRATAMENTO BIOLOGICO DO LICORAMONIACAL DA COQUERIA. REALIZAR ANÁLISESS DE SU-30 DO LADO DA ESTACAO DE TRATAMENTOBIOLOGICO. EXECUTAR O PREPARO E DOSAGEM DE PRODUTOS QUÍMICOS NA ESTAÇAO DE TRATAMENTOBIOLÓGICO. LIBERAR E FORNECER EQUIPAMENTOS QUE ASOFREM INTERVENÇÕES DPOR PARTE DA

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MANUTENÇÃO, EFETUANDO TESTSES NECESSÁRIOS PARA RETORNO À OPERAÇÃO. ATUAR JUNTO ÀMANUTENÇÃO DURANTE A EXECUÇÃO DE SERVIÇOS DE REPAROS DE EQUIPAMENTOS E/OU INSTRUMENTOSDA ESTAÇAÕ DE TRATAMENTO BIOLÓGICO. OBSERVAR, AVALIAR ANOMALIAS, PROCURANDO DETECTAR ACAUSA, TOMANDO PROVIDÊNCIAS PARA ACERTO, COMUNICANDO AO SEU SUPERIOR IMEDIATO, REALIZARTESTES PARA CHECAGEM DA QUALIDADE DO LICOR TRATADO, CORRIGINDO INFORMAÇÕES FALSAS DEINSTRUMENTOS. CHECAR, SOLICITAR E COBRAR O ABASTECIMENTO DE SULFATO FERROSO, POLIETROLITO,ÁCIDO FOSFÓRICO E CAL, COMUNICANDO A SITUAÇÃO E A PREVISÃO DE CONSUMO. MANTER SEMPREATUALIZADA A FOLHA DE LEITURA COM OS DADOS DA ESTAÇAÕ DE TRATAMENTO BIOLÓGICO. EXECUTARMANUTENÇÕES BÁSICAS CONFORME PROGRAMA TPM. EFETUAR LIMPEZA DOS EQUIPAMENTOS EFERRAMENTAS, PARA ASSEGURAR SUAS CONDIÇÕES DE FUNCIONAMENTO; MANTER CONVENIENTEMENTELIMPO E ORGANIZADO SEU LOCAL DE TRABALHO, VISANDO PRESERVAR AS CONDIÇÕES DE HIGIENE ESEGURANÇA. EXECUTAR SUAS ATIVIDADES OBEDECENDO AOS PROCEDIMENTOS DE PROTEÇÃO AO MEIOAMBIENTE RECOMENADOS NOS PADRÕES TÉCNICOS OPERACIONAIS. EXECUTAR TAREFAS CORRELATASCONFORME NECESSIDADE DO SERVIÇO.

No campo 13.3 do PPP, informa-se que essa atividade, no período de 01/05/1995 a 31/10/2006 era exercida no setor “areareceb e manus carv e coque” (sic); ou seja, num setor em que havia recebimento e manuseio de carvão e de coque (o autortrabalha numa siderúrgica). O cargo exercido era, nesse período, “op de utilidades” (sic, fl. 36, campo 13.4).

Em suma: pelo relato, depreende-se que o autor não exercia atividade de ordem burocrática; em consequencia,depreende-se que estava constantemente exposto aos agentes esgoto e ácido fosfórico.

Em ambos os casos o PPP refere-se aos agentes de forma qualitativa (campo 15.4). Ou seja: não fez mensuraçãoquantitativa, o que somente pode ser exigido a partir da Medida Provisória nº 1.729/1998. Deste modo, antes de03/12/1998, não há que se falar em superação de índices de tolerância fixados na NR-15. Nesse sentido:

“PEDIDO DE UNIFORMIZAÇÃO REGIONAL. PREVIDENCIÁRIO. ATIVIDADE ESPECIAL. SÍLICA LIVRE. NÍVEIS DETOLERÂNCIA. NR 15. APLICAÇÃO A PARTIR DA MP 1.729. IMPROVIMENTO. 1. A partir da MP 1.729, publicada em03.12.1998 (convertida na Lei 9.732/1998), as disposições trabalhistas concernentes à caracterização de atividade ouoperações insalubres (NR-15) - com os respectivos conceitos de "limites de tolerância", "concentração", "natureza" e "tempode exposição ao agente" passam a influir na caracterização da natureza de uma atividade (se especial ou comum). 2. Aexigência de superação de nível de tolerância disposto na NR 15 como pressuposto caracterizador de atividade especialapenas tem sentido para atividades desempenhadas a partir de 03.12.1998, quando essa disposição trabalhista foiinternalizada no direito previdenciário. 3. Pedido de Uniformização improvido.” (Turma Regional de Uniformização da 4ªRegião, IUJEF 0000844-24.2010.404.7251/SC, Rel. José Savaris, julgado em 19.08.2011)

Uma vez que o período em questão (01/05/95 a 08/06/97) é anterior à MP 1.729/1998, a exposição a ácido fosfóricocaracteriza insalubridade e gera direito à aposentadoria especial, em face do disposto no item 1.0.12 do Anexo IV doDecreto nº 2.172/97.

Conclusão: o recurso do autor deve ser PROVIDO.

3. Recurso do INSS.

3.1. O INSS arguiu que o PPP é extemporâneo, porém, é irrelevante a data da expedição do PPP, o que importa é seo laudo técnico no qual o PPP é embasado retrata fielmente as condições do ambiente de trabalho contemporâneas àépoca em que o autor exercia a atividade. Nesse entender, cabe ser dito que os laudos acostados aos autos, ainda quenão contemporâneos ao exercício das atividades, são suficientes para a comprovação da especialidade da atividade, namedida em que, se em data posterior ao labor despendido foi constatada a presença de agentes nocivos, mesmo com asinovações tecnológicas e de medicina e segurança do trabalho que advieram com o passar do tempo, reputa-se que, àépoca do trabalho, a agressão dos agentes era igual, ou até maior, dada a escassez de recursos materiais existentes paraatenuar sua nocividade e a evolução dos equipamentos utilizados no desempenho das tarefas. Trata-se de matériapacificada na TNU no sentido de que o laudo pericial não contemporâneo ao período trabalhado é apto à comprovação daatividade especial do segurado (Súmula 68).

O recurso do INSS não deve ser provido no que refere a esse ponto.

3.2. O INSS alegou que se o EPI é eficaz, a especialidade do trabalho prestado é afastada.

O entendimento jurisprudencial quanto à utilização do EPI é o de que este não desqualifica o tempo de serviço especial,nem exclui o direito à aposentadoria especial. O equipamento de proteção, seja individual, seja coletivo, tem o escopo deproteger a saúde do trabalhador, a fim de que não sofra lesões, mas não descaracteriza a situação agressiva ou nociva.Nesse sentido, encontra-se o disposto na Súmula nº 09 da Turma Nacional de Uniformização: “ainda que o EPI elimine ainsalubridade, no caso de exposição a ruído, não descaracteriza o tempo de serviço especial prestado.”

Logo, o recurso do INSS não deve ser provido no que refere a esse ponto.

3.3. Nível de ruído.

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A TNU assumia entendimento diferente do adotado pelo STJ no que refere ao nível de ruído para configuração daespecialidade do período de trabalho. Contudo, a TNU recentemente alterou seu entendimento, cancelando, em09/10/2013, o enunciado 32 da súmula de sua jurisprudência dominante. Tal cancelamento com certeza ocorreu por forçado provimento de incidente de uniformização, pelo STJ, no qual a referida Corte reafirmou sua jurisprudência em face doteor do enunciado 32 da TNU (STJ, 1ª Seção, Petição nº 9059 / RS, Julgado em 28/08/2013). Prevaleceu, destarte, oentendimento consolidado no STJ a respeito do tema. Deste modo, para que surja o direito à contagem de tempo detrabalho como “especial”, o nível de ruído a que deve estar submetido o segurado deverá ser:

superior a 80 decibéis até 04/03/1997;superior a 90 decibéis entre 05/03/1997 até 17/11/2003 (vigência do Decreto nº 2.172/97);superior a 85 decibéis após 18/11/2003 (vigência do Decreto nº 4.882/03).

3.4. Adequação do entendimento jurisprudencial ao caso concreto.

Essa alteração no entendimento da TNU altera a conclusão da sentença. vejamos.

Na sentença consta o seguinte:

“Analisando os autos, verifico que nos períodos de 07/08/1989 a 25/10/1993, de 26/10/1993 a 30/04/1995, de 09/06/1997 a19/06/2000 e de 01/11/2006 a 18/09/2009, o autor esteve exposto a nível de ruído superior a 85 dB, conforme consta doPPP de fls. 36/39, fazendo jus ao enquadramento como atividade especial, nos termos da legislação previdenciária.”

Ocorre que no período entre 05/03/1997 até 17/11/2003 (vigência do Decreto nº 4.882/03), o nível de ruído deve sersuperior a 90 decibéis para caracterizar o direito ao “tempo especial”.

E analisando o PPP, na fl. 37, vejo que no interregno de 09/06/1997 a 19/06/2000 o ruído era inferior a 90 decibéis.

Logo, esse período deve ser contado como “tempo comum”, EXCLUINDO-SE o acréscimo de 1 ano 2 meses e 17 diasdeterminado na sentença (fl. 112).

3.4. Ausência de apresentação de histograma ou memória de cálculo.

A exigibilidade de memória escrita das medições de ruído só começou em 11/10/2001, por força do art. 173, III, daInstrução Normativa INSS/DC nº 57, de 10 de outubro de 2001, que assim dispõe: “na citação do grau de ruído, quandoindicados níveis variados de decibéis, somente caberá o enquadramento como especial quando a dosimetria correspondera, no mínimo, setenta e cinco por cento da jornada de trabalho, em cada vínculo trabalhista, e for superior a oitenta dB(A)ou a noventa dB(A), conforme o caso, devendo ser anexada a memória dos valores em tabelas ou em gráficos, constandoo tempo de permanência do trabalho em cada nível de medição efetuada”. Antes disso nenhum ato normativo previaexigência de histograma ou de gráfico de medição de ruído. Os efeitos da IN INSS/DC nº 57 e posteriores não podemretroagir no tempo.

Em conclusão: o histograma somente pode ser exigido no que refere a períodos posteriores a 11/10/2001.

3.4.1. Conforme fl. 43, o INSS indeferiu a contagem do período de 01/11/2006 a 18/09/2009 como tempo especial porquenão foi apresentado o histograma. O INSS agiu corretamente.

3.4.2. Pelo mesmo motivo, pelo agente ruído não poderia ser considerado especial PARTE do período laborado entre de20/06/2000 31/10/2006.

Com efeito, uma parte desse período é especial: o período de 20/06/00 até 11/10/01 (data da edição da IN Nº 57/2001) éespecial. E após a vigência da referida IN (após 11/10/01) os períodos laborados pelo autor não podem ser consideradosespeciais em face do agente ruído, haja vista que não houve apresentação de histograma.

3.4.3. Embora tenha havido, em parte do período posterior a 11/10/01, exposição a ácido fosfórico, esse período não podeser considerado especial em face desse agente químico porque não houve medição quantitativa.

O mesmo se diga com relação à manipulação de alcatrão, apontada como intensidade qualitativa no período de trabalhoentre 01/11/06 a 18/09/09

3.5. Da análise do recurso do INSS e tendo em vista as informações coligidas no PPP apresentado (que quanto ao ruídonão foi acompanhado de histograma; nem da análise quantitativa relativamente à exposição dos agentes biológicos equímicos, o que é necessário após a Medida Provisória nº 1.729/1998) depreendo que todo o período posterior a11/10/2001 (ou seja: período posterior à IN INSS/DC nº 57/2001) NÃO deve ser considerado como laborado em condiçõesespeciais.

4. Conclusão.

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Da sentença consta que o INSS reconheceu (até a DER) 28 anos, 9 meses e 5 dias de tempo de contribuição. O Juízo aquo acrescentou 7 anos 2 meses e 15 dias relativos à conversão, conforme a seguinte tabela (fl. 112):

07/08/1989 25/10/1993 1.541 0,40 616 1 8 826/10/1993 30/04/1995 552 0,40 221 - 7 809/06/1997 19/06/2000 1.107 0,40 443 1 2 1701/11/2006 18/09/2009 1.053 0,40 421 1 1 2620/06/2000 31/10/2006 2.325 0,40 930 2 6 18Total: 2.631 7 2 15

Por outro lado, em face do provimento do recurso do autor, deve ser considerado como especial o período entre 01/05/95 a08/06/97, o que configura um ACRÉSCIMO de 10 meses e 3 dias.

O autor ingressou com requerimento em 06/01/2010 (DER). O INSS reconheceu, até então, 28 anos, 9 meses e 5 dias detempo de contribuição, sem conversões (cf. voto proferido na 4ª Câmara de Julgamento do CRPS, fl. 89). Conformeconsulta que realizei no CNIS em 28/10/13, o autor desde a DER continuou trabalhando, ao menos até agosto desse ano(08/2013). Logo, o autor conta com 3 anos e 8 meses de trabalho após a DER.

Pelo que expus antes:

o antepenúltimo e o penúltimo período (09/06/1997 a 19/06/2000; e 01/11/2006 a 18/09/2009) devem ser desconsiderados(excluindo-se os acréscimos);

o último período (20/06/2000 a 31/10/2006) somente é especial entre 20/06/00 até 10/10/01, devendo ser parcialmentedesconsiderado (de 11/10/01 a 31/10/06); do total de acréscimo (2 a, 6 m e 18 d) deve ser excluído uma parte, eis queapenas 1 ano 3 meses e 20 dias são tempo especial e deve ser convertido; o que traduz um acréscimo de 6 meses e 8dias.

Provimento do recurso do autor: conversão do período de 01/05/95 a 08/06/97: acréscimo de 10 meses e 3 dias.

Conversão dos 2 primeiros períodos do quadro de fl. 112 (sentença mantida nessa parte): acréscimo de 1 ano, 8 meses e 8dias + 7 meses e 8 dias.

tempo trabalhado posterior à DER: acréscimo de 3 anos, 7 meses e 26 dias.

conclusão: somando-se os acréscimos mencionados nos itens (ii) até (v), chega-se ao total de 7 anos 3 meses e 23 dias.

somando-se esse último valor aos 28 anos, 9 meses e 5 dias (tempo de contribuição até DER), temos tempo decontribuição de 36 anos, 1 mês e 2 dias.

Como o cálculo considerou que o autor trabalhou até, no mínimo, 30/08/13, a DIB deve retroceder 1 ano e 1 mês e 2 diasantes da referida data.

Conclusão: DIB fixada em 28/07/2012. Logo, o autor faz jus à aposentadoria por tempo de contribuição, fixando-se a DIB nareferida data.

Tudo quanto acima relatei segue no quadro abaixo:

NºCOMUMESPECIAL

Data InicialData FinalTotal DiasAnosMesesDiasMultiplic.Dias Convert.AnosMesesDias

107/08/198925/10/1993

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1.5194219,4608188

26/10/199330/04/1995545165,4218-78

01/05/199508/06/1997758218,4303-103

20/06/200010/10/20014711321,4188-68

06/01/201031/08/20131.3163726-----

Total4.60912919-

Page 15: BOLETIM TR/ES 2013-232-SESSAO DIA 13-11-2013

1.3173727

Total Geral (Comum + Especial)5.92616516

6. DISPOSITIVO.

DOU PARCIAL PROVIMENTO ao recurso do INSS, para excluir a contagem como tempo especial dos períodos de09/06/1997 a 19/06/2000; de 11/10/01 a 31/10/06; e de 01/11/2006 até 18/09/2009.

DOU PARCIAL PROVIMENTO ao recurso do autor para determinar que o INSS compute como tempo especial o períodode 01/05/95 a 08/06/97 (fator 1,4).

No mais, resta mantida a sentença. Sem honorários e sem custas.

ANTECIPAÇÃO DE TUTELA. Em face do requerimento formulado pelo autor e tendo em vista (i) que o seu direito àaposentação é evidente, bem como (ii) o caráter alimentar do benefício, ANTECIPO OS EFEITOS DA TUTELA.

Determino que o INSS IMPLANTE O BENEFÍCIO NO PRAZO DE 30 DIAS. O cálculo da RMI configura obrigação de fazer.

Os valores atrasados deverão ser pagos por RPV, na forma estipulada na sentença.

Juiz Federal Pablo Coelho Charles Gomes2º Juiz Relator da 1ª Turma Recursal dos Juizados Especiais Federais da SJ-ES

[Ato judicial assinado eletronicamente, nos termos do parágrafo único do artigo 164 do Código de Processo Civil. Acertificação digital consta na parte inferior da página]

6 - 0000302-18.2011.4.02.5055/01 (2011.50.55.000302-7/01) (PROCESSO ELETRÔNICO) INSTITUTO NACIONAL DOSEGURO SOCIAL - INSS (PROCDOR: GUSTAVO CABRAL VIEIRA.) x JORGE DE ARAÚJO HENRIQUE (DEF.PUB:ALINE FELLIPE PACHECO SARTÓRIO.).PROCESSO: 0000302-18.2011.4.02.5055/01 (2011.50.55.000302-7/01)

V O T O - E M E N T A

1. Trata-se de recurso inominado, interposto pelo INSS, em face da sentença de fls. 51/55, que julgou parcialmenteprocedente o pedido inicial para condenar a autarquia ré a restabelecer o benefício previdenciário de auxílio-doença desdea suspensão em 15/02/2011, bem como ao pagamento das parcelas vencidas. Em suas razões recursais o INSS alegouque a sentença é nula, pois prolatada com base em documentos antigos e sem realização de perícia judicial ferindo osprincípios do contraditório e da ampla defesa. Também sustentou que o autor não comprovou incapacidade. Requer areforma da sentença.

2. O autor recebeu benefício de auxílio-doença de 19/10/2002 a 06/11/2008, 03/02/2006 a 20/06/2006 e 09/09/2009a 15/02/2011 (fl. 21). Teve vínculo empregatício de 18/12/1975 a 13/02/1976, 15/11/1978 a 22/09/1980, 01/12/1980 a15/02/1981, 01/06/1981 a 28/08/1981, 01/10/1981 a 10/12/1981, 04/05/1982 a 30/07/1983, 19/09/1983 a 10/03/1987,26/04/1987 a 27/03/1991, 02/05/1991 a 07/06/1991, 11/06/1991 a 10/08/1991, 21/10/1991 a 14/12/1993, 01/07/1994 a18/10/2000, 01/06/2001 a 18/03/2009. Seu pedido inicial é o de restabelecimento do auxílio-doença cessado em31/01/2011.

3. Trouxe aos autos os seguintes laudos e exames médicos do período controverso (após a cessação doauxílio-doença): laudo de médico ortopedista (fl. 126/127 - 21/03/2013) informando que o paciente está sem condições deexercer suas funções; laudo de médico traumatologista (fl. 129 – 18/07/2013) atestando que o paciente possui artroselombar, abaulamentos discais em L4L5 e L5S1 e ganartrose nos joelhos, sugerindo afastamento do trabalho - demaisinformações ilegíveis; laudo de médico ortopedista (fl. 131 - 05/03/2013) informando que o autor possui abaulamentos dosdiscos lombares com sinais de compressão das raízes de L5 e S1 mais acentuada nesta última, concluindo que háincapacidade multiprofissional de caráter permanente; ressonância magnética da coluna lombar (fl. 132 - 02/10/2012);

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relatório de médico ortopedista (fl. 12 - 15/03/2011) informando que o autor possui espondilose e hérnia de disco estandoincapacitado para as atividades de sobrecarga e motorista; laudo de médico neurocirurgião (fl. 37 - 26/09/2011) atestandoque o paciente possui doença da coluna vertebral com protrusão em L4L5 L5S1, artrose e espondilose, estando semcondições de trabalho por tempo indeterminado; laudo de médico ortopedista (fl. 38 - 09/05/2011) informando que opaciente está incapacitado de maneira multiprofissional.

4. O feito foi convertido em diligência e a perícia judicial realizada (fls. 100/101 – 07/03/2013). O perito diagnosticouque o autor possui lombocitalgia, informando que seu início se deu há muito tempo, provavelmente em 2010. Concluiu quenão há incapacidade para o labor.

5. Ao se analisar todo o contexto probatório colacionado aos autos, fixo as seguintes premissas: o autor é portadorde patologias na coluna lombar; possui como profissão a função de motorista de caminhão; o recorrido já recebeu o auxíliodoença por longos períodos; todos os laudos convergem para a mesma doença; os laudos particulares concluem pelaincapacidade do autor; o juiz não fica adstrito à perícia judicial de acordo com o princípio do livre convencimento.

Sendo assim, entendo que o autor faz jus ao restabelecimento do benefício nos termos da sentença ora impugnada. Pormais que a perícia judicial tenha concluído pela capacidade do recorrido o magistrado pode decidir de maneira contrária,pois não está vinculado às conclusões do laudo pericial, podendo firmar o seu livre convencimento com base nos demaiselementos dos autos. Além do mais, o exercício de suas atividades habituais, relativas à profissão de motorista decaminhão, muito provavelmente não se realizaria sem a concomitância de dor extrema, o que não se pode exigir.

6. Posto isso, conheço do recurso do INSS e a ele nego provimento.

Custas ex lege. Condenação do recorrente vencido em honorários advocatícios, que ora arbitro em 10% sobre o valor dacondenação.

É como voto.

Pablo Coelho Charles Gomes2º Juiz Relator da 1ª Turma Recursal

[Ato judicial assinado eletronicamente, nos termos do parágrafo único do artigo 164 do Código de Processo Civil. Acertificação digital consta na parte inferior da página]

91003 - MANDADO DE SEGURANÇA/ATO JUIZADO ESPECIAL

7 - 0007116-61.2011.4.02.5050/01 (2011.50.50.007116-5/01) (PROCESSO ELETRÔNICO) KELLY BRAVIM DEALBUQUERQUE (ADVOGADO: ILDESIO MEDEIROS DAMASCENO, ADELIA MARIA BRIÃO PINHEIRO BARRETO,MARCELO MIGUEL NOGUEIRA.) x Juiz Federal do 3º Juizado Especial Federal x DEBORA CLOTILDE DE ANDRADESOARES (ADVOGADO: ANA CAROLINA DO NASCIMENTO MACHADO, FLAVIA SCALZI PIVATO, JOCIANI PEREIRANEVES, KARIME SILVA SIVIERO, VERA LÚCIA FÁVARES, MAURA RUBERTH GOBBI, RONILCE ALESSANDRAAGUIEIRAS, TATIANA MARQUES FRANÇA, LARA CHAGAS VAN DER PUT.).PROCESSO: 0007116-61.2011.4.02.5050/01 (2011.50.50.007116-5/01)

VOTO-EMENTA

1. Trata-se de mandado de segurança impetrado por KELLY BRAVIM DE ALBUQUERQUE contra ato do Juiz do 3º JuizadoEspecial Federal de Vitória, consistente na parte da sentença (proferida nos autos do processo nº0007116-61.2011.4.02.5050) que antecipou os efeitos da tutela para determinar ao INSS que desdobre o benefícioprevidenciário de pensão por morte percebido pela ora impetrante, implantando a cota da autora daquela ação. Aimpetrante requer a concessão de liminar para o fim de manter integralmente o benefício de pensão por morte em seufavor, até o julgamento da lide principal. A liminar foi indeferida pela decisão de fl. 37.

2. O presente mandado de segurança revela-se substitutivo de recurso inominado, indiscutivelmente cabível em face desentença (art. 41 da Lei nº 9.099/95), havendo expressa previsão legal da possibilidade de atribuição de efeito suspensivoao mesmo, para evitar dano irreparável para a parte (art. 43 da mesma lei). Ressalto que a impetrante integra a relaçãojurídica processual, nos autos supra mencionados, na qualidade de co-ré.

3. Uma vez que a antecipação dos efeitos da tutela foi deferida na sentença, caberia à impetrante, que figura como co-ré nareferida ação, interpor recurso inominado e pleitear o efeito suspensivo do qual referido recurso pode ser dotado.

3. Configura-se, pois, a hipótese prevista no art. 5º, II, da Lei nº 12.016/2009, segundo o qual não se concederá mandadode segurança quando se tratar de decisão judicial da qual caiba recurso com efeito suspensivo.

4. Conquanto não tenha sido indeferida a inicial na decisão de fl. 37 (que indeferiu a liminar), não há óbice ao indeferimentonesta oportunidade, eis que o descabimento da utilização da via mandamental, no caso, se depreende por asserção.

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5. Pelo exposto, INDEFIRO A INICIAL e julgo extinto o processo sem resolução do mérito, com fulcro no art. 267, I, doCPC. Sem custas, em face da assistência judiciária gratuita, que ora defiro. Sem honorários, incabíveis em mandado desegurança.

Pablo Coelho Charles Gomes2º Juiz Relator da 1ª Turma Recursal

[Ato judicial assinado eletronicamente, nos termos do parágrafo único do artigo 164 do Código de Processo Civil. Acertificação digital consta na parte inferior da página]

91001 - RECURSO/SENTENÇA CÍVEL

8 - 0006186-43.2011.4.02.5050/01 (2011.50.50.006186-0/01) (PROCESSO ELETRÔNICO) GEORGE PEREIRA MARINHO(DEF.PUB: LIDIANE DA PENHA SEGAL.) x INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS (PROCDOR: MarcosFigueredo Marçal.).PROCESSO: 0006186-43.2011.4.02.5050/01 (2011.50.50.006186-0/01)

VOTO-EMENTA

1. Trata-se de recurso inominado, interposto por GEORGE PEREIRA MARINHO, em face da sentença de fls. 64/65,que julgou improcedente o seu pedido de concessão do benefício de auxílio-doença desde a data do requerimento, em10/08/2011, e posterior conversão em aposentadoria por invalidez. O recorrente alega que suas enfermidades mentais seagravaram posteriormente à filiação no RGPS, inviabilizando as práticas estudantis e o exercício de qualquer tipo de labor.Destacou, ainda, a contradição do INSS, que não reconheceu a sua inaptidão para o trabalho e, posteriormente, defendeunos autos que a incapacidade laboral teria se iniciado na infância. Requer a reforma da sentença, para que sejareconhecido o direito ao benefício de aposentadoria por invalidez ou, subsidiariamente, auxílio-doença.

2. O autor jamais recebeu benefício de auxílio-doença. Tornou-se segurado da Previdência Social através dorecolhimento de contribuições como “contribuinte individual” nas seguintes competências: 05/2010 a 09/2013. Na peçainicial indicou ser “repositor de supermercado”. Nasceu em 04/10/1985.

3. Trouxe aos autos os seguintes laudos e exames médicos: laudo médico (fl. 13 – 29/01/2011) indicando quadropsicótico crônico (CID F20.0), permanecendo em tratamento em março de 2008, com quadro de delírios,heteroagressividade e perda de consciência; laudo médico (fl. 14 – 25/05/2011) indicando surto psicótico, alucinação edelírios (CID F20.0), sendo incapaz para o trabalho; laudo médico (fl. 15 – 11/08/2010) indicando tratamento psiquiátricodesde fevereiro de 2008, devido a surto psicótico com delírios e alucinações, havendo constantes momentos de melhora epiora no quadro de saúde ao longo dos anos de 2009 e 2010.

4. A perícia médica judicial (fls. 36/39) foi realizada em 09/12/2011. O perito diagnosticou psicose esquizofrênicatípica, com delírios, alucinações auditivas, anedonia, adinamia e distúrbios fisiológicos como insônia e anorexia. Asseverou,o expert, a existência de crises repetitivas e insuscetíveis de previsão, destacando que a doença começou como epilepsiagrave na infância, chegando à psicose esquizofrênica. O perito do juízo destacou também, em suas conclusões, que não hácapacidade para o exercício de labor, pois, mesmo sob tratamento, o recorrente pode sofrer “ausência” e perder contatocom a realidade por alguns segundos. Por fim, reafirmou o estado de incapacidade laboral definitiva e a impossibilidade dereabilitação, bem como estimou a infância do autor como a data de início da incapacidade.

5. Ao se analisar todo o contexto probatório colacionado aos autos, fixo as seguintes premissas: o perito atestou aexistência de psicose esquizofrênica típica, destacando a existência de incapacidade laboral total e definitiva; o expertasseverou, ainda, que a doença teria se iniciado na infância do recorrente como epilepsia grave, chegando até à psicoseesquizofrênica atual, o que denota o agravamento da doença; todavia, quanto à incapacidade laboral, o perito judicialafirmou que esta já havia se iniciado na infância da parte autora; o contrato de trabalho temporário, com início em24/11/2009 e findo em 09/12/2009 (CTPS – fl. 06), não tem o condão de demonstrar plena capacidade laboral do autor emperíodo posterior a sua infância; o recorrente não logrou êxito em comprovar que a incapacidade laboral lhe sobreveio pormotivo de progressão ou agravamento da doença.

Sendo assim, entendo que o autor não faz jus à concessão do benefício previdenciário pleiteado. O perito judicial foienfático em asseverar o agravamento da doença, deixando claro, contudo, que a incapacidade laboral já existia desde ainfância do recorrente. O contrato de trabalho firmado pelo autor por tão pouco tempo – cerca de 15 (quinze) dias –, comorepositor de supermercado, não afasta a conclusão pericial de inexistência de plena capacidade laboral desde a infância.Ao revés, o curtíssimo período em que o autor conseguiu ficar empregado é forte indicativo de que já se empregaraincapaz. Nesse sentido, o fato de o recorrente haver cursado o ensino médio e iniciado o curso de serviço social tambémnão é suficiente para descartar as conclusões do expert quanto ao início da incapacidade laboral. Ademais, os próprioslaudos médicos coligidos aos autos pela parte autora evidenciam que a mesma encontrava-se em tratamento desde 2008(momento anterior à filiação no RGPS) em decorrência das mesmas doenças constatadas pela perícia médica em 2011,havendo tão somente momentos de melhora e piora no seu quadro de saúde.

6. Posto isso, conheço do recurso do autor e a ele nego provimento.

Page 18: BOLETIM TR/ES 2013-232-SESSAO DIA 13-11-2013

Custas ex lege. Sem condenação em honorários advocatícios tendo em vista o deferimento dos benefícios da assistênciajudiciária gratuita.

É como voto.

Pablo Coelho Charles Gomes2º Juiz Relator da 1ª Turma Recursal

[Ato judicial assinado eletronicamente, nos termos do parágrafo único do artigo 164 do Código de Processo Civil. Acertificação digital consta na parte inferior da página]

9 - 0001361-56.2011.4.02.5050/01 (2011.50.50.001361-0/01) (PROCESSO ELETRÔNICO) JOSE SALES DA SILVA(DEF.PUB: RICARDO FIGUEIREDO GIORI.) x INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS (PROCDOR:MARCELA BRAVIN BASSETTO.).PROCESSO: 0001361-56.2011.4.02.5050/01 (2011.50.50.001361-0/01)

VOTO-EMENTA

1. Trata-se de recurso inominado, interposto por JOSÉ SALES DA SILVA, em face da sentença de fls. 55/56, quejulgou improcedente o seu pedido de restabelecimento do benefício de auxílio-doença desde a data da cessação, em25/04/2011. O recorrente alega, preliminarmente, a impossibilidade da aplicação do artigo 285-A do Código de ProcessoCivil ao caso concreto, tendo em vista que a questão de mérito a ser julgada consistia em matéria fático-probatória. Requera anulação da sentença e o retorno dos autos ao juízo a quo para que seja sanado o vício apontado. No mérito, alega queas limitações apresentadas no laudo pericial encontram-se diretamente relacionadas à sua atividade habitual de ajudantede carga e descarga, havendo total incompatibilidade entre a patologia constatada e a complexidade das atividadesrealizadas. Destaca, ainda, que a documentação médica acostada aos autos é mais que suficiente para concluir pelaincapacidade laborativa e que devem ser levadas em consideração as suas condições pessoais para fins de recebimentodo benefício previdenciário. Requer a reforma da sentença, concedendo-se o restabelecimento do benefício cessado.

2. Quanto à preliminar argüida, não há razão para o seu acolhimento. Embora concorde com a alegação de quenão há como aplicar-se o artigo 285-A do Código de Processo Civil ao caso concreto, eventual nulidade somente poderiaser argüida pelo INSS, que não pode apresentar contestação e que deveria justificar o prejuízo para que a sentença fosseanulada. Rejeito a preliminar.

3. O autor, 2º Grau Incompleto, nascido em 13/01/1962, recebeu benefício de auxílio-doença entre 11/01/2005 e02/05/2007; 04/06/2007 e 30/09/2007; 04/01/2011 e 25/04/2011; 14/03/2012 e 27/08/2012; 23/12/2012 e 22/01/2013.Atualmente, mantêm vínculo empregatício com a empresa Vital Engenharia Ambiental S/A, iniciado em 07/02/2013(conforme indicou consulta ao CNIS realizada em 04/11/2013; trata-se do vínculo nº 037 indicado nas informaçõesexistentes no referido cadastro a respeito do autor). Na peça inicial, o autor indica que é ajudante de carga e descarga.

4. Trouxe aos autos os seguintes laudos e exames médicos do período controverso (após a cessação doauxílio-doença): laudo médico (fl. 07 – 07/06/2011) indicando lombalgia e dor ciática esquerda e abaulamento discal em L3a S1 (CID M54.1); laudo médico (fl. 49 – 22/09/2011) indicando abaulamento discal difuso em L3 a S1 e orientando que oautor não deve carregar peso e evitar esforço repetitivo (CID M54.1 e M51.1); laudo médico (fl. 50 – 13/07/2011) indicandotrauma em perna direita com evolução para ruptura do gastrocnêmio medial (CID M62.6); laudo médico (fl. 51 – 06/07/2011)indicando tendinite do cabo longo do bíceps bilateralmente, necessitando de fisioterapia (CID M75); e exames de tomografia(fl. 08, 46). Ressalto que os demais laudos e exames constantes dos autos referem-se a período anterior à cessação dobenefício, quando a incapacidade era reconhecida pelo INSS.

4. A perícia médica judicial (fls. 35/39) foi realizada em 09/12/2011. O perito diagnosticou artrose da coluna lombar,havendo, porém, mobilidade normal de coluna, sem edema, hipotrofias musculares ou alterações neurológicas dosmembros inferiores, apenas uma lesão crônica na junção mio-tendínea do gastrocnêmio medial direito sem perda defunção. Asseverou, o expert, que a referida alteração da coluna é degenerativa, porém o autor não apresenta sinais decompressão nervosa compatível com hérnia discal, não havendo que se falar em incapacidade para sua atividade laboral. Operito do juízo destacou também, em suas conclusões, que o exame de tomografia, realizado em maio de 2011, nãodemonstra nenhuma compressão radicular, ratificando os testes clínicos sem alterações neurológicas.

5. Ao se analisar todo o contexto probatório colacionado aos autos, fixo as seguintes premissas: o perito atestou aexistência de artrose em coluna lombar e fez a ressalva de que a patologia não gera incapacidade para o trabalho, nãohavendo, à época da cessação do benefício, sinais de compressão radicular ou alterações neurológicas; os laudos médicosparticulares coligidos aos autos pelo autor atestam a existência de patologia, mas não asseveram a incapacidade laboral;após a cessação do benefício, o recorrente tornou a receber o benefício previdenciário e, atualmente, exerce normalmenteatividade laboral; o recorrente não logrou êxito em comprovar os fatos constitutivos de seu direito; possui 51 anos de idadee cursou o ensino médio incompleto.

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Sendo assim, entendo que o autor não faz jus ao restabelecimento do benefício desde 25/04/2011. O fato de a patologia serdegenerativa não significa que a incapacidade seja definitiva, não estando a conclusão do perito limitada por este fator.Ademais, os laudos de médicos assistentes não confirmaram a existência de efetiva incapacidade ao tempo da cessaçãodo benefício, tendo atestado tão somente a presença de patologias ortopédicas. Nesse sentido, entendo plenamente válido,sólido e consistente o laudo do expert, que confirmou a decisão administrativa de cessar o benefício previdenciário, aoasseverar a inexistência de compressão radicular e de alterações neurológicas ao tempo da cessação.

7. Posto isso, conheço do recurso do autor e a ele nego provimento.

Custas ex lege. Sem condenação em honorários advocatícios tendo em vista o deferimento dos benefícios da assistênciajudiciária gratuita.

É como voto.

Pablo Coelho Charles Gomes2º Juiz Relator da 1ª Turma Recursal

[Ato judicial assinado eletronicamente, nos termos do parágrafo único do artigo 164 do Código de Processo Civil. Acertificação digital consta na parte inferior da página]

10 - 0000220-37.2011.4.02.5006/01 (2011.50.06.000220-1/01) (PROCESSO ELETRÔNICO) TANIA MARIA TRANCOSOBARROS (DEF.PUB: LIDIANE DA PENHA SEGAL.) x INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS (PROCDOR:Isabela Boechat B. B. de Oliveira.).PROCESSO: 0000220-37.2011.4.02.5006/01 (2011.50.06.000220-1/01)

V O T O / E M E N T A

1. Trata-se de recurso inominado interposto pela autora em face da sentença de fls. 85/88, que julgou improcedentes opedido de concessão de aposentadoria por invalidez desde a cessação do benefício de auxílio-doença. Alega a recorrenteque o arcabouço probatório acostado aos autos comprova que seu estado clínico, devido à associação de patologias decunho ortopédico, cardiológico e psiquiátrico, indica que não reúne condições de exercer seu labor. Tece consideraçõessobre os exames constantes dos autos. Diz que não logrou êxito em sucessivos exames admissionais, datados de23/10/2010 (fl. 25), 17/01/2011 (fl. 26) e 17/03/2011 (fl. 45). Quanto à ausência de tratamento fisioterápico indicado à fl. 46,argumenta que, se é comprovado por meio de documentação médica, que a incapacidade ainda existe, é porque não houveêxito no tratamento recomendado. De qualquer forma, prossegue, apresenta documentação comprovando que se submetea tratamento fisioterápico, tendo realizado até o momento dez sessões, sem êxito em decorrência da gravidade do caso.Alega que o quadro crônico de distimia e somatização apresenta-se difícil e sem resposta a antidepressivos, bem como quea hipertensão arterial sistêmica de que é portadora é de difícil controle, tendo sido internada em razão de crise hipertensiva(fls. 46 e 77). Pede a concessão de aposentadoria por invalidez ou, subsidiariamente, o restabelecimento do benefício deauxílio-doença a partir da data da cessação indevida na via administrativa (17/02/2011). Caso este não seja oentendimento, requer a anulação da sentença e retorno dos autos ao juizado de origem para reabertura da instrução pararealização de perícia na especialidade neurocirurgia, sem prejuízo das especialidades de psiquiatria e cardiologia. Nestasede, o feito foi convertido em diligência (decisão de fls. 144/145) para a realização de perícia médica, o que de fato ocorreu(fl. 159).

2. A autora, auxiliar de serviços gerais, atualmente com 51 anos de idade, recebeu o benefício de auxílio-doença no períodode 27/09/2007 a 17/02/2011 (fl. 64), quando foi cessado. Em consulta ao CNIS (fl. 67), verifica-se que houve vínculosempregatícios nos períodos de 05/1998 a 12/1998, 11/1999 a 03/2005, 11/1999 a 02/2000, 06/2005 a 09/2011.

3. Trouxe aos autos os seguintes documentos médicos emitidos em datas próximas ao período controverso (a partir defevereiro de 2011): tomografia computadorizada da coluna lombo-sacra (fl. 27 - datada de 04/03/2011); encaminhamentosda paciente, por médico neurocirurgião, à perícia médica do INSS, para avaliação da capacidade laborativa (fls. 29, 31 e 46– datados de 22/03/2011, 15/03/2011 e 25/04/2011); laudo de médico ortopedista atestando incapacidade para o trabalho(fl. 30 – datado de 26/03/2011); laudo de médico psiquiatra, concluindo ser caso para aposentadoria (fl. 32 – datado de21/03/2011); laudos de médico psiquiatra, concluindo pela ausência de condições de trabalho (fls. 33 e 34 – datados de01/03/2011 e 02/02/2011); laudos de médico cardiologista atestando ausência de condição para continuar em atividadelaborativa profissional (fls. 38 e 49 – datados de 01/03/2011 e 20/04/2011); laudo de médico do trabalho, atestando quepaciente permanece inapta para o trabalho (fl. 39 – datado de 18/02/2011); atestado de médico do trabalho de que a autoraestá inapta para retorno ao trabalho (fl. 45 – datado de 17/03/2011); laudo de médico ortopedista atestando incapacidadepara o trabalho no momento (fl. 47 – datado de 16/04/2011); atestado de médico psiquiatra de que a paciente permaneceem tratamento psiquiátrico sem resultado satisfatório (fl. 48 – datado de 25/04/2011); encaminhamento da paciente, pormédico do trabalho, à perícia para reavaliação do caso, uma vez que se encontra sem condições laborais (fl. 50 – datado de13/04/2011). Os demais documentos referem-se a períodos incontroversos, quando a autora estava recebendo benefício.

4. Na análise pericial do Juízo (fl. 159), realizada em 22/01/2013 por médico neurocirurgião, a autora foi examinada ediagnosticada com hipertensão e dor lombar com irradiação para membro inferior direito. Concluiu que a autora não pode

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realizar nenhuma atividade devido a dor promovida pela compressão radicular em L4 e L5 e que as limitações estãopresentes há mais ou menos cinco anos.

5. Ao se analisar todo o contexto probatório colacionado aos autos, depreendo que tanto os laudos médicos particularesquanto o laudo do perito judicial atestam a incapacidade da autora para o labor desde a época em que cessado o benefício.

6. Conquanto o perito tenha afirmado que a autora não pode realizar nenhuma atividade, não há incapacidade total epermanente para toda e qualquer atividade laborativa, sendo possível a recuperação da autora, conforme expressamenteressaltado pelo perito, ao afirmar que “medicamentos para a cura não existe (sic), no entanto a compressão radicularexistente tem tratamento” (g.n.). Concluo, pois, que a autora faz jus ao benefício de auxílio-doença, mas não aaposentadoria por invalidez.

7. Registro, por fim, que o médico psiquiatra subscritor dos laudos de fls. 32, 33, 34 e 48 menciona, em todos eles, asdoenças ortopédicas, chegando a atestar, no segundo, ausência de condições de trabalho em razão de lombociatalgiacrônica e não em razão de doença psiquiátrica. No último laudo, sequer afirma ausência de condições de trabalho.Ressalte-se que a autora recebeu auxílio-doença no período de 2007 a 2011 sempre em razão de doença ortopédica,nunca em razão de doença psiquiátrica. Assim é que considero desnecessária realização de perícia judicial naespecialidade psiquiatria.

8. Em face do exposto, DOU PARCIAL PROVIMENTO ao recurso para reformar a sentença e julgar parcialmenteprocedente o pedido e condenar o INSS a restabelecer o benefício de auxílio-doença desde a data de cessação(17/02/2011), bem como a pagar as parcelas vencidas, corrigidas monetariamente pelo INPC desde que devidas eacrescidas de juros de mora de 1% ao mês, a partir da citação.

9. Custas ex lege. Sem condenação em honorários advocatícios, tendo em vista o disposto no art. 55 da Lei nº 9.099/95.

É como voto.

Pablo Coelho Charles Gomes2º Juiz Relator da 1ª Turma Recursal

[Ato judicial assinado eletronicamente, nos termos do parágrafo único do artigo 164 do Código de Processo Civil. Acertificação digital consta na parte inferior da página]

11 - 0000518-19.2010.4.02.5053/01 (2010.50.53.000518-0/01) (PROCESSO ELETRÔNICO) INSTITUTO NACIONAL DOSEGURO SOCIAL - INSS (PROCDOR: UBIRATAN CRUZ RODRIGUES.) x MARIA DE FATIMA MENTEIRO REIS(ADVOGADO: JEFFERSON R. MOURA.).PROCESSO: 0000518-19.2010.4.02.5053/01 (2010.50.53.000518-0/01)

VOTO-EMENTA

1. Trata-se de recurso inominado interposto pelo INSS, em razão da sentença de fls. 66/68, que julgou procedente o pedidocontido na inicial, condenando o recorrente a restabelecer o benefício de auxílio-doença desde a cessação, em 18/01/2010.Alega o recorrente, em suas razões recursais, que a perícia administrativa somente pode ser elidida pela perícia promovidaem juízo, e que a perícia médica judicial não foi capaz de afrontar a perícia administrativa quanto à DIB e à DII. Sustentaque a data do início do benefício deve coincidir com a da perícia judicial, uma vez que o laudo médico particular nelaconsiderado é muito posterior à cessação do benefício e que o nódulo na tireóide da autora em momento algum havia sidocitado. Afirma, também, haver enriquecimento sem causa, pois há a cumulação do benefício previdenciário com osrendimentos do atual labor em que se encontra a autora, desde 04/08/2011, na Câmara Municipal de Linhares. Com isso,requer (i) seja reformada a sentença no que tange à DIB do benefício; (ii) seja fixada a DCB quando da nova contratação daautora ou que, ao menos, haja o desconto dos meses trabalhados; e (iii) seja permitido o desconto dos meses já percebidospela autora a título de auxílio-doença concedido administrativamente em 04/02/2011.

2. O auxílio-doença, conforme o artigo 59 da Lei nº 8.213/91, será devido ao segurado que, tendo cumprido, quando for ocaso, o período de carência exigido, ficar incapacitado para o seu trabalho ou para a sua atividade habitual por mais de 15(quinze) dias consecutivos.

3. A autora, cozinheira, atualmente com 52 anos de idade, recebeu o benefício de auxílio-doença no período de 06/08/2009a 18/01/2010 (fl. 51).

4. A perícia médica judicial (fls. 42/46), realizada em 19/01/2011 por médica do trabalho, constatou que a recorrida éportadora de Hérnia de Disco Cervical, aguardando cirurgia, e Nódulo ao Nível do Lobo Direito da Tireóide. Após análise doexame clínico, laudos médicos e exames complementares, a perita concluiu haver incapacidade temporária para o labor.

5. A autora trouxe aos autos os seguintes documentos médicos:

FolhaTipo

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DataConclusão

26Laudo Médico07/12/2010Médico psiquiatra relata tratamento psiquiátrico com quadro psicológico compatível com CID F 20.0 com sintomaspsicóticos agudos, bem como necessidade de afastamento das atividades laborais pelo período mínimo de 90 dias.

28 e 59Laudos Médicos21/02/2011 e 21/06/2011Médico psiquiatra atesta tratamento e acompanhamento especializado em ambulatório de saúde desde o ano de 2006, usode medicação especial e controlada e incapacidade para o trabalho.

60/63Prontuário de ambulatório2001, 2003/2004 e 2006/ 2011ilegível.

5. Tais documentos referem-se a doença diversa daquela mencionada na inicial e na perícia médica judicial, pelo que nãotêm pertinência com a causa.

6. A autora apresentou à médica perita ressonância magnética datada de 08/10/2010 e laudo médico datado de 23/12/2010,dos quais se depreendeu a incapacidade decorrente da indicação cirúrgica pelo médico neurologista.

7. Não há nos autos outros exames ou laudos referentes ao período compreendido entre a cessação do benefício(18/01/2010) e o laudo médico determinante do reconhecimento da incapacidade (23/12/2010), pelo que o restabelecimentodo benefício deve se dar nesta última data e não desde que cessado. Uma vez que a perícia se baseou nesse laudo, nãofaz sentido fixar a data do restabelecimento do benefício no dia da realização do exame pericial, como quer o INSS. Assimé que lhe assiste razão apenas em parte.

8. Conforme comprovado à fl. 70, a autora recebeu novo auxílio-doença no período de 04/02/2011 a 11/12/2011, devendoser descontados do valor devido à parte autora, os valores recebidos a título do referido benefício.

9. Quanto ao vínculo empregatício com a Prefeitura Municipal de Linhares, conforme se verifica em consulta ao CNIS, teveinício em 04/08/2011 e término em 01/10/2011, período no qual a autora estava recebendo o benefício mencionado no itemacima. Entendo que o exercício de atividade laborativa por período de quase dois meses não demonstra capacidade para otrabalho, mas apenas a tentativa de recuperação dessa capacidade.

10. Uma vez que o período em que a autora recebeu o benefício, em 2011, será descontado do valor devido nesta ação,não cabe determinar o desconto do valor referente aos meses trabalhados. Ressalto que, não sendo objeto da presenteação a concessão e/ou cessação daquele benefício, o alegado enriquecimento sem causa em razão do exercício deatividade laborativa no período mencionado não pode ser apreciado nesta sede.

11. Pelo exposto, conheço do recurso e a ele DOU PARCIAL PROVIMENTO para reformar, em parte, a sentença e fixar aDIB em 23/12/2010, mantida a DIP na data da sentença, bem como para determinar o desconto, na apuração do débito,dos valores recebidos no período de 04/02/2011 a 11/12/2011 a título do auxílio-doença NB 544.797.413-1.

12. Custas ex lege. Sem honorários advocatícios, já que somente devidos nos casos em que o recorrente é vencido, naforma do art. 55 da Lei nº 9.099/95 c/c o art. 1º da Lei nº 10.259/01.

É como voto.

Pablo Coelho Charles Gomes2º Juiz Relator da 1ª Turma Recursal

[Ato judicial assinado eletronicamente, nos termos do parágrafo único do artigo 164 do Código de Processo Civil. Acertificação digital consta na parte inferior da página]

12 - 0000332-93.2010.4.02.5053/01 (2010.50.53.000332-7/01) (PROCESSO ELETRÔNICO) INSTITUTO NACIONAL DOSEGURO SOCIAL - INSS (PROCDOR: UBIRATAN CRUZ RODRIGUES.) x ROSELEY CECCATO (ADVOGADO: MARIAJOSE LUCINDO DE ALMEIDA BARBOSA.).PROCESSO: 0000332-93.2010.4.02.5053/01 (2010.50.53.000332-7/01)

V O T O / E M E N T A

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1. Trata-se de recurso inominado, interposto pelo INSS, em face da sentença de fls. 141/144, que julgou procedenteo pedido inicial condenando a autarquia-ré a conceder aposentadoria por invalidez desde o requerimento administrativo em29/12/2009. Em suas razões recursais, o INSS alega que a sentença deverá ser reformada para conceder o benefício deauxílio-doença e, somente após a comprovação da incapacidade definitiva (o que se deu quando da perícia judicial),conceder a aposentadoria por invalidez.

2. A perícia judicial (fls. 54/57 – 16/12/2010) diagnosticou que o autor possui neoplasia renal, doença crônicodegenerativa, estando incapacitado total e definitivamente, não sabendo o perito precisar a DII.

3. Ao se analisar todo o contexto probatório colacionado aos autos abstrai-se que o recorrido não juntou nenhumdocumento que comprove sua incapacidade definitiva. Sendo assim, não é possível fixar a DIB da aposentadoria porinvalidez na data do requerimento administrativo. Se não for comprovado que a incapacidade definitiva para o trabalhoestava consolidada desde a época em que o segurado foi submetido à perícia médica administrativa, a DIB deve ser fixadana data do exame pericial.

Em contrapartida, o autor juntou aos autos laudo que atesta sua incapacidade temporária, sendo datado de 02/08/2010 (fl.41). Além do mais, o próprio INSS, no documento de fl. 150, reconhece a incapacidade temporária do autor desde14/12/2009.

Sendo assim, entendo que o autor faz jus a concessão do benefício de auxílio-doença desde 29/12/2009 (data dorequerimento administrativo) até a data de juntada do laudo pericial de fls. 54/57, que atestou a incapacidade definitiva dorecorrido. Após a data de juntada deste, que o benefício em questão seja convertido em aposentadoria por invalidez.

4. Recurso do INSS conhecido e provido. Sentença reformada para restringir os efeitos da condenação fixada nasentença, condenando-se o INSS à concessão de auxílio-doença a partir de 29/12/2009 até 16/12/2010 (data da realizaçãoda perícia judicial, cf. fl. 57); e à conversão do benefício em aposentadoria por invalidez dessa data em diante. Condenoainda a autarquia ao pagamento dos atrasados, que devem ser corrigidos monetariamente pelo INPC e acrescidos de jurosde mora de 1% ao mês desde a citação.

Custas ex lege. Sem condenação em honorários advocatícios.

É como voto.

Pablo Coelho Charles Gomes2º Juiz Relator da 1ª Turma Recursal

[Ato judicial assinado eletronicamente, nos termos do parágrafo único do artigo 164 do Código de Processo Civil. Acertificação digital consta na parte inferior da página]

13 - 0000012-43.2010.4.02.5053/01 (2010.50.53.000012-0/01) (PROCESSO ELETRÔNICO) ROSALINA BAADA VIEIRA(ADVOGADO: ALINE TERCI BAPTISTI BEZZI, VANESSA MARIA BARROS GURGEL ZANONI.) x INSTITUTO NACIONALDO SEGURO SOCIAL - INSS (PROCDOR: UBIRATAN CRUZ RODRIGUES.).PROCESSO: 0000012-43.2010.4.02.5053/01 (2010.50.53.000012-0/01)

VOTO-EMENTA

1. Trata-se de recurso inominado, interposto por ROSALINA BAADA VIEIRA, em face da sentença de fls. 88/90,que julgou improcedente o seu pedido de concessão do benefício de auxílio-doença desde a data do requerimentoadministrativo (em 03/11/2008), com a posterior conversão em aposentadoria por invalidez. A recorrente alega que osdocumentos anexos à exordial comprovam a sua qualidade de segurada especial e que tal qualidade já fora anteriormentereconhecida em sede administrativa pela parte recorrida. Alega, ainda, que teve de se afastar do labor rural devido aoestado de saúde incapacitante, mas que continua laborando em intensidade diferente, conforme comprovado pelastestemunhas. Requer seja provido o recurso e reformada totalmente a sentença, concedendo-se o pleito inicial.

2. A autora jamais recebeu benefício previdenciário e nunca manteve vínculo empregatício no meio urbano. Napeça inicial indicou ser “trabalhadora rural”. Nasceu em 23/08/1950.

3. Trouxe aos autos os seguintes documentos referentes à qualidade de segurada especial: contrato de parceriaagrícola (fls. 20/21 – 04/07/2008) em que consta como outorgada e como parceira outorgante a sua genitora; contrato deparceria agrícola (fls. 22/23 – 20/01/2003) em que consta como outorgada e como parceira outorgante a sua genitora;escritura pública de compra e venda (fls. 28/31 – 30/07/1970) contendo o nome de seu pai.

4. Em seu depoimento pessoal, a recorrente afirmou que reside na propriedade de 10 alqueires pertencente a suagenitora; que o plantio executado é apenas de café, encontrando-se plantado 25 mil pés de café; informou ser casada, quepossui 02 filhos e que o marido é caminhoneiro. Afirmou, ainda, que em tempo de colheita o marido ajuda e contratapessoas; fora a época de colheita fica em casa, pois não aguenta mais subir morro por ser deficiente, motivo pelo qual temficado mais em casa; que deixou de trabalhar na roça há cerca de 08 (oito) anos, pois não está mais suportando o laborrural. As testemunhas ouvidas disseram conhecer a recorrente há, no mínimo, 30 anos, e que a mesma exerce

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continuamente com muito esforço o labor rural, trabalhando sempre na roça.

5. Ao se analisar todo o contexto probatório colacionado aos autos, fixo as seguintes premissas: encontra-sepresente o início de prova material; a parte autora afirmou enfaticamente, em seu depoimento, que deixou o labor rural hácerca de 08 (oito) anos; as testemunhas ouvidas foram contraditórias e afirmaram que a autora continua exercendo o laboragrícola hodiernamente; a própria recorrente se contradisse ao afirmar que o cônjuge era caminhoneiro e logo depoisacrescentar que o mesmo exercia sua atividade na roça conduzindo trator; a prova testemunhal não tem o condão decorroborar o frágil início de prova material coligido aos autos.

Sendo assim, entendo que a autora não faz jus à concessão do benefício e sua posterior conversão em aposentadoria porinvalidez. Por certo, restou constatada a desarmonia entre o depoimento pessoal e os relatos das testemunhas, enquanto arecorrente informou o abandono do labor rural, as testemunhas afirmaram, reiteradamente, o exercício atual e contínuo delabor agrícola, motivo pelo qual não se pode considerar a prova testemunhal para fim de corroborar o parco e frágil início deprova material, composto por documentos que atestam tão somente a existência de contrato de parceria firmado entre mãee filha e uma antiga escritura de compra e venda referente ao terreno adquirido pelo genitor da parte autora.

6. Posto isso, conheço do recurso da autora e a ele nego provimento.

Custas ex lege. Sem condenação em honorários advocatícios tendo em vista o deferimento dos benefícios da assistênciajudiciária gratuita.

É como voto.

Pablo Coelho Charles Gomes2º Juiz Relator da 1ª Turma Recursal

[Ato judicial assinado eletronicamente, nos termos do parágrafo único do artigo 164 do Código de Processo Civil. Acertificação digital consta na parte inferior da página]

14 - 0000210-86.2010.4.02.5051/01 (2010.50.51.000210-0/01) (PROCESSO ELETRÔNICO) PEDRO APARECIDO DASILVA (ADVOGADO: EDSON ROBERTO SIQUEIRA JUNIOR.) x INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS(PROCDOR: RODRIGO STEPHAN DE ALMEIDA.).PROCESSO: 0000210-86.2010.4.02.5051/01 (2010.50.51.000210-0/01)

VOTO/EMENTA

1. Trata-se de recurso inominado interposto pelo autor, PEDRO APARECIDO DA SILVA (agricultor, nascido em27/10/1987), em face da sentença de fls. 48/49 que julgou improcedente o pedido de concessão de benefício deauxílio-doença, por não ter restado comprovada a incapacidade do autor. Em suas razões recursais, a parte autora sustentaque estava incapaz no período de 14/11/2007 a 31/07/2008, conforme se abstrai dos documentos de fls. 34/35. Além disso,afirma que a perícia foi realizada muito tempo depois, e, por este motivo, não reconheceu a incapacidade do recorrente.

2. Conquanto a inicial mencione, equivocadamente, que o pedido teria sido indeferido em face da não constatação deincapacidade laborativa, do ato administrativo de indeferimento do benefício (fls. 12, 14 e 33) se abstrai que o estadoincapacitante do autor é fato incontroverso, uma vez que foi reconhecido pelo próprio INSS, que indeferiu o benefício emrazão da incapacidade ser anterior à qualidade de segurado (fl. 33). As perícias administrativas, realizadas em 09/01/2008 e26/02/2008 (fls. 34 e 35), constataram que existe incapacidade laborativa.

3. Depreende-se, pois, que a discussão cinge-se à qualidade de segurado do autor. Tanto é assim que a própria autarquiaré, em sua peça contestatória, limitou-se a impugnar a qualidade de segurado do recorrente, não questionando em nenhummomento o estado incapacitante deste. Com efeito, argumenta que o autor só apresenta provas de sua condição detrabalhador rural até o ano de 2004, sendo que o início da incapacidade, conforme perícia médica do INSS, se deu em14/11/2007, ressaltando que o contrato de parceria agrícola juntado aos autos está datado de 26/11/2007, sendo, portanto,posterior à data de início da incapacidade.

4. A produção de prova pericial em juízo era, portanto, dispensável. Ressalte-se, por oportuno, que, conquanto a períciajudicial tenha concluído não haver incapacidade, foi realizada em 30/06/2010 (fl. 40), muito tempo depois das períciasadministrativas e da data de início da incapacidade nelas fixada.

5. Diante dos fatos acima expostos, verifica-se que o juízo de primeiro grau analisou, na sentença, somente o estadoincapacitante do autor, enquanto a controvérsia cinge-se à sua qualidade de segurado na data de início da incapacidade járeconhecida pelo INSS.

6. Pelo exposto, ANULO A SENTENÇA e determino o retorno dos autos ao juizado de origem a fim de que outra sejaproferida, com análise da matéria tratada na contestação, qual seja, qualidade de segurado do autor na data de início daincapacidade.

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Pablo Coelho Charles Gomes2º Juiz Relator da 1ª Turma Recursal

[Ato judicial assinado eletronicamente, nos termos do parágrafo único do artigo 164 do Código de Processo Civil. Acertificação digital consta na parte inferior da página]

15 - 0000090-43.2010.4.02.5051/01 (2010.50.51.000090-4/01) (PROCESSO ELETRÔNICO) INSTITUTO NACIONAL DOSEGURO SOCIAL - INSS (PROCDOR: VINICIUS DOMINGUES FERREIRA.) x DANIEL DA SILVA (ADVOGADO: JOSEIRINEU DE OLIVEIRA, BRUNA MARCHIORI, PRISCILLA THOMAZ DE OLIVEIRA, ARLETE AUGUSTA THOMAZ DEOLIVEIRA.).PROCESSO: 0000090-43.2010.4.02.5051/01 (2010.50.51.000090-4/01)

V O T O - E M E N T A

1. Trata-se de recurso inominado, interposto pelo INSS, em face da sentença de fls. 122/124, que julgou procedenteo pedido inicial, condenando o INSS a restabelecer o benefício de auxílio-doença desde a data da cessação, em30/09/2009. Alega o recorrente que o perito judicial asseverou a existência de incapacidade parcial e definitiva e ressaltou apossibilidade de reabilitação, o que comprova o não preenchimento do requisito da incapacidade laborativa total. Aduz,subsidiariamente, que o laudo judicial não identificou a data de início da incapacidade, sendo devido o benefícioprevidenciário somente a partir da sua juntada aos autos, sendo que, na referida data de juntada (06/07/2011), o autor jánão detinha mais a qualidade de segurado, motivo pelo qual não faz jus ao benefício pleiteado. Requer a reforma dasentença, julgando-se improcedente o pedido inicial.

2. O autor recebeu o benefício de auxílio-doença entre 09/03/2006 e 16/06/2006, e 21/11/2006 e 30/09/2009.Atualmente vem recebendo a prestação previdenciária por força da antecipação dos efeitos da tutela determinada pelasentença a quo, que fixou a DIB em 30/09/2009. Teve o último vínculo empregatício na empresa Anna Castro Distribuidorade Colchões Ltda-ME, entre 01/04/2005 e 15/09/2005. Na peça inicial indicou ser “motorista”. Nasceu em 09/02/1956.

3. Trouxe aos autos os seguintes laudos e exames médicos do período controverso (após a cessação doauxílio-doença): laudo médico (fl. 49 – 14/12/2009) atestando insuficiência cardíaca, doença crônica, degenerativa eincurável, sintomática, com impossibilidade de trabalho (CID I50); atestado médico (fl. 50 – 14/12/2009) indicandoinsuficiência cardíaca (CID I50) e hipertensão arterial (CID I10), com impossibilidade de desempenhar a função demotorista; laudo médico (fl. 91 e 93 – 27/04/2011) indicando insuficiência cardíaca congestiva grave e hipertensão arterialgrave, com incapacidade para o trabalho; exame de ecocardiograma (fl. 20) e testes ergométricos (fls. 28/33). Ressalto queos demais laudos e exames constantes dos autos referem-se a período anterior à cessação do benefício, quando aincapacidade era reconhecida pelo INSS.

4. A perícia médica judicial (fls. 88/89) foi realizada em 29/04/2011. O perito diagnosticou hipertensão arterialsistêmica (CID I10), atestando que se trata de doença crônica com componentes hereditários e degenerativos,necessitando de uso regular e contínuo de medicação anti-hipertensiva, além de acompanhamento ambulatorial regular.Destacou que o autor é incapaz para o trabalho braçal pesado, inclusive para sua atividade habitual de motorista, podendoser reabilitado para o exercício de outras funções que não necessitem desse tipo de labor braçal.

5. Ao se analisar todo o contexto probatório colacionado aos autos, fixo as seguintes premissas: o perito atestou ainaptidão laboral parcial e definitiva do autor, destacando a sua incapacidade para o trabalho braçal pesado, inclusive para aatividade habitual de motorista; o expert asseverou a possibilidade de reabilitação e não soube precisar a data de início daincapacidade; há, nos autos (fls. 76/84), laudos periciais do INSS, que atestam histórico clínico de doença cardíacahipertensiva, concluindo pela incapacidade laboral do autor; atualmente, o autor tem 57 anos de idade; com experiênciaprofissional limitada e condição de saúde grave.

Sendo assim, entendo que o autor faz jus ao restabelecimento do auxílio-doença nos exatos termos exarados pelasentença de piso. As conclusões do expert asseguram a necessidade de restabelecimento do benefício à parte autora. Oslaudos médicos particulares confirmam que o autor estava incapaz no período próximo à cessação do benefício. Ademais,os laudos periciais do INSS atestam o contínuo estado de incapacidade laboral do autor decorrente das mesmas patologiasconstatadas pelo perito judicial.

6. Posto isso, conheço do recurso do INSS e a ele nego provimento.

Custas ex lege. Condeno o recorrente ao pagamento de honorários advocatícios, que ora arbitro em 10% sobre o valor dacondenação.

É como voto.

Pablo Coelho Charles Gomes2º Juiz Relator da 1ª Turma Recursal

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[Ato judicial assinado eletronicamente, nos termos do parágrafo único do artigo 164 do Código de Processo Civil. Acertificação digital consta na parte inferior da página]

16 - 0006654-41.2010.4.02.5050/01 (2010.50.50.006654-2/01) (PROCESSO ELETRÔNICO) ANTONIA NUNES DEAMORIM (DEF.PUB: RODRIGO PIRES CARVALHO.) x INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS(PROCDOR: Isabela Boechat B. B. de Oliveira.).PROCESSO: 0006654-41.2010.4.02.5050/01 (2010.50.50.006654-2/01)

V O T O / E M E N T A

1. Trata-se de recurso inominado, interposto por ANTONIA NUNES DE AMORIM (54 anos de idade, profissão: do lar), emface da sentença de fl. 110/112, que julgou improcedente o pedido de concessão de auxílio-doença e posterior conversãoem aposentadoria por invalidez, por entender que a autora está apta ao trabalho. Alega a recorrente que é portadora deproblemas psiquiátricos que a tornam impossibilitada de exercer suas atividades laborais. Sustenta que o juiz baseou suasentença exclusivamente no laudo técnico elaborado pelo médico perito, ignorando o farto conjunto probatório constantedos autos. Requer, por fim, a reforma da sentença com o consequente deferimento do benefício de auxílio-doença e suaposterior conversão em aposentadoria por invalidez.

2. Verifica-se em consulta ao CNIS que a autora contribuiu para o RGPS, como contribuinte individual, no período de10/2008 a 03/2012. A ação foi ajuizada em 17/12/2010.

3. A perícia judicial foi realizada em 29/07/2011 por médico psiquiatra. Conforme laudo técnico pericial, a autora apresentadoença mental (transtorno depressivo - CID 10 F32), mas esta não gera sua incapacidade para o trabalho habitual. Afirmouo perito que a autora apresentou-se lúcida, orientada no tempo e no espaço, calma, coerente, cooperativa e sem distúrbiosdo comportamento ou alterações do senso-percepção dignas de nota. Atestou, ainda, que a percepção da realidade daautora não está prejudicada; não há presença de sinais ou sintomas psicóticos, como delírios ou alucinações; está comjuízo crítico e consciência preservada e sem sonolência. Concluiu que a recorrente não está incapacitada para o trabalho.Fundamentou sua resposta no exame clínico, anamnese psiquiátrica e análise dos documentos médicos apresentados.

3. Constam nos autos as fichas de atendimento médico ambulatorial/hospitalar de datas diversas de 1990 a 2010 (fls.15/23). A autora juntou, ainda, receituários médicos às fls. 37/44.

4. A perícia médica judicial foi clara ao afastar a incapacidade da autora. Esta, por sua vez, não comprovou em momentoalgum que está incapaz para o trabalho, apenas comprovou que sofre de depressão. Vale dizer, ainda, que o médico peritoconsiderou não apenas o exame clínico, mas também os documentos médicos apresentados pela autora.

5. É evidente a presença de doença que acomete a autora, porém, cabia-lhe demonstrar a incapacidade, o que nãoocorreu. Afinal, um indivíduo pode estar acometido de algum tipo de doença e, ainda assim, não estar incapacitado para oexercício de uma atividade específica. Por derradeiro, na hipótese vertente, as condições pessoais da recorrente (idade,condição social, grau de instrução, etc.), em cotejo com os demais elementos de prova dos autos, não têm o condão dealterar a conclusão jurisdicional adotada pelo magistrado.

6. Recurso conhecido e improvido. Sentença mantida.

7. Custas ex lege. Sem condenação em honorários advocatícios, uma vez que a recorrente é beneficiária da assistênciajudiciária gratuita (fl. 31).

É como voto.

Pablo Coelho Charles Gomes2º Juiz Relator da 1ª Turma Recursal

[Ato judicial assinado eletronicamente, nos termos do parágrafo único do artigo 164 do Código de Processo Civil. Acertificação digital consta na parte inferior da página]

17 - 0006551-34.2010.4.02.5050/01 (2010.50.50.006551-3/01) (PROCESSO ELETRÔNICO) INSTITUTO NACIONAL DOSEGURO SOCIAL - INSS (PROCDOR: THIAGO COSTA BOLZANI.) x ROGERIO DOS SANTOS ROSA (ADVOGADO:MARIA ELIANA SOUZA.).PROCESSO: 0006551-34.2010.4.02.5050/01 (2010.50.50.006551-3/01)

VOTO-EMENTA

1. Trata-se de recurso inominado interposto pelo INSS em face da sentença de fls. 248/255, que julgou procedente o pleitoinicial, para o fim de restabelecer o benefício de auxílio-doença desde a data da cessação do benefício (30/11/2008) até adata da sentença (17/01/2012) e convertê-lo em aposentadoria por invalidez com DIB (data de início do benefício) em17/01/2012. Em suas razões recursais, o INSS trouxe cópia de decisão prolatada pela TNU (Turma Nacional deUniformização), sustentando o entendimento de que se deve buscar, no caso de HIV assintomático, por sinais exteriores dadoença, e, em não havendo tais sinais, deva ser julgado improcedente o pedido. Aduz que a perícia judicial foi clara ao

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afirmar que o paciente estava bem, corado, lúcido, orientado e com pressão arterial normal, portanto, sem sinais exterioresda doença. Destaca, ainda, o entendimento jurisprudencial de que as pessoas portadoras de HIV estão isentas apenas documprimento da carência, devendo ser verificada a incapacidade laborativa. Por fim, alega que a grave enfermidade nãoacarreta restrição laborativa definitiva e para toda atividade. A parte autora apresentou contrarrazões, pugnando pelamanutenção da sentença.

2. O período de carência e a qualidade de segurado são incontroversos nos autos. A controvérsia cinge-se, assim, àaferição da incapacidade do autor, considerando-se a especificidade do seu estado de saúde (portador da Síndrome daImunodeficiência Adquirida – SIDA), bem como os transtornos psiquiátricos que o afligem.

3. O autor, porteiro (fl. 13), atualmente com 39 anos de idade, recebeu o benefício de auxílio-doença nos períodos de23/08/2000 a 30/01/2004; 05/02/2004 a 18/04/2004; 04/10/2004 a 09/10/2006; 22/02/2007 a 30/11/2008, quando foicessado (fl. 247), tendo sido indeferidos os benefícios posteriormente requeridos, tendo em vista parecer contrário daperícia médica. Em consulta ao CNIS, verifica-se a existência de vínculos empregatícios nos períodos de 13/04/1993 a01/10/1993; 13/11/1996 a 07/02/1997; 20/01/2000 a 01/12/2011; bem como recolhimentos como contribuinte individual emjunho, agosto e setembro de 2013.

4. Especifico a seguir os seguintes documentos probatórios das condições de saúde trazidos pelo recorrente:

FolhaTipoDataConclusão

14Ficha Médica

Sem DataFicha de Controle de imunobiológicos especiais, tendo como motivo para sua utilização a imunodeficiência adquirida.

15Formulário de MedicamentosSem DataFormulário de solicitação de alguns medicamentos anti-retrovirais, em virtude da existência de AIDS.

49Atestado Médico02/12/2004Médico atesta a existência de HIV (CID 10: B24) e que o paciente encontra-se em tratamento desde 05/06/2002.

50Declaração Médica02/11/2004Médico declara que paciente iniciou tratamento desde 02/02/2004 e que este encontra-se com transtornos mentais (CID 10:F19.5). Descreve alguns medicamentos utilizados e necessidade de afastamento do trabalho.

51Laudo Médico08/12/2004Ilegível.

52Laudo Médico09/12/2004Paciente relata que se mantêm em uso de medicamentos psiquiátricos. Relata não possuir condições de trabalho. Emacompanhamento com infectologista e psiquiatria.

54Formulário de Medicamentos15/02/2008Formulário de solicitação de alguns medicamentos anti-retrovirais contra AIDS.

55Formulário de Medicamentos12/06/2007Formulário de solicitação de alguns medicamentos anti-retrovirais. Paciente com AIDS.

56

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Laudo Médico28/11/2008Médico relata paciente com infecção pelo vírus da Imunodeficiência Adquirida –HIV (CID 10: B24), em tratamento nohospital, apresentando algumas doenças oportunistas como distúrbios de atenção e quadro psiquiátrico. Médico descrevealguns medicamentos utilizados pelo paciente.

58Laudo Médico16/01/2009Médico informa que paciente encontra-se infectado (HIV) e em tratamento desde 16/03/2005, com algumas doençasconcomitantes, como doença psiquiátrica. Afirma que o estado clínico atual é assintomático e descreve algunsmedicamentos utilizados.

59Laudo Médico23/03/2009Médico relata paciente com HIV, apresentando algumas doenças oportunistas, como distúrbio psiquiátrico e ansiedade, euso de alguns medicamentos.

60Laudo Médico20/07/2009Médico relata paciente com HIV, apresentando algumas doenças oportunistas, como distúrbio psiquiátrico, e uso de algunsmedicamentos.

61 e 118Laudo Médico07/05/2009Médico informa que paciente encontra-se infectado (HIV) e em acompanhamento desde 09/05/2007, com algumas doençasconcomitantes, como doença psiquiátrica. Afirma que o estado clínico atual é controle mensal e ansiedade; por fim,descreve alguns medicamentos utilizados.

62 e 86Declaração Médica17/05/2006Médico declara paciente com transtornos psicóticos (CID 10: F28) e uso de medicamentos. Faz referência à apresentaçãode incapacidade permanente para o trabalho e necessidade de tratamento por tempo indeterminado.

63 e 72Laudo Médico06/12/2006Médico informa que paciente encontra-se infectado (HIV) e em acompanhamento desde 06/12/2006, com algumassintomas concomitantes, como diarreia. Afirma que o estado clínico atual é estável, sem infecção secundária.

64Relatório de Tratamento10/01/2007Terapeuta relata paciente com histórico de abstinência no uso de substâncias psicoativas. Avaliado em 26/02/2004 comCID F19.5 e F28, após medicação, apresentou melhoras; porém, em decorrência de alguns acontecimentos, voltou a tercrises psicóticas. Passou por reavaliação psiquiátrica e lhe foi receitado alguns medicamentos.

65, 76 e 82Declaração Médica14/04/2004Declaração de que o recorrido é usuário do Centro de Atenção ao Dependente Químico com CID F19, estando emtratamento e uso de medicações.

70Atestado Médico13/05/2009Médico atesta paciente com HIV (CID 10: B24), com condições de locomoção.

78 e 99Relatório Médico27/03/2006Relatório contêm informações como o início do tratamento anti-HIV na unidade psiquiátrica em 05/06/2002. Há ainformação também de que o paciente é assintomático e esteve em uso de medicamentos psiquiátricos receitados naUnidade de Psiquiatria em 29/07/2004.

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79 e 100Relatório Médico08/05/2006Relatório contêm informações como o início do tratamento anti-HIV na unidade psiquiátrica em 05/06/2002. Há ainformação também de que o paciente é assintomático e esteve em uso de medicamentos psiquiátricos receitados naUnidade de Psiquiatria em 29/07/2002.

81Relatório Médico09/09/2004Relatório contêm informações como o início do tratamento anti-HIV na unidade psiquiátrica em 05/06/2002. Há ainformação também de que o paciente é assintomático e esteve em uso de medicamentos psiquiátricos receitados naUnidade de Psiquiatria em 29/07/2004.

83Laudo Médico14/04/2004Sem assinatura e Sem carimbo do médico.

84Atestado Médico07/04/2004Médico atesta paciente com HIV (CID 10: B24), com condições de locomoção. Em tratamento desde 05/06/2002.

87 e 116Receituário Médico17/05/2006Médico prescreve medicamentos.

88Laudo Médico19/04/2004Médico atesta que o paciente é portador de SIDA (Síndrome da Imunodeficiência Adquirida). Em uso de medicamentos.Médico destaca a incapacidade e que não há condições de trabalho.

93 e 108Laudo Médico03/02/2004Médico apenas sintetiza aquilo que o autor relata, como fortes dores em membro superior direito, HIV (CID B24) e que usamedicamentos, os quais lhe provocam sonolência. O autor também nega condições de trabalho.

95Atestado Médico16/03/2005Médico atesta a existência de HIV (CID 10: B24) e que o paciente encontra-se em tratamento desde 05/06/2002. Comcondições de locomoção.

96Declaração Médica10/03/2005Médico declara paciente com transtornos mentais (CID F28 e F19.5) e as medicações pertinentes. Assinala, ainda, aincapacidade permanente para o trabalho e a necessidade de tratamento por tempo indeterminado.

97Receituário Médico10/03/2005Médico prescreve medicamentos.

98Receituário Médico25/03/2004Médico prescreve medicamentos.

101Laudo Médico19/02/2008Médico descreve a existência de SIDA (CID B24) e que o autor apresenta distúrbios psiquiátricos. Destaca o uso de

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algumas medicações.

117Laudo Médico30/04/2009Médico descreve a existência de transtornos mentais (CID F19.2).

5. A perícia médica judicial de fl. 166, realizada em 06/04/2011 por médica clínica geral, constatou que o autor é portador daSíndrome da Imunodeficiência Adquirida (SIDA). Em resposta ao quesito nº 09, o expert asseverou não haver incapacidadelaboral, visto que a terapia anti-retroviral tem um papel primordial no controle da doença relacionada com HIV. Por sua vez,a perícia médica judicial realizada por médico psiquiatra em 01/09/2011 (fls. 186/189), atestou a inexistência de doençamental (quesito nº 01).

6. Quanto à alegação de incapacidade laboral decorrente de Síndrome da Imunodeficiência Adquirida, destaco que apossibilidade de concessão do benefício ao portador de HIV nos casos em que não há desenvolvimento de sintomas não équestão pacífica na jurisprudência. Existem diversos julgados no sentido da possibilidade da concessão, sob o fundamentode uma espécie de incapacidade social, decorrente do estigma trazido pelo portador do HIV. Por outro lado, existemjulgados em sentido contrário, entendendo incabível a concessão se não preenchidos os requisitos da incapacidade para otrabalho, nos termos da legislação previdenciária. Não se deve prestigiar a primeira corrente, pois, se num primeiromomento aparentemente protege o segurado contra o preconceito ainda persistente na sociedade, em um segundo planofomenta esse mesmo preconceito na medida em que desencoraja os portadores de HIV a se afirmarem enquantoindivíduos plenos, sujeitos de direitos e obrigações, como qualquer cidadão. Ademais, a legislação trabalhista (portaria nº1.249/2010 do M.T.E., consubstanciada na Lei nº 9.029/95) veda às empresas o teste de HIV na admissão do trabalhador,motivo pelo qual inexiste qualquer constrangimento no ambiente laboral. Assim, parece-me que a segunda corrente traduzefetivamente a melhor opção para o caso em apreço. Não é demais lembrar que o trabalho constitui a base de toda aordem social (CF, art. 193) e que, para além da discussão jurídica suscitada, é elemento socializante e terapêutico,podendo contribuir para a superação dos obstáculos e eventuais dificuldades advindas da doença.

7. Quanto aos transtornos psiquiátricos, também não assiste razão à parte autora. Em que pese a grande quantidade delaudos médicos particulares juntados pela parte, não há parecer médico relativo ao período da cessação do benefício, quecomprove que o referido ato administrativo tenha sido indevido. Há laudos datados em período próximo ao da referidacessação, mas estes não atestam a existência de efetiva incapacidade laboral decorrente dos transtornos mentais.Ademais, vale ressaltar que as decisões administrativas do instituto previdenciário gozam de presunção de veracidade, demodo que, os laudos de médico assistente atestando tão somente a existência de patologia em períodos distintos não têmo condão de desqualificar os atos e decisões efetivados pela entidade autárquica num dado momento. Neste sentido, olaudo do perito judicial foi enfático em asseverar a total inexistência de patologia psíquico-neurológica que estivesseincapacitando o recorrido à época da perícia.

8. Ante o exposto, CONHEÇO DO RECURSO DO INSS E A ELE DOU PROVIMENTO, para reformar a sentença e julgarimprocedente o pedido.

9. Ante o caráter alimentar dos valores recebidos a título de antecipação de tutela, os valores não deverão ser restituídos(Enunciado nº 52 das Turmas Recursais do Espírito Santo).

10. Custas ex lege. Sem condenação em honorários advocatícios.

É como voto.

Pablo Coelho Charles Gomes2º Juiz Relator da 1ª Turma Recursal[Ato judicial assinado eletronicamente, nos termos do parágrafo único do artigo 164 do Código de Processo Civil. Acertificação digital consta na parte inferior da página]

18 - 0006394-61.2010.4.02.5050/01 (2010.50.50.006394-2/01) (PROCESSO ELETRÔNICO) THEREZINHA LOPES(DEF.PUB: LIDIANE DA PENHA SEGAL.) x INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS (PROCDOR: JOSÉGUILHERME BARBOSA DE OLIVEIRA.) x OS MESMOS.PROCESSO: 0006394-61.2010.4.02.5050/01

VOTO-EMENTA

1. Insurgem-se as partes autora e ré contra sentença que julgou parcialmente procedente a pretensão deduzida na inicial,para condenar o INSS a restabelecer o auxílio-doença desde a sua cessação (17/05/2010).

A autora (primeira recorrente), em suas razões recursais, sustenta que suas limitações físico-funcionais, idade avançada ebaixo grau de instrução (analfabeta) denotam elevado risco social e incapacidade permanente para o trabalho. Assim,requer a conversão do benefício de auxílio-doença em aposentadoria por invalidez.

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Por sua vez, o INSS (segundo recorrente) alega que a data de inicio da incapacidade deve ser fixada na data da juntada dolaudo pericial. Argumenta que o fato da parte autora ser portadora de doença não induz sua incapacidade e que não háprova de incapacidade desde a cessação administrativa. Argumenta, ainda, que os atestados médicos particulares nãoservem para afastar as conclusões da perícia judicial, vez que produzidos unilateralmente.

2. A autora, auxiliar de serviços gerais, atualmente com 55 anos de idade, recebeu benefício de auxílio-doença nosperíodos de 03/06/2004 a 10/02/2006, 24/03/2006 a 30/11/2006 e 15/07/2007 a 17/05/2010, tendo sido negado o benefíciorequerido em 10/11/2010 (fls. 57/59). Em consulta ao CNIS, verifica-se a existência de vínculos empregatícios nos períodosde 09/06/1983 a 07/1983, 27/01/1992 a 02/1992, 14/08/1992 a 12/10/1992, 28/01/1998 a 11/1998, 28/10/1998 a 15/07/2000e 08/01/2001 a 17/08/2002. Consta, ainda, da CTPS outros vínculos empregatícios, nos períodos de 02/02/1988 a05/02/1992 (fl. 18), 04/05/1995 a 12/07/1995 (fl. 19).

3. Na perícia médica judicial (fls. 48/56), realizada em 17/03/2011 por médico neurocirurgião, a autora foi diagnosticada comepilepsia, além de poliartrite soro negativa, disfunção cerebral que leva a descargas neuronais dissincrônicas. A autora, nomomento do exame pericial, não possui aptidão física e mental para exercer sua atividade habitual, não atingindo a médiade rendimento alcançada, em condições normais, pelos trabalhadores da mesma categoria profissional, pois encontra-secom crises convulsivas não controladas, causando risco iminente de crise. O perito entendeu que não existe incapacidadepara o trabalho de forma absoluta, mas sim para atividades com funções específicas, por exemplo, atividades realizadasnas alturas, operação de máquina e motorista. Em resposta a quesito complementar referente ao prazo médio de controleda doença, afirma o perito que cerca de 20 % das crises são de difícil controle ou incontroláveis e que, habitualmente, após12 meses de tratamento adequado e acompanhamento otimizado, é possível determinar se há controle para o quadroconvulsivo.

4. Pelo que se extrai do laudo pericial (fls. 48/56 e 72/74), pode-se depreender que a autora encontra-se em quadroconvulsivo de difícil controle (fl. 74 – quesito nº 4 e fl. 54 – quesito nº 9) e sem previsão ou aparente probabilidade de cura,mas com possibilidade de exercer outras atividades compatíveis com sua doença. Assim é que entendo devido apenas obenefício de auxílio-doença, até que seja controlado o estado de saúde da autora, não fazendo jus, portanto, ao benefíciode aposentadoria por invalidez.

5. O perito do juízo eximiu-se de precisar a data de início da incapacidade laborativa. Em casos assim, vêm decidindoreiteradamente nossos tribunais pela fixação da DIB (Data de Início do Benefício) na data do laudo. Ocorre que o presenteprocesso está instruído com farta documentação anterior ao exame do perito. O atestado médico de fl. 35 certifica que aautora está incapacitada, por tempo indeterminado, de exercer suas atividades profissionais desde 03/05/2010. O atestadosubscrito por médico particular é aceitável porque, embora não esteja compromissado com o juízo, revela conclusãocompatível com aquela a que chegou o perito. No mesmo sentido, foi o que fez o juiz a quo: “Para suprir a lacuna do laudopericial, levo em conta os exames e atestados médicos de fls. 30, 31, 33, 34, 35, datados, respectivamente, de 4/9/2010,13/10/2010 e 18/8/2010, 8/6/2010, 3/5/2010, com conclusão convergente com a do laudo pericial. Infiro, assim, que ainaptidão laboral não sofreu solução de continuidade após o cancelamento do benefício”.

6. Ante o exposto, CONHEÇO DOS RECURSOS E, NO MÉRITO, NEGO-LHES PROVIMENTO.

7. Custas na forma da lei. Sem condenação em honorários advocatícios, tendo em vista a sucumbência recursal recíproca,a teor do disposto no art. 55 da Lei nº 9.099/95 e no art. 21 do CPC.

É como voto.

Pablo Coelho Charles Gomes2º Juiz Relator da 1ª Turma Recursal

[Ato judicial assinado eletronicamente, nos termos do parágrafo único do artigo 164 do Código de Processo Civil. Acertificação digital consta na parte inferior da página]

19 - 0005399-48.2010.4.02.5050/01 (2010.50.50.005399-7/01) (PROCESSO ELETRÔNICO) NADIR LUCAS FERREIRA(ADVOGADO: DICK CASTELO LUCAS.) x INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS (PROCDOR: TELMASUELI FEITOSA DE FREITAS.).PROCESSO: 0005399-48.2010.4.02.5050/01 (2010.50.50.005399-7/01)

VOTO-EMENTA

Trata-se de embargos de declaração opostos pela parte autora em face do acórdão de fls. 73/75, que negou provimento aorecurso inominado por ela interposto, mantendo a sentença que julgou improcedente pedido de concessão deauxílio-doença. Alega a embargante que a interpretação do voto no sentido de que a embargante refiliou-se ao INSS emjaneiro de 2009 e quando readquiriu a qualidade de segurada já se encontrava incapaz para o trabalho pauta-se emhipótese, eis que o relator deve ter usado tal data como provável ante a ausência da data de início da incapacidade noprontuário médico acostado aos autos. Aduz que está regularmente registrada no Ministério da Pesca e Agricultura comopescadora profissional artesanal desde 22/03/2007, conforme certidão anexa aos embargos.Os embargos de declaração têm como requisito de admissibilidade a indicação de algum dos vícios previstos no art. 535 doCPC e no art. 48 da Lei nº 9.099/95, constantes do decisum embargado, não se prestando, portanto, a novo julgamento da

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matéria posta nos autos, tampouco ao mero prequestionamento de dispositivos constitucionais para a viabilização deeventual recurso extraordinário, porquanto visam, unicamente, completar a decisão quando presente omissão de pontofundamental, contradição entre a fundamentação e a conclusão ou obscuridade nas razões desenvolvidas.Os presentes embargos sequer apontam em que consistiriam as omissões e contradições, impugnando, na verdade, oentendimento adotado no acórdão embargado.Consta expressamente do acórdão (item 5) que a recorrente filiou-se ao RGPS em janeiro de 2009, tendo recolhido seiscontribuições até junho do mesmo ano (item 5). Consta, ainda, no item 6, que os prontuários médicos juntados aos autos(fls. 26/36), a requerimento do INSS, indicam que a recorrente, desde 27/05/2004, alegava dificuldade de deambulação,com perda de força. Há, ainda, relatos que sugerem AVE (acidente vascular encefálico) em 2002, com 03 (três) dias deinternação. O prontuário médico segue relatando inúmeras doenças a partir de 2004. Portanto, não há que se falar emomissão ou contradição por não haver em tais prontuários a data de início da incapacidade. Também não faz sentidoconsiderar omisso o acórdão em razão da certidão anexada aos embargos, que pretende comprovar filiação em 2007,tendo em vista as datas constantes dos prontuários, expressamente mencionadas no acórdão.Não restou, assim, caracterizada nenhuma das hipóteses legais previstas para oposição de embargos declaratórios,descabendo a utilização de dito recurso para modificação do julgado. Na verdade, busca o embargante rediscutir, na viados embargos de declaração, a matéria já apreciada em sede de recurso inominado.Embargos conhecidos e improvidos, em razão da inexistência de vício a ser sanado.É como voto.

Pablo Coelho Charles Gomes2º Juiz Relator da 1ª Turma Recursal

[Ato judicial assinado eletronicamente, nos termos do parágrafo único do artigo 164 do Código de Processo Civil. Acertificação digital consta na parte inferior da página]

20 - 0005124-02.2010.4.02.5050/01 (2010.50.50.005124-1/01) (PROCESSO ELETRÔNICO) IRENE BROZEGHINI DEJESUS (ADVOGADO: JEANINE NUNES ROMANO, PATRICIA NUNES ROMANO, ROGÉRIO NUNES ROMANO,PATRÍCIA CAMPOS.) x INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS (PROCDOR: ELZA ELENA BOSSOESALEGRO OLIVEIRA.).PROCESSO: 0005124-02.2010.4.02.5050/01 (2010.50.50.005124-1/01)

VOTO-EMENTA

Trata-se de embargos de declaração opostos pela parte autora em face do acórdão de fls. 110/113, que negou provimentoao recurso inominado por ela interposto, mantendo a sentença que julgou improcedente pedido de restabelecimento deauxílio-doença ou concessão da aposentadoria por invalidez. Alega a embargante, para efeito de prequestionamento, que oacórdão contém omissão acerca do cerceamento de defesa, uma vez que os quesitos suplementares serviriam paraelucidar os fatos e não apenas sobre a existência de uma perícia anterior, bem como contradição, tendo em vista que olaudo pericial reconheceu que a autora é portadora de doenças, entretanto não reconheceu a incapacidade laborativa damesma. Ressalta que ganhou um processo anteriormente, no qual o perito entendeu que se encontrava com incapacidadepermanente e definitiva para o trabalho (processo nº 2006.50.50.000622-0).Os embargos de declaração têm como requisito de admissibilidade a indicação de algum dos vícios previstos no art. 535 doCPC e no art. 48 da Lei nº 9.099/95, constantes do decisum embargado, não se prestando, portanto, a novo julgamento damatéria posta nos autos, tampouco ao mero prequestionamento de dispositivos constitucionais para a viabilização deeventual recurso extraordinário, porquanto visam, unicamente, completar a decisão quando presente omissão de pontofundamental, contradição entre a fundamentação e a conclusão ou obscuridade nas razões desenvolvidas.Não se configuram a omissão e a contradição apontadas, em vista do que restou expressamente disposto no item 3 dovoto, a seguir transcrito:Preliminarmente, entendo desnecessária a complementação da perícia (laudo às fls. 61/64) com os quesitos suplementaresformulados pela autora às fls. 69/70, considerando que o laudo pericial contém informações suficientes para formar oconvencimento do juízo. A autora insiste que foi considerada definitivamente incapaz em laudo pericial elaborado emprocesso anterior, no qual lhe foi deferido o benefício de auxílio-doença a partir de 12/06/2006. A perícia realizada nesteprocesso deve prevalecer sobre perícia anterior, por constituir prova contemporânea ao julgamento do pedido aquiformulado. Conquanto tenha sido detectada a incapacidade definitiva da autora no laudo anterior, o estado de saúde podesofrer alterações inesperadas, para melhor ou para pior. No presente caso, alguns anos depois, a autora não apresentamais a incapacidade que se julgara definitiva. O laudo pericial acolhido na sentença baseou-se em exame clínico da autorae no exames complementares por ela apresentados, todos datados de 2008 e 2009 (com exceção da tomografia, que é de2004), posteriores, portanto, à perícia realizada no processo anterior, em 2006. Registre-se que a situação da autora foisuficientemente esclarecida pelo perito médico, que é especialista habilitado para realização de perícias de forma imparcial.Não restou, assim, caracterizada nenhuma das hipóteses legais previstas para oposição de embargos declaratórios,descabendo a utilização de dito recurso para modificação do julgado. Na verdade, busca o embargante rediscutir, na viados embargos de declaração, a matéria já apreciada em sede de recurso inominado.Embargos conhecidos e improvidos, em razão da inexistência de vício a ser sanado.É como voto.

Pablo Coelho Charles Gomes2º Juiz Relator da 1ª Turma Recursal

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[Ato judicial assinado eletronicamente, nos termos do parágrafo único do artigo 164 do Código de Processo Civil. Acertificação digital consta na parte inferior da página]

21 - 0001687-50.2010.4.02.5050/01 (2010.50.50.001687-3/01) (PROCESSO ELETRÔNICO) INSTITUTO NACIONAL DOSEGURO SOCIAL - INSS (PROCDOR: GUSTAVO CABRAL VIEIRA.) x ROZIANI PEREIRA SOBRINHO (ADVOGADO:JOAO FELIPE DE MELO CALMON HOLLIDAY.).PROCESSO: 0001687-50.2010.4.02.5050/01 (2010.50.50.001687-3/01)

VOTO-EMENTA

Trata-se de recurso inominado, interposto pelo INSS, em face da sentença de fls. 104/107, que julgou parcialmenteprocedente o pedido inicial para condenar a autarquia ré ao restabelecimento do auxílio-doença desde 25/08/2009, bemcomo ao pagamento dos atrasados a serem corrigidos monetariamente pelo INPC a contar da data que seriam devidos eincidindo juros de mora de 1% ao mês desde o indeferimento administrativo. Recorre o INSS, para ver reformada asentença no que tange à taxa dos juros de mora e de correção monetária e seus respectivos termos iniciais.

É o breve relatório. Passo a votar.

Assiste razão ao recorrente quanto ao seu pedido de fixação do termo inicial dos juros de mora a partir data da citação. Talentendimento encontra-se em conformidade com a Súmula 204 do STJ: “Os juros de mora nas ações relativas a benefíciosprevidenciários incidem a partir da citação válida.” Deste modo, o termo inicial de aplicação dos juros de mora deverá ser06/08/2010 (fl. 47).

Quanto ao pedido de aplicabilidade do art. 1º-F da Lei 9494/97, entretanto, não deve prosperar a alegação do INSS. O art.1º-F foi acrescentado à Lei nº 9.494/97 pela Medida Provisória nº 2.180-35, de 2001, com a seguinte redação: “Art. 1º-F. Osjuros de mora, nas condenações impostas à Fazenda Pública para pagamento de verbas remuneratórias devidas aservidores e empregados públicos, não poderão ultrapassar o percentual de seis por cento ao ano.” O art. 5º da Lei nº11.960/2009 conferiu ao referido dispositivo a seguinte redação: “Art. 1o-F. Nas condenações impostas à Fazenda Pública,independentemente de sua natureza e para fins de atualização monetária, remuneração do capital e compensação damora, haverá a incidência uma única vez, até o efetivo pagamento, dos índices oficiais de remuneração básica e jurosaplicados à caderneta de poupança.”

Verifica-se na “decisão de julgamento” constante do andamento das ADI 4425 e 4357, conforme consulta ao sítio eletrônicodo Supremo Tribunal Federal, que o voto do Ministro Luiz Fux, designado relator para acórdão, declarou ainconstitucionalidade, em parte, por arrastamento, do art. 1º-F da Lei nº 9.494, com a redação dada pelo art. 5º da Lei nº11.960, de 29 de junho de 2009.

Ora, uma vez declarada a inconstitucionalidade da expressão “índice oficial de remuneração básica da caderneta depoupança”, constante do § 12 do art. 100 da CF, do inciso II do § 1º e do § 16, ambos do art. 97 do ADCT, e da expressão“independentemente de sua natureza”, inserido no § 12 do art. 100 da CF, foi declarada também a inconstitucionalidade, porarrastamento, do art. 1º-F da Lei nº 9.494/97, na parte em que reproduz tais expressões, por força do art. 5º da Lei nº11.960, de 29 de junho de 2009, que lhe conferiu nova redação.

Destarte, deixo de acolher tal alegação.

Diante do exposto, a aplicação de juros de mora deverá incidir desde a citação à taxa de 1% ao mês e a correçãomonetária deve permanecer nos termos da sentença ora impugnada.

Recurso do INSS conhecido e PARCIALMENTE PROVIDO, apenas para fixar-se o termo inicial dos juros de mora na datada citação. No mais, mantém-se a sentença.

Custas ex lege. Sem condenação em honorários.

É como voto.

Pablo Coelho Charles Gomes2º Juiz Relator da 1ª Turma Recursal

[Ato judicial assinado eletronicamente, nos termos do parágrafo único do artigo 164 do Código de Processo Civil. Acertificação digital consta na parte inferior da página]

22 - 0001124-56.2010.4.02.5050/01 (2010.50.50.001124-3/01) (PROCESSO ELETRÔNICO) INSTITUTO NACIONAL DOSEGURO SOCIAL - INSS (PROCDOR: JOSÉ GUILHERME BARBOSA DE OLIVEIRA.) x DIEGO WELINGTON FERREIRANOGUEIRA (DEF.PUB: LIDIANE DA PENHA SEGAL.).V O TO / E M E N T ATrata-se de recurso inominado interposto pela Autarquia-Ré, ora recorrente, em face da sentença que julgou procedente opedido inicial, declarando inexistente a relação jurídica que obrigue o autor a restituir os valores recebidos a maior a títulode pensão por morte no período anterior a julho/2009, bem como condenando o INSS a restituir os valores efetivamente já

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descontados. Sustenta a recorrente, em suas razões recursais, que é dever do autor ressarcir os cofres públicos, uma vezque os valores foram recebidos indevidamente, e o benefício conferido a ele deveria ter sido rateado em função daexistência de outro dependente. Alega, ainda, que agiu pautado na Lei (art. 115, II, da Lei nº 8.213/91) ao efetuar descontosnas parcelas e que o fato de o recorrido ter percebido os valores de boa-fé em nada altera o dever de restituir,caracterizando-se o enriquecimento ilícito. Dessa forma, requer seja conhecido e provido o presente recurso, julgando-seimprocedente o pedido.A controvérsia cinge-se à possibilidade de repetição dos valores recebidos a maior até julho/2009 e à restituição destes, emrazão de acumulação pretérita imprópria.O recorrido procedeu ao requerimento administrativo da pensão por morte em 29/08/2008 que, uma vez preenchidos osrequisitos necessários, foi deferido pelo INSS, tornando o benefício perfeitamente devido. Contudo, ao promover a revisãoadministrativa, em julho de 2009, a Autarquia percebeu que o instituidor da pensão tinha outro dependente, a quem tambémjá havia deferido o pedido de pensão por morte em 03/09/2008. Dessa forma, com o devido rateio do benefício entreambos, requereu que o recorrido devolvesse os valores que percebeu a mais da data da instituição (08/2008) até a data darevisão (07/2009).De acordo com o Código Civil a boa-fé é presumida, ao passo que a má-fé tem de ser comprovada, não sendo suficiente amera alegação. Cabe ao INSS a comprovação de tal fato, ato do qual se desincumbiu. É também dever do INSS, nomomento em que foi dada entrada no requerimento administrativo, desdobrar a pensão previamente concedida, pois gozoude tempo mais do que necessário para tanto: foram quase 90 (noventa) dias para promover a concessão do benefício.Em que pese o disposto no art. 15, II da Lei nº 8.213/91, as prestações previdenciárias percebidas de boa-fé pelobeneficiário em razão de erro do INSS são irrepetíveis. Nesse sentido é o entendimento da TNU:PEDIDO DE UNIFORMIZAÇÃO NACIONAL. DIVERGÊNCIA ENTRE TURMAS RECURSAIS DE DIFERENTES REGIÕES.CUMULAÇÃO INDEVIDA DE BENEFÍCIOS DA SEGURIDADE SOCIAL. INEXISTÊNCIA DE MÁ-FÉ DO SEGURADO.IRREPETIBILIDADE. PRECEDENTES. IMPROVIMENTO. 1. Cabe Pedido de Uniformização Nacional quando demonstradaa divergência entre decisões proferidas por Turmas Recursais de diferentes Regiões. 2. O acórdão recorrido determinou acessação do desconto na pensão por morte da parte recorrida motivado na inexistência de má-fé, em que pese orecebimento indevido de benefício assistencial. 3. Não se deve exigir a restituição dos valores que foram recebidos deboa-fé pelo beneficiário da Seguridade Social em decorrência de erro administrativo. Precedentes: STJ, REsp 771.993, 5ªTurma, Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima, j. 03.10.2006, DJ 23.10.2006, p. 351; TRF4, AC 2004.72.07.004444-2, TurmaSuplementar, Rel. Luís Alberto D. Azevedo Aurvalle, DJ 07.12.2007; TRF3, AC 2001.61.13.002351-0, Turma Suplementarda 3ª Seção, Rel. Juíza Giselle França, DJ 25.03.2008. 4. A irrepetibilidade não decorre apenas do dado objetivo que é anatureza alimentar do benefício da Seguridade Social ou do dado subjetivo consistente na boa-fé do beneficiário (que sepresume hipossuficiente). Como amálgama desses dois dados fundamentais, está a nos orientar que não devem serrestituídos os valores alimentares em prestígio à boa-fé do indivíduo, o valor superior da segurança jurídica, que sedesdobra na proteção da confiança do cidadão nos atos estatais. 5. Neste contexto, a circunstância do recebimento a maiorter-se dado em razão de acumulação de benefícios vedada em lei é uma variável a ser desconsiderada, sendodesimportante, outrossim, o valor do benefício. 6. Incidente conhecido e improvido.(TNU - PEDILEF 200481100262066. PEDIDO DE UNIFORMIZAÇÃO DE INTERPRETAÇÃO DE LEI FEDERAL. RelatorJUIZ FEDERAL JOSÉ ANTONIO SAVARIS. Fonte DOU 25/11/2011)

Registro que esse caso diverge daquele recebimento motivado por decisão judicial antecipatória de tutela que,posteriormente, veio a ser revogada; hipótese em que, recentemente, o STJ alterou o seu entendimento para fixar que devehaver restituição.Resta claro, portanto, que a boa-fé constitui limite à pretensão do Estado de obter a restituição de valores indevidamentepagos a beneficiários da Previdência Social.Não se opõe dúvidas de que, no caso concreto, permite-se ao magistrado, intérprete da lei, mitigar seus efeitos à luz dosprincípios constitucionais norteadores do ordenamento jurídico, faculdade de que não dispõe a Administração Pública,mercê da violação ao princípio da legalidade estrita (CF, art. 37 caput).No que diz respeito ao prequestionamento proposto pelo INSS, não vislumbro afronta aos dispositivos citados no recurso,quais sejam: art. 37, da CF/88; art. 77 e 115, I, da Lei 8.213/91; art. 876, do Código Civil.Não merece reparo, portanto, a sentença proferida pelo Juízo a quo.Pelo exposto, CONHEÇO DO RECURSO E A ELE NEGO PROVIMENTO.Sem custas, na forma da lei. Honorários devidos pela parte recorrente, fixados em 10% sobre o valor da condenação, comfulcro no art. 20, §3º, do CPC.

Pablo Coelho Charles GomesJuiz Federal Relator[Ato judicial assinado eletronicamente, nos termos do parágrafo único do artigo 164 do Código de Processo Civil. Acertificação digital consta na parte inferior da página]

23 - 0001034-76.2009.4.02.5052/01 (2009.50.52.001034-5/01) (PROCESSO ELETRÔNICO) INSTITUTO NACIONAL DOSEGURO SOCIAL - INSS (PROCDOR: ANDRE COUTINHO DA FONSECA FERNANDES GOMES.) x JOSE MARIANEGRIS (ADVOGADO: BRUNA NASCIMENTO HONÓRIO.).PROCESSO: 0001034-76.2009.4.02.5052/01 (2009.50.52.001034-5/01)

V O T O - E M E N T A

Trata-se de recurso inominado, interposto pelo INSS, em face da sentença de fls. 68/69, que julgou procedente o pedidoinicial condenando o INSS a implantar o benefício previdenciário de auxílio-doença desde a data do requerimento

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administrativo, a converter o benefício em aposentadoria por invalidez com DIB na data de ajuizamento da presente ação,bem como a pagar os atrasados. Alega o recorrente, em síntese, que não restou comprovada a qualidade de segurado ecumprimento da carência, pugnando pela anulação da sentença.

O Juiz de primeiro grau afirmou na sentença que a qualidade de segurado e a carência são fatos incontroversos. Noentanto, compulsando os autos, não é o que se observa. Tanto é assim que a própria contestação assevera que taisrequisitos só poderão ser aferidos na hipótese de comprovada a incapacidade do autor, pois dependem da DII para seremanalisados (fl. 43, segundo parágrafo), deixando claro que não são fatos incontroversos.

De fato, a qualidade de segurado e o cumprimento da carência devem ser aferidos de acordo com a data de início daalegada incapacidade. No entanto, o Juízo de primeiro grau não o fez.

Quanto às provas documentais constante nos autos (fls. 29/33), vale dizer, constituem mero início de prova material, nãoprescindindo da produção de prova testemunhal, em se tratando de segurado especial.

Pelo exposto, DOU PROVIMENTO ao recurso do INSS para anular a sentença e determinar que outra seja proferida emseu lugar, após a designação de audiência de instrução (deve ser facultado às partes a produção de prova a respeito dosrequisitos qualidade de segurado e carência).

Não obstante a anulação da sentença, em face do caráter alimentar do benefício MANTENHO o capítulo da sentença quedeterminou a ANTECIPAÇÃO DOS EFEITOS DA TUTELA.

Custas ex lege. Sem condenação em honorários advocatícios.

É como voto.

Pablo Coelho Charles Gomes2º Juiz Relator da 1ª Turma Recursal[Ato judicial assinado eletronicamente, nos termos do parágrafo único do artigo 164 do Código de Processo Civil. Acertificação digital consta na parte inferior da página]

24 - 0001297-14.2009.4.02.5051/03 (2009.50.51.001297-7/03) (PROCESSO ELETRÔNICO) MOIZEIS RODRIGUESBARBOSA (ADVOGADO: Rafael Antônio Freitas, SIDINÉIA DE FREITAS DIAS.) x INSTITUTO NACIONAL DO SEGUROSOCIAL - INSS (PROCDOR: JULIANA BARBOSA ANTUNES.).PROCESSO: 0001297-14.2009.4.02.5051/03 (2009.50.51.001297-7/03)

V O T O - E M E N T A

1. Trata-se de recurso inominado, interposto pela parte autora, MOIZEIS RODRIGUES BARBOSA (pedreiro,nascido em 22/06/1956), em face da sentença de fls. 125/127, que julgou parcialmente procedente o pedido inicial paracondenar o INSS a implantar o benefício previdenciário de auxílio-doença desde a data da perícia, qual seja, 18/03/2010,bem como a pagar os atrasados. Alega o recorrente que encontra-se incapaz total e definitivamente desde o requerimentoadministrativo em 02/04/2008, pugnando pela concessão do benefício de aposentadoria por invalidez.

2. Atualmente, o recorrente encontra-se recebendo o benefício de auxílio-doença desde 18/03/2010 devido àantecipação de tutela concedida em sede de sentença.

3. Trouxe aos autos os seguintes laudos e exames médicos do período controverso: Exame de ecocolor Dopplervenoso superficial dos membros inferiores (Fl. 37 - 27/11/2008); Exame de ecodoppler arterial de MMII (Fl. 40 -23/04/2008); Laudo médico (fls. 52/53 – 15/03/2009) sugerindo afastamento definitivo do trabalho com demais informaçõesilegíveis; Laudo médico (fl. 137 - 04/12/2011) atestando que o paciente teve AVE com seqüelas que o deixaramincapacitado para atividades de qualquer natureza.

4. A perícia judicial (fls. 83/84 - 18/03/2010) diagnosticou que o autor possui embolia e trombose arterial, estandoincapaz parcial e definitivamente.

5. O recorrente alega que a incapacidade que o acomete é total, e não parcial como afirma o perito judicial. Noentanto, juntou aos autos somente um laudo (fls. 52/53) que se encontra ilegível, não podendo gerar conclusões acerca daincapacidade deste e, menos ainda, da doença que teria originado tal estado incapacitante. Sendo assim, não pode serusado de base para aferição da incapacidade do autor e nem para alteração da DIB. Se não bastasse, ainda deve seobservar o Enunciado nº 08 desta Turma Recursal.

O laudo de fl. 137, por sua vez, é posterior à sentença e trata de patologia diversa da alegada até o momento. Por estemotivo, deve ser objeto de novo pedido administrativo, pois se trata de doença superveniente ao ajuizamento da presenteação.

Sendo assim, entendo que o autor não faz jus à conversão do benefício de auxílio-doença em aposentadoria por invalidez.A perícia judicial foi clara ao atestar a incapacidade temporária do recorrente, e o laudo particular sequer é legível. Além do

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mais, conforme exposto acima, a perícia judicial deve prevalecer sobre os laudos particulares.

6. Posto isso, conheço do recurso do autor e a ele nego provimento.

Custas ex lege. Sem condenação em honorários advocatícios tendo em vista o deferimento dos benefícios da assistênciajudiciária gratuita (fl. 62).

É como voto.

Pablo Coelho Charles Gomes2º Juiz Relator da 1ª Turma Recursal

[Ato judicial assinado eletronicamente, nos termos do parágrafo único do artigo 164 do Código de Processo Civil. Acertificação digital consta na parte inferior da página]

25 - 0001162-02.2009.4.02.5051/01 (2009.50.51.001162-6/01) (PROCESSO ELETRÔNICO) LUIZ ANTONIO DE ALMEIDA(ADVOGADO: Adriana Moreira de Oliveira, LUCIANO MOREIRA DOS ANJOS.) x INSTITUTO NACIONAL DO SEGUROSOCIAL - INSS (PROCDOR: RODRIGO STEPHAN DE ALMEIDA.).PROCESSO: 0001162-02.2009.4.02.5051/01 (2009.50.51.001162-6/01)

V O T O - E M E N T A

1. Trata-se de recurso inominado interposto pela parte autora, LUIZ ANTONIO DE ALMEIDA (trabalhador rural, datade nascimento: 10/08/1963), em face da sentença de fls. 63/34, que julgou improcedente o pedido inicial de concessão deauxílio-doença e posterior conversão em aposentadoria por invalidez, pois entendeu o magistrado que não há incapacidadelaborativa. Alega o recorrente que está incapaz conforme laudos particulares acostados aos autos. Requer a reforma dasentença.

2. O autor é segurado especial. Seu pedido inicial é concessão de auxílio doença desde a data do indeferimentoadministrativo, qual seja, 24/09/2009.

3. Trouxe aos autos os seguintes laudos e exames médicos do período controverso: Tomografia da coluna lombar(fl. 28 - 02/09/2008) atestando que o autor possui abaulamento difuso dos discos intervertebrais L3-L4 e L4-L5, associado àconfiguração estreita do canal raquiano lombar; Laudo de médico ortopedista (fl. 29 - 28/11/2007) informando que o autorapresenta quadro de lombalgia irradiando pernas, perda da força, parestesia, dor mobilidade, dor palpação, relata dor noesforço físico, não tem melhora clínica, não havendo condições para o labor; Laudo de médico ortopedista (fl. 30 -11/03/2009) atestando lombalgia e abaulamento difuso em L3-L4 e L4-L5, com demais informações ilegíveis.

4. A perícia judicial (fls. 46/49 - 10/09/2010) diagnosticou que o recorrente não possui nenhuma doença nãohavendo então que se falar em incapacidade.

5. Ao se analisar todo o contexto probatório colacionado aos autos, fixo as seguintes premissas: a perícia judicialconcluiu pela capacidade do recorrente; dois dos laudos particulares juntados não atestam incapacidade, apenas indicamdoenças; um único laudo particular atesta incapacidade, mas, é datado de 2007, data muito anterior ao pedidoadministrativo em questão (fl. 24).

Sendo assim, o autor não faz jus à concessão do benefício. Resta evidente que, mesmo que haja doenças que afligem orecorrente, estas não se tratam de doenças incapacitantes (que levem à incapacidade laboral do recorrente). Ora, umindivíduo pode estar acometido de algum tipo de doença e, ainda assim, não estar incapacitado para o exercício de umaatividade específica. Ademais, o autor não logrou êxito em comprovar os fatos narrados na peça recursal de que estariaincapacitado para o trabalho.

6. Posto isso, conheço do recurso do autor e a ele nego provimento.

Custas ex lege. Sem condenação em honorários advocatícios tendo em vista o deferimento dos benefícios da assistênciajudiciária gratuita (fl. 41).

É como voto.

Pablo Coelho Charles Gomes2º Juiz Relator da 1ª Turma Recursal

[Ato judicial assinado eletronicamente, nos termos do parágrafo único do artigo 164 do Código de Processo Civil. Acertificação digital consta na parte inferior da página]

26 - 0006640-91.2009.4.02.5050/01 (2009.50.50.006640-0/01) (PROCESSO ELETRÔNICO) MARIA MARTA SANTOSFONSECA (ADVOGADO: MARCELO CARVALHINHO VIEIRA.) x INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS(PROCDOR: CLEBSON DA SILVEIRA.).

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PROCESSO: 0006640-91.2009.4.02.5050/01 (2009.50.50.006640-0/01)

VOTO-EMENTA

Trata-se de recurso inominado interposto pela parte autora em face da sentença que julgou parcialmente procedentes ospedidos para anular a revisão administrativa que reduziu a renda mensal da aposentadoria NB 43/010.057.142-5 de R$1.654,98 para R$ 1.541,13 e para condenar o INSS a restituir o valor descontado da renda mensal em virtude da revisãonula. A sentença julgou improcedente o pedido de condenação do réu a pagar indenização por dano moral e, ainda,antecipou os efeitos da tutela, determinando ao INSS que suspenda os efeitos da revisão administrativa até ulterior ordemjudicial ou até que nova revisão administrativa seja efetuada de maneira formalmente adequada.O recorrente requer a reforma da sentença quanto ao dano moral, sustentando que não condenar o INSS a esse título é darcarta branca ao órgão para continuar com suas revisões sem se preocupar com as consequências de seus atos. Pede areforma parcial da sentença e a condenação do INSS em danos morais a serem fixados por esta Turma Recursal. Emcontrarrazões, o INSS pugna pela manutenção da sentença.A revisão do benefício que importa em redução da renda mensal (correspondente a mais de três salários mínimos) empouco mais de cem reais não é apta a ensejar indenização por danos morais, pois não altera significativamente a situaçãofinanceira do beneficiário, não afetando de forma considerável seu poder aquisitivo e nem muito menos comprometendosua sobrevivência, dignidade ou seu equilíbrio psíquico. Note-se que o autor foi notificado previamente para apresentardefesa em processo administrativo de revisão da aposentadoria, tendo a sentença considerado que houve nulidade apenasformal da revisão, em face da ausência de maiores esclarecimentos acerca dos motivos da revisão. Não houve, portanto,súbita redução do valor do benefício, tendo o autor inequívoca ciência da existência do processo administrativo respectivo.Pelo exposto, conheço do recurso, mas NEGO-LHE PROVIMENTO.Custas ex lege. Sem honorários advocatícios, tendo em vista que a parte autora é beneficiária da assistência judiciáriagratuita.É como voto.

Pablo Coelho Charles Gomes2º Juiz Relator da 1ª Turma Recursal[Ato judicial assinado eletronicamente, nos termos do parágrafo único do artigo 164 do Código de Processo Civil. Acertificação digital consta na parte inferior da página]

27 - 0003417-33.2009.4.02.5050/01 (2009.50.50.003417-4/01) (PROCESSO ELETRÔNICO) INSTITUTO NACIONAL DOSEGURO SOCIAL - INSS (PROCDOR: ROSEMBERG ANTONIO DA SILVA.) x JOSE CARLOS GEGENHEIMER(ADVOGADO: CHRISTOVAM RAMOS PINTO NETO.).PROCESSO: 0003417-33.2009.4.02.5050/01 (2009.50.50.003417-4/01)

VOTO-EMENTA

EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. OMISSÃO NÃO CONFIGURADA. DECLARAÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE, EMPARTE, POR ARRASTAMENTO, DO ART. 1º-F DA LEI Nº 9.494/97 COM A REDAÇÃO DADA PELO ART. 5º DA LEI Nº11.960/2009, NO JULGAMENTO DAS ADI 4425 E 4357.

Trata-se de embargos de declaração opostos pelo INSS em face do acórdão que deu parcial provimento ao recursoinominado por ele interposto apenas para fixar como termo inicial dos juros de mora a data da citação válida. Não foiprovido o recurso no que se refere à correção monetária e aos juros de mora, tendo em vista que o julgamento da ADI 4357e da ADI 4425 pelo Supremo Tribunal Federal, no qual foi declarada a inconstitucionalidade, por arrastamento, do art. 5º daLei nº 11.960/2009. Alega o embargante que o acórdão contém omissão quanto à ausência de declaração deinconstitucionalidade da sistemática de juros legais determinados pelo art. 1º-F da Lei nº 9.494/97, com a redação dadapelo art. 5º da Lei nº 11.960/2009 na ADI 4357, bem como quanto à expressa determinação do ministro relator para a plenaobservância do referido dispositivo legal até a decisão definitiva de modulação de feitos temporais da referida decisão peloPleno do STF. Alega, ainda, existência de matéria constitucional fixada por repercussão geral do STF.O art. 1º-F foi acrescentado à Lei nº 9.494/97 pela Medida Provisória nº 2.180-35, de 2001, com a seguinte redação: “Art.1º-F. Os juros de mora, nas condenações impostas à Fazenda Pública para pagamento de verbas remuneratórias devidas aservidores e empregados públicos, não poderão ultrapassar o percentual de seis por cento ao ano.”O art. 5º da Lei nº 11.960/2009 conferiu ao referido dispositivo a seguinte redação: “Art. 1o-F. Nas condenações impostas àFazenda Pública, independentemente de sua natureza e para fins de atualização monetária, remuneração do capital ecompensação da mora, haverá a incidência uma única vez, até o efetivo pagamento, dos índices oficiais de remuneraçãobásica e juros aplicados à caderneta de poupança.”Verifica-se na “decisão de julgamento” constante do andamento das ADI 4425 e 4357, conforme consulta ao sítio eletrônicodo Supremo Tribunal Federal, que o voto do Ministro Luiz Fux, designado relator para acórdão, declarou ainconstitucionalidade, em parte, por arrastamento, do art. 1º-F da Lei nº 9.494, com a redação dada pelo art. 5º da Lei nº11.960, de 29 de junho de 2009.Ora, uma vez declarada a inconstitucionalidade da expressão “índice oficial de remuneração básica da caderneta depoupança”, constante do § 12 do art. 100 da CF, do inciso II do § 1º e do § 16, ambos do art. 97 do ADCT, e da expressão“independentemente de sua natureza”, inserido no § 12 do art. 100 da CF, foi declarada também a inconstitucionalidade, porarrastamento, do art. 1º-F da Lei nº 9.494/97, na parte em que reproduz tais expressões, por força do art. 5º da Lei nº11.960, de 29 de junho de 2009, que lhe conferiu nova redação.A determinação do ministro relator para acórdão das ADI 4425 e 4357 foi no sentido da continuidade de pagamento de

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precatórios, ante a noticiada paralisação do pagamento pelos tribunais de justiça de todo o país, tendo em vista que não sejustifica retroceder na proteção dos direitos já reconhecidos em juízo. Não se trata de determinar a plena observância dodispositivo em tela nas condenações, como parece crer o embargante, mas apenas de garantir o pagamento dosprecatórios em conformidade com a coisa julgada.Embargos conhecidos e improvidos.

É como voto.

Pablo Coelho Charles Gomes2º Juiz Relator da 1ª Turma Recursal[Ato judicial assinado eletronicamente, nos termos do parágrafo único do artigo 164 do Código de Processo Civil. Acertificação digital consta na parte inferior da página]

28 - 0002754-84.2009.4.02.5050/01 (2009.50.50.002754-6/01) (PROCESSO ELETRÔNICO) INSTITUTO NACIONAL DOSEGURO SOCIAL - INSS (PROCDOR: CLEBSON DA SILVEIRA.) x GILSON COELHO DE AGUIAR (ADVOGADO:LARISSA FURTADO BAPTISTA.).PROCESSO: 0002754-84.2009.4.02.5050/01 (2009.50.50.002754-6/01)

V O T O / E M E N T A

. Trata-se de recurso inominado interposto pela Autarquia-Ré, ora recorrente, em razão de sentença proferida pelo juízo aquo, que julgou parcialmente procedente a pretensão externada na inicial desta ação, que pleiteava a concessão deaposentadoria por idade urbana. Em suas razões recursais, sustenta o recorrente que não há nos autos início de provamaterial relativo ao período de carência considerado, sendo, portanto impossível o reconhecimento do tempo de serviçoanotado na CTPS, decorrente de sentença trabalhista. Aduz que os vínculos constantes da CTPS não gozam de presunçãoabsoluta de veracidade para efeitos previdenciários, mas, somente quando tais informações estejam contidas no CNIS.Dessa forma, requer seja conhecido e provido o presente recurso, julgando-se improcedente o pedido deduzido na inicial.As contrarrazões encontram-se nas fls. 126-128.

2. A concessão do benefício de aposentadoria por idade pressupõe o preenchimento de certos requisitos: o cumprimentodo período de carência necessário, exigido na Lei n° 8.213/91 e, ainda, que o segurado tenha 65 anos d e idade se for dosexo masculino e 60, se do sexo feminino.

3. A controvérsia se restringe à averbação de período de contribuição que tem por base anotação em CTPS resultante dereclamatória trabalhista.

4. Embora os efeitos da coisa julgada recaiam apenas sobre as partes da reclamação trabalhista, não se pode deixar dereconhecer a presunção de veracidade dos fatos lá apurados, ensejadores da anotação previdenciária para fins deaposentadoria. Mesmo em se tratando de sentença trabalhista homologatória de acordo, prevalece tal entendimento,conforme Súmula º 31 da TNU, segundo a qual a anotação da CTPS decorrente de sentença trabalhista homologatóriaconstitui início de prova material para fins previdenciários.5. O STJ possui entendimento mais restritivo. Para aquela Corte, a sentença trabalhista pode ser considerada como iníciode prova material para a determinação de tempo de serviço, caso tenha sido fundada em outros elementos de prova queevidenciem o labor exercido e os períodos alegados pelo trabalhador (AGP 201202206899, MAURO CAMPBELLMARQUES, STJ - PRIMEIRA SEÇÃO, DJE de 14/05/2013). Não obstante, o entendimento externado pelo STJ nessamatéria não é vinculativo (não foi proferido na sistemática do artigo 543-C do CPC). Dentro desse contexto, parece-meadequado seguir o entendimento externado pela TNU.

6. A reclamatória trabalhista da qual o autor foi parte culminou no reconhecimento de vínculo de emprego no períodocompreendido entre 01/08/1991 e 01/03/2004, entretanto, tal período não foi devidamente corroborado por outroselementos probatórios. As provas testemunhais colhidas em audiência confirmaram o vínculo empregatício do autor paracom a empresa Ré da ação trabalhista somente no período compreendido entre 01/01/2000 e 01/03/2004. Com efeito,cumpre frisar que o juízo a quo ao reconhecer o direito da parte autora à averbação do período mencionado não se ateveexclusivamente à sentença laboral, mas, também, ao suporte probatório coligido em audiência de instrução realizada noreferido Juizado Especial, durante o curso da presente ação.

7. Não merece reparo, portanto, a sentença proferida pelo juízo a quo.8. Pelo exposto, conheço do recurso e a ele nego provimento.9. Sem custas, nos termos da Lei. Honorários devidos pela parte recorrente, ora fixados em R$ 500,00 (quinhentos reais).

10. É como voto.Pablo Coelho Charles Gomes2º Juiz Relator da 1ª Turma Recursal

[Ato judicial assinado eletronicamente, nos termos do parágrafo único do artigo 164 do Código de Processo Civil. Acertificação digital consta na parte inferior da página]

29 - 0002243-20.2008.4.02.5051/02 (2008.50.51.002243-7/02) (PROCESSO ELETRÔNICO) GENEIL CIMAR RODRIGUES

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(ADVOGADO: ELIAS ASSAD NETO.) x INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS (PROCDOR: Luciano JoséRibeiro de Vasconcelos Filho.).PROCESSO: 0002243-20.2008.4.02.5051/02 (2008.50.51.002243-7/02)

V O T O - E M E N T A

Trata-se de recurso inominado, interposto pelo autor GENEIL CIMAR RODRIGUES (data de nascimento: 23/07/1971,ajudante de servente), em face da sentença de fls. 208/210, que condenou a autarquia ré a restabelecer o benefício deauxílio-doença desde a juntada do laudo pericial em 31/08/2011. Alega o recorrente que continua incapaz desde o acidenteem 2002. Portanto, requer que a DIB seja fixada na data da cessação indevida (31/08/2008) ou, subsidiariamente, na datada indicação cirúrgica como procedimento adequado e único para recuperação (16/02/2009). Pugna ainda, para que acessação do benefício seja condicionada à reavaliação médica após o tratamento cirúrgico indicado.

O autor recebeu auxílio doença de 24/01/2003 a 31/07/2003 e 28/08/2003 a 31/01/2008.

Compulsando os autos, verifica-se que foram juntados diversos laudos particulares. Destes pode-se concluir que a doençaque acomete o autor decorre de acidente ocorrido em 2002. Por se tratar da mesma doença é pouco provável que tenhahavido uma melhora com posterior agravamento. Além do mais, o recorrente recebeu o benefício por longos períodos o quecorrobora com o entendimento de que houve uma relação de continuidade da incapacidade do autor. O fato de haverindicação de cirurgia a ser feita em fevereiro de 2009 é outro elemento a indicar que o estado de incapacidade perduroudesde a cessação do benefício. Destarte, sendo a incapacidade atual decorrente da mesma doença ou lesão que justificoua concessão do benefício que se pretende restabelecer, presume-se a continuidade do estado incapacitante desde ocancelamento, que, sendo reputado indevido, corresponde ao termo inicial da condenação ou data de (re) início dobenefício.

Quanto ao pedido de condicionamento da cessação do benefício à reavaliação médica, registro que a revisão administrativado benefício está amparada pelo disposto no caput do artigo 71 da Lei n. 8.212 /91, o qual prevê que o INSS “... deverárever os benefícios, inclusive os concedidos por acidente do trabalho, ainda que concedidos judicialmente, para avaliar apersistência, atenuação ou agravamento da incapacidade para o trabalho alegada como causa para a sua concessão.” Atémesmo porque, ainda que improvável, não é impossível a cessação da incapacidade. Sendo assim, pode a autarquia rérevisar a qualquer tempo o benefício em questão, desde que constate que não mais subsiste a incapacidade laborativa.

Diante do exposto, conheço do recurso da parte autora e a ele DOU PARCIAL PROVIMENTO para condenar a autarquia réa restabelecer o benefício de auxílio-doença desde a cessação indevida em 31/01/2008 (fl. 79).

Custas ex lege. Sem condenação em honorários advocatícios.

É como voto.

Pablo Coelho Charles Gomes2º Juiz Relator da 1ª Turma Recursal

[Ato judicial assinado eletronicamente, nos termos do parágrafo único do artigo 164 do Código de Processo Civil. Acertificação digital consta na parte inferior da página]

30 - 0001688-03.2008.4.02.5051/01 (2008.50.51.001688-7/01) (PROCESSO ELETRÔNICO) LEVI NUNES FERREIRA(ADVOGADO: Valber Cruz Cereza.) x INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS (PROCDOR: ANDRÉ DIASIRIGON.).PROCESSO: 0001688-03.2008.4.02.5051/01 (2008.50.51.001688-7/01)

VOTO-EMENTA

1. Trata-se de recurso inominado, interposto por LEVI NUNES FERREIRA, em face da sentença de fls. 143/146,que julgou improcedente o seu pedido de restabelecimento do benefício de auxílio-doença e posterior conversão emaposentadoria por invalidez. O recorrente alega que as patologias encontradas na perícia judicial são as mesmas que opróprio INSS diagnosticou quando da concessão do benefício administrativamente, o que justifica o seu pedido e demonstraa existência de incapacidade laboral. Alega, ainda, que faz jus à conversão em aposentadoria por invalidez, tendo em vistaseus conhecimentos e experiências limitadas, bem como a dificuldade de habilitar-se em outra função pela limitação demovimentos do corpo. Por fim, aduz a anulação da perícia judicial, sob a alegação de que o expert baseou-se apenas nosdocumentos juntados pelo INSS para avaliar a incapacidade laboral. Requer a reforma da sentença para anular a períciarealizada ou para que sejam julgados totalmente procedentes os pedidos iniciais.d2. O autor, nascido em 27/05/1959, recebeu benefício de auxílio-doença entre 14/08/2004 e 20/10/2004; 27/07/2005 e31/01/2006; 28/03/2007 e 30/08/2007. Jamais manteve vínculo empregatício no meio urbano. Na peça inicial, o autor indicaque é lavrador.

3. Trouxe aos autos os seguintes laudos e exames médicos do período controverso (após a cessação doauxílio-doença): laudo médico (fl. 142 – 03/09/2009) indicando histórico de lombalgia, com perda de força nas pernas,

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parestesia, cervicalgia crônica e dor em caso de esforço físico (CID M54.4 e M54.2); e exames de ressonância magnética(fls. 52/56 e 140/141). Ressalto que os demais laudos e exames constantes dos autos referem-se a período anterior àcessação do benefício, quando a incapacidade era reconhecida pelo INSS.

4. A perícia médica judicial (fls. 125/126) foi realizada em 03/04/2009. O perito diagnosticou espondilodiscoartrosecervical e lombar (CID M51.8), com evolução progressiva e possibilidade de dores quando há esforço físico além dacapacidade física. Asseverou, o expert, que se trata de patologia degenerativa e irreversível e fez a ressalva de que ascrises dolorosas são reversíveis através de tratamento médico e fisioterápico. Assim, o perito do juízo concluiu pelainexistência de quadro clínico ou físico que justifique incapacidade para o labor, não sabendo precisar o início da doençapor se tratar de doença crônica de início insidioso e destacando, por fim, que nas crises dolorosas pode haver pioraprogressiva do quadro de saúde do autor.

5. Ao se analisar todo o contexto probatório colacionado aos autos, fixo as seguintes premissas: o perito atestou aexistência de espondilodiscoartrose cervical e lombar e fez a ressalva de que a patologia não gera incapacidade para otrabalho, podendo haver tão somente a piora progressiva do quadro clínico nas crises dolorosas, o que pode ser tratadocom medicamentos e fisioterapia; os exames médicos particulares coligidos aos autos pelo autor atestam a existência dapatologia referida pelo expert e, também, a presença de abaulamentos discais, espondilólise e redução da amplitude dosforames neurais, com necessidade de tratamento por tempo indeterminado; há, nos autos (fls. 113/119), laudos periciais doINSS, que atestam histórico clínico de patologias ortopédicas e intensas dores na região da coluna lombar, concluindo pelaincapacidade laboral do autor; o recorrente possui 54 anos de idade, experiência profissional extremamente limitada esempre laborou no meio rural como lavrador.

Sendo assim, entendo que o autor faz jus ao restabelecimento do benefício desde 31/08/2007. Os exames e laudos demédicos assistentes coligidos aos autos comprovam que o autor esteve acometido, desde a cessação do benefício, com asmesmas doenças ortopédicas e dores constatadas pela perícia médica do INSS e que o levaram ao afastamento dotrabalho entre os anos de 2004 e 2007, havendo, após a referida cessação, a necessidade de tratamento por tempoindeterminado. Nesse sentido, o expert identificou também as mesmas patologias ortopédicas, fazendo a ressalva de quesomente haveria dores nos momentos de esforço físico, o que é inerente à atividade habitual de lavrador.

6. Posto isso, CONHEÇO DO RECURSO DA PARTE AUTORA E A ELE DOU PARCIAL PROVIMENTO parareformar a sentença e julgar parcialmente procedente o pedido para condenar o INSS a restabelecer o benefício deauxílio-doença desde a sua cessação (31/08/2007). Os juros de mora seguem a taxa de 1% a.m a partir da citação e acorreção monetária deve ser calculada pelo INPC. Afasto a incidência do art. 1º-F da Lei nº 9.494/97, com a nova redaçãodada pelo art. 5º da Lei nº 11.960/2009, tendo em vista o entendimento firmado no julgamento da ADI 4357 pelo SupremoTribunal Federal, assim como a decisão da Turma Nacional de Uniformização que cancelou a Súmula nº 61 (Processo nº0003060-22.2006.4.03.6314, julgado em 09/10/2013).

Por fim, CONCEDO A ANTECIPAÇÃO DOS EFEITOS DA TUTELA para determinar ao INSS que, no prazo de 05 (cinco)dias, contados a partir da data de intimação do presente acórdão, proceda ao restabelecimento do benefício previdenciáriode auxílio-doença, comprovando nos autos o cumprimento da medida.

Custas ex lege. Sem condenação em honorários advocatícios.

É como voto.

Pablo Coelho Charles Gomes[Ato judicial assinado eletronicamente, nos termos do parágrafo único do artigo 164 do Código de Processo Civil. Acertificação digital consta na parte inferior da página]

31 - 0000066-83.2008.4.02.5051/01 (2008.50.51.000066-1/01) (PROCESSO ELETRÔNICO) INSTITUTO NACIONAL DOSEGURO SOCIAL - INSS (PROCDOR: ANDRÉ DIAS IRIGON.) x JOSE ANTONIO SANCHES MACHADO (ADVOGADO:Ruberlan Rodrigues Sabino.).PROCESSO: 0000066-83.2008.4.02.5051/01

V O T O / E M E N T A

1. Relatório.

Trata-se de recurso inominado, interposto pelo INSS, em face da sentença de fls. 179/184, que julgou parcialmenteprocedente o pedido do autor para determinar que a autarquia previdenciária reconheça como tempo de atividade especialos períodos compreendidos entre 01/12/1992 a 04/05/2005. Alega o recorrente, que devem estar presentescumulativamente, tratando-se de ruído, os formulários DSS – 8030 (ou ainda o SB-40) e laudo pericial, demonstrando demodo permanente, não ocasional nem intermitente, a efetiva exposição aos agentes físicos, químicos biológicos, ouassociação de agentes, prejudiciais à saúde ou à integridade física. Argumenta que o juiz a quo não poderia considerar aatividade como especial, pois os formulários PPP (Perfil Profissiográfico Previdenciário) de fls. 28 a 30, não foram juntadoso laudo pericial. Alega, ainda, que a contar de 28/05/1998, quando da promulgação da Medida Provisória 1.663 – 10/98,convertida na Lei 9.711/98, restou legalmente vedada a conversão em comum de tempo de serviço especial prestado apósessa data. O autor apresentou contrarrazões, pugnando pela manutenção da sentença.

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A comprovação de atividade especial exercida até 31/12/2003 poderá ser feita por formulário DSS – 8030 ou equivalentejuntamente com o laudo técnico pericial ou, ainda, PPP (Perfil Profissiográfico Previdenciário), nesse caso, o segurado nãoprecisa exibir o laudo pericial, haja vista que há presunção de que tenha sido expedido em conformidade com o laudotécnico. A partir de 01/01/2004, passou-se a exigir o Perfil Profissiográfico Previdenciário (PPP) do segurado, comosubstitutivo dos formulários e laudo pericial, ante a regulamentação do art. 58, §4º da Lei 8.213/91, pelo Decreto nº4.032/01, IN 95/03 e art. 161 da IN 11/06.

