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ORIGINAL MEGAPRO 2018
CAPÍTULO 012
Novela de
RENNAN LOPES
Direção
Direção Artística
Personagens deste capítulo
ALEXANDRE
APARECIDINHO
CAROL
CLEUDES
CLEYTON
DIEGO
DIJÉ
JÚLIO CÉSAR
JUMA
JUNINHO
LARISSA
LEIDIDAY
LICA
MALU
MARCELA
MARCO ANTÔNIO
MARGARIDA
MARIA RITA
MAURÍCIO
MICHELE
NERO
PEDRO
QUÊDA
ROQUE
SHEILA
SILMARA
TELMINHA
TÚLIO
VERAS
Esta é uma obra de ficção baseada na livre criação artística e sem compromisso com a
realidade. Todos os direitos reservados ao autor e ao MEGAPRO ®
LINHA TÊNUE CAPÍTULO 12 Pag.: 1
CENA 01. MANSÃO VILLAR. QUARTO MALU. INTERIOR. DIA
CONTINUAÇÃO IMEDIATA DO CAPÍTULO ANTERIOR. MARIA RITA E MALU SENTADAS
NA CAMA.
MARIA RITA – Eu não tô entendendo, Maria Luiza. O que foi que tu
disse?
MALU – O que a senhora ouviu. Eu tô grávida do Cleyton!
MARIA RITA SE LEVANTA E COMEÇA A ANDAR DE UM LADO PARA O OUTRO.
MARIA RITA – Não é possível, meu Deus! Eu não tô acreditando.
Como foi isso, menina? O que é que tu quer dando pra
qualquer um?
MALU – (LEVANTA) E desde quando isso é de sua conta?
MARIA RITA – Como é?
MALU – A senhora acabou de chegar. Eu nem lembrava da sua
feição. Como é que a senhora quer se meter na minha
vida desse jeito?
MARIA RITA – Me respeita, menina! Apesar de tudo, eu te pari, eu sou
tua mãe, e tenho todo o direito de dizer o que tá certo e
o que tá errado na tua vida.
MALU – (POR CIMA) A senhora não conhece nada da minha
vida! Não me viu crescer, não me ensinou a falar, a
andar, a comer... Não faz sentido chegar agora se
metendo sem saber de nada.
MARIA RITA – Eu sei de tudo, Maria Luiza. Eu já tive a tua idade!
MALU – Mas eu aposto que nunca teve um namorado de outra
cor, de outra classe, que mora num lugar mais pobre...
Eu já tô pra não me aguentar mais de tanto defender o
Cleyton da ignorância do povo daqui. Aí me chega a
senhora, que nem me deu de mamar direito, querendo
ditar o que eu faço e o que eu não faço.
MARIA RITA – A questão não é essa, menina! Presta atenção! Tu tá
prenha!
MALU – A senhora fala como se eu tivesse pegado barriga de
propósito.
MARIA RITA – E não foi? Se tivesse se protegido... ou melhor, se nem
tivesse feito besteira com o tal do regueiro, não tava
passando por isso.
LINHA TÊNUE CAPÍTULO 12 Pag.: 2
MALU – Dá pra parar de chamar o meu namorado assim? Ele
tem nome! É Cleyton!
MARIA RITA – Ai, quem liga? É bem capaz que nem essa criança saiba
o nome do pai. Vou saber pra quê?
MALU – A senhora tá sugerindo que/
MARIA RITA – (CORTA) Maria Luiza, minha filha, acorda! Aonde que
um homem como aquele vai assumir filho teu? Com
certeza esse Cleyton não tem nem onde cair morto.
MALU – A senhora nunca viu o Cleyton. Tá falando o quê?
MARIA RITA – Tô falando o que eu imagino. Vem cá, esse rapaz pelo
menos trabalha?
MALU – Sim. Quer dizer, no momento não. Ele é dono de uma
boate, mas deu um B.O. aí com a polícia e ele teve que
fechar. Mas já tem uma advogada cuidando desse caso, e
ela garantiu que em pouco tempo o Pedra Som reabre.
