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Semana da Fruticultura, Floricultura e Agroindústria – FRUTAL AMAZÔNIA/X Flor Pará 24 a 27 de junho de 2010 – HANGAR – Centro de Convenções e Feiras da Amazônia Belém – Pará – Brasil CULTIVO, PADRONIZAÇÃO E PROCESSAMENTO INDUSTRIAL DO CACAU NA AMAZÔNIA Paulo Júlio da Silva Neto Miguel Guilherme Pina

Cacau

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CULTIVO, PADRONIZAÇÃO E PROCESSAMENTO INDUSTRIAL DO CACAU NA AMAZÔNIA

Paulo Júlio da Silva Neto

Miguel Guilherme Pina

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Copyright © FRUTAL 2010

Exemplares desta publicação podem ser solicitados à:

Instituto de Desenvolvimento da Fruticultura e Agroindústria – Frutal

Av. Barão de Studart, 2360 / salas 1304 e 1305 – Dionísio Torres

Fortaleza – CE

CEP: 60120-002

E-mail: [email protected]

Site: www.frutal.org.br

Tiragem: 100 exemplares

EDITOR

INSTITUTO DE DESENVOLVIMENTO DA FRUTICULTURA E AGROINDÚSTRIA – FRUTAL

DIAGRAMAÇÃO E MONTAGEM

Luis Anderson C. Silva

RUA RIO NEGRO, 290 – TABAPUÁ – CAUCAIA/CE

FONE: (85) 3285.3314 / 8837.1720

Os conteúdos dos artigos científicos publicados nestes anais são de autorização e

responsabilidade dos respectivos autores.

Ficha Catalográfica

Pina, Miguel Guilherme Cultivo, processamento, padronização e comercialização do cacau na Amazônia / Miguel Guilherme Pina, Paulo Júlio da Silva Neto. – Fortaleza : Instituto Frutal, 2010.

1. Cultivo – Cacau. 2. Padronização – Cacau. 3. Processamento industrial – Cacau. I. Silva Neto, Paulo Júlio. II. Título.

CDD: 633.74

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APRESENTAÇÃO

A quinta edição da Semana da Fruticultura, Floricultura e Agroindústria – FRUTAL

AMAZÔNIA realizada em conjunto com a X FLOR PARÁ, disponibiliza nesta edição oito

cursos técnicos de interesse demonstrado pelos participantes da edição de 2009,

sugerido nas avaliações, deferidos e ajustados pelos membros das Comissões Técnico-

Científicas de FRUTAS E AGROINDÚSTRIA E FLORES E PLANTAS ORNAMENTAIS.

Estas comissões são formadas por representantes das diversas instituições Estaduais

e Federais com ações voltadas aos setores contemplados nos eventos. Já fica aqui

registrado, em nome dos realizadores da FRUTAL AMAZÔNIA / X FLOR PARÁ o

reconhecimento e agradecimento a cada membro das comissões que não mediram

esforços em contribuir com a qualidade técnica do conteúdo dos temas aqui

abordados.

São cursos técnicos com carga horária de 12 horas/aula e com temas voltados

para fruticultura, floricultura e agroindústria, que potencialmente são explorados na

Região Amazônica. Para ministrá-los foram selecionados profissionais de destaque no

cenário nacional.

Esta apostila objetiva ser um instrumento de orientação para acompanhamento

do curso, como também, auxiliar estudos futuros dos temas abordados. Todos os

instrutores foram orientados a abordar os assuntos mais recentes relacionados com cada

tema, dando uma conotação mais prática e uma linguagem simplificada que facilite o

entendimento pelo pequeno agricultor.

A FRUTAL AMAZÔNIA / X FLOR PARÁ é fruto de uma parceria vitoriosa do INSTITUTO

FRUTAL com Governo do Estado do Pará representado pela Secretaria de Estado de

Agricultura do Pará – SAGRI, somado ao patrocínio/apoio dos diversos órgãos/instituições

Federais e Estaduais que tenham relação com o setor rural. Portanto, é uma parceria que

visa o desenvolvimento do setor e este ano, em particular, tivemos o cuidado de elaborar

uma programação técnica orientando e recomendando a todos os convidados a

importância de associar cada tema abordado com o tema central dos eventos:

“DESENVOLVER A AMAZÔNIA E MELHORAR A VIDA DAS PESSOAS”.

Esperamos, portanto que esta apostila transforme-se em um instrumento de

pesquisa e aperfeiçoamento para cada participante do curso, que nos honrou com sua

presença durante a FRUTAL AMAZÔNIA / X FLOR PARÁ.

Cordialmente, Antonio Erildo Lemos Pontes

Coordenador Técnico da FRUTAL AMAZÔNIA

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COMISSÃO EXECUTIVA

SAGRI

Cássio Alves Pereira – S e c r e t á r i o d e E s t a d oMarcial Marciel de Oliveira – D i r e t o r d e D e s e n v o l v i m e n t o A g r o p e c u á r i o e F l o r e s t a l I n t e r i n oDulcimar de Melo e Silva – G e r e n t e E x e c u t i v a d e F l o r i c u l t u r a , O l e r i c u l t u r a , P l a n t a s M e d i c i n a i s e A g r i c u l t u r aO r g â n i c aCleide Maria Amorim de Oliveira – C o o r d e n a ç ã o d e E v e n t o sNardye de Sena Nery – G e r e n t e E x e c u t i v o d e F r u t i c u l t u r aGeraldo dos Santos Tavares –

E n g e n h e i r o A g r ô n o m o - G e r ê n c i a d e F r u t i c u l t u r aJosélio Riker Ferreira – C o o r d e n a d o r d o S e m i n á r i o d a A g r i c u l t u r a F a m i l i a rMartha Nilvia Gomes Pina –

E n g e n h e i r a A g r o n ô m a , T é c n i c a d a D i r e t o r i a d e A g r i c u l t u r a F a m i l i a r – D I A F A MJosé Sinval Vilhena Paiva – C o o r d e n a d o r d e C a r a v a n a d e P r o d u t o r e s d a A g r i c u l t u r a F a m i l i a r - E M A T E R / P AINSTITUTO FRUTAL

Euvaldo Bringel Olinda – P r e s i d e n t eFernando Antonio Mendes Martins – D i r e t o r G e r a lAntonio Erildo Lemos Pontes – D i r e t o r T é c n i c o e C o o r d e n a d o r T é c n i c o d a F R U T A L A M A Z Ô N I AJanio Bringel Olinda – D i r e t o r A d m i n i s t r a t i v o

COMISSÃO TÉCNICA – FRUTAS E AGROINDÚSTRIA

Ana Paula RezendeB a n c o d o B r a s i lAntônio Fernando PalhetaC E A S ADílson Augusto Capucho FrazãoC R E A - P A / F A E P ADinaldo Rodrigues TrindadeA E A P AFernando Antonio Teixeira MendesC E P L A CIvete Teixeira da SilvaI E S A MJesus do Socorro Barroso dos SantosB a n c o d a A m a z ô n i aJosé Adriano Marini S E D E C TJosé Augusto Mesquita ViegasO C B - P A / S E S C O O P - P A

José Sinval Vilhena Paiva E M A T E RMaria de Nazaré Chaves A C PMaria Iris Sampaio de MeloA D E P A R ÁMaria Onilse Brito Barra RibeiroE M A T E RMaria Zenilde Oliveira FariasB A N P A R ÁOtávio César Durans de OliveiraS F A - P A / M A P APerícles Diniz Ferreira de CarvalhoS E B R A E - P AWalnice Maria de Oliveira do NascimentoE M B R A P A

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COMISSÃO TÉCNICA - FLORES E PLANTAS ORNAMENTAIS

Ana Paula RezendeB a n c o d o B r a s i lAntônio Carlos Braga MouraE M A T E RAntônio Fernando PalhetaC E A S AArmando Soares FurtadoC O O P S A N TCarlos Alberto de OliveiraA F L O R B E NDílson Augusto Capucho FrazãoC R E A – P A / F A E P AEly Simone Cajueiro GurgelM u s e u E m i l i o G o e l d iÉrika Bezerra S E B R A E - P AErivaldo L. OliveiraA P H A U R I ;Gidalias da S. Rego JuniorD i f i o r iHamilton Rosa PrimoH L R P F l o r e s e P l a n t a s O r n a m e n t a i sHeliana BrasilU F R AIvonete Sobral F l o r d a M a t aJesus do Socorro Barroso dos SantosB a n c o d a A m a z ô n i aJosé Adriano Marini S E D E C TJosé Torres Pinheiro S o c i e d a d e C a s t a n h a l e n s e d eO r q u í d e a s / B a r r e i r ã o / O r q u i d á r i o T o r r e s

Josuan Piassi Moraes P A R A F L O RJulianne Moutinho Marta C â m a r a S e t o r i a l d e F l o r e s e P l a n t a s O r n a m e n t a i sd o P a r áLuiza Hitomi Igarashi Nakayama C E P L A CManoel Moura Melo A E A P AMaria Antonieta Martorano PrianteA D E P A R ÁMaria de Nazaré ChavesA C PMaria Zenilde Oliveira FariasB A N P A R ÁMariléa de Nazaré Sousa Moraes A M A TMarli Costa Poltronieri E M B R A P A ;Martha Parry de Castro Martins NogueiraS F A - P A / M A P AMauro Roberto M. PereiraS E B R A E - P ANatalina Machado ValeT R O P I S A N ;Natalino CôrreaP A R A F L O R / P a r a í s o V e r d ePedro Paulo de Abreu SilvaA P OShirley KerberU N A M A

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SUMÁRIO

Cultivo, padronização e processamento industrial do cacau na Amazônia

1. INTRODUÇÃO 7

2. ASPECTOS EDAFOCLIMÁTICOS E AMBIENTAIS 8

3. SELEÇÃO E PREPARO DA ÁREA 10

4. PRODUÇÃO DE MUDAS 12

5. PLANTIO DO SOMBREAMENTO PROVISÓRIO E DEFINITIVO 15

6. PLANTIO DO CACAUEIRO 16

7. MANEJO DO CACAUEIRO NO CAMPO 17

7.1. CONTROLE DE PLANTAS DANINHAS 17

7.2. PODA E DESBROTA 19

7.3. MANEJO DO SOMBREAMENTO 19

7.4. MANEJO QUÍMICO DO SOLO PARA O CACAUEIRO 19

7.5. MANEJO DAS PRAGAS 24

7.6. PRINCIPAIS DOENÇAS DO CACAUEIRO E MEDIDAS DE CONTROLE 30

8. CACAUEIROS EM SISTEMAS AGROFLORESTAIS 35

9. COLHEITA E PÓS-COLHEITA 43

9.1. PADRÃO DE QUALIDADE 43

9.2. BENEFICIAMENTO PRIMÁRIO 44

9.3. QUEBRA 47

9.4. FERMENTAÇÃO 50

9.5. SECAGEM 55

10. ARMAZENAMENTO 61

11. PADRONIZAÇÃO DO CACAU EM AMENDÕAS 63

12. INDUSTRIALIZAÇÃO 67

12.1. INTRODUÇÃO 67

12.2. CADEIA PRODUTIVA DO CACAU 68

12.2.1 CULTIVO 68

12.2.2 MOAGEM 68

12.2.3 FABRICAÇÃO 69

12.3. FABRICAÇÃO DO CHOCOLATE 70

12.3.1. O PROCESSO 70

12.3.2. COMPOSIÇÃO DO CHOCOLATE 72

12.3.3. ALGUNS TIPOS DE CHOCOLATES 73

13. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 74

CURRÍCULOS DOS INSTRUTORES 76

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COLEÇÃO CURSOS FRUTAL AMAZÔNIA Cultivo, padronização e processamento industrial do cacau na Amazônia

CULTIVO, PADRONIZAÇÃO E PROCESSAMENTO INDUSTRIAL DO CACAU NA

AMAZÔNIA

Paulo Júlio da Silva Neto

Miguel Guilherme Martins Pina

1. INTRODUÇÃO

O cacaueiro (Theobroma cacao L.), pertence à família Sterculiaceae. É uma

árvore típica de clima tropical, nativa da região de floresta úmida do continente Sul

Americano, tendo como provável centro de origem as nascentes dos rios Amazonas e

Orenoco. Constitui o principal fornecedor de matéria-prima para a fabricação do

chocolate.

As principais regiões produtoras de cacau no mundo situam-se entre as

latitudes 15º Norte e 20º Sul, com temperatura média em torno de 22 a 25ºC e

precipitação pluvial bem distribuída ao longo do ano, com quantidade total de 1200 a

2500mm/ano. Os períodos secos com mais de três meses são prejudiciais (ALVIM, 1977;

SCERNE, 2001).

A produção mundial está geograficamente distribuída em três áreas

diferentes, situadas nos trópicos úmidos, sendo uma em cada continente. Na África,

destacam-se Costa do Marfim, Gana, Nigéria e Camarões. Na América, o principal

produtor é o Brasil, seguido do Equador, Colômbia, Venezuela e alguns países da

América Central. Recentemente foi incluída uma nova região, no sudeste asiático,

liderada pela Malásia e Indonésia (SOUZA; DIAS, 2001).

No Brasil, os principais estados produtores, são os seguintes: Espírito Santo,

Bahia, Pará, Amazonas, Mato Grosso e Rondônia.

O Estado do Pará ocupa a 2ª posição na produção brasileira, atrás somente

do Estado da Bahia. Existem 11.300 produtores, distribuídos em 49 municípios, totalizando

área de 94.970 hectares, com uma produção de aproximadamente 62.000 toneladas de

amêndoas secas de cacau. No Pará, o maior pólo cacaueiro está localizado na região

sudoeste, conhecida como região da Transamazônica, e compreende os municípios de

Altamira, Anapu, Aveiro, Brasil Novo, Itaituba, Jacareacanga, Medicilândia, Novo

Progresso, Pacajá, Senador José Porfírio, Trairão, Uruará e Vitória do Xingu.

O consumo mundial de cacau tem se mantido em expansão nos últimos 10

anos a uma taxa média de 4 a 5% ao ano. Atualmente o consumo mundial é de

aproximadamente 3.600.000 toneladas ao ano, enquanto a produção mundial sinaliza

para a estabilização, com tendência de queda, com reflexos nos índices de preços e

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COLEÇÃO CURSOS FRUTAL AMAZÔNIA Cultivo, padronização e processamento industrial do cacau na Amazônia

diminuição da área cultivada em muitos países produtores, a produção atual é de

3.300.000 toneladas ao ano. O déficit da produção anual é em torno de 300.000

toneladas ao ano. De 1993 até 2006 a taxa média de moagem se situou em 2,09% ao

ano e a produção em 1,88% (INTERNATIONAL COCOA ORGANIZATION 2006/07).

Diante desse quadro, a região amazônica apresenta condições favoráveis à

expansão da cacauicultura no Brasil. O Estado do Pará poderá implantar mais de 100.000

hectares de novas áreas de cacaueiros, na forma de sistemas agroflorestais. Isto em

razão de uma série de características, quais sejam: a) grande disponibilidade de áreas

alteradas; b) existência de grandes extensões de terra, ainda inexploradas e de boa

qualidade para fins de novos assentamentos de agricultores; c) existência de híbridos de

elevado potencial produtivo; d) estrutura de produção que pode ser centrada na

diversificação da unidade de produção e na pequena produção familiar, articulada via

associativismo / cooperativismo; e) proximidade do principal mercado consumidor,

Estados Unidos da América.

2. ASPECTOS EDAFOCLIMÁTICOS E AMBIENTAIS

De acordo com o ponto de vista ecológico, os fatores ambientais compõem-

se do lugar onde existe a vida (biótopo) e do conjunto dos seres vivos (biocenose) -

interagindo de tal maneira a afetar, positiva ou negativamente, uma determinada

espécie vegetal ou animal que se cultiva ou se cria em um determinado ambiente ou

local (CASTRO, 1987).

Alvim (1972), comentando sobre os fatores ambientais que atuam sobre o

crescimento e desenvolvimento do vegetal, cita que os mesmos podem ser divididos em

dois grupos, sendo um os fatores que atuam indiretamente (latitude, altitude, chuva,

topografia, textura e estruturado solo), e o outro grupo, aqueles fatores que atuam

diretamente sobre as plantas (radiação solar, foto-período, temperatura, água, aeração

e os minerais do solo), sendo que os fatores de ambos os grupos, com maior ou menor

intensidade, afetam os principais processos fisiológicos do vegetal (atividade

fotossintética, crescimento, florescimento, balanço hídrico, respiração e absorção de

minerais).

O principal fator ecológico que caracteriza a Região Amazônica, assim como

todas as regiões do globo terrestre com clima tipicamente tropical, é a abundância de

radiação solar recebida durante todo o ano, em consequência, a pequena variação

sazonal de temperatura ou quase ausência de tais flutuações em localidades próximas

da linha equatorial.

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COLEÇÃO CURSOS FRUTAL AMAZÔNIA Cultivo, padronização e processamento industrial do cacau na Amazônia

Para expressarem plenamente seu potencial genético, as plantas necessitam

ser cultivadas sob condições ótimas de solo e de clima, principalmente aos fatores

relacionados com o crescimento e desenvolvimento vegetal.

