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Apostila Brasileira I
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Disciplina
Literatura Brasileira I
Coordenador da Disciplina
Prof. Marcelo Magalhães Leitão
6ª Edição
Copyright © 2010. Todos os direitos reservados desta edição ao Instituto UFC Virtual. Nenhuma parte deste material poderá ser reproduzida, transmitida e gravada por qualquer meio eletrônico, por fotocópia e outros, sem a prévia autorização, por escrito, dos autores.
Créditos desta disciplina
Realização
Autor
Prof. Cid Ottoni Bylaardt
Sumário
Aula 01: A literatura de informação ....................................................................................................... 01 Tópico 01: A complexidade dos estilos de época .................................................................................. 01 Tópico 02: Origens da literatura brasileira: Literatura de Informação ................................................... 03 Tópico 03: Textos do período de Literatura de Informação .................................................................. 09 Aula 02: O Barroco ................................................................................................................................... 11 Tópico 01: Traços Gerais do Estilo Barroco .......................................................................................... 11 Tópico 02: O “sequestro” do Barroco .................................................................................................... 13 Tópico 03: Gregório de Matos ............................................................................................................... 15 Tópico 04: Padre Antônio Vieira ........................................................................................................... 18 Aula 03: O Neoclassicismo e o Arcadismo .............................................................................................. 20 Tópico 01: Panorama Geral do Neoclassicismo .................................................................................... 20 Tópico 02: Cláudio e Tomás .................................................................................................................. 23 Tópico 03: Silva Alvarenga e outras manifestações .............................................................................. 28 Aula 04: O Romantismo ........................................................................................................................... 36 Tópico 01: O Momento Literário ........................................................................................................... 36 Tópico 02: Suspiros Poéticos e Saudades .............................................................................................. 39 Tópico 03: A questão da identidade nacional ........................................................................................ 40 Aula 05: O Romantismo – segunda parte ............................................................................................... 41 Tópico 01: O Indianismo ........................................................................................................................ 41 Tópico 02: Uma canção inesquecível ..................................................................................................... 46 Tópico 03: Um poeta excêntrico ............................................................................................................ 48
TÓPICO 01: A COMPLEXIDADE DOS ESTILOS DE ÉPOCA
MULTIMÍDIA
Ligue o som do seu computador!
OBS.: Alguns recursos de multimídia utilizados em nossas aulas,
como vídeos legendados e animações, requerem a instalação da versão
mais atualizada do programa Adobe Flash Player©. Para baixar a versão
mais recente do programa Adobe Flash Player, clique aqui! [1]
A literatura, como as outras artes em geral, sofre uma evolução com o
passar do tempo. Essa evolução, entretanto, não deve ser entendida como
aperfeiçoamento, ou passagem para um estágio melhor, como acontece
normalmente com a ciência.
No caso das artes, temos um processo gradativo, progressivo de
transformação, de mudança de estado ou condição, derivado de fatores
sociais, culturais, econômicos, políticos etc. Essa evolução literária deve ser
vista como a dinâmica da literatura, que, além dos estilos individuais dos
artistas, seus talentos, sua crenças particulares, depende de um contexto
para se desenvolver.
Esse movimento histórico se faz ao sabor de oposições que marcam o
processo criativo dos artistas: imitação x inovação; antigo x moderno;
tradição x ruptura; classicismo x romantismo; horizonte de expectativa x
desvio estético (estética da recepção).
Uma obra literária, portanto, pode ser lida sob duas principais
perspectivas relacionadas aos seus planos de historicidade:
VERSÃO TEXTUAL
Perspectiva Diacrônica
ela pertence a uma série literária na qual ela deve ser situada.
Estilos de Época
ela pertence igualmente a um corte sincrônico que deve ser
recuperado.
Assim, a obra literária se liga ao mesmo tempo
ativa e passivamente à história geral: ela é
determinada e determinante.
O nosso curso de literatura brasileira desenvolver-se-á formalmente sob
uma perspectiva diacrônica, isto é, do ponto de vista da evolução dos estilos
LITERATURA BRASILEIRA I
AULA 01: A LITERATURA DE INFORMAÇÃO
1
de época, o que não significa que não será dado um enfoque sincrônico
sempre que possível e desejável.
Para iniciarmos a discussão da questão dos estilos de época, traremos
aqui um texto do professor Sânzio de Azevedo, que aborda de maneira lúcida
o problema.
FÓRUM
A primeira atividade que realizaremos neste curso será uma discussão
sobre a questão dos estilos de época. Você deverá ler o texto “A
complexidade dos estilos de época” (Visite a aula online para realizar
download deste arquivo.), de Sânzio de Azevedo, e postar pelo menos dois
comentários seus neste fórum, além de responder a pelo menos dois
comentários de seus colegas.
FONTES DAS IMAGENS
1. http://www.adobe.com/products/flashplayer/2. http://www.adobe.com/go/getflashplayer
Responsável: Prof. Marcelo Magalhães Leitão
Universidade Federal do Ceará - Instituto UFC Virtual
2
TÓPICO 02: ORIGENS DA LITERATURA BRASILEIRA: LITERATURA DE INFORMAÇÃO
Fonte [1]
Entende-se como período de Literatura de Informação ao século XVI,
XVII e parte do século XVIII, quando, ao invés de exibir uma literatura
própria, com autores e obras nacionais, o Brasil servia como assunto para
padres e aventureiros que se tornaram escritores.
Esses textos em geral não tinham intenção literária, embora muitos
deles possam ser hoje apreciados como literatura por terem perdido seu
caráter utilitário. Numa visão sincrônica, eles eram informativos, descritivos,
mas tinham uma certa dimensão fantasiosa ligada à novidade do objeto.
Era comum apresentarem intenção exploratória e catequética,
traduzindo a cosmovisão, as ambições e as intenções do europeu. Apesar de
se desenvolverem em pleno período renascentista, exibem em boa parte ecos
de uma visão de mundo medieval.
CONCEÇÕES SOBRE A LITERATURA DE INFORMAÇÃO
SÍLVIO ROMERO
Fonte [2]
Deve-se pensar se esses podem ser
considerados literatura, e, em caso positivo, se
pertencem à literatura brasileira. Sílvio Romero,
crítico do século XIX, inclui esses textos em sua
concepção de literatura, embora faça ressalva a
estrangeiros como Gandavo, Gabriel Soares, Jean
de Léry, ou Thevet, considerando que “esses
cronistas passaram pelo Brasil e não se
abrasileiraram." Romero considera o Padre José de
Anchieta como o primeiro escritor notável da
literatura brasileira.
JOSÉ VERÍSSIMO
Fonte [3]
Para José Veríssimo, os primeiros
estrangeiros que escreveram sobre o Brasil não
fazem parte de nossa história literária: “Os
portugueses que no Brasil escreveram, embora
do Brasil e de cousas brasileiras, não
pertencem à nossa literatura nacional, e só
abusivamente pode a história destas ocupar-se
deles. O mesmo sucede com outros
estrangeiros que aqui fizeram literatura como
o hispano-americano Santiago Nunes Ribeiro,
o espanhol Pascoal, ou os franceses Emile Adet
e Louis Bourgain”. Para ele, nossos primeiros
escritores eram “portugueses nascidos no
Brasil”, mas possuíam o sentimento nativista.
AFRÂNIO COUTINHO
LITERATURA BRASILEIRA I
AULA 01: A LITERATURA DE INFORMAÇÃO
3
Fonte [4]
Afrânio Coutinho não define como
literatura todas as manifestações escritas de
um povo, “o que transforma história
literária em história da cultura”. Assim,
esse período chamado literatura de
informação não é estudado em sua A
literatura no Brasil. Para ele, o que escapa
ao objetivo de “comunicar prazer” é posto
fora do conceito de literatura, atribuindo aí
uma intencionalidade ao texto por ele
considerado verdadeiramente literário.
ANTONIO CANDIDO
Fonte [5]
A concepção de “literatura
como sistema” de Antonio Candido
também não permite considerar a
chamada literatura de informação
parte integrante do que ele entende
como literatura.
Para o crítico, as obras literárias
são ligadas por denominadores
comuns, que permitem reconhecer
as notas dominantes. Esses
denominadores são divididos em
características internas (língua,
temas, imagens) e elementos
externos (de natureza social e
psíquica), quais sejam: “a existência
de um conjunto de produtores
literários mais ou menos
conscientes de seu papel; um
conjunto de receptores, sem os quais
a obra não vive; um mecanismo
transmissor (de modo geral, uma
linguagem, traduzida em estilos),
que liga uns a outros” (p. 23).
Fonte [6]
Com Oswald de Andrade, em seu Pau-Brasil, de 1924, vários desses
textos se transformaram em legítima literatura brasileira, ao serem
apropriados e estilizados pelo autor modernista.
Texto exemplar desse período, tanto por sua importância histórica
quanto pela riqueza da escrita, é a carta de Pero Vaz de Caminha, integrante
da armada de Pedro Álvares Cabral. Esse relato histórico será estudado nas
atividades seguintes.
Para começar vamos clicar na animação abaixo:
VERSÃO TEXTUAL
4
A Carta escrita por Pero Vaz de Caminha, em 1500, quando o
Brasil foi descoberto, e enviada ao rei Dom Manuel I, de Portugal, pelo
capitão-geral da armada, Pedro Álvares Cabral, é considerada nossa
certidão de nascimento enquanto país ocidental. Além de seu valor
histórico, a Carta é também uma importante obra literária que se
insere num gênero muito usado em Portugal naquela época: a
literatura de viagem.
Composta basicamente como um texto narrativo, a Carta também
apresenta descrições detalhadas da terra e de nossos ancestrais
indígenas. Nela, são abordados alguns temas candentes da época como
a catequese dos nativos, a conquista de bens materiais, o choque entre
culturas muito distintas, a inocência em que viviam os nativos, a
refração cultural no sistema de trocas, revelando o significado do
comércio para as sociedades pré-letradas e para os europeus
(ingenuidade x esperteza), a presença do misticismo. As principais
atitudes do locutor da carta são a aparente ausência de assombro, a
objetividade na descrição de detalhes, as apreciações subjetivas, a
consciência da superioridade cultural, a consideração da ingenuidade,
da inocência, da beleza e da autenticidade dos nativos, o interesse na
libertação de seu parente, o degredado Jorge Osório. Descrevendo a
exuberância da natureza e o estranhamento entre índios e europeus, a
Carta funda nossa tradição literária escrita.
EXERCITANDO
1. (UFMG) Leia o trecho, da Carta de Pero Vaz de Caminha.
Parece-me gente de tal inocência que, se
homem os entendesse e eles a nós, seriam logo
cristãos, porque eles, segundo parece, não têm nem
entendem em nenhuma crença. E, portanto, se os
degredados que aqui hão-de ficar, aprenderem bem
a sua fala e os entenderem, não duvido que eles,
segundo a santa intenção de Vossa Alteza, se hão-de
fazer cristãos e crer em nossa santa fé, à qual praza
a Nosso Senhor que os traga, porque, certo, essa
gente é boa e de boa simplicidade. E imprimir-se-á
ligeiramente neles qualquer cunho, que se lhes
quiserem dar. E pois Nosso Senhor que lhes deu
bons corpos e bons rostos, como a bons homens,
por aqui nos trouxe, creio que não foi sem causa.
Leia, agora, o trecho escrito, 494 anos depois da Carta de Pero Vaz de
Caminha, por Marcos Terena, indígena brasileiro, Presidente Intertribal e
Articulador dos Direitos Indígenas na ONU.
(CLIQUE AQUI)
5
Com base na leitura desses dois trechos, REDIJA um texto
DISSERTATIVO, de aproximadamente 12 linhas, RESPONDENDO à
seguinte questão:
No seu entender, a atitude do homem branco em relação ao indígena
brasileiro mudou ao longo dos séculos? Seja qual for a sua resposta,
fundamente-a em ARGUMENTOS CONVINCENTES.
2. Leia os seguintes fragmentos da Carta de Pero Vaz de Caminha:
( ) Andavam tão dispostos e tão bem feitos e
galantes com suas tinturas que pareciam bem.
Carregavam dessa lenha quanta podiam com muito
boas vontades e levavam-nas aos batéis e andavam
já mais mansos e seguros entre nós do que
andávamos entre eles." ( ) "Parece-me gente de tal
inocência que se os entendêssemos e eles a nós, que
seriam logo cristãos porque eles não têm nem
entendem nenhuma crença segundo parece. E lhes
deu Nosso Senhor bons corpos e bons rostos como
a bons homens, e Ele que por aqui nos trouxe creio
que não...