Em suas razões recursais, sustenta o recorrente a impossibilidade de conversão, de tempo especial para comum, doperíodo posterior a 28/05/1998, uma vez que a Medida Provisória n. 1.663 de 28/05/1998, convertida na Lei n. 9.711/98,revogou expressamente o parágrafo 5º do art. 57 da Lei n. 8.213/91, inexistindo previsão legal para que possa serconvertido o tempo de serviço exercido em atividade especial posterior a 28/05/1998, consoante precedente do E. STJ.

2. Possibilidade de conversão de tempo de trabalho especial em comum após 28/05/1998.Nos termos da Súmula 50 da TNU (DOU de 15/03/2012), “é possível a conversão do tempo de serviço especial em comumdo trabalho prestado em qualquer período.”Esse entendimento está na linha do esposado pelo STJ no REsp 956.110/SP, julgado em 29/08/2007.3. Nível de ruído.

A TNU assumia entendimento diferente do adotado pelo STJ no que refere ao nível de ruído para configuração daespecialidade do período de trabalho. Contudo, a TNU recentemente alterou seu entendimento, cancelando, em09/10/2013, o enunciado 32 da súmula de sua jurisprudência dominante. Tal cancelamento com certeza ocorreu por forçado provimento de incidente de uniformização, pelo STJ, no qual a referida Corte reafirmou sua jurisprudência em face doteor do enunciado 32 da TNU (STJ, 1ª Seção, Petição nº 9059 / RS, Julgado em 28/08/2013). Prevaleceu, destarte, oentendimento consolidado no STJ a respeito do tema. Deste modo, para que surja o direito à contagem de tempo detrabalho como “especial”, o nível de ruído a que deve estar submetido o segurado deverá ser:

superior a 80 decibéis até 04/03/1997;superior a 90 decibéis entre 05/03/1997 até 17/11/2003 (vigência do Decreto nº 2.172/97);superior a 85 decibéis após 18/11/2003 (vigência do Decreto nº 4.882/03).

4. Adequação do entendimento jurisprudencial ao caso concreto.

O autor juntou aos autos formulários, referentes ao período inicialmente citado, de fl. 20 e formulário DSS – 8030 (fl. 26) e,ainda, PPP’s (fls. 28/31). Os formulários de fl. 20 e DSS – 8030 estão acompanhados de seus respectivos laudos periciaisassinados por médico do trabalho e engenheiro de segurança do trabalho; é o que se infere do teor de fls. 21/24 (subscritopelo Médico especialista em Medicina do Trabalho Dr. Luiz Roberto da Silva) e fls.45/53 (subscrito pelo EngenheiroMecânico e de Segurança do Trabalho Mário Sérgio Bove).

Os laudos asseveram que o empregado esteve exposto de modo habitual e permanente, ao nível de ruído médio de 91 dB(A) (fl. 24, item I da pericia), bem como intensidade de 98,1 dB (A) com concentração por tempo de exposição de 44 horassemanais (fl. 25). Já os perfis profissiográficos alusivo ao período 01/12/1992 até 04/05/2005 (fl. 28/31), retrata ruídomáximo de 102 dB(A) e mínimo de 98,4 dB (A).

Em todos os casos os índices são superiores a 90 decibéis. Ou seja: está caracterizada a insalubridade dos períodos detrabalho em face da exposição a ruído, com o conseqüente direito à conversão.

5. Conclusão.

Conheço do recurso interposto pelo INSS e a ele nego provimento, mantendo in totum a sentença prolatada pelo Juízo aquo.

Custas ex lege. Condenação do recorrente vencido ao pagamento de honorários advocatícios, que ora arbitro em 10 %sobre o valor da condenação.

É como voto.

Pablo Coelho Charles Gomes2º Juiz Relator da 1ª Turma Recursal

[Ato judicial assinado eletronicamente, nos termos do parágrafo único do artigo 164 do Código de Processo Civil. Acertificação digital consta na parte inferior da página]

91003 - MANDADO DE SEGURANÇA/ATO JUIZADO ESPECIAL

32 - 0006718-22.2008.4.02.5050/02 (2008.50.50.006718-7/02) (PROCESSO ELETRÔNICO) LEONARDO RANGEL ALVES

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DOS SANTOS (ADVOGADO: ROGÉRIO NUNES ROMANO, JEANINE NUNES ROMANO.) x Juiz Federal do 3º JuizadoEspecial Federal x INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS (PROCDOR: NANCI APARECIDA DOMINGUESCARVALHO.).PROCESSO: 0006718-22.2008.4.02.5050/02 (2008.50.50.006718-7/02)

VOTO/EMENTA

1. Trata-se de mandado de segurança impetrado por LEONARDO RANGEL ALVES DOS SANTOS, representado por suagenitora, CELIA CRISTINA RANGEL, contra ato do Juiz do 3º Juizado Especial Federal, que anulou a sentençahomologatória de acordo, já transitada em julgado, proferida nos autos da ação que tem por objeto a concessão debenefício previdenciário de pensão por morte de seu genitor. O impetrante alega que o ato impugnado fere a imutabilidadeda coisa julgada.

2. A decisão impugnada fundamenta-se no fato de que o INSS incidiu em erro substancial ao apresentar a proposta deacordo homologada por sentença, eis que o valor ofertado baseou-se na suposição que a autora ainda não havia recebidonenhuma prestação da pensão por morte, sendo que o benefício já estava implantado com efeitos financeiros ativos desde15/12/2008, por força de decisão antecipatória da tutela.

3. No presente caso, do acordo (Assentada de fls. 187/188) consta expressamente que o valor de R$ 12.583,00 seria pagoa título de prestações vencidas no período compreendido entre a DER e a DIP, tendo sido determinada a intimação daEADJ para implantar o NB 100.333.646-6 com DIB em 08/06/2007 (data do óbito) e DIP na data da sentença. A data dasentença homologatória do acordo é 23/07/2012. O ofício de fls. 193 informa que foi implantado o benefício NB21/157.602.464-1, com DIB em 08/06/2007 e DIP em 23/07/2012.

4. Ocorre que a sentença julgara procedente o pedido para condenar o réu a pagar ao autor a pensão por morte a partir dadata do óbito do segurado, antecipando os efeitos da tutela para determinar que o INSS implantasse imediatamente obenefício, o que foi feito em 17/12/2008 (NB 21/145.186.131-9, com DIB em 08/06/2007 e DIP em 15/12/2008). Peladecisão de fls. 132/135, da Presidência da Turma Recursal, a sentença restou anulada, bem como todos os atosprocessuais ulteriores, a fim de reabrir a instrução processual para ensejar a demonstração da situação de desemprego poroutros meios de prova admitidos, inclusive prova testemunhal. A decisão manteve, por cautela, a antecipação de tutela. Em23/07/2012, as partes transigiram, conforme acima explicitado.

5. Depreende-se, portanto, que a parte autora recebe o benefício de pensão por morte desde 15/12/2008, data de início dopagamento do NB 21/145.186.131-9, em cumprimento à antecipação de tutela deferida na sentença (posteriormenteanulada) e mantida na decisão da TR.

6. Uma vez que a DIB corresponde à data do óbito, 08/06/2007, e que o benefício foi pago somente a partir de 15/12/2008,remanesce diferença em favor da parte autora relativamente ao período compreendido entre as duas datas referidas, quecorresponde a aproximadamente um ano e meio.

7. O acordo foi proposto na suposição de que nada havia sido pago à parte autora até a data de sua homologação. Tantoque consta da sentença homologatória que o INSS fica obrigado a conceder a parte autora benefício de pensão por mortecom DIB na data do óbito e com DIP a partir de hoje, determinando, ao final, a implantação do benefício com DIP na datada sentença (23/07/2012), quando, na verdade, a DIP corresponde, como posteriormente verificado, a 15/12/2008.

8. A despeito de haver diferenças em favor da parte autora no momento do acordo, é de se reconhecer o erro substancialem que incorreu a autarquia.

9. A teor do art. 140 do Código Civil, a suposição errônea do INSS (falso motivo) vicia a proposta de acordo, uma vez querestou expressa como razão determinante do oferecimento do valor a título de prestações vencidas. Ao mencionar que opagamento do benefício se iniciaria naquela data, houve vinculação do valor oferecido ao termo final do período de suaapuração.

10. Não prevalecendo o termo final do período de apuração do valor, este também não prevalece, estando viciado o acordohomologado.

11. Pelo exposto, DENEGO A SEGURANÇA. Sem custas e sem honorários, em face da assistência judiciária gratuita, queora defiro.

É como voto.

Pablo Coelho Charles Gomes2º Juiz Relator da 1ª Turma Recursal

[Ato judicial assinado eletronicamente, nos termos do parágrafo único do artigo 164 do Código de Processo Civil. Acertificação digital consta na parte inferior da página]

Page 42: BOLETIM TR/ES 2013-232-SESSAO DIA 13-11-2013

91001 - RECURSO/SENTENÇA CÍVEL

33 - 0000465-18.2008.4.02.5050/01 (2008.50.50.000465-7/01) (PROCESSO ELETRÔNICO) INSTITUTO NACIONAL DOSEGURO SOCIAL - INSS (PROCDOR: ANA PAULA BARRETO MONTEIRO ROTHEN.) x ADEMIR ALVES MEYRELLES(ADVOGADO: CHRISTOVAM RAMOS PINTO NETO.).PROCESSO: 0000465-18.2008.4.02.5050/01 (2008.50.50.000465-7/01)

VOTO-EMENTA

PREVIDENCIÁRIO – APOSENTADORIA ESPECIAL – AGENTE NOCIVO: ELETRICIDADE – CABISTA – AVERBAÇÃO DETEMPO ESPECIAL – INSTRUÇÃO NORMATIVA N° 45 – LAUDO TÉCNICO TRABALHISTA – PERMANÊNCIA,HABITUALIDADE E NÃO INTERMITÊNCIA – RECURSO CONHECIDO E PARCIALMENTE PROVIDO – SENTENÇAREFORMADA EM PARTE.

1. Trata-se de recurso inominado, interposto pelo INSS, em face da sentença de fls. 128/134, que julgouparcialmente procedente o pedido inicial de ADEMIR ALVES MEIRELES (telefônico, 57 anos de idade), condenando o enteautárquico a averbar o período compreendido entre: 10/10/1977 e 24/09/1999 como tendo sido laborado em condiçõesespeciais (a ser convertido pelo fator 1,40).

O recorrente, em suas razões recursais, sustenta que não pode prevalecer a condenação imposta de conversão do períodode 01/10/1977 e 24/09/1999. Argumenta a autarquia que o documento probatório da exposição a agentes insalubres foiemitido em virtude de uma decisão da Justiça do Trabalho, baseada em laudo pericial produzido com o intuito de permitir apercepção de adicional de periculosidade, não tendo o INSS participado da referida perícia, razão pelo qual se fazinutilizável. Sustenta, ainda, que inexiste medição de exposição, assim como, de exposição permanente, não eventual eintermitente, sendo inviável, portanto, caracterizar a atividade como especial. Por último, defende que após 05/03/1997 nãopode existir enquadramento por periculosidade, haja vista sua extinção. O autor apresentou contrarrazões, pugnando pelamanutenção da sentença.

É o breve relatório. Passo a votar.

2. O tempo de contagem especial para fins de aposentadoria foi instituído pela Lei 3.807, de 26/08/1960, destinadoaos trabalhadores que laboram em condições peculiares, submetidos a certo grau de risco e comprometimento à saúde ouintegridade física, para os quais prescrevia a redução do tempo de serviço (quinze, vinte ou vinte e cinco anos de atividade)para a sua concessão.

É necessário frisar que até 28/04/1995 o enquadramento de atividade especial obedecia ao disposto no quadro anexo aoDecreto n° 53.831/64 e aos anexos I e II do Decreto n° 83.080/79. Sendo assim, para comprovar o desemp enho deatividade especial bastava ao segurado evidenciar o enquadramento profissional ou demonstrar através de provadocumental que o seu ambiente de trabalho implicava exposição a situações prejudiciais à saúde ou à integridade física.

3. Preliminarmente, a autarquia federal buscou descaracterizar as informações trazidas pelo laudo DIRBEN-8030(fls. 25/26), uma vez que este fora baseado no teor das informações carreadas em laudo pericial (fls. 28/51) produzido naJustiça do Trabalho. O ente autárquico disse estar desobrigado das informações documentais prestadas, tendo em vistaque não houve sua participação na demanda. Apesar de tal posicionamento, é plausível verificar que atos normativoseditados pelo Presidente do INSS apontam em direção oposta. Com efeito, confira-se o teor do art. 256, § 1°, inciso I, daInstrução Normativa n° 45/2010 do INSS:

“Art. 256. Para instrução do requerimento da aposentadoria especial, deverão ser apresentados os seguintes documentos:...§ 1º Observados os incisos I a IV do caput, e desde que contenham os elementos informativos básicos constitutivos doLTCAT poderão ser aceitos os seguintes documentos:I - laudos técnico-periciais emitidos por determinação da Justiça do Trabalho, em ações trabalhistas, acordos ou dissídioscoletivos;...”

É devido lembrar que esses atos editados pelo Presidente do INSS têm força vinculante interna para todas as instânciasadministrativas da autarquia. Injustificável, por conseguinte, o argumento do INSS, sendo plenamente cabível a utilização dolaudo pericial produzido em esfera trabalhista.

Após analisar o conteúdo probatório presente nos autos e, ainda, levar em consideração o exposto acima, faz-senecessário realizar algumas observações. Inicialmente, confirma-se, como suscitado pelo INSS, que não tratamos deenquadramento profissional, uma vez que não há previsão legal quanto à profissão de cabista. Sendo assim, faz-seimprescindível que haja comprovação documental da exposição ao agente nocivo. Passo, assim, à análise dos períodosquestionados.

4. Período: de 10/10/1977 a 28/04/1995.

Page 43: BOLETIM TR/ES 2013-232-SESSAO DIA 13-11-2013

A jurisprudência é pacífica no sentido de que, antes da Lei n° 9.032/95, não havia norma legal prevend o que a exposição aoagente nocivo deveria ser permanente. E, como a alteração introduzida pela Lei n° 9.032/95 tem caráter restritivo, tornandomais difícil a caracterização da atividade especial, a jurisprudência entende que a lei nova não pode ser aplicadaretroativamente. Aplica-se, assim, o princípio tempus regit actum. Por isso, para as atividades exercidas até 28/04/1995,basta que a exposição ao agente nocivo seja habitual para que se caracterize a condição especial de trabalho.

Neste viés, ao analisar o Quesito n° 1 (d) do laudo técnico (fls. 37/38) produzido por engenheiro do trabalho, verifica-se queo perito atesta que o empregado exerceu suas atividades, exposto a agente nocivo (eletricidade), em regime habitual.Descarta-se, portanto, neste período, a alegação do ente autárquico de que o recorrido não preencheu o requisito temporal.

A autarquia federal argumentou, ainda, que não há medição no formulário da exposição ao agente nocivo, razão queafastaria a incidência do cômputo de atividade especial. Conforme estabelece o Decreto n° 53.831/64, s ob o código 1.1.8, aexposição à eletricidade será considerada nociva quando envolver operações e serviços que lidem com tensão superior a250 volts. Apesar de a empresa na qual trabalhou o autor não gerar nem distribuir energia elétrica, deve ser ressaltado quehá interfaces entre o sistema elétrico e de telefonia, e que determinados empregados desempenham suas atividades empostes de uso mútuo, de sorte que o simples fato de os mesmos fazerem parte do setor de telefonia e não seremeletricitários, não afasta o reconhecimento da atividade especial. Essa questão se torna evidente ao analisarmos asatividades executadas pelo autor (fl. 25) que, inclusive, demonstram contato com instrumentos que possuem voltagemsuperior a 250 volts: fazer testes de isolação elétrica nos cabos telefônicos com tensão de até 1000V. CC em caixassubterrâneas, porões de centrais, distribuidores gerais e postes. Fazer vinculações elétricas entre as redes telefônicassubterrâneas e aéreas de forma a evitar desequilíbrio entre as mesmas, dentre outras.

Torna-se evidente, por conseguinte, que havia exposição à agente nocivo em limites superiores ao tolerado pela legislaçãovigente à época, motivo pelo qual faz jus o autor à averbação do tempo de atividade especial referente ao período empauta.

Período: de 29/04/1995 a 24/09/1999.

Como dito anteriormente, para as atividades exercidas a partir de 29/04/1995, a atividade só é especial se houver exposiçãohabitual e permanente. Nesse sentido, a Turma Nacional de Uniformização editou recentemente a Súmula n° 49: Parareconhecimento de condição especial de trabalho antes de 29/4/1995, a exposição a agentes nocivos à saúde ou àintegridade física não precisa ocorrer de forma permanente.

Cabe aqui uma análise mais profunda das informações recolhidas pelo engenheiro do trabalho, no laudo técnico de fls.28/51. No mesmo Quesito (fls. 37/38) mencionado anteriormente – n° 1 (d) –, há a seguinte constatação: assim sendo, osreclamantes enquanto exerceram as atividades inerentes as suas funções ou estiveram à disposição da Reclamada paraeste fim, o fizeram em regime habitual e permanente, mesmo e apesar da intermitência das exposições. Como sabido, noDireito do Trabalho, a incidência do adicional de periculosidade é possível mesmo que constatada uma exposiçãointermitente ao agente nocivo.

Na esfera previdenciária tal peculiaridade foi tratada de maneira distinta, a lei n° 9.032/95 estabele ceu que, para que hajacaracterização de atividade especial, é obrigatório que a exposição ao agente nocivo seja permanente, não ocasional e nãointermitente. Se a exposição normalmente ocorre todos os dias, mas durante espaço de tempo muito curto, a ponto de nãose traduzir em potencial risco à saúde, será habitual e intermitente e não caracteriza condição especial de trabalho. Ainformação prestada pelo perito sugere que a exposição a qual o autor estava submetido teria caráter intermitente, fato quedescaracteriza a atividade especial.

Essa asserção resulta evidente a partir da leitura do que consta na fl. 38: apesar do perito ter afirmado que a exposição sedava “... em regime habitual e permanente,...”, concluiu que isso se dava “... mesmo e apesar da intermitência dasexposições.”

Tendo em vista que o autor não apresentou nenhum outro documento capaz de comprovar que sua exposição nãoapresentava intermitência – ao revés, o que há nos autos evidencia que de fato ocorrida exposição intermitente –,verifica-se impossível considerar o período articulado como de natureza especial.

5. Conclusão.

Diante do exposto, conheço do recurso e, no mérito, JULGO PARCIALMENTE PROCEDENTE, mantendo a sentença noque condiz à averbação do período de atividade especial entre 10/10/1977 a 28/04/1995 e reformando-a para desconsiderara natureza especial do período entre 29/04/1995 a 24/09/1999.

Eventuais valores percebidos a título de antecipação de tutela encontram-se salvaguardados, nos termos do Enunciado n°52 desta Turma Recursal: É inexigível a restituição de benefício previdenciário ou assistencial recebido em razão de tutelaantecipada posteriormente revogada.

Custas ex lege. Sem honorários advocatícios, já que somente devidos nos casos em que o recorrente é vencido, na formado art. 55 da Lei n° 9.099/95 c/c o art. 1° da Lei° 10.259/01.

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É como voto.

Pablo Coelho Charles Gomes2º Juiz Relator da 1ª Turma Recursal

[Ato judicial assinado eletronicamente, nos termos do parágrafo único do artigo 164 do Código de Processo Civil. Acertificação digital consta na parte inferior da página]

91003 - MANDADO DE SEGURANÇA/ATO JUIZADO ESPECIAL

34 - 0001024-94.2007.4.02.5054/01 (2007.50.54.001024-0/01) (PROCESSO ELETRÔNICO) MARIO DALLA BERNARDINASEGUNDO (ADVOGADO: CRISTINA ARREBOLA, JOAO WALTER ARREBOLA.) x JUIZ FEDERAL DE COLATINA xDEPARTAMENTO NACIONAL DE PRODUÇÃO MINERAL - DNPM.PROCESSO: 0001024-94.2007.4.02.5054/01 (2007.50.54.001024-0/01)

VOTO-EMENTA

1. Trata-se de mandado de segurança impetrado por Mário Dalla Bernardina Segundo contra ato do Juiz Federal do JuizadoEspecial Federal de Colatina, proferido nos autos do processo nº 0001024-94.2007.4.02.5054, que negou seguimento aorecurso de apelação interposto contra sentença de extinção do processo sem resolução do mérito, por carência de ação, naforma do art. 267, inciso VI, do Código de Processo Civil. A decisão impugnada considerou inaplicável o princípio dafungibilidade, eis que presente apenas um dos três requisitos básicos para tanto, qual seja, a tempestividade, ausentes adúvida objetiva e a inexistência de erro grosseiro.

2. A impetrante alega que não há nenhuma legislação, jurisprudência, súmula, doutrina ou outro meio de informaçãojurídica que coincidam com o entendimento adotado na decisão. Sustenta que a fungibilidade somente não pode seraplicada se for apresentado um recurso totalmente diferente, que não é o caso presente, visto que ambos têm a mesmafinalidade, portanto não existiu erro grosseiro. Pede que seja liminarmente determinada a fungibilidade da apelação emrecurso.

3. Entendo não se tratar de erro crasso, tendo em vista que tanto o recurso inominado previsto no art. 42 da Lei nº 9.099/95,quanto o recurso de apelação previsto no art. 513 do CPC, são cabíveis contra sentença.

4. O fato de as razões do recurso estarem dirigidas ao TRF da 2ª Região não inviabiliza sua apreciação pela TurmaRecursal, para onde deverá ser determinada a respectiva remessa, em se tratando de processo em trâmite no JuizadoEspecial Federal.

5. Conquanto não haja dúvida objetiva, doutrinária ou jurisprudencial, quanto ao cabimento do recurso inominado dirigido aTurma Recursal para impugnar sentença proferida por Juizado Especial Federal, os critérios orientadores do juizado,previstos no art. 4º da Lei nº 9.099/95, mormente os da simplicidade e informalidade, induzem à superação da falha nopresente caso.

6. Pelo exposto, CONCEDO A SEGURANÇA para determinar o prosseguimento do recurso. Sem custas, em face dobenefício de assistência judiciária gratuita, que ora defiro, e sem honorários advocatícios, incabíveis em mandado desegurança.

É como voto.

Juiz Pablo Coelho Charles Gomes[Ato judicial assinado eletronicamente, nos termos do parágrafo único do artigo 164 do Código de Processo Civil. Acertificação digital consta na parte inferior da página]

91001 - RECURSO/SENTENÇA CÍVEL

35 - 0002530-17.2007.4.02.5051/01 (2007.50.51.002530-6/01) (PROCESSO ELETRÔNICO) INSTITUTO NACIONAL DOSEGURO SOCIAL - INSS (PROCDOR: ALMIR GORDILHO MATTEONI DE ATHAYDE.) x ADRIANO SEDANO DOSSANTOS REP POR TEREZINHA SEDANO DOS SANTOS (ADVOGADO: CARMEN LEONARDO DO VALE POUBEL.).PROCESSO: 0002530-17.2007.4.02.5051/01

VOTO-EMENTA

1. Trata-se de recurso inominado, interposto pelo INSS em face da sentença de fls. 138/141 que julgou parcialmenteprocedente o pedido inicial para conceder o benefício assistencial ao autor, desde a data do último requerimentoadministrativo (31/05/2007 – fl. 43). Alega o recorrente, em suas razões recursais, que a renda do núcleo familiar é de R$

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600,00 (seiscentos reais), correspondente ao salário de um dos irmãos do recorrido. Aduz que os irmãos solteiros estãoincluídos no computo da renda familiar, desde que vivam sob o mesmo teto. Argumenta, ainda, que a renda per capitaencontrada foi de R$ 120,00 (cento e vinte reais), ou seja, muito acima do teto legal de ¼ do salário mínimo (R$ 380,00)vigente na época.

2. Nos moldes do art. 20 da Lei nº 8.742/93, Lei Orgânica da Assistência Social, o benefício de prestação continuada égarantido no valor de um salário mínimo mensal à pessoa portadora de deficiência ou ao idoso com 65 (sessenta e cinco)anos ou mais que comprove não possuir meios de prover a própria subsistência e tampouco de tê-la provida por familiares.Para efeitos de aplicação do citado dispositivo, considera-se portadora de deficiência a pessoa incapacitada para a vidaindependente e para o trabalho e, de seu turno, considera-se incapaz de prover a manutenção o portador de deficiência ouidoso a família cuja renda mensal per capita seja inferior a ¼ do salário mínimo.

3. In casu, o ponto controvertido cinge-se à aferição da renda per capita inferior a ¼ do salário mínimo.

4. O autor requereu o benefício de prestação continuada em 09/03/2005, porém não foi reconhecido o direito ao benefício,tendo em vista que a perícia médica concluiu que não existe incapacidade para os atos da vida independente e para otrabalho, conforme exigência da Lei Orgânica de Assistência Social (LOAS).

5. De acordo com o lado médico pericial (fls. 84/87), datado de 07/07/2008, o autor é portador de esquizofrenia que oincapacita para todo e qualquer tipo de atividade.

6. Conforme relatório social (fls. 53/56), datado de 25/01/2008, a família é composta por: ADRIANO (autor, maior de 21anos), TEREZA (mãe), PATRÍCIA (irmã, maior de 21 anos), LEANDRO (irmão, maior de 21 anos) e THIAGO (irmão, maiorde 21 anos). Atualmente, a única fonte de renda da família advém do salário do irmão LEANDRO, que trabalha comolaminador com salário mensal de R$ 600,00 (seiscentos reais), está para se casar, mas não tem coragem de abandonar amãe. A moradia é alugada, localizado em zona urbana de acesso razoável com rua pavimentada. A construção da casa éde alvenaria, teto de laje e piso de cerâmica. A casa é abastecida de luz elétrica, esgoto sanitário, água encanada e tratada.A residência, ainda, possui uma sala, um banheiro, três quartos e uma cozinha. O imóvel apresenta em estado regular deconservação, é arejada, clara e necessita de pintura e reparo na estrutura física.

7. Já as despesas mensais da família são de: R$ 250,00 (duzentos e cinquenta reais) com aluguel; R$ 300,00 (trezentosreais) com alimentação; R$ 71,00 (setenta e um reais) com água; R$ 65,00 (sessenta e cinco reais) com luz; R$ 35,00(trinta e cinco reais) com gás e R$ 80,00 (oitenta reais) com remédio de uso contínuo. O somatório dos valores perfaz ototal de R$ 801,00 (oitocentos e um reais). A conta de água veio com valor maior, pois está com uma taxa de religação,devido à falta de pagamento.

8. No que tange para fins de cálculo da renda per capta familiar, serão somente computados o requerente, o cônjuge oucompanheiro, os pais e, na ausência de um deles, a madrasta ou o padrasto, os irmãos solteiros, os filhos e enteadossolteiros e os menores tutelados, desde que vivam sob o mesmo teto. Deste modo, a família é composta pelo autor(ADRIANO), sua mãe (TEREZA) e seus três irmãos (PATRICIA, LEANDRO E THIAGO).

9. In casu, não é devido o benefício de prestação continuada, pois a renda per capita disponível para a família é superior a¼ do salário mínimo vigente na época (R$ 380,00), ou seja, a renda familiar por pessoa é de R$ 120,00 (cento e vintereais).

10. Apesar de o critério referente ao quantum da renda familiar não ser considerado absoluto, podendo ser relativizado emcasos excepcionais, cabe ressaltar que, no caso em tela, não foi constatada condição de miserabilidade. Sendo assim, nãorestam preenchidos os requisitos legais para a concessão do benefício assistencial.

11. Ante o exposto, CONHEÇO DO RECURSO E, NO MÉRITO, DOU-LHE PROVIMENTO para reformar a sentençarecorrida e JULGAR IMPROCEDENTE O PEDIDO DA PARTE AUTORA, conforme fundamentação supra, ficandorevogada a antecipação de tutela.

Em face do caráter alimentar dos valores recebidos, os mesmos não deverão ser restituídos (súmula 51 da TNU).

Custas ex lege. Sem honorários advocatícios, já que somente devidos nos casos em que o recorrente é vencido, na formado art. 55 da Lei nº 9.099/95 c/c o art. 1º da Lei nº 10.259/01.

É como voto.

Pablo Coelho Charles Gomes2º Juiz Relator da 1ª Turma Recursal

[Ato judicial assinado eletronicamente, nos termos do parágrafo único do artigo 164 do Código de Processo Civil. Acertificação digital consta na parte inferior da página]

36 - 0000149-36.2007.4.02.5051/01 (2007.50.51.000149-1/01) (PROCESSO ELETRÔNICO) INSTITUTO NACIONAL DOSEGURO SOCIAL - INSS (PROCDOR: Olivia Braz Vieira de Melo.) x CELI DE OLIVEIRA BRITO (ADVOGADO: URBANO

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LEAL PEREIRA, JOSÉ DE OLIVEIRA GOMES, JOSÉ NASCIMENTO.).PROCESSO: 0000149-36.2007.4.02.5051/01 (2007.50.51.000149-1/01)

VOTO-EMENTA

1. Trata-se de EMBARGOS DE DECLARAÇÃO opostos pelo INSS em face da decisão de fl. 155, que anulou, de ofício, asentença recorrida, para que o juízo a quo profira outra em seu lugar, considerando os fatos pertinentes ao processo emquestão, mantendo, contudo, a antecipação da tutela deferida pelo juízo monocrático até que nova sentença venha a serproferida, considerando que a demanda foi ajuizada em 2007 e que a sentença anulada foi prolatada em 15/05/2011. Aembargante alega que a decisão contém contradição, pois manteve a antecipação de tutela deferida na própria sentençaque restou anulada.

2. Configura-se a contradição apontada. De fato, tendo sido deferida apenas na sentença a medida antecipatória da tutela,e não prevalecendo a sentença, eis que anulada, não é o caso de simplesmente manter a concessão da medida.

3. Nada obsta, contudo, a concessão da tutela antecipada nesta sede. Não há dúvida quanto à verossimilhança daalegação à vista do laudo pericial de fl. 93, que atesta incapacidade permanente das atividades de lavradora, bem como doinício de prova material do exercício de atividade rural (documentos de fls. 7/13). O receio de dano irreparável configura-sepelo caráter alimentar do benefício e pelo tempo decorrido desde a propositura da ação, em 2007. Assim é que restampresentes os requisitos para a antecipação dos efeitos da tutela.

4. Pelo exposto, conheço dos embargos de declaração e a eles DOU PROVIMENTO para, reconhecendo a contradiçãoapontada, saná-la de forma a alterar a decisão embargada na parte em que manteve a antecipação dos efeitos da tutelaconcedida na sentença, integrando-a com a CONCESSÃO DA ANTECIPAÇÃO DOS EFEITOS DA TUTELA até que novasentença seja proferida, uma vez presentes os requisitos legais, conforme exposto neste voto.

Pablo Coelho Charles Gomes2º Juiz Relator da 1ª Turma Recursal

[Ato judicial assinado eletronicamente, nos termos do parágrafo único do artigo 164 do Código de Processo Civil. Acertificação digital consta na parte inferior da página]

91003 - MANDADO DE SEGURANÇA/ATO JUIZADO ESPECIAL

37 - 0008239-36.2007.4.02.5050/01 (2007.50.50.008239-1/01) (PROCESSO ELETRÔNICO) CAIXA ECONÔMICAFEDERAL (ADVOGADO: CLEBER ALVES TUMOLI.) x JUIZ FEDERAL DO 1º JUIZADO ESPECIAL FEDERAL x ITAMARBORGES (ADVOGADO: ANDRÉIA DADALTO.).PROCESSO: 0008239-36.2007.4.02.5050/01 (2007.50.50.008239-1/01)

VOTO/EMENTA

1. Trata-se de mandado de segurança impetrado pela Caixa Econômica Federal – CEF contra ato do Juiz do 1º JuizadoEspecial Federal, proferido nos autos do processo nº 0008239-36.2007.4.02.5050, nos quais se executa sentença que acondenou na obrigação de pagar ao autor as diferenças decorrentes da aplicação sobre a conta de FGTS do autor daprogressividade da taxa de juros, nos termos do art. 4º da Lei nº 5.105/66, acrescidas de correção monetária. Adecisão impugnada considerou corretos os cálculos da Contadoria e determinou a intimação da impetrante para procederao depósito do valor das diferenças devidas, no prazo de 15 dias, sob pena de multa diária de R$ 1.000,00. A CEF foiintimada em 11/01/2013. A impetrante alega que comprovou a adesão do autor aos termos da LC 110/2001, ocorrida em14/05/2002, data a partir da qual o fundista passou a não fazer jus aos juros moratórios pleiteados, fato este que embasa adiferença primordial entre os cálculos da CEF e da Contadoria, cuja questão principal gira em torno da aplicação de juros demora nos valores a serem pagos, visto que a empresa pública não os aplica, enquanto a Contadoria o faz.

2. Verifica-se em consulta ao sistema de acompanhamento processual que, em 30/05/2011, os autos foram conclusos emface de petição na qual a CEF manifestava discordância com os cálculos da Contadoria, tendo sido determinada remessados autos àquela seção para que se manifestasse sobre as alegações, apresentando novos cálculos dos valores devidosao autor, abatendo-se os já depositados em conta vinculada. Em 21/09/2011, os autos retornaram conclusos, tendo sidoproferido despacho determinando, à vista dos cálculos da Contadoria, que a CEF, no prazo de 15 dias, procedesse aodepósito complementar do valor da condenação, acrescidos dos juros e correção monetária, consoante os parâmetrosestabelecidos na parte dispositiva da sentença de fls. 45/49. Em 14/02/2012, os autos retornaram conclusos, tendo sidoproferida a decisão ora impugnada, em 10/01/2013, determinando o cumprimento da decisão anterior, sob pena de multadiária, sem prejuízo de encaminhamento ao MPF.

3. Segundo informação da Contadoria, à fl. 95 dos autos originários, que restou acatada na decisão impugnada, a diferençaentre os cálculos se deve a duas razões: A CEF considera prescritos os lançamentos anteriores a jan/78, enquanto aContadoria inicia os cálculos em out/77; a CEF não admite a reposição dos expurgos de jan/89 e de abr/90 na correção

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monetária das diferenças. Acerca dos juros de mora, consta da informação apenas que “foram aplicados juros de mora de1% ao mês a partir da citação (fl. 17) – 03/2008”. Tais informações divergem, portanto, do alegado na inicial deste mandadode segurança.

4. No que diz respeito ao acordo efetuado com base na Lei Complementar nº 110/2001, conforme disposto em seu artigo4º, o acordo tem por objeto o complemento de atualização monetária resultante da aplicação, cumulativa, dos percentuaisde dezesseis inteiros e sessenta e quatro centésimos por cento e de quarenta e quatro inteiros e oito décimos por cento,sobre os saldos das contas mantidas, respectivamente, no período de 1º de dezembro de 1988 a 28 de fevereiro de 1989 edurante o mês de abril de 1990.

5. Não vislumbro nenhum impedimento para a incidência de juros de mora sobre a diferença resultante da aplicação dejuros progressivos que possa decorrer do acordo sobre a atualização dos saldos das contas de FGTS nos períodos acimareferidos. Ora, a atualização dos saldos da conta vinculada em razão do acordo foi efetuada à época em que este foifirmado, o que não ocorreu com a diferença da taxa de juros progressivos, que apenas agora será creditada.

6. Pelo exposto, DENEGO A SEGURANÇA. Sem custas e sem honorários.

É como voto.

Pablo Coelho Charles Gomes2º Juiz Relator da 1ª Turma Recursal

[Ato judicial assinado eletronicamente, nos termos do parágrafo único do artigo 164 do Código de Processo Civil. Acertificação digital consta na parte inferior da página]

91001 - RECURSO/SENTENÇA CÍVEL

38 - 0004005-11.2007.4.02.5050/01 (2007.50.50.004005-0/01) (PROCESSO ELETRÔNICO) CARLOS HENRIQUE RICCI(ADVOGADO: PRISCILLA FERREIRA DA COSTA, FLAVIA AQUINO DOS SANTOS.) x INSTITUTO NACIONAL DOSEGURO SOCIAL - INSS (PROCDOR: Isabela Boechat B. B. de Oliveira.).RECURSO 0004005-11.2007.4.02.5050/01RECORRENTE: CARLOS HENRIQUE RICCIRECORRIDO: INSS

EMENTA

PREVIDENCIÁRIO. A SIMPLES OCORRÊNCIA DO SINISTRO FAZ COM QUE O DIREITO AO BENEFÍCIO INGRESSENO PATRIMÔNIO DO SEGURADO. O TERMO INICIAL DOS BENEFÍCIOS POR INCAPACIDADE É A DATA DOSINISTRO, NÃO A DATA DO REQUERIMENTO. O AUTOR REQUEREU BENEFÍCIO E RECEBEU AUXÍLIO-DOENÇA,QUE DEVERIA TER SIDO SUCEDIDO, APÓS A CONSOLIDAÇÃO DAS LESÕES, POR AUXÍLIO-ACIDENTE.ILEGALIDADE DA ALTA PROGRAMADA. RECURSO DO AUTOR PROVIDO PARA RETROAGIR A DIB DOAUXÍLIO-ACIDENTE À DATA DE CESSAÇÃO DO AUXÍLIO-DOENÇA.1. O autor recorreu da sentença que condenou o INSS a conceder auxílio-acidente com DIB em 19/10/2007 (data dacitação) e a pagar as diferenças decorrentes da revisão do salário-de-benefício do auxílio-doença recebido entre02/06/2005 e 11/01/2007, na forma do art. 29, II da Lei 8.213/1991. O recorrente sustenta que a DIB do auxílio-acidentedeveria ser fixada no dia da cessação do auxílio-doença, e não na data da citação da parte ré. Contrarrazões do INSS,argumentando que o autor não apresentou requerimento administrativo, sendo certo que a demanda só chegou ao seuconhecimento por ocasião da citação.2. A cessação do auxílio-doença se deu pelo decurso de prazo da alta programada (fl. 40) e, após este prazo, o seguradonão interpôs recurso administrativo nem novo requerimento, tendo havido imediato ingresso na via judicial.3. Voto do Relator, Juiz Federal Pablo Coelho Charles Gomes, negando provimento ao recurso do autor, com fundamentono fato de que “não se insurgiu o recorrente na via administrativa, fazendo-o somente mais tarde pela via judicial. Por isso,entende-se que houve renúncia tácita da percepção do benefício em período pretérito, sendo o benefício devido somente apartir da citação do INSS”, e em consonância com a orientação da 3ª Seção do STJ segundo a qual, na falta de préviapostulação administrativa, a DIB deve ser fixada na data da citação (EREsp 735.329).4. Voto divergente do Juiz Federal Iorio Siqueira D’Alessandri Forti, dando provimento ao recurso, pois (i) o autor, acometidode moléstia incapacitante, comunicou o fato ao INSS, mediante requerimento de benefício (requerimento que não precisaespecificar qual o benefício cabível), (ii) o INSS deferiu auxílio-doença, e não poderia, por falta de respaldo legal, ter levadoa efeito a “alta programada”, (iii) era dever do INSS avaliar o estado de saúde do segurado antes da cessação doauxílio-doença, caso em que teria constatado a consolidação da lesão, com redução definitiva da capacidade laborativa, (iv)na sistemática da Lei 8.213/1991, a ocorrência do sinistro assegura o ingresso do direito ao benefício no patrimônio dosegurado, que pode exercê-lo quando quiser (com efeitos retroativos a, no máximo, cinco anos), pois a norma do art. 74, II– que fixa a DIB da pensão por morte não requerida em 30 dias na DER – é exceção, e não a regra geral.5. Recurso do autor conhecido e provido, para condenar o INSS a pagar o auxílio-acidente desde 11/01/2007, mantido orestante da sentença. Sem condenação em custas e honorários, porque provido o recurso (art. 55 da Lei 9.099/1995).

IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTI

Page 48: BOLETIM TR/ES 2013-232-SESSAO DIA 13-11-2013

Juiz Federal

39 - 0002474-21.2006.4.02.5050/02 (2006.50.50.002474-0/02) (PROCESSO ELETRÔNICO) JOSE XAVIER BENTO(ADVOGADO: vanessa ribeiro fogos, INGRID SILVA DE MONTEIRO.) x UNIÃO FEDERAL (PROCDOR: DANILO THEMLCARAM.).PROCESSO: 0002474-21.2006.4.02.5050/02 (2006.50.50.002474-0/02)

VOTO-EMENTA

PROCESSUAL CIVIL - EMBARGOS DE DECLARAÇÃO – EXTINÇÃO DE PROCESSO ANTERIOR SEM RESOLUÇÃO DOMÉRITO - INTERRUPÇÃO DO PRAZO PRESCRICIONAL.

Trata-se de embargos de declaração opostos pela parte autora em face do acórdão de fls. 293/294, que negou provimentoa outros embargos de declaração anteriormente opostos, também pela parte autora, contra a decisão de fls. 279/281(referendada pela Turma Recursal, conforme certidão de fl. 282), que, com base no art. 543-B, § 3º, do CPC, procedeu àadequação do acórdão de fl. 224, no que diz respeito à prescrição, limitando a condenação da União a restituir os valoresde imposto de renda indevidamente descontados da suplementação de aposentadoria que configuraram bis in idem atécinco anos antes do ajuizamento da ação, ou seja, a partir de 04/05/2001.

O embargante alega que o acórdão embargado é omisso quanto à interrupção da prescrição, nos termos do art. 219, § 1º,do CPC, pois resta comprovado nos autos (fls. 84/96) que em 08/06/2002 propôs ação ordinária (nº 2002.50.50.002180-0),em que houve citação válida e sentença que julgou extinto o feito sem o julgamento do mérito, nos termos do art. 1º da Leinº 10.259/2001 e art. 51, I, da Lei nº 9.099/95.

Conquanto a autora, nos embargos de declaração de fls. 284/285, que foram objeto de apreciação no acórdão embargado,não tenha feito qualquer referência a ação anteriormente ajuizada, tendo mencionado a data de 05/06/2002 como sendo deajuizamento da presente ação, entendo cabível nova apreciação da matéria, considerando que a prescrição constituimatéria de ordem pública e os embargos de declaração possuem efeito translativo.

De fato, está comprovada nos autos – pela sentença de fls. 96/97, proferida em 13/01/2003 - a extinção, sem resolução domérito, de processo anterior no qual o mesmo autor formulou o mesmo pedido, com mesma causa de pedir. Depreende-seque a extinção operou-se após a citação válida e apresentação de contestação pela parte ré, e foi motivada pela ausênciainjustificada do autor na audiência de conciliação.Não há dispositivo legal que estabeleça exceção direta à regra prevista no art. 219 do Código de Processo Civil, segundo oqual a citação válida interrompe a prescrição. A interpretação restritiva impõe-se, em regra, com relação às normas queconduzem à perda do direito, não havendo razão, pois, para se restringir o disposto no referido artigo acerca da interrupçãoda prescrição. Ressalte-se que a regra outrora prevista no art. 175 do Código Civil de 1916 (Art. 175. A prescrição não seinterrompe com a citação nula por vício de forma, por circumducta, ou por se achar perempta a instância, ou a ação) foiexcluída do ordenamento atual. Apenas na hipótese de restar violado dispositivo de lei específico, a depender da causa daextinção do processo anterior, é que se pode considerar não interrompida a prescrição, o que não ocorre no presente caso.Nesse sentido, vejam-se as seguintes ementas do Superior Tribunal de Justiça:AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE INSTRUMENTO. VIOLAÇÃO DO ARTIGO 535 DO CÓDIGO DE PROCESSOCIVIL. INEXISTÊNCIA. RESPONSABILIDADE CIVIL. NEXO DE CAUSALIDADE. VERIFICAÇÃO. HONORÁRIOSADVOCATÍCIOS. PERCENTUAL. MATÉRIAS FÁTICO-PROBATÓRIAS. SÚMULA Nº 7/STJ. MEDIDA CAUTELAR DEANTECIPAÇÃO DE PROVA. CITAÇÃO VÁLIDA. EXTINÇÃO DO PROCESSO SEM JULGAMENTO DE MÉRITO.PRESCRIÇÃO. INTERRUPÇÃO.1. Não há falar em negativa de prestação jurisdicional se o tribunal de origem motiva adequadamente sua decisão,solucionando a controvérsia com a aplicação do direito que entende cabível à hipótese, apenas não no sentido pretendidopela parte.2. É inviável em sede de recurso especial a pretensão recursal que demanda o reexame de matéria fática e das provasconstantes dos autos.3. A citação válida, ainda que realizada em processo cautelar preparatório extinto sem julgamento do mérito, interrompe aprescrição. Precedentes. (g.n.)4. Agravo regimental não provido.(AgRg no Ag 1420413/RJ, Rel. Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA, TERCEIRA TURMA, julgado em 21/03/2013,DJe 26/03/2013)

AGRAVO REGIMENTAL. RECURSO ESPECIAL. PREVIDENCIÁRIO E PROCESSUAL CIVIL. PRESCRIÇÃO.INTERRUPÇÃO. CITAÇÃO VÁLIDA. EXTINÇÃO DO PROCESSO. ILEGITIMIDADE DE PARTE. POSSIBILIDADE.1. Nos termos da jurisprudência desta Corte, mesmo sendo extinto o processo por ilegitimidade da parte, a citação válidapossui o condão de interromper a prescrição, por haver inclusive aparência de correta propositura da ação. Precedentes.(g.n.)2. Agravo regimental a que se nega provimento.(AgRg no REsp 781.186/PR, Rel. Ministro VASCO DELLA GIUSTINA (DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TJ/RS),SEXTA TURMA, julgado em 21/06/2011, DJe 03/08/2011)

Portanto, há que se considerar interrompida a prescrição desde o ajuizamento da ação anterior, ocorrido em 05/06/2002 (fl.84).

Page 49: BOLETIM TR/ES 2013-232-SESSAO DIA 13-11-2013

Pelo exposto, CONHEÇO DOS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO E A ELES DOU PROVIMENTO PARA ALTERAR OACÓRDÃO de fls. 293/294 e a decisão de fls. 279/281, declarando que os valores a serem restituídos à parte autora sãoaqueles devidos a partir de 05/06/1997 (e não a partir de 04/05/2001, como consta da referida decisão).É como voto.Pablo Coelho Charles Gomes2º Juiz Relator da 1ª Turma Recursal

[Ato judicial assinado eletronicamente, nos termos do parágrafo único do artigo 164 do Código de Processo Civil. Acertificação digital consta na parte inferior da página]

91003 - MANDADO DE SEGURANÇA/ATO JUIZADO ESPECIAL

40 - 0002206-06.2002.4.02.5050/02 (2002.50.50.002206-2/02) (PROCESSO ELETRÔNICO) JOSE CARLOS PIRESBARBOSA (ADVOGADO: Frederico Guilherme Siqueira Campos.) x Juizo Federal do 1º Juizado Especial Federal Do E.S. xINSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS (PROCDOR: JOSÉ GUILHERME BARBOSA DE OLIVEIRA.).PROCESSO: 0002206-06.2002.4.02.5050/02 (2002.50.50.002206-2/02)

VOTO/EMENTA

1. Trata-se de mandado de segurança impetrado por JOSÉ CARLOS PIRES BARBOSA contra decisão do 1º JEF deVITÓRIA que, nos autos do processo nº 2002.50.50.002206- 2, acolheu os embargos à execução opostos pelo INSS (fls.612-625), sem prévia oportunidade de impugnação pelo embargado. O impetrante narra ter requerido (fls. 608-610), noprocesso, a execução das astreintes decorrentes do descumprimento de tutela jurisdicional fixada em acórdão da TurmaRecursal (fls. 211-216), tendo o INSS afirmado falsamente o cumprimento, até que o Juiz fixou multa diária de R$ 1.000,00para o descumprimento, e, posteriormente, multa diária de R$ 500,00 a ser suportada pela servidora diretamenteresponsável pelo descumprimento. Diz ter sido surpreendido com a publicação da decisão que acolheu embargos opostospelo INSS, o que teria violado o devido processo legal e, conseqüentemente, a garantia do contraditório. Argumenta que oart. 1º da Lei 10.259/2001 determina a aplicação subsidiária da Lei 9.099/1995, a qual, em matéria de execução, remete, noart. 52, às normas do CPC – cujo art. 740 impõe (salvo na hipótese de rejeição imediata) a prévia oitiva do embargadoantes da apreciação dos embargos à execução.

2. Como se vê, o impetrante não discute o acerto ou desacerto da decisão judicial quanto ao seu mérito, questionandoapenas o fato de não ter se estabelecido o contraditório em sede de embargos à execução.

3. Conforme art. 461, § 6º, do CPC, “O juiz poderá, de ofício, modificar o valor ou a periodicidade da multa, caso verifiqueque se tornou insuficiente ou excessiva”. Nos termos do Enunciado 65 do Fórum Nacional dos Juizados Especiais Federais(FONAJEF), “Não cabe a prévia limitação do valor da multa coercitiva (astreintes), que também não se sujeita ao limite dealçada dos JEFs, ficando sempre assegurada a possibilidade de reavaliação do montante final a ser exigido na forma doparágrafo 6º do artigo 461 do CPC”. Noutras palavras, é no momento da execução que o Juiz Federal pode reavaliar o valortotal das astreintes, levando em conta (i) a extensão temporal do descumprimento, (ii) a boa-fé ou má-fé de quemdescumpriu a decisão (esforço para cumprir a ordem), (iii) o valor do montante acumulado, a fim de evitar que ummecanismo de constrição/sanção acarrete enriquecimento sem causa.

4. A reavaliação do montante final, assim como a própria fixação inicial do valor diário das astreintes, situa-se dentro do livrearbítrio do Juiz. Esse grau de liberdade quanto à estipulação do valor, contudo, não significa que a decisão possa sertomada independentemente da participação das partes.

5. A dinâmica dessa (re)avaliação de valores, em fase de execução, incorpora as regras do CPC apenas no que elas foremcompatíveis com o rito e com os princípios dos Juizados Especiais. Conclui-se que, conforme o Enunciado 13 doFONAJEF, “Não são admissíveis embargos de execução nos Juizados Especiais Federais, devendo as impugnações dodevedor ser examinadas independentemente de qualquer incidente”.

6. No caso concreto, o autor-impetrante peticionou, requerendo a execução. Constam dessa petição, explícita ouimplicitamente, a (i) concordância com o valor do dia-multa fixado, (ii) a concordância com a suficiência do valor executado,que, a seu ver, não configura enriquecimento sem causa, (iii) o período total de descumprimento da ordem judicial peloINSS. Seguiu-se a isto a resposta do INSS, em que (i) reputou exagerado tanto o valor do dia-multa quanto o valor finalacumulado, a resultar em enriquecimento sem fato, (ii) a alegação de que a ordem judicial foi cumprida antes da dataafirmada pelo autor.

7. O art. 740 do CPC dispõe que, recebidos os embargos, o exeqüente será ouvido no prazo de 15 dias. O dispositivopressupõe, contudo, que os embargos versem sobre uma das matérias elencadas no art. 741 (no caso de execução contraa fazenda pública) ou no art. 745, ambos do CPC.

8. No presente caso, considerando os entendimentos acima referidos no sentido de que (i) as impugnações do devedorpodem ser examinadas independentemente de qualquer incidente – pelo que a matéria tratada nos embargos do INSSpoderia ser aventada em simples petição –, bem como de que (ii) é possível a reavaliação do montante final das astreintes

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(art. 461, § 6º do CPC), mostra-se totalmente prescindível a manifestação do exequente na forma como prevista no art. 740do CPC.

9. É dizer: não se tratando de matéria própria de embargos à execução, também não se impõe a observância da regra doart. 740 do CPC, não havendo que se falar em violação à garantia do contraditório por essa razão.

10. Endossando as razões declinadas pelo MM. Juiz Federal Iório D’Alessandri Forti quando indeferiu o requerimento deconcessão liminar da segurança (fl. 101/102), DENEGO A SEGURANÇA. Sem custas, em face do benefício de assistênciajudiciária gratuita, que ora defiro, e sem honorários advocatícios, incabíveis em mandado de segurança.

É como voto.Pablo Coelho Charles Gomes2º Juiz Relator da 1ª Turma Recursal[Ato judicial assinado eletronicamente, nos termos do parágrafo único do artigo 164 do Código de Processo Civil. Acertificação digital consta na parte inferior da página]

FICAM INTIMADAS AS PARTES E SEUS ADVOGADOS DOS ATOS ORDINATÓRIOS/INFORMAÇÕES DA SECRETARIANOS AUTOS ABAIXO RELACIONADOS

91001 - RECURSO/SENTENÇA CÍVEL

41 - 0000926-44.2009.4.02.5053/01 (2009.50.53.000926-1/01) INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS(PROCDOR: UBIRATAN CRUZ RODRIGUES.) x ZELINA MARTELI RAUTA (ADVOGADO: ACLIMAR NASCIMENTOTIMBOÍBA.).EMBARGOS DE DECLARAÇÃONº 0000926-44.2009.4.02.5053/01 (2009.50.53.000926-1/01)EMBARGANTE: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSSEMBARGADA: ZELINA MARTELI RAUTARELATOR: JUIZ FEDERAL IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTI

EMENTA

EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. PREVIDENCIÁRIO. AUXÍLIO-DOENÇA. APOSENTADORIA POR INVALIDEZ. OMISSÃOSOMENTE A RESPEITO DO USO DA PROVA EMPRESTADA. CONTRADIÇÃO INEXISTENTE. EMBARGOSPARCIALMENTE PROVIDOS.1. O INSS opôs embargos de declaração em face do acórdão que negou provimento ao seu recurso inominado. Alegou aexistência de omissões (ausência de manifestação a respeito da filiação da parte embargada, na autarquia federal, comdoença pré-existente, da nulidade da utilização de prova emprestada e da incompetência absoluta da Justiça Federal), bemcomo de contradição (em razão de a incapacidade laboral da parte autora ter sido afastada na primeira demanda, o que,segundo o embargante, afastaria a condenação ao pagamento do benefício desde a data do requerimento administrativo).2. O texto do acórdão consignou que o perito não teria revelado a data do início da incapacidade da parte autora, masafirmou que a incapacidade já existia quando da propositura da ação, o que levou a Turma a inferir, pelos diversoselementos dos autos (exames e laudos médicos), que a incapacidade laborativa já se demonstrava à época dorequerimento administrativo. Ausente a alegada omissão nesse sentido.3. O pedido de concessão de benefício previdenciário de auxílio-doença ou aposentadoria por invalidez atrai a competênciada Justiça Federal para o julgamento da lide. Não obstante, a matéria não foi objeto do recurso da sentença. Trata-se deinovação recursal, não admitida no ordenamento jurídico pátrio. Afastada também essa alegada omissão no julgado.4. O acórdão não se manifestou sobre a alegação recursal a respeito do uso da perícia levada a efeito no processo2008.50.53.000250-0. Todavia, a prova foi submetida a novo contraditório, o que autoriza a sua utilização neste processo.5. A fixação do pagamento do benefício desde a data do requerimento administrativo levou em consideração o momento daincapacidade laborativa da parte autora. O embargante, alegando contradição, pretende a rediscussão do mérito, aolevantar questão diretamente enfrentada no acórdão atacado.6. Embargos de declaração conhecidos e providos, para reconhecer a omissão tocante ao uso da perícia levada a efeito noprocesso 2008.50.53.000250-0, acrescentando ao acórdão recorrido a fundamentação acima, sem alteração do decisum.

A C Ó R D Ã O

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Juízes da 1ª Turma Recursal dos Juizados Especiais Federais daSeção Judiciária do Espírito Santo DAR PROVIMENTO AOS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO, na forma da ementaconstante dos autos, que passa a integrar o presente julgado.

IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTIJuiz Federal – 3º Juiz Relator

42 - 0000192-62.2010.4.02.5052/01 (2010.50.52.000192-9/01) PAULO RODRIGUES VERDEIRO (ADVOGADO: PAULAGHIDETTI NERY LOPES, ADENILSON VIANA NERY.) x INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS

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(PROCDOR: THIAGO DE ALMEIDA RAUPP.).RECURSO DE SENTENÇA Nº 0000192-62.2010.4.02.5052/01RECORRENTE: PAULO RODRIGUES VERDEIRORECORRIDO: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSSRELATOR: JUIZ FEDERAL IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTI

EMENTA

PREVIDENCIÁRIO. PESSOA INCAPAZ PARA O TRABALHO. DÚVIDA SOBRE A PREEXISTÊNCIA DA INCAPACIDADE.NECESSIDADE DE PROVA TESTEMUNHAL, ANTE A INSUFICIÊNCIA DOS DOCUMENTOS. SENTENÇA ANULADA.1. A parte autora interpôs recurso da sentença que julgou improcedente o pedido de concessão do benefício deaposentadoria por invalidez. Em razões de recurso, o recorrente sustenta que não ingressou no RGPS portandoincapacidade laboral, defendendo que a incapacidade total e definitiva decorreu de agravamento de seu estado de saúde,após sua filiação ao INSS. Contrarrazões às fls. 71-74.2. O autor tem 40 anos de idade, alega que sempre trabalhou no campo e atualmente recebe o Benefício Assistencial aPessoa Portadora de Deficiência (5306230810). A perícia médica judicial (fls. 45-47), realizada nos autos da ação2008.50.52.000037-2, ajuizada pelo autor, em face do INSS, requerendo o benefício assistencial LOAS, atesta que o autor,embora estivesse acometido de epilepsia, não estaria incapaz para exercer suas atividades laborais habituais. Destacou operito que não teria como aferir a data do início da doença. A segunda perícia (fls. 60-62), também realizada nos autossupracitados, em 24.04.2012, por sua vez, atesta que o autor sofre de psicose crônica decorrente ou relacionada àepilepsia, que o incapacitaria para exercer atividades laborais. O expert, respondendo ao questionamento a respeito da datade início da doença, consignou o seguinte: “O periciando, já na infância, e durante toda a sua juventude, apresentavaconvulsões epilépticas. Em decorrência das mesmas, desenvolveu uma psicose orgânica; portanto, é razoável supor que asua doença tenha o seu início na idade pré-escolar, pois inclusive prejudicou o seu desempenho acadêmico”. Com base emtal informação, a sentença recorrida julgou improcedente o pedido de aposentadoria por invalidez, sob o argumento de queo autor seria portador da moléstia incapacitante antes mesmo de sua filiação ao RGPS.3. Para demonstrar a qualidade de segurado especial (trabalhador rural), nos termos do art. 55, § 3°, da Lei 8.213/1991, oautor apresentou os seguintes documentos: cadastramento no INSS como segurado especial/produtor (fl. 13); declaraçãode exercício de atividade rural no período de 1993-1998 (fl. 14); carteira de identidade expedida pelo Sindicato dosTrabalhadores Rurais de São Mateus e Jaguaré (fl. 17); recibos do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de São Mateus comrecolhimento de contribuições (fls. 19-21); comprovante de entrega de declaração para cadastro de imóvel rural (fl. 20).Restou atendida a exigência do art. 55, § 3°, da Le i 8.213/1991. Todavia, há dúvida sobre a preexistência da incapacidadepara o trabalho e a dinâmica de seu agravamento, ante a insuficiência de documentos, razão pela qual se deve permitir, aoautor, a produção de prova testemunhal.4. Recurso do autor conhecido e provido, para anular a sentença e permitir a produção de prova testemunhal. Sem custas ehonorários advocatícios, na forma do artigo 55, caput, da Lei 9.099/1995.

A C Ó R D Ã O

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Juízes da Turma Recursal dos Juizados Especiais Federais daSeção Judiciária do Espírito Santo CONHECER DO RECURSO e, no mérito, DAR-LHE PROVIMENTO, na forma daementa que passa a integrar o presente julgado.

IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTIJuiz Federal – 3º Juiz Relator

43 - 0000135-81.2009.4.02.5051/01 (2009.50.51.000135-9/01) MARIA DA PENHA MONTEIRO (ADVOGADO: LaurianeReal Cereza, Valber Cruz Cereza.) x INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS (PROCDOR: ANA CAROLINESOUZA DE ALMEIDA ROCHA.).RECURSO Nº 0000135-81.2009.4.02.5051/01 (2009.50.51.000135-9/01)RECORRENTE: MARIA DA PENHA MONTEIRORECORRIDO: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSSRELATOR: JUIZ FEDERAL IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTI

EMENTA

PREVIDENCIÁRIO – AUXÍLIO-DOENÇA – APOSENTADORIA POR INVALIDEZ –CONSTATAÇÃO DE INCAPACIDADELABORAL PELOS LAUDOS MÉDICOS PARTICULARES – CONDIÇÕES PESSOAIS FAVORÁVEIS.1. A autora interpôs recurso da sentença que julgou improcedente o pedido de concessão de auxílio-doença e suaconversão em aposentadoria por invalidez. Sustenta a recorrente que o perito do juízo constatou a existência de doença,mas se equivocou quando relatou a capacidade laboral, pois se encontrava incapacitada, conforme relatado em perícia enos laudos juntados. Sem contrarrazões.2. A autora, atualmente com 55 anos de idade, servente de limpeza, alega não possuir capacidade para exercer suasatividades laborais por ser portadora de espondilodiscoartrose e escoliose lombar. Os requerimentos administrativosformulados em 17.07.2006, 27.07.2007, 25.04.2008 e 05.06.2008 foram indeferidos por ausência de constatação deincapacidade para o trabalho (fls. 38-40). Segundo dados do Cadastro Nacional de Informações Sociais - CNIS, ela

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manteve vínculos empregatícios nos períodos de 03.01.1983 a 13.08.1983 (ITAPLASTIC ITAPUA PLASTICOS LTDA), de15.08.1983 a 01.02.1991 (CALÇADOS TUPA LTDA), de 01.07.1991 a 01.11.1992 (LOSSANO CALÇADOS INDÚSTRIA ECOMERCIO LTDA), de 03.11.1997 a 01.03.1999 (J. VIEIRA CALÇADOS VIEIRA), 01/11/2000 a 30/03/2004 (REVAROINDÚSTRIA E COMERCIO LTDA-ME), de 01/2005 a 03/2009 (CI), de 16.02.2009 a 28.02.2009 (GLOBO PRESTAÇÃO DESERVIÇOS DE LIMPEZA LTDA), mas se encontra trabalhando atualmente na empresa CONDOMINIO DO SHOPPINGSUL, com vínculo iniciado em 13.05.2009.3. Por ocasião da primeira perícia realizada em 28.01.2010 (fl. 53), foi solicitada a realização de exames complementares(eletroneuromiografia de membro inferior esquerdo e de membros superiores, tomografia de coluna cervical e ressonânciamagnética da coluna cervical). Realizados os exames requeridos (fls. 60-69), foi determinada a segunda perícia em22.05.2012 (laudo às fls. 80-81), em que o perito registrou que a autora é portadora de dor articular (CID 10: M 25.5), deorigem adquirida, a qual se manifesta desde 24.06.2006. Ao exame físico, apresentou-se lúcida, orientada e calma,marchando com discreta limitação para o membro inferior esquerdo e não foi observada artrofia muscular ou hipertonia naregião cervical e lombar. Concluiu o perito que a doença não geraria incapacidade à autora para o trabalho. Com base emtais elementos, a sentença julgou improcedente a pretensão da autora.4. A autora juntou laudo médico à fl. 26, datado em 08.01.2008, que atesta que ela estaria acometida da doença verificadana perícia e ainda em tratamento desde outubro/2007, destacando as dificuldades para realização de suas atividadeshabituais. O laudo médico de fl. 28, por sua vez, datado em junho/2008, atesta também a existência da doença e que aautora sentiria fortes dores lombares, determinando o seu afastamento das atividades laborais. Os resultados de examesde fls. 54-55 e os mais recentes realizados em 2011 (fls. 60-69) apenas atestam a doença da autora. O recente laudomédico de fl. 82, por seu turno, datado em 09.04.2012, atesta que a autora sente dores em membros superiores, membrosinferiores, calcanhares e coluna cervical e lombar, destacando que ela, em razão disso, estaria incapacitada para exerceras atividades laborais.5. Embora a perícia médica judicial não tenha concluído pela incapacidade da autora, os laudos médicos particularesrevelam que ela estaria incapacitada para a realização de suas atividades laborais habituais, por ser portadora de doreslombares. A incapacidade total e definitiva resulta da conjugação entre a doença que acomete o trabalhador e suascondições pessoais, de forma que, se essa associação indicar que ele não possa mais exercer a função habitual, porque aenfermidade impossibilita o seu restabelecimento, nem receber treinamento para readaptação profissional, em função desua idade e baixa instrução, não há como deixar de se reconhecer a invalidez. No caso, a autora tem 55 anos de idade,exerceu atividade laborativa contributiva por cerca de 20 anos e, atualmente, está impossibilitada de continuar a exercer assuas funções habituais, que demandam esforço físico incompatível com o seu estado de saúde. Associando-se a idade daautora, o grau de instrução, as atuais condições do mercado de trabalho e ainda sua saúde debilitada, tais fatoresimpossibilitam sujeitá-la a ficar à mercê de exercer outra atividade remunerada para manter as mínimas condições desobreviver dignamente.6. O art. 131 do CPC dispõe que o magistrado apreciará livremente a prova, indicando os motivos que lhe formaram oconvencimento. O art. 436 do CPC, por sua vez, estabelece que o juiz não está adstrito ao laudo pericial, podendo formarsua convicção com outros elementos ou fatos provados nos autos.7. Recurso da autora conhecido e provido, para condenar o INSS a conceder auxílio-doença desde 11.06.2008, quando foiconstatada, por laudo médico (fl. 28), a incapacidade da autora para exercer as atividades laborais habituais, e a suaconversão em aposentadoria por invalidez a partir deste julgado. Igualmente, defiro, nesta oportunidade, a antecipação dosefeitos da tutela de mérito em favor da recorrente, porquanto reputo presentes os requisitos da verossimilhança daalegação (com base em toda a fundamentação de fato e de direito lançada neste voto) e do fundado receio de danoirreparável ou de difícil reparação extraído do caráter alimentar do benefício pleiteado. Logo, o benefício deverá serimplantado no prazo de vinte dias contados da intimação deste julgado. As parcelas vencidas serão pagas acrescidas decorreção monetária e de juros de mora, estes à taxa de 1% ao mês a contar da citação. Sem custas e honoráriosadvocatícios, na forma do artigo 55, caput, da Lei 9.099/1995.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a 1ª Turma Recursal do JuizadoEspecial Federal da Seção Judiciária do Espírito Santo, CONHECER DO RECURSO e, no mérito, DAR-LHEPROVIMENTO, na forma da ementa constante dos autos, que fica fazendo parte integrante do presente julgado.

IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTIJuiz Federal – 3º Juiz Relator

44 - 0000251-50.2010.4.02.5052/01 (2010.50.52.000251-0/01) INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS(PROCDOR: HENRIQUE BICALHO CIVINELLI DE ALMEIDA.) x JOEL LAUDINO (ADVOGADO: CLÁUDIO LÉLIO DOSANJOS, PAULO WAGNER GABRIEL AZEVEDO.).RECURSO DE SENTENÇA Nº 0000251-50.2010.4.02.5052/01 (2010.50.52.000251-0/01)RECORRENTE: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSSRECORRIDO: JOEL LAUDINORELATOR: JUIZ FEDERAL IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTI

EMENTA

PREVIDENCIÁRIO – AUXÍLIO-DOENÇA – CONSTATAÇÃO DE INCAPACIDADE LABORAL TEMPORÁRIA PELAPERÍCIA JUDICIAL – AUSÊNCIA DE ELEMENTOS QUE DEMONSTREM A PERMANÊNCIA DA INCAPACIDADE

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LABORAL APÓS 24.11.2010 – DIB EM 22.09.2009, QUANDO FOI FIXADA A INCAPACIDADE LABORAL PELA PERÍCIAJUDICIAL –1. A autarquia previdenciária interpôs recurso da sentença que julgou procedente o pedido de concessão de aposentadoriapor invalidez. Sustenta a recorrente que a incapacidade laboral do recorrido foi peremptoriamente afastada pelo serviçomédico-pericial do INSS. Frisa que a prova pericial produzida foi clara no sentido de que a parte autora se encontravatemporariamente incapacitada para o labor. Alega ainda que, mesmo se houvesse incapacidade definitiva, a DIB nãopoderia retroagir até a data da DER. Contrarrazões às fls. 84-85.2. O recorrido é pescador e conta atualmente com 59 anos de idade, ao passo que a moléstia de que padece é de naturezaortopédica. O Cadastro Nacional de Informações Sociais (CNIS) demonstra que o autor exerceu atividade laborativacontributiva de 24.10.1977 a 14.09.1978 (CNPJ não cadastrado), de 05.03.1981 a 22.04.1981 (CONDUTO COMPANHIANACIONAL DE DUTOS), de 01.06.1987 a 01.07.1987 (REFRIGERANTES S/A), de 08.08.1987 a 27.11.1987 (HGSSERVIÇOS GEOFÍSICOS LTDA); e de 03.04.2000 a 11.09.2000 e de 12.10.2004 a 16.12.2004 (GEOKINETICSGEOPHYSICAL DO BRASIL LTDA).3. A perícia médica (fls. 48-52), de 17.12.2011, constatou que o autor seria portador de hérnia de disco (L4/L5 e L5/S1) queo incapacitaria temporariamente para exercer as suas atividades laborativas, fixando o início da incapacidade laboral em26.03.2009. O laudo médico particular de fl. 10, por sua vez, datado em 17.09.2009, atesta que o autor teria a doençaverificada nos autos e que deveria manter-se afastado de suas atividades laborais que demandassem esforço físico eposição viciosa. Devido à doença, o autor recebeu administrativamente auxílio-doença de 09.08.2007 a 30.06.2009 e de20.04.2010 a 24.11.2010.4. Em razão de o laudo pericial determinar que a incapacidade é temporária, deve ser concedido apenas auxílio-doença até19.04.2010 (véspera da concessão administrativa do novo benefício), pois não há, nos autos, elementos que autorizem amanutenção do benefício em período posterior a 24.11.2010, quando o auxílio-doença foi cessado pelo INSS.5. Descabida a alegação recursal de que a DIB não poderia retroagir até a data do requerimento administrativo, em22.09.2009, pois a perícia judicial fixou o início da incapacidade laboral em 26.03.2009.6. Recurso do INSS conhecido e parcialmente provido, para conceder auxílio-doença até 19.04.2010. Sem custas, na formada lei. Sem a condenação em honorários advocatícios (Enunciado 97 do FONAJEF).

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a 1ª Turma Recursal do JuizadoEspecial Federal da Seção Judiciária do Espírito Santo CONHECER DO RECURSO e, no mérito, DAR-LHE PARCIALPROVIMENTO, na forma da ementa constante dos autos, que fica fazendo parte integrante do presente julgado.

IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTIJuiz Federal Relator

45 - 0000276-66.2010.4.02.5051/01 (2010.50.51.000276-7/01) INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS(PROCDOR: RODRIGO STEPHAN DE ALMEIDA.) x PAULO CESAR VEREDIANO (ADVOGADO: Rafael Antônio Freitas,SIDINÉIA DE FREITAS DIAS.).RECURSO DE SENTENÇA Nº 0000276-66.2010.4.02.5051/01 (2010.50.51.000276-7/01)RECORRENTE: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSSRECORRIDO: PAULO CESAR VEREDIANORELATOR: JUIZ FEDERAL IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTI

EMENTA

PREVIDENCIÁRIO – AUXÍLIO-DOENÇA – APOSENTADORIA POR INVALIDEZ – CONSTATAÇÃO DE INCAPACIDADETOTAL E DEFINITIVA PELA PERÍCIA JUDICIAL – TERMO A QUO DO BENEFÍCIO – REQUERIMENTOADMINISTRATIVO DO SEGUNDO PEDIDO DE AUXÍLIO-DOENÇA.1. O INSS interpôs recurso da sentença que julgou procedente o pedido de concessão de aposentadoria por invalidez.Sustenta o recorrente que o autor desenvolveu a enfermidade constatada por perícia judicial após a cessação doauxílio-doença em 25.05.2010, tanto assim que formulou novo requerimento administrativo em 26.09.2011, deferido pelaautarquia previdenciária. Aponta que os elementos dos autos não justificam o deferimento da aposentadoria por invalidez,destacando que o autor inclusive teria renovado recentemente a sua habilitação para dirigir na categoria “E” e que o termoinicial não pode ser anterior a 26.09.2011.2. Na primeira perícia realizada em 30.07.2010, o perito, analisando a doença até então manifestada (câncer de pele),constatou a capacidade laborativa do autor para exercer a atividade de motorista de carreta (fl. 112). Realizada a segunda,em 03.04.2012, em razão de agravamento de outros problemas de saúde, constatou-se que o autor seria portador deinsuficiência cardíaca congestiva e obesidade mórbida. O expert destacou que a doença cardíaca congestiva seriairreversível, o que incapacitaria o autor total e definitivamente para o exercício da atividade laboral habitual de motorista (fls.171-172). Embora os documentos particulares demonstrem que, nos períodos destacados, o autor esteve submetido adiversos tratamentos médicos, não houve nenhum laudo médico que asseverasse a incapacidade total e definitiva do autorpara o labor, sendo a prova pericial determinante para aferir a incapacidade laboral, tendo em vista que o julgador nãodetém conhecimento técnico, tampouco condições de formar sua convicção sem a participação de profissional habilitado.3. Segundo os dados do CNIS, o autor teve vínculo empregatício de 11.01.1979 a 29.03.1998 (MARBRASA MÁRMORES EGRANITOS DO BRASIL LTDA) e, desde 03/1999, é contribuinte individual da Previdência Social. Consta, ainda, que gozouauxílio-doença no período de 24.01.2006 a 20.05.2010 e de 21.02.2011 a 31.03.2013, estando atualmente gozando de tal

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benefício com DIB em 01.04.2013.4. Comprovado, por perícia médica, que o autor está totalmente incapacitado para o exercício de suas atividadeslaborativas, ele tem direito à aposentadoria por invalidez, mesmo porque o laudo pericial destacou que a moléstia édefinitiva e sem qualquer possibilidade de reabilitação. Além disso, o autor, desde 2011, goza auxílio-doença em razão dadoença incapacitante.5. Não há prova de que o autor teria renovado a sua carteira de habilitação para outra categoria; não obstante, tal fato, porsi só, não demonstra que o autor já esteja capacitado para exercer a atividade de motorista.6. A sentença determinou que o benefício concedido teria início em 25.01.2010. Todavia, os elementos dos autosdemonstram que o auxílio-doença usufruído de 24.01.2006 a 20.05.2010 foi concedido em razão de moléstia distintadaquela verificada na segunda perícia de fls. 171-172. Tendo o laudo pericial concluído que o autor é incapaz para otrabalho por doença adquirida após a cessação do primeiro auxílio-doença (24.01.2006 a 20.05.2010), deve ser, então,resguardado o direito à aposentadoria por invalidez a partir da data em que requereu o segundo auxílio-doença, em26.09.2011.7. Recurso do INSS conhecido e parcialmente provido, para determinar a data de 26.09.2011 como o termo a quo daaposentadoria por invalidez concedida na sentença. Sem custas, na forma da lei. Sem a condenação de honoráriosadvocatícios (Enunciado 97 do FONAJEF).

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a 1ª Turma Recursal do JuizadoEspecial Federal da Seção Judiciária do Espírito Santo CONHECER DO RECURSO e, no mérito, DAR-LHEPARCIAL PROVIMENTO, na forma da ementa constante dos autos, que fica fazendo parte integrante do presente julgado.

IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTIJuiz Federal Relator

46 - 0000183-74.2008.4.02.5051/01 (2008.50.51.000183-5/01) ELIAS SILVA LIMA (ADVOGADO: EDSON DA SILVAJANOARIO, LUIZ CARLOS DA SILVA JUNIOR.) x CAIXA ECONÔMICA FEDERAL (ADVOGADO: RODRIGO SALES DOSSANTOS.).RECURSO Nº 0000183-74.2008.4.02.5051/01 (2008.50.51.000183-5/01)RECORRENTE: ELIAS SILVA LIMARECORRIDO: CAIXA ECONÔMICA FEDERALRELATOR: JUIZ FEDERAL IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTI

EMENTA

FGTS. JUROS PROGRESSIVOS.

1. A parte autora recorreu da sentença que, por ausência de apresentação dos extratos de conta de FGTS, extinguiu semapreciação do mérito o processo com pedido de juros progressivos.

I – FIM DA PROGRESSIVIDADE APÓS A RESCISÃO DO CONTRATO DE TRABALHO (ART. 2º, PARÁGRAFO ÚNICO,DA LEI 5.705/1971).1. A Lei 5.107/1966 criou o FGTS, com capitalização progressiva dos juros, na forma do art. 4º: 3% durante os doisprimeiros anos de permanência na mesma empresa; 4% do terceiro ao quinto ano de permanência na mesma empresa; 5%do sexto ao décimo ano de permanência na mesma empresa; e 6% do décimo primeiro ano de permanência na mesmaempresa em diante. Segundo a redação original do art. 4º, § 1º, a alíquota só voltaria a 3% em caso de demissão por justacausa; em caso de rescisão voluntária por parte do empregado, voltaria à alíquota imediatamente anterior; em caso dedemissão sem justa causa ou por força maior, a progressividade seria mantida.2. A Lei 5.705/1971 fixou a taxa de juros em 3%, extinguindo a progressividade. Quanto às contas referentes a empregosiniciados até 21/09/1971 (véspera da sua entrada em vigor), o art. 2º preservou a taxa progressiva para os empregados quejá haviam optado pelo FGTS, apenas enquanto fosse mantido o contrato de trabalho. Em razão da revogação do art. 4º, §1º, da Lei 5.107/1966, o fim do vínculo de emprego acarretava o retorno da remuneração do FGTS à taxa fixa de 3%.

II – PRESCRIÇÃO. TRINTA ANOS.1. Com base nos arts. 144 da Lei 3.807/1966, 19 da Lei 5.107/1966 e 23, § 5º, da Lei 8.036/1990, o Fundo dispõe do prazode trinta anos para cobrar dos empregadores os depósitos de FGTS (Súmula 210/STJ).2. Desde o julgamento dos REsp 49959 e 95628, com fundamento na regra segundo a qual o acessório deve seguir adisciplina do principal, o STJ consagra a orientação no sentido de que a pretensão do fundista em face do FGTS deveriasujeitar-se ao mesmo prazo de trinta anos.3. Ressalva do entendimento do Juiz Federal Iorio Siqueira D’Alessandri Forti (amparado no REsp 111.865):(i) os juros progressivos incidentes sobre as contas de FGTS são remuneração devida pelo próprio fundo, e não jurosmoratórios em razão do recolhimento a destempo pelo empregador; não se justifica, portanto, que o prazo dilatado paracobrança do FGTS em face do empregador seja estendido para as ações do fundista em face do Fundo;(ii) o art. 2º do Decreto 4.597/1942 é regra específica, prevendo o prazo de cinco anos para o exercício da pretensão departicular em face de órgão paraestatal, criado por lei e mantido mediante contribuições (tributárias ou não) exigidas emvirtude de lei federal (como é o caso do FGTS, cujas contribuições são exigidas pela Lei 8.036/1990, sendo certo que acorreção e capitalização de juros são feitas com recursos do próprio fundo – art. 13 – e cujo saldo é garantido pelo Governo

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Federal – art. 13, § 4º).4. A orientação segundo a qual “A prescrição da ação para pleitear os juros progressivos sobre os saldos de contavinculada do FGTS não atinge o fundo de direito, limitando-se às parcelas vencidas” (Súmula 398/STJ) não altera o fato deque, com o encerramento do vínculo de emprego cujo início foi anterior a 22/09/1971, a taxa de juros volta a ser fixa de 3%(STJ, REsp 996.595).5. Ajuizada a ação em 07/02/2008, está prescrita a pretensão de recebimento de diferenças, a título de juros progressivos,anteriores a 07/02/1978. Como o vínculo laboral do fundista, iniciado em 24/10/1967, foi encerrado em 03/09/1976, todasas diferenças eventualmente devidas estão prescritas.

III – Recurso da parte autora conhecido e desprovido, pronunciando-se a prescrição da pretensão (art. 269, IV, do CPC).Sem condenação em custas e honorários, em razão da gratuidade de justiça.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, acordam os Juízes da 1ª Turma Recursaldos Juizados Especiais Federais da Seção Judiciária do Espírito Santo CONHECER DO RECURSO e, no mérito,NEGAR-LHE PROVIMENTO, na forma da ementa constante dos autos, que passa a integrar o presente julgado.

IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTIJuiz Federal – 3º Relator da 1ª Turma Recursal

47 - 0000655-41.2009.4.02.5051/01 (2009.50.51.000655-2/01) FRANCISCO RODRIGUES DO VALE (ADVOGADO:EDSON DA SILVA JANOARIO, LUIZ CARLOS DA SILVA JUNIOR.) x CAIXA ECONÔMICA FEDERAL (ADVOGADO:RODRIGO SALES DOS SANTOS.).RECURSO Nº 0000655-41.2009.4.02.5051/01 (2009.50.51.000655-2/01)RECORRENTE: FRANCISCO RODRIGUES DO VALERECORRIDO: CAIXA ECONÔMICA FEDERALRELATOR: JUIZ FEDERAL IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTI

EMENTA

FGTS. JUROS PROGRESSIVOS.

1. A parte autora recorreu da sentença que, por ausência de apresentação dos extratos de conta de FGTS, extinguiu semapreciação do mérito o processo com pedido de juros progressivos.

I – FIM DA PROGRESSIVIDADE APÓS A RESCISÃO DO CONTRATO DE TRABALHO (ART. 2º, PARÁGRAFO ÚNICO,DA LEI 5.705/1971).1. A Lei 5.107/1966 criou o FGTS, com capitalização progressiva dos juros, na forma do art. 4º: 3% durante os doisprimeiros anos de permanência na mesma empresa; 4% do terceiro ao quinto ano de permanência na mesma empresa; 5%do sexto ao décimo ano de permanência na mesma empresa; e 6% do décimo primeiro ano de permanência na mesmaempresa em diante. Segundo a redação original do art. 4º, § 1º, a alíquota só voltaria a 3% em caso de demissão por justacausa; em caso de rescisão voluntária por parte do empregado, voltaria à alíquota imediatamente anterior; em caso dedemissão sem justa causa ou por força maior, a progressividade seria mantida.2. A Lei 5.705/1971 fixou a taxa de juros em 3%, extinguindo a progressividade. Quanto às contas referentes a empregosiniciados até 21/09/1971 (véspera da sua entrada em vigor), o art. 2º preservou a taxa progressiva para os empregados quejá haviam optado pelo FGTS, apenas enquanto fosse mantido o contrato de trabalho. Em razão da revogação do art. 4º, §1º, da Lei 5.107/1966, o fim do vínculo de emprego acarretava o retorno da remuneração do FGTS à taxa fixa de 3%.

II – PRESCRIÇÃO. TRINTA ANOS.1. Com base nos arts. 144 da Lei 3.807/1966, 19 da Lei 5.107/1966 e 23, § 5º, da Lei 8.036/1990, o Fundo dispõe do prazode trinta anos para cobrar dos empregadores os depósitos de FGTS (Súmula 210/STJ).2. Desde o julgamento dos REsp 49959 e 95628, com fundamento na regra segundo a qual o acessório deve seguir adisciplina do principal, o STJ consagra a orientação no sentido de que a pretensão do fundista em face do FGTS deveriasujeitar-se ao mesmo prazo de trinta anos.3. Ressalva do entendimento do Juiz Federal Iorio Siqueira D’Alessandri Forti (amparado no REsp 111.865):(i) os juros progressivos incidentes sobre as contas de FGTS são remuneração devida pelo próprio fundo, e não jurosmoratórios em razão do recolhimento a destempo pelo empregador; não se justifica, portanto, que o prazo dilatado paracobrança do FGTS em face do empregador seja estendido para as ações do fundista em face do Fundo;(ii) o art. 2º do Decreto 4.597/1942 é regra específica, prevendo o prazo de cinco anos para o exercício da pretensão departicular em face de órgão paraestatal, criado por lei e mantido mediante contribuições (tributárias ou não) exigidas emvirtude de lei federal (como é o caso do FGTS, cujas contribuições são exigidas pela Lei 8.036/1990, sendo certo que acorreção e capitalização de juros são feitas com recursos do próprio fundo – art. 13 – e cujo saldo é garantido pelo GovernoFederal – art. 13, § 4º).4. A orientação segundo a qual “A prescrição da ação para pleitear os juros progressivos sobre os saldos de contavinculada do FGTS não atinge o fundo de direito, limitando-se às parcelas vencidas” (Súmula 398/STJ) não altera o fato deque, com o encerramento do vínculo de emprego cujo início foi anterior a 22/09/1971, a taxa de juros volta a ser fixa de 3%(STJ, REsp 996.595).

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5. Ajuizada a ação em 09/03/2009, está prescrita a pretensão de recebimento de diferenças, a título de juros progressivos,anteriores a 19/03/1979. Como o vínculo laboral do fundista, iniciado em 25/04/1969, foi encerrado em 27/12/1978, todasas diferenças eventualmente devidas estão prescritas.

III – Recurso da parte autora conhecido e desprovido, pronunciando-se a prescrição da pretensão (art. 269, IV, do CPC).Sem condenação em custas e honorários, em razão da gratuidade de justiça.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, acordam os Juízes da 1ª Turma Recursaldos Juizados Especiais Federais da Seção Judiciária do Espírito Santo CONHECER DO RECURSO e, no mérito,NEGAR-LHE PROVIMENTO, na forma da ementa constante dos autos, que passa a integrar o presente julgado.

IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTIJuiz Federal – 3º Relator da 1ª Turma Recursal

48 - 0001779-59.2009.4.02.5051/01 (2009.50.51.001779-3/01) ELETICY MAURA COELHO BAPTISTA (ADVOGADO:ANTONIO LUIZ CASTELO FONSECA.) x CAIXA ECONÔMICA FEDERAL (ADVOGADO: RODRIGO SALES DOSSANTOS.).RECURSO Nº 0001779-59.2009.4.02.5051/01 (2009.50.51.001779-3/01)RECORRENTE: ELETICY MAURA COELHO BAPTISTARECORRIDO: CAIXA ECONÔMICA FEDERALRELATOR: JUIZ FEDERAL IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTI

EMENTA

FGTS. JUROS PROGRESSIVOS.

1. A parte autora recorreu da sentença que, por ausência de apresentação dos extratos de conta de FGTS, extinguiu semapreciação do mérito o processo com pedido de juros progressivos.

I – FIM DA PROGRESSIVIDADE APÓS A RESCISÃO DO CONTRATO DE TRABALHO (ART. 2º, PARÁGRAFO ÚNICO,DA LEI 5.705/1971).1. A Lei 5.107/1966 criou o FGTS, com capitalização progressiva dos juros, na forma do art. 4º: 3% durante os doisprimeiros anos de permanência na mesma empresa; 4% do terceiro ao quinto ano de permanência na mesma empresa; 5%do sexto ao décimo ano de permanência na mesma empresa; e 6% do décimo primeiro ano de permanência na mesmaempresa em diante. Segundo a redação original do art. 4º, § 1º, a alíquota só voltaria a 3% em caso de demissão por justacausa; em caso de rescisão voluntária por parte do empregado, voltaria à alíquota imediatamente anterior; em caso dedemissão sem justa causa ou por força maior, a progressividade seria mantida.2. A Lei 5.705/1971 fixou a taxa de juros em 3%, extinguindo a progressividade. Quanto às contas referentes a empregosiniciados até 21/09/1971 (véspera da sua entrada em vigor), o art. 2º preservou a taxa progressiva para os empregados quejá haviam optado pelo FGTS, apenas enquanto fosse mantido o contrato de trabalho. Em razão da revogação do art. 4º, §1º, da Lei 5.107/1966, o fim do vínculo de emprego acarretava o retorno da remuneração do FGTS à taxa fixa de 3%.

II – PRESCRIÇÃO. TRINTA ANOS.1. Com base nos arts. 144 da Lei 3.807/1966, 19 da Lei 5.107/1966 e 23, § 5º, da Lei 8.036/1990, o Fundo dispõe do prazode trinta anos para cobrar dos empregadores os depósitos de FGTS (Súmula 210/STJ).2. Desde o julgamento dos REsp 49959 e 95628, com fundamento na regra segundo a qual o acessório deve seguir adisciplina do principal, o STJ consagra a orientação no sentido de que a pretensão do fundista em face do FGTS deveriasujeitar-se ao mesmo prazo de trinta anos.3. Ressalva do entendimento do Juiz Federal Iorio Siqueira D’Alessandri Forti (amparado no REsp 111.865):(i) os juros progressivos incidentes sobre as contas de FGTS são remuneração devida pelo próprio fundo, e não jurosmoratórios em razão do recolhimento a destempo pelo empregador; não se justifica, portanto, que o prazo dilatado paracobrança do FGTS em face do empregador seja estendido para as ações do fundista em face do Fundo;(ii) o art. 2º do Decreto 4.597/1942 é regra específica, prevendo o prazo de cinco anos para o exercício da pretensão departicular em face de órgão paraestatal, criado por lei e mantido mediante contribuições (tributárias ou não) exigidas emvirtude de lei federal (como é o caso do FGTS, cujas contribuições são exigidas pela Lei 8.036/1990, sendo certo que acorreção e capitalização de juros são feitas com recursos do próprio fundo – art. 13 – e cujo saldo é garantido pelo GovernoFederal – art. 13, § 4º).4. A orientação segundo a qual “A prescrição da ação para pleitear os juros progressivos sobre os saldos de contavinculada do FGTS não atinge o fundo de direito, limitando-se às parcelas vencidas” (Súmula 398/STJ) não altera o fato deque, com o encerramento do vínculo de emprego cujo início foi anterior a 22/09/1971, a taxa de juros volta a ser fixa de 3%(STJ, REsp 996.595).5. Ajuizada a ação em 08/09/2009, está prescrita a pretensão de recebimento de diferenças, a título de juros progressivos,anteriores a 08/09/1979. Como o vínculo laboral do fundista, marido da autora, iniciado em 12/02/1968, foi encerrado em06/01/1977, todas as diferenças eventualmente devidas estão prescritas.

III – Recurso da parte autora conhecido e desprovido, pronunciando-se a prescrição da pretensão (art. 269, IV, do CPC).

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Sem condenação em custas e honorários, em razão da gratuidade de justiça.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, acordam os Juízes da 1ª Turma Recursaldos Juizados Especiais Federais da Seção Judiciária do Espírito Santo CONHECER DO RECURSO e, no mérito,NEGAR-LHE PROVIMENTO, na forma da ementa constante dos autos, que passa a integrar o presente julgado.

IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTIJuiz Federal – 3º Relator da 1ª Turma Recursal

49 - 0000529-54.2010.4.02.5051/01 (2010.50.51.000529-0/01) JURANDIR FERNANDES - ESPOLIO (ADVOGADO: LUIZCARLOS DA SILVA JUNIOR.) x CAIXA ECONÔMICA FEDERAL (ADVOGADO: RODRIGO SALES DOS SANTOS.).RECURSO Nº 0000529-54.2010.4.02.5051/01 (2010.50.51.000529-0/01)RECORRENTE: JURANDIR FERNANDES - ESPOLIORECORRIDO: CAIXA ECONÔMICA FEDERALRELATOR: JUIZ FEDERAL IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTI

EMENTA

FGTS. JUROS PROGRESSIVOS.

1. A parte autora recorreu da sentença que, por ausência de apresentação dos extratos de conta de FGTS, extinguiu semapreciação do mérito o processo com pedido de juros progressivos.

I – FIM DA PROGRESSIVIDADE APÓS A RESCISÃO DO CONTRATO DE TRABALHO (ART. 2º, PARÁGRAFO ÚNICO,DA LEI 5.705/1971).1. A Lei 5.107/1966 criou o FGTS, com capitalização progressiva dos juros, na forma do art. 4º: 3% durante os doisprimeiros anos de permanência na mesma empresa; 4% do terceiro ao quinto ano de permanência na mesma empresa; 5%do sexto ao décimo ano de permanência na mesma empresa; e 6% do décimo primeiro ano de permanência na mesmaempresa em diante. Segundo a redação original do art. 4º, § 1º, a alíquota só voltaria a 3% em caso de demissão por justacausa; em caso de rescisão voluntária por parte do empregado, voltaria à alíquota imediatamente anterior; em caso dedemissão sem justa causa ou por força maior, a progressividade seria mantida.2. A Lei 5.705/1971 fixou a taxa de juros em 3%, extinguindo a progressividade. Quanto às contas referentes a empregosiniciados até 21/09/1971 (véspera da sua entrada em vigor), o art. 2º preservou a taxa progressiva para os empregados quejá haviam optado pelo FGTS, apenas enquanto fosse mantido o contrato de trabalho. Em razão da revogação do art. 4º, §1º, da Lei 5.107/1966, o fim do vínculo de emprego acarretava o retorno da remuneração do FGTS à taxa fixa de 3%.

II – PRESCRIÇÃO. TRINTA ANOS.1. Com base nos arts. 144 da Lei 3.807/1966, 19 da Lei 5.107/1966 e 23, § 5º, da Lei 8.036/1990, o Fundo dispõe do prazode trinta anos para cobrar dos empregadores os depósitos de FGTS (Súmula 210/STJ).2. Desde o julgamento dos REsp 49959 e 95628, com fundamento na regra segundo a qual o acessório deve seguir adisciplina do principal, o STJ consagra a orientação no sentido de que a pretensão do fundista em face do FGTS deveriasujeitar-se ao mesmo prazo de trinta anos.3. Ressalva do entendimento do Juiz Federal Iorio Siqueira D’Alessandri Forti (amparado no REsp 111.865):(i) os juros progressivos incidentes sobre as contas de FGTS são remuneração devida pelo próprio fundo, e não jurosmoratórios em razão do recolhimento a destempo pelo empregador; não se justifica, portanto, que o prazo dilatado paracobrança do FGTS em face do empregador seja estendido para as ações do fundista em face do Fundo;(ii) o art. 2º do Decreto 4.597/1942 é regra específica, prevendo o prazo de cinco anos para o exercício da pretensão departicular em face de órgão paraestatal, criado por lei e mantido mediante contribuições (tributárias ou não) exigidas emvirtude de lei federal (como é o caso do FGTS, cujas contribuições são exigidas pela Lei 8.036/1990, sendo certo que acorreção e capitalização de juros são feitas com recursos do próprio fundo – art. 13 – e cujo saldo é garantido pelo GovernoFederal – art. 13, § 4º).4. A orientação segundo a qual “A prescrição da ação para pleitear os juros progressivos sobre os saldos de contavinculada do FGTS não atinge o fundo de direito, limitando-se às parcelas vencidas” (Súmula 398/STJ) não altera o fato deque, com o encerramento do vínculo de emprego cujo início foi anterior a 22/09/1971, a taxa de juros volta a ser fixa de 3%(STJ, REsp 996.595).5. Ajuizada a ação em 23/03/2010, está prescrita a pretensão de recebimento de diferenças, a título de juros progressivos,anteriores a 23/03/1980. Como o vínculo laboral do fundista, iniciado em 01/06/1967, foi encerrado em 18/06/1973, todasas diferenças eventualmente devidas estão prescritas.

III – Recurso da parte autora conhecido e desprovido, pronunciando-se a prescrição da pretensão (art. 269, IV, do CPC).Sem condenação em custas e honorários, em razão da gratuidade de justiça.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, acordam os Juízes da 1ª Turma Recursaldos Juizados Especiais Federais da Seção Judiciária do Espírito Santo CONHECER DO RECURSO e, no mérito,

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NEGAR-LHE PROVIMENTO, na forma da ementa constante dos autos, que passa a integrar o presente julgado.

IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTIJuiz Federal – 3º Relator da 1ª Turma Recursal

50 - 0000869-21.2012.4.02.5053/02 (2012.50.53.000869-3/02) (PROCESSO ELETRÔNICO) INSTITUTO NACIONAL DOSEGURO SOCIAL - INSS (PROCDOR: RODRIGO COSTA BUARQUE.) x OLIVEIRA AZEREDO (ADVOGADO: MARIZAGIACOMIN LOZER, MARCOS ROGERIO FERREIRA PATRICIO.) x OS MESMOS.RECURSO Nº 0000869-21.2012.4.02.5053/02 (2012.50.53.000869-3/02)RECORRENTES: OLIVEIRA AZEREDO E INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSSRECORRIDOS: OS MESMOSRELATOR: JUIZ FEDERAL IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTI

EMENTA

PREVIDENCIÁRIO. REVISÃO DE RENDA MENSAL DE BENEFÍCIO. ART. 29, II, DA LEI 8.213/1991. SENTENÇA DAAÇÃO CIVIL PÚBLICA Nº 2320-59.2012.403.6183. INTERESSE DE AGIR. ART. 515, § 3º, DO CPC. ENUNCIADO 47 DASTURMAS RECURSAIS DO ESPÍRITO SANTO. PEDIDO PROCEDENTE.I – CRONOGRAMA DE PAGAMENTO ESTABELECIDO NA AÇÃO CIVIL PÚBLICA Nº 2320-59.2012.403.6183:EXISTÊNCIA DE INTERESSE DE AGIR.1. O Memorando-Circular Conjunto 21/DIRBEN/PFEINSS, de 15/04/2010, e o Memorando-Circular 28/INSS/DIRBEN, de17/09/2010, apontavam em direção à pronta satisfação da pretensão dos segurados e pensionistas referente ao art. 29, II,da Lei 8.213/1991 na via administrativa, de modo que lhes faltava interesse processual para agir em juízo. A diretriz contidanos dois Memorandos foi superada pela homologação judicial de acordo na Ação Civil Pública 2320-59.2012.403.6183,instituindo escalonamento de até dez anos para a revisão dos benefícios e pagamento dos atrasados. Conseqüentemente,se alguém pleitear a revisão referente ao art. 29, II, da Lei 8.213/1991 na via administrativa, o INSS necessariamenteresponderá que o pleito será atendido conforme o cronograma homologado: a depender da idade do requerente, domontante a receber, e da (in)existência de urgência, o pagamento poderá ocorrer apenas em 2022.2. Em regra, a sentença proferida em Ação Civil Pública, seja de procedência, seja de improcedência, faz coisa julgada ergaomnes, exceto se a improcedência decorrer de falta de provas (art. 16 da Lei 7.347/1985). Entretanto, em se tratando dedireitos individuais homogêneos, a sentença em ação coletiva (mesmo em matéria não relativa a Direito do Consumidor)apenas fará coisa julgada erga omnes no caso de procedência do pedido (art. 103, III, da Lei 8.078/1990 c/c art. 21 da Lei7.347/1985), excluída, portanto, a transação. Por mais razoável que seja o cronograma de pagamento estabelecido emacordo firmado entre o MPF e o INSS, aqueles que se sentirem prejudicados não estão a ele vinculados.3. Absolutamente dispensável o prévio requerimento administrativo, uma vez que o INSS indeferirá o pleito de revisão epagamento imediatos. Evidente o interesse de agir em juízo, para obter a revisão do benefício e o imediato pagamento dasdiferenças sem sujeição ao cronograma estabelecido em Ação Civil Pública, sem que isso configure ofensa aos arts. 5º,XXXV, e 250 da CRFB; arts. 103 e 104 da Lei 8.078/1990 c/c art. 543-C do CPC; art. 127 da CRFB c/c art. 21 da Lei7.347/1985 e arts. 81, III, e 82 da Lei 8.078/1990 e arts. 3º e 267, VI, do CPC.II – ART. 29, II, DA LEI 8.213/1991. PROCEDÊNCIA DO PEDIDO.1. O art. 3º da Lei 9.876/1999 (“Para o segurado filiado à Previdência Social até o dia anterior à data de publicação destaLei, que vier a cumprir as condições exigidas para a concessão dos benefícios do Regime Geral da Previdência Social, nocálculo do salário-de-benefício será considerada a média aritmética simples dos maiores salários-de-contribuição,correspondentes a, no mínimo, oitenta por cento de todo o período contributivo decorrido desde a competência julho de1994, observado o disposto nos incisos I e II do § 6º, do art. 29, da Lei nº 8.213/91, com a redação dada por esta Lei.”) éregra de transição para os segurados já filiados ao RGPS à época de sua entrada em vigor, a determinar, para a apuraçãodo cálculo do salário-de-benefício, seja considerada a média aritmética simples dos maiores salários-de-contribuição,correspondentes a, no mínimo, 80% de todo o período contributivo decorrido desde a competência julho/94, observado odisposto nos incisos I e II do caput do art. 29 da Lei 8.213/1991. Assim, apurada a mencionada média, deveria incidir umdivisor, correspondente a um percentual (nunca inferior a 60%) sobre o número de meses compreendidos entre julho/94 e adata do requerimento.2. O Enunciado 47 das Turmas Recursais do Espírito Santo consagra orientação no sentido de que, para a aposentadoriapor invalidez e para o auxílio-doença concedidos na vigência da Lei 9.876/1999, o salário-de-benefício deve ser apuradocom base na média aritmética simples dos maiores salários-de-contribuição correspondentes a 80% do períodocontributivo, independentemente da data de filiação do segurado e do número de contribuições mensais no períodocontributivo, frisando que é ilegal o art. 32, § 20, do Decreto 3.048/1999, acrescentado pelo Decreto 5.545/2005.3. Logo, são passíveis de revisão todos os benefícios por incapacidade e pensões derivadas destes, assim como asprecedidas, com DIB a partir de 29/11/1999, em que, no Período Básico de Cálculo, tenham sido considerados 100% dossalários-de-contribuição. Verificado que, no caso concreto, o benefício do autor tem PBC de 100%, sem que tenham sidodesprezados os 20% menores salários, é evidente o prejuízo ao beneficiário, disto decorrendo o interesse de agir.4. A edição do Memorando 21/DIRBEN/PFE/INSS, de 15/04/2010 importou interrupção do curso do prazo prescricional(sem renúncia à prescrição já consumada), nos termos do art. 202, VI do Código Civil, pois a Administração Públicareconheceu publicamente a ilegalidade do cálculo adotado. Ajuizada a ação dentro do prazo de dois anos e meio (isto é, até15/10/2012), apenas estará prescrita a pretensão de haver as parcelas anteriores ao quinquênio que antecedeu a edição doMemorando. Proposta a demanda em 30/08/2012, encontra-se prescrita somente a pretensão referente às prestaçõesanteriores a 15/04/2005.III – Recursos conhecidos, provido o do autor e desprovido o do INSS. Custas isentas, nos termos do art. 4º, I, da Lei

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9.289/1996. Condenação do INSS ao pagamento de honorários advocatícios de 10% sobre o valor do principal.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Juízes da 1ª Turma Recursal dos Juizados Especiais Federais daSeção Judiciária do Espírito Santo, CONHECER dos recursos e, no mérito, DAR PROVIMENTO ao recurso do autor eNEGAR PROVIMENTO ao recurso do INSS, na forma da ementa constante dos autos, que passa a integrar o presentejulgado.

IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTIJuiz Federal – 3º Juiz Relator

51 - 0000875-28.2012.4.02.5053/02 (2012.50.53.000875-9/02) (PROCESSO ELETRÔNICO) INSTITUTO NACIONAL DOSEGURO SOCIAL - INSS (PROCDOR: RODRIGO COSTA BUARQUE.) x CHARLES RAMOS (ADVOGADO: MARIZAGIACOMIN LOZER, MARCOS ROGERIO FERREIRA PATRICIO.) x OS MESMOS.RECURSO Nº 0000875-28.2012.4.02.5053/02 (2012.50.53.000875-9/02)RECORRENTES: CHARLES RAMOS E INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSSRECORRIDOS: OS MESMOSRELATOR: JUIZ FEDERAL IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTI

EMENTA

PREVIDENCIÁRIO. REVISÃO DE RENDA MENSAL DE BENEFÍCIO. ART. 29, II, DA LEI 8.213/1991. SENTENÇA DAAÇÃO CIVIL PÚBLICA Nº 2320-59.2012.403.6183. INTERESSE DE AGIR. ART. 515, § 3º, DO CPC. ENUNCIADO 47 DASTURMAS RECURSAIS DO ESPÍRITO SANTO. PEDIDO PROCEDENTE.I – CRONOGRAMA DE PAGAMENTO ESTABELECIDO NA AÇÃO CIVIL PÚBLICA Nº 2320-59.2012.403.6183:EXISTÊNCIA DE INTERESSE DE AGIR.1. O Memorando-Circular Conjunto 21/DIRBEN/PFEINSS, de 15/04/2010, e o Memorando-Circular 28/INSS/DIRBEN, de17/09/2010, apontavam em direção à pronta satisfação da pretensão dos segurados e pensionistas referente ao art. 29, II,da Lei 8.213/1991 na via administrativa, de modo que lhes faltava interesse processual para agir em juízo. A diretriz contidanos dois Memorandos foi superada pela homologação judicial de acordo na Ação Civil Pública 2320-59.2012.403.6183,instituindo escalonamento de até dez anos para a revisão dos benefícios e pagamento dos atrasados. Conseqüentemente,se alguém pleitear a revisão referente ao art. 29, II, da Lei 8.213/1991 na via administrativa, o INSS necessariamenteresponderá que o pleito será atendido conforme o cronograma homologado: a depender da idade do requerente, domontante a receber, e da (in)existência de urgência, o pagamento poderá ocorrer apenas em 2022.2. Em regra, a sentença proferida em Ação Civil Pública, seja de procedência, seja de improcedência, faz coisa julgada ergaomnes, exceto se a improcedência decorrer de falta de provas (art. 16 da Lei 7.347/1985). Entretanto, em se tratando dedireitos individuais homogêneos, a sentença em ação coletiva (mesmo em matéria não relativa a Direito do Consumidor)apenas fará coisa julgada erga omnes no caso de procedência do pedido (art. 103, III, da Lei 8.078/1990 c/c art. 21 da Lei7.347/1985), excluída, portanto, a transação. Por mais razoável que seja o cronograma de pagamento estabelecido emacordo firmado entre o MPF e o INSS, aqueles que se sentirem prejudicados não estão a ele vinculados.3. Absolutamente dispensável o prévio requerimento administrativo, uma vez que o INSS indeferirá o pleito de revisão epagamento imediatos. Evidente o interesse de agir em juízo, para obter a revisão do benefício e o imediato pagamento dasdiferenças sem sujeição ao cronograma estabelecido em Ação Civil Pública, sem que isso configure ofensa aos arts. 5º,XXXV, e 250 da CRFB; arts. 103 e 104 da Lei 8.078/1990 c/c art. 543-C do CPC; art. 127 da CRFB c/c art. 21 da Lei7.347/1985 e arts. 81, III, e 82 da Lei 8.078/1990 e arts. 3º e 267, VI, do CPC.II – ART. 29, II, DA LEI 8.213/1991. PROCEDÊNCIA DO PEDIDO.1. O art. 3º da Lei 9.876/1999 (“Para o segurado filiado à Previdência Social até o dia anterior à data de publicação destaLei, que vier a cumprir as condições exigidas para a concessão dos benefícios do Regime Geral da Previdência Social, nocálculo do salário-de-benefício será considerada a média aritmética simples dos maiores salários-de-contribuição,correspondentes a, no mínimo, oitenta por cento de todo o período contributivo decorrido desde a competência julho de1994, observado o disposto nos incisos I e II do § 6º, do art. 29, da Lei nº 8.213/91, com a redação dada por esta Lei.”) éregra de transição para os segurados já filiados ao RGPS à época de sua entrada em vigor, a determinar, para a apuraçãodo cálculo do salário-de-benefício, seja considerada a média aritmética simples dos maiores salários-de-contribuição,correspondentes a, no mínimo, 80% de todo o período contributivo decorrido desde a competência julho/94, observado odisposto nos incisos I e II do caput do art. 29 da Lei 8.213/1991. Assim, apurada a mencionada média, deveria incidir umdivisor, correspondente a um percentual (nunca inferior a 60%) sobre o número de meses compreendidos entre julho/94 e adata do requerimento.2. O Enunciado 47 das Turmas Recursais do Espírito Santo consagra orientação no sentido de que, para a aposentadoriapor invalidez e para o auxílio-doença concedidos na vigência da Lei 9.876/1999, o salário-de-benefício deve ser apuradocom base na média aritmética simples dos maiores salários-de-contribuição correspondentes a 80% do períodocontributivo, independentemente da data de filiação do segurado e do número de contribuições mensais no períodocontributivo, frisando que é ilegal o art. 32, § 20, do Decreto 3.048/1999, acrescentado pelo Decreto 5.545/2005.3. Logo, são passíveis de revisão todos os benefícios por incapacidade e pensões derivadas destes, assim como asprecedidas, com DIB a partir de 29/11/1999, em que, no Período Básico de Cálculo, tenham sido considerados 100% dossalários-de-contribuição. Verificado que, no caso concreto, o benefício do autor tem PBC de 100%, sem que tenham sido

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desprezados os 20% menores salários, é evidente o prejuízo ao beneficiário, disto decorrendo o interesse de agir.4. A edição do Memorando 21/DIRBEN/PFE/INSS, de 15/04/2010 importou interrupção do curso do prazo prescricional(sem renúncia à prescrição já consumada), nos termos do art. 202, VI do Código Civil, pois a Administração Públicareconheceu publicamente a ilegalidade do cálculo adotado. Ajuizada a ação dentro do prazo de dois anos e meio (isto é, até15/10/2012), apenas estará prescrita a pretensão de haver as parcelas anteriores ao quinquênio que antecedeu a edição doMemorando. Proposta a demanda em 03/08/2012, encontra-se prescrita somente a pretensão referente às prestaçõesanteriores a 15/04/2005.III – Recursos conhecidos, provido o do autor e desprovido o do INSS. Custas isentas, nos termos do art. 4º, I, da Lei9.289/1996. Condenação do INSS ao pagamento de honorários advocatícios de 10% sobre o valor do principal.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Juízes da 1ª Turma Recursal dos Juizados Especiais Federais daSeção Judiciária do Espírito Santo, CONHECER dos recursos e, no mérito, DAR PROVIMENTO ao recurso do autor eNEGAR PROVIMENTO ao recurso do INSS, na forma da ementa constante dos autos, que passa a integrar o presentejulgado.

IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTIJuiz Federal – 3º Juiz Relator

52 - 0005987-42.2009.4.02.5001/01 (2009.50.01.005987-7/01) (PROCESSO ELETRÔNICO) UNIÃO FEDERAL(PROCDOR: DARIO PEREIRA DE CARVALHO.) x JOAQUIM VIEIRA DE MELO (ADVOGADO: APARECIDA SERRANODE MELO. PROCDOR: ANA BEATRIZ LINS BARBOSA.).RECURSO Nº 0005987-42.2009.4.02.5001/01 (2009.50.01.005987-7/01)RECORRENTE: UNIÃO FEDERALRECORRIDO: JOAQUIM VIEIRA DE MELORELATOR: JUIZ FEDERAL IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTI

EMENTA

CONSTITUCIONAL. DIREITO À SAÚDE. CONCESSÃO DE MEDICAMENTO. LEGITIMIDADE PASSIVA DOS TRÊSENTES DA FEDERAÇÃO. RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA ESTABELECIDA NA CRFB/1988 E PELA LEI 8.080/1990.COMPROVAÇÃO ANUAL DO USO DO MEDICAMENTO.1. A UNIÃO interpôs recurso da sentença de fls. 283-289 que julgou procedente o pedido do autor e condenou os três entesfederados a, solidariamente, adquirirem e fornecerem continuamente o medicamento Insulina Glargina-Lantus.Preliminarmente, alega que é parte ilegítima para figurar no polo passivo da ação, afirmando que a Justiça Federal, dessaforma, seria incompetente para apreciar o feito. No mérito, aduz que os recursos públicos são escassos e que devem serharmonizados para atendimento de todos os direitos fundamentais sociais. Ressalta que a União encontra-se atrelada, emtodas as suas ações administrativas, às limitações orçamentárias e aos regramentos legais estabelecidos para comprasdiversas, especificamente os contidos na Lei 8.666/1993, incluída a aquisição de medicamentos específicos paraatendimento de doenças raras ou que impõem tratamentos caros. Ao final, requer, subsidiariamente, que a parte autoraapresente ao Juízo, periodicamente, bem como às Secretaria de Saúde Estadual ou Municipal, receita médica atualizadaque comprove a necessidade de manutenção da medicação pleiteada. Requer ainda, a título de prequestionamento,expressa manifestação dos dispositivos constitucionais destacados no recurso. Sem contrarrazões.2. É legítima a União para ocupar o polo passivo das ações em que se pleiteia a concessão de medicamentos e tratamentode saúde, pois a Constituição Federal é expressa ao determinar que a saúde é dever do Estado, não excluindo dessaresponsabilidade qualquer de seus entes, na forma do art. 196 da CRFB/1988 e do art. 9° da Lei 8.080/1 990. Ajurisprudência do e. Supremo Tribunal Federal é pacífica no sentido de ser legitima a União para responder pelofornecimento de medicamentos e tratamento médico pelo Sistema Único de Saúde (AI 418.320; RE 259.415; e RE271286-AgR).3. O autor pleiteou que o Sistema Único de Saúde lhe fornecesse um tipo de insulina que se mostrou mais adequado aotratamento específico de diabetes (Insulina Glargina-Lantus), que, todavia, não está previsto na lista ordinária de comprasdaquele órgão, que somente adquire a Insulina Humana NPH 100UI, que não é recomendada ao caso. O laudo médico defl. 17 atesta que o auto necessita de controle rigoroso de glicose, o que requer o tratamento com a Insulina Glardina-Lantus.O outro laudo médico de fl. 163 atesta que o uso de Insulina Humana NPH 100UI não foi eficaz ao tratamento de diabetesem questão. A perícia judicial de fls. 255 e 260, por sua vez, confirma a tese de que o medicamento pleiteado é o maisadequado para evitar hipoglicemia.4. É dever do Estado, em todas as suas instâncias (municipal, estadual e federal), propiciar atendimento adequado emtermos de saúde a todos os cidadãos, especialmente àqueles sem condições financeiras de custear o tratamento de suasenfermidades. O art. 196 da Constituição Federal garantiu a todos os cidadãos o direito à saúde, impondo a todos os entesfederativos o dever de preservá-la mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e deoutros agravos e visem, ainda, ao acesso universal e igualitário de todos às ações e serviços adequados à promoção,proteção e recuperação da saúde. A Lei 8.080/1990, que dispõe sobre as condições para a promoção, proteção erecuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos serviços correspondentes, determina que o Estado devegarantir a saúde a todos por meio do Sistema Único de Saúde (SUS) que possui, dentre suas diversas atribuições, acompetência de formular política de medicamentos, a fim de proporcionar tal assistência de forma integral e adequada. O

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art. 2° desse diploma legal assenta que A saúde é u m direito fundamental do ser humano, devendo o Estado prover ascondições indispensáveis ao seu pleno exercício. O art. 7º, inciso II, por sua vez, estabelece que a assistência à saúde deveser proporcionada por um conjunto articulado e contínuo de ações e serviços preventivos e curativos, individuais e coletivos,exigidos para cada caso em todos os níveis de complexidade.5. O E. Supremo Tribunal Federal, em hipótese semelhante ao presente caso, ressaltou que o direito público subjetivo àsaúde representa prerrogativa jurídica indisponível assegurada à generalidade das pessoas pela própria Constituição daRepública (art. 196). Traduz bem jurídico constitucionalmente tutelado, por cuja integridade deve velar, de maneiraresponsável, o Poder Público, a quem incumbe formular - e implementar - políticas sociais e econômicas idôneas que visema garantir, aos cidadãos, inclusive àqueles portadores do vírus HIV, o acesso universal e igualitário à assistênciafarmacêutica e médico-hospitalar (RE 27186/RS).6. Inexiste violação do princípio da legalidade esculpido no art. 37 da CRFB/1988, uma vez que a própria cartaconstitucional, em seu art. 196, acolhe a pretensão do autor. É certo que, em casos em que a efetivação da tutelaconcedida está relacionada à preservação da saúde do indivíduo, a ponderação das normas constitucionais deve privilegiara proteção do bem maior que é a vida.7. É razoável que a parte autora comprove periodicamente (a cada ano) a necessidade do uso do medicamento pleiteado,atualizando o receituário médico perante os requeridos, sob pena de suspensão do fornecimento da medicação.8. Recurso a UNIÃO conhecido e provido em parte, para determinar que o autor, anualmente, comprove a necessidade douso do medicamento pleiteado, atualizando o receituário médico perante o ente público. Sem custas, na forma da lei. Semcondenação em honorários advocatícios (Enunciado 97 do FUNAJEF).

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, acordam os Juízes da 1ª Turma Recursaldos Juizados Especiais Federais da Seção Judiciária do Espírito Santo CONHECER DO RECURSO e, no mérito, DAR-LHEPARCIAL PROVIMENTO, na forma da ementa constante dos autos, que passa a integrar o presente julgado.

IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTIJuiz Federal – 3º Relator da 1ª Turma Recursal

53 - 0000726-74.2008.4.02.5052/01 (2008.50.52.000726-3/01) (PROCESSO ELETRÔNICO) MARINALVA SANTOS(ADVOGADO: ADENILSON VIANA NERY.) x INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS (PROCDOR:RODRIGO STEPHAN DE ALMEIDA.).RECURSO DE SENTENÇA N.º 0000726-74.2008.4.02.5052/01RECORRENTE: MARINALVA SANTOSRECORRIDO: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSSRELATOR: JUIZ FEDERAL IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTI

EMENTA

ASSISTÊNCIA SOCIAL. BENEFÍCIO DE PRESTAÇÃO CONTINUADA. ART. 20 DA LEI 8.742/1993. AUSÊNCIA DECONFIGURAÇÃO DA INCAPACIDADE. ALEGAÇÃO DE CERCEAMENTO DE DEFESA RECHAÇADA.1. A autora recorreu da sentença que julgou improcedente o pedido de concessão do Amparo Assistencial à pessoaportadora de deficiência. A recorrente sustenta que o perito não comentou os laudos e exames acostados aos autos, nãodescreveu as características da doença/lesão que a acometem, nem considerou a idade, a qualificação e o grau deescolaridade, razão pela qual estaria configurado cerceamento de defesa. Contrarrazões às fls 110/111.2. A autora teve à sua disposição todos os meios para provar suas alegações. O despacho de fls. 45-46 instou a autora ajuntar todos os documentos de que dispunha e que não haviam acompanhado a petição inicial. A autora teve, ainda, aoportunidade de contestar tanto o laudo social quanto o médico, e de justificar sua ausência na primeira perícia designada.3. O perito do juízo constatou que a requerente possui “cardiopatia isquêmica hipertensiva” e “bulhas cardíacasnomorfoneticas PA 15/9, aparelho respiratório normal, ausência de viceromegalia”, concluindo inexistir incapacidadelaborativa ou para vida independente (fls. 75/77 e 82). Os exames médicos e receituários juntados pela autora (fls. 22/32)apenas consignam a doença cuja existência foi reconhecida pelo perito, mas não desqualificam a conclusão do laudoquanto à inexistência de incapacidade – razão pela qual não há que se exigir do perito que comente cada um deles.4. Quanto à idade, a qualificação e o grau de escolaridade da autora, o art. 20 da Lei 8.742/1993 reserva o benefício aosidosos e aos deficientes. A lei já considerou, portanto, o fator “idade”. Doença não incapacitante não pode ser equiparadaa deficiência significativa, em razão do grau de escolaridade e idade, para fins de concessão do BPC.5. Recurso da parte autora conhecido e desprovido. Sem condenação da recorrente em custas e honorários, em razão dagratuidade de justiça.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Juízes da 1ª Turma Recursal dos Juizados Especiais Federais daSeção Judiciária do Espírito Santo, por unanimidade, CONHECER DO RECURSO e, no mérito, NEGAR-LHEPROVIMENTO, na forma da ementa constante dos autos, que passa a integrar o presente julgado.

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IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTIJuiz Federal Relator

54 - 0103160-74.2013.4.02.5050/01 (2013.50.50.103160-3/01) (PROCESSO ELETRÔNICO) ADRIANO MOREIRA DESOUZA (ADVOGADO: JONES ALVARENGA PINTO, ERILDO PINTO, MARCELO ALVARENGA PINTO.) x UNIÃOFEDERAL (PROCDOR: JULIANA ALMENARA ANDAKU.).RECURSO Nº 0103160-74.2013.4.02.5050/01 (2013.50.50.103160-3/01)RECORRENTE: ADRIANO MOREIRA DE SOUZARECORRIDO: UNIÃO FEDERALRELATOR: JUIZ FEDERAL IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTI

EMENTA

TRIBUTÁRIO. TERÇO ADICIONAL DE FÉRIAS GOZADAS. NATUREZA REMUNERATÓRIA, NÃO INDENIZATÓRIA.INCIDÊNCIA DE IMPOSTO DE RENDA.1. Os precedentes do STF que afastam a incidência de contribuição social sobre o terço adicional de férias gozadas (AI712.880, AI 730.315, AI 727.958 e AI 603.537) não afirmam que a parcela teria natureza indenizatória: adotam porfundamento a necessidade de equilíbrio atuarial e de correlação entre a fonte de custeio e os benefícios devidos,concluindo pela impossibilidade de computar na base de cálculo parcelas que não se incorporam à remuneração e,portanto, não integrarão futuro benefício previdenciário (interpretação do art. 195, § 5º, contrario sensu, e 201, § 11º, daCRFB/1988).2. O terço de férias gozadas (arts. 7º, XVII, e 39, § 3º, da CRFB/1988) tem natureza remuneratória, reconhecida pelo STJ(RESP 1.010.509), pela TNU (PEDILEF 0504449-56.2012.4.05.8500) e pelo STF (RE 210.211). Por não estar incluído noelenco do art. 6º da Lei 7.713/1988, sujeita-se à incidência do Imposto de Renda, conforme orientação do STJ (RESP1.010.509) e da TNU (PEDILEF 0504449-56.2012.4.05.8500).3. Recurso da parte autora conhecido e desprovido. Condenação do autor ao pagamento de custas processuais e dehonorários advocatícios no valor de R$ 300,00.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, acordam os Juízes da 1ª Turma Recursaldos Juizados Especiais Federais da Seção Judiciária do Espírito Santo CONHECER DO RECURSO e, no mérito,NEGAR-LHE PROVIMENTO, na forma da ementa constante dos autos, que passa a integrar o presente julgado.

IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTIJuiz Federal – 3º Relator da 1ª Turma Recursal

55 - 0004723-32.2012.4.02.5050/01 (2012.50.50.004723-4/01) (PROCESSO ELETRÔNICO) UNIÃO FEDERAL(PROCDOR: ADRIANA ZANDONADE.) x MARCIO ALEXANDRE BAHIENSE DA FONSECA.RECURSO Nº 0004723-32.2012.4.02.5050/01 (2012.50.50.004723-4/01)RECORRENTE: UNIÃO FEDERALRECORRIDO: MARCIO ALEXANDRE BAHIENSE DA FONSECARELATOR: JUIZ FEDERAL IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTI

EMENTA

EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. PROVIMENTO PARA EXCLUIR DO ACÓRDÃO A ANÁLISE DA PRESCRIÇÃO.1. A União Federal opôs Embargos de Declaração em face do acórdão proferido pela Turma Recursal, sustentando terhavido reformatio in pejus quanto ao alcance da prescrição.2. Provimento dos Embargos de Declaração para, excluindo do acórdão embargado as conclusões referentes à prescrição,manter a conclusão da sentença quanto ao ponto.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, acordam os Juízes da 1ª Turma Recursaldos Juizados Especiais Federais da Seção Judiciária do Espírito Santo ACOLHER OS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO, naforma da ementa constante dos autos, que passa a integrar o presente julgado.

IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTIJuiz Federal – 3º Relator da 1ª Turma Recursal

56 - 0000949-57.2013.4.02.5050/01 (2013.50.50.000949-3/01) (PROCESSO ELETRÔNICO) UNIÃO FEDERAL(PROCDOR: MARINA RIBEIRO FLEURY.) x OLAVO PERIM GALVAO.RECURSO Nº 0000949-57.2013.4.02.5050/01 (2013.50.50.000949-3/01)RECORRENTE: UNIÃO FEDERAL

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RECORRIDO: OLAVO PERIM GALVAORELATOR: JUIZ FEDERAL IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTI

EMENTA

EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. PROVIMENTO PARA EXCLUIR DO ACÓRDÃO A ANÁLISE DA PRESCRIÇÃO.1. A União Federal opôs Embargos de Declaração em face do acórdão proferido pela TurmaRecursal, sustentando ter havido reformatio in pejus quanto ao alcance da prescrição.2. Provimento dos Embargos de Declaração para, excluindo do acórdão embargado as conclusões referentes à prescrição,manter a conclusão da sentença quanto ao ponto.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, acordam os Juízes da 1ª Turma Recursaldos Juizados Especiais Federais da Seção Judiciária do Espírito Santo ACOLHER OS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO, naforma da ementa constante dos autos, que passa a integrar o presente julgado.

IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTIJuiz Federal – 3º Relator da 1ª Turma Recursal

57 - 0007244-97.2012.4.02.5001/01 (2012.50.01.007244-3/01) (PROCESSO ELETRÔNICO) CARLOS AUGUSTOHORACIO (DEF.PUB: LIDIANE DA PENHA SEGAL.) x INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS (PROCDOR:SIMONE LENGRUBER DARROZ ROSSONI.).RECURSO Nº 0007244-97.2012.4.02.5001/01 (2012.50.01.007244-3/01)RECORRENTE: CARLOS AUGUSTO HORACIORECORRIDO: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSSRELATOR: JUIZ FEDERAL IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTI

EMENTA

EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. INCONSTITUCIONALIDADE DO ART. 5º DA LEI 11.960/2009. AUSÊNCIA DEOMISSÃO.1. Embargos de declaração opostos em face do acórdão proferido pela Turma Recursal, a fim de prequestionar adeclaração de inconstitucionalidade da sistemática de juros legais do art. 1º-F da Lei 9.494/1997, com a redação dada peloart. 5º da Lei 11.960/2009.2. O art. 5º da Lei 11.960/2009, ao conferir nova redação ao art. 1º-F da Lei 9.494/1997, não apenas alterou os índices decorreção monetária e de juros de mora como também estendeu a incidência desses novos critérios a toda e qualquercondenação da Fazenda Pública (enquanto a redação original do art. 1º-F apenas fixava juros de mora de 0,5% ao mês nascondenações em matéria de remuneração de servidores públicos). Por ocasião do julgamento da ADI 4.357, o STFdeclarou a inconstitucionalidade material da nova regra, em síntese, porque (i) os índices próprios da poupança não seriamsuficientes à recomposição do valor da moeda e porque (ii) a Fazenda Pública não pode pretender impor correção e jurosnas suas condenações por índices diversos daqueles que pratica, nas mesmas relações jurídicas, em sentido contrário.Além disto, a Súmula 56 do TRF da 2ª Região já consolidava orientação no sentido de que “É inconstitucional a expressão‘haverá a incidência uma única vez’, constante do art. 1°-F da Lei n° 9.494/97, com a redação dada pel o art. 5° da Lei n°11.960/2009”.3. A decisão proferida pelo STF em matéria de inconstitucionalidade produz resultado a partir da publicação da ata dasessão de julgamento, independentemente do seu trânsito em julgado ou mesmo da publicação do acórdão (STF, Rcl 3.473e 2.576, AI 636933). Ainda que assim não fosse, a Turma Recursal pode declarar incidentalmente a inconstitucionalidadede lei, mediante remissão à fundamentação adotada pela Corte Constitucional.4. A determinação proferida pelo Ministro designado relator para redigir o acórdão da ADI 4.357, no sentido de que osTribunais continuem a pagar os precatórios pelos critérios da EC 62, teve por objetivo impedir a paralisação do pagamento,bem como permitir que a modulação de efeitos da decisão regule as conseqüências de relações continuativas (porexemplo, precatórios cuja pagamento foi parcelado, ou que foram pagos fora da ordem cronológica em razão de deságio),sem que se possa emprestar a essa decisão monocrática o condão de esvaziar por completo o conteúdo da decisãotomada pelo Plenário da Corte Constitucional – que declarou a inconstitucionalidade material das regras que integram oconteúdo do art. 1º-F da Lei 9.494/1997 com a redação atribuída pelo art. 5º da Lei 11.960/2009, razão pela qual éplenamente eficaz a subtração dos efeitos jurídicos desta norma do ordenamento, restabelecendo, por conseqüência, aredação original, que não se aplica às condenações em matéria previdenciária.5. Embargos de declaração rejeitados.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, acordam os Juízes da 1ª Turma Recursaldos Juizados Especiais Federais da Seção Judiciária do Espírito Santo REJEITAR OS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO, naforma da ementa constante dos autos, que passa a integrar o presente julgado.

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IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTIJuiz Federal – 3º Relator da 1ª Turma Recursal

58 - 0100685-82.2012.4.02.5050/01 (2012.50.50.100685-9/01) (PROCESSO ELETRÔNICO) MARIA ELIZABETHLUDOVICO LACERDA x TERESINHA LUDOVICO LACERDA (ADVOGADO: ELIETE BONI BITTENCOURT.) x UNIÃOFEDERAL (PROCDOR: PEDRO GALLO VIEIRA.).RECURSO Nº 0100685-82.2012.4.02.5050/01 (2012.50.50.100685-9/01)RECORRENTE: MARIA ELIZABETH LUDOVICO LACERDARECORRIDO: UNIÃO FEDERALRELATOR: JUIZ FEDERAL IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTI

EMENTA

EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. CONDENAÇÃO EM CUSTAS E HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. SUSPENSÃO DAEXIGIBILIDADE DAS VERBAS SUCUMBENCIAIS. DEFERIMENTO DO PEDIDO DE ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIAGRATUITA. ART. 12 DA LEI 1.060/1950.1. A autora interpôs embargos de declaração do acórdão que negou provimento ao seu recurso e a condenou aopagamento de custas e de honorários advocatícios. Alega a embargante que o julgado embargado seria contraditório namedida em que a condena ao pagamento das verbas sucumbenciais, embora a decisão de fl. 43 tenha deferido o pedido deassistência judiciária gratuita.2. Em segundo grau, o recorrente, vencido, pagará as custas e os honorários de advogado (art. 55, caput, da Lei9.099/1995). Todavia, no caso, a decisão proferida à fl. 43 deferiu o pedido de assistência judiciária gratuita.3. Embargos de declaração acolhidos, com efeitos infringentes, para suspender o pagamento de custas processuais e dehonorários advocatícios na forma do art. 12 da Lei 1.060/1950.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, acordam os Juízes da 1ª Turma Recursaldos Juizados Especiais Federais da Seção Judiciária do Espírito Santo ACOLHER OS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO, naforma da ementa constante dos autos, que passa a integrar o presente julgado.

IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTIJuiz Federal – 3º Relator da 1ª Turma Recursal

59 - 0001535-94.2013.4.02.5050/01 (2013.50.50.001535-3/01) (PROCESSO ELETRÔNICO) UNIÃO FEDERAL(PROCDOR: MARINA RIBEIRO FLEURY.) x OVIDIO BERTHOLI DE AGUIAR.RECURSO Nº 0001535-94.2013.4.02.5050/01 (2013.50.50.001535-3/01)RECORRENTE: UNIÃO FEDERALRECORRIDO: OVIDIO BERTHOLI DE AGUIARRELATOR: JUIZ FEDERAL IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTI

EMENTA

EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. TRIBUTÁRIO. CONTRIBUIÇÃO SOCIAL SOBRE O TERÇO CONSTITUCINAL DEFÉRIAS. CONDENAÇÃO DA UNIÃO AO PAGAMENTO DAS PARCELAS INDEVIDAMENTE DESCONTADAS. AFAZENDA PÚBLICA FEDERAL TEM O DEVER DE APRESENTAR TODA A DOCUMENTAÇÃO NECESSÁRIA ÀELABORAÇÃO DOS CÁLCULOS. RECOMENDA-SE QUE A UNIÃO ELABORE OS CÁLCULOS, UMA VEZ QUE ÉDETENTORA DOS ELEMENTOS DOS CÁLCULOS.1. A UNIÃO opôs Embargos de Declaração em face do acórdão, a fim de suscitar omissão sobre a questão relativa àimposição de apuração do indébito pela própria Fazenda Pública Federal.2. A sentença julgou procedente o pedido do autor, declarando indevida a cobrança da contribuição social incidente sobre o“terço constitucional de férias” e condenando a UNIÃO a restituir, à parte autora, as parcelas indevidamente descontadassob o mesmo título, deduzindo eventual parcela paga administrativamente. Consignou o julgado a quo que a FazendaPública Federal teria mais condições e facilidades na elaboração dos discriminativos dos valores devidos, uma vez que édetentora dos elementos dos cálculos.3. A União tem o dever de apresentar toda a documentação necessária à elaboração dos cálculos, sendo-lhe recomendado– e não imposto – que os elabore.4. Embargos de declaração da União providos para reconhecer a omissão, integrando o acórdão, nos termos dafundamentação, sem alterar a substância do decisório.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, acordam os Juízes da 1ª Turma Recursaldos Juizados Especiais Federais da Seção Judiciária do Espírito Santo ACOLHER OS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO, naforma da ementa constante dos autos, que passa a integrar o presente julgado.

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IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTIJuiz Federal – 3º Relator da 1ª Turma Recursal

60 - 0001619-71.2008.4.02.5050/01 (2008.50.50.001619-2/01) (PROCESSO ELETRÔNICO) FLORENTINA TEIXEIRA(ADVOGADO: ANA MARIA DA ROCHA CARVALHO.) x INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS(PROCDOR: MARCELA BRAVIN BASSETTO.).RECURSO Nº 0001619-71.2008.4.02.5050/01 (2008.50.50.001619-2/01)RECORRENTE: FLORENTINA TEIXEIRARECORRIDO: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSSRELATOR: JUIZ FEDERAL IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTI

EMENTA

EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. A DEPENDÊNCIA ECONÔMICA DAS PESSOAS ELENCADAS NO INCISO I DO ART.16 DA LEI 8.213/1991 É PRESUMIDA. OS ELEMENTOS DOS AUTOS REVELAM A DEPENDÊNCIA ECONÔMICA DAAUTORA EM RELAÇÃO AO SEGURADO FALECIDO. INEXISTÊNCIA DE OMISSÃO NO ACÓRDÃO EMBARGADO.1. Embargos de Declaração opostos pelo INSS em face do acórdão proferido pela Turma Recursal. Alega o embarganteque o julgado teria sido omisso quanto ao fundamento de defesa referente à existência de dependência econômica daembargada em relação a seu filho, com o qual vivia.2. A respeito da dependência econômica da autora em relação ao segurado falecido, o acórdão assim se pronunciou:“Analisando os depoimentos testemunhais colhidos por meio de Carta Precatória (fls. 116/119), observa-se que todos foramunânimes em afirmar que o de cujus morava em residência separada da autora por causa do alcoolismo dele. Informaram,também, que a distância entre as duas residências era de, aproximadamente, 1,5 Km e que o falecido compravamantimentos para a autora constantemente e que esta, por sua vez, cuidava da casa e cozinhava para Sr. João Rangel.Desse modo, a meu ver, mostra-se incontestável a dependência econômica da autora com relação ao de cujus, sendo queapenas a coabitação deixou de existir entre o casal”.3. A dependência econômica das pessoas indicadas no inciso I do art. 16 da Lei 8.213/1991 é presumida e a das demaisdeve ser comprovada. O cônjuge ou o companheiro são considerados dependentes para fins previdenciários. Se adependência é presumida, somente pode ser afastada por prova contrária, providência da qual a autarquia previdenciárianão se desincumbiu; na verdade, os elementos dos autos revelam que a autora seria dependente do segurado falecido,conforme exposto no item 2 deste acórdão.4. Embargos de declaração rejeitados.ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, acordam os Juízes da 1ª Turma Recursaldos Juizados Especiais Federais da Seção Judiciária do Espírito Santo REJEITAR OS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO, naforma da ementa constante dos autos, que passa a integrar o presente julgado.

IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTIJuiz Federal – 3º Relator da 1ª Turma Recursal

61 - 0001374-55.2011.4.02.5050/01 (2011.50.50.001374-8/01) (PROCESSO ELETRÔNICO) ARLETE SOARES PEREIRA(DEF.PUB: RICARDO FIGUEIREDO GIORI.) x INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS (PROCDOR: TELMASUELI FEITOSA DE FREITAS.).RECURSO Nº 0001374-55.2011.4.02.5050/01 (2011.50.50.001374-8/01)RECORRENTE: ARLETE SOARES PEREIRARECORRIDO: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSSRELATOR: JUIZ FEDERAL IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTI

EMENTA

EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. ASSISTÊNCIA SOCIAL. CONVERSÃO DO AUXÍLIO-DOENÇA EM APOSENTADORIAPOR INVALIDEZ. AS CONDIÇÕES PESSOAIS DA AUTORA NÃO CONTRIBUEM PARA A REINSERÇÃO NO MERCADODE TRABALHO. INEXISTENTE VIOLAÇÃO AOS ARTS. 42, 62 e 93 DA LEI 8.213/1991,1. O INSS opôs Embargos de Declaração em face do acórdão proferido pela Turma Recursal, sob o argumento de quehaveria contradição no julgado impugnado no tocante à questão relativa à possibilidade de reabilitação profissional da parteautora pela autarquia previdenciária e a reinserção no mercado de trabalho, nos termos dos arts. 42, 62 e 93 da Lei8.213/1991, suscitando omissão a tais dispositivos legais a título de pré-questionamento.2. No caso dos autos, a Turma deu provimento ao recurso interposto pela parte autora, condenando o INSS a restabelecero auxílio-doença desde a data da cessação do pagamento e convertê-lo em aposentadoria por invalidez a partir da data dojulgado. O acórdão assim se manifestou: “Por certo, a autora sente muitas dores devido a tais enfermidades, o que éagravado pela natureza de sua atividade habitual – empregada doméstica – que exige demasiado esforço físicoconcentrado na coluna e nos membros inferiores. Ademais, observa-se dos autos que a autora conta atualmente com 53(cinqüenta e três) anos de idade, possuindo prováveis baixo nível de escolaridade e parco nível cultural. Nesse sentido,entendo que as referidas condições pessoais, aliadas às limitações constatadas nos laudos particulares, fazem com que setorne extremamente difícil (senão impossível) para a segurada obter uma vaga de emprego que lhe garanta o mínimoexistencial, diante da conjuntura atual do mercado de trabalho, a qual, inegavelmente, privilegia os mais jovens e os que

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detêm maior e mais variada formação educacional e profissional, de modo que mostra-se impossível a reabilitação paraoutra função que não demande esforços físicos. Assim, entendo que a incapacidade da autora assume natureza Total eDefinitiva”.3. O julgado embargado revelou, portanto, que as condições pessoais da autora, que tem baixo nível de escolaridade, idadeavançada e sempre laborou como doméstica, aliadas às limitações físicas, fazem com que se torne impossível a obtençãode uma vaga de emprego no mercado de trabalho, não havendo assim a alegada contradição.4. Inexiste violação aos artigos de lei destacados pelo embargante (arts. 42, 62 e 93 da Lei 8.213/199).5. Embargos de declaração conhecidos e desprovidos.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, acordam os Juízes da 1ª Turma Recursaldos Juizados Especiais Federais da Seção Judiciária do Espírito Santo CONHECER DO RECURSO e, no mérito,NEGAR-LHE PROVIMENTO, na forma da ementa constante dos autos, que passa a integrar o presente julgado.

IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTIJuiz Federal – 3º Relator da 1ª Turma Recursal

62 - 0100987-14.2012.4.02.5050/01 (2012.50.50.100987-3/01) (PROCESSO ELETRÔNICO) CARLOS CESAR ANTUNESBORGES E OUTRO (ADVOGADO: ELIETE BONI BITTENCOURT.) x UNIÃO FEDERAL (PROCDOR: ANA BEATRIZ LINSBARBOSA.).RECURSO Nº 0100987-14.2012.4.02.5050/01 (2012.50.50.100987-3/01)RECORRENTE: CARLOS CESAR ANTUNES BORGESRECORRIDO: UNIÃO FEDERALRELATOR: JUIZ FEDERAL IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTI

EMENTA

EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. CONDENAÇÃO EM CUSTAS E HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. SUSPENSÃO DAEXIGIBILIDADE DAS VERBAS SUCUMBENCIAIS. DEFERIMENTO DO PEDIDO DE ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIAGRATUITA. ART. 12 DA LEI 1.060/1950.1. O autor interpôs embargos de declaração do acórdão que negou provimento ao seu recurso e o condenou ao pagamentode custas e de honorários advocatícios. Alega o embargante que o julgado embargado seria contraditório na medida emque o condena ao pagamento das verbas sucumbenciais, embora a decisão de fl. 54 tenha deferido o pedido de assistênciajudiciária gratuita.2. Em segundo grau, o recorrente, vencido, pagará as custas e os honorários de advogado (art. 55, caput, da Lei9.099/1995). Todavia, no caso, a decisão proferida à fl. 54 deferiu o pedido de assistência judiciária gratuita.3. Embargos de declaração acolhidos, com efeitos infringentes, para suspender o pagamento de custas processuais e dehonorários advocatícios na forma do art. 12 da Lei 1.060/1950.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, acordam os Juízes da 1ª Turma Recursaldos Juizados Especiais Federais da Seção Judiciária do Espírito Santo ACOLHER OS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO, naforma da ementa constante dos autos, que passa a integrar o presente julgado.

IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTIJuiz Federal – 3º Relator da 1ª Turma Recursal

63 - 0000207-66.2012.4.02.5050/01 (2012.50.50.000207-0/01) (PROCESSO ELETRÔNICO) MARIA DA PENHA OLIVEIRACIPRIANO (ADVOGADO: ELIETE BONI BITTENCOURT.) x UNIÃO FEDERAL (PROCDOR: ANA BEATRIZ LINSBARBOSA.).RECURSO Nº 0000207-66.2012.4.02.5050/01 (2012.50.50.000207-0/01)RECORRENTE: MARIA DA PENHA OLIVEIRA CIPRIANORECORRIDO: UNIÃO FEDERALRELATOR: JUIZ FEDERAL IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTI

EMENTA

EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. CONDENAÇÃO EM CUSTAS E HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. SUSPENSÃO DAEXIGIBILIDADE DAS VERBAS SUCUMBENCIAIS. DEFERIMENTO DO PEDIDO DE ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIAGRATUITA. ART. 12 DA LEI 1.060/1950.1. A autora interpôs embargos de declaração do acórdão que negou provimento ao seu recurso e a condenou aopagamento de custas e de honorários advocatícios. Alega a embargante que o julgado embargado seria contraditório namedida em que a condena ao pagamento das verbas sucumbenciais, embora a decisão de fl. 22 tenha deferido o pedido deassistência judiciária gratuita.

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2. Em segundo grau, o recorrente, vencido, pagará as custas e os honorários de advogado (art. 55, caput, da Lei9.099/1995). Todavia, no caso, a decisão proferida à fl. 22 deferiu o pedido de assistência judiciária gratuita.3. Embargos de declaração acolhidos, com efeitos infringentes, para suspender o pagamento de custas processuais e dehonorários advocatícios na forma do art. 12 da Lei 1.060/1950.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, acordam os Juízes da 1ª Turma Recursaldos Juizados Especiais Federais da Seção Judiciária do Espírito Santo ACOLHER OS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO, naforma da ementa constante dos autos, que passa a integrar o presente julgado.

IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTIJuiz Federal – 3º Relator da 1ª Turma Recursal

64 - 0100521-20.2012.4.02.5050/01 (2012.50.50.100521-1/01) (PROCESSO ELETRÔNICO) EUZELITA TORRESSCANDIAN (ADVOGADO: ELIETE BONI BITTENCOURT.) x UNIÃO FEDERAL (PROCDOR: PEDRO GALLO VIEIRA.).RECURSO Nº 0100521-20.2012.4.02.5050/01 (2012.50.50.100521-1/01)RECORRENTE: EUZELITA TORRES SCANDIANRECORRIDO: UNIÃO FEDERALRELATOR: JUIZ FEDERAL IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTI

EMENTA

EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. A ATUAÇÃO DO ÓRGÃO AD QUEM ESTÁ RESTRITA À MATÉRIA DOINCORFORMISMO APRESENTADA NAS SUAS RAZÕES RECURSAIS. DEFERIMENTO DO BENEFÍCIO DAASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA GRATUITA. SUSPENSÃO DA EXIGIBILIDADE DAS VERBAS SUCUMBENCIAIS (ART. 12 DALEI 1.060/1950).1. A autora interpôs embargos de declaração do acórdão que negou provimento ao seu recurso e a condenou aopagamento de custas processuais e de honorários advocatícios no valor de R$ 400,00. Alega a embargante que o julgadoembargado não esclareceu se fora mantida a procedência da sentença no tocante ao pagamento da gratificaçãoGDPGTAS, que não foi objeto de recurso. Alega ainda que há contradição no acórdão, na medida em que determina opagamento de custas e de honorários advocatícios, embora tenha sido deferido o benefício de assistência judiciáriagratuita. A título de pré-questionamento, suscita omissão quanto à violação aos arts. 1º, III, e 5°, X XXV e LXXIV, daCRFB/1988.2. A sentença condenou a UNIÃO ao pagamento da GDPGTAS, no valor correspondente a 80% desde a suaimplementação até o fim de seu pagamento em 31.12.2008, e julgou improcedente o pedido em relação à GDPGPE. Aautora interpôs recurso da sentença, para que fosse condenada a Fazenda Pública Federal também ao pagamento deGDPGPE, mas o acórdão negou-lhe provimento. Tendo em vista o efeito devolutivo do recurso, a atuação do órgão adquem está restrita à matéria do inconformismo apresentada nas suas razões, ou seja, "a apelação devolverá ao tribunal oconhecimento da matéria impugnada" (art. 515, caput, do CPC). No caso, o acórdão decidiu o recurso nos limites dainsurgência, mantendo-se o pagamento da GDPGTAS determinado na sentença.3. Em segundo grau, o recorrente, vencido, pagará as custas e honorários de advogado (art. 55, caput, da Lei 9.099/1995).Todavia, no caso, foi deferido o benefício da assistência judiciária gratuita, conforme decisão de fl. 24.4. Embargos de declaração parcialmente acolhidos, com efeitos infringentes, para determinar que a exigibilidade dasverbas sucumbenciais fique suspensa, nos termos do art. 12 da Lei 1.060/1950.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, acordam os Juízes da 1ª Turma Recursaldos Juizados Especiais Federais da Seção Judiciária do Espírito Santo ACOLHER PARCIALMENTE OS EMBARGOS DEDECLARAÇÃO, na forma da ementa constante dos autos, que passa a integrar o presente julgado.

IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTIJuiz Federal – 3º Relator da 1ª Turma Recursal

65 - 0004207-80.2010.4.02.5050/01 (2010.50.50.004207-0/01) (PROCESSO ELETRÔNICO) INSTITUTO NACIONAL DOSEGURO SOCIAL - INSS (PROCDOR: JOSÉ VICENTE SANTIAGO JUNQUEIRA.) x JOSE CARLOS RODRIGUES DONASCIMENTO (ADVOGADO: CARLOS AUGUSTO NUNES DE OLIVEIRA.).EMBARGOS DE DECLARAÇÃO Nº 0004207-80.2010.4.02.5050/01 (2010.50.50.004207-0/01)EMBARGANTE: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSSEMBARGADO(A): JOSE CARLOS RODRIGUES DO NASCIMENTORELATOR: JUIZ FEDERAL IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTI

EMENTA

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EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. ASSISTÊNCIA SOCIAL. BENEFÍCIO ASSISTENCIAL DE PRESTAÇÃO CONTINUADA.ART. 20, § 3º, DA LEI 8.742/1993. APLICAÇÃO ANALÓGICA DO ART. 34, PARÁGRAFO ÚNICO, DA LEI 10.741/2003.RECONHECIMENTO PELO STF DA INCONSTITUCIONALIDADE, POR PROTEÇÃO INSUFICIENTE DOSNECESSITADOS, DAS REGRAS EM QUESTÃO (RE 567.985 e RE 580.963).1. O INSS interpôs embargos de declaração da sentença que o condenou a conceder benefício assistencial de prestaçãocontínua. O recurso, em síntese, reafirma, no contexto dos arts. 195, § 5º, e 203, V, da CRFB/1988, a plenaconstitucionalidade do critério objetivo e rígido de aferição da miserabilidade do art. 20, § 3º, da Lei 8.742/1993, bem comoa conseqüente impossibilidade de interpretação extensiva do art. 34, parágrafo único, da Lei 10.741/2003 – sem discutir, ematenção ao princípio da eventualidade, a análise feita pela sentença dos fatos e das provas no caso concreto.2. A jurisprudência amplamente majoritária das Turmas Recursais considerava que o critério do art. 20, § 3º, da Lei8.742/1993 não era absoluto para a aferição da miserabilidade da família, assim como conferia interpretação extensiva aoparágrafo único do art. 34 do Estatuto do Idoso (Enunciado 46 das Turmas Recursais do Espírito Santo). Esta orientação foiconsolidada pelo próprio STF, que reconheceu incidentalmente a inconstitucionalidade das regras em questão, por proteçãoinsuficiente aos idosos e aos portadores de deficiências (RE 567.985 e RE 580.963), permitindo, conseqüentemente, aaferição de miserabilidade com outros parâmetros, por livre apreciação fundamentada da prova.3. O recurso interposto pelo INSS se limita a alegar a constitucionalidade e a aplicação literal das regras tidas porinconstitucionais pelo STF, o que acarreta o desprovimento. Como não houve impugnação expressa à valoração feita pelasentença quanto às provas e aos fatos do caso concreto, a matéria não foi devolvida à apreciação da Turma Recursal, cujojulgamento está adstrito à causa de pedir recursal.4. Embargos de declaração rejeitados.

A C Ó R D Ã O

Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, acordam os Juízes da 1ª Turma Recursaldos Juizados Especiais Federais da Seção Judiciária do Espírito Santo REJEITAR OS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO, naforma da ementa constante dos autos, que passa a integrar o presente julgado.

IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTIJuiz Federal – 3º Juiz Relator

66 - 0004203-09.2011.4.02.5050/01 (2011.50.50.004203-7/01) (PROCESSO ELETRÔNICO) INSTITUTO NACIONAL DOSEGURO SOCIAL - INSS (PROCDOR: MARCELA BRAVIN BASSETTO.) x ILZA MARIA CAETANO MOSCON(ADVOGADO: DANIEL ASSAD GALVÊAS, DIOGO ASSAD BOECHAT, MARCELO DUARTE FREITAS ASSAD, LUIZAMARTINS DE ASSIS SILVA, RAFAEL GONÇALVES VASCONCELOS.).RECURSO Nº 0004203-09.2011.4.02.5050/01 (2011.50.50.004203-7/01)RECORRENTE: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSSRECORRIDO: ILZA MARIA CAETANO MOSCONRELATOR: JUIZ FEDERAL IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTI

EMENTA

PREVIDENCIÁRIO. RENDA MENSAL DE BENEFÍCIO. NOVOS TETOS INSTITUÍDOS PELAS EMENDASCONSTITUCIONAIS 20/1998 E 41/2003. BENEFÍCIO NÃO LIMITADO AO TETO DO RGPS: IMPROCEDÊNCIA DOPEDIDO.I – INAPLICABILIDADE DO ART. 103 DA LEI 8.213/1991 (DECADÊNCIA).1. “O pedido de revisão para a adequação do valor do benefício previdenciário aos tetos estabelecidos pelas EC 20/98 e41/03 constitui pretensão de reajuste de Renda Mensal e não de revisão de RMI (Renda Mensal Inicial), pelo que não seaplica o prazo decadencial de 10 anos do artigo 103 da Lei 8213, mas apenas o prazo prescricional das parcelas”(Enunciado 66 das Turmas Recursais do Rio de Janeiro).II – APLICABILIDADE IMEDIATA DOS NOVOS TETOS.1.“É cabível a revisão de benefício previdenciário para resgatar eventual diferença entre a média do salário-de-contribuiçãoe o valor do salário-de-benefício que, porventura, não tenha sido recuperada no primeiro reajustamento do benefícioprevidenciário, na forma das Leis 8870/94 e 8880/94, até o limite do novo teto (EC 20/98 e 41/03), sendo indispensável aelaboração de cálculos para a solução da lide” (Enunciado 67 das Turmas Recursais do Rio de Janeiro); “Para o cálculo darenda mensal inicial dos benefícios previdenciários cuja renda mensal inicial tenha sido limitada ao teto, em havendoalteração desse limite, tal como foi feito pelas Emendas Constitucionais 20/1998 e 41/2003, cumpre ter presente o novoparâmetro fixado, observados os cálculos primitivos. Assim, a limitação do benefício ao teto será feita somente para fins depagamento, mantendo-se o valor histórico para fins de incidência dos reajustes” (Súmula 17 das Turmas Recursais do RioGrande do Sul).2. O STF decidiu pela plena aplicabilidade dos novos limites estabelecidos pela ECs 20/1998 e 41/2003 aos benefíciosprevidenciários concedidos anteriormente ao advento das alterações constitucionais, sem que isto implique violação algumaao ato jurídico perfeito: trata-se de mera majoração do teto, e não de alteração da RMI (RE 564.354).III – CASO CONCRETO: RMI DO BENEFÍCIO NÃO LIMITADA AO TETO VIGENTE NO MOMENTO DA CONCESSÃO.1. As informações sobre o benefício (fl. 10) demonstram que a RMI do benefício da parte autora, de R$ 1.031,83, nãosofreu limitação pelo teto vigente no momento da concessão, que era de R$ 1.031,87 (Portaria MPAS 3.971/1997).2. Recurso do INSS conhecido e provido. Isenção de custas. Sem condenação em honorários sucumbenciais, ante o

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provimento do recurso (Art. 55, caput, da Lei 9.099/1995).

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a 1ª Turma Recursal do JuizadoEspecial Federal da Seção Judiciária do Espírito Santo CONHECER DO RECURSO e, no mérito, DAR-LHEPROVIMENTO, na forma da ementa constante dos autos, que fica fazendo parte integrante do presente julgado.

IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTIJuiz Federal – 3º Juiz Relator

67 - 0011131-89.2012.4.02.5001/01 (2012.50.01.011131-0/01) (PROCESSO ELETRÔNICO) INSTITUTO NACIONAL DOSEGURO SOCIAL - INSS (PROCDOR: JOSÉ VICENTE SANTIAGO JUNQUEIRA.) x JOSE RODRIGUES DOS SANTOS(ADVOGADO: JOYCE DA SILVA PASSOS, VANESSA SOARES JABUR.).RECURSO Nº 0011131-89.2012.4.02.5001/01 (2012.50.01.011131-0/01)RECORRENTE: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSSRECORRIDO: JOSE RODRIGUES DOS SANTOSRELATOR: JUIZ FEDERAL IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTI

EMENTA

PREVIDENCIÁRIO. PRETENSÃO DE DESAPOSENTAÇÃO SEGUIDA DE REAPOSENTAÇÃO. AUSÊNCIA DEPREVISÃO LEGAL. VIOLAÇÃO AO ATO JURÍDICO PERFEITO. CONTRARIEDADE A REGRAS EXPRESSAS DA LEI8.213/1991. IMPROCEDÊNCIA DO PEDIDO.

I – CARÁTER CONTRIBUTIVO E SOLIDÁRIO DA PREVIDÊNCIA SOCIAL.1. A aposentadoria é direito social (art. 7º, XXIV, da CRFB/1988).2. Para a integridade da Previdência Social, tanto o Regime Geral quanto o Regime dos servidores têm caráter contributivoe solidário, de filiação obrigatória, com a observância de critérios que preservem o equilíbrio financeiro e atuarial (arts. 40,caput, e 201, caput, da CRFB/1988).

II – OS ARTS. 195, § 5º, E 201, § 11, DA CRFB/188: A INSTITUIÇÃO OU MAJORAÇÃO DE CONTRIBUIÇÃO DEVEREFORÇAR O REGIME SOLIDÁRIO, SEM NECESSARIAMENTE IMPLICAR BENEFÍCIO INDIVIDUAL PARA OCONTRIBUINTE.1. O art. 195, § 5º, da CRFB/1988 (“Nenhum benefício ou serviço da seguridade social poderá ser criado, majorado ouestendido sem a correspondente fonte de custeio total”) é regra que visa ao equilíbrio financeiro e atuarial.2. A majoração da contribuição social, como qualquer tributo, depende, para a sua validade, de causa jurídica válida, e,portanto, demanda, em contrapartida, incremento no sistema previdenciário (STF, ADI 790, RE 183.906 e ADI-MC 2.010).3. Entretanto, a majoração da contribuição social previdenciária não necessariamente resultará em aumento dos benefíciose serviços a que cada segurado-contribuinte fará jus, cabendo à lei, na forma do art. 201, § 11 da CRFB/1988, disciplinar see como haverá reflexos: contribui-se solidariamente para a manutenção e expansão do sistema como um todo, e não paraprovisionar fundos única e exclusivamente em benefício próprio (STF, RE 210.211, AI 724.582 AgR e ADI 3.105).

III – FATOR PREVIDENCIÁRIO E DESINCENTIVO À APOSENTADORIA PRECOCE COMO TÉCNICA DE MANUTENÇÃODO EQUILÍBRIO DA PREVIDÊNCIA SOCIAL.1. No regime previdenciário dos servidores públicos, há idade mínima como requisito para a aposentadoria, paga-se abonode permanência a quem postergar a aposentadoria (art. 40, § 19, da CRFB/1988), e veda-se a acumulação de proventoscom vencimentos (salvo na hipótese do art. 37, § 10, da CRFB/1988).2. No RGPS, não há idade mínima como requisito para a aposentadoria, permite-se a acumulação de aposentadoria com aremuneração de emprego, o deferimento de aposentadoria não rescinde os contratos de trabalho (STF, ADI 1.721 e 1.770).Por outro lado, a Lei 9.876/1999 instituiu o fator previdenciário – cuja constitucionalidade foi reconhecida pelo STF (ADI-MC2.111) – no cálculo das aposentadorias por idade, por tempo de serviço e por tempo de contribuição, para assegurar oequilíbrio atuarial, de modo que os critérios “tempo de contribuição”, “idade” e “expectativa de sobrevida no momento daaposentadoria” tenham influência sobre o valor final do benefício.

IV – DIREITO ADQUIRIDO AO BENEFÍCIO CUJOS REQUISITOS FORAM INTEGRALMENTE CUMPRIDOS.1. Com base no art. 5º, XXXVI, da CRFB/1988, o segurado tem direito a que seu benefício, quanto aos seus elementosessenciais, observe a lei em vigor no momento em que preencheu todos os requisitos para a sua aquisição,independentemente da data do requerimento administrativo (STF, RE 72.509 e Súmula 359). Assim, por exemplo, apensão por morte é regida pela lei em vigor na data do óbito do segurado-instituidor, não se aplicando a lei posterior, sejamais gravosa, seja mais benéfica (STF, RE 218.467, RE 273.570 e RE 415.454).2. O direito adquirido ao benefício não assegura a imutabilidade do seu regime jurídico (STF, RE 278.718, RE 575.089 e AI654.807), então, por exemplo, os segurados podem ser beneficiados pela alteração do valor-limite do benefício (STF, RE564.354) ou prejudicados pela instituição ou diminuição de prazos prescricionais ou decadenciais (STF, ADI-MC 1.715 e RE21.341).3. O segurado tem direito ao benefício mais vantajoso (aquele de maior RMI), considerando todos os fatores que

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influenciam em seu cálculo, desde a data em que o direito ao benefício ingressou em seu patrimônio (isto é, cumpriu todosos requisitos legais para a aquisição do direito) até o momento em que o direito é exercido (data do requerimentoadministrativo) (STF, RE 630.501). Cumpridos os requisitos mínimos (tempo de serviço e carência ou tempo decontribuição e idade, conforme o regime jurídico vigente à época), o segurado adquire o direito ao benefício, aquisição quenão se confunde com o seu exercício (neste sentido, o art. 102, § 1º, da Lei 8.213/1991, incluído pela Lei 9.528/1997, areconhecer que a perda da qualidade de segurado não prejudica o direito à aposentadoria para cuja concessão tenham sidopreenchidos todos os requisitos, segundo a legislação em vigor à época em que atendidos esses requisitos), daí porqueeventual modificação posterior nas circunstâncias de fato não suprime o direito já incorporado ao patrimônio do seu titular.Adquirido o direito à aposentação, o segurado pode optar por não exercê-lo de imediato, seja para fazer jus ao benefíciointegral (quando houve aquisição do direito apenas à aposentadoria proporcional), seja para melhorar o fator previdenciárioaplicável e computar as novas contribuições, e essa opção não pode prejudicá-lo, pois seria injurídico tolerar que a RMI dobenefício requerido posteriormente (em decorrência, por exemplo, da redução do salário-de-contribuição) fosse inferior àRMI do benefício que poderia já ter obtido. Conferiu-se interpretação extensiva ao art. 122 da Lei 8.213/1991 (“Se maisvantajoso, fica assegurado o direito à aposentadoria, nas condições legalmente previstas na data do cumprimento de todosos requisitos necessários à obtenção do benefício, ao segurado que, tendo completado 35 anos de serviço, se homem, outrinta anos, se mulher, optou por permanecer em atividade”) para assegurar não só o benefício mais vantajoso na data documprimento dos requisitos para a aposentadoria integral, como também para a aposentadoria proporcional adquirida, bemcomo em cada um dos meses posteriores à aquisição, até a data do exercício do direito pelo requerimento.4. Exercido o direito ao benefício, mediante requerimento de aposentadoria, o tempo de contribuição acumulado exauretodos os seus efeitos jurídicos, não podendo ser computado posteriormente para a aquisição de outros direitos.

V – “RENÚNCIA À APOSENTADORIA”: PRECEDENTES SOBRE DESAPOSENTAÇÃO.1. Há aposentados que retornam à atividade laboral como segurados obrigatórios, e posteriormente pleiteiam em juízo novocálculo de proventos, consideradas as contribuições de período referente a esse regresso, pretendendo afastar o art. 18, §2º, da Lei 8.213/1991 (“O aposentado pelo Regime Geral de Previdência Social - RGPS que permanecer em atividadesujeita a este Regime, ou a ele retornar, não fará jus a prestação alguma da Previdência Social em decorrência do exercíciodessa atividade, exceto ao salário-família e à reabilitação profissional, quando empregado.”) por considerá-lo incompatívelcom o art. 201, § 11, da CRFB/1988 (“Os ganhos habituais do empregado, a qualquer título, serão incorporados ao saláriopara efeito de contribuição previdenciária e conseqüente repercussão em benefícios, nos casos e na forma da lei.”).2. A jurisprudência admitia a renúncia à aposentadoria já obtida, com o aproveitamento do tempo de contribuição para obternova aposentadoria, desde que tal renúncia produzisse efeitos ex tunc (impondo a devolução integral das prestaçõespercebidas do INSS, para evitar enriquecimento ilícito do beneficiário) (TNU, PEDILEF 200872580041869; Enunciado 70das Turmas Recursais do Rio de Janeiro; Primeira Seção do TRF da 2ª Região, EIAC 201050010042326).3. A Primeira Seção do STJ assentou que “Os benefícios previdenciários são direitos patrimoniais disponíveis e, portanto,suscetíveis de desistência pelos seus titulares, prescindindo-se da devolução dos valores recebidos da aposentadoria a queo segurado deseja preterir para a concessão de novo e posterior jubilamento”. Conferiu interpretação ao art. 18, § 2º, da Lei8.213/1991 no sentido de que este não impede o segurado de retornar à atividade laboral e renunciar à aposentadoria deque está em gozo, nem de, em seguida, requerer novo benefício (reaposentação) que utilize os períodos contributivos doprimeiro somado aos períodos posteriores ao retorno à atividade laboral (RESP 1.334.488).

VI – O ALEGADO PODER DE RENUNCIAR À APOSENTADORIA NÃO ESTÁ SUBMETIDO AO PRAZO DECADENCIALDO ART. 103 DA LEI 8.213/1991.1. O prazo decadencial de dez anos previsto no art. 103 da Lei 8.213/1991 extingue o direito de provocar a revisão do atode concessão de benefício previdenciário. Entretanto, a tese da desaposentação parte da premissa de que o aposentadonão busca a revisão do ato concessório: ele renuncia à aposentadoria já deferida para depois obter outra. Saber se existeou não tal direito potestativo à renúncia é questão atinente ao mérito propriamente dito, mas, se a resposta for positiva, oprazo do art. 103 não o abrange.2. Adesão desta Turma Recursal à orientação recente da Quinta Turma do STJ, no sentido de que “o prazo decadencialaplica-se nas situações em que o segurado visa à revisão do ato de concessão do benefício. A desaposentação nãoconsiste na revisão desse ato, mas no seu desfazimento, motivo pelo qual não se submete ao decurso de prazodecadencial para o seu exercício” (AgRg no REsp 1.270.481).

VII – A DESAPOSENTAÇÃO E A REAPOSENTAÇÃO NÃO ENCONTRAM RESPALDO NA LEI, MESMO QUE OSEGURADO SE DISPONHA A DEVOLVER TODOS OS VALORES JÁ RECEBIDOS A TÍTULO DE APOSENTADORIA.1. Orientação do Relator, Juiz Federal Iorio Siqueira D’Alessandri Forti, externada em voto vencido no recurso inominado2011.50.50.005300-0/01 (sessão da 1ª Turma Recursal de Vitória/ES em 28/06/2013), para quem a desaposentação esubseqüente reaposentação não são juridicamente viáveis sequer com a restituição dos valores recebidos pelo segurado,com amparo nos seguintes fundamentos:i) Inexistência de norma autorizando a pretensão em regra implica, nos atos vinculados, vedação, e não permissão. A cadanovo mês trabalhado por um segurado aposentado, corresponde o pagamento de uma nova contribuição, e eventualmenteele teria interesse em obter “nova aposentadoria melhorada” mensalmente, razão pela qual a falta de disciplina legalresultaria em situação caótica.ii) O simples fato de incidir contribuição sobre o salário de um segurado obrigatório que se encontra aposentado nãopermite concluir que, com base nos arts. 195, § 5º, e 201, § 11º, da CRFB/1988, alguma vantagem individualcorrespondente lhe seja devida (STF, RE 210.211, AI 724.582 AgR e ADI 3.105). Se a contribuição, com a significativaalíquota de 11%, for reputada excessiva ou sem causa válida, a conseqüência possível (em tese) é a inconstitucionalidade(total ou parcial) do tributo, nunca a majoração da aposentadoria sem expressa previsão em lei.iii) O tempo de contribuição ingressa no patrimônio do trabalhador mês a mês, e, satisfeitos os requisitos para a obtenção

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de benefício, considera-se direito adquirido, a ser utilizado quando o segurado considerar mais conveniente. Diante debifurcação, a ele cabe escolher qual caminho trilhar, sabendo que não há autorização legal para retornar: requererimediatamente a aposentadoria, gozando-a desde logo, por um período de vida mais longo, com valor “achatado” pelo fatorprevidenciário, ou permanecer mais tempo contribuindo, para ficar mais velho e obter um benefício maior. Uma vezexercido o direito de instar a Administração a agir, tem-se ato administrativo aperfeiçoado, protegido pelo art. 5º, XXXVI, daCRFB/1988. O tempo trabalhado e contribuído não deixou de integrar o patrimônio do segurado, mas já foi aproveitadointegralmente para uma finalidade, e não pode, portanto, ser aproveitado para outra.iv) É certo que o direito do aposentado às prestações mensais do benefício, apesar da natureza alimentar deste, ostentanatureza patrimonial e disponível. O segurado pode, a qualquer momento, renunciar ao recebimento de uma, várias outodas as prestações, com efeitos ex nunc, isto é, sem ter de devolver aquelas já recebidas, uma vez que não as recebeuindevidamente. Ocorre que o direito à aposentadoria em si, depois de adquirido, foi exercido por ato de vontade; com odeferimento pela Administração, tornou-se ato jurídico perfeito. A qualquer momento, cessando as razões de conveniênciae oportunidade que levaram o segurado a suspender por tempo indeterminado os efeitos do ato administrativo que oaposentou, poderá solicitar a reativação imediata do benefício: em se tratando de direito social fundamental, visando àgarantia da subsistência digna, a aposentadoria é irrenunciável. O interruptor pode ser desligado (e religado, também), nãoarrancado da parede.v) Pode-se renunciar às prestações da aposentadoria, sendo vedado – diante da falta de norma autorizadora – valer-sedessa renúncia para contornar uma (má) escolha feita no passado, mesmo com a disposição de ressarcir a Administraçãode todos os valores recebidos. No sentido da imutabilidade radical deste ato, votaram os Ministros Dias Toffoli, CármenLúcia, Ricardo Lewandowski e Gilmar Mendes no julgamento do RE 630.501, enquanto os demais Ministros consideraram oato passível de revisão apenas quando tivesse por fundamento a aquisição de direito a RMI melhor antes da data dorequerimento. Nas palavras do Juiz Federal Guilherme Beltrami, o que a parte autora pretende não é renunciar àaposentadoria – porque, em suma, renúncia é abandonar direitos e não reverter a statu quo ante com recuperação dotempo; o que ela pretende é como renunciar à propriedade de um bem e querer o dinheiro da aquisição de volta.vi) A pretensão de obter nova aposentadoria com base nas mesmas contribuições aproveitadas para a aposentadoriarenunciada encontra óbice no ato jurídico perfeito (art. 5º, XXXVI, da CRFB/1988), na falta de previsão legal expressa (arts.37, caput, e 201, caput e § 11, da CRFB/1988), e na vedação constante dos arts. 18, § 2º (segundo o qual as contribuiçõesvertidas pelo segurado aposentado não podem produzir efeito algum para a obtenção de outra aposentadoria, cabendo aele escolher prudentemente quando e como as usará) e 29, I, e § 7º, Lei 8.213/1991 (como a fixação da RMI considera aidade e a expectativa de sobrevida do segurado no momento do requerimento, conclui-se que, uma vez deferido, tem-se atoadministrativo cujos efeitos atrelam, de forma incindível, a quantidade de contribuições vertidas e o período futuro de vidado segurado). Logo, admitir a desaposentação e, logo depois, novo pedido de aposentadoria (com mais contribuições,idade mais elevada e, portanto, expectativa de sobrevida menor), a fim de obter benefício com RMI maior, constituiria burlaao fator previdenciário e ao seu objetivo de desestimular aposentadorias precoces.

VIII – Recurso do INSS conhecido e provido, para julgar improcedente o pedido formulado pela parte autora. Sem custasnem honorários, em razão do provimento do recurso.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, acordam os Juízes da 1ª Turma Recursaldos Juizados Especiais Federais da Seção Judiciária do Espírito Santo CONHECER DO RECURSO e, no mérito, DAR-LHEPROVIMENTO, na forma da ementa constante dos autos, que passa a integrar o presente julgado.

IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTIJuiz Federal – 3º Relator da 1ª Turma Recursal

68 - 0100780-31.2013.4.02.5001/01 (2013.50.01.100780-3/01) (PROCESSO ELETRÔNICO) NEUZA MARIA VENTURINIENDLICH (ADVOGADO: VITOR HENRIQUE PIOVESAN, RONI FURTADO BORGO, LUIZ CARLOS BISSOLI, TARCIZIOPESSALI, DANIEL DIAS DE SOUZA, ALESSANDRA JEAKEL, JOZIANE LOPES DA SILVA, CHRISTOVAM RAMOS PINTONETO, LUCIANO BRANDÃO CAMATTA.) x INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS (PROCDOR: LILIANBERTOLANI DO ESPÍRITO SANTO.).RECURSO Nº 0100780-31.2013.4.02.5001/01 (2013.50.01.100780-3/01)RECORRENTE: NEUZA MARIA VENTURINI ENDLICHRECORRIDO: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSSRELATOR: JUIZ FEDERAL IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTI

EMENTA

PREVIDENCIÁRIO. PRETENSÃO DE DESAPOSENTAÇÃO SEGUIDA DE REAPOSENTAÇÃO. AUSÊNCIA DEPREVISÃO LEGAL. VIOLAÇÃO AO ATO JURÍDICO PERFEITO. CONTRARIEDADE A REGRAS EXPRESSAS DA LEI8.213/1991. IMPROCEDÊNCIA DO PEDIDO.

I – CARÁTER CONTRIBUTIVO E SOLIDÁRIO DA PREVIDÊNCIA SOCIAL.1. A aposentadoria é direito social (art. 7º, XXIV, da CRFB/1988).2. Para a integridade da Previdência Social, tanto o Regime Geral quanto o Regime dos servidores têm caráter contributivoe solidário, de filiação obrigatória, com a observância de critérios que preservem o equilíbrio financeiro e atuarial (arts. 40,caput, e 201, caput, da CRFB/1988).

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II – OS ARTS. 195, § 5º, E 201, § 11, DA CRFB/188: A INSTITUIÇÃO OU MAJORAÇÃO DE CONTRIBUIÇÃO DEVEREFORÇAR O REGIME SOLIDÁRIO, SEM NECESSARIAMENTE IMPLICAR BENEFÍCIO INDIVIDUAL PARA OCONTRIBUINTE.1. O art. 195, § 5º, da CRFB/1988 (“Nenhum benefício ou serviço da seguridade social poderá ser criado, majorado ouestendido sem a correspondente fonte de custeio total”) é regra que visa ao equilíbrio financeiro e atuarial.2. A majoração da contribuição social, como qualquer tributo, depende, para a sua validade, de causa jurídica válida, e,portanto, demanda, em contrapartida, incremento no sistema previdenciário (STF, ADI 790, RE 183.906 e ADI-MC 2.010).3. Entretanto, a majoração da contribuição social previdenciária não necessariamente resultará em aumento dos benefíciose serviços a que cada segurado-contribuinte fará jus, cabendo à lei, na forma do art. 201, § 11 da CRFB/1988, disciplinar see como haverá reflexos: contribui-se solidariamente para a manutenção e expansão do sistema como um todo, e não paraprovisionar fundos única e exclusivamente em benefício próprio (STF, RE 210.211, AI 724.582 AgR e ADI 3.105).

III – FATOR PREVIDENCIÁRIO E DESINCENTIVO À APOSENTADORIA PRECOCE COMO TÉCNICA DE MANUTENÇÃODO EQUILÍBRIO DA PREVIDÊNCIA SOCIAL.1. No regime previdenciário dos servidores públicos, há idade mínima como requisito para a aposentadoria, paga-se abonode permanência a quem postergar a aposentadoria (art. 40, § 19, da CRFB/1988), e veda-se a acumulação de proventoscom vencimentos (salvo na hipótese do art. 37, § 10, da CRFB/1988).2. No RGPS, não há idade mínima como requisito para a aposentadoria, permite-se a acumulação de aposentadoria com aremuneração de emprego, o deferimento de aposentadoria não rescinde os contratos de trabalho (STF, ADI 1.721 e 1.770).Por outro lado, a Lei 9.876/1999 instituiu o fator previdenciário – cuja constitucionalidade foi reconhecida pelo STF (ADI-MC2.111) – no cálculo das aposentadorias por idade, por tempo de serviço e por tempo de contribuição, para assegurar oequilíbrio atuarial, de modo que os critérios “tempo de contribuição”, “idade” e “expectativa de sobrevida no momento daaposentadoria” tenham influência sobre o valor final do benefício.

IV – DIREITO ADQUIRIDO AO BENEFÍCIO CUJOS REQUISITOS FORAM INTEGRALMENTE CUMPRIDOS.1. Com base no art. 5º, XXXVI, da CRFB/1988, o segurado tem direito a que seu benefício, quanto aos seus elementosessenciais, observe a lei em vigor no momento em que preencheu todos os requisitos para a sua aquisição,independentemente da data do requerimento administrativo (STF, RE 72.509 e Súmula 359). Assim, por exemplo, apensão por morte é regida pela lei em vigor na data do óbito do segurado-instituidor, não se aplicando a lei posterior, sejamais gravosa, seja mais benéfica (STF, RE 218.467, RE 273.570 e RE 415.454).2. O direito adquirido ao benefício não assegura a imutabilidade do seu regime jurídico (STF, RE 278.718, RE 575.089 e AI654.807), então, por exemplo, os segurados podem ser beneficiados pela alteração do valor-limite do benefício (STF, RE564.354) ou prejudicados pela instituição ou diminuição de prazos prescricionais ou decadenciais (STF, ADI-MC 1.715 e RE21.341).3. O segurado tem direito ao benefício mais vantajoso (aquele de maior RMI), considerando todos os fatores queinfluenciam em seu cálculo, desde a data em que o direito ao benefício ingressou em seu patrimônio (isto é, cumpriu todosos requisitos legais para a aquisição do direito) até o momento em que o direito é exercido (data do requerimentoadministrativo) (STF, RE 630.501). Cumpridos os requisitos mínimos (tempo de serviço e carência ou tempo decontribuição e idade, conforme o regime jurídico vigente à época), o segurado adquire o direito ao benefício, aquisição quenão se confunde com o seu exercício (neste sentido, o art. 102, § 1º, da Lei 8.213/1991, incluído pela Lei 9.528/1997, areconhecer que a perda da qualidade de segurado não prejudica o direito à aposentadoria para cuja concessão tenham sidopreenchidos todos os requisitos, segundo a legislação em vigor à época em que atendidos esses requisitos), daí porqueeventual modificação posterior nas circunstâncias de fato não suprime o direito já incorporado ao patrimônio do seu titular.Adquirido o direito à aposentação, o segurado pode optar por não exercê-lo de imediato, seja para fazer jus ao benefíciointegral (quando houve aquisição do direito apenas à aposentadoria proporcional), seja para melhorar o fator previdenciárioaplicável e computar as novas contribuições, e essa opção não pode prejudicá-lo, pois seria injurídico tolerar que a RMI dobenefício requerido posteriormente (em decorrência, por exemplo, da redução do salário-de-contribuição) fosse inferior àRMI do benefício que poderia já ter obtido. Conferiu-se interpretação extensiva ao art. 122 da Lei 8.213/1991 (“Se maisvantajoso, fica assegurado o direito à aposentadoria, nas condições legalmente previstas na data do cumprimento de todosos requisitos necessários à obtenção do benefício, ao segurado que, tendo completado 35 anos de serviço, se homem, outrinta anos, se mulher, optou por permanecer em atividade”) para assegurar não só o benefício mais vantajoso na data documprimento dos requisitos para a aposentadoria integral, como também para a aposentadoria proporcional adquirida, bemcomo em cada um dos meses posteriores à aquisição, até a data do exercício do direito pelo requerimento.4. Exercido o direito ao benefício, mediante requerimento de aposentadoria, o tempo de contribuição acumulado exauretodos os seus efeitos jurídicos, não podendo ser computado posteriormente para a aquisição de outros direitos.

V – “RENÚNCIA À APOSENTADORIA”: PRECEDENTES SOBRE DESAPOSENTAÇÃO.1. Há aposentados que retornam à atividade laboral como segurados obrigatórios, e posteriormente pleiteiam em juízo novocálculo de proventos, consideradas as contribuições de período referente a esse regresso, pretendendo afastar o art. 18, §2º, da Lei 8.213/1991 (“O aposentado pelo Regime Geral de Previdência Social - RGPS que permanecer em atividadesujeita a este Regime, ou a ele retornar, não fará jus a prestação alguma da Previdência Social em decorrência do exercíciodessa atividade, exceto ao salário-família e à reabilitação profissional, quando empregado.”) por considerá-lo incompatívelcom o art. 201, § 11, da CRFB/1988 (“Os ganhos habituais do empregado, a qualquer título, serão incorporados ao saláriopara efeito de contribuição previdenciária e conseqüente repercussão em benefícios, nos casos e na forma da lei.”).2. A jurisprudência admitia a renúncia à aposentadoria já obtida, com o aproveitamento do tempo de contribuição para obternova aposentadoria, desde que tal renúncia produzisse efeitos ex tunc (impondo a devolução integral das prestaçõespercebidas do INSS, para evitar enriquecimento ilícito do beneficiário) (TNU, PEDILEF 200872580041869; Enunciado 70

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das Turmas Recursais do Rio de Janeiro; Primeira Seção do TRF da 2ª Região, EIAC 201050010042326).3. A Primeira Seção do STJ assentou que “Os benefícios previdenciários são direitos patrimoniais disponíveis e, portanto,suscetíveis de desistência pelos seus titulares, prescindindo-se da devolução dos valores recebidos da aposentadoria a queo segurado deseja preterir para a concessão de novo e posterior jubilamento”. Conferiu interpretação ao art. 18, § 2º, da Lei8.213/1991 no sentido de que este não impede o segurado de retornar à atividade laboral e renunciar à aposentadoria deque está em gozo, nem de, em seguida, requerer novo benefício (reaposentação) que utilize os períodos contributivos doprimeiro somado aos períodos posteriores ao retorno à atividade laboral (RESP 1.334.488).

VI – A DESAPOSENTAÇÃO E A REAPOSENTAÇÃO NÃO ENCONTRAM RESPALDO NA LEI, MESMO QUE OSEGURADO SE DISPONHA A DEVOLVER TODOS OS VALORES JÁ RECEBIDOS A TÍTULO DE APOSENTADORIA.1. Orientação do Relator, Juiz Federal Iorio Siqueira D’Alessandri Forti, externada em voto vencido no recurso inominado2011.50.50.005300-0/01 (sessão da 1ª Turma Recursal de Vitória/ES em 28/06/2013), para quem a desaposentação esubseqüente reaposentação não são juridicamente viáveis sequer com a restituição dos valores recebidos pelo segurado,com amparo nos seguintes fundamentos:i) Inexistência de norma autorizando a pretensão em regra implica, nos atos vinculados, vedação, e não permissão. A cadanovo mês trabalhado por um segurado aposentado, corresponde o pagamento de uma nova contribuição, e eventualmenteele teria interesse em obter “nova aposentadoria melhorada” mensalmente, razão pela qual a falta de disciplina legalresultaria em situação caótica.ii) O simples fato de incidir contribuição sobre o salário de um segurado obrigatório que se encontra aposentado nãopermite concluir que, com base nos arts. 195, § 5º, e 201, § 11º, da CRFB/1988, alguma vantagem individualcorrespondente lhe seja devida (STF, RE 210.211, AI 724.582 AgR e ADI 3.105). Se a contribuição, com a significativaalíquota de 11%, for reputada excessiva ou sem causa válida, a conseqüência possível é a inconstitucionalidade dacontribuição, nunca a majoração da aposentadoria sem expressa previsão em lei.iii) O tempo de contribuição ingressa no patrimônio do trabalhador mês a mês, e, satisfeitos os requisitos para a obtençãode benefício, considera-se direito adquirido, a ser utilizado quando o segurado considerar mais conveniente. Diante debifurcação, a ele cabe escolher qual caminho trilhar, sabendo que não há autorização legal para retornar: requererimediatamente a aposentadoria, gozando-a desde logo, por um período de vida mais longo, com valor “achatado” pelo fatorprevidenciário, ou permanecer mais tempo contribuindo, para ficar mais velho e obter um benefício maior. Uma vezexercido o direito de instar a Administração a agir, tem-se ato administrativo aperfeiçoado, protegido pelo art. 5º, XXXVI, daCRFB/1988. O tempo trabalhado e contribuído não deixou de integrar o patrimônio do segurado, mas já foi aproveitadointegralmente para uma finalidade, e não pode, portanto, ser aproveitado para outra.iv) É certo que o direito do aposentado às prestações mensais do benefício, apesar da natureza alimentar deste, ostentanatureza patrimonial e disponível. O segurado pode, a qualquer momento, renunciar ao recebimento de uma, várias outodas as prestações, com efeitos ex nunc, isto é, sem ter de devolver aquelas já recebidas, uma vez que não as recebeuindevidamente. Ocorre que o direito à aposentadoria em si, após adquirido, foi exercido por ato de vontade; com odeferimento pela Administração, tornou-se ato jurídico perfeito. A qualquer momento, cessando as razões de conveniênciae oportunidade que levaram o segurado a suspender por tempo indeterminado os efeitos do ato administrativo que oaposentou, poderá solicitar a reativação imediata do benefício: em se tratando de direito social fundamental, visando àgarantia da subsistência digna, a aposentadoria é irrenunciável. O interruptor pode ser desligado (e religado, também), nãoarrancado da parede.v) Pode-se renunciar às prestações da aposentadoria, sendo vedado – diante da falta de norma autorizadora – valer-sedessa renúncia para contornar uma (má) escolha feita no passado, mesmo com a disposição de ressarcir a Administraçãode todos os valores recebidos. No sentido da imutabilidade radical deste ato, votaram os Ministros Dias Toffoli, CármenLúcia, Ricardo Lewandowski e Gilmar Mendes no julgamento do RE 630.501, enquanto os demais Ministros consideraram oato passível de revisão apenas quando tivesse por fundamento a aquisição de direito a RMI melhor antes da data dorequerimento. Nas palavras do Juiz Federal Guilherme Beltrami, o que a parte autora pretende não é renunciar àaposentadoria – porque, em suma, renúncia é abandonar direitos e não reverter a statu quo ante com recuperação dotempo; o que ela pretende é como renunciar à propriedade de um bem e querer o dinheiro da aquisição de volta.vi) O obstáculo à pretensão de obter nova aposentadoria com base nas mesmas contribuições aproveitadas para aaposentadoria a que renunciam decorre não só do ato jurídico perfeito (art. 5º, XXXVI, da CRFB/1988) e da falta deprevisão legal expressa (arts. 37, caput, e 201, caput e § 11, da CRFB/1988), como também de clara vedação prevista emnormas infraconstitucionais. O art. 18, § 2º, da Lei 8.213/1991 diz, por via transversa, que as contribuições vertidas pelosegurado aposentado não produzem efeito algum para a obtenção de outra aposentadoria, cabendo a ele escolherprudentemente quando e como as usará. O art. 29, I, e § 7º, também da Lei 8.213/1991, como a aposentadoria demanda,para a fixação da renda mensal inicial do benefício, o cômputo da idade e da expectativa de sobrevida do segurado nomomento do requerimento, conclui-se que, uma vez deferido, tem-se ato administrativo cujos efeitos atrelam, de formaincindível, a quantidade de contribuições vertidas e o período futuro de vida do segurado. Admitir a desaposentação e, logodepois, novo pedido de aposentadoria (com mais contribuições, idade mais elevada e, portanto, expectativa de sobrevidamenor), a fim de obter benefício com RMI maior, constituiria burla ao fator previdenciário e a seu objetivo de desestimularaposentadorias precoces.

VII – Recurso da parte autora conhecido e desprovido. Sem custas nem honorários, em razão da assistência judiciáriagratuita.ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, acordam os Juízes da 1ª Turma Recursaldos Juizados Especiais Federais da Seção Judiciária do Espírito Santo CONHECER DO RECURSO e, no mérito,NEGAR-LHE PROVIMENTO, na forma da ementa constante dos autos, que passa a integrar o presente julgado.

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IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTIJuiz Federal – 3º Relator da 1ª Turma Recursal

69 - 0001638-54.2013.4.02.5001/01 (2013.50.01.001638-9/01) (PROCESSO ELETRÔNICO) LAURINDO DE AGUIARCUNHA (ADVOGADO: JOYCE DA SILVA PASSOS, VANESSA SOARES JABUR.) x INSTITUTO NACIONAL DO SEGUROSOCIAL - INSS (PROCDOR: MARCELA BRAVIN BASSETTO.).RECURSO Nº 0001638-54.2013.4.02.5001/01 (2013.50.01.001638-9/01)RECORRENTE: LAURINDO DE AGUIAR CUNHARECORRIDO: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSSRELATOR: JUIZ FEDERAL IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTI

EMENTA

PREVIDENCIÁRIO. PRETENSÃO DE DESAPOSENTAÇÃO SEGUIDA DE REAPOSENTAÇÃO. AUSÊNCIA DEPREVISÃO LEGAL. VIOLAÇÃO AO ATO JURÍDICO PERFEITO. CONTRARIEDADE A REGRAS EXPRESSAS DA LEI8.213/1991. IMPROCEDÊNCIA DO PEDIDO.

I – CARÁTER CONTRIBUTIVO E SOLIDÁRIO DA PREVIDÊNCIA SOCIAL.1. A aposentadoria é direito social (art. 7º, XXIV, da CRFB/1988).2. Para a integridade da Previdência Social, tanto o Regime Geral quanto o Regime dos servidores têm caráter contributivoe solidário, de filiação obrigatória, com a observância de critérios que preservem o equilíbrio financeiro e atuarial (arts. 40,caput, e 201, caput, da CRFB/1988).

II – OS ARTS. 195, § 5º, E 201, § 11, DA CRFB/188: A INSTITUIÇÃO OU MAJORAÇÃO DE CONTRIBUIÇÃO DEVEREFORÇAR O REGIME SOLIDÁRIO, SEM NECESSARIAMENTE IMPLICAR BENEFÍCIO INDIVIDUAL PARA OCONTRIBUINTE.1. O art. 195, § 5º, da CRFB/1988 (“Nenhum benefício ou serviço da seguridade social poderá ser criado, majorado ouestendido sem a correspondente fonte de custeio total”) é regra que visa ao equilíbrio financeiro e atuarial.2. A majoração da contribuição social, como qualquer tributo, depende, para a sua validade, de causa jurídica válida, e,portanto, demanda, em contrapartida, incremento no sistema previdenciário (STF, ADI 790, RE 183.906 e ADI-MC 2.010).3. Entretanto, a majoração da contribuição social previdenciária não necessariamente resultará em aumento dos benefíciose serviços a que cada segurado-contribuinte fará jus, cabendo à lei, na forma do art. 201, § 11 da CRFB/1988, disciplinar see como haverá reflexos: contribui-se solidariamente para a manutenção e expansão do sistema como um todo, e não paraprovisionar fundos única e exclusivamente em benefício próprio (STF, RE 210.211, AI 724.582 AgR e ADI 3.105).

III – FATOR PREVIDENCIÁRIO E DESINCENTIVO À APOSENTADORIA PRECOCE COMO TÉCNICA DE MANUTENÇÃODO EQUILÍBRIO DA PREVIDÊNCIA SOCIAL.1. No regime previdenciário dos servidores públicos, há idade mínima como requisito para a aposentadoria, paga-se abonode permanência a quem postergar a aposentadoria (art. 40, § 19, da CRFB/1988), e veda-se a acumulação de proventoscom vencimentos (salvo na hipótese do art. 37, § 10, da CRFB/1988).2. No RGPS, não há idade mínima como requisito para a aposentadoria, permite-se a acumulação de aposentadoria com aremuneração de emprego, o deferimento de aposentadoria não rescinde os contratos de trabalho (STF, ADI 1.721 e 1.770).Por outro lado, a Lei 9.876/1999 instituiu o fator previdenciário – cuja constitucionalidade foi reconhecida pelo STF (ADI-MC2.111) – no cálculo das aposentadorias por idade, por tempo de serviço e por tempo de contribuição, para assegurar oequilíbrio atuarial, de modo que os critérios “tempo de contribuição”, “idade” e “expectativa de sobrevida no momento daaposentadoria” tenham influência sobre o valor final do benefício.

IV – DIREITO ADQUIRIDO AO BENEFÍCIO CUJOS REQUISITOS FORAM INTEGRALMENTE CUMPRIDOS.1. Com base no art. 5º, XXXVI, da CRFB/1988, o segurado tem direito a que seu benefício, quanto aos seus elementosessenciais, observe a lei em vigor no momento em que preencheu todos os requisitos para a sua aquisição,independentemente da data do requerimento administrativo (STF, RE 72.509 e Súmula 359). Assim, por exemplo, apensão por morte é regida pela lei em vigor na data do óbito do segurado-instituidor, não se aplicando a lei posterior, sejamais gravosa, seja mais benéfica (STF, RE 218.467, RE 273.570 e RE 415.454).2. O direito adquirido ao benefício não assegura a imutabilidade do seu regime jurídico (STF, RE 278.718, RE 575.089 e AI654.807), então, por exemplo, os segurados podem ser beneficiados pela alteração do valor-limite do benefício (STF, RE564.354) ou prejudicados pela instituição ou diminuição de prazos prescricionais ou decadenciais (STF, ADI-MC 1.715 e RE21.341).3. O segurado tem direito ao benefício mais vantajoso (aquele de maior RMI), considerando todos os fatores queinfluenciam em seu cálculo, desde a data em que o direito ao benefício ingressou em seu patrimônio (isto é, cumpriu todosos requisitos legais para a aquisição do direito) até o momento em que o direito é exercido (data do requerimentoadministrativo) (STF, RE 630.501). Cumpridos os requisitos mínimos (tempo de serviço e carência ou tempo decontribuição e idade, conforme o regime jurídico vigente à época), o segurado adquire o direito ao benefício, aquisição quenão se confunde com o seu exercício (neste sentido, o art. 102, § 1º, da Lei 8.213/1991, incluído pela Lei 9.528/1997, areconhecer que a perda da qualidade de segurado não prejudica o direito à aposentadoria para cuja concessão tenham sidopreenchidos todos os requisitos, segundo a legislação em vigor à época em que atendidos esses requisitos), daí porqueeventual modificação posterior nas circunstâncias de fato não suprime o direito já incorporado ao patrimônio do seu titular.Adquirido o direito à aposentação, o segurado pode optar por não exercê-lo de imediato, seja para fazer jus ao benefício

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integral (quando houve aquisição do direito apenas à aposentadoria proporcional), seja para melhorar o fator previdenciárioaplicável e computar as novas contribuições, e essa opção não pode prejudicá-lo, pois seria injurídico tolerar que a RMI dobenefício requerido posteriormente (em decorrência, por exemplo, da redução do salário-de-contribuição) fosse inferior àRMI do benefício que poderia já ter obtido. Conferiu-se interpretação extensiva ao art. 122 da Lei 8.213/1991 (“Se maisvantajoso, fica assegurado o direito à aposentadoria, nas condições legalmente previstas na data do cumprimento de todosos requisitos necessários à obtenção do benefício, ao segurado que, tendo completado 35 anos de serviço, se homem, outrinta anos, se mulher, optou por permanecer em atividade”) para assegurar não só o benefício mais vantajoso na data documprimento dos requisitos para a aposentadoria integral, como também para a aposentadoria proporcional adquirida, bemcomo em cada um dos meses posteriores à aquisição, até a data do exercício do direito pelo requerimento.4. Exercido o direito ao benefício, mediante requerimento de aposentadoria, o tempo de contribuição acumulado exauretodos os seus efeitos jurídicos, não podendo ser computado posteriormente para a aquisição de outros direitos.

V – “RENÚNCIA À APOSENTADORIA”: PRECEDENTES SOBRE DESAPOSENTAÇÃO.1. Há aposentados que retornam à atividade laboral como segurados obrigatórios, e posteriormente pleiteiam em juízo novocálculo de proventos, consideradas as contribuições de período referente a esse regresso, pretendendo afastar o art. 18, §2º, da Lei 8.213/1991 (“O aposentado pelo Regime Geral de Previdência Social - RGPS que permanecer em atividadesujeita a este Regime, ou a ele retornar, não fará jus a prestação alguma da Previdência Social em decorrência do exercíciodessa atividade, exceto ao salário-família e à reabilitação profissional, quando empregado.”) por considerá-lo incompatívelcom o art. 201, § 11, da CRFB/1988 (“Os ganhos habituais do empregado, a qualquer título, serão incorporados ao saláriopara efeito de contribuição previdenciária e conseqüente repercussão em benefícios, nos casos e na forma da lei.”).2. A jurisprudência admitia a renúncia à aposentadoria já obtida, com o aproveitamento do tempo de contribuição para obternova aposentadoria, desde que tal renúncia produzisse efeitos ex tunc (impondo a devolução integral das prestaçõespercebidas do INSS, para evitar enriquecimento ilícito do beneficiário) (TNU, PEDILEF 200872580041869; Enunciado 70das Turmas Recursais do Rio de Janeiro; Primeira Seção do TRF da 2ª Região, EIAC 201050010042326).3. A Primeira Seção do STJ assentou que “Os benefícios previdenciários são direitos patrimoniais disponíveis e, portanto,suscetíveis de desistência pelos seus titulares, prescindindo-se da devolução dos valores recebidos da aposentadoria a queo segurado deseja preterir para a concessão de novo e posterior jubilamento”. Conferiu interpretação ao art. 18, § 2º, da Lei8.213/1991 no sentido de que este não impede o segurado de retornar à atividade laboral e renunciar à aposentadoria deque está em gozo, nem de, em seguida, requerer novo benefício (reaposentação) que utilize os períodos contributivos doprimeiro somado aos períodos posteriores ao retorno à atividade laboral (RESP 1.334.488).

VI – A DESAPOSENTAÇÃO E A REAPOSENTAÇÃO NÃO ENCONTRAM RESPALDO NA LEI, MESMO QUE OSEGURADO SE DISPONHA A DEVOLVER TODOS OS VALORES JÁ RECEBIDOS A TÍTULO DE APOSENTADORIA.1. Orientação do Relator, Juiz Federal Iorio Siqueira D’Alessandri Forti, externada em voto vencido no recurso inominado2011.50.50.005300-0/01 (sessão da 1ª Turma Recursal de Vitória/ES em 28/06/2013), para quem a desaposentação esubseqüente reaposentação não são juridicamente viáveis sequer com a restituição dos valores recebidos pelo segurado,com amparo nos seguintes fundamentos:i) Inexistência de norma autorizando a pretensão em regra implica, nos atos vinculados, vedação, e não permissão. A cadanovo mês trabalhado por um segurado aposentado, corresponde o pagamento de uma nova contribuição, e eventualmenteele teria interesse em obter “nova aposentadoria melhorada” mensalmente, razão pela qual a falta de disciplina legalresultaria em situação caótica.ii) O simples fato de incidir contribuição sobre o salário de um segurado obrigatório que se encontra aposentado nãopermite concluir que, com base nos arts. 195, § 5º, e 201, § 11º, da CRFB/1988, alguma vantagem individualcorrespondente lhe seja devida (STF, RE 210.211, AI 724.582 AgR e ADI 3.105). Se a contribuição, com a significativaalíquota de 11%, for reputada excessiva ou sem causa válida, a conseqüência possível é a inconstitucionalidade dacontribuição, nunca a majoração da aposentadoria sem expressa previsão em lei.iii) O tempo de contribuição ingressa no patrimônio do trabalhador mês a mês, e, satisfeitos os requisitos para a obtençãode benefício, considera-se direito adquirido, a ser utilizado quando o segurado considerar mais conveniente. Diante debifurcação, a ele cabe escolher qual caminho trilhar, sabendo que não há autorização legal para retornar: requererimediatamente a aposentadoria, gozando-a desde logo, por um período de vida mais longo, com valor “achatado” pelo fatorprevidenciário, ou permanecer mais tempo contribuindo, para ficar mais velho e obter um benefício maior. Uma vezexercido o direito de instar a Administração a agir, tem-se ato administrativo aperfeiçoado, protegido pelo art. 5º, XXXVI, daCRFB/1988. O tempo trabalhado e contribuído não deixou de integrar o patrimônio do segurado, mas já foi aproveitadointegralmente para uma finalidade, e não pode, portanto, ser aproveitado para outra.iv) É certo que o direito do aposentado às prestações mensais do benefício, apesar da natureza alimentar deste, ostentanatureza patrimonial e disponível. O segurado pode, a qualquer momento, renunciar ao recebimento de uma, várias outodas as prestações, com efeitos ex nunc, isto é, sem ter de devolver aquelas já recebidas, uma vez que não as recebeuindevidamente. Ocorre que o direito à aposentadoria em si, após adquirido, foi exercido por ato de vontade; com odeferimento pela Administração, tornou-se ato jurídico perfeito. A qualquer momento, cessando as razões de conveniênciae oportunidade que levaram o segurado a suspender por tempo indeterminado os efeitos do ato administrativo que oaposentou, poderá solicitar a reativação imediata do benefício: em se tratando de direito social fundamental, visando àgarantia da subsistência digna, a aposentadoria é irrenunciável. O interruptor pode ser desligado (e religado, também), nãoarrancado da parede.v) Pode-se renunciar às prestações da aposentadoria, sendo vedado – diante da falta de norma autorizadora – valer-sedessa renúncia para contornar uma (má) escolha feita no passado, mesmo com a disposição de ressarcir a Administraçãode todos os valores recebidos. No sentido da imutabilidade radical deste ato, votaram os Ministros Dias Toffoli, CármenLúcia, Ricardo Lewandowski e Gilmar Mendes no julgamento do RE 630.501, enquanto os demais Ministros consideraram oato passível de revisão apenas quando tivesse por fundamento a aquisição de direito a RMI melhor antes da data do

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requerimento. Nas palavras do Juiz Federal Guilherme Beltrami, o que a parte autora pretende não é renunciar àaposentadoria – porque, em suma, renúncia é abandonar direitos e não reverter a statu quo ante com recuperação dotempo; o que ela pretende é como renunciar à propriedade de um bem e querer o dinheiro da aquisição de volta.vi) O obstáculo à pretensão de obter nova aposentadoria com base nas mesmas contribuições aproveitadas para aaposentadoria a que renunciam decorre não só do ato jurídico perfeito (art. 5º, XXXVI, da CRFB/1988) e da falta deprevisão legal expressa (arts. 37, caput, e 201, caput e § 11, da CRFB/1988), como também de clara vedação prevista emnormas infraconstitucionais. O art. 18, § 2º, da Lei 8.213/1991 diz, por via transversa, que as contribuições vertidas pelosegurado aposentado não produzem efeito algum para a obtenção de outra aposentadoria, cabendo a ele escolherprudentemente quando e como as usará. O art. 29, I, e § 7º, também da Lei 8.213/1991, como a aposentadoria demanda,para a fixação da renda mensal inicial do benefício, o cômputo da idade e da expectativa de sobrevida do segurado nomomento do requerimento, conclui-se que, uma vez deferido, tem-se ato administrativo cujos efeitos atrelam, de formaincindível, a quantidade de contribuições vertidas e o período futuro de vida do segurado. Admitir a desaposentação e, logodepois, novo pedido de aposentadoria (com mais contribuições, idade mais elevada e, portanto, expectativa de sobrevidamenor), a fim de obter benefício com RMI maior, constituiria burla ao fator previdenciário e a seu objetivo de desestimularaposentadorias precoces.

VII – Recurso da parte autora conhecido e desprovido. Sem condenação em custas e honorários advocatícios, ante odeferimento do pedido de assistência judiciária gratuita.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, acordam os Juízes da 1ª Turma Recursaldos Juizados Especiais Federais da Seção Judiciária do Espírito Santo CONHECER DO RECURSO e, no mérito,NEGAR-LHE PROVIMENTO, na forma da ementa constante dos autos, que passa a integrar o presente julgado.

IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTIJuiz Federal – 3º Relator da 1ª Turma Recursal

70 - 0100768-17.2013.4.02.5001/01 (2013.50.01.100768-2/01) (PROCESSO ELETRÔNICO) MARIA DAS GRAÇAS DEABREU RIBEIRO (ADVOGADO: VITOR HENRIQUE PIOVESAN, RONI FURTADO BORGO, LUIZ CARLOS BISSOLI,TARCIZIO PESSALI, DANIEL DIAS DE SOUZA, ALESSANDRA JEAKEL, JOZIANE LOPES DA SILVA, CHRISTOVAMRAMOS PINTO NETO, LUCIANO BRANDÃO CAMATTA.) x INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS(PROCDOR: LILIAN BERTOLANI DO ESPÍRITO SANTO.).RECURSO Nº 0100768-17.2013.4.02.5001/01 (2013.50.01.100768-2/01)RECORRENTE: MARIA DAS GRAÇAS DE ABREU RIBEIRORECORRIDO: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSSRELATOR: JUIZ FEDERAL IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTI

EMENTA

PREVIDENCIÁRIO. PRETENSÃO DE DESAPOSENTAÇÃO SEGUIDA DE REAPOSENTAÇÃO. AUSÊNCIA DEPREVISÃO LEGAL. VIOLAÇÃO AO ATO JURÍDICO PERFEITO. CONTRARIEDADE A REGRAS EXPRESSAS DA LEI8.213/1991. IMPROCEDÊNCIA DO PEDIDO.

I – CARÁTER CONTRIBUTIVO E SOLIDÁRIO DA PREVIDÊNCIA SOCIAL.1. A aposentadoria é direito social (art. 7º, XXIV, da CRFB/1988).2. Para a integridade da Previdência Social, tanto o Regime Geral quanto o Regime dos servidores têm caráter contributivoe solidário, de filiação obrigatória, com a observância de critérios que preservem o equilíbrio financeiro e atuarial (arts. 40,caput, e 201, caput, da CRFB/1988).

II – OS ARTS. 195, § 5º, E 201, § 11, DA CRFB/188: A INSTITUIÇÃO OU MAJORAÇÃO DE CONTRIBUIÇÃO DEVEREFORÇAR O REGIME SOLIDÁRIO, SEM NECESSARIAMENTE IMPLICAR BENEFÍCIO INDIVIDUAL PARA OCONTRIBUINTE.1. O art. 195, § 5º, da CRFB/1988 (“Nenhum benefício ou serviço da seguridade social poderá ser criado, majorado ouestendido sem a correspondente fonte de custeio total”) é regra que visa ao equilíbrio financeiro e atuarial.2. A majoração da contribuição social, como qualquer tributo, depende, para a sua validade, de causa jurídica válida, e,portanto, demanda, em contrapartida, incremento no sistema previdenciário (STF, ADI 790, RE 183.906 e ADI-MC 2.010).3. Entretanto, a majoração da contribuição social previdenciária não necessariamente resultará em aumento dos benefíciose serviços a que cada segurado-contribuinte fará jus, cabendo à lei, na forma do art. 201, § 11 da CRFB/1988, disciplinar see como haverá reflexos: contribui-se solidariamente para a manutenção e expansão do sistema como um todo, e não paraprovisionar fundos única e exclusivamente em benefício próprio (STF, RE 210.211, AI 724.582 AgR e ADI 3.105).

III – FATOR PREVIDENCIÁRIO E DESINCENTIVO À APOSENTADORIA PRECOCE COMO TÉCNICA DE MANUTENÇÃODO EQUILÍBRIO DA PREVIDÊNCIA SOCIAL.1. No regime previdenciário dos servidores públicos, há idade mínima como requisito para a aposentadoria, paga-se abonode permanência a quem postergar a aposentadoria (art. 40, § 19, da CRFB/1988), e veda-se a acumulação de proventoscom vencimentos (salvo na hipótese do art. 37, § 10, da CRFB/1988).2. No RGPS, não há idade mínima como requisito para a aposentadoria, permite-se a acumulação de aposentadoria com a

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remuneração de emprego, o deferimento de aposentadoria não rescinde os contratos de trabalho (STF, ADI 1.721 e 1.770).Por outro lado, a Lei 9.876/1999 instituiu o fator previdenciário – cuja constitucionalidade foi reconhecida pelo STF (ADI-MC2.111) – no cálculo das aposentadorias por idade, por tempo de serviço e por tempo de contribuição, para assegurar oequilíbrio atuarial, de modo que os critérios “tempo de contribuição”, “idade” e “expectativa de sobrevida no momento daaposentadoria” tenham influência sobre o valor final do benefício.

IV – DIREITO ADQUIRIDO AO BENEFÍCIO CUJOS REQUISITOS FORAM INTEGRALMENTE CUMPRIDOS.1. Com base no art. 5º, XXXVI, da CRFB/1988, o segurado tem direito a que seu benefício, quanto aos seus elementosessenciais, observe a lei em vigor no momento em que preencheu todos os requisitos para a sua aquisição,independentemente da data do requerimento administrativo (STF, RE 72.509 e Súmula 359). Assim, por exemplo, apensão por morte é regida pela lei em vigor na data do óbito do segurado-instituidor, não se aplicando a lei posterior, sejamais gravosa, seja mais benéfica (STF, RE 218.467, RE 273.570 e RE 415.454).2. O direito adquirido ao benefício não assegura a imutabilidade do seu regime jurídico (STF, RE 278.718, RE 575.089 e AI654.807), então, por exemplo, os segurados podem ser beneficiados pela alteração do valor-limite do benefício (STF, RE564.354) ou prejudicados pela instituição ou diminuição de prazos prescricionais ou decadenciais (STF, ADI-MC 1.715 e RE21.341).3. O segurado tem direito ao benefício mais vantajoso (aquele de maior RMI), considerando todos os fatores queinfluenciam em seu cálculo, desde a data em que o direito ao benefício ingressou em seu patrimônio (isto é, cumpriu todosos requisitos legais para a aquisição do direito) até o momento em que o direito é exercido (data do requerimentoadministrativo) (STF, RE 630.501). Cumpridos os requisitos mínimos (tempo de serviço e carência ou tempo decontribuição e idade, conforme o regime jurídico vigente à época), o segurado adquire o direito ao benefício, aquisição quenão se confunde com o seu exercício (neste sentido, o art. 102, § 1º, da Lei 8.213/1991, incluído pela Lei 9.528/1997, areconhecer que a perda da qualidade de segurado não prejudica o direito à aposentadoria para cuja concessão tenham sidopreenchidos todos os requisitos, segundo a legislação em vigor à época em que atendidos esses requisitos), daí porqueeventual modificação posterior nas circunstâncias de fato não suprime o direito já incorporado ao patrimônio do seu titular.Adquirido o direito à aposentação, o segurado pode optar por não exercê-lo de imediato, seja para fazer jus ao benefíciointegral (quando houve aquisição do direito apenas à aposentadoria proporcional), seja para melhorar o fator previdenciárioaplicável e computar as novas contribuições, e essa opção não pode prejudicá-lo, pois seria injurídico tolerar que a RMI dobenefício requerido posteriormente (em decorrência, por exemplo, da redução do salário-de-contribuição) fosse inferior àRMI do benefício que poderia já ter obtido. Conferiu-se interpretação extensiva ao art. 122 da Lei 8.213/1991 (“Se maisvantajoso, fica assegurado o direito à aposentadoria, nas condições legalmente previstas na data do cumprimento de todosos requisitos necessários à obtenção do benefício, ao segurado que, tendo completado 35 anos de serviço, se homem, outrinta anos, se mulher, optou por permanecer em atividade”) para assegurar não só o benefício mais vantajoso na data documprimento dos requisitos para a aposentadoria integral, como também para a aposentadoria proporcional adquirida, bemcomo em cada um dos meses posteriores à aquisição, até a data do exercício do direito pelo requerimento.4. Exercido o direito ao benefício, mediante requerimento de aposentadoria, o tempo de contribuição acumulado exauretodos os seus efeitos jurídicos, não podendo ser computado posteriormente para a aquisição de outros direitos.

V – “RENÚNCIA À APOSENTADORIA”: PRECEDENTES SOBRE DESAPOSENTAÇÃO.1. Há aposentados que retornam à atividade laboral como segurados obrigatórios, e posteriormente pleiteiam em juízo novocálculo de proventos, consideradas as contribuições de período referente a esse regresso, pretendendo afastar o art. 18, §2º, da Lei 8.213/1991 (“O aposentado pelo Regime Geral de Previdência Social - RGPS que permanecer em atividadesujeita a este Regime, ou a ele retornar, não fará jus a prestação alguma da Previdência Social em decorrência do exercíciodessa atividade, exceto ao salário-família e à reabilitação profissional, quando empregado.”) por considerá-lo incompatívelcom o art. 201, § 11, da CRFB/1988 (“Os ganhos habituais do empregado, a qualquer título, serão incorporados ao saláriopara efeito de contribuição previdenciária e conseqüente repercussão em benefícios, nos casos e na forma da lei.”).2. A jurisprudência admitia a renúncia à aposentadoria já obtida, com o aproveitamento do tempo de contribuição para obternova aposentadoria, desde que tal renúncia produzisse efeitos ex tunc (impondo a devolução integral das prestaçõespercebidas do INSS, para evitar enriquecimento ilícito do beneficiário) (TNU, PEDILEF 200872580041869; Enunciado 70das Turmas Recursais do Rio de Janeiro; Primeira Seção do TRF da 2ª Região, EIAC 201050010042326).3. A Primeira Seção do STJ assentou que “Os benefícios previdenciários são direitos patrimoniais disponíveis e, portanto,suscetíveis de desistência pelos seus titulares, prescindindo-se da devolução dos valores recebidos da aposentadoria a queo segurado deseja preterir para a concessão de novo e posterior jubilamento”. Conferiu interpretação ao art. 18, § 2º, da Lei8.213/1991 no sentido de que este não impede o segurado de retornar à atividade laboral e renunciar à aposentadoria deque está em gozo, nem de, em seguida, requerer novo benefício (reaposentação) que utilize os períodos contributivos doprimeiro somado aos períodos posteriores ao retorno à atividade laboral (RESP 1.334.488).

VI – A DESAPOSENTAÇÃO E A REAPOSENTAÇÃO NÃO ENCONTRAM RESPALDO NA LEI, MESMO QUE OSEGURADO SE DISPONHA A DEVOLVER TODOS OS VALORES JÁ RECEBIDOS A TÍTULO DE APOSENTADORIA.1. Orientação do Relator, Juiz Federal Iorio Siqueira D’Alessandri Forti, externada em voto vencido no recurso inominado2011.50.50.005300-0/01 (sessão da 1ª Turma Recursal de Vitória/ES em 28/06/2013), para quem a desaposentação esubseqüente reaposentação não são juridicamente viáveis sequer com a restituição dos valores recebidos pelo segurado,com amparo nos seguintes fundamentos:i) Inexistência de norma autorizando a pretensão em regra implica, nos atos vinculados, vedação, e não permissão. A cadanovo mês trabalhado por um segurado aposentado, corresponde o pagamento de uma nova contribuição, e eventualmenteele teria interesse em obter “nova aposentadoria melhorada” mensalmente, razão pela qual a falta de disciplina legalresultaria em situação caótica.ii) O simples fato de incidir contribuição sobre o salário de um segurado obrigatório que se encontra aposentado não

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permite concluir que, com base nos arts. 195, § 5º, e 201, § 11º, da CRFB/1988, alguma vantagem individualcorrespondente lhe seja devida (STF, RE 210.211, AI 724.582 AgR e ADI 3.105). Se a contribuição, com a significativaalíquota de 11%, for reputada excessiva ou sem causa válida, a conseqüência possível é a inconstitucionalidade dacontribuição, nunca a majoração da aposentadoria sem expressa previsão em lei.iii) O tempo de contribuição ingressa no patrimônio do trabalhador mês a mês, e, satisfeitos os requisitos para a obtençãode benefício, considera-se direito adquirido, a ser utilizado quando o segurado considerar mais conveniente. Diante debifurcação, a ele cabe escolher qual caminho trilhar, sabendo que não há autorização legal para retornar: requererimediatamente a aposentadoria, gozando-a desde logo, por um período de vida mais longo, com valor “achatado” pelo fatorprevidenciário, ou permanecer mais tempo contribuindo, para ficar mais velho e obter um benefício maior. Uma vezexercido o direito de instar a Administração a agir, tem-se ato administrativo aperfeiçoado, protegido pelo art. 5º, XXXVI, daCRFB/1988. O tempo trabalhado e contribuído não deixou de integrar o patrimônio do segurado, mas já foi aproveitadointegralmente para uma finalidade, e não pode, portanto, ser aproveitado para outra.iv) É certo que o direito do aposentado às prestações mensais do benefício, apesar da natureza alimentar deste, ostentanatureza patrimonial e disponível. O segurado pode, a qualquer momento, renunciar ao recebimento de uma, várias outodas as prestações, com efeitos ex nunc, isto é, sem ter de devolver aquelas já recebidas, uma vez que não as recebeuindevidamente. Ocorre que o direito à aposentadoria em si, após adquirido, foi exercido por ato de vontade; com odeferimento pela Administração, tornou-se ato jurídico perfeito. A qualquer momento, cessando as razões de conveniênciae oportunidade que levaram o segurado a suspender por tempo indeterminado os efeitos do ato administrativo que oaposentou, poderá solicitar a reativação imediata do benefício: em se tratando de direito social fundamental, visando àgarantia da subsistência digna, a aposentadoria é irrenunciável. O interruptor pode ser desligado (e religado, também), nãoarrancado da parede.v) Pode-se renunciar às prestações da aposentadoria, sendo vedado – diante da falta de norma autorizadora – valer-sedessa renúncia para contornar uma (má) escolha feita no passado, mesmo com a disposição de ressarcir a Administraçãode todos os valores recebidos. No sentido da imutabilidade radical deste ato, votaram os Ministros Dias Toffoli, CármenLúcia, Ricardo Lewandowski e Gilmar Mendes no julgamento do RE 630.501, enquanto os demais Ministros consideraram oato passível de revisão apenas quando tivesse por fundamento a aquisição de direito a RMI melhor antes da data dorequerimento. Nas palavras do Juiz Federal Guilherme Beltrami, o que a parte autora pretende não é renunciar àaposentadoria – porque, em suma, renúncia é abandonar direitos e não reverter a statu quo ante com recuperação dotempo; o que ela pretende é como renunciar à propriedade de um bem e querer o dinheiro da aquisição de volta.vi) O obstáculo à pretensão de obter nova aposentadoria com base nas mesmas contribuições aproveitadas para aaposentadoria a que renunciam decorre não só do ato jurídico perfeito (art. 5º, XXXVI, da CRFB/1988) e da falta deprevisão legal expressa (arts. 37, caput, e 201, caput e § 11, da CRFB/1988), como também de clara vedação prevista emnormas infraconstitucionais. O art. 18, § 2º, da Lei 8.213/1991 diz, por via transversa, que as contribuições vertidas pelosegurado aposentado não produzem efeito algum para a obtenção de outra aposentadoria, cabendo a ele escolherprudentemente quando e como as usará. O art. 29, I, e § 7º, também da Lei 8.213/1991, como a aposentadoria demanda,para a fixação da renda mensal inicial do benefício, o cômputo da idade e da expectativa de sobrevida do segurado nomomento do requerimento, conclui-se que, uma vez deferido, tem-se ato administrativo cujos efeitos atrelam, de formaincindível, a quantidade de contribuições vertidas e o período futuro de vida do segurado. Admitir a desaposentação e, logodepois, novo pedido de aposentadoria (com mais contribuições, idade mais elevada e, portanto, expectativa de sobrevidamenor), a fim de obter benefício com RMI maior, constituiria burla ao fator previdenciário e a seu objetivo de desestimularaposentadorias precoces.

VII – Recurso da parte autora conhecido e desprovido. Sem custas nem honorários, em razão do deferimento daassistência judiciária gratuita.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, acordam os Juízes da 1ª Turma Recursaldos Juizados Especiais Federais da Seção Judiciária do Espírito Santo CONHECER DO RECURSO e, no mérito,NEGAR-LHE PROVIMENTO, na forma da ementa constante dos autos, que passa a integrar o presente julgado.

IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTIJuiz Federal – 3º Relator da 1ª Turma Recursal

71 - 0100693-66.2013.4.02.5004/01 (2013.50.04.100693-0/01) (PROCESSO ELETRÔNICO) LUIZ CARLOS PESSOTI(ADVOGADO: WANESSA ALDRIGUES CANDIDO.) x INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS (PROCDOR:EUGENIO CANTARINO NICOLAU.).RECURSO Nº 0100693-66.2013.4.02.5004/01 (2013.50.04.100693-0/01)RECORRENTE: LUIZ CARLOS PESSOTIRECORRIDO: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSSRELATOR: JUIZ FEDERAL IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTI

EMENTA

PREVIDENCIÁRIO. PRETENSÃO DE DESAPOSENTAÇÃO SEGUIDA DE REAPOSENTAÇÃO. AUSÊNCIA DEPREVISÃO LEGAL. VIOLAÇÃO AO ATO JURÍDICO PERFEITO. CONTRARIEDADE A REGRAS EXPRESSAS DA LEI8.213/1991. IMPROCEDÊNCIA DO PEDIDO.

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I – CARÁTER CONTRIBUTIVO E SOLIDÁRIO DA PREVIDÊNCIA SOCIAL.1. A aposentadoria é direito social (art. 7º, XXIV, da CRFB/1988).2. Para a integridade da Previdência Social, tanto o Regime Geral quanto o Regime dos servidores têm caráter contributivoe solidário, de filiação obrigatória, com a observância de critérios que preservem o equilíbrio financeiro e atuarial (arts. 40,caput, e 201, caput, da CRFB/1988).

II – OS ARTS. 195, § 5º, E 201, § 11, DA CRFB/188: A INSTITUIÇÃO OU MAJORAÇÃO DE CONTRIBUIÇÃO DEVEREFORÇAR O REGIME SOLIDÁRIO, SEM NECESSARIAMENTE IMPLICAR BENEFÍCIO INDIVIDUAL PARA OCONTRIBUINTE.1. O art. 195, § 5º, da CRFB/1988 (“Nenhum benefício ou serviço da seguridade social poderá ser criado, majorado ouestendido sem a correspondente fonte de custeio total”) é regra que visa ao equilíbrio financeiro e atuarial.2. A majoração da contribuição social, como qualquer tributo, depende, para a sua validade, de causa jurídica válida, e,portanto, demanda, em contrapartida, incremento no sistema previdenciário (STF, ADI 790, RE 183.906 e ADI-MC 2.010).3. Entretanto, a majoração da contribuição social previdenciária não necessariamente resultará em aumento dos benefíciose serviços a que cada segurado-contribuinte fará jus, cabendo à lei, na forma do art. 201, § 11 da CRFB/1988, disciplinar see como haverá reflexos: contribui-se solidariamente para a manutenção e expansão do sistema como um todo, e não paraprovisionar fundos única e exclusivamente em benefício próprio (STF, RE 210.211, AI 724.582 AgR e ADI 3.105).

III – FATOR PREVIDENCIÁRIO E DESINCENTIVO À APOSENTADORIA PRECOCE COMO TÉCNICA DE MANUTENÇÃODO EQUILÍBRIO DA PREVIDÊNCIA SOCIAL.1. No regime previdenciário dos servidores públicos, há idade mínima como requisito para a aposentadoria, paga-se abonode permanência a quem postergar a aposentadoria (art. 40, § 19, da CRFB/1988), e veda-se a acumulação de proventoscom vencimentos (salvo na hipótese do art. 37, § 10, da CRFB/1988).2. No RGPS, não há idade mínima como requisito para a aposentadoria, permite-se a acumulação de aposentadoria com aremuneração de emprego, o deferimento de aposentadoria não rescinde os contratos de trabalho (STF, ADI 1.721 e 1.770).Por outro lado, a Lei 9.876/1999 instituiu o fator previdenciário – cuja constitucionalidade foi reconhecida pelo STF (ADI-MC2.111) – no cálculo das aposentadorias por idade, por tempo de serviço e por tempo de contribuição, para assegurar oequilíbrio atuarial, de modo que os critérios “tempo de contribuição”, “idade” e “expectativa de sobrevida no momento daaposentadoria” tenham influência sobre o valor final do benefício.

IV – DIREITO ADQUIRIDO AO BENEFÍCIO CUJOS REQUISITOS FORAM INTEGRALMENTE CUMPRIDOS.1. Com base no art. 5º, XXXVI, da CRFB/1988, o segurado tem direito a que seu benefício, quanto aos seus elementosessenciais, observe a lei em vigor no momento em que preencheu todos os requisitos para a sua aquisição,independentemente da data do requerimento administrativo (STF, RE 72.509 e Súmula 359). Assim, por exemplo, apensão por morte é regida pela lei em vigor na data do óbito do segurado-instituidor, não se aplicando a lei posterior, sejamais gravosa, seja mais benéfica (STF, RE 218.467, RE 273.570 e RE 415.454).2. O direito adquirido ao benefício não assegura a imutabilidade do seu regime jurídico (STF, RE 278.718, RE 575.089 e AI654.807), então, por exemplo, os segurados podem ser beneficiados pela alteração do valor-limite do benefício (STF, RE564.354) ou prejudicados pela instituição ou diminuição de prazos prescricionais ou decadenciais (STF, ADI-MC 1.715 e RE21.341).3. O segurado tem direito ao benefício mais vantajoso (aquele de maior RMI), considerando todos os fatores queinfluenciam em seu cálculo, desde a data em que o direito ao benefício ingressou em seu patrimônio (isto é, cumpriu todosos requisitos legais para a aquisição do direito) até o momento em que o direito é exercido (data do requerimentoadministrativo) (STF, RE 630.501). Cumpridos os requisitos mínimos (tempo de serviço e carência ou tempo decontribuição e idade, conforme o regime jurídico vigente à época), o segurado adquire o direito ao benefício, aquisição quenão se confunde com o seu exercício (neste sentido, o art. 102, § 1º, da Lei 8.213/1991, incluído pela Lei 9.528/1997, areconhecer que a perda da qualidade de segurado não prejudica o direito à aposentadoria para cuja concessão tenham sidopreenchidos todos os requisitos, segundo a legislação em vigor à época em que atendidos esses requisitos), daí porqueeventual modificação posterior nas circunstâncias de fato não suprime o direito já incorporado ao patrimônio do seu titular.Adquirido o direito à aposentação, o segurado pode optar por não exercê-lo de imediato, seja para fazer jus ao benefíciointegral (quando houve aquisição do direito apenas à aposentadoria proporcional), seja para melhorar o fator previdenciárioaplicável e computar as novas contribuições, e essa opção não pode prejudicá-lo, pois seria injurídico tolerar que a RMI dobenefício requerido posteriormente (em decorrência, por exemplo, da redução do salário-de-contribuição) fosse inferior àRMI do benefício que poderia já ter obtido. Conferiu-se interpretação extensiva ao art. 122 da Lei 8.213/1991 (“Se maisvantajoso, fica assegurado o direito à aposentadoria, nas condições legalmente previstas na data do cumprimento de todosos requisitos necessários à obtenção do benefício, ao segurado que, tendo completado 35 anos de serviço, se homem, outrinta anos, se mulher, optou por permanecer em atividade”) para assegurar não só o benefício mais vantajoso na data documprimento dos requisitos para a aposentadoria integral, como também para a aposentadoria proporcional adquirida, bemcomo em cada um dos meses posteriores à aquisição, até a data do exercício do direito pelo requerimento.4. Exercido o direito ao benefício, mediante requerimento de aposentadoria, o tempo de contribuição acumulado exauretodos os seus efeitos jurídicos, não podendo ser computado posteriormente para a aquisição de outros direitos.

V – “RENÚNCIA À APOSENTADORIA”: PRECEDENTES SOBRE DESAPOSENTAÇÃO.1. Há aposentados que retornam à atividade laboral como segurados obrigatórios, e posteriormente pleiteiam em juízo novocálculo de proventos, consideradas as contribuições de período referente a esse regresso, pretendendo afastar o art. 18, §2º, da Lei 8.213/1991 (“O aposentado pelo Regime Geral de Previdência Social - RGPS que permanecer em atividadesujeita a este Regime, ou a ele retornar, não fará jus a prestação alguma da Previdência Social em decorrência do exercíciodessa atividade, exceto ao salário-família e à reabilitação profissional, quando empregado.”) por considerá-lo incompatível

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com o art. 201, § 11, da CRFB/1988 (“Os ganhos habituais do empregado, a qualquer título, serão incorporados ao saláriopara efeito de contribuição previdenciária e conseqüente repercussão em benefícios, nos casos e na forma da lei.”).2. A jurisprudência admitia a renúncia à aposentadoria já obtida, com o aproveitamento do tempo de contribuição para obternova aposentadoria, desde que tal renúncia produzisse efeitos ex tunc (impondo a devolução integral das prestaçõespercebidas do INSS, para evitar enriquecimento ilícito do beneficiário) (TNU, PEDILEF 200872580041869; Enunciado 70das Turmas Recursais do Rio de Janeiro; Primeira Seção do TRF da 2ª Região, EIAC 201050010042326).3. A Primeira Seção do STJ assentou que “Os benefícios previdenciários são direitos patrimoniais disponíveis e, portanto,suscetíveis de desistência pelos seus titulares, prescindindo-se da devolução dos valores recebidos da aposentadoria a queo segurado deseja preterir para a concessão de novo e posterior jubilamento”. Conferiu interpretação ao art. 18, § 2º, da Lei8.213/1991 no sentido de que este não impede o segurado de retornar à atividade laboral e renunciar à aposentadoria deque está em gozo, nem de, em seguida, requerer novo benefício (reaposentação) que utilize os períodos contributivos doprimeiro somado aos períodos posteriores ao retorno à atividade laboral (RESP 1.334.488).

VI – A DESAPOSENTAÇÃO E A REAPOSENTAÇÃO NÃO ENCONTRAM RESPALDO NA LEI, MESMO QUE OSEGURADO SE DISPONHA A DEVOLVER TODOS OS VALORES JÁ RECEBIDOS A TÍTULO DE APOSENTADORIA.1. Orientação do Relator, Juiz Federal Iorio Siqueira D’Alessandri Forti, externada em voto vencido no recurso inominado2011.50.50.005300-0/01 (sessão da 1ª Turma Recursal de Vitória/ES em 28/06/2013), para quem a desaposentação esubseqüente reaposentação não são juridicamente viáveis sequer com a restituição dos valores recebidos pelo segurado,com amparo nos seguintes fundamentos:i) Inexistência de norma autorizando a pretensão em regra implica, nos atos vinculados, vedação, e não permissão. A cadanovo mês trabalhado por um segurado aposentado, corresponde o pagamento de uma nova contribuição, e eventualmenteele teria interesse em obter “nova aposentadoria melhorada” mensalmente, razão pela qual a falta de disciplina legalresultaria em situação caótica.ii) O simples fato de incidir contribuição sobre o salário de um segurado obrigatório que se encontra aposentado nãopermite concluir que, com base nos arts. 195, § 5º, e 201, § 11º, da CRFB/1988, alguma vantagem individualcorrespondente lhe seja devida (STF, RE 210.211, AI 724.582 AgR e ADI 3.105). Se a contribuição, com a significativaalíquota de 11%, for reputada excessiva ou sem causa válida, a conseqüência possível é a inconstitucionalidade dacontribuição, nunca a majoração da aposentadoria sem expressa previsão em lei.iii) O tempo de contribuição ingressa no patrimônio do trabalhador mês a mês, e, satisfeitos os requisitos para a obtençãode benefício, considera-se direito adquirido, a ser utilizado quando o segurado considerar mais conveniente. Diante debifurcação, a ele cabe escolher qual caminho trilhar, sabendo que não há autorização legal para retornar: requererimediatamente a aposentadoria, gozando-a desde logo, por um período de vida mais longo, com valor “achatado” pelo fatorprevidenciário, ou permanecer mais tempo contribuindo, para ficar mais velho e obter um benefício maior. Uma vezexercido o direito de instar a Administração a agir, tem-se ato administrativo aperfeiçoado, protegido pelo art. 5º, XXXVI, daCRFB/1988. O tempo trabalhado e contribuído não deixou de integrar o patrimônio do segurado, mas já foi aproveitadointegralmente para uma finalidade, e não pode, portanto, ser aproveitado para outra.iv) É certo que o direito do aposentado às prestações mensais do benefício, apesar da natureza alimentar deste, ostentanatureza patrimonial e disponível. O segurado pode, a qualquer momento, renunciar ao recebimento de uma, várias outodas as prestações, com efeitos ex nunc, isto é, sem ter de devolver aquelas já recebidas, uma vez que não as recebeuindevidamente. Ocorre que o direito à aposentadoria em si, após adquirido, foi exercido por ato de vontade; com odeferimento pela Administração, tornou-se ato jurídico perfeito. A qualquer momento, cessando as razões de conveniênciae oportunidade que levaram o segurado a suspender por tempo indeterminado os efeitos do ato administrativo que oaposentou, poderá solicitar a reativação imediata do benefício: em se tratando de direito social fundamental, visando àgarantia da subsistência digna, a aposentadoria é irrenunciável. O interruptor pode ser desligado (e religado, também), nãoarrancado da parede.v) Pode-se renunciar às prestações da aposentadoria, sendo vedado – diante da falta de norma autorizadora – valer-sedessa renúncia para contornar uma (má) escolha feita no passado, mesmo com a disposição de ressarcir a Administraçãode todos os valores recebidos. No sentido da imutabilidade radical deste ato, votaram os Ministros Dias Toffoli, CármenLúcia, Ricardo Lewandowski e Gilmar Mendes no julgamento do RE 630.501, enquanto os demais Ministros consideraram oato passível de revisão apenas quando tivesse por fundamento a aquisição de direito a RMI melhor antes da data dorequerimento. Nas palavras do Juiz Federal Guilherme Beltrami, o que a parte autora pretende não é renunciar àaposentadoria – porque, em suma, renúncia é abandonar direitos e não reverter a statu quo ante com recuperação dotempo; o que ela pretende é como renunciar à propriedade de um bem e querer o dinheiro da aquisição de volta.vi) O obstáculo à pretensão de obter nova aposentadoria com base nas mesmas contribuições aproveitadas para aaposentadoria a que renunciam decorre não só do ato jurídico perfeito (art. 5º, XXXVI, da CRFB/1988) e da falta deprevisão legal expressa (arts. 37, caput, e 201, caput e § 11, da CRFB/1988), como também de clara vedação prevista emnormas infraconstitucionais. O art. 18, § 2º, da Lei 8.213/1991 diz, por via transversa, que as contribuições vertidas pelosegurado aposentado não produzem efeito algum para a obtenção de outra aposentadoria, cabendo a ele escolherprudentemente quando e como as usará. O art. 29, I, e § 7º, também da Lei 8.213/1991, como a aposentadoria demanda,para a fixação da renda mensal inicial do benefício, o cômputo da idade e da expectativa de sobrevida do segurado nomomento do requerimento, conclui-se que, uma vez deferido, tem-se ato administrativo cujos efeitos atrelam, de formaincindível, a quantidade de contribuições vertidas e o período futuro de vida do segurado. Admitir a desaposentação e, logodepois, novo pedido de aposentadoria (com mais contribuições, idade mais elevada e, portanto, expectativa de sobrevidamenor), a fim de obter benefício com RMI maior, constituiria burla ao fator previdenciário e a seu objetivo de desestimularaposentadorias precoces.

VII – Inexiste violação aos arts. 98, I, § 1°, e 10 9 da CRFB/1988.

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VIII – Recurso da parte autora conhecido e desprovido. Sem custas nem honorários, em razão do deferimento do pedidode assistência judiciária gratuita.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, acordam os Juízes da 1ª Turma Recursaldos Juizados Especiais Federais da Seção Judiciária do Espírito Santo CONHECER DO RECURSO e, no mérito,NEGAR-LHE PROVIMENTO, na forma da ementa constante dos autos, que passa a integrar o presente julgado.

IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTIJuiz Federal – 3º Relator da 1ª Turma Recursal

72 - 0005168-55.2009.4.02.5050/01 (2009.50.50.005168-8/01) (PROCESSO ELETRÔNICO) LAIR TAVARES(ADVOGADO: DEBORA FABRIS BARCELLOS, ALEXANDRE DE SOUZA MACHADO.) x INSTITUTO NACIONAL DOSEGURO SOCIAL - INSS (PROCDOR: SIMONE LENGRUBER DARROZ ROSSONI.).RECURSO Nº 0005168-55.2009.4.02.5050/01 (2009.50.50.005168-8/01)RECORRENTE: LAIR TAVARESRECORRIDO: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSSRELATOR: JUIZ FEDERAL IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTI

EMENTA

PREVIDENCIÁRIO. PRETENSÃO DE DESAPOSENTAÇÃO SEGUIDA DE REAPOSENTAÇÃO. AUSÊNCIA DEPREVISÃO LEGAL. VIOLAÇÃO AO ATO JURÍDICO PERFEITO. CONTRARIEDADE A REGRAS EXPRESSAS DA LEI8.213/1991. IMPROCEDÊNCIA DO PEDIDO.

I – CARÁTER CONTRIBUTIVO E SOLIDÁRIO DA PREVIDÊNCIA SOCIAL.1. A aposentadoria é direito social (art. 7º, XXIV, da CRFB/1988).2. Para a integridade da Previdência Social, tanto o Regime Geral quanto o Regime dos servidores têm caráter contributivoe solidário, de filiação obrigatória, com a observância de critérios que preservem o equilíbrio financeiro e atuarial (arts. 40,caput, e 201, caput, da CRFB/1988).

II – OS ARTS. 195, § 5º, E 201, § 11, DA CRFB/188: A INSTITUIÇÃO OU MAJORAÇÃO DE CONTRIBUIÇÃO DEVEREFORÇAR O REGIME SOLIDÁRIO, SEM NECESSARIAMENTE IMPLICAR BENEFÍCIO INDIVIDUAL PARA OCONTRIBUINTE.1. O art. 195, § 5º, da CRFB/1988 (“Nenhum benefício ou serviço da seguridade social poderá ser criado, majorado ouestendido sem a correspondente fonte de custeio total”) é regra que visa ao equilíbrio financeiro e atuarial.2. A majoração da contribuição social, como qualquer tributo, depende, para a sua validade, de causa jurídica válida, e,portanto, demanda, em contrapartida, incremento no sistema previdenciário (STF, ADI 790, RE 183.906 e ADI-MC 2.010).3. Entretanto, a majoração da contribuição social previdenciária não necessariamente resultará em aumento dos benefíciose serviços a que cada segurado-contribuinte fará jus, cabendo à lei, na forma do art. 201, § 11 da CRFB/1988, disciplinar see como haverá reflexos: contribui-se solidariamente para a manutenção e expansão do sistema como um todo, e não paraprovisionar fundos única e exclusivamente em benefício próprio (STF, RE 210.211, AI 724.582 AgR e ADI 3.105).

III – FATOR PREVIDENCIÁRIO E DESINCENTIVO À APOSENTADORIA PRECOCE COMO TÉCNICA DE MANUTENÇÃODO EQUILÍBRIO DA PREVIDÊNCIA SOCIAL.1. No regime previdenciário dos servidores públicos, há idade mínima como requisito para a aposentadoria, paga-se abonode permanência a quem postergar a aposentadoria (art. 40, § 19, da CRFB/1988), e veda-se a acumulação de proventoscom vencimentos (salvo na hipótese do art. 37, § 10, da CRFB/1988).2. No RGPS, não há idade mínima como requisito para a aposentadoria, permite-se a acumulação de aposentadoria com aremuneração de emprego, o deferimento de aposentadoria não rescinde os contratos de trabalho (STF, ADI 1.721 e 1.770).Por outro lado, a Lei 9.876/1999 instituiu o fator previdenciário – cuja constitucionalidade foi reconhecida pelo STF (ADI-MC2.111) – no cálculo das aposentadorias por idade, por tempo de serviço e por tempo de contribuição, para assegurar oequilíbrio atuarial, de modo que os critérios “tempo de contribuição”, “idade” e “expectativa de sobrevida no momento daaposentadoria” tenham influência sobre o valor final do benefício.

IV – DIREITO ADQUIRIDO AO BENEFÍCIO CUJOS REQUISITOS FORAM INTEGRALMENTE CUMPRIDOS.1. Com base no art. 5º, XXXVI, da CRFB/1988, o segurado tem direito a que seu benefício, quanto aos seus elementosessenciais, observe a lei em vigor no momento em que preencheu todos os requisitos para a sua aquisição,independentemente da data do requerimento administrativo (STF, RE 72.509 e Súmula 359). Assim, por exemplo, apensão por morte é regida pela lei em vigor na data do óbito do segurado-instituidor, não se aplicando a lei posterior, sejamais gravosa, seja mais benéfica (STF, RE 218.467, RE 273.570 e RE 415.454).2. O direito adquirido ao benefício não assegura a imutabilidade do seu regime jurídico (STF, RE 278.718, RE 575.089 e AI654.807), então, por exemplo, os segurados podem ser beneficiados pela alteração do valor-limite do benefício (STF, RE564.354) ou prejudicados pela instituição ou diminuição de prazos prescricionais ou decadenciais (STF, ADI-MC 1.715 e RE21.341).3. O segurado tem direito ao benefício mais vantajoso (aquele de maior RMI), considerando todos os fatores queinfluenciam em seu cálculo, desde a data em que o direito ao benefício ingressou em seu patrimônio (isto é, cumpriu todos

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os requisitos legais para a aquisição do direito) até o momento em que o direito é exercido (data do requerimentoadministrativo) (STF, RE 630.501). Cumpridos os requisitos mínimos (tempo de serviço e carência ou tempo decontribuição e idade, conforme o regime jurídico vigente à época), o segurado adquire o direito ao benefício, aquisição quenão se confunde com o seu exercício (neste sentido, o art. 102, § 1º, da Lei 8.213/1991, incluído pela Lei 9.528/1997, areconhecer que a perda da qualidade de segurado não prejudica o direito à aposentadoria para cuja concessão tenham sidopreenchidos todos os requisitos, segundo a legislação em vigor à época em que atendidos esses requisitos), daí porqueeventual modificação posterior nas circunstâncias de fato não suprime o direito já incorporado ao patrimônio do seu titular.Adquirido o direito à aposentação, o segurado pode optar por não exercê-lo de imediato, seja para fazer jus ao benefíciointegral (quando houve aquisição do direito apenas à aposentadoria proporcional), seja para melhorar o fator previdenciárioaplicável e computar as novas contribuições, e essa opção não pode prejudicá-lo, pois seria injurídico tolerar que a RMI dobenefício requerido posteriormente (em decorrência, por exemplo, da redução do salário-de-contribuição) fosse inferior àRMI do benefício que poderia já ter obtido. Conferiu-se interpretação extensiva ao art. 122 da Lei 8.213/1991 (“Se maisvantajoso, fica assegurado o direito à aposentadoria, nas condições legalmente previstas na data do cumprimento de todosos requisitos necessários à obtenção do benefício, ao segurado que, tendo completado 35 anos de serviço, se homem, outrinta anos, se mulher, optou por permanecer em atividade”) para assegurar não só o benefício mais vantajoso na data documprimento dos requisitos para a aposentadoria integral, como também para a aposentadoria proporcional adquirida, bemcomo em cada um dos meses posteriores à aquisição, até a data do exercício do direito pelo requerimento.4. Exercido o direito ao benefício, mediante requerimento de aposentadoria, o tempo de contribuição acumulado exauretodos os seus efeitos jurídicos, não podendo ser computado posteriormente para a aquisição de outros direitos.

V – “RENÚNCIA À APOSENTADORIA”: PRECEDENTES SOBRE DESAPOSENTAÇÃO.1. Há aposentados que retornam à atividade laboral como segurados obrigatórios, e posteriormente pleiteiam em juízo novocálculo de proventos, consideradas as contribuições de período referente a esse regresso, pretendendo afastar o art. 18, §2º, da Lei 8.213/1991 (“O aposentado pelo Regime Geral de Previdência Social - RGPS que permanecer em atividadesujeita a este Regime, ou a ele retornar, não fará jus a prestação alguma da Previdência Social em decorrência do exercíciodessa atividade, exceto ao salário-família e à reabilitação profissional, quando empregado.”) por considerá-lo incompatívelcom o art. 201, § 11, da CRFB/1988 (“Os ganhos habituais do empregado, a qualquer título, serão incorporados ao saláriopara efeito de contribuição previdenciária e conseqüente repercussão em benefícios, nos casos e na forma da lei.”).2. A jurisprudência admitia a renúncia à aposentadoria já obtida, com o aproveitamento do tempo de contribuição para obternova aposentadoria, desde que tal renúncia produzisse efeitos ex tunc (impondo a devolução integral das prestaçõespercebidas do INSS, para evitar enriquecimento ilícito do beneficiário) (TNU, PEDILEF 200872580041869; Enunciado 70das Turmas Recursais do Rio de Janeiro; Primeira Seção do TRF da 2ª Região, EIAC 201050010042326).3. A Primeira Seção do STJ assentou que “Os benefícios previdenciários são direitos patrimoniais disponíveis e, portanto,suscetíveis de desistência pelos seus titulares, prescindindo-se da devolução dos valores recebidos da aposentadoria a queo segurado deseja preterir para a concessão de novo e posterior jubilamento”. Conferiu interpretação ao art. 18, § 2º, da Lei8.213/1991 no sentido de que este não impede o segurado de retornar à atividade laboral e renunciar à aposentadoria deque está em gozo, nem de, em seguida, requerer novo benefício (reaposentação) que utilize os períodos contributivos doprimeiro somado aos períodos posteriores ao retorno à atividade laboral (RESP 1.334.488).

VI – A DESAPOSENTAÇÃO E A REAPOSENTAÇÃO NÃO ENCONTRAM RESPALDO NA LEI, MESMO QUE OSEGURADO SE DISPONHA A DEVOLVER TODOS OS VALORES JÁ RECEBIDOS A TÍTULO DE APOSENTADORIA.1. Orientação do Relator, Juiz Federal Iorio Siqueira D’Alessandri Forti, externada em voto vencido no recurso inominado2011.50.50.005300-0/01 (sessão da 1ª Turma Recursal de Vitória/ES em 28/06/2013), para quem a desaposentação esubseqüente reaposentação não são juridicamente viáveis sequer com a restituição dos valores recebidos pelo segurado,com amparo nos seguintes fundamentos:i) Inexistência de norma autorizando a pretensão em regra implica, nos atos vinculados, vedação, e não permissão. A cadanovo mês trabalhado por um segurado aposentado, corresponde o pagamento de uma nova contribuição, e eventualmenteele teria interesse em obter “nova aposentadoria melhorada” mensalmente, razão pela qual a falta de disciplina legalresultaria em situação caótica.ii) O simples fato de incidir contribuição sobre o salário de um segurado obrigatório que se encontra aposentado nãopermite concluir que, com base nos arts. 195, § 5º, e 201, § 11º, da CRFB/1988, alguma vantagem individualcorrespondente lhe seja devida (STF, RE 210.211, AI 724.582 AgR e ADI 3.105). Se a contribuição, com a significativaalíquota de 11%, for reputada excessiva ou sem causa válida, a conseqüência possível é a inconstitucionalidade dacontribuição, nunca a majoração da aposentadoria sem expressa previsão em lei.iii) O tempo de contribuição ingressa no patrimônio do trabalhador mês a mês, e, satisfeitos os requisitos para a obtençãode benefício, considera-se direito adquirido, a ser utilizado quando o segurado considerar mais conveniente. Diante debifurcação, a ele cabe escolher qual caminho trilhar, sabendo que não há autorização legal para retornar: requererimediatamente a aposentadoria, gozando-a desde logo, por um período de vida mais longo, com valor “achatado” pelo fatorprevidenciário, ou permanecer mais tempo contribuindo, para ficar mais velho e obter um benefício maior. Uma vezexercido o direito de instar a Administração a agir, tem-se ato administrativo aperfeiçoado, protegido pelo art. 5º, XXXVI, daCRFB/1988. O tempo trabalhado e contribuído não deixou de integrar o patrimônio do segurado, mas já foi aproveitadointegralmente para uma finalidade, e não pode, portanto, ser aproveitado para outra.iv) É certo que o direito do aposentado às prestações mensais do benefício, apesar da natureza alimentar deste, ostentanatureza patrimonial e disponível. O segurado pode, a qualquer momento, renunciar ao recebimento de uma, várias outodas as prestações, com efeitos ex nunc, isto é, sem ter de devolver aquelas já recebidas, uma vez que não as recebeuindevidamente. Ocorre que o direito à aposentadoria em si, após adquirido, foi exercido por ato de vontade; com odeferimento pela Administração, tornou-se ato jurídico perfeito. A qualquer momento, cessando as razões de conveniênciae oportunidade que levaram o segurado a suspender por tempo indeterminado os efeitos do ato administrativo que o

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aposentou, poderá solicitar a reativação imediata do benefício: em se tratando de direito social fundamental, visando àgarantia da subsistência digna, a aposentadoria é irrenunciável. O interruptor pode ser desligado (e religado, também), nãoarrancado da parede.v) Pode-se renunciar às prestações da aposentadoria, sendo vedado – diante da falta de norma autorizadora – valer-sedessa renúncia para contornar uma (má) escolha feita no passado, mesmo com a disposição de ressarcir a Administraçãode todos os valores recebidos. No sentido da imutabilidade radical deste ato, votaram os Ministros Dias Toffoli, CármenLúcia, Ricardo Lewandowski e Gilmar Mendes no julgamento do RE 630.501, enquanto os demais Ministros consideraram oato passível de revisão apenas quando tivesse por fundamento a aquisição de direito a RMI melhor antes da data dorequerimento. Nas palavras do Juiz Federal Guilherme Beltrami, o que a parte autora pretende não é renunciar àaposentadoria – porque, em suma, renúncia é abandonar direitos e não reverter a statu quo ante com recuperação dotempo; o que ela pretende é como renunciar à propriedade de um bem e querer o dinheiro da aquisição de volta.vi) O obstáculo à pretensão de obter nova aposentadoria com base nas mesmas contribuições aproveitadas para aaposentadoria a que renunciam decorre não só do ato jurídico perfeito (art. 5º, XXXVI, da CRFB/1988) e da falta deprevisão legal expressa (arts. 37, caput, e 201, caput e § 11, da CRFB/1988), como também de clara vedação prevista emnormas infraconstitucionais. O art. 18, § 2º, da Lei 8.213/1991 diz, por via transversa, que as contribuições vertidas pelosegurado aposentado não produzem efeito algum para a obtenção de outra aposentadoria, cabendo a ele escolherprudentemente quando e como as usará. O art. 29, I, e § 7º, também da Lei 8.213/1991, como a aposentadoria demanda,para a fixação da renda mensal inicial do benefício, o cômputo da idade e da expectativa de sobrevida do segurado nomomento do requerimento, conclui-se que, uma vez deferido, tem-se ato administrativo cujos efeitos atrelam, de formaincindível, a quantidade de contribuições vertidas e o período futuro de vida do segurado. Admitir a desaposentação e, logodepois, novo pedido de aposentadoria (com mais contribuições, idade mais elevada e, portanto, expectativa de sobrevidamenor), a fim de obter benefício com RMI maior, constituiria burla ao fator previdenciário e a seu objetivo de desestimularaposentadorias precoces.

VII – Recurso da parte autora conhecido e desprovido. Sem custas nem honorários sucumbenciais, ante o deferimento daAssistência Judiciária Gratuita.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, acordam os Juízes da 1ª Turma Recursaldos Juizados Especiais Federais da Seção Judiciária do Espírito Santo CONHECER DO RECURSO e, no mérito,NEGAR-LHE PROVIMENTO, na forma da ementa constante dos autos, que passa a integrar o presente julgado.

IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTIJuiz Federal – 3º Relator da 1ª Turma Recursal

73 - 0000954-10.2012.4.02.5052/01 (2012.50.52.000954-8/01) (PROCESSO ELETRÔNICO) LAURIANO DOS SANTOS(ADVOGADO: GERALDO PEREIRA FUNDÃO DOS SANTOS, MARIA DE LOURDES COIMBRA DE MACEDO.) xINSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS (PROCDOR: THIAGO DE ALMEIDA RAUPP.).RECURSO Nº 0000954-10.2012.4.02.5052/01 (2012.50.52.000954-8/01)RECORRENTE: LAURIANO DOS SANTOSRECORRIDO: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSSRELATOR: JUIZ FEDERAL IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTI

EMENTA

PREVIDENCIÁRIO. PRETENSÃO DE DESAPOSENTAÇÃO SEGUIDA DE REAPOSENTAÇÃO. AUSÊNCIA DEPREVISÃO LEGAL. VIOLAÇÃO AO ATO JURÍDICO PERFEITO. CONTRARIEDADE A REGRAS EXPRESSAS DA LEI8.213/1991. IMPROCEDÊNCIA DO PEDIDO.

I – CARÁTER CONTRIBUTIVO E SOLIDÁRIO DA PREVIDÊNCIA SOCIAL.1. A aposentadoria é direito social (art. 7º, XXIV, da CRFB/1988).2. Para a integridade da Previdência Social, tanto o Regime Geral quanto o Regime dos servidores têm caráter contributivoe solidário, de filiação obrigatória, com a observância de critérios que preservem o equilíbrio financeiro e atuarial (arts. 40,caput, e 201, caput, da CRFB/1988).

II – OS ARTS. 195, § 5º, E 201, § 11, DA CRFB/188: A INSTITUIÇÃO OU MAJORAÇÃO DE CONTRIBUIÇÃO DEVEREFORÇAR O REGIME SOLIDÁRIO, SEM NECESSARIAMENTE IMPLICAR BENEFÍCIO INDIVIDUAL PARA OCONTRIBUINTE.1. O art. 195, § 5º, da CRFB/1988 (“Nenhum benefício ou serviço da seguridade social poderá ser criado, majorado ouestendido sem a correspondente fonte de custeio total”) é regra que visa ao equilíbrio financeiro e atuarial.2. A majoração da contribuição social, como qualquer tributo, depende, para a sua validade, de causa jurídica válida, e,portanto, demanda, em contrapartida, incremento no sistema previdenciário (STF, ADI 790, RE 183.906 e ADI-MC 2.010).3. Entretanto, a majoração da contribuição social previdenciária não necessariamente resultará em aumento dos benefíciose serviços a que cada segurado-contribuinte fará jus, cabendo à lei, na forma do art. 201, § 11 da CRFB/1988, disciplinar see como haverá reflexos: contribui-se solidariamente para a manutenção e expansão do sistema como um todo, e não paraprovisionar fundos única e exclusivamente em benefício próprio (STF, RE 210.211, AI 724.582 AgR e ADI 3.105).

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III – FATOR PREVIDENCIÁRIO E DESINCENTIVO À APOSENTADORIA PRECOCE COMO TÉCNICA DE MANUTENÇÃODO EQUILÍBRIO DA PREVIDÊNCIA SOCIAL.1. No regime previdenciário dos servidores públicos, há idade mínima como requisito para a aposentadoria, paga-se abonode permanência a quem postergar a aposentadoria (art. 40, § 19, da CRFB/1988), e veda-se a acumulação de proventoscom vencimentos (salvo na hipótese do art. 37, § 10, da CRFB/1988).2. No RGPS, não há idade mínima como requisito para a aposentadoria, permite-se a acumulação de aposentadoria com aremuneração de emprego, o deferimento de aposentadoria não rescinde os contratos de trabalho (STF, ADI 1.721 e 1.770).Por outro lado, a Lei 9.876/1999 instituiu o fator previdenciário – cuja constitucionalidade foi reconhecida pelo STF (ADI-MC2.111) – no cálculo das aposentadorias por idade, por tempo de serviço e por tempo de contribuição, para assegurar oequilíbrio atuarial, de modo que os critérios “tempo de contribuição”, “idade” e “expectativa de sobrevida no momento daaposentadoria” tenham influência sobre o valor final do benefício.

IV – DIREITO ADQUIRIDO AO BENEFÍCIO CUJOS REQUISITOS FORAM INTEGRALMENTE CUMPRIDOS.1. Com base no art. 5º, XXXVI, da CRFB/1988, o segurado tem direito a que seu benefício, quanto aos seus elementosessenciais, observe a lei em vigor no momento em que preencheu todos os requisitos para a sua aquisição,independentemente da data do requerimento administrativo (STF, RE 72.509 e Súmula 359). Assim, por exemplo, apensão por morte é regida pela lei em vigor na data do óbito do segurado-instituidor, não se aplicando a lei posterior, sejamais gravosa, seja mais benéfica (STF, RE 218.467, RE 273.570 e RE 415.454).2. O direito adquirido ao benefício não assegura a imutabilidade do seu regime jurídico (STF, RE 278.718, RE 575.089 e AI654.807), então, por exemplo, os segurados podem ser beneficiados pela alteração do valor-limite do benefício (STF, RE564.354) ou prejudicados pela instituição ou diminuição de prazos prescricionais ou decadenciais (STF, ADI-MC 1.715 e RE21.341).3. O segurado tem direito ao benefício mais vantajoso (aquele de maior RMI), considerando todos os fatores queinfluenciam em seu cálculo, desde a data em que o direito ao benefício ingressou em seu patrimônio (isto é, cumpriu todosos requisitos legais para a aquisição do direito) até o momento em que o direito é exercido (data do requerimentoadministrativo) (STF, RE 630.501). Cumpridos os requisitos mínimos (tempo de serviço e carência ou tempo decontribuição e idade, conforme o regime jurídico vigente à época), o segurado adquire o direito ao benefício, aquisição quenão se confunde com o seu exercício (neste sentido, o art. 102, § 1º, da Lei 8.213/1991, incluído pela Lei 9.528/1997, areconhecer que a perda da qualidade de segurado não prejudica o direito à aposentadoria para cuja concessão tenham sidopreenchidos todos os requisitos, segundo a legislação em vigor à época em que atendidos esses requisitos), daí porqueeventual modificação posterior nas circunstâncias de fato não suprime o direito já incorporado ao patrimônio do seu titular.Adquirido o direito à aposentação, o segurado pode optar por não exercê-lo de imediato, seja para fazer jus ao benefíciointegral (quando houve aquisição do direito apenas à aposentadoria proporcional), seja para melhorar o fator previdenciárioaplicável e computar as novas contribuições, e essa opção não pode prejudicá-lo, pois seria injurídico tolerar que a RMI dobenefício requerido posteriormente (em decorrência, por exemplo, da redução do salário-de-contribuição) fosse inferior àRMI do benefício que poderia já ter obtido. Conferiu-se interpretação extensiva ao art. 122 da Lei 8.213/1991 (“Se maisvantajoso, fica assegurado o direito à aposentadoria, nas condições legalmente previstas na data do cumprimento de todosos requisitos necessários à obtenção do benefício, ao segurado que, tendo completado 35 anos de serviço, se homem, outrinta anos, se mulher, optou por permanecer em atividade”) para assegurar não só o benefício mais vantajoso na data documprimento dos requisitos para a aposentadoria integral, como também para a aposentadoria proporcional adquirida, bemcomo em cada um dos meses posteriores à aquisição, até a data do exercício do direito pelo requerimento.4. Exercido o direito ao benefício, mediante requerimento de aposentadoria, o tempo de contribuição acumulado exauretodos os seus efeitos jurídicos, não podendo ser computado posteriormente para a aquisição de outros direitos.

V – “RENÚNCIA À APOSENTADORIA”: PRECEDENTES SOBRE DESAPOSENTAÇÃO.1. Há aposentados que retornam à atividade laboral como segurados obrigatórios, e posteriormente pleiteiam em juízo novocálculo de proventos, consideradas as contribuições de período referente a esse regresso, pretendendo afastar o art. 18, §2º, da Lei 8.213/1991 (“O aposentado pelo Regime Geral de Previdência Social - RGPS que permanecer em atividadesujeita a este Regime, ou a ele retornar, não fará jus a prestação alguma da Previdência Social em decorrência do exercíciodessa atividade, exceto ao salário-família e à reabilitação profissional, quando empregado.”) por considerá-lo incompatívelcom o art. 201, § 11, da CRFB/1988 (“Os ganhos habituais do empregado, a qualquer título, serão incorporados ao saláriopara efeito de contribuição previdenciária e conseqüente repercussão em benefícios, nos casos e na forma da lei.”).2. A jurisprudência admitia a renúncia à aposentadoria já obtida, com o aproveitamento do tempo de contribuição para obternova aposentadoria, desde que tal renúncia produzisse efeitos ex tunc (impondo a devolução integral das prestaçõespercebidas do INSS, para evitar enriquecimento ilícito do beneficiário) (TNU, PEDILEF 200872580041869; Enunciado 70das Turmas Recursais do Rio de Janeiro; Primeira Seção do TRF da 2ª Região, EIAC 201050010042326).3. A Primeira Seção do STJ assentou que “Os benefícios previdenciários são direitos patrimoniais disponíveis e, portanto,suscetíveis de desistência pelos seus titulares, prescindindo-se da devolução dos valores recebidos da aposentadoria a queo segurado deseja preterir para a concessão de novo e posterior jubilamento”. Conferiu interpretação ao art. 18, § 2º, da Lei8.213/1991 no sentido de que este não impede o segurado de retornar à atividade laboral e renunciar à aposentadoria deque está em gozo, nem de, em seguida, requerer novo benefício (reaposentação) que utilize os períodos contributivos doprimeiro somado aos períodos posteriores ao retorno à atividade laboral (RESP 1.334.488).

VI – A DESAPOSENTAÇÃO E A REAPOSENTAÇÃO NÃO ENCONTRAM RESPALDO NA LEI, MESMO QUE OSEGURADO SE DISPONHA A DEVOLVER TODOS OS VALORES JÁ RECEBIDOS A TÍTULO DE APOSENTADORIA.1. Orientação do Relator, Juiz Federal Iorio Siqueira D’Alessandri Forti, externada em voto vencido no recurso inominado2011.50.50.005300-0/01 (sessão da 1ª Turma Recursal de Vitória/ES em 28/06/2013), para quem a desaposentação esubseqüente reaposentação não são juridicamente viáveis sequer com a restituição dos valores recebidos pelo segurado,

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com amparo nos seguintes fundamentos:i) Inexistência de norma autorizando a pretensão em regra implica, nos atos vinculados, vedação, e não permissão. A cadanovo mês trabalhado por um segurado aposentado, corresponde o pagamento de uma nova contribuição, e eventualmenteele teria interesse em obter “nova aposentadoria melhorada” mensalmente, razão pela qual a falta de disciplina legalresultaria em situação caótica.ii) O simples fato de incidir contribuição sobre o salário de um segurado obrigatório que se encontra aposentado nãopermite concluir que, com base nos arts. 195, § 5º, e 201, § 11º, da CRFB/1988, alguma vantagem individualcorrespondente lhe seja devida (STF, RE 210.211, AI 724.582 AgR e ADI 3.105). Se a contribuição, com a significativaalíquota de 11%, for reputada excessiva ou sem causa válida, a conseqüência possível é a inconstitucionalidade dacontribuição, nunca a majoração da aposentadoria sem expressa previsão em lei.iii) O tempo de contribuição ingressa no patrimônio do trabalhador mês a mês, e, satisfeitos os requisitos para a obtençãode benefício, considera-se direito adquirido, a ser utilizado quando o segurado considerar mais conveniente. Diante debifurcação, a ele cabe escolher qual caminho trilhar, sabendo que não há autorização legal para retornar: requererimediatamente a aposentadoria, gozando-a desde logo, por um período de vida mais longo, com valor “achatado” pelo fatorprevidenciário, ou permanecer mais tempo contribuindo, para ficar mais velho e obter um benefício maior. Uma vezexercido o direito de instar a Administração a agir, tem-se ato administrativo aperfeiçoado, protegido pelo art. 5º, XXXVI, daCRFB/1988. O tempo trabalhado e contribuído não deixou de integrar o patrimônio do segurado, mas já foi aproveitadointegralmente para uma finalidade, e não pode, portanto, ser aproveitado para outra.iv) É certo que o direito do aposentado às prestações mensais do benefício, apesar da natureza alimentar deste, ostentanatureza patrimonial e disponível. O segurado pode, a qualquer momento, renunciar ao recebimento de uma, várias outodas as prestações, com efeitos ex nunc, isto é, sem ter de devolver aquelas já recebidas, uma vez que não as recebeuindevidamente. Ocorre que o direito à aposentadoria em si, após adquirido, foi exercido por ato de vontade; com odeferimento pela Administração, tornou-se ato jurídico perfeito. A qualquer momento, cessando as razões de conveniênciae oportunidade que levaram o segurado a suspender por tempo indeterminado os efeitos do ato administrativo que oaposentou, poderá solicitar a reativação imediata do benefício: em se tratando de direito social fundamental, visando àgarantia da subsistência digna, a aposentadoria é irrenunciável. O interruptor pode ser desligado (e religado, também), nãoarrancado da parede.v) Pode-se renunciar às prestações da aposentadoria, sendo vedado – diante da falta de norma autorizadora – valer-sedessa renúncia para contornar uma (má) escolha feita no passado, mesmo com a disposição de ressarcir a Administraçãode todos os valores recebidos. No sentido da imutabilidade radical deste ato, votaram os Ministros Dias Toffoli, CármenLúcia, Ricardo Lewandowski e Gilmar Mendes no julgamento do RE 630.501, enquanto os demais Ministros consideraram oato passível de revisão apenas quando tivesse por fundamento a aquisição de direito a RMI melhor antes da data dorequerimento. Nas palavras do Juiz Federal Guilherme Beltrami, o que a parte autora pretende não é renunciar àaposentadoria – porque, em suma, renúncia é abandonar direitos e não reverter a statu quo ante com recuperação dotempo; o que ela pretende é como renunciar à propriedade de um bem e querer o dinheiro da aquisição de volta.vi) O obstáculo à pretensão de obter nova aposentadoria com base nas mesmas contribuições aproveitadas para aaposentadoria a que renunciam decorre não só do ato jurídico perfeito (art. 5º, XXXVI, da CRFB/1988) e da falta deprevisão legal expressa (arts. 37, caput, e 201, caput e § 11, da CRFB/1988), como também de clara vedação prevista emnormas infraconstitucionais. O art. 18, § 2º, da Lei 8.213/1991 diz, por via transversa, que as contribuições vertidas pelosegurado aposentado não produzem efeito algum para a obtenção de outra aposentadoria, cabendo a ele escolherprudentemente quando e como as usará. O art. 29, I, e § 7º, também da Lei 8.213/1991, como a aposentadoria demanda,para a fixação da renda mensal inicial do benefício, o cômputo da idade e da expectativa de sobrevida do segurado nomomento do requerimento, conclui-se que, uma vez deferido, tem-se ato administrativo cujos efeitos atrelam, de formaincindível, a quantidade de contribuições vertidas e o período futuro de vida do segurado. Admitir a desaposentação e, logodepois, novo pedido de aposentadoria (com mais contribuições, idade mais elevada e, portanto, expectativa de sobrevidamenor), a fim de obter benefício com RMI maior, constituiria burla ao fator previdenciário e a seu objetivo de desestimularaposentadorias precoces.

VII – Recurso da parte autora conhecido e desprovido. Sem custas nem honorários, em razão da assistência judiciáriagratuita.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, acordam os Juízes da 1ª Turma Recursaldos Juizados Especiais Federais da Seção Judiciária do Espírito Santo CONHECER DO RECURSO e, no mérito,NEGAR-LHE PROVIMENTO, na forma da ementa constante dos autos, que passa a integrar o presente julgado.

IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTIJuiz Federal – 3º Relator da 1ª Turma Recursal

74 - 0004367-08.2010.4.02.5050/01 (2010.50.50.004367-0/01) (PROCESSO ELETRÔNICO) INSTITUTO NACIONAL DOSEGURO SOCIAL - INSS (PROCDOR: Carolina Augusta da Rocha Rosado.) x ROBERTO TRAD (ADVOGADO: VANESSASOARES JABUR, FELIPE ZANOTTI BRUMATTI.).RECURSO Nº 0004367-08.2010.4.02.5050/01 (2010.50.50.004367-0/01)RECORRENTE: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSSRECORRIDO: ROBERTO TRADRELATOR: JUIZ FEDERAL IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTI

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EMENTA

PREVIDENCIÁRIO. PRETENSÃO DE DESAPOSENTAÇÃO SEGUIDA DE REAPOSENTAÇÃO. AUSÊNCIA DEPREVISÃO LEGAL. VIOLAÇÃO AO ATO JURÍDICO PERFEITO. CONTRARIEDADE A REGRAS EXPRESSAS DA LEI8.213/1991. IMPROCEDÊNCIA DO PEDIDO.

I – CARÁTER CONTRIBUTIVO E SOLIDÁRIO DA PREVIDÊNCIA SOCIAL.1. A aposentadoria é direito social (art. 7º, XXIV, da CRFB/1988).2. Para a integridade da Previdência Social, tanto o Regime Geral quanto o Regime dos servidores têm caráter contributivoe solidário, de filiação obrigatória, com a observância de critérios que preservem o equilíbrio financeiro e atuarial (arts. 40,caput, e 201, caput, da CRFB/1988).

II – OS ARTS. 195, § 5º, E 201, § 11, DA CRFB/188: A INSTITUIÇÃO OU MAJORAÇÃO DE CONTRIBUIÇÃO DEVEREFORÇAR O REGIME SOLIDÁRIO, SEM NECESSARIAMENTE IMPLICAR BENEFÍCIO INDIVIDUAL PARA OCONTRIBUINTE.1. O art. 195, § 5º, da CRFB/1988 (“Nenhum benefício ou serviço da seguridade social poderá ser criado, majorado ouestendido sem a correspondente fonte de custeio total”) é regra que visa ao equilíbrio financeiro e atuarial.2. A majoração da contribuição social, como qualquer tributo, depende, para a sua validade, de causa jurídica válida, e,portanto, demanda, em contrapartida, incremento no sistema previdenciário (STF, ADI 790, RE 183.906 e ADI-MC 2.010).3. Entretanto, a majoração da contribuição social previdenciária não necessariamente resultará em aumento dos benefíciose serviços a que cada segurado-contribuinte fará jus, cabendo à lei, na forma do art. 201, § 11 da CRFB/1988, disciplinar see como haverá reflexos: contribui-se solidariamente para a manutenção e expansão do sistema como um todo, e não paraprovisionar fundos única e exclusivamente em benefício próprio (STF, RE 210.211, AI 724.582 AgR e ADI 3.105).

III – FATOR PREVIDENCIÁRIO E DESINCENTIVO À APOSENTADORIA PRECOCE COMO TÉCNICA DE MANUTENÇÃODO EQUILÍBRIO DA PREVIDÊNCIA SOCIAL.1. No regime previdenciário dos servidores públicos, há idade mínima como requisito para a aposentadoria, paga-se abonode permanência a quem postergar a aposentadoria (art. 40, § 19, da CRFB/1988), e veda-se a acumulação de proventoscom vencimentos (salvo na hipótese do art. 37, § 10, da CRFB/1988).2. No RGPS, não há idade mínima como requisito para a aposentadoria, permite-se a acumulação de aposentadoria com aremuneração de emprego, o deferimento de aposentadoria não rescinde os contratos de trabalho (STF, ADI 1.721 e 1.770).Por outro lado, a Lei 9.876/1999 instituiu o fator previdenciário – cuja constitucionalidade foi reconhecida pelo STF (ADI-MC2.111) – no cálculo das aposentadorias por idade, por tempo de serviço e por tempo de contribuição, para assegurar oequilíbrio atuarial, de modo que os critérios “tempo de contribuição”, “idade” e “expectativa de sobrevida no momento daaposentadoria” tenham influência sobre o valor final do benefício.

IV – DIREITO ADQUIRIDO AO BENEFÍCIO CUJOS REQUISITOS FORAM INTEGRALMENTE CUMPRIDOS.1. Com base no art. 5º, XXXVI, da CRFB/1988, o segurado tem direito a que seu benefício, quanto aos seus elementosessenciais, observe a lei em vigor no momento em que preencheu todos os requisitos para a sua aquisição,independentemente da data do requerimento administrativo (STF, RE 72.509 e Súmula 359). Assim, por exemplo, apensão por morte é regida pela lei em vigor na data do óbito do segurado-instituidor, não se aplicando a lei posterior, sejamais gravosa, seja mais benéfica (STF, RE 218.467, RE 273.570 e RE 415.454).2. O direito adquirido ao benefício não assegura a imutabilidade do seu regime jurídico (STF, RE 278.718, RE 575.089 e AI654.807), então, por exemplo, os segurados podem ser beneficiados pela alteração do valor-limite do benefício (STF, RE564.354) ou prejudicados pela instituição ou diminuição de prazos prescricionais ou decadenciais (STF, ADI-MC 1.715 e RE21.341).3. O segurado tem direito ao benefício mais vantajoso (aquele de maior RMI), considerando todos os fatores queinfluenciam em seu cálculo, desde a data em que o direito ao benefício ingressou em seu patrimônio (isto é, cumpriu todosos requisitos legais para a aquisição do direito) até o momento em que o direito é exercido (data do requerimentoadministrativo) (STF, RE 630.501). Cumpridos os requisitos mínimos (tempo de serviço e carência ou tempo decontribuição e idade, conforme o regime jurídico vigente à época), o segurado adquire o direito ao benefício, aquisição quenão se confunde com o seu exercício (neste sentido, o art. 102, § 1º, da Lei 8.213/1991, incluído pela Lei 9.528/1997, areconhecer que a perda da qualidade de segurado não prejudica o direito à aposentadoria para cuja concessão tenham sidopreenchidos todos os requisitos, segundo a legislação em vigor à época em que atendidos esses requisitos), daí porqueeventual modificação posterior nas circunstâncias de fato não suprime o direito já incorporado ao patrimônio do seu titular.Adquirido o direito à aposentação, o segurado pode optar por não exercê-lo de imediato, seja para fazer jus ao benefíciointegral (quando houve aquisição do direito apenas à aposentadoria proporcional), seja para melhorar o fator previdenciárioaplicável e computar as novas contribuições, e essa opção não pode prejudicá-lo, pois seria injurídico tolerar que a RMI dobenefício requerido posteriormente (em decorrência, por exemplo, da redução do salário-de-contribuição) fosse inferior àRMI do benefício que poderia já ter obtido. Conferiu-se interpretação extensiva ao art. 122 da Lei 8.213/1991 (“Se maisvantajoso, fica assegurado o direito à aposentadoria, nas condições legalmente previstas na data do cumprimento de todosos requisitos necessários à obtenção do benefício, ao segurado que, tendo completado 35 anos de serviço, se homem, outrinta anos, se mulher, optou por permanecer em atividade”) para assegurar não só o benefício mais vantajoso na data documprimento dos requisitos para a aposentadoria integral, como também para a aposentadoria proporcional adquirida, bemcomo em cada um dos meses posteriores à aquisição, até a data do exercício do direito pelo requerimento.4. Exercido o direito ao benefício, mediante requerimento de aposentadoria, o tempo de contribuição acumulado exauretodos os seus efeitos jurídicos, não podendo ser computado posteriormente para a aquisição de outros direitos.

