Upload
infoacademico7671
View
19
Download
0
Embed Size (px)
Citation preview
135
Educao e Desenvolvimento: que tipo de relao existe?
Antnio Caleiro1
Universidade de vora
ResumoResumoResumoResumoResumoA literatura, em geral, reconhece a existncia de uma inter-relao entre os nveis
de educao e de desenvolvimento de um pas. Deste ponto de vista, o investimento
em educao pode permitir alcanar um maior nvel de desenvolvimento mastambm este, por sua vez, pode gerar acrscimos no nvel educacional da
populao, em geral. A existncia deste gnero de interaco entre os nveis de
educao e de desenvolvimento parece estar bem patente nas relaes decooperao entre Portugal e Angola, tal como descritas, por exemplo, no Programa
Anual de Cooperao Portugal-Angola 2005 ou no Programa Indicativo de
Cooperao Portugal/Angola 2007-2010. O objectivo da comunicao , assim, ode analisar, em primeiro lugar, as razes tericas que suportam a existncia da
inter-relao entre os nveis de educao e de desenvolvimento de um pas e, em
segundo lugar, proceder a uma averiguao emprica da existncia desta inter-relao, privilegiando-se o caso dos pases em (vias de) desenvolvimento.
Palavras-chavePalavras-chavePalavras-chavePalavras-chavePalavras-chave
Angola, Desenvolvimento, Educao, Portugal.
ClassifClassifClassifClassifClassificao JEL: icao JEL: icao JEL: icao JEL: icao JEL: H52, I21, I28, O15, O57.
1 Departamento de Economia.
136
Antnio Caleiro
11111. Intr. Intr. Intr. Intr. Introduooduooduooduooduo
A existncia de uma inter-relao (positiva) entre os nveis de educao e
de desenvolvimento de um pas parece ser um facto merecedor de um consenso
generalizado.2 Deste ponto de vista, o investimento em educao pode permitir
alcanar um maior nvel de desenvolvimento mas tambm este, por sua vez, pode
gerar acrscimos no nvel educacional da populao, em geral, sendo certo que esta
outra vertente da interaco entre aqueles dois elementos a que se revela menos
estudada ou considerada.
O objectivo da comunicao , assim, o de analisar, em primeiro lugar, as razes
tericas que suportam a existncia da inter-relao entre os nveis de educao e de
desenvolvimento de um pas e, em segundo lugar, proceder a uma averiguao
emprica da existncia desta inter-relao, privilegiando-se o caso dos pases em (vias
de) desenvolvimento.
Conforme se mostrar de seguida, os fundamentos tericos para a existncia de
um crculo virtuoso entre educao e desenvolvimento tm tido reflexo ao nvel das
polticas preconizadas pelas principais instituies mundiais com interesse na rea da
educao, e mesmo ao nvel das relaes de cooperao entre os diversos pases,
como o caso de Portugal-Angola. Assim, na seco 2 deste trabalho apresentar-se-
o ponto de vista institucional sobre a importncia da educao para o desenvolvimento
(e vice-versa). A seco 3 ocupar-se- da apresentao de alguns resultados, con-
siderados de interesse, descritos na literatura relevante. Estes suportaro, em parte, o
estudo emprico do tipo de inter-relao entre os nveis de educao e de desen-
volvimento, o que ocupar a seco 4.3 A terminar, a seco 5 apresentar as principais
concluses deste trabalho, assim como as eventuais vias de anlise para trabalhos
subsequentes.
2 A ttulo de curiosidade, uma pesquisa na Internet sobre "education and development" revelaa existncia de muitos milhes de pginas, destacando-se aquelas cujo assunto principal "education for development". O mesmo gnero de pesquisa, em Portugus, continua a revelara existncia de alguns milhes de pginas, sendo de destacar aquelas cujo assunto principal (tambm) a "educao para o desenvolvimento". Esta viso da educao para odesenvolvimento de tal forma importante que muito recentemente foi mesmo criado um"Journal of Education for Sustainable Development" (veja-se, por exemplo, Vare & Scott, 2007).
3 Os dados utilizados neste estudo so apresentados em Anexo.
137
Educao e Desenvolvimento: que tipo de relao existe?