Relacione as passagens da carta aos comentários apresentados,
utilizando a numeração adequada.
6
( 1 ) Descreve os habitantes da terra como saudáveis, amigáveis e dóceis.
( 2 ) Coloca em evidência as diferenças culturais entre portugueses e
índios.
( 3 ) Revela uma visão otimista da natureza brasileira.
( 4 ) Mostra a intenção de catequese dos portugueses.
( 5 ) Deixa entrever o interesse dos portugueses por possíveis riquezas
minerais.
3. Leia o trecho abaixo, da Carta de Caminha.
E uma daquelas moças era toda tingida, de
baixo a cima daquela tintura; e certo era tão bem-
feita e tão redonda, e sua vergonha (que ela não
tinha) tão graciosa, que a muitas mulheres da nossa
terra, vendo-lhe tais feições, fizera vergonha, por
não terem a sua como ela. Nenhum deles era
fanado, mas, todos assim como nós. E com isto nos
tornamos e eles foram-se."
A palavra “vergonha” foi usada nas seguintes acepções, EXCETO:
A) sentimento penoso causado pela indecência ou indignidade
B) sentimento de insegurança causado por medo de errar
C) consciência da própria inferioridade
D) órgãos sexuais humanos
ATIVIDADE DE PORTFÓLIO
Esta atividade pressupõe a leitura atenta da Carta de Pero Vaz de
Caminha. Enquanto você lê, procure identificar os tópicos abaixo, que
aparecem fora de ordem. Sua tarefa é, após a leitura, reordenar os tópicos
numerando os parênteses que os antecedem. Envie suas respostas para
seu portfólio individual.
TÓPICOS PARA A IDENTIFICAÇÃO
( ) Sinais de terra e vista do litoral.
( ) Os índios, primeiras impressões.
( ) As possibilidades de exploração da nova terra.
( ) A ambiguidade das vergonhas (visão da moral portuguesa,
elogio às índias).
( ) Metais preciosos, clima, cristandade...
( ) Pero Vaz relata a partida e a vista das Canárias e Cabo Verde.
( ) Primeira ancoragem. Lugar inadequado, contato difícil.
( ) A morada dos índios: residências coletivas.
( ) O choque cultural — recusa da culinária portuguesa.
( ) Os índios “vestem” a cultura portuguesa.
( ) A nudez das índias.
7
( ) Os índios devolvem o degredado.
( ) Intenção catequética.
( ) Detalhes sobre as intimidades dos índios
( ) A primeira missa.
( ) A despedida e um pequeno pedido.
( ) A índole alegre dos índios.
( ) O escrivão anuncia seu relato e mostra-se modesto em relação a
sua capacidade de bem escrever.
( ) A ancoragem segura.
( ) A prática do escambo como “engodo”
( ) O exemplo de amor ao símbolo cristão.
( ) Não saber português equivale a não saber falar...
( ) Vista geral da terra descoberta.
( ) A reunião dos capitães.
FONTES DAS IMAGENS
1. http://www.essaseoutras.xpg.com.br/wp-
content/uploads/2011/08/quinhentismo-2.jpg
2. http://basilio.fundaj.gov.br/pesquisaescolar/images/stories/silvioromer
o.jpg
3. http://1.bp.blogspot.com/_2XqATC5P1m8/S7NmPab6L9I/AAAAAAAA
AAs/4Dn4sBc2lmg/s1600/verissimo.jpg.jpg
4. http://pedroluso-decarvalho.blogspot.com.br/2010/10/analise-da-
critica-literaria-afranio.html
5. http://memorial.org.br/revistaNossaAmerica/24/imagens/44-
antonio_candido1b.jpg
6. http://armonte.files.wordpress.com/2011/07/pau-brasil.jpg
7. http://www.adobe.com/go/getflashplayer
Responsável: Prof. Cid Ottoni Bylaardt
Universidade Federal do Ceará - Instituto UFC Virtual
8
TÓPICO 03: TEXTOS DO PERÍODO DE LITERATURA DE INFORMAÇÃO
Neste tópico, pretendemos dar-lhe uma noção de alguns textos que
foram escritos sobre o Brasil dos primeiros duzentos e cinquenta anos após a
chegada dos portugueses.
EXERCITANDO
Sobre cada um dos textos, você deverá fazer um comentário,
enfocando o olhar que o texto pousa sobre seu objeto (sua imparcialidade
ou tomada de partido), as atitudes do narrador, e os principais temas
abordados por ele.
Texto 01 - Viagem à terra do Brasil. (Visite a aula online para realizar
download deste arquivo.)
Texto 02 - Tratado da terra do Brasil. (Visite a aula online para
realizar download deste arquivo.)
Texto 03 - História da Missão dos Padres. (Visite a aula online para
realizar download deste arquivo.)
Texto 04 - Diálogos das grandezas do Brasil. (Visite a aula online para
realizar download deste arquivo.)
Texto 05 - História da América Portuguesa. (Visite a aula online para
realizar download deste arquivo.)
FÓRUM
Depois de ler atentamente os cinco textos apresentados, procure
refletir sobre sua linguagem, sua temática, a atitude do enunciador, as
curiosidades relatadas. Você deverá postar pelo menos dois comentários
neste fórum, além de se dirigir a pelo menos mais dois colegas,
respondendo a suas observações ou comentando-as. Bom trabalho!
REFERÊNCIAS
CANDIDO, Antonio. Formação da literatura brasileira. 9. ed. Belo
Horizonte: Itatiaia, 2000.
COUTINHO, Afrânio. A literatura no Brasil. 2. ed. Rio de Janeiro:
Editorial Sul Americana, 1968.
PITA, Rocha. História da América Portuguesa. São Paulo: Jackson,
1952.
ROMERO, Sílvio. História da literatura brasileira. 7. ed. Rio de
Janeiro: José Olympio, 1980.
LITERATURA BRASILEIRA I
AULA 01: A LITERATURA DE INFORMAÇÃO
9
VERÍSSIMO, José. História da literatura brasileira. Arquivo da
Internet: www.biblio.com.br [1]
FONTES DAS IMAGENS
1. http://www.biblio.com.br
Responsável: Prof. Cid Ottoni Bylaardt
Universidade Federal do Ceará - Instituto UFC Virtual
10
TÓPICO 01: TRAÇOS GERAIS DO ESTILO BARROCO
Fonte [1]
Originalmente, a palavra barroco tinha um sentido pejorativo,
significando um tipo de raciocínio tortuoso e enganador, que subvertia o
pensamento. Modernamente, o Barroco é considerado uma manifestação
cultural e artística importante do século XVII, com larga influência na arte
contemporânea.
Para Affonso Ávila, “Entre as raízes remotas e os condicionamentos
mais decisivos, está por certo o Barroco, não enquanto tão-só um estilo
artístico, mas sim como fenômeno de maior complexidade — um estado de
espírito, uma visão do mundo, um estilo de vida, de que as manifestações da
arte serão a expressão sublimadora” (ÁVILA, 1994, p. 12)
Nas palavras de Afrânio Coutinho, “o Barroco é um estilo identificado
com uma ideologia, e sua unidade resulta de atributos morfológicos a
traduzir um conteúdo espiritual, uma ideologia” (COUTINHO, 1968, p.139).
No plano político, impera o absolutismo na Europa; na economia,
sobressaem as atividades manufatureiras e comerciais. Fruto de um clima de
intolerância em que predomina o conflito entre o teocentrismo medieval e o
antropocentrismo renascentista, a estética barroca relaciona-se às idéias da
Contra-Reforma e do Concílio de Trento, “numa tentativa de reencontrar o
fio perdido da tradição cristã, procurando exprimi-la sob novos moldes
intelectuais e artísticos” (COUTINHO, 1968, p.139).
Ainda segundo Coutinho,
A linha da tradição cristã, medieval, manteve-se
sob forma latente, subterrânea, veio à tona com o
Barroco, cuja cultura opõe um dique à onda
racionalista, sem contudo anulá-la, para afinal ceder.
São, por isso, o dualismo, a oposição ou as oposições,
contrastes e contradições, o estado de conflito e
tensão, oriundos do duelo entre o espírito cristão,
antiterreno, teocêntrico, e o espírito secular,
racionalista, mundano, que caracterizam a essência do
espírito barroco. Daí uma série de antíteses -
ascetismo e mundanidade, carne e espírito,
sensualismo e misticismo, religiosidade e erotismo,
realismo e idealismo, naturalismo e ilusionismo, céu e
terra, verdadeiras dicotomias ou "conflitos de
tendências antitéticas" (Meissner), "violentas
desarmonias" (Wellek), tradutoras da tensão entre as
formas clássicas e o ethos cristão, entre as tradições
medievais e o crescente espírito secularista
inaugurado pelo renascimento (COUTINHO, 1968,
p.139).
LITERATURA BRASILEIRA I
AULA 02: O BARROCO
11
Fonte [2]
Esse dualismo entre razão e fé leva o homem barroco a um dilema: como
preservar o desejo de espiritualidade diante dos apelos da vida terrena? A
solução para não se excluir nem uma coisa nem outra é o fusionismo, a
conciliação, a absorção de um pelo outro.
Daí o culto do contraste, as oposições: matéria X espírito, prazer X dor,
sensualidade X ascetismo, virtude X pecado.
Como consequência, há a espiritualização da matéria, a fixação de
estados contraditórios, a mistura de natural e sobrenatural, o pessimismo, o
exagero. A religiosidade, temática marcante, é tensa, conflituosa: fruto do
senso de pecado combinado ao desejo de fruir os prazeres da vida.
A consciência da transitoriedade da vida conjuga-se com a ânsia de viver
intensamente os valores mundanos (carpe diem), de que decorrem os
seguintes temas: desengano (limitações e misérias da condição humana);
feísmo (preferência pelos aspectos desarmoniosos e chocantes da realidade,
o locus horrendus); pessimismo (utilização de símbolos de visão pessimista:
rosa, nau, caveira, ruínas); fugacidade e instabilidade da vida, inevitabilidade
da morte.
ATIVIDADE DE PORTFÓLIO
Procure identificar os traços barrocos comentados nos textos que
seguem e poste seu comentário em seu portfólio.
Texto (Visite a aula online para realizar download deste arquivo.).
FONTES DAS IMAGENS
1. http://lh3.ggpht.com/adriano14/SBnJXkYjRFI/AAAAAAAABHg/kqvfsi4HVS0/barroco3.jpg2. http://www.eticaefilosofia.ufjf.br/figura1.jpg
Responsável: Prof. Marcelo Magalhães Leitão
Universidade Federal do Ceará - Instituto UFC Virtual
12
TÓPICO 02: O “SEQUESTRO” DO BARROCO
Fonte [1]
Na literatura brasileira, a presença do Barroco em nossas letras tornou-
se uma questão controvertida a partir do lançamento da obra Formação da
literatura brasileira, de Antonio Candido, em 1959. Afirmando que “A nossa
literatura é galho secundário da portuguesa, por sua vez arbusto de segunda
ordem no jardim das musas...” (p. 9),
CANDIDO localiza o início da formação da literatura brasileira em
meados do século XVIII, ignorando assim o Barroco brasileiro, que em sua
abordagem não constitui uma LITERATURA COMO SISTEMA, que
pressuporia obras ligadas por denominadores comuns, que permitem
reconhecer as notas dominantes, quais sejam: características internas
(língua, temas, imagens) e elementos externos (natureza social e psíquica).
Os elementos externos, por sua vez, seriam produtores literários mais ou
menos conscientes de seu papel, receptores, sem os quais a obra não vive, e
um mecanismo transmissor (linguagem), comum a ambos.
Literatura é, segundo o autor, um tipo de comunicação inter-humana,
sistema simbólico “por meio do qual as veleidades mais profundas do
indivíduo se transformam em elementos de contato entre os homens, e de
interpretação das diferentes esferas da realidade” (CANDIDO, 2000, p.
23). Nesse sentido, o sistema literário brasileiro começa a se delinear com
os árcades mineiros, as últimas academias e certos intelectuais ilustrados,
formando conjuntos orgânicos que querem fazer literatura brasileira. Os
pontos de partida seriam então a Academia dos Seletos e dos Renascidos, e
as primeiras obras de Cláudio Manuel da Costa.
