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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CAMILA KELLY DE SOUSA SILVA A (IM) POSSÍVEL CUMULAÇÃO DOS ADICIONAIS DE INSALUBRIDADE E PERICULOSIDADE Biguaçu 2010

Camila Kelly de Souza Silva

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  • UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJA

    CAMILA KELLY DE SOUSA SILVA

    A (IM) POSSVEL CUMULAO DOS ADICIONAIS DE INSALUBRIDADE E PERICULOSIDADE

    Biguau 2010

  • CAMILA KELLY DE SOUSA SILVA

    A (IM) POSSVEL CUMULAO DOS ADICIONAIS DE INSALUBRIDADE E PERICULOSIDADE

    Monografia submetida Universidade do Vale do Itaja UNIVALI, como requisito parcial obteno do grau de Bacharel em Direito.

    Orientadora: Professora MSc. Roberta Schneider Westphal.

    Biguau 2010

  • CAMILA KELLY DE SOUSA SILVA

    A (IM) POSSVEL CUMULAO DOS ADICIONAIS DE INSALUBRIDADE E PERICULOSIDADE

    Esta Monografia foi julgada adequada para a obteno do ttulo de bacharel e aprovada pelo Curso de Direito, da Universidade do Vale do Itaja, Centro de Cincias Sociais e Jurdicas.

    rea de Concentrao

    Biguau, 17 de junho de 2010

    Prof. MSc. Roberta Schneider Westphal UNIVALI Campus de Biguau

    Orientadora

    Prof. MSc. Mrcio Roberto Paulo UNIVALI Campus de Biguau

    Membro

    Prof. MSc. Tnia Trajano UNIVALI Campus de Biguau

    Membro

  • Dedico este trabalho primeiramente, a DEUS, pela oportunidade e pelo privilgio que me foi dado em compartilhar tamanha experincia, realizando o Curso de Direito. Aos meus pais Sebastio Fernandes da Silva e Sandra Regina de Sousa Silva, pela formao que me deram que serviu de base para enfrentar as dificuldades; pelo amor e carinho que dedicam a mim, por acreditarem na possibilidade de eu conquistar essa vitria. Obrigada por me ajudarem e me incentivaram a vencer mais essa etapa de minha vida. Dedico tambm a minha Irm Layana Sousa Silva pelo apoio nessa jornada. Registro o agradecimento ao meu amigo e companheiro Gabriel Simas, pelo carinho, compreenso, incentivo, apoio emocional e suporte ao longo do curso, me fazendo acreditar na capacidade do meu prprio esforo. A minha orientadora, Roberta Schneider Westphal, que me acolheu e me orientou pelas orientaes e recomendaes para melhoria desta Monografia de Concluso de Curso. A todos os professores pelo carinho, dedicao e entusiasmo demonstrado ao longo do curso. Agradeo aos meus amigos por estarem comigo nesta caminhada tornando-a mais fcil e agradvel. Ao Dr. Allexander Luckmann Gerent e demais colegas de trabalho, por ter-me recebido como estagiria, me dando oportunidade de aprimorar meus conhecimentos. A todos, muito obrigada.

  • No h como cultivar o direito, isolando-o da vida, que, em nossa poca, se caracteriza pela rpida mobilidade, determinada pelo progresso cientfico e tecnolgico, pelo crescimento econmico e industrial, pelo influxo de novas concepes sociais e polticas e por modificaes culturais.

    (Plauco Faraco Azevedo)

  • TERMO DE ISENO DE RESPONSABILIDADE

    Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total responsabilidade pelo aporte ideolgico conferido ao presente trabalho, isentando a Universidade do Vale do Itaja, a coordenao do Curso de Direito, a Banca Examinadora e o Orientador de toda e qualquer responsabilidade acerca do mesmo.

    Biguau,17 de junho de 2010

    Camila Kelly de Sousa Silva

  • RESUMO

    Com o advento da Revoluo Industrial e de novos processos industriais, a conseqente modernizao das mquinas, fez com que iniciasse o surgimento de doenas ou acidentes decorrentes do trabalho, causados pela atividade laboral. Somente aps a Revoluo Industrial na Inglaterra, e com o aumento no nmero de acidentes no trabalho e de doenas, que houve a preocupao da sociedade para o fato, gerando assim, as primeiras leis de proteo ao trabalhador e ao meio ambiente. Entre as normas que complementam a Segurana e Medicina do Trabalho, encontram a NR-15 da Portaria n. 3.214/78, no qual define as atividades insalubres e a NR-16 da mesma portaria, que define todas as atividades periculosas. Os artigos 189 e 193 da Consolidao das Leis do trabalho dispem acerca do adicional de insalubridade e periculosidade, respectivamente, sendo que restar evidenciada a insalubridade quando o empregado estiver exposto a agentes nocivos sua sade, e a periculosidade ser devida para quem tenha contato permanente com inflamveis ou explosivos em condies de risco acentuado. Diante disso, o objeto de estudo visa especificamente analisar o dispositivo do contedo material do 2, do artigo 193 da CLT, que veda a cumulao desses adicionais, no recepcionado pela Constituio Federal de 1988, mais precisamente pelo artigo 7, inciso XXIII, visto que os adicionais previstos neste inciso so indisponveis, e aquele dispositivo celetista acaba reduzindo uma garantia constitucional ao trabalhador, sendo que, no momento em que permite a ele a escolha entre um adicional e outro, lhe impe a renncia do outro adicional que tambm lhe devido por norma constitucional.

    Palavras chave: Insalubridade. Periculosidade. Cumulao

  • ABSTRACT

    With the advent of the Industrial Revolution and new industrial processes, the consequent modernization of machinery meant that initiate the onset of illness or accidents arising from work caused by work activity. Only after the Industrial Revolution in England, and with the increase in the number of occupational accidents and diseases, is that there was a concern of society for the fact, thus generating the first laws protecting workers and the environment. Among the standards that complement the Safety and Occupational Medicine, located NR-15 of Ordinance No 3.214/78, which defines the activities that are unhealthy and NR-16 of the same ordinance, which defines all activities periculosas. Articles 189 and 193 of the Consolidated Laws of additional work have about unhealthy and dangerous, respectively, and will remain unhealthy evidenced when the employee is exposed to agents harmful to your health, and the dangers will be due for those who have ongoing contact with flammable or explosive under conditions of extreme risk. Therefore, the object of study is specifically designed to analyze the device's material content of 2 of Article 193 of the Labor Code, which prohibits the accumulation of additional, not approved by the Federal Constitution of 1988, specifically under Article 7, Paragraph XXIII, since that the additional set forth in this section are unavailable, and that device Hired Under Employment Laws reducing ends a constitutional guarantee to the worker, and, at the time that allows him to choose between an extra and others, imposes the additional waiver of the other which also is due to constitutional rule.

    Keywords: insalubrity. Dangerousness. Cumulation.

  • ROL DE ABREVIATURAS OU DE SIGLAS

    CF/88 Constituio Federal de 1988

    CTL Consolidao das Leis do Trabalho

    STF Supremo Tribunal Federal

    TST Tribunal Superior do Trabalho

    TRT Tribunal Regional do Trabalho

    EC Emenda Constitucional

    ART. Artigo

    OIT Organizao Internacional do Trabalho

    NR Norma Regulamentadora

    CIPA Comisses Internas de Preveno de Acidentes

    EPI Equipamento de Proteo Individual

    DRT Delegacia Regional do Trabalho

    TEM Ministrio do Trabalho e Emprego

    SESMT Servio Especializado em Engenharia de Segurana e em Medicina do Trabalho

  • ROL DE CATEGORIAS

    Segurana do Trabalho

    a cincia que atua na preveno dos acidentes do trabalho decorrentes dos fatores de risco operacionais.1

    Insalubridade

    Insalubre o que prejudicial sade, que d causa doena, e o adicional de insalubridade no se trata de uma taxa, mas sim, de algo que se acrescente.2

    Periculosidade

    O adicional de periculosidade devido para quem tenha contato permanente com inflamveis ou explosivos em condies de risco acentuado. A regulamentao que trata das condies periculosas no local de trabalho a NR-16 da Portaria n 3.214/78. 3

    Penosidade

    Em espanhol, usa-se a expresso trabajos sucios, que so os executados em minas de carvo, transporte e entrega de carvo, limpeza de chamins, limpeza de caldeiras, limpeza e manuteno de tanques de petrleo, recipientes de azeite, trabalhos com grafite e cola, trabalho em matadouros, preparao de farinha de peixe, preparao de fertilizantes etc. 4

    1 SALIBA, Tuffi Messias. Curso Bsico de Segurana e Higiene Ocupacional. So Paulo:

    LTr, 2004. p. 19. 2 MARTINS, Srgio Pinto. Comentrios CLT. 11. ed. So Paulo: Atlas, 2007. p. 200.

    3 MARTINS, Srgio Pinto. Comentrios CLT. p. 209.

    4 MARTINS, Srgio Pinto. Direito do Trabalho. So Paulo: Atlas, 2008. p. 639.

  • SUMRIO

    INTRODUO............................................................................................... 12 1 DA SEGURANA E MEDICINA DO TRABALHO..................................... 14 1.1 BREVES NOES HISTRICAS E CONCEITUAIS.............................. 14 1.2 OBJETIVOS DA SEGURANA E MEDICINA DO TRABALHO....................................................................................................

    20 1.3 DA LEGISLAO APLICAVEL E NORMAS REGULAMENTADORAS...............................................................................

    24 1.4 DAS MEDIDAS PREVENTIVAS DA MEDICINA DO TRABALHO........... 29 1.4.1 Do exame mdico................................................................................ 29 1.4.2 Do equipamento de proteo individual........................................... 32 1.5 RGOS DA SEGURANA E MEDICINA DO TRABALHO NAS EMPRESAS...................................................................................................

    34 1.5.1 Servio especializado em engenharia de segurana em medicina do trabalho....................................................................................................

    34 1.5.2 Comisso interna de preveno de acidentes CIPA..................... 36 2 DA REMUNERAO E ADICIONAIS........................................................ 40 2.1 DA REMUNERAO............................................................................... 40 2.2 DOS ADICIONAIS.................................................................................... 44 2.3 DOS ADICIONAIS PROTETIVOS............................................................ 47 2.3.1 Penosidade.......................................................................................... 48 2.3.2 Insalubridade....................................................................................... 50 2.3.3 Periculosidade..................................................................................... 54 2.3.4 Caracterizao e classificao da insalubridade e periculosidade..............................................................................................

    57 2.3.5 Superviso e fiscalizao pelo ministrio do trabalho e emprego........................................................................................................

    60 2.3.6 Eliminao e neutralizao da insalubridade e periculosidade..... 62 3 DA (IM) POSSIVEL CUMULAO DOS ADICIONAIS............................. 65 3.1 DA CUMULAO DE ADICIONAIS......................................................... 65 3.2 DA CELEUMA JURISPRUDENCIAL ACERCA DA CUMULAO DOS

  • ADICIONAIS DE INSALUBRIDADE E PERICULOSIDADE.......................... 70 3.2.1 Da impossvel cumulao dos adicionais de insalubridade e periculosidade..............................................................................................

    70 3.2.2 Da percepo cumulativa dos adicionais de insalubridade e periculosidade..............................................................................................

    77 CONCLUSO................................................................................................ 86 REFERNCIAS DAS FONTES CITADAS.................................................... 90 ANEXOS........................................................................................................ 95

  • 12

    INTRODUO

    A presente monografia destina-se ao cumprimento da exigncia legal para a obteno do grau de Bacharel em Direito, junto Universidade do Vale do Itaja UNIVALI, optando-se, quanto ao tema, em adentrar no campo de Direito do Trabalho, estudando, em especial, acerca da (im) possvel cumulao dos adicionais de insalubridade e periculosidade.

