2
Tércio Sampaio Ferraz Júnior, em seu livro Introdução ao Estudo do Direito: Técnica, Decisão, Dominação, mais especificamente no capítulo 7 deste, trata da moralidade do Direito. Tércio inicialmente entra na discussão sobre a justificação do direito e a busca de seu fundamento, ao finalizar diz que a legitimidade do direito é uma questão de crença. Além disso, argumenta que a justiça é ao mesmo tempo o princípio racional do sentido do jogo jurídico e seu problema significativo permanente. Isso leva à questão de como se comporta a validade das normas jurídicas perante as exigências dos preceitos morais de justiça. O autor chega à conclusão que a moralidade concede sentido ao direito e não dá a ele império, validade e eficácia. Antes disso, Tércio diferencia normas jurídicas de preceitos morais. Estas se referem ao aspecto interno do comportamento e aquelas dizem respeito à conduta externa do indivíduo. Uma prática recorrente em nosso país é o nepotismo, que diz respeito ao favorecimento de parentes em detrimento de pessoas mais qualificadas, especialmente em relação à nomeação de cargos públicos. É considerada conduta repugnante que contraria a moral comum. Consoante a esse entendimento esta a jurisprudência do STF, que em 2008 aprovou, por unanimidade, a 13ª Súmula Vinculante da Corte, que veda o nepotismo nos Três Poderes, no âmbito da União, dos Estados e dos municípios. Ao mesmo tempo, o art. 37 da Constituição da República Federativa do Brasil positiva o princípio da moralidade em nosso ordenamento, em relação à administração pública e segundo o entendimento do STF o nepotismo fere este princípio, não precisando, portanto, de lei que o defina inconstitucional. A prática do nepotismo traz indignação à sociedade, violando a moral, na medida em que o administrador público deve buscar a satisfação do interesse público e não o que seja melhor à sua conveniência pessoal ou familiar. Por isso, devido aos anseios sociais atuais, com o fim de evitar o aumento da corrupção e de favorecimentos, tornou-se imoral a prática do nepotismo. Vale lembrar, que a moral é um conceito mutável, uma vez que varia de acordo com o contexto social, econômico e político de uma determinada sociedade. Diante o exposto, concluímos que o entendimento de Tércio Sampaio esta consoante à jurisprudência brasileira, visto que o nepotismo é inconstitucional porque vai contra a moral brasileira atual, ou seja, o sentido desta norma é dado pela moral.

Cap. 7 - A Moralidade Do Direito

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Cap. 7 - A Moralidade Do Direito

Tércio Sampaio Ferraz Júnior, em seu livro Introdução ao Estudo do Direito: Técnica,

Decisão, Dominação, mais especificamente no capítulo 7 deste, trata da moralidade do Direito.

Tércio inicialmente entra na discussão sobre a justificação do direito e a busca de seu

fundamento, ao finalizar diz que a legitimidade do direito é uma questão de crença. Além disso,

argumenta que a justiça é ao mesmo tempo o princípio racional do sentido do jogo jurídico e seu

problema significativo permanente. Isso leva à questão de como se comporta a validade das

normas jurídicas perante as exigências dos preceitos morais de justiça. O autor chega à conclusão

que a moralidade concede sentido ao direito e não dá a ele império, validade e eficácia. Antes

disso, Tércio diferencia normas jurídicas de preceitos morais. Estas se referem ao aspecto interno

do comportamento e aquelas dizem respeito à conduta externa do indivíduo.

Uma prática recorrente em nosso país é o nepotismo, que diz respeito ao favorecimento

de parentes em detrimento de pessoas mais qualificadas, especialmente em relação à nomeação

de cargos públicos. É considerada conduta repugnante que contraria a moral comum. Consoante

a esse entendimento esta a jurisprudência do STF, que em 2008 aprovou, por unanimidade, a 13ª

Súmula Vinculante da Corte, que veda o nepotismo nos Três Poderes, no âmbito da União, dos

Estados e dos municípios.

Ao mesmo tempo, o art. 37 da Constituição da República Federativa do Brasil positiva o

princípio da moralidade em nosso ordenamento, em relação à administração pública e segundo o

entendimento do STF o nepotismo fere este princípio, não precisando, portanto, de lei que o

defina inconstitucional.

A prática do nepotismo traz indignação à sociedade, violando a moral, na medida em que

o administrador público deve buscar a satisfação do interesse público e não o que seja melhor à

sua conveniência pessoal ou familiar. Por isso, devido aos anseios sociais atuais, com o fim de

evitar o aumento da corrupção e de favorecimentos, tornou-se imoral a prática do nepotismo.

Vale lembrar, que a moral é um conceito mutável, uma vez que varia de acordo com o contexto

social, econômico e político de uma determinada sociedade.

Diante o exposto, concluímos que o entendimento de Tércio Sampaio esta consoante à

jurisprudência brasileira, visto que o nepotismo é inconstitucional porque vai contra a moral

brasileira atual, ou seja, o sentido desta norma é dado pela moral.

Page 2: Cap. 7 - A Moralidade Do Direito

EMENTA: AGRAVO REGIMENTAL EM RECLAMAÇÃO CONSTITUCIONAL.

DENEGAÇÃO DE LIMINAR. ATO DECISÓRIO CONTRÁRIO À SÚMULA VINCULANTE

13 DO STF. NEPOTISMO. NOMEAÇÃO PARA O EXERCÍCIO DO CARGO DE

CONSELHEIRO DO TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO DO PARANÁ. NATUREZA

ADMINISTRATIVA DO CARGO. VÍCIOS NO PROCESSO DE ESCOLHA. VOTAÇÃO

ABERTA. APARENTE INCOMPATIBILIDADE COM A SISTEMÁTICA DA

CONSTITUIÇÃO FEDERAL. PRESENÇA DO FUMUS BONI IURIS E DO PERICULUM IN

MORA. LIMINAR DEFERIDA EM PLENÁRIO. AGRAVO PROVIDO. I - A vedação do

nepotismo não exige a edição de lei formal para coibir a prática, uma vez que decorre

diretamente dos princípios contidos no art. 37, caput, da Constituição Federal. II - O cargo de

Conselheiro do Tribunal de Contas do Estado do Paraná reveste-se, à primeira vista, de natureza

administrativa, uma vez que exerce a função de auxiliar do Legislativo no controle da

Administração Pública. III - Aparente ocorrência de vícios que maculam o processo de escolha

por parte da Assembléia Legislativa paranaense. IV - À luz do princípio da simetria, o processo

de escolha de membros do Tribunal de Contas pela Assembléia Legislativa por votação aberta,

ofende, a princípio, o art. 52, III, b, da Constituição. V - Presença, na espécie, dos requisitos

indispensáveis para o deferimento do pedido liminarmente pleiteado. VI - Agravo regimental

provido.

(Rcl 6702 MC-AgR, Relator(a): Min. RICARDO LEWANDOWSKI, Tribunal Pleno, julgado

em 04/03/2009, DJe-079 DIVULG 29-04-2009 PUBLIC 30-04-2009 EMENT VOL-02358-02

PP-00333 RSJADV jun., 2009, p. 31-34 LEXSTF v. 31, n, 364, 2009, p. 139-150)