2.2.2.2.2. O ponto de vista institucional sobre as relaes entre a educaoO ponto de vista institucional sobre as relaes entre a educaoO ponto de vista institucional sobre as relaes entre a educaoO ponto de vista institucional sobre as relaes entre a educaoO ponto de vista institucional sobre as relaes entre a educao
e o desenvolvimentoe o desenvolvimentoe o desenvolvimentoe o desenvolvimentoe o desenvolvimento
A existncia de uma interaco positiva entre os nveis de educao e de
desenvolvimento parece estar bem patente nas relaes de cooperao entre Portugal
e Angola, tal como descritas, por exemplo, no Programa Anual de Cooperao Portugal-
Angola 2005 ou no Programa Indicativo de Cooperao Portugal/Angola 2007-2010.
Na verdade, o Programa Anual de Cooperao Portugal-Angola 2005 considerava
quatro reas de Concentrao Prioritrias:
1. Educao,
2. Sade,
3. Capacitao Institucional,
4. Reinsero Social e Promoo do Emprego.
justificando-se a aposta na educao tendo em conta o seu papel na na reduo
da pobreza, e a sua contribuio para o desenvolvimento, ao aumentar as capacidades
e oportunidades das populaes, bem como para o processo de produo e de criao
de riqueza.
Tambm ao nvel do Programa Indicativo de Cooperao Portugal/Angola 2007-2010
a importncia da educao no desenvolvimento das relaes de cooperao entre
Portugal e Angola est bem patente. Como sabido, s questes associadas educao
no estranho o compromisso de tentar alcanar os, chamados, Oito Objectivos de
Desenvolvimento do Milnio, adoptados na Cimeira do Milnio de 2000, nas Naes
Unidas. Na verdade, para alm da meno explcita educao, tambm alguns dos
restantes objectivos se associam, de alguma forma, ao desenvolvimento (humano,
econmico, sustentvel) baseado na educao. Estes objectivos so:
Erradicar a pobreza extrema e a fome,
Alcanar a educao primria universal, (itlico da nossa responsabilidade),
Promover a igualdade de gnero e capacitar as mulheres,
Reduzir a mortalidade infantil,
Melhorar a sade materna,
Combater o VIH-SIDA, a malria e outras doenas,
138
Antnio Caleiro
Assegurar a sustentabilidade ambiental,
Desenvolver uma parceria global para o desenvolvimento.
Tal como o prprio Programa Indicativo de Cooperao Portugal/Angola 2007-2010
reconhece, os objectivos estratgicos da cooperao com Angola esto em con-
cordncia com a Estratgia para frica da Unio Europeia, aprovada no Conselho
Europeu de Dezembro de 2005 e que assenta em trs pilares:
promover a paz, segurana e boa governao como pr-requisitos essenciais
para o desenvolvimento sustentvel,
apoiar a integrao regional e o comrcio para promover o desenvolvimento
econmico, e
melhorar o acesso aos servios sociais bsicos (sade, educao) e a proteco
do ambiente para alcanar da forma mais rpida possvel os Objectivos do
Milnio. (itlico da nossa responsabilidade).
Assim, no mbito da cooperao Portugal-Angola, interessante apresentar
as suas principais linhas de fora. No sector da Educao, as principais alteraes
nos ltimos anos disseram respeito a um reforo evidente da cooperao inter-
universitria no s ao nvel do envio de docentes portugueses, mas igualmente de
apoios reestruturao e gesto dos cursos, com o objectivo de criar conhecimento
especializado, capacitar, e desenvolver o ensino universitrio em Angola. A concesso
de bolsas de estudo representa igualmente um esforo significativo da cooperao
portuguesa e abrange recentemente bolsas internas para licenciatura. As lies
aprendidas vo no sentido de evoluir para a concesso de bolsas de ps-graduao
em Portugal, aumentando o nmero de bolsas de licenciatura ao nvel local. Ao nvel
da Educao Bsica, as aces anteriores da cooperao portuguesa em termos de
construo ou reabilitao de infra-estruturas revelam-se menos necessrias do que
aces de capacitao dos professores angolanos, de forma a melhorar a qualidade
de ensino. (in Programa Indicativo de Cooperao Portugal/Angola 2007-2010, pp. 12-
13).