Fonte [2]
O crítico AFRÂNIO COUTINHO, em seu ensaio “Formação da literatura
brasileira”, de 1960 (pp. 53-75), ressalta o caráter histórico-sociológico da
concepção de Antonio Candido, que considera a literatura como forma de
conhecimento, deixando de fora o caráter estético, propriamente artístico.
Coutinho acata o critério sociológico, mas afirma que sua aplicação teria sido
errônea, por conter uma visão ideológica: para Coutinho a tese de Candido é
eurocêntrica. A formação da literatura brasileira teria começado então no
séc XVI, porque havia aí autor, havia obra, havia público, pequeno mas
público.
Desconsiderar essa literatura como brasileira equivaleria então a
considerá-la portuguesa, ou “luso-brasileira”, critério político que abre
mão de nosso patrimônio literário. Nossa formação, assim, deu-se com o
Barroco, de influência espanhola, não com o Neoclassicismo. Para
Coutinho, Candido confundiu “formação” com “autonomia”, porque
formação já havia no século XVII (e até XVI). A atitude de Candido faz eco
com os românticos sobre a chamada verdadeira literatura. Afrânio
Coutinho considera essa atitude de Antonio Candido uma renúncia a todo
LITERATURA BRASILEIRA I
AULA 02: O BARROCO
13
um patrimônio cultural e literário, entregando-o aos portugueses, sob a
denominação de “literatura comum”, “literatura luso-brasileira” ou
“literatura colonial”.
Fonte [3]
HAROLDO DE CAMPOS, em seu ensaio “O sequestro do Barroco na
Formação da literatura brasileira”, critica de forma mais contundente a
posição de Antonio Candido. Campos fala de uma “ideologia substancialista”
de Candido, uma “entificação do nacional”, referindo-se ao “espírito do
ocidente”.
A crítica de Haroldo de Campos baseia-se nos pressupostos do
desconstrutivismo de Jacques Derrida, em que o filósofo argelino constata
no discurso ocidental o que ele denomina “metafísica da presença”, ou
“parousía”, que consiste em uma visão acrítica e submissa às “verdades”
estabelecidas pela civilização européia, principalmente quando Candido se
refere à literatura brasileira como “galho secundário” de um “arbusto de
segunda ordem”. O conceito de metafísica que Derrida propõe desconstruir
envolve a idéia de linearidade e continuidade, esquema sequencial de
desenrolamento da presença, que pressupõe um começo, o que Antonio
Candido chama “perspectiva histórica”.
REFLEXÃO
Essas questões são de fundamental importância quando se estuda a
literatura brasileira, particularmente o período Barroco. Afinal, tivemos
uma literatura brasileira nos séculos XVI e XVII? Em caso negativo, a
produção dessa época pertenceria a Portugal? Em caso positivo, podemos
considerá-la uma retomada inferior da literatura portuguesa? Como país
subdesenvolvido e dependente, teríamos paralelamente uma literatura
subdesenvolvida e dependente? Vamos discutir essas e outras questões no
fórum dessa aula.
FÓRUM
Apresentamos nesse fórum cinco textos que lidam com as questões
levantadas ao final do tópico anterior. Leia-os atentamente e dê sua
opinião sobre o controvertido assunto, guiando-se pelas perguntas
colocadas acima. Você deverá fazer pelo menos duas intervenções: uma
para dar sua própria opinião, outra para comentar opiniões de colegas.
Textos (Visite a aula online para realizar download deste arquivo.).
FONTES DAS IMAGENS
1. http://www1.folha.uol.com.br/folha/ilustrada/images/20061109-senhor175.jpg2. http://2.bp.blogspot.com/_89HQSQbna3o/TMiGuzEyiNI/AAAAAAAAAxM/YXSDAGsva1M/s1600/afranio+Coutinho+-+sem+fard%25C3%25A3o.png3. http://3.bp.blogspot.com/-UlKc4rRLq8w/UFaYpCVv7vI/AAAAAAAAAHA/KBOcVcNifRw/s1600/images+(4).jpg
Responsável: Prof. Marcelo Magalhães Leitão
14
TÓPICO 03: GREGÓRIO DE MATOS
Formalmente, o Barroco tende a preservar os modelos clássicos, mas
agora com uma tendência ao rebuscamento: a noção de Belo está ligada ao
grandioso, ao sublime, ao engenhoso.
A estética barroca é marcada pelo sensorialismo: apelo à sensibilidade
pela valorização de fortes imagens sensoriais, pelo uso frequente de
elementos intensivos e superlativos, pelo abuso de figuras e ornamentação
da linguagem.
Dessas atitudes derivam as duas tendências do Barroco:
Fonte [1]
VERSÃO TEXTUAL
CULTISMO: requinte da forma (vocabulário raro, reiteração de
metáforas, acúmulo de alusões mitológicas);
CONCEPTISMO: sutileza das ideias (raciocínios engenhosos,
associações inesperadas, alegorias, paradoxos).
No Brasil, encontramos em GREGÓRIO DE MATOS um dos mais
significativos representantes do Barroco. Nossa literatura começava,
lentamente, a ganhar contornos. Não tinha, ainda, a marca da originalidade,
que só veio ganhar espaço com o Romantismo, nas mãos de Gonçalves Dias e
José de Alencar, entre outros.
Vale lembrar que toda a produção atribuída a Gregório de Matos chegou
até nós por caminhos nada convencionais. Gregório não escrevia seus
poemas, dizia-os publicamente; não há, portanto, sequer um texto assinado
pelo poeta.
O que há são registros manuscritos por várias mãos, provavelmente por
ouvintes que se agradavam dos versos do poeta. Esses manuscritos foram
reunidos em códices e é por eles que a suposta produção de Gregório de
Matos pôde ser pesquisada.
Fonte [3]
A sede da Metrópole na Colônia era, nos seiscentos, Salvador. Lá estava
o único bispado da Colônia. O período é chamado de inferno colonial
brasileiro, certamente pelos desmandos e abusos que sabemos por via da
História oficial. Podemos depreender esse período, também, pelos versos do
poeta, que geralmente tinham como assunto os acontecimentos que
marcaram essa época. Gregório era ousado em seus textos, nada lhe
escapava. Sua produção é extensa e múltipla. Quanto à organização, sua
produção divide-se em:
POESIA DE CIRCUNSTÂNCIA
Voltada nitidamente para a realidade circundante, o meio social, a
cidade, o recôncavo. Nesse conjunto poético motivado pela circunstância,
LITERATURA BRASILEIRA I
AULA 02: O BARROCO
15
ou seja, pela situação, estado ou condição de coisas ou pessoas, em
determinado momento, podem-se perceber:
◾ a poesia SATÍRICA — em que a sociedade é alvo de severa crítica;
◾ a poesia GRACIOSA — que envolve não a sátira propriamente dita, mas acontecimentos pitorescos, folguedos, festas, divertimentos da Bahia;
◾ a poesia ENCOMIÁSTICA — caracterizada por seu caráter elogioso e por experimentos formais.
◾ a poesia FILOSÓFICA — que expõe a frustração humana diante do desconcerto do mundo. Faz parte da temática filosófica de Gregório de Matos a fugacidade das coisas do mundo, reforçada pelo carpe-diem.
POESIA AMOROSA
Compreende:
◾ a poesia LÍRICO-AMOROSA — geralmente marcada pelo confito carne x espírito. O resultado desse conflito é, sempre, um sentimento de culpa no plano espiritual. A mulher costuma aparecer como o elemento que personifica o plano terreno, afastando o homem do plano espiritual.
◾ a poesia ERÓTICO-IRÔNICA — de caráter satírico, mas sempre tematizada por motivos da sexualidade.
POESIA RELIGIOSA
Voltada para temas como amor a Deus; pecado, culpa e perdão;
unificação do bem e do mal; enfim, temas que evidenciam uma relação
entre o humano e o divino.
Muitos dos textos de Gregório de Matos são recriações de outros
autores consagrados. Alguns críticos consideram Gregório um aproveitador
alheio; outros, com o olhar voltado para nosso presente pós-moderno,
consideram sua recriação genial. Um ou outro conceito em nada interfere
na qualidade dos poemas de Gregório. Não se pode negar a enorme
contribuição desse poeta aos estudos de recomposição do que foi a
sociedade colonial brasileira dos seiscentos. Na compreensão do legado de
Gregório de Matos, não é possível desvencilhar História, biografia e
interpretação.
ATIVIDADE DE PORTFÓLIO
Leia atentamente o poema de Gregório de Matos, “À sua mulher antes
de casar” (Visite a aula online para realizar download deste arquivo.), e
depois responda às questões a ele relacionadas.
OBSERVAÇÃO
Para se conhecer o Barroco brasileiro, é fundamental ler algo do padre
Antônio Vieira. Para o CHAT previsto nesta aula, você deverá ler o
“Sermão pelo bom sucesso das armas de Portugal contra as de Holanda”,
comentado por Cid Ottoni Bylaardt. Procure observar a linguagem e as
idéias do escritor, relacionando-as aos traços barrocos comentados nessa
aula.
FONTES DAS IMAGENS
1. http://www.colegiosaofrancisco.com.br/alfa/gregorio-de-matos/imagens/gregorio-de-matos-2.jpg
16
2. http://www.adobe.com/go/getflashplayer3. http://www.google.com.br/imgres?imgurl=http://www.miniweb.com.br/artes/artigos/M%25C3%25BAsica%2520Antiga_arquivos/josquin.jpg&imgrefurl=http://www.miniweb.com.br/artes/artigos/M%FAsica%20Antiga.htm&h=137&w=200&tbnid=z6GtIU9SBZopSM&zoom=1&tbnh=109&tbnw=160&usg=__pbWc1-SpLgJiqVCIOm4bmqgloog=
Responsável: Prof. Marcelo Magalhães Leitão
Universidade Federal do Ceará - Instituto UFC Virtual
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TÓPICO 04: PADRE ANTÔNIO VIEIRA
Fonte [1]
Outra figura importante no Barroco brasileiro é o PADRE ANTÔNIO
VIEIRA, que era português de nascimento, mas residiu boa parte de sua vida
no Brasil. Vivendo quase todo o século XVII (1608-1697), Vieira é expressão
característica da estética barroca, que tenta fundir o espiritualismo e a
religiosidade com o espírito secular, racionalista.
Em seus sermões, que constituem fundamentalmente sua obra escrita,
surpreendia os ouvintes e leitores com imagens que transpunham passagens
bíblicas para a realidade contemporânea, demonstrando inequivocamente
com referências aos livros santos o que era fruto de observação direta da
realidade. Seus grandes objetivos eram maravilhar, ensinar, inquietar.
Além de GREGÓRIO e VIEIRA, manifestam-se no Barroco brasileiro
os nomes de BENTO TEIXEIRA, MANUEL BOTELHO DE OLIVEIRA E
FREI MANUEL DE SANTA MARIA ITAPARICA, na poesia épica, lírica,
satírica e encomiástica. Na prosa (crônica, informação e oratória),
aparecem AMBRÓSIO FERNANDES BRANDÃO, FREI VICENTE DO
SALVADOR, PADRE SIMÃO DE VASCONCELOS e SEBASTIÃO DA ROCHA
PITA.
CHAT
Seu tutor agendará uma sessão de bate-papo durante este tópico, para
um debate coletivo sobre o “Sermão pelo bom sucesso das armas de
Portugal contra as de Holanda”, do Padre Antônio Vieira. Fique atento ao
cronograma! Para isso, você deverá ler atentamente o texto comentado
desse Sermão, no artigo em anexo, de autoria de Cid Ottoni Bylaardt.
Estamos no ano de 1640. Os holandeses ameaçam invadir a Bahia, a
cidade de Salvador está absolutamente alvoroçada. Como último recurso,
sem ter mais a quem apelar, o padre Antônio Vieira pronuncia na Igreja da
Ajuda o "Sermão pelo bom sucesso das armas de Portugal contra as de
Holanda" (Visite a aula online para realizar download deste arquivo.), uma
verdadeira convocação a Deus para que ele fique do lado dos portugueses.
REFERÊNCIA
ÁVILA, Affonso. O lúdico e as projeções do mundo barroco. São
Paulo: Perspectiva, 1994.
CAMPOS, Haroldo de. Metalinguagem e outras metas. São Paulo:
Perspectiva, 1992.
CAMPOS, Haroldo de. O seqüestro do Barroco na Formação da
literatura brasileira. Salvador: Fundação Casa de Jorge Amado,
1989).
LITERATURA BRASILEIRA I
AULA 02: O BARROCO
18
CANDIDO, Antonio. Formação da literatura brasileira. 9. ed. Belo
Horizonte: Itatiaia, 2000.
