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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA ESCOLA POLITÉCNICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GERENCIAMENTO E TECNOLOGIAS AMBIENTAIS NO PROCESSO PRODUTIVO ÂNGELA MÁRCIA DE ANDRADE SILVA MERCADO DE RESIDÊNCIAS DE ALTO PADRÃO COMO INSTRUMENTO PARA INSERÇÃO DE ESPECIFICAÇÕES AMBIENTAIS: CAPTAÇÃO PREDIAL DE ÁGUA DE CHUVA Salvador 2010

captação predial de

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Page 1: captação predial de

UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA ESCOLA POLITÉCNICA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GERENCIAMENTO E TECNOLOGIAS AMBIENTAIS NO PROCESSO PRODUTIVO

ÂNGELA MÁRCIA DE ANDRADE SILVA

MERCADO DE RESIDÊNCIAS DE ALTO PADRÃO COMO INSTRUMENTO PARA INSERÇÃO DE ESPECIFICAÇÕES

AMBIENTAIS: CAPTAÇÃO PREDIAL DE ÁGUA DE CHUVA

Salvador 2010

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ÂNGELA MÁRCIA DE ANDRADE SILVA

MERCADO DE RESIDÊNCIAS DE ALTO PADRÃO COMO INSTRUMENTO PARA INSERÇÃO DE ESPECIFICAÇÕES

AMBIENTAIS: CAPTAÇÃO PREDIAL DE ÁGUA DE CHUVA

Salvador 2010

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação em Gerenciamento e Tecnologias Ambientais no Processo Produtivo, Escola Politécnica, Universidade Federal da Bahia, como requisito parcial para a obtenção do grau de Mestre em Tecnologias Limpas. Orientador: Prof. Dr. Asher Kiperstok

Orientador: Asher Kiperstok

Page 4: captação predial de

S586 Silva, Ângela Márcia de Andrade Mercado de residências de alto padrão como instrumento

para inserção de especificações ambientais: captação predial de água de chuva. / Ângela Márcia de Andrade Silva. –- Salvador-BA, 2011.

113 p.; il., color. Orientador: Prof. Dr. Asher Kiperstok

Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal da Bahia. Escola Politécnica, 2011.

1.Água pluvial - Captação 2.Água - Consumo consciente 3.Abastecimento urbano de água I.Universidade Federal da Bahia. Escola Politécnica. II.Kiperstok, Asher. III.Título.

CDD: 628.1

Page 5: captação predial de

À minha mãe, meu eterno exemplo de coragem. A meu pai, pela saudade, nas marcas e lembranças de amor que me deixou.

Page 6: captação predial de

AGRADECIMENTOS Ao meu orientador, professor Asher Kiperstok, pela confiança, pelo constante incentivo, pela presença decisiva em todos os momentos deste trabalho. Ao eng. Thales de Azevedo Filho, pelo incansável apoio e pela contribuição das valiosas opiniões que muito enriqueceram este trabalho. Ao prof. Célio Andrade, pelos importantes ensinamentos e conselhos. A todos os profissionais que participaram do grupo focal, emitindo opiniões, debatendo e contribuindo significativamente para este trabalho. À Construtora Santa Helena, onde iniciei, aprendi, e pude aumentar a cada dia, todo o interesse e prazer no trabalho em edificações. À Rede Bahia pelo apoio que viabilizou minha participação no curso. Ao dr. Felix de Almeida Mendonça, por todas as lições que me levaram a tanto amar a Engenharia. A Isaac Edington, pelo primeiro incentivo, firme e decisivo, para o meu interesse no mestrado nesta área. A toda a equipe do Teclim, pela oportunidade e todo o apoio necessário para esta jornada. À prof.ª Vera Britto e à eng.ª Ana Paula Garcia, pelas contribuições na revisão do texto e dos gráficos. A Luiz Humberto Carvalho, pela confiança e pela divulgação das idéias desta dissertação. A Valeria Gomes e Franklin Gomes, Ricardo Lyrio e Alex Cruz, pela atenção e pelo fornecimento dos projetos do edifício Fellini e do condomínio Villa Costeira, com as informações necessárias para a conclusão deste trabalho. A Ana Passos, Suzete Meneses e a Linda Bulhosa, pela presteza no atendimento de todas as minhas solicitações. A minha mãe, pela luta da sua vida, para construir a minha vida. A Gilson, Nelcy e Licia e Renata, que me trazem o prazer da família. Aos meus sobrinhos/filhos, Lucas, Mariana e Gabriela, por me mostrarem a continuidade da vida, inspirando o meu desejo de ir sempre em frente. Aos meus amigos, pela presença, ajuda, confiança e alegria, que possibilitam minha vida acontecer, fazendo com que todas as minhas dificuldades sejam superadas.    

