Books - Copos Que Andam

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Livro digitalizado e corrigido por

Livro digitalizado e corrigido por

Lusia Almeida, em 14/10/2001

COPOS QUE ANDAM

Copyright Petit Editora e Distribuidora Ltda., 1990/ 97.

1 edio: Setembro/90 2.000 exemplares

2 reimpresso: Dezembro/)0. 2.000 exemplares

3 reimpresso: Abril/93 3.000 exemplares

4 reimpresso: Maro/94 5.000 exemplares

5 reimpresso: Outubro/94 5.000 exemplares

6 reimpresso: Janeiro/95 10.000 exemplares

7 reimpresso: Setembro/95 10.000 exemplares

8 reimpresso: Agosto/96 10.000 exemplares

9 reimpresso: Outubro/97 10.000 exemplares

Reviso de textos e composio grfica: Joo Duarte de Castro

Capa. criao c arte final: Flvio Machado

Foto da capa: lio Oliveira da Silva

Editorao: Luiz Carlos Pasqua

1 33.1 Carlos, Antnio (Esprito)

Copos que andam / pelo Esprito Antnio Carlos:

psicografado por Vera Lcia Marinzeck de Carvalho.

So Paulo: Petit, 1994. 140 p.

Copos que Andam

Pelo Esprito ANTNIO CARLOS

Psicografia VERA LCIA MARINZECK DE CARVALHO

Ttulo

J: 133.9

editora

PETIT EDITORR E DISTRIBUIDORA LTD(i.

ndice

Prefcio 13

Introduo

1 - A Feira do Livro Esprita

2 - Jovens viciados 21

3 - Conseqncias da Brincadeira 28

4 - Socorro a encarnados 36

5 - A Casa do Jardim Torto 42

6 - O Tablado 48

7 - Fabiano 53

8 - Informaes 62

9 - Psicometria

10 - A rosa seca 74

11 - Os primeiros socorros 79

12 - Amor maternal 88

13 - Jos, o Caixo 94

14 - A histria de Carlos 100

15 - A palestra 108

16 - Doutrinao 113

17 - Nely 119

18 - Temos todos, realmente, uma histria 123

19 - Tempos depois 135

Prefcio

Em certa cidade do interior, numa Feira de Livro Esprita, um grupo de senhoras e demais companheiros responsveis pelo evento conversam, preocupados, com o assunto do momento: a brincadeira que alguns jovens do lugar faziam, com copos, na invocao de Espritos. At nas escolas, desavisados j estavam se reunindo para, no intervalo das aulas, fazer suas indagaes a ttulo de curiosidade. Uma equipe espiritual que prestava assistncia aos trabalhos da Feira de Livros, preocupou-se com o problema pelo perigo que tal atividade pode trazer aos incautos que se envolvem na ao aparentemente inofensiva de brincar invocando Espritos. O mal est em que apenas Espritos inferiores e ignorantes se prestam a esse tipo de invocao. Bons Espritos jamais se dispem a isso. E os Espritos inferiores, maus e ignorantes, apresentando-se nas sesses de invocao, mentem, mistificam, inclusive assumindo falsa identidade, a fim de satisfazer a curiosidade dos desavisados. Respondem quilo que lhes perguntam, fazem previses e do conselhos, participando da brincadeira. Contudo, julgando-se credores dos participantes que os invocam a seu servio, fazem duras e dolorosas cobranas pelo "trabalho" prestado. Esses Espritos, portadores de fluidos pesados e negativos, infestam o ambiente a que comparecem. Se gostam do lugar e dos moradores, a permanecem, passando a fazer parte da vida da famlia, acarretando todo o tipo de desequilbrio e influncias nocivas. Induzem os jovens ao consumo de drogas para que possam vampiriz-los; divertem-se com as peas de mau gosto que pregam aos desprotegidos encarnados; e julgam-se no direito de usar e abusar de tudo e de todos por terem sido chamados para a prestao de servios. Antnio Carlos e equipe acompanham muitos dos envolvidos nas brincadeiras dos "copos que andam" e tm a oportunidade de presenciar a deletria atuao dos Espritos inferiores invocados. Constatam muitos casos de obsesso e procuram intervir em favor dos atingidos, numa difcil e espinhosa tarefa de amparo e reparao. Muitas so as histrias ento relatadas. Inclusive, o caso da jovem Nely que induzida a matar o prprio pai, vindo depois a se suicidar!

Joo Duarte de CastroIntroduo

Em uma cidade pacata e bonita, realizava-se mais uma Feira do Livro Esprita. A tarde morna do ms de agosto contribua para o movimento das pessoas, que palestravam alegres, trocando idias sobre a Doutrina Esprita. Um grupo de senhoras simpticas conversava com amizade e respeito sobre o assunto que as preocupava:

- Muitos dos nossos jovens, desinformados, levam na brincadeira algo que desconhecem, e o fazem com a ajuda de muitos adultos - disse Conceio, deveras preocupada. - At nas escolas, esto se reunindo nos intervalos das aulas, para indagarem sobre curiosidades.

- E acontece cada barbaridade! Conta-se que perguntam datas de desencarnaes e obtm respostas, e que formam at palavras obscenas! - comentava no menos preocupada Maria Luza.

- Tento, sempre que possvel, instruir as pessoas sobre o que realmente a brincadeira do copo, que de brincadeira no tem nada. Gostaria de indicar a esses jovens algum livro sobre o assunto, mas no tenho conhecimento de nenhum - fala Solange.

- A literatura Esprita vasta - diz Toninha, pessoa de estudo, conhecedora da Doutrina Esprita. - Realmente, no tenho conhecimento de livro especfico sobre o assunto. Ser que no poderamos pedir ao Antnio Carlos que escrevesse um?

- Seria bem interessante um livro que narrasse os acontecimentos do lado de l, no Plano Espiritual, sobre essa brincadeira to em voga - conclui Solange.

- Acho que vocs se preocupam muito - diz Claudete, otimista.

- Essa brincadeira est fazendo muitas pessoas passarem apertos e medos. Brincam com o que no conhecem e, depois, passam a temer as conseqncias. Isso tem levado muita gente a pedir trabalhamos h tempos com jovens encarnados e, conhecendo-os bem, sabemos que, na maioria das vezes, fazem isso por fazer, ou para participar, por curiosidade, ou at mesmo para serem agradveis turma. Entretanto os que tm mais sensibilidade, so os mais prejudicados. Essa brincadeira tem-se realizado com muita freqncia, est na onda, como diz a garotada.

- Adultos tambm esto lidando com isso, embora em nmero menor. Querem soluo para seus problemas, tentam bisbilhotar a vida de outras pessoas ou, ainda, procuram saber do futuro, como se ns, desencarnados, pudssemos conhecer e responder sobre o que h de vir. Muitos pensam que, s porque desencarnamos, sabemos de tudo e, ainda, que at podemos nos tornar adivinhos. - O futuro depende muito do livre-arbtrio de cada um! - suspira Lcia.

- Bem - fala Mateus -, se voc, Antnio Carlos, estiver interessado, poderemos, logo mais, lev-lo para que assista a uma "brincadeira do copo". Ver grupos de Espritos desencarnados desocupados responderem durante um fenmeno medinico, atravs de um objeto no caso um simples copo de vidro, a grupos encarnados imprudentes que ignoram o perigo que correm nessas horas em que esto a se divertir.

- Aceito e agradeo.

O trabalho do lado espiritual, na Feira do Livro Esprita, era feito por horrio, em rodzio, tal como faziam os encarnados. E no faltavam tarefas. A equipe dos encarnados no s vendia livros, mas tambm orientava muitas pessoas, com conselhos sensatos e bondosos, e ainda escutavam pacientes os problemas de muitos, procurando sempre ajudar.

Os trabalhadores desencarnados eram de uma equipe que acompanha Feiras de Livro Esprita por todo o Brasil. So instrudos e acostumados nesse trabalho, sendo um de seus objetivos o nimo e a alegria de todos. Outra equipe era constituda por Espritos que trabalham no espao espiritual da cidade, tais quais amigos que conversavam. Participavam dessa equipe socorristas de trs grupos, dos quais faziam parte os encarnados que ali trabalhavam.

Os Espritos davam passes em todas as pessoas e, ainda, socorriam outros desencarnados sofredores. Muitos vinham at a barraca. Alguns acompanhavam compradores encarnados ou mesmo buscavam auxlio para seus males. Havia os que se portavam como compradores, certos de estarem encarnados. Eram, ento, encaminhados para os Postos de Socorro, ou para os Centros Espritas para serem orientados.

A preocupao maior era com os ataques de Espritos avessos ao Bem, que perseguem a divulgao da Verdade. Porque, conforme disse Jesus: "Conhecereis a Verdade, e ela vos libertar". Essas Entidades vem na Feira do Livro Esprita uma fora enorme que os est vencendo. Por isso as equipes esto sempre atentas na defesa, sempre felizes e irradiando Paz.

Foi com muito prazer que fiquei na barraca, esperando pelos amigos, enquanto observava o movimento.

Trs jovens se aproximaram. Eram garotas bonitas, mas estavam inibidas. Puseram-se a olhar os livros em exposio e ficaram a cochichar. Acompanhava-as uma senhora desencarnada, que nos cumprimentou e explicou:

- Marina, minha neta, veio at aqui induzida por mim. As outras so amiguinhas, e elas esto curiosas para participarem da brincadeira do "copo que anda". J fiz de tudo para elas no irem e, na tentativa de que algum as instrusse, encaminhei-as at aqui. Preocupo-me com Marina, ela doce e bondosa, mas sendo mdium e participando de uma atividade, onde Espritos brincalhes estejam presentes, temo que um deles se torne companhia dela e a prejudique.

Jos Luiz, que no momento estava a receber as pessoas e a orient-las na compra de livros, cumprimentou-as e indagou:

- Que livros preferem? Romances?

- Ser que voc poderia nos responder uma coisa? - indaga Marina. Nem esperou pela resposta e continuou: - A brincadeira do "copo que anda" esprita?

- O Espiritismo uma Doutrina que ensina somente o Bem, a modificao ntima das pessoas, tornando-as melhores. uma religio sria que proporciona aos seus seguidores estudo e orientao. E, respondendo sua pergunta, esse divertimento no esprita, o "copo que anda" constitui apenas fenmeno medinico.

- Hum!... - suspirou Marina.

Jos Luiz entendeu que no fora bem compreendido e explicou mais claramente:

- No, minha filha, essa brincadeira no Espiritismo, porm ns, espritas, entendemos que os mortos do corpo, vivos em esprito, ou como tambm so chamados tantas vezes de fantasmas, assombraes, podem vir e brincar quando so chamados. Entenderam?

- Ave-Maria! So demnios? - exclamou uma delas. Estavam assustadas e, atentas, escutavam as elucidaes de Jos Luiz:

- Desencarnados so os que vivem sem o corpo fsico, so os vivos, cujos corpos morreram. Continuamos a ser no Alm o que fomos aqui. Pessoas srias, ocupadas, no desperdiam o tempo.

Espritos bons no participam de fenmenos medinicos que no visam o Bem. Dessas brincadeiras participam Espritos que no tm o que fazer, so desocupados e brincam com as pessoas para se divertirem. Muitos deles podem ser maus ou "demnios", como voc diz, porm "demnios" so tambm nossos irmos que, no momento, desconhecem o Bem e afastaram-se de Deus...

- Por que querem participar desse divertimento? - indaga Solange, que se aproximara e escutava a conversa.

- Para saber do futuro - respondeu uma delas. - Se vou casar, se vou estudar...