COUTINHO, Afrânio. A literatura no Brasil. 2. ed. Rio de Janeiro:
Editorial Sul Americana, 1968. Vol. 1
COUTINHO, Afrânio. Conceito de Literatura Brasileira. Rio de
Janeiro: Livraria Acadêmica, 1960.
GOMES, Eugênio. Antônio Vieira. In: COUTINHO, Afrânio (org.). A
literatura no Brasil. 2 ed. Rio de Janeiro: Editorial Sul Americana,
1968. v. 1 e 2.
PAZ, Octavio. "Invención, subdesarrollo, modernidad", in CAMPOS,
Haroldo de. Metalinguagem e outras metas. São Paulo:
Perspectiva, 1992.
PERRONE-MOISÉS, Leyla. Vira e mexe, nacionalismo. São Paulo:
Companhia das Letras, 2007.
PITA, Rocha. História da América Portuguesa. São Paulo: Jackson,
1952.
ROMERO, Sílvio. História da literatura brasileira. 7. ed. Rio de
Janeiro: José Olympio, 1980.
VERÍSSIMO, José. História da literatura brasileira. Arquivo da
Internet: www.biblio.com.br [2]
FONTES DAS IMAGENS
1. http://www.triplov.com/letras/Padre_Antonio_Vieira/Padre_Antonio_Vieira.jpg2. http://www.biblio.com.br
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TÓPICO 01: PANORAMA GERAL DO NEOCLASSICISMO
A SOCIEDADE DO SÉCULO XVIII
O Brasil do século XVIII assiste ao crescente conflito entre os
interesses da sociedade local e os da coroa portuguesa. A exportação do
açúcar rendia altos impostos à Metrópole, e o início da exploração do ouro
redobrou a fiscalização portuguesa sobre os mineradores locais.
Aumentam-se as restrições ao comércio no Brasil, com o objetivo de torná-
lo mais dependente dos portugueses. O açúcar entra em decadência, por
causa da concorrência das colônias inglesas, holandesas e espanholas da
América Central, e a mineração passa a ser a maior fonte de riqueza e de
conflitos entre nativos e reinóis.
A elite cultural brasileira era constituída de uma ínfima minoria da
população, formada em Portugal, como os poetas árcades Cláudio Manuel
da Costa, Basílio da Gama, Tomás Antônio Gonzaga e Silva Alvarenga.
Paulatinamente, nossos intelectuais se viam influenciados pela filosofia
iluminista francesa, que parecia apresentar grande perigo para os
interesses da corte portuguesa. As constantes devassas da justiça colonial
sobre as elites nativas revelou várias bibliotecas particulares que
continham abundante literatura francesa iluminista.
A ESTÉTICA NEOCLÁSSICA
Grande parte da elite intelectual brasileira se concentrava, já na
segunda metade do século XVIII, em Minas Gerais, particularmente em
Vila Rica, e a chamada "escola mineira" de poesia árcade é fruto dessa
situação. Esse grupo de intelectuais sofre ao mesmo tempo a influência das
ideias clássicas e absolutistas, de um lado, e de uma ideologia liberalista,
nacionalista e democrática, de outro.
O panorama político europeu do setecentismo marca uma tensão entre
a aristocracia e a burguesia, preparando o campo para a revolução
burguesa que instalaria a perturbação democrática ao final do século XVIII
e início do século XIX.
É nesse contexto que nasce e se desenvolve o Neoclassicismo,
tendência estética geral das artes e da literatura de influência europeia do
século XVIII, cujo ideal é a imitação de autores gregos, latinos e
renascentistas considerados modelares, num esforço para recuperar o
equilíbrio expressivo, em oposição à estética do acúmulo e do excesso
relacionada ao período Barroco, considerada de mau gosto pelos
postulantes da nova ordem. A estética neoclássica relaciona-se ao
movimento cultural denominado Iluminismo, que congregava várias
tendências ideológicas características do século XVIII, como a confiança no
saber científico, a valorização da natureza (Naturismo), o desejo de
reformar a sociedade através da divulgação das "luzes" da ciência e da
razão (Racionalismo).
LITERATURA BRASILEIRA I
AULA 03: O NEOCLASSICISMO E O ARCADISMO
20
A VIDA SIMPLES E NATURAL DA ARCÁDIA
Uma das tendências marcantes do Neoclassicismo foi o Arcadismo,
corrente neoclássica de origem italiana que forte influência exerceu sobre
as literaturas portuguesa e brasileira. O termo liga-se diretamente ao nome
de uma academia, a Arcádia Romana, cujo objetivo expresso era combater
o estilo rebuscado e ornamental do Barroquismo decadente. O nome da
academia lembrava, por sua vez, uma região pastoril mitológica da Grécia
antiga, a Arcádia, mitificada como símbolo da vida pura, simples e natural.
Fiel à sua origem e à sua inspiração, o Arcadismo explora temas
amorosos ou existenciais ligados à ânsia de integração na natureza, ao
bucolismo. Nesse ambiente de simplicidade e harmonia, a arte insere-se
como recriação idealizada da Ordem Natural, em que os sentimentos, as
emoções são ditadas pelo sistema naturista que a todos envolve. As
motivações literárias do homem são, portanto, universais, objetivas,
compartilhadas por todos, marcadas pela verossimilhança em relação à
vida real, isto é, espera-se do poeta não que ele se restrinja aos fatos reais,
mas que ele crie um mundo do que é possível acontecer, o mundo das
possibilidades.
Essa ânsia de universalismo e objetividade leva o poeta a uma
tentativa de despersonalização da poesia lírica. Considerando que o lirismo
é a expressão das emoções, da subjetividade, o poeta corre o risco de se
tornar excessivamente individualista, o que contraria os valores estéticos
árcades. Assim, ele procura explorar emoções e situações genéricas e
utilizar alusões mitológicas como meio de amenizar a particularidade dos
sentimentos. Nesse sentido, as convenções bucólicas próprias do
Arcadismo, como a poesia pastoril e a delegação pastoral, atuam como
atenuantes da expressão individual. A delegação pastoral consiste em se
eleger um pastor da antiga Arcádia como porta-voz dos sentimentos do
poeta.
A BUSCA DO EQUILÍBRIO
A busca de valores ligados à simplicidade do campo (locus amœnus)
leva o árcade a criticar a civilização e a vida urbana (fugere urbem); a
cidade é o espaço da hipocrisia, da falsidade das relações, da
predominância da aparência sobre a essência. Esse viver simples (aurea
mediocritas) não exclui, entretanto, a excelência da cultura e das artes, que
devem ser cultivadas pelo homem. Integrado a esse ambiente de felicidade
doméstica, burguesa, o intelectual cultua o herói pacifista, aquele cuja
espada é a pena.
Formalmente, o poeta árcade busca o equilíbrio expressivo, o decoro, a
inteligibilidade, a racionalidade, a aceitação de regras e modelos. Os
gêneros literários tradicionais (lírico, épico e dramático) são rigorosamente
respeitados, assim como as espécies literárias consagradas (o soneto, a ode,
o madrigal, o rondó).
21
A realização formal é orientada pelo ideal de simplicidade e de
contenção, expresso pela expressão latina inutilia truncat: os adornos
supérfluos devem ser eliminados.
ATIVIDADE DE PORTFÓLIO
Responda por escrito às questões seguintes, sobre o texto, e tire suas
dúvidas com seu tutor através do fórum de discussão.
QUESTÕES SOBRE OS TEXTOS DAS ABAS
1. Que tem a ver a rigorosa fiscalização portuguesa no Brasil
colonial com a literatura que se produzia no período?
2. Que relação se estabelecia entre a elite cultural brasileira e o
Iluminismo?
3. Defina com suas palavras os termos Neoclassicismo, Arcadismo
e Iluminismo.
4. Quais são os temas mais comumente explorados pelo
Arcadismo?
5. Em que consiste a despersonalização do lirismo?
6. Que é delegação pastoral, e qual é seu objetivo?
7. Escreva uma tradução ou explicação para as seguintes
expressões latinas relacionadas ao Arcadismo:
• locus amœnus
• aurea mediocritas
• fugere urbem
• inutilia truncat
FONTES DAS IMAGENS
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TÓPICO 02: CLÁUDIO E TOMÁS
ALIENAÇÃO OU PARTICIPAÇÃO?
Cláudio Manuel da Costa e Tomás Antônio Gonzaga estão entre os
nomes mais importantes da literatura árcade brasileira do século XVII. Os
árcades, em geral, já foram acusados de ser escritores alienados, que não
tratavam de questões sociais e políticas, a não ser genericamente. Segundo o
escritor Edward Lopes, a questão da alienação não pode ser vista sem se
considerar a censura feroz que havia no século XVIII no Brasil: "o discurso
neoclássico mineiro se funda na articulação do plano da expressão do
Classicismo arcádico europeu com o plano de conteúdo da ideologia
revolucionária iluminista, no que pudera ela vir a conciliar-se com os
pruridos libertários que nos textos da terra repontam, desde o século XVII,
feito traços nativistas".
Em se tratando de questões sociais e políticas, Tomás Antônio Gonzaga,
então Ouvidor de Vila Rica, escreveu as famosas Cartas Chilenas, em agravo
ao então Governador de Minas, Luís da Cunha Meneses, seu desafeto, entre
1787 e 1788. O poema trata de supostos desmandos administrativos e morais
de um personagem chamado Fanfarrão Minésio, evidência bem clara a
Cunha Meneses. O autor fictício é Critilo, que escreve suas cartas ao amigo
Doroteu. Rodrigues Lapa assim descreve as circunstâncias de produção das
Cartas Chilenas:
As esferas mineiras seguiam com interesse o
conflito entre o Ouvidor e o Governador, e
aplaudiriam naturalmente tudo quanto se fizesse ou
dissesse em desabono do último. Foi então que, eco
aumentado dessa disputa, começaram a circular as
famosas Cartas Chilenas, sem nome de autor, já se vê,
sátira veemente aos desmandos e tiranias de Cunha
Meneses. Só um homem estava em condições de
escrever tais versos, bem martelados, de clareza
diamantina, de ironia pungente, às vezes: o ouvidor
Gonzaga. Só ele teria a coragem de arrostar com a
cólera do chefe prepotente, mal disfarçado sob o nome
de Critilo. Só ele, então, homem muito fora de Minas,
português muito abrasileirado, com pé no estribo para
seguir para a Bahia, podia flagelar com menor risco as
tratantadas de certos figurões apaniguados do
Capitão-General. A voz pública não se enganava. As
Cartas saíam da oficina de Gonzaga; mas, como
sucedia com as poesias líricas, o bom amigo Cláudio
dava uma ajuda, revendo os versos, polindo aqui e
acolá, pois o autor, todo engolfado naquela escrita
LITERATURA BRASILEIRA I
AULA 03: O NEOCLASSICISMO E O ARCADISMO
23
ardente, mal tinha tempo para emendar o que
escrevia. (LAPA, 1957, p. XIX)
CLÁUDIO, O CUIDADO COM A FORMA
Cláudio Manuel da Costa ajudou o amigo Tomás na redação das
Cartas Chilenas, mas sua temática predileta era o amor. Além dos
sonetos, éclogas, romances, cançonetas, cantatas e odes de amor, ele
escreveu também o famoso poema épico Vila Rica, sobre a ação dos
bandeirantes, a descoberta das minas de ouro e a fundação de Ouro Preto.
A crítica tradicional costumava considerar Cláudio Manuel o mais
português dos árcades mineiros, um formalista contumaz. Pode-se dizer
que o poeta carrega algo do Barroco que em sua época era combatido como
estilo degenerado, e que ao mesmo tempo conhece como poucos o novo
estilo de tendência classicizante. Em seu famoso “Prólogo ao leitor” do
volume Obras, de 1768, ele chega a se desculpar por não seguir o “estilo
simples” do Arcadismo, e se deixar levar pela “elegância” com que orna
seus poemas e faz seu estilo “propender mais para o sublime”. É curioso
que o poeta tem consciência de que a “boa poesia” seja classicizante, mas
há algo que o atrai irresistivelmente para um barroquismo tardio: “É
infelicidade, que haja de confessar que vejo e aprovo o melhor, mas sigo o
contrário na execução” (CANDIDO, 1968, p. 139).
