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14/08/2015 Contardo Calligaris - Contardo Calligaris: "Não quero ser feliz. Quero é ter uma vida interessante" | Fronteiras do Pensamento

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Contardo Calligaris: "Não quero ser feliz. Quero é teruma vida interessante"por Dagmar Serpa/M de Mulher - 10.07.2015 | Contardo Calligaris | #Psicanálise ,  #Psicologia ,  #Sociedade

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"Ter uma vida interessante significa viver

plenamente. Isso pressupõe poder se desesperar

quando se fica sem alguma coisa que é muito

importante para você. É preciso sentir plenamente as

dores: das perdas, do luto, do fracasso. Eu acho um

tremendo desastre esse ideal de felicidade que tenta

nos poupar de tudo o que é ruim."

Doutor em psicologia clínica e psicanalista, Contardo

Calligaris estará na série especial do Fronteiras do

Pensamento em Salvador no dia 01 de outubro.

Último conferencista da edição 2015 na capital baiana, Calligaris argumenta que mais do que buscar

permanentemente felicidade máxima, um arrebatamento mágico, deveríamos nos preocupar em tornar

interessante nossa vida de todo dia. Confira na entrevista abaixo.

O que é felicidade hoje?

Não gosto muito da palavra felicidade, para dizer a verdade. Acho que é, inclusive, uma ilusão mercadológica. O

que a gente pode estudar são as condições do bem-estar. A sensação de competência no exercício do trabalho,

já se sabe, é a maior fonte de bem-estar, mais que a remuneração. Nós temos um ideal de felicidade um pouco

ridículo.

Um exemplo é a fala do churrasco. Você pega um táxi domingo ao meio-dia para ir ao escritório e o taxista diz:

"Ah, estamos aqui trabalhando, mas legal seria estar num churrasco tomando cerveja". Talvez você ou o

taxista sofram de úlcera, e não haveria prazer em tomar cerveja. Nem em comer picanha.

Mesmo que não vissem problema, pode ser que detestassem as pessoas lá e não se divertissem. Em geral,

somos péssimos em matéria de prazer. Por exemplo, estamos sempre lamentando que nossos filhos seriam

uma geração hedonista, dedicada a prazeres imediatos, quando, de fato, vivemos numa civilização muito

pouco hedonista. Por isso, nos queixamos de excessos e nos permitimos prazeres medíocres ou muito

discretos.

Mas continuamos acreditando que ser feliz é ter esses prazeres que não nos permitimos. E agora?

Ligamos felicidade à satisfação de desejos, o que é totalmente antinômico com o próprio funcionamento da

nossa cultura, fundada na insatisfação. Nenhum objeto pode nos satisfazer plenamente.

O fato de que você pode desejar muito um homem, uma mulher, um carro, um relógio, uma joia ou uma

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14/08/2015 Contardo Calligaris - Contardo Calligaris: "Não quero ser feliz. Quero é ter uma vida interessante" | Fronteiras do Pensamento

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viagem não tem relevância. No dia em que você tiver aquele homem, aquela mulher, aquele carro, aquele

relógio, aquela joia ou aquela viagem, se dará conta de que está na hora de desejar outra coisa. Esse

mecanismo sustenta ao mesmo tempo um sistema econômico, o capitalismo moderno, e o nosso desejo, que

não se esgota nunca. Então, costumo dizer que não quero ser feliz.. Quero é ter uma vida interessante.

Mas isso inclui os pequenos prazeres?

Inclui pequenos prazeres, mas também grandes dores. Ter uma vida interessante significa viver plenamente.

Isso pressupõe poder se desesperar quando se fica sem alguma coisa que é muito importante para você. É

preciso sentir plenamente as dores: das perdas, do luto, do fracasso. Eu acho um tremendo desastre esse ideal

de felicidade que tenta nos poupar de tudo o que é ruim.

O que adianta garantir uma vida longa se não for para vivê-la de verdade? É isso que temos de nos perguntar?

Quem descreveu isso bem foi (o escritor italiano) Dino Buzatti, no romance O Deserto dos Tártaros. Conta a

história de um militar que passa a vida inteira em um posto avançado diante do deserto na expectativa de

defender o país contra a invasão dos tártaros, que nunca chegam. Mas tem um lado simpático na ideologia do

preparo. É que está subentendida a ideia de que um dia a pessoa viverá uma grande aventura. Mas o que

acontece, em geral, é que a preparação é a única coisa a que a gente se autoriza.

Então, pelo menos há um desejo de viver uma aventura?

Mas os sonhos estão pequenos. A noção de felicidade hoje é um emprego seguro, um futuro tranquilo, saúde

e, como diz a música dos aniversários, muitos anos de vida. Acho estranho quando vejo alguém de 18 anos que,

ao fazer a escolha profissional, leva em conta o mercado de trabalho, as oportunidades, o dinheiro... Isso nem

passaria pela cabeça de um jovem dos anos 1960.

