59
1 XXII Seminário Nacional e IX Seminário Internacional do Grupo de Estudos Discurso & Gramática De 28 de novembro a 1 de dezembro de 2017 UFF - Campus do Gragoatá – Niterói – Rio de Janeiro – Brasil REALIZAÇÃO CADERNO DE RESUMOS

caderno de resumos seminárioD&G 2017€¦ · [email protected] Ivo da Costa do Rosário (UFF) [email protected] Resumo: Objetivamos pesquisar as construções comparativo-modais,

  • Upload
    others

  • View
    1

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

  • 1

    XXII Seminário Nacional e IX Seminário Internacional do

    Grupo de Estudos Discurso & Gramática De 28 de novembro a 1 de dezembro de 2017

    UFF - Campus do Gragoatá – Niterói – Rio de Janeiro – Brasil

    REALIZAÇÃO

    CADERNO DE RESUMOS

  • 2

    RELAÇÃO DE TRABALHOS – PÔSTER

    29 de novembro de 2017 – 18:30 às 19:30 Auditório Ismael Coutinho – sala 218/C

    A CONSTRUÇÃO COMPARATIVO-MODAL Do(a) mesmo(a) N que: UMA ANÁLISE FUNCIONAL Elen da Paixão Garin Borges ........................................................................................ 06 A CONSTRUÇÃO VPV(X)MD EM REDE CONSTRUCIONAL Vania Rosana Mattos Sambrana ................................................................................... 07 A CONSTRUÇÃO [XRLOC]: UMA ANÁLISE COGNITIVO-FUNCIONAL Flávia Saboya da Luz Rosa ............................................................................................. 08 A CONSTRUCIONALIZAÇÃO GRAMATICAL DE “PARA LÁ DE X”: UMA ANÁLISE BASEADA NO USO Vanessa Barbosa de Paula ............................................................................................... 09 A EMERGÊNCIA DO SIGNIFICADO CONSTRUTIVO A PARTIR DE ENQUADRES SEMÂNTICOS: ANÁLISE DOS ADVÉRBIOS PREPOSICIONAIS ANTES DE, DIANTE DE, EM FRENTE A/DE E EM FACE DE Fábio Rodrigo Gomes da Costa ...................................................................................... 10 A ESTRUTURAÇÃO DO IMPERATIVO NO PORTUGUÊS BRASILEIRO: UMA PERSPECTIVA CONSTRUCIONAL Izac Vieira Chaves .............................................................................................................. 11 A FORMAÇÃO HISTÓRICA DA CONSTRUÇÃO [XQUE]CONCESSIVA: UMA ABORDAGEM COGNITIVO-FUNCIONAL Thiago dos Santos Silva ..................................................................................................... 13 A INSTANCIAÇÃO DE CONSTRUÇÕES EXPRESSIVAS COM “SUPER”, “MEGA”, “HIPER” E “ULTRA” NA LÍNGUA PORTUGUESA Lauriê Ferreira Martins Dall’Orto ..................................................................................... 14 A MULTIFUNCIONALIDADE DA CONSTRUÇÃO COMO SE SOB A PERSPECTIVA DA LINGUÍSTICA FUNCIONAL CENTRADA NO USO Samara Costa Moura ............................................................................................ 16 A MULTIFUNCIONALIDADE DO ENFIM Jaqueline Cristina Rocha Marcondes Azevedo ............................................................... 18 A VEICULAÇÃO DE INFORMAÇÃO EM CONSTRUÇÕES CLIVADAS DO PORTUGUÊS BRASILEIRO CONTEMPORÂNEO ESCRITO

  • 3

    Felipe Aleixo .......................................................................................................................... 19 ADVERBIALIZANDO-SE IMENSO: A CONSTRUÇÃO [V AA] NO PORTUGUÊS EUROPEU ATUAL Manuel Coutinho da Assunção Junior .............................................................................. 20 AÍ TÁ: UMA ABORDAGEM FUNCIONAL CENTRADA NO USO Monique Borges Ramos da Fonseca .................................................................................. 21 AMBIGUIDADE DA CONSTRUÇÃO “POR (DET) + N + (PREP)” Joyce Roberta Gomes dos Santos ........................................................................................23 ANÁLISE FUNCIONAL DAS CONSTRUÇÕES ORACIONAIS CONFORMATIVAS Myllena Paiva Pinto de Oliveira ......................................................................................... 24 AS CONSTRUÇÕES ADVERBIAIS QUALITATIVAS E MODALIZADORAS NOS SÉCULOS XIX E XX Ester Moraes Gonçalves ....................................................................................................... 25 AS CONSTRUÇÕES CORRELATAS ADITIVAS NO SÉCULO XVIII SOB A PERSPECTIVA DA LINGUÍSTICA FUNCIONAL CENTRADA NO USO Brenda da Silva Souza ......................................................................................................... 26 AS CONSTRUÇÕES "SÓ QUE" E "SE BEM QUE" NA FALA E NA ESCRITA Raquel Cardoso Bezerra Brito; Juliana Silva de Sant’Anna ........................................... 27 CONSTRUÇÕES CORRELATAS DISJUNTIVAS: UMA ANÁLISE PANCRÔNICA Jovana Mauricio Acosta ...................................................................................................... 28 CONSTRUÇÕES CORRELATIVAS CONSECUTIVAS SOB A PERSPECTIVA DA LINGUÍSTICA FUNCIONAL CENTRADA NO USO Marianna Correa Siqueira do Nascimento . ...................................................................... 30 CONSTRUÇÕES SUBSTITUTIVAS INSTANCIADAS PELOS CONECTORES EM VEZ DE E AO INVÉS DE NO PORTUGUÊS BRASILEIRO CONTEMPORÂNEO Idrissa Ribeiro Novo ............................................................................................................ 31 CORRELAÇÃO PROPORCIONAL NA PERSPECTIVA DA LINGUÍSTICA FUNCIONAL CENTRADA NO USO Thaís Pedretti Lofeudo Marinho Fernandes .................................................................... 32 DA REDE CONSTRUCIONAL DOS COLETIVOS DE PESSOAS [(X) [Subst] (X)]COLET À CONSTRUCIONALIZAÇÃO DE A GENTE Bruna das Graças Soares .................................................................................................... 33 ESTUDO SOBRE CONSTRUCIONALIZAÇÃO EM UM MONTE DE SN Nuciene Caroline Amphilóphio Fumaux ....................................................................... 34

  • 4

    EXCETO X NA INTEGRAÇÃO DE ORAÇÕES: UMA ABORDAGEM FUNCIONAL Fabiana Felix Duarte Moreira .......................................................................................... 36 EXISTEM, EU CREIO QUE, PARENTÉTICOS EPISTÊMICOS QUASE-ASSEVERATIVOS NO PORTUGUÊS Cristina dos Santos Carvalho ............................................................................................ 37 MAPEAMENTO DAS MICROCONSTRUÇÕES COM “ENTÃO”: UMA PROPOSTA Ana Paula Gonçalves Durço ............................................................................................ 39 MUDANÇA CONSTRUCIONAL DE NA HORA QUE: UMA ABORDAGEM COGNITIVO-FUNCIONAL Diego Minucelli Garcia .................................................................................................... 41 O ALIÁS E SEUS VALORES SEMÂNTICOS EM PERSPECIVA FUNCIONAL Nice da Silva Ramos .......................................................................................................... 42 O CASO DAS CORRELATAS ADITIVAS NA PERSPECTIVA COGNITIVA Tharlles Lopes Gervasio ................................................................................................... 43 ORAÇÃO SUBORDINADA SUBSTANTIVA COM FUNÇÃO DE AGENTE DA PASSIVA: UM ESTUDO FUNCIONAL CENTRADO NO USO Maria Luiza Guimarães da Costa Cruz ............................................................................ 44 OS USOS FUNCIONAIS DE “VIU” NO PORTUGUÊS BRASILEIRO Leidiane Dutra da Silva ...................................................................................................... 45 OS USOS POLISSÊMICOS DE ASSIM NO PORTUGUÊS BRASILEIRO Evelyn Moraes de Siqueira ................................................................................................ 46 PADRÕES MICROCONSTRUCIONAIS COM MARCADORES DISCURSIVOS FOCALIZADORES FORMADOS POR VERBOS DE PERCEPÇÃO COGNITIVA NO IMPERATIVO E PELO ELEMENTO FOCALIZADOR SÓ Gustavo Ribeiro Patrício Barbosa ...................................................................................... 47 PERSPECTIVA CONSTRUCIONAL COM O ELEMENTO AGORA EM CONTEXTOS LINGUÍSTICOS DE JORNAIS DO SÉCULO XIX: UMA ABORDAGEM CENTRADA NO USO Danielle dos Santos Cleres ................................................................................................ 48 PRÁTICAS DO USO DO ENTÃO NAS MODALIDADES FALADA E ESCRITA: UM ESTUDO FUNCIONAL Fabíola Goudard Corrêa Victorino ................................................................................. 49 QUEBRAS CONVERSACIONAIS PRAGMÁTICAS EM INTERAÇÃO ENTREVISTADOR – ENTREVISTADO: ANÁLISE DE CASO A PARTIR DA APLICAÇÃO DE UM INSTRUMENTO DE AVALIAÇÃO DE LINGUAGEM Ana Carolina Gomes da Silva ........................................................................................ 50

  • 5

    RELATIVAS REDUZIDAS DE GERÚNDIO – UMA ANÁLISE FUNCIONAL CENTRADA NO USO Laíza Teixeira Delatorre .................................................................................................. 52 UM ESTUDO DE CONSTRUÇÕES ADVERBIAIS QUALITATIVAS E MODALIZADORAS INICIADAS POR PREPOSIÇÃO Lizandra Pereira Barboza ..................................................................................................... 53 UMA ABORDAGEM CONSTRUCIONAL E FUNCIONAL-COGNITIVA DE CONSTRUÇÕES COM VERBO-SUPORTE DAR Pâmela Fagundes Travassos ................................................................................................ 54 UMA FLEXÃO DE AKTIONSART NOS VERBOS DO LATIM ARCAICO Luiz Pedro da Silva Barbosa ................................................................................................ 55 USOS POLISSÊMICOS DE “OLHA”: UMA ABORDAGEM FUNCIONALISTA Luciana Andrade de Souza ................................................................................................ 56 [VERBO ADJETIVO ADVERBIALIZADO]: UMA CONSTRUÇÃO ATRIBUTIVA DO PORTUGUÊS BRASILEIRO EM ESTUDO SINCRÔNICO Rodrigo Pinto Tiradentes ................................................................................................... 57 VERBOS DE MOVIMENTO TRANSITIVOS E SEUS DIFERENTES FRAMES Alan Marinho César ........................................................................................................... 59

  • 6

    A CONSTRUÇÃO COMPARATIVO-MODAL Do(a) mesmo(a) N que:

    UMA ANÁLISE FUNCIONAL

    Elen da Paixão Garin Borges (UFF)