Disso tudo o que nos fica de Cláudio Manuel da Costa é que ele não se
deixa levar pelas aparentes facilidades do estilo simples, não se esquiva de
uma construção frasal de certa complexidade, e não resolve suas tensões e
conflitos, deixando em sua poesia um certo ar de incompletude e
inacabamento que lhe confere sabor e distinção em relação aos poetas de
seu tempo. Sua realização formal cuidada dos sonetos, por exemplo, não
transmite a noção de artificialismo; ao contrário, sua habilidade em
relacionar uma premissa maior a uma particularização seguida de uma
conclusão, que, na maioria das vezes, ao invés de conduzir a uma situação
estável, de esperança ou otimismo, explica ou justifica uma carência,
confere um magnetismo especial a seus poemas.
TOMÁS E SUA LÍRICA DE AMOR
Quanto a Tomás Antônio Gonzaga, o Dirceu de Marília, já quarentão,
apaixonara-se por uma menina de dezessete anos, Maria Dorotéia
Joaquina de Seixas. Já de casamento marcado, envolveu-se no episódio da
Inconfidência Mineira, em 1789, e ficou preso até 1792, quando foi
deportado para Moçambique, onde desligou-se para sempre do Brasil e
refez sua vida. Para o crítico Antonio Candido, esses episódios são
fundamentais para se compreender a poesia de Gonzaga: “Seja como for, o
certo é que em Tomás Gonzaga a poesia parece fenômeno mais vivo e
autêntico, menos literário do que em Cláudio, por ter brotado de
experiências humanas palpitantes” (CANDIDO, 2000, p. 109). A afirmação
parece-nos questionável, por atrelar a autenticidade da poesia a
experiências pessoais. Certamente não teria sido por viver essa ou aquela
experiência que a poesia de um escritor genial seria mais ou menos
verdadeira ou bem feita.
24
Não obstante, Gonzaga parece ser, entre os grandes poetas árcades, aquele
que mais se aproximou dos ideais de contenção e equilíbrio preconizados
pelo estilo neoclássico. São bem explícitos seus recursos de
despersonalização do lirismo: a exploração de situações e emoções
genéricas; a adoção de convenções bucólicas, como a poesia pastoril e a
delegação pastoral (atribuição do lirismo a um pastor árcade que canta sua
pastora, no caso Dirceu e Marília); a utilização da mitologia greco-romana.
LEIAMOS COMO EXEMPLO, A LIRA VIII DE GONZAGA
Fonte [1]
Marília, de que te queixas?
De que te roube Dirceu
o sincero coração?
Não te deu também o seu?
E tu, Marília, primeiro
não lhe lançaste o grilhão?
Todos amam: só Marília
desta Lei da Natureza
queria ter isenção?
Em torno das castas pombas,
não rulam ternos pombinhos?
E rulam, Marília, em vão?
Não se afagam c'os biquinhos?
E a prova de mais ternura
não os arrasta a paixão?
Todos amam: só Marília
desta Lei da Natureza
queria ter isenção?
Já viste, minha Marília,
avezinhas, que não façam
Os seus ninhos no verão?
Aquelas, com que se enlaçam,
não vão cantar-lhes defronte
do mole pouso, em que estão?
25
Todos amam: só Marília
desta Lei da Natureza
queria ter isenção?
Se os peixes, Marília, geram
nos bravos mares, e rios,
tudo efeitos de Amor são.
Amam os brutos ímpios,
a serpente venenosa,
a onça, o tigre, o leão.
Todos amam: só Marília
desta Lei da Natureza
queria ter isenção?
As grandes Deusas do Céu
sentem a seta tirana
da amorosa inclinação.
Diana, com ser Diana,
não se abrasa, não suspira
pelo amor de Endimião?
Todos amam: só Marília
desta Lei da Natureza
queria ter isenção?
Desiste, Marília bela,
de uma queixa sustentada
só na altiva opinião.
Esta chama é inspirada
pelo Céu; pois nela assenta
A nossa conservação.
Todos amam: só Marília
desta Lei da Natureza
não deve ter isenção.
(GONZAGA, 1957, pp 48-50)
No poema acima, o poeta não declara diretamente seus sentimentos
amorosos: ele transfere ao pastor Dirceu seus sentimentos pela pastora
Marília, tentando convencê-la racionalmente a corresponder a seu amor,
como algo inserido numa Ordem Natural que não admite desobediência, e
que se torna responsável pela vida e pela procriação. A necessidade do amor
é atestado por ilustrações míticas, envolvendo as grandes “Deusas do Céu”,
com especial destaque para o amor de Diana por Endimião.
Nos fragmentos abaixo, apresentamos mais alguns temas desenvolvidos
por Tomás Gonzaga, e que atestam sua inserção inequívoca na estética
árcade:
CONDENAÇÃO DA GUERRA
26
O ser herói, Marília, não consiste
Em queimar os Impérios: move a guerra,
Espalha o sangue humano,
E despovoa a terra
Também o mau tirano.
Consiste o ser herói em viver justo:
E tanto pode ser herói pobre,
Como o maior Augusto.
(GONZAGA, 1957, p. 81)
INTENÇÃO DIDÁTICA
É melhor, minha Bela, ser lembrada
Por quantos hão de vir sábios humanos,
Que ter urcos, ter coches, e tesouros,
Que morrem com os anos.
(GONZAGA, 1957, p. 76)
VALORIZAÇÃO DA CULTURA E DAS ARTES
Que belezas, Marília, floresceram,
De quem nem sequer temos a memória!
Só podem conservar um nome eterno
Os versos, ou a história.
(GONZAGA, 1957, p. 76)
IDEAL BURGUÊS DE FELICIDADE DOMÉSTICA
Estimem pois os mais a liberdade;
Eu prezo o cativeiro, sim, nem chamo
À mão de Amor impia;
Honro a virtude, e teus dotes amo:
Também o grande Aquiles veste a saia,
Também Alcides fia.
(GONZAGA, 1957, p.51).
ATIVIDADE DE PORTFÓLIO
Para essa atividade, você deverá ler o artigo "Coração
dilacerado" (Visite a aula online para realizar download deste arquivo.) um
roteiro de leitura de alguns sonetos de Cláudio Manuel da Costa, escrito
por Cid Ottoni Bylaardt. Após ler o texto atentamente, procure fazer os
exercícios (Visite a aula online para realizar download deste arquivo.). São
oito questões de múltipla escolha e duas questões abertas, para você
praticar sua escrita.
FONTES DAS IMAGENS
1. http://www.virtual.ufc.br/solar/aula_link/llpt/I_a_P/Lit_Brasilr_I/aula_03-0025/imagens/01/flash1.gif
Responsável: Prof. Marcelo Magalhães Leitão
Universidade Federal do Ceará - Instituto UFC Virtual
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TÓPICO 03: SILVA ALVARENGA E OUTRAS MANIFESTAÇÕES
Vice-rei conde de Resende,
responsável pelo fechamento
da Sociedade Literária. [1]
O ESTILO DE SILVA ALVARENGA
Silva Alvarenga, como poeta, não é um inovador. Particularmente na
lírica expressa em Glaura – poemas eróticos, sua obra mais importante, ele
se esforça por preservar as formas e temas consagrados pela tradição.
Embora seja evidente a falta de grandes inovações, é patente na poesia
de Alvarenga a marca da espontaneidade, aliada a um caráter pungente do
canto poético, além do convencionalismo árcade, e já antecipando, de
maneira ainda leve, certos elementos românticos.
Outro assunto presente de maneira marcante em sua poesia lírica é a
natureza, que apresenta, ao lado do elemento tipicamente árcade e
convencional, uma certa coloração tipicamente brasileira, com referências a
árvores, frutos e animais nativos, o que era prática incomum entre os
árcades, e que se tornaria difundida entre os românticos
DOS VERSOS
Dos versos: o ritmo melódico:
Um importante componente da versificação árcade é o chamado ritmo
melódico, que se baseia na sequência de sonoridades fortes e fracas
combinadas com os silêncios ou pausas da leitura. Aliada à clareza de
expressão dos sentimentos, Silva Alvarenga é hábil na exploração da
musicalidade dos poemas, que buscam a perfeição do ritmo e da rima,
incluindo aí as rimas internas. Essa dimensão sonora do verso neoclássico
é mais perceptível quando se declama o poema; é interessante, assim, ler
os textos poéticos em voz alta, para se perceber bem a musicalidade dos
versos.
Ao se ouvir um poema, como um rondó de Silva Alvarenga,
percebemos de imediato uma regularidade rítmica insistente em nossos
ouvidos. Isso se deve ao tamanho dos versos, que são medidos em
SÍLABAS POÉTICAS, que nem sempre coincidem com as sílabas
gramaticais, já que a sílaba da poesia constitui uma unidade musical
definida pela cadência do verso. Quando duas vogais, por exemplo,
seguem-se no interior de uma palavra ou entre duas palavras consecutivas,
elas podem ou não ser lidas como uma sílaba só, dependendo da
necessidade sonora da frase. As sílabas poéticas só são contadas até a
última sílaba tônica do verso, mesmo se a palavra final não for oxítona.
Façamos a escansão das sílabas métricas do seguinte quarteto:
LITERATURA BRASILEIRA I
AULA 03: O NEOCLASSICISMO E O ARCADISMO
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(RONDÓ XVIII)
Todos os versos da estrofe acima apresentam sete sílabas. Os finais
dos três primeiros contêm palavras paroxítonas, mas a contagem das
sílabas termina na sílaba tônica (penúltima sílaba da palavra). O verso final
termina com palavra oxítona, que é a última sílaba da linha. As quartas
sílabas do segundo e do quarto versos apresentam união de vogais que
compõem uma só unidade sonora.
Na maioria dos rondós, os versos são redondilhas maiores (versos
heptassílabos), exceto os do rondó XLIII, redondilhos menores (versos
pentassílabos), e os do rondó XLIV, hexassílabos. As redondilhas maiores
apresentam quase sempre acentuação na terceira e sétima sílabas, as
redondilhas menores, na segunda e na quinta; e os versos hexassílabos, na
segunda e na sexta.
Em Glaura, a “linha melódica” dos quartetos de versos heptassílabos
pode ser representada pelo “desenho” ao lado dos versos seguintes
(tomando como base os versos do Rondó XVIII acima):
Os traços horizontais representam as sílabas métricas dos versos. Os
arcos sobre a terceira e sétima sílabas correspondem aos fonemas de
destaque no verso, ou seja, as sílabas mais fortemente pronunciadas. Após
a primeira sílaba forte, vem uma pequena pausa, representada pela barra
simples. Ao final do verso, há uma pausa um pouco mais marcada (barra
dupla), e, ao final da estrofe, a pausa é ainda um pouco maior (barra
tripla).
Quanto aos madrigais, eles sempre combinam versos hexassílabos e
decassílabos, com predominância destes, em ordens variadas, o que
confere maior variedade rítmica aos poemas.
AS RIMAS
Os esquemas de rimas dos rondós de Silva Alvarenga são
cuidadosamente escolhidos para se manter a musicalidade dos versos
heptassílabos e preservar os ecos das frases. A grande maioria dos rondós
apresenta a arquitetura rímica exemplificada pelos versos a seguir em que
as combinações sonoras são representadas por letras:
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Analisando as rimas do estribilho (em negrito), percebe-se uma
interessante inovação de Silva Alvarenga: a rima de um verso com o
primeiro hemistíquio (meio verso) do seguinte (cajueiro/oiteiro;
desprezamos/ramos; tortuosos/Amorosos). Nos quartetos que seguem o
estribilho, as rimas são intercaladas (2º e 3º versos: convida/escondida, e
flores/amores), enquanto o quarto verso de todos os quartetos, do rondó,
incluindo o estribilho, apresentam também a mesma rima:
(dá/está/adornará/etc...). É frequente, também, na maioria dos quartetos,
a rima do final do primeiro verso com o hemistíquio do quarto verso
(frescura/pura).
Vale observar que, quanto à natureza do som, as rimas são sempre
SOANTES ou CONSOANTES, isto é, apresentam identidade de todos os
fonemas a partir da sílaba tônica. Quanto ao acento tônico das palavras
rimantes, predominam as rimas GRAVES ou FEMININAS (rima
formada pela combinação de palavras paroxítonas), que são mais leves e
delicadas. As rimas AGUDAS ou MASCULINAS (formadas pela
combinação de palavras oxítonas), mais incisivas, são usadas sempre entre
os últimos versos dos quartetos, e têm a função de concluir sonoramente as
estrofes.