Page 7: captação predial de

Caminhos do coração (Gonzaguinha)

[..................................................] E aprendi que se depende sempre

De tanta, muita, diferente gente Toda pessoa sempre é as marcas

Das lições diárias de outras tantas pessoas

E é tão bonito quando a gente entende Que a gente é tanta gente onde quer que a gente vá

E é tão bonito quando a gente sente Que nunca está sozinho por mais que pense estar

É tão bonito quando a gente pisa firme

Nessas linhas que estão nas palmas de nossas mãos É tão bonito quando a gente vai à vida

Nos caminhos onde bate, bem mais forte o coração  

Page 8: captação predial de

RESUMO

É necessário repensar o atual modelo de gestão do abastecimento urbano de água, que considera como recurso hídrico apenas a que corre pelos rios e grandes aquíferos, distribuída através de redes planejadas sobre comportamentos históricos que se vêm alterando com as mudanças climáticas em curso. Como alternativa não convencional, surge a captação direta de água de chuva, praticada em vários países, que pode suplementar as redes de abastecimento, contribuindo para o atendimento das demandas de água não potável, além de se contrapor, através da descentralização, às dificuldades que a mudança no regime das chuvas sofrerá. Além desses benefícios, pode proporcionar redução no gasto energético, na rede urbana e na edificação, com o reservatório em posição elevada. Também pode contribuir para difundir a cultura da racionalização do uso da água, disseminando conceitos de preservação e iniciando processo de conscientização para essas tecnologias. Para a ampliação do uso da captação é preciso recorrer a uma estratégia que considere, além da análise de pay back, prática esta usual entre os incorporadores que nem sempre são moradores finais das unidades, os benefícios ambientais e financeiros provenientes das reduções na pós-ocupação e na manutenção do valor do imóvel ao longo do tempo. A partir de dados oriundos de pesquisa bibliográfica e dos que provieram do grupo focal, da observação direta, de pesquisas que comprovam uma conscientização maior em relação ao impacto ambiental e também na observação do momento atual, quando repercutem, inclusive na mídia, os riscos das mudanças climáticas, e de tantos outros danos causados ao meio ambiente, conclui-se, da leitura das oportunidades e ameaças deste cenário, que a disseminação dos princípios de sustentabilidade para a construção civil poderá iniciar-se através de empresa incorporadora de alto padrão, que associe a responsabilidade ambiental à sua estratégia de negócio, trazendo sinergia entre objetivos econômicos e socioambientais, conduzindo o produto e a empresa à diferenciação. A partir da influência desta empresa líder, e de acordo com teorias expostas, o segmento de alto padrão poderá reconfigurar-se e conduzir, pela influência que exerce, outros segmentos a imitá-lo, transformando as especificações ambientalmente mais corretas em desejo do consumidor, como acontece com tantas outras que vêm sendo inseridas na busca de diferenciar o imóvel. Através do contato com estes novos atributos e conceitos, o operariado será levado a um aprendizado que pode vir a ser aplicado no mercado informal em que produz habitações, à margem de regulamentações. Assim, na leitura do momento, com o conhecimento técnico e com o conhecimento social, os atributos ambientais poderão disseminar-se do mercado de alto luxo e chegar até o mercado informal.    

