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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
ESCOLA DE ENGENHARIA DE SÃO CARLOS
CAIO BORGES DA SILVA SOUZA
DFMA APLICADO EM PROJETOS DE MELHORIA DE
ELETRODOMÉSTICOS
SÃO CARLOS, SP
2017
2
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
ESCOLA DE ENGENHARIA DE SÃO CARLOS
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE PRODUCÃO
DFMA APLICADO EM PROJETOS DE MELHORIA DE
ELETRODOMÉSTICOS
Trabalho de Conclusão de Curso
apresentado à Escola de Engenharia de
São Carlos da Universidade de São Paulo
para a obtenção do título de Bacharel em
Engenharia de Produção Mecânica.
Discente: Caio Borges da Silva Souza
Orientadora: Profª. Drª. Janaina M H Costa
SÃO CARLOS, SP
2017
3
AGRADECIMENTOS
Aos meus pais, que sempre prezaram pela minha educação e me ensinaram a
importância da dedicação.
À professora Janaina, pelo excepcional papel realizado como orientadora,
pelas dicas e por me motivar a seguir a carreira em desenvolvimento de produtos.
À minha empresa e, em especial, ao Rodrigo Silva, pelo grande suporte com as
informações apresentadas e a identificação de oportunidades.
À minha namorada e amigos por suas dicas de ouro, companheirismo, risadas
e apoio ao longo de toda a graduação.
A todos os meus professores desde o fundamental, com os quais tive a honra
de aprender e que tanto se dedicaram para que eu vivesse esse momento.
4
RESUMO
O sucesso de um produto no mercado é determinado pela sua capacidade de
atender aos requisitos do cliente, entretanto, é fundamental considerar também os
interesses e requisitos da própria empresa e investidores para a sobrevivência e
sucesso da companhia. Considerando a atual situação econômica nacional, a
consequente contenção de gastos dos consumidores e a entrada de novas marcas no
mercado de eletroeletrônicos, o fator preço tem-se demonstrado um grande ganhador
de pedidos. Assim, na busca por reduzir os preços sem prejuízo à margem de lucro,
busca-se a redução de custos e desperdícios na cadeia de valor, os quais estão
diretamente relacionados à complexidade do produto. Neste sentido, um modo
eficiente de eliminar gastos é a simplificação do produto em seu processo de
desenvolvimento. Uma prática que merece destaque para alcance dessas melhorias é
o Design for Manufacturing and Assembly, DFMA, que visa principalmente à redução
de tempos e custos de fabricação e montagem, mas que, indiretamente, pode
beneficiar a segurança, ergonomia, qualidade e logística entre outros. Este trabalho
objetiva, por meio de um estudo de caso, a identificação e avaliação das aplicações do
DFMA em uma empresa produtora de eletroeletrônicos complexos e sua aplicação em
projetos de melhoria. São apresentadas 3 propostas de melhoria com economia
estimada de mais de 1,3 milhões de reais ao ano, além da economia em tempo de
operação de aproximadamente 1850 horas ao ano, o equivalente a 308 turnos de
produção. Ao final, é discutida a inserção dessa técnica na cultura da companhia.
Palavras-chave: desenvolvimento de produto, eletrodomésticos, redução de custo,
design, DFMA, DFA, DFM, DFX.
5
LISTA DE FIGURAS
FIGURA 1: MINIMIZAÇÃO DO NÚMERO DE COMPONENTES EM SUPORTE DE CILINDRO. ......................................... 13
FIGURA 2: PARAFUSOS PADRONIZADOS. ....................................................................................................... 14
FIGURA 3: MINIMIZAÇÃO DO NÚMERO DE FIXADORES PELA UTILIZAÇÃO DE GANCHOS. ......................................... 14
FIGURA 4: EXEMPLOS DE COMPUTADORES DE ARQUITETURA INTEGRAL E MODULAR. ........................................... 15
FIGURA 5: MONTAGEM EMPILHADA UNIDIRECIONAL. ..................................................................................... 16
FIGURA 6: CARACTERÍSTICAS DE FACILITAÇÃO DO ALINHAMENTO. ..................................................................... 17
FIGURA 7: CARACTERÍSTICAS DE AUTOLOCALIZAÇÃO. ...................................................................................... 17
FIGURA 8: FIXAÇÃO DO TIPO SNAP-FIT. ........................................................................................................ 18
FIGURA 9: FIXAÇÃO DO TIPO TAB-IN-SLOT. ................................................................................................... 18
FIGURA 10: EXEMPLO DE ARRANJO PARA POSICIONAMENTO SEM AÇÃO DO OPERADOR. ....................................... 19
FIGURA 11: PEÇAS COM CARACTERÍSTICAS QUE DIFICULTAM A MANIPULAÇÃO. ................................................... 19
FIGURA 12: PEÇAS SIMÉTRICAS QUANTO À POSSIBILIDADE DE MONTAGEM. ........................................................ 20
FIGURA 13: VERTENTES DO DESIGN FOR EXCELLENCE. .................................................................................... 22
FIGURA 14: FLUXO SIMPLIFICADO DE TRABALHO PARA PROJETOS DE ALTERAÇÃO DO PRODUTO. ............................. 33
FIGURA 15: EXEMPLO DO CRITÉRIO DE IDENTIFICAÇÃO E PONTUAÇÃO DOS ESFORÇOS .......................................... 35
FIGURA 16: CURVAS DE DISTRIBUIÇÃO DE TEMPO. INSATISFATÓRIAS (ESQUERDA) E SATISFATÓRIAS (DIREITA) FONTE:
ADAPTADO DE DOCUMENTOS DA EMPRESA ESTUDADA ........................................................................... 36
FIGURA 17: EXEMPLOS DE ATIVIDADES NÃO AGREGADORAS DE VALOR (NVAAS) ................................................ 37
FIGURA 18: CONECTORES POSITIVE LOCK SIMPLES (ESQUERDA) E EM BLOCO (DIREITA) ........................................ 42
FIGURA 19: POKA YOKE DE CONECTORES POSITIVE LOCK ................................................................................ 42
FIGURA 20: CRONO-ANÁLISE DO POSTO. CONEXÕES POSITIVE LOCK. ................................................................ 43
FIGURA 21: TEMPOS DE MONTAGEM DE POSITIVE LOCKS EM BLOCO E INDIVIDUAIS DE 2, 3 E 4 PINOS. ................... 44
FIGURA 22: DETALHE DO PRODUTO. TREMPE SIMPLES E TREMPES DUPLAS. ........................................................ 45
FIGURA 23: GRAMPO S (ESQUERDA), GRAMPO W (CENTRO) E GRAMPO BORBOLETA (DIREITA). ............................ 47
FIGURA 24: DETALHE DA VÁLVULA DE GÁS E DA MICRO-CHAVE (COMPONENTE BRANCO ANEXO) ........................... 49
FIGURA 25: CRONO-ANÁLISE DO POSTO. FIXAÇÃO DA MICRO-CHAVE NA VÁLVULA DE GÁS. ................................... 50
FIGURA 26: PROPOSTA DE ALTERAÇÃO DO ELEMENTO DE FIXAÇÃO DA MICRO-CHAVE. ......................................... 51
FIGURA 27: TEMPOS DE MONTAGEM DA MICRO-CHAVE E PROJEÇÃO PARA O ESTADO FUTURO. ............................. 52
FIGURA 28: PROPOSTA DE ALTERAÇÃO DOS TRILHOS DE PRATELEIRA DO FORNO. ................................................. 54
FIGURA 29: CONEXÕES DO TIPO ROSCADA E ESPIGÃO. REPRESENTAÇÃO EM CORTE. ............................................ 56
FIGURA 30: CRONO-ANÁLISE DO POSTO. TESTE COM ENGATE ROSCADO ............................................................ 57
FIGURA 31: PROPOSTA DE ALTERAÇÃO DO DISPOSITIVO. ESTADO ANTERIOR (ROSCA) E ATUAL (LUVA EXTERNA) ....... 58
FIGURA 32: TEMPOS DA OPERAÇÃO DE TESTE DO SISTEMA GÁS E PROJEÇÃO PARA O ESTADO FUTURO. .................... 59
6
LISTA DE TABELAS
TABELA 1: CHECKLIST DE CARACTERÍSTICAS DOS COMPONENTES COM BASE NOS PRINCÍPIOS DO DFMA .................. 39
TABELA 2: COMPARATIVO DE CUSTOS MOD E BOM PARA CONEXÕES POSITIVE LOCK. ........................................ 45
TABELA 3: COMPARATIVO DE VANTAGENS ENTRE TREMPES SIMPLES E DUPLAS. ................................................... 46
TABELA 4: COMPARATIVO DE CUSTOS MOD E BOM PARA A UTILIZAÇÃO DE TREMPES DUPLAS. ............................ 46
TABELA 5: PRÓS E CONTRAS DE GRAMPOS DOS TIPOS S E W PARA O SISTEMA PRODUTIVO. ................................... 47
TABELA 6: PRÓS E CONTRAS DE GRAMPOS TIPO BORBOLETA PARA O SISTEMA PRODUTIVO.................................... 48
TABELA 7: CHECKLIST DO COMPONENTE. MICRO-CHAVE DA VÁLVULA DE GÁS. .................................................... 51
TABELA 8: COMPARATIVO DE CUSTOS MOD E BOM PARA A ALTERAÇÃO DE FIXAÇÃO DA MICRO-CHAVE ................ 53
TABELA 9: CHECKLIST DO COMPONENTE. TRILHOS DE PRATELEIRA DO FORNO. .................................................... 54
TABELA 10: COMPARATIVO DE CUSTOS MOD E BOM PARA A PROPOSTA ALTERAÇÃO DO TRILHO DE PRATELEIRA .... 55
TABELA 11: CHECKLIST DO COMPONENTE. ENGATE DE TESTE DO SISTEMA GÁS. .................................................. 57
TABELA 12: COMPARATIVO DE CUSTOS MOD E BOM PARA A PROPOSTA DE MELHORIA DO DISPOSITIVO DE TESTE... 60
TABELA 13: MATRIZ DE ANÁLISE DE VIABILIDADE DAS PROPOSTAS. ................................................................... 61
7
LISTA DE SIGLAS
DFMA – Design for Manufacturing and Assembly
DFM – Design for Manufacturing
DFA – Design for Assembly
DFX – Design for Excellence
BOM – Bill of Materials
MOD – Mão de Obra Direta
PDCA – Plan, Do, Check, Act
PDP – Processo de Desenvolvimento do Produto
EPI – Enhance in Product/Process Introduction
NPI – New Product/Process Introduction
WCM – World Class Manufacturing
WO – Workplace Organization
VAA – Value Adding Activity
SVAA – Semi Value Adding Activity
NVAA – Non Value Adding Activity
8
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO .................................................................................. 9
1.1 CONTEXTO .................................................................................................................................. 9
1.2 OBJETIVO ................................................................................................................................. 10
2 REVISÃO DA LITERATURA ............................................................... 11
2.1 DFMA .................................................................................................................................... 11
2.1.1 Definição ........................................................................................................................... 11
2.1.2 Aplicação ........................................................................................................................... 11
2.1.3 Princípios do DFMA ........................................................................................................... 12
2.1.4 Vantagens e desvantagens ................................................................................................ 20
2.1.5 DFX.................................................................................................................................... 21
2.2 CONSIDERAÇÕES SOBRE A FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA......................................................................... 26
3 METODOLOGIA .............................................................................. 27
3.1 POSICIONAMENTO METODOLÓGICO ................................................................................................ 27
3.2 CONTEXTO DA EMPRESA .............................................................................................................. 28
3.3 ETAPAS .................................................................................................................................... 29
3.4 PROCESSOS E FERRAMENTAS ......................................................................................................... 32
3.4.1 Identificação de oportunidades e priorização .................................................................... 33
3.4.2 Estudo dos postos de trabalho ........................................................................................... 35
3.4.3 Estudo do componente e proposição de melhorias ............................................................ 37
4 RESULTADOS ................................................................................. 40
4.1 EVIDÊNCIAS DA APLICAÇÃO DO DFMA ............................................................................................ 40
4.1.1 Projetos de modificação instalados ................................................................................... 41
4.2 PROPOSTAS DE MELHORIA ADVINDAS DA APLICAÇÃO DO DFMA ............................................................ 49
4.2.1 Proposição de melhorias .................................................................................................... 49
4.2.2 Considerações sobre os resultados .................................................................................... 60
5 CONCLUSÃO .................................................................................. 63
6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ....................................................... 65
9
1 INTRODUÇÃO
1.1 Contexto
Em 2016 o mercado de eletrodomésticos enfrentou grande queda de
faturamento, evento não ocorrido há ao menos 5 anos (O ESTADO DE S. PAULO,
2016). Sem perspectiva ou previsão de reestruturação econômica do país, a
expectativa é de que os efeitos negativos à venda desses itens se mantenham,
colocando em risco o faturamento das empresas do setor. Fatores político-econômicos
somados às pressões do mercado geraram uma grande competição pelo ganho de
markert share.
