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De forma oral, o homem comunicou-se durante muito tempo. O discurso, dessa
forma, extinguia-se no momento da enunciação, sendo limitado para poucos. Sua capacidade
de (sobre)viver permitiu-lhe criar novas formas de registrar suas emoções, pensamentos e
expressões. Das paredes com carvão às telas com touchscreen, a mão sempre foi o aparato
para manusear diferentes suportes e materiais.
O tema da SAL deste ano foi “Letras, História e Sociedade”, em que tivemos como
finalidade refletirmos sobre as influências recíprocas entre essas três áreas, que sempre
caminharam (e caminham) juntas. Planejamos uma programação variada e que atendesse a
maioria dos interesses que os alunos vêm manifestando em relação a um evento voltado,
principalmente, a eles, dos quais fazemos parte. Houve espaço para discutir como os fatos
históricos influenciaram a língua, a linguagem e a literatura, assim como momentos para
pensarmos nosso papel, na sociedade, de graduandos (e graduados) em Letras
Esperamos que tais reflexões tenham sido de grande valor para pensarmos nossa
prática de estudo e trabalho, a fim de que sempre procuremos nos aperfeiçoar no que
escolhemos fazer. Acreditamos que às vezes é importante parar para pensar sobre “o que
estamos fazendo aqui?” e “como chegamos até aqui?”, seja pela história da língua como pela
História, as quais se complementam, pois só temos a História quando temos o registro da
escrita.
Relacionando história, sociedade e línguas, nós estávamos lá para lembrar.
Reitor da Universidade Federal de Santa Maria Paulo Afonso Burmann Diretor do Centro de Artes e Letras Pedro Brum Santos Coordenadora do Curso de Letras - Bacharelado Andrea do Roccio Souto Coordenador dos Cursos de Letras - Licenciaturas Orlando Fonseca Comissão organizadora da SAL - 2014 Ana Carolina Cunha André Firpo Beviláqua Dieise Camila da Silva Esther Costa Faria Halyne Porto Janio Davila Matheus Schwertner Sabrine Weber Revisão dos resumos Halyne Porto Matheus Schwertner Texto de apresentação Halyne Porto Matheus Schwertner Sabrine Weber Organização e editoração Matheus Schwertner Capa Bruno Ruchiga S471c Semana Acadêmica de Letras UFSM 2014 : letras,
história e sociedade --- mas estamos aqui para lembrar (2014 : Santa Maria, RS) Caderno de resumos / Semana Acadêmica de
Letras UFSM 2014 : letras, história e sociedade --- mas estamos aqui para lembrar. – Santa Maria : Diretório Acadêmico de Letras, [2014].
84 p. ; 30 cm
1. Literatura 2. Crítica literária 3. Linguística I. Título CDU 82.09
. =-- 81
Ficha catalográfica elaborada por Maristela Eckhardt - CRB-10/737 Biblioteca Central da UFSM
Os textos aqui apresentados são de inteira responsabilidade dos seus autores.
NARRATIVA COMO DESEJO DE POTÊNCIA: A FIGURAÇÃO DA LITERATURA DE TESTEMUNHO COMO MEDIADORA ENTRE
PASSADO E FUTURO SOB O PRISMA DE PRIMO LEVI 13
AGUIAR, Thiago Moreira
A LITERATURA INDIANISTA DE ANA LUÍSA DE AZEVEDO CASTRO: “D. NARCISA DE VILLAR” 14
ANDRETA, Bárbara Loureiro
DEFORMAÇÃO, TRADIÇÃO E MEMÓRIA: O INDIVÍDUO METAMORFOSEADO DE FRANZ KAFKA 15
ANONY, Murilo da Silva
FENÔMENOS LINGUÍSTICOS OBSERVADOS EM DOCUMENTOS DOS SÉCULOS XIX E INÍCIO DO SÉCULO XX 17
ARNEMANN, Aline Rubiane
PROPOSTA DE ESTUDO DA LÍNGUA PORTUGUESA A PARTIR DO GÊNERO TEXTUAL CARTA DO LEITOR 18
ARRUDA, Patrícia Packaeser de
O TOEFL ITP COMO FERRAMENTA DE TESTAGEM DA PROFICIÊNCIA EM LÍNGUA INGLESA DOS CANDIDATOS AO PROGRAMA
CIÊNCIA SEM FRONTEIRAS 20
AZAMBUJA, Francine da Silveira
MÉTODO ALTERNATIVO DE ENSINO-APRENDIZAGEM: TRABALHANDO A CULTURA DAS LAVADEIRAS NEGRAS COM ALUNOS
DA EJA NO ENSINO MÉDIO 22
BASSO, Eugênia
OS ENSINAMENTOS DE MATTOSO CAMARA: DEPOIMENTO 23
BILIÃO, Maurício
LITERATURA E HISTÓRIA: POSSIBILIDADES DE DIÁLOGO ENTRE A REVOLUÇÃO DOS CRAVOS E A FICÇÃO EM “AS VÉSPERAS
ESQUECIDAS”, DE MARIA ISABEL BARRENO 24
BORGES, Francieli
A REPRESENTAÇÃO DA MULHER DUBLINENSE EM “EVELINE” DE JAMES JOYCE 25
BOTTEGA, Caroline Lorenzzoni
LINGUAGEM, FONOAUDIOLOGIA E TEORIA DAS INTELIGÊNCIAS MÚLTIPLAS: DISCUSSÃO E POSSIBILIDADES 26
CAMARGO, Renata Gomes
VALOR LINGUÍSTICO EM UMA PERSPECTIVA SAUSSUREANA 28
CAMPOS, Marcio Cardozo de
A LUDICIDADE E O USO DE JOGOS NO ENSINO DE ALEMÃO PARA CRIANÇAS E ADOLESCENTES 29
CARDOSO, Grace de Brum
BELEZA E ARTIFÍCIO NO ROMANCE DECADENTISTA “ÀS AVESSAS” (1884), DE HUYSMANS 31
CARGNELUTTI, Camila Marchesan
ACADEMIA ALTERNATIVA DE LETRAS 32
COSTA, Alan Ricardo
LEITURA EM TESTE: UM ESTUDO SOBRE O TESTE DE SUFICIÊNCIA EM LÍNGUA INGLESA DA UFSM 33
CUNHA, Ana Carolina Schmitt da
PROJETO EDUCAÇÃO LINGUÍSTICA E INTERCULTURAL- ESPANHOL VIA PROJETOS: IMPRESSÕES E PERSPECTIVAS 34
DIAS, Adriele Delgado
DESIGNAÇÕES DE SUJEITOS NO LINGUAJAR DO GAÚCHO 36
ECHEVARRIA, Felipe Rodrigues
O ARTIGO DE OPINIÃO E SUA RECONTEXTUALIZAÇÃO NA ESCOLA 37
ECKERT, Gabriela
UMA LEITURA DE “NINGUÉM MATOU SUHURA”, DE LÍLIA MOMPLÉ 38
ESMÉRIO, João Alcides Haetinger
RECONTANDO FÁBULAS – UMA ANÁLISE DA TRANSITIVIDADE 39
FACHIM, Graziela
A REPRESENTAÇÃO DA MULHER NO ROMANCE “INOCÊNCIA”, DE VISCONDE DE TAUNAY 40
FARIA, Esther Costa
REFLEXÕES SOBRE A IMPORTÂNCIA DO CONHECIMENTO DE TEORIAS DE APRENDIZAGEM PELO PROFESSOR 41
FRANTZ, Amanda Kohlrausch
INTERAÇÃO VERBAL ORALIZADA NO GÊNERO DISCURSIVO AULA: O DIALOGISMO PROBLEMATIZADOR FREIREANO 42
FREITAG, Felipe
“A MÁSCARA DA MORTE RUBRA” E O “SÉTIMO SELO”: RELAÇÕES DE PODER NA DANÇA DA MORTE 43
FURTADO JUNIOR, Helvécio Ferreira
A CENSURA EM “ELES”, DE CAIO FERNANDO ABREU 44
GARLET, Deivis Jhones
A PEDAGOGIA DE GÊNEROS DA ESCOLA DE SYDNEY NO PROJETO ATELIÊ DE TEXTOS 45
GERHARDT, Carla Carine
O BRASIL DA DÉCADA DE 30: HISTORIOGRAFIA E CRÍTICA 46
GUERRA, Guilherme Bizzi
PARA ALÉM DO BEM E DO MAL: A CRÍTICA AO CONSUMISMO EM UM CONTO DE MARINA COLASANTI 47
JACOBY, Graziela Inês
A REPRESENTAÇÃO FICCIONAL DA ASSIMETRIA SOCIAL NA OBRA DE KATHERINE MANSFIELD 48
KICH, Bruna Viedo
CICLO DE CINEMA – PROPOSTA DE EDUCAÇÃO POPULAR E INTERDISCIPLINAR NO PROJETO ALTERNATIVA 49
LOUREIRO, Camila Wolpato
RELATO DE EXPERIÊNCIA DE UMA PROFESSORA EM FORMAÇÃO: A CONSTRUÇÃO DE UM INFORME ESCOLAR 51
MACHADO, Lara Niederauer
... E NO PRINCÍPIO, A TRANSGRESSÃO: UMA LEITURA DE LÚCIO CARDOSO 52
MATOS, Xênia Amaral
A PROPÓSITO: DE JORNAL A LIVRO 53
MORAES, Russel Vaz
ALGUMAS COISAS QUE SEI SOBRE MIM – CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE ATRAVÉS DA MEMÓRIA E TRAUMA 54
MUNSBERG, Gabriel Felipe Pautz
CONTAR HISTÓRIAS COM LIVROS INFANTIS EM LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS 55
NASCIMENTO, Gicélia Barreto
O APOLINEO E O DIONISIACO NO LIVRO “O NASCIMENTO DA TRAGÉDIA DE FRIEDRICH NIETZSCHE” 56
OLIVEIRA, Janio Davila de
“EM LIBERDADE”: O ENTRECRUZAMENTO DE HISTÓRIAS NA OBRADE SILVIANO SANTIAGO 57
OLIVEIRA, Juliana Prestes de
A LITERATURA NO ENSINO FUNDAMENTAL: DOS LIVROS AO PALCO 58
PAIM, Luciane de Lima
A EVOLUÇÃO DO ROMANCE: UM DEBATE EM QUESTÃO 59
PEREIRA, Isabele Corrêa Vasconcelos Fontes
A IMPORTÂNCIA DA FIGURA DE SANTO ANTÔNIO NA AFIRMAÇÃO POLÍTICA PORTUGUESA, PELO DISCURSO DE PADRE
ANTÔNIO VIEIRA, NO “SERMÃO DE SANTO ANTÔNIO” (1642) 61
PORTO, Halyne Maria Stefani do
UM MUNDO UTÓPICO FEMININO EM “A RAINHA DO IGNOTO” (1899), DE EMÍLIA FREITAS 62
QUINHONES, Walter Elenara
NEOLOGISMOS E REDES SOCIAIS – FACEBOOK E TWITTER 63
RADTKE, Natália
RECONSTITUIÇÃO E ANÁLISE DE DOCUMENTOS ANTIGOS DO FINAL DO SÉXULO XIX DO SUL DO BRASIL 65
RIBEIRO, Tatiana Jimenes Silveira
A OBJETIFICAÇÃO DAS PERSONAGENS FEMININAS COMO REPRESENTAÇÃO DE UMA IMPOSSIBILIDADE 66
ROCHA, Virgínea Novack Santos da
LETRAS: UM ESTUDO POR MEIO DA PALEOGRAFIA 67
ROSA, Tatiana Costa
“OS ANOS DO PEREGRINO”: REPRESENTAÇÕES HAGIOGRÁFICAS E MIMÉTICA NA AUTOBIOGRAFIA
DE INÁCIO DE LOYOLA 68
SANCHES, Angelo Moreno Bidigaray
A IRLANDA DE “DUBLINENSES” NO CONTO “EVELINE”, DE JAMES JOYCE 69
SANTOS, Maíra Oliveira dos
CORPO, PODER E DOMINAÇÃO: UMA ANÁLISE DA RECONFIGURAÇÃO CORPORAL NO CONTO “ENTRE A ESPADA E ROSA”,
DE MARINA COLASANTI 70
SILVA, Ana Cláudia de Oliveira
A CRIAÇÃO DA IDENTIDADE DESVALORIZADA DO AFRODESCENDENTE ESCRAVIZADO A PARTIR DA INDUMENTÁRIA 71
SILVA, Débora Pires da
A IMPORTÂNCIA DA NARRATIVA LITERÁRIA DE JOSEPH CONRAD À COMPREENSÃO DO PROCESSO HISTÓRICO DO
IMPERIALISMO NA ÁFRICA 72
SILVA, Dionathan Ysmael Rodrigues da
UMA ABORDAGEM SISTÊMICO-FUNCIONAL PARA O LIVRO DIDÁTICO DE INGLÊS DO CURSO FOUR SKILLS 1 – LINC 73
SILVA, Lucas Oliveira
PROCESSOS FONOLÓGICOS EM DADOS DE PORTUGUÊS ANTIGO DO RIO GRANDE DO SUL 74
TOLEDO, Matheus
A ORGANIZAÇÃO DISCURSIVA DO DICIONÁRIO “PEQUENO DICIONÁRIO BRASILEIRO DA LÍNGUA MORTA – PALAVRAS QUE
SUMIRAM DO MAPA” 75
VITORINO, Luane
A INFLUÊNCIA TOTALITARISTA SOBRE LITERATURA DISTÓPICA 76
NA OBRA “1984” DE GEORGE ORWELL
WAVZENIAK, Luiza
A PRÉ-ESCRITA NO PROCESSO DE PRODUÇÃO TEXTUAL 77
WEBER, Sabrine
SOMERSET MAUGHAM E PAUL GAUGUIN: UM PASSEIO PELOS MARES DO SUL 79
ZAMBERLAN, Lucas da Cunha
“EXCESO DE SENSIBILIDAD?”: A (DES)CONSTRUÇÃO DO DISCURSO “CIVILIZADO” 80
ZILLI, Bruno Ramires
Caderno de Resumos
13
NARRATIVA COMO DESEJO DE POTÊNCIA: A FIGURAÇÃO DA LITERATURA DE
TESTEMUNHO COMO MEDIADORA ENTRE PASSADO E FUTURO SOB O PRISMA DE
PRIMO LEVI
AGUIAR, Thiago Moreira1
ALÓS, Anselmo Peres2
Falar sobre minorias, subalternos, miseráveis ou homens subordinados por determinadas circunstâncias
históricas é sempre tarefa complicada. Colocar-se de maneira que contemple o mais próximo possível tal
quais foramas experiências vividas por estes seres, torna-se tanto mais difícil na medida em que os
sentimentos, angústias, aflições fazem-se mais intensas. A consciência da impossibilidade de retratar de
maneira fidedigna as vivências humanas, como elas de fato se sucederam, não impede, no entanto, que
sejam representadas e interpretadas. Ao contrário, determinadas experiências históricas são imperativas;
urge sempre serem lembradas, descritas, reconstituídas a cada tempo presente, para que o homem
compreenda-se e constitua-se como ser social e pensante. Nesse sentido é que Primo Levi desponta como
uma leitura quase que (porque não?) obrigatória para que a humanidade não se veja condenada à amnésia
histórica. Partindo de tal premissa, o presente trabalho busca pensar questões colocadas pelo químico
italiano Primo Levi a partir das memórias do tempo que passou entre 1944 e 1945 e que foram
primeiramente registradas em seu livro “É isto um homem?”. Dessa forma, esse percurso terá como ponto
de partida os questionamentos trazidos por ele durante o enredo sobre a necessidade de tornar públicas as
experiências vividas nos campos de concentração nazista. As dúvidas que pairavam sobre a compreensão
do que ele teria que relatar, os problemas da própria identidade do autor que se fragilizara e o
entendimento de que haveria na memória uma espécie de dever, no qual resultaria em um legado que
permitiria às gerações futuras não correrem o risco de ter que suportar parecido fardo. Partindo dessa
complexa relação que se estabelece entre memória e compromisso que se constitui a intenção de analisar
algumas características da literatura como testemunho histórico e as aporias que a marcam. Como aporte
teórico foi utilizado, principalmente, Lucilia de Almeida Neves Delgado (2006), Jacques Le Goff (1994)
e Márcio Siligmann-Silva (2000, 2003).
Palavras-chave: Memória de testemunho; Nazismo; Trauma.
Referencias bibliográficas
DELGADO, L. de A. N. História oral, memória, tempo, identidades. Belo Horizonte: Autêntica, 2006.
LE GOFF, J. História e memória. Campinas: Ed. Unicamp, 1994.
LEVI, P. É isto um Homem? Tradução: Luigi Del Re. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.
SELIGMANN-SILVA, M. A história como trauma. In:_____; NESTROVSKI, A (org.) Catástrofe e representação. São
Paulo: Escuta, 2000.
SELIGMANN-SILVA, M. Apresentação da questão: a literatura do trauma. In:______. História, memória, literatura: o
testemunho na era das catástrofes. Campinas: Editora da Unicamp, 2003.
1 Graduado em História pelo Centro Universitário Franciscano – UNIFRA. Mestrando em Estudos Literários no PPG-Letras da
Universidade Federal de Santa Maria - RS. UFSM. E-mail: [email protected] 2 Orientador: Prof.Dr. do Programa de Pós Graduação em Estudos Literários do PPG-Letras da Universidade Federal de Santa
Maria - RS. UFSM. E-mail: [email protected]
Semana Acadêmica de Letras UFSM 2014
14
A LITERATURA INDIANISTA DE ANA LUÍSA DE AZEVEDO CASTRO: “D. NARCISA DE
VILLAR”
ANDRETA, Bárbara Loureiro1
ALÓS, Anselmo Peres2
“D. Narcisa de Villar” foi o único romance escrito pela catarinense Ana Luísa de Azevedo Castro,
publicado em 1859. Ana Luísa de Azevedo Castro é considerada a primeira romancista catarinense. Por
intermédio de Galante de Souza, em 1979, Iaponan Soares tomou conhecimento da existência do romance
“D. Narcisa de Villar”, recuando, assim, em suas pesquisas, em três anos a data antes fixada para o
primeiro romance catarinense (SOARES, 2001). Esta narrativa conta a história de D. Narcisa de Villar,
uma jovem com cerca de doze anos de idade, que deixa Portugal por ocasião do falecimento de sua mãe.
A moça, que já era órfã de pai, vem para a cidade brasileira de Ponta Grossa, onde seus três irmãos mais
velhos vivem, a serviço do governo português. A jovem Narcisa ficou aos cuidados de Efigênia e cresceu
junto com o filho desta, Leonardo, tendo um grande apreço pelos indígenas, ao contrário de seus
irmãos.Tanto pelo tema quanto pelo enfoque das personagens, o romance pode ser considerado indianista.
Nesta obra, há uma nítida preferência pelos índios e desprezo pelos conquistadores, representados na obra
como déspotas, bárbaros, tiranos e cruéis, sendo, ao final da narrativa, transformados em demônios
(MUZART, 2001). Deve-se destacar que “D. Narcisa de Villar” antecede o romance indianista de José de
Alencar, “Iracema”, publicado em 1865. Na obra de Ana Luísa de Azevedo Castro, Leonardo, filho de
uma indígena com um português aparece como o avesso de Moacir, de “Iracema”, uma vez que
Leonardo, ao contrário de Moacir, não deixa de ter contato com sua herança cultural autóctone.Desta
forma, mulheres e índios representam a resistência a uma sociedade patriarcal, colonialista e também,
escravocrata, uma vez que a escravidão indígena é denunciada nesta obra. Assim como em outras obras
de autoria feminina do século XIX, “D. Narcisa de Villar” denuncia a violência institucional e simbólica,
que pautou a construção da nação, desestabilizando, assim, a configuração da identidade nacional, uma
vez que deu voz a sujeitos subalternizados.
Palavras-clave: Autoria feminina; Ana Luísa de Azevedo Castro; D. Narcisa de Villar; Século XIX.
Referências bibliográficas
CASTRO, A. L. de A. D. Narcisa de Villar. 4. ed. Florianópolis: Mulheres, 2001.
MUZART, Z. L. Uma precursora: Ana Luísa de Azevedo Castro. In: CASTRO, A. L. de A. D. Narcisa de Villar. 4. ed.
Florianópolis: Mulheres, 2001.
SOARES, I. Pequena história de um encontro. In: CASTRO, A. L. de A. D. Narcisa de Villar. 4. ed. Florianópolis: Mulheres,
2001.
1Aluna do curso de Letras (licenciatura) – Espanhol. UFSM. E-mail: [email protected]
2Orientador. Professor da Universidade Federal de Santa Maria – UFSM. E-mail: [email protected]
Caderno de Resumos
15
DEFORMAÇÃO, TRADIÇÃO E MEMÓRIA: O INDIVÍDUO METAMORFOSEADO DE
FRANZ KAFKA
ANONY, Murilo da Silva1
CAIMI, Claudia Luiza2
“Nossa herança nos foi deixada sem nenhum testamento” (RENÉ, 1946). Para o renomado ensaísta e
crítico literário Walter Benjamin, é a partir de um coletivo social que passamos – dentro de uma esfera de
caráter individual – às gerações posteriores, através da experiência, a memória e a tradição. Estes são os
bens que, segundo Hannah Arendt, constituem uma esfera maior de caráter social e que possibilitam,
durante determinados períodos intermediários da história, o aparecimento de algo inominável. A autora
nomeia este algo como “tesouro” (HANNAH, 2000). Há, na história da humanidade, um desejo herdado
pelos homens de conseguir sua felicidade dentro de um espaço público. Um desejo sôfrego de liberdade
de expressão. É em meio a esses pequenos intervalos de tempo,pós e pré-revoluções, que o homem tem
em suas mãos esse “tesouro”: A felicidade dentro da esfera pública, o encontrar-se a si mesmo em meio à
liberdade de expressar-se e poder legar aos indivíduos seus pensamentos, ideias e experiência. No
entanto, não há nem nunca houve nenhuma tradição que amparasse ou que dissesse ao menos na época da
Resistánce de René, de onde vem esse tesouro e quando possivelmente aparecerá novamente. “Ou seja,
sem tradição, que se selecione ou nomeie, que transmita e preserve e que indique onde se encontram os
outros tesouros e seu valor, parece não haver uma continuidade consciente no tempo, mas sim uma eterna
mudança do mundo” (HANNAH, 2000). Assim, perde-se o tesouro e, consequentemente, a tradição que
ampara o legado e a memória do indivíduo moderno: “Isso porque a memória, que é apenas um dos
modos do pensamento, embora dos mais importantes, é impotente fora de um quadro de referência
preestabelecido, e somente em raríssimas ocasiões a mente humana é capaz de reter algo inteiramente
desconexo.” (HANNAH, 2000) Sabe-se que a voz da experiência estava em baixa já desde os
antepassados de Char, “e isso numa geração que entre 1914 e 1918 viveu uma das mais terríveis
experiências da história” (BENJAMIN, 1933). Franz Kafka, renomado autor tcheco do início do século
XX, teve seu período de produção mais intenso precisamente nesse mundo onde o homem transitava de
um passado que lhe foi legado “sem testamento” para um futuro incerto e incomunicável: o mundo pós-
guerra. Em meio a esse choque de forças paralelas, de um futuro infinito e de um passado infinito,
encontra-se o “ele” Kafkiano. Assim, acorda metamorfoseado em um inseto Gregor Samsa, personagem
da novela de Kafka “A Metamorfose”. Não se sabe o porquê nem como ocorreu a transformação. Visto
que não há um testamento, ou seja, um passado que transita a um futuro, o tesouro encontra-se perdido:
não há perspectiva para o indivíduo nessa luta entre as forças de um passado incerto e um futuro mais
incerto ainda. O “ele” encontra-se então deformado e, acima de tudo, sem seu tesouro. Configura-se,
assim, um universo estético em que não há o que e nem ao menos um porquê em transmitir, resistindo
ainda à transmissão.
Palavras-chave: Experiência; Memória; Transmissão.
Referências bibliográficas
RENÉ, C. Feulletsd’Hypnos. Paris: [s.n], 1946.
HANNAH, A. Entre o passado e o futuro. São Paulo: Perspectiva 2000.
1Autor: Murilo da Silva Anony, aluno do 4º semestre de Letras, Licenciatura – Língua Portuguesa e Literaturas de Língua
Portuguesa, Língua Italiana e Literaturas de Língua Italiana. UFRGS. Email: [email protected] 2Orientador: Prof. Dra. Claudia Luiza Caimi. Universidade Federal do Rio Grande do Sul. UFRGS. Email:
Semana Acadêmica de Letras UFSM 2014
16
BENJAMIN, W. Experiência e pobreza. In:______, Obras escolhidas. Vol. 1. Magia e técnina, arte e política. Ensaios
sobre literatura e história da cultura. Prefácio de Jeanne Marie Gagnebin. São Paulo: Brasiliense, 1987, p. 114-119.
Caderno de Resumos
17
FENÔMENOS LINGUÍSTICOS OBSERVADOS EM DOCUMENTOS DOS SÉCULOS XIX E
INÍCIO DO SÉCULO XX
ARNEMANN, Aline Rubiane1
COSTA, Evellyne Patrícia Figueiredo de Souza2
O presente estudo objetiva apresentar uma análise comparativa entre os blocos de documentos do banco
de dados do Português Histórico do Rio Grande do Sul (PHRS), no que diz respeito às consoantes duplas.
O corpus de análise é composto por trinta e seis documentos, esses foram divididos em três blocos de
acordo com as coletas realizadas: o primeiro integra nove documentos conforme COSTA et al. (2012),
escritos em várias cidades sul-rio-grandenses, já o segundo é composto por quinze documentos escritos na
região sul do estado, ao passo que o terceiro contém doze documentos, escritos na região central do
estado. Todos esses documentos datam do fim do século XIX e início do século XX. Finalizado o
levantamento da presença e recorrência das consoantes duplas em cada um dos blocos, verificou-se em
cada um deles, em ordem de recorrência, a presença das duplas: primeiro bloco, ll, ff, tt, e nn, segundo
bloco ll, nn, tt, mm, ff e terceiro bloco, nn, tt, ll, cc, ff, mm e pp. Diante disso, observa-se que há diferenças
do uso das consoantes duplas entre os blocos: o uso é mais restrito no primeiro bloco em relação ao
terceiro no que diz respeito à variabilidade. Além disso, verifica-se que o emprego da dupla cc no acervo
do segundo bloco não apresenta uma regularidade quanto ao uso, pois ora é sinalizada como oclusiva
velar desvozeada /k/, accordo e occorencias, ora é sinalizada como fricativa alveolar vozeada /s/,
funccionario e acceitava. Outra recorrência é o uso da dupla nn, presente em todo o corpus analisado
apenas no vocábulo anno e derivados. Por fim, pode-se concluir que esses registros escritos demonstram a
mudança de estado da língua, pois as consoantes duplas presentes no acervo analisado são uma herança
das geminadas latinas, que desaparecem na passagem do latim ao português. E, de acordo com Faraco
(2007), é por meio do registro escrito que o conservadorismo da língua se efetiva e demonstra a
necessidade de padronização. Isso se evidencia no corpus analisado, uma vez que nele há o emprego das
consoantes duplas, o qual é de ordem ortográfica e essa, nesse caso, pode ser caracterizada como
etimológica ou pseudo-etimológica, e também não há uma regra quanto ao emprego delas nos
documentos analisados. A normatização ocorre em 1911, posterior ou concomitante ao corpus analisado,
e manteve apenas o uso duplicado de m e n.
Palavras-chave: Consoantes duplas; Português Histórico do Rio Grande do Sul; Registro escrito.