Na Amazônia, de um modo geral, o clima caracteriza-se pela abundância

das chuvas e pela constância de temperaturas elevadas. O cacaueiro é uma planta

típica dos trópicos úmidos, e é cultivado em regiões onde o clima apresenta variações

relativamente pequena durante o ano, especialmente em termos de temperatura,

radiação solar e comprimento do dia.

Pelo fato da precipitação pluvial, junto com a radiação global, ser o

componente mais importante do clima e de esta apresentar muita variabilidade é que a

chuva se constitui um dos principais fatores de risco para a cacauicultura regional. Por

esse motivo é que, para o estabelecimento de plantios de cacauais economicamente

viáveis, deve ser rigorosamente observado o regime das chuvas, principalmente em

relação à sua distribuição ao longo dos meses, nas áreas onde deverão ser instalados os

empreendimentos cacaueiros.

A precipitação ideal para o cacau deve apresentar um total anual acima de

1.250mm, bem distribuídos em todos os meses, com mínimas mensais de 100mm e

ausência de estação seca bem definida e intensa que apresente meses com menos de

60 mm de chuva.

Por regra geral a quantidade ótima de chuva está entre 1.800 a 2.500mm ao

ano. Os períodos secos com mais de três meses são prejudiciais.

Outro componente climático que deve ser considerado é a velocidade do

vento, pois em localidades com ventos que apresentam velocidade superior a 2,5 m/s, é

recomendável a instalação de quebra ventos, para que seja reduzida a

evapotranspiração dos cacaueiros, a queima e queda das folhas, principalmente as mais

novas, que são sensíveis ao movimento do ar. Cacaueiros expostos à ventos fortes

crescem com as copas envassouradas e dificilmente atingem desenvolvimento normal.

O solo deve apresentar uma profundidade mínima de 1 metro e 20

centímetros sendo ideal em torno de 1 metro e 50 centímetros. Para o desenvolvimento

normal do sistema radicular do cacaueiro, o solo não deve conter concreções lateríticas

em sua parte superior, bem como não deve possuir camadas pedregosas e compactas

no seu perfil. Solos com impedimentos físicos dessa natureza dificultam o

desenvolvimento normal do sistema radicular do cacaueiro, provocando principalmente

o atrofiamento da raiz principal (Fig. 1).

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Deve ser bem drenado e quando apresentar sinais de gleização,

mosqueamento ou possuir lençol freático próximo a superfície, deve ser recuperado

através da abertura de canais de drenagem. Sua textura deve permitir boa capacidade

de retenção de água. Solos argilosos e siltosos são apropriados para regiões com

períodos definidos de estiagem, embora possam ocorrer problemas de encharcamento

do solo em períodos intensos de chuva. A textura areno-argilosa é apropriada para

regiões de altas precipitações pluviométricas, mas bem distribuídas durante o ano. Solos

leves, com pouca argila não são recomendados por apresentarem baixa retenção de

umidade e permitirem a lixiviação intensa de nutrientes. A fertilidade é fundamental,

considerando-se o alto custo dos corretivos e fertilizantes. O cacaueiro desenvolve-se,

entretanto, em solos com os mais diferentes níveis de fertilidade, sendo ideal aqueles que

apresentam níveis de média a alta fertilidade natural, com pH na faixa de 6,0 – 6,5, onde

ocorre disponibilidade máxima de muitos nutrientes. Áreas ocupadas com mata,

capoeira, outros cultivos ou até pastagem, podem ser selecionadas, desde que o clima e

o solo apresentem condições desejáveis para a cacauicultura.

3. SELEÇÃO E PREPARO DA ÁREA

Os critérios de seleção de áreas para o plantio de cacau na Região

Amazônica brasileira devem levar em conta, preferencialmente, o relevo, a fertilidade e

a profundidade efetiva dos solos, além de consulta prévia, em caso de existência, do

zoneamento agroecológico de cada Município ou região, sem deixar de levar em

consideração os aspectos climáticos, principalmente a precipitação pluviométrica.

A – Sistema radicular prejudicado

por impedimento físico (camada

pedregosa e/ou piçarra).

B – Sistema radicular com

desenvolvimento normal quando

em solos profundos e sem

impedimento físico.

Figura1 – Desenvolvimento do

sistema radicular do cacaueiro.

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COLEÇÃO CURSOS FRUTAL AMAZÔNIA Cultivo, padronização e processamento industrial do cacau na Amazônia

Para o preparo de área há que se considerar inicialmente o sistema de

implantação a ser adotado, que por sua vez está condicionado ao tipo de cobertura

florística existente e a condição do produtor para instalar e manter o modelo escolhido.

Esses aspectos são de grande importância, pois, a partir dessas considerações deverá ser

tomada uma decisão que terá implicações diretas no sucesso ou insucesso do

empreendimento.

O estabelecimento do cacaual, nas diversas regiões produtoras do mundo, é

realizado basicamente de duas maneiras, após a eliminação parcial da vegetação

original ou em seguida ao desmatamento completo. O primeiro método é conhecido no

Brasil, como “cabruca” e o segundo, como “derruba total”.

Têm-se verificado na Região Amazônica que no método de “cabruca” os

cacaueiros, quando comparados com os que crescem e desenvolvem-se em áreas de

derruba total, apresentam diâmetro do caule inferior, na fase de implantação (até 5

anos) e baixa produtividade na fase produtiva.

Para o plantio do cacaual, a derruba total é o sistema mais utilizado na

região e o que tem mostrado melhores resultados. Consiste na eliminação da vegetação

primária ou secundária para posterior formação dos sombreamentos provisório e

definitivo. Este sistema consiste nas seguintes fases: broca, derruba, queima, balizamento

e plantio dos sombreamentos.

Para implementação desse sistema, dependendo do tamanho da área a ser

preparada, há necessidade de autorização prévia para desmatamento expedida pelo

Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis - IBAMA,

conforme legislação vigente.

Em áreas já trabalhadas com cultivo (ex.: pastagens, cana-de-açúcar,

cultivos anuais etc.) ou em áreas alteradas, inicia-se o trabalho a partir do balizamento,

após a limpeza de área.

Após o preparo de área inicia-se o balizamento para o cacaueiro.

Recomenda-se o espaçamento de 3,0 x 3,0 metros o que eqüivale a 1.111

plantas/hectare, porém, dependendo das condições poderá ser utilizado 3,5 x 3,5 metros

(816 plantas/hectare); 4,0 x 4,0 metros (625 plantas/hectare) e 2,0 x 2,0 x 4,0 metros (1666

plantas/hectare). As balizas marcam os lugares onde serão abertas as covas para plantio

das mudas de cacau.

O balizamento tem a vantagem do melhor aproveitamento da área, bem

como, permite melhor crescimento e distribuição uniforme da copa dos cacaueiros,

permitindo ainda, maior facilidade na execução das práticas culturais como limpeza de

área, combate às pragas e doenças, adubação e colheita.

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COLEÇÃO CURSOS FRUTAL AMAZÔNIA Cultivo, padronização e processamento industrial do cacau na Amazônia

4. PRODUÇÃO DE MUDAS

O plantio de cacaueiros é feito a partir de mudas, por fornecerem vantagens

como vigor e uniformidade dos cacaueiros, menor número de falhas nas plantações e

provavelmente antecipação da fase produtiva das plantas.

Os trabalhos de formação da muda de cacau devem ser iniciados durante o

plantio dos sombreamentos provisório e definitivo.

Na formação das mudas, três fases são bem distintas: construção do viveiro,

semeadura e tratos culturais.

a) Construção do Viveiro

Alguns fatores devem ser considerados no sentido de fornecer as condições

adequadas ao bom desenvolvimento das mudas e de reduzir seus custos durante a

manutenção e transporte para o local definitivo.

Tamanho - Varia em função do número de mudas que se pretende formar.

Um método prático para se calcular o tamanho do viveiro é dividir o número de mudas

por 30. Assim, se precisamos preparar 15.000 mudas, temos: 15.000÷30= 500. O viveiro

deverá medir 500 m2, podendo ser de 20x25 metros.

Localização - Deve-se considerar alguns fatores importantes:

Distância – não deve ficar distante da área do plantio definitivo, pois na

época do transplantio o custo com transporte será menor. Também não deve ficar

distante de uma fonte de água, já que durante o verão será necessário regar as mudas.

Topografia - o local deve ser plano ou levemente inclinado para facilitar a

arrumação dos saquinhos.

Drenagem – deve ser construído em local com solos bem drenados para

evitar excesso de umidade que possa favorecer o aparecimento de doenças.

Penetração de luz – a penetração dos raios solares é fundamental para

permitir maior aeração ao ambiente, diminuindo assim os riscos de doenças. Permite

ainda o desenvolvimento mais rápido das plântulas.

Material - Para construção do viveiro devem ser utilizados materiais de baixo

custo, de preferência encontrados na propriedade. A altura deve permitir que um homem de

estatura média caminhe normalmente dentro do mesmo (Figura 2). Com esteios de 2,50 metros

consegue-se uma boa altura. Os esteios d evem ser dispostos de 3 em 3 metros e a cobertura é

feita com palhas de palmeira estendidas sobre fios de arame. A cobertura deve permitir 50%

de entrada de luz e as laterais também devem ser protegidas contra a ação de ventos e

animais.

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(a) (b)

Fig.2 – Tipos de Viveiros: a) rústico; b) alvenaria e sombrite

b) Semeadura

Também devem ser considerados alguns fatores de relevada importância,

como:

Escolha e preparo do terriço – O terriço pode ser retirado da manta superficial

(até 20 centímetros de profundidade) de solos ocupados com mata primária ou

secundária. Quando coletados a maior profundidade, o substrato deve ser misturado na

seguinte proporção: utilizar 700 litros de terra de subsolo (abaixo de 50 cm) acrescido de

300 litros de esterco de galinha + 5,0 kg de Yoorin Master (P, Ca, Mg, B, Cu, Fe, Mn, Zn e Si)

+ 2,0 kg de calcário dolomítico + 0,5 kg de cloreto de potássio.

Tamanho dos sacos – A escolha dos sacos está muito em função do período

de permanência das mudas no viveiro e este período depende das condições do

sombreamento provisório, da disponibilidade de sementes e da precipitação

pluviométrica na época do plantio e nos meses subsequentes.

Quando as mudas, por quaisquer dos motivos acima citados tiverem de

permanecer por maior período no viveiro (cinco a seis meses), devem ser utilizados sacos

do tipo padrão (28 centímetros de comprimento por 38 centímetros de circunferência). Se no

entanto, a permanência no viveiro for por um espaço de tempo mais curto (dois a quatro

meses), devem ser utilizados sacos de dimensões menores (28 centímetros de comprimento

por 32 centímetros de circunferência).

Enchimento dos sacos e semeio – Os sacos devem ser cheios até uns 3

centímetros da boca, tendo-se o cuidado de batê-los no chão algumas vezes, para que

o terriço não fique muito fofo. Antes de encher as sacolas, deve-se ter o cuidado de abrir

um orifício no fundo para facilitar a drenagem e evitar que a raiz principal (pivotante)

dobre no seu interior. O terriço deve estar livre de torrões e pedras. Após cheios, os sacos

devem ser arrumados em faixas de 1 metro de largura deixando-se ruas também de 1

metro.

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Após a quebra dos frutos, deve ser retirada a polpa ou mucilagem que

envolve as sementes. Esta operação é feita misturando-se as sementes com pó de serra

seco, esfregando-se em seguida com as mãos.

O semeio é feito com sementes provenientes de material genético melhorado

colocando-se a semente a 1 centímetro da superfície do terriço, com a parte larga

voltada para baixo. Em caso de dúvida sobre qual a parte mais larga, pode-se colocá-la

“deitada”. O restante dos 3 centímetros do saco deve ser preenchido com pó de serra

bem curtido. Antes do semeio deve ser feita uma rega nos sacos para que as sementes

encontrem ambiente propício ao início do processo de germinação.

O semeio é feito em época que dê condições para a muda ir para o campo

com dois a seis meses de idade. Como já foi discutido, o transplantio está em função da

disponibilidade das sementes, sombreamento e condições de pluviosidade.

É oportuno ressaltar, que a produção de mudas de cacaueiro e de

bananeira, devem estar de acordo com a Portaria emitida pelas Delegacias Federal de

Agricultura de cada Estado da Região:

Estado de Rondônia - Portaria Nº 098, de 19 de Dezembro de 1997

Estado do Pará - Portaria Nº 069, de 01 de Julho de 1996

Estado de Mato Grosso - Portaria Nº 098, de 25 de Setembro de 1998

c) Tratos Culturais no Viveiro

São os cuidados que devem ser dispensados às mudas até a época do

transplantio. Basicamente consiste na retirada de plantas daninhas, irrigação, adubação,

manejo de sombra e tratos fitossanitários.

Plantas daninhas – Apesar da proteção exercida pelo pó de serra,

periodicamente ocorre plantas daninhas que competem com as plântulas; tais invasoras

devem ser eliminadas manualmente, e com zelo, para não abalar o sistema radicular da

muda.

Irrigação – Em dias chuvosos não há necessidade de molhar as mudas,

entretanto, após alguns dias de estiagem deve ser feita a irrigação em dias alternados.

Adubação – Esta prática deve ser realizada somente quando as mudas de

cacau apresentarem deficiência de nitrogênio caracterizada pela coloração verde

pálido das folhas velhas ou de outros nutrientes. Neste caso, recomenda-se pulverizar

quinzenalmente uréia a 0,5% (cinqüenta gramas de uréia em dez litros de água) até que

as plantas voltem a mostrar aspecto normal.

Manejo de sombra - Para permitir melhor arejamento e penetração de luz no

viveiro, ao iniciar o período chuvoso, deve-se retirar algumas palhas de sua cobertura. O

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mesmo procedimento deve ser feito nos dias que antecedem ao transplante, para que

as mudas comecem a se adaptar às futuras condições ambientais.

Pragas – Durante a fase de viveiro, as plântulas estão sujeitas ao ataque de

pragas. As principais pragas são as seguintes: Ácaro Mexicano (Tetranychus mexicanus);

Vaquinhas (Percolaphis ornata; Colaspis spp; Taimbezinha theobroma); Lagarta enrola

folha (Sylepta prorogata); Antracnose (Colletotrichum gloeosporioides) e Queima-das-folhas

(Phytophthora spp.).

5. PLANTIO DO SOMBREAMENTO PROVISÓRIO E DEFINITIVO

Por suas próprias características, o cultivo do cacaueiro, se constitui

naturalmente, num sistema agroflorestal e trata-se de uma espécie que requer uma

associação a outras espécies, cuja finalidade é a de sombreá-lo tanto durante a fase de

implantação (sombra provisória), quanto durante a fase produtiva (sombra definitiva).

O sombreamento tem como função amenizar os fatores ambientais adversos

ao cacaueiro, em excesso não é desejável por propiciar maior umidade ao ambiente,

proporcionando assim, condições favoráveis à proliferação de doenças. No entanto, a

escassez de sombra permite a incidência direta dos raios solares sobre as copas dos

cacaueiros, condicionando as plantas a um intenso metabolismo, exigindo com isso

maior suprimento de água e nutrientes do solo. Se houver disponibilidade desses

elementos ocorrerá intensa emissão de folhas, fato este desejável, por condicionar à

planta um maior crescimento e produção, mas por outro lado, favorece o aparecimento

de surtos de pragas que em condições normais não atingiriam níveis tão elevados. A

escassez de água e nutrientes, nas quantidades exigidas pelas plantas, desencadeiam

transtornos fisiológicos graves, provocando efeitos depressivos sobre o rendimento das

mesmas. Portanto, aconselha-se o maior cuidado na formação dos sombreamentos.

Como regra, recomenda-se que nos primeiros estádios de desenvolvimento seja

permitida entrada de luz em torno de 25 a 50%. À medida que as plantas se desenvolvem

deve-se aumentar a quantidade de luz para 70% através do desbaste das espécies que

foram utilizadas no sombreamento provisório.

Sombreamento Provisório – Protege as plantas durante a fase de crescimento

juvenil contra os efeitos maléficos do excesso de sol e ventos.

Recomenda-se o plantio de bananeiras das variedades prata, roxa, terra,

caipira, FHIA-01, FHIA-02, FHIA-03, FHIA-20, FHIA-21, PV03-44 e pelipita, por serem mais

resistentes às doenças e insetos. A bananeira é plantada em espaçamento de 3,0 x 3,0

metros, ficando cada cova no centro do quadrado formado por quatro balizas do

cacaueiro. Em áreas cujo relevo permita o emprego de máquinas agrícolas, a bananeira

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deve ser plantada na mesma linha do cacaueiro. A bananeira também deverá ser

plantada em espaçamentos de acordo com o utilizado no plantio do cacaueiro. Deve-

se ter o cuidado de selecionar bananais sadios como fonte fornecedora de mudas. Na

época do plantio adicionar na cova das bananeiras 30 gramas de Terracur como

tratamento preventivo contra o moleque da bananeira (Cosmopolites sordidus Germar).

Outras espécies que podem ser utilizadas como sombreamento provisório ou

mesmo como complemento deste são: mandioca, macaxeira, feijão guandu e mamona.