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V – “RENÚNCIA À APOSENTADORIA”: PRECEDENTES SOBRE DESAPOSENTAÇÃO.1. Há aposentados que retornam à atividade laboral como segurados obrigatórios, e posteriormente pleiteiam em juízo novocálculo de proventos, consideradas as contribuições de período referente a esse regresso, pretendendo afastar o art. 18, §2º, da Lei 8.213/1991 (“O aposentado pelo Regime Geral de Previdência Social - RGPS que permanecer em atividadesujeita a este Regime, ou a ele retornar, não fará jus a prestação alguma da Previdência Social em decorrência do exercíciodessa atividade, exceto ao salário-família e à reabilitação profissional, quando empregado.”) por considerá-lo incompatívelcom o art. 201, § 11, da CRFB/1988 (“Os ganhos habituais do empregado, a qualquer título, serão incorporados ao saláriopara efeito de contribuição previdenciária e conseqüente repercussão em benefícios, nos casos e na forma da lei.”).2. A jurisprudência admitia a renúncia à aposentadoria já obtida, com o aproveitamento do tempo de contribuição para obternova aposentadoria, desde que tal renúncia produzisse efeitos ex tunc (impondo a devolução integral das prestaçõespercebidas do INSS, para evitar enriquecimento ilícito do beneficiário) (TNU, PEDILEF 200872580041869; Enunciado 70das Turmas Recursais do Rio de Janeiro; Primeira Seção do TRF da 2ª Região, EIAC 201050010042326).3. A Primeira Seção do STJ assentou que “Os benefícios previdenciários são direitos patrimoniais disponíveis e, portanto,suscetíveis de desistência pelos seus titulares, prescindindo-se da devolução dos valores recebidos da aposentadoria a queo segurado deseja preterir para a concessão de novo e posterior jubilamento”. Conferiu interpretação ao art. 18, § 2º, da Lei8.213/1991 no sentido de que este não impede o segurado de retornar à atividade laboral e renunciar à aposentadoria deque está em gozo, nem de, em seguida, requerer novo benefício (reaposentação) que utilize os períodos contributivos doprimeiro somado aos períodos posteriores ao retorno à atividade laboral (RESP 1.334.488).

VI – O ALEGADO PODER DE RENUNCIAR À APOSENTADORIA NÃO ESTÁ SUBMETIDO AO PRAZO DECADENCIALDO ART. 103 DA LEI 8.213/1991.1. O prazo decadencial de dez anos previsto no art. 103 da Lei 8.213/1991 extingue o direito de provocar a revisão do atode concessão de benefício previdenciário. Entretanto, a tese da desaposentação parte da premissa de que o aposentadonão busca a revisão do ato concessório: ele renuncia à aposentadoria já deferida para depois obter outra. Saber se existeou não tal direito potestativo à renúncia é questão atinente ao mérito propriamente dito, mas, se a resposta for positiva, oprazo do art. 103 não o abrange.2. Adesão desta Turma Recursal à orientação recente da Quinta Turma do STJ, no sentido de que “o prazo decadencialaplica-se nas situações em que o segurado visa à revisão do ato de concessão do benefício. A desaposentação nãoconsiste na revisão desse ato, mas no seu desfazimento, motivo pelo qual não se submete ao decurso de prazodecadencial para o seu exercício” (AgRg no REsp 1.270.481).

VII – A DESAPOSENTAÇÃO E A REAPOSENTAÇÃO NÃO ENCONTRAM RESPALDO NA LEI, MESMO QUE OSEGURADO SE DISPONHA A DEVOLVER TODOS OS VALORES JÁ RECEBIDOS A TÍTULO DE APOSENTADORIA.1. Orientação do Relator, Juiz Federal Iorio Siqueira D’Alessandri Forti, externada em voto vencido no recurso inominado2011.50.50.005300-0/01 (sessão da 1ª Turma Recursal de Vitória/ES em 28/06/2013), para quem a desaposentação esubseqüente reaposentação não são juridicamente viáveis sequer com a restituição dos valores recebidos pelo segurado,com amparo nos seguintes fundamentos:i) Inexistência de norma autorizando a pretensão em regra implica, nos atos vinculados, vedação, e não permissão. A cadanovo mês trabalhado por um segurado aposentado, corresponde o pagamento de uma nova contribuição, e eventualmenteele teria interesse em obter “nova aposentadoria melhorada” mensalmente, razão pela qual a falta de disciplina legalresultaria em situação caótica.ii) O simples fato de incidir contribuição sobre o salário de um segurado obrigatório que se encontra aposentado nãopermite concluir que, com base nos arts. 195, § 5º, e 201, § 11º, da CRFB/1988, alguma vantagem individualcorrespondente lhe seja devida (STF, RE 210.211, AI 724.582 AgR e ADI 3.105). Se a contribuição, com a significativaalíquota de 11%, for reputada excessiva ou sem causa válida, a conseqüência possível (em tese) é a inconstitucionalidade(total ou parcial) do tributo, nunca a majoração da aposentadoria sem expressa previsão em lei.iii) O tempo de contribuição ingressa no patrimônio do trabalhador mês a mês, e, satisfeitos os requisitos para a obtençãode benefício, considera-se direito adquirido, a ser utilizado quando o segurado considerar mais conveniente. Diante debifurcação, a ele cabe escolher qual caminho trilhar, sabendo que não há autorização legal para retornar: requererimediatamente a aposentadoria, gozando-a desde logo, por um período de vida mais longo, com valor “achatado” pelo fatorprevidenciário, ou permanecer mais tempo contribuindo, para ficar mais velho e obter um benefício maior. Uma vezexercido o direito de instar a Administração a agir, tem-se ato administrativo aperfeiçoado, protegido pelo art. 5º, XXXVI, daCRFB/1988. O tempo trabalhado e contribuído não deixou de integrar o patrimônio do segurado, mas já foi aproveitadointegralmente para uma finalidade, e não pode, portanto, ser aproveitado para outra.iv) É certo que o direito do aposentado às prestações mensais do benefício, apesar da natureza alimentar deste, ostentanatureza patrimonial e disponível. O segurado pode, a qualquer momento, renunciar ao recebimento de uma, várias outodas as prestações, com efeitos ex nunc, isto é, sem ter de devolver aquelas já recebidas, uma vez que não as recebeuindevidamente. Ocorre que o direito à aposentadoria em si, depois de adquirido, foi exercido por ato de vontade; com odeferimento pela Administração, tornou-se ato jurídico perfeito. A qualquer momento, cessando as razões de conveniênciae oportunidade que levaram o segurado a suspender por tempo indeterminado os efeitos do ato administrativo que oaposentou, poderá solicitar a reativação imediata do benefício: em se tratando de direito social fundamental, visando àgarantia da subsistência digna, a aposentadoria é irrenunciável. O interruptor pode ser desligado (e religado, também), nãoarrancado da parede.v) Pode-se renunciar às prestações da aposentadoria, sendo vedado – diante da falta de norma autorizadora – valer-sedessa renúncia para contornar uma (má) escolha feita no passado, mesmo com a disposição de ressarcir a Administraçãode todos os valores recebidos. No sentido da imutabilidade radical deste ato, votaram os Ministros Dias Toffoli, CármenLúcia, Ricardo Lewandowski e Gilmar Mendes no julgamento do RE 630.501, enquanto os demais Ministros consideraram o

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ato passível de revisão apenas quando tivesse por fundamento a aquisição de direito a RMI melhor antes da data dorequerimento. Nas palavras do Juiz Federal Guilherme Beltrami, o que a parte autora pretende não é renunciar àaposentadoria – porque, em suma, renúncia é abandonar direitos e não reverter a statu quo ante com recuperação dotempo; o que ela pretende é como renunciar à propriedade de um bem e querer o dinheiro da aquisição de volta.vi) A pretensão de obter nova aposentadoria com base nas mesmas contribuições aproveitadas para a aposentadoriarenunciada encontra óbice no ato jurídico perfeito (art. 5º, XXXVI, da CRFB/1988), na falta de previsão legal expressa (arts.37, caput, e 201, caput e § 11, da CRFB/1988), e na vedação constante dos arts. 18, § 2º (segundo o qual as contribuiçõesvertidas pelo segurado aposentado não podem produzir efeito algum para a obtenção de outra aposentadoria, cabendo aele escolher prudentemente quando e como as usará) e 29, I, e § 7º, Lei 8.213/1991 (como a fixação da RMI considera aidade e a expectativa de sobrevida do segurado no momento do requerimento, conclui-se que, uma vez deferido, tem-se atoadministrativo cujos efeitos atrelam, de forma incindível, a quantidade de contribuições vertidas e o período futuro de vidado segurado). Logo, admitir a desaposentação e, logo depois, novo pedido de aposentadoria (com mais contribuições,idade mais elevada e, portanto, expectativa de sobrevida menor), a fim de obter benefício com RMI maior, constituiria burlaao fator previdenciário e ao seu objetivo de desestimular aposentadorias precoces.

VIII – Recurso do INSS conhecido e provido, para julgar improcedente o pedido formulado pela parte autora. Sem custasnem honorários, em razão do provimento do recurso.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, acordam os Juízes da 1ª Turma Recursaldos Juizados Especiais Federais da Seção Judiciária do Espírito Santo CONHECER DO RECURSO e, no mérito, DAR-LHEPROVIMENTO, na forma da ementa constante dos autos, que passa a integrar o presente julgado.

IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTIJuiz Federal – 3º Relator da 1ª Turma Recursal

75 - 0000476-96.2012.4.02.5053/01 (2012.50.53.000476-6/01) (PROCESSO ELETRÔNICO) ORLANDO JOSE MONTEIRO(ADVOGADO: WANESSA ALDRIGUES CANDIDO.) x INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS (PROCDOR:UBIRATAN CRUZ RODRIGUES.).RECURSO Nº 0000476-96.2012.4.02.5053/01 (2012.50.53.000476-6/01)RECORRENTE: ORLANDO JOSE MONTEIRORECORRIDO: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSSRELATOR: JUIZ FEDERAL IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTI

EMENTA

PREVIDENCIÁRIO. PRETENSÃO DE DESAPOSENTAÇÃO SEGUIDA DE REAPOSENTAÇÃO. AUSÊNCIA DEPREVISÃO LEGAL. VIOLAÇÃO AO ATO JURÍDICO PERFEITO. CONTRARIEDADE A REGRAS EXPRESSAS DA LEI8.213/1991. IMPROCEDÊNCIA DO PEDIDO.

I – CARÁTER CONTRIBUTIVO E SOLIDÁRIO DA PREVIDÊNCIA SOCIAL.1. A aposentadoria é direito social (art. 7º, XXIV, da CRFB/1988).2. Para a integridade da Previdência Social, tanto o Regime Geral quanto o Regime dos servidores têm caráter contributivoe solidário, de filiação obrigatória, com a observância de critérios que preservem o equilíbrio financeiro e atuarial (arts. 40,caput, e 201, caput, da CRFB/1988).

II – OS ARTS. 195, § 5º, E 201, § 11, DA CRFB/188: A INSTITUIÇÃO OU MAJORAÇÃO DE CONTRIBUIÇÃO DEVEREFORÇAR O REGIME SOLIDÁRIO, SEM NECESSARIAMENTE IMPLICAR BENEFÍCIO INDIVIDUAL PARA OCONTRIBUINTE.1. O art. 195, § 5º, da CRFB/1988 (“Nenhum benefício ou serviço da seguridade social poderá ser criado, majorado ouestendido sem a correspondente fonte de custeio total”) é regra que visa ao equilíbrio financeiro e atuarial.2. A majoração da contribuição social, como qualquer tributo, depende, para a sua validade, de causa jurídica válida, e,portanto, demanda, em contrapartida, incremento no sistema previdenciário (STF, ADI 790, RE 183.906 e ADI-MC 2.010).3. Entretanto, a majoração da contribuição social previdenciária não necessariamente resultará em aumento dos benefíciose serviços a que cada segurado-contribuinte fará jus, cabendo à lei, na forma do art. 201, § 11 da CRFB/1988, disciplinar see como haverá reflexos: contribui-se solidariamente para a manutenção e expansão do sistema como um todo, e não paraprovisionar fundos única e exclusivamente em benefício próprio (STF, RE 210.211, AI 724.582 AgR e ADI 3.105).

III – FATOR PREVIDENCIÁRIO E DESINCENTIVO À APOSENTADORIA PRECOCE COMO TÉCNICA DE MANUTENÇÃODO EQUILÍBRIO DA PREVIDÊNCIA SOCIAL.1. No regime previdenciário dos servidores públicos, há idade mínima como requisito para a aposentadoria, paga-se abonode permanência a quem postergar a aposentadoria (art. 40, § 19, da CRFB/1988), e veda-se a acumulação de proventoscom vencimentos (salvo na hipótese do art. 37, § 10, da CRFB/1988).2. No RGPS, não há idade mínima como requisito para a aposentadoria, permite-se a acumulação de aposentadoria com aremuneração de emprego, o deferimento de aposentadoria não rescinde os contratos de trabalho (STF, ADI 1.721 e 1.770).Por outro lado, a Lei 9.876/1999 instituiu o fator previdenciário – cuja constitucionalidade foi reconhecida pelo STF (ADI-MC2.111) – no cálculo das aposentadorias por idade, por tempo de serviço e por tempo de contribuição, para assegurar o

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equilíbrio atuarial, de modo que os critérios “tempo de contribuição”, “idade” e “expectativa de sobrevida no momento daaposentadoria” tenham influência sobre o valor final do benefício.

IV – DIREITO ADQUIRIDO AO BENEFÍCIO CUJOS REQUISITOS FORAM INTEGRALMENTE CUMPRIDOS.1. Com base no art. 5º, XXXVI, da CRFB/1988, o segurado tem direito a que seu benefício, quanto aos seus elementosessenciais, observe a lei em vigor no momento em que preencheu todos os requisitos para a sua aquisição,independentemente da data do requerimento administrativo (STF, RE 72.509 e Súmula 359). Assim, por exemplo, apensão por morte é regida pela lei em vigor na data do óbito do segurado-instituidor, não se aplicando a lei posterior, sejamais gravosa, seja mais benéfica (STF, RE 218.467, RE 273.570 e RE 415.454).2. O direito adquirido ao benefício não assegura a imutabilidade do seu regime jurídico (STF, RE 278.718, RE 575.089 e AI654.807), então, por exemplo, os segurados podem ser beneficiados pela alteração do valor-limite do benefício (STF, RE564.354) ou prejudicados pela instituição ou diminuição de prazos prescricionais ou decadenciais (STF, ADI-MC 1.715 e RE21.341).3. O segurado tem direito ao benefício mais vantajoso (aquele de maior RMI), considerando todos os fatores queinfluenciam em seu cálculo, desde a data em que o direito ao benefício ingressou em seu patrimônio (isto é, cumpriu todosos requisitos legais para a aquisição do direito) até o momento em que o direito é exercido (data do requerimentoadministrativo) (STF, RE 630.501). Cumpridos os requisitos mínimos (tempo de serviço e carência ou tempo decontribuição e idade, conforme o regime jurídico vigente à época), o segurado adquire o direito ao benefício, aquisição quenão se confunde com o seu exercício (neste sentido, o art. 102, § 1º, da Lei 8.213/1991, incluído pela Lei 9.528/1997, areconhecer que a perda da qualidade de segurado não prejudica o direito à aposentadoria para cuja concessão tenham sidopreenchidos todos os requisitos, segundo a legislação em vigor à época em que atendidos esses requisitos), daí porqueeventual modificação posterior nas circunstâncias de fato não suprime o direito já incorporado ao patrimônio do seu titular.Adquirido o direito à aposentação, o segurado pode optar por não exercê-lo de imediato, seja para fazer jus ao benefíciointegral (quando houve aquisição do direito apenas à aposentadoria proporcional), seja para melhorar o fator previdenciárioaplicável e computar as novas contribuições, e essa opção não pode prejudicá-lo, pois seria injurídico tolerar que a RMI dobenefício requerido posteriormente (em decorrência, por exemplo, da redução do salário-de-contribuição) fosse inferior àRMI do benefício que poderia já ter obtido. Conferiu-se interpretação extensiva ao art. 122 da Lei 8.213/1991 (“Se maisvantajoso, fica assegurado o direito à aposentadoria, nas condições legalmente previstas na data do cumprimento de todosos requisitos necessários à obtenção do benefício, ao segurado que, tendo completado 35 anos de serviço, se homem, outrinta anos, se mulher, optou por permanecer em atividade”) para assegurar não só o benefício mais vantajoso na data documprimento dos requisitos para a aposentadoria integral, como também para a aposentadoria proporcional adquirida, bemcomo em cada um dos meses posteriores à aquisição, até a data do exercício do direito pelo requerimento.4. Exercido o direito ao benefício, mediante requerimento de aposentadoria, o tempo de contribuição acumulado exauretodos os seus efeitos jurídicos, não podendo ser computado posteriormente para a aquisição de outros direitos.

V – “RENÚNCIA À APOSENTADORIA”: PRECEDENTES SOBRE DESAPOSENTAÇÃO.1. Há aposentados que retornam à atividade laboral como segurados obrigatórios, e posteriormente pleiteiam em juízo novocálculo de proventos, consideradas as contribuições de período referente a esse regresso, pretendendo afastar o art. 18, §2º, da Lei 8.213/1991 (“O aposentado pelo Regime Geral de Previdência Social - RGPS que permanecer em atividadesujeita a este Regime, ou a ele retornar, não fará jus a prestação alguma da Previdência Social em decorrência do exercíciodessa atividade, exceto ao salário-família e à reabilitação profissional, quando empregado.”) por considerá-lo incompatívelcom o art. 201, § 11, da CRFB/1988 (“Os ganhos habituais do empregado, a qualquer título, serão incorporados ao saláriopara efeito de contribuição previdenciária e conseqüente repercussão em benefícios, nos casos e na forma da lei.”).2. A jurisprudência admitia a renúncia à aposentadoria já obtida, com o aproveitamento do tempo de contribuição para obternova aposentadoria, desde que tal renúncia produzisse efeitos ex tunc (impondo a devolução integral das prestaçõespercebidas do INSS, para evitar enriquecimento ilícito do beneficiário) (TNU, PEDILEF 200872580041869; Enunciado 70das Turmas Recursais do Rio de Janeiro; Primeira Seção do TRF da 2ª Região, EIAC 201050010042326).3. A Primeira Seção do STJ assentou que “Os benefícios previdenciários são direitos patrimoniais disponíveis e, portanto,suscetíveis de desistência pelos seus titulares, prescindindo-se da devolução dos valores recebidos da aposentadoria a queo segurado deseja preterir para a concessão de novo e posterior jubilamento”. Conferiu interpretação ao art. 18, § 2º, da Lei8.213/1991 no sentido de que este não impede o segurado de retornar à atividade laboral e renunciar à aposentadoria deque está em gozo, nem de, em seguida, requerer novo benefício (reaposentação) que utilize os períodos contributivos doprimeiro somado aos períodos posteriores ao retorno à atividade laboral (RESP 1.334.488).

VI – A DESAPOSENTAÇÃO E A REAPOSENTAÇÃO NÃO ENCONTRAM RESPALDO NA LEI, MESMO QUE OSEGURADO SE DISPONHA A DEVOLVER TODOS OS VALORES JÁ RECEBIDOS A TÍTULO DE APOSENTADORIA.1. Orientação do Relator, Juiz Federal Iorio Siqueira D’Alessandri Forti, externada em voto vencido no recurso inominado2011.50.50.005300-0/01 (sessão da 1ª Turma Recursal de Vitória/ES em 28/06/2013), para quem a desaposentação esubseqüente reaposentação não são juridicamente viáveis sequer com a restituição dos valores recebidos pelo segurado,com amparo nos seguintes fundamentos:i) Inexistência de norma autorizando a pretensão em regra implica, nos atos vinculados, vedação, e não permissão. A cadanovo mês trabalhado por um segurado aposentado, corresponde o pagamento de uma nova contribuição, e eventualmenteele teria interesse em obter “nova aposentadoria melhorada” mensalmente, razão pela qual a falta de disciplina legalresultaria em situação caótica.ii) O simples fato de incidir contribuição sobre o salário de um segurado obrigatório que se encontra aposentado nãopermite concluir que, com base nos arts. 195, § 5º, e 201, § 11º, da CRFB/1988, alguma vantagem individualcorrespondente lhe seja devida (STF, RE 210.211, AI 724.582 AgR e ADI 3.105). Se a contribuição, com a significativaalíquota de 11%, for reputada excessiva ou sem causa válida, a conseqüência possível é a inconstitucionalidade da

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contribuição, nunca a majoração da aposentadoria sem expressa previsão em lei.iii) O tempo de contribuição ingressa no patrimônio do trabalhador mês a mês, e, satisfeitos os requisitos para a obtençãode benefício, considera-se direito adquirido, a ser utilizado quando o segurado considerar mais conveniente. Diante debifurcação, a ele cabe escolher qual caminho trilhar, sabendo que não há autorização legal para retornar: requererimediatamente a aposentadoria, gozando-a desde logo, por um período de vida mais longo, com valor “achatado” pelo fatorprevidenciário, ou permanecer mais tempo contribuindo, para ficar mais velho e obter um benefício maior. Uma vezexercido o direito de instar a Administração a agir, tem-se ato administrativo aperfeiçoado, protegido pelo art. 5º, XXXVI, daCRFB/1988. O tempo trabalhado e contribuído não deixou de integrar o patrimônio do segurado, mas já foi aproveitadointegralmente para uma finalidade, e não pode, portanto, ser aproveitado para outra.iv) É certo que o direito do aposentado às prestações mensais do benefício, apesar da natureza alimentar deste, ostentanatureza patrimonial e disponível. O segurado pode, a qualquer momento, renunciar ao recebimento de uma, várias outodas as prestações, com efeitos ex nunc, isto é, sem ter de devolver aquelas já recebidas, uma vez que não as recebeuindevidamente. Ocorre que o direito à aposentadoria em si, após adquirido, foi exercido por ato de vontade; com odeferimento pela Administração, tornou-se ato jurídico perfeito. A qualquer momento, cessando as razões de conveniênciae oportunidade que levaram o segurado a suspender por tempo indeterminado os efeitos do ato administrativo que oaposentou, poderá solicitar a reativação imediata do benefício: em se tratando de direito social fundamental, visando àgarantia da subsistência digna, a aposentadoria é irrenunciável. O interruptor pode ser desligado (e religado, também), nãoarrancado da parede.v) Pode-se renunciar às prestações da aposentadoria, sendo vedado – diante da falta de norma autorizadora – valer-sedessa renúncia para contornar uma (má) escolha feita no passado, mesmo com a disposição de ressarcir a Administraçãode todos os valores recebidos. No sentido da imutabilidade radical deste ato, votaram os Ministros Dias Toffoli, CármenLúcia, Ricardo Lewandowski e Gilmar Mendes no julgamento do RE 630.501, enquanto os demais Ministros consideraram oato passível de revisão apenas quando tivesse por fundamento a aquisição de direito a RMI melhor antes da data dorequerimento. Nas palavras do Juiz Federal Guilherme Beltrami, o que a parte autora pretende não é renunciar àaposentadoria – porque, em suma, renúncia é abandonar direitos e não reverter a statu quo ante com recuperação dotempo; o que ela pretende é como renunciar à propriedade de um bem e querer o dinheiro da aquisição de volta.vi) O obstáculo à pretensão de obter nova aposentadoria com base nas mesmas contribuições aproveitadas para aaposentadoria a que renunciam decorre não só do ato jurídico perfeito (art. 5º, XXXVI, da CRFB/1988) e da falta deprevisão legal expressa (arts. 37, caput, e 201, caput e § 11, da CRFB/1988), como também de clara vedação prevista emnormas infraconstitucionais. O art. 18, § 2º, da Lei 8.213/1991 diz, por via transversa, que as contribuições vertidas pelosegurado aposentado não produzem efeito algum para a obtenção de outra aposentadoria, cabendo a ele escolherprudentemente quando e como as usará. O art. 29, I, e § 7º, também da Lei 8.213/1991, como a aposentadoria demanda,para a fixação da renda mensal inicial do benefício, o cômputo da idade e da expectativa de sobrevida do segurado nomomento do requerimento, conclui-se que, uma vez deferido, tem-se ato administrativo cujos efeitos atrelam, de formaincindível, a quantidade de contribuições vertidas e o período futuro de vida do segurado. Admitir a desaposentação e, logodepois, novo pedido de aposentadoria (com mais contribuições, idade mais elevada e, portanto, expectativa de sobrevidamenor), a fim de obter benefício com RMI maior, constituiria burla ao fator previdenciário e a seu objetivo de desestimularaposentadorias precoces.

VII – Inexiste violação aos dispositivos legais apontados.

VIII – Recurso da parte autora conhecido e desprovido. Sem custas nem honorários, em razão da assistência judiciáriagratuita.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, acordam os Juízes da 1ª Turma Recursaldos Juizados Especiais Federais da Seção Judiciária do Espírito Santo CONHECER DO RECURSO e, no mérito,NEGAR-LHE PROVIMENTO, na forma da ementa constante dos autos, que passa a integrar o presente julgado.

IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTIJuiz Federal – 3º Relator da 1ª Turma Recursal

76 - 0000097-48.2011.4.02.5003/01 (2011.50.03.000097-4/01) (PROCESSO ELETRÔNICO) MOACYR FALCAO(ADVOGADO: CHRISTOVAM RAMOS PINTO NETO, RONI FURTADO BORGO, LUCIANO BRANDÃO CAMATTA, LUIZCARLOS BISSOLI, TARCIZIO PESSALI, VITOR HENRIQUE PIOVESAN.) x INSTITUTO NACIONAL DO SEGUROSOCIAL - INSS (PROCDOR: HENRIQUE BICALHO CIVINELLI DE ALMEIDA.).RECURSO Nº 0000097-48.2011.4.02.5003/01 (2011.50.03.000097-4/01)RECORRENTE: MOACYR FALCAORECORRIDO: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSSRELATOR: JUIZ FEDERAL IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTI

EMENTA

PREVIDENCIÁRIO. PRETENSÃO DE DESAPOSENTAÇÃO SEGUIDA DE REAPOSENTAÇÃO. AUSÊNCIA DEPREVISÃO LEGAL. VIOLAÇÃO AO ATO JURÍDICO PERFEITO. CONTRARIEDADE A REGRAS EXPRESSAS DA LEI8.213/1991. IMPROCEDÊNCIA DO PEDIDO.

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I – CARÁTER CONTRIBUTIVO E SOLIDÁRIO DA PREVIDÊNCIA SOCIAL.1. A aposentadoria é direito social (art. 7º, XXIV, da CRFB/1988).2. Para a integridade da Previdência Social, tanto o Regime Geral quanto o Regime dos servidores têm caráter contributivoe solidário, de filiação obrigatória, com a observância de critérios que preservem o equilíbrio financeiro e atuarial (arts. 40,caput, e 201, caput, da CRFB/1988).

II – OS ARTS. 195, § 5º, E 201, § 11, DA CRFB/188: A INSTITUIÇÃO OU MAJORAÇÃO DE CONTRIBUIÇÃO DEVEREFORÇAR O REGIME SOLIDÁRIO, SEM NECESSARIAMENTE IMPLICAR BENEFÍCIO INDIVIDUAL PARA OCONTRIBUINTE.1. O art. 195, § 5º, da CRFB/1988 (“Nenhum benefício ou serviço da seguridade social poderá ser criado, majorado ouestendido sem a correspondente fonte de custeio total”) é regra que visa ao equilíbrio financeiro e atuarial.2. A majoração da contribuição social, como qualquer tributo, depende, para a sua validade, de causa jurídica válida, e,portanto, demanda, em contrapartida, incremento no sistema previdenciário (STF, ADI 790, RE 183.906 e ADI-MC 2.010).3. Entretanto, a majoração da contribuição social previdenciária não necessariamente resultará em aumento dos benefíciose serviços a que cada segurado-contribuinte fará jus, cabendo à lei, na forma do art. 201, § 11 da CRFB/1988, disciplinar see como haverá reflexos: contribui-se solidariamente para a manutenção e expansão do sistema como um todo, e não paraprovisionar fundos única e exclusivamente em benefício próprio (STF, RE 210.211, AI 724.582 AgR e ADI 3.105).

III – FATOR PREVIDENCIÁRIO E DESINCENTIVO À APOSENTADORIA PRECOCE COMO TÉCNICA DE MANUTENÇÃODO EQUILÍBRIO DA PREVIDÊNCIA SOCIAL.1. No regime previdenciário dos servidores públicos, há idade mínima como requisito para a aposentadoria, paga-se abonode permanência a quem postergar a aposentadoria (art. 40, § 19, da CRFB/1988), e veda-se a acumulação de proventoscom vencimentos (salvo na hipótese do art. 37, § 10, da CRFB/1988).2. No RGPS, não há idade mínima como requisito para a aposentadoria, permite-se a acumulação de aposentadoria com aremuneração de emprego, o deferimento de aposentadoria não rescinde os contratos de trabalho (STF, ADI 1.721 e 1.770).Por outro lado, a Lei 9.876/1999 instituiu o fator previdenciário – cuja constitucionalidade foi reconhecida pelo STF (ADI-MC2.111) – no cálculo das aposentadorias por idade, por tempo de serviço e por tempo de contribuição, para assegurar oequilíbrio atuarial, de modo que os critérios “tempo de contribuição”, “idade” e “expectativa de sobrevida no momento daaposentadoria” tenham influência sobre o valor final do benefício.

IV – DIREITO ADQUIRIDO AO BENEFÍCIO CUJOS REQUISITOS FORAM INTEGRALMENTE CUMPRIDOS.1. Com base no art. 5º, XXXVI, da CRFB/1988, o segurado tem direito a que seu benefício, quanto aos seus elementosessenciais, observe a lei em vigor no momento em que preencheu todos os requisitos para a sua aquisição,independentemente da data do requerimento administrativo (STF, RE 72.509 e Súmula 359). Assim, por exemplo, apensão por morte é regida pela lei em vigor na data do óbito do segurado-instituidor, não se aplicando a lei posterior, sejamais gravosa, seja mais benéfica (STF, RE 218.467, RE 273.570 e RE 415.454).2. O direito adquirido ao benefício não assegura a imutabilidade do seu regime jurídico (STF, RE 278.718, RE 575.089 e AI654.807), então, por exemplo, os segurados podem ser beneficiados pela alteração do valor-limite do benefício (STF, RE564.354) ou prejudicados pela instituição ou diminuição de prazos prescricionais ou decadenciais (STF, ADI-MC 1.715 e RE21.341).3. O segurado tem direito ao benefício mais vantajoso (aquele de maior RMI), considerando todos os fatores queinfluenciam em seu cálculo, desde a data em que o direito ao benefício ingressou em seu patrimônio (isto é, cumpriu todosos requisitos legais para a aquisição do direito) até o momento em que o direito é exercido (data do requerimentoadministrativo) (STF, RE 630.501). Cumpridos os requisitos mínimos (tempo de serviço e carência ou tempo decontribuição e idade, conforme o regime jurídico vigente à época), o segurado adquire o direito ao benefício, aquisição quenão se confunde com o seu exercício (neste sentido, o art. 102, § 1º, da Lei 8.213/1991, incluído pela Lei 9.528/1997, areconhecer que a perda da qualidade de segurado não prejudica o direito à aposentadoria para cuja concessão tenham sidopreenchidos todos os requisitos, segundo a legislação em vigor à época em que atendidos esses requisitos), daí porqueeventual modificação posterior nas circunstâncias de fato não suprime o direito já incorporado ao patrimônio do seu titular.Adquirido o direito à aposentação, o segurado pode optar por não exercê-lo de imediato, seja para fazer jus ao benefíciointegral (quando houve aquisição do direito apenas à aposentadoria proporcional), seja para melhorar o fator previdenciárioaplicável e computar as novas contribuições, e essa opção não pode prejudicá-lo, pois seria injurídico tolerar que a RMI dobenefício requerido posteriormente (em decorrência, por exemplo, da redução do salário-de-contribuição) fosse inferior àRMI do benefício que poderia já ter obtido. Conferiu-se interpretação extensiva ao art. 122 da Lei 8.213/1991 (“Se maisvantajoso, fica assegurado o direito à aposentadoria, nas condições legalmente previstas na data do cumprimento de todosos requisitos necessários à obtenção do benefício, ao segurado que, tendo completado 35 anos de serviço, se homem, outrinta anos, se mulher, optou por permanecer em atividade”) para assegurar não só o benefício mais vantajoso na data documprimento dos requisitos para a aposentadoria integral, como também para a aposentadoria proporcional adquirida, bemcomo em cada um dos meses posteriores à aquisição, até a data do exercício do direito pelo requerimento.4. Exercido o direito ao benefício, mediante requerimento de aposentadoria, o tempo de contribuição acumulado exauretodos os seus efeitos jurídicos, não podendo ser computado posteriormente para a aquisição de outros direitos.

V – “RENÚNCIA À APOSENTADORIA”: PRECEDENTES SOBRE DESAPOSENTAÇÃO.1. Há aposentados que retornam à atividade laboral como segurados obrigatórios, e posteriormente pleiteiam em juízo novocálculo de proventos, consideradas as contribuições de período referente a esse regresso, pretendendo afastar o art. 18, §2º, da Lei 8.213/1991 (“O aposentado pelo Regime Geral de Previdência Social - RGPS que permanecer em atividadesujeita a este Regime, ou a ele retornar, não fará jus a prestação alguma da Previdência Social em decorrência do exercíciodessa atividade, exceto ao salário-família e à reabilitação profissional, quando empregado.”) por considerá-lo incompatível

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com o art. 201, § 11, da CRFB/1988 (“Os ganhos habituais do empregado, a qualquer título, serão incorporados ao saláriopara efeito de contribuição previdenciária e conseqüente repercussão em benefícios, nos casos e na forma da lei.”).2. A jurisprudência admitia a renúncia à aposentadoria já obtida, com o aproveitamento do tempo de contribuição para obternova aposentadoria, desde que tal renúncia produzisse efeitos ex tunc (impondo a devolução integral das prestaçõespercebidas do INSS, para evitar enriquecimento ilícito do beneficiário) (TNU, PEDILEF 200872580041869; Enunciado 70das Turmas Recursais do Rio de Janeiro; Primeira Seção do TRF da 2ª Região, EIAC 201050010042326).3. A Primeira Seção do STJ assentou que “Os benefícios previdenciários são direitos patrimoniais disponíveis e, portanto,suscetíveis de desistência pelos seus titulares, prescindindo-se da devolução dos valores recebidos da aposentadoria a queo segurado deseja preterir para a concessão de novo e posterior jubilamento”. Conferiu interpretação ao art. 18, § 2º, da Lei8.213/1991 no sentido de que este não impede o segurado de retornar à atividade laboral e renunciar à aposentadoria deque está em gozo, nem de, em seguida, requerer novo benefício (reaposentação) que utilize os períodos contributivos doprimeiro somado aos períodos posteriores ao retorno à atividade laboral (RESP 1.334.488).

VI – A DESAPOSENTAÇÃO E A REAPOSENTAÇÃO NÃO ENCONTRAM RESPALDO NA LEI, MESMO QUE OSEGURADO SE DISPONHA A DEVOLVER TODOS OS VALORES JÁ RECEBIDOS A TÍTULO DE APOSENTADORIA.1. Orientação do Relator, Juiz Federal Iorio Siqueira D’Alessandri Forti, externada em voto vencido no recurso inominado2011.50.50.005300-0/01 (sessão da 1ª Turma Recursal de Vitória/ES em 28/06/2013), para quem a desaposentação esubseqüente reaposentação não são juridicamente viáveis sequer com a restituição dos valores recebidos pelo segurado,com amparo nos seguintes fundamentos:i) Inexistência de norma autorizando a pretensão em regra implica, nos atos vinculados, vedação, e não permissão. A cadanovo mês trabalhado por um segurado aposentado, corresponde o pagamento de uma nova contribuição, e eventualmenteele teria interesse em obter “nova aposentadoria melhorada” mensalmente, razão pela qual a falta de disciplina legalresultaria em situação caótica.ii) O simples fato de incidir contribuição sobre o salário de um segurado obrigatório que se encontra aposentado nãopermite concluir que, com base nos arts. 195, § 5º, e 201, § 11º, da CRFB/1988, alguma vantagem individualcorrespondente lhe seja devida (STF, RE 210.211, AI 724.582 AgR e ADI 3.105). Se a contribuição, com a significativaalíquota de 11%, for reputada excessiva ou sem causa válida, a conseqüência possível é a inconstitucionalidade dacontribuição, nunca a majoração da aposentadoria sem expressa previsão em lei.iii) O tempo de contribuição ingressa no patrimônio do trabalhador mês a mês, e, satisfeitos os requisitos para a obtençãode benefício, considera-se direito adquirido, a ser utilizado quando o segurado considerar mais conveniente. Diante debifurcação, a ele cabe escolher qual caminho trilhar, sabendo que não há autorização legal para retornar: requererimediatamente a aposentadoria, gozando-a desde logo, por um período de vida mais longo, com valor “achatado” pelo fatorprevidenciário, ou permanecer mais tempo contribuindo, para ficar mais velho e obter um benefício maior. Uma vezexercido o direito de instar a Administração a agir, tem-se ato administrativo aperfeiçoado, protegido pelo art. 5º, XXXVI, daCRFB/1988. O tempo trabalhado e contribuído não deixou de integrar o patrimônio do segurado, mas já foi aproveitadointegralmente para uma finalidade, e não pode, portanto, ser aproveitado para outra.iv) É certo que o direito do aposentado às prestações mensais do benefício, apesar da natureza alimentar deste, ostentanatureza patrimonial e disponível. O segurado pode, a qualquer momento, renunciar ao recebimento de uma, várias outodas as prestações, com efeitos ex nunc, isto é, sem ter de devolver aquelas já recebidas, uma vez que não as recebeuindevidamente. Ocorre que o direito à aposentadoria em si, após adquirido, foi exercido por ato de vontade; com odeferimento pela Administração, tornou-se ato jurídico perfeito. A qualquer momento, cessando as razões de conveniênciae oportunidade que levaram o segurado a suspender por tempo indeterminado os efeitos do ato administrativo que oaposentou, poderá solicitar a reativação imediata do benefício: em se tratando de direito social fundamental, visando àgarantia da subsistência digna, a aposentadoria é irrenunciável. O interruptor pode ser desligado (e religado, também), nãoarrancado da parede.v) Pode-se renunciar às prestações da aposentadoria, sendo vedado – diante da falta de norma autorizadora – valer-sedessa renúncia para contornar uma (má) escolha feita no passado, mesmo com a disposição de ressarcir a Administraçãode todos os valores recebidos. No sentido da imutabilidade radical deste ato, votaram os Ministros Dias Toffoli, CármenLúcia, Ricardo Lewandowski e Gilmar Mendes no julgamento do RE 630.501, enquanto os demais Ministros consideraram oato passível de revisão apenas quando tivesse por fundamento a aquisição de direito a RMI melhor antes da data dorequerimento. Nas palavras do Juiz Federal Guilherme Beltrami, o que a parte autora pretende não é renunciar àaposentadoria – porque, em suma, renúncia é abandonar direitos e não reverter a statu quo ante com recuperação dotempo; o que ela pretende é como renunciar à propriedade de um bem e querer o dinheiro da aquisição de volta.vi) O obstáculo à pretensão de obter nova aposentadoria com base nas mesmas contribuições aproveitadas para aaposentadoria a que renunciam decorre não só do ato jurídico perfeito (art. 5º, XXXVI, da CRFB/1988) e da falta deprevisão legal expressa (arts. 37, caput, e 201, caput e § 11, da CRFB/1988), como também de clara vedação prevista emnormas infraconstitucionais. O art. 18, § 2º, da Lei 8.213/1991 diz, por via transversa, que as contribuições vertidas pelosegurado aposentado não produzem efeito algum para a obtenção de outra aposentadoria, cabendo a ele escolherprudentemente quando e como as usará. O art. 29, I, e § 7º, também da Lei 8.213/1991, como a aposentadoria demanda,para a fixação da renda mensal inicial do benefício, o cômputo da idade e da expectativa de sobrevida do segurado nomomento do requerimento, conclui-se que, uma vez deferido, tem-se ato administrativo cujos efeitos atrelam, de formaincindível, a quantidade de contribuições vertidas e o período futuro de vida do segurado. Admitir a desaposentação e, logodepois, novo pedido de aposentadoria (com mais contribuições, idade mais elevada e, portanto, expectativa de sobrevidamenor), a fim de obter benefício com RMI maior, constituiria burla ao fator previdenciário e a seu objetivo de desestimularaposentadorias precoces.

VII – Recurso da parte autora conhecido e desprovido. Sem custas nem honorários, em razão da assistência judiciáriagratuita.

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ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, acordam os Juízes da 1ª Turma Recursaldos Juizados Especiais Federais da Seção Judiciária do Espírito Santo CONHECER DO RECURSO e, no mérito,NEGAR-LHE PROVIMENTO, na forma da ementa constante dos autos, que passa a integrar o presente julgado.

IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTIJuiz Federal – 3º Relator da 1ª Turma Recursal

77 - 0004461-19.2011.4.02.5050/01 (2011.50.50.004461-7/01) (PROCESSO ELETRÔNICO) JORGE AMANCIO DOSSANTOS RAMOS (ADVOGADO: FREDERICO AUGUSTO MACHADO.) x INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL -INSS (PROCDOR: ELZA ELENA BOSSOES ALEGRO OLIVEIRA.).RECURSO Nº 0004461-19.2011.4.02.5050/01 (2011.50.50.004461-7/01)RECORRENTE: JORGE AMANCIO DOS SANTOS RAMOSRECORRIDO: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSSRELATOR: JUIZ FEDERAL IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTI

EMENTA

PREVIDENCIÁRIO. PRETENSÃO DE DESAPOSENTAÇÃO SEGUIDA DE REAPOSENTAÇÃO. AUSÊNCIA DEPREVISÃO LEGAL. VIOLAÇÃO AO ATO JURÍDICO PERFEITO. CONTRARIEDADE A REGRAS EXPRESSAS DA LEI8.213/1991. IMPROCEDÊNCIA DO PEDIDO.

I – CARÁTER CONTRIBUTIVO E SOLIDÁRIO DA PREVIDÊNCIA SOCIAL.1. A aposentadoria é direito social (art. 7º, XXIV, da CRFB/1988).2. Para a integridade da Previdência Social, tanto o Regime Geral quanto o Regime dos servidores têm caráter contributivoe solidário, de filiação obrigatória, com a observância de critérios que preservem o equilíbrio financeiro e atuarial (arts. 40,caput, e 201, caput, da CRFB/1988).

II – OS ARTS. 195, § 5º, E 201, § 11, DA CRFB/188: A INSTITUIÇÃO OU MAJORAÇÃO DE CONTRIBUIÇÃO DEVEREFORÇAR O REGIME SOLIDÁRIO, SEM NECESSARIAMENTE IMPLICAR BENEFÍCIO INDIVIDUAL PARA OCONTRIBUINTE.1. O art. 195, § 5º, da CRFB/1988 (“Nenhum benefício ou serviço da seguridade social poderá ser criado, majorado ouestendido sem a correspondente fonte de custeio total”) é regra que visa ao equilíbrio financeiro e atuarial.2. A majoração da contribuição social, como qualquer tributo, depende, para a sua validade, de causa jurídica válida, e,portanto, demanda, em contrapartida, incremento no sistema previdenciário (STF, ADI 790, RE 183.906 e ADI-MC 2.010).3. Entretanto, a majoração da contribuição social previdenciária não necessariamente resultará em aumento dos benefíciose serviços a que cada segurado-contribuinte fará jus, cabendo à lei, na forma do art. 201, § 11 da CRFB/1988, disciplinar see como haverá reflexos: contribui-se solidariamente para a manutenção e expansão do sistema como um todo, e não paraprovisionar fundos única e exclusivamente em benefício próprio (STF, RE 210.211, AI 724.582 AgR e ADI 3.105).

III – FATOR PREVIDENCIÁRIO E DESINCENTIVO À APOSENTADORIA PRECOCE COMO TÉCNICA DE MANUTENÇÃODO EQUILÍBRIO DA PREVIDÊNCIA SOCIAL.1. No regime previdenciário dos servidores públicos, há idade mínima como requisito para a aposentadoria, paga-se abonode permanência a quem postergar a aposentadoria (art. 40, § 19, da CRFB/1988), e veda-se a acumulação de proventoscom vencimentos (salvo na hipótese do art. 37, § 10, da CRFB/1988).2. No RGPS, não há idade mínima como requisito para a aposentadoria, permite-se a acumulação de aposentadoria com aremuneração de emprego, o deferimento de aposentadoria não rescinde os contratos de trabalho (STF, ADI 1.721 e 1.770).Por outro lado, a Lei 9.876/1999 instituiu o fator previdenciário – cuja constitucionalidade foi reconhecida pelo STF (ADI-MC2.111) – no cálculo das aposentadorias por idade, por tempo de serviço e por tempo de contribuição, para assegurar oequilíbrio atuarial, de modo que os critérios “tempo de contribuição”, “idade” e “expectativa de sobrevida no momento daaposentadoria” tenham influência sobre o valor final do benefício.

IV – DIREITO ADQUIRIDO AO BENEFÍCIO CUJOS REQUISITOS FORAM INTEGRALMENTE CUMPRIDOS.1. Com base no art. 5º, XXXVI, da CRFB/1988, o segurado tem direito a que seu benefício, quanto aos seus elementosessenciais, observe a lei em vigor no momento em que preencheu todos os requisitos para a sua aquisição,independentemente da data do requerimento administrativo (STF, RE 72.509 e Súmula 359). Assim, por exemplo, apensão por morte é regida pela lei em vigor na data do óbito do segurado-instituidor, não se aplicando a lei posterior, sejamais gravosa, seja mais benéfica (STF, RE 218.467, RE 273.570 e RE 415.454).2. O direito adquirido ao benefício não assegura a imutabilidade do seu regime jurídico (STF, RE 278.718, RE 575.089 e AI654.807), então, por exemplo, os segurados podem ser beneficiados pela alteração do valor-limite do benefício (STF, RE564.354) ou prejudicados pela instituição ou diminuição de prazos prescricionais ou decadenciais (STF, ADI-MC 1.715 e RE21.341).3. O segurado tem direito ao benefício mais vantajoso (aquele de maior RMI), considerando todos os fatores queinfluenciam em seu cálculo, desde a data em que o direito ao benefício ingressou em seu patrimônio (isto é, cumpriu todosos requisitos legais para a aquisição do direito) até o momento em que o direito é exercido (data do requerimentoadministrativo) (STF, RE 630.501). Cumpridos os requisitos mínimos (tempo de serviço e carência ou tempo de

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contribuição e idade, conforme o regime jurídico vigente à época), o segurado adquire o direito ao benefício, aquisição quenão se confunde com o seu exercício (neste sentido, o art. 102, § 1º, da Lei 8.213/1991, incluído pela Lei 9.528/1997, areconhecer que a perda da qualidade de segurado não prejudica o direito à aposentadoria para cuja concessão tenham sidopreenchidos todos os requisitos, segundo a legislação em vigor à época em que atendidos esses requisitos), daí porqueeventual modificação posterior nas circunstâncias de fato não suprime o direito já incorporado ao patrimônio do seu titular.Adquirido o direito à aposentação, o segurado pode optar por não exercê-lo de imediato, seja para fazer jus ao benefíciointegral (quando houve aquisição do direito apenas à aposentadoria proporcional), seja para melhorar o fator previdenciárioaplicável e computar as novas contribuições, e essa opção não pode prejudicá-lo, pois seria injurídico tolerar que a RMI dobenefício requerido posteriormente (em decorrência, por exemplo, da redução do salário-de-contribuição) fosse inferior àRMI do benefício que poderia já ter obtido. Conferiu-se interpretação extensiva ao art. 122 da Lei 8.213/1991 (“Se maisvantajoso, fica assegurado o direito à aposentadoria, nas condições legalmente previstas na data do cumprimento de todosos requisitos necessários à obtenção do benefício, ao segurado que, tendo completado 35 anos de serviço, se homem, outrinta anos, se mulher, optou por permanecer em atividade”) para assegurar não só o benefício mais vantajoso na data documprimento dos requisitos para a aposentadoria integral, como também para a aposentadoria proporcional adquirida, bemcomo em cada um dos meses posteriores à aquisição, até a data do exercício do direito pelo requerimento.4. Exercido o direito ao benefício, mediante requerimento de aposentadoria, o tempo de contribuição acumulado exauretodos os seus efeitos jurídicos, não podendo ser computado posteriormente para a aquisição de outros direitos.

V – “RENÚNCIA À APOSENTADORIA”: PRECEDENTES SOBRE DESAPOSENTAÇÃO.1. Há aposentados que retornam à atividade laboral como segurados obrigatórios, e posteriormente pleiteiam em juízo novocálculo de proventos, consideradas as contribuições de período referente a esse regresso, pretendendo afastar o art. 18, §2º, da Lei 8.213/1991 (“O aposentado pelo Regime Geral de Previdência Social - RGPS que permanecer em atividadesujeita a este Regime, ou a ele retornar, não fará jus a prestação alguma da Previdência Social em decorrência do exercíciodessa atividade, exceto ao salário-família e à reabilitação profissional, quando empregado.”) por considerá-lo incompatívelcom o art. 201, § 11, da CRFB/1988 (“Os ganhos habituais do empregado, a qualquer título, serão incorporados ao saláriopara efeito de contribuição previdenciária e conseqüente repercussão em benefícios, nos casos e na forma da lei.”).2. A jurisprudência admitia a renúncia à aposentadoria já obtida, com o aproveitamento do tempo de contribuição para obternova aposentadoria, desde que tal renúncia produzisse efeitos ex tunc (impondo a devolução integral das prestaçõespercebidas do INSS, para evitar enriquecimento ilícito do beneficiário) (TNU, PEDILEF 200872580041869; Enunciado 70das Turmas Recursais do Rio de Janeiro; Primeira Seção do TRF da 2ª Região, EIAC 201050010042326).3. A Primeira Seção do STJ assentou que “Os benefícios previdenciários são direitos patrimoniais disponíveis e, portanto,suscetíveis de desistência pelos seus titulares, prescindindo-se da devolução dos valores recebidos da aposentadoria a queo segurado deseja preterir para a concessão de novo e posterior jubilamento”. Conferiu interpretação ao art. 18, § 2º, da Lei8.213/1991 no sentido de que este não impede o segurado de retornar à atividade laboral e renunciar à aposentadoria deque está em gozo, nem de, em seguida, requerer novo benefício (reaposentação) que utilize os períodos contributivos doprimeiro somado aos períodos posteriores ao retorno à atividade laboral (RESP 1.334.488).

VI – A DESAPOSENTAÇÃO E A REAPOSENTAÇÃO NÃO ENCONTRAM RESPALDO NA LEI, MESMO QUE OSEGURADO SE DISPONHA A DEVOLVER TODOS OS VALORES JÁ RECEBIDOS A TÍTULO DE APOSENTADORIA.1. Orientação do Relator, Juiz Federal Iorio Siqueira D’Alessandri Forti, externada em voto vencido no recurso inominado2011.50.50.005300-0/01 (sessão da 1ª Turma Recursal de Vitória/ES em 28/06/2013), para quem a desaposentação esubseqüente reaposentação não são juridicamente viáveis sequer com a restituição dos valores recebidos pelo segurado,com amparo nos seguintes fundamentos:i) Inexistência de norma autorizando a pretensão em regra implica, nos atos vinculados, vedação, e não permissão. A cadanovo mês trabalhado por um segurado aposentado, corresponde o pagamento de uma nova contribuição, e eventualmenteele teria interesse em obter “nova aposentadoria melhorada” mensalmente, razão pela qual a falta de disciplina legalresultaria em situação caótica.ii) O simples fato de incidir contribuição sobre o salário de um segurado obrigatório que se encontra aposentado nãopermite concluir que, com base nos arts. 195, § 5º, e 201, § 11º, da CRFB/1988, alguma vantagem individualcorrespondente lhe seja devida (STF, RE 210.211, AI 724.582 AgR e ADI 3.105). Se a contribuição, com a significativaalíquota de 11%, for reputada excessiva ou sem causa válida, a conseqüência possível é a inconstitucionalidade dacontribuição, nunca a majoração da aposentadoria sem expressa previsão em lei.iii) O tempo de contribuição ingressa no patrimônio do trabalhador mês a mês, e, satisfeitos os requisitos para a obtençãode benefício, considera-se direito adquirido, a ser utilizado quando o segurado considerar mais conveniente. Diante debifurcação, a ele cabe escolher qual caminho trilhar, sabendo que não há autorização legal para retornar: requererimediatamente a aposentadoria, gozando-a desde logo, por um período de vida mais longo, com valor “achatado” pelo fatorprevidenciário, ou permanecer mais tempo contribuindo, para ficar mais velho e obter um benefício maior. Uma vezexercido o direito de instar a Administração a agir, tem-se ato administrativo aperfeiçoado, protegido pelo art. 5º, XXXVI, daCRFB/1988. O tempo trabalhado e contribuído não deixou de integrar o patrimônio do segurado, mas já foi aproveitadointegralmente para uma finalidade, e não pode, portanto, ser aproveitado para outra.iv) É certo que o direito do aposentado às prestações mensais do benefício, apesar da natureza alimentar deste, ostentanatureza patrimonial e disponível. O segurado pode, a qualquer momento, renunciar ao recebimento de uma, várias outodas as prestações, com efeitos ex nunc, isto é, sem ter de devolver aquelas já recebidas, uma vez que não as recebeuindevidamente. Ocorre que o direito à aposentadoria em si, após adquirido, foi exercido por ato de vontade; com odeferimento pela Administração, tornou-se ato jurídico perfeito. A qualquer momento, cessando as razões de conveniênciae oportunidade que levaram o segurado a suspender por tempo indeterminado os efeitos do ato administrativo que oaposentou, poderá solicitar a reativação imediata do benefício: em se tratando de direito social fundamental, visando àgarantia da subsistência digna, a aposentadoria é irrenunciável. O interruptor pode ser desligado (e religado, também), não

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arrancado da parede.v) Pode-se renunciar às prestações da aposentadoria, sendo vedado – diante da falta de norma autorizadora – valer-sedessa renúncia para contornar uma (má) escolha feita no passado, mesmo com a disposição de ressarcir a Administraçãode todos os valores recebidos. No sentido da imutabilidade radical deste ato, votaram os Ministros Dias Toffoli, CármenLúcia, Ricardo Lewandowski e Gilmar Mendes no julgamento do RE 630.501, enquanto os demais Ministros consideraram oato passível de revisão apenas quando tivesse por fundamento a aquisição de direito a RMI melhor antes da data dorequerimento. Nas palavras do Juiz Federal Guilherme Beltrami, o que a parte autora pretende não é renunciar àaposentadoria – porque, em suma, renúncia é abandonar direitos e não reverter a statu quo ante com recuperação dotempo; o que ela pretende é como renunciar à propriedade de um bem e querer o dinheiro da aquisição de volta.vi) O obstáculo à pretensão de obter nova aposentadoria com base nas mesmas contribuições aproveitadas para aaposentadoria a que renunciam decorre não só do ato jurídico perfeito (art. 5º, XXXVI, da CRFB/1988) e da falta deprevisão legal expressa (arts. 37, caput, e 201, caput e § 11, da CRFB/1988), como também de clara vedação prevista emnormas infraconstitucionais. O art. 18, § 2º, da Lei 8.213/1991 diz, por via transversa, que as contribuições vertidas pelosegurado aposentado não produzem efeito algum para a obtenção de outra aposentadoria, cabendo a ele escolherprudentemente quando e como as usará. O art. 29, I, e § 7º, também da Lei 8.213/1991, como a aposentadoria demanda,para a fixação da renda mensal inicial do benefício, o cômputo da idade e da expectativa de sobrevida do segurado nomomento do requerimento, conclui-se que, uma vez deferido, tem-se ato administrativo cujos efeitos atrelam, de formaincindível, a quantidade de contribuições vertidas e o período futuro de vida do segurado. Admitir a desaposentação e, logodepois, novo pedido de aposentadoria (com mais contribuições, idade mais elevada e, portanto, expectativa de sobrevidamenor), a fim de obter benefício com RMI maior, constituiria burla ao fator previdenciário e a seu objetivo de desestimularaposentadorias precoces.

VII – Recurso da parte autora conhecido e desprovido. Sem custas nem honorários, em razão da assistência judiciáriagratuita.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, acordam os Juízes da 1ª Turma Recursaldos Juizados Especiais Federais da Seção Judiciária do Espírito Santo CONHECER DO RECURSO e, no mérito,NEGAR-LHE PROVIMENTO, na forma da ementa constante dos autos, que passa a integrar o presente julgado.

IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTIJuiz Federal – 3º Relator da 1ª Turma Recursal

78 - 0004246-43.2011.4.02.5050/01 (2011.50.50.004246-3/01) (PROCESSO ELETRÔNICO) ELISABETE FERREIRA DOSSANTOS (ADVOGADO: LEILA APARECIDA PEREIRA DE ALMEIDA, ELAINE DE FÁTIMA DE ALMEIDA LIMA.) xINSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS (PROCDOR: SIMONE LENGRUBER DARROZ ROSSONI.).RECURSO Nº 0004246-43.2011.4.02.5050/01 (2011.50.50.004246-3/01)RECORRENTE: ELISABETE FERREIRA DOS SANTOSRECORRIDO: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSSRELATOR: JUIZ FEDERAL IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTI

EMENTA

PREVIDENCIÁRIO. PRETENSÃO DE DESAPOSENTAÇÃO SEGUIDA DE REAPOSENTAÇÃO. AUSÊNCIA DEPREVISÃO LEGAL. VIOLAÇÃO AO ATO JURÍDICO PERFEITO. CONTRARIEDADE A REGRAS EXPRESSAS DA LEI8.213/1991. IMPROCEDÊNCIA DO PEDIDO.

I – CARÁTER CONTRIBUTIVO E SOLIDÁRIO DA PREVIDÊNCIA SOCIAL.1. A aposentadoria é direito social (art. 7º, XXIV, da CRFB/1988).2. Para a integridade da Previdência Social, tanto o Regime Geral quanto o Regime dos servidores têm caráter contributivoe solidário, de filiação obrigatória, com a observância de critérios que preservem o equilíbrio financeiro e atuarial (arts. 40,caput, e 201, caput, da CRFB/1988).

II – OS ARTS. 195, § 5º, E 201, § 11, DA CRFB/188: A INSTITUIÇÃO OU MAJORAÇÃO DE CONTRIBUIÇÃO DEVEREFORÇAR O REGIME SOLIDÁRIO, SEM NECESSARIAMENTE IMPLICAR BENEFÍCIO INDIVIDUAL PARA OCONTRIBUINTE.1. O art. 195, § 5º, da CRFB/1988 (“Nenhum benefício ou serviço da seguridade social poderá ser criado, majorado ouestendido sem a correspondente fonte de custeio total”) é regra que visa ao equilíbrio financeiro e atuarial.2. A majoração da contribuição social, como qualquer tributo, depende, para a sua validade, de causa jurídica válida, e,portanto, demanda, em contrapartida, incremento no sistema previdenciário (STF, ADI 790, RE 183.906 e ADI-MC 2.010).3. Entretanto, a majoração da contribuição social previdenciária não necessariamente resultará em aumento dos benefíciose serviços a que cada segurado-contribuinte fará jus, cabendo à lei, na forma do art. 201, § 11 da CRFB/1988, disciplinar see como haverá reflexos: contribui-se solidariamente para a manutenção e expansão do sistema como um todo, e não paraprovisionar fundos única e exclusivamente em benefício próprio (STF, RE 210.211, AI 724.582 AgR e ADI 3.105).

III – FATOR PREVIDENCIÁRIO E DESINCENTIVO À APOSENTADORIA PRECOCE COMO TÉCNICA DE MANUTENÇÃODO EQUILÍBRIO DA PREVIDÊNCIA SOCIAL.

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1. No regime previdenciário dos servidores públicos, há idade mínima como requisito para a aposentadoria, paga-se abonode permanência a quem postergar a aposentadoria (art. 40, § 19, da CRFB/1988), e veda-se a acumulação de proventoscom vencimentos (salvo na hipótese do art. 37, § 10, da CRFB/1988).2. No RGPS, não há idade mínima como requisito para a aposentadoria, permite-se a acumulação de aposentadoria com aremuneração de emprego, o deferimento de aposentadoria não rescinde os contratos de trabalho (STF, ADI 1.721 e 1.770).Por outro lado, a Lei 9.876/1999 instituiu o fator previdenciário – cuja constitucionalidade foi reconhecida pelo STF (ADI-MC2.111) – no cálculo das aposentadorias por idade, por tempo de serviço e por tempo de contribuição, para assegurar oequilíbrio atuarial, de modo que os critérios “tempo de contribuição”, “idade” e “expectativa de sobrevida no momento daaposentadoria” tenham influência sobre o valor final do benefício.

IV – DIREITO ADQUIRIDO AO BENEFÍCIO CUJOS REQUISITOS FORAM INTEGRALMENTE CUMPRIDOS.1. Com base no art. 5º, XXXVI, da CRFB/1988, o segurado tem direito a que seu benefício, quanto aos seus elementosessenciais, observe a lei em vigor no momento em que preencheu todos os requisitos para a sua aquisição,independentemente da data do requerimento administrativo (STF, RE 72.509 e Súmula 359). Assim, por exemplo, apensão por morte é regida pela lei em vigor na data do óbito do segurado-instituidor, não se aplicando a lei posterior, sejamais gravosa, seja mais benéfica (STF, RE 218.467, RE 273.570 e RE 415.454).2. O direito adquirido ao benefício não assegura a imutabilidade do seu regime jurídico (STF, RE 278.718, RE 575.089 e AI654.807), então, por exemplo, os segurados podem ser beneficiados pela alteração do valor-limite do benefício (STF, RE564.354) ou prejudicados pela instituição ou diminuição de prazos prescricionais ou decadenciais (STF, ADI-MC 1.715 e RE21.341).3. O segurado tem direito ao benefício mais vantajoso (aquele de maior RMI), considerando todos os fatores queinfluenciam em seu cálculo, desde a data em que o direito ao benefício ingressou em seu patrimônio (isto é, cumpriu todosos requisitos legais para a aquisição do direito) até o momento em que o direito é exercido (data do requerimentoadministrativo) (STF, RE 630.501). Cumpridos os requisitos mínimos (tempo de serviço e carência ou tempo decontribuição e idade, conforme o regime jurídico vigente à época), o segurado adquire o direito ao benefício, aquisição quenão se confunde com o seu exercício (neste sentido, o art. 102, § 1º, da Lei 8.213/1991, incluído pela Lei 9.528/1997, areconhecer que a perda da qualidade de segurado não prejudica o direito à aposentadoria para cuja concessão tenham sidopreenchidos todos os requisitos, segundo a legislação em vigor à época em que atendidos esses requisitos), daí porqueeventual modificação posterior nas circunstâncias de fato não suprime o direito já incorporado ao patrimônio do seu titular.Adquirido o direito à aposentação, o segurado pode optar por não exercê-lo de imediato, seja para fazer jus ao benefíciointegral (quando houve aquisição do direito apenas à aposentadoria proporcional), seja para melhorar o fator previdenciárioaplicável e computar as novas contribuições, e essa opção não pode prejudicá-lo, pois seria injurídico tolerar que a RMI dobenefício requerido posteriormente (em decorrência, por exemplo, da redução do salário-de-contribuição) fosse inferior àRMI do benefício que poderia já ter obtido. Conferiu-se interpretação extensiva ao art. 122 da Lei 8.213/1991 (“Se maisvantajoso, fica assegurado o direito à aposentadoria, nas condições legalmente previstas na data do cumprimento de todosos requisitos necessários à obtenção do benefício, ao segurado que, tendo completado 35 anos de serviço, se homem, outrinta anos, se mulher, optou por permanecer em atividade”) para assegurar não só o benefício mais vantajoso na data documprimento dos requisitos para a aposentadoria integral, como também para a aposentadoria proporcional adquirida, bemcomo em cada um dos meses posteriores à aquisição, até a data do exercício do direito pelo requerimento.4. Exercido o direito ao benefício, mediante requerimento de aposentadoria, o tempo de contribuição acumulado exauretodos os seus efeitos jurídicos, não podendo ser computado posteriormente para a aquisição de outros direitos.

V – “RENÚNCIA À APOSENTADORIA”: PRECEDENTES SOBRE DESAPOSENTAÇÃO.1. Há aposentados que retornam à atividade laboral como segurados obrigatórios, e posteriormente pleiteiam em juízo novocálculo de proventos, consideradas as contribuições de período referente a esse regresso, pretendendo afastar o art. 18, §2º, da Lei 8.213/1991 (“O aposentado pelo Regime Geral de Previdência Social - RGPS que permanecer em atividadesujeita a este Regime, ou a ele retornar, não fará jus a prestação alguma da Previdência Social em decorrência do exercíciodessa atividade, exceto ao salário-família e à reabilitação profissional, quando empregado.”) por considerá-lo incompatívelcom o art. 201, § 11, da CRFB/1988 (“Os ganhos habituais do empregado, a qualquer título, serão incorporados ao saláriopara efeito de contribuição previdenciária e conseqüente repercussão em benefícios, nos casos e na forma da lei.”).2. A jurisprudência admitia a renúncia à aposentadoria já obtida, com o aproveitamento do tempo de contribuição para obternova aposentadoria, desde que tal renúncia produzisse efeitos ex tunc (impondo a devolução integral das prestaçõespercebidas do INSS, para evitar enriquecimento ilícito do beneficiário) (TNU, PEDILEF 200872580041869; Enunciado 70das Turmas Recursais do Rio de Janeiro; Primeira Seção do TRF da 2ª Região, EIAC 201050010042326).3. A Primeira Seção do STJ assentou que “Os benefícios previdenciários são direitos patrimoniais disponíveis e, portanto,suscetíveis de desistência pelos seus titulares, prescindindo-se da devolução dos valores recebidos da aposentadoria a queo segurado deseja preterir para a concessão de novo e posterior jubilamento”. Conferiu interpretação ao art. 18, § 2º, da Lei8.213/1991 no sentido de que este não impede o segurado de retornar à atividade laboral e renunciar à aposentadoria deque está em gozo, nem de, em seguida, requerer novo benefício (reaposentação) que utilize os períodos contributivos doprimeiro somado aos períodos posteriores ao retorno à atividade laboral (RESP 1.334.488).

VI – A DESAPOSENTAÇÃO E A REAPOSENTAÇÃO NÃO ENCONTRAM RESPALDO NA LEI, MESMO QUE OSEGURADO SE DISPONHA A DEVOLVER TODOS OS VALORES JÁ RECEBIDOS A TÍTULO DE APOSENTADORIA.1. Orientação do Relator, Juiz Federal Iorio Siqueira D’Alessandri Forti, externada em voto vencido no recurso inominado2011.50.50.005300-0/01 (sessão da 1ª Turma Recursal de Vitória/ES em 28/06/2013), para quem a desaposentação esubseqüente reaposentação não são juridicamente viáveis sequer com a restituição dos valores recebidos pelo segurado,com amparo nos seguintes fundamentos:i) Inexistência de norma autorizando a pretensão em regra implica, nos atos vinculados, vedação, e não permissão. A cada

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novo mês trabalhado por um segurado aposentado, corresponde o pagamento de uma nova contribuição, e eventualmenteele teria interesse em obter “nova aposentadoria melhorada” mensalmente, razão pela qual a falta de disciplina legalresultaria em situação caótica.ii) O simples fato de incidir contribuição sobre o salário de um segurado obrigatório que se encontra aposentado nãopermite concluir que, com base nos arts. 195, § 5º, e 201, § 11º, da CRFB/1988, alguma vantagem individualcorrespondente lhe seja devida (STF, RE 210.211, AI 724.582 AgR e ADI 3.105). Se a contribuição, com a significativaalíquota de 11%, for reputada excessiva ou sem causa válida, a conseqüência possível é a inconstitucionalidade dacontribuição, nunca a majoração da aposentadoria sem expressa previsão em lei.iii) O tempo de contribuição ingressa no patrimônio do trabalhador mês a mês, e, satisfeitos os requisitos para a obtençãode benefício, considera-se direito adquirido, a ser utilizado quando o segurado considerar mais conveniente. Diante debifurcação, a ele cabe escolher qual caminho trilhar, sabendo que não há autorização legal para retornar: requererimediatamente a aposentadoria, gozando-a desde logo, por um período de vida mais longo, com valor “achatado” pelo fatorprevidenciário, ou permanecer mais tempo contribuindo, para ficar mais velho e obter um benefício maior. Uma vezexercido o direito de instar a Administração a agir, tem-se ato administrativo aperfeiçoado, protegido pelo art. 5º, XXXVI, daCRFB/1988. O tempo trabalhado e contribuído não deixou de integrar o patrimônio do segurado, mas já foi aproveitadointegralmente para uma finalidade, e não pode, portanto, ser aproveitado para outra.iv) É certo que o direito do aposentado às prestações mensais do benefício, apesar da natureza alimentar deste, ostentanatureza patrimonial e disponível. O segurado pode, a qualquer momento, renunciar ao recebimento de uma, várias outodas as prestações, com efeitos ex nunc, isto é, sem ter de devolver aquelas já recebidas, uma vez que não as recebeuindevidamente. Ocorre que o direito à aposentadoria em si, após adquirido, foi exercido por ato de vontade; com odeferimento pela Administração, tornou-se ato jurídico perfeito. A qualquer momento, cessando as razões de conveniênciae oportunidade que levaram o segurado a suspender por tempo indeterminado os efeitos do ato administrativo que oaposentou, poderá solicitar a reativação imediata do benefício: em se tratando de direito social fundamental, visando àgarantia da subsistência digna, a aposentadoria é irrenunciável. O interruptor pode ser desligado (e religado, também), nãoarrancado da parede.v) Pode-se renunciar às prestações da aposentadoria, sendo vedado – diante da falta de norma autorizadora – valer-sedessa renúncia para contornar uma (má) escolha feita no passado, mesmo com a disposição de ressarcir a Administraçãode todos os valores recebidos. No sentido da imutabilidade radical deste ato, votaram os Ministros Dias Toffoli, CármenLúcia, Ricardo Lewandowski e Gilmar Mendes no julgamento do RE 630.501, enquanto os demais Ministros consideraram oato passível de revisão apenas quando tivesse por fundamento a aquisição de direito a RMI melhor antes da data dorequerimento. Nas palavras do Juiz Federal Guilherme Beltrami, o que a parte autora pretende não é renunciar àaposentadoria – porque, em suma, renúncia é abandonar direitos e não reverter a statu quo ante com recuperação dotempo; o que ela pretende é como renunciar à propriedade de um bem e querer o dinheiro da aquisição de volta.vi) O obstáculo à pretensão de obter nova aposentadoria com base nas mesmas contribuições aproveitadas para aaposentadoria a que renunciam decorre não só do ato jurídico perfeito (art. 5º, XXXVI, da CRFB/1988) e da falta deprevisão legal expressa (arts. 37, caput, e 201, caput e § 11, da CRFB/1988), como também de clara vedação prevista emnormas infraconstitucionais. O art. 18, § 2º, da Lei 8.213/1991 diz, por via transversa, que as contribuições vertidas pelosegurado aposentado não produzem efeito algum para a obtenção de outra aposentadoria, cabendo a ele escolherprudentemente quando e como as usará. O art. 29, I, e § 7º, também da Lei 8.213/1991, como a aposentadoria demanda,para a fixação da renda mensal inicial do benefício, o cômputo da idade e da expectativa de sobrevida do segurado nomomento do requerimento, conclui-se que, uma vez deferido, tem-se ato administrativo cujos efeitos atrelam, de formaincindível, a quantidade de contribuições vertidas e o período futuro de vida do segurado. Admitir a desaposentação e, logodepois, novo pedido de aposentadoria (com mais contribuições, idade mais elevada e, portanto, expectativa de sobrevidamenor), a fim de obter benefício com RMI maior, constituiria burla ao fator previdenciário e a seu objetivo de desestimularaposentadorias precoces.

VII – Recurso da parte autora conhecido e desprovido. Sem custas nem honorários, em razão do benefício da assistênciajudiciária gratuita.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, acordam os Juízes da 1ª Turma Recursaldos Juizados Especiais Federais da Seção Judiciária do Espírito Santo CONHECER DO RECURSO e, no mérito,NEGAR-LHE PROVIMENTO, na forma da ementa constante dos autos, que passa a integrar o presente julgado.

IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTIJuiz Federal – 3º Relator da 1ª Turma Recursal

79 - 0001975-90.2013.4.02.5050/01 (2013.50.50.001975-9/01) (PROCESSO ELETRÔNICO) INSTITUTO NACIONAL DOSEGURO SOCIAL - INSS (PROCDOR: MARCELA BRAVIN BASSETTO.) x ADMA ALVES DUARTE (ADVOGADO: AllanFerreira Bernardo, FELIPE CASTRO DE CARVALHO, CAIO AFONSO CARDOSO.).RECURSO Nº 0001975-90.2013.4.02.5050/01 (2013.50.50.001975-9/01)RECORRENTE: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSSRECORRIDO: ADMA ALVES DUARTERELATOR: JUIZ FEDERAL IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTI

EMENTA

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PREVIDENCIÁRIO. PRETENSÃO DE DESAPOSENTAÇÃO SEGUIDA DE REAPOSENTAÇÃO. AUSÊNCIA DEPREVISÃO LEGAL. VIOLAÇÃO AO ATO JURÍDICO PERFEITO. CONTRARIEDADE A REGRAS EXPRESSAS DA LEI8.213/1991. IMPROCEDÊNCIA DO PEDIDO.

I – CARÁTER CONTRIBUTIVO E SOLIDÁRIO DA PREVIDÊNCIA SOCIAL.1. A aposentadoria é direito social (art. 7º, XXIV, da CRFB/1988).2. Para a integridade da Previdência Social, tanto o Regime Geral quanto o Regime dos servidores têm caráter contributivoe solidário, de filiação obrigatória, com a observância de critérios que preservem o equilíbrio financeiro e atuarial (arts. 40,caput, e 201, caput, da CRFB/1988).

II – OS ARTS. 195, § 5º, E 201, § 11, DA CRFB/188: A INSTITUIÇÃO OU MAJORAÇÃO DE CONTRIBUIÇÃO DEVEREFORÇAR O REGIME SOLIDÁRIO, SEM NECESSARIAMENTE IMPLICAR BENEFÍCIO INDIVIDUAL PARA OCONTRIBUINTE.1. O art. 195, § 5º, da CRFB/1988 (“Nenhum benefício ou serviço da seguridade social poderá ser criado, majorado ouestendido sem a correspondente fonte de custeio total”) é regra que visa ao equilíbrio financeiro e atuarial.2. A majoração da contribuição social, como qualquer tributo, depende, para a sua validade, de causa jurídica válida, e,portanto, demanda, em contrapartida, incremento no sistema previdenciário (STF, ADI 790, RE 183.906 e ADI-MC 2.010).3. Entretanto, a majoração da contribuição social previdenciária não necessariamente resultará em aumento dos benefíciose serviços a que cada segurado-contribuinte fará jus, cabendo à lei, na forma do art. 201, § 11 da CRFB/1988, disciplinar see como haverá reflexos: contribui-se solidariamente para a manutenção e expansão do sistema como um todo, e não paraprovisionar fundos única e exclusivamente em benefício próprio (STF, RE 210.211, AI 724.582 AgR e ADI 3.105).

III – FATOR PREVIDENCIÁRIO E DESINCENTIVO À APOSENTADORIA PRECOCE COMO TÉCNICA DE MANUTENÇÃODO EQUILÍBRIO DA PREVIDÊNCIA SOCIAL.1. No regime previdenciário dos servidores públicos, há idade mínima como requisito para a aposentadoria, paga-se abonode permanência a quem postergar a aposentadoria (art. 40, § 19, da CRFB/1988), e veda-se a acumulação de proventoscom vencimentos (salvo na hipótese do art. 37, § 10, da CRFB/1988).2. No RGPS, não há idade mínima como requisito para a aposentadoria, permite-se a acumulação de aposentadoria com aremuneração de emprego, o deferimento de aposentadoria não rescinde os contratos de trabalho (STF, ADI 1.721 e 1.770).Por outro lado, a Lei 9.876/1999 instituiu o fator previdenciário – cuja constitucionalidade foi reconhecida pelo STF (ADI-MC2.111) – no cálculo das aposentadorias por idade, por tempo de serviço e por tempo de contribuição, para assegurar oequilíbrio atuarial, de modo que os critérios “tempo de contribuição”, “idade” e “expectativa de sobrevida no momento daaposentadoria” tenham influência sobre o valor final do benefício.

IV – DIREITO ADQUIRIDO AO BENEFÍCIO CUJOS REQUISITOS FORAM INTEGRALMENTE CUMPRIDOS.1. Com base no art. 5º, XXXVI, da CRFB/1988, o segurado tem direito a que seu benefício, quanto aos seus elementosessenciais, observe a lei em vigor no momento em que preencheu todos os requisitos para a sua aquisição,independentemente da data do requerimento administrativo (STF, RE 72.509 e Súmula 359). Assim, por exemplo, apensão por morte é regida pela lei em vigor na data do óbito do segurado-instituidor, não se aplicando a lei posterior, sejamais gravosa, seja mais benéfica (STF, RE 218.467, RE 273.570 e RE 415.454).2. O direito adquirido ao benefício não assegura a imutabilidade do seu regime jurídico (STF, RE 278.718, RE 575.089 e AI654.807), então, por exemplo, os segurados podem ser beneficiados pela alteração do valor-limite do benefício (STF, RE564.354) ou prejudicados pela instituição ou diminuição de prazos prescricionais ou decadenciais (STF, ADI-MC 1.715 e RE21.341).3. O segurado tem direito ao benefício mais vantajoso (aquele de maior RMI), considerando todos os fatores queinfluenciam em seu cálculo, desde a data em que o direito ao benefício ingressou em seu patrimônio (isto é, cumpriu todosos requisitos legais para a aquisição do direito) até o momento em que o direito é exercido (data do requerimentoadministrativo) (STF, RE 630.501). Cumpridos os requisitos mínimos (tempo de serviço e carência ou tempo decontribuição e idade, conforme o regime jurídico vigente à época), o segurado adquire o direito ao benefício, aquisição quenão se confunde com o seu exercício (neste sentido, o art. 102, § 1º, da Lei 8.213/1991, incluído pela Lei 9.528/1997, areconhecer que a perda da qualidade de segurado não prejudica o direito à aposentadoria para cuja concessão tenham sidopreenchidos todos os requisitos, segundo a legislação em vigor à época em que atendidos esses requisitos), daí porqueeventual modificação posterior nas circunstâncias de fato não suprime o direito já incorporado ao patrimônio do seu titular.Adquirido o direito à aposentação, o segurado pode optar por não exercê-lo de imediato, seja para fazer jus ao benefíciointegral (quando houve aquisição do direito apenas à aposentadoria proporcional), seja para melhorar o fator previdenciárioaplicável e computar as novas contribuições, e essa opção não pode prejudicá-lo, pois seria injurídico tolerar que a RMI dobenefício requerido posteriormente (em decorrência, por exemplo, da redução do salário-de-contribuição) fosse inferior àRMI do benefício que poderia já ter obtido. Conferiu-se interpretação extensiva ao art. 122 da Lei 8.213/1991 (“Se maisvantajoso, fica assegurado o direito à aposentadoria, nas condições legalmente previstas na data do cumprimento de todosos requisitos necessários à obtenção do benefício, ao segurado que, tendo completado 35 anos de serviço, se homem, outrinta anos, se mulher, optou por permanecer em atividade”) para assegurar não só o benefício mais vantajoso na data documprimento dos requisitos para a aposentadoria integral, como também para a aposentadoria proporcional adquirida, bemcomo em cada um dos meses posteriores à aquisição, até a data do exercício do direito pelo requerimento.4. Exercido o direito ao benefício, mediante requerimento de aposentadoria, o tempo de contribuição acumulado exauretodos os seus efeitos jurídicos, não podendo ser computado posteriormente para a aquisição de outros direitos.

V – “RENÚNCIA À APOSENTADORIA”: PRECEDENTES SOBRE DESAPOSENTAÇÃO.

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1. Há aposentados que retornam à atividade laboral como segurados obrigatórios, e posteriormente pleiteiam em juízo novocálculo de proventos, consideradas as contribuições de período referente a esse regresso, pretendendo afastar o art. 18, §2º, da Lei 8.213/1991 (“O aposentado pelo Regime Geral de Previdência Social - RGPS que permanecer em atividadesujeita a este Regime, ou a ele retornar, não fará jus a prestação alguma da Previdência Social em decorrência do exercíciodessa atividade, exceto ao salário-família e à reabilitação profissional, quando empregado.”) por considerá-lo incompatívelcom o art. 201, § 11, da CRFB/1988 (“Os ganhos habituais do empregado, a qualquer título, serão incorporados ao saláriopara efeito de contribuição previdenciária e conseqüente repercussão em benefícios, nos casos e na forma da lei.”).2. A jurisprudência admitia a renúncia à aposentadoria já obtida, com o aproveitamento do tempo de contribuição para obternova aposentadoria, desde que tal renúncia produzisse efeitos ex tunc (impondo a devolução integral das prestaçõespercebidas do INSS, para evitar enriquecimento ilícito do beneficiário) (TNU, PEDILEF 200872580041869; Enunciado 70das Turmas Recursais do Rio de Janeiro; Primeira Seção do TRF da 2ª Região, EIAC 201050010042326).3. A Primeira Seção do STJ assentou que “Os benefícios previdenciários são direitos patrimoniais disponíveis e, portanto,suscetíveis de desistência pelos seus titulares, prescindindo-se da devolução dos valores recebidos da aposentadoria a queo segurado deseja preterir para a concessão de novo e posterior jubilamento”. Conferiu interpretação ao art. 18, § 2º, da Lei8.213/1991 no sentido de que este não impede o segurado de retornar à atividade laboral e renunciar à aposentadoria deque está em gozo, nem de, em seguida, requerer novo benefício (reaposentação) que utilize os períodos contributivos doprimeiro somado aos períodos posteriores ao retorno à atividade laboral (RESP 1.334.488).

VI – O ALEGADO PODER DE RENUNCIAR À APOSENTADORIA NÃO ESTÁ SUBMETIDO AO PRAZO DECADENCIALDO ART. 103 DA LEI 8.213/1991.1. O prazo decadencial de dez anos previsto no art. 103 da Lei 8.213/1991 extingue o direito de provocar a revisão do atode concessão de benefício previdenciário. Entretanto, a tese da desaposentação parte da premissa de que o aposentadonão busca a revisão do ato concessório: ele renuncia à aposentadoria já deferida para depois obter outra. Saber se existeou não tal direito potestativo à renúncia é questão atinente ao mérito propriamente dito, mas, se a resposta for positiva, oprazo do art. 103 não o abrange.2. Adesão desta Turma Recursal à orientação recente da Quinta Turma do STJ, no sentido de que “o prazo decadencialaplica-se nas situações em que o segurado visa à revisão do ato de concessão do benefício. A desaposentação nãoconsiste na revisão desse ato, mas no seu desfazimento, motivo pelo qual não se submete ao decurso de prazodecadencial para o seu exercício” (AgRg no REsp 1.270.481).

VII – A DESAPOSENTAÇÃO E A REAPOSENTAÇÃO NÃO ENCONTRAM RESPALDO NA LEI, MESMO QUE OSEGURADO SE DISPONHA A DEVOLVER TODOS OS VALORES JÁ RECEBIDOS A TÍTULO DE APOSENTADORIA.1. Orientação do Relator, Juiz Federal Iorio Siqueira D’Alessandri Forti, externada em voto vencido no recurso inominado2011.50.50.005300-0/01 (sessão da 1ª Turma Recursal de Vitória/ES em 28/06/2013), para quem a desaposentação esubseqüente reaposentação não são juridicamente viáveis sequer com a restituição dos valores recebidos pelo segurado,com amparo nos seguintes fundamentos:i) Inexistência de norma autorizando a pretensão em regra implica, nos atos vinculados, vedação, e não permissão. A cadanovo mês trabalhado por um segurado aposentado, corresponde o pagamento de uma nova contribuição, e eventualmenteele teria interesse em obter “nova aposentadoria melhorada” mensalmente, razão pela qual a falta de disciplina legalresultaria em situação caótica.ii) O simples fato de incidir contribuição sobre o salário de um segurado obrigatório que se encontra aposentado nãopermite concluir que, com base nos arts. 195, § 5º, e 201, § 11º, da CRFB/1988, alguma vantagem individualcorrespondente lhe seja devida (STF, RE 210.211, AI 724.582 AgR e ADI 3.105). Se a contribuição, com a significativaalíquota de 11%, for reputada excessiva ou sem causa válida, a conseqüência possível (em tese) é a inconstitucionalidade(total ou parcial) do tributo, nunca a majoração da aposentadoria sem expressa previsão em lei.iii) O tempo de contribuição ingressa no patrimônio do trabalhador mês a mês, e, satisfeitos os requisitos para a obtençãode benefício, considera-se direito adquirido, a ser utilizado quando o segurado considerar mais conveniente. Diante debifurcação, a ele cabe escolher qual caminho trilhar, sabendo que não há autorização legal para retornar: requererimediatamente a aposentadoria, gozando-a desde logo, por um período de vida mais longo, com valor “achatado” pelo fatorprevidenciário, ou permanecer mais tempo contribuindo, para ficar mais velho e obter um benefício maior. Uma vezexercido o direito de instar a Administração a agir, tem-se ato administrativo aperfeiçoado, protegido pelo art. 5º, XXXVI, daCRFB/1988. O tempo trabalhado e contribuído não deixou de integrar o patrimônio do segurado, mas já foi aproveitadointegralmente para uma finalidade, e não pode, portanto, ser aproveitado para outra.iv) É certo que o direito do aposentado às prestações mensais do benefício, apesar da natureza alimentar deste, ostentanatureza patrimonial e disponível. O segurado pode, a qualquer momento, renunciar ao recebimento de uma, várias outodas as prestações, com efeitos ex nunc, isto é, sem ter de devolver aquelas já recebidas, uma vez que não as recebeuindevidamente. Ocorre que o direito à aposentadoria em si, depois de adquirido, foi exercido por ato de vontade; com odeferimento pela Administração, tornou-se ato jurídico perfeito. A qualquer momento, cessando as razões de conveniênciae oportunidade que levaram o segurado a suspender por tempo indeterminado os efeitos do ato administrativo que oaposentou, poderá solicitar a reativação imediata do benefício: em se tratando de direito social fundamental, visando àgarantia da subsistência digna, a aposentadoria é irrenunciável. O interruptor pode ser desligado (e religado, também), nãoarrancado da parede.v) Pode-se renunciar às prestações da aposentadoria, sendo vedado – diante da falta de norma autorizadora – valer-sedessa renúncia para contornar uma (má) escolha feita no passado, mesmo com a disposição de ressarcir a Administraçãode todos os valores recebidos. No sentido da imutabilidade radical deste ato, votaram os Ministros Dias Toffoli, CármenLúcia, Ricardo Lewandowski e Gilmar Mendes no julgamento do RE 630.501, enquanto os demais Ministros consideraram oato passível de revisão apenas quando tivesse por fundamento a aquisição de direito a RMI melhor antes da data dorequerimento. Nas palavras do Juiz Federal Guilherme Beltrami, o que a parte autora pretende não é renunciar à

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aposentadoria – porque, em suma, renúncia é abandonar direitos e não reverter a statu quo ante com recuperação dotempo; o que ela pretende é como renunciar à propriedade de um bem e querer o dinheiro da aquisição de volta.vi) A pretensão de obter nova aposentadoria com base nas mesmas contribuições aproveitadas para a aposentadoriarenunciada encontra óbice no ato jurídico perfeito (art. 5º, XXXVI, da CRFB/1988), na falta de previsão legal expressa (arts.37, caput, e 201, caput e § 11, da CRFB/1988), e na vedação constante dos arts. 18, § 2º (segundo o qual as contribuiçõesvertidas pelo segurado aposentado não podem produzir efeito algum para a obtenção de outra aposentadoria, cabendo aele escolher prudentemente quando e como as usará) e 29, I, e § 7º, Lei 8.213/1991 (como a fixação da RMI considera aidade e a expectativa de sobrevida do segurado no momento do requerimento, conclui-se que, uma vez deferido, tem-se atoadministrativo cujos efeitos atrelam, de forma incindível, a quantidade de contribuições vertidas e o período futuro de vidado segurado). Logo, admitir a desaposentação e, logo depois, novo pedido de aposentadoria (com mais contribuições,idade mais elevada e, portanto, expectativa de sobrevida menor), a fim de obter benefício com RMI maior, constituiria burlaao fator previdenciário e ao seu objetivo de desestimular aposentadorias precoces.

VIII – Recurso do INSS conhecido e provido, para julgar improcedente o pedido formulado pela parte autora. Sem custasnem honorários, em razão do provimento do recurso.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, acordam os Juízes da 1ª Turma Recursaldos Juizados Especiais Federais da Seção Judiciária do Espírito Santo CONHECER DO RECURSO e, no mérito, DAR-LHEPROVIMENTO, na forma da ementa constante dos autos, que passa a integrar o presente julgado.

IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTIJuiz Federal – 3º Relator da 1ª Turma Recursal

80 - 0001066-44.2010.4.02.5053/01 (2010.50.53.001066-6/01) (PROCESSO ELETRÔNICO) ADEMIR DEVENS(ADVOGADO: WANESSA ALDRIGUES CANDIDO.) x INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS (PROCDOR:UBIRATAN CRUZ RODRIGUES.) x OS MESMOS.RECURSO Nº 0001066-44.2010.4.02.5053/01 (2010.50.53.001066-6/01)RECORRENTES: ADEMIR DEVENS e INSSRECORRIDOS: OS MESMOSRELATOR: JUIZ FEDERAL IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTI

EMENTA

PREVIDENCIÁRIO. PRETENSÃO DE DESAPOSENTAÇÃO SEGUIDA DE REAPOSENTAÇÃO. AUSÊNCIA DEPREVISÃO LEGAL. VIOLAÇÃO AO ATO JURÍDICO PERFEITO. CONTRARIEDADE A REGRAS EXPRESSAS DA LEI8.213/1991. IMPROCEDÊNCIA DO PEDIDO.

I – CARÁTER CONTRIBUTIVO E SOLIDÁRIO DA PREVIDÊNCIA SOCIAL.1. A aposentadoria é direito social (art. 7º, XXIV, da CRFB/1988).2. Para a integridade da Previdência Social, tanto o Regime Geral quanto o Regime dos servidores têm caráter contributivoe solidário, de filiação obrigatória, com a observância de critérios que preservem o equilíbrio financeiro e atuarial (arts. 40,caput, e 201, caput, da CRFB/1988).

II – OS ARTS. 195, § 5º, E 201, § 11, DA CRFB/188: A INSTITUIÇÃO OU MAJORAÇÃO DE CONTRIBUIÇÃO DEVEREFORÇAR O REGIME SOLIDÁRIO, SEM NECESSARIAMENTE IMPLICAR BENEFÍCIO INDIVIDUAL PARA OCONTRIBUINTE.1. O art. 195, § 5º, da CRFB/1988 (“Nenhum benefício ou serviço da seguridade social poderá ser criado, majorado ouestendido sem a correspondente fonte de custeio total”) é regra que visa ao equilíbrio financeiro e atuarial.2. A majoração da contribuição social, como qualquer tributo, depende, para a sua validade, de causa jurídica válida, e,portanto, demanda, em contrapartida, incremento no sistema previdenciário (STF, ADI 790, RE 183.906 e ADI-MC 2.010).3. Entretanto, a majoração da contribuição social previdenciária não necessariamente resultará em aumento dos benefíciose serviços a que cada segurado-contribuinte fará jus, cabendo à lei, na forma do art. 201, § 11 da CRFB/1988, disciplinar see como haverá reflexos: contribui-se solidariamente para a manutenção e expansão do sistema como um todo, e não paraprovisionar fundos única e exclusivamente em benefício próprio (STF, RE 210.211, AI 724.582 AgR e ADI 3.105).

III – FATOR PREVIDENCIÁRIO E DESINCENTIVO À APOSENTADORIA PRECOCE COMO TÉCNICA DE MANUTENÇÃODO EQUILÍBRIO DA PREVIDÊNCIA SOCIAL.1. No regime previdenciário dos servidores públicos, há idade mínima como requisito para a aposentadoria, paga-se abonode permanência a quem postergar a aposentadoria (art. 40, § 19, da CRFB/1988), e veda-se a acumulação de proventoscom vencimentos (salvo na hipótese do art. 37, § 10, da CRFB/1988).2. No RGPS, não há idade mínima como requisito para a aposentadoria, permite-se a acumulação de aposentadoria com aremuneração de emprego, o deferimento de aposentadoria não rescinde os contratos de trabalho (STF, ADI 1.721 e 1.770).Por outro lado, a Lei 9.876/1999 instituiu o fator previdenciário – cuja constitucionalidade foi reconhecida pelo STF (ADI-MC2.111) – no cálculo das aposentadorias por idade, por tempo de serviço e por tempo de contribuição, para assegurar oequilíbrio atuarial, de modo que os critérios “tempo de contribuição”, “idade” e “expectativa de sobrevida no momento daaposentadoria” tenham influência sobre o valor final do benefício.

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IV – DIREITO ADQUIRIDO AO BENEFÍCIO CUJOS REQUISITOS FORAM INTEGRALMENTE CUMPRIDOS.1. Com base no art. 5º, XXXVI, da CRFB/1988, o segurado tem direito a que seu benefício, quanto aos seus elementosessenciais, observe a lei em vigor no momento em que preencheu todos os requisitos para a sua aquisição,independentemente da data do requerimento administrativo (STF, RE 72.509 e Súmula 359). Assim, por exemplo, apensão por morte é regida pela lei em vigor na data do óbito do segurado-instituidor, não se aplicando a lei posterior, sejamais gravosa, seja mais benéfica (STF, RE 218.467, RE 273.570 e RE 415.454).2. O direito adquirido ao benefício não assegura a imutabilidade do seu regime jurídico (STF, RE 278.718, RE 575.089 e AI654.807), então, por exemplo, os segurados podem ser beneficiados pela alteração do valor-limite do benefício (STF, RE564.354) ou prejudicados pela instituição ou diminuição de prazos prescricionais ou decadenciais (STF, ADI-MC 1.715 e RE21.341).3. O segurado tem direito ao benefício mais vantajoso (aquele de maior RMI), considerando todos os fatores queinfluenciam em seu cálculo, desde a data em que o direito ao benefício ingressou em seu patrimônio (isto é, cumpriu todosos requisitos legais para a aquisição do direito) até o momento em que o direito é exercido (data do requerimentoadministrativo) (STF, RE 630.501). Cumpridos os requisitos mínimos (tempo de serviço e carência ou tempo decontribuição e idade, conforme o regime jurídico vigente à época), o segurado adquire o direito ao benefício, aquisição quenão se confunde com o seu exercício (neste sentido, o art. 102, § 1º, da Lei 8.213/1991, incluído pela Lei 9.528/1997, areconhecer que a perda da qualidade de segurado não prejudica o direito à aposentadoria para cuja concessão tenham sidopreenchidos todos os requisitos, segundo a legislação em vigor à época em que atendidos esses requisitos), daí porqueeventual modificação posterior nas circunstâncias de fato não suprime o direito já incorporado ao patrimônio do seu titular.Adquirido o direito à aposentação, o segurado pode optar por não exercê-lo de imediato, seja para fazer jus ao benefíciointegral (quando houve aquisição do direito apenas à aposentadoria proporcional), seja para melhorar o fator previdenciárioaplicável e computar as novas contribuições, e essa opção não pode prejudicá-lo, pois seria injurídico tolerar que a RMI dobenefício requerido posteriormente (em decorrência, por exemplo, da redução do salário-de-contribuição) fosse inferior àRMI do benefício que poderia já ter obtido. Conferiu-se interpretação extensiva ao art. 122 da Lei 8.213/1991 (“Se maisvantajoso, fica assegurado o direito à aposentadoria, nas condições legalmente previstas na data do cumprimento de todosos requisitos necessários à obtenção do benefício, ao segurado que, tendo completado 35 anos de serviço, se homem, outrinta anos, se mulher, optou por permanecer em atividade”) para assegurar não só o benefício mais vantajoso na data documprimento dos requisitos para a aposentadoria integral, como também para a aposentadoria proporcional adquirida, bemcomo em cada um dos meses posteriores à aquisição, até a data do exercício do direito pelo requerimento.4. Exercido o direito ao benefício, mediante requerimento de aposentadoria, o tempo de contribuição acumulado exauretodos os seus efeitos jurídicos, não podendo ser computado posteriormente para a aquisição de outros direitos.

V – “RENÚNCIA À APOSENTADORIA”: PRECEDENTES SOBRE DESAPOSENTAÇÃO.1. Há aposentados que retornam à atividade laboral como segurados obrigatórios, e posteriormente pleiteiam em juízo novocálculo de proventos, consideradas as contribuições de período referente a esse regresso, pretendendo afastar o art. 18, §2º, da Lei 8.213/1991 (“O aposentado pelo Regime Geral de Previdência Social - RGPS que permanecer em atividadesujeita a este Regime, ou a ele retornar, não fará jus a prestação alguma da Previdência Social em decorrência do exercíciodessa atividade, exceto ao salário-família e à reabilitação profissional, quando empregado.”) por considerá-lo incompatívelcom o art. 201, § 11, da CRFB/1988 (“Os ganhos habituais do empregado, a qualquer título, serão incorporados ao saláriopara efeito de contribuição previdenciária e conseqüente repercussão em benefícios, nos casos e na forma da lei.”).2. A jurisprudência admitia a renúncia à aposentadoria já obtida, com o aproveitamento do tempo de contribuição para obternova aposentadoria, desde que tal renúncia produzisse efeitos ex tunc (impondo a devolução integral das prestaçõespercebidas do INSS, para evitar enriquecimento ilícito do beneficiário) (TNU, PEDILEF 200872580041869; Enunciado 70das Turmas Recursais do Rio de Janeiro; Primeira Seção do TRF da 2ª Região, EIAC 201050010042326).3. A Primeira Seção do STJ assentou que “Os benefícios previdenciários são direitos patrimoniais disponíveis e, portanto,suscetíveis de desistência pelos seus titulares, prescindindo-se da devolução dos valores recebidos da aposentadoria a queo segurado deseja preterir para a concessão de novo e posterior jubilamento”. Conferiu interpretação ao art. 18, § 2º, da Lei8.213/1991 no sentido de que este não impede o segurado de retornar à atividade laboral e renunciar à aposentadoria deque está em gozo, nem de, em seguida, requerer novo benefício (reaposentação) que utilize os períodos contributivos doprimeiro somado aos períodos posteriores ao retorno à atividade laboral (RESP 1.334.488).

VI – A DESAPOSENTAÇÃO E A REAPOSENTAÇÃO NÃO ENCONTRAM RESPALDO NA LEI, MESMO QUE OSEGURADO SE DISPONHA A DEVOLVER TODOS OS VALORES JÁ RECEBIDOS A TÍTULO DE APOSENTADORIA.1. Orientação do Relator, Juiz Federal Iorio Siqueira D’Alessandri Forti, externada em voto vencido no recurso inominado2011.50.50.005300-0/01 (sessão da 1ª Turma Recursal de Vitória/ES em 28/06/2013), para quem a desaposentação esubseqüente reaposentação não são juridicamente viáveis sequer com a restituição dos valores recebidos pelo segurado,com amparo nos seguintes fundamentos:i) Inexistência de norma autorizando a pretensão em regra implica, nos atos vinculados, vedação, e não permissão. A cadanovo mês trabalhado por um segurado aposentado, corresponde o pagamento de uma nova contribuição, e eventualmenteele teria interesse em obter “nova aposentadoria melhorada” mensalmente, razão pela qual a falta de disciplina legalresultaria em situação caótica.ii) O simples fato de incidir contribuição sobre o salário de um segurado obrigatório que se encontra aposentado nãopermite concluir que, com base nos arts. 195, § 5º, e 201, § 11º, da CRFB/1988, alguma vantagem individualcorrespondente lhe seja devida (STF, RE 210.211, AI 724.582 AgR e ADI 3.105). Se a contribuição, com a significativaalíquota de 11%, for reputada excessiva ou sem causa válida, a conseqüência possível é a inconstitucionalidade dacontribuição, nunca a majoração da aposentadoria sem expressa previsão em lei.iii) O tempo de contribuição ingressa no patrimônio do trabalhador mês a mês, e, satisfeitos os requisitos para a obtenção

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de benefício, considera-se direito adquirido, a ser utilizado quando o segurado considerar mais conveniente. Diante debifurcação, a ele cabe escolher qual caminho trilhar, sabendo que não há autorização legal para retornar: requererimediatamente a aposentadoria, gozando-a desde logo, por um período de vida mais longo, com valor “achatado” pelo fatorprevidenciário, ou permanecer mais tempo contribuindo, para ficar mais velho e obter um benefício maior. Uma vezexercido o direito de instar a Administração a agir, tem-se ato administrativo aperfeiçoado, protegido pelo art. 5º, XXXVI, daCRFB/1988. O tempo trabalhado e contribuído não deixou de integrar o patrimônio do segurado, mas já foi aproveitadointegralmente para uma finalidade, e não pode, portanto, ser aproveitado para outra.iv) É certo que o direito do aposentado às prestações mensais do benefício, apesar da natureza alimentar deste, ostentanatureza patrimonial e disponível. O segurado pode, a qualquer momento, renunciar ao recebimento de uma, várias outodas as prestações, com efeitos ex nunc, isto é, sem ter de devolver aquelas já recebidas, uma vez que não as recebeuindevidamente. Ocorre que o direito à aposentadoria em si, após adquirido, foi exercido por ato de vontade; com odeferimento pela Administração, tornou-se ato jurídico perfeito. A qualquer momento, cessando as razões de conveniênciae oportunidade que levaram o segurado a suspender por tempo indeterminado os efeitos do ato administrativo que oaposentou, poderá solicitar a reativação imediata do benefício: em se tratando de direito social fundamental, visando àgarantia da subsistência digna, a aposentadoria é irrenunciável. O interruptor pode ser desligado (e religado, também), nãoarrancado da parede.v) Pode-se renunciar às prestações da aposentadoria, sendo vedado – diante da falta de norma autorizadora – valer-sedessa renúncia para contornar uma (má) escolha feita no passado, mesmo com a disposição de ressarcir a Administraçãode todos os valores recebidos. No sentido da imutabilidade radical deste ato, votaram os Ministros Dias Toffoli, CármenLúcia, Ricardo Lewandowski e Gilmar Mendes no julgamento do RE 630.501, enquanto os demais Ministros consideraram oato passível de revisão apenas quando tivesse por fundamento a aquisição de direito a RMI melhor antes da data dorequerimento. Nas palavras do Juiz Federal Guilherme Beltrami, o que a parte autora pretende não é renunciar àaposentadoria – porque, em suma, renúncia é abandonar direitos e não reverter a statu quo ante com recuperação dotempo; o que ela pretende é como renunciar à propriedade de um bem e querer o dinheiro da aquisição de volta.vi) O obstáculo à pretensão de obter nova aposentadoria com base nas mesmas contribuições aproveitadas para aaposentadoria a que renunciam decorre não só do ato jurídico perfeito (art. 5º, XXXVI, da CRFB/1988) e da falta deprevisão legal expressa (arts. 37, caput, e 201, caput e § 11, da CRFB/1988), como também de clara vedação prevista emnormas infraconstitucionais. O art. 18, § 2º, da Lei 8.213/1991 diz, por via transversa, que as contribuições vertidas pelosegurado aposentado não produzem efeito algum para a obtenção de outra aposentadoria, cabendo a ele escolherprudentemente quando e como as usará. O art. 29, I, e § 7º, também da Lei 8.213/1991, como a aposentadoria demanda,para a fixação da renda mensal inicial do benefício, o cômputo da idade e da expectativa de sobrevida do segurado nomomento do requerimento, conclui-se que, uma vez deferido, tem-se ato administrativo cujos efeitos atrelam, de formaincindível, a quantidade de contribuições vertidas e o período futuro de vida do segurado. Admitir a desaposentação e, logodepois, novo pedido de aposentadoria (com mais contribuições, idade mais elevada e, portanto, expectativa de sobrevidamenor), a fim de obter benefício com RMI maior, constituiria burla ao fator previdenciário e a seu objetivo de desestimularaposentadorias precoces.

VII – Ambos os recursos conhecidos e provido somente o recurso do INSS. Sem custas, na forma da lei. Sem condenaçãoem honorários advocatícios, ante a assistência judiciária gratuita e nos termos do art. 55, caput, da Lei 9.099/1995.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, acordam os Juízes da 1ª Turma Recursaldos Juizados Especiais Federais da Seção Judiciária do Espírito Santo CONHECER AMBOS OS RECURSOS e, no mérito,DAR-LHE PROVIMENTO SOMENTE AO RECURSO DO INSS, na forma da ementa constante dos autos, que passa aintegrar o presente julgado.

IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTIJuiz Federal – 3º Relator da 1ª Turma Recursal

81 - 0000485-58.2012.4.02.5053/01 (2012.50.53.000485-7/01) (PROCESSO ELETRÔNICO) DIRCEU DE BORTOLI(ADVOGADO: WANESSA ALDRIGUES CANDIDO.) x INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS (PROCDOR:UBIRATAN CRUZ RODRIGUES.).RECURSO Nº 0000485-58.2012.4.02.5053/01 (2012.50.53.000485-7/01)RECORRENTE: DIRCEU DE BORTOLIRECORRIDO: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSSRELATOR: JUIZ FEDERAL IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTI

EMENTA

PREVIDENCIÁRIO. PRETENSÃO DE DESAPOSENTAÇÃO SEGUIDA DE REAPOSENTAÇÃO. AUSÊNCIA DEPREVISÃO LEGAL. VIOLAÇÃO AO ATO JURÍDICO PERFEITO. CONTRARIEDADE A REGRAS EXPRESSAS DA LEI8.213/1991. IMPROCEDÊNCIA DO PEDIDO.

I – CARÁTER CONTRIBUTIVO E SOLIDÁRIO DA PREVIDÊNCIA SOCIAL.1. A aposentadoria é direito social (art. 7º, XXIV, da CRFB/1988).2. Para a integridade da Previdência Social, tanto o Regime Geral quanto o Regime dos servidores têm caráter contributivoe solidário, de filiação obrigatória, com a observância de critérios que preservem o equilíbrio financeiro e atuarial (arts. 40,

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caput, e 201, caput, da CRFB/1988).

II – OS ARTS. 195, § 5º, E 201, § 11, DA CRFB/188: A INSTITUIÇÃO OU MAJORAÇÃO DE CONTRIBUIÇÃO DEVEREFORÇAR O REGIME SOLIDÁRIO, SEM NECESSARIAMENTE IMPLICAR BENEFÍCIO INDIVIDUAL PARA OCONTRIBUINTE.1. O art. 195, § 5º, da CRFB/1988 (“Nenhum benefício ou serviço da seguridade social poderá ser criado, majorado ouestendido sem a correspondente fonte de custeio total”) é regra que visa ao equilíbrio financeiro e atuarial.2. A majoração da contribuição social, como qualquer tributo, depende, para a sua validade, de causa jurídica válida, e,portanto, demanda, em contrapartida, incremento no sistema previdenciário (STF, ADI 790, RE 183.906 e ADI-MC 2.010).3. Entretanto, a majoração da contribuição social previdenciária não necessariamente resultará em aumento dos benefíciose serviços a que cada segurado-contribuinte fará jus, cabendo à lei, na forma do art. 201, § 11 da CRFB/1988, disciplinar see como haverá reflexos: contribui-se solidariamente para a manutenção e expansão do sistema como um todo, e não paraprovisionar fundos única e exclusivamente em benefício próprio (STF, RE 210.211, AI 724.582 AgR e ADI 3.105).

III – FATOR PREVIDENCIÁRIO E DESINCENTIVO À APOSENTADORIA PRECOCE COMO TÉCNICA DE MANUTENÇÃODO EQUILÍBRIO DA PREVIDÊNCIA SOCIAL.1. No regime previdenciário dos servidores públicos, há idade mínima como requisito para a aposentadoria, paga-se abonode permanência a quem postergar a aposentadoria (art. 40, § 19, da CRFB/1988), e veda-se a acumulação de proventoscom vencimentos (salvo na hipótese do art. 37, § 10, da CRFB/1988).2. No RGPS, não há idade mínima como requisito para a aposentadoria, permite-se a acumulação de aposentadoria com aremuneração de emprego, o deferimento de aposentadoria não rescinde os contratos de trabalho (STF, ADI 1.721 e 1.770).Por outro lado, a Lei 9.876/1999 instituiu o fator previdenciário – cuja constitucionalidade foi reconhecida pelo STF (ADI-MC2.111) – no cálculo das aposentadorias por idade, por tempo de serviço e por tempo de contribuição, para assegurar oequilíbrio atuarial, de modo que os critérios “tempo de contribuição”, “idade” e “expectativa de sobrevida no momento daaposentadoria” tenham influência sobre o valor final do benefício.

IV – DIREITO ADQUIRIDO AO BENEFÍCIO CUJOS REQUISITOS FORAM INTEGRALMENTE CUMPRIDOS.1. Com base no art. 5º, XXXVI, da CRFB/1988, o segurado tem direito a que seu benefício, quanto aos seus elementosessenciais, observe a lei em vigor no momento em que preencheu todos os requisitos para a sua aquisição,independentemente da data do requerimento administrativo (STF, RE 72.509 e Súmula 359). Assim, por exemplo, apensão por morte é regida pela lei em vigor na data do óbito do segurado-instituidor, não se aplicando a lei posterior, sejamais gravosa, seja mais benéfica (STF, RE 218.467, RE 273.570 e RE 415.454).2. O direito adquirido ao benefício não assegura a imutabilidade do seu regime jurídico (STF, RE 278.718, RE 575.089 e AI654.807), então, por exemplo, os segurados podem ser beneficiados pela alteração do valor-limite do benefício (STF, RE564.354) ou prejudicados pela instituição ou diminuição de prazos prescricionais ou decadenciais (STF, ADI-MC 1.715 e RE21.341).3. O segurado tem direito ao benefício mais vantajoso (aquele de maior RMI), considerando todos os fatores queinfluenciam em seu cálculo, desde a data em que o direito ao benefício ingressou em seu patrimônio (isto é, cumpriu todosos requisitos legais para a aquisição do direito) até o momento em que o direito é exercido (data do requerimentoadministrativo) (STF, RE 630.501). Cumpridos os requisitos mínimos (tempo de serviço e carência ou tempo decontribuição e idade, conforme o regime jurídico vigente à época), o segurado adquire o direito ao benefício, aquisição quenão se confunde com o seu exercício (neste sentido, o art. 102, § 1º, da Lei 8.213/1991, incluído pela Lei 9.528/1997, areconhecer que a perda da qualidade de segurado não prejudica o direito à aposentadoria para cuja concessão tenham sidopreenchidos todos os requisitos, segundo a legislação em vigor à época em que atendidos esses requisitos), daí porqueeventual modificação posterior nas circunstâncias de fato não suprime o direito já incorporado ao patrimônio do seu titular.Adquirido o direito à aposentação, o segurado pode optar por não exercê-lo de imediato, seja para fazer jus ao benefíciointegral (quando houve aquisição do direito apenas à aposentadoria proporcional), seja para melhorar o fator previdenciárioaplicável e computar as novas contribuições, e essa opção não pode prejudicá-lo, pois seria injurídico tolerar que a RMI dobenefício requerido posteriormente (em decorrência, por exemplo, da redução do salário-de-contribuição) fosse inferior àRMI do benefício que poderia já ter obtido. Conferiu-se interpretação extensiva ao art. 122 da Lei 8.213/1991 (“Se maisvantajoso, fica assegurado o direito à aposentadoria, nas condições legalmente previstas na data do cumprimento de todosos requisitos necessários à obtenção do benefício, ao segurado que, tendo completado 35 anos de serviço, se homem, outrinta anos, se mulher, optou por permanecer em atividade”) para assegurar não só o benefício mais vantajoso na data documprimento dos requisitos para a aposentadoria integral, como também para a aposentadoria proporcional adquirida, bemcomo em cada um dos meses posteriores à aquisição, até a data do exercício do direito pelo requerimento.4. Exercido o direito ao benefício, mediante requerimento de aposentadoria, o tempo de contribuição acumulado exauretodos os seus efeitos jurídicos, não podendo ser computado posteriormente para a aquisição de outros direitos.

V – “RENÚNCIA À APOSENTADORIA”: PRECEDENTES SOBRE DESAPOSENTAÇÃO.1. Há aposentados que retornam à atividade laboral como segurados obrigatórios, e posteriormente pleiteiam em juízo novocálculo de proventos, consideradas as contribuições de período referente a esse regresso, pretendendo afastar o art. 18, §2º, da Lei 8.213/1991 (“O aposentado pelo Regime Geral de Previdência Social - RGPS que permanecer em atividadesujeita a este Regime, ou a ele retornar, não fará jus a prestação alguma da Previdência Social em decorrência do exercíciodessa atividade, exceto ao salário-família e à reabilitação profissional, quando empregado.”) por considerá-lo incompatívelcom o art. 201, § 11, da CRFB/1988 (“Os ganhos habituais do empregado, a qualquer título, serão incorporados ao saláriopara efeito de contribuição previdenciária e conseqüente repercussão em benefícios, nos casos e na forma da lei.”).2. A jurisprudência admitia a renúncia à aposentadoria já obtida, com o aproveitamento do tempo de contribuição para obternova aposentadoria, desde que tal renúncia produzisse efeitos ex tunc (impondo a devolução integral das prestações

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percebidas do INSS, para evitar enriquecimento ilícito do beneficiário) (TNU, PEDILEF 200872580041869; Enunciado 70das Turmas Recursais do Rio de Janeiro; Primeira Seção do TRF da 2ª Região, EIAC 201050010042326).3. A Primeira Seção do STJ assentou que “Os benefícios previdenciários são direitos patrimoniais disponíveis e, portanto,suscetíveis de desistência pelos seus titulares, prescindindo-se da devolução dos valores recebidos da aposentadoria a queo segurado deseja preterir para a concessão de novo e posterior jubilamento”. Conferiu interpretação ao art. 18, § 2º, da Lei8.213/1991 no sentido de que este não impede o segurado de retornar à atividade laboral e renunciar à aposentadoria deque está em gozo, nem de, em seguida, requerer novo benefício (reaposentação) que utilize os períodos contributivos doprimeiro somado aos períodos posteriores ao retorno à atividade laboral (RESP 1.334.488).

VI – A DESAPOSENTAÇÃO E A REAPOSENTAÇÃO NÃO ENCONTRAM RESPALDO NA LEI, MESMO QUE OSEGURADO SE DISPONHA A DEVOLVER TODOS OS VALORES JÁ RECEBIDOS A TÍTULO DE APOSENTADORIA.1. Orientação do Relator, Juiz Federal Iorio Siqueira D’Alessandri Forti, externada em voto vencido no recurso inominado2011.50.50.005300-0/01 (sessão da 1ª Turma Recursal de Vitória/ES em 28/06/2013), para quem a desaposentação esubseqüente reaposentação não são juridicamente viáveis sequer com a restituição dos valores recebidos pelo segurado,com amparo nos seguintes fundamentos:i) Inexistência de norma autorizando a pretensão em regra implica, nos atos vinculados, vedação, e não permissão. A cadanovo mês trabalhado por um segurado aposentado, corresponde o pagamento de uma nova contribuição, e eventualmenteele teria interesse em obter “nova aposentadoria melhorada” mensalmente, razão pela qual a falta de disciplina legalresultaria em situação caótica.ii) O simples fato de incidir contribuição sobre o salário de um segurado obrigatório que se encontra aposentado nãopermite concluir que, com base nos arts. 195, § 5º, e 201, § 11º, da CRFB/1988, alguma vantagem individualcorrespondente lhe seja devida (STF, RE 210.211, AI 724.582 AgR e ADI 3.105). Se a contribuição, com a significativaalíquota de 11%, for reputada excessiva ou sem causa válida, a conseqüência possível é a inconstitucionalidade dacontribuição, nunca a majoração da aposentadoria sem expressa previsão em lei.iii) O tempo de contribuição ingressa no patrimônio do trabalhador mês a mês, e, satisfeitos os requisitos para a obtençãode benefício, considera-se direito adquirido, a ser utilizado quando o segurado considerar mais conveniente. Diante debifurcação, a ele cabe escolher qual caminho trilhar, sabendo que não há autorização legal para retornar: requererimediatamente a aposentadoria, gozando-a desde logo, por um período de vida mais longo, com valor “achatado” pelo fatorprevidenciário, ou permanecer mais tempo contribuindo, para ficar mais velho e obter um benefício maior. Uma vezexercido o direito de instar a Administração a agir, tem-se ato administrativo aperfeiçoado, protegido pelo art. 5º, XXXVI, daCRFB/1988. O tempo trabalhado e contribuído não deixou de integrar o patrimônio do segurado, mas já foi aproveitadointegralmente para uma finalidade, e não pode, portanto, ser aproveitado para outra.iv) É certo que o direito do aposentado às prestações mensais do benefício, apesar da natureza alimentar deste, ostentanatureza patrimonial e disponível. O segurado pode, a qualquer momento, renunciar ao recebimento de uma, várias outodas as prestações, com efeitos ex nunc, isto é, sem ter de devolver aquelas já recebidas, uma vez que não as recebeuindevidamente. Ocorre que o direito à aposentadoria em si, após adquirido, foi exercido por ato de vontade; com odeferimento pela Administração, tornou-se ato jurídico perfeito. A qualquer momento, cessando as razões de conveniênciae oportunidade que levaram o segurado a suspender por tempo indeterminado os efeitos do ato administrativo que oaposentou, poderá solicitar a reativação imediata do benefício: em se tratando de direito social fundamental, visando àgarantia da subsistência digna, a aposentadoria é irrenunciável. O interruptor pode ser desligado (e religado, também), nãoarrancado da parede.v) Pode-se renunciar às prestações da aposentadoria, sendo vedado – diante da falta de norma autorizadora – valer-sedessa renúncia para contornar uma (má) escolha feita no passado, mesmo com a disposição de ressarcir a Administraçãode todos os valores recebidos. No sentido da imutabilidade radical deste ato, votaram os Ministros Dias Toffoli, CármenLúcia, Ricardo Lewandowski e Gilmar Mendes no julgamento do RE 630.501, enquanto os demais Ministros consideraram oato passível de revisão apenas quando tivesse por fundamento a aquisição de direito a RMI melhor antes da data dorequerimento. Nas palavras do Juiz Federal Guilherme Beltrami, o que a parte autora pretende não é renunciar àaposentadoria – porque, em suma, renúncia é abandonar direitos e não reverter a statu quo ante com recuperação dotempo; o que ela pretende é como renunciar à propriedade de um bem e querer o dinheiro da aquisição de volta.vi) O obstáculo à pretensão de obter nova aposentadoria com base nas mesmas contribuições aproveitadas para aaposentadoria a que renunciam decorre não só do ato jurídico perfeito (art. 5º, XXXVI, da CRFB/1988) e da falta deprevisão legal expressa (arts. 37, caput, e 201, caput e § 11, da CRFB/1988), como também de clara vedação prevista emnormas infraconstitucionais. O art. 18, § 2º, da Lei 8.213/1991 diz, por via transversa, que as contribuições vertidas pelosegurado aposentado não produzem efeito algum para a obtenção de outra aposentadoria, cabendo a ele escolherprudentemente quando e como as usará. O art. 29, I, e § 7º, também da Lei 8.213/1991, como a aposentadoria demanda,para a fixação da renda mensal inicial do benefício, o cômputo da idade e da expectativa de sobrevida do segurado nomomento do requerimento, conclui-se que, uma vez deferido, tem-se ato administrativo cujos efeitos atrelam, de formaincindível, a quantidade de contribuições vertidas e o período futuro de vida do segurado. Admitir a desaposentação e, logodepois, novo pedido de aposentadoria (com mais contribuições, idade mais elevada e, portanto, expectativa de sobrevidamenor), a fim de obter benefício com RMI maior, constituiria burla ao fator previdenciário e a seu objetivo de desestimularaposentadorias precoces.

VII – Recurso da parte autora conhecido e desprovido. Sem custas nem honorários, em razão da assistência judiciáriagratuita.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, acordam os Juízes da 1ª Turma Recursal

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dos Juizados Especiais Federais da Seção Judiciária do Espírito Santo CONHECER DO RECURSO e, no mérito,NEGAR-LHE PROVIMENTO, na forma da ementa constante dos autos, que passa a integrar o presente julgado.

IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTIJuiz Federal – 3º Relator da 1ª Turma Recursal

82 - 0004365-38.2010.4.02.5050/01 (2010.50.50.004365-7/01) (PROCESSO ELETRÔNICO) INSTITUTO NACIONAL DOSEGURO SOCIAL - INSS (PROCDOR: ANA PAULA BARRETO MONTEIRO ROTHEN.) x PAULO ROBERTO COAN(ADVOGADO: VANESSA SOARES JABUR, FELIPE ZANOTTI BRUMATTI.).RECURSO Nº 0004365-38.2010.4.02.5050/01 (2010.50.50.004365-7/01)RECORRENTE: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSSRECORRIDO: PAULO ROBERTO COANRELATOR: JUIZ FEDERAL IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTI

EMENTA

PREVIDENCIÁRIO. PRETENSÃO DE DESAPOSENTAÇÃO SEGUIDA DE REAPOSENTAÇÃO. AUSÊNCIA DEPREVISÃO LEGAL. VIOLAÇÃO AO ATO JURÍDICO PERFEITO. CONTRARIEDADE A REGRAS EXPRESSAS DA LEI8.213/1991. IMPROCEDÊNCIA DO PEDIDO.

I – CARÁTER CONTRIBUTIVO E SOLIDÁRIO DA PREVIDÊNCIA SOCIAL.1. A aposentadoria é direito social (art. 7º, XXIV, da CRFB/1988).2. Para a integridade da Previdência Social, tanto o Regime Geral quanto o Regime dos servidores têm caráter contributivoe solidário, de filiação obrigatória, com a observância de critérios que preservem o equilíbrio financeiro e atuarial (arts. 40,caput, e 201, caput, da CRFB/1988).

II – OS ARTS. 195, § 5º, E 201, § 11, DA CRFB/188: A INSTITUIÇÃO OU MAJORAÇÃO DE CONTRIBUIÇÃO DEVEREFORÇAR O REGIME SOLIDÁRIO, SEM NECESSARIAMENTE IMPLICAR BENEFÍCIO INDIVIDUAL PARA OCONTRIBUINTE.1. O art. 195, § 5º, da CRFB/1988 (“Nenhum benefício ou serviço da seguridade social poderá ser criado, majorado ouestendido sem a correspondente fonte de custeio total”) é regra que visa ao equilíbrio financeiro e atuarial.2. A majoração da contribuição social, como qualquer tributo, depende, para a sua validade, de causa jurídica válida, e,portanto, demanda, em contrapartida, incremento no sistema previdenciário (STF, ADI 790, RE 183.906 e ADI-MC 2.010).3. Entretanto, a majoração da contribuição social previdenciária não necessariamente resultará em aumento dos benefíciose serviços a que cada segurado-contribuinte fará jus, cabendo à lei, na forma do art. 201, § 11 da CRFB/1988, disciplinar see como haverá reflexos: contribui-se solidariamente para a manutenção e expansão do sistema como um todo, e não paraprovisionar fundos única e exclusivamente em benefício próprio (STF, RE 210.211, AI 724.582 AgR e ADI 3.105).

III – FATOR PREVIDENCIÁRIO E DESINCENTIVO À APOSENTADORIA PRECOCE COMO TÉCNICA DE MANUTENÇÃODO EQUILÍBRIO DA PREVIDÊNCIA SOCIAL.1. No regime previdenciário dos servidores públicos, há idade mínima como requisito para a aposentadoria, paga-se abonode permanência a quem postergar a aposentadoria (art. 40, § 19, da CRFB/1988), e veda-se a acumulação de proventoscom vencimentos (salvo na hipótese do art. 37, § 10, da CRFB/1988).2. No RGPS, não há idade mínima como requisito para a aposentadoria, permite-se a acumulação de aposentadoria com aremuneração de emprego, o deferimento de aposentadoria não rescinde os contratos de trabalho (STF, ADI 1.721 e 1.770).Por outro lado, a Lei 9.876/1999 instituiu o fator previdenciário – cuja constitucionalidade foi reconhecida pelo STF (ADI-MC2.111) – no cálculo das aposentadorias por idade, por tempo de serviço e por tempo de contribuição, para assegurar oequilíbrio atuarial, de modo que os critérios “tempo de contribuição”, “idade” e “expectativa de sobrevida no momento daaposentadoria” tenham influência sobre o valor final do benefício.

IV – DIREITO ADQUIRIDO AO BENEFÍCIO CUJOS REQUISITOS FORAM INTEGRALMENTE CUMPRIDOS.1. Com base no art. 5º, XXXVI, da CRFB/1988, o segurado tem direito a que seu benefício, quanto aos seus elementosessenciais, observe a lei em vigor no momento em que preencheu todos os requisitos para a sua aquisição,independentemente da data do requerimento administrativo (STF, RE 72.509 e Súmula 359). Assim, por exemplo, apensão por morte é regida pela lei em vigor na data do óbito do segurado-instituidor, não se aplicando a lei posterior, sejamais gravosa, seja mais benéfica (STF, RE 218.467, RE 273.570 e RE 415.454).2. O direito adquirido ao benefício não assegura a imutabilidade do seu regime jurídico (STF, RE 278.718, RE 575.089 e AI654.807), então, por exemplo, os segurados podem ser beneficiados pela alteração do valor-limite do benefício (STF, RE564.354) ou prejudicados pela instituição ou diminuição de prazos prescricionais ou decadenciais (STF, ADI-MC 1.715 e RE21.341).3. O segurado tem direito ao benefício mais vantajoso (aquele de maior RMI), considerando todos os fatores queinfluenciam em seu cálculo, desde a data em que o direito ao benefício ingressou em seu patrimônio (isto é, cumpriu todosos requisitos legais para a aquisição do direito) até o momento em que o direito é exercido (data do requerimentoadministrativo) (STF, RE 630.501). Cumpridos os requisitos mínimos (tempo de serviço e carência ou tempo decontribuição e idade, conforme o regime jurídico vigente à época), o segurado adquire o direito ao benefício, aquisição quenão se confunde com o seu exercício (neste sentido, o art. 102, § 1º, da Lei 8.213/1991, incluído pela Lei 9.528/1997, areconhecer que a perda da qualidade de segurado não prejudica o direito à aposentadoria para cuja concessão tenham sidopreenchidos todos os requisitos, segundo a legislação em vigor à época em que atendidos esses requisitos), daí porque

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eventual modificação posterior nas circunstâncias de fato não suprime o direito já incorporado ao patrimônio do seu titular.Adquirido o direito à aposentação, o segurado pode optar por não exercê-lo de imediato, seja para fazer jus ao benefíciointegral (quando houve aquisição do direito apenas à aposentadoria proporcional), seja para melhorar o fator previdenciárioaplicável e computar as novas contribuições, e essa opção não pode prejudicá-lo, pois seria injurídico tolerar que a RMI dobenefício requerido posteriormente (em decorrência, por exemplo, da redução do salário-de-contribuição) fosse inferior àRMI do benefício que poderia já ter obtido. Conferiu-se interpretação extensiva ao art. 122 da Lei 8.213/1991 (“Se maisvantajoso, fica assegurado o direito à aposentadoria, nas condições legalmente previstas na data do cumprimento de todosos requisitos necessários à obtenção do benefício, ao segurado que, tendo completado 35 anos de serviço, se homem, outrinta anos, se mulher, optou por permanecer em atividade”) para assegurar não só o benefício mais vantajoso na data documprimento dos requisitos para a aposentadoria integral, como também para a aposentadoria proporcional adquirida, bemcomo em cada um dos meses posteriores à aquisição, até a data do exercício do direito pelo requerimento.4. Exercido o direito ao benefício, mediante requerimento de aposentadoria, o tempo de contribuição acumulado exauretodos os seus efeitos jurídicos, não podendo ser computado posteriormente para a aquisição de outros direitos.

V – “RENÚNCIA À APOSENTADORIA”: PRECEDENTES SOBRE DESAPOSENTAÇÃO.1. Há aposentados que retornam à atividade laboral como segurados obrigatórios, e posteriormente pleiteiam em juízo novocálculo de proventos, consideradas as contribuições de período referente a esse regresso, pretendendo afastar o art. 18, §2º, da Lei 8.213/1991 (“O aposentado pelo Regime Geral de Previdência Social - RGPS que permanecer em atividadesujeita a este Regime, ou a ele retornar, não fará jus a prestação alguma da Previdência Social em decorrência do exercíciodessa atividade, exceto ao salário-família e à reabilitação profissional, quando empregado.”) por considerá-lo incompatívelcom o art. 201, § 11, da CRFB/1988 (“Os ganhos habituais do empregado, a qualquer título, serão incorporados ao saláriopara efeito de contribuição previdenciária e conseqüente repercussão em benefícios, nos casos e na forma da lei.”).2. A jurisprudência admitia a renúncia à aposentadoria já obtida, com o aproveitamento do tempo de contribuição para obternova aposentadoria, desde que tal renúncia produzisse efeitos ex tunc (impondo a devolução integral das prestaçõespercebidas do INSS, para evitar enriquecimento ilícito do beneficiário) (TNU, PEDILEF 200872580041869; Enunciado 70das Turmas Recursais do Rio de Janeiro; Primeira Seção do TRF da 2ª Região, EIAC 201050010042326).3. A Primeira Seção do STJ assentou que “Os benefícios previdenciários são direitos patrimoniais disponíveis e, portanto,suscetíveis de desistência pelos seus titulares, prescindindo-se da devolução dos valores recebidos da aposentadoria a queo segurado deseja preterir para a concessão de novo e posterior jubilamento”. Conferiu interpretação ao art. 18, § 2º, da Lei8.213/1991 no sentido de que este não impede o segurado de retornar à atividade laboral e renunciar à aposentadoria deque está em gozo, nem de, em seguida, requerer novo benefício (reaposentação) que utilize os períodos contributivos doprimeiro somado aos períodos posteriores ao retorno à atividade laboral (RESP 1.334.488).

VI – A DESAPOSENTAÇÃO E A REAPOSENTAÇÃO NÃO ENCONTRAM RESPALDO NA LEI, MESMO QUE OSEGURADO SE DISPONHA A DEVOLVER TODOS OS VALORES JÁ RECEBIDOS A TÍTULO DE APOSENTADORIA.1. Orientação do Relator, Juiz Federal Iorio Siqueira D’Alessandri Forti, externada em voto vencido no recurso inominado2011.50.50.005300-0/01 (sessão da 1ª Turma Recursal de Vitória/ES em 28/06/2013), para quem a desaposentação esubseqüente reaposentação não são juridicamente viáveis sequer com a restituição dos valores recebidos pelo segurado,com amparo nos seguintes fundamentos:i) Inexistência de norma autorizando a pretensão em regra implica, nos atos vinculados, vedação, e não permissão. A cadanovo mês trabalhado por um segurado aposentado, corresponde o pagamento de uma nova contribuição, e eventualmenteele teria interesse em obter “nova aposentadoria melhorada” mensalmente, razão pela qual a falta de disciplina legalresultaria em situação caótica.ii) O simples fato de incidir contribuição sobre o salário de um segurado obrigatório que se encontra aposentado nãopermite concluir que, com base nos arts. 195, § 5º, e 201, § 11º, da CRFB/1988, alguma vantagem individualcorrespondente lhe seja devida (STF, RE 210.211, AI 724.582 AgR e ADI 3.105). Se a contribuição, com a significativaalíquota de 11%, for reputada excessiva ou sem causa válida, a conseqüência possível é a inconstitucionalidade dacontribuição, nunca a majoração da aposentadoria sem expressa previsão em lei.iii) O tempo de contribuição ingressa no patrimônio do trabalhador mês a mês, e, satisfeitos os requisitos para a obtençãode benefício, considera-se direito adquirido, a ser utilizado quando o segurado considerar mais conveniente. Diante debifurcação, a ele cabe escolher qual caminho trilhar, sabendo que não há autorização legal para retornar: requererimediatamente a aposentadoria, gozando-a desde logo, por um período de vida mais longo, com valor “achatado” pelo fatorprevidenciário, ou permanecer mais tempo contribuindo, para ficar mais velho e obter um benefício maior. Uma vezexercido o direito de instar a Administração a agir, tem-se ato administrativo aperfeiçoado, protegido pelo art. 5º, XXXVI, daCRFB/1988. O tempo trabalhado e contribuído não deixou de integrar o patrimônio do segurado, mas já foi aproveitadointegralmente para uma finalidade, e não pode, portanto, ser aproveitado para outra.iv) É certo que o direito do aposentado às prestações mensais do benefício, apesar da natureza alimentar deste, ostentanatureza patrimonial e disponível. O segurado pode, a qualquer momento, renunciar ao recebimento de uma, várias outodas as prestações, com efeitos ex nunc, isto é, sem ter de devolver aquelas já recebidas, uma vez que não as recebeuindevidamente. Ocorre que o direito à aposentadoria em si, após adquirido, foi exercido por ato de vontade; com odeferimento pela Administração, tornou-se ato jurídico perfeito. A qualquer momento, cessando as razões de conveniênciae oportunidade que levaram o segurado a suspender por tempo indeterminado os efeitos do ato administrativo que oaposentou, poderá solicitar a reativação imediata do benefício: em se tratando de direito social fundamental, visando àgarantia da subsistência digna, a aposentadoria é irrenunciável. O interruptor pode ser desligado (e religado, também), nãoarrancado da parede.v) Pode-se renunciar às prestações da aposentadoria, sendo vedado – diante da falta de norma autorizadora – valer-sedessa renúncia para contornar uma (má) escolha feita no passado, mesmo com a disposição de ressarcir a Administraçãode todos os valores recebidos. No sentido da imutabilidade radical deste ato, votaram os Ministros Dias Toffoli, Cármen

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Lúcia, Ricardo Lewandowski e Gilmar Mendes no julgamento do RE 630.501, enquanto os demais Ministros consideraram oato passível de revisão apenas quando tivesse por fundamento a aquisição de direito a RMI melhor antes da data dorequerimento. Nas palavras do Juiz Federal Guilherme Beltrami, o que a parte autora pretende não é renunciar àaposentadoria – porque, em suma, renúncia é abandonar direitos e não reverter a statu quo ante com recuperação dotempo; o que ela pretende é como renunciar à propriedade de um bem e querer o dinheiro da aquisição de volta.vi) O obstáculo à pretensão de obter nova aposentadoria com base nas mesmas contribuições aproveitadas para aaposentadoria a que renunciam decorre não só do ato jurídico perfeito (art. 5º, XXXVI, da CRFB/1988) e da falta deprevisão legal expressa (arts. 37, caput, e 201, caput e § 11, da CRFB/1988), como também de clara vedação prevista emnormas infraconstitucionais. O art. 18, § 2º, da Lei 8.213/1991 diz, por via transversa, que as contribuições vertidas pelosegurado aposentado não produzem efeito algum para a obtenção de outra aposentadoria, cabendo a ele escolherprudentemente quando e como as usará. O art. 29, I, e § 7º, também da Lei 8.213/1991, como a aposentadoria demanda,para a fixação da renda mensal inicial do benefício, o cômputo da idade e da expectativa de sobrevida do segurado nomomento do requerimento, conclui-se que, uma vez deferido, tem-se ato administrativo cujos efeitos atrelam, de formaincindível, a quantidade de contribuições vertidas e o período futuro de vida do segurado. Admitir a desaposentação e, logodepois, novo pedido de aposentadoria (com mais contribuições, idade mais elevada e, portanto, expectativa de sobrevidamenor), a fim de obter benefício com RMI maior, constituiria burla ao fator previdenciário e a seu objetivo de desestimularaposentadorias precoces.