Em um efeito cíclico que se intensifica, a concorrência entre marcas com alto
grau de maturidade, o avanço tecnológico, o aumento da exigência do consumidor e a
rápida obsolescência dos produtos têm forçado o aumento de produtividade e
efetividade das companhias.
A necessidade de adaptação ao novo mercado levou as empresas a
ponderarem entre os interesses comerciais e industriais (SOUZA; BOTELHO, 2011). A
pressão por manter a produção em massa, bem como suas vantagens operacionais e
financeiras, passou a se contrapor com os interesses específicos dos clientes e a
tendência de personalização (FUJITA, 2002) com o aumento de sua exigência devido
à alta oferta. Assim, empresas modernas passaram a adotar estratégias que
maximizassem seus lucros por meio da redução de custos e incrementassem a
agilidade do oferecimento de novas funcionalidades ao consumidor sem prejuízo à
qualidade e confiabilidade, as quais não são mais um diferencial, mas um critério
básico.
Uma estratégia que merece destaque é a adoção do Design for Manufacturing
and Assembly, DFMA, reforçando a ideia de que decisões críticas devem ser tomadas
logo no início da vida do produto, em seu desenvolvimento, fase na qual decisões
corretas evitam ajustes e retrabalhos. Seus princípios fornecem robustez ao sistema,
permitindo maior domínio dos processos de engenharia e resultando em alta
responsividade com gastos reduzidos. Isso significa aumento de escala produtiva,
redução do prazo de disponibilização ao mercado, melhor atendimento a variações no
mix de produção e demanda do mercado e redução de gastos desde a fase de design
(DORAN et al., 2007) (BOOTHROYD; DEWHURST; KNIGHT, 1994).
10
Com o aumento de complexidade dos produtos e processos, esta filosofia
tomou grande visibilidade. Produtos mecatrônicos, como os eletrodomésticos tratados
nesse trabalho, passaram a dominar o mercado e essa tendência deve permanecer
pelo surgimento do conceito de internet das coisas. Estes produtos são dotados de
tecnologias complementares, acumulando funções mecânicas e eletrônicas, e
demandam diversas disciplinas, soluções, componentes, fornecedores e alto grau
coordenação para sua concepção, fazendo necessário para as empresas princípios
que as guiem.
1.2 Objetivo
Este trabalho é dividido em dois momentos com objetivos distintos, porém
complementares. Cada momento é guiado por uma grande questão, as quais se
aplicam a uma empresa real escolhida como caso de estudo.
O primeiro tem por objetivo explorar os efeitos da aplicação de princípios do
DFMA na manufatura e montagem, contrastando-os com as vantagens e
desvantagens descritas na literatura. Guiado pela questão “como o DFMA vem sendo
aplicado para geração de melhorias na produção?”, espera-se obter as seguintes
informações:
Indicativos de uso dos conceitos do DFMA no produto e suas motivações;
Relação positiva ou negativa do DFMA sobre a manufatura e montagem e
demais aspectos como segurança, ergonomia e qualidade;
Motivos para as modificações e resultados, principalmente em caso conflitante;
Melhorias quantitativas e qualitativas geradas pela aplicação do DFMA.
No segundo momento, explora-se a questão “como o DFMA pode ser aplicado
em projetos de melhoria do produto, elevando a eficiência dos processos produtivos?”
com objetivo final de proposição de melhorias aplicando seus princípios. Esta
aplicação visa os seguintes resultados:
Desenvolvimento de um fluxo lógico que guie a identificação de oportunidades
Proposição de melhorias com base nos conceitos de DFMA
Apresentação de método que guie a avaliação de propostas assim obtidas
11
2 REVISÃO DA LITERATURA
2.1 DFMA
2.1.1 Definição
O Design for Manufacturing and Assembly, DFMA, é uma filosofia ou técnica
que busca, principalmente, a redução dos fatores custo e tempo de manufatura e
montagem sem afetar a qualidade ou características funcionais do produto. Importante
notar que seu foco não é, no entanto, promover aumento da qualidade percebida,
embora possa contribuir.
Essa filosofia surgiu da fusão direta entre o Design for Manufacturing, DFM, e o
Design for Assembly, DFA. Seus objetivos são guiar os projetos de desenvolvimento e
melhoria de produtos para a otimização e simplificação dos processos de manufatura
e montagem, respectivamente, através de uma série de princípios e técnicas
(BOOTHROYD; DEWHURST; KNIGHT, 1994).
O DFM e o DFA são dotados dos próprios princípios e podem, naturalmente,
ser aplicados separadamente. Contudo, é comum que ambos sejam aplicados em
conjunto devido à estreita relação entre eles e a similaridade dos princípios. Outra
justificativa importante é evitar o retrabalho, pois, uma proposta alcançada apenas
pelo uso dos princípios do DFM pode ser benéfica para a manufatura, mas altamente
prejudicial à montagem (BOOTHROYD; DEWHURST; KNIGHT, 1994).
Neste trabalho, estende-se produção ou processos produtivos como a soma da
manufatura, ou fabricação de um componente, com a montagem.
2.1.2 Aplicação
É consenso entre Kaminski (2000), Sousa (1998) e Pahl e Beitz (1988) que o
processo de desenvolvimento do produto deve considerar todo o seu ciclo de vida.
Cada um deles divide-o em etapas, variando a quantidade de fases e nomenclaturas,
mas, preservando a ideia global. Uma ponderação entre as diferentes categorizações
das fases do processo de desenvolvimento do produto leva à seguinte estrutura:
Fase 1: Delinear estratégia
Fase 2: Identificar necessidades do mercado: definir requisitos
Fase 3: Projeto conceitual: definir funções
12
Fase 4: Projeto detalhado: definir forma
Fase 5: Planejamento da produção
Fase 6: Produção e venda
Fase 7: Uso e descarte
Para obtenção de melhores resultados, o DFMA deve ser introduzido na fase
de projeto conceitual do desenvolvimento de novos produtos, quando suas funções
são definidas. Isso não impede, porém, que o DFMA seja aplicado a projetos de
melhoria de um produto já implementado.
Quando aplicado ao final do processo de desenvolvimento, o DFMA tem
caráter de critério de aprovação ou reprovação da ideia final, o que gera aumento de
gastos e acarreta em grandes atrasos por retroceder o projeto à fase inicial em caso
de ideias mal sucedidas (BOOTHROYD; DEWHURST; KNIGHT, 1994). Por outro lado,
quando aplicado no início, o DFMA passa a ser um critério de priorização das
alternativas a serem detalhadas, poupando muitos recursos.
Esta priorização é auxiliada pela estrutura de engenharia simultânea ao compor
grupos multidisciplinares com membros especialistas em conhecimentos específicos e
que compartilham experiências. Assim, permite-se a aplicação efetiva de técnicas que
utilizam o bom senso e conhecimentos técnicos como: julgamento de praticabilidade,
análise de disponibilidade tecnológica e a matriz de decisão (SOUSA, 1998).
2.1.3 Princípios do DFMA
O DFMA considera diversos aspectos de cada componente visando
desenvolver produtos simples sem afetar a funcionalidade e o atendimento aos
requisitos do cliente. Tomando como base, principalmente, os indicadores de custo e
tempo de processo, foram elaborados princípios que auxiliam o projeto do produto
para aumento de eficiência do processo produtivo.
Os tópicos abaixo tratam dos princípios desenvolvidos e discutidos por
Boothroyd, Dewhurst e Knight (1994) e Sousa (1998).
I) Reduzir número de componentes
Este princípio primordial traz benefícios tanto para a manufatura quanto para
diversas outras atividades da cadeia de valor, como compras, PCP e logística interna
e externa.
13
Partindo do pressuposto que um determinado componente existe em um
produto por realizar uma função, dizer que o mesmo será eliminado não significa que
será simplesmente retirado do produto, mas combinando com um segundo
componente que incorpore sua função, eliminando operações de montagem.
Na Figura 1 tem-se o exemplo de melhoria de um suporte para cilindro de
oxigênio a partir de mudanças nos componentes para que, globalmente, não gerem
perda de funções. Nota-se grande mudança no componente número 5 para que
absorva as funções do componente 6. Como a remoção da 6ª parte ocasionou
alterações na 5ª de modo a combinar suas funções em um único componente,
entende-se que estas peças foram fundidas em nível funcional e estrutural, mesmo a
nova peça preservando maior semelhança com a antiga 5ª.
Como os demais princípios, sua aplicação pode também trazer malefícios. As
combinações de componentes devem considerar as limitações de manufatura e todos
os processos de montagem subsequentes de modo a não gerar obstrução (SOUSA,
1998).
Figura 1: Minimização do número de componentes em suporte de cilindro.
Disponível em: <machinedesign.com/mechanical/following-dfm-guidelines-working-sheet-metal>
II) Utilizar componentes e processos padronizados
A padronização é também um modo de alcance da redução do número de
componentes, trazendo todas as suas vantagens. Ela também permite a padronização
14
de ferramentas e processos, permitindo que o operador adquira perícia nas atividades
ao aplicar técnicas e movimentos semelhantes para diversos produtos.
Por ser um fator de grande influência para a padronização e
intercambiabilidade, a própria modularização é tida como princípio do DFMA. No
entanto, seus objetivos de diversificação e independência das funcionalidades não são
promotores diretos da simplificação da manufatura, podendo inclusive gerar conflito
com o princípio de redução do número de peças caso o particionamento de módulos
seja excessivo.
O exemplo abaixo na Figura 2 traz a aplicação a um produto cuja montagem
exigia dois modelos de parafuso.
Figura 2: Parafusos padronizados.
Fonte: Boothroyd; Dewhurst; Knight (1994).
Fazendo ainda uma melhoria sobre a situação anterior baseado no primeiro
princípio, de redução de componentes, e também nos princípios de facilitar ajuste e
fixação, tem-se como mostrado na Figura 3.
Figura 3: Minimização do número de fixadores pela utilização de ganchos.
Fonte: Bralla, James G. (1999).
No sentido oposto, a não padronização pode ser também encarada como uma
estratégia de mercado. Exemplos são empresas de produtos eletrônicos, como
celulares e computadores, cujas entradas de conexões de cabos mudam de formato a
cada modelo, forçando o consumidor à troca do produto por completo.
15
III) Modularização
A modularização é uma estratégia com aplicação no desenvolvimento,
produção e gestão eficiente de produtos complexos pela fragmentação destes em
componentes independentes (BERNARDES et al., 2013). Esta gestão não se refere
apenas ao processo de desenvolvimento do produto, mas a todo seu ciclo de vida,
incluindo criação de tecnologia, manufatura – motivo pela qual é tratada como um
princípio –, uso e descarte.
A arquitetura modular é a fragmentação do produto final em módulos,
subsistemas projetados independentemente e que, quando trabalhando em conjunto,
realizam funções globais esperadas. Salhied e Kamrani (2010) defendem que,
idealmente, cada um desses blocos construtivos deve ser projetado para realizar uma
função clara e de modo autônomo, vide Figura 4. Uma vez que os módulos são
criados individualmente, os projetos são mais rápidos e bem delineados, facilitando a
visualização de oportunidades e aplicação DFMA.
Figura 4: Exemplos de computadores de arquitetura integral e modular.
Fonte: Adaptado de Ulrich (1995).
Como um dos pilares da modularização, a intercambiabilidade é que de fato
apoia a redução da variedade de peças ao permitir que componentes padronizados
sejam utilizados em diversos modelos.
Embora com intuito de contribuir, a modularização pode ser prejudicial ao
processo produtivo se mal aplicada. A combinação excessiva e descoordenada de
módulos acarreta no aumento da quantidade de modelos finais e suas viradas de
linha, consequentemente aumentando a complexidade do produto, do planejamento e
controle da produção, dos processos de montagem, das máquinas e equipamentos e o
nível de instrução exigida da mão de obra (WORREN; MOORE; CARDONA, 2002).
16
IV) Realizar montagem empilhada e unidirecional
O princípio dita que as montagens devem ocorrer em uma só direção e,
preferencialmente, a favor da gravidade. Isso faz com que o operador atue em sua
golden zone, permitindo menos movimentação do produto ou componentes, menos
esforço para seu manuseio e maior controle visual da operação
A Figura 5 apresenta um produto explodido e a orientação vertical de
montagem de suas peças, como dita o princípio.