    Estar-se- diante de matria que possui divergncia no mbito jurdico, visto que, pela anlise dos entendimentos doutrinrios e, principalmente jurisprudenciais, que no se tem posicionamento uniforme a respeito da cumulatividade dos referidos adicionais.

    De acordo com a CLT indevido o pagamento concomitante dos adicionais de insalubridade e de periculosidade aos trabalhadores que se exponham no desenvolvimento de suas atividades de forma simultnea ao de dois ou mais agentes que possa representar dano a sade e risco vida, com fundamento na exegese do artigo 193, 2, da CLT combinado com a NR 15, item 15.3, da Portaria Ministerial 3.214/78.

    Aps a ratificao e vigncia nacional da Conveno n. 155 da OIT, surgiu entendimentos que esse pargrafo foi revogado, visto a determinao de que sejam considerados os riscos para a sade decorrente da exposio simultnea a diversas substncias ou agentes.

    Assim, ao contrrio do previsto na CLT, alguns Tribunais j se posicionam acerca do tema, reconhecendo que se a prova pericial constatar que, durante o perodo do contrato de trabalho, o trabalhador esteve exposto, simultaneamente, a dois agentes agressivos, um insalubre e outro perigoso, ter direito a perceber pelos dois adicionais distintos.

    Sem o intuito exaustivo, o objetivo deste estudo analisar a possvel cumulao dos adicionais de insalubridade e periculosidade.

    Para tanto a pesquisa ser dividida em trs partes distintas, nas quais, se desenvolver o arcabouo terico pertinente.

  • 13

    No primeiro captulo, discorrer-se- acerca das normas de segurana e medicina do trabalho, apresentando as noes histricas e conceituais, bem como os objetivos, a legislao aplicvel e as normas regulamentadoras, medidas preventivas e utilizao de equipamentos de proteo individual (EPI) e ainda os rgos de segurana e medicina do trabalho nas empresas.

    No segundo captulo, sero demonstrados os adicionais de remunerao, adicionais de penosidade, adicionais de insalubridade e adicionais de periculosidade, denominando e conceituando cada atividade, examinando as maneiras de caracterizao e classificao, bem como a forma de eliminao e neutralizao.

    J no terceiro captulo, examinar-se-, mais detalhadamente o problema proposto, qual seja a (im) possvel cumulao dos adicionais de insalubridade e periculosidade, trazendo as vertentes jurisprudenciais acerca dos referidos adicionais.

    Quanto metodologia empregada, registra-se que ser utilizado o mtodo dedutivo, e, nas diversas fases da pesquisa, foram acionadas as tcnicas do referente, da categoria, do conceito operacional e da pesquisa bibliogrfica.

    A tcnica utilizada a documental indireta, ou seja, as doutrinas e as legislaes referentes ao tema, tambm se utilizar a pesquisa documental direta, por meio de anlise de jurisprudncias e artigos referentes ao assunto.

    Enfim, pretende-se com a presente pesquisa, contribuir para o esclarecimento de alguns pontos polmicos quanto (im) possvel cumulao dos adicionais de insalubridade e periculosidade decorrentes do trabalho.

  • 14

    1 DA SEGURANA E MEDICINA DO TRABALHO

    O presente trabalho tem como objetivo o estudo, atravs de pesquisa doutrinria e jurisprudencial, do adicional de insalubridade e do adicional de periculosidade, ou mais especificamente, de sua cumulao. Para tanto, faz-se necessrio um prvio estudo sobre a Segurana e Medicina do Trabalho, posto que estes adicionais consistem em umas das medidas adotadas para o controle da segurana no trabalho, conforme ser visto ao longo desta pesquisa.

    1.1 BREVES NOES HISTRICAS E CONCEITUAIS

    At o inicio do Sculo XVIII, no havia preocupao com a sade do trabalhador, por haver poucos relatos de acidentes de trabalho. Porm, com o advento da Revoluo Industrial e de novos processos industriais, a conseqente modernizao das mquinas fez com que iniciasse o surgimento de doenas ou acidentes decorrentes do trabalho causados pela atividade laboral. Em decorrncia de tal fato, o direito passou a determinar certas condies mnimas que deveriam ser observadas pela empresas.5

    A respeito desta questo ensina Eduardo Gabriel Saad:

    Quando a Revoluo Industrial e o progresso galopante da cincia e da tecnologia vieram diversificar as atividades industriais, novas ameaas sade do trabalhador se manifestaram. A corrida desenfreada ao lucro e a satisfao de necessidades individuais ou coletivas, criadas artificialmente, no permitiam que se fizesse uma pausa para eliminar o sofrimento imposto ao trabalhador pelas mquinas e pelos processos de produo que o engenho humano engendrou. Ademais, qualquer pretenso mais ousada, no sentido de restringir o uso dos bens e equipamentos do empresrio, a fim de proporcionar maior segurana ao trabalhador, esbarrava na concepo da propriedade privada como um dos pilares da

    5 MARTINS, Srgio Pinto. Direito do Trabalho. p. 621.

  • 15

    sociedade sada das entranhas da Revoluo Industrial, alimentada pelo princpio do liberalismo poltico e econmico. 6

    Em palavras de Jos Augusto Rodrigues Pinto, a relao do trabalho humano prestado pessoalmente em proveito do outrem e retribudo como forma sistemtica de utilizao de energia produtiva, s foi propiciada realmente pelo advento da Revoluo Industrial na Inglaterra, com o aumento no nmero de acidentes no trabalho e de doenas, que houve a preocupao da sociedade para o fato, gerando assim, a introduo da mquina no processo de produo de bens e circulao de riquezas.7

    A partir de ento, a segurana e medicina do trabalho, como meios de proteo do homem, penetra cada vez mais na sociedade, para exigir maior respeito e cuidado com a sade daqueles que movimentam as mquinas e do vida as empresas.8

    Neste sentido, extrai-se dos ensinamentos Vicente Paulo 9:

    [...] logo aps a Revoluo Industrial tornou-se patente estar o mundo diante de uma realidade inteiramente nova no que respeita aos riscos de danos sade decorrentes do trabalho. Com novos processos industriais, a mecanizao dos procedimentos, a substituio do homem pela mquina, cresceram exponencialmente os acidentes profissionais, a maioria mutilante ou incapacitante, com severas conseqncias para o trabalhador, sua famlia e a sociedade como um todo. Alm disso, as novas condies de trabalho, mesmo que escapasse o trabalhador aos acidentes ou as suas seqelas, eram notoriamente insalubres, fazendo aumentar a quantidade e a variedade de molstias profissionais. E ainda: Diante dessa realidade, o Estado viu-se na contingncia de impor s empresas obrigaes tendentes a assegurar aos trabalhadores condies mnimas de proteo sua integridade fsica e sua sade. Surgem assim as primeiras normas concernentes segurana e sade no trabalho, que passam a integrar o rol de normas protetivas componentes do ramo do Direito que ora estudamos, criando para os

    6 SAAD, Eduardo Gabriel. CLT Comentada. 40. ed. So Paulo: LTr, 2007. p. 208.

    7 PINTO. Jos Augusto Rodrigues.Tratado de Direito Material do Trabalho. So Paulo: LTr,

    2007. 8 SAAD, Eduardo Gabriel. CLT Comentada. 40. ed. So Paulo: LTr, 2007. p. 208.

    9 PAULO, Vicente; ALEXANDRINO, Marcelo. Manual de Direito do Trabalho. 12. ed. rev. e

    atual. Rio de Janeiro: Mtodo, 2008. p. 297.

  • 16

    empregadores obrigaes e para o Estado o poder-dever de fiscalizao e punio das empresas que as descumpram.

    Outro marco importante para o surgimento das normas de medicina e segurana do trabalho so as Constituies. Somente aps a Revoluo de 1930, que realmente aumentaram as reivindicaes trabalhistas, passando ento a contar com a constituio brasileira de 193410 que foi a primeira a tratar especificadamente do direito do trabalho.11

    Nessa linha registra Renato Saraiva:

    A constituio de 1934 que passou a dispor, especificadamente, sobre normas atinentes ao Direito do trabalho, como a garantia liberdade sindical, salrio mnimo, isonomia salarial, jornada de 8 horas de trabalho, proteo ao trabalho dos menores e das mulheres, frias e repouso semanal. 12

    A Constituio de 193713 instituiu o sindicato nico, imposto por lei, vinculado pelo Estado, exercendo funes delegadas do poder pblico, podendo haver interveno estatal direta em suas atribuies. 14

    Com a Constituio acima citada, houve a criao do imposto sindical, como forma de submisso das entidades de classe ao Estado, pois este participava do produto de sua arrecadao. Estabeleceu ainda a competncia normativa dos tribunais do trabalho, que tinha por objetivo principal evitar o desentendimento direto entre trabalhadores e empregadores. 15

    Existiam, no entanto, vrias normas sobre os mais diversos assuntos trabalhistas, havendo a necessidade de sistematizao dessas regras, para tanto foi editado o Decreto lei n 5.452, de 1 de maio de 1943, aprovando a

    10 BRASIL. Constituio da Repblica dos Estados Unidos do Brasil de 1934. Dirio Oficial da

    Unio, Rio de Janeiro, 1934. 11

    MARTINS, Srgio Pinto. Direito do Trabalho. p. 10. 12

    SARAIVA, Renato. Direito do Trabalho. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense; So Paulo: METODO ,2009. p. 36. 13

    BRASIL. Constituio da Repblica dos Estados Unidos do Brasil de 1937. Dirio Oficial da Unio, Rio de Janeiro, 1937. 14

    MARTINS, Srgio Pinto. Direito do Trabalho. p. 10. 15

    MARTINS, Srgio Pinto. Direito do Trabalho. p. 10.

  • 17

    Consolidao das Leis do Trabalho16, com objetivo de reunir as leis esparsas existentes na poca. 17

    Ressalta-se que a Constituio de 194618, considerada uma norma democrtica, rompeu com o corporativismo mantido pela Constituio anterior, passando a admitir a participao dos trabalhadores nos lucros, repouso semanal remunerado, estabilidade, direito de grave, e outros direitos que j estavam presentes na norma constitucional anterior. 19

    Extrai-se da obra de Renato Saraiva:

    A Constituio de 1946, em que novos direitos trabalhistas foram institudos, tais como a Lei 605/1949, dispondo sobre o repouso semanal remunerado e feriados, a Lei 2.757/1956, dispondo sobre os empregados porteiros, zeladores, faxineiros e serventes de prdios de apartamentos residenciais; a Lei 3.207/1957, dispondo sobre os vendedores-viajantes; a Lei 4.090/1962, instituindo a gratificao natalina.20

    Segundo Arnaldo Sssekind, outro evento importante ocorreu em 1966, com advento da Lei n 5.161, com a criao da Fundao Centro Segurana, Higiene e Medicina do Trabalho (FUNDACENTRO), para investigao, pesquisa e assistncia s empresas, com a finalidade de aperfeioar a preveno de acidentes de trabalho. 21

    Srgio Pinto Martins ensina que a Constituio de 196722, reconheceu o direito dos trabalhadores higiene e segurana no trabalho. A Emenda Constitucional n. 1 de 17.10.1969, repete a mesma disposio, os artigos 154 a 201 da CLT23, tiveram nova redao determinada pela lei n. 6.514/7724,

    16 BRASIL. Decreto-Lei n. 5.452, de 1 de maio de 1943. Aprova a consolidao das leis do

    trabalho. Dirio Oficial da Unio. Rio de Janeiro, 1943. Doravante denominada CLT. 17

    MARTINS, Srgio Pinto. Direito do Trabalho. p. 10. 18

    BRASIL. Constituio da Repblica dos Estados Unidos do Brasil de 1946. Dirio Oficial da Unio, Rio de Janeiro, 1946. 19

    MARTINS, Srgio Pinto. Direito do Trabalho. p. 10. 20

    SARAIVA, Renato. Direito do Trabalho. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense; So Paulo: METODO ,2009. p. 36-37. 21

    SSSEKIND, Arnaldo. Curso de Direito do Trabalho. 2. ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2004. pg. 498. 22

    BRASIL. Constituio da Repblica Federativa do Brasil de 1967. Dirio Oficial da Unio, Braslia, 1967. 23

    BRASIL. Decreto-Lei n. 5.452, de 1 de maio de 1943. Aprova a consolidao das leis do trabalho. Dirio Oficial da Unio. Rio de Janeiro, 1943. Doravante denominada CLT.

