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Cabildo Biocêntrico: Observando o neoliberalismo internalizado pela Corporación Biodanza Para Tod@s é
distribuído sob uma Licença Creative Commons Atribuição-NãoComercial-CompartilhaIgual 4.0
International.
É permitido sua cópia e distribuição por qualquer meio sempre que você mantenha o reconhecimento de
seus autores e não fazer uso comercial da obra. Se você alterar, transformar ou cria sobre este trabalho,
poderá apenas distribir o trabalho derivado resultante sob uma licença idêntica a esta.
Cabildo Biocêntrico: Observando o neoliberalismo internalizado
Realizado em 30 de Novembro de 2019 em Santiago do Chile
Sistematização dos Resultados
Em 30 de novembro de 2019, convidamos facilitadores e didáctas da Biodanza para refletir coletivamente
em torno da prática da Biodanza em face da desigualdade social, convidando o diálogo de o ético e o
metodológico, de maneira biocêntrica, sobre nosso papel na sociedade e diante de mudanças que precisam
ser resolvidos.
Nossa motivação
Essa instância surgiu de nossas próprias preocupações sobre a contingência causada pela crise social que
explodiu em 18 de outubro e a consequente reflexão e trabalho originados em diferentes áreas da sociedade
chilena. Para um exercício quase anedótico em que colocamos um mapa de Santiago do Chile coloridas de
acordo com o nível socioeconômico, a distribuição dos grupos regulares de Biodanza de onde viemos
registrando-se desde 2017 em conjunto com o site Biodanza Hoy, conseguimos visualizar graficamente –não
apesar da superficialidade do exercício– o acesso desigual à Biodanza na cidade, de acordo com o poder de
compra de seus habitantes, o que nos motivou a nos perguntar e perguntar como estávamos nos
relacionando com aqueles que praticamos essa disciplina com a cultura neoliberal.
Neoliberalismo e Biodanza
É importante visualizar que as políticas neoliberais em nosso país datam de quatro décadas, portanto, somos
o primeiro país do mundo em que esse novo modelo econômico começou a ser testado. Entendemos a partir
daí que a crise pela qual estamos passando está diretamente relacionada a esses modificações político-
econômico, já que o neoliberalismo visto de uma perspectiva ampla não é apenas mais uma fase do
capitalismo (aquela relacionada a uma mudança de concepção do papel do Estado na regulamentação do
capital para dar lugar a um papel de liderança no "mercado"), mas também tem uma dimensão simbólica e
cultural. Isso significa, entre outras coisas, que todos nós, de alguma maneira internalizamos vários aspectos
do neoliberalismo, independentemente de nossas ocupações profissionais.
Tudo isso que fazemos sem buscar uma interpretação particular ou menos ortodoxa da Biodanza, mas
modificações que, pelo contrário, permanecem sempre o que o próprio Rolando Toro propôs ao se referir ao
relação dessa disciplina com o mundo e o presente em que temos que viver. É assim que, no Código de
Biodanza: Originado nos Mecanismos de Ação (Toro, 1991) a Biodanza se expressa como um sistema de
mudança social centrada na comunidade e não no cliente-indivíduo, enquanto todos os conflitos pessoais
derivam de situações histórico-sociais. Nessa perspectiva, o que importa é a transmutação de valores, em
vez de libertação individual do que nos impede de viver plenamente1. Como consequencia de
desenvolvimento de nossa inteligência afetiva, surge um imperativo ético para substituir valores anti-vida
por valores a favor da vida. Portanto, a Biodanza rejeita a guerra, a discriminação social, econômica ou racial,
violação dos direitos humanos, exploração capitalista e violência institucionalizada, propondo uma política
de transgressão de valores anti-vida, institucionalizados ou não, colocando especial ênfase na proteção dos
setores mais vulneráveis.2
Reconhecer em nós mesmos, portanto, quanto da cultura neoliberal em que vivemos somos assumindo como
certas verdades, foi a base do nosso convite para refletir "biocêntricamente", em vez para fazer isso
"criticamente". E isso foi basicamente devido à convicção de que não poderíamos nos colocar em um tipo de
status moral direcionado para aqueles que estavam "fazendo errado", mas para começar fazendo o exercício
de reflexão pessoal e depois levá-lo ao coletivo, sempre a partir de um espaço de integração afetivo. E junto
com isso, não reivindicar representar ou interpretar alguém, mas apenas dê e dê nos uma voz a esses
preocupações que sentimos há muito tempo que é necessário prestar atenção ao nosso trabalho.