 Palavras chave: Captação de água pluvial, planejamento estratégico, consumo

consciente, viabilidade econômica.

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ABSTRACT

It is necessary to rethink the current model of management of urban water supply, which considers as hydric resources only the water from the rivers and large aquifers, distributed through the networks that were designed according to historic behaviors and which have been modified with the present climatic changes. As a non-conventional alternative, there is a system, used in many countries, called trap rainwater that can help the networks of water supply, contributing to satisfy the demands of non-potable water, and also confronting, through the decentralization, with the difficulties caused by the change of rainfall patterns. Besides these benefits, this system can provide a reduction in energy expenditure in urban networks and in building construction, with the water tank disposed in high position. It also can contribute to diffuse the culture of rationalization of the use of water, disseminating concepts of preservation and initializing the process of becoming aware of these technologies. To spread the use of rainwater harvesting, it is necessary to have a strategy that considers, not only the analysis of pay back, an usual practice between the property developers, who not always are the final dwellers of the unities, but also the environmental and financial benefits originated from the reductions in post-occupancy and in maintenance the value of the real state throughout the time. By observing the data resulting from bibliographical research and from the focal group, by observing directly researches that confirm that there is a great awareness regarding the environmental impact and also by observing the present moment, when the risks of climatic changes and of many others damages suffered by the environment are widespread covered in the mass media, one concludes from the reading of the opportunities and the threats of this setting, that the dissemination of the principles of sustainability in the construction sector can begin through a high standard construction company, that links environmental responsibility to its business strategy, bringing synergy between economical and environmental and social objectives, leading the product and the company to differentiation. From the influence of this leader company and according to the exposed theories, the high standard segment can take a new shape and lead others segments to follow them, changing the environmentally friendly specifications into the consumer’s desire, as it happens to many others specifications which have been being introduced in order to differentiate the real state. Being in contact with these new attributes and concepts, the workforce will learn that these attributes can be used in the informal market, where they build housing outside regulations. Therefore, with technical and social knowledge, the environmental attributes can be disseminated from the market for high luxury to the informal market.

Page 10: captação predial de

LISTA DE FIGURAS

Figura 2.1 – Série comparativa de precipitações, 1911 a 2005, na Austrália

25

Figura 3.1 – Gráfico do volume do reservatório x demanda para água de chuva atendida resultante da simulação do aproveitamento de água de chuva no Ed Fellini.

48

Figura 3.2 – Gráfico do volume do reservatório x atendimento da demanda para água de chuva atendida resultante da simulação do aproveitamento de água de chuva no Ed Fellini considerando como área de captação as fachadas

49

Figura 3.3 – Gráfico do volume do reservatório x atendimento da demanda para água de chuva atendida resultante da simulação do aproveitamento de água de chuva no Condomínio Villa Costeira atendendo a lavagem de veículos e regas de jardim

51

Figura 3.4 – Gráfico do volume do reservatório x atendimento da demanda para água de chuva atendida resultante da simulação do aproveitamento de água de chuva no Condomínio Villa Costeira atendendo a vasos sanitários, lavagem de veículos e regas de jardim

53

Figura 3.5 – O balanço hídrico urbano e a água de chuva

54

Figura 3.6 – Relação entre a densidade populacional e impermeabilização.

54

Figura 3.7 –

Gráfico do volume do reservatório x demanda para água de chuva atendida resultante da simulação do aproveitamento de água de chuva em Salvador

57

Figura 5.1 � Gráfico da possibilidade de interferência no custo total de um edifício (residencial ou comercial) durante sua vida útil.