VII – Recurso do INSS conhecido e provido, para julgar improcedente o pedido formulado pela parte autora. Sem custasnem honorários, em razão do provimento do recurso.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, acordam os Juízes da 1ª Turma Recursaldos Juizados Especiais Federais da Seção Judiciária do Espírito Santo CONHECER DO RECURSO e, no mérito, DAR-LHEPROVIMENTO, na forma da ementa constante dos autos, que passa a integrar o presente julgado.

IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTIJuiz Federal – 3º Relator da 1ª Turma Recursal

83 - 0004713-04.2013.4.02.5001/01 (2013.50.01.004713-1/01) (PROCESSO ELETRÔNICO) INSTITUTO NACIONAL DOSEGURO SOCIAL - INSS (PROCDOR: ANA PAULA BARRETO MONTEIRO ROTHEN.) x MARIA TERESA FRIZERA(ADVOGADO: MÁRCIO LUIZ LAGE VIEIRA, RODRIGO MARIANO TRARBACH.).RECURSO Nº 0004713-04.2013.4.02.5001/01 (2013.50.01.004713-1/01)RECORRENTE: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSSRECORRIDO: MARIA TERESA FRIZERARELATOR: JUIZ FEDERAL IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTI

EMENTA

PREVIDENCIÁRIO. PRETENSÃO DE DESAPOSENTAÇÃO SEGUIDA DE REAPOSENTAÇÃO. AUSÊNCIA DEPREVISÃO LEGAL. VIOLAÇÃO AO ATO JURÍDICO PERFEITO. CONTRARIEDADE A REGRAS EXPRESSAS DA LEI8.213/1991. IMPROCEDÊNCIA DO PEDIDO.

I – CARÁTER CONTRIBUTIVO E SOLIDÁRIO DA PREVIDÊNCIA SOCIAL.1. A aposentadoria é direito social (art. 7º, XXIV, da CRFB/1988).2. Para a integridade da Previdência Social, tanto o Regime Geral quanto o Regime dos servidores têm caráter contributivoe solidário, de filiação obrigatória, com a observância de critérios que preservem o equilíbrio financeiro e atuarial (arts. 40,caput, e 201, caput, da CRFB/1988).

II – OS ARTS. 195, § 5º, E 201, § 11, DA CRFB/188: A INSTITUIÇÃO OU MAJORAÇÃO DE CONTRIBUIÇÃO DEVEREFORÇAR O REGIME SOLIDÁRIO, SEM NECESSARIAMENTE IMPLICAR BENEFÍCIO INDIVIDUAL PARA OCONTRIBUINTE.1. O art. 195, § 5º, da CRFB/1988 (“Nenhum benefício ou serviço da seguridade social poderá ser criado, majorado ouestendido sem a correspondente fonte de custeio total”) é regra que visa ao equilíbrio financeiro e atuarial.2. A majoração da contribuição social, como qualquer tributo, depende, para a sua validade, de causa jurídica válida, e,portanto, demanda, em contrapartida, incremento no sistema previdenciário (STF, ADI 790, RE 183.906 e ADI-MC 2.010).3. Entretanto, a majoração da contribuição social previdenciária não necessariamente resultará em aumento dos benefíciose serviços a que cada segurado-contribuinte fará jus, cabendo à lei, na forma do art. 201, § 11 da CRFB/1988, disciplinar see como haverá reflexos: contribui-se solidariamente para a manutenção e expansão do sistema como um todo, e não paraprovisionar fundos única e exclusivamente em benefício próprio (STF, RE 210.211, AI 724.582 AgR e ADI 3.105).

III – FATOR PREVIDENCIÁRIO E DESINCENTIVO À APOSENTADORIA PRECOCE COMO TÉCNICA DE MANUTENÇÃODO EQUILÍBRIO DA PREVIDÊNCIA SOCIAL.1. No regime previdenciário dos servidores públicos, há idade mínima como requisito para a aposentadoria, paga-se abonode permanência a quem postergar a aposentadoria (art. 40, § 19, da CRFB/1988), e veda-se a acumulação de proventoscom vencimentos (salvo na hipótese do art. 37, § 10, da CRFB/1988).2. No RGPS, não há idade mínima como requisito para a aposentadoria, permite-se a acumulação de aposentadoria com a

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remuneração de emprego, o deferimento de aposentadoria não rescinde os contratos de trabalho (STF, ADI 1.721 e 1.770).Por outro lado, a Lei 9.876/1999 instituiu o fator previdenciário – cuja constitucionalidade foi reconhecida pelo STF (ADI-MC2.111) – no cálculo das aposentadorias por idade, por tempo de serviço e por tempo de contribuição, para assegurar oequilíbrio atuarial, de modo que os critérios “tempo de contribuição”, “idade” e “expectativa de sobrevida no momento daaposentadoria” tenham influência sobre o valor final do benefício.

IV – DIREITO ADQUIRIDO AO BENEFÍCIO CUJOS REQUISITOS FORAM INTEGRALMENTE CUMPRIDOS.1. Com base no art. 5º, XXXVI, da CRFB/1988, o segurado tem direito a que seu benefício, quanto aos seus elementosessenciais, observe a lei em vigor no momento em que preencheu todos os requisitos para a sua aquisição,independentemente da data do requerimento administrativo (STF, RE 72.509 e Súmula 359). Assim, por exemplo, apensão por morte é regida pela lei em vigor na data do óbito do segurado-instituidor, não se aplicando a lei posterior, sejamais gravosa, seja mais benéfica (STF, RE 218.467, RE 273.570 e RE 415.454).2. O direito adquirido ao benefício não assegura a imutabilidade do seu regime jurídico (STF, RE 278.718, RE 575.089 e AI654.807), então, por exemplo, os segurados podem ser beneficiados pela alteração do valor-limite do benefício (STF, RE564.354) ou prejudicados pela instituição ou diminuição de prazos prescricionais ou decadenciais (STF, ADI-MC 1.715 e RE21.341).3. O segurado tem direito ao benefício mais vantajoso (aquele de maior RMI), considerando todos os fatores queinfluenciam em seu cálculo, desde a data em que o direito ao benefício ingressou em seu patrimônio (isto é, cumpriu todosos requisitos legais para a aquisição do direito) até o momento em que o direito é exercido (data do requerimentoadministrativo) (STF, RE 630.501). Cumpridos os requisitos mínimos (tempo de serviço e carência ou tempo decontribuição e idade, conforme o regime jurídico vigente à época), o segurado adquire o direito ao benefício, aquisição quenão se confunde com o seu exercício (neste sentido, o art. 102, § 1º, da Lei 8.213/1991, incluído pela Lei 9.528/1997, areconhecer que a perda da qualidade de segurado não prejudica o direito à aposentadoria para cuja concessão tenham sidopreenchidos todos os requisitos, segundo a legislação em vigor à época em que atendidos esses requisitos), daí porqueeventual modificação posterior nas circunstâncias de fato não suprime o direito já incorporado ao patrimônio do seu titular.Adquirido o direito à aposentação, o segurado pode optar por não exercê-lo de imediato, seja para fazer jus ao benefíciointegral (quando houve aquisição do direito apenas à aposentadoria proporcional), seja para melhorar o fator previdenciárioaplicável e computar as novas contribuições, e essa opção não pode prejudicá-lo, pois seria injurídico tolerar que a RMI dobenefício requerido posteriormente (em decorrência, por exemplo, da redução do salário-de-contribuição) fosse inferior àRMI do benefício que poderia já ter obtido. Conferiu-se interpretação extensiva ao art. 122 da Lei 8.213/1991 (“Se maisvantajoso, fica assegurado o direito à aposentadoria, nas condições legalmente previstas na data do cumprimento de todosos requisitos necessários à obtenção do benefício, ao segurado que, tendo completado 35 anos de serviço, se homem, outrinta anos, se mulher, optou por permanecer em atividade”) para assegurar não só o benefício mais vantajoso na data documprimento dos requisitos para a aposentadoria integral, como também para a aposentadoria proporcional adquirida, bemcomo em cada um dos meses posteriores à aquisição, até a data do exercício do direito pelo requerimento.4. Exercido o direito ao benefício, mediante requerimento de aposentadoria, o tempo de contribuição acumulado exauretodos os seus efeitos jurídicos, não podendo ser computado posteriormente para a aquisição de outros direitos.

V – “RENÚNCIA À APOSENTADORIA”: PRECEDENTES SOBRE DESAPOSENTAÇÃO.1. Há aposentados que retornam à atividade laboral como segurados obrigatórios, e posteriormente pleiteiam em juízo novocálculo de proventos, consideradas as contribuições de período referente a esse regresso, pretendendo afastar o art. 18, §2º, da Lei 8.213/1991 (“O aposentado pelo Regime Geral de Previdência Social - RGPS que permanecer em atividadesujeita a este Regime, ou a ele retornar, não fará jus a prestação alguma da Previdência Social em decorrência do exercíciodessa atividade, exceto ao salário-família e à reabilitação profissional, quando empregado.”) por considerá-lo incompatívelcom o art. 201, § 11, da CRFB/1988 (“Os ganhos habituais do empregado, a qualquer título, serão incorporados ao saláriopara efeito de contribuição previdenciária e conseqüente repercussão em benefícios, nos casos e na forma da lei.”).2. A jurisprudência admitia a renúncia à aposentadoria já obtida, com o aproveitamento do tempo de contribuição para obternova aposentadoria, desde que tal renúncia produzisse efeitos ex tunc (impondo a devolução integral das prestaçõespercebidas do INSS, para evitar enriquecimento ilícito do beneficiário) (TNU, PEDILEF 200872580041869; Enunciado 70das Turmas Recursais do Rio de Janeiro; Primeira Seção do TRF da 2ª Região, EIAC 201050010042326).3. A Primeira Seção do STJ assentou que “Os benefícios previdenciários são direitos patrimoniais disponíveis e, portanto,suscetíveis de desistência pelos seus titulares, prescindindo-se da devolução dos valores recebidos da aposentadoria a queo segurado deseja preterir para a concessão de novo e posterior jubilamento”. Conferiu interpretação ao art. 18, § 2º, da Lei8.213/1991 no sentido de que este não impede o segurado de retornar à atividade laboral e renunciar à aposentadoria deque está em gozo, nem de, em seguida, requerer novo benefício (reaposentação) que utilize os períodos contributivos doprimeiro somado aos períodos posteriores ao retorno à atividade laboral (RESP 1.334.488).

VI – A DESAPOSENTAÇÃO E A REAPOSENTAÇÃO NÃO ENCONTRAM RESPALDO NA LEI, MESMO QUE OSEGURADO SE DISPONHA A DEVOLVER TODOS OS VALORES JÁ RECEBIDOS A TÍTULO DE APOSENTADORIA.1. Orientação do Relator, Juiz Federal Iorio Siqueira D’Alessandri Forti, externada em voto vencido no recurso inominado2011.50.50.005300-0/01 (sessão da 1ª Turma Recursal de Vitória/ES em 28/06/2013), para quem a desaposentação esubseqüente reaposentação não são juridicamente viáveis sequer com a restituição dos valores recebidos pelo segurado,com amparo nos seguintes fundamentos:i) Inexistência de norma autorizando a pretensão em regra implica, nos atos vinculados, vedação, e não permissão. A cadanovo mês trabalhado por um segurado aposentado, corresponde o pagamento de uma nova contribuição, e eventualmenteele teria interesse em obter “nova aposentadoria melhorada” mensalmente, razão pela qual a falta de disciplina legalresultaria em situação caótica.ii) O simples fato de incidir contribuição sobre o salário de um segurado obrigatório que se encontra aposentado não

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permite concluir que, com base nos arts. 195, § 5º, e 201, § 11º, da CRFB/1988, alguma vantagem individualcorrespondente lhe seja devida (STF, RE 210.211, AI 724.582 AgR e ADI 3.105). Se a contribuição, com a significativaalíquota de 11%, for reputada excessiva ou sem causa válida, a conseqüência possível é a inconstitucionalidade dacontribuição, nunca a majoração da aposentadoria sem expressa previsão em lei.iii) O tempo de contribuição ingressa no patrimônio do trabalhador mês a mês, e, satisfeitos os requisitos para a obtençãode benefício, considera-se direito adquirido, a ser utilizado quando o segurado considerar mais conveniente. Diante debifurcação, a ele cabe escolher qual caminho trilhar, sabendo que não há autorização legal para retornar: requererimediatamente a aposentadoria, gozando-a desde logo, por um período de vida mais longo, com valor “achatado” pelo fatorprevidenciário, ou permanecer mais tempo contribuindo, para ficar mais velho e obter um benefício maior. Uma vezexercido o direito de instar a Administração a agir, tem-se ato administrativo aperfeiçoado, protegido pelo art. 5º, XXXVI, daCRFB/1988. O tempo trabalhado e contribuído não deixou de integrar o patrimônio do segurado, mas já foi aproveitadointegralmente para uma finalidade, e não pode, portanto, ser aproveitado para outra.iv) É certo que o direito do aposentado às prestações mensais do benefício, apesar da natureza alimentar deste, ostentanatureza patrimonial e disponível. O segurado pode, a qualquer momento, renunciar ao recebimento de uma, várias outodas as prestações, com efeitos ex nunc, isto é, sem ter de devolver aquelas já recebidas, uma vez que não as recebeuindevidamente. Ocorre que o direito à aposentadoria em si, após adquirido, foi exercido por ato de vontade; com odeferimento pela Administração, tornou-se ato jurídico perfeito. A qualquer momento, cessando as razões de conveniênciae oportunidade que levaram o segurado a suspender por tempo indeterminado os efeitos do ato administrativo que oaposentou, poderá solicitar a reativação imediata do benefício: em se tratando de direito social fundamental, visando àgarantia da subsistência digna, a aposentadoria é irrenunciável. O interruptor pode ser desligado (e religado, também), nãoarrancado da parede.v) Pode-se renunciar às prestações da aposentadoria, sendo vedado – diante da falta de norma autorizadora – valer-sedessa renúncia para contornar uma (má) escolha feita no passado, mesmo com a disposição de ressarcir a Administraçãode todos os valores recebidos. No sentido da imutabilidade radical deste ato, votaram os Ministros Dias Toffoli, CármenLúcia, Ricardo Lewandowski e Gilmar Mendes no julgamento do RE 630.501, enquanto os demais Ministros consideraram oato passível de revisão apenas quando tivesse por fundamento a aquisição de direito a RMI melhor antes da data dorequerimento. Nas palavras do Juiz Federal Guilherme Beltrami, o que a parte autora pretende não é renunciar àaposentadoria – porque, em suma, renúncia é abandonar direitos e não reverter a statu quo ante com recuperação dotempo; o que ela pretende é como renunciar à propriedade de um bem e querer o dinheiro da aquisição de volta.vi) O obstáculo à pretensão de obter nova aposentadoria com base nas mesmas contribuições aproveitadas para aaposentadoria a que renunciam decorre não só do ato jurídico perfeito (art. 5º, XXXVI, da CRFB/1988) e da falta deprevisão legal expressa (arts. 37, caput, e 201, caput e § 11, da CRFB/1988), como também de clara vedação prevista emnormas infraconstitucionais. O art. 18, § 2º, da Lei 8.213/1991 diz, por via transversa, que as contribuições vertidas pelosegurado aposentado não produzem efeito algum para a obtenção de outra aposentadoria, cabendo a ele escolherprudentemente quando e como as usará. O art. 29, I, e § 7º, também da Lei 8.213/1991, como a aposentadoria demanda,para a fixação da renda mensal inicial do benefício, o cômputo da idade e da expectativa de sobrevida do segurado nomomento do requerimento, conclui-se que, uma vez deferido, tem-se ato administrativo cujos efeitos atrelam, de formaincindível, a quantidade de contribuições vertidas e o período futuro de vida do segurado. Admitir a desaposentação e, logodepois, novo pedido de aposentadoria (com mais contribuições, idade mais elevada e, portanto, expectativa de sobrevidamenor), a fim de obter benefício com RMI maior, constituiria burla ao fator previdenciário e a seu objetivo de desestimularaposentadorias precoces.

VII – Recurso do INSS conhecido e provido, para julgar improcedente o pedido formulado pela parte autora. Sem custasnem honorários, em razão do provimento do recurso.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, acordam os Juízes da 1ª Turma Recursaldos Juizados Especiais Federais da Seção Judiciária do Espírito Santo CONHECER DO RECURSO e, no mérito, DAR-LHEPROVIMENTO, na forma da ementa constante dos autos, que passa a integrar o presente julgado.

IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTIJuiz Federal – 3º Relator da 1ª Turma Recursal

84 - 0004463-86.2011.4.02.5050/01 (2011.50.50.004463-0/01) (PROCESSO ELETRÔNICO) PAULO ATHAYDE PINHEIRODA SILVEIRA (ADVOGADO: FREDERICO AUGUSTO MACHADO.) x INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL -INSS (PROCDOR: MARCELA BRAVIN BASSETTO.).RECURSO Nº 0004463-86.2011.4.02.5050/01 (2011.50.50.004463-0/01)RECORRENTE: PAULO ATHAYDE PINHEIRO DA SILVEIRARECORRIDO: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSSRELATOR: JUIZ FEDERAL IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTI

EMENTA

PREVIDENCIÁRIO. PRETENSÃO DE DESAPOSENTAÇÃO SEGUIDA DE REAPOSENTAÇÃO. AUSÊNCIA DEPREVISÃO LEGAL. VIOLAÇÃO AO ATO JURÍDICO PERFEITO. CONTRARIEDADE A REGRAS EXPRESSAS DA LEI8.213/1991. IMPROCEDÊNCIA DO PEDIDO.

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I – CARÁTER CONTRIBUTIVO E SOLIDÁRIO DA PREVIDÊNCIA SOCIAL.1. A aposentadoria é direito social (art. 7º, XXIV, da CRFB/1988).2. Para a integridade da Previdência Social, tanto o Regime Geral quanto o Regime dos servidores têm caráter contributivoe solidário, de filiação obrigatória, com a observância de critérios que preservem o equilíbrio financeiro e atuarial (arts. 40,caput, e 201, caput, da CRFB/1988).

II – OS ARTS. 195, § 5º, E 201, § 11, DA CRFB/188: A INSTITUIÇÃO OU MAJORAÇÃO DE CONTRIBUIÇÃO DEVEREFORÇAR O REGIME SOLIDÁRIO, SEM NECESSARIAMENTE IMPLICAR BENEFÍCIO INDIVIDUAL PARA OCONTRIBUINTE.1. O art. 195, § 5º, da CRFB/1988 (“Nenhum benefício ou serviço da seguridade social poderá ser criado, majorado ouestendido sem a correspondente fonte de custeio total”) é regra que visa ao equilíbrio financeiro e atuarial.2. A majoração da contribuição social, como qualquer tributo, depende, para a sua validade, de causa jurídica válida, e,portanto, demanda, em contrapartida, incremento no sistema previdenciário (STF, ADI 790, RE 183.906 e ADI-MC 2.010).3. Entretanto, a majoração da contribuição social previdenciária não necessariamente resultará em aumento dos benefíciose serviços a que cada segurado-contribuinte fará jus, cabendo à lei, na forma do art. 201, § 11 da CRFB/1988, disciplinar see como haverá reflexos: contribui-se solidariamente para a manutenção e expansão do sistema como um todo, e não paraprovisionar fundos única e exclusivamente em benefício próprio (STF, RE 210.211, AI 724.582 AgR e ADI 3.105).

III – FATOR PREVIDENCIÁRIO E DESINCENTIVO À APOSENTADORIA PRECOCE COMO TÉCNICA DE MANUTENÇÃODO EQUILÍBRIO DA PREVIDÊNCIA SOCIAL.1. No regime previdenciário dos servidores públicos, há idade mínima como requisito para a aposentadoria, paga-se abonode permanência a quem postergar a aposentadoria (art. 40, § 19, da CRFB/1988), e veda-se a acumulação de proventoscom vencimentos (salvo na hipótese do art. 37, § 10, da CRFB/1988).2. No RGPS, não há idade mínima como requisito para a aposentadoria, permite-se a acumulação de aposentadoria com aremuneração de emprego, o deferimento de aposentadoria não rescinde os contratos de trabalho (STF, ADI 1.721 e 1.770).Por outro lado, a Lei 9.876/1999 instituiu o fator previdenciário – cuja constitucionalidade foi reconhecida pelo STF (ADI-MC2.111) – no cálculo das aposentadorias por idade, por tempo de serviço e por tempo de contribuição, para assegurar oequilíbrio atuarial, de modo que os critérios “tempo de contribuição”, “idade” e “expectativa de sobrevida no momento daaposentadoria” tenham influência sobre o valor final do benefício.

IV – DIREITO ADQUIRIDO AO BENEFÍCIO CUJOS REQUISITOS FORAM INTEGRALMENTE CUMPRIDOS.1. Com base no art. 5º, XXXVI, da CRFB/1988, o segurado tem direito a que seu benefício, quanto aos seus elementosessenciais, observe a lei em vigor no momento em que preencheu todos os requisitos para a sua aquisição,independentemente da data do requerimento administrativo (STF, RE 72.509 e Súmula 359). Assim, por exemplo, apensão por morte é regida pela lei em vigor na data do óbito do segurado-instituidor, não se aplicando a lei posterior, sejamais gravosa, seja mais benéfica (STF, RE 218.467, RE 273.570 e RE 415.454).2. O direito adquirido ao benefício não assegura a imutabilidade do seu regime jurídico (STF, RE 278.718, RE 575.089 e AI654.807), então, por exemplo, os segurados podem ser beneficiados pela alteração do valor-limite do benefício (STF, RE564.354) ou prejudicados pela instituição ou diminuição de prazos prescricionais ou decadenciais (STF, ADI-MC 1.715 e RE21.341).3. O segurado tem direito ao benefício mais vantajoso (aquele de maior RMI), considerando todos os fatores queinfluenciam em seu cálculo, desde a data em que o direito ao benefício ingressou em seu patrimônio (isto é, cumpriu todosos requisitos legais para a aquisição do direito) até o momento em que o direito é exercido (data do requerimentoadministrativo) (STF, RE 630.501). Cumpridos os requisitos mínimos (tempo de serviço e carência ou tempo decontribuição e idade, conforme o regime jurídico vigente à época), o segurado adquire o direito ao benefício, aquisição quenão se confunde com o seu exercício (neste sentido, o art. 102, § 1º, da Lei 8.213/1991, incluído pela Lei 9.528/1997, areconhecer que a perda da qualidade de segurado não prejudica o direito à aposentadoria para cuja concessão tenham sidopreenchidos todos os requisitos, segundo a legislação em vigor à época em que atendidos esses requisitos), daí porqueeventual modificação posterior nas circunstâncias de fato não suprime o direito já incorporado ao patrimônio do seu titular.Adquirido o direito à aposentação, o segurado pode optar por não exercê-lo de imediato, seja para fazer jus ao benefíciointegral (quando houve aquisição do direito apenas à aposentadoria proporcional), seja para melhorar o fator previdenciárioaplicável e computar as novas contribuições, e essa opção não pode prejudicá-lo, pois seria injurídico tolerar que a RMI dobenefício requerido posteriormente (em decorrência, por exemplo, da redução do salário-de-contribuição) fosse inferior àRMI do benefício que poderia já ter obtido. Conferiu-se interpretação extensiva ao art. 122 da Lei 8.213/1991 (“Se maisvantajoso, fica assegurado o direito à aposentadoria, nas condições legalmente previstas na data do cumprimento de todosos requisitos necessários à obtenção do benefício, ao segurado que, tendo completado 35 anos de serviço, se homem, outrinta anos, se mulher, optou por permanecer em atividade”) para assegurar não só o benefício mais vantajoso na data documprimento dos requisitos para a aposentadoria integral, como também para a aposentadoria proporcional adquirida, bemcomo em cada um dos meses posteriores à aquisição, até a data do exercício do direito pelo requerimento.4. Exercido o direito ao benefício, mediante requerimento de aposentadoria, o tempo de contribuição acumulado exauretodos os seus efeitos jurídicos, não podendo ser computado posteriormente para a aquisição de outros direitos.

V – “RENÚNCIA À APOSENTADORIA”: PRECEDENTES SOBRE DESAPOSENTAÇÃO.1. Há aposentados que retornam à atividade laboral como segurados obrigatórios, e posteriormente pleiteiam em juízo novocálculo de proventos, consideradas as contribuições de período referente a esse regresso, pretendendo afastar o art. 18, §2º, da Lei 8.213/1991 (“O aposentado pelo Regime Geral de Previdência Social - RGPS que permanecer em atividadesujeita a este Regime, ou a ele retornar, não fará jus a prestação alguma da Previdência Social em decorrência do exercíciodessa atividade, exceto ao salário-família e à reabilitação profissional, quando empregado.”) por considerá-lo incompatível

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com o art. 201, § 11, da CRFB/1988 (“Os ganhos habituais do empregado, a qualquer título, serão incorporados ao saláriopara efeito de contribuição previdenciária e conseqüente repercussão em benefícios, nos casos e na forma da lei.”).2. A jurisprudência admitia a renúncia à aposentadoria já obtida, com o aproveitamento do tempo de contribuição para obternova aposentadoria, desde que tal renúncia produzisse efeitos ex tunc (impondo a devolução integral das prestaçõespercebidas do INSS, para evitar enriquecimento ilícito do beneficiário) (TNU, PEDILEF 200872580041869; Enunciado 70das Turmas Recursais do Rio de Janeiro; Primeira Seção do TRF da 2ª Região, EIAC 201050010042326).3. A Primeira Seção do STJ assentou que “Os benefícios previdenciários são direitos patrimoniais disponíveis e, portanto,suscetíveis de desistência pelos seus titulares, prescindindo-se da devolução dos valores recebidos da aposentadoria a queo segurado deseja preterir para a concessão de novo e posterior jubilamento”. Conferiu interpretação ao art. 18, § 2º, da Lei8.213/1991 no sentido de que este não impede o segurado de retornar à atividade laboral e renunciar à aposentadoria deque está em gozo, nem de, em seguida, requerer novo benefício (reaposentação) que utilize os períodos contributivos doprimeiro somado aos períodos posteriores ao retorno à atividade laboral (RESP 1.334.488).

VI – A DESAPOSENTAÇÃO E A REAPOSENTAÇÃO NÃO ENCONTRAM RESPALDO NA LEI, MESMO QUE OSEGURADO SE DISPONHA A DEVOLVER TODOS OS VALORES JÁ RECEBIDOS A TÍTULO DE APOSENTADORIA.1. Orientação do Relator, Juiz Federal Iorio Siqueira D’Alessandri Forti, externada em voto vencido no recurso inominado2011.50.50.005300-0/01 (sessão da 1ª Turma Recursal de Vitória/ES em 28/06/2013), para quem a desaposentação esubseqüente reaposentação não são juridicamente viáveis sequer com a restituição dos valores recebidos pelo segurado,com amparo nos seguintes fundamentos:i) Inexistência de norma autorizando a pretensão em regra implica, nos atos vinculados, vedação, e não permissão. A cadanovo mês trabalhado por um segurado aposentado, corresponde o pagamento de uma nova contribuição, e eventualmenteele teria interesse em obter “nova aposentadoria melhorada” mensalmente, razão pela qual a falta de disciplina legalresultaria em situação caótica.ii) O simples fato de incidir contribuição sobre o salário de um segurado obrigatório que se encontra aposentado nãopermite concluir que, com base nos arts. 195, § 5º, e 201, § 11º, da CRFB/1988, alguma vantagem individualcorrespondente lhe seja devida (STF, RE 210.211, AI 724.582 AgR e ADI 3.105). Se a contribuição, com a significativaalíquota de 11%, for reputada excessiva ou sem causa válida, a conseqüência possível é a inconstitucionalidade dacontribuição, nunca a majoração da aposentadoria sem expressa previsão em lei.iii) O tempo de contribuição ingressa no patrimônio do trabalhador mês a mês, e, satisfeitos os requisitos para a obtençãode benefício, considera-se direito adquirido, a ser utilizado quando o segurado considerar mais conveniente. Diante debifurcação, a ele cabe escolher qual caminho trilhar, sabendo que não há autorização legal para retornar: requererimediatamente a aposentadoria, gozando-a desde logo, por um período de vida mais longo, com valor “achatado” pelo fatorprevidenciário, ou permanecer mais tempo contribuindo, para ficar mais velho e obter um benefício maior. Uma vezexercido o direito de instar a Administração a agir, tem-se ato administrativo aperfeiçoado, protegido pelo art. 5º, XXXVI, daCRFB/1988. O tempo trabalhado e contribuído não deixou de integrar o patrimônio do segurado, mas já foi aproveitadointegralmente para uma finalidade, e não pode, portanto, ser aproveitado para outra.iv) É certo que o direito do aposentado às prestações mensais do benefício, apesar da natureza alimentar deste, ostentanatureza patrimonial e disponível. O segurado pode, a qualquer momento, renunciar ao recebimento de uma, várias outodas as prestações, com efeitos ex nunc, isto é, sem ter de devolver aquelas já recebidas, uma vez que não as recebeuindevidamente. Ocorre que o direito à aposentadoria em si, após adquirido, foi exercido por ato de vontade; com odeferimento pela Administração, tornou-se ato jurídico perfeito. A qualquer momento, cessando as razões de conveniênciae oportunidade que levaram o segurado a suspender por tempo indeterminado os efeitos do ato administrativo que oaposentou, poderá solicitar a reativação imediata do benefício: em se tratando de direito social fundamental, visando àgarantia da subsistência digna, a aposentadoria é irrenunciável. O interruptor pode ser desligado (e religado, também), nãoarrancado da parede.v) Pode-se renunciar às prestações da aposentadoria, sendo vedado – diante da falta de norma autorizadora – valer-sedessa renúncia para contornar uma (má) escolha feita no passado, mesmo com a disposição de ressarcir a Administraçãode todos os valores recebidos. No sentido da imutabilidade radical deste ato, votaram os Ministros Dias Toffoli, CármenLúcia, Ricardo Lewandowski e Gilmar Mendes no julgamento do RE 630.501, enquanto os demais Ministros consideraram oato passível de revisão apenas quando tivesse por fundamento a aquisição de direito a RMI melhor antes da data dorequerimento. Nas palavras do Juiz Federal Guilherme Beltrami, o que a parte autora pretende não é renunciar àaposentadoria – porque, em suma, renúncia é abandonar direitos e não reverter a statu quo ante com recuperação dotempo; o que ela pretende é como renunciar à propriedade de um bem e querer o dinheiro da aquisição de volta.vi) O obstáculo à pretensão de obter nova aposentadoria com base nas mesmas contribuições aproveitadas para aaposentadoria a que renunciam decorre não só do ato jurídico perfeito (art. 5º, XXXVI, da CRFB/1988) e da falta deprevisão legal expressa (arts. 37, caput, e 201, caput e § 11, da CRFB/1988), como também de clara vedação prevista emnormas infraconstitucionais. O art. 18, § 2º, da Lei 8.213/1991 diz, por via transversa, que as contribuições vertidas pelosegurado aposentado não produzem efeito algum para a obtenção de outra aposentadoria, cabendo a ele escolherprudentemente quando e como as usará. O art. 29, I, e § 7º, também da Lei 8.213/1991, como a aposentadoria demanda,para a fixação da renda mensal inicial do benefício, o cômputo da idade e da expectativa de sobrevida do segurado nomomento do requerimento, conclui-se que, uma vez deferido, tem-se ato administrativo cujos efeitos atrelam, de formaincindível, a quantidade de contribuições vertidas e o período futuro de vida do segurado. Admitir a desaposentação e, logodepois, novo pedido de aposentadoria (com mais contribuições, idade mais elevada e, portanto, expectativa de sobrevidamenor), a fim de obter benefício com RMI maior, constituiria burla ao fator previdenciário e a seu objetivo de desestimularaposentadorias precoces.

VII – Recurso da parte autora conhecido e desprovido. Sem custas nem honorários, em razão da assistência judiciáriagratuita.

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ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, acordam os Juízes da 1ª Turma Recursaldos Juizados Especiais Federais da Seção Judiciária do Espírito Santo CONHECER DO RECURSO e, no mérito,NEGAR-LHE PROVIMENTO, na forma da ementa constante dos autos, que passa a integrar o presente julgado.

IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTIJuiz Federal – 3º Relator da 1ª Turma Recursal

85 - 0002279-89.2013.4.02.5050/01 (2013.50.50.002279-5/01) (PROCESSO ELETRÔNICO) INSTITUTO NACIONAL DOSEGURO SOCIAL - INSS (PROCDOR: JOSÉ VICENTE SANTIAGO JUNQUEIRA.) x LUIZ CARLOS COSTA (ADVOGADO:JOÃO EUGÊNIO MODENESI FILHO, KARLA CECILIA LUCIANO PINTO.).RECURSO Nº 0002279-89.2013.4.02.5050/01 (2013.50.50.002279-5/01)RECORRENTE: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSSRECORRIDO: LUIZ CARLOS COSTARELATOR: JUIZ FEDERAL IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTI

EMENTA

PREVIDENCIÁRIO. PRETENSÃO DE DESAPOSENTAÇÃO SEGUIDA DE REAPOSENTAÇÃO. AUSÊNCIA DEPREVISÃO LEGAL. VIOLAÇÃO AO ATO JURÍDICO PERFEITO. CONTRARIEDADE A REGRAS EXPRESSAS DA LEI8.213/1991. IMPROCEDÊNCIA DO PEDIDO.

I – CARÁTER CONTRIBUTIVO E SOLIDÁRIO DA PREVIDÊNCIA SOCIAL.1. A aposentadoria é direito social (art. 7º, XXIV, da CRFB/1988).2. Para a integridade da Previdência Social, tanto o Regime Geral quanto o Regime dos servidores têm caráter contributivoe solidário, de filiação obrigatória, com a observância de critérios que preservem o equilíbrio financeiro e atuarial (arts. 40,caput, e 201, caput, da CRFB/1988).

II – OS ARTS. 195, § 5º, E 201, § 11, DA CRFB/188: A INSTITUIÇÃO OU MAJORAÇÃO DE CONTRIBUIÇÃO DEVEREFORÇAR O REGIME SOLIDÁRIO, SEM NECESSARIAMENTE IMPLICAR BENEFÍCIO INDIVIDUAL PARA OCONTRIBUINTE.1. O art. 195, § 5º, da CRFB/1988 (“Nenhum benefício ou serviço da seguridade social poderá ser criado, majorado ouestendido sem a correspondente fonte de custeio total”) é regra que visa ao equilíbrio financeiro e atuarial.2. A majoração da contribuição social, como qualquer tributo, depende, para a sua validade, de causa jurídica válida, e,portanto, demanda, em contrapartida, incremento no sistema previdenciário (STF, ADI 790, RE 183.906 e ADI-MC 2.010).3. Entretanto, a majoração da contribuição social previdenciária não necessariamente resultará em aumento dos benefíciose serviços a que cada segurado-contribuinte fará jus, cabendo à lei, na forma do art. 201, § 11 da CRFB/1988, disciplinar see como haverá reflexos: contribui-se solidariamente para a manutenção e expansão do sistema como um todo, e não paraprovisionar fundos única e exclusivamente em benefício próprio (STF, RE 210.211, AI 724.582 AgR e ADI 3.105).

III – FATOR PREVIDENCIÁRIO E DESINCENTIVO À APOSENTADORIA PRECOCE COMO TÉCNICA DE MANUTENÇÃODO EQUILÍBRIO DA PREVIDÊNCIA SOCIAL.1. No regime previdenciário dos servidores públicos, há idade mínima como requisito para a aposentadoria, paga-se abonode permanência a quem postergar a aposentadoria (art. 40, § 19, da CRFB/1988), e veda-se a acumulação de proventoscom vencimentos (salvo na hipótese do art. 37, § 10, da CRFB/1988).2. No RGPS, não há idade mínima como requisito para a aposentadoria, permite-se a acumulação de aposentadoria com aremuneração de emprego, o deferimento de aposentadoria não rescinde os contratos de trabalho (STF, ADI 1.721 e 1.770).Por outro lado, a Lei 9.876/1999 instituiu o fator previdenciário – cuja constitucionalidade foi reconhecida pelo STF (ADI-MC2.111) – no cálculo das aposentadorias por idade, por tempo de serviço e por tempo de contribuição, para assegurar oequilíbrio atuarial, de modo que os critérios “tempo de contribuição”, “idade” e “expectativa de sobrevida no momento daaposentadoria” tenham influência sobre o valor final do benefício.

IV – DIREITO ADQUIRIDO AO BENEFÍCIO CUJOS REQUISITOS FORAM INTEGRALMENTE CUMPRIDOS.1. Com base no art. 5º, XXXVI, da CRFB/1988, o segurado tem direito a que seu benefício, quanto aos seus elementosessenciais, observe a lei em vigor no momento em que preencheu todos os requisitos para a sua aquisição,independentemente da data do requerimento administrativo (STF, RE 72.509 e Súmula 359). Assim, por exemplo, apensão por morte é regida pela lei em vigor na data do óbito do segurado-instituidor, não se aplicando a lei posterior, sejamais gravosa, seja mais benéfica (STF, RE 218.467, RE 273.570 e RE 415.454).2. O direito adquirido ao benefício não assegura a imutabilidade do seu regime jurídico (STF, RE 278.718, RE 575.089 e AI654.807), então, por exemplo, os segurados podem ser beneficiados pela alteração do valor-limite do benefício (STF, RE564.354) ou prejudicados pela instituição ou diminuição de prazos prescricionais ou decadenciais (STF, ADI-MC 1.715 e RE21.341).3. O segurado tem direito ao benefício mais vantajoso (aquele de maior RMI), considerando todos os fatores queinfluenciam em seu cálculo, desde a data em que o direito ao benefício ingressou em seu patrimônio (isto é, cumpriu todosos requisitos legais para a aquisição do direito) até o momento em que o direito é exercido (data do requerimentoadministrativo) (STF, RE 630.501). Cumpridos os requisitos mínimos (tempo de serviço e carência ou tempo decontribuição e idade, conforme o regime jurídico vigente à época), o segurado adquire o direito ao benefício, aquisição que

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não se confunde com o seu exercício (neste sentido, o art. 102, § 1º, da Lei 8.213/1991, incluído pela Lei 9.528/1997, areconhecer que a perda da qualidade de segurado não prejudica o direito à aposentadoria para cuja concessão tenham sidopreenchidos todos os requisitos, segundo a legislação em vigor à época em que atendidos esses requisitos), daí porqueeventual modificação posterior nas circunstâncias de fato não suprime o direito já incorporado ao patrimônio do seu titular.Adquirido o direito à aposentação, o segurado pode optar por não exercê-lo de imediato, seja para fazer jus ao benefíciointegral (quando houve aquisição do direito apenas à aposentadoria proporcional), seja para melhorar o fator previdenciárioaplicável e computar as novas contribuições, e essa opção não pode prejudicá-lo, pois seria injurídico tolerar que a RMI dobenefício requerido posteriormente (em decorrência, por exemplo, da redução do salário-de-contribuição) fosse inferior àRMI do benefício que poderia já ter obtido. Conferiu-se interpretação extensiva ao art. 122 da Lei 8.213/1991 (“Se maisvantajoso, fica assegurado o direito à aposentadoria, nas condições legalmente previstas na data do cumprimento de todosos requisitos necessários à obtenção do benefício, ao segurado que, tendo completado 35 anos de serviço, se homem, outrinta anos, se mulher, optou por permanecer em atividade”) para assegurar não só o benefício mais vantajoso na data documprimento dos requisitos para a aposentadoria integral, como também para a aposentadoria proporcional adquirida, bemcomo em cada um dos meses posteriores à aquisição, até a data do exercício do direito pelo requerimento.4. Exercido o direito ao benefício, mediante requerimento de aposentadoria, o tempo de contribuição acumulado exauretodos os seus efeitos jurídicos, não podendo ser computado posteriormente para a aquisição de outros direitos.

V – “RENÚNCIA À APOSENTADORIA”: PRECEDENTES SOBRE DESAPOSENTAÇÃO.1. Há aposentados que retornam à atividade laboral como segurados obrigatórios, e posteriormente pleiteiam em juízo novocálculo de proventos, consideradas as contribuições de período referente a esse regresso, pretendendo afastar o art. 18, §2º, da Lei 8.213/1991 (“O aposentado pelo Regime Geral de Previdência Social - RGPS que permanecer em atividadesujeita a este Regime, ou a ele retornar, não fará jus a prestação alguma da Previdência Social em decorrência do exercíciodessa atividade, exceto ao salário-família e à reabilitação profissional, quando empregado.”) por considerá-lo incompatívelcom o art. 201, § 11, da CRFB/1988 (“Os ganhos habituais do empregado, a qualquer título, serão incorporados ao saláriopara efeito de contribuição previdenciária e conseqüente repercussão em benefícios, nos casos e na forma da lei.”).2. A jurisprudência admitia a renúncia à aposentadoria já obtida, com o aproveitamento do tempo de contribuição para obternova aposentadoria, desde que tal renúncia produzisse efeitos ex tunc (impondo a devolução integral das prestaçõespercebidas do INSS, para evitar enriquecimento ilícito do beneficiário) (TNU, PEDILEF 200872580041869; Enunciado 70das Turmas Recursais do Rio de Janeiro; Primeira Seção do TRF da 2ª Região, EIAC 201050010042326).3. A Primeira Seção do STJ assentou que “Os benefícios previdenciários são direitos patrimoniais disponíveis e, portanto,suscetíveis de desistência pelos seus titulares, prescindindo-se da devolução dos valores recebidos da aposentadoria a queo segurado deseja preterir para a concessão de novo e posterior jubilamento”. Conferiu interpretação ao art. 18, § 2º, da Lei8.213/1991 no sentido de que este não impede o segurado de retornar à atividade laboral e renunciar à aposentadoria deque está em gozo, nem de, em seguida, requerer novo benefício (reaposentação) que utilize os períodos contributivos doprimeiro somado aos períodos posteriores ao retorno à atividade laboral (RESP 1.334.488).

VI – A DESAPOSENTAÇÃO E A REAPOSENTAÇÃO NÃO ENCONTRAM RESPALDO NA LEI, MESMO QUE OSEGURADO SE DISPONHA A DEVOLVER TODOS OS VALORES JÁ RECEBIDOS A TÍTULO DE APOSENTADORIA.1. Orientação do Relator, Juiz Federal Iorio Siqueira D’Alessandri Forti, externada em voto vencido no recurso inominado2011.50.50.005300-0/01 (sessão da 1ª Turma Recursal de Vitória/ES em 28/06/2013), para quem a desaposentação esubseqüente reaposentação não são juridicamente viáveis sequer com a restituição dos valores recebidos pelo segurado,com amparo nos seguintes fundamentos:i) Inexistência de norma autorizando a pretensão em regra implica, nos atos vinculados, vedação, e não permissão. A cadanovo mês trabalhado por um segurado aposentado, corresponde o pagamento de uma nova contribuição, e eventualmenteele teria interesse em obter “nova aposentadoria melhorada” mensalmente, razão pela qual a falta de disciplina legalresultaria em situação caótica.ii) O simples fato de incidir contribuição sobre o salário de um segurado obrigatório que se encontra aposentado nãopermite concluir que, com base nos arts. 195, § 5º, e 201, § 11º, da CRFB/1988, alguma vantagem individualcorrespondente lhe seja devida (STF, RE 210.211, AI 724.582 AgR e ADI 3.105). Se a contribuição, com a significativaalíquota de 11%, for reputada excessiva ou sem causa válida, a conseqüência possível é a inconstitucionalidade dacontribuição, nunca a majoração da aposentadoria sem expressa previsão em lei.iii) O tempo de contribuição ingressa no patrimônio do trabalhador mês a mês, e, satisfeitos os requisitos para a obtençãode benefício, considera-se direito adquirido, a ser utilizado quando o segurado considerar mais conveniente. Diante debifurcação, a ele cabe escolher qual caminho trilhar, sabendo que não há autorização legal para retornar: requererimediatamente a aposentadoria, gozando-a desde logo, por um período de vida mais longo, com valor “achatado” pelo fatorprevidenciário, ou permanecer mais tempo contribuindo, para ficar mais velho e obter um benefício maior. Uma vezexercido o direito de instar a Administração a agir, tem-se ato administrativo aperfeiçoado, protegido pelo art. 5º, XXXVI, daCRFB/1988. O tempo trabalhado e contribuído não deixou de integrar o patrimônio do segurado, mas já foi aproveitadointegralmente para uma finalidade, e não pode, portanto, ser aproveitado para outra.iv) É certo que o direito do aposentado às prestações mensais do benefício, apesar da natureza alimentar deste, ostentanatureza patrimonial e disponível. O segurado pode, a qualquer momento, renunciar ao recebimento de uma, várias outodas as prestações, com efeitos ex nunc, isto é, sem ter de devolver aquelas já recebidas, uma vez que não as recebeuindevidamente. Ocorre que o direito à aposentadoria em si, após adquirido, foi exercido por ato de vontade; com odeferimento pela Administração, tornou-se ato jurídico perfeito. A qualquer momento, cessando as razões de conveniênciae oportunidade que levaram o segurado a suspender por tempo indeterminado os efeitos do ato administrativo que oaposentou, poderá solicitar a reativação imediata do benefício: em se tratando de direito social fundamental, visando àgarantia da subsistência digna, a aposentadoria é irrenunciável. O interruptor pode ser desligado (e religado, também), nãoarrancado da parede.

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v) Pode-se renunciar às prestações da aposentadoria, sendo vedado – diante da falta de norma autorizadora – valer-sedessa renúncia para contornar uma (má) escolha feita no passado, mesmo com a disposição de ressarcir a Administraçãode todos os valores recebidos. No sentido da imutabilidade radical deste ato, votaram os Ministros Dias Toffoli, CármenLúcia, Ricardo Lewandowski e Gilmar Mendes no julgamento do RE 630.501, enquanto os demais Ministros consideraram oato passível de revisão apenas quando tivesse por fundamento a aquisição de direito a RMI melhor antes da data dorequerimento. Nas palavras do Juiz Federal Guilherme Beltrami, o que a parte autora pretende não é renunciar àaposentadoria – porque, em suma, renúncia é abandonar direitos e não reverter a statu quo ante com recuperação dotempo; o que ela pretende é como renunciar à propriedade de um bem e querer o dinheiro da aquisição de volta.vi) O obstáculo à pretensão de obter nova aposentadoria com base nas mesmas contribuições aproveitadas para aaposentadoria a que renunciam decorre não só do ato jurídico perfeito (art. 5º, XXXVI, da CRFB/1988) e da falta deprevisão legal expressa (arts. 37, caput, e 201, caput e § 11, da CRFB/1988), como também de clara vedação prevista emnormas infraconstitucionais. O art. 18, § 2º, da Lei 8.213/1991 diz, por via transversa, que as contribuições vertidas pelosegurado aposentado não produzem efeito algum para a obtenção de outra aposentadoria, cabendo a ele escolherprudentemente quando e como as usará. O art. 29, I, e § 7º, também da Lei 8.213/1991, como a aposentadoria demanda,para a fixação da renda mensal inicial do benefício, o cômputo da idade e da expectativa de sobrevida do segurado nomomento do requerimento, conclui-se que, uma vez deferido, tem-se ato administrativo cujos efeitos atrelam, de formaincindível, a quantidade de contribuições vertidas e o período futuro de vida do segurado. Admitir a desaposentação e, logodepois, novo pedido de aposentadoria (com mais contribuições, idade mais elevada e, portanto, expectativa de sobrevidamenor), a fim de obter benefício com RMI maior, constituiria burla ao fator previdenciário e a seu objetivo de desestimularaposentadorias precoces.

VII – Recurso do INSS conhecido e provido, para julgar improcedente o pedido formulado pela parte autora. Sem custasnem honorários, em razão do provimento do recurso.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, acordam os Juízes da 1ª Turma Recursaldos Juizados Especiais Federais da Seção Judiciária do Espírito Santo CONHECER DO RECURSO e, no mérito, DAR-LHEPROVIMENTO, na forma da ementa constante dos autos, que passa a integrar o presente julgado.

IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTIJuiz Federal – 3º Relator da 1ª Turma Recursal

86 - 0001159-45.2012.4.02.5050/01 (2012.50.50.001159-8/01) (PROCESSO ELETRÔNICO) FERNANDO PROSCHOLDT(ADVOGADO: WANESSA ALDRIGUES CANDIDO.) x INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS (PROCDOR:THIAGO COSTA BOLZANI.).RECURSO Nº 0001159-45.2012.4.02.5050/01 (2012.50.50.001159-8/01)RECORRENTE: FERNANDO PROSCHOLDTRECORRIDO: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSSRELATOR: JUIZ FEDERAL IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTI

EMENTA

PREVIDENCIÁRIO. PRETENSÃO DE DESAPOSENTAÇÃO SEGUIDA DE REAPOSENTAÇÃO. AUSÊNCIA DEPREVISÃO LEGAL. VIOLAÇÃO AO ATO JURÍDICO PERFEITO. CONTRARIEDADE A REGRAS EXPRESSAS DA LEI8.213/1991. IMPROCEDÊNCIA DO PEDIDO.

I – CARÁTER CONTRIBUTIVO E SOLIDÁRIO DA PREVIDÊNCIA SOCIAL.1. A aposentadoria é direito social (art. 7º, XXIV, da CRFB/1988).2. Para a integridade da Previdência Social, tanto o Regime Geral quanto o Regime dos servidores têm caráter contributivoe solidário, de filiação obrigatória, com a observância de critérios que preservem o equilíbrio financeiro e atuarial (arts. 40,caput, e 201, caput, da CRFB/1988).

II – OS ARTS. 195, § 5º, E 201, § 11, DA CRFB/188: A INSTITUIÇÃO OU MAJORAÇÃO DE CONTRIBUIÇÃO DEVEREFORÇAR O REGIME SOLIDÁRIO, SEM NECESSARIAMENTE IMPLICAR BENEFÍCIO INDIVIDUAL PARA OCONTRIBUINTE.1. O art. 195, § 5º, da CRFB/1988 (“Nenhum benefício ou serviço da seguridade social poderá ser criado, majorado ouestendido sem a correspondente fonte de custeio total”) é regra que visa ao equilíbrio financeiro e atuarial.2. A majoração da contribuição social, como qualquer tributo, depende, para a sua validade, de causa jurídica válida, e,portanto, demanda, em contrapartida, incremento no sistema previdenciário (STF, ADI 790, RE 183.906 e ADI-MC 2.010).3. Entretanto, a majoração da contribuição social previdenciária não necessariamente resultará em aumento dos benefíciose serviços a que cada segurado-contribuinte fará jus, cabendo à lei, na forma do art. 201, § 11 da CRFB/1988, disciplinar see como haverá reflexos: contribui-se solidariamente para a manutenção e expansão do sistema como um todo, e não paraprovisionar fundos única e exclusivamente em benefício próprio (STF, RE 210.211, AI 724.582 AgR e ADI 3.105).

III – FATOR PREVIDENCIÁRIO E DESINCENTIVO À APOSENTADORIA PRECOCE COMO TÉCNICA DE MANUTENÇÃODO EQUILÍBRIO DA PREVIDÊNCIA SOCIAL.1. No regime previdenciário dos servidores públicos, há idade mínima como requisito para a aposentadoria, paga-se abono

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de permanência a quem postergar a aposentadoria (art. 40, § 19, da CRFB/1988), e veda-se a acumulação de proventoscom vencimentos (salvo na hipótese do art. 37, § 10, da CRFB/1988).2. No RGPS, não há idade mínima como requisito para a aposentadoria, permite-se a acumulação de aposentadoria com aremuneração de emprego, o deferimento de aposentadoria não rescinde os contratos de trabalho (STF, ADI 1.721 e 1.770).Por outro lado, a Lei 9.876/1999 instituiu o fator previdenciário – cuja constitucionalidade foi reconhecida pelo STF (ADI-MC2.111) – no cálculo das aposentadorias por idade, por tempo de serviço e por tempo de contribuição, para assegurar oequilíbrio atuarial, de modo que os critérios “tempo de contribuição”, “idade” e “expectativa de sobrevida no momento daaposentadoria” tenham influência sobre o valor final do benefício.

IV – DIREITO ADQUIRIDO AO BENEFÍCIO CUJOS REQUISITOS FORAM INTEGRALMENTE CUMPRIDOS.1. Com base no art. 5º, XXXVI, da CRFB/1988, o segurado tem direito a que seu benefício, quanto aos seus elementosessenciais, observe a lei em vigor no momento em que preencheu todos os requisitos para a sua aquisição,independentemente da data do requerimento administrativo (STF, RE 72.509 e Súmula 359). Assim, por exemplo, apensão por morte é regida pela lei em vigor na data do óbito do segurado-instituidor, não se aplicando a lei posterior, sejamais gravosa, seja mais benéfica (STF, RE 218.467, RE 273.570 e RE 415.454).2. O direito adquirido ao benefício não assegura a imutabilidade do seu regime jurídico (STF, RE 278.718, RE 575.089 e AI654.807), então, por exemplo, os segurados podem ser beneficiados pela alteração do valor-limite do benefício (STF, RE564.354) ou prejudicados pela instituição ou diminuição de prazos prescricionais ou decadenciais (STF, ADI-MC 1.715 e RE21.341).3. O segurado tem direito ao benefício mais vantajoso (aquele de maior RMI), considerando todos os fatores queinfluenciam em seu cálculo, desde a data em que o direito ao benefício ingressou em seu patrimônio (isto é, cumpriu todosos requisitos legais para a aquisição do direito) até o momento em que o direito é exercido (data do requerimentoadministrativo) (STF, RE 630.501). Cumpridos os requisitos mínimos (tempo de serviço e carência ou tempo decontribuição e idade, conforme o regime jurídico vigente à época), o segurado adquire o direito ao benefício, aquisição quenão se confunde com o seu exercício (neste sentido, o art. 102, § 1º, da Lei 8.213/1991, incluído pela Lei 9.528/1997, areconhecer que a perda da qualidade de segurado não prejudica o direito à aposentadoria para cuja concessão tenham sidopreenchidos todos os requisitos, segundo a legislação em vigor à época em que atendidos esses requisitos), daí porqueeventual modificação posterior nas circunstâncias de fato não suprime o direito já incorporado ao patrimônio do seu titular.Adquirido o direito à aposentação, o segurado pode optar por não exercê-lo de imediato, seja para fazer jus ao benefíciointegral (quando houve aquisição do direito apenas à aposentadoria proporcional), seja para melhorar o fator previdenciárioaplicável e computar as novas contribuições, e essa opção não pode prejudicá-lo, pois seria injurídico tolerar que a RMI dobenefício requerido posteriormente (em decorrência, por exemplo, da redução do salário-de-contribuição) fosse inferior àRMI do benefício que poderia já ter obtido. Conferiu-se interpretação extensiva ao art. 122 da Lei 8.213/1991 (“Se maisvantajoso, fica assegurado o direito à aposentadoria, nas condições legalmente previstas na data do cumprimento de todosos requisitos necessários à obtenção do benefício, ao segurado que, tendo completado 35 anos de serviço, se homem, outrinta anos, se mulher, optou por permanecer em atividade”) para assegurar não só o benefício mais vantajoso na data documprimento dos requisitos para a aposentadoria integral, como também para a aposentadoria proporcional adquirida, bemcomo em cada um dos meses posteriores à aquisição, até a data do exercício do direito pelo requerimento.4. Exercido o direito ao benefício, mediante requerimento de aposentadoria, o tempo de contribuição acumulado exauretodos os seus efeitos jurídicos, não podendo ser computado posteriormente para a aquisição de outros direitos.

V – “RENÚNCIA À APOSENTADORIA”: PRECEDENTES SOBRE DESAPOSENTAÇÃO.1. Há aposentados que retornam à atividade laboral como segurados obrigatórios, e posteriormente pleiteiam em juízo novocálculo de proventos, consideradas as contribuições de período referente a esse regresso, pretendendo afastar o art. 18, §2º, da Lei 8.213/1991 (“O aposentado pelo Regime Geral de Previdência Social - RGPS que permanecer em atividadesujeita a este Regime, ou a ele retornar, não fará jus a prestação alguma da Previdência Social em decorrência do exercíciodessa atividade, exceto ao salário-família e à reabilitação profissional, quando empregado.”) por considerá-lo incompatívelcom o art. 201, § 11, da CRFB/1988 (“Os ganhos habituais do empregado, a qualquer título, serão incorporados ao saláriopara efeito de contribuição previdenciária e conseqüente repercussão em benefícios, nos casos e na forma da lei.”).2. A jurisprudência admitia a renúncia à aposentadoria já obtida, com o aproveitamento do tempo de contribuição para obternova aposentadoria, desde que tal renúncia produzisse efeitos ex tunc (impondo a devolução integral das prestaçõespercebidas do INSS, para evitar enriquecimento ilícito do beneficiário) (TNU, PEDILEF 200872580041869; Enunciado 70das Turmas Recursais do Rio de Janeiro; Primeira Seção do TRF da 2ª Região, EIAC 201050010042326).3. A Primeira Seção do STJ assentou que “Os benefícios previdenciários são direitos patrimoniais disponíveis e, portanto,suscetíveis de desistência pelos seus titulares, prescindindo-se da devolução dos valores recebidos da aposentadoria a queo segurado deseja preterir para a concessão de novo e posterior jubilamento”. Conferiu interpretação ao art. 18, § 2º, da Lei8.213/1991 no sentido de que este não impede o segurado de retornar à atividade laboral e renunciar à aposentadoria deque está em gozo, nem de, em seguida, requerer novo benefício (reaposentação) que utilize os períodos contributivos doprimeiro somado aos períodos posteriores ao retorno à atividade laboral (RESP 1.334.488).

VI – A DESAPOSENTAÇÃO E A REAPOSENTAÇÃO NÃO ENCONTRAM RESPALDO NA LEI, MESMO QUE OSEGURADO SE DISPONHA A DEVOLVER TODOS OS VALORES JÁ RECEBIDOS A TÍTULO DE APOSENTADORIA.1. Orientação do Relator, Juiz Federal Iorio Siqueira D’Alessandri Forti, externada em voto vencido no recurso inominado2011.50.50.005300-0/01 (sessão da 1ª Turma Recursal de Vitória/ES em 28/06/2013), para quem a desaposentação esubseqüente reaposentação não são juridicamente viáveis sequer com a restituição dos valores recebidos pelo segurado,com amparo nos seguintes fundamentos:i) Inexistência de norma autorizando a pretensão em regra implica, nos atos vinculados, vedação, e não permissão. A cadanovo mês trabalhado por um segurado aposentado, corresponde o pagamento de uma nova contribuição, e eventualmente

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ele teria interesse em obter “nova aposentadoria melhorada” mensalmente, razão pela qual a falta de disciplina legalresultaria em situação caótica.ii) O simples fato de incidir contribuição sobre o salário de um segurado obrigatório que se encontra aposentado nãopermite concluir que, com base nos arts. 195, § 5º, e 201, § 11º, da CRFB/1988, alguma vantagem individualcorrespondente lhe seja devida (STF, RE 210.211, AI 724.582 AgR e ADI 3.105). Se a contribuição, com a significativaalíquota de 11%, for reputada excessiva ou sem causa válida, a conseqüência possível é a inconstitucionalidade dacontribuição, nunca a majoração da aposentadoria sem expressa previsão em lei.iii) O tempo de contribuição ingressa no patrimônio do trabalhador mês a mês, e, satisfeitos os requisitos para a obtençãode benefício, considera-se direito adquirido, a ser utilizado quando o segurado considerar mais conveniente. Diante debifurcação, a ele cabe escolher qual caminho trilhar, sabendo que não há autorização legal para retornar: requererimediatamente a aposentadoria, gozando-a desde logo, por um período de vida mais longo, com valor “achatado” pelo fatorprevidenciário, ou permanecer mais tempo contribuindo, para ficar mais velho e obter um benefício maior. Uma vezexercido o direito de instar a Administração a agir, tem-se ato administrativo aperfeiçoado, protegido pelo art. 5º, XXXVI, daCRFB/1988. O tempo trabalhado e contribuído não deixou de integrar o patrimônio do segurado, mas já foi aproveitadointegralmente para uma finalidade, e não pode, portanto, ser aproveitado para outra.iv) É certo que o direito do aposentado às prestações mensais do benefício, apesar da natureza alimentar deste, ostentanatureza patrimonial e disponível. O segurado pode, a qualquer momento, renunciar ao recebimento de uma, várias outodas as prestações, com efeitos ex nunc, isto é, sem ter de devolver aquelas já recebidas, uma vez que não as recebeuindevidamente. Ocorre que o direito à aposentadoria em si, após adquirido, foi exercido por ato de vontade; com odeferimento pela Administração, tornou-se ato jurídico perfeito. A qualquer momento, cessando as razões de conveniênciae oportunidade que levaram o segurado a suspender por tempo indeterminado os efeitos do ato administrativo que oaposentou, poderá solicitar a reativação imediata do benefício: em se tratando de direito social fundamental, visando àgarantia da subsistência digna, a aposentadoria é irrenunciável. O interruptor pode ser desligado (e religado, também), nãoarrancado da parede.v) Pode-se renunciar às prestações da aposentadoria, sendo vedado – diante da falta de norma autorizadora – valer-sedessa renúncia para contornar uma (má) escolha feita no passado, mesmo com a disposição de ressarcir a Administraçãode todos os valores recebidos. No sentido da imutabilidade radical deste ato, votaram os Ministros Dias Toffoli, CármenLúcia, Ricardo Lewandowski e Gilmar Mendes no julgamento do RE 630.501, enquanto os demais Ministros consideraram oato passível de revisão apenas quando tivesse por fundamento a aquisição de direito a RMI melhor antes da data dorequerimento. Nas palavras do Juiz Federal Guilherme Beltrami, o que a parte autora pretende não é renunciar àaposentadoria – porque, em suma, renúncia é abandonar direitos e não reverter a statu quo ante com recuperação dotempo; o que ela pretende é como renunciar à propriedade de um bem e querer o dinheiro da aquisição de volta.vi) O obstáculo à pretensão de obter nova aposentadoria com base nas mesmas contribuições aproveitadas para aaposentadoria a que renunciam decorre não só do ato jurídico perfeito (art. 5º, XXXVI, da CRFB/1988) e da falta deprevisão legal expressa (arts. 37, caput, e 201, caput e § 11, da CRFB/1988), como também de clara vedação prevista emnormas infraconstitucionais. O art. 18, § 2º, da Lei 8.213/1991 diz, por via transversa, que as contribuições vertidas pelosegurado aposentado não produzem efeito algum para a obtenção de outra aposentadoria, cabendo a ele escolherprudentemente quando e como as usará. O art. 29, I, e § 7º, também da Lei 8.213/1991, como a aposentadoria demanda,para a fixação da renda mensal inicial do benefício, o cômputo da idade e da expectativa de sobrevida do segurado nomomento do requerimento, conclui-se que, uma vez deferido, tem-se ato administrativo cujos efeitos atrelam, de formaincindível, a quantidade de contribuições vertidas e o período futuro de vida do segurado. Admitir a desaposentação e, logodepois, novo pedido de aposentadoria (com mais contribuições, idade mais elevada e, portanto, expectativa de sobrevidamenor), a fim de obter benefício com RMI maior, constituiria burla ao fator previdenciário e a seu objetivo de desestimularaposentadorias precoces.

VII – Recurso da parte autora conhecido e desprovido. Sem custas nem honorários, em razão da assistência judiciáriagratuita.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, acordam os Juízes da 1ª Turma Recursaldos Juizados Especiais Federais da Seção Judiciária do Espírito Santo CONHECER DO RECURSO e, no mérito,NEGAR-LHE PROVIMENTO, na forma da ementa constante dos autos, que passa a integrar o presente julgado.

IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTIJuiz Federal – 3º Relator da 1ª Turma Recursal

87 - 0001725-57.2013.4.02.5050/01 (2013.50.50.001725-8/01) (PROCESSO ELETRÔNICO) INSTITUTO NACIONAL DOSEGURO SOCIAL - INSS (PROCDOR: ANA PAULA BARRETO MONTEIRO ROTHEN.) x ELBER MARTINS MENDONCA(ADVOGADO: ROGÉRIO FERREIRA BORGES, MARCILIO TAVARES DE ALBUQUERQUE FILHO, DANIEL FERREIRABORGES, FABIOLA DE FREITAS CARVALHO, Miguel Vargas da Fonseca, VIVIANE MONTEIRO, YGHOR FELIPE DELCARO DALVI, THIERS COSTA VERÍSSIMO, CAROLINA VICENTINI MADEIRA, IRIS SALDANHA BUENO, CLARISSEJORGE PAES BARRETO.).RECURSO Nº 0001725-57.2013.4.02.5050/01 (2013.50.50.001725-8/01)RECORRENTE: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSSRECORRIDO: ELBER MARTINS MENDONCARELATOR: JUIZ FEDERAL IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTI

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EMENTA

PREVIDENCIÁRIO. PRETENSÃO DE DESAPOSENTAÇÃO SEGUIDA DE REAPOSENTAÇÃO. AUSÊNCIA DEPREVISÃO LEGAL. VIOLAÇÃO AO ATO JURÍDICO PERFEITO. CONTRARIEDADE A REGRAS EXPRESSAS DA LEI8.213/1991. IMPROCEDÊNCIA DO PEDIDO.

I – CARÁTER CONTRIBUTIVO E SOLIDÁRIO DA PREVIDÊNCIA SOCIAL.1. A aposentadoria é direito social (art. 7º, XXIV, da CRFB/1988).2. Para a integridade da Previdência Social, tanto o Regime Geral quanto o Regime dos servidores têm caráter contributivoe solidário, de filiação obrigatória, com a observância de critérios que preservem o equilíbrio financeiro e atuarial (arts. 40,caput, e 201, caput, da CRFB/1988).

II – OS ARTS. 195, § 5º, E 201, § 11, DA CRFB/188: A INSTITUIÇÃO OU MAJORAÇÃO DE CONTRIBUIÇÃO DEVEREFORÇAR O REGIME SOLIDÁRIO, SEM NECESSARIAMENTE IMPLICAR BENEFÍCIO INDIVIDUAL PARA OCONTRIBUINTE.1. O art. 195, § 5º, da CRFB/1988 (“Nenhum benefício ou serviço da seguridade social poderá ser criado, majorado ouestendido sem a correspondente fonte de custeio total”) é regra que visa ao equilíbrio financeiro e atuarial.2. A majoração da contribuição social, como qualquer tributo, depende, para a sua validade, de causa jurídica válida, e,portanto, demanda, em contrapartida, incremento no sistema previdenciário (STF, ADI 790, RE 183.906 e ADI-MC 2.010).3. Entretanto, a majoração da contribuição social previdenciária não necessariamente resultará em aumento dos benefíciose serviços a que cada segurado-contribuinte fará jus, cabendo à lei, na forma do art. 201, § 11 da CRFB/1988, disciplinar see como haverá reflexos: contribui-se solidariamente para a manutenção e expansão do sistema como um todo, e não paraprovisionar fundos única e exclusivamente em benefício próprio (STF, RE 210.211, AI 724.582 AgR e ADI 3.105).

III – FATOR PREVIDENCIÁRIO E DESINCENTIVO À APOSENTADORIA PRECOCE COMO TÉCNICA DE MANUTENÇÃODO EQUILÍBRIO DA PREVIDÊNCIA SOCIAL.1. No regime previdenciário dos servidores públicos, há idade mínima como requisito para a aposentadoria, paga-se abonode permanência a quem postergar a aposentadoria (art. 40, § 19, da CRFB/1988), e veda-se a acumulação de proventoscom vencimentos (salvo na hipótese do art. 37, § 10, da CRFB/1988).2. No RGPS, não há idade mínima como requisito para a aposentadoria, permite-se a acumulação de aposentadoria com aremuneração de emprego, o deferimento de aposentadoria não rescinde os contratos de trabalho (STF, ADI 1.721 e 1.770).Por outro lado, a Lei 9.876/1999 instituiu o fator previdenciário – cuja constitucionalidade foi reconhecida pelo STF (ADI-MC2.111) – no cálculo das aposentadorias por idade, por tempo de serviço e por tempo de contribuição, para assegurar oequilíbrio atuarial, de modo que os critérios “tempo de contribuição”, “idade” e “expectativa de sobrevida no momento daaposentadoria” tenham influência sobre o valor final do benefício.

IV – DIREITO ADQUIRIDO AO BENEFÍCIO CUJOS REQUISITOS FORAM INTEGRALMENTE CUMPRIDOS.1. Com base no art. 5º, XXXVI, da CRFB/1988, o segurado tem direito a que seu benefício, quanto aos seus elementosessenciais, observe a lei em vigor no momento em que preencheu todos os requisitos para a sua aquisição,independentemente da data do requerimento administrativo (STF, RE 72.509 e Súmula 359). Assim, por exemplo, apensão por morte é regida pela lei em vigor na data do óbito do segurado-instituidor, não se aplicando a lei posterior, sejamais gravosa, seja mais benéfica (STF, RE 218.467, RE 273.570 e RE 415.454).2. O direito adquirido ao benefício não assegura a imutabilidade do seu regime jurídico (STF, RE 278.718, RE 575.089 e AI654.807), então, por exemplo, os segurados podem ser beneficiados pela alteração do valor-limite do benefício (STF, RE564.354) ou prejudicados pela instituição ou diminuição de prazos prescricionais ou decadenciais (STF, ADI-MC 1.715 e RE21.341).3. O segurado tem direito ao benefício mais vantajoso (aquele de maior RMI), considerando todos os fatores queinfluenciam em seu cálculo, desde a data em que o direito ao benefício ingressou em seu patrimônio (isto é, cumpriu todosos requisitos legais para a aquisição do direito) até o momento em que o direito é exercido (data do requerimentoadministrativo) (STF, RE 630.501). Cumpridos os requisitos mínimos (tempo de serviço e carência ou tempo decontribuição e idade, conforme o regime jurídico vigente à época), o segurado adquire o direito ao benefício, aquisição quenão se confunde com o seu exercício (neste sentido, o art. 102, § 1º, da Lei 8.213/1991, incluído pela Lei 9.528/1997, areconhecer que a perda da qualidade de segurado não prejudica o direito à aposentadoria para cuja concessão tenham sidopreenchidos todos os requisitos, segundo a legislação em vigor à época em que atendidos esses requisitos), daí porqueeventual modificação posterior nas circunstâncias de fato não suprime o direito já incorporado ao patrimônio do seu titular.Adquirido o direito à aposentação, o segurado pode optar por não exercê-lo de imediato, seja para fazer jus ao benefíciointegral (quando houve aquisição do direito apenas à aposentadoria proporcional), seja para melhorar o fator previdenciárioaplicável e computar as novas contribuições, e essa opção não pode prejudicá-lo, pois seria injurídico tolerar que a RMI dobenefício requerido posteriormente (em decorrência, por exemplo, da redução do salário-de-contribuição) fosse inferior àRMI do benefício que poderia já ter obtido. Conferiu-se interpretação extensiva ao art. 122 da Lei 8.213/1991 (“Se maisvantajoso, fica assegurado o direito à aposentadoria, nas condições legalmente previstas na data do cumprimento de todosos requisitos necessários à obtenção do benefício, ao segurado que, tendo completado 35 anos de serviço, se homem, outrinta anos, se mulher, optou por permanecer em atividade”) para assegurar não só o benefício mais vantajoso na data documprimento dos requisitos para a aposentadoria integral, como também para a aposentadoria proporcional adquirida, bemcomo em cada um dos meses posteriores à aquisição, até a data do exercício do direito pelo requerimento.4. Exercido o direito ao benefício, mediante requerimento de aposentadoria, o tempo de contribuição acumulado exauretodos os seus efeitos jurídicos, não podendo ser computado posteriormente para a aquisição de outros direitos.

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V – “RENÚNCIA À APOSENTADORIA”: PRECEDENTES SOBRE DESAPOSENTAÇÃO.1. Há aposentados que retornam à atividade laboral como segurados obrigatórios, e posteriormente pleiteiam em juízo novocálculo de proventos, consideradas as contribuições de período referente a esse regresso, pretendendo afastar o art. 18, §2º, da Lei 8.213/1991 (“O aposentado pelo Regime Geral de Previdência Social - RGPS que permanecer em atividadesujeita a este Regime, ou a ele retornar, não fará jus a prestação alguma da Previdência Social em decorrência do exercíciodessa atividade, exceto ao salário-família e à reabilitação profissional, quando empregado.”) por considerá-lo incompatívelcom o art. 201, § 11, da CRFB/1988 (“Os ganhos habituais do empregado, a qualquer título, serão incorporados ao saláriopara efeito de contribuição previdenciária e conseqüente repercussão em benefícios, nos casos e na forma da lei.”).2. A jurisprudência admitia a renúncia à aposentadoria já obtida, com o aproveitamento do tempo de contribuição para obternova aposentadoria, desde que tal renúncia produzisse efeitos ex tunc (impondo a devolução integral das prestaçõespercebidas do INSS, para evitar enriquecimento ilícito do beneficiário) (TNU, PEDILEF 200872580041869; Enunciado 70das Turmas Recursais do Rio de Janeiro; Primeira Seção do TRF da 2ª Região, EIAC 201050010042326).3. A Primeira Seção do STJ assentou que “Os benefícios previdenciários são direitos patrimoniais disponíveis e, portanto,suscetíveis de desistência pelos seus titulares, prescindindo-se da devolução dos valores recebidos da aposentadoria a queo segurado deseja preterir para a concessão de novo e posterior jubilamento”. Conferiu interpretação ao art. 18, § 2º, da Lei8.213/1991 no sentido de que este não impede o segurado de retornar à atividade laboral e renunciar à aposentadoria deque está em gozo, nem de, em seguida, requerer novo benefício (reaposentação) que utilize os períodos contributivos doprimeiro somado aos períodos posteriores ao retorno à atividade laboral (RESP 1.334.488).

VI – A DESAPOSENTAÇÃO E A REAPOSENTAÇÃO NÃO ENCONTRAM RESPALDO NA LEI, MESMO QUE OSEGURADO SE DISPONHA A DEVOLVER TODOS OS VALORES JÁ RECEBIDOS A TÍTULO DE APOSENTADORIA.1. Orientação do Relator, Juiz Federal Iorio Siqueira D’Alessandri Forti, externada em voto vencido no recurso inominado2011.50.50.005300-0/01 (sessão da 1ª Turma Recursal de Vitória/ES em 28/06/2013), para quem a desaposentação esubseqüente reaposentação não são juridicamente viáveis sequer com a restituição dos valores recebidos pelo segurado,com amparo nos seguintes fundamentos:i) Inexistência de norma autorizando a pretensão em regra implica, nos atos vinculados, vedação, e não permissão. A cadanovo mês trabalhado por um segurado aposentado, corresponde o pagamento de uma nova contribuição, e eventualmenteele teria interesse em obter “nova aposentadoria melhorada” mensalmente, razão pela qual a falta de disciplina legalresultaria em situação caótica.ii) O simples fato de incidir contribuição sobre o salário de um segurado obrigatório que se encontra aposentado nãopermite concluir que, com base nos arts. 195, § 5º, e 201, § 11º, da CRFB/1988, alguma vantagem individualcorrespondente lhe seja devida (STF, RE 210.211, AI 724.582 AgR e ADI 3.105). Se a contribuição, com a significativaalíquota de 11%, for reputada excessiva ou sem causa válida, a conseqüência possível é a inconstitucionalidade dacontribuição, nunca a majoração da aposentadoria sem expressa previsão em lei.iii) O tempo de contribuição ingressa no patrimônio do trabalhador mês a mês, e, satisfeitos os requisitos para a obtençãode benefício, considera-se direito adquirido, a ser utilizado quando o segurado considerar mais conveniente. Diante debifurcação, a ele cabe escolher qual caminho trilhar, sabendo que não há autorização legal para retornar: requererimediatamente a aposentadoria, gozando-a desde logo, por um período de vida mais longo, com valor “achatado” pelo fatorprevidenciário, ou permanecer mais tempo contribuindo, para ficar mais velho e obter um benefício maior. Uma vezexercido o direito de instar a Administração a agir, tem-se ato administrativo aperfeiçoado, protegido pelo art. 5º, XXXVI, daCRFB/1988. O tempo trabalhado e contribuído não deixou de integrar o patrimônio do segurado, mas já foi aproveitadointegralmente para uma finalidade, e não pode, portanto, ser aproveitado para outra.iv) É certo que o direito do aposentado às prestações mensais do benefício, apesar da natureza alimentar deste, ostentanatureza patrimonial e disponível. O segurado pode, a qualquer momento, renunciar ao recebimento de uma, várias outodas as prestações, com efeitos ex nunc, isto é, sem ter de devolver aquelas já recebidas, uma vez que não as recebeuindevidamente. Ocorre que o direito à aposentadoria em si, após adquirido, foi exercido por ato de vontade; com odeferimento pela Administração, tornou-se ato jurídico perfeito. A qualquer momento, cessando as razões de conveniênciae oportunidade que levaram o segurado a suspender por tempo indeterminado os efeitos do ato administrativo que oaposentou, poderá solicitar a reativação imediata do benefício: em se tratando de direito social fundamental, visando àgarantia da subsistência digna, a aposentadoria é irrenunciável. O interruptor pode ser desligado (e religado, também), nãoarrancado da parede.v) Pode-se renunciar às prestações da aposentadoria, sendo vedado – diante da falta de norma autorizadora – valer-sedessa renúncia para contornar uma (má) escolha feita no passado, mesmo com a disposição de ressarcir a Administraçãode todos os valores recebidos. No sentido da imutabilidade radical deste ato, votaram os Ministros Dias Toffoli, CármenLúcia, Ricardo Lewandowski e Gilmar Mendes no julgamento do RE 630.501, enquanto os demais Ministros consideraram oato passível de revisão apenas quando tivesse por fundamento a aquisição de direito a RMI melhor antes da data dorequerimento. Nas palavras do Juiz Federal Guilherme Beltrami, o que a parte autora pretende não é renunciar àaposentadoria – porque, em suma, renúncia é abandonar direitos e não reverter a statu quo ante com recuperação dotempo; o que ela pretende é como renunciar à propriedade de um bem e querer o dinheiro da aquisição de volta.vi) O obstáculo à pretensão de obter nova aposentadoria com base nas mesmas contribuições aproveitadas para aaposentadoria a que renunciam decorre não só do ato jurídico perfeito (art. 5º, XXXVI, da CRFB/1988) e da falta deprevisão legal expressa (arts. 37, caput, e 201, caput e § 11, da CRFB/1988), como também de clara vedação prevista emnormas infraconstitucionais. O art. 18, § 2º, da Lei 8.213/1991 diz, por via transversa, que as contribuições vertidas pelosegurado aposentado não produzem efeito algum para a obtenção de outra aposentadoria, cabendo a ele escolherprudentemente quando e como as usará. O art. 29, I, e § 7º, também da Lei 8.213/1991, como a aposentadoria demanda,para a fixação da renda mensal inicial do benefício, o cômputo da idade e da expectativa de sobrevida do segurado nomomento do requerimento, conclui-se que, uma vez deferido, tem-se ato administrativo cujos efeitos atrelam, de formaincindível, a quantidade de contribuições vertidas e o período futuro de vida do segurado. Admitir a desaposentação e, logo

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depois, novo pedido de aposentadoria (com mais contribuições, idade mais elevada e, portanto, expectativa de sobrevidamenor), a fim de obter benefício com RMI maior, constituiria burla ao fator previdenciário e a seu objetivo de desestimularaposentadorias precoces.

VII – Recurso do INSS conhecido e provido, para julgar improcedente o pedido formulado pela parte autora. Sem custasnem honorários, em razão do provimento do recurso.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, acordam os Juízes da 1ª Turma Recursaldos Juizados Especiais Federais da Seção Judiciária do Espírito Santo CONHECER DO RECURSO e, no mérito, DAR-LHEPROVIMENTO, na forma da ementa constante dos autos, que passa a integrar o presente julgado.

IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTIJuiz Federal – 3º Relator da 1ª Turma Recursal

88 - 0002674-81.2013.4.02.5050/01 (2013.50.50.002674-0/01) (PROCESSO ELETRÔNICO) AGENOR JOSÉ DA SILVA(ADVOGADO: JULIO FERNANDES SOARES.) x INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS (PROCDOR:BRUNO MIRANDA COSTA.).RECURSO Nº 0002674-81.2013.4.02.5050/01 (2013.50.50.002674-0/01)RECORRENTE: AGENOR JOSÉ DA SILVARECORRIDO: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSSRELATOR: JUIZ FEDERAL IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTI

EMENTA

PREVIDENCIÁRIO. PRETENSÃO DE DESAPOSENTAÇÃO SEGUIDA DE REAPOSENTAÇÃO. AUSÊNCIA DEPREVISÃO LEGAL. VIOLAÇÃO AO ATO JURÍDICO PERFEITO. CONTRARIEDADE A REGRAS EXPRESSAS DA LEI8.213/1991. IMPROCEDÊNCIA DO PEDIDO.

I – CARÁTER CONTRIBUTIVO E SOLIDÁRIO DA PREVIDÊNCIA SOCIAL.1. A aposentadoria é direito social (art. 7º, XXIV, da CRFB/1988).2. Para a integridade da Previdência Social, tanto o Regime Geral quanto o Regime dos servidores têm caráter contributivoe solidário, de filiação obrigatória, com a observância de critérios que preservem o equilíbrio financeiro e atuarial (arts. 40,caput, e 201, caput, da CRFB/1988).

II – OS ARTS. 195, § 5º, E 201, § 11, DA CRFB/188: A INSTITUIÇÃO OU MAJORAÇÃO DE CONTRIBUIÇÃO DEVEREFORÇAR O REGIME SOLIDÁRIO, SEM NECESSARIAMENTE IMPLICAR BENEFÍCIO INDIVIDUAL PARA OCONTRIBUINTE.1. O art. 195, § 5º, da CRFB/1988 (“Nenhum benefício ou serviço da seguridade social poderá ser criado, majorado ouestendido sem a correspondente fonte de custeio total”) é regra que visa ao equilíbrio financeiro e atuarial.2. A majoração da contribuição social, como qualquer tributo, depende, para a sua validade, de causa jurídica válida, e,portanto, demanda, em contrapartida, incremento no sistema previdenciário (STF, ADI 790, RE 183.906 e ADI-MC 2.010).3. Entretanto, a majoração da contribuição social previdenciária não necessariamente resultará em aumento dos benefíciose serviços a que cada segurado-contribuinte fará jus, cabendo à lei, na forma do art. 201, § 11 da CRFB/1988, disciplinar see como haverá reflexos: contribui-se solidariamente para a manutenção e expansão do sistema como um todo, e não paraprovisionar fundos única e exclusivamente em benefício próprio (STF, RE 210.211, AI 724.582 AgR e ADI 3.105).

III – FATOR PREVIDENCIÁRIO E DESINCENTIVO À APOSENTADORIA PRECOCE COMO TÉCNICA DE MANUTENÇÃODO EQUILÍBRIO DA PREVIDÊNCIA SOCIAL.1. No regime previdenciário dos servidores públicos, há idade mínima como requisito para a aposentadoria, paga-se abonode permanência a quem postergar a aposentadoria (art. 40, § 19, da CRFB/1988), e veda-se a acumulação de proventoscom vencimentos (salvo na hipótese do art. 37, § 10, da CRFB/1988).2. No RGPS, não há idade mínima como requisito para a aposentadoria, permite-se a acumulação de aposentadoria com aremuneração de emprego, o deferimento de aposentadoria não rescinde os contratos de trabalho (STF, ADI 1.721 e 1.770).Por outro lado, a Lei 9.876/1999 instituiu o fator previdenciário – cuja constitucionalidade foi reconhecida pelo STF (ADI-MC2.111) – no cálculo das aposentadorias por idade, por tempo de serviço e por tempo de contribuição, para assegurar oequilíbrio atuarial, de modo que os critérios “tempo de contribuição”, “idade” e “expectativa de sobrevida no momento daaposentadoria” tenham influência sobre o valor final do benefício.

IV – DIREITO ADQUIRIDO AO BENEFÍCIO CUJOS REQUISITOS FORAM INTEGRALMENTE CUMPRIDOS.1. Com base no art. 5º, XXXVI, da CRFB/1988, o segurado tem direito a que seu benefício, quanto aos seus elementosessenciais, observe a lei em vigor no momento em que preencheu todos os requisitos para a sua aquisição,independentemente da data do requerimento administrativo (STF, RE 72.509 e Súmula 359). Assim, por exemplo, apensão por morte é regida pela lei em vigor na data do óbito do segurado-instituidor, não se aplicando a lei posterior, sejamais gravosa, seja mais benéfica (STF, RE 218.467, RE 273.570 e RE 415.454).2. O direito adquirido ao benefício não assegura a imutabilidade do seu regime jurídico (STF, RE 278.718, RE 575.089 e AI654.807), então, por exemplo, os segurados podem ser beneficiados pela alteração do valor-limite do benefício (STF, RE

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564.354) ou prejudicados pela instituição ou diminuição de prazos prescricionais ou decadenciais (STF, ADI-MC 1.715 e RE21.341).3. O segurado tem direito ao benefício mais vantajoso (aquele de maior RMI), considerando todos os fatores queinfluenciam em seu cálculo, desde a data em que o direito ao benefício ingressou em seu patrimônio (isto é, cumpriu todosos requisitos legais para a aquisição do direito) até o momento em que o direito é exercido (data do requerimentoadministrativo) (STF, RE 630.501). Cumpridos os requisitos mínimos (tempo de serviço e carência ou tempo decontribuição e idade, conforme o regime jurídico vigente à época), o segurado adquire o direito ao benefício, aquisição quenão se confunde com o seu exercício (neste sentido, o art. 102, § 1º, da Lei 8.213/1991, incluído pela Lei 9.528/1997, areconhecer que a perda da qualidade de segurado não prejudica o direito à aposentadoria para cuja concessão tenham sidopreenchidos todos os requisitos, segundo a legislação em vigor à época em que atendidos esses requisitos), daí porqueeventual modificação posterior nas circunstâncias de fato não suprime o direito já incorporado ao patrimônio do seu titular.Adquirido o direito à aposentação, o segurado pode optar por não exercê-lo de imediato, seja para fazer jus ao benefíciointegral (quando houve aquisição do direito apenas à aposentadoria proporcional), seja para melhorar o fator previdenciárioaplicável e computar as novas contribuições, e essa opção não pode prejudicá-lo, pois seria injurídico tolerar que a RMI dobenefício requerido posteriormente (em decorrência, por exemplo, da redução do salário-de-contribuição) fosse inferior àRMI do benefício que poderia já ter obtido. Conferiu-se interpretação extensiva ao art. 122 da Lei 8.213/1991 (“Se maisvantajoso, fica assegurado o direito à aposentadoria, nas condições legalmente previstas na data do cumprimento de todosos requisitos necessários à obtenção do benefício, ao segurado que, tendo completado 35 anos de serviço, se homem, outrinta anos, se mulher, optou por permanecer em atividade”) para assegurar não só o benefício mais vantajoso na data documprimento dos requisitos para a aposentadoria integral, como também para a aposentadoria proporcional adquirida, bemcomo em cada um dos meses posteriores à aquisição, até a data do exercício do direito pelo requerimento.4. Exercido o direito ao benefício, mediante requerimento de aposentadoria, o tempo de contribuição acumulado exauretodos os seus efeitos jurídicos, não podendo ser computado posteriormente para a aquisição de outros direitos.

V – “RENÚNCIA À APOSENTADORIA”: PRECEDENTES SOBRE DESAPOSENTAÇÃO.1. Há aposentados que retornam à atividade laboral como segurados obrigatórios, e posteriormente pleiteiam em juízo novocálculo de proventos, consideradas as contribuições de período referente a esse regresso, pretendendo afastar o art. 18, §2º, da Lei 8.213/1991 (“O aposentado pelo Regime Geral de Previdência Social - RGPS que permanecer em atividadesujeita a este Regime, ou a ele retornar, não fará jus a prestação alguma da Previdência Social em decorrência do exercíciodessa atividade, exceto ao salário-família e à reabilitação profissional, quando empregado.”) por considerá-lo incompatívelcom o art. 201, § 11, da CRFB/1988 (“Os ganhos habituais do empregado, a qualquer título, serão incorporados ao saláriopara efeito de contribuição previdenciária e conseqüente repercussão em benefícios, nos casos e na forma da lei.”).2. A jurisprudência admitia a renúncia à aposentadoria já obtida, com o aproveitamento do tempo de contribuição para obternova aposentadoria, desde que tal renúncia produzisse efeitos ex tunc (impondo a devolução integral das prestaçõespercebidas do INSS, para evitar enriquecimento ilícito do beneficiário) (TNU, PEDILEF 200872580041869; Enunciado 70das Turmas Recursais do Rio de Janeiro; Primeira Seção do TRF da 2ª Região, EIAC 201050010042326).3. A Primeira Seção do STJ assentou que “Os benefícios previdenciários são direitos patrimoniais disponíveis e, portanto,suscetíveis de desistência pelos seus titulares, prescindindo-se da devolução dos valores recebidos da aposentadoria a queo segurado deseja preterir para a concessão de novo e posterior jubilamento”. Conferiu interpretação ao art. 18, § 2º, da Lei8.213/1991 no sentido de que este não impede o segurado de retornar à atividade laboral e renunciar à aposentadoria deque está em gozo, nem de, em seguida, requerer novo benefício (reaposentação) que utilize os períodos contributivos doprimeiro somado aos períodos posteriores ao retorno à atividade laboral (RESP 1.334.488).

VI – A DESAPOSENTAÇÃO E A REAPOSENTAÇÃO NÃO ENCONTRAM RESPALDO NA LEI, MESMO QUE OSEGURADO SE DISPONHA A DEVOLVER TODOS OS VALORES JÁ RECEBIDOS A TÍTULO DE APOSENTADORIA.1. Orientação do Relator, Juiz Federal Iorio Siqueira D’Alessandri Forti, externada em voto vencido no recurso inominado2011.50.50.005300-0/01 (sessão da 1ª Turma Recursal de Vitória/ES em 28/06/2013), para quem a desaposentação esubseqüente reaposentação não são juridicamente viáveis sequer com a restituição dos valores recebidos pelo segurado,com amparo nos seguintes fundamentos:i) Inexistência de norma autorizando a pretensão em regra implica, nos atos vinculados, vedação, e não permissão. A cadanovo mês trabalhado por um segurado aposentado, corresponde o pagamento de uma nova contribuição, e eventualmenteele teria interesse em obter “nova aposentadoria melhorada” mensalmente, razão pela qual a falta de disciplina legalresultaria em situação caótica.ii) O simples fato de incidir contribuição sobre o salário de um segurado obrigatório que se encontra aposentado nãopermite concluir que, com base nos arts. 195, § 5º, e 201, § 11º, da CRFB/1988, alguma vantagem individualcorrespondente lhe seja devida (STF, RE 210.211, AI 724.582 AgR e ADI 3.105). Se a contribuição, com a significativaalíquota de 11%, for reputada excessiva ou sem causa válida, a conseqüência possível é a inconstitucionalidade dacontribuição, nunca a majoração da aposentadoria sem expressa previsão em lei.iii) O tempo de contribuição ingressa no patrimônio do trabalhador mês a mês, e, satisfeitos os requisitos para a obtençãode benefício, considera-se direito adquirido, a ser utilizado quando o segurado considerar mais conveniente. Diante debifurcação, a ele cabe escolher qual caminho trilhar, sabendo que não há autorização legal para retornar: requererimediatamente a aposentadoria, gozando-a desde logo, por um período de vida mais longo, com valor “achatado” pelo fatorprevidenciário, ou permanecer mais tempo contribuindo, para ficar mais velho e obter um benefício maior. Uma vezexercido o direito de instar a Administração a agir, tem-se ato administrativo aperfeiçoado, protegido pelo art. 5º, XXXVI, daCRFB/1988. O tempo trabalhado e contribuído não deixou de integrar o patrimônio do segurado, mas já foi aproveitadointegralmente para uma finalidade, e não pode, portanto, ser aproveitado para outra.iv) É certo que o direito do aposentado às prestações mensais do benefício, apesar da natureza alimentar deste, ostentanatureza patrimonial e disponível. O segurado pode, a qualquer momento, renunciar ao recebimento de uma, várias ou

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todas as prestações, com efeitos ex nunc, isto é, sem ter de devolver aquelas já recebidas, uma vez que não as recebeuindevidamente. Ocorre que o direito à aposentadoria em si, após adquirido, foi exercido por ato de vontade; com odeferimento pela Administração, tornou-se ato jurídico perfeito. A qualquer momento, cessando as razões de conveniênciae oportunidade que levaram o segurado a suspender por tempo indeterminado os efeitos do ato administrativo que oaposentou, poderá solicitar a reativação imediata do benefício: em se tratando de direito social fundamental, visando àgarantia da subsistência digna, a aposentadoria é irrenunciável. O interruptor pode ser desligado (e religado, também), nãoarrancado da parede.v) Pode-se renunciar às prestações da aposentadoria, sendo vedado – diante da falta de norma autorizadora – valer-sedessa renúncia para contornar uma (má) escolha feita no passado, mesmo com a disposição de ressarcir a Administraçãode todos os valores recebidos. No sentido da imutabilidade radical deste ato, votaram os Ministros Dias Toffoli, CármenLúcia, Ricardo Lewandowski e Gilmar Mendes no julgamento do RE 630.501, enquanto os demais Ministros consideraram oato passível de revisão apenas quando tivesse por fundamento a aquisição de direito a RMI melhor antes da data dorequerimento. Nas palavras do Juiz Federal Guilherme Beltrami, o que a parte autora pretende não é renunciar àaposentadoria – porque, em suma, renúncia é abandonar direitos e não reverter a statu quo ante com recuperação dotempo; o que ela pretende é como renunciar à propriedade de um bem e querer o dinheiro da aquisição de volta.vi) O obstáculo à pretensão de obter nova aposentadoria com base nas mesmas contribuições aproveitadas para aaposentadoria a que renunciam decorre não só do ato jurídico perfeito (art. 5º, XXXVI, da CRFB/1988) e da falta deprevisão legal expressa (arts. 37, caput, e 201, caput e § 11, da CRFB/1988), como também de clara vedação prevista emnormas infraconstitucionais. O art. 18, § 2º, da Lei 8.213/1991 diz, por via transversa, que as contribuições vertidas pelosegurado aposentado não produzem efeito algum para a obtenção de outra aposentadoria, cabendo a ele escolherprudentemente quando e como as usará. O art. 29, I, e § 7º, também da Lei 8.213/1991, como a aposentadoria demanda,para a fixação da renda mensal inicial do benefício, o cômputo da idade e da expectativa de sobrevida do segurado nomomento do requerimento, conclui-se que, uma vez deferido, tem-se ato administrativo cujos efeitos atrelam, de formaincindível, a quantidade de contribuições vertidas e o período futuro de vida do segurado. Admitir a desaposentação e, logodepois, novo pedido de aposentadoria (com mais contribuições, idade mais elevada e, portanto, expectativa de sobrevidamenor), a fim de obter benefício com RMI maior, constituiria burla ao fator previdenciário e a seu objetivo de desestimularaposentadorias precoces.

VII – Recurso da parte autora conhecido e desprovido. Sem custas nem honorários, em razão da assistência judiciáriagratuita.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, acordam os Juízes da 1ª Turma Recursaldos Juizados Especiais Federais da Seção Judiciária do Espírito Santo CONHECER DO RECURSO e, no mérito,NEGAR-LHE PROVIMENTO, na forma da ementa constante dos autos, que passa a integrar o presente julgado.

IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTIJuiz Federal – 3º Relator da 1ª Turma Recursal

89 - 0007802-69.2012.4.02.5001/01 (2012.50.01.007802-0/01) (PROCESSO ELETRÔNICO) MARIO ROSETTI NETO(ADVOGADO: JOYCE DA SILVA PASSOS, VANESSA SOARES JABUR.) x INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL- INSS (PROCDOR: AFONSO CEZAR CORADINE.).RECURSO Nº 0007802-69.2012.4.02.5001/01 (2012.50.01.007802-0/01)RECORRENTE: MARIO ROSETTI NETORECORRIDO: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSSRELATOR: JUIZ FEDERAL IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTI

EMENTA

PREVIDENCIÁRIO. PRETENSÃO DE DESAPOSENTAÇÃO SEGUIDA DE REAPOSENTAÇÃO. AUSÊNCIA DEPREVISÃO LEGAL. VIOLAÇÃO AO ATO JURÍDICO PERFEITO. CONTRARIEDADE A REGRAS EXPRESSAS DA LEI8.213/1991. IMPROCEDÊNCIA DO PEDIDO.

I – CARÁTER CONTRIBUTIVO E SOLIDÁRIO DA PREVIDÊNCIA SOCIAL.1. A aposentadoria é direito social (art. 7º, XXIV, da CRFB/1988).2. Para a integridade da Previdência Social, tanto o Regime Geral quanto o Regime dos servidores têm caráter contributivoe solidário, de filiação obrigatória, com a observância de critérios que preservem o equilíbrio financeiro e atuarial (arts. 40,caput, e 201, caput, da CRFB/1988).

II – OS ARTS. 195, § 5º, E 201, § 11, DA CRFB/188: A INSTITUIÇÃO OU MAJORAÇÃO DE CONTRIBUIÇÃO DEVEREFORÇAR O REGIME SOLIDÁRIO, SEM NECESSARIAMENTE IMPLICAR BENEFÍCIO INDIVIDUAL PARA OCONTRIBUINTE.1. O art. 195, § 5º, da CRFB/1988 (“Nenhum benefício ou serviço da seguridade social poderá ser criado, majorado ouestendido sem a correspondente fonte de custeio total”) é regra que visa ao equilíbrio financeiro e atuarial.2. A majoração da contribuição social, como qualquer tributo, depende, para a sua validade, de causa jurídica válida, e,portanto, demanda, em contrapartida, incremento no sistema previdenciário (STF, ADI 790, RE 183.906 e ADI-MC 2.010).3. Entretanto, a majoração da contribuição social previdenciária não necessariamente resultará em aumento dos benefícios

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e serviços a que cada segurado-contribuinte fará jus, cabendo à lei, na forma do art. 201, § 11 da CRFB/1988, disciplinar see como haverá reflexos: contribui-se solidariamente para a manutenção e expansão do sistema como um todo, e não paraprovisionar fundos única e exclusivamente em benefício próprio (STF, RE 210.211, AI 724.582 AgR e ADI 3.105).

III – FATOR PREVIDENCIÁRIO E DESINCENTIVO À APOSENTADORIA PRECOCE COMO TÉCNICA DE MANUTENÇÃODO EQUILÍBRIO DA PREVIDÊNCIA SOCIAL.1. No regime previdenciário dos servidores públicos, há idade mínima como requisito para a aposentadoria, paga-se abonode permanência a quem postergar a aposentadoria (art. 40, § 19, da CRFB/1988), e veda-se a acumulação de proventoscom vencimentos (salvo na hipótese do art. 37, § 10, da CRFB/1988).2. No RGPS, não há idade mínima como requisito para a aposentadoria, permite-se a acumulação de aposentadoria com aremuneração de emprego, o deferimento de aposentadoria não rescinde os contratos de trabalho (STF, ADI 1.721 e 1.770).Por outro lado, a Lei 9.876/1999 instituiu o fator previdenciário – cuja constitucionalidade foi reconhecida pelo STF (ADI-MC2.111) – no cálculo das aposentadorias por idade, por tempo de serviço e por tempo de contribuição, para assegurar oequilíbrio atuarial, de modo que os critérios “tempo de contribuição”, “idade” e “expectativa de sobrevida no momento daaposentadoria” tenham influência sobre o valor final do benefício.

IV – DIREITO ADQUIRIDO AO BENEFÍCIO CUJOS REQUISITOS FORAM INTEGRALMENTE CUMPRIDOS.1. Com base no art. 5º, XXXVI, da CRFB/1988, o segurado tem direito a que seu benefício, quanto aos seus elementosessenciais, observe a lei em vigor no momento em que preencheu todos os requisitos para a sua aquisição,independentemente da data do requerimento administrativo (STF, RE 72.509 e Súmula 359). Assim, por exemplo, apensão por morte é regida pela lei em vigor na data do óbito do segurado-instituidor, não se aplicando a lei posterior, sejamais gravosa, seja mais benéfica (STF, RE 218.467, RE 273.570 e RE 415.454).2. O direito adquirido ao benefício não assegura a imutabilidade do seu regime jurídico (STF, RE 278.718, RE 575.089 e AI654.807), então, por exemplo, os segurados podem ser beneficiados pela alteração do valor-limite do benefício (STF, RE564.354) ou prejudicados pela instituição ou diminuição de prazos prescricionais ou decadenciais (STF, ADI-MC 1.715 e RE21.341).3. O segurado tem direito ao benefício mais vantajoso (aquele de maior RMI), considerando todos os fatores queinfluenciam em seu cálculo, desde a data em que o direito ao benefício ingressou em seu patrimônio (isto é, cumpriu todosos requisitos legais para a aquisição do direito) até o momento em que o direito é exercido (data do requerimentoadministrativo) (STF, RE 630.501). Cumpridos os requisitos mínimos (tempo de serviço e carência ou tempo decontribuição e idade, conforme o regime jurídico vigente à época), o segurado adquire o direito ao benefício, aquisição quenão se confunde com o seu exercício (neste sentido, o art. 102, § 1º, da Lei 8.213/1991, incluído pela Lei 9.528/1997, areconhecer que a perda da qualidade de segurado não prejudica o direito à aposentadoria para cuja concessão tenham sidopreenchidos todos os requisitos, segundo a legislação em vigor à época em que atendidos esses requisitos), daí porqueeventual modificação posterior nas circunstâncias de fato não suprime o direito já incorporado ao patrimônio do seu titular.Adquirido o direito à aposentação, o segurado pode optar por não exercê-lo de imediato, seja para fazer jus ao benefíciointegral (quando houve aquisição do direito apenas à aposentadoria proporcional), seja para melhorar o fator previdenciárioaplicável e computar as novas contribuições, e essa opção não pode prejudicá-lo, pois seria injurídico tolerar que a RMI dobenefício requerido posteriormente (em decorrência, por exemplo, da redução do salário-de-contribuição) fosse inferior àRMI do benefício que poderia já ter obtido. Conferiu-se interpretação extensiva ao art. 122 da Lei 8.213/1991 (“Se maisvantajoso, fica assegurado o direito à aposentadoria, nas condições legalmente previstas na data do cumprimento de todosos requisitos necessários à obtenção do benefício, ao segurado que, tendo completado 35 anos de serviço, se homem, outrinta anos, se mulher, optou por permanecer em atividade”) para assegurar não só o benefício mais vantajoso na data documprimento dos requisitos para a aposentadoria integral, como também para a aposentadoria proporcional adquirida, bemcomo em cada um dos meses posteriores à aquisição, até a data do exercício do direito pelo requerimento.4. Exercido o direito ao benefício, mediante requerimento de aposentadoria, o tempo de contribuição acumulado exauretodos os seus efeitos jurídicos, não podendo ser computado posteriormente para a aquisição de outros direitos.

V – “RENÚNCIA À APOSENTADORIA”: PRECEDENTES SOBRE DESAPOSENTAÇÃO.1. Há aposentados que retornam à atividade laboral como segurados obrigatórios, e posteriormente pleiteiam em juízo novocálculo de proventos, consideradas as contribuições de período referente a esse regresso, pretendendo afastar o art. 18, §2º, da Lei 8.213/1991 (“O aposentado pelo Regime Geral de Previdência Social - RGPS que permanecer em atividadesujeita a este Regime, ou a ele retornar, não fará jus a prestação alguma da Previdência Social em decorrência do exercíciodessa atividade, exceto ao salário-família e à reabilitação profissional, quando empregado.”) por considerá-lo incompatívelcom o art. 201, § 11, da CRFB/1988 (“Os ganhos habituais do empregado, a qualquer título, serão incorporados ao saláriopara efeito de contribuição previdenciária e conseqüente repercussão em benefícios, nos casos e na forma da lei.”).2. A jurisprudência admitia a renúncia à aposentadoria já obtida, com o aproveitamento do tempo de contribuição para obternova aposentadoria, desde que tal renúncia produzisse efeitos ex tunc (impondo a devolução integral das prestaçõespercebidas do INSS, para evitar enriquecimento ilícito do beneficiário) (TNU, PEDILEF 200872580041869; Enunciado 70das Turmas Recursais do Rio de Janeiro; Primeira Seção do TRF da 2ª Região, EIAC 201050010042326).3. A Primeira Seção do STJ assentou que “Os benefícios previdenciários são direitos patrimoniais disponíveis e, portanto,suscetíveis de desistência pelos seus titulares, prescindindo-se da devolução dos valores recebidos da aposentadoria a queo segurado deseja preterir para a concessão de novo e posterior jubilamento”. Conferiu interpretação ao art. 18, § 2º, da Lei8.213/1991 no sentido de que este não impede o segurado de retornar à atividade laboral e renunciar à aposentadoria deque está em gozo, nem de, em seguida, requerer novo benefício (reaposentação) que utilize os períodos contributivos doprimeiro somado aos períodos posteriores ao retorno à atividade laboral (RESP 1.334.488).

VI – A DESAPOSENTAÇÃO E A REAPOSENTAÇÃO NÃO ENCONTRAM RESPALDO NA LEI, MESMO QUE O

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SEGURADO SE DISPONHA A DEVOLVER TODOS OS VALORES JÁ RECEBIDOS A TÍTULO DE APOSENTADORIA.1. Orientação do Relator, Juiz Federal Iorio Siqueira D’Alessandri Forti, externada em voto vencido no recurso inominado2011.50.50.005300-0/01 (sessão da 1ª Turma Recursal de Vitória/ES em 28/06/2013), para quem a desaposentação esubseqüente reaposentação não são juridicamente viáveis sequer com a restituição dos valores recebidos pelo segurado,com amparo nos seguintes fundamentos:i) Inexistência de norma autorizando a pretensão em regra implica, nos atos vinculados, vedação, e não permissão. A cadanovo mês trabalhado por um segurado aposentado, corresponde o pagamento de uma nova contribuição, e eventualmenteele teria interesse em obter “nova aposentadoria melhorada” mensalmente, razão pela qual a falta de disciplina legalresultaria em situação caótica.ii) O simples fato de incidir contribuição sobre o salário de um segurado obrigatório que se encontra aposentado nãopermite concluir que, com base nos arts. 195, § 5º, e 201, § 11º, da CRFB/1988, alguma vantagem individualcorrespondente lhe seja devida (STF, RE 210.211, AI 724.582 AgR e ADI 3.105). Se a contribuição, com a significativaalíquota de 11%, for reputada excessiva ou sem causa válida, a conseqüência possível é a inconstitucionalidade dacontribuição, nunca a majoração da aposentadoria sem expressa previsão em lei.iii) O tempo de contribuição ingressa no patrimônio do trabalhador mês a mês, e, satisfeitos os requisitos para a obtençãode benefício, considera-se direito adquirido, a ser utilizado quando o segurado considerar mais conveniente. Diante debifurcação, a ele cabe escolher qual caminho trilhar, sabendo que não há autorização legal para retornar: requererimediatamente a aposentadoria, gozando-a desde logo, por um período de vida mais longo, com valor “achatado” pelo fatorprevidenciário, ou permanecer mais tempo contribuindo, para ficar mais velho e obter um benefício maior. Uma vezexercido o direito de instar a Administração a agir, tem-se ato administrativo aperfeiçoado, protegido pelo art. 5º, XXXVI, daCRFB/1988. O tempo trabalhado e contribuído não deixou de integrar o patrimônio do segurado, mas já foi aproveitadointegralmente para uma finalidade, e não pode, portanto, ser aproveitado para outra.iv) É certo que o direito do aposentado às prestações mensais do benefício, apesar da natureza alimentar deste, ostentanatureza patrimonial e disponível. O segurado pode, a qualquer momento, renunciar ao recebimento de uma, várias outodas as prestações, com efeitos ex nunc, isto é, sem ter de devolver aquelas já recebidas, uma vez que não as recebeuindevidamente. Ocorre que o direito à aposentadoria em si, após adquirido, foi exercido por ato de vontade; com odeferimento pela Administração, tornou-se ato jurídico perfeito. A qualquer momento, cessando as razões de conveniênciae oportunidade que levaram o segurado a suspender por tempo indeterminado os efeitos do ato administrativo que oaposentou, poderá solicitar a reativação imediata do benefício: em se tratando de direito social fundamental, visando àgarantia da subsistência digna, a aposentadoria é irrenunciável. O interruptor pode ser desligado (e religado, também), nãoarrancado da parede.v) Pode-se renunciar às prestações da aposentadoria, sendo vedado – diante da falta de norma autorizadora – valer-sedessa renúncia para contornar uma (má) escolha feita no passado, mesmo com a disposição de ressarcir a Administraçãode todos os valores recebidos. No sentido da imutabilidade radical deste ato, votaram os Ministros Dias Toffoli, CármenLúcia, Ricardo Lewandowski e Gilmar Mendes no julgamento do RE 630.501, enquanto os demais Ministros consideraram oato passível de revisão apenas quando tivesse por fundamento a aquisição de direito a RMI melhor antes da data dorequerimento. Nas palavras do Juiz Federal Guilherme Beltrami, o que a parte autora pretende não é renunciar àaposentadoria – porque, em suma, renúncia é abandonar direitos e não reverter a statu quo ante com recuperação dotempo; o que ela pretende é como renunciar à propriedade de um bem e querer o dinheiro da aquisição de volta.vi) O obstáculo à pretensão de obter nova aposentadoria com base nas mesmas contribuições aproveitadas para aaposentadoria a que renunciam decorre não só do ato jurídico perfeito (art. 5º, XXXVI, da CRFB/1988) e da falta deprevisão legal expressa (arts. 37, caput, e 201, caput e § 11, da CRFB/1988), como também de clara vedação prevista emnormas infraconstitucionais. O art. 18, § 2º, da Lei 8.213/1991 diz, por via transversa, que as contribuições vertidas pelosegurado aposentado não produzem efeito algum para a obtenção de outra aposentadoria, cabendo a ele escolherprudentemente quando e como as usará. O art. 29, I, e § 7º, também da Lei 8.213/1991, como a aposentadoria demanda,para a fixação da renda mensal inicial do benefício, o cômputo da idade e da expectativa de sobrevida do segurado nomomento do requerimento, conclui-se que, uma vez deferido, tem-se ato administrativo cujos efeitos atrelam, de formaincindível, a quantidade de contribuições vertidas e o período futuro de vida do segurado. Admitir a desaposentação e, logodepois, novo pedido de aposentadoria (com mais contribuições, idade mais elevada e, portanto, expectativa de sobrevidamenor), a fim de obter benefício com RMI maior, constituiria burla ao fator previdenciário e a seu objetivo de desestimularaposentadorias precoces.

VII – Recurso da parte autora conhecido e desprovido. Sem custas nem honorários, em razão da assistência judiciáriagratuita.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, acordam os Juízes da 1ª Turma Recursaldos Juizados Especiais Federais da Seção Judiciária do Espírito Santo CONHECER DO RECURSO e, no mérito,NEGAR-LHE PROVIMENTO, na forma da ementa constante dos autos, que passa a integrar o presente julgado.

IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTIJuiz Federal – 3º Relator da 1ª Turma Recursal

90 - 0001974-08.2013.4.02.5050/01 (2013.50.50.001974-7/01) (PROCESSO ELETRÔNICO) MARLY ROSA DEPIANTI(ADVOGADO: Allan Ferreira Bernardo, FELIPE CASTRO DE CARVALHO, CAIO AFONSO CARDOSO.) x INSTITUTONACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS (PROCDOR: BRUNO MIRANDA COSTA.).RECURSO Nº 0001974-08.2013.4.02.5050/01 (2013.50.50.001974-7/01)

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RECORRENTE: MARLY ROSA DEPIANTIRECORRIDO: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSSRELATOR: JUIZ FEDERAL IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTI

EMENTA

PREVIDENCIÁRIO. PRETENSÃO DE DESAPOSENTAÇÃO SEGUIDA DE REAPOSENTAÇÃO. AUSÊNCIA DEPREVISÃO LEGAL. VIOLAÇÃO AO ATO JURÍDICO PERFEITO. CONTRARIEDADE A REGRAS EXPRESSAS DA LEI8.213/1991. IMPROCEDÊNCIA DO PEDIDO.I – CARÁTER CONTRIBUTIVO E SOLIDÁRIO DA PREVIDÊNCIA SOCIAL.1. A aposentadoria é direito social (art. 7º, XXIV, da CRFB/1988).2. Para a integridade da Previdência Social, tanto o Regime Geral quanto o Regime dos servidores têm caráter contributivoe solidário, de filiação obrigatória, com a observância de critérios que preservem o equilíbrio financeiro e atuarial (arts. 40,caput, e 201, caput, da CRFB/1988).II – OS ARTS. 195, § 5º, E 201, § 11, DA CRFB/188: A INSTITUIÇÃO OU MAJORAÇÃO DE CONTRIBUIÇÃO DEVEREFORÇAR O REGIME SOLIDÁRIO, SEM NECESSARIAMENTE IMPLICAR BENEFÍCIO INDIVIDUAL PARA OCONTRIBUINTE.1. O art. 195, § 5º, da CRFB/1988 (“Nenhum benefício ou serviço da seguridade social poderá ser criado, majorado ouestendido sem a correspondente fonte de custeio total”) é regra que visa ao equilíbrio financeiro e atuarial.2. A majoração da contribuição social, como qualquer tributo, depende, para a sua validade, de causa jurídica válida, e,portanto, demanda, em contrapartida, incremento no sistema previdenciário (STF, ADI 790, RE 183.906 e ADI-MC 2.010).3. Entretanto, a majoração da contribuição social previdenciária não necessariamente resultará em aumento dos benefíciose serviços a que cada segurado-contribuinte fará jus, cabendo à lei, na forma do art. 201, § 11 da CRFB/1988, disciplinar see como haverá reflexos: contribui-se solidariamente para a manutenção e expansão do sistema como um todo, e não paraprovisionar fundos única e exclusivamente em benefício próprio (STF, RE 210.211, AI 724.582 AgR e ADI 3.105).III – FATOR PREVIDENCIÁRIO E DESINCENTIVO À APOSENTADORIA PRECOCE COMO TÉCNICA DE MANUTENÇÃODO EQUILÍBRIO DA PREVIDÊNCIA SOCIAL.1. No regime previdenciário dos servidores públicos, há idade mínima como requisito para a aposentadoria, paga-se abonode permanência a quem postergar a aposentadoria (art. 40, § 19, da CRFB/1988), e veda-se a acumulação de proventoscom vencimentos (salvo na hipótese do art. 37, § 10, da CRFB/1988).2. No RGPS, não há idade mínima como requisito para a aposentadoria, permite-se a acumulação de aposentadoria com aremuneração de emprego, o deferimento de aposentadoria não rescinde os contratos de trabalho (STF, ADI 1.721 e 1.770).Por outro lado, a Lei 9.876/1999 instituiu o fator previdenciário – cuja constitucionalidade foi reconhecida pelo STF (ADI-MC2.111) – no cálculo das aposentadorias por idade, por tempo de serviço e por tempo de contribuição, para assegurar oequilíbrio atuarial, de modo que os critérios “tempo de contribuição”, “idade” e “expectativa de sobrevida no momento daaposentadoria” tenham influência sobre o valor final do benefício.IV – DIREITO ADQUIRIDO AO BENEFÍCIO CUJOS REQUISITOS FORAM INTEGRALMENTE CUMPRIDOS.1. Com base no art. 5º, XXXVI, da CRFB/1988, o segurado tem direito a que seu benefício, quanto aos seus elementosessenciais, observe a lei em vigor no momento em que preencheu todos os requisitos para a sua aquisição,independentemente da data do requerimento administrativo (STF, RE 72.509 e Súmula 359). Assim, por exemplo, apensão por morte é regida pela lei em vigor na data do óbito do segurado-instituidor, não se aplicando a lei posterior, sejamais gravosa, seja mais benéfica (STF, RE 218.467, RE 273.570 e RE 415.454).2. O direito adquirido ao benefício não assegura a imutabilidade do seu regime jurídico (STF, RE 278.718, RE 575.089 e AI654.807), então, por exemplo, os segurados podem ser beneficiados pela alteração do valor-limite do benefício (STF, RE564.354) ou prejudicados pela instituição ou diminuição de prazos prescricionais ou decadenciais (STF, ADI-MC 1.715 e RE21.341).3. O segurado tem direito ao benefício mais vantajoso (aquele de maior RMI), considerando todos os fatores queinfluenciam em seu cálculo, desde a data em que o direito ao benefício ingressou em seu patrimônio (isto é, cumpriu todosos requisitos legais para a aquisição do direito) até o momento em que o direito é exercido (data do requerimentoadministrativo) (STF, RE 630.501). Cumpridos os requisitos mínimos (tempo de serviço e carência ou tempo decontribuição e idade, conforme o regime jurídico vigente à época), o segurado adquire o direito ao benefício, aquisição quenão se confunde com o seu exercício (neste sentido, o art. 102, § 1º, da Lei 8.213/1991, incluído pela Lei 9.528/1997, areconhecer que a perda da qualidade de segurado não prejudica o direito à aposentadoria para cuja concessão tenham sidopreenchidos todos os requisitos, segundo a legislação em vigor à época em que atendidos esses requisitos), daí porqueeventual modificação posterior nas circunstâncias de fato não suprime o direito já incorporado ao patrimônio do seu titular.Adquirido o direito à aposentação, o segurado pode optar por não exercê-lo de imediato, seja para fazer jus ao benefíciointegral (quando houve aquisição do direito apenas à aposentadoria proporcional), seja para melhorar o fator previdenciárioaplicável e computar as novas contribuições, e essa opção não pode prejudicá-lo, pois seria injurídico tolerar que a RMI dobenefício requerido posteriormente (em decorrência, por exemplo, da redução do salário-de-contribuição) fosse inferior àRMI do benefício que poderia já ter obtido. Conferiu-se interpretação extensiva ao art. 122 da Lei 8.213/1991 (“Se maisvantajoso, fica assegurado o direito à aposentadoria, nas condições legalmente previstas na data do cumprimento de todosos requisitos necessários à obtenção do benefício, ao segurado que, tendo completado 35 anos de serviço, se homem, outrinta anos, se mulher, optou por permanecer em atividade”) para assegurar não só o benefício mais vantajoso na data documprimento dos requisitos para a aposentadoria integral, como também para a aposentadoria proporcional adquirida, bemcomo em cada um dos meses posteriores à aquisição, até a data do exercício do direito pelo requerimento.4. Exercido o direito ao benefício, mediante requerimento de aposentadoria, o tempo de contribuição acumulado exauretodos os seus efeitos jurídicos, não podendo ser computado posteriormente para a aquisição de outros direitos.

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V – “RENÚNCIA À APOSENTADORIA”: PRECEDENTES SOBRE DESAPOSENTAÇÃO.1. Há aposentados que retornam à atividade laboral como segurados obrigatórios, e posteriormente pleiteiam em juízo novocálculo de proventos, consideradas as contribuições de período referente a esse regresso, pretendendo afastar o art. 18, §2º, da Lei 8.213/1991 (“O aposentado pelo Regime Geral de Previdência Social - RGPS que permanecer em atividadesujeita a este Regime, ou a ele retornar, não fará jus a prestação alguma da Previdência Social em decorrência do exercíciodessa atividade, exceto ao salário-família e à reabilitação profissional, quando empregado.”) por considerá-lo incompatívelcom o art. 201, § 11, da CRFB/1988 (“Os ganhos habituais do empregado, a qualquer título, serão incorporados ao saláriopara efeito de contribuição previdenciária e conseqüente repercussão em benefícios, nos casos e na forma da lei.”).2. A jurisprudência admitia a renúncia à aposentadoria já obtida, com o aproveitamento do tempo de contribuição para obternova aposentadoria, desde que tal renúncia produzisse efeitos ex tunc (impondo a devolução integral das prestaçõespercebidas do INSS, para evitar enriquecimento ilícito do beneficiário) (TNU, PEDILEF 200872580041869; Enunciado 70das Turmas Recursais do Rio de Janeiro; Primeira Seção do TRF da 2ª Região, EIAC 201050010042326).3. A Primeira Seção do STJ assentou que “Os benefícios previdenciários são direitos patrimoniais disponíveis e, portanto,suscetíveis de desistência pelos seus titulares, prescindindo-se da devolução dos valores recebidos da aposentadoria a queo segurado deseja preterir para a concessão de novo e posterior jubilamento”. Conferiu interpretação ao art. 18, § 2º, da Lei8.213/1991 no sentido de que este não impede o segurado de retornar à atividade laboral e renunciar à aposentadoria deque está em gozo, nem de, em seguida, requerer novo benefício (reaposentação) que utilize os períodos contributivos doprimeiro somado aos períodos posteriores ao retorno à atividade laboral (RESP 1.334.488).VI – A DESAPOSENTAÇÃO E A REAPOSENTAÇÃO NÃO ENCONTRAM RESPALDO NA LEI, MESMO QUE OSEGURADO SE DISPONHA A DEVOLVER TODOS OS VALORES JÁ RECEBIDOS A TÍTULO DE APOSENTADORIA.1. Orientação do Relator, Juiz Federal Iorio Siqueira D’Alessandri Forti, externada em voto vencido no recurso inominado2011.50.50.005300-0/01 (sessão da 1ª Turma Recursal de Vitória/ES em 28/06/2013), para quem a desaposentação esubseqüente reaposentação não são juridicamente viáveis sequer com a restituição dos valores recebidos pelo segurado,com amparo nos seguintes fundamentos:i) Inexistência de norma autorizando a pretensão em regra implica, nos atos vinculados, vedação, e não permissão. A cadanovo mês trabalhado por um segurado aposentado, corresponde o pagamento de uma nova contribuição, e eventualmenteele teria interesse em obter “nova aposentadoria melhorada” mensalmente, razão pela qual a falta de disciplina legalresultaria em situação caótica.ii) O simples fato de incidir contribuição sobre o salário de um segurado obrigatório que se encontra aposentado nãopermite concluir que, com base nos arts. 195, § 5º, e 201, § 11º, da CRFB/1988, alguma vantagem individualcorrespondente lhe seja devida (STF, RE 210.211, AI 724.582 AgR e ADI 3.105). Se a contribuição, com a significativaalíquota de 11%, for reputada excessiva ou sem causa válida, a conseqüência possível é a inconstitucionalidade dacontribuição, nunca a majoração da aposentadoria sem expressa previsão em lei.iii) O tempo de contribuição ingressa no patrimônio do trabalhador mês a mês, e, satisfeitos os requisitos para a obtençãode benefício, considera-se direito adquirido, a ser utilizado quando o segurado considerar mais conveniente. Diante debifurcação, a ele cabe escolher qual caminho trilhar, sabendo que não há autorização legal para retornar: requererimediatamente a aposentadoria, gozando-a desde logo, por um período de vida mais longo, com valor “achatado” pelo fatorprevidenciário, ou permanecer mais tempo contribuindo, para ficar mais velho e obter um benefício maior. Uma vezexercido o direito de instar a Administração a agir, tem-se ato administrativo aperfeiçoado, protegido pelo art. 5º, XXXVI, daCRFB/1988. O tempo trabalhado e contribuído não deixou de integrar o patrimônio do segurado, mas já foi aproveitadointegralmente para uma finalidade, e não pode, portanto, ser aproveitado para outra.iv) É certo que o direito do aposentado às prestações mensais do benefício, apesar da natureza alimentar deste, ostentanatureza patrimonial e disponível. O segurado pode, a qualquer momento, renunciar ao recebimento de uma, várias outodas as prestações, com efeitos ex nunc, isto é, sem ter de devolver aquelas já recebidas, uma vez que não as recebeuindevidamente. Ocorre que o direito à aposentadoria em si, após adquirido, foi exercido por ato de vontade; com odeferimento pela Administração, tornou-se ato jurídico perfeito. A qualquer momento, cessando as razões de conveniênciae oportunidade que levaram o segurado a suspender por tempo indeterminado os efeitos do ato administrativo que oaposentou, poderá solicitar a reativação imediata do benefício: em se tratando de direito social fundamental, visando àgarantia da subsistência digna, a aposentadoria é irrenunciável. O interruptor pode ser desligado (e religado, também), nãoarrancado da parede.v) Pode-se renunciar às prestações da aposentadoria, sendo vedado – diante da falta de norma autorizadora – valer-sedessa renúncia para contornar uma (má) escolha feita no passado, mesmo com a disposição de ressarcir a Administraçãode todos os valores recebidos. No sentido da imutabilidade radical deste ato, votaram os Ministros Dias Toffoli, CármenLúcia, Ricardo Lewandowski e Gilmar Mendes no julgamento do RE 630.501, enquanto os demais Ministros consideraram oato passível de revisão apenas quando tivesse por fundamento a aquisição de direito a RMI melhor antes da data dorequerimento. Nas palavras do Juiz Federal Guilherme Beltrami, o que a parte autora pretende não é renunciar àaposentadoria – porque, em suma, renúncia é abandonar direitos e não reverter a statu quo ante com recuperação dotempo; o que ela pretende é como renunciar à propriedade de um bem e querer o dinheiro da aquisição de volta.vi) O obstáculo à pretensão de obter nova aposentadoria com base nas mesmas contribuições aproveitadas para aaposentadoria a que renunciam decorre não só do ato jurídico perfeito (art. 5º, XXXVI, da CRFB/1988) e da falta deprevisão legal expressa (arts. 37, caput, e 201, caput e § 11, da CRFB/1988), como também de clara vedação prevista emnormas infraconstitucionais. O art. 18, § 2º, da Lei 8.213/1991 diz, por via transversa, que as contribuições vertidas pelosegurado aposentado não produzem efeito algum para a obtenção de outra aposentadoria, cabendo a ele escolherprudentemente quando e como as usará. O art. 29, I, e § 7º, também da Lei 8.213/1991, como a aposentadoria demanda,para a fixação da renda mensal inicial do benefício, o cômputo da idade e da expectativa de sobrevida do segurado nomomento do requerimento, conclui-se que, uma vez deferido, tem-se ato administrativo cujos efeitos atrelam, de formaincindível, a quantidade de contribuições vertidas e o período futuro de vida do segurado. Admitir a desaposentação e, logodepois, novo pedido de aposentadoria (com mais contribuições, idade mais elevada e, portanto, expectativa de sobrevida

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menor), a fim de obter benefício com RMI maior, constituiria burla ao fator previdenciário e a seu objetivo de desestimularaposentadorias precoces.VII – Recurso da autora conhecido e desprovido. Sem custas nem honorários sucumbenciais, ante o deferimento daAssistência Judiciária Gratuita.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, acordam os Juízes da Turma Recursaldos Juizados Especiais Federais da Seção Judiciária do Espírito Santo CONHECER DO RECURSO e, no mérito,NEGAR-LHE PROVIMENTO, na forma da ementa constante dos autos, que passa a integrar o presente julgado.

IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTIJuiz Federal – 3º Juiz Relator

91 - 0012525-34.2012.4.02.5001/01 (2012.50.01.012525-3/01) (PROCESSO ELETRÔNICO) INSTITUTO NACIONAL DOSEGURO SOCIAL - INSS (PROCDOR: ANA PAULA BARRETO MONTEIRO ROTHEN.) x ANTONIO GERALDO COSTA(ADVOGADO: JOYCE DA SILVA PASSOS, VANESSA SOARES JABUR.).RECURSO Nº 0012525-34.2012.4.02.5001/01 (2012.50.01.012525-3/01)RECORRENTE: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSSRECORRIDO: ANTONIO GERALDO COSTARELATOR: JUIZ FEDERAL IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTI

EMENTA

PREVIDENCIÁRIO. PRETENSÃO DE DESAPOSENTAÇÃO SEGUIDA DE REAPOSENTAÇÃO. AUSÊNCIA DEPREVISÃO LEGAL. VIOLAÇÃO AO ATO JURÍDICO PERFEITO. CONTRARIEDADE A REGRAS EXPRESSAS DA LEI8.213/1991. IMPROCEDÊNCIA DO PEDIDO.I – CARÁTER CONTRIBUTIVO E SOLIDÁRIO DA PREVIDÊNCIA SOCIAL.1. A aposentadoria é direito social (art. 7º, XXIV, da CRFB/1988).2. Para a integridade da Previdência Social, tanto o Regime Geral quanto o Regime dos servidores têm caráter contributivoe solidário, de filiação obrigatória, com a observância de critérios que preservem o equilíbrio financeiro e atuarial (arts. 40,caput, e 201, caput, da CRFB/1988).II – OS ARTS. 195, § 5º, E 201, § 11, DA CRFB/188: A INSTITUIÇÃO OU MAJORAÇÃO DE CONTRIBUIÇÃO DEVEREFORÇAR O REGIME SOLIDÁRIO, SEM NECESSARIAMENTE IMPLICAR BENEFÍCIO INDIVIDUAL PARA OCONTRIBUINTE.1. O art. 195, § 5º, da CRFB/1988 (“Nenhum benefício ou serviço da seguridade social poderá ser criado, majorado ouestendido sem a correspondente fonte de custeio total”) é regra que visa ao equilíbrio financeiro e atuarial.2. A majoração da contribuição social, como qualquer tributo, depende, para a sua validade, de causa jurídica válida, e,portanto, demanda, em contrapartida, incremento no sistema previdenciário (STF, ADI 790, RE 183.906 e ADI-MC 2.010).3. Entretanto, a majoração da contribuição social previdenciária não necessariamente resultará em aumento dos benefíciose serviços a que cada segurado-contribuinte fará jus, cabendo à lei, na forma do art. 201, § 11 da CRFB/1988, disciplinar see como haverá reflexos: contribui-se solidariamente para a manutenção e expansão do sistema como um todo, e não paraprovisionar fundos única e exclusivamente em benefício próprio (STF, RE 210.211, AI 724.582 AgR e ADI 3.105).III – FATOR PREVIDENCIÁRIO E DESINCENTIVO À APOSENTADORIA PRECOCE COMO TÉCNICA DE MANUTENÇÃODO EQUILÍBRIO DA PREVIDÊNCIA SOCIAL.1. No regime previdenciário dos servidores públicos, há idade mínima como requisito para a aposentadoria, paga-se abonode permanência a quem postergar a aposentadoria (art. 40, § 19, da CRFB/1988), e veda-se a acumulação de proventoscom vencimentos (salvo na hipótese do art. 37, § 10, da CRFB/1988).2. No RGPS, não há idade mínima como requisito para a aposentadoria, permite-se a acumulação de aposentadoria com aremuneração de emprego, o deferimento de aposentadoria não rescinde os contratos de trabalho (STF, ADI 1.721 e 1.770).Por outro lado, a Lei 9.876/1999 instituiu o fator previdenciário – cuja constitucionalidade foi reconhecida pelo STF (ADI-MC2.111) – no cálculo das aposentadorias por idade, por tempo de serviço e por tempo de contribuição, para assegurar oequilíbrio atuarial, de modo que os critérios “tempo de contribuição”, “idade” e “expectativa de sobrevida no momento daaposentadoria” tenham influência sobre o valor final do benefício.IV – DIREITO ADQUIRIDO AO BENEFÍCIO CUJOS REQUISITOS FORAM INTEGRALMENTE CUMPRIDOS.1. Com base no art. 5º, XXXVI, da CRFB/1988, o segurado tem direito a que seu benefício, quanto aos seus elementosessenciais, observe a lei em vigor no momento em que preencheu todos os requisitos para a sua aquisição,independentemente da data do requerimento administrativo (STF, RE 72.509 e Súmula 359). Assim, por exemplo, apensão por morte é regida pela lei em vigor na data do óbito do segurado-instituidor, não se aplicando a lei posterior, sejamais gravosa, seja mais benéfica (STF, RE 218.467, RE 273.570 e RE 415.454).2. O direito adquirido ao benefício não assegura a imutabilidade do seu regime jurídico (STF, RE 278.718, RE 575.089 e AI654.807), então, por exemplo, os segurados podem ser beneficiados pela alteração do valor-limite do benefício (STF, RE564.354) ou prejudicados pela instituição ou diminuição de prazos prescricionais ou decadenciais (STF, ADI-MC 1.715 e RE21.341).3. O segurado tem direito ao benefício mais vantajoso (aquele de maior RMI), considerando todos os fatores queinfluenciam em seu cálculo, desde a data em que o direito ao benefício ingressou em seu patrimônio (isto é, cumpriu todos

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os requisitos legais para a aquisição do direito) até o momento em que o direito é exercido (data do requerimentoadministrativo) (STF, RE 630.501). Cumpridos os requisitos mínimos (tempo de serviço e carência ou tempo decontribuição e idade, conforme o regime jurídico vigente à época), o segurado adquire o direito ao benefício, aquisição quenão se confunde com o seu exercício (neste sentido, o art. 102, § 1º, da Lei 8.213/1991, incluído pela Lei 9.528/1997, areconhecer que a perda da qualidade de segurado não prejudica o direito à aposentadoria para cuja concessão tenham sidopreenchidos todos os requisitos, segundo a legislação em vigor à época em que atendidos esses requisitos), daí porqueeventual modificação posterior nas circunstâncias de fato não suprime o direito já incorporado ao patrimônio do seu titular.Adquirido o direito à aposentação, o segurado pode optar por não exercê-lo de imediato, seja para fazer jus ao benefíciointegral (quando houve aquisição do direito apenas à aposentadoria proporcional), seja para melhorar o fator previdenciárioaplicável e computar as novas contribuições, e essa opção não pode prejudicá-lo, pois seria injurídico tolerar que a RMI dobenefício requerido posteriormente (em decorrência, por exemplo, da redução do salário-de-contribuição) fosse inferior àRMI do benefício que poderia já ter obtido. Conferiu-se interpretação extensiva ao art. 122 da Lei 8.213/1991 (“Se maisvantajoso, fica assegurado o direito à aposentadoria, nas condições legalmente previstas na data do cumprimento de todosos requisitos necessários à obtenção do benefício, ao segurado que, tendo completado 35 anos de serviço, se homem, outrinta anos, se mulher, optou por permanecer em atividade”) para assegurar não só o benefício mais vantajoso na data documprimento dos requisitos para a aposentadoria integral, como também para a aposentadoria proporcional adquirida, bemcomo em cada um dos meses posteriores à aquisição, até a data do exercício do direito pelo requerimento.4. Exercido o direito ao benefício, mediante requerimento de aposentadoria, o tempo de contribuição acumulado exauretodos os seus efeitos jurídicos, não podendo ser computado posteriormente para a aquisição de outros direitos.V – “RENÚNCIA À APOSENTADORIA”: PRECEDENTES SOBRE DESAPOSENTAÇÃO.1. Há aposentados que retornam à atividade laboral como segurados obrigatórios, e posteriormente pleiteiam em juízo novocálculo de proventos, consideradas as contribuições de período referente a esse regresso, pretendendo afastar o art. 18, §2º, da Lei 8.213/1991 (“O aposentado pelo Regime Geral de Previdência Social - RGPS que permanecer em atividadesujeita a este Regime, ou a ele retornar, não fará jus a prestação alguma da Previdência Social em decorrência do exercíciodessa atividade, exceto ao salário-família e à reabilitação profissional, quando empregado.”) por considerá-lo incompatívelcom o art. 201, § 11, da CRFB/1988 (“Os ganhos habituais do empregado, a qualquer título, serão incorporados ao saláriopara efeito de contribuição previdenciária e conseqüente repercussão em benefícios, nos casos e na forma da lei.”).2. A jurisprudência admitia a renúncia à aposentadoria já obtida, com o aproveitamento do tempo de contribuição para obternova aposentadoria, desde que tal renúncia produzisse efeitos ex tunc (impondo a devolução integral das prestaçõespercebidas do INSS, para evitar enriquecimento ilícito do beneficiário) (TNU, PEDILEF 200872580041869; Enunciado 70das Turmas Recursais do Rio de Janeiro; Primeira Seção do TRF da 2ª Região, EIAC 201050010042326).3. A Primeira Seção do STJ assentou que “Os benefícios previdenciários são direitos patrimoniais disponíveis e, portanto,suscetíveis de desistência pelos seus titulares, prescindindo-se da devolução dos valores recebidos da aposentadoria a queo segurado deseja preterir para a concessão de novo e posterior jubilamento”. Conferiu interpretação ao art. 18, § 2º, da Lei8.213/1991 no sentido de que este não impede o segurado de retornar à atividade laboral e renunciar à aposentadoria deque está em gozo, nem de, em seguida, requerer novo benefício (reaposentação) que utilize os períodos contributivos doprimeiro somado aos períodos posteriores ao retorno à atividade laboral (RESP 1.334.488).VI – A DESAPOSENTAÇÃO E A REAPOSENTAÇÃO NÃO ENCONTRAM RESPALDO NA LEI, MESMO QUE OSEGURADO SE DISPONHA A DEVOLVER TODOS OS VALORES JÁ RECEBIDOS A TÍTULO DE APOSENTADORIA.1. Orientação do Relator, Juiz Federal Iorio Siqueira D’Alessandri Forti, externada em voto vencido no recurso inominado2011.50.50.005300-0/01 (sessão da 1ª Turma Recursal de Vitória/ES em 28/06/2013), para quem a desaposentação esubseqüente reaposentação não são juridicamente viáveis sequer com a restituição dos valores recebidos pelo segurado,com amparo nos seguintes fundamentos:i) Inexistência de norma autorizando a pretensão em regra implica, nos atos vinculados, vedação, e não permissão. A cadanovo mês trabalhado por um segurado aposentado, corresponde o pagamento de uma nova contribuição, e eventualmenteele teria interesse em obter “nova aposentadoria melhorada” mensalmente, razão pela qual a falta de disciplina legalresultaria em situação caótica.ii) O simples fato de incidir contribuição sobre o salário de um segurado obrigatório que se encontra aposentado nãopermite concluir que, com base nos arts. 195, § 5º, e 201, § 11º, da CRFB/1988, alguma vantagem individualcorrespondente lhe seja devida (STF, RE 210.211, AI 724.582 AgR e ADI 3.105). Se a contribuição, com a significativaalíquota de 11%, for reputada excessiva ou sem causa válida, a conseqüência possível é a inconstitucionalidade dacontribuição, nunca a majoração da aposentadoria sem expressa previsão em lei.iii) O tempo de contribuição ingressa no patrimônio do trabalhador mês a mês, e, satisfeitos os requisitos para a obtençãode benefício, considera-se direito adquirido, a ser utilizado quando o segurado considerar mais conveniente. Diante debifurcação, a ele cabe escolher qual caminho trilhar, sabendo que não há autorização legal para retornar: requererimediatamente a aposentadoria, gozando-a desde logo, por um período de vida mais longo, com valor “achatado” pelo fatorprevidenciário, ou permanecer mais tempo contribuindo, para ficar mais velho e obter um benefício maior. Uma vezexercido o direito de instar a Administração a agir, tem-se ato administrativo aperfeiçoado, protegido pelo art. 5º, XXXVI, daCRFB/1988. O tempo trabalhado e contribuído não deixou de integrar o patrimônio do segurado, mas já foi aproveitadointegralmente para uma finalidade, e não pode, portanto, ser aproveitado para outra.iv) É certo que o direito do aposentado às prestações mensais do benefício, apesar da natureza alimentar deste, ostentanatureza patrimonial e disponível. O segurado pode, a qualquer momento, renunciar ao recebimento de uma, várias outodas as prestações, com efeitos ex nunc, isto é, sem ter de devolver aquelas já recebidas, uma vez que não as recebeuindevidamente. Ocorre que o direito à aposentadoria em si, após adquirido, foi exercido por ato de vontade; com odeferimento pela Administração, tornou-se ato jurídico perfeito. A qualquer momento, cessando as razões de conveniênciae oportunidade que levaram o segurado a suspender por tempo indeterminado os efeitos do ato administrativo que oaposentou, poderá solicitar a reativação imediata do benefício: em se tratando de direito social fundamental, visando àgarantia da subsistência digna, a aposentadoria é irrenunciável. O interruptor pode ser desligado (e religado, também), não

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arrancado da parede.v) Pode-se renunciar às prestações da aposentadoria, sendo vedado – diante da falta de norma autorizadora – valer-sedessa renúncia para contornar uma (má) escolha feita no passado, mesmo com a disposição de ressarcir a Administraçãode todos os valores recebidos. No sentido da imutabilidade radical deste ato, votaram os Ministros Dias Toffoli, CármenLúcia, Ricardo Lewandowski e Gilmar Mendes no julgamento do RE 630.501, enquanto os demais Ministros consideraram oato passível de revisão apenas quando tivesse por fundamento a aquisição de direito a RMI melhor antes da data dorequerimento. Nas palavras do Juiz Federal Guilherme Beltrami, o que a parte autora pretende não é renunciar àaposentadoria – porque, em suma, renúncia é abandonar direitos e não reverter a statu quo ante com recuperação dotempo; o que ela pretende é como renunciar à propriedade de um bem e querer o dinheiro da aquisição de volta.vi) O obstáculo à pretensão de obter nova aposentadoria com base nas mesmas contribuições aproveitadas para aaposentadoria a que renunciam decorre não só do ato jurídico perfeito (art. 5º, XXXVI, da CRFB/1988) e da falta deprevisão legal expressa (arts. 37, caput, e 201, caput e § 11, da CRFB/1988), como também de clara vedação prevista emnormas infraconstitucionais. O art. 18, § 2º, da Lei 8.213/1991 diz, por via transversa, que as contribuições vertidas pelosegurado aposentado não produzem efeito algum para a obtenção de outra aposentadoria, cabendo a ele escolherprudentemente quando e como as usará. O art. 29, I, e § 7º, também da Lei 8.213/1991, como a aposentadoria demanda,para a fixação da renda mensal inicial do benefício, o cômputo da idade e da expectativa de sobrevida do segurado nomomento do requerimento, conclui-se que, uma vez deferido, tem-se ato administrativo cujos efeitos atrelam, de formaincindível, a quantidade de contribuições vertidas e o período futuro de vida do segurado. Admitir a desaposentação e, logodepois, novo pedido de aposentadoria (com mais contribuições, idade mais elevada e, portanto, expectativa de sobrevidamenor), a fim de obter benefício com RMI maior, constituiria burla ao fator previdenciário e a seu objetivo de desestimularaposentadorias precoces.VII – Recurso do INSS conhecido e provido, para julgar improcedente o pedido formulado pela parte autora. Sem custasnem honorários, em razão do provimento do recurso.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, acordam os Juízes da Turma Recursaldos Juizados Especiais Federais da Seção Judiciária do Espírito Santo CONHECER DO RECURSO e, no mérito, DAR-LHEPROVIMENTO, na forma da ementa constante dos autos, que passa a integrar o presente julgado.

IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTIJuiz Federal – 3º Juiz Relator

92 - 0001972-38.2013.4.02.5050/01 (2013.50.50.001972-3/01) (PROCESSO ELETRÔNICO) DEONILIA DONDONI(ADVOGADO: Allan Ferreira Bernardo, FELIPE CASTRO DE CARVALHO, CAIO AFONSO CARDOSO.) x INSTITUTONACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS (PROCDOR: SIMONE LENGRUBER DARROZ ROSSONI.).RECURSO Nº 0001972-38.2013.4.02.5050/01 (2013.50.50.001972-3/01)RECORRENTE: DEONILIA DONDONIRECORRIDO: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSSRELATOR: JUIZ FEDERAL IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTI

EMENTA

PREVIDENCIÁRIO. PRETENSÃO DE DESAPOSENTAÇÃO SEGUIDA DE REAPOSENTAÇÃO. AUSÊNCIA DEPREVISÃO LEGAL. VIOLAÇÃO AO ATO JURÍDICO PERFEITO. CONTRARIEDADE A REGRAS EXPRESSAS DA LEI8.213/1991. IMPROCEDÊNCIA DO PEDIDO.I – CARÁTER CONTRIBUTIVO E SOLIDÁRIO DA PREVIDÊNCIA SOCIAL.1. A aposentadoria é direito social (art. 7º, XXIV, da CRFB/1988).2. Para a integridade da Previdência Social, tanto o Regime Geral quanto o Regime dos servidores têm caráter contributivoe solidário, de filiação obrigatória, com a observância de critérios que preservem o equilíbrio financeiro e atuarial (arts. 40,caput, e 201, caput, da CRFB/1988).II – OS ARTS. 195, § 5º, E 201, § 11, DA CRFB/188: A INSTITUIÇÃO OU MAJORAÇÃO DE CONTRIBUIÇÃO DEVEREFORÇAR O REGIME SOLIDÁRIO, SEM NECESSARIAMENTE IMPLICAR BENEFÍCIO INDIVIDUAL PARA OCONTRIBUINTE.1. O art. 195, § 5º, da CRFB/1988 (“Nenhum benefício ou serviço da seguridade social poderá ser criado, majorado ouestendido sem a correspondente fonte de custeio total”) é regra que visa ao equilíbrio financeiro e atuarial.2. A majoração da contribuição social, como qualquer tributo, depende, para a sua validade, de causa jurídica válida, e,portanto, demanda, em contrapartida, incremento no sistema previdenciário (STF, ADI 790, RE 183.906 e ADI-MC 2.010).3. Entretanto, a majoração da contribuição social previdenciária não necessariamente resultará em aumento dos benefíciose serviços a que cada segurado-contribuinte fará jus, cabendo à lei, na forma do art. 201, § 11 da CRFB/1988, disciplinar see como haverá reflexos: contribui-se solidariamente para a manutenção e expansão do sistema como um todo, e não paraprovisionar fundos única e exclusivamente em benefício próprio (STF, RE 210.211, AI 724.582 AgR e ADI 3.105).III – FATOR PREVIDENCIÁRIO E DESINCENTIVO À APOSENTADORIA PRECOCE COMO TÉCNICA DE MANUTENÇÃODO EQUILÍBRIO DA PREVIDÊNCIA SOCIAL.1. No regime previdenciário dos servidores públicos, há idade mínima como requisito para a aposentadoria, paga-se abonode permanência a quem postergar a aposentadoria (art. 40, § 19, da CRFB/1988), e veda-se a acumulação de proventoscom vencimentos (salvo na hipótese do art. 37, § 10, da CRFB/1988).

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2. No RGPS, não há idade mínima como requisito para a aposentadoria, permite-se a acumulação de aposentadoria com aremuneração de emprego, o deferimento de aposentadoria não rescinde os contratos de trabalho (STF, ADI 1.721 e 1.770).Por outro lado, a Lei 9.876/1999 instituiu o fator previdenciário – cuja constitucionalidade foi reconhecida pelo STF (ADI-MC2.111) – no cálculo das aposentadorias por idade, por tempo de serviço e por tempo de contribuição, para assegurar oequilíbrio atuarial, de modo que os critérios “tempo de contribuição”, “idade” e “expectativa de sobrevida no momento daaposentadoria” tenham influência sobre o valor final do benefício.IV – DIREITO ADQUIRIDO AO BENEFÍCIO CUJOS REQUISITOS FORAM INTEGRALMENTE CUMPRIDOS.1. Com base no art. 5º, XXXVI, da CRFB/1988, o segurado tem direito a que seu benefício, quanto aos seus elementosessenciais, observe a lei em vigor no momento em que preencheu todos os requisitos para a sua aquisição,independentemente da data do requerimento administrativo (STF, RE 72.509 e Súmula 359). Assim, por exemplo, apensão por morte é regida pela lei em vigor na data do óbito do segurado-instituidor, não se aplicando a lei posterior, sejamais gravosa, seja mais benéfica (STF, RE 218.467, RE 273.570 e RE 415.454).2. O direito adquirido ao benefício não assegura a imutabilidade do seu regime jurídico (STF, RE 278.718, RE 575.089 e AI654.807), então, por exemplo, os segurados podem ser beneficiados pela alteração do valor-limite do benefício (STF, RE564.354) ou prejudicados pela instituição ou diminuição de prazos prescricionais ou decadenciais (STF, ADI-MC 1.715 e RE21.341).3. O segurado tem direito ao benefício mais vantajoso (aquele de maior RMI), considerando todos os fatores queinfluenciam em seu cálculo, desde a data em que o direito ao benefício ingressou em seu patrimônio (isto é, cumpriu todosos requisitos legais para a aquisição do direito) até o momento em que o direito é exercido (data do requerimentoadministrativo) (STF, RE 630.501). Cumpridos os requisitos mínimos (tempo de serviço e carência ou tempo decontribuição e idade, conforme o regime jurídico vigente à época), o segurado adquire o direito ao benefício, aquisição quenão se confunde com o seu exercício (neste sentido, o art. 102, § 1º, da Lei 8.213/1991, incluído pela Lei 9.528/1997, areconhecer que a perda da qualidade de segurado não prejudica o direito à aposentadoria para cuja concessão tenham sidopreenchidos todos os requisitos, segundo a legislação em vigor à época em que atendidos esses requisitos), daí porqueeventual modificação posterior nas circunstâncias de fato não suprime o direito já incorporado ao patrimônio do seu titular.Adquirido o direito à aposentação, o segurado pode optar por não exercê-lo de imediato, seja para fazer jus ao benefíciointegral (quando houve aquisição do direito apenas à aposentadoria proporcional), seja para melhorar o fator previdenciárioaplicável e computar as novas contribuições, e essa opção não pode prejudicá-lo, pois seria injurídico tolerar que a RMI dobenefício requerido posteriormente (em decorrência, por exemplo, da redução do salário-de-contribuição) fosse inferior àRMI do benefício que poderia já ter obtido. Conferiu-se interpretação extensiva ao art. 122 da Lei 8.213/1991 (“Se maisvantajoso, fica assegurado o direito à aposentadoria, nas condições legalmente previstas na data do cumprimento de todosos requisitos necessários à obtenção do benefício, ao segurado que, tendo completado 35 anos de serviço, se homem, outrinta anos, se mulher, optou por permanecer em atividade”) para assegurar não só o benefício mais vantajoso na data documprimento dos requisitos para a aposentadoria integral, como também para a aposentadoria proporcional adquirida, bemcomo em cada um dos meses posteriores à aquisição, até a data do exercício do direito pelo requerimento.4. Exercido o direito ao benefício, mediante requerimento de aposentadoria, o tempo de contribuição acumulado exauretodos os seus efeitos jurídicos, não podendo ser computado posteriormente para a aquisição de outros direitos.V – “RENÚNCIA À APOSENTADORIA”: PRECEDENTES SOBRE DESAPOSENTAÇÃO.1. Há aposentados que retornam à atividade laboral como segurados obrigatórios, e posteriormente pleiteiam em juízo novocálculo de proventos, consideradas as contribuições de período referente a esse regresso, pretendendo afastar o art. 18, §2º, da Lei 8.213/1991 (“O aposentado pelo Regime Geral de Previdência Social - RGPS que permanecer em atividadesujeita a este Regime, ou a ele retornar, não fará jus a prestação alguma da Previdência Social em decorrência do exercíciodessa atividade, exceto ao salário-família e à reabilitação profissional, quando empregado.”) por considerá-lo incompatívelcom o art. 201, § 11, da CRFB/1988 (“Os ganhos habituais do empregado, a qualquer título, serão incorporados ao saláriopara efeito de contribuição previdenciária e conseqüente repercussão em benefícios, nos casos e na forma da lei.”).2. A jurisprudência admitia a renúncia à aposentadoria já obtida, com o aproveitamento do tempo de contribuição para obternova aposentadoria, desde que tal renúncia produzisse efeitos ex tunc (impondo a devolução integral das prestaçõespercebidas do INSS, para evitar enriquecimento ilícito do beneficiário) (TNU, PEDILEF 200872580041869; Enunciado 70das Turmas Recursais do Rio de Janeiro; Primeira Seção do TRF da 2ª Região, EIAC 201050010042326).3. A Primeira Seção do STJ assentou que “Os benefícios previdenciários são direitos patrimoniais disponíveis e, portanto,suscetíveis de desistência pelos seus titulares, prescindindo-se da devolução dos valores recebidos da aposentadoria a queo segurado deseja preterir para a concessão de novo e posterior jubilamento”. Conferiu interpretação ao art. 18, § 2º, da Lei8.213/1991 no sentido de que este não impede o segurado de retornar à atividade laboral e renunciar à aposentadoria deque está em gozo, nem de, em seguida, requerer novo benefício (reaposentação) que utilize os períodos contributivos doprimeiro somado aos períodos posteriores ao retorno à atividade laboral (RESP 1.334.488).VI – A DESAPOSENTAÇÃO E A REAPOSENTAÇÃO NÃO ENCONTRAM RESPALDO NA LEI, MESMO QUE OSEGURADO SE DISPONHA A DEVOLVER TODOS OS VALORES JÁ RECEBIDOS A TÍTULO DE APOSENTADORIA.1. Orientação do Relator, Juiz Federal Iorio Siqueira D’Alessandri Forti, externada em voto vencido no recurso inominado2011.50.50.005300-0/01 (sessão da 1ª Turma Recursal de Vitória/ES em 28/06/2013), para quem a desaposentação esubseqüente reaposentação não são juridicamente viáveis sequer com a restituição dos valores recebidos pelo segurado,com amparo nos seguintes fundamentos:i) Inexistência de norma autorizando a pretensão em regra implica, nos atos vinculados, vedação, e não permissão. A cadanovo mês trabalhado por um segurado aposentado, corresponde o pagamento de uma nova contribuição, e eventualmenteele teria interesse em obter “nova aposentadoria melhorada” mensalmente, razão pela qual a falta de disciplina legalresultaria em situação caótica.ii) O simples fato de incidir contribuição sobre o salário de um segurado obrigatório que se encontra aposentado nãopermite concluir que, com base nos arts. 195, § 5º, e 201, § 11º, da CRFB/1988, alguma vantagem individualcorrespondente lhe seja devida (STF, RE 210.211, AI 724.582 AgR e ADI 3.105). Se a contribuição, com a significativa

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alíquota de 11%, for reputada excessiva ou sem causa válida, a conseqüência possível é a inconstitucionalidade dacontribuição, nunca a majoração da aposentadoria sem expressa previsão em lei.iii) O tempo de contribuição ingressa no patrimônio do trabalhador mês a mês, e, satisfeitos os requisitos para a obtençãode benefício, considera-se direito adquirido, a ser utilizado quando o segurado considerar mais conveniente. Diante debifurcação, a ele cabe escolher qual caminho trilhar, sabendo que não há autorização legal para retornar: requererimediatamente a aposentadoria, gozando-a desde logo, por um período de vida mais longo, com valor “achatado” pelo fatorprevidenciário, ou permanecer mais tempo contribuindo, para ficar mais velho e obter um benefício maior. Uma vezexercido o direito de instar a Administração a agir, tem-se ato administrativo aperfeiçoado, protegido pelo art. 5º, XXXVI, daCRFB/1988. O tempo trabalhado e contribuído não deixou de integrar o patrimônio do segurado, mas já foi aproveitadointegralmente para uma finalidade, e não pode, portanto, ser aproveitado para outra.iv) É certo que o direito do aposentado às prestações mensais do benefício, apesar da natureza alimentar deste, ostentanatureza patrimonial e disponível. O segurado pode, a qualquer momento, renunciar ao recebimento de uma, várias outodas as prestações, com efeitos ex nunc, isto é, sem ter de devolver aquelas já recebidas, uma vez que não as recebeuindevidamente. Ocorre que o direito à aposentadoria em si, após adquirido, foi exercido por ato de vontade; com odeferimento pela Administração, tornou-se ato jurídico perfeito. A qualquer momento, cessando as razões de conveniênciae oportunidade que levaram o segurado a suspender por tempo indeterminado os efeitos do ato administrativo que oaposentou, poderá solicitar a reativação imediata do benefício: em se tratando de direito social fundamental, visando àgarantia da subsistência digna, a aposentadoria é irrenunciável. O interruptor pode ser desligado (e religado, também), nãoarrancado da parede.v) Pode-se renunciar às prestações da aposentadoria, sendo vedado – diante da falta de norma autorizadora – valer-sedessa renúncia para contornar uma (má) escolha feita no passado, mesmo com a disposição de ressarcir a Administraçãode todos os valores recebidos. No sentido da imutabilidade radical deste ato, votaram os Ministros Dias Toffoli, CármenLúcia, Ricardo Lewandowski e Gilmar Mendes no julgamento do RE 630.501, enquanto os demais Ministros consideraram oato passível de revisão apenas quando tivesse por fundamento a aquisição de direito a RMI melhor antes da data dorequerimento. Nas palavras do Juiz Federal Guilherme Beltrami, o que a parte autora pretende não é renunciar àaposentadoria – porque, em suma, renúncia é abandonar direitos e não reverter a statu quo ante com recuperação dotempo; o que ela pretende é como renunciar à propriedade de um bem e querer o dinheiro da aquisição de volta.vi) O obstáculo à pretensão de obter nova aposentadoria com base nas mesmas contribuições aproveitadas para aaposentadoria a que renunciam decorre não só do ato jurídico perfeito (art. 5º, XXXVI, da CRFB/1988) e da falta deprevisão legal expressa (arts. 37, caput, e 201, caput e § 11, da CRFB/1988), como também de clara vedação prevista emnormas infraconstitucionais. O art. 18, § 2º, da Lei 8.213/1991 diz, por via transversa, que as contribuições vertidas pelosegurado aposentado não produzem efeito algum para a obtenção de outra aposentadoria, cabendo a ele escolherprudentemente quando e como as usará. O art. 29, I, e § 7º, também da Lei 8.213/1991, como a aposentadoria demanda,para a fixação da renda mensal inicial do benefício, o cômputo da idade e da expectativa de sobrevida do segurado nomomento do requerimento, conclui-se que, uma vez deferido, tem-se ato administrativo cujos efeitos atrelam, de formaincindível, a quantidade de contribuições vertidas e o período futuro de vida do segurado. Admitir a desaposentação e, logodepois, novo pedido de aposentadoria (com mais contribuições, idade mais elevada e, portanto, expectativa de sobrevidamenor), a fim de obter benefício com RMI maior, constituiria burla ao fator previdenciário e a seu objetivo de desestimularaposentadorias precoces.VII – Recurso da autora conhecido e desprovido. Sem custas nem honorários sucumbenciais, ante o deferimento daAssistência Judiciária Gratuita.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, acordam os Juízes da 1ª Turma Recursaldos Juizados Especiais Federais da Seção Judiciária do Espírito Santo CONHECER DO RECURSO e, no mérito,NEGAR-LHE PROVIMENTO, na forma da ementa constante dos autos, que passa a integrar o presente julgado.

IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTIJuiz Federal – 3º Relator da 1ª Turma Recursal

93 - 0000482-06.2012.4.02.5053/01 (2012.50.53.000482-1/01) (PROCESSO ELETRÔNICO) LIBERIO MAURO ROLDI(ADVOGADO: WANESSA ALDRIGUES CANDIDO.) x INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS (PROCDOR:UBIRATAN CRUZ RODRIGUES.).RECURSO Nº 0000482-06.2012.4.02.5053/01 (2012.50.53.000482-1/01)RECORRENTE: LIBERIO MAURO ROLDIRECORRIDO: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSSRELATOR: JUIZ FEDERAL IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTI

EMENTA

PREVIDENCIÁRIO. PRETENSÃO DE DESAPOSENTAÇÃO SEGUIDA DE REAPOSENTAÇÃO. AUSÊNCIA DEPREVISÃO LEGAL. VIOLAÇÃO AO ATO JURÍDICO PERFEITO. CONTRARIEDADE A REGRAS EXPRESSAS DA LEI8.213/1991. IMPROCEDÊNCIA DO PEDIDO.

I – CARÁTER CONTRIBUTIVO E SOLIDÁRIO DA PREVIDÊNCIA SOCIAL.1. A aposentadoria é direito social (art. 7º, XXIV, da CRFB/1988).2. Para a integridade da Previdência Social, tanto o Regime Geral quanto o Regime dos servidores têm caráter contributivo

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e solidário, de filiação obrigatória, com a observância de critérios que preservem o equilíbrio financeiro e atuarial (arts. 40,caput, e 201, caput, da CRFB/1988).

II – OS ARTS. 195, § 5º, E 201, § 11, DA CRFB/188: A INSTITUIÇÃO OU MAJORAÇÃO DE CONTRIBUIÇÃO DEVEREFORÇAR O REGIME SOLIDÁRIO, SEM NECESSARIAMENTE IMPLICAR BENEFÍCIO INDIVIDUAL PARA OCONTRIBUINTE.1. O art. 195, § 5º, da CRFB/1988 (“Nenhum benefício ou serviço da seguridade social poderá ser criado, majorado ouestendido sem a correspondente fonte de custeio total”) é regra que visa ao equilíbrio financeiro e atuarial.2. A majoração da contribuição social, como qualquer tributo, depende, para a sua validade, de causa jurídica válida, e,portanto, demanda, em contrapartida, incremento no sistema previdenciário (STF, ADI 790, RE 183.906 e ADI-MC 2.010).3. Entretanto, a majoração da contribuição social previdenciária não necessariamente resultará em aumento dos benefíciose serviços a que cada segurado-contribuinte fará jus, cabendo à lei, na forma do art. 201, § 11 da CRFB/1988, disciplinar see como haverá reflexos: contribui-se solidariamente para a manutenção e expansão do sistema como um todo, e não paraprovisionar fundos única e exclusivamente em benefício próprio (STF, RE 210.211, AI 724.582 AgR e ADI 3.105).

III – FATOR PREVIDENCIÁRIO E DESINCENTIVO À APOSENTADORIA PRECOCE COMO TÉCNICA DE MANUTENÇÃODO EQUILÍBRIO DA PREVIDÊNCIA SOCIAL.1. No regime previdenciário dos servidores públicos, há idade mínima como requisito para a aposentadoria, paga-se abonode permanência a quem postergar a aposentadoria (art. 40, § 19, da CRFB/1988), e veda-se a acumulação de proventoscom vencimentos (salvo na hipótese do art. 37, § 10, da CRFB/1988).2. No RGPS, não há idade mínima como requisito para a aposentadoria, permite-se a acumulação de aposentadoria com aremuneração de emprego, o deferimento de aposentadoria não rescinde os contratos de trabalho (STF, ADI 1.721 e 1.770).Por outro lado, a Lei 9.876/1999 instituiu o fator previdenciário – cuja constitucionalidade foi reconhecida pelo STF (ADI-MC2.111) – no cálculo das aposentadorias por idade, por tempo de serviço e por tempo de contribuição, para assegurar oequilíbrio atuarial, de modo que os critérios “tempo de contribuição”, “idade” e “expectativa de sobrevida no momento daaposentadoria” tenham influência sobre o valor final do benefício.

IV – DIREITO ADQUIRIDO AO BENEFÍCIO CUJOS REQUISITOS FORAM INTEGRALMENTE CUMPRIDOS.1. Com base no art. 5º, XXXVI, da CRFB/1988, o segurado tem direito a que seu benefício, quanto aos seus elementosessenciais, observe a lei em vigor no momento em que preencheu todos os requisitos para a sua aquisição,independentemente da data do requerimento administrativo (STF, RE 72.509 e Súmula 359). Assim, por exemplo, apensão por morte é regida pela lei em vigor na data do óbito do segurado-instituidor, não se aplicando a lei posterior, sejamais gravosa, seja mais benéfica (STF, RE 218.467, RE 273.570 e RE 415.454).2. O direito adquirido ao benefício não assegura a imutabilidade do seu regime jurídico (STF, RE 278.718, RE 575.089 e AI654.807), então, por exemplo, os segurados podem ser beneficiados pela alteração do valor-limite do benefício (STF, RE564.354) ou prejudicados pela instituição ou diminuição de prazos prescricionais ou decadenciais (STF, ADI-MC 1.715 e RE21.341).3. O segurado tem direito ao benefício mais vantajoso (aquele de maior RMI), considerando todos os fatores queinfluenciam em seu cálculo, desde a data em que o direito ao benefício ingressou em seu patrimônio (isto é, cumpriu todosos requisitos legais para a aquisição do direito) até o momento em que o direito é exercido (data do requerimentoadministrativo) (STF, RE 630.501). Cumpridos os requisitos mínimos (tempo de serviço e carência ou tempo decontribuição e idade, conforme o regime jurídico vigente à época), o segurado adquire o direito ao benefício, aquisição quenão se confunde com o seu exercício (neste sentido, o art. 102, § 1º, da Lei 8.213/1991, incluído pela Lei 9.528/1997, areconhecer que a perda da qualidade de segurado não prejudica o direito à aposentadoria para cuja concessão tenham sidopreenchidos todos os requisitos, segundo a legislação em vigor à época em que atendidos esses requisitos), daí porqueeventual modificação posterior nas circunstâncias de fato não suprime o direito já incorporado ao patrimônio do seu titular.Adquirido o direito à aposentação, o segurado pode optar por não exercê-lo de imediato, seja para fazer jus ao benefíciointegral (quando houve aquisição do direito apenas à aposentadoria proporcional), seja para melhorar o fator previdenciárioaplicável e computar as novas contribuições, e essa opção não pode prejudicá-lo, pois seria injurídico tolerar que a RMI dobenefício requerido posteriormente (em decorrência, por exemplo, da redução do salário-de-contribuição) fosse inferior àRMI do benefício que poderia já ter obtido. Conferiu-se interpretação extensiva ao art. 122 da Lei 8.213/1991 (“Se maisvantajoso, fica assegurado o direito à aposentadoria, nas condições legalmente previstas na data do cumprimento de todosos requisitos necessários à obtenção do benefício, ao segurado que, tendo completado 35 anos de serviço, se homem, outrinta anos, se mulher, optou por permanecer em atividade”) para assegurar não só o benefício mais vantajoso na data documprimento dos requisitos para a aposentadoria integral, como também para a aposentadoria proporcional adquirida, bemcomo em cada um dos meses posteriores à aquisição, até a data do exercício do direito pelo requerimento.4. Exercido o direito ao benefício, mediante requerimento de aposentadoria, o tempo de contribuição acumulado exauretodos os seus efeitos jurídicos, não podendo ser computado posteriormente para a aquisição de outros direitos.

V – “RENÚNCIA À APOSENTADORIA”: PRECEDENTES SOBRE DESAPOSENTAÇÃO.1. Há aposentados que retornam à atividade laboral como segurados obrigatórios, e posteriormente pleiteiam em juízo novocálculo de proventos, consideradas as contribuições de período referente a esse regresso, pretendendo afastar o art. 18, §2º, da Lei 8.213/1991 (“O aposentado pelo Regime Geral de Previdência Social - RGPS que permanecer em atividadesujeita a este Regime, ou a ele retornar, não fará jus a prestação alguma da Previdência Social em decorrência do exercíciodessa atividade, exceto ao salário-família e à reabilitação profissional, quando empregado.”) por considerá-lo incompatívelcom o art. 201, § 11, da CRFB/1988 (“Os ganhos habituais do empregado, a qualquer título, serão incorporados ao saláriopara efeito de contribuição previdenciária e conseqüente repercussão em benefícios, nos casos e na forma da lei.”).2. A jurisprudência admitia a renúncia à aposentadoria já obtida, com o aproveitamento do tempo de contribuição para obter

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nova aposentadoria, desde que tal renúncia produzisse efeitos ex tunc (impondo a devolução integral das prestaçõespercebidas do INSS, para evitar enriquecimento ilícito do beneficiário) (TNU, PEDILEF 200872580041869; Enunciado 70das Turmas Recursais do Rio de Janeiro; Primeira Seção do TRF da 2ª Região, EIAC 201050010042326).3. A Primeira Seção do STJ assentou que “Os benefícios previdenciários são direitos patrimoniais disponíveis e, portanto,suscetíveis de desistência pelos seus titulares, prescindindo-se da devolução dos valores recebidos da aposentadoria a queo segurado deseja preterir para a concessão de novo e posterior jubilamento”. Conferiu interpretação ao art. 18, § 2º, da Lei8.213/1991 no sentido de que este não impede o segurado de retornar à atividade laboral e renunciar à aposentadoria deque está em gozo, nem de, em seguida, requerer novo benefício (reaposentação) que utilize os períodos contributivos doprimeiro somado aos períodos posteriores ao retorno à atividade laboral (RESP 1.334.488).

VI – A DESAPOSENTAÇÃO E A REAPOSENTAÇÃO NÃO ENCONTRAM RESPALDO NA LEI, MESMO QUE OSEGURADO SE DISPONHA A DEVOLVER TODOS OS VALORES JÁ RECEBIDOS A TÍTULO DE APOSENTADORIA.1. Orientação do Relator, Juiz Federal Iorio Siqueira D’Alessandri Forti, externada em voto vencido no recurso inominado2011.50.50.005300-0/01 (sessão da 1ª Turma Recursal de Vitória/ES em 28/06/2013), para quem a desaposentação esubseqüente reaposentação não são juridicamente viáveis sequer com a restituição dos valores recebidos pelo segurado,com amparo nos seguintes fundamentos:i) Inexistência de norma autorizando a pretensão em regra implica, nos atos vinculados, vedação, e não permissão. A cadanovo mês trabalhado por um segurado aposentado, corresponde o pagamento de uma nova contribuição, e eventualmenteele teria interesse em obter “nova aposentadoria melhorada” mensalmente, razão pela qual a falta de disciplina legalresultaria em situação caótica.ii) O simples fato de incidir contribuição sobre o salário de um segurado obrigatório que se encontra aposentado nãopermite concluir que, com base nos arts. 195, § 5º, e 201, § 11º, da CRFB/1988, alguma vantagem individualcorrespondente lhe seja devida (STF, RE 210.211, AI 724.582 AgR e ADI 3.105). Se a contribuição, com a significativaalíquota de 11%, for reputada excessiva ou sem causa válida, a conseqüência possível é a inconstitucionalidade dacontribuição, nunca a majoração da aposentadoria sem expressa previsão em lei.iii) O tempo de contribuição ingressa no patrimônio do trabalhador mês a mês, e, satisfeitos os requisitos para a obtençãode benefício, considera-se direito adquirido, a ser utilizado quando o segurado considerar mais conveniente. Diante debifurcação, a ele cabe escolher qual caminho trilhar, sabendo que não há autorização legal para retornar: requererimediatamente a aposentadoria, gozando-a desde logo, por um período de vida mais longo, com valor “achatado” pelo fatorprevidenciário, ou permanecer mais tempo contribuindo, para ficar mais velho e obter um benefício maior. Uma vezexercido o direito de instar a Administração a agir, tem-se ato administrativo aperfeiçoado, protegido pelo art. 5º, XXXVI, daCRFB/1988. O tempo trabalhado e contribuído não deixou de integrar o patrimônio do segurado, mas já foi aproveitadointegralmente para uma finalidade, e não pode, portanto, ser aproveitado para outra.iv) É certo que o direito do aposentado às prestações mensais do benefício, apesar da natureza alimentar deste, ostentanatureza patrimonial e disponível. O segurado pode, a qualquer momento, renunciar ao recebimento de uma, várias outodas as prestações, com efeitos ex nunc, isto é, sem ter de devolver aquelas já recebidas, uma vez que não as recebeuindevidamente. Ocorre que o direito à aposentadoria em si, após adquirido, foi exercido por ato de vontade; com odeferimento pela Administração, tornou-se ato jurídico perfeito. A qualquer momento, cessando as razões de conveniênciae oportunidade que levaram o segurado a suspender por tempo indeterminado os efeitos do ato administrativo que oaposentou, poderá solicitar a reativação imediata do benefício: em se tratando de direito social fundamental, visando àgarantia da subsistência digna, a aposentadoria é irrenunciável. O interruptor pode ser desligado (e religado, também), nãoarrancado da parede.v) Pode-se renunciar às prestações da aposentadoria, sendo vedado – diante da falta de norma autorizadora – valer-sedessa renúncia para contornar uma (má) escolha feita no passado, mesmo com a disposição de ressarcir a Administraçãode todos os valores recebidos. No sentido da imutabilidade radical deste ato, votaram os Ministros Dias Toffoli, CármenLúcia, Ricardo Lewandowski e Gilmar Mendes no julgamento do RE 630.501, enquanto os demais Ministros consideraram oato passível de revisão apenas quando tivesse por fundamento a aquisição de direito a RMI melhor antes da data dorequerimento. Nas palavras do Juiz Federal Guilherme Beltrami, o que a parte autora pretende não é renunciar àaposentadoria – porque, em suma, renúncia é abandonar direitos e não reverter a statu quo ante com recuperação dotempo; o que ela pretende é como renunciar à propriedade de um bem e querer o dinheiro da aquisição de volta.vi) O obstáculo à pretensão de obter nova aposentadoria com base nas mesmas contribuições aproveitadas para aaposentadoria a que renunciam decorre não só do ato jurídico perfeito (art. 5º, XXXVI, da CRFB/1988) e da falta deprevisão legal expressa (arts. 37, caput, e 201, caput e § 11, da CRFB/1988), como também de clara vedação prevista emnormas infraconstitucionais. O art. 18, § 2º, da Lei 8.213/1991 diz, por via transversa, que as contribuições vertidas pelosegurado aposentado não produzem efeito algum para a obtenção de outra aposentadoria, cabendo a ele escolherprudentemente quando e como as usará. O art. 29, I, e § 7º, também da Lei 8.213/1991, como a aposentadoria demanda,para a fixação da renda mensal inicial do benefício, o cômputo da idade e da expectativa de sobrevida do segurado nomomento do requerimento, conclui-se que, uma vez deferido, tem-se ato administrativo cujos efeitos atrelam, de formaincindível, a quantidade de contribuições vertidas e o período futuro de vida do segurado. Admitir a desaposentação e, logodepois, novo pedido de aposentadoria (com mais contribuições, idade mais elevada e, portanto, expectativa de sobrevidamenor), a fim de obter benefício com RMI maior, constituiria burla ao fator previdenciário e a seu objetivo de desestimularaposentadorias precoces.

VII – Recurso da parte autora conhecido e desprovido. Sem custas nem honorários sucumbenciais, ante o deferimento daAssistência Judiciária Gratuita.

ACÓRDÃO

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Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, acordam os Juízes da 1ª Turma Recursaldos Juizados Especiais Federais da Seção Judiciária do Espírito Santo CONHECER DO RECURSO e, no mérito,NEGAR-LHE PROVIMENTO, na forma da ementa constante dos autos, que passa a integrar o presente julgado.

IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTIJuiz Federal – 3º Relator da 1ª Turma Recursal

94 - 0001938-63.2013.4.02.5050/01 (2013.50.50.001938-3/01) (PROCESSO ELETRÔNICO) ANA MARIA MARON COLEN(ADVOGADO: ROGÉRIO FERREIRA BORGES, MARCILIO TAVARES DE ALBUQUERQUE FILHO, DANIEL FERREIRABORGES, FABIOLA DE FREITAS CARVALHO, Miguel Vargas da Fonseca, CLARISSE JORGE PAES BARRETO, VIVIANEMONTEIRO, YGHOR FELIPE DEL CARO DALVI, GABRIEL SCHMIDT DA SILVA, THIERS COSTA VERÍSSIMO,CAROLINA VICENTINI MADEIRA, IRIS SALDANHA BUENO, CAIO FREITAS VAIRO.) x INSTITUTO NACIONAL DOSEGURO SOCIAL - INSS (PROCDOR: BRUNO MIRANDA COSTA.).RECURSO Nº 0001938-63.2013.4.02.5050/01 (2013.50.50.001938-3/01)RECORRENTE: ANA MARIA MARON COLENRECORRIDO: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSSRELATOR: JUIZ FEDERAL IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTI

EMENTA

PREVIDENCIÁRIO. PRETENSÃO DE DESAPOSENTAÇÃO SEGUIDA DE REAPOSENTAÇÃO. AUSÊNCIA DEPREVISÃO LEGAL. VIOLAÇÃO AO ATO JURÍDICO PERFEITO. CONTRARIEDADE A REGRAS EXPRESSAS DA LEI8.213/1991. IMPROCEDÊNCIA DO PEDIDO.

I – CARÁTER CONTRIBUTIVO E SOLIDÁRIO DA PREVIDÊNCIA SOCIAL.1. A aposentadoria é direito social (art. 7º, XXIV, da CRFB/1988).2. Para a integridade da Previdência Social, tanto o Regime Geral quanto o Regime dos servidores têm caráter contributivoe solidário, de filiação obrigatória, com a observância de critérios que preservem o equilíbrio financeiro e atuarial (arts. 40,caput, e 201, caput, da CRFB/1988).

II – OS ARTS. 195, § 5º, E 201, § 11, DA CRFB/188: A INSTITUIÇÃO OU MAJORAÇÃO DE CONTRIBUIÇÃO DEVEREFORÇAR O REGIME SOLIDÁRIO, SEM NECESSARIAMENTE IMPLICAR BENEFÍCIO INDIVIDUAL PARA OCONTRIBUINTE.1. O art. 195, § 5º, da CRFB/1988 (“Nenhum benefício ou serviço da seguridade social poderá ser criado, majorado ouestendido sem a correspondente fonte de custeio total”) é regra que visa ao equilíbrio financeiro e atuarial.2. A majoração da contribuição social, como qualquer tributo, depende, para a sua validade, de causa jurídica válida, e,portanto, demanda, em contrapartida, incremento no sistema previdenciário (STF, ADI 790, RE 183.906 e ADI-MC 2.010).3. Entretanto, a majoração da contribuição social previdenciária não necessariamente resultará em aumento dos benefíciose serviços a que cada segurado-contribuinte fará jus, cabendo à lei, na forma do art. 201, § 11 da CRFB/1988, disciplinar see como haverá reflexos: contribui-se solidariamente para a manutenção e expansão do sistema como um todo, e não paraprovisionar fundos única e exclusivamente em benefício próprio (STF, RE 210.211, AI 724.582 AgR e ADI 3.105).

III – FATOR PREVIDENCIÁRIO E DESINCENTIVO À APOSENTADORIA PRECOCE COMO TÉCNICA DE MANUTENÇÃODO EQUILÍBRIO DA PREVIDÊNCIA SOCIAL.1. No regime previdenciário dos servidores públicos, há idade mínima como requisito para a aposentadoria, paga-se abonode permanência a quem postergar a aposentadoria (art. 40, § 19, da CRFB/1988), e veda-se a acumulação de proventoscom vencimentos (salvo na hipótese do art. 37, § 10, da CRFB/1988).2. No RGPS, não há idade mínima como requisito para a aposentadoria, permite-se a acumulação de aposentadoria com aremuneração de emprego, o deferimento de aposentadoria não rescinde os contratos de trabalho (STF, ADI 1.721 e 1.770).Por outro lado, a Lei 9.876/1999 instituiu o fator previdenciário – cuja constitucionalidade foi reconhecida pelo STF (ADI-MC2.111) – no cálculo das aposentadorias por idade, por tempo de serviço e por tempo de contribuição, para assegurar oequilíbrio atuarial, de modo que os critérios “tempo de contribuição”, “idade” e “expectativa de sobrevida no momento daaposentadoria” tenham influência sobre o valor final do benefício.

IV – DIREITO ADQUIRIDO AO BENEFÍCIO CUJOS REQUISITOS FORAM INTEGRALMENTE CUMPRIDOS.1. Com base no art. 5º, XXXVI, da CRFB/1988, o segurado tem direito a que seu benefício, quanto aos seus elementosessenciais, observe a lei em vigor no momento em que preencheu todos os requisitos para a sua aquisição,independentemente da data do requerimento administrativo (STF, RE 72.509 e Súmula 359). Assim, por exemplo, apensão por morte é regida pela lei em vigor na data do óbito do segurado-instituidor, não se aplicando a lei posterior, sejamais gravosa, seja mais benéfica (STF, RE 218.467, RE 273.570 e RE 415.454).2. O direito adquirido ao benefício não assegura a imutabilidade do seu regime jurídico (STF, RE 278.718, RE 575.089 e AI654.807), então, por exemplo, os segurados podem ser beneficiados pela alteração do valor-limite do benefício (STF, RE564.354) ou prejudicados pela instituição ou diminuição de prazos prescricionais ou decadenciais (STF, ADI-MC 1.715 e RE21.341).3. O segurado tem direito ao benefício mais vantajoso (aquele de maior RMI), considerando todos os fatores queinfluenciam em seu cálculo, desde a data em que o direito ao benefício ingressou em seu patrimônio (isto é, cumpriu todosos requisitos legais para a aquisição do direito) até o momento em que o direito é exercido (data do requerimento

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administrativo) (STF, RE 630.501). Cumpridos os requisitos mínimos (tempo de serviço e carência ou tempo decontribuição e idade, conforme o regime jurídico vigente à época), o segurado adquire o direito ao benefício, aquisição quenão se confunde com o seu exercício (neste sentido, o art. 102, § 1º, da Lei 8.213/1991, incluído pela Lei 9.528/1997, areconhecer que a perda da qualidade de segurado não prejudica o direito à aposentadoria para cuja concessão tenham sidopreenchidos todos os requisitos, segundo a legislação em vigor à época em que atendidos esses requisitos), daí porqueeventual modificação posterior nas circunstâncias de fato não suprime o direito já incorporado ao patrimônio do seu titular.Adquirido o direito à aposentação, o segurado pode optar por não exercê-lo de imediato, seja para fazer jus ao benefíciointegral (quando houve aquisição do direito apenas à aposentadoria proporcional), seja para melhorar o fator previdenciárioaplicável e computar as novas contribuições, e essa opção não pode prejudicá-lo, pois seria injurídico tolerar que a RMI dobenefício requerido posteriormente (em decorrência, por exemplo, da redução do salário-de-contribuição) fosse inferior àRMI do benefício que poderia já ter obtido. Conferiu-se interpretação extensiva ao art. 122 da Lei 8.213/1991 (“Se maisvantajoso, fica assegurado o direito à aposentadoria, nas condições legalmente previstas na data do cumprimento de todosos requisitos necessários à obtenção do benefício, ao segurado que, tendo completado 35 anos de serviço, se homem, outrinta anos, se mulher, optou por permanecer em atividade”) para assegurar não só o benefício mais vantajoso na data documprimento dos requisitos para a aposentadoria integral, como também para a aposentadoria proporcional adquirida, bemcomo em cada um dos meses posteriores à aquisição, até a data do exercício do direito pelo requerimento.4. Exercido o direito ao benefício, mediante requerimento de aposentadoria, o tempo de contribuição acumulado exauretodos os seus efeitos jurídicos, não podendo ser computado posteriormente para a aquisição de outros direitos.

V – “RENÚNCIA À APOSENTADORIA”: PRECEDENTES SOBRE DESAPOSENTAÇÃO.1. Há aposentados que retornam à atividade laboral como segurados obrigatórios, e posteriormente pleiteiam em juízo novocálculo de proventos, consideradas as contribuições de período referente a esse regresso, pretendendo afastar o art. 18, §2º, da Lei 8.213/1991 (“O aposentado pelo Regime Geral de Previdência Social - RGPS que permanecer em atividadesujeita a este Regime, ou a ele retornar, não fará jus a prestação alguma da Previdência Social em decorrência do exercíciodessa atividade, exceto ao salário-família e à reabilitação profissional, quando empregado.”) por considerá-lo incompatívelcom o art. 201, § 11, da CRFB/1988 (“Os ganhos habituais do empregado, a qualquer título, serão incorporados ao saláriopara efeito de contribuição previdenciária e conseqüente repercussão em benefícios, nos casos e na forma da lei.”).2. A jurisprudência admitia a renúncia à aposentadoria já obtida, com o aproveitamento do tempo de contribuição para obternova aposentadoria, desde que tal renúncia produzisse efeitos ex tunc (impondo a devolução integral das prestaçõespercebidas do INSS, para evitar enriquecimento ilícito do beneficiário) (TNU, PEDILEF 200872580041869; Enunciado 70das Turmas Recursais do Rio de Janeiro; Primeira Seção do TRF da 2ª Região, EIAC 201050010042326).3. A Primeira Seção do STJ assentou que “Os benefícios previdenciários são direitos patrimoniais disponíveis e, portanto,suscetíveis de desistência pelos seus titulares, prescindindo-se da devolução dos valores recebidos da aposentadoria a queo segurado deseja preterir para a concessão de novo e posterior jubilamento”. Conferiu interpretação ao art. 18, § 2º, da Lei8.213/1991 no sentido de que este não impede o segurado de retornar à atividade laboral e renunciar à aposentadoria deque está em gozo, nem de, em seguida, requerer novo benefício (reaposentação) que utilize os períodos contributivos doprimeiro somado aos períodos posteriores ao retorno à atividade laboral (RESP 1.334.488).

VI – A DESAPOSENTAÇÃO E A REAPOSENTAÇÃO NÃO ENCONTRAM RESPALDO NA LEI, MESMO QUE OSEGURADO SE DISPONHA A DEVOLVER TODOS OS VALORES JÁ RECEBIDOS A TÍTULO DE APOSENTADORIA.1. Orientação do Relator, Juiz Federal Iorio Siqueira D’Alessandri Forti, externada em voto vencido no recurso inominado2011.50.50.005300-0/01 (sessão da 1ª Turma Recursal de Vitória/ES em 28/06/2013), para quem a desaposentação esubseqüente reaposentação não são juridicamente viáveis sequer com a restituição dos valores recebidos pelo segurado,com amparo nos seguintes fundamentos:i) Inexistência de norma autorizando a pretensão em regra implica, nos atos vinculados, vedação, e não permissão. A cadanovo mês trabalhado por um segurado aposentado, corresponde o pagamento de uma nova contribuição, e eventualmenteele teria interesse em obter “nova aposentadoria melhorada” mensalmente, razão pela qual a falta de disciplina legalresultaria em situação caótica.ii) O simples fato de incidir contribuição sobre o salário de um segurado obrigatório que se encontra aposentado nãopermite concluir que, com base nos arts. 195, § 5º, e 201, § 11º, da CRFB/1988, alguma vantagem individualcorrespondente lhe seja devida (STF, RE 210.211, AI 724.582 AgR e ADI 3.105). Se a contribuição, com a significativaalíquota de 11%, for reputada excessiva ou sem causa válida, a conseqüência possível é a inconstitucionalidade dacontribuição, nunca a majoração da aposentadoria sem expressa previsão em lei.iii) O tempo de contribuição ingressa no patrimônio do trabalhador mês a mês, e, satisfeitos os requisitos para a obtençãode benefício, considera-se direito adquirido, a ser utilizado quando o segurado considerar mais conveniente. Diante debifurcação, a ele cabe escolher qual caminho trilhar, sabendo que não há autorização legal para retornar: requererimediatamente a aposentadoria, gozando-a desde logo, por um período de vida mais longo, com valor “achatado” pelo fatorprevidenciário, ou permanecer mais tempo contribuindo, para ficar mais velho e obter um benefício maior. Uma vezexercido o direito de instar a Administração a agir, tem-se ato administrativo aperfeiçoado, protegido pelo art. 5º, XXXVI, daCRFB/1988. O tempo trabalhado e contribuído não deixou de integrar o patrimônio do segurado, mas já foi aproveitadointegralmente para uma finalidade, e não pode, portanto, ser aproveitado para outra.iv) É certo que o direito do aposentado às prestações mensais do benefício, apesar da natureza alimentar deste, ostentanatureza patrimonial e disponível. O segurado pode, a qualquer momento, renunciar ao recebimento de uma, várias outodas as prestações, com efeitos ex nunc, isto é, sem ter de devolver aquelas já recebidas, uma vez que não as recebeuindevidamente. Ocorre que o direito à aposentadoria em si, após adquirido, foi exercido por ato de vontade; com odeferimento pela Administração, tornou-se ato jurídico perfeito. A qualquer momento, cessando as razões de conveniênciae oportunidade que levaram o segurado a suspender por tempo indeterminado os efeitos do ato administrativo que oaposentou, poderá solicitar a reativação imediata do benefício: em se tratando de direito social fundamental, visando à

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garantia da subsistência digna, a aposentadoria é irrenunciável. O interruptor pode ser desligado (e religado, também), nãoarrancado da parede.v) Pode-se renunciar às prestações da aposentadoria, sendo vedado – diante da falta de norma autorizadora – valer-sedessa renúncia para contornar uma (má) escolha feita no passado, mesmo com a disposição de ressarcir a Administraçãode todos os valores recebidos. No sentido da imutabilidade radical deste ato, votaram os Ministros Dias Toffoli, CármenLúcia, Ricardo Lewandowski e Gilmar Mendes no julgamento do RE 630.501, enquanto os demais Ministros consideraram oato passível de revisão apenas quando tivesse por fundamento a aquisição de direito a RMI melhor antes da data dorequerimento. Nas palavras do Juiz Federal Guilherme Beltrami, o que a parte autora pretende não é renunciar àaposentadoria – porque, em suma, renúncia é abandonar direitos e não reverter a statu quo ante com recuperação dotempo; o que ela pretende é como renunciar à propriedade de um bem e querer o dinheiro da aquisição de volta.vi) O obstáculo à pretensão de obter nova aposentadoria com base nas mesmas contribuições aproveitadas para aaposentadoria a que renunciam decorre não só do ato jurídico perfeito (art. 5º, XXXVI, da CRFB/1988) e da falta deprevisão legal expressa (arts. 37, caput, e 201, caput e § 11, da CRFB/1988), como também de clara vedação prevista emnormas infraconstitucionais. O art. 18, § 2º, da Lei 8.213/1991 diz, por via transversa, que as contribuições vertidas pelosegurado aposentado não produzem efeito algum para a obtenção de outra aposentadoria, cabendo a ele escolherprudentemente quando e como as usará. O art. 29, I, e § 7º, também da Lei 8.213/1991, como a aposentadoria demanda,para a fixação da renda mensal inicial do benefício, o cômputo da idade e da expectativa de sobrevida do segurado nomomento do requerimento, conclui-se que, uma vez deferido, tem-se ato administrativo cujos efeitos atrelam, de formaincindível, a quantidade de contribuições vertidas e o período futuro de vida do segurado. Admitir a desaposentação e, logodepois, novo pedido de aposentadoria (com mais contribuições, idade mais elevada e, portanto, expectativa de sobrevidamenor), a fim de obter benefício com RMI maior, constituiria burla ao fator previdenciário e a seu objetivo de desestimularaposentadorias precoces.

VII – Recurso da parte autora conhecido e desprovido. Sem custas nem honorários sucumbenciais, ante o deferimento daAssistência Judiciária Gratuita.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, acordam os Juízes da 1ª Turma Recursaldos Juizados Especiais Federais da Seção Judiciária do Espírito Santo CONHECER DO RECURSO e, no mérito,NEGAR-LHE PROVIMENTO, na forma da ementa constante dos autos, que passa a integrar o presente julgado.

IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTIJuiz Federal – 3º Relator da 1ª Turma Recursal

95 - 0000474-29.2012.4.02.5053/01 (2012.50.53.000474-2/01) (PROCESSO ELETRÔNICO) JOAO DOMINGOSSCARPATTI (ADVOGADO: WANESSA ALDRIGUES CANDIDO.) x INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS(PROCDOR: UBIRATAN CRUZ RODRIGUES.).RECURSO Nº 0000474-29.2012.4.02.5053/01 (2012.50.53.000474-2/01)RECORRENTE: JOAO DOMINGOS SCARPATTIRECORRIDO: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSSRELATOR: JUIZ FEDERAL IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTI

EMENTA

PREVIDENCIÁRIO. PRETENSÃO DE DESAPOSENTAÇÃO SEGUIDA DE REAPOSENTAÇÃO. AUSÊNCIA DEPREVISÃO LEGAL. VIOLAÇÃO AO ATO JURÍDICO PERFEITO. CONTRARIEDADE A REGRAS EXPRESSAS DA LEI8.213/1991. IMPROCEDÊNCIA DO PEDIDO.I – CARÁTER CONTRIBUTIVO E SOLIDÁRIO DA PREVIDÊNCIA SOCIAL.1. A aposentadoria é direito social (art. 7º, XXIV, da CRFB/1988).2. Para a integridade da Previdência Social, tanto o Regime Geral quanto o Regime dos servidores têm caráter contributivoe solidário, de filiação obrigatória, com a observância de critérios que preservem o equilíbrio financeiro e atuarial (arts. 40,caput, e 201, caput, da CRFB/1988).II – OS ARTS. 195, § 5º, E 201, § 11, DA CRFB/188: A INSTITUIÇÃO OU MAJORAÇÃO DE CONTRIBUIÇÃO DEVEREFORÇAR O REGIME SOLIDÁRIO, SEM NECESSARIAMENTE IMPLICAR BENEFÍCIO INDIVIDUAL PARA OCONTRIBUINTE.1. O art. 195, § 5º, da CRFB/1988 (“Nenhum benefício ou serviço da seguridade social poderá ser criado, majorado ouestendido sem a correspondente fonte de custeio total”) é regra que visa ao equilíbrio financeiro e atuarial.2. A majoração da contribuição social, como qualquer tributo, depende, para a sua validade, de causa jurídica válida, e,portanto, demanda, em contrapartida, incremento no sistema previdenciário (STF, ADI 790, RE 183.906 e ADI-MC 2.010).3. Entretanto, a majoração da contribuição social previdenciária não necessariamente resultará em aumento dos benefíciose serviços a que cada segurado-contribuinte fará jus, cabendo à lei, na forma do art. 201, § 11 da CRFB/1988, disciplinar see como haverá reflexos: contribui-se solidariamente para a manutenção e expansão do sistema como um todo, e não paraprovisionar fundos única e exclusivamente em benefício próprio (STF, RE 210.211, AI 724.582 AgR e ADI 3.105).III – FATOR PREVIDENCIÁRIO E DESINCENTIVO À APOSENTADORIA PRECOCE COMO TÉCNICA DE MANUTENÇÃODO EQUILÍBRIO DA PREVIDÊNCIA SOCIAL.1. No regime previdenciário dos servidores públicos, há idade mínima como requisito para a aposentadoria, paga-se abonode permanência a quem postergar a aposentadoria (art. 40, § 19, da CRFB/1988), e veda-se a acumulação de proventos

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com vencimentos (salvo na hipótese do art. 37, § 10, da CRFB/1988).2. No RGPS, não há idade mínima como requisito para a aposentadoria, permite-se a acumulação de aposentadoria com aremuneração de emprego, o deferimento de aposentadoria não rescinde os contratos de trabalho (STF, ADI 1.721 e 1.770).Por outro lado, a Lei 9.876/1999 instituiu o fator previdenciário – cuja constitucionalidade foi reconhecida pelo STF (ADI-MC2.111) – no cálculo das aposentadorias por idade, por tempo de serviço e por tempo de contribuição, para assegurar oequilíbrio atuarial, de modo que os critérios “tempo de contribuição”, “idade” e “expectativa de sobrevida no momento daaposentadoria” tenham influência sobre o valor final do benefício.IV – DIREITO ADQUIRIDO AO BENEFÍCIO CUJOS REQUISITOS FORAM INTEGRALMENTE CUMPRIDOS.1. Com base no art. 5º, XXXVI, da CRFB/1988, o segurado tem direito a que seu benefício, quanto aos seus elementosessenciais, observe a lei em vigor no momento em que preencheu todos os requisitos para a sua aquisição,independentemente da data do requerimento administrativo (STF, RE 72.509 e Súmula 359). Assim, por exemplo, apensão por morte é regida pela lei em vigor na data do óbito do segurado-instituidor, não se aplicando a lei posterior, sejamais gravosa, seja mais benéfica (STF, RE 218.467, RE 273.570 e RE 415.454).2. O direito adquirido ao benefício não assegura a imutabilidade do seu regime jurídico (STF, RE 278.718, RE 575.089 e AI654.807), então, por exemplo, os segurados podem ser beneficiados pela alteração do valor-limite do benefício (STF, RE564.354) ou prejudicados pela instituição ou diminuição de prazos prescricionais ou decadenciais (STF, ADI-MC 1.715 e RE21.341).3. O segurado tem direito ao benefício mais vantajoso (aquele de maior RMI), considerando todos os fatores queinfluenciam em seu cálculo, desde a data em que o direito ao benefício ingressou em seu patrimônio (isto é, cumpriu todosos requisitos legais para a aquisição do direito) até o momento em que o direito é exercido (data do requerimentoadministrativo) (STF, RE 630.501). Cumpridos os requisitos mínimos (tempo de serviço e carência ou tempo decontribuição e idade, conforme o regime jurídico vigente à época), o segurado adquire o direito ao benefício, aquisição quenão se confunde com o seu exercício (neste sentido, o art. 102, § 1º, da Lei 8.213/1991, incluído pela Lei 9.528/1997, areconhecer que a perda da qualidade de segurado não prejudica o direito à aposentadoria para cuja concessão tenham sidopreenchidos todos os requisitos, segundo a legislação em vigor à época em que atendidos esses requisitos), daí porqueeventual modificação posterior nas circunstâncias de fato não suprime o direito já incorporado ao patrimônio do seu titular.Adquirido o direito à aposentação, o segurado pode optar por não exercê-lo de imediato, seja para fazer jus ao benefíciointegral (quando houve aquisição do direito apenas à aposentadoria proporcional), seja para melhorar o fator previdenciárioaplicável e computar as novas contribuições, e essa opção não pode prejudicá-lo, pois seria injurídico tolerar que a RMI dobenefício requerido posteriormente (em decorrência, por exemplo, da redução do salário-de-contribuição) fosse inferior àRMI do benefício que poderia já ter obtido. Conferiu-se interpretação extensiva ao art. 122 da Lei 8.213/1991 (“Se maisvantajoso, fica assegurado o direito à aposentadoria, nas condições legalmente previstas na data do cumprimento de todosos requisitos necessários à obtenção do benefício, ao segurado que, tendo completado 35 anos de serviço, se homem, outrinta anos, se mulher, optou por permanecer em atividade”) para assegurar não só o benefício mais vantajoso na data documprimento dos requisitos para a aposentadoria integral, como também para a aposentadoria proporcional adquirida, bemcomo em cada um dos meses posteriores à aquisição, até a data do exercício do direito pelo requerimento.4. Exercido o direito ao benefício, mediante requerimento de aposentadoria, o tempo de contribuição acumulado exauretodos os seus efeitos jurídicos, não podendo ser computado posteriormente para a aquisição de outros direitos.V – “RENÚNCIA À APOSENTADORIA”: PRECEDENTES SOBRE DESAPOSENTAÇÃO.1. Há aposentados que retornam à atividade laboral como segurados obrigatórios, e posteriormente pleiteiam em juízo novocálculo de proventos, consideradas as contribuições de período referente a esse regresso, pretendendo afastar o art. 18, §2º, da Lei 8.213/1991 (“O aposentado pelo Regime Geral de Previdência Social - RGPS que permanecer em atividadesujeita a este Regime, ou a ele retornar, não fará jus a prestação alguma da Previdência Social em decorrência do exercíciodessa atividade, exceto ao salário-família e à reabilitação profissional, quando empregado.”) por considerá-lo incompatívelcom o art. 201, § 11, da CRFB/1988 (“Os ganhos habituais do empregado, a qualquer título, serão incorporados ao saláriopara efeito de contribuição previdenciária e conseqüente repercussão em benefícios, nos casos e na forma da lei.”).2. A jurisprudência admitia a renúncia à aposentadoria já obtida, com o aproveitamento do tempo de contribuição para obternova aposentadoria, desde que tal renúncia produzisse efeitos ex tunc (impondo a devolução integral das prestaçõespercebidas do INSS, para evitar enriquecimento ilícito do beneficiário) (TNU, PEDILEF 200872580041869; Enunciado 70das Turmas Recursais do Rio de Janeiro; Primeira Seção do TRF da 2ª Região, EIAC 201050010042326).3. A Primeira Seção do STJ assentou que “Os benefícios previdenciários são direitos patrimoniais disponíveis e, portanto,suscetíveis de desistência pelos seus titulares, prescindindo-se da devolução dos valores recebidos da aposentadoria a queo segurado deseja preterir para a concessão de novo e posterior jubilamento”. Conferiu interpretação ao art. 18, § 2º, da Lei8.213/1991 no sentido de que este não impede o segurado de retornar à atividade laboral e renunciar à aposentadoria deque está em gozo, nem de, em seguida, requerer novo benefício (reaposentação) que utilize os períodos contributivos doprimeiro somado aos períodos posteriores ao retorno à atividade laboral (RESP 1.334.488).VI – A DESAPOSENTAÇÃO E A REAPOSENTAÇÃO NÃO ENCONTRAM RESPALDO NA LEI, MESMO QUE OSEGURADO SE DISPONHA A DEVOLVER TODOS OS VALORES JÁ RECEBIDOS A TÍTULO DE APOSENTADORIA.1. Orientação do Relator, Juiz Federal Iorio Siqueira D’Alessandri Forti, externada em voto vencido no recurso inominado2011.50.50.005300-0/01 (sessão da 1ª Turma Recursal de Vitória/ES em 28/06/2013), para quem a desaposentação esubseqüente reaposentação não são juridicamente viáveis sequer com a restituição dos valores recebidos pelo segurado,com amparo nos seguintes fundamentos:i) Inexistência de norma autorizando a pretensão em regra implica, nos atos vinculados, vedação, e não permissão. A cadanovo mês trabalhado por um segurado aposentado, corresponde o pagamento de uma nova contribuição, e eventualmenteele teria interesse em obter “nova aposentadoria melhorada” mensalmente, razão pela qual a falta de disciplina legalresultaria em situação caótica.ii) O simples fato de incidir contribuição sobre o salário de um segurado obrigatório que se encontra aposentado nãopermite concluir que, com base nos arts. 195, § 5º, e 201, § 11º, da CRFB/1988, alguma vantagem individual

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correspondente lhe seja devida (STF, RE 210.211, AI 724.582 AgR e ADI 3.105). Se a contribuição, com a significativaalíquota de 11%, for reputada excessiva ou sem causa válida, a conseqüência possível é a inconstitucionalidade dacontribuição, nunca a majoração da aposentadoria sem expressa previsão em lei.iii) O tempo de contribuição ingressa no patrimônio do trabalhador mês a mês, e, satisfeitos os requisitos para a obtençãode benefício, considera-se direito adquirido, a ser utilizado quando o segurado considerar mais conveniente. Diante debifurcação, a ele cabe escolher qual caminho trilhar, sabendo que não há autorização legal para retornar: requererimediatamente a aposentadoria, gozando-a desde logo, por um período de vida mais longo, com valor “achatado” pelo fatorprevidenciário, ou permanecer mais tempo contribuindo, para ficar mais velho e obter um benefício maior. Uma vezexercido o direito de instar a Administração a agir, tem-se ato administrativo aperfeiçoado, protegido pelo art. 5º, XXXVI, daCRFB/1988. O tempo trabalhado e contribuído não deixou de integrar o patrimônio do segurado, mas já foi aproveitadointegralmente para uma finalidade, e não pode, portanto, ser aproveitado para outra.iv) É certo que o direito do aposentado às prestações mensais do benefício, apesar da natureza alimentar deste, ostentanatureza patrimonial e disponível. O segurado pode, a qualquer momento, renunciar ao recebimento de uma, várias outodas as prestações, com efeitos ex nunc, isto é, sem ter de devolver aquelas já recebidas, uma vez que não as recebeuindevidamente. Ocorre que o direito à aposentadoria em si, após adquirido, foi exercido por ato de vontade; com odeferimento pela Administração, tornou-se ato jurídico perfeito. A qualquer momento, cessando as razões de conveniênciae oportunidade que levaram o segurado a suspender por tempo indeterminado os efeitos do ato administrativo que oaposentou, poderá solicitar a reativação imediata do benefício: em se tratando de direito social fundamental, visando àgarantia da subsistência digna, a aposentadoria é irrenunciável. O interruptor pode ser desligado (e religado, também), nãoarrancado da parede.v) Pode-se renunciar às prestações da aposentadoria, sendo vedado – diante da falta de norma autorizadora – valer-sedessa renúncia para contornar uma (má) escolha feita no passado, mesmo com a disposição de ressarcir a Administraçãode todos os valores recebidos. No sentido da imutabilidade radical deste ato, votaram os Ministros Dias Toffoli, CármenLúcia, Ricardo Lewandowski e Gilmar Mendes no julgamento do RE 630.501, enquanto os demais Ministros consideraram oato passível de revisão apenas quando tivesse por fundamento a aquisição de direito a RMI melhor antes da data dorequerimento. Nas palavras do Juiz Federal Guilherme Beltrami, o que a parte autora pretende não é renunciar àaposentadoria – porque, em suma, renúncia é abandonar direitos e não reverter a statu quo ante com recuperação dotempo; o que ela pretende é como renunciar à propriedade de um bem e querer o dinheiro da aquisição de volta.vi) O obstáculo à pretensão de obter nova aposentadoria com base nas mesmas contribuições aproveitadas para aaposentadoria a que renunciam decorre não só do ato jurídico perfeito (art. 5º, XXXVI, da CRFB/1988) e da falta deprevisão legal expressa (arts. 37, caput, e 201, caput e § 11, da CRFB/1988), como também de clara vedação prevista emnormas infraconstitucionais. O art. 18, § 2º, da Lei 8.213/1991 diz, por via transversa, que as contribuições vertidas pelosegurado aposentado não produzem efeito algum para a obtenção de outra aposentadoria, cabendo a ele escolherprudentemente quando e como as usará. O art. 29, I, e § 7º, também da Lei 8.213/1991, como a aposentadoria demanda,para a fixação da renda mensal inicial do benefício, o cômputo da idade e da expectativa de sobrevida do segurado nomomento do requerimento, conclui-se que, uma vez deferido, tem-se ato administrativo cujos efeitos atrelam, de formaincindível, a quantidade de contribuições vertidas e o período futuro de vida do segurado. Admitir a desaposentação e, logodepois, novo pedido de aposentadoria (com mais contribuições, idade mais elevada e, portanto, expectativa de sobrevidamenor), a fim de obter benefício com RMI maior, constituiria burla ao fator previdenciário e a seu objetivo de desestimularaposentadorias precoces.VII – Inexiste violação aos arts. 109 e 98, I, § 1º, da CRFB.VIII – Recurso da parte autora conhecido e desprovido. Sem custas nem honorários sucumbenciais, ante o deferimento daAssistência Judiciária Gratuita.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, acordam os Juízes da 1ª Turma Recursaldos Juizados Especiais Federais da Seção Judiciária do Espírito Santo CONHECER DO RECURSO e, no mérito,NEGAR-LHE PROVIMENTO, na forma da ementa constante dos autos, que passa a integrar o presente julgado.

IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTIJuiz Federal – 3º Relator da 1ª Turma Recursal

96 - 0004831-61.2012.4.02.5050/01 (2012.50.50.004831-7/01) (PROCESSO ELETRÔNICO) INSTITUTO NACIONAL DOSEGURO SOCIAL - INSS (PROCDOR: JOSÉ VICENTE SANTIAGO JUNQUEIRA.) x ABDIL ANTONIO DA COSTA(DEF.PUB: RICARDO FIGUEIREDO GIORI.).RECURSO Nº 0004831-61.2012.4.02.5050/01 (2012.50.50.004831-7/01)RECORRENTE: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSSRECORRIDO: ABDIL ANTONIO DA COSTARELATOR: JUIZ FEDERAL IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTI

EMENTA

PREVIDENCIÁRIO. PRETENSÃO DE DESAPOSENTAÇÃO SEGUIDA DE REAPOSENTAÇÃO. AUSÊNCIA DEPREVISÃO LEGAL. VIOLAÇÃO AO ATO JURÍDICO PERFEITO. CONTRARIEDADE A REGRAS EXPRESSAS DA LEI8.213/1991. IMPROCEDÊNCIA DO PEDIDO.

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I – CARÁTER CONTRIBUTIVO E SOLIDÁRIO DA PREVIDÊNCIA SOCIAL.1. A aposentadoria é direito social (art. 7º, XXIV, da CRFB/1988).2. Para a integridade da Previdência Social, tanto o Regime Geral quanto o Regime dos servidores têm caráter contributivoe solidário, de filiação obrigatória, com a observância de critérios que preservem o equilíbrio financeiro e atuarial (arts. 40,caput, e 201, caput, da CRFB/1988).

II – OS ARTS. 195, § 5º, E 201, § 11, DA CRFB/188: A INSTITUIÇÃO OU MAJORAÇÃO DE CONTRIBUIÇÃO DEVEREFORÇAR O REGIME SOLIDÁRIO, SEM NECESSARIAMENTE IMPLICAR BENEFÍCIO INDIVIDUAL PARA OCONTRIBUINTE.1. O art. 195, § 5º, da CRFB/1988 (“Nenhum benefício ou serviço da seguridade social poderá ser criado, majorado ouestendido sem a correspondente fonte de custeio total”) é regra que visa ao equilíbrio financeiro e atuarial.2. A majoração da contribuição social, como qualquer tributo, depende, para a sua validade, de causa jurídica válida, e,portanto, demanda, em contrapartida, incremento no sistema previdenciário (STF, ADI 790, RE 183.906 e ADI-MC 2.010).3. Entretanto, a majoração da contribuição social previdenciária não necessariamente resultará em aumento dos benefíciose serviços a que cada segurado-contribuinte fará jus, cabendo à lei, na forma do art. 201, § 11 da CRFB/1988, disciplinar see como haverá reflexos: contribui-se solidariamente para a manutenção e expansão do sistema como um todo, e não paraprovisionar fundos única e exclusivamente em benefício próprio (STF, RE 210.211, AI 724.582 AgR e ADI 3.105).

III – FATOR PREVIDENCIÁRIO E DESINCENTIVO À APOSENTADORIA PRECOCE COMO TÉCNICA DE MANUTENÇÃODO EQUILÍBRIO DA PREVIDÊNCIA SOCIAL.1. No regime previdenciário dos servidores públicos, há idade mínima como requisito para a aposentadoria, paga-se abonode permanência a quem postergar a aposentadoria (art. 40, § 19, da CRFB/1988), e veda-se a acumulação de proventoscom vencimentos (salvo na hipótese do art. 37, § 10, da CRFB/1988).2. No RGPS, não há idade mínima como requisito para a aposentadoria, permite-se a acumulação de aposentadoria com aremuneração de emprego, o deferimento de aposentadoria não rescinde os contratos de trabalho (STF, ADI 1.721 e 1.770).Por outro lado, a Lei 9.876/1999 instituiu o fator previdenciário – cuja constitucionalidade foi reconhecida pelo STF (ADI-MC2.111) – no cálculo das aposentadorias por idade, por tempo de serviço e por tempo de contribuição, para assegurar oequilíbrio atuarial, de modo que os critérios “tempo de contribuição”, “idade” e “expectativa de sobrevida no momento daaposentadoria” tenham influência sobre o valor final do benefício.

IV – DIREITO ADQUIRIDO AO BENEFÍCIO CUJOS REQUISITOS FORAM INTEGRALMENTE CUMPRIDOS.1. Com base no art. 5º, XXXVI, da CRFB/1988, o segurado tem direito a que seu benefício, quanto aos seus elementosessenciais, observe a lei em vigor no momento em que preencheu todos os requisitos para a sua aquisição,independentemente da data do requerimento administrativo (STF, RE 72.509 e Súmula 359). Assim, por exemplo, apensão por morte é regida pela lei em vigor na data do óbito do segurado-instituidor, não se aplicando a lei posterior, sejamais gravosa, seja mais benéfica (STF, RE 218.467, RE 273.570 e RE 415.454).2. O direito adquirido ao benefício não assegura a imutabilidade do seu regime jurídico (STF, RE 278.718, RE 575.089 e AI654.807), então, por exemplo, os segurados podem ser beneficiados pela alteração do valor-limite do benefício (STF, RE564.354) ou prejudicados pela instituição ou diminuição de prazos prescricionais ou decadenciais (STF, ADI-MC 1.715 e RE21.341).3. O segurado tem direito ao benefício mais vantajoso (aquele de maior RMI), considerando todos os fatores queinfluenciam em seu cálculo, desde a data em que o direito ao benefício ingressou em seu patrimônio (isto é, cumpriu todosos requisitos legais para a aquisição do direito) até o momento em que o direito é exercido (data do requerimentoadministrativo) (STF, RE 630.501). Cumpridos os requisitos mínimos (tempo de serviço e carência ou tempo decontribuição e idade, conforme o regime jurídico vigente à época), o segurado adquire o direito ao benefício, aquisição quenão se confunde com o seu exercício (neste sentido, o art. 102, § 1º, da Lei 8.213/1991, incluído pela Lei 9.528/1997, areconhecer que a perda da qualidade de segurado não prejudica o direito à aposentadoria para cuja concessão tenham sidopreenchidos todos os requisitos, segundo a legislação em vigor à época em que atendidos esses requisitos), daí porqueeventual modificação posterior nas circunstâncias de fato não suprime o direito já incorporado ao patrimônio do seu titular.Adquirido o direito à aposentação, o segurado pode optar por não exercê-lo de imediato, seja para fazer jus ao benefíciointegral (quando houve aquisição do direito apenas à aposentadoria proporcional), seja para melhorar o fator previdenciárioaplicável e computar as novas contribuições, e essa opção não pode prejudicá-lo, pois seria injurídico tolerar que a RMI dobenefício requerido posteriormente (em decorrência, por exemplo, da redução do salário-de-contribuição) fosse inferior àRMI do benefício que poderia já ter obtido. Conferiu-se interpretação extensiva ao art. 122 da Lei 8.213/1991 (“Se maisvantajoso, fica assegurado o direito à aposentadoria, nas condições legalmente previstas na data do cumprimento de todosos requisitos necessários à obtenção do benefício, ao segurado que, tendo completado 35 anos de serviço, se homem, outrinta anos, se mulher, optou por permanecer em atividade”) para assegurar não só o benefício mais vantajoso na data documprimento dos requisitos para a aposentadoria integral, como também para a aposentadoria proporcional adquirida, bemcomo em cada um dos meses posteriores à aquisição, até a data do exercício do direito pelo requerimento.4. Exercido o direito ao benefício, mediante requerimento de aposentadoria, o tempo de contribuição acumulado exauretodos os seus efeitos jurídicos, não podendo ser computado posteriormente para a aquisição de outros direitos.

V – “RENÚNCIA À APOSENTADORIA”: PRECEDENTES SOBRE DESAPOSENTAÇÃO.1. Há aposentados que retornam à atividade laboral como segurados obrigatórios, e posteriormente pleiteiam em juízo novocálculo de proventos, consideradas as contribuições de período referente a esse regresso, pretendendo afastar o art. 18, §2º, da Lei 8.213/1991 (“O aposentado pelo Regime Geral de Previdência Social - RGPS que permanecer em atividadesujeita a este Regime, ou a ele retornar, não fará jus a prestação alguma da Previdência Social em decorrência do exercíciodessa atividade, exceto ao salário-família e à reabilitação profissional, quando empregado.”) por considerá-lo incompatível

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com o art. 201, § 11, da CRFB/1988 (“Os ganhos habituais do empregado, a qualquer título, serão incorporados ao saláriopara efeito de contribuição previdenciária e conseqüente repercussão em benefícios, nos casos e na forma da lei.”).2. A jurisprudência admitia a renúncia à aposentadoria já obtida, com o aproveitamento do tempo de contribuição para obternova aposentadoria, desde que tal renúncia produzisse efeitos ex tunc (impondo a devolução integral das prestaçõespercebidas do INSS, para evitar enriquecimento ilícito do beneficiário) (TNU, PEDILEF 200872580041869; Enunciado 70das Turmas Recursais do Rio de Janeiro; Primeira Seção do TRF da 2ª Região, EIAC 201050010042326).3. A Primeira Seção do STJ assentou que “Os benefícios previdenciários são direitos patrimoniais disponíveis e, portanto,suscetíveis de desistência pelos seus titulares, prescindindo-se da devolução dos valores recebidos da aposentadoria a queo segurado deseja preterir para a concessão de novo e posterior jubilamento”. Conferiu interpretação ao art. 18, § 2º, da Lei8.213/1991 no sentido de que este não impede o segurado de retornar à atividade laboral e renunciar à aposentadoria deque está em gozo, nem de, em seguida, requerer novo benefício (reaposentação) que utilize os períodos contributivos doprimeiro somado aos períodos posteriores ao retorno à atividade laboral (RESP 1.334.488).

VI – A DESAPOSENTAÇÃO E A REAPOSENTAÇÃO NÃO ENCONTRAM RESPALDO NA LEI, MESMO QUE OSEGURADO SE DISPONHA A DEVOLVER TODOS OS VALORES JÁ RECEBIDOS A TÍTULO DE APOSENTADORIA.1. Orientação do Relator, Juiz Federal Iorio Siqueira D’Alessandri Forti, externada em voto vencido no recurso inominado2011.50.50.005300-0/01 (sessão da 1ª Turma Recursal de Vitória/ES em 28/06/2013), para quem a desaposentação esubseqüente reaposentação não são juridicamente viáveis sequer com a restituição dos valores recebidos pelo segurado,com amparo nos seguintes fundamentos:i) Inexistência de norma autorizando a pretensão em regra implica, nos atos vinculados, vedação, e não permissão. A cadanovo mês trabalhado por um segurado aposentado, corresponde o pagamento de uma nova contribuição, e eventualmenteele teria interesse em obter “nova aposentadoria melhorada” mensalmente, razão pela qual a falta de disciplina legalresultaria em situação caótica.ii) O simples fato de incidir contribuição sobre o salário de um segurado obrigatório que se encontra aposentado nãopermite concluir que, com base nos arts. 195, § 5º, e 201, § 11º, da CRFB/1988, alguma vantagem individualcorrespondente lhe seja devida (STF, RE 210.211, AI 724.582 AgR e ADI 3.105). Se a contribuição, com a significativaalíquota de 11%, for reputada excessiva ou sem causa válida, a conseqüência possível é a inconstitucionalidade dacontribuição, nunca a majoração da aposentadoria sem expressa previsão em lei.iii) O tempo de contribuição ingressa no patrimônio do trabalhador mês a mês, e, satisfeitos os requisitos para a obtençãode benefício, considera-se direito adquirido, a ser utilizado quando o segurado considerar mais conveniente. Diante debifurcação, a ele cabe escolher qual caminho trilhar, sabendo que não há autorização legal para retornar: requererimediatamente a aposentadoria, gozando-a desde logo, por um período de vida mais longo, com valor “achatado” pelo fatorprevidenciário, ou permanecer mais tempo contribuindo, para ficar mais velho e obter um benefício maior. Uma vezexercido o direito de instar a Administração a agir, tem-se ato administrativo aperfeiçoado, protegido pelo art. 5º, XXXVI, daCRFB/1988. O tempo trabalhado e contribuído não deixou de integrar o patrimônio do segurado, mas já foi aproveitadointegralmente para uma finalidade, e não pode, portanto, ser aproveitado para outra.iv) É certo que o direito do aposentado às prestações mensais do benefício, apesar da natureza alimentar deste, ostentanatureza patrimonial e disponível. O segurado pode, a qualquer momento, renunciar ao recebimento de uma, várias outodas as prestações, com efeitos ex nunc, isto é, sem ter de devolver aquelas já recebidas, uma vez que não as recebeuindevidamente. Ocorre que o direito à aposentadoria em si, após adquirido, foi exercido por ato de vontade; com odeferimento pela Administração, tornou-se ato jurídico perfeito. A qualquer momento, cessando as razões de conveniênciae oportunidade que levaram o segurado a suspender por tempo indeterminado os efeitos do ato administrativo que oaposentou, poderá solicitar a reativação imediata do benefício: em se tratando de direito social fundamental, visando àgarantia da subsistência digna, a aposentadoria é irrenunciável. O interruptor pode ser desligado (e religado, também), nãoarrancado da parede.v) Pode-se renunciar às prestações da aposentadoria, sendo vedado – diante da falta de norma autorizadora – valer-sedessa renúncia para contornar uma (má) escolha feita no passado, mesmo com a disposição de ressarcir a Administraçãode todos os valores recebidos. No sentido da imutabilidade radical deste ato, votaram os Ministros Dias Toffoli, CármenLúcia, Ricardo Lewandowski e Gilmar Mendes no julgamento do RE 630.501, enquanto os demais Ministros consideraram oato passível de revisão apenas quando tivesse por fundamento a aquisição de direito a RMI melhor antes da data dorequerimento. Nas palavras do Juiz Federal Guilherme Beltrami, o que a parte autora pretende não é renunciar àaposentadoria – porque, em suma, renúncia é abandonar direitos e não reverter a statu quo ante com recuperação dotempo; o que ela pretende é como renunciar à propriedade de um bem e querer o dinheiro da aquisição de volta.vi) O obstáculo à pretensão de obter nova aposentadoria com base nas mesmas contribuições aproveitadas para aaposentadoria a que renunciam decorre não só do ato jurídico perfeito (art. 5º, XXXVI, da CRFB/1988) e da falta deprevisão legal expressa (arts. 37, caput, e 201, caput e § 11, da CRFB/1988), como também de clara vedação prevista emnormas infraconstitucionais. O art. 18, § 2º, da Lei 8.213/1991 diz, por via transversa, que as contribuições vertidas pelosegurado aposentado não produzem efeito algum para a obtenção de outra aposentadoria, cabendo a ele escolherprudentemente quando e como as usará. O art. 29, I, e § 7º, também da Lei 8.213/1991, como a aposentadoria demanda,para a fixação da renda mensal inicial do benefício, o cômputo da idade e da expectativa de sobrevida do segurado nomomento do requerimento, conclui-se que, uma vez deferido, tem-se ato administrativo cujos efeitos atrelam, de formaincindível, a quantidade de contribuições vertidas e o período futuro de vida do segurado. Admitir a desaposentação e, logodepois, novo pedido de aposentadoria (com mais contribuições, idade mais elevada e, portanto, expectativa de sobrevidamenor), a fim de obter benefício com RMI maior, constituiria burla ao fator previdenciário e a seu objetivo de desestimularaposentadorias precoces.

VII – Recurso do INSS conhecido e provido, para julgar improcedente o pedido formulado pela parte autora. Sem custasnem honorários, em razão do provimento do recurso.

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ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, acordam os Juízes da 1ª Turma Recursaldos Juizados Especiais Federais da Seção Judiciária do Espírito Santo CONHECER DO RECURSO e, no mérito, DAR-LHEPROVIMENTO, na forma da ementa constante dos autos, que passa a integrar o presente julgado.

IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTIJuiz Federal – 3º Relator da 1ª Turma Recursal

97 - 0011139-66.2012.4.02.5001/01 (2012.50.01.011139-4/01) (PROCESSO ELETRÔNICO) INSTITUTO NACIONAL DOSEGURO SOCIAL - INSS (PROCDOR: MARCELA BRAVIN BASSETTO.) x COSME DANIEL DA SILVA (ADVOGADO:JOYCE DA SILVA PASSOS, VANESSA SOARES JABUR.).RECURSO Nº 0011139-66.2012.4.02.5001/01 (2012.50.01.011139-4/01)RECORRENTE: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSSRECORRIDO: COSME DANIEL DA SILVARELATOR: JUIZ FEDERAL IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTI

EMENTA

PREVIDENCIÁRIO. PRETENSÃO DE DESAPOSENTAÇÃO SEGUIDA DE REAPOSENTAÇÃO. AUSÊNCIA DEPREVISÃO LEGAL. VIOLAÇÃO AO ATO JURÍDICO PERFEITO. CONTRARIEDADE A REGRAS EXPRESSAS DA LEI8.213/1991. IMPROCEDÊNCIA DO PEDIDO.

I – CARÁTER CONTRIBUTIVO E SOLIDÁRIO DA PREVIDÊNCIA SOCIAL.1. A aposentadoria é direito social (art. 7º, XXIV, da CRFB/1988).2. Para a integridade da Previdência Social, tanto o Regime Geral quanto o Regime dos servidores têm caráter contributivoe solidário, de filiação obrigatória, com a observância de critérios que preservem o equilíbrio financeiro e atuarial (arts. 40,caput, e 201, caput, da CRFB/1988).

II – OS ARTS. 195, § 5º, E 201, § 11, DA CRFB/188: A INSTITUIÇÃO OU MAJORAÇÃO DE CONTRIBUIÇÃO DEVEREFORÇAR O REGIME SOLIDÁRIO, SEM NECESSARIAMENTE IMPLICAR BENEFÍCIO INDIVIDUAL PARA OCONTRIBUINTE.1. O art. 195, § 5º, da CRFB/1988 (“Nenhum benefício ou serviço da seguridade social poderá ser criado, majorado ouestendido sem a correspondente fonte de custeio total”) é regra que visa ao equilíbrio financeiro e atuarial.2. A majoração da contribuição social, como qualquer tributo, depende, para a sua validade, de causa jurídica válida, e,portanto, demanda, em contrapartida, incremento no sistema previdenciário (STF, ADI 790, RE 183.906 e ADI-MC 2.010).3. Entretanto, a majoração da contribuição social previdenciária não necessariamente resultará em aumento dos benefíciose serviços a que cada segurado-contribuinte fará jus, cabendo à lei, na forma do art. 201, § 11 da CRFB/1988, disciplinar see como haverá reflexos: contribui-se solidariamente para a manutenção e expansão do sistema como um todo, e não paraprovisionar fundos única e exclusivamente em benefício próprio (STF, RE 210.211, AI 724.582 AgR e ADI 3.105).

III – FATOR PREVIDENCIÁRIO E DESINCENTIVO À APOSENTADORIA PRECOCE COMO TÉCNICA DE MANUTENÇÃODO EQUILÍBRIO DA PREVIDÊNCIA SOCIAL.1. No regime previdenciário dos servidores públicos, há idade mínima como requisito para a aposentadoria, paga-se abonode permanência a quem postergar a aposentadoria (art. 40, § 19, da CRFB/1988), e veda-se a acumulação de proventoscom vencimentos (salvo na hipótese do art. 37, § 10, da CRFB/1988).2. No RGPS, não há idade mínima como requisito para a aposentadoria, permite-se a acumulação de aposentadoria com aremuneração de emprego, o deferimento de aposentadoria não rescinde os contratos de trabalho (STF, ADI 1.721 e 1.770).Por outro lado, a Lei 9.876/1999 instituiu o fator previdenciário – cuja constitucionalidade foi reconhecida pelo STF (ADI-MC2.111) – no cálculo das aposentadorias por idade, por tempo de serviço e por tempo de contribuição, para assegurar oequilíbrio atuarial, de modo que os critérios “tempo de contribuição”, “idade” e “expectativa de sobrevida no momento daaposentadoria” tenham influência sobre o valor final do benefício.

IV – DIREITO ADQUIRIDO AO BENEFÍCIO CUJOS REQUISITOS FORAM INTEGRALMENTE CUMPRIDOS.1. Com base no art. 5º, XXXVI, da CRFB/1988, o segurado tem direito a que seu benefício, quanto aos seus elementosessenciais, observe a lei em vigor no momento em que preencheu todos os requisitos para a sua aquisição,independentemente da data do requerimento administrativo (STF, RE 72.509 e Súmula 359). Assim, por exemplo, apensão por morte é regida pela lei em vigor na data do óbito do segurado-instituidor, não se aplicando a lei posterior, sejamais gravosa, seja mais benéfica (STF, RE 218.467, RE 273.570 e RE 415.454).2. O direito adquirido ao benefício não assegura a imutabilidade do seu regime jurídico (STF, RE 278.718, RE 575.089 e AI654.807), então, por exemplo, os segurados podem ser beneficiados pela alteração do valor-limite do benefício (STF, RE564.354) ou prejudicados pela instituição ou diminuição de prazos prescricionais ou decadenciais (STF, ADI-MC 1.715 e RE21.341).3. O segurado tem direito ao benefício mais vantajoso (aquele de maior RMI), considerando todos os fatores queinfluenciam em seu cálculo, desde a data em que o direito ao benefício ingressou em seu patrimônio (isto é, cumpriu todosos requisitos legais para a aquisição do direito) até o momento em que o direito é exercido (data do requerimentoadministrativo) (STF, RE 630.501). Cumpridos os requisitos mínimos (tempo de serviço e carência ou tempo de

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contribuição e idade, conforme o regime jurídico vigente à época), o segurado adquire o direito ao benefício, aquisição quenão se confunde com o seu exercício (neste sentido, o art. 102, § 1º, da Lei 8.213/1991, incluído pela Lei 9.528/1997, areconhecer que a perda da qualidade de segurado não prejudica o direito à aposentadoria para cuja concessão tenham sidopreenchidos todos os requisitos, segundo a legislação em vigor à época em que atendidos esses requisitos), daí porqueeventual modificação posterior nas circunstâncias de fato não suprime o direito já incorporado ao patrimônio do seu titular.Adquirido o direito à aposentação, o segurado pode optar por não exercê-lo de imediato, seja para fazer jus ao benefíciointegral (quando houve aquisição do direito apenas à aposentadoria proporcional), seja para melhorar o fator previdenciárioaplicável e computar as novas contribuições, e essa opção não pode prejudicá-lo, pois seria injurídico tolerar que a RMI dobenefício requerido posteriormente (em decorrência, por exemplo, da redução do salário-de-contribuição) fosse inferior àRMI do benefício que poderia já ter obtido. Conferiu-se interpretação extensiva ao art. 122 da Lei 8.213/1991 (“Se maisvantajoso, fica assegurado o direito à aposentadoria, nas condições legalmente previstas na data do cumprimento de todosos requisitos necessários à obtenção do benefício, ao segurado que, tendo completado 35 anos de serviço, se homem, outrinta anos, se mulher, optou por permanecer em atividade”) para assegurar não só o benefício mais vantajoso na data documprimento dos requisitos para a aposentadoria integral, como também para a aposentadoria proporcional adquirida, bemcomo em cada um dos meses posteriores à aquisição, até a data do exercício do direito pelo requerimento.4. Exercido o direito ao benefício, mediante requerimento de aposentadoria, o tempo de contribuição acumulado exauretodos os seus efeitos jurídicos, não podendo ser computado posteriormente para a aquisição de outros direitos.

V – “RENÚNCIA À APOSENTADORIA”: PRECEDENTES SOBRE DESAPOSENTAÇÃO.1. Há aposentados que retornam à atividade laboral como segurados obrigatórios, e posteriormente pleiteiam em juízo novocálculo de proventos, consideradas as contribuições de período referente a esse regresso, pretendendo afastar o art. 18, §2º, da Lei 8.213/1991 (“O aposentado pelo Regime Geral de Previdência Social - RGPS que permanecer em atividadesujeita a este Regime, ou a ele retornar, não fará jus a prestação alguma da Previdência Social em decorrência do exercíciodessa atividade, exceto ao salário-família e à reabilitação profissional, quando empregado.”) por considerá-lo incompatívelcom o art. 201, § 11, da CRFB/1988 (“Os ganhos habituais do empregado, a qualquer título, serão incorporados ao saláriopara efeito de contribuição previdenciária e conseqüente repercussão em benefícios, nos casos e na forma da lei.”).2. A jurisprudência admitia a renúncia à aposentadoria já obtida, com o aproveitamento do tempo de contribuição para obternova aposentadoria, desde que tal renúncia produzisse efeitos ex tunc (impondo a devolução integral das prestaçõespercebidas do INSS, para evitar enriquecimento ilícito do beneficiário) (TNU, PEDILEF 200872580041869; Enunciado 70das Turmas Recursais do Rio de Janeiro; Primeira Seção do TRF da 2ª Região, EIAC 201050010042326).3. A Primeira Seção do STJ assentou que “Os benefícios previdenciários são direitos patrimoniais disponíveis e, portanto,suscetíveis de desistência pelos seus titulares, prescindindo-se da devolução dos valores recebidos da aposentadoria a queo segurado deseja preterir para a concessão de novo e posterior jubilamento”. Conferiu interpretação ao art. 18, § 2º, da Lei8.213/1991 no sentido de que este não impede o segurado de retornar à atividade laboral e renunciar à aposentadoria deque está em gozo, nem de, em seguida, requerer novo benefício (reaposentação) que utilize os períodos contributivos doprimeiro somado aos períodos posteriores ao retorno à atividade laboral (RESP 1.334.488).

VI – A DESAPOSENTAÇÃO E A REAPOSENTAÇÃO NÃO ENCONTRAM RESPALDO NA LEI, MESMO QUE OSEGURADO SE DISPONHA A DEVOLVER TODOS OS VALORES JÁ RECEBIDOS A TÍTULO DE APOSENTADORIA.1. Orientação do Relator, Juiz Federal Iorio Siqueira D’Alessandri Forti, externada em voto vencido no recurso inominado2011.50.50.005300-0/01 (sessão da 1ª Turma Recursal de Vitória/ES em 28/06/2013), para quem a desaposentação esubseqüente reaposentação não são juridicamente viáveis sequer com a restituição dos valores recebidos pelo segurado,com amparo nos seguintes fundamentos:i) Inexistência de norma autorizando a pretensão em regra implica, nos atos vinculados, vedação, e não permissão. A cadanovo mês trabalhado por um segurado aposentado, corresponde o pagamento de uma nova contribuição, e eventualmenteele teria interesse em obter “nova aposentadoria melhorada” mensalmente, razão pela qual a falta de disciplina legalresultaria em situação caótica.ii) O simples fato de incidir contribuição sobre o salário de um segurado obrigatório que se encontra aposentado nãopermite concluir que, com base nos arts. 195, § 5º, e 201, § 11º, da CRFB/1988, alguma vantagem individualcorrespondente lhe seja devida (STF, RE 210.211, AI 724.582 AgR e ADI 3.105). Se a contribuição, com a significativaalíquota de 11%, for reputada excessiva ou sem causa válida, a conseqüência possível é a inconstitucionalidade dacontribuição, nunca a majoração da aposentadoria sem expressa previsão em lei.iii) O tempo de contribuição ingressa no patrimônio do trabalhador mês a mês, e, satisfeitos os requisitos para a obtençãode benefício, considera-se direito adquirido, a ser utilizado quando o segurado considerar mais conveniente. Diante debifurcação, a ele cabe escolher qual caminho trilhar, sabendo que não há autorização legal para retornar: requererimediatamente a aposentadoria, gozando-a desde logo, por um período de vida mais longo, com valor “achatado” pelo fatorprevidenciário, ou permanecer mais tempo contribuindo, para ficar mais velho e obter um benefício maior. Uma vezexercido o direito de instar a Administração a agir, tem-se ato administrativo aperfeiçoado, protegido pelo art. 5º, XXXVI, daCRFB/1988. O tempo trabalhado e contribuído não deixou de integrar o patrimônio do segurado, mas já foi aproveitadointegralmente para uma finalidade, e não pode, portanto, ser aproveitado para outra.iv) É certo que o direito do aposentado às prestações mensais do benefício, apesar da natureza alimentar deste, ostentanatureza patrimonial e disponível. O segurado pode, a qualquer momento, renunciar ao recebimento de uma, várias outodas as prestações, com efeitos ex nunc, isto é, sem ter de devolver aquelas já recebidas, uma vez que não as recebeuindevidamente. Ocorre que o direito à aposentadoria em si, após adquirido, foi exercido por ato de vontade; com odeferimento pela Administração, tornou-se ato jurídico perfeito. A qualquer momento, cessando as razões de conveniênciae oportunidade que levaram o segurado a suspender por tempo indeterminado os efeitos do ato administrativo que oaposentou, poderá solicitar a reativação imediata do benefício: em se tratando de direito social fundamental, visando àgarantia da subsistência digna, a aposentadoria é irrenunciável. O interruptor pode ser desligado (e religado, também), não

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arrancado da parede.v) Pode-se renunciar às prestações da aposentadoria, sendo vedado – diante da falta de norma autorizadora – valer-sedessa renúncia para contornar uma (má) escolha feita no passado, mesmo com a disposição de ressarcir a Administraçãode todos os valores recebidos. No sentido da imutabilidade radical deste ato, votaram os Ministros Dias Toffoli, CármenLúcia, Ricardo Lewandowski e Gilmar Mendes no julgamento do RE 630.501, enquanto os demais Ministros consideraram oato passível de revisão apenas quando tivesse por fundamento a aquisição de direito a RMI melhor antes da data dorequerimento. Nas palavras do Juiz Federal Guilherme Beltrami, o que a parte autora pretende não é renunciar àaposentadoria – porque, em suma, renúncia é abandonar direitos e não reverter a statu quo ante com recuperação dotempo; o que ela pretende é como renunciar à propriedade de um bem e querer o dinheiro da aquisição de volta.vi) O obstáculo à pretensão de obter nova aposentadoria com base nas mesmas contribuições aproveitadas para aaposentadoria a que renunciam decorre não só do ato jurídico perfeito (art. 5º, XXXVI, da CRFB/1988) e da falta deprevisão legal expressa (arts. 37, caput, e 201, caput e § 11, da CRFB/1988), como também de clara vedação prevista emnormas infraconstitucionais. O art. 18, § 2º, da Lei 8.213/1991 diz, por via transversa, que as contribuições vertidas pelosegurado aposentado não produzem efeito algum para a obtenção de outra aposentadoria, cabendo a ele escolherprudentemente quando e como as usará. O art. 29, I, e § 7º, também da Lei 8.213/1991, como a aposentadoria demanda,para a fixação da renda mensal inicial do benefício, o cômputo da idade e da expectativa de sobrevida do segurado nomomento do requerimento, conclui-se que, uma vez deferido, tem-se ato administrativo cujos efeitos atrelam, de formaincindível, a quantidade de contribuições vertidas e o período futuro de vida do segurado. Admitir a desaposentação e, logodepois, novo pedido de aposentadoria (com mais contribuições, idade mais elevada e, portanto, expectativa de sobrevidamenor), a fim de obter benefício com RMI maior, constituiria burla ao fator previdenciário e a seu objetivo de desestimularaposentadorias precoces.

VII – Recurso do INSS conhecido e provido, para julgar improcedente o pedido formulado pela parte autora. Sem custasnem honorários, em razão do provimento do recurso.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, acordam os Juízes da 1ª Turma Recursaldos Juizados Especiais Federais da Seção Judiciária do Espírito Santo CONHECER DO RECURSO e, no mérito, DAR-LHEPROVIMENTO, na forma da ementa constante dos autos, que passa a integrar o presente julgado.

IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTIJuiz Federal – 3º Relator da 1ª Turma Recursal

98 - 0010224-17.2012.4.02.5001/01 (2012.50.01.010224-1/01) (PROCESSO ELETRÔNICO) GILBERTO LACERDA CRUZ(ADVOGADO: JOYCE DA SILVA PASSOS, VANESSA SOARES JABUR.) x INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL- INSS (PROCDOR: SIMONE LENGRUBER DARROZ ROSSONI.).RECURSO Nº 0010224-17.2012.4.02.5001/01 (2012.50.01.010224-1/01)RECORRENTE: GILBERTO LACERDA CRUZRECORRIDO: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSSRELATOR: JUIZ FEDERAL IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTI

EMENTA

PREVIDENCIÁRIO. PRETENSÃO DE DESAPOSENTAÇÃO SEGUIDA DE REAPOSENTAÇÃO. AUSÊNCIA DEPREVISÃO LEGAL. VIOLAÇÃO AO ATO JURÍDICO PERFEITO. CONTRARIEDADE A REGRAS EXPRESSAS DA LEI8.213/1991. IMPROCEDÊNCIA DO PEDIDO.

I – CARÁTER CONTRIBUTIVO E SOLIDÁRIO DA PREVIDÊNCIA SOCIAL.1. A aposentadoria é direito social (art. 7º, XXIV, da CRFB/1988).2. Para a integridade da Previdência Social, tanto o Regime Geral quanto o Regime dos servidores têm caráter contributivoe solidário, de filiação obrigatória, com a observância de critérios que preservem o equilíbrio financeiro e atuarial (arts. 40,caput, e 201, caput, da CRFB/1988).

II – OS ARTS. 195, § 5º, E 201, § 11, DA CRFB/188: A INSTITUIÇÃO OU MAJORAÇÃO DE CONTRIBUIÇÃO DEVEREFORÇAR O REGIME SOLIDÁRIO, SEM NECESSARIAMENTE IMPLICAR BENEFÍCIO INDIVIDUAL PARA OCONTRIBUINTE.1. O art. 195, § 5º, da CRFB/1988 (“Nenhum benefício ou serviço da seguridade social poderá ser criado, majorado ouestendido sem a correspondente fonte de custeio total”) é regra que visa ao equilíbrio financeiro e atuarial.2. A majoração da contribuição social, como qualquer tributo, depende, para a sua validade, de causa jurídica válida, e,portanto, demanda, em contrapartida, incremento no sistema previdenciário (STF, ADI 790, RE 183.906 e ADI-MC 2.010).3. Entretanto, a majoração da contribuição social previdenciária não necessariamente resultará em aumento dos benefíciose serviços a que cada segurado-contribuinte fará jus, cabendo à lei, na forma do art. 201, § 11 da CRFB/1988, disciplinar see como haverá reflexos: contribui-se solidariamente para a manutenção e expansão do sistema como um todo, e não paraprovisionar fundos única e exclusivamente em benefício próprio (STF, RE 210.211, AI 724.582 AgR e ADI 3.105).

III – FATOR PREVIDENCIÁRIO E DESINCENTIVO À APOSENTADORIA PRECOCE COMO TÉCNICA DE MANUTENÇÃODO EQUILÍBRIO DA PREVIDÊNCIA SOCIAL.

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1. No regime previdenciário dos servidores públicos, há idade mínima como requisito para a aposentadoria, paga-se abonode permanência a quem postergar a aposentadoria (art. 40, § 19, da CRFB/1988), e veda-se a acumulação de proventoscom vencimentos (salvo na hipótese do art. 37, § 10, da CRFB/1988).2. No RGPS, não há idade mínima como requisito para a aposentadoria, permite-se a acumulação de aposentadoria com aremuneração de emprego, o deferimento de aposentadoria não rescinde os contratos de trabalho (STF, ADI 1.721 e 1.770).Por outro lado, a Lei 9.876/1999 instituiu o fator previdenciário – cuja constitucionalidade foi reconhecida pelo STF (ADI-MC2.111) – no cálculo das aposentadorias por idade, por tempo de serviço e por tempo de contribuição, para assegurar oequilíbrio atuarial, de modo que os critérios “tempo de contribuição”, “idade” e “expectativa de sobrevida no momento daaposentadoria” tenham influência sobre o valor final do benefício.

IV – DIREITO ADQUIRIDO AO BENEFÍCIO CUJOS REQUISITOS FORAM INTEGRALMENTE CUMPRIDOS.1. Com base no art. 5º, XXXVI, da CRFB/1988, o segurado tem direito a que seu benefício, quanto aos seus elementosessenciais, observe a lei em vigor no momento em que preencheu todos os requisitos para a sua aquisição,independentemente da data do requerimento administrativo (STF, RE 72.509 e Súmula 359). Assim, por exemplo, apensão por morte é regida pela lei em vigor na data do óbito do segurado-instituidor, não se aplicando a lei posterior, sejamais gravosa, seja mais benéfica (STF, RE 218.467, RE 273.570 e RE 415.454).2. O direito adquirido ao benefício não assegura a imutabilidade do seu regime jurídico (STF, RE 278.718, RE 575.089 e AI654.807), então, por exemplo, os segurados podem ser beneficiados pela alteração do valor-limite do benefício (STF, RE564.354) ou prejudicados pela instituição ou diminuição de prazos prescricionais ou decadenciais (STF, ADI-MC 1.715 e RE21.341).3. O segurado tem direito ao benefício mais vantajoso (aquele de maior RMI), considerando todos os fatores queinfluenciam em seu cálculo, desde a data em que o direito ao benefício ingressou em seu patrimônio (isto é, cumpriu todosos requisitos legais para a aquisição do direito) até o momento em que o direito é exercido (data do requerimentoadministrativo) (STF, RE 630.501). Cumpridos os requisitos mínimos (tempo de serviço e carência ou tempo decontribuição e idade, conforme o regime jurídico vigente à época), o segurado adquire o direito ao benefício, aquisição quenão se confunde com o seu exercício (neste sentido, o art. 102, § 1º, da Lei 8.213/1991, incluído pela Lei 9.528/1997, areconhecer que a perda da qualidade de segurado não prejudica o direito à aposentadoria para cuja concessão tenham sidopreenchidos todos os requisitos, segundo a legislação em vigor à época em que atendidos esses requisitos), daí porqueeventual modificação posterior nas circunstâncias de fato não suprime o direito já incorporado ao patrimônio do seu titular.Adquirido o direito à aposentação, o segurado pode optar por não exercê-lo de imediato, seja para fazer jus ao benefíciointegral (quando houve aquisição do direito apenas à aposentadoria proporcional), seja para melhorar o fator previdenciárioaplicável e computar as novas contribuições, e essa opção não pode prejudicá-lo, pois seria injurídico tolerar que a RMI dobenefício requerido posteriormente (em decorrência, por exemplo, da redução do salário-de-contribuição) fosse inferior àRMI do benefício que poderia já ter obtido. Conferiu-se interpretação extensiva ao art. 122 da Lei 8.213/1991 (“Se maisvantajoso, fica assegurado o direito à aposentadoria, nas condições legalmente previstas na data do cumprimento de todosos requisitos necessários à obtenção do benefício, ao segurado que, tendo completado 35 anos de serviço, se homem, outrinta anos, se mulher, optou por permanecer em atividade”) para assegurar não só o benefício mais vantajoso na data documprimento dos requisitos para a aposentadoria integral, como também para a aposentadoria proporcional adquirida, bemcomo em cada um dos meses posteriores à aquisição, até a data do exercício do direito pelo requerimento.4. Exercido o direito ao benefício, mediante requerimento de aposentadoria, o tempo de contribuição acumulado exauretodos os seus efeitos jurídicos, não podendo ser computado posteriormente para a aquisição de outros direitos.

V – “RENÚNCIA À APOSENTADORIA”: PRECEDENTES SOBRE DESAPOSENTAÇÃO.1. Há aposentados que retornam à atividade laboral como segurados obrigatórios, e posteriormente pleiteiam em juízo novocálculo de proventos, consideradas as contribuições de período referente a esse regresso, pretendendo afastar o art. 18, §2º, da Lei 8.213/1991 (“O aposentado pelo Regime Geral de Previdência Social - RGPS que permanecer em atividadesujeita a este Regime, ou a ele retornar, não fará jus a prestação alguma da Previdência Social em decorrência do exercíciodessa atividade, exceto ao salário-família e à reabilitação profissional, quando empregado.”) por considerá-lo incompatívelcom o art. 201, § 11, da CRFB/1988 (“Os ganhos habituais do empregado, a qualquer título, serão incorporados ao saláriopara efeito de contribuição previdenciária e conseqüente repercussão em benefícios, nos casos e na forma da lei.”).2. A jurisprudência admitia a renúncia à aposentadoria já obtida, com o aproveitamento do tempo de contribuição para obternova aposentadoria, desde que tal renúncia produzisse efeitos ex tunc (impondo a devolução integral das prestaçõespercebidas do INSS, para evitar enriquecimento ilícito do beneficiário) (TNU, PEDILEF 200872580041869; Enunciado 70das Turmas Recursais do Rio de Janeiro; Primeira Seção do TRF da 2ª Região, EIAC 201050010042326).3. A Primeira Seção do STJ assentou que “Os benefícios previdenciários são direitos patrimoniais disponíveis e, portanto,suscetíveis de desistência pelos seus titulares, prescindindo-se da devolução dos valores recebidos da aposentadoria a queo segurado deseja preterir para a concessão de novo e posterior jubilamento”. Conferiu interpretação ao art. 18, § 2º, da Lei8.213/1991 no sentido de que este não impede o segurado de retornar à atividade laboral e renunciar à aposentadoria deque está em gozo, nem de, em seguida, requerer novo benefício (reaposentação) que utilize os períodos contributivos doprimeiro somado aos períodos posteriores ao retorno à atividade laboral (RESP 1.334.488).

VI – A DESAPOSENTAÇÃO E A REAPOSENTAÇÃO NÃO ENCONTRAM RESPALDO NA LEI, MESMO QUE OSEGURADO SE DISPONHA A DEVOLVER TODOS OS VALORES JÁ RECEBIDOS A TÍTULO DE APOSENTADORIA.1. Orientação do Relator, Juiz Federal Iorio Siqueira D’Alessandri Forti, externada em voto vencido no recurso inominado2011.50.50.005300-0/01 (sessão da 1ª Turma Recursal de Vitória/ES em 28/06/2013), para quem a desaposentação esubseqüente reaposentação não são juridicamente viáveis sequer com a restituição dos valores recebidos pelo segurado,com amparo nos seguintes fundamentos:i) Inexistência de norma autorizando a pretensão em regra implica, nos atos vinculados, vedação, e não permissão. A cada

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novo mês trabalhado por um segurado aposentado, corresponde o pagamento de uma nova contribuição, e eventualmenteele teria interesse em obter “nova aposentadoria melhorada” mensalmente, razão pela qual a falta de disciplina legalresultaria em situação caótica.ii) O simples fato de incidir contribuição sobre o salário de um segurado obrigatório que se encontra aposentado nãopermite concluir que, com base nos arts. 195, § 5º, e 201, § 11º, da CRFB/1988, alguma vantagem individualcorrespondente lhe seja devida (STF, RE 210.211, AI 724.582 AgR e ADI 3.105). Se a contribuição, com a significativaalíquota de 11%, for reputada excessiva ou sem causa válida, a conseqüência possível é a inconstitucionalidade dacontribuição, nunca a majoração da aposentadoria sem expressa previsão em lei.iii) O tempo de contribuição ingressa no patrimônio do trabalhador mês a mês, e, satisfeitos os requisitos para a obtençãode benefício, considera-se direito adquirido, a ser utilizado quando o segurado considerar mais conveniente. Diante debifurcação, a ele cabe escolher qual caminho trilhar, sabendo que não há autorização legal para retornar: requererimediatamente a aposentadoria, gozando-a desde logo, por um período de vida mais longo, com valor “achatado” pelo fatorprevidenciário, ou permanecer mais tempo contribuindo, para ficar mais velho e obter um benefício maior. Uma vezexercido o direito de instar a Administração a agir, tem-se ato administrativo aperfeiçoado, protegido pelo art. 5º, XXXVI, daCRFB/1988. O tempo trabalhado e contribuído não deixou de integrar o patrimônio do segurado, mas já foi aproveitadointegralmente para uma finalidade, e não pode, portanto, ser aproveitado para outra.iv) É certo que o direito do aposentado às prestações mensais do benefício, apesar da natureza alimentar deste, ostentanatureza patrimonial e disponível. O segurado pode, a qualquer momento, renunciar ao recebimento de uma, várias outodas as prestações, com efeitos ex nunc, isto é, sem ter de devolver aquelas já recebidas, uma vez que não as recebeuindevidamente. Ocorre que o direito à aposentadoria em si, após adquirido, foi exercido por ato de vontade; com odeferimento pela Administração, tornou-se ato jurídico perfeito. A qualquer momento, cessando as razões de conveniênciae oportunidade que levaram o segurado a suspender por tempo indeterminado os efeitos do ato administrativo que oaposentou, poderá solicitar a reativação imediata do benefício: em se tratando de direito social fundamental, visando àgarantia da subsistência digna, a aposentadoria é irrenunciável. O interruptor pode ser desligado (e religado, também), nãoarrancado da parede.v) Pode-se renunciar às prestações da aposentadoria, sendo vedado – diante da falta de norma autorizadora – valer-sedessa renúncia para contornar uma (má) escolha feita no passado, mesmo com a disposição de ressarcir a Administraçãode todos os valores recebidos. No sentido da imutabilidade radical deste ato, votaram os Ministros Dias Toffoli, CármenLúcia, Ricardo Lewandowski e Gilmar Mendes no julgamento do RE 630.501, enquanto os demais Ministros consideraram oato passível de revisão apenas quando tivesse por fundamento a aquisição de direito a RMI melhor antes da data dorequerimento. Nas palavras do Juiz Federal Guilherme Beltrami, o que a parte autora pretende não é renunciar àaposentadoria – porque, em suma, renúncia é abandonar direitos e não reverter a statu quo ante com recuperação dotempo; o que ela pretende é como renunciar à propriedade de um bem e querer o dinheiro da aquisição de volta.vi) O obstáculo à pretensão de obter nova aposentadoria com base nas mesmas contribuições aproveitadas para aaposentadoria a que renunciam decorre não só do ato jurídico perfeito (art. 5º, XXXVI, da CRFB/1988) e da falta deprevisão legal expressa (arts. 37, caput, e 201, caput e § 11, da CRFB/1988), como também de clara vedação prevista emnormas infraconstitucionais. O art. 18, § 2º, da Lei 8.213/1991 diz, por via transversa, que as contribuições vertidas pelosegurado aposentado não produzem efeito algum para a obtenção de outra aposentadoria, cabendo a ele escolherprudentemente quando e como as usará. O art. 29, I, e § 7º, também da Lei 8.213/1991, como a aposentadoria demanda,para a fixação da renda mensal inicial do benefício, o cômputo da idade e da expectativa de sobrevida do segurado nomomento do requerimento, conclui-se que, uma vez deferido, tem-se ato administrativo cujos efeitos atrelam, de formaincindível, a quantidade de contribuições vertidas e o período futuro de vida do segurado. Admitir a desaposentação e, logodepois, novo pedido de aposentadoria (com mais contribuições, idade mais elevada e, portanto, expectativa de sobrevidamenor), a fim de obter benefício com RMI maior, constituiria burla ao fator previdenciário e a seu objetivo de desestimularaposentadorias precoces.

VII – Recurso da parte autora conhecido e desprovido. Sem custas nem honorários sucumbenciais, ante o deferimento daAssistência Judiciária Gratuita.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, acordam os Juízes da 1ª Turma Recursaldos Juizados Especiais Federais da Seção Judiciária do Espírito Santo CONHECER DO RECURSO e, no mérito,NEGAR-LHE PROVIMENTO, na forma da ementa constante dos autos, que passa a integrar o presente julgado.

IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTIJuiz Federal – 3º Relator da 1ª Turma Recursal

99 - 0000481-21.2012.4.02.5053/01 (2012.50.53.000481-0/01) (PROCESSO ELETRÔNICO) RICARDO JOSÉ BAUSOMARQUES (ADVOGADO: WANESSA ALDRIGUES CANDIDO.) x INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS(PROCDOR: UBIRATAN CRUZ RODRIGUES.).RECURSO Nº 0000481-21.2012.4.02.5053/01 (2012.50.53.000481-0/01)RECORRENTE: RICARDO JOSÉ BAUSO MARQUESRECORRIDO: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSSRELATOR: JUIZ FEDERAL IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTI

EMENTA

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PREVIDENCIÁRIO. PRETENSÃO DE DESAPOSENTAÇÃO SEGUIDA DE REAPOSENTAÇÃO. AUSÊNCIA DEPREVISÃO LEGAL. VIOLAÇÃO AO ATO JURÍDICO PERFEITO. CONTRARIEDADE A REGRAS EXPRESSAS DA LEI8.213/1991. IMPROCEDÊNCIA DO PEDIDO.

I – CARÁTER CONTRIBUTIVO E SOLIDÁRIO DA PREVIDÊNCIA SOCIAL.1. A aposentadoria é direito social (art. 7º, XXIV, da CRFB/1988).2. Para a integridade da Previdência Social, tanto o Regime Geral quanto o Regime dos servidores têm caráter contributivoe solidário, de filiação obrigatória, com a observância de critérios que preservem o equilíbrio financeiro e atuarial (arts. 40,caput, e 201, caput, da CRFB/1988).

II – OS ARTS. 195, § 5º, E 201, § 11, DA CRFB/188: A INSTITUIÇÃO OU MAJORAÇÃO DE CONTRIBUIÇÃO DEVEREFORÇAR O REGIME SOLIDÁRIO, SEM NECESSARIAMENTE IMPLICAR BENEFÍCIO INDIVIDUAL PARA OCONTRIBUINTE.1. O art. 195, § 5º, da CRFB/1988 (“Nenhum benefício ou serviço da seguridade social poderá ser criado, majorado ouestendido sem a correspondente fonte de custeio total”) é regra que visa ao equilíbrio financeiro e atuarial.2. A majoração da contribuição social, como qualquer tributo, depende, para a sua validade, de causa jurídica válida, e,portanto, demanda, em contrapartida, incremento no sistema previdenciário (STF, ADI 790, RE 183.906 e ADI-MC 2.010).3. Entretanto, a majoração da contribuição social previdenciária não necessariamente resultará em aumento dos benefíciose serviços a que cada segurado-contribuinte fará jus, cabendo à lei, na forma do art. 201, § 11 da CRFB/1988, disciplinar see como haverá reflexos: contribui-se solidariamente para a manutenção e expansão do sistema como um todo, e não paraprovisionar fundos única e exclusivamente em benefício próprio (STF, RE 210.211, AI 724.582 AgR e ADI 3.105).

III – FATOR PREVIDENCIÁRIO E DESINCENTIVO À APOSENTADORIA PRECOCE COMO TÉCNICA DE MANUTENÇÃODO EQUILÍBRIO DA PREVIDÊNCIA SOCIAL.1. No regime previdenciário dos servidores públicos, há idade mínima como requisito para a aposentadoria, paga-se abonode permanência a quem postergar a aposentadoria (art. 40, § 19, da CRFB/1988), e veda-se a acumulação de proventoscom vencimentos (salvo na hipótese do art. 37, § 10, da CRFB/1988).2. No RGPS, não há idade mínima como requisito para a aposentadoria, permite-se a acumulação de aposentadoria com aremuneração de emprego, o deferimento de aposentadoria não rescinde os contratos de trabalho (STF, ADI 1.721 e 1.770).Por outro lado, a Lei 9.876/1999 instituiu o fator previdenciário – cuja constitucionalidade foi reconhecida pelo STF (ADI-MC2.111) – no cálculo das aposentadorias por idade, por tempo de serviço e por tempo de contribuição, para assegurar oequilíbrio atuarial, de modo que os critérios “tempo de contribuição”, “idade” e “expectativa de sobrevida no momento daaposentadoria” tenham influência sobre o valor final do benefício.

IV – DIREITO ADQUIRIDO AO BENEFÍCIO CUJOS REQUISITOS FORAM INTEGRALMENTE CUMPRIDOS.1. Com base no art. 5º, XXXVI, da CRFB/1988, o segurado tem direito a que seu benefício, quanto aos seus elementosessenciais, observe a lei em vigor no momento em que preencheu todos os requisitos para a sua aquisição,independentemente da data do requerimento administrativo (STF, RE 72.509 e Súmula 359). Assim, por exemplo, apensão por morte é regida pela lei em vigor na data do óbito do segurado-instituidor, não se aplicando a lei posterior, sejamais gravosa, seja mais benéfica (STF, RE 218.467, RE 273.570 e RE 415.454).2. O direito adquirido ao benefício não assegura a imutabilidade do seu regime jurídico (STF, RE 278.718, RE 575.089 e AI654.807), então, por exemplo, os segurados podem ser beneficiados pela alteração do valor-limite do benefício (STF, RE564.354) ou prejudicados pela instituição ou diminuição de prazos prescricionais ou decadenciais (STF, ADI-MC 1.715 e RE21.341).3. O segurado tem direito ao benefício mais vantajoso (aquele de maior RMI), considerando todos os fatores queinfluenciam em seu cálculo, desde a data em que o direito ao benefício ingressou em seu patrimônio (isto é, cumpriu todosos requisitos legais para a aquisição do direito) até o momento em que o direito é exercido (data do requerimentoadministrativo) (STF, RE 630.501). Cumpridos os requisitos mínimos (tempo de serviço e carência ou tempo decontribuição e idade, conforme o regime jurídico vigente à época), o segurado adquire o direito ao benefício, aquisição quenão se confunde com o seu exercício (neste sentido, o art. 102, § 1º, da Lei 8.213/1991, incluído pela Lei 9.528/1997, areconhecer que a perda da qualidade de segurado não prejudica o direito à aposentadoria para cuja concessão tenham sidopreenchidos todos os requisitos, segundo a legislação em vigor à época em que atendidos esses requisitos), daí porqueeventual modificação posterior nas circunstâncias de fato não suprime o direito já incorporado ao patrimônio do seu titular.Adquirido o direito à aposentação, o segurado pode optar por não exercê-lo de imediato, seja para fazer jus ao benefíciointegral (quando houve aquisição do direito apenas à aposentadoria proporcional), seja para melhorar o fator previdenciárioaplicável e computar as novas contribuições, e essa opção não pode prejudicá-lo, pois seria injurídico tolerar que a RMI dobenefício requerido posteriormente (em decorrência, por exemplo, da redução do salário-de-contribuição) fosse inferior àRMI do benefício que poderia já ter obtido. Conferiu-se interpretação extensiva ao art. 122 da Lei 8.213/1991 (“Se maisvantajoso, fica assegurado o direito à aposentadoria, nas condições legalmente previstas na data do cumprimento de todosos requisitos necessários à obtenção do benefício, ao segurado que, tendo completado 35 anos de serviço, se homem, outrinta anos, se mulher, optou por permanecer em atividade”) para assegurar não só o benefício mais vantajoso na data documprimento dos requisitos para a aposentadoria integral, como também para a aposentadoria proporcional adquirida, bemcomo em cada um dos meses posteriores à aquisição, até a data do exercício do direito pelo requerimento.4. Exercido o direito ao benefício, mediante requerimento de aposentadoria, o tempo de contribuição acumulado exauretodos os seus efeitos jurídicos, não podendo ser computado posteriormente para a aquisição de outros direitos.

V – “RENÚNCIA À APOSENTADORIA”: PRECEDENTES SOBRE DESAPOSENTAÇÃO.1. Há aposentados que retornam à atividade laboral como segurados obrigatórios, e posteriormente pleiteiam em juízo novo

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cálculo de proventos, consideradas as contribuições de período referente a esse regresso, pretendendo afastar o art. 18, §2º, da Lei 8.213/1991 (“O aposentado pelo Regime Geral de Previdência Social - RGPS que permanecer em atividadesujeita a este Regime, ou a ele retornar, não fará jus a prestação alguma da Previdência Social em decorrência do exercíciodessa atividade, exceto ao salário-família e à reabilitação profissional, quando empregado.”) por considerá-lo incompatívelcom o art. 201, § 11, da CRFB/1988 (“Os ganhos habituais do empregado, a qualquer título, serão incorporados ao saláriopara efeito de contribuição previdenciária e conseqüente repercussão em benefícios, nos casos e na forma da lei.”).2. A jurisprudência admitia a renúncia à aposentadoria já obtida, com o aproveitamento do tempo de contribuição para obternova aposentadoria, desde que tal renúncia produzisse efeitos ex tunc (impondo a devolução integral das prestaçõespercebidas do INSS, para evitar enriquecimento ilícito do beneficiário) (TNU, PEDILEF 200872580041869; Enunciado 70das Turmas Recursais do Rio de Janeiro; Primeira Seção do TRF da 2ª Região, EIAC 201050010042326).3. A Primeira Seção do STJ assentou que “Os benefícios previdenciários são direitos patrimoniais disponíveis e, portanto,suscetíveis de desistência pelos seus titulares, prescindindo-se da devolução dos valores recebidos da aposentadoria a queo segurado deseja preterir para a concessão de novo e posterior jubilamento”. Conferiu interpretação ao art. 18, § 2º, da Lei8.213/1991 no sentido de que este não impede o segurado de retornar à atividade laboral e renunciar à aposentadoria deque está em gozo, nem de, em seguida, requerer novo benefício (reaposentação) que utilize os períodos contributivos doprimeiro somado aos períodos posteriores ao retorno à atividade laboral (RESP 1.334.488).

VI – A DESAPOSENTAÇÃO E A REAPOSENTAÇÃO NÃO ENCONTRAM RESPALDO NA LEI, MESMO QUE OSEGURADO SE DISPONHA A DEVOLVER TODOS OS VALORES JÁ RECEBIDOS A TÍTULO DE APOSENTADORIA.1. Orientação do Relator, Juiz Federal Iorio Siqueira D’Alessandri Forti, externada em voto vencido no recurso inominado2011.50.50.005300-0/01 (sessão da 1ª Turma Recursal de Vitória/ES em 28/06/2013), para quem a desaposentação esubseqüente reaposentação não são juridicamente viáveis sequer com a restituição dos valores recebidos pelo segurado,com amparo nos seguintes fundamentos:i) Inexistência de norma autorizando a pretensão em regra implica, nos atos vinculados, vedação, e não permissão. A cadanovo mês trabalhado por um segurado aposentado, corresponde o pagamento de uma nova contribuição, e eventualmenteele teria interesse em obter “nova aposentadoria melhorada” mensalmente, razão pela qual a falta de disciplina legalresultaria em situação caótica.ii) O simples fato de incidir contribuição sobre o salário de um segurado obrigatório que se encontra aposentado nãopermite concluir que, com base nos arts. 195, § 5º, e 201, § 11º, da CRFB/1988, alguma vantagem individualcorrespondente lhe seja devida (STF, RE 210.211, AI 724.582 AgR e ADI 3.105). Se a contribuição, com a significativaalíquota de 11%, for reputada excessiva ou sem causa válida, a conseqüência possível é a inconstitucionalidade dacontribuição, nunca a majoração da aposentadoria sem expressa previsão em lei.iii) O tempo de contribuição ingressa no patrimônio do trabalhador mês a mês, e, satisfeitos os requisitos para a obtençãode benefício, considera-se direito adquirido, a ser utilizado quando o segurado considerar mais conveniente. Diante debifurcação, a ele cabe escolher qual caminho trilhar, sabendo que não há autorização legal para retornar: requererimediatamente a aposentadoria, gozando-a desde logo, por um período de vida mais longo, com valor “achatado” pelo fatorprevidenciário, ou permanecer mais tempo contribuindo, para ficar mais velho e obter um benefício maior. Uma vezexercido o direito de instar a Administração a agir, tem-se ato administrativo aperfeiçoado, protegido pelo art. 5º, XXXVI, daCRFB/1988. O tempo trabalhado e contribuído não deixou de integrar o patrimônio do segurado, mas já foi aproveitadointegralmente para uma finalidade, e não pode, portanto, ser aproveitado para outra.iv) É certo que o direito do aposentado às prestações mensais do benefício, apesar da natureza alimentar deste, ostentanatureza patrimonial e disponível. O segurado pode, a qualquer momento, renunciar ao recebimento de uma, várias outodas as prestações, com efeitos ex nunc, isto é, sem ter de devolver aquelas já recebidas, uma vez que não as recebeuindevidamente. Ocorre que o direito à aposentadoria em si, após adquirido, foi exercido por ato de vontade; com odeferimento pela Administração, tornou-se ato jurídico perfeito. A qualquer momento, cessando as razões de conveniênciae oportunidade que levaram o segurado a suspender por tempo indeterminado os efeitos do ato administrativo que oaposentou, poderá solicitar a reativação imediata do benefício: em se tratando de direito social fundamental, visando àgarantia da subsistência digna, a aposentadoria é irrenunciável. O interruptor pode ser desligado (e religado, também), nãoarrancado da parede.v) Pode-se renunciar às prestações da aposentadoria, sendo vedado – diante da falta de norma autorizadora – valer-sedessa renúncia para contornar uma (má) escolha feita no passado, mesmo com a disposição de ressarcir a Administraçãode todos os valores recebidos. No sentido da imutabilidade radical deste ato, votaram os Ministros Dias Toffoli, CármenLúcia, Ricardo Lewandowski e Gilmar Mendes no julgamento do RE 630.501, enquanto os demais Ministros consideraram oato passível de revisão apenas quando tivesse por fundamento a aquisição de direito a RMI melhor antes da data dorequerimento. Nas palavras do Juiz Federal Guilherme Beltrami, o que a parte autora pretende não é renunciar àaposentadoria – porque, em suma, renúncia é abandonar direitos e não reverter a statu quo ante com recuperação dotempo; o que ela pretende é como renunciar à propriedade de um bem e querer o dinheiro da aquisição de volta.vi) O obstáculo à pretensão de obter nova aposentadoria com base nas mesmas contribuições aproveitadas para aaposentadoria a que renunciam decorre não só do ato jurídico perfeito (art. 5º, XXXVI, da CRFB/1988) e da falta deprevisão legal expressa (arts. 37, caput, e 201, caput e § 11, da CRFB/1988), como também de clara vedação prevista emnormas infraconstitucionais. O art. 18, § 2º, da Lei 8.213/1991 diz, por via transversa, que as contribuições vertidas pelosegurado aposentado não produzem efeito algum para a obtenção de outra aposentadoria, cabendo a ele escolherprudentemente quando e como as usará. O art. 29, I, e § 7º, também da Lei 8.213/1991, como a aposentadoria demanda,para a fixação da renda mensal inicial do benefício, o cômputo da idade e da expectativa de sobrevida do segurado nomomento do requerimento, conclui-se que, uma vez deferido, tem-se ato administrativo cujos efeitos atrelam, de formaincindível, a quantidade de contribuições vertidas e o período futuro de vida do segurado. Admitir a desaposentação e, logodepois, novo pedido de aposentadoria (com mais contribuições, idade mais elevada e, portanto, expectativa de sobrevidamenor), a fim de obter benefício com RMI maior, constituiria burla ao fator previdenciário e a seu objetivo de desestimular

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aposentadorias precoces.

VII – Recurso da parte autora conhecido e desprovido. Sem custas nem honorários sucumbenciais, ante o deferimento daAssistência Judiciária Gratuita.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, acordam os Juízes da 1ª Turma Recursaldos Juizados Especiais Federais da Seção Judiciária do Espírito Santo CONHECER DO RECURSO e, no mérito,NEGAR-LHE PROVIMENTO, na forma da ementa constante dos autos, que passa a integrar o presente julgado.

IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTIJuiz Federal – 3º Relator da 1ª Turma Recursal

100 - 0001540-81.2011.4.02.5052/01 (2011.50.52.001540-4/01) (PROCESSO ELETRÔNICO) UMBERTO SILVIO BISSARO(ADVOGADO: WANESSA ALDRIGUES CANDIDO.) x INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS (PROCDOR:THIAGO DE ALMEIDA RAUPP.).RECURSO Nº 0001540-81.2011.4.02.5052/01 (2011.50.52.001540-4/01)RECORRENTE: UMBERTO SILVIO BISSARORECORRIDO: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSSRELATOR: JUIZ FEDERAL IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTI

EMENTA

PREVIDENCIÁRIO. PRETENSÃO DE DESAPOSENTAÇÃO SEGUIDA DE REAPOSENTAÇÃO. AUSÊNCIA DEPREVISÃO LEGAL. VIOLAÇÃO AO ATO JURÍDICO PERFEITO. CONTRARIEDADE A REGRAS EXPRESSAS DA LEI8.213/1991. IMPROCEDÊNCIA DO PEDIDO.

I – CARÁTER CONTRIBUTIVO E SOLIDÁRIO DA PREVIDÊNCIA SOCIAL.1. A aposentadoria é direito social (art. 7º, XXIV, da CRFB/1988).2. Para a integridade da Previdência Social, tanto o Regime Geral quanto o Regime dos servidores têm caráter contributivoe solidário, de filiação obrigatória, com a observância de critérios que preservem o equilíbrio financeiro e atuarial (arts. 40,caput, e 201, caput, da CRFB/1988).

II – OS ARTS. 195, § 5º, E 201, § 11, DA CRFB/188: A INSTITUIÇÃO OU MAJORAÇÃO DE CONTRIBUIÇÃO DEVEREFORÇAR O REGIME SOLIDÁRIO, SEM NECESSARIAMENTE IMPLICAR BENEFÍCIO INDIVIDUAL PARA OCONTRIBUINTE.1. O art. 195, § 5º, da CRFB/1988 (“Nenhum benefício ou serviço da seguridade social poderá ser criado, majorado ouestendido sem a correspondente fonte de custeio total”) é regra que visa ao equilíbrio financeiro e atuarial.2. A majoração da contribuição social, como qualquer tributo, depende, para a sua validade, de causa jurídica válida, e,portanto, demanda, em contrapartida, incremento no sistema previdenciário (STF, ADI 790, RE 183.906 e ADI-MC 2.010).3. Entretanto, a majoração da contribuição social previdenciária não necessariamente resultará em aumento dos benefíciose serviços a que cada segurado-contribuinte fará jus, cabendo à lei, na forma do art. 201, § 11 da CRFB/1988, disciplinar see como haverá reflexos: contribui-se solidariamente para a manutenção e expansão do sistema como um todo, e não paraprovisionar fundos única e exclusivamente em benefício próprio (STF, RE 210.211, AI 724.582 AgR e ADI 3.105).

