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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LETRAS (MESTRADO E DOUTORADO)
8º SPLE – SEMINÁRIO DE PESQUISA EM LETRAS 13 e 14 de novembro de 2013
Caderno de Programação e Resumos de Apresentações
MARINGÁ NOVEMBRO/2013
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8º SPLE
Comissão Organizadora:
Coordenadora
Profª Drª Neiva Maria Jung
Membros Profª Drª Alba Krishna Topan Feldman
Profª Drª Roselene de Fátima Coito Profª Drª Vera Helena Gomes Wielewicki
Pós-graduanda
Adriana Beloti - Doutorado
Secretário Adelino Marques
Endereço: Programa de Pós-Graduação em Letras – Mestrado e Doutorado
Bloco G-34 (Térreo), Sala 01 Campus Universitário
Fone/Fax: (44) 3011-4830 CEP: 87020-900 – Maringá – PR
E-mail: [email protected] Site: www.ple.uem.br
3
8.º SPLE – PROGRAMAÇÃO GERAL Local: Campus da UEM
13 de novembro de 2013 – Quarta-feira
MANHÃ 8h às 9h: Entrega do material e Solenidade de Abertura Local: UEM - Auditório do CCE - Bloco F67 9h às 10h – Conferência de Abertura: Palestra: Novos Desafios da Pós-Graduação Coordenação da Pós-Graduação em Letras/UEM Local: UEM - Auditório do Bloco F67 10h às 10h30min – Intervalo 10h30min às 12h: Mesas-Redondas: Mesa Redonda I – Estudos Linguísticos Local: UEM – Auditório do CCE – Bloco F67 Título: Pesquisa e Multidisciplinaridade - Profª Drª Jacqueline Ortelan Botassini (UEM) - Profª Drª Renata Marcelle Lara (UEM) - Profª Drª Rosa Maria Olher (UEM) Mesa Redonda II – Estudos Literários Local: UEM – Auditório do CCH – Bloco H35 S07 Título: A Pesquisa em Estudos Literários hoje: desafios e perspectivas - Prof. Dr. Alexandre Villibor Flory (UEM) - Prof. Dr. Márcio Roberto do Prado (UEM) - Prof. Dr. Fabio Lucas Pierini (UEM)
TARDE 13h30min às 15h30min – Apresentação de projetos e dissertações defendidas no PLE Sessão 1 – Local: UEM – Auditório do PLE - Bloco G34 – Sala 203 Estudos Linguísticos Arguidora: Profª Drª Ismara Eliane Vidal de Souza Tasso Adélli Bortolon Bazza – SUBJETIVAÇÃO NO DISCURSO DE SUJEITOS IDOSOS EM CONTEXTO DE ESTUDOS NA UNATI-UEM (projeto) Rafael Andrade Moreira – “É PRECISO NÃO TER MEDO, É PRECISO TER A CORAGEM DE DIZER”: ESTUDO DA PARRHESIA NO DISCURSO DE CARLOS MARIGHELLA (projeto)
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Hoster Older Sanches – DISPOSITIVO DE SEXUALIDADE E O DISCURSO SOBRE A AIDS NO BRASIL DOS ANOS 1980 (projeto) Luana Cimatti Zago – SOBRE O CONCEITO DE FORMAÇÃO DISCURSIVA: UMA PROPOSTA DE ABORDAGEM NO DISCURSO BÍBLICO (projeto) Sessão 2 – Local: UEM - Bloco G34 – Sala 216 Estudos Linguísticos Arguidor: Prof. Dr. Edson Carlos Romualdo Cristiane Malinoski Pianaro Angelo – MEDIAÇÕES PEDAGÓGICAS À PRÁTICA DOCENTE EM SALAS DE APOIO À APRENDIZAGEM DE LÍNGUA PORTUGUESA (projeto) Hérika Ribeiro dos Santos – O PAPEL DAS PRÁTICAS SOCIAIS DE LINGUAGEM NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES (projeto) Jakeline Aparecida Semechechem – IDEOLOGIAS LINGUÍSTICAS E DE LETRAMENTO EM UMA ESCOLA DO CAMPO EM CONTEXTO MULTILÍNGUE NA SUPERDIVERSIDADE: DAS IDEOLOGIAS ÀS PRÁTICAS DE LETRAMENTO (projeto) Adélia Aparecida Pereira da Silva Rodrigues – PERGUNTAS DE LEITURA E CONSTRUÇÃO DE SENTIDOS: EXPERIÊNCIA COM 6º ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL (defesa) Sessão 3 – Local: UEM – Auditório do CCH – Bloco H35 Sala 07 Estudos Literários Arguidora: Profª Drª Alba Karishna Topan Feldman Giuliano Hartmann – NATÁLIA DE HELDER MACEDO, UMA BIOGRAFIA DE SI: UM DIÁRIO DE RESISTÊNCIA PASSIVA E SIMULACRO AUTORAL (projeto) Eduardo Navarrete – MASCULINO E FEMININO EM RADUAN NASSAR (projeto) Joyce Luciane Correia Muzi – “VESTIDA DE AZUL E BRANCO...” A NORMALISTA NÃO MAIS ESTÁ: A REPRESENTAÇÃO DA PROFESSORA NO ROMANCE BRASILEIRO DE AUTORIA FEMININA (projeto) Wilma dos Santos Coqueiro – POÉTICAS DO DESLOCAMENTO: REPRESENTAÇÕES DE IDENTIDADES FEMININAS NO BILDUNGSROMAN DE AUTORIA FEMININA CONTEMPORÂNEA (projeto) Sessão 4 – Local: UEM – Auditório do DLM - Bloco H35 – Sala 02 Estudos Literários Arguidor: Prof. Dr. Milton Hermes Rodrigues Wagner Vonder Belinato – NOVAS VOZES PARA CAIO FERNANDO ABREU: DA LEITURA AUTORAL AO CÂNONE (projeto) Arnaldo Pinheiro Mont’Alvão Júnior – LITERATURA NERD: CONSTRUÇÃO/CONSOLIDAÇÃO DE UMA CULTURA LITERÁRIA BRASILEIRA (projeto) Leandro Vieira – O SENHOR DOS ANÉIS E O CÂNONE OCIDENTAL: J.R.R. TOLKIEN E A TRADIÇÃO CLÁSSICA (projeto) Juliane Nadal Cavalheiro da Silva – VOZES DO SÍTIO: A PRESENÇA E A AUSÊNCIA DE ILHAS POLIFÔNICAS NAS NARRATIVAS LOBATIANAS (projeto) 15h30min às 15h45min – Intervalo 15h45min às 17h30min – Apresentação de projetos e dissertações defendidas no PLE
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Sessão 5 – Local: UEM – Auditório do PLE - Bloco G34 – Sala 203 Estudos Linguísticos Arguidora: Profª Drª Cristiane Carneiro Capristano Janaina Lacerda da Silva – ESTUDO DAS ROTINAS DE ESCRITA DO PAS-UEM (projeto) Denise Moreira Gasparotto – O TRABALHO DOCENTE DE REVISÃO E REESCRITA A PARTIR DO GÊNERO TEXTUAL NARRATIVA DE TERROR (projeto) Jane Cristina Beltramini Berto – CARACTERIZAÇÃO DE CONCEITOS SOBRE REESCRITA, REVISÃO, REFACÇÃO E RETEXTUALIZAÇÃO (projeto) Sessão 6 – Local: UEM – Auditório do DLM - Bloco H35 – Sala 02 Estudos Literários Arguidora: Profª Drª Mirian Hisae Yaegashi Zappone Diana Milena Heck – A REPRESENTAÇÃO DA MORTE E SEUS SIGNIFICADOS EM AS INTERMITÊNCIAS DA MORTE, DE JOSÉ SARAMAGO (projeto) Renata Santana – OS ESPAÇOS NARRATIVOS EM TODOS OS NOMES, DE JOSÉ SARAMAGO (projeto) Alexandre Gaioto Martins – ASPECTOS LÍRICOS EM DALTON TREVISAN (projeto) Sessão 7 – Local: UEM – Auditório do CCH - Bloco H35 – Sala 07 Estudos Literários Arguidora: Profª Drª Marisa Corrêa Silva Ana Cristina Fernandes Pereira Wolff – ENTRE O LÍRICO E O PICTÓRICO: A ALDEIA DE VERGÍLIO FERREIRA (projeto) Aline Carla Dalmutt – DOS “VELHOS BRINQUEDOS DE SONHO” À “INFÂNCIA PAVOROSAMENTE PERDIDA” A PAISAGEM DE LISBOA NA INFÂNCIA DE PESSOA (projeto)
14 de novembro de 2013 – Quinta-feira
MANHÃ 08h às 10h – Apresentação de projetos e dissertações defendidas no PLE Sessão 8 – Local: UEM – Auditório do CCH - Bloco H35 – Sala 07 Estudos Literários Arguidora: Profª Drª Lúcia Osana Zolin Ana Cláudia Paschoal – ESPAÇO E SILÊNCIO EM PAULINHO PERNA TORTA E ABRAÇADO AO MEU RANCOR, DE JOÃO ANTÔNIO (projeto) Maria Elisa Dias Fraga – O TEATRO DE CHICO BUARQUE EM TRÊS TEMPOS: RODA VIVA, GOTA D´ÁGUA E ÓPERA DO MALANDRO (projeto) Larissa Walter Tavares – O ESPAÇO EM PEDRO PÁRAMO, DE JUAN RULFO (projeto)
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Mateus dos Santos Moscheta – BERTOLT BRECHT E O TEATRO DIALÉTICO NO BRASIL PÓS-1985: A EXCEÇÃO E A REGRA EM DUAS ENCENAÇÕES PARANAENSES (projeto) Sessão 9 – Local: UEM - Bloco G34 – Sala 216 Estudos Linguísticos Arguidor: Prof. Dr. Pedro Luis Navarro Barbosa Fernanda Silveira Boito – LEGENDAGEM E O PROCESSO TRADUTÓRIO: UMA ABORDAGEM DISCURSIVA DA TRADUÇÃO PARA LEGENDAS DO DOCUMENTÁRIO “LIXO EXTRAORDINÁRIO” (projeto) Verônica Braga Birello – A AUTORIA, A INTERPRETAÇÃO E A TRADUÇÃO INTERSEMIÓTICA: UMA DISCUSSÃO DISCURSIVA – DO LIVRO À TELA DE ANIMAÇÃO (projeto) Juliana da Silveira – TWITTER, MÍDIA E POLÍTICA: OS FUNCIONAMENTOS DISCURSIVOS DA HASHTAG #MENSALÃO (projeto) Érica Danielle Silva – IMAGENS DO REAL E O REAL DAS IMAGENS: A ARQUITETURA DISCURSIVA DA (D)EFICIÊNCIA NO CINEMA (projeto) Sessão 10 – Local: UEM – Auditórido do PLE - Bloco G34 – Sala 203 Estudos Linguísticos Arguidor: Prof. Dr. Manoel Messias Alves da Silva Cristina Silva dos Santos Armelin – UM ESTUDO DOS PROCESSOS REFERENCIAIS EM ARTIGOS DE MODA (projeto) Fernando Sachetti Bonfim – GRAMATICALIZAÇÃO DO ITEM LINGUÍSTICO ASSIM: SUA FUNCIONALIDADE NOS PROCESSAMENTOS COGNITIVO, IDEACIONAL, INTERPESSOAL E TEXTUAL (projeto) Fátima Christina Calicchio – A HIPOTAXE ADVERBIAL: FUNÇÕES TEXTUAL-DISCURSIVAS NO GÊNERO RESPOSTA ARGUMENTATIVA (projeto) Ana Paula da Silva – UMA ANÁLISE DAS POSSIBILIDADES REFERENCIAIS NA COLUNA DE JOSÉ SIMÃO (projeto) 10h às 10h30min – Intervalo 10h30min às 12h – Apresentação de projetos e dissertações defendidas no PLE Sessão 11 – Local: UEM – Auditório do PLE - Bloco G34 – Sala 203 Estudos Linguísticos Arguidor: Prof. Dr. Renilson José Menegassi Marina Casaril – PROVA BRASIL: É POSSÍVEL PROPOR AVALIAÇÕES DE ABRANGÊNCIA NACIONAL EM TERMOS DE LETRAMENTO COMO PRÁTICA SOCIAL? (projeto) Shirlei Aparecida Doretto – O ENSINO DE ANÁLISE LINGUÍSTICA E OS PROFESSORES EM FORMAÇÃO INICIAL: A RELAÇÃO TEORIA/PRÁTICA (projeto) Tatiane Henrique Sousa Machado – RASURAS EM SEGMENTAÇÃO: CONFLITOS PARA A CONSTITUIÇÃO DA NOÇÃO DE PALAVRA (projeto) Sessão 12 – Local: UEM - Auditório do CCH - Bloco H35 – Sala 07 Estudos Literários Arguidor: Prof. Dr. Alexandre Villibor Flory
7
Marcela Gizeli Batalini – A REPRESENTAÇÃO DA MULHER IDOSA NA LITERATURA DE AUTORIA FEMININA CONTEMPORÂNEA: ESTRELA NUA, DE MARIA ADELAIDE AMARAL E MILAMOR, DE LÍVIA GARCIA-ROZA (projeto) Tayza Cristina Nogueira Rossini – A CONSTRUÇÃO DOS CORPOS: A REPRESENTAÇÃO DO CORPO FEMININO NEGRO EM UM DEFEITO DE COR (projeto) Míriam Juliana Pastori Bosco – BIOGRAFISMO E HIBRIDISMO NA LITERATURA BRASILEIRA CONTEMPORÂNEA: UM ESTUDO DE NOVE NOITES, DE BERNARDO CARVALHO (projeto) Simone de Souza Burguês – A TRADUÇÃO (CULTURAL) DE ÓRFÃOS DO ELDORADO PARA O INGLÊS (projeto)
TARDE 13h30min às 15h30min – Apresentação de projetos e dissertações defendidas no PLE Sessão 13 – Local: UEMV – Auditório do CCH - Bloco H35 – Sala 07 Estudos Literários Arguidor: Prof. Dr. Márcio Roberto do Prado Angela Enz Teixeira – CLASSIFICAÇÃO DAS ADAPTAÇÕES BRASILEIRAS DE OBRAS LITERÁRIAS PARA A INFÂNCIA E A JUVENTUDE (projeto) Berta Lúcia Tagliari Feba – PERSONAGENS BOJUNGUIANAS E SUAS REPRESENTAÇÕES (projeto) Joaquim Francisco dos Santos Neto – O MERCADO EDITORIAL NO CAMPO DA LITERATURA INFANTIL E JUVENIL E AS RELAÇÕES QUE ESTABELECE COM O GÊNERO DRAMÁTICO NO BRASIL (projeto) Andressa Fajardo – LUÍS DILL E NARRATIVA PARA JOVENS: O GÊNERO POLICIAL (projeto) Sessão 14 – Local: UEM - Bloco G34 – Sala 216 Estudos Linguísticos Arguidora: Profª Drª Ana Cristina Jaeger Hintze Simone Maria Barbosa Nery Nascimento – A ESTRUTURA RETÓRICA DO TEXTO E A ORGANIZAÇÃO TEXTUAL DE SERMÕES (projeto) Fernanda Callefi – PRODUTIVIDADE E A CRIATIVIDADE DOS NEOLOGISMOS SEMÂNTICOS EM BLOGS (projeto) Bruna Plath Furtado – A CONDICIONALIDADE EXPRESSA PELO QUANDO NO PORTUGUÊS ARCAICO (projeto) Fernanda Trombini Rahmen Cassim – AS RELAÇÕES RETÓRICAS ESTABELECIDAS POR PORÇÕES TEXTUAIS QUE APRESENTAM PARÁFRASE E CORREÇÃO NA CONSTRUÇÃO DO TEXTO FALADO (projeto) Sessão 15 – Local: UEM – Auditório do PLE - Bloco G34 – Sala 203 Estudos Linguísticos Arguidora: Profª Drª Roselene de Fátima Coito Douglas Zampar – FORMAÇÃO IMAGINÁRIA E MEMÓRIA DISCURSIVA: PT E PSDB NA FOLHA DE S. PAULO (projeto) Amarildo Pinheiro Magalhães – POLÍTICA E RELIGIÃO NA CAMPANHA PRESIDENCIAL DE 2010: UMA PROPOSTA DE ABORDAGEM DISCURSIVA (projeto) Jefferson Gustavo dos Santos Campos – TECNOLOGIAS DE LEITURA E INOVAÇÃO EM REGIMES DE VER E DE DIZER A ARTE: UMA POLÍTICA DE ACESSIBILIDADE CULTURAL NO ESPAÇO VIRTUAL (projeto)
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Elaine de Moraes Santos – METAMORFOSES DA CORPOREIDADE POLÍTICA NOS SEMINÁRIOS BRASILEIROS: O ENQUADRAMENTO DE DILMA ROUSSEFF NAS ELEIÇÕES DE 2010 (projeto) 15h30min às 15h45min - Intervalo 15h45min às 17h30min - Apresentação de projetos e dissertações defendidas no PLE Sessão 16 – Local: UEM – Auditório do CCH - Bloco H35 – Sala 07 Estudos Literários Arguidora: Profª Drª Luzia Aparecida Berloffa Tofalini Lilian Cristina Marins Prieto - LETRAMENTO MULTIMODAL, CIBERAGÊNCIA E (RE)INCLUSÃO SOCIAL: CONVERGÊNCIAS ENTRE O CÂNONE SHAKESPEARIANO E A TELENOVELA O CRAVO E A ROSA E A FORMAÇÃO CRÍTICA NA TERCEIRA IDADE (projeto) Sirlei Cardoso Cordeiro Vimieiro – LETRAMENTO, LEITURA LITERÁRIA E ESCOLA: UMA PRÁTICA SOCIAL (projeto) Luciene Aparecida Sgobero Uller – FORMAÇÃO DE LEITOR LITERÁRIO NA ESCOLA PÚBLICA: PROBLEMAS E DESAFIOS DE TODA COMUNIDADE ESCOLAR (projeto)
9
SUMÁRIO (ordem alfabética por autor de trabalho)
DISSERTAÇÃO DEFENDIDA
Pág.
1. Adélia Aparecida Pereira da Silva Rodrigues PERGUNTAS DE LEITURA E CONSTRUÇÃO DE SENTIDOS: EXPERIÊNCIA COM 6º ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL
13
PROJETOS DE DISSERTAÇÕES
1. Aline Carla Dalmutt DOS “VELHOS BRINQUEDOS DE SONHO” À “INFÂNCIA PAVOROSAMENTE PERDIDA” – A PAISAGEM DE LISBOA NA INFÂNCIA DE PESSOA
14
2. Alexandre Gaioto Martins ASPECTOS LÍRICOS EM DALTON TREVISAN
14
3. Ana Cláudia Paschoal ESPAÇO E SILÊNCIO EM PAULINHO PERNA TORTA E ABRAÇADO AO MEU RANCOR, DE JOÃO ANTÔNIO
15
4. Ana Paula da Silva UMA ANÁLISE DAS POSSIBILIDADES REFERENCIAIS NA COLUNA DE JOSÉ SIMÃO
15
5. Andressa Fajardo LUÍS DILL E NARRATIVA PARA JOVENS: O GÊNERO POLICIAL
16
6. Bruna Plath Furtado A CONDICIONALIDADE EXPRESSA PELO QUANDO NO PORTUGUÊS ARCAICO
16
7. Cristina Silva dos Santos Armelin UM ESTUDO DOS PROCESSOS REFERENCIAIS EM ARTIGOS DE MODA
17
8. Denise Moreira Gasparotto O TRABALHO DOCENTE DE REVISÃO E REESCRITA A PARTIR DO GÊNERO TEXTUAL NARRATIVA DE TERROR
18
9. Diana Milena Heck A REPRESENTAÇÃO DA MORTE E SEUS SIGNIFICADOS EM AS INTERMITÊNCIAS DA MORTE, DE JOSÉ SARAMAGO
18
10. Douglas Zampar FORMAÇÃO IMAGINÁRIA E MEMÓRIA DISCURSIVA: PT E PSDB NA FOLHA DE S. PAULO
19
11. Eduardo Navarrete MASCULINO E FEMININO EM RADUAN NASSAR
20
12. Fátima Christina Calicchio A HIPOTAXE ADVERBIAL: FUNÇÕES TEXTUAL-DISCURSIVAS NO GÊNERO RESPOSTA ARGUMENTATIVA
20
13. Fernanda Callefi PRODUTIVIDADE E A CRIATIVIDADE DOS NEOLOGISMOS SEMÂNTICOS EM BLOGS
21
10
14. Fernanda Silveira Boito LEGENDAGEM E O PROCESSO TRADUTÓRIO: UMA ABORDAGEM DISCURSIVA DA TRADUÇÃO PARA LEGENDAS DO DOCUMENTÁRIO “LIXO EXTRAORDINÁRIO”
21
15. Fernanda Trombini Rahmen Cassim AS RELAÇÕES RETÓRICAS ESTABELECIDAS POR PORÇÕES TEXTUAIS QUE APRESENTAM PARÁFRASE E CORREÇÃO NA CONSTRUÇÃO DO TEXTO FALADO
22
16. Fernando Sachetti Bonfim GRAMATICALIZAÇÃO DO ITEM LINGUÍSTICO ASSIM: SUA FUNCIONALIDADE NOS PROCESSAMENTOS COGNITIVO, IDEACIONAL, INTERPESSOAL E TEXTUAL
23
17. Hoster Older Sanches DISPOSITIVO DE SEXUALIDADE E O DISCURSO SOBRE A AIDS NO BRASIL DOS ANOS 1980
23
18. Janaina Lacerda da Silva ESTUDO DAS ROTINAS DE ESCRITA DO PAS-UEM
24
19. Jefferson Gustavo dos Santos Campos TECNOLOGIAS DE LEITURA E INOVAÇÃO EM REGIMES DE VER E DE DIZER A ARTE: UMA POLÍTICA DE ACESSIBILIDADE CULTURAL NO ESPAÇO VIRTUAL
25
20. Juliane Nadal Cavalheiro da Silva VOZES DO SÍTIO: A PRESENÇA E A AUSÊNCIA DE ILHAS POLIFÔNICAS NAS NARRATIVAS LOBATIANAS
25
21. Larissa Walter Tavares O ESPAÇO EM PEDRO PÁRAMO, DE JUAN RULFO
26
22. Leandro Vieira O SENHOR DOS ANÉIS E O CÂNONE OCIDENTAL: J.R.R. TOLKIEN E A TRADIÇÃO CLÁSSICA
26
23. Luana Cimatti Zago SOBRE O CONCEITO DE FORMAÇÃO DISCURSIVA: UMA PROPOSTA DE ABORDAGEM NO DISCURSO BÍBLICO
27
24. Luciene Aparecida Sgobero Uller FORMAÇÃO DE LEITOR LITERÁRIO NA ESCOLA PÚBLICA: PROBLEMAS E DESAFIOS DE TODA COMUNIDADE ESCOLAR
28
25. Marcela Gizeli Batalini A REPRESENTAÇÃO DA MULHER IDOSA NA LITERATURA DE AUTORIA FEMININA CONTEMPORÂNEA: ESTRELA NUA, DE MARIA ADELAIDE AMARAL E MILAMOR, DE LÍVIA GARCIA-ROZA
28
26. Maria Elisa Dias Fraga O TEATRO DE CHICO BUARQUE EM TRÊS TEMPOS: RODA VIVA, GOTA D´ÁGUA E ÓPERA DO MALANDRO
29
27. Marina Casaril PROVA BRASIL: É POSSÍVEL PROPOR AVALIAÇÕES DE ABRANGÊNCIA NACIONAL EM TERMOS DE LETRAMENTO COMO PRÁTICA SOCIAL?