Figura 5: Montagem empilhada unidirecional.
Fonte: Boothroyd; Dewhurst; Knight (1994).
V) Facilitar alinhamento e inserção dos componentes
Para uma montagem rápida e precisa, reduzindo problemas de qualidade e
tempo de operação, deve-se desenvolver peças autolocalizáveis. Uma importante
característica dessas peças é não exigir grande precisão visual ou de movimentos do
operador, permitindo inclusive a realização da tarefa por máquinas.
Alguns modos de se obter esse resultado são o aumento de tolerâncias
geométricas e o uso de entalhes ou chanfros. Paredes anguladas, como as cônicas,
geram uma força normal de reação capaz de autocentralizar os objetos em contato.
As figuras Figura 6 e Figura 7 ilustram, na esquerda, produtos que não aplicam
o princípio e, na direita, melhorias geradas pela aplicação de mecanismos
facilitadores.
17
Figura 6: Características de facilitação do alinhamento.
Disponível em: < quality-manufacturing.org/china-design-for-manufacturing >
Figura 7: Características de autolocalização.
Fonte: Boothroyd; Dewhurst; Knight (1994).
VI) Projetar peças autofixáveis
Para facilitar a montagem e desmontagem, auxiliando tanto a produção quanto
a manutenção, engenharia reversa e descarte, recomendam-se designs autofixadores.
Este princípio viabiliza também a redução do número de componentes e custo
por reduzir ou eliminar o uso de parafusos, porcas, pinos e outros dispositivos de
18
fixação e suas respectivas ferramentas. Sousa (1998) cita algumas propostas de
autofixação:
a. Snap-fit: aplicável a peças flexíveis, geralmente plásticos.
b. Tab-in-slot: aplicável a peças rígidas como madeiras e chapas de metal.
Figura 8: Fixação do tipo Snap-fit.
Disponível em: < efunda.com/designstandards/plastic_design/snaps.cfm >
Figura 9: Fixação do tipo Tab-in-slot.
Disponível em: < thefabricator.com/article/shopmanagement/the-power-of-sheet-metal-design >
VII) Realizar montagem estática
Durante a operação de montagem, as peças devem permanecer estáticas sem
ação do operador, permitindo: menor número de ações, concentração na atividade a
ser realizada, liberdade aos membros do operador, aumento de qualidade e aumento
de segurança.
19
Figura 10: Exemplo de arranjo para posicionamento sem ação do operador.
Disponível em: < slideshare.net/OmerChasib/dfma-design-for-manufacturing-and-assamply >
VIII) Facilitar manipulação de peças
Além do aspecto ergonômico de layout do posto, deve-se focar nas dimensões
e demais características físicas dos componentes e ferramentas visando facilitar a
manipulação. Alguns fatores a se considerar são:
c. Peso: evitar componentes pesados, principalmente se exigirem a manipulação
por duas ou mais mãos.
d. Tamanho: evitar componentes excessivamente pequenos ou grandes.
e. Rigidez e atrito: evitar peças facilmente deformáveis, lisas, escorregadias ou
revestidas por materiais oleosos.
f. Arestas cortantes ou perfurantes: além da dificuldade de manipulação, peças
cortantes geram problemas de segurança.
Figura 11: Peças com características que dificultam a manipulação.
Fonte: Boothroyd; Dewhurst; Knight (1994).
20
g. Simetria: utilizar de (1) peças simétricas, permitindo a montagem de qualquer
modo corretamente, ou (2) evidentemente assimétricas, permitindo fácil
visualização do modo correto ou uso de Poka Yokes.
Figura 12: Peças simétricas quanto à possibilidade de montagem.
Fonte: Boothroyd; Dewhurst; Knight (1994).
h. Formato: evitar peças cujos formatos permitam emaranhamentos, problema
crônico inerente a chicotes e fios.
i. Modo de empacotamento: se não possível o desenvolvimento de peças que
não emaranhem, separá-las de modo a facilitar a pega. Outro modo de
empacotamento é a separação por quantidade ideal a ser utilizada por produto,
evitando que o operador realize excesso de movimentos de pega.
2.1.4 Vantagens e desvantagens
O DFMA somado a modularização demonstram-se fundamentais para a
adaptação das companhias a mercados dinâmicos e as vantagens trazidas por seus
princípios são chaves para não só a sobrevivência das empresas, mas também seu
crescimento (WORREN; MOORE; CARDONA, 2002). Pode-se citar:
a. Facilidade do controle de estoque pela redução da variedade de componentes
(WORREN; MOORE; CARDONA, 2002).
b. Facilidade de logística pela redução do número de fornecedores (WORREN;
MOORE; CARDONA, 2002).
c. Redução do tempo de resposta à demanda pela fabricação, montagem e setup
ágeis e redução de erros, convergindo para o Assembly to Order.
d. Minimização de doenças do trabalho causadas por problemas ergonômicos.
21
e. Maior possibilidade de mecanização da operação pela simplificação das
operações.
f. Promoção da visão holística e mais fácil detecção de problemas na fase de
desenvolvimento do produto pela redução e simplificação dos componentes.
g. Redução dos erros de fabricação e montagem, elevando o índice de qualidade.
h. Facilidade de manutenção e reparos: a baixa ou nenhuma exigência de peças
específicas por modelo soma-se à alta probabilidade da empresa possuir peças
de reposição em estoque, visto que diversos outros modelos utilizam-na
(UMEDA et al., 2008).
i. Redução do descarte, contribuindo para sustentabilidade (UMEDA et al., 2008).
Assim como demais estratégias, a aplicação incorreta do DFMA pode torná-lo
um complicador para a empresa. No entanto, as desvantagens não são decorrentes
apenas da má aplicação.
Como discutido no próximo tópico, a aplicação do DFMA implica naturalmente
em renúncias a outros fatores. Destacam-se as desvantagens decorrentes dos
próprios princípios:
a. Não atendimento a desejos especiais do consumidor: a necessidade ou desejo
de redução de custo ou tempo de produção podem levar à padronização
excessiva. Esta padronização significa a renuncia ao atendimento individual de
necessidades do consumidor individual e a opção por atender grupos com
desejos similares (CARDOZO, 2005).
b. Maior possibilidade de fuga de informações e facilidade de engenharia reversa
do produto por concorrentes devido à simplicidade, levando à imitabilidade e
consequente perda de diferencial competitivo (CARNEVALLI et al., 2011)
c. Não otimização da performance do produto: o uso de peças padronizadas
implica na impossibilidade de projetar a melhor peça para cada situação ou
produto. Opta-se por peças que se adaptem a diversos produtos mesmo sem a
entrega de excelência.
2.1.5 DFX
A grande concorrência do mercado atual e a oferta de produtos variados torna
o cliente mais exigente na busca por aquilo que o satisfaz em todos os sentidos, o que
por sua vez gera um efeito cíclico ao sempre elevar suas expectativas após o
lançamento de um produto que o agrada. Esse anseio não se restringe apenas à
preços reduzidos, oriundos da redução do custo do produto que o DFMA proporciona.
22
A mudança na dinâmica do mercado passou a mover as empresas na busca de
excelência dos projetos em diversos atributos além do custo, como qualidade,
confiabilidade, agilidade, segurança e, em uma tendência de crescimento, o impacto
ambiental.
Ao se expandir o conceito de DFMA, surgiu então o DFX, metodologia que visa
guiar projetos para a entrega de melhores resultados de um determinado requisito,
definido genericamente como X. (BRALLA, 1996) denota seu significado como “Design
for Excellence” (design para excelência). Assim como Bralla (1996) e Pahl and Beitz
(1988) também contribuíram para a exploração do DFX. O esquema da Figura 13
representa parte dos diversos conceitos englobados por ele.
Figura 13: Vertentes do Design for Excellence.
Fonte: Adaptado de < https://dfmpro.geometricglobal.com/cad-systems/dfx/ >
Como indicado, o DFX é extremamente abrangente ao buscar cobrir todos os
possíveis requisitos do mercado e, por este motivo, sua implementação em plenitude
demanda tempo e esforço além do imaginável à qualquer empresa. Além disso, os
preceitos de cada vertente do DFX, embora complementares, podem por vezes ser
conflitantes, o que de fato impede que todos eles resultem em entregas de
"excelência" quando vistos individualmente.
DFX
Design for
Assembly
Design for
Manufacturing
Design for
Time to
Market
Design for
Quality
Design for
Ergonomics
Design for
Reliability
Design for
Environment
Design for
Maintainability Design for
Safety
23
Pelos dois fatores citados, opta-se por uma aplicação mais seletiva destas
metodologias. Este trabalho prioriza a análise de aplicação do DFMA, ou o conjunto
DFA e DFM. Sem aprofundamento, são discutidas brevemente abaixo algumas das
demais vertentes do DFX e como interagem com o DFMA.
I) Design for Quality
Por definições normativas, tem-se qualidade como o grau no qual um conjunto
de características inerentes satisfaz a requisitos. No caso da indústria de bens,
inerentes a um produto e satisfazendo necessidades do cliente, as quais devem ser
contempladas no início do projeto. Assim, o DFQ objetiva que o produto seja capaz de
desempenhar as funções determinadas.
Para que o produto possa ser produzido conforme o projeto, dotando-se de
qualidade intrínseca este deverá atender aos requisitos de manufatura (KAMINSKI,
2000).
O DFMA pode também contribuir para os objetivos do DFQ. Além de reduzir
custos, ele simplifica os processos, tornando-os mais controláveis e passíveis de
aplicação de ferramentas de controle estatístico da qualidade.
II) Design for Reliability
A confiabilidade é a capacidade probabilística de um produto ou sistema operar
plenamente conforme projeto funcional por um dado período de tempo também pré-
estabelecido (European Organization for Quality Control, 1965). Esta característica
pode ser medida pela probabilidade de falha dentro do período estimado ou o tempo
até detecção de uma falha.
Além das falhas naturais e aleatórias dos componentes, como a resistência
mecânica de um material pela sua microestrutura, a confiabilidade é diretamente
influenciada por 2 fatores da manufatura que podem ser reduzidos pelo uso do DFMA:
a. Falhas de projeto, como a definição inadequada de um material ou da interface
entre os componentes,
b. Falhas especiais causadas por fabricação ou montagem incorreta devido
desatenção, despreparo ou processo muito complexo.
Assim como no caso anterior, o DFMA pode ser de grande auxílio se utilizado
de modo correto, porém, seu uso indiscriminado pode também gerar conflitos como: o
24
aumento de tolerâncias, que facilita a montagem, mas gera maior flutuação
dimensional; e a eliminação de sistemas redundantes ou intertravados, que aumentam
a confiabilidade ao custo do aumento do número de peças ou processos de teste.
III) Design for Maintainability
Esta vertente visa a facilidade de manutenção do produto tanto para benefício
do consumidor quanto para benefício da assistência técnica.
Uma grande contribuição do DFMA é projetar um produto para a engenharia
reversa, de modo a ser tão fácil de desmontar quanto de montar, possibilitando
manutenção rápida e barata inclusive por aqueles com pouco domínio técnico como o
cliente.
A manutenção é facilitada também em grande parte pela modularidade com a
padronização de peças. O uso de componentes padrão elimina o problema de
ausência de peças para manutenção, muito comum no mercado automobilístico
devido a retirada de um produto do mercado após pouco tempo de venda e o
encerramento da fabricação de peças exclusivas do modelo aposentado.
IV) Design for Safety
O Design for Safety tem o objetivo de garantir a segurança dos consumidores e
operadores durante o consumo e manufatura do produto.
Este critério é um dos mais complexos do DFX, pois, além de falhas do
produto, incluem-se falhas humanas. Mesmo com base nas boas práticas e regras
normativas, que são inúmeras no Brasil, a definição de um produto que não gere risco
é inconcebível dada a imprevisibilidade dos atos humanos, acarretando em usos não
esperados do produto.
Como para a confiabilidade, a realização de testes na produção é
imprescindível para a segurança, os quais, como discutido, são auxiliados pela
simplificação de processos do DFMA, mas tornam o ciclo produtivo mais lento e
dispendioso.
V) Design for Environment
O Design for Environment busca otimizar a produção e design no quesito de
sustentabilidade ambiental, assunto muito discutido na atualidade.
