Caio Fábio - Um Cântico na Agonia

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  • 8/14/2019 Caio Fbio - Um Cntico na Agonia

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    UUmm CCnnttiiccoo nnaa AAggoonniiaa

    Caio Fbio D'Arajo Filho

    2003Distribuio Gratuita.

    Sua reproduo com fins comerciais proibida.O contedo deste e-book no deve ser alterado.

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    UM CNTICO NA AGONIA

    Se voc tivesse certeza absoluta do que lhe aconteceria nos prximosdias, qual seria a sua atitude?

    Qual foi a atitude de Jesus Cristo antes de sua crucificao, jsabendo o que O esperava no dia seguinte?

    Participou da Ceia com os apstolos e depois cantou um hino delouvor.

    Tribulaes iro surgir, quase que diariamente, mas saiba manter-setranqilo ao ponto de poder cantar um hino de louvor, Um Cntico na

    Agonia.

    PREFCIO

    Tragdias no escolhem hora, lugar ou pessoas. Simplesmente seabatem sobre ns. Diariamente temos contato ou conhecimento delas.

    A diferena consiste em como enfrent-las, contorn-las e venc-las.Seguindo o exemplo de Cristo, ns como cristos devemos observar osseus derradeiros atos em nosso meio. Diante das mais terrveisadversidades, Jesus enfrentou-as com extrema paz e f nas promessas doPai.

    Leia este pequeno livro com a inteno nica de aprender aenfrentar as mais variadas tragdias do nosso dia-a-dia, pois como oprprio autor relata, "Viver correr risco da tragdia". E seja capaz desempre poder entoar um Cntico na Agonia.

    Maurcio Soares

    UMCNTICONAAGONIA

    O que voc faria hoje, se soubesse que amanh se encontraria presoa mais terrvel e indescritvel crise existencial? Se amanh voc se desse

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    conta de que seu melhor e mais ntimo amigo lhe houvesse faltado aodever humano e fraternal de solidariedade? O que voc faria se, derepente, aquela pessoa de quem voc nem de longe desconfiara, na qualvoc tanto investiu e que tanto usufruiu de sua cultura, seus afetos,inclinaes e bens maiores o trasse?

    O que voc faria se a religio na qual voc foi criado, em meio a qualfoi inspirado, dentro da qual foi instrudo, subitamente, estabelecesse umapenalidade contra voc?

    Como voc reagiria se, de hbito, se visse escarnecido, vilipendiado,com a honra enxovalhada, a dignidade exposta a uma situao dezombaria, motejo, galhofa e ironia?

    O que faria se fosse alvo de grave violncia fsica, de um estupro,por exemplo, ou de uma surra absurda?

    Qual seria a sua atitude se voc tivesse certeza absoluta do que lheaconteceria nos prximos dias?

    Houve um dia, na vida de Jesus, quando, olhando adiante, ele sconseguia ver coisas absurdas e semelhantes a essas a que acabo de mereferir. Seu dia seguinte seria o dia do Getsmani; dia da depresso, da

    agonia; dia do encaramujar da alma; dia da vertiginosa descida regiomais abissal; dia do choro, gemido, solido profunda.

    O dia seguinte seria aquele no qual faltaria a solidariedade dosamigos. Ele gemeria, choraria, pediria, reclamaria; solicitaria apoio,companhia, mas os amigos estariam dormindo. Voltaria a eles e em voquestionaria: "No pudestes vigiar comigo?

