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Cadê a água que estava aqui? ARTE: PAULA GAMA / FOTO: FELIPE RAU No Dia Mundial da Água, analisamos o desafio do abastecimento em grandes cidades do mundo e as iniciativas para enfrentar o problema PLANETA http://www.estadao.com.br/planeta Novos vilões Sistema atual de tratamento não detecta hormônios Pág. H9 Pantanal Construção de hidrelétricas ameaça ecossistema local Pág. H10 SUSTENTABILIDADE & MEIO AMBIENTE H1 SEGUNDA-FEIRA, 22 DE MARÇO DE 2010 O ESTADO DE S. PAULO

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Cadê aágua queestavaaqui?

ARTE: PAULA GAMA / FOTO: FELIPE RAU

No Dia Mundial da Água, analisamos o desafio do abastecimento em grandes cidades do mundo e as iniciativas para enfrentar o problema

PLANETAhttp://www.estadao.com.br/planeta

Novos vilõesSistema atual de tratamento não detecta hormônios Pág. H9

PantanalConstrução de hidrelétricas ameaça ecossistema localPág. H10

SUSTENTABILIDADE& MEIO AMBIENTE

%HermesFileInfo:H-1:20100322:H1 SEGUNDA-FEIRA, 22 DE MARÇO DE 2010 O ESTADO DE S. PAULO

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PLANETA Editor-chefe de Publicações: Ilan Kow Editor-executivo: Luiz Américo Camargo Editor: Sergio PompeuEditora-assistente: Mariana Della Barba Diretor de arte: Fabio Sales Edição de arte: Andrea PahimDiagramação: Maurício Rezende Reportagem: Alice Lobo, Fernanda Fava, Karina NinniTratamento de imagens: Alexandre Godinho, Carla Monfilier, Fernando Correa, Maurício Braga e Fabiano de Vito

APAIXONADO PELOSILÊNCIO DA MATA

Aos 9 anos, violeiro já sabia que queria passar seus dias pescando (e tocando) na região

Meu Santuário: Pantanal

Fernanda Fava /ESPECIAL PARA O ESTADO

O compositor Almir Sa-ter se considera um“guardião das águas

e das matas”. Divide a paixãopela viola com o amor peloPantanal. Na sua fazenda àbeira do Rio Negro, perto de

Aquidauana (MS), gosta de seaventurar pelas planícies habi-tadas por onças, capivaras, an-tas, queixadas e jararacas. “Osbichos vão ficando mansos coma gente. Tenho medo mesmo éde passar de madrugada pelaLinha Vermelha.”

A ligação de Almir, nasci-do em Campo Grande, com o

Pantanal vem de menino. Com9 anos, começou a passar as fé-rias de verão na fazenda de umamigo de seu pai. “Eu pensava:'Quero crescer e morar aqui'”,diz. “Sempre fui apaixonadopelo silêncio da mata, pelo somdos pássaros.”

A carreira artística levou Al-mir a se mudar para o Rio e

ALMIRSATERCANTORE COMPOSITOR

*CV: Vencedor de dois prê-mios Sharp, cantor e violeirotambém trabalhou como atorem novelas comoPantanale O Rei do Gado.

QUEM É

mais tarde para São Paulo. Masele aproveitava qualquer chancede rever o Pantanal, visitandoamigos e insistindo para quelhe vendessem um “lugar parater uma vaca leiteira”.

Enquanto não conseguiajuntar dinheiro para com-prar terras, Almir bolou, como compositor Paulo Simões,um pretexto para desbravar aregião.“Os antigos pantaneirosque conhecíamos estavam mui-to velhinhos. Dali a pouco iamtodos embora e não tínhamosnenhum registro deles. Aí falei para o Simões: "A gente podiafazer uma viagem para conhe-cer essa cultura.”

Nasceu assim a Comitiva Es-perança, em 1984. Aos dois sejuntaram o já falecido violinistaZé Gomes, ao jornalista ZuzaHomem de Mello e uma equipede filmagens para produzir umdocumentário. Em três meses,Almir e sua comitiva percorre-ram mais de mil quilômetrospelo Pantanal.

“Não tínhamos roteiro fixo,seguíamos de acordo com asinformações das pessoas, pro-curando cantadores e tocadoresonde estivessem.”

Casa nova. Em 1991, as econo-mias do compositor já eram su-ficientes para que ele realizasseo sonho de criança. Comproufinalmente uma propriedade, àsmargens da confluência do riosNegro e Corixo, a cerca de 130quilômetros da área urbana deAquidauana. De lá até a capitalCampo Grande são outros 140quilômetros

Mudou-se para a fazenda noPantanal com a mulher, PaulaSater. Os dois filhos do casal– Almir tem mais um filho deoutro casamento – nasceram nafazenda, e, até 1999, o local foiresidência fixa da família.

Por exigências da carreira e

pela necessidade de educaros meninos, o cantor agorapassa quatro meses por anona fazenda e o restante na ca-sa da família em São Paulo,em um condomínio na Serrada Cantareira (zona norte).

Quando está no Pantanal,Almir sai pilotando o seu ji-pe pela planície durante osmeses de seca. Na época dascheias, ele troca o veículo porum avião teco-teco.

Entre suas atividades favo-ritas está pescar no rio Negrocom vara de bambu e isca decoco: conhece o nome dospeixes e a época adequadapara pescar cada um. “São 20anos de experiência.”

Madeira sustentável. O fa-zendeiro Almir coordena acriação de gado, colhe frutado pomar, cria abelhas, fazmanejo sustentável da ma-deira. O cantor e fazendeirosvizinhos têm um acordo paraconter a pesca predatória e odesmatamento das margensde rios. Este ano, Almir querjuntar, com apoio da prefei-tura de Aquidauana, 80 pes-cadores no período de defesada pesca para limpar os rios,retirando o lixo da superfíciee nas margens.

Segundo Almir, quem vaiao Pantanal só para explo-rar recursos naturais não fi-ca muito tempo. “O próprioPantanal se defende, não étodo mundo que aguenta ocalor de 40 graus, onças, co-bras, mosquitos, além do fatode quase não ter estradas ede só ser possível chegar láde avião nos meses de cheia”,diz. “Se colocar na ponta dolápis, é um mau negócio: oPantanal é para quem sou-ber conservar, ter uma vidasimples em contato com anatureza.”

ARQUIVO PESSOAL

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PLANETAPELO MUNDO

Karina Ninni /ESPECIAL PARA O ESTADO

O consumo mundial de água está aumentando – mesmo em países onde a população crescepouco – e as reservas de água boaestão cada vez mais ameaçadaspelas atividades humanas. Esseé o diagnóstico de dez entre dezespecia listas.

