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Bertolt Brecht Poesia Erótica O coito e a sauna Melhor é foder primeiro, e então banhar. Esperas que, curva, sobre o balde se ajeite O traseiro nu miras com deleite E tocas-lhe entre as coxas a reinar. Mantém-na em posição, mas logo após Assento no piço lhe seja permitido Se duche quiser na cona, invertido. Depois, claro, seguindo nossos avós, Serve ela no banho. As pedras põe a apitar Com bátega rápida (que a água ferva) Com tenra bétula te açoita e corado Em balsâmico vapor mais esquentado A pouco e pouco te deixas refrescar Suando agora a fodança em caterva. Hábitos de amar Não é exacto que o prazer só perdura. Muita vez vivido, cresce ainda mais. Repetir as mil versões prévias, iguais É aquilo que a nossa atracção segura: O frémito do teu traseiro há muito A pedi-las! Oh, a tua carne é ardil! E a segunda é, que traz venturas mil, Que a tua voz presa exija o desfruto!

Brecht, Bertolt - Poesia (Pt)

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Bertolt Brecht

Poesia Erótica

O coito e a sauna

Melhor é foder primeiro, e então banhar. Esperas que, curva, sobre o balde se ajeite O traseiro nu miras com deleite E tocas-lhe entre as coxas a reinar. Mantém-na em posição, mas logo após Assento no piço lhe seja permitido Se duche quiser na cona, invertido. Depois, claro, seguindo nossos avós, Serve ela no banho. As pedras põe a apitar Com bátega rápida (que a água ferva) Com tenra bétula te açoita e corado Em balsâmico vapor mais esquentado A pouco e pouco te deixas refrescar Suando agora a fodança em caterva.

Hábitos de amar

Não é exacto que o prazer só perdura. Muita vez vivido, cresce ainda mais. Repetir as mil versões prévias, iguais É aquilo que a nossa atracção segura: O frémito do teu traseiro há muito A pedi-las! Oh, a tua carne é ardil! E a segunda é, que traz venturas mil, Que a tua voz presa exija o desfruto!

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Esse abrir de joelhos! Esse deixar-se coitar! E o tremer, que à minha carne sinal solta Que saciada a ânsia, logo te volta! Esse serpear lasso! As mãos a buscar- -Me. Tua a sorrir! Ai, vezes que se faça: Não fossem já tantas, não tinha tanta graça!

O décimo terceiro soneto

A palavra por que tanto me ralhaste Vem do florentino. Fica é chamado Aí o sexo da mulher. De traste O grande Dante foi então apodado Porque usou a palavra no poema Foi injuriado, li hoje como fora Pelo figo de Helena Páris outrora (Mas este tirou mais proveito do esquema!) Agora vês, que até o sombrio Dante Se envolveu na disputa, que porfia Por figo que afinal só se aprecia. Não é só em Maquiavel que se proclama: Na vida e no livro como é marcante A briga pela parte que tem justa fama.

Soneto nº 12 – Do amante

Ai, a carne é fraca, não tem discussão E eu, que enfraqueci mulher de amigo Evito o meu quarto, dormir não consigo Vejo-me à noite: atento a qualquer som!

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E isso advém de o seu quarto afinal Ser contíguo ao meu. O que me consome É que eu ouço tudo, quando ele a come E se não ouço, penso: é pior o mal! Se já tarde os três bebemos um copito E eu noto que o meu amigo não fuma E, quando a mira, põe olhos em bico Encho o copo dela a deitar por fora E obrigo-a a beber, se não colabora, P'ra ela à noite não dar por nenhuma.

O uso das palavras obscenas

Desmedido eu que vivo com medida Amigos, deixai-me que vos explique Com grosseiras palavras vos fustigue Como se aos milhares fossem nesta vida! Há palavras que a foder dão euforia: Para o fodidor, foda é palavra louca E se a palavra traz sempre na boca Qualquer colchão furado o alivia. O puro fodilhão é de enforcar! Se ela o der até se esvaziar: bem. Maré não lava o que a arvore retém! Só não façam lavagem ao juizo! Do homem a arte é: foder e pensar. (Mas o luxo do homem é: o riso).

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Aula de amor

Mas, menina, vai com calma Mais sedução nesse grasne: Carnalmente eu amo a alma E com alma eu amo a carne. Faminto, me queria eu cheio Não morra o cio com pudor Amo virtude com traseiro E no traseiro virtude pôr. Muita menina sentiu perigo Desde que o deus no cisne entrou Foi com gosto ela ao castigo: O canto do cisne ele não perdoou.

Reivindicação da arte

A boa, que ao seu amor nada nega E se lhe entrega com antecipação Saiba: que não é boa vontade não Mas talento, o que ele deseja na esfrega. Mesmo se à velocidade do som Do sou-tua dela à cópula chega Não é pressa que o botão dele carrega Quando às bolas seminais dá vazão. Se é o amor que primeiro atiça o fogo Precisa ela depois, para Inverno amparado De ser dona ainda de um traseiro dotado.

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De facto, mais que o fervor no olhar (Também faz falta) um truque há que usar: Coxas soberbas, em soberbo jogo.

Maria sejas louvada

Maria sejas louvada Como és tão apertada Uma virgindade assim É coisa demais p'ra mim. Seja como for o sémen Sempre o derramo expedito: Ao fim dum tempo infinito Muito antes do amen. Maria sejas louvada Tua virgindade encruada 'Inda me pões fora de mim. Porque és tão fiel assim? Por que devo eu, que dialho Só porque esperaste tanto Logo eu, o teu encanto Em vez doutro ter trabalho?

Soprava o vento pela fresta

Soprava o vento pela fresta A menina comia nêspera Antes de dar em segredo O níveo corpo ao folguedo: Mas antes provou ter tacto

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Pois só o queria nu no acto Um corpo bom como um figo Não se vai foder vestido. Para ela em tempos de ais Nunca o gozo era demais. Lavava-se bem depois: Nunca o carro antes dos bois.

Do prazer dos homens casados

Mulheres minhas, infiéis, adoro amá-las: Vêem meu olho em sua pelve embutido E têm de encobrir o ventre já enchido (Como dá gozo assim observá-las). Na boca ainda o sabor do outro homem Ela é forçada a dar-me tesão viva Com essa boca a rir para mim lasciva Outro caralho ainda no frio abdómen! Enquanto a contemplo, quieto e alheio Do prato do seu gozo comendo os restos Esgana no peito o sexo, com seus gestos Ao escrever os versos, ainda eu estava cheio! (O gozo ia eu pagar de forma extrema Se as amantes lessem este poema.)

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Da sedução dos anjos

Anjos seduzem-se: nunca ou a matar. Puxa-o só para dentro de casa e mete- -Lhe a língua na boca e os dedos sem frete Por baixo da saia até se molhar Vira-o contra a parede, ergue-lhe a saia E fode-o. Se gemer, algo crispado Segura-o bem, fá-lo vir-se em dobrado P'ra que do choque no fim te não caia. Exorta-o a que agite bem o cu Manda-o tocar-te os guizos atrevido Diz que ousar na queda lhe é permitido Desde que entre o céu e a terra flutue – Mas não o olhes na cara enquanto fodes E as asas, rapaz, não lhas amarrotes.