20
Fórum Macua 2008/04/24 Fórum Macua Director: Paulo Pires-Teixeira 2008.Abril.24 Nº. 1 QUINZENÁRIO BOM DIA MACUAS! Crianças do Marrere [email protected] Jornal dirigido para as comunidades de Niassa, Cabo Delgado e Nampula, espalhadas pelo mundo

BOM DIA MACUAS! - macua.blogs.commacua.blogs.com/moambique_para_todos/files/...forum_macua_24042008.pdf · 24/04/2008 · para partilhar a candura dos anjos, como a Paulinha Correia

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: BOM DIA MACUAS! - macua.blogs.commacua.blogs.com/moambique_para_todos/files/...forum_macua_24042008.pdf · 24/04/2008 · para partilhar a candura dos anjos, como a Paulinha Correia

Fórum Macua2008/04/24

Fóru

m M

acua

Director:Paulo Pires-Teixeira

2008.Abril.24Nº. 1

QUINZENÁRIO

BOM DIAMACUAS!

Crianças do Marrere

[email protected]

Jornal dirigido paraas comunidades de

Niassa,Cabo Delgado e

Nampula,espalhadaspelo mundo

Page 2: BOM DIA MACUAS! - macua.blogs.commacua.blogs.com/moambique_para_todos/files/...forum_macua_24042008.pdf · 24/04/2008 · para partilhar a candura dos anjos, como a Paulinha Correia

Fórum Macua 2008/04/24

vivências de áfrica

Depois do adeus...o regresso

2

Há um povo que nos recebe de braços abertos, na sua inconfundívelhumildade e generosidade, que começa pelas autoridades locais

No Lumbo, quando aguardava a chegada de Cavaco Silva, ao lado dosRégulos, Fumos, Secretários e Cabos, figuras representativas do poderpopular. Os primeiros dois ao meu lado, pelas 3 estrelas das divisas, sãoRégulos, entidades “monárquicas” tendo em conta a sucessão familiar.

PauloPires-Teixeira

o sobrevoar Nampula, no derradeiro adeus à minha terra,as lágrimas iluminaram-me o rosto para recordações que seperfilaram numa angustiante saudade. Saber ou não seregressaria, era prematuro, mas fiquei por lá na vã desforra dasmemórias, onde muitos amigos me rodeavam, como o Jinho,oJoca, o Álvaro, a Né, o Manuel Fernando, a Ana Maria, a Anabelae a Zulmira, o Manecas, entre outros, sem saber se voltaria aoconforto das nossas amizades, e até alguns que cedo partirampara partilhar a candura dos anjos, como a Paulinha CorreiaMendes, uma menina que nasceu pródiga em generosidade eelegância de carácter, o Rogério Queirós, que uma hora antes dasua morte estreou o encosto da minha motorizada na Chocas, eo “Fujeta” (Cardoso), numa estúpida morte de atropelamentodepois de saborearmos a sombra de uma mangueira antes do“Rex”.

Mas parti, partimos, no embaraço de um adeus apressado, naconvicção de um tempo inglório percorrido com lutas, sacrifíciose muito, muito trabalho. Mas abandonei estes imperativos enaveguei pelos momentos de felicidade e alegria, de aventuras eloucuras, de viagens e contratempos, enfim, pretendi acumularna minha alma todas as razões que justificaram as grandespaixões que me prenderam a áfrica, esta terra que não se prevê,mas que se revê de forma viva e atropelante no nosso quotidianoe na nossa consciência.

Partimos, sem bilhete de regresso.Mas regressei, com um bilhete custeado por um tempo de

lágrimas, saudades e ausências.Cheguei, ao invés de como parti, sem a companhia dos meus

pais e irmãos, mas com a pessoa que amo e com quem decidipartilhar a terra que adoro.

Deixei em Portugal, no corredor das partidas daquele aeroporto,abraços apertados aos meus irmãos, à mãe da minha filha, aquem lhe pedi para cuidar da nossa “menina”, e abraçosdemorados à minha sagrada mãe e à minha filha, a Ana, a maiorde todas as minhas paixões e razões. Desta vez chorei, muito,porque de repente, apoderou-se de mim uma angustiante e terrívelsensação de um adeus indefenido, de um adeus até nunca. MeuDeus! O que se passa na minha vida? Perdi uma vez, vou perderoutra vez? E logo as pessoas da minha vida? Foi difícil controlar-me apesar da minha mulher exercer todas as fórmulas de confortoe apoio.

Já no avião, sobrevoámos Lisboa já de noite e, como a minhamulher disse, «olha as luzes da cidade, parecem estar a oferecer-nos um quadro de magia, numa mensagem de adeus eesperança».

Depois do adeus, regressei, com a coragem do gesto nabagagem e algumas incertezas.

Aqui estou, feliz, com quem amo, na terra que prometi abraçare que foi berço do meu mundo de fantasias, de realidades, desonhos, de mim.

ASentido um friozinho no estômago, mãos suadas e de lágrimas

nos olhos. Lá fui eu pensando se um dia me iria arrepender, maspensei, que se um dia tal acontecer, tudo teria valido a pena, pois viLisboa como nunca a vi; toda ela se iluminava com uma cor cintilante,como se sentisse que de uma despedida se tratava… e foi.

Depois de 12 horas de ansiedade, cheguei a Maputo, uma“mukunha” entre muitos outros que possivelmente estariam a visitarou a voltar às suas raízes.

Chovia, mas como diz a Paulo “Abaixo os chapéus que a chuva édo povo”, olhamo-nos nos olhos com profundidade, como se eletentasse arrebatar no mais íntimo dos íntimos algum pensamento.E conseguiu!

Alguém disse: - Patrão, está ali o machibombo.Mas ele sugeriu um baptismo, por terras de África, que um dia

foram suas e de muitos outros que tantos a amaram.Com uma chuva tão quente a escorrer pelo rosto, que ao mesmo

tempo faziam sentir-nos tão relaxados, encaminhamo-nos para aeurogare, e por breves momentos fiz uma retrospectiva da minhavida, de tudo o que deixei em Portugal; a família, amigos, momentosde alegria e de dor, e olhei para o céu como forma de agradecimentoà minha mãe, que deixei sulpultada na sua terra natal, mas sei queonde eu estiver ela estará comigo.

E fomos correndo, correndo em direcção à eurogare como se deum templo de felicidade se tratasse, e encontramos o Jinho Charasde sorriso rasgado por reencontrar o seu amigo e confidente. Eque abraço tão forte que eles deram! Até eu própria senti, essemesmo abraço.

A preocupação do Paulo era apresentar a cidade ao maispormenor, e lá fomos nós numa carrinha de três lugares de caixaaberta, conhecê-la. Mas o sentimento de alegria apoderou-se doJinho que não sabia o que fazer. Senti que ele seria também umviajante por terras desconhecidas. Em vez de levar-me paraconhecer a bonita cidade de Maputo, levou-me para as periferiasonde tudo é, como devem imaginar.

A preocupação invadia cada vez mais o Paulo, e quando eu olhavanos seus olhos, ele só sabia dizer “Isto é a parte menos boa, omelhor ainda está para vir”, e eu, com um sorriso, abanava a cabeçaafirmativamente. Não posso dizer que não chocou, porque sim emuito, mas era o que eu já imaginava, depois de tantas conversascom ele. Mas no meu mais íntimo só desejava que Nampula nãofosse assim.

Depois de tantas voltas lá conseguimos que o Jinho nosconduzisse ao coração da cidade. E que cidade! Afinal o Paulotinha razão.

Chegou o dia em que Nampula estaria mais próxima, com umaviagem de 4 horas, até ao destino, mas com paragem na Beira,que foi bom, pois deu para conhecer, mesmo dos céus, mais umacidade deste país de encantos.

A paragem foi curta, não tínhamos muito tempo para além de umcafé, um cigarrito e de namorar um pouquinho. Descemos do avião,e de repente, como se uma força me atraisse o olhar para o chão,algo se iluminava. Encontrei o que será para o resto das nossasvidas a moedinha da sorte; 2 meticais, a nossa mais fielcompanheira.

A ansiedade de conhecer Nampula era desmedida, era como seo tempo não passasse.

Dos céus avistei as famosas serras de que muitas vezes ouvifalar, entre muitas conversas do Paulo com os amigos; “Serra daMesa” e “Cabeça do Preto”, que nos dias de hoje chamam “Cabeçado Velho”, mas confesso que para mim de velho é que ela não temnada. Que serras tão lindas, dali de cima o meu primeiro pensamentofoi como se a cidade me enviasse uma explosão de terra comosendo um abraço de boas vindas.

Aterramos, nunca fiquei tão ansiosa por sair de um avião, queriaver tudo e todos de um só folgo. De mão dadas, lá fomos nós aoencontro de uma terra que para mim era desconhecida, mas para oPaulo era como uma magia de raiz.

Nampula, finalmente um encontro glorioso com gentes dóceis,afáveis, pobres mas humildes. Vejo todos os dias nos sorrisos dascrianças uma expressão afectuosa de boas vindas e a quemcarinhosamente me tratam por “tia”. É contagiante e gratificante.

Juntando todas estas gentes com uma cidade airosa, pacata,limpa e ordenada, a apresentação não poderia deixar de ser a melhorde todas.

Da minha varanda, todos os dias vislumbro um pôr-do-sol quepresenteia a cidade com um jogo de cores que... como se explica?Não se explica. África afinal é isto.

As minhas dúvidas de como seria Nampula,depois do que passei em Maputo desvanecerampor completo. Esta cidade é perfeita demais,mas tenho medo de não estar à altura desteencanto. Mas ela precisa de nós como nósprecisamos dela.

É esta a terra que o Paulo um dia meprometeu, e que eu quero fazer dela a minha.

Deambulando por África…

Bagagem deesperança

Susana Sofia Dias

Page 3: BOM DIA MACUAS! - macua.blogs.commacua.blogs.com/moambique_para_todos/files/...forum_macua_24042008.pdf · 24/04/2008 · para partilhar a candura dos anjos, como a Paulinha Correia

Fórum Macua2008/04/24

ÁfricaMinha

O presidente da República Portuguesa,Prof. Cavaco Silva visitou Moçambique de

24 a 26 de Março, reservando o últimodia para uma visita à sua primeira

capital, a Ilha de Moçambique,agora Património

Cultural daHumanidade.

3

Fotos: Paulo Pires Teixeira

Page 4: BOM DIA MACUAS! - macua.blogs.commacua.blogs.com/moambique_para_todos/files/...forum_macua_24042008.pdf · 24/04/2008 · para partilhar a candura dos anjos, como a Paulinha Correia

Fórum Macua 2008/04/24

cavaco silva na ilha de moçambique

Um

pre

side

nte

feliz

e um

pov

o ef

usiv

o

Paulo Pires-TeixeiraTextos e imagens

Depois de uma breve paragem em Nampula, onde foi recebido noaeroporto pelas autoridades locais, Cavaco Silva e a sua

comitiva, trocaram o avião da TAP por um Hércules C-130 militarcom destino ao Lumbo.

Ali, o casal Cavaco Silva, com uma nítida alegria, foi recebidocalorosa e efusivamente pelas populações do Lumbo e Ilha,

numa manifestação de boas-vindas que sensibilizou e denunciouo carinho que os moçambicanos nutrem pelos portugueses.