    [email protected] Ivo da Costa do Rosário (UFF)

    [email protected]

    Resumo: Objetivamos pesquisar as construções comparativo-modais, devido a algumas lacunas detectadas na exposição desse tema por parte das gramáticas tradicionais de língua portuguesa. Dentre os pontos verificados, defendemos que restringir os conectivos a uma única categoria, como tem sido feito pelos gramáticos tradicionais, não dá conta da sua complexidade, pois o comportamento semântico de algumas estruturas é polissêmico. Este trabalho busca analisar a multifuncionalidade da construção conectora Do(a) mesmo(a) N que - em que N pode ser preenchido por elementos tais como modo, maneira, forma, jeito. Trata-se de uma expressão conectora aplicada ao discurso com valor de articulador comparativo, contudo com certa nuance modal, considerando as suas implicações no contexto interacional. O tratamento dado pela gramática às orações comparativas não é suficiente para explicar os fenômenos presentes no uso real e concreto da língua. Já as orações modais sequer são mencionadas nos compêndios tradicionais. Neves (2011), ao apontar a necessidade de se caracterizar as comparativas não só dentro de um ponto de vista sintático como também dentro de um ponto de vista semântico, evidencia o caráter plurissignificativo que há nesse tipo de combinação. Para o estudo dessa composição comparativo-modal, são fundamentais as pistas sintáticas, semânticas e pragmáticas do enunciado. Diante disso, o trabalho proposto intenta observar o comportamento desses tipos de construção, tomando por base teórico-metodológica a Linguística Funcional Centrada no Uso, segundo a qual o estudo do discurso e da gramática são motivados por fatores cognitivos, sociocomunicativos e linguísticos. Toma-se o conceito de construção no sentido estabelecido por Traugott e Trousdale (2013), ou seja, como uma unidade básica da língua, composta por um pareamento de forma e sentido. Pretende-se, por meio dos dados de pesquisa extraídos do Corpus do Português (disponível em www.corpusdoportugues.org), analisar os usos de Do mesmo N que, no âmbito dos matizes semânticos de comparação e modo, atentando-se, inclusive, para o seu nível de integração sintática. Pretende-se, ainda, confirmar, com esta pesquisa, a hipótese de que a construção comparativo-modal seria um mecanismo que reflete um modo especial de processamento, em termos cognitivos, no entrecruzamento de informações distribuídas entre as partes dessa construção. Os resultados da pesquisa são pouco conclusivos por se tratar de um estudo ainda em andamento. Palavras-chave: construções; matiz comparativo-modal; LFCU.

  • 7

    A CONSTRUÇÃO VPV(X)MD EM REDE CONSTRUCIONAL

    Vania Rosana Mattos Sambrana [email protected]

    Universidade Federal Fluminense Resumo: Considerando que a língua é um inventário de construções organizado em forma de rede, tomamos por hipótese que os marcadores discursivos formados pelos verbos perceptivo-visuais olhar e ver formam um ponto de aglomeração nessa rede. Esse ponto é virtualmente representado pela construção Vpv(x)md. Para alcançarmos o objetivo de descrever e analisar a construção Vpv(x)md conforme o modelo em rede, utilizamos a base teórico-metodológica da Linguística Funcional Centrada no Uso (MARTELOTTA, 2011; BISPO, FURTADO DA CUNHA e SILVA, 2013; OLIVEIRA e ROSÁRIO, 2015) com ênfase na Gramática de Construção (GOLDBERG, 1995, 2006; CROFT, 2001; TRAUGOTT, 2008; BYBEE, 2010, 2015; TRAUGOTT e TROUSDALE, 2013). Nosso corpus é sincrônico, representativo do século XX, constituído, em sua maioria, por diálogos. Pelas análises dos contextos de uso, verificamos que cada uma das 23 microconstruções levantadas constitui-se em um nó na rede linguística dos marcadores discursivos de base perceptivo-visual. Em visão mais apurada do modelo em rede, ainda verificamos que construções como olha, olha aqui e olha só compartilham, como configuração morfossintática, a mesma primeira subparte, olha, e compartilham também, semanticamente, extensões de sentidos, um deles é a impositividade do falante. Construções como olha lá, olhe lá, vê lá e veja lá compartilham a mesma segunda subparte, um adverbial com valor locativo, lá, o que agrega às construções compartilhamento de sentidos de extrapolação, encurtamento ou vagacidade do espaço discursivo. Em acréscimo às nossas análises, também verificamos que famílias de construções marcadoras discursivas podem se agregar em instâncias mais gerais, como por exemplo, olha aqui, olhe aqui, olha aí, olha lá e olhe lá podem ser agregadas pela mesoconstrução olhar(locativo); ou ainda, as construções vê só, veja só, vejam só, vê bem, veja bem e vejam bem podem ser agregadas pela mesoconstrução ver(focalizador). Diante dessa amostra parcial de nossas análises, concluímos que a rede dos marcadores discursivos perceptivo-visuais apresenta-se organizada de maneira que as construções, ou nós na rede, se correlacionam por links relacionais hierárquicos. Conforme Goldberg (1995) e Traugott e Trousdale (2013), esses links se mantêm por relações de extensões de sentidos, mapeamentos metafóricos, compartilhamentos de partes e subpartes e, ainda, por instanciações de possíveis generalizações. Palavras-chave: Gramática de Construção. Rede Construcional. Links Relacionais.

  • 8

    A CONSTRUÇÃO [XRLOC]:

    UMA ANÁLISE COGNITIVO-FUNCIONAL

    Flávia Saboya da Luz Rosa

    [email protected] Doutoranda em Estudos de Linguagem

    Universidade Federal Fluminense

    Resumo: Com base na abordagem da construcionalização e mudança construcional (TRAUGOTT; TROUSDALE, 2013), apresentamos a pesquisa, ainda em desenvolvimento, sobre a produtividade da macroconstrução [XrLoc] e a instanciação de marcadores discursivos refreador-argumentativos. As sequências formadas por elementos injuntivos, de função refreadora, seguidos de locativos, a saber, aguenta aí, alto lá, calma aí, calma lá, escuta aqui, espera aí, espera lá e segura aí, são analisadas, primeiramente, em recorte sincrônico. Os níveis de gramaticalidade observados serão, posteriormente, vinculados, em investigação diacrônica, aos tipos de contexto apontados por Diewald (2002, 2006): atípico, crítico e isolado, os quais, em tese, estão associados a estágios, cronologicamente ordenados, da origem das funções gramaticais. Consideramos que as formações mais avançadas no cline léxico-gramática constituem pareamentos de forma-função, isto é, são construções, que atuam no discurso. A formação do corpus sincrônico está sendo realizada por meio da coleta de dados no acervo digital de publicações dos diários do Congresso Nacional. A escolha dessa fonte de dados deu-se por entendermos que as deliberações parlamentares são intrinsecamente argumentativas, o que, por suposição, favorece a frequência de uso dos marcadores discursivos refreador-argumentativos. Os dados para o estudo diacrônico serão coletados, em princípio, em diferentes sites de corpus do Português e, em especial, em textos teatrais, por acreditarmos que haja nesse gênero maior probabilidade de sequências tipológicas argumentativas. Sendo assim, nossa tese principal é que, no português brasileiro, no domínio da marcação discursiva, existe uma mesoconstrução específica, de função refreador-argumentativa, formada por termos refreadores (XR) e pronomes locativos (Loc): [XRLoc]RA. A partir do exposto, formulamos nossas hipóteses mais gerais: a) a microconstrução espera aí atua como elemento exemplar da categoria em pesquisa, mostrando-se esquemática, de modo que outras micro são recrutadas a partir dela por meio de analogização; b) abertos os slots para a macroconstrução [XRLoc] a partir de espera aí, aquela passa a apresentar considerável produtividade no português do Brasil; c) os marcadores discursivos em questão são construções, pareamentos de forma e função, que passaram por estágios de contexto fonte, atípico, crítico e isolado. Palavras-chave: construção; marcador discursivo; argumentação.

  • 9

    A CONSTRUCIONALIZAÇÃO GRAMATICAL DE “PARA LÁ DE X”:

    UMA ANÁLISE BASEADA NO USO

    Vanessa Barbosa de Paula

    [email protected] Universidade Federal Fluminense

    Resumo: Nossa pesquisa volta-se para o processo de construcionalização gramatical e assume como objeto de estudo a construção “Para lá de X”, desempenhando a função de grau intensificador, em instanciações como: Lenine apresenta um show para lá de especial nos dias 8 e 9 de novembro, em Salvador.1 Nosso objetivo é investigar a rota de construcionalização da construção em foco. Interessa-nos analisar as propriedades construcionais de “Para lá de X”, os micropassos da mudança, as possíveis relações de herança (CROFT, 2003) entre a construção “Para lá de X” intensificadora, de sentido procedural, e os usos mais referenciais da mesma, na indicação de espaço e tempo (Ele mora para lá de Niterói /Chegou para lá de 11h), bem como a ideia da conceitualização de grau a partir de transferências metafóricas, especialmente, a ancoragem concreta da localização aplicada ao conceito intensificador. O corpus final da pesquisa será constituído por textos escritos do século XII até a sincronia contemporânea (séculos XX e XXI), do Corpus do Português, disponível em www.corpusdoportugues.org. Em levantamento preliminar de dados, num recorte sincrônico, realizado na nova adição ao site Corpus do Português (2016), que contém uma coletânea de páginas da web, recolhidas entre os anos de 2013 e 2014, verificamos que o uso da construção em análise, atuando como grau intensificador, em contextos em que o X é preenchido por um adjetivo, tem sido consideravelmente produtivo. Nossos dados apontam que, nesses contextos, a construção “Para lá de X” tem formado um novo arranjo linguístico, exibindo perda de composicionalidade (TRAUGOTT e TROUSDALE 2013), menor grau de referencialidade e aumento de abstraticidade e subjetividade. Sendo assim, essa construção, que tem sido recorrentemente recrutada para indicar a superelevação de conceitos em determinados contextos de uso, insere-se na classe dos elementos de grau intensificador, como um novo nó (membro) da rede, ampliando-a. Parece-nos relevante, portanto, a proposta investigativa de, por meio de uma abordagem histórica, baseada no uso, detectar os micropassos da mudança linguística em questão.