OS RONDÓS
Os rondós - elementos temáticos:
O título do livro, junto com seu subtítulo, Glaura: poemas eróticos,
não remete a nenhuma ideia de amor lascivo ou sensual, como a palavra
erótico modernamente sugere. O adjetivo deriva de Eros, filho de Vênus,
o deus do amor da mitologia grega, ambientado em Roma com o nome de
Cupido, representado frequentemente de olhos vendados e munido de
arco, flecha e aljava. O título antecipa, assim, a temática mãe de todos os
rondós e madrigais: o amor.
Ao tema do amor se apõe o esquecimento das misérias do mundo real,
sugerido pela primeira epígrafe, de Ovídio, poeta romano do primeiro
século de nossa era:
O poeta fez uma tradução livre das seguintes palavras do poeta latino:
30
A expressão que representa o objeto do esquecimento é, literalmente,
a miséria das coisas, isto é, o que há de odioso e detestável no mundo
das coisas reais. O sentimento negativo principal, que deve ser combatido,
é o de perda, de ausência da amada, que procura ser metamorfoseado pelo
poeta pelo viés da sublimação ou do escapismo, o que ele nem sempre
consegue. A primeira epígrafe, portanto, indica o estado de espírito de
quem sofre e pretende esquecer as mágoas por intermédio da poesia lírica,
mágoas certamente ligadas à perda amorosa, ou à possível mas fantasiosa
morte da amada que teria inspirado o nascimento da fictícia Glaura.
A segunda epígrafe do livro remete aos versos do poeta grego
Anacreonte, que viveu no século VI a.C., cujas composições de exaltação ao
vinho e ao amor influenciaram os poetas árcades:
Ao citar esses versos, Silva Alvarenga reafirma sua firme intenção de
abandonar as formas épicas para dedicar-se às espécies breves, como o
rondó e o madrigal, adequados à expressão lírica dos sentimentos e,
sobretudo, do amor.
O tema é retomado no primeiro rondó, e dá o tom do livro como um
todo. Abaixo, reproduzimos o poema com as explicações a sua direita.
A primeira epígrafe, portanto, indica o estado de espírito de quem
sofre e pretende esquecer as mágoas por intermédio da poesia lírica,
mágoas certamente ligadas à perda amorosa, ou à possível mas fantasiosa
morte da amada que teria inspirado o nascimento da fictícia Glaura.
ANACREONTE
Fonte [2]
A segunda epígrafe do livro remete aos versos
do poeta grego Anacreonte, que viveu no século VI
a.C., cujas composições de exaltação ao vinho e ao
amor influenciaram os poetas árcades:
Ao citar esses versos, Silva Alvarenga reafirma
sua firme intenção de abandonar as formas épicas
para dedicar-se às espécies breves, como o rondó e
o madrigal, adequados à expressão lírica dos
sentimentos e, sobretudo, do amor. O tema é
retomado no primeiro rondó, e dá o tom do livro
como um todo. Abaixo, reproduzimos o poema
com as explicações a sua direita.
31
32
O primeiro rondó apresenta, assim,
algumas premissas defendidas pelo poeta no
volume Glaura: afastamento da poesia épica,
negação do herói guerreiro; exaltação do herói
simples e sensível; substituição da coroa de
louros, símbolo da vitória belaz, pelas líricas
folhas da mangueira. O poema pode, portanto,
ser considerado uma síntese da crença poética
de Manuel Inácio da Silva Alvarenga.Fonte [3]
MANIFESTAÇÕES
Outras manifestações árcades:
Além da poesia lírica, os escritores árcades cultivaram também a
poesia épica e a satírica. A primeira aparece como veículo do indianismo,
do nativismo e do antijesuitismo, e consequente pró-pombalismo, em cuja
linha se coloca também a sátira neoclássica, que mostra reflexos do espírito
crítico e reformador do Iluminismo.
A poesia épica brasileira do século XVIII produziu os poemas épicos
O Uraguai, de Basílio da Gama (1769); O Caramuru, de Frei José de
33
Santa Rita Durão (1781), e o poema Vila Rica, de Cláudio Manuel da
Costa (1837).
Na sátira, destacam-se as Cartas Chilenas (1787-1788), escritas por
Tomás Antônio Gonzaga com ajuda de Cláudio Manuel da Costa. É poesia
de opinião, investe contra costumes, pessoas, instituições. Tem cunho
pedagógico, conduz uma utopia: reformar costumes, pessoas, ideias.
Pretende atacar os adversários e agradar aos correligionários.
Outra obra notável de sátira da época é O desertor (1774), de Silva
Alvarenga, em cujo prefácio o autor lembra o caráter utilitário da poesia:
“porque imita, move e deleita, e porque mostra ridículo o vício, e amável a
virtude, consegue o fim da verdadeira poesia”. (p. 45 FL). O desertor
celebra a instauração da reforma de Pombal, a confiança no poder da
ciência. A tradição escolástica e retórica é relacionada com espíritos
incapazes e dissolutos.
Na poesia satírica, há ainda O reino da estupidez, de Francisco de
Melo Franco (1785). Nessa obra predomina o estilo prosaico, conforme seu
cunho didático, que pretende atacar o passadismo da educação portuguesa
da época. Um dos exemplos da estupidez dessa educação é o ensino
retrógrado da medicina, que, entre outras coisas, proibia que se estudasse
nos cadáveres; só se podia estudar em animais e então estabelecer as
devidas comparações com o ser humano.
FÓRUM
Releia o rondó “Anacreonte” e os comentários que o acompanham.
Para participar deste fórum, você vai fazer pelo menos um comentário
sobre a concepção de poesia e de fazer poético expressos nesse poema, e
responder ou comentar pelo menos uma observação de um (a) de seus ou
suas colegas sobre o texto.
REFERÊNCIAS
ALVARENGA, Manuel Inácio da Silva. Glaura: poemas eróticos. São
Paulo: Companhia das Letras, 1996.
COSTA, Cláudio Manuel da. Poesia. Belo Horizonte: Ed. Itatiaia, 1976.
PROENÇA F., Domício. Estilos de época na literatura. São Paulo:
Ática, 1981
CANDIDO, Antonio e CASTELO, Aderaldo. Presença da literatura
brasileira. v. 1. São Paulo: Difusão Europeia do Livro, 1968.
CANDIDO, Antonio. Formação da literatura brasileira. Belo
Horizonte: Ed. Itatiaia, 2000.
GONZAGA, Tomás Antônio. Obras completas de Tomás Antônio
Gonzaga. Vol. 1. Ed. cítica de M. Rodrigues Lapa. Rio de Janeiro:
Instituto Nacional do Livro, 1957.
FONTES DAS IMAGENS
34
1. http://www.colegiosaofrancisco.com.br/alfa/conjuracao-do-rio-de-janeiro/imagens/vice-rei-conde-de-resende-responsalvel-pelo-fechamento-da-sociedade-literaria.jpg2. http://www.artehistoria.jcyl.es/histesp/jpg/GRA08046.jpg3. http://st-listas.20minutos.es/images/2011-03/280780/2926303_640px.jpg?1305921869
Responsável: Prof. Marcelo Magalhães Leitão
Universidade Federal do Ceará - Instituto UFC Virtual
35
TÓPICO 01: O MOMENTO LITERÁRIO
Fonte [1]
O Romantismo - estilo de época traduzido num estilo de vida e de arte
que se consolidou na civilização ocidental na primeira metade do século XIX
- manifestou-se tardiamente no Brasil a partir de 1836, ano da publicação de
Suspiros poéticos e saudades, de Domingos José Gonçalves de Magalhães.
Movimento literário que surgiu como oposição às formas
demasiadamente racionais e rígidas do Neoclassicismo/Arcadismo,
caracterizou-se pela liberdade formal, pelo subjetivismo e pela valorização
dos sentimentos.
O ROMANTISMO BRASILEIRO
O MEDIEVALISMO
O ROMANCE E O TEATRO ROMÂNTICOS
O INDIANISMO
MAL DO SÉCULO
O CONDOREIRISMO
O ROMANTISMO BRASILEIRO
A razão, que ocupava uma função policiadora do trabalho criativo, cede
lugar cada vez mais à sensibilidade e à imaginação. Orientado no sentido de
exaltação enfática da pátria, o Romantismo fez desabrochar o sentimento
nacional, de valorização dos elementos típicos de cada povo, que eram
tomados como símbolos, em negação a tudo o que até então havia sido
imitado da antiguidade clássica. No Brasil, preocupou-se o Romantismo em
criar uma literatura de caráter nacional, em oposição à marca portuguesa,
num momento de exaltação da autonomia brasileira.
O MEDIEVALISMO
A volta ao passado histórico de cada povo - o Medievalismo - se entendia
como busca das raízes nacionais. Surgiu o romance histórico, que espelhava
a grandeza da raça e do povo: Walter Scott, na Inglaterra; Victor Hugo, na
França; Alexandre Herculano, em Portugal; José de Alencar, no Brasil. Nessa
linha medievalista situa-se a obra com a qual Gonçalves Dias reabilitou a
linguagem arcaica e as tradições da Idade Média Portuguesa: Sextilhas de
frei Antão.
O ROMANCE E O TEATRO ROMÂNTICOS
O Romantismo brasileiro se desenvolveu num contexto de mudanças
históricas e sociais marcantes, a partir da vinda da família real portuguesa
para cá em 1808. Culturalmente, vários acontecimentos, como a abertura
dos portos, a criação de escolas superiores e de bibliotecas, e a proliferação
das tipografias propiciaram o desenvolvimento das idéias românticas que
chegavam da Europa. Formava-se aqui um público leitor não existente até
então; o romance e o teatro tornam-se importantes manifestações literárias;
processa-se uma renovação nunca antes vivida pela língua portuguesa no
Brasil.
O INDIANISMO
LITERATURA BRASILEIRA I
AULA 04: O ROMANTISMO
36
As manifestações mais marcantes do romantismo literário brasileiro são
o indianismo, o mal-do-século e o condoreirismo. O primeiro surgiu
como uma solução para a ausência de uma Idade Média brasileira; ao invés
de se valorizarem os heróis medievais tipicamente europeus, procurou-se
evidenciar a pureza, o heroísmo e a graça do elemento nativo. A paisagem
tropical e os índios primitivos, com suas crenças e rituais, suas aspirações e
conflitos, amores e conquistas, oferecem à literatura uma temática de
significado simbólico, de representação da alma brasileira. Tal complexo
temático - o indianismo - encontrou em Gonçalves Dias seu maior criador
na poesia, como se pode observar nos poemas "I-Juca-Pirama", "Leito de
folhas verdes", "O canto do Piaga", ou na epopéia Os Timbiras . Na prosa, o
grande ficcionista dos índios foi José de Alencar, com O Guarani, Iracema e
Ubirajara. O indianismo, que muito colaborou para despertar a consciência
nativista do brasileiro, constitui a nossa maneira de valorizar o passado,
como se fazia na Europa com o medievalismo.
MAL DO SÉCULO
O mal do século, também chamado ultra-romantismo, realizou-se
principalmente na poesia, e tem como fundamental representante Álvares de
Azevedo, apesar de seu breve período de vida. Predomina, nessa tendência, o
sentimentalismo exagerado, o pessimismo, a descrença, o tédio. É uma
poesia adolescente, que tenta impressionar ora pelo derramamento
sentimental ora pelo sarcasmo amargo.
O CONDOREIRISMO
O condoreirismo é representado por uma poesia de cunho fortemente
social, que proclama a liberdade, a justiça, a igualdade. Sua realização mais
significativa é a poesia abolicionista, e seu poeta mais importante é Castro
Alves.
EXERCITANDO
Responda por escrito às questões abaixo sobre o texto inicial acerca
do Romantismo.
1. Por que se pode dizer que o Romantismo é “um estilo de época
traduzido num estilo de vida e de arte”?
2. Como se manifesta no Romantismo a dicotomia razão x emoção?
3. O medievalismo romântico manifestou-se no Brasil? Como?
4. Delineie sucintamente o panorama histórico no Brasil do início do
século XIX e o que ele tem a ver com as manifestações românticas em
nosso país.
5. Quais são as manifestações mais marcantes do Romantismo
brasileiro?
