63
A DIMENSÃO REGIONAL DO SISTEMA BRASILEIRO DE INOVAÇÃO SEGUNDO WORKSHOP INTERNACIONAL DO PROJETO BRICS BRASIL - RÚSSIA – ÍNDIA - CHINA SOUTH ÁFRICA RIO DE JANEIRO – 25 -27 de Abril de 2007 UFRJ INSTITUTO DE ECONOMIA Marcos Costa Lima (Pós-graduação Ciência Política – UFPE) Jonatas Ferreira (Pós-graduação Sociologia – UFPE) Ana Cristina Fernandes (Pós-graduação Geografia – UFPE)

Brasil Regiões e Inovação Ultimo Encontro Brics Cassio

Embed Size (px)

DESCRIPTION

Brasil Regiões e Inovação Ultimo Encontro Brics Cassio

Citation preview

Page 1: Brasil Regiões e Inovação Ultimo Encontro Brics Cassio

A DIMENSÃO REGIONAL DO SISTEMA BRASILEIRO DE INOVAÇÃO

SEGUNDO WORKSHOP INTERNACIONALDO PROJETO BRICS

BRASIL - RÚSSIA – ÍNDIA - CHINA SOUTH ÁFRICA

RIO DE JANEIRO – 25 -27 de Abril de 2007UFRJ

INSTITUTO DE ECONOMIA

Marcos Costa Lima(Pós-graduação Ciência Política – UFPE)

Jonatas Ferreira(Pós-graduação Sociologia – UFPE)

Ana Cristina Fernandes(Pós-graduação Geografia – UFPE)

Page 2: Brasil Regiões e Inovação Ultimo Encontro Brics Cassio

A Dimensão Regional do Sistema Brasileiro de Inovação

Dedicamos este trabalho ao Prof. Eduardo Kugelmas, da USP, que acaba de falecer, com quem tivemos o prazer e a honra de estar em sua última Mesa Redonda tratando da temática do Desenvolvimento no Brasil e na Índia, no quadro do Projeto Regionalismos, Democracia e Desenvolvimento, organizado pelos Programas de Ciência Política da USP e da UFPE e coordenado pelos Prof. Gildo Marçal Brandão e por Marcos Costa Lima da UFPE, em 8 e 9 de Novembro de 2006, no Recife.

Costa Lima, Ferreira e Fernandes.

2

Page 3: Brasil Regiões e Inovação Ultimo Encontro Brics Cassio

A Dimensão Regional do Sistema Brasileiro de Inovação

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO

2. ALGUNS APORTES TEÓRICOS

2.1. Capitalismo contemporâneo: tecnologia, território e organização

2.2. A região como lugar de inovação

3. BREVE CONTEXTUALIZAÇÃO DA QUESTÃO REGIONAL BRASILEIRA

3.1. Desigualdades nos indicadores regionais do Brasil3.2. Transformações regionais da indústria brasileira

4. ESPACIALIZAÇÃO DA INOVAÇÃO NO BRASIL

4.1. São Paulo como grande centro de inovação no Brasil

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. INTRODUÇÃO

O presente artigo, ainda que se trate de um trabalho em processo, não acabado, está

dividido em uma introdução e três momentos articulados. No primeiro momento

apresentamos alguns aportes teóricos referentes, sobretudo, aos conceitos de Sistema

Nacional de Inovação; aos Sistemas Regionais de Inovação (RIS); da economia de

Clusters; dos distritos industriais e das economias de aglomeração de inspiração

marshalliana, que introduzem a questão do território e das aglomerações industrias em

determinados espaços, sobretudo desde que o conceito de globalização passou a ser

hegemônico, com sua ameaça de implosão ou minimização do papel dos Estados nacionais

e irrelevância de certos espaços subnacionais. No segundo momento, uma breve

caracterização da questão regional brasileira, seja pela apresentação dos indicadores sociais

Costa Lima, Ferreira e Fernandes.

3

Page 4: Brasil Regiões e Inovação Ultimo Encontro Brics Cassio

A Dimensão Regional do Sistema Brasileiro de Inovação

regionais brasileiros de 1994 a 2004, bem como das transformações que ocorreram

espacialmente na indústria brasileira e, finalmente, a espacialização da inovação no Brasil,

tomando como central o desenvolvimento industrial e tecnológico do Estado de São Paulo

e suas assimetrias vis-à-vis os demais sistemas regionais de inovação no país.

2. ALGUNS APORTES TEÓRICOS

2.1 Capitalismo contemporâneo: tecnologia, território e organização

Em estudo oficial realizado pela Delegação da Gestão do Território e para a Ação Regional

(DATAR, 2004), de um país – a França – que tem uma tradição teórica e de análise acerca

dos efeitos da atividade humana sobre o território, além de uma história de intervenções

para a redução das disparidades internas ao território francês, encontramos a seguinte

reflexão:

Quem pode dizer hoje, ou o que será amanhã, os setores portadores de futuro? A

incerteza e – o seu corolário – o risco se instalaram de forma significativa na vida

econômica e social. Em quarenta anos, o ritmo do crescimento francês foi dividido

por dois ao passo que sua instabilidade havia sido multiplicada por três... A

mundialização, o desenvolvimento das trocas, a importância ampliada da esfera

financeira, o ritmo das inovações são entre outros, elementos de risco que não

poupam nenhuma atividade econômica, nenhum território (p.12).

O texto é claro ao diagnosticar a instabilidade e o risco como elementos que atuam de

forma sistêmica no mundo contemporâneo, o que chama a atenção para a impossibilidade

de adotar abordagens neoclássicas da economia, e sua noção central de equilíbrio. A

economia da inovação, do aprendizado e do risco demanda um aparato teórico e conceitual

dificilmente coadunável com o pressuposto, mesmo que estabelecido com objetivo

propedêutico, do equilíbrio. Vejamos então de modo sucinto quais seriam os traços

fundamentais desta economia que se afirmou durante as duas últimas décadas do século

vinte.

Trata-se de uma economia na qual reflexividade e risco estão associados. Os trabalhos

Costa Lima, Ferreira e Fernandes.

4

Page 5: Brasil Regiões e Inovação Ultimo Encontro Brics Cassio

A Dimensão Regional do Sistema Brasileiro de Inovação

produzidos por Ulrick Beck, Scott Lash e Anthony Giddens acerca deste tema, sua

popularização a partir da década de 1990, sinalizam nesta direção. Se a inovação constante

é um fator competitivo fundamental no ‘capitalismo desorganizado’, segundo a expressão

adotada por LASH e URRY, é natural que a diminuição dos ciclos de utilidade das

mercadorias, a aceleração da aceleração, intensifique riscos. De elemento periférico ou

efeito colateral, o risco passa agora a constituir um elemento central da própria

acumulação. O risco e seus efeitos são fontes de inovação e produção de riquezas e, por

isso mesmo, parece lógico que estes se convertam em novos negócios (BECK, Sociedade

de Risco). A reflexividade e o aprendizado seriam elementos centrais de uma nova forma

de competição econômica. Isso seria válido, sobretudo, para os países que lideram o

processo de mundialização, que associam tecnologia e poder financeiro (CHESNAIS,

2004).

Michael STORPER (1997) aponta três novas “meta-capacidades” que caracterizam a

lógica do capitalismo atual. A primeira, a revolução nas tecnologias de produção,

informação e comunicação. A segunda, a vasta extensão e aprofundamento social da

lógica das relações de mercado, em parte facilitadas pela primeira. A terceira, e que

combina os dois efeitos anteriores, diz respeito à generalização da teia dos novos

métodos de organização, de novas regras burocráticas (p. 27). Estes três elementos –

tecnologia, território e organização - constituiriam o que ele intitula de trindade sagrada

do capitalismo contemporâneo. A dinâmica de inter-relação desta trindade é uma resultante

da própria dinâmica interna da sociedade do aprendizado. Na busca por inovação e,

portanto, por posições competitivas, a empresa capitalista passa a considerar aquilo que se

convencionou chamar ‘capital intelectual’ como ativo de importância fundamental. Se por

um lado a economia que surge da sociedade do aprendizado é mais leve - uma produção

com baixa relação peso/valor (CAMPOLINA, 2005), e portanto menos dependente da

proximidade de fontes produtoras de insumos - a importância do conhecimento tácito, de

um processo de aprendizado não-codificável, não-formalizável, age de forma a

reterritorializar este processo produtivo. A difusão e a inovação tecnológica ocorrem em

ambientes institucionais propícios, em culturas que venham acolher e onde se aglomerem

profissionais estimulados a aprender com as experiências, acertos e erros uns dos outros.

Enfatizemos mais uma vez: as instituições desempenham um papel fundamental na

promoção de ambientes favoráveis à inovação. Políticas públicas bem sucedidas podem vir

Costa Lima, Ferreira e Fernandes.

5

Page 6: Brasil Regiões e Inovação Ultimo Encontro Brics Cassio

A Dimensão Regional do Sistema Brasileiro de Inovação

a ser um fator importante na correção de uma cultura não inovadora, por exemplo.

Inspirados pela necessidade de repensar a importância do espaço no capitalismo

contemporâneo, autores como LUNDVALL (1992), FREEMAN (1995) e DOSI (1999)

propõem o conceito de Sistema Nacional de Inovação. LUNDVALL (1988:) assim o

define:

Economias nacionais variam de acordo com seu sistema produtivo e estrutura

institucional, que por sua vez derivam de diferentes experiências históricas, língua

e cultura. Sendo assim, o SNI é caracterizado segundo os seguintes elementos ( o

que permite diferenciação entre os SNIs): organização interna das firmas;

relações intra-firmas; papel do setor público; arranjo intitucional do setor

financeiro e, intensidade de P&D e organização de P&D .

Esse conceito logo atrai o interesse de estudiosos da economia regional e da geografia

econômica. Por seu intermédio, chega-se sem surpresas à noção de Sistema Regional de

Inovação (RIS), cuja popularidade cresceu, sobretudo, pela ampliação da competição

internacional na economia globalizada, mas também pela constatação da emergência de

cluster de firmas e indústrias em diversas regiões do mundo.

Refletindo acerca da definição de Sistema Nacional de Inovação proposta por Lundvall,

HOWELLS (1999) argumenta acerca da pertinência de pensar a região como âmbito

privilegiado da atividade inovadora. Entre outros aspectos a serem considerados, destaca

os seguintes:

Regiões centrais ou metropolitanas são mais inovadoras que as periféricas (mesmo em países mais equilibrados);

Existem diferenças inter-regionais em atividades de pesquisas e técnicas; Diferentes regiões apresentam diferentes especializações tecnológicas no território

nacional (p. 67-96).

Os elementos acima observados por Lundvall variam de região para região.

2.2. A região como lugar da inovação

A escala regional voltou, portanto, à tona, realçando com ela a importância de recursos

regionais específicos para estimular a capacidade inovadora e competitiva de firmas e

regiões e a necessidade de refletir acerca do próprio conceito de território. Tem-se

Costa Lima, Ferreira e Fernandes.

6

Page 7: Brasil Regiões e Inovação Ultimo Encontro Brics Cassio

A Dimensão Regional do Sistema Brasileiro de Inovação

argumentado que as competências específicas da firma e os processos de aprendizado

podem gerar vantagens competitivas se estas estiverem baseadas em capacidades

locacionais tais como: recursos especializados, capacitações, instituições e partilha de

valores culturais e sociais comuns. O desenvolvimento regional acontece se ele estiver

relacionado à competitividade em locais onde capacidades institucionais, infra-estrutura,

conhecimento e habilidades existirem. Essas capacidades se organizam e desenvolvem de

modo distinto, a depender precisamente destas características.

A literatura sobre os sistemas regionais de inovação tem estabelecido análises e descrições

do relacionamento entre inovação, aprendizado e performance econômica de regiões

específicas, tomando emprestado uma reflexão acumulada a partir de várias fontes.

Produziu-se um conjunto diverso de tentativas para explicar as condições institucionais e

sociais de competitividade regional. Estas tentativas levaram a diversos conceitos, muitos

dos quais de fonte de inspiração marshalliana: a região que aprende (learning region)

(FLORIDA, 1995; MORGAN, 1997); aprendizado coletivo (collective learning)

(KEEBLE, 1998); ambiente inovador (milieu innovateur) (CREVOISIER, 2001); distrito

industrial (BECCATINNI, 1992); sistema de produção local (COURLET, 2000), os

arranjos produtivos locais (CASSIOLATO & LASTRES, 2003).