“O aumento do consumo estáconectado ao crescimento eco-nômico dos países. Quanto maioro PIB, maior o consumo”, afirmaEduardo Mendiondo, do Depar-tamento de Hidráulica e Sanea-mento da Universidade Federalde São Carlos.

Mendiondo trabalha com umindicador chamado “pegada hi-drológica”, que mede o consumototal de água per capita ao ano – in-cluindo a água embutida nos pro-dutos que consumimos. Ele acabade fazer o cálculo para a realidadedo País: “A pegada hidrológica deum brasileiro médio é de 1.340 m³per capita ao ano. A de um norte-americano é de 2.500.”

O cálculo faz sentido já que, se-gundo dados da ONU, o consumoem países desenvolvidos é em mé-dia seis vezes maior do que nos pa-íses em desenvolvimento.

Hoje, mais de 1 bilhão de pesso-as não têm acesso a fontes confiá-

Vai faltarágua boapara oconsumo

Com excedentehídrico, Riosofre compoluição

veis de água no mundo.Em 2025, boa parte do planeta

estará em situação de stress hí-drico, ou seja: a água disponívelnão será suficiente para os dife-rentes usos que o homem faz dorecurso, como a agricultura, queé, de longe, a atividade que maisconsome água. Até lá, 3 bilhõesde pessoas sofrerão com escas-sez de água, segundo a ONU.

Saneamento. Na América La-tina e na África, a ameaça aindaé o lançamento de esgoto semtratamento nos rios. Isso incluio Brasil, onde apenas 48% doesgoto doméstico é tratado, deacordo com a Agência Nacionalde Águas (ANA).

No final do ano passado, du-rante a 1ª Conferência Nacionalde Saúde Ambiental, o gover-no lançou o Compromisso peloSaneamento Básico, que prevêo aumento de 80% do volumede esgotos tratados no País até2020, e de 45% no total da po-pulação atendida com coleta de esgoto.

À medida que a água doce dis-ponível sofre com a degradaçãopela poluição, cresce o desafiode garantir acesso ao recursopara a população. Isso porque,excluindo a água congelada dospolos, a água doce representaapenas 0,6% do total disponívelno planeta. Destes, 98% estãocontidas em aquíferos e apenas2% nos rios e lagos.

Esse cenário preocupante ganha mais atenção no dia dehoje, data escolhida pela ONUpara celebrar o Dia Mundial daÁgua.

Com o tema "Água Limpa para um Mundo Saudável”, ONU alerta para a contaminação no Dia Mundial da Água

LÁ E CÁ

• Os rios Poços, Queimadose Ipiranga jogam por dia 200milhões de litros de água poluídano Guandu

• Eles deságuam a 300 metrosda estação de tratamento

• As obras de canalização dessescanais custaram R$ 50 milhões

• Para a proteção da tomada deágua no Rio Guandu, ANA calculainvestimento R$ 217 milhões

pliara as estações de tratamento efazer obras de coleta e tratamentode esgoto”, afirmou o superinten-dente-adjunto da agência, SérgioAyrimoraes Soares.

O Guandu não é um rio cauda-loso. Ele cresce ao receber doisterços da água do Rio Paraíba doSul, que é desviado em Barra doPiraí. A água vira energia elétricanuma estação da Light e depoisalimenta o Guandu, responsávelpelo abastecimento 9 milhões depessoas de oito municípios.

A 300 metros da estação de tratamento da Companhia Es-tadual de Água e Esgoto (Cedae),três rios menores deságuam noGuandu – Poços, Queimado e Ipi-ranga. Esses rios têm cor escura,que demoram a se misturar à águabarrenta do Guandu. Vêm carre-gados de esgoto – cerca de 200milhões de litros por dia.

“E por azar, a tubulação que faza captação do Guandu carrega justamente essa água escura”, ex-plica o professor Paulo Canedo,coordenador do Laboratório deHidrologia da Coppe, pós-gra-duação de engenharia da Univer-sidade Federal do Rio de Janeiro.“O resultado é que é preciso cap-

tar muito mais água, para diluir asujeira, e gastar muito mais emprodutos químicos para purifi-cá-la.”

Segundo Canedo, a necessida-de que o Rio tem de transpor parteda água do Paraíba do Sul tem doisimpactos. O primeiro: reduz o po-tencial econômico da região. “Asempresas não se instalam ao lon-go do Paraíba porque vão ter maisdificuldade de captar água”.

O segundo é que sobra poucopara São Paulo, que também não

Clarissa Thomé /RIO

Ao inaugurar a Adutora deGuandu, responsável peloabastecimento de água da re-gião metropolitanado Rio, oentão governador da Guanaba-ra Carlos Lacerda fez uma pro-messa: “Água até o ano 2000.”Era 1966 e a população vinhasofrendo com sucessivas crisesde escassez. Mais de 40 anosdepois, o relatório da AgênciaNacional de Águas (ANA)fazum alerta. É preciso investirR$ 1,4 bilhão no Estado paraevitar o desabastecimento apartir de 2015.

O problema não é escassezde água. O Rio tem exceden-te de recursos hídricos. Mas aqualidade está comprometida.“O Guandu tem disponibilida-de hídrica, mas é preciso am-

RIO

BELÉM

4,5%das casas• estão conectadas à redecoletora de esgotos em Belém,capital do Pará

75%da água• consumida na cidade sai doRio Guamá, onde deságuam 11córregos que cortam a regiãometropolitana

DIAGNÓSTICO

tem água limpa. E quer buscá-lano Paraíba do Sul. “Essa discussãoestá em nível técnico e vai emergirem breve”, diz o professor. Paraele, os dois lados da disputa es-tão errados. “Se o Rio tratasse oseu esgoto, precisaria desviar me-nos água. Se São Paulo não tives-se esculhambado todos os seusrios, não precisaria do Paraíba doSul”.

Rio canalizado. Para melhorar aqualidade da água que chega à es-tação de tratamento, a Cedae de-cidiu canalizar os rios poluidores.“Vamos canalizar os rios Poços,Queimado e Ipiranga, que corre-rão por baixo do Guandu. Vamostirar essa água da captação”, afir-mou o presidente da Cedae, Wag-ner Victer. A obra, que vai custarR$ 50 milhões, está em fase de licenciamento ambiental.

