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Intercom Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XIX Congresso de Ciências da Comunicação na Região Sudeste Vila Velha - ES 22 a 24/05/2014 1 Janelas da Educomunicação: um estudo da produção acadêmica sobre educomunicação na Intercom no período de 2010 a 2013 1 . Pedro Debs Brito 2 Faculdade Cásper Libero, São Paulo, SP RESUMO Os estudos sobre educomunicação já datam mais de duas décadas no Brasil e com eles este campo científico vem ganhando cada vez mais força e sustentação, tanto teórica quanto prática. Tendo isso em conta, este artigo trabalhará justamente com a visão da educomunicação que os próprios pesquisadores possuem sobre a teoria e a prática educomunicacional. O recorte é composto pelos artigos publicados na Intercom no período de 2010 até 2013, ou seja, os últimos 4 anos de produção acadêmica dentro deste Congresso. Como resultado final, neste artigo estão traçados os principais eixos de discussão trabalhados pelos pesquisadores de maneira resumida, tentando trazer sempre que possível as palavras (a voz) dos próprios autores para essa conversa. PALAVRAS-CHAVE: Educomunicação; Epistemologia; Intercom. INTRODUÇÃO À luz da disciplina Teorias da Comunicação, cursada no 2º semestre do ano de 2013 na Faculdade Cásper Líbero, este artigo se configura como reflexão sobre os temas tratados em aula tendo como principal base conceitual a ideia de Norval Baitello Junior (2012) das janelas como recortes do nosso conhecimento sobre o mundo: “Com o assentamento, o nômade que aprendeu a cultivar plantas (…) e criar os próprios animais, passa a construir habitações duráveis, definitivas, para perdurar”, deixando de ser um homem nômade, esse novo homem se assenta e cria relações com as deusas da terra. “Assim, ele constrói habitações fechadas e para ver o mundo, abre janelas. (…). O mundo torna-se visível pelas aberturas das janelas, que o recortam, o enquadram” (Baitello Junior, 2012:50). De maneira análoga à janela para enxergar o mundo, nós criamos janelas para os diferentes conhecimentos que acessamos ou que produzimos ao longo da vida. Essas janelas também nos servirão como parte da metodologia desse artigo, pois partimos da ideia de que os campos da ciência produzem janelas, recortes da realidade, e essas aberturas (ou molduras) delineiam os fenômenos observados. Pois bem, a 1 Trabalho apresentado no DT 6 Interfaces Comunicacionais do XIX Congresso de Ciências da Comunicação na Região Sudeste, realizado de 22 a 24 de maio de 2014. 2 Mestrando do Curso de Comunicacao na Contemporaneidade da Faculdade Cásper Líbero, email: [email protected].

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    Janelas da Educomunicao: um estudo da produo acadmica sobre

    educomunicao na Intercom no perodo de 2010 a 20131.

    Pedro Debs Brito2

    Faculdade Csper Libero, So Paulo, SP

    RESUMO

    Os estudos sobre educomunicao j datam mais de duas dcadas no Brasil e com eles

    este campo cientfico vem ganhando cada vez mais fora e sustentao, tanto terica

    quanto prtica. Tendo isso em conta, este artigo trabalhar justamente com a viso da

    educomunicao que os prprios pesquisadores possuem sobre a teoria e a prtica

    educomunicacional. O recorte composto pelos artigos publicados na Intercom no

    perodo de 2010 at 2013, ou seja, os ltimos 4 anos de produo acadmica dentro

    deste Congresso. Como resultado final, neste artigo esto traados os principais eixos de

    discusso trabalhados pelos pesquisadores de maneira resumida, tentando trazer sempre

    que possvel as palavras (a voz) dos prprios autores para essa conversa.

    PALAVRAS-CHAVE: Educomunicao; Epistemologia; Intercom.