    No pudestes investir em mim sequer alguns minutos? No

    conseguistes vencer o sono? Ser que a minha dor menos importanteque o conforto e o sossego? Simo, tu dormes? No pudeste vigiar comigouma hora? (Marcos 14:37)

    O dia seguinte tambm foi dia de traio, dia no qual JudasIscariotes -discpulo, apstolo, amigo, amado - o troca por dinheiro. Judasque fora investido de autoridade, aquele a quem se descortina o reino deDeus, a quem permitido sonhar com os que sonham na interveno de

    Deus na histria; algum aquinhoado com poder divino para realizarcuras, prodgios, expulso de demnios; aquele que vivenciara realidadesconcretas da chegada e da demonstrao do Reino. E justamente ele que,

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    em funo de um bom negcio, trai a amizade; esse Judas que beija eapunhala. ele que d um susto - no um susto no corao de quem nosabia o que ocorreria, mas um susto naquele que, mesmo ciente do queiria suceder, reserva-se, ainda assim, o direito de enfrentar cada momentoda vida como cada momento da vida, com seus temores, sonhos e

    ambigidades.O dia seguinte o dia no qual a religio judaica - segundo a qual foi

    criado, na qual aprendeu a ler (porque naqueles dias aprendia-se a ler nasescolas rabnicas, lendo a Tor, ou Escrituras), sendo instrudo desde amais tenra infncia - aps o julgamento, o acusa de hertico, no recebesua mensagem, rejeita sua proposta, considera-o demonaco, expurga-o.

    O dia seguinte o dia da negao, negao de um dos melhores

    amigos, amigo que diante de uma situao pblica afirma jamais t-loconhecido, no ter com ele a menor relao, no guardar a lembrana denenhum encontro; no haver histria entre eles, hiptese alguma decumplicidade. Amigo que declara: "No sei quem esse homem; jamais ovi, nunca lhe ouvi o nome; tampouco andei com ele." Amigo que nega afraternidade, o compromisso, a paixo e o sonho comum.

    O dia seguinte seria dia de preterio, de troca: "Que preferes, a

    Jesus, chamado Cristo, ou ao ladro?" Seria dia no qual o poder pblicofaria opo pelo corrupto, em vez do justo; pela devassido, e no pelaintegridade. Seria dia no qual os sistemas e a mquina governamental, porquestes polticas, entregariam o inocente para ser condenado elibertariam - com todas as condies de libertao e seus privilgios - oassassino. Dia, pois, de ser trocado de maneira vil; de ser escarnecido -soldados lhe poriam uma coroa de espinhos na cabea para brincar com asua realeza (realeza, sim, mas de dor). Colocar-lhe-iam na mo um canioquebrvel, como a dizer que o seu cetro o cetro da fraqueza. Vesti-lo-iamcom um manto aparatoso, para significar que tipo de rei era ele: rei-momo;rei-palhao; rei do festival; debochariam dele expondo-o a cenas ridculas.Para honr-lo, cuspir-lhe-iam. A fim de declararem sua sapincia proftica,fechar-lhe-iam os olhos para lhe perguntar: "Quem foi que te bateu?"

    Sarcasmo, ironia. O dia seguinte o dia da cruz. Dia da violao. Diada profanao fsica. Dia da agresso. Dia de ser trespassado. Dia de ser

    objeto.O que voc faria, se soubesse que os trs prximos dias da sua vida

    seriam dessa qualidade? O que voc faria, se soubesse que o que o

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    aguarda a depresso, a facada, a traio, o agravo, a perfdia, a barganha,o julgamento, a excluso da instituio, o desprezo, a rejeio, a falta desolidariedade e ingratido dos que se afirmavam amigos?

    O que voc faria se nos prximos dias voc perdesse o emprego, oulhe roubassem a posio em favor do maior corrupto, de pessoas maisconvenientes quela posio? O que faria voc, se amanh fosse o dia doescrnio, do desdm, da injria, do descrdito, do enodoamento do seunome, de sua imagem e do seu carter?

    O que voc faria, se amanh, ao entrar no txi, fosse vtima de umato sdico, um assalto pavoroso, um seqestro? Ou fosse dia no qual seumarido chegasse bbado a casa, e tomado pelo machismo arrebentasse seurosto, esmurrasse-a, atirasse-a ao cho, enchendo-a de hematomas,

    ferindo-lhe os ouvidos com palavres e improprios?Tenho certeza de que no estou sendo irreal, nem estou falando de

    coisas que no lhe digam respeito. Porque todos ns, de um modo ou deoutro, corremos sempre o risco de estarmos na iminncia de sofrer algodesse tipo.