25
Analisando o fim de vida do produto, além da dificuldade de manutenção já
tratada, tem-se o descarte. Alguns produtos são compostos por peças tão complexas
e pouco padronizadas que seu custo de reposição se equipara ao custo do produto
para o cliente. Assim, ao fazer o consumidor optar pela compra de um produto novo,
gera-se o problema de excesso de resíduos.
Os impactos ambientais são agravados também por:
a. Rápida obsolescência principalmente de eletrônicos pelo avanço tecnológico.
b. Uso de matéria prima muito diversificada, dificultando a reciclagem, ou nociva
ao meio, realidade em projeto que priorizam redução de custo.
c. Processos produtivos pouco limpos, prejudicando não só o meio externo à
fábrica quanto os operadores.
VI) Design for Ergonomics
Essa metodologia visa o desenvolvimento de produtos mais ergonômicos em
seus diversos âmbitos: bem estar físico e psicológico, segurança, facilidade de
entendimento e manuseio (MORAES, 1983). Este desenvolvimento inclui tanto o
projeto do método de fabricação quanto o uso.
Ao melhorar a interface do usuário com o produto e maximizar sua utilidade,
melhorando a eficiência do sistema homem máquina, o Design for Ergonomics é
especialmente aplicável às máquinas e equipamentos da fábrica para entrega dos
benefícios buscados pelo DFMA.
VII) Design for Short Time-to-Market
Diretamente afetada pelos princípios básicos de modularização e DFMA, essa
metodologia foca na redução de tempo para disponibilização de um produto ao
mercado, abrangendo desde o a identificação de necessidades e projeto do produto
até a venda.
As principais vantagens desse método estão em antecipar as ações dos
concorrentes, capturando suas fatias de mercado com produtos diferenciados e
tecnologias inovadoras antes que eles tenham tempo de adaptação. Há também a
possibilidade de conduzir as tendências de mercado para um ponto esperado ao
introduzir um novo conceito ou funcionalidade. Exemplo disso é o mercado de
26
celulares, onde a tendência de redução de tamanho dos aparelhos foi completamente
revertida.
2.2 Considerações sobre a fundamentação teórica
Pôde-se notar a importância do Design for Manufacturing and Assembly para a
sobrevivência de empresas inseridas em um mercado dinâmico. Em especial, a
aplicabilidade para fabricantes de produtos complexos, simplificando, flexibilizando e
reduzindo custos dos diversos processos que compõem a cadeia de valor, como
desenvolvimento, logística, fabricação e outros.
Estas estratégias ou metodologias funcionam muito bem em conjunto pela
similaridade de seus princípios e regras, podendo ter os efeitos ampliados pela
engenharia simultânea.
O capítulo 3 apresenta a metodologia empregada no trabalho para aplicação
destes conceitos a problemas reais de uma indústria de eletrodomésticos e análise
dos resultados gerados.
27
3 METODOLOGIA
A fim de atingir os objetivos propostos, adotou-se o modelo de estudo de caso
para este trabalho. A investigação in loco permitiu uma maior compreensão das
dificuldades dos processos produtivos que tangem os métodos, materiais, máquinas e
mão de obra.
O estudo foi realizado em uma empresa multinacional de eletrodomésticos da
linha branca e centralizado na produção de fogões e lavadoras. A análise de
subsistemas complexos oferece grande possibilidade de observação e aplicação dos
princípios de DFMA.
Embora o método DFMA estudado possua estreita relação com o
desenvolvimento de produtos, o foco do trabalho é na sua aplicação e resultados na
etapa de operação, ou o modo em que o produto é transformado (KARLSSON, 2009),
através de projetos de melhoria contínua, pequenos projetos para melhoria de
produtos já instalados e produzidos nas linhas.
3.1 Posicionamento metodológico
O contexto de operação do trabalho levou à adoção da metodologia de estudo
de caso, a qual, segundo Voss et al. (2002), é indicada tanto para questões do tipo
como e por que, quanto para desenvolvimento de ideias e teste de teorias, pensando
no aprofundamento do estudo.
No procedimento é utilizado o arquétipo empírico que, focado na
experimentação, contempla a condução de testes, simulações e estudos comparativos
(EILON, 1974). Em contraste com o método analítico, o empírico cria teorias através
de dados ao invés de deduções (WACKER, 1998).
Aqui, a condução de testes refere-se à aplicação dos princípios teóricos como
forma de avaliar as práticas da companhia estudada, não contestar os confrontar a
teoria. É importante salientar que essa classificação não é compatível com a de Voss
et al. (2002) para Teste de Teoria, cujo sentido está mais voltado a analisar a
confiabilidade ou veracidade das predições feitas em cima de uma teoria no intuito de
testá-la.
Para garantir confiabilidade das informações, a coleta de dados deverá garantir
triangulação pela coleta por diferentes meios, como observação direta, entrevistas e
estudo de documentos passados (LEONARD-BARTON, 1990). Estes dados também
28
deverão ser de forma quantitativa e qualitativa. Embora o campo de gestão de
operações conduza a uma análise majoritariamente positivista (KARLSSON, 2009), a
compreensão dos fatores que levam a dados numéricos, muito comuns no campo das
operações, exigirão inevitavelmente uma base qualitativa (MEREDITH, 1998).
3.2 Contexto da Empresa
A estrutura atual da empresa estudada divide as áreas de projetos, incluindo a
engenharia de produtos, em dois times: NPI, focado no desenvolvimento de novos
produtos, e EPI, focado na melhoria de produtos já existentes. Enquanto os projetos
NPI priorizam a proposição de valor ao mercado, os projetos EPI têm como objetivo
principal a simplificação do produto, a eliminação de defeitos recorrentes para
aumento do nível de qualidade e a redução de custo.
Este trabalho visa o estudo e proposta de aplicação do DFMA nos projetos de
melhoria ou projetos EPI, cujas características levam a uma proposta de aplicação
diferente daquela aplicada para projetos de novos produtos. Isso, pois, dos projetos
EPI espera-se grande dinamismo e geração rápida de soluções, não permitindo que
todo o produto seja repensado a cada novo projeto, principal característica que o
difere dos NPI.
Destacam-se também as características da empresa quanto a seu sistema
produtivo. Buscando tornar-se mais competitiva, a fabricante de eletrodomésticos
estudada passou por alterações tanto em seu modelo de negócio quanto em sua
estrutura interna e organograma. A maior reestruturação, porém, foi em sua estratégia
produtiva visando atingir um novo patamar de maturidade pela adoção do WCM –
World Class Manufacturing.
Criada pelo grupo Fiat, WCM é uma metodologia de produção estruturada,
rigorosa e integrada, envolvendo toda a organização, desde segurança e qualidade,
focos da companhia, a meio ambiente, manutenção, logística. Essencialmente um
programa de excelência operacional, o principal objetivo do WCM é a melhoria
contínua em todas as áreas de produção e a eliminação de todas as formas de
desperdício e perda.
Alinhando-se aos objetivos do DFMA, o pilar de WO – Workplace Organization,
ou Organização da Área de Trabalho, do WCM busca também a eliminação de perdas
relacionadas ao trabalho do operador. O WO consiste no estudo profundo dos tempos
e métodos de cada posto de trabalho a fim de tratar 3 grandes pontos: riscos
29
ergonômicos das operações, variação dos tempos de operação e eliminação de
atividades não agregadoras de valor.
Nesse processo, após estudo detalhado da área de trabalho, a equipe
multifuncional, em parceria com os operadores, deve propor melhorias dos postos
quanto a: dimensões físicas; formas de abastecimento de peças que favoreçam o
acesso à Golden Zone; simplificação da operação e, eventualmente, alterações do
produto.
Pela profundidade das crono-análises e pelo objetivo de simplificar as
operações, o WO demonstrou grande conexão com o DFMA e será tratado neste
trabalho.
3.3 Etapas
Para maior retenção do aprendizado e elaboração de propostas com maior
maturidade, buscou-se inicialmente a observação – identificação de evidências,
exemplos, da teoria do DFMA na prática – e, posteriormente, a aplicação –
identificação e proposição de modificações.
O processo conduzido seguirá as seguintes etapas:
I) Revisão da literatura
Investigação dos desenvolvimentos correntes em características, vantagens e
aplicação dos princípios do Design for Manufacturing and Assembly.
A investigação também abrange brevemente algumas vertentes do DFX com
foco em suas relações com o DFMA. O objetivo é o desenvolvimento de
conhecimentos sobre as limitações do DFMA e a formação de visão holística, de modo
que as melhorias propostas posteriormente não representem benefícios apenas ao
sistema produtivo em detrimento dos demais aspectos do ciclo de vida do produto e da
saúde da companhia.
II) Coleta de dados documentais e observação
Busca por indicativos de aplicação do DFMA através de documentos,
observações a pesquisas com membros participantes em projetos de desenvolvimento
de produtos. Inicialmente, as pesquisas não terão objetivo de avaliar a eficiência do
processo ou do projeto, sendo apenas um meio para obtenção de dados passados
que não foram documentados.
30
Após definidos os projetos cuja aplicação é mais perceptível, cada caso será
discutido individualmente, trazendo as motivações para a alteração, as peculiaridades
e os fatores que levaram à escolha da proposta de alteração.
Para explorar os efeitos do DFMA na manufatura, montagem e demais
aspectos como qualidade, segurança e operações logísticas, os estados anteriores e
atuais serão ilustrados e comparados quanto a seus prós e contras sob diferentes
perspectivas.
III) Aplicação dos conceitos do DFMA
Considerando a impossibilidade de aplicação dos princípios identificados na
revisão em um processo de desenvolvimento de produto desde a sua concepção pela
longa duração de projeto, o segundo momento do trabalho contempla a aplicação dos
conceitos do DFMA a projetos de melhoria de componentes já inclusos no mix de
produção.
Essa etapa segue as atividades chave listadas abaixo:
Análise da situação: estudo de tempos de operação antes da melhoria e
vulnerabilidades de qualidade, segurança e ergonomia
Identificação de oportunidades para aplicação dos princípios do DFMA
Propostas de melhorias seguindo os princípios do DFMA
Análise quantitativa: estimativa de tempos de operação e custo após melhoria
Análise qualitativa: pesquisa com operadores e especialistas de diversas áreas
funcionais
IV) Análise de resultados
A fim de confirmar os benefícios dos princípios do DFMA expostos na literatura,
as alterações em componentes apresentadas serão medidas quantitativa e
qualitativamente, cabendo discussões.
Os dados poderão ser coletados e contrastados em função do tempo, dos
produtos ou da fundamentação teórica:
Entre dados históricos e presentes, buscando entender as mudanças ocorridas
que levaram às divergências.
Entre dados presentes e futuros, através de estimações.
Entre os dados coletados na experimentação e os dados teóricos oriundos da
literatura.
31
Entre modelos nos quais ainda se utilizam os componentes inalterados e nos
quais os componentes foram melhorados.
Optou-se pelo formato de contraste em função da escassez de parâmetros
objetivos e claros que auxiliassem na definição do que são resultados satisfatórios ou
insatisfatórios na aplicação das estratégias sobre a linha de produção. Como exemplo:
um componente A pode ter custo ou tempo de operação inferior a B, sendo
comparativamente melhor, embora não haja um valor pré-fixado que qualifique A como
satisfatório.
A identificação de melhorias quantitativas será realizada pelo uso de
Indicadores Chave de Processo (KPI) da própria organização como parâmetros, os
quais serão comparados pelos métodos descritos acima. São eles:
Custo de manufatura (BOM): custo unitário do componente pronto
a. Custo de compra
b. Custo de fabricação interna
Custo de montagem (MOD): custo de inserção do componente ao produto
c. Tempo de ciclo
d. Variação do tempo de ciclo
Embora possuam unidades diferentes, o que limita sua comparação, os
indicadores (c) e (d) de tempo de operação podem ser convertidos para custo, sendo
chamados de “custo de mão de obra direta”, MOD. Assim, podem ser somados ao
custo do componente, também chamado de custo de material direto ou custo de BOM
– Bill of Materials, para uma análise mais clara e assertiva.
Considerando a confidencialidade de informações estratégicas da empresa
estudada, dados de fornecedores devem ser alterados por nomes fantasia.
Igualmente, valores monetários de custo de material e salário dos operadores podem
ser alterados para valores fictícios de grandeza equivalente.
Já a interpretação dos resultados qualitativos ocorrerá de forma mais
construtivista, subjetiva a perceptiva do que objetiva. Em formato de pesquisa, busca-
se a percepção pessoal sobre o grau de aplicação dos conceitos de DFMA e sobre a
dificuldade da operação produtiva. Mesmo com a criação de uma escala de
pontuação, não se garante um método quantitativo que determine o grau real de
aplicação sem viés. A análise qualitativa inclui os pontos abaixo, os quais serão
apenas discutidos:
32
Custos de suporte
a. Logística interna e externa de armazenamento e abastecimento
b. Custo de área ocupada
c. Custo de qualidade
Percepção do grau de aplicação dos princípios do DFMA.