- Do futuro, s Deus sabe - replica Solange. - Esses Espritos levianos respondem o que lhes vm mente, sem se importarem com a verdade. Mentem e divertem-se. Depois, so almas de mortos, vocs no tm medo? Pois deveriam temer os que participam dessa brincadeira. Por isso, no devem divertir com o "copo que anda"!

- Eu no vou!

- Nem eu!

- Sei l, e se vier um demnio e ficar conosco! Isso pode acontecer, no ? Meu pai disse que pode... tenho medo!

- Este o grande perigo - conclui Jos Luiz -, algum Esprito maldoso ficar com vocs e atrapalhar suas vidas. Interessaram-se por alguns livros e indagaram o preo.

- Que preo baixo! Custa s isso? - exclamou Marina. - Nunca vi um livro to barato!

- que a Literatura esprita no visa lucro algum, porque seu objetivo instruir, informar e ajudar as pessoas - sorriu Solange.

As mocinhas compraram alguns livros e foram embora com a deciso de no participarem da brincadeira do copo. A av desencarnada, aliviada, agradeceu e partiu com elas.

Uma senhora, acompanhada de um Esprito, veio at barraca. Quando o desencarnado viu Claudete, no se aproximou, ficou olhando distncia. A senhora cumprimentou a atendente e logo se queixou:

- D. Claudete, estou sentindo-me novamente mal, desanimada, com dor de cabea e cansao!

A professora Claudete animou-a, sorriu e, como se falasse a um de seus alunos, aconselhou-a, indicando alguns livros que muito poderiam ajud-la.

- Este Esprito, um senhor desencarnado, j foi encaminhado por trs vezes ao Posto de Socorro, mas no toma jeito! - informou-nos Maria.

- Por que ser que no fica num lugar to lindo e agradvel como o Posto? - indaga Lcia.

Aproximamo-nos dele, que nos olhou desconfiado e falou rpido:

- No fiz nada, estou quieto. S olho...

- Sabemos - disse calmamente Mateus -, s queremos saber o porqu de o senhor no ficar no Posto de Socorro!

- Bem, l existe muita disciplina, muita ordem que temos de obedecer, nem posso fumar...

- Entretanto, l foi curado e no sente dores, h um leito confortvel e alimento.

- Alimento sem carnes - replicou, exigente -, curam-me, porm logo fico doente novamente.

- J sabe que seu corpo morreu e, quando tenta viver como se estivesse encarnado, volta a sentir os sintomas que tinha, e fica doente. Entretanto, o senhor est vampirizando sua esposa!

- Disse bem, meu caro, a minha esposa e no a sua. Vivemos bem deste modo.

- Sua esposa no pensa assim, pois est constantemente a se queixar dos maus fluidos seus.

- Ela assim mesmo, queixa-se de tudo.

Parou de falar, foi saindo devagar, distanciou-se alguns passos e correu desaparecendo de nossas vistas.

- Sempre achei estranho desencarnados sarem dos Postos de Socorro - disse Lcia. - Esse senhor prefere vagar, no querendo disciplinar-se.

- Gostos diferem - explica-nos Mateus -, nem todos gostam do amarelo. Nos Umbrais encontramos muito sofrimento, nos horrores dos cativeiros, nos que padecem em remorso e tambm na prtica de vcios de toda espcie. O que pode ser feio, triste e ruim para alguns, como ficar a vagar, ou morar nos Umbrais, pode ser uma escolha para outros. O que um paraso sonhado para tantos, como as Colnias, Postos de Socorro, um lugar desagradvel para muitos. Questo de afinidade. Colnias Espirituais e Postos de Socorro so lugares de disciplina, de ordem, onde no se podem conservar vcios, mas se aprende a moral crist e a ser til. Existem os que s querem receber e, pior, exigem, sem dar valor a quem os serve. Porm nem todos os que retornam de um Posto de Socorro, pensam assim, porque a saudade di. Se queremos bons lugares, temos que nos afinar j com eles, sendo simples e puros, como os que vivem l.

- Que acontecer com esse senhor? - indaga Lcia.passou a sentir em parte seu desespero. Ele no quer suicidar-se, porm sente-se tentado. Pensa muito nisso e teme. E, para nosso espanto, o moo falou s senhoras:

- Desde que fiz a brincadeira do "copo que anda", l em casa, sinto-me assim, angustiado, aflito, com dores de estmago, sem poder dormir direito, e parece que escuto: "Suicida! Suicida!" No quero isso no, moas, no quero. Sei que quem se suicida vai para o Infemo. Acredito em Deus e no posso fazer isso, nem ir para o Inferno.

- Quem pratica esse ato sofre muito realmente, porm Deus bom demais, e o castigo etemo no existe! Por ser grande o sofrimento, parece que o tempo no passa e, assim, acredita-se que o sofrimento eterno. Voc no deve mais pensar nisso - disse-lhe Hilda. - Deve tomar passes, ler o Evangelho - falou carinhosamente Maria Luza. - Vamos fornecer-lhe os locais e os dias de reunio.

- Vou indicar-lhe alguns livros e, ao estud-los, no pensar mais nisso - esclarece Toninha. - preciso orar, pedir a Deus para ajudar a afastar essas idias de voc. Tambm no deve mais participar ou fazer a brincadeira do copo.

- Peguei essa tentao por isso, no foi? - indaga o moo, mais tranqilo.

- Deve ter sido - esclarece Toninha -, nada de bom sai dessa diverso.

- Se quiser presenciar Espritos se comunicarem, v a sesses espritas. No deve voc participar desses divertimentos, para no sujeitar-se a influenciaes piores - conclui Hilda.

- Est vendo, Antnio Carlos - diz Mateus -, como essa brincadeira perigosa? Est a preocupar a todos os espritas da regio!

- Ser que ele poderia suicidar-se? - indaga-nos Lcia.

- Talvez, se a moa desencarnada ficasse muito tempo com ele. Porm ele sentia-se apavorado e, de algum modo, procuraria ajuda. Estava sendo induzido, ou, como os encarnados costumam dizer, "tentado". Mas possui o livre-arbtrio para atender ou no a sugesto - responde Mateus.

- E se ele no procurasse ajuda? - indaga Maria.

- Os fluidos constantes dela fariam com que ficasse doente e consultasse mdicos, que lhe receitariam remdios. Poderia at perturbar-se e, quem sabe, suicidar-se.

- A culpa dele, nesse caso, a mesma? - indaga Lcia, interessada.

- Na Espiritualidade, cada caso um caso, levando-se em conta inclusive a obsesso. De qualquer forma, o suicdio traz graves conseqncias para quem o pratica.

O moo adquiriu vrios livros, desejando estud-los e ir com freqncia tomar passes e, sentindo-se outro, agradeceu e foi para casa.

Mudando a equipe de trabalho, Maria, Joaquim e Mateus estavam livres. Andamos tranqilamente pela bonita e grande praa, onde estava armada a barraca da Feira do Livro Esprita.

- No v por ali!

Esbarrou em ns, sem nos ver, um desencarnado que seguia uma senhora. E continuou a falar sem notar-nos:

- Uma Feira do Livro Esprita, que perigo! Sabe-se l o que um desses livros poder fazer, se for lido? Ela poderia desconfiar que a vampirizo e aques minha vingana! Ainda mais, se procurar ajuda desses abelhudos espritas. Vamos pelo outro caminho, e j!

A senhora mudou de rumo, evitando passar perto da Feira.

- Infelizmente - disse Joaquim - muitos encarnados aceitam facilmente a orientao m de desencarnados. Esse irmo que obsedia essa senhora, certamente responderia a quem o invocasse atravs do copo. Isto , diria muitas mentiras. Ele inteligente, mas teme a Feira do Livro Esprita, por ser um local de socorro e orientao; onde seus organizadores alertariam aquela senhora e poderiam at impedir que dela se vingasse.

Na ponta da praa, a barraca era um foco enorme de luz que descia do alto, irradiando-se e permitindo ser vista de longe. Fazia os maus temerem, dava esperana e socorro aos sofredores e o mais importante, propiciava oportunidades De aprendizagem, conhecimento e instruo a todos os que dela se aproximassem.

Cap.2

Jovens viciados

No tnhamos andado muito e, ao atravessarmos a rua, encontramos um grupo de oito jovens. Num instante, prepararam o local como j haviam planejado, e organizaram a mesa. Colocaram nela as letras do alfabeto recortadas de papel grosso, e tambm os numerais de zero a nove, todos em crculo, tendo de um lado o monosslabo "sim" e, do outro, o "no". Puseram um copo de vidro, com a boca para baixo, no centro do crculo. Os jovens rodearam a mesa e trs deles apoiaram o dedo indicador da mo direita sobre o copo. Um deles, o que liderava, pediu em voz alta:

- Concentremos-nos, para que Anabela e Lael se comuniquem conosco - e continuou o jovem, com voz pausada: - Anabela, Lael, vocs esto presentes? Podem falar conosco?

- Este jovem que est invocando Luciano - esclareceu-nos Joaquim. - Est achando sensacional o fenmeno. Tem dezessete anos e no segue religio nenhuma, embora se diga catlico, como sua famlia. Sendo sensitivo, permite, com seus fluidos, que desencarnados possam brincar com ele. Vejam, a esto os Espritos que foram invocados: um grupo de arruaceiros. Anabela esta jovem... bem, nem tanto, pois desencarnou com vinte e seis anos, e Lael este rapaz loiro. Todos pertencentes ao bando, como eles prprios chamam "nossa turma". So viciados em drogas. Os integrantes do grupo, sete no total, chegaram em alvoroo, rindo, gargalhando e dizendo gracinhas. Trajavam poucas roupas, predominando as vestes de cor preta e os cabelos despenteados; estavam sujos, cheirando mal, e as mocinhas, muito pintadas, usavam colares e brincos. No nos viram.

- Lael, deixa-me responder em seu lugar? - perguntou um deles, todo enfeitado com correntes grossas prateadas.

- Pode, porque esse Luciano est me cansando, pois a todo momento quer consultas, Idiota! Pagar caro, porque Lael nada de graa! Ei, garotos, podem vampirizar vontade, pois foram eles que nos chamaram...

- Ora, eles no usam drogas, e seus fluidos no so legais reclama uma das jovens.

- Pode esperar que no cansar sua beleza; logo muitos de estaro nas drogas - diz, confiante, Lael. Eles rodearam os jovens encarnados, e ns ficamos sua volta. E ns que respondemos aos jovens encarnados, usando mesmo processo para formar as palavras:

- Vocs, jovens, deveriam estar estudando, e no brincam com o que desconhecem. Espritos srios e bons no perdem se tempo com essas coisas. No devem fazer isto, errado!

- Que acontece, Lael? - indaga um dos desencarnados do bando, assustado. - Quem est respondendo por ns? - No sei. melhor "dar no p".

Saram rpido e os moos ficaram desiludidos. Um deles murmurou "Que estranho!"

- Acho isso coisa do demnio. Minha me viu num filme que era o diabo quem respondia.

- Deixe de ser boba! - exclama Luciano -, s vezes, nem Ana bela nem Lael podem vir; deve ser algum engraadinho que respondeu por eles.

- Se no puderam vir, onde estaro? - quis saber uma jovem

- Eu sei l! - exclama Luciano -, nunca morri pra saber,..

- Ser que morto mesmo, quem responde?

- Que medo! - exclama outro jovem.

- Ora, no diga besteira, morto mesmo, Voc no etemo Ento, quando morre, continua vivendo. Foi Lael quem disse - fala com convico Luciano.

Frustrado, desfez o grupo de jovens e foi embora.