    1 Disponível em: www.corpusdoportugues.org/web-dial -http://www.bahianoticias.com.br/cultura/ . Acesso em agosto/2017.

  • 10

    A EMERGÊNCIA DO SIGNIFICADO CONSTRUTIVO A PARTIR DE

    ENQUADRES SEMÂNTICOS: ANÁLISE DOS ADVÉRBIOS PREPOSICIONAIS ANTES DE, DIANTE DE,

    EM FRENTE A/DE E EM FACE DE

    Fábio Rodrigo Gomes da Costa [email protected]

    Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) – Programa de Pós-graduação em Letras e Linguística – Mestrado – Estudos Linguísticos

    RESUMO: O presente trabalho tem como propósito analisar as construções formadas por advérbios preposicionais antes de, diante de, em frente a/de e em face de, designados por gramáticos tradicionais como locuções prepositivas, que apresentam diferentes instanciações de usos (espaço, tempo, causalidade). O objetivo é demonstrar que, apesar de serem originariamente de sentidos espaciais, tais construções formam uma rede de herança e as diferenças de significados (tempo, causa, entre outros) advêm da relação entre o papel do frames na caracterização da construção a que pertencem (tal como concebido pela literatura, por exemplo, FILLMORE, 1982, 1984; FRIED, 2005, 2007, 2010). O aporte teórico deste estudo está fundamentado no quadro teórico-metodológico da Linguística Funcional Centrada no Uso (TRAUGOTT; TROUSDALE, 2013, CROFT, 2001 entre outros), a qual preconiza que “qualquer padrão linguístico é reconhecido como uma construção desde que algum aspecto de sua forma ou função não seja estritamente previsível a partir das partes que o compõem ou a partir de outras construções reconhecidamente existentes” (GOLDBERG, 2006, p. 5). Soma-se que, em uma rede, determinada construção pode ser composta por (alguns) itens lexicais diferentes dos de outra construção, e tais itens podem, enquanto microconstrução, formar um ambiente particular de uso. Assim, “o emparelhamento de uma palavra com sua moldura de fundo significa que, quando entendemos uma palavra, devemos reconhecer simultaneamente a relevância da informação de fundo dentro da qual essa palavra desempenha um papel interpretativo” (FILLMORE, 2003). A fim de realizar esta investigação, foram observados usos dos advérbios preposicionais no jornal Folha de São Paulo, no ano de 2016-2017. Os principais resultados demonstram que a locução antes de foi encontrada no sentido de tempo e de resultado, as locuções diante de e em face de no sentido de causa e em frente a/de, em sua forma reduzida frente a, indicando comparação. Tais diferenças de usos focalizam que o significado da construção (diferenças/variações semânticas) emergem do significado construtivo do uso (contextual) a partir “das ‘instruções’ fornecidas simultaneamente por construções e dos enquadramentos (frames) semântico e interacional” (conforme postulado por FRIED, 2010). Palavras-Chave: Advérbios preposicionais; Linguística Funcional Centrada no Uso; Semântica de Frames.

  • 11

    A ESTRUTURAÇÃO DO IMPERATIVO NO PORTUGUÊS BRASILEIRO: UMA PERSPECTIVA CONSTRUCIONAL

    Izac Vieira Chaves [email protected]

    Universidade Federal de Goiás - UFG

    Resumo: Este trabalho busca descrever e analisar como se dá a estruturação construcional do imperativo no Português Brasileiro, entendendo o fenômeno não apenas como um modo do verbo, mas como um domínio semântico geral que se organiza via padrões abstratos e em rede. Busca-se a comprovação de que existe uma mudança na configuração desse domínio gramatical, que prototipicamente e com base em padrões normativos deveriam se organizar com uma configuração formal própria, mas que no uso se expressam em formas equivalentes ao modo indicativo e também ao subjuntivo. O objetivo geral da pesquisa é descrever e analisar os padrões construcionais imperativos no PB contemporâneo. Já os objetivos específicos são: Selecionar em um corpus específico do PB padrões construcionais da expressão da imperatividade, a fim de verificar a trajetória de uma mudança construcional; descrever tais padrões de usos, a partir da Gramática de Construções, considerando que a imperatividade é um subdomínio semântico relativo ao modus; analisar os aspectos formais e funcionais relativos a esses padrões. A partir de dados históricos do Português, reconhecer a instanciação e a implementação dessa mudança e descrever, a partir da noção de contexto proposta por Dewald, os contextos de mudança. O pressuposto é o de que o Português Brasileiro é uma língua de forte marcação intersubjetiva o que se revela na gramática, especialmente no modo imperativo que é o modo da injunção – O discurso injuntivo é definido como sendo aquele que espera uma ação do outro. Porém, sem marcação direta, como por exemplo: “Sai daqui!” A hipótese é a de a de que a realização do imperativo constitui uma (nova) configuração mental no PB e que a organização construcional do imperativo se dá a partir de formas análogas ao indicativo e ao subjuntivo, ou seja, o modo imperativo não dispõe de uma organização formal própria. Ou seja, o mesmo padrão estrutural representa diferentes domínios do modo. Os corpora prioriza dados da língua e uso efetivo: O corpus do Português Brasileiro; O corpus do Projeto “Fala Goiana”; corpus do Banco de dados interacionais; amostragem não sistematizada e dados de escrita diversos. Fundamentação Teórica: LFCU – Linguística Funcional Centrada no Uso: Orientação teórica que analisa a língua emergente do uso e do discurso, sendo considerada uma atividade interativa e cooperativa constituída a partir das relações sociais. Caracteriza-se por encarar o fenômeno linguístico como processo e produto da interação humana, da atividade sociocultural. Nessa linha, a relação entre forma e função é motivada, o que significa que as estruturas da língua são moldadas em termos dos usos a que servem na interação verbal. (Thompson, Couper-Kuhlen, 2005). Gramática de Construções: Perspectiva teórica de base sócio funcional cognitiva, que tem como unidade básica a construção, definida como um pareamento de forma e função, um padrão abstrato e que reconhece a gramática como uma rede de construções. Goldeberg (1995, 2006) Langacker (1987, 2005,2008,2013), Tomasello (2008, 2009), Traugot e Trousdale (2013), Croft (2001), Furtado da Cunha (2014),

  • 12

    Martelotta (2011) Neves (2013, 2014), Bybee (2010, 2015), Castilho (2013). Scherre (2002). Entre outros.

  • 13

    A FORMAÇÃO HISTÓRICA DA CONSTRUÇÃO [XQUE]CONCESSIVA:

    UMA ABORDAGEM COGNITIVO-FUNCIONAL

    Thiago dos Santos Silva [email protected]

    Universidade Federal do Rio de Janeiro

    Resumo: A pesquisa apresenta resultados de estudos relativos à formação de duas construções em competição no português: ainda que, uma instanciação da construção mais abstrata [Xque]CONEC e embora, derivada da locução adverbial em boa hora. Busca, ainda, analisar a estruturação da rede construcional nos diferentes períodos da história do português. Utilizamos como corpus textos históricos a partir do século XVI com o objetivo de identificar os estágios pelos quais as construções passaram, visto que houve reorganizações da rede costrucional em cada estágio verificado, ou seja, da gramática da língua. Dessa forma, novos nós (pareamentos forma-função) surgiram e estabeleceram conexões sintáticas e semânticas com outros elementos já existentes. Por exemplo, a construção ainda que passa a fazer parte do paradigma que inclui o conectivo embora, que possui outra origem na língua. A pesquisa está inserida numa abordagem construcionista de mudança linguística apresentada por Traugott e Trousdale (2013) em que a língua é vista como uma rede de construções, com nós e links organizados de modo hierárquico, e o papel do linguista que pretende trabalhar com Linguística Histórica passa, nesta visão, a ser voltado para o estudo das micro-mudanças que levam à mudança dos links e à criação ou apagamento de nós. (cf. Santos Silva, Cezario, 2015). Utilizamos, em nossa análise, os pressupostos teóricos da Linguística Funcional Centrada no Uso, tal teoria tem a concepção de que a língua é uma estrutura maleável e que o contexto real de uso juntamente com a cognição humana são fundamentais para que ocorram as mudanças linguísticas. Em nossa análise preliminar, foi possível observar que a construção ainda que não estava presente no século XV, assim como várias outras construções com a forma [Xque], como uma vez que, já que, dentre outras. A análise permitiu ver também que ainda que já surge como uma construção concessiva por analogia. Ou seja, não passou primeiro por um valor de construção temporal. Já a construção embora, provinda da construcionalização gramatical da construção em boa hora, primeiro tinha um valor temporal e depois, por inferência induzida pelo contexto (cf. Martelotta, 2011), passou a ter valor concessivo.

  • 14

    A INSTANCIAÇÃO DE CONSTRUÇÕES EXPRESSIVAS COM

    “SUPER”, “MEGA”, “HIPER” E “ULTRA” NA LÍNGUA PORTUGUESA

    Lauriê Ferreira Martins Dall’Orto

    [email protected] Universidade Federal de Juiz de Fora

    Patrícia Fabiane Amaral da Cunha Lacerda [email protected]

    Universidade Federal de Juiz de Fora Resumo: O presente trabalho tem como objetivo geral investigar a instanciação de construções expressivas com “super”, “mega”, “hiper” e “ultra” na língua portuguesa, tomando como base os pressupostos da abordagem denominada Linguística Funcional Centrada no Uso (BYBEE, 2010, 2015; MARTELOTTA, 2011; FURTADO DA CUNHA et al., 2013; TRAUGOTT & TROUSDALE, 2013; ROSÁRIO & OLIVEIRA, 2016; BISPO & SILVA, 2016). A abordagem da Linguística Funcional Centrada no Uso (LFCU) tem como postulado a relação entre as estruturas linguísticas e as suas funções discursivas, considerando a situação comunicativa como sendo a motivação para os fatos da língua. Partindo da noção de construção proposta pela Gramática das Construções (GOLDBERG, 1995, 2006; CROFT, 2001), a LFCU entende a língua como uma rede taxonômica de pareamentos forma-função, os quais se organizam de maneira hierárquica e correlacionada. Nesse sentido, cada pareamento forma-função, ou construção, é entendido como sendo representante de um nó na rede construcional. Sendo assim, nossos objetivos específicos são os seguintes: (i) identificar os padrões construcionais que configuram as construções expressivas com “super”, “mega”, “hiper” e “ultra”, de maneira a sistematizá-los a partir dos quatro níveis de esquematicidade propostos por Traugott (2008a, 2008b) – macroconstrução, mesoconstrução, microconstrução e construto – e (ii) demonstrar como tais construções estariam organizadas de maneira hierárquica em uma rede construcional comum, conforme propõem Traugott e Trousdale (2013). É nesse contexto que discutiremos o papel fundamental do mecanismo da analogização na emergência das construções expressivas analisadas. A analogização diz respeito à atração de formas e/ou funções já padronizadas na língua que promove a reconfiguração das dimensões internas de uma construção (TRAUGOTT, 2011). Para tanto, constituímos uma amostra de análise, cujos textos, retirados de blogs e de revistas disponíveis na Internet, foram distribuídos em três níveis de formalidade e em três diferentes sincronias. A constituição de toda a amostra está pautada nas diretrizes apresentadas por Vitral (2006): cada corpus foi composto por uma diversidade de gêneros textuais e tem o mesmo recorte de número de palavras (ou número aproximado), e, ainda, os corpora se distanciam o máximo possível no tempo. Nossa análise se realiza, desse modo, a partir do equacionamento entre a análise qualitativa e o cálculo da frequência de uso, uma vez que objetivamos identificar e descrever os pareamentos forma-função vinculados a cada nível de esquematicidade, os quais se convencionalizam na língua a partir do aumento da frequência de uso. Os resultados obtidos, até o momento, apontam que a macroconstrução {[Xop] + [Yvar]}int/foc, que teria sido instanciada no e pelo contexto de uso, tem como função mais geral e mais abstrata o posicionamento expressivo do locutor com atitudes intensiva e focalizadora.