Em suma, as relaes de cooperao Portugal-Angola assentam, no que
educao diz respeito, no facto de a melhoria do sistema de ensino angolano, ou seja
uma aposta na educao e formao, ser um catalizador do desenvolvimento
(humano). Este facto est evidentemente de acordo com viso que hoje em dia os
139
Educao e Desenvolvimento: que tipo de relao existe?
principais pensadores e organizaes assumem, sendo aquela alvo de um consenso
quase generalizado (veja-se, por exemplo, Banco Mundial, 2002, e, sobre Angola
em particular, Banco Mundial, 2006, e World Data on Education, 2006). O consenso
tal que se reconhece ter sido o sculo XX aquele onde se apostou na educao, en-
quanto investimento em capital humano. Assim porque, no fundo, se reconheceu
a importncia e diversidade dos benefcios associados educao.
Como sabido, a educao traz benefcios individuais e sociais. Os benefcios
individuais podem ser medidos ao nvel:
da sade,
da produtividade,
da reduo da desigualdade na distribuio de rendimento,
enquanto os benefcios sociais podem ser medidos ao nvel:
da reduo dos efeitos nefastos da pobreza,
da contribuio para a democratizao,4
da promoo da paz e da estabilidade,
do aumento das preocupaes com as questes ambientais,
do aumento da competitividade econmica.
Em termos da competitividade econmica, tal significa que as vantagens de um
determinado pas passam a no ser tanto funo da quantidade de recursos naturais
e do trabalho barato, mas do factor trabalho que, sendo melhor educado/formado,
pode aproveitar ao mximo, ou melhor, a tecnologia existente. Assim, um aumento
na produtividade poder levar a um maior crescimento econmico, em resultado de
aumentos no nvel de educao.
A importncia da educao reconhecida no sculo XX tem continuado a merecer
a devida ateno por parte de importantes organizaes mundiais (veja-se UNESCO,
2005, United Nations Development Programme, 2008, e, sobre frica em particular,
UNESCO, 2008). Por exemplo, de acordo com a UNESCO, os 4 pilares educacionais
para o sculo XXI devero ser:
11111..... AprAprAprAprAprender a Serender a Serender a Serender a Serender a Ser. Esta competncia pessoal tem que ver com o conhecimento de
si prprio, o qual permite criar uma identidade prpria nica enquanto base
4 Para uma anlise do papel econmico das eleies veja-se Caleiro (2007).
140
Antnio Caleiro
para um projecto de vida, ao longo da qual se deve continuar este tipo de
aprendizagem.
2.2.2.2.2. Aprender a Viver em ConjuntoAprender a Viver em ConjuntoAprender a Viver em ConjuntoAprender a Viver em ConjuntoAprender a Viver em Conjunto. Esta competncia social tem que ver com o
desenvolvimento de atitudes e valores que permitam um relacionamento
positivo com os outros (familiares, amigos, colegas, etc.) e com o meio
ambiente (comunidade, cidade, pas, etc.).
3.3.3.3.3. AprAprAprAprAprender a Fender a Fender a Fender a Fender a Fazerazerazerazerazer. Esta competncia produtiva tem que ver com a capacidade
de criar e desenvolver transformaes nas esferas ambiental, cultural, poltica
e econmica, para que, por exemplo, se desenvolvam competncias capazes
de enfrentar o mercado de trabalho.
4.4.4.4.4. AprAprAprAprAprender a Conhecerender a Conhecerender a Conhecerender a Conhecerender a Conhecer. Esta competncia cognitiva tem que ver com o
reconhecimento de todo o conhecimento acerca de aprender a aprender
(learning to learn), ensinar a ensinar (teaching to teach) e conhecer como
conhecer (knowing to know).
Conforme transparece daqueles 4 pilares educacionais, a educao o pro-
cesso que permite transformar o potencial de cada pessoa em competncias, sendo
assim fundamental no processo de desenvolvimento humano. Por exemplo, de acordo
com o Programa de Desenvolvimento das Naes Unidas, o processo de desen-
volvimento humano passa por:
1. No campo da produtividade, o bem-estar da sociedade dever estar garantido
atravs do desenvolvimento econmico.
2. No campo da equidade, o acesso a oportunidades iguais dever estar assegurado
a todos.
3. No campo da participao na tomada de deciso, dever estar assegurada a
todos a possibilidade de fazer escolhas informadas.