MARIA RITA – Pedra Som... Não preciso nem fazer força pra entender
o porquê da polícia ter fechado. Mas enfim, tu acha que
um homem que vive sem garantia de trabalho tem
condição pra sustentar uma família? Vai comprar fralda
com dinheiro de boate?
MALU – Tá vendo como a senhora fala as coisas sem saber? O
Pedra Som faz o maior sucesso. Era ele que sustentava a
família do Cleyton.
MARIA RITA – E agora que fechou eles tão vivendo de quê? De vender
ovo de codorna no Reviver?
MALU – Não tem graça.
MARIA RITA – Não tem graça é tu prenha de regueiro. Isso é que não
tem graça nenhuma!
MALU – Tá bom, já ouvi asneira demais da sua parte hoje.
Deixa eu ir falar pro resto da família, pra completar o
pacote humilhação.
MALU VAI SAINDO. MARIA RITA SE PÕE NA FRENTE DA PORTA, IMPEDINDO A
PASSAGEM.
MARIA RITA – Se acalma! Não faz nada agora.
MALU – Quê que a senhora quer?
LINHA TÊNUE CAPÍTULO 12 Pag.: 3
MARIA RITA – Calma. Tá tudo sob controle. À noite a gente conversa,
mas por agora, não diga nada a ninguém.
CLOSES ALTERNADOS. EM MALU, DESCONFIADA.
CORTA PARA/
CENA 02. MANSÃO VILLAR. FRENTE. EXTERIOR. DIA
MARIA RITA E MICHELE CAMINHAM POR ALI.
MICHELE – Grávida?
MARIA RITA – Pro meu desespero, sim. Grávida! E o pai é malandro
da pior espécie.
MICHELE – Tu conhece?
MARIA RITA – Não, mas também não me interessa. Em pouco tempo
ele some da vida de minha filha. Aposto que Júlio César
vem tentando afastar esse rapaz dela, mas frouxo do jeito
que é... E tu, dona Michele, bico calado!
SOBE SONOPLASTIA: Não Enche – Caetano Veloso
NESSE MOMENTO, TELMINHA E STEFANY PASSAM PELO PORTÃO, RUMO À CASA.
MARIA RITA – Ora, ora! Telminha Rangel, a suposta noiva do meu
marido. Tá bonita, amada! Tá passando alguma coisa no
rosto?
TELMINHA – Nem te conto. A fonte é Júlio César.
MARIA RITA – Ah, sim. Esqueci que gente da tua laia adora usar
produto de segunda mão.
TELMINHA – Ridícula!
TELMINHA ENTRA NA MANSÃO, ZANGADA, PUXANDO STEFANY. MARIA RITA E
MICHELE RIEM. SONOPLASTIA OFF.
CORTA PARA/
CENA 03. HOSPITAL. QUARTO. INTERIOR. DIA
CONTINUAÇÃO DA CENA 15 DO CAPÍTULO ANTERIOR. SILMARA E CAMILA DIANTE
DE MAURÍCIO, NA CAMA, E FRED.
LINHA TÊNUE CAPÍTULO 12 Pag.: 4
FRED – (NERVOSO) É... Vocês... Vocês chegaram rápido.
SILMARA – Tínhamos que chegar, né? Olha o estado do meu filho!
SILMARA VAI ATÉ MAURÍCIO.
SILMARA – Maurício, meu amor, como é que tu tá? Como foi isso?
MAURÍCIO – Eu tô bem. Foi só uma batida.
SILMARA – Só uma batida que te deixou com a perna engessada.
Vocês viram a cara do vagabundo que fez isso? Anotaram
a placa?
FRED – Então, dona Silmara... Acho que não vai ser muito difícil
da senhora conversar com o atropelador.
SILMARA – Ah, é bom que não seja mesmo, porque eu vou falar
poucas e bocas na cara dele. Quedê? Quem é?
MAURÍCIO – O Diego, mãe.
SILMARA SE VIRA PARA MAURÍCIO, BAQUEADA.
SILMARA – É o que, pequeno?