85

Figura 5.2 –

Gráfico do custo total de um edifício comercial durante sua vida útil

85

Page 11: captação predial de

LISTA DE TABELAS E QUADROS

Tabela 3.1 – Demanda residencial de água não potável

44

Tabela 3.2 – Dados adotados para simulação do aproveitamento de água de chuva no Ed. Fellini

46

Tabela 3.3 – Dados de entrada e saída do modelo para simulação do aproveitamento de água de chuva no Ed. Fellini

47

Tabela 3.4 – Cálculo do benefício para o aproveitamento de água de chuva no Ed. Fellini em valores

47

Tabela 3.5 – Dados de entrada e saída do modelo para simulação do aproveitamento de água de chuva no Ed. Fellini considerando como área de captação as fachadas

49

Tabela 3.6 – Dados adotados para simulação do aproveitamento de água de chuva no Condomínio Villa Costeira

50

Tabela 3.7 – Dados de entrada e saída do modelo para simulação do aproveitamento de água de chuva no Condomínio Villa Costeira atendendo a lavagem de veículos e regas de jardim

51

Tabela 3.8 – Dados de entrada e saída do modelo para simulação do aproveitamento de água de chuva no Condomínio Villa Costeira atendendo a vasos sanitários, lavagem de veículos e regas de jardim

52

Tabela 3.9 � População residente em Salvador e Região Metropolitana

55

Tabela 3.10 � Dados adotados para simulação do potencial de aproveitamento de água de chuva em Salvador

56

Tabela 3.11 � Dados de entrada e saída do modelo para simulação do aproveitamento de água de chuva em Salvador

56

Tabela 3.12� Dados de entrada e saída do modelo para simulação do aproveitamento de água de chuva em Salvador considerando a implantação para as novas construções no período entre 2000 e 2007.

58

Tabela 5.1 � Comparação de custos convencionais e custos adicionais originados pelos tópicos de sustentabilidade

88

Tabela 5.2 � Custo comparativo de operação em edifício residencial, 3 quartos, com 120 m2

89

Page 12: captação predial de

Tabela 5.3 � Custo comparativo de operação de edifício comercial

89

Tabela 5.4 –

Alternativa de solução e seus impactos – edifícios residenciais

90

Quadro 6.1 – Matriz de análise situacional de empresas

96

Quadro 6.2 – Etapas do processo produtivo

98

Page 13: captação predial de

SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO 13 1.1 ESTRUTURA DO TRABALHO 17 2 UTILIZAÇÃO DE ÁGUA EM EDIFICAÇÕES 19 2.1 CENÁRIO DA UTILIZAÇÃO DA ÁGUA 19 2.2 A IMPORTÂNCIA DA CAPTAÇÃO DIRETA DA ÁGUA DE CHUVA 22 2.3 EDIFÍCIOS VERDES: EXEMPLOS NO MUNDO E TENDÊNCIAS NO BRASIL 26 2.4 EXEMPLOS DE UTILIZAÇÃO DE CAPTAÇÃO DIRETA DE ÁGUA DE CHUVA NO

MUNDO 29

2.5 EXEMPLOS DE CAPTAÇÃO NO BRASIL 32 3 SISTEMAS DE CAPTAÇÃO DE ÁGUA DE CHUVA 35 3.1 HISTÓRICO DA CAPTAÇÃO DIRETA 35 3.2 COMPONENTES DO SISTEMA DE CAPTAÇÃO 37 3.2.1 Superfície de captação 37 3.2.2 Tubulações e calhas para distribuição da água 38 3.2.3 Acessórios 38 3.2.4 Bombeamento 38 3.2.5 Manutenção do sistema e tratamento 39 3.2.6 Reservatório 40 3.2.6.1 Aplicação do modelo Teclim para dimensionamento do reservatório 40 3.3 ALGUNS ESTUDOS SOBRE BENEFÍCIOS DE SISTEMAS DE CAPTAÇÃO 41 3.4 SIMULAÇÕES DE SISTEMAS DE CAPTAÇÃO 43 3.4.1 Simulação em edificação vertical 44 3.4.2 Simulação em condomínio horizontal 49 3.4.2.1 Captação da água apenas para lavagem de veículos e regas de jardim 51 3.4.2.2 Captação da água para vasos sanitários, lavagem de veículos e regas de jardim 52 3.5 AVALIAÇÃO DO POTENCIAL DA CIDADE DE SALVADOR: CAPTAÇÃO AMPLA 53 3.6 A QUALIDADE DA ÁGUA DE CHUVA E ACEITAÇÃO PELA POPULAÇÃO 59 4