Referências bibliográficas
ACORDO ORTOGRÁFICO DA LÍNGUA PORTUGUESA DE 1911, Disponível em:
<http://www.portaldalinguaportuguesa.org/?action=acordo&version=1911>. Acesso em: 10 set. 2014.
COSTA, E. P. F. S. et al. Banco de dados de textos escritos: Português Histórico do Rio Grande do Sul (PHRS). In: SILVA. J.
P. (Org.) Crítica textual e edição de textos – Interagindo com outras ciências. Curitiba: Appris, 2012. p. 135 - 156.
FARACO, C. A. Linguística Histórica: uma introdução ao estudo das línguas. 2. ed. São Paulo: Parábola Editorial, 2007.
1Autora. Aluna do 2º semestre de Letras Licenciatura – Inglês e Literatura de Língua Inglesa. UFSM. Email:
[email protected] 2Orientadora. Professora da Universidade Federal de Santa Maria. UFSM. Email: [email protected]
Semana Acadêmica de Letras UFSM 2014
18
PROPOSTA DE ESTUDO DA LÍNGUA PORTUGUESA A PARTIR DO GÊNERO TEXTUAL
CARTA DO LEITOR.1
ARRUDA, Patrícia Packaeser de2
RODRIGUES, Daniela Leite3
FUZER, Cristiane4
O ensino dos conteúdos de português, separadamente, torna a aprendizagem difícil, parecendo que os
próprios nativos não o sabem, conforme Bagno (1999). Uma das causas para isso está no fato de a
maioria dos alunos dissociar a gramática do seu emprego na fala e na escrita. Se a linguagem é uma
prática social cotidiana (BAKHTIN, 2003) e se o objeto de ensino e aprendizagem é o conhecimento
linguístico e discursivo para o aprendiz realizar suas atividades sociais, o ensino da gramática relacionado
com aspectos contextuais na perspectiva de gêneros textuais aparece como alternativa para apropriação
da língua. De acordo com Bezerra (2010), é possível afirmar que os alunos leem seções variadas de
jornais e revistas, sendo, dessa forma, viável trabalhar com carta do leitor, visto que eles conhecem o
tema abordado, podendo posicionar-se em relação a ele, apropriar-se da norma culta e da composição
desse gênero. Este trabalho tem por objetivo apresentar subsídios teóricos e metodológicos para realizar
atividades com exemplares de carta do leitor em aulas de português. Para isso, identificaram-se as
principais características da carta do leitor quanto ao modo de organização textual e às variáveis
contextuais. Para desenvolver este estudo, foram selecionados como corpus três exemplares de cartas do
leitor, publicados na Seção “Do Leitor”, da edição impressa do Jornal Zero Hora, em 08 de junho de
2013. O tema proposto pelo jornal para debate pelos leitores foi: “O papa Francisco critica as famílias
católicas que optam por ter apenas um filho. Você concorda com o Pontífice, segundo o qual a escolha se
dá por 'conforto'?”. Nas cartas analisadas, os autores divergem da posição do Papa. Na análise contextual,
foram examinadas as variáveis referentes ao campo, às relações e ao modo de acordo com a proposta de
Halliday (1989). Na análise textual, analisaram-se aspectos linguísticos quanto aos fatores de
textualidade: informatividade, situacionalidade, intencionalidade, intertextualidade, aceitabilidade, coesão
e coerência (KOCH e TRAVAGLIA, 1989) e às marcas linguísticas mais recorrentes nesses exemplares.
A análise demonstrou que, apesar de ser um gênero primário (MELO, 1999), o grau de informatividade
dos textos é baixo; o grau de situacionalidade é alto; o fator intencionalidade é alto; a intertextualidade
está presente; o grau de aceitabilidade pode ser considerado médio. Para divulgar suas opiniões de forma
coesa e coerente, os produtores empregaram marcas linguísticas como modalizadores, operadores lógicos
e argumentativos e índices de avaliação. O estudo evidenciou que esses textos estão inseridos num
contexto situacional em que houve interação entre a editoria da seção e os produtores das cartas. Assim,
este estudo corrobora a tese elaborada por Marcuschi de que “gêneros textuais são fenômenos históricos,
profundamente vinculados à vida cultural e social” (2010, p. 19), podendo, portanto, auxiliar na
conscientização e significação da aprendizagem da língua na escola. A partir de análises como essa, é
possível elaborar propostas de aplicação didática para estudo da língua portuguesa usada em gêneros
textuais como a carta do leitor no contexto escolar.
Palavras-chave: Carta do leitor; Contexto; Fatores de textualidade; Gênero textual; Língua Portuguesa.
Referências bibliográficas
BAGNO, M. Preconceito Lingüístico: o que é, como se faz. 49. ed. São Paulo: Loyola, 2007.
1 Artigo produzido na disciplina Gêneros e Leitura, durante o 1º semestre de 2013, do curso de Licenciatura em Letras
Português e Literaturas EaD da UFSM. 2 Acadêmica do 4º semestre de Letras (Licenciatura) – Português e Literaturas. UFSM. E-mail: [email protected]
3 Mestre em Letras pela UFSM, tutora da disciplina de Gêneros e Leitura e coorientadora deste trabalho. E-mail:
[email protected] 4 Professora adjunta da UFSM, responsável pela disciplina de Gêneros e Leitura e orientadora deste trabalho. E-mail:
Caderno de Resumos
19
BAKHTIN, M. Estética da criação verbal. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2003.
BEZERRA, M. A. Por que cartas do leitor na sala de aula? In: DIONÍSIO, A. P.; MACHADO, A. R.; BEZERRA, M. A.
Gêneros textuais e ensino. São Paulo: Parábola Editorial, 2010.
HALLIDAY, M. A. K.; HASAN, R. Language, context and text: Aspects of language in a social-semiotic perspective.
Oxford: Oxford University Press, 1989.
KOCH, I.; TRAVAGLIA, L. C. Texto e Coerência. São Paulo: Cortez, 1989.
MARCUSCHI, L. A. “Gêneros textuais: definição e funcionalidade”. In: DIONISIO, A. P.; MACHADO,A R.; BEZERRA, M.
A. (Org.). Gêneros textuais e ensino. São Paulo: Parábola Editorial, 2010.
MELO, C. T. V. "Cartas a redação" - uma abordagem discursiva. Campinas, SP: 1999. Disponível em:
<http://www.bibliotecadigital.unicamp.br/document/?code=vtls000188701&fd=y>. Acesso em: 24 jun. 2013.
Semana Acadêmica de Letras UFSM 2014
20
O TOEFL ITP COMO FERRAMENTA DE TESTAGEM DA PROFICIÊNCIA EM LÍNGUA
INGLESA DOS CANDIDATOS AO PROGRAMA CIÊNCIA SEM FRONTEIRAS
AZAMBUJA, Francine da Silveira1
MARCUZZO, Patrícia2
Este trabalho versa sobre o TOEFL iTP e tem como objetivos descrever e analisar esse teste dentro do
programa de intercâmbio acadêmico “Ciência sem Fronteiras” do Ministério da Educação, de modo a
identificar em que medida e como ele avalia a proficiência em língua inglesa dos candidatos ao programa.
Uma vez que não foi possível ter acesso a uma versão impressa do TOEFL iTP, o corpus do estudo é o
Manual Oficial do TOEFL iTP (ETS, 2012), que é uma referência para os candidatos que buscam se
preparar para esse teste, e apresenta instruções e exemplos de questões. Os resultados parciais apontam
que o TOEFL é considerado uma testagem por ser independente do ensino (MARCHEZAN, 2005). De
acordo com Marchezan, também são características dos testes: procedimentos de correção e classificação
previamente decididos, padronizados e imparciais; e candidatos não terem acesso a correção dos testes,
apenas nota ou classificação. A versão TOEFL iTP (nível intermediário a avançado) apresenta 140
questões para serem respondidas em 2 horas e está dividida em três seções: 1) Compreensão Oral; 2)
Estrutura e Expressão Escrita; e 3) Leitura. Portanto, essa versão do TOEFL não explora a habilidade de
expressão oral dos candidatos. Todas as questões versam sobre temas relacionados ao contexto
acadêmico, e simulam situações parecidas com as encontradas em universidades. Nesta comunicação,
apresentamos resultados da análise das seções de Compreensão Oral e Compreensão de Leitura. A seção
de Compreensão Oral está dividida em três partes: todas essas são projetadas a fim de testar a habilidade
dos candidatos em compreender a língua inglesa falada e, para tal, são apresentados diálogos,
administradas por uma gravação de áudio, seguidas de questões com quatro possibilidades de respostas e
um limite de tempo para lê-las e respondê-las. Os resultados mostram que, para responder as questões
apresentadas, os candidatos precisam ter conhecimento linguístico, sintático e semântico na língua
inglesa. Em termos de conhecimento semântico, foram verificadas, até o presente momento, questões que
exploram inferências e implicaturas. Já na seção de Compreensão de Leitura, são apresentadas passagens
de textos que simulam a realidade acadêmica também seguidas de questões com quatro possíveis
respostas. Até o presente momento, podemos perceber que nenhum dos textos apresentados podem se
incluir em um gênero textual. Pois, para Bhatia, gênero refere-se essencialmente ao uso
convencionalizado da língua em um ambiente comunicativo, a fim de dar expressão a um conjunto
específico de metas comunicativas de uma instituição disciplinar ou social, que dão origem a formas
estruturais estáveis, impondo restrições sobre o uso de léxico-gramatical, bem como recursos discursivos
(BHATIA, 1993). O que não se pode perceber nos textos apresentados, portanto entendemos que não se
caracterizam como gênero. Nas próximas etapas do projeto, analisaremos as demais seções do TOEFL
iTP e, uma vez que a habilidade de expressão oral não é contemplada nessa versão do TOEFL,
procuraremos identificar se há outra testagem, dentro do programa “Ciência sem Fronteiras”, que testa a
expressão oral dos candidatos, habilidade fundamental para acomunicação efetiva dos alunos brasileiros
em países de língua inglesa.
Palavras-chave: Ciência sem Fronteiras; Testagem; TOEFL iTP
Referências bibliográficas
BHATIA, V. K. Analysing genre: language use in professional settings. London: Longman, 1993.
EDUCATIONAL TESTING SERVICE.Toefl. Test taker handbook. Princeton: USA, 2012.
1 Aluna do 8º semestre de Letras (licenciatura) – Inglês e Literaturas da Língua Inglesa. UFSM. E-mail:
[email protected] 2 Professora da Universidade Federal de Santa Maria. UFSM. E-mail: [email protected]
Caderno de Resumos
21
MARCHEZAN, M. T. N. Perfil de provas elaboradas por professores de inglês na escola pública fundamental. 2005.
Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Letras - Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, 2005.
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MÉTODO ALTERNATIVO DE ENSINO-APRENDIZAGEM: TRABALHANDO A CULTURA
DAS LAVADEIRAS NEGRAS COM ALUNOS DA EJA NO ENSINO MÉDIO
BASSO, Eugênia1
ADAMY, Martha2
Em meados do século XVIII, Pelotas sofreu profunda transformação, tornando-se potência econômica da
região. Com uma intensa produção de charque, a cidade foi prosperando e recebendo moradores nobres
que foram construindo charqueadas no local. Assim, Pelotas foi palco de intensa mão de obra negra, pois
eram os escravos que executavam as tarefas pesadas em cada charqueada. Tais tarefas eram divididas:
homens realizavam o serviço braçal e crianças e mulheres ficavam com os serviços domésticos.Em meio
a esse contexto histórico, com o passar do tempo, fizeram-se presentes as negras lavadeiras de roupas, que
normalmente desciam para o Arroio Santa Bárbara, na chamada Rua das Lavadeiras da época (atual rua
Prof. Araújo) para lavar as roupas dos patrões.O presente projeto teve como objetivo reacender esse
capítulo da história de Pelotas, trabalhando, com alunos da Educação de Jovens e Adultos (EJA) da
Escola Adolfo Fetter, a história das lavadeiras negras pelotenses, através de música e teatro, optando por
um método alternativo de ensino, buscando fugir dos parâmetros convencionais de ensino-aprendizagem
dentro de uma sala de aula.A metodologia surgiu a partir de uma proposta de recuperação de avaliação
com os alunos (baseada na questão interdisciplinar presente nos PCNs do Ensino Médio) na qual estes
deveriam encenar a música “Ensaboa”, de Cartola (na voz de Marisa Monte), que retrata a tristeza de uma
mulata lavadeira de roupas. Junto à encenação, houve a declamação de alguns trechos de poemas
relacionados à escravidão e pesquisas nesta área, tudo realizado pelos alunos e apoio do professor e seu
auxiliar.Foram realizados seis ensaios, especialmente nas terças-feiras entre outubro e novembro, com
tempo disponível de dois períodos pela noite, com alunos da totalidade 9, turma 92, da EJA. A turma foi
dividida em grupos de trabalho: cenário, figurino, sonosplastia, divulgação e atuação. Na atuação, os
alunos vestiram-se com roupas de escravos e cantaram trechos da música, enquanto encenavam a vida das
lavadeiras. A apresentação do projeto foi no dia 11 de dezembro de 2013. Com este projeto, foi possível
reconhecer a importância do negro na construção da cidade de Pelotas e, junto a isso, aprender mais sobre
a cultura da região em que se vive e propagá-la para a comunidade. Além disso, é necessário
conscientizar as pessoas queainda hoje as mulheres negras sofrem preconceito, não conseguindo ocupar
na sociedade trabalho de destaque, com remuneração digna, principalmente no início do século XX em
que disputavam colocações com as imigrantes europeias. Para os estudantes, foi uma experiência muito
inovadora, pois a atividade envolveu várias áreas de conhecimento, integração com a comunidade e
exposição dos alunos, o que os deixou muito confiantes em seu potencial, e motivados em ir à escola.
Palavras-chave: Comunidade; Interdisciplinar; Lavadeiras negras; Método alternativo.
Referências bibliográficas
BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Médio. Brasília: MEC/Semtec, 2002.
1Autor: aluna do 4º semestre de Letras – Português e Inglês e respectivas literaturas. UFPEL. [email protected]
2 Orientador: professora da Escola Estadual de Ensino Médio Adolfo Fetter. E.E.E.M.A.F. [email protected]
Caderno de Resumos
23
OS ENSINAMENTOS DE MATTOSO CAMARA: DEPOIMENTO
BILIÃO, Maurício1
SCHERER, Amanda Eloina2
A presente comunicação apresenta um depoimento que obtivemos de uma professora da Universidade
Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Nele, ela traz importantes apontamentos que vão ao encontro de nosso
objetivo de pesquisa: confirmar o status de Mattoso Camara como importante linguista para os estudos da
língua portuguesa no Brasil a fim de investigar a ausência de sua bibliografia no curso de Letras da
Universidade Federal de Santa Maria. Integramos um trabalho que tem por pressupostos teórico-
metodológicos a História das Ideias Linguísticas, articulada à Análisede Discurso de linha pecheuxtiana,
tal como ambas as perspectivas vêm se desenvolvendo no Brasil. Ainda, o nosso trabalho abrange o
campo de estudo interdisciplinar que busca criar uma política de arquivo na contemporaneidade a partir
de fundos documentais (SCHERER et al, 2014). A ideia que vem se consolidando é a de que os fundos
documentais nos permitem refletir sobre nossa história institucional e, consequentemente, colaboram para
uma melhor compreensão do fazer disciplinar. Pretendemos apresentar, nesta comunicação, uma primeira
análise que diz respeito ao depoimento que recebemos de uma ex-aluna do referido professor.Angela
Maria da Silva Correa foi aluna de Mattoso Camara na antiga Faculdade de Filosofia (que incluía o
Departamento de Letras) em 1966, na UFRJ.A disciplina ministrada por Camara, naquele ano, era
intitulada “Linguística”, que, conforme proposto por ele, apresentaria a “Linguística” e todas as suas
implicações enquanto “ciência da linguagem” – na esteira dos trabalhos de Ferdinand de Saussure e
Romam Jakobson, do lado europeu, e de Leonard Bloomfield, do lado americano. Como relatou a
professora, as aulas do mestre tinham grandes qualidades didáticas – suas aulas eram expositivas, mas
também seguiam as melhores técnicas interativas – partindo de exemplos e da colocação de questões e de
problemas. Além disso, os textos da bibliografia eram baseados no livro de sua autoria “Princípios de
Linguística Geral” (1942), o que acabava facilitando a compreensão para quem acompanhasse as aulas
com atenção. Em 1968, Angela voltou a ser aluna de Camara, naquele momento, na disciplina de História
da Linguística, a qual tinha duração de um semestre. Após a conclusão de sua graduação em Letras –
Francês, a entrevistada passou ao papel de docente no curso de Letras na UFRJ. Naturalmente, seus
ensinamentos iam ao encontro de todo conhecimento adquirido com Mattoso Camara. Ela foi professora
da disciplina de Português I, cujo programa girava em torno de livros de Mattoso Camara: “Problemas de
Linguística Descritiva” e “Estrutura da Língua Portuguesa”. Profissionalmente, a partir do apreço por
Mattoso, o desejo da professora em aprofundar os estudos linguísticos a levou a fazer um doutorado em
linguística. E, como encerra Angela, sua atuação como professora universitária foi profundamente
influenciada pela formação linguística do final da década de 1960 (seus outros professores de linguística
na graduação eram discípulos de Mattoso Câmara). A partir deste depoimento estamos investigando que
ensinamentos são estes e no que eles vão colaborar na visibilidade e na história do referido linguista.
Palavras-chave: Mattoso Camara; Linguística; Relato.
Referências bibliográficas SCHERER, A. et al. Por uma política de arquivo na contemporaneidade a partir de fundos documentais. Livro
organizado na USP de Ribeirão Preto, pela professora Lucilia Abrahão. No prelo, 2014.
1 Autor: Maurício Bilião. Aluno do 4º semestre de Letras (licenciatura) – Português e Literaturas de Língua Portuguesa.
UFSM. E-mail: [email protected] 2
Orientador: Amanda Eloina Scherer. Professor da Universidade Federal de Santa Maria. UFSM. E-mail:
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LITERATURA E HISTÓRIA: POSSIBILIDADES DE DIÁLOGO ENTRE A REVOLUÇÃO DOS
CRAVOS E A FICÇÃO EM “AS VÉSPERAS ESQUECIDAS”, DE MARIA ISABEL BARRENO
BORGES, Francieli1
Parece ser bastante profícua a discussão sobre a literatura que se apropria e subverte os discursos da
historiografia,uma vez que ambos os campos de estudo apresentam convergências. Tanto a literatura
como a história são práticas humanas situadas de acordo com estruturas próprias, mas que têm muito em
comum, sobretudo se for levado em consideração o fato de a história ter seu discurso narrativamente
organizado através do ponto de vista do sujeito historiador e, portanto, também ser uma invenção, em
certo sentido; ou então se forem pensados nos casos em que é possível chegar aos indícios do passado
através da literatura(um exemplo para essa afirmação é o fato de que grande parte da história grega foi
construída a partir das epopeias homéricas, e muito da história dos povos romanos, através da
“Eneida”(2004) de Virgílio. Na Idade Média, também há exemplos, como é o caso de “La chanson de
Roland”(2014),pertencente à literatura francesa daquele período, considerado texto literário e documento
histórico ao mesmo tempo. Os textos referentes à conquista da América também caminham nesse sentido
e tem-se o exemplo brasileiro da “Carta”(2003)de Pero Vaz de Caminha, estudada ao mesmo tempo como
história e como literatura.),texto tido como criação de um escritor situado historicamente em um
determinado tempo e espaço do qual ele enuncia. Esse trabalho analisa as convergências entre literatura e
história com vistas à obra “As vésperas esquecidas”(1999), de Maria Isabel Barreno. Essa obra ficcional
atenta à passagem histórica referente à Revolução dos Cravos, em Portugal, e observa, no tocante às
personagens, questões relativas à repressão, às guerras coloniais, ao medo e à sustentação do regime
Salazarista. A principal pretensão desse estudo é refletir acerca do modo como a literatura pode servir
para problematizar o relato histórico, além de observar a construção das personagens a partir da
representação da época na qual a obra está inserida.
Palavras-chave: As Vésperas Esquecidas; Maria Isabel Barreno; Revolução dos Cravos na Literatura
Portuguesa.
Referências bibliográficas
BARRENO, M. I. As vésperas esquecidas. Editorial Caminho: Lisboa, 1999.
CASTRO, S. A carta de Pero Vaz de Caminha: o descobrimento do Brasil. Porto Alegre: L&PM, 2003.
Lestextes de lachanson de Roland I (Manuscrit d‟Oxford). Disponível em: <http://www.hs-
augsburg.de/~harsch/gallica/Chronologie/11siecle/Roland/rol_ch00.html>. Acesso em: 25 jul. 2014.
VIRGÍLIO. A Eneida. São Paulo: Martins Fontes, 2004.
1 Licenciada em Letras – Português e Literaturas de Língua Portuguesa pela Universidade Federal de Pelotas/UFPel.
Mestranda em Educação pela mesma universidade. E-mail: [email protected]
Caderno de Resumos
25
A REPRESENTAÇÃO DA MULHER DUBLINENSE EM “EVELINE” DE JAMES JOYCE
BOTTEGA, Caroline Lorenzzoni1
VIANNA, Vera Lúcia Lenz2
Considerado um dos autores de maior relevância do século XX, o escritor Irlandês James Joyce foi um
romancista, contista e poeta. Aclamado por obras como “Ulysses” e “Finnegans Wake”, James Joyce é o
autor do livro intitulado “Dubliners” (JOYCE, 1991): uma coletânea de quinze contos que relatam
algumas características da vida da cidade de Dublin e seus habitantes. Destacando experiências de
infância, relacionamentos conjugais e epifanias. A sociedade Dublinense da época transforma-se no foco
da atenção e crítica do escritor. “Eveline” (JOYCE, 1991) foi escolhido para análise por sugerir de modo
singular, aspectos relacionados à algo sobre as dificuldades e limitações de algumas mulheres no início do
século XX e, em particular, de mulheres do universo Dublinense. O objetivo deste trabalho consiste em
analisar o modo pelo qual a trajetória da personagem feminina é marcada pela imobilidade e
incomunicabilidade - fatores que conduzem a personagem a um estado de paralisia e afasia. A narrativa é
construída de modo a ressaltar a incapacidade da protagonista de se libertar dos códigos morais e
religiosos impostos pela sociedade. Do mesmo modo, interessa explorar a oscilação temporal que
caracteriza a construção do pensamento de Eveline e que reforça os sentimentos de incerteza e angústia
da personagem. Este estudo está apoiado nos pressupostos teóricos de Julio Cortázar e Suzanne Ferguson
presentes na obra “New short storytheories” (MAY, 1994).
Palavras-chave: Crítica social; Dublin; James Joyce; Mulher.
Referências bibliográficas
JOYCE, J. Dubliners. New York: Signet Classic, 1991.
MAY, C. E. New short story theories. Ohio: Ohio University Press, 1994.
1 Aluna do 8
o semestre de Letras Licenciatura - Inglês e Literaturas de Língua Inglesa. UFSM. E-mail:
[email protected] 2 Professora adjunta da Universidade Federal de Santa Maria. UFSM. E-mail: [email protected]
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LINGUAGEM, FONOAUDIOLOGIA E TEORIA DAS INTELIGÊNCIAS MÚLTIPLAS:
DISCUSSÃO E POSSIBILIDADES
CAMARGO, Renata Gomes1
MEZZOMO, Carolina Lisbôa2
A ampliação e busca por conexõesnos estudos da linguagem fazem-se de extrema importância para o
melhoramento da atuação em Fonoaudiologia. Entende-se a linguagem verbal como sinônima de
inteligência linguística, na qual as palavras escrita e falada, trazem infinitas possibilidades à comunicação
(ZORZI, 1999; GARDNER, 2010; JAKUBOVICS, LEME, 2012;ABE et al., 2013; GIACCHINI et al.,
2013). As alterações, dificuldades e/ou desvios que ocorrem durante o desenvolvimento ou posterior à
aquisição da linguagem verbal, podem gerar patologias de linguagem diversas, por exemplo, o atraso
simples de linguagem e os distúrbios de aprendizagem (JAKUBOVICZ, 2002; JAKUBOVICS, LEME,
2012). Assim, este trabalho tem por objetivo explorar as evoluções de pacientes atendidos por estagiários
do Curso de Fonoaudiologia, registradas em 41 prontuários, no Setor de Linguagem, do Serviço de
Atendimento Fonoaudiológico, da Universidade Federal de Santa Maria –UFSM, com base na Teoria das
Inteligências Múltiplas (GARDNER, 1994, 2010).Os resultados analisados fazem parte do projeto maior
intitulado “Teoria das Inteligências Múltiplas e atuação fonoaudiológica: um estudo baseado no estágio
supervisionado em linguagem”, que tem a aprovação do Comitê de ética em Pesquisa da UFSM, com
número 14702713.2.0000.5346. Caracterizou-se como uma pesquisa qualitativa (GIL, 2010), tendo sido
utilizada a análise de conteúdo para a apreciação dos dados (BARDIN, 2011). As categorias de análise
foram: motivação na terapia, desempenho na inteligência linguística e acesso às áreas de interessedos
pacientes relacionadas às inteligências múltiplas. Foram analisados 562 registros de evoluções de terapia;
são exemplos de excertos de evoluções analisados: “Brincadeira de amarelinha [...] brincadeira com
massinha de modelar [...] C. demonstrou coordenação [...] c. gostou da brincadeira, fazendo formas de
bichos e dizendo que daria presenta para a Fono”; “Cinoterapia3. V. estava um pouco afastado no
início, depois brincou com a cadela, deu comida, sorrindo e vocalizando o tempo todo”. Ao estudar os
registros das evoluções, compreendeu-seque é enriquecedor à atuação buscar relações entre terapia
fonoaudiológica, linguagem e Teoria das Inteligências Múltiplas. Principalmente, em virtude das
possibilidades de qualificação da terapia, se as estratégias utilizadas estiverem permeadas pelo estudo e
aplicação da referida teoria no trabalho de linguagem, como um meio de maximizar a evolução dos
pacientes.Afirma-se isso com base nos registros dos resultados da terapia, nos quais verificou-se que
existem implicações positivas entre motivação, melhor desempenho na terapia eacesso às áreas de
interesse dos pacientes relacionadas às inteligências múltiplas. Em outras palavras, quando são acessadas
áreas de interesse dos pacientes que, na maioria das vezes, efetiva-se em um trabalho onde a inteligência
linguística é abordada em combinação com outras inteligências, por exemplo, retomando os excertos
citados, respectivamente, asinteligênciassinestésico-corporal e naturalística, aperformance na inteligência
linguística é qualificada. Sendo assim, conclui-se que um estudo e aplicação mais aprofundados da
temática linguagem verbal/inteligência linguística, relacionada à apreciação das inteligências múltiplas na
terapia, pode ser um meio de aperfeiçoar as estratégias terapêuticas, bem como ampliar o entendimento
sobre as inferências nas evoluções dos pacientes.
Palavras-chave: Linguagem; Fonoaudiologia; Teoria das Inteligências Múltiplas.
Referências bibliográficas
ABE, C. M. et al. Habilidades comunicativas verbais no desenvolvimento típico de linguagem – relato de caso. CoDAS, 2013;
25(1): p. 76-83.
1 Autor. Professora do Colégio de Aplicação. UFSC. Doutoranda do Programa de Pós-graduação em Distúrbios da
Comunicação Humana. UFSM. E-mail: [email protected] 2 Coautor. Professora Dra. do Departamento de Fonoaudiologia e do Programa de Pós Graduação em Distúrbios da
Comunicação Humana. UFSM. E-mail: [email protected] 3Cinoterapia é a terapia mediada por cães.