  • 15

    Além disso, foram identificadas três mesoconstruções que abarcariam construções individuais, as quais articulariam sentidos cada vez mais [+(inter)subjetivos], bem como as microconstruções exemplares ou mais prototípicas, que representam determinada categoria, e outras mais específicas. Palavras-chave: Rede construcional. Níveis de esquematicidade. Analogização. Construções expressivas. “Super”, “mega”, “hiper” e “ultra”. Referências: BISPO, E. B.; SILVA, J. R. Variação linguística, mudança linguística e construcionalização. In: XXI SEMINÁRIO DO GRUPO DE ESTUDOS DISCURSO & GRAMÁTICA E VIII SEMINÁRIO INTERNACIONAL DO GRUPO DE ESTUDOS DISCURSO & GRAMÁTICA. Rio de Janeiro: UFRJ, 2016. BYBEE, J. L. Language, usage and cognition. Cambridge: Cambridge University Press, 2010. ______. Language change. Cambridge: Cambridge University Press, 2015. CROFT, W. Radical construction grammar: syntactic theory in typological perspective. New York: Oxford University Press, 2001. FURTADO DA CUNHA, M. A.; BISPO, E. B.; SILVA, J. R. Linguística funcional centrada no uso: conceitos básicos e categorias analíticas. In: CEZÁRIO, M. M.; FURTADO DA CUNHA, M. A. (orgs.). Linguística centrada no uso: uma homenagem a Mário Martelotta. Rio de Janeiro: Mauad, 2013, p. 13-44. GOLDBERG, A. E. Constructions: a construction grammar approach to argument structure. Chicago: University of Chicago Press, 1995. ______. Constructions at work: the nature of generalization in language. Oxford: Oxford University Press, 2006. MARTELOTTA, Mário Eduardo. Mudança linguística: uma abordagem baseada no uso. São Paulo: Cortez, 2011. ROSÁRIO, I. da C. do.; OLIVEIRA, M. R. de. Funcionalismo e abordagem constructional da gramática. Alfa, São Paulo, 60 (2), p. 233-259, 2016. TRAUGOTT, E. C.; TROUSDALE, G. Grammaticalization, constructions and the incremental development of language: suggestions from the development of degree modifiers in English. In: ECKARDT, R.; JÄGER, G.; VEENSTRA, T. V. (eds.). Variation, Selection, Development: Probing the Evolutionary Model of Language Change. Berlin/New York: Mouton de Gruyter, 2008a, p. 219-250. ______. All that he endeavoured to prove was...: on the emergence of grammatical constructions in dialogic contexts. In: COOPER, R.; KEMPSON, R. (eds.). Language in flux: dialogue coordination, language variation, change and evolution. London: Kings College Publications, 2008b, p.1-31. ______. Grammaticalization and mechanisms of change. In: NARROG, H.; HEINE, B. (eds.). The Oxford handbook of grammaticalization. New York: Oxford University Press, 2011a, p. 19-30. ______. Constructionalization and Constructional Changes. Oxford: Oxford University Press, 2013. VITRAL, L. O papel da frequência na identificação de processos de gramaticalização. Scripta, vol. 9, n. 18. Belo Horizonte, 2006, p. 149-177.

  • 16

    A MULTIFUNCIONALIDADE DA CONSTRUÇÃO COMO SE SOB A

    PERSPECTIVA DA LINGUÍSTICA FUNCIONAL CENTRADA NO USO

    Samara Costa Moura [email protected]

    UFF

    Resumo: este projeto busca analisar, sob o viés da Linguística Funcional Centrada no Uso (LFCU), a multifuncionalidade do conectivo “como se” no Português Brasileiro (PB), especificamente, na língua falada – momento em que a língua se concretiza com a influência de fatores externos ao sistema linguístico. O tratamento dado pela gramática às orações comparativas não é suficiente para explicar os fenômenos presentes no uso real e concreto da língua. Veja-se como exemplo a oração em análise que, para a maioria dos gramáticos, parece sofrer um desdobramento em duas orações: sendo a primeira comparativa e a segunda condicional: O velho fidalgo estremeceu como estremeceria se acordasse sobressaltado. (Bechara, 1999, p. 361) Por outro lado, há gramáticos que consideram o conectivo “como se” um conglomerado comparativo-hipotético: O velho fidalgo estremeceu como se acordasse sobressaltado. (Rocha Lima, 2011, p.350). Para este trabalho, propomo-nos a analisar as construções comparativas hipotéticas através da abordagem Linguística Funcionalista Centrada no Uso (LFCU), para a qual a motivação dos fatos da língua é característica fundamental para a investigação linguística. De um modo geral, apresentamos dois objetivos, a saber: a) analisar a ocorrência do conectivo “como se” em situações reais de uso da língua falada, com base no Corpus do Português, disponível em: http://www.corpusdoportugues.org/hist-gen/2008/x.asp; b) verificar a multifuncionalidade sintática e semântica do conectivo em estudo, considerando as suas implicações no contexto interacional. A escolha da Linguística Funcional Centrada no Uso (LFCU) para este trabalho justifica-se pelo fato de considerarmos como base de dados a língua em uso, e não a língua como um sistema virtual, previsível. A análise dos dados será feita com base no Corpus do Português, disponível em: http://www.corpusdoportugues.org/hist-gen/2008/x.asp.

    No decorrer da pesquisa piloto, observaram-se as seguintes estruturas apresentadas pelo conectivo “como se”:

    1. Então, tenho um compromisso muito maior. Não posso pensar Fortaleza

    hoje como se fosse há seis anos. Fortaleza cresceu porque os investimentos estão vindo de fora. 2. Mas acho que se vem atribuindo muita coisa à globalização, como se ela fosse uma espécie de serva de um poder invisível, do qual não se fala. Isso explica a posição fatalista que está embrenhada em certo tipo de ideologia dominante.

    No exemplo 1, podemos fazer a seguinte análise: o falante compara a cidade de Fortaleza da atualidade com a cidade de Fortaleza de há seis anos. Logo no período seguinte, ele reforça a ideia de que hoje em dia a cidade cresceu muito em relação ao passado, o que nos revela que o conectivo “como se” pode aparecer em uma construção

  • 17

    referida a fato existente, visto que o falante compara duas situações vividas por ele, o que refuta uma das análises feitas pela gramática tradicional.

    No exemplo 2, o falante faz uma comparação hipotética em relação à globalização, uma vez que ele compara um termo abstrato (globalização) com a ideia de servidão de um poder do qual não se fala, não se conhece. Nesse caso, vemos que o conectivo “como se” pode aparecer em construção referida a fato inexistente, já que não se pode comparar, de fato, a globalização como serva de um poder invisível.

    Portanto, nessa primeira etapa, evidenciamos a multifuncionalidade do conectivo “como se”, que, como visto nos exemplos, ora aparece em construção referida a fato existente, ora aparece em construção tendendo ao processo de abstratização, já que expande seu sentido base de comparação.

    A partir dos resultados iniciais, busca-se contribuir com os estudos na área da Linguística Funcional Centrada no Uso (LFCU), de maneira que professores e/ou estudiosos da língua possam repensar os conceitos de construções comparativas difundidos nas gramáticas normativas.

  • 18

    A MULTIFUNCIONALIDADE DO ENFIM

    Jaqueline Cristina Rocha Marcondes Azevedo (UFF/CCO/D&G) [email protected]

    Ivo da Costa do Rosário (UFF/CCO/D&G)

    Resumo: A proposta deste trabalho consiste em um estudo do advérbio enfim. Objetivamos observar os contextos linguísticos para os quais o item é recrutado e os valores semânticos e sintáticos que essa partícula pode assumir. A pesquisa é orientada pela Linguística Funcional Centrada no Uso, uma vez que nosso objetivo é descrever e sistematizar os usos funcionais do enfim em contextos reais. Ao revisar algumas gramáticas tradicionais e dicionários, verificamos que o enfim – ou seus equivalentes finalmente e por fim – é, basicamente, referido como advérbio de tempo (HOUAISS, 2009). Outros autores, porém, abordam o enfim com valor semântico resumitivo ou conclusivo (caso em que atua como operador argumentativo) ou, ainda, como marcador discursivo, quando é possível observar opacidade semântica e atuação no nível pragmático (FRASER, 2006 e PENHAVEL, 2010). Para este trabalho, utilizamos os dados de língua escrita (a partir daqui, LE) do D&G e da Revista Veja On-line, procurando contrastar o nível de monitoramento dos usos linguísticos em ambos os corpora, com o objetivo de flagrar os diferentes usos do enfim em situações discursivas diversas. Os dados são tratados quantitativa e qualitativamente, uma vez que tanto a frequência de uso quanto a descrição do ambiente linguístico são importantes para que seus valores semânticos e sintáticos possam ser flagrados. Nossa hipótese é a de que o enfim seja uma partícula multifuncional, passando por transformação e expansão de significado, em um continuum, que parte de a) um valor semântico de tempo (relacionado a sua abordagem canônica de advérbio), b) passa pelo valor semântico resumitivo-conclusivo, em que funcionaria como operador argumentativo; até chegar a c) uso do enfim como marcador discursivo (TEMPO > RESUMO > MARCADOR DISCURSIVO). Esse cline associa-se com a escala ESPAÇO > TEMPO > TEXTO, apresentada por Hopper e Traugott (1997). Os resultados parciais demonstram que o valor semântico de resumitivo-conclusivo é mais produtivo em contextos de LE menos monitorada e em eventos de língua oral formal (usos encontrados nos discursos diretos transcritos nos dados da Revista Veja On-line), e que há grande produtividade do valor de tempo nos dados de LE mais monitorada, principalmente nas sequências tipológicas narrativa e expositiva. Palavras-chave: Linguística Funcional Centrada no Uso; conector; advérbio; multifuncionalidade.