Estas espécies são plantadas a 1,0 x 1,0 metro ou 1,5 x 1,5 metros de modo a não fechar

muito a área. A mamona deve sofrer a “capação” (retirada das flores) permitindo assim

maior longevidade vegetativa. O mamão também pode ser utilizado num espaçamento

de 2,5 x 2,5 metros ou 3,0 x 3,0 metros.

O sombreamento provisório deve ser plantado de quatro a seis meses antes

do plantio do cacaueiro, independentemente da existência de pimentais ou

maracujazeiros remanescentes. No caso da área de mamoal, se este ainda apresenta

estado vegetativo capaz de permanecer na área por dois anos ou mais, é dispensável o

plantio de outras espécies para o sombreamento provisório.

Sombreamento Definitivo – Proporciona condições ambientais mais estáveis,

sem oscilações bruscas de temperatura e umidade no cacaual.

Recomenda-se o consórcio entre duas ou mais espécies arbóreas, utilizando-

se inclusive plantas nativas, desde que apresentem bom desenvolvimento vegetativo e

boa distribuição de copa. Dentre as espécies arbóreas, as recomendadas são as

seguintes: mogno (Swietenia macrophylla King), freijó (Cordia alliodora), bandarra

(Schyzolobium amazonicum) e Eritryna spp.

O espaçamento varia em função do diâmetro da copa, sendo utilizado

comumente de 18 x 18 metros, 21 x 21 metros e 24 x 24 metros entre plantas e linhas.

As árvores de sombra podem ser plantadas na mesma linha do cacaueiro,

permitindo assim a roçagem mecanizada na fase inicial da plantação. Neste caso é

aconselhável utilizar essências florestais de menor competitividade com o cacaueiro.

O plantio do sombreamento definitivo é feito na mesma época do

sombreamento provisório, exceto o mogno, cujo plantio poderá ser efetuado de 2 a 3

anos após o plantio das mudas de cacau no campo.

6. PLANTIO DO CACAUEIRO

Para o plantio das mudas de cacau no local definitivo, dois fatores

importantes devem ser considerados: o sombreamento e a distribuição das chuvas. Se o

sombreamento provisório já estiver formado, o plantio das mudas deve ser feito no início

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do período chuvoso, com mudas de dois a seis meses de idade. Em casos excepcionais,

as mudas podem ainda ser transplantadas com uma antecedência de dois meses do

início do período seco do ano, preferindo-se neste caso, plantas de maior idade, ou seja,

de quatro a seis meses.

Após a seleção das plantas vigorosas e sadias o plantio do cacaueiro deve

ser feito em covas de 40 x 40 x 40 centímetros removendo-se o saco plástico sem que seja

destruído o torrão. A muda deve ser colocada na cova de modo que o nível superior do

torrão fique no mesmo plano da superfície do solo. Para isso, coloca-se a terra no fundo

da cova até que se consiga a altura ideal e depois completa-se com o enchimento dos

lados, sempre fazendo ligeira pressão no solo. Recomenda-se deixar um montículo ao

redor do caule e nunca uma depressão (Fig. 3).

7. MANEJO DE CACAUEIRO NO CAMPO

7.1. CONTROLE DE PLANTAS DANINHAS

O controle de plantas daninhas no cacaueiro tem como objetivo reduzir a

competição pelos fatores do ambiente (luz, água, nutrientes etc.) exercida pelas

invasoras sobre a cultura do cacau, bem como facilitar a realização de outras práticas

culturais.

Em cacaueiros jovens, a necessidade de controle é indispensável e deverá

persistir até que a plantação de cacau atinja o estádio de “bate-folha”. Na etapa inicial

Fig. 3 – Plantio de muda no campo

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as plantas daninhas podem ser controladas através de métodos de controle associados,

os quais envolvem:

Implantação e manejo do sombreamento provisório – quando realizado,

oferece efeitos positivos no controle de invasoras, tendo em vista que a pouca incidência

de luz oferece redução no crescimento, no desenvolvimento e na quantidade de plantas

daninhas.

Utilização de cobertura morta – o resto de material vegetal proveniente do

raleamento e debaste do sombreamento provisório, ou de culturas implantadas na

propriedade, deverá ser utilizado como “mulching” ao redor dos cacaueiros, pois tal

prática evita a invasão de plantas daninhas e ajuda a conservar a umidade do solo em

épocas de déficit hídrico, além de aumentar o teor de matéria orgânica e de fornecer

nutrientes às plantas na camada superficial do solo.

Culturas intercalares – o sistema intercalar que é caracterizado pelo plantio

de outras culturas de ciclo curto, nas entrelinhas dos cacaueiros, quando realizado de

modo racional, considerando com cuidado a cultura intercalar a ser usada, poderá

contribuir para reduzir os custos de implantação, além de proporcionar uma renda

líquida imediata ao cacauicultor, com melhor uso da terra. Na Região da

Transamazônica é comum os produtores realizarem após o preparo da área, o plantio do

milho e em seguida o feijão nas entrelinhas no primeiro ano de cultivo do cacau.

Roçagem manual – deve ser realizada de modo a evitar que as plantas

daninhas produzam sementes para reinfestar a área.

Emprego de herbicidas – o controle de plantas daninhas através do uso de

herbicidas, promove efeito mais prolongado no controle e também na reinfestação do

mato. Para se realizar a aplicação dos herbicidas, as plantas daninhas deverão estar a

uma altura de, aproximadamente, 30cm do solo. Os herbicidas que estão registrados

para serem utilizados na cultura do cacau, desde que observadas as instruções técnicas,

eficiência e as precauções na aplicação.

Em cacaueiros safreiros, o controle de plantas daninhas é realizado somente

nos locais onde há penetração de luz, em decorrência de falhas e/ou má formação de

cacaueiros. Nestes locais, as plantas daninhas crescem e desenvolvem-se e o controle

deverá ser realizado através de roçagens e/ou aplicação de herbicidas. Em época

oportuna, realizar o replantio nas falhas com cacaueiro, bananeira, espécies arbóreas ou

frutíferas.

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7.2. PODA E DESBROTA

A poda de formação em cacaueiros jovens deve ser evitada devido aos seus

efeitos danosos na planta e conseqüente aumento de lançamentos de brotos e

chupões. Entretanto, aproximadamente 96% dos frutos produzidos em cacaueiros

safreiros estão de 3,5m para baixo. Assim, surge a necessidade de se controlar a altura do

cacaueiro desde a sua formação, eliminando-se ramas que possuem crescimento

vertical, principalmente, as ramas chupadeiras, que são vigorosas, semelhantes aos

chupões, de coloração marrom brilhante, e tendem, quando desenvolvidos, possuir uma

forma achatada, atrofiando as ramas vizinhas e deformando a arquitetura inicial das

plantas. Esta prática inicial contribuirá futuramente para redução dos custos de controle

cultural da vassoura-de-bruxa (Moniliophthora perniciosa)

Em cacaueiros safreiros é desejável realizar a poda fitossanitária que consiste

na retirada de ramos enfermos, sombreados, mal formados, de frutos secos e doentes. A

desbrota ou retirada dos “chupões” deve ser realizada sempre que necessário, durante

todo o ano.

7.3. MANEJO DO SOMBREAMENTO

As touceiras de bananeiras devem ser evitadas, mantendo-se no máximo três

bananeiras por cova, e as folhas secas também devem ser retiradas. Ao iniciar-se o

período chuvoso, que ocorre após aproximadamente 10 a 12 meses após o plantio,

eliminar filas alternadas de bananeiras na orientação norte-sul, observando o

espaçamento de 3,0 x 6,0 metros. Ao final do segundo ano, no início do período chuvoso,

eliminar a outra fila de bananeiras deixando o espaçamento em 6,0 x 6,0 metros. No

período final do terceiro ano, o espaçamento deve ser de 12,0 x 12,0 metros, retirando-se

filas alternadas do espaçamento de 6,0 x 6,0 metros. O sombreamento provisório deve ser

totalmente retirado durante o quarto ano.

As recomendações acima devem ser seguidas até que o sombreamento

provisório do cacaueiro deva ser substituído pelo definitivo.

7.4. MANEJO QUÍMICO DO SOLO PARA O CACAUEIRO

O cacaueiro é uma planta tropical de elevada exigência nutricional,

encontrando-se, em geral, implantada em solos de média a alta fertilidade e sem

limitações nas suas propriedades físicas. Há evidências de que na fase de expansão da

cultura, nas principais regiões produtoras de cacau do mundo, os produtores tentaram

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utilizar solos de baixa fertilidade e, sem êxito, abandonaram as plantações ou

substituíram-nas por outras culturas menos exigentes. A melhoria do nível de tecnologia

utilizado através do emprego de fertilização da cultura, responsável por grande parte dos

incrementos de produtividade alcançados, tem possibilitado o estabelecimento de

plantações de cacau em solos de propriedades químicas menos favorecidas. Dentre os

fatores de produção, a adubação e a calagem bem orientadas constituem o meio mais

rápido e mais barato para aumentar a produtividade, podendo contribuir com até 40%

da mesma.

a) Exigências nutricionais do cacaueiro

Em termos práticos, o cacaueiro exige a aplicação dos macronutrientes N -

Nitrogênio, P - Fósforo, K - Potássio, Ca - Cálcio, Mg - Magnésio e S - Enxofre e

micronutrientes B - Boro, Cu - Cobre, Fe - Ferro, Mn - Manganês, Mo - Molibdênio e Zn -

Zinco.

As plantas diferem uma das outras quanto às quantidades de nutrientes

requeridas, para atingir um determinado potencial de colheita. Além do conhecimento

das quantidades dos nutrientes absorvidas, também é importante saber as quantidades

exportadas na colheita e a remanescente nos restos de cultura, que podem ser

devolvidas ao solo e, consequentemente, reduzir a quantidade de adubo requerida. No

Quadro 1 estão apresentadas as exigências do cacaueiro nos diferentes estádios de

desenvolvimento e para a produção de 1000 kg de sementes secas.

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Quadro 1 – Exigências de nutrientes pelas plantas de cacaueiro nos diferentes estádios de

desenvolvimento e para produção de 1000 kg de sementes secas (Thong e Ng, 1978).

Fase da Planta

Idade

(meses)

Requerimento Médio de Nutrientes (kg/ha)

N P K C

a

M

g

M

n Zn

Viveiro 5-12 2,

4 0,6 2,40 2,3 1,1

0,

04

0,0

1

Desenvolvimento 28 13

5 14 151

11

3 47

3,

9

0,0

5

Início Produção 39 21

2 23 321

14

0 71

7,

1

0,0

9

Plena Produção 50-87 43

8 48 633

37

3

12

9

6,

1

1,5

0

Sementes (1) 50-87 20

,4 3,6 10,5 1,1 2,7

0,

03

0,0

5

Casca (1) 50-87 31

,0 4,9 53,8 4,9 5,2

0,

11

0,0

9

(1) Nutrientes extraídos em sementes e casca de uma plantação com 50-87

meses de idade e produtividade de 1000 kg/ha de sementes secas de cacau.

Page 22: Cacau

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b) Análise químicas do solo

A amostragem do solo em áreas para plantio deve ser coletada antes e

depois da queima, a fim de considerar o efeito das cinzas como corretivo de solo e teor

de nutrientes, principalmente cálcio e magnésio. O procedimento para a retirada de

amostras a uma profundidade de 0 – 20 cm, deve ser efetuado da seguinte maneira:

divide-se a gleba ou quadras em áreas homogêneas de 1,0 a 2,0 hectares, após esta

etapa, percorre-se a área demarcada em “zigue-zague”, retirando amostras de solos,

procurando-se cobrir toda a área. Cada amostra deve ser composta de, no mínimo, 15

amostras simples (sub-amostras) para cada quadra. As manchas de fertilidade de

determinada área devem constituir amostras a parte. Em plantações que vem sendo

adubada, a cada 2 a 3 anos é interessante retirar amostras para monitorar a fertilidade

da mesma.

A interpretação dos dados para o fósforo e potássio estão divididos em três

classes de teores, enquanto que para o Ca+ Mg e Al em duas classes (Quadro 2)

Quadro2 – Interpretação dos teores de P, K, Ca + Mg e Al em solos (Garcia et al, 1985).

Teor

P

(mg/dm3

)

K

(meq.100-

1g)

Teor Ca +

Mg Al

Baixo ≤ 6 ≤ 0,12 meq.100-1g

Médio 7 – 15 0,13 – 0,30 Baixo < 3,0 < 0,5

Alto > 15 > 0,30 Médio/

Alto ≥ 3,0 ≥ 0,5

c) Adubação verde e orgânica

Em áreas de solos de textura média a arenosa é de extrema importância a

utilização da adubação verde e orgânica.

A adubação verde é prática agrícola muito antiga, porém de utilização

restrita. Consta da incorporação ao solo de qualquer material vegetal, ainda não

decomposto, produzido no próprio terreno, visando a incorporação de nutrientes e

produção de húmus, com conseqüente aumento do teor de matéria orgânica do solo.

Page 23: Cacau

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As leguminosas são as plantas preferidas para a formação desta matéria

orgânica, em virtude da grande massa produzida por unidade de área, da sua riqueza

em elementos minerais, do seu sistema radicular bastante profundo e ramificado, capaz

de uma melhor mobilização dos nutrientes minerais do solo e, principalmente pela

possibilidade de aproveitamento no N atmosférico, através das bactérias nitrificadoras.

Com base nestas informações, é possível a utilização da Pueraria phaseoloides, como

adubo verde mais apropriado, em solos pobres, para o cacaueiro em formação e

produtivo.

Quanto a utilização de adubos orgânicos, tem-se verificado resultados

positivos, principalmente quando utilizado para viveiro (Campos, 1982) e no plantio de

mudas (Campos et al, 1982). Os estercos poderão substituir parcialmente a adubação

de plantio, devendo-se, no entanto, proceder a análise do material, em termos de % de

N, de P2O5 e de K2O e do teor de umidade.

Recomendação de calagem e adubação:

Calagem: Aplicar calcário à lanço e em área total, para neutralizar o

laumínio trocável do solo de forma a atingir o pH em água próximo de 5,5.

Adubação de Plantio: com antecedência de 30 dias do plantio, incorporar

por cova 4kg de esterco de gado ou 2kg de esterco de galinha ou 1kg de torta de

mamona, 300g de calcário dolomítico, 60g de P2O5, 100g de Fritted Trace Elements-FTE

BR-8. Acrescentar 2 parcelas de 10g de nitrogênio em cobertura ao redor das plantas aos

6 e 9 meses após o plantio.

Adubação Mineral de Formação: aplicar, em cobertura ao redor das plantas, em duas

parcelas no período inicial e final das chuvas, as seguintes quantidades de nutrientes N –

P2O5 – K2O, em gramas por planta (Quadro 3)

Quadro 3 – Quantidades de nutrientes N – P2O5 – K2O em gramas por planta (Campos

1981; Morais, 1987; modificados).

IIDDAADDEE

AANNOOSS

NN PP MMEERRLLIICCHH,, MMGG//DDMM33 KK TTRROOCCÁÁVVEELL,, MMEEQQ//110000CCMM33

GG//PPLLAANNTTAA << 66 77 -- 1155 >> 1155 ≤≤ 00,,1122 00,,1133–– 00,,3300 >> 00,,3300

PP22OO55,, GG//PPLLAANNTTAA KK22OO,, GG//PPLLAANNTTAA

11 2200 9900 6600 3300 6600 3300 1100

22 3300 9900 6600 3300 6600 3300 1100

33 4400 9900 6600 3300 6600 3300 1100

Page 24: Cacau

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Em plantas com idade de 0 a 1 ano, localizar os adubos ao redor da coroa,

num raio de 0,5m; em plantas com idade de 1 a 2 anos, aumentar o raio para 1,0m; em

plantas com idade de 2 a 3 anos aumentar o raio para 1,5m e do quarto ano em diante

aplicar a lanço e em área total no espaço compreendido entre quatro cacaueiros.

Adubação mineral de produção – aplicar em cobertura e em área total, de

acordo com a análise do solo, as seguintes quantidades de nutrientes (Quadro 4).

Parcelar em duas vezes a adubação, aplicando a lanço e em área total no início e final

das chuvas.

Quadro 4 – Quantidades de nutrientes N – P2O5 – K2O em quilogramas por hectare.

(Campos, 1981; Morais 1987)

Nitrogênio P Merlich, mg/dm3 K trocável, meq/100cm3

N

kg/ha

< 6 7 - 15 > 15 ≤≤ 00,,1122 0,13 – 0,30 > 30

P2O5 kg/ha K2O kg/há

60 90 60 30 60 30 10

7.5. MANEJO DAS PRAGAS

A lavoura cacaueira apresenta um diversificado grupo de insetos associados

ao cultivo, entre os quais os benéficos, constituído por espécies polinizadoras das flores e

por parasitóides e predadores que se alimentam de outros insetos. Apresenta ainda o

grupo dos nocivos que em determinadas condições favoráveis apresentam nível

populacional elevado, causando danos econômicos, constituindo-se, dessa forma,

pragas da lavoura. Dependendo dos hábitos podem danificar brotos, folhas, flores,

ramos, tronco e frutos, podendo até levar a planta à morte na fase juvenil.