O povo da Ilha e do Lumbo, com bandeiras de Portugal e Moçambique,fez tudo para cumprimentar e tocar em Cavaco Silva

presença do Presidente da RepúblicaPortuguesa, Prof. Cavaco Silva, em Moçambique,numa visita de Estado que decorreu entre os dias24 e 26 de Março, pretendeu inaugurar um novociclo nas relações entre os dois paises, perfilando-se nesse âmbito diversos acordos de cooperaçãoaos mais diversos níveis, o relançamento dosinvestimentos portugueses, que nos últimos doisdecresceu cerca de 60%, beneficiando Angolacom esta deslocação de interesses, e aindaalguns apoios financeiros objectivos, designa-damente para o projecto de Vilas do Milénio(falaremos mais adiante), que será implementadono Lumbo e beneficiará também a Ilha de Mo-çambique.

Os primeiros dois dias de Cavaco Silva e dasua esposa, Maria Cavaco Silva, foram passadosem Maputo, sendo o último dirigido para a Ilha deMoçambique, a primeira capital daquela ex-província ultramarina, um estatuto perdido a fa-vor de Lourenço Marques, actual Maputo, em1897, sendo aqui recebido pelo Governador daProvíncia de Nampula, Felismino Tocosse, pelopresidente do Conselho Municipal da Ilha, Dr.Gulamo Mamudo, outras autoridades locais,Régulos, muitos dos quais do tempo português,representantes das comunidades portuguesa,muçulmana, maometana, holandesa e sul-africana, alunos dos diversos estabelecimentosde ensino e milhares de pessoas do povo macua,que não escondiam a sua viva alegria por teremali tão próximo o “soberano” português..

Aqui, o presidente português, que se faziaacompanhar dos Ministros dos Negócios Es-trangeiros, Luís Amado, e da Defesa Nacional,Nuno Severiano Teixeira e ainda do Secretáriode Estado dos Negócios Estrangeiros, JoãoGomes Cravinho, teve oportunidade para cum-primentar as multidões que durante toda a visitao aguardavam entusiasticamente; para presidir àcerimónia de apresentação do Programa NacionalVilas do Milénio, que decorreu no Hotel Omuhipiti,para visitar a fortaleza de S. Sebastião, defen-

dendo aqui «que o património construído por Por-tugal disperso pelo mundo, deverá ser encaradocomo um símbolo de aproximação entre portu-gueses e outras culturas»; e o Palácio de S. Paulo,que acusava os efeitos da passagem do cicloneJokwé ocorrido dez dias antes.

Comenda da Ordem doInfante D. Henrique para

João Ferreira dos Santos

Esta visita terminaria com um almoço naresidência do empresário João Ferreira dosSantos (falecido em 1957), uma ocasião que seriaaproveitada pelo magistrado português parahomenagear o trajecto daquela figura e dos seuspercursores em Moçambique, na figura do seufilho, também de nome João Ferreira dos Santos,com a atribuição da Comenda da Ordem doInfante D. Henrique. De salientar ainda a presençanesta cerimónia dos netos do patriarca destafamília.

O Hércules C-130 da Força Aérea Portuguesaregressaria a Nampula com a comitiva presi-dencial, também composta por mais de duasdezenas de jornalistas, para fazer escala rumo aMaputo.

A visita de Cavaco Silva, pelas reacções quese sucederam nas semanas seguintes, a partirde diversas sensibilidades da sociedade mo-çambicana, provaram a grande cumplicidade en-tre as duas culturas, o mútuo respeito e carinhodos povos, onde a história comum do passado,como afirmou Cavaco Silva, deverá ser entendidae interpretada pelos seus melhores momentos enão pelos piores.

Mas é no povo que se busca o melhor sem-blante para traduzir os fortes laços que unemmoçambicanos e portugueses. E as mani-festações, essas foram agradavel e orgulho-samente evidentes.

FOTO PAULO PIRES TEIXEIRA

A

‘4

Page 5: BOM DIA MACUAS! - macua.blogs.commacua.blogs.com/moambique_para_todos/files/...forum_macua_24042008.pdf · 24/04/2008 · para partilhar a candura dos anjos, como a Paulinha Correia

Fórum Macua2008/04/24

Olhos nos olhos...Visitas deChefes do

EstadoPortuguês à

Ilha

Visitas deChefes do

EstadoPortuguês à

Ilha

1907, AgostoD. LuisFilipe,Príncipe daBeira, filhode D. CarlosI, com 20anos, visitoua Ilha de

Moçambique em Agosto de1907, a bordo no navio“África”. Seria assassinadoem Lisboa poucos mesesdepois, a 1 de Fevereiro doano seguinte.

1939OMarechalÓscarFragosoCarmona,seria noregime daRepública

o primeiro presidenteportuguês a visitar a Ilha.

1956, AgostoMarechalFranciscoHiginoCraveiroLopes

memória

1964, Agosto,5AlmiranteAmérico deJesusRodriguesTomás

1980 1994

GeneralAntónio dosSantosRamalho Eanes

Dr. MárioAlbertoNobre LopesSoares

cavaco silva na ilha de moçambique

O adeus final em Nampula

Foto Gabinete de Imprensa daPresidência da República

Chegada ao Lumbo do HérculesC-130 que transportava Cavaco

Silva e a Comitiva

Aerogare do Lumbo

Uma macua com m’sirono rosto cumprimenta Cavaco

O carinhoespecial de Maria

Cavaco Silva

«Estás bonita, Maria»

Bandeiras moçambicanas e portuguesasselaram este histórico encontro

Na fortaleza deS. Sebastião

À saída do Palácio de S. Paulo

«A história não se apaganem a língua com quenos entendemos»

5

Page 6: BOM DIA MACUAS! - macua.blogs.commacua.blogs.com/moambique_para_todos/files/...forum_macua_24042008.pdf · 24/04/2008 · para partilhar a candura dos anjos, como a Paulinha Correia

Fórum Macua 2008/04/24

cavaco silva na ilha de moçambique

Nossagente

É no entusiasmo e naalegria dos encontros ereencontros, que va-mos descobrindo osvalores da história dospovos, de feridas ci-catrizadas e memóriasaliviadas por conta delaços inquebrantáveismarcados pelo tempo,de sinais de frater-nidade e gestos trans-formados em rituais deamizade.O povo moçambicano édócil, modesto, franco,afável e de família.Entre eles respira-se a mais nobre expressão de simplicidade, hospitalidadee uma simpatia inimitável.Grande povo este, que vergado por tantos séculos de incontinência dos seusimperativos, soube, na azáfama de um processo sofrido até às profundezasde inconfessáveis dores, afirmar-se na sua cidadania com uma notáveldignidade e responder com a grandeza de um abraço, daqueles únicos queexperimentamos com os nossos pais, filhos e irmãos.

6

Fotos: Paulo Pires Teixeira

Page 7: BOM DIA MACUAS! - macua.blogs.commacua.blogs.com/moambique_para_todos/files/...forum_macua_24042008.pdf · 24/04/2008 · para partilhar a candura dos anjos, como a Paulinha Correia

Fórum Macua2008/04/24

cavaco silva na ilha de moçambique

Projecto deesperançapara a Ilha eLumbo

VILA D

O MILÉ

NIO

Estado Português financia projectocom 1.750 milhões de dólaresO Programa Vilas do Milénio, concebido peloMinistério da Ciência e Tecnologia deMoçambique em parceria com o Programadas Nações Unidas para o Desenvolvimento(PNUD), tem por objectivo, de forma graduale dirigida para algumas regiões, odesenvolvimento rural, a erradicação

absoluta da pobreza ecriação de condiçõesde bem-estar para aspopulações, atravésde diversificadasacções einvestimentos.Portugal, no caso daVila do Milénio doLumbo, vai financiareste Programa com

A cerimónia de apresentaçãodeste Programa dirigido para oLumbo e Ilha de Moçambique,que decorreu no passado dia26 de Março, no Hotel Omu-hipiti na Ilha, no âmbito da visitado Presidente da RepúblicaPortuguês, Cavaco Silva, con-tou ainda com as presençasdos Ministros do Turismo deMoçambique, dos NegóciosEstrangeiros e da Defesa e doSecretário de Estado dos Ne-gócios Estrangeiros de Portu-gal, do Embaixador de Portu-gal em Moçambique, do Go-vernador da Província de Nam-pula, do presidente do Conse-lho Municipal da Ilha, e aindade diversas autoridades locais.

O objectivo do programa,orçado em um milhão e 750 mildólares (um milhão e cem mileuros), financiado na íntegrapor Portugal e que será de-senvolvido nos próximos cincoanos, com tranches de 350 mildólares por ano, foi sintetizadopela coordenadora moçambi-cana do programa Vilas doMilénio, Drª. Fátima Punga, epassa pela implementação dediversas acções, designada-mente em estudos sócio-económicos, investimentos nasaúde, educação, água esaneamento, campanhas deprevenção e luta conta a Sida,Malária, Cólera, entre outrasdoenças, apoios à agriculturae a actividades geradoras derendimento. No fundo, preten-de-se que a aplicação destesinvestimentos no Lumbo, con-tribuam para a deslocação depopulações na sobrelotadaIlha de Moçambique para ali,viabilizando a aplicação deoutros programas na Ilha, no-meadamente para reabilitaçãodo património histórico, criaçãode infraestruturas básicas, etc.

De salientar ainda, que o

Estado Português, nas pala-vras do Secretário de Estadodos Negócios Estrangeiros,José Gomes Cravinho, anun-ciou nesta cerimónia o lança-mento de um programa a vi-gorar por dois anos, com aatribuição de um milhão e 500mil dólares (950 mil euros),disponibilizada pela agênciadas Nações Unidas para oDesenvolvimento Industrial(UNIDO), para o apoio a pe-quenas e médias empresas ecriação de postos de trabalho.

A Ilha de Moçambique,dividida entre a cidade de“pedra e cal”, onde se encon-tram os edifícios maioritaria-mente de origem portuguesa,e a cidade de “macuti”, bairroindígena na sua maioria cons-tituída por palhotas, acusamum estado avançado de de-gradação arrepiante. Doscerca de 450 edifícios nacidade de “pedra e cal”, cercade 400 estão em ruínas. Nasrestantes 50, algumas nãopreenchem as condições mí-nimas de habitabilidade. Ape-sar dos apelos das autorida-des locais para a sua reabi-litação, a verdade é que amaioria dos moradores nãopossui condições financeiraspara se aventurarem nessesobjectivos, nem tão poucoencontram apoios ou a pos-sibilidade de recorrer a fundosperdidos ou sistemas de cré-dito bonificado, porque sim-plesmente não existem. Ecumprir com os critérios arqui-tectónicos exigidos para aque-le vasto património, numaperspectiva de salvaguarda datraça original dos edifícios, éampliar ainda mais os custos.

Os próximos anos serão de-terminantes para que estePatrimónio da Humanidadeassuma a dignidade merecida.

Pormenor do que sobra do velho cais do Lumbo,vendo-se ao fundo a Ilha de Moçambique

1.750 milhões dedólares.