  • 18

    passando a tratar da segurana e medicina do trabalho e no mais, da higiene e segurana no trabalho. 25

    A Constituio da Repblica Federativa do Brasil, aprovada em 05 de outubro de 198826, mais precisamente em seu artigo 7 XXII, modificou a orientao das normas constitucionais, dando tratamento especifico aos direitos sociais dos empregados urbanos e rurais, alm de outros que visem melhoria de sua condio social. 27

    Art. 7 So direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, alm de outros que visem melhoria de sua condio social: [...] XXII reduo dos riscos inerentes ao trabalho, por meio de normas de sade higiene e segurana; [...] XXIII adicional de remunerao para as atividades penosas, insalubres ou perigosas, na forma da lei; [...] XXVIII seguro contra acidentes de trabalho, a cargo do empregador, sem excluir a indenizao a que este est obrigado, quando incorrer em dolo ou culpa;

    No que concerne ao acidente de trabalho, este fixado pela Lei n. 8.21328, de 24/07/1991, e conceituado pelos doutrinadores Orlando Gomes e lson Gottschalk como sendo:

    [...] todo aquele que ocorrer pelo exerccio do trabalho a servio da empresa, provocando leso corporal ou perturbao funcional que cause a morte, ou perda, ou reduo permanente ou temporria, de capacidade para trabalho.29

    24 BRASIL. Lei n. 6.514, de 22 de dezembro de 1977. Altera o Captulo V do Titulo II da

    Consolidao das Leis do Trabalho, relativo a segurana e medicina do trabalho e d outras providncias. Dirio Oficial da Unio, Braslia, 1977. 25

    MARTINS, Srgio Pinto. Direito do Trabalho. 24. ed. So Paulo: Atlas, 2008. p. 619. 26

    BRASIL. Constituio da Repblica Federativa do Brasil de 1988. Dirio Oficial da Unio, Braslia, 1988. Doravante denominada CRFB/88. 27

    BARROS, Alice Monteiro de. Curso de Direito do Trabalho. 2007. p. 73. 28

    BRASIL. Lei n. 8.213, de 24 de julho de 1991. Dispe sobre os Planos de Benefcios da Previdncia Social e d outras providncias. Dirio Oficial da Unio, Braslia, 1991. 29

    GOMES, Orlando. GOTTSCHALK. Direito do Trabalho. Rio de Janeiro: Forense, 2003. p. 266.

  • 19

    Ressaltam os autores, em sua obra que a reparao dos acidentes de trabalho comeou a surgir somente aps a Revoluo Industrial, devido multiplicao com o conseqente desenvolvimento da indstria mecnica.30

    Quanto denominao anteriormente utilizada que se dava ao tema era segurana e higiene do trabalho, conforme era disposto na Consolidao das Leis do Trabalho, na atualidade com o advento da Lei n 6.514/7731, passou-se a utilizar a denominao segurana e medicina do trabalho. 32

    Na concepo de Srgio Pinto Martins, o uso da palavra higiene somente mostrava o enfoque quanto conservao da sade do trabalhador, sendo que o vocbulo medicina mais abrangente, visto que evidencia no s o aspecto sade, como tambm a cura das doenas e sua preveno no trabalho. 33

    Sebastio Ivone Vieira, 34 conceitua Segurana do Trabalho:

    [...] uma srie de medidas tcnicas, mdicas e psicolgicas, destinadas a prevenir os acidentes profissionais, educando os trabalhadores de maneira a evit-los, como tambm procedimentos capazes de eliminar as condies inseguras do ambiente de trabalho. a cincia que objetiva a preveno de acidentes do trabalho atravs das analises dos riscos do local e dos riscos da operao.

    A segurana e medicina do trabalho tratam da proteo fsica e mental do trabalhador, visando principalmente s doenas profissionais e os acidentes de trabalho, com nfase especial para as modificaes que lhe possam advir do seu trabalho profissional. 35

    30 GOMES, Orlando. GOTTSCHALK. Direito do Trabalho. Rio de Janeiro: Forense, 2003. p.

    265. 31

    BRASIL. Lei n. 6.514, de 22 de dezembro de 1977. Altera o Captulo V do Titulo II da Consolidao das Leis do Trabalho, relativo a segurana e medicina do trabalho e d outras providncias. Dirio Oficial da Unio, Braslia, 1977. 32

    GARCIA, Gustavo Felipe Barbosa. Meio Ambiente do Trabalho: Direito, Segurana e Medicina do Trabalho. 2. Ed. Ver., atual. e ampl. Rio de Janeiro: Forense, 2009. p. 22. 33

    MARTINS, Srgio Pinto. Direito do Trabalho. p. 621. 34

    VIEIRA, Sebastio Ivone. Manual de sade e segurana do trabalho. Volume 1. So Paulo: LTr, 2005. p. 42. 35

    CARRION, Valentim. Comentrios a Consolidao das Leis do Trabalho. 33. Ed. Atual. por Eduardo Carrion. So Paulo: Saraiva, 2008. p.160.

  • 20

    A medicina do trabalho para Valentin Carrion compreende no estudo das formas de proteo sade do trabalhador enquanto no exerccio do trabalho, indicando medidas preventivas, j a segurana do trabalho, por seus aspectos tcnicos, em face ao traumtica e no patognica pertence no medicina, mas engenharia do trabalho. 36

    Alice Monteiro de Barros, entende que a integridade fsica do trabalhador um direito de personalidade oponvel contra o empregador, e as condies em que se realizado o trabalho no esto adaptadas capacidade fsica e mental do empregado. 37

    Alm de acidente de trabalho e enfermidades profissionais, as deficincias nas condies em que ele executa as atividades geram tenso, fadiga e a insatisfao, fatores prejudiciais sade. Se no bastasse, elas provocam ainda, o absentesmo, instabilidade no emprego e queda de produtividade. 38

    Diante da previso constitucional de proteo ao trabalhador, se passar a discorrer acerca dos objetivos da segurana e medicina do trabalho.

    1.2 OBJETIVOS DA SEGURANA E MEDICINA DO TRABALHO

    As normas de segurana e medicina do trabalho tm o relevante papel de estabelecer condies que assegurem a sade e a segurana do trabalhador, preservando e protegendo sua higidez fsica e mental no mbito das relaes de trabalho. 39

    A segurana e a medicina do trabalho na concepo de Srgio Pinto Martins o segmento do direito tutelar do trabalho, incumbido de oferecer condies de proteo sade do trabalhador no local de trabalho, e da sua

    36 CARRION, Valentim. Comentrios a Consolidao das Leis do Trabalho. 33. Ed. Atual.

    por Eduardo Carrion. So Paulo: Saraiva, 2008. p. 159-160. 37

    BARROS, Alice Monteiro de. Curso de Direito do Trabalho. P. 1.034. 38

    BARROS, Alice Monteiro de. Curso de Direito do Trabalho. P. 1.034. 39

    GARCIA, Gustavo Felipe Barbosa. Meio Ambiente do Trabalho: Direito, Segurana e Medicina do Trabalho. 2. Ed. Ver., atual. e ampl. Rio de Janeiro: Forense, 2009. p. 22.

  • 21

    recuperao quando no estiver em condies de prestar servios ao empregador. 40

    A segurana do trabalho ter por objetivo principal prevenir as doenas profissionais e os acidentes de trabalho no local laboral. 41 Para Ivan Simes Garcia, a preveno melhor maneira de atender proteo da integridade fsica do empregado.42

    A preveno para Alice Monteiro de Barros o princpio inspirador de todas as normas de tutela a sade, inclusive no local de trabalho. 43 Para a Autora as medidas de proteo constituem o guia da realizao e gesto prtica dessa preveno, no qual se subdividem em quatro grupos fundamentais:

    a) medidas estruturais atinentes fase de projetos anteriores atividade laboral, que reclama a interveno estatal, exigindo a substituio do que perigoso, eliminando-se os riscos na origem com ateno aos princpios ergonmicos e programando-se, com prioridade, medidas de tutela coletiva na atuao; b) medidas de gesto destinadas a regular a atividade operativa, no s pelo empregador, mas pelos empregados e seus representantes, os quais so sujeitos de obrigaes relativas s medidas de segurana; c) medidas de emergncia para se insurgir contra situao de perigo, como instituio de pronto socorro, escadas e extintores de incndio, sadas de emergncia, etc.; d) medidas de carter participativo, que dizem respeito ao sujeitos mais interessados diretamente no trabalho como o empregador, os empregados e seus representantes, aos quais so reconhecidas importantes prerrogativas. A informao e formao dos trabalhadores e seus representantes no deixada a sua livre iniciativa, mais constituem uma obrigao do empregador. 44

    Valentin Carrion, ao tratar da preveno de acidentes do trabalho, ensina que a segurana e higiene do trabalho so fatores vitais na preveno de acidentes e na defesa da sade do empregado, evitando assim o sofrimento humano.

    40 MARTINS, Srgio Pinto. Comentrios CLT. 12. ed. So Paulo: Atlas, 2008. p. 180/181.

    41 MARTINS, Srgio Pinto. Comentrios CLT. 12. ed. So Paulo: Atlas, 2008. p. 180/181.

    42 GARCIA, Ivan Simes. Direito do Trabalho. Rio de Janeiro: Lmen Jris, 2009. p.191.

    43 BARROS, Alice Monteiro de. Curso de Direito do Trabalho. P. 1.043.

    44 BARROS, Alice Monteiro de. Curso de Direito do Trabalho. P. 1.043, 1.044.

  • 22

    [...] A omisso do empregador na adoo de medidas tendentes preveno de acidentes, pode ocasionar, de acordo com a gravidade ou repetio dos fatos, conseqncias jurdicas diversas.45

    A CRFB/1988, garante em seu artigo 646, dentre os direitos e garantias fundamentais o direito sade. A organizao mundial da sade47 estabelece a definio dos objetivos da sade no ambiente do trabalho:

    A Sade Ocupacional tem como finalidade incentivar e manter o mais elevado nvel de bem-estar fsico, mental e social dos trabalhadores em todas as profisses; prevenir todo o prejuzo causado sade destes pelas condies de seu trabalho; proteg-los em seu servio contra os riscos resultantes da presena de agentes nocivos sua sade; colocar e manter o trabalhador em um emprego que convenha s suas aptides fisiolgicas e psicolgicas e, em resumo, adaptar o trabalho ao homem e cada homem ao seu trabalho.

