BOTÂNICA GONÇALO SAMPAIO - Faculdade de Ciê · PDF file2 uma (terceira) exposiÇÃo. botÂnica gonÇalo sampaio a fundaÇÃo da botÂnica moderna domingos vandelli fÉlix de avelar

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  • .BOTNICAGONALO SAMPAIO

    DEPARTAMENTO DE BOTNICA

    FACULDADE DE CINCIAS DA UNIVERSIDADE DO PORTO

  • 2

    UMA (TERCEIRA) EXPOSIO. BOTNICA GONALO SAMPAIO

    A FUNDAO DA BOTNICA MODERNADOMINGOS VANDELLIFLIX DE AVELAR BROTEROJOHANN HEINRICH LINK E JOHANN CENTURIUS VON HOFFMANNSEGGCORREIA DA SERRAJOO DE LOUREIRO

    A BOTNICA H CEM ANOS A INVESTIGAO E O TRABALHO LABORATORIALO LABORATRIO DE ANATOMIA-HISTOLOGIA VEGETALO LABORATRIO DE SISTEMTICA-TAXONOMIA VEGETALO LABORATRIO DE MICROBIOLOGIAO ENSINO

    GONALO SAMPAIO E OS SEUS CONTEMPORNEOSSISTEMTICA MODERNA: OS FUNDADORESJLIO AUGUSTO HENRIQUESD. ANTNIO XAVIER PEREIRA COUTINHOGONALO SAMPAIO

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    NDICE

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    Botnica Gonalo Sampaio encerra a primeira edio do ciclo Aventureiros, Naturalistas e Coleccionadores. Partindo dos antrop-logos e arquelogos que se dirigiram para os territrios coloniais, pas-sando pelos mdicos que pacientemente montaram o primeiro museu universitrio nacional desta rea, e chegando, agora, aos naturalistas botnicos do fi nal de 1800 que se ocuparam fundamentalmente do es-tudo e classifi cao da fl ora portuguesa, tivemos a ocasio de mostrar neste ciclo um pouco das personalidades cientfi cas da Universidade do Porto que estiveram no centro destes processos de construo do conhecimento cientfi co e, tambm, dos legados que constituram.

    Esta terceira exposio tem algumas caractersticas particulares rela-tivamente s anteriores: em primeiro lugar, no partiu de um ncleo museolgico formalmente constitudo; em segundo lugar, foi objecto de um discurso explicativo de nvel acadmico elaborado proposi-tadamente para este evento; em terceiro lugar, relaciona-se directa-mente com o espao envolvente que tem acolhido o ciclo, uma vez que amplifi ca o museu vivo o Jardim Botnico que circunda o edifcio, dando-lhe o sentido histrico da construo do conhecimen-to botnico.

    Em Botnica Gonalo Sampaio, somos informados, logo de incio, sobre o estado da botnica nos fi nais do sc. XVIII, e em que medida as concepes da poca sobre a fotossntese e a circulao, ou sobre a es-trutura e a funo celular, ou sobre os mecanismos de reproduo so alteradas ao longo do sc. XIX. este, afi nal, o pano de fundo em que se desenvolve a exposio ao longo dos seus trs ncleos temticos.

    UMA (TERCEIRA) EXPOSIOBOTNICA GONALO SAMPAIO

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    O primeiro ncleo (A Fundao da Botnica Moderna) dedicado aos botnicos portugueses e estrangeiros que trabalharam sobre a fl ora lusitana da segunda metade do sc. XVIII e primeira metade do sc. XIX. Tambm estudiosos de geologia, zoologia, geografi a, tentavam perceber a histria e a ordem do mundo natural ao mesmo tempo que procuravam combater a irracionalidade do mundo humano.

    O segundo ncleo, dedicado ao conhecimento botnico tal como se apresentava no virar do sc. XIX para o XX, explicita as reas em que este j se subdividia e mostra os processos de fazer cincia as prticas, os meios de cultura, a utensilagem laboratorial, as obras de referncia , trazendo luz o esplio diversifi cado que o Departa-mento de Botnica conservou. Neste ncleo, uma seco alerta-nos tambm para a progressiva importncia do ensino da Botnica como disciplina autnoma.

    A terceira parte da exposio centra-se em Gonalo Sampaio e os seus contemporneos, apresentando-nos as obras e a correspondncia tro-cada entre os botnicos de uma gerao que competia e cooperava no objectivo de conhecer exaustivamente a fl ora portuguesa. nesta oposio entre cortesia epistolar e ferozes anotaes crticas nas mar-gens que nos despedimos da exposio.

    Ora, a cincia no s espao de recluso e concentrao, como nos ecoa de algum escrito de Gonalo Sampaio, vtima de depresso, mas tambm espao de liberdade e comunicao, de criatividade, de com-preenso do mundo. Os jovens estudantes de Biologia que entram despreocupadamente no velho edifcio e o verde luminoso e sussur-rante que nos invade quando transpomos a porta de sada do-nos a certeza disso.

    Ao longo dos meses em que nos propusemos organizar este ciclo de exposies, fi cmos sempre satisfeitos por registar o gosto das gen-tes da Universidade em mostrar as reas em que se empenham e qual dedicaram a sua vida. A montagem desta exposio no foi dife-rente, a no ser no seu sentido mais positivo. impossvel no agra-decer calorosamente ao Prof. Joo Cabral e Dr. Elisa Folhadela todo o cuidado e trabalho que tiveram em investigar, classifi car e conceber este todo, que no se limita a uma exposio de peas, mas , antes de mais, um discurso sobre a cincia e os seus actores.No poderamos pensar em encerrar este ciclo de uma forma mais feliz.Queremos estender estas felicitaes a todo o Departamento de Bo-tnica, muito especifi camente sua direco, na pessoa do Prof. Jos Pissarra, mas tambm a docentes, estudantes e funcionrios no do-centes. Esta tambm a sua exposio.