FRED – Ele tava de moto. Ele e um amigo.
CAMILA – Devia ser o Túlio. Mas cadê ele? Por quê que não tá
aqui com o Maurício?
FRED – Em vez de ajudar, ele foi pra oficina, tentar ajeitar a
moto.
SILMARA – Não acredito nisso. Liga pro Diego e diz que eu quero
ele aqui agora!
CORTE DESCONTÍNUO. DIEGO, SILMARA E MAURÍCIO NO QUARTO.
DIEGO – Tá, atropelei, e aí? Foi um acidente. Não foi porque eu
quis, não. Foi mal!
SILMARA – Foi mal? É assim que tu resolve as coisas?
DIEGO – E eu vou resolver como, mãe? O Maurício não já tá aí,
de cama? Vou fazer o quê?
MAURÍCIO – Podia ter o mínimo de respeito e consideração e ficar
aqui comigo. Mas não, parece que é sombra do Túlio.
Aonde ele vai, tu vai atrás. Nem na hora de me prestar
socorro tu ajudou.
LINHA TÊNUE CAPÍTULO 12 Pag.: 5
DIEGO – Pra quem acabou de ser barruado, tu tá muito esperto,
né, Maurício?!
SILMARA – E pra quem acabou de atropelar o próprio irmão, tu tá
muito desavergonhado, seu Diego. Mas teu pai vai ficar
sabendo disso tudo, viu? Te benze!
CLOSES ALTERNADOS. EM DIEGO.
CORTA PARA/
CENA 04. HOSPITAL. CORREDOR. INTERIOR. DIA
FRED E CAMILA TENTANDO OBSERVAR A CONVERSA PELA PERSIANA DA JANELA.
FRED – É... A coisa ficou feia pro Diego. Mas também, atropelou
o irmão e não tá nem aí. Onde é que já se viu isso?
CAMILA – (ZANGADA) Hum.
FRED – Ué, que foi?
CAMILA – Te faz de doido não, Fred. Eu vi, tá?
FRED – Viu? Viu o quê?
CAMILA – Aquela cena ridícula quando eu e a dona Silmara
chegamos. Admite, Fred. Vocês tavam se beijando!
FRED – Quê? Tá louca? Não tinha ninguém beijando ninguém
ali.
CAMILA – Mas tavam pra beijar. Eu vi direitinho. E o pior de tudo
é que não foi uma surpresa pra mim.
FRED – Do que tu tá falando, Camila?
CAMILA – Fred, tu e o Maurício só vivem juntos, pra cima e pra
baixo, um dormindo na casa do outro... Vocês tão tendo
um caso, não tão?
FRED – Claro que não! Inclusive, o Maurício tava indo pra tua
casa fazer uma surpresa pra ti, pra se desculpar por
andar tão distante.
CAMILA – Sério?
FRED – Sério.
CAMILA – Ah... Que fofo ele. Mas é que eu fico com medo, sabe?
LINHA TÊNUE CAPÍTULO 12 Pag.: 6
FRED – Tá, eu entendo. Mas para com isso, tá? Se alguma coisa
acontecer, a gente senta e conversa. Ponto. (P) Eu vou
tomar uma água.
FRED SAI.
CAMILA – Como assim? Se alguma coisa acontecer? Fred! Volta
aqui!
CAMILA ANDA E PARA NO MEIO DO CAMINHO, VENCIDA. BUFA.
NELA, ABORRECIDA.
CORTA PARA/
CENA 05. MANSÃO VILLAR. COZINHA. INTERIOR. DIA
TELMINHA SENTADA PRÓXIMO AO BALCÃO. COISINHA DO OUTRO LADO, LAVANDO
LOUÇA.
TELMINHA – É um absurdo, Coisinha! Eu sou a noiva do Júlio César.
Vocês já tão carecas de saber que eu planejo há séculos
nosso casamento. E ele já tava tão perto... Mas aí, chega
essa fulana querendo roubar o garanhão de mim. Pode
isso?