Caderno de Resumos
27
BARDIN, L. Análise de conteúdo. São Paulo: Edições 70, 2011.
GARDNER, H. O nascimento e a Difusão de um “Meme”. In: GARDNER, H. et al. Inteligências Múltiplas ao redor do
mundo. Porto Alegre: Artmed, 2010. cap. 1, p.16-30.
GIACCHINI, V. et al. Aspectos de linguagem e motricidade oral observados em crianças atendidas em um setor de
estimulação precoce. RevDistúrbComun. 2013; 25(2): 253-265.
GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2010.
JAKUBOVICZ, R. Atraso de linguagem: Diagnóstico pela Média dos Valores de Frase (MVF). Rio de Janeiro: Editora
Revinter, 2002.
______.; LEME, M. P. Exercícios de linguagem. Rio de Janeiro: Revinter, 2012.
ZORZI, J L. A Intervenção Fonoaudiológica nas Alterações da Linguagem Infantil. Rio de Janeiro, Revinter, 1999.
Semana Acadêmica de Letras UFSM 2014
28
VALOR LINGUÍSTICO EM UMA PERSPECTIVA SAUSSUREANA
CAMPOS, Marcio Cardozo de 1
SCHERER, Amanda Eloina 2
A presente comunicação está vinculada ao projeto “Língua, sentido e memória e os processos de
constituição do sujeito” e busca realizar uma reflexão sobre a teoria do valor linguístico, com
embasamento nos estudos saussureanos. Ferdinand de Saussure (1857-1913) apresentou uma série de
estudos referentes ao campo da linguística, assim, pode ser considerado o fundador da linguística
moderna. Entre os anos de 1903 e 1907, atuou como professor de línguas indo-européias e,
posteriormente a partir de 1907, como professor de linguística geral, na Universidade de Genebra. Entre
os anos de 1907 e 1911 foram ministrados os cursos que originaram as obras “Cours de Linguistique
Générale–CGL” (1916) e “Écrit de Linguistique Génerale” (1996), ambos organizados com base em
anotações dos cursos ministrados por Saussure. Durante suas aulas, Saussure trabalhou as questões da
fala, da linguagem, da unidade linguística, da sincronia, da diacronia, do signo, da arbitrariedade de signo
e da teoria do valor linguístico. A obra “Curso de Linguística Geral” está divida da seguinte maneira:
sumário (apresentação dos prefácios das edições), introdução (apresentação de dados sobre o estudo da
linguística), apêndice (apresentação dos princípios de fonologia), primeira parte (princípios gerais),
segunda parte (linguística sincrônica), terceira parte (linguística diacrônica), quarta parte (linguística
geográfica) e quinta parte, correspondente às questões de linguística retrospectiva. No “CGL” podemos
encontrar pontos que introduzem o valor linguístico, a partir do capítulo III da primeira parte. Nas
reflexões dos alunos de Saussure, é esclarecido que a língua não possui um sistema de valores castiços,
porque as ideias e sons são responsáveis pelo seu funcionamento linguístico, e sem o recurso dos signos,
seríamos impossibilitados de discernir entre duas ideias de forma clara e progressiva. Portanto, no “Curso
de Linguística Geral” nosso pensamento é formado linguisticamente. Quanto aos “Escritos de Linguística
Geral” sua organização reúne as reflexões saussureanas referentes a epistemologia, especulação analítica
e a epistemologia pragmática. Em relação ao valor linguístico, o assunto é apresentado ao longo da obra
de forma esparsa, enquanto no “CLG”, há uma divisão em seções que abordam o tema com diferentes
abordagens. O valor linguístico, como é encontrado no “Curso de Linguística Geral”, é constituído
primeiramente, por uma coisa dessemelhante, suscetível de ser trocada por outra que necessita ter seu
valor determinado, e por fim, por coisas relativamente semelhantes que se podem comparar com aquela
em que o valor está em causa. Portanto, para essa comunicação objetivamos apresentar nossas reflexões a
respeito do conceito de valor linguístico, tendo por base as obras referidas acima.
Palavras chave: Ferdinand de Saussure; Linguística Contemporânea; Valor Linguístico.
Referências bibliográficas
SAUSSURE, F. Curso de Linguística Geral. São Paulo: Cultrix, 2006.
BOUQUET, S.; ENGLER, E. Escritos de Linguística Geral. São Paulo: Cultrix, 2012.
LETRAS & LETRAS, v. 25, n. 1, Jan/Jun.2009 – Uberlândia, Universidade Federal de Uberlândia, Instituto de Letras e
Linguística. Disponível em: <http://www.seer.ufu.br/index.php/letraseletras/issue/view/1089>. Acesso em: 28/04/2014.
1 Autor: Aluno do sexto semestre do Curso de Letras Português Licenciatura, bolsista de iniciação científica PIBIC/CNPq.
UFSM. Contato: [email protected] 2 Professora orientadora. Universidade Federal de Santa Maria – UFSM. Contato: [email protected]
Caderno de Resumos
29
A LUDICIDADE E O USO DE JOGOS NO ENSINO DE ALEMÃO PARA CRIANÇAS E
ADOLESCENTES
CARDOSO, Grace de Brum1
KRÜGER, Mariane Lopes2
SCHNEIDER, Maria Nilse3
Este estudo insere-se na área do Ensino de Línguas Estrangeiras, doravante (LEs/L2), mais precisamente
da língua alemã, e visa a discutir os fundamentos teórico-metodológicas acerca da ludicidade e do uso de
jogos de aprendizagem (Sprachlernspiele) (DAUVILLIER; LÉVY-HILLERICH, 2004; CHIGHINI,
2009), focalizando os critérios de escolha, elaboração, análise e uso de jogos e suas vantagens sociais e
cognitivas no processo de ensino-aprendizagem da língua alemã. É objetivo também criar jogos de
aprendizagem em alemão para crianças e adolescentes. Primeiramente foi discutido o aporte teórico-
metodológico e em seguida, serão: a) feitas pesquisas em sites sobre tipos de jogos de aprendizagem,
procedendo a análise dos jogos (objetivos e critérios de seleção e aplicação); e b) elaborados jogos a partir
de diferentes temas e estruturas linguísticas de acordo com as teorias estudadas, bem como um projeto de
extensão para ensino de alemão para crianças e adolescentes, no qual serão utilizados alguns dos jogos
analisados e elaborados pelo grupo. Desde o final do século XIX, os jogos adquiriram um estatuto
educativo, e para muitos pedagogos eles contribuem para o desenvolvimento social e cognitivo do
indivíduo e, de um modo geral, podem ser utilizados nas mais diversas áreas do conhecimento, uma vez
que constituem um meio para promover aprendizagens específicas e funcionam como recursos de
formação e autodesenvolvimento (BROUGÈRE, 1998 apud LEAL; D‟ÁVILA, 2013). O uso de jogos
possibilita a aprendizagem interativa-comunicativa, e o estudo passa a ser percebido como uma forma de
exercitar o poder de criação, o que favorece a formação de sujeitos reflexivos e autônomos. Os jogos de
aprendizagem, portanto, podem trazer resultados positivos significativos no ensino de LEs/L2, pois eles
oferecem uma gama enorme de possibilidades para exercitar o uso da LE/L2, e desenvolver a
comunicação oral (SOMMET, 2009). Este entendimento também encontra voz na teoria piagetiana, que
concebe o jogo como um recurso que o sujeito utiliza para o desenvolvimento da cognição e da
afetividade (LUCKESI, 2006). Ao utilizar jogos de aprendizagem nas aulas de LEs/L2, o professor
precisa ter em mente que o processo é mais importante que o objetivo do jogo, pois o objetivo central é a
aprendizagem da língua e não o jogo em si (CHIGHINI, 2009). Resultados preliminares mostram que
com mais de um século de estudos ainda nos deparamos com crenças equivocadas acerca do uso de jogos
em aulas LEs/L2. Ainda há professores abrindo mão de atividades lúdicas, por acharem que é “perda de
tempo”, ou por “falta de tempo”. Neste sentido, este estudo pode contribuir para desconstrução de tais
crenças e práticas em relação ao uso de atividades lúdicas nas aulas de LEs/L2.
Palavras-chave: Ensino-aprendizagem; Jogos; Ludicidade.
Referências bibliográficas
BROUGÈRE, G. Jogo e educação. Porto Alegre: Artes Médicas, 1998.
CHIGHINI, P.; KIRSCH, D. Deutsch im Primarbereich. Fernstudieneinheit 25. Berlim: Langenscheidt, 2009, p.42-47.
DAUVILLIER, C.; LÉVY-HILLERICH D. Spiele im Deutschunterricht. Fernstudieneinheit 28. München: Langenscheidt,
2004.
LEAL, L. A. B.; D‟ÁVILA, C. M. A ludicidade como princípio formativo. Interfaces Científicas – Educação, Aracajú, v1, n.
2, p. 41-52, 2013.
1Grace de Brum Cardoso: Aluna do 4º semestre de Letras Licenciatura– Português/Alemão. UFPEL. Email: grace-
[email protected] 2Marina Krüger Lopes: Aluna do 4º semestre de Letras Licenciatura – Português/Alemão. UFPEL. Email:
[email protected] 3Maria Nilse Schneider: Professora Doutora da Universidade Federal de Pelotas. UFPEL. Email:
Semana Acadêmica de Letras UFSM 2014
30
LUCKESI, C. Ludicidade e atividades lúdicas: uma abordagem a partir da experiência interna. Disponível em:
<http://www.luckesi.com.br>. Acesso em: mar. 2006.
SOMMET, P. Leitfaden für Kursleiter. Ismaning: Hueber, 2009.
Caderno de Resumos
31
BELEZA E ARTIFÍCIO NO ROMANCE DECADENTISTA “ÀS AVESSAS” (1884), DE
HUYSMANS
CARGNELUTTI, Camila Marchesan1
ALÓS, Anselmo Peres2
Publicado originalmente em 1884, “Às avessas”, do escritor francês J.-K. Huysmans é considerado o
“livro cardeal do decadentismo” (PRAZ, 1996, p. 283), representando a ruptura do autor com os
movimentos que o antecederam, particularmente com o naturalismo, e o principal exemplo da tentativa do
autor de renovação do romance. Dentre as características específicas do decadentismo, podemos destacar
a aversão ao mundo real, ao progresso e ao cientificismo. Dessa forma, esse movimento caracteriza-se por
uma estética de negação e rejeição da realidade de transformações sociais, políticas, econômicas e
tecnológicas que marcou o final do século XIX (WEBER, 1988). Frente a esse contexto de profundas
modificações na sociedade parisiense fin-de-siècle, o decadentismo, além de caracterizar-se pela negação,
procura encontrar novas formas de expressão estética e de renovação das artes e da literatura
(MORETTO, 1989). O decadentismo encontraria na personagem des Esseintes, protagonista de “Às
avessas”, principal figura representativa das peculiaridades desse movimento e dessa conjuntura fin-de-
siècle. Dentre elas, como procuramos demonstrar ao longo desse estudo, o culto do artifício, característica
fundamental na composição estética dos artistas e escritores decadentistas. Nesse trabalho,
investigaremos algumas transposições de arte construídas em “Às avessas”, particularmente as referentes
aos quadros “Salomé” e “A aparição”, ambos do pintor francês Gustave Moreau.Assim, objetivamos
analisar como se manifesta o culto ao artificial nessas passagens da obra. Observamos
que as transposições dessas obras privilegiam, especialmente, aspectos que remetem ao artificial
e à beleza como produto do retoque e intervenção da arte sobre a natureza. Além disso, esses trechos
procuram evocar, por meio do texto literário,as imagens representadas nas pinturas e
explorar as possibilidades da literatura de sugerir e provocar sensações a partir da apreciação da arte
pictural.
Palavras-chave: Culto do artifício; Decadentismo; Huysmans; Transposição de arte.
Referências bibliográficas
HUYSMANS, J.-K. Às avessas. Tradução de José Paulo Paes. São Paulo: Companhia das Letras, 1987.
MORETTO, F. M. L. (Org.). Caminhos do decadentismo francês. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo; Editora
Perspectiva, 1989.
PRAZ, M. A carne, a morte e o diabo na literatura romântica. Tradução de Philadelpho Menezes. Campinas: Editora da
Unicamp, 1996.
WEBER, E. França fin-de-siècle. São Paulo: Companhia das Letras, 1988.
1 Autora: Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Letras – Estudos Literários – da Universidade Federal de Santa Maria.
UFSM. E-mail: [email protected] 2 Orientador: Professor Ajunto da Universidade Federal de Santa Maria. UFSM. E-mail: [email protected]
Semana Acadêmica de Letras UFSM 2014
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ACADEMIA ALTERNATIVA DE LETRAS
COSTA, Alan Ricardo1
O Projeto Alternativa é uma ação extensionistadesenvolvida a partir do Pré-Vestibular Popular
Alternativa (PVPA), curso pré-vestibular destinado ao preparo de aspirantes ao ensino superior. O PVPA
funciona através da atuação de acadêmicos de graduação e pós-graduação de diferentes cursos da
Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e de outras instituições de ensino superior, que ministram
aulas para estudantes desprovidos de condições socioeconômicas de investir em um curso pré-vestibular
comercial (SCHERER, et al., 2012). Vale apontar que o suporte teórico central do projeto é o viés da
Educação Popular (FREIRE, 1996) e que, por conseguinte, diversas ações são desenvolvidas
concomitantemente, com vistas a complementar o PVPA e a formação de seus educandos. Dentre as
referidas ações extras está a “Academia Alternativa de Letras”, projeto desenvolvido para dois fins
principais: (1) arrecadação de livros, através de doação, para a Biblioteca Paulo Freire, biblioteca do
PVPA, e (2) incentivo à leitura de obras literárias, sobretudo aquelas indicadas como leituras mínimas
obrigatórias segundo a Comissão Permanente do Vestibular UFSM (Coperves). Nesse viés, o objetivo do
presente trabalho é apresentar a Academia Alternativa de Letras, discutir sua importância dentro do
PVPA e apresentar resultados inerentes ao aumento de obras da Biblioteca Paulo Freire e ao aumento do
hábito da leitura por parte dos educandos do Alternativa. A Academia Alternativa de Letras, em jocosa
oposição à Academia Brasileira de Letras, defende que todos podem ser “imortalizados” ao doar uma
obra para a biblioteca. A imortalização de educadores, educandos e demais colaboradores (diretos e
indiretos) do projeto deu-se na forma de registro fotográfico e disponibilização das imagens em redes
sociais na Web. Até a data de 18 de junho de 2014, última atualização da biblioteca, mais de duas
centenas livros foram doados, desde clássicos da literatura brasileira a dicionários e materiais didáticos. A
partir da análise da ficha de empréstimo de livros da Biblioteca Paulo Freire, constatou-se em 2014 um
aumento significativo de retiradas de livros de leituras mínimas obrigatórias do Vestibular, além de outras
obras não indicadas, que contribuem diretamente na formação dos educandos.A modo de conclusão, a
Academia Alternativa de Letras foi considerada profícua e efetiva em cumprir seus objetivos de incentivo
ao hábito de leitura, o que resulta da necessidade de dar continuidade a essa e outras ações de incentivo
desta natureza.
Palavras-chave: Educação; Leitura; Pré-Vestibular Popular; Projeto Alternativa.
Referências bibliográficas
FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 15ª ed. São Paulo: Paz e Terra. Coleção
Leitura. 1996.
SCHERER, B. C.; et al. Projeto Alternativa/Conexões de Saberes. In: SOARES, A. L. R.; BELLOCHIO, C. R.; FLORES, J.
A. R.; CERVO, L. M.; GARBOSA, L. W. F.; GOMES, T. F.; PETRI, V. (Org.). Conexões de Saberes: diálogos entre a
universidade e as comunidades populares. Santa Maria: UFSM. 2012.
1 Autor: Professor do Centro Universitário Franciscano (UNIFRA). Graduado em Letras – Licenciatura em Espanhol e
literaturas de língua espanhola, pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). E-mail: [email protected]
Caderno de Resumos
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LEITURA EM TESTE: UM ESTUDO SOBRE O TESTE DE SUFICIÊNCIA EM LÍNGUA
INGLESA DA UFSM
CUNHA, Ana Carolina Schmitt da1
MARCUZZO, Patrícia2
O Teste de Suficiência em Leitura em Língua Estrangeira da Universidade Federal de Santa Maria
(TESLLE) é uma testagem, com enfoque na habilidade de leitura, que ocorre semestralmente na
instituição (UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA, 2008).Atualmente, o maior público do
TESLLE é aluno dos cursos de pós-graduação da instituição que precisa comprovar a habilidade de
leitura de textos em uma das cinco línguas oferecidas pelo TESLLE(BECKER, 2013). Este estudo tem
como objetivo analisar duas edições do teste de Inglês em comparação com o programa do TESLLE, a
fim de identificar a estrutura do teste, a temática e o enfoque das questões. Para tanto, duas edições do
teste foram selecionadas e estão sendo analisadas em conjunto com o programa. A análise baseia-se nas
características da testagem (MARCHEZAN, 2005), assim como nas competências exploradas nas
questões (LITTLEWOOD, 2004) e aspectos relacionados ao gênero textual (SWALES, 1990). O corpus
do estudo inclui o teste da 2º edição do ano de 2013 e da 1ª edição do ano de 2014. Os resultados parciais
indicam que os testes abordam um texto único pertencente a um gênero do contexto acadêmico, e os
textos exploram temáticas variadas, como a popularização do conhecimento científico, tema do teste da
edição do 2º semestre de 2013. Em termos de estrutura, o teste dessa mesma edição compreendeu 10
questões exclusivamente objetivas que exploraram aspectos como a identificação da estrutura do discurso
científico e o reconhecimento dos argumentos veiculados pelo autor.Fundamentalmente, busca-se com
este trabalho identificar a perspectiva de leitura adotada no TESLLE.
Palavras-chave: Leitura em língua estrangeira; Testagem; Teste de Suficiência.
Referências bibliográficas
BECKER, L. W. EFL Reading patterns: a study based on Teste de Suficiência at the Federal University of Santa Maria.
Trabalho final de graduação – Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, 2013.
LITTLEWOOD, W. Second language learning. In: DAVIES, A; ELDER, C. (Ed.). The handbook of applied linguistics.
United Kingdom: Blacwell, 2004. cap. 20, p. 501-524.
MARCHEZAN, M. T. N. Perfil de provas elaboradas por professores de inglês na escola pública fundamental.163 f. Tese
de Doutorado. Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2005.
SWALES, J. M. Genre analysis: English in academic and research settings.Cambridge: Cambridge University Press, 1990.
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA. Regimento interno de pós-graduação stricto sensu e lato sensu da
UFSM. Universidade Federal de Santa Maria: Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa, 2008
1 Aluna do 8º semestre de Letras Licenciatura – Habilitação em Inglês e Literaturas de Língua Inglesa. UFSM. E-mail:
[email protected] 2 Professora da Universidade Federal de Santa Maria. UFSM. E-mail: [email protected]
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PROJETO EDUCAÇÃO LINGUÍSTICA E INTERCULTURAL- ESPANHOL VIA PROJETOS:
IMPRESSÕES E PERSPECTIVAS
DIAS, Adriele Delgado1
MENEZES, Scárlati Castro de2
VIERA, Chaiane dos Santos3
STURZA, Eliana Rosa4
O Projeto Educação Linguística e Intercultural integrado ao Programa das Licenciaturas (PROLICEN) da
Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), desenvolve uma metodologia de ensino de espanhol
adequada aos anos iniciais despertando o prazer dos alunos em aprender a língua, trabalhando uma
perspectiva de projetos, organizados na forma de mapa conceitual, para o planejamento das atividades
que respondam ao interesse dos alunos. A perspectiva que propomos é para que, através do ensino da
língua espanhola, possa-se também ampliar o debate sobre as linguagens/línguas e culturas assim como
saberes da comunidade escolar e de fora dela, de modo que se crie um espaço para Educação Linguística
e Intercultural na escola e que venha a incluir também outras línguas (português, inglês, libras etc..) e
outras experiências e vivências culturais no ambiente escolar. Do ponto de vista da proposta que estamos
oferecendo à escola, o impacto mais significativo que esperamos é na metodologia via projeto,
considerando a possibilidade de que a mesma contribua para repensar os modos de ensinar não só as
línguas, mas também outras disciplinas, tendo como foco o interesse do aluno, como aquele que organiza
as questões formuladas pelos alunos, a partir das suas inquietações, vivências e interesses em qualquer
área do conhecimento. Atendendo o interesse de uma escola pública e colocando em prática esse projeto,
diariamente observamos o esforço político e as dificuldades das escolas em atender às demandas de
educação linguística da sociedade, que a nosso ver, acontece de forma lenta. De acordo com Bagno &
Rangel (2005), educação lingüística é o conjunto de fatores socioculturais que, durante toda a existência
de um indivíduo, lhe possibilitam adquirir, desenvolver e ampliar o conhecimento. Com isso, para o pleno
desenvolvimento deste projeto, realizamos a pesquisa levando em conta o interesse dos alunos, que está
fazendo muita diferença em nossas aulas. E concordamos com Oliveira (2004), que fala que :a pesquisa
se inicia através da determinação- de forma dialógica- do quê os alunos gostariam de saber, de estudar,
que problemáticas gostariam de atacar, que mistérios gostariam de desvendar. Até o momento,
constatamos que nosso mapa conceitual tem respondido às expectativas dos alunos. Esta perspectiva atrai
a atenção dos alunos; eles estão interessados e empenhados nas aulas de espanhol. E observamos isto
desde quando chegamos à escola para nossas aulas e ouvimos: “Prof. estudei espanhol com minha mãe
em casa”, “Olhei um filme em espanhol no fim de semana” ou até “ Fiz pesquisas de algumas palavras
em espanhol na internet”. Com isso, acreditamos que estamos enriquecendo o quadro de conhecimento
que a escola deseja oferecer aos seus alunos, a partir do nosso projeto, e ainda, despertando um grande
interesse dos alunos pela língua espanhola. Além de proporcionar uma experiência na língua, por parte
dos alunos, o projeto possibilita a inserção do espanhol na grade curricular, ainda que, seja como
atividade extracurricular. O projeto também tem oportunizado às participantes uma iniciação à docência e
vivência na comunidade escolar, de modo que, cumpre com o objetivo esperado pelo PROLICEN.
Palavras-chave: Ensino; Língua Espanhola; Projeto; Linguagens
Referencias bibliográficas
1 Autor: Pedadoga e aluna do 3º semestre de Letras Licenciatura- Habilitação Espanhol e Literaturas de Língua Espanhola,
UFSM. E-mail: [email protected] 2 Coautor: Aluna do 9º semestre de Letras Licenciatura- Habilitação Espanhol e Literaturas de Língua Espanhola, UFSM. E-
mail: [email protected] 3 Coautor: Aluna do 7º semestre de Letras Licenciatura- Habilitação Espanhol e Literaturas de Língua Espanhola, UFSM. E-
mail: [email protected] 4 Orientador: Professora doutora da Universidade Federal de Santa Maria, UFSM. E-mail: [email protected]
Caderno de Resumos
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BAGNO, M.; RANGEL, E. de O. Tarefas da Educação Linguística no Brasil. Revista Brasileira de Linguística Aplicada,
v.5, n.1, Campinas: SP, 2005. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/rbla/v5n1/04.pdf>.
OLIVEIRA, G. M. de. Interesse, Pesquisa e Ensino: Uma Equação para a Educação Escolar no Brasil. Florianópolis: PRELO,
2004. Instituto de Investigação e Desenvolvimento em Política Linguística e Secretaria Municipal de Educação- Florianópolis,
2004- v.1.
Semana Acadêmica de Letras UFSM 2014
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DESIGNAÇÕES DE SUJEITOS NO LINGUAJAR DO GAÚCHO
ECHEVARRIA, Felipe Rodrigues1
STURZA, Eliana Rosa2
O presente trabalho analisa verbetes que designam tipos sociais e étnicos presentes no livro “Vocabulario
Gaúcho” (1928) de Roque Callage, a partir de uma perspectiva da História das Ideias Linguísticas no
Brasil. Para isso, tomou-se a obra de Callage como instrumento lingüístico buscando mostrar como o
vocabulário gaúcho é um espaço de produção cultural onde se prioriza a linguagem do povo sul-
riograndense. Antes de abordar o linguajar do gaúcho, elucida-se o processo que a língua portuguesa
passou até consolidar-se como língua oficial do Brasil. Segundo Orlandi (2001), com a descoberta do
Brasil em 1500 e com sua colonização em 1532, o português passou a ser falado em um novo espaço-
tempo. Em um primeiro momento, foi falado apenas por uma minoria de pessoas letradas, como donos de
terras e funcionários. Criaram-se leis que contribuíram para consolidação do português como língua
oficial da nação. O Brasil passou a ter sua própria gramática escrita por autores brasileiros, reforçando
assim o sentimento de nacionalidade. “Neste sentido que será percebida a diferença da língua no Brasil
em relação à língua em Portugal”. (ORLANDI, 2001, p. 24). Para Auroux (1992), o dicionário e a
gramática são instrumentos lingüísticos, resultados da revolução tecnológica da linguagem. O dicionário é
um instrumento histórico que se constituiu em uma materialidade discursiva; a língua no mundo com as
maneiras de significar e não a língua enquanto sistema fechado. Neste âmbito de instrumentos
linguísticos, encontra-se a língua falada pelo povo sul-riograndense, ou conforme Roque Callage (1928),
vocabulário gaúcho. Em seu livro “Vocabulario Gaúcho”, o autor registrou termos típicos do linguajar do
povo do Rio Grande do Sul. Segundo Callage, há três fatores que contribuíram para a linguagem
expressiva do povo gaúcho: o português, o hispano-platino e o aborígene. Já para Dante de Laytano
(1981), a linguagem falada no Rio Grande do Sul sofreu diversas influências das quais destacam-se: a
açoriana e brasileira, a espanhola vinda pelo Rio da Plata, a indígena e a africana. Quanto à influência
espanhola no linguajar do gaúcho, Laytano elucida que “é uma consequência sociológica, não só de áreas
comuns, fronteiras geográficas e tipo idêntico de atividades econômicas, mas de relações humanas e
históricas muito intensas”. (LAYTANO, 1981, p. 49). Dentro da obra “Vocabulario Gaúcho”, de Roque
Callage, é feito um recorte de verbetes que designam sujeitos e tipos sociais. São eles: alcaide, anta,
arisco, bagual, bagaceira, barriga-verde, bruáca, bugre, cambada, castelhano, china, chininha, chinóca,
cotó, crioulo, despilchado, embromador, gasguita, gaúcho, gaudério, gury, índio, piá, e pussuca. Após
analisar os processos sofridos pela língua portuguesa até sua consolidação como língua oficial da nação,
conclui-se que o português, assim como qualquer outra língua, não é homogêneo; é distinto do português
falado em Portugal, como também é heterogêneo dentro do próprio Brasil. Com influências da língua
portuguesa, do espanhol da região do Rio da Prata, do aborígene e do africano, o linguajar gauchesco que
designa sujeitos sociais é produzido de forma que se diferencia de outros linguajares do Brasil devido a
fatores históricos, geográficos e às influências de outras culturas.
Palavras-chave: Linguajar; Materialidade Discursiva; Regionalismo; Vocabulário.
Referências bibliográficas
AUROUX, S. A revolução tecnológica da gramatização. Campinas, SP: Editora da Unicamp, 1992.
CALLAGE, R. Vocabulario Gaucho. Porto Alegre: Livraria do Globo, 1928.
LAYTANO, D. de. O linguajar do gaúcho brasileiro. Porto Alegre: Escola Superior de Teologia São Lourenço de Brides,
1981.
ORLANDI, E. P. (Org.). História das idéias linguíticas: construção do saber metalingüístico e constituição da língua
nacional. Campinas: Pontes; Cáceres: Unemat Editora, 2001.