Desenvolvimento do Cabildo
Este documento é o resultado da sistematização desta chamada, na qual temos a colaboração do site
Biodanza Hoy para sua divulgação e com o Museu de Educação Gabriela Mistral, que eles nos deram suas
dependências gratuitamente. O que apresentamos abaixo é, portanto, o resultado do que foi experimentado,
discutido e refletido durante esse dia e é ao mesmo tempo a base de nossos trabalhos futuros como
Corporação Biodanza Para Tod@s.
Objetivos do Cabildo:
● Gerar uma reflexão biocêntrica coletiva sobre os relacionamentos que ocorrem na
Biodanza interna e externamente no atual contexto chileno.
● Reconhecer os aspectos do neoliberalismo que aparecem inconscientemente na prática
da Biodanza.
● Quais foram ou podem ser os cursos de ação para aprofundar uma prática biocêntrica da
Biodanza.
1 Rolando Toro Araneda. Código de Biodança (Originado nos Mecanismos de Ação). No Volumen I da Teoria da Biodança: Coletânea de textos. ALAB, 1991. Disponível em Biodanza Hoy, la Biblioteca Virtual de Biodanza en Español http://www.biodanzahoy.cl/index.php/2017/04/05/teoria-da-biodanca-coletanea-de-textos/. 2 Ibíd.
Para isso, recorremos à metodologia reflexivo-dialógica-vivencial desenvolvida no contexto da educação
biocêntrica (Ruth Cavalcante, Cezar Wagner e outros), com base nos postulados de Edgar Morin, Paulo Freire
e Rolando Toro, respectivamente.
Assim, estruturamos um trabalho que consistia em quatro momentos: o primeiro de uma roda de integração
vivencial; a segunda de uma vivência em pares que consistia em um passeio silencioso pelo lugar seguido por
uma instância de conversa em que refletimos com essa mesma pessoa ao redor como internalizamos a
cultura neoliberal, em pequenas coisas, em nossas práticas cotidianas; ele terceiro em um trabalho de grupo
em que respondemos a duas perguntas:
1. Quais aspectos do neoliberalismo estão presentes na prática da Biodanza?
2. Que ações são ou podem ser tomadas para aprofundar uma prática biocêntrica da Biodanza?
Por fim, uma sessão plenária onde apresentamos os resultados do trabalho de cada grupo, fechando com
uma roda de comemoração para esta reunião.
Sistematização e análise
Para sistematizar as informações resultantes do processo de vivência, diálogo e reflexão, usamos uma
ferramenta de organização de dados chamada protocolo de afinidade, que permitiu agrupar aspectos do
neoliberalismo em Biodanza, reconhecidos pelos participantes e associando-os a um conceito integrador
(título) da categoria definida pela equipe da Biodanza para Tod@s.
Alguns aspectos mencionados foram difíceis de classificar nas categorias mencionadas, estes são: ego,
violência, desconfiança, desqualificação e pouca integração à macro.
Com esse agrupamento realizado, decidimos colocar os conceitos resultantes em uma perspectiva sistêmica
organizando-os em um modelo de iceberg. Este modelo desenvolvido por Peter Senge em seu livro A quinta
disciplina (1990), é uma metáfora que busca perceber que o que vemos nos sistemas são apenas eventos
(sintomas dos problemas), mas estes –como em um iceberg–- têm mais de 90% de suas causas debaixo agua,
e se nos aprofundarmos no problema, poderemos observar padrões comuns, estruturas de sistemas e
modelos mentais dos quais derivam esses eventos/sintomas.
Modelo Iceberg (Baseado em Peter Senge, 1990)
Baixa Colaboração
Dificuldade em gerarcomunidade
Competição
Falta de transferência
Falta de redes de apoio
Falta de CoerênciaÉtica
Falta de ética
Falta de coerência
Falta de amor
Crença de que existe união no amor
Patriarcado
Sexismo
Linguagem binária
Não há respeito pela diversidade
Lucro
Aluno é entendido como cliente
Privatização
Clientelismo
Monopólio
Distribuição desigual de poder
Hegemonia
Elite
Hierarquia
OrtodoxiaNe
olib
eral
ism
oex
pre
sso
emB
iod
ança
Conceito de integração de cada categoria
Dinheiro prevalece sobre outras formas de troca
IBF é entendida como empresa
Escolas orientadas a ganhar dinheiro
Classismo
Exclusão
Burguesia
Metáfora:
Apenas uma pequena parte dos problemas é visível, então tendemos a pensar que estes são mais os pequenos.