6. Descreva sucintamente o INDIANISMO.
7. Descreva sucintamente o CONDOREIRISMO.
8. Descreva sucintamente o MAL-DO-SÉCULO.
37
FONTES DAS IMAGENS
1. http://recursostic.educacion.es/kairos/web/ensenanzas/eso/contemporanea/img/rliberales.jpg
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38
TÓPICO 02: SUSPIROS POÉTICOS E SAUDADES
É costume, entre a crítica historiográfica no Brasil, situar o prefácio do
livro de poemas Suspiros poéticos e saudades, de Domingos José Gonçalves
de Magalhães, publicado em 1836, como um texto fundador do Romantismo
no Brasil. Nesse sentido, ele pode ser considerado uma espécie de manifesto
da estética romântica, em que aponta o que seriam as diretrizes de uma
literatura romântica e autenticamente brasileira.
PARADA OBRIGATÓRIA
Leia abaixo o texto em sua íntegra.
LEDE - PREFÁCIO AOS SUSPIROS POÉTICOS E SAUDADES [1], DE
GONÇALVES DE MAGALHÃES.
ATIVIDADE DE PORTFÓLIO
Imagine que você vai escrever um capítulo introdutório ao
Romantismo na literatura brasileira, e seu texto vai começar com uma
referência ao famoso prefácio de Magalhães. Você deverá redigir uma
paráfrase do texto, entre 250 e 300 palavras, comentando a maneira como
Gonçalves de Magalhães aborda cada um dos seguintes tópicos em seu
prefácio-manifesto:
• religião;
• patriotismo;
• individualismo;
• história;
• liberdade de expressão.
Disponibilize seu texto em seu portfólio.
FONTES DAS IMAGENS
1. http://www.cervantesvirtual.com/servlet/SirveObras/08144952189758473087857/p0000001.htm#I_1_
LITERATURA BRASILEIRA I
AULA 04: O ROMANTISMO
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39
TÓPICO 03: A QUESTÃO DA IDENTIDADE NACIONAL
PARADA OBRIGATÓRIA
Caro aluno, leia o texto NACIONALIDADE LITERÁRIA NO BRASIL
(Visite a aula online para realizar download deste arquivo.), de Cid Ottoni
Bylaardt. Depois relacione-o aos outros textos lidos nesta aula, para que
você possa participar do Fórum, que traz questionamentos interessantes
sobre a situação da literatura brasileira no século XIX.
FÓRUM
O Romantismo reabre a questão da nacionalidade literária. Para este
Fórum, você vai reler o texto do Tópico 2 da Aula 1, intitulado “Origens da
literatura brasileira: Literatura de Informação”, ler mais uma vez o texto
do presente tópico, “Nacionalidade literária no Brasil”, e emitir suas
opiniões no presente Fórum. Pense em questões como as seguintes:
Quando começou a literatura brasileira? A literatura do período colonial é
brasileira, luso-brasileira ou portuguesa? Gregório de Matos pertenceria à
literatura portuguesa? E padre Antônio Vieira? Gama e Castro tem razão
quando define a língua como parâmetro para se estabelecer a
nacionalidade literária? Pinheiro Chagas tem razão ao considerar Iracema
a primeira obra realmente brasileira? Vamos discutir as possíveis
respostas a essas e outras perguntas neste Fórum. Não deixe de dar sua
opinião e de fazer pelo menos um comentário às postagens de seus colegas
e professor. Bom trabalho!
REFERÊNCIAS
ALENCAR, José de. Iracema e Cartas sobre “A confederação dos
Tamoios”. Coimbra: Livraria Almedina, 1994.
ASSIS, Machado de. Crítica literária. Rio de Janeiro: Jackson Inc.,
1961.
CANDIDO, Antonio e CASTELO,Aderaldo. Presença da literatura
brasileira v. 1.São Paulo: Difusão Européia do Livro, 1968.
SOUZA, Roberto Acízelo de. “As histórias literárias portuguesas e a
emancipação da literatura do Brasil”, in:
http://www.pucminas.br/imagedb/documento/DOC_DSC_NOME_ARQUI20070621145539.pdf
[1] (Visite a aula online para realizar download deste arquivo.)
FONTES DAS IMAGENS
1. http://www.pucminas.br/imagedb/documento/DOC_DSC_NOME_ARQUI20070621145539.pdf
LITERATURA BRASILEIRA I
AULA 04: O ROMANTISMO
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40
TÓPICO 01: O INDIANISMO
Fonte [1]
O primeiro escritor a apresentar preocupações nítidas com os índios na
literatura brasileira foi o padre José de Anchieta, cuja obra figura como das
mais importantes da literatura jesuítica do século XVI.
INDIANISMO
INDIANISMO ARCÁDICO
O nosso indianismo arcádico tem como principais representantes
Basílio da Gama ( O Uraguai) e José de Santa Rita Durão ( Caramuru),
que demonstram preocupação com os nossos indígenas, espoliados de suas
terras.
Quanto aos escritores estrangeiros, os séculos XVI e XVII apresentam
várias referências aos índios, principalmente na França, na Espanha e na
Inglaterra, exaltando o homem naturalmente bom no momento em que
vem ao mundo. A tendência se acentua até meados do século XVIII,
quando Rousseau glorifica o “bom selvagem” já num sentido social.
Esse indianismo extraordinário, principalmente o francês, passa então
a ser importado por nossos escritores, num caso extremo de colonialismo
cultural do brasileiro: o índio saiu do Brasil como matéria-prima e
retornou como produto cultural acabado. O indianismo autêntico,
entretanto, persistiu na cultura popular, em seus contos, canções e
brincadeiras.
É de se notar a quase total ausência de referências aos índios entre
escritores portugueses, a quem, não obstante, não faltaram informações
sobre a terra brasileira e seus habitantes.
INDIANISMO ROMÂNTICO
O indianismo romântico brasileiro, representado por Gonçalves Dias
na poesia e José de Alencar na prosa, enfrenta uma aporia aparentemente
insolúvel: o romântico quer exaltar o índio, mas não pode transformá-lo
em vencedor diante dos colonizadores europeus, porque não aceita
contrariar a história. O ideal romântico da vitória do bem sobre o mal não
pode se concretizar aqui: o “bem”, representado pelos índios, é derrotado.
Tanto Gonçalves Dias quanto José de Alencar, entretanto, aceitaram o
desafio, e criaram uma obra de peso sobre a temática do elemento
autóctone.
Gonçalves Dias cantou a bravura dos guerreiros indígenas e a beleza
do elemento feminino, mas não fechou os olhos ao preconceito racial e ao
perigo de eliminação do elemento indígena, como se pode perceber no
poema “O canto do Piaga” (Visite a aula online para realizar download
deste arquivo.) transcrito abaixo:
Em nota explicativa nos Primeiros cantos, Gonçalves Dias fala sobre o
Piaga:
LITERATURA BRASILEIRA I
AULA 05: O ROMANTISMO – SEGUNDA PARTE
41
Já tive ocasião de explicar quais eram as funções dos Piagas
(sacerdote, médico, áugure e cantor); acrescentarei alguma coisa sobre o
seu modo de viver. Eram anacoretas austeros, que habitavam cavernas
hediondas, nas quais, sob pena de morte, não penetravam profanos.
Vivendo rigidamente e sobriamente, depois de um longo e terrível
noviciado, ainda mais rígido do que a sua vida, eram eles um objeto de
culto e de respeito para todos; eram os dominadores dos chefes — a
baliza formidável que felizmente se erguia entre o conhecido e o
desconhecido — entre a tão exígua ciência daqueles homens e a tão
desejada revelação dos espíritos.
O poema compõe-se de vinte quartetos de versos eneassílabos, divididos
em três partes:
VERSÃO TEXTUAL
PARTE I
Na parte I, o Piaga conta como, em meio à insônia provocada por
Anhangá, o gênio do mal, uma aparição o visitou em sua lúgubre
caverna. O Piaga, em seu assombro com o espectro, invoca Manitôs,
figuras da mitologia dos índios norte-americanos, assim descritos por
Gonçalves Dias: Uns como penates que os índios da América do Norte
veneravam. O seu desaparecimento augurava grandes calamidades às
tribos de que eles houvessem desertado. Segue-se a descrição pavorosa
do fantasma e da situação vivida pelo Piaga.
PARTE II
Na parte II, a fala é do fantasma, que se dirige ao Piaga, e o
adverte de que terríveis desgraças advirão aos índios, chamando-lhe a
atenção por sua passividade ante a iminência do perigo. Vários foram
os sinais não percebidos pelo Piaga: o Maracá, o sacro instrumento, o
negrume dos céus, a coruja, os bosques movendo-se sem vento, a lua
cor de sangue no céu. Segundo o autor, o maracá é, entre os índios,
instrumento sagrado, como o Saltério, entre os Hebreus ou o Órgão
entre os Cristãos: era uma cabaça crivada, cheia de pedras ou búzios, e
atravessada por um hastil ornada de penas multicores, que lhe servia
de cabo. O antigo viajante Roloux Baro, testemunha da veneração que
os índios lhe tributavam, chama-o le diable porté dans une
calebasse, o diabo dentro de uma cabaça.
PARTE III
A parte III constitui a revelação das desgraças: o homem branco
virá do mar em negro monstro com brancas asas abrindo ao tufão para
devastar a cultura indígena. A imagem da invasão do homem branco é
impressionante: o poeta identifica o aspecto das naus portuguesas com
a selva dos índios. Os troncos que servem de mastros para os navios
constituem uma floresta devastadora que virá destruir as matas
nativas, violentar a formação familiar indígena, derrotar seus
guerreiros valentes, escravizar toda a sua tribo, profanar seus rituais
religiosos.
42
Estátua de Iracema, na Av. Beira-Mar, em Fortaleza, de Corbiniano Lins. [2]
Em José de Alencar, o índio não teve sorte muito diferente, embora
seu destino seja apresentado pelo escritor de maneira ambígua. Em O
Guarani, o herói indígena Peri conduz a sua amada e senhora Cecília à
salvação.
Cecília o chama “amigo” durante quase todo o tempo, e ao final, após
a conversão de Peri ao cristianismo, passa a chamá-lo “irmão”. Peri,
entretanto, não ousa considerá-la sua amante, e trata-a por “senhora”,
definindo-se a si mesmo como escravo da branca colonizadora de seu
coração e de suas terras.
Ao final, Peri conta a Cecília o mito do índio Tamandaré, que sobe a
uma palmeira para esperar as águas do dilúvio baixarem para então
recomeçarem o povoamento da terra. Cecília e Peri também descem da
palmeira após as águas, mas não para povoar a terra. O índio revela a
intenção de conduzir a portuguesinha à casa de seus parentes, mas não
pretende morar com ela. Cecília, por sua vez, não poderia jamais habitar
com Peri as terras dos selvagens. Qual será o fim de Peri e Cecília?
Poderão eles viver algum dia em harmonia? Cabe ao leitor imaginar os
momentos pós-final e desfazer a ambiguidade.
43
Fonte [3]
Iracema, o elemento indígena, também não se salva. A heroína seduz
o branco e por causa disso assina sua própria sentença de morte. Martim
tem a posse da terra e da língua que outrora foram dos índios. Poti sofre
um processo de aculturação tornando-se cristão, passando a chamar-se
Antônio Felipe Camarão. A cruz dos cristãos alastra-se pela “terra da
liberdade”. Ao final, Iracema morre, e seu filho mestiço é levado pelo pai.
A ação da narrativa condena o índio à dominação pelo branco, à
aculturação, ao extermínio.
Voltando a Gonçalves Dias, ele nos apresenta, além da poesia indianista,
um lirismo profundamente pessoal, tipicamente romântico, em que se
mesclam a experiência sentimental e o ideal amoroso. Seus temas e motivos
líricos se inter-relacionam nos poemas, sobressaindo os seguintes: o amor,
sentimento poderoso que transforma profundamente os homens; Deus, ser
supremo e onipotente que atrai os homens a seu seio; a morte,
acontecimento que promove o reencontro do homem com Deus, numa
relação de continuidade; a natureza, espaço de conforto e refúgio ao qual se
integra o homem; e a pátria, reflexo do nacionalismo ufanista de que se
impregnava a cultura brasileira de meados do século XIX.