Percepção do operador quanto à dificuldade da operação.
Esta etapa de análise é válida tanto para a etapa de identificação de
evidências, quanto para a etapa de proposição de melhorias em caso de sucesso na
implementação das mudanças.
3.4 Processos e ferramentas
Visando o cumprimento das etapas e objetivos estabelecidos acima, foi
desenvolvido um processo lógico que guiasse o estudo e facilitasse seu controle,
desmembrando com maior detalhamento as atividades necessárias. Tratando-se de
um processo de melhoria, foi adotado o ciclo PDCA como base, ferramenta que
objetiva promover a melhoria contínua ao facilitar o controle e estruturação das
atividades dos processos.
Em contraposição ao fluxo natural do PDCA, optou-se por aplicar, na Fase 1, a
checagem (C) e análise crítica (A) de resultados e, na Fase 2, o planejamento (P) e
aplicação (D). A escolha desse formato justifica-se por seguir o fluxo natural de
aprendizagem: primeiramente a observação e, posteriormente, a aplicação.
Assim, foram checados e analisados projetos de melhoria já concluídos e
posteriormente, a partir dos conhecimentos adquiridos, planejadas e executadas
propostas de melhorias para componentes arbitrariamente selecionados.
33
Figura 14: Fluxo simplificado de trabalho para projetos de alteração do produto.
3.4.1 Identificação de oportunidades e priorização
A priorização de esforços é fundamental para a boa condução de projetos,
considerando o tempo de execução, a mão de obra e o custo, principalmente para
produtos complexos e com grande quantidade de componentes como os estudados.
Para isso, é preciso definir um método de identificação e classificação das
oportunidades que guie o trabalho.
Na condução desse trabalho, são utilizados os motivadores mais comumente
aplicados na companhia. Estes motivadores são as fontes de informação que indicam
onde os esforços de melhoria devem ser aplicados.
Os três primeiros citados coincidem com os direcionadores de projetos
propostos pela metodologia WCM – World Class Manufacturing, atualmente em
processo de implementação na planta.
I) Segurança e Ergonomia
Focos dos pilares de Safety e WO do WCM, condições seguras e ergonômicas
são prioridade para a organização. Muitas destas são geradas por fatores de máquina,
material e método que podem ser controlados ou solucionados por um projeto mais
simples do produto.
34
II) Custo
Embora mais usualmente compreendido como o custo do material na empresa
estudada, o custo pode ser também compreendido em termos de tempo de operação,
considerando o valor horário da mão de obra.
III) Qualidade
Além do efeito do DFMA sobre o custo, é importante notar que problemas de
qualidade podem também ser solucionados por um design mais simples, que reduza
erros de montagem e exija menor interferência do operador no produto.
IV) Experiência
Outro direcionador de grande importância é a percepção de pessoas
experientes e que tenham grande interface com a linha de montagem, como
engenheiros industriais e controladores de processos.
Igualmente importantes são as sugestões dos próprios operadores, que
realizam as operações diariamente. Assim, para promover a participação dos
operadores, foi desenvolvido o canal de Quick Kaizen.
Neste trabalho, além de observação e experiência, será utilizado o tempo de
operação como direcionador para proposição de melhorias. Mediante crono-análise,
foi possível identificar três tempos de grande relevância, os quais foram priorizados
posteriormente:
Tempo médio de execução da operação (ciclo completo)
Variação entre repetições da mesma operação
Tempo médio de execução da atividade isolada
Após coletados os dados, as oportunidades passam por uma priorização com
base nos direcionadores, permitindo a detecção dos componentes que mais os afetam
negativamente. Uma técnica mais comum é o gráfico de Pareto, visando atacar os
principais pontos causadores de condições inseguras e geradores de reclamações do
consumidor e de custos. Neste trabalho, contudo, os componentes estudados foram
escolhidos arbitrariamente a partir da percepção da dificuldade dos operadores em
concluírem as atividades de montagem deles.
35
3.4.2 Estudo dos postos de trabalho
Seguindo a lógica de análise do WCM – World Class Manufacturing, os postos
apresentados serão analisados sob três aspectos: MURI, MURA e MUDA.
As análises propostas abaixo são aplicáveis tanto para a análise do posto ou
operação, quanto para reanálise. Assim, serão aplicáveis tanto à etapa de observação,
quanto à de aplicação. Para tal, foram filmadas e estudadas as operações de
montagem, majoritariamente não automatizadas, utilizando o software Kinovea.
Complementando a priorização das oportunidades por meio dos motivadores,
esta análise fornece mais informações para detecção dos componentes e operações
críticas a serem melhorados.
I) MURI
Análise ergonômica com foco nos esforços físicos do operador, fazendo um
levantamento de seus diferentes movimentos durante a operação.
Além de causa de situações inseguras, um esforço excessivo do operador ou
uma operação difícil e pouco natural podem levar à fadiga ou perda de concentração,
acarretando na perda de produtividade, impacto direto sobre MURA e MUDA. Por este
motivo, é o primeiro aspecto analisado.
A análise aplicada na planta considera sobrecargas nos joelhos, ombros,
tronco, entre outros. Para este trabalho, são priorizados os esforços diretamente
relacionados ao manuseio, posicionamento e fixação dos componentes:
Rotação de punho
Movimento de pinça
Movimento de garra
Para estes casos, foi considerado que princípios aplicados do DFMA poderiam
reduzir ou eliminar a vulnerabilidade, principalmente os que dizem respeito a facilitar a
manipulação e inserção de peças.
Figura 15: Exemplo do critério de identificação e pontuação dos esforços
Fonte: Documentos da empresa estudada
36
II) MURA
Análise da irregularidade do sistema produtivo, a variação de produção
causada não pela variação da demanda, mas pelo desnível dos elementos produtivos.
No caso de operações de montagem, esse desnível é a variação de tempos de ciclo
entre operadores diferentes (descentralização das médias das curvas normais) ou
repetições do ciclo para o mesmo operador (dispersão da curva normal). A Figura 16
ilustra o objetivo do MURA de promover a repetibilidade dos resultados.
Essa variação pode ser atribuída à falta de treinamentos e falhas dos
equipamentos, mas também a operações difíceis geradas por designs falhos, aos
quais se aplicam os princípios do DFMA como solução.
Figura 16: Curvas de distribuição de tempo. Insatisfatórias (esquerda) e satisfatórias (direita)
Fonte: Adaptado de documentos da empresa estudada
III) MUDA
Análise de quaisquer atividades que não agreguem valor ao produto do ponto
de vista do consumidor, consumindo mais recursos que o mínimo necessário,
naturalmente um desperdício. Um exemplo disso, e o qual se trata nesse trabalho, é o
excesso de tempo gasto em uma operação.
Neste momento é visado o mapeamento das atividades de montagem e
fabricação nos menores níveis da ação a fim de propor mudanças que reduzam seus
tempos ou elimine-as. Após mapeadas e medidas, as atividades são classificadas em
“agregadoras de valor” (VAA), “semi agregadoras de valor” (SVAA) e “não
agregadoras de valor” (NVAA), focos de redução.
Como mostrado na Figura 17, dentre as diversas atividades não agregadoras
de valor (NVAA), foram identificadas aquelas diretamente relacionadas à fabricação e
montagem do produto e as quais se espera observar.
37
Figura 17: Exemplos de atividades não agregadoras de valor (NVAAs)
Fonte: OHNO, T. O sistema Toyota de Produção
3.4.3 Estudo do componente e proposição de melhorias
Visando guiar a etapa de proposição de melhorias para soluções aplicáveis, foi
desenvolvida uma ferramenta clara e de simples aplicação que apoiasse o estudo do
componente, indicando o nível atual de aplicação dos princípios estudados no produto
e a melhor oportunidade de melhoria para cada caso pela identificação dos princípios
mais aplicáveis.
Deste modo, foi desenvolvida uma ferramenta em formato de folha de
verificação ou questionário a ser aplicada sobre os componentes. Esse método de
apontamento traduz os princípios estudados em questões claras e diretas sobre o
componente genérico estudado e gera como resultado a modificação melhor aplicável.
A checklist dispõe os princípios em uma ordem lógica estabelecida de
importância e abrangência. Portanto, caso seja indicada possibilidade de melhoria nas
primeiras questões, recomenda-se que esta seja tratada antes das que forem
indicados posteriormente. Espera-se com isso a eliminação de retrabalho e a
consequente redução de custos de melhoria. Por exemplo, a redução do número de
componentes, será priorizada em relação a facilitar suas fixações, a qual, embora seja
considerada uma melhor aplicação, pode não ser a mais simples.
Para simplificar a compreensão das questões, optou-se pela forma mais natural
das questões quanto à negação ou afirmação. Deste modo, existem oportunidades de
melhoria não quando as respostas forem exclusivamente “sim” ou “não”, mas quando
existirem respostas nos campos azuis do questionário.
38
Como exceção aos demais blocos de questões, a redução de componentes
somente é tida como viável se todas as questões que formam o bloco forem
respondidas como oportunidade de melhoria por tratarem de características
impeditivas de modificações. Por exemplo, caso dois componentes, A e B, possuam
uma restrição técnica que dita a necessidade de serem fabricados em materiais
diferentes, estes não poderão ser substituídos por um único componente C para
redução da contagem de itens.
A ferramenta contempla apenas 5 dos 8 princípios apresentados pois foi
adaptada para melhor uso na condição estudada. Foram excluídos os princípios de
montagem empilhada e montagem estática, dado o sistema produtivo atual da
empresa, que já contempla essa característica em suas linhas e o princípio de
modularização. Este último foi excluído pelo objetivo de uso da ferramenta em projetos
de melhoria. A aplicação de modularização exige visão global do produto e estudo de
todas as suas funções para que nenhuma seja afetada, porém, tal prática requer
grande tempo e esforço, sendo aplicável a novos produtos, mas inviável para projetos
de melhoria pelo dinamismo exigido.
39
Tabela 1: Checklist de características dos componentes com base nos princípios do DFMA
Redução de componentes * Sim Não
Os componentes devem ter movimento relativo?
Os componentes devem ser de materiais distintos?
O componente tem função apenas de suporte/fixação?
O componente A pode realizar também a função de B?
Após união de A e B, é obstruída a montagem de C?
Padronização de componentes Sim Não
O componente é espelhado (montagem Dir. e Esq. iguais)?
O componente varia para cada modelo o produto?
O mesmo posto de trabalho utiliza diferentes fixadores?
Autofixação Sim Não
São utilizados elementos fixadores? (ex: pinos, parafusos)
A fixação exige ferramenta?
Os componentes são estáticos?
O componente recebe grande esforço de carga?
Alinhamento e Inserção Sim Não
O componente é montado em um berço estático?
O ponto de fixação é pouco visível?
A inserção tem grande interferência geométrica?
O alinhamento é realizado apenas visualmente? (sem guias)
O componente inserido possui chanfros ou formato cônico?
Manipulação Sim Não
O componente exige manuseio por duas ou mais mãos?
O componente é simétrico (giro vertical e horizontal)?
Existem cantos cortantes ou perfurantes?
O componente ou ponto de pega é escorregadio?
O componente emaranha?
O componente é pego facilmente na quantidade ideal?
40
4 RESULTADOS
O trabalho teve por objetivo realizar a análise dos princípios do DFMA em um
estudo de caso e propor sua aplicação em projetos de melhoria do produto, a partir de
uma extrapolação do estudo feito sobre eletrodomésticos.
Neste capítulo são apresentados o contexto da empresa seguidos das duas
fases propostas para estudo dos princípios: observação e aplicação.
A primeira fase da aplicação consistiu da busca por indicativos da aplicação
dos princípios do DFMA. Por meio de estudo de documentos e observação de peças,
produtos e processos de montagem, são apresentados projetos onde se notou a
aplicação do DFMA, os quais serão analisados criticamente e contrastados com a
literatura.
Por fim, após análise das evidências de modificações já aplicadas com base na
teoria, são identificadas oportunidades de aplicações dos princípios e elaboradas e
discutidas propostas de melhoria.
4.1 Evidências da aplicação do DFMA
Visando responder a questão “como o DFMA vem sendo aplicado para geração
de melhorias na produção?”, retomada para discussão no capítulo de conclusão, são
trazidos neste capítulo os itens abaixo em acordo com o exposto nos objetivos. Todas
as informações apresentadas referem-se exclusivamente à empresa estudada.