O casal Cavaco Silva, tendo ao lado o Governador da Província de Nampula, FelisminoTocosse e a esposa e na ponta esquerda, o presidente do município da Ilha, Gulamo

Mamude, durante a apresentação do Programa Vila do Milénio

7

Foto: Paulo Pires Teixeira

Foto: Paulo Pires Teixeira

Foto: Paulo Pires Teixeira

Page 8: BOM DIA MACUAS! - macua.blogs.commacua.blogs.com/moambique_para_todos/files/...forum_macua_24042008.pdf · 24/04/2008 · para partilhar a candura dos anjos, como a Paulinha Correia

Fórum Macua 2008/04/24

COM O APOIO DO JAPÃO E PORTUGAL

Adjudicada 1ª. fase de reabilitação daFortaleza de S. Sebastião

NA SEQUÊNCIA DO CICLONE JOKWÉ QUE DEVASTOU A ILHA

ilha de moçambique

Bancos portugueses eEstado Português

deixam 410 mil eurosPormenor de

árvores caídasjunto à Escola

Secundária

O ciclone Jokwé que assolou a costa do norte deMoçambique, atingiu com gravidade na provínciade Nampula diversas localidades, desde Angocheaté à Ilha de Moçambique.

Na Ilha, centenas de árvores, das quais algumasseculares, não resistiram, entupindo a cidade,escolas e casas ficaram destruídas, barcos dani-ficados e também destruídos, e o Palácio de S.Paulo já debilitado na sua cobertura exige agorauma intervenção imediata.

Com a visita de Cavaco Silva à Ilha, o embaixadorde Portugal em Moçambique, José de Freitas Ferraz,sensível a este flagelo que atingiu centenas defamílias, desdobrou-se em esforços para conseguiralguns donativos.

O anúncio e entrega destes donativos decorreuaquando da visita ao alto magistrado português àIlha. Neste espírito de solidariedade, José Ferrazconseguiu 450 mil dólares do Ministro dosNegócios Estrangeiros Português, Luís Amado,que entregou em mãos ao Ministro do TurismoMoçambicano; 100 mil dólares do Millenium, dogrupo BCP; e outro tanto, pelo BCI, do grupo da

Caixa Geral de Depósitos, distribuído em 50 mil para aOikos e outros 50 para a Associação Amigos da Ilha deMoçambique.

O valor entregue ao Ministro de Turismo, destina-se aapoiar algumas reabilitações no património turístico, na

sequência dos prejuizos causados pelo ciclone,e os valores disponibilizados pelos dois bancos,para ajuda às famílias atingidas pela mesmatragédia.

O presidente do Conselho de Administração do MilleniumBIM em Moçambique, Dr. Nelson Machado, exibe o chequedestinado a apoiar as vítimas do ciclone Jokwé

O Consórcio português TeixeiraDuarte, SA, venceu o concurso paraa realização de obras de restauro daFortaleza de S. Sebastião, na Ilha deMoçambique, segundo anúncio doMinistério da Educação e CulturaMoçambicano.Esta empreitada, orçada em ummilhão e 200 mil dólares (cerca de755 mil euros), traduz a 1ª. fasedeste projecto de reabilitação, queconta com uma 2ª. fase para aconsolidação total daquelepatrimónio histórico inserido naIlha, inscrita em 1991 comoPatrimónio Cultural da Humanidade.

A fortaleza de S. Sebastião,cuja construção por iniciativade D. João de Castro se iniciouem 1558, depois de Vasco daGama ali ter chegado a 1 deMarço de 1498, é a mais antigaedificação da Ilha de Moçam-bique.

Nos séculos que se suce-deram decorreram diversasintervenções naquele patri-mónio, que desde há décadas,mesmo no tempo da ocupaçãoportuguesa, tem sido sujeito aum intrigante alheamento.

Com o estatuto de Patri-mónio Cultural da Humani-dade, a Ilha perfilou-se nasprioridades da Unesco comozona de intervenção.

A fortaleza emergiu como aprioridade das prioridades,num contexto de recuperaçãourgente, face à velocidade dasua degradação, onde as

infiltrações de água e esta-bilidade das muralhas poder-iam tornar irreversíveis ouexageradamente onerosa asua reabilitação.

Assim, a Organização dasNações Unidas para a Edu-cação Ciência e Cultura(UNESCO), que irá coordenaros trabalhos, colocou a con-curso público a empreitadapara estas obras, tendo assu-mido essa responsabilidade aempresa Teixeira Duarte, SA.,que tem desde o dia 15 de Abrilaté 30 de Dezembro de 2008a sua execução.

Esta reabilitação balizadanuma 1ª. fase, consiste naestancagem das fissuras edegradação e consolidaçãodas suas estruturas.

O financiamento será asse-gurado pela UCCLA (União deCidades Capitais de Língua

Portuguesa), que disponibi-liza 600 mil dólares, e pelaCooperação Japonesa, queparticipa com o restante valor;um milhão de dólares. Oapoio técnico será garantidopelo Instituto Português deApoio ao Desenvolvimento(IPAD), e por organismosmoçambicanos.

De salientar que foramdispendidos já 400 mil dólaresdeste bolo, importância diri-gida para os respectivos es-tudos e outras despesasinerentes.

Para a 2ª. fase deste pro-grama de reabilitação, quepassa pelo restauro dasedificações no interior dafortaleza, prevista para 2009,a UNESCO já iniciou a anga-riação de parceiros.

Restará depois decidir dasua utilização.

8

Criança da Ilha de Moçambique

Foto Paulo Pires Teixeira

Foto Paulo Pires Teixeira

Foto Sara Sousa Teixeira

Foto Paulo Pires Teixeira

Page 9: BOM DIA MACUAS! - macua.blogs.commacua.blogs.com/moambique_para_todos/files/...forum_macua_24042008.pdf · 24/04/2008 · para partilhar a candura dos anjos, como a Paulinha Correia

Fórum Macua2008/04/24 9

imprensa portuguesa em moçambiqueMAPUTO VAI ACOLHER CONGRESSO DA ASSOCIAÇÃO PORTUGUESA DA IMPRENSA A 13 E 14 DE SETEMBRO

Foto Paulo Pires Teixeira

Nampula vai contarcom um Seminário

A AssociaçãoPortuguesa deImprensa, sedeadaem Lisboa, elegeueste anoMoçambique para arealização do seuCongresso.Maputo acolherá nosdias 13 e 14 deSetembro estainiciativa sob atemática “InformaçãoDesportiva: Quadrode Valores e Mercado- A sua importânciapara a Lusofonia” e,no âmbito desteCongresso, serádirigido paraNampula umSeminário de doisdias, estandoprevistos os dias 17 e18 de Setembro parao efeito.Depois de Macau,Brasil, EstadosUnidos e a ilha daMadeira,Moçambique sucedenas prioridades destaassociação, quepretende afirmar acidadania dalusofonia no mundoda comunicação.

O Dr. Henrique Pires Teixeira durante a conferência de Imprensa no Hotel Girassol em Maputo, sendo ladeadoà sua direita pelo Administrador Delegado do Grupo Visabeira, Dr. Afonso Loureiro, e pelo Dr. João Palmeiro,presidente da Apimprensa (na ponta), e à sua esquerda por Vitor Brás, presidente do Congresso

«Estamos virados paraa importância do papel

que a comunicaçãotem na lusofonia»

A afirmação partiu do Dr.João Palmeiro, presidente da

Foi com alguma antecedên-cia que os dirigentes da As-sociação Portuguesa de Im-prensa (Apimprensa) se des-locaram a Maputo para pre-pararem o Congresso de Se-tembro.

Com efeito, de 1 a 4 de Abril,o Dr. João Palmeiro, presidenteda Associação, Dr. HenriquePires Teixeira, Dr. Vitor Brás eDrª. Luisa Castelo dos Reis,desdobraram-se em contactose reuniões para garantir a pre-sença de diversas entidades,como são exemplo o próprioPresidente da República,Armando Guebuza, a Primeira-Ministra, os Ministros do Des-

«Presenças de “peso”»

A encabeçar a Comissão deHonra do Congresso, surge oDr. Almeida Santos, que par-ticipará na Sessão de Abertura,que contará ainda com apresença da Primeira-Ministrade Moçambique, Drª. LuisaDiogo e do Ministro dos Assun-tos Parlamentares de Portugal,Dr. Augusto Santos Silva.

Na longa lista de partici-pantes, surgem nomes comoo de José Luís Arnaut, relatordo Estudo Europeu sobre oDesporto; Andrew Moger, daCEO da Media Mojos Consul-ting; Manuel Pedroso Lima;

porto e Juventude e do Turis-mo, Embaixador de Portugal,os presidentes da Liga eFederação de Futebol, jorna-listas dos diversos órgãos decomunicação moçambicanos,entre outros, e alguns patro-cínios, designadamente oGrupo Visabeira (que será umparceiro), a LAM (Linhas Aé-reas de Moçambique, Mcel,STV-Soico, BCI (do grupoCGD) e Millenium BIM (grupoBCP). Não estando esgotadosos patrocínios, a organizaçãoestá a desenvolver outras inte-pelações nesse sentido.

Luís Filipe Landerset Cardoso,professor universitário; Chris-tophe Forax, Chefe de Gabi-nete da Comissária VivianeReding; João Palmeiro, presi-dente da Apimprensa e emrepresentação do Grupo Im-presa de Pinto Balsemão, quedetém a SIC, Expresso, revis-tas Caras e Visão, entre outrosórgãos; Carlos Correia, profes-sor na Universidade Nova;André Rodrigues, director daTVnet; Albérico Fernandes, di-rector de Projectos Especiaisda Impresa; representantes daSport TV, TSF, dos jornais

Savana, Notícias e O País, deMoçambique e ainda os re-presentantes das Federaçõesde Futebol dos dois paises.Outros convites estão na mesamas ainda não confirmados,como Carlos Queirós.

O presidente Moçambicano,Armando Guebuza, presidirá àcerimónia de encerramento.

na Media Comunication Asso-ciation, com sede em Londres,em representação dos seusassociados, uma condição quelhe permite negociar os direitosde transmissão. Entretanto,com o crescimento dos meiosde comunicação com recursoà internet, a Associação pre-tende que os Comités Olím-picos autorizem a imprensanão televisiva, a usar vídeo-clip’s de imagens até 60 se-gundos, ou seja, viabilizar aessa mesma imprensa a pos-sibilidade de, em cima doacontecimento, partilhá-lo comos seus leitores.

«Governo pretendecom o Campeonato

do Mundo de Futebol,que este Congresso

promovaMoçambique»

Os Ministros do Turismo e daJuventude e Desportos «pre-tendem que este Congressopromova Moçambique», referiuo Dr. Henrique Pires Teixeira,“mentor” desta iniciativa, nasequência das reuniões tidascom aqueles governantes, daímanifestar a sua satisfação emnome da associação por estapronta disponibilidade e apoio.

Os promotores já traziam nasua bagagem este objectivo,mas o espírito deste congres-so, segundo Pires Teixeira,«pretende com antecipação,incorporar a ideia e perspectivados pensadores Moçambi-canos», por isso o convite di-rigido a alguns intelectuais queirão, no quadro temático es-colhido, dissecar sobre algu-mas variantes.

De acordo com a orga-nização, serão cerca de 200 osjornalistas e empresários decomunicação, oriundos de Por-tugal, a deslocarem-se a Ma-puto e a Nampula.

Associação Portuguesa deImprensa (Apimprensa) du-rante a conferência de impren-sa que se realizou em Maputono passado dia 4 de Abril.

João Palmeiro deixou visívela sua convicção num processode crescimento da comunica-ção entre os países de línguaoficial portuguesa num con-texto internacional, como veí-culo de afirmação e influência.Animado neste pragmatismo, etendo como suporte gratosexemplos de liberdade de im-prensa, no qual Moçambiquese perfila na primeira linha,assegurou que «não há cida-dania sem uma comunicaçãolivre».

Este período da sua inter-venção constituiu uma notaintrodutória para esclarecer oespírito da temática do Con-gresso de Imprensa; o Despor-to.