4. No campo da segurana, dever estarem assegurados os direitos civis
fundamentais como o direito vida e liberdade.
5. No campo da sustentabilidade, a equidade dever tambm estar garantida para
as geraes futuras.
A importncia da educao para a sustentabilidade tem sido, de facto, bas-
tante realada. Por exemplo, de acordo com McKeown (2002), a educao afecta a
sustentabilidade em pelo menos trs dimenses:
141
Educao e Desenvolvimento: que tipo de relao existe?
1. Na implementao de planos sustentveis, ou seja aqueles que no compro-
metem os interesses das geraes futuras, o que se relaciona com o campo da
equidade, atrs referido.
2. Na tomada de deciso informada por parte dos cidados, o que se relaciona
com o campo da participao na tomada de deciso, atrs referido.
3. No aumento da qualidade de vida, resultante de um aumento no nvel e,
sobretudo, qualidade da educao, o que se relaciona com o campo da
produtividade, atrs referido.
Assim, as 3 prioridades da educao para o desenvolvimento devero ser:
1. Melhoramento da educao primria/bsica, ou seja, aumento do nmero
de anos de escolaridade e, sobretudo, a sua qualidade. Claramente, s a exis-
tncia de um nvel de ensino bsico, frequentado pelo maior nmero poss-
vel de alunos, aos quais facultada uma formao de qualidade, permite o
abastecimento dos nveis de ensino subsequentes: secundrio e tercirio/
universitrio.
2. Reorientar a educao existente em direco a outras questes como a
sustentabilidade, at como forma de aquisio de competncias individuais e
sociais que tenham em conta os interesses das geraes futuras. Em particular,
o desenvolvimento do treino na realizao de determinadas tarefas pode ser
uma faceta a evidenciar.
3. Aumentar os nveis de compreenso e conscincia pblica em relao ao
papel fundamental da educao, ou seja, os cidados em geral devem, cada
vez mais, compreender e estar cientes da importncia da educao.
3.3.3.3.3. O ponto de vista da literatura sobre as relaes entre a educaoO ponto de vista da literatura sobre as relaes entre a educaoO ponto de vista da literatura sobre as relaes entre a educaoO ponto de vista da literatura sobre as relaes entre a educaoO ponto de vista da literatura sobre as relaes entre a educao
e o desenvolvimento (econmico)e o desenvolvimento (econmico)e o desenvolvimento (econmico)e o desenvolvimento (econmico)e o desenvolvimento (econmico)
A importncia da educao do ponto de vista econmico um tema que
(curiosamente) comeou a ser analisado h mais tempo do que se possa, eventual-
mente, julgar. J em 1930, o economista norte-americano, Harold F. Clark publicou
um estudo intitulado Economic Effects of Education. Desde l at hoje a litera-
tura sobre o tema tornou-se extensssima, e, por isso, impossvel de ser cabalmente
142
Antnio Caleiro
analisada, mesmo que de uma forma sumria. Ainda assim gostaramos de salientar
alguns estudos com particular relevncia para a aplicao emprica que se segue.
Em meados da dcada de 70, o galardoado pelo prmio Nobel da Economia,
Gary Becker, chamou a ateno para a importncia econmica da educao, enquanto
investimento em capital humano (veja-se Becker, 1975).5 Pelas caractersticas par-
ticulares da educao, colocou-se desde logo a questo da dificuldade associada
medio dos benefcios (privados e sociais) da mesma, at porque tal medio seria
necessria para resolver questes de financiamento (pblico) da educao.
Na verdade, a produo de educao, como de qualquer outro bem, envolveria
a utilizao de inputs (de maneira ptima), de forma a produzir um determinado
output (veja-se, entre outros, Waltenberg, 2006). Assim, em educao torna-se relevante
perceber:
1. Quais so os inputs e como medi-los?
2. Quais so os outputs e como medi-los?
3. Como combinar, de forma ptima, aqueles inputs?
4. Como pode o Governo intervir neste processo?
Independentemente da dificuldade na quantificao das respostas s questes
anteriores, o financiamento ou o fornecimento pblico da educao justifica-se pelo
facto de os benefcios sociais da educao serem superiores aos benefcios privados,
dadas as externalidades positivas associadas educao. Neste caso, como sabido,
pela comparao entre os benefcios e custos privados da educao, cada indivduo
decidiria por um nvel de educao inferior ao socialmente ptimo, j que estariam a
ser ignorados os benefcios auferidos pelos restantes membros da sociedade. Este
facto pode ser corrigido, precisamente, atravs do financiamento ou fornecimento
pblico da educao, ou mesmo imposio de um limiar mnimo de educao como,
por exemplo, a fixao de um nvel de escolaridade obrigatria.