1 Autor: Aluno do 3º semestre de Letras (licenciatura) – Espanhol e Literaturas de Língua Espanhola. UFSM. E-mail:
[email protected] 2 Orientador: Professor da Universidade Federal de Santa Maria. UFSM. E-mail: [email protected]
Caderno de Resumos
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O ARTIGO DE OPINIÃO E SUA RECONTEXTUALIZAÇÃO NA ESCOLA
ECKERT, Gabriela1
PINTON, Francieli Matzenbacher2
Esta pesquisa está vinculada ao projeto guarda-chuva intitulado “A transversalidade da leitura e da escrita
nas diferentes áreas disciplinares: descrição, análise e didatização" que tem por objetivo descrever e
analisar a prática de leitura e escrita na escola, a fim de oferecer uma sistematização das características
linguísticas e composicionais dos gêneros textuais com vistas à produção de material didático para o
ensino e aprendizagem nas diferentes áreas disciplinares. Neste trabalho, focalizamos o gênero textual
artigo de opinião, com a finalidade de apresentar subsídios linguísticos e discursivos para a sua
recontextualização no espaço escolar. Para tanto, partimos dos pressupostos teóricos e metodológicos da
Pedagogia “Learning to write, Reading to learning” (ROSE e MARTIN, 2012) e dos princípios da
Linguística Sistêmico-Funcional de Halliday (1989, 2004). A abordagem da Linguística Sistêmico-
funcional caracteriza-se por apresentar uma pedagogia explícita na qual o professor introduz os estudantes
às demandas linguísticas dos gêneros que são importantes para a participação na aprendizagem escolar e
na comunidade maior. O corpus é constituído de 10 artigos de opinião, publicados no jornal Zero Hora,
no período de setembro/2014. Para análise dos dados foram seguidos os procedimentos: i) identificação
dos estágios composicionais dos textos e ii) apresentação de uma estrutura genérica. Os resultados
preliminares da etapa de desconstrução do gênero apontam para a recorrência dos seguintes estágios: i)
apresentação do contexto, ii) apresentação da tese, iii) defesa da tese/posicionamento e iv)
reiteração/reforço da tese/posicionamento.
Palavras-chave: Artigo de opinião; Educação básica; Pedagogia de gênero.
Referências bibliográficas
HALLIDAY, M.A.K. Part A. In: HALLIDAY, M.A.K.; HASAN, R. Language, context, and text: aspects of language in a
social-semiotic perspective. Oxford: Oxford University Press, 1989.
HALLIDAY, M.; MATTHIESSEN, C. An introduction to functional grammar. 3rd. ed. London: Arnold, 2004.
ROSE, D.; MARTIN, J. R. Learning to Write, Reading to Learn: Genre, Knowledge and Pedagogy in the Sydney School.
London: Equinox, 2012.
1 Autor: Acadêmica do 2º semestre de Letras Licenciatura – Português e suas respectivas Literaturas e bolsista voluntária no
Programa PIVIC. UFSM. E-mail: [email protected] 2Orientador: Professora do Departamento de Letras Vernáculas e coordenadora do projeto de pesquisa. UFSM. E-mail:
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UMA LEITURA DE “NINGUÉM MATOU SUHURA”, DE LÍLIA MOMPLÉ
ESMÉRIO, João Alcides Haetinger1
ALÓS, Anselmo Peres2
Este estudo tem por finalidade analisar o reflexo da violência colonial, bem como a representação do
feminino, na obra da escritora moçambicana Lília Maria Clara Carrière Momplé, a partir de
considerações teóricas de Edward W. Said (1995) e Frantz Fanon (2008). “Ninguém matou Suhura”
(2007) é composto de cinco contos, que são: “Aconteceu em Sua-Sua”, “Caniço”, “O baile de Celina”,
“Ninguém matou Suhura”, que é dividido em três capítulos (I-O Dia do Senhor Administrador; II-O Dia
de Suhura e III-Fim do Dia) e “O último pesadelo”. O livro foi publicado em 1988 e reeditado pela autora
em 2007, data de impressão da 3ª edição.Os contos podem ser lidos de maneira independente, mas ao
mesmo tempo apresentam semelhanças temáticas e seguem uma sequência temporal que se estende de
1935 a 1974. A partir das narrativas apresentadas nos contos, é remontado o quadro de contexto social e
cultural moçambicano, durante a época colonial. São abordadas as temáticas de dominação do
colonizador português, da subalternidade do colonizado, das distinções de classes, da exploração dos
negros.Ressalvo que esse trabalho faz parte das preliminares do que futuramente será um artigo, no
âmbito da Literatura Comparada, com um cotejo entre os contos “Ninguém matou Suhura” e “Dina”
(conto da obra “Nós Matámos o Cão-Tinhoso”, do escritorLuis Bernardo Honwana, também
moçambicano).
Palavras-chave: Literatura Moçambicana; Crítica Pós-Colonial; Representações do Feminino;
Subalternidade.
Referências bibliográficas
FANON, F. Pele negra máscaras brancas. Salvador: Universidade Federal da Bahia-EDUFBA, 2008.
MOMPLÉ, L. Ninguém matou Suhura. Maputo: Associação dos Escritores Moçambicanos, 2007.
SAID, E. Cultura e Imperialismo. Tradução: Denise Bottmann. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.
1Autor: Aluno do 6º semestre de Letras/Bacharelado. Bolsista (PIBIC/CNPq) do Projeto Poéticas da masculinidade em ruínas,
ou: o amor em tempos de AIDS. UFSM. Email: [email protected] 2Orientador: Prof. Dr. da Universidade Federal de Santa Maria. UFSM. Email:[email protected]
Caderno de Resumos
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RECONTANDO FÁBULAS – UMA ANÁLISE DA TRANSITIVIDADE
FACHIM, Graziela1
NASCIMENTO, Roseli Gonçalves2
O presente trabalho é um recorte de uma pesquisa final de graduação, na qual foi analisada uma mesma
fábula em dois registros – uma animação e uma narração (somente o narrador, sem o uso de recursos de
animação). Neste trabalho apresentamos uma parte dos resultados em que buscamos entender até que
ponto e em que aspectos a recontextualização de uma históriade um registro para outro altera o modo
como o texto verbal é construído. De acordo com Fairclough (2003), o processo de recontextualização dá-
se pela “relação entre diferentes práticas sociais – nas quais elementos de uma prática social são
apropriados e realocados em outro contexto” (p.222). Para identificarmos até que ponto o significado das
fábulas foram alterados no nível textual por esse processo, utilizamos como ferramenta a Gramática
Sistêmico Funcional (HALLIDAY, 2004; MARTIN et al, 2010), mais especificamente o sistema de
transitividade, uma vez que ambas as fábulas foram transcritas e divididas em orações. Para Martinet al
(2010), é através do sistema de transitividade que “experiências são transformadas em significado e que a
história é construída” (p. 99). Ao serem analisadas e comparadas, foi possível constatar que em ambas as
fábulas há uma predominância de Processos Materiais, o que pode ser explicado pelo fato de esses
processos representarem ações e acontecimentos nas histórias. Entretanto, tratando-se dos Processos
Relacionais, observamos uma diferença entre um registro e outro, tendo a narração maior ocorrência
desses processos uma vez que necessita descrever os personagens,pois não possui recursos de animação.
Através dos resultados buscamos também contribuir para o ensino de línguas, visto que permitem com
que o aluno perceba a diferença existente quando há a troca de um contexto para outro, podendo ele assim
transformar as fábulas lidas em aula.
Palavras-chave: Fábulas; Gramática Sistêmico Funcional; Recontextualização.
Referências bibliográficas
FAIRCLOUGH, N. Analysingdiscourse: textual analysis for social research. London/NY: Routledge, 2003
HALLIDAY, M. A. K.; MATHIESSEN, C. M. I. M. An introduction to functional grammar. 3rd ed. London: Edward
Arnold, 2004.
MARTIN, J. R.; MATTHIESSEN, C. M. I. M.; PAINTER, C. Deploying Functional Grammar. Commercial Press. 2010.
1Autora: Aluna do 8º semestre de Letras (Licenciatura) – Inglês e Literaturas da Língua Inglesa. UFSM. Email:
[email protected] 2Orientadora: Professora da Universidade Federal de Santa Maria. UFSM. Email: [email protected]
Semana Acadêmica de Letras UFSM 2014
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A REPRESENTAÇÃO DA MULHER NO ROMANCE “INOCÊNCIA”, DE VISCONDE DE
TAUNAY
FARIA, Esther Costa1
Ao estudar o período literário denominado Romantismo, deparamo-nos com obras como "Moreninha", "O
Guarani", "A Escrava Isaura" e outras que também são consideradas pertencentes a essa estética, dentre
elas aquela da qual este trabalho pretende ocupar-se: “Inocência”, de Visconde de Taunay. No entanto,
restringir a obra apenas a elementos considerados românticos é equivocado, principalmente no que diz
respeito àquilo de mais fundamental encontrado no romance, que são suas características realistas. Não se
pode negar o caráter romântico existente na obra, devido à presença de aspectos como o conflito social, a
pureza da mulher, o amor impossível, recorrentes em romances do Romantismo. Apesar disso, há
elementos típicos da estética realista subsequente, como os aspectos psicológicos das personagens que
fazem com que identifiquemos, em cada indivíduo representado, sua maneira de pensar. Bosi afirma que
"Taunay foi capaz de enquadrar a história de 'Inocência' em um cenário e em um conjunto de costumes
sertanejos onde tudo é verossímil" (1985, p. 160). Na obra "Inocência", o autor procura transmitir a
realidade do campo em contraponto com a realidade da cidade, mostrando aspectos culturais que
envolviam a submissão e o descrédito da mulher, bem como o patriarcalismo e o machismo existentes. O
objetivo deste trabalho é apontar essas representações da mulher, que se apresentam de modo diferente
quando analisados os aspectos psicológicos das personagens sertanejas em confronto com as personagens
urbanas. A análise prévia da obra permite identificar conceitos de moral e ética em cada personagem, já
que é principalmente a esses preceitos que a representação da mulher (sertaneja ou urbana) está associada.
De um lado, temos o sertanejo que promete sua filha em casamento e procura defender a honra dela e a
sua própria; de outro, vemos o homem urbano que se encanta com a beleza e a pureza que a mulher
representa. Tal dualidade é representada no seguinte trecho de Massaud:
(...) dá-se o conhecimento dos protagonistas, e de tudo que povoa o mundo de Pereira e Inocência,
até a chegada de Meyer, cuja presença, gerando mal-entendidos e suspeitas, adia o prosseguimento
da trama, ao mesmo tempo que lhe adiciona um toque de complexidade: sabemo-lo inocente em
relação à heroína, não assim o matuto Pereira (1985, p. 283).
Tratando-se de uma pesquisa literária exploratória, é imprescindível a leitura minuciosa da obra em
estudo, assim como a leitura do contexto histórico no qual se enquadra, na intenção de compreender as
diferentes visões de mulher presentes em cada núcleo do romance.
Palavras-chave: Inocência; Mulher; Representação; Romantismo.
Referências bibliográficas
BOSI, A. História Concisa da Literatura Brasileira. São Paulo: Cultrix, 1985.
MOISÉS, M. História da Literatura Brasileira – Romantismo. São Paulo: Cultrix, 1985.
TAUNAY, V. de. Inocência. 15. ed. São Paulo: Ática, 1987.
1 Autor: Aluna do 4º semestre de Letras Bacharelado – Português e Literaturas. UFSM. E-mail: [email protected]
Caderno de Resumos
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REFLEXÕES SOBRE A IMPORTÂNCIA DO CONHECIMENTO DE TEORIAS DE
APRENDIZAGEM PELO PROFESSOR
FRANTZ, Amanda Kohlrausch1
O objetivo deste trabalho é apresentar uma reflexão sobre a importância da conscientização do professor
com relação a teorias de aquisição/aprendizagem de línguas, focando na hipótese do Filtro Afetivo, da
teoria do Monitor de Krashen (1985). Através do desafio do ensino de leitura em português como língua
estrangeira para uma falante de árabe, residente no Brasil há 17 anos, constatou-se a necessidade de
ampliar os conhecimentos teóricos sobre aprendizagem de uma segunda língua. A aluna tem o árabe
como Língua Materna (LM) e o português como Língua Segunda (L2), que fala fluentemente, embora
possua erros na produção oral que não comprometem sua comunicação. Com relação à escrita, em sua
LM ela lê bem, mas escreve pouco; já na L2, não desenvolveu as habilidades de leitura e escrita.
Considerando o desejo de poder ler, para ter uma melhor interação na sociedade em que está inserida,
decidiu ter aulas para aprender as habilidades que ainda não domina em sua segunda língua. Ao realizar o
diagnóstico para dar base à estruturação do curso, constatou-se uma alta receptividade para o aprendizado
do português escrito o que caracteriza, no dizer de Krashen (1981), um Baixo Filtro Afetivo. Este tema é
relevante, uma vez que os fatores afetivos têm grande importância no ensino/aprendizagem de línguas,
podendo auxiliar ou dificultar o processo (CALLEGARI, 2006). Desta forma, pode-se esperar que a partir
do momento em que o professor tenha ciência do Filtro Afetivo, o mesmo poderá ser capaz de
desenvolver estratégias para mantê-lo baixo ou, uma vez que o identifique como alto, possa ser capaz de
elaborar estratégias para tentar baixá-lo.
Palavras-chave: Ensino de PLE; Filtro Afetivo; Teorias de Aprendizagem.
Referências bibliográficas
CALLEGARI, M. O. V. Reflexões sobre o modelo de aquisição de segundas línguas de SthephenKrashen – uma ponte entre a
teoria e a prática em sala de aula. RevistaScielo, vol. 45, n. 1, Campinas, jan./jun. 2006
KRASHEN, S. Second language acquisition and second language learning. Oxford: Pergamon Press, 1981
______. The ImputHyposthesis: issues and implications. 4th ed. New York: Longman, 1985
1 Amanda Kohlrausch Frantz aluna do 7º semestre de Licenciatura em Letras Espanhol e suas respectivas Literaturas da
Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). E-mail: [email protected]
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INTERAÇÃO VERBAL ORALIZADA NO GÊNERO DISCURSIVO AULA: O DIALOGISMO
PROBLEMATIZADOR FREIREANO
FREITAG, Felipe1
RICHTER, Marcos Gustavo2
Educador e educandos, criando um texto oral3 em conjunto no gênero textual aula (BAKHTIN, 2006),
colaboram ou contra-argumentam no e sobre o processo de ensino aprendizagem. Instituir os educandos
como sujeitos ativos no desenvolvimento do processo de ensino-aprendizagem, recorrendo a interações
verbais genuínas em espaço de sala de aula, garante a coordenação de ações educacionais que privilegiem
a dimensão cognitiva da produção do conhecimento, favorece a participação conjunta no
desenvolvimento das aprendizagens e, principalmente não os esteriliza como seres sociais que são. Dentro
do que foi abordado, vemos o ensino dialógico-problematizador de Paulo Freire (FREIRE, 1985) como a
alternativa mais fecunda para um ensino que se resigne a interação entre educador e educandos, pois um
professor não pode ensinar sem que esteja aprendendo. A relação ação-pergunta-resposta-reflexão,
apontada por Freire, baseia-se no aprender a perguntar e no ensinar a perguntar, destituindo o
autoritarismo que tem concentrado, exaustivamente, as práticas educativas do ensino básico no Brasil. Se
perguntar nem sempre é cômodo, porque o educador sente que está a perder o seu testemunho de verdade,
então, por outro lado o silêncio imposto é um retrocesso, porque cerceia a construção libertadora do
conhecimento. Ao educador cabe promover momentos em que a ação situacional gere perguntas,
respostas e reflexões. Perguntas em torno da sua própria prática: a do educador e a dos educandos. Posto
isso, o organograma procedimental elaborado para os fins de coleta de dados do projeto de pesquisa de
mestrado do autor desse artigo, sob aplicação em oficinas semanais em uma escola da rede estadual de
ensino, na cidade de Santa Maria, Rio Grande do Sul, sistematiza-se por um ensino dialógico-
problematizador, estruturando etapas didáticas que fomentem a interação verbal entre educador e
educandos para um trabalho conjunto no desenvolvimento do ensino e do aprendizado. Intenciona-se
nesse trabalho, investigar a dinâmica interacional educador-educandos, oralizada em suas mais ostensivas
estratégias discursivas utilizadas durante a seção de pré-leitura em uma das oficinas realizadas na referida
escola, por meio da Análise da Conversação(MARCUSCHI, 1991). O organograma procedimental
elaborado para as oficinas em questão orientam-se pelo dialogismo-problematizadorfreireano, de modo
que se procurará evidenciar sua viabilidade para um ensino que beneficie a construção conjunta do
conhecimento, por meio de intervenções centradas em perguntas orais, ou questões orais
problematizadoras, isto é, através da interação verbal dirigida ao processo de ensino-aprendizagem.
Palavras-chave: Análise da Conversação; Dialogismo problematizador freireano; Gênero discursivo
aula; Interação verbal oralizada.
Referências bibliográficas
BAKHTIN, M. Marxismo e filosofia da linguagem. 12. ed. São Paulo: Hucitec, 2006.
FREIRE, P.; FAUNDEZ, A. Por uma pedagogia da pergunta. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1985.
MARCUSCHI, L. A. Análise da Conversação. São Paulo: Ática, 1991.
1Autor: Mestrando em Estudos Linguísticos no Programa de Pós-Graduação em Letras da Universidade Federal de Santa
Maria. E-mail: [email protected] 2Orientador. Pós-Doutor em Linguística de Corpus. Professor titular do Departamento de Letras Vernáculas do Centro de Artes
e Letras da Universidade Federal de Santa Maria. E-mail: [email protected] 3O texto oral pode ser definido segundo seu padrão específico de construção e funcionamento. Aqui, objetiva-se o texto oral
como prática conversacional interativa em dada situação comunicativa, em que durante e por causa da interação verbal os
efeitos de sentido são criados. A organização do texto oral como um evento comunicativo apresenta certos traços significativos
e condições de produção, como situação discursiva, evento de fala, tema do evento, objetivo do evento, grau de preparo
necessário para a efetivação do evento, participantes, relação entre os participantes, canal realizado para a realização do evento.
É, portanto, uma construção coletiva.
Caderno de Resumos
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“A MÁSCARA DA MORTE RUBRA” E O “SÉTIMO SELO”: RELAÇÕES DE PODER NA
DANÇA DA MORTE
FURTADO JUNIOR, Helvécio Ferreira¹
SILVA, Daniele Gallindo²
As obras “A máscara da morte rubra” de Edgar Allan Poe (autor norte-americano) e “O sétimo selo” de
Ingmar Bergmann (cineasta sueco) dialogam entre si de várias maneiras. No presente trabalho
discutiremos como os dois textos, que têm como pano de fundo a medieval cultura da dança da morte,
interconectam-se, assemelham-se e diferem um do outro sob a perspectiva das relações de poder entre os
personagens, relações estas que serão analisadas sob a ótica de Foucault. Utilizando de material
bibliográfico (“A microfísica do poder” de Michael Foucault, “A idade média no cinema” de José Rivair
Macedo) e digital, a pesquisa tratará de expor as ligações que aproximam ambas obras, tanto no sentido
homem < – > homem quanto no sentido homem < – > morte. Também o cenário será analisado, pois este
traz o aparato visual que explicita como funcionam essas relações de poder, criando a atmosfera
necessária para que a mensagem contida no texto seja entendida. O imagético será observado levando em
consideração o impacto que este traz para a obra e seu papel nas relações entre os personagens.
Aprofundaremos nosso olhar sobre as moradias dos protagonistas, sobre sua aparência e sobre a aparência
da morte, procurando detalhes que possam nos dizer qual é o papel destes elementos nas relações de
poder presentes nas tramas, e as mensagens à serem entregues ao leitor/espectador. O resultado final
demonstra que as obras tratam da morte enquanto persona de formas diferentes, adequadas ao tempo de
construção de cada uma: Poe tem para si uma morte mais brutal e implacável, reflexo de um tempo onde
o suplício e a guerra cruenta eram realidade. Para Bergmann a morte é mais fria e racional, ainda que
igualmente implacável, personalizando assim o medo da silenciosa e totalmente humana morte radioativa,
que marcou o período pós-segunda guerra mundial.
Palavras-chave: Allan Poe; Ingmar Bergmann; Relações de poder; Representações da Morte
Referências bibliográficas
FOUCAULT, M. Microfísica do Poder. Organização: Roberto Machado. Rio de Janeiro: Graal, 1979.
GOTLIB, N. B. Teoria do Conto. São Paulo: Àtica, 2006.
BERGMANN, I. O Setimo Selo. 1956
Lübeck’s Dance of Death. Acesso em: 15 jun. 2014. Online. Disponível em: <http://www.dodedans.com/Etext.htm.>
MACEDO, J. R.; MONGELLI, L. M. A Idade Média no Cinema. Cotia: Ateliê, 2009.
POE, E. A. The Mask of the Red Death. 1842. Acessado em 15 jun. 2014. Disponível em:
<http://www.ibiblio.org/ebooks/Poe/Red_Death.pdf>.
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A CENSURA EM “ELES”, DE CAIO FERNANDO ABREU
GARLET, Deivis Jhones1
Este trabalho parte de uma concepção de estudo da literatura em suas conexões com o contexto material
de produção. Em acordo com a teoria bakhtiniana, entendemos que o texto literário é construído com a
integração de elementos extraestéticos, os quais são selecionados pelo escritor do meio que o circunda e
transmutados esteticamente para o plano narrativo, assumindo um posicionamento axiológico específico.
Uma definição do meio ideológico é assim expressa:
O homem social está rodeado de fenômenos ideológicos, de “objetos-signo” dos mais diversos
tipos e categorias: de palavras realizadas nas suas mais diversas formas, pronunciadas, escritas e
outras; de afirmações científicas; de símbolos e crenças religiosas; de obras de arte, e assim por
diante. Tudo isso em seu conjunto constitui o meio ideológico que envolve o homem por todos os
lados em um círculo denso... (MEDVIÉDEV, 2012, p. 56, grifo do autor)
Dessa forma, o autor labora em sua construção estética com as ideologias corporificadas em objetos-
signo, mas as reordena no plano artístico com um posicionamento valorativo, criando também um objeto-
signo que dialoga com o contexto material, com o meio ideológico no qual está imerso. Evidentemente, a
literatura não constitui mero reflexo do meio circundante, mas, por meio do ato estético, o autor opera um
reflexo e uma refração dos objetos-signo constituintes da realidade material, criando uma outra realidade,
a da narrativa. Com esse arcabouço teórico, propomos uma análise do conto “Eles”, de Caio Fernando
Abreu, que foi censurado em 1975. Nosso objetivo consiste em construir uma dos motivos que podem ter
levado à censura do mesmo. A narrativa apresenta o seguinte trecho censurado:
... depois dos homens terem provado do sexo de outros homens, e também dos peitos das mães e
das irmãs, e de terem bebido dos pais o mesmo líquido de que foram feitos, e de terem cruzado
com animais e se submetido à luxúria dos cães e dos cavalos e dos touros, e de terem possuído a
terra e a palha como se fossem mulheres ou o reverso de homens iguais a eles...” (ABREU, 2008,
p. 68)
Ao expressar esteticamente um comportamento inadequado em relação aos padrões de moralidade tidos
como naturais, a narrativa, embora não realize uma apologia da libertinagem ou da promiscuidade, mas
sim uma instigação à reflexão crítica sobre os preceitos morais e de seu possível efeito nefasto na vida
dos indivíduos, se inscreve em uma temática passível de censura segundo o Decreto-Lei n° 1.077/1970,
que condena exteriorizações contrárias à moral e aos bons costumes. Portanto, a censura da narrativa
caracteriza a incompreensão e a intolerância das autoridades diante do diferente, do não convencional, da
alteridade, ao mesmo tempo em que objetiva um traço da Ditadura: o autoritarismo e o cerceamento das
liberdades individuais.
Palavras-chave: Censura; Ditadura civil-militar; Literatura.
Referências bibliográficas
ABREU, C. F. O ovo apunhalado. Rio de Janeiro: Agir, 2008.
BRASIL. DECRETO-LEI N° 1.077, de 26 de janeiro de 1970. Dispõe sobre a execução do artigo 153, § 8°, parte final, da
Constituição da República Federativa do Brasil. Disponível em: <www2.camara.leg.br/legin/fed/declei/1970-1979/decreto-
lei1077-26-janeiro-1970-355732-publicacaooriginal-1-pe.html>. Acesso em: 05 fev. 2013.
MEDVIÉDEV, P. O método formal nos estudos literários: introdução crítica a uma poética sociológica. Tradução: Sheila
Camargo e Ekaterina Américo. São Paulo: Contexto, 2012.
1 Doutorando em Letras (UFSM). E-mail: [email protected]
Caderno de Resumos
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A PEDAGOGIA DE GÊNEROS DA ESCOLA DE SYDNEY NO PROJETO ATELIÊ DE
TEXTOS
GERHARDT, Carla Carine1
GONÇALVES, Andriele2
FUZER, Cristiane3
Esta comunicação tem por objetivo apresentar a metodologia de trabalho do projeto Ateliê de Textos, em
especial a etapa de leitura detalhada, tendo em vista subsídios teóricos da Linguística Sistêmico-
Funcional. O Ateliê de Textos é um projeto de extensão, registrado como “Práticas orientadoras no
processo de produção e avaliação de textos na perspectiva textual-interativa” (FUZER, 2009), que
desenvolve oficinas de leitura e produção escrita em escolas públicas de Educação Básica.O trabalho está
embasado, em termos teórico-metodológicos, em aspectos contextuais e léxico-gramaticais da Linguística
Sistêmico-Funcional (HALLIDAY e MATTHIESSEN, 2014; FUZER e CABRAL, 2010) e, em termos
pedagógicos, no Ciclo de Ensino e Aprendizagem com Gêneros proposto pela Escola de Sydney (ROSE e
MARTIN, 2012). O projeto utiliza como metodologia de desenvolvimento do processo de leitura e escrita
as etapas do Ciclo de Ensino e Aprendizagem com Gêneros: 1. Negociação do Campo (identificação e
delimitação do gênero); 2. Desconstrução do Texto (abordagem do contexto de situação); 3. Construção
Conjunta (prática conjunta de escrita); 4. Construção independente (verificação do apreendido). Neste ano
de 2014, no que se refere à identificação do campo, a partir dos resultados da aplicação de um
questionário a alunos das séries finais do ensino fundamental das quatro escolas participantes do projeto,
verificamos o uso do gênero narrativo como constituinte do contexto de cultura da comunidade escolar
investigada. Na etapa de desconstrução do texto, foram desenvolvidas atividades de leitura detalhada com
os alunos participantes das oficinas.Nessas atividades, foram exploradas características funcionais e
linguísticas do gênero, considerando os estágios composicionais típicos (orientação, complicação, clímax,
resolução e avaliação), o uso dos elementos da narrativa nesses estágios (personagens, tempo, espaço e
narrador) e a contribuição das imagens para a construção do sentido do texto. Em seguida, foi realizada a
construção conjunta de um texto do gênero estudado, em que foi oportunizado aos alunos o
desenvolvimento de habilidades que poderão ser usadas na etapa da escrita independente. Dessa forma,
espera-se aproximar cada vez mais o trabalho já desenvolvido no projeto Ateliê de Textos à perspectiva
de ensino e aprendizagem baseada em gêneros textuais da Linguística Sistêmico-Funcional.
Palavras-chave: Leitura Detalhada; Linguística Sistêmico-Funcional; Processo de produção textual.