- Luciano no m pessoa - explica-nos Joaquim, um dos mentores espirituais. - curioso, inteligente, era bom filho, digo era porque esses Espritos viciados j comeam a mudar sua cabea. Mateus, preocupado, argumenta:

- Vcios! Como triste ser escravo de um vcio! No corpo fsico ou fora dele, estaremos presos ao vcio que cultivamos, at que pela nossa prpria vontade, possamos venc-lo. Pessoas cativas de drogas quando encarnadas, continuam a se drogarem depois de desencarnadas e quase sempre em piores condies. E tudo fazem para alimentar o vcio, vampirizando encarnados e persuadindo-o a se drogarem tambm. E libertar-se delas no fcil. necessrio muita ajuda, mas primeiramente preciso que queiram a ajuda.

- Vamos tentar ajudar Luciano? - exclamei.

- Sim, porm iremos nos defrontar com seu livre-arbtrio - fala Maria, com piedade. - E como afast-lo dos Espritos viciados, se ele que os invoca? Que fazer com esses irmos viciados que no querem ser ajudados? Temos em nosso Educandrio uma ala enorme destinada a recuperar Espritos de jovens viciados. Mas l esto s os que querem se libertar da droga e lutam para isso, o que no fcil, pois mesmo tendo todo o apoio, levam tempo para que se curem. E esses integrantes do bando esto longe de querer socorro! Querem usar Luciano como intermedirio, pois desejam que se vicie para depois vampiriz-lo.

- E, pelo jeito, Luciano prefere-os. Vocs ouviram como se referiu a ns, chamando-nos de "engraadinhos"? - sorriu Joaquim.

Seguimos Luciano e logo encontramos o grupo dos jovens desencarnados que o esperavam, e o acompanharam. No nos viram, e s nos perceberiam se quisssemos, pois nossas vibraes eram diferentes: a nossa mais suave, rarefeita; a deles, mais grosseira. Aps alguns minutos, sentiram algo diferente, que estranharam e os incomodava!

- A sensao esquisita de novo? Que ser? No vejo ningum -disse Lael.

- No sei - fala um outro -, parecem-me fluidos dos "caretas de branco". Ser que Luciano orou?

- Claro que no, porque j recomendei que no fizesse isso -comea a ficar nervoso Lael.

- Em todas as vezes que meu av vem encher-me, querendo que mude minha forma de viver, sinto esta sensao - fala uma jovem.

- melhor "dar no p" novamente - disse Lael. - Que tal irmos ao bar e farrear? A turma pode estar l.

- Se no estiverem, s cham-los, que viro como cachorrinhos! Vamos! - exclama Anabela.

Luciano continuou seu caminho, e foi para casa.

- Qual ser o bar onde iro? - indaga Maria.

- Vamos acompanh-los distncia e depois visitaremos Luciano - sugere Mateus.

Seguimos os jovens do grupo, que foram para um barzinho com aparncia discreta. Entraram, entramos tambm e, acomodando-nos num canto, ficamos observando.

Alguns encarnados ali estavam, a maioria jovens desocupados. O bando de desencarnados logo animou-se:

- incrvel como se afinam! - exclama Maria.

- Ociosos e desocupados! - exclama Joaquim. - No toa que os imprudentes dizem que no tm o que fazer, s arrumam confuso.

Os viciados desencarnados cochicharam a seus conhecidos encarnados, ficaram pertinho deles e vimos as drogas surgirem seus esconderijos. Drogaram-se, usufruindo juntos daqueles efeitos nocivos e, como diziam, "viajavam" tristemente unidos.

Samos e Mateus explicou-nos:

- Nem todos os jovens viciados so induzidos por Espritos, Embora a companhia desses infelizes no falte. Porm fcil adquirir o vcio e so muitos os motivos que eles enumeram, para se justificarem, Os vcios danificam o corpo fsico, o corpo perispiritual, e um dia tero que dar conta do seu ato ao Criador que os fez perfeitos. Aprendero, talvez, a lio num corpo doente, cujos efeitos eles mesmos provocaram por livre escolha!

- Esses Espritos foram viciados, quando encarnados - indaga Maria.

- Sim, mas pode acontecer que um Esprito se junte aos jovens e adquira o vcio. O corpo carnal uma vestimenta, quem adquire vcios somos ns - explica Joaquim.

- Que acontecer a esses jovens desencarnados? - quis saber Maria.

- A droga aos poucos arruinar o perisprito deles, tornando-os verdadeiros farrapos, e a dor sbia vir para ensin-los; ou pode acontecer que antes se cansem dessa vida e queiram ajuda - responde Mateus.

- A deixaro o vcio?

- Tero que lutar para venc-lo - diz Mateus. - Sofrero duplamente, o vazio da vida ftil e a falta das drogas, porque chegaro a um ponto que nem foras tero para vampirzar algum.

Chegamos casa de Luciano. No de nosso costume entrar sem ser convidado, por isso ficamos por minutos observando-a do lado de fora. Seu lar era confortvel, de classe mdia e no lhes faltava nada. A famlia se compunha do pai, da me e da irm menor, Para nossa surpresa, veio ao nosso encontro, convidando-nos a entrar, o av desencarnado de Luciano. Apresentou-se alegre cheio de esperanas:

- Sou Wlter, av patemo de Luciano. Vieram ajudar meu neto?

- Estamos a pesquisar as invocaes que esto fazendo com a brincadeira do copo. Vimos Luciano fazer isso e o seguimos. No sei se poderemos ajud-lo - explica Maria.

O Sr. Wlter sorriu, conduzindo-nos para dentro

- Por no ver a turma de viciados chegar com meu neto, pensei que se livrara deles. Aqui estou de visita, pois preocupo-me com ele, mas no consigo ajudar. Ningum acredita que isso no seja brincadeira e, pior, julgam que no necessita de ajuda. J tentei conversar com ele, durante o sono, porm no me atende. At j respondi atravs do copo, mas repele-me.

- J tentou instruir os pais? - indaguei.

- Sim, minha nora pensa que a fora do pensamento de seu filho que faz mover o copo. Acha lindo Luciano ter essa fora, e at j pesquisou em livros de Psicologia. Considera tudo normal, no cr que os mortos se comuniquem, e v nessa brincadeira algo inocente de jovens, achando que logo Luciano se cansar e deixar disso. Meu filho que se preocupa mais com o assunto, mas aqui prevalecem as idias de minha nora.

- Sr. Wlter, tente intuir seu filho a aconselhar Luciano. Daremos ajuda - disse Mateus.

Atendendo nossa sugesto, chegou perto do filho, que deixou de ler o jornal, por sentir em parte as orientaes.

- Luciano, venha c!

O jovem veio de m vontade e sentou-se perto do .pai.

- Filho, voc tem estudado? Percebo que anda muito envolvido nessa brincadeira.

- No brincadeira, algo srio - diz Luciano, desafiando.

- No v muito na conversa de sua me. Mesmo que seja fora do seu pensamento, algo que voc desconhece e, por isso, no deve fazer. Deixe de participar desse divertimento!

- No nada como a mame pensa, converso mesmo com os mortos!

A me de Luciano entrou na sala e comearam a discutir. No havia respeito, e um xingava o outro. Luciano agrediu os pais, que lhe aplicaram um castigo. Naquela noite no sairia, e ficaria em seu quarto.

Luciano foi para o quarto, revoltado e aborrecido. Incentivamo-lo a orar, a pensar em acontecimentos bons. Nada conseguimos, pois isso lhe era desinteressante demais e, assim, lembrou-se dos amigos e pensou em invoc-los.

Tirou da gaveta os objetos necessrios, arrumou-os no cho, sentou-se e concentrou-se. Com o pensamento firme, chamava-os pelos nomes:

- Anabela! Lael!

Logo que escutamos o alvoroo dos jovens, samos do quarto e ficamos na rea da frente, tornando-nos visveis para eles.

- Boa noite! - dissemos.

Gargalharam, examinando-nos:

- Quem so vocs? - quis saber Lael.

- Amigos - respondeu Joaquim. - Vocs esto bem?

- Demais, "cara" - responde Lael. - Que querem vocs aqui?

- Que deixem Luciano em paz - responde Mateus.

Riram de novo, e Lael fala desafiando-nos:

- H um engano a, quem no nos deixa em paz ele. No viemos aqui de abelhudos como vocs. Somos chamados. Algum quer sua presena aqui? Quem pediu para que cuidassem de Luciano? Ele?

Nesse ponto, Lael tinha razo. Luciano chamava por eles e no por ns. Sereno, indaguei:

- Por que vivem assim? Arruinaram-se e levam outros a fazerem o mesmo?

Lael respondeu, aps dar escandalosas gargalhadas:

- Estamos bem cientes do que ocorre conosco, pois o av deste aqui vive nos enchendo. Mas, enquanto d, vamos tocando, porque ningum aqui est a fim de ser certinho, nem de largar o viciozinho. Esta vida de aventura nos atrai. No foramos ningum a se drogar e, se o fazem, porque gostam. Somos mesmo todos amigos. E podem parar por a, porque no vamos responder mais a interrogatrio. Atendam quem pede pra vocs. Ok?

- Vocs sofrem, so escravos do vcio - ponderei.

- Corta essa, cara! - fala cinicamente Anabela. - Cuidem da vida de vocs, que da nossa cuidamos ns. Se sofremos, ou no, que tm vocs com isso?

Tentaram entrar, mas os impedimos e, vendo que no conseguiriam, afastaram-se rindo e xingando.

- Pena que no podemos lev-los para um tratamento - suspira Maria.

- Os trabalhadores do Bem no esto para socorrerem a todos, mas sim aos que pedem e aos que querem - expressa Mateus.

- Sinto por eles, pois vagam vampirizando encarnados viciados e induzem outros a se drogarem. Enganam a si mesmos, dizendo que esto bem, e se iludem com alegria falsa, atravs dessa brincadeira - diz Maria.

Entramos. Luciano, por no ter sido atendido, deitou-se e adormeceu logo. Fizemos com que se desligasse do corpo fsico, e Maria tentou alguma conversa, porm ele no deu lhe ateno e, minutos depois, voltou irritado ao corpo.

Despedimo-nos do Sr. Wlter e retornamos a nossos afazeres.

No outro dia tardinha, reunimo-nos novamente e fomos ver Luciano. Chegara em casa cansado, saturado de fluidos negativos, com dor de cabea, por ter se concentrado demais. Participara de trs reunies, onde o copo andara, respondendo a todas as indagaes que fez.

Deitou-se e ficou a pensar:

"Acho que vou experimentar drogas. Deve ser um barato s. Ajudar a suportar esta vida chata que levo."

Tentamos novamente intu-lo, mas Luciano repeliu todos os bons pensamentos e apelos nossos. Samos e Joaquim disse:

- S se ficssemos vinte e quatro horas por dia com Luciano para ajud-lo, assim mesmo, s impediramos que os desencarnados se comunicassem, mas no de ele invoc-los. Temos, entretanto, nossos afazeres e aqui nem fomos chamados.

- verdade - disse Maria -, h muito o que fazer, tanto entre encarnados como desencarnados, pois os trabalhadores so poucos.

A maioria quer ser servida, sem pensar em servir, desejando encontrar e usufruir o que est feito, mas nunca fazer. Poucos pensam em ser teis e, muito menos, servos, como nos pediu Jesus.

Na grande Seara do Pai, h muito o que fazer. No podemos ficar com Luciano e, mesmo porque nesta oportunidade, no temos como ajud-lo, j que nem quer nossa presena...

- verdade - disse -, somos ns os intrusos. Lael tem razo em dizer, porque so eles os chamados. No devemos interferir, desrespeitando o livre-arbtrio de Luciano, que no momento quer a eles e no a ns.