No que diz respeito aos benefcios individuais da educao, estes so, de um
modo geral, relativamente bem conhecidos, nomeadamente ao nvel dos estudos de
Economia do Trabalho. Neste campo, por exemplo, a educao um elemento
fundamental no crescimento econmico por via da produtividade do trabalho. Este
5 curioso notar que nesse mesmo ano o NBER publicou um volume sobre as relaes entre aeducao, o rendimento e o comportamento humano (veja-se Juster, 1975).
143
Educao e Desenvolvimento: que tipo de relao existe?
aumento da produtividade, quando acompanhado de aumentos de salrios, resulta
em acrscimos no nvel de vida, no s por via da reduo da pobreza mas tambm
pela melhoria na facilidade de acesso aos cuidados de sade, da resultando um
acrscimo na esperana de vida. Note-se que, implicitamente, se est a assumir um
impacto directo da educao sobre variveis econmicas, existindo subsequentemente
impactos indirectos ao nvel, por exemplo, do aumento da esperana de vida (ou mesmo
da reduo da fecundidade, associada sobretudo ao aumento do nvel educacional
feminino).6
No que diz respeito aos benefcios sociais, a educao, sendo um aumento no
capital humano, tambm importante na formao de capital social, o qual, apa-
rentemente, tem um efeito positivo sobre o crescimento econmico (veja-se, entre
outros, Temple, 2001, e Topel, 2004).
Pelas suas caractersticas, existem uma srie de questes particulares associadas
educao. Por exemplo, para os pases desenvolvidos, de acordo com alguns autores,
parece no existir uma correlao evidente entre o nvel de educao e o nvel de
produto (PIB).7 Mas quando a qualidade da educao tida em conta, j se verifica
essa correlao, de natureza positiva. Naturalmente, uma poltica de aumento do
nvel de educao sem se preocupar com questes de qualidade menos eficiente do
ponto de vista da gerao de riqueza.
Na tradio do modelo de crescimento de Solow (1957), o factor humano seria
considerado a nvel residual, sendo explicitamente considerado por Uzawa (1965) e
ainda mais por Lucas (1988). Em qualquer dos casos, um aumento no nvel educacional
deveria associar-se a um aumento no nvel de produto (veja-se Dickens et al., 2006). Os
modelos de crescimento endgeno baseados em I&D la Romer (1990) enfatizam
tambm o nvel de capital humano (veja-se Temple, 2001, para uma anlise mais
completa).
Para alm daquele facto, os diferentes nveis de educao so tambm im-
portantes. Hoje em dia, torna-se cada vez mais importante a educao pr-escolar
(veja-se Dickens et al., 2006). Os ensinos bsico e secundrio so aqueles onde o
6 Para uma anlise das relaes entre o nvel de escolaridade e a fecundidade, veja-se, entreoutros, Sarkar (2006), para o caso da ndia onde se mostra que o aumento da literacia seassocia a uma diminuio da fecundidade, e Rego et al. (2006), para o caso de Portugal.
7 Para os pases em (vias de) desenvolvimento, Babatunde & Adebafi (2005), Barros & Mendona(1997), e Morapedi (2002), so referncias de interesse na matria.
144
Antnio Caleiro
financiamento da qualidade mais discutvel. O ensino superior levanta questes de
financiamento que alguns justificam pelo facto de os graduados serem geralmente
melhor remunerados logo pagadores de maiores impostos, o que significa um
financiamento a posteriori dos seus estudos. (veja-se, por exemplo, Rizzo, 2004).
4. Que tipo de relao existe a educao e o desenvolvimento?4. Que tipo de relao existe a educao e o desenvolvimento?4. Que tipo de relao existe a educao e o desenvolvimento?4. Que tipo de relao existe a educao e o desenvolvimento?4. Que tipo de relao existe a educao e o desenvolvimento?