A seguir, são apresentadas informações gerais sobre as principais pragas do

cacaueiro na Amazônia e o manejo integrado dessas espécies.

a) Tripes (Selenothrips rubrocinctus)

É considerado uma das pragas mais importantes para a cacauicultura

Amazônica. O adulto apresenta um comprimento que varia de 1,1 a 1,4 mm, sendo sua

coloração preta ou marrom escura. As asas são do tipo franjada. As formas jovens são

de um colorido geral branco amarelado com os dois primeiros segmentos do abdome

vermelhos. As ninfas carregam, entre os pêlos terminais, na extremidade do abdome,

pequena gotícula de excremento líquido. Tanto as larvas como os adultos vivem em

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colônias, na face abaxial das folhas parcialmente maduras, próxima às nervuras ou na

superfície dos frutos em fase de maturação.

Nas folhas a sintomatologia do ataque, em decorrência do hábito alimentar

do tripes ser raspador – sugador, se manifesta pela presença de manchas cloróticas no

limbo, as quais após algum tempo, tornam-se necrosadas, dando origem à queima (Fig.

4). Se o ataque for intenso, ocorre a queda parcial ou total das folhas, caracterizando o

“emponteiramento”. Após a brotação pode haver reinfestação causando o

depauperamento ou mesmo a morte da planta.

O ataque nos frutos causa a “ferrugem” dificultando o reconhecimento do

estado de maturação dos mesmos, induzindo assim, a colheita de frutos verdoengos ou

excessivamente maduros, afetando a qualidade do produto final (Fig. 5).

Controle cultural deve ser feito com a manutenção do sombreamento

provisório por maior tempo possível, bem como evitar o plantio de cacaual com

sombreamento definitivo escasso ou ausente, já que o tripes tem preferência por áreas

com excesso de sol.

O controle químico deve ser realizado somente quando a população do

tripes atingir o nível de controle. Os inseticidas recomendados são os seguintes: Carbaryl,

Endosulfan, Malation.

b) Monalonio (Monalonion annulipes)

Esses pequenos percevejos são também conhecidos vulgarmente como

“chupança”, sendo uma praga de capital importância, pois provoca sérios danos a

cultura. Tanto os adultos como as formas jovens (Figs. 5 e 6), sugam seiva dos ramos

novos e frutos. Atacam também o pecíolo e as folhas.

O ataque aos ramos, determina o aparecimento de áreas necróticas nos

locais da picada, de origem toxicogênica (Fig. 7). Se intenso, há uma paralisação no

Fig. 4 - Queima das Fig. 5 - Frutos de cacau com ferrugem

Page 26: Cacau

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crescimento dos ramos e posterior secamento e queda das folhas, contribuindo para o

aparecimento do complexo conhecido por “queima” ou “morte descendente”(Fig. 8).

Quando o ataque é dirigido aos frutos, há formação de pústulas (bexigas) em

decorrência da toxina injetada pelo inseto, quando do ato alimentar (Fig. 9). Quando

não controlada, a praga pode causar sérios danos à produção de cacau. As

“chupanças” têm sido observadas com freqüência em cacauais a pleno sol, sugerindo

que a presença de sombreamento é importante para evitar a proliferação do inseto.

Como medida de controle cultural recomenda-se o emprego de práticas

culturais convencionais, principalmente o plantio de árvores de sombras nas áreas com

deficiência, de modo a propiciar sombreamento adequado às plantações de cacau.

Deve-se também manter as plantas livres de brotos ou chupões.

Vários inseticidas são atualmente recomendados para o controle químico do

Monalonio com eficiência técnica e econômica satisfatórias quando se segue

Fig. 5 – Adulto de Monalonion

annulipes Fig. 6 – Ninfa do monalonio Fig. 7 – Ramos com sintomas

de ataque

Fig. 8 – Queima causada por Monalonion annulipes

Fig. 9 – Frutos atacados pelo monalonio (Garcia, et

al.,1985)

Page 27: Cacau

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rigorosamente as prescrições técnicas para sua utilização. Os principais São os seguintes

inseticidas recomendados: Carbaryl, endosulfan, deltametrina, malation, triclorfon.

c) Xylosandrus compactus

Ocorre em mudas no viveiro e no campo, mais freqüentemente em mudas

recém - transplantadas. Os sintomas são caracterizados pelo escurecimento da casca e

exudação de um líquido através do orifício de penetração do inseto, o qual, ao secar,

exibe uma coloração esbranquiçada, culminando com o murchamento da parte

superior e morte da planta (Figs. 10 e 11). Também há penetração de fungos

patogênicos, entre os quais Fusarium spp. e Lasiodiplodia theobromae. Solos pobres e

ácidos e deficiência hídrica são os fatores que favorecem o ataque da praga.

O controle cultural de X. compactus é feito vistoriando-se o viveiro e o

cacaual após o transplante das mudas, especialmente durante o período seco,

eliminando e queimando as plantas atacadas. No caso do ataque no tronco de

cacaueiros adultos, dificilmente a planta poderá ser salva, pois os sintomas aparecem

quando já houve penetração e contaminação de fungos patogênicos. Recomenda-se a

retirada e eliminação das plantas através da queima.

Quando o ataque se dá nos ramos de cacaueiros adultos ou da parte aérea

acima da região cotiledonar das mudas a poda e queima das parte atacadas devem

ser realizadas. Solos pobres e ácidos devem receber correção e adubação para evitar os

danos de X. compactus. O controle químico deve ser utilizado somente em mudas

enviveiradas ou no campo, após eliminação daquelas atacadas pelo inseto. Utilizar o

inseticida endosulfan (Thiodan 35 CE ou Malix) a alto volume, na dosagem de 300 ml do

produto comercial para 100 litros de água. O controle químico em cacaueiros adultos

não deve ser realizado.

Fig. 10 – Ataque de Xylosandrus

compactus Fig. 11 – Muda morta por Xylosandrus

compactus

Page 28: Cacau

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d) Manhoso (Steirastoma breve)

Constitui-se numa das mais sérias pragas do cacaueiro em alguns países

produtores, tais como Equador, Venezuela, Trinidad e Suriname. No Brasil, somente nos

pólos cacaueiros da Amazônia os ataques são mais freqüentes, sendo que nos Estados

de Rondônia e Mato Grosso ocorre em grandes infestações. Os adultos (Fig. 12)

alimentam-se do córtex da planta, possibilitando a entrada de agentes patogênicos.

As larvas de S. breve iniciam o processo de alimentação no cambio da

planta, abrindo galerias em espiral. Posteriormente, penetram no lenho, podendo resultar

na morte dos ramos ou cacaueiro jovem. Plantas com 1 a 3 anos de idade são as mais

preferidas pela praga, iniciando o ataque principalmente pelas regiões do coleto de

bifurcação dos ramos principais. O aparecimento de serragem e exudação gomosa na

região afetada, é uma indicação da presença do inseto. O ataque pode determinar a

morte de cacaueiros jovens ou má formação da copa de plantas adultas (Figs. 13 e 14).

Fig. 12 – Adultos macho ( ) e fêmea ( ) de Steirastoma breve

(Mendes & Garcia, 1984).

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O controle do manhoso é feito da seguinte forma:

Controle mecânico: realizar inspeções periódicas na lavoura e no caso de

encontrar plantas atacadas no caule ou tronco, mas ainda possíveis de serem recuperadas,

efetuar a retirada da larva com auxílio de um canivete, eliminando-a e tratando a região

lesionada com uma pasta a base de óxido cuproso (Cobre Sandoz), para evitar a penetração

de fungos.

Controle cultural: plantas ou galhos mortos devem ser eliminados ou queimados.

Manter o sombreamento provisório por maior tempo possível, bem como evitar o plantio do

cacaual com sombreamento definitivo escasso ou ausente.

Controle químico: em lavouras jovens, até os três anos de idade, ao se constatar

adultos na área ou 10% de plantas com sintomas de ataque de adultos ou de larvas, após

amostragem de 100 plantas distribuídas ao acaso em quadras de 5 hectares, fazer duas ou três

pulverizações em intervalos de 20 dias com uma solução de endolsulfan 35% (Thiodan 35) na

dosagem de 350g de i.a./ha (1 litro do produto), adicionando 100 mililitros de espalhante

adesivo (Ag-bem, Novapal etc.) para cada 100 litros da suspensão.

a

¬

b

Fig. 13 – A larva (a) e os sintomas de seu ataque ao tronco e ramos do cacaueiro (a, b)

Fig. 14 – Tronco com sintomas de ataque de adultos

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7.6. PRINCIPAIS DOENÇAS DO CACAUEIRO E MEDIDAS DE CONTROLE

a) Vassoura-de-Bruxa (Moniliophthora perniciosa)

O agente causador da vassoura de bruxa é o fungo basidiomiceto de nome

científico Moniliophthora perniciosa. Este fungo ataca os tecidos meristemáticos do

hospedeiro em crescimento, causando os mais variados sintomas a depender do tipo de

infecção, natureza, idade e estágio fisiológico do tecido atacado.

Provoca inchações (hipertrofias) dos ramos, acompanhadas de intensa

brotação das gemas laterais, cujos sintomas assemelham-se a uma vassoura. Os ramos

infectados são, geralmente, de diâmetro maior que os ramos sadios, com entrenós curtos

e folhas grandes, curvadas e retorcidas (Figs. 15 e 16). Podem ocorrer também na

superfície dos ramos infectados, hipertrofias que posteriormente necrosam e são

denominadas “cancros”.

As almofadas florais infectadas transformam-se num agrupamento de flores

anormais, hipertrofiadas, de pedicelo alongado e inchado, dando origem a frutos

partenocárpicos, deformadas que morrem prematuramente (Fig. 17). Nas almofadas

florais infectadas podem também desenvolver vassouras semelhantes às que ocorrem

nos lançamentos. As flores infectadas após a necrose ficam aderidas ao tronco por

algum tempo.

Fig. 15 – Vassoura de ramo

(verde) Fig. 16 – Vassoura de ramo

(seca)

Fig. 17 – Vassouras de

almofadas

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Os frutos infectados exibem vários tipos de sintomas a depender do método

de infecção e da idade no momento da infecção. Distinguem-se dois tipos de infecção:

indireta, através das flores infectadas, e direta, por esporos através do epicarpo.

A primeira origina frutos globosos, partenocárpicos, denominados “morangos”

os quais posteriormente morrem tornam-se negros e endurecidos. Frutos infectados ainda

jovens (um a dois meses) adquirem a forma alongada e paralisam seu crescimento com

15 centímetros aproximadamente, e são denominados “cenouras”, os quais também

morrem e tornam-se negros e endurecidos.

Frutos infectados em estágios mais desenvolvidos (dois a três meses),

apresentam, quando adultos, uma mancha negra, geralmente deprimida e dura, de

forma geralmente circular (Fig. 18). Internamente estes frutos apresentam as amêndoas

apodrecidas e aderidas entre si (Fig. 19). Frutos infectados na fase adulta (5 a 6 meses), os

sintomas ficam limitados à superfície das casca, não comprometendo as amêndoas.

O controle da vassoura-de-bruxa faz parte de uma série de práticas normais

das roças cacaueiras, práticas estas que constitui o “manejo integrado da lavoura” que

reúne de forma compatível, as práticas agrícolas necessárias para a recuperação e

manutenção dos cacauais. Este sistema integrado de práticas (tratos fitossanitários e

culturais), com ênfase para o controle da vassoura-de-bruxa de forma sistematizada,

possibilita a convivência em bases econômicas da cacauicultura com esta doença,

promovendo o aumento da produtividade com a conseqüente melhoria da renda da

propriedade cacaueira.

A poda normal do cacaueiro é prática realizada todos os anos e consiste na

eliminação de galhos indesejáveis, promovendo o raleamento e rebaixamento de copas

compactadas. Em regiões de alta incidência de vassoura-de-bruxa, a “poda

fitossanitária” é realizada em conjunto com a poda normal do cacaueiro. Esta prática

Fig. 18 – Frutos com sintomas externos de

vassoura-de-bruxa

Fig. 19 - Frutos com sintomas internos de

vassoura-de-bruxa

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consiste na remoção das vassouras, almofadas florais infectadas e frutos infectados, além

da eliminação dos ramos com intenso ataque da doença.

A drasticidade da poda fitossanitária depende da severidade da doença. Em

plantações onde a remoção das vassouras é feita desde o início do plantio e durante

todos os anos, o nível da doença permanece baixo, não havendo necessidade de

podas drásticas. Porém, em plantações com manejo deficiente e ou abandonadas por

vários anos, o nível de incidência é elevado e neste caso há necessidade de podas

severas, o que causa um efeito depressivo na produção nos dois primeiros anos após a

poda de recuperação.

Na nossa região, o período mais adequado para a realização da poda

fitossanitária é durante os meses de Agosto e Setembro, ocasião em que são removidas

as vassouras verdes e secas, os frutos doentes e mumificados e os ramos intensamente

atacados. As vassouras de almofadas devem ser removidas com um pouco da casca do

cacaueiro, tendo-se o cuidado de não atingir o lenho (Fig. 20). As vassouras vegetativas

ou de ramas, devem ser removidas através de corte na distância de 25cm (cerca de um

palmo) do ponto de infecção.

Todo o material infectado removido deve permanecer no solo dentro das

plantações, após serem picotados para permitir o acamamento na liteira, possibilitando

a degradação mais rápida pelos microorganismos do solo.

Repasse – Esta prática é efetuada durante os meses de Novembro ou

Dezembro, para a retirada de vassouras que escaparam à atenção do trabalhador por

ocasião da remoção principal ou novas vassouras que apareceram após as brotações

do cacaueiro devido as primeiras chuvas do período.

A aplicação de fungicidas não deve ser uma prática isolada, mas uma

prática complementar à poda fitossanitária, pois além de ajudar no controle da

vassoura-de-bruxa, controla outras doenças, a exemplo da podridão parda, além de

combater o limo que, no período chuvoso cresce na superfície do tronco do cacaueiro

prejudicando a emissão de flores e causando queda da produção.

Fig. 20 - Remoção de almofada floral infectada de

vassoura-de-bruxa

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Recomenda-se realizar cinco pulverizações anuais na época de floração e

bilração, nos meses de Dezembro, Janeiro, Fevereiro, Março e Abril. O fungicida

recomendado é o Cobre sandoz (óxido cuproso a 50% de ingrediente ativo), na

dosagem de 6 kg do produto comercial por hectare, em cada aplicação. Deve-se

adicionar um adesivo espalhante na dosagem de 1ml por litro de calda.

A necessidade de aplicar fungicidas não é a mesma para todas as

plantações de cacau. Em geral, plantações bem manejadas onde o controle da

vassoura-de-bruxa é feito sistematicamente todos os anos, as condições fitossanitárias

são boas, dispensando a aplicação de fungicidas.

b) Podridão parda (Phytophthora palmivora)

Esta doença é de ocorrência generalizada em todos os continentes

produtores de cacau, causando perdas da produção mundial em torno de 10%. Na

Amazônia brasileira, estudos realizados em plantações de cacau estabelecidas nas terras

firmes, mostram que Phytophthora palmivora é o principal agente causador da doença,

cujas perdas da produção variam de região para região. No Estado do Pará, em

plantações de cacau das regiões da Transamazônica, Tomé-Açu, além de outras, foram

constatadas perdas em torno de 30 a 40% da produção , contrariamente ao verificado

nas plantações do Estado de Rondônia, onde as perdas têm sido insignificantes.

O fungo pode ser encontrado em qualquer parte do cacaual: no solo, no

casqueiro, e em qualquer parte da árvore infectada, sendo o inóculo disseminado pela

chuva, insetos, ventos e pelo homem.

Sintomas:

Nos frutos - a infecção pode ocorrer em qualquer estágio de

desenvolvimento e em qualquer parte da superfície. O primeiro sintoma pode ser visto 30

horas após a infecção, caracterizando-se pela presença de pequenas manchas

escurecidas na superfície da casca (Fig. 21). Se a umidade é alta, a lesão expande e

produz esporângios esbranquiçados na superfície. Em frutos novos (bilros) os sintomas

comuns são: manchas e enrugamento e posterior escurecimento, podendo ser

facilmente confundido com murcha fisiológica. Quando frutos já desenvolvidos são

infectados, as amêndoas podem ser parcialmente ou totalmente aproveitadas.

Page 34: Cacau

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Fig. 21 – Frutos atacados de podridão

parda.

No tronco – A doença se desenvolve no tronco como resultado da

disseminação do micélio do fungo a partir de frutos infectados, atingindo o pedúnculo e

interior das almofadas, onde por meio de ferimentos da casca pode atingir o câmbio.

Em plantações mal manejadas e com alta incidência de podridão parda é

comum a ocorrência no tronco de manchas escurecidas de forma geralmente

arredondadas na superfície da casca, sintomas do cancro (Fig. 22).

Em estágio mais avançado, o cancro caracteriza-se pela exudação de fluido

avermelhado através da casca. Ao remover a casca constata-se o tecido infectado

apresentando uma coloração marrom. Às vezes esta infecção aprofunda-se no lenho,

podendo matar a planta.

Fig. 22 - Câncro provocado pelo ataque de Phytophthora spp.