30
28. Mateus dos Santos Moscheta BERTOLT BRECHT E O TEATRO DIALÉTICO NO BRASIL PÓS-1985: A EXCEÇÃO E A REGRA EM DUAS ENCENAÇÕES PARANAENSES
30
29. Míriam Juliana Pastori Bosco BIOGRAFISMO E HIBRIDISMO NA LITERATURA BRASILEIRA CONTEMPORÂNEA: UM ESTUDO DE NOVE NOITES, DE BERNARDO CARVALHO
31
11
30. Rafael Andrade Moreira “É PRECISO NÃO TER MEDO, É PRECISO TER A CORAGEM DE DIZER”: ESTUDO DA PARRHESIA NO DISCURSO DE CARLOS MARIGHELLA
32
31. Renata Santana OS ESPAÇOS NARRATIVOS EM TODOS OS NOMES, DE JOSÉ SARAMAGO
32
32. Shirlei Aparecida Doretto O ENSINO DE ANÁLISE LINGUÍSTICA E OS PROFESSORES EM FORMAÇÃO INICIAL: A RELAÇÃO TEORIA/PRÁTICA
33
33. Simone de Souza Burguês A TRADUÇÃO (CULTURAL) DE ÓRFÃOS DO ELDORADO PARA O INGLÊS
34
34. Sirlei Cardoso Cordeiro Vimieiro LETRAMENTO, LEITURA LITERÁRIA E ESCOLA: UMA PRÁTICA SOCIAL
34
35. Tatiane Henrique Sousa Machado RASURAS EM SEGMENTAÇÃO: CONFLITOS PARA A CONSTITUIÇÃO DA NOÇÃO DE PALAVRAS
35
38. Tayza Cristina Nogueira Rossini A CONSTRUÇÃO DOS CORPOS: A REPRESENTAÇÃO DO CORPO FEMININO NEGRO EM UM DEFEITO DE COR
36
37. Verônica Braga Birello A AUTORIA, A INTERPRETAÇÃO E A TRADUÇÃO INTERSEMIÓTICA: UMA DISCUSSÃO DISCURSIVA – DO LIVRO À TELA DE ANIMAÇÃO
36
PROJETOS DE TESE
Pág.
1. Adélli Bortolon Bazza SUBJETIVAÇÃO NO DISCURSO DE SUJEITOS IDOSOS EM CONTEXTO DE ESTUDOS NA UNATI - UEM
37
2. Amarildo Pinheiro Magalhães POLÍTICA E RELIGIÃO NA CAMPANHA PRESIDENCIAL DE 2010: UMA PROPOSTA DE ABORDAGEM DISCURSIVA
38
3. Ana Cristina Fernandes Pereira Wolff ENTRE O LÍRICO E O PICTÓRICO: A ALDEIA DE VERGÍLIO FERREIRA
38
4. Angela Enz Teixeira CLASSIFICAÇÃO DAS ADAPTAÇÕES BRASILEIRAS DE OBRAS LITERÁRIAS PARA A INFÂNCIA E A JUVENTUDE
39
5. Arnaldo Pinheiro Mont’Alvão Júnior LITERATURA NERD: CONSTRUÇÃO/CONSOLIDAÇÃO DE UMA CULTURA LITERÁRIA BRASILEIRA
40
6. Berta Lúcia Tagliari Feba PERSONAGENS BOJUNGUIANAS E SUAS REPRESENTAÇÕES
40
7. Cristiane Malinoski Pianaro Angelo MEDIAÇÕES PEDAGÓGICAS À PRÁTICA DOCENTE EM SALAS DE APOIO À APRENDIZAGEM DE LÍNGUA PORTUGUESA
41
8. Elaine de Moraes Santos METAMORFOSES DA CORPOREIDADE POLÍTICA NOS SEMANÁRIOS BRASILEIROS: O ENQUADRAMENTO DE DILMA ROUSSEFF NAS ELEIÇÕES DE 2010
41
12
9. Érica Danielle Silva IMAGENS DO REAL E O REAL DAS IMAGENS: A ARQUITETURA DISCURSIVA DA (D)EFICIÊNCIA NO CINEMA
42
10. Giuliano Hartmann NATÁLIA DE HELDER MACEDO, UMA BIOGRAFIA DE SI: UM DIÁRIO DE RESISTÊNCIA PASSIVA E SIMULACRO AUTORAL
43
11. Hérika Ribeiro dos Santos O PAPEL DAS PRÁTICAS SOCIAIS DE LINGUAGEM NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES
44
12. Jakeline Aparecida Semechechem IDEOLOGIAS LINGUÍSTICAS E DE LETRAMENTO EM UMA ESCOLA DO CAMPO EM CONTEXTO MULTILÍNGUE NA SUPERDIVERSIDADE: DAS IDEOLOGIAS ÀS PRÁTICAS DE LETRAMENTO
44
13. Jane Cristina Beltramini Berto CARACTERIZAÇÃO DE CONCEITOS SOBRE REESCRITA, REVISÃO, REFACÇÃO E RETEXTUALIZAÇÃO
45
14. Joaquim Francisco dos Santos Neto O MERCADO EDITORIAL NO CAMPO DA LITERATURA INFANTIL E JUVENIL E AS RELAÇÕES QUE ESTABELECE COM O GÊNERO DRAMÁTICO NO BRASIL
45
15. Joyce Luciane Correia Muzi “VESTIDA DE AZUL E BRANCO...” A NORMALISTA NÃO MAIS ESTÁ: A REPRESENTAÇÃO DA PROFESSORA NO ROMANCE BRASILEIRO DE AUTORIA FEMININA
46
16. Juliana da Silveira TWITTER, MÍDIA E POLÍTICA: OS FUNCIONAMENTOS DISCURSIVOS DA HASHTAG #MENSALÃO
46
17. Liliam Cristina Marins Prieto LETRAMENTO MULTIMODAL, CIBERAGÊNCIA E (RE)INCLUSÃO SOCIAL: CONVERGÊNCIAS ENTRE O CÂNONE SHAKESPEARIANO E A TELENOVELA O CRAVO E A ROSA E A FORMAÇÃO CRÍTICA NA TERCEIRA IDADE
47
18. Simone Maria Barbosa Nery Nascimento A ESTRUTURA RETÓRICA DO TEXTO E A ORGANIZAÇÃO TEXTUAL DE SERMÕES
48
19. Wagner Vonder Belinato NOVAS VOZES PARA CAIO FERNANDO ABREU: DA LITERATURA AUTORAL AO CÂNONE
48
20. Wilma dos Santos Coqueiro POÉTICAS DO DESLOCAMENTO: REPRESENTAÇÕES DE IDENTIDADES FEMININAS NO BILDUNGSROMAN DE AUTORIA FEMININA CONTEMPORÂNEA
49
13
RESUMOS
DISSERTAÇÃO DEFENDIDA
PERGUNTAS DE LEITURA E CONSTRUÇÃO DE SENTIDOS: EXPERIÊNCIA COM 6º ANO DO
ENSINO FUNDAMENTAL
Adélia Aparecida Pereira da Silva RODRIGUES
Prof. Dr. Renilson José MENEGASSI
Este estudo, vinculado ao Grupo de Pesquisa “Interação e Escrita” (UEM_CNPq –
www.escrita.uem.br) e SEED-Paraná, destaca uma prática de avaliação de leitura muito presente
nas salas de aula, as perguntas de leitura, que, embora sejam recorrentes em todas as disciplinas,
não se efetivam como eficientes no processo de ensino e aprendizagem. O trabalho realizado no 6º
ano do Ensino Fundamental de uma escola pública de Maringá, no Noroeste paranaense, objetivou
demonstrar como é possível alterar as tradicionais perguntas de leitura, que normalmente figuram
no livro didático, construindo questionamentos pertinentes, que levam o aluno a refletir sobre suas
construções de sentidos e discutir o assunto do texto de forma autônoma e crítica. No intuito de
atingir o objetivo, partiu-se das perspectivas sobre leitura, centradas nos estudos da Linguística
Aplicada e da prática escolar de leitura, pressupostos discutidos por Dell’Isola (1996), Solé (1998),
Colomer & Camps (2002) e ampliados por Menegassi (1995; 2010; 2011), o qual ressalta a
necessidade dessa proposta como parte do processo de desenvolvimento do leitor na escola, para a
construção do sentido, fator determinante a qualquer leitura em sala de aula. O trabalho também
se pauta sob o respaldo das teorias de Bakhtin (2003) e Bakhtin/Volochinov (2004), que vêem a
linguagem como um produto sócio-histórico, como lugar de "inter-ação" entre sujeitos sociais,
coparticipantes da construção do contexto ideológico no qual convivem. Nesse sentido, as práticas
de leitura levadas para a sala, mediadas pelo professor, precisam tornar-se atividades bem planejas
e com objetivos que sejam sustentados por uma teoria que proporcione ao aluno uma verdadeira
interação e tomadas de posição diante do texto. Para que isso se efetive, o estudante precisa ser
preparado para constituir-se como leitor e escritor autônomo no seu próprio processo de ensino-
aprendizagem. Nesse procedimento, as perguntas de leitura precisam construir verdadeiras
reflexões, direcionando o estudante no momento complexo de criação de sentidos, usando as
etapas de leitura para atingir os sentidos textuais, a partir de um processo crescente de
dificuldades, começando no nível mais elementar, da decodificação, a fim de evoluir para a
compreensão, até chegar ao nível mais elaborado, o da interpretação, em que o seu contexto social
reflete a leitura. Além disso, na sala de aula, o processo se completa quando, ao produzir um texto-
resposta para as perguntas, os alunos atentarem para a construção completa do enunciado, que
consiste inicialmente no resgate da temática, completando com a reflexão realizada para responder
à indagação que apresenta como resposta. Após esse processo, o aluno certamente passa pela
última etapa da leitura, a retenção. Por se tratar de uma pesquisa que coleta dados no contexto
natural de ensino, o experimento pode ser definido como pesquisa-ação de cunho qualitativo. Além
disso, envolve a descrição de dados alcançados a partir da imersão do pesquisador com o foco
pesquisado; enfatizando mais o processo do que o produto. Dessa forma, esse processo permite ao
pesquisador se autoavaliar, provocando transformações em sua prática na sala de aula. Os
resultados das análises demonstram que a ordenação e sequenciação de perguntas, assim como as
ações do professor, na mediação, na maior parte do tempo, contribuem para um desempenho
satisfatório do estudante, desenvolvendo-lhe autonomia e criticidade leitora.
Palavras-chave: Leitura; Perguntas; Ensino Fundamental.
Área de concentração: Estudos Linguísticos.
14
PROJETOS DE DISSERTAÇÕES
DOS “VELHOS BRINQUEDOS DE SONHO” À “INFÂNCIA PAVOROSAMENTE PERDIDA”
A PAISAGEM DE LISBOA NA INFÂNCIA DE PESSOA
Aline Carla DALMUTT
Clarice Zamonaro CORTEZ
Resumo: Lisboa sempre se manifestou de modo emotivo aos olhos e sentidos de Fernando Pessoa.
Isso porque o poeta viveu a sua primeira infância na capital portuguesa, assim a cidade é dotada de
uma série de encantamentos. Na verdade, Pessoa é Lisboa e Lisboa é Pessoa, na qual as vivências
mais profundas do poeta encontram ressonância. Segundo o próprio Pessoa, o heterônimo Álvaro de
Campos foi sua invenção mais íntima, na qual ele depositou todo o seu sentir. Eis a missão desse
heterônimo: “Sentir tudo de todas as maneiras”. De fato, Campos é o retrato “melhorado”, física e
moralmente, do seu criador. Ele teve o papel de viver os males de Pessoa e assim, de libertá-los.
Em vista disso, o engenheiro é o Pessoa mais intenso, mais instigante, mais picante e com mais
relevo. Por isso, é possível dizer que, sobretudo, era em Campos que Pessoa, mais do que em sua
própria voz, revivia frequentemente e com mais ênfase as imagens da sua infância pavorosamente
perdida, isto é, a paisagem de Lisboa, suas ruas, o “Tejo”, o céu e o porto. Sendo assim, objetiva-se
compreender a relação entre a trajetória biográfica do heterônimo Álvaro de Campos e as sensações
apanhadas na paisagem de Lisboa que repercutem na sua poesia de tom infantil, analisando os
aspectos imagéticos e simbólicos. Os conceitos de espaço poético serão embasados por Maurice
Blanchot, Carlos Reis e Ana Cristina M. Lopes, Gaston Bachelard, Antonio Candido, Antonio Dimas,
Alfredo Bosi, Michel Collot, entre outros. O corpus contempla desde as grandes Odes sensacionistas
até os conhecidos “poemas confessionais”, em que o poeta tenta desesperadamente recuperar o
estado idílico de sua infância perdida. Impossibilidade que traz uma galeria de imagens que
recorrem ao cenário da cidade de Lisboa, afinal, foi ali que Pessoa nasceu, viveu/sentiu e morreu.
Também, pretende-se retratar a maneira que o engenheiro Campos representou a Lisboa do final do
século XIX e início do século XX.
Palavras-chave: Fernando Pessoa; Álvaro de Campos; Paisagem.
Área de Concentração: Estudos Literários.
ASPECTOS LÍRICOS EM DALTON TREVISAN
Alexandre Gaioto MARTINS
Prof. Dr. Milton Hermes RODRIGUES
A proposta desta dissertação é analisar contos de Dalton Trevisan sob o paradigma do discurso
lírico. Considerado um dos maiores escritores brasileiros de todos os tempos, o contista curitibano
Dalton Trevisan, de 89 anos, publicou mais de trinta livros, desde a sua estreia na literatura com
Novelas Nada Exemplares (1959), e teve suas obras vertidas para o inglês, o espanhol e o italiano.
Durante a sua trajetória literária, foi contemplado, por mais de uma vez, com importantes prêmios
da língua portuguesa, como o Camões, o Portugal Telecom e o Jabuti. Avesso a aparições públicas, o
autor se mantém, até hoje, distante dos eventos em que é homenageado, não permite ser
fotografado nem concede entrevistas. O corpus desta dissertação será composto por contos
publicados nos livros Contos Eróticos (1984), Ah, É? (1994) e Novos Contos Eróticos (2013). O
objetivo geral é o de reconhecer nessas obras uma espécie de reorientação discurso-estrutural, pela
presença ostensiva do discurso lírico. Serão retomados, nesta dissertação, os estudos desenvolvidos
por Massaud Moisés, Vitor Manuel de Aguiar e Silva, Antonio Candido e Alfredo Bosi, entre outros,
sobre o autor e sobre teoria da poesia. Interessa, neste sentido, estudar a sistemática das
metáforas, por exemplo, e investigar a ironia (que se casa com o grotesco). Uma das hipóteses
dessa pesquisa é de que, a partir da articulação destes três elementos de fundo lírico, a metáfora,
ironia e o grotesco, o autor curitibano extrapola a noção mais popular e tradicional do conto,
chegando a assumir a postura de um poeta satírico, ao retratar, sardonicamente, por exemplo, o
envolvimento sexual de seus personagens. Embora os contos de Dalton Trevisan amiúde sejam
objetos de estudos de alunos da graduação, mestrado e doutorado, de diversas instituições do País,
não há, até o momento, tanto quanto eu saiba, uma investigação a partir da perspectiva lírica.
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Nossa pesquisa, portanto, pretende contribuir para a fortuna crítica de Dalton Trevisan.
Palavras-chave: Dalton Trevisan, narrativas, discurso lírico.
Área de concentração: Estudos Literários.
ESPAÇO E SILÊNCIO EM PAULINHO PERNA TORTA E ABRAÇADO AO MEU RANCOR, DE
JOÃO ANTÔNIO
Ana Cláudia PASCHOAL
Profa Dra Luzia Aparecida Berloffa TOFALINI
Visto como escritor representante da massa anônima das grandes cidades, João Antônio recriou
literariamente o ambiente dos marginalizados – jogadores de sinuca, punguistas, otários, moleques
de rua, bêbados, prostitutas, guardadores de automóveis, soldados, porteiros de casa noturna,
cafetões, pedintes, traficantes e malandros – sempre destinados ao abandono e ao anonimato
dentro de um centro urbano que prestigia o homem bem-sucedido. O objetivo central da pesquisa
proposta consiste em examinar as dimensões do espaço e do silêncio em narrativas que abordam a
vida de duas personagens bem diferenciadas do universo criado pelo contista paulistano João
Antônio. Mais especificamente, dois aspectos principais são abordados: a importância do espaço e a
relevância do silêncio e dos silenciamentos que permeiam os textos. O corpus de análise é composto
pelos contos Paulinho Perna Torta e Abraçado ao meu rancor, ambos narrados em primeira pessoa
e ambientados na cidade de São Paulo. O entendimento bastante divulgado de que o escritor se
preocupa em retratar somente personagens que ele mesmo chama de “merdunchos” – os excluídos
e perdedores – é revisto. O estudo tem por base a pesquisa bibliográfica e a análise dos contos
escolhidos. O referencial teórico utilizado para a consecução do trabalho fundamenta-se, no tocante
às questões pertinentes ao espaço ficcional, em A poética do espaço (1996), de Bachelard, O
universo do romance (1976), de Bourneuf e Ouellet e Todas as cidades, a cidade (1994), de Gomes,
entre outros; já as obras As formas do silêncio: no movimento dos sentidos (2007), de Orlandi, e
Silêncio em prosa e verso: minério na fratura das palavras (2007), de Majadas, entre outros, dão
suporte teórico no que tange à dimensão do silêncio nas narrativas selecionadas. Além do
aprofundamento dos conhecimentos relacionados à obra do escritor, ao gênero do conto, à categoria
do espaço e ao modo como o silêncio se apresenta na literatura, espera-se contribuir com as
pesquisas acerca do fazer literário do escritor, abrindo novas perspectivas ao exame de tais
aspectos, tratados com engenho e arte pelo contista paulistano.
Palavras-chave: espaço, João Antônio, silêncio.
Área de Concentração: Estudos Literários.
UMA ANÁLISE DAS POSSIBILIDADES REFERENCIAIS NA COLUNA DE JOSÉ SIMÃO
Ana Paula da SILVA
Profa Dra Ana Cristina Jaeger HINTZE
Muitas são as possibilidades de formas de referência, responsáveis pela coesão e coerência no texto,
apontando certa “garantia” para a progressão do sentido. Esses processos permitem ao produtor de
um enunciado se remeter a outros elementos por meio de anáforas ou catáforas, utilizando-se, para
isso, de elementos linguísticos. As formas de manifestação desse processo de retomada podem se
dar, segundo Koch (2005 apud MARCUSCHI, 2005), tanto por fatores extratextuais quanto
intratextuais. Os fatores intratextuais são aqueles que possuem os referentes marcados na
materialidade do texto, sendo as anáforas e catáforas os mecanismos mais comuns para se fazer
essa remissão. Essas anáforas e catáforas se apresentam, ordinariamente, por: pronomes de
retomada, sinonímia, elipse, repetição e encapsulamento anafórico. Por outro lado, o uso de fatores
extratextuais para se fazer referência surge quando o objeto designado está na situação
extralinguística, isto é, quando há um referente no cotexto/contexto. Constata-se a presença de
referência extratextual, por exemplo, quando se faz uso de um termo que Koch (2005 apud
MARCUSCHI, 2005) denomina como anáfora indireta ou âncora. A anáfora indireta, segundo
Marcuschi (2005), é o fenômeno textual de expressões nominais definidas, ou o uso dos pronomes
interpretados referencialmente, sem que haja um antecedente explícito no texto. É uma estratégia
de ativação de referentes e, portanto, um processo de referenciação implícita. Esta pesquisa visa
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examinar os processos remissivos utilizados pelo colunista do jornal Folha de São Paulo, José Simão,
a fim de analisar as possibilidades referenciais de que o autor se vale para construir a rede
referencial de suas produções. Justifica-se a escolha desse corpus, por se acreditar que José Simão
cria um texto que, apesar de ser publicado em uma sessão diária, destinada à “diversão”, mostra
uma crítica social que se apresenta por meio, principalmente, da ironia. Assim, apesar de parecerem
descompromissados e considerados como “jornalismo de humor”, esses textos têm um compromisso
de catalisar opiniões de vários seguimentos sociais, inclusive do próprio jornal. Desse modo, por
meio de um uso informal de linguagem , o colunista trabalha com uma referência contextual, visto
que, para compreender os seus possíveis propósitos , é necessário que se acompanhem os
acontecimentos de contexto social mais amplo. Para as análises que serão realizadas, utilizar-se-ão
tanto os pressupostos teóricos da perspectiva funcional da linguagem (mais especificamente os de
Halliday (1985)) quanto os da Linguística Textual.
Palavras-chave: processos referenciais; contexto; coerência.
Área de concentração: Estudos Linguísticos.
LUÍS DILL E NARRATIVA PARA JOVENS: O GÊNERO POLICIAL
Andressa FAJARDO
Profª Drª Alice Áurea Penteado MARTHA
A narrativa juvenil brasileira das últimas décadas, constituindo um subsistema diferenciado do
infantil, tem mostrado diferentes facetas temáticas e formais, inclusive com a revitalização de
gêneros clássicos, como o romance policial, contribuindo para aproximar jovens leitores dessa
produção. A partir dessa perspectiva, procuramos, no decorrer desta dissertação, com o apoio de
diferentes teorias e pesquisadores, observar e discutir modos de apropriação de elementos da
narrativa policial, em um corpus de dez obras do escritor gaúcho Luís Dill. A fundamentação teórica
da pesquisa abrange estudos sobre a gênese do romance policial, sobre suas modalidades textuais
(romance de enigma, negro e de suspense), com respaldo nos estudos Todorov (1979), Medeiros e
Albuquerque (1979), Reimão (1983), Boileau e Narcejac (1991), Chandler (2002), Carvalho (2006),
entre outros, os quais foram de grande importância para o estabelecimento de pontos de contato
entre o gênero policial e as narrativas juvenis contemporâneas analisadas. Além disso, valemo-nos
das teorias sobre a Sociologia da leitura, notadamente nas contribuições de Escarpit (1974, 1977),
Barker e Escarpit (1975), Candido (1976), Hauser (1977), Aguiar (1996), Zilberman (2001) e por
fim, das concepções sobre o papel da indústria cultural na produção e veiculação de livros com base
em estudos realizados por Wellershoff (1970), Bourdieu (1974), Eco (1979), Lajolo e Zilberman
(1988) e Horkheimer e Adorno (1990). Como resultados, destacamos que a relação estabelecida
entre a narrativa policial e a juvenil ocorre desde a inserção de temáticas violentas (morte,
violência, criminalidade, etc.), até a forma com que a obra literária é construída, a atmosfera de
mistério e investigação, a inserção das personagens jovens no papel do detetive e/ou do criminoso,
as pistas a serem investigadas, a presença de um crime, entre outros fatores, responsáveis não
apenas em aproximar os dois objetos estéticos, mas também por proporcionar ao jovem leitor a
partir do cotejamento entre dois mundos – realidade e ficção - o questionamento acerca de
acontecimentos e emoções que o envolvem como ser-no-mundo.
Palavras-chave: Literatura juvenil; Luís Dill; Narrativa juvenil policial.
Área de concentração: Estudos Literários.
A CONDICIONALIDADE EXPRESSA PELO QUANDO NO PORTUGUÊS ARCAICO
Bruna Plath FURTADO
Maria Regina PANTE
Neste trabalho analisaremos as sentenças da língua portuguesa do período arcaico que expressam
condicionalidade a partir da utilização da conjunção quando, definida pela gramática tradicional
como introdutória de uma noção temporal. Estudos como o apresentado por Hirata-Vale (2005)
comprovam a eficácia comunicativa e a recorrência de expressões cujo valor condicional não
acontece por meio da canonizada estrutura “se a, (então) b”, tais estudos confirmam a relevância
de pesquisas que se proponham a compreensão e descrição de determinadas estratégias
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linguísticas. Como objetivo deste trabalho, pretendemos empreender uma descrição sobre as
expressões de condicionalidade marcadas pela conjunção quando na língua portuguesa do período
arcaico. Para tanto utilizaremos como fundamentação teórica os estudos funcionalistas da
linguagem, os quais, conforme Neves (1994, p. 109), se interessam pela verificação de como a
comunicação é obtida em determinada língua natural e de como os usuários da língua se comunicam
eficientemente. Assim, de acordo com a autora (NEVES, 1994, p. 109), todo estudo de uma língua
natural que seja fundamentado em uma teoria funcionalista examina a competência comunicativa,
considerando, para isso, as expressões das estruturas linguísticas como configurações de suas
funções. Prototipicamente define-se que uma combinação de orações em que haja relação de
condicionalidade possui sentenças iniciadas pela conjunção SE, as quais, conforme Neves (2011,
p.829), podem apresentar os seguintes modelos de construção: SE + ORAÇÃO CONDICIONAL +
ORAÇÃO PRINCIPAL ou ORAÇÃO PRINCIPAL + SE + ORAÇÃO CONDICIONAL. Entretanto Neves
(2011, p.831) salienta que, assim como o que ocorre em construções com determinados tempos
verbais, a condicionalidade pode ser expressa a partir de construções temporais, nesse caso a noção
de condição pode mesclar-se à noção expressa pelo conectivo em questão. Como corpus
utilizaremos, inicialmente, oito obras do século XV do português, sendo elas: Chronica de El-Rei D
Afonso II, Chronica d'El-Rei D. Affonso III, Chronica de El-Rei D. Affonso V volumes I, II e III,
Chronica de El-rey D Diniz volumes I e II e Chronica de El-rey D Sancho II. As obras selecionadas
são de autoria de Rui Pina, o qual, conforme Moisés (1974,p. 44), foi nomeado cronista-mor do
reino em 1497.