Victer ressalta que os dadosapresentados pela ANA são diag-nóstico feito pela própria Cedae,encaminhados para a agência.“Acabamos de fazer a moderni-zação da estação do Guandu e va-mos investir mais de R$ 1 bilhãopara garantir o abastecimento até 2035.”

Ábundância problemática. EmBelém (PA), a rede de abasteci-mento de água chega a 80% dosdomicílios, mas apenas 4,5% es-tão conectados à rede coletora de esgoto. O restante joga seus dejetos diretamente nas 14 baciasque cortam a cidade.

“São esgotos a céu aberto. On-ze dessas bacias deságuam no rioGuamá, que banha a cidade, e deonde vem 75% da água que é tra-tada para distribuição”, afirma apesquisadora Vera Braz, presi-dente da Associação Brasileira deEngenharia Sanitária e Ambien-tal no Pará.

Os dois lagos de tratamento de água da cidade ficam a poucosquilômetros do aterro sanitáriode Belém, o aterro do Aurá.

"Há um igarapé ao lado do ater-ro, que corre também para o rio

Guamá e leva muita sujeira paralá", revela o pesquisador HaroldoBezerra, da UFPA.

Com a ampliação da estação detratamento, a cidade está pulan-do de uma produção de 4m³ de água por segundo para 8 m³. “Ouseja: vai produzir mais do que onecessário”, diz Bezerra.

Acontece que a rede é com-prometida. Em primeiro lugar, apressão é pequena. "A água nãotem força para chegar nas bai-xadas, onde mora a população pobre, mesmo nos domicílios servidos pela rede", explica VeraBraz. Outro problema é o tráfegointenso de veículos. "O tráfego arrebenta a rede, que não pode ser muito profunda, porque é tu-do várzea”.

Essas particularidades, mais os“gatos” feitos na rede para furto,

tornam perigoso o trajeto da águaaté a casa do cidadão.

“Ela sai potável da estação detratamento, mas no caminho, tem grandes chances de se conta-minar”, diz Vera, acrescentandoque a riqueza de água na Amazô-nia é, ao mesmo tempo, um beme um mal.

"A cultura da abundância é pés-sima. As pessoas acham que aqui-lo não vai acabar nunca, que nãovai poluir nunca".

Há alguns anos foi finalizado um projeto de macrodrenagem feito na bacia do rio Una, uma das mais comprometidas da ci-dade. Mas, ao invés de conectaras casas à rede coletora de esgo-to, o projeto construiu fossas nas residências. "Na questão dosaneamento, o projeto deixou adesejar", critica Vera. K.N.

Poluição ancestral. No início do mês, o rio Tâmisa, que banha a capital inglesa, atingiu seu nível mais baixo e revelou enormes quantidades de lixo, em sua maioria garrafas e sacolas plásticas. Todo ano, nessa época, voluntários da ONG Thames 21 limpam o rio. Nos últimos dez anos, eles tiraram 250 mil sacolas plás-ticas do leito. O Tâmisa deixou de ser considerado potável por volta de 1600. Mas o projeto de despoluição só começou a ser colocado em prática no século XIX.

LUKE MACGREGOR/REUTERS

TASSO MARCELO/AE

CARLOS SILVA/AE

LONDRES

Um mar de água. A Arábia Saudita sofre com a escassez de água e investe milhões em dessalinização. Para abastecer a capital Riad, com 4,5 milhões de habitantes, a água é extraída do Golfo da Arábia, transportada por cerca de 370 km e então dessalinizada. Com a tecnologia, os custos da dessalinização estão caindo. “Há alguns anos, chegavam a US$ 1,5 por m³. Hoje estão em US$ 0,35”, afirma José Galizia Tundisi, do Instituto Internacional de Ecologia de São Carlos.

FAHAD SHADEED/REUTERS

RIAD

Futuro dosfluminenses. O governo do Rio precisa investir R$ 1,4 bilhão para evitar o desabastecimento a partir de 2015

Guajará. A Baía é formada em grande parte por águas do rio Guamá, que responde pelo o abastecimento da cidade

Rio Tâmisa. Despoluição não livrou o rio dos sacos plásticos

Oração. Habitantes de Riad pedem a Alá que a chuva caia

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PLANETA

Metrópole tem100 mil novasligações deágua por ano

PERDAS E GANHOS

• 3,5 bilhões de litros de águaforam desviados por “gatos” naGrande São Paulo em 2009.

• A quantidade desviadaabasteceria por um mês umacidade de 650 mil habitantes.

• Há 12 anos o consumo porresidência era de 19 mil litrosmensais.

• Hoje o consumo por residência éde 12.800 litros mensais.

A Região Metropolitana de São Paulo (RMSP) é abastecida por oito sistemas que captam água de diferentes mananciais. Dos 39 municípios que a com-põem, 31 deles são cobertos pe-la Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp), que produz cerca de 105 mil litros de água por se-gundo.

A empresa trabalha com uma média per capita de consumo diário de 200 a 300 litros. Mas a metrópole tem baixa dispo-nibilidade hídrica. “Para abas-tecer os quase 20 milhões de habitantes, São Paulo importa 48% da água que consome”, ex-plica Paulo Massato, diretor da Sabesp, salientando que o con-sumo por residência na grande São Paulo diminuiu, principal-mente por causa da redução

do tamanho das famílias e das campanhas de conscientização. “Há 12 anos, eram 19 mil litros por mês por residência. Hoje são 12.800 litros”.

Mas, em compensação, cem mil novas ligações de água são feitas a cada ano na Região Me-tropolitana, que hoje tem 3,8 mi lhões de ligações de água ativa.

Segundo o Agência Nacional de Água (ANA), São Paulo pre-cisaria investir R$ 3,5 bilhões até 2015 para garantir o abaste-cimento até 2025.

“Já estamos ampliando a esta-ção de Taiaçupeba, no complexo do Alto Tietê, para aproveitar as últimas possibilidades hídricas das barragens de Paraitinga e Biritiba Mirim. Isso aumenta a produção do sistema de 10 mil litros por segundo para 15 mil e deve garantir a demanda para a região metropolitana até 2017”, garante Massato.

Esgoto e poluição. Como em todo o País, o abastecimento de água em São Paulo também es-tá ameaçado pelo lançamento de esgoto doméstico nos rios. Segundo a Companhia Ambien-tal do Estado de São Paulo (Ce-

tesb), somente 45% do esgoto do Estado é tratado. Por isso, nos mananciais mais pressio-nados, custa mais caro manter a qualidade necessária para dis-tribuição.