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Nas mudas em viveiros - Em viveiros, durante o período chuvoso, é comum o

aparecimento de mudas de cacau apresentando queima das folhas seguido de

tombamento e morte das plântulas, sintomas estes característicos do ataque de

Phytophthora sp.

Controle:

Práticas culturais: remoção de todos os frutos infectados existentes nas

árvores, fazendo-se amontoa dos mesmos, prática esta realizada nos meses de Setembro

ou Outubro, na época da poda fitossanitária para o controle da vassoura-de-bruxa e no

período de máxima frutificação, meses de Janeiro a Maio, deve-se fazer a colheita dos

frutos infectados, para evitar a contaminação dos demais frutos.

Caso haja excesso de umidade e excesso de sombra na plantação, deve-se

fazer drenagem e raleamento das árvores de sombra, criando condições desfavoráveis

para o desenvolvimento da doença.

Aplicação de fungicidas: Recomenda-se quatro pulverizações mensais nos

meses de maior frutificação, meses de Janeiro, Fevereiro, Março e Abril, com fungicidas

cúpricos (Cobre Sandoz a 50% de ingrediente ativo), na dosagem de 400 gramas do

produto para 10 litros de água. No caso das plantações da Amazônia, não há

necessidade de realizar esta prática, uma vez que o controle químico realizado para o

controle da vassoura-de-bruxa, serve também para controlar a podridão parda.

8. CACAUEIROS EM SISTEMAS AGROFLORESTAIS

Os sistemas agroflorestais então relacionados com a eficiência de utilização

do espaço vertical, devido a presença de espécies de diferentes portes e a

potencialização para otimizar a captura de energia solar e com a simulação de modelos

ecológicos encontrados na natureza em relação a estrutura, formas de vida e

conservação do meio ambiente. Assim, como ocorre em uma floresta natural, os sistemas

agroflorestais estabelecem mecanismos de proteção contra a compactação, lixiviação

e erosão do solo, como também propicia uma eficiente ciclagem de nutrientes,

guardadas as devidas proporções de diversidade.

As principais interações dos sistemas agroflorestais com os recursos ambientais

referem-se ao microclima e ao solo, e à maneira como os componentes devem ser

arranjados, de forma a não competirem seriamente pelos mesmos recursos do meio,

muito embora os sistemas agroflorestais não sejam um simples arranjo espacial ou

temporal de espécies e sim, formas de uso e manejo dos recursos naturais.

Page 36: Cacau

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O cultivo de espécies associadas ou combinadas em fileiras, faixas, renques

ou alamedas alternadas, denominadas de sistema “Alley – Cropping”, é um modelo

específico dentro do universo agroflorestal, e foi idealizado como alternativa para conter

a agricultura itinerante. Porém, muitos fatores podem interferir na performance de um

“Alley – Cropping”: a escolha das espécies (arbóreas e não arbóreas), a largura das

fileiras ou faixas, a produção de biomassa, o número de ciclos das colheitas, a época e

freqüência das podas, o preparo do solo, a fertilização e a dinâmica das plantas

daninhas no local. Para atender os agricultores esse sistema está condicionado, também,

além de sua adequação estrutural e ambiental, ao valor dos seus componentes, que

devem ser de elevada expressão econômica e a sua capacidade de complementação

ecológica. O objetivo maior da agrosilvicultura é maximizar as interações positivas, tanto

entre os componentes como em relação ao meio físico.

A lavoura do cacaueira deve ser vista como um sistema agroflorestal, onde os

modelos, o manejo do cultivo e da sombra oferecem maior sustentabilidade social,

econômica e ambiental. Não obstante, ressente-se de mais informações sobre as

interações biológicas no ambiente agroflorestal, arranjos espaciais, densidade de

sombra, silvicultura que permita melhorar a qualidade da madeira, e o uso de novas

espécies madeireiras, frutíferas e para outros propósitos úteis para cada região, sem se

perder a perspectiva de mercado dos produtos, já que este condiciona e em muitos

casos determina a sustentabilidade econômica do sistema agroflorestal com cacaueiros.

As plantações diversificadas de cacau podem parecer um bosque natural e

são capazes de proteger o solo, conservar a água e manter uma alta diversidade, e

ainda também oferecer outros serviços como o seqüestro de carbono (5 t/ha/ano) sem

ter que prescindir de uma produção agrícola. Ademais, é necessário quantificar os

serviços que prestam uma plantação de cacaueiros em sistemas agroflorestais para

incrementar ganhos aos produtores.

Os sistemas agroflorestais, com o cacaueiro, apresentados a seguir, resultam

de ações de pesquisas realizadas nos últimos anos, bem como de experiências bem

sucedidas desenvolvidas por agricultores em diversas regiões na Amazônia:

a) Sistema Seqüencial com Pimenta-do-Reino

Trata-se do sistema praticado por produtores de pimenta-do-reino (Piper

nigrum) na região Nordeste do Estado do Pará, no Município de Tomé-Açu. Este sistema

surgiu em conseqüência do aparecimento da enfermidade conhecida como fusariose,

causada pelo fungo Fusarium solani f.sp. piperis, que a partir de 1957 começou a dizimar

as plantações de pimenta-do-reino.

Quando as pimenteiras começam a apresentar os primeiros sintomas da

doença, substituía-se, gradualmente, a plantação decadente por outros cultivos

Page 37: Cacau

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permanentes ou semi-permanentes, como cacau, café, seringueira, guaraná, mamão,

maracujá e outros. Neste sistema, tanto os cacaueiros quanto os demais componentes

da comunidade vegetal, atingem a fase produtiva sem que sejam necessárias

adubações adicionais, em virtude de se beneficiarem dos pesados esquemas de

fertilização dado às pimenteiras.

O plantio da pimenta-do-reino está sendo realizado pelos produtores nos

seguintes espaçamentos: 2,0 x 2,0 x 3,0 m ; 1,8 x 2,0 x 4,0 m ; 2,5 x 2,5 m ou 2,0 x 2,0 m,

prevendo-se, futuras associações com outros cultivos, e até mesmo fazendo-se o plantio

de espécies arbóreas e frutíferas no mesmo momento do plantio da pimenta-do-reino.

Para o cacau, neste sistema se usa o espaçamento de 4,0 x 5,0 m ; 4,0 x 4,0 m e de 5,0 x

5,0 m, dependendo do espaçamento inicial utilizado com a pimenta-do-reino.

Atualmente, alguns produtores de Tomé-Açu(PA) já estão fazendo o plantio

da pimenta-do-reino em conjunto com espécies árboreas e outros cultivos e estão

obtendo sucesso. Um dos esquemas mais comuns, dentre outros, é o seguinte:

b) Sistema agroflorestal de cacau e seringueira

A seringueira (Hevea brasiliensis), é em geral plantada no espaçamento de

7,0 x 3,0m, deixando-se suficiente espaço entre suas fileiras durante os primeiros 2 ou 3

anos, para o cultivo de plantas de ciclo curto e também com outros cultivos perenes,

especialmente aquelas tolerantes à sombra, a exemplo do cacau, do café, da pimenta-

do-reino e do guaraná.

O plantio de cacau sob seringueira tem sido considerado inviável em muitas

regiões, em virtude do excessivo sombreamento exercido pela seringueira. Na região

cacaueira da Bahia, onde a seringueira é atacada pela doença “mal-das-folhas”

Pimenta do reino - 2,0 x 2,0 x 3,0 m; Cacaueiro - 4,0 x 5,0 m; e

Seringueira - 5,0 x 8,0 m.

Page 38: Cacau

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(Microcyclus ulei), proporcionando, portanto, menos sombra, devido a redução da área

foliar da seringueira o que permite a passagem de radiação solar suficiente para o bom

desenvolvimento do cacaueiro. O sistema da seringueira com o cacau é atualmente

utilizado em aproximadamente 5.000 hectares, na região do Sul do Estado da Bahia,

utilizando-se o espaçamento normal de 7,0 x 3,0m para a seringueira. O sistema mais

usado consiste em plantar as mudas de cacaueiros em fileiras simples (476 plantas/ha) ou

duplas (952 plantas/ha) nos espaços entre as fileiras de seringueiras.

Caso o produtor da Região Amazônica decida adotar este sistema, deverá

seguir as seguintes indicações:

Condições do seringal:

- O seringal, sob o qual o cacaueiro será implantado, deverá estar em fase de

pré-corte e corte (produção) com baixo índice de enfolhamento;

- Preferencialmente, deverão ser utilizados seringais implantados em solos de

fertilidade média a alta, em áreas ecologicamente adequadas para o cacaueiro.

Métodos:

- cacaueiros em filas simples:

Fila única de cacaueiros, espaçados de 3,0m, entre si, no centro das

entrelinhas de seringueiras plantadas a 7,0 x 3,0m.

- cacaueiros em filas duplas:

Duas fileiras de cacaueiros plantados a 3,0 x 3,0m, nas entrelinhas de

seringueira espaçadas de 7,0 x 3,0m.

S – Seringueira

C – Cacaueiro 2 m 2 m 3 m

S S CC

7 m

S – Seringueira

C – Cacaueiro

7 m

S S C 3,5 m

Page 39: Cacau

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No Estado de Rondônia, um dos sistemas mais promissores baseia-se no

plantio da seringueira, na forma tradicional, utilizando-se mudas enxertadas (Clones IAN

6323, IAN 717, Fx 3810 e Fx 3864), no espaçamento de 3,0 x 6,0 m, em filas duplas. O

cacaueiro é estabelecido em duas fileiras, no espaçamento de 3,0 x 3,5 m, nas

entrelinhas da seringueira. Visando o sombreamento provisório do cacaueiro,

recomenda-se o cultivo da bananeira no espaçamento de 3,0 x 3,5 m. Os plantios das

culturas de seringueira e bananeira deverão ser efetuados no primeiro ano de

implantação do sistema, enquanto o cacaueiro será plantado no segundo ano. No

primeiro ano poderão ser implantadas culturas anuais nas entrelinhas das plantas

perenes.

c) Sistema cacau x pupunha x freijó-louro

O sistema constitui-se do plantio de cacaueiros, no espaçamento de 2,5 x 3,0

m, alternados com filas de pupunheiras, no espaçamento de 1,0 x 2,0 m. Entre o renque

triplo de pupunheiras e as linhas de cacaueiros será mantida a distância de 2,0 m.

O sombreamento provisório do cacaueiro será a bananeira, implantada no

espaçamento de 2,5 x 3,0 m, na mesma fila dos cacaueiros. O sombreamento definitivo

do cacaueiro será constituído por plantas de freijó louro (Cordia alliodora) estabelecidas

no espaçamento de 10,0 x 12,0 m, totalizando 99 plantas/ha.

Este modelo tem uma densidade populacional de 1.143 cacaueiros/ha e de 870

pupunheiras/ha.

As pupunheiras serão cultivadas com vistas a exploração de palmito e

recomenda-se a utilização de variedades sem espinho, para facilitar o manejo cultural.

d) Sistema de cacau x coco x gliricídia

O coqueiro (Cocus nucífera), se adapta a diferentes situações

edafoclimáticas, desde que lhe forneça um mínimo de 1800 mm de água por ano. A

6,0 m 6,0 m 3,5 m

3,5 m

3,5 m

3,0 m

Seringueira

Cacaueiro

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seleção de variedades para o plantio é feita em função do destino que se quer dar a

produção. Se a pretensão é produzir coco para demanda de agroindústria e uso

doméstico, recomenda-se o cultivo do coqueiro gigante e híbrido, devido ao maior

tamanho dos frutos e maior espessura da polpa. Para produção dos frutos, visando o

consumo de água (coco verde), indica-se o coqueiro-anão, devido ao sabor mais

agradável e por ser rejeitado como fruto seco, em razão de seu pequeno tamanho e

menor espessura da polpa. O potencial de produtividade das variedades gigante, anã e

híbrido é de 60 a 80; 100 a 120 e 120 a 150 frutos/ planta/ano, respectivamente.

O plantio do cacau sob coqueiros (Cocos nucífera) produtivos é o sistema,

ultimamente que acumula o maior acervo de informações.

O cultivo do cacau sob a sombra de coqueirais adultos, na Malásia,

apresenta uma produtividade de aproximadamente 1.120 kg/ha de amêndoas secas de

cacau, sem que a produção de coco entre em declínio.

Os coqueiros, previamente estabelecidos a uma distância de 8 a 9m entre

plantas, são geralmente associados, em cada entrelinha, a uma fileira dupla de cacau,

eqüidistante das palmeiras e sob o espaçamento de 3m entre fileiras e de

aproximadamente 2 metros entre cacaueiros no interior das fileiras.

De modo geral, os resultados obtidos com essa combinação de culturas tem

sugerido aumentos de produtividade dos coqueiros e um ótimo grau de compatibilidade

agronômica.

Um sistema de cacau x coco x gliricídia que poderá ser viável, com base na

adaptação de resultados de pesquisa realizadas em outras regiões e em observações de

campo, em Rondônia e Alta Floresta – MT, deverá ser constituído de filas duplas de

cacaueiros, no espaçamento de 3,0 x 3,0 m, estabelecidas entre filas de coqueiros no

espaçamento de 9,0 x 9,0 m . O modelo terá uma densidade populacional de 680

cacaueiros/ha e de 123 coqueiros/ha . A variedade recomendada será a coco-anã.

A bananeira, como sombreamento provisório do cacaueiro, será

estabelecida na mesma fila do cacaueiro, obedecendo o espaçamento de 3,0 x 3,0 m.

A gliricídia (Gliricidia sepium) será utilizada para assegurar a proteção contra o excesso

de luz no cacaueiro, até que exista sombra suficiente fornecida pelos coqueiros e,

também, para aporte de biomassa através de podas periódicas e deposição do material

como cobertura morta. O espaçamento indicado é de 3,0 x 3,0 m, estabelecido apenas

nas linhas dos coqueiros, em um único sentido, totalizando 267 plantas / ha.

e) Sistema de cacau e mogno

No Brasil, historicamente, na sua fase produtiva, o cacaueiro é cultivado em

associação com espécies leguminosas que não apresentam interesse econômico,

procedendo apenas a fixação biológica do nitrogênio. A utilização do cacaueiro em

Page 41: Cacau

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sistemas agroflorestais abre possibilidades de formação de comunidades diversificadas

que contemplam este interesse.

O mogno (Swietenia macrophylla King), é a mais valiosa espécie madeireira

da Amazônia, entre as mais de 300 espécies que são exploradas na região. Sua madeira

é valorizada por sua cor atrativa, densibilidade, estabilidade dimensional e facilidade de

ser manuseada em carpintaria.

Neste sistema, o cacaueiro é implantado normalmente no espaçamento de

3,0 x 3,0 m, e o sombreamento provisório de bananeira, também, no mesmo

espaçamento. O sombreamento definitivo deve ser implantado com mudas de mogno,

somente quando os cacaueiros tiverem de 2 a 3 anos de idade. O mogno quando

associado ao cacaueiro já implantado, apresenta desenvolvimento vegetativo normal,

sendo que a praga Hypsiphyla grandella, que é a mais importante e limitante para o seu

cultivo, principalmente na Região Amazônica, não tem prejudicado de forma

acentuada o seu crescimento e desenvolvimento.

O espaçamento que deverá ser utilizado pelo mogno é de 15,0 x 15,0m ou

18,0 x 18,0 m. Em acompanhamentos realizados sobre o crescimento e desenvolvimento

vegetativo do mogno, verificou-se que o ritmo de crescimento em altura total nos

primeiros 16 anos correspondeu a 79,95%, sendo que o diâmetro teve maior crescimento

no período de 15 aos 21 anos. A produção média aos 21 anos de idade foi de 1,34

m3/árvore, e a lavoura de cacau com produtividade média de 880 kg/ha/ano.

f) Enriquecimento de cacauais safreiros

Muitas espécies arbóreas sem expressão econômicas são utilizadas como

sombreamento de cacaueiros com o objetivo de criar um ambiente favorável ao

desenvolvimento do cultivo. Por esta razão são chamados de “espécies de serviço”,

diferenciando-se daquelas espécies que se introduz com o objetivo de produzir algo

como: madeira, frutas, lenha etc. Por outro lado, há espécies que oferecem serviços e

produtos chamados “multifuncionais”.

Na Amazônia brasileira, parte das áreas cultivadas com cacaueiros está

associada à espécies arbóreas sem valor econômico ou seja, “espécies de serviço”, que

não proporcionam rendas adicionais e/ou potenciais ao produtor. Algumas áreas

encontram-se desprovidas de associações com espécies, seja de serviço ou de

produção, provocando um aumento da demanda de mão de obra e de outros insumos

(adubos, pesticidas etc.). Daí, surge a necessidade de se introduzir espécies madeireiras

e/ou frutíferas de valor econômico, com características de multifuncionalidade em

plantações de cacaueiros safreiros, a fim de transformá-las em sistemas agroflorestais

mais produtivos, para melhorar a sustentabilidade econômica, ecológica e social.