    INTRODUO

    luz da disciplina Teorias da Comunicao, cursada no 2 semestre do ano de

    2013 na Faculdade Csper Lbero, este artigo se configura como reflexo sobre os temas

    tratados em aula tendo como principal base conceitual a ideia de Norval Baitello Junior

    (2012) das janelas como recortes do nosso conhecimento sobre o mundo: Com o

    assentamento, o nmade que aprendeu a cultivar plantas () e criar os prprios

    animais, passa a construir habitaes durveis, definitivas, para perdurar, deixando de

    ser um homem nmade, esse novo homem se assenta e cria relaes com as deusas da

    terra. Assim, ele constri habitaes fechadas e para ver o mundo, abre janelas. (). O

    mundo torna-se visvel pelas aberturas das janelas, que o recortam, o enquadram

    (Baitello Junior, 2012:50). De maneira anloga janela para enxergar o mundo, ns

    criamos janelas para os diferentes conhecimentos que acessamos ou que produzimos ao

    longo da vida.

    Essas janelas tambm nos serviro como parte da metodologia desse artigo, pois

    partimos da ideia de que os campos da cincia produzem janelas, recortes da realidade,

    e essas aberturas (ou molduras) delineiam os fenmenos observados. Pois bem, a

    1 Trabalho apresentado no DT 6 Interfaces Comunicacionais do XIX Congresso de Cincias da Comunicao na Regio Sudeste, realizado de 22 a 24 de maio de 2014. 2 Mestrando do Curso de Comunicacao na Contemporaneidade da Faculdade Csper Lbero, email:

    [email protected].

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    educomunicao um campo do conhecimento recm-chegado ao universo acadmico,

    ou seja, est em composio, datando da dcada de 1990 os principais esforos que

    culminaram na construo desse campo. O propsito deste artigo apontar de que

    maneira os pesquisadores do campo da educomunicao esto consolidando esse saber

    por meio da prpria produo acadmica. Nosso recorte a produo de artigos

    publicados e apresentados no maior Congresso de Cincias da Comunicao brasileiro

    (Intercom) dos ltimos 4 anos (a saber: 2010, 2011, 2012 e 2013) , prestando ateno s

    seguintes questes: como est sendo composto esse campo? Quais os eixos norteadores

    tanto tericos quanto prticos que os pesquisadores adotam em seus trabalhos?

    Uma ltima parada, antes de comear o texto, concerne em explicitar que nosso

    objetivo aqui se compe por compreender os significados nesse campo, muito menos

    nos importaro as quantidades de palavras ditas por esse ou aquele pesquisador, ou

    quantos trabalhos, exatamente, esto tratando o assunto a em vez do b, nesse

    sentido que afirmamos que o objetivo de apontar os significados, as janelas existentes

    e o que essas janelas nos mostram.

    Edu...o qu?

    Foram muitas as vezes que me fizeram essa pergunta: edu...o qu?. E sempre

    foi muito difcil explicar o que esse campo. Por esse motivo, as prximas pginas se

    dedicam a explicitar os eixos principais do entendimento da educomunicao do ponto

    de vista dos artigos que vimos.

    a) Educao para os meios, leitura crtica da comunicao (LCC) e recepo das

    mensagens

    Ideia bastante recorrente e, pelo que vimos, a mais disseminada dentro do

    campo. configurado esse entendimento, principalmente por conta da memria da

    primeira crtica aos meios de comunicao que veio de pesquisadores pertencentes da

    Escola de Frankfurt, com a viso de que os meios de comunicao so

    predominantemente alienadores e constroem uma indstria cultural em que se

    disseminam valores capitalistas em demasia. Desde esses autores a viso de que os

    meios de comunicao codificam as mensagens de forma a uma continuao da

    estrutura social j existente (que desigual), guiam o pensamento sobre uma leitura

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    crtica dos meios. Com o objetivo de retirar o vu que encobre os objetivos por detrs

    das mensagens miditicas (cabendo aqui a viso de Roland Barthes sobre o papel da

    linguagem da mdia3) e exp-las aos significados intrnsecos aos jogos de poder que

    envolvem os meios de comunicao. A educomunicao se guia por esse caminho como

    uma parte de sua metodologia, mas no se limita a apenas ver a mdia, mas de

    interagir com ela, interferir no curso de apenas ler os meios de maneira crtica. Ainda

    assim, um pilar importante da educomunicao. Como afirmam Pereira e Amaral

    (2013:6): No se trata de ensinar a usar os meios, mas, principalmente, a interpret-

    los. Em outro artigo, Estrzulas (2011:9) quem diz:

    (...) entende-se Educomunicao como as bases educacionais para que

    o indivduo use uma leitura crtica dos meios de comunicao como

    uma das bases da ao social. Visa modificao de comportamento,

    de forma permanente, da passividade diante das informaes escolha

    consciente do consumo de mdias, num processo pedaggico contnuo

    e planejado conforme as especificidades de cada informao e de cada

    meio.

    b) Meios de comunicao junto das aulas e o apoderamento das tcnicas e linguagens

    dos meios

    Este tema se refere ao apoderamento, por parte dos jovens, dos meios de

    comunicao em salas de aula, ou em projetos extra-curriculares, no sentido de

    compreender a linguagem utilizada nos meios de comunicao e saber construir essas

    mensagens. Aqui, tratamos dos aspectos tcnicos dessa relao.

    Braz (et all, 2010:3) dizem a respeito da relao rdio-educao: Durante toda a

    sua existncia o rdio contribuiu com expressivas realizaes no processo educativo,

    marcando o compromisso com a cultura e a construo da cidadania. E olhando para o

    interior do campo educomunicacional, a relao entre os meio-de-comunicao e a

    escola pode surgir como o aprendizado coletivo de tcnicas de desenvolvimento e de

    circulao de mensagens miditicas. No artigo de Batista e Lima (2011), por exemplo,

    h uma descrio do como o vdeo que produziram num projeto de educomunicao foi

    construdo, dos enquadramentos, do uso de vdeos antigos do projeto que relataram e

    etc. Essa relao foi tambm abordada durante o projeto educomunicacional e a que

    se encontra a proximidade das questes tcnicas do uso dos meios e das linguagens

    utilizadas. No obstante, necessrio dominar a linguagem e possibilidades do rdio

    3 Ver mais em BARTHES, Roland. Mitologias. Rio de Janeiro: Difel, 6 Edio, 2012.

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    para se obter um bom uso da mdia em parceria aos sistemas educativos (Cavalcante e

    Freitas, 2011:13).

    c) Outra maneira de lidar com os alunos

    A proposta da educomunicao entende que o mtodo comum de entender a

    relao entre os alunos (como sujeitos que no sabem nada) e o professor (o iluminado

    que sabe tudo), verticalizando a relao entre o sabe-tudo que transfere seu

    conhecimento para o que no sabe nada, possui graves falhas e por isso vai beber das

    idias de Paulo Freire que prope uma horizontalizao das relaes entre professor e

    aluno.

    A produo colaborativa de conhecimento viabilizada a partir de

    uma nova postura do cidado, que no mais se sujeita a um papel

    passivo e consumista, mas que, ao contrrio, assume o lugar de agente

    ativo que cria e transforma a sua realidade (Pereira, Amaral, 2013:6).

    Com essa postura de que no existe um eu-penso, mas um ns pensamos ou

    como diz o prprio Paulo Freire (2011:104): Assim como a tomada de conscincia no

    se d nos homens isolados, mas enquanto travam entre si e o mundo relaes de

    transformao, assim tambm somente a pode a conscientizao instaurar-se. Desse

    modo os sujeitos vo propiciando novas e melhores reflexes sobre os fenmenos que

    estudam, uma vez que trazem diversos pontos de vista sobre aquilo que enxergam,

    desembocando, dessa maneira, numa viso pluralista do mundo. Em outro artigo (Braz

    et all, 2012:2), tambm fica clara essa noo de uma educao que feita pelo coletivo:

    Para a educomunicao, o saber no mais construdo

    uniformemente, no segue mais uma linha vertical e sem

    interferncias, sua proposta estabelece que o fluxo de informaes

    perpasse entre todos os componentes envolvidos com a produo dos

    contedos para que o saber passe a ser uma construo coletiva e,

    portanto, mais slida e acessvel.