    Viver correr o risco de tragdia. Estar vivo estar assistindo possibilidade de conflito, traio, preterimento, negao, fraude, injustia,roubo, desonra, calnia, violncia, depresso e "ilhamento".

    Hoje, no sabemos o que nos pode acontecer amanh ou depois.Mas o Cristo ao qual me refiro conhecia o futuro - se bem que no doponto de vista de uma exacerbada oniscincia, que lhe tirasse o direito e oprivilgio de rir e de chorar, de alegrar-se ou de sofrer a cada instante, aponto de a cada nova situao poder afirmar: "Eu j estava esperando queisso acontecesse..." Porque o paradoxo da oniscincia de Jesus que ele

    sabe tudo, mas vive tudo o que lhe acontece como se ignorasse que lheocorreria. o mistrio que s se explica em Deus: saber tudo, e, no entanto,viver tudo com a surpresa da chegada de cada coisa.

    E qual a atitude de Jesus na vspera do tudo mal? Na vspera dotrgico? Na vspera do tudo-nada? Marcos conta, no cap. 14, v.22 e 23 que,partindo o po, ele disse: "Isto o meu corpo"; e tomando o clice,acrescenta: "Isto o meu sangue" - prova de que estava plenamente

    consciente do que o aguardava. O v.26 diz mais:"Tendo cantado um hino, saram para o Monte das Oliveiras".

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    O que esperava por Jesus era o ser ele partido, rasgado, modo,ultrajado, usado. No entanto, ele canta um hino! E que hino era esse? Era

    justamente o hino que o judeu cantava na Pscoa, o Salmo 115, que afirmao amparo de Deus; salmo que admoesta:

    "No confieis em dolos. Tm boca e no falam; tm olhos e novem; tm ouvidos e no ouvem; tm nariz e no cheiram. Suas mos noapalpam; seus ps no andam; som nenhum lhes sai da garganta".

    Ele exorta a que se confie no Senhor, em quem h amparo, refgio,conforto, segurana.

    Parece ironia cantar um hino desses vspera do que Cristo sabiaser a moenda da sua alma, o trilhar do seu corpo, o lacerar e escalpelar da

    sua carne. Sim, Jesus foi neste planeta o nico homem que soube crer noque Paulo articularia teologicamente mais tarde:

    "Sabemos que todas as coisas cooperam para o bem daqueles queamam a Deus, daqueles que so chamados segundo o seu propsito" (Rm8:28).

    Qualquer um s faz arremedar essa prtica, somente Jesus deNazar cantou antes da agonia; cantou louvores no gemido. E diga-se: em

    Cristo, o cantar, antes de tudo, equivale a cantar depois. Porque ele cantano antes da surpresa absoluta, mas sabendo o que est por vir. O quesignifica terminar a cruz em louvor.

    O que estar a vida fazendo em ns? Que estar ela fazendo de ns?O que o chicotear, o deprimir, o esmagar, o humilhar, o tripudecer, ocaluniar, o escarnecer, o decepcionar, o desacreditar, o roubar, o espatifarde iluses estaro criando em ns?

    Ser que os gestos, jeitos, modos, palavras e tudo mais que a vidanos negou, no estariam gerando em nosso ser uma alma desrtica, umcorao duro, frio, incapaz do amor, da ddiva, da troca, do sossego e dapaz? Ser que no teria arrancado de ns a capacidade de sonhar, de crer,de renunciar e de ser grato? Ou ainda no teriam criado em ns umamente inepta, paralisada ao fervor e adorao?