Palavras-chave: condicionalidade, construções temporais, português arcaico.
Área de concentração: Estudos Linguísticos.
UM ESTUDO DOS PROCESSOS REFERENCIAIS EM ARTIGOS DE MODA
Cristina Silva dos Santos ARMELIN
Profa Dra Ana Cristina Jaeger HINTZE
A coesão e coerência são alguns dos principais fatores responsáveis pela textualidade, ou seja,
esses processos constituem uma das principais propriedades que definem certo conjunto de palavras
como sendo um texto. A coerência é a responsável por manter uma relação lógica entre as ideias, a
fim de que esse texto não seja apenas um amontoado de frases isoladas. Ela tem, então, a
incumbência de fazer que quem o leia seja capaz de compreendê-lo. A coesão textual, por seu
turno, (tanto a referencial como a sequencial) é o elemento chave do processo de construção
textual, visto que, certifica uma ligação linguística entre os componentes do texto. Neste trabalho,
no entanto, dá-se enfoque aos processos referenciais, os quais podem ser anafóricos ou catafóricos
e são responsáveis pela progressão textual das produções escritas. Esses elementos anafóricos e
catafóricos são umas das mais evidentes demonstrações da coesão e da coerência em um texto e
manifestam-se, comumente, por meio dos encapsulamentos anafóricos, das elipses, da sinonímia,
da repetição, dos pronomes de retomada e da anáfora indireta. Assim, os processos referenciais
serão investigados em corpus composto por artigos opinativos de moda (colunas, apreciação de
estilistas, editoriais) da Revista Select, os quais serão selecionados por período de um ano e
analisados por meio de uma abordagem quantitativo-qualitativa, a fim de evidenciar quais
estratégias de referência mais comuns influenciam possivelmente a criação/formação de opinião dos
leitores, visto que, além de apresentarem processos de coesão e da coerência, também favorecem o
encadeamento argumentativo desses textos. Desse modo, a presente pesquisa visa demonstrar
como tais processos referenciais utilizados por seus autores conduzem à ideia do convencimento dos
leitores na aquisição de produtos de moda “imprescindíveis” à“boa” auto-imagem . A escolha desse
corpus justifica-se, também, pelo fato de o mercado da moda ser muito lucrativo e movimentar
milhões na economia global. Para realizar tais análises, este trabalho se apoia não só nos
fundamentos teóricos da perspectiva funcionalista da linguagem, mas também nos pressupostos
teóricos da Linguística Textual.
Palavras-chave: processos referenciais; coesão e coerência; argumentatividade.
Área de concentração: Estudos Linguísticos.
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O TRABALHO DOCENTE DE REVISÃO E REESCRITA A PARTIR DO GÊNERO TEXTUAL
NARRATIVA DE TERROR
Denise Moreira GASPAROTTO
Prof. Dr. Renilson José MENEGASSI
A pesquisa enfoca a prática docente com a revisão e a reescrita de textos junto a alunos de 4º e 5º
anos do Ensino Fundamental I, na região Noroeste do estado do Paraná, a partir da produção, em
sala de aula, do gênero textual Narrativa de Terror. Concebendo a reescrita como trabalho e
pautados nos pressupostos do Círculo de Bakhtin, no tocante ao dialogismo, à interação, à
responsividade do discurso escrito, ao gênero; e em trabalhos sobre revisão e reescrita de textos, a
partir dos estudos da Linguística Aplicada, observou-se a prática de revisão de textos de uma
professora, após um período de orientação teórico-metodológica, e o processo de interação
estabelecido com seus alunos pela reescrita. No trabalho de orientação à docente, preconizou-se a
caracterização do gênero textual Narrativa de Terror, ao demonstrar que os apontamentos para
reescrita deveriam ser observados a partir desse pressuposto. A coleta de registros ocorreu durante
o segundo semestre de 2012, após intervenção teórico-metodológica colaborativa realizada com a
professora, oferecendo-lhe: 1) subsídios teóricos sobre: a) concepções de escrita; b) caracterização
sobre o gênero textual eleito; c) estudo sobre as propostas teórico-metodológicas de correção
textual; d) encaminhamentos dos comentários de revisão no texto do aluno; e) operações
linguístico-discursivas na reescrita; 2) discussões orientadas antes e durante o trabalho em sala se
aula, a fim de subsidiar a compreensão da proposta de trabalho e avaliar condutas em andamento.
Os resultados das análises apontam que: a) a internalização de pressupostos teórico-metodológicos
se efetiva quando um só gênero textual é enfocado; b) as orientações e o acompanhamento com a
docente são práticas necessárias no processo de formação continuada; c) o aprimoramento no
desenvolvimento da escrita dos alunos; d) a necessidade de desenvolver e aprimorar estratégias, de
revisão e reescrita, próprias ao gênero textual investigado; e) o trabalho com a revisão e a reescrita
de textos em gênero textual específico se mostra mais eficaz, em virtude das necessidades desse
enunciado; f) a possibilidade de aumentar o nível de interação entre professor, texto e aluno,
conforme as escolhas metodológicas de revisão e a consideração observação atenta à capacidade de
compreensão do aluno.
PALAVRAS-CHAVE: Revisão, reescrita, Narrativa de Terror.
Área de concentração: Estudos linguísticos.
A REPRESENTAÇÃO DA MORTE E SEUS SIGNIFICADOS EM AS INTERMITÊNCIAS DA MORTE,
DE JOSÉ SARAMAGO
Diana Milena HECK
Profa Dra Marisa Corrêa SILVA
Morte, palavra tão temida por séculos, inclusive pela sociedade contemporânea, sempre foi alvo de
grandes indagações e mistério, justamente por não saber-se como é e se há algo após a morte, pois
só se vive a experiência da morte do outro, o que não ajuda, especificamente, a saber como será
nossa própria morte. O tema, apesar de ter sido pouco a pouco instituído como interdito no
Ocidente, é contemplado em larga escala no que diz respeito à Literatura e outras Artes, como o
teatro, a música, pintura e dança. Em quase toda obra literária o leitor depara com a morte, seja ela
tema principal ou transversal. O certo é que há certa resistência a reflexões sobre o assunto, sendo
o tema considerado por vezes mórbido se não receber um tratamento "consolador". Levando em
consideração a ampla abordagem e, ao mesmo tempo, recusa do tema, o que nos parece
contraditório, temos como objetivo do trabalho analisar a morte, enquanto fenômeno e enquanto
personagem, representada por José Saramago, em As Intermitências da Morte (2005). Para tanto,
realizamos uma análise reflexiva da obra com a intenção de revelar como o autor delineia a imagem
da morte e como isso mexe, não só no imaginário dos personagens, mas também em toda a esfera
social, histórica, econômica e cultural do que se estabeleceu como tabu em relação ao assunto. Em
outro momento, focamos nossa análise na questão dos moribundos, e como estes são tratados pelos
personagens “saudáveis” diante da greve da morte. Para tal pesquisa, nos respaldamos,
principalmente, na teoria do filósofo esloveno Slavoj Žižek que, além de realizar uma releitura de
Lacan, contribui para nosso trabalho em relação às discussões sociais, que estão estritamente
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relacionadas com o tema da morte. Além da contribuição teórica de Žižek, nos amparamos em um
referencial específico sobre a abordagem da morte no Ocidente, como o de Philippe Ariès (2003),
Júlio José Chiavenato (1998) e Edgar Morin (1970), além de contribuições teóricas que nos auxiliam
em questões próprias do romance, como o uso de Antoine Compagnon (2012), com a questão
autoral. Até o momento, percebemos que o tratamento dado ao moribundo na obra reflete muito em
relação ao cuidado com os mesmos na vida real e a verdadeira intenção de Saramago em retratar a
imagem da morte como má (percepção esta que nos é comum) ou se o autor consegue, através da
humanização desta, modificar sua imagem malvada, a fim de fazer seu leitor perceber que apesar
de dolorosa, é fundamental, será melhor analisada no quarto capítulo deste trabalho (em
construção).
Palavras-chave: Materialismo lacaniano; morte; José Saramago.
Área de concentração: Estudos Literários.
FORMAÇÃO IMAGINÁRIA E MEMÓRIA DISCURSIVA: PT E PSDB NA FOLHA DE S. PAULO
Douglas ZAMPAR
Profa Dra Maria Célia Cortez PASSETTI
Consideramos o processo discursivo eleitoral um processo de produção e circulação de sentidos, de
modo que sua compreensão demanda um olhar que vise compreender a forma como os discursos
envolvidos nesse processo são simbolicamente construídos. Diante disso, elegemos como objeto de
pesquisa o discurso de um meio de comunicação de grande circulação no cenário nacional, a Folha
de S. Paulo, e tomamos como foco de nossa atenção a cobertura das cinco últimas eleições
presidenciais, tendo como objeto central de nosso trabalho as eleições 2010. Sabemos que dois
partidos centralizam as disputas presidenciais no Brasil desde 1994: o PT (Partido dos
Trabalhadores) e o PSDB (Partido da Social Democracia Brasileira), sendo assim, voltamos nosso
olhar para o imaginário acerca desses partidos que funciona na Folha de S. Paulo, observando traços
desse funcionamento nas eleições de 2010 e buscando compreende-los em sua relação com as
demais eleições, em um esforço para observar o papel da história na produção de efeitos de sentido.
Temos, assim, como objetivo descrever o funcionamento do imaginário do PT e do PSDB na Folha de
S. Paulo nas eleições 2010 discutindo os modos como a memória discursiva, estruturada em redes
de sentido, constitui o imaginário dos partidos. Fundamentamos nosso trabalho na Análise de
Discurso, em especial os trabalhos de Michel Pêcheux. Tomamos a formação imaginária como aquilo
que constitui as posições sujeitos envolvidas em uma comunicação e também os conceitos dos
referentes de que se fala. Sendo assim, para compreender quem fala, para quem e sobre o que é
preciso observar a inscrição da língua na história. A memória discursiva da conta também dessa
inscrição da língua na história, sendo o funcionamento que sustenta a possibilidade do sentido, a
possibilidade do dizer. As palavras não existem como entidades que contém significado, mas antes
como traços que apontam para os diversos momentos em que são utilizadas e derivam dessas
diversas utilizações as suas possibilidades múltiplas de interpretação. Em nosso trabalho, buscamos
reunir enunciados diversos do jornal, os quais serão recortados em torno dos temas mais
recorrentes nas eleições 2010, e mostrar como esses enunciados se relacionam por meio da
constituição de redes de sentido. O trabalho com eleições diversas nos permite compreender como
determinados traços do imaginário dos partidos se mantém ou se modificam nas diferentes eleições.
Esperamos mostrar, como nosso trabalho, traços constitutivos do imaginário dos dois partidos que
centralizam as disputas presidenciais no Brasil, mostrando como o funcionamento desses
imaginários atua na produção de efeitos de sentidos nos texto publicados pela Folha de S. Paulo,
podendo destacar traços como a ligação do PSDB a um imaginário mais alinhado à religião, à
propriedade privada (e também à prática da privatização), enquanto o PT vem marcado por uma
oposição à religião, à prática da corrupção e uma ligação às classes sociais de menor renda.
Palavras-chave: eleições; formações imaginárias; memória discursiva.
Área de concentração: Estudos Linguísticos.
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MASCULINO E FEMININO EM RADUAN NASSAR
Eduardo NAVARRETE
Profa Dra Luzia Aparecida Berloffa TOFALINI
As obras de Raduan Nassar, como um todo, têm em comum, entre outras coisas, a apresentação de
conflitos muito marcantes entre homens e mulheres. Três de seus textos têm como eixo central o
desenvolvimento desses conflitos entre os sexos especificamente na sociedade contemporânea, isto
é, na sociedade dos meados do século XX. Hoje de Madrugada, Ventre Seco e Um Copo de Cólera
foram escritos no ano de 1970 e todos têm uma trama muito similar trazendo relacionamentos
amorosos conturbados. Sabemos que desde os anos 1950 a sociedade ocidental vem sofrendo
transformações culturais, econômicas, políticas, etc., que resultaram na ascensão do que se
convencionou chamar de pós-modernidade. Como não poderia deixar de ser, tais mudanças tiveram
reverberações no comportamento de homens e mulheres, uma vez que abalaram os antigos e
persistentes padrões de masculinidade e feminilidade. Os três textos de Nassar selecionados por nós
foram escritos no momento em que essas transformações começaram a ecoar no Brasil e Nassar,
como uma testemunha desse momento histórico, escreve aquelas três narrativas tendo justamente
os padrões de gênero como tema central. Nosso objetivo é, à luz desse contexto, analisar as três
obras com vistas a revelar como se deu a construção estética dos personagens masculinos e
femininos. Fazendo uso das considerações teóricas de autores filiados à História Cultural e à Crítica
Sociológica, buscaremos investigar essas representações em cada obra separadamente para, em um
segundo momento, cotejá-las entre si, na tentativa de chegar a uma síntese final. Nossa hipótese,
ainda em fase de corroboração, é a de que Nassar constrói seus personagens usando como decalque
os antigos moldes de gênero.
Palavras-chave: Gênero; Literatura; Raduan Nassar.
Área de concentração: Estudos Literários.
A HIPOTAXE ADVERBIAL: FUNÇÕES TEXTUAL-DISCURSIVAS NO GÊNERO RESPOSTA
ARGUMENTATIVA
Fátima Christina CALICCHIO
Prof. Dr. Juliano Desiderato ANTONIO
RESUMO: Propomos neste trabalho analisar como a hipotaxe adverbial pode contribuir para a
construção da argumentatividade do gênero resposta argumentativa. Para isso, selecionamos como
objeto de análise as produções textuais que foram melhor avaliadas pela Banca de Avaliação dos
candidatos ao vestibular de verão da UEM/2011. Inicialmente, analisamos nas produções textuais
selecionadas as ocorrências das orações adverbiais, quantificando essas orações e suas posições no
texto considerando as relações estabelecidas entre as porções textuais. Levando em consideração o
panorama teórico, o funcionalismo, a investigação a ser explorada nesta pesquisa corresponde ao
estudo das funções textual-discursivas das orações adverbiais que funcionam como valor de guia,
ponte de transição, moldura, foco, função tópica dentre outras funções na articulação de orações
que podem contribuir para a construção da argumentatividade do gênero resposta argumentativa.
Como aporte teórico, aliamos estudos de funcionalistas como Antonio (2008); Mann & Thompson
(1988); Matthiessen & Thompson (1988), Taboada M.; Gómez-Gonzalez da Teoria da Estrutura
Retórica do Texto. De acordo com essa teoria, as relações retóricas dão coerência ao discurso,
conferindo unidade e permitindo que o produtor atinja seus propósitos com o texto que produziu, ou
seja, essa teoria fundamenta-se no principio de que o texto tem uma estrutura retórica subjacente à
estrutura superficial e, por meio de uma análise dessa estrutura, seria possível recuperar o objetivo
comunicativo que o produtor pretendeu atingir ao escrevê-lo. Somam-se a esse enfoque os
pressupostos de Decat (2009); Neves (1999; 2000). Com base nos estudos realizados até o
momento, pode-se considerar que a função textual - discursiva das orações adverbiais na
articulação de orações são recursos favoráveis à argumentação desse gênero, uma vez que
funcionam como elo entre função textual e discursiva.
Palavras-chave: Hipotaxe adverbial; Função textual-discursiva; Gênero Resposta Argumentativa.
Área de concentração: Estudos Linguísticos.
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PRODUTIVIDADE E A CRIATIVIDADE DOS NEOLOGISMOS SEMÂNTICOS EM BLOGS
Fernanda CALLEFI
Prof. Dr. Manoel Messias Alves da SILVA
Esta pesquisa tem como objetivo analisar a ocorrência de neologismos semânticos em três blogs ou
diários da região Sul do Brasil – correspondendo aos Estados do PR, SC e RS – tais análises serão
sistematizadas nas fichas de pesquisa neológica. Também demonstraremos os assuntos que mais
propiciam a produção de neologismos, a classe de palavras mais predominante para a formação dos
neologismos e o tipo de neologia mais encontrado. Examinamos as formações denominadas de “e-
comunicação” com intuito de abordar essas criações para a fala, estudar as formações de tais
léxicos, já que elas não insinuam apenas a produção de um novo recorte antropocultural e de
unidade linguística que lhes corresponde, mas também a resposta àquelas necessidades
socioculturais.Para o desenvolvimento da pesquisa, partimos do conceito de neologismo semântico
de Alves (1990) e Henriques (2007) para a seleção das palavras. Para a questão do tipo de neologia
foi adotada a proposta de Correia (2012) que denomina o fenômeno como: neologia denominativa,
neologia estilística e neologia da língua. Utilizamos como ferramenta para a manipulação do corpus
o programa Microsoft Word, em que foi possível armazenar o corpus dos três blogs no período do
dia 13/02/2012 até o dia 13/02/2013. Como também, com auxílio do programa, verificamos o
número de ocorrências nas mensagens dos blogueiros e nos posts, por meio da ferramenta localizar,
que identificou os neologismos solicitados e, assim, foi possível detectar quantas vezes determinado
neologismo apareceu em cada blog. Como corpus de exclusão usamos o Dicionário Houaiss 2.0 na
versão digital. Nosso estudo demonstrou que dentre 109.233 (cento e nove mil duzentos e tinta e
três) palavras obteve-se 48 (quarenta e oito) neologismos utilizados pelos blogueiros que foram
analisados nas fichas de pesquisa neológica, dos quais 34 (trinta e quatro) ocorrências pertence ao
blog que representa o Estado do PR, 9 (nove) neologismos foram produzidas no blog que representa
SC e 5 (cinco) foram encontradas no blog que representa o Estado do RS. Após isso, analisamos o
número de ocorrência desses neologismos contando o número de ocorrência dos blogueiros e o
número de ocorrências dos posts dos leitores, totalizando 164 (cento e sessenta e quatro)
neologismos, tendo como base 530.120 (quinhentos e trinta mil e cento e vinte) palavras, das quais
74% foram encontradas no blog que representa o Estado do PR, 20% no blog que representa SC e
apenas 6% no blog que representa o RS. A política e o futebol foram os assuntos que mais
propiciaram o uso dos neologismos. Também constatamos que os neologismos são utilizados tanto
para denunciar, criticar, satirizar ou mesmo para denominar algo. Além disso, a classe de palavras
mais recorrente para a formação dos neologismos é a dos substantivos. Por fim, a neologia que
predominou foi a estilística devido ao gênero blog, que exige mensagens cada vez mais criativas,
para dessa forma atrair os leitores.
Palavras-chave: Blog; Neologismo Semântico; Léxico.
Área de Concentração: Estudos Linguísticos.
LEGENDAGEM E O PROCESSO TRADUTÓRIO: UMA ABORDAGEM DISCURSIVA DA
TRADUÇÃO PARA LEGENDAS DO DOCUMENTÁRIO “LIXO EXTRAORDINÁRIO”
Fernanda Silveira BOITO
Profa Dra Rosa Maria OLHER
A perspectiva desconstrucionista questiona alguns conceitos tradicionalmente relacionados à
tradução, como: a (im) possível essencialidade de um texto original e a consequente recuperação de
um sentido fixo e determinado. Nessa medida, a reflexão pós-moderna entende a tradução não
como um mecanismo de transferência de significado de uma língua para outra, mas como um
processo de construção e relações de sentido, uma re-enunciação, um novo texto. Por esse viés, a
tradução é entendida como uma atividade interpretativa fortemente associada a fatores histórico-
sociais, culturais e ideológicos em que os significados são produzidos por um sujeito tradutor-leitor
situado em um tempo e lugar. Nessa perspectiva o objetivo da nossa pesquisa foi analisar a
tradução para legendagem em língua inglesa do documentário “Lixo Extraordinário” a partir de uma
perspectiva discursivo-desconstrucionista da tradução. Os objetivos específicos consistiram em
analisar de que modo os aspectos culturais brasileiros são transmitidos, mantidos ou transformados
na tradução para a língua inglesa, com base nas escolhas do tradutor; discutir e problematizar se as
escolhas do tradutor podem influenciar na construção de nova identidade do sujeito catador e
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compreender e discutir os aspectos ideológicos inerentes ao discurso no processo de tradução. A
justificativa desta pesquisa está baseada na produção de um trabalho que venha contribuir para os
Estudos da Tradução sob a ótica da Análise do Discurso, enfocando a modalidade tradução para
legendas, acrescentando informações e aprofundando os estudos acerca desse ramo da tradução
que certamente vem se expandindo. As análises reiteram os dizeres pós-modernos sobre tradução
de que aspectos culturais e ideológicos são inerentes ao processo tradutório, um novo texto, cujos
sentidos são construídos em um jogo de relações, no qual a voz do tradutor está sempre presente.
Ademais, observamos que as escolhas tradutórias são capazes de construir efeitos de sentido,
inclusive efeitos de identidade diferentes daqueles produzidos a partir do texto de partida, nos
levando a conceber a tradução como um instrumento que age em sociedade capaz de transformar
culturas e (re) formar identidades.
Palavras-chave: Tradução; Desconstrucionismo; Análise do Discurso.
Área de concentração: Estudos Linguísticos.
AS RELAÇÕES RETÓRICAS ESTABELECIDAS POR PORÇÕES TEXTUAIS QUE APRESENTAM
PARÁFRASE E CORREÇÃO NA CONSTRUÇÃO DO TEXTO FALADO
Fernanda Trombini Rahmen CASSIM
Prof. Dr. Juliano Desiderato ANTONIO
Uma proposta interessante para o estudo dos fatores que levam um texto a ser considerado
coerente é apresentada pela Teoria da Estrutura Retórica do Texto (RST), uma teoria descritiva que
tem por objeto de estudo a organização dos textos. Na visão da RST, além do conteúdo
proposicional explícito veiculado pelas orações do texto, há proposições implícitas chamadas
proposições relacionais, que surgem das relações que se estabelecem entre porções do texto. Uma
lista de aproximadamente vinte e cinco relações foi estabelecida após a análise de centenas de
textos, por meio da Teoria da Estrutura Retórica. Essa lista não representa um rol fechado, mas um
grupo de relações suficiente para descrever a maioria dos textos. Sua função primordial está no
estabelecimento da coerência dos textos. Neste trabalho, pretende-se investigar as relações
retóricas estabelecidas em porções de texto que apresentam as estratégias de construção do texto
falado conhecidas como paráfrase e correção. A partir disso, podemos comparar as diferentes
intenções desse falante ao introduzir em seu texto oral uma correção e uma paráfrase. Na
paráfrase, o enunciado-fonte (EF) é matriz para movimentos semânticos de especificação ou
generalização, expressos pelo enunciado-reformulador (ER), que determinam uma progressão
textual, gerando novos sentidos. (FÁVERO; ANDRADE & AQUINO, 2006, p. 260). É importante
destacar que, na paráfrase, há uma equivalência semântica entre as duas porções textuais, ou seja,
o satélite apresenta um conteúdo que procura estabelecer uma equivalência de sentido entre ele e o
núcleo. Assim, há sentidos equivalentes, enquanto na correção há contraste entre as ideias. A
correção apresenta a mesma estrutura básica da paráfrase (um enunciado fonte é substituído por
um enunciado reformulador), porém podemos comparar as diferentes intenções do falante ao
introduzir em seu texto oral uma correção e uma paráfrase. A diferença maior entre essas duas
estratégias de reformulação está na aproximação semântica do EF e do ER: enquanto na correção
têm-se o objetivo de reelaborar o discurso, torná-lo mais “adequado”, assegurando a compreensão
no diálogo, na paráfrase também procura assegurar a intercompeensão, porém há uma relação de
equivalência total ou parcial, com traços semânticos comuns. Pretendeu-se, portanto, analisar
também as estratégias de correção e paráfrase no corpus utilizado, relacionando-os com as relações
retóricas que pudessem ser estabelecidas nessas porções textuais. O corpus de pesquisa é formado
por elocuções formais (aulas e apresentações de trabalhos). Depois de ser transcrito e segmentado,
procurou-se as porções textuais que apresentavam correção e paráfrase para, depois, analisa-las
com relação às suas características principais formais. Por fim, averiguou-se quantitativamente as
relações retóricas estabelecidas nos segmentos de texto selecionados para análise. Por meio da
pesquisa, pretende-se contribuir para a realização de análises da função das relações retóricas e dos
fenômenos de paráfrase e correção na construção de textos falados e no estabelecimento da
coerência textual.