    Finalmente, realcemos que este ciclo nunca teria sido possvel sem o apoio da direco da Faculdade de Cincias da U.Porto, nomeada-mente do Prof. Baltazar Castro, e dos directores e funcionrios dos museus de Histria Natural e de Medicina. O projecto Porto Cidade de Cincia, da Cmara Municipal do Porto, foi um parceiro valioso. Finalmente, no podemos deixar de relevar o papel que o designer Rui Mendona teve em tornar estas exposies tanto um objecto de fruio esttica como de fruio cognitiva. Mas o assinalvel xito desta mostra dos nossos Aventureiros, Naturalistas e Coleccionado-res deve-se principalmente ao Dr. Paulo Gusmo, que soube assumir este projecto como seu e dar-lhe uma consistncia e uma homogenei-dade que merecem ser reconhecidas.

    JOS FERREIRA GOMES

    VICE-REITOR DA UNIVERSIDADE DO PORTO

  • A FUNDAO DA BOTNICA MODERNAA FOTOSSNTESE E A CIRCULAO VEGETAL

    A fi siologia vegetal era, no sculo XVIII, uma disciplina limitada pelos conhecimen-

    tos da qumica da poca. J. I. Housz (1730-1790) prope pela primeira vez, em 1779,

    uma interpretao do processo fotossinttico na presena de luz, a planta absorve

    o gs carbnico do ar, retm o carbono como nutriente e restitui o oxignio ao ar. W.

    Cruiskshank (1745-1800) e N. de Saussure (1767-1845) apoiariam esta interpretao

    do processo fotossinttico. S em 1941 Ruben e seus colaboradores iro demonstrar,

    utilizando marcadores radioactivos, que o oxignio que se liberta na fotossntese no

    provm do CO2 absorvido, mas da gua.

    T. A. Knight (1759-1838), no incio do sculo XIX, utilizando o mtodo dos lquidos co-

    rados, interpreta correctamente o princpio do funcionamento da circulao das seivas

    nas plantas, rejeitando defi nitivamente a velha interpretao de que a circulao nas

    plantas seria semelhante dos animais. R. J. H. Dutrochet (1756-1847), utilizando solu-

    es de diferentes concentraes, demonstra que as clulas vegetais vivas apresentam

    uma elevada presso osmtica interna.

    A fi siologia vegetal ir dar um salto qualitativo com as contribuies muito posteriores

    da qumica moderna, j no sculo XX.

    A TEORIA CELULAR

    Robert Hooke e Grew, no sculo XVII, e Van Leeuwenhoek, no sculo XVIII, descrevem

    clulas vegetais, mas a compreenso do que era a clula viva s nasce na primeira me-

    tade do sculo XIX com os trabalhos de Mirbel, Dujardin, Schleiden e Schwann.

    Em 1808, C. F. B. de Mirbel (1776-1854) defende que todas as clulas vegetais tm uma

    parede celular, que no entanto pode ter forma e estrutura variveis. Em 1809, descreve o

    ncleo, mas, no entanto, no lhe atribui grande importncia. Em 1831, explicita que todos

    os rgos de uma planta so constitudos por clulas com uma parede exterior rgida.

    F. Dujardin (1801-1860) estuda em pormenor os organismos unicelulares fl agelados,

    escrevendo que as clulas tm um contedo viscoso transparente, uma substncia

    gelatinosa viva, que mais tarde ser designada de protoplasma.

    M. J. Schleiden (1804-1881) escreve em 1838, lapidarmente, que todas as plantas superio-

    res so conjuntos de unidades elementares individualizadas, designadas de clulas. As c-

    lulas so autnomas, mas interdependentes enquanto partes de um todo, que a planta.

    T. Schwann (1810-1882) ir ser co-fundador da teoria celular, ao escrever que todos

    os organismos so constitudos pelos mesmos elementos unitrios fundamentais, as

    clulas. Todos os organismos vivos formam-se a partir de uma clula inicial. A teoria

    celular entrava em contradio com as interpretaes vitalistas, ao negar a existncia

    de uma fora imaterial que daria vida aos organismos. Todos os fenmenos vitais so

    resultantes de propriedades da matria, regidos por leis naturais.

    H. von Mohl (1805-1872) escreve que o protoplasma um lquido turvo, pegajoso,

    misturado com corpsculos de cor branca. No protoplasma encontra-se o ncleo ce-

    lular, resultante da coagulao das Krnchen, revestido por uma membrana exterior ou

    primordial que no contacta directamente com a parede celular.

    C. W. von Naegeli (1817-1891) ir melhorar e aprofundar as observaes de von Mohl.

    Em 1842, observa os cromossomas e descreve-os como citoblastos efmeros. A pri-

    meira fase da teoria celular completa-se em 1867 com a sntese de Hofmeister (1824-

    1877): a clula interpretada de um ponto de vista holstico a forma, a estrutura e

    a fi siologia das clulas vegetais so a consequncia lgica da sua participao no todo

    que o organismo.

    A segunda fase da teoria celular ir direccionar-se para o contedo das clulas, de tal

    forma que, no incio do sculo XX, a compreenso da estrutura da clula e dos tecidos

    vegetais era j relativamente profunda e avanada. A citologia e a anatomia vegetais

    eram mesmo, junt