“No sistema Cantareira, onde há matas ciliares e o uso do so-lo não compromete a captação, cada mil litros custam R$ 0,19 só em produtos químicos. Já no sistema Guarapiranga, esse cus-to sobe para R$ 0,37”, confirma Massato.

SÃO PAULO

NOVA DÉLHI

69%dos esgotos• das cidades indianas sãodespejados em rios, lagos e nomar, sem tratamento.

500 milpessoas• morrem por ano na Índia dedoenças ligadas à poluição daságuas.

CALAMIDADE

3,8%milhões• é o número de ligações ativasde água na Região Metropolitanade São Paulo.

3,5bilhões• é o valor que deverá serinvestido até 2015 para garantirabastecimento na Grande SãoPaulo até 2025.

30%dos poços• da Região Metropolitana deSão Paulo são ilegais. Segundoo Instituto de Geociências daUSP, no total, há 12 mil poços nametrópole.

CALAMIDADEO controle da qualidade da

água dos rios em São Paulo cabe à Cetesb. De acordo com Nelson Menegon Jr., gerente da Divisão de Águas e Solos da Companhia, a rede de monitoramento é com-posta de 333 pontos. “São feitas seis medições por ano para cada um dos pontos, sendo três me-didas em época de chuvas e três na estiagem”, explica.

Restrições. Segundo um de-creto estadual de 1977, os rios do Estado são divididos em quatro classes. Os da classe 1 são os de uso mais nobre: para preserva-ção da vida aquática e o consu-mo humano. “O Tietê, dentro de São Paulo, é um classe 4. Para es-ses rios, não há restrição de lan-çamento de metais pesados, por exemplo”, explica Menegon. Ele acrescenta que não há mais vida aquática nos rios Tietê (dentro de São Paulo), Tamanduateí e Pinheiros.

“O problema, hoje, é que boa parte dos rios está enquadrada em uma classe, mas na realidade já não pertence mais a ela, pelo nível de poluentes que estão nas águas”, admite.

Ironia indiana. O rio Ganges é o símbolo da pureza espiritual para os indianos. O épico sans-crito Ramayana apontava que qualquer pessoa que tocasse a sua água se purificaria. Mas issofoi quatro séculos antes de Je-sus Cristo e bem anterior à era Industrial.

Nos últimos anos, os níveis depoluição do rio e de seus afluen-tes são uma ameaça para a saúdehumana. Mesmo assim, a popu-lação local continua a se purificarno Ganges. Em 1984, a intoxica-ção das águas do rio matou 20 mil pessoas. Desde os anos 90, o volume de esgoto despejado no Ganges dobrou. Na cidade deVaranasi, considerada como o lo-cal mais sagrado do país, o nívelde bactérias do rio é 3 mil vezessuperior ao que a Organização

Mundial da Saúde (OMS) con-sidera aceitável. Num dos tre-chos do rio Yamuna, afluente doGanges e que atravessa a capitalNova Délhi, a vida aquática desa-pareceu. Em 1909, o rio Yamunaera descrito como tendo águas "azuis". Mas depois de abastecer50 milhões de pessoas e de rece-ber 58% dos esgotos de Délhi, orio também está entre os mais poluídos do mundo.

Hospitais para tuberculosos têm seus esgotos direcionados aos rios Ganges e Yamuna. Alémdisso, 69% dos esgotos das cida-des indianas são despejados nosrios, lagos e no mar sem trata-mento. Os dados são do Conse-lho de Controle de Poluição de Nova Délhi.

Não por acaso, 500 mil pesso-as morrem por ano na Índia de

doenças ligadas à poluição daságuas. Ela é a primeira causa dedoenças de pele no país e a maiorresponsável pelas taxas de mor-talidade infantil.

Em 2009, o governo criou a Au-toridade para a Bacia do Rio Gan-ges e estipulou, em parceria como Banco Mundial, um projeto deUS$ 1 bilhão para salvar o rio. Ou-tros US$ 4 bilhões devem ser usa-dos até 2020 para garantir que osesgotos não continuem a ser jo-gados no rio e seus afluentes.

Mas muitos duvidam que o di-nheiro seja usado de forma efi-ciente. Em dez anos, US$ 500 milhões já foram gastos para re-cuperar o Yamuna na região de Nova Delhi. Mas em 2009 fcons-tatou-se que o rio estava tão ou mais poluído que em 1989. JA-MIL CHADE

A crescente degradação das águas superficiais do Estadopressiona os reservatórios de águas subterrâneas. Segundo a Cetesb, atualmente, aproxima-damente 80% dos municípios são total ou parcialmente abas-tecidos por águas subterrâneas, atendendo uma população de mais de 5,5 milhões habitantes.

“Estimamos em 12 mil o nú-mero de poços existentes na Re-gião Metropolitana, mas só 30% deles são legais. Na Grande São Paulo, boa parte da água sub-terrânea já está contaminada”, afirma Ricardo Hirata, profes-sor do Instituto de Geociências da USP.

Postos de gasolina, lixões,aterros mal operados, aciden-tes com substâncias tóxicas, ar-mazenamento, manuseio e des-carte inadequado de matérias primas utilizadas na indústria, mineração, vazamento das re-des coletoras de es goto e uso incorreto de agrotóxicos e fer-tilizantes são principais fontes de contaminação.

"As águas subterrâneas são a caixa d'água do planeta. É preci-so cuidar", alerta Hirata. K.N.

VIDAL CAVALCANTE/AE

No limite. Um em cada quatro chineses não tem acesso à água potável. A situação é particularmente grave em Pequim, onde a população de 17 milhões de habitantes supera a capacidade de abastecimento local. A cidade também sofre com secas perió-dicas. Para tentar suprir a capital chinesa, cerca de 1 bilhão de metros cúbicos de água do rio Yangtze serão transpostos para Pequim anualmente, a partir de 2014. Ao todo, 48 bilhões de metros cúbicos de água serão desviados.

STRINGER/REUTERS

JITENDRA PRAKASH/REUTERS

PEQUIM

Seca e corrupção. Na capital do Quênia, a seca e o desma-tamento fizeram a represa de Ndakaini baixar 44 milhõesde m³. Três dos quatro rios que alimentam a represa jásecaram. Como se não bastasse, no ano passado foi desco-berta uma quadrilha que desviava quase metade da águada cidade para irrigar fazendas. Os 3 milhões de habitantestiveram de comprar água para poder suportar o raciona-mento.