Page 42: Cacau

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COLEÇÃO CURSOS FRUTAL AMAZÔNIA Cultivo, padronização e processamento industrial do cacau na Amazônia

Para o estabelecimento de um sistema de enriquecimento de cacauais

safreiros com espécies arbóreas multifuncionais, há de se conhecer a sua tolerância à

luz, para se definir o grau de poda de abertura das copas dos quatro cacaueiros

adjacentes a cada muda plantada no centro dos mesmos. O espaçamento deverá ser

de acordo com o diâmetro de copa da espécie quando adulta. Em geral, para espécies

madeireiras Amazônicas, recomenda-se os espaçamentos de 15,0 x 15,0 m e de 18,0 x 18,0

m, com cacaueiros em 3,0 x 3,0 m.

Num estudo de enriquecimento com o mogno (Swietenia macrophylla, King),

o grau de poda de abertura de copa dos cacaueiros, que proporcionou maior

velocidade de crescimento do mogno foi de 30 a 40%, com baixo nível de infestação da

broca Hypsiphyla grandella, ultrapassando aos 36 meses o dossel dos cacaueiros.

g) Sistemas de cacau e outras espécies arbóreas.

Outras espécies de grande porte têm sido testadas ou simplesmente sugeridas

como potencialmente adequadas para formar sistemas agroflorestais com o cacaueiro.

Além das diversas espécies produtoras de madeira de qualidade superior,

várias árvores de interesse econômico são freqüentemente sugeridas (Quadro 5).

Quadro 5 - Algumas espécies arbóreas potencialmente adequadas para formar sistemas

agroflorestais com o cacaueiro

ESPÉCIE NOME COMUM PRODUTOS

Carapa guianensis Andiroba madeira e óleo medicinal

Tectona grandis Teça Madeira

Plathymenia foliolosa Vinhático madeira e tanino

Cordia alliodora Louro madeira

Dalbergia nigra Jacarandá-da-bahia madeira

Swietenia macrophylla Mogno madeira

Jessenia spp. Patauá óleo comestível

Euterpe oleraceae Açaí fruto e palmito

Copaifera sp. Copaíba óleo med./combustível

Cariocar villosun Piquiá madeira e fruto

Artocarpus altilis Fruta-pão fruto

A. heterophyllus Jaca madeira e fruto

Durio zibethinus Durião fruto

Attalea funifera Piaçava fibra e amêndoa

Bertholletia excelsa Castanha-do-pará madeira e noz

Toona ciliata Cedro australiano madeira

Schyzolobium amazonicum Bandarra (Paricá) madeira

Cordia spp. Freijó madeira

Tabebuia serratifolia Ipê madeira

Dipterix adorata Cumaru madeira e semente

Page 43: Cacau

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9. COLHEITA E PÓS-COLHEITA

Miguel Guilherme Martins Pina

9.1. PADRÃO DE QUALIDADE

As sementes de cacau fermentadas e secas são matérias-prima destinadas

principalmente ao mercado externo, sendo utilizada pelos manufatores de chocolate na

fabricação de vários produtos, dentre os quais, o cacau em pó e o chocolate. Na

comercialização, a preocupação maior dos importadores é a qualidade da matéria-

prima, que deve apresentar determinado padrão para que possa satisfazer ao mercado

consumidor e também a legislação. Dessa forma é necessária a presença nas

amêndoas, de algumas características básicas para que haja melhor aceitação e

permanência de mercados.

A Amazônia brasileira, além de ser uma grande produtora em potencial, é

uma região que poderia estar sendo beneficiada pela produção e exportação de

cacau com um alto padrão de qualidade, haja vista que as características intrínsecas do

cacau amazônico atendem perfeitamente às exigências das indústrias chocolateiras

internacionais, e como é notória, a produção de um ótimo chocolate está diretamente

associada a um cacau de ótima qualidade.

Fatores edafoclimáticos, manejo e beneficiamento podem promover

variações intrínsecas nas características físico-químicas das sementes, produzindo

divergências na qualidade do produto comercial. O cacau produzido na Amazônia

apresenta algumas dessas características desejáveis na comercialização do produto,

dentre as quais se destacam o peso médio do grão em torno de 1g, o teor de gordura no

“nib” superior a 56% e a acidez livre total, com média, situada próxima da faixa de 12 a

15 meq.NaOH.100-1 de cotilédones.

O padrão de qualidade das amêndoas é dependente do processo de

beneficiamento primário do cacau, composto pelas etapas de colheita, quebra,

fermentação e secagem.

O cacau brasileiro apresenta defeitos específicos de acordo com a região produtora. Na

Bahia o cheiro de fumaça é considerado como o principal fator de desclassificação. Na

Amazônia, o defeito mais freqüente é o elevado nível de mofo e umidade. Outros

defeitos que prejudicam a qualidade são a presença de sementes ardósias e

germinadas.

O problema do mofo é devido à falta de eficiência na secagem e/ou

armazenamento e os altos índices de umidade estão associados aos baixos preços

praticados no mercado interno. Na tentativa de compensar esta situação, os produtores

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não beneficiam de forma correta o cacau, para com isso, obter maior peso e

conseqüentemente uma maior receita. A presença de ardósias é decorrente da não

fermentação das sementes.

9.2. BENEFICIAMENTO PRIMÁRIO

Processo composto por 4 etapas básicas: colheita, quebra, fermentação e

secagem.

� Cada uma destas etapas contribui de forma definitiva na formação das

características extrínsecas do cacau, as quais, junto às características

intrínsecas, determinam a qualidade final do produto.

� Quando conduzidas adequadamente se tem a garantia da obtenção

de cacau de qualidade, a um custo mínimo, com potencial para ser

transformado em produto final nobre de sabor agradável e característico

– o chocolate.

� As etapas de fermentação e secagem são responsáveis pelo processo

de cura das sementes de cacau, nas quais ocorrem o desenvolvimento e

a manutenção dos fatores que concorrem para a formação da cor,

sabor e aroma do chocolate.

� Por conseguinte, a determinação do padrão de qualidade do cacau

depende do processo de beneficiamento.

OBJETIVOS PRINCIPAIS

� Obtenção de um produto de qualidade comercial superior (Tipo I –

Amazônia) constituído de amêndoas fermentadas, secas, com umidade

máxima de 8 %, livre de impurezas, ausência de odores estranhos e com boa

apresentação externa. Porém, admitindo tolerância de alguns defeitos.

� Preparar o produto para a comercialização e garantir a preservação de

suas características qualitativas, dentro dos padrões requeridos pelos

fabricantes.

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FLUXOGRAMA DO PROCESSO

9.2.1- COLHEITA

� Etapa inicial do processo, quando bem conduzida contribui para que

haja boa fermentação. Frutos maduros/amarelos (fig. 23) possuem

quantidade adequada de açucares.

� A freqüência é variável, depende principalmente da época do ano

(clima) e do uso a ser dado aos subprodutos do cacau. Nos meses de

junho a agosto, épocas de maior concentração de frutos, a colheita

numa mesma roça deverá ser repetida no mais tardar a cada três

semanas.

� Utilizar o podão (fig. 24) como instrumento de colheita, procedendo ao

corte do pedúnculo/talo de cima para baixo (fig. 25), evitando causar

ferimento na almofada floral e nos galhos do tronco da planta. Os frutos

devem ser reunidos em montes/bandeira (fig. 26) para quebra, ou

transportá-los para centrais de beneficiamento de fruto.

� Frutos verdes ou verdoengos não devem ser colhidos, pois suas sementes

têm menor peso e baixos teores de açúcares fermentescíveis, os quais

prejudicam a qualidade do produto (fermentam mal ficando os

cotilédones compactos e de cor violácea). Propiciam o grave defeito

"sementes violetas", que originam sabor amargo, adstringente e elevada

acidez.

COLHEITA

QUEBRA

SECAGEM

- CAIXAS - CESTAS

- BARCAÇA - SECADOR

FRUTOS MADUROS

- NA ROÇA

- EM INSTALAÇÕES

ARMAZENAMENTO

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� Quadro de rendimento de sementes secas dos frutos de cacau conforme

o estado de maturação:

100 Kg de sementes

frescas

Peso de sementes

secas (kg)

Perda verificada

(%)

Frutos maduros 40 -

Frutos verdoengos 36 10

Frutos verdes 32 20

Fonte: CEPLAC / CEPEC – Seção de Tecnologia de Pós-colheita.

� Além dos frutos maduros, devem também ser retirados das árvores:

� Frutos sobre-maduros: propiciam o defeito “sementes germinadas”

(desclassifica para exportação); não fermentam convenientemente;

perdem aroma e gosto além da perda de peso

� Frutos atacados por insetos: danos às sementes

� Frutos doentes: conferem gosto estranho ao chocolate

Fig. 23 - ARVORE COM FRUTOS MADUROS Fig. 24 – PODÃO

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Fig. 25 – COLHEITA COM PODÃO Fig. 26 – BANDEIRA DE FRUTOS

9.3. QUEBRA

� Período pós-colheita de frutos: máximo de 5 dias.

� Utilizar cutelo (fig. 27) - facão modificado não amolado - para quebra

dos frutos, cuidado para não danificar as sementes.

� A quebra é realizada na roça, de forma centralizada, ou fora das

plantações. Quando do aproveitamento da polpa, a quebra é realizada

na central de beneficiamento de frutos.

� O golpe dado com o cutelo deve apenas atingir a casca (fig. 28-A),

partindo-a em duas e expondo as sementes, que após serem

desprendidas da placenta (fig. 28-B) são depositadas em caixas de

madeira (fig. 29-A) ou baldes de plástico.

� Não misturar frutos com diferentes períodos pós - colheita para quebra,

assim como sementes resultantes de quebras realizadas em dias

diferentes. Ambas causam fermentação desuniforme, prejudicando a

qualidade. Se após a quebra dos frutos a massa permanecer no campo

Objetivos:

- redução da umidade da polpa

- degradação de açúcares

aceleram a fermentação

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por determinado tempo, este deverá ser contabilizado para o processo

fermentativo.

� A massa de sementes (fig. 30-A) deve ser pura, ou seja, isenta de

sementes germinadas (fig. 31-A) e chochas (fig. 31-B), de placenta, de

casca do fruto, de folha, etc.

� As cascas quando não aproveitadas para outro fim, devem ser

distribuídas (lançadas) na roça, pois constituem foco de doença.

� Dois homens/dia quebram, em média, de 10 a 15 caixas (de 45 Kg) de

massa de cacau.

Fig. 27 – CUTELO Fig. 28 – QUEBRA (A) E REMOÇÃO (B)

A

B

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Fig. 29 – CAIXAS DE MADEIRA: QUEBRA (A) E FERMENTAÇÃO (B)

Fig. 30 – MASSA DE SEMENTES (A) E COBERTA COM FOLHAS DE BANANA (B)

A

B A

B

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Fig. 31 – SEMENTES GERMINADAS (A) E CHOCHAS (B)

9.4. FERMENTAÇÃO

� Diagrama simplificado das mudanças que ocorrem durante o processo

fermentativo das sementes.

SEMENTES ÚMIDAS (monte, caixa ou cesta)

|

NO INÍCIO DO PROCESSO (↓ O2, ↑ açúcar, ↓ pH)

|

DEGREDAÇÃO DA POLPA E DRENAGEM DE LÍQUIDOS (fermentação Açúcar Polpa / produção álcool / ↑ temperatura)

|

NO TRANSCORRER DO PROCESSO; COM OS REVOLVIMENTOS (↑ O2, ↓ açúcar, ↑ ácido acético)

|

NOVO AUMENTO DA TEMPERATURA (oxidação do etanol à ácido acético)

|

MORTE DAS SEMENTES (perda do poder germinativo e difusão de subst. fenólicas)

|

DESTRUIÇÃO DAS ANTOCIANINAS (pigmentos de cor violeta)

|

A B

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FORMAÇÃO DE SUBSTÂNCIAS QUÍMICAS (desenvolvimento dos precursores do sabor e aroma)

TECNOLOGIA DA FERMENTAÇÃO

� Caixas/cochos de madeira (fig. 29-B)

� confeccionados com material que não possua odores

� dimensões de cada compartimento:

Cochos (metros)

Cochos pequenos áreas com até 10 ha

Cochos grandes áreas maiores que 10 há

Largura 0,60 1,20

Altura 0,60 1,00 Comprimento * Variável Variável

Capacidade (Kg) 160 900

* de acordo com o volume de produção

� Localização dos cochos

� Os cochos deverão ser mantidos em área apropriada com drenos,

coberta e protegida do vento (fig. 32).

� Abastecimento do cocho

� abastecer cocho grande até altura de 0,90 m e cocho pequeno até altura

de 0,50 m

� cobrir a massa com folhas de bananeira (fig. 30-B) ou sacos de aniagem

(evitar perda de calor e ressecamento das amêndoas da superfície)

� Revolvimento da Massa

� utilizar pás de madeira (fig. 33) – cavada ou plana - para proceder o

revolvimento

� revolver com rapidez para evitar perda de calor

1° revolvimento – 24 h após a entrada da massa no cocho

2° revolvimento – 48 h após o primeiro revolvimento 3° revolvimento em diante - a cada 24 h, até o final do processo

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� Período de fermentação - critérios

� tempo pré - determinado:

� massa com menos de 200 kg de sementes frescas fermentam,

normalmente, em menor tempo - cerca de 4 a 5 dias.

� Características do processo:

� o cheiro da massa no início exala odor de álcool, após 3º ou 4º dia passa a

exalar odor de vinagre;

� ocorre a redução da temperatura (que normalmente atinge máximas

entre 45 a 50 °C) a partir do 2º ao 3º dia;

� o inchamento das sementes (fig. 34);

� a exsudação de líquido marrom (fig. 35);

� a cor externa da casca da semente de branco leitosa a rosada (fig. 36-A),

passa para marrom intenso (fig. 36-B) no final do processo;

� pelo corte longitudinal da amêndoa observamos a formação de um anel

(fig. 37), de 1 a 2 mm, de tonalidade mais forte próximo à casca (50

sementes em l00 devem apresentá-lo) e de reentrâncias (galerias) na

superfície cortada.

- período seco (pouca mucilagem): 5 dias com 3 revolvimentos

- período chuvoso (maior quantidade de mucilagem): 6 dias com 4 revolvimentos

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Fig. 32 – CASA DE FERMENTAÇÃO

Fig. 33 – PÁS DE MADEIRA Fig. 34 – SEMENTE INCHADA

Fig. 35 – EXUDAÇÃO DE LÍQUIDO Fig. 36 – COLORAÇÃO DA SEMENTE

CAVADA

PLANA

A

B

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Fig. 37 – ANEL DE COLORAÇÃO ESCURA – PERIFÉRICO

� Características do produto:

� fermentado – amêndoas com coloração interna marrom suave (fig. 38-A;

38-B) e reentrâncias, pouca acidez e produz chocolate com sabor e

aroma característicos.

� fermentação incompleta - amêndoas com coloração interna violeta (fig.

38-C), acidez elevada e produz chocolate com sabor e aroma fracos,

amargo e ácido

� não fermentado - é classificado como ardósia (fig. 38-D), apresenta

amêndoas compactas de coloração cinza - escuro e produz chocolate de

aspecto visual semelhante, de sabor amargo e adstringente; sem aroma

característico

� fermentação excessiva (além de 7 dias) - resulta em amêndoas de

coloração castanho - escura, com cheiro de amônia ou odor

desagradável de material em putrefação; produz chocolate com cheiro e

sabor estranhos, não característico do produto

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Fig. 38 – AMÊNDOA: FERMENTADA (A e B), MAL FERMENTADA / VIOLETA (C), NÃO

FERMENTADA/ARDOSIA (D)

9.5. SECAGEM

� Finalidades:

� Reduzir a umidade de aproximadamente 50% para 7 a 8%:

� Proporcionar a continuidade e término das transformações químicas (cura)

que se iniciaram no processo fermentativo.

� Principais eventos:

� perda de umidade

� polifenoloxidases oxidam substâncias fenólicas, o que dá origem à cor

castanha característica

� redução da acidez das amêndoas

acima de 8% - contaminação por mofos

abaixo de 5% - sementes quebradiças

A C

B D

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� O processo de secagem requer instalações de alto custo, o que

demanda em escolha criteriosa do tamanho, fonte disponível de energia

e possibilidade de expansão.

� Sistema de secagem:

� Natural: barcaça (fig. 39), balcão (fig. 39), estufa solar (fig. 40) e lona (fig.

41).

� Artificial: secador burareiro (fig. 42)

� Mista: ex.: barcaça + secador burareiro

Fig. 39 – SECAGEM NATURAL / BARCAÇA E BALCÃO

BARCAÇA

BALCÃO

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Fig. 40 – SECAGEM NATURAL / ESTUFA SOLAR

Fig. 41 – SECAGEM NATURAL / LONA PLÁSTICA

Fig. 42 – SECAGEM ARTIFICIAL / SECADOR BURAREIRO

CAMALHÃO

LASTRO

FORNALHA

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Secagem Natural

Secagem Artificial

É realizada através da ação direta dos raios solares. Neste processo utilizam-se barcaças onde a massa de cacau fermentada é espalhada no lastro, auxiliado

por rodos (fig. 43), com o intuito de expor as amêndoas à radiação solar nas mais diversas posições, proporcionando a perda de umidade de maneira uniforme.