A definição de Sistema Regional de Inovação ganhou proeminência nos meios acadêmicos

e dos quadros técnicos de governo desde o início dos anos 90. O conceito é usualmente

definido como um conjunto de interações de interesses públicos e privados, de instituições

formais e não formais que funcionam conforme arranjos organizacionais e de

relacionamento de modo a conduzir à geração, ao uso e à disseminação do conhecimento

em espaços determinados (DOULOUREUX, 2003). Seu argumento central é que, com o

objetivo de reforçar as capicidades inovativas regionais e a competitividade, este conjunto

de atores produz efeitos difundidos e sistêmicos que encorajam firmas de uma região a

desenvolver formas específicas de capital que derivam das relações sociais, normas,

valores e interações no interior da comunidade.

DOULOUREUX & PARTO (1997), por sua vez, estão preocupados com três dimensões

dos RIS: i) as interações entre os diferentes atores no processo de inovação, sobretudo

entre usuários e produtores, mas também entre as empresas e a ampla comunidade de

pesquisa; ii) o papel das instituições, a extensão pela qual os processos de inovação estão

Costa Lima, Ferreira e Fernandes.

7

Page 8: Brasil Regiões e Inovação Ultimo Encontro Brics Cassio

A Dimensão Regional do Sistema Brasileiro de Inovação

inseridos no estabelecimento dos sistemas de produção; iii) a confiança e o apoio dos

dirigentes nas análises que buscam operacionalizar o conceito de RIS. Os autores

acreditam que os aspectos institucionais foram excessivamente estudados, mas não o

primeiro ponto, ou seja, as interações entre atores no RIS. De todo modo, interações, redes

sociais, capital social e cooperação são temas que vêm recebendo a atenção de autores

como Putnam, Polanyi e Granovetter. São muitos os trabalhos a destacar, entre os quais,

COOKE e MORGAN (1998) e STORPER e VENABLES (2005), e na literatura brasileira

aqueles produzidos pela Redesist, a exemplo de ALBAGLI e MACIEL (2002), e, pela

UFSCar/GeTec, CORTES et al (2005) e PINHO, CORTES E FERNANDES (2005).

Uma segunda interpretação do RIS está ligada a dois corpos teóricos básicos, a saber, a

economia evolucionista da inovação (os sistemas de inovação) e a ciência regional. No

primeiro corpo teórico, a inovação é concebida como um processo evolucionista e social

(Edquist, 2004) e é estimulada e influenciada por muitos sujeitos e fatores, sejam externos

sejam internos à firma (Dosi, 1988). O aspecto social da inovação diz respeito ao processo

de aprendizado coletivo, ao ambiente, tanto nas firmas quanto na sociedade (COOKE et al,

2000, LUNDVALL, 2002).

Do ponto de vista do sistema regional, a inovação é localizada e inserida no ambiente, não

é sem lugar (STORPER, 1997). Neste sentido, ganham importância aspectos da economia

local, com vantagens que derivam da proximidade e da concentração no espaço. Num RIS,

a atividade cooperativa entre firmas, a criação de novos conhecimentos e a difusão via

organizações, tais como universidades, instituições capacitadoras, de P&D, de

transferência tecnológica geram uma cultura e ambiente propícios à inovação. A interação

entre agentes se transforma numa idéia força, numa prática obrigatória.

Existe informação empírica de que uma boa parte do processo de produção de tecnologias,

aprendizagem e de transferência de conhecimento é altamente localizada. Se concordarmos

que a inovação ocorre em um contexto institucional, político e social determinados, pode-

se afirmar que a região é o lugar por excelência da interação entre agentes econômicos e da

inovação. A força do sistema de aprendizagem local depende de um crescente número de

fatores intangíveis, o que inclui a dinâmica interna da região, de bens sócio-culturais e

políticos, do fluxo informal de informação e conhecimento entre diferentes partes, gerando

Costa Lima, Ferreira e Fernandes.

8

Page 9: Brasil Regiões e Inovação Ultimo Encontro Brics Cassio

A Dimensão Regional do Sistema Brasileiro de Inovação

um conjunto de externalidades. A inovação é facilitada pela concentração geográfica e pela

proximidade1.

Ao mesmo tempo consolidou-se toda uma literatura que trata dos clusters, de origem

anglo-saxônica, que pretende funcionar como uma síntese das estratégias do distrito

industrial marshaliano e aquele do ambiente inovador. Para Rosenfeld, o cluster representa

uma aglomeração de empresas concentrada sobre um território geográfico delimitado de

empresas independentes, ligadas entre si por meios ativos de transações comerciais, de

diálogo e de comunicações que se beneficiam das mesmas oportunidades e enfrentam os

mesmos problemas (Jair do Amaral Fº, 275). Esta idéia, mais restrita que aquela do RIS,

está, sobretudo calcada na obra de Michael PORTER, A competitividade das Nações

(1990), que durante muitos anos foi, por assim dizer, uma bíblia nos cursos de

administração de empresas.

Um cluster regional se define quando um grupo de firmas do mesmo setor, ou de setores

muito relacionados, estão em grande proximidade geográfica.Além das firmas um cluster

inclui instituições públicas, instituições de ensino e serviços de apoio e seus limites são

definidos pelas ligações e complementaridades entre instituições e indústrias. Os clusters

têm em comum a especialização setorial, a proximidade e a cooperação que geram

desdobramentos e sinergias num sistema regional de inovação. Esta trama cria não apenas

dinamismo e flexibilidade, mas também aprendizagem e inovação.

Os estudos que tratam das “regiões de aprendizagem”, “ambientes inovadores”, “clusters”

e “distritos industriais” ou sistemas regionais de inovação não são conclusivos, não

obstante tenham aportado alguma contribuição para o entendimento de economias

baseadas em conhecimento e se estruturem a partir de alguns casos de regiões exitosas

(COOKE e MORGAN, 1998).

Esforços para melhor definir um RIS têm sido feitos por COOKE et al (1998), que o

descrevem como aquele sistema que compreende uma “estrutura de produção” embutida

numa “estrutura institucional” na qual firmas e organizações estão sistematicamente

engajadas num aprendizado interativo. Esta descrição capta a complexidade do todo

1 Esta facilidade apresenta, contudo, seus limites. Muito embora a proximidade geográfica facilite as interações/cooperação, ela não é suficiente. Muitas firmas inovadoras, MNCs, operam em redes de inovação que transcendem as fronteiras subnacionais de seus países de origem.

Costa Lima, Ferreira e Fernandes.

9

Page 10: Brasil Regiões e Inovação Ultimo Encontro Brics Cassio

A Dimensão Regional do Sistema Brasileiro de Inovação

integrado, que é o RIS, sem revelar suficientemente o que constitui a estrutura de

produção, a estrutura institucional, a região, os atores e as interações que os unem. Mas

também não reforça a idéia força associada à inovação e à criação e difusão de novas

tecnologias, limitando-as à noção de aprendizado interativo.

Por certo não pretendemos estabelecer definição outra de RIS, mas levar em conta,

principalmente uma definição mais abrangente, que a um só tempo garanta a complexidade

do conceito, articulando a estrutura produtiva, a estrutura institucional, o aprendizado

interativo e o espaço, em uma dimensão histórica.

É com base na articulação destas densas e convergentes matrizes analíticas, dos sistemas

nacionais e regionais de inovação, das aglomerações industriais, que partimos para

estabelecer a dimensão regional do sistema de inovação brasileiro, sem esquecer, contudo,

que os países periféricos tendem a enfrentar maiores dificuldades, em contexto onde as

grandes corporações transnacionais têm ampliadas sua capilaridade, ganham maior

liberdade de movimento e se deslocam com maior rapidez pelo mundo, utilizando os

territórios nacionais como plataforma de operação e alterando o conjunto prévio de

instrumentos regulatórios, por meio de pressões de toda ordem. Esta acelerada

desterritorialização, promovida pelo grande capital, vêm alterar ou reforçar regiões e áreas

que apresentam condições de atração locacional, que possuem vantagens de infra-estrutura,

recursos humanos qualificados e maior número de instituições inclinadas a apoiar

empreendimentos modernos e inovadores.

Um país como o Brasil, que hoje vivencia uma redefinição de sua inserção mundial,

apresenta como veremos a seguir, grandes contrastes e diferentes potenciais de

desenvolvimento de suas diversas sub-regiões, a refletir fortes diversidades social,

econômica, ambiental e cultural. Esse processo, digamos de modernização inconclusa ou

imperfeita, tem aprofundado uma trajetória já histórica de desigualdades regionais,

impedindo a conformação de um padrão de desenvolvimento capaz de inserir suas

populações numa sociedade de bem estar, com ampliação dos níveis habitacionais,

educacionais, de saúde e de criatividade.

Como afirmam Björn JOHNSON et al (2001) o avanço do conhecimento e sua utilização

estão longe de ser tudo em matéria de desenvolvimento, mas são dele, certamente, uma

Costa Lima, Ferreira e Fernandes.

10

Page 11: Brasil Regiões e Inovação Ultimo Encontro Brics Cassio

A Dimensão Regional do Sistema Brasileiro de Inovação

parte fundamental. Os recursos relacionados ao conhecimento, como indicado pelas

atividades de P&D, patentes, publicações, etc. são cada vez mais desigualmente

distribuídos entre o norte e o sul que a renda e a riqueza a nível mundial. Em escala

nacional temos sinais claros de que estamos vivenciando um aprofundamento dos

desníveis tecnológicos, reproduzindo, portanto, o processo.

3. BREVE CONTEXTUALIZAÇÃO DA QUESTÃO REGIONAL E DA ECONOMIA BRASILEIRAS

O Congresso Nacional ao revisar em 1999 o estudo intitulado O desequilíbrio econômico

inter-regional no Brasil2, de 1993, segundo Alfredo LOPES NETO (2001) afirmou que o

Brasil estava dividido em dois países separados: O Brasil Um ou o Brasil rico, e o Brasil

dois, ou Brasil pobre. O Brasil Um indicava o Sudeste e o Sul do país e a parte

desenvolvida do Centro-Oeste (o Sul do estado de Goiás e o estado de Mato Grosso do

Sul). De acordo com o estudo, juntas, estas regiões correspondem a 26% do território

nacional e concentram 63% da população do país. Segundo o IBGE, em 1998, o PIB

combinado das regiões Sul e Sudeste representavam então 75.6% do produto nacional.

Estas duas regiões também representavam 80% das exportações do país. Em 2004 o

mesmo indicador representava 73,13% enquanto as exportações 83,14%.

A economista Tânia BACELAR (2003) assinala que o movimento de desconcentração

industrial no país, que vinha favorecendo as regiões menos desenvolvidas, vem-se

interrompendo. Hoje, das 68 aglomerações urbanas com intenso dinamismo industrial

recente, 79% estão localizadas nas regiões Sul e Sudeste, ao passo que 15% apenas na

região Nordeste, e somente 6% no Norte e Centro Oeste.

As economias de aglomeração têm-se estruturado no país a partir de suas regiões

metropolitanas. A autora afirma que a história econômica das regiões brasileiras está

mesclada à história da industrialização do país e à constituição do mercado interno

brasileiro. Nestes processos, uma divisão inter-regional do trabalho passou a tomar forma,

2 O estudo foi preparado pela Comissão Mista do Congresso nacional em 1993 e atualizado em 1999. Cf. senador Bei Veras: www.senador.gov.br/web/senador/beniver/desequilibrio.

Costa Lima, Ferreira e Fernandes.

11

Page 12: Brasil Regiões e Inovação Ultimo Encontro Brics Cassio

A Dimensão Regional do Sistema Brasileiro de Inovação

e como resultado, estruturas produtivas foram sendo definidas, da mesma forma que os

diferentes papéis de cada região nacional no interior da economia, com repercussões sobre

o desenvolvimento econômico e sobre as condições de vida nas diferentes regiões.

3.1 Desigualdades nos Indicadores Sociais Regionais no Brasil

A força da inércia das tradicionais desigualdades sócio-econômicas brasileiras tem

resistido aos esforços envidados pelas políticas públicas adotadas, como se poderá

averiguar pelo panorama apresentado neste subitem. Conjugamos um conjunto de

indicadores nacionais e regionais que expressam as fortes assimetrias presentes no

território nacional e que têm relação direta com o presente objeto de estudo.