NOOR KHAMIS/REUTERS

NAIRÓBI

Rio Yangtze. Opção para garantir água à capital chinesa

Rio Sagrado. Símbolo da purificação para os indianos, o Ganges é hoje um dos rios mais poluídos do mundo

Sem saída. Compra de água para encarar racionamento

Sistema Cantareira. A manutenção das matas ciliares e o baixo índice de poluição fazem deste o sistema mais barato da Região Metropolitana de São Paulo

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Fernanda Fava/ESPECIAL PARA O ESTADO

Não são poucas as barreiras que separam a água retirada de rios, mananciais ou represas dastorneiras das casas paulistanas.

Em alguns locais, como na re-presa Guarapiranga, a ocupaçãoirregular das margens contaminaa água com o despejo de esgoto,além de desmatar a vegetação doentorno, aumentando o risco deassoreamento. Frente a isso, an-tes mesmo de começar a etapa do tratamento, a Sabesp realizatarefas preventivas para que a água que chega à estação de tra-tamento do Alto da Boa Vista - re-

PLANETAESTAÇÃO DE TRATAMENTO ALTO DA BOA VISTA

O caminhoda águaaté a suatorneira

tratada ao lado - tenha uma qua-lidade aceitável e não encareça oprocesso.

Uma delas é a operação Cata-bagulho, que retira da represa resíduos como garrafas PET, la-tas, sacolas plásticas. Segundo o superintendente de produçãode água da Sabesp, Hélio Castro,esses materiais também podemencalhar nas grades de proteçãoda adutora que retira a água da represa e leva para a estação de tratamento, atrapalhando a va-zão do líquido e demanda uma boa manutenção das grades.

Já na captação são adicionadassubstâncias para eliminar algas que se proliferam em ambientesaquáticos contaminados, princi-palmente quando há despejo deesgoto. Além da estação Alto daBoa Vista, existem outros sete complexos hídricos são respon-sáveis pelo abastecimento de 33municípios da região metropoli-tana a uma vazão de 67 mil litrospor segundo de água, que percor-

Após ser retirada de um rio ou uma represa, ela passa por várias fases de purificação até ser totalmente limpa

rem cerca de 1,2 mil quilômetrosde tubulação para chegar na casados paulistanos.

O sistema Guarapiranga é o maior dos oito complexos, aten-dendo a 8,1 milhões de pessoas -quase metade da população comacesso a água tratada na GrandeSão Paulo. Esse volume abaste-ce bairros do Centro e da Zona Norte, além de municípios co-mo Osasco, Santo André e São Caetano do Sul. O complexo daGuarapiranga vem em seguida, abastecendo 3,8 milhões de pes-soas na zona sul e sudoeste.

Em alguns lugares, a água vemde distâncias de mais de 70 km,de outras cidades e até de outroEstado, como na Cantareira, queabrange 12 municípios.

As vantagens edesvantagensde cada métodoA partir da semana que vem, os fabricantes e importadores de filtros e purificadores terão o prazo de até um ano para vender apenas produtos com um selo único de certificação emitido pelo Inmetro."Esse selo único vai garantir aos consumidorer que o que está escrito no rótulo dos filtros e aparelhos foi seguida à risca durante a fabricação", afirma o chefe de Programas de Avaliação da Conformidade do Inmetro, Gustavo Kuster. Com informações de Kuster e de Sheila Silveira, especialista do Instituto Falcão Bauer, o Estado preparou um guia para o consumidor decidir qual a melhor maneira de se obter um copo de água potável em casa.

1 FervuraBasta ferver a água numa chaleiraou panela em temperatura de ebu-lição, 100° C, durante cerca de 10minutos.

• PRÓS A técnica mais simples e barata.É suficiente para matar os prin-cipais micro-organismos queprovocam doenças.

• CONTRASPor não ser um método de fil-tragem, não elimina pequenosresíduos ou vírus como o dahepatite A, que só é destruído a120° C

2 Filtro de barroFeitos de barro ou de cerâmica, osfiltros funcionam por gravidade,com a água passando de umrecipiente para outro, sem ligaçãocom a rede hidráulica.

• PRÓSOs elementos responsáveis pelafiltração, como velas com micro-poros, que conseguem removeraté 99% das impurezas.

• CONTRASAlguns modelos não eliminamcompletamente as bactérias. Alimpeza e a troca da vela precisaser feita regularmente.

3 Purificador efiltro de torneiraFuncionam de forma semelhante aosfiltros de barro, mas precisam estarligados ao encanamento da casa.

• PRÓS Alguns purificadores têm carvãoativado, que reduz o gosto forte des-sa substância. Outros usam ozôniopara reduzir o nível de bactérias

• CONTRASMuitos consumidores não precisa-riam desse método, já que a águaque recebem é de boa qualidade.Outra desvangagem é o preço,mais alto que os filtros de barro.

4 Pastilhas deiodo ou cloroAdicionadas à água, elas ajudama matar micro-organismos. Seuefeito começa após 30 minutos.

• PRÓSPela praticidade, são muito usa-das por viajantes que não têmacesso à água tratada

• CONTRASÉ preciso utilizar, paralelamente,um método de filtragem, poiselas não retiram pequenos resí-duos sólidos e agrotóxicos. Alémdisso, o iodo e o cloro podemdeixar gosto ruim na água

Comoescolher opurificador deágua ideal

Guia

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PLANETAALERTA

Novos vilõesameçamabastecimento

8 amostras•DAS 15 coletadas em águasnão tratadas de municípiosdo Rio continham o hormônioestradiol

90países• ASSINARAM um tratadointernacional para banirpoluentes orgânicos, incluindoo Brasil

EM NÚMEROS

JOSÉ LUIZ DA CONCEIÇÃO / AE

Poluição. Para Márcia Bezotti, é preciso modernizar tratamento

Clarissa Thomé/RIOKarina Ninni /ESPECIAL PARA O ESTADO

Não bastassem todas as subs-tâncias químicas que as estaçõesde tratamento já retiram da águaque chega à nossa casa, uma novaameaça vem preocupando espe-cialistas no Brasil e do mundo: oshormônios e outros compostosque o sistema atual não detecta.

“O esgoto produzimos hoje é completamente diferente do dadécada de 40. Hoje consumimosanticoncepcional, medicamen-tos, produtos de limpeza e hi-giene pessoal que não existiam e têm atividade hormonal”, diz a professora Márcia Bezotti, co-ordenadora do Laboratório de Controle de Poluição das Águas,da Coppe, pós-graduação de en-genharia da Universidade Fede-ral do Rio de Janeiro. "Por isso, otratamento de esgoto e água nãopode continuar igual, mas as es-

Sistema convencionalde tratamento da água não detecta hormônios e outras substâncias nocivas

tações do Rio são de 1950."Testes realizados pela Coppe

com amostras de água não trata-da do Rio Paraíba do Sul revela-ram a presença de estradiol - hor-mônio capaz de alterar o funcio-namento reprodutor.