Barcaça: para pequena, média e grande produção

- tamanho padrão: 3 x 6, 5 x 10, 8 x 8 e 6 x 12 m;

- carga mole/m2: 25 a 40 Kg de cacau fermentado;

- capacidade anual: 150 a 240 Kg de cacau seco/m2;

- tempo de secagem: 7 a 12 dias (a partir do 12º dia, mofo interno).

Balcão de madeira: para pequena produção

- difere da barcaça por apresentar cobertura fixa e um ou mais lastros móveis.

Estufa solar: para pequena produção

- é a mais recomendada devido ao menor investimento inicial e pouca mão-de-obra, importante quando da utilização do trabalho familiar.

- lastro: varia de acordo com a produção, porém a largura não deve ultrapassar 2 metros dificulta o revolvimento;

- carga mole/m2: 45 a 65 Kg de cacau fermentado;

- capacidade anual: 300 a 450 Kg de cacau seco/m2;

- tempo de secagem: 7 a 10 dias (1 a 2 dias a menos que na barcaça);

- capacidade de secagem: 1,5 vezes maior que da barcaça.

A utilização de secadores tendo como fonte de calor a queima de lenha, gás,

diesel etc., é uma necessidade do agricultor. Esta forma de secagem é fundamental quando condições adversas de clima coincidem com o pico de

colheita. É recomendável que antes de colocar a massa no secador se proceda a secagem de pelo menos um dia, para dar continuidade ao processo de cura e

eliminação parcial da umidade. O tipo de secador utilizado é de acordo com o tamanho e as características da propriedade.

A secagem artificial requer cuidados especiais, pois a temperatura deve subir lentamente mantendo-se por todo período de secagem que se completa em

torno de 30 horas. Temperaturas altas e bruscas torram as amêndoas tornando-as quebradiças, prejudicando assim a qualidade do cacau. A secagem rápida,

mesmo que não chegue a torrar as amêndoas, poderá acarretar a perda acelerada de umidade da periferia, deixando a parte interior úmida, sujeita ao

aparecimento do mofo interno.

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Secagem Mista

Fig. 43 – RODOS DE MADEIRA

Secador burareiro com fornalha de ferro: para pequena produção

- dimensões: 2 x 2 m

- temperatura máxima do ar de secagem: 55°C

- revolvimento manual: a cada 2 horas

- alimentação da fornalha: a cada 1 hora

- carga/m2: 100 Kg de cacau fermentado

- capacidade anual: 53,8 Kg de cacau seco / m2

- tempo de secagem: 30 a 32 horas.

Sistema que utiliza a combinação dos dois processos de secagem; inicialmente, as amêndoas são submetidas ao processo natural (ex.: barcaça) por um período de

dois a três dias, posteriormente é submetido ao processo artificial (ex.: secador burareiro), por um período de 15 a 20 horas.

MEIA LUA

DENTADO

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TECNOLOGIA DA SECAGEM

NATURAL

ARTIFICIAL

- espalhar a massa de cacau recém fermentada sobre o lastro com 3 a 6 cm de espessura;

- nos primeiros dias revolver freqüentemente de 30 em 30 min.;

- formar camalhões (fig. 41) com a massa de cacau - faixas do lastro descobertas - para acelerar o processo, evitando o mofo externo;

- à noite, nos primeiros dias, juntar as amêndoas em montes para reduzir a superfície de exposição das amêndoas em contato com o ar, evitando-se a proliferação do mofo branco externo;

- a prática do pisoteio, para limpar e polir amêndoas, pode ser executada no final da secagem, com umidade entre 12 e 15%.

- espalhar a massa de cacau recém fermentada sobre o lastro com 10 a 15

cm de espessura; - a temperatura deve subir lentamente sem ultrapassar 55ºC, mantendo-se

por todo período de secagem que se completa em torno de 30 horas.

- revolver de 2 em 2 horas;

- à noite juntar as amêndoas em monte para reduzir a superfície de exposição ao ar, evitando-se a proliferação do mofo branco externo;

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10. ARMAZENAMENTO

� Proteção: chuva, excesso de temperatura, umidade, insetos, roedores,

etc.

� Conservação da qualidade: integridade do produto beneficiado.

� Características do armazenamento:

I. Ambiente:

II. Teor de umidade:

III. Infra estrutura (fig. 44):

- para equilíbrio: ar ± 75%

sementes 7 a 8%

- em outras condições o cacau pode adquirir ou perder umidade

- para conservar o cacau seco por mais tempo é recomendável usar

uma cobertura plástica sobre os sacos, para evitar a reabsorção da umidade ambiental e/ou embalar o cacau beneficiado em sacos

plásticos e posteriormente ensacar em sacos de juta ou similar.

- limpo, arejado, livre de insetos e roedores

- fora da ação de qualquer fumaça

- deve ser construído em local seco; as fundações devem ser sólidas e com camada impermeabilizante e ter o eixo maior orientado no sentido nascente -

poente; - dispor de janelas de arejamento voltadas para a direção dos ventos predominantes e protegidas com telas (metal) de malha fina para evitar entrada de insetos e roedores;

- as janelas de arejamento deverão estar sempre abertas em dias ensolarados, no período de 9 às 16 horas. Durante a noite deverão ser mantidas fechadas, bem como nos períodos chuvosos diurnos.

- para manipulação a granel, com vistas a posterior ensacamento do produto,

o armazém deve ter um a dois cantos revestidos com madeira ocupando de 15 a 20% do piso e as paredes adjacentes até 1,5 a 2,0 metros de altura,

também forradas com madeira; - o empilhamento de sacos (fig. 45) no piso de cimento deve ser feito sobre

estrados de madeira.

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COLEÇÃO CURSOS FRUTAL AMAZÔNIA Cultivo, padronização e processamento industrial do cacau na Amazônia

Fig. 44 – ARMAZÉM OU DEPÓSITO

Fig. 45 – EMPILHAMENTO DE SACOS

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11. PADRONIZAÇÃO DO CACAU EM AMÊNDOAS

� As normas que especificam os padrões para amêndoas de cacau são

regulamentadas pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

- MAPA.

� A Instrução Normativa Nº 38 de 23 de Junho de 2008, publicada no Diário

da União de 30/06/2008, Seção 1, Página 3, estabelece o Regulamento

Técnico da Amêndoa de Cacau, definindo o seu padrão oficial de

classificação, com os requisitos de identidade e qualidade, a

amostragem, o modo de apresentação e a marcação ou rotulagem.

♦ Quanto às Especificações da Padronização:

Tabela 01 – Amêndoa de cacau – Tolerância de defeitos, expressa em % / peso e

respectivo enquadramento do produto.

D e f e i t o s

Tipo Mofadas Fumaça Danificadas por insetos

Ardósia Germinadas

Achatadas

Tipo 1 De zero até

4,0% De zero até 1,0%

De zero até 4,0%

De zero até 5,0%

De zero até 5,0%

De zero até 5,0%

Tipo 2 Acima de 4,0% até 6,0%

Acima de 1,0% até 4,0%

Acima de 4,0% até 6,0%

Acima de 5,0% até 10,0%

Acima de 5,0% até 6,0%

Acima de 5,0% até 6,0%

Tipo 3 Acima de 6,0% até 12,0%

Acima de 4,0% até 6,0%

Acima de 6,0% até 8,0%

Acima de 10,0% até 15,0%

Acima de 6,0% até 7,0%

Acima de 6,0% até 7,0%

Fora de Tipo

Acima de 12,0% até 25,0%

Acima de 6,0%

Acima de 8,0%

Acima de 15,0%

Acima de 7,0%

Acima de 7,0%

O limite máximo de tolerância admitido para matérias estranhas é de 0,3%;

para impurezas é de 1,0% e para amêndoas quebradas é de 5,0%; acima desses

respectivos limites, o produto deverá ser rebeneficiado, desdobrado, recomposto ou

mesclado.

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A amêndoa de cacau enquadrada como fora de Tipo deverá ser

rebeneficiada, desdobrada, recomposta ou mesclada para efeito para efeito de

enquadramento em tipo.

A amêndoa de cacau enquadrada como fora de Tipo por exceder o limite

de 25,0% de mofadas deverá ser rebeneficiada, desdobrada, recomposta ou mesclada

para efeito para efeito de enquadramento em tipo; acima desse limite, será enquadrada

como desclassificada, não podendo entrar no país ou ser comercializada.

Será desclassificada e terá a sua comercialização proibida a amêndoa de

cacau que apresentar uma ou mais das características indicadas a seguir:

- mau estado de conservação, dentre os quais:

a) percentual de amêndoas de cacau mofadas superior a 25%;

b) b) odor estranho de qualquer natureza, impróprio ao produto, que

inviabilize a sua utilização para o uso proposto e

c) c) presença de sementes tóxicas na amostra, na carga ou no lote

amostrado.

A umidade deverá ser obrigatoriamente determinada, mas será considerada

para efeito de enquadramento do produto em Tipo, sendo recomendado para fins de

comercialização da amêndoa de cacau o percentual máximo de 8,00% para os Tipos 1 e

2; e 9,00% para o Tipo 3 e Fora de Tipo.

♦ Quanto às Definições:

Características:

- amêndoas de cacau: amêndoas provenientes da espécie Theobroma cacao L.

- amêndoas fermentadas (fig. 38-A): as amêndoas que, entre a colheita e a secagem, passaram por um

processo de fermentação.

- amêndoas secas: aquelas que apresentam teor de umidade dentro do limite recomendado no Regulamento Técnico.

- fora de tipo: o produto que ultrapassar o limite máximo de tolerância de defeitos estabelecido para o tipo 3,

na tabela 1, do Regulamento Técnico.

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Defeitos:

• Matérias, partículas e substâncias estranhas:

– achatadas ou chochas (fig. 31-B): as amêndoas que apresentam ausência de cotilédones ou que são tão finas

que não permitem o corte.

– ardósia (fig. 38-D): as amêndoas não fermentadas, de coloração cinzento-escura (cor de ardósia) ou roxa, com embrião branco ou marfim e que podem se apresentar

compactas.

– danificadas por insetos: as amêndoas que apresentam avariadas, em razão de ataques de insetos, visíveis a olho nu, em qualquer de seus estágios evolutivos.

– fumaça: o aroma percebido nas amêndoas de cacau com características de defumado ou de presunto.

– germinadas (fig. 31-A): as amêndoas que apresentem a casca furada pelo desenvolvimento do embrião.

– impurezas: todas as partículas oriundas do cacau, tais como restos de polpa, fragmentos da placenta ou cordão

central e de casca de fruto, entre outros.

– matérias estranhas: todas as partículas não oriundas do cacau, tais como fragmentos vegetais, sementes de outras espécies, pedra, terra, entre outras.

– mofadas: as amêndoas que apresentam, internamente, desenvolvimento miceliar de fungos visíveis a olho nu.

– quebradas: as amêndoas que se apresentam partidas ou fragmentadas.

– umidade: é o percentual de água encontrado na amostra do produto isenta de matérias estranhas e impurezas, determinado por um método oficial ou por aparelho que dê resultado equivalente.

– violeta (fig. 38-C): a amêndoa de coloração violeta ou púrpura brilhante, que pode se apresentar compacta,

oriunda de fruto colhido imaturo ou resultante do processo de fermentação insuficiente.

Page 66: Cacau

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♦ Quanto ao Certificado: � Todo cacau em amêndoa (Fig. 46) destinado à exportação deverá estar

amparado por Certificado de Classificação, obrigatório por ocasião do

desembaraço aduaneiro.

� No Documento de Classificação deverão constar o carimbo, o nome do

classificador e o seu número de registro no MAPA.

♦ Quanto a Embalagem e Marcação:

• A amêndoa de cacau poderá apresentar-se a granel, ensacadas ou

embaladas.

� As especificações quanto à confecção e a capacidade das embalagens

devem estar de acordo com a legislação específica vigente.

� As especificações de qualidade do produto referente à marcação ou

rotulagem deverão estar em consonância com o respectivo Documento

de Classificação.

� A marcação ou rotulagem deve ser de fácil visualização e de difícil

remoção, assegurando informações corretas, claras, precisas, ostensivas e

em língua portuguesa.

– matérias macroscópicas: aquelas estranhas ao produto, que podem ser detectadas por observação direta (olho nu), sem auxílio de instrumentos ópticos e que estão relacionadas ao risco à saúde humana, segundo legislação específica vigente.

– matérias microscópicas: aquelas estranhas ao produto, que podem ser detectadas com auxilio de instrumentos ópticos de instrumentos ópticos e que estão relacionadas ao risco à saúde humana,

segundo legislação específica vigente.

– partícula com toxidade desconhecida: as partículas estranhas, amêndoas ou partes destas, diferentes de sua condição natural, com suspeita de toxidade.

– substâncias nocivas à saúde: substâncias ou agentes estranhos de origem biológica, química ou física, que sejam nocivas à saúde, tais

como as micotoxinas, os resíduos de produtos fitossanitários ou outros contaminantes, previstos em legislação específica vigente,

não sendo assim considerados aqueles cujo valor se verifica dentro dos limites máximos previstos.

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Fig. 46 – CACAU EM AMÊNDOAS

12. INDUSTRIALIZAÇÃO

12.1. INTRODUÇÃO

Embora não se tenha conhecimento ao certo da origem do cacau, sabemos

que ele já era consumido no século 16 pelos astecas e maias antes de ser levado para a

Europa. Os astecas também costumavam usar grãos de cacau como dinheiro e apenas

os nobres bebiam o "tchocolalt", uma mistura de grãos de cacau e mel, considerada

uma bebida afrodisíaca e sagrada. Em 1502, quando a esquadra de Cristóvão Colombo

chegou à Ilha de Guanaja, os nativos astecas deram uma taça da bebida ao viajante,

que foi um dos primeiros europeus a provar o sabor do chocolate. Mais tarde, no século

18, o botânico sueco Carlos Linnaeus batizou o chocolate de "Theobroma", que em

grego quer dizer alimento dos deuses. Por volta de 1700, a novidade chegou à França e

Inglaterra, ganhou a adição de leite e se espalhou pelo mundo. E 65 anos depois,

conquistou a indústria com o começo de sua produção nos Estados Unidos. No Brasil, o

cultivo de cacau teve o seu início no século 19 em Ilhéus, na Bahia.

O chocolate é obtido de uma mistura entre o cacau, açúcar e leite. No

entanto, a sua fabricação começa bem antes, quando as frutas do cacau são

quebradas para a retirada de suas sementes amargas, a base do chocolate. A

transformação do chocolate no doce que conhecemos só irá acontecer mais tarde,

Page 68: Cacau

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depois das sementes do cacau passarem por vários processos industriais, como a

transformação da matéria-prima, adição do leite, do açúcar e a sua moldagem nos

tabletes vendidos nos supermercados.

12.2. CADEIA PRODUTIVA DO CACAU

12.2.1. CULTIVO

É realizado por pequenos produtores, assalariados e grandes fazendeiros de

várias partes do mundo. É cultivado em países da África Ocidental, como Costa do

Marfim, Gana e República dos Camarões; da América Latina, como Brasil, Colômbia e

México e do Sudeste da Ásia, como Indonésia e Malásia. Nesta etapa o cacau é

cultivado, fermentado e seco.

12.2.2. MOAGEM

É realizada principalmente nos Estados Unidos, Europa (Alemanha e Holanda)

e no Brasil.

O cacau seco é transformado, ou seja, passa por processo que inclui a torrefação,

moagem e filtração.

Page 69: Cacau

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COLEÇÃO CURSOS FRUTAL AMAZÔNIA Cultivo, padronização e processamento industrial do cacau na Amazônia

O processo industrial basicamente se resume na moagem das amêndoas,

existindo previamente a limpeza, torrefação e o descasque das mesmas. Nos diversos

moinhos e fases de refinação o cacau ganha o sabor tão conhecido e característico do

produto final, isto é, do chocolate. Estando o cacau na forma líquida, dele são derivados:

A – LÍQUOR, MASSA OU PASTA - que representa a entrada do Cacau moído e

refinado em túnel de resfriamento, quando então é canalizado para embalagem em

blocos ou quebrados em forma de “flocos”;

B – MANTEIGA NATURAL DE CACAU - representa o subproduto gorduroso,

obtido pela prensagem do cacau moído e refinado, apresentando-se na cor branca e

destinando-se à preparação de vários tipos de chocolate, notadamente o tipo “branco”;

C – TORTA DE CACAU - representa o resíduo resultante da prensagem do

cacau moído e refinado, podendo destinar-se à exportação em forma integral “cocoa

cake” ou quebrado em flocos ou torta de flocos. Nestes termos a prensagem do cacau

moído e refinado dá origem tanto à “manteiga natural de cacau” quanto à “torta de

cacau”;

D – PÓ DE CACAU - representa a moagem das tortas de cacau obtidas

anteriormente no processo de prensagem e separação da gordura, e destina-se à

obtenção do pó de cacau ou chocolate em pó, tão difundido e consumido em forma

de chocolate instantâneo ou, ainda, para confeitos.

12.2.3. FABRICAÇÃO

O processo industrial de preparo do chocolate compreende fases de

refinamento, adição de açúcar natural ou artificial, leite, mistura dos subprodutos,

conservantes e, em alguns casos, adição de frutas.

