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Caminho 10-11: Requisitos para ser contemplativas: Humildade I. Pistas de leitura. Começa a tratar daquela “humildade, que embora a diga no fim, é a principal [virtude] e abrange- as a todas” (4,4). Após uma introdução geral (10,1-4), acomete “o primeiro que temos de procurar” (10,5): de que se trata?, que recomenda para isso: penitências, meditação, exercício…? Para reflectir, rever a vida, interceder, agradecer, contemplar… 1. O objectivo fica claro desde o princípio: desapegar-nos de nós mesmos, contrariar em tudo a nossa vontade, para ser livres de espírito (10,1; 11,5; 12,1-3; 15,7). Já convidámos a atender a isto na última questão da segunda ficha e evidentemente nestes capítulos continuaremos a aprofundar, mas não está mal recordar desde o principio: significa algo para mim contrariar a própria vontade ou parece-me demasiado perigoso ou antiquado…? Boas e más experiências a esse respeito?... 2. “Grande remédio é para isto trazer muito de contínuo no pensamento a vaidade que tudo é e quão depressa se acaba (…) embora pareça fraco meio” (10,2). “E pensando que cada hora é a última, quem não há-de trabalhar?” (12,2). Esta ideia já a conhecemos (cf. “Vida” Ficha 1, questão 3), mas podemos agora voltar a ela. 3. Outro texto em que devemos deter-nos: “Estas virtudes [humildade e desapego] têm tal propriedade, que se escondem de quem as possui, de maneira que nunca as vê nem acaba de crer que tem alguma, embora lho digam; mas tem-nas tanto, que sempre anda procurando tê- las…” (10,4). 4. E outro: “achando-as [humildade e mortificação] achareis o maná; todas as coisas saber-vos-ão bem; por mau sabor que tenham ao gosto do mundo, se vos farão doces” (10,4); cf. Rm 8,28. 5. À hora de concretizar, é obvio que a santa Madre começa a tratar de liberdade de espírito pelo corpo, não por ser rigorista 1 1 “Em demasiadas penitências já sabeis vos dou para trás, porque podem causar dano à saúde, se são sem discrição” (15,3; cf. 10,6). , mas porque sabe que a vontade tem uma perigosa artimanha no círculo vicioso das necessidades corporais (cf. 11,2). Por isso, a primeira coisa que recomenda, junto com a guarda das coisas mais simples (silêncio, assistência ao coro), é exercitar-se em algo tão quotidiano como a atitude nas doenças não graves ou “males leves” (11,1). Certamente muitos de nós sorrimos com ironias como “algumas monjas parece que não viemos ao convento para outra coisa, senão a procurar não morrer” (10,5) ou as do final de esse mesmo parágrafo ou os

Caminho 10 11

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Caminho 10 11 - S. Teresa

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  • Caminho 10-11: Requisitos para ser contemplativas: Humildade I.

    Pistas de leitura. Comea a tratar daquela humildade, que embora a diga no fim, a principal [virtude] e abrange-

    as a todas (4,4). Aps uma introduo geral (10,1-4), acomete o primeiro que temos de procurar

    (10,5): de que se trata?, que recomenda para isso: penitncias, meditao, exerccio?

    Para reflectir, rever a vida, interceder, agradecer, contemplar 1. O objectivo fica claro desde o princpio: desapegar-nos de ns mesmos, contrariar em tudo a

    nossa vontade, para ser livres de esprito (10,1; 11,5; 12,1-3; 15,7). J convidmos a atender a

    isto na ltima questo da segunda ficha e evidentemente nestes captulos continuaremos a

    aprofundar, mas no est mal recordar desde o principio: significa algo para mim contrariar a

    prpria vontade ou parece-me demasiado perigoso ou antiquado? Boas e ms experincias a

    esse respeito?...

    2. Grande remdio para isto trazer muito de contnuo no pensamento a vaidade que tudo e

    quo depressa se acaba () embora parea fraco meio (10,2). E pensando que cada hora a

    ltima, quem no h-de trabalhar? (12,2). Esta ideia j a conhecemos (cf. Vida Ficha 1, questo

    3), mas podemos agora voltar a ela.

    3. Outro texto em que devemos deter-nos: Estas virtudes [humildade e desapego] tm tal

    propriedade, que se escondem de quem as possui, de maneira que nunca as v nem acaba de

    crer que tem alguma, embora lho digam; mas tem-nas tanto, que sempre anda procurando t-

    las (10,4).

    4. E outro: achando-as [humildade e mortificao] achareis o man; todas as coisas saber-vos-o

    bem; por mau sabor que tenham ao gosto do mundo, se vos faro doces (10,4); cf. Rm 8,28.

    5. hora de concretizar, obvio que a santa Madre comea a tratar de liberdade de esprito pelo

    corpo, no por ser rigorista1

    1 Em demasiadas penitncias j sabeis vos dou para trs, porque podem causar dano sade, se so sem discrio (15,3; cf. 10,6).

    , mas porque sabe que a vontade tem uma perigosa artimanha no

    crculo vicioso das necessidades corporais (cf. 11,2). Por isso, a primeira coisa que recomenda,

    junto com a guarda das coisas mais simples (silncio, assistncia ao coro), exercitar-se em algo

    to quotidiano como a atitude nas doenas no graves ou males leves (11,1). Certamente muitos

    de ns sorrimos com ironias como algumas monjas parece que no viemos ao convento para

    outra coisa, seno a procurar no morrer (10,5) ou as do final de esse mesmo pargrafo ou os

  • exemplos do seguinte (10,6: mais incisivo ainda em CE). Mas claro que tambm pode dar-nos

    que pensar, rever, orar (Cf. V 13,7; 24,2; F 7,5).

    6. O certo que depois de ridicularizar as queixinhas, sublinha: [a] se h necessidade de

    cuidados, seria muito pior no o dizer, que tom-lo sem ela, [b] e muito mau se no se

    compadecessem de vs (11,1), especialmente as prioresas: estejam atentas para no faltar

    caridade e no se tornarem incrdulas a respeito das necessidades das irms! (10,7; 11,4)2

    .

    Portanto, posso estar a ser pouco humilde ao no solicitar uma ajuda necessria? No serei mais

    incmodo a curto ou mdio prazo do que se atendesse agora certas necessidades pessoais? Se

    sou prior ou responsvel, estou solcito? Tambm tem lugar aqui evidentemente a orao:

    agradecimento perante atenes recebidas, petio de luz hora de acompanhar, splica se

    temos carncias importantes

    7. Entre as motivaes das quais se serve, h algumas bem clssicas (lembremo-nos dos nossos

    antigos santos Padres eremitas: 11,4) e outras qui mais surpreendentes, como pr como

    referncia para as suas monjas a vida dos leigos (cf. 11,3): conheces, respeitas as demais

    vocaes eclesisticas e inclusive as rotinas dirias de tanta gente, embora no seja crist?

    Serviu-te de estmulo ou lio como aqui santa Madre?... Pensa, rev, ora

    2 Portanto, no interpretar mal a exortao da santa madre a tragar o medo morte e falta de sade (11,4-5).