III – FATOR PREVIDENCIÁRIO E DESINCENTIVO À APOSENTADORIA PRECOCE COMO TÉCNICA DE MANUTENÇÃODO EQUILÍBRIO DA PREVIDÊNCIA SOCIAL.1. No regime previdenciário dos servidores públicos, há idade mínima como requisito para a aposentadoria, paga-se abonode permanência a quem postergar a aposentadoria (art. 40, § 19, da CRFB/1988), e veda-se a acumulação de proventoscom vencimentos (salvo na hipótese do art. 37, § 10, da CRFB/1988).2. No RGPS, não há idade mínima como requisito para a aposentadoria, permite-se a acumulação de aposentadoria com aremuneração de emprego, o deferimento de aposentadoria não rescinde os contratos de trabalho (STF, ADI 1.721 e 1.770).Por outro lado, a Lei 9.876/1999 instituiu o fator previdenciário – cuja constitucionalidade foi reconhecida pelo STF (ADI-MC2.111) – no cálculo das aposentadorias por idade, por tempo de serviço e por tempo de contribuição, para assegurar oequilíbrio atuarial, de modo que os critérios “tempo de contribuição”, “idade” e “expectativa de sobrevida no momento daaposentadoria” tenham influência sobre o valor final do benefício.

IV – DIREITO ADQUIRIDO AO BENEFÍCIO CUJOS REQUISITOS FORAM INTEGRALMENTE CUMPRIDOS.1. Com base no art. 5º, XXXVI, da CRFB/1988, o segurado tem direito a que seu benefício, quanto aos seus elementosessenciais, observe a lei em vigor no momento em que preencheu todos os requisitos para a sua aquisição,independentemente da data do requerimento administrativo (STF, RE 72.509 e Súmula 359). Assim, por exemplo, apensão por morte é regida pela lei em vigor na data do óbito do segurado-instituidor, não se aplicando a lei posterior, sejamais gravosa, seja mais benéfica (STF, RE 218.467, RE 273.570 e RE 415.454).2. O direito adquirido ao benefício não assegura a imutabilidade do seu regime jurídico (STF, RE 278.718, RE 575.089 e AI654.807), então, por exemplo, os segurados podem ser beneficiados pela alteração do valor-limite do benefício (STF, RE564.354) ou prejudicados pela instituição ou diminuição de prazos prescricionais ou decadenciais (STF, ADI-MC 1.715 e RE21.341).

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3. O segurado tem direito ao benefício mais vantajoso (aquele de maior RMI), considerando todos os fatores queinfluenciam em seu cálculo, desde a data em que o direito ao benefício ingressou em seu patrimônio (isto é, cumpriu todosos requisitos legais para a aquisição do direito) até o momento em que o direito é exercido (data do requerimentoadministrativo) (STF, RE 630.501). Cumpridos os requisitos mínimos (tempo de serviço e carência ou tempo decontribuição e idade, conforme o regime jurídico vigente à época), o segurado adquire o direito ao benefício, aquisição quenão se confunde com o seu exercício (neste sentido, o art. 102, § 1º, da Lei 8.213/1991, incluído pela Lei 9.528/1997, areconhecer que a perda da qualidade de segurado não prejudica o direito à aposentadoria para cuja concessão tenham sidopreenchidos todos os requisitos, segundo a legislação em vigor à época em que atendidos esses requisitos), daí porqueeventual modificação posterior nas circunstâncias de fato não suprime o direito já incorporado ao patrimônio do seu titular.Adquirido o direito à aposentação, o segurado pode optar por não exercê-lo de imediato, seja para fazer jus ao benefíciointegral (quando houve aquisição do direito apenas à aposentadoria proporcional), seja para melhorar o fator previdenciárioaplicável e computar as novas contribuições, e essa opção não pode prejudicá-lo, pois seria injurídico tolerar que a RMI dobenefício requerido posteriormente (em decorrência, por exemplo, da redução do salário-de-contribuição) fosse inferior àRMI do benefício que poderia já ter obtido. Conferiu-se interpretação extensiva ao art. 122 da Lei 8.213/1991 (“Se maisvantajoso, fica assegurado o direito à aposentadoria, nas condições legalmente previstas na data do cumprimento de todosos requisitos necessários à obtenção do benefício, ao segurado que, tendo completado 35 anos de serviço, se homem, outrinta anos, se mulher, optou por permanecer em atividade”) para assegurar não só o benefício mais vantajoso na data documprimento dos requisitos para a aposentadoria integral, como também para a aposentadoria proporcional adquirida, bemcomo em cada um dos meses posteriores à aquisição, até a data do exercício do direito pelo requerimento.4. Exercido o direito ao benefício, mediante requerimento de aposentadoria, o tempo de contribuição acumulado exauretodos os seus efeitos jurídicos, não podendo ser computado posteriormente para a aquisição de outros direitos.

V – “RENÚNCIA À APOSENTADORIA”: PRECEDENTES SOBRE DESAPOSENTAÇÃO.1. Há aposentados que retornam à atividade laboral como segurados obrigatórios, e posteriormente pleiteiam em juízo novocálculo de proventos, consideradas as contribuições de período referente a esse regresso, pretendendo afastar o art. 18, §2º, da Lei 8.213/1991 (“O aposentado pelo Regime Geral de Previdência Social - RGPS que permanecer em atividadesujeita a este Regime, ou a ele retornar, não fará jus a prestação alguma da Previdência Social em decorrência do exercíciodessa atividade, exceto ao salário-família e à reabilitação profissional, quando empregado.”) por considerá-lo incompatívelcom o art. 201, § 11, da CRFB/1988 (“Os ganhos habituais do empregado, a qualquer título, serão incorporados ao saláriopara efeito de contribuição previdenciária e conseqüente repercussão em benefícios, nos casos e na forma da lei.”).2. A jurisprudência admitia a renúncia à aposentadoria já obtida, com o aproveitamento do tempo de contribuição para obternova aposentadoria, desde que tal renúncia produzisse efeitos ex tunc (impondo a devolução integral das prestaçõespercebidas do INSS, para evitar enriquecimento ilícito do beneficiário) (TNU, PEDILEF 200872580041869; Enunciado 70das Turmas Recursais do Rio de Janeiro; Primeira Seção do TRF da 2ª Região, EIAC 201050010042326).3. A Primeira Seção do STJ assentou que “Os benefícios previdenciários são direitos patrimoniais disponíveis e, portanto,suscetíveis de desistência pelos seus titulares, prescindindo-se da devolução dos valores recebidos da aposentadoria a queo segurado deseja preterir para a concessão de novo e posterior jubilamento”. Conferiu interpretação ao art. 18, § 2º, da Lei8.213/1991 no sentido de que este não impede o segurado de retornar à atividade laboral e renunciar à aposentadoria deque está em gozo, nem de, em seguida, requerer novo benefício (reaposentação) que utilize os períodos contributivos doprimeiro somado aos períodos posteriores ao retorno à atividade laboral (RESP 1.334.488).

VI – A DESAPOSENTAÇÃO E A REAPOSENTAÇÃO NÃO ENCONTRAM RESPALDO NA LEI, MESMO QUE OSEGURADO SE DISPONHA A DEVOLVER TODOS OS VALORES JÁ RECEBIDOS A TÍTULO DE APOSENTADORIA.1. Orientação do Relator, Juiz Federal Iorio Siqueira D’Alessandri Forti, externada em voto vencido no recurso inominado2011.50.50.005300-0/01 (sessão da 1ª Turma Recursal de Vitória/ES em 28/06/2013), para quem a desaposentação esubseqüente reaposentação não são juridicamente viáveis sequer com a restituição dos valores recebidos pelo segurado,com amparo nos seguintes fundamentos:i) Inexistência de norma autorizando a pretensão em regra implica, nos atos vinculados, vedação, e não permissão. A cadanovo mês trabalhado por um segurado aposentado, corresponde o pagamento de uma nova contribuição, e eventualmenteele teria interesse em obter “nova aposentadoria melhorada” mensalmente, razão pela qual a falta de disciplina legalresultaria em situação caótica.ii) O simples fato de incidir contribuição sobre o salário de um segurado obrigatório que se encontra aposentado nãopermite concluir que, com base nos arts. 195, § 5º, e 201, § 11º, da CRFB/1988, alguma vantagem individualcorrespondente lhe seja devida (STF, RE 210.211, AI 724.582 AgR e ADI 3.105). Se a contribuição, com a significativaalíquota de 11%, for reputada excessiva ou sem causa válida, a conseqüência possível é a inconstitucionalidade dacontribuição, nunca a majoração da aposentadoria sem expressa previsão em lei.iii) O tempo de contribuição ingressa no patrimônio do trabalhador mês a mês, e, satisfeitos os requisitos para a obtençãode benefício, considera-se direito adquirido, a ser utilizado quando o segurado considerar mais conveniente. Diante debifurcação, a ele cabe escolher qual caminho trilhar, sabendo que não há autorização legal para retornar: requererimediatamente a aposentadoria, gozando-a desde logo, por um período de vida mais longo, com valor “achatado” pelo fatorprevidenciário, ou permanecer mais tempo contribuindo, para ficar mais velho e obter um benefício maior. Uma vezexercido o direito de instar a Administração a agir, tem-se ato administrativo aperfeiçoado, protegido pelo art. 5º, XXXVI, daCRFB/1988. O tempo trabalhado e contribuído não deixou de integrar o patrimônio do segurado, mas já foi aproveitadointegralmente para uma finalidade, e não pode, portanto, ser aproveitado para outra.iv) É certo que o direito do aposentado às prestações mensais do benefício, apesar da natureza alimentar deste, ostentanatureza patrimonial e disponível. O segurado pode, a qualquer momento, renunciar ao recebimento de uma, várias outodas as prestações, com efeitos ex nunc, isto é, sem ter de devolver aquelas já recebidas, uma vez que não as recebeuindevidamente. Ocorre que o direito à aposentadoria em si, após adquirido, foi exercido por ato de vontade; com o

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deferimento pela Administração, tornou-se ato jurídico perfeito. A qualquer momento, cessando as razões de conveniênciae oportunidade que levaram o segurado a suspender por tempo indeterminado os efeitos do ato administrativo que oaposentou, poderá solicitar a reativação imediata do benefício: em se tratando de direito social fundamental, visando àgarantia da subsistência digna, a aposentadoria é irrenunciável. O interruptor pode ser desligado (e religado, também), nãoarrancado da parede.v) Pode-se renunciar às prestações da aposentadoria, sendo vedado – diante da falta de norma autorizadora – valer-sedessa renúncia para contornar uma (má) escolha feita no passado, mesmo com a disposição de ressarcir a Administraçãode todos os valores recebidos. No sentido da imutabilidade radical deste ato, votaram os Ministros Dias Toffoli, CármenLúcia, Ricardo Lewandowski e Gilmar Mendes no julgamento do RE 630.501, enquanto os demais Ministros consideraram oato passível de revisão apenas quando tivesse por fundamento a aquisição de direito a RMI melhor antes da data dorequerimento. Nas palavras do Juiz Federal Guilherme Beltrami, o que a parte autora pretende não é renunciar àaposentadoria – porque, em suma, renúncia é abandonar direitos e não reverter a statu quo ante com recuperação dotempo; o que ela pretende é como renunciar à propriedade de um bem e querer o dinheiro da aquisição de volta.vi) O obstáculo à pretensão de obter nova aposentadoria com base nas mesmas contribuições aproveitadas para aaposentadoria a que renunciam decorre não só do ato jurídico perfeito (art. 5º, XXXVI, da CRFB/1988) e da falta deprevisão legal expressa (arts. 37, caput, e 201, caput e § 11, da CRFB/1988), como também de clara vedação prevista emnormas infraconstitucionais. O art. 18, § 2º, da Lei 8.213/1991 diz, por via transversa, que as contribuições vertidas pelosegurado aposentado não produzem efeito algum para a obtenção de outra aposentadoria, cabendo a ele escolherprudentemente quando e como as usará. O art. 29, I, e § 7º, também da Lei 8.213/1991, como a aposentadoria demanda,para a fixação da renda mensal inicial do benefício, o cômputo da idade e da expectativa de sobrevida do segurado nomomento do requerimento, conclui-se que, uma vez deferido, tem-se ato administrativo cujos efeitos atrelam, de formaincindível, a quantidade de contribuições vertidas e o período futuro de vida do segurado. Admitir a desaposentação e, logodepois, novo pedido de aposentadoria (com mais contribuições, idade mais elevada e, portanto, expectativa de sobrevidamenor), a fim de obter benefício com RMI maior, constituiria burla ao fator previdenciário e a seu objetivo de desestimularaposentadorias precoces.VII – Inexiste violação aos dispositivos legais apontados pela parte autora.VIII – Recurso da parte autora conhecido e desprovido. Sem custas nem honorários sucumbenciais, ante o deferimento daAssistência Judiciária Gratuita.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, acordam os Juízes da 1ª Turma Recursaldos Juizados Especiais Federais da Seção Judiciária do Espírito Santo CONHECER DO RECURSO e, no mérito,NEGAR-LHE PROVIMENTO, na forma da ementa constante dos autos, que passa a integrar o presente julgado.

IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTIJuiz Federal – 3º Relator da 1ª Turma Recursal

101 - 0000926-82.2011.4.02.5050/01 (2011.50.50.000926-5/01) (PROCESSO ELETRÔNICO) VALMIR CARLOS NOBRE(ADVOGADO: RENACHEILA DOS SANTOS SOARES, CLENILTON DE ABREU PIMENTEL.) x INSTITUTO NACIONALDO SEGURO SOCIAL - INSS (PROCDOR: SIMONE LENGRUBER DARROZ ROSSONI.).RECURSO Nº 0000926-82.2011.4.02.5050/01 (2011.50.50.000926-5/01)RECORRENTE: VALMIR CARLOS NOBRERECORRIDO: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSSRELATOR: JUIZ FEDERAL IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTI

EMENTA

PREVIDENCIÁRIO. PRETENSÃO DE DESAPOSENTAÇÃO SEGUIDA DE REAPOSENTAÇÃO. AUSÊNCIA DEPREVISÃO LEGAL. VIOLAÇÃO AO ATO JURÍDICO PERFEITO. CONTRARIEDADE A REGRAS EXPRESSAS DA LEI8.213/1991. IMPROCEDÊNCIA DO PEDIDO.

I – CARÁTER CONTRIBUTIVO E SOLIDÁRIO DA PREVIDÊNCIA SOCIAL.1. A aposentadoria é direito social (art. 7º, XXIV, da CRFB/1988).2. Para a integridade da Previdência Social, tanto o Regime Geral quanto o Regime dos servidores têm caráter contributivoe solidário, de filiação obrigatória, com a observância de critérios que preservem o equilíbrio financeiro e atuarial (arts. 40,caput, e 201, caput, da CRFB/1988).

II – OS ARTS. 195, § 5º, E 201, § 11, DA CRFB/188: A INSTITUIÇÃO OU MAJORAÇÃO DE CONTRIBUIÇÃO DEVEREFORÇAR O REGIME SOLIDÁRIO, SEM NECESSARIAMENTE IMPLICAR BENEFÍCIO INDIVIDUAL PARA OCONTRIBUINTE.1. O art. 195, § 5º, da CRFB/1988 (“Nenhum benefício ou serviço da seguridade social poderá ser criado, majorado ouestendido sem a correspondente fonte de custeio total”) é regra que visa ao equilíbrio financeiro e atuarial.2. A majoração da contribuição social, como qualquer tributo, depende, para a sua validade, de causa jurídica válida, e,portanto, demanda, em contrapartida, incremento no sistema previdenciário (STF, ADI 790, RE 183.906 e ADI-MC 2.010).3. Entretanto, a majoração da contribuição social previdenciária não necessariamente resultará em aumento dos benefíciose serviços a que cada segurado-contribuinte fará jus, cabendo à lei, na forma do art. 201, § 11 da CRFB/1988, disciplinar see como haverá reflexos: contribui-se solidariamente para a manutenção e expansão do sistema como um todo, e não para

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provisionar fundos única e exclusivamente em benefício próprio (STF, RE 210.211, AI 724.582 AgR e ADI 3.105).

III – FATOR PREVIDENCIÁRIO E DESINCENTIVO À APOSENTADORIA PRECOCE COMO TÉCNICA DE MANUTENÇÃODO EQUILÍBRIO DA PREVIDÊNCIA SOCIAL.1. No regime previdenciário dos servidores públicos, há idade mínima como requisito para a aposentadoria, paga-se abonode permanência a quem postergar a aposentadoria (art. 40, § 19, da CRFB/1988), e veda-se a acumulação de proventoscom vencimentos (salvo na hipótese do art. 37, § 10, da CRFB/1988).2. No RGPS, não há idade mínima como requisito para a aposentadoria, permite-se a acumulação de aposentadoria com aremuneração de emprego, o deferimento de aposentadoria não rescinde os contratos de trabalho (STF, ADI 1.721 e 1.770).Por outro lado, a Lei 9.876/1999 instituiu o fator previdenciário – cuja constitucionalidade foi reconhecida pelo STF (ADI-MC2.111) – no cálculo das aposentadorias por idade, por tempo de serviço e por tempo de contribuição, para assegurar oequilíbrio atuarial, de modo que os critérios “tempo de contribuição”, “idade” e “expectativa de sobrevida no momento daaposentadoria” tenham influência sobre o valor final do benefício.

IV – DIREITO ADQUIRIDO AO BENEFÍCIO CUJOS REQUISITOS FORAM INTEGRALMENTE CUMPRIDOS.1. Com base no art. 5º, XXXVI, da CRFB/1988, o segurado tem direito a que seu benefício, quanto aos seus elementosessenciais, observe a lei em vigor no momento em que preencheu todos os requisitos para a sua aquisição,independentemente da data do requerimento administrativo (STF, RE 72.509 e Súmula 359). Assim, por exemplo, apensão por morte é regida pela lei em vigor na data do óbito do segurado-instituidor, não se aplicando a lei posterior, sejamais gravosa, seja mais benéfica (STF, RE 218.467, RE 273.570 e RE 415.454).2. O direito adquirido ao benefício não assegura a imutabilidade do seu regime jurídico (STF, RE 278.718, RE 575.089 e AI654.807), então, por exemplo, os segurados podem ser beneficiados pela alteração do valor-limite do benefício (STF, RE564.354) ou prejudicados pela instituição ou diminuição de prazos prescricionais ou decadenciais (STF, ADI-MC 1.715 e RE21.341).3. O segurado tem direito ao benefício mais vantajoso (aquele de maior RMI), considerando todos os fatores queinfluenciam em seu cálculo, desde a data em que o direito ao benefício ingressou em seu patrimônio (isto é, cumpriu todosos requisitos legais para a aquisição do direito) até o momento em que o direito é exercido (data do requerimentoadministrativo) (STF, RE 630.501). Cumpridos os requisitos mínimos (tempo de serviço e carência ou tempo decontribuição e idade, conforme o regime jurídico vigente à época), o segurado adquire o direito ao benefício, aquisição quenão se confunde com o seu exercício (neste sentido, o art. 102, § 1º, da Lei 8.213/1991, incluído pela Lei 9.528/1997, areconhecer que a perda da qualidade de segurado não prejudica o direito à aposentadoria para cuja concessão tenham sidopreenchidos todos os requisitos, segundo a legislação em vigor à época em que atendidos esses requisitos), daí porqueeventual modificação posterior nas circunstâncias de fato não suprime o direito já incorporado ao patrimônio do seu titular.Adquirido o direito à aposentação, o segurado pode optar por não exercê-lo de imediato, seja para fazer jus ao benefíciointegral (quando houve aquisição do direito apenas à aposentadoria proporcional), seja para melhorar o fator previdenciárioaplicável e computar as novas contribuições, e essa opção não pode prejudicá-lo, pois seria injurídico tolerar que a RMI dobenefício requerido posteriormente (em decorrência, por exemplo, da redução do salário-de-contribuição) fosse inferior àRMI do benefício que poderia já ter obtido. Conferiu-se interpretação extensiva ao art. 122 da Lei 8.213/1991 (“Se maisvantajoso, fica assegurado o direito à aposentadoria, nas condições legalmente previstas na data do cumprimento de todosos requisitos necessários à obtenção do benefício, ao segurado que, tendo completado 35 anos de serviço, se homem, outrinta anos, se mulher, optou por permanecer em atividade”) para assegurar não só o benefício mais vantajoso na data documprimento dos requisitos para a aposentadoria integral, como também para a aposentadoria proporcional adquirida, bemcomo em cada um dos meses posteriores à aquisição, até a data do exercício do direito pelo requerimento.4. Exercido o direito ao benefício, mediante requerimento de aposentadoria, o tempo de contribuição acumulado exauretodos os seus efeitos jurídicos, não podendo ser computado posteriormente para a aquisição de outros direitos.

V – “RENÚNCIA À APOSENTADORIA”: PRECEDENTES SOBRE DESAPOSENTAÇÃO.1. Há aposentados que retornam à atividade laboral como segurados obrigatórios, e posteriormente pleiteiam em juízo novocálculo de proventos, consideradas as contribuições de período referente a esse regresso, pretendendo afastar o art. 18, §2º, da Lei 8.213/1991 (“O aposentado pelo Regime Geral de Previdência Social - RGPS que permanecer em atividadesujeita a este Regime, ou a ele retornar, não fará jus a prestação alguma da Previdência Social em decorrência do exercíciodessa atividade, exceto ao salário-família e à reabilitação profissional, quando empregado.”) por considerá-lo incompatívelcom o art. 201, § 11, da CRFB/1988 (“Os ganhos habituais do empregado, a qualquer título, serão incorporados ao saláriopara efeito de contribuição previdenciária e conseqüente repercussão em benefícios, nos casos e na forma da lei.”).2. A jurisprudência admitia a renúncia à aposentadoria já obtida, com o aproveitamento do tempo de contribuição para obternova aposentadoria, desde que tal renúncia produzisse efeitos ex tunc (impondo a devolução integral das prestaçõespercebidas do INSS, para evitar enriquecimento ilícito do beneficiário) (TNU, PEDILEF 200872580041869; Enunciado 70das Turmas Recursais do Rio de Janeiro; Primeira Seção do TRF da 2ª Região, EIAC 201050010042326).3. A Primeira Seção do STJ assentou que “Os benefícios previdenciários são direitos patrimoniais disponíveis e, portanto,suscetíveis de desistência pelos seus titulares, prescindindo-se da devolução dos valores recebidos da aposentadoria a queo segurado deseja preterir para a concessão de novo e posterior jubilamento”. Conferiu interpretação ao art. 18, § 2º, da Lei8.213/1991 no sentido de que este não impede o segurado de retornar à atividade laboral e renunciar à aposentadoria deque está em gozo, nem de, em seguida, requerer novo benefício (reaposentação) que utilize os períodos contributivos doprimeiro somado aos períodos posteriores ao retorno à atividade laboral (RESP 1.334.488).

VI – A DESAPOSENTAÇÃO E A REAPOSENTAÇÃO NÃO ENCONTRAM RESPALDO NA LEI, MESMO QUE OSEGURADO SE DISPONHA A DEVOLVER TODOS OS VALORES JÁ RECEBIDOS A TÍTULO DE APOSENTADORIA.1. Orientação do Relator, Juiz Federal Iorio Siqueira D’Alessandri Forti, externada em voto vencido no recurso inominado

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2011.50.50.005300-0/01 (sessão da 1ª Turma Recursal de Vitória/ES em 28/06/2013), para quem a desaposentação esubseqüente reaposentação não são juridicamente viáveis sequer com a restituição dos valores recebidos pelo segurado,com amparo nos seguintes fundamentos:i) Inexistência de norma autorizando a pretensão em regra implica, nos atos vinculados, vedação, e não permissão. A cadanovo mês trabalhado por um segurado aposentado, corresponde o pagamento de uma nova contribuição, e eventualmenteele teria interesse em obter “nova aposentadoria melhorada” mensalmente, razão pela qual a falta de disciplina legalresultaria em situação caótica.ii) O simples fato de incidir contribuição sobre o salário de um segurado obrigatório que se encontra aposentado nãopermite concluir que, com base nos arts. 195, § 5º, e 201, § 11º, da CRFB/1988, alguma vantagem individualcorrespondente lhe seja devida (STF, RE 210.211, AI 724.582 AgR e ADI 3.105). Se a contribuição, com a significativaalíquota de 11%, for reputada excessiva ou sem causa válida, a conseqüência possível é a inconstitucionalidade dacontribuição, nunca a majoração da aposentadoria sem expressa previsão em lei.iii) O tempo de contribuição ingressa no patrimônio do trabalhador mês a mês, e, satisfeitos os requisitos para a obtençãode benefício, considera-se direito adquirido, a ser utilizado quando o segurado considerar mais conveniente. Diante debifurcação, a ele cabe escolher qual caminho trilhar, sabendo que não há autorização legal para retornar: requererimediatamente a aposentadoria, gozando-a desde logo, por um período de vida mais longo, com valor “achatado” pelo fatorprevidenciário, ou permanecer mais tempo contribuindo, para ficar mais velho e obter um benefício maior. Uma vezexercido o direito de instar a Administração a agir, tem-se ato administrativo aperfeiçoado, protegido pelo art. 5º, XXXVI, daCRFB/1988. O tempo trabalhado e contribuído não deixou de integrar o patrimônio do segurado, mas já foi aproveitadointegralmente para uma finalidade, e não pode, portanto, ser aproveitado para outra.iv) É certo que o direito do aposentado às prestações mensais do benefício, apesar da natureza alimentar deste, ostentanatureza patrimonial e disponível. O segurado pode, a qualquer momento, renunciar ao recebimento de uma, várias outodas as prestações, com efeitos ex nunc, isto é, sem ter de devolver aquelas já recebidas, uma vez que não as recebeuindevidamente. Ocorre que o direito à aposentadoria em si, após adquirido, foi exercido por ato de vontade; com odeferimento pela Administração, tornou-se ato jurídico perfeito. A qualquer momento, cessando as razões de conveniênciae oportunidade que levaram o segurado a suspender por tempo indeterminado os efeitos do ato administrativo que oaposentou, poderá solicitar a reativação imediata do benefício: em se tratando de direito social fundamental, visando àgarantia da subsistência digna, a aposentadoria é irrenunciável. O interruptor pode ser desligado (e religado, também), nãoarrancado da parede.v) Pode-se renunciar às prestações da aposentadoria, sendo vedado – diante da falta de norma autorizadora – valer-sedessa renúncia para contornar uma (má) escolha feita no passado, mesmo com a disposição de ressarcir a Administraçãode todos os valores recebidos. No sentido da imutabilidade radical deste ato, votaram os Ministros Dias Toffoli, CármenLúcia, Ricardo Lewandowski e Gilmar Mendes no julgamento do RE 630.501, enquanto os demais Ministros consideraram oato passível de revisão apenas quando tivesse por fundamento a aquisição de direito a RMI melhor antes da data dorequerimento. Nas palavras do Juiz Federal Guilherme Beltrami, o que a parte autora pretende não é renunciar àaposentadoria – porque, em suma, renúncia é abandonar direitos e não reverter a statu quo ante com recuperação dotempo; o que ela pretende é como renunciar à propriedade de um bem e querer o dinheiro da aquisição de volta.vi) O obstáculo à pretensão de obter nova aposentadoria com base nas mesmas contribuições aproveitadas para aaposentadoria a que renunciam decorre não só do ato jurídico perfeito (art. 5º, XXXVI, da CRFB/1988) e da falta deprevisão legal expressa (arts. 37, caput, e 201, caput e § 11, da CRFB/1988), como também de clara vedação prevista emnormas infraconstitucionais. O art. 18, § 2º, da Lei 8.213/1991 diz, por via transversa, que as contribuições vertidas pelosegurado aposentado não produzem efeito algum para a obtenção de outra aposentadoria, cabendo a ele escolherprudentemente quando e como as usará. O art. 29, I, e § 7º, também da Lei 8.213/1991, como a aposentadoria demanda,para a fixação da renda mensal inicial do benefício, o cômputo da idade e da expectativa de sobrevida do segurado nomomento do requerimento, conclui-se que, uma vez deferido, tem-se ato administrativo cujos efeitos atrelam, de formaincindível, a quantidade de contribuições vertidas e o período futuro de vida do segurado. Admitir a desaposentação e, logodepois, novo pedido de aposentadoria (com mais contribuições, idade mais elevada e, portanto, expectativa de sobrevidamenor), a fim de obter benefício com RMI maior, constituiria burla ao fator previdenciário e a seu objetivo de desestimularaposentadorias precoces.

VII – Recurso da parte autora conhecido e desprovido. Sem custas nem honorários sucumbenciais, ante o deferimento daAssistência Judiciária Gratuita.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, acordam os Juízes da 1ª Turma Recursaldos Juizados Especiais Federais da Seção Judiciária do Espírito Santo CONHECER DO RECURSO e, no mérito,NEGAR-LHE PROVIMENTO, na forma da ementa constante dos autos, que passa a integrar o presente julgado.

IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTIJuiz Federal – 3º Relator da 1ª Turma Recursal

102 - 0011605-60.2012.4.02.5001/01 (2012.50.01.011605-7/01) (PROCESSO ELETRÔNICO) INSTITUTO NACIONAL DOSEGURO SOCIAL - INSS (PROCDOR: SIMONE LENGRUBER DARROZ ROSSONI.) x OSMAR MARCHESI (ADVOGADO:JOYCE DA SILVA PASSOS, VANESSA SOARES JABUR.).RECURSO Nº 0011605-60.2012.4.02.5001/01 (2012.50.01.011605-7/01)RECORRENTE: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSSRECORRIDO: OSMAR MARCHESI

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RELATOR: JUIZ FEDERAL IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTI

EMENTA

PREVIDENCIÁRIO. PRETENSÃO DE DESAPOSENTAÇÃO SEGUIDA DE REAPOSENTAÇÃO. AUSÊNCIA DEPREVISÃO LEGAL. VIOLAÇÃO AO ATO JURÍDICO PERFEITO. CONTRARIEDADE A REGRAS EXPRESSAS DA LEI8.213/1991. IMPROCEDÊNCIA DO PEDIDO.

I – CARÁTER CONTRIBUTIVO E SOLIDÁRIO DA PREVIDÊNCIA SOCIAL.1. A aposentadoria é direito social (art. 7º, XXIV, da CRFB/1988).2. Para a integridade da Previdência Social, tanto o Regime Geral quanto o Regime dos servidores têm caráter contributivoe solidário, de filiação obrigatória, com a observância de critérios que preservem o equilíbrio financeiro e atuarial (arts. 40,caput, e 201, caput, da CRFB/1988).

II – OS ARTS. 195, § 5º, E 201, § 11, DA CRFB/188: A INSTITUIÇÃO OU MAJORAÇÃO DE CONTRIBUIÇÃO DEVEREFORÇAR O REGIME SOLIDÁRIO, SEM NECESSARIAMENTE IMPLICAR BENEFÍCIO INDIVIDUAL PARA OCONTRIBUINTE.1. O art. 195, § 5º, da CRFB/1988 (“Nenhum benefício ou serviço da seguridade social poderá ser criado, majorado ouestendido sem a correspondente fonte de custeio total”) é regra que visa ao equilíbrio financeiro e atuarial.2. A majoração da contribuição social, como qualquer tributo, depende, para a sua validade, de causa jurídica válida, e,portanto, demanda, em contrapartida, incremento no sistema previdenciário (STF, ADI 790, RE 183.906 e ADI-MC 2.010).3. Entretanto, a majoração da contribuição social previdenciária não necessariamente resultará em aumento dos benefíciose serviços a que cada segurado-contribuinte fará jus, cabendo à lei, na forma do art. 201, § 11 da CRFB/1988, disciplinar see como haverá reflexos: contribui-se solidariamente para a manutenção e expansão do sistema como um todo, e não paraprovisionar fundos única e exclusivamente em benefício próprio (STF, RE 210.211, AI 724.582 AgR e ADI 3.105).

III – FATOR PREVIDENCIÁRIO E DESINCENTIVO À APOSENTADORIA PRECOCE COMO TÉCNICA DE MANUTENÇÃODO EQUILÍBRIO DA PREVIDÊNCIA SOCIAL.1. No regime previdenciário dos servidores públicos, há idade mínima como requisito para a aposentadoria, paga-se abonode permanência a quem postergar a aposentadoria (art. 40, § 19, da CRFB/1988), e veda-se a acumulação de proventoscom vencimentos (salvo na hipótese do art. 37, § 10, da CRFB/1988).2. No RGPS, não há idade mínima como requisito para a aposentadoria, permite-se a acumulação de aposentadoria com aremuneração de emprego, o deferimento de aposentadoria não rescinde os contratos de trabalho (STF, ADI 1.721 e 1.770).Por outro lado, a Lei 9.876/1999 instituiu o fator previdenciário – cuja constitucionalidade foi reconhecida pelo STF (ADI-MC2.111) – no cálculo das aposentadorias por idade, por tempo de serviço e por tempo de contribuição, para assegurar oequilíbrio atuarial, de modo que os critérios “tempo de contribuição”, “idade” e “expectativa de sobrevida no momento daaposentadoria” tenham influência sobre o valor final do benefício.

IV – DIREITO ADQUIRIDO AO BENEFÍCIO CUJOS REQUISITOS FORAM INTEGRALMENTE CUMPRIDOS.1. Com base no art. 5º, XXXVI, da CRFB/1988, o segurado tem direito a que seu benefício, quanto aos seus elementosessenciais, observe a lei em vigor no momento em que preencheu todos os requisitos para a sua aquisição,independentemente da data do requerimento administrativo (STF, RE 72.509 e Súmula 359). Assim, por exemplo, apensão por morte é regida pela lei em vigor na data do óbito do segurado-instituidor, não se aplicando a lei posterior, sejamais gravosa, seja mais benéfica (STF, RE 218.467, RE 273.570 e RE 415.454).2. O direito adquirido ao benefício não assegura a imutabilidade do seu regime jurídico (STF, RE 278.718, RE 575.089 e AI654.807), então, por exemplo, os segurados podem ser beneficiados pela alteração do valor-limite do benefício (STF, RE564.354) ou prejudicados pela instituição ou diminuição de prazos prescricionais ou decadenciais (STF, ADI-MC 1.715 e RE21.341).3. O segurado tem direito ao benefício mais vantajoso (aquele de maior RMI), considerando todos os fatores queinfluenciam em seu cálculo, desde a data em que o direito ao benefício ingressou em seu patrimônio (isto é, cumpriu todosos requisitos legais para a aquisição do direito) até o momento em que o direito é exercido (data do requerimentoadministrativo) (STF, RE 630.501). Cumpridos os requisitos mínimos (tempo de serviço e carência ou tempo decontribuição e idade, conforme o regime jurídico vigente à época), o segurado adquire o direito ao benefício, aquisição quenão se confunde com o seu exercício (neste sentido, o art. 102, § 1º, da Lei 8.213/1991, incluído pela Lei 9.528/1997, areconhecer que a perda da qualidade de segurado não prejudica o direito à aposentadoria para cuja concessão tenham sidopreenchidos todos os requisitos, segundo a legislação em vigor à época em que atendidos esses requisitos), daí porqueeventual modificação posterior nas circunstâncias de fato não suprime o direito já incorporado ao patrimônio do seu titular.Adquirido o direito à aposentação, o segurado pode optar por não exercê-lo de imediato, seja para fazer jus ao benefíciointegral (quando houve aquisição do direito apenas à aposentadoria proporcional), seja para melhorar o fator previdenciárioaplicável e computar as novas contribuições, e essa opção não pode prejudicá-lo, pois seria injurídico tolerar que a RMI dobenefício requerido posteriormente (em decorrência, por exemplo, da redução do salário-de-contribuição) fosse inferior àRMI do benefício que poderia já ter obtido. Conferiu-se interpretação extensiva ao art. 122 da Lei 8.213/1991 (“Se maisvantajoso, fica assegurado o direito à aposentadoria, nas condições legalmente previstas na data do cumprimento de todosos requisitos necessários à obtenção do benefício, ao segurado que, tendo completado 35 anos de serviço, se homem, outrinta anos, se mulher, optou por permanecer em atividade”) para assegurar não só o benefício mais vantajoso na data documprimento dos requisitos para a aposentadoria integral, como também para a aposentadoria proporcional adquirida, bemcomo em cada um dos meses posteriores à aquisição, até a data do exercício do direito pelo requerimento.4. Exercido o direito ao benefício, mediante requerimento de aposentadoria, o tempo de contribuição acumulado exaure

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todos os seus efeitos jurídicos, não podendo ser computado posteriormente para a aquisição de outros direitos.

V – “RENÚNCIA À APOSENTADORIA”: PRECEDENTES SOBRE DESAPOSENTAÇÃO.1. Há aposentados que retornam à atividade laboral como segurados obrigatórios, e posteriormente pleiteiam em juízo novocálculo de proventos, consideradas as contribuições de período referente a esse regresso, pretendendo afastar o art. 18, §2º, da Lei 8.213/1991 (“O aposentado pelo Regime Geral de Previdência Social - RGPS que permanecer em atividadesujeita a este Regime, ou a ele retornar, não fará jus a prestação alguma da Previdência Social em decorrência do exercíciodessa atividade, exceto ao salário-família e à reabilitação profissional, quando empregado.”) por considerá-lo incompatívelcom o art. 201, § 11, da CRFB/1988 (“Os ganhos habituais do empregado, a qualquer título, serão incorporados ao saláriopara efeito de contribuição previdenciária e conseqüente repercussão em benefícios, nos casos e na forma da lei.”).2. A jurisprudência admitia a renúncia à aposentadoria já obtida, com o aproveitamento do tempo de contribuição para obternova aposentadoria, desde que tal renúncia produzisse efeitos ex tunc (impondo a devolução integral das prestaçõespercebidas do INSS, para evitar enriquecimento ilícito do beneficiário) (TNU, PEDILEF 200872580041869; Enunciado 70das Turmas Recursais do Rio de Janeiro; Primeira Seção do TRF da 2ª Região, EIAC 201050010042326).3. A Primeira Seção do STJ assentou que “Os benefícios previdenciários são direitos patrimoniais disponíveis e, portanto,suscetíveis de desistência pelos seus titulares, prescindindo-se da devolução dos valores recebidos da aposentadoria a queo segurado deseja preterir para a concessão de novo e posterior jubilamento”. Conferiu interpretação ao art. 18, § 2º, da Lei8.213/1991 no sentido de que este não impede o segurado de retornar à atividade laboral e renunciar à aposentadoria deque está em gozo, nem de, em seguida, requerer novo benefício (reaposentação) que utilize os períodos contributivos doprimeiro somado aos períodos posteriores ao retorno à atividade laboral (RESP 1.334.488).

VI – A DESAPOSENTAÇÃO E A REAPOSENTAÇÃO NÃO ENCONTRAM RESPALDO NA LEI, MESMO QUE OSEGURADO SE DISPONHA A DEVOLVER TODOS OS VALORES JÁ RECEBIDOS A TÍTULO DE APOSENTADORIA.1. Orientação do Relator, Juiz Federal Iorio Siqueira D’Alessandri Forti, externada em voto vencido no recurso inominado2011.50.50.005300-0/01 (sessão da 1ª Turma Recursal de Vitória/ES em 28/06/2013), para quem a desaposentação esubseqüente reaposentação não são juridicamente viáveis sequer com a restituição dos valores recebidos pelo segurado,com amparo nos seguintes fundamentos:i) Inexistência de norma autorizando a pretensão em regra implica, nos atos vinculados, vedação, e não permissão. A cadanovo mês trabalhado por um segurado aposentado, corresponde o pagamento de uma nova contribuição, e eventualmenteele teria interesse em obter “nova aposentadoria melhorada” mensalmente, razão pela qual a falta de disciplina legalresultaria em situação caótica.ii) O simples fato de incidir contribuição sobre o salário de um segurado obrigatório que se encontra aposentado nãopermite concluir que, com base nos arts. 195, § 5º, e 201, § 11º, da CRFB/1988, alguma vantagem individualcorrespondente lhe seja devida (STF, RE 210.211, AI 724.582 AgR e ADI 3.105). Se a contribuição, com a significativaalíquota de 11%, for reputada excessiva ou sem causa válida, a conseqüência possível é a inconstitucionalidade dacontribuição, nunca a majoração da aposentadoria sem expressa previsão em lei.iii) O tempo de contribuição ingressa no patrimônio do trabalhador mês a mês, e, satisfeitos os requisitos para a obtençãode benefício, considera-se direito adquirido, a ser utilizado quando o segurado considerar mais conveniente. Diante debifurcação, a ele cabe escolher qual caminho trilhar, sabendo que não há autorização legal para retornar: requererimediatamente a aposentadoria, gozando-a desde logo, por um período de vida mais longo, com valor “achatado” pelo fatorprevidenciário, ou permanecer mais tempo contribuindo, para ficar mais velho e obter um benefício maior. Uma vezexercido o direito de instar a Administração a agir, tem-se ato administrativo aperfeiçoado, protegido pelo art. 5º, XXXVI, daCRFB/1988. O tempo trabalhado e contribuído não deixou de integrar o patrimônio do segurado, mas já foi aproveitadointegralmente para uma finalidade, e não pode, portanto, ser aproveitado para outra.iv) É certo que o direito do aposentado às prestações mensais do benefício, apesar da natureza alimentar deste, ostentanatureza patrimonial e disponível. O segurado pode, a qualquer momento, renunciar ao recebimento de uma, várias outodas as prestações, com efeitos ex nunc, isto é, sem ter de devolver aquelas já recebidas, uma vez que não as recebeuindevidamente. Ocorre que o direito à aposentadoria em si, após adquirido, foi exercido por ato de vontade; com odeferimento pela Administração, tornou-se ato jurídico perfeito. A qualquer momento, cessando as razões de conveniênciae oportunidade que levaram o segurado a suspender por tempo indeterminado os efeitos do ato administrativo que oaposentou, poderá solicitar a reativação imediata do benefício: em se tratando de direito social fundamental, visando àgarantia da subsistência digna, a aposentadoria é irrenunciável. O interruptor pode ser desligado (e religado, também), nãoarrancado da parede.v) Pode-se renunciar às prestações da aposentadoria, sendo vedado – diante da falta de norma autorizadora – valer-sedessa renúncia para contornar uma (má) escolha feita no passado, mesmo com a disposição de ressarcir a Administraçãode todos os valores recebidos. No sentido da imutabilidade radical deste ato, votaram os Ministros Dias Toffoli, CármenLúcia, Ricardo Lewandowski e Gilmar Mendes no julgamento do RE 630.501, enquanto os demais Ministros consideraram oato passível de revisão apenas quando tivesse por fundamento a aquisição de direito a RMI melhor antes da data dorequerimento. Nas palavras do Juiz Federal Guilherme Beltrami, o que a parte autora pretende não é renunciar àaposentadoria – porque, em suma, renúncia é abandonar direitos e não reverter a statu quo ante com recuperação dotempo; o que ela pretende é como renunciar à propriedade de um bem e querer o dinheiro da aquisição de volta.vi) O obstáculo à pretensão de obter nova aposentadoria com base nas mesmas contribuições aproveitadas para aaposentadoria a que renunciam decorre não só do ato jurídico perfeito (art. 5º, XXXVI, da CRFB/1988) e da falta deprevisão legal expressa (arts. 37, caput, e 201, caput e § 11, da CRFB/1988), como também de clara vedação prevista emnormas infraconstitucionais. O art. 18, § 2º, da Lei 8.213/1991 diz, por via transversa, que as contribuições vertidas pelosegurado aposentado não produzem efeito algum para a obtenção de outra aposentadoria, cabendo a ele escolherprudentemente quando e como as usará. O art. 29, I, e § 7º, também da Lei 8.213/1991, como a aposentadoria demanda,para a fixação da renda mensal inicial do benefício, o cômputo da idade e da expectativa de sobrevida do segurado no

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momento do requerimento, conclui-se que, uma vez deferido, tem-se ato administrativo cujos efeitos atrelam, de formaincindível, a quantidade de contribuições vertidas e o período futuro de vida do segurado. Admitir a desaposentação e, logodepois, novo pedido de aposentadoria (com mais contribuições, idade mais elevada e, portanto, expectativa de sobrevidamenor), a fim de obter benefício com RMI maior, constituiria burla ao fator previdenciário e a seu objetivo de desestimularaposentadorias precoces.

VII – Recurso do INSS conhecido e provido, para julgar improcedente o pedido formulado pela parte autora. Sem custasnem honorários, em razão do provimento do recurso.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, acordam os Juízes da 1ª Turma Recursaldos Juizados Especiais Federais da Seção Judiciária do Espírito Santo CONHECER DO RECURSO e, no mérito, DAR-LHEPROVIMENTO, na forma da ementa constante dos autos, que passa a integrar o presente julgado.

IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTIJuiz Federal – 3º Relator da 1ª Turma Recursal

103 - 0000040-43.2012.4.02.5052/01 (2012.50.52.000040-5/01) (PROCESSO ELETRÔNICO) PAULO BERNARDO DOSSANTOS (ADVOGADO: GERALDO PEREIRA FUNDÃO DOS SANTOS, MARIA DE LOURDES COIMBRA DE MACEDO.) xINSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS (PROCDOR: THIAGO DE ALMEIDA RAUPP.).RECURSO Nº 0000040-43.2012.4.02.5052/01 (2012.50.52.000040-5/01)RECORRENTE: PAULO BERNARDO DOS SANTOSRECORRIDO: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSSRELATOR: JUIZ FEDERAL IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTI

EMENTA

PREVIDENCIÁRIO. PRETENSÃO DE DESAPOSENTAÇÃO SEGUIDA DE REAPOSENTAÇÃO. AUSÊNCIA DEPREVISÃO LEGAL. VIOLAÇÃO AO ATO JURÍDICO PERFEITO. CONTRARIEDADE A REGRAS EXPRESSAS DA LEI8.213/1991. IMPROCEDÊNCIA DO PEDIDO.I – CARÁTER CONTRIBUTIVO E SOLIDÁRIO DA PREVIDÊNCIA SOCIAL.1. A aposentadoria é direito social (art. 7º, XXIV, da CRFB/1988).2. Para a integridade da Previdência Social, tanto o Regime Geral quanto o Regime dos servidores têm caráter contributivoe solidário, de filiação obrigatória, com a observância de critérios que preservem o equilíbrio financeiro e atuarial (arts. 40,caput, e 201, caput, da CRFB/1988).II – OS ARTS. 195, § 5º, E 201, § 11, DA CRFB/188: A INSTITUIÇÃO OU MAJORAÇÃO DE CONTRIBUIÇÃO DEVEREFORÇAR O REGIME SOLIDÁRIO, SEM NECESSARIAMENTE IMPLICAR BENEFÍCIO INDIVIDUAL PARA OCONTRIBUINTE.1. O art. 195, § 5º, da CRFB/1988 (“Nenhum benefício ou serviço da seguridade social poderá ser criado, majorado ouestendido sem a correspondente fonte de custeio total”) é regra que visa ao equilíbrio financeiro e atuarial.2. A majoração da contribuição social, como qualquer tributo, depende, para a sua validade, de causa jurídica válida, e,portanto, demanda, em contrapartida, incremento no sistema previdenciário (STF, ADI 790, RE 183.906 e ADI-MC 2.010).3. Entretanto, a majoração da contribuição social previdenciária não necessariamente resultará em aumento dos benefíciose serviços a que cada segurado-contribuinte fará jus, cabendo à lei, na forma do art. 201, § 11 da CRFB/1988, disciplinar see como haverá reflexos: contribui-se solidariamente para a manutenção e expansão do sistema como um todo, e não paraprovisionar fundos única e exclusivamente em benefício próprio (STF, RE 210.211, AI 724.582 AgR e ADI 3.105).III – FATOR PREVIDENCIÁRIO E DESINCENTIVO À APOSENTADORIA PRECOCE COMO TÉCNICA DE MANUTENÇÃODO EQUILÍBRIO DA PREVIDÊNCIA SOCIAL.1. No regime previdenciário dos servidores públicos, há idade mínima como requisito para a aposentadoria, paga-se abonode permanência a quem postergar a aposentadoria (art. 40, § 19, da CRFB/1988), e veda-se a acumulação de proventoscom vencimentos (salvo na hipótese do art. 37, § 10, da CRFB/1988).2. No RGPS, não há idade mínima como requisito para a aposentadoria, permite-se a acumulação de aposentadoria com aremuneração de emprego, o deferimento de aposentadoria não rescinde os contratos de trabalho (STF, ADI 1.721 e 1.770).Por outro lado, a Lei 9.876/1999 instituiu o fator previdenciário – cuja constitucionalidade foi reconhecida pelo STF (ADI-MC2.111) – no cálculo das aposentadorias por idade, por tempo de serviço e por tempo de contribuição, para assegurar oequilíbrio atuarial, de modo que os critérios “tempo de contribuição”, “idade” e “expectativa de sobrevida no momento daaposentadoria” tenham influência sobre o valor final do benefício.IV – DIREITO ADQUIRIDO AO BENEFÍCIO CUJOS REQUISITOS FORAM INTEGRALMENTE CUMPRIDOS.1. Com base no art. 5º, XXXVI, da CRFB/1988, o segurado tem direito a que seu benefício, quanto aos seus elementosessenciais, observe a lei em vigor no momento em que preencheu todos os requisitos para a sua aquisição,independentemente da data do requerimento administrativo (STF, RE 72.509 e Súmula 359). Assim, por exemplo, apensão por morte é regida pela lei em vigor na data do óbito do segurado-instituidor, não se aplicando a lei posterior, sejamais gravosa, seja mais benéfica (STF, RE 218.467, RE 273.570 e RE 415.454).2. O direito adquirido ao benefício não assegura a imutabilidade do seu regime jurídico (STF, RE 278.718, RE 575.089 e AI654.807), então, por exemplo, os segurados podem ser beneficiados pela alteração do valor-limite do benefício (STF, RE564.354) ou prejudicados pela instituição ou diminuição de prazos prescricionais ou decadenciais (STF, ADI-MC 1.715 e RE21.341).

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3. O segurado tem direito ao benefício mais vantajoso (aquele de maior RMI), considerando todos os fatores queinfluenciam em seu cálculo, desde a data em que o direito ao benefício ingressou em seu patrimônio (isto é, cumpriu todosos requisitos legais para a aquisição do direito) até o momento em que o direito é exercido (data do requerimentoadministrativo) (STF, RE 630.501). Cumpridos os requisitos mínimos (tempo de serviço e carência ou tempo decontribuição e idade, conforme o regime jurídico vigente à época), o segurado adquire o direito ao benefício, aquisição quenão se confunde com o seu exercício (neste sentido, o art. 102, § 1º, da Lei 8.213/1991, incluído pela Lei 9.528/1997, areconhecer que a perda da qualidade de segurado não prejudica o direito à aposentadoria para cuja concessão tenham sidopreenchidos todos os requisitos, segundo a legislação em vigor à época em que atendidos esses requisitos), daí porqueeventual modificação posterior nas circunstâncias de fato não suprime o direito já incorporado ao patrimônio do seu titular.Adquirido o direito à aposentação, o segurado pode optar por não exercê-lo de imediato, seja para fazer jus ao benefíciointegral (quando houve aquisição do direito apenas à aposentadoria proporcional), seja para melhorar o fator previdenciárioaplicável e computar as novas contribuições, e essa opção não pode prejudicá-lo, pois seria injurídico tolerar que a RMI dobenefício requerido posteriormente (em decorrência, por exemplo, da redução do salário-de-contribuição) fosse inferior àRMI do benefício que poderia já ter obtido. Conferiu-se interpretação extensiva ao art. 122 da Lei 8.213/1991 (“Se maisvantajoso, fica assegurado o direito à aposentadoria, nas condições legalmente previstas na data do cumprimento de todosos requisitos necessários à obtenção do benefício, ao segurado que, tendo completado 35 anos de serviço, se homem, outrinta anos, se mulher, optou por permanecer em atividade”) para assegurar não só o benefício mais vantajoso na data documprimento dos requisitos para a aposentadoria integral, como também para a aposentadoria proporcional adquirida, bemcomo em cada um dos meses posteriores à aquisição, até a data do exercício do direito pelo requerimento.4. Exercido o direito ao benefício, mediante requerimento de aposentadoria, o tempo de contribuição acumulado exauretodos os seus efeitos jurídicos, não podendo ser computado posteriormente para a aquisição de outros direitos.V – “RENÚNCIA À APOSENTADORIA”: PRECEDENTES SOBRE DESAPOSENTAÇÃO.1. Há aposentados que retornam à atividade laboral como segurados obrigatórios, e posteriormente pleiteiam em juízo novocálculo de proventos, consideradas as contribuições de período referente a esse regresso, pretendendo afastar o art. 18, §2º, da Lei 8.213/1991 (“O aposentado pelo Regime Geral de Previdência Social - RGPS que permanecer em atividadesujeita a este Regime, ou a ele retornar, não fará jus a prestação alguma da Previdência Social em decorrência do exercíciodessa atividade, exceto ao salário-família e à reabilitação profissional, quando empregado.”) por considerá-lo incompatívelcom o art. 201, § 11, da CRFB/1988 (“Os ganhos habituais do empregado, a qualquer título, serão incorporados ao saláriopara efeito de contribuição previdenciária e conseqüente repercussão em benefícios, nos casos e na forma da lei.”).2. A jurisprudência admitia a renúncia à aposentadoria já obtida, com o aproveitamento do tempo de contribuição para obternova aposentadoria, desde que tal renúncia produzisse efeitos ex tunc (impondo a devolução integral das prestaçõespercebidas do INSS, para evitar enriquecimento ilícito do beneficiário) (TNU, PEDILEF 200872580041869; Enunciado 70das Turmas Recursais do Rio de Janeiro; Primeira Seção do TRF da 2ª Região, EIAC 201050010042326).3. A Primeira Seção do STJ assentou que “Os benefícios previdenciários são direitos patrimoniais disponíveis e, portanto,suscetíveis de desistência pelos seus titulares, prescindindo-se da devolução dos valores recebidos da aposentadoria a queo segurado deseja preterir para a concessão de novo e posterior jubilamento”. Conferiu interpretação ao art. 18, § 2º, da Lei8.213/1991 no sentido de que este não impede o segurado de retornar à atividade laboral e renunciar à aposentadoria deque está em gozo, nem de, em seguida, requerer novo benefício (reaposentação) que utilize os períodos contributivos doprimeiro somado aos períodos posteriores ao retorno à atividade laboral (RESP 1.334.488).VI – A DESAPOSENTAÇÃO E A REAPOSENTAÇÃO NÃO ENCONTRAM RESPALDO NA LEI, MESMO QUE OSEGURADO SE DISPONHA A DEVOLVER TODOS OS VALORES JÁ RECEBIDOS A TÍTULO DE APOSENTADORIA.1. Orientação do Relator, Juiz Federal Iorio Siqueira D’Alessandri Forti, externada em voto vencido no recurso inominado2011.50.50.005300-0/01 (sessão da 1ª Turma Recursal de Vitória/ES em 28/06/2013), para quem a desaposentação esubseqüente reaposentação não são juridicamente viáveis sequer com a restituição dos valores recebidos pelo segurado,com amparo nos seguintes fundamentos:i) Inexistência de norma autorizando a pretensão em regra implica, nos atos vinculados, vedação, e não permissão. A cadanovo mês trabalhado por um segurado aposentado, corresponde o pagamento de uma nova contribuição, e eventualmenteele teria interesse em obter “nova aposentadoria melhorada” mensalmente, razão pela qual a falta de disciplina legalresultaria em situação caótica.ii) O simples fato de incidir contribuição sobre o salário de um segurado obrigatório que se encontra aposentado nãopermite concluir que, com base nos arts. 195, § 5º, e 201, § 11º, da CRFB/1988, alguma vantagem individualcorrespondente lhe seja devida (STF, RE 210.211, AI 724.582 AgR e ADI 3.105). Se a contribuição, com a significativaalíquota de 11%, for reputada excessiva ou sem causa válida, a conseqüência possível é a inconstitucionalidade dacontribuição, nunca a majoração da aposentadoria sem expressa previsão em lei.iii) O tempo de contribuição ingressa no patrimônio do trabalhador mês a mês, e, satisfeitos os requisitos para a obtençãode benefício, considera-se direito adquirido, a ser utilizado quando o segurado considerar mais conveniente. Diante debifurcação, a ele cabe escolher qual caminho trilhar, sabendo que não há autorização legal para retornar: requererimediatamente a aposentadoria, gozando-a desde logo, por um período de vida mais longo, com valor “achatado” pelo fatorprevidenciário, ou permanecer mais tempo contribuindo, para ficar mais velho e obter um benefício maior. Uma vezexercido o direito de instar a Administração a agir, tem-se ato administrativo aperfeiçoado, protegido pelo art. 5º, XXXVI, daCRFB/1988. O tempo trabalhado e contribuído não deixou de integrar o patrimônio do segurado, mas já foi aproveitadointegralmente para uma finalidade, e não pode, portanto, ser aproveitado para outra.iv) É certo que o direito do aposentado às prestações mensais do benefício, apesar da natureza alimentar deste, ostentanatureza patrimonial e disponível. O segurado pode, a qualquer momento, renunciar ao recebimento de uma, várias outodas as prestações, com efeitos ex nunc, isto é, sem ter de devolver aquelas já recebidas, uma vez que não as recebeuindevidamente. Ocorre que o direito à aposentadoria em si, após adquirido, foi exercido por ato de vontade; com odeferimento pela Administração, tornou-se ato jurídico perfeito. A qualquer momento, cessando as razões de conveniênciae oportunidade que levaram o segurado a suspender por tempo indeterminado os efeitos do ato administrativo que o

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aposentou, poderá solicitar a reativação imediata do benefício: em se tratando de direito social fundamental, visando àgarantia da subsistência digna, a aposentadoria é irrenunciável. O interruptor pode ser desligado (e religado, também), nãoarrancado da parede.v) Pode-se renunciar às prestações da aposentadoria, sendo vedado – diante da falta de norma autorizadora – valer-sedessa renúncia para contornar uma (má) escolha feita no passado, mesmo com a disposição de ressarcir a Administraçãode todos os valores recebidos. No sentido da imutabilidade radical deste ato, votaram os Ministros Dias Toffoli, CármenLúcia, Ricardo Lewandowski e Gilmar Mendes no julgamento do RE 630.501, enquanto os demais Ministros consideraram oato passível de revisão apenas quando tivesse por fundamento a aquisição de direito a RMI melhor antes da data dorequerimento. Nas palavras do Juiz Federal Guilherme Beltrami, o que a parte autora pretende não é renunciar àaposentadoria – porque, em suma, renúncia é abandonar direitos e não reverter a statu quo ante com recuperação dotempo; o que ela pretende é como renunciar à propriedade de um bem e querer o dinheiro da aquisição de volta.vi) O obstáculo à pretensão de obter nova aposentadoria com base nas mesmas contribuições aproveitadas para aaposentadoria a que renunciam decorre não só do ato jurídico perfeito (art. 5º, XXXVI, da CRFB/1988) e da falta deprevisão legal expressa (arts. 37, caput, e 201, caput e § 11, da CRFB/1988), como também de clara vedação prevista emnormas infraconstitucionais. O art. 18, § 2º, da Lei 8.213/1991 diz, por via transversa, que as contribuições vertidas pelosegurado aposentado não produzem efeito algum para a obtenção de outra aposentadoria, cabendo a ele escolherprudentemente quando e como as usará. O art. 29, I, e § 7º, também da Lei 8.213/1991, como a aposentadoria demanda,para a fixação da renda mensal inicial do benefício, o cômputo da idade e da expectativa de sobrevida do segurado nomomento do requerimento, conclui-se que, uma vez deferido, tem-se ato administrativo cujos efeitos atrelam, de formaincindível, a quantidade de contribuições vertidas e o período futuro de vida do segurado. Admitir a desaposentação e, logodepois, novo pedido de aposentadoria (com mais contribuições, idade mais elevada e, portanto, expectativa de sobrevidamenor), a fim de obter benefício com RMI maior, constituiria burla ao fator previdenciário e a seu objetivo de desestimularaposentadorias precoces.VII – Recurso da parte autora conhecido e desprovido. Sem custas nem honorários sucumbenciais, ante o deferimento daAssistência Judiciária Gratuita.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, acordam os Juízes da 1ª Turma Recursaldos Juizados Especiais Federais da Seção Judiciária do Espírito Santo CONHECER DO RECURSO e, no mérito,NEGAR-LHE PROVIMENTO, na forma da ementa constante dos autos, que passa a integrar o presente julgado.

IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTIJuiz Federal – 3º Relator da 1ª Turma Recursal

104 - 0006519-58.2012.4.02.5050/01 (2012.50.50.006519-4/01) (PROCESSO ELETRÔNICO) INSTITUTO NACIONAL DOSEGURO SOCIAL - INSS (PROCDOR: JOSÉ VICENTE SANTIAGO JUNQUEIRA.) x ROGÉRIO GUIMARÃES(ADVOGADO: RAPHAEL SODRÉ CITTADINO, ANDRE LUIZ MOREIRA.).RECURSO Nº 0006519-58.2012.4.02.5050/01 (2012.50.50.006519-4/01)RECORRENTE: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSSRECORRIDO: ROGÉRIO GUIMARÃESRELATOR: JUIZ FEDERAL IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTI

EMENTA

PREVIDENCIÁRIO. PRETENSÃO DE DESAPOSENTAÇÃO SEGUIDA DE REAPOSENTAÇÃO. AUSÊNCIA DEPREVISÃO LEGAL. VIOLAÇÃO AO ATO JURÍDICO PERFEITO. CONTRARIEDADE A REGRAS EXPRESSAS DA LEI8.213/1991. IMPROCEDÊNCIA DO PEDIDO.

I – CARÁTER CONTRIBUTIVO E SOLIDÁRIO DA PREVIDÊNCIA SOCIAL.1. A aposentadoria é direito social (art. 7º, XXIV, da CRFB/1988).2. Para a integridade da Previdência Social, tanto o Regime Geral quanto o Regime dos servidores têm caráter contributivoe solidário, de filiação obrigatória, com a observância de critérios que preservem o equilíbrio financeiro e atuarial (arts. 40,caput, e 201, caput, da CRFB/1988).

II – OS ARTS. 195, § 5º, E 201, § 11, DA CRFB/188: A INSTITUIÇÃO OU MAJORAÇÃO DE CONTRIBUIÇÃO DEVEREFORÇAR O REGIME SOLIDÁRIO, SEM NECESSARIAMENTE IMPLICAR BENEFÍCIO INDIVIDUAL PARA OCONTRIBUINTE.1. O art. 195, § 5º, da CRFB/1988 (“Nenhum benefício ou serviço da seguridade social poderá ser criado, majorado ouestendido sem a correspondente fonte de custeio total”) é regra que visa ao equilíbrio financeiro e atuarial.2. A majoração da contribuição social, como qualquer tributo, depende, para a sua validade, de causa jurídica válida, e,portanto, demanda, em contrapartida, incremento no sistema previdenciário (STF, ADI 790, RE 183.906 e ADI-MC 2.010).3. Entretanto, a majoração da contribuição social previdenciária não necessariamente resultará em aumento dos benefíciose serviços a que cada segurado-contribuinte fará jus, cabendo à lei, na forma do art. 201, § 11 da CRFB/1988, disciplinar see como haverá reflexos: contribui-se solidariamente para a manutenção e expansão do sistema como um todo, e não paraprovisionar fundos única e exclusivamente em benefício próprio (STF, RE 210.211, AI 724.582 AgR e ADI 3.105).

III – FATOR PREVIDENCIÁRIO E DESINCENTIVO À APOSENTADORIA PRECOCE COMO TÉCNICA DE MANUTENÇÃO

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DO EQUILÍBRIO DA PREVIDÊNCIA SOCIAL.1. No regime previdenciário dos servidores públicos, há idade mínima como requisito para a aposentadoria, paga-se abonode permanência a quem postergar a aposentadoria (art. 40, § 19, da CRFB/1988), e veda-se a acumulação de proventoscom vencimentos (salvo na hipótese do art. 37, § 10, da CRFB/1988).2. No RGPS, não há idade mínima como requisito para a aposentadoria, permite-se a acumulação de aposentadoria com aremuneração de emprego, o deferimento de aposentadoria não rescinde os contratos de trabalho (STF, ADI 1.721 e 1.770).Por outro lado, a Lei 9.876/1999 instituiu o fator previdenciário – cuja constitucionalidade foi reconhecida pelo STF (ADI-MC2.111) – no cálculo das aposentadorias por idade, por tempo de serviço e por tempo de contribuição, para assegurar oequilíbrio atuarial, de modo que os critérios “tempo de contribuição”, “idade” e “expectativa de sobrevida no momento daaposentadoria” tenham influência sobre o valor final do benefício.

IV – DIREITO ADQUIRIDO AO BENEFÍCIO CUJOS REQUISITOS FORAM INTEGRALMENTE CUMPRIDOS.1. Com base no art. 5º, XXXVI, da CRFB/1988, o segurado tem direito a que seu benefício, quanto aos seus elementosessenciais, observe a lei em vigor no momento em que preencheu todos os requisitos para a sua aquisição,independentemente da data do requerimento administrativo (STF, RE 72.509 e Súmula 359). Assim, por exemplo, apensão por morte é regida pela lei em vigor na data do óbito do segurado-instituidor, não se aplicando a lei posterior, sejamais gravosa, seja mais benéfica (STF, RE 218.467, RE 273.570 e RE 415.454).2. O direito adquirido ao benefício não assegura a imutabilidade do seu regime jurídico (STF, RE 278.718, RE 575.089 e AI654.807), então, por exemplo, os segurados podem ser beneficiados pela alteração do valor-limite do benefício (STF, RE564.354) ou prejudicados pela instituição ou diminuição de prazos prescricionais ou decadenciais (STF, ADI-MC 1.715 e RE21.341).3. O segurado tem direito ao benefício mais vantajoso (aquele de maior RMI), considerando todos os fatores queinfluenciam em seu cálculo, desde a data em que o direito ao benefício ingressou em seu patrimônio (isto é, cumpriu todosos requisitos legais para a aquisição do direito) até o momento em que o direito é exercido (data do requerimentoadministrativo) (STF, RE 630.501). Cumpridos os requisitos mínimos (tempo de serviço e carência ou tempo decontribuição e idade, conforme o regime jurídico vigente à época), o segurado adquire o direito ao benefício, aquisição quenão se confunde com o seu exercício (neste sentido, o art. 102, § 1º, da Lei 8.213/1991, incluído pela Lei 9.528/1997, areconhecer que a perda da qualidade de segurado não prejudica o direito à aposentadoria para cuja concessão tenham sidopreenchidos todos os requisitos, segundo a legislação em vigor à época em que atendidos esses requisitos), daí porqueeventual modificação posterior nas circunstâncias de fato não suprime o direito já incorporado ao patrimônio do seu titular.Adquirido o direito à aposentação, o segurado pode optar por não exercê-lo de imediato, seja para fazer jus ao benefíciointegral (quando houve aquisição do direito apenas à aposentadoria proporcional), seja para melhorar o fator previdenciárioaplicável e computar as novas contribuições, e essa opção não pode prejudicá-lo, pois seria injurídico tolerar que a RMI dobenefício requerido posteriormente (em decorrência, por exemplo, da redução do salário-de-contribuição) fosse inferior àRMI do benefício que poderia já ter obtido. Conferiu-se interpretação extensiva ao art. 122 da Lei 8.213/1991 (“Se maisvantajoso, fica assegurado o direito à aposentadoria, nas condições legalmente previstas na data do cumprimento de todosos requisitos necessários à obtenção do benefício, ao segurado que, tendo completado 35 anos de serviço, se homem, outrinta anos, se mulher, optou por permanecer em atividade”) para assegurar não só o benefício mais vantajoso na data documprimento dos requisitos para a aposentadoria integral, como também para a aposentadoria proporcional adquirida, bemcomo em cada um dos meses posteriores à aquisição, até a data do exercício do direito pelo requerimento.4. Exercido o direito ao benefício, mediante requerimento de aposentadoria, o tempo de contribuição acumulado exauretodos os seus efeitos jurídicos, não podendo ser computado posteriormente para a aquisição de outros direitos.

V – “RENÚNCIA À APOSENTADORIA”: PRECEDENTES SOBRE DESAPOSENTAÇÃO.1. Há aposentados que retornam à atividade laboral como segurados obrigatórios, e posteriormente pleiteiam em juízo novocálculo de proventos, consideradas as contribuições de período referente a esse regresso, pretendendo afastar o art. 18, §2º, da Lei 8.213/1991 (“O aposentado pelo Regime Geral de Previdência Social - RGPS que permanecer em atividadesujeita a este Regime, ou a ele retornar, não fará jus a prestação alguma da Previdência Social em decorrência do exercíciodessa atividade, exceto ao salário-família e à reabilitação profissional, quando empregado.”) por considerá-lo incompatívelcom o art. 201, § 11, da CRFB/1988 (“Os ganhos habituais do empregado, a qualquer título, serão incorporados ao saláriopara efeito de contribuição previdenciária e conseqüente repercussão em benefícios, nos casos e na forma da lei.”).2. A jurisprudência admitia a renúncia à aposentadoria já obtida, com o aproveitamento do tempo de contribuição para obternova aposentadoria, desde que tal renúncia produzisse efeitos ex tunc (impondo a devolução integral das prestaçõespercebidas do INSS, para evitar enriquecimento ilícito do beneficiário) (TNU, PEDILEF 200872580041869; Enunciado 70das Turmas Recursais do Rio de Janeiro; Primeira Seção do TRF da 2ª Região, EIAC 201050010042326).3. A Primeira Seção do STJ assentou que “Os benefícios previdenciários são direitos patrimoniais disponíveis e, portanto,suscetíveis de desistência pelos seus titulares, prescindindo-se da devolução dos valores recebidos da aposentadoria a queo segurado deseja preterir para a concessão de novo e posterior jubilamento”. Conferiu interpretação ao art. 18, § 2º, da Lei8.213/1991 no sentido de que este não impede o segurado de retornar à atividade laboral e renunciar à aposentadoria deque está em gozo, nem de, em seguida, requerer novo benefício (reaposentação) que utilize os períodos contributivos doprimeiro somado aos períodos posteriores ao retorno à atividade laboral (RESP 1.334.488).

VI – A DESAPOSENTAÇÃO E A REAPOSENTAÇÃO NÃO ENCONTRAM RESPALDO NA LEI, MESMO QUE OSEGURADO SE DISPONHA A DEVOLVER TODOS OS VALORES JÁ RECEBIDOS A TÍTULO DE APOSENTADORIA.1. Orientação do Relator, Juiz Federal Iorio Siqueira D’Alessandri Forti, externada em voto vencido no recurso inominado2011.50.50.005300-0/01 (sessão da 1ª Turma Recursal de Vitória/ES em 28/06/2013), para quem a desaposentação esubseqüente reaposentação não são juridicamente viáveis sequer com a restituição dos valores recebidos pelo segurado,com amparo nos seguintes fundamentos:

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i) Inexistência de norma autorizando a pretensão em regra implica, nos atos vinculados, vedação, e não permissão. A cadanovo mês trabalhado por um segurado aposentado, corresponde o pagamento de uma nova contribuição, e eventualmenteele teria interesse em obter “nova aposentadoria melhorada” mensalmente, razão pela qual a falta de disciplina legalresultaria em situação caótica.ii) O simples fato de incidir contribuição sobre o salário de um segurado obrigatório que se encontra aposentado nãopermite concluir que, com base nos arts. 195, § 5º, e 201, § 11º, da CRFB/1988, alguma vantagem individualcorrespondente lhe seja devida (STF, RE 210.211, AI 724.582 AgR e ADI 3.105). Se a contribuição, com a significativaalíquota de 11%, for reputada excessiva ou sem causa válida, a conseqüência possível é a inconstitucionalidade dacontribuição, nunca a majoração da aposentadoria sem expressa previsão em lei.iii) O tempo de contribuição ingressa no patrimônio do trabalhador mês a mês, e, satisfeitos os requisitos para a obtençãode benefício, considera-se direito adquirido, a ser utilizado quando o segurado considerar mais conveniente. Diante debifurcação, a ele cabe escolher qual caminho trilhar, sabendo que não há autorização legal para retornar: requererimediatamente a aposentadoria, gozando-a desde logo, por um período de vida mais longo, com valor “achatado” pelo fatorprevidenciário, ou permanecer mais tempo contribuindo, para ficar mais velho e obter um benefício maior. Uma vezexercido o direito de instar a Administração a agir, tem-se ato administrativo aperfeiçoado, protegido pelo art. 5º, XXXVI, daCRFB/1988. O tempo trabalhado e contribuído não deixou de integrar o patrimônio do segurado, mas já foi aproveitadointegralmente para uma finalidade, e não pode, portanto, ser aproveitado para outra.iv) É certo que o direito do aposentado às prestações mensais do benefício, apesar da natureza alimentar deste, ostentanatureza patrimonial e disponível. O segurado pode, a qualquer momento, renunciar ao recebimento de uma, várias outodas as prestações, com efeitos ex nunc, isto é, sem ter de devolver aquelas já recebidas, uma vez que não as recebeuindevidamente. Ocorre que o direito à aposentadoria em si, após adquirido, foi exercido por ato de vontade; com odeferimento pela Administração, tornou-se ato jurídico perfeito. A qualquer momento, cessando as razões de conveniênciae oportunidade que levaram o segurado a suspender por tempo indeterminado os efeitos do ato administrativo que oaposentou, poderá solicitar a reativação imediata do benefício: em se tratando de direito social fundamental, visando àgarantia da subsistência digna, a aposentadoria é irrenunciável. O interruptor pode ser desligado (e religado, também), nãoarrancado da parede.v) Pode-se renunciar às prestações da aposentadoria, sendo vedado – diante da falta de norma autorizadora – valer-sedessa renúncia para contornar uma (má) escolha feita no passado, mesmo com a disposição de ressarcir a Administraçãode todos os valores recebidos. No sentido da imutabilidade radical deste ato, votaram os Ministros Dias Toffoli, CármenLúcia, Ricardo Lewandowski e Gilmar Mendes no julgamento do RE 630.501, enquanto os demais Ministros consideraram oato passível de revisão apenas quando tivesse por fundamento a aquisição de direito a RMI melhor antes da data dorequerimento. Nas palavras do Juiz Federal Guilherme Beltrami, o que a parte autora pretende não é renunciar àaposentadoria – porque, em suma, renúncia é abandonar direitos e não reverter a statu quo ante com recuperação dotempo; o que ela pretende é como renunciar à propriedade de um bem e querer o dinheiro da aquisição de volta.vi) O obstáculo à pretensão de obter nova aposentadoria com base nas mesmas contribuições aproveitadas para aaposentadoria a que renunciam decorre não só do ato jurídico perfeito (art. 5º, XXXVI, da CRFB/1988) e da falta deprevisão legal expressa (arts. 37, caput, e 201, caput e § 11, da CRFB/1988), como também de clara vedação prevista emnormas infraconstitucionais. O art. 18, § 2º, da Lei 8.213/1991 diz, por via transversa, que as contribuições vertidas pelosegurado aposentado não produzem efeito algum para a obtenção de outra aposentadoria, cabendo a ele escolherprudentemente quando e como as usará. O art. 29, I, e § 7º, também da Lei 8.213/1991, como a aposentadoria demanda,para a fixação da renda mensal inicial do benefício, o cômputo da idade e da expectativa de sobrevida do segurado nomomento do requerimento, conclui-se que, uma vez deferido, tem-se ato administrativo cujos efeitos atrelam, de formaincindível, a quantidade de contribuições vertidas e o período futuro de vida do segurado. Admitir a desaposentação e, logodepois, novo pedido de aposentadoria (com mais contribuições, idade mais elevada e, portanto, expectativa de sobrevidamenor), a fim de obter benefício com RMI maior, constituiria burla ao fator previdenciário e a seu objetivo de desestimularaposentadorias precoces.

VII – Recurso do INSS conhecido e provido, para julgar improcedente o pedido formulado pela parte autora. Sem custasnem honorários, em razão do provimento do recurso.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, acordam os Juízes da 1ª Turma Recursaldos Juizados Especiais Federais da Seção Judiciária do Espírito Santo CONHECER DO RECURSO e, no mérito, DAR-LHEPROVIMENTO, na forma da ementa constante dos autos, que passa a integrar o presente julgado.

IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTIJuiz Federal – 3º Relator da 1ª Turma Recursal

105 - 0005724-57.2009.4.02.5050/01 (2009.50.50.005724-1/01) (PROCESSO ELETRÔNICO) INSTITUTO NACIONAL DOSEGURO SOCIAL - INSS (PROCDOR: TELMA SUELI FEITOSA DE FREITAS.) x CARLOS ALBERTO PEREIRARODRIGUES (ADVOGADO: CHRISTOVAM RAMOS PINTO NETO.).RECURSO Nº 0005724-57.2009.4.02.5050/01 (2009.50.50.005724-1/01)RECORRENTE: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSSRECORRIDO: CARLOS ALBERTO PEREIRA RODRIGUESRELATOR: JUIZ FEDERAL IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTI

EMENTA

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PREVIDENCIÁRIO. PRETENSÃO DE DESAPOSENTAÇÃO SEGUIDA DE REAPOSENTAÇÃO. AUSÊNCIA DEPREVISÃO LEGAL. VIOLAÇÃO AO ATO JURÍDICO PERFEITO. CONTRARIEDADE A REGRAS EXPRESSAS DA LEI8.213/1991. IMPROCEDÊNCIA DO PEDIDO.I – PRELIMINARES1. A sentença recorrida não ofendeu a coisa julgada, pois a tutela jurisdicional por ela prestada refere-se a lide cuja causade pedir e pedido diferem daqueles tratados neste processo.2. A renúncia ao benefício não se estende ao tempo especial reconhecido judicialmente, haja vista que, com ela, o autorpretendeu obter aumento na renda mensal do benefício, e não a desconsideração dos requisitos que cumpriu para a suaconcessão.II – CARÁTER CONTRIBUTIVO E SOLIDÁRIO DA PREVIDÊNCIA SOCIAL.1. A aposentadoria é direito social (art. 7º, XXIV, da CRFB/1988).2. Para a integridade da Previdência Social, tanto o Regime Geral quanto o Regime dos servidores têm caráter contributivoe solidário, de filiação obrigatória, com a observância de critérios que preservem o equilíbrio financeiro e atuarial (arts. 40,caput, e 201, caput, da CRFB/1988).III – OS ARTS. 195, § 5º, E 201, § 11, DA CRFB/188: A INSTITUIÇÃO OU MAJORAÇÃO DE CONTRIBUIÇÃO DEVEREFORÇAR O REGIME SOLIDÁRIO, SEM NECESSARIAMENTE IMPLICAR BENEFÍCIO INDIVIDUAL PARA OCONTRIBUINTE.1. O art. 195, § 5º, da CRFB/1988 (“Nenhum benefício ou serviço da seguridade social poderá ser criado, majorado ouestendido sem a correspondente fonte de custeio total”) é regra que visa ao equilíbrio financeiro e atuarial.2. A majoração da contribuição social, como qualquer tributo, depende, para a sua validade, de causa jurídica válida, e,portanto, demanda, em contrapartida, incremento no sistema previdenciário (STF, ADI 790, RE 183.906 e ADI-MC 2.010).3. Entretanto, a majoração da contribuição social previdenciária não necessariamente resultará em aumento dos benefíciose serviços a que cada segurado-contribuinte fará jus, cabendo à lei, na forma do art. 201, § 11 da CRFB/1988, disciplinar see como haverá reflexos: contribui-se solidariamente para a manutenção e expansão do sistema como um todo, e não paraprovisionar fundos única e exclusivamente em benefício próprio (STF, RE 210.211, AI 724.582 AgR e ADI 3.105).IV – FATOR PREVIDENCIÁRIO E DESINCENTIVO À APOSENTADORIA PRECOCE COMO TÉCNICA DE MANUTENÇÃODO EQUILÍBRIO DA PREVIDÊNCIA SOCIAL.1. No regime previdenciário dos servidores públicos, há idade mínima como requisito para a aposentadoria, paga-se abonode permanência a quem postergar a aposentadoria (art. 40, § 19, da CRFB/1988), e veda-se a acumulação de proventoscom vencimentos (salvo na hipótese do art. 37, § 10, da CRFB/1988).2. No RGPS, não há idade mínima como requisito para a aposentadoria, permite-se a acumulação de aposentadoria com aremuneração de emprego, o deferimento de aposentadoria não rescinde os contratos de trabalho (STF, ADI 1.721 e 1.770).Por outro lado, a Lei 9.876/1999 instituiu o fator previdenciário – cuja constitucionalidade foi reconhecida pelo STF (ADI-MC2.111) – no cálculo das aposentadorias por idade, por tempo de serviço e por tempo de contribuição, para assegurar oequilíbrio atuarial, de modo que os critérios “tempo de contribuição”, “idade” e “expectativa de sobrevida no momento daaposentadoria” tenham influência sobre o valor final do benefício.V – DIREITO ADQUIRIDO AO BENEFÍCIO CUJOS REQUISITOS FORAM INTEGRALMENTE CUMPRIDOS.1. Com base no art. 5º, XXXVI, da CRFB/1988, o segurado tem direito a que seu benefício, quanto aos seus elementosessenciais, observe a lei em vigor no momento em que preencheu todos os requisitos para a sua aquisição,independentemente da data do requerimento administrativo (STF, RE 72.509 e Súmula 359). Assim, por exemplo, apensão por morte é regida pela lei em vigor na data do óbito do segurado-instituidor, não se aplicando a lei posterior, sejamais gravosa, seja mais benéfica (STF, RE 218.467, RE 273.570 e RE 415.454).2. O direito adquirido ao benefício não assegura a imutabilidade do seu regime jurídico (STF, RE 278.718, RE 575.089 e AI654.807), então, por exemplo, os segurados podem ser beneficiados pela alteração do valor-limite do benefício (STF, RE564.354) ou prejudicados pela instituição ou diminuição de prazos prescricionais ou decadenciais (STF, ADI-MC 1.715 e RE21.341).3. O segurado tem direito ao benefício mais vantajoso (aquele de maior RMI), considerando todos os fatores queinfluenciam em seu cálculo, desde a data em que o direito ao benefício ingressou em seu patrimônio (isto é, cumpriu todosos requisitos legais para a aquisição do direito) até o momento em que o direito é exercido (data do requerimentoadministrativo) (STF, RE 630.501). Cumpridos os requisitos mínimos (tempo de serviço e carência ou tempo decontribuição e idade, conforme o regime jurídico vigente à época), o segurado adquire o direito ao benefício, aquisição quenão se confunde com o seu exercício (neste sentido, o art. 102, § 1º, da Lei 8.213/1991, incluído pela Lei 9.528/1997, areconhecer que a perda da qualidade de segurado não prejudica o direito à aposentadoria para cuja concessão tenham sidopreenchidos todos os requisitos, segundo a legislação em vigor à época em que atendidos esses requisitos), daí porqueeventual modificação posterior nas circunstâncias de fato não suprime o direito já incorporado ao patrimônio do seu titular.Adquirido o direito à aposentação, o segurado pode optar por não exercê-lo de imediato, seja para fazer jus ao benefíciointegral (quando houve aquisição do direito apenas à aposentadoria proporcional), seja para melhorar o fator previdenciárioaplicável e computar as novas contribuições, e essa opção não pode prejudicá-lo, pois seria injurídico tolerar que a RMI dobenefício requerido posteriormente (em decorrência, por exemplo, da redução do salário-de-contribuição) fosse inferior àRMI do benefício que poderia já ter obtido. Conferiu-se interpretação extensiva ao art. 122 da Lei 8.213/1991 (“Se maisvantajoso, fica assegurado o direito à aposentadoria, nas condições legalmente previstas na data do cumprimento de todosos requisitos necessários à obtenção do benefício, ao segurado que, tendo completado 35 anos de serviço, se homem, outrinta anos, se mulher, optou por permanecer em atividade”) para assegurar não só o benefício mais vantajoso na data documprimento dos requisitos para a aposentadoria integral, como também para a aposentadoria proporcional adquirida, bemcomo em cada um dos meses posteriores à aquisição, até a data do exercício do direito pelo requerimento.4. Exercido o direito ao benefício, mediante requerimento de aposentadoria, o tempo de contribuição acumulado exauretodos os seus efeitos jurídicos, não podendo ser computado posteriormente para a aquisição de outros direitos.

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VI – “RENÚNCIA À APOSENTADORIA”: PRECEDENTES SOBRE DESAPOSENTAÇÃO.1. Há aposentados que retornam à atividade laboral como segurados obrigatórios, e posteriormente pleiteiam em juízo novocálculo de proventos, consideradas as contribuições de período referente a esse regresso, pretendendo afastar o art. 18, §2º, da Lei 8.213/1991 (“O aposentado pelo Regime Geral de Previdência Social - RGPS que permanecer em atividadesujeita a este Regime, ou a ele retornar, não fará jus a prestação alguma da Previdência Social em decorrência do exercíciodessa atividade, exceto ao salário-família e à reabilitação profissional, quando empregado.”) por considerá-lo incompatívelcom o art. 201, § 11, da CRFB/1988 (“Os ganhos habituais do empregado, a qualquer título, serão incorporados ao saláriopara efeito de contribuição previdenciária e conseqüente repercussão em benefícios, nos casos e na forma da lei.”).2. A jurisprudência admitia a renúncia à aposentadoria já obtida, com o aproveitamento do tempo de contribuição para obternova aposentadoria, desde que tal renúncia produzisse efeitos ex tunc (impondo a devolução integral das prestaçõespercebidas do INSS, para evitar enriquecimento ilícito do beneficiário) (TNU, PEDILEF 200872580041869; Enunciado 70das Turmas Recursais do Rio de Janeiro; Primeira Seção do TRF da 2ª Região, EIAC 201050010042326).3. A Primeira Seção do STJ assentou que “Os benefícios previdenciários são direitos patrimoniais disponíveis e, portanto,suscetíveis de desistência pelos seus titulares, prescindindo-se da devolução dos valores recebidos da aposentadoria a queo segurado deseja preterir para a concessão de novo e posterior jubilamento”. Conferiu interpretação ao art. 18, § 2º, da Lei8.213/1991 no sentido de que este não impede o segurado de retornar à atividade laboral e renunciar à aposentadoria deque está em gozo, nem de, em seguida, requerer novo benefício (reaposentação) que utilize os períodos contributivos doprimeiro somado aos períodos posteriores ao retorno à atividade laboral (RESP 1.334.488).VII – A DESAPOSENTAÇÃO E A REAPOSENTAÇÃO NÃO ENCONTRAM RESPALDO NA LEI, MESMO QUE OSEGURADO SE DISPONHA A DEVOLVER TODOS OS VALORES JÁ RECEBIDOS A TÍTULO DE APOSENTADORIA.1. Orientação do Relator, Juiz Federal Iorio Siqueira D’Alessandri Forti, externada em voto vencido no recurso inominado2011.50.50.005300-0/01 (sessão da 1ª Turma Recursal de Vitória/ES em 28/06/2013), para quem a desaposentação esubseqüente reaposentação não são juridicamente viáveis sequer com a restituição dos valores recebidos pelo segurado,com amparo nos seguintes fundamentos:i) Inexistência de norma autorizando a pretensão em regra implica, nos atos vinculados, vedação, e não permissão. A cadanovo mês trabalhado por um segurado aposentado, corresponde o pagamento de uma nova contribuição, e eventualmenteele teria interesse em obter “nova aposentadoria melhorada” mensalmente, razão pela qual a falta de disciplina legalresultaria em situação caótica.ii) O simples fato de incidir contribuição sobre o salário de um segurado obrigatório que se encontra aposentado nãopermite concluir que, com base nos arts. 195, § 5º, e 201, § 11º, da CRFB/1988, alguma vantagem individualcorrespondente lhe seja devida (STF, RE 210.211, AI 724.582 AgR e ADI 3.105). Se a contribuição, com a significativaalíquota de 11%, for reputada excessiva ou sem causa válida, a conseqüência possível é a inconstitucionalidade dacontribuição, nunca a majoração da aposentadoria sem expressa previsão em lei.iii) O tempo de contribuição ingressa no patrimônio do trabalhador mês a mês, e, satisfeitos os requisitos para a obtençãode benefício, considera-se direito adquirido, a ser utilizado quando o segurado considerar mais conveniente. Diante debifurcação, a ele cabe escolher qual caminho trilhar, sabendo que não há autorização legal para retornar: requererimediatamente a aposentadoria, gozando-a desde logo, por um período de vida mais longo, com valor “achatado” pelo fatorprevidenciário, ou permanecer mais tempo contribuindo, para ficar mais velho e obter um benefício maior. Uma vezexercido o direito de instar a Administração a agir, tem-se ato administrativo aperfeiçoado, protegido pelo art. 5º, XXXVI, daCRFB/1988. O tempo trabalhado e contribuído não deixou de integrar o patrimônio do segurado, mas já foi aproveitadointegralmente para uma finalidade, e não pode, portanto, ser aproveitado para outra.iv) É certo que o direito do aposentado às prestações mensais do benefício, apesar da natureza alimentar deste, ostentanatureza patrimonial e disponível. O segurado pode, a qualquer momento, renunciar ao recebimento de uma, várias outodas as prestações, com efeitos ex nunc, isto é, sem ter de devolver aquelas já recebidas, uma vez que não as recebeuindevidamente. Ocorre que o direito à aposentadoria em si, após adquirido, foi exercido por ato de vontade; com odeferimento pela Administração, tornou-se ato jurídico perfeito. A qualquer momento, cessando as razões de conveniênciae oportunidade que levaram o segurado a suspender por tempo indeterminado os efeitos do ato administrativo que oaposentou, poderá solicitar a reativação imediata do benefício: em se tratando de direito social fundamental, visando àgarantia da subsistência digna, a aposentadoria é irrenunciável. O interruptor pode ser desligado (e religado, também), nãoarrancado da parede.v) Pode-se renunciar às prestações da aposentadoria, sendo vedado – diante da falta de norma autorizadora – valer-sedessa renúncia para contornar uma (má) escolha feita no passado, mesmo com a disposição de ressarcir a Administraçãode todos os valores recebidos. No sentido da imutabilidade radical deste ato, votaram os Ministros Dias Toffoli, CármenLúcia, Ricardo Lewandowski e Gilmar Mendes no julgamento do RE 630.501, enquanto os demais Ministros consideraram oato passível de revisão apenas quando tivesse por fundamento a aquisição de direito a RMI melhor antes da data dorequerimento. Nas palavras do Juiz Federal Guilherme Beltrami, o que a parte autora pretende não é renunciar àaposentadoria – porque, em suma, renúncia é abandonar direitos e não reverter a statu quo ante com recuperação dotempo; o que ela pretende é como renunciar à propriedade de um bem e querer o dinheiro da aquisição de volta.vi) O obstáculo à pretensão de obter nova aposentadoria com base nas mesmas contribuições aproveitadas para aaposentadoria a que renunciam decorre não só do ato jurídico perfeito (art. 5º, XXXVI, da CRFB/1988) e da falta deprevisão legal expressa (arts. 37, caput, e 201, caput e § 11, da CRFB/1988), como também de clara vedação prevista emnormas infraconstitucionais. O art. 18, § 2º, da Lei 8.213/1991 diz, por via transversa, que as contribuições vertidas pelosegurado aposentado não produzem efeito algum para a obtenção de outra aposentadoria, cabendo a ele escolherprudentemente quando e como as usará. O art. 29, I, e § 7º, também da Lei 8.213/1991, como a aposentadoria demanda,para a fixação da renda mensal inicial do benefício, o cômputo da idade e da expectativa de sobrevida do segurado nomomento do requerimento, conclui-se que, uma vez deferido, tem-se ato administrativo cujos efeitos atrelam, de formaincindível, a quantidade de contribuições vertidas e o período futuro de vida do segurado. Admitir a desaposentação e, logodepois, novo pedido de aposentadoria (com mais contribuições, idade mais elevada e, portanto, expectativa de sobrevida

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menor), a fim de obter benefício com RMI maior, constituiria burla ao fator previdenciário e a seu objetivo de desestimularaposentadorias precoces.VIII – Recurso do INSS conhecido e provido, para julgar improcedente o pedido formulado pela parte autora. Sem custasnem honorários, em razão do provimento parcial do recurso.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, acordam os Juízes da 1ª Turma Recursaldos Juizados Especiais Federais da Seção Judiciária do Espírito Santo CONHECER DO RECURSO e, no mérito, DAR-LHEPROVIMENTO, na forma da ementa constante dos autos, que passa a integrar o presente julgado.

IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTIJuiz Federal – 3º Relator da 1ª Turma Recursal

106 - 0100231-12.2013.4.02.5004/01 (2013.50.04.100231-5/01) (PROCESSO ELETRÔNICO) Carly Soares dos Santos(ADVOGADO: WANESSA ALDRIGUES CANDIDO.) x INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS (PROCDOR:RODRIGO COSTA BUARQUE.).RECURSO Nº 0100231-12.2013.4.02.5004/01 (2013.50.04.100231-5/01)RECORRENTE: Carly Soares dos SantosRECORRIDO: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSSRELATOR: JUIZ FEDERAL IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTI

EMENTA

PREVIDENCIÁRIO. PRETENSÃO DE DESAPOSENTAÇÃO SEGUIDA DE REAPOSENTAÇÃO. AUSÊNCIA DEPREVISÃO LEGAL. VIOLAÇÃO AO ATO JURÍDICO PERFEITO. CONTRARIEDADE A REGRAS EXPRESSAS DA LEI8.213/1991. IMPROCEDÊNCIA DO PEDIDO.

I – CARÁTER CONTRIBUTIVO E SOLIDÁRIO DA PREVIDÊNCIA SOCIAL.1. A aposentadoria é direito social (art. 7º, XXIV, da CRFB/1988).2. Para a integridade da Previdência Social, tanto o Regime Geral quanto o Regime dos servidores têm caráter contributivoe solidário, de filiação obrigatória, com a observância de critérios que preservem o equilíbrio financeiro e atuarial (arts. 40,caput, e 201, caput, da CRFB/1988).

II – OS ARTS. 195, § 5º, E 201, § 11, DA CRFB/188: A INSTITUIÇÃO OU MAJORAÇÃO DE CONTRIBUIÇÃO DEVEREFORÇAR O REGIME SOLIDÁRIO, SEM NECESSARIAMENTE IMPLICAR BENEFÍCIO INDIVIDUAL PARA OCONTRIBUINTE.1. O art. 195, § 5º, da CRFB/1988 (“Nenhum benefício ou serviço da seguridade social poderá ser criado, majorado ouestendido sem a correspondente fonte de custeio total”) é regra que visa ao equilíbrio financeiro e atuarial.2. A majoração da contribuição social, como qualquer tributo, depende, para a sua validade, de causa jurídica válida, e,portanto, demanda, em contrapartida, incremento no sistema previdenciário (STF, ADI 790, RE 183.906 e ADI-MC 2.010).3. Entretanto, a majoração da contribuição social previdenciária não necessariamente resultará em aumento dos benefíciose serviços a que cada segurado-contribuinte fará jus, cabendo à lei, na forma do art. 201, § 11 da CRFB/1988, disciplinar see como haverá reflexos: contribui-se solidariamente para a manutenção e expansão do sistema como um todo, e não paraprovisionar fundos única e exclusivamente em benefício próprio (STF, RE 210.211, AI 724.582 AgR e ADI 3.105).

III – FATOR PREVIDENCIÁRIO E DESINCENTIVO À APOSENTADORIA PRECOCE COMO TÉCNICA DE MANUTENÇÃODO EQUILÍBRIO DA PREVIDÊNCIA SOCIAL.1. No regime previdenciário dos servidores públicos, há idade mínima como requisito para a aposentadoria, paga-se abonode permanência a quem postergar a aposentadoria (art. 40, § 19, da CRFB/1988), e veda-se a acumulação de proventoscom vencimentos (salvo na hipótese do art. 37, § 10, da CRFB/1988).2. No RGPS, não há idade mínima como requisito para a aposentadoria, permite-se a acumulação de aposentadoria com aremuneração de emprego, o deferimento de aposentadoria não rescinde os contratos de trabalho (STF, ADI 1.721 e 1.770).Por outro lado, a Lei 9.876/1999 instituiu o fator previdenciário – cuja constitucionalidade foi reconhecida pelo STF (ADI-MC2.111) – no cálculo das aposentadorias por idade, por tempo de serviço e por tempo de contribuição, para assegurar oequilíbrio atuarial, de modo que os critérios “tempo de contribuição”, “idade” e “expectativa de sobrevida no momento daaposentadoria” tenham influência sobre o valor final do benefício.

IV – DIREITO ADQUIRIDO AO BENEFÍCIO CUJOS REQUISITOS FORAM INTEGRALMENTE CUMPRIDOS.1. Com base no art. 5º, XXXVI, da CRFB/1988, o segurado tem direito a que seu benefício, quanto aos seus elementosessenciais, observe a lei em vigor no momento em que preencheu todos os requisitos para a sua aquisição,independentemente da data do requerimento administrativo (STF, RE 72.509 e Súmula 359). Assim, por exemplo, apensão por morte é regida pela lei em vigor na data do óbito do segurado-instituidor, não se aplicando a lei posterior, sejamais gravosa, seja mais benéfica (STF, RE 218.467, RE 273.570 e RE 415.454).2. O direito adquirido ao benefício não assegura a imutabilidade do seu regime jurídico (STF, RE 278.718, RE 575.089 e AI654.807), então, por exemplo, os segurados podem ser beneficiados pela alteração do valor-limite do benefício (STF, RE564.354) ou prejudicados pela instituição ou diminuição de prazos prescricionais ou decadenciais (STF, ADI-MC 1.715 e RE

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21.341).3. O segurado tem direito ao benefício mais vantajoso (aquele de maior RMI), considerando todos os fatores queinfluenciam em seu cálculo, desde a data em que o direito ao benefício ingressou em seu patrimônio (isto é, cumpriu todosos requisitos legais para a aquisição do direito) até o momento em que o direito é exercido (data do requerimentoadministrativo) (STF, RE 630.501). Cumpridos os requisitos mínimos (tempo de serviço e carência ou tempo decontribuição e idade, conforme o regime jurídico vigente à época), o segurado adquire o direito ao benefício, aquisição quenão se confunde com o seu exercício (neste sentido, o art. 102, § 1º, da Lei 8.213/1991, incluído pela Lei 9.528/1997, areconhecer que a perda da qualidade de segurado não prejudica o direito à aposentadoria para cuja concessão tenham sidopreenchidos todos os requisitos, segundo a legislação em vigor à época em que atendidos esses requisitos), daí porqueeventual modificação posterior nas circunstâncias de fato não suprime o direito já incorporado ao patrimônio do seu titular.Adquirido o direito à aposentação, o segurado pode optar por não exercê-lo de imediato, seja para fazer jus ao benefíciointegral (quando houve aquisição do direito apenas à aposentadoria proporcional), seja para melhorar o fator previdenciárioaplicável e computar as novas contribuições, e essa opção não pode prejudicá-lo, pois seria injurídico tolerar que a RMI dobenefício requerido posteriormente (em decorrência, por exemplo, da redução do salário-de-contribuição) fosse inferior àRMI do benefício que poderia já ter obtido. Conferiu-se interpretação extensiva ao art. 122 da Lei 8.213/1991 (“Se maisvantajoso, fica assegurado o direito à aposentadoria, nas condições legalmente previstas na data do cumprimento de todosos requisitos necessários à obtenção do benefício, ao segurado que, tendo completado 35 anos de serviço, se homem, outrinta anos, se mulher, optou por permanecer em atividade”) para assegurar não só o benefício mais vantajoso na data documprimento dos requisitos para a aposentadoria integral, como também para a aposentadoria proporcional adquirida, bemcomo em cada um dos meses posteriores à aquisição, até a data do exercício do direito pelo requerimento.4. Exercido o direito ao benefício, mediante requerimento de aposentadoria, o tempo de contribuição acumulado exauretodos os seus efeitos jurídicos, não podendo ser computado posteriormente para a aquisição de outros direitos.

V – “RENÚNCIA À APOSENTADORIA”: PRECEDENTES SOBRE DESAPOSENTAÇÃO.1. Há aposentados que retornam à atividade laboral como segurados obrigatórios, e posteriormente pleiteiam em juízo novocálculo de proventos, consideradas as contribuições de período referente a esse regresso, pretendendo afastar o art. 18, §2º, da Lei 8.213/1991 (“O aposentado pelo Regime Geral de Previdência Social - RGPS que permanecer em atividadesujeita a este Regime, ou a ele retornar, não fará jus a prestação alguma da Previdência Social em decorrência do exercíciodessa atividade, exceto ao salário-família e à reabilitação profissional, quando empregado.”) por considerá-lo incompatívelcom o art. 201, § 11, da CRFB/1988 (“Os ganhos habituais do empregado, a qualquer título, serão incorporados ao saláriopara efeito de contribuição previdenciária e conseqüente repercussão em benefícios, nos casos e na forma da lei.”).2. A jurisprudência admitia a renúncia à aposentadoria já obtida, com o aproveitamento do tempo de contribuição para obternova aposentadoria, desde que tal renúncia produzisse efeitos ex tunc (impondo a devolução integral das prestaçõespercebidas do INSS, para evitar enriquecimento ilícito do beneficiário) (TNU, PEDILEF 200872580041869; Enunciado 70das Turmas Recursais do Rio de Janeiro; Primeira Seção do TRF da 2ª Região, EIAC 201050010042326).3. A Primeira Seção do STJ assentou que “Os benefícios previdenciários são direitos patrimoniais disponíveis e, portanto,suscetíveis de desistência pelos seus titulares, prescindindo-se da devolução dos valores recebidos da aposentadoria a queo segurado deseja preterir para a concessão de novo e posterior jubilamento”. Conferiu interpretação ao art. 18, § 2º, da Lei8.213/1991 no sentido de que este não impede o segurado de retornar à atividade laboral e renunciar à aposentadoria deque está em gozo, nem de, em seguida, requerer novo benefício (reaposentação) que utilize os períodos contributivos doprimeiro somado aos períodos posteriores ao retorno à atividade laboral (RESP 1.334.488).

VI – A DESAPOSENTAÇÃO E A REAPOSENTAÇÃO NÃO ENCONTRAM RESPALDO NA LEI, MESMO QUE OSEGURADO SE DISPONHA A DEVOLVER TODOS OS VALORES JÁ RECEBIDOS A TÍTULO DE APOSENTADORIA.1. Orientação do Relator, Juiz Federal Iorio Siqueira D’Alessandri Forti, externada em voto vencido no recurso inominado2011.50.50.005300-0/01 (sessão da 1ª Turma Recursal de Vitória/ES em 28/06/2013), para quem a desaposentação esubseqüente reaposentação não são juridicamente viáveis sequer com a restituição dos valores recebidos pelo segurado,com amparo nos seguintes fundamentos:i) Inexistência de norma autorizando a pretensão em regra implica, nos atos vinculados, vedação, e não permissão. A cadanovo mês trabalhado por um segurado aposentado, corresponde o pagamento de uma nova contribuição, e eventualmenteele teria interesse em obter “nova aposentadoria melhorada” mensalmente, razão pela qual a falta de disciplina legalresultaria em situação caótica.ii) O simples fato de incidir contribuição sobre o salário de um segurado obrigatório que se encontra aposentado nãopermite concluir que, com base nos arts. 195, § 5º, e 201, § 11º, da CRFB/1988, alguma vantagem individualcorrespondente lhe seja devida (STF, RE 210.211, AI 724.582 AgR e ADI 3.105). Se a contribuição, com a significativaalíquota de 11%, for reputada excessiva ou sem causa válida, a conseqüência possível é a inconstitucionalidade dacontribuição, nunca a majoração da aposentadoria sem expressa previsão em lei.iii) O tempo de contribuição ingressa no patrimônio do trabalhador mês a mês, e, satisfeitos os requisitos para a obtençãode benefício, considera-se direito adquirido, a ser utilizado quando o segurado considerar mais conveniente. Diante debifurcação, a ele cabe escolher qual caminho trilhar, sabendo que não há autorização legal para retornar: requererimediatamente a aposentadoria, gozando-a desde logo, por um período de vida mais longo, com valor “achatado” pelo fatorprevidenciário, ou permanecer mais tempo contribuindo, para ficar mais velho e obter um benefício maior. Uma vezexercido o direito de instar a Administração a agir, tem-se ato administrativo aperfeiçoado, protegido pelo art. 5º, XXXVI, daCRFB/1988. O tempo trabalhado e contribuído não deixou de integrar o patrimônio do segurado, mas já foi aproveitadointegralmente para uma finalidade, e não pode, portanto, ser aproveitado para outra.iv) É certo que o direito do aposentado às prestações mensais do benefício, apesar da natureza alimentar deste, ostentanatureza patrimonial e disponível. O segurado pode, a qualquer momento, renunciar ao recebimento de uma, várias outodas as prestações, com efeitos ex nunc, isto é, sem ter de devolver aquelas já recebidas, uma vez que não as recebeu

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indevidamente. Ocorre que o direito à aposentadoria em si, após adquirido, foi exercido por ato de vontade; com odeferimento pela Administração, tornou-se ato jurídico perfeito. A qualquer momento, cessando as razões de conveniênciae oportunidade que levaram o segurado a suspender por tempo indeterminado os efeitos do ato administrativo que oaposentou, poderá solicitar a reativação imediata do benefício: em se tratando de direito social fundamental, visando àgarantia da subsistência digna, a aposentadoria é irrenunciável. O interruptor pode ser desligado (e religado, também), nãoarrancado da parede.v) Pode-se renunciar às prestações da aposentadoria, sendo vedado – diante da falta de norma autorizadora – valer-sedessa renúncia para contornar uma (má) escolha feita no passado, mesmo com a disposição de ressarcir a Administraçãode todos os valores recebidos. No sentido da imutabilidade radical deste ato, votaram os Ministros Dias Toffoli, CármenLúcia, Ricardo Lewandowski e Gilmar Mendes no julgamento do RE 630.501, enquanto os demais Ministros consideraram oato passível de revisão apenas quando tivesse por fundamento a aquisição de direito a RMI melhor antes da data dorequerimento. Nas palavras do Juiz Federal Guilherme Beltrami, o que a parte autora pretende não é renunciar àaposentadoria – porque, em suma, renúncia é abandonar direitos e não reverter a statu quo ante com recuperação dotempo; o que ela pretende é como renunciar à propriedade de um bem e querer o dinheiro da aquisição de volta.vi) O obstáculo à pretensão de obter nova aposentadoria com base nas mesmas contribuições aproveitadas para aaposentadoria a que renunciam decorre não só do ato jurídico perfeito (art. 5º, XXXVI, da CRFB/1988) e da falta deprevisão legal expressa (arts. 37, caput, e 201, caput e § 11, da CRFB/1988), como também de clara vedação prevista emnormas infraconstitucionais. O art. 18, § 2º, da Lei 8.213/1991 diz, por via transversa, que as contribuições vertidas pelosegurado aposentado não produzem efeito algum para a obtenção de outra aposentadoria, cabendo a ele escolherprudentemente quando e como as usará. O art. 29, I, e § 7º, também da Lei 8.213/1991, como a aposentadoria demanda,para a fixação da renda mensal inicial do benefício, o cômputo da idade e da expectativa de sobrevida do segurado nomomento do requerimento, conclui-se que, uma vez deferido, tem-se ato administrativo cujos efeitos atrelam, de formaincindível, a quantidade de contribuições vertidas e o período futuro de vida do segurado. Admitir a desaposentação e, logodepois, novo pedido de aposentadoria (com mais contribuições, idade mais elevada e, portanto, expectativa de sobrevidamenor), a fim de obter benefício com RMI maior, constituiria burla ao fator previdenciário e a seu objetivo de desestimularaposentadorias precoces.VII – Inexiste violação aos dispositivos legais apontados pela parte autora no recurso.VIII – Recurso da parte autora conhecido e desprovido. Sem custas nem honorários sucumbenciais, ante o deferimento daAssistência Judiciária Gratuita.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, acordam os Juízes da 1ª Turma Recursaldos Juizados Especiais Federais da Seção Judiciária do Espírito Santo CONHECER DO RECURSO e, no mérito,NEGAR-LHE PROVIMENTO, na forma da ementa constante dos autos, que passa a integrar o presente julgado.

IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTIJuiz Federal – 3º Relator da 1ª Turma Recursal

107 - 0000505-30.2011.4.02.5006/01 (2011.50.06.000505-6/01) (PROCESSO ELETRÔNICO) MARIO LUCIO BARBOSADE MELO (ADVOGADO: WANESSA ALDRIGUES CANDIDO.) x INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS(PROCDOR: DIANNY SILVEIRA GOMES BARBOSA.).RECURSO Nº 0000505-30.2011.4.02.5006/01 (2011.50.06.000505-6/01)RECORRENTE: MARIO LUCIO BARBOSA DE MELORECORRIDO: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSSRELATOR: JUIZ FEDERAL IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTI

EMENTA

I – CARÁTER CONTRIBUTIVO E SOLIDÁRIO DA PREVIDÊNCIA SOCIAL.1. A aposentadoria é direito social (art. 7º, XXIV, da CRFB/1988).2. Para a integridade da Previdência Social, tanto o Regime Geral quanto o Regime dos servidores têm caráter contributivoe solidário, de filiação obrigatória, com a observância de critérios que preservem o equilíbrio financeiro e atuarial (arts. 40,caput, e 201, caput, da CRFB/1988).

II – OS ARTS. 195, § 5º, E 201, § 11, DA CRFB/188: A INSTITUIÇÃO OU MAJORAÇÃO DE CONTRIBUIÇÃO DEVEREFORÇAR O REGIME SOLIDÁRIO, SEM NECESSARIAMENTE IMPLICAR BENEFÍCIO INDIVIDUAL PARA OCONTRIBUINTE.1. O art. 195, § 5º, da CRFB/1988 (“Nenhum benefício ou serviço da seguridade social poderá ser criado, majorado ouestendido sem a correspondente fonte de custeio total”) é regra que visa ao equilíbrio financeiro e atuarial.2. A majoração da contribuição social, como qualquer tributo, depende, para a sua validade, de causa jurídica válida, e,portanto, demanda, em contrapartida, incremento no sistema previdenciário (STF, ADI 790, RE 183.906 e ADI-MC 2.010).3. Entretanto, a majoração da contribuição social previdenciária não necessariamente resultará em aumento dos benefíciose serviços a que cada segurado-contribuinte fará jus, cabendo à lei, na forma do art. 201, § 11 da CRFB/1988, disciplinar see como haverá reflexos: contribui-se solidariamente para a manutenção e expansão do sistema como um todo, e não paraprovisionar fundos única e exclusivamente em benefício próprio (STF, RE 210.211, AI 724.582 AgR e ADI 3.105).

III – FATOR PREVIDENCIÁRIO E DESINCENTIVO À APOSENTADORIA PRECOCE COMO TÉCNICA DE MANUTENÇÃO

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DO EQUILÍBRIO DA PREVIDÊNCIA SOCIAL.1. No regime previdenciário dos servidores públicos, há idade mínima como requisito para a aposentadoria, paga-se abonode permanência a quem postergar a aposentadoria (art. 40, § 19, da CRFB/1988), e veda-se a acumulação de proventoscom vencimentos (salvo na hipótese do art. 37, § 10, da CRFB/1988).2. No RGPS, não há idade mínima como requisito para a aposentadoria, permite-se a acumulação de aposentadoria com aremuneração de emprego, o deferimento de aposentadoria não rescinde os contratos de trabalho (STF, ADI 1.721 e 1.770).Por outro lado, a Lei 9.876/1999 instituiu o fator previdenciário – cuja constitucionalidade foi reconhecida pelo STF (ADI-MC2.111) – no cálculo das aposentadorias por idade, por tempo de serviço e por tempo de contribuição, para assegurar oequilíbrio atuarial, de modo que os critérios “tempo de contribuição”, “idade” e “expectativa de sobrevida no momento daaposentadoria” tenham influência sobre o valor final do benefício.

IV – DIREITO ADQUIRIDO AO BENEFÍCIO CUJOS REQUISITOS FORAM INTEGRALMENTE CUMPRIDOS.1. Com base no art. 5º, XXXVI, da CRFB/1988, o segurado tem direito a que seu benefício, quanto aos seus elementosessenciais, observe a lei em vigor no momento em que preencheu todos os requisitos para a sua aquisição,independentemente da data do requerimento administrativo (STF, RE 72.509 e Súmula 359). Assim, por exemplo, apensão por morte é regida pela lei em vigor na data do óbito do segurado-instituidor, não se aplicando a lei posterior, sejamais gravosa, seja mais benéfica (STF, RE 218.467, RE 273.570 e RE 415.454).2. O direito adquirido ao benefício não assegura a imutabilidade do seu regime jurídico (STF, RE 278.718, RE 575.089 e AI654.807), então, por exemplo, os segurados podem ser beneficiados pela alteração do valor-limite do benefício (STF, RE564.354) ou prejudicados pela instituição ou diminuição de prazos prescricionais ou decadenciais (STF, ADI-MC 1.715 e RE21.341).3. O segurado tem direito ao benefício mais vantajoso (aquele de maior RMI), considerando todos os fatores queinfluenciam em seu cálculo, desde a data em que o direito ao benefício ingressou em seu patrimônio (isto é, cumpriu todosos requisitos legais para a aquisição do direito) até o momento em que o direito é exercido (data do requerimentoadministrativo) (STF, RE 630.501). Cumpridos os requisitos mínimos (tempo de serviço e carência ou tempo decontribuição e idade, conforme o regime jurídico vigente à época), o segurado adquire o direito ao benefício, aquisição quenão se confunde com o seu exercício (neste sentido, o art. 102, § 1º, da Lei 8.213/1991, incluído pela Lei 9.528/1997, areconhecer que a perda da qualidade de segurado não prejudica o direito à aposentadoria para cuja concessão tenham sidopreenchidos todos os requisitos, segundo a legislação em vigor à época em que atendidos esses requisitos), daí porqueeventual modificação posterior nas circunstâncias de fato não suprime o direito já incorporado ao patrimônio do seu titular.Adquirido o direito à aposentação, o segurado pode optar por não exercê-lo de imediato, seja para fazer jus ao benefíciointegral (quando houve aquisição do direito apenas à aposentadoria proporcional), seja para melhorar o fator previdenciárioaplicável e computar as novas contribuições, e essa opção não pode prejudicá-lo, pois seria injurídico tolerar que a RMI dobenefício requerido posteriormente (em decorrência, por exemplo, da redução do salário-de-contribuição) fosse inferior àRMI do benefício que poderia já ter obtido. Conferiu-se interpretação extensiva ao art. 122 da Lei 8.213/1991 (“Se maisvantajoso, fica assegurado o direito à aposentadoria, nas condições legalmente previstas na data do cumprimento de todosos requisitos necessários à obtenção do benefício, ao segurado que, tendo completado 35 anos de serviço, se homem, outrinta anos, se mulher, optou por permanecer em atividade”) para assegurar não só o benefício mais vantajoso na data documprimento dos requisitos para a aposentadoria integral, como também para a aposentadoria proporcional adquirida, bemcomo em cada um dos meses posteriores à aquisição, até a data do exercício do direito pelo requerimento.4. Exercido o direito ao benefício, mediante requerimento de aposentadoria, o tempo de contribuição acumulado exauretodos os seus efeitos jurídicos, não podendo ser computado posteriormente para a aquisição de outros direitos.

V – “RENÚNCIA À APOSENTADORIA”: PRECEDENTES SOBRE DESAPOSENTAÇÃO.1. Há aposentados que retornam à atividade laboral como segurados obrigatórios, e posteriormente pleiteiam em juízo novocálculo de proventos, consideradas as contribuições de período referente a esse regresso, pretendendo afastar o art. 18, §2º, da Lei 8.213/1991 (“O aposentado pelo Regime Geral de Previdência Social - RGPS que permanecer em atividadesujeita a este Regime, ou a ele retornar, não fará jus a prestação alguma da Previdência Social em decorrência do exercíciodessa atividade, exceto ao salário-família e à reabilitação profissional, quando empregado.”) por considerá-lo incompatívelcom o art. 201, § 11, da CRFB/1988 (“Os ganhos habituais do empregado, a qualquer título, serão incorporados ao saláriopara efeito de contribuição previdenciária e conseqüente repercussão em benefícios, nos casos e na forma da lei.”).2. A jurisprudência admitia a renúncia à aposentadoria já obtida, com o aproveitamento do tempo de contribuição para obternova aposentadoria, desde que tal renúncia produzisse efeitos ex tunc (impondo a devolução integral das prestaçõespercebidas do INSS, para evitar enriquecimento ilícito do beneficiário) (TNU, PEDILEF 200872580041869; Enunciado 70das Turmas Recursais do Rio de Janeiro; Primeira Seção do TRF da 2ª Região, EIAC 201050010042326).3. A Primeira Seção do STJ assentou que “Os benefícios previdenciários são direitos patrimoniais disponíveis e, portanto,suscetíveis de desistência pelos seus titulares, prescindindo-se da devolução dos valores recebidos da aposentadoria a queo segurado deseja preterir para a concessão de novo e posterior jubilamento”. Conferiu interpretação ao art. 18, § 2º, da Lei8.213/1991 no sentido de que este não impede o segurado de retornar à atividade laboral e renunciar à aposentadoria deque está em gozo, nem de, em seguida, requerer novo benefício (reaposentação) que utilize os períodos contributivos doprimeiro somado aos períodos posteriores ao retorno à atividade laboral (RESP 1.334.488).

VI – O ALEGADO PODER DE RENUNCIAR À APOSENTADORIA NÃO ESTÁ SUBMETIDO AO PRAZO DECADENCIALDO ART. 103 DA LEI 8.213/1991.1. O prazo decadencial de dez anos previsto no art. 103 da Lei 8.213/1991 extingue o direito de provocar a revisão do atode concessão de benefício previdenciário. Entretanto, a tese da desaposentação parte da premissa de que o aposentadonão busca a revisão do ato concessório: ele renuncia à aposentadoria já deferida para depois obter outra. Saber se existeou não tal direito potestativo à renúncia é questão atinente ao mérito propriamente dito, mas, se a resposta for positiva, o

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prazo do art. 103 não o abrange.2. Adesão desta Turma Recursal à orientação recente da Quinta Turma do STJ, no sentido de que “o prazo decadencialaplica-se nas situações em que o segurado visa à revisão do ato de concessão do benefício. A desaposentação nãoconsiste na revisão desse ato, mas no seu desfazimento, motivo pelo qual não se submete ao decurso de prazodecadencial para o seu exercício” (AgRg no REsp 1.270.481).

VII – A DESAPOSENTAÇÃO E A REAPOSENTAÇÃO NÃO ENCONTRAM RESPALDO NA LEI, MESMO QUE OSEGURADO SE DISPONHA A DEVOLVER TODOS OS VALORES JÁ RECEBIDOS A TÍTULO DE APOSENTADORIA.1. Orientação do Relator, Juiz Federal Iorio Siqueira D’Alessandri Forti, externada em voto vencido no recurso inominado2011.50.50.005300-0/01 (sessão da 1ª Turma Recursal de Vitória/ES em 28/06/2013), para quem a desaposentação esubseqüente reaposentação não são juridicamente viáveis sequer com a restituição dos valores recebidos pelo segurado,com amparo nos seguintes fundamentos:i) Inexistência de norma autorizando a pretensão em regra implica, nos atos vinculados, vedação, e não permissão. A cadanovo mês trabalhado por um segurado aposentado, corresponde o pagamento de uma nova contribuição, e eventualmenteele teria interesse em obter “nova aposentadoria melhorada” mensalmente, razão pela qual a falta de disciplina legalresultaria em situação caótica.ii) O simples fato de incidir contribuição sobre o salário de um segurado obrigatório que se encontra aposentado nãopermite concluir que, com base nos arts. 195, § 5º, e 201, § 11º, da CRFB/1988, alguma vantagem individualcorrespondente lhe seja devida (STF, RE 210.211, AI 724.582 AgR e ADI 3.105). Se a contribuição, com a significativaalíquota de 11%, for reputada excessiva ou sem causa válida, a conseqüência possível (em tese) é a inconstitucionalidade(total ou parcial) do tributo, nunca a majoração da aposentadoria sem expressa previsão em lei.iii) O tempo de contribuição ingressa no patrimônio do trabalhador mês a mês, e, satisfeitos os requisitos para a obtençãode benefício, considera-se direito adquirido, a ser utilizado quando o segurado considerar mais conveniente. Diante debifurcação, a ele cabe escolher qual caminho trilhar, sabendo que não há autorização legal para retornar: requererimediatamente a aposentadoria, gozando-a desde logo, por um período de vida mais longo, com valor “achatado” pelo fatorprevidenciário, ou permanecer mais tempo contribuindo, para ficar mais velho e obter um benefício maior. Uma vezexercido o direito de instar a Administração a agir, tem-se ato administrativo aperfeiçoado, protegido pelo art. 5º, XXXVI, daCRFB/1988. O tempo trabalhado e contribuído não deixou de integrar o patrimônio do segurado, mas já foi aproveitadointegralmente para uma finalidade, e não pode, portanto, ser aproveitado para outra.iv) É certo que o direito do aposentado às prestações mensais do benefício, apesar da natureza alimentar deste, ostentanatureza patrimonial e disponível. O segurado pode, a qualquer momento, renunciar ao recebimento de uma, várias outodas as prestações, com efeitos ex nunc, isto é, sem ter de devolver aquelas já recebidas, uma vez que não as recebeuindevidamente. Ocorre que o direito à aposentadoria em si, depois de adquirido, foi exercido por ato de vontade; com odeferimento pela Administração, tornou-se ato jurídico perfeito. A qualquer momento, cessando as razões de conveniênciae oportunidade que levaram o segurado a suspender por tempo indeterminado os efeitos do ato administrativo que oaposentou, poderá solicitar a reativação imediata do benefício: em se tratando de direito social fundamental, visando àgarantia da subsistência digna, a aposentadoria é irrenunciável. O interruptor pode ser desligado (e religado, também), nãoarrancado da parede.v) Pode-se renunciar às prestações da aposentadoria, sendo vedado – diante da falta de norma autorizadora – valer-sedessa renúncia para contornar uma (má) escolha feita no passado, mesmo com a disposição de ressarcir a Administraçãode todos os valores recebidos. No sentido da imutabilidade radical deste ato, votaram os Ministros Dias Toffoli, CármenLúcia, Ricardo Lewandowski e Gilmar Mendes no julgamento do RE 630.501, enquanto os demais Ministros consideraram oato passível de revisão apenas quando tivesse por fundamento a aquisição de direito a RMI melhor antes da data dorequerimento. Nas palavras do Juiz Federal Guilherme Beltrami, o que a parte autora pretende não é renunciar àaposentadoria – porque, em suma, renúncia é abandonar direitos e não reverter a statu quo ante com recuperação dotempo; o que ela pretende é como renunciar à propriedade de um bem e querer o dinheiro da aquisição de volta.vi) A pretensão de obter nova aposentadoria com base nas mesmas contribuições aproveitadas para a aposentadoriarenunciada encontra óbice no ato jurídico perfeito (art. 5º, XXXVI, da CRFB/1988), na falta de previsão legal expressa (arts.37, caput, e 201, caput e § 11, da CRFB/1988), e na vedação constante dos arts. 18, § 2º (segundo o qual as contribuiçõesvertidas pelo segurado aposentado não podem produzir efeito algum para a obtenção de outra aposentadoria, cabendo aele escolher prudentemente quando e como as usará) e 29, I, e § 7º, Lei 8.213/1991 (como a fixação da RMI considera aidade e a expectativa de sobrevida do segurado no momento do requerimento, conclui-se que, uma vez deferido, tem-se atoadministrativo cujos efeitos atrelam, de forma incindível, a quantidade de contribuições vertidas e o período futuro de vidado segurado). Logo, admitir a desaposentação e, logo depois, novo pedido de aposentadoria (com mais contribuições,idade mais elevada e, portanto, expectativa de sobrevida menor), a fim de obter benefício com RMI maior, constituiria burlaao fator previdenciário e ao seu objetivo de desestimular aposentadorias precoces.VIII – Recurso da parte autora conhecido e provido em parte apenas para afastar a decadência. Sem custas nemhonorários sucumbenciais, ante o provimento parcial do recurso.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, acordam os Juízes da 1ª Turma Recursaldos Juizados Especiais Federais da Seção Judiciária do Espírito Santo CONHECER DO RECURSO e, no mérito, DAR-LHEPARCIAL PROVIMENTO, na forma da ementa constante dos autos, que passa a integrar o presente julgado.

IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTIJuiz Federal – 3º Relator da 1ª Turma Recursal

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108 - 0005918-39.2011.4.02.5001/01 (2011.50.01.005918-5/01) (PROCESSO ELETRÔNICO) LUIZ ROSA (ADVOGADO:VANESSA SOARES JABUR.) x INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS (PROCDOR: JOSÉ GHILHERMEBARBOSA DE OLIVEIRA.).RECURSO Nº 0005918-39.2011.4.02.5001/01 (2011.50.01.005918-5/01)RECORRENTE: LUIZ ROSARECORRIDO: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSSRELATOR: JUIZ FEDERAL IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTI

EMENTA

PREVIDENCIÁRIO. PRETENSÃO DE DESAPOSENTAÇÃO SEGUIDA DE REAPOSENTAÇÃO. AUSÊNCIA DEPREVISÃO LEGAL. VIOLAÇÃO AO ATO JURÍDICO PERFEITO. CONTRARIEDADE A REGRAS EXPRESSAS DA LEI8.213/1991. IMPROCEDÊNCIA DO PEDIDO.

I – CARÁTER CONTRIBUTIVO E SOLIDÁRIO DA PREVIDÊNCIA SOCIAL.1. A aposentadoria é direito social (art. 7º, XXIV, da CRFB/1988).2. Para a integridade da Previdência Social, tanto o Regime Geral quanto o Regime dos servidores têm caráter contributivoe solidário, de filiação obrigatória, com a observância de critérios que preservem o equilíbrio financeiro e atuarial (arts. 40,caput, e 201, caput, da CRFB/1988).

II – OS ARTS. 195, § 5º, E 201, § 11, DA CRFB/188: A INSTITUIÇÃO OU MAJORAÇÃO DE CONTRIBUIÇÃO DEVEREFORÇAR O REGIME SOLIDÁRIO, SEM NECESSARIAMENTE IMPLICAR BENEFÍCIO INDIVIDUAL PARA OCONTRIBUINTE.1. O art. 195, § 5º, da CRFB/1988 (“Nenhum benefício ou serviço da seguridade social poderá ser criado, majorado ouestendido sem a correspondente fonte de custeio total”) é regra que visa ao equilíbrio financeiro e atuarial.2. A majoração da contribuição social, como qualquer tributo, depende, para a sua validade, de causa jurídica válida, e,portanto, demanda, em contrapartida, incremento no sistema previdenciário (STF, ADI 790, RE 183.906 e ADI-MC 2.010).3. Entretanto, a majoração da contribuição social previdenciária não necessariamente resultará em aumento dos benefíciose serviços a que cada segurado-contribuinte fará jus, cabendo à lei, na forma do art. 201, § 11 da CRFB/1988, disciplinar see como haverá reflexos: contribui-se solidariamente para a manutenção e expansão do sistema como um todo, e não paraprovisionar fundos única e exclusivamente em benefício próprio (STF, RE 210.211, AI 724.582 AgR e ADI 3.105).

III – FATOR PREVIDENCIÁRIO E DESINCENTIVO À APOSENTADORIA PRECOCE COMO TÉCNICA DE MANUTENÇÃODO EQUILÍBRIO DA PREVIDÊNCIA SOCIAL.1. No regime previdenciário dos servidores públicos, há idade mínima como requisito para a aposentadoria, paga-se abonode permanência a quem postergar a aposentadoria (art. 40, § 19, da CRFB/1988), e veda-se a acumulação de proventoscom vencimentos (salvo na hipótese do art. 37, § 10, da CRFB/1988).2. No RGPS, não há idade mínima como requisito para a aposentadoria, permite-se a acumulação de aposentadoria com aremuneração de emprego, o deferimento de aposentadoria não rescinde os contratos de trabalho (STF, ADI 1.721 e 1.770).Por outro lado, a Lei 9.876/1999 instituiu o fator previdenciário – cuja constitucionalidade foi reconhecida pelo STF (ADI-MC2.111) – no cálculo das aposentadorias por idade, por tempo de serviço e por tempo de contribuição, para assegurar oequilíbrio atuarial, de modo que os critérios “tempo de contribuição”, “idade” e “expectativa de sobrevida no momento daaposentadoria” tenham influência sobre o valor final do benefício.

IV – DIREITO ADQUIRIDO AO BENEFÍCIO CUJOS REQUISITOS FORAM INTEGRALMENTE CUMPRIDOS.1. Com base no art. 5º, XXXVI, da CRFB/1988, o segurado tem direito a que seu benefício, quanto aos seus elementosessenciais, observe a lei em vigor no momento em que preencheu todos os requisitos para a sua aquisição,independentemente da data do requerimento administrativo (STF, RE 72.509 e Súmula 359). Assim, por exemplo, apensão por morte é regida pela lei em vigor na data do óbito do segurado-instituidor, não se aplicando a lei posterior, sejamais gravosa, seja mais benéfica (STF, RE 218.467, RE 273.570 e RE 415.454).2. O direito adquirido ao benefício não assegura a imutabilidade do seu regime jurídico (STF, RE 278.718, RE 575.089 e AI654.807), então, por exemplo, os segurados podem ser beneficiados pela alteração do valor-limite do benefício (STF, RE564.354) ou prejudicados pela instituição ou diminuição de prazos prescricionais ou decadenciais (STF, ADI-MC 1.715 e RE21.341).3. O segurado tem direito ao benefício mais vantajoso (aquele de maior RMI), considerando todos os fatores queinfluenciam em seu cálculo, desde a data em que o direito ao benefício ingressou em seu patrimônio (isto é, cumpriu todosos requisitos legais para a aquisição do direito) até o momento em que o direito é exercido (data do requerimentoadministrativo) (STF, RE 630.501). Cumpridos os requisitos mínimos (tempo de serviço e carência ou tempo decontribuição e idade, conforme o regime jurídico vigente à época), o segurado adquire o direito ao benefício, aquisição quenão se confunde com o seu exercício (neste sentido, o art. 102, § 1º, da Lei 8.213/1991, incluído pela Lei 9.528/1997, areconhecer que a perda da qualidade de segurado não prejudica o direito à aposentadoria para cuja concessão tenham sidopreenchidos todos os requisitos, segundo a legislação em vigor à época em que atendidos esses requisitos), daí porqueeventual modificação posterior nas circunstâncias de fato não suprime o direito já incorporado ao patrimônio do seu titular.Adquirido o direito à aposentação, o segurado pode optar por não exercê-lo de imediato, seja para fazer jus ao benefíciointegral (quando houve aquisição do direito apenas à aposentadoria proporcional), seja para melhorar o fator previdenciárioaplicável e computar as novas contribuições, e essa opção não pode prejudicá-lo, pois seria injurídico tolerar que a RMI dobenefício requerido posteriormente (em decorrência, por exemplo, da redução do salário-de-contribuição) fosse inferior à

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RMI do benefício que poderia já ter obtido. Conferiu-se interpretação extensiva ao art. 122 da Lei 8.213/1991 (“Se maisvantajoso, fica assegurado o direito à aposentadoria, nas condições legalmente previstas na data do cumprimento de todosos requisitos necessários à obtenção do benefício, ao segurado que, tendo completado 35 anos de serviço, se homem, outrinta anos, se mulher, optou por permanecer em atividade”) para assegurar não só o benefício mais vantajoso na data documprimento dos requisitos para a aposentadoria integral, como também para a aposentadoria proporcional adquirida, bemcomo em cada um dos meses posteriores à aquisição, até a data do exercício do direito pelo requerimento.4. Exercido o direito ao benefício, mediante requerimento de aposentadoria, o tempo de contribuição acumulado exauretodos os seus efeitos jurídicos, não podendo ser computado posteriormente para a aquisição de outros direitos.

V – “RENÚNCIA À APOSENTADORIA”: PRECEDENTES SOBRE DESAPOSENTAÇÃO.1. Há aposentados que retornam à atividade laboral como segurados obrigatórios, e posteriormente pleiteiam em juízo novocálculo de proventos, consideradas as contribuições de período referente a esse regresso, pretendendo afastar o art. 18, §2º, da Lei 8.213/1991 (“O aposentado pelo Regime Geral de Previdência Social - RGPS que permanecer em atividadesujeita a este Regime, ou a ele retornar, não fará jus a prestação alguma da Previdência Social em decorrência do exercíciodessa atividade, exceto ao salário-família e à reabilitação profissional, quando empregado.”) por considerá-lo incompatívelcom o art. 201, § 11, da CRFB/1988 (“Os ganhos habituais do empregado, a qualquer título, serão incorporados ao saláriopara efeito de contribuição previdenciária e conseqüente repercussão em benefícios, nos casos e na forma da lei.”).2. A jurisprudência admitia a renúncia à aposentadoria já obtida, com o aproveitamento do tempo de contribuição para obternova aposentadoria, desde que tal renúncia produzisse efeitos ex tunc (impondo a devolução integral das prestaçõespercebidas do INSS, para evitar enriquecimento ilícito do beneficiário) (TNU, PEDILEF 200872580041869; Enunciado 70das Turmas Recursais do Rio de Janeiro; Primeira Seção do TRF da 2ª Região, EIAC 201050010042326).3. A Primeira Seção do STJ assentou que “Os benefícios previdenciários são direitos patrimoniais disponíveis e, portanto,suscetíveis de desistência pelos seus titulares, prescindindo-se da devolução dos valores recebidos da aposentadoria a queo segurado deseja preterir para a concessão de novo e posterior jubilamento”. Conferiu interpretação ao art. 18, § 2º, da Lei8.213/1991 no sentido de que este não impede o segurado de retornar à atividade laboral e renunciar à aposentadoria deque está em gozo, nem de, em seguida, requerer novo benefício (reaposentação) que utilize os períodos contributivos doprimeiro somado aos períodos posteriores ao retorno à atividade laboral (RESP 1.334.488).

VI – A DESAPOSENTAÇÃO E A REAPOSENTAÇÃO NÃO ENCONTRAM RESPALDO NA LEI, MESMO QUE OSEGURADO SE DISPONHA A DEVOLVER TODOS OS VALORES JÁ RECEBIDOS A TÍTULO DE APOSENTADORIA.1. Orientação do Relator, Juiz Federal Iorio Siqueira D’Alessandri Forti, externada em voto vencido no recurso inominado2011.50.50.005300-0/01 (sessão da 1ª Turma Recursal de Vitória/ES em 28/06/2013), para quem a desaposentação esubseqüente reaposentação não são juridicamente viáveis sequer com a restituição dos valores recebidos pelo segurado,com amparo nos seguintes fundamentos:i) Inexistência de norma autorizando a pretensão em regra implica, nos atos vinculados, vedação, e não permissão. A cadanovo mês trabalhado por um segurado aposentado, corresponde o pagamento de uma nova contribuição, e eventualmenteele teria interesse em obter “nova aposentadoria melhorada” mensalmente, razão pela qual a falta de disciplina legalresultaria em situação caótica.ii) O simples fato de incidir contribuição sobre o salário de um segurado obrigatório que se encontra aposentado nãopermite concluir que, com base nos arts. 195, § 5º, e 201, § 11º, da CRFB/1988, alguma vantagem individualcorrespondente lhe seja devida (STF, RE 210.211, AI 724.582 AgR e ADI 3.105). Se a contribuição, com a significativaalíquota de 11%, for reputada excessiva ou sem causa válida, a conseqüência possível é a inconstitucionalidade dacontribuição, nunca a majoração da aposentadoria sem expressa previsão em lei.iii) O tempo de contribuição ingressa no patrimônio do trabalhador mês a mês, e, satisfeitos os requisitos para a obtençãode benefício, considera-se direito adquirido, a ser utilizado quando o segurado considerar mais conveniente. Diante debifurcação, a ele cabe escolher qual caminho trilhar, sabendo que não há autorização legal para retornar: requererimediatamente a aposentadoria, gozando-a desde logo, por um período de vida mais longo, com valor “achatado” pelo fatorprevidenciário, ou permanecer mais tempo contribuindo, para ficar mais velho e obter um benefício maior. Uma vezexercido o direito de instar a Administração a agir, tem-se ato administrativo aperfeiçoado, protegido pelo art. 5º, XXXVI, daCRFB/1988. O tempo trabalhado e contribuído não deixou de integrar o patrimônio do segurado, mas já foi aproveitadointegralmente para uma finalidade, e não pode, portanto, ser aproveitado para outra.iv) É certo que o direito do aposentado às prestações mensais do benefício, apesar da natureza alimentar deste, ostentanatureza patrimonial e disponível. O segurado pode, a qualquer momento, renunciar ao recebimento de uma, várias outodas as prestações, com efeitos ex nunc, isto é, sem ter de devolver aquelas já recebidas, uma vez que não as recebeuindevidamente. Ocorre que o direito à aposentadoria em si, após adquirido, foi exercido por ato de vontade; com odeferimento pela Administração, tornou-se ato jurídico perfeito. A qualquer momento, cessando as razões de conveniênciae oportunidade que levaram o segurado a suspender por tempo indeterminado os efeitos do ato administrativo que oaposentou, poderá solicitar a reativação imediata do benefício: em se tratando de direito social fundamental, visando àgarantia da subsistência digna, a aposentadoria é irrenunciável. O interruptor pode ser desligado (e religado, também), nãoarrancado da parede.v) Pode-se renunciar às prestações da aposentadoria, sendo vedado – diante da falta de norma autorizadora – valer-sedessa renúncia para contornar uma (má) escolha feita no passado, mesmo com a disposição de ressarcir a Administraçãode todos os valores recebidos. No sentido da imutabilidade radical deste ato, votaram os Ministros Dias Toffoli, CármenLúcia, Ricardo Lewandowski e Gilmar Mendes no julgamento do RE 630.501, enquanto os demais Ministros consideraram oato passível de revisão apenas quando tivesse por fundamento a aquisição de direito a RMI melhor antes da data dorequerimento. Nas palavras do Juiz Federal Guilherme Beltrami, o que a parte autora pretende não é renunciar àaposentadoria – porque, em suma, renúncia é abandonar direitos e não reverter a statu quo ante com recuperação dotempo; o que ela pretende é como renunciar à propriedade de um bem e querer o dinheiro da aquisição de volta.