Palavras-chave: Teoria da Estrutura Retórica do Texto, Correção, Paráfrase.
Área de concentração: Estudos linguísticos.
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GRAMATICALIZAÇÃO DO ITEM LINGUÍSTICO ASSIM: SUA FUNCIONALIDADE NOS
PROCESSAMENTOS COGNITIVO, IDEACIONAL, INTERPESSOAL E TEXTUAL
Fernando Sachetti BONFIM
Prof. Dr. Juliano Desiderato ANTONIO
O objetivo central desta pesquisa é o de investigar o processo de gramaticalização (GR) do item
assim. Para tanto, como fundamentação teórica, utilizaram-se os seguintes estudos de teóricos que
vêm produzindo extensa literatura sobre GR: Hopper (1987); Heine, Claudi & Hünnemeyer (1991);
Lichtenberk (1991); Kroch (1995); Traugott (1995); Heine (2006); Pintzuk (2006); Traugott
(2006). Somadas a esses estudos, reuniram-se pesquisas de linguistas brasileiros que também
examinam a GR do assim, a exemplo de Martelotta (1996); Martins (2004); Longhin-Thomazi
(2006); Souza (2009); Castelano, Luquetti & Souza (2012); Ramos (2012). Toda essa literatura
comparada tem demonstrado que itens linguísticos que passam pelo processo de GR mostram, em
uma mesma sincronia, ocorrências mais lexicais (mais concretas e de posição sintática mais livre)
coexistindo a ocorrências mais gramaticais (mais abstratizadas/subjetivas e de posição sintática
mais fixa). Com o item assim, não tem sido diferente. Por meio do corpus do FUNCPAR (Grupo de
Pesquisas Funcionalistas do Norte/Noroeste do Paraná), puderam-se observar as seguintes
funcionalidades do item, assim listadas em um cline crescente de GR: dêitico espacial (uso original,
lexical), fórico textual, conjunção e marcador discursivo (MD). Além dos pressupostos teóricos
subjacentes ao processo de GR e das funcionalidades do assim, arrolou-se, ainda, sobre a
participação do item nas três metafunções propostas por Halliday (1970, 1973, 1977): a ideacional,
a interpessoal e a textual. O que se parece notar é que, apesar de essas três funções não serem
excludentes, o ganho de GR do assim é acompanhado de um enfraquecimento de sua propriedade
ideacional (semântica). Compensatoriamente, esses mesmos usos mais gramaticalizados mostram
grandes forças interpessoal e textual. Isto é, apesar de alguns teóricos da GR tratarem o processo
como empobrecedor, é significativo o ganho de expressividade do assim quando MD. Nesta
pesquisa, atrelou-se, ainda, esse ganho de expressividade à importância que o assim MD tem
mostrado no processamento cognitivo (Givón, 1989) dos falantes. Em momentos de dificuldade de
processamento cognitivo, o MD assim se revela como um indício hesitativo de função retardadora
(URBANO, 1999), ocorrendo nos seguintes dois ambientes sintáticos: ou no interior de um
sintagma, antecedendo complementos de verbos e nomes (SILVA & MACEDO, 1990), ou não
sintagmaticamente, articulando segmentos formadores de tópicos discursivos. Para essas últimas
ocorrências, recorreu-se à Teoria da Estrutura Retórica (RST), de Mann & Thompson (1983), na
tentativa de se investigar se tem havido uma especialização do assim no estabelecimento de alguma
relação retórica.
Palavras-chave: assim; gramaticalização; funcionalismo.
Área de concentração: Estudos Linguísticos.
DISPOSITIVO DE SEXUALIDADE E O DISCURSO SOBRE A AIDS NO BRASIL DOS ANOS
1980
Hoster Older SANCHES
Prof. Dr. Pedro Luis NAVARRO Barbosa
RESUMO: O trabalho de dissertação busca investigar o discurso sobre a aids produzido na década de
1980, no Brasil. Para isso, a pesquisa fundamenta-se nas ferramentas teóricas de Michel Foucault,
de forma especial, na História da Sexualidade. Em A vontade de saber, o dispositivo de sexualidade
apresenta-se como conceito significativo para a investigação discursiva, como, por exemplo, a
governamentalidade dos corpos e da população que, no caso desta pesquisa, dá-se em um recorte
histórico que permeia o início da contaminação pelo vírus HIV no Brasil. No primeiro volume da
História, Michel Foucault analisa as relações de poder-saber que se debruçam sobre a sexualidade
do indivíduo, produzindo um sujeito de sexualidade. O corpus da pesquisa é composto por
materialidade em discursos escritos e em falados, na mídia, como os recortes realizados de jornais e
de revista de circulação nacional (Folha de S. Paulo, Jornal do Brasil e Veja), bem como registros em
vídeo, como reportagens e notícias sobre a aids daquele período. O trabalho, aqui desenvolvido, é
uma das análises da dissertação. Em 1987, o jornal Folha de S.Paulo, diário impresso de notícias,
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fez circular uma vasta produção discursiva cuja temática era a aids. A partir da constituição e da
descrição desse objeto, pode-se compreender como o governo dos corpos é enunciado e como esse
enunciado é materializado, em notícias e em reportagens. A fundamentação teórica desta análise
está alicerçada em pressupostos teóricos foucaultianos, especialmente no que tange aos estudos
sobre enunciado, governo e poder. Observa-se que Estado deve saber tudo sobre as práticas dessas
populações e dos indivíduos, especialmente, as inerentes à sexualidade, que se configuram como
objeto, nos termos de Foucault, de um “controle-repressão”. A produção de saberes sobre a aids
ocorre em meio ao exercício desse poder governamental e da resistência que a ele é feita. Nesse
jogo discursivo, ressalta-se uma preocupação em conhecer o estado biológico de cada população,
sendo algumas o foco de atuação do poder político, como a população homossexual e a carcerária.
Observa-se que a governamentalidade do corpo do indivíduo e das populações é prioridade do
Estado com a realidade da aids; em vista disso, o corpo da população de estrangeiros, de
homossexuais e de prisioneiros é mantido sob o olhar clínico e político do Estado e da ciência, a fim
de identificá-lo e separá-lo. O Estado, portanto, submete o corpo do portador do vírus HIV a
relações de poder/saber e resistência presentes nas tramas sociais.
Palavras-chave: Discurso; Aids; Governamentalidade.
Área de concentração: Estudos Linguísticos.
ESTUDO DAS ROTINAS DE ESCRITA DO PAS-UEM
Janaina Lacerda da SILVA
Profa Dra Marilurdes ZANINI
Dentro do arcabouço teórico bakhtiniano, a língua depende da sua realidade fundamenta – a
interação humana – para existir. Nesse sentido, a língua configura-se – como o produto da interação
entre os sujeitos de um grupo social – e a linguagem – como os conjuntos de contextos possíveis de
uso de cada termo da língua. Dessa forma, esses pressupostos bakhtinianos que se coadunam com
os estudos brasileiros de Geraldi (1991, 1997, 2010) e de Antunes (2003, 2009), dentre outros,
deslocam o estudo da língua para o estudo da linguagem entendida como uma forma de interação
humana mediada pelo uso da língua, o que caracteriza a concepção interacionista de linguagem.
Consequente a essa concepção interacionista de linguagem, o texto é concebido como um ‘encontro’
entre dois sujeitos historicamente marcados. Assim, à luz da perspectiva interacionista de ensino-
aprendizagem de Língua Portuguesa, neste trabalho, buscamos analisar a interação pedagógica
organizada no PAS-UEM – Processo de Avaliação Seriada da Universidade Estadual de Maringá – a
partir de duas produções escritas de sessenta alunos-candidatos participantes desse processo
avaliativo seriado. Os textos, corpus desta pesquisa, foram escritos em diferente momento, por isso
fornecem dados distintos do processo de desenvolvimento da escrita do aluno e da interação entre
Universidade e Ensino Médio. O primeiro texto analisado (produzido no ano de 2009 na 1ª etapa do
PAS-UEM) oferece-nos dados da escrita do aluno-candidato da primeira série do ensino médio no
momento inicial do processo seletivo seriado. Já o segundo texto (escrito em 2011 na 3ª etapa do
PAS-UEM) revela-nos dados da escrita do aluno da terceira série do ensino médio em uma interação
final com o processo. Nessas análises das interações verbais que acontecem no PAS-UEM, estamos
interessamos em analisar o processo pelo desenvolvimento da escrita do aluno-candidato para
construir a realidade que o circunda. Isto é, se por um lado, buscamos, por meio da pesquisa
qualitativo-interpretativa, focalizar o macrossocial do PAS-UEM para entender como ele se relaciona
(ou poderia relacionar-se) com o microcosmo da sala de aula, por outro, estendemos essa
interpretação para construir a interação organizada na rotina do processo. Com isso, acreditarmos
que as análises das ações de escritas dos alunos-candidatos em diferentes momentos do PAS-UEM
podem guiar as práticas de ensino-aprendizagem da escrita desenvolvidas pelos professores em sala
de aula, como orientam os fundamentos da Linguística Aplicada. Além disso, nossos resultados
podem tornar ‘visível’ como o macro contexto do PAS-UEM pode desencadear um aperfeiçoamento
da escrita dos sujeitos com os quais o processo seletivo interage.
Palavras-chave: Ensino-aprendizagem de Língua Materna; Linguística Aplicada; PAS-UEM.
Área de concentração: Estudos Linguísticos.
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TECNOLOGIAS DE LEITURA E INOVAÇÃO EM REGIMES DE VER E DE DIZER A ARTE: UMA
POLÍTICA DE ACESSIBILIDADE CULTURAL NO ESPAÇO VIRTUAL
Jefferson Gustavo dos Santos CAMPOS
Profa Dra Ismara Eliane Vidal de Souza TASSO
Perscrutar os sentidos onde não há soberania das palavras; tatear materialidades em um espaço
obtuso por sua própria tangibilidade; cotejar cultura e tecnologia na tensão desses “campos
logicamente estabilizados”. Eis o desafio acatado pela presente pesquisa: o de ler imagens, contudo,
não qualquer leitura, não qualquer imagem. Trata-se, antes, de ler discursivamente, na urdidura
heterotópica do artístico, as tramas vetoriais do político entretecido nas demandas do social. Para
concretizar esse empreendimento, a pesquisa focaliza uma série enunciativa que compõe parte
material do Portal Projeto Portinari e Museu Casa de Portinari e mobiliza um gesto de leitura que,
sob a alcunha de uma Análise de Discurso, conflui na relação (in)tensa entre os postulados de Michel
Pêcheux e de Michel Foucault, assim como em especulações teóricas gestadas a partir de
formulações advindas de outros campos de saberes, a fim de demonstrar como, no modo de
constituição de suas modalidades enunciativas, tais arquiteturas hipermidiáticas integram-se a
estratégias de saber-poder que perturbam a identidade dos enunciados na prática de sua leitura,
inscrevendo-os em outra ordem discursiva, um deslizamento da ordem do artístico para a ordem do
político em demandas contemporâneas do social. A hipótese de que, ao ter sua identidade
perturbada pelos processos técnicos, a materialidade do artístico, nas coerções sofridas pela prática
de leitura para qual é gestada, é tratada como a condição de possibilidade de se acolher os efeitos
de uma política de acessibilidade cultural no espaço virtual, permitiu situar o modo de composição
do olhar as discursividades nas sociedades democráticas, pontuando a relação das novas tecnologias
como condição de emergência da materialização dos discursos sob modalidades enunciativas
diversas. Tal reflexão apontou a Inovação Tecnológica como dispositivo por meio do qual constitui-
se uma trama heterogênea e heterotópica entre a materialidade do artístico, as instituições
museológicas, as hipermídias de divulgação, as arquiteturas virtuais e as medidas de segurança
para a manutenção e funcionamento dessa engrenagem. Preliminarmente, consideramos que o
processamento técnico da materialidade do artístico e seu modo de circulação pelo espaço virtual
alteram a relação institucional dos enunciados, os quais, tal como um caligrama, atestam as linhas
de ruptura e instituem um espaço de contradição entre os campos da arte e da política. O
dispositivo da Inovação Tecnológica constitui as linhas de visibilidade que compõem o arquivo
discursivo em análise que, por uma lado, formaliza o espaço virtual como um campo heterotópico de
utilização dos enunciados da ordem do artístico, promovendo um efeito de democratização dessas
materialidades, enquanto espólios da produção cultural nacional – o que supomos tratar-se de uma
nova tecnologia de funcionamento da governamentalidade no que tange a uma política de
acessibilidade cultural. Por outro, os efeitos da reprodutibilidade da obra de arte geridos pelas
demandas do dispositivo da Inovação Tecnológica sustentam, nas invisibilidades enunciativas, as
mutações desse mesmo dispositivo, razão para que os enunciados que daí derivam mantenham
relações dissimétricas de poder entre o ter acesso às reproduções das obras de arte em detrimento
das obras em si.
Palavras-chave: Dispositivo da Inovação Tecnológica. Reprodutibilidade da obra de arte.
Acessibilidade cultural.
Área de concentração: Estudos Linguísticos.
VOZES DO SÍTIO: A PRESENÇA E A AUSÊNCIA DE ILHAS POLIFÔNICAS NAS NARRATIVAS
LOBATIANAS
Juliane Nadal Cavalheiro da SILVA
Profa Dra Alice Áurea Penteado MARTHA
O presente trabalho tem como objetivo investigar níveis de narração e de focalização em algumas
obras de Monteiro Lobato, (1882-1948), embasados na teoria de Mieke Bal, que nos conceitos de
Gérard Genette traz alguns apontamentos que são considerados ferramentas acessíveis para uma
análise do texto narrativo e que aqui será aplicado à narrativa lobatiana. Partindo dessa análise, que
é o ponto de partida para ao próxima etapa, se chegará ao objetivo principal dessa dissertação: a
análise do dialogismo e da polifonia no viés de Mikhail Bakhtin. Como não se trata de um romance
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polifônico, tomamos a liberdade de chamar esses pontos de Ilhas Polifônicas, termo que ajudará a a
definir os casos de ausência e presença de polifonia na obra.
Palavras-chave: Monteiro Lobato; Mieke Bal; Mikhail Bakhtin; polifonia.
Área de concentração: Estudos Literários.
O ESPAÇO EM PEDRO PÁRAMO, DE JUAN RULFO
Larissa Walter TAVARES
Profa Dra Evely Vânia LIBANORI
Essa dissertação tem por objetivo estudar o espaço na obra Pedro Páramo, do escritor mexicano
Juan Rulfo. Em Pedro Páramo, as personagens só podem ser entendidas se levar em conta a relação
delas com o espaço à sua volta. Seres humanos, animais e plantas estão em conexão existencial,
seus destinos estão ligados. O estudo sobre o espaço é, portanto, o estudo sobre a existência
humana e os temas que a ela estão relacionados, como o amor, a vida, a morte.
A obra retrata a essência da natureza humana e foge da concepção tradicional do romance. A
construção do espaço está embasada na realidade física, mas o espaço em Pedro Páramo não pode
ser explicado como um cenário externo e objetivo que abriga seres e objetos e que permanece
inalterado, independentemente do que acontece nele. Não há apenas um espaço, há vários. Cada
personagem tem seu próprio espaço e, além disso, seu tempo. A organização textual é
fragmentada, ou seja, não há enlaces de causa-efeito entre as partes constituintes da fábula do
romance. A narração reflete a linguagem cotidiana do cenário regional em que se desenvolve a
fábula, mas muito mais do que isso, a linguagem é altamente simbólica. Frases, falas, palavras têm
sempre um sentido que ultrapassa o nível comunicativo e possui, latentes, sentidos outros.
O estudo sobre o espaço implica a reflexão sobre o destino humano. Portanto, esta pesquisa tem
como substrato teórico duas linhas teóricas: a Ecocrítica e a Filosofia existencialista. O referencial
teórico mais diretamente ligado à Ecocrítica e que fundamentará esse trabalho é: O Homem e o
Mundo Natural, de Keith Thomas (1988), Ecocrítica, de Greg Garrard (2006), Terras da Terra, de
Stuart Pimm (2005). O material utilizado sobre a Filosofia existencialista é O ser e o nada e O
existencialismo é um humanismo, de Jean-Paul Sartre, e o Ser e o tempo, de Martin Heidegger.
Com base nessas correntes teóricas, será apresentada uma análise de como o espaço se relaciona
com cada personagem da obra, principalmente Pedro. Na sequência será mostrada a associação
entre a catástrofe física e a catástrofe humana. Por fim, o estudo abordará Comala enquanto espaço
de morte. Será estabelecida, dessa forma, a íntima relação entre o espaço e as personagens na
obra.
Palavras-chave: Pedro Páramo; Espaço; Sujeito/Natureza.
Área de concentração: Estudos Literários.
O SENHOR DOS ANÉIS E O CÂNONE OCIDENTAL: J.R.R. TOLKIEN E A TRADIÇÃO CLÁSSICA
Leandro VIEIRA Prof. Dr. Márcio Roberto do PRADO
Segundo Ernst Robert Curtius (2013), apesar de o fenômeno da “canonização” de determinadas
obras em uma lista existir há um bom tempo, a palavra classicus em âmbito literário só apareceu
tardiamente com Aulo Gélio, em seu Noctes Aticae. Afora o surgimento histórico do termo, muitos
autores procuraram, ao lado de Curtius, definir o que este vocábulo significa, ou melhor, a que se
refere. Italo Calvino, por exemplo, buscou catorze definições para o clássico. Em um de seus
apontamentos, ele diz que se trata de uma obra inesgotável, que oferece uma sensação de
descoberta a cada nova [re]leitura. Já para T.S. Eliot, clássico é a obra que supera a própria língua,
mantendo-a viva para a posteridade. Segundo Mortimer Adler e Robert Hutchins, clássicos são obras
que, dialogando entre si em um alto nível artístico-cultural, constituem uma “Grande Conversação”
da cultura ocidental. Sendo assim, com base nos apontamentos supracitados, bem como nas ideias
de Gilbert Highet, Harold Bloom, Leyla-Perrone Moisés e outros importantes estudiosos do assunto,
este trabalho tem como principal objetivo abordar uma obra literária do século XX que (ainda)
enfrenta resistência no sentido de sua plena inserção no cânone ocidental oficial, embora, ao lado do
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Ulysses de Joyce, já tenha sido considerada como um verdadeiro “clássico” por autores
emblemáticos como W.H. Auden e C.S. Lewis. Trata-se aqui de O Senhor dos Anéis de J.R.R.
Tolkien, obra que atraiu para si críticas de todos os tipos desde sua publicação na Inglaterra,
enfocando temas universais como a luta entre o bem e o mal, a vida e a morte, a virtude e o vício
etc., tudo isso subordinado a uma jornada heróica rumo à execução de uma missão salvífica. Uma
vez feito o recorte temático da pesquisa, para cumprir seus objetivos, esta dissertação, além de
apresentar os diversos conceitos de clássico de autores importantes, analisa a formação clássica de
Tolkien, assim como os aspectos da literatura clássica presentes em sua obra. Este trabalho visa
ainda, se não justificar uma possível canonização de O Senhor dos Anéis, ao menos demonstrar que
a tradição clássica, ou fortes aspectos desta, persistem no tempo em meio à pluralidade genérica do
século XXI. Espera-se assim que, apesar de a poesia épica, ou a literatura clássica de modo geral,
terem perdido seu prestígio literário perante as novas modalidades genéricas posteriores, ainda é
possível apontar aspectos vívidos de uma Tradição Clássica em obras modernas como a abordada
nesta pesquisa, com importantes desdobramentos no estabelecimento de um campo literário
contemporâneo bem como na formação do leitor dos dias de hoje. Palavras-chave: clássico; tradição; O Senhor dos Anéis. Área de concentração: Estudos Literários.
SOBRE O CONCEITO DE FORMAÇÃO DISCURSIVA: UMA PROPOSTA DE ABORDAGEM NO
DISCURSO BÍBLICO
Luana Cimatti ZAGO
Profa Dra Sonia Aparecida Lopes BENITES
Ao longo de seu percurso como disciplina, e até mesmo antes disso – quando balbuciava suas
primeiras formulações teóricas –, vemos a AD demonstrar disposição, por assim dizer, em se
construir – desconstruir – reconstruir. É, definitivamente, uma disciplina em evolução. O conceito de
formação discursiva é um exemplo disso. Esse que outrora, especialmente na década de 1970, fora
um conceito basilar para a AD, tornou-se um conceito relativizado. Depois de sofrer certo desgaste
teórico e até mesmo abandono, o conceito de formação discursiva, hoje, é alvo de reformulações,
reinterpretações. Tendo isso em vista, propomo-nos discutir o conceito de formação discursiva
retomando seu percurso histórico-teórico desde seu nascedouro e desenvolvimento, com Michel
Foucault e Michel Pêcheux, até seu desgaste conceitual, na tentativa de definir a noção de formação
discursiva com a qual se pretende trabalhar neste estudo, de modo que se possa refletir se ele é, ou
pode ser, um conceito ainda produtivo para AD. Para tanto, valemo-nos de uma seleção de textos
bíblicos registrados nos evangelhos de Mateus, Marcos, Lucas e João. São utilizados para este
estudo discursos em que há pelo menos dois indivíduos na cena da enunciação estabelecendo um
diálogo de confrontação. Os evangelhos mostram que o sujeito Jesus Cristo, assim como a maioria
dos judeus, é interpelado, entre outras, pela ideologia messiânica, isto é, pela crença de que
alguém, enviado por Deus, viria ao mundo para estabelecer um novo tempo para a nação judaica.
De um modo geral, os judeus esperavam que esse enviado os libertasse das opressões, sobretudo
do império romano. O messias personificado em Cristo, no entanto, não corresponde ao esperado:
ele não fala de libertação política, mas de libertação de pecados; não fala de um governo físico, mas
de um governo transcendente. O choque entre esses dois posicionamentos permite-nos olhar para o
que, em certo estágio de sua teoria, Pecheux (1971) chamou de duas formações discursivas
distintas. Partindo do princípio básico da AD de que o sujeito historicamente determinado e
ideologicamente constituído, ao significar por meio da linguagem, se significa, lançamos um olhar
discursivo sobre parte dos discursos atribuídos Jesus Cristo, a fim de refletir sobre os traços de
discursos anteriores presentes no seu discurso e no de seus interlocutores, de modo que se possa
observar como se dá a relação língua e história na atividade de significação dos sujeitos do discurso
bíblico em suas relações com o mundo. Vale acrescentar que a Bíblia, além de guardar um vasto e
rico material para a área da AD, possui ampla circulação em território nacional, cuja maioria da
população se declara cristã (87%, segundo o último Censo do IBGE, realizado em 2010*). De acordo
com a Secretaria da Cultura do Estado de São Paulo#, trata-se do livro que obteve maior número de
leitores de todos os tempos, o que nos estimula a lançar também sobre o texto bíblico, ou parte
dele, um olhar discursivo.
Palavras-chave: formação discursiva; discurso bíblico; posicionamento.
Área de concentração: Estudos Linguísticos.