  • 19

    A VEICULAÇÃO DE INFORMAÇÃO EM CONSTRUÇÕES CLIVADAS

    DO PORTUGUÊS BRASILEIRO CONTEMPORÂNEO ESCRITO

    Felipe Aleixo [email protected]

    Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” – UNESP Universidade Federal de Roraima – UFRR

    Resumo: Neste estudo de base funcionalista, resultante da pesquisa de Mestrado já concluída, realizamos a descrição e a análise das construções clivadas do “português brasileiro contemporâneo escrito”, com o objetivo central de interpretar e avaliar como a informação é veiculada pelos constituintes focais dessas sentenças. Além disso, buscamos perceber se a informação pode motivar o uso de um determinado tipo de estrutura clivada em detrimento de outro. Para isso, elegemos cinco tipos de construções clivadas, a saber, Clivadas Propriamente Ditas (CLIV), Construções É Que (É QUE), Construções Que (QUE), Construções Pseudoclivadas (PC) e Construções Foco Ser (SER) (PRINCE, 1979; BRAGA, 1989; LONGHIN, 1999), que compõem o nosso córpus de pesquisa, com um total de 127 ocorrências, extraídas de 1208 textos da modalidade de enunciação escrita do português. Esses textos fazem parte dos principais cadernos do jornal Folha de S. Paulo e foram produzidos durante o mês de janeiro de 2014. Metodologicamente, adotamos uma perspectiva quali-quantitativa, em que os dados foram analisados de acordo com seis grupos de fatores, a saber: estatuto informacional, grau de ativação dos referentes, categoria gramatical, função sintática, dimensão e contraste – todos esses fatores são analisados diante dos constituintes focais das sentenças clivadas. A codificação dos dados foi operacionalizada por meio do software GoldVarb X, a fim de obter os resultados estatísticos de frequência e a fim de realizar a tabulação cruzada entre a frequência do estatuto informacional das sentenças clivadas e a frequência de cada parâmetro sintático-discursivo. Por meio dos resultados obtidos, vimos que o estatuto informacional mantém forte relação com a produção de categorias gramaticais (como sintagmas nominais), de funções sintáticas (como sujeitos e circunstanciais) e, sobretudo, com a dimensão dos constituintes focais (curtos = informação dada; médios e longos = informação nova). Os grupos de fatores “grau de ativação” e “contraste” dos constituintes focais não permitiram inferências objetivas sobre a sua relação com o estatuto informacional das sentenças clivadas.

  • 20

    ADVERBIALIZANDO-SE IMENSO: A CONSTRUÇÃO [V AA] NO

    PORTUGUÊS EUROPEU ATUAL

    Manuel Coutinho da Assunção Junior

    [email protected] Graduando em Letras (Português-Inglês)/UFRJ

    Orientadora: Profª Drª Priscilla Mouta Marques/UFRJ Resumo: Este trabalho, relacionado ao projeto “Entre nós e links: análise dos adjetivos adverbializados sob uma perspectiva construcional”, coordenado pela professora Priscilla Mouta Marques, pretende mapear a rede da construção com adjetivo adverbializado no português europeu e, posteriormente, compará-la à rede equivalente no português brasileiro. Para que possamos alcançar tais objetivos, baseamo-nos na linha teórico-metodológica da Linguística Funcional Centrada no Uso, concebendo, dessa forma, a língua como uma rede simbólica de construções (Goldberg, 1995, 2006; Hudson, 2010; Traugott e Trousdale, 2013), sendo estas, por sua vez, unidades de pareamento forma-sentido. Assim, ao descrevermos a rede da construção com adjetivo adverbializado sob essa ótica, podemos depreender a configuração de suas diferentes instanciações de uso e correspondentes representações mentais. Investigamos, pois, os níveis da forma e do sentido, a partir da análise de fatores estruturais e discursivo-pragmáticos relacionados à construção, como os tipos verbais e adjetivais licenciados, a ordenação dos elementos componentes e a presença de possíveis elementos intervenientes, a estrutura informacional e o nível de formalidade textual em que esta construção ocorre. Para tal, lançamos mão da versão mais recente do Corpus do Português, que nos disponibiliza uma vasta gama de ocorrências presentes em diversos domínios discursivos e gêneros textuais, o que possibilita que façamos um rastreamento mais aprofundado das influências dos contextos discursivos na utilização (ou não utilização) da construção analisada. Ademais, buscamos, em nossa pesquisa, dialogar com a variada literatura linguística existente acerca do objeto analisado. Dentre os teóricos e seus trabalhos existentes na área, baseamo-nos especialmente em Hummel, devido aos estudos desenvolvidos pelo autor acerca do tema nas línguas românicas (Hummel, 2003, 2011, 2013). Destacamos que, embora Hummel (2002) afirme que a construção com adjetivo adverbializado esteja mais fortemente relacionada à informalidade e à oralidade, supomos que a mesma ocorra também em textos escritos e/ou mais formais. Essa hipótese deve-se à possibilidade de que a construção referida seja a única forma disponível no sistema linguístico do falante para desempenhar um propósito comunicativo específico, que, possivelmente, não é completamente preenchido pelos demais padrões construcionais adverbiais de mesma base lexical, como os advérbios em -mente ou as locuções adverbiais. Hipotetizamos, portanto, que há diferenças discursivo-pragmáticas no uso da construção [Verbo Adjetivo Adverbializado], em comparação às outras construções adverbiais de mesma base lexical. Além disso, através de nossa análise, procuramos comprovar que, nas variedades do português sob observação, a rede da construção com adjetivo adverbializado configura-se de forma distinta, sendo o objeto desta pesquisa, a construção [V AA], mais produtiva no português brasileiro do que sua contraparte europeia, conforme aponta Hummel (2002, 2003).

  • 21

    AÍ TÁ: UMA ABORDAGEM FUNCIONAL CENTRADA NO USO

    Monique Borges Ramos da Fonseca [email protected]

    Universidade Federal Fluminense- UFF

    Resumo: O presente trabalho consiste no levantamento, na descrição e análise do constructo aí tá em textos orais produzidos na sincronia do início do século XX até os anos iniciais do século XXI. O aporte teórico-metodológico se fundamenta na LFCU, a qual concilia pressupostos da linguística funcional norte-americana, no que se refere ao estudo da língua em uso, e da linguística cognitiva, no que tange à perspectiva construcional da gramática, privilegiando aspectos contextuais, propriedades formais e funcionais da construção, conferindo maior rigor à análise qualitativa de abordagem construcional. Objetivamos comprovar a instanciação da microconstrução aí tá pelo esquema LocVconect estabelecido por Rocha (2016), o estatuto construcional do constructo aí tá, a distinção de suas propriedades formais e funcionais em relação ao constructo aí está e traços de sua função conectora e marcadora do discurso. A LFCU é pautada no método indutivo de coleta de registros de uso da língua e em sua análise contextual e qualitativa. Para atender os objetivos comprobatórios que traçamos, fizemos uma comparação de registros da microconstrução aí está com os de aí tá. Enfatizamos que nos interessa os contextos em que aí tá se comporta como uma nova microconstrução na rede linguística, havendo descarte, nesta fase da pesquisa, do emprego adjunto de aí e tá que não correspondam ao uso construcional. Rocha (2016) estabelece a função conectora para o padrão construcional LocV. Defendemos que aí tá é uma nova microconstrução instanciada por LocVconect, uma vez que também atua na conexão de porções textuais em textos falados. No entanto, aí tá apresenta propriedades formais e funcionais que se distinguem das de sua microconstrução mais próxima na rede construcional de LocVconect, aí está, assumindo função no domínio pragmático-discursivo, atuando na marcação discursiva, o que nos sugere seu deslocamento funcional, por isso, não se tratando de uma variação da microconstrução aí está, mas, sim, de uma nova micro na rede. Obtivemos, como resultado, dois subtipos distintos de uso da microconstrução aí tá que se distinguem da microconstruçao aí está, conforme os registros abaixo: (I) Deixaram o sultão todo encabulado no tamborete do piano e vieram discutir na sala de jantar. (Famílias distintas. Não tem nada demais. As filhas de Dona Ernestina iam. E eram filhas de vereador. Aí está. Acabava cedo. Só se o Crispiniano for também. (II) aí ele foi chegou perto de mim... descumpri com a minha palavra... fui... e saí com ele... aí tá... depois eu comecei a pensar... né? a minha colega chegou e falou assim “poxa... Flávia... (III) Aí então o lobo mau falou assim: “bunita a vó di menina”. Então eles pregavam uma mentira falandu que a Dona Benta já foi avó di minina. Que agora ela é tia, mas era mentira, ela não, nunca foi tia di menina, ela é avó di minina. Aí... tá. Depois... o lobo mau falô assim: (...) Segundo Rocha (2016), em (I), aí está em seu contexto de uso construcional atua para "progressão dos enunciados no tempo do discurso como uma interligação anafórica/catafórica entre enunciados " (ROCHA, 2016, p.86).

  • 22

    Em (II) e em (III) detectamos a funcionalidade discursiva de arremate, desfecho, no uso de aí tá que, na interposição de retornar a uma informação prévia (anaforicamente) e projetar o encadeamento dos fatos (cataforicamente), focaliza o ponto em que se dá o desfecho de um segmento enunciado e a continuidade do fluxo informacional, amarrando o texto. Nos registros similares a (III), há retomada da narrativa após uma digressão do falante. Dada a similaridade dos usos de aí tá com a função de sequenciador retroativo-propulsor de Tavares (2011), nomeamos os registros similares a (II) como arrematador sequenciador retroativo-propulsor de prosseguimento e os similares a (III) como arrematador sequenciador retroativo-propulsor de retomada.

  • 23

    AMBIGUIDADE DA CONSTRUÇÃO “POR (DET) + N + (PREP)”

    Joyce Roberta Gomes dos Santos [email protected]

    Universidade Federal do Rio de Janeiro Maria da Conceição de Paiva

    [email protected] Universidade Federal do Rio de Janeiro

    Resumo: Esta apresentação focaliza os sintagmas preposicionais formadas por “POR (DET) + N + (PREP)” na modalidade escrita, como exemplificado em: (i) “E' por isso que a historia política não deixa de reclamal-o também por sua acção no parlamento e no abolicionismo.” (Provocações e debates-Contribuição para o Estudo do Brazil Social, séc. XX). (ii) “A separação não se fez já, com o auxilio e sob o protectorado da Allemanha, por causa das perturbações que isto acarretaria deante da previdente doutrina de Monroe.” (Provocações e debates-Contribuição para o Estudo do Brazil Social, séc. XX). O nosso objetivo é analisar, a partir de pressupostos dos modelos baseados no uso, a ambiguidade dessa construção ao longo dos séculos XIX e XX. Embora ela indique, mais frequentemente, a relação causal, ela pode codificar outros valores semânticos, como de meio/instrumento, finalidade e tempo. Através do levantamento dessas construções em textos representativos dos dois séculos, procuramos identificar fatores que favorecem a interpretação causal desse Sprep. Mostramos que, dentre esses fatores, destaca-se o domínio em que a relação causal se estabelece: domínio referencial, epistêmico e dos atos de fala (Sweetser 1990, Paiva 1991, Dancygier e Sweetser 2000). Os resultados preliminares, baseados na análise de 4 textos, mostram que a construção “POR (DET) + N + (PREP)” é menos ambígua quando codifica uma relação causal no domínio referencial. Referências DANCYGIER, Barbara. Constructions with if, since and because: Causality, epistemic stance, and clause order. In Cause, condition, concession, contrast, eds. Elizabeth Couper - Kuhlen and Bernd Kortmann. Berlin: Mouton de Gruyter, 2000, p. 111-142. PAIVA, Maria da Conceição. Ordenação de cláusulas causais: forma e função. Tese de doutorado apresentada ao Programa de pós-graduação em Linguística, 1991. SWEETSER, Eve. From etymology to pragmatics: metaphorical and cultural aspects of semantic structure. Cambridge: Cambridge University Press, 1990.