RENOVAÇÃO DOS IMÓVEIS DE ALTO PADRÃO: USO DE NOVAS ESPECIFICAÇÕES AMBIENTALMENTE MAIS CORRETAS

64

4.1

A INSERÇÃO DE NOVAS ESPECIFICAÇÕES EM EMPREENDIMENTOS – BUSCA DA RENOVAÇÃO PARA DIFERENCIAÇÃO NO PRODUTO

65

4.2 A DIVULGAÇÃO DA CAUSA AMBIENTAL: INFLUÊNCIA DA MÍDIA 70 4.3 PESQUISAS SOBRE O CONSUMIDOR CONSCIENTE 72 4.3.1 Existe de fato consumidor consciente? 74 5 ESTRATÉGIA DE NEGÓCIO DA EMPRESA INCORPORADORA

ASSOCIADA À CAUSA AMBIENTAL 82

5.1 MODIFICAÇÃO NO MERCADO IMOBILIÁRIO ATRAVÉS DE ESTRATÉGIA DE NEGÓCIO DE EMPRESA LÍDER

82

5.2 O CUSTO COMO FATOR INFLUENCIADOR DA IMPLANTAÇÃO DA ESTRATÉGIA 84 5.3 VANTAGEM COMPETITIVA NA ASSOCIAÇÃO COM CAUSA AMBIENTAL 91 6 AMPLIAÇÃO DO USO DA CAPTAÇÃO DIRETA DE ÁGUA DE CHUVA

NAS EDIFICAÇÕES 93

6.1 A MODIFICAÇÃO NO SETOR PARTINDO DE UMA EMPRESA LÍDER 93 6.2 RECOMENDAÇÕES PARA AMPLIAÇÃO DO USO DE CAPTAÇÃO DIRETA E DE OUTROS

ATRIBUTOS SUSTENTÁVEIS 94

6.3 A REPERCUSSÃO NO MERCADO INFORMAL 100 7 CONSIDERAÇÕES FINAIS E RECOMENDAÇÕES 103 REFERÊNCIAS 108

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13  

 

 

1 INTRODUÇÃO

 

O significativo aumento da população nas áreas urbanas leva a grandes

demandas de infraestrutura e de serviços de abastecimento. Como exemplo deste

crescimento, tem-se a cidade de Salvador. Segundo o Censo de 2000 do IBGE, na

década de 1990, a cidade recebeu 367.834 novos habitantes. Este número supera a

população total da cidade de Vitória da Conquista, segunda em população no interior do

Estado, com 308.204 habitantes estimados em outubro de 2007. Ainda de acordo com a

estimativa do IBGE, no período de 2000 a 2007 houve, em Salvador, um incremento de

449.518 habitantes. Este número aproxima-se daquele relativo à população de Feira de

Santana, a maior entre as cidades do interior do Estado, estimada em 571.997, também

em outubro 2007 (BRASIL, 2007). Com o consequente aumento de área construída,

para abrigar os novos contingentes populacionais, novas cidades vêm surgindo dentro

das existentes, ampliando-se a área impermeável, o que, por sua vez, agrava as

inundações. Esta tendência de crescimento das grandes cidades continuará, exigindo

cada vez mais esforços, investimentos e recursos naturais, como a água, essencial para o

ser humano.