A julgar pela quantidade de fotos colocadas nas redes sociais de pessoas sorridentes, elas têm aproveitado a

vida e se sentem felizes. Ou, como você aborda em uma crônica, hoje mais importante do que ser é parecer

feliz?

O perfil é a sua apresentação para o mundo, o que implica um certo trabalho de falsificação da sua imagem e

até autoimagem. Nas redes sociais, a felicidade dá status. Mas esse fenômeno é anterior ao Facebook. Se você

olhar as fotografias de família do final do século 19, início do 20, todo mundo colocava a melhor roupa e posava

seriíssimo. Ninguém estava lá para mostrar que era feliz. Ao contrário, era um momento solene. É a partir da

câmera fotográfica portátil que aparecem as fotos das férias felizes, com todo mundo sempre sorridente.

E a gente olha para elas e pensa: "Eu era feliz e não sabia".

Não gosto dessa frase porque contém uma cota de lamentação. E acho que a gente nunca deveria lamentar

nada, em particular as próprias decisões. Acredito que, no fundo, a gente quase sempre toma a única decisão

que poderia tomar naquelas circunstâncias. Então, não vale a pena lamentar o passado. Mas é verdade que

existe isso.

As escolhas ao longo da vida geram insegurança e medo. Em relação a isso, você diz que há dois tipos de

pessoa: os "maximizadores", que querem ter certeza antes de que aquela é a opção certa, e a turma do

"suficientemente bom". O segundo grupo sofre menos?

Tem uma coisa interessante no "maximizador": é como se ele acreditasse que existe o objeto mais adequado

de todos, aquele que é perfeito. Mas é claro que não existe.

A busca da perfeição não gera frustração, pois sempre haverá algo que a gente perdeu?

Freud dizia que o único objeto verdadeiramente insubstituível para a gente é o perdido. E não é que foi perdido

porque caiu do bolso. Ele fala daquilo que nunca tivemos. Então, faz sentido que nossa relação com o desejo

seja esta: imaginamos existir algo que nunca tivemos, mas que teria nos satisfeito totalmente. Só não

sabemos o que é.

Como nos livrar desse sentimento?

Temos de tornar cada uma de nossas escolhas interessante. Isso só é possível quando temos simpatia pela

vida e pelos outros - o que parece básico, mas não é no mundo de hoje. Não por acaso, o grande espantalho do

nosso século é a depressão. A falta de interesse pelo mundo e pelos outros é o que pode nos acontecer de pior.

Complica ainda mais o fato de, como você já abordou, enfrentarmos um dilema eterno: desejamos a

estabilidade e também a aventura. Então, entramos em uma relação ou um emprego, mas sofremos porque

nos sentimos presos e achamos que estamos deixando de viver grandes aventuras. Isso tem solução?

Não sei se tem solução. A gente vive mesmo eternamente nesse conflito. Agora, como cada um o administra é

outra história. Pode-se optar por uma espécie de inércia constante, que será sempre acompanhada da

sensação de que você está realmente desperdiçando seu tempo e sua vida, porque toda a aventura está

acontecendo lá fora e, a cada instante, você está perdendo os cavalos encilhados que passam e não passarão

Contardo Calligaris

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14/08/2015 Contardo Calligaris - Contardo Calligaris: "Não quero ser feliz. Quero é ter uma vida interessante" | Fronteiras do Pensamento

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nunca mais. Viver dessa maneira não é uma das opções. Mas você pode também, em vez disso, permitir se

perder.

Permitir se perder no sentido de transformar a vida em uma eterna aventura?

Mas também nesse caso você terá coisas a lamentar. Eu, pessoalmente, fui mais por esse caminho. Mas o

preço foi muito alto. Por exemplo, eu não estive presente na morte de nenhum dos meus entes próximos,

porque morava em outro país e sempre chegava atrasado, no avião do dia seguinte. Hoje, por sorte, meu filho -

que é grande, tem 30 anos - vive perto de mim. Por acaso, ele decidiu vir para o Brasil. Mas não o vi crescer

realmente.

Para ser feliz, enfim, o segredo é não buscar a felicidade?

Isso eu acho uma excelente ideia. A felicidade, em si, é realmente uma preocupação desnecessária. Se meu

filho dissesse "quero ser feliz", eu me preocuparia seriamente.

Preferia que dissesse o quê?

Só gostaria que ele me dissesse: “Estou a fim de…" A partir disso, qualquer coisa é válida. O que angustia é ver

falta de desejo nas pessoas, em particular nos jovens. Agora, se ele está a fim de algo, mesmo que isso pareça

muito distante do campo do possível dentro da vida que leva, eu acho ótimo.

(Via Cláudia)

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