Saúde e vida

A Esperança de Vida ao Nascer, no Brasil cresceu entre os anos 1993 e 2003, em

média 3.6 anos, sendo maior este indicador nas mulheres (75,2 anos) do que nos

homens (67,6 anos);

Na outra ponta, a taxa de mortalidade infantil caiu no País, na década de 1990,

passando de 41,1 em 1993 para 27,5% em 2003, conseqüência direta das diversas

políticas de saúde implementadas no período;

No tocante á existência de saneamento básico, apenas 16,3% do 40% mais pobres

têm saneamento adequado, na média brasileira, mas sobe para 71,5% no Sudeste;

Grau de instrução

Os indicadores de Instrução continuam muito baixos para um país que quer se

inserir na sociedade do conhecimento, pois a média do analfabetismo funcional para

pessoas de 15 anos ou mais é de 20,7%, sendo ainda maior no Nordeste (30,6%). O

cenário piora se sabemos que a Inglaterra e a França resolveram este problema no final

do século XIX. E, por região, os indicadores do Sul e do Sudeste são melhores, caindo

o analfabetismo respectivamente para 16,4% e 16,9 % . Mas a série histórica da taxa de

analfabetismo mostra uma tendência declinante na última década, independente de

sexo, situação urbana do domicílio e da região, embora as diferenças regionais ainda

sejam acentuadas. Na média nacional o analfabetismo caiu quase 30% entre 1993 e

Costa Lima, Ferreira e Fernandes.

12

Page 13: Brasil Regiões e Inovação Ultimo Encontro Brics Cassio

A Dimensão Regional do Sistema Brasileiro de Inovação

2003 e foi mais intenso para as mulheres e nas regiões Sul, Centro oeste e Sudeste, com

reduções de 34,7%; 32,1 e 31,3%, respectivamente.

Tabela 1População Brasileira Total e por Grandes regiões, esperança de Vida e Indicadores de Instrução

2004 e 2005 (%)

Indicadores BrasilRegiões

N NE SE S CO

População Total182060108 14434109 50534403 77577219 26697985 12816392

100.0 7,92 27,75 42,61 14,64 7,03

Esperança de Vida ao Nascer 71,3 69,3 66,7 70,1 71,7 70,1

Taxa de Analfabetismo Funcional 20,7 23,8 30,6 16,9 16,4 20,2(15 anos ou mais)

Média de Anos de estudo da pop. Com 18 anos 8 7,5 6,6 8,7 8,9 8,2

Pessoas com 25 anos ou mais sem instrução e menos de um ano

15,9 15,9 29,9 10,5 9,6 14,4

Fonte: IBGE/PNAD 2006 para população e IBGE/ Indicadores Sociais 2005, para os demais indicadores

Observa-se um grande atraso no fluxo escolar, o que fica acentuado na distribuição

dos estudantes de 18 a 24 anos de idade pelos diversos níveis de ensino. Em 2003 ,

cerca de 20,4% dos alunos dessa faixa etária ainda cursava o ensino fundamental e

quase 42,0% ainda estavam no nível médio. Em termos regionais, no Nordeste, quase

80% desses jovens estavam defasados, 34% deles no ensino fundamental e 44% no

ensino médio. Mesmo no ensino fundamental, que tem caráter obrigatório, a defasagem

idade-série é elevada, chegando a atingir 64% dos estudantes de 14 anos de idade , que

no Nordeste atinge quase 82% ;

Com relação às pessoas sem instrução ou com menos de um ano de estudo,

enquanto a média nacional é de 15,9%, no Nordeste este percentual sobe para 29,9%.

Ou seja, no quesito instrução a população nordestina apresenta os piores indicadores

nacionais, seguida pela região Norte, com o Centro Oeste apresentando melhoras

substantivas;

O número de estudantes de nível superior, entre os 40% mais pobres, apenas 1,4%

destes chegam à universidade, quando no Sudeste o número sobe para 6,6%.

Trabalho e renda

Com relação à dimensão de trabalho e seus rendimentos, 46,1% da população

ocupada no Nordeste brasileiro recebe até 1 salário mínimo (SM), enquanto no Sudeste

Costa Lima, Ferreira e Fernandes.

13

Page 14: Brasil Regiões e Inovação Ultimo Encontro Brics Cassio

A Dimensão Regional do Sistema Brasileiro de Inovação

este percentual cai para 19,9% do total. Entre aqueles que recebem renda mensal igual

ou superior a 5 SM, 4,1% compõe a população nordestina, enquanto no Sudeste este

percentual é de 13,7%;

Outro quesito de importância crucial representa o percentual da população ocupada

que contribui para a previdência social (Tabela 3). Pois bem, a média nacional daqueles

que contribuem é de 46,2 % e dos que não contribuem, 53,5%. Mas no Nordeste

brasileiro apenas 27,2% são contribuintes. A região Sudeste é a que apresenta o maior

número de contribuintes em todo o país.Tabela 2

População Economicamente AtivaPopulação Ocupada por Classe de Rendimento médio mensal

Brasil N NE SE S COPopulação Economicamente Ativa

87.787.660 4.073.091 23.730.092 38.473.896 14.493.712 6.264.646

100 4,63 27,03 43,8 16,5 7,13

Até ½ SM (%) 10 10 20,4 5,7 5,7 6Mais de ½ a 1 (%) 17,8 24,2 25,7 14,2 12 18,3Mais de 5 (%) 10,3 7,6 4,1 13,7 11,4 12,6

Fonte: IBGE/Indicadores Sociais 2005

Tabela 3População Ocupada que contribui e não contribui para a previdência

Brasil Norte Nordeste Sudeste Sul Centro OesteSim Não Sim Não Sim Não Sim Não Sim Não Sim Não46,2 53,5 38,9 60,9 27,5 71,9 57,2 42,7 51,2 48,5 46,9 53,0

IBGE/Indicadores Sociais 2005

Entre os setores que ocupam os brasileiros é alta a participação da agricultura,

mas há uma enorme disparidade entre os 37,2% da população ocupada nordestina e os

10,4% no Sudeste com trabalho agrícola. Ao mesmo tempo, enquanto 17,1% das

pessoas ocupadas no Sudeste estão na industria, este percentual cai no Nordeste para

9,2% (tabela 4)Tabela 4

População Ocupada por Setor Brasil No Ne Sud Sul C.O

Agrícola 20,7 9,7 37,2 10,4 23,9 17,8Industrial 14,4 13,8 9,2 17,1 17,6 11,0Construção Civil 6,5 8,4 5,1 7,2 6,2 7,2Comércio e Reparação 17,7 22,6 16,2 18,5 16,4 18,9Serviços 33,6 40,2 28,2 37,3 29,3 37,7Outras Atividades 6,9 6,9 3,7 9,3 6,3 7,3

IBGE/Indicadores Sociais 2005

Com relação à distribuição dos rendimentos entre ricos e pobres no país, a

tabela 5 novamente apresenta uma distância entre os indicadores do Sudeste e os do

Nordeste, quando se observa que o 1% entre os mais ricos no Sudeste garante 12% dos

Costa Lima, Ferreira e Fernandes.

14

Page 15: Brasil Regiões e Inovação Ultimo Encontro Brics Cassio

A Dimensão Regional do Sistema Brasileiro de Inovação

rendimentos enquanto no Nordeste 14,7%. De todo modo, são indicadores que

reforçam a iníqua distribuição de renda em todo o país, quando os 50% mais pobres

recebem quase o equivalente ao 1% mais rico.

Tabela 5Distribuição dos rendimentos dos 50% mais pobres e do 1% mais rico em relação ao total dos

rendimentosBrasil No Ne Sud Sul C.O

50% mais Pobres 15,7 17,9 16,1 16,6 17,4 16,11% mais Rico 12,7 12,3 14,7 12,0 12,1 12,0

IBGE/Indicadores Sociais 2005

Entre os 10% mais ricos a situação é mais semelhante em quase todas as regiões

brasileiras. E finalmente com respeito ao trabalho formalizado, enquanto entre os 40%

mais pobres no Nordeste, 34,5% não tem a carteira assinada, no Sudeste este número

cai para 24,2%.

Analisando os indicadores sociais através dos domicílios particulares urbanos, no

que tange às classes de rendimentos mensais per capita, verifica-se que 37,7 têm

rendimentos até 1 SM, enquanto no Nordeste o número atinge os impressionantes

68,3% dos domicílios. Evidentemente, nas faixas mais altas de SM, ou seja, a partir dos

5 SM, apenas 3,8% dos domicílios atinge esta faixa, quando no Sudeste é quase 3 vezes

maior.

Posse de bens duráveis

Um outro conjunto de indicadores bastante útil para aferir seja o conforto existente nos

domicílios, mas também o acesso a tecnologias modernas de informação e comunicação,

indica a grande disparidade nas moradias brasileiras por região.

Tabela 6Domicílios Particulares permanentes Urbanos.

Por posse de alguns bens duráveis (%)TV a Cores Geladeira Máq. de

LavarPC PC c/acesso a

InternetTelefone Fixo

Brasil 90,3 91,7 38,4 17,5 13,2 57,8NO 84,6 83,9 23,2 7,7 5,1 37,4NE 82,1 79,4 13,3 8,4 6,0 37,4SUD 94,1 96,5 47,9 22,0 16,8 66,6SUL 92,1 96,0 52,6 20,9 15,6 67,1C.O. 89,7 92,1 31,5 15,7 12,4 59,1IBGE/Indicadores Sociais 2005

Costa Lima, Ferreira e Fernandes.

15

Page 16: Brasil Regiões e Inovação Ultimo Encontro Brics Cassio

A Dimensão Regional do Sistema Brasileiro de Inovação

Na tabela 6 observamos que as regiões Norte e Nordeste ficam abaixo da média

nacional em quase todos os quesitos indicados e, principalmente nas tecnologias mais

intensivas da comunicação, como o telefone e da computrônica. As assimetrias, neste

âmbito, são muito acentuadas. No caso da telefonia, quase o dobro das residências no

Sul e Sudeste tem acesso a este equipamento. No acesso ao computador, quase três

vezes, o mesmo ocorrendo para o acesso à Internet.

Concluindo, verifica-se um profundo desequilíbrio entre as regiões brasileiras em

praticamente todos os indicadores sociais e de bem estar. A população nordestina, pelo

tamanho de sua população, quase 30% da população brasileira e que junto com o Sudeste

compõe 70,36% do total, apresenta de longe os piores indicadores. Tem o maior percentual

de população dependendo da agricultura para sua sobrevivência e o menor percentual de

população ocupada na indústria. Além do mais, representa o maior percentual da

população brasileira com baixos indicadores de instrução: quase três vezes mais

analfabetos acima dos 10 anos de idade do que no Sudeste e muito menor número de

pessoas no terceiro grau. No Brasil, a média de pessoas entre 18 e 24 anos que estão no

ensino superior é de 31,7 do total nesta faixa etária. No Nordeste este número cai para

15,4%, enquanto no Sudeste e no Sul o mesmo percentual atinge respectivamente 41,0% e

48,6%, indicadores já bem mais aproximados daqueles da Europa mediterrânea.

Por certo, é possível, constatar que a distribuição tanto das cadeias industriais, quanto

aquelas relacionadas aos processos contemporâneos de inovação e de ciência e tecnologia

reproduzem as disparidades regionais quando não as amplia, devido à natureza

acumulativa dos novos processos associados à revolução científica e tecnológica que, em

maior ou menor grau estão associados à densidade do tecido industrial e ao histórico dos

indicadores sociais apresentados.

Os mapas 1 e 2 permitem visualizar a espacialidade dessas assimetrias3, a partir de duas

tipologias de municípios brasileiros, aqueles com mais de 100 mil habitantes e aqueles com

população entre 20 mil a 100 mil habitantes. A partir de análise multivariada, reproduzem

aquilo que foi apresentado para a escala regional.

3 A pesquisa, chefiada pelo geógrafo Prof. Jean Bitoun, estabeleceu um conjunto de 09 indicadores para a definição dos mapas.

Costa Lima, Ferreira e Fernandes.

16

Page 17: Brasil Regiões e Inovação Ultimo Encontro Brics Cassio

A Dimensão Regional do Sistema Brasileiro de Inovação

Costa Lima, Ferreira e Fernandes.

17

Page 18: Brasil Regiões e Inovação Ultimo Encontro Brics Cassio

A Dimensão Regional do Sistema Brasileiro de Inovação

3.2 Transformações Regionais da Indústria brasileira

Os deslocamentos regionais da economia brasileira, em especial do setor industrial, se dão

por diversos motivos: i) busca por regiões onde os salários são mais baixos; ii) áreas onde a

sindicalização é incipiente; iii) a atração pela região Sul, mais próxima do Mercosul e dos

grandes centros consumidores; iv) proximidade das matérias primas – no Centro Oeste –

sobretudo a agroindústria, pelo deslocamento da fronteira agrícola do país.

Considerando o valor da transformação industrial da Pesquisa Industrial Anual (PIA) do

IBGE, a produção gerada na região Sudeste respondia por 69,3% do valor total da

produção em 1996, caindo para 61,6% em 2004. A desconcentração industrial aponta

ganhos nas principais regiões do País (Sul, de 18,0% para 21,0%; Nordeste, de 7,4% para

10,1% e Centro Oeste, de 1,1% para 3,3%), no mesmo período, mas, ainda assim é latente

o desnível regional, pois se somarmos a participação do Sudeste e Sul no valor da

transformação industrial, isto chega a representar 81,6% do total.