Referências bibliográficas
FUZER, C. Práticas orientadoras no processo de produção e avaliação de textos na perspectiva textual-interativa.
Projeto de ensino e extensão Registro GAP/CAL nº 029622. Santa Maria: CAL, UFSM, 2009.
FUZER, C.; CABRAL, S. R. S. Introdução à Gramática Sistêmico-Funcional em Língua Portuguesa. Santa Maria: DLV,
UFSM, 2010.
HALLIDAY, M.; MATTHIESSEN, C. M. I. M. An Introduction to Funcional Grammar. New York: Routledge, 2014.
ROSE, D.; MARTIN, J. R. Learning to Write, Reading to Learn: Genre, Knowledge and Pedagogy in the Sydney School.
London: Equinox, 2012.
1 Autor: Aluna do 8º semestre de Letras (licenciatura) – Português e Literaturas da Língua Portuguesa. UFSM. Email:
[email protected] 2 Coautor: Aluna do 4º semestre de Letras (licenciatura) – Português e Literaturas da Língua Portuguesa. UFSM. Email:
[email protected]. 3Orientadora e coautora: professora da Universidade Federal de Santa Maria. Email: [email protected].
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O BRASIL DA DÉCADA DE 30: HISTORIOGRAFIA E CRÍTICA
GUERRA, Guilherme Bizzi1
SANTOS, Pedro Brum2
A presente proposta desenvolve atividades envolvendo capacidades já instaladas no Grupo Literatura e
História, coordenado pelo Prof. Dr. Pedro Brum Santos e integrado por alunos dos cursos de graduação e
pós-graduação do curso de Letras da Universidade Federal de Santa Maria. No projeto “Literatura,
memória e realidade: tensões do Brasil moderno na ficção do século XX” propomos a averiguação da
ficção histórica indagando sobre suas raízes no século XIX e examinando seu desenvolvimento no Brasil.
Planeja-se caracterizar e apontar a posição que o gênero ocupa na construção da identidade brasileira tal
como se revela para os ficcionistas afirmados a partir da década de 1930. Pretende-se acentuar o interesse
em torno da historiografia, da crítica e dos escritos de memória, atualizando, em relação ao século XX, o
interesse concentrado, até o momento, na produção literária brasileira do século XIX. As atividades
propostas envolvem o levantamento, a organização, a reedição e a difusão de textos literários,
memorialistas e informativos cuja temática e estruturação indiquem seu claro interesse de melhor
entender – e difundir – aspectos relevantes da cultura brasileira. Durante o período inicial das atividades
do projeto, as oito edições da revista “Lanterna Verde”, publicação anual difusora do Modernismo
brasileiro, foram disponibilizadas no sítio eletrônico do grupo. Além disso, o grupo realizou levantamento
de obras que compõem a chamada Geração de 30 na Literatura Brasileira, compondo súmulas de um total
de setenta e seis obras da ficção brasileira. O levantamento de obras ficcionais da década de 1930 permite
notar o comprometimento de escritores brasileiros em relacionar o novo Brasil com o texto literário, ou
seja, a relação com o contexto sócio-histórico da época, marcado pela construção de uma identidade
nacional. Dentre as diversas obras, podemos notar duas vertentes que são gestadas no interior do
Modernismo brasileiro, surgido em 1922: o romance regional, em que escrita e ambiente se unem
redundando em uma trama caracterizada por elementos regionais e pelo distanciamento dos surtos de
urbanização; e o romance da urbanização, cuja trama se desenvolve em meio aos recentes centros urbanos
do Brasil, distanciando-se de questões regionais, presentes na primeira vertente.
Palavras-chave: Identidade; Regionalismo; Urbanização.
Referências bibliográficas
BUENO, L. Uma história do romance de 30. São Paulo: EDUSP, 2006.
CÂNDIDO, A. Literatura e sociedade. São Paulo: Nacional, 1985.
FREYRE, G. Casa-Grande e Senzala. Rio de Janeiro: Record, 1998.
GIL, F. O romance da urbanização. Porto Alegre: EDIPUCRS, 1999.
HOLANDA, S. B. de. Raízes do Brasil. Coleção Documentos Brasileiros. Rio de Janeiro: José Olympio, 1987.
1 Autor: Aluno do 8º semestre de Letras Licenciatura – Português e Literaturas de Línguas Portuguesa. UFSM. E-mail:
[email protected] 2 Orientador: Professor da Universidade Federal de Santa Maria.UFSM. E-mail: [email protected]
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PARA ALÉM DO BEM E DO MAL: A CRÍTICA AO CONSUMISMO EM UM CONTO DE
MARINA COLASANTI 1
JACOBY, Graziela Inês 2
VIANNA, Vera Lucia Lenz 3
Esta comunicação apresenta uma possibilidade de leitura do conto “A moça tecelã”, da escritora Marina
Colasanti, sugerindo a presença de uma crítica ao consumo desenfreado na contemporaneidade. O conto
apresenta uma jovem que vivia sozinha e tecia um longo tapete com seu tear. Humildemente, ela tecia o
dia e a noite e tudo que ela precisava para o seu sustento. Quando ela se sentiu sozinha, decidiu tecer uma
companhia. Com o tear teceu um marido, que logo apareceu em sua casa. A jovem ficou feliz e já
planejava tecer os filhos. Porém, quando o homem descobriu o poder do tear, passou a desejar somente
riquezas. Exigente e ávido, ele fazia a jovem tecer sem parar em função dos seus interesses. Desapontada,
ela decidiu por fim àquela situação e começou a desfazer parte do seu longo tapete. Desteceu os cavalos e
as carruagens e seguiu destecendo todo o luxo que ele exigira. Após destecer o marido, a jovem sentiu-se
livre para tecer aquilo que a deixava feliz. Esta comunicação busca evidenciar o conflito de filosofias de
vida dos dois personagens do texto: enquanto a jovem tecelã valoriza a natureza e o consumo moderado,
seu marido busca alcançar bens materiais acima de sua necessidade, de forma a transformar a própria
esposa em um objeto produtor de riquezas. Essa forte dualização presente no conto incita o leitor à
reflexão e à problematização de um fato que, na maioria das vezes, passa despercebido, livre de maiores
discussões. O que não podemos negar, é que o consumo é um fato marcante na sociedade contemporânea
porque todos sobrevivem e vivem através dele. Enquanto no texto temos duas posturas completamente
distintas – a ponto de inviabilizar o seguimento de uma união – a realidade passa muito longe de uma
cisão precisa entre o bem e o mal ou certo e errado. Exatamente a força que repele as duas filosofias de
vida para lado opostos no conto sugere a aproximação delas “na vida real”. Assim, observamos através do
livro “A vida para o consumo” (2008), de Zygmunt Bauman, que o consumo é o responsável por manter o
ser humano vivo; o consumismo, porém, transforma o homem em um bem de consumo, em uma
mercadoria semelhante àquelas que adquire incessantemente, culminando na alienação do homem, na
desumanização, na “coisificação”. O ato de consumir, sendo necessário à sobrevivência, pode ser levado
instantaneamente ao consumismo sem que os indivíduos percebam, pois é uma máxima do mercado.
Todos nós estamos (de maneira alienada) mantendo um sistema baseado na criação de necessidades – a
fim de manter a máquina girando, esmagando sempre os mesmos.
Palavras-chave: Natureza; Consumo; Consumismo.
Referências bibliográficas
BAUMAN, Z. Vida para o consumo: a transformação das pessoas em mercadoria. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2008.
COLASANTI, M. Um espinho de marfim e outras histórias. Porto Alegre: L&PM, 2012.
1 Trabalho apresentado à Disciplina Literatura e Figurações da Alteridade (PPGL/UFSM).
2 Autor. Aluna do Mestrado – Estudos Literários do PPGL/UFSM. E-mail: [email protected].
3 Professora da Universidade Federal de Santa Maria – UFSM. E-mail: [email protected].
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A REPRESENTAÇÃO FICCIONAL DA ASSIMETRIA SOCIAL NA OBRA DE KATHERINE
MANSFIELD
KICH, Bruna Viedo1
LENZ VIANNA, Vera Lúcia2
Katherine Mansfield é um dos nomes mais proeminentes da literatura de língua inglesa. Seus escritos
datados do início do século XX apresentam as influências da ordem social desencadeada pelo
modernismo e pela revolução industrial. É nesse período que ação do enredo deixa de ser o foco principal
e a análise psicológica ganha densidade (FERGUSON, 1994; GOTILB, 2004; HEAD, 2009). Ferguson
(1994) aponta esse novo período literário como uma representação das experiências individuais de cada
ser e ressalta que, nesse momento a imitação passa a ser o “sentir” e o “parecer”, ao contrário da
“imitação de como as coisas são no mundo real”. Foi em meio a esse período no qual a exploração
psicológica da personagem era o fator mais relevante, que Mansfield produziu sua obrade curta ficção, na
qual mostrava sua sensibilidade e olhar crítico para com a condição social humana através do desprezo
aos “grandes acontecimentos, os que todo mundo observa; dedicou-se à representação meticulosa dos
acontecimentos e sentimentos minúsculos, que não modificam a vida, mas indicam as modificações
imperceptíveis” (CARPEAUX, 1968, p.139).Neste trabalho, foram analisados os contos “Casa de
Bonecas” e “Festa no Jardim”, a partir da forma impressionista proposta por Ferguson (1994) e dos
símbolos bachelardianos reunidos por Alvarez Ferreira (2013). Ambos contos publicados em 1922
representam a disparidade social através de uma personagem do sexo feminino que não corresponde ao
padrão da família. “Casa de bonecas” apresenta o drama da personagem Kezia, que junto com as irmãs,
ganha uma casa de bonecas e é proibida de mostrá-la as Kelveys, filhas da lavadeira. Em “A festa no
jardim”, a personagem Laura é rechaçada pela família quando sugere que a festa na sua casa deve ser
cancelada pois um homem da classe operária morreu quase em frente ao portão.Na análise realizada,
ambos contos apresentaram os seguintes elementos propostos por Ferguson (1994): a. limitação do ponto
de vista; b. ênfase na apresentação de sensações e experiências anteriores; c. exclusão ou anulação de
vários elementos do enredo tradicional; d. o uso de metáforas e metonímias na apresentação de eventos; e.
economia estilística.
Palavras-chave: Assimetria social; Impressionismo; Mansfield; Modernismo; Simbologia.
Referências bibliográficas
ALVAREZ FERREIRA, Agripina Encarnación. Dicionário de imagens, símbolos mitos, termos e conceitos
bachelardianos. Londrina: Eduel, 2013.
CARPEAUX, O. M. A psicanálise. In: As Revoltas Modernistas na Literatura. Rio de Janeiro: Ediouro, 1968.pp. 137-140.
FERGUSON, S. Defining the short story: Impressionism and form. In: The New Short Story Theories. Ohio: Ohio
University Press, 1994. pp. 218-230.
GOTLIB, N. B. Teoria do Conto. 3. ed. São Paulo: Ática, 1987.
HEAD, D. The Short Story: theories and definitions. In:______. The Modernist Short Story: a study in theory and practice.
3rd ed. Cambridge: Cambridge University Press, 2009. p. 1-36.
1 Autor: Aluna do 6º semestre de Letras licenciatura) – Inglês e Literaturas de Língua Inglesa. UFSM. E-mail:
[email protected] 2Orientador: Professora da Universidade Federal de Santa Maria. UFSM. E-mail: [email protected]
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CICLO DE CINEMA – PROPOSTA DE EDUCAÇÃO POPULAR E INTERDISCIPLINAR NO
PROJETO ALTERNATIVA
LOUREIRO, Camila Wolpato1
COSTA, Alan Ricardo2
PEREIRA, Felipe Rios3
Um curso Pré-Vestibular Popular é, em suma, um espaço alternativo de formação, que surge para tentar
fazer frente à demanda pelo acesso ao ensino superior, principalmente o público (LEIPNITZ e PEREIRA,
2008). Ainda que discussões e questionamentos sobre o conceito e o viés pedagógico dos cursos
populares de caráter pré-vestibular possam ser levantados, entende-se que tais experiências, em geral, são
norteadas por uma pedagogia freiriana, com princípios de educação popular emancipatória (idem,
ibidem). Dentre estas experiências de cursos, está o Projeto Alternativa, até recentemente registrado e
ainda nomeado Pré-Vestibular Popular Alternativa (doravante PVPA). Surgido em 2000, e atualmente em
funcionamento com apoio da Pró-Reitoria de Extensão (PRE) da Universidade Federal de Santa Maria
(UFSM), o PVPA tem como finalidade contribuir com a formação crítica e social de estudantes do
município e região no que concerne ao ingresso ao ensino superior (COSTA e SILVA, 2014). Tendo em
vista que o PVPA tenta seguir um viés de educação popular (FREIRE, 1996), e é característica de cursos
pré-vestibular populares “não apenas trabalhar com os conteúdos pertinentes ao concurso vestibular, mas
avançar em uma perspectiva crítica e emancipatória de educação, na qual os sujeitos envolvidos
estabeleçam relações horizontais de reciprocidade” (LEIPNITZ e PEREIRA, 2008, p.106), inúmeras
ações extensionistas funcionam a partir do PVPA. Como exemplo de ação complementar, temos o ciclo
de Cinema na Comunidade, que objetiva levar exibições de filmes e construir discussões de temáticas
sociais junto às comunidades periféricas de Santa Maria em forma de ciclos que rodam as escolas e
espaços coletivos da cidade. As exibições contam com entrada franca, no intuito de constituir-se como
possibilidade de acesso à cultura cinematográfica elitizada e às produções pouco divulgadas e com
relevância para a população. A considerar as discussões anteriores, é objetivo deste trabalho apresentar a
ação “Cinema na Comunidade”, explicitando a metodologia adotada, os objetivos já alcançados, as metas
estabelecidas, as atividades já realizadas e as ainda previstas, as dificuldades enfrentadas e as discussões
inerentes ao processo de execução do projeto. Como objetivo específico, pretende-se fazer uma relação
entre o referido projeto e a educação popular no que tange à área das Ciências Humanas, sobretudo ao
campo das Linguagens e suas tecnologias, que abarca disciplinas comuns aos currículos pré-vestibulares,
como: Português, Literatura, Redação, Línguas Estrangeiras e outras. Resultados preliminares sinalizam a
produtividade da articulação entre Cinema e Educação, principalmente no que concerne a discussões
profícuas oriundas das sessões de cinema e reflexão crítica da sociedade. Também evidenciam que as
temáticas dos filmes, e seus posteriores debates, servem como objeto de interdisciplinaridade no que diz
respeito ao ensino e à aprendizagem, não só entre as disciplinas entendidas dentro da área das Linguagens
e suas tecnologias, mas também de História, Filosofia, Geografia e outras. Acreditamos que o contato dos
educadores do projeto com a realidade tem sido uma questão positiva, no sentido de sensibilizar para os
reais problemas das comunidades, muitas vezes não percebidos pelo distanciamento entre academia e
sociedade.
Palavras-chave: Cinema; Educação; Pré-Vestibular Popular; Projeto Alternativa.
Referências bibliográficas
1 Autor: Aluna do 7º semestre de História (licenciatura e bacharelado). Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). E-mail:
[email protected] 2Professor do Centro Universitário Franciscano (UNIFRA). Graduado em Letras – Licenciatura em Espanhol e literaturas de
língua espanhola, pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). E-mail: [email protected] 3Mestrando do Programa de Pós-Graduação em História. Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). E-mail:
Semana Acadêmica de Letras UFSM 2014
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COSTA, A. R.; SILVA, K. M. da. Educação Popular e Pré-Vestibular na Extensão Universitária. In: 6º Congresso Brasileiro
de Extensão Universitária (CBEU). Anais... Belém, Pará. 2014.
FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 15ª ed. São Paulo: Paz e Terra. Coleção
Leitura. 1996.
LEIPNITZ, L.; PEREIRA, T. I. A prática pedagógica no cursinho popular da ONGEP: aproximações com a pedagogia de
Paulo Freire. In: MELLO, M. (Org.). Paulo Freire e a Educação Popular - Reafirmando o compromisso com a emancipação
das classes populares. Porto Alegre: IPPOA, ATEMPA, 2008.
Caderno de Resumos
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RELATO DE EXPERIÊNCIA DE UMA PROFESSORA EM FORMAÇÃO: A CONSTRUÇÃO
DE UM INFORME ESCOLAR
MACHADO, Lara Niederauer1
KIST, Liane Batistela2
Este trabalho objetiva apresentar um relato de experiência da construção de um informe escolar por parte
dos alunos de uma turma de 6º ano de uma escola da rede pública do município de Santa Maria (RS).
Essa atividade fez parte do projeto de Estágio Supervisionado no Ensino Fundamental, na disciplina de
Língua Portuguesa e aconteceu durante o segundo trimestre letivo (junho a setembro de 2014), período de
regência. O conceito norteador da formulação da proposta, da ação e da reflexão foi a linguagem como
interação. A constituição de sentidos dá-se na e pela linguagem, e essa se caracteriza como mediadora das
práticas sociais. Geraldi (1984) lembra-nos que estudar língua é detectar os compromissos criados a partir
do uso e estudar as relações constituídas nessas situações. Travaglia (2003) complementa, lembrando que
o indivíduo age e atua sobre o interlocutor: “Os usuários da língua ou interlocutores interagem enquanto
sujeitos que ocupam lugares sociais e “falam” e “ouvem” desses lugares de acordo com formações
imaginárias (imagens) que a sociedade estabeleceu para tais lugares sociais” (TRAVAGLIA, 2003, p. 23).
O trabalho do professor deve, portanto, partir da língua em uso, passar para a reflexão e voltar para o uso.
Permite-se, assim, que os alunos tenham contato com textos reais e também que criem situações em que
possam manejar a linguagem. Nesse sentido, os Parâmetros Curriculares Nacionais (1998) definem os
gêneros como objeto de estudo da Língua Portuguesa. Essa tomada de posição nos evidencia que está em
jogo na sala de aula o caráter interacionista da linguagem: “Todo texto se organiza dentro de determinado
gênero em função das intenções comunicativas, como parte das condições de produção dos discursos, as
quais geram usos sociais que os determinam” (PCN, 1998, p. 21). Ainda segundo esse documento, os
gêneros são caracterizados por três elementos: conteúdo temático, construção composicional e estilo. Sob
a luz dessas teorias, elaboraram-se duas sequências didáticas: a primeira, de duração de cinco horas/aula,
teve como objetivo apresentar o gênero textual notícia, através da leitura, da análise e da sistematização
de suas especificidades; já a segunda, de duração de sete horas/aula, propôs explorar esse gênero sob a
perspectiva do produtor. Durante a produção textual, foram seguidos os seguintes passos: (1) escolha das
pautas acerca da escola; (2) divisão dos grupos; (3) apuração e entrevistas; (4) escrita da primeira versão;
(5) reescrita a partir dos comentários orientadores da professora; (6) digitação dos textos no laboratório de
informática; (7) diagramação do material por parte da professora; (8) impressão do material. A construção
de um informe escolar nas atividades do estágio supervisionado foi ao encontro dos Parâmetros
Curriculares Nacionais e também do Projeto Político Pedagógico da instituição escolar, que estabelece os
conteúdos a serem trabalhados em cada ano. Observou-se que a apropriação dos mecanismos de produção
do gênero estudado permitiu que os próprios alunos fossem a voz enunciadora dos contextos em que estão
inseridos.
Palavras-chave: Ensino Fundamental; estágio supervisionado; gêneros textuais; notícia.
Referências bibliográficas
BRASIL. Parâmetros curriculares nacionais: terceiro e quarto ciclos do ensino fundamental: língua portuguesa. Secretaria
de Educação Fundamental. Brasília: MEC/SEF, 1998.
GERALDI, J. W. Concepções de linguagem e ensino de português. In:______. O texto na sala de aula. Cascavel: Assoeste, 1984
TRAVAGLIA, Luiz Carlos. Gramática e interação: uma proposta para o ensino de gramática. São Paulo: Cortez, 2003.
1 Autora. Aluna do curso de Licenciatura em Letras – Português e Literaturas de Língua Portuguesa. UFSM. E-mail:
[email protected] 2 Orientadora. Professora da Universidade Federal de Santa Maria. UFSM. E-mail: [email protected]
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... E NO PRINCÍPIO, A TRANSGRESSÃO: UMA LEITURA DE LÚCIO CARDOSO1
MATOS, Xênia Amaral2
FELIPPE, Renata Farias de3
Neste trabalho, pretende-se analisar duas personagens femininas transgressoras no âmbito da literatura
brasileira do século XX, ambas personagens da obra de Lúcio Cardoso: Stela, da novela “Inácio” (1944) e
Nina, de “Crônica da casa assassinada” (1959). “Inácio”, conta a busca de Rogério por pistas de seu pai, o
próprio Inácio. Nessa busca, ele acaba remontando a história de sua família e, principalmente, a de sua
mãe, Stela, bem como seu papel na dissolução da unidade familiar. Já“Crônica da casa assassinada” é
contada a partir de diferentes vozes e narra a decadência da família patriarcal mineira, não somente no
âmbito financeiro, mas também no que diz respeito à unidade familiar e aos seus valores. A família em
questão é a Meneses, cujas transgressões cometidas, entre elas a incapacidade de adaptação ao Brasil
“moderno” (representado pela personagem Nina), causam a ruína familiar. Por outro lado, a personagem
Nina, que representa o “novo”, também perece, o que revela a incapacidade de estabelecimento de uma
nova ordem. Stela e Nina, acusadas de adultério e de serem agentesda ruína familiar, aproximam-se da
ideia de mal discutida por Georges Bataille em “O erotismo”(1957). Subversivas, as personagens,
segundo Elizabeth P. Cardoso (2010) se assemelham a mitos fundadores, próximos à figura de Eva. Stela
e Nina, ainda, são permeadas pela visão maniqueísta de mundo, remetendo aogênero melodramático (cf.
THOMASSEAU, 2005). Sendo assim, as personagens são pontos de partida para a discussão do caráter
transgressivo da feminilidade, que no caso das narrativas, acionam o “começo do fim” da unidade familiar.
Palavras-chave: Lúcio Cardoso; Nina; Stela; Transgressão.
Referências bibliográficas
BATAILLE, G. O erotismo. Porto Alegre: L&PM, 1987.
CARDOSO, E. P. Feminilidade e transgressão – uma leitura da prosa de Lúcio Cardoso. 2010. 225f. Tese (Doutorado em
Letras) – Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo. 2001.
CARDOSO, L. Crônica da casa assassinada. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2004.
______. Inácio. In: Inácio, O enfeitiçado e Baltazar. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2002. pp. 13-147.
THOMASSEAU, Jean-Marie. O melodrama. São Paulo: Perspectiva, 2005.
1 Trabalho desenvolvido no projeto de pesquisa „O melodrama na literatura brasileira: gêneros e autoria‟, com o apoio do
Programa FIPE Júnior/UFSM. 2 Autora: Aluna do 8º semestre de Letras - Lic. Hab. Inglês e Lit. da Língua Inglesa da UFSM. E-mail:
[email protected] 3 Orientadora: Profa. Dra. da Universidade Federal de Santa Maria. E-mail: [email protected]
Caderno de Resumos
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A PROPÓSITO: DE JORNAL A LIVRO
MORAES, Russel Vaz1
ROSA, Tiago Santos da2
PIRES, Paulo Admir Sanguinete3
Considerando as mídias impressas tradicionais contemporâneas como sendo meios saturadas para
divulgação de novos talentos (FREINET, 1974), mediante interesses comerciais que inviabilizam espaços
condizentes para publicação de contos ou crônicas de novosautores, faz-se necessária a criação de outros
espaços, canais alternativos midiáticos (PAVANI, 2002), ainda no contexto impresso (pois atinge pessoas
não adeptas à Rede Mundial de Computadores, sendo que arquivos em formado pdf são também
disponibilizados em rede social para alcançar leitores no contexto online). A Oficina de Criação Literária
“A Propósito” teve início em novembro de 2004, em escola pública do Estado, em Alegrete-RS. Na
ocasião, posteriormente às atividades semanais realizadas em turno inverso, foi impressa a primeira
edição do tabloide, 12 páginas,preto e branco (na quinta edição,aderiu-se à policromia), mil exemplares,
contendo textos prosódicos e poemas de estudantes concluintes do Ensino Médio. A distribuição foi
gratuita, posto que o jornal não continha fins lucrativos (SILVA, 2007). Deve-se ressaltar que a impressão
dera-se somente com recursos próprios do organizador (e parcas colaborações espontâneas). Lançada a
primeira edição do jornal homônimo, acordou-se com participantes (ainda que informalmente) que,
considerando edições anuais, chegar-se-ia à 10ª edição em novembro de 2013, quando o jornal passaria a
formato de livro, editado inclusive com ISBN.Assim, em consonância com que o que havia sido
combinado com osdiscentes, editou-se a obra “A PROPÓSITO – 10 ANOS”, pela Liro Editora, de Porto
Alegre-RS. O livro apresenta capa em policromia e contém 89 páginas, com textos argumentativos e
ficcionais de estudantes da Escola Estadual Dr. Lauro Dornelles e doInstituto Federal Farroupilha
(Alegrete, RS). Foram impressos 100 exemplares.O lançamento da obra aconteceu em junho de 2014, na
35ª Feira do Livro de Alegrete, no salão de eventosdo Centro Cultural, de cuja sessão de autógrafos
participaram professor-organizador, coeditores e jovens redatores (atuais e ex-integrantes de outras
gerações do jornal).
Palavras-chave: Argumento; Literatura; Oficina; Redação; Texto.
Referências bibliográficas
FREINET, C. O Jornal Escolar. Lisboa: Editorial Estampa, 1974.
PAVANI, C. de G. C. (Org.). Jornal: (in)formação e ação. Campinas: Papirus, 2002.
SILVA, E. T. da (Org.). O jornal na vida do professor e no trabalho docente. São Paulo; Campinas: Global Editora/ALB,
2007.
1 Autor: professor de Língua Portuguesa e Literatura da Rede Estadual de Ensino, em Alegrete-RS E-mail:
[email protected] 2 Coautor: professor de Língua Portuguesa no Instituto Federal Farroupilha-IFF/Câmpus Alegrete E-mail:
[email protected] 3 Coautor: professor de Língua Portuguesa no Instituto Federal Farroupilha-IFF/Câmpus Alegrete E-mail:
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ALGUMAS COISAS QUE SEI SOBRE MIM – CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE ATRAVÉS
DA MEMÓRIA E TRAUMA
MUNSBERG, Gabriel Felipe Pautz1
SILVA, Daniele Gallindo Gonçalves2
Narrar o trauma para se entender como sujeito parece ser o enredo de “Diário da Queda”, de Michael
Laub. O autor, que como o narrador, também é de origem judia, conta o drama de um sujeito e de sua
família nos dias de hoje, porém recuperando memórias traumáticas desde o período nacional-socialista
alemão para buscar algum entendimento de sua situação. Este trabalho pretende examinar de que maneira
as relações entre memória e identidade são postas em “Diário da queda” como as formas possíveis de
compreender-se a existência do sujeito entregue ao obscuro do contemporâneo, ou como afirma Giorgio
Agambem, “aquele que recebe em pleno rosto o facho de trevas que provém do seu tempo”
(AGAMBEM, 2009, p. 64). A partir de um personagem-narrador, o leitor encontra relatos das vidas
traumáticas de três gerações de uma família judia e acompanha este protagonista na busca pela
compreensão de sua circunstância e a tentativa de criar uma nova vida, de tal forma que as experiências
do avô nos campos de concentração de Auschwitz e o decorrente suicídio são ligados ao trauma do
narrador e seu consequente alcoolismo, pois somente ao rememorar e perceber as imbricações dos
traumas, é possível esquecê-los e tentar começar uma nova vida. A partir de uma escrita espedaçada (a
qual provém de uma percepção fragmentada do narrador contemporâneo), o narrador reduz a história ao
seu ponto de vista pessoal, dando “lugar a um subjetivismo pluripessoal, criando uma voz – ou vozes –
diretamente envolvida na narração, que a desarticula e fragmenta, focando o movimento miúdo das
emoções e o fluxo dos pensamentos” (PELLEGRINI, 1999, p. 217). Neste fluxo de movimentos entre
memória e pensamentos, o narrador trabalha com seu próprio conceito de identidade, pois “a memória é a
identidade em ação, mas ela pode, ao contrário ameaçar, perturbar e mesmo arruinar o sentimento de
identidade” (CANDAU, 2012, p. 18). Rememorar é uma “tragédia árdua e ambígua, pois envolve tanto
um confronto constante com a catástrofe, com a ferida aberta pelo trauma – e, portanto, envolve a
resistência e a superação da negação –, como também visa a um consolo nunca totalmente alcançável”
(SELIGMANN-SILVA, 2003, p. 52). Sendo assim, é na exposição de suas memórias que o protagonista-
narrador de “Diário da queda” discute as relações familiares e sociais e percebe-se como indivíduo avulso
de uma comunidade que,a princípio, não lhe dizia mais nada a respeito. Sua escrita – e leitura – de
experiências ou memórias de vida servem como uma rememoração, conforme o conceito benjaminiano,
pois “funda [um]a cadeia da tradição, que transmite os acontecimentos de geração em geração”
(BENJAMIN, 2012, p. 228).