Mateus concluiu, srio:

- Experimentar drogas e fatalmente se tornar um viciado, influenciado pelos desencarnados que ele mesmo chamou. Deixamos pesarosos a residncia do jovem, entendendo, porm, que ali nada poderamos fazer. Mesmo se levssemos todo o grupo de desencarnados e afastssemos dele os jovens viciados, ele novamente invocaria, e outros viriam. E tambm, que fazer com uma turma de arruaceiros que no quer mudar a forma de viver? Como lev-los para um lugar em que haja ordem, como as Colnias e os Postos de Socorro? Fomos pesquisar outro caso.

Cap.3

Conseqncias da Brincadeira

Fomos at a casa de Renata, jovem de dezesseis anos, que se mostrava apavorada. Tentava orar, ou ento clamava por socorro. Entramos. Estava na sala, sentada no sof, sentindo-se fraca, entretanto notamos que comeava a debilitar-se. Confundia as oraes, pois iniciava recitando a Ave-Maria e acabava no Pai-Nosso. A causa dessa confuso era um desencarnado que estava sentado na frente dela, impaciente com as oraes.

Joaquim aproximou-se da jovem, ficando entre ela e o desencarnado, e Renata sentiu-se aliviada por causa dos fluidos bons dele.

- Que ocorre com voc, menina? - indaga carinhosamente Joaquim. Renata sentiu a pergunta do Esprito e, parando de orar, pensa no que lhe acontece.

- Por Deus! No sei o que est havendo. Desde que participei da brincadeira do copo, na casa de minha prima, na cidade vizinha, encontro-me assim, triste, infeliz, irritada e perseguida. No durmo mais direito, no tenho sossego para me alimentar, sinto vontade de tomar bebida alcolica, que detesto. E o pior, que parece que odeio meu namorado, mas sei que o amo muito! Sinto vontade de xing-lo. No sei o que fao...

Com nossa presena, Renata pde orar e sentir-se mais calma. Observamos o desencarnado. Mateus l o seu mental e nos informa:

- Chama-se Alen, desencarnou com 26 anos, j h um bom tempo, de nacionalidade alem e teve seu corpo morto em um acidente de avio. No mau, mas aventureiro; poliglota e fala o portugus, estando h meses no Brasil. Adora viajar e o faz de avio. Sabe que seu corpo morreu, porm isso lhe indiferente.Observei Alen, tinha cabelos castanhos, olhos verde-escuros, barba rala, magro, alto, vestia simplesmente cala e camisa de cor cqui. Olhava Renata com adorao. No nos viu, porque estava muito ligado matria, e s pelo que fosse material se interessava.

- Que faz aqui? - indaga-lhe Mateus.

Ele responde como se a pergunta viesse de si mesmo, como se estivesse pensando.

- Amo-a. incrvel, tantas mulheres conheci e fui apaixonar-me por essa encarnada, com quem nenhuma ligao no passado tive. Encontrei-me com ela pela primeira vez, h pouco, to linda. Amo-a...

Mateus insiste:

- Voc est desencarnado e ela est encarnada!

- Que importa isso? Perto dela ficarei, e ser s minha. Afastarei quem dela se aproximar, principalmente o namorado, aquele que chato, e logo conseguirei que terminem esse relacionamento bobo. por ,j fiz com que ele casse da moto, que belo tombo. Aquela mquina tem equilbrio frgil e, por isso, foi um trabalho fcil; no ser muito difcil faz-lo cair novamente.

- Ela no o quer... - fala-lhe Mateus.

- Renata aprender a amar-me. E s tenho este problema, pois ela tem medo de mim. Vou deitar ao seu lado, ela sente e no quer, indo ento dormir com a me. A no vou. Como ficar junto com a sogra? Amo-a tanto, mas ela no entende. Sempre quis uma mulher assim: jovem, bonita, honesta e pura. Ela nunca se casar, no deixarei, porque no quero que ningum a namore, tenho cime e, quando terminar esse namoro, tudo estar resolvido. Quero conserv-la assim, jovem e bonita.

- Como o far? Ela envelhecer - continua Mateus, enquanto Alen, pensa, levando-nos a conhecer suas idias:

- Certo, ela envelhecer, porque est encarnada, porm vai demorar para acontecer. Terei que am-la assim, porque no posso tir-la do corpo. Como faria para que desencarnasse? E se isso acontecesse, iria querer ficar comigo? E ningum desencarna antes da hora, s se for atravs do suicdio. Renata suicidar? No, no seria possvel, no poderia induzi-la, porque ela ora e cr em Deus. Tambm, se conseguir matar-se, vai perturbar-se e sofrer muito, e no quero isso, amo-a!

- Voc j lhe perguntou se quer o tipo de vida que est querendo para ela?

Com a nova pergunta de Mateus, Alen inquieta-se, levanta-se e fala:

- Amo-a e pronto, se me quer ou no, outro problema, e problema dela, no meu. Ainda bem que a encontrei entre os jovens que brincavam com o copo. Renata minha e aprender a amar-me. Vou sair um pouco, estou pensando besteiras.

Ele saiu e Renata suspira aliviada, levanta-se e vai ao encontro da me. E ento Maria, nossa companheira de trabalho, fala-nos admirada:

- Imaginem, um desencarnado apaixonar-se por uma encarnada! Poderemos ajud-la?

- Sim, vamos faz-lo - disse -, aproveitemos que Alen ausentou-se, para intu-la a pedir orientao e auxlio.

Renata foi para a cozinha, onde sua me lavava a loua.

- Mame - disse ela -, tenho que dar um jeito neste meu medo e nervoso. Sinto muita vontade de brigar com meu namorado. O coitado caiu da moto e nem tenho vontade de ir v-lo. Apavoro-me quando vou dormir, pois sinto que tem algum na minha cama!

- bom dar um jeito mesmo, porque seu pai no est achando bom que durma na cama dele...

A senhora calou-se por momentos e Mateus chegou perto dela,

transmitindo-lhe uma intuio, que ela recebeu como um pensamento seu: sentiu que a filha teria que pedir ajuda a quem entendesse desse assunto. Lembrando-se, ento, de uma pessoa, alegrou-se e disse filha:

- Voc no tem uma amiga, cujos pais so espritas e do passes? Isso que se passa com voc, pode ser algo que desconhecemos e eles talvez possam ajud-la.

- mesmo, mame, Leslie to boa e delicada! Vou telefonar-lhe e perguntar se seus pais podem ajudar-me.

Saiu da cozinha, pensando em telefonar mais tarde, mas Joaquim insiste com ela:

- Telefone agora! Agora!

Quanto mais cedo recebesse ajuda, seria melhor. Renata atendeu sugesto, discou, conversou com a amiga e, contando parte do que lhe ocorria, foi convidada a ir l, que estaria sendo esperada.

Com nossa motivao, Renata comunicou-se com a me e saiu. Acompanhamo-la.

Alen estava na esquina e, ao v-la, correu, ficando perto dela.

- Vai sair? Vou junto, beleza!

Joaquim ficou entre eles e, por isso, Alen no conseguiu saber onde ela ia e nem Renata recebeu influncias dele. Ela andou rpido e logo chegou casa da amiga, que a fez entrar.

Foi acolhida por Conceio e Prbio, que a convidaram a se sentar. Diante do olhar carinhoso da dona da casa, Renata comeou a chorar e contou o que lhe acontecia.Alen entrou tambm e, estranhando, quis sair, mas Lcio, um dos protetores do casal, segurou-o:

- Fique conosco, senhor - disse-lhe Lcio -, nada lhe faremos de mal...

Magnetizado, Alen ficou imvel ao lado de Renata, sem conseguir influenci-la. Teve que escutar os conselhos que Conceio dava mocinha:

- Renata, essa brincadeira do copo um fenmeno medinico, em que invocam, chamam os desencarnados para responderem perguntas. Embora mortos do corpo, so mortos bem vivos. Nesse divertimento de que voc participou, um dos Espritos presentes passou a acompanh-la.

- Um morto acompanhando-me, D. Conceio? Na verdade, bem que sinto isso. Ser que os senhores podem livrar-me dele? Tenho medo e no quero um morto me acompanhando! Por favor, prometo nunca mais participar e nem ver essa brincadeira maldita!

- Pea a Deus, pea com humildade e confiana - disse-lhe Prbio. - Pea a Deus por ele tambm, para que receba a ajuda que necessita.

- Sim, Sr. Prbio, vou orar, porque nada quero de mal a ele, pois nem sei quem , e nem quero saber. Espero que seja feliz, mas longe de mim. Por Deus, peo-lhes, tirem-no de perto de mim!

- Como sabe que "ele"? - sorri Conceio.

- Sinto, somente. Acho que no sei...

Conceio o v, pede a todos que orem e Lrcio, com passes, faz Alen adormecer. Prbio e a esposa levantam-se e do um passe em Renata, desligando Alen dela. Ento, Lcio pega Alen, como se fosse uma criancinha, e o leva para o Centro Esprita.

Renata comea a se sentir bem melhor, aliviada, com os fluidos nocivos dispersados por passes benficos. E ora com f.

- Pronto - disse Conceio -, ficar melhor.

- Agradeo aos senhores, e tambm Leslie. Comeo a achar que o Espiritismo algo modemo e no coisa "careta". Sinto-me to bem! Foi como se os senhores tirassem de mim um peso e dos bem pesados.

- Ver como maravilhoso compreender a Justia de Deus -fala-lhe Prbio.

Renata agradeceu e voltou tranqila para casa, j pensando em arrumar-se e visitar o namorado.

Lcio regressou, cumprimentou-nos sorrindo, pois j nos conhecamos da Feira do Livro Esprita, e explicou-nos:

- Levei Alen para o Centro Esprita, onde o casal amigo e eu freqentamos. Ficar dormindo e, na prxima reunio, receber orientao atravs da incorporao. Ser levado, depois, para seu pas de origem e deixaremos que l receba o aprendizado necessrio e, por isso, no voltar mais a incomodar a jovem.

- Graas a Deus! - falamos aliviados.

Renata pedira ajuda em lugar certo e a recebeu. Quando suplicamos com f, recebemos sempre o melhor, o que nos convm no momento.

Dali, fomos visitar outro local, onde estava sendo realizada outra "brincadeira do copo".

Quatro garotas faziam a invocao e uma outra observava, fazendo oraes, pois estava com medo. O desencarnado que respondia, no gostou nem um pouco de sua vibrao, porque a orao o incomodava. Pediu, ento, que se retirasse, ordenando:

"Marisa deve sair, ela atrapalha!"

A jovem levantou-se e disse:

- Vou mesmo e vocs tambm deveriam parar com isso!

O desencarnado ps-se a rir alto e a mocinha retirou-se. As outras continuaram e uma delas indagou:

- Vov Cida? Agora pode responder-me?

"Claro, querida" - formou a frase letra por letra.

Maria exclama:

- Veja, Antnio Carlos, ele se passa pela av da menina!

- Quem mente, informa errado at sua individualidade - fala Mateus. - Este desencarnado parece-me mal-intencionado. Vamos ouvir o que ele responde s garotas.

As jovens estavam na casa de Cludia, e a que indagava, permanecia num quartinho de fundo. As outras mocinhas eram suas amigas. O desencarnado fala para si mesmo, cuspindo de lado e com raiva:

"Ser convidado a ditar a essas desmioladas no quarto do fundo... humilhao! Odeio os ricos! Vou colocar mais lenha na fogueira da discrdia, vou lev-los a odiarem-se e a brigarem."

Cludia perguntou, novamente:

- Meus pais me amam?

Gargalhando, o desencarnado vai formando a frase:

"Sinto dizer-lhe, neta querida, que eles amam s a si mesmos. Ningum liga para voc aqui, somente eu."