Os pesquisadores fizeram co-letas de água nos municípios deResende, Volta Redonda, Bar-ra Mansa e Campos dos Goyta-

cazes. Das 15 amostras, 8 con-tinham estradiol. “A literatura médica mostra que mesmo em baixa concentração essa subs-tância aumenta o risco de câncerde próstata, de mama, de útero”,afirma Márcia. Ainda que feita com amostras não tratadas, a descoberta levanta a discussão sobre a necessidade de se moder-nizar estações de tratamento deágua e esgoto. Márcia defente quemétodos tradicionais de trata-mento não eliminam os hormô-nios completamente.

“Nós captamos água já tra-tada do Guandu e só uma das amostras apresentou atividade hormonal", afirma a professo-ra, acrescentando que isso não émotivo para alarde, mas deveriaincentivar a melhoria dos siste-mas de tratamento.

O presidente da Companhia Estadual de Águas e Esgoto do Rio, Wagner Victer, rebate. “Nos-so sistema de tratamento é utili-zado no mundo inteiro e segue rígida legislação.”

No Brasil, a água que sai das es-tações de tratamento tem de es-tar dentro de normas de potabili-dade estabelecidas por uma por-taria do Ministério da Saúde em2004. Mas diversas substâncias

não têm parâmetros de mensu-ração, caso de componentes pre-sentes em alguns agrotóxicos.

“Existem 800 substâncias di-ferentes com uso autorizadono Brasil, como tipos de pesti-cidas e inseticidas. Essas subs-tâncias acabam indo parar na água. Dessas, apenas 22 cons-tam da portaria do Ministério,com limite de uso”, explica a en-genheira química Eliana Freire Gaspar de Carvalho, da Univer-sidade Federal do Mato Grosso.

PERIGO. Outra preocupação dosespecialistas são os POPs: po-luentes orgânicos persistentes.“São substâncias químicas que persistem no ambiente, acumu-lado-se nos microorganismos, nas plantas, nos animais e nohomem”, esclarece José GaliziaTundisi, do Instituto Internacio-nal de Ecologia de São Carlos.

Em maio de 2001, 90 países,inclusive o Brasil, assinaram umTratado Internacional para baniros 12 POPs considerados mais pe-rigosos para o meio ambiente e asaúde pública. Apesar de muitosdeles já terem sido proibidos emvários países, justamente por te-rem vida longa, continuam sendodetectados em algumas áreas.

“Detectamos a presença deDDT, uma substância já proibi-da no Brasil, em amostras de se-dimentos de rios no Pantanal", diz Eliana. Apesar de ser nocivo,o DDT foi usado para pulveriza-ção em áreas endêmicas de malá-ria e outras doenças tropicais atéos anos 90, porque o número demortes causadas pelas doenças era um risco maior para a popula-ção do que o uso da substância.

“Existem mais de 200 mil pro-dutos stóxicos sendo utilizadosno mundo. Eles não causam pro-blemas somente para a espécie humana. São especialmente no-civas também para o ambiente aquático”, alerta Tundisi.

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já em andamento. Por meio de suaassessoria de imprensa, o presiden-te da EPE, Maurício Tolmasquim,afirmou que a empresa iniciará esteano o levantamento.

“Às vezes, no mesmo rio, há duas,três PCHs projetadas”, explica Dé-bora. Um bom exemplo é o Rio Co-xim, que banha a cidade de mesmonome, no Mato Grosso do Sul, a umpasso da planície pantaneira. Só aliestão previstas três barragens. Já nomunicípio de São Gabriel do Oeste,a poucos quilômetros de Coxim,já existe uma em operação: a PCHPonte Alta.

“No ano passado, a liberação dossedimentos de Ponte Alta provocoua morte de milhares de peixes. Osribeirinhos ficaram muito preocu-pados”, diz Nilo Peçanha CoelhoFilho, do Consórcio Intermunici-pal para o Desenvolvimento Sus-tentável da Bacia do Rio Taquari

"A maioria daspessoas só vaisentir oimpacto daqui a 10 anos e serátarde demais"Nilo Peçanha Coelho,membro do Cointa

RISCO

Débora Calheiros: “Outro agravante é o fato de 70% dessas hidrelétricas estaremprevistas para a mesma área. Os projetos estão sendo licenciados separadamente, aoinvés de se realizar um estudo sobre os impactos em toda a bacia”. BIÓLOGA DA EMBRAPA PANTANAL7O%

Osmar Nunes de Souza: “O rio tem vida igual a gente. Se você mexe de um lado, elecorre pro outro. Ele não vai mais andar solto como anda hoje.” PESCADOR E MORADOR DE COXIM

(Cointa).Segundo ele, cerca de 5 mil pesso-

as vivem do turismo ligado à pescaem Coxim. “Todo mundo vai sofreras consequências das barragens”,prevê.

Pesadelo. O impasse que cerca ainstalação de PCHs no Pantanalnão é privilégio daquela região. EmRoraima, índios que habitam a po-lêmica reserva Raposa Serra do Solprotestaram recentemente contra ainstalação de pequenas centrais hi-drelétricas em suas terras. Em SãoPaulo, na bacia Sorocaba-MédioTietê, há previsão de instalação deduas PCHs, nos municípios de Itue Cabreúva. O projeto está tirandoo sono de ambientalistas e até depolíticos locais.

“É uma questão de escolha: sequisermos preservar a o potencial

Karina Ninni/ESPECIAL PARA O ESTADOIvanise Andrade/DE COXIM, MS

No Pantanal, onde a dinâmica daágua dita o ritmo de vida de milha-res de pessoas, a pesca, a agricultu-ra familiar, a criação de gado e até oturismo pesqueiro estão ameaça-dos pela instalação de 116 pequenascentrais hidrelétricas (PCHs) naBacia do Alto Paraguai - principalresponsável pelo regime de inunda-ções periódicas que fazem da regiãoum Patrimônio da Humanidade.

O alerta é da bióloga Débora Ca-lheiros, pesquisadora da EmbrapaPantanal. “Desmatamento e cria-ção de gado de forma equivocadasão problemas possíveis de mini-mizar. Os impactos das pequenascentrais não são.”