Indicativos de uso dos conceitos de simplificação do produto;
Relação positiva ou negativa do DFMA sobre a manufatura e montagem e
demais aspectos como segurança, ergonomia e qualidade;
Motivos para tais relações, principalmente em caso conflitante;
Melhorias quantitativas e qualitativas geradas pela aplicação do DFMA.
Neste primeiro momento, o contato ocorreu com operadores e controlares de
processo, especialistas técnicos que conduzem ações de controle e melhorias no dia a
dia. A eles foi questionado sobre o histórico de projetos de alterações do produto, pelo
qual foram elencadas diversas alterações, nas quais se buscou evidências do DFMA.
41
4.1.1 Projetos de modificação instalados
Neste tópico são apresentados projetos já concluídos de modificação do
produto onde nota-se a aplicação dos princípios do DFMA. Cada projeto é discutido
individualmente e tem seus resultados de melhoria analisados.
I) Conexões Positive Lock
Como premissa básica, os produtos estudados são repletos de fiações que
interligam seus componentes eletrônicos. Naturalmente, o excesso de redes elétricas
já é um problema pra a montagem, que fica mais complexa e exige de manipulação
por parte do operador para direcioná-las e desemaranhá-las.
Um segundo problema do excesso de fios é conectá-los às entradas
destinadas de modo que nenhum deles acabe desconectado, mal conectado ou
conectado na entrada incorreta. Somado a isso, tem-se a precisão visual exigida do
operador e a vulnerabilidade ergonômica do posto pelo movimento repetitivo de pinça.
A fim de evitar fios mal conectados, os conectores Positive Lock indicam por
uma sensação tátil e sonora de clique o momento em que a conexão foi executada, o
que não soluciona erros de conexão ou o excesso de conexões. Para esses, foram
desenvolvidas duas soluções: Positive Lock em bloco e um Poka Yoke.
O conector em bloco permite que mais de uma conexão sejam feitas em um só
movimento. Como um limitante, esse tipo deve ser utilizado somente quando as
entradas são próximas. Um segundo limitante se dá no processo de manufatura: ao
passo que fabricar conexões simples permitem que apenas um tipo de bico seja
fabricado, ao utilizar duplas, triplas e afins, uma maior variedade de bicos deve ser
produzida – um exemplo de contribuição para a qualidade e tempo de montagem com
prejuízos ao custo de fabricação e aos esforços logísticos dos fornecedores de cabos
elétricos.
42
Figura 18: Conectores Positive Lock simples (esquerda) e em bloco (direita)
Para solução dos erros de conexão, foi desenvolvido um Poka Yoke, um
sistema a prova de falhas que impede que o erro humano ocorra. O sistema simples
adotado foi a utilização de entradas e bicos diferentes para cada par de conexão,
impossibilitando a permutação. Além do dimensional do bico, foi desenvolvido um
sistema de cores distintas, agilizando a identificação de cada pino pelo operador.
Figura 19: Poka Yoke de conectores Positive Lock
Seguindo o processo estabelecido na metodologia, foi reanalisada a operação
de conexão para medição quantitativa das melhorias. Foi analisada aqui apenas a
operação de montagem, realizada internamente, visto que a fabricação é realizada por
fornecedores.
Conforme ilustra a Figura 20, foram filmados ciclos consecutivos da operação
realizados por dois operadores. Em seguida, os vídeos foram analisados em câmera
lenta com auxílio computacional no intuito de desmembrar a operação ao menor nível
43
de atividade, como ditam as análises MURA e MUDA. Na figura, cada coluna
representa um ciclo completo, enquanto cada linha representa uma atividade.
Figura 20: Crono-análise do posto. Conexões Positive Lock.
As tabelas da Figura 21 trazem um compilado dos tempos obtidos durante
estudo do posto, o que permitiu a estimativa e comparação de tempos para quatro
tipos de conexões: individuais de 2, 3 e 4 pinos e em bloco.
No canto superior esquerdo, os tempos de cada ciclo Cn filmados em um posto
onde se realiza a conexão de 2 pinos individuais. Assim como na crono-análise acima,
os tempos são apresentados desmembrados ao nível de atividades classificadas como
NVAA, SVAA e VAA. São também apresentados os tempos médios de cada atividade
e a amplitude, variação em segundos entre a repetição mais lenta e mais rápida.
Na direita, com base nas médias dos tempos filmados, são estimadas as
atividades e respectivos tempos para execução de conexões individuais de 3 e 4 pinos
e em bloco.
No canto inferior esquerdo, são comparados os tempos de ciclo para os
diversos tipos de conexões. O gráfico de barras empilhadas traz tempos médios totais
de ciclo, desmembrando-os em VAA, SVAA e NVAA, conforme classificados.
O mesmo modelo é utilizado para as demais análises apresentadas.
44
Figura 21: Tempos de montagem de Positive Locks em bloco e individuais de 2, 3 e 4 pinos.
Extrai-se dos resultados obtidos que a principal atividade geradora de perdas é
o manuseio dos fios e posicionamento dos conectores, justificando o uso de
conectores em bloco como proposta de melhoria. Esta atividade é também a principal
causa de variação nos tempos de ciclo, segundo a análise MURA.
A seguir é apresentada uma estimativa quantitativa da economia gerada.
Para cálculo do ganho de montagem, buscou-se traduzir o tempo de operação
em termos de custo de mão de obra direta, MOD, a partir de uma estimativa salarial de
R$ 12,00 por hora. Pela dificuldade de rateio dos custos, não são estimados aqui o
custo de área ocupada pelos materiais, transporte e abastecimento e energia.
Para cálculo do ganho de manufatura ou de material, BOM, deve-se estimar
dois fatores: custo de operação, para fabricados internamente, e custo de compra,
para componentes fornecidos. Nesse caso deve-se utilizar a lista de materiais para
estimativa do custo.
Embora o processo de manufatura sofra alteração, há aqui uma grande
dificuldade em quantificar a diferença gerada exclusivamente pela troca dos pinos, já
que o preço de compra refere-se ao conjunto de fiação por completo. Optou-se por
desconsiderar este fator.
O mesmo modelo é utilizado para as demais análises apresentadas.
45
Tabela 2: Comparativo de custos MOD e BOM para conexões Positive Lock.
Embora a economia gerada pela substituição de conexões individuais por
blocos seja da ordem de centavos e décimos de centavos, deve-se considerar o efeito
da melhoria globalmente, já que as conexões estão presentes em todos os produtos
fabricados pela companhia e em grande volume.
Realizando uma análise interna, ao considerar-se uma produção diária de
10.000 itens em cocção e lavanderia e uma estimativa de substituição de dois
conjuntos de pinos individuais x2 por blocos por produto, tem-se uma economia anual
de aproximadamente R$ 35.000,00.
II) Trempes simples e duplas
Não movido pela simplificação ou redução de custo, esse projeto buscou uma
geração de valor ao consumir, elevando o nível de qualidade percebida ao custo do
aumento do número de componentes no produto.
A nova proposta de facilitar a limpeza do fogão levou à solução de
individualizar as trempes, grades que suportam a panela sobre as chamas dos
queimadores, tornando sua remoção e manuseio mais simples. Assim, fogões de
quatro bocas, por exemplo, passaram a comportar quatro trempes simples, individuais,
em vez de duas duplas, como utilizado inicialmente.
Figura 22: Detalhe do produto. Trempe simples e trempes duplas.
46
É possível identificar uma tendência de como a companhia estudada vem
aplicando o DFMA. Enquanto projetos de novos produtos, NPIs, prezam pelo aumento
de valor do produto e qualidade percebida, cabe ao time de melhoria os projetos de
adequação do produto já lançados, os projetos EPI, com grande foco na simplificação
e redução de custo.
Neste exemplo, tem-se um novo design oriundo de projetos NPI, que, ao
buscar geração de valor, demonstra regresso quanto aos princípios do DFMA,
eliminando as características de redução de componentes por fusão e a simetria.
Do ponto de vista do sistema produtivo, embora a trempe individual traga a
facilidade de manuseio, ela também duplica o número de operações de manuseio e dá
possibilidade para erros de montagem – estes não tem efeito funcional, apenas visual.
Tais operações de manuseio incluem transporte, abastecimento, esmaltação –
processo realizado internamente – e montagem sobre o produto.
Tabela 3: Comparativo de vantagens entre trempes simples e duplas.
COMPARATIVO DE VANTAGENS
SIMPLES DUPLA
Menor peso e facilidade de manuseio Simétrica, impede erros de montagem
Mais fácil transporte e armazenagem Menos manuseio durante toda produção
Proposta de valor ao consumidor Menor custo de fabricação
Além do efeito em qualidade e tempo de operação, as trempes duplas
representam grande ganho em material.
Abaixo é apresentada uma estimativa da economia por produto com o uso de
trempes duplas. Para cálculo de ganho de BOM, foi utilizado o valor médio dos
diferentes modelos de trempe com base na lista de materiais.
Dada a grande representatividade do ganho de BOM obtido, optou-se por
desconsiderar o de montagem, o qual teria ganho monetário muito inferior.
Tabela 4: Comparativo de custos MOD e BOM para a utilização de trempes duplas.
47
III) Grampos fixadores do sistema gás
Crítico para a segurança do consumidor, o sistema de distribuição de gás do
produto deve ser robusto e contar com fixações confiáveis. Ao mesmo tempo,
considerando a grande quantidade de montagens, tais conexões devem ser baratas e
de fácil montagem. Cada produto possui de 4 a 6 registros mais respectivos capilares
de distribuição, totalizando uma quantia de 8 a 12 conexões por produto.
Analisando o sistema gás atualmente utilizado em todos os fogões, é possível
identificar 3 tipos de presilhas: grampo W, grampo S e grampo borboleta, dos quais
são tratados mais a fundo aqui apenas os dois último tipos. A Figura 23 traz os
detalhes de montagem dos grampos.
Figura 23: Grampo S (esquerda), grampo W (centro) e grampo borboleta (direita).
O primeiro, chamado de “grampo S”, muito semelhante ao “grampo W”,
apresenta diversas vulnerabilidades referentes à aplicação dos princípios de DFMA. O
grampo S é responsável por conectar os capilares, tubos secundários de distribuição,
ao registro ou válvula. Como levantado abaixo nos prós e contras, este é um exemplo
claro de situação onde a facilitação e barateamento da manufatura comprometem a
montagem, elevando sua dificuldade.
Tabela 5: Prós e contras de grampos dos tipos S e W para o sistema produtivo.
GRAMPOS S e W
PRÓS CONTRAS
Baixíssimo custo de MP e manufatura Montagem permite escape (qualidade)
Baixo volume ocupado Emaranham durante armazenagem
Baixo custo de transp. e armazenagem Formato complexo assimétrico
A segunda, “grampo borboleta”, tem a função de conectar os capilares os
suportes dos injetores, os bocais do fogão. Este apresenta aplicação bem mais
48
satisfatória, trazendo principalmente o princípio de manuseio pela simetria e
simplificação da geometria.
Tabela 6: Prós e contras de grampos tipo borboleta para o sistema produtivo.
GRAMPO BORBOLETA
PRÓS CONTRAS
Baixíssimo custo de MP e manufatura Pequena e leve
Simetria e geometria simples Arestas cortantes ou perfurantes
Baixo volume ocupado
Baixo custo de transp. e armazenagem
Pensando na melhoria pela eliminação destes componentes fixadores
complexos, foi discutida a proposta de engate feito por rosca. Embora mais intuitiva e
eliminando componentes, a proposta é recusada pela vulnerabilidade ergonômica de
esforço repetitivo de giro do punho e pela dificuldade de montagem.
Uma segunda proposta é a padronização destes componentes, a qual exigiria
um grande esforço de coordenação com os fornecedores. Isto se dá, pois cada
fornecedor produz um diferente modelo de suporte de injetor e a compra de apenas
um fornecedor não é tida como uma boa prática. Embora os grampos W e S exerçam
a mesma função do grampo borboleta e os injetores possuam as mesmas entradas,
suas geometrias externas são distintas, exigindo diferentes grampos.
A crono-análise comparativa das montagens revelou variação irrisória no tempo
de fixação dos grampos, não representando ganhos em MOD. Igualmente, a análise
de custo de BOM é pouco conclusiva, dados os seguintes fatores:
Cada fornecedor produz um modelo diferente de presilha, havendo diferentes
bases de precificação.
Não é apresentado o custo real de fabricação, mas o valor final de compra.