  • 24

    ANÁLISE FUNCIONAL DAS CONSTRUÇÕES ORACIONAIS

    CONFORMATIVAS

    Myllena Paiva Pinto de Oliveira [email protected]

    Universidade Federal Fluminense (UFF)

    Resumo: O presente trabalho tem como tema central as tradicionais orações subordinadas adverbiais e vincula-se ao Grupo de Pesquisa Conectivos e Conexão de Orações (CCO) liderado pelo Prof. Dr. Ivo da Costa do Rosário (UFF). As poucas informações encontradas na literatura sobre o assunto justificam a pesquisa; geralmente em poucas linhas se descrevem as adverbiais conformativas nas gramáticas descritivas e normativas e, no âmbito de abordagens não tradicionais, também se encontram parcos trabalhos. Denomina-se o objeto de construções oracionais conformativas por se adotar o arcabouço teórico-metodológico da Linguística Funcional Centrada no Uso (LFCU), especialmente a abordagem construcional da gramática, preconizada por Traugott e Trousdale (2013). O conceito de construção, portanto, abrange desde itens até cláusulas complexas. O objetivo do trabalho é descrever e analisar as funções dessas construções buscando-se detectar também seus pares formais. Para isso, utilizando-se de exemplos retirados de contextos reais de uso, como corpus adotaram-se todas as edições (2008 a 2017) da Revista Poli: saúde, educação e trabalho. A pesquisa se deu pelos conectivos listados nas gramáticas (BECHARA, 2009, NEVES, 2011) como introdutores desse tipo de construção: conforme, consoante, segundo e como. Foram observados dados como estes: "Depois do 13 de maio de 1888, como afirma Flávio Gomes, os quilombos sumiram da documentação oficial, invisibilizados pela liberdade que conquistaram" (Poli, n. 42, 2015, p. 32); e "Para ele, a previsão de crescimento negativo para o ano que vem, conforme preveem as consultorias privadas, ou mesmo o crescimento pequeno de 0,2% projetado pelo governo não jogam a favor de uma melhoria no mercado de trabalho. (Poli, n. 42, 2015, p. 17). Acreditava-se que seriam encontrados mais dados com o conectivo conforme, tendo em vista sua transparência lexical, que evidencia a noção conformidade. Contudo, o como foi o conectivo com maior frequência token (Bybee, 2003). Nenhum dado apresentou o consoante como conectivo. Os resultados parciais evidenciam que essas construções podem desempenhar, pelo menos, três funções, quais sejam: validação, atribuição de fonte, anunciação endofórica. Consideram-se até aqui como fator de análise a posição do segmento conformativo, a semântica do verbo presente nele, o escopo do segmento (não oracional, oracional etc.) e a polaridade dos segmentos. Ainda é preciso avançar na pesquisa para se chegar a resultados mais conclusivos.

  • 25

    AS CONSTRUÇÕES ADVERBIAIS QUALITATIVAS E

    MODALIZADORAS NOS SÉCULOS XIX E XX

    Ester Moraes Gonçalves

    E-mail: [email protected] Universidade Federal do Rio de Janeiro

    Resumo: Este trabalho tem como eixo norteador observar o comportamento das construções adverbiais qualitativas e modalizadoras (Preposição+SN) nos séculos XIX e XX. Como corpus, utilizamos cartas disponibilizadas pelo PHPB (Projeto Para a História do Português Brasileiro). Para tal estudo, consideramos as partes que compõem essas construções e que contribuem para as nuances de sentido que delas emergem. Sendo assim, a metodologia deste trabalho consistiu em buscar construções adverbiais qualitativas (com valores de instrumento, meio e modo) e modalizadoras (epistêmica, atitude proposicional e ato de fala) no corpus. Após a coleta de dados, iniciamos as análises qualitativa e quantitativa, nas quais nos atentamos aos seguintes fatores: i) tipo de construção (qualitativa/modalizadora); ii) tipo verbal; iii) item verbal; iv) preposição; v) tamanho do sintagma nominal. Alguns dos nossos objetivos são: verificar quais os tipos verbais e itens verbais mais recorrentes nas construções adverbiais qualitativas e quais os mais recorrentes nas modalizadoras; analisar se o tamanho dos sintagmas nominais presentes nessas construções influencia em seu tipo (qualitativo/modalizador); averiguar quais as preposições mais frequentes com cada tipo de construção. Com relação à fundamentação teórica, embasamo-nos, sobretudo, na Linguística Funcional Centrada no Uso e seus pressupostos. De acordo com tal corrente, a língua se molda de acordo com as necessidades comunicativas do falante em contexto real de uso. Sendo assim, neste processo, considera-se que o discurso e a gramática estão em constante intercâmbio, em outras palavras, o discurso se alimenta da gramática assim como esta se alimenta do discurso. Ademais, trabalha-se aqui com a ideia de continuum, o que supõe que não há uma divisão nítida entre os adverbiais, podendo uns se apresentar de maneira mais prototípica que outros, possibilitando, então, a manifestação de polissemia. Portanto, tendo em conta que entre os adverbiais podem ser recorrentes os casos ambíguos, um dos objetivos deste trabalho é analisar tais ocorrências entre as construções adverbiais qualitativas e modalizadoras, observando possíveis processos de mudança. Até o momento, os resultados indicam que o tipo verbal mais recorrente com as construções qualitativas é o tipo material, que abrange verbos de ação/processo. Também averiguamos que o tamanho do sintagma nominal contido nas construções modalizadoras tende a se limitar a uma palavra e três sílabas, enquanto a maioria das construções qualitativas abarca sintagmas com mais de três sílabas e mais de duas palavras. A preposição que mais ocorreu com as construções qualitativas foi a “com”, enquanto com as modalizadoras ocorreu mais a preposição “sem”.

  • 26

    AS CONSTRUÇÕES CORRELATAS ADITIVAS NO SÉCULO XVIII SOB

    A PERSPECTIVA DA LINGUÍSTICA FUNCIONAL CENTRADA NO USO

    Brenda da Silva Souza [email protected]

    Universidade Federal Fluminense – UFF

    Resumo: Este trabalho pretende expor as conclusões de um projeto de Iniciação Científica desenvolvido no período de agosto de 2016 a agosto de 2017, cuja proposta foi analisar as construções correlatas aditivas do tipo não só X mas também Y, no espaço temporal do século XVIII. Partimos da hipótese de que a correlação aditiva se distingue da coordenação aditiva tanto sintática, quanto semanticamente, conforme trabalhos anteriores sobre esse mesmo tema em recortes temporais distintos, como Rosário (2012) e Gervasio (2016). A partir desse entendimento, nossa proposta foi analisar essas construções como um fenômeno linguístico distinto, contrariando as classificações utilizadas pela maior parte dos gramáticos brasileiros e pela Nomenclatura Gramatical Brasileira (NGB). Nossas análises foram desenvolvidas sob o aporte teórico da Linguística Funcional Centrada no Uso (LFCU). Apoiados na definição de Goldberg (1995, p. 04) sobre as construções serem as unidades mais básicas da linguagem, constituindo um pareamento entre forma e sentido, e no pressuposto funcionalista da relação simbiótica entre gramática e discurso (FURTADO DA CUNHA, BISPO & SILVA, 2013, p. 14), entendemos que a gramática de uma língua está sujeita a constantes mudanças e adaptações conforme os fatores interacionais e as diferentes situações, que proporcionam tanto a emergência como modificações de construções na língua. De acordo com essa perspectiva, a língua deve, então, ser estudada em seu uso efetivo numa situação comunicativa concreta e não artificial, para que seja possível descrever os fatos linguísticos em seus contextos reais de uso. Assim, nosso corpus de pesquisa reúne sequências textuais de livros publicados em português brasileiro e europeu no século XVIII, retirados da Biblioteca Virtual Brasiliana (USP). Em nossa metodologia, nos atentamos não somente aos aspectos de natureza quantitativa, como as importantes noções de frequência type e token, nos termos de Bybee (2007), mas também priorizamos aspectos de natureza cognitiva e fatores pragmático-discursivos. Em nossa análise, foram encontrados 11 (onze) diferentes types em 108 (cento e oito) dados coletados de construções correlatas aditivas. Por fim, ressaltamos que este projeto integra uma agenda de estudos do Grupo de Pesquisa Conectivos e Conexão de Orações (CCO), na Universidade Federal Fluminense, que objetiva analisar as construções correlatas aditivas em todo o painel histórico da língua portuguesa, bem como outros modos de concatenação de cláusulas.

  • 27

    AS CONSTRUÇÕES “SÓ QUE” E “SE BEM QUE” NA FALA E NA

    ESCRITA

    Raquel Cardoso Bezerra Brito e Juliana Silva de Sant’Anna

    E-mail(s): [email protected]&[email protected] Alunas da Faculdade de Letras da Universidade Federal do Rio de Janeiro

    (UFRJ) Resumo: Esta apresentação tem como objetivo geral analisar as construções “só que” e “se bem que” no português contemporâneo a partir de um corpus formado pelas modalidades falada e escrita. Alguns de nossos objetivos específicos em relação ao “só que” são: (a) observar a frequência de uso nas duas modalidades; (b) mapear os usos pragmáticos a partir de Santos (2003), observando os diferentes efeitos envolvidos em sua produção. Em relação ao “se bem que”, objetivamos: (a) observar a influência de aspectos extralinguísticos para sua frequência, sobretudo a escolaridade; (b) analisar os contextos sintáticos de suas ocorrências (tempo e modo verbal, posição na sentença). Nossa metodologia engloba uma análise qualitativa e quantitativa por meio de grupos de fatores de ordem estrutural, semântica e pragmática que parecem motivar os usos dessas construções. Utilizamos como pressupostos teóricos a Linguística Funcional Centrada no Uso (BYBEE, 2010; TRAUGOTT; TROUSDALE, 2013; CEZARIO; FURTADO DA CUNHA, 2013), corrente que congrega aspectos históricos, cognitivos, estruturais e pragmáticos na descrição e na análise dos usos linguísticos. Algumas das hipóteses que norteiam o nosso trabalho são: (i) a construção “só que” tende a ser mais frequente na fala do que na escrita; (ii) a construção “se bem que” tende a ser mais utilizada por falantes/ escritores com maior grau de escolaridade. Resultados preliminares indicam que efetivamente a construção “só que” tende a ocorrer mais em textos orais, apesar de já ser utilizada na escrita, o que aponta para sua entrada ainda parcial na segunda modalidade. Demonstram, ainda, que a construção “se bem que” costuma ser usada por produtores mais escolarizados, o que pode apontar para a influência do seu ensino formal.