Como um iceberg, mais de 90% de sua massa está debaixo d'água. Ou seja, muitas vezes não vemos o que realmente está acontecendo.
Através deste modelo, organizamos os aspectos presentes do neoliberalismo em Biodanza, agrupando-os:
Finalmente, sistematizar as ações que os participantes propuseram alcançar uma prática devidamente
biocêntrica, a ferramenta de protocolo de afinidade foi usada novamente.
Todas as idéias/conceitos propostos pelos participantes estão organizadas de acordo com o grupo de
aspectos do neoliberalismo exposto, presentes na Biodanza.
Baixa Colaboração
Sistematizar experiências
Destacar inovadores
Formar redes de colaboração
Formar células de trabalho
Falta de CoerênciaÉtica
Direito ao bem-estar
Coerência afetiva
Estrutura ética
Comitê de ética
Patriarcado
Despatriarcalizar
LucroDistribuição
desigual de poder
Promover equidade
Desobediência
Fim da marca de BiodanzaA
ções
pro
po
stas
Aspectoassociado
Fim da marca de Biodanza
Preço consciente
Informação
Direito ao bem-estar
Mobilizar bases
Direito ao bem-estar
Informação
Gerar alianças
Realizar conselhos e discussões
Fim da marca de Biodanza
Conclusões
Um exercício quase casual nos permitiu visualizar o nível de desigualdade (que já vimos) na distribuição dos
grupos Biodanza na Região Metropolitana de Santiago. Essa imagem nos levou a pergunte-nos, de nossos
papéis como facilitadoras e facilitadores, como percebemos esse neoliberalismo a Biodanza permeou, e foi
isso que nos motivou a chamar o Cabildo que realizamos.
O grupo de participantes compartilhou suas experiências pessoais como facilitadores e refletiu sobre eles em
busca do reconhecimento dos elementos que nos permitiriam responder a essa pergunta. Isto é importante
mencionar que todos os presentes realizam seu trabalho em ação social.
No exemplo, pudemos ver como vários aspectos do neoliberalismo que se espalharam na prática de
Biodanza: competição, individualismo e distribuição desigual de poder, eles se correlacionam com os
modelos mentais nos quais estamos inseridos. O neoliberalismo se expande como uma razão que atravessa
todas as esferas da existência humana, que molda as relações sociais, que "faz o mundo", o que cria novas
subjetividades presididas por uma lógica da concorrência. Então, no modelo do iceberg, pudemos observar
como uma série de estruturas e padrões de ação são acionados que resultam, entre outros, na atual
distribuição de grupos de Biodanza na Região Metropolitan com o qual começamos nossas perguntas.
O reconhecimento dessa "infiltração" do neoliberalismo na prática da Biodanza que alcançamos reconhecer,
não tem culpados e não define, ainda está lá. Nossa intenção não é para outra parte é definir quem é
"responsável" por essas situações, mas conscientizá-las e contribuir para superá-los. Isso porque o poder
neoliberal não é apenas um poder repressivo, mas é um poder criador da subjetividade, um poder sedutor
no qual a razão geral da competição que preside a economia é introjetada em cada indivíduo e nas relações
sociais. Reconhecimento desta situação nos impulsiona como organização a fortalecer nosso trabalho em
ação social colaborativa com outras organizações e facilitadores, e nos leva a gerar regularmente espaços
para olhar a partir de uma crítica biocêntrica nossa prática. Estamos ao mesmo tempo conscientes de que
ambos os nossos pontos de partida como reflexões futuras ainda são suscetíveis de maior elaboração e
enriquecimento de outras perspectivas.
Como corporação, apreciamos a honestidade e a profundidade com que os participantes –maioria mulheres–
abertas a compartilhar suas vivências e reflexões, bem como suas idéias para construir um prática de
Biodanza que pode ser baseada em um modelo de pensamento renovado. Essas idéias de melhoria se
concentraram em ações de colaboração entre os facilitadores da Biodanza, o que como um grupo
acreditamos ser um ponto de partida viável para iniciar um trabalho árduo, que exige e nos convida a um
esforço coletivo.
Equipe Corporación Biodanza Para Tod@s
Cristián Soto Carvajal
Ximena País Muñoz
Malén Cayupí País
Teresa Valdovinos Navarro
Francis Durán Mellado
Corporación Biodanza Para Tod@s Registro Nº 259864 San Miguel, Santiago de Chile Tel. (+56) 9 4226 2797 - corporació[email protected]