A distribuição dos estabelecimentos industriais conforme tamanho e região, entre 1996 e

2004, foi positiva para todos os tamanhos de empresa, à exceção daquelas localizadas no

Sudeste e para aquelas com mais de 500 empregados no Nordeste. A região Sul apresentou

os melhores indicadores no período, principalmente entre aquelas com mais de 500

empregados.

As taxas de crescimento do valor real desta transformação entre 1997 e 2004 evidenciam

que os piores períodos aconteceram em 1999 e, sobretudo 2002, quando à exceção do

Centro Oeste e do Norte, as demais regiões tiveram queda no crescimento.

A intensidade da desconcentração da produção da indústria é observável a partir da

mudança do número de unidades industriais, do valor real da transformação e do pessoal

ocupado. Pela tabela abaixo, os menores indicadores de variação ocorreram no Sudeste nos

três indicadores, salientando a queda no valor real da transformação industrial. A região

Centro Oeste apresenta os melhores indicadores no período.

Na década dos 90 a indústria brasileira viveu grandes transformações com fortes quedas no

emprego. Muitas empresas, pela abertura realizada na economia e aumento da competição,

se modernizaram, seja em processo seja em produto. Ao mesmo tempo, a guerra fiscal

Costa Lima, Ferreira e Fernandes.

18

Page 19: Brasil Regiões e Inovação Ultimo Encontro Brics Cassio

A Dimensão Regional do Sistema Brasileiro de Inovação

entre estados, associada com as diferenças salariais no país, provocaram um fluxo de

investimento em todas as regiões brasileiras, resultando em mudanças espaciais na

indústria. Os estados do Paraná, no Sul; do Ceará, no Nordeste e aqueles do Centro-Oeste

(principalmente o agrobusiness) foram beneficiados com a implantação de novas empresas

e crescimento do emprego.

Tabela 7Variação de indicadores da atividade industrial entre 1996 e 2004 (%)

Regiões N° de Unidades Valor real da Transformação

Industrial

Pessoal Ocupado

Sudeste 15,5 -3,7 10,0

Sul 52,4 18,9 44,1

Norte 61,7 21,9 64,4

Nordeste 49,5 22,8 42,8

Centro Oeste 69,6 120,9 80,0

Fonte: IBGE in: SABÓIA (2001)

Segundo SABÓIA (2001), o emprego industrial caiu 27.1% entre 1989 e 1998, sendo que a

maior queda do emprego industrial ocorreu no Sudeste, com taxa de 35,3%. Neste período,

cresceu a remuneração média na indústria, passando de 4,5 Salários Mínimos (SM) para

5,1 SM. A diferença entre salários médios no Sudeste e Nordeste era respectivamente de

6,2 SM e 3,1 SM, em 1998.

Em 2003 o nível médio variava entre R$ 431,00 na região Nordeste e R$ 790,00 no

Sudeste, diferença que era maior quando se observava a situação por setor industrial, pois a

extração do petróleo pagava R$ 2.718,00 e o setor de vestuário pagava R$ 296,00, uma

diferença de quase 10 para um.

Novamente quando observada a situação por setor de industria, se constata grandes

desníveis, pois os trabalhadores da extração de petróleo e de equipamentos de informática,

material eletrônico e fabricação de máquinas de escritório têm parcela considerável de

pessoal técnico e científico, ao passo que nos setores tradicionais tipo confecções e

calçados, são muito poucos os trabalhadores com formação técnica e ainda esses setores

estão mais localizados nas regiões periféricas.

Com relação ao nível de escolaridade média dos trabalhadores da indústria, embora

tenha apresentado melhora, pois passou de 6,2 anos de estudo (1989) para 7,4 em 1998, ,

Costa Lima, Ferreira e Fernandes.

19

Page 20: Brasil Regiões e Inovação Ultimo Encontro Brics Cassio

A Dimensão Regional do Sistema Brasileiro de Inovação

no cômputo geral trata-se de uma situação nada satisfatória, uma vez que oito anos

completos de estudo representam não mais que o 1° Grau Completo. Regionalmente,

confirmam-se as disparidades, apresentando os mais altos índices de escolaridade na

indústria em São Paulo (7,9 anos); Rio de Janeiro (8,0); Distrito Federal (8,4) e Amazonas

(8,9) e o pior índice pertence ao estado de Alagoas, apenas (3,8 anos de estudo).

Em 2003 o número médio de anos de estudo dos trabalhadores da indústria melhora um

pouco mais, variando entre 7,1 anos de estudo na região Nordeste e 8,8 anos de estudo na

região Sudeste. Mas, por setor, revelou-se grande diferença de escolaridade entre

profissionais situados na indústria de minerais não metálicos e aqueles empregados na

fabricação de máquinas para escritório e equipamentos de informática, respectivamente 7,1

e 11,4 anos de estudo.

Ainda se pode observar a situação industrial por micro-regiões, a partir do conceito

desenvolvido por SABÓIA (2001) que as desagrega em diferentes grupos de

aglomerações, de acordo com número de empresas industriais:

i) Macro-aglomerações (mais de 100 mil empresas);

ii) Grandes aglomerações (entre 50 e 100 mil empresas);

iii) Médias aglomerações (entre 10 mil e 50 mil empresas);

iv) Pequenas aglomerações (entre 5 mil e 10 mil empresas);

v) Micro aglomerações (entre mil e 5 mil aglomerações).

Por este ângulo houve redução no número de médias, grandes e macro aglomerações

existentes no país. As nove macro-aglomerações ficaram reduzidas a seis em 1998. Entre

as 11 grandes aglomerações de 1989, restaram apenas 09 em 1998. Finalmente, entre as

médias aglomerações, a queda foi de 78 para 73. Em contrapartida, cresceram as pequenas

e micro-aglomerações. A região Sudeste possui o maior número de aglomerações

industriais (132), seguida das regiões Sul (83) e Nordeste (63).

Observando a diversificação industrial por região brasileira, ainda se verifica grande

disparidade, pois as regiões Sul e Sudeste são as mais diversificadas, ou seja, enquanto

15,9% do emprego industrial estavam distribuídos no setor tradicional de alimentos,

bebidas e álcool etílico e 28,9% incluindo têxtil, mobiliário e tecidos, e considerando a

metalurgia, atinge-se 41,6% do total de empregos. E ainda, ao incluir-se os 5 principais

Costa Lima, Ferreira e Fernandes.

20

Page 21: Brasil Regiões e Inovação Ultimo Encontro Brics Cassio

A Dimensão Regional do Sistema Brasileiro de Inovação

setores, chega-se a 62,5%. No Nordeste a situação é bem menos diversa, pois só o 1° setor

(alimentos, bebidas e álcool) alcança 38,3% e ao se incluir os setores têxteis, de vestuário e

de tecidos se chega a 56,9%.

Tabela 8Número de Micro-regiões segundo a faixa de n° de empregados na Indústria de

Transformação e Extrativa por região-1998

Regiões

1 a 5Mil

empresas

5 a 10Mil

empresas

10 a 50Mil

empresas

50 a 100Mil

empresas

+100Mil

empresas

TotalMil

empresasNorte 25 2 2 0 0 29

Nordeste 39 13 9 2 0 63

Sudeste 59 26 39 4 4 132

Sul 41 18 19 3 2 83

C.Oeste 25 3 4 0 0 32

Brasil 189 62 73 9 6 339

Fonte:Rais

Todo este conjunto de evidencias aqui apresentado, quer com relação aos indicadores sócio

econômicos, quer com relação aos indicadores industriais, demonstram que o país não foi

capaz de reduzir suas disparidades regionais, mantendo-se as regiões Sul e Sudeste como

as mais desenvolvidas do país, havendo se ampliado para Centro-Oeste e para o Sul e

Sudoeste goiano. Essas assimetrias irão se reforçar, como será explicitado a seguir, ao

introduzirem-se as questões diretamente ligadas ao processo de inovação, pois as firmas

que inovam e diferenciam produtos buscam uma série de atrativos, condicionantes e

externalidades que, em geral e na atualidade, as regiões Norte e Nordeste não podem

oferecer e, quando muito, são encontradas nas suas metrópoles regionais. Estas firmas

inovadoras estão basicamente concentradas em poucas regiões metropolitanas (RM) e

aquelas das cidades de São Paulo e Campinas são responsáveis por quase 35% do valor da

transformação industrial (VTI) destas firmas, enquanto, as RM de Belo Horizonte, Rio de

Janeiro, Curitiba e Porto Alegre concentram mais 15% da VTI. Portanto, das firmas

brasileiras que inovam e diferenciam produtos, 50% do VTI estão localizados em apenas

seis RMs (Lemos et al 2005ª).

Costa Lima, Ferreira e Fernandes.

21

Page 22: Brasil Regiões e Inovação Ultimo Encontro Brics Cassio

A Dimensão Regional do Sistema Brasileiro de Inovação

4. A ESPACIALIZAÇÃO DA INOVAÇÃO NO BRASIL

Há forte convergência em âmbito internacional sobre o papel-chave que hoje cumprem

Ciência, Tecnologia e Inovação na construção de sociedades modernas. Em se tratando da

organização do processo inovador por parte dos países centrais, o resultado prático da

evolução do novo paradigma tecnológico é uma impressionante constituição de redes e

parcerias estratégicas de firmas direcionadas à inovação4. Essas parcerias em Pesquisa e

Desenvolvimento (P&D) e Produção vêm se constituindo talvez no objetivo mais desejado.

Essa cooperação se deve à necessidade de identificar fontes potenciais de conhecimentos,

de experimentar novas alternativas tecnológicas, de acompanhar e monitorar as atividades

desenvolvidas em outras redes. Por outro lado, como explicaram CHESNAIS e SAUVIAT

(2005), o advento do regime de acumulação dominado pelas finanças enfraqueceu os

arranjos institucionais que envolviam a aquisição de capacitações internas das firmas por

meio de treinamento e participação da força de trabalho em processos de aprendizagem.

Esse compromisso de longo prazo foi rompido, entre outros motivos, pela crise fiscal que,

entre outros desdobramentos, reduz os investimentos no sistema educacional de um país

como um todo.

Conforme encontramos no Livro Verde, documento oficial produzido pelo Ministério de

Ciência e Tecnologia, onde está estabelecido um conjunto de diretrizes estratégicas e

apontadas as principais vulnerabilidades do setor, em seu capítulo primeiro sobre a

dimensão do sistema, no Brasil, está dito que os recursos empregados em C&T no período

de 1991 a 2000 sofreram grande flutuação dos dispêndios federais, não obstante o

incremento observado a partir de 1999, considerando-se a incorporação dos fundos

setoriais (MCT, 12:40).

Nos anos 1990 o país apresenta um quadro macroeconômico perverso, a saber, taxas de

juros elevadas e taxas de câmbio sobre-valorizadas, o que explica a redução das macro-

aglomerações industriais observada por SABÓIA (2001). COUTINHO (2005) destaca

quatro traços principais deste quadro: (i) vulnerabilidade financeira persistente das

4 Consideram-se atividades inovativas: a realização de P&D pela própria empresa; a aquisição de P&D realizada por outra instituição; a aquisição de outros conhecimentos a exemplo dos licenciamentos de tecnologia; a aquisição de máquinas e equipamentos necessários à implementação de inovações de produto ou processo;o treinamento orientado para inovações de produto ou processo; a introdução das inovações tecnológicas no mercado e o projeto industrial e outras preparações técnicas para produção e distribuição (ANPEI)

Costa Lima, Ferreira e Fernandes.

22

Page 23: Brasil Regiões e Inovação Ultimo Encontro Brics Cassio

A Dimensão Regional do Sistema Brasileiro de Inovação

empresas nacionais, (ii) contração significativa da base de financiamento doméstico de

longo prazo e de mercado de capitais, (iii) fraco desempenho competitivo em todos os

setores de alto conteúdo tecnológico e competitividade apenas em commodities, e (iv)

transferência patrimonial para capitais estrangeiros em muitos setores .

Fato é que desde a década de 1990 vem se percebendo um alto grau de concentração nos

fluxos de tecnologia entre os países da OCDE, notadamente entre a Tríade. As tecnologias

desenvolvidas por corporações multinacionais nos países hospedeiros, principalmente

aqueles em atraso tecnológico, ou periféricos, são muito reduzidas. Neste sentido, uma

análise sobre a dinâmica e configuração de sistemas de inovação em ambientes periféricos

obrigatoriamente deve considerar determinações de natureza macroeconômica,

especialmente num país como o Brasil.