    O meio ambiente est disposto na Lei n. 6.93848, de 31/08/1981, no qual so considerados riscos ambientais os agentes fsicos, qumicos e biolgicos existentes nos ambientes de trabalho que, em funo de sua natureza, concentrao ou intensidade e tempo de exposio, so capazes de causar danos sade do trabalhador.49

    Na concepo de Alice Monteiro de Barros:

    Quando o empregado admitido pelo empregador, leva consigo um srie de bens jurdicos (vida, sade, capacidade de trabalho, etc.), os quais devero ser protegidos por este ltimo, com adoo de medidas de higiene e segurana para prevenir doenas profissionais e acidentes no trabalho. O empregador dever manter os locais de trabalho e suas

    45 CARRION, Valentin. Comentrios consolidao das leis do trabalho. p. 172-173.

    46 BRASIL. Constituio da Repblica Federativa do Brasil de 1988. Artigo 6: So direitos

    sociais a educao, a sade, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurana, a previdncia social, a proteo maternidade e infncia, a assistncia aos desamparados, na forma desta Constituio. Vade Mecum acadmico de direito. Anne Joyce Angher (Org.). 6. ed. So Paulo: Rideel, 2008. p. 39. 47

    A Organizao Mundial da Sade uma agncia especializada em sade, fundada em 7 de abril de 1948 e subordinada Organizao das Naes Unidas. 48

    BRASIL. Lei n. 6.938, de 31 de agosto de 1981. Dispe sobre a Poltica Nacional do Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de formulao e aplicao, e d outras providncias. Dirio Oficial da Unio, Braslia, 1981. 49

    VIANNA, Cladia Salles Vilela. Manual Prtico das Relaes Trabalhistas. 8. ed. So Paulo: LTr, 2007. p. 1.185.

  • 23

    instalaes de modo que no ocasionem perigo vida e sade do empregado. 50

    A falta de sade do empregado gera a incapacidade, e se decorrente de ato ilcito ou de um risco gerado pelas condies de trabalho, a responsabilidade civil do empregador por dano material e/ou moral uma tcnica utilizada para reparar o dano e proteger a incapacidade, independentemente de seguro contra acidente feito por ele (art. 7 XXVIII da Constituio51).52

    As medidas preventivas de medicina e segurana do trabalho esto previstas nos artigos. 168 e 169 da CLT 53 e regulamentadas pela NR da Portaria n. 3.214/7854.

    Outras normas expressas (Comisses Internas de Preveno de Acidentes CIPA e Equipamentos de Proteo individual EPI), incorporadas estrutura da CLT, sero estudadas ao longo deste captulo.

    50 BARROS, Alice Monteiro de. Curso de Direito do Trabalho. p. 1054.

    51 BRASIL. Constituio da Repblica Federativa do Brasil de 1988. Artigo 7, inciso XVIII:

    seguro contra acidentes de trabalho, a cargo do empregador, sem excluir a indenizao a que este est obrigado, quando incorrer em dolo ou culpa. Vade Mecum acadmico de direito. Anne Joyce Angher (Org.). 6. ed. So Paulo: Rideel, 2008. p. 40. 52

    BARROS, Alice Monteiro de. Curso de Direito do Trabalho. p. 1054. 53

    BRASIL. Decreto- Lei n. 5.452, de 1 de maio de 1943. Aprova a consolidao das leis do trabalho. Art. 168 - Ser obrigatrio exame mdico, por conta do empregador, nas condies estabelecidas neste artigo e nas instrues complementares a serem expedidas pelo Ministrio do Trabalho: I - a admisso; II - na demisso; III - periodicamente. 1 - O Ministrio do Trabalho baixar instrues relativas aos casos em que sero exigveis exames: a) por ocasio da demisso; b) complementares. 2 - Outros exames complementares podero ser exigidos, a critrio mdico, para apurao da capacidade ou aptido fsica e mental do empregado para a funo que deva exercer. 3 - O Ministrio do Trabalho estabelecer, de acordo com o risco da atividade e o tempo de exposio, a periodicidade dos exames mdicos. 4 - O empregador manter, no estabelecimento, o material necessrio prestao de primeiros socorros mdicos, de acordo com o risco da atividade. 5 - O resultado dos exames mdicos, inclusive o exame complementar, ser comunicado ao trabalhador, observados os preceitos da tica mdica. Art. 169 - Ser obrigatria a notificao das doenas profissionais e das produzidas em virtude de condies especiais de trabalho, comprovadas ou objeto de suspeita, de conformidade com as instrues expedidas pelo Ministrio do Trabalho. Vade Mecum acadmico de direito. Anne Joyce Angher (Org.). 6. ed. So Paulo: Rideel, 2008. 54

    BRASIL. Portaria do Ministrio Pblico n. 3.214, de 08 de junho de 1978. Aprova as Normas Regulamentadoras - NR - do Captulo V, Ttulo II, da Consolidao das Leis do Trabalho, relativas a Segurana e Medicina do Trabalho. Dirio Oficial da Unio, Braslia, 1978.

  • 24

    1.3 DA LEGISLAO APLICVEL E NORMAS REGULAMENTADORES

    Com fundamento no disposto na NR155, as Normas Regulamentadoras, relativas Segurana e Medicina do Trabalho, so de observncia obrigatria pelas empresas privadas, pblicas e pelos rgos pblicos da administrao direta e indireta, bem como pelos rgos dos Poderes Legislativo e Judicirio que possuam empregados regidos pela CLT. 56

    Ensina Vicente Paulo que o controle da observncia da segurana e sade no trabalho compete ao Ministrio do Trabalho, que por meio de Superintendncias Regionais do Trabalho e Emprego dever promover a fiscalizao do cumprimento das referidas normas nas empresas, determinando s medidas necessrias a existncia de profissionais especializados. 57

    A Autora Glucia Barreto explica que no ms de janeiro do ano de 2008 o Decreto n 6.340 alterou a denominao das Delegacias Regionais do Trabalho e Emprego, passando a serem denominadas Superintendncias Regionais do Trabalho e Emprego e as Subdelegacias do Trabalho passam a chamarem-se Gerncias Regionais do Trabalho e Emprego. 58

    Nos artigos 156 a 158 da CLT59 so enumeradas algumas regras pertinentes. No artigo 156 esto as regras referentes competncia das Delegacias Regionais do Trabalho.

    Art. 156. Compete especialmente s Delegacias Regionais do Trabalho, nos limites de sua jurisdio: I- promover a fiscalizao do cumprimento das normas de segurana e medicina do trabalho;

    55 BRASIL. Portaria do Ministrio Pblico n. 3.214, de 08 de junho de 1978. Aprova as Normas

    Regulamentadoras - NR - do Captulo V, Ttulo II, da Consolidao das Leis do Trabalho, relativas a Segurana e Medicina do Trabalho. Dirio Oficial da Unio, Braslia, 1978. 56 BARRETO, Glucia. Curso de Direito do Trabalho. Niteri: Impetus, 2008. p. 283. 57 PAULO, Vicente; ALEXANDRINO, Marcelo. Manual de Direito do Trabalho. 12. ed.rev. e atual. Rio de Janeiro: Mtodo, 2008. p. 297. 58

    BARRETO, Glucia. Curso de Direito do Trabalho. Niteri: Impetus, 2008. p. 283. 59

    BRASIL. Decreto-Lei n. 5.452, de 1 de maio de 1943. Aprova a consolidao das leis do trabalho. Dirio Oficial da Unio. Rio de Janeiro, 1943. Doravante denominada CLT.

  • 25

    II adotar as medidas que se tornem exigveis, em virtude das disposies deste Captulo, determinando as obras e reparos que, em qualquer local de trabalho, se faam necessrias; III impor as penalidades cabveis por descumprimento das normas constantes deste Captulo, nos termos do art. 201.

    Acerca do encargo do Delegado Regional, esclarece Eduardo Gabriel Saad: 60

    Tem o delegado Regional o encargo de promover a fiscalizao do cumprimento das normas legais sobre segurana e medicina do trabalho, mas nesse campo h de ater-se s prescries da NR-28, da Portaria n. 3.214, apoiada no art. 4, da Lei n. 6.514, de 22.12.77, que fixam a competncia dos mdicos do trabalho e dos engenheiros de segurana para inspecionar os locais de trabalho, a fim de verificar o cumprimento da legislao de medicina, segurana e higiene do trabalho.

    Compete s Superintendncias Regionais do Trabalho e Emprego, a execuo, superviso e monitoramento de aes relacionadas a polticas publicas afetas ao Ministrio do Trabalho e Emprego na sua rea de jurisdio, especialmente as de fomento ao trabalho emprego e renda. 61

    A autora acima citada, explica ainda, que tambm competncia das Superintendncias Regionais do trabalho a execuo do sistema pblico de emprego, as de fiscalizao do trabalho, mediao e arbitragem, melhoria contnua nas relaes de trabalho, e de orientao e apoio ao cidado. 62

    A CLT estabelece nos artigos 157 e 158 normas a serem observadas pelas empresas (empregadores) e pelos empregados, respectivamente.

    Art. 157. Cabe s empresas:

    I- cumprir e fazer cumprir as normas de segurana e medicina do trabalho; II- instruir os empregados, atravs de ordens de servio, quando s precaues a tomar no sentido de evitar acidentes do trabalho ou doenas ocupacionais; III adotar as medidas que lhes sejam determinadas pelo rgo regional competente; IV facilitar o exerccio da fiscalizao pela autoridade competente. Art. 158 - Cabe aos empregados:

    60 SAAD, Eduardo Gabriel. CLT Comentada. 40. ed. So Paulo: LTr, 2007. p. 208.

    61 BARRETO, Glucia. Curso de Direito do Trabalho. p. 283.

    62 BARRETO, Glucia. Curso de Direito do Trabalho. p. 283.

  • 26

    I - observar as normas de segurana e medicina do trabalho, inclusive as instrues de que trata o item II do artigo anterior; Il - colaborar com a empresa na aplicao dos dispositivos deste Captulo. Pargrafo nico - Constitui ato faltoso do empregado a recusa injustificada: a) observncia das instrues expedidas pelo empregador na forma do item II do artigo anterior; b) ao uso dos equipamentos de proteo individual fornecidos pela empresa.

    O termo empresa citado neste artigo tem o mesmo sentido de empregador, sendo que este dever tomar algumas medidas pertinentes para que os acidentes no local trabalho no venham a ocorrer. 63

    Destaca ainda que o empregador dever respeitar as normas de segurana e medicina do trabalho, devendo as empresas tomar conhecimento no apenas das disposies legais, como tambm as sanes correspondentes, tais como multas previstas na CLT64 e a interdio de parte e at de todo o estabelecimento.

    [...] Alm disso, o descumprimento dos preceitos sobre segurana e medicina do trabalho traz consigo danos considerveis produo empresa, tornando-a mais onerosa e podendo, at, afetar-lhe a qualidade. 65

    Eduardo Gabriel Saad ensina que a empresa, uma vez acatando o disposto no artigo 15766, esta ser salva das penalidades mencionadas. Alm disso, ficar protegida contra eventuais pedidos, em Juzo, de indenizaes outras que no sejam aquelas previstas na legislao trabalhista e acidentria. 67

    63 SAAD, Eduardo Gabriel. CLT Comentada. p. 219.

    64 BRASIL. Decreto-Lei n. 5.452, de 1 de maio de 1943. Aprova a consolidao das leis do

    trabalho. Dirio Oficial da Unio. Rio de Janeiro, 1943. Doravante denominada CLT. 65

    SAAD, Eduardo Gabriel. CLT Comentada. p. 219. 66

    BRASIL. Decreto-Lei n. 5.452, de 1 de maio de 1943. Aprova a consolidao das leis do trabalho. Dirio Oficial da Unio. Rio de Janeiro, 1943. Art. 157 - Cabe s empresas: I - cumprir e fazer cumprir as normas de segurana e medicina do trabalho; II - instruir os empregados, atravs de ordens de servio, quanto s precaues a tomar no sentido de evitar acidentes do trabalho ou doenas ocupacionais; III - adotar as medidas que lhes sejam determinadas pelo rgo regional competente; IV - facilitar o exerccio da fiscalizao pela autoridade competente. Vade Mecum acadmico de direito. Anne Joyce Angher (Org.). 6. ed. So Paulo: Rideel, 2008. 67

    SAAD, Eduardo Gabriel. CLT Comentada. p. 220.