Palavras-chave: Escrita, Identidade, Memória, Trauma.
Referências bibliográficas
AGAMBEM, G. O que é contemporâneo? e outros ensaios. Tradução: Vinícius Nicastro Honesko. Chapecó: Argos, 2009.
BENJAMIN, W. O narrador. In:______. Magia e técnica, arte e política: ensaios sobre literatura e história da cultura.
Tradução: Sérgio Paulo Rouanet. São Paulo: Brasiliense, 2012.
CANDAU, J. Memória e identidade. Tradução: Maria Leticia Ferreira. São Paulo: Contexto, 2012.
LAUB, M. Diário da queda. São Paulo: Companhia das Letras, 2011.
PELLEGRINI, T. A Imagem e a letra – Aspectos da ficção brasileira contemporânea. São Paulo: Mercado das Letras,
1999.
SELIGMANN-SILVA, M. História, memória, literatura. O testemunho na era das catástrofes. Campinas: Editora da
UNICAMP, 2003.
1 Autor: Aluno do 8º semestre de Letras (licenciatura) – Português e Alemão e Respectivas Literaturas. UFPel. E-mail:
[email protected] 2 Orientadora: Professor da Universidade Federal de Pelotas. UFPel. E-mail: [email protected]
Caderno de Resumos
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CONTAR HISTÓRIAS COM LIVROS INFANTIS EM LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS
NASCIMENTO, Gicélia Barreto1
KESSLER, Themis Maria2
A Língua Brasileira de Sinais (Libras) é uma língua visual-espacial, sendo caracterizada como única
língua que o surdo pode dominar de forma plena e que serve para todas as suas necessidades linguísticas,
comunicativas e cognitivas (DIZEU; CAPORALI, 2005). É por meio da interação com pessoas que
utilizam a língua de sinais que é possível transmitir valores, atitudes, hábitos, costumes, histórias e
piadas(SILVA; MEDEIROS; LORENZI, 2010). Quando essa interação acontece por meio de histórias
infantis, esse aprendizado ocorre de maneira divertida, possibilitando que a criança construa significados
de conceitos, ampliando seu universo linguístico. Dessa maneira, contar história é muito importante para
a aprendizagem da criança (FERREIRA, 2010). O objetivo desse trabalho foi analisar o estilo de contar
história em Libras, por meio de livros infantis, da díade mãe ouvinte/criança surda. Trata-se de um
trabalho qualitativo que faz parte da pesquisa “Intervenção Fonoaudiológica com Familiares de Crianças
Surdas”, aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM),
sob o parecer CAAE 26743114.9.0000.5346. Esta pesquisa foi realizada com uma mãe ouvinte e uma
criança surda que realizava atendimento no Serviço de Atendimento Fonoaudiológico (SAF) da UFSM.
Foi realizada uma gravação em vídeo da díade mãe ouvinte/criança surda, com base no tempo de duração
que a mãe levava para contar as histórias. Foi dada a instrução para que a mãe contasse as histórias em
Libras, utilizando os livros disponibilizados. Para isso estavam disponíveis dois livros infantis da mesma
coleção: O cãozinho Dengoso e A gatinha Lu.Por fim os vídeos foram transcritos e analisados pela
pesquisadora. L é uma criança do sexo feminino, de 5 anos e 3 meses de idade. Ela vive com V (a mãe), a
avó materna, uma tia, um irmão mais novo e um mais velho. L tem perda auditiva neurossensorial de grau
profundo bilateral, utiliza aparelho auditivo em ambas as orelhas e estuda em uma escola especial com
proposta bilíngue de ensino. V tem 31 anos, é dona de casa e estudou atéo ensino fundamental. Quando L
nasceu, V passou por um período de rejeição, mas recebeu apoio da família e procurou auxílio. A mãe
disse que não contava histórias para L porque ela “não para quieta” e “não presta atenção nos livros”. A
análise do vídeo possibilitou caracterizar o estilo de contar história de V da seguinte maneira: ela utiliza a
língua de sinais ao mesmo tempo em que utiliza a língua oral, mostrando uma confusão no uso das
línguas. Também foi possível ver que V explora as imagens do livro, destacando o ponto principal da
história. Ela utiliza repetição dos sinais para garantir a compreensão de L. Sempre olha e toca a filha para
que ela mantenha atenção na história. Este trabalhomostrou a importância do contar histórias para o
desenvolvimento linguístico de crianças surdas. Foi possível perceber que isso não é uma prática
frequente entre mães de crianças surdas, mas é um momento rico de interação que precisa ser valorizado e
incentivado pelos profissionais que trabalham nesse contexto.
Palavras-chave: Libras; Fonoaudiologia; Surdez
Referências bibliográficas
DIZEU, L. C. T. B; CAPORALI, S. A. A Língua de Sinais Constituindo o Surdo Como Sujeito. Revista Educação e
Sociedade, Campinas, v.26, n. 91, p.583-597, Mai.-Ago. 2005.
FERREIRA, A. Contar Histórias com Arte e Ensinar Brincando: para a educação infantil e séries iniciais do ensino
fundamental. 2. ed. Rio de Janeiro: Wak, 2010.
SILVA, A. C.; MEDEIROS, M. C. M; LORENSI, V. M. O Desenvolvimento do Processo de Letramento do Aluno Surdo a
partir das Experiências Visuais Proporcionadas pela Literatura Infantil. Revista de Educação do IDEAU. v. 5. n. 12 - Julho -
Dezembro 2010.
1 Autora: Fonoaudióloga, aluna de mestrado no Programa de Pós-Graduação em Distúrbios da Comunicação Humana
(PPGDCH). Universidade Federal de Santa Maria/RS (UFSM). E-mail: [email protected] 2 Coautora: Docente, Supervisora Clínica e Coordenadora do curso de Graduação em Fonoaudiologia da Universidade Federal
de Santa Maria. Doutora em Letras pela Universidade Federal de Santa Maria. UFSM.E-mail: [email protected]
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O APOLINEO E O DIONISIACO NO LIVRO “O NASCIMENTO DA TRAGÉDIA DE
FRIEDRICH NIETZSCHE”
OLIVEIRA, Janio Davila de1
TAVARES, Enéias Farias2
O objetivo deste trabalho é analisar a obra “O nascimento da Tragédia” (1872) do filósofo alemão,
Friedrich Nietzsche (1844-1900). Na obra, Nietzsche faz uma leitura da cultura grega usando como base
dois elementos: o apolíneo e o dionisíaco. Neste estudo buscamos explicar o que representa cada um
destes elementos e de como eles unidos darão origem a tragédia grega. O livro “ONascimento da
tragédia” faz parte dos trabalhos filológicos publicados por Nietzsche no começo de sua carreira como
professor de filologia na Universidade da Basiléia, entre 1869 e 1879. Também conhecidos como “textos
de juventude”, nestes trabalhos o jovem filólogo expõe suas concepções sobre a cultura helênica e como
estes textos deveriam ser entendidos para a construção de uma nova forma de pensar para o povo alemão.
O texto publicado em 1872, numa Europa em que o positivismo era a forma predominante de
pensamento, não por acaso, foi recebido de forma dura pelos colegas de filologia de Nietzsche. Entre as
críticas mais duras,foi acusado de não pensar cientificamente e sim pela intuição (MACHADO, 2005). No
ensaio, Nietzsche expõe suas ideias sobre o apolíneo eo dionisíaco. Representados, respectivamente,
pelos deuses, Apolo e Dioniso, eles representam dois modos de viver e produzir arte. O primeiro está
ligado ao mundo onírico, à harmonia das formas, ao respeito aos limites, à individuação e às artes
plásticas, enquanto o segundo está ligado à embriaguez, à desmedida (Hybris), à noção de Uno-primordial
e à música.Usaremos como aporte teórico, além da tradução de “O Nascimento da Tragédia” (1992) feita
por J. Guinsburg, os textos de conferencias de Nietzsche publicados no volume “A visão Dionisíaca do
Mundo” (2005), o texto da conferência intitulada “Introdução à tragédia de Sófocles” (2006), e a obra de
Roberto Machado, “Nietzsche e a polêmica sobre o nascimento da tragédia” (2005).
Palavras-Chave: Apolíneo; Dionisíaco; Nietzsche; O Nascimento da Tragédia.
Referências bibliográficas
MACHADO, R. (Org.). Nietzsche e a polêmica sobre o nascimento da tragédia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2005.
NIETZSCHE, F. W. A visão Dionisíaca do mundo. Tradução: Marcos Sinésio Pereira Fernandes e Maria Cristina dos Santos
de Souza. São Paulo: Martins Fontes, 2005.
______. Introdução à tragédia de Sófocles. Tradução: Ernane Chaves. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2006.
______. O nascimento da tragédia ou helenismo e pessimismo. Tradução: J. Guinsburg. São Paulo: Companhia das Letras,
1992.
1 Aluno do quarto semestre do curso de Letras – Licenciatura - Português e Literaturas de Língua Portuguesa (UFSM) E-mail:
[email protected] 2 Professor adjunto do Departamento de Letras Vernáculas da UFSM. E-mail: [email protected]
Caderno de Resumos
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“EM LIBERDADE”: O ENTRECRUZAMENTO DE HISTÓRIAS NA OBRADE SILVIANO
SANTIAGO
OLIVEIRA, Juliana Prestes de1
OLIVEIRA, Raquel Trentin2
O escritor brasileiro Silviano Santiago publicou, em 1981, a obra “Em liberdade”. Seu enredo apresenta
as memórias do escritor brasileiro Graciliano Ramos após ter sido liberto da prisão durante o regime
ditatorial. Nesse romance, Santiago escreve como se fosse o próprio Graciliano e utiliza estratégias
linguísticas para convencer o leitor de que o livro se trata de um manuscrito deixado por Graciliano
Ramos. Atenta a isso, a análise aqui proposta procura entender o valor e o efeito semântico deste
entrecruzamento de vozes,que remonta à história de um escritor que realmente existiu, à H(h)istória do
Brasil e à história da literatura brasileira. Este entrecruzamento de histórias faz parte do jogo literário
elaborado por Santiago, e isso nos leva a refletir sobre alguns acontecimentos durante o regime de Getúlio
Vargas e nos fazer refletir sobre a literatura nacional, sua situação e transformações. Desse modo,
percebemos também algumas das características da literatura contemporâneae algumas das suas
diferenças em relação à produção anterior. Para auxiliar nesta pesquisa, um dos textos utilizados foi o
texto de Tânia Pellegrini “Ficção brasileira contemporânea: assimilação ou resistência?” (2012), que
aborda esse novo fazer literário, estabelecendo uma ligação com as discussões pós-modernistas.Para
embasar nossadiscussão sobre a teoria do Pós-Modernismo, mais bem entender a abordagem de Pelegrini
(2012) e, por conseguinte, a feitura de “Em liberdade”, recorremos à “A Poética do Pós-Modernismo:
história – teoria – ficção”(1991), de Linda Hutcheon. Por meio dessa obra, compreendemos alguns
artifícios utilizados por Santiago na elaboração de seu romance, entre eles o jogo de vozes, tempos e
textos que o caracterizam. Com base nessas e em outrasabordagens teórico-críticas e naanálise do
romance,percebemos queSantiagotraz à tona, por meio do uso de várias vozes, inúmeras versões da
mesma história, questionando o caráter axiomático do discurso oficial e revelando as múltiplas e
conflituosas ideologias que atravessam a representação desses tempos históricos/literários.
Palavras-chave: Contemporaneidade; Em liberdade; H(h)istória; Literatura.
Referências bibliográficas
HUTCHEON, L. Poética do Pós-Modernismo: história – teoria – ficção. Tradução: Ricardo Cruz. Rio de Janeiro: Imago,
1991.
PELLEGRINI, T. Ficção brasileira contemporânea: assimilação ou resistência? Novos Rumos, Marília, ano 16, n. 35, 2001.
Disponível em: <http://www2.marilia.unesp.br/revistas/index.php/novosrumos/article/view/2221>. Acesso em: nov. 2012.
SANTIAGO, S. Em liberdade. 4. ed. Rio de Janeiro: Rocco, 1994.
1 Autora: Mestranda do Curso de Pós-Graduação em Letras da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Email:
[email protected] 2 Orientadora: Professora Doutora do Curso de Letras e do Programa de Pós-Graduação em Letras da Universidade Federal de
Santa Maria – UFSM. E-mail: [email protected]
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A LITERATURA NO ENSINO FUNDAMENTAL: DOS LIVROS AO PALCO
PAIM, Luciane de Lima1
KIST, Liane Batistela2
O presente trabalho tem como objetivo relatar a experiência vivenciada no período de regência de classe
ocorrida durante o desenvolvimento da disciplina Estágio Supervisionado do Ensino Fundamental, do
Curso de Licenciatura em Letras / Português da Universidade Federal de Santa Maria. A experiência aqui
relatada trata da atividade final desenvolvida, após 64 horas-aulas, com uma turma de 8º ano de uma
escola da rede pública estadual do município de Santa Maria. Para desenvolver a atividade, partiu-se do
pressuposto teórico pautado em Spolim (2007), o qual aponta o quanto é didático e dinâmico levar o
teatro para a sala de aula. Além disso, levou-se em consideração também o que mostram os PCN‟s
(1997), ao referirem-se à importância de trabalhar a linguagem de forma a atrair os olhares e interesses
dos estudantes. Com relação à atividade desenvolvida, pode-se dizer que a perspectiva inicial tinha como
intuito apresentar aos alunos uma realidade ainda desconhecida por eles, já que muitos ainda não tinham
tido a oportunidade de conhecer autores da literatura brasileira clássica nem a experiência de trabalhar
com a elaboração e montagem de uma peça de teatro. Nesse sentido, inicialmente, foi feita a escolha de
um autor brasileiro clássico de reconhecida importância nacional, Machado de Assis, e dos respectivos
contos que seriam lidos pelos alunos. Após a leitura de alguns contos como “O Enfermeiro”, “Pai Contra
Mãe” e “Esaú e Jacó”, os alunos escolheram o conto “Jogo do Bicho” para proceder a montagem da peça
de teatro. Para a montagem da peça, a turma foi dividida em quatro grupos, sendo um responsável pela
sonoplastia, outro pelo figurino, outro pelo cenário e outro pela maquiagem e cabelo. Após muitas horas
de trabalho de leitura, ensaio, montagem de cenário, seleção de figurino e de trilha sonora, a turma
apresentou a peça para toda a comunidade escolar numa apresentação no refeitório da escola. Pode-se
dizer que essa experiência foi positiva tanto para a turma quanto para a estagiária em situação de
formação inicial de professora. Para a turma, observou-se que os alunos, desenvolveram o trabalho com
prazer, diversão e muito aprendizado. Para a estagiária, essa prática educacional mostrou a realidade
diária da educação em diversos aspectos, tais como vida escolar, ambiente de convivência, relação aluno
x aluno, aluno x professor e professor x professor, assim como possibilitou uma boa relação entre a teoria
aprendida no mundo acadêmico e a prática exercida no campo de atuação.
Palavras-chave: Ensino Fundamental; Estágio Supervisionado; Literatura; Machado de Assis.
Referências bibliográficas
BRASIL, Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: Língua Portuguesa, 1977. Brasília.
Disponível em <http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/livro02.pdf> Acesso em Maio de 2013.
SPOLIM, V. Jogos Teatrais na sala de aula: O Livro do Professor. [S.l]: Editora Perspectiva, 2007.
1 Autor (a): Acadêmica do 8º semestre do Curso de Letras Licenciatura – Português e Literaturas da Língua Portuguesa.
UFSM. E–mail: [email protected] 2 Orientador (a): Professora Assistente da Universidade Federal de Santa, MEN/CE. E-mail: [email protected]
Caderno de Resumos
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A EVOLUÇÃO DO ROMANCE: UM DEBATE EM QUESTÃO
PEREIRA, Isabele Corrêa Vasconcelos Fontes 1
NIEDERAUER, Silvia2
Na Literatura, houve uma crescente evolução em termos estéticos desde as grandes narrativas épicas até a
Modernidade. Os gêneros literários variaram em forma e conteúdo de acordo com os períodos históricos,
escolas literárias e/ou estilos artísticos. Dependeram ainda das tradições e particularidades das sociedades
que pertenciam. Vistos o desenvolvimento dos centros urbanos, das formas de trabalho, dos meios de
comunicação, da técnica empregada na maioria das atividades e da reprodução editorial em massa,
transformaram-se os valores das organizações coletivas. O homem passou a preocupar-se com o seu „eu‟
ao invés do coletivo. Isso teve forte impacto nas artes de modo geral, principalmente na arte literária.Para
além disso, há a interferência na diminuição da amplitude de tempo e espaço. Tornou-se cada vez mais
rápido o tempo e mais curtas as distâncias à medida que as populações progrediram. Os gêneros seguiram
essas alterações transformando-se de acordo com as novas demandas ou refletindo-as. Sendo assim, há
uma gama de motivos pelos quais a Literatura vem sofrendo tais modificações e renovações. O gênero
épico, sobre o qual se debruça o estudo deste artigo, transmutou todas as suas partes constitutivas, desde a
forma estética e aspectos narrativos, até em quesitos externos advindos do meio social que ele
representava. Foi um dos gêneros que mais sofreu alterações, tanto no que diz respeito aos contornos de
sua escrita, quanto na substância descrita e narrada. E de épico passou a ser denominado numa
nomenclatura moderna de narrativo. Por esse motivo se justifica a escolha deste gênero para a discussão
que será exposta a seguir. Em virtude de sua ampla variação pensou-se em debater a evolução do gênero
romanesco desde os seus primórdios até a contemporaneidade. Partindo dessa premissa, questiona-se:
porque os elementos supracitados influenciaram tanto para a modificação deste gênero literário? E ao
responder essa pergunta, há que descrever em que esses elementos alteraram a tradição estética do gênero.
Delimitando o corpus investigativo busca-se atrelar a discussão da evolução do gênero romanesco com as
teorias de mímesis e as teorias sobre romance na Mordernidade sob direfentes leituras de alguns
estudiosos. Com isso pretende-se:Realizar um debate teórico com base nos autores mencionados,
verificando em que as suas teorias contribuem e ratificam a evolução do gênero.Salientar quais aspectos
os histórico-sociais mais influenciaram na variação da forma e conteúdo do romance. Expostos os
objetivos, é de fundamental importância reconhecer que a história e os seus eventos repercutem nas mais
variadas representações. E é nesse ponto que entra o discurso literário com todo o seu arcabouço estético
e a sua preocupação em retratar de maneira fiel os acontecimentos externos ao texto. Assim, faz-se
necessária uma abordagem teórica e discussão histórica acerca dos valores e práticas sociais ao longo do
tempo. Para delinear os estudos, busca-se descrever, refletir e discutir no decorrer do corpus sobre quais
implicações a relação entre homem e realidade ecoam no gênero romanesco.
Palavras-chave: Evolução do romance; Literatura; Mimese; Romance literário.
Referências bibliográficas
ADORNO, T. Teoria Estética. Lisboa: Edições 70, 2008, p. 11-33.
BENJAMIN W. O narrador. In: Magia e técnica, arte e política. 7. ed. São Paulo: Brasiliense, 1994, p.197-201.
GAGNEBIN, J-M. Do Conceito de Mímesis no Pensamento de Adorno e Benjamin. Perspectivas, São Paulo, v. 16, 1993,
p. 67-86. Disponível em: <http://seer.fclar.unesp.br/perspectivas/article/viewFile/771/632>. Acesso em: 08 ago. 2014.
GINZBURG, J. Violência e forma: notas em torno de Benjamin e Adorno. In:______. Crítica em tempos de violência. São
Paulo: Edusp e FAPESP, 2012, p. 127-135.
OLIVEIRA, R. P. de. Lukács: Mímese e Implicações de Leitura. In: BORDINI, M. da G. (Org.). Lukács e a Literatura. Porto
Alegre: EDIPUCRS, 2003, p. 181-208.
1 Mestranda do Curso de Letras da Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões (URI), Campus de
Frederico Westphalen, Frederico Westphalen, RS, Brasil. E - mail: [email protected]. 2 Professora Dra. do Mestrado em Letras da Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões (URI), Campus
de Frederico Westphalen, Frederico Westphalen, RS, Brasil, e-mail: [email protected].
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MAGRIS, C. O romance é concebível sem o mundo moderno? In: MORETTI, F. (Org.). A Cultura do Romance. Tradução:
Denise Bottmann. São Paulo: Cosac Naify, 2009, p. 1015-128.
Caderno de Resumos
61
A IMPORTÂNCIA DA FIGURA DE SANTO ANTÔNIO NA AFIRMAÇÃO POLÍTICA
PORTUGUESA, PELO DISCURSO DE PADRE ANTÔNIO VIEIRA, NO “SERMÃO DE SANTO
ANTÔNIO” (1642)
PORTO, Halyne Maria Stefani do1
DE MARTINI, Marcus2
Vinculado ao projeto de pesquisa “Representações literárias dos séculos XVI – XVIII”, que tem como
corpus a obra sermonária e biográfica de Padre Antônio Vieira (1608 – 1697), desenvolvido por três
alunos de graduação e pelo professor orientador, o presente trabalho se propôs a analisar a influência do
discurso vieiriano nas questões políticas de Portugal, utilizando-se da figura doSanto Antônio. Para tal,
foi selecionado o “Sermão de Santo Antônio” (1642), pregado na Igreja das Chagas, Lisboa, às vésperas
da reunião das Cortes do Reino, na qual seria decidido o modo de recolhimento de tributos que tinham
como finalidade financiar a guerra de Portugal contra Castela, no contexto da Restauração (1640 – 1688).
Como respaldo teórico, tomaram-se Hansen (2006), cuja tese defende que os textos sacramentais
seiscentistas ultrapassavam o caráter religioso, desempenhando uma função pragmática na sociedade, e
Pécora (2005), que apresenta as três pontas que costuram a composição e a leitura de um sermão: o
calendário litúrgico, o evangelho do dia e a circunstância de pregação. É sabido que, dentro da liturgia,
cada santo tem seu dia de celebração e um evangelho a si atribuído: a Santo Antônio coube o dia 13 de
junho. Porém, torna-se curioso que o sermão aqui analisado tenha sido pregado no dia 14 de setembro, dia
de todos os santos, o que levou a ser indagado por que Vieira escolhe este santo para tratar do referido
assunto, ao que sepesquisou sua importância no imaginário português e viu-se que ele é conhecido como
“advogado das coisas perdidas” (MARQUES, 1983, p. 211) e conservador do que pode se perder. Assim,
apoiando-se em Matheus 5:13, Vós sois o sal da terra, o jesuíta argumenta que a nenhum outro santo
caberia essa missão, pois assim como o sal conversa o alimento para que não pereça, o santo tem a
propriedade de conservar o que pode vir a se perder, ou seja, a periclitante autonomia política que
Portugal começou a conquistar em relação à Espanha, após um jugo de sessenta anos. Interessante é como
Vieira coloca Santo Antônio como representante dos portugueses em assuntos políticos relacionados a
outros países: além de sal, é luz do mundo e “cidade sobre dos montes”, em que esta remete ao fato de ser
procurador da Corte dos Céus, o que torna necessária sua participação em assuntos de interesse da Corte
portuguesa. Por fim, é importante o fato de Vieira colocar Santo Antônio como modelo de conduta aos
portugueses, no momento em que o jesuíta afirma que é o santo quem prega, e não ele próprio, permitindo
a leitura de que Vós sois o sal da terra seja uma palavra do taumaturgo aos portugueses, em que estes
seriam o “vós”, cabendo-lhes, então, a missão de conservar a autonomia portuguesa, o que deve ser feito
pela mudança da forma de recolhimento dos tributos. Enfim, percebeu-se que a figura de Santo Antônio é
muito influente no imaginário português, a ponto de Vieira tê-lo selecionado para desenvolver seu
argumento em um dos momentos mais delicados da história de Portugal.
Palavras-chave: Padre Antônio Vieira; Representação portuguesa; Santo Antônio; Sermões.
Referências bibliográficas
HANSEN, J. A. Barroco, Neobarroco e outras ruínas. Floema especial – ano II. Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia,
n. 2 A, p. 15 – 84, Outubro, 2006.
MARQUES, J. F. A parenética portuguesa e a restauração (1640 – 1688): a revolta e a mentalidade. vol. 1. 1983. 612f. Tese
(Doutorado em História Moderna e Contemporânea) – Universidade do Porto – Faculdade de Letras, Porto, 1983.
PÉCORA, A. Para ler Vieira: as 3 pontas das analogias dos sermões. FLOEMA. Caderno de História e Teoria Literárias.
Vitória da Conquista, Ano I, n. I, p.29-36, 2005.
1 Autora: Aluna do 4º semestre de Letras Bacharelado – Português e Literaturas de Língua Portuguesa. Bolsista do Programa
Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC). UFSM. E-mail: [email protected] 2 Orientador: Prof. Dr. da Universidade Federal de Santa Maria. UFSM. E-mail: [email protected]
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UM MUNDO UTÓPICO FEMININO EM “A RAINHA DO IGNOTO” (1899), DE EMÍLIA
FREITAS
QUINHONES, Walter Elenara1
ALÓS, Anselmo Peres2
Desde os primórdios da História da humanidade, o homem procura criar um mundo perfeito, equânime,
em que ideais políticos e sociais convirjam e resultem no bem-estar da população, atingindo finalmente a
paz. Na Renascença, a efervescência social e cultural das descobertas marítimas propiciaram que o
homem restringisse em uma única palavra essa busca pela perfeição social e política, surge assim à
expressão utopia, cunhada em 1516, por Thomas More, que inaugurou o gênero literário utópico. A obra
de More serviu de protótipo para diversos autores criarem ficcionalmente suas sociedades perfeitas. A
partir dos anos 1970, as escritoras Joanna Russ, Marge Piercy, Margaret Atwood e Octavia E. Butler
descobriram que desde os momentos iniciais da literatura de utopia, ela já vinha sendo utilizada como
instrumento de crítica social por parte de diversas escritoras. No Brasil, a autoria feminina do século XIX
e início do século XX manteve-se em um processo de invisibilidade. Após o resgate historiográfico
nacional de obras escritas por autoras, reencontrou-se a obra “A Rainha do Ignoto” (1899), de Emília
Freitas. Essa obra é delineada sob a proposição de um mundo novo denominado Ilha do Nevoeiro, uma
sociedade secreta subterrânea, formada apenas por mulheres que manipulam a natureza e a ciência,
utilizando-as para criar uma sociedade livre da opressão patriarcal. No Reino do Ignoto, as mulheres
podem exercer diversas funções sociais realizando-se profissional e socialmente. Assim, este trabalho
pretende discutir o romance “A Rainha do Ignoto”, comparativamente à obra “Kalum” (1936), de Menotti
Del Picchia, tendo como ponto de partida que ambas fazem parte da literatura de tradição utópica do
romance ocidental. Como a Ilha do Nevoeiro, em “Kalum”, encontra-se o Reino de Elinor, um local
liderado por uma mulher. Mas, a representação feminina feita por Menotti Del Picchia opõem-se,
veementemente, à representação feita por Emília Freitas. As mulheres de Elinor são descritas como fúteis
e frívolas. Sua rainha, Elinor, é tida como uma aberração da natureza que fora relegada por suas
companheiras, e colocada como operária ao lado da ala masculina desprezada pelas mulheres. Mesmo
com a distância temporal que separa os dois romances, percebe-se que para o autor modernista o lugar da
mulher não é governando. Nesse ínterim, pretende-se analisar os imbricamentos políticos e históricos nas
obras, à luz dos conceitos de interdisciplinaridade e intertextualidade da literatura comparada.