Se por um lado o Campeo-nato do Mundo de Futebol quese realiza aqui ao lado naÁfrica do Sul em 2010, justificao debate alargado, por outro,importa alertar e interferir noscritérios e “timing” de nego-ciação dos direitos de trans-missão e informação por partedo monopólio das “marcas”destes eventos.

Segundo João Palmeiro, noCampeonato da Europa de2004, que se realizou em Por-tugal, os detentores da “marca”Euro/2004, apenas abrirammão dos direitos de transmis-são à imprensa escrita e digi-tal (excepção feita às tele-visões), um mês antes do iníciodo campeonato, facto quepriva as empresas jornalísticasde tempo para negociarem osseus contratos de publicidade.Outro exemplo verificou-secom o campeonato do mundode Rugby, que se realizou noano passado em França, emque as negociações conclui-ram-se três dias antes.

A Apimprensa está inscrita

Vista parcial de Maputo vista de Catembe

Foto: Paulo Pires Teixeira

Page 10: BOM DIA MACUAS! - macua.blogs.commacua.blogs.com/moambique_para_todos/files/...forum_macua_24042008.pdf · 24/04/2008 · para partilhar a candura dos anjos, como a Paulinha Correia

Fórum Macua 2008/04/24

nampula é notícia

Ponto de encontro da noitePonto de encontro da noite

MP3

Encontram-se sempre pessoas interessantes

São muitos os portugueses que frequentam o MP3

O JucaCharas,

sócio doMP3 e uma

amiga.O Juca éfilho do

JerónimoCharas

(Jôjô)

Pormenor da zona das mesas

Os sócios doMP3: Juca

Charas, Jordino,Sílvio (filho doproprietário do

complexo deNairuco) e HiltonCharas (filho do

GuilhermeCharas), que foi

substituídonesta sociedadepelo Hugo (não

está na foto).

O Bar-Pub MP3,localizado no

edifício Nampula,reabriu há poucoas suas portas,

depois damudança depropriedade.

É aqui um dosprivilegiados

pontos deencontro dajuventude

moçambicana ede muitos

portugueses.

Com uma excelente eagradável decoração, quese perfila pela moder-nidade, o Bar- Pub MP3,constitui de 3ª.-feira aDomingo (descanso à 2ª.),o local da noite preferidopor moçambicanos e por-tugueses, que convivemem saudável harmonia eamizade.

O anterior proprietário,Paulo Fernandes (filho deJosé Fernandes), trespas-sou este espaço a quatrodinâmicos jovens, que lheimprimiram outra “perfo-mance”, mais apelativa eaté mais sóbria.

Com abertura ao fim datarde e encerramento às 4da manhã, o MP3 tem man-tido um movimento cons-tante, esgotando aos fins-de-semana, sinal reveladorda aposta ganha pelosjovens empreendedores.

De salientar que paraalém de dois bares (um nor/c e outro no 1º. piso), estePub possui ainda uma zonade dança, e colaboradorasmuito simpáticas.

Bebe-se e dança-se com animação sob a música de um bom DJ

10

Edifício Nampulabem próximo da Catedral

Fotos: Paulo Pires Teixeira

Page 11: BOM DIA MACUAS! - macua.blogs.commacua.blogs.com/moambique_para_todos/files/...forum_macua_24042008.pdf · 24/04/2008 · para partilhar a candura dos anjos, como a Paulinha Correia

Fórum Macua2008/04/24

norte de moçambique

11

BrevesNACALA

Internet sem fiosNacala é a 5ª. cidade moçambicana a receber o serviço de

banda larga sem fios, denominado “Kwiknet” (wirless em Por-tugal), depois de Maputo, Matola, Beira e Nampula.

Este serviço suportado pela mais recente tecnologia semfios, WiMAX, é prestado pela Teledata de Moçambique.

ILHA DE MOÇAMBIQUE

“Velho” Sporting e piscinasadquiridos por empresário francês

Um empresário francês adquiriu a sede do Sporting, um dosedifícios emblemáticos da Ilha, e a piscina, duas infraestruturasem ruínas há vários anos.

Na piscina junto à baía e em frente à Pousada (agora HotelOmuhipiti), as obras de reabilitação iniciaram em Março, sendopara ali dirigido um restaurante, e dada funcionalidade à piscina.

Quanto à velha sede do Sporting, será transformada emHotel, que incluirá diversos quartos e suites, salas deconferências, bar e restaurante.

Sobre este empreendimento, regressaremos com maispormenores na próxima edição.

O edifício do Sporting em ruínas, podendo ver-se àdireita uma árvore caída em consequência do cicloneJokwé. Em caixa, parte de um painel de azulejos que

forra uma das paredes do bar do Clube

As obras na piscina e edifícioadjacente iniciaram em Março

DESCOBERTO EM NAMETILJAZIGO DE PEDRAS

PRECIOSAS (TURMALINAS)

Milhares degarimpeiros

em buscadesenfreada

A região de Nametil,no distrito deMogovolas, está aser invadida pormilhares de pessoasoriundasparticularmente dasprovíncias deNampula, CaboDelgado e Zambézia,com o objectivo deextraírem turmalinas(pedras preciosas).Para melhor seperceber esta“loucura”, refira-seque foramconstruídos empoucos dias cerca de500 acampamentos,correspondendo acerca de 10 milpessoas.As autoridades foramforçadas a intervir e aproceder a detençõese apreensões.

palavra turmalina é uma cor-ruptela da palavra turamali docingalês para pedra que atraia cinza (uma referência àssuas propriedades piro-eléctricas).

TurmalinasOs minerais do grupo da

turmalina constituem umdos mais complexos gruposde minerais de silicato quan-to à sua composição quími--ca, sendo todos eles ci-clossilicatos. Trata-se de umconjunto de minerais desilicato de boro e alumínio,cuja composição é muito va-riável devido às substituiçõesisomórficas (em solução só-lida) que podem ocorrer nasua estrutura. Os elementosque mais comumente partici-pam nestas substituiçõessão o ferro, o magnésio, osódio, o cálcio e o lítio exis-tindo outros elementos quepodem também ocorrer. A

Usos e aplicações

A turmalina é usada emjoalharia, em manómetros ealguns tipos de microfones.Nas jóias, a indicolite azul é amais cara seguida pela ver-delite verde e pela rubelite cor-de-rosa. Ironicamente, a va-riedade mais rara, a acroíteincolor, não é apreciada sendoa menos cara das turmalinastransparentes.

Modo de ocorrênciaA turmalina é encontrada

em dois tipos principais deambientes geológicos. Ro-chas ígneas, em particular ogranito e pegmatitos graní-ticos e nas rochas metamó-rficas como o xisto e o már-more. O schorl e as turma-linas ricas em lítio são geral-mente encontradas em gra-nitos e pegmatitos graníticos.As turmalinas ricas em ma-gnésio (dravites), estão limi-tadas aos xistos e aos már-mores. Além disso, a turma-lina é um mineral resistentee pode ser encontrada emquantidades menores naforma de grãos em arenitose conglomerados.

Estes factos poderiam seracalentados por alguma in-verosimilidade, porque ocor-reram a partir do dia 1 de Abril(Dia das Mentiras), quando umgrupo de jovens, no seu hobbyda caça às aves, numa zonachamada Simpuiti, a 16 kms deNametil, encontraram pedrasexpostas à luz do dia e, pelasuas características, logodesconfiarem tratar-se de umminério com valor.

Para se assegurarem do va-lor do “achado”, os jovens diri-giram-se à região de Mavuco,próximo de Moma, onde de-corre uma exploração de pe-dras preciosas, para ali, juntode técnicos, indagarem daintrigante desconfiança.

Após a confirmação de quese tratava de turmalinas, anotícia depressa se espalhoue, nessa mesma semana, como alarido da imprensa, milha-res de pessoas, munidas depás e picaretas, correram paraa zona para garimparem o soloem busca de tão preciosoachado.

Nasceram em poucos diascerca de 500 acampamentose alugaram-se casas nas al-deias vizinhas a Simpuiti eNathove, as duas zonas demaior incidência deste minério.

Um morto edezenas de feridos

Alguns dias após esta des-coberta, muitas pessoas, des-providas de conhecimentos té-cnicos para a extracção mi-

neira, foram surpreendidaspelo desprendimento deterras, tendo um cidadão doPosto Administrativo de Ca-lipo, no distrito de Mogovo-las, ficado soterrado e algu-mas dezenas feridas. Até es-ta data o corpo ainda não foiretirado nem reclamado.

Intervenção dasautoridades

O Governo da Província,apanhado de surpresa porestes acontecimentos, aler-tou de imediato as autorida-des locais para uma interve-nção célere, dada a ilegali-dade desta exploração, ten-do destacado por duas vezeso envio de contingentes paraguarnecer a região.

Apesar deste esforço, a ex-tracção das turmalinas con-tinua, nalguns casos com aconivência de alguns polí-cias, embalados por esque-mas de corrupção.

A PRM (Polícia da Repú-blica de Moçambique) distri-tal, a pedido do administradorde Mogovolas, ArmandoMuacuante, também fez des-locar para ali efectivos.

Entretanto, uma brigadamultisectorial, tutelada pelaDirecção Provincial de Re-cursos Minerais, esteve nolocal e confiscou diverso ma-terial, viaturas, motorizadas,telemóveis, dinheiro e cercade 21 toneladas de refugosde turmalina.

LIGAÇÃO MAPUTO A PEMBA

Conclusão prevista para 2009As cidades de Maputo e Pemba deverão ficar ligadas por

estrada a partir de 2009, de acordo com o programa dereconstrução e ampliação da Estrada Nacional Nº 1, afirmouem Maputo o presidente do Fundo de Estradas, FranciscoPereira.Falando à margem da reunião de avaliação dodesempenho e revisão do Programa Integrado do Sector deEstradas (Prise), realizada em Maputo, Pereira disse que aligação entre as duas cidades é uma das prioridades doprograma do sector de estradas para o triénio 2007/09. Parao efeito, decorrem há sensivelmente três anos obras dereconstrução e ampliação da EN1, um empreendimento orçadoem cerca de mil milhões de dólares e que estão a serexecutadas em fases, tendo sido já concluída a primeira faseque contempla os troços Marracuene/3 de Fevereiro, emMaputo, Incoluane/Chicumbane, em Gaza, Chissibuca/Massinga, em Inhambane e Muxúnguè/Inchope, na provínciade Sofala.

Continua problemático o troço que liga Namacurra e AltoMolócuè, na província da Zambézia, cujas obras já deveriamestar concluídas, conforme o contrato de adjudicação assinadocom a construtora Tâmega. Contudo, há garantias que a EN1vai estar em melhores condições de transitabilidade até finaisdo próximo ano, com a realização da terceira fase do Prise,cujo arranque está previsto para o presente ano, o qual, dentreos vários troços, vai contemplar a reconstrução das secçõesChimuara/Namacurra e rio Ligonha/Cidade de Nampula.