Maria fala-nos, indignada:

- V o que esse desencarnado est incutindo na mente delas? Que maldade!

Ali ficaram por mais de meia hora, indagando curiosidades. E o desencarnado respondia o que lhe convinha, procurando sempre intrigar um contra outro.

Dando-se por satisfeitas, encerraram a brincadeira e saram conversando e trocando idias sobre as respostas. O desencarnado foi sentar-se, cansado. Sua perna direita estava inchada e toda cheia de feridas. Joaquim aproximou-se dele e inquiriu:

- Que faz aqui?

Ele no nos via, mas sentiu a pergunta como se lhe surgisse na mente e ps-se a pensar:

"Vagava por a, h tempo. Perambulo de um lado pra outro, pois sempre fiz isto, desde encarnado. Estava passando na rua, em frente a esta casa, quando escutei chamarem por algum para responder "brincadeira do copo". Vim e atendi, fazendo-lhes este favor e, quando perguntaram quem eu era, pensei no que responder. No ia dizer a essas finezas de senhoritas que era Pedro, s Pedro, porque nem sobrenome tenho; respondi, ento, que era a av...

"Av? Que av?" - indagou Cludia. - "V Cida"?

- Bem, elas mesmas acharam o nome e passei a ser "V Cida".

Esta casa chique e bonita; so ricos, metidos e possuem tudo o que sempre quis ter. Eles tm demais e aqui fiquei para atorment-los, porque merecem. So ricos... odeio os ricos!

- Por que atorment-los, se nada lhe fizeram? - indaga novamente Joaquim.

- Nada me fizeram? Se eles pudessem me ver, j teriam me expulsado. Se eu fosse encarnado, j teriam chamado a polcia. S porque so ricos, merecem que fique aqui e os importune.

- Deve ir embora - insiste Joaquim.

- No! Estou bem, pois a primeira vez que estou num lugar onde fui chamado e bem recebido; e ningum pediu para eu ir embora. Porm sou orgulhoso, quando me tocam, saio.

Escutamos vozes de dentro da casa: eram os encarnados discutindo. Pedro levantou-se, gargalhando, foi para o local da discusso e ns o acompanhamos. O casal chegava da rua, eram os donos da casa e discutiam com Cludia e esta reclamava, chorosa:

- Vocs no me amam, no me querem, sou sozinha no mundo! Quero morrer!

Por um bom tempo discutiram, sem motivos aparentes, entretanto atendiam Pedro que, na discusso, pulava com uma perna s, de um lado para outro, com raiva, querendo mesmo que se odiassem.

Quando a discusso terminou, Pedro sentou-se cansado, com a perna doendo terrivelmente. Colocava a culpa de sua dor em outras pessoas que, no momento, eram os proprietrios da casa em que estava. Dizia, raivoso:

- Se tivesse sido rico, no havia ficado com a perna deste jeito, porque teria dinheiro para cuidar-me; por isso tenho que descontar em algum esta dor! E estas so as pessoas ideais: ricos e com sade. E a idiota da mocinha trata-me bem, pois acredita que seja a av dela. Ainda bem que essa av no est por aqui. Joaquim tornou-se visvel a ele. Pedro examinou-o com indiferena, mas o socorrista falou-lhe de maneira agradvel:

- Di-lhe a perna? Quer curar-se? Se vier comigo, posso ajudar.

- Minha perna di muito e quero muito sarar. Mas onde devo ir com voc? Logo agora que tenho um lugar para ficar, voc convida-me para ir no sei aonde? Agora tenho um lar!

- Este lar no lhe pertence e, se continuar a atac-los, logo esta casa no ser mais lar de ningum. Por que faz isso?

- Cobra meus atos?

- No, s queria que soubesse que h outras formas de viver e em bons lugares, sem ser intruso em lares alheios.

- capaz de curar-me?

- Sim, venha comigo.

- Vou, mas bom que saiba que sou livre e s fico l se quiser.

- Claro!

Joaquim deu-lhe a mo e volitaram. Mateus, Maria e eu limpamos o ambiente da casa e demos passes nos moradores. Maria conversou mentalmente com Cludia, aconselhando-a a no brincar mais com o copo e a orar com mais freqncia.

Logo depois, Joaquim reuniu-se a ns novamente:

- Levei Pedro ao Centro onde trabalho, deixando-o aos cuidados de amigos, que curaro sua perna aos poucos, para que fique conosco mais tempo. Tenho esperana de que, em nossa companhia, ao ver nosso trabalho e sentir nossa alegria em servir ao Bem, goste e mude de vida.

- Poder voltar aqui? - indaga Maria.

- Sim, mas esperamos que no - responde Joaquim. - Se voltar a vagar, sua perna enfermar novamente. Se os jovens o chamarem, ser tentado a voltar e, nesse caso, depender dele. E, se insistirem com essa brincadeira, mesmo que Pedro no volte, outro ou outros podero atend-los e, talvez, no tenham o auxlio que tiveram agora. A, talvez, comece uma obsesso que poder trazer graves conseqncias a todos.

- chegada a hora de nos despedirmos - suspira Maria -, porque a Feira do Livro Esprita terminou. A equipe que participa dos trabalhos da Feira, vai partir e devemos retornar s nossas tarefas. Abraamo-nos, felizes. A Feira do Livro Esprita uma bno para a cidade que a organiza. Muitos livros bons vendidos, muitas pessoas orientadas, amizades fortalecidas e muitas ajudas realizadas.

Recordei-me de uma histria ocorrida h tempo, que, na srie de acontecimentos desastrosos, se iniciara com uma diverso, a de invocar Espritos por brincadeira.

Cap.4

Socorro a encarnados

Fui visitar o Departamento de Socorro da Colnia onde resido,

com a finalidade de conhecer e aprender a ser til

com sabedoria.

Carlos, um velho amigo, recebeu-me:

- Antnio Carlos, um prazer t-lo conosco! Venha conhecer

nossas equipes de trabalho.

Sempre me encantei com aquele Departamento, instalado num

edifcio lindo, aconchegante e grande, com inmeras salas, onde trabalham

muitos benfeitores. No conseguia esconder minha alegria.

Primeiramente, visitamos a ala onde se recebem pedidos de

desencarnados que vagam pelos Umbrais, na Crosta e nas furnas.

So quase sempre clamores desesperados de socorro. Mas, tambm,

h muitos desencarnados que pedem por seus entes queridos

encarnados ou desencarnados, e os pedidos chegam telepaticamente.

Desta ala, saem as orientaes para as equipes de socorro

a desencarnados. E os pedidos sero atendidos, ou no, conforme

a necessidade real dos solicitantes, tendo em vista sempre o melhor

para eles.

Logo passamos ala onde chegam pedidos de socorro, de ajuda,

feitos por encarnados. O local grande e os pedidos so

separados por sees. amos entrar na primeira sala, quando encontramos

duas senhoras, que, ao cumprimentarem alegremente

meu cicerone, foram-me apresentadas:

- Aqui esto duas amigas, que esto a nos visitar tambm. A

Sra. Antonina, que prefere ser chamada de Toninha, e Leila.

Continuamos, agora, ns quatro, a observar tudo. O movimento

era bem maior neste setor.

- Nessas alas, so analisados os pedidos que nos chegam - esclarece

Carlos.

Eram trs salas grandes, onde trabalhavam muitas pessoas.

Numa delas, a maior, o nmero de pedidos excedia ao das outras.

- So pedidos feitos a Maria, me de Jesus - explica-nos ele. -

Nesta outra sala, anotam-se pedidos feitos a Deus e a Jesus e,

naquela, aos Espritos com nomes de santos, e a pessoas desencarnadas.

- A ala da me de Jesus maior e, nela, h mais pedidos do

que a Deus e a Jesus? - indaga, indignada, Leila.

Carlos sorri e elucida:

- So muitos os necessitados que recorrem a ela, Maria, me

de Jesus. Isso talvez acontea por causa do culto catlico, ou porque

mulher, me. Muitas pessoas julgam Deus muito distante, incomunicvel

e poderoso. Mas tambm o temem, julgando-o vingativo,

capaz de punir seus filhos por leves pecados. No entendem ainda

que Deus no castiga, mas que somos, isso sim, donos de nossos

atos e que as aes ms levam-nos a sofrer sua reao. Longe esto

de sentir em Deus o Pai amoroso e justo, que esta dentro de

ns. Pensam outros que, pedindo a Maria, Jesus no ir negar um

pedido feito sua me e, por isso, preferem pedir a ela e no ao

prprio Jesus.

Uma equipe mdica, composta de seis membros, passou por

ns. Carlos desejou-lhes xito, voltou-se para ns e explicou:

- So mdicos e enfermeiros que iro Terra atender a dois

pedidos: um deles, feito Nossa Senhora do Carmo, por uma senhora

que sofre de atrozes dores reumticas, e eles tm ordem para

amenizar suas dores; o outro foi dirigido a So Sebastio, tambm

por outra senhora, me de um garoto de seis anos, que passar

por uma cirurgia abdominal de grave risco. Os da equipe auxiliaro

os mdicos encarnados e tudo faro para a recuperao da sade

do menino.

- Como chegam os pedidos? - indaga Toninha, curiosa, diante

de tantas solicitaes que estavam na mesa e seriam estudadas.

- De muitas formas. Nos locais comunitrios, dedicados a todos

os cultos do Bem, existem trabalhadores que atendem a

pedidos comuns, de ajuda simples. As splicas que necessitam de

anlise mais profunda, so anotadas e enviadas a ns. As solicitaes

feitas em ambientes privados, a exemplo dos lares, so

recebidas telepaticamente por estes trabalhadores que esto sentados

em frente s mesas, para anotao.

- Todos os pedidos so anotados? - indaga Leila.

- Os que so feitos com f, por quem clama por auxlio com confiana,

vindos de onde quer que seja, chegam com certeza ao

Departamento. Quando pedem socorro, em caso de perigo, se o

auxlio precisar ser urgente, qualquer trabalhador do Bem que esteja

por perto, prestar ajuda, atendendo o caso, se for possvel. Os trabalhadores

do Bem esto em toda parte e, para eles, no importa

atender em nome de Maria, dos Santos ou de outros desencarnados.

E ainda, amiga Leila, nossos irmos inferiores tambm esto pela

Terra e eles, ao contrrio, afastam-se quase sempre dos chamamentos

do Bem, porm se aproximam, quando ouvem blasfmias, pragas e

palavras obscenas. Se os bons tentam ajudar, os maus tudo fazem

para agravar as situaes, deliciando-se com as discrdias, provocando

brigas e incentivando o anedotrio baixo. Entram em sintonia com

os bons ou com os maus, conforme sua vibrao. Mas os pedidos de

ajuda so quase sempre dirigidos aos bons e, se forem feitos com a

fora da f, recebem atendimento. Acredito que a maioria das solicitaes

de encarnados so atendidas,

- E pedem muitas coisas? - quis saber Toninha.

- Oh! sim, recebemos pedidos para tudo, desde a cura de uma

pequena dor, at de uma doena grave. Tambm para encontrar

objetos ou comprar coisas; de pais que querem filhos; e de filhos

abandonados, que querem pais. Recebemos realmente muitos.

Vejam vocs estes aqui.

Carlos mostrou-nos uma pilha grande de pedidos: todos de adolescentes,

para as mais diversas Entidades, com o objetivo de serem

ajudados nos exames do colgio.

- E so atendidos? - indaga, sorrindo, Leila.