Por trás da construção dessasPCHs está o interesse de gruposempresariais de segmentos comoa agricultura mecanizada.

As barragens impedem que ospeixes subam os rios e que os nu-trientes da água fluam de um lo-cal para outro. Ou seja: prejudicamtanto a desova quanto a alimenta-ção dos peixes. Além disso, a libe-ração de sedimentos das barragenspode assorear os rios.

Segundo Débora, outro agravan-te é o fato de 70% das PCHs esta-rem previstas para o mesmo local:a região norte da Bacia do Alto Pa-raguai. Das 116 previstas, já existem29 em operação. O restante está emfase de construção, licenciamentoou estudo.

“Os projetos estão sendo licen-ciados separadamente, ao invés dese realizar uma avaliação ambientalintegrada, que dá conta dos impac-tos das obras para toda a bacia”,afirma a bióloga, ressaltando queo excesso de PCHs pode modifi-car o pulso de inundação naturalda região. S

A Empresa de Pesquisa Energé-tica (EPE), ligada ao Ministério deMinas e Energia, é a responsávelpela realização da avaliação integra-da. No entanto, o estudo ainda nãofoi realizado mesmo com as obras

Instalação de mais de 100 hidrelétricas ameaça ecossistema da região e pode prejudicar atividade da população ribeirinha

PLANETA

Pantanalna berlinda

MÔNICA NÓBREGA/AE

Rio Paraguai.Regime de secase cheias pode sermodificado com

hidrelétricas

pesqueiro e paisagístico do Panta-nal, não podemos instalar 116 hi-drelétricas indiscriminadamente.Agora, se a escolha for pelo forne-cimento de energia, a sociedadedeve saber o preço dessa opção”,conclui Débora, acrescentando quea mesma lógica se aplica também aoutras regiões ameaçadas por essasbarragens.

Pelé. O temor da pesquisadora so-bre a situação que se desenha noPantanal também está presente nodepoimento de Osmar Nunes deSouza, de 49 anos, pescador desdeos nove. Conhecido como Pelé, eleé morador dos arredores de Co-xim. “O rio tem vida igual a gente.Se você mexe de um lado, ele correpro outro. Ele não vai mais andarsolto como anda hoje, vai ter muitaágua presa, e a gente tem medo deassorear muito e não ter mais comotransitar, nem pescar.”

O problema é que o assoreamen-to já é uma ameaça para a região, so-bretudo para a planície. “A planíciepantaneira é um ‘fundo de prato’.Nas beiradas - o planalto - estão osrios que nascem e desembocam naregião”, explica didaticamente apesquisadora Emiko Rezende, daEmbrapa Pantanal.

Ela trabalha há anos com a baciado rio Taquari, também um afluen-te do Paraguai. “O assoreamento doTaquari é um processo antigo e, atécerto ponto, natural. Mas a inter-venção humana está acelerando oprocesso, e algo que aconteceria em30 anos agora acontece em cinco.”

Resultado: o leito do rio subiumuito e algumas áreas da planíciepantaneira não secam mais. “Issoimpossibilita culturas como bana-na, laranja e arroz”, afirma Emiko.Ela explica ainda que o assorea-mento reduz os estoques pesquei-ros. “Se a área não seca, não crescea vegetação terrestre que, na épocada inundação, vira comida para ospeixes”.

Caseira de um rancho à beira dorio Coxim, Maria Aparecida de Mo-raes, de 62 anos, critica a constru-ção de hidrelétricas. “Isso aqui é anossa história. É o rio que a gentevive.” Para ela, represar o rio signi-fica perder seu emprego e impedirque seus filhos continuem vivendoda pesca.

“O pior é que a maioria das pes-soas só vai sentir e perceber o im-pacto daqui uns 10 anos e aí já vaiser tarde demais”, diz Nilo Peça-nha, do Cointa.

2010ANOS1990 – Rádio Eldorado inicia acampanha pela recuperação do rio Tietê,em parceria com a BBC de Londres.

1991 – Rádio Eldorado coordenao maior abaixo-assinado por umacausa ambiental da América Latina.*

1992 – Rádio Eldorado repercute emmatérias os avanços da campanha econsegue a primeira vitória com o iníciodo projeto de despoluição do rio Tietê.

2010 – 20 anos da reportagem quecomeçou tudo isso.A Rádio Eldorado continua de olho.

Queremos suas ideiaspara os próximos anos.Mande sua mensagem para o blogEldorado Socioambiental. Acessewww.territorioeldorado.com.br e participe!* Fundação SOS Mata Atlântica

Duas décadas de compromissocom o meio ambiente e a cidadania.

2000 – A Rádio Eldorado iniciacampanha para estimular aconsciência ambiental, comvalores como qualidade de vidanas cidades, consumo consciente,descarte e preservação ambiental.

Em 10 anos:

– 565 horas de informação.

– 1.000 crianças benefi ciadas pelo projeto.

– 2.000 toneladasde material reciclado.

– 10 entidades assistidas.

ANOS

A Rádio dos melhores ouvintes

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CONSUMO

Não bastamatar asede. Temde ter grife

Média. Em 1957 a empresa San Pel-legrino comprou a Acqua Panna,cuja fonte fica nas colinas da Tos-cana. Sem gás, a Acqua Panna érica em minerais, mas tem baixaquantidade de sódio.

Outra premium, a Perrier passapor processo em que gases vulcâ-nicos encontram a água e emer-gem numa nascente de bolhas emVergèze, no sul da França, usadapara banhos termais desde o tem-po dos romanos.

Bilhões. Essas três grifes perten-cem hoje à Nestlé, líder mundialde água engarrafada com mais de70 marcas e 19% do mercado. Em2008, teve faturamento de R$ 16bilhões. A segunda maior produ-tora é a francesa Danone, que de-tém 11% do mercado e faturou R$7 bilhões em 2008.

Parte do sucesso da Danone sedeve à Evian, que vem de um aquí-fero abastecido por neve derretidados Alpes franceses. Em 2007, amarca lançou uma edição limitadaassinada por estilistas que custavao equivalente a R$ 25. Mas o valorde nenhuma dessas águas se com-para à americana Bling, que cus-ta de R$ 60, a garrafa fosca, a R$4.500, a cravejada de cristais.