Fonte: MacauHub

Fotos: Paulo Pires Teixeira

Foto: Paulo Pires Teixeira

Fonte: Wikipédia

Page 12: BOM DIA MACUAS! - macua.blogs.commacua.blogs.com/moambique_para_todos/files/...forum_macua_24042008.pdf · 24/04/2008 · para partilhar a candura dos anjos, como a Paulinha Correia

Fórum Macua 2008/04/2412

nampula é notíciaCRESCIMENTO RODOVIÁRIO A ISSO OBRIGA

Semáforos emdoze cruzamentos

Algumas árvores tiveram de ser derrubadas para a colocação de semáforos, junto aocruzamento do Mercado (Avenida Paulo Kankhomba e Rua Monomotapa)

Nampula, a 3ª. cidade do país, e a 2ª. em termoseconómicos, tem registado um movimento assinalávelem termos de trânsito rodoviário, facto que temoriginado constantes engarrafamentos nas artériasmais movimentadas, designadamente noscruzamentos das avenidas Paulo Samuel Kankhomba(ex-marechal Carmona), na avenida 25 de Setembro(ex-Craveiro Lopes), avenida Eduardo Mondlane (ex-José Cabral), Rua dos Continuadores (ex-PedroÁlvares Cabral - da Brasília) e Avenida do Trabalho(ex-Pinto Teixeira).

Preocupado com esta situação, de dia para dia maiscaótica para o conforto e paciência dos automobilistas,o Conselho Municipal, liderado pelo Dr. CastroNamuaca, após um cuidado e atento estudo, deliberouabrir concurso para a colocação de reguladores detrânsito (vulgo semáforos), em 12 dos cruzamentosmais sensíveis ao volume de tráfego rodoviário,investindo para o efeito 11 milhões de meticais (cercade 290 mil euros).

A empresa adjudicatária teve luz verde em Janeiro,mas só no corrente mês deu início aos trabalhos,justificando este atraso pela necessidade de recrutarmeios humanos e materiais. Prevê-se a sua conclusãoem meados de Maio.

Com a implementação deste sistema, o trânsitoficará mais discipinado, concorrendo para a reduçãode acidentes, até agora frequentes na cidade.

Curiosamente, Nampula ficará dotado compraticamente a mesma quantidade de semaforizaçãoque a capital, a cidade de Maputo, que inaugurourecentemente este sistema.

A característica dos semáforosem Nampula

A correr...MUSEU NACIONAL DE ETNOLOGIA

Boletim informativovolta a ser reeditado

O Museu Nacional de Etnologia de Nampula - MUSET (ex-Museu Regional Comandante Ferreira de Almeida), lançourecentemente um boletim informativo que se pretendemensal, com o objectivo de dar evidência às suas actividadese, ao mesmo tempo, recordar o percurso do Museu, desde asua fundação em Agosto de 1956, mês e ano de elevaçãode Nampula a cidade.

O primeiro número desta edição, segundo o seu director,Pedro Kulyumba, figura de indiscutível empenhamento pelasua missão, é uma reprodução fac-similada da série editadaem 1960 no período colonial.

Em 2006, na comemoração do 50º. aniversário do Museu,o MUSET publicou uma revista a cores, onde relata o seupercurso, não sonegando os momentos menos positivos nemos mais positivos, nem se desvinculando dos valoresdaqueles que, independentemente dos imperativos históricos,se demarcaram pela defesa e preservação da cultura e dahistória. Esta revista é uma grata evocação à sobriedade dainteligência, sensatez e altruísmo humano, uma “perfomance”de carácter que encaixa bem no perfil do director, PedroKulyumba.

Os jornais Wamphula (papel) e Wamphula Fax (digital), deVasco Fenita, distinguiram o MUSET com o título “A Figurado Ano de 2007”, um gesto que esclarece o papel importantee determinante para o enriquecimento da cultura e históriada região e do país.

A bonita entrada oval do Museu Nacional de Etnologia

Comandante EugénioFerreira de Almeida,impulsionador dasconstruções do MuseuRegional de Nampula e daCatedral N. Srª. de Fátima,obras inauguradas a 23 e 22de Agosto respectivamente,pelo então presidente daRepública Portuguesa,Marechal Craveiro Lopes(Foto Revista da Armada)

Dr. Pedro GuilhermeKulyumba, Director do

Museu Nacional deEtnologia (MUSET), cuja

acção tem revitalizado estainstitição de forma notável(Foto revista comemorativa

do 50º. aniversário doMuseu - 2006)

BrevesENTRE 2007 E 2008

Abastecimento deágua cresce 7%

No âmbito do projecto in-tegrado “Água Rural e Sanea-mento”, co-financiado peloBanco Africano de Desen-volvimento (BAD) e pelo Go-verno Moçambicano, quecontempla a implementaçãode infraestruturas dirigidas aosaneamento e abastecimentode água aos 17 distritos daprovíncia de Nampula, foipossível ampliar em 7% o nívelde cobertura de água entre2007 e 2008.

Neste momento, existe naszonas rurais de Nampula, 400fontes de água potável.

EM ANGOCHE

Jogo entre Sporting-Benfica provoca um morto

Em Moçambique, o campeonato da Liga Portuguesa de Futebolé vivido com a mesma intensidade que em Portugal, provocandopor vezes escaramuças entre adeptos.

Em Angoche, após o jogo que decorreu em Lisboa entre oSporting e o Benfica e que foi transmitido pela RTP África, o resul-tado de 5-3 favorável ao Sporting não agradou muito os adeptos doBenfica, que se envolveram em pancadaria com os seus velhosrivais. O resultado destes “duelos” culminou com um adepto doBenfica esfaqueado até à morte, tendo a PRM (Polícia da Repú-blica de Moçambique - tipo PSP em Portugal), detido o autor.

O Benfica, Sporting e Porto, são os clubes da preferência dosmoçambicanos, que festejam com autênticas manifestações derua quando o seu clube vence. Este fenómeno vai justificar embreve uma atenta crónica.

Quando se pergunta a um Moçambicano de que Clube é, aresposta dirige-se prontamente a um dos clubes portugueses, aoinvés, como seria de esperar, de avançarem com o Ferroviário,Malhangalhene, Costa do Sol, Textáfrica, ou outro clube local.

Fotos: Paulo Pires Teixeira

Foto: Paulo Pires Teixeira

Page 13: BOM DIA MACUAS! - macua.blogs.commacua.blogs.com/moambique_para_todos/files/...forum_macua_24042008.pdf · 24/04/2008 · para partilhar a candura dos anjos, como a Paulinha Correia

Fórum Macua2008/04/24 13

reencontrosVamos nesta rúbrica, dar conta dos amigos que fomos

reencontrando, bem conhecidos de todos nós,ou da grande maioria. Encontros ocasionais,

traduzidos em alegrias, memórias e saudades.ArnaldoConstantino

O Arnaldo Constantino, foi dosprimeiros portugueses queencontrámos em Nampula.Está casado com a Delta, umamoçambicana afável e sim-pática, e nobre de carácter.Depois de poucos anos emSetúbal, numa fase bem pos-terior à Independência deMoçambique, regressou. «Es-ta é a minha terra!», desaba-fou.Mantém a Ronil, com as ofici-nas na zona industrial da es-trada de Nova Chaves e umstand bem no centro da cidade(na contra-esquina do prédioFabião).Ele foi operado no início docorrente mês à coluna, numaclínica particular em Nampula.A sua recuperação está a sersurpreendente.

Benjamim (Jinho)Charas

O Jinho, um dos filhos deJerónimo Charas dos Cami-nhos de Ferro, foi o primeiroamigo que encontrámos. Afi-nal, foi ele que nos recebeu noaeroporto de Maputo.Vivemos juntos a infância edepois a adolescência. A mi-nha mãe dizia que era o seu5º. filho.Vive em Maputo desde 1986,depois de uma vida de so-frimento em Nampula, quando,como metalo-mecânico nosCFM, e integrando a equipa detécnicos na linha férrea Nam-pula-Malawi, sofreu diversosataques durante a guerra civil,assistindo à morte de muitosconterrâneos seus.Trabalhava com o Zé “Gato”,de Nampula que faleceu há 3anos, vitima de um cancro.

HelderMenezes

Das figuras mais emblemá-ticas de Nampula e entre oseio da comunidade nampu-lense espalhada pelo mundo,é com certeza o Hélder Mene-zes.É uma figura de grande pres-tígio. Nunca saíu de Moçambi-que, há excepção do períodode férias, como há pouco tem-po onde esteve no Brasil eonde tem família.Tem na Chocas um empreen-dimento turístico junto à praiado Grosch, neste momentoalugado a um empresário.Durante vários anos como ge-rente do Entreposto, o Hélder,a convite do Fabião, é agora oresponsável pela Casa Fabião,Lda. em Nampula.A sua competência e profissio-nalismo são evidentes.

VascoFénita

Sempre o conhecemos, desdegarotos, como jornalista emantém essa nobre função emissão. É director dos jornaisWamphula (formato papel) eWamphula Fax (digital).Foi colega dos jornalistas PintoSoares, Pires Teixeira, MoraisPinto, Inácio de Passos, etc, ecolaborou nos jornais Notícias,Diário de Moçambique e, en-tre outros, com a Voz Africana,do grupo do Notícias da Beira.É um jornalista de craveira, deprestiígio sólido, e o seu estiloliterário rivaliza com os melho-res expoentes da língua portu-guesa.O seu nome é hoje uma re-ferência no “milleux” jornalís-tico moçambicano, sendo con-siderado um dos seus grandespatriarcas.

LuísMonteiro

Sempre se manteve em Mo-çambique e continua a viverem Nampula, depois de brevespassagens por Pemba e Mo-napo.Estudou na Escola Técnica etem uma vida bastante activa.Recorda com saudades osamigos de infância e adoles-cência.

Baratada Silva

Manteve-se sempre em Mo-çambique e estudou na EscolaTécnica. Ainda enquantoestudante foi para o InstitutoComercial da Beira e poste-riormente para Maputo, re-gressando a Nampula.Nasceu em 1951.

Pedrode Carvalho

Também estudou na EscolaTécnica e nunca saíu de Mo-çambique. A sua família viveem Portugal.É responsável da SNV, umaorganização Holandesa de ca-riz humanitário e social.

Guilherme (Gui)Charas

O Gui Charas é irmão do Jinhoe ainda da Linda, Jôjô (Jeró-nimo), Orlando, Carla, do fa-lecido Felismino, Paula, Rutee Tucha.É responsável numa dasmaiores empresas de segu-rança de Moçambique.Frequentou a Escola Técnicae tem neste momento 55 anos.

JOR

NA

LMac

ua

NA SEMANA PASSADA

Presidente do Conselho Municipal deNampula visita Figueiró dos VinhosA convite do Grupo Leiris-Lena, o presidente do Con-selho Municipal de Nampula,Dr. Castro Namuaca, deslo-cou-se a Portugal, uma oca-sião aproveitada para visitaro município de Figueiró dosVinhos, geminada em 2002com Nampula, mantendo alicontactos com os autarcaslocais e alguns amigos.A possibilidade de umacomitiva de Nampula com-posta por autarcas, direc-tores provinciais e dirigentesdesportivos, visitar Figueiró,ficou em aberto.

O Eng. Rui Silva, presidente da Câmara de Figueiró dos Vinhos, e oDr. Castro Namuaca, presidente do Conselho Municipal de Nampula

Carlos Queirós na Ilha de MoçambiqueCarlos Queiroz, natural de Nampula e actualmentetreinador-Adjunto do Manchester, em Inglaterra,esteve na Ilha de Moçambique a 26 de Março,integrado na comitiva do presidente da RepúblicaPortugesa, Cavaco Silva, quando da sua visitaàquela 1ª. capital de Moçambique.Na foto, Carlos Queirós com o anterior Presidentedo Conselho Municipal de Nampula, Dr. DionísioCherewa, no Hotel Omuhipiti.