  • 27

    O empregado tem grande participao na preveno de acidentes no local de trabalho. Visto que a empresa pode adotar as mais avanadas tcnicas de preveno de acidentes, sendo que se o empregado no colaborar, tudo ser desnecessrio. 68

    Nesse caminho esclarece Srgio Pinto Martins que a no-observncia por parte do empregado das instrues expedidas pelo empregador, o uso dos EPIs e as demais normas de segurana e medicina do trabalho implicam justa causa para sua dispensa. 69

    Para o autor este item poderia ser enquadrado como indisciplina (art. 482, h, da CLT), pois seriam ordens gerais de servios que o obreiro no estaria cumprindo, como de usar os EPIs. De acordo com a gravidade do ato e sua reiterao, a justa causa estar evidenciada. 70

    E continua:

    Se houver recusa justificada para o empregado no cumprir as determinaes do empregador, inexistir falta grave. Seria o caso, v.g., de o equipamento estar danificado, com prazo de validade vencido ou no ser apropriado para a atividade do empregado.

    O artigo 160 da CLT dispe sobre a necessidade da inspeo prvia no estabelecimento de trabalho, anterior s iniciaes ao trabalho:

    Art. 160. Nenhum estabelecimento poder iniciar suas atividades sem prvia inspeo sem prvia inspeo e aprovao das respectivas instalaes pela autoridade regional competente em matria de segurana e medicina do trabalho. 1 Nova inspeo dever ser feita quando ocorrer modificao substancial nas instalaes, inclusive equipamentos, que a empresa fica obrigada a comunicar, prontamente, Delegacia Regional do Trabalho. 2 facultado s empresas solicitar prvia aprovao, pela Delegacia Regional do Trabalho, dos projetos de construo e respectivas instalaes.

    68 SAAD, Eduardo Gabriel. CLT Comentada. p. 220.

    69 MARTINS, Srgio Pinto. Comentrios CLT. p. 181.

    70 MARTINS, Srgio Pinto. Comentrios CLT. p. 181.

  • 28

    A inspeo prvia a declarao de instalaes que constituem os elementos capazes de assegurar que o novo estabelecimento inicie suas atividades livre de riscos de acidentes ou doenas do trabalho. 71

    Diante disso, a empresa que no obedecer tais disposies ficar sujeita ao no funcionamento, conforme estabelece o artigo supracitado, at que sejam cumpridas as exigncias do dispositivo legal. 72

    Segundo ensina Srgio Pinto Martins: 73

    A antiga redao do artigo 162 da CLT s obrigava a indstria inspeo em casos de instalao ou de modificaes substanciais nas instalaes. Agora, tanto a indstria, como a empresa comercial, prestadora de servios e outras esto obrigadas inspeo, isto qualquer estabelecimento. A nova inspeo ser feita tanto de ocorrer alterao substancial nas instalaes, como tambm em relao aos equipamentos. A lei no diz, porm, qual seria o prazo para a comunicao, que deveria ser de imediato. A NR 2, da Portaria n 3.214/78 versa sobre a inspeo prvia. As empresas no tem obrigao de solicitar inspeo prvia dos projetos de construo e instalaes, porm de bom alvitre que assim o faam, pois a DRT poder embargar ou interditar obra que esteja em desacordo com os preceitos legais.

    As Superintendncias Regionais do Trabalho e Emprego, vista do laudo tcnico, que demonstre grave e eminente risco para o trabalhador, poder interditar o estabelecimento, setor de servio, mquinas e equipamentos, ou embargar a obra, exigindo brevidade nas providncias que devero ser adotadas pelas empresas. Considera-se grave e eminente risco toda condio ambiental de trabalho ou doena profissional com leso grave integridade fsica do trabalhador. 74

    As medidas preventivas de medicina do trabalho esto reguladas pelos artigos 168 e 169 da CLT, porquanto, passar-se-, ento, anlise sobre as medidas preventivas.

    71 GARCIA, Gustavo Felipe Barbosa. Meio Ambiente do Trabalho: Direito, Segurana e

    Medicina do Trabalho. 2. Ed. Ver., atual. e ampl. Rio de Janeiro: Forense, 2009. p. 29. 72

    GARCIA, Gustavo Felipe Barbosa. Meio Ambiente do Trabalho: Direito, Segurana e Medicina do Trabalho. 2. Ed. Ver., atual. e ampl. Rio de Janeiro: Forense, 2009. p. 29. 73

    MARTINS, Srgio Pinto. Comentrios CLT. 12. ed. So Paulo: Atlas, 2008. p. 185. 74

    GARCIA, Gustavo Felipe Barbosa. Meio Ambiente do Trabalho: Direito, Segurana e Medicina do Trabalho. 2. Ed. Ver., atual. e ampl. Rio de Janeiro: Forense, 2009. p. 29.

  • 29

    1.4 DAS MEDIDAS PREVENTIVAS DE MEDICINA DO TRABALHO

    1.4.1 Do exame mdico

    Segundo Srgio Pinto Martins, o exame mdico, tido como obrigatrio previsto no artigo abaixo mencionado, uma das medidas preventivas de medicina do trabalho. 75

    A obrigatoriedade e as condies estabelecidas ao exame mdico esto dispostas no artigo 168 da CLT, veja-se:

    Art. 168. Ser obrigatrio exame mdico, por conta do empregador, nas condies estabelecidas neste artigo e nas instrues complementares a serem expedidas pelo Ministrio do Trabalho: I na admisso; II na demisso; III periodicamente; 1 O Ministrio do Trabalho baixar instrues relativas aos casos em que sero exigveis exames: a) por ocasio da demisso; b) complementares. 2 Outros exames complementares podero ser exigidos a critrio mdico, para apurao da capacidade ou aptido fsica e mental do empregado para a funo que deva exercer. 3 O Ministrio do Trabalho estabelecer, de acordo com o risco da atividade e o tempo de exposio, a periodicidade dos exames mdicos. 4 O empregador manter, no estabelecimento, o material necessrio prestao de primeiros socorros mdicos, de acordo com o risco da atividade. 5 O resultado dos exames mdicos, inclusive o exame complementar, ser comunicado ao trabalhador, observados os preceitos da tica mdica.

    Conforme determinao do Ministrio do Trabalho e Emprego, o exame mdico dever ser feito na admisso, na dispensa e periodicamente. 76

    75 MARTINS, Srgio Pinto. Direito do Trabalho. 2008. p. 622

    76 MARTINS, Srgio Pinto. Direito do Trabalho. 2008. p. 622

  • 30

    Os empregadores devero realizar o exame mdico admissional dos empregados, devendo a avaliao clnica ser realizada por mdico do trabalho antes que o trabalhador assuma suas atividades. Este exame obrigatrio para todas as empresas, independentemente do nmero de funcionrios.77

    Por determinao do Delegado Regional do Trabalho, com base em parecer tcnico conclusivo da autoridade regional competente em matria de segurana e sade do trabalhador, ou em decorrncia de negociao coletiva, as empresas podero ser obrigadas a fazer exame mdico demissional independentemente da poca da realizao de qualquer outro exame, quando suas condies representarem potencial de risco grave aos empregados.78

    A NR-779 repete o preceito legal de que a empresa dever arcar com as despesas oriundas dos exames mdicos, radiolgico e complementar a que se deve o empregado se submeter. 80

    Ressalta Cludia Salles Vilela Vianna que o exame mdico demissional dever ser obrigatoriamente realizado at a data da homologao da resciso contratual, desde que o ltimo exame mdico tenha sido concretizado h mais de:

    a) cento e trinta e cinco dias para as empresas de grau de risco 1 e2, segundo o Quadro I da NR-4; b) noventa dias para as empresas de grau de risco 3 e 4, segundo o Quadro I da NR-4.81

    Conforme dispe a NR-4, as empresas enquadradas no grau de risco 1 ou 2 e no grau de risco 3 ou 4, podero ampliar o prazo de dispensa da realizao do exame demissional em decorrncia de negociao coletiva, desde que assistida por profissional indicado de comum acordo entre as partes

    77 VIANNA, Cladia Salles Vilela. Manual Prtico das Relaes Trabalhistas. p. 1.169.

    78 VIANNA, Cladia Salles Vilela. Manual Prtico das Relaes Trabalhistas. p. 1.160.

    79 BRASIL. Portaria do Ministrio Pblico n. 3.214, de 08 de junho de 1978. Aprova as Normas

    Regulamentadoras - NR - do Captulo V, Ttulo II, da Consolidao das Leis do Trabalho, relativas a Segurana e Medicina do Trabalho. Dirio Oficial da Unio, Braslia, 1978. 80

    SAAD, Eduardo Gabriel. CLT Comentada. 40. ed. So Paulo: LTr, 2007. p. 236. 81

    VIANNA, Cladia Salles Vilela. Manual Prtico das Relaes Trabalhistas. p. 1.168.

  • 31

    ou por profissional do rgo competente em segurana e medicina do trabalho.82

    Ressalta-se que o mdico tem importante papel na seleo do empregado, visto que este verifica previamente suas aptides fsicas para o desenvolvimento da funo a desempenhar. 83

    Para os trabalhadores expostos a riscos em situaes de trabalho que impliquem o desencadeamento ou agravamento de doenas ocupacional, ou ainda para os portadores de doenas crnicas os exames devero ser realizados periodicamente.84

    Quanto periodicidade dos exames mdicos, esclarece o culto Magistrado Srgio Pinto Martins:

    (a) para trabalhadores expostos a riscos ou situaes de trabalho que impliquem o desencadeamento ou agravamento de doena ocupacional, ou, ainda, para aqueles que sejam portadores de doenas crnicas, os exames devero ser repetidos: a.1) a cada ano ou a intervalos menores, a critrio do mdico encarregado, ou se notificado pelo mdico agente da inspeo do trabalho, ou, ainda, como resultado de negociao coletiva de trabalho; a.2) de acordo com a periodicidade especificada no Anexo n. 06 da NR 15, para os trabalhadores expostos a condies hiperbricas; (b) para os demais trabalhadores: b.1) anual, quando menores de 18 anos e 45 anos de idade; b.2) a cada dois anos, para os trabalhadores entre 18 anos e 45 anos de idade. 85

    Outros exames complementares podem ser exigidos, a critrio mdico, para a apurao da capacidade ou aptido fsica e mental do empregado para a funo que ira desenvolver. O Ministrio do Trabalho e Emprego estabelece, de acordo com o risco da atividade e o tempo de exposio, a periodicidade dos exames mdicos.