Palavras-chave: Autoria feminina; “A Rainha do Ignoto”; “Kalum”.
Referências bibliográficas
FREITAS, E. A Rainha do Ignoto. Atualização do texto, introdução e notas Constância Lima Duarte. 3. ed.
Florianópolis/Santa Cruz do Sul: Mulheres/ EDUNISC, 2003.
MORE, T. Utopia. Org. George M. Logan, Robert M. Adams. Tradução: Jefferson Luiz Camargo e Marcelo Brandão Cipolla.
3. ed. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2009.
PICCHIA, M. Del. Kalum. São Paulo: Saraiva, 1958.
1 Graduada em Letras – Licenciatura em Português e Literaturas de Língua Portuguesa pela Universidade Federal de Santa
Maria (UFSM). Mestranda em Letras pelo Programa de Pós-Graduação em Letras pela mesma instituição. Bolsista Capes. E-
mail: [email protected] 2 Doutor em Literatura Comparada pelo Programa de Pós-Graduação em Letras da Universidade Federal do Rio Grande do Sul
(UFRGS). Professor Adjunto do Departamento de Letras Vernáculas da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), e do
Programa de Pós-Graduação em Letras da mesma instituição. E-mail: [email protected]
Caderno de Resumos
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NEOLOGISMOS E REDES SOCIAIS – FACEBOOK E TWITTER
RADTKE, Natália1
DEGASPERI, Mariza Helena2
O presente resumo tem como objeto de pesquisa o neologismo no contexto das redes sociais e possui
como objetivo mostrar traços morfológicos na criação dos mesmos. Como amostragem foram
selecionados verbos do português empregados em duas das redes sociais mais utilizadas pelos internautas
brasileiros (Facebook e Twitter). Esses termos foram analisados a partir de um ponto de vista linguístico
morfológico. Para tais análises, foram utilizadas as normas padrão de formação de palavras da língua
portuguesa utilizada no Brasil e apoio bibliográfico. As redes sociais, além de grandes difusoras de
informações, são capazes de nos mostrar alguns fatos curiosos sobre a língua. Sendo este, um ambiente
altamente propenso a neologismos, criou-se o conceito de um dialeto próprio da internet, chamado
segundo ALVES (1998) de tecnoleto, ou coloquialmente, internetês. A seguir trazemos duas definições
de Neologismo que foram utilizadas como guia da pesquisa.
ne.o.lo.gis.mo
sm (neo+logo²+ismo) 1 Palavra criada na própria língua ou adaptada de outra.
2 Palavra antiga tomada com sentido novo. 3 Doutrina nova. Antôn: arcaísmo.
(MICHAELIS, 2014)
O acervo lexical de todas as línguas vivas se renova. [...] Ao processo de criação
lexical, dá-se o nome de neologia. O elemento resultante, a nova palavra, é
denominado neologismo.
(ALVES, 2004, p. 5)
Quanto à análise dos dados, para uma breve demonstração, podemos destacar um dos termos mais usados
no âmbito da informática, o verbo Logar: origina-se da expressão em inglês Log in, e significa, segundo o
Dicionário Informal: “O início de uma sessão de conexão, em que geralmente é feita a identificação do
usuário no sistema.”
Quanto a análise morfológica, é um processo derivacional, pois não existia no português, termo
equivalente a Log in. O verbo passa por um processo de subtração (Log - [in]) e adição (Log + [a] + [r]),
visto que [a] é a vogal temática, e o morfema [r] é marca de infinitivo no português. A partir deste
neologismo é possível perceber a infinidade de termos novos que são gerados e agregados à língua da
sociedade brasileira. Outros exemplos de neologismos derivados de termos estrangeiros que podem ser
encontrados no tecnoleto incluem “Ownar” (verbo inglês own [possuir] + [a] + [r], que significa dominar
uma partida em um jogo online), Clicar (derivado do inglês click [usar o cursor do mouse para “tocar”
algum link, hiperlink ou ícone no computador] retira-se a consoante -k, que é pouco natural no português,
adiciona-se a [a] e [r], possuindo o mesmo significado de seu correlato em inglês) e muitos outros
analisados como por exemplo: Twittar, Facebookar, Upar, Bugar.É perceptivel que o processo de criação
de neologismos faz parte do cotidiano de um falante nativo de qualquer idioma, pois a língua está sempre
modificando-se e transformando-se.De maneira geral, percebemos que o processo de criação de verbos
advindos de termos estrangeiros é o mesmo adotado na criação de verbos com lexemas da língua
portuguesa. Outra ressalva é que o processo morfológico utilizado para adaptação de termos estrangeiros
é sempre o derivacional.
Palavras-chave: Neologismo; Rede Social; Internetês; Linguística; Morfologia.
1 Autor: Aluna do 4º semestre de Letras (Licenciatura) – Português/Espanhol e Respectivas Literaturas. UFPel. E-mail:
[email protected] 2 Orientador: Professor da Universidade Federal de Pelotas. UFPel. E-mail: [email protected]
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Referências bibliográficas
ALVES, I. M. Neologismo: Criação Lexical. São Paulo: Ática, 2004.
ALVES, I. M. Neologia e tecnoletos. In: OLIVEIRA, A. M. P. P. de; ISQUERDO, A. N. (Org.). As ciências do léxico.
Campo Grande: Editora UFMS, 2001.
DICIONÁRIO INFORMAL DO PORTUGUÊS. Disponível em <http://www.dicionarioinformal.com.br>. Acesso em 28
jun. 2014.
DICIONÁRIO, Michaelis On-line. Disponível em: <http://michaelis.uol.com.br>. Acesso em: 28 jun. 2014.
Caderno de Resumos
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RECONSTITUIÇÃO E ANÁLISE DE DOCUMENTOS ANTIGOS DO FINAL DO SÉXULO XIX
DO SUL DO BRASIL
RIBEIRO, Tatiana Jimenes Silveira1
KELLER, Tatiana2
Historicamente, o trabalho filológico é de suma importância, pois serve como um mecanismo para o
estudo das línguas modernas e também para realçar as mudanças que estas sofrem no decorrer do tempo
através da reconstituição do texto escrito. Assim, neste trabalho de cunho filológico, são apresentadas as
edições fac-similar e paleográfica/semi-diplomática de 4 documentos antigos escritos no ano de 1890:
dois memoriais, um telegrama e um recibo, coletados no Arquivo Histórico Municipal de Santa Maria,
tendo como fonte o Fundo Junta Intendencial da cidade. O propósito deste estudo é compreender a
importância do trabalho filológico, bem como a preservação e o acompanhamento da transformação da
língua. Busca-se também evidenciar as normas de edição crítica, descritas por Cambraia (2005), usadas
nas transcrições e as possíveis dificuldades de aplicação dessas regras, devido à caligrafia dos redatores,
rasuras, desgaste de tinta e cortes nas margens dos manuscritos. Ademais, o trabalho busca ressaltar as
peculiaridades da língua portuguesa presentes nos textos neste determinado momento do final do século
XIX, na região central do sul do Brasil, no que se refere aos aspectos lingüísticos, como a presença de
consoantes geminadas, abreviaturas, a não separação vocabular, ausência de sinais de pontuação e acentos
gráficos nas palavras.
Palavras-chave: Documentos Antigos; Edição fac-similar e paleográfica; Final do Século XIX; Língua
Portuguesa; Santa Maria.
Referências bibliográficas
CAMBRAIA, C. N. Introdução à crítica textual. São Paulo: Martins Fontes, 2005.
1 Autor: Aluna do 6º semestre de Letras Bacharelado – Português e Literaturas da Língua Portuguesa. UFSM/ Bolsista PIBIC
(UFSM). Email: [email protected] 2 Orientadora: Professora Adjunta do Departamento de Letras Vernáculas da Universidade Federal de Santa Maria. UFSM.
Email: [email protected]
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A OBJETIFICAÇÃO DAS PERSONAGENS FEMININAS COMO REPRESENTAÇÃO DE UMA
IMPOSSIBILIDADE
ROCHA, Virgínea1
SILVA, Daniele Gallindo G.2
Um sujeito fragmentado e suas relações com o mundo e, principalmente, com as mulheres que envolve-se
objetivando-as pela sua incapacidade de relacionar-se refletindo não apenas a sua fragmentação enquanto
sujeito, mas também a liquidez das relações da modernidade (BAUMAN, 2004): esse é o nosso principal
objetivo na análise do “O Livro de Praga: narrativas de amor de arte” (2011) de Sério Sant‟Anna, no qual
Antônio Fernandes –narrador e protagonista- nos conta sua viagem por Praga. No entanto, ao contrário do
que esperaria um leitor descompromissado (DALCASTAGNÉ, 2005), o narrador não narra uma Love
story “água com açúcar”, mas sim suas aventuras sexuais com diferentes mulheres (e representações de
mulheres) relacionando e confundindo as ideias de amor e sexo como fica evidente no capítulo A suicida
“e ela gemia e dizia coisas em sua língua estranha, enquanto eu próprio dizia em português coisas como
eu quero te foder muito, meter muito em você e isso traduzia, por quê, não?, o meu amor [...]”
(SANT‟ANNA, 2011, p. 53) ou ainda confundindo amor/sexo com arte e dinheiro como no capítulo O
texto tatuado: “E pensei que quando Jana e Peter verificassem a quantia que eu deixara, além das trezentas
coroas que já adiantara, saberiam que, para mim, o desvelamento do corpo nu de Jana valera muito
a pena, a minha retribuição era como uma declaração de amor e contentamento”(SANT‟ANNA,
2011, p.121).
Portanto, o que se pretende aqui é analisar as relações discursivas referentes às relações estabelecidas
entre amor, sexo, arte, morte e dinheiro, as quais acabam corroborando com a objetivação das
personagens femininas da narrativa.
Palavras-chave: Literatura Brasileira Contemporânea; Representação do amor; Representações do
feminino.
Referências bibliográficas
BAUMAN, Z. Amor liquido. Rio de Janeiro: Zahar, 2004.
DALCASTAGNE, R. Narrador suspeito, leitor comprometido. In:______. Entre fronteiras e cercado de armadilhas:
problemas da representação na narrativa brasileira contemporânea. Brasília: Editora Universidade de Brasília: Finatec, 2005. p.
11-32.
LEAL, V.; DALCASTAGNÉ, R. Deslocamentos de gênero na narrativa brasileira contemporânea. São Paulo: Editora
Horizonte. 2010.
MAY, S. Amor: uma história. Tradução: Maria Luiza X de A. Borges. Rio de Janeiro: Zahar. 2012.
SANT‟ANNA, S. O livro de Praga: narrativas de amor e arte. São Paulo: Companhia das Letras, 2011.
1Autora. Graduanda do 8º semestre do curso de Letras Português e literatura da Universidade Federal de Pelotas. UFPel. E-
mail: [email protected]. 2Orientadora. Professora adjunta do Centro de Letras e Comunicação da Universidade Federal de Pelotas. UFPel. E-mail:
Caderno de Resumos
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LETRAS: UM ESTUDO POR MEIO DA PALEOGRAFIA
ROSA, Tatiana Costa1
URBANETTO, Rosanara Pacheco2
A paleografia é uma ciência de grande importância para o conhecimento da história da humanidade, pois
estuda as escritas antigas e nos auxilia a desvendar os enigmas do ser humano e da sociedade. Por vários
anos, foi utilizada como um instrumento para a compreensão de documentos antigos. Atualmente, é vista
como uma fonte para o entendimento da história da sociedade. Considerando sua importância, este
trabalho é uma forma de mostrar sua existência e aplicabilidade. Tendo como objeto de estudo as escritas
antigas, a Paleografia apresenta-se como uma importante ciência. De acordo com Sanchez (1999), seu
nascimento ocorreu no século XVII, sendo empregado pela primeira vez o nome Paleografia pelo monge
beneditino Bernard de Montfaucon. Nesta época, iniciou-se o desenvolvimento de uma metodologia
orientada para a leitura, transcrição, datação, identificação e classificação das escritas.Franklin Leal e
Richter (2003) explicam que a Paleografia estuda os caracteres externos do documento, sendo
considerado documento paleográfico aquele documento que é antigo e manuscrito. Para isso, é necessário
conhecer a tradição histórica do país em que o documento foi produzido, pois dessa forma é possível
verificar a antiguidade histórica-documental.O estudo das escritas antigas proporciona o conhecimento da
história de um povo. Sanchez (1999) indica o século XIX e início do XX como o começo para o estudo da
relação entre a escrita e a sociedade. Segundo o autor, foi o italiano Giorgio Cencetti quem sugeriu que o
objeto da Paleografia não poderia ser apenas a interpretação de documentos antigos, mas também o
estudo dos elementos exteriores, o que levaria a um conhecimento amplo da história e cultura em
geral.Durante a análise paleográfica alguns elementos precisam ser considerados, entre eles: a morfologia,
a forma das letras, bem como os sinais utilizados tanto para numeração como para pontuação. Uma
questão relevante é verificar se o documento foi escrito por apenas uma pessoa ou mais. Deste modo, é
preciso considerar: o “Ductus”, que é a ordem dos traços; o “ângulo da escrita”, referente à posição do
instrumento que foi utilizado durante a escrita; o “ângulo de inclinação”, que diz respeito ao formato das
astes das letras direitas; o “módulo”, que refere-se às dimensões da letra como altura e largura; e o
“peso”, que é a relação entre traços grossos e finos das letras.
Palavras-chave: Análise paleográfica; Documento paleográfico; Paleografia.
Referências bibliográficas
RICHTER, E. I. S; LEAL, F.; EURÍPEDES, J. Análise Paleográfica de Documentos Relativos ao Rio Grande de São Pedro
e à Colônia do Sacramento. 2. ed. Santa Maria: Edições UFSM. 2003.
SANCHEZ, A. B. Como Realizar una Análisis Paleográfica. In: TERRERO, A. R. Introducción a la Paleografia y la
Diplomática General. Madrid: Editorial Sintesis. 1999. p. 333-336.
1Autor: Aluna do Curso de Especialização em gestão em arquivos da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). E-mail:
[email protected] 2Orientador: Professora adjunto do departamento de documentação e coordenadora do Curso de Arquivologia da Universidade
Federal de Santa Maria (UFSM). E-mail: [email protected]
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“OS ANOS DO PEREGRINO”: REPRESENTAÇÕES HAGIOGRÁFICAS E MIMÉTICA NA
AUTOBIOGRAFIA DE INÁCIO DE LOYOLA
SANCHES, Angelo Moreno Bidigaray1
DE MARTINI, Marcus2
No âmbito de estudos do projeto “Representações Literárias dos Séculos XVI-XVIII”, estuda-se a
representação que o Padre Antônio Vieira (1608-1697) obteve através de suas biografias. A primeira
biografia de Vieira foi elaborada por um jesuíta que se baseou na tradição historiográfica da Companhia
de Jesus para narrar a vida do religioso. Para se compreender essa obra, então, é importante analisar como
se deu o início desse estilo historiográfico. Tal estilo de escrita começou dentro do projeto de
autocompreensão jesuíta, com a composição da autobiografia de Inácio de Loyola (1491-1556). Para os
jesuítas, compreender de onde surgiu a Companhia de Jesus é afirmar sua identidade frente aos desafios
encontrados por uma jovem ordem religiosa do século XVI. Nas palavras de O‟Malley: “A história de
Inácio foi um elemento-chave no mito necessário para dar à ordem seu sentido de localização no esquema
maior das coisas” (2004, p.107). Apesar de ser conhecida como autobiografia, a obra foi escrita, em sua
maior parte, por Luís Gonçalves da Câmara (1519-1575), entre 1553 e 1555. No período da composição
da obra, Inácio ditava a Câmara e este, posteriormente, em seu quarto, escrevia notas do que ouvira.
Câmara, ao escrever essas notas, deixa transparecer no texto marcas hagiográficas, isto é, discursos
característicos da narração da vida de um santo. Entre esses recursos discursivos, podem-se citar índices
que apontam para uma origem nobre do biografado e a presença do maravilhoso. Além desse caráter
hagiográfico, Sobral narra que “os santos imitam os santos dos textos que conhecem” (2005, p.100).
Dessa forma, a vida de um santo só se concretiza como tal quando ele se assemelha aos santos
consagrados pela tradição. Inácio, na obra, autorreferencia-se como “peregrino”. O ministério jesuíta, na
sua ênfase em levar o Evangelho, difere do das outras ordens, assemelhando-se, em sua vocação, ao
grande difusor do cristianismo, Paulo de Tarso. Jerônimo Nadal (1507-1580), secretário de Inácio,
expressa que “Paulo significa para nós [os jesuítas] o nosso ministério”. A configuração da vocação
jesuíta como apostólica, baseada em Paulo, leva a crer que essa figura teve forte influência sobre Inácio
no período de conversão. Inácio e Paulo possuem algumas semelhanças, entre elas, pode-se citar o fato de
que mudaram de nome e de que se converteram através de acidentes. A imagem de “peregrino” que
Inácio cria para si evoca muito do que foi a vida do Apóstolo dos Gentios. A autobiografia, assim,
constroi a imagem do biografado com traços próprios de discursos hagiográficos, fundamentada na
imitação do modelo de santidade paulino, modelo que vai influenciar todo o desenvolvimento do
ministério jesuíta. Assim, compreender os recursos empregados para a composição desse tipo de texto é
um passo necessário para estudar-se os modos como eles vão se infiltrar nas demais produções escritas da
Companhia de Jesus, especialmente nas biografias de seus membros, como é o caso da primeira biografia
do Padre Antônio Vieira.
Palavras-chave: Companhia de Jesus; hagiografia; Inácio de Loyola; Paulo.
Referências bibliográficas
LOYOLA, I. Autobiografia de Inácio de Loyola. São Paulo: Edições Loyola, 1978.
O‟MALLEY, J. W. Os primeiros jesuítas. São Leopoldo: Editora UNISINOS; Bauru: EDUSC, 2004.
SOBRAL, C. O modelo discursivo hagiográfico. In: ACTAS DO V COLÓQUIO DA SECÇÃO PORTUGUESA E DA
ASSOCIAÇÃO HISPÂNICA DE LITERATURA MEDIEVAL, 2005, Porto. Anais... Porto: Faculdade de Letras da
Universidade do Porto, 2005. p. 97-107.
1 Autor: Aluno do 6º semestre de Letras - Bacharelado em Português e Literaturas. UFSM. Bolsista do Programa Institucional
de Bolsas de Iniciação Científica (PROBIC/FAPERGS). E-mail: [email protected] 2 Orientador: Professor da Universidade Federal de Santa Maria. UFSM. E-mail: [email protected]
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A IRLANDA DE “DUBLINENSES” NO CONTO “EVELINE”, DE JAMES JOYCE
SANTOS, Maíra Oliveira dos1
MAGGIO, Sandra Sirangelo2
O livro de contos “Dublinenses”, de James Joyce, que foi publicado pela primeira vez em 1914, reflete
muito da situação em que se encontrava a Irlanda naquela época, desgastada pelos efeitos da Grande
Fome, pelas sucessivas ondas de emigração e pelas tentativas malogradas de implementação da Home
Rule. Este cenário de desalento é o pano de fundo para o conto “Eveline”, um dos quinze que compõem a
obra. Em todos os contos encontramos as marcas de uma população decadente, de uma economia falida,
de valores sociais, morais e religiosos em conflito e um grande ressentimento para com a opressão
inglesa. Em “Eveline” estes aspectos convergem para o ponto em que a moça, sentada perto da janela,
rememora a própria vida e reflete sobre que providências tomar. Ao revisitar a infância pensa nos
momentos felizes e nos de sofrimento de uma típica família católica, vivendo numa casa pequena, com
muitos filhos. Lembra-se da mãe, que morreu, e da responsabilidade que assumiu de substituí-la,
cuidando dos irmãos menores. Pensa no pai, que passou a beber e cujo comportamento foi-se tornando
cada vez mais violento. Pensa também no convite que recebeu do marinheiro Frank para fugir com ele
para Buenos Aires. Como em tantos outros contos em Dublinenses, a saída para todos os problemas
parece se concentrar na região do Cais do Porto. Nesse mergulho em si mesma, Eveline se permite
compreender que deseja ir embora, deixando para trás todo o sofrimento que passara em sua vida. Apesar
de mostrar-se relutante ao lembrar-se da mãe, Eveline sonha com um futuro melhor representado pelo
convite de Frank. A questão colocada apresenta o conflito entre o senso de responsabilidade de Eveline e
os vínculos que a prendem à Irlanda e o seu desejo por liberdade e por um futuro melhor, um desejo
profundo e quase ingênuo de progredir e ir ao encontro do desconhecido, como pode ser percebido
quando o narrador diz “Frank a salvaria. Dar-lhe-ia a vida, talvez também amor. Queria viver. Por que
haveria de ser infeliz? Tinha direito à felicidade.” (JOYCE, 1998). O conto, portanto, nos permite
compreender alguns dos motivos por que ocorre essa estagnação por parte dos habitantes de Dublin, e a
dificuldade que encontram em enfrentar o panorama social estabelecido e romper sua relação tanto com o
território do país quanto com os valores nele preservados.
Palavras-chave: Estagnação; Futuro; Memória.
Refefências bibliográficas
JOYCE, J. Eveline. In:______. Dublinenses. Tradução: Hamilton Trevisan. 5. ed. Civilização Brasileira. Rio de Janeiro, 1998.
1 Autora: Maíra Oliveira dos Santos. Aluna do 2º semestre do curso de Licenciatura em Letras – Língua Inglesa e Literaturas
de Língua Inglesa. UFRGS. Email: [email protected] 2 Orientador: Prof. Dra. Sandra Sirangelo Maggio. Universidade Federal do Rio Grande do Sul. UFRGS. Email:
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CORPO, PODER E DOMINAÇÃO: UMA ANÁLISE DA RECONFIGURAÇÃO CORPORAL NO
CONTO “ENTRE A ESPADA E ROSA”, DE MARINA COLASANTI
SILVA, Ana Cláudia de Oliveira1
O corpo é o lugar onde se inscrevem as marcas culturais da diferença entre o masculino e o feminino,
sendo a primeira forma de identificação e distinção dos seres e locus do exercício do poder. Isso porque,
logo ao nascer, a menina já é marcada pela diferença entre o masculino e o feminino. Nesse contexto, o
corpo é o lugar onde se inscrevem as marcas, não apenas biológicas, mas, sobretudo, culturais dessa
diferença, sendo a primeira forma de identificação e distinção entre os seres.Assim, a naturalização da
diferença biológica entre homem e mulher constitui-se em uma construção simbólica, que indica uma
suposta inferioridade feminina, determinada por um corpo mais frágil. Dessa forma, torna-se importante
discutir a divisão de gênero e a relação entre corpo, poder e dominação na sociedade contemporânea,
sendo a literatura uma das formas privilegiadas para refletir sobre tais questões. Assim, o presente
trabalho objetiva analisar, no conto “Entre a espada e a rosa”, da escritora Marina Colasanti (2012), em
comparação com o gênero conto de fadas, a transformação simbólica do corpo feminino em um espaço de
libertação. Neste conto, as diferentes metamorfoses por que passa o corpo da personagem principal
permitem que se estabeleçam diversas inferências relacionadas à indissociabilidade entre corpo e mente, o
que, por consequência, leva a libertação do corpo feminino das regras impostas por uma sociedade
patriarcal. Como referencial teórico partir-se-á de conceitos propostos por Elódia Xavier (2007),
Elizabeth Grosz (2000) e Pierre Bourdieu (2012).
Palavras-chave: Conto de fadas; Corpo; Feminino/Masculino; Marina Colasanti.
Referencias bibliográficas
BOURDIEU, P. A dominação masculina. Trad. Maria Helena. 11 ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2012.
COLASSANTI, M. Um espinho de marfim e outras histórias. Porto Alegre: L&PM, 2012.
GROSZ, E. Corpos reconfigurados. In: PISCITELLI, A.; GREGORI, F. (Org.). Cadernos Pagu: corporificando gênero.
Campinas, 2000, n.14, p. 45-86.
XAVIER, E. Que corpo é esse? O corpo no imaginário feminino. Ilha de Santa Catarina: Editora Mulheres, 2007.
1 Autor: Aluno (a) do Curso de Pós-Graduação em Letras – Doutorado. UFSM. E-mail: [email protected]
Caderno de Resumos
71
A CRIAÇÃO DA IDENTIDADE DESVALORIZADA DO AFRODESCENDENTE
ESCRAVIZADO A PARTIR DA INDUMENTÁRIA
SILVA, Débora Pires da1
SILVA, Alexandre Silva da2
No presente trabalho, buscamos formular uma reflexão para a compreensão do pensamento escravocrata
através da indumentária, baseada nasreferênciasbibliográficas de Daniel Roche (2000), Kathryn
Woodward (2000), Diana Crane (2006) e Ricardo Franklin Ferreira (2000),relacionando-asao contexto
brasileiro escravocrata e contemporâneo, para analisar as características que a indumentária, sua
valoração e seu lugar social podematuar como fator discriminatório e excludente para o ator social
negro.Este, quandovisualizado pelo olhar do colonizador branco, em um contexto de expansão mercantil,
é compreendido como instrumento, ferramenta da qual o latifundiário monocultor ea sociedade em geral
se utilizaria funcionalmente,parasua sustentação, pois consideram-se superiores.Esse mesmo ator social
que outrora livre, imerso em seu lugar de origem, onde sua indumentáriarepresenta uma forma relacional,
dele com o outro e com o meio, assim construindo sua identidade individual e grupal,quando escravizado
tem extirpada parte de seu eu,e passa a estarsobre ele atribuído novas características em um novo contexto
socioeconômico, no qual acaba por perder a sua identidade originale,em decorrência disto, é classificado
e discriminado socialmente.Assim sendo, a compreensão da necessidade da coisificação do ator social
negro, para a manutenção do pensamento escravocrata, de superioridade racial,se faz necessáriopara que
percebamos as muitas formas que o racismo pode apoiar-se para sua propagação.
Palavras-chave: Afrodescendente; Desvalorização; Identidade; Indumentária.
Referências bibliográficas
ROCHE, D. História das coisas banais; nascimento do costume XVII-XIX. Rio de Janeiro: Rocco, 2000.
WOODWARD, K. Identidade e diferença uma introdução teórica e conceitual. In: SILVA, T. T. (Org.). Identidade e
diferença: a perspectiva dos estudos culturais. Petrópolis, RJ. Vozes, 2000.