    Apresentamos, a seguir, alguns exemplos de dados de nossa investigação: (i) aí... um dia... eh... ela estava no... no trem... aí... o/ esse ator apareceu pra ela... só que ninguém via... só ela... aí ele... ele... ele ficava... chamando ela pra ir num lugar... ela falava “que lugar?”(Corpus D&G - Niterói). (ii) Mas meu nome não estava lá e por um segundo eu perdi todas as esperanças. Foi então que um homem pediu que eu repetisse meu nome e me mostrou o jornal e eu estava lá só que na coluna do lado e com isso eu voltei para casa radiante (Corpus D&G - Rio de Janeiro). (iii) e as pessoas visam... o lucro mesmo... e:: não quer saber... se bem que... po::xa... no meu modo de vista... no meu modo de::... pensar assim... na minha maneira de ver as coisas... eu acho que isso tinha que te/ tinha que ser um/ tinha que ter um controle mais profundo... entendeu? (Corpus D&G - Rio de Janeiro). (iv) sabemos que existe ainda ...feudos de dominação ... sociedade de dominação ... é:: dentro do nosso país ... do que uma novela daquela ... mas se bem que num deixavam de ter seus personagens feudais como o Senhorzinho Malta era? (Corpus D&G - Natal).

  • 28

    CONSTRUÇÕES CORRELATAS DISJUNTIVAS: UMA ANÁLISE

    PANCRÔNICA

    Jovana Mauricio Acosta (UFF) [email protected]

    Ivo da Costa do Rosário (UFF) Rosá[email protected]

    Resumo: Este trabalho tem como objetivo observar os padrões de uso das construções correlatas disjuntivas à luz da Linguística Funcional Centrada no Uso (LFCU), tanto sincrônica quanto diacronicamente. A análise será pautada em construções como a seguinte: A Corte residia, ora em Queluz, ora em Mafra, e Bemfica era ponto forçado de descanso para os cortesãos , ou na sua ida para o Paço, ou no seu regresso. Recordo-me de ter visto à mesa em minha casa, em dias de beija-mão , além dos muitos parentes, algumas das celebridades da época e que depois representaram papéis distintos , como o Cardeal Callepi, Monsenhor Macchi, depois Cardeal, e de quem recebemos sempre as mais distintas provas de amizade. O objeto em análise será tratado como construção, por aderirmos à proposta atual da Gramática de Construções nos modelos de Goldberg e Jackendoff (2004), Croft (2007) e Trousdale (2008). De acordo com esses autores, construção é definida como um pareamento de forma e sentido que apresenta significado próprio, esquemático, parcialmente independente das palavras que a compõem, servindo, pois, como um esquema ou modelo que reúne o que é comum a um conjunto de elementos da mesma natureza. A LFCU parte do princípio de que a língua emerge a partir de seu uso e vai sendo moldada em meio a instabilidades. Alguns autores como Melo (1978), Módolo (2011), Castilho (2004) e Rosário (2012) propõem que estruturas instanciadas por conectores descontínuos sejam apresentadas como correlatas, e não como coordenadas ou subordinadas. Com base nessas propostas, Acosta (2016) constatou que as construções correlatas disjuntivas em uso no século XXI apresentam características que as diferenciam das típicas coordenadas alternativas. Pretende-se, portanto, neste trabalho, que constitui uma segunda etapa da pesquisa em andamento, observar o comportamento dessas construções também nos séculos XIX e XX, a fim de observamos quais as mudanças nos usos ocorreram nos resultados encontrados em comparação com o século XXI. Este trabalho configura-se como ponto de partida para uma proposta futura: a de traçarmos a rota construcional de mudança das correlatas disjuntivas em uso no português. Para tal análise, o corpus sincrônico escrito utilizado é composto por textos retirados de versões eletrônicas da Revista Veja (http://www.veja.abril.com.br). Já o corpus escrito diacrônico foi retirado de textos do CIPM (Corpus Informatizado do Português medieval) e do projeto Tycho Brache. Foram encontrados, até o momento, 200 ocorrências no corpus sincrônico e 50 ocorrências no corpus diacrônico. A análise dos dados revelou a existência de 8 diferentes types estabelecendo a correlação disjuntiva; types espelhados como (ou...ou, seja...seja, quer...quer, nem...nem, ora...ora), bem como algumas variações não canônicas desses pares, chamados aqui de não espelhados como seja...ou, nem... ou etc. O type ou...ou apresentou-se, como o mais frequente, estabelecendo a correlação disjuntiva, protípicamente, exclusiva. Já os types quer...ou e nem...ou apresentaram-se como os menos frequentes. Foi

  • 29

    observado, até o momento, uma diminuição, na diacronia, no uso dos types não espelhados.

  • 30

    CONSTRUÇÕES CORRELATIVAS CONSECUTIVAS SOB A

    PERSPECTIVA DA LINGUÍSTICA FUNCIONAL CENTRADA NO USO

    Marianna Correa Siqueira do Nascimento (UFF/D & G/CCO) [email protected]

    Ivo da Costa do Rosário (UFF/D & G/CCO) [email protected]

    Resumo: As construções correlativas consecutivas são tradicionalmente conhecidas como orações subordinadas adverbiais consecutivas e seu estudo fica circunscrito ao campo da subordinação adverbial. No entanto, sabemos que processos de organização sintática como a subordinação e a coordenação são insuficientes para atender às diversas maneiras de integração de cláusulas. Seguindo essa linha de raciocínio, empreendemos uma pesquisa sobre as construções correlativas consecutivas sob a perspectiva da Linguística Funcional Centrada no Uso (LFCU), tendo em vista que elas se configuram de uma maneira muito especial – através da correlação. A escolha por esse referencial teórico justifica-se no fato de ele ter grande compromisso com a língua em situações reais de comunicação, ou seja, privilegia o uso em suas bases teóricas. O corpus utilizado nessa pesquisa é formado por textos da seção Carta ao Leitor, do acervo digital da Revista Veja Online (encontrado no link http://www.veja.abril.com.br). Analisamos o comportamento morfossintático e funcional dessas construções dentro do quadro da correlação, observando, ainda, os valores sintáticos e semânticos de cada type correlativo encontrado. Nossa pesquisa investiga, também, a sobreposição de valores semânticos nas construções correlativas consecutivas analisadas e os fatores que motivam esse fenômeno. Adotamos o termo construção para nos referirmos ao nosso objeto de análise, por aderirmos à proposta atual da Gramática de Construções, nos moldes de Croft (2001) e Traugott (2008), definindo-a como unidade básica da língua. Na análise de dados, identificamos doze padrões microconstrucionais para as construções em estudo e, a partir deles, postulamos a existência de quatro padrões construcionais (ou subfamílias) para as construções correlativas consecutivas. O Padrão 1 caracteriza-se por seu elevado grau de prototipicidade, iconicidade e frequência, representando 65.07% do total de dados de nosso corpus. O Padrão 2 destaca-se por recrutar complexos itens para a sua configuração e tem a intersubjetivação, elaboração e argumentação como características salientes, e representa 15.87% do total de dados. O Padrão 3 tem como característica menor grau de prototipicidade e representa 17.46% do total de dados. O Padrão 4 destaca-se por menor grau de prototipicidade e frequência em relação aos demais, representando 1.58% do total de dados. Os resultados principais apontam para elevado grau de esquematicidade, intersubjetividade e prototipicidade das construções correlativas consecutivas. Palavras-chave: Correlação, consequência, construção, Linguística Funcional Centrada no Uso.

  • 31

    CONSTRUÇÕES SUBSTITUTIVAS INSTANCIADAS PELOS

    CONECTORES EM VEZ DE E AO INVÉS DE NO PORTUGUÊS BRASILEIRO CONTEMPORÂNEO

    Idrissa Ribeiro Novo (UFF/D&G/CCO)

    [email protected] Ivo da Costa do Rosário (UFF/D&G/CCO)

    [email protected] Resumo: Enquadrada em uma abordagem relacionada à Linguística Funcional Centrada no Uso (LFCU), esta comunicação destina-se, particularmente, à análise de dois conectores – em vez de e ao invés de – e, por conseguinte, das construções instanciadas por ambos. No que diz respeito a dois dos parâmetros de Traugott e Trousdale (2013) – composicionalidade e esquematicidade –, tais conectores são: 1) pouco composicionais, já que são interpretados como pareamentos (resultantes do amálgama de preposição + nome + preposição); 2) pouco esquemáticos, já que seus slots são totalmente preenchidos. Propõe-se também que as construções encabeçadas pelos conectores mencionados veiculem o valor de substituição, o qual não está contemplado no quadro oracional das gramáticas tradicionais (Cunha; Cintra, 2007, Bechara, 2009, Rocha Lima, 2001). Verifica-se que, em uma abordagem de cunho tipológico, Kortmann (1997) sugere que em vez de evidencia uma noção de substituição. O teórico afirma que, nessa relação, há dois possíveis eventos alternativos, p e q: este acontece ou é realizado, sendo substituído, portanto, por aquele. Assim, as orações iniciadas por em vez de encerram um fato cuja realização era esperada, mas que não se concretiza, visto que é o fato da matriz que realmente é realizado. Com relação ao conector ao invés de, afirma o mesmo estudioso que a sua leitura é de preferência. Não é o que se constata, porém, nas análises ora empreendidas com base nos dados retirados do Corpus do Português, na interface referente ao século XXI. Os resultados preliminares apontam o mesmo valor de substituição para as construções encabeçadas por ao invés de, uma vez que os usuários da língua, de maneira geral, utilizam ambos os conectores de forma indistinta em contextos menos monitorados. Acredita-se, ainda, que os valores de preferência (Kortmann, 1997) e comparação contrastiva – apontado na pesquisa de Lopes e Souza (2014) – evidenciem-se nos contextos mais amplos de produção e estejam relacionados à própria noção de substituição. Palavras-chave: preferência, conexão, substituição

  • 32

    CORRELAÇÃO PROPORCIONAL NA PERSPECTIVA DA

    LINGUÍSTICA FUNCIONAL CENTRADA NO USO

    Thaís Pedretti Lofeudo Marinho Fernandes (D & G/CCO) [email protected]

    Orientador: Ivo da Costa do Rosário (UFF / D & G / CCO) [email protected]

    Resumo: Nesse estudo, objetivamos investigar, à luz da Linguística Funcional Centrada no Uso, as construções correlatas proporcionais, como se instanciam, por exemplo, em (a) “Já temos voos do Ceará para a Europa e, à medida que o mercado vai crescendo também vamos aumentando” e em (b) “Acredito no paradoxo de que quanto mais egoísta eu for com minha visão de arte, mais generoso estarei sendo”. (extraídos do Corpus do Português). Tendo em vista o caráter heterogêneo dos conectores evidenciados em (a) e em (b), postulamos a existência de dois padrões distintos para a veiculação da ideia de proporção. Com base no levantamento de dados, reunimos 485 dados, sendo 330 referentes ao Padrão I e 155 ao Padrão II. A partir do conceito de esquematicidade, que agrega três níveis (macroconstrução, mesoconstrução e microconstrução), apontamos que, no domínio funcional de proporção, alocam-se os padrões À [medida/ proporção] que X, Y e Quanto [int.] X, [int.] Y. Esses, por sua vez, licenciam algumas microconstruções, elencadas, até a presente etapa da pesquisa, da seguinte forma: duas microconstruções ligadas ao primeiro padrão, e sete, ao segundo. Partimos do princípio de que a proporção é codificada pelo processo de correlação, que se pauta na interdependência sintática e semântica entre as partes que a compõem, ainda que não haja a manifestação do segundo correlator introduzindo a apódose, como ocorre nos exemplares constituídos por à medida que/à proporção que. O tratamento empreendido nesses exemplares é voltado para a análise da telicidade do verbo, em uma integração sintático-semântica entre prótase e apódose distinta da verificada na correlação canônica, com os dois correlatores expressos. Com isso, buscamos defender a hipótese de que as construções proporcionais, em suas distintas formas até então verificadas, são estruturas correlatas, podem ser representadas por uma esquematização mais abstrata e apresentam usos bastante produtivos na língua, o que salienta a necessidade de estudos voltados para esse tema. Palavras-chave: Correlação; Proporção; Esquematicidade.