A longa duração das fragilidades apontadas, associadas à fragilidade externa estrutural da

economia brasileira impõe condicionantes às quais está submetida uma compreensão do

sistema nacional de inovação (SNI). Compartilhando esta análise, CASSIOLATO e

LASTRES (1999) chamam a atenção para o fato de que a literatura neo-schumpeteriana ou

evolucionária sobre os sistemas de inovação têm dado muito pouca atenção ao problema

relacionado às instabilidades/vulnerabilidades presentes na macroeconomia, na política,

instituições e finanças, que marcaram e ainda marcam os países menos desenvolvidos. Ou

seja, a literatura sobre os SNI trata muito pouco das relações micro-macro. E o ambiente

dos países em desenvolvimento sempre foi caracterizado pela instabilidade

macroeconômica. Diferentemente dos países centrais ou mesmo daqueles que avançaram

tardiamente, como o Japão e a Coréia, as estratégias desenvolvidas pelos periféricos

estavam desconectadas das atividades desenvolvidas pelas firmas importadoras. Em geral

estas estratégias não eram precedidas nem acompanhadas ou seguidas de pesquisas

complementares substantivas, desenvolvimento ou esforços de engenharia das firmas

importadoras. O resultado é que eram rapidamente assimiladas em processos contínuos de

rápida mudança técnica.

Como afirmam CASSIOLATO e LASTRES (1999), o learning by doing ocorria, bem

como adaptações menores, mas a intensidade de tal incremento, a mudança técnica, era

quase sempre inadequada para sustentar a competitividade em mercados internacionais

tecnologicamente dinâmicos e raramente criava novas bases de competitividade em

Costa Lima, Ferreira e Fernandes.

23

Page 24: Brasil Regiões e Inovação Ultimo Encontro Brics Cassio

A Dimensão Regional do Sistema Brasileiro de Inovação

atividades capazes de produzir maior valor agregado. Este padrão gerou uma limitada

intensidade de mudança técnica na indústria.

Os baixos níveis das atividades internas de P&D, por parte das firmas, eram acompanhados

por ligações muito frágeis com o governo e seus institutos de pesquisa e universidades.

Desde o início dos anos 90 com a plena hegemonia das idéias neoliberais, as reformas

estruturais, a privatização e desregulação afetaram de forma impactante o comportamento

macroeconômico dos países da América Latina, com conseqüências graves para o sistema

de inovação regional.

A redução do custo de importação de bens de capital estimulou a substituição:

i) O coeficiente de importação de máquinas e de bens eletrônicos, no caso brasileiro, saltou

de 29% em 1993 para 70% em 1996. A substituição também ocorreu em outros setores, a

exemplo das matérias primas químicas, dos fertilizantes etc;

ii) As corporações multinacionais subsidiárias passaram a importar partes e componentes e

reformularam suas engenharias adaptativas do período de Substituição de importação;

iii) A privatização das empresas públicas por multinacionais levou a produzir e realizar

menos esforços tecnológicos;

iv) Relacionado aos centros de pesquisa do estado, muitos dos quais privatizados, foi

reduzido o número de pesquisadores e de projetos, ampliado-se o número de consultores e

de assistência técnica;

v) O estabelecimento de nova capacidade de produção está baseado no uso de máquinas

importadas, bens de equipamento e produtos intermediários, o que teve um efeito deletério

sobre os processos de aprendizagem locais e acumulação de capacidades inovadoras. O

resultado geral é que o país perde capacidade no mercado internacional, reduzindo sua

participação no mercado mundial de 1,42% em 1984 para 0,79% em 1995 (CASSIOLATO

e LASTRES, 1999: p.11).

Em 2004 a ANPEI publicou estudo que pretendia explicar as causas dos investimentos

historicamente baixos das empresas brasileiras em P&D e chegaram à conclusão que as

empresas brasileiras não atribuíam valor estratégico à tecnologia e se limitavam a

processos de difusão de tecnologias conhecidas. Mais recentemente constatam que a

política tecnológica através de iniciativas do Estado brasileiro, foi retirada de seu

Costa Lima, Ferreira e Fernandes.

24

Page 25: Brasil Regiões e Inovação Ultimo Encontro Brics Cassio

A Dimensão Regional do Sistema Brasileiro de Inovação

isolamento, a partir do estabelecimento da nova política industrial e a aprovação da Lei de

Inovação.

O IBGE publicou em 2005 a segunda Pesquisa-Industrial – Inovação Tecnológica 2003,

cobrindo o período 2001 a 20035. O indicador que se utiliza internacionalmente para aferir

o dinamismo tecnológico de um país é a taxa de inovação6 e no caso brasileiro ela

correspondeu a 33,3%7. Países desenvolvidos como a Suécia, a Áustria, o Canadá, a

Dinamarca, a Holanda e a Alemanha apresentam taxas de inovação superiores a 60%.

No caso brasileiro, as taxas de inovação de processo na indústria de transformação foram

de 27%, bem superior à taxa de inovação de produto (20,7%), o que reflete muito mais

uma preocupação com a redução de custo e com a eficiência produtiva. As inovações de

processo acontecem, sobretudo, pela incorporação de máquinas e equipamentos já

existentes no mercado interno, representando um processo de modernização de planta

produtiva.

Segundo ARRUDA et al (2006) o quadro macroeconômico desfavorável aos investimentos

produtivos vem realizando a modernização da estrutura industrial pela via da redução de

custo e da eficiência8 e os investimentos mais ambiciosos em novos processos para o

mercado interno exigem maiores investimentos em capital fixo, o que no longo prazo,

certamente tornará o país defasado internacionalmente em termos de estrutura produtiva e

competitividade e limitará o crescimento econômico e a geração de renda (p. 15).

Dentre as atividades industriais mais inovadoras, o IBGE listou 20, concentradas nas

indústrias eletrônica, mecânica e química, indicando que existe uma diferença estrutural no

conjunto das atividades industriais. Outra constatação é sobre o grau de concentração de

cada uma dessas atividades industriais, pois na mecânica, a fabricação de ônibus e

caminhões é feita por apenas 11 firmas; na química, a fabricação de defensivos agrícolas se

reduz a 18 empresas. Outro dado relevante é que esse conjunto de 20 atividades foi 5 A primeira PINTEC publicada em 2002, foi referente ao período 1998 a 2000.

6 A taxa de Inovação corresponde à relação entre o número de empresas que realizam alguma inovação em determinado período e o número total de empresas industriais.

7 De um total de 84.262 indústrias que ocupava 10 ou mais pessoas, 28.036 foram as que indicaram ter feito alguma inovação.

8 Mais de 50% dos gastos em inovação das empresas brasileiras referem-se a máquinas e equipamentos, quando nos países da União Européia este percentual não passa dos 20%. Já os gastos em P&D interno na União Européia eles oscilam entre 30 e 60% dos gastos totais em inovação, ao passo que no Brasil este valor não chega aos 20%.

Costa Lima, Ferreira e Fernandes.

25

Page 26: Brasil Regiões e Inovação Ultimo Encontro Brics Cassio

A Dimensão Regional do Sistema Brasileiro de Inovação

responsável por 26,3% da receita líquida de toda a indústria brasileira, ou seja, de que as

empresas mais inovadoras faturam, em média, mais do que as menos inovadoras.

Não é difícil compreender que o Sistema Nacional de Inovação no Brasil tem uma

debilidade estrutural maior, que é a limitada a participação do setor privado com atividade

de P&D e o grande peso relativo do setor público em função do processo que aqui se

estruturou, quando os setores estratégicos tecnologicamente “de ponta” ficaram sob a

condução de empresas internacionais. Mas se hoje há maior percepção dos estragos feitos

pela adoção deste modelo e tentativas são implementadas para alterar o quadro, ainda há

muito a se fazer. Da crise do endividamento externo dos anos 1989 aos anos de

liberalização e redução do papel do Estado dos anos 1990, perdeu-se a visão do

planejamento e predominaram as políticas de curto prazo. Tudo isto gerou um amplo e

pernicioso processo de fragmentação.

Em trabalho recente, BORGES LEMOS et alii (2005ª) analisam a distribuição espacial da

indústria no Brasil, a partir da construção de uma base de dados espacializada, com um

amplo leque de variáveis que potencialmente afetariam a localização da indústria

brasileira9. Um dos resultados do estudo permitiu a identificação de centros dinâmicos,

denominados pelos autores de Aglomerações Industriais Espaciais (AIE), capazes de

promover transbordamentos espaciais. Ainda segundo os autores,

A dinâmica espacial resultante da industrialização brasileira confirmou, por um

lado, as teorias do desenvolvimento desigual, mas refletiu por outro, a geopolítica

da integração nacional. Dessa forma, a distribuição da indústria brasileira é

concentrada pela força hegemônica de São Paulo e seu entorno regional, mas

existem pólos subnacionais que são forças efetivas de atração de investimentos

industriais para suas áreas de influência geográfica. Pode-se dizer que o pólo

nacional de São Paulo e os pólos subnacionais são os centros dinâmicos da

indústria no território brasileiro (p. 326).

9 Essas variáveis municipais integravam: % de domicílios com redes de esgoto; % de domicílios com coleta de lixo; índice de Gini; % da população com renda inferior a 1 SM; % de pessoas de 25 anos ou mais de idade com 12 anos ou mais de estudo; % de pessoas de 25 anos ou mais freqüentando curso superior; % de pessoas que freqüentam curso superior em relação à população de 18 a 22 anos; renda total dos indivíduos; população; índice do custo de transportes da sede municipal até a cidade de São Paulo; índice de custo de transporte até a capital mais próxima; Coordenada da sede do município (longitude);coordenada da sede do município (latitude); distância para a capital do estado (Km); Dummy (1 para município que não pertence a nenhuma região metropolitana).(Cf. BORGES LEMOS, 2005: p.329).

Costa Lima, Ferreira e Fernandes.

26

Page 27: Brasil Regiões e Inovação Ultimo Encontro Brics Cassio

A Dimensão Regional do Sistema Brasileiro de Inovação

A natureza concentrada da industrialização brasileira pode ser aquilatada quando sabemos

que dos mais de 5507 municípios brasileiros10, apenas 250 deles com maior atividade

industrial representam cerca de 70% do pessoal ocupado e mais de 85% do valor da

transformação industrial(VTI) e das exportações brasileiras. Na região Sudeste estão cerca

de 79% do VTI e 68% das exportações. Quanto ao conteúdo tecnológico das firmas, estes

números são ainda mais alentados: 98% do total do VTI das firmas que inovam e

diferenciam produtos são realizados nestes 250 municípios acima mencionados como de

maior atividade industrial. Só o município de São Paulo e os 120 municípios do seu

entorno representam uma aglomeração industrial espacial (AIE) com 42% do VTI da

indústria brasileira (BORGES LEMOS, 2005: p. 331).

As indústrias analisadas estão classificadas em uma tipologia com três categorias, a saber:

aquelas empresas que inovam e diferenciam produtos; as firmas especializadas em

produtos padronizados e firmas que não diferenciam produtos e têm produtividade menor.

No esforço de espacialização aqui comentado são caracterizadas 15 aglomerações espaciais

industriais para todo o país: a região Sul com 05 AIEs, o Nordeste com 04, o Sudeste com

05 e o Estado de São Paulo, sozinho, caracterizando uma AIE. O que reforça a

classificação é o número de municípios que estão associados a essas AIES, indicadores da

densidade do tecido industrial da aglomeração. Assim, dos 254 municípios mais

industrializados, o Sul congrega 64; o Nordeste 25; o Sudeste 43 e, só o Estado de São

Paulo, 120. No Mapa 3 estão identificadas as concentrações industriais municipais,

evidenciando a forte presença de aglomerações no Sudeste e Sul brasileiros e o Nordeste

com suas aglomerações restritas às áreas metropolitanas de suas capitais e no Mapa 4, a

localização de indústrias que inovam e diferenciam produtos .

MAPA 3CONCENTRAÇÃO INDUSTRIAL MUNICIPAL 2000

10 Deste total de municípios, há 5.042 que não indicam nenhuma empresa que inova ou diferencia produtos´e que representam 51% da população brasileira e 30% da renda (op.cit.p.333).

Costa Lima, Ferreira e Fernandes.

27

Page 28: Brasil Regiões e Inovação Ultimo Encontro Brics Cassio

A Dimensão Regional do Sistema Brasileiro de Inovação

Fonte: BORGES LEMOS, 2005

MAPA 4PRESENÇA DE FIRMAS QUE INOVAM E DIFERENCIAM PRODUTOS

NO SETOR INDUSTRIAL

Fonte: BORGES LEMOS, 2005

Mais recentemente, a tentativa de adensar o sistema brasileiro de inovação fez com que

governos estaduais passassem a desempenhar papel de crescente importância no campo da

C&T, muito embora haja um profundo desnível nestas alocações, ao se constatar que os

estados da região Sudeste desembolsaram em 1999, 73,99% dos recursos estaduais totais

Costa Lima, Ferreira e Fernandes.