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FORMAÇÃO DE LEITOR LITERÁRIO NA ESCOLA PÚBLICA: PROBLEMAS E DESAFIOS DE
TODA COMUNIDADE ESCOLAR
Luciene Aparecida Sgobero ULLER
Prof. Dr. Márcio Roberto do PRADO
O objeto desta pesquisa teórico-prática consiste em uma reflexão crítica sobre a dificuldade de a
Instituição Escolar Pública, representada por duas escolas pesquisadas na cidade de Campo Mourão,
em formar leitores literários efetivos, apesar dos investimentos na escola feitos no decorrer dos
últimos anos pela mantenedora SEED/MEC, tanto em infraestrutura (materiais didáticos, utensílios,
tecnologia, etc.), quanto na formação continuada para professores e demais profissionais da
educação. Para a análise proposta, foi realizada pesquisa bibliográfica, cujo aporte teórico constitui-
se de conhecimentos relacionados à leitura, à literatura e ao letramento, bem como um estudo de
caso de abordagem etnográfica, envolvendo aplicação de um questionário em duas salas de sexto
ano (tratadas, aqui, como pertencentes à “escola A” e à “escola B”). A escola A representa uma
escola “modelo”, pois se localiza no centro da cidade de Campo Mourão, é ampla, limpa e
conservada. As suas dependências são bem planejadas, possui laboratórios de química e de
informática equipados e uma boa biblioteca; possui quadra coberta e, no intervalo, dá espaço às
atividades da rádio escolar, comandada pelo Grêmio Estudantil do colégio. A lista de espera para se
estudar nesta escola é grande, por ter se consolidado como uma escola que proporciona um ensino
de qualidade. A escola B, por sua vez, localiza-se na periferia de Campo Mourão, em um bairro
pobre e violento, tendo um grande espaço no seu interior. Contudo, além de a área construída não
ser tão grande, o prédio está mais envelhecido em comparação com a escola A (apesar das
tentativas de conservação da gestora). Possui laboratórios de química e informática, uma biblioteca,
mas não possui quadra coberta nem rádio escolar. A aplicação do questionário deu-se no final de
novembro de 2012, durante as aulas de Língua Portuguesa das duas escolas. As questões foram
organizadas, objetivando uma investigação de como a escola utiliza seus recursos estruturais e
tecnológicos disponíveis para o trabalho com a leitura, visando a formação do leitor literário. Neste
sentido, a investigação partiu de questões relacionadas à biblioteca e à sua utilização, passando pelo
laboratório de informática, internet e TV pendrive, abordando, por fim, questões sobre a relação
aluno/leitura. As respostas dos alunos, tanto da escola “A” quanto da escola “B”, além de colocar em
discussão a pressuposição de que uma das escolas apresentaria resultados muito superiores aos da
outra, apontam para a necessidade de mudanças urgentes no ensino em relação à leitura, pois,
apesar de ambas as escolas apresentarem bibliotecas grandes, arejadas e bem equipadas, os alunos
de ambas as escolas demonstram distanciamento dos livros, comprovando que, mais do que o
espaço físico, o que faz a diferença no processo de formação do leitor são as ações que a escola
pode implementar junto aos discentes, em favor dessa formação. Essa pesquisa aponta também
para a importância de um trabalho de leitura escolar voltado para o letramento, utilizando as
tecnologias disponíveis no ambiente escolar, por meio de uma metodologia diferenciada.
Palavras-chave: Formação do leitor; Tecnologia; Educação.
Área de concentração: Estudos Literários.
A REPRESENTAÇÃO DA MULHER IDOSA NA LITERATURA DE AUTORIA FEMININA
CONTEMPORÂNEA: ESTRELA NUA, DE MARIA ADELAIDE AMARAL E MILAMOR, DE LÍVIA
GARCIA-ROZA
Marcela Gizeli BATALINI
Profª Drª Lúcia Osana ZOLIN
Levando-se em conta o lugar secundário ocupado pela mulher na tradição literária, marcado pela
marginalidade de sua produção, sendo quase sempre retratada a partir da visão do outro, evidencia-
se a necessidade de tomarmos como objeto de estudo o modo como à mulher é representada pela
própria mulher no texto literário. Soma-se a isso, ainda que há muito venha se discutindo temas
relacionados à velhice, um número ainda tímido de estudos que contemplem a imagem do idoso na
literatura. Inclusive, dentre os próprios estudos feministas, verifica-se quase intocada as discussões
que contemplem a terceira idade. Desta forma, o presente trabalho, sob o viés da crítica feminista,
sobretudo a partir da vertente anglo-americana, busca analisar nas obras Estrela nua, de Maria
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Adelaide Amaral e Milamor, de Lívia Garcia-Roza, a construção e representação da personagem
feminina, atentando-se para questões relacionadas aos estudos de gênero (masculino/feminino)
empreendidos por tal crítica, bem como os fatores relacionados ao critério etário. Procurando,
assim, desnudar e desestabilizar pressupostos sustentados a partir de oposições binárias, tais como:
mulher/ homem e jovem/idoso, dicotomias essas que sustentam determinados posicionamentos
ideológicos e determinadas posições hierárquicas. Para isso, tomamos como base os estudos
empreendidos por Judith Butler, Roger Chartier, Teresa de Lauretis, dentre outros. Cabe ressaltar
que os dados levantados em tais produções apontam para um reconhecimento e valorização da
pluralidade frente às escolhas e experiências femininas, inclusive em relação ao envelhecimento.
Palavras-chave: Personagem feminina; Representação; Autoria feminina.
Área de concentração: Estudos Literários.
O TEATRO DE CHICO BUARQUE EM TRÊS TEMPOS: RODA VIVA, GOTA D’ÁGUA E ÓPERA DO
MALANDRO.
Maria Elisa Dias FRAGA
Prof. Dr. Alexandre Villibor FLORY
Durante o período militar, principalmente após a instauração do AI-5, a adaptação de obras teatrais
consagradas em uma tradição crítica tornou-se uma forma criativa de discutir questões polêmicas
nacionais, em grande medida remetendo a momentos em que a relação entre arte e sociedade foi
fundamental e bem explorada e discutida. Assim, após a estreia de Chico Buarque com a peça Roda
Viva (1968), que motivou diversas ameaças e mesmo espancamentos dos artistas e frente à
censura da peça Calabar (1973), suas duas peças seguintes são adaptações: Gota d’água (1975), de
Medeia (Eurípides) e Ópera do Malandro (1978), de A Ópera dos mendigos (John Gay) e A Ópera
dos três vinténs (Brecht). Com isso em vista, esse projeto estuda as peças citadas pesquisando
como expressam questões fundamentais de seus momentos históricos, pelos temas e pelas muitas
rupturas formais, além de estudar as relações que estabelece com a rica tradição de um teatro
dialético brasileiro, que remonta aos grupos Teatro de Arena, Oficina e Opinião. Sua base teórica e
crítica é formada por autores Bertolt Brecht, Jean-Pierre Sarrazac, Peter Szondi e Anatol Rosenfeld,
João Roberto Faria, Sábato Magaldi, Décio de Almeida Prado, Iná Camargo Costa. No primeiro
capítulo, faremos um percurso histórico das formas teatrais no Brasil até o início das atividades
teatrais de Chico Buarque. No segundo, discutiremos a peça Roda Viva, especialmente para
compreender a dinâmica da indústria cultural no Brasil que começava a ter seus ídolos da
juventude. No terceiro capítulo analisaremos a peça Gota d’água por categorias de análise como: a)
o espaço (físico, cultural, econômico e estético) e como ele influencia o pensamento e o
comportamento das personagens, especialmente Jasão, Joana, Mestre Egeu e Creonte; b) a função
da linguagem cifrada da peça, rimada e complexa, que é muito eloquente mesmo quando dominada
pelos silêncios, vazios e não-ditos; c) a função do narrador na peça. Também importa estudar a
adaptação crítica que leva para o âmbito da luta de classes a disputa entre Jasão e Joana, até
mesmo mostrando como Jasão, filho da favela, sabe como manipular seus antigos companheiros, o
que não se vê no original grego. No quarto capítulo, focaremos a peça Ópera do Malandro e a
dimensão crítica de sua forma intertextual e metateatral, averiguando os métodos de composição
como forma de recuperação histórica, inclusive do conceito de malandragem, estratégias utilizadas
para questionar a identidade cultural e incentivar uma postura crítica dos acontecimentos sociais e
políticos do período. O teatro de resistência de Chico Buarque, com suas metáforas, com seu
distanciamento, com suas novas formas procurou e encontrou espaço para construir uma das obras
mais vigorosas e contundentes, em todos os aspectos, da literatura brasileira de então, o que já
justifica seu estudo pelo recorte apresentado.
Palavras-chave: Chico Buarque de Hollanda; Teatro Brasileiro; Teatro e Sociedade.
Área de concentração: Estudos Literários.
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PROVA BRASIL: É POSSÍVEL PROPOR AVALIAÇÕES DE ABRANGÊNCIA NACIONAL EM
TERMOS DE LETRAMENTO COMO PRÁTICA SOCIAL?
Marina CASARIL
Profa Dra Neiva Maria JUNG
A Prova Brasil, um dos principais testes de avaliação da educação no país, tem como objetivo
principal avaliar a qualidade do ensino das escolas públicas localizadas em área urbana. Essa prova
avalia, mais especificamente, os conhecimentos de Língua Portuguesa (com foco na leitura) e os de
Matemática (com foco na resolução de problemas), e é aplicada nas séries finais do Ensino
Fundamental - 5.º e 9.º anos. Ao analisar a média nacional da Prova Brasil, em sua última aplicação
(2011), observamos que o 9.º ano atingiu 243 pontos na disciplina de Língua Portuguesa, enquanto
o mínimo considerado adequado pelo movimento Todos Pela Educação, considerando os níveis
apresentados na escala de proficiência do Sistema de Avaliação da Educação Básica (SAEB), é 275
pontos. Dessa forma, percebemos que há necessidade de desenvolvimento de pesquisas que
tenham como foco a organização dos processos avaliativos nacionais, como a Prova Brasil. Trata-se,
segundo Euzébio (2011), de testes aplicados que apresentam uma ancoragem massiva e focada no
universo global, assentadas e conduzidas, na maioria das vezes, de modo asséptico e uniformizante.
Nesse sentido, percebemos que a Prova Brasil é elaborada com base nas demandas e ideologias de
uma classe dominante, a qual impõe o seu contexto local como global, reafirmando um modelo
autônomo de letramento. Como modelo alternativo, Street (1984) apresenta o modelo ideológico de
letramento, em que a escrita passa a ser vista como constituinte de práticas sociais, o qual tem
constituído em certa medida práticas pedagógicas que têm mudado com a adoção de concepções
sociais da linguagem. Dentro dessa problemática, nossa pesquisa foca em apenas uma das séries, o
9.º ano. Em termos metodológicos, foi analisado o modelo de prova disponibilizado pelo Instituto
Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP) e os descritores que a
embasam. Observamos a recorrência e a variedade dos gêneros escolhidos para os testes e quais os
padrões de interação com o texto escrito privilegiados pela prova. Além disso, elaboramos um
simulado da Prova Brasil para o 9.º ano, na tentativa de construí-lo a partir dos conceitos dos Novos
Estudos sobre o Letramento (NLS), representados por Street (1984, 2003, 2010), Barton e Hamilton
(2004) e Heath (1982) e aplicamos o simulado desse teste avaliativo em um 9.º ano de uma cidade
do Norte do Paraná. Esse simulado será analisado, bem como os resultados de sua aplicação, com o
objetivo de responder a seguinte questão: é possível pensar um exame em âmbito nacional a partir
de teorias sociais da linguagem, como a do letramento? Em termos de resultados, esperamos
contribuir com discussões a respeito de avaliação de leitura e letramento, bem como contribuir com
a prática pedagógica visando refletir sobre a possível articulação entre teorias sociais de uso da
linguagem e avaliação.
Palavras-chave: letramento; Prova Brasil; avaliação.
Área de concentração: Estudos Linguísticos.
BERTOLT BRECHT E O TEATRO DIALÉTICO NO BRASIL PÓS-1985: A EXCEÇÃO E A REGRA
EM DUAS ENCENAÇÕES PARANAENSES
Mateus dos Santos MOSCHETA
Prof. Dr. Alexandre Villibor FLORY
O conceito do didático se configura na obra do dramaturgo alemão Bertolt Brecht em diversos
aspectos temáticos e formais, especialmente em sua produção do final dos anos 1920 ao início dos
anos 1930. Uma das dimensões mais relevantes diz respeito à perspectiva histórica que marca sua
obra, de tal modo que sua produção não pode ser desvinculada de sua estratégia de participação
nos contextos em que foi elaborada. Sendo assim, um dos objetivos gerais da dissertação é retomar
a discussão sobre esse conceito pelo prisma da sua historicização, que não busca categorias
atemporais para a implementação das atividades didáticas. Sendo assim, num primeiro capítulo de
minha dissertação iremos discutir a variada produção brechtiana em sua relação com o turbulento
contexto alemão da república de Weimar (1919-1933) e, depois, do exilado, contemplando as várias
fases de sua obra. Para esse percurso histórico das formas teatrais serão fundamentais os trabalhos
de Anatol Rosenfeld, Iná Camargo Costa, Peter Szondi, entre outros. Num segundo capítulo,
estudaremos a sua recepção ativa nos anos 1960 no Brasil pelo teatro de grupo, em especial no
teatro de Arena e pelo CPC – Centro Popular de Cultura, ligado à UNE, bem como o momento
histórico que ensejou o surgimento e o desenvolvimento desses grupos e de uma nova dramaturgia.
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Autores importantes nesse contexto são Oduvaldo Vianna Filho (A mais-valia vai acabar, seu Edgar),
Augusto Boal (Revolução na América do Sul) e Gianfrancesco Guarnieri (Eles não usam Black-tie). A
retomada do teatro de grupo no Brasil no final dos anos 1980 será o tema do terceiro e último
capítulo. Nele pesquisaremos algumas montagens específicas da peça A exceção e a regra, levando
em conta sua atualidade e utilidade agora no Brasil, com uma retomada crítica da obra de Brecht.
Uma das questões mais relevantes é estudar porque, exatamente no momento em que muitos
diziam que Brecht estava fadado a ser esquecido, pelo fim da experiência socialista no bloco
soviético (1989), o interesse pelo dramaturgo alemão cresceu ainda mais, inclusive no Brasil, onde
muitos grupos (Galpão, Latão, TUM, Ói Nóis Aqui Traveis, Teatro de narradores, para citar poucos)
retomam o estudo sobre as obras e suas encenações. Em outras palavras, o momento em que o
capitalismo neoliberal teria vencido o comunismo, muitos grupos retomaram suas discussões –
estéticas e políticas – sobre exploração, encobrimento e naturalização via ideologia do progresso e
do individualismo exacerbado, o que está diretamente relacionado com a proposta formal e temática
de A exceção e a regra. Para essa dissertação, importa verificar como grupos específicos efetivaram
essa recepção, apoiando-nos em gravações em DVD das apresentações, em textos e entrevistas
sobre as apresentações, bem como a análise da dramaturgia do autor alemão. Sua recepção crítica
dos anos 1960 – quando, além da encenação de sua dramaturgia, foi fundamental para a criação de
uma dramaturgia nacional – também é decisiva para esse novo momento, que se espraia do final
dos anos 1980 até os dias atuais.
Palavras-chave: Bertolt Brecht; Teatro Brasileiro; Teatro e Sociedade.
Área de concentração: Estudos Literários.
BIOGRAFISMO E HIBRIDISMO NA LITERATURA BRASILEIRA CONTEMPORÂNEA: UM
ESTUDO DE NOVE NOITES, DE BERNARDO CARVALHO
Míriam Juliana Pastori BOSCO
Prof. Dr. Milton Hermes RODRIGUES
A relação entre ficção e realidade sempre foi e sempre será motivo de investigações. A pesquisa a
que nos propomos aqui aborda esse fenômeno no que ele tem de mais intensificador: o biografismo.
Na literatura brasileira, temos muitos exemplos de obras literárias em que os autores se valem da
experiência referencial – sua e/ou de outro – para construir sua representação ficcional. O exemplo
que nos interessa nesta pesquisa é o romance Nove noites (2002), de Bernardo Carvalho. Trata-se
de uma construção romanesca peculiar, com marcas estilísticas de autoria. Investigamos a
possibilidade de que o romance em questão represente uma das tendências mais visíveis da
literatura brasileira contemporânea: o biografismo, ou ainda um possível novo biografismo, que não
se encaixaria em outros subgêneros do romance. Nossos objetivos com este estudo são verificar a
frequência de obras de caráter biográfico ou autobiográfico, o que convencionamos chamar
biografismo, na literatura brasileira a partir da década de 60 até a atualidade; compreender quais
fatores concorrem para a ficcionalização de fatos referenciais no romance citado; investigar quais
estratégias foram usadas para provocar uma hibridização indissociável, que envolve aspectos
conceituais epistemológicos próprios do fenômeno literário e em relação aos gêneros em si enquanto
estruturas; e verificar como a estrutura da obra estudada atribui a ela um caráter mais ou menos
ficcional. O biografismo sempre existiu na literatura brasileira e, para compreendermos o fenômeno
na atualidade, retomamos sua ocorrência a partir da década de 60. Para isso, recorremos a críticos
como Flora Sussekind, Temístocles Linhares, Malcolm Silverman. Quanto à hibridez narrativa,
refletimos sobre conceitos literários fundamentais, como realismo e verossimilhança, verdade
referencial e verdade ficcional, com intenções de compreender melhor como se constituem as
retóricas da ficção e do memorialismo. Para essa parte, nossas bases teóricas são variadas,
incluindo especialmente Umberto Eco e Philipe Lejeune. A análise da estrutura de Nove noites é o
cerne de nossa investigação: como ele se constitui como ficção valendo-se de tantos elementos
referenciais? É a estrutura a principal responsável para que seja considerado romance. A fim de
demonstrar a construção estética dessa narrativa nos valemos de Roland Barthes e Mieke Ball,
refletindo sobre as relações narrador-tempo, e realizando uma análise da sintaxe narrativa. Nove
noites se revela um amálgama de narrativas envolvendo aspectos biográficos, autobiográficos,
fictícios e referenciais.
Palavras-chave: Narrativa brasileira recente, biografismo, Bernardo Carvalho.
Área de Concentração: Estudos Literários.
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“É PRECISO NÃO TER MEDO, É PRECISO TER A CORAGEM DE DIZER”: ESTUDO DA
PARRHESIA NO DISCURSO DE CARLOS MARIGHELLA.
Rafael Andrade MOREIRA
Profa Dra Maria Célia Cortez PASSETTI
Ao se debruçar sobre os pensamentos de Michel Foucault, um dos pontos que mais pode nos
incomodar é a forma como ele mostra o(s) perigo(s) que rodeiam os discursos. Em sua Ordem do
discurso, ele indaga sobre o que há, enfim, de tão perigoso no fato de as pessoas falarem e de seus
discursos proliferarem indefinidamente? Tentando responder a essa indagação, o próprio “filósofo”
explica que essa vontade de verdade, como os outros sistemas de exclusão, apóia-se sobre um
suporte institucional: é ao mesmo tempo reforçada e reconduzida por conjunto de práticas.
Pensando numa estética da existência, sobretudo, para a constituição de um sujeito moral, Foucault
define essa “cultura de si” como uma prática, na qual o indivíduo é instado a ter cuidados consigo
mesmo. Dessa prática do cuidado de si, somos lançados por Foucault, em seus dois últimos anos de
cursos no Collège de France, à problemática da “coragem da verdade”. De fato, esse estudo nos
apresentará o conceito de parrhesia como estudos históricos na cultura grega, dos trágicos aos
cínicos, passando pelos filósofos políticos. O conceito de parrhesia seria a prática de liberdade da
linguagem, o dar a liberdade de falar francamente. Foi pensando no funcionamento dessas práticas
que instigou o ponto central desse trabalho, que fora investigar as práticas éticas (cuidado de si)
que permitem ao sujeito Carlos Marighella ser considerado um parrhesiasta. A pergunta de pesquisa
que norteará o trabalho será: Quais seriam as práticas éticas (cuidado de si) que Marighella se
“assujeitou” para se constituir como um sujeito moral (arte de existência), cujas as ações
constituiriam um determinado código (a luta pela liberdade) e que o “autorizasse” a ser um
parrhesiasta? Para tanto, temos como objetivo geral: Investigar as práticas éticas (cuidado de si)
que permitem ao Marighella ser considerado um parrhesiasta. Como objetivos específicos pensamos
em: 1) Descrever as condições de produção do “corpus”; 2) Refletir sobre as práticas de
subjetivação (ética da existência) para o governo de si e dos outros; 3) Analisar o discurso de
Marighella, apontando indícios que comprove esse discurso como parrhesia. Ou seja, se é um
discurso de parrhesia? Se é... como isso se dá? O aporte teórico ficará a cargo da Análise de
Discurso numa perspectiva Foucaultiana. O corpus selecionado está constituído por três obras de
Marighella: Porque resisti à prisão, a primeira edição é de 1965. Utilizaremos a 3ª edição, de 1995;
Manual do guerrilheiro urbano, escrito em 1969. Circulou em versão mimeografada. Utilizaremos
uma versão em pdf; Rondó da liberdade, escrito de 1939 a 1940. Utilizaremos a edição de 1994. A
pesquisa encontra-se em desenvolvimento, portanto, não possui nenhuma análise concreta.
Palavras-chave: discurso; práticas; parrhesia; marighella.
Área de concentração: Estudos linguísticos.
OS ESPAÇOS NARRATIVOS EM TODOS OS NOMES, DE JOSÉ SARAMAGO
Renata SANTANA
Profa Dra Clarice Zamonaro CORTEZ
O estudo de aspectos relacionados ao espaço é essencial na compreensão de obras literárias. No
estudo aqui proposto, iremos analisar os espaços narrativos na obra Todos os Nomes, de José
Saramago (1997) e como sua construção contribui para o desenrolar das ações. A Conservatória
Geral do Registro Civil e o Cemitério Geral são os principais espaços que a obra apresenta; a Escola
e a Cidade são espaços secundários, ambos dotados de significados, com formas labirínticas,
características de escuridão e contiguidade, que irão assumir papéis importantes no desenrolar da
narrativa, quando não determinantes. O objetivo da pesquisa é relacionar os elementos espaciais
com os demais componentes da narrativa saramaguiana, verificando de que modo concorrem para o
desenrolar do romance e para a construção dos sentidos nesta obra revestida de valores oníricos,
além de verificar a configuração dos cenários da mobilidade do Sr. José na busca pela mulher
desconhecida, analisando como a configuração dos espaços cria um entrelugar composto por
coordenadas espaciais do mundo convencional somadas a outras características como mobiliário,
acessibilidade, limite/expansão do limite, usos específicos e usos deslocados etc.. A fortuna crítica
de Saramago é bastante alentada, por isso foram selecionadas apenas algumas obras que
fornecerão subsídios para a análise teórica do espaço. São elas: Lins (1976), Aguiar e Silva (1982),
Santos e Oliveira (2001), Bal (1990), Barbieri (2009), Rodrigues (2009), Borneuf e Ouellet (1976).
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Para a exemplificação da teoria aplicada no romance, utilizaremos Bachelard (1989), que irá dar
subsídio para a questão simbólica, Dimas (1987) que trata da questão do espaço e de sua
importância fazendo menção aos variáveis conceitos, sumariando reflexões de vários teóricos, Ozíris
(2007) que trata de conceitos de forma minuciosa, enfatizando as demais categorias para mostrar a
relação que as mesmas têm com a questão do espaço, Ferreira (2007) que falará da forma como
Saramago estiliza suas personagens, visto que elas aderem aos espaços que as cercam, Gomes
(2009) que trata do percurso labiríntico em Todos os Nomes entre outras. Em um primeiro
momento, faremos um apanhado teórico no que diz respeito ao espaço. Posteriormente iremos
contextualizar o momento vivido pelo autor, retratar a sociedade da época, o momento que Portugal
se encontrava, o período que Saramago insere, a forma diferenciada como escreve, linguagem,
ironia, pontuação, etc; para finalizar aplicando a teoria e análise anteriormente comentada no corpo
do romance. Assim, a pesquisa deseja apontar a importância do espaço na construção da
personagem e como esta personagem o influencia; como o momento do autor influencia na obra, as
várias dimensões que um espaço pode assumir dentro de uma narrativa e a simbologia existente
nele, além de mostrar a ligação que o espaço tem com os demais aspectos do texto e de sua
importância dentro de uma obra literária.
Palavras-chave: Espaço, romance, José Saramago.
Área de Concentração: Estudos Literários.