  • 33

    DA REDE CONSTRUCIONAL DOS COLETIVOS DE PESSOAS

    [(X) [Subst] (X)]COLET À CONSTRUCIONALIZAÇÃO DE A GENTE

    Bruna das Graças Soares (UFRJ/CNPq)

    [email protected]

    Resumo: O objetivo do trabalho é apresentar uma proposta de rede construcional dos coletivos de pessoas [(X) [Subst] (X)]COLET, que pode explicar a formação histórica das microconstruções a gente (artigo + substantivo), muita gente; o povo; todo o mundo, dentre outras, à construcionalização da forma pronominal a gente, no português. O modelo teórico utilizado é o da Construcionalização/Mudanças Construcionais (TRAUGOTT & TROUSDALE, 2013; TRAUGOTT, 2015). A teoria da Gramaticalização de Construções (GOLDBERG, 1995; CROFT, 2001) também foi usada para explicar a rede de construções e o conceito de que uma construção é o pareamento forma-função. O tema deste trabalho justifica-se, especialmente, pela necessidade de explicar alguns pontos não antes questionados nos trabalhos sobre o fenômeno a gente. Busca-se, portanto, explicar quais foram os contextos atípicos e ambíguos (cf. TRAUGOTT, 2015) que propiciaram, tanto pragmática como distribucionalmente, o surgimento da construção pronominal a gente no português brasileiro e o porquê de a forma gente ter sido o substantivo adotado, dentre outros com semântica semelhante, como povo e mundo. A pesquisa tem como objetivos gerais: (i) investigar, a partir do século XVI, a origem da microconstrução a gente, observando que mudanças construcionais ocorreram para formar novo nó e como se deu a mudança de a gente nominal para outro nó na rede, o dos pronomes. Faz-se, então, necessário, observar, nas sincronias, os contextos originais (contextos críticos), que deram origem à construção a gente pronominal; (ii) verificar o grau de esquematicidade (TRAUGOTT e TROUSDALE, 2013) da construção [(X) [Subst] (Y)]COLET, visto que a mesma pode apresentar partes que podem ser preenchidas (os slots) pelos falantes, a fim de saber o porquê de a gente (artigo + substantivo) ter sido a microconstrução preferida em detrimento de outras com [(X) gente (Y)], como muita gente, aquela gente etc; (iii) analisar o grau de produtividade de a gente, do século XVI ao XX, observando se o aumento da frequência de tipo (type) e de ocorrência (token) da mesoconstrução [(X) gente (Y)] contribuiu para a formação da nova construção a gente pronominal. Além disso, buscamos verificar a frequência de tipo e de ocorrência dos itens verbais que ocorriam com a construção, a fim de saber quais verbos poderiam ter propiciado o início da construcionalização de a gente, e se esses verbos eram muito frequentes ou não; (iv) evidenciar o papel da frequência de uso no processo de mudança (BYBEE, 2003; 2010), observando se o aumento da frequência de tipo e de ocorrência da construção [(X) gente (Y)] levou à formação da nova construção a gente pronominal; (v) relacionar os processos de mudanças envolvidos no fenômeno em questão com o processo cognitivo geral, chunking, segundo Bybee (2010). Coletamos e analisamos qualitativa e quantitativamente as orações que apresentam a expressão construcionalizada “a gente”, cujo gênero discursivo é composto por cartas.

  • 34

    ESTUDO SOBRE CONSTRUCIONALIZAÇÃO EM UM MONTE

    DE SN

    Nuciene Caroline Amphilóphio Fumaux

    [email protected] Aluna de mestrado do Programa de Pós-graduação em Linguística da UFRJ/

    Bolsista CAPES Resumo: Este trabalho consiste em uma análise da formação da construção quantificadora um monte de SN ao longo da história do português, a partir da ótica da Linguística Funcional Centrada no Uso, como vemos no exemplo um monte de coisas. Levando em conta a hipótese de que a gramática se configura como uma rede de construções, defende-se a tese, baseada na teoria de mudança linguística proposta por Traugott & Trousdale (2013), de que haja uma microconstrução mais nova na história do português – um monte de – dentro do esquema dos quantificadores. Essa microconstrução se formou a partir de usos mais periféricos da construção [um [monte] de SN]. Nos séculos iniciais (XIII a XVI), encontramos exemplos da construção um monte de SN de cunho mais qualitativo como hû monte de africa, e, posteriormente exemplos com sentido multiplexo, de cunho mais quantitativo, como um monte de empresas. Traugott & Trousdale (2013) denominam como construcionalização a formação de um novo pareamento forma-sentido na rede linguística, ou seja, a entrada de uma nova construção na gramática de uma dada língua, após haver mudanças construcionais de forma e de função. Desse modo, postulamos, no presente estudo, que um monte de SN, em seu sentido quantificador, é produto de mudanças linguísticas na forma e no sentido (mudanças construcionais) da construção mais qualitativa original, a qual chamamos de especificadora. O objetivo principal dessa pesquisa é descrever a formação da construção quantificadora um monte de SN no português, e os objetivos específicos consistem na identificação das etapas do processo de mudança linguística. Este trabalho parte da perspectiva da Linguística Funcional Centrada no Uso (cf. BARLOW & KEMMER, 2000; BOYLAND, 2013; BYBEE, 2010; DIESSEL, 2015) e, portanto, pauta-se na hipótese da gramática como uma rede de pareamentos forma-sentido (como se pode ver em CROFT, 2001; GOLDBERG, 1995 e 2006, entre outros). Além disso, o trabalho prevê o tratamento da mudança linguística dentro da referida abordagem construcionista, tal como descrito em Traugott (2008); Traugott & Trousdale (2013). Coletamos e analisamos todos os dados com a construção um monte de SN nos corpora consultados, a saber Corpus do Português, Crônica Geral de Espanha, Orto do Esposo, Nova Floresta e Monarchia Lusitana, dentre outros. Utilizamos como parâmetros de análise o que vem sendo usado nos trabalhos que seguem a orientação do modelo de Traugott & Trousdale (2013), a saber: esquematicidade, produtividade e composicionalidade. Discutiremos, ainda, mais um parâmetro, o da analisabilidade, em que utilizamos a perspectiva de Bybee (2010) e a nova reflexão adotada em Traugott & Trousdale (2013). Mudanças graduais nesses parâmetros costumam acontecer ao se formar uma nova construção na língua. Na análise de dados, percebemos que usos com a sequência um monte de seguida de um sintagma nominal foram analogicamente relacionados e compreendidos como formando um padrão, tornando-se o mais frequente a partir do século XVI,

  • 35

    com 86% dos dados. Identificamos, ainda, que a partir do século XIX, os dados periféricos do padrão analisado [um + monte + de + SN] (Metafóricos (50%) e Multiplexadores (11%)) se tornam mais significativos. Acreditamos que há relevância no aumento de dados de usos mais periféricos da construção, que proporcionaram, ao longo desse período, uma ampliação dos tipos de SN que podem instanciar a construção. Aparentemente, apenas no século XX ocorre o estabelecimento da construcionalização de uma microconstrução quantitativa do tipo um monte de SN, com a maior parte dos dados referindo-se a exemplos de itens não empilháveis e multiplicados por um monte de.

  • 36

    EXCETO X NA INTEGRAÇÃO DE ORAÇÕES: UMA ABORDAGEM

    FUNCIONAL

    Fabiana Felix Duarte Moreira [email protected]

    Universidade Federal Fluminense - UFF Ivo da Costa do Rosário

    rosá[email protected] Universidade Federal Fluminense - UFF

    Resumo: A Nomenclatura Gramatical Brasileira, que serve de base para a maioria das gramáticas normativas produzidas em nosso país, não contempla as orações adverbiais de exceção, provocando, assim, um hiato na descrição das chamadas orações adverbiais. Apesar de alguns teóricos mencionarem as orações de exceção em seus compêndios, essa descrição é ainda incipiente. Esta pesquisa pretende, ao traçar um panorama dos usos do conector Exceto X, investigar seu comportamento morfossintático, no plano da integração de orações, lançando, assim, luz ao tema. O instrumental teórico adotado para este trabalho tem como base a Linguística Funcional Centrada no Uso (LFCU), que une a Linguística Funcional de vertente norte-americana à Gramática de Construções. Julgamos que essa abordagem apresenta-se como apropriada para a investigação do conector Exceto X, porque assume uma visão holística dos fenômenos linguísticos ao incorporar a semântica e a pragmática à análise das construções, alargando seus interesses para além do plano morfossintático. Para esta análise, foi feita uma busca pelo conector exceto em textos de domínio jornalístico publicados online nos portais de O Dia (http://odia.ig.com.br/) e da Isto é (http://istoe.com.br/), publicados entre 2000 e 2016. Nas ocorrências coletadas, verificamos o padrão construcional Exceto X instanciado em quatro types oracionais: 1) Exceto quando (A lei classifica como “ilegítimo” o uso de arma de fogo contra pessoa desarmada e veículo que desrespeite bloqueio policial em via pública, exceto quando representarem risco de morte ou lesão aos agentes ou a terceiros.); 2) Exceto se (O Acordo de Confidencialidade representa, também, um “armistício”, a garantia de que a empreiteira não será mais alvo de novos “ataques” da Lava Jato, as operações especiais, exceto se algum executivo seu for flagrado na prática de novos crimes); 3) Exceto que (Os pés são também como os nossos, exceto que os dedos são ligeiramente curvados,