COISINHA – Eu tô é besta com isso, dona Telminha. Quando eu
entrei aqui, dona Chica me contou cada história dessa
Maria Rita, que eu agradecia que ela já tava morta, Deus
que me perdoe.
TELMINHA – Era bom que tivesse a sete palmos do chão mesmo. Ex
boa é ex morta. Agora, voltar depois de anos se fingindo
de defunta, dando em cima do meu noivo? Ah, meu
amor! Isso eu não permito mas é de jeito nenhum.
COISINHA – E o que a senhora vai fazer?
TELMINHA – Não sei. O tempo dirá.
NESSE MOMENTO, MARGARIDA APARECE, DE CHAPÉU E ÓCULOS ESCUROS, SEM SEU
POTE.
MARGARIDA – Já tá aqui, Pastelminha? Veio ver o chifre ao vivo e em
cores?
TELMINHA – Que chifre, dona Margarida? Tem chifre nenhum aqui,
não.
LINHA TÊNUE CAPÍTULO 12 Pag.: 7
MARGARIDA – Ainda, né, minha filha? Espera mais um tiquinho pra tu
começar a sentir um peso nas fronte. Não é por nada,
não, mas Júlio César sempre foi doidinho por essa infame
da Maria Rita.
TELMINHA – Ai, a senhora também não me ajuda, né?!
MARGARIDA – E eu lá sou tua mãe? Eu, hein... (P) Tô indo pra beira
da piscina, pegar uma cor. Beijinho.
MARGARIDA SAI PELA PORTA DOS FUNDOS.
TELMINHA SE LEVANTA DA BANQUETA.
TELMINHA – Tu viu o que eu vi, Coisinha?
COISINHA – O quê?
TELMINHA – O pote! Ela tá sem o pote!
COISINHA – Ih, deve ter esquecido no quarto. Mas tá muito aérea,
então, porque pra dona Margarida esquecer do pote
dela...
TELMINHA – Exatamente. Essa é a chance de ouro.
COISINHA – Chance de quê?
TELMINHA – Como de que, Coisinha? De ver o que tem dentro
daquele bendito pote.
COISINHA – Oxe! E o quê que a senhora quer com as cinzas do
marido de dona Margarida?
TELMINHA – Aí é que tá, meu bem. Eu nunca acreditei nessa história
furada de cinzas de marido. Isso é desdrobo!
COISINHA – Se não é o que dona Margarida diz ser, o que é, então?
TELMINHA – É isso que nós vamos descobrir agora.
COISINHA – Nós?
TELMINHA – Nós sim, senhora. Anda, me ajuda!
COISINHA – Mas eu tô lavando/
TELMINHA – (CORTA) Não interessa. Tu tá fadada a lavar louça a
vida toda. Mexer no pote de Margarida é uma
oportunidade em um milhão. Cuida, vem.
COISINHA – Ai, dona Telminha...
LINHA TÊNUE CAPÍTULO 12 Pag.: 8
TELMINHA SAI, SE DIRIGINDO À ESCADA. COISINHA A SEGUE.
CORTA PARA/
CENA 06. MANSÃO VILLAR. ÁREA DE LAZER. EXTERIOR. DIA
MARGARIDA VAI SE APROXIMANDO DA PISCINA. DEITA NA ESPREGUIÇADEIRA.
MARGARIDA – Eita, que minhas costa num guenta mais...
TATEIA A MESINHA AO LADO E NÃO ENCONTRA NADA.
MARGARIDA – Ai, meu Deus! O pote!
SE LEVANTA DA ESPREGUIÇADEIRA, COM MUITA FORÇA. SE DIRIGE À PORTA DOS
FUNDOS, RAPIDAMENTE.
CORTA PARA/
CENA 07. MANSÃO VILLAR. QUARTO MARGARIDA. INTERIOR. DIA
SONOPLASTIA: Não Enche – Caetano Veloso
FOCO NO POTE, COLOCADO SOBRE UM CRIADO-MUDO.
FOCA AGORA NO SEGUNDO PLANO: TELMINHA E COISINHA ABREM A PORTA,
CURIOSAS. AVISTAM O POTE.