Até R$25• COM FONTE na Lombardia, naItália, vem de um aquífero a 400metros de profundidade, ondeentra em contato com pedrascalcárias e rochas vulcânicas

R$ 4.500• QUERIDINHA das celebridades de Hollywood, a água americanaBling tem uma edição limitada, em que a garrafa é cravejada com 10mil cristais Swarovski

R$ 89• FEITA DE ALUMÍNIO, a famosa garrafa reutilizávelsuíça tem versões coloridas oucom frases em defesa do meioambiente

Até R$ 25• COM BAIXA quantidadede sódio, é uma água leve ecostuma ser muito usada porsommeliers para acompanhar adegustação de vinhos

Até R$ 20• GASEIFICADA naturalmente,passa por um processo no quala água e os gases são retiradosseparadamente e combinadosantes do envase

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Alice LoboESPECIAL PARA O ESTADO

Autor de Fine Waters - AConnoisseur's Guide to the World'sMost Distinctive Bottled Waters, umguia de águas sofisticadas paraconsumo, o americano Micha-el Mascha calcula que existammais de 3 mil marcas no mundo.Só um punhado delas faz partedo clube das águas de grife, sím-bolos de status equivalentes aosgrand crus de vinícolas renoma-das. Para chegar a esse posto, omarketing é vital, mas tambémpesam fatores como tradição e,segundo especialistas como Mas-cha, qualidade.

E qualidade, nesse caso, estáligada à composição. O nível decarbonatação (a presença de gáscarbônico) determina o quanto aágua é gaseificada – em entrevistaà revista Time, Mascha afirmouque 75% da experiência de con-sumir uma água premium estáligada ao tamanho e à quantidadedas bolhas. O pH também conta:as alcalinas são adocicadas, as áci-das puxam para o amargo. Outrofator é a concentração de mine-rais. Águas com baixo índice deminerais são mais neutras, leves.Se fossem associadas ao mundodos vinhos, seriam vinhos bran-cos. Alto índice de minérios dáorigem a uma água mais encor-pada, um vinho tinto.

E, é claro, a tradição pesa. Tidacomo a “champanhe das águas”, aS. Pellegrino é engarrafada desde1899, mas já era conhecida como“água milagrosa” desde a Idade

Marketing, tradição, acidez e quantidade de bolhas transformam garrafinhas d'água em um mercado bilionário

QUÍMICA

• A quantidade de gáscarbônico na água determinase ela é gaseificada ou não.

• A alta concentração de cálcioe magnésio é responsável pela“dureza” da água.

• A forte presença de nitratoacusa se ela vem de solocontaminado

• A classificação “mineral”varia conforme o país

Elizabeth Royte,escritora americana

"Chegamosao ponto deter 50 bilhõesde garrafasdescartadastodos os anosnos EUA"Eu me sinto uma idiota

comprando água engar-rafada”, diz a jornalista

americana Elizabeth Royte, au-tora do livro Bottlemania - Howwater went on Sale and Why WeBought It (algo como Loucos

por garrafas, como a água pas-sou a ser vendida e por que nósa compramos). Sua inspiração veio do fato do mercado de águaengarrafada ser o que mais cresciaentre as bebidas. "Comecei a pen-sar como a gente chegou ao pon-

to de ter 50 bilhões de garrafasdescartadas por ano nos EUA”,disse Elizabeth em entrevistaao Estado.

Ela explica que antes do usode cloro no sistema de trata-mento público, fazia sentido

"É HORA DE FUGIR DOENGARRAFAMENTO"

Livro explica por que compramos água

Entrevista: Elizabeth Roytecomprar garrafas de água. Mascom a chegada de água tratadanas casas das grandes cidades, omercado mudou. "Foi nos anos80 que criaram a ideia de que erafundamental para a saúde bebermuita água - uma ação esperta domarketing desta indústria."

Com a cultura de beber tantaágua durante o dia veio a impor-tância de portabilidade da mes-ma. “Nos anos 90 a Coca-Cola ea Pepsi perceberam que estavamperdendo espaço para este merca-do e na época elas vinham sendocriticadas por estimular consu-mo de refrigerantes. Decidiram,então, entrar neste mercado. Eelas tinham muito dinheiro para

investir em propaganda. Foi aíque a água engarrafada ganhouum grande empurrão”, revelaElizabeth.

A jornalista conta que bebea água da torneira de sua casae aconselha todos a fazerem omesmo. Para quem fica insegu-ro com essa opção, ela sugerelevar uma amostra da água paraum laboratório. Se a qualidadenão for comprovada, a ameri-cana defende o uso de um filtro.“Aí, basta comprar uma garrafareutilizável. Lembre de pegá-lasempre, assim como seu celu-lar e suas chaves. Não é precisocomprar água privatizada empequenas garrafas de plástico.”

CLAYTON DE SOUZA/AE

Projeto estimula o uso de água filtradaem bares e restaurantes de São Paulo

TORNEIRA

mentos. “Ela já é um produto queconsumimos em nosso dia a dia,seja para a preparação da comida,em cafés, sucos ou gelo de bebidas.Por que não bebê-la?”, perguntaLetycia.

A iniciativa, que tem o apoio daPrefeitura e do Governo de SãoPaulo, ainda não foi lançada ofi-cialmente, mas já tem adeptos. É ocaso do restaurante Fred Frank, emMoema (zona sul de São Paulo), ea casa de eventos Eco House, em

Pinheiros (zona oeste).Pelo projeto, os interessados

precisam ter um filtro com selode qualidade e se comprometem aservir água tratada e purificada emuma jarra de vidro.

Servir água da torneira é umaprática comum na Europa, ondeela muitas vezes nem é cobrada.Alguns restaurantes em São Pau-lo fazem o mesmo, como o Ca-fé Suplicy, o Ici Bistrô e o Le JazzBrasserie.

Foi com a ideia de reduzir o im-pacto ambiental do consumo deágua engarrafada em mente que aeconomista Letycia Janot e a ad-ministradora de empresa MariaFernanda Franco criaram o pro-jeto Água na Jarra. O objetivo épromover a mudança cultural deconsumo da bebida em bares erestaurantes, além de implemen-tar o uso de água da torneira trata-da, filtrada e purificada no maiornúmero possível de estabeleci-

R$ 27 eR$ 50• A ÁGUA TERMAL daLa Roche-Posey tem açãocicatrizante e antioxidante

R$ 25 aR$ 47• A DA MARCA Vichy acalmapeles irritadas e estimula suasdefesas naturais

COSMÉTICOS

Água na Jarra. Entra o filtro e saem as garrafinhas de plástico

PLANETA%HermesFileInfo:H-12:20100322:H12 SEGUNDA-FEIRA, 22 DE MARÇO DE 2010 O ESTADO DE S. PAULO