De modo geral e através de vários processos tecnológicos, o cacau em

forma de chocolate é consumido em todo o mundo sob as seguintes características:

1 - Tabletes 7 – Bombons

2 – Pó 8 – Biscoitos

3 - Coberturas 9 – Sorvetes

4 - Bebidas 10 – Doces

5 - Confeitos 11 - Alimentos Solúveis

6 – Balas 12 – Outros

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COLEÇÃO CURSOS FRUTAL AMAZÔNIA Cultivo, padronização e processamento industrial do cacau na Amazônia

Os subprodutos do cacau também são aplicados nas indústrias

farmacêuticas e de cosméticos, onde os cremes, batons, óleos, sabões e outros produtos,

recebem a participação do cacau em suas composições.

No sentido de total aproveitamento do cacau, surgiram os seguintes derivados:

A– RAÇÃO PARA ANIMAIS - derivada das cascas das sementes de cacau,

pelo secamento de uma membrana gelatinosa que envolve as amêndoas do cacau e

rica em “teobromina”;

B – ADUBOS, COMBUSTÍVEIS, TANINOS SOLÚVEIS E BIOFERTILIZANTE – obtidos

também através das cascas das sementes do cacau;

C – GELÉIAS, DOCES, BEBIDAS (sucos e refrescos), PECTINAS, ÁCIDO CÍTRICO,

ÁLCOOL, VINAGRE E DIVERSOS AÇÚCARES – extraídos a partir do suco da polpa de

cacau, denominado “mel do cacau”.

12.3. FABRICAÇÃO DO CHOCOLATE

12.3.1. O PROCESSO

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COLEÇÃO CURSOS FRUTAL AMAZÔNIA Cultivo, padronização e processamento industrial do cacau na Amazônia

1- AMÊNDOA DO CACAU: a confecção do chocolate tem o seu início nas

fazendas de cacau. Lá as sementes dos frutos são retiradas. Elas são as matérias-primas

do produto. Cada fruto possui em média 35 sementes, com alto teor de gordura e água.

Depois de fermentadas, elas precisam secar ao sol durante sete dias.

2- TORREFAÇÃO: as amêndoas secas são levadas à fábrica e passam pela

máquina de torrefação. Através do processo de aquecimento é retirado o excesso de

umidade, que contribui para o desenvolvimento da cor, aroma e sabor de chocolate.

3- TRITURAÇÃO: as amêndoas são resfriadas e encaminhadas para o

triturador, que ao fracionar as amêndoas, proporciona a remoção da casca (fig. 47).

Fig. 47 – Casca e Nibs de cacau

4- MOAGEM: Depois de trituradas as amêndoas são moídas, obtendo-se a

massa (fig. 48).

Fig. 48 – Massa ou Líquor de cacau

5- PRENSAGEM: a massa passa pela máquina da prensagem, que separa o

ingrediente em dois produtos: o primeiro é a manteiga de cacau (fig. 49) que será

reintroduzida na próxima etapa. A segunda é a torta de cacau. Parte dela é dissolvida e

misturada ao açúcar para se fazer o chocolate em pó. A outra porção é resfriada e

quebrada em tabletes, usados posteriormente na fabricação do chocolate.

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Fig. 49 – Manteiga e Pó de cacau

6- MALAXAÇÃO: grandes misturadores homogeneízam e transformam a

mistura em uma pasta. Na produção do chocolate preto, a torta e a manteiga de cacau

recebem açúcar e leite, formando a massa de chocolate tradicional. Já o meio amargo

leva todos os elementos, menos o leite. E o branco é feito apenas com manteiga de

cacau, açúcar e leite.

7- REFINO: todos os chocolates passam pelos cilindros de refinação, onde

reduzem as partículas de cacau e de açúcar para que o chocolate fique macio. É isso

que deixa a textura do doce melhor e sua consistência mais mole. Nesse processo se

determina a qualidade do chocolate.

8- CONCHAGEM: aparelhos mantêm a massa em movimento, retirando a

acidez e umidade do chocolate; proporcionando o desenvolvimento do aroma e sabor

de chocolate. Depois ele segue para outro instrumento com o objetivo de fazer o doce

passar por diversas trocas de temperatura (Temperagem). Nele, cristaliza-se a manteiga

de cacau e deixa a pasta na consistência ideal para ser moldada.

9- MOLDAGEM: a pasta de chocolate é colocada em fôrmas para que

adquira o aspecto desejado. Nas barras crocantes são adicionados recheios de

castanhas, de amêndoas ou flocos de arroz antes de encherem as fôrmas. Elas são

posicionadas em esteiras, submetidas à vibração que eliminam bolhas de ar no interior

da massa. Depois as fôrmas passam por um túnel de resfriamento para que os tabletes

adquiram a consistência sólida. Após desmoldados, os tabletes seguem em esteiras para

o acondicionamento automático.

12.3.2. COMPOSIÇÕES DO CHOCOLATE

O chocolate contém em média meio a meio de chocolate e açúcar. E uma

porcentagem menor de manteiga de cacau.

Page 73: Cacau

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COLEÇÃO CURSOS FRUTAL AMAZÔNIA Cultivo, padronização e processamento industrial do cacau na Amazônia

O chocolate branco possui um sabor particular, diferindo do escuro na

composição: é feito com manteiga de cacau, leite em pó e essência de baunilha.

O cacau elaborado resulta em: manteiga de cacau, cacau ou chocolate

em pó e chocolate em barra. Cada tipo de chocolate apresenta porcentagens

diferentes de açúcar:

� Chocolate ao leite: 60%

� Chocolate branco: 59,4%

� Chocolate meio amargo: 51,4%

12.3.3. ALGUNS TIPOS DE CHOCOLATE

Chocolate ao leite: massa de cacau, manteiga de cacau, açúcar e leite em

pó.

Chocolate amargo: massa de cacau e manteiga de cacau. É mais escuro

que os outros, e tem sabor amargo.

Chocolate meio amargo: massa de cacau, manteiga de cacau e açúcar.

Chocolate branco: manteiga de cacau, açúcar e leite em pó.

Chocolate colorido: manteiga de cacau, açúcar, leite em pó e corantes

especiais.

Chocolate diet de leite: massa de cacau, manteiga de cacau, leite em pó,

sorbitol e sacarina, (para substituir o açúcar), e vanilina.

Chocolate diet branco: manteiga de cacau, leite em pó, sorbitol, sacarina e

vanilina.

Chocolate em pó: massa de cacau ralada, destituída da manteiga de

cacau.

Chocolate para cobertura: alto índice de manteiga de cacau.

OBS.: Os chocolates dietéticos não contêm açúcar, mas mesmo assim, têm

grande quantidade de gorduras, e o adoçante sorbitol possui um alto índice calórico.

Page 74: Cacau

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13. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

ALMEIDA, C.M.V.C. de et al. Sistemas Agroflorestais como alternativa auto-sustentável para o Estado de Rondônia. I. Histórico, aspectos agronômicos e perspectivas de mercado. Porto Velho: PLANAFLORO/PNUD, 1995. 59p. ALMEIDA, L.C. de, ANDEBRHAN, T. Recuperação de plantações de cacau com alta incidência de vassoura-de-bruxa na Amazônia brasileira. Agrotrópica, v.1, n.2, p. 133-136, 1989. ÁLVARES-AFONSO, F.M. O cacau na Amazônia. Ilhéus: Centro de Pesquisas do Cacau. Boletim Técnico n. 66. 36 p, 1979 ALVIM, P. de T. Cacao. In: ALVIM, P. de T., KOZLOWSKI, T.T. Ecophysiology of cacao crops. New York: Academic Press, 1977. 279-313p. ALVIM, P. de T. Agricultura apropriada para uso contínuo dos solos na Região Amazônica. Espaço, Ambiente e Planejamento, 2 ( 11 ) : 1 – 72, 1990. ALVIM, R. O cacaueiro (Theobroma cacao L.) em sistemas agrossilviculturais. Agrotrópica, v.1, n.2, p. 89-103, 1989. CAMPOS, A.X. Resposta de plântulas de cacau à aplicação de zinco. Informe Técnico, CEPLAC/DEPEA. p.86-87, 1981. CAMPOS, A.X. Efeitos de fontes de nutrientes e matéria orgânica na formação de mudas de cacau em Latossol da Amazônia. Informe Técnico, CEPLAC/CEPEC. p.338-339, 1982. CAMPOS, A.X. Efeitos de dosagens crescentes de carbonatos de magnésio no crescimento do cacaueiro na casa de vegetação. Informe Técnico, CEPLAC/CEPEC. p.336-338, 1982. CAMPOS, A.X., MORAIS, F.I. de, PEREIRA, G.C. Efeito de fertilizantes no crescimento e produção do cacaueiro. Informe Técnico, CEPLAC/CEPEC. p.336, 1982. DIAS, J.C. Influência do tamanho do fermentador e da época no tempo de fermentação e acidez do cacau. Belém: CEPLAC/SUPOR. Boletim Técnico, n. 16. 18p, 1998. DIAS, J. C. Avaliação de sistemas de fermentação de cacau (Theobroma cacao L.) nas condições do pólo cacaueiro da Transamazônica. Belém: CEPLAC/SUPOR. Boletim Técnico n. 17. 23p, 1999. GARCIA, J. de J. da S., MENDES, A. C. de B. Controle químico de Steirastoma breve (Sulzer) (Coleoptera, Cerambycidae), broca do cacaueiro na Amazônia brasileira. Revista Theobroma, v.14, n.1, p. 69-71, 1984. GARCIA, J. de J. da S., MORAIS, F. I. de O.; ALMEIDA, L. C.; DIAS, J. C. Sistema de produção do cacaueiro na Amazônia brasileira. Belém: CEPLAC/DEPEA. 118p, 1985. MENDES, A. C. de B. et al. Danos de Conotrachelus humeropictus Fiedler, 1940 (Coleoptera Curculionidae): nova praga do (Theobroma cacao L.) na Amazônia brasileira. Anais da Sociedade Entomológica do Brasil. 17 (Supl.): 19-28. 1988. MENDES, A. C. de B.; GARCIA, J. de J. da S.; ROSÁRIO, A. F. da S. Insetos nocivos ao cacaueiro na Amazônia brasileira. Belém: CEPLAC/DEPEA. Comunicado Técnico Especial, nº1, 1979. 34p.

Page 75: Cacau

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COLEÇÃO CURSOS FRUTAL AMAZÔNIA Cultivo, padronização e processamento industrial do cacau na Amazônia

MENDES, A. C. de B.; GARCIA, J. de J. da S. Pragas dos cacauais da Amazônia brasileira. Belém: CEPLAC/DEPEA. (Apostila). 55p, 1983.. MENDES, A. C. de B.; GARCIA, J. de J. da S. Biologia do besouro do cacau Steirastoma breve (Coleoptera, Cerambycidae). Revista Theobroma, v.14, n.1, p. 61-68, 1984. MENDES, A. C. de B.; GARCIA, J. de J. da S. Problemas entomológicos da cacauicultura na Amazônia brasileira. In: Simpósio do Úmido, 1º, Belém-PA, 1984. MULLER, M.W; GOMES, A.R.S. O cacaueiro (Theobroma cacao L.) em sistemas agroflorestais: pesquisas em andamento na Amazônia Ocidental. In: Simpósio sobre sistemas agroflorestais na Amazônia, 1988, Porto Velho. Anais ... Porto Velho: CEPLAC/SUPOC. 1988. p. 14-18. SANTOS, A. O. da S.; SANTOS, M. M. dos; SCERNE, R. M. C. Cultivo do cacaueiro na Amazônia brasileira. Belém, PA., CEPLAC/DEPEA/COPES, 1980. 56p. (Comunicado Técnico Especial , 3). SCERNE, R. M. C.; SANTOS, M. M. Aspectos agroclimáticos do município de Medicilândia, PA. Belém, CEPLAC/SUPOR. Boletim Técnico no 11, 32p. 1994. SCERNE, R. M. C.; CARVALHO, C. J. R. Climatologia e ecofisiologia do cacau. Belém, CEPLAC/DEPEA/COPES. 56p. 1983. SILVA, I.C.; CARVALHO, C. J.R. de. O Sombreamento do cacaueiro (Theobroma cacao L.) na Amazônia Brasileira. In: Simpósio do Trópico Úmido, I., Belém, 1984. Anais ... Belém,EMBRAPA-CPATU, 1986. p. 443 –449, 1986. SILVA NETO, P. J. da. Controle de plantas daninhas em cacauais em formação na região da transamazônica, Pará. Agrotrópica 6:85-90. 1994. SILVA NETO, P. J. da S.; MATOS, P. G. G. de; MARTINS, A. C. de S.; SILVA, A. de P. Sistema de produção de cacau para a Amazônia brasileira. Belém, CEPLAC, 2001. 125p. SILVA NETO, P. J. da; MELO, A. C. G. de; COSTA, F. das C. de M. C. Avaliação do sistema agroflorestal cacaueiro (Theobroma cacao) e mogno (Swietenia macrophylla) em Medicilândia, PA. In: V CONGRESSO BRASILEIRO DE SISTEMAS AGROFLORESTAIS, 2004, Curitiba-PR. Anais do V Congresso Brasileiro de Sistemas Agroflorestais – SAFs: Desenvolvimento com Proteção Ambiental. Curitiba – PR: SBSAF, 2004, p. 434 – 436. THONG, K.C.; NG, W. L. Growth and nutriente composition of monocrop cocoa plants on inland Malaysia soils, preprint from the Internacional Conference on Cocoa & Coconut, Kuala Lumpur, Malaysia. 1978. TROCA DE INFORMAÇÕES SOBRE EMPRESAS MULTINACIONAIS. A fábrica mundial de chocolate. São Paulo. TIE. 1990. 50p.

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CCUURRRRÍÍCCUULLOO DDOO IINNSSTTRRUUTTOORR

Nome: PAULO JÚLIO DA SILVA NETO

Empresa / Instituição: CEPLAC

Cargo: FISCAL FEDERAL AGROPECUÁRIO

Endereço: TRAVESSA VILETA Nº: 2585

Bairro: MARCO Complemento: APTO. 1804

Cidade: BELÉM UF: PA CEP: 66.093-380

Telefone: 91 3266.1023 Fax: Cel: 91 9100.1676

E-mail: [email protected]

PRINCIPAIS PONTOS DO CURRICULUM VITAE

� Graduação em Engenharia Agronômica pela Universidade Federal Rural da

Amazônia (1979);

� Mestrado em Ciências Agrárias (Fisiologia Vegetal) pela Universidade Federal

de Viçosa (1987);

� Doutorado em Ciências Agrárias (Sistemas Agroflorestais) pela Universidade

Federal Rural da Amazônia (2005);

� Atualmente é Pesquisador e Fiscal Federal Agropecuário da Comissão

Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira, Professor do Instituto de Estudos

Superiores da Amazônia;

� Consultor Científico da Revista de Ciências Agrárias e faz parte do Conselho

Editorial da Revista do IESAM;

� Publicou vários artigos em periódicos especializados e trabalhos em anais de

eventos;

� Participou de vários eventos no Brasil como palestrante, conferencista,

membro de comissão técnico-científica e secretário de comissão

organizadora;

Page 77: Cacau

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COLEÇÃO CURSOS FRUTAL AMAZÔNIA Cultivo, padronização e processamento industrial do cacau na Amazônia

� Tem experiência na área de Agronomia, com ênfase em sistemas

agroflorestais, atuando principalmente nos seguintes temas: gestão de

agronegócios, cacau, planta daninha e fisiologia da produção vegetal.

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CCUURRRRÍÍCCUULLOO DDOO IINNSSTTRRUUTTOORR

Nome: MIGUEL GUILHERME MARTINS PINA

Empresa / Instituição: CEPLAC/SUPOR

Cargo: FISCAL FEDERAL AGROPECUÁRIO

Endereço: AV. AUGUSTO MONTENEGRO Nº: Km 07

Bairro: PARQUE VERDE Complemento:

Cidade: BELÉM UF: PARÁ CEP: 66635-110

Telefone: 91 3084.1810 Fax: 91 3084.1824 Cel: 91 8112.7603

E-mail: [email protected]

PRINCIPAIS PONTOS DO CURRICULUM VITAE

� Graduado em Engenhaia Agronômica pela Universidade Federal Rural da

Amazônia em 1982;

� Concluiu o curso de Mestrado em Tecnologia de Alimentos pela Universidade

Federal do Ceará em 1999;

� Funcionário Público do Ministério da Agricultura, atualmente exercendo o

cargo de Fiscal Federal Agropecuário, desenvolvendo suas atividades na

CEPLAC - Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira. Iniciou sua

carreira na CEPLAC no cargo de pesquisador em 1987, lotado na Estação de

Pesquisa em Medicilândia (Transamazônica);

� Em Belém realizou treinamento em tecnologia e pós-colheita de cacau em

1992, desde então atuando e se especializando nesta área com trabalhos

publicados. Exerceu a função de chefe nas Estações de Pesquisa em

Medicilândia e Marituba (PA);

� Ministrou aulas, como professor convidado, no Campus da UFPA em Altamira

e Marabá para a graduação em Licenciatura Plena em Ciências Agrárias nas

Turmas de 1997 a 2000.