Do que atrs foi dito parece realar o facto de se esperar que a educao se
relacione positivamente com o nvel de riqueza de um pas, medido por um indicador
econmico como o PIB, assim como com um nvel de vida, medido por um indicador
de sade, como a esperana de vida. De facto, o indicador de desenvolvimento
(humano) mais considerado, admite que este resulta de uma mdia ponderada
dos aspectos econmicos, medidos pelo PIB, dos aspectos de sade, medidos pela
esperana de vida, e dos aspectos educacionais medidos por um ndice de educao.
Deste ponto de vista, associa-se, naturalmente, um pas mais desenvolvido a um que
disponha de um maior nvel de educao.
Considerando o ano mais recente para os quais se dispe de observaes, a
figura 1 apresenta a representao grfica dos ndices do PIB, de educao e de
Fig. 1 As componentes do IDH em 2005
145
Educao e Desenvolvimento: que tipo de relao existe?
esperana de vida para um total de 177 pases (consulte-se o anexo para todos os
detalhes), os quais servem de clculo ao, bem conhecido, ndice de Desenvolvimento
Humano (IDH), apurado pela Naes Unidas.
Conforme parece ser evidente, existe uma aparente relao directa entre as trs
componentes do IDH, sendo certo que a volatilidade nas mesmas aumenta medida
que o valor do IDH aumenta. Deste ponto de vista, interessante verificar que usando
a partio oficial, i.e. a das Naes Unidas, dos pases em trs grupos: Desenvolvimento
Elevado, Mdio e Baixo, as correlaes entre aquelas trs componentes so bastante
dspares, conforme se mostra nas tabelas 1, 2 e 3.
Tabela 1 Matriz de correlaes
Tabela 2 Matriz de correlaes
146
Antnio Caleiro
Tabela 3 Matriz de correlaes
No que aos pases de desenvolvimento humano baixo diz respeito, a existncia
de uma correlao negativa entre os nveis de educao e os ndices de riqueza
econmica e de sade parece ser um paradoxo. Assim, decidimos no considerar a
partio oficial naqueles trs grupos e determinar clusters de acordo com a metodologia
julgada adequada.
Querendo manter alguma homogeneidade, decidiu-se por determinar tambm
trs clusters, recorrendo metodologia k-mdias. Apresentam-se de seguida os
resultados obtidos:8
Centros Iniciais dos Clusters
8 Os resultados foram obtidos utilizando o SPSS 15.0.
147
Educao e Desenvolvimento: que tipo de relao existe?
Centros Finais dos Clusters
Conforme evidente, os clusters 1, 2 e 3 podem associar-se, respectivamente, aos
grupos de pases de mdio (71 pases), elevado (56 pases) e baixo (50 pases)
desenvolvimento. Para alm deste facto, a anlise da posio relativa dos centros
finais dos clusters sendo certo que podero existir excepes, em termos individuais,
(veja-se o dendograma em anexo) revelam que, efectivamente, as trs compo-
nentes do desenvolvimento humano se encontram positivamente correlacionadas. A
comprovar este facto, consulte-se a figura 2.
Fig. 2 Os clusters em funo da esperana de vida, educao e PIB
148
Antnio Caleiro
5. Concluso5. Concluso5. Concluso5. Concluso5. Concluso
A principal concluso deste trabalho a de que, tambm para os pases em (vias
de) desenvolvimento, a educao, por si s, ou seja, em termos directos, contribui
para o desenvolvimento e que, em termos indirectos, ou seja, por via da sua influncia
sobre as condies de sade e as condies econmicas, tal tambm acontece, mesmo
para os pases em vias de desenvolvimento ao contrrio do que os dados parecem
revelar partida.
Este um trabalho assumidamente simples, o qual pode, no necessariamente
por isso, ser completado em anlises posteriores. Uma possvel via de anlise prende-
se com o nexo de causalidade entre a educao e o desenvolvimento, de acordo com
os nveis de educao. A aposta nos ensinos bsico e secundrio parece-nos
fundamental, at do ponto de vista da sustentabilidade do ensino tercirio, enquanto
geradora de efeitos sobre o desenvolvimento. Este, por sua vez, pode ser potenciador,
de apostas no ensino tercirio, completando, desta forma o crculo virtuoso na
interaco, que se deseja positiva, entre a educao e o desenvolvimento. No caso dos
pases em (vias de) desenvolvimento, as dificuldades em explorar as vantagens daquela
interaco so, por natureza, maiores, mas sero tambm maiores os ganhos relativos
do esforo colocado no investimento em capital humano, enquanto objectivo de
uma poltica de educao.