Page 14: BOM DIA MACUAS! - macua.blogs.commacua.blogs.com/moambique_para_todos/files/...forum_macua_24042008.pdf · 24/04/2008 · para partilhar a candura dos anjos, como a Paulinha Correia

Fórum Macua 2008/04/2414

informação

Descobrir Nampula...é um desafio

CONSELHO MUNICIPAL DE NAMPULA

PRÓXIMA EDIÇÃOILHA DE MOÇAMBIQUE

Património à espera de vezUm vasto património está em ruínas. Apesar dos apelos de

muitos moçambicanos, aqui personalizados pela AssociaçãoAmigos da Ilha de Moçambique e da comunidade internacional,os avanços são tímidos.

Talvez a reabilitação da fortaleza de S. Sebastião e o projectoVilas do Milénio dirigido para o Lumbo, venha a constituir o motorde arranque para as grandes mudanças deste património cul-tural da Humanidade.

ENTREVISTAS

O Hélder Menezesvai contar-nos a sua

vida depois da partidados seus amigos para

Portugal, dassaudades e das

muitas memórias.

A D. Flora PintoMagalhães,

descendente do poeta“inconfidente”

desterrado para a Ilhade Moçambique noséculo XVIII,Tomaz

António Gonzaga”, vaifalar-nos dele e

particularmente daAssociação de Turismo

da Ilha, da qual épresidente.

A Drª. Sara SousaTeixeira,

Conservadora dosMuseus da Ilha, falarádo seu percurso atéchegar aqui, e das

grandes dificuldadespara algumas

situações caricatas,como exemplo, para

comprar umafechadura.

ASSINANTES DO FÓRUM MACUA COM DESCONTOS ESPECIAIS

Saiba como viajar para Nampula a preços especiaisNa próxima edição daremos

conta dos preços de viagens,estadia, alimentação e trans-portes, para quem pretendaviajar até Nampula e visitar aregião.

O nosso jornal poderá já as-segurar descontos especiaispara os seus assinantes nosvoos internos da LAM, estadiaem Hóteis e refeições em res-taurantes.

Esteja atento e aproveite asoportunidades para viajar atéMoçambique.

História da Cidade de Nampula

Foto: Paulo Pires Teixeira

Page 15: BOM DIA MACUAS! - macua.blogs.commacua.blogs.com/moambique_para_todos/files/...forum_macua_24042008.pdf · 24/04/2008 · para partilhar a candura dos anjos, como a Paulinha Correia

Fórum Macua2008/04/24

MajorNeuteldeAbreu

Fundador daCidade de

Nampula

I PARTE

Page 16: BOM DIA MACUAS! - macua.blogs.commacua.blogs.com/moambique_para_todos/files/...forum_macua_24042008.pdf · 24/04/2008 · para partilhar a candura dos anjos, como a Paulinha Correia

Fórum Macua 2008/04/24

major neutel de abreuA SOBERANIA PORTUGUESA EM ÁFRICA

Circunstâncias históricas quelevaram Neutel a MoçambiqueNo processo da história

portuguesa emMoçambique, noperíodo em que aMonarquia apostou naocupação efectiva doterritório e garantia daestabilidade esegurança, destacoudiversos oficiaismilitares paraexercerem os meiosdisponíveis paracontrariar eventuaisrebeliões oriundas daspopulações indígenas,sob a forte influênciados seus chefes, osRégulos.Na legítima revoltacontra as forçasocupantes, algunsprocessos de“pacificação”perpetrados pelamonarquia portuguesa,beliscaram o espíritodessa campanha, como poder das armas aditar todas as regras.O Major Neutel deAbreu, detendo essepoder, privilegiou umaacção de princípiosevitando batalhas ecorpos espalhadospelos sertõesafricanos. Para alémdisso, foi ele que impôso fim da escravura,apesar de abolida porPortugal em 1836, masque muitos teimavamem ignorar.Um dos exemplos,revelou-se com o pactode sangue com oRégulo Mukapera deCorrane, um gesto queevitou confrontos emilhares de mortos.Talvez por isso ahistória portuguesa serefira a Neutel deAbreu com algumatimidez.Em Moçambique, aindaque de soslaio, ahistória observa aquelemilitar também comtimidez e distância,mas salvaguardando oseu carácterverdadeiramentehumano e pacifista.

No último quartel do século XIX, Portugal, França, Bélgica,Inglaterra e por último a Alemanha, apesar dos muitos tratadosentre si para a divisão territorial de África, violavam com algumafrequência as fronteiras que iam sendo definidas. Portugal,neste contexto, mandou ocupar militarmente áreas ao nortede Angola (Ambriz, Molembo, Cabinda), tendo provocadodiversos conflitos, um dosquais com a Inglaterra, quevia como ameaça esta ocu-pação, tendo em conta a suaaproximação à foz do Zaire,o grande rio que então seconsiderava essencial para odomínio da África ao sul doequador. Negociações de-moradas levaram o GovernoPortuguês a garantir que«não haveria novas ocupa-ções». Paralelamente, numprocesso que se iniciou em1870, com o triunfo dos Prus-sianos sobre a França, aAlemanha, galvaniza-se nu-ma política hegemónica con-duzida por Bismarck, quepassava pela criação de umimpério colonial em África,facto que iria provocar di-versos choques de interes-ses, particularmente com aInglaterra. Nesta ameaçaadivinhavam-se conflitosarmados, pretexto suficientepara levar Leopoldo II, reibelga, a intervir de formaactiva, intervenção essa queculminou com a Conferênciade Bruxelas, de 1876 e quevisou a criação de uma or-ganização neutra, sem a pre-ponderância inglesa ou alemã,para promover a exploração e civilização das zonas da ÁfricaCentral.

O domínio português nesta zona estribava-se em direitoshistóricos que remontavam ao século XV, facto contudo poucovalorizado pelas outras potências colonizadoras. Portugaltambém manteve a mesma postura, ou seja, continuar a suaocupação, que se estendeu até ao rio Zaire, tendo ocupadoCacongo e Massabi. Inicialmente os conflitos são evitados,levando Portugal e a Inglaterra assinarem o Tratado do Zaire,que consistia no reconhecimento inglês do direito de posse aPortugal das duas margens deste rio. Mas os franceses ebelgas não aceitaram esta «manobra» e levaram Bismarck aintervir junto do governo inglês, opondo-se a este acordo,situação que impediu a ratificação do Tratado. Novasdiscussões emergem, mas a 15 de Novembro de 1884, emBerlim, uma conferência internacional que já fazia incluir outraspotências, nomeadamente a Dinamarca, Espanha, Holanda,Turquia, Noruega, Itália, Suécia e até os Estados Unidos,reconhece a Portugal as posições já ocupadas a norte deAngola e em Cabinda. Mas a principal consequência daconferência foi a consagração do princípio de que só a«existência de autoridade suficiente para fazer respeitar osdireitos adquiridos» dava consistência a tais direitos. Seria omesmo que dizer que o predomínio dependia de critérios deocupação efectiva sobre o direito histórico, na qual se sus-tentavam as reivindicações portuguesas. As maiorespossibilidades militares das outras potências, serviram, nesteâmbito, para uma ocupação efectiva mais vasta, resolvendoassim o embaraço que podia constituir a prioridade históricaportuguesa.

Perante os factos, a opinião portuguesa mobiliza-se e o antigoprojecto da expansão portuguesa a zonas do interior ganhanova alma. Esse projecto, designado por «Mapa cor-de-rosa»,consistia na ocupação de toda a zona com-preendida entreAngola e Moçambique, «da costa à contra-costa». Estapretensão portuguesa culminou com os Tratados da Guiné eda Alemanha, celebrados com a França e Alemanha em 1885e 1886 respectivamente, que passaram pelo reconhecimento

destas potências por este figurino territorial e, como con-trapartida, a cedência de outras zonas, a norte de Angola, àFrança e a sul do rio Cunene, também em Angola, à Alemanha.

A Inglaterra insurge-se contra estes Tratados, defendendoque Portugal não dispunha naquela região de forças paramanter a ordem, proteger os estrangeiros e vigiar os indígenas.

Ignorando estes acordos, osingleses em 1889 concedemformalmente esta região à Com-panhia da África do Sul. Peranteesta situação, o Governo Por-tuguês tenta uma solução di-plomática, desdobrando-se emcontactos para uma arbitragemno conflito, sob os auspícios dossignatários da Conferência deBerlim, hipótese não acatadapelos ingleses, que orientaramtoda a discussão para a roturadas relações diplomáticas comPortugal, e, simultaneamente, sepreparavam para ocupar algu-mas regiões de importante valoreconómico e estratégico (umaantiga aspiração dos ingleses),como são exemplo a embo-cadura do Zambeze e a cidadede Lourenço Marques (actual-mente Maputo), em Moçam-bique. Na altura, a mediação dopresidente da República Fran-cesa, o general Mac Mahon, im-pediu que tal acontecesse. Maseste desejo de um corte de rela-ções por parte dos ingleses, con-duziu ao famoso ultimato de 11de Janeiro de 1890, que exigia aPortugal a retirada imediata dassuas forças naquela região entre

Angola e Moçambique. O Rei D. Carlos, que tinha subido aotrono dois meses antes, para evitar o corte de relações com aInglaterra e consciente das limitações das suas forças militares,cede às exigências inglesas, para desespero do povo português,que se disponibilizou a pegar em armas contra a Inglaterra,acusando simultaneamente a Monarquia de «traidora à Pátria».

É deste ambiente que sucede a primeira revolta republicana,que culmina com o regicídio em Fevereiro de 1908 e aimplantação da República em 5 de Outubro de 1910.

Mas todo este processo de ameaça inglesa, leva o GovernoPortuguês a apostar numa maior intervenção em África, enviando,particularmente para Angola e Moçambique, oficiais militares parareforçar a nossa soberania, missão essa que passava pelaconstrução de novos postos militares, aberturas de estradas,linhas telegráficas e pacificação dos povos indígenas.

O major Neutel de Abreu, foi dos muitos militares incumbidosdessa missão, tendo sido um exemplo para o país. Além depacificador, e dotado de uma particular psicologia para lidarcom os indígenas, Neutel de Abreu aboliu a escravatura nonorte de Moçambique que, apesar de erradicada por Portugalem 1836, com a proibição de importação e exportação deescravos, ainda se fazia sentir por toda aquela ex-colónia.Também a ele se deve a aniquilação do avanço das tropasalemãs.

O Mapa cor-de-rosa que ligava Angola a Moçambique16

Page 17: BOM DIA MACUAS! - macua.blogs.commacua.blogs.com/moambique_para_todos/files/...forum_macua_24042008.pdf · 24/04/2008 · para partilhar a candura dos anjos, como a Paulinha Correia

Fórum Macua2008/04/24

major neutel de abreuMAJOR NEUTEL DE ABREU EM MOÇAMBIQUE

Heroi nacionalentre portugueses,«Mahon» entre macuas

Uma vida ao serviço de PortugalEm 15 de Junho de 1871, assentou

praça, como voluntário, no R.I. 15,Neutel Martins Simões de Abreu, queviria a tornar-se numa das maisextraordinárias figuras de militar emterras ultramarinas.

Inteligente, audaz, valente, espontâ-neo e decidido, duma persitência e es-pírito de sacrifício sem restrições, a suavida é um manancial de exemplos devirtude e uma ininterrupta série de re-levantes serviços prestados ao país.