    d) Educomunicao como uma nova metodologia frente a cultura contempornea

    A atualizao dos mtodos utilizados pelos professores (como eles ensinam) nas

    escolas j tema bastante recorrente em estudos que envolvam esse campo da prtica

    pedaggica, e uma parte dos pesquisadores enxerga na educomunicao uma

    revitalizao da prtica educacional, pois trabalha com outras linguagens em sala de

    aula, justamente com linguagens que esto mais prximas dos alunos. Com isso, o

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    mundo cultural em que se encontram os jovens podem ser levados em considerao no

    planejamento escolar, afinal no domnio da escola o local sagrado do

    conhecimento. Ou seja, no s a escola a nica narradora do conhecimento, e os

    alunos sabem disso. Entendem que h outras maneiras de pensar que no somente a que

    seus professores lhes indicam. Por essa abertura do conhecimento, que traz para uma

    roda de conversas tanto os livros escolares j comuns quanto gibis, HQs, Publicidade,

    Matrias jornalsticas, entre outros. A ideia que a educomunicao traz, conforme os

    pesquisadores, de que a escola deve construir o sujeito para a sociedade em que ele

    vive, e no alien-lo de seu prprio mundo o que vimos fazendo nos ltimos tempos.

    Em outras palavras, a educomunicao vai trabalhar pela formao do cidado.

    Acreditamos que a educomunicao, defendida neste caso com a

    insero de uma rdio dentro da escola, faz com que crianas e jovens

    se tornem cidados mais conscientes e crticos, podendo se tornar

    indivduos muito mais atuantes e participativos na sociedade em que

    vivem, pois descobriram por meio da comunicao e da educao

    como expressar suas opinies e pontos de vista, como argumentar

    sobre determinado assunto e que para que isto acontea, preciso

    informar-se, conhecer os assuntos e discutir sobre eles, ouvindo

    tambm a opinio de outras pessoas (Lima, Raddatz, 2010:11).

    Em outro artigo, a questo da cidadania significa mais como uma maneira de

    garantir o direito comunicao, ou seja, de ler e escrever nesse mundo:

    a escola precisa ressignificar sua funo e papel social, inserindo-se

    neste contexto miditico e digital sob uma perspectiva ativa,

    transformadora e libertadora, em que os estudantes e a comunidade

    educativa sejam sujeitos comunicativos neste universo, lendo este

    mundo e escrevendo nele a partir das inmeras linguagens disponveis

    e utilizadas (Fontenelle, Nobre 2013:9).

    Alm dessa cultura do aluno, h um envolvimento maior com os meios de

    comunicao, e no s como uma leitura crtica da comunicao (como vimos no

    primeiro ponto), mas aqui voltada a prtica pedaggica que trabalhe com as linguagens

    dos meios e as tcnicas necessrias para interferir nesses meios.

    e) Estudos de caso - prticas educomunicativas

    Diversos casos j foram relatados, novos e antigos, repletos de estrias por conta

    dos vrios anos de histria e tambm os recm-criados. O que destacamos aqui viso

    sempre otimista e positiva dessas atividades. Corroboram sempre com uma viso de que

    os sujeitos terminam as oficinas e os projetos contentes com os resultados adquiridos.

    um indicativo positivo, porm, preocupante. Um campo do conhecimento no se

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    constri apenas sob acertos. De qualquer maneira, o estudo sistematizado sobre os

    espaos em que a educomunicao vai se desenvolvendo, e seu relato ps-

    acontecimento marca o campo como produtor e interferente nas relaes sociais de

    determinadas localidades do Brasil. No artigo de Pinhero (2013:6), a autora coloca que

    apenas 3% das teses e dissertaes que constam no banco da CAPES e que possuem

    relao direta com a educomunicao esto voltadas totalmente para questes

    epistemolgicas, e atribui o resultado a um reflexo do maior interesse pelas prticas

    educomunicativas e propriamente pela seduo dos meios de comunicao. Dentro

    desse campo todo, percebemos que a maior parte das experincias se vincula com o

    Programa Mais Educao, projeto de escala nacional que se constitui, nas palavras do

    prprio Ministrio da Educao (MEC),

    (...) como estratgia do MEC para induo da construo da agenda de

    educao integral nas redes estaduais e municipais de ensino que

    amplia a jornada escolar nas escolas pblicas, para no mnimo 7 horas

    dirias, por meio de atividades optativas nos macro campos:

    acompanhamento pedaggico; educao ambiental; esporte e lazer;

    direitos humanos em educao; cultura e artes; cultura digital;

    promoo da sade; comunicao e uso de mdias; investigao no

    campo das cincias da natureza e educao econmica4.