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vi) O obstáculo à pretensão de obter nova aposentadoria com base nas mesmas contribuições aproveitadas para aaposentadoria a que renunciam decorre não só do ato jurídico perfeito (art. 5º, XXXVI, da CRFB/1988) e da falta deprevisão legal expressa (arts. 37, caput, e 201, caput e § 11, da CRFB/1988), como também de clara vedação prevista emnormas infraconstitucionais. O art. 18, § 2º, da Lei 8.213/1991 diz, por via transversa, que as contribuições vertidas pelosegurado aposentado não produzem efeito algum para a obtenção de outra aposentadoria, cabendo a ele escolherprudentemente quando e como as usará. O art. 29, I, e § 7º, também da Lei 8.213/1991, como a aposentadoria demanda,para a fixação da renda mensal inicial do benefício, o cômputo da idade e da expectativa de sobrevida do segurado nomomento do requerimento, conclui-se que, uma vez deferido, tem-se ato administrativo cujos efeitos atrelam, de formaincindível, a quantidade de contribuições vertidas e o período futuro de vida do segurado. Admitir a desaposentação e, logodepois, novo pedido de aposentadoria (com mais contribuições, idade mais elevada e, portanto, expectativa de sobrevidamenor), a fim de obter benefício com RMI maior, constituiria burla ao fator previdenciário e a seu objetivo de desestimularaposentadorias precoces.

VII – Recurso da parte autora conhecido e desprovido. Sem custas nem honorários sucumbenciais, ante o deferimento daAssistência Judiciária Gratuita.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, acordam os Juízes da 1ª Turma Recursaldos Juizados Especiais Federais da Seção Judiciária do Espírito Santo CONHECER DO RECURSO e, no mérito,NEGAR-LHE PROVIMENTO, na forma da ementa constante dos autos, que passa a integrar o presente julgado.

IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTIJuiz Federal – 3º Relator da 1ª Turma Recursal

109 - 0001548-93.2013.4.02.5050/01 (2013.50.50.001548-1/01) (PROCESSO ELETRÔNICO) MARIA RITA MONTEIROPESSOA (ADVOGADO: ROGÉRIO FERREIRA BORGES, MARCILIO TAVARES DE ALBUQUERQUE FILHO, DANIELFERREIRA BORGES, Miguel Vargas da Fonseca, CLARISSE JORGE PAES BARRETO, CAIO FREITAS VAIRO, FABIOLADE FREITAS CARVALHO, GABRIEL SCHMIDT DA SILVA, THIERS COSTA VERÍSSIMO, CAROLINA VICENTINIMADEIRA, IRIS SALDANHA BUENO, VIVIANE MONTEIRO, DANIEL FERREIRA BORGES, YGHOR FELIPE DEL CARODALVI.) x INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS (PROCDOR: SIMONE LENGRUBER DARROZROSSONI.).RECURSO Nº 0001548-93.2013.4.02.5050/01 (2013.50.50.001548-1/01)RECORRENTE: MARIA RITA MONTEIRO PESSOARECORRIDO: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSSRELATOR: JUIZ FEDERAL IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTI

EMENTA

PREVIDENCIÁRIO. PRETENSÃO DE DESAPOSENTAÇÃO SEGUIDA DE REAPOSENTAÇÃO. AUSÊNCIA DEPREVISÃO LEGAL. VIOLAÇÃO AO ATO JURÍDICO PERFEITO. CONTRARIEDADE A REGRAS EXPRESSAS DA LEI8.213/1991. IMPROCEDÊNCIA DO PEDIDO.I – CARÁTER CONTRIBUTIVO E SOLIDÁRIO DA PREVIDÊNCIA SOCIAL.1. A aposentadoria é direito social (art. 7º, XXIV, da CRFB/1988).2. Para a integridade da Previdência Social, tanto o Regime Geral quanto o Regime dos servidores têm caráter contributivoe solidário, de filiação obrigatória, com a observância de critérios que preservem o equilíbrio financeiro e atuarial (arts. 40,caput, e 201, caput, da CRFB/1988).II – OS ARTS. 195, § 5º, E 201, § 11, DA CRFB/188: A INSTITUIÇÃO OU MAJORAÇÃO DE CONTRIBUIÇÃO DEVEREFORÇAR O REGIME SOLIDÁRIO, SEM NECESSARIAMENTE IMPLICAR BENEFÍCIO INDIVIDUAL PARA OCONTRIBUINTE.1. O art. 195, § 5º, da CRFB/1988 (“Nenhum benefício ou serviço da seguridade social poderá ser criado, majorado ouestendido sem a correspondente fonte de custeio total”) é regra que visa ao equilíbrio financeiro e atuarial.2. A majoração da contribuição social, como qualquer tributo, depende, para a sua validade, de causa jurídica válida, e,portanto, demanda, em contrapartida, incremento no sistema previdenciário (STF, ADI 790, RE 183.906 e ADI-MC 2.010).3. Entretanto, a majoração da contribuição social previdenciária não necessariamente resultará em aumento dos benefíciose serviços a que cada segurado-contribuinte fará jus, cabendo à lei, na forma do art. 201, § 11 da CRFB/1988, disciplinar see como haverá reflexos: contribui-se solidariamente para a manutenção e expansão do sistema como um todo, e não paraprovisionar fundos única e exclusivamente em benefício próprio (STF, RE 210.211, AI 724.582 AgR e ADI 3.105).III – FATOR PREVIDENCIÁRIO E DESINCENTIVO À APOSENTADORIA PRECOCE COMO TÉCNICA DE MANUTENÇÃODO EQUILÍBRIO DA PREVIDÊNCIA SOCIAL.1. No regime previdenciário dos servidores públicos, há idade mínima como requisito para a aposentadoria, paga-se abonode permanência a quem postergar a aposentadoria (art. 40, § 19, da CRFB/1988), e veda-se a acumulação de proventoscom vencimentos (salvo na hipótese do art. 37, § 10, da CRFB/1988).2. No RGPS, não há idade mínima como requisito para a aposentadoria, permite-se a acumulação de aposentadoria com aremuneração de emprego, o deferimento de aposentadoria não rescinde os contratos de trabalho (STF, ADI 1.721 e 1.770).Por outro lado, a Lei 9.876/1999 instituiu o fator previdenciário – cuja constitucionalidade foi reconhecida pelo STF (ADI-MC2.111) – no cálculo das aposentadorias por idade, por tempo de serviço e por tempo de contribuição, para assegurar o

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equilíbrio atuarial, de modo que os critérios “tempo de contribuição”, “idade” e “expectativa de sobrevida no momento daaposentadoria” tenham influência sobre o valor final do benefício.IV – DIREITO ADQUIRIDO AO BENEFÍCIO CUJOS REQUISITOS FORAM INTEGRALMENTE CUMPRIDOS.1. Com base no art. 5º, XXXVI, da CRFB/1988, o segurado tem direito a que seu benefício, quanto aos seus elementosessenciais, observe a lei em vigor no momento em que preencheu todos os requisitos para a sua aquisição,independentemente da data do requerimento administrativo (STF, RE 72.509 e Súmula 359). Assim, por exemplo, apensão por morte é regida pela lei em vigor na data do óbito do segurado-instituidor, não se aplicando a lei posterior, sejamais gravosa, seja mais benéfica (STF, RE 218.467, RE 273.570 e RE 415.454).2. O direito adquirido ao benefício não assegura a imutabilidade do seu regime jurídico (STF, RE 278.718, RE 575.089 e AI654.807), então, por exemplo, os segurados podem ser beneficiados pela alteração do valor-limite do benefício (STF, RE564.354) ou prejudicados pela instituição ou diminuição de prazos prescricionais ou decadenciais (STF, ADI-MC 1.715 e RE21.341).3. O segurado tem direito ao benefício mais vantajoso (aquele de maior RMI), considerando todos os fatores queinfluenciam em seu cálculo, desde a data em que o direito ao benefício ingressou em seu patrimônio (isto é, cumpriu todosos requisitos legais para a aquisição do direito) até o momento em que o direito é exercido (data do requerimentoadministrativo) (STF, RE 630.501). Cumpridos os requisitos mínimos (tempo de serviço e carência ou tempo decontribuição e idade, conforme o regime jurídico vigente à época), o segurado adquire o direito ao benefício, aquisição quenão se confunde com o seu exercício (neste sentido, o art. 102, § 1º, da Lei 8.213/1991, incluído pela Lei 9.528/1997, areconhecer que a perda da qualidade de segurado não prejudica o direito à aposentadoria para cuja concessão tenham sidopreenchidos todos os requisitos, segundo a legislação em vigor à época em que atendidos esses requisitos), daí porqueeventual modificação posterior nas circunstâncias de fato não suprime o direito já incorporado ao patrimônio do seu titular.Adquirido o direito à aposentação, o segurado pode optar por não exercê-lo de imediato, seja para fazer jus ao benefíciointegral (quando houve aquisição do direito apenas à aposentadoria proporcional), seja para melhorar o fator previdenciárioaplicável e computar as novas contribuições, e essa opção não pode prejudicá-lo, pois seria injurídico tolerar que a RMI dobenefício requerido posteriormente (em decorrência, por exemplo, da redução do salário-de-contribuição) fosse inferior àRMI do benefício que poderia já ter obtido. Conferiu-se interpretação extensiva ao art. 122 da Lei 8.213/1991 (“Se maisvantajoso, fica assegurado o direito à aposentadoria, nas condições legalmente previstas na data do cumprimento de todosos requisitos necessários à obtenção do benefício, ao segurado que, tendo completado 35 anos de serviço, se homem, outrinta anos, se mulher, optou por permanecer em atividade”) para assegurar não só o benefício mais vantajoso na data documprimento dos requisitos para a aposentadoria integral, como também para a aposentadoria proporcional adquirida, bemcomo em cada um dos meses posteriores à aquisição, até a data do exercício do direito pelo requerimento.4. Exercido o direito ao benefício, mediante requerimento de aposentadoria, o tempo de contribuição acumulado exauretodos os seus efeitos jurídicos, não podendo ser computado posteriormente para a aquisição de outros direitos.V – “RENÚNCIA À APOSENTADORIA”: PRECEDENTES SOBRE DESAPOSENTAÇÃO.1. Há aposentados que retornam à atividade laboral como segurados obrigatórios, e posteriormente pleiteiam em juízo novocálculo de proventos, consideradas as contribuições de período referente a esse regresso, pretendendo afastar o art. 18, §2º, da Lei 8.213/1991 (“O aposentado pelo Regime Geral de Previdência Social - RGPS que permanecer em atividadesujeita a este Regime, ou a ele retornar, não fará jus a prestação alguma da Previdência Social em decorrência do exercíciodessa atividade, exceto ao salário-família e à reabilitação profissional, quando empregado.”) por considerá-lo incompatívelcom o art. 201, § 11, da CRFB/1988 (“Os ganhos habituais do empregado, a qualquer título, serão incorporados ao saláriopara efeito de contribuição previdenciária e conseqüente repercussão em benefícios, nos casos e na forma da lei.”).2. A jurisprudência admitia a renúncia à aposentadoria já obtida, com o aproveitamento do tempo de contribuição para obternova aposentadoria, desde que tal renúncia produzisse efeitos ex tunc (impondo a devolução integral das prestaçõespercebidas do INSS, para evitar enriquecimento ilícito do beneficiário) (TNU, PEDILEF 200872580041869; Enunciado 70das Turmas Recursais do Rio de Janeiro; Primeira Seção do TRF da 2ª Região, EIAC 201050010042326).3. A Primeira Seção do STJ assentou que “Os benefícios previdenciários são direitos patrimoniais disponíveis e, portanto,suscetíveis de desistência pelos seus titulares, prescindindo-se da devolução dos valores recebidos da aposentadoria a queo segurado deseja preterir para a concessão de novo e posterior jubilamento”. Conferiu interpretação ao art. 18, § 2º, da Lei8.213/1991 no sentido de que este não impede o segurado de retornar à atividade laboral e renunciar à aposentadoria deque está em gozo, nem de, em seguida, requerer novo benefício (reaposentação) que utilize os períodos contributivos doprimeiro somado aos períodos posteriores ao retorno à atividade laboral (RESP 1.334.488).VI – A DESAPOSENTAÇÃO E A REAPOSENTAÇÃO NÃO ENCONTRAM RESPALDO NA LEI, MESMO QUE OSEGURADO SE DISPONHA A DEVOLVER TODOS OS VALORES JÁ RECEBIDOS A TÍTULO DE APOSENTADORIA.1. Orientação do Relator, Juiz Federal Iorio Siqueira D’Alessandri Forti, externada em voto vencido no recurso inominado2011.50.50.005300-0/01 (sessão da 1ª Turma Recursal de Vitória/ES em 28/06/2013), para quem a desaposentação esubseqüente reaposentação não são juridicamente viáveis sequer com a restituição dos valores recebidos pelo segurado,com amparo nos seguintes fundamentos:i) Inexistência de norma autorizando a pretensão em regra implica, nos atos vinculados, vedação, e não permissão. A cadanovo mês trabalhado por um segurado aposentado, corresponde o pagamento de uma nova contribuição, e eventualmenteele teria interesse em obter “nova aposentadoria melhorada” mensalmente, razão pela qual a falta de disciplina legalresultaria em situação caótica.ii) O simples fato de incidir contribuição sobre o salário de um segurado obrigatório que se encontra aposentado nãopermite concluir que, com base nos arts. 195, § 5º, e 201, § 11º, da CRFB/1988, alguma vantagem individualcorrespondente lhe seja devida (STF, RE 210.211, AI 724.582 AgR e ADI 3.105). Se a contribuição, com a significativaalíquota de 11%, for reputada excessiva ou sem causa válida, a conseqüência possível é a inconstitucionalidade dacontribuição, nunca a majoração da aposentadoria sem expressa previsão em lei.iii) O tempo de contribuição ingressa no patrimônio do trabalhador mês a mês, e, satisfeitos os requisitos para a obtençãode benefício, considera-se direito adquirido, a ser utilizado quando o segurado considerar mais conveniente. Diante de

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bifurcação, a ele cabe escolher qual caminho trilhar, sabendo que não há autorização legal para retornar: requererimediatamente a aposentadoria, gozando-a desde logo, por um período de vida mais longo, com valor “achatado” pelo fatorprevidenciário, ou permanecer mais tempo contribuindo, para ficar mais velho e obter um benefício maior. Uma vezexercido o direito de instar a Administração a agir, tem-se ato administrativo aperfeiçoado, protegido pelo art. 5º, XXXVI, daCRFB/1988. O tempo trabalhado e contribuído não deixou de integrar o patrimônio do segurado, mas já foi aproveitadointegralmente para uma finalidade, e não pode, portanto, ser aproveitado para outra.iv) É certo que o direito do aposentado às prestações mensais do benefício, apesar da natureza alimentar deste, ostentanatureza patrimonial e disponível. O segurado pode, a qualquer momento, renunciar ao recebimento de uma, várias outodas as prestações, com efeitos ex nunc, isto é, sem ter de devolver aquelas já recebidas, uma vez que não as recebeuindevidamente. Ocorre que o direito à aposentadoria em si, após adquirido, foi exercido por ato de vontade; com odeferimento pela Administração, tornou-se ato jurídico perfeito. A qualquer momento, cessando as razões de conveniênciae oportunidade que levaram o segurado a suspender por tempo indeterminado os efeitos do ato administrativo que oaposentou, poderá solicitar a reativação imediata do benefício: em se tratando de direito social fundamental, visando àgarantia da subsistência digna, a aposentadoria é irrenunciável. O interruptor pode ser desligado (e religado, também), nãoarrancado da parede.v) Pode-se renunciar às prestações da aposentadoria, sendo vedado – diante da falta de norma autorizadora – valer-sedessa renúncia para contornar uma (má) escolha feita no passado, mesmo com a disposição de ressarcir a Administraçãode todos os valores recebidos. No sentido da imutabilidade radical deste ato, votaram os Ministros Dias Toffoli, CármenLúcia, Ricardo Lewandowski e Gilmar Mendes no julgamento do RE 630.501, enquanto os demais Ministros consideraram oato passível de revisão apenas quando tivesse por fundamento a aquisição de direito a RMI melhor antes da data dorequerimento. Nas palavras do Juiz Federal Guilherme Beltrami, o que a parte autora pretende não é renunciar àaposentadoria – porque, em suma, renúncia é abandonar direitos e não reverter a statu quo ante com recuperação dotempo; o que ela pretende é como renunciar à propriedade de um bem e querer o dinheiro da aquisição de volta.vi) O obstáculo à pretensão de obter nova aposentadoria com base nas mesmas contribuições aproveitadas para aaposentadoria a que renunciam decorre não só do ato jurídico perfeito (art. 5º, XXXVI, da CRFB/1988) e da falta deprevisão legal expressa (arts. 37, caput, e 201, caput e § 11, da CRFB/1988), como também de clara vedação prevista emnormas infraconstitucionais. O art. 18, § 2º, da Lei 8.213/1991 diz, por via transversa, que as contribuições vertidas pelosegurado aposentado não produzem efeito algum para a obtenção de outra aposentadoria, cabendo a ele escolherprudentemente quando e como as usará. O art. 29, I, e § 7º, também da Lei 8.213/1991, como a aposentadoria demanda,para a fixação da renda mensal inicial do benefício, o cômputo da idade e da expectativa de sobrevida do segurado nomomento do requerimento, conclui-se que, uma vez deferido, tem-se ato administrativo cujos efeitos atrelam, de formaincindível, a quantidade de contribuições vertidas e o período futuro de vida do segurado. Admitir a desaposentação e, logodepois, novo pedido de aposentadoria (com mais contribuições, idade mais elevada e, portanto, expectativa de sobrevidamenor), a fim de obter benefício com RMI maior, constituiria burla ao fator previdenciário e a seu objetivo de desestimularaposentadorias precoces.VII – Recurso da parte autora conhecido e desprovido. Sem custas nem honorários sucumbenciais, ante o deferimento daAssistência Judiciária Gratuita.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, acordam os Juízes da 1ª Turma Recursaldos Juizados Especiais Federais da Seção Judiciária do Espírito Santo CONHECER DO RECURSO e, no mérito,NEGAR-LHE PROVIMENTO, na forma da ementa constante dos autos, que passa a integrar o presente julgado.

IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTIJuiz Federal – 3º Relator da 1ª Turma Recursal

110 - 0001010-68.2011.4.02.5055/01 (2011.50.55.001010-0/01) (PROCESSO ELETRÔNICO) FRANCISCO BARBOSA(ADVOGADO: LUIZ CARLOS BARRETO.) x INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS (PROCDOR: MarcosFigueredo Marçal.).RECURSO Nº 0001010-68.2011.4.02.5055/01 (2011.50.55.001010-0/01)RECORRENTE: FRANCISCO BARBOSARECORRIDO: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSSRELATOR: JUIZ FEDERAL IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTI

EMENTA

PREVIDENCIÁRIO. PRETENSÃO DE DESAPOSENTAÇÃO SEGUIDA DE REAPOSENTAÇÃO. AUSÊNCIA DEPREVISÃO LEGAL. VIOLAÇÃO AO ATO JURÍDICO PERFEITO. CONTRARIEDADE A REGRAS EXPRESSAS DA LEI8.213/1991. IMPROCEDÊNCIA DO PEDIDO.

I – CARÁTER CONTRIBUTIVO E SOLIDÁRIO DA PREVIDÊNCIA SOCIAL.1. A aposentadoria é direito social (art. 7º, XXIV, da CRFB/1988).2. Para a integridade da Previdência Social, tanto o Regime Geral quanto o Regime dos servidores têm caráter contributivoe solidário, de filiação obrigatória, com a observância de critérios que preservem o equilíbrio financeiro e atuarial (arts. 40,caput, e 201, caput, da CRFB/1988).

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II – OS ARTS. 195, § 5º, E 201, § 11, DA CRFB/188: A INSTITUIÇÃO OU MAJORAÇÃO DE CONTRIBUIÇÃO DEVEREFORÇAR O REGIME SOLIDÁRIO, SEM NECESSARIAMENTE IMPLICAR BENEFÍCIO INDIVIDUAL PARA OCONTRIBUINTE.1. O art. 195, § 5º, da CRFB/1988 (“Nenhum benefício ou serviço da seguridade social poderá ser criado, majorado ouestendido sem a correspondente fonte de custeio total”) é regra que visa ao equilíbrio financeiro e atuarial.2. A majoração da contribuição social, como qualquer tributo, depende, para a sua validade, de causa jurídica válida, e,portanto, demanda, em contrapartida, incremento no sistema previdenciário (STF, ADI 790, RE 183.906 e ADI-MC 2.010).3. Entretanto, a majoração da contribuição social previdenciária não necessariamente resultará em aumento dos benefíciose serviços a que cada segurado-contribuinte fará jus, cabendo à lei, na forma do art. 201, § 11 da CRFB/1988, disciplinar see como haverá reflexos: contribui-se solidariamente para a manutenção e expansão do sistema como um todo, e não paraprovisionar fundos única e exclusivamente em benefício próprio (STF, RE 210.211, AI 724.582 AgR e ADI 3.105).

III – FATOR PREVIDENCIÁRIO E DESINCENTIVO À APOSENTADORIA PRECOCE COMO TÉCNICA DE MANUTENÇÃODO EQUILÍBRIO DA PREVIDÊNCIA SOCIAL.1. No regime previdenciário dos servidores públicos, há idade mínima como requisito para a aposentadoria, paga-se abonode permanência a quem postergar a aposentadoria (art. 40, § 19, da CRFB/1988), e veda-se a acumulação de proventoscom vencimentos (salvo na hipótese do art. 37, § 10, da CRFB/1988).2. No RGPS, não há idade mínima como requisito para a aposentadoria, permite-se a acumulação de aposentadoria com aremuneração de emprego, o deferimento de aposentadoria não rescinde os contratos de trabalho (STF, ADI 1.721 e 1.770).Por outro lado, a Lei 9.876/1999 instituiu o fator previdenciário – cuja constitucionalidade foi reconhecida pelo STF (ADI-MC2.111) – no cálculo das aposentadorias por idade, por tempo de serviço e por tempo de contribuição, para assegurar oequilíbrio atuarial, de modo que os critérios “tempo de contribuição”, “idade” e “expectativa de sobrevida no momento daaposentadoria” tenham influência sobre o valor final do benefício.

IV – DIREITO ADQUIRIDO AO BENEFÍCIO CUJOS REQUISITOS FORAM INTEGRALMENTE CUMPRIDOS.1. Com base no art. 5º, XXXVI, da CRFB/1988, o segurado tem direito a que seu benefício, quanto aos seus elementosessenciais, observe a lei em vigor no momento em que preencheu todos os requisitos para a sua aquisição,independentemente da data do requerimento administrativo (STF, RE 72.509 e Súmula 359). Assim, por exemplo, apensão por morte é regida pela lei em vigor na data do óbito do segurado-instituidor, não se aplicando a lei posterior, sejamais gravosa, seja mais benéfica (STF, RE 218.467, RE 273.570 e RE 415.454).2. O direito adquirido ao benefício não assegura a imutabilidade do seu regime jurídico (STF, RE 278.718, RE 575.089 e AI654.807), então, por exemplo, os segurados podem ser beneficiados pela alteração do valor-limite do benefício (STF, RE564.354) ou prejudicados pela instituição ou diminuição de prazos prescricionais ou decadenciais (STF, ADI-MC 1.715 e RE21.341).3. O segurado tem direito ao benefício mais vantajoso (aquele de maior RMI), considerando todos os fatores queinfluenciam em seu cálculo, desde a data em que o direito ao benefício ingressou em seu patrimônio (isto é, cumpriu todosos requisitos legais para a aquisição do direito) até o momento em que o direito é exercido (data do requerimentoadministrativo) (STF, RE 630.501). Cumpridos os requisitos mínimos (tempo de serviço e carência ou tempo decontribuição e idade, conforme o regime jurídico vigente à época), o segurado adquire o direito ao benefício, aquisição quenão se confunde com o seu exercício (neste sentido, o art. 102, § 1º, da Lei 8.213/1991, incluído pela Lei 9.528/1997, areconhecer que a perda da qualidade de segurado não prejudica o direito à aposentadoria para cuja concessão tenham sidopreenchidos todos os requisitos, segundo a legislação em vigor à época em que atendidos esses requisitos), daí porqueeventual modificação posterior nas circunstâncias de fato não suprime o direito já incorporado ao patrimônio do seu titular.Adquirido o direito à aposentação, o segurado pode optar por não exercê-lo de imediato, seja para fazer jus ao benefíciointegral (quando houve aquisição do direito apenas à aposentadoria proporcional), seja para melhorar o fator previdenciárioaplicável e computar as novas contribuições, e essa opção não pode prejudicá-lo, pois seria injurídico tolerar que a RMI dobenefício requerido posteriormente (em decorrência, por exemplo, da redução do salário-de-contribuição) fosse inferior àRMI do benefício que poderia já ter obtido. Conferiu-se interpretação extensiva ao art. 122 da Lei 8.213/1991 (“Se maisvantajoso, fica assegurado o direito à aposentadoria, nas condições legalmente previstas na data do cumprimento de todosos requisitos necessários à obtenção do benefício, ao segurado que, tendo completado 35 anos de serviço, se homem, outrinta anos, se mulher, optou por permanecer em atividade”) para assegurar não só o benefício mais vantajoso na data documprimento dos requisitos para a aposentadoria integral, como também para a aposentadoria proporcional adquirida, bemcomo em cada um dos meses posteriores à aquisição, até a data do exercício do direito pelo requerimento.4. Exercido o direito ao benefício, mediante requerimento de aposentadoria, o tempo de contribuição acumulado exauretodos os seus efeitos jurídicos, não podendo ser computado posteriormente para a aquisição de outros direitos.

V – “RENÚNCIA À APOSENTADORIA”: PRECEDENTES SOBRE DESAPOSENTAÇÃO.1. Há aposentados que retornam à atividade laboral como segurados obrigatórios, e posteriormente pleiteiam em juízo novocálculo de proventos, consideradas as contribuições de período referente a esse regresso, pretendendo afastar o art. 18, §2º, da Lei 8.213/1991 (“O aposentado pelo Regime Geral de Previdência Social - RGPS que permanecer em atividadesujeita a este Regime, ou a ele retornar, não fará jus a prestação alguma da Previdência Social em decorrência do exercíciodessa atividade, exceto ao salário-família e à reabilitação profissional, quando empregado.”) por considerá-lo incompatívelcom o art. 201, § 11, da CRFB/1988 (“Os ganhos habituais do empregado, a qualquer título, serão incorporados ao saláriopara efeito de contribuição previdenciária e conseqüente repercussão em benefícios, nos casos e na forma da lei.”).2. A jurisprudência admitia a renúncia à aposentadoria já obtida, com o aproveitamento do tempo de contribuição para obternova aposentadoria, desde que tal renúncia produzisse efeitos ex tunc (impondo a devolução integral das prestaçõespercebidas do INSS, para evitar enriquecimento ilícito do beneficiário) (TNU, PEDILEF 200872580041869; Enunciado 70das Turmas Recursais do Rio de Janeiro; Primeira Seção do TRF da 2ª Região, EIAC 201050010042326).

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3. A Primeira Seção do STJ assentou que “Os benefícios previdenciários são direitos patrimoniais disponíveis e, portanto,suscetíveis de desistência pelos seus titulares, prescindindo-se da devolução dos valores recebidos da aposentadoria a queo segurado deseja preterir para a concessão de novo e posterior jubilamento”. Conferiu interpretação ao art. 18, § 2º, da Lei8.213/1991 no sentido de que este não impede o segurado de retornar à atividade laboral e renunciar à aposentadoria deque está em gozo, nem de, em seguida, requerer novo benefício (reaposentação) que utilize os períodos contributivos doprimeiro somado aos períodos posteriores ao retorno à atividade laboral (RESP 1.334.488).

VI – A DESAPOSENTAÇÃO E A REAPOSENTAÇÃO NÃO ENCONTRAM RESPALDO NA LEI, MESMO QUE OSEGURADO SE DISPONHA A DEVOLVER TODOS OS VALORES JÁ RECEBIDOS A TÍTULO DE APOSENTADORIA.1. Orientação do Relator, Juiz Federal Iorio Siqueira D’Alessandri Forti, externada em voto vencido no recurso inominado2011.50.50.005300-0/01 (sessão da 1ª Turma Recursal de Vitória/ES em 28/06/2013), para quem a desaposentação esubseqüente reaposentação não são juridicamente viáveis sequer com a restituição dos valores recebidos pelo segurado,com amparo nos seguintes fundamentos:i) Inexistência de norma autorizando a pretensão em regra implica, nos atos vinculados, vedação, e não permissão. A cadanovo mês trabalhado por um segurado aposentado, corresponde o pagamento de uma nova contribuição, e eventualmenteele teria interesse em obter “nova aposentadoria melhorada” mensalmente, razão pela qual a falta de disciplina legalresultaria em situação caótica.ii) O simples fato de incidir contribuição sobre o salário de um segurado obrigatório que se encontra aposentado nãopermite concluir que, com base nos arts. 195, § 5º, e 201, § 11º, da CRFB/1988, alguma vantagem individualcorrespondente lhe seja devida (STF, RE 210.211, AI 724.582 AgR e ADI 3.105). Se a contribuição, com a significativaalíquota de 11%, for reputada excessiva ou sem causa válida, a conseqüência possível é a inconstitucionalidade dacontribuição, nunca a majoração da aposentadoria sem expressa previsão em lei.iii) O tempo de contribuição ingressa no patrimônio do trabalhador mês a mês, e, satisfeitos os requisitos para a obtençãode benefício, considera-se direito adquirido, a ser utilizado quando o segurado considerar mais conveniente. Diante debifurcação, a ele cabe escolher qual caminho trilhar, sabendo que não há autorização legal para retornar: requererimediatamente a aposentadoria, gozando-a desde logo, por um período de vida mais longo, com valor “achatado” pelo fatorprevidenciário, ou permanecer mais tempo contribuindo, para ficar mais velho e obter um benefício maior. Uma vezexercido o direito de instar a Administração a agir, tem-se ato administrativo aperfeiçoado, protegido pelo art. 5º, XXXVI, daCRFB/1988. O tempo trabalhado e contribuído não deixou de integrar o patrimônio do segurado, mas já foi aproveitadointegralmente para uma finalidade, e não pode, portanto, ser aproveitado para outra.iv) É certo que o direito do aposentado às prestações mensais do benefício, apesar da natureza alimentar deste, ostentanatureza patrimonial e disponível. O segurado pode, a qualquer momento, renunciar ao recebimento de uma, várias outodas as prestações, com efeitos ex nunc, isto é, sem ter de devolver aquelas já recebidas, uma vez que não as recebeuindevidamente. Ocorre que o direito à aposentadoria em si, após adquirido, foi exercido por ato de vontade; com odeferimento pela Administração, tornou-se ato jurídico perfeito. A qualquer momento, cessando as razões de conveniênciae oportunidade que levaram o segurado a suspender por tempo indeterminado os efeitos do ato administrativo que oaposentou, poderá solicitar a reativação imediata do benefício: em se tratando de direito social fundamental, visando àgarantia da subsistência digna, a aposentadoria é irrenunciável. O interruptor pode ser desligado (e religado, também), nãoarrancado da parede.v) Pode-se renunciar às prestações da aposentadoria, sendo vedado – diante da falta de norma autorizadora – valer-sedessa renúncia para contornar uma (má) escolha feita no passado, mesmo com a disposição de ressarcir a Administraçãode todos os valores recebidos. No sentido da imutabilidade radical deste ato, votaram os Ministros Dias Toffoli, CármenLúcia, Ricardo Lewandowski e Gilmar Mendes no julgamento do RE 630.501, enquanto os demais Ministros consideraram oato passível de revisão apenas quando tivesse por fundamento a aquisição de direito a RMI melhor antes da data dorequerimento. Nas palavras do Juiz Federal Guilherme Beltrami, o que a parte autora pretende não é renunciar àaposentadoria – porque, em suma, renúncia é abandonar direitos e não reverter a statu quo ante com recuperação dotempo; o que ela pretende é como renunciar à propriedade de um bem e querer o dinheiro da aquisição de volta.vi) O obstáculo à pretensão de obter nova aposentadoria com base nas mesmas contribuições aproveitadas para aaposentadoria a que renunciam decorre não só do ato jurídico perfeito (art. 5º, XXXVI, da CRFB/1988) e da falta deprevisão legal expressa (arts. 37, caput, e 201, caput e § 11, da CRFB/1988), como também de clara vedação prevista emnormas infraconstitucionais. O art. 18, § 2º, da Lei 8.213/1991 diz, por via transversa, que as contribuições vertidas pelosegurado aposentado não produzem efeito algum para a obtenção de outra aposentadoria, cabendo a ele escolherprudentemente quando e como as usará. O art. 29, I, e § 7º, também da Lei 8.213/1991, como a aposentadoria demanda,para a fixação da renda mensal inicial do benefício, o cômputo da idade e da expectativa de sobrevida do segurado nomomento do requerimento, conclui-se que, uma vez deferido, tem-se ato administrativo cujos efeitos atrelam, de formaincindível, a quantidade de contribuições vertidas e o período futuro de vida do segurado. Admitir a desaposentação e, logodepois, novo pedido de aposentadoria (com mais contribuições, idade mais elevada e, portanto, expectativa de sobrevidamenor), a fim de obter benefício com RMI maior, constituiria burla ao fator previdenciário e a seu objetivo de desestimularaposentadorias precoces.VII – Recurso da parte autora conhecido e desprovido. Sem custas nem honorários sucumbenciais, ante o deferimento daAssistência Judiciária Gratuita.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, acordam os Juízes da 1ª Turma Recursaldos Juizados Especiais Federais da Seção Judiciária do Espírito Santo CONHECER DO RECURSO e, no mérito,NEGAR-LHE PROVIMENTO, na forma da ementa constante dos autos, que passa a integrar o presente julgado.

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IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTIJuiz Federal – 3º Relator da 1ª Turma Recursal

111 - 0000296-55.2013.4.02.5050/01 (2013.50.50.000296-6/01) (PROCESSO ELETRÔNICO) JOSE MARIA MILANEZI(ADVOGADO: RAFAELLA CHRISTINA BENÍCIO, GERALDO BENICIO.) x INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL -INSS (PROCDOR: SIMONE LENGRUBER DARROZ ROSSONI.).RECURSO Nº 0000296-55.2013.4.02.5050/01 (2013.50.50.000296-6/01)RECORRENTE: JOSE MARIA MILANEZIRECORRIDO: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSSRELATOR: JUIZ FEDERAL IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTI

EMENTA

PREVIDENCIÁRIO. PRETENSÃO DE DESAPOSENTAÇÃO SEGUIDA DE REAPOSENTAÇÃO. AUSÊNCIA DEPREVISÃO LEGAL. VIOLAÇÃO AO ATO JURÍDICO PERFEITO. CONTRARIEDADE A REGRAS EXPRESSAS DA LEI8.213/1991. IMPROCEDÊNCIA DO PEDIDO.

I – CARÁTER CONTRIBUTIVO E SOLIDÁRIO DA PREVIDÊNCIA SOCIAL.1. A aposentadoria é direito social (art. 7º, XXIV, da CRFB/1988).2. Para a integridade da Previdência Social, tanto o Regime Geral quanto o Regime dos servidores têm caráter contributivoe solidário, de filiação obrigatória, com a observância de critérios que preservem o equilíbrio financeiro e atuarial (arts. 40,caput, e 201, caput, da CRFB/1988).

II – OS ARTS. 195, § 5º, E 201, § 11, DA CRFB/188: A INSTITUIÇÃO OU MAJORAÇÃO DE CONTRIBUIÇÃO DEVEREFORÇAR O REGIME SOLIDÁRIO, SEM NECESSARIAMENTE IMPLICAR BENEFÍCIO INDIVIDUAL PARA OCONTRIBUINTE.1. O art. 195, § 5º, da CRFB/1988 (“Nenhum benefício ou serviço da seguridade social poderá ser criado, majorado ouestendido sem a correspondente fonte de custeio total”) é regra que visa ao equilíbrio financeiro e atuarial.2. A majoração da contribuição social, como qualquer tributo, depende, para a sua validade, de causa jurídica válida, e,portanto, demanda, em contrapartida, incremento no sistema previdenciário (STF, ADI 790, RE 183.906 e ADI-MC 2.010).3. Entretanto, a majoração da contribuição social previdenciária não necessariamente resultará em aumento dos benefíciose serviços a que cada segurado-contribuinte fará jus, cabendo à lei, na forma do art. 201, § 11 da CRFB/1988, disciplinar see como haverá reflexos: contribui-se solidariamente para a manutenção e expansão do sistema como um todo, e não paraprovisionar fundos única e exclusivamente em benefício próprio (STF, RE 210.211, AI 724.582 AgR e ADI 3.105).

III – FATOR PREVIDENCIÁRIO E DESINCENTIVO À APOSENTADORIA PRECOCE COMO TÉCNICA DE MANUTENÇÃODO EQUILÍBRIO DA PREVIDÊNCIA SOCIAL.1. No regime previdenciário dos servidores públicos, há idade mínima como requisito para a aposentadoria, paga-se abonode permanência a quem postergar a aposentadoria (art. 40, § 19, da CRFB/1988), e veda-se a acumulação de proventoscom vencimentos (salvo na hipótese do art. 37, § 10, da CRFB/1988).2. No RGPS, não há idade mínima como requisito para a aposentadoria, permite-se a acumulação de aposentadoria com aremuneração de emprego, o deferimento de aposentadoria não rescinde os contratos de trabalho (STF, ADI 1.721 e 1.770).Por outro lado, a Lei 9.876/1999 instituiu o fator previdenciário – cuja constitucionalidade foi reconhecida pelo STF (ADI-MC2.111) – no cálculo das aposentadorias por idade, por tempo de serviço e por tempo de contribuição, para assegurar oequilíbrio atuarial, de modo que os critérios “tempo de contribuição”, “idade” e “expectativa de sobrevida no momento daaposentadoria” tenham influência sobre o valor final do benefício.

IV – DIREITO ADQUIRIDO AO BENEFÍCIO CUJOS REQUISITOS FORAM INTEGRALMENTE CUMPRIDOS.1. Com base no art. 5º, XXXVI, da CRFB/1988, o segurado tem direito a que seu benefício, quanto aos seus elementosessenciais, observe a lei em vigor no momento em que preencheu todos os requisitos para a sua aquisição,independentemente da data do requerimento administrativo (STF, RE 72.509 e Súmula 359). Assim, por exemplo, apensão por morte é regida pela lei em vigor na data do óbito do segurado-instituidor, não se aplicando a lei posterior, sejamais gravosa, seja mais benéfica (STF, RE 218.467, RE 273.570 e RE 415.454).2. O direito adquirido ao benefício não assegura a imutabilidade do seu regime jurídico (STF, RE 278.718, RE 575.089 e AI654.807), então, por exemplo, os segurados podem ser beneficiados pela alteração do valor-limite do benefício (STF, RE564.354) ou prejudicados pela instituição ou diminuição de prazos prescricionais ou decadenciais (STF, ADI-MC 1.715 e RE21.341).3. O segurado tem direito ao benefício mais vantajoso (aquele de maior RMI), considerando todos os fatores queinfluenciam em seu cálculo, desde a data em que o direito ao benefício ingressou em seu patrimônio (isto é, cumpriu todosos requisitos legais para a aquisição do direito) até o momento em que o direito é exercido (data do requerimentoadministrativo) (STF, RE 630.501). Cumpridos os requisitos mínimos (tempo de serviço e carência ou tempo decontribuição e idade, conforme o regime jurídico vigente à época), o segurado adquire o direito ao benefício, aquisição quenão se confunde com o seu exercício (neste sentido, o art. 102, § 1º, da Lei 8.213/1991, incluído pela Lei 9.528/1997, areconhecer que a perda da qualidade de segurado não prejudica o direito à aposentadoria para cuja concessão tenham sidopreenchidos todos os requisitos, segundo a legislação em vigor à época em que atendidos esses requisitos), daí porqueeventual modificação posterior nas circunstâncias de fato não suprime o direito já incorporado ao patrimônio do seu titular.

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Adquirido o direito à aposentação, o segurado pode optar por não exercê-lo de imediato, seja para fazer jus ao benefíciointegral (quando houve aquisição do direito apenas à aposentadoria proporcional), seja para melhorar o fator previdenciárioaplicável e computar as novas contribuições, e essa opção não pode prejudicá-lo, pois seria injurídico tolerar que a RMI dobenefício requerido posteriormente (em decorrência, por exemplo, da redução do salário-de-contribuição) fosse inferior àRMI do benefício que poderia já ter obtido. Conferiu-se interpretação extensiva ao art. 122 da Lei 8.213/1991 (“Se maisvantajoso, fica assegurado o direito à aposentadoria, nas condições legalmente previstas na data do cumprimento de todosos requisitos necessários à obtenção do benefício, ao segurado que, tendo completado 35 anos de serviço, se homem, outrinta anos, se mulher, optou por permanecer em atividade”) para assegurar não só o benefício mais vantajoso na data documprimento dos requisitos para a aposentadoria integral, como também para a aposentadoria proporcional adquirida, bemcomo em cada um dos meses posteriores à aquisição, até a data do exercício do direito pelo requerimento.4. Exercido o direito ao benefício, mediante requerimento de aposentadoria, o tempo de contribuição acumulado exauretodos os seus efeitos jurídicos, não podendo ser computado posteriormente para a aquisição de outros direitos.

V – “RENÚNCIA À APOSENTADORIA”: PRECEDENTES SOBRE DESAPOSENTAÇÃO.1. Há aposentados que retornam à atividade laboral como segurados obrigatórios, e posteriormente pleiteiam em juízo novocálculo de proventos, consideradas as contribuições de período referente a esse regresso, pretendendo afastar o art. 18, §2º, da Lei 8.213/1991 (“O aposentado pelo Regime Geral de Previdência Social - RGPS que permanecer em atividadesujeita a este Regime, ou a ele retornar, não fará jus a prestação alguma da Previdência Social em decorrência do exercíciodessa atividade, exceto ao salário-família e à reabilitação profissional, quando empregado.”) por considerá-lo incompatívelcom o art. 201, § 11, da CRFB/1988 (“Os ganhos habituais do empregado, a qualquer título, serão incorporados ao saláriopara efeito de contribuição previdenciária e conseqüente repercussão em benefícios, nos casos e na forma da lei.”).2. A jurisprudência admitia a renúncia à aposentadoria já obtida, com o aproveitamento do tempo de contribuição para obternova aposentadoria, desde que tal renúncia produzisse efeitos ex tunc (impondo a devolução integral das prestaçõespercebidas do INSS, para evitar enriquecimento ilícito do beneficiário) (TNU, PEDILEF 200872580041869; Enunciado 70das Turmas Recursais do Rio de Janeiro; Primeira Seção do TRF da 2ª Região, EIAC 201050010042326).3. A Primeira Seção do STJ assentou que “Os benefícios previdenciários são direitos patrimoniais disponíveis e, portanto,suscetíveis de desistência pelos seus titulares, prescindindo-se da devolução dos valores recebidos da aposentadoria a queo segurado deseja preterir para a concessão de novo e posterior jubilamento”. Conferiu interpretação ao art. 18, § 2º, da Lei8.213/1991 no sentido de que este não impede o segurado de retornar à atividade laboral e renunciar à aposentadoria deque está em gozo, nem de, em seguida, requerer novo benefício (reaposentação) que utilize os períodos contributivos doprimeiro somado aos períodos posteriores ao retorno à atividade laboral (RESP 1.334.488).

VI – A DESAPOSENTAÇÃO E A REAPOSENTAÇÃO NÃO ENCONTRAM RESPALDO NA LEI, MESMO QUE OSEGURADO SE DISPONHA A DEVOLVER TODOS OS VALORES JÁ RECEBIDOS A TÍTULO DE APOSENTADORIA.1. Orientação do Relator, Juiz Federal Iorio Siqueira D’Alessandri Forti, externada em voto vencido no recurso inominado2011.50.50.005300-0/01 (sessão da 1ª Turma Recursal de Vitória/ES em 28/06/2013), para quem a desaposentação esubseqüente reaposentação não são juridicamente viáveis sequer com a restituição dos valores recebidos pelo segurado,com amparo nos seguintes fundamentos:i) Inexistência de norma autorizando a pretensão em regra implica, nos atos vinculados, vedação, e não permissão. A cadanovo mês trabalhado por um segurado aposentado, corresponde o pagamento de uma nova contribuição, e eventualmenteele teria interesse em obter “nova aposentadoria melhorada” mensalmente, razão pela qual a falta de disciplina legalresultaria em situação caótica.ii) O simples fato de incidir contribuição sobre o salário de um segurado obrigatório que se encontra aposentado nãopermite concluir que, com base nos arts. 195, § 5º, e 201, § 11º, da CRFB/1988, alguma vantagem individualcorrespondente lhe seja devida (STF, RE 210.211, AI 724.582 AgR e ADI 3.105). Se a contribuição, com a significativaalíquota de 11%, for reputada excessiva ou sem causa válida, a conseqüência possível é a inconstitucionalidade dacontribuição, nunca a majoração da aposentadoria sem expressa previsão em lei.iii) O tempo de contribuição ingressa no patrimônio do trabalhador mês a mês, e, satisfeitos os requisitos para a obtençãode benefício, considera-se direito adquirido, a ser utilizado quando o segurado considerar mais conveniente. Diante debifurcação, a ele cabe escolher qual caminho trilhar, sabendo que não há autorização legal para retornar: requererimediatamente a aposentadoria, gozando-a desde logo, por um período de vida mais longo, com valor “achatado” pelo fatorprevidenciário, ou permanecer mais tempo contribuindo, para ficar mais velho e obter um benefício maior. Uma vezexercido o direito de instar a Administração a agir, tem-se ato administrativo aperfeiçoado, protegido pelo art. 5º, XXXVI, daCRFB/1988. O tempo trabalhado e contribuído não deixou de integrar o patrimônio do segurado, mas já foi aproveitadointegralmente para uma finalidade, e não pode, portanto, ser aproveitado para outra.iv) É certo que o direito do aposentado às prestações mensais do benefício, apesar da natureza alimentar deste, ostentanatureza patrimonial e disponível. O segurado pode, a qualquer momento, renunciar ao recebimento de uma, várias outodas as prestações, com efeitos ex nunc, isto é, sem ter de devolver aquelas já recebidas, uma vez que não as recebeuindevidamente. Ocorre que o direito à aposentadoria em si, após adquirido, foi exercido por ato de vontade; com odeferimento pela Administração, tornou-se ato jurídico perfeito. A qualquer momento, cessando as razões de conveniênciae oportunidade que levaram o segurado a suspender por tempo indeterminado os efeitos do ato administrativo que oaposentou, poderá solicitar a reativação imediata do benefício: em se tratando de direito social fundamental, visando àgarantia da subsistência digna, a aposentadoria é irrenunciável. O interruptor pode ser desligado (e religado, também), nãoarrancado da parede.v) Pode-se renunciar às prestações da aposentadoria, sendo vedado – diante da falta de norma autorizadora – valer-sedessa renúncia para contornar uma (má) escolha feita no passado, mesmo com a disposição de ressarcir a Administraçãode todos os valores recebidos. No sentido da imutabilidade radical deste ato, votaram os Ministros Dias Toffoli, CármenLúcia, Ricardo Lewandowski e Gilmar Mendes no julgamento do RE 630.501, enquanto os demais Ministros consideraram o

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ato passível de revisão apenas quando tivesse por fundamento a aquisição de direito a RMI melhor antes da data dorequerimento. Nas palavras do Juiz Federal Guilherme Beltrami, o que a parte autora pretende não é renunciar àaposentadoria – porque, em suma, renúncia é abandonar direitos e não reverter a statu quo ante com recuperação dotempo; o que ela pretende é como renunciar à propriedade de um bem e querer o dinheiro da aquisição de volta.vi) O obstáculo à pretensão de obter nova aposentadoria com base nas mesmas contribuições aproveitadas para aaposentadoria a que renunciam decorre não só do ato jurídico perfeito (art. 5º, XXXVI, da CRFB/1988) e da falta deprevisão legal expressa (arts. 37, caput, e 201, caput e § 11, da CRFB/1988), como também de clara vedação prevista emnormas infraconstitucionais. O art. 18, § 2º, da Lei 8.213/1991 diz, por via transversa, que as contribuições vertidas pelosegurado aposentado não produzem efeito algum para a obtenção de outra aposentadoria, cabendo a ele escolherprudentemente quando e como as usará. O art. 29, I, e § 7º, também da Lei 8.213/1991, como a aposentadoria demanda,para a fixação da renda mensal inicial do benefício, o cômputo da idade e da expectativa de sobrevida do segurado nomomento do requerimento, conclui-se que, uma vez deferido, tem-se ato administrativo cujos efeitos atrelam, de formaincindível, a quantidade de contribuições vertidas e o período futuro de vida do segurado. Admitir a desaposentação e, logodepois, novo pedido de aposentadoria (com mais contribuições, idade mais elevada e, portanto, expectativa de sobrevidamenor), a fim de obter benefício com RMI maior, constituiria burla ao fator previdenciário e a seu objetivo de desestimularaposentadorias precoces.

VII – Recurso da parte autora conhecido e desprovido. Sem custas nem honorários sucumbenciais, ante o deferimento daAssistência Judiciária Gratuita.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, acordam os Juízes da 1ª Turma Recursaldos Juizados Especiais Federais da Seção Judiciária do Espírito Santo CONHECER DO RECURSO e, no mérito,NEGAR-LHE PROVIMENTO, na forma da ementa constante dos autos, que passa a integrar o presente julgado.

IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTIJuiz Federal – 3º Relator da 1ª Turma Recursal

112 - 0007062-14.2012.4.02.5001/01 (2012.50.01.007062-8/01) (PROCESSO ELETRÔNICO) CESAR EGIDIO POLIDO(ADVOGADO: JOYCE DA SILVA PASSOS, VANESSA SOARES JABUR.) x INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL- INSS (PROCDOR: JOSÉ GHILHERME BARBOSA DE OLIVEIRA.).RECURSO Nº 0007062-14.2012.4.02.5001/01 (2012.50.01.007062-8/01)RECORRENTE: CESAR EGIDIO POLIDORECORRIDO: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSSRELATOR: JUIZ FEDERAL IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTI

EMENTA

PREVIDENCIÁRIO. PRETENSÃO DE DESAPOSENTAÇÃO SEGUIDA DE REAPOSENTAÇÃO. AUSÊNCIA DEPREVISÃO LEGAL. VIOLAÇÃO AO ATO JURÍDICO PERFEITO. CONTRARIEDADE A REGRAS EXPRESSAS DA LEI8.213/1991. IMPROCEDÊNCIA DO PEDIDO.I – CARÁTER CONTRIBUTIVO E SOLIDÁRIO DA PREVIDÊNCIA SOCIAL.1. A aposentadoria é direito social (art. 7º, XXIV, da CRFB/1988).2. Para a integridade da Previdência Social, tanto o Regime Geral quanto o Regime dos servidores têm caráter contributivoe solidário, de filiação obrigatória, com a observância de critérios que preservem o equilíbrio financeiro e atuarial (arts. 40,caput, e 201, caput, da CRFB/1988).II – OS ARTS. 195, § 5º, E 201, § 11, DA CRFB/188: A INSTITUIÇÃO OU MAJORAÇÃO DE CONTRIBUIÇÃO DEVEREFORÇAR O REGIME SOLIDÁRIO, SEM NECESSARIAMENTE IMPLICAR BENEFÍCIO INDIVIDUAL PARA OCONTRIBUINTE.1. O art. 195, § 5º, da CRFB/1988 (“Nenhum benefício ou serviço da seguridade social poderá ser criado, majorado ouestendido sem a correspondente fonte de custeio total”) é regra que visa ao equilíbrio financeiro e atuarial.2. A majoração da contribuição social, como qualquer tributo, depende, para a sua validade, de causa jurídica válida, e,portanto, demanda, em contrapartida, incremento no sistema previdenciário (STF, ADI 790, RE 183.906 e ADI-MC 2.010).3. Entretanto, a majoração da contribuição social previdenciária não necessariamente resultará em aumento dos benefíciose serviços a que cada segurado-contribuinte fará jus, cabendo à lei, na forma do art. 201, § 11 da CRFB/1988, disciplinar see como haverá reflexos: contribui-se solidariamente para a manutenção e expansão do sistema como um todo, e não paraprovisionar fundos única e exclusivamente em benefício próprio (STF, RE 210.211, AI 724.582 AgR e ADI 3.105).III – FATOR PREVIDENCIÁRIO E DESINCENTIVO À APOSENTADORIA PRECOCE COMO TÉCNICA DE MANUTENÇÃODO EQUILÍBRIO DA PREVIDÊNCIA SOCIAL.1. No regime previdenciário dos servidores públicos, há idade mínima como requisito para a aposentadoria, paga-se abonode permanência a quem postergar a aposentadoria (art. 40, § 19, da CRFB/1988), e veda-se a acumulação de proventoscom vencimentos (salvo na hipótese do art. 37, § 10, da CRFB/1988).2. No RGPS, não há idade mínima como requisito para a aposentadoria, permite-se a acumulação de aposentadoria com aremuneração de emprego, o deferimento de aposentadoria não rescinde os contratos de trabalho (STF, ADI 1.721 e 1.770).Por outro lado, a Lei 9.876/1999 instituiu o fator previdenciário – cuja constitucionalidade foi reconhecida pelo STF (ADI-MC

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2.111) – no cálculo das aposentadorias por idade, por tempo de serviço e por tempo de contribuição, para assegurar oequilíbrio atuarial, de modo que os critérios “tempo de contribuição”, “idade” e “expectativa de sobrevida no momento daaposentadoria” tenham influência sobre o valor final do benefício.IV – DIREITO ADQUIRIDO AO BENEFÍCIO CUJOS REQUISITOS FORAM INTEGRALMENTE CUMPRIDOS.1. Com base no art. 5º, XXXVI, da CRFB/1988, o segurado tem direito a que seu benefício, quanto aos seus elementosessenciais, observe a lei em vigor no momento em que preencheu todos os requisitos para a sua aquisição,independentemente da data do requerimento administrativo (STF, RE 72.509 e Súmula 359). Assim, por exemplo, apensão por morte é regida pela lei em vigor na data do óbito do segurado-instituidor, não se aplicando a lei posterior, sejamais gravosa, seja mais benéfica (STF, RE 218.467, RE 273.570 e RE 415.454).2. O direito adquirido ao benefício não assegura a imutabilidade do seu regime jurídico (STF, RE 278.718, RE 575.089 e AI654.807), então, por exemplo, os segurados podem ser beneficiados pela alteração do valor-limite do benefício (STF, RE564.354) ou prejudicados pela instituição ou diminuição de prazos prescricionais ou decadenciais (STF, ADI-MC 1.715 e RE21.341).3. O segurado tem direito ao benefício mais vantajoso (aquele de maior RMI), considerando todos os fatores queinfluenciam em seu cálculo, desde a data em que o direito ao benefício ingressou em seu patrimônio (isto é, cumpriu todosos requisitos legais para a aquisição do direito) até o momento em que o direito é exercido (data do requerimentoadministrativo) (STF, RE 630.501). Cumpridos os requisitos mínimos (tempo de serviço e carência ou tempo decontribuição e idade, conforme o regime jurídico vigente à época), o segurado adquire o direito ao benefício, aquisição quenão se confunde com o seu exercício (neste sentido, o art. 102, § 1º, da Lei 8.213/1991, incluído pela Lei 9.528/1997, areconhecer que a perda da qualidade de segurado não prejudica o direito à aposentadoria para cuja concessão tenham sidopreenchidos todos os requisitos, segundo a legislação em vigor à época em que atendidos esses requisitos), daí porqueeventual modificação posterior nas circunstâncias de fato não suprime o direito já incorporado ao patrimônio do seu titular.Adquirido o direito à aposentação, o segurado pode optar por não exercê-lo de imediato, seja para fazer jus ao benefíciointegral (quando houve aquisição do direito apenas à aposentadoria proporcional), seja para melhorar o fator previdenciárioaplicável e computar as novas contribuições, e essa opção não pode prejudicá-lo, pois seria injurídico tolerar que a RMI dobenefício requerido posteriormente (em decorrência, por exemplo, da redução do salário-de-contribuição) fosse inferior àRMI do benefício que poderia já ter obtido. Conferiu-se interpretação extensiva ao art. 122 da Lei 8.213/1991 (“Se maisvantajoso, fica assegurado o direito à aposentadoria, nas condições legalmente previstas na data do cumprimento de todosos requisitos necessários à obtenção do benefício, ao segurado que, tendo completado 35 anos de serviço, se homem, outrinta anos, se mulher, optou por permanecer em atividade”) para assegurar não só o benefício mais vantajoso na data documprimento dos requisitos para a aposentadoria integral, como também para a aposentadoria proporcional adquirida, bemcomo em cada um dos meses posteriores à aquisição, até a data do exercício do direito pelo requerimento.4. Exercido o direito ao benefício, mediante requerimento de aposentadoria, o tempo de contribuição acumulado exauretodos os seus efeitos jurídicos, não podendo ser computado posteriormente para a aquisição de outros direitos.V – “RENÚNCIA À APOSENTADORIA”: PRECEDENTES SOBRE DESAPOSENTAÇÃO.1. Há aposentados que retornam à atividade laboral como segurados obrigatórios, e posteriormente pleiteiam em juízo novocálculo de proventos, consideradas as contribuições de período referente a esse regresso, pretendendo afastar o art. 18, §2º, da Lei 8.213/1991 (“O aposentado pelo Regime Geral de Previdência Social - RGPS que permanecer em atividadesujeita a este Regime, ou a ele retornar, não fará jus a prestação alguma da Previdência Social em decorrência do exercíciodessa atividade, exceto ao salário-família e à reabilitação profissional, quando empregado.”) por considerá-lo incompatívelcom o art. 201, § 11, da CRFB/1988 (“Os ganhos habituais do empregado, a qualquer título, serão incorporados ao saláriopara efeito de contribuição previdenciária e conseqüente repercussão em benefícios, nos casos e na forma da lei.”).2. A jurisprudência admitia a renúncia à aposentadoria já obtida, com o aproveitamento do tempo de contribuição para obternova aposentadoria, desde que tal renúncia produzisse efeitos ex tunc (impondo a devolução integral das prestaçõespercebidas do INSS, para evitar enriquecimento ilícito do beneficiário) (TNU, PEDILEF 200872580041869; Enunciado 70das Turmas Recursais do Rio de Janeiro; Primeira Seção do TRF da 2ª Região, EIAC 201050010042326).3. A Primeira Seção do STJ assentou que “Os benefícios previdenciários são direitos patrimoniais disponíveis e, portanto,suscetíveis de desistência pelos seus titulares, prescindindo-se da devolução dos valores recebidos da aposentadoria a queo segurado deseja preterir para a concessão de novo e posterior jubilamento”. Conferiu interpretação ao art. 18, § 2º, da Lei8.213/1991 no sentido de que este não impede o segurado de retornar à atividade laboral e renunciar à aposentadoria deque está em gozo, nem de, em seguida, requerer novo benefício (reaposentação) que utilize os períodos contributivos doprimeiro somado aos períodos posteriores ao retorno à atividade laboral (RESP 1.334.488).VI – A DESAPOSENTAÇÃO E A REAPOSENTAÇÃO NÃO ENCONTRAM RESPALDO NA LEI, MESMO QUE OSEGURADO SE DISPONHA A DEVOLVER TODOS OS VALORES JÁ RECEBIDOS A TÍTULO DE APOSENTADORIA.1. Orientação do Relator, Juiz Federal Iorio Siqueira D’Alessandri Forti, externada em voto vencido no recurso inominado2011.50.50.005300-0/01 (sessão da 1ª Turma Recursal de Vitória/ES em 28/06/2013), para quem a desaposentação esubseqüente reaposentação não são juridicamente viáveis sequer com a restituição dos valores recebidos pelo segurado,com amparo nos seguintes fundamentos:i) Inexistência de norma autorizando a pretensão em regra implica, nos atos vinculados, vedação, e não permissão. A cadanovo mês trabalhado por um segurado aposentado, corresponde o pagamento de uma nova contribuição, e eventualmenteele teria interesse em obter “nova aposentadoria melhorada” mensalmente, razão pela qual a falta de disciplina legalresultaria em situação caótica.ii) O simples fato de incidir contribuição sobre o salário de um segurado obrigatório que se encontra aposentado nãopermite concluir que, com base nos arts. 195, § 5º, e 201, § 11º, da CRFB/1988, alguma vantagem individualcorrespondente lhe seja devida (STF, RE 210.211, AI 724.582 AgR e ADI 3.105). Se a contribuição, com a significativaalíquota de 11%, for reputada excessiva ou sem causa válida, a conseqüência possível é a inconstitucionalidade dacontribuição, nunca a majoração da aposentadoria sem expressa previsão em lei.iii) O tempo de contribuição ingressa no patrimônio do trabalhador mês a mês, e, satisfeitos os requisitos para a obtenção

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de benefício, considera-se direito adquirido, a ser utilizado quando o segurado considerar mais conveniente. Diante debifurcação, a ele cabe escolher qual caminho trilhar, sabendo que não há autorização legal para retornar: requererimediatamente a aposentadoria, gozando-a desde logo, por um período de vida mais longo, com valor “achatado” pelo fatorprevidenciário, ou permanecer mais tempo contribuindo, para ficar mais velho e obter um benefício maior. Uma vezexercido o direito de instar a Administração a agir, tem-se ato administrativo aperfeiçoado, protegido pelo art. 5º, XXXVI, daCRFB/1988. O tempo trabalhado e contribuído não deixou de integrar o patrimônio do segurado, mas já foi aproveitadointegralmente para uma finalidade, e não pode, portanto, ser aproveitado para outra.iv) É certo que o direito do aposentado às prestações mensais do benefício, apesar da natureza alimentar deste, ostentanatureza patrimonial e disponível. O segurado pode, a qualquer momento, renunciar ao recebimento de uma, várias outodas as prestações, com efeitos ex nunc, isto é, sem ter de devolver aquelas já recebidas, uma vez que não as recebeuindevidamente. Ocorre que o direito à aposentadoria em si, após adquirido, foi exercido por ato de vontade; com odeferimento pela Administração, tornou-se ato jurídico perfeito. A qualquer momento, cessando as razões de conveniênciae oportunidade que levaram o segurado a suspender por tempo indeterminado os efeitos do ato administrativo que oaposentou, poderá solicitar a reativação imediata do benefício: em se tratando de direito social fundamental, visando àgarantia da subsistência digna, a aposentadoria é irrenunciável. O interruptor pode ser desligado (e religado, também), nãoarrancado da parede.v) Pode-se renunciar às prestações da aposentadoria, sendo vedado – diante da falta de norma autorizadora – valer-sedessa renúncia para contornar uma (má) escolha feita no passado, mesmo com a disposição de ressarcir a Administraçãode todos os valores recebidos. No sentido da imutabilidade radical deste ato, votaram os Ministros Dias Toffoli, CármenLúcia, Ricardo Lewandowski e Gilmar Mendes no julgamento do RE 630.501, enquanto os demais Ministros consideraram oato passível de revisão apenas quando tivesse por fundamento a aquisição de direito a RMI melhor antes da data dorequerimento. Nas palavras do Juiz Federal Guilherme Beltrami, o que a parte autora pretende não é renunciar àaposentadoria – porque, em suma, renúncia é abandonar direitos e não reverter a statu quo ante com recuperação dotempo; o que ela pretende é como renunciar à propriedade de um bem e querer o dinheiro da aquisição de volta.vi) O obstáculo à pretensão de obter nova aposentadoria com base nas mesmas contribuições aproveitadas para aaposentadoria a que renunciam decorre não só do ato jurídico perfeito (art. 5º, XXXVI, da CRFB/1988) e da falta deprevisão legal expressa (arts. 37, caput, e 201, caput e § 11, da CRFB/1988), como também de clara vedação prevista emnormas infraconstitucionais. O art. 18, § 2º, da Lei 8.213/1991 diz, por via transversa, que as contribuições vertidas pelosegurado aposentado não produzem efeito algum para a obtenção de outra aposentadoria, cabendo a ele escolherprudentemente quando e como as usará. O art. 29, I, e § 7º, também da Lei 8.213/1991, como a aposentadoria demanda,para a fixação da renda mensal inicial do benefício, o cômputo da idade e da expectativa de sobrevida do segurado nomomento do requerimento, conclui-se que, uma vez deferido, tem-se ato administrativo cujos efeitos atrelam, de formaincindível, a quantidade de contribuições vertidas e o período futuro de vida do segurado. Admitir a desaposentação e, logodepois, novo pedido de aposentadoria (com mais contribuições, idade mais elevada e, portanto, expectativa de sobrevidamenor), a fim de obter benefício com RMI maior, constituiria burla ao fator previdenciário e a seu objetivo de desestimularaposentadorias precoces.VII – Recurso da parte autora conhecido e desprovido. Sem custas nem honorários sucumbenciais, ante o deferimento daAssistência Judiciária Gratuita.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, acordam os Juízes da 1ª Turma Recursaldos Juizados Especiais Federais da Seção Judiciária do Espírito Santo CONHECER DO RECURSO e, no mérito,NEGAR-LHE PROVIMENTO, na forma da ementa constante dos autos, que passa a integrar o presente julgado.

IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTIJuiz Federal – 3º Relator da 1ª Turma Recursal

113 - 0005520-08.2012.4.02.5050/01 (2012.50.50.005520-6/01) (PROCESSO ELETRÔNICO) JHONATA TEIXEIRA DASILVA (ADVOGADO: WALESKA CHRISTINA FERREIRA ROCHA, JOSE ANTONIO GRACELI.) x INSTITUTO NACIONALDO SEGURO SOCIAL - INSS (PROCDOR: LILIAN BERTOLANI DO ESPÍRITO SANTO.).RECURSO Nº 0005520-08.2012.4.02.5050/01 (2012.50.50.005520-6/01)RECORRENTE: JHONATA TEIXEIRA DA SILVARECORRIDO: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSSRELATOR: JUIZ FEDERAL IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTI

EMENTA

PREVIDENCIÁRIO. AUXÍLIO-RECLUSÃO. BAIXA RENDA DO SEGURADO (ART. 201, IV, DA CRFB/1988, COMREDAÇÃO DADA PELA EC 20/1998). TETO FIXADO PELO ART. 13 DA EC 20/1998 E ATUALIZADO POR PORTARIASDO MPS. ÚLTIMO SALÁRIO-DE-CONTRIBUIÇÃO NÃO PODE CONSIDERAR AS VERBAS RESCISÓRIAS. IMPORTA OSALÁRIO-DE-CONTRIBUIÇÃO DO MOMENTO EM QUE OCORREU A PRISÃO. O SEGURADO DESEMPREGADO NOMÊS DA PRISÃO TEM RENDA ZERO, SENDO IRRELEVANTE O VALOR EXPRESSIVO DA ÚLTIMA REMUNERAÇÃORECEBIDA MESES ATRÁS.1. O art. 201, IV, da CRFB/1988 (com a redação determinada pela EC 20/1998) limitou a concessão de auxílio-reclusão aosdependentes do segurado de baixa renda, alteração reputada constitucional pelo STF. Conforme interpretação dada àregra pelo STF, considera-se, para o deferimento do benefício previdenciário, apenas a renda do segurado, não importando

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a renda de seus dependentes (RE 587.365).2. O art. 13 da EC 20/1998 é claro ao dispor que “Até que a lei discipline o acesso ao salário-família e auxílio-reclusão paraos servidores, segurados e seus dependentes, esses benefícios serão concedidos apenas àqueles que tenham renda brutamensal igual ou inferior a R$ 360,00 (trezentos e sessenta reais), que, até a publicação da lei, serão corrigidos pelosmesmos índices aplicados aos benefícios do regime geral de previdência social.” Como desde então não foi editada leialguma, o valor de R$ 360,00 vem sendo atualizado por normas infralegais (Portarias do MPS).3. Para a aferição da renda bruta a que se refere o art. 13 da EC 20/1998, a consideração do último salário recebido pelosegurado não abrange as verbas rescisórias (indenização de férias não gozadas, pagamento antecipado de aviso prévio,etc.), as quais não são pagas com habitualidade (art. 201, § 11, da CRFB/1988).4. Para a concessão do auxílio-reclusão, importa, segundo o art. 13 da EC 20/1998, que o segurado tenha baixa renda nomomento em que foi preso. O segurado que se encontra desempregado tem renda zero, sendo irrelevante se o últimosalário de contribuição, meses atrás, teve valor expressivo. Ao contrário do que concluiu a TNU (PEDILEF200770590037647), nem a norma constitucional nem o art. 116, § 1º, do Decreto 3.048/1999 determina que se considere o“último salário de contribuição recebido”: pelo contrário, este diz que é “devido auxílio-reclusão aos dependentes dosegurado quando não houver salário-de-contribuição NA DATA DO SEU EFETIVO RECOLHIMENTO À PRISÃO, desdeque mantida a qualidade de segurado”.5. No caso concreto, é incontroversa a ocorrência da prisão, a qualidade de segurado do preso, e a dependência do autor.Além disso, é certo que o segurado encontrava-se desempregado no momento da prisão, pois o CNIS não registra, na datada captura, a existência de salário-de-contribuição em nome do recluso. Portanto, o auxílio-reclusão é devido aodependente do segurado.6. Recurso da parte autora conhecido e provido para condenar o INSS a instituir auxílio-reclusão até a data da efetivasoltura ou fuga do segurado, bem como a pagar as parcelas devidas desde a data da prisão, com correção monetáriadesde quando devidas, mais juros de mora de 1% ao mês desde a citação (a redação original do art. 1º-F da Lei 9.494/1997era restrito aos servidores públicos, e a alteração trazida pelo art. 5º da Lei 11.960/2009 foi declarada inconstitucional peloSTF, cf. ADI 4.357).

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, acordam os Juízes da 1ª Turma Recursaldos Juizados Especiais Federais da Seção Judiciária do Espírito Santo CONHECER DO RECURSO e, no mérito, DAR-LHEPROVIMENTO, na forma da ementa constante dos autos, que passa a integrar o presente julgado.

IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTIJuiz Federal – 3º Relator da 1ª Turma Recursal

114 - 0006834-86.2012.4.02.5050/01 (2012.50.50.006834-1/01) (PROCESSO ELETRÔNICO) UNIÃO FEDERAL(PROCDOR: PEDRO GALLO VIEIRA.) x NAZARIO ALBANO JUNIOR.RECURSO Nº 0006834-86.2012.4.02.5050/01 (2012.50.50.006834-1/01)RECORRENTE: UNIÃO FEDERALRECORRIDO: NAZARIO ALBANO JUNIORRELATOR: JUIZ FEDERAL IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTI

EMENTA

AUXÍLIO PRÉ-ESCOLAR E AUXÍLIO-CRECHE. ISONOMIA. NÃO HÁ ILEGALIDADE NA FIXAÇÃO DE VALORESDIFERENCIADOS PARA LOCALIDADES DIVERSAS.

I – COMPETÊNCIA DO JEF.

1. A parte autora não pretende suprimir o ato administrativo que fixou o valor do auxílio préescolar e do auxílio-creche, e sima declaração de sua insuficiência, para condenar aAdministração Pública a complementá-lo: não incide a causa de exclusão de competência do art. 3º, § 1º, III, da Lei10.259/2001.

II – MÉRITO.

1. A fixação dos padrões de vencimento e dos demais componentes do sistema remuneratório observará a natureza, o graude responsabilidade e a complexidade dos cargos componentes de cada carreira, os requisitos para a investidura, e aspeculiaridades dos cargos (art. 39, § 1º, da CRFB/1988), vedada a vinculação ou equiparação de quaisquer espéciesremuneratórias para o efeito de remuneração de pessoal do serviço públicos (art. 37, XIII, da CRFB/1988).2. O auxílio pré-escolar e o auxílio-creche não são parcelas remuneratórias, e sim indenizatórias, a serem fixadas por atoadministrativo (art. 8º do Decreto 977/1993) e pagos com base em estimativa de despesa média com assistência, guarda eeducação, independentemente de o servidor ter de comprovar que gastou mais ou menos do que recebeu (InstruçãoNormativa 28/2001 do TRF da 2ª Região c/c Resolução 04/2008 do CJF).3. Dentro de uma mesma localidade, o estabelecimento de diferenciação arbitrária por ato administrativo comporta controlede legalidade pelo Poder Judiciário, com extensão das vantagens injustamente negadas, sem invasão à competência doPoder Legislativo e, portanto, sem afronta à orientação firmada na Súmula 339/STF, pois nem mesmo razões de ordem

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orçamentária permitiriam o tratamento desigual na fixação de parcela indenizatória (arts. 5º e 39, a contrario sensu, daCRFB/1988).4. No caso presente, o autor é servidor lotado em Estado distinto daquele em que é paga a vantagem invocada comoparadigma, com custo de vida diferente, razão pela qual não faz jus à pretendida equiparação. Precedente da TNU(PEDILEF 0502844-72.2012.4.05.8501).

III – Recurso da União Federal conhecido e provido para julgar improcedente o pedido. Sem condenação em custas nemhonorários advocatícios, ante o provimento do recurso (art. 55 da Lei 9.099/1995).

A C Ó R D Ã O

Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, acordam os Juízes da 1ª Turma Recursaldos Juizados Especiais Federais da Seção Judiciária do Espírito Santo CONHECER DO RECURSO e, no mérito, DAR-LHEPROVIMENTO, na forma da ementa constante dos autos, que passa a integrar o presente julgado.

IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTIJuiz Federal – 3º Juiz Relator

115 - 0103656-06.2013.4.02.5050/01 (2013.50.50.103656-0/01) (PROCESSO ELETRÔNICO) INSTITUTO NACIONAL DOSEGURO SOCIAL - INSS (PROCDOR: ANA PAULA BARRETO MONTEIRO ROTHEN.) x ROGERIO FRANCISCOTEIXEIRA (ADVOGADO: SAYLES RODRIGO SCHUTZ, CARLOS BERKENBROCK.).RECURSO Nº 0103656-06.2013.4.02.5050/01 (2013.50.50.103656-0/01)RECORRENTE: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSSRECORRIDO: ROGERIO FRANCISCO TEIXEIRARELATOR: JUIZ FEDERAL IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTI

EMENTA

PREVIDENCIÁRIO. REVISÃO DE RENDA MENSAL DE BENEFÍCIO. ART. 29, II, DA LEI 8.213/1991. SENTENÇA DAAÇÃO CIVIL PÚBLICA Nº 2320-59.2012.403.6183. INTERESSE DE AGIR. ART. 515, § 3º, DO CPC. ENUNCIADO 47 DASTURMAS RECURSAIS DO ESPÍRITO SANTO. PEDIDO PROCEDENTE.I – CRONOGRAMA DE PAGAMENTO ESTABELECIDO NA AÇÃO CIVIL PÚBLICA Nº 2320-59.2012.403.6183:EXISTÊNCIA DE INTERESSE DE AGIR.1. O Memorando-Circular Conjunto 21/DIRBEN/PFEINSS, de 15/04/2010, e o Memorando-Circular 28/INSS/DIRBEN, de17/09/2010, apontavam em direção à pronta satisfação da pretensão dos segurados e pensionistas referente ao art. 29, II,da Lei 8.213/1991 na via administrativa, de modo que lhes faltava interesse processual para agir em juízo. A diretriz contidanos dois Memorandos foi superada pela homologação judicial de acordo na Ação Civil Pública 2320-59.2012.403.6183,instituindo escalonamento de até dez anos para a revisão dos benefícios e pagamento dos atrasados. Conseqüentemente,se alguém pleitear a revisão referente ao art. 29, II, da Lei 8.213/1991 na via administrativa, o INSS necessariamenteresponderá que o pleito será atendido conforme o cronograma homologado: a depender da idade do requerente, domontante a receber, e da (in)existência de urgência, o pagamento poderá ocorrer apenas em 2022.2. Em regra, a sentença proferida em Ação Civil Pública, seja de procedência, seja de improcedência, faz coisa julgada ergaomnes, exceto se a improcedência decorrer de falta de provas (art. 16 da Lei 7.347/1985). Entretanto, em se tratando dedireitos individuais homogêneos, a sentença em ação coletiva (mesmo em matéria não relativa a Direito do Consumidor)apenas fará coisa julgada erga omnes no caso de procedência do pedido (art. 103, III, da Lei 8.078/1990 c/c art. 21 da Lei7.347/1985), excluída, portanto, a transação. Por mais razoável que seja o cronograma de pagamento estabelecido emacordo firmado entre o MPF e o INSS, aqueles que se sentirem prejudicados não estão a ele vinculados.3. Absolutamente dispensável o prévio requerimento administrativo, uma vez que o INSS indeferirá o pleito de revisão epagamento imediatos. Evidente o interesse de agir em juízo, para obter a revisão do benefício e o imediato pagamento dasdiferenças sem sujeição ao cronograma estabelecido em Ação Civil Pública, ainda que o pagamento, como ocorre nahipótese, esteja agendado para maio de 2015.II – ART. 29, II, DA LEI 8.213/1991. PROCEDÊNCIA DO PEDIDO.1. O art. 3º da Lei 9.876/1999 (“Para o segurado filiado à Previdência Social até o dia anterior à data de publicação destaLei, que vier a cumprir as condições exigidas para a concessão dos benefícios do Regime Geral da Previdência Social, nocálculo do salário-de-benefício será considerada a média aritmética simples dos maiores salários-de-contribuição,correspondentes a, no mínimo, oitenta por cento de todo o período contributivo decorrido desde a competência julho de1994, observado o disposto nos incisos I e II do § 6º, do art. 29, da Lei nº 8.213/91, com a redação dada por esta Lei.”) éregra de transição para os segurados já filiados ao RGPS à época de sua entrada em vigor, a determinar, para a apuraçãodo cálculo do salário-de-benefício, seja considerada a média aritmética simples dos maiores salários-de-contribuição,correspondentes a, no mínimo, 80% de todo o período contributivo decorrido desde a competência julho/94, observado odisposto nos incisos I e II do caput do art. 29 da Lei 8.213/1991. Assim, apurada a mencionada média, deveria incidir umdivisor, correspondente a um percentual (nunca inferior a 60%) sobre o número de meses compreendidos entre julho/94 e adata do requerimento.2. O Enunciado 47 das Turmas Recursais do Espírito Santo consagra orientação no sentido de que, para a aposentadoriapor invalidez e para o auxílio-doença concedidos na vigência da Lei 9.876/1999, o salário-de-benefício deve ser apuradocom base na média aritmética simples dos maiores salários-de-contribuição correspondentes a 80% do períodocontributivo, independentemente da data de filiação do segurado e do número de contribuições mensais no período

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contributivo, frisando que é ilegal o art. 32, § 20, do Decreto 3.048/1999, acrescentado pelo Decreto 5.545/2005.3. Logo, são passíveis de revisão todos os benefícios por incapacidade e pensões derivadas destes, assim como asprecedidas, com DIB a partir de 29/11/1999, em que, no Período Básico de Cálculo, tenham sido considerados 100% dossalários-de-contribuição. Verificado que, no caso concreto, o benefício do autor tem PBC de 100%, sem que tenham sidodesprezados os 20% menores salários, é evidente o prejuízo ao beneficiário, disto decorrendo o interesse de agir. A revisãodo benefício em âmbito administrativo não retira o interesse do autor em prosseguir na demanda, pois ainda pendem depagamento as parcelas atrasadas decorrentes da revisão.4. A edição do Memorando 21/DIRBEN/PFE/INSS, de 15/04/2010 importou interrupção do curso do prazo prescricional(sem renúncia à prescrição já consumada), nos termos do art. 202, VI do Código Civil, pois a Administração Públicareconheceu publicamente a ilegalidade do cálculo adotado. Ajuizada a ação dentro do prazo de dois anos e meio (isto é, até15/10/2012), apenas estaria prescrita a pretensão de haver as parcelas anteriores ao qüinqüênio que antecedeu a ediçãodo Memorando. Entretanto, ajuizada a ação em 22/07/2013, estão prescritas as parcelas anteriores a 22/07/2008.III – Recurso do INSS conhecido e provido em parte, para declarar prescrita a pretensão condenatória quanto às parcelasanteriores a 22/07/2008. Sem condenação do réu ao pagamento de custas e de honorários, em razão do provimento parcialde seu recurso.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Juízes da 1ª Turma Recursal dos Juizados Especiais Federais daSeção Judiciária do Espírito Santo, CONHECER do recurso e, no mérito, DAR-LHE PARCIAL PROVIMENTO, na forma daementa constante dos autos, que passa a integrar o presente julgado.

IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTIJuiz Federal – 3º Juiz Relator

116 - 0100248-41.2012.4.02.5050/02 (2012.50.50.100248-9/02) (PROCESSO ELETRÔNICO) INSTITUTO NACIONAL DOSEGURO SOCIAL - INSS (PROCDOR: MARCELA BRAVIN BASSETTO.) x FRANCISCA GILVANETE BRITO(ADVOGADO: CARLOS BERKENBROCK, RODRIGO FIGUEIREDO, SAYLES RODRIGO SCHUTZ.).RECURSO Nº 0100248-41.2012.4.02.5050/02 (2012.50.50.100248-9/02)RECORRENTE: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSSRECORRIDO: FRANCISCA GILVANETE BRITORELATOR: JUIZ FEDERAL IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTI

EMENTA

PREVIDENCIÁRIO. REVISÃO DE RENDA MENSAL DE BENEFÍCIO. ART. 29, II, DA LEI 8.213/1991. SENTENÇA DAAÇÃO CIVIL PÚBLICA Nº 2320-59.2012.403.6183. INTERESSE DE AGIR. ART. 515, § 3º, DO CPC. ENUNCIADO 47 DASTURMAS RECURSAIS DO ESPÍRITO SANTO. PEDIDO PROCEDENTE.I – CRONOGRAMA DE PAGAMENTO ESTABELECIDO NA AÇÃO CIVIL PÚBLICA Nº 2320-59.2012.403.6183:EXISTÊNCIA DE INTERESSE DE AGIR.1. O Memorando-Circular Conjunto 21/DIRBEN/PFEINSS, de 15/04/2010, e o Memorando-Circular 28/INSS/DIRBEN, de17/09/2010, apontavam em direção à pronta satisfação da pretensão dos segurados e pensionistas referente ao art. 29, II,da Lei 8.213/1991 na via administrativa, de modo que lhes faltava interesse processual para agir em juízo. A diretriz contidanos dois Memorandos foi superada pela homologação judicial de acordo na Ação Civil Pública 2320-59.2012.403.6183,instituindo escalonamento de até dez anos para a revisão dos benefícios e pagamento dos atrasados. Conseqüentemente,se alguém pleitear a revisão referente ao art. 29, II, da Lei 8.213/1991 na via administrativa, o INSS necessariamenteresponderá que o pleito será atendido conforme o cronograma homologado: a depender da idade do requerente, domontante a receber, e da (in)existência de urgência, o pagamento poderá ocorrer apenas em 2022.2. Em regra, a sentença proferida em Ação Civil Pública, seja de procedência, seja de improcedência, faz coisa julgada ergaomnes, exceto se a improcedência decorrer de falta de provas (art. 16 da Lei 7.347/1985). Entretanto, em se tratando dedireitos individuais homogêneos, a sentença em ação coletiva (mesmo em matéria não relativa a Direito do Consumidor)apenas fará coisa julgada erga omnes no caso de procedência do pedido (art. 103, III, da Lei 8.078/1990 c/c art. 21 da Lei7.347/1985), excluída, portanto, a transação. Por mais razoável que seja o cronograma de pagamento estabelecido emacordo firmado entre o MPF e o INSS, aqueles que se sentirem prejudicados não estão a ele vinculados.3. Absolutamente dispensável o prévio requerimento administrativo, uma vez que o INSS indeferirá o pleito de revisão epagamento imediatos. Evidente o interesse de agir em juízo, para obter a revisão do benefício e o imediato pagamento dasdiferenças sem sujeição ao cronograma estabelecido em Ação Civil Pública, ainda que o pagamento, como ocorre nahipótese, esteja agendado para maio de 2015, sem que isso configure ofensa aos arts. 5º, XXXV, e 250 da CRFB; arts. 103e 104 da Lei 8.078/1990 c/c art. 543-C do CPC; art. 127 da CRFB c/c art. 21 da Lei 7.347/1985 e arts. 81, III, e 82 da Lei8.078/1990 e arts. 3º e 267, VI, do CPC.II – ART. 29, II, DA LEI 8.213/1991. PROCEDÊNCIA DO PEDIDO.1. O art. 3º da Lei 9.876/1999 (“Para o segurado filiado à Previdência Social até o dia anterior à data de publicação destaLei, que vier a cumprir as condições exigidas para a concessão dos benefícios do Regime Geral da Previdência Social, nocálculo do salário-de-benefício será considerada a média aritmética simples dos maiores salários-de-contribuição,correspondentes a, no mínimo, oitenta por cento de todo o período contributivo decorrido desde a competência julho de1994, observado o disposto nos incisos I e II do § 6º, do art. 29, da Lei nº 8.213/91, com a redação dada por esta Lei.”) é

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regra de transição para os segurados já filiados ao RGPS à época de sua entrada em vigor, a determinar, para a apuraçãodo cálculo do salário-de-benefício, seja considerada a média aritmética simples dos maiores salários-de-contribuição,correspondentes a, no mínimo, 80% de todo o período contributivo decorrido desde a competência julho/94, observado odisposto nos incisos I e II do caput do art. 29 da Lei 8.213/1991. Assim, apurada a mencionada média, deveria incidir umdivisor, correspondente a um percentual (nunca inferior a 60%) sobre o número de meses compreendidos entre julho/94 e adata do requerimento.2. O Enunciado 47 das Turmas Recursais do Espírito Santo consagra orientação no sentido de que, para a aposentadoriapor invalidez e para o auxílio-doença concedidos na vigência da Lei 9.876/1999, o salário-de-benefício deve ser apuradocom base na média aritmética simples dos maiores salários-de-contribuição correspondentes a 80% do períodocontributivo, independentemente da data de filiação do segurado e do número de contribuições mensais no períodocontributivo, frisando que é ilegal o art. 32, § 20, do Decreto 3.048/1999, acrescentado pelo Decreto 5.545/2005.3. Logo, são passíveis de revisão todos os benefícios por incapacidade e pensões derivadas destes, assim como asprecedidas, com DIB a partir de 29/11/1999, em que, no Período Básico de Cálculo, tenham sido considerados 100% dossalários-de-contribuição. Verificado que, no caso concreto, o benefício do autor tem PBC de 100%, sem que tenham sidodesprezados os 20% menores salários, é evidente o prejuízo ao beneficiário, disto decorrendo o interesse de agir. A revisãodo benefício em âmbito administrativo não retira o interesse do autor em prosseguir na demanda, pois ainda pendem depagamento as parcelas atrasadas decorrentes da revisão.4. A edição do Memorando 21/DIRBEN/PFE/INSS, de 15/04/2010 importou interrupção do curso do prazo prescricional(sem renúncia à prescrição já consumada), nos termos do art. 202, VI do Código Civil, pois a Administração Públicareconheceu publicamente a ilegalidade do cálculo adotado. Ajuizada a ação dentro do prazo de dois anos e meio (isto é, até15/10/2012), apenas estará prescrita a pretensão de haver as parcelas anteriores ao quinquênio que antecedeu a edição doMemorando.III – CORREÇÃO E JUROSFalta interesse recursal ao INSS para pedir a aplicação de juros de mora na forma prevista no artigo 1º-F da Lei 9.494/1997,alterado pela Lei 11.960/2009, pois esses critérios já foram fixados na sentença recorrida.IV – Recurso do INSS conhecido e desprovido. Custas isentas, nos termos do art. 4º, I, da Lei 9.289/1996. Condenação dorecorrente vencido ao pagamento de honorários advocatícios de 10% sobre o valor do principal.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Juízes da 1ª Turma Recursal dos Juizados Especiais Federais daSeção Judiciária do Espírito Santo, CONHECER do recurso e, no mérito, NEGAR-LHE PROVIMENTO, na forma da ementaconstante dos autos, que passa a integrar o presente julgado.

IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTIJuiz Federal – 3º Juiz Relator

117 - 0100249-26.2012.4.02.5050/02 (2012.50.50.100249-0/02) (PROCESSO ELETRÔNICO) INSTITUTO NACIONAL DOSEGURO SOCIAL - INSS (PROCDOR: ANA PAULA BARRETO MONTEIRO ROTHEN.) x DEBORA GUSMAO SANTOSFONSECA (ADVOGADO: CARLOS BERKENBROCK, RODRIGO FIGUEIREDO, SAYLES RODRIGO SCHUTZ.).RECURSO Nº 0100249-26.2012.4.02.5050/02 (2012.50.50.100249-0/02)RECORRENTE: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSSRECORRIDO: DEBORA GUSMAO SANTOS FONSECARELATOR: JUIZ FEDERAL IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTI

EMENTA

PREVIDENCIÁRIO. REVISÃO DE RENDA MENSAL DE BENEFÍCIO. ART. 29, II, DA LEI 8.213/1991. SENTENÇA DAAÇÃO CIVIL PÚBLICA Nº 2320-59.2012.403.6183. INTERESSE DE AGIR. ART. 515, § 3º, DO CPC. ENUNCIADO 47 DASTURMAS RECURSAIS DO ESPÍRITO SANTO. PEDIDO PROCEDENTE.I – CRONOGRAMA DE PAGAMENTO ESTABELECIDO NA AÇÃO CIVIL PÚBLICA Nº 2320-59.2012.403.6183:EXISTÊNCIA DE INTERESSE DE AGIR.1. O Memorando-Circular Conjunto 21/DIRBEN/PFEINSS, de 15/04/2010, e o Memorando-Circular 28/INSS/DIRBEN, de17/09/2010, apontavam em direção à pronta satisfação da pretensão dos segurados e pensionistas referente ao art. 29, II,da Lei 8.213/1991 na via administrativa, de modo que lhes faltava interesse processual para agir em juízo. A diretriz contidanos dois Memorandos foi superada pela homologação judicial de acordo na Ação Civil Pública 2320-59.2012.403.6183,instituindo escalonamento de até dez anos para a revisão dos benefícios e pagamento dos atrasados. Conseqüentemente,se alguém pleitear a revisão referente ao art. 29, II, da Lei 8.213/1991 na via administrativa, o INSS necessariamenteresponderá que o pleito será atendido conforme o cronograma homologado: a depender da idade do requerente, domontante a receber, e da (in)existência de urgência, o pagamento poderá ocorrer apenas em 2022.2. Em regra, a sentença proferida em Ação Civil Pública, seja de procedência, seja de improcedência, faz coisa julgada ergaomnes, exceto se a improcedência decorrer de falta de provas (art. 16 da Lei 7.347/1985). Entretanto, em se tratando dedireitos individuais homogêneos, a sentença em ação coletiva (mesmo em matéria não relativa a Direito do Consumidor)apenas fará coisa julgada erga omnes no caso de procedência do pedido (art. 103, III, da Lei 8.078/1990 c/c art. 21 da Lei7.347/1985), excluída, portanto, a transação. Por mais razoável que seja o cronograma de pagamento estabelecido emacordo firmado entre o MPF e o INSS, aqueles que se sentirem prejudicados não estão a ele vinculados.

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3. Absolutamente dispensável o prévio requerimento administrativo, uma vez que o INSS indeferirá o pleito de revisão epagamento imediatos. Evidente o interesse de agir em juízo, para obter a revisão do benefício e o imediato pagamento dasdiferenças sem sujeição ao cronograma estabelecido em Ação Civil Pública, ainda que o pagamento, como ocorre nahipótese, esteja agendado para maio de 2016, sem que isso configure ofensa aos arts. 5º, XXXV, e 250 da CRFB; arts. 103e 104 da Lei 8.078/1990 c/c art. 543-C do CPC; art. 127 da CRFB c/c art. 21 da Lei 7.347/1985 e arts. 81, III, e 82 da Lei8.078/1990 e arts. 3º e 267, VI, do CPC.II – ART. 29, II, DA LEI 8.213/1991. PROCEDÊNCIA DO PEDIDO.1. O art. 3º da Lei 9.876/1999 (“Para o segurado filiado à Previdência Social até o dia anterior à data de publicação destaLei, que vier a cumprir as condições exigidas para a concessão dos benefícios do Regime Geral da Previdência Social, nocálculo do salário-de-benefício será considerada a média aritmética simples dos maiores salários-de-contribuição,correspondentes a, no mínimo, oitenta por cento de todo o período contributivo decorrido desde a competência julho de1994, observado o disposto nos incisos I e II do § 6º, do art. 29, da Lei nº 8.213/91, com a redação dada por esta Lei.”) éregra de transição para os segurados já filiados ao RGPS à época de sua entrada em vigor, a determinar, para a apuraçãodo cálculo do salário-de-benefício, seja considerada a média aritmética simples dos maiores salários-de-contribuição,correspondentes a, no mínimo, 80% de todo o período contributivo decorrido desde a competência julho/94, observado odisposto nos incisos I e II do caput do art. 29 da Lei 8.213/1991. Assim, apurada a mencionada média, deveria incidir umdivisor, correspondente a um percentual (nunca inferior a 60%) sobre o número de meses compreendidos entre julho/94 e adata do requerimento.2. O Enunciado 47 das Turmas Recursais do Espírito Santo consagra orientação no sentido de que, para a aposentadoriapor invalidez e para o auxílio-doença concedidos na vigência da Lei 9.876/1999, o salário-de-benefício deve ser apuradocom base na média aritmética simples dos maiores salários-de-contribuição correspondentes a 80% do períodocontributivo, independentemente da data de filiação do segurado e do número de contribuições mensais no períodocontributivo, frisando que é ilegal o art. 32, § 20, do Decreto 3.048/1999, acrescentado pelo Decreto 5.545/2005.3. Logo, são passíveis de revisão todos os benefícios por incapacidade e pensões derivadas destes, assim como asprecedidas, com DIB a partir de 29/11/1999, em que, no Período Básico de Cálculo, tenham sido considerados 100% dossalários-de-contribuição. Verificado que, no caso concreto, o benefício do autor tem PBC de 100%, sem que tenham sidodesprezados os 20% menores salários, é evidente o prejuízo ao beneficiário, disto decorrendo o interesse de agir.4. A edição do Memorando 21/DIRBEN/PFE/INSS, de 15/04/2010 importou interrupção do curso do prazo prescricional(sem renúncia à prescrição já consumada), nos termos do art. 202, VI do Código Civil, pois a Administração Públicareconheceu publicamente a ilegalidade do cálculo adotado. Ajuizada a ação dentro do prazo de dois anos e meio (isto é, até15/10/2012), apenas estará prescrita a pretensão de haver as parcelas anteriores ao quinquênio que antecedeu a edição doMemorando. Entretanto, proposta a ação em 24/10/2012, estão prescritas as parcelas anteriores a 24/10/2007.III – CORREÇÃO E JUROSFalta interesse recursal ao INSS para pedir a aplicação de juros de mora na forma prevista no artigo 1º-F da Lei 9.494/1997,alterado pela Lei 11.960/2009, pois esses critérios já foram fixados na sentença recorrida.IV – Recurso do INSS conhecido e provido em parte, para declarar prescrita a pretensão condenatória quanto às parcelasanteriores a 24/10/2007. Sem condenação do réu ao pagamento de custas e de honorários, em razão do provimento parcialde seu recurso.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Juízes da 1ª Turma Recursal dos Juizados Especiais Federais daSeção Judiciária do Espírito Santo, CONHECER do recurso e, no mérito, DAR-LHE PARCIAL PROVIMENTO, na forma daementa constante dos autos, que passa a integrar o presente julgado.

IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTIJuiz Federal – 3º Juiz Relator

118 - 0005504-88.2011.4.02.5050/02 (2011.50.50.005504-4/02) (PROCESSO ELETRÔNICO) INSTITUTO NACIONAL DOSEGURO SOCIAL - INSS (PROCDOR: GUSTAVO CABRAL VIEIRA.) x EVANGELISTA DOS SANTOS (ADVOGADO:MARCOS ANTONIO DURANTE BUSSOLO.).RECURSO Nº 0005504-88.2011.4.02.5050/02 (2011.50.50.005504-4/02)RECORRENTE: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSSRECORRIDO: EVANGELISTA DOS SANTOSRELATOR: JUIZ FEDERAL IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTI

EMENTA

PREVIDENCIÁRIO. REVISÃO DE RENDA MENSAL DE BENEFÍCIO. ART. 29, II, DA LEI 8.213/1991. INTERESSE DEAGIR. PRESCRIÇÃO.1. O interesse de agir do autor reside no fato de que, além da revisão de seu salário de benefício, pleiteia o pagamento deparcelas atrasadas não incluídas no pagamento realizado em âmbito administrativo.2. A edição do Memorando 21/DIRBEN/PFE/INSS, de 15/04/2010 importou interrupção do curso do prazo prescricional(sem renúncia à prescrição já consumada), nos termos do art. 202, VI do Código Civil, pois a Administração Públicareconheceu publicamente a ilegalidade do cálculo adotado. Ajuizada a ação dentro do prazo de dois anos e meio (isto é, até15/10/2012), apenas estaria prescrita a pretensão de haver as parcelas anteriores ao quinquênio que antecedeu a edição

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do Memorando. Proposta a ação em 28/07/2011, somente estão prescritas as parcelas anteriores a 15/04/2005, sem queisso represente ofensa ao art. 103, parágrafo único, da Lei 8.213/1991 e ao art. 269, IV, do CPC.3. Recurso do INSS conhecido e desprovido. Isenção de custas (art. 4º, I, da Lei 9.289/1996). Condenação do recorrentevencido ao pagamento de honorários sucumbenciais de 10% sobre o valor do principal.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, acordam os Juízes da 1ª Turma Recursaldos Juizados Especiais Federais da Seção Judiciária do Espírito Santo CONHECER do recurso e, no mérito, NEGAR-LHEPROVIMENTO, na forma da ementa constante dos autos, que passa a integrar o presente julgado.

IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTIJuiz Federal – 3º Juiz Relator

119 - 0005521-27.2011.4.02.5050/02 (2011.50.50.005521-4/02) (PROCESSO ELETRÔNICO) INSTITUTO NACIONAL DOSEGURO SOCIAL - INSS (PROCDOR: MARCOS JOSÉ DE JESUS.) x JORGE GERALDO DOS SANTOS (ADVOGADO:MARCOS ANTONIO DURANTE BUSSOLO.).RECURSO Nº 0005521-27.2011.4.02.5050/02 (2011.50.50.005521-4/02)RECORRENTE: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSSRECORRIDO: JORGE GERALDO DOS SANTOSRELATOR: JUIZ FEDERAL IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTI

EMENTA

PREVIDENCIÁRIO. REVISÃO DE RENDA MENSAL DE BENEFÍCIO. ART. 29, II, DA LEI 8.213/1991. SENTENÇA DAAÇÃO CIVIL PÚBLICA Nº 2320-59.2012.403.6183. INTERESSE DE AGIR. ART. 515, § 3º, DO CPC. ENUNCIADO 47 DASTURMAS RECURSAIS DO ESPÍRITO SANTO. PEDIDO PROCEDENTE.I – CRONOGRAMA DE PAGAMENTO ESTABELECIDO NA AÇÃO CIVIL PÚBLICA Nº 2320-59.2012.403.6183:EXISTÊNCIA DE INTERESSE DE AGIR.1. O Memorando-Circular Conjunto 21/DIRBEN/PFEINSS, de 15/04/2010, e o Memorando-Circular 28/INSS/DIRBEN, de17/09/2010, apontavam em direção à pronta satisfação da pretensão dos segurados e pensionistas referente ao art. 29, II,da Lei 8.213/1991 na via administrativa, de modo que lhes faltava interesse processual para agir em juízo. A diretriz contidanos dois Memorandos foi superada pela homologação judicial de acordo na Ação Civil Pública 2320-59.2012.403.6183,instituindo escalonamento de até dez anos para a revisão dos benefícios e pagamento dos atrasados. Conseqüentemente,se alguém pleitear a revisão referente ao art. 29, II, da Lei 8.213/1991 na via administrativa, o INSS necessariamenteresponderá que o pleito será atendido conforme o cronograma homologado: a depender da idade do requerente, domontante a receber, e da (in)existência de urgência, o pagamento poderá ocorrer apenas em 2022.2. Em regra, a sentença proferida em Ação Civil Pública, seja de procedência, seja de improcedência, faz coisa julgada ergaomnes, exceto se a improcedência decorrer de falta de provas (art. 16 da Lei 7.347/1985). Entretanto, em se tratando dedireitos individuais homogêneos, a sentença em ação coletiva (mesmo em matéria não relativa a Direito do Consumidor)apenas fará coisa julgada erga omnes no caso de procedência do pedido (art. 103, III, da Lei 8.078/1990 c/c art. 21 da Lei7.347/1985), excluída, portanto, a transação. Por mais razoável que seja o cronograma de pagamento estabelecido emacordo firmado entre o MPF e o INSS, aqueles que se sentirem prejudicados não estão a ele vinculados.3. Absolutamente dispensável o prévio requerimento administrativo, uma vez que o INSS indeferirá o pleito de revisão epagamento imediatos. Evidente o interesse de agir em juízo, para obter a revisão do benefício e o imediato pagamento dasdiferenças sem sujeição ao cronograma estabelecido em Ação Civil Pública, ainda que o pagamento, como ocorre nahipótese, esteja agendado para maio de 2015, sem que isso configure ofensa ao art. 2º da CRFB, ao art. 5º, XXXV daCRFB ou aos arts. 3º e 267, VI do CPC.II – ART. 29, II, DA LEI 8.213/1991. PROCEDÊNCIA DO PEDIDO.1. O art. 3º da Lei 9.876/1999 (“Para o segurado filiado à Previdência Social até o dia anterior à data de publicação destaLei, que vier a cumprir as condições exigidas para a concessão dos benefícios do Regime Geral da Previdência Social, nocálculo do salário-de-benefício será considerada a média aritmética simples dos maiores salários-de-contribuição,correspondentes a, no mínimo, oitenta por cento de todo o período contributivo decorrido desde a competência julho de1994, observado o disposto nos incisos I e II do § 6º, do art. 29, da Lei nº 8.213/91, com a redação dada por esta Lei.”) éregra de transição para os segurados já filiados ao RGPS à época de sua entrada em vigor, a determinar, para a apuraçãodo cálculo do salário-de-benefício, seja considerada a média aritmética simples dos maiores salários-de-contribuição,correspondentes a, no mínimo, 80% de todo o período contributivo decorrido desde a competência julho/94, observado odisposto nos incisos I e II do caput do art. 29 da Lei 8.213/1991. Assim, apurada a mencionada média, deveria incidir umdivisor, correspondente a um percentual (nunca inferior a 60%) sobre o número de meses compreendidos entre julho/94 e adata do requerimento.2. O Enunciado 47 das Turmas Recursais do Espírito Santo consagra orientação no sentido de que, para a aposentadoriapor invalidez e para o auxílio-doença concedidos na vigência da Lei 9.876/1999, o salário-de-benefício deve ser apuradocom base na média aritmética simples dos maiores salários-de-contribuição correspondentes a 80% do períodocontributivo, independentemente da data de filiação do segurado e do número de contribuições mensais no períodocontributivo, frisando que é ilegal o art. 32, § 20, do Decreto 3.048/1999, acrescentado pelo Decreto 5.545/2005.3. Logo, são passíveis de revisão todos os benefícios por incapacidade e pensões derivadas destes, assim como as

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precedidas, com DIB a partir de 29/11/1999, em que, no Período Básico de Cálculo, tenham sido considerados 100% dossalários-de-contribuição. Verificado que, no caso concreto, o benefício do autor tem PBC de 100%, sem que tenham sidodesprezados os 20% menores salários, é evidente o prejuízo ao beneficiário, disto decorrendo o interesse de agir.4. A edição do Memorando 21/DIRBEN/PFE/INSS, de 15/04/2010 importou interrupção do curso do prazo prescricional(sem renúncia à prescrição já consumada), nos termos do art. 202, VI do Código Civil, pois a Administração Públicareconheceu publicamente a ilegalidade do cálculo adotado. Ajuizada a ação dentro do prazo de dois anos e meio (isto é, até15/10/2012), apenas estaria prescrita a pretensão de haver as parcelas anteriores ao quinquênio que antecedeu a ediçãodo Memorando.III – JUROS E CORREÇÃO MONETÁRIAPara os pagamentos decorrentes de condenações em favor de segurados, a correção monetária segue os índices oficiais,desde a data em que devida cada parcela, e os juros da mora, de 1% ao mês, contam-se da citação (as alterações trazidasao art. 1º-F da Lei 9.494/1997 pelo art. 5º da Lei 11.960/2009 foram declaradas inconstitucionais por ocasião do julgamentoda ADI 4.357).IV – Recurso do INSS conhecido e desprovido. Sem custas. Condenação do recorrente vencido ao pagamento dehonorários sucumbenciais de 10% sobre o valor do principal.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Juízes da 1ª Turma Recursal dos Juizados Especiais Federais daSeção Judiciária do Espírito Santo, CONHECER do recurso e, no mérito, NEGAR-LHE PROVIMENTO, na forma da ementaconstante dos autos, que passa a integrar o presente julgado.

IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTIJuiz Federal – 3º Juiz Relator

120 - 0102345-77.2013.4.02.5050/01 (2013.50.50.102345-0/01) (PROCESSO ELETRÔNICO) INSTITUTO NACIONAL DOSEGURO SOCIAL - INSS (PROCDOR: MARCOS JOSÉ DE JESUS.) x CLAUDETE SCHMIDEL SOUZA (ADVOGADO:MARIA DE FATIMA MONTEIRO, LÍVIA NOGUEIRA ALMEIDA, PAULO HENRIQUE MARÇAL MONTEIRO, BERNARDOJEFFERSON BROLLO DE LIMA.).RECURSO Nº 0102345-77.2013.4.02.5050/01 (2013.50.50.102345-0/01)RECORRENTE: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSSRECORRIDO: CLAUDETE SCHMIDEL SOUZARELATOR: JUIZ FEDERAL IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTI

EMENTA

PREVIDENCIÁRIO. REVISÃO DE RENDA MENSAL DE BENEFÍCIO. ART. 29, II, DA LEI 8.213/1991. SENTENÇA DAAÇÃO CIVIL PÚBLICA Nº 2320-59.2012.403.6183. INTERESSE DE AGIR. ART. 515, § 3º, DO CPC. ENUNCIADO 47 DASTURMAS RECURSAIS DO ESPÍRITO SANTO. PEDIDO PROCEDENTE.I – CRONOGRAMA DE PAGAMENTO ESTABELECIDO NA AÇÃO CIVIL PÚBLICA Nº 2320-59.2012.403.6183:EXISTÊNCIA DE INTERESSE DE AGIR.1. O Memorando-Circular Conjunto 21/DIRBEN/PFEINSS, de 15/04/2010, e o Memorando-Circular 28/INSS/DIRBEN, de17/09/2010, apontavam em direção à pronta satisfação da pretensão dos segurados e pensionistas referente ao art. 29, II,da Lei 8.213/1991 na via administrativa, de modo que lhes faltava interesse processual para agir em juízo. A diretriz contidanos dois Memorandos foi superada pela homologação judicial de acordo na Ação Civil Pública 2320-59.2012.403.6183,instituindo escalonamento de até dez anos para a revisão dos benefícios e pagamento dos atrasados. Conseqüentemente,se alguém pleitear a revisão referente ao art. 29, II, da Lei 8.213/1991 na via administrativa, o INSS necessariamenteresponderá que o pleito será atendido conforme o cronograma homologado: a depender da idade do requerente, domontante a receber, e da (in)existência de urgência, o pagamento poderá ocorrer apenas em 2022.2. Em regra, a sentença proferida em Ação Civil Pública, seja de procedência, seja de improcedência, faz coisa julgada ergaomnes, exceto se a improcedência decorrer de falta de provas (art. 16 da Lei 7.347/1985). Entretanto, em se tratando dedireitos individuais homogêneos, a sentença em ação coletiva (mesmo em matéria não relativa a Direito do Consumidor)apenas fará coisa julgada erga omnes no caso de procedência do pedido (art. 103, III, da Lei 8.078/1990 c/c art. 21 da Lei7.347/1985), excluída, portanto, a transação. Por mais razoável que seja o cronograma de pagamento estabelecido emacordo firmado entre o MPF e o INSS, aqueles que se sentirem prejudicados não estão a ele vinculados.3. Absolutamente dispensável o prévio requerimento administrativo, uma vez que o INSS indeferirá o pleito de revisão epagamento imediatos. Evidente o interesse de agir em juízo, para obter a revisão do benefício e o imediato pagamento dasdiferenças sem sujeição ao cronograma estabelecido em Ação Civil Pública, ainda mais porque o pagamento, como ocorrena hipótese, está agendado para maio de 2020. Ressalte-se que esse entendimento não configura ofensa ao arts. 2º e 5º,XXXV da CRFB ou aos arts. 3º e 267, VI do CPC.II – ART. 29, II, DA LEI 8.213/1991. PROCEDÊNCIA DO PEDIDO.1. O art. 3º da Lei 9.876/1999 (“Para o segurado filiado à Previdência Social até o dia anterior à data de publicação destaLei, que vier a cumprir as condições exigidas para a concessão dos benefícios do Regime Geral da Previdência Social, nocálculo do salário-de-benefício será considerada a média aritmética simples dos maiores salários-de-contribuição,correspondentes a, no mínimo, oitenta por cento de todo o período contributivo decorrido desde a competência julho de1994, observado o disposto nos incisos I e II do § 6º, do art. 29, da Lei nº 8.213/91, com a redação dada por esta Lei.”) é

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regra de transição para os segurados já filiados ao RGPS à época de sua entrada em vigor, a determinar, para a apuraçãodo cálculo do salário-de-benefício, seja considerada a média aritmética simples dos maiores salários-de-contribuição,correspondentes a, no mínimo, 80% de todo o período contributivo decorrido desde a competência julho/94, observado odisposto nos incisos I e II do caput do art. 29 da Lei 8.213/1991. Assim, apurada a mencionada média, deveria incidir umdivisor, correspondente a um percentual (nunca inferior a 60%) sobre o número de meses compreendidos entre julho/94 e adata do requerimento.2. O Enunciado 47 das Turmas Recursais do Espírito Santo consagra orientação no sentido de que, para a aposentadoriapor invalidez e para o auxílio-doença concedidos na vigência da Lei 9.876/1999, o salário-de-benefício deve ser apuradocom base na média aritmética simples dos maiores salários-de-contribuição correspondentes a 80% do períodocontributivo, independentemente da data de filiação do segurado e do número de contribuições mensais no períodocontributivo, frisando que é ilegal o art. 32, § 20, do Decreto 3.048/1999, acrescentado pelo Decreto 5.545/2005.3. Logo, são passíveis de revisão todos os benefícios por incapacidade e pensões derivadas destes, assim como asprecedidas, com DIB a partir de 29/11/1999, em que, no Período Básico de Cálculo, tenham sido considerados 100% dossalários-de-contribuição. Verificado que, no caso concreto, o benefício do autor tem PBC de 100%, sem que tenham sidodesprezados os 20% menores salários, é evidente o prejuízo ao beneficiário, disto decorrendo o interesse de agir.4. A edição do Memorando 21/DIRBEN/PFE/INSS, de 15/04/2010 importou interrupção do curso do prazo prescricional(sem renúncia à prescrição já consumada), nos termos do art. 202, VI do Código Civil, pois a Administração Públicareconheceu publicamente a ilegalidade do cálculo adotado. Ajuizada a ação dentro do prazo de dois anos e meio (isto é, até15/10/2012), apenas estaria prescrita a pretensão de haver as parcelas anteriores ao quinquênio que antecedeu a ediçãodo Memorando. Entretanto, proposta a ação em 27/05/2013, estão prescritas as parcelas anteriores a 27/05/2008.III – JUROS E CORREÇÃO MONETÁRIAPara os pagamentos decorrentes de condenações em favor de segurados, a correção monetária segue os índices oficiais,desde a data em que devida cada parcela, e os juros da mora, de 1% ao mês, contam-se da citação (as alterações trazidasao art. 1º-F da Lei 9.494/1997 pelo art. 5º da Lei 11.960/2009 foram declaradas inconstitucionais por ocasião do julgamentoda ADI 4.357).IV – Recurso do INSS conhecido e provido em parte, para declarar prescrita a pretensão do autora quanto às parcelasanteriores a 27/05/2008. Sem condenação do réu ao pagamento de custas e de honorários, em razão do provimento parcialde seu recurso.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Juízes da 1ª Turma Recursal dos Juizados Especiais Federais daSeção Judiciária do Espírito Santo, CONHECER do recurso e, no mérito, DAR-LHE PARCIAL PROVIMENTO, na forma daementa constante dos autos, que passa a integrar o presente julgado.

IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTIJuiz Federal – 3º Juiz Relator

121 - 0100758-54.2012.4.02.5050/01 (2012.50.50.100758-0/01) (PROCESSO ELETRÔNICO) INSTITUTO NACIONAL DOSEGURO SOCIAL - INSS (PROCDOR: JOSÉ VICENTE SANTIAGO JUNQUEIRA.) x ELIAS ANDRE BELONI(ADVOGADO: ALICE DESTEFANI SALVADOR, ANDERSON MACOHIN, THIAGO HUVER DE JESUS.).RECURSO Nº 0100758-54.2012.4.02.5050/01 (2012.50.50.100758-0/01)RECORRENTE: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSSRECORRIDO: ELIAS ANDRE BELONIRELATOR: JUIZ FEDERAL IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTI

EMENTA

PREVIDENCIÁRIO. REVISÃO DE RENDA MENSAL DE BENEFÍCIO. ART. 29, II, DA LEI 8.213/1991. SENTENÇA DAAÇÃO CIVIL PÚBLICA Nº 2320-59.2012.403.6183. INTERESSE DE AGIR. ART. 515, § 3º, DO CPC. ENUNCIADO 47 DASTURMAS RECURSAIS DO ESPÍRITO SANTO. PEDIDO PROCEDENTE.I – CRONOGRAMA DE PAGAMENTO ESTABELECIDO NA AÇÃO CIVIL PÚBLICA Nº 2320-59.2012.403.6183:EXISTÊNCIA DE INTERESSE DE AGIR.1. O Memorando-Circular Conjunto 21/DIRBEN/PFEINSS, de 15/04/2010, e o Memorando-Circular 28/INSS/DIRBEN, de17/09/2010, apontavam em direção à pronta satisfação da pretensão dos segurados e pensionistas referente ao art. 29, II,da Lei 8.213/1991 na via administrativa, de modo que lhes faltava interesse processual para agir em juízo. A diretriz contidanos dois Memorandos foi superada pela homologação judicial de acordo na Ação Civil Pública 2320-59.2012.403.6183,instituindo escalonamento de até dez anos para a revisão dos benefícios e pagamento dos atrasados. Conseqüentemente,se alguém pleitear a revisão referente ao art. 29, II, da Lei 8.213/1991 na via administrativa, o INSS necessariamenteresponderá que o pleito será atendido conforme o cronograma homologado: a depender da idade do requerente, domontante a receber, e da (in)existência de urgência, o pagamento poderá ocorrer apenas em 2022.2. Em regra, a sentença proferida em Ação Civil Pública, seja de procedência, seja de improcedência, faz coisa julgada ergaomnes, exceto se a improcedência decorrer de falta de provas (art. 16 da Lei 7.347/1985). Entretanto, em se tratando dedireitos individuais homogêneos, a sentença em ação coletiva (mesmo em matéria não relativa a Direito do Consumidor)apenas fará coisa julgada erga omnes no caso de procedência do pedido (art. 103, III, da Lei 8.078/1990 c/c art. 21 da Lei7.347/1985), excluída, portanto, a transação. Por mais razoável que seja o cronograma de pagamento estabelecido em

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acordo firmado entre o MPF e o INSS, aqueles que se sentirem prejudicados não estão a ele vinculados.3. Absolutamente dispensável o prévio requerimento administrativo, uma vez que o INSS indeferirá o pleito de revisão epagamento imediatos. Evidente o interesse de agir em juízo, para obter a revisão do benefício e o imediato pagamento dasdiferenças sem sujeição ao cronograma estabelecido em Ação Civil Pública, sem que isso represente ofensa ao art. 5º,XXXV da CRFB ou aos arts. 3º e 267, VI do CPC.II – ART. 29, II, DA LEI 8.213/1991. PROCEDÊNCIA DO PEDIDO.1. O art. 3º da Lei 9.876/1999 (“Para o segurado filiado à Previdência Social até o dia anterior à data de publicação destaLei, que vier a cumprir as condições exigidas para a concessão dos benefícios do Regime Geral da Previdência Social, nocálculo do salário-de-benefício será considerada a média aritmética simples dos maiores salários-de-contribuição,correspondentes a, no mínimo, oitenta por cento de todo o período contributivo decorrido desde a competência julho de1994, observado o disposto nos incisos I e II do § 6º, do art. 29, da Lei nº 8.213/91, com a redação dada por esta Lei.”) éregra de transição para os segurados já filiados ao RGPS à época de sua entrada em vigor, a determinar, para a apuraçãodo cálculo do salário-de-benefício, seja considerada a média aritmética simples dos maiores salários-de-contribuição,correspondentes a, no mínimo, 80% de todo o período contributivo decorrido desde a competência julho/94, observado odisposto nos incisos I e II do caput do art. 29 da Lei 8.213/1991. Assim, apurada a mencionada média, deveria incidir umdivisor, correspondente a um percentual (nunca inferior a 60%) sobre o número de meses compreendidos entre julho/94 e adata do requerimento.2. O Enunciado 47 das Turmas Recursais do Espírito Santo consagra orientação no sentido de que, para a aposentadoriapor invalidez e para o auxílio-doença concedidos na vigência da Lei 9.876/1999, o salário-de-benefício deve ser apuradocom base na média aritmética simples dos maiores salários-de-contribuição correspondentes a 80% do períodocontributivo, independentemente da data de filiação do segurado e do número de contribuições mensais no períodocontributivo, frisando que é ilegal o art. 32, § 20, do Decreto 3.048/1999, acrescentado pelo Decreto 5.545/2005.3. Logo, são passíveis de revisão todos os benefícios por incapacidade e pensões derivadas destes, assim como asprecedidas, com DIB a partir de 29/11/1999, em que, no Período Básico de Cálculo, tenham sido considerados 100% dossalários-de-contribuição. Verificado que, no caso concreto, o benefício do autor tem PBC de 100%, sem que tenham sidodesprezados os 20% menores salários, é evidente o prejuízo ao beneficiário, disto decorrendo o interesse de agir.4. A edição do Memorando 21/DIRBEN/PFE/INSS, de 15/04/2010 importou interrupção do curso do prazo prescricional(sem renúncia à prescrição já consumada), nos termos do art. 202, VI do Código Civil, pois a Administração Públicareconheceu publicamente a ilegalidade do cálculo adotado. Ajuizada a ação dentro do prazo de dois anos e meio (isto é, até15/10/2012), apenas estaria prescrita a pretensão de haver as parcelas anteriores ao qüinqüênio que antecedeu a ediçãodo Memorando. Entretanto, proposta a ação em 05/12/2012, estão prescritas as parcelas anteriores a 05/12/2007.III – Recurso do INSS conhecido e provido em parte, para declarar prescrita a pretensão do autor quanto às parcelasanteriores a 05/12/2007. Sem condenação do réu ao pagamento de custas e de honorários, em razão do provimento parcialde seu recurso.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Juízes da 1ª Turma Recursal dos Juizados Especiais Federais daSeção Judiciária do Espírito Santo, CONHECER do recurso e, no mérito, DAR-LHE PARCIAL PROVIMENTO, na forma daementa constante dos autos, que passa a integrar o presente julgado.

IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTIJuiz Federal – 3º Juiz Relator

122 - 0100548-66.2013.4.02.5050/01 (2013.50.50.100548-3/01) (PROCESSO ELETRÔNICO) INSTITUTO NACIONAL DOSEGURO SOCIAL - INSS (PROCDOR: JOSÉ VICENTE SANTIAGO JUNQUEIRA.) x ALEX SANDRO DE MELLO(ADVOGADO: CARLOS BERKENBROCK, RODRIGO FIGUEIREDO, SAYLES RODRIGO SCHUTZ.).RECURSO Nº 0100548-66.2013.4.02.5050/01 (2013.50.50.100548-3/01)RECORRENTE: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSSRECORRIDO: ALEX SANDRO DE MELLORELATOR: JUIZ FEDERAL IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTI

EMENTA

PREVIDENCIÁRIO. REVISÃO DE RENDA MENSAL DE BENEFÍCIO. ART. 29, II, DA LEI 8.213/1991. SENTENÇA DAAÇÃO CIVIL PÚBLICA Nº 2320-59.2012.403.6183. INTERESSE DE AGIR. ART. 515, § 3º, DO CPC. ENUNCIADO 47 DASTURMAS RECURSAIS DO ESPÍRITO SANTO. PEDIDO PROCEDENTE.I – CRONOGRAMA DE PAGAMENTO ESTABELECIDO NA AÇÃO CIVIL PÚBLICA Nº 2320-59.2012.403.6183:EXISTÊNCIA DE INTERESSE DE AGIR.1. O Memorando-Circular Conjunto 21/DIRBEN/PFEINSS, de 15/04/2010, e o Memorando-Circular 28/INSS/DIRBEN, de17/09/2010, apontavam em direção à pronta satisfação da pretensão dos segurados e pensionistas referente ao art. 29, II,da Lei 8.213/1991 na via administrativa, de modo que lhes faltava interesse processual para agir em juízo. A diretriz contidanos dois Memorandos foi superada pela homologação judicial de acordo na Ação Civil Pública 2320-59.2012.403.6183,instituindo escalonamento de até dez anos para a revisão dos benefícios e pagamento dos atrasados. Conseqüentemente,se alguém pleitear a revisão referente ao art. 29, II, da Lei 8.213/1991 na via administrativa, o INSS necessariamenteresponderá que o pleito será atendido conforme o cronograma homologado: a depender da idade do requerente, do

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montante a receber, e da (in)existência de urgência, o pagamento poderá ocorrer apenas em 2022.2. Em regra, a sentença proferida em Ação Civil Pública, seja de procedência, seja de improcedência, faz coisa julgada ergaomnes, exceto se a improcedência decorrer de falta de provas (art. 16 da Lei 7.347/1985). Entretanto, em se tratando dedireitos individuais homogêneos, a sentença em ação coletiva (mesmo em matéria não relativa a Direito do Consumidor)apenas fará coisa julgada erga omnes no caso de procedência do pedido (art. 103, III, da Lei 8.078/1990 c/c art. 21 da Lei7.347/1985), excluída, portanto, a transação. Por mais razoável que seja o cronograma de pagamento estabelecido emacordo firmado entre o MPF e o INSS, aqueles que se sentirem prejudicados não estão a ele vinculados.3. Absolutamente dispensável o prévio requerimento administrativo, uma vez que o INSS indeferirá o pleito de revisão epagamento imediatos. Evidente o interesse de agir em juízo, para obter a revisão do benefício e o imediato pagamento dasdiferenças sem sujeição ao cronograma estabelecido em Ação Civil Pública, ainda que o pagamento, como ocorre nahipótese, esteja agendado para maio de 2017, sem que isso represente ofensa ao art. 5º, XXXV da CRFB ou aos arts. 3º e267, VI do CPC.II – ART. 29, II, DA LEI 8.213/1991. PROCEDÊNCIA DO PEDIDO.1. O art. 3º da Lei 9.876/1999 (“Para o segurado filiado à Previdência Social até o dia anterior à data de publicação destaLei, que vier a cumprir as condições exigidas para a concessão dos benefícios do Regime Geral da Previdência Social, nocálculo do salário-de-benefício será considerada a média aritmética simples dos maiores salários-de-contribuição,correspondentes a, no mínimo, oitenta por cento de todo o período contributivo decorrido desde a competência julho de1994, observado o disposto nos incisos I e II do § 6º, do art. 29, da Lei nº 8.213/91, com a redação dada por esta Lei.”) éregra de transição para os segurados já filiados ao RGPS à época de sua entrada em vigor, a determinar, para a apuraçãodo cálculo do salário-de-benefício, seja considerada a média aritmética simples dos maiores salários-de-contribuição,correspondentes a, no mínimo, 80% de todo o período contributivo decorrido desde a competência julho/94, observado odisposto nos incisos I e II do caput do art. 29 da Lei 8.213/1991. Assim, apurada a mencionada média, deveria incidir umdivisor, correspondente a um percentual (nunca inferior a 60%) sobre o número de meses compreendidos entre julho/94 e adata do requerimento.2. O Enunciado 47 das Turmas Recursais do Espírito Santo consagra orientação no sentido de que, para a aposentadoriapor invalidez e para o auxílio-doença concedidos na vigência da Lei 9.876/1999, o salário-de-benefício deve ser apuradocom base na média aritmética simples dos maiores salários-de-contribuição correspondentes a 80% do períodocontributivo, independentemente da data de filiação do segurado e do número de contribuições mensais no períodocontributivo, frisando que é ilegal o art. 32, § 20, do Decreto 3.048/1999, acrescentado pelo Decreto 5.545/2005.3. Logo, são passíveis de revisão todos os benefícios por incapacidade e pensões derivadas destes, assim como asprecedidas, com DIB a partir de 29/11/1999, em que, no Período Básico de Cálculo, tenham sido considerados 100% dossalários-de-contribuição. Verificado que, no caso concreto, o benefício do autor tem PBC de 100%, sem que tenham sidodesprezados os 20% menores salários, é evidente o prejuízo ao beneficiário, disto decorrendo o interesse de agir. A revisãodo benefício em âmbito administrativo não retira o interesse do autor em prosseguir na demanda, pois ainda pendem depagamento as parcelas atrasadas decorrentes da revisão.4. A edição do Memorando 21/DIRBEN/PFE/INSS, de 15/04/2010 importou interrupção do curso do prazo prescricional(sem renúncia à prescrição já consumada), nos termos do art. 202, VI do Código Civil, pois a Administração Públicareconheceu publicamente a ilegalidade do cálculo adotado. Ajuizada a ação dentro do prazo de dois anos e meio (isto é, até15/10/2012), apenas estaria prescrita a pretensão de haver as parcelas anteriores ao qüinqüênio que antecedeu a ediçãodo Memorando. Entretanto, proposta a ação em 09/02/2013, estão prescritas as parcelas anteriores a 09/02/2008.III – Recurso do INSS conhecido e provido em parte, para declarar prescrita a pretensão do autor quanto às parcelasanteriores a 09/02/2008. Sem condenação do réu ao pagamento de custas e de honorários, em razão do provimento parcialde seu recurso.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Juízes da 1ª Turma Recursal dos Juizados Especiais Federais daSeção Judiciária do Espírito Santo, CONHECER do recurso e, no mérito, DAR-LHE PARCIAL PROVIMENTO, na forma daementa constante dos autos, que passa a integrar o presente julgado.

IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTIJuiz Federal – 3º Juiz Relator

123 - 0000659-67.2012.4.02.5053/02 (2012.50.53.000659-3/02) (PROCESSO ELETRÔNICO) INSTITUTO NACIONAL DOSEGURO SOCIAL - INSS (PROCDOR: RODRIGO COSTA BUARQUE.) x ARLETE CAO LUIZ (ADVOGADO: MARIZAGIACOMIN LOZER.) x OS MESMOS.RECURSO Nº 0000659-67.2012.4.02.5053/02 (2012.50.53.000659-3/02)RECORRENTES: ARLETE CAO LUIZ E INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSSRECORRIDOS: OS MESMOSRELATOR: JUIZ FEDERAL IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTI

EMENTA

PREVIDENCIÁRIO. REVISÃO DE RENDA MENSAL DE BENEFÍCIO. ART. 29, II, DA LEI 8.213/1991. SENTENÇA DAAÇÃO CIVIL PÚBLICA Nº 2320-59.2012.403.6183. INTERESSE DE AGIR. ART. 515, § 3º, DO CPC. ENUNCIADO 47 DASTURMAS RECURSAIS DO ESPÍRITO SANTO. PEDIDO PROCEDENTE.

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I – CRONOGRAMA DE PAGAMENTO ESTABELECIDO NA AÇÃO CIVIL PÚBLICA Nº 2320-59.2012.403.6183:EXISTÊNCIA DE INTERESSE DE AGIR.1. O Memorando-Circular Conjunto 21/DIRBEN/PFEINSS, de 15/04/2010, e o Memorando-Circular 28/INSS/DIRBEN, de17/09/2010, apontavam em direção à pronta satisfação da pretensão dos segurados e pensionistas referente ao art. 29, II,da Lei 8.213/1991 na via administrativa, de modo que lhes faltava interesse processual para agir em juízo. A diretriz contidanos dois Memorandos foi superada pela homologação judicial de acordo na Ação Civil Pública 2320-59.2012.403.6183,instituindo escalonamento de até dez anos para a revisão dos benefícios e pagamento dos atrasados. Conseqüentemente,se alguém pleitear a revisão referente ao art. 29, II, da Lei 8.213/1991 na via administrativa, o INSS necessariamenteresponderá que o pleito será atendido conforme o cronograma homologado: a depender da idade do requerente, domontante a receber, e da (in)existência de urgência, o pagamento poderá ocorrer apenas em 2022.2. Em regra, a sentença proferida em Ação Civil Pública, seja de procedência, seja de improcedência, faz coisa julgada ergaomnes, exceto se a improcedência decorrer de falta de provas (art. 16 da Lei 7.347/1985). Entretanto, em se tratando dedireitos individuais homogêneos, a sentença em ação coletiva (mesmo em matéria não relativa a Direito do Consumidor)apenas fará coisa julgada erga omnes no caso de procedência do pedido (art. 103, III, da Lei 8.078/1990 c/c art. 21 da Lei7.347/1985), excluída, portanto, a transação. Por mais razoável que seja o cronograma de pagamento estabelecido emacordo firmado entre o MPF e o INSS, aqueles que se sentirem prejudicados não estão a ele vinculados.3. Absolutamente dispensável o prévio requerimento administrativo, uma vez que o INSS indeferirá o pleito de revisão epagamento imediatos. Evidente o interesse de agir em juízo, para obter a revisão do benefício e o imediato pagamento dasdiferenças sem sujeição ao cronograma estabelecido em Ação Civil Pública, sem que isso configure ofensa aos arts. 5º,XXXV, e 250 da CRFB; arts. 103 e 104 da Lei 8.078/1990 c/c art. 543-C do CPC; art. 127 da CRFB c/c art. 21 da Lei7.347/1985 e arts. 81, III, e 82 da Lei 8.078/1990 e arts. 3º e 267, VI, do CPC.II – ART. 29, II, DA LEI 8.213/1991. PROCEDÊNCIA DO PEDIDO.1. O art. 3º da Lei 9.876/1999 (“Para o segurado filiado à Previdência Social até o dia anterior à data de publicação destaLei, que vier a cumprir as condições exigidas para a concessão dos benefícios do Regime Geral da Previdência Social, nocálculo do salário-de-benefício será considerada a média aritmética simples dos maiores salários-de-contribuição,correspondentes a, no mínimo, oitenta por cento de todo o período contributivo decorrido desde a competência julho de1994, observado o disposto nos incisos I e II do § 6º, do art. 29, da Lei nº 8.213/91, com a redação dada por esta Lei.”) éregra de transição para os segurados já filiados ao RGPS à época de sua entrada em vigor, a determinar, para a apuraçãodo cálculo do salário-de-benefício, seja considerada a média aritmética simples dos maiores salários-de-contribuição,correspondentes a, no mínimo, 80% de todo o período contributivo decorrido desde a competência julho/94, observado odisposto nos incisos I e II do caput do art. 29 da Lei 8.213/1991. Assim, apurada a mencionada média, deveria incidir umdivisor, correspondente a um percentual (nunca inferior a 60%) sobre o número de meses compreendidos entre julho/94 e adata do requerimento.2. O Enunciado 47 das Turmas Recursais do Espírito Santo consagra orientação no sentido de que, para a aposentadoriapor invalidez e para o auxílio-doença concedidos na vigência da Lei 9.876/1999, o salário-de-benefício deve ser apuradocom base na média aritmética simples dos maiores salários-de-contribuição correspondentes a 80% do períodocontributivo, independentemente da data de filiação do segurado e do número de contribuições mensais no períodocontributivo, frisando que é ilegal o art. 32, § 20, do Decreto 3.048/1999, acrescentado pelo Decreto 5.545/2005.3. Logo, são passíveis de revisão todos os benefícios por incapacidade e pensões derivadas destes, assim como asprecedidas, com DIB a partir de 29/11/1999, em que, no Período Básico de Cálculo, tenham sido considerados 100% dossalários-de-contribuição. Verificado que, no caso concreto, o benefício do autor tem PBC de 100%, sem que tenham sidodesprezados os 20% menores salários, é evidente o prejuízo ao beneficiário, disto decorrendo o interesse de agir.4. A edição do Memorando 21/DIRBEN/PFE/INSS, de 15/04/2010 importou interrupção do curso do prazo prescricional(sem renúncia à prescrição já consumada), nos termos do art. 202, VI do Código Civil, pois a Administração Públicareconheceu publicamente a ilegalidade do cálculo adotado. Ajuizada a ação dentro do prazo de dois anos e meio (isto é, até15/10/2012), apenas estará prescrita a pretensão de haver as parcelas anteriores ao quinquênio que antecedeu a edição doMemorando. Proposta a demanda em 15/06/2012, encontra-se prescrita somente a pretensão referente às prestaçõesanteriores a 15/04/2005.III – Recursos conhecidos, provido o da autora e desprovido o do INSS. Custas isentas, nos termos do art. 4º, I, da Lei9.289/1996. Condenação do INSS ao pagamento de honorários advocatícios de 10% sobre o valor do principal.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Juízes da 1ª Turma Recursal dos Juizados Especiais Federais daSeção Judiciária do Espírito Santo, CONHECER dos recursos e, no mérito, DAR PROVIMENTO ao recurso da autora eNEGAR PROVIMENTO ao recurso do INSS, na forma da ementa constante dos autos, que passa a integrar o presentejulgado.

IORIO SIQUEIRA D’ALESSANDRI FORTIJuiz Federal – 3º Juiz Relator

Acolher os embargosTotal 8 : Anular a sentença e julgar prejudicado o recursoTotal 1 : Conceder o mandado de segurançaTotal 1 : Dar parcial provimentoTotal 16 :

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Dar provimentoTotal 26 : Dar provimento ao rec. do autor e negar o do réuTotal 3 : Dar provimento ao rec. do réu e negar o do autorTotal 1 : Denegar o mandado de segurançaTotal 3 : Extinguir o processo sem resolução de méritoTotal 1 : Negar provimentoTotal 59 : Rejeitar os embargosTotal 4 :