Infatigável explorador do mato, exer-cendo uma política atraente de conci-liação, de que era fervoroso defensor,quando regressou à “Metrópole”, pelaúltima vez, contava 40 anos de serviçono Ultramar, entrara em 14 campanhase alguns de combates, abrira milharesde quilómetros de estradas e montaralinhas telefónicas numa extensão atéentão nunca conseguida, e pacificara80.000 quilómetros quadrados de terri-tório.

«Mahon», como lhe chamavam osmakwas, pela forma característica co-mo a eles se dirigia quando os ad-moestava, ou «Monomacaia», que si-gnificava ciclone, pela forma decididacomo vencia as dificuldades da selvaatravés da qual ia abrindo clareiras eestradas. Respeitavam-no; sabiam ternele um amigo e protector mas nãotinham dúvidas quanto à sua durezapara com aqueles que não acatassem

as suas determinações. O prestígio da sua presença e o profundoconhecimento da mentalidade dos indígenas permitiram-lheresolver com facilidade situações aparentemente insolúveis.

A história dos leões

Atravessando certo dia uma região perigosa, acompanhado demeia dúzia de cipaios e de um grupo de carregadores, estes pa-raram de repente e, tremendo de medo, apontaram para doisleões que, a cinquenta metros, sobre a estrada, fixavam a cara-vana, e largando as cargas preparavam-se para fugir. Neutel deAbreu, calmamente, disse-lhes que não tivessem receio, poisaqueles leões estavam ali ao seu serviço... Deu ordem firme paraque reiniciassem a marcha e dissessem às feras que seafastassem. A custo, aterrorizados e fazendo grande alarido,puseram-se em marcha os carregadores, e os dois leõesafastaram-se e penetraram na imensidade do capim. Uma dascaracterísticas do leão, é que só ataca quando tem fome, e Neutelde Abreu tinha consciência disso.

Neutel de Abreu saiu da Metrópole pela primeira vez, dois anosdepois da sua entrada para o exército, para servir em Macau.Não o seduziu a vida tranquila de que ali desfrutava, pelo quepediu transferência para Angola, embarcando seis meses depoise onde serviu por 4 anos, regressando a Lisboa em 1895.Embarcando de novo para Angola nesse mesmo ano, também alio seu espírito irrequieto se aborrecia e pediu transferência para aCompanhia de Guerra de S. Tomé e Príncipe. Fortemente atacadopor uma biliosa teve de regressar à Metrópole, em 1897. Logo noano seguinte, parte para Moçambique, porém, nova biliosa oobriga a regressar.

Neutel, não desiste e, em 1899, volta de novo a Moçambique,onde, finalmente se conservou até 1930. Quando ali chegou, o

Em Figueiró dosVinhos, sua terra natal,é quase umdesconhecido. A suaestátua na principalpraça da vila, paramuitos, é decorativa,pois ignora-se o seugrande contributo eacção para consolidar asoberania portuguesa.Injustamente, apelidam-no de «mata pretos»,pois também ignoramque ele aboliu aescravatura no norte deMoçambique e foi umdos militares que maisexerceu uma actuaçãode pacificação, evitandoa morte de indígenas.No mesmo períodohistórico e até diasantes da revolução deAbril, em PortugalContinental prendia-see matava-se por contade um regime. Poucoimportava se fossembrancos ou negros.

Fundou Nampula, emMoçambique (que aindahoje assim se designa),considerada a maisbonita e melhorestruturada cidade daÁfrica Austral.

O Governo Provincialde Nampula, após aindependência, colocoua sua estátua ao ladoda capela militar, actualmuseu militar, na PraçaHeróis de Moçambique(ex-Praça Neutel deAbreu), um sintomaclaro de respeitohistórico, que sóCamões rivalizou emtodos os novos paísesafricanos de expressãoportuguesa.

norte da província encontrava-se numa inquietante situação, emvirtude da rebeldia abertamente manifestada por numerososgrupos de macuas e namarrais que a campanha de 1895 nãopacificara definitivamente. Nomeado comandante do posto deMoginqual, onde à data não existia um único caminho, de lá inicioua sua acção para o interior, dominando os rebeldes, abrindoestradas e pacificando-os.

Em 1903, já no posto de Alferes, durante a campanha deMatadane, levada a efeito contra vários régulos que instigadospor Muhamuieva, mais conhecido por Fareley, nos hostilizavamabertamente, exigindo pagamentos ao Governo e aos comer-ciantes para salvo-conduto dos brancos que quisessem atravessaras suas terras - entrou numa série de combates e por tal formase comportou que, no seu relatório, o Comandante Lúpi escreveu:«Garanto que nunca vi homem que o excedesse em desem-baraço, disciplina e serena coragem; não sito ocasiões especiaisem que se distinguisse porque igualmente se comportou em todosos combates».

Em Março de 1904 é organizada nova força, da qual fazia parteNeutel de Abreu, comandando os auxiliares. A marcha da colunafoi dificultada por toda a espécie de obstáculos numa região dedifícil acesso e, ao chegar próximo de Nacucha, foi recebida porum intenso tiroteio à queima-roupa que criou pânico entre ossoldados. A enérgica intervenção dos Oficiais e Sargentos fezrestabelecer a calma e, passadas quatro horas de renhidocombate, os rebeldes retiraram. Seguiram-se outras acções demenor vulto e a 1 de Maio a campanha era dada por concluída.

No seu relatório, o Comandante Forjaz escreveu: «... Distinguiu-se no combate de Nacucha pela sua muita coragem, energia eimpassibilidade, sendo por isso digno da medalha de Valor Militar,o Alferes Neutel de Abreu, a quem o governo deve já o exercícioda nossa autoridade em toda a região de Namuco e Luinga quecomanda há quatro anos com muita sensatez, diligência exemplare honradez inatacável».

Terminadas as operações de Nacucha, regressou ao seu postono Moginqual e, embora cansado e febril, continua a dialogar epacificar indígenas, abre novas estradas, monta linhas tele-gráficas, numa obra admirável de esforço e inteligência. Em 25de Junho do mesmo ano é promovido a Tenente. Novos louvorese citações vêm aumentar a sua já brilhante folha de serviços e,em Setembro de 1905 é nomeado Comandante Militar deMoginqual. Agora, com maior autoridade, inicia uma ainda maisprofunda penetração para o interior, montando novos postos.

Neutel de Abreu em 1904, quando foi promovido a Tenente

17CONTINUA NA PÁGINA SEGUINTE

Page 18: BOM DIA MACUAS! - macua.blogs.commacua.blogs.com/moambique_para_todos/files/...forum_macua_24042008.pdf · 24/04/2008 · para partilhar a candura dos anjos, como a Paulinha Correia

Fórum Macua 2008/04/24

major neutel de abreu

18

Nesta sua acção pacificadora e de alargamento doterritório, muito ficou devendo ao régulo de Corrane,Mukapera, de quem obteve sempre o maior auxilio einteira fidelidade, chegando a unir os seus sangues,numa extraordinária cerimónia, a partir da qual ogrande régulo passou a considerá-lo como irmão. Umnovo posto foi instalado em Corrane, com uma casade alvenaria para Mukapera. Seguiu-se a montagemde postos em Nampula, Chinga, Ribaué, Malema,Mutuáli, etc.

Em Maio de 1909 é nomeado Capitão-Mor deMacuana, com sede no Itóculo, e, no fim desse ano,regressou ao comando de Mogincual. Entretanto asgentes de Fareley voltaram a exercer a sua pressãoe, em 11 de Maio de 1910, Neutel de Abreu recebeuordem para fazer parte duma coluna comandada peloMajor Massano de Amorim. Logo no início dasoperações travou renhido combate com os guerreirosdo Navarame e com os rebeldes do Nampoto ondefoi ferida a sua montada numaluta contra mais de 3000 in-dígenas. Mas era necessário al-cançar aquela povoação e«Mahon» recebeu ordem paracontinuar a progressão, porterreno de vegetação densís-sima; por seis vezes os revol-tados procuraram impedir oavanço, batendo-se rijamente,até que a 24 de Junho, depoisdo heróico combate de Pedrasdo Nampoto, com grande núme-ro de baixas, se renderam sen-do aprisionado o Fareley.

Termina assim a chama-dacampanha de Angoche, durantea qual se haviam percorrido 450quilómetros sob chuva torren-cial, muito sol e através de matodensíssimo e traiçoeiro. Pelasua acção durante as opera-ções, o Major Massano de Amo-rim propô-lo para ser condeco-rado com o grau de comendadorda Ordem da Torre e Espada.

A 31 de Agosto de 1910 épromovido a capitão.

Em princípios de 1912 des-locou-se para a região do Ri-baué para dominar as gentes dorégulo Murrula que se come-çavam a sublevar. Montada aoperação, o régulo foi aprisio-nado num audacioso golpe demão executado pelo bravoSargento José da Costa.

Em Maio de 1912, revolta-seo régulo de Sangage. Neutelsegue a juntar-se à coluna co-mandada pelo Capitão Cunha,com alguns cipaios e homens doseu amigo Mukapera, resolven-do a situação crítica em queaquela coluna se encontravadevido à grande resistênciaencontrada.

Regressa à sua base emNampula e logo vai montarnovos postos, alguns a mais de400 km do litoral. Entretanto vai

submeter o régulo de M’cubeiri que se revoltara.Que extraordinária actividade, a deste homem, a

quem as febres atormentaram constantemente!Mas a pacificação do distrito de Moçambique ainda

não se podia considerar terminada. Novos focos derebelião apare-ciam, começam a insubordinar-se edominam a região pelo ter-ror. Para os submeter, sãoorganizadas duas colunas,uma sob o comando doCap. Cunha e outra coman-dada por Neutel de Abreu,as quais marcham ao en-contro dos insurrectos atra-vessando os rios Monapoe M’robene em condiçõesverdadeiramente épicas,servindo-se de pequenasjangadas. Muitos homenspassavam a vau, enquantodescargas eram feitas paradentro de água, com o fim de afastar os jacarés, e, damargem oposta, o inimigo fustigava a coluna comsetas e tiros de espingarda. Passados os rios, sobum sol escaldante e sem qualquer descanso, comendoquando calhava, a coluna de Neutel chegou por fimao contacto com o grosso dos indígenas rebeldes e,após violento combate, terminava a campanha com aprisão de Márrua.

Volta «Mahon» ao seu trabalho de civilização ealargamento das possibilidades do distrito, acaba comos costumes bárbaros, com os vícios, abre maisestradas, monta mais postos, faz parte duma comissãoencarregada de marcar o traçado para uma linha decaminho de ferro.

É nomeado Capitão-Mor do Mossuril, regressandoao seu lugar no Macuana em Janeiro de 1916. Novoslouvores e citações são registados na sua folha e

recebe a medalha de ouro deServiços Distintos no Ultramar, daqual já possuía duas de prata.

Em Março de 1916, a Alemanhadeclara guerra a Portugal, pelo queé organizada uma expedição aMoçambique. Neutel de Abreuoferece-se para o que for preciso,mas o seu oferecimento não é acei-te por ter que vir a Lisboa prestarprovas para a sua promoção a Ma-jor. Entretanto, a situação piora, asua vinda fica sem efeito, e aceiteo seu oferecimento, encarregam-node recrutar pessoal para as oper-ações. Posteriormente, faz parte dacoluna encarregada de abrir umitinerário de Mocimboa da Praia aChomba, numa extensão de cercade 150 km, atrás do planalto dosmacondes ainda insubmissos e ins-tigados à revolta pelos alemães.Uma vez mais pôs em evidência asua fibra de aço nesta dura missãoem terreno e clima hostil, de matadensíssima inçada de répteis ve-nenosos, conseguindo cumprir amissão ao cabo de dois meses deprogressão e trabalho lentos quasesempre sob a acção do fogo inimigoe sujeito a ciladas constantes.