- Acho que tero de estudar mesmo! - sorri tambm Carlos, -

Porm algumas solicitaes nos chegam com tanta f, que nos

impele a enviar fluidos benficos ao solicitante, sendo que em alguns

casos, os membros de nossa equipe de socorro vo at eles e

lhes do passes, para que se acalmem e possam fazer o exame

bem dispostos.

- Promessas? Que seo grande! Por que tem este nome? - indaga

Leila.

- A maioria dos pedidos vm, juntamente com promessas. Na

Terra, os encarnados esto acostumados a comprar tudo, ou quase

tudo, at favores. Por ignorncia, agem assim tambm com as

raas. Vejam, amigos, este pedido aqui: uma senhora pede a cura

de seu filho a So Jorge e, se atendida, acender uma vela de seu

tamanho para o santo. Aqui chegam, todos os dias, vrias promessas,

algumas difceis de serem feitas, sendo que muitas no

beneficiam ningum. Em outras, h a inteno de ajudar o prximo,

como as que prometem fazer a caridade material. Porm so raras

as que nos chegam como pagamento do benefcio de melhora

ntima do paciente.

- Aqui, no costumamos observar se cumprem, ou no, as promessas.

Somos felizes por trabalhar e tentamos ser servos teis,

fazendo todo o possvel para realizar nossas tarefas, porm os resultados

a Deus pertencem. Fazer o Bem condiciona-nos para a

bondade, e maravilhoso ser bom! O que recebemos e nos deixam

contentes so os agradecimentos, os quais recebemos em

nmero bem menor que os pedidos. Vejam este: simples e sincero, vem de

uma senhora que manifesta gratido comovida

Nossa Senhora do Rosrio, pela graa recebida.

- Carlos, seria prejudicial pessoa que faz uma promessa, receber

a graa e no cumpri-la? - indaga Leila.

-A maioria que faz a promessa, mas no a cumpre, geralmente

contrai uma dvida. Nesse caso, os trabalhadores do Bem no

so credores, pois a ns ningum deve. Todavia, temos visto muitos

encarnados ansiosos por pagarem promessas e desencarnados

sofrerem com o pensamento fixo na promessa no cumprida. Mas,

se no somos os credores, outros podem consideram-se como tais.

Conhecemos casos, em que as promessas feitas s almas do purgatrio,

ou melhor aos Espritos que vagam, promessas que algum

faz ou que outros fazem em nome desse algum, e elas costumam

ser cobradas por esses Espritos, que exigem o seu cumprimento.

H tambm os pedidos feitos diretamente a Espritos, como acontece em certos Terreiros; depois que os atendem, exigem que

cumpram as promessas. Quando a Terra estiver mais adiantada, em

progresso, as promessas iro desaparecer. E, para as graas recebidas,

haver o sincero agradecimento ao Pai Misericordioso.

- So muitos os pedidos atendidos? - perguntei.

- A porcentagem no grande, porque muitos so considerados

impossveis. A maioria deles vinculada s coisas materiais, e so

em nmero pequeno os formulados para a melhora verdadeira, a

espiritual. Em quantidade grande existem os pedidos para tornar-

se rico. Muitos at mencionam, junto aos pedidos, que iro fazer

expressivas ajudas aos semelhantes, com a riqueza. Entendemos

que a caridade material o calor da fratemidade, porm existem

muitas formas de faz-la, sem ser atravs do dinheiro. Nenhuma

dessas pessoas que pedem, se comportam assim, e se esquecem

da caridade do consolo, da boa orientao, de ser paciente, de visitar

pessoas solitrias e enfermas. No admiraria se uma dessas

pessoas atendidas esquecesse a promessa, logo aps ficar rico, ou

fizesse a caridade a si prpria em primeiro lugar. Vejam vocs,

amigos, estes outros pedidos: uns querem que chova, e outros, que

faa sol em determinados dias; certamente, no nossa tarefa intervir nos fenmenos naturais, para o prazer das pessoas. Estes

outros pedidos so para a vitria de equipes esportivas e para o

time preferido ser campeo. H muitas solicitaes para encontrar

objetos perdidos, ou de moas que querem se casar. Esta outra solicitao

de um homem que, infelizmente, pede a Santo Antnio,

com desejo de ficar vivo. Por isso, caros amigos, todas as splicas

que nos chegam, feitas efetivamente com f e perseverana so

analisadas, separadas e nossas equipes vo e fazem as visitas devidas.

Se dirigidas para o Bem e viveis, so atendidas prontamente.

- Para o Bem? - estranha Toninha.

- Sim - esclarece Carlos bondosamente. - Se for para o Bem

do solicitante ou para quem ele pede. Veja estes, como exemplos:

A me pede a cura do filho paraltico; analisado o caso, a

me quer a cura do filho, mas ele, no; o jovem no quer sarar,

porque seu Esprito quer passar por essa prova escolhida antes

de reencarnar. Este outro, feito por um homem, dirigido Virgem

Maria, pedindo a cura para sua dor de estmago; analisado, tem

ele essas dores por fumar demais, porm ele quer sarar sem deixar

o vcio; se o atendermos, atolar mais no vcio piorando sua

situao futura. Observe este, de um moo de 23 anos de idade,

que pede diretamente a ns, trabalhadores do Bem, para que

o ajudemos a encontrar determinado trabalho, onde trabalhasse

pouco, mas ganhasse muito; isso seria nocivo a ele, porque nesse

emprego alimentaria a luxria e a preguia, j to fortes em

seu esprito.

Temos aqui tambm pedido dos pais de um garoto de dois anos,

que foi raptado. Analisado o caso, foi o casal unido, para um aprendizado

atravs da dor, para cumprir um resgate do passado. Foram

eles, noutra existncia, feitores que castigavam escravos, vendendo-lhes

os filhos, separando-os dos pais. O garotinho est em outro

pas e dificilmente o tero de volta. As dores deles so ecos daquilo

que semearam.

- Por isso que os pedidos devem ser analisados? - interroga

Toninha, concluindo.

- Sim, porque todo o bem deve ser realizado com sabedoria e

do melhor modo possvel. Muitos casos, porm, dos que estudamos,

eram simples de serem atendidos. A exemplo deste, em que

uma senhora pede que a filhinha de trs anos pare de cair. Verificamos

que a menina possua um problema na viso e intumos a

me, para que a levasse ao oftalmologista; agora, com culos, ela

no se machuca mais.

- Noto, Carlos, que as mulheres que fazem mais pedidos -

fala Leila.

- verdade, a mulher mais sensvel, mais do que o homem,

pois a maioria delas est sempre a cuidar, a ajudar. Quase sempre

ela mais humilde e, por isso, pede mais, ora mais.

- Vocs recebem tambm pedidos para o encaminhamento

de algum recm-desencarnado? - quis saber.

- Vrios so os pedidos que recebemos nesse sentido. Alguns

deles podemos atender, porm outros infelizmente no, pois seria

como dar um copo de gua para algum que no quer tom-lo.

Pedem socorro para quem no est querendo ser socorrido.

Tendo que se ausentar por momentos, Carlos deixou-nos vontade,

aconselhando mesmo que observssemos os trabalhadores

e analisssemos a tarefa junto deles.

Andei por entre as mesas, observando tudo e, numa delas, estava

escrito: "Pedidos que no podem ser atendidos". Parei. Num

canto, estavam dois pedidos unidos, examinei-os: um deles era de

um homem que se dirigia ao Esprito Andr Luiz, para que a esposa

se convertesse Doutrina Esprita. O outro era da esposa Nossa

Senhora Aparecida, pedindo para que o esposo se tornasse catlico.

Os resultados da anlise foram: ambos no seriam atendidos,

pois nenhum deles tinha a real compreenso de religio, para aceitar

a doutrina do outro. Foram intudos para se amarem e se

respeitarem e aceitarem Deus, como Pai de todos, que no separa

os filhos por suas crenas.

Outro pedido que me chamou a ateno, foi o de uma esposa

suplicando a cura do marido. Analisado, constatou-se uma obsesso,

em que o desencarnado e o encarnado foram e continuavam

sendo inimigos ferozes; indicou-se a intuio aos familiares encarnados

do doente, para procurarem ajuda em Centros Espritas. Mas

no aceitaram a sugesto, por no acreditarem no Espiritismo.

Novamente foram ajudados, no sentido de perdoarem, tambm no

aceitaram, porque para os encarnados o sofrimento era injusto e

quem o causara, indigno de perdo.

Em seguida, estava uma promessa a Nossa Senhora de Lourdes,

feita por um pai, que pedia uma graa para evitar que o filho

de vinte e seis anos se casasse, porque julgava m a moa; analisado

o caso, concluiu-se que os dois estavam ligados por outras

encarnaes e deveriam unir-se nesta, para reajuste. Esse pai recebeu

somente o consolo, pedindo-lhe que aceitasse a nora como

filha e ajudasse o casal, com bons conselhos.

- Senhores, por favor! - volta Carlos, dirigindo-se a ns. - Estamos

analisando um caso deveras interessante, convido-os a

participar. Aceitam? Acompanhem-me.

Seguimos nosso instrutor, agradecidos.

Cap.5

A Casa do Jardim Torto

Seguimos Carlos at uma saleta agradvel, onde o esperavam

os membros de uma equipe de socorro. Apresentou-nos,

eram Cibeli, Fabiano e Mauro.

- Amigos - disse Carlos -, estamos reunidos para atender

um pedido incomum. O pedido veio diretamente a ns, ou quas,

- Marta pede aos bons Espritos ou aos "santos de Deus" qm

atendam. Clama por socorro para uma sobrinha, que vve nos

arredores de pequena cidade, no longe da metrpole em que a

reside. O pedido para que socorramos Nely, no especfica

em que. Fabiano e Mauro foram at a menina e verificaram que ela

realmente necessita de ajuda. Por favor, Fabano, conte-nos o que

viu.

Fabiano o que aparenta ser o mais jovem da equipe. Muito

bonito, loiro de olhos azuis, traos firmes e bem pronunciados, fa

a narrao em seguida:

- ll~Iarta no se encontra com a sobrinha Nely, no momento. ,

menina rf e mora numa chcara com trs empregados. Est

debilitada fisicamente, alm de estranhamente, e ainda uma pequena

mas perigosa falange de Espritos, a obseda.

- Vamos ajud-la - completa Carlos. - Para isso, convido vocs

Toninha, Leila e Antnio Carlos, a acompanhar-nos. 1'esquisaremo

o que de fato acontece e tudo faremos para ajudar a menina Neli

Aceitam o convite?

- Sim! - respondemos os trs juntos -, com prazer!

- Dentro de uma hora partiremos, por sso estejam na sala de

recepo, de onde sairemos.

Continuamos ainda por algum tempo no departamento, e visitamos

o belssimo jardm que o circundava, enquanto estaivamo

COPOS QUE ANDAM 43

ansiosos por conhecer os fatos que induziam uma falange de Espritos

inferiores a obsedar uma menina.

Na hora marcada, reunimo-nos os sete na recepo e partimos

em seguida, volitando, em direo guerra.

Nos arredores de pequena cidade, descemos nos jardins de

uma chcara.

A propriedade no tinha grande dimenso e estava descuidada,

com aparncia mesmo de abandono. A estreita estrada que

levava propriedade era de terra e, na parte da chcara que dava

para a estrada, havia muros altos, com um porto de ferro na entrada.

A casa estava no meio de um jardim, onde outrora havia

flores, mas no momento s se viam muitas ervas daninhas e pequenos

arbustos. Porm chamava mais a ateno o seu paisagismo,

com os canteiros tortos, formando estranhas figuras geomtricas

e, nos canteiros maiores, estatuetas de gesso, de anes e quendes,

constituindo figuras feias, j gastas e sujas, que completavam a estranha

decorao do jardim. No era toa que conheciam a

propriedade como a Chcara do Jardim torto.