O “Prólogo” ao livro de estréia do poeta, Primeiros cantos, contém os
valores preconizados pelos românticos para a poesia:
PRÓLOGO
Dei o nome de Primeiros Cantos às poesias que agora publico,
porque espero que não serão as últimas. Muitas delas não têm
uniformidade nas estrofes, porque menosprezo regras de mera
convenção; adotei todos os ritmos da metrificação portuguesa, e usei
deles como me pareceram quadrar melhor com o que eu pretendia
exprimir. Não têm unidade de pensamento entre si, porque foram
compostas em épocas diversas — debaixo de céu diverso — e sob a
influência de impressões momentâneas. Foram compostas nas
margens viçosas do Mondego e nos píncaros enegrecidos do Gerez —
no Doiro e no Teia — sobre as vagas do Atlântico, e nas florestas
virgens da América. Escrevi-as para mim, e não para os outros;
contentar-me-ei, se agradarem; e se não... é sempre certo que tive o
prazer de as ter composto. Com a vida isolada que vivo, gosto de
afastar os olhos de sobre a nossa arena política para ler em minha
alma, reduzindo à linguagem harmoniosa e cadente o pensamento que
me vem de improviso, e as idéias que em mim desperta a vista de uma
paisagem ou do oceano — o aspecto enfim da natureza. Casar assim o
pensamento com o sentimento — o coração com o entendimento — a
ideia com a paixão — cobrir tudo isto com a imaginação, fundir tudo
isto com a vida e com a natureza, purificar tudo com o sentimento da
religião e da divindade, eis a Poesia — a Poesia grande e santa — a
Poesia como eu a compreendo sem a poder definir, como eu a sinto
44
sem a poder traduzir. O esforço — ainda vão — para chegar a tal
resultado é sempre digno de louvor; talvez seja este o só merecimento
deste volume. O Público o julgará; tanto melhor se ele o despreza,
porque o Autor interessa em acabar com essa vida desgraçada, que se
diz de Poeta.
No prólogo acima, Gonçalves Dias expõe sua concepção de poesia, e
anuncia suas intenções ao escrever os Primeiros cantos. Embora seja
conhecido como um poeta romântico bastante seguro de seus processos
técnicos e expressivos, o autor proclama sua liberdade criadora, seu desprezo
às regras de mera convenção. Aliada à diversidade técnica, Gonçalves Dias
reivindica também a diversidade temática, em detrimento da unidade: os
poemas que aparecem no livro guardam entre si distâncias espaciais e
temporais.
Esse subjetivismo tipicamente romântico se revela também na postura
do poeta diante do público: os poemas foram escritos para ele próprio, e não
para os outros; tão-somente sua atitude pessoal diante do mundo é que foi
levada em consideração no momento da criação. Se os poemas agradarem ao
público, o poeta se dará por satisfeito; se não, agradarão a ele mesmo.
Confirmando sua postura romântica, o poeta fala em isolamento, em
introspecção, em improvisação. Sua inspiração vem da natureza, que se liga à
vida — e à morte — pela interferência da religião, pela presença de Deus.
Essa é a sua concepção de Poesia.
Num ato de modéstia, o poeta declara ter tentado chegar à grande poesia,
sem nenhuma garantia de tê-lo conseguido. De qualquer maneira, se o
resultado houver sido desastroso, tanto melhor, pois assim ele se afastará
mais facilmente do infeliz ofício de poetar.
ATIVIDADE DE PORTFÓLIO
Nesta atividade, você deverá resolver todas as questões (Visite a aula
online para realizar download deste arquivo.), sobre o assunto desta aula,
e disponibilizar as respostas em seu portfólio, para avaliação de seu
professor.
FONTES DAS IMAGENS
1. http://www.jvc.eti.br/images/anchieta.jpg2. http://farm6.staticflickr.com/5308/5582979818_fc71253d8b_z.jpg3. http://2.bp.blogspot.com/_g-pVo_IsdSI/TArS6ZsIHSI/AAAAAAAAALI/k0ujwJowrJs/s1600/jmm_1884_iracema.jpg
Responsável: Prof. Marcelo Magalhães Leitão
Universidade Federal do Ceará - Instituto UFC Virtual
45
TÓPICO 02: UMA CANÇÃO INESQUECÍVEL
Uma atitude peculiar aos românticos é o patriotismo, a exaltação da
pátria, de que a "Canção do exílio" (Visite a aula online para realizar
download deste arquivo.), de Gonçalves Dias, escrita em 1843, é o texto mais
famoso de toda a literatura brasileira:
Para ajudar na compreensão do texto, vejamos as explicações dos
verbetes canção e exílio:
OLHANDO DE PERTO
CANÇÃO ROMÂNTICA: (...) consiste num poema lírico e simples,
expressivo quase sempre dum destino, (Canção do órfão, de Junqueiro)
ou duma condição (Canção do Exílio, de Gonçalves Dias) que o poeta
atribui geralmente a um indivíduo, representante de toda uma classe, e
que, por sua musicalidade e singeleza, intitula como se o destinasse ao
canto. Esta canção romântica pode ser atribuída a entidades como o
Vento, o Mar, e traduzir então, graças à interpretação do poeta, o que
diriam, exprimindo a sua natureza, esses seres inanimados.
Fonte: COELHO, 1973, p. 140
EXÍLIO. (z.) [Do lat. exiliu] S. m. 1. Expatriação, forçada ou
voluntária; degredo, desterro. 2. O lugar onde reside o exilado. 3. Fig.
Lugar afastado, solitário, ou desagradável de habitar.
Fonte: AURÉLIO, 2001.
Fonte [1]
Segundo o poeta Cassiano Ricardo,
A “Canção do Exílio” pode ser considerada um
poema indianista, notadamente por ser indígena na
parte formal (palmeiras, sabiá) e no próprio
sentimento ingênuo de saudade, típico das canções
indígenas.
RICARDO, in COUTINHO, p. 77
SAUDADE INDÍGENA
A saudade indígena, de que fala Cassiano Ricardo, é um sentimento de
nostalgia, mais espacial do que temporal. Se nos ativermos ao sentido mais
específico da palavra "indianismo", o poema não pode ser considerado
propriamente indianista. A intenção de Cassiano Ricardo foi chamar a
atenção para a presença de um sentimento marcadamente nativista no
texto. O fato é que essa pequena composição tornou-se o mais popular
poema de Gonçalves Dias e o mais famoso poema brasileiro. Sua unânime
LITERATURA BRASILEIRA I
AULA 05: O ROMANTISMO – SEGUNDA PARTE
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aceitação pelo povo brasileiro está relacionada à temática, bastante
nacionalista, e à forma, de uma simplicidade ímpar.
QUARTETOS - OS DOIS PRIMEIROS
Os dois primeiros quartetos apresentam a exuberância natural do
Brasil, que se confunde com a própria vida e com o sentimento brasileiro.
Tudo isso recheado de comparações que atestam a insuficiência das
maravilhas naturais e humanas do solo lusitano.
QUARTETO - TERCEIRO
No terceiro quarteto, o locutor apresenta seus próprios sentimentos
diante da distância em que ele se encontra do objeto amado, sua pátria.
Nos sextetos finais, o eu-lírico reitera seu sentimento de nostalgia e
saudade pelo confronto entre a realidade presente e não satisfatória, e o
ideal ausente e ardentemente desejado, terminando por invocar a
interferência de Deus para que lhe seja dado rever a pátria amada antes de
morrer.
IDENTIFICAÇÃO DO POETA
A valorização do elemento nacional, uma constante na obra de
Gonçalves Dias, é um reflexo da identificação imediata do poeta com a
sentimentalidade do povo brasileiro e fornece um exemplo fecundo de
brasilidade à nossa criação literária, atestado pela presença de alguns
versos desta canção, de 1843, na letra do Hino Nacional Brasileiro, de
Osório Duque Estrada, adotada oficialmente em 6 de setembro de 1922.
Além disso, o tom meditativo, de religiosa nostalgia, de pungente
saudosismo reflete a voz do coração do eu-lírico através do subjetivismo da
inspiração.
Formalmente, o poema se constitui de três quartetos e dois sextetos,
com versos de sete sílabas (redondilhas maiores) e rimas apenas nos versos
pares de cada estrofe. A simplicidade da linguagem (predominância da
ordem direta, vocabulário comum, ausência total de adjetivos) intensifica o
caráter intimista da expressão lírica, e, juntamente com as repetições,
contribui para a riqueza, o colorido e a melodia da versificação.
EXERCITANDO
Você conhece algum texto que dialoga com a “Canção do exílio”? A
literatura brasileira apresenta inúmeros, inclusive o próprio Hino
Nacional. Descubra pelo menos outros dois poemas, ou textos narrativos,
ou até mesmo publicitários, que fazem intertextualidade com o poema de
Gonçalves Dias, relacionando-os às noções de PARÁFRASE e PARÓDIA que
nós aprendemos no curso de Teoria da Literatura.
FONTES DAS IMAGENS
1. http://n.i.uol.com.br/licaodecasa/biografias/cassiano1.jpg
Responsável: Prof. Marcelo Magalhães Leitão
Universidade Federal do Ceará - Instituto UFC Virtual
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TÓPICO 03: UM POETA EXCÊNTRICO
Fonte [1]
Joaquim de Sousa Andrade, ou Sousândrade, estranho apelido escolhido
por ele para si, é um poeta maranhense, que viveu entre 1833 e 1902.
Sua obra foi sistematicamente recusada pela crítica e pelo público até
meados do século XX, quando Fausto Cunha publicou um ensaio sobre ele
na obra organizada por Afrânio Coutinho, A literatura no Brasil, de 1956.
Em 1964, Augusto e Haroldo de Campos escreveram a Re/Visão de
Sousândrade, e em 2009 a Global Editora publicou o livro Melhores poemas
de Sousândrade com estudo introdutório de Adriano Espínola.
APRESENTAÇÃO DO LIVRO SOBRE SOUSÂNDRADE
Na apresentação do livro sobre Sousândrade da Coleção Nossos
Clássicos da Editora Agir, Augusto e Haroldo de Campos citam uma
frase atribuída ao poeta: “Ouvi dizer já por duas vezes que ‘o Guesa
errante (O Guesa errante é um poema épico em treze Cantos, alguns
dos quais ficaram inacabados.) será lido cinquenta anos depois"’;
entristeci — decepção de quem escreve cinquenta anos
antes” (CAMPOS, 1966, p. 8).
A frase de Sousândrade espelha bem a situação de sua poesia, que
foge completamente ao código poético de sua época, daí a
incompreensão do público e da crítica. Outro motivo de sua
marginalização através dos tempos é a alegada obscuridade de sua
poesia, causada pela profusão de referências históricas e mitológicas,
que na maior parte das vezes carecem de uma contextualização.
Segundo os irmãos Campos, a rejeição da poesia de Sousândrade
“Vincula-se a um preconceito de matiz retórico-discursivo contra a
poesia de expressão elíptica e sintética” (CAMPOS, 1966, pp. 8-9).
Além do Guesa errante, de 1866, o poeta publicou os livros de poemas
Harpas selvagens (1857) e Novo Éden (1889). Augusto e Haroldo assim
sintetizam o estilo de Sousândrade:
A linguagem sousandradina é sincrética por excelência, abrindo-se
num verdadeiro feixe de dicções. Uma das grandes linhas que nela se
podem discernir é o barroquismo, expressão que aqui usamos como
designadora de características estilísticas tomadas em abstrato, para além
da quadra histórica do Barroco (séculos XVI e XVII). Na obra de
Sousândrade, a tipologia barroquista se manifesta nos cultismos léxicos e
sintáticos (palavras raras e arcaizantes, neologismos, hibridismos;
hipérbatos, elipses violentas, elisões e alusões, etc.); no arrojado processo
metafórico; na recarga de figuras de retórica; no requinte da tessitura
sonora, que incorpora os entrechoques onomatopaicos e a dissonância;
enfim, na opção por um fraseado de torneio original, que se lança à
LITERATURA BRASILEIRA I
AULA 05: O ROMANTISMO – SEGUNDA PARTE
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constante importação de recursos sintáticos e morfológicos de extração
estrangeira, reelaborados criativamente pelo poeta. Até o pathos
sousandradino oferece certas analogias com o claro-escuro do espírito
barroco, pluralista e conflitante. (CAMPOS, 1966, pp. 10-11)
CHAT
Para participar deste Chat, releia o texto acima, sobre o poeta
Joaquim de Sousa Andrade. Em seguida, leia trechos que selecionamos do
Guesa errante obra do autor maranhense:O inferno de Wall Street (Visite
a aula online para realizar download deste arquivo.), e o texto Poética de
uma ruptura (Visite a aula online para realizar download deste arquivo.):
Sousândrade-Guesa em " O inferno de Wall Street", de Ana Carolina
Cernicchiaro (UFSC).
FONTES DAS IMAGENS
1. http://vimarense.zip.net/images/sousandrade2a.JPG
Responsável: Prof. Marcelo Magalhães Leitão
Universidade Federal do Ceará - Instituto UFC Virtual
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