TELMINHA – Olha lá, Coisinha! Tá ali a prova do crime.
COISINHA – Pelo amor de Deus, dona Telminha. Que crime?
TELMINHA – Modo de falar, garota. Vem, vamo ver de perto.
ENTRAM DE FININHO E VÃO SE APROXIMANDO DO POTE. TELMINHA VAI
COLOCANDO AS MÃOS SOBRE ELE/
MARGARIDA – (O.S.) Eu tô véia, mas num tô doida!
TELMINHA E COISINHA SE ASSUSTAM. MARGARIDA VAI ATÉ LÁ E COMEÇA A BATER
NELAS.
MARGARIDA – Ora, duas buliçosa! Deixa o meu marido descansar em
paz!
COISINHA – (NERVOSA) Dona Margarida, a gente só tava/
LINHA TÊNUE CAPÍTULO 12 Pag.: 9
MARGARIDA – (CORTA) Marocando. Era isso que vocês tavam fazendo.
Olha, da Pastelminha eu até esperava, agora de tu,
Coisinha? É o quê? Fez curso com a chifruda?
TELMINHA – Olha aqui, Dona Margarida/
MARGARIDA – (CORTA) Cala a boca tu também. Cuida, sai do meu
quarto! Xô!
MARGARIDA DÁ TAPINHAS NELAS, QUE VÃO SAINDO. SE ABRAÇA AO POTE.
MARGARIDA – Ora, mas veja... Mania feia de bulir nas coisas dos
outros, siô! Rum!
NELA.
CORTA PARA/
CENA 08. SÃO LUÍS. EXTERIOR. DIA-NOITE
STOCK SHOTS DO ANOITECER NA CIDADE. TAKES DOS PONTOS PRINCIPAIS E MAIS
MOVIMENTADOS.
TAKE FINAL NA FRENTE DA CASA DE DIJÉ. SONOPLASTIA OFF.
CORTA PARA/
CENA 09. CASA DE DIJÉ. SALA. INTERIOR. NOITE
ALTIVA E ORLANDO SENTADOS NO SOFÁ, ASSISTINDO TELEVISÃO.
ALTIVA – Ai, neném... Fazia tanto tempo que a gente não via um
filminho junto.
ORLANDO – É. E eu adoro esse aí. E depois tu diz que eu num te
dou atenção, né, bonita de corpo?!
ALTIVA – Mas isso é verdade. Principalmente agora que a
catiroba de esquina chegou.
ORLANDO – Tá falando da Lana?
ALTIVA – A própria! E não vem tentar defender ela, não, que eu
conheço rapariga de longe. Eu num ia me admirar se ela
aparecesse moradessa da noite aqui, atrás de ti.
BATIDAS NA PORTA.
LINHA TÊNUE CAPÍTULO 12 Pag.: 10
ORLANDO – Vou ver quem é.
ORLANDO LEVANTA E VAI ATÉ A PORTA. ABRE. LANA, COM UMA XÍCARA NA MÃO.
SOBE SONOPLASTIA: Caçadora – Lucy Alves
LANA – Oi.
ALTIVA SE VIRA E VÊ LANA.
ALTIVA – (LEVANTA) Ah, não! Num tô dizendo? Quê que tu tá
fazendo aqui?
LANA – Eu vim pedir duas coisas. Primeiro, eu quero que a
gente se entenda depois daquela discussão de uns dias
atrás.
ALTIVA – Hum. Não será possível. Qual é a segunda?
LANA – Ah, era só uma xicrinha de açúcar. É que o açúcar lá de
casa acabou.
ALTIVA – Foi mermo? Coitadinha... Quer que eu te dê um mapa
pra chegar na mercearia da rua de baixo?
ORLANDO – Ô, neném! Larga de ser ruim com a vizinha. O que
custa uma xícara de açúcar?
ALTIVA – Baba mais essa zinha aí que eu te mostro o que é que
custa.
LANA – Olha, eu só tô vindo aqui porque vocês são os únicos
com quem eu já tive alguma conversa. Se eu conhecesse
outra família, ia bater na porta dela.