    82 VIANNA, Cladia Salles Vilela. Manual Prtico das Relaes Trabalhistas. p. 1.168.

    83 SAAD, Eduardo Gabriel. CLT Comentada. p. 235.

    84 VIANNA, Cladia Salles Vilela. Manual Prtico das Relaes Trabalhistas. p. 1.167.

    85 MARTINS, Srgio Pinto. Comentrios CLT. p. 195.

  • 32

    Segundo Srgio Pinto Martins, conforme dispe o Decreto n. 90.88086, de 30/01/85, as microempresas esto dispensadas da obrigatoriedade de realizao de exames mdicos.87

    1.4.2. Do equipamento de proteo individual

    A obrigao maior do empregador, no mbito da segurana e medicina do trabalho, fornecer aos seus empregados um ambiente de trabalho sadio e seguro, isento de riscos profissionais, conforme o mandamento Constitucional expresso no inciso XXII, do art. 7 88 da CRFB/88. 89

    Acerca do Equipamento de Proteo Individual, leciona Edwar Abreu Gonalves:

    Culturalmente, tem predominado a idia de que proteger o trabalhador significa fornece-lhe equipamento de proteo individual, entretanto, no se pode perder de vista o fato de que, a rigor, o EPI no previne a ocorrncia dos acidentes do trabalho, mais apenas evita ou atenua a gravidade das leses, da porque h de se procurar, sempre em primeiro lugar, a proteo coletiva, dada a sua melhor eficcia, uma vez que elimina ou neutraliza o risco ambiental na sua fonte produtora, alm do que essa modalidade preventiva no fica a merc da utilizao ou no por parte do empregado. 90

    Os equipamentos de proteo individual (EPI), previstos no art. 166 da CLT 91, no conceito de Vicente Paulo, todo dispositivo ou produto, de uso

    86 BRASIL. Decreto n. 90.880, de 30 de janeiro de 1985. Regulamenta a Lei n 7.256, de 27 de

    novembro de 1984, que estabelece normas integrantes do Estatuto da Microempresa e d outras providncias. Dirio Oficial da Unio, Braslia, 31 jan. 1985. 87

    MARTINS, Srgio Pinto. Direito do Trabalho. p. 634. 88

    BRASIL. Constituio da Repblica Federativa do Brasil de 1988. Art. 7, XXII - reduo dos riscos inerentes ao trabalho, por meio de normas de sade, higiene e segurana; 89

    GONALVES, Edwar Abreu. Manual de Segurana e Sade no Trabalho. p. 385 90

    GONALVES, Edwar Abreu. Manual de Segurana e Sade no Trabalho. p. 385 91BRASIL. Decreto-Lei n. 5.452, de 1 de maio de 1943. Aprova a consolidao das leis do trabalho Art. 166. A empresa obrigada a fornecer aos empregados, gratuitamente, equipamento de proteo individual adequado ao risco e em perfeito estado de conservao e funcionamento, sempre que as medidas de ordem geral no ofeream completa proteo contra os riscos de acidentes e danos sade dos empregados. . Vade Mecum acadmico de direito. Anne Joyce Angher (Org.). 6. ed. So Paulo: Rideel, 2008.

  • 33

    individual, utilizado pelo trabalhador, destinado proteo de riscos suscetveis de ameaar a segurana e a sade no trabalho. 92

    No entendimento de Srgio Pinto Martins:

    A NR 6 da Portaria n 3.214/78 trata dos equipamentos de proteo individual (EPIs). Estes so todos os dispositivos de uso individual, de fabricao nacional ou estrangeira, destinados a proteger a sade e a integridade fsica do trabalhador. vedado ao empregador cobrar do empregado o EPI. Deve, portanto, ser fornecido gratuitamente ao empregado. O EPI fornecido ao empregado para a prestao dos servios no considerado salrio ( 2 do art. 458 da CLT).93

    Segundo Tuffi Messias Saliba, a lei prev o uso do EPI o qual dever adequar-se ao risco e possuir fator de proteo que permita reduzir a intensidade do agente insalubre a limites de tolerncia. Ensina que quanto periculosidade, no ocorre neutralizao mediante a utilizao do EPI, pois esta inerente atividade, no entanto pagamento do adicional de periculosidade somente ser cessado com a eliminao do risco. 94

    Ressalta Alice Monteiro de Barros, que o fornecimento do EPI, aprovado por rgo competente, poder eliminar o agente agressivo no ambiente de trabalho, entretanto o simples fornecimento do aparelho de proteo no exime o empregador do pagamento do adicional de insalubridade, cabendo-lhe tomar as medidas que conduzam diminuio ou eliminao da nocividade, entre as quais as relativas ao uso efetivo do equipamento pelo empregado. 95

    As jurisprudncias sumuladas do TST considera que a insalubridade pode ser eliminada pelo uso de equipamento individual, segue a transcrio:

    Smula n. 80 do TST A eliminao da insalubridade, pelo fornecimento de aparelhos protetores aprovados pelo rgo competente do Poder Executivo, exclui a percepo do adicional respectivo.

    92 PAULO, Vicente; ALEXANDRINO, Marcelo. Manual de Direito do Trabalho. 12. ed. rev. e

    atual. Rio de Janeiro: Mtodo, 2008. p. 299 93

    MARTINS, Srgio Pinto. Comentrios CLT. 12. ed. So Paulo: Atlas, 2008. p. 193. 94

    SALIBA, Tuffi Messias. Insalubridade e Periculosidade: aspectos tcnicos e prticos. 6. ed. atual. So Paulo: LTr, 2002. pg. 20. 95

    BARROS, Alice Monteiro de. Curso de Direito do Trabalho. 2007. p. 770.

  • 34

    Smula n. 289 do TST O simples fornecimento do aparelho de proteo pelo empregador no o exime do pagamento do adicional de insalubridade, cabendo-lhe tomar as medidas que conduzam diminuio ou eliminao da nocividade, dentre as quais a relativas ao uso efetivo do equipamento pelo empregado.

    Em comentrios a CLT, explica Eduardo Gabriel Saad que, respeitadas as peculiaridades de cada atividade profissional, deve o empregador fornecer, gratuitamente, aos trabalhadores os EPIs adequados ao risco, em perfeito estado de conservao e funcionamento, nas seguintes circunstncias:

    a) sempre que as medidas de ordem geral no ofeream completa proteo; b) enquanto as medidas de proteo coletiva estiverem sendo implantadas; e c) para atender situao de emergncia. 96

    Dentre os servios especializados encontram-se o Servio Especializado em Engenharia de Segurana e Medicina do Trabalho e a Comisso Interna de Preveno de Acidentes, o qual se discorre a seguir.

    1.5 RGOS DE SEGURANA E MEDICINA DO TRABALHO NAS EMPRESAS

    1.5.1 Servio Especializado em Engenharia de Segurana e em Medicina do Trabalho SESMT

    O Servio Especializado em Engenharia de Segurana e em Medicina do Trabalho97 - SESMT, constitui-se no rgo tcnico da empresa, composto exclusivamente por profissionais, com formao especializada em segurana ou medicina do trabalho. 98

    Para Alice Monteiro de Barros, o servio especializado em engenharia de segurana e em medicina do trabalho SESMT, tem como objetivo principal promover a sade e proteger a integridade do trabalhador no local de trabalho.

    96 SAAD, Eduardo Gabriel. CLT Comentada. 40. ed. So Paulo: LTr, 2007. p. 233.

    97 Na presente pesquisa ser utilizada, doravante, para a categoria Servios Especializados em

    Engenharia de Segurana do Trabalho, a sigla SESMT. 98

    GONALVES, Edwar Abreu. Manual de Segurana e Sade no Trabalho. 3. Ed. So Paulo: LTr, 2006. p. 76

  • 35

    Ele constitudo de pessoal especializado, devendo agir, depois de comunicadas as irregularidades ou agentes prejudiciais em determinada empresa, sob pena de sanes penais e civis, caso ocorra acidente. 99

    Acerca das principais finalidades da SESMT, leciona Edwar Abreu Gonalves:

    [...] tem como finalidades principais a elaborao e a implementao de programas de preveno de acidentes e doenas ocupacionais nos ambientes de trabalho. Certamente, para bem cumprir a misso preventiva, devero os profissionais integrantes do SESMT, periodicamente, realizar inspeo de segurana em todos os ambientes de trabalho, de modo que identifique as condies de risco nocivas sade ou integridade fsica dos trabalhadores, e diligencie, junto ao empregador, para que sejam tomadas as medidas tcnico-preventivas corretivas. 100

    A Norma Regulamentadora n 4101 da Portaria 3.214/78, bem como o artigo 162 da CLT102, trata das normas do Servio Especializado em engenharia de Segurana e Medicina do Trabalho SESMT. 103

    As empresas devem obrigatoriamente manter Servios Especializados em Engenharia de Segurana e em Medicina do Trabalho - SESMT, sendo necessria a existncia de profissionais aptos exigidos em cada empresa

    99 BARROS, Alice Monteiro de. Curso de Direito do Trabalho. p. 1047.

    100 GONALVES, Edwar Abreu. Manual de Segurana e Sade no Trabalho. 3. ed. So

    Paulo: LTr, 2006. p. 76 101

    BRASIL. Portaria do Ministrio Pblico n. 3.214, de 08 de junho de 1978. Aprova as Normas Regulamentadoras - NR - do Captulo V, Ttulo II, da Consolidao das Leis do Trabalho, relativas a Segurana e Medicina do Trabalho. Dirio Oficial da Unio, Braslia, 1978. 102

    BRASIL. Decreto-Lei n. 5.452, de 1 de maio de 1943. Artigo 162: Art. 162 - As empresas, de acordo com normas a serem expedidas pelo Ministrio do Trabalho, estaro obrigadas a manter servios especializados em segurana e em medicina do trabalho. Pargrafo nico - As normas a que se refere este artigo estabelecero: a) classificao das empresas segundo o nmero de empregados e a natureza do risco de suas atividades; b) o numero mnimo de profissionais especializados exigido de cada empresa, segundo o grupo em que se classifique, na forma da alnea anterior; c) a qualificao exigida para os profissionais em questo e o seu regime de trabalho; d) as demais caractersticas e atribuies dos servios especializados em segurana e em medicina do trabalho, nas empresas. . Vade Mecum acadmico de direito. Anne Joyce Angher (Org.). 6. ed. So Paulo: Rideel, 2008. 103

    GARCIA, Gustavo Felipe Barbosa. Meio Ambiente do Trabalho: Direito, Segurana e Medicina do Trabalho. 2. Ed. Ver., atual. e ampl. Rio de Janeiro: Forense, 2009. p. 33

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    (mdico e engenheiro do trabalho), com a finalidade de promover a sade e proteger a integridade do trabalhador no local de trabalho. 104

    Eduardo Gabriel Saad comenta sobre os pontos mais significativos da NR 4105.

    Seu item 4.1, com termos de extrema preciso, informa qual o campo de aplicao da norma: todas as empresas privadas ou pblicas e rgos da administrao direta ou indireta, com empregados regidos pela Consolidao das Leis do Trabalho, cujas atividades estejam relacionadas segundo o critrio constante do Quadro II dessa mesma NR, mantero obrigatoriamente Servio Especializado em Engenharia de Segurana e em Medicina do Trabalho, obedecido o Quadro I da supracitada NR-4. Como se v, o nmero de profissionais de cada servio ser proporcional ao de empregados e depender, ainda, da natureza e grau de risco da atividade da empresa. 106

    Para o autor, um ponto que merece particular ateno, refere-se incluso de rgos da administrao direta ou indireta no campo de aplicao da portaria n. 3.214/178, desde que hajam admitido servidores sob o regime da CLT, o razovel seria dar-se essa extenso da NR n. 4 administrao direta ou indireta por meio de um decreto da Presidncia da Repblica. 107

    1.5.2 Comisso Interna de Preveno de Acidentes CIPA

    Como frutos da consolidao do processo da Revoluo Industrial restaram evidentes a importncia e a necessidade de serem criados instrumentos que conjugassem a participao ativa de empregados e empregadores objetivando a preveno de acidentes de trabalho e de doenas ocupacionais.108

    104 GARCIA, Gustavo Felipe Barbosa. Meio Ambiente do Trabalho: Direito, Segurana e

    Medicina do Trabalho. 2. Ed. Ver., atual. e ampl. Rio de Janeiro: Forense, 2009. p. 33 105

    BRASIL. Portaria do Ministrio Pblico n. 3.214, de 08 de junho de 1978. Aprova as Normas Regulamentadoras - NR - do Captulo V, Ttulo II, da Consolidao das Leis do Trabalho, relativas a Segurana e Medicina do Trabalho. Dirio Oficial da Unio, Braslia, 1978. 106

    SAAD, Eduardo Gabriel. CLT Comentada. 40. ed. So Paulo: LTr, 2007. p. 226. 107

    SAAD, Eduardo Gabriel. CLT Comentada. 40. ed. So Paulo: LTr, 2007. p. 226. 108

    GONALVES, Edwar Abreu. Manual de Segurana e Sade no Trabalho. 2006. p. 130

  • 37

    Diante disso, impe-se reconhecer que os comits de segurana nos pases europeus que tomaram dianteira do processo de industrializao representam, o embrio da Comisso Interna de Preveno de Acidentes, nos moldes em que se acha atualmente institucionalizada em nosso pas.109

    O dispositivo do artigo 163 da CLT110 prev a obrigatoriedade da composio de Comisso Interna de Preveno de Acidentes CIPA.111

    Art. 163. Ser obrigatria a constituio de Comisso Interna de Preveno de Acidentes CIPA, de conformidade com instrues expedidas pelo Ministrio do Trabalho, nos estabelecimentos ou locais de obra nelas especificadas.