O ENSINO DE ANÁLISE LINGUÍSTICA E OS PROFESSORES EM FORMAÇÃO INICIAL: A
RELAÇÃO TEORIA/PRÁTICA
Shirlei Aparecida DORETTO
Prof. Dr. Edson Carlos ROMUALDO
O cenário educacional, principalmente a partir dos anos de 1980, tem motivado estudos e pesquisas
voltadas para a melhoria da educação. Aliado a isso, há uma série de ações efetivadas pelas
instituições governamentais, em âmbitos nacional e estadual, com a criação de leis, documentos
orientadores e cursos de formação continuada de professores. Há, também, diversos livros e
pesquisas que tratam sobre a prática pedagógica de ensino de português. Ainda assim, segundo
Antunes (2003), o cenário educacional revela poucas mudanças quando se trata do processo de
ensino e aprendizagem das práticas discursivas de uso da língua, leitura e produção, e de reflexão
sobre esse uso, a análise linguística (AL). As ações efetivam-se, também, em nível superior, com a
criação de diretrizes, leis, pareceres e resoluções que buscam, de modo geral, garantir ao professor,
em formação inicial, maior contato com conteúdos e práticas pedagógicas, superando o equívoco
histórico de que teoria e prática são dissociáveis na prática social. Acreditando que esses
professores serão, no futuro, os responsáveis pelos encaminhamentos das atividades de ensino e
aprendizagem de língua nas escolas, entendemos ser de fundamental importância discutir aspectos
relacionados à formação desses profissionais. Dessa forma, objetivamos investigar e analisar como
se constituem as relações dos alunos-estagiários de um 4º ano do curso de Letras, de uma
instituição pública, no noroeste do Paraná, com o eixo de reflexão sobre a língua, a prática de
análise linguística, no processo de sua formação, na disciplina de Prática de Ensino e, posterior a
isso, na preparação de sequências pedagógicas para o Estágio Curricular Supervisionado, avaliando
a relação teoria-prática. Para tanto, realizamos um estudo de caso, por meio de uma abordagem
etnográfica, com observação, descrição e análise dos dados, sendo, então uma pesquisa qualitativa-
interpretativa. Assim, o corpus de análise constitui-se de registros coletados por meio de gravações
em vídeo e áudio de todas as aulas da disciplina de Prática de Ensino durante o primeiro bimestre de
2012, de uma entrevista com a professora regente da disciplina, de trabalhos elaborados por
estudantes na disciplina de Prática de Ensino, de planos de aulas elaborados pelos estudantes para
regência em Língua Portuguesa e de gravações de algumas aulas dos estudantes estagiários nas
escolas campo de estágio. Os resultados, parciais até o momento, são bem diversificados e apontam
para a coexistência de diferentes perspectivas teórico-metodológicos em relação ao ensino e
aprendizagem do eixo de reflexão sobre a língua. Nosso arcabouço teórico fundamenta-se nos
pressupostos da Linguística Aplicada de base interacionista, nos pressupostos teórico-metodológicos
de estudiosos que têm se dedicado à AL, como Geraldi, Antunes, Mendonça e Suassuna. Para a
abordagem da relação teoria-prática, buscamos auxílio nos documentos oficiais norteadores da
prática docente, como, por exemplo, os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN).
Palavras-chave: Formação inicial; Análise linguística; Relação teoria/prática.
Área de concentração: Estudos Linguísticos.
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A TRADUÇÃO (CULTURAL) DE ÓRFÃOS DO ELDORADO PARA O INGLÊS
Simone de Souza BURGUÊS
Profa Dra Vera Helena Gomes WIELEWICKI
Com o advento da globalização, os estudos da tradução vêm tomando, cada vez mais, lugar de
destaque na academia. Entretanto, nem sempre a tradução foi bem vista e aceita, especialmente no
que tange a tradução de textos literários. Com relação a esse tipo específico de tradução, a literária,
muitos foram e ainda são os críticos e professores de literatura que encaram as traduções de textos
literários, especialmente dos canônicos, como uma forma de ferir e descaracterizar o texto
“original”, que é colocado em um pedestal, em uma posição sagrada (ARROJO, 1986). Todavia,
graças aos estudos contemporâneos sobre tradução, outras ciências têm sido trazidas para esse
campo de estudo – antropologia, psicanálise, estudos culturais. Nesse cenário, surge uma nova
vertente dos estudos da tradução, conhecida como contestadora ou pós-moderna (BENJAMIN, 2001;
DERRIDA, 2006; VENUTI, 2002). Tal concepção propõe uma nova forma de compreender o estudo
da tradução, em que se passa a vê-la como um ato especializado de leitura, que está engajado em
um contexto, juntamente com um sujeito (tradutor) que não é o mesmo da escritura do texto fonte,
enfim, que se trata de uma prática muito complexa e que envolve inúmeros fatores. Além dos
estudos da tradução terem conquistado um lugar privilegiado, o número de traduções de obras
literárias dos mais diversos países também aumentou. A literatura brasileira, nas últimas décadas,
tem ganhado visibilidade internacionalmente graças às inúmeras traduções de muitas de suas obras
para outras línguas, especialmente para o inglês. Nesse sentido, a presente pesquisa busca analisar
de que forma um romance contemporâneo da literatura brasileira – Órfãos do Eldorado (2008),
escrito por Milton Hatoum – foi traduzido para o inglês, tendo como principal norte a forma como os
aspectos culturais presentes na obra de partida foram traduzidos para a língua de chegada. Para
tanto, realizamos, por meio de uma abordagem descritiva, uma reflexão a respeito da tradução da
obra mencionada para o inglês, especialmente no que concernem os elementos culturais nela
presentes (BHABHA, 1998; HALL, 2003). Ao analisarmos a tradução, observamos que os elementos
da cultura brasileira, nesse contexto, amazônica, receberam um trato especial, visto que o tradutor
optou por deixar os elementos culturais na língua fonte (português) e elaborou um glossário em
inglês, onde se explica todas as marcas de tal cultura que foram deixados no idioma de partida. Isso
posto, salientamos que a tradução de obras da literatura brasileira vem contribuindo para que o
Brasil seja conhecido internacionalmente, não apenas por sua “natureza e cultura exuberantes”, mas
também pela literatura de qualidade que aqui se produz.
Palavras-chave: literatura brasileira traduzida; tradução cultural; Órfãos do Eldorado (2008).
Área de concentração: Estudos Literários.
LETRAMENTO, LEITURA LITERÁRIA E ESCOLA: UMA PRÁTICA SOCIAL
Sirlei Cardoso Cordeiro VIMIEIRO
Profa Dra Mirian Hisae Yaegashi ZAPPONE
Esta análise foi elaborada após pesquisas bibliográficas, num trabalho de revisão de literaturas afins,
e tem como objetivo mostrar como é visto o conceito de letramento e alfabetização, num primeiro
momento tentaremos estabelecer as diferenças de cada um desses processos, bem como de suas
afinidades, porém não excludentes e sim complementares. Persiste no meio acadêmico, e até
mesmo em espaços escolares, uma leitura errônea que vê esses conceitos como sinônimos, e por
essa razão priorizam um conceito em detrimento do outro. Em seguida abordaremos o conceito de
letramento literário. Os pesquisadores da área, de modo geral, postulam que o letramento literário
precede a alfabetização, portanto o contato com gravuras e aparato mímico desenvolve habilidades
ou competências capazes de alicerçar a formação do aluno na leitura literária. Temos nesta
afirmativa a essência dos postulados freirianos de que a leitura de mundo precede a leitura da
palavra. As mídias também estão fazendo parte dessa equipe, uma vez que, as crianças estão cada
dia mais cedo se apropriando de recursos tecnológicos e fazendo leituras até mesmo antes de
frequentarem os espaços de ensino básico. Após a leitura do material bibliográfico, que trata do
assunto, acreditamos que a escola precisa firmar uma relação de cumplicidade com as famílias de
seus estudantes. Isso porque conhecendo suas particularidades é que terão condições de adequar
sua prática e metodologia pedagógica com vistas à formação de cidadãos críticos e detentores de
saberes específicos para o meio do trabalho e valores tão necessários para a vida em sociedade.
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Pesquisas apontam que crianças que fazem parte de um contexto no qual pessoas letradas
desenvolvem o hábito da leitura têm melhor desempenho escolar e, consequentemente, melhores
condições de chegarem aos níveis mais elevados do ensino. Sendo assim, os pais ou responsáveis
compõem com os educadores uma equipe responsável pelo processo ensino-aprendizagem de suas
crianças. Todavia, esta análise manterá o foco nos aspectos literários que fazem parte da prova
aplicada aos candidatos do PAS-UEM (Processo de Avaliação Seriada).
Palavras-chave: Letramento literário; Leitura; Prática social.
Área de concentração: Estudos Literários.
RASURAS EM SEGMENTAÇÃO: CONFLITOS PARA A CONSTITUIÇÃO DA NOÇÃO DE PALAVRA
Tatiane Henrique SOUSA-MACHADO
Cristiane Carneiro CAPRISTANO
A constituição do conceito de palavra, por meio da delimitação por espaços em branco, não é uma
tarefa fácil, nem linear entre escreventes, pois “palavra” pode ser definida do ponto de vista
fonológico, morfológico, sintático e semântico, sem que haja, necessariamente, isomorfismo entre
esses diferentes planos da língua. Nesse percurso, em alguns momentos, o escrevente volta-se
sobre o material escrito, deixando marcas de possíveis dúvidas, denominadas, neste estudo, de
rasuras. Essas ocorrências normalmente são consideradas “sujeiras” a serem passadas a limpo.
Contudo, numa outra perspectiva, essas rasuras podem ser entendidas como lugares de conflito,
que indiciam “o reconhecimento, pelo sujeito escrevente, de uma disparidade entre a sua escrita e a
escrita que julga convencional – a escrita que atribui ao outro” (CAPRISTANO, 2007, p.151). Para
delineamento dessa pesquisa, utilizamos o banco de produções textuais coletado por integrantes do
Grupo de Pesquisa Estudos sobre a linguagem (CNPq), banco este que, atualmente, subsidia
também pesquisas do Grupo de Pesquisas Estudos sobre a escrita (CNPq). Para composição desse
banco de produções textuais, foram acompanhadas as mesmas crianças da primeira a quarta série
do ensino fundamental em duas escolas da rede municipal de ensino da cidade de São José do Rio
Preto (SP) ao longo do período de abril de 2001 a dezembro de 2004 na mesma turma. Para
elaboração dos textos, as crianças produziam diversos enunciados a partir de diferentes propostas
de produção textual. As propostas foram organizadas da seguinte forma: (I) 1ª série foram
coletadas 451 produções textuais divididas em 14 propostas de escrita; (II) 2ª série, 471 produções
textuais em 15 propostas; (III) 3ª série, 359 produções textuais divididas em 12 coletas e; (IV) 4ª
série foram coletadas 421 produções textuais em 14 coletas, totalizando 1.702 (mil setecentos e
duas) produções textuais, divididas em 55 propostas. A partir desse corpus, elegeram-se rasuras
diretamente ligadas à segmentação gráfica, como dado de pesquisa, por permitem reconstituir o
caminho rumo ao conceito convencional de palavra. Parte-se da hipótese de que as rasuras
permitiriam identificar, na escrita infantil, possíveis “caminhos” trilhados pelo escrevente, frutos das
diferentes participações em práticas orais e letradas. Neste contexto, a presente pesquisa quanti-
qualitativa, objetiva mapear as rasuras ligadas à segmentação presentes nos enunciados escritos
por crianças do Ensino Fundamental, visando compreender como o escrevente caminha em direção
à definição convencional de palavra. Para tanto, ancora-se em procedimentos metodológicos do
Paradigma Indiciário, proposto por Ginzburg (1986), uma vez que o pesquisador debruça-se sobre
os textos originais, buscando “pistas” capazes de reconstruir o percurso do escrevente. Como
resultados preliminares, até o presente momento, foram identificadas 365 rasuras que parecem
emergir do conflito com a delimitação de espaços em branco. Essas rasuras são distribuídas são
distribuídas ao longo da série da seguinte forma: 105 na 1ª série; 118 rasuras na 2ª série; 83
rasuras ao longo da 3ª série e 59 na 4ª série. Nas próximas etapas da pesquisa, realizaremos a
análise qualitativa dos dados, observando (a) quantidade de rasura por sujeito; (b) tipo de rasura;
(c) quantidade de rasura por tipo e ano; (d) rasura e sua relação com gêneros textuais.. Essa
análise nos permitirá tecer algumas considerações sob como o escrevente constrói ao longo do
processo de aquisição a escrita, o conceito convencional de palavra.
Palavras-chave: Aquisição da escrita; Rasura; Segmentação gráfica.
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A CONSTRUÇÃO DOS CORPOS: A REPRESENTAÇÃO DO CORPO FEMININO NEGRO EM UM
DEFEITO DE COR
Tayza Cristina Nogueira ROSSINI
Profa Dra Lúcia Osana ZOLIN
Tradicionalmente, as mulheres foram em todas as esferas (social, histórico, político e estético)
consideradas como inferiores ao sexo masculino. Em detrimento da política do patriarcalismo, a
mulher foi silenciada, excluída e vitimada por preconceitos e estereótipos lançados em sua imagem
ao longo da história. Quando se trata da mulher negra a situação é ainda mais complicada. Se à
mulher branca cabia o silenciamento e o subjugamento social, o espaço reservado à mulher negra
era muito mais inferiorizado. No romance “Um defeito de cor” (2011) tem-se representado a
imagem da mulher negra escravizada que se defronta com o embate das ideologias, estereótipos e
preconceitos que são engendrados em sua identidade e corporalidade. Sistematicamente
esquadrinhada e categorizada, a corporalidade tem contribuído nos estudos feministas para a
discussão da representação dos corpos femininos, frequentemente vinculados a estereótipos de
objetificação nos mais diversos âmbitos, além de legitimar a dominação veiculada por meio de
preconceitos e estereótipos lançados na imagem da mulher. Corpos invisíveis, corpos subalternos,
corpos disciplinados, corpos violentos, corpos erotizados, corpos refletidos, entre outros corpos,
nomeados por Elódia Xavier em sua tipologia Que corpo é esse? O corpo no imaginário feminino
(2007), servem como esteio para a investigação e debate sobre a representação do corpo feminino
na literatura de autoria feminina brasileira e contribuem para a investigação e análise da
representação do corpo feminino negro dentro da narrativa eleita. Acreditamos que, para que as
representações sejam apreendidas no romance, é necessário que se leve em conta a trajetória
percorrida pela personagem e as mudanças que ela sofre em sua identidade e seu corpo durante
todo o processo. Como aporte teórico, estaremos embasados na visão da Crítica Feminista
articulada a estudiosos como Elódia Xavier, Pierre Bourdieu, Michel Foucault, Arthur Frank, Iris
Young, Regina Dalcastagnè, Roger Chartier, entre outros, que abordam a questão da representação
e da corporalidade como construto social e histórico. Associa-se ainda categorias como gênero, raça,
identidade, levando-se em consideração ideologias e modelos simbólicos presentes na cultura e que,
impreterivelmente, se refletem nas identidades e nos corpo. Traz-se, portanto, para a discussão,
teóricos como Clifford Geertz, Stuart Hall e Zygmunt Bauman. A metodologia utilizada teve caráter
bibliográfico qualitativo compreendendo a pesquisa bibliográfica, estudo, revisão e exploração das
teorias citadas, aplicadas na obra “Um defeito de cor” (2011), de Ana Maria Gonçalves.
Palavras-chave: representação feminina; literatura brasileira; corpo negro; identidade.
Área de concentração: Estudos Literários.
A AUTORIA, A INTERPRETAÇÃO E A TRADUÇÃO INTERSEMIÓTICA: UMA DISCUSSÃO
DISCURSIVA - DO LIVRO À TELA DE ANIMAÇÃO
Verônica Braga BIRELLO
Profa Dra Roselene de Fátima COITO
A literatura possibilita uma interdisciplinariedade que nos permite articular teorias e conceitos em
busca da compreensão de fenômenos presentes no cotidiano. No início do século XXI as narrativas
representantes do gênero maravilhoso e fantástico ganham destaque proporcionando a publicação e
reedição de históricas como Harry Potter de J. K. Rolling, O Senhor dos Anéis de J. R. R. Tolkien, As
Crônicas de Nárnia de C. S. Lewis. Todas essas obras de sucesso foram produzidas
cinematograficamente e tem um lugar de origem comum, o Reino Unido, local onde podemos
encontrar o livrio Howl's Moving Castle de Diana Wynne Jones, que constitui parte de corpus de
análise desse trabalho junto com sua tradução intersemiótica intitulada Hauru no Ugoku Shiro, do
diretor japonês Hayao Miyazaki. Nesse contexto, a autoria é uma questão amplamente discutida em
diversas linhas e vertentes teóricas, proporcionando extensas discussões. Nessa pesquisa pensamos
a autoria enfocando a função autor, um conceito proposto por Foucault (2000) que caracteriza um
lugar vazio que um dado sujeito pode assumir ao realizar a complexa tarefa de organização textual
que caracteriza a função autor. Sendo assim, nossa proposta visa compreender o funcionamento
discursivo dessa função na tradução intersemiótica de uma obra literária. Buscamos construir um
percurso que unisse a teoria e a análise o que nos possibilitou expandir nosso foco não sendo
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limitado pela autoria discursiva, mas tratando ainda da tradução intersemiótica, com enfoque na
caracterização das personagens e a mudança de materialidade, além de discutirmos o processo de
interpretação do diretor e a caracterização de uma nova obra, por meio da tradução. Por meio desse
trabalho nos foi possível observar que a função autor se realiza na transposição do texto escrito
para a materialidade fílmica na figura do diretor que em dado momento ocupa esse espaço vazio,
chamado por Foucalt (2000), de função autor. Assim, seria ocupando essa posição que o diretor
consegue realizar a complexa tarefa de selecionar, organizar, excluir, modificar, inserir enunciados e
ao mesmo tempo deslocar sentidos entre as obras. Mostrou-se possível dizer, em nosso percurso
teórico-analítico, que efeitos de sentido diferentes são produzidos, ou seja, além de mudanças
temos inserções e exclusões que podem significar para o público espectador e tais mudanças
caracterizam a função autor nessa tradução intersemiótica.
Palavras-chave: análise do discurso; função autor; tradução intersemiótica.
Área de concentração: Estudos Linguísticos.
PROJETOS DE TESES
SUBJETIVAÇÃO NO DISCURSO DE SUJEITOS IDOSOS EM CONTEXTO DE ESTUDOS NA
UNATI- UEM
Adélli Bortolon BAZZA
Prof. Dr. Pedro Luis NAVARRO Barbosa
Nesta pesquisa, propõe-se analisar a subjetivação do idoso em contexto de ensino na Universidade
Aberta à Terceira Idade (UNATI) da Universidade Estadual de Maringá (UEM). O chamado
envelhecimento da população, além de trazer mudanças nas relações da sociedade com a velhice,
trouxe o idoso para o centro de muitas discussões, o que desencadeou uma reconstrução das
identidades de idoso construídas e assumidas pela sociedade. Tamanha reconfiguração de papeis
justifica social e academicamente uma discussão sobre tal temática. Enquanto alguns trabalhos
analisam o discurso sobre o idoso, objetiva-se analisar as práticas que compõem um discurso do
idoso sobre si. Embasada em uma perspectiva discursiva, calcada no pensamento de Michel
Foucault, recorta como objeto de análise as práticas desses sujeitos sobre si mesmos para se
constituírem como sujeitos idosos de seu discurso. Nesta discussão, são mobilizados da teoria
foucaultiana conceitos como: discurso, memória, objetivação, subjetivação, cuidado de si, artes de
existência. O corpus é composto de entrevistas semiestruturadas com dez idosos regularmente
matriculados na UNATI- UEM, registradas em áudio e produções escritas também de alunos dessa
instituição a respeito das suas vivências da velhice. As questões propostas na entrevista são
calcadas em elementos apontados por Foucault como constitutivos de uma cultura do cuidado de si:
Cuidados com o corpo – o que inclui regimes de saúde e exercícios físicos; Meditações; Orientação
com confidente; Intensificação das relações sociais; Procedimentos de provação; Exame de
consciência; Conversão a si mesmo; Dispositivo do Casamento; Dispositivo da Sexualidade. Por
serem baseadas nos pressupostos teóricos foucaultianos, tais perguntas favorecem que seja
confirmada a permanência ou não dos elementos descritos por Foucault como práticas do cuidado de
si para a sociedade grega clássica no modo de se fazer sujeito dos idosos que, atualmente, estudam
na UNATI – UEM. Com o intuito de extrapolar a confirmação e possibilitar que novas práticas
desenvolvidas por esses sujeitos sejam descritas, propôs-se a etapa da escrita de um relato pessoal
para que os idosos participantes pudessem contar, de forma menos dirigida, sobre sua forma de
viver atualmente. Supõe-se que, assim como os demais fenômenos sociais se deem em um
processo de permanências e rupturas, algumas práticas desses sujeitos sobre si correspondam às
práticas tradicionalmente descritas como próprias a um idoso, enquanto outras sejam rupturas
nesses contratos sociais. As análises feitas até o momento apontam para uma ruptura na prática do
aconselhamento, enquanto as demais práticas permanecem presentes na cultura de si dos idosos
entrevistados.
Palavras- chave: subjetivação, idoso, discurso.
Área de concentração: Estudos Linguísticos.
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POLÍTICA E RELIGIÃO NA CAMPANHA PRESIDENCIAL DE 2010: UMA PROPOSTA DE
ABORDAGEM DISCURSIVA
Amarildo Pinheiro MAGALHÃES
Prof. Dr. Edson Carlos ROMUALDO
Esta pesquisa se ocupa do estudo do funcionamento dos elementos religiosos nos discursos sobre as
eleições presidenciais, em 2010, no Brasil. Tal proposta investigativa torna-se relevante, sobretudo,
quando se considera que tais elementos, sobretudo aqueles associados à moral cristã, exerceram
influência preponderante entre os critérios de definição do voto pelos cidadãos brasileiros em ambos
ou turnos das eleições presidenciais supramencionadas, interpelando, inclusive, eclesiásticos e fiéis
de diversas denominações cristãs a, em nome de sua fé, manifestarem-se publicamente o seu
apoio a determinado(a) candidato(a) e, na maioria das vezes, desqualificar seus oponentes. Ao se
optar por compreender esse processo discursivo a partir da perspectiva do fiel-eleitor, elegeu-se
como materialidade para a análise pretendida as comunidades do site de relacionamentos Orkut
que, dentre as redes sociais, foi onde se deu mais intensamente o debate sobre o tema à época do
pleito. Nessas condições, provoca-nos seguinte questão: Como se torna possível, na conjuntura de
um Estado laico e com o crescente número de pessoas que se declaram sem religião, que os
elementos religiosos determinem a formulação dos discursos e práticas político-eleitorais? Em
relação à pergunta principal, assume-se preliminarmente a tese de que existem na sociedade
elementos que poderiam ser considerados constitutivos do que se convencionou chamar de
identidade nacional. Esses elementos afetam a posição que os sujeitos assumem quanto às questões
práticas da vida social, inclusive na hora do voto A religiosidade, tanto pelo aspecto da fé, quanto
pela da moral, seria, assim, um desses aspectos, sendo, portanto capaz, em uma situação de
eleição suplantar aspectos objetivos do campo político-eleitoral, entre eles os rumos da nação
quanto aos direitos sociais fundamentais, fazendo-o funcionar a partir do maniqueísmo bem/mal e
suas derivações como crer/ não-crer, ser contra ou favor a este ou aquele posicionamento moral. A
ancoragem teórico-metodológica se dá a partir da Análise de Discurso de linha francesa (AD),
referenciada nos estudos de Michel Pêcheux. Vislumbra-se na AD a possibilidade descrever-
interpretar o funcionamento discursivo dos elementos religiosos que afetam os processos de
interpelação ideológica e dos sujeitos envolvidos na produção e circulação dos discursos políticos-
eleitorais e neles se materializam a partir de um efeito de suposta evidência. Nesse itinerário tem se
buscado compreender discursivamente o conceito de a partir da tese da interpelação ideológica do
sujeito, ou seja, à partir dos processos que escapam à consciência e, consequentemente, ao
controle do sujeito e derivam de sua relação com o inconsciente, com as formações ideológicas e
com a exterioridade constitutiva da linguagem.
Palavras-Chave: Religião, Política, Eleições 2010.
Área de Concentração: Estudos Linguísticos.