28

Page 29: Brasil Regiões e Inovação Ultimo Encontro Brics Cassio

A Dimensão Regional do Sistema Brasileiro de Inovação

para o setor, seguidos de 14,05% pelos estados do Sul; 8,08% pelos estados nordestinos;

2,7% pelo Centro Oeste e apenas 0,59 no Norte (MCT, 2000:p.25).

Uma outra maneira de observar o esforço dos estados para com o sistema de inovação é

atentar para a participação percentual dos dispêndios em C&T com relação à receita total

dos estados brasileiros. Em 1997, a média nacional ficou em torno de 0,92% da receita,

com indicadores bastante díspares no conjunto: São Paulo, 1,17; Rio de Janeiro, 1,64;

Espírito Santo, 1,49; Santa Catarina, 2,98; Paraíba 1,36; Pernambuco, 0,96

(MCT:2000:27). De todo modo, quando observada a diferença entre dispêndios federal e

estadual para C&T, os gastos estaduais alcançam não mais que 27,2% do total. Incluindo

os três setores envolvidos com gastos em C&T, a saber, os Governos Federal e Estadual e

o Setor empresarial, em 1999 a distribuição relativa dos gastos era a seguinte: governo

federal 46,6%; governos estaduais, 17,0% e setor empresarial 36,4% (MCT, 2000: p. 30).

Uma outra forma de se conhecer a situação da C&T e Inovação e que afere a capacidade de

aprendizagem tecnológica de um país é através do sistema acadêmico universitário. Neste

sentido, CAMPOLINA DINIZ e GONÇALVES (2005) numa amostra regional do quadro

universitário nacional informam que o Brasil possuía em 2001, 1.391 instituições de ensino

superior e um total de 3 milhões de alunos, representando apenas 1,8% da população

brasileira e 14% da população em idade universitária (18 a 24 anos). Aqui já fica evidente

o atraso brasileiro se comparado com os países desenvolvidos, onde em geral cerca de 50%

a 70% dos jovens em idade universitária estão cursando a universidade.

Segundo a Tabela 9, somando-se os mestres e doutores das regiões Sul e Sudeste, tem-se

72,1% dos mestres e 80,9% dos doutores brasileiros, respectivamente.

Tabela 9Ensino Superior por macrorregiões em 2001 (%)

MacrorregiõesInstituições de

EnsinoSuperior

Docentes Alunos*Total Mestres Doutores

Norte 4,4 4,2 4,1 2,0 4,7Nordeste 15,2 15,5 16,1 11,7 15,2Sudeste** 53,3 51,7 49,5 62,9 51,7Sul 15,5 20,6 22,6 18,0 19,8Centro Oeste 11,6 8,0 7,7 5,4 8,6Total Absoluto Brasil

1.391 219.947 72.978 46.133 3.030.754

Fonte: A partir de MEC/INEP/DAES, elaborado por CAMPOLINA DINIZ e GONÇALVES (2005).* Alunos matriculados em 30/06/2001, segundo o MEC.

Costa Lima, Ferreira e Fernandes.

29

Page 30: Brasil Regiões e Inovação Ultimo Encontro Brics Cassio

A Dimensão Regional do Sistema Brasileiro de Inovação

** As regiões metropolitanas de São Paulo e Rio de Janeiro representam 15,5 % e 11,7% dos mestres e 27,0% e 12,3% dos doutores, respectivamente.

Os indicadores relacionados às ciências exatas são ainda mais assimétricos na

comparação regional brasileira, pois o Sudeste congrega, por exemplo, mais de 70,0% dos

alunos de pós-graduação em engenharia no Brasil. Junto com a região Sul, este número

alcança a quase totalidade (91%) dos 14,2 mil alunos. No caso das ciências agrárias

também a soma dos estudantes de pós-graduação nas regiões Sul e Sudeste chega a 87,9%

dos estudantes. No campo das tecnologias da informação e comunicação, a

concentração destes profissionais no Sul-Sudeste equivale a 86,2% (tabela 10).

Com relação à produção científica brasileira, LETA e BRITO CRUZ (2003) utilizando-

se de dados quantitativos sobre as publicações brasileiras indexadas na base ISI11,

concluíram que houve um crescimento significativo da produção brasileira desde os anos

1980, em quase 6 vezes, chegando a 2001 a representar 1,4 da produção mundial, em

periódicos científicos (p. 121-168).

Tabela 10Alunos de pós-graduação (mestrado e doutorado) matriculados em áreas de formação

tecnológica por macrorregião – 1999 (%)

Macrorregiões

Ciências

Exatas e da

terra

Computação/

Informática

Ciências

Biológicas

Engenharias Ciências

Agrárias

Total

Norte 2,2 - 3,8 0,5 1,7 1,6

Nordeste 12,6 12,0 6,7 6,5 8,0 8,3

Sudeste** 68,5 52,4 71,2 70,4 69,8 69,0

Sul 12,6 33,8 13,7 20,5 18,1 18,1

Centro Oeste 4,0 1,8 4,5 2,1 2,4 3,0

Total Absoluto Brasil 7.232 2.358 7.300 14.188 7.774 38.852

Fonte: CAPES (tabulação especial); elaboração: CAMPOLINA DINIZ e GONÇALVES (2005).

Esta produção brasileira está concentrada em 12 estados da Federação, entre os quais dois

deles juntos respondem por cerca de 70% das publicações brasileiras, sendo que só o

Estado de São Saulo participava com 52% das publicações indexadas em 1999, mantendo

sua posição desde 1985, ao passo que o Rio de Janeiro, que em 1985 participava com 22%

destas publicações, caiu para 19% em 1999 (LETA e BRITO CRUZ, 2003: p. 142).

Impressiona que dos 12 estados representativos, apenas 04 deles, São Paulo, Rio de

Janeiro, Minas Gerais e Rio Grande do Sul, perfaçam 89% do total. Analisando estes

11Index for Scientific Information – www.isinet.com/isi/ : base multidisciplinar criada nos anos 60 nos Estados Unidos que em 1998 compilou informações baseadas em 8 mil periódicos.

Costa Lima, Ferreira e Fernandes.

30

Page 31: Brasil Regiões e Inovação Ultimo Encontro Brics Cassio

A Dimensão Regional do Sistema Brasileiro de Inovação

indicadores do ângulo das principais universidades públicas do país, também é grande a

disparidade, pois as universidades estabelecidas em São Paulo – USP, Unicamp, Unesp,

Unifesp, UFSCar, juntas, representaram 60,5% da produção indexada entre as 16 melhores

universidades públicas do país em 1999, mantendo a posição desde 1985.

Do ponto de vista da Pós-Graduação e Pesquisa na Universidade, CARNEIRO e

LOURENÇO (2003), abordam a formação dos recursos humanos nos níveis de Pós-

graduação e as atividades de pesquisa na universidade brasileira no período 1991-2000.

Em sua análise, nos informam que o número de doutores titulados no Brasil em 1990 foi de

1.206, ao passo que o crescimento verificado permitiu que se chegasse em 2001 com um

número de 6.042 doutores titulados (p.180). Tomando-se as oito grandes áreas de saber, a

maior participação é das Ciências Humanas, com 18,6% do total de doutores, seguido das

Ciências Agrárias e das Engenharias, cada uma com 17,5% do total. As Ciências da Saúde

e as Ciências Sociais Aplicadas participam cada uma com 16,1% dos doutores. Já com

relação ao número de mestres, a variação para o mesmo período foi de 6.811 em 19901

para 19.630 em 2001(p.168-227).

Uma das principais bases de dados que espelham o atual estágio da pesquisa no Brasil é

aquele do Diretório dos Grupos de Pesquisa no Brasil, elaborado pelo CNPq há mais de

dez anos. Conforme a fonte em tela, os autores constataram a existência de uma

concentração geográfica e institucional da atividade de pesquisa no país:

2/3 de todos os grupos vinculados às Instituições de Ensino Superior e quase 85%

dos grupos consolidados12 concentram-se em apenas quatro unidades da

federação: São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Rio Grande do Sul.

Diz ainda o estudo que das 155 IES avaliadas, onze destacam-se pela elevada proporção

(mais de 50%) dos grupos consolidados, do total do cadastro. Ampliando-se esse leque

para 14 IES, apenas a UFPE e a UNB se localizam fora das regiões Sul e Sudeste e 13 são

públicas (10 federais e 03 estaduais) e apenas uma instituição privada.

12 Grupos Consolidados é uma classificação do CNPq/CAPES que adota três estratos: consolidado, em consolidação e em formação. Os consolidados são aqueles que apresentam altíssima concentração de pesquisadores participantes de programa de pós-graduação. chancelados pela CAPES, com os graus mais elevados de escala de avaliação utilizada pela agência e, ainda, apoiados pelo CNPq com bolsas de pesquisa de elevada categoria/nível.

Costa Lima, Ferreira e Fernandes.

31

Page 32: Brasil Regiões e Inovação Ultimo Encontro Brics Cassio

A Dimensão Regional do Sistema Brasileiro de Inovação

Com relação ao indicador de patentes, que é um instrumento importante para avaliar a

capacitação tecnológica em países, firmas e regiões, no estudo realizado por

ALBUQUERQUE (2003) fica estabelecido um quadro com as patentes depositadas no

INPI, por unidade da Federação e por natureza jurídica, de acordo com o primeiro titular,

para o período 1990-2000. O Estado de São Paulo reuniu 23.925 das patentes, seguido pelo

Rio de Janeiro, com 4.726; Rio Grande do Sul com 4.257; Minas Gerais, 4.198; Paraná,

3.464 e Santa Catarina, com 2.447 de um total nacional de 49.140 patentes. Estes seis

estados do Sul-Sudeste representam 87,5% das patentes depositadas no INPI (p. 327-376).

Do ponto de vista industrial, a PINTEC 2003 apresenta dados relevantes sobre a situação

da inovação segundo as Grandes Regiões do país. De um universo de 84.202 empresas no

país, apenas 28.036 dentre elas informaram que haviam realizado alguma inovação de

produto e/ou processo. Destas, 52,5% se encontrava no Sudeste, das quais 62,5% em São

Paulo. A região Sul perfazia 29,9% do total nacional. O Nordeste 9,4%, o Centro Oeste,

4,9% e, finalmente o Norte com 3,1%13. Se tomarmos os mesmos indicadores, mas agora

observando os dispêndios realizados nas atividades inovadoras, é ainda maior a diferença

pró-Sudeste, que atinge 68,2% do total, enquanto o Sul correspondia a 18,5%, o Nordeste,

7,1%, o Centro-Oeste 1,3% e o Norte 4,6%.

Uma configuração por estado da federação revela que das 28.036 empresas que realizaram

inovação de produto e/ou processo, São Paulo congrega 9.209 empresas (32,8%), seguido

de Minas Gerais com 3.502 empresas (12,4), Rio Grande do Sul em terceiro lugar com

3.304 empresas (4,11). Os demais estados, por ordem de importância são: Paraná, Santa

Catarina, Rio de janeiro, Goiás, espírito Santo, Bahia, Ceará e Pernambuco.

4. 1. O estado de São Paulo como o grande centro de inovação no Brasil

Recentemente o jornal Valor Econômico em matéria um tanto quanto desmedida, chamava

a atenção para o fato de que cinco cidades paulistas começam a atrair gigantes da

tecnologia para criar parques tecnológicos: São José dos Campos, São Carlos, Campinas,

Ribeirão Preto e São Paulo (BORGES, 2006). O desmedido se dá em função da matéria se

iniciar pela Universidade de Stanford, na Califórnia, quando este centro universitário em

13 PINTEC Variáveis selecionadas das empresas, segundo Grandes Regiões selecionadas, período 2001-2003. Empresas que implementaram inovações.

Costa Lima, Ferreira e Fernandes.

32

Page 33: Brasil Regiões e Inovação Ultimo Encontro Brics Cassio

A Dimensão Regional do Sistema Brasileiro de Inovação

1940 decidiu dar um uso nobre às terras desocupadas em seu entorno, para atrair e formar

um pólo industrial de excelência. Desta iniciativa surge o Vale do Silício, matriz das

tecnologias de inovação e comunicação. Hoje, como diz a matéria e mais de sessenta anos

depois, 13 entre as 20 cidades norte-americanas tidas como as mais criativas estão na

Califórnia. No caso de São Paulo, as cinco cidades citadas possuem excelência acadêmica

e os dados da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Desenvolvimento Econômico de São

Paulo indicam que em 2003 a capital paulista foi responsável pela formação de 2.141

doutores; Campinas, por 771; São Carlos por 310; Ribeirão Preto por 211 e São José 60.