Referncias BibliogrficasReferncias BibliogrficasReferncias BibliogrficasReferncias BibliogrficasReferncias Bibliogrficas
BABATUNDE, Musibau Adetunji, & Rasak Adetunji Adefabi (2005). Long Run Relationshipbetween Education and Economic Growth in Nigeria: Evidence from the JohansensCointegration Approach, mimeo, Comunicao apresentada na Regional Conferenceon Education in West Africa: Constraints and Opportunities Dakar, Senegal, 1-2Novembro.
Banco Mundial (2002). Africa Human Development Action Plan, Junho.
Banco Mundial (2006). Angola: Memorando Econmico do Pas Petrleo, CrescimentoAlargado e Equidade, Relatrio N. 35362-AO, Outubro.
149
Educao e Desenvolvimento: que tipo de relao existe?
BARROS, Ricardo Paes de, & Rosane Mendona (1997). Investimentos em Educao eDesenvolvimento Econmico, Texto para Discusso N. 525, Instituto de PesquisaEconmica Aplicada, Rio de Janeiro, Novembro.
BECKER, Gary S. (1975). Human Capital: A Theoretical and Empirical Analysis, with Spe-cial Reference to Education, 2. edio, National Bureau of Economic Research.
CALEIRO, Antnio (2007). Uma Anlise do Papel Econmico das Eleies, Economia eSociologia, 84, pp. 35-51.
CLARK, Harold F. (1930). Economic Effects of Education, The Journal of Higher Educa-tion, Vol. 1, No. 3, Maro, pp. 141-148.
DICKENS, William T., Isabel Sawhill, & Jeffrey Tebbs (2006). The Effects of Investing inEarly Education on Economic Growth, The Brookings Institution, Abril.
Federal Reserve Bank of Cleveland (2004). Education and Economic Development, Pro-ceedings of a Conference held in Cleveland, Ohio, Novembro.
JUSTER, F. Thomas (ed.) (1975). Education, Income, and Human Behavior, National Bu-reau of Economic Research.
LUCAS, Robert E. (1988). On the Mechanics of Economic Development, Journal of Mon-etary Economics, 22, pp. 3-42.
MCKEOWN, Rosalyn (2002). Education for Sustainable Development Toolkit, verso 2,Julho. Disponvel em http://wwwhttp://wwwhttp://wwwhttp://wwwhttp://www.esdt.esdt.esdt.esdt.esdtoolkit.oroolkit.oroolkit.oroolkit.oroolkit.orggggg
MORAPEDI, Wazha G. (2002). Dichotomy or Continuity: The Relationship between Higher,Secondary and Primary Education in Africa. The Case of Botswana, mimeo, Universityof Botswana.
REGO, Conceio, Maria Filomena Mendes, & Antnio Caleiro (2006). Educao eFecundidade em Portugal: As diferenas nos nveis de educao influenciam as taxasde fecundidade?, Documento de Trabalho 10/2006, Departamento de Economia,Universidade de vora.
RIZZO, Michael J. (2004). The Public Interest in Higher Education, pp. 19-45, in FederalReserve Bank of Cleveland (2004).
ROMER, Paul M. (1990). Endogenous technological change, Journal of Political Economy,98(5), S71-S102.
150
Antnio Caleiro
SARKAR, Debarati (2006). The Relationship Between Fertility and Socio-Economic Devel-opment in Selected States of India, International Institute for Population Sciences,Mumbai.
SOLOW, Robert M. (1957). Technical Change and the Aggregate Production Function,Review of Economics and Statistics, 39, Agosto, pp. 312320.
TEMPLE, Jonathan (2001). Growth Effects of Education and Social Capital in the OECDCountries, OECD Economic Studies No. 33. pp. 57-101.
TOPEL, Robert (2004). The Private and Social Values of Education, pp. 47-57, in FederalReserve Bank of Cleveland (2004).