- Ningum deve cuidar deste jardim, que pena! - disse Leila.

A casa, um sobrado, era grande e com muitos cmodos. Pareceu-nos

conservada, embora notasse que Fora pintada lia tenihos.

Atrs da casa, uma pequena horta de verduras e uma plantao

descuidada de milho, crescendo junto com o mato. Havia tambm

um grande galinheiro, com muitas aves e logo observamos que a

maioria era de cor negra. Um chiqueiro com alguns porcos e um

pequeno curral com poucos cabritos.

Nesse instante, ouvimos um barulho de carro. Aproximamo-nos

e vimos no volante um homem de aproximadamente trinta e cinco

anos, de aspecto desagradvel, e pudemos notar que era viciado

em bebida alcolica. Cinco desencarnados, com o mesmo aspecto

do motorista, estavam no carro. Saindo da casa, em correria, entra

no carro uma menina.

- Esta Nely - mostra-nos Fabiano.

- No parece ter doze anos! - exclama Toninha.

Nely era pequena para sua idade. De compleio magra, cabellos

castanhos avermelhados, crespos, berm curtos, trajava uniforme

de escola. Depois de entrar no carro, partiram. tlrn senhor aiariu o

porto, fechando-o logo que ele passou.

- Este senhor Joo - elucida-nos Mauro. - So trs os empregados

da casa. Joo, que cuida dos animais e da horta; a Sra.

Germana, ou D. Gema, sua esposa, que cuida da cozinha e da limpeza

da casa; e seu filho Jos, o motorista que vimos.

Um estranho grupo de Espritos, conversando distrados, saiu

VERA LCIA MARINZEK DE CARVALHO 44

da casa, passou por ns, sem nos ver. Um deles falou para uma

das mulheres do grupo:

- Honria, fique com Ana no jardim, deixe-a tomar sol.

- Sol? Oh! cara, pensa que ela encarnada? - riu um outro Esprito,

que se aquietou logo, por causa do olhar firme e autoritrio

daquele que dera a ordem.

Honria, a que recebeu a ordem, possua fisionomia de idosa,

aparentando ser a mais velha do grupo. Pegou pela mo uma

mulher, que julgamos ser Ana, e sentaram-se no jardim.

Os outros trs volitaram.

- Que chato! - resmungou Honria, baixinho -, fazer companhia

a esta idiota, que nem sabe conversar.

Ana estava enferma e pudemos verificar que era recm-desencarnada.

Mostrava-se magra e abatida, com olhar sem expresso,

pois estava perturbada.

- Deve haver um desencarnado dentro da casa, pois constatamos

dez, em nossa visita anterior, porm vimos at agora s nove

- disse Fabiano.

- Entremos para conhecer a casa, amigos - disse Carlos. - Vamos

tentar compreender o porqu de estarem aqui reunidos tantos

desencarnados trevosos.

Logo que entramos, escutamos resmungos vindos da cozinha

e para l nos dirigimos.

- Esta D. Gema - explica-nos Mauro.

A Sra. Germana, de cabelos quase todos brancos, deveria ter

quase sessenta anos e estava insatisfeita e irritada, porm no nos

admiramos, pois um desencarnado do grupo vigiava-a, aborrecido.

- Pelo que vimos - elucida Mauro -, sempre fica um deles com

D. Gema, a vigi-la, impedindo-a de orar.

- E consegue impedi-la? - indaga Toninha.

Carlos responde:

- Ningum consegue impedir a outrem de orar, mas podem,

isso sim, distrair, dificultar a concentrao. Observe, Toninha, que

o desencarnado est irritando-a, para dificultar seu trabalho dirio

e tudo faz para que no tenha vontade de orar. Sabem que a orao

poder ser acompanhada com um pedido de socorro, e os

desencarnados aqui no querem Espritos bons por perto.

D. Gema limpava a cozinha e preparava o almoo. Numa bacia

sobre a pia estava um grande pedao de carne que ia utilizar. Escutamos

seu resmungo:

-A menina Nely s quer comer carnes e quase cruas, mas nada

de verduras e frutas, nem leite. Fao arroz, feijo e carne todos os

COPOS QUE ANDAM 45

dias, no almoo e no jantar, porm a menina s come carne! Meu

Deus!

D. Gema deu um suspiro e, ao pronunciar "Meu Deus!", o desencarnado

deu-lhe um tremendo tapa na cabea. Ela sentiu uma

pontada de dor e exclamou:

- Ai! Que acontece? Nem esse nome posso dizer? O Joo acha

que impresso minha, entretanto recomenda que no o diga, porque

todas as vezes que o pronuncio, di minha cabea.

O desencarnado, cnico, sorrindo, disse alto:

- No para dizer mesmo! Se repetir, repito a dose, bato mesmo,

velha imbecil. S no acabo com voc porque Raquek no

quer, porque til na cozinha!

Falou isso, ameaando-a com a mo. Fabiano tentou proteg-la,

mas Carlos o impediu:

- Logo mais, Fabano, a ajudaremos. Devemos primeiro conhecer

os fatos, estudar os acontecimentos e agir com sabedoria. Por

enquanto, no devem desconfiar de nossa presena aqui. Vamos

conhecer a casa toda.

Todos os cmodos eram grandes, estavam desarrumados e no

muito limpos. As janelas fechadas davam a impresso que no era

costume abri-las. No havia muitos enfeites. No trreo situavam-se

as salas e a cozinha e, no andar de cima, os quartos e banheiros.

S dois quartos estavam destrancados, os outros, fechados, talvez

por no serem usados. Um deles pertenca Nely, e nele nada nos

chamou a ateno. Havia um armrio, com poucas roupas, a cama,

uma escrivaninha com alguns livros e cademos escolares, indcando

que cursava a quinta srie, e estava com notas pssimas.

O outro quarto chamou-nos a ateno:

- Parece um quarto de pintura e trabalhos manuais! - diz Leila.

- Sim, mas no de Nely. Era a saleta de trabalho de sua me,

Noemy - explca Fabiano.

Constitua o aposento mais limpo da casa. Uma saleta que deveria

ter sido local agradvel outrora, onde se viam telas pintadas,

a maioria de natureza morta, estando inacabada a do cavalete, e

uma mesinha com pincis e tintas. Ao lado do sof, uma cesta de

vime com agulhas, linhas e toalha para bordar.

- Nely rf de pai e me? - indaga Cibeli.

- Sim, sua me desencarnou h dois anos e meio, e o pai, h

sete meses - esclarece Mauro.

- Seus pais esto entre os desencarnados que vimos? - indaguei.

- No, no se encontram por aqui - responde Carlos. - Vamos,

agora, descer ao poro.

VERA LCIA MARINZEK DE CARVALHO 46

A casa estava saturada de fluidos pesados, nocivos, que nos

inquietavam, e mantnhamos o equilbrio com oraes e bons pensamentos.

A escada que ligava o andar trreo ao superior da casa, era larga

e revestida com um tapete de cor vermelha, sujo e gasto, e

possua bonito corrimo de madeira trabalhada. Porm a escada

que levava ao poro era estreita e com degraus altos. E o poro era

um salo, somente.

- Que interessante! - exclama Leila.

Tinha razo, pois o lugar, se olhado por encarnados, nada tinha

de especial: apenas alguns armrios com poucos objetos, uma

mesa grande, algumas cadeiras velhas, quadros pelo cho e utenslios

velhos.

Porm, visto do plano astral, ali estava montado um grande laboratrio

de alquimia, com muitos tubos de lquidos, potes com ervas,

objetos profanos, instrumentos de torturas e muitos livros de magia

negra.

- Que objetos estranhos! - exclama Cibeli.

- So objetos de um mestre do mal, talvez pertences do chefe

do bando.

- Vejam isto, amigos! - mostra-nos Toninha.

Num canto do salo, jogado no cho, um objeto fsico, um quadrado

de madeira fina. Em um dos lados, estava pintado, com tinta

preta, o alfabeto e os numerais de zero a nove.

O estranho tablado estava impregnado de forte fluido nocivo.

Carlos concentra-se por instantes no objeto e explica-nos:

- Esses desencarnados esto aqui porque foram chamados,

invocados. - Diante do nosso assombro, continuou: - Sim, invocados

talvez por brincadeira ou diverso, para responderem s

indagaes e, para isso, usou-se o tablado. Unindo a fora mental

do encarnado que indaga e os fluidos dos Espritos, consegue-se

movimentar esta seta, essa a, que est no cho, para formar palavras

e frases, completando um intercmbio entre eles, encarnados

e os desencarnados.

- Quem os invocaria? Nely? - indaga Cibeli.

- Sim, a menina - responde, triste, Carlos. - Lyly no o fez por

maldade, porm, quando mudou para esta casa, encontrou o tablado

no poro e interessou-se, julgando ser uma brincadeira.

Agindo dessa mesma forma, em muitos lugares, h pessoas que

julgam isso simples brincadeira, mas representa algo srio, que tem

Tablado: nome dado naquela regio a um pedao elc m;nlcir,~, pintado,

usado para casas invocaes perigosas. Essa mesma denominao usaremos

no ciecn-rer da histria. (Nota do Autor Espiritual - N.A.E.)

COPOS QUE ANDAM 47

levado a conseqncias trgicas muitos que dela participam. Invocam

Espritos levianamente, usando at oraes ao iniciar.

Entretanto, as oraes apenas nos lbios no espantam nossos irmos

inferiores, que as toleram apenas no comeo dessa pretensa

diverso, mas logo que adquirem confiana, mandam parar com

isso.

Observando o tablado, Carlos continua:

- Este tablado tem sua histria.

O ~''a~ao

famlia que residia antes nessa chcara era feliz. Tudo era

diferente, bonito, alegre e bem cuidado. O casal tinha seis

filhos, estando o mais velho com dezesseis anos, na poca

em que tudo comeou a mudar. Foi ele que ouviu dizer, na escola,

que pessoas bem dotadas mentalmente tinham fora para fazer andar

objetos com a ajuda dos mortos, e que eles poderiam, inclusive,

responder a qualquer indagao. Curioso, resolveu tentar, construindo,

ele mesmo, este tablado, e pintando-o devidamente, Depois,

juntamente com dois rmos mais jovens, iniciaram a comunicao.

A famlia diza ter uma determinada religio, mas no a seguia

nem possua o abenoado costume de orar. Com eles morava, h

muito tempo, Narcisa, a empregada, vigiada por alguns desencarnados,

que esperavam momento adequado para se vingarem dela,

porque, em encarnao anterior, fora ela um feitor branco muito

mau. Os sete negros que agora a rodeavam, no a tinham perdoado

e acabaram por encontr-la nas vestes de uma negra pobre, rf

e empregada de brancos.

Os meninos tiveram na tablado um brinquedo interessante.

Concentravam-se e invocavam um desencarnado. E diziam "qualquer

Alma do outro mundo", "um morto", pois para eles no faza

diferena. Assim invocavam:

"Qualquer um que aqui esteja, venha atender-nos!"

Os negros observavam os meninos, curosos, e sentam-se invocados,

e o mais inteligente deles, o lder, de nome Joo, passou

a responder aos garotos e cognominou-se de Pai-Joo.

Pai-Joo e, conseqentemente, os outros seis companheiros

passaram a sentir-se vontade na casa e, porque eram chamados

e tratados com considerao, at simpatizavam-se com os mennos,

pois para eles tudo era vlido, desde que realzassem a

COPOS QUE ANDAM 49

vingana. A primeira recomendao feita aos garotos foi para esconderem

dos pais a brincadeira do tablado, e eles assim o fizeram.