Muito baixa variação de preço do componente
A presilha representa parte muito pequena do sistema gás
Foi possível identificar nas presilhas borboletas uma maior aplicação dos
princípios do DFMA. Contudo, considerando os fatores citados e a baixa perspectiva
de economia, projetos de padronização ou melhoria das presilhas não foram
realizados.
49
4.2 Propostas de melhoria advindas da aplicação do DFMA
Neste tópico são apresentadas propostas para melhorias em componentes
reais utilizados pela empresa seguindo os princípios do DFMA e peculiaridade e
restrições que serão discutidas caso a caso a fim de gerar soluções de fato aplicáveis.
O processo segue o fluxo desenvolvido na metodologia, abordando o método
de identificação de oportunidades, priorização, estudo dos postos, estudo dos
componentes, a proposição de melhorias e, por fim, a análise de viabilidade.
4.2.1 Proposição de melhorias
Mantendo a coesão da apresentação de resultados, os dados resultantes das
análises descritas na metodologia são apresentados nos tópicos seguintes para cada
oportunidade.
I) Micro-chave da válvula de gás clicada
A micro-chave da válvula de gás é o componente eletrônico responsável pelo
sinal do acendimento automático das chamas. Conforme ilustrado abaixo, esse
elemento é fixado na válvula de gás e possui um clique que aciona o circuito elétrico
com o movimento do manípulo.
Figura 24: Detalhe da válvula de gás e da micro-chave (componente branco anexo)
Fonte: Site do fornecedor
A partir de observações, notou-se a grande dificuldade dos operadores em
executar a operação de fixação, a quantidade de fixadores exigida e a variedade de
parafusos utilizada no posto. Partiu-se então para um estudo.
Seguindo o processo estabelecido, foi analisado o posto a partir de filmagens
da operação e entrevistas com os operadores. Em seguida, os vídeos foram
50
analisados em câmera lenta com auxílio computacional no intuito de desmembrar a
operação ao menor nível de atividade, permitindo compreensão das dificuldades.
A Figura 25 traz trecho da crono-análise. Na esquerda, o desmembramento da
operação de fixação em atividades. Na direita, listadas abaixo dos ciclos totais, as
durações de cada atividade obtida em cada ciclo.
Figura 25: Crono-análise do posto. Fixação da micro-chave na válvula de gás.
Os resultados obtidos apresentam-se consistentemente para afirmar que a
fixação da micro-chave é uma operação crítica no posto, de acordo com o também
exposto pelos operadores durante entrevistas. Como maior fonte de reclamação, tem-
se a dificuldade de alinhamento entres os furos da micro-chave e os da válvula e a
baixa visibilidade da operação.
O principal efeito é o alto índice de NVAA por retrabalho, uma vez que o
componente deve ser parafusado e desparafusado por diversas vezes até que ambos
os furos estejam alinhados. Esta atividade é também a principal causa de variação nos
tempos de ciclo, segundo a análise MURA.
Para estudo do componente, foi aplicado o checklist desenvolvido, que segue
abaixo apenas com as questões cujas respostas indicaram oportunidades de melhoria.
51
Tabela 7: Checklist do componente. Micro-chave da válvula de gás.
Redução de componentes * Sim Não
Os componentes devem ter movimento relativo?
x
Os componentes devem ser de materiais distintos? x
Após união de A e B, é obstruída a montagem de C?
x
Autofixação Sim Não
São utilizados elementos fixadores? (ex: pinos, parafusos) x
A fixação exige ferramenta? x
Padronização de componentes Sim Não
O mesmo posto de trabalho utiliza diferentes fixadores? x
Alinhamento e Inserção Sim Não
O componente inserido possui chanfros ou formato cônico?
x
Manipulação Sim Não
O componente é simétrico (giro vertical e horizontal)?
x
Em vista da dificuldade técnica em se utilizar o mesmo material para confecção
da válvula e da micro-chave, fica inviabilizada a proposta de fusão dos componentes.
Assim, segue-se para a proposta de simplificar seu modo de fixação.
Como visto na literatura, uma proposta para eliminação dos parafusos é a
utilização de fixação do tipo snap-fit. A Figura 26 ilustra a proposta.
Figura 26: Proposta de alteração do elemento de fixação da micro-chave.
Fabricada em plástico por processo de injeção, a peça alterada não deve gerar
alteração significativa no custo de manufatura, para o fornecedor, ou de BOM, para a
empesa estudada.
52
Quanto aos esforços logísticos, a tendência é de simplificação. Atualmente
utilizando três tipos diferentes de parafuso, o posto passará a utilizar apenas um, o
qual não é aplicado nessa operação. Não há também aumento significativo em massa
e volume do componente.
Como possível limitação, um ponto crítico a ser analisado é a resistência
mecânica dos ganchos ao esforço constante durante uso e a mobilidade do
componente, o que pode gerar os modos de falha de quebra e não acionamento. A
esta segue a ação complementar de criação de guias que, além de permitirem um
mais fácil alinhamento entre os furos da micro-chave e da válvula, conferem ponto de
apoio para maior resistência.
A Figura 27 traz um compilado dos tempos obtidos durante estudo do posto
para cada ciclo Cn na esquerda e, no canto superior direito, uma estimativa de tempos
e atividades para a execução da mesma operação com o novo componente proposto.
No canto inferior direito, o gráfico de barras empilhadas dos tempos médios de ciclo
trazem um comparação entre eles, desmembrando as atividades em VAA, SVAA e
NVAA.
Figura 27: Tempos de montagem da micro-chave e projeção para o estado futuro.
A seguir é apresentada uma estimativa da economia gerada pela proposta.
Com base nos tempos obtidos e detalhados ao nível de atividade, foi possível
definir a nova sequência de atividades esperada e seus tempos. Na tabela abaixo, é
53
aplicada uma margem de segurança de 20% sobre o tempo total do ciclo estimado de
10,91 segundos, resultado em uma redução total de aproximadamente 25 segundos.
Para o ganho de BOM, foi utilizada a lista de materiais para obtenção do custo
médio dos parafusos e das micro-chaves (MC). Embora o processo de manufatura não
sofra alteração, o novo corpo da micro-chave passaria a utilizar uma maior massa de
matéria prima, motivo pelo qual foi incluído um pequeno acréscimo de custo.
Tabela 8: Comparativo de custos MOD e BOM para a alteração de fixação da micro-chave
II) Trilhos da prateleira do forno
O movimento das prateleiras é um fator qualificador básico do produto. Dela
espera-se um deslocamento fluído, ausência de ruído que não exija grande esforço do
usuário, mas, ao mesmo tempo, seja firme, evitando acidentes durante o uso e
transmitindo confiabilidade.
Para permitir o movimento à prateleira, foi desenvolvido um trilho em
barramento com mesmo acabamento. Embora confira pontos estéticos, a solução
eleva também o custo e tempo de produção.
Em função do design e de variações dimensionais durante a produção, foram
reportados problemas de qualidade por reclamações de campo endereçados ao modo
de falha de travamento das prateleiras, o que motivou a análise desse elemento.
Durante estudo do caso, identificou-se uma oportunidade de não somente
elevar a capabilidade do processo para atendimento das especificações, mas de
alterar o produto, de modo a reduzir seu custo e complexidade de montagem.
Com o elemento de origem dos problemas já identificado, partiu-se diretamente
para o estudo do componente e identificação dos pontos críticos, foi aplicado o
checklist desenvolvido, o qual segue abaixo apenas com as questões cujas respostas
indicaram oportunidades de melhoria.
54
Tabela 9: Checklist do componente. Trilhos de prateleira do forno.
Redução de componentes Sim Não
Os componentes devem ter movimento relativo?
x
Os componentes devem ser de materiais distintos?
x
O componente tem função apenas de suporte/fixação? x
O componente A pode realizar também a função de B? x
Após união de A e B, é obstruída a montagem de C?
x
Padronização de componentes Sim Não
O componente varia para cada modelo o produto? x
Autofixação Sim Não
São utilizados elementos fixadores? (ex: pinos, parafusos) x
A fixação exige ferramenta? x
Alinhamento e Inserção Sim Não
O alinhamento é realizado apenas visualmente? (sem guias) x
O componente inserido possui chanfros ou formato cônico?
x
Manipulação Sim Não
O componente exige manuseio por duas ou mais mãos? x
O componente é simétrico (giro vertical e horizontal)?
x
Do questionário pôde-se extrair a oportunidade de exclusão desse elemento.
Em uma eliminação por combinação, a proposta foi de alteração do perfil das laterais
da cavidade do forno para absorção da função de suporte, conforme Figura 28.
Figura 28: Proposta de alteração dos trilhos de prateleira do forno.
Para que a alteração seja possível, são necessárias etapas adicionais de
estampagem para formação das “costelas” e incremento do ferramental, o que onera o
55
processo de manufatura. Serão necessárias também alterações no dispositivo de
montagem, o que deve representar apenas um investimento pontual, sem alteração no
custo variável e no tempo de ciclo.
No entanto, mesmo com as alterações, tem-se, principalmente, ganho de BOM
e de logística. Enquanto o trilho em barramento é fornecido por terceiros e montado na
fábrica, a lateral do forno é atualmente estampada internamente. Sendo a estamparia
um processo já dominado pela companhia, seu incremento acarreta em gastos muito
inferiores aos da atual compra de trilhos.
Na Tabela 10 é apresentada uma estimativa da economia gerada pela
proposta. Não há estimativa para os investimentos iniciais de alteração do ferramental
e, para os valores de tempo de operação, considerou-se que a economia no tempo de
montagem se equipara ao incremento do tempo de estampagem. Assim, além do
ganho em qualidade para o modo de falha de travamento, tem-se o ganho em BOM,
com eliminação dos trilhos e incremento no custo de manufatura da cavidade.
Tabela 10: Comparativo de custos MOD e BOM para a proposta alteração do trilho de prateleira
III) Engate roscado do sistema gás
Por requisitos técnicos e do consumidor, é necessário que fornos e fogões
tenham entradas de alimentação de gás em dois formatos: rosca interna (fêmea), para
os modelos de embutir, e bico ou espigão.
Mais comum no mercado, a entrada tipo espigão permite o uso de mangueira
plástica maleável para gás combustível. Já a entrada do tipo roscada faz conjunto com
mangueiras metálicas, as quais tem um preço muito superior às anteriores para o
consumidor. Assim, pensando no custo e praticidade ao consumidor, a conexão do
tipo espigão é utilizada sempre que possível. Pensando na segurança e confiabilidade
em uso, no entanto, apenas modelos free-stand (fogões convencionais com pés)
permitem o uso de tais conexões. Pela condição térmica mais extrema, modelos de
56
embutir, slot-in, permitem apenas o uso de mangueiras metálicas e,
consequentemente, conexões do tipo roscada.
Pela ótica do sistema produtivo, as conexões espigão apresentam também
vantagens como o processo de fabricação mais simples, menor massa de matéria
prima e produto final e a própria facilidade de conexão de gás. O movimento repetitivo
de giro de punho para rosquear o dispositivo de teste ao produto é uma
vulnerabilidade ergonômica de alto impacto nos postos, o maior motivador do projeto.
Figura 29: Conexões do tipo roscada e espigão. Representação em corte.
Analisando a montagem, processo realizado internamente na empresa, tem-se
que a principal diferença entre os dois sistemas é o modo de realização dos testes de
confiabilidade, os quais requisitam diretamente estas entradas. O primeiro teste é o de
estanqueidade, no qual é injetado um gás inerte no produto para evidenciar possíveis
vazamentos. O segundo é o de chamas, no qual é injetado gás combustível para
verificar a eficiência dos queimadores.
Pela lógica de montagem da produção em linha e pelo takt time, estes testes
não podem ocorrer no mesmo posto, exigindo que os dispositivos de injeção de gás
sejam conectados e desconectados por duas vezes por produto, o que não é um
problema para os engates espigão, mas um grande problema para os roscados.
Como primeiro passo, o estudo do posto seguiu o fluxo PDCA proposto e as
análises de MURA e MUDA do WO com foco na operação de teste. A Figura 30
apresenta a análise de 10 ciclos consecutivos desta, onde foram definidas macro
atividades que, somadas, representam o tempo total de ciclo.
57
Figura 30: Crono-análise do posto. Teste com engate roscado
Extrai-se do estudo: (1) altos tempos de ciclo, (2) uma grande variação entre
tempos da mesma atividade e (3) altos tempos de NVAA.
Com a possibilidade de melhoria detectada, partiu-se para o estudo do
componente pelo preenchimento da checklist analisando a interface mais crítica, entre
a ferramenta e a entrada de gás do sistema.