ORLANDO – Tá vendo, Altiva? A bixinha ainda tá se acostumando
com a vizinhança. Vai lá buscar o açúcar pra ela, vai.
ALTIVA OLHA PARA ORLANDO, ZANGADA. PEGA A XÍCARA DA MÃO DE LANA
VIOLENTAMENTE E SE DIRIGE À COZINHA.
ORLANDO – (PUXA LANA) E aí, delícia? Vamo aproveitar?
LANA – Ai, Orlando... E se ela chegar?
ORLANDO – Chega não. O açúcar fica lá em cima. Daqui que ela
alcance...
LANA – Então bora. Mas rápido!
ORLANDO – Tá bom.
LINHA TÊNUE CAPÍTULO 12 Pag.: 11
ORLANDO E LANA SE BEIJAM. ORLANDO COMEÇA A CHEIRAR O PESCOÇO DELA, QUE
DÁ RISINHOS.
ALTIVA – (OFF) Tá aqui!
ORLANDO E LANA SE LARGAM. LANA LIMPA O BATOM.
ALTIVA VEM DA COZINHA COM A XÍCARA CHEIA DE AÇÚCAR.
LANA – Ah, muito obrigada, Altiva! Tu é um doce!
ALTIVA – É? Tu também vai ficar bem docinha, quer ver?
ALTIVA DERRAMA O AÇÚCAR SOBRE LANA.
LANA – Aiiii! Quê que é isso?
ALTIVA – Pra tu aprender a num perturbar as casa alheia altas
horas da noite. Se quer açúcar, vai comprar!
LANA – Leprosa! Nunca mais olho na tua cara!
ALTIVA – É um favor que tu me faz. Agora, quer um conselho?
Vai pra casa logo limpar esse açúcar, senão enche de
formiga.
LANA SAI, BATENDO O PÉ. ALTIVA RI.
ORLANDO – Neném, que coisa feia! Isso não se faz.
ALTIVA – Coisa feia é tu defendendo essa mulher debaixo da
minha fuça.
ALTIVA VIRA E SEGUE. PARA. VIRA DE NOVO PARA ORLANDO.
ALTIVA – Hoje não tem!
DÁ MEIA VOLTA NOVAMENTE E SEGUE PARA O QUARTO.
EM ORLANDO, DECEPCIONADO. SONOPLASTIA OFF.
CORTA PARA/
CENA 10. APTO SHEILA. QUARTO JUNINHO. INTERIOR. NOITE
JUNINHO DEITADO NA CAMA, PEGANDO NO SONO. SHEILA SENTADA, LENDO UM
LIVRO PARA ELE.
SHEILA – (LÊ) A gente só conhece bem as coisas que cativou,
disse a raposa. Os homens não têm mais tempo de
conhecer coisa alguma. Compram tudo já pronto nas
LINHA TÊNUE CAPÍTULO 12 Pag.: 12
lojas. Mas como não existem lojas de amigos, os homens
não têm mais amigos. Se tu queres um amigo, cativa-me!
PARA. VÊ JUNINHO DORMINDO E FECHA O LIVRO. DÁ UM BEIJO NA TESTA DELE.
DESLIGA O ABAJUR. VAI SAINDO. VERAS APARECE NA PORTA.
VERAS – Oi, amor. Juninho já dormiu?
SHEILA – Já. Faz silêncio.
VERAS ABRAÇA SHEILA POR TRÁS. FICAM VENDO JUNINHO.
VERAS – Lindo nosso filho, né?
SHEILA – Muito! Uma bênção!
VERAS – Mas o que é que tu queria falar comigo agora? Fiquei
preocupado com a tua ligação.
SHEILA – Ligação?
VERAS – É. Lembra não? Tu me ligou dizendo que queria ter
uma conversa comigo sobre alguma coisa da escola do
Juninho. O que era?
SHEILA SE DÁ CONTA.
SHEILA – Ah... Não. Não é nada. Deixa pra lá, era uma
besteirinha.