La, outra empregada, descobriu o brinquedo, e os meninos

convidaram-na para participar, contanto que guardasse segredo. Tornaram-se

assim quatro encarnados e sete negros, ex-escravos

revoltosos, um grupo a realizar o intercmbio medinico.

Os desencarnados passaram a fazer favores aos garotos e

tambm La, contando parte de suas vidas, quando estavam encarnados,

para assim ganharem a confiana deles e, aos poucos,

foram fazendo os quatro odiarem Narcisa.

Pai-Joo falou que o pai dos meninos era amante de Narcisa, e

eles acreditaram piamente, passando a tratar a empregada negra

com rancor, e assim tambm o pai. De adolescentes dceis, tornaram-se

revoltados, sendo compreendidos somente pelo suposto

amigo, Pai-Joo. Narcisa sentiu-se triste e magoada com o tratamento

que passou a receber dos jovens, e isso fez com que seus

pensamentos baixassem a vibrao. Seus inimigos, ento, puderam

influenci-la e comearam a obsed-la, dando-lhe a sugesto

de que deveria suicidar-se.

Faziam ao seu antigo feitor, na pessoa de Narcisa, o que ele

lhes fizera. Diziam-lhe sempre:

"Deve matar-se a si mesma. Nada pior do que ser negro! Pessoas

de cor no merecem viver! No seja covarde, suicide-se,

mate-se a si mesma, negra imunda!"

Os meninos acabaram contando me que o pai era amante

de Narcisa, porm no contaram como souberam, e ento a me

deduziu que eles haviam visto. Por isso, o casal desentendeu-se e

o lar, antes sossegado, tornou-se um caos. Todos souberam da calnia

e acusavam Narcisa, que foi expulsa da casa pela senhora.

Narcisa desesperou-se. Sentindo que ningum acreditava nela

e no tendo para onde ir, saiu correndo de casa, atravessou as plantaes,

entrou nas terras vizinhas onde havia um grande reservatrio

de gua e, atendendo aos chamamentos dos desencarnados, suicidou-se.

A tragdia abalou a todos. O pai dos garotos no se conformava

por ter sido difamado, e a esposa por ter sido trada. Os negcios

comearam a ir de mal a pior e o senhor faliu. Por isso, venderam

a chcara e mudaram-se.

Os negros, aps o suicdio de Narcisa, sentiram-se vingados e,

vendo-a sofrer desesperada pelo ato que cometera, desinteressaram-se

dela. Resolveram, assim, mudar com a famlia, porque se

julgavam amigos dos garotos, considerando certo tudo o que fizeram.

Os meninos, porm, desiludiram-se da brincadeira com os

VERA LCIA MARINZEK DE CARVALHO 50

Espritos, ficaram chateados com a mudana e com as brigas dos

pais, por isso no quiseram levar o tablado, deixando-o aqui, no

poro.

A famla foi morar em uma outra cidade, onde residia uma irm

da me dos garotos, que era esprita e mdium. Logo que ela os

viu, percebeu tambm os negros, e explicou-lhes o fato, convidando-os

para ir ao Centro Esprita que freqentava. O casal, achando

que deveria mesmo ter algo que os atrapalhava, foi a uma sesso

de desobsesso e os mentores da casa trouxeram os negros, orientando-os

atravs de incorporaes, e eles contaram toda a histria.

O casal pasmou com a afirmao o dos filhos sobre o tablado,

reconheceu o perigo a que ficaram expostos e reconciliou-se, tornaram-se

espritas. Hoje esto bem.

- Como soube disso tudo! - exclamou Cibeli.

- O dirgente espiritual desse Centro meu amigo e j havia

comentado o fato comigo. Ao ter o endereo desta chcara, achei

que poderia ser a mesma, e fui confirmar com ele: realmente era.

- E Narcisa, sabe dela? - perguntou Leila.

- Foi socorrida pelos antigos obsessores, ento j doutrinados,

e pelos trabalhadores espirituais. Vagava desesperada perto de onde

se suicidara, e atualmente recupera-se em local de socorro apropriado

para os que tiram a vida fsica, atravs do suicdio.

Continuando sempre tranqilo, Carlos, aps uma pequena pausa,

aduziu:

- Um agiota da regio comprou a chcara para revender, porm,

por causa dos comentrio sobre o suicdio de Narcisa e a

infelicidade do casal, as pessoas supersticiosas da redondeza no

se interessaram em adquiri-la, ficando por muito tempo fechada.

- Carlos - indaga Toninha -, locais de acontecimentos trgcos

podem vir a prejudicar outras pessoas, futuros moradores?

- Dependendo de muitos fatos, os locais de fluidos pesados podem

prejudicar, se no forem eliminados e trocados por outros,

benficos. E tambm podem estar no local moradores desencarnados

e, se os futuros moradores no souberem conduzi-los,

orient-los, pode se estabelecer uma obsesso. Tudo o que ocorre

fica registrado no Plano Espiritual, e pode transformar-se em ms

influncias s pessoas. H sensitivos que conseguem ver o ocorrido,

atravs da psicometria.

Tempos depois, o agiota colocou o anncio de venda num jornal

da Capital e convenceu Noel Leocdio, pai de Nely, a se

interessar e a comprar o mvel. Foi mais precsamente Noemy, me

da jovem, quem quis vir para o interior, na tentativa salvar seu casamento.

Noel e Noemy no se entendiam, porque ele era

COPOS QUE ANDAM 51

mulherengo, jogador, e ela achou que no interior o marido poderia

se interessar pela terra e vir a ser bom esposo. Havia tambm interesse

que a filha crescesse numa cidade pequena. Assim, tentando

recomear, compraram a Chcara do Jardim Torto e se mudaram.

Todos gostaram do lugar, principalmente Nely. Contrataram-se

empregados e, entre eles, La, a moa que trabalhou com os antigos

donos e participava da brincadeira do tablado.

O casal continuou a brigar e Nely vivia isolada. Por isso interessou-se

pelo tablado, logo que o achou no poro e, por no saber

como manuse-lo, indagou aos empregados e La a ensinou.

Fez tudo como La falara, inclusive invocar o Pai-Joo. Nely no

desistia, embora sem resultados. Certo dia Raquek, Esprito que vagava,

passava pelas redondezas, ouviu a invocao, aproximou-se

e, porque no houvesse ningum a impedir sua entrada, resolveu

por curiosidade responder a menina. Assim, amigos, uma invocao

sem conhecimento do assunto, por brincadeira, deu incio ao

que vimos. Raquek procurava um local para trazer Ana, que estava

prestes a desencarnar, porque no queria que ela ficasse no umbral,

depois da morte do corpo fsico. Achou aquele local ideal, com

uma famlia sem religio, vibrando mal, e com mais um detalhe a

seu favor: fora chamado e convidado por Nely a permanecer e a

responder sempre a ela. Raquek, atualmente, passou a obsedar

Nely, que nada faz sem seu consentimento.

- Mas agora o tablado parece-me abandonado! - disse Leila.

- Sim, est. No incio, o obsessor e a jovem conversavam atravs

do tablado. Sabemos, porm, que o tablado um objeto neutro,

pois so as mentes, os Espritos, que se comunicam, e Raquck

sabe disso. No momento, comunica-se com Nely telepaticamente,

e ela o v e sente, alm de conversar com ele normalmente.

- E La onde est? No trabalha mais na casa? - pergunta Toninha.

- Trabalhou pouco tempo aqui, mas foi dispensada, por no

ser boa empregada.

- Nely tambm chama Raquek de Pai-Joo? - perguntei.

- No, logo ele identificou-se, dando o nome certo - responde

Carlos bondosamente, diante do nosso interesse.

- Nely escondeu tambm o tablado dos pais?- indagou Mauro.

- No. Chegou at a fazer a seta andar, para os pais verem. O

pai ficou indiferente, como sempre fazia diante dos acontecimentos

do lar. E, se aquele brinquedo fazia a menina aquietar-se,

deveria ser bom. A me achou lindo a filha, com dez anos na poca,

saber concentrar-se, ter poderes mentais a ponto de mexer

sozinha e com habilidade a seta, formando frases inteligentes e

VERA LCIA MARINZEK DE CARVALHO

rpidas. O companheiro espiritual que ela dizia ter e que a atendia,

com o nome extico de Raquek, seria tudo uma nveno da

mente privilegiada de sua filha bem-dotada. Sentia-se orgulhosa

ao v-la encontrar objetos perdidos, responder s perguntas dos

empregados, atravs da concentrao sobre o tablado, Sei disso,

amigos, porque pesquisei sobre a antiga famlia e como teria comeado

essa estranha obsesso ou possesso, e tambm lendo a

projeo astral do tablado. Mas, para ajudar, teremos que saber

mais, muito mais. Entretanto hora de sair daqui.

Sentimo-nos aliviados ao sair do poro e fomos para o jardim.

Honria e Ana continuavam sentadas no banco, sendo que uma

sentia-se entediada e a outra estava passiva, alheia.

- Vamos fazer deste local um ponto de encontro - dsse-nos

Carlos.

O local escolhido situava-se entre dois canteiros grandes, perto

do muro que dava para a estrada, no canto direito do jardim.

- Repartiremos as tarefas, vamos colher informaes para comear

a agir - incentiva-nos Carlos carinhosamente, a sorrir.

Concordamos e Carlos determnou:

- Cada um de ns far uma pesquisa ou trabalho. Leila, fique

encarregada de obter informaes de Noel Leocdio, pai de Nely.

Cibel, procure saber de Noemy, onde est, como desencarnou etc.

Toninha, informe-se sobre Raquek e, conseqentemente, sobre Ana.

Mauro far a parte mais perigosa, tentando obter nformaes sobre

o dono do laboratrio que vimos no poro: procure saber se

algum dos socorristas sabe quem ele e por que est aqui. Estarei

no Departamento, procurem-me se houver necessidade. Tentarei

saber de Nely, de suas encarnaes anteriores, para que possamos

entend-la e ajud-la. Antnio Carlos e Fabiano, vocs aqui ficaro

observando e anotando os acontecmentos, mas sem interferir.

Espero amigos que, at noite, nos reunamos novamente para elaborar

nosso plano de ao. Boa-sorte!

Rpidos volitaram, ficando Fabano e eu.

52

7

~aiano

Sentamo-nos num dos bancos do jardim, de onde podamos

observar toda a casa. A Sra. Gema continuava na cozinha com

seu vigia, enquanto que Honria e Ana permaneciam no jardim.

Observava Fabiano, quando notei que pensava em algo que o

nquietava.

- Fabiano, conhecemo-nos h poucas horas e sinto-o muito amigo,

porm noto-o preocupado, posso ajud-lo? Ficaremos horas

aqui, talvez s observando, por isso poderamos ocupar o tempo

conversando. No quero ser indiscreto, entretanto, se quiser repartir

suas atribulaes, diga-me.

- Obrigado. Se tiver pacincia para me ouvir, Antnio Carlos,

saiba que me preocupo com a repetio.

- Repetio?! - estranhei.

- Devo, amigo, reencarnar logo. Estou h tempo desencarnado,

h quinze anos, e dedico-me ao estudo, ao trabalho, preparando-me,

mas temo a reencarnao e a repetio. Explicarei melhor.

Muitas vezes j encarnei; quantas, no sei. Vestir um corpo carnal

passar por difceis provas e, na Terra, nesta poca de transformao,

as responsabilidades so muitas e receio, como tantos outros,

falhar.

- verdade, nossa Terra est atualmente saturada de vibraes

tensas, materialistas e destrutivas, descendo cada vez mais ao fundo

do poo, no domnio da matria. E a responsabilidade de cada

um de ns,