UNESCO (2005). Education for Human Development, Braslia: UNESCO, Instituto AyrtonSenna, Junho.
UNESCO (2008). Lutter contre la pauvret et vivre ensemble en paix: quelle cole enAfrique aujourdhui et demain?, Relatrio do Forum Internacional de Madrid, Janeiro.
United Nations Development Programme (2008). Capacity Development: EmpoweringPeople and Institutions, Relatrio Anual.
UZAWA, Hirofumi (1965). Optimum Technical Change in an Aggregative Model of Eco-nomic Growth. International Economic Review, 6, Janeiro, pp. 18-31.
VARE, Paul, & William Scott (2007). Learning for a Change: Exploring the RelationshipBetween Education and Sustainable Development, Journal of Education for Sustain-able Development, vol. 1, n. 2, pp. 191-198.
WALTENBERG, Fbio D. (2006). Teorias econmicas de oferta de educao: evoluohistrica, estado atual e perspectivas, Educao e Pesquisa, Vol. 32, n.1, Jan./Abr.,pp. 117-136.
World Data on Education (2006). Angola: Principes et objectifs gnraux de lducation,6. edio, 2006/07, Junho, UNESCO-IBE.
151
Educao e Desenvolvimento: que tipo de relao existe?
AnexosAnexosAnexosAnexosAnexos
Os dadosOs dadosOs dadosOs dadosOs dados
152
Antnio Caleiro
153
Educao e Desenvolvimento: que tipo de relao existe?
154
Antnio Caleiro
155
Educao e Desenvolvimento: que tipo de relao existe?
156
Antnio Caleiro
157
Educao e Desenvolvimento: que tipo de relao existe?
Antnio Caleiro
158
159
/ColorImageDict > /JPEG2000ColorACSImageDict > /JPEG2000ColorImageDict > /AntiAliasGrayImages false /CropGrayImages true /GrayImageMinResolution 300 /GrayImageMinResolutionPolicy /OK /DownsampleGrayImages true /GrayImageDownsampleType /Bicubic /GrayImageResolution 300 /GrayImageDepth -1 /GrayImageMinDownsampleDepth 2 /GrayImageDownsampleThreshold 1.50000 /EncodeGrayImages true /GrayImageFilter /DCTEncode /AutoFilterGrayImages true /GrayImageAutoFilterStrategy /JPEG /GrayACSImageDict > /GrayImageDict > /JPEG2000GrayACSImageDict > /JPEG2000GrayImageDict > /AntiAliasMonoImages false /CropMonoImages true /MonoImageMinResolution 1200 /MonoImageMinResolutionPolicy /OK /DownsampleMonoImages true /MonoImageDownsampleType /Bicubic /MonoImageResolution 1200 /MonoImageDepth -1 /MonoImageDownsampleThreshold 1.50000 /EncodeMonoImages true /MonoImageFilter /CCITTFaxEncode /MonoImageDict > /AllowPSXObjects false /CheckCompliance [ /None ] /PDFX1aCheck false /PDFX3Check false /PDFXCompliantPDFOnly false /PDFXNoTrimBoxError true /PDFXTrimBoxToMediaBoxOffset [ 0.00000 0.00000 0.00000 0.00000 ] /PDFXSetBleedBoxToMediaBox true /PDFXBleedBoxToTrimBoxOffset [ 0.00000 0.00000 0.00000 0.00000 ] /PDFXOutputIntentProfile () /PDFXOutputConditionIdentifier () /PDFXOutputCondition () /PDFXRegistryName () /PDFXTrapped /False
/Description > /Namespace [ (Adobe) (Common) (1.0) ] /OtherNamespaces [ > /FormElements false /GenerateStructure true /IncludeBookmarks false /IncludeHyperlinks false /IncludeInteractive false /IncludeLayers false /IncludeProfiles true /MultimediaHandling /UseObjectSettings /Namespace [ (Adobe) (CreativeSuite) (2.0) ] /PDFXOutputIntentProfileSelector /NA /PreserveEditing true /UntaggedCMYKHandling /LeaveUntagged /UntaggedRGBHandling /LeaveUntagged /UseDocumentBleed false >> ]>> setdistillerparams> setpagedevice