Espera-se, ainda um crescimento na pressão sobre o uso dos recursos naturais,

como a água, decorrente não só do aumento da população urbana mundial, mas também

dos hábitos de consumo. Haverá, portanto, maior demanda de sistemas de água, assim

como aumentará o gasto energético das redes. De acordo com a Alliance to save energy

(2002), estima-se que, tornando-se mais eficientes os sistemas de abastecimento, poder-

se-ia o gasto energético que representa percentual significativo dos orçamentos

municipais no mundo desenvolvido.

  Além disto, o abastecimento com água tratada nos centros urbanos vem sendo

feito para todos os usos, mesmo para aqueles que não requerem potabilidade. A água de

Page 15: captação predial de

14  

 

 

boa qualidade, para as finalidades que tenham essa demanda, é essencial à saúde, pois

as doenças de veiculação hídrica seriam reduzidas com o abastecimento a todos, de

forma adequada.

Considera-se o Brasil como rico em água, por deter uma das maiores bacias

hídricas do planeta, mas os grandes mananciais não se encontram nas regiões dos

maiores centros urbanos. O elevado desperdício nas redes de abastecimento, assim

como nas instalações prediais, que carecem não só de manutenção, mas também de

modernização com novos equipamentos economizadores, e o mau uso, decorrente de

hábitos inadequados, também agravam as demandas das grandes cidades e

sobrecarregam as redes.

A qualidade dos mananciais vem sendo cada vez mais comprometida, e fica

evidente a necessidade de estudar alternativas para o desenvolvimento de um novo

modelo de gestão do uso da água. Tal modelo deve considerar aspectos

comportamentais, educativos, legais, econômicos, técnicos e a utilização de fontes

alternativas, entre as quais está a captação direta de água de chuva, nas edificações

urbanas, para os usos em que água potável não é imprescindível, como suplementar ao

abastecimento público, reduzindo a demanda nas redes e seu gasto energético de

distribuição.

É indiscutível, também, o crescimento da importância dada aos assuntos ligados

ao meio ambiente, assim como a conscientização da complexidade exigida para

solucionar o passivo ambiental criado e o que se produz. O novo olhar sobre a finitude

dos recursos naturais se evidencia nas discussões em vários ambientes, desde o escolar,

passando pelo universitário, até as ações sociais que inserem a importância da

preservação ambiental na formação cidadã, despertando a atenção do público em geral.

Também a mídia expõe o tema, noticiando mudanças climáticas, energias alternativas,

catástrofes, e explorando os temas ligados à ecologia, notadamente os ligados à

necessidade de promover redução no consumo de água e energia.

Os estudos sobre mudança climática têm recebido atenção de governos e

instituições internacionais, com uma divulgação que atinge toda a população. A

expectativa de mudanças nas precipitações desperta a preocupação com os atuais

sistemas de abastecimento, construídos com base em séries históricas de precipitações

que poderão se alterar, na área dos mananciais. Rever a gestão do abastecimento da

água, contemplando fontes suplementares à rede urbana, como a captação direta de

Page 16: captação predial de

15  

 

 

águas de chuva, de forma descentralizada, ajudaria tanto na adaptação quanto na

mitigação destas mudanças em curso.

Em paralelo a toda a exposição que assuntos referentes ao meio ambiente têm

recebido, pesquisas feitas demonstram que começa a formar-se o que se denomina

consumo consciente, definido “como sendo o ato ou decisão de consumo (compra ou

uso de serviços ou de bens industriais ou naturais) praticado por um indivíduo levando

em conta o equilíbrio entre sua satisfação pessoal, as possibilidades ambientais e os

efeitos sociais de sua decisão” (INSTITUTO AKATU, 2003).

Observar as demandas do consumidor, frente à exposição dos temas ligados ao

meio ambiente e às novas preocupações com os limites da natureza, poderá trazer ao

mercado imobiliário um novo olhar sobre equipamentos que podem agregar valor às

construções. As empresas podem, portanto, avaliar e antecipar-se às próximas

demandas, oferecendo, nos seus produtos, novas soluções para o cliente e para a

comunidade. Assim, podem ser aperfeiçoados modelos de negócio, aumentando valor e

lucratividade em sintonia com o momento presente, que sinaliza preocupação com o

impacto ambiental que vem sendo causado pela indústria e pela tecnologia criadas pelo

homem.