    Essa informao d relevo para o fenmeno que estamos pesquisando ao passo

    que percebemos uma estreita ligao entre parte dos projetos que carregam em seu seio

    as ideias primordiais da educomunicao com um projeto do MEC, responsvel pela

    qualidade e melhorias da educao no Brasil.

    f) Formao do educomunicador

    Questo de fundo pedaggico, esse tema aparece principalmente no seguinte

    questionamento: o que o educomunicador precisa saber para completar suas atividades e

    contribuir para a formao dos sujeitos? Nesse sentido, as principais respostas se

    referem prxis desse educomunicador, ou seja, as prprias atividades colaboram com

    uma resposta para pergunta, pois a partir delas as atividades que os

    educomunicadores desenvolvem mtodos e tcnicas necessrias. De um lado, essa

    afirmao indica que cada projeto um projeto nico e ao mesmo tempo em que isso

    positivo (pois no se repete exatamente e da mesma maneira - com os mesmos mtodos

    4 PROGRAMA MAIS EDUCAO, MEC. Disponvel em:

    .

    Acesso em: 20/01/2014.

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    e tcnicas), tambm pode representar um ponto de ateno. Afinal, como sistematizar o

    aprender-a-fazer-educomunicao? Por isso, aqui vo linhas gerais de possveis

    solues para esse caso: o profissional precisar ter noes tcnicas sobre os meios de

    comunicao (saber interagir com as tecnologias, saber como utiliz-las); ser um

    incentivador do uso dessas tecnologias nos projetos ajudaria a compor um sistema

    comunicativo mais propcio ao dilogo entre as diferentes geraes, uma vez que as

    geraes mais jovens esto mais conectadas s mesmas tecnologias; para conseguir

    propor uma leitura crtica dos meios de comunicao necessrio que ele mesmo

    consiga executar tal leitura crtica; o domnio das linguagens miditicas para contribuir

    tanto com a leitura crtica quanto com a produo de comunicao, ambas capacitaes

    necessrias.

    Citando Pereira e Amaral (2013:11), tem-se que os conceitos educomunicativos

    devem ser trabalhados de forma integrada, pelas diversas disciplinas que compem o

    currcul escolar, pois enxergam que a educomunicao est presente em mais de um

    momento do ensino.

    g) Estudos epistemolgicos

    Importante deixar claro que na maioria dos artigos h uma preocupao em

    sistematizar o que se est entendendo por educomunicao, nem que sejam breves

    pginas dedicadas a essa questo. Destacando justamente que o trabalho epistemolgico

    aparece numa grande maioria das produes acadmicas do nosso recorte. Ainda assim,

    percebemos trabalhos que possuem um foco substancial para a epistemologia. Aqui

    destacamos alguns:

    Rose Pinheiro, por exemplo, levantou informaes sobre os anos de 1998 at

    2011 do banco da CAPES, e aplicou uma anlise bibliomtrica para categorizar os

    dados obtidos na pesquisa. A produo acadmica, de quase 15 anos, foi reunida sob o

    objetivo de traar o percurso de legitimao do novo campo a partir de anlise e

    mapeamento das teses e dissertaes disponveis (Pinheiro, 2013:1). E nos traz

    relevantes ndices da produo acadmica distribuda por todo o territrio brasileiro,

    bem como quantidade de trabalhos, principais autores citados, principais pesquisas, e da

    legitimao da educomunicao no campo da cincia.

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    Em outro trabalho, de Claudio Messias (2012:12), vemos uma postura

    epistemolgica em que o autor se posiciona criticamente ao campo: Um dos pontos

    que assumo desde a dissertao relaciona-se inexistncia de um mtodo da

    Educomunicao.