    A NR-5112 da Portaria n 3.214/78, estabelece a obrigatoriedade das empresas pblicas e privadas a organizarem e manterem em funcionamento, uma comisso constituda exclusivamente por empregados, com o objetivo de observar e relatar as condies de riscos no ambiente de trabalho, solicitando as medidas para reduzir e at eliminar os riscos existentes ou neutraliz-los, discutindo os acidentes ocorridos e solicitando medidas que os previnam, assim como orientando os trabalhadores, quanto a sua preveno. 113

    A Comisso Interna de Preveno de Acidentes (CIPA) tem como principal objetivo a preveno de acidentes e doenas relacionadas com o trabalho, de modo a tornar compatvel permanentemente o trabalho com a preveno da vida e a promoo da sade do trabalhador. 114

    Segundo Alice Monteiro de Barros, compete CIPA:

    [...] elaborar o Mapa de Riscos, identificando os agentes prejudiciais sade no ambiente de trabalho, relacionando os riscos fsicos, qumicos, biolgicos, e os de acidente, contando

    109 GONALVES, Edwar Abreu. Manual de Segurana e Sade no Trabalho. 2006. p. 130

    110 BRASIL. Decreto-Lei n. 5.452, de 1 de maio de 1943. Aprova a consolidao das leis do

    trabalho. Dirio Oficial da Unio. Rio de Janeiro, 1943. 111

    Na presente pesquisa ser utilizada, doravante, para a categoria Comisso Interna de Preveno de Acidentes, a sigla CIPA. 112

    BRASIL. Portaria do Ministrio Pblico n. 3.214, de 08 de junho de 1978. Aprova as Normas Regulamentadoras - NR - do Captulo V, Ttulo II, da Consolidao das Leis do Trabalho, relativas a Segurana e Medicina do Trabalho. Dirio Oficial da Unio, Braslia, 1978. 113

    MARTINS, Srgio Pinto. Direito do Trabalho. 2008. p. 625. 114

    GARCIA, Gustavo Felipe Barbosa. Meio Ambiente do Trabalho: Direito, Segurana e Medicina do Trabalho. 2. Ed. Ver., atual. e ampl. Rio de Janeiro: Forense, 2009. p. 33.

  • 38

    para isso com a colaborao do Servio Especializado em Engenharia de Segurana e Medicina do Trabalho (SESMT), cuja principal meta promover a sade e proteger a integridade do trabalhador no local de trabalho. 115

    Anteriormente Lei 6.514/77, no havia a obrigatoriedade que as empresas possussem esta comisso, somente com o advento de tal Lei a CIPA passou a ser disciplinado pela NR-5, da Portaria n 3.214/78, em que passou a ser obrigatria tanto para empresas privadas como para empresas pblicas que possuam empregados regidos pela Consolidao das Leis do Trabalho. 116

    A composio da CIPA est disposta no art. 164 da CLT in verbis:

    Art. 164. Cada CIPA ser composta de representantes da empresa e dos empregados, de acordo com os critrios que vierem a ser adotados na regulamentao de que trata o pargrafo nico do artigo anterior. 1 Os representantes dos empregadores, titulares e suplentes, sero por eles designados. 2 Os representantes dos empregados, titulares e suplentes, sero eleitos em escrutnio secreto, do qual participem, independentemente de filiao sindical, exclusivamente, os empregados interessados. 3 O mandado dos membros eleitos da CIPA ter durao de 1 (um) ano, permitida uma reeleio. 4 O disposto no pargrafo anterior no se aplicar ao membro suplente que, durante o seu mandato, tenha participado de menos da metade do nmero de reunies da CIPA. 5 O empregador designar, anualmente, dentre os seus representantes, o Presidentes da CIPA e os empregados elegero, dentre eles, o Vice-Presidente.

    A composio da CIPA obedece ao critrio paritrio, visto que a representao do empregador ser igualmente a dos empregados. A presidncia caber a um dos membros da delegao patronal e por designao do prprio empregador, j, a vice-presidncia caber a um empregado. O secretrio da CIPA dever ser escolhido pelos dois grupos. 117

    Os titulares da representao dos empregados na CIPA no podero sofrer despedida arbitrria, na qual se equivale a despedida sem justa causa

    115 BARROS, Alice Monteiro de. Curso de Direito do Trabalho. p. 1.047.

    116 MARTINS, Srgio Pinto. Comentrios CLT. p. 189.

    117 SAAD, Eduardo Gabriel. CLT Comentada. p. 229.

  • 39

    ou imotivada, assim se entendendo por aquela que no tiver por fundamento motivo disciplinar, tcnico, econmico ou financeiro. 118

    Alm das normas positivadas de medicina e segurana do trabalho a qual tem o relevante papel de estabelecer condies que assegurem a segurana e a sade do trabalhador, protegendo sua sade fsica e mental no mbito das relaes de trabalho, a legislao prev tambm, como forma de compensao, os adicionais de penosidade, insalubridade e periculosidade, que visam indenizar eventuais danos a sade e, conseqentemente a vida do trabalhador.

    Neste norte, antes de adentrar ao estudo desses adicionais protetivos, fundamental dispor sobre a remunerao e seus acrscimos, no qual se passar a discorrer.

    118 SAAD, Eduardo Gabriel. CLT Comentada. p. 230.

  • 40

    2 DA REMUNERAO E ADICIONAIS

    Aps breves noes sobre a Medicina e Segurana no Trabalho, bem como de seus objetivos, regras, medidas e rgos de segurana, far-se- um estudo acerca da remunerao, bem como dos adicionais de e as atividades penosas, insalubres e perigosas dispostas nas Normas Regulamentadoras.

    O objeto deste captulo visa oferecer maior subsdio para as anlises que sero realizadas no Captulo do presente trabalho, cujo objeto ser a temtica central desta pesquisa, qual seja, o estudo referente (im) possvel cumulao dos adicionais de insalubridade e periculosidade, mediante entendimento jurisprudencial.

    2.1 DA REMUNERAO

    A onerosidade consiste em um dos elementos jurdicos que compem as relaes empregatcias. A mesma manifestada no contrato de trabalho por meio do recebimento por parte do empregado de um conjunto de parcelas econmicas como retribuio prestao do servio ou apenas como conseqncia da simples relao de emprego.

    Trata-se, portanto, de parcelas que evidenciam que a relao de trabalho, em mbito jurdico, se formou de forma onerosa por parte do empregado, ou seja, de forma contraprestativa na inteno obreira de receber uma retribuio pelo servio ofertado. Sendo assim, as expresses remunerao e salrio corresponderiam ao conjunto de parcelas recebidas pelo empregado como forma da retribuio pelo trabalho efetuado.

    Destaca-se, porm, que este um dos muitos sentidos atribudos s expresses salrio e remunerao, uma vez que existem outras diversas acepes vinculadas s mesmas, principalmente remunerao.

    Remunerao a soma do salrio contratual com outras vantagens ou adicionais percebidos pelo empregado, em decorrncia do exerccio de suas

  • 41

    atividades na empresa. 119 A remunerao compreende tanto aquilo que a empresa paga ao empregado como tambm demais benefcios que o mesmo recebe. Na remunerao esto envolvidas tanto fixas diretas, como o salrio que o recebe regularmente da empresa como fixas indiretas, tais como cestas bsicas e tquetes de alimentao. 120

    A remunerao est disposta no artigo 457 da CLT121 in verbis:

    Art. 457 - Compreendem-se na remunerao do empregado, para todos os efeitos legais, alm do salrio devido e pago diretamente pelo empregador, como contraprestao do servio, as gorjetas que receber. 1 - Integram o salrio no s a importncia fixa estipulada, como tambm as comisses, percentagens, gratificaes ajustadas, dirias para viagens e abonos pagos pelo empregador. 2 - No se incluem nos salrios as ajudas de custo, assim como as dirias para viagem que no excedam de 50% (cinqenta por cento) do salrio percebido pelo empregado. 3 - Considera-se gorjeta no s a importncia espontaneamente dada pelo cliente ao empregado, como tambm aquela que fr cobrada pela emprsa ao cliente, como adicional nas contas, a qualquer ttulo, e destinada a distribuio aos empregados.

    Na concepo de Srgio Pinto Martins o artigo 457 da Consolidao das Leis do Trabalho no traz a conceituao de remunerao, para autor:

    [...] o conjunto de retribuies recebidas habitualmente pelo empregado pela prestao dos servios, seja em dinheiro ou em utilidades, provenientes do empregador ou de terceiros, mas decorrentes do contrato de trabalho, de modo a satisfazer s suas necessidades vitais bsicas e as de sua famlia.122

    No mesmo entendimento do autor acima citando, Maurcio Godinho Delgado tambm ressalta que o artigo 457 da CLT no traz a definio de remunerao, porm, assinala tambm, que na sua concepo h trs sentidos diferentes para a palavra remunerao, apesar de expressarem significados

    119 VIANNA, Cladia Salles Vilela. Manual Prtico das Relaes Trabalhistas. p. 400.

    120 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Introduo ao Direito do Trabalho. 34. Ed. So Paulo:

    LTr, 2009. p. 331. 121

    BRASIL. Decreto-Lei n. 5.452, de 1 de maio de 1943. Aprova a consolidao das leis do trabalho. Dirio Oficial da Unio. Rio de Janeiro, 1943. Doravante denominada CLT. 122

    MARTINS, Sergio Pinto. Comentarios CLT. p. 404.

  • 42

    prximos, guardam semelhanas entre si. A primeira dessas acepes praticamente identifica o conceito de remunerao com o de salrio, como se fossem expresses equivalentes, sinnimas. 123

    A lei, a jurisprudncia e a doutrina referem-se, comumente, ao carter remuneratrio de certas verbas, classificam parcelas como remuneratrias, sempre objetivando enfatizar a natureza salarial de determinadas figuras trabalhistas. Em harmonia a essa primeira acepo, utiliza-se no cotidiano trabalhista, reiteradamente, a expresso remunerao como se possusse o mesmo contedo de salrio.

    A segunda dessas acepes tende a estabelecer certa diferenciao entre as expresses, sendo a remunerao o gnero de parcelas contraprestativas devidas e pagas ao empregado em funo da prestao de servios ou da simples existncia da relao de emprego, ao passo que salrio seria a parcela contraprestativa principal paga a esse empregado no contexto do contrato.124

    De fato, a CLT125, teria construdo para a palavra salrio tipo legal especfico, no qual seria o conjunto de parcelas contraprestativas devidas e pagas diretamente pelo empregador ao empregado, em virtude da relao de emprego, ou seja, salrio ser essencial a origem da parcela retributiva, pois somente ter carter de salrio parcela contraprestativa devida e paga diretamente pelo empregador a seu empregado.126

    A terceira vertente, por sua vez, diz respeito remunerao e gorjetas, a qual tambm possui duas variantes interpretativas. A primeira, que antes do advento da Smula 354 do TST teve um valor significativo na prtica jurdica, considerava que a CLT pretendeu utilizar da palavra remunerao somente como frmula para incluir o salrio contratual obreiro as gorjetas habitualmente recebidas pelo empregado, gorjetas estas pagas por terceiros.