CRANE, D. A moda e seu papel social: classe, gênero e identidade das roupas. São Paulo: Senac, 2006.
FERREIRA, R. F. Afro-descendente. Identidade em construção. São Paulo: EDUC; Rio de Janeiro: Pallas, 2000.
1Acadêmica do Curso de História Licenciatura da Universidade Federal de Rio Grande – FURG. Bolsista EPEN. E-mail:
[email protected] 2 Prof. de Designer Gráfico e Hardware, Acadêmico do Curso de História Bacharelado com ênfase em Patrimônio Histórico e
Cultural da Universidade Federal do Rio Grande – FURG. Bolsista CNPQ (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico
e Tecnológico) -. Assessor de mídias do CAIC. E-mail: [email protected]
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72
A IMPORTÂNCIA DA NARRATIVA LITERÁRIA DE JOSEPH CONRAD À COMPREENSÃO
DO PROCESSO HISTÓRICO DO IMPERIALISMO NA ÁFRICA
SILVA, Dionathan Ysmael Rodrigues da1
Propondo-se o diálogo entre o campo de estudos da literatura e da história, o presente estudo aborda a
importância da obra literária “O Coração das Trevas” (2006) à compreensão do histórico processo
imperialista que vivenciaram os africanos no final do século XIX. A obra de Joseph Conrad, considerado
um dos maiores autores estilistas da literatura inglesa, é uma novela magistral sobre a África no período,
conforme Hobsbawm (1989), da “Era dos Impérios” (1875-1914). Assim, partindo-se de um método de
pesquisa descritivo alicerçado na revisão literária da obra em diálogo com história crítico-social,
pretende-se entender as dinâmicas que permeiam a historicidade da narrativa em um período, em que, de
acordo com Baumer (1977), as teorias evolucionistas e o “novo iluminismo” eram a base ideológica da
sociedade da época. De modo que ancoravam a máquina do capitalismo neo-colonialista europeu que
buscava novas terras, fontes de matéria-prima, fiéis e mão-de-obra a baixo-custo (HOBSBAWM, 1986).
Dado o exposto, argumenta-se sobre o caráter de “denúncia social” que permeia, em diversas passsagens,
a obra de Conrad (2006) através da narrativa da realidade presenciada por personagens como Marlowe
Kurtz. Ademais, debate-se a vigência da atualidade da obra do escritor no que se refere ao entendimento
das consequências sociais e do legado histórico do processo imperialista à África, em especial, para países
como o Congo.
Palavras-chave: África; Coração das Trevas; Imperialismo; Joseph Conrad; Literatura.
Referências bibliográficas
BAUMER, F. O novo iluminismo. In:______. O pensamento europeu moderno, v. II, séculos XIX e XX, Lisboa: Edições
70, 1977. p. 59-95.
_______. O mundo evolucionário. In:______. O pensamento europeu moderno, v. II, séculos XIX e XX. Lisboa: Edições
70, 1977. p. 97-128.
CONRAD, Joseph. O Coração das Trevas. São Paulo: Martin Claret. 2006.
HOBSBAWM, E. A Era dos Impérios (1875-1914). São Paulo: Paz e Terra: 1989. p. 87-124.
_______. A construção das nações. In:______. A Era do Capital (1848-1875). São Paulo: Paz e Terra, 1986. p. 125-145.
1 Aluno do 6º semestre de Relações Internacionais. UFSM. E-mail: [email protected]
Caderno de Resumos
73
UMA ABORDAGEM SISTÊMICO-FUNCIONAL PARA O LIVRO DIDÁTICO DE INGLÊS DO
CURSO FOUR SKILLS 1 – LINC
SILVA, Lucas Oliveira1
NASCIMENTO, Roseli Gonçalves do2
Com a proposta de renovação do material didático do LINC (Línguas no campus) foi proposto o desafio
de sistematizar as explicações gramaticais do livro utilizando abordagens da Gramática Sistêmico-
Funcional (HALLIDAY e MATTHIESSEN, 2004). Tendo em vista esta proposta e interesse sobre o
assunto, foi decidido pesquisar sobre o processo de recontextualização de SFG para fins pedagógicos.
Sendo assim, a presente pesquisa está vinculada ao projeto Gêneros Multimodais e Novos Letramentos. O
objetivo desta pesquisa é identificar quais recursos são empregados para recontextualizar os conceitos e
categorias da Metafunção Ideacional (Sistema de transitividade), do livro “An Introduction to Functional
Grammar” (HALLIDAY e MATTHIESSEN, 2004) para o contexto pedagógico de ensino de inglês. O
corpus desta análise é o site TELENEX (Teacher of English Education NEXUS), uma página gratuita da
internet voltada ao ensino de Língua Inglesa sob a perspectiva da linguagem funcional desenvolvida pelo
TELEC (Teachers of English Center), um grupo de pesquisadores da Universidade de Hong Kong. Este
estudo tem como referencial teórico a recontextualização (MOTTA-ROTH, 2010P), a Gramática
Sitêmico-Funcional (HALLIDAY e MATTHIESSEN, 2004) e o Sistema de Transitividade (HALLIDAY
e MATTHIESSEN, 2004). Para identificar os processos de recontextualização, foi realizada uma leitura a
respeito do discurso das ciências da linguagem (MOTTA-ROTH, 2010), (LOVATO, 2010) em contextos
de popularização da ciência. Após, iniciou-se uma busca por recursos de recontextualização no corpus
escolhido para a análise que se realizou através de uma análise comparativa entre o livro e o website. Os
resultados encontrados, atualmente, foram nominalização ao inverso com o uso de sinônimos para a
nomenclatura proposta por Halliday e Matthiessen, explicações por meio de glosas e recursos
multimodais como exemplificação por meio de imagens e codificação por meio de cores.
Palavras-chave: Contexto Pedagógico; Gramática Sistêmico-Funcional; Recontextualização.
Referências bibliográficas
HALLIDAY, M. A.K; MATTHIESSEN, C. M. I. M. An Introduction to Functional Grammar. 3rd ed. London: Arnold,
2004.
LOVATO, C. S. Recontextualizando os saberes científicos: A Glosa em notícias da polarização da ciência. Revista de
Letras, v. 1, n. 13, 2010, p. 1-15.
MOTTA-ROTH, D. Sistemas de gêneros e recontextualização da ciência na mídia eletrônica. Gragota (UFF), 28, 153-174,
2010
1Autor: Aluno do 8° semestre do curso de Letras Licenciatura – Inglês e Literaturas de Língua Inglesa (UFSM). E-mail:
[email protected] 2 Orientador: Professora do curso de Letras Licenciatura Língua Inglesa da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) E-
mail: [email protected]
Semana Acadêmica de Letras UFSM 2014
74
PROCESSOS FONOLÓGICOS EM DADOS DE PORTUGUÊS ANTIGO DO RIO GRANDE DO
SUL
TOLEDO, Matheus1
KELLER, Tatiana2
O trabalho que ora se apresenta caracteriza-se como um estudo teórico-prático, uma vez que lida com
dados extraídos de textos antigos escritos e visa a sua análise com base em teorias linguísticas modernas,
tais como a Teoria da Variação (LABOV, 1972).É um estudo qualitativo que intenta ressaltar as
peculiaridades da língua portuguesa presentes nos textos neste determinado momento do final do século
XIX e início do século XX, no que se refere a processos fonológicos ligados às vogais pretônicas
(especialmente /e/ e /o/) em Português Brasileiro, como harmonia vocálica, abaixamento vocálico e
alçamento sem motivação aparente. Essa análise justifica-se pela instabilidade na realização dessas vogais
já em estágios bem anteriores da língua portuguesaapontada, por autores como Bisol (1981) e Schwindt
(2002). O corpus analisado constitui-se por 16 (dezesseis) cartas de caráter semidiplomático que variam
entre documentos oficiais como testamentos, partitura de terras, pedidos de isenção de impostos, autos de
processos, comunicados oficiais, recibos, passaportes, boletins de ocorrências, relatórios, atas, memoriais,
telegramas coletados no Arquivo Histórico Municipal de Santa Maria, tendo como fonte o Fundo Junta
Intendencial da cidade, e por 16 cartas pessoais, escritas no período de 1871 a 1926, coletadas no Arquivo
Municipal de Porto Alegre. Resultados preliminares indicam que esses fenômenos já estavam presentes
no português antigo. Consideramos que estes dados possam auxiliar a compreensão acerca de mudanças
no sistema vocálico do português, uma vez que olhar para o passado é de suma importância para explicar
o comportamento dos estágios atuais de uma língua (POGGIO, 2002).
Palavras-chave: Fenômenos fonológicos; Português Brasileiro; Rio Grande do Sul; Textos Antigos;
Vogais pretônicas.
Referências bibliográficas
BISOL, L. Harmonia vocálica: uma regra variável. 332 f. Tese (Doutorado em Linguística) – Faculdade de Letras,
Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1981.
BRESCANCINI, C. (Org.). Fonologia e variação: recortes do português brasileiro. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2002.
LABOV, W. On the mechanism of linguistic change. In: GUMPERZ, J.J; HYMES, D. Directions in sociolinguistics: the
ethnography of communication. New York: Hold, RinehartandWinstion, 1972.
POGGIO, R. Processos de gramaticalização de preposições do latim ao português. Salvador: Edufba, 2002.
SCHWINDT, L. C. A regra variável de harmonização vocálica no RS. In: BISOL, L.; BRESCANCINI, C. (Org.). Fonologia e
variação: recortes do português brasileiro. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2002.
1 Aluno do 4º semestre do curso de Licenciatura em Letras Português e Literaturas de Língua Portuguesa pela Universidade
Federal de Santa Maria – UFSM. Bolsista FIPE/ CAL (UFSM). E-mail: [email protected] 2 Orientadora Professora Adjunta no Departamento de Letras Vernáculas (DLV) na Universidade Federal de Santa Maria –
UFSM. E-mail: [email protected]
Caderno de Resumos
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A ORGANIZAÇÃO DISCURSIVA DO DICIONÁRIO “PEQUENO DICIONÁRIO BRASILEIRO
DA LÍNGUA MORTA – PALAVRAS QUE SUMIRAM DO MAPA”
VITORINO, Luane1
CERVO, Larissa Montagner2
Nosso objetivo, neste trabalho, é refletir sobre o conceito de língua em sua relação com os conceitos de
política de língua, político e memória, tendo como objeto de análise um instrumento em específico, o
dicionário intitulado “Pequeno Dicionário Brasileiro da Língua Morta- Palavras que sumiram do mapa”,
de autoria do Jornalista Alberto Villas. Interessa-nos compreender o modo de organização desse
instrumento e os sentidos atribuídos à língua. Trabalharemos, também, com a significação política da
designação “língua morta”. Quais sentidos estão em funcionamento nessa designação? O que autoriza o
autor a inventariar palavras como parte de uma língua “morta”. A proposta que nos dedicamos tem como
base investigar a constituição desse dicionário pelo ponto de vista discursivo. Interessa-nos observar, a
partir da análise dos verbetes, o que está sendo dito e considerado como língua morta, considerando tanto
a palavra quanto o modo como ela é definida e exemplificada. Para o desenvolvimento deste trabalho,
tomamos como perspectiva teórico-metodológica a Análise de Discurso, postulada na França, por Michel
Pêcheux, e desenvolvida, no Brasil, por Eni Orlandi e demais pesquisadores. Tal disciplina tem como
base o discurso, pensado na relação entre o sujeito e a materialidade específica da língua. A análise de
discurso faz intervir o político na relação com o simbólico e reflete sobre a língua na história. Se
consideramos que não há discurso sem sujeito, do mesmo modo como não há sujeito sem ideologia, o
discurso é um processo social cuja especificidade está no fato de que sua materialidade é linguística,
porque nós não pensamos a língua fora da história e da sociedade (ORLANDI, 1998). Buscamos
compreender o dicionário em questão de acordo com suas condições de produção. Nunes (2006) relata
que para compreender a constituição dos dicionários é necessário questionar sua materialidade linguística,
a evidência de sentidos, suas definições e exemplificações. Já Orlandi (2007), a respeito do discurso,
afirma que a memória e as circunstâncias mostram os sentidos não estão somente nas suas palavras, mas
na sua exterioridade e nas condições em que são produzidos. É por esse viés que buscamos trabalhar com
o dicionário em questão: investigando a constituição do mesmo e o modo como a língua é por ele
discursivada.
Palavras-chave: Discurso; Língua; Língua morta.
Referências bibliográficas
ORLANDI. E. P. Análise de discurso: princípios e procedimentos. Campinas: Pontes, 2013.
______. As formas do silêncio. Campinas: Editora da Unicamp, 2007.
NUNES, J. H. Dicionários no Brasil – Análise e História do século XVI ao XIX. Campinas: Pontes, 2001.
1Aluna do 6º semestre de Letras (Licenciatura) – Português e Literaturas de Língua Portuguesa. Participante do PIVIC/UFSM
(Programa da Iniciação Científica Voluntária da UFSM). E-mail: [email protected] 2 Professora Adjunta da Universidade Federal de Santa Maria. UFSM. E-mail: [email protected]
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A INFLUÊNCIA TOTALITARISTA SOBRE LITERATURA DISTÓPICA NA OBRA “1984” DE
GEORGE ORWELL
WAVZENIAK, Luiza1
PEREIRA, Lawrence Flores2
A ficção Distópica é um conceito literário contemporâneo que consiste em uma perspectiva antiutópica,
altamente pessimista e degradante a respeito do futuro. Desde o século passado, ela tem ganho espaço na
literatura e no cinema, influenciada principalmente pela ficção científica e pelas catástrofes naturais. O
conceito de Distopia literária é a base do presente trabalho, que mantém seu foco em uma obra distópica
de fundo político, o livro utilizado para a realização desta análise é “1984”, de George Orwell, publicado
em 1949. A obra “1984” é um dos maiores clássicos da literatura do século XX. Sua perspectiva crítica
em relação à situação política e social da época fora largamente usada como pré-requisito para discutir o
totalitarismo, sobretudo, o governo ditatorial de Stalin na União Soviética. Este trabalho objetiva não
apenas analisar em que medida o livro aborda o contexto histórico sob o qual foi escrito, mas também em
que pontos a realidade política e social da época influenciaram a Distopia escrita por Orwell. O
desenvolvimento desta análise tem por base a literatura comparada, tendo como suporte, diversas obras
que abordam os aspectos históricos que possuem relação com o livro, como “The
OriginsofTotalitarianism” (ARENDT, 1958) que discute as razões da adaptação popular aos governos
totalitários e “Discipline and Punish”(FOUCAULT, 1975) no qual pode-se analisar a evolução do sistema
presidiário e de outras formas de controle popular. “1984” estabelece relações claras com o stalinismo,
entretanto, conta também com o tom de exagero e total depredação social comuns à Distopia, sendo
assim, o presente trabalho visa a estabelecer uma ponte entre o retrato histórico e a influência da literatura
distópica.
Palavras-chave: 1984; Distopia; George Orwell; Totalitarismo.
Referências bibliográficas
ARENDT, H. The OriginsofTotalitarianism. Ohio: The World Publishing Company, 1958.
FOCAULT, M. Discipline and Punish: The Birth of the Prison.Tradução de Alan Sheridan, London: Penguin, 1977.
Inicialmente publicado em Francês como Surveiller et punir. Paris: Gallimard, 1975.
ORWELL, G. Nineteen Eighty-Four. London: Secker & Warburg, 1949.
1 Aluna do 8° semestre da graduação do curso de Letras Lic. - Hab. em Língua Inglesa e Literaturas – UFSM. E-mail:
[email protected] 2 Professor da Universidade Federal de Santa Maria. Orientador responsável pela disciplina LTE 1019
Elaboração do Trabalho Final de Graduação II – UFSM. E-mail: [email protected]
Caderno de Resumos
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A PRÉ-ESCRITA NO PROCESSO DE PRODUÇÃO TEXTUAL
WEBER, Sabrine1
MORAES, Douglas2
GERHARDT, Carla3
FUZER, Cristiane4
Este trabalho, vinculado ao projeto de extensão “Práticas orientadoras para o processo de produção e
avaliação de textos na perspectiva textual-interativa” (GAP/CAL 029622, FUZER, 2011), objetiva
apresentar as atividades em andamento do Ateliê de Textos na Escola Municipal de Ensino Fundamental
Pão dos Pobres Santo Antônio, de Santa Maria-RS. Os encontros nessa escola totalizarão 24 horas/aula e
beneficiam alunos de 6ºs
anos. Os pressupostos teóricos utilizados para este trabalho e para o
planejamento das aulas incluem a concepção de gênero na perspectiva sistêmico-funcional (ROSE e
MARTIN, 2012) e na perspectiva sociorretórica (BAZERMAN, 2006), a abordagem processual da escrita
(SOARES, 2009), a didática para redação de narrativas (SOARES, 2010), estudos sobre o conto
maravilhosos (CANTON, 2009) e a sistemática da metodologia desenvolvida ao longo das edições do
Ateliê de Textos (FUZER, 2014). A oficina em andamento está em fase inicial, correspondente ao estágio
de pré-escrita. Nesse estágio, foram feitas, com os alunos dispostos em círculo, contações de versões de
alguns contos maravilhosos e o estudo contextual da versão do conto “O Pequeno Polegar”, produzida por
Jacob Grimm e Wilhelm Grimm (1995), e da versão do mesmo conto produzida por Charles Perrault
(s/d). Por meio disso, constatou-se que os alunos, ao terem contato com as obras e acesso a informações
sobre os autores e o contexto de publicação das versões, começaram também a exercer o papel de autores,
refletindo sobre a (re)contextualização das próprias histórias que produzirão de acordo com o público
para o qual serão destinadas, o tempo e espaço que estarão inseridas e a visão de mundo do próprio aluno-
autor. Em seguida, foram realizadas atividades de leitura detalhada dessas mesmas versões do conto.
Nessas atividades, foram analisados aspectos contextuais, trabalhados os estágios e elementos da narrativa
e analisados recursos linguísticos típicos do gênero. Com isso, os alunos muniram-se de subsídios para a
construção de narrativas escritas, construindo o conhecimento de forma colaborativa em que todas as
questões foram discutidas pelos participantes com o auxílio da mediadora da oficina. Na sequência do
processo, os alunos farão uma escrita conjunta de um texto e, a partir disso, produzirão individualmente
seus textos que serão reescritos até estarem adequados para cumprirem uma função social, uma vez que as
versões finais dos textos farão parte de uma coletânea.
Palavras-chave: Escrita; leitura; narrativa; processo.
Referências bibliográficas
BAZERMAN, C. Gênero, agência e escrita. Judith Chambliss Hoffnagel. São Paulo: Cortez, 2006.
CANTON, K. Os contos de fadas e a arte. São Paulo: Prumo, 2009.
FUZER, C. Ateliê de Textos: (re)invenção e (re)escrita de histórias no ensino básico. Revista ANPOLL, 2014. (No prelo)
GRIMM, J.; GRIMM, W. O Pequeno Polegar. Col: Anytimes Books, 1995.
ROSE, D.; MARTIN, J. R. Learning to Write, Reading to Learn – Genre, Knowledge and Pedagogy in the Sydney School.
London: Equinox, 2012.
1 Autora. Bolsista PROLICEN. Graduanda do 6º semestre do curso de Licenciatura em Letras Português da UFSM. E-mail:
[email protected] 2 Co-autor. Bolsista PROBIC/FAPERGS. Graduando do 4º semestre do curso de Licenciatura em Letras Português da
UFSM.E-mail: [email protected] 3 Co-autora. Bolsista FIEX. Graduanda do 8º semestre do curso de Licenciatura em Letras Português da UFSM. E-mail:
[email protected] 4 Orientadora. Professora do Departamento de Letras Vernáculas da UFSM. E-mail: [email protected]
Semana Acadêmica de Letras UFSM 2014
78
SOARES, D. A. Produção textual e revisão textual. Um guia para professores de Português e de Línguas Estrangeiras.
Petrópolis, Rio de Janeiro: Vozes, 2009.
SOARES, E. A arte de escrever histórias. Barueri, SP: Amarilys, 2010.
PERRAULT, C. Disponível em: <http://cadernodepoesiaseafins.blogspot.com.br/2012/03/conto-o-pequeno-polegar-autor-
charles.html>. Acesso em: 10 jul. 2014
Caderno de Resumos
79
SOMERSET MAUGHAM E PAUL GAUGUIN: UM PASSEIO PELOS MARES DO SUL
ZAMBERLAN, Lucas da Cunha1
A relação entre a literatura e a pintura favoreceu, desde o período do Renascimento, um diálogo intenso
que se confunde com a própria história da cultura ocidental.O escritor inglês Somerset Maugham se
inscreveu nessa tradição, ao publicar no ano de 1919, “Um gosto e seis vinténs”, um romance que
acompanha os passos da personagem Charles Strickland, um alter ego do pintor francês Paul Gauguin. No
entanto, as relações entre os dois artistas não se restringem apenas na confecção dessa obra específica.
Ambos se preocuparam em representar a vida dos habitantes situados nas ilhas dos mares do sul, em
especial, o Taiti. O presente trabalho visaanalisar a natureza das correspondências estéticas entre as
recorrentes descrições de personagens oriundas dos Mares do Sul encontradas nas obras “Um gosto e seis
vinténs” (1992) e “Histórias dos mares do sul”(1982) de Somerset Maugham e as composições pictóricas
da fase taitiana de Paul Gauguin. Para lograrmos êxito nessa pesquisa, utilizamos um aporte teórico que
se inicia com os apontamentos de Remak (1994) acerca da Literatura Comparada e se aprofunda com a
fortuna crítica de autores que se aprofundaram em refletir sobre o paralelo entre Literatura e Pintura, tais
como Lichtenstein (2005), Bergez (2011), Eco (2010) e Arbex (2006).Os resultados da pesquisa
registram, principalmente, as semelhanças entre as obras dos artistas. O conto “O pacífico”, por exemplo,
apresenta uma narrativa essencialmente descritiva, ressaltando a atmosfera do lugar por meio de
sugestões picturais. Já as personagens Manuma, de “Mackintosh”, Sally, de “Vermelho”e Eva, de “O
degenerado” podem ser confundidos com os modelos de Gauguin, pintados entre os anos de 1891 e 1893.
O quadro “Encostada no mar”, de 1892, por ser considerado, pela sua série de conformidades, como uma
preciosa ilustração do conto “O poço”, que narra as relações amorosas de um colonizador inglês, Lawson,
e uma mulher nativa chamada Ethel. Enfim, a partir dos aspectos levantados, percebemos o diálogo entre
a Literatura e a Pintura em um caso em especial, enfatizando o caráter imagético da literatura de
Maugham, bem como o caráter narrativo da pintura de Gauguin.
Palavras-chave: Gauguin; Literatura; Mares do sul; Maugham; Pintura.
Referências bibliográficas
ARBEX, M. (Org). Poéticas do visual, ensaios sobre a escrita e a imagem. Belo Horizonte: FALE/Pós-Lit, UFMG, 2006.
BERGEZ, D. Littérature et peinture. Tradução: André Soares Vieira. Paris: Armand Colin, 2011.
ECO, H. História da beleza. Rio de Janeiro: Record, 2010.
LICHTENSTEIN, J. A pintura. Tradução: Magnólia Costa. Textos essenciais, v. 7: “O paralelo das artes”. São Paulo: Ed. 34,
2005.
MAUGHAM, S. Histórias dos mares do sul. Rio de Janeiro: Editora Globo, 1982.
MAUGHAM, S. Um gosto e seis vinténs. Rio de Janeiro: Editora Record, 1992.
REMAK, Henry. Literatura Comparada: Definição e Função. In: Literatura Comparada – Textos Fundadores. COUTINHO,
E.; CARVALHAL, T. F. (Org.). Rio de Janeiro: Rocco, 1994, p. 175-190.
1 Autor: Lucas da Cunha Zamberlan, Mestre em Estudos Literários pela UFSM. E-mail: [email protected]
Semana Acadêmica de Letras UFSM 2014
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“EXCESO DE SENSIBILIDAD?”: A (DES)CONSTRUÇÃO DO DISCURSO “CIVILIZADO”
ZILLI, Bruno Ramires1
O presente trabalho busca analisar como se caracteriza a ironia no conto“Exceso de Sensibilidad” (1966),
de Luis S. Garani, através da construção da narrativa, sugerida por um narrador em terceira pessoa, que
procura mostrar os efeitos da construção de um discurso indireto livre para o entendimento daquilo que de
fato se pensa. Para isso, entende-se ironia como um mecanismo utilizado pelo narrador para dizer o
contrário daquilo que se pensa, a fim de realizar uma crítica a um indivíduo ou sociedade (FERREIRA,
1986). E, também, entende-se por discurso a ideia de Van Dijk“discursos constituem sociedades e têm
força para legitimar atores, grupos sociais e está atrelado à complexa relação entre mente, linguagem e
sociedade” (2008, p. 145). Nesse sentido, usa-se da linguagem para dar forma a uma sociedade e, assim, a
língua deixa de ser um instrumento de comunicação e passa a “dizer o mundo”. O conto relata a história
de um trabalhador rural que está arando sua terra utilizando o seu cavalo para isso. Quando o convidado
das terras vizinhas, um homem da cidade, avista o campesino, aproxima-se e começa a repreender a
maneira com que esse trabalhador se utiliza do cavalo para tirar o seu sustento, pois de onde ele veio, não
se tratam os animais daquela maneira. Ao longo da narrativa, o conflito se dá pela discussão entre as
personagens as quais defendem seus próprios pontos de vista, com relação ao fato de usar um animal
como fonte de sustento. O homem da cidade está a todo o momento insultando o campesino, que não se
importa com o que ele está pensando ou fazendo. Ao analisar a instância do narrador, no conto de Garani,
percebe-se que o efeito da ironia está na intercalação de vozes na narrativa, com um narrador que constrói
o seu discurso a partir do posicionamento da personagem do campo e no uso de nomes para qualificar o
homem como o campesino e desqualificar o homem da cidade com os próprios adjetivos utilizados por
ele. A partir da análise feita sobre o narrador e como se constrói o discurso, pode-se concluir que o uso do
discurso indireto pelo narradorfunciona na narrativa como uma espécie de “advogado” do homem
campesino, pois o defende utilizando-se da incorporação desse discurso do homem campesino, ou seja,
esse fala através da voz do narrador. Já, quando o homem da cidade vai se pronunciar, o narrador dá voz a
ele, a fim de não se comprometer com esse discurso, ou seja, foi o homem da cidade quem disse, não o
narrador, registrando de forma integral a fala da personagem, do modo como ela a diz. Isso equivale a
afirmar que a personagem fala diretamente, sem a interferência do narrador, que se limita a introduzi-la,
simplesmente. Por isso, pode-se afirmar que o narrador apresenta de maneira diferente dois mundos que
também são diferentes, um pelo uso do discurso indireto e outro pela concessão a voz da personagem,
aproximando-se da voz do campesino.
Palavras-chave: Discurso Indireto; Instância Narrativa; Ironia.
Referências bibliográficas
DIJK, T, A, V. Discurso e poder. Hoffnagel, J. & Falcone, K. (Org.). São Paulo: Contexto, São Paulo: Contexto, 2008.
FERREIRA, A, B, H. Novo dicionário da Língua Portuguesa – 2. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986.
GARANI, L, S. “Exceso de sensibilidade”. In: DUCASSE, I; FERNANDO, F; QUIROGA, H; RAMA, A (Org.). Aquí cien
años de raros. Montevideo: Publisher Ed. Arca, 1966.
1 Autor: Acadêmico do 9º semestre do curso Letras Licenciatura: Espanhol e Literaturas de Língua Espanhola. UFSM. E-mail:
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