    Ser que os fatos e as ocorrncias do dia seguinte esto gerando em

    ns a idia de que Deus tem o brao encolhido? Que ele um Deusimpotente, inoperante e alienado; um Deus-dolo?

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    Ou ser que, por sua graa, seremos capazes de enfrentar o que vier,chorando e gemendo com louvor, com gratido, na certeza de que aquiloque di em ns, magoa e fere fundo; aquilo que nos embaraa e tonteiapelo impacto; que nos surpreende, decepciona e assusta, de maneiranenhuma revela e retrata a inoperncia e pouco-caso de Deus, que no

    traduz sua fuga ou omisso. Ao contrrio, espelha a certeza de que, portrs do que se pode chamar bueiro da dor, espasmo da decepo, negrumeda solido, haver finalmente a estrada em direo ao nico Pai - o nicoAmigo - e nica vitria e certeza.

    Certeza que nos capacita a viver apesar do desamor e abandono, daaflio da perda irrecupervel; apesar do nojo e horror do amigo traioeiroe traidor, do tdio da eterna criatividade vestida de pavo e corpo de

    gralha; enfim, apesar da tristeza de tanto que iria ser e nunca foi, ouparece ser e no - nem nunca ser.

    Cristo canta a ressurreio. Ele canta a interveno, celebra a vitriaantes dela.

    Meu grande desejo que, de alguma forma, o Esprito do Senhornos ajude a cantar um hino e sair... Sair para lutar! Sair para batalhar pelafelicidade, alegria e independncia a que temos direito. Sair, enfim, para

    viver a prpria vida! Faa a vida a careta que fizer, use contra ns asarmas que usar, empunhe em nossa direo as foices traioeiras edevastadoras que quiser. Pois, apoiados ao muro da esperana, em Deus,iremos de peito aberto contra todo choque e toda cilada, celebrando deantemo a vitria, a interferncia e o amparo do Todo-Poderoso, em meio agonia.

    Saia para glorificar o nome de Jesus, cantando antes, durante e

    depois!

    UMCNTICONAAGONIA

    Depois de ter lido este livro, para melhor entendimento ememorizao, rena-se com um grupo de amigos de sua igreja, com sua

    famlia ou comunidade e discuta este tema a partir das perguntas aquiformuladas.

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    Refletindo nas respostas colhidas nesta reunio, voc poder traarum perfil de como vem sendo a sua vida crist. Como poder modific-lae colocar os seus objetivos futuros.

    Certamente, aps este debate, voc poder ter uma nova viso dosPlanos de Deus em sua vida. Mas, lembre-se que este questionrio e estareunio no adiantaro de nada, se voc no os responder comsinceridade e clareza de corao.

    Na verdade, nossa inteno no saber se voc est agindocorretamente ou no, mas poder proporcionar uma forma de meditaoe de conhecimento prprio.

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    PERGUNTAS:

    l - O autor coloca o "dia do Getsmani" como o ponto alto do sofrimentode Jesus. Quais os sentimentos que o aguardavam?

    2 - Quais os tipos de rejeies pelas quais Jesus teve que passar nesse diaseguinte?

    3 - Como homem, quais as grandes necessidades manifestadas por Jesusquando prximo agonia da cruz?

    4 - Segundo o autor, qual o paradoxo das duas naturezas - humana e

    divina -de Jesus?5 - Qual a mensagem do hino cantado por Jesus antes da crucificao?

    6 - Que benefcio divino nos colocado como soluo para oenfrentamento das feridas causadas pela vida?

    7 - Como voc enfrenta as diversas tragdias do cotidiano?

    8 - De todas as tragdias que se abateram sobre Jesus, qual, para voc,teria sido a pior?

    9 - Voc j enfrentou problemas da mesma forma que Jesus, cantando?Como foi?

    10 - Voc acredita no poder do louvor em transformar situaes? Como?

    11 - Gostaria de relatar alguma experincia a respeito do tema?

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