Esta coluna dos Macondes foidas que mais se distinguiram emterras do Niassa, pela dureza damissão, grande número de baixas,falta de água e de comunicações.Cobertos de pó e cheios de calor,chegaram a marchar dois dias se-guidos chupando folhas resse-quidas, para enganar a sede. A suaacção durante a abertura do iti-nerário Mocimboa da Praia-Chom-ba e a submissão dos macondes,a juntar a todas as provas de valorjá demonstradas, mereceram-lhe oter sido dispensado do curso depromoção «como recompensa dosrelevantes serviços prestados emMoçambique e pelas provas do seuvalor como oficial patenteado du-rante a sua carreira militar».

Com a saúde bastante abalada, chega a LourençoMarques (actual Maputo) para ser sujeito à junta desaúde, mas o Governador-Geral, dissuade-o daaposentação e concede-lhe uma licença graciosa de2 anos.

A 24 de Agosto de 1918 é promovido a Major. Novascondecorações lhe são conferidas. Mas, os esforçosque despendera durante tantos anos de dedicação,arruinaram-lhe a saúde, sendo reformado em Feve-reiro de 1920. Era então, Neutel de Abreu, segundopalavras de um jornalista da época, «um tipo magro,ossudo, requeimado pelas febres e pelo clima, que,mesmo através da decadência física e da melancoliaafricana que pairava nos seus olhos, revelava umaassombrosa energia e todo o jeito do homem quesabia enfrentar a morte».

A aposentaçãoO Neutel terminava a sua carreira militar mas não a

tarefa que a si próprio impusera. Resolveu ficarnaquela terra a que tanto queria, e dedicar-se àagricultura, onde conseguiu os mesmos triunfos queobtivera com a espada, acabando por ser premiadona Exposição de Sevilha pelos produtos ali apre-sentados. Arrasado pela doença, e tendo as suaseconomias comprometidas na bela plantação do

Irmãos de SangueIrmãos de Sangue

Quadro a óleo existente no Palácio de S. Paulo, naIlha de Moçambique, da autoria do artista “Guerra”,

retratanto a cerimónia do pacto de sangue entreNeutel de Abreu e o Régulo Mukapera de Corrane

Major Neutel de Abreu

Régulo Mukapera (Foto José dosSantos Rufino - Álbum Distrito de

Moçambique - 1929)

Residência de Neutel de Abreu no Mossuril(Foto José dos Santos Rufino - Álbum Distrito de

Moçambique - 1929)

Residência de Neutel de Abreu em Moginqual(Foto José dos Santos Rufino - Álbum Distrito de

Moçambique - 1929)

Capitão Cunha

Mongicual, resolve pô-la à venda para vir tratar-se àMetrópole. Moçambique, porém, não o esquecera e,num gesto nobre, foi aberta uma subscrição por umacircular em que se escrevia «... só indignamente po-deríamos consentir que para Neutel salvar a sua vida,a plantação do Mogincual fosse entregue por umaridicularia à falta de escrúpulos de qualquerganancioso, inutilizando sacrifícios de tantos anos. Épreciso que todos paguemos o tributo com esponta-neidade e sem mesquinhez, praticando assim a maiselevada das qualidades morais - a gratidão».

CONTINUA NO PRÓXIMO NÚMERO

Em 29 de Junho de 1941, na Sociedade de Geografia, oMajor Neutel de Abreu era condecorado pelo Marechal

Fragoso Carmona, então Presidente da República, coma Comenda da Ordem do Império. Na foto, momento

dessa cerimónia. (Foto Diátio de Notícias)

Page 19: BOM DIA MACUAS! - macua.blogs.commacua.blogs.com/moambique_para_todos/files/...forum_macua_24042008.pdf · 24/04/2008 · para partilhar a candura dos anjos, como a Paulinha Correia

Fórum Macua2008/04/24

página aberta

SEMELHANÇASSEMELHANÇAS

SEMELHANÇAELHANÇAS

António Aleixo, natural de Vila Real de Santo António,Portugal, poeta popular, autor do livro “Este livro quevos deixo”

António Nacavarra, natural do Lumbo (Ilha deMoçambique).

As semelhanças são surpreendentesentre a caricatura do poeta cauteleiroAntónio Aleixo, português, e a fotografiado velho Nacavarra, agricultor moçam-bicano do Lumbo.

19

JornalFórumMacua

Ficha TécnicaPropriedade e Direcção: Paulo Pires TeixeiraRedacção. Susana Sofia Dias, Vasco Fénita, FloribertoFernandes e Abdul Paulo.Paginação e Grafismo: Paulo Pires TeixeiraMarketing e Publicidade: Susana Dias

Contacto: 00258 848164523Filial: Rua Mateus Sansão Muthemba, 14 - 2ºNAMPULA - MOÇAMBIQUE

SEDE:Figueiródos Vinhos

Contribuinte109 978 153

foto da quinzenaMar de Prata naIlha de Moçambique18/04/2008

Foto: Paulo Pires Teixeira

nampula (1927)

nampula (2008)

A rotunda do Infante em 1927, vinte anos após a fundação de Nampula. Esta foto foi tirada em1927 por José dos Santos Rufino e publicada em 1929 no álbum dedicado ao então distrito de

Moçambique, uma obra notável, que reproduz em 10 álbuns todos os distritos e ainda

A rotunda do Infante em 29 de Março de 2008, oitenta e um anos após a fundação de Nampula e61 anos após a foto anterior.

PARTICIPE NA FOTO DA QUINZENA ENVIANDO A SUA FOTOGRAFIA PREFERIDAINDIQUE O NOME DO AUTOR, DATA E LOCAL DA FOTO

ENVIE PARA: [email protected]

Page 20: BOM DIA MACUAS! - macua.blogs.commacua.blogs.com/moambique_para_todos/files/...forum_macua_24042008.pdf · 24/04/2008 · para partilhar a candura dos anjos, como a Paulinha Correia

Fórum Macua 2008/04/24

Macua i îTens um

chapéu muitobonito!!!

É modaagora!

2008/04/24

[email protected] Colabore comeste projectofazendo-seassinante.

Como subscrevero Fórum Macua?

Envie um e-mail para [email protected], a manifestar o desejo de ser assinante,indicando para o efeito: NOME, MORADA, Nº. DE CONTRIBUINTE e E-MAIL para onde pretendeque seja enviado o jornal;

A assinatura é de 42,00 euros anuais (40,00 + 2,00 referente a 5% IVA) para Portugal e UE,resto do mundo 60,00 euros, e Moçambique, 1.550,00 meticais anuais;

Para os assinantes em Portugal e países da União Europeia, esta importância deverá serdepositada ou transferida, para a conta do Millenium: NIB 0033 0000 45355714252 05, devendo-se indicar, se for depósito directo, o e-mail na referência (basta pedir ao caixa do banco parainserir); e se for transferência, o nome e e-mail - após a confirmação, será enviado o recibo.

Para os assinantes em Moçambique, o procedimento é o mesmo, alterando apenas o nº. deconta para: NIB 000100000013766414757 do Millenium BIM - será enviado recibo apósconfirmação;

Para os assinantes do Resto do Mundo, a transferência deverá prever o contra-valor de 42,00euros acrescidos de 18,00 euros (taxa de referência das transferências internacionais),totalizando 60,00 euros, para a conta do Millenium BIM - IBAN:MZ59000100000013766414757- será enviado recibo após confirmação.

Esta primeira edição éoferta. No e-mail para

quem enviamos o jornal,serão dados outros

esclarecimentos.

MOÇAMBIQUE

Esgotaram-se os chapéus...

QUOTIDIANO

FranquezasMacuas

[email protected]

Paulo Pires Teixeira

Aqui, convoscoMokala?

Ainda no Lumbo, bem próximo de Cavaco Silva para registarimagens da sua visita, disse-lhe:

- Presidente, diga Mokala a este povo!Assim o fez, e prontamente as ovações redobraram.Aqui estou, convosco!Mokala, Macuas!Mokala é um cumprimento.Mokala é a minha expressão para dirigir um abraço a todos

quantos receberem este jornal. É também uma expressão deesperança para este projecto - que nasceu de uma férreavontade de servir as nossas comunidades, particularmenteas que estão distantes, porque vivi a angustia durante maisde três décadas de ausência desta terra que amo, que todosamamos e que tantos sentimentos nos assaltam - vingue nasua missão. Senti nesse interminável tempo, a ausência deinformações, de imagens, até dos cheiros deste nosso rincão,das suas gentes e da terra vermelha molhada. Não vos levoos cheiros, mas quero deixar-vos os aromas das memóriasreflectidas em pedaços de cada um.

Aqui estou animado nesta aventura, cumprindo um sonhode menino, que também foi o do meu pai, o homem-jornalistaque sofreu neste país nas mãos intempestivas e cálidas daPIDE, por defender a justiça das populações locais, contraum poder muitas vezes indiferente a imperativos, e que, porisso, todos pagaram caro: moçambicanos e portugueses.

Mas importa olhar em frente e dar passos determinantespara a harmonia entre povos que se respeitam e acarinham.

São esses passos que quero dar, para fazer chegar a todosuma mensagem positiva, iluminada de valores de proximi-dade.

Estou certo que os Macuas me ajudarão a fazer desteprojecto mais um laço de união fraterna, onde caberão asmemórias de todos, no perfil que se pretende de identidadee cidadania.

Nós e a Casa MacuaA Casa Macua é e continuará a ser o grande ponto de

encontro da comunidade Nampulense, concorrendo para issoo empenhamento, sensibilidade e dedicação da Maria JoséFernandes, a nossa Mizé.

Foi esta Casa e o Bar da Tininha, que me inspiraram nesteprojecto, e foram os muitos participantes que me animaram.

Os projectos são diferentes, independentes e nobres.Partilhamos a igualdade sim, na missão de servir e unir.

ANTIGOS ALUNOS E PROFESSORES NO PRÓXIMO DIA 26 DE ABRIL EM MIRA

Aí está o XXVIConvívio de Nampula

Já lá vão 26 anos de en-contros entre antigos alunos eprofessores das escolas deNampula, uma iniciativa que seafirmou, e que de ano para anotem vindo a registar maiores enovas presenças.

Iniciando estes encontrosem Lisboa, graças ao empe-nhamento particular da Dalila,primeiro num pequeno restau-rante em Lisboa, depois evo-luindo para um dos restau-rantes do Jardim Zoológicotambém em Lisboa, depressaforam surgindo outras opções,como Coimbra, Figueiró, Fer-reira do Zêzere e Mira.

Em cada destas localidades,colaboraram na organizaçãoantigos estudantes ali resi-dentes, sempre com o impres-cindível apoio da Dalila, doJoão Fernandes e da Mizé,entre outros.

A estes encontros têm-seassociado muitos pais de alu-nos, facto que tem enriquecidoos convívios e alargado oleque de memórias.

Mira recebe pelo 3º. ano estainiciativa, dadas as excelentescaracterísticas do complexo

Quinta das Lagoas, onde o es-paço amplo e recantos pito-rescos favorecem e lhe em-prestam um cheirinho a Mo-çambique.

Lá estaremos de alma ecoração.

Opaka melo!

Ao centro, a Dalila e o Carlos Queirós no encontroem Figueiró dos Vinhos em 2002