ENTRE O LÍRICO E O PICTÓRICO: A ALDEIA DE VERGÍLIO FERREIRA
Ana Cristina Fernandes Pereira WOLFF
Profa Dra Clarice Zamonaro CORTEZ
A vida mantém estreita relação com os espaços, sejam eles reais ou imaginários. Tais espaços são
por nós habitados e vividos, fazem parte da constituição de quem somos e da percepção que temos
do mundo; deles a memória não se desvencilha. Pensar as narrativas pressupõe, sempre, pensar
um espaço. Apesar de muitos pesquisadores afirmarem que a espacialidade literária ainda não
conquistou o lugar teórico desfrutado por outros elementos ou categorias narrativas, este é um
tema cujo interesse vem crescendo nos últimos anos. Trata-se de uma área que se oferece como
amplo campo de investigação e possibilita novas abordagens do texto literário. Em alguns escritores,
o leitor atento observa como o espaço narrativo é fundamental para a construção do texto, a
organização do discurso e a emergência da subjetividade. Em Vergílio Ferreira, ficcionista e ensaísta
português, o espaço tem papel decisivo na construção romanesca e pode-se dizer que dele partem
(e para ele convergem) a memória, os fatos e, sobretudo, as investigações, reflexões e vivências
intimistas dos narradores (predominantemente narradores-personagens). Desse modo, o
espaço/paisagem ultrapassa os meros referentes externos para conduzir a uma particular forma de
percepção do real e da própria existência. Ao longo da produção ficcional vergiliana, notam-se
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algumas recorrências, entre as quais se destacam determinadas referências espaciais. Nesse
sentido, as aldeias – que parecem ser sempre a mesma – são um espaço de eleição, presente em
quase todos os romances. Não-nomeadas, tais aldeias guardam muitas semelhanças entre si; são o
espaço de intimidade do narrador-personagem ou personagem principal, seu lugar de origem, para
o qual (ou no qual) se desloca, espaço de intimidade, de busca de uma verdade mais autêntica e do
encontro com o Absoluto. Partimos da hipótese de que as aldeias vergilianas – que consideramos
como a aldeia – são o espaço sagrado do “eu” ficcional, espaço que ora se tinge de luz ora de
sombras, dadas as experiências, memórias e reflexões a ela relacionadas. Tão intensa é a ligação do
“eu” a tal espaço que o próprio discurso se reinventa: ao narrativo mesclam-se tanto características
do lírico quanto elementos pictóricos, num esforço para dizer aquilo que provém das camadas mais
íntimas do homem. Assim, esse microcosmo expande-se e, em linhas gerais, refrata os grandes
temas e anseios ligados à vida humana. Com base nisso, para nossa pesquisa selecionamos como
corpus os romances Cântico final (escrito em 1956 e publicado em 1960), Aparição (1959), Alegria
breve (1965) e Para sempre (1983), a fim de investigar a construção do espaço/paisagem na(s)
aldeia(s) vergiliana(s), o qual se mostra profundamente ligado à subjetividade e à memória. Além
disso, procuramos verificar os recursos líricos e pictóricos que contribuem para a configuração
dessas aldeias. Para tanto, em se tratando de uma pesquisa de caráter bibliográfico, além da
fortuna crítica do autor, tomamos como referencial teórico, metodológico e analítico básico, obras
que versam sobre o espaço e a paisagem, tanto no campo literário quanto em áreas afins (geografia
cultural, filosofia, estudos culturais, história). Entre os principais autores que compõem esse aporte,
citam-se: Michel Collot, Simon Schama, Milton Santos, Yi Fu Tuan, Gaston Bachelard, Mircea Eliade,
entre outros.
Palavras-chave: espaço/paisagem; aldeia; memória.
Área de concentração: Estudos Literários.
CLASSIFICAÇÃO DAS ADAPTAÇÕES BRASILEIRAS DE OBRAS LITERÁRIAS PARA A
INFÂNCIA E A JUVENTUDE
Angela Enz TEIXEIRA
Profa Dra Vera Helena Gomes WIELEWICKI
O tema de pesquisa proposto são as adaptações de obras literárias para o público infantojuvenil
comercializadas por quatro editoras, quais sejam Ática, Moderna, Salamandra e Scipione de 2013.
Este tema impõe-se pela curiosa variedade das formas e estruturas das adaptações, delineando a
tese de que as obras adaptadas podem ser classificadas, segundo as operações envolvidas para o
processo de adaptação. A partir disso, impõe-se a questão: Como se dá a adaptação de obras
infantojuvenis no que tange à apropriação da obra de partida? Para tanto, o corpus de análise
constitui-se pelos catálogos dessas editoras e por obras adaptadas, cujo objetivo é a análise
estrutural de tais obras e a descrição dos grupos configurados, procedimentos que caracterizam a
pesquisa como qualitativa. Quanto à técnica para a coleta de informações, está sendo utilizada a
documentação indireta, por meio de pesquisa bibliográfica, pois o corpus de análise da pesquisa
constitui-se pelas adaptações mostradas nos catálogos das editoras nominadas. Após o
delineamento das classes para agrupar as adaptações, serão selecionadas obras específicas de cada
classe para fazer uma descrição estrutural dos grupos configurados. As adaptações a serem
selecionadas terão como critério a nacionalidade da partida: deverão ser textos brasileiros. O
método de abordagem a ser usado delineia-se como o indutivo, porque a análise das adaptações
partirá de um número limitado de casos particulares (com a intenção de identificar regularidades
formadoras de grupos e diferenças entre os grupos) para se tecerem as leis que particularizam as
classes de adaptações de textos literários. Para a fundamentação teórica, basicamente, o trabalho
baseia-se na teoria da transtextualidade de Genette (1982), na da adaptação de Hutcheon (2011) e
na da intertextualidade de Koch et al. (2007). Segundo o corpus de pesquisa levantado, constatou-
se que a variedade de gênero das obras de partida extrapola os limites literários, abarcando outras
mídias e produções não artísticas. Conforme o estágio inicial da pesquisa, pode-se dizer que existe
uma diferença marcada na estrutura das adaptações, levando-se em conta sua relação com a obra
de partida e sua função social, permitindo que as classes delineadas sejam cinco, cujos nomes ainda
estão em fase de sedimentação.
Palavras-chave: Adaptação; literatura infantojuvenil; estrutura de obras adaptadas.
Área de concentração: Estudos literários.
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LITERATURA NERD: CONSTRUÇÃO/CONSOLIDAÇÃO DE UMA CULTURA LITERÁRIA
BRASILEIRA
Arnaldo Pinheiro MONT’ALVÃO Júnior
Profa Dra Vera Helena Gomes WIELEWICKI
Há alguns anos, um fenômeno cultural vem se firmando no Brasil, conquistando cada vez mais
adeptos, sejam eles jovens ou adultos: a Cultura Nerd. Ao se verem diante desse amplo mercado
promissor, os agentes da indústria cultural dedicam seus esforços a criar produtos para atender aos
desejos desse público. Dessa forma, observa-se a emergência de uma nova interação entre
produtores e consumidores de mídia, representando uma transformação cultural, investigada e
definida pelo crítico de mídia Henry Jenkins como Cultura da Convergência (2009). Ou seja, verifica-
se que a Cultura Nerd é essencialmente uma Cultura da Convergência, pois agrega os três conceitos
que embasam a teoria desenvolvida por Jenkins, quais sejam: convergência dos meios de
comunicação, cultura participativa e inteligência coletiva. A afirmação de que a relação entre
consumidores e produtores de mídia representa uma transformação cultural se consolida ao se
verificar que, dentre as diversas mídias pelas quais a Cultura Nerd circula, também a literatura
passa por transformações e adaptações que a caracterizam conforme as preferências do público
nerd. A literatura brasileira assiste então a consolidação da Literatura Nerd como uma nova cultura
literária hospedada em seu cerne, marcada por seus gêneros textuais, seu processo de editoração,
seus próprios conceitos críticos. Assim, fundamentando-se nos princípios teóricos da Cultura da
Convergência investigados por Henry Jenkins, esta pesquisa visa defender a tese de que é possível
afirmar a existência, se não do gênero literário nerd, da Literatura Nerd Brasileira, mesmo como
uma cultura literária. Também se buscará traçar o perfil da Cultura Nerd, tanto em sua gênese
estadunidense quanto em sua atuação no Brasil, para entender as influências dessa cultura na
literatura. Para tanto, o site Jovem Nerd, e por extensão a editora Nerdbooks, foi selecionado como
objeto de estudo para esta pesquisa, por ser o principal expoente hoje da cultura nerd no Brasil.
Dentre as atrações do Jovem Nerd, o Nerdcast, podcast semanal do site, servirá para a
investigação, restringindo a pesquisa aos nerdcasts de literatura. Além desse material, serão
analisadas também as publicações da Nerdbooks. Vale ressaltar que esta pesquisa será realizada em
três momentos principais, sendo o primeiro momento a investigação da cultura nerd e as
características da cultura nerd brasileira, buscando os traços específicos que a marcam. O segundo
momento será a integração dessa cultura nerd com a Cultura da Convergência de Henry Jenkins,
investigando os conceitos de convergência por meio da análise do universo nerd. Por fim, o terceiro
momento se dedicará ao estudo das obras da Nerdbooks e aos nerdcasts de literatura. Ao fim desta
pesquisa, apontam-se como possíveis resultados a firmação do conceito da Cultura Nerd Brasileira,
com seus traços característicos definidos, bem como sua caracterização como uma Cultura da
Convergência; a definição da Literatura Nerd como uma nova corrente literária brasileira.
Palavras-chave: Literatura Nerd; Cultura Nerd; Literatura Brasileira.
Área de concentração: Estudos Literários.
PERSONAGENS BOJUNGUIANAS E SUAS REPRESENTAÇÕES
Berta Lúcia Tagliari FEBA
Profª Drª Mirian Hisae Yaegashi ZAPPONE
Embora pesquisas na área da literatura infantil e juvenil brasileira tenham se alargado
acompanhando a expansão da indústria cultural, ainda têm caráter embrionário diante da
quantidade e da qualidade de autores e obras. Nesse sentido, o objetivo central desta pesquisa é
contribuir para a ampliação e o aprofundamento de questões críticas e teóricas acerca da literatura
para crianças e jovens a partir da leitura e da análise do conjunto da obra de Lygia Bojunga, autora
consagrada pela crítica, possibilitando uma leitura interpretativa da constituição de sua arte escrita.
Mais especificamente, tem como intuito fazer um levantamento de personagens que compõem as
narrativas da autora, a fim de estudar sua posição e seu grau de complexidade na trama, aspectos
sociais e econômicos, dados de composição física e psicológica, papeis afetivos e sociais
desempenhados, aptidões artísticas e tipo de desfecho. Após este levantamento e mapeamento de
características predominantes, objetivamos interpretar as informações para identificar como se
constituem as representações feitas por Bojunga e como se configura o leitor implícito instituído
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neste universo ficcional, tendo como fundamentação a Teoria do Efeito, de Wolfgang Iser, e
subsídios complementares com base em teoria e crítica literária, literatura infantil e juvenil, leitura e
leitor. A partir deste prisma, o enfoque nas personagens coopera para gerar a oportunidade ao leitor
de assumir um papel ativo na leitura delineado pela estrutura textual, ou seja, papel que exige do
leitor respostas às provocações motivadas pela posição perspectivística interna do texto e que
resultam em experiências estéticas. Para tanto, optamos por uma pesquisa de natureza exploratória
e do tipo bibliográfica para aprimorarmos e investigarmos verticalmente ideias propagadas em
estudos da literatura infantil e juvenil brasileira, para analisarmos as narrativas e interpretarmos os
elementos levantados, bem como para contribuirmos para a intensificação de pesquisas sobre
Bojunga e suas personagens. O estudo preliminar demonstra que as personagens crianças/jovens
sofrem internamente por diferentes motivos, dentre eles pela busca de identidade, pelo desencontro
entre seus anseios e os do adulto, pela solidão, mas, por meio da arte, superam os conflitos,
compreendem os próprios sentimentos e amadurecem, promovendo novas significações para a vida.
Palavras-chave: literatura; Lygia Bojunga; personagens.
Área de concentração: Estudos literários.
MEDIAÇÕES PEDAGÓGICAS À PRÁTICA DOCENTE EM SALAS DE APOIO À APRENDIZAGEM
DE LÍNGUA PORTUGUESA
Cristiane Malinoski Pianaro ANGELO
Prof. Dr. Renilson José MENEGASSI
Esta pesquisa aborda os procedimentos metodológicos utilizados por um professor de Sala de Apoio
à Aprendizagem de Língua Portuguesa (SAALP) – 6º ano do Ensino Fundamental, na região Centro-
Sul do Estado do Paraná. Tem-se, por objetivo, refletir a respeito do fazer docente junto a alunos
com dificuldades de aprendizagem em Língua Portuguesa, de maneira que possam ser vislumbradas
algumas alternativas de ação para se resolverem ou minimizarem-se os problemas de uso da
linguagem evidenciados nesse contexto. A fim de atingir esses objetivos, empregamos como
procedimento de investigação a pesquisa-ação crítico-colaborativa, visto que entramos numa
relação colaborativa com o professor da SAALP, auxiliando-o, por meios de diversas ações
colaborativas pontuais, a refletir sobre a própria prática no trabalho com a língua materna; a
construir novos conhecimentos a respeito do processo de leitura e de escrita; a planejar ações em
prol da melhoria da qualidade do ensino e da aprendizagem em SAALP; a alterar as ações cotidianas
em sala de aula; a diagnosticar os problemas e os efeitos das mudanças nesse contexto de ensino.
Em conformidade com características da pesquisa-ação, esta se constituiu em três etapas: a)
Diagnóstico inicial, em que se constata que ações colaborativas se fazem necessárias a desenvolver
junto ao professor para a melhoria da qualidade de ensino e de aprendizagem proporcionada no
contexto da SAALP; b) Ações colaborativas junto ao professor e o monitoramento da prática em
sala de aula; c) Diagnóstico final, para se verificar os resultados das ações colaborativas. Nesse
contexto, o trabalho pauta-se na teoria sócio-histórica de Vygotsky (1984, 1998), na teoria
enunciativa do Círculo de Bakhtin e nas concepções de processo de leitura e escrita abordadas por
Menegassi (2010). Os resultados parciais apontam para a necessidade de se fornecer ao professor
de SAALP subsídios teórico-metodológicos a respeito do processo da leitura e da escrita, bem como
acompanhar e orientar a sua prática pedagógica com a língua materna nesse contexto de ensino.
Palavras-chave: Leitura; Produção escrita; Sala de Apoio à Aprendizagem.
Área de Concentração: Estudos Linguísticos.
METAMORFOSES DA CORPOREIDADE POLÍTICA NOS SEMANÁRIOS BRASILEIROS: O
ENQUADRAMENTO DE DILMA ROUSSEFF NAS ELEIÇÕES DE 2010
Elaine de Moraes SANTOS
Prof. Dr. Edson Carlos ROMUALDO
Várias pesquisas de referência no Brasil e no cenário internacional já descreveram como o uso do
corpo e do gesto na política passou por adaptações para figurar em uma sociedade ambientada
pelas mídias. Igualmente significativos têm sidos os estudos que interrogam a relação
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plurissignificativa entre dois campos distintos: a mídia e a política. Na esteira de nossos trabalhos
anteriores, percebemos uma necessidade de investigar, sob a perspectiva da Análise do Discurso de
linha francesa (AD), as metamorfoses que configuram não o corpo político empírico, mas a sua
discursivização, isto é, o seu simulacro, tal como ele é engendrado pelos veículos de informação e
de comunicação de um mundo pós-moderno. Para tanto, montamos um arquivo formado pelas 208
edições dos quatro semanários brasileiros de atualidades – as revistas CartaCapital, Época, IstoÉ e
Veja, publicadas no decorrer de um acontecimento histórico-discursivo específico: as eleições
presidenciais de 2010 no Brasil. Na disputa desse ano, houve um intenso trabalho da mídia impressa
em promover a vigilância, no sentido foucaultiano, da candidata Dilma Rousseff, do Partido dos
Trabalhadores (PT), através, sobretudo, de fotografias que, somadas ao verbal das matérias,
favoreciam a produção de efeitos de sentidos que desqualificavam a presidenciável aos olhos dos
(e)leitores. As multifaces desse cenário motivou a realização desta pesquisa de Doutorado cujo
objetivo principal é analisar os enquadramentos dos semanários brasileiros sobre Dilma Rousseff na
cobertura da campanha. Nas primeiras entradas em nosso arquivo para delimitação do corpus,
percebemos que, no cerne dos discursos sobre a candidata, podemos apontar duas regularidades
discursivas principais: a) as referências às mudanças no corpo e na postura da candidata para
minimizar o denominado “ar de antipatia” da petista; e b) um constante questionamento acerca da
capacidade dela de assumir o governo, aliado à ideia de que a popularidade de seu antecessor, o
presidente Luiz Inácio Lula da Silva, era a única justificativa para o crescimento de Dilma nas
intenções de voto ao longo da campanha. Da análise das condições de possibilidade do pleito
presidencial em destaque, lançamos as seguintes perguntas de pesquisa: a) como dispor dos
dispositivos teórico-metodológicos da AD para analisar a discursivização do corpo da candidata,
focalizando os atravessamentos e os efeitos de sentidos possíveis?; e b) como a relação Lula-Dilma
foi discursivizada nos enquadramentos das páginas da imprensa? A fim de responder essas questões
norteadoras, entrecruzamos, inicialmente, os estudos discursivos ao diálogo sobre o processo de
midiatização a partir dos domínios da Comunicação e da Ciência Política e optamos pelo trabalho
com uma unidade compósita: o discurso político-midiático. Dentro do quadro teórico adotado, nosso
mergulho na historicidade da trama discursiva de nosso objeto nos levou à proposição de duas
categorias interligadas. Para nosso gesto de leitura, classificamos as fotografias do corpo de Dilma
como corporeidade e propomos a noção de policorpo como o produto final das metamorfoses
inerentes ao enquadramento da presidenciável. Oriundos ao manuseio dessas categorias, os
resultados preliminares mostram a produção de um efeito de copresença de Lula-Dilma no
acontecimento discursivo do pleito presidencial de 2010.
Palavras-chave: corporeidade; discurso político-midiático; enquadramento.
Área de concentração: Estudos Linguísticos.
IMAGENS DO REAL E O REAL DAS IMAGENS: A ARQUITETURA DISCURSIVA DA
(D)EFICIÊNCIA NO CINEMA
Érica Danielle SILVA
Profa Dra Ismara Eliane Vidal de Souza TASSO
Para a fase atual de doutoramento, nos propomos a compreender o investimento discursivo
cinematográfico sobre o corpo anormal na contemporaneidade. O quadro que compõe o corpus de
pesquisa restringe-se a seis produções fílmicas: quatro documentários exibidos no Festival de Filmes
sobre a deficiência “Assim Vivemos” e dois longa-metragem – o filme brasileiro “Colegas” (2012) e o
filme francês “Os Intocáveis” (Intouchables, 2012), ambos ganhadores de vários prêmios em 2012 e
2013. Sob os fundamentos teórico-metodológicos da Análise de Discurso de linha francesa e seus
desdobramentos no Brasil, vislumbramos as materialidades cinematográficas como espessuras
fílmicas que se inscrevem em regimes de verdade, em lugares de enunciação que são, para nossa
perspectiva de estudo, como pontos de escuta para problematizações acerca da arquitetura
discursiva cinematográfica, que inscreve efeitos de poder sobre o político e o social, a partir de um
feixe de relações entre saber (sobre o corpo anormal) e verdade. Nossos tateamentos teórico-
analíticos iniciais vêm apontando para o dispositivo da (in)visibilidade da privacidade como eixo
norteador de uma arquitetura discursiva historicamente heterogênea, que coloca em funcionamento
formas de (des)aparecimento do corpo anormal no político e no social, por meio de tecnologias ora
repressivas, ora disciplinares, ora reguladoras. A tese que será defendida, pode ser resumida na
seguinte asseveração: as estratégias e os mecanismos utilizados no tecido discursivo
cinematográfico inscrevem-se em espaços de significação, cujo dispositivo da (in)visibilidade do
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privado produz um regime da enunciação do “corpo transparente”. A questão que norteará nosso
trabalho de análise e de interpretação se define da seguinte maneira: de que modo a (in)visibilidade
do privado, enquanto dispositivo que organiza o discurso cinematográfico sobre o corpo anormal na
contemporaneidade, legitima e/ou desconstrói dimensões políticas circunscritas às demandas do
social? Dessa forma, partimos da constatação preliminar de que na produção dos regimes
enunciativos cinematográficos o sujeito é perpassado por jogos enunciativos de verdade que
funcionam como uma ascese, isto é, um exercício de si sobre si, em que ele pode se transformar e
aceder a um certo modo de vida. É no exercício de dizer a verdade que se auxilia os governados
para que eles mesmos encontrem sua verdade, de modo que saibam conciliar suas obrigações
sociais e políticas (poder sobre os outros) com a construção de si, enquanto sujeito de seus atos
(domínio de si). Esse imperativo ascético, que se exerce no/pelo discurso cinematográfico é
responsável, então, pelo funcionamento da biopolítica, exercício do poder, que tem como objetivo
intervir, por meio de mecanismos globais, na vida da coletividade / população, para que se
obtenham estados globais de equilíbrio, de regularidade. O discurso cinematográfico, nesta
perspectiva, age, pois, por meio de uma existência material heterogênea, que conduz o espectador
para um regime de olhar corpos anormais, articulada pelo dizível e pelo visível. Como pontos nodais
de uma rede discursiva, os sentidos produzidos pelas sequências fílmicas flutuam no entremeio de
ordens dispersas e heterogêneas que comungam dos espaços da arte e da política; do privado e do
público; da experiência de si e da ação social.
Palavras-chave: discurso cinematográfico; biopolítica; (in)visibilidade do privado.
Área de concentração: Estudos Linguísticos.
NATÁLIA DE HELDER MACEDO, UMA BIOGRAFIA DE SI: UM DIÁRIO DE RESISTÊNCIA
PASSIVA E SIMULACRO AUTORAL
Giuliano HARTMANN
Profa Dra Marisa Corrêa SILVA
O romance/diário Natália (2010) de Helder Macedo é a narrativa que, no escopo da
contemporaneidade se revela como um caleidoscópio de possibilidades, uma fábula na qual, não
apenas a ficção de sua existência (nesse caso, a personagem que dá nome ao texto), mas os
próprios atos de criação, escrita e narração, acabam por transpassar-se mutuamente, estabelecendo
fronteiras difusas, abrindo margem para questionamentos acerca de sua construção fabular. Sua
escrita funde os gêneros (romance e diário íntimo), exercendo uma espécie de metalinguagem
acerca do ato de criação romanesca, e, entrelaçando vozes e múltiplas subjetividades, circunda uma
questão que se torna inerente à própria obra, ou seja, sua autoria. Dessa forma, tendo de um lado,
as reflexões de Antoine Compagnon (2001), Michel Foucault (1992), Wayne C. Booth (1980) no que
tange a autoria (principalmente a noção de autor implícito), e, de outro, Slavoj Žižek (2010)
problematizando a configuração e a condição do sujeito na contemporaneidade, a presente pesquisa
promove uma reflexão acerca dessa possível inversão de posições de autoria do campo ficcional na
construção estética do romance, tendo em vista a mutabilidade do texto macediano e a instabilidade
de Natália, uma subjetividade construída sob a forma de mosaico narrativo, e que, ao assumir a
posição de narradora, assume a simbolização de si no universo que a cerca, relativizando as leis que
a concebem enquanto subjetividade textual. O diário íntimo da personagem revela que as relações
travadas na tríade autor – obra – leitor, ganha nova dimensão simbólica no corpo do romance/diário
quando seus papéis são relativizados diante do pacto mimético estabelecido entre a linguagem da
arte literária e o real. O texto macediano, ao propor um emaranhado entre narrativa ficcional, diário
intimo, problemática autoral e fragmentação subjetiva, expõe a estrutura simbólica dominante por
meio de suas falhas, a personagem autonomiza sua própria liberdade ao negar-se, ao revelar no
escopo da narrativa a incompletude de si. Seu grito de liberdade não está na ruptura e na negação
de regras previamente estabelecidas pelo social, mas sim em seu oposto, na aceitação de seu papel
social de mulher, esposa, mãe (?) e sujeito, enquanto resistência passiva. Ao assumir a escrita de
si, Natália engana seu leitor, e, ao enganá-lo mostra a saída, rompe com as regras do universo
social contemporâneo, fraturando as estruturas já delimitadas pela ideologia capitalista. Dito de
outro modo, a personagem macediana não se condiciona, sua construção aparentemente previsível,
se mostra como estandarte do caos, pois revela a substância que define e o sujeito enquanto
entidade livre, ou seja, não reificável na linguagem, o sempre vazio a ser preenchido,
Palavras-chave: Narrativa portuguesa; Autoria; Helder Macedo.
Área de concentração: Estudos Literários.