Em São José dos Campos, as competências se dirigem para o setor aeroespacial, para a

biotecnologia e logística de transporte. Já em São Carlos, a instrumentação agropecuária (a

Embrapa já está aí instalada), a biotecnologia, a fotônica e mecânica fina são os setores

prioritários. Em Ribeirão Preto as inovações correm por conta da saúde e da biotecnologia,

enquanto em Campinas o setor das tecnologias de informação ganha preponderância, mas

vale informar que a Empresa Natura já anunciou a criação de um centro de pesquisas

naquele município e a Tata Consultancy Services, gigante indiana já se encontra no local.

A cidade de São Paulo está construindo seu Parque Tecnológico nas imediações da USP e

deve ter como carro chefe o setor de TI. A criação destes cinco parques especializados

facilitará a articulação entre a produção acadêmica de ponta e a difusão do conhecimento

para o setor empresarial. Como afirma BORGES,

Enquanto nos Estados Unidos 70% dos pesquisadores estão na indústria, contra

15% na academia e 15% no governo, no Brasil a situação praticamente se inverte.

Quase 75% dos doutores formados trabalham dentro de universidades, apenas

20% está na indústria e 5% no setor público.

Dificilmente pode-se falar de ciência, tecnologia e inovação no estado de São Paulo sem

fazer referência à FAPESP. Crida em maio de 1962, a instituição conta com recursos

mínimos equivalentes a 1% da receita tributária do governo paulista, o que foi estabelecido

pelo artigo 271 da Constituição estadual de 1989.

A FAPESP funciona através do fomento e desenvolve programas de apoio à pesquisa em

três níveis: i) linhas regulares ou demandas espontâneas de de pesquisadores vinculados às

universidades e aos institutos de pesquisa sediados no Estado;ii) programas especiais,

voltados para as prioridades do sistema estadual de inovação e iii) programa de inovação

Costa Lima, Ferreira e Fernandes.

33

Page 34: Brasil Regiões e Inovação Ultimo Encontro Brics Cassio

A Dimensão Regional do Sistema Brasileiro de Inovação

tecnológica com potencial de desenvolvimento de novas tecnologias. Esta distribuição de

recursos ao longo do período 1998-2002 foi assim realizada: Bolsas, 33%; auxílios

regulares, 37,8%; Programas especiais, 20,2%; Inovação tecnológica, 9,4%. Dentre estas

04 áreas houve crescimento dos recursos para inovação e queda para os programas

especiais no período. São 04 as áreas de conhecimento ao longo da série temporal que mais

demandaram recursos à Fapesp, por ordem de grandeza: Saúde; Engenharia; Biologia e

Ciências Humanas e Sociais.

No que toca ao fomento à pesquisa e ao desenvolvimento, a instituição confirmou sua

posição de destaque, registrando os maiores valores de despesas em todos os anos da série,

num patamar sempre superior a 56% do total, um valor médio anual de R$ 508 milhões. As

três agências federais, juntas, a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível

Superior (CAPES); o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico

(CNPq) e a Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP) representam um valor nunca

superior a R$ 387 milhões para o Estado de São Paulo. Em 2001, quando começaram a

operar os Fundos Setoriais de Apoio ao Desenvolvimento Científico e tecnológico, os

dispêndios da FINEP ultrapassaram os recursos do CNPq e CAPES14.

Em São Paulo, considerando os dispêndios públicos das instituições públicas e de fomento

das esferas estadual e federal, verifica-se que ao longo do período 1998-2002, estes se

situaram sempre acima dos R$ 2,3 bilhões ao ano. A maior parte destes gastos corresponde

ao governo estadual (em torno de 60%) o que representa um gasto anual médio de R$ 1,47

bilhão, contra R$ 982 milhões do governo federal.

Com relação às universidades públicas, as estimativas de gastos em P&D com a pós-

graduação totalizaram R$ 863 milhões na média do período analisado no estado, sendo

84% realizado pelas universidades estaduais, tendo à frente, a Universidade de São Paulo.

Quando se somam os gastos dos setores públicos e empresariais em P&D, eles alcançam

R$ 4 bilhões no estado, o que equivale a mais de 36% do dispêndio nacional, um

percentual um pouco superior à participação do estado no Produto Interno Bruto, de

33,7%15.

Do total do dispêndio em P&D no estado de São Paulo no ano 2000, R$ 2,2 bilhões

corresponderam aos gastos empresariais, ou 54% dos gastos totais em P&D, contra 46% do

setor público. Isto vem a diferenciar o padrão brasileiro em P&D, onde os gastos públicos

14 FAPESP (2005), Indicadores de Ciência e Tecnologia e Inovação em São Paulo, 2004., Cap.1, pp.6-10.15 Fapesp (2005), op.cit. Cap.2 pp. 11-19

Costa Lima, Ferreira e Fernandes.

34

Page 35: Brasil Regiões e Inovação Ultimo Encontro Brics Cassio

A Dimensão Regional do Sistema Brasileiro de Inovação

equivalem a 58% e os investimentos empresariais 42%. Ou seja, o estado de São Paulo se

aproxima mais do padrão apresentado pelas economias industriais dinâmicas.

Um indicador importante estabelecido no trabalho da FAPESP são os indicadores que

dizem respeito à recursos humanos disponíveis em ciência e tecnologia (RHCT) e

estabelecem a cobertura e o alcance dos indicadores em pesquisa e desenvolvimento

(RHPD), pela ótica da escolaridade, da ocupação e da combinação entre ambas. Pois be,.

Em 2001, os RHCT no Brasil totalizaram 11,2 milhões de pessoas no Brasil e 3,6 milhões

em São Paulo(32,1%). Esses números no Brasil equivalem, por exemplo, a economias

como a França e o Reino Unido, enquanto o estado de São Paulo estaria próximo à

Holanda. Agora, vistos esses números com relação à população economicamente ativa

(PEA), os indicadores brasileiros caem substantivamente. Os RHCT para o Brasil seriam

neste caso não mais que 12% ao passo que São Paulo, 17%, quando os países

desenvolvidos esses valores sobem para cerca de 30 a 45%.

Com relação ao pessoal em P&D no setor industrial, segundo a PINTEC 2000, as 8.600

empresas industriais do estado que implementaram inovações, empregaram 22,3 mil

pessoas ocupadas em P&D, das quais 11,6 mil com nível superior, 7,3 mil de nível médio e

3,4 mil com outro nível de escolaridade.

Sem sombra de dúvidas, São Paulo abriga, como mostram os indicadores agregados por

região, a mais extensa rede de instituições de pesquisa, as universidades mais produtivas e

a maior comunidade científica e tecnológica do país, o que efetivamente está vinculado ao

fato de comandar o centro da indústria no país. Um indicador relevante chama a atenção

para as assimetrias entre o Brasil e o Estado de São Paulo, em que 57% das despesas com

atividades internas de P&D realizadas no âmbito da própria empresa, estão neste Estado.

A Tabela 11 explicita outros indicadores de Inovação pela indústria nacional e pode-se

constatar quanto são flagrantes as assimetrias, mas chama-se a atenção para o item

‘patente’ que não apenas revela a liderança paulista, mas expõe a fragilidade dos demais

estados da Federação neste tópico tão decisivo, reforçando a argumentação estabelecida

anteriormente.

Costa Lima, Ferreira e Fernandes.

35

Page 36: Brasil Regiões e Inovação Ultimo Encontro Brics Cassio

A Dimensão Regional do Sistema Brasileiro de Inovação

Tabela 11Indicadores de Inovação

Brasil e estado de São Paulo 1998-2000Indicadores Estado de

São Paulo(A)

Brasil

(B)

A/B

%Total de empresas - Pintec 25.597 72.005 36,9

Empresas que declaram inovar 8.664 22.698 38,2

Empresas que inovam/Total de Empresas (%) 32.6 31.5 -

Empresas com Gastos em P&D 7.229 19.165 37,7

Dispêndios em atividades internas de P&D (bilhões de R$) 2,1 3,7 56,7

Pessoal Ocupado em Atividades de P&D 22.020 41.467 53,1

Patentes Solicitadas (média 1994-1999) 1.084 1.885 57,5

Fontes: IBGE (2002b) Pintec 2000, ALBUQUERQUE (2001); PACHECO e BRITTO CRUZ (2005).

A Tabela 12 compara a situação paulista com a nacional e trata dos dispêndios em P&D,

segundo origem dos recursos.

Tabela 12 Dispêndios em P&D, segundo fonte de Recursos

Estado de São Paulo e BrasilFonte de Recursos Estado de São Paulo Brasil

Milhões de R$

(1)

% % do PIB Milhões de R$

(1)

% % do PIB

PIB 370.819 1.101.255

Total de Dispêndio 3.979 100,0 1,1 10.969 100,0 1,0

Público 1.825 46,0 0,5 6.408 58,0 0,6

Federal 770 19,0 0,2 4393 40,0 0,4

Estadual 1.055 27,0 0,3 2.015 18,0 0,2

Privado 2.154 54,0 0,6 4.561 42,0 0,4

Fonte: FAPESP (2004)(1) Valores para 2000 em reais de 2003, segundo o IPCA do IBGE

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este trabalho buscou contribuir para uma reflexão sobre o conceito de sistema regional de

inovação, problematizando-o e apontando suas possibilidades. Algumas conclusões de

caráter preliminar podem ser indicadas para a análise do caso brasileiro. Pode-se constatar

que o tecido industrial do estado de São Paulo, a presença de boa parte das industrias

multinacionais e das empresas nacionais líderes aí localizadas, sua densidade econômica, a

rede de formação universitária que construiu, disseminada por seu território, estabelecem

patamar diferenciado no contexto do sistema nacional de inovação mais geral. Os números

aqui apresentados indicam que há pouca ou quase nenhuma convergência dos demais

Costa Lima, Ferreira e Fernandes.

36

Page 37: Brasil Regiões e Inovação Ultimo Encontro Brics Cassio

A Dimensão Regional do Sistema Brasileiro de Inovação

estados brasileiros no sentido de avançarem na consolidação de sistemas regionais de

inovação mais articulados e integrados, a exemplo do que se consolidou no próprio estado

de São Paulo. Embora venha se processando uma nova espacialização da indústria no país,

essa dinâmica tem favorecido, principalmente os estados da região Sul e do Centro-Oeste,

mesmo que ainda sejam tênues os rebatimentos e avanços em termos de inovação

tecnológica. Os indicadores sócio-econômicos analisados revelam que as desigualdades

encontradas, ampliadas a partir dos anos 90, notadamente no setor educacional, impedem

as regiões Nordeste, Norte e Centro-Oeste de avançar na direção de uma sociedade do

conhecimento. Estas assimetrias vão se consolidando em outras direções, na incipiente

base industrial de bens tradicionais, nos baixos salários, na baixa qualificação da mão-de-

obra; gerando um quase círculo virtuoso à la Myrdal.

Cinco pontos substantivos orientam o desdobramento deste trabalho: i) o entendimento de

que a inovação na periferia é processo de maior fragilidade e vulnerabilidade; ii) que a

trajetória tecnológica brasileira tem sido determinada basicamente a partir dos países

centrais ou por parte das MNCs; iii) a indispensabilidade do estado brasileiro no apoio à

inovação, que necessita ter densidade e regularidade, à falta do qual nem projeto industrial

nem projeto de desenvolvimento regional poderão ser eficazmente implementados; e iv) a

necessidade de ampliar as competências científicas e tecnológicas nas demais regiões

brasileiras, para além de São Paulo, sem esquecer que, já nestas regiões também se

consolidou um padrão de polarização territorial fortemente concentrado nas principais

cidades da faixa litorânea; v) a redobrada atenção que deve ter o Estado brasileiro com a

qualidade do sistema educacional, que deve ser compreendido enquanto uma abordagem

sistêmica, integrada, nas dimensões de formação básica, de segundo grau,

profissionalizante, e não apenas de ensino superior.

Referindo-se à relação países centrais e periféricos, tratando dos desequilíbrios Norte-Sul

em termos internacionais, entendemos como AROCENA e SUTZ (2005) que “um marco

de referência conceitual do Sul é fundamental para analisar os problemas do

desenvolvimento relacionados com o conhecimento, a inovação e o aprendizado” (p. ).

Costa Lima, Ferreira e Fernandes.

37

Page 38: Brasil Regiões e Inovação Ultimo Encontro Brics Cassio

A Dimensão Regional do Sistema Brasileiro de Inovação

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALBAGLI, Sarita; MACIEL, Maria Lúcia (2003). “Capital social e desenvolvimento local”. In: Helena M.M. Lastres; José E.Cassiolato e Maria L.Maciel: Pequena Empresa: Cooperação e desenvolvimento Local. Rio de Janeiro: Relume-Dumará, pp. 423-440.