VERAS – Tem certeza?
SHEILA – Uhum. Vamos dormir?
VERAS – Vamos. Tô morto! O dia foi cheio!
SHEILA – É? Me conta.
SAEM.
CORTA PARA/
CENA 11. PRAIA DE SÃO MARCOS. EXTERIOR. NOITE
CÂM VEM DO MOVIMENTO CALMO DAS ONDAS, PASSANDO PARA A AREIA, COM
POUCAS PESSOAS, ATÉ ALCANÇAR PEDRO E CAROL, CAMINHANDO.
PEDRO – Tá bom. Minha vez. Com quantos anos eu dei meu
primeiro beijo?
CAROL – Hum... Quinze?
LINHA TÊNUE CAPÍTULO 12 Pag.: 13
PEDRO – Errou feio! Doze!
CAROL – Doze? Que rápido!
PEDRO – Ué, tu demorou tanto assim?
CAROL – Até demais. Mas não me arrependo, não. Depois que
meu pai morreu, eu não quis mais saber dessas coisas.
Só aconteceu mesmo porque tinha que acontecer uma
hora.
PEDRO – Ah, é? E agora, só tá acontecendo porque tinha que
acontecer, ou é algo mais?
CAROL – Defina algo mais.
PEDRO – Não sei. Talvez um sentimento por ali, uma energia
boa, uma química...
CAROL – E por que tu tem tanta certeza de que tem tudo isso?
PEDRO – Não tenho certeza. Tô te perguntando por isso.
CAROL – Então já pode ter certeza.
CAROL PARA. FICA DE FRENTE PARA PEDRO.
CAROL – O Ivo te contou como eu sou, lembra? Evito me
relacionar, evito confiar nas pessoas, ter qualquer tipo de
sentimento maior por alguém novo... Mas isso mudou,
Pedro.
PEDRO – Mudou?
CAROL – Mudou. Mudou naquela vaquejada que tu ganhou,
quando eu te vi pela primeira vez. Não é pra aumentar
teu ego, não, mas eu te achei um pão de primeira.
PEDRO – Normal.
CAROL – Convencido!
PEDRO – (RI) Brincadeira! Mas e aí? Fala mais. Tô gostando.
CAROL – Aí, meu querido vaqueiro, por culpa tua eu fiquei toda
besta, mexida, sorrindo pro nada... Mas quando tu me
beijou naquele dia, tudo isso acabou e minha vontade era
só de arrastar tua cara no pincho.
PEDRO – Meu Deus! E como foi que essa vontade passou?
LINHA TÊNUE CAPÍTULO 12 Pag.: 14
CAROL – Quando eu experimentei de novo. (P) Eu me surpreendi
comigo mesma. Começou a acontecer uma coisa que não
tava nos meus planos.
PEDRO – Que seria...?
CAROL HESITA, MAS CEDE.
CAROL – Eu tô gostando de ti, Pedro. Eu posso parecer uma
louca, até porque nunca soube lidar direito com essas
coisas, mas... Ah, esses poucos dias que a gente tem
passado junto tão sendo ótimos. Eu me sinto à vontade
contigo. Eu me sinto viva.
PEDRO – Nossa. Vou te confessar: eu nunca tinha recebido uma
declaração bonita desse jeito.
CAROL – (RI) Para!
PEDRO – É sério. Eu gostei. Eu também tô te adorando, Carol. A
cada dia mais.
FICAM SE OLHANDO. DÃO UM SELINHO.
PEDRO – E já que agora a gente foi meloso o suficiente e
mostramos que já tem uma coisa muito forte ligando nós
dois, acho que tá na hora da gente dar mais um passo,
né?
CAROL – Qual?
PEDRO – Eu vou proteger minha cara dos tapas, porque já tô
traumatizado, mas... Namora comigo, Carol?
CAROL SE ESPANTA. FICA OLHANDO FIXAMENTE PARA PEDRO POR ALGUNS
INSTANTES.
CAROL – Então quer dizer que a gente ainda não tava
namorando? Porque, pra mim, eu já tinha aceitado
farretempo.