    De sorte que, consistia em um mero artifcio legal seguido pelo caput do artigo 457 da CLT, para que se pudesse permitir, sem que se perdesse a

    123 DELGADO, Maurcio Godinho. Curso de Direito do Trabalho. p. 682.

    124 DELGADO, Maurcio Godinho. Curso de Direito do Trabalho. p. 682.

    125 BRASIL. Decreto-Lei n. 5.452, de 1 de maio de 1943. Aprova a consolidao das leis do

    trabalho. Dirio Oficial da Unio. Rio de Janeiro, 1943. Doravante denominada CLT. 126

    DELGADO, Maurcio Godinho. Curso de Direito do Trabalho. p. 682.

  • 43

    consistncia do conceito dado pela lei ao salrio, que as gorjetas fizessem parte da base de clculo salarial mensal do trabalhador. Mesmo que esta interpretao reduza de forma considervel a diferenciao entre remunerao e salrio, a ordem jurdica preservaria essa diferenciao, pelo menos no que cerne ao salrio mnimo legal, tendo em vista que o mesmo explicitamente definido como a contraprestao mnima devida e paga diretamente pelo empregador a todo trabalhador (Art. 76, CLT, com grifos acrescidos). 127

    J para a segunda vertente interpretativa, que busca aumentar a diferenciao contida nos artigos. 76 e 457, caput, da CLT128, defende que os dois tipos legais seriam distintos e inconfundveis, o salrio como a parcela para diretamente pelo empregador e a remunerao a paga diretamente por terceiros. Neste sentido, em 1997, o TST emitiu a Smula 354 a qual determina:

    [...] as gorjetas, cobradas pelo empregador na nota de servio ou oferecidas espontaneamente pelos clientes, integram a remunerao do empregado, no servindo de base de clculo para as parcelas de aviso prvio, adicional noturno, horas extras e repouso semanal remunerado.

    Destaca-se, porm, que se a expresso remunerao correspondesse apenas a um tipo legal prprio, ou seja, uma verba contraprestativa paga ao empregado por terceiro, significaria que outras modalidades de pagamentos retributivos feitos por terceiros assumiriam o carter de remunerao, como por exemplo, os honorrios advocatcios recebidos de terceiros pelos advogados, que, se possuem o carter de remunerao, ao menos tero reflexos no FGTS, 13 salrio e recolhimentos previdencirios.

    Sendo assim, se a base hermenutica dirigiu-se no sentido de diminuir a tendncia pansalarial que muito enrijeceu o Direito do Trabalho brasileiro, a conseqncia gerada por sua tese poder ser totalmente oposta.

    Alm disso, vlido ressaltar que mesmo antes da emisso da referida smula, o Tribunal Superior do Trabalho j havia se posicionado neste sentido,

    127 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Introduo ao Direito do Trabalho. 34. Ed. So Paulo:

    LTr, 2009. p. 331. 128

    BRASIL. Decreto-Lei n. 5.452, de 1 de maio de 1943. Aprova a consolidao das leis do trabalho. Dirio Oficial da Unio. Rio de Janeiro, 1943. Doravante denominada CLT.

  • 44

    conforme demonstra antiga Orientao Jurisprudencial da Seo de Dissdios Individuais do Tribunal Superior do Trabalho.

    Cludia Salles Vilela Vianna entende que so componentes da remunerao, o salrio contratual, gorjetas, gratificaes contratuais, prmios, adicional noturno, adicionais de insalubridade e periculosidade, ajudas de custo e dirias de viagem, quando estas no excederem a 50% (cinqenta por cento do salrio percebido), comisses e quaisquer outras parcelas pagas habitualmente. 129

    Logo, tm-se como acrscimo remuneratrio adicionais em diversas naturezas, no qual passar-se- a expor.

    2.2. DOS ADICIONAIS

    Na concepo de Srgio Pinto Martins, o adicional tem sentido de alguma coisa que se acrescenta, um acrscimo salarial decorrente da prestao de servios do empregado em condies mais gravosas. 130

    Corroborando com o entendimento acima exposto, conceitua Mauricio Godinho Delgado consistem em parcelas contraprestativas suplementares devidas ao empregado em virtude do exerccio do trabalho em circunstncias tipificadas mais gravosas. 131

    O autor supra citada expe acerca dos adicionais.

    Os adicionais, em regra, so calculados percentualmente sobre um parmetro salarial. Essa caracterstica que os torna assimilveis figura das percentagens, mencionada no art. 457, 1, da CLT (embora o critrio de percentagens no esteja ausente tambm de outras parcelas salariais distintas, como as comisses, o salrio prmio, modalidades de clculo do salrio por unidade de obra, etc.).132

    129 VIANNA, Cladia Salles Vilela. Manual Prtico das Relaes Trabalhistas. p. 401.

    130 MARTINS, Srgio Pinto. Direito do Trabalho. p. 229.

    131 DELGADO, Maurcio Godinho. Curso de Direito do Trabalho. 5. ed. So Paulo: LTr, 2006.

    p. 735. 132

    DELGADO, Maurcio Godinho. Curso de Direito do Trabalho. p. 736.

  • 45

    A parcela adicional contraprestativa visto que paga-se uma quantia a mais na remunerao do empregado, em virtude do desconforto, desgaste ou risco vivenciados, da responsabilidade e encargos superiores recebidos, do exerccio cumulativo de funes.133

    O artigo 457 1 da CLT134 dispe acerca dos adicionais que integram a remunerao, segue o dispositivo in verbis:

    Art. 457 1. Integram o salrio no s a importncia fixa estipulada, como tambm as comisses, percentagens, gratificaes ajustadas, dirias para viagens e abonos pagos pelo empregador.

    O fundamento e objetivo dos adicionais justificam a normatizao e efeitos jurdicos peculiares que o direito do trabalho confere a tais parcelas de natureza salarial, embora sendo salrio, os adicionais no se mantm organicamente vinculados ao contrato, podendo ser suprimidos, caso desaparecida a circunstncia tipificada ensejadora de sua percepo durante certo perodo contratual. 135

    Na compreenso de Maurcio Godinho Delgado136, os adicionais classificam-se em:

    [...] legais (que se desdobram em abrangentes e restritos) e adicionais convencionais. Legais so os adicionais previstos em lei, ao passo que convencionais so aqueles criados pela normatividade infralegal (CCT ou ACT, por exemplo), ou pela vontade unilateral do empregador ou bilateral das partes contrarias.

    Os adicionais legais abrangentes so aqueles que se aplicam a qualquer categoria de empregados, enquanto os adicionais legais restritos aplicam-se as categorias especificas e delimitada de empregados, Maurcio Godinho Delgado, traz a baila os conceitos dos referidos adicionais:

    Os adicionais legais abrangentes so aqueles que se aplicam a qualquer categoria de empregados, desde que situado o obreiro nas circunstncias legalmente tipificadas. Constituem

    133 DELGADO, Maurcio Godinho. Curso de Direito do Trabalho. p. 736.

    134 BRASIL. Decreto-Lei n. 5.452, de 1 de maio de 1943. Aprova a consolidao das leis do

    trabalho. Dirio Oficial da Unio. Rio de Janeiro, 1943. Doravante denominada CLT. 135

    DELGADO, Maurcio Godinho. Curso de Direito do Trabalho. p. 736. 136

    DELGADO, Maurcio Godinho. Curso de Direito do Trabalho. p. 737.

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    os seguintes adicionais: de insalubridade (art. 192, CLT); de periculosidade (art. 193, 1, CLT); de penosidade (art. 7, XXIII, CF/88 ainda sem tipificao legal no mbito justrabalhista); de transferncia (art. 469, 3, CLT); noturno (art. 73, caput, da CLT); de horas extras (art. 7, XVI, CF/88). Adicionais legais restritos so aqueles que se aplicam a categorias especficas e delimitadas de empregados, legalmente referidas, desde que situado o obreiro nas circunstncias ensejadoras do adicional. Um significativo exemplo desta parcela o adicional por acmulo de funo, previsto para a categoria profissional de vendedores (Lei n. 3.207, de 1957) e para a categoria profissional de radialistas (Lei n. 6.615, de 1978). 137

    J o adicional convencional trata-se de parcela suplementar paga ao empregado enquanto laborar em locais inspitos referidos no regulamento empresarial (adicional de fronteira), ou enquanto laborar em obras, fora da sede e escritrios da empresa (adicional de campo), as condies pra o recebimento do adicional depende daquilo que dispuser o instrumento privado concessor da verba. 138

    As parcelas em questo apresentam-se sob as formas de horas extras, adicional noturno e adicional de transferncia, em atividades penosas, adicional de insalubridade e adicional de periculosidade.139

    Ser considerado trabalho noturno quando o empregado estiver exposto a trabalho em perodo compreendido entre 22h de um dia e 05h do dia seguinte, devendo ento perceber em sua remunerao o adicional de pelo menos 20% (vinte por cento) sobre o valor da hora normal diurna e sendo pago de forma habitual dever integrar o salrio do trabalhador.140

    Acerca do adicional de horas extras dispe o artigo 59 da CLT que a durao normal do trabalho poder ser acrescida de horas suplementares no

    137 DELGADO, Maurcio Godinho. Curso de Direito do Trabalho. p. 737.

    138 DELGADO, Maurcio Godinho. Curso de Direito do Trabalho. p. 737.

    139 KROST. Oscar Trabalho prestado em condies insalubres e perigosas:

    possibilidade de cumulao de adicionais. Revista Justia do Trabalho, n 247, julho de 2004. Disponvel em: http://www.femargs.com.br/www/modules.php?name=News&file=article&sid=36Acesso em 12 de abril de 2010. 140

    VIANNA, Cladia Salles Vilela. Manual Prtico das Relaes Trabalhistas. 8. ed. So Paulo: LTr, 2007. pg. 442.

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    excedentes de 2 (duas), mediante acordo escrito entre empregador e empregado, ou mediante contrato coletivo de trabalho.141

    Este acrscimo decorre da prorrogao da jornada de trabalho. As horas suplementares extraordinrias devero ser remuneradas com um percentual de no mnimo, 50% (cinqenta por cento) em relao hora normal contratada.142

    J a parcela do adicional de transferncia regulado pelo Captulo III, do Ttulo IV da CLT, no qual se trata do contrato individual do trabalho, para Maurcio Godinho Delgado, adicional de transferncia a parcela salarial suplementar devida ao empregado submetido a remoo de local de trabalho que importe em mudana de sua residncia.143

    Esta contraprestao corresponde a um acrscimo de 25% (vinte e cinco por cento) sobre o valor do salrio que o empregado estiver recebendo na localidade, sendo devido quando a transferncia decorrer de necessidade de servio.144

    Contudo, como o presente trabalho visa abordar os adicionais de insalubridade e periculosidade e a possibilidade de cumulao entre eles, no sero dedicados maiores estudos acerca dos adicionais de horas noturnas, horas extras e transferncia, j que no o objeto central da pesquisa.

    Aps breve explanao acerca dos adicionais da remunerao, passar-se- discorrer sobre os adicionais que visam proteo a sade do trabalhador.

    2.3 DOS ADICIONAIS PROTETIVOS

    141 BRASIL. Decreto-Lei n. 5.452, de 1 de maio de