ALBUQUERQUE, Eduardo da Motta. Coord. (2005). Atividades de Patenteamento no Brasil e no Exterior, em Indicadores de Ciência, Tecnologia e Inovação em São Paulo 2004.

ALBUQUERQUE, Eduardo da Motta et all. Identificando a Posição de Belo Horizonte a partir de uma avaliação da distribuição das atividades em Ciência e Tecnologia por Regiões Metropolitanas do Brasil (Relatório Preliminar).

AROCENA, Rodrigo. SUTZ, Judith (2005). “Conhecimento, Inovação e Aprendizado: sistemas e políticas no Norte e no Sul”. In: Helena M.M.Lastres; José E. Cassiolato; Ana Arroio (org.): Conhecimento, Sistemas de Inovação e Desenvolvimento. Rio de Janeiro: Editora UFRJ/Contraponto. 405-428.

ARRUDA, Mauro;VERMULM (?);HOLLANDA, Sandra (2006), Inovação tecnológica no Brasil. A indústria em busca da competitividade Global. São Paulo: ANPEI.

BACELAR, Tânia (2003). Dinâmica regional brasileira. Rumo a uma desintegração dinâmica? Mimo.Recife: CEPLAN.

BITOUN, Jean,( 2005. Proposta de Tipologia das Cidades Brasileiras. Recife, mimeo, coord. Ministério das Cidades/FASE-RECIFE/UFPE 

BECCATINNI, G. (2002), Del distrito Industrial Marshalliano a la “teoria del distrito”contemporânea. Una breve reconstrucción critica. In: Investigaciones Regionales, otono, n.001. Asociación Española de Ciência Regional. Alcalá de Henares.España, pp.9-32. www.redalyc.com

BECCATINNI, G. (1992). “Le district marshalien: une notion sócio-économique”. In: G.BENKO; A Lipietz (eds) Les regions qui gagnent: districts et réseaux. Les nouveaux paradigmes de la géographie économique. Paris:PUF.

BECKER, Bertha (2005). “Ciência, tecnologia e inovação para conhecimento e uso do patrimônio natural da Amazônia”. In: Parcerias Estratégicas, n.20, Parte 2, junho, pp.622-651.CGEE.

BENKO, G.; LIPIETZ, A. (1995), De la régulation des espaces aux espaces de régulation. in : Robert BOYER et Yves SAILLARD: Théorie de la Régulation. L’état des savoirs. Paris : La Découverte, p. 293-303.

BENKO, G.; DUNFORD, M.; LIPIETZ, A. (1996).  Les districts industriels revisités . in: B. PECQUEUR (Ed): Dynamiques territoriales et mutations économiques. Paris: l’Harmattan. (http://lipietz.net/article.php3?id article=372 ).

BORGES, André (2006). “São Paulo quer ser o Vale do Silício brasileiro”. 26 de setembro. Valor, B3.

CARNEIRO, Sandoval Jr; LOURENÇO, Ricardo (2003), “Pós-Graduação e Pesquisa na Universidade”, in: VIOTTI, Eduardo B. e MACEDO, Mariano de M. (2003), Indicadores de Ciência, Tecnologia e Inovação no Brasil. Pp. 173-227. Campinas: Editora Unicamp.

CASSIOLATO, J.E. e LASTRES, Helena (2003). “O foco em arranjos produtivos e inovativos locais de micro e pequenas empresas”. In: Helena M.M.Lastres; José E.Cassiolato e Maria L.Maciel: Pequena Empresa: Cooperação e desenvolvimento Local. Rio de Janeiro: Relume-Dumará,pp. 21-24.

Costa Lima, Ferreira e Fernandes.

38

Page 39: Brasil Regiões e Inovação Ultimo Encontro Brics Cassio

A Dimensão Regional do Sistema Brasileiro de Inovação

CASSIOLATO, J.E. e LASTRES, Helena (1999). Local, National and regional systems of innovation in the Mercosur. Second version of the paper prepared for the DRUID’s Summer Conference on National Innovation Systems, Industrial Dynamics and Innovatiom Policy, June.

CHESNAIS, F; Sauviat, C. (2005), “O financiamento da inovação no regime global de acumulação dominado pelo capital financeiro”. In: Helena LASTRES, José CASSIOLATO et al: Conhecimento, Sistemas de Inovação e Desenvolvimento.Rio de Janeiro: Editora UFRJ/Contraponto. p. 161-219.

COOKE, P. and MORGAN, K (1998), The associational Economy. Firms, Regions and Innovation. Oxford: Oxford University Press.

CÔRTES, M, PINHO, M, FERNANDES, A C, SMOLKA, R B e BARRETO, A L (2005). Cooperação em empresas de base tecnológica: uma primeira avaliação baseada numa pesquisa abrangente . In São Paulo em Perspectiva, 19 (1): 84-94.

COSTA LIMA, Marcos (2004), “Atraso tecnológico nos anos 90: América Latina, Brasil e Mercosul”. In Cadernos de Estudos Sociais, 53-70.

COURLET, C. (2001). Les systèmes localizes: un bilan de la literature. Cahiers d’Économies et Sociologie Rurales. 58-59: 81-103.

COUTINHO, Luciano G (2005). “Regimes Macroeconômicos e estratégias de negócios: uma política industrial alternativa para o Brasil no século XXI”. In: Helena M.M. Lastres; José E. Cassiolato; Ana Arroio (org.): Conhecimento, Sistemas de Inovação e Desenvolvimento. Rio de Janeiro: Editora UFRJ/Contraponto. 429-448

CREVOSIER, O; CAMAGNI, R. (eds.) (2001). Les millieux urbains:innovations, système de production et encrage: Neuchatel:EDES.

DALUM, B. HLMÉN, M. JACOBSSON, S. PRAEST, M. RICKNE, A. VILLUMSEN, G. (1999). “Changing the regional system of innovation”. In: Jan Fagerberg, Paolo Guerieri et al.: The Economic Challenge for Europe. Cheltenham: Edward Elgar, p.175-199.

DATAR (2004). La France, puissance industrielle. Paris:La documentation française, p. 12.

DINIZ, C.C (Coord.) (2006), Proposta Preliminar de Macro-Regionalização do Brasil. Belo Horizonte: Cedeplar; Fundep;Ministério do Planejamento;CGEE;FACE;UFMG.

DINIZ, C.C.; LEMOS, Mauro BORGES (2005). “Economia do Conhecimento e desenvolvimento regional no Brasil”. In: Economia e Território. Belo Horizonte: UFMG, p.131-170.

DOSI, G (1988). The nation of Innovation Process. In: Dosi, G; Freeman, C. Nelson, R; Silveerberg, G. L.Soete (eds). Technicl Changel and Economic Theory. London:Pinter.

DOULOUREUX, David & PARTO, Saeed (2004). Regional Innovation Systems: a critical Review, paper MERIT, University of Maastricht.

DOULOUREUX, David & PARTO, Saeed (2004). Regional Innovation Systems: a critical Synthesis. Discussion Paper Series. United Nations University. INTECH, august.

DOULOUREUX, David (2003). Regional Innovation Systems in the periphery. The case of Beauce in Quebec. International Journal of Innovatiom Management. 7(1)67-94

DUPUCH, Sébastien; MOUHOUD, El Mouhoub (2003). “La France et ses régions dans la compétition européenne”. in: Regards sur l’actualité, n° 292, juin-juillet, pp.47-61.

Costa Lima, Ferreira e Fernandes.

39

Page 40: Brasil Regiões e Inovação Ultimo Encontro Brics Cassio

A Dimensão Regional do Sistema Brasileiro de Inovação

EDQUIST, C. (2004). “System of Innovation: A critical review of the state of the art”. In: J. Fagerberg;D.Mowery and R.Nelson: Handbook of Innovation. Oxford: Oxford University Press.

FERREIRA, Sinésio Pires; VIOTTI, Renato B. (2003), “Medindo os recursos Humanos em Ciência e Tecnologia no Brasil: metodologia e resultados”. In VIOTTI, Eduardo B. e MACEDO, Mariano de M. (2003), Indicadores de Ciência, Tecnologia e Inovação no Brasil. Pp. 233- 268Campinas: Editora Unicamp.

FREEMAN, C. (1995). The national system of innovation in historical perspective. Cambridge Journal of Economics, v. 19n.1, p.5-24.

GREGOLIN, José Ângelo Rodrigues (coord.). Análise da Produção Científica a partir de indicadores Bibliográficos em Indicadores de Ciência, Tecnologia e Inovação em São Paulo 2004. São Paulo 2005.

HOWELLS, J (1999). “Regional systems of innovation?” In Archibugi, Howells e Michie: Innovation policy in a global economy, p. 67-93.

IBGE (2006), Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios 2005 .v.26. Brasil. Rio de Janeiro.

IBGE (2005), Síntese dos Indicadores Sociais 2004. Rio de Janeiro.

IBGE (2005) Pesquisa Industrial de Inovação Tecnológica (PINTEC). Rio de Janeiro: IBGE/FINEP/MCT.

JACOBS, Jane (2000). The nature of economics. New York: Modern Library.

JOHNSON, Bjorn & SEGURA-BONILLA, Olman (2001), Innovation Systems and Developing Countries: experiences from the SUDESCA Project. Druid Working Paper N° 01-12.

LASTRES, Helena M.M.;LEGEY, Liz-Rejane I.;ALBAGLI, Sarita (2003), “Indicadores da Economia e Sociedade da Informação, conhecimento e aprendizado”. VIOTTI, Eduardo B. e MACEDO, Mariano de M. (2003), Indicadores de Ciência, Tecnologia e Inovação no Brasil. 537-578 Campinas: Editora Unicamp.

LEMOS, Mauro Borges. SANTOS, Fabiana. CROCCO, Marco (2005), “Condicionantes territoriais das aglomerações industriais sob ambientes periféricos”. In: Economia e Território. Belo Horizonte: UFMG, p.171-205.

LEMOS, Mauro Borges. MORO, Sueli. DOMINGUES, E.P. RUIZ, R.M. (2005a), “A Organização Territorial da Indústria no Brasil”. In: João Alberto DE NEGRI e Mário Sérgio SALERNO: Inovações, Padrões Tecnológicos e desempenho das firmas industriais brasileiras. Brasiília:IPEA, pp.325-363

LETA, Jaqueline & CRUZ, Brito (2003). “A produção científica brasileira em indicadores de ciência e tecnologia no Brasil”. In: VIOTI, Eduardo & MACEDO, Mariano (Orgs.). Campinas: Unicamp.

LOPES NETO, Alfredo (2001), Lessons from Brazil’s Regional Development Program. OECD – China Conference. October. XI’AN people’s Republic of China.

LUNDVALL, B.A (1992). National innovation systems:towards a theory of innovation and interactive learning. London: Pinter.

LUNDVALL, B.A (1988). “Innovation as an interactive process from user-producer interaction to the national system of innovation”. In: Dosi, G. et al. (Ed.) Technical Changel and Economic Theory. London:Pinter.

MCT (2000). Livro Verde. Brasília: MCT, in: http://www.cnpq.br.

MORGAN, K. (1996), L’apprentissage par l’integration: réseaux d’enterprises et services d’appui aux enterprises ». in OCDE Réseaux d’enterprises et dévelpment local. Paris: OCDE.

Costa Lima, Ferreira e Fernandes.

40

Page 41: Brasil Regiões e Inovação Ultimo Encontro Brics Cassio

A Dimensão Regional do Sistema Brasileiro de Inovação

MOTA E ALBUQUERQUE, Eduardo (2003). “Patentes e Atividades Inovativas: uma avaliação preliminar do caso brasileiro”. Campinas: Unicamp.

MOTTA e ALBUQUERQUE, Eduardo (2003. “Patentes e atividades inovativas:uma avaliação preliminar do caso brasileiro”. VIOTTI, Eduardo B. e MACEDO, Mariano de M. (2003). Indicadores de Ciência, Tecnologia e Inovação no Brasil. 333-376 Campinas: Unicamp.

PACHECO, Carlos Américo; BRITTO CRUZ, C.H. (2005). “Instrumentos para o Desenvolvimento. Desafios para C&T e inovação em São Paulo”. In: SPerspectiva, v.19, n.1, jan/mar, pp.03-24.

SABÓIA, João (2001). A Dinâmica da descentralização Industrial no Brasil. Textos para Discussão, n° 452, Julho. Rio de janeiro: UFRJ/IE.

SABÓIA, João e KUBRUSLY, Lúcia (2005). Diferenciais Regionais e Setoriais na Indústria brasileira. Rio de Janeiro: UFRJ/IE mimeo.

STORPER, Michael (1997). The regional World. Territorial Development in a Global Economy. New York: The Gilford Press.

Costa Lima, Ferreira e Fernandes.

41