SOBE SONOPLASTIA: In My Blood – Shawn Mendes
RIEM. VÃO APROXIMANDO OS ROSTOS, APAIXONADOS. DÃO UM BEIJO FORTE.
TEMPO NELE.
CORREM PARA O MAR, ONDE COMEÇAM A BRINCAR. JOGAM ÁGUA UM NO OUTRO,
PULAM ONDAS, SE JOGAM. POR FIM, DÃO MAIS UM BEIJO ALI. SONOPLASTIA OFF.
CORTA PARA/
LINHA TÊNUE CAPÍTULO 12 Pag.: 15
CENA 12. CASA DE DIJÉ. QUARTO. INTERIOR. NOITE
CÂM VAI MOSTRANDO TODOS DORMINDO, DEITADOS NAS REDES. CHEGA À CAMA,
ONDE DIJÉ ESTÁ SENTADA, PENSATIVA.
INSERT FLASHBACK: CAP 11, CENA 06.
CAROL – Papai aceitou, pensando na gente, em ficar mais perto
de casa. Aí a senhora lembra aquele dia que a gente ficou
tudo desesperado porque ele não tinha chegado?
DIJÉ – Lembro.
CAROL – Então... Ele chegou. Mas não veio pra casa. Foi direto
pra mansão. Conversou com doutor Júlio, com a família
dele, jantou...
DIJÉ – E por que ele num disse isso pra gente na época?
CAROL – Porque, mamãe... isso foi na noite em que mataram
ele.
FIM DO FLASHBACK.
DIJÉ ENXUGA UMA LÁGRIMA QUE DESCE POR SEU ROSTO.
DIJÉ – (BAIXO) Foi eles... Mas eles vai ver. Num vai ficar
assim, não, Nonato. Eu te juro, meu amor!
NELA, DETERMINADA.
CORTA PARA/
CENA 13. SÃO LUÍS. EXTERIOR. NOITE-DIA
SONOPLASTIA: Way Down We Go – Kaleo
AMANHECER NA CIDADE. TAKES DOS PONTOS PRINCIPAIS, DO MOVIMENTO
ROTINEIRO E DO FLUXO DE TRÂNSITO.
TAKE FINAL NA FRENTE DA MANSÃO VILLAR. SONOPLASTIA OFF.
CORTA PARA/
CENA 14. MANSÃO VILLAR. FRENTE. EXTERIOR. DIA
ROQUE ENCOSTADO NO CARRO, MEXENDO NO CELULAR. MARCO ANTÔNIO E JÚLIO
CÉSAR VÊM DE DENTRO DA CASA.
LINHA TÊNUE CAPÍTULO 12 Pag.: 16
MARCO ANTÔNIO – Vamos lá, Roque.
ROQUE – Opa! Agora, patrão!
ROQUE GUARDA O CELULAR E ENTRA NO CARRO. JÚLIO CÉSAR E MARCO ANTÔNIO
ENTRAM.
OS SEGURANÇAS ABREM O PORTÃO. O CARRO VAI SAINDO.
P.O.V. DE JÚLIO E MARCO ANTÔNIO: SUBITAMENTE, DIJÉ SE PÕE NA FRENTE DO
CARRO. ROQUE FREIA BRUSCAMENTE.
JÚLIO CÉSAR – Que é isso? Quem é essa maluca?
ROQUE – Oxente! Isso é tia Dijé!
MARCO ANTÔNIO PÕE A CABEÇA PARA FORA DA JANELA.
MARCO ANTÔNIO – Tá broca, dona? Quer morrer? Sai da frente!
DIJÉ – Eu só saio daqui quando descobrir quem foi de vocês
que matou o meu marido!
CLOSES ALTERNADOS. ROQUE, JÚLIO E MARCO SEM ENTENDER.
EM DIJÉ, COM AS MÃOS NA CINTURA.
EFEITO FINAL: A imagem é tomada por linhas brancas e enturvece.
FIM DO CAPÍTULO
Créditos sobem ao som de
LINHA TÊNUE – Maria Gadú