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O PAPEL DAS PRÁTICAS SOCIAIS DE LINGUAGEM NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES
Hérika Ribeiro dos SANTOS Prof
a Dr
a Neiva Maria JUNG
Constatamos que ainda há muitas lacunas no que tange à articulação entre teorias de perspectiva
social com a gramática, que é entendida por muitos como inflexível. Problematizar um pouco mais,
afirmando talvez o que recomendam os documentos oficiais. Sob a perspectiva das teorias sociais de
linguagem, nossa proposta consiste em observar a cultura do que é ensinar gramática, mais
especificamente a morfossintaxe, para alunos do curso de Letras, da Universidade Estadual de
Maringá. Mais especificamente, pretendemos observar como o curso de Letras da UEM está
articulando teorias sociais da linguagem com o ensino de gramática. Defina a teoria do letramento
que embasará a análise de dados. Para empreender nossos gestos de leitura, definimos como
instrumentos de coleta de dados questionário aplicado às turmas de 2.° e 3.° anos do curso de
Letras, licenciatura inglês/português noturno, entrevista com professores formadores, análise de
documentos, como a grade curricular do curso e programas das disciplinas. Em termos de
resultados, entendemos que a pesquisa proposta poderá contribuir com a formação de educadores
mais reflexivos no sentido de que eles compreendam as diversas dimensões que permeiam a análise
linguística enquanto conjunto de práticas sociais.
Palavras-chave: Práticas sociais de linguagem. Gramática. Formação de professores.
Área de concentração: Estudos Linguísticos.
IDEOLOGIAS LINGUÍSTICAS E DE LETRAMENTO EM UMA ESCOLA DO CAMPO EM
CONTEXTO MULTILÍNGUE NA SUPERDIVERSIDADE: DAS IDEOLOGIAS ÀS PRÁTICAS DE
LETRAMENTO
Jakeline Aparecida SEMECHECHEM
Profa Dra Neiva Maria JUNG
O uso das línguas e o letramento são perpassados por dimensões culturais e ideológicas. Martin-
Jones e Jones (2000) afirmam que línguas e letramento são incorporados por diferentes práticas
culturais e visões de mundo específicas. Edwards e Nwenmely (2000) destacam, por sua vez, que a
visão de mundo dos grupos sociais determina os usos do letramento, a escolha da língua e os
significados que estão associados aos usos linguísticos. Ainda em contexto multilíngue, de acordo
com Pietikäinen e Kelly-Holmes (2013), devido às fronteiras linguísticas e normas serem muitas
vezes deslocadas, em fluxo, ou renegociadas, há muitas ideologias, que geram conflitos. Nesse
sentido, foi levantada a seguinte pergunta de pesquisa: que ideologias linguísticas e de letramento
constituem as práticas linguísticas e de letramento em uma escola do campo em contexto
multilíngue na superdiversidade no Sudeste do Paraná? Ainda considerando que, conforme Moyer
(2012), as ideologias não são dissociadas das práticas sociais, uma vez que as ideologias fornecem
um link entre a linguagem e as escolhas diárias e práticas que são moldadas por um processo social
mais amplo e com as relações sociais em constante mudança, buscamos analisar as práticas
linguísticas e de letramento procurando reconhecer as ideologias que as constituem. Os conceitos
que subsidiam o estudo são os seguintes: letramento como prática social na perspectiva dos Novos
Estudos sobre Letramento, multilinguismo na superdiversidade, interação como ação social no viés
da Etnometodologia e da Análise da Conversa Etnometodológica, participação na perspectiva da
Análise da Conversa e também da Sociolinguística Interacional e os pressupostos de ideologias
linguísticas no viés da abordagem interacionista e de relações de poder e disputas simbólicas na
vertente sociológica. Para o trabalho de campo, adotamos uma abordagem qualitativo-
interpretativa, crítica e de cunho etnográfico, e, para a geração de dados, já em andamento, na
escola lócus da pesquisa, propusemos procedimentos e instrumentos, tais como observação com
registro em diário de campo, gravação de dados audiovisuais de aulas, questionários e entrevistas
semiestruturadas, entrevistas de grupo focal, narrativas orais, diários dos participantes, entrevistas
sobre os diários, sessões de visionamento dos dados e coleta de materiais. Em fase de geração de
dados, prevemos que este estudo pode contribuir com subsídios para que, juntamente com outros
estudos, seja base para políticas, programas e orientações para o letramento em contexto de
superdiversidade, bem como para escolas do campo em tal contexto e para práticas multilíngues,
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uma vez que, de acordo com abordagem social de letramento, o primeiro passo para as políticas de
transformação é mostrar-se sensível ao contexto e à necessidade local.
Palavras-chave: Multilinguismo; superdiversidade; letramento.
Área de concentração: Estudos Linguísticos.
CARACTERIZAÇÃO DE CONCEITOS SOBRE REESCRITA, REVISÃO, REFACCÃO E
RETEXTUALIZAÇÃO
Jane Cristina Beltramini BERTO
Prof. Dr. Renilson José MENEGASSI
Esta pesquisa documental, de cunho bibliográfico, objetiva definir os conceitos relativos à reescrita,
no processo de produção textual escrita, amplamente difundidos na literatura acerca de sua
especificidade, caracterização e conceitualização, com vistas à contribuição com os estudos da área.
Dada a incidência de diversos conceitos relativos à reescrita, tais como revisão, reescrita, refacção e
retextualização, o trabalho parte, primeiramente, de suas descrições nos documentos curriculares
oficiais, norteadores para o ensino de língua materna no país e nos estados da federação;
posteriormente, em confronto às definições e caracterizações presentes nas pesquisas da área de
Letras/Linguística localizadas nos principais programas de Pós-graduação do país, o cotejamento
dessas definições pelas pesquisas veiculadas nos principais periódicos e obras publicadas na área
com vistas a traçar um panorama da abrangência de utilização destes conceitos. Para tanto,
elegemos, como referencial teórico privilegiado para este trabalho, os estudos do Círculo de Bakhtin
e de pesquisadores brasileiros Geraldi (1997; 1986), Brait (2000), Faraco (2003), Fiad (1997; 2003)
e Menegassi (2010), sobre a prática de produção textual escrita, ancorados pela concepção dialógica
de linguagem presente nos estudos interacionistas, à luz da Linguística Aplicada. Os resultados
preliminares apontam para a indefinição destes termos nos documentos oficiais e carecem de
definições precisas nos trabalhos publicados, posto que se remetem à literatura da área e são
tomados :a) como equivalentes em sua apresentação; b) como sinônimos nas práticas propostas; c)
apresentam lacunas teóricas quanto às suas definições e exemplificações, tanto na teoria quanto
nas práticas descritas.
Palavras-chave: reescrita, conceitos. produção textual escrita.
Área de Concentração: Estudos Linguísticos.
O MERCADO EDITORIAL NO CAMPO DA LITERATURA INFANTIL E JUVENIL E AS RELAÇÕES
QUE ESTABELECE COM O GÊNERO DRAMÁTICO NO BRASIL
Joaquim Francisco dos SANTOS Neto
Profa Dra Alice Áurea Penteado MARTHA
Investigar o gênero dramático em suas relações com o mercado de livros para crianças e jovens no
Brasil, a fim de verificar como a indústria cultural, mais especificamente as editoras, vem destinando
obras para esses dois públicos é a principal preocupação deste projeto. Para isso, propõe uma
pesquisa de caráter quantiqualitativo, utilizando-se de investigação bibliográfica com objetivo de
compreender o problema e situá-lo no campo da literatura infantil e juvenil. Nesse sentido,
considerará a teoria e a crítica literária para identificar, nas obras, o fluxo de modalidades ou
aspectos particulares entre a cultura erudita e a cultura de massa, buscando identificar, entre essas
obras, aquelas que se destacam por preocupações estéticas e com a formação de bens simbólicos. É
preciso destacar que o teatro destinado a crianças e jovens no País tem sua primeira publicação em
1895, com a obra Teatro Infantil, de Figueiredo Pimentel, e somente em 1948, com a representação
de O casaco encantado, de Lucia Benedetti, alcança o que ficou conhecido como o moderno teatro
destinado à infância e à juventude. Dentro desse panorama, este trabalho parte do pressuposto de
que pesquisar o movimento de publicação das peças de teatro infantojuvenil no País, além da
importância para os estudos que visam à formação do leitor, possibilitam também a compreensão
do desenvolvimento do gênero dramático de um modo geral, contribuindo para a sistematização do
conhecimento acadêmico sobre teatro brasileiro.
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PALAVRAS-CHAVE: Gênero dramático; Literatura para crianças e jovens; Mercado editorial.
Área de concentração: Estudos Literários.
“VESTIDA DE AZUL E BRANCO...” A NORMALISTA NÃO MAIS ESTÁ: A REPRESENTAÇÃO DA
PROFESSORA NO ROMANCE BRASILEIRO DE AUTORIA FEMININA
Joyce Luciane Correia MUZI
Profa Dra Lúcia Osana ZOLIN
Por décadas, a professora foi representada a partir do que a sociedade patriarcal preconizava. A
normalista, sinônimo de moça prendada, de reputação ilibada, aparece em artefatos culturais como
fotografias, jornais, revistas, canções, contribuindo para que um padrão ficasse colado no imaginário
brasileiro. No samba "Normalista" (1949), tem-se reproduzida a imagem da mulher pura, vestida
sobriamente, que após formada estaria pronta para casar. Para Chartier (2002), as representações
são impostas por quem tem o poder de classificar e nomear, revelando o ausente e substituindo-o
por uma imagem. Considerando que a literatura pode servir como instrumento de legitimação,
constatação e/ou contestação da forma como a professora é representada, analisaremos sua
representação em romances brasileiros de autoria feminina durante os séculos XIX, XX e XXI,
evidenciando as construções das personagens e seus contextos históricos, tendo em vista sua
imprescindibilidade, uma vez que estará em questão a condição social da mulher. Como hipótese,
acreditamos que estas professoras representadas refletem o imaginário da época e acompanham a
evolução das conquistas feministas no que diz respeito às condições de trabalho e às
representações, evidenciando um afastamento dos valores e práticas patriarcais ocidentais. Como
aporte teórico utilizaremos a Crítica Feminista Angloamericana, pois esta se ocupa da denúncia das
arbitrariedades e formas como é manipulada a imagem feminina na tradição literária, e da escrita da
mulher como lugar da experiência social feminina (ZOLIN, 2003). A metodologia utilizada se divide
em dois momentos: um quantitativo, no qual, após realizar a leitura dos romances, preencheremos
um questionário sobre as personagens e visando à submissão das informações ao Software Sphinx
Survey, o qual nos fornecerá um conjunto de dados estatísticos para a análise do perfil das
professoras. O outro momento qualitativo compreende as seguintes etapas: do levantamento dos
romances escritos por mulheres nos séculos XIX, XX e XXI, nos quais sejam representadas
professoras; da investigação a respeito da evolução da situação sócio-política no Brasil em relação à
formação profissional para as mulheres, atentando às questões históricas e legislativas, bem como à
divisão sexual do trabalho; da comparação dos contextos sociais, políticos e históricos que embasam
os romances, intencionando uma aproximação entre temáticas ou categorias, de modo a entender
se e como estes contextos influem nos destinos das personagens em questão; e finalmente da
análise de alguns romances representativos de temáticas ou categorias elencadas a partir do recorte
quantitativo, com o intuito de compreender como as personagens professoras vêm sendo
representadas na literatura de autoria feminina – se elas apontam para posicionamentos
emancipatórios ou reprodutores de valores hegemônicos.
Palavras-chave: Romance Brasileiro, Representação, Professora.
Área de concentração: Estudos literários.
TWITTER, MÍDIA E POLÍTICA: OS FUNCIONAMENTOS DISCURSIVOS DA HASHTAG
#MENSALÃO
Juliana da SILVEIRA
Profa Dra Maria Célia Cortez PASSETTI
Este projeto tem como proposta analisar o funcionamento dos enunciados políticos no Twitter, a
partir da análise da produção e circulação da hashtag #mensalão e outras a ela diretamente
relacionadas. A longa duração do julgamento no cenário político e midiático brasileiro permitiu com
que a hashtag #mensalão fosse repetidamente retomada, reinterpretada, transformada, produzindo
deslocamentos significativos na forma como o episódio político-midiático é lido e comentado na
sociedade em rede na qual nos encontramos. Consideramos, assim, que o surgimento da hashtag
aponta para uma (re)configuração nas relações discursivas políticas e midiáticas na sociedade atual,
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sobretudo após o surgimento de um espaço público informacional que permite aos mais diferentes
atores e sujeitos políticos se conectar em rede. As análises têm como aporte teórico a Análise de
Discurso de matriz francesa e mobiliza, principalmente, conceitos teóricos como discurso, arquivo e
memória. A escolha do Twitter como ambiente de investigação se deu pelo fato de que o ambiente
congrega características singulares quando comparado com as demais mídias sociais (como Youtube
e Facebook), em que há o predomínio de vídeos e imagens com foco no lúdico e no entretenimento.
O Twitter, diferentemente dos demais ambientes, é predominantemente textual e sua forma e
conteúdo estão condicionados há 140 caracteres. Outra justificativa para privilegiar a análise do
Twitter é o fato de que essa rede tem sido considerada, sobretudo pelos teóricos da comunicação,
como aquela que estaria mais próxima de uma atividade política engajada, uma vez que os sujeitos
que atuam nessa rede se mostram interessados no debate de ideias e temáticas sociais, facilitadas
pela sua organização estrutural em tópicos específicos que se organizam como “Assuntos do
Momento”. Visto, portanto, como espaço público informacional de relevante importância no
contexto do “julgamento do mensalão”, o Twitter é campo privilegiado de investigação para as
discussões que pretendemos levantar em torno da relação mídia, política e discurso, nas sociedade
contemporânea. Nosso corpus de análise foi selecionado a partir de um arquivo maior, construído
pela coleta diária dos enunciados em torno na hashtag #mensalão, durante a fase final do
julgamento da Ação Penal 470, que compreendeu o período de 02 de outubro de 2012 a 31 de
dezembro de 2012.
Palavras-chave: Twitter; Discurso Político; mensalão; Análise de Discurso.
Área de concentração: Estudos Linguísticos.
LETRAMENTO MULTIMODAL, CIBERAGÊNCIA E (RE)INCLUSÃO SOCIAL: CONVERGÊNCIAS
ENTRE O CÂNONE SHAKESPEARIANO E A TELENOVELA O CRAVO E A ROSA E A FORMAÇÃO
CRÍTICA NA TERCEIRA IDADE
Liliam Cristina Marins PRIETO
Profa Dra Vera Helena Gomes WIELEWICKI
Esta pesquisa está vinculada ao tema “literatura traduzida e recepção” e tem como objetivo principal
verificar a possibilidade de formação crítica de leitores na terceira idade por meio da aplicabilidade
da tríade letramento multimodal/ciberagência/(re)inclusão social via tradução como proposta de
ensino de literatura em língua inglesa na Universidade da Terceira Idade (uma instituição vinculada
à Universidade Estadual de Maringá). Para tanto, uma disciplina foi proposta na UNATI em 2012,
intitulada Literatura em língua inglesa e multimodalidades: Shakespeare e a telenovela, a fim de
discutir e questionar a circulação de um texto literário canônico (a peça The Taming of the Shrew)
na indústria de massa (na telenovela O Cravo e a Rosa). Nessa perspectiva, a pergunta de pesquisa
que norteia este estudo se refere à possibilidade de formação de um leitor crítico na terceira idade
via tradução por meio da relação entre a cultura popular (representada pela telenovela O Cravo e a
Rosa) e a cultura elitizada (representada pelo texto literário The Taming of the Shrew).
Especificamente, o estudo tem como foco verificar como se dá a recepção da circulação de The
Taming of the Shrew, de William Shakespeare, na telenovela O Cravo e a Rosa, da Rede Globo, e de
bens culturais no ciberespaço pelos alunos da terceira idade. A base teórica deste trabalho está
fundamentada nos autores seminais: Hermans (1996), Lévy (1999), Cope; Kalantzis (2000), Kress
(2003), Derrida (2005), Benjamin (2008) e Jenkins (2009). Como metodologia, além da gravação
das aulas na UNATI, um blog foi desenvolvido na disciplina e funcionou como um mediador da
agência discente, pois foi um meio no qual os alunos divulgaram suas experiências pessoais com o
texto literário, com Shakespeare e com a disciplina. A hipótese levantada na pesquisa de que é
possível formar leitores críticos na terceira idade, de que os alunos da terceira idade têm uma
posição favorável à literatura na telenovela e a de que eles podem tornar-se (ciber)agentes se
confirmaram na análise da recepção dos alunos de ambos os contextos e produções mencionados.
Os resultados mostram que os alunos da terceira idade passaram a ser agentes nas aulas de
literatura, considerando agência como uma ação reflexiva e transformadora, a partir das discussões
proporcionadas pelo contato com modos diferentes de circulação das obras de arte e, mais
especificamente, a literatura, e com a maneira como essa circulação é influenciada pela
convergência de meios na sociedade atual. Além disso, essa experiência revelou que o letramento
digital é um veículo valioso para o grupo social da terceira idade, o qual permitiu a essas pessoas
exercerem a sua agência nas comunidades virtuais e na sociedade de modo geral, considerando o
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alcance global do mundo virtual. Nesse sentido, a formação crítica e digital na terceira idade no
contexto de convergência entre meios também desempenha um papel importante para o acesso
deste público às artes e à cultura.
Palavras-chave: Tradução; (ciber)agência; Terceira idade.
Área de concentração: Estudos Literários.
A ESTRUTURA RETÓRICA DO TEXTO E A ORGANIZAÇÃO TEXTUAL DE SERMÕES
Simone Maria Barbosa Nery NASCIMENTO
Prof. Dr. Juliano Desiderato ANTONIO
Com o objetivo de descrever a organização textual de sermões bíblicos, buscamos embasamento na
teoria da Estrutura Retórica do Texto (RST) e também dos Tópicos Discursivos. A RST é uma teoria
descritiva que contribui no sentido de caracterizar as relações estabelecidas entre porções que
formam a tessitura do texto. As relações podem acontecer entre uma parte mais central,
denominada núcleo, e uma mais periférica, denominada satélite, como também podem acontecer
entre orações de mesmo estatuto, as denominadas multinucleares. Nesse sentido, a organização
acontece pela constituição dessas partes em relação, formando as partes maiores, compreendendo o
texto todo (MATTHIESSEN; THOMPSON, 1988). O sermão tem como característica as suas divisões
temáticas, e, em alguns casos, essas divisões são subtemas retirados de apenas um texto da Bíblia,
o texto que serviu de base para o sermão. Em outros casos, as divisões não precisam
necessariamente seguir uma sequência textual biblíca. Para verificar a estrutura temática dos
sermões, portanto, contamos com os estudos existentes sobre Tópicos Discursivos. Analisar-se-á
três tipos básicos de sermão bíblico – textual, tópico ou temático e o expositivo - com o intuito de
demonstrar as relações existentes na macroestrutura textual que contribuem também para a
organização temática do texto. O corpus se constitui de sermões bíblicos coletados em igrejas
evangélicas. Acredita-se que será possível a identificação de relações retóricas entre os tópicos
discursivos. Acredita-se também que, por se tratar de organização e coerência textual, o estudo
possa contribuir na produção, não somente de sermões, mas de outros gêneros falados que
requerem um planejamento prévio.
Palavras-chave: gênero sermão, RST (Estrutura Retórica do Texto), Tópicos Discursivos.
Área de concentração: Estudos Linguísticos.
NOVAS VOZES PARA CAIO FERNANDO ABREU: DA LEITURA AUTORAL AO CÂNONE
Wagner Vonder BELINATO
Profa Dra Mirian Hisae Yaegashi ZAPPONE
Este projeto de tese tem como objetivo investigar a influência cultural que o escritor Caio Fernando
Abreu passou a exercer depois de seu falecimento. Até o presente momento, a coleta de dados
realizada a fim de subsidiar a fortuna crítica em relação ao nome e à obra do autor apontam para a
priorização dos estudos identitários, atrelando suas análises às observações sobre o tema
desenvolvidas principalmente por Stuart Hall, em A identidade cultural na pós-modernidade (2006)
e, em segundo lugar, genéticos em ambiente acadêmico. Apontam também para o crescimento da
influência do autor nos meios virtuais, onde a auferição de audiência demonstra a constante
renovação de público leitor. Impulsionada por estes dados, a pesquisa segmenta-se na influência
que Caio Fernando Abreu exerce sobre novos narradores brasileiros. O interesse por esse objetivo
surge, ainda no desenvolvimento da dissertação por mim defendida no ano de 2009, a partir de
pesquisa realizada no serviço online Google Books. O serviço retornou, além de referências
acadêmicas ao autor de origem, referências literárias, já que o serviço expande os limites da
pesquisa para o conteúdo dos livros, extrapolando título, palavras-chave ou resumo. Nesse âmbito,
portanto, é que surgiram os nomes de novos narradores que se utilizam da figura ou das obras de
Caio Fernando Abreu como referências para suas próprias. Esse público leitor singular, dotado de
privilégios na ordem do discurso, pois se situa como produtor de texto dentro do campo literário e,
podendo publicar, passa a realizar mudanças culturais nesse sistema e a operar bricolagens diversas
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e joga com os referenciais identitários que se possui do escritor gaúcho, referenciando o autor em
claro contexto de intertextualidade, tanto às situações mais conhecidas das obras do mesmo quanto
à memória coletiva da época em que viveu Caio F., tornando a obra do autor marco da
representação social da época.
Palavras-chave: Leitura; Produção literária; Caio Fernando Abreu.
Área de concentração: Estudos Literários.
POÉTICAS DO DESLOCAMENTO: REPRESENTAÇÕES DE IDENTIDADES FEMININAS NO
BILDUNGSROMAN DE AUTORIA FEMININA CONTEMPORÂNEA
Wilma dos Santos COQUEIRO
Profa Dra Lúcia Osana ZOLIN
O Bildungsroman tradicional, cujo modelo seria Os Anos de Aprendizado de Wilhelm Meister (1795),
de Goethe, mostra o desenvolvimento intelectual e humano do herói e a formação do seu caráter.
Esse conceito de romance, tido como um fenômeno tipicamente alemão e voltado à representação
de personagens masculinos, começa a ser problematizado a partir do século XVIII. Na atualidade,
sobretudo a partir dos estudos de Cristina Ferreira Pinto, de 1990, pode-se falar em um
Bildungsroman de autoria feminina brasileiro. Os temas que permeiam esses romances variam
muito, desde a representação da infância e adolescência das personagens, a reflexões sobre os
problemas amorosos e de formação cultural e identitária. Desse modo, o objetivo desse trabalho é
uma análise da representação das identidades femininas deslocadas na contemporaneidade em
romances de formação, ou Bildungsroman, em três escritoras contemporâneas que situam suas
personagens femininas em diferentes perspectivas: Heloísa Seixas, Pérolas absolutas (2003),
Paloma Vidal, Algum Lugar (2009) e Adriana Lisboa, com Azul-Corvo (2010). A metodologia da
pesquisa caracteriza-se pelas leituras de obras teóricas que abordam a relação entre a crítica
cultural e o pós-modernismo (HUTCHEON, 1991; CEVASCO, 2003; HALL, 2011; BAUMAN,
1998,2001,2003), da Crítica Feminista (BADINTER, 1991; PORCHAT, 1992; COELHO, 1998;
SHOWALTER, 1994; ZOLIN, 2009; DUARTE, 2011; DEL PRIORE, 2012), da teoria do romance e o
gênero Bildungsroman (KAYSER, 1985; BOURNEUF & QUELLET,1999; LUKACS, 2000; BAKHTIN,
2010, 2011), bem como de discussões mais contemporâneas (PINTO, 1990; MAAS, 2000;
SCHWANTES, 2007) que indicam a evolução do gênero e a representação da minorias na atualidade.
Os resultados parciais da pesquisa demonstram que, nesses romances, predominam questões mais
existenciais em detrimento das específicas das relações de gênero. Segundo Zolin (2009), com
base nos estudos da ensaísta americana Elaine Showalter, nessa fase pós anos 90, a literatura de
autoria feminina já não tem seu foco nas questões de gênero, uma vez que começam a surgir
romances nos quais se pode “vislumbrar a representação de uma nova imagem feminina, livre do
peso da tradição patriarcal” (2009, p. 331). Embora ainda representem problemáticas tradicionais
da escrita feminina como a busca da realização afetiva e por se enquadrar no socialmente aceito,
Heloísa Seixas, com Pérolas absolutas, Paloma Vidal, com Algum Lugar e Adriana Lisboa com Azul-
corvo, representam mulheres com identidades deslocadas na contemporaneidade, fugindo do script
tradicional. Todas as narrativas são homodiegéticas, com um tom altamente confessional e
memorialístico, exprimindo a experiência feminina marcada pela sua vivência social. As
protagonistas, geralmente, refletem o descentramento, a desarmonia e angústia existencial que são
próprias das personagens pós-modernas
Palavras-chave: Romance de formação; Escritoras contemporâneas; Identidade feminina.
Área de concentração: Estudos Literários.