Tabela 11: Checklist do componente. Engate de teste do sistema gás.
Redução de componentes * Sim Não
Os componentes devem ter movimento relativo? x
Padronização de componentes Sim Não
O componente varia para cada modelo o produto? x O mesmo posto de trabalho utiliza diferentes fixadores? x
Alinhamento e Inserção Sim Não
O componente é montado em um berço estático?
x
O ponto de fixação é pouco visível? x A inserção tem grande interferência geométrica? x
Manipulação Sim Não
O componente exige manuseio por duas ou mais mãos? x
58
A fim de aplicar os conceitos do DFMA, a primeira proposta de eliminação de
componentes é excluída pela limitação técnica de movimento relativo. A segunda, de
padronização de conexões, foi também excluída pois:
a) Substituir roscadas por espigões não permitiria uso de mangueiras metálicas.
b) Substituir espigões por roscadas dificultaria o processo de montagem, cujo
maior volume é em free-stand, e geraria uma perda de valor ao consumidor.
Dado o requisito técnico de manter as conexões roscadas, buscou-se então
trazer para elas as vantagens das espigão de modo análogo.
Diferentemente dos demais casos apresentados, onde foram realizadas
alterações no produto, neste caso foi proposta uma mudança na ferramenta: utilização
de um engate externo, do mesmo modo realizado nos engates espigão. Em silicone, o
dispositivo seria capaz de fazer a vedação por interferência geométrica ao abraçar o
tubo de alimentação, cujo perfil externo é cilíndrico. Na Figura 31, uma representação
da situação anterior e da proposta.
Figura 31: Proposta de alteração do dispositivo. Estado anterior (rosca) e atual (luva externa)
O rápido desenvolvimento e disponibilização da ferramenta permitiram a
medição dos resultados quantitativos apresentados abaixo. Nota-se que a facilidade
em produzir a ferramenta é um forte indício da simplificação resultante da aplicação
dos princípios.
Uma nova crono-análise foi realizada para a mesma operação, porém, com o
novo dispositivo e os resultados das situações anterior e proposta foram compilados
abaixo. Na esquerda, um quadro detalhado de tempos de cada operação e de cada
59
ciclo Cn. Na direita, um gráfico de barras empilhadas dos tempos médios de ciclo para
cada ferramenta, desmembrando-os em VAA, SVAA e NVAA.
Figura 32: Tempos da operação de teste do sistema gás e projeção para o estado futuro.
Com a alteração proposta obteve-se grande redução nos três aspectos críticos
levantados: (1) altos tempos de ciclo, (2) uma grande variação entre tempos da
mesma atividade e (3) altos tempos de NVAA.
O quadro de tempos do engate roscado traz alguns tempos em destaque nas
últimas colunas indicando as atividades com maiores amplitudes de tempo ao longo
dos ciclos e maiores tempos de execução.
Olhando para as atividades causadoras dessa variação, é possível apontar a
dificuldade das operações de rosqueamento. Além da operação realizada de baixo
para cima, o que compromete a visibilidade e vai contra os princípios do DFMA, roscas
apresentam uma facilidade natural ao travamento caso algum erro direcional seja
cometido, o que leva a retrabalho e um maior tempo despendido para posicionamento.
Nota-se também uma redução do número de atividades. O sistema atual exige
que, primeiramente, o dispositivo (1) seja rosqueado sozinho e, posteriormente, a
mangueira (2) seja conectada a fim de não gerar torção. Com a alteração, o dispositivo
passa a ser acoplado à mangueira. Eliminando a necessidade de giro, elimina-se a
necessidade de duas conexões consecutivas.
Uma vez que o produto não foi alterado, não houve ganho de BOM, mas
ganhos consideráveis em tempo de operação e ergonomia. Considerando uma
remuneração da mão de obra direta de R$ 12,00/h, tem-se:
60
Tabela 12: Comparativo de custos MOD e BOM para a proposta de melhoria do dispositivo de teste
4.2.2 Considerações sobre os resultados
O DFX é extremamente abrangente ao buscar satisfazer todos os possíveis
requisitos do mercado. Naturalmente, embora sejam complementares, os princípios de
cada vertente do DFX, por vezes, divergem, o que impede sua aplicação plena e
conjunta.
Sem reduzir importância das demais vertentes, este trabalho priorizou a análise
de aplicação do DFMA e busca aplicar seus princípios, contudo, o ambiente real de
uma empresa é altamente complexo e não permite que uma alteração no produto
justifique-se apenas pela economia de alguns segundos ou centavos de montagem.
Cabe ao corpo gestor de cada companhia definir sua estratégia de entrega de valor ao
cliente, devendo ponderar entre as diversas vantagens competitivas, como custo,
qualidade, flexibilidade e outros. Um processo pouco trivial.
Com tantas visões, critérios subjetivos e abordagens do DFX, o processo
decisório pode ser complexo e pouco direto. Neste sentido, uma proposta é a
utilização de métodos de auxílio à tomada de decisão, como o Método Multicritério,
mostrado na Tabela 13. Seja para novos projetos (NPIs) ou projetos de melhoria
(EPIs), este método torna a decisão mais clara e quantificável ao atribuir pesos a cada
indicador.
Mesmo estes pesos sendo estabelecidos subjetivamente com base na
estratégia da empresa, garante-se que todas as propostas sejam avaliadas por uma
mesma métrica.
Outros indicadores e métodos podem ser também considerados, como:
Análise da gravidade, urgência e tendência do problema que visam solucionar,
em caso de problemas de segurança e qualidade.
61
Grau de dificuldade de aplicação, tempo e risco como critério de priorização.
Tempo para retorno do investimento, payback, muito comumente aplicado para
comparar projetos de diferentes naturezas.
A Tabela 13 traz um exemplo de aplicação do Método Multicritério, onde cada
ação de melhoria tem seu impacto avaliado em cada indicador por uma escala de
“muito insatisfatório” a “muito satisfatório” e, em seguida, esta escala convertida em
números é multiplicada pelo peso de cada indicador. Assim, o método matemático
identifica as melhores escolhas.
Tabela 13: Matriz de análise de viabilidade das propostas.
Em uma escala de 1 a 9, foi possível comparar as situações posteriores sobre
as anteriores: atual versus passado, no momento 1, e proposta versus atual, no
momento 2. Atingindo nota superior à média, 5, é possível afirmar que, com base nos
indicadores de segurança, qualidade e custo, todas as modificações estudadas e as
propostas sugeridas geraram benefícios pra a companhia, exceto a utilização de
trempes individuais que, como apresentado, gerou um retrocesso em relação ao
DFMA.
Isso permite concluir que o uso da filosofia DFMA gerou resultados globais
positivos, considerando todos os fatores, mesmo gerando algumas perdas em fatores
isolados como a qualidade percebida no caso dos trilhos de prateleira do forno.
Resultado já esperado pela natureza discutida do DFX.
62
Resalta-se também que alguns desses resultados foram apenas estimados.
Worren, Moore e Cardona (2002) e Boothroyd, Dewhurst e Knight (1994) elencam
diversas vantagens do uso do DFMA, as quais se esperou verificar na prática.
Entretanto, deve-se considerar a realidade de uma grande empresa e as limitações
que isso implicou na coleta de resultados.
Características como o alto grau de divisão departamental, alta rotatividade dos
membros e a complexidade das operações levaram a alguns fatores limitantes, tanto
para a condução das etapas da metodologia, quanto para a análise de resultados.
a) Processos de aprovação e implementação de mudanças no produto podem ser
demasiadamente longos, comprometendo ou impossibilitando a coleta e
análise de resultados das melhorias em tempo hábil.
b) Mudanças no produto geram mudanças no processo produtivo, às quais os
operadores devem se adaptar. Essa adaptação não é instantânea, exigindo,
em alguns casos, meses até que a curva de produtividade dos operadores
atinja 100% (ramp up). Assim, a queda de produtividade devido às mudanças
podem mascarar os resultados quantitativos de tempo de produção ao elevá-
los no momento inicial.
c) Pessoas são naturalmente resistentes a mudanças. Uma vez que os
operadores já estão acostumados com o modo antigo, uma mudança no
método pode gerar uma aversão. Esta aversão soma-se à queda de seus
rendimentos, citada acima, fazendo com que sua percepção sobre a melhoria
seja negativa. Assim, pesquisas qualitativas com os operadores sobre a
facilidade percebida da operação podem também ser mascaradas.
d) Limitação dos dados históricos. Além da falta de dados há falta de informação
sobre o método utilizado para obtenção dos dados no passado, característica
tão importante quanto os próprios dados.
63
5 CONCLUSÃO
O estudo de caso apresentado buscou o entendimento de como o DFMA vem
sendo aplicado em uma empresa de grande porte com produtos de alta complexidade,
através de observação, e como ele poderia ser inserido em projetos de melhoria para
aumento de eficiência do processo produtivo, através da aplicação de conceitos
extraídos na literatura.
No primeiro momento, foi possível estudar não somente o produto e suas
alterações, mas se e como o DFMA está inserido na cultura da companhia para a
condução dos projetos.
A estrutura atual da empresa estudada divide a engenharia de produtos em
dois times: NPI, focado no desenvolvimento de novos produtos, e EPI, focado na
melhoria de produtos finalizados. Enquanto os projetos NPI priorizam a proposição de
valor ao mercado, os projetos EPI, mostrando maior proximidade com o DFMA, têm
como objetivo principal a simplificação do produto e redução de custo. Nota-se na
cultura observada um foco na redução de custo de BOM, enquanto demais custos,
como o de MOD, ergonomia e tempo de montagem não são vistos como meta, apenas
um critério de aprovação ou reprovação da alteração no produto, ocorrendo na última
fase do processo desenhado.
Além da estrutura, nota-se também pelo número de melhorias observadas e
pelo conhecimento adquirido sobre o fluxo de projeto que a companhia é familiarizada
com os princípios do DFMA, porém, este ocorre de maneira intuitiva pela experiência
do time de projeto, não existindo um método sistêmico que guie a identificação de
oportunidades e proposição de melhorias.
Embora apresentado na literatura como uma metodologia a ser aplicada no
início do ciclo de vida do produto, em sua fase de desenvolvimento, o DFMA se
mostrou muito eficiente quando aplicado em projetos de melhoria do produto
finalizado. Neste contexto, produtos podem ser melhorados com agilidade à medida
que novas tecnologias surgem e ideias são desenvolvidas. Sua aplicação em projetos
já instalados facilita também o contato e absorção de ideias dos operadores, os mais
afetados pelas dificuldades dos processos de produção.
Para sua aplicação em projetos NPI, ressalta-se o equilíbrio e ponderações
exigidos. Em tais projetos, diversos outros fatores devem ser avaliados que não o
custo de produção. Como exemplo, seguindo exclusivamente os princípios do DFMA
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para redução de custo, não seria aprovada a utilização de trempes simples, privando o
mercado de uma nova proposta de valor e a empresa de um possível diferencial
competitivo.
O segundo momento do trabalho permitiu grande absorção do conhecimento
sobre o DFMA ao possibilitar sua aplicação não somente para a proposição de
melhorias, mas para o desenvolvimento de um processo lógico e ferramentas que
guiassem essa aplicação.
Podem-se encontrar na literatura algumas ferramentas para aplicação do
DFMA, no entanto, por sua complexidade, estas podem tornar a condução do projeto
demasiado lenta e burocrática. Aumentando exponencialmente o efeito de
congelamento do projeto, tem-se a complexidade inerente aos produtos estudados, o
que pode levar as equipes a desistirem de sua aplicação.
Em uma escala muito maior do que para projetos de novos produtos, espera-se
iteratividade e agilidade dos projetos de melhoria contínua, como os estudados. Assim,
buscou-se o desenvolvimento de um processo e ferramentas simples e de rápida
aplicação, que trouxessem dinamismo ao projeto e não levassem as equipes a
desistirem de seguir um processo formal e documentado, problema que assola
diversas empresas. Como um passo futuro, é possível considerar a lapidação da
ferramenta para avaliação do sistema desenvolvida e sua implementação como guia
para os projetos EPI.
Por fim, a condução desse trabalho permitiu um maior contato com o processo
de desenvolvimento de produto e de projetos de melhoria em uma empresa de grande
porte, o consequente e imprescindível contato com diversas áreas funcionais e a
aplicação de conhecimentos sobre PDP e processos de manufatura de metais e
polímeros adquiridos no curso. Em especial, a metodologia DFMA adotada como tema
central demonstrou grande relacionamento com a Engenharia de Produção ao inserir-
se no PDP com foco no impacto do produto sobre o próprio sistema produtivo.
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