    Este artigo no tem o objetivo de discutir com essas crticas, teorias, mtodos e

    anlises construdas e disseminadas pelo campo da educomunicao, apenas demos um

    primeiro passo ao entendimento desse campo: levantando as principais trilhas dessa

    produo acadmica e organizando algumas direes que se destacaram pela

    concentrao de sujeitos e ideias.

    h) Educomunicao e meio ambiente;

    Essas relaes se demonstram no entendimento de que os meios de comunicao

    podem contribuir com uma melhora na conscincia ambiental dos sujeitos e das

    comunidades prximas em prol de uma convivncia com os ecossistemas biolgicos

    mais pacfica e menos destruidora como apontado por Nogueira e Tonus (2010:5):

    Essa demanda por uma sociedade conscientizada ecologicamente est entrelaada com

    a educao, medida que esta combate diversos causadores de impactos negativos para

    o ambiente, como o consumismo. Um trabalho de participao do professor junto dos

    alunos, ento, configura uma potencialidade para essa abordagem relacionada ao meio

    ambiente. Novamente Nogueira e Tonus (2010:6) que sublinham: nesse processo de

    gerao de sentido que o professor se faz necessrio, para provocar questionamentos

    que desencadeiem mudanas no comportamento dos alunos em relao preservao do

    meio ambiente.

    J em outro artigo, ao relatar a iniciativa do blog Educorumbatai, Martirani

    (2012:4) confirma que o projeto foi concebido

    como canal de experimentao para conjunto de atividades de

    iniciao prtica jornalstica, universitria e ambiental, de modo a

    explorar o potencial comunicacional, expressivo e esttico de recursos

    digitais da comunicao em rede e da comunidade universitria por

    meio de prticas de integrao de atividades de ensino, pesquisa e

    extenso.

    Desse modo, entende-se que h uma ligao entre esses temas (educomunicao

    e o meio ambiente) com o foco em contribuir com uma formao crtica e social dos

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    sujeitos, de modo a promover, para esses indivduos, uma mudana e constante melhora

    em suas relaes com o mundo direto em que vivem.

    CONSIDERAES FINAIS

    importante lembrar que todos esses eixos acima citados no se encontram no

    dia a dia separados completamente uns dos outros, ou seja, no necessariamente se

    encontraro distantes ou isolados, alis, muito pelo contrrio, em praticamente todos os

    momentos educomunicacionais esses eixos se misturam. Aqui deixamos separados por

    uma questo pedaggica, para facilitar o entendimento do tema.

    H uma preferncia por projetos educomunicativos dentro dos moldes de uma

    educao formal, ou seja, apoiados por escolas ou por instituies de ensino formal,

    como o Programa Mais Educao. No tiveram muitos relatos sobre trabalhos de OnGs

    ou redes de OnGs, como, por exemplo, o trabalho que a Rede Comunicao, Educao e

    Participao (CEP) desenvolve em diversas localidades do Brasil.

    Para alm dessa observao, o campo se concentra em vrios temas, apesar de

    um ser quase uma constante nos trabalhos que a prpria leitura crtica da mdia. Em

    muitos trabalhos essa noo aparece defendida pelos autores como se fosse o principal

    norte terico da educomunicao. um ponto de ateno, pois esse campo se encontra

    para alm de apenas essa viso; ele , tambm, uma leitura crtica, mas est alm desse

    tema.

    Esse trabalho um retrato do campo que foi construdo por meio da leitura dos

    artigos do perodo de 2010 a 2013, importante salientar que, em outros perodos,

    outros temas podem ter sido abordados. A escolha dos ltimos 4 anos tomou como base

    a noo de ter conhecimento sobre a produo recente sobre o tema e de entender quais

    so as janelas que a educomunicao abriu para entender o mundo. Sem dvidas que

    existem outras para serem abertas, como tambm, outras que no se encontram neste

    artigo, mas da cabe ao pesquisador manter firme a pesquisa e continuar empenhado no

    caminhar por esse campo do conhecimento.

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