Os estudos sobre esse impacto reportam a importância que sobre ele têm o

fenômeno do consumo, o crescimento populacional e as tecnologias da produção.

Novos hábitos das populações têm gerado demanda cada vez maior por novos recursos,

produtos e serviços, assim como a ampliação do uso dos existentes. Também se verifica

a entrada, no mercado, de novos produtos que sequer eram imaginados: nascem nas

empresas, passam a fazer parte do cotidiano das pessoas, muitos deles são

transformados em necessidade, outros em objetos de desejo.

Assim é que é a ampliação do uso da captação direta, associada, nas edificações,

a outros equipamentos ambientalmente mais corretos, é analisada, e são avaliados os

ganhos para o ambiente e o aumento da lucratividade que seriam obtidos se esta

estratégia ambiental fosse associada à estratégia de negócio por empresa incorporadora

de imóveis de alto luxo.

Na avaliação financeira dos empreendimentos, os incorporadores muito

questionam a inserção de especificações ambientalmente mais corretas, pois, não sendo

moradores finais, não se beneficiam financeiramente, diretamente, dos resultados desta

Page 17: captação predial de

16  

 

 

inserção. Nessas análises, feitas geralmente para obter retorno do investimento em prazo

curto, nem sempre os resultados obtidos são atraentes. Surgem então os desafios:

a) Como reduzir o impacto da indústria da construção, em um mercado que

sinaliza a necessidade do crescimento da atividade produtiva, para permitir

o acesso de muitos a uma moradia?

b) Como motivar e mobilizar os construtores do mercado formal a desenvolver

e utilizar práticas sustentáveis, avaliando de forma ampla a relação custo x

benefício?

c) Como fazer repercutir essas práticas nas construções informais?

Na busca de respostas para essas perguntas, a pesquisa buscou elementos que

permitissem avaliar os benefícios que o incorporador poderá obter se, de acordo com

os estudos de Michael Porter sobre diferenciação, associar a estratégia do negócio

com a responsabilidade ambiental. Ainda segundo Porter, a estratégia de uma empresa

poderá influenciar toda a indústria na qual ela se insere. Sensível às forças externas que

podem provocar alterações, a empresa poderá direcionar esta força de forma adequada à

sua posição no mercado, já construindo assim uma vantagem competitiva, por liderar a

mudança do seu setor (PORTER, 1986).

Para demonstrar a possível repercussão mais ampla, na indústria da construção,

do uso de equipamentos ambientalmente mais corretos, a pesquisa também buscou

identificar � seguindo a teoria de Veblen (1983) �, a influência dos hábitos e estilos das

classes mais favorecidas nas menos favorecidas, comparando-se com exemplos de

equipamentos que, nascendo nos prédios ditos de “alto padrão”, vão-se incorporando e

transformando-se em demanda por parte dos potenciais compradores. No entendimento

de que esta influência efetivamente existe, a pesquisa aqui relatada procurou comprovar

se a adoção inicial de produtos que visam ao desenvolvimento sustentável em prédios

de alto luxo poderá levá-los a se tornar objeto de desejo de muitos consumidores.

Assim, poderão ser incluídos em outras edificações, traduzindo um conceito de

modernidade e status.

Por outro lado, é preciso considerar que o déficit de moradia não é atendido

apenas pelo mercado formal. Assim, a partir da concepção de que uma repercussão

ampla poderá ocorrer através do aprendizado do operariado, a pesquisa procurou

localizar em que medida sua participação no processo produtivo, seu contato com essas

inovações, assimilando suas práticas, poderá, dentro das possibilidades, conduzi-lo a

Page 18: captação predial de

17  

 

 

incorporá-las nas construções informais, quando atua como protagonista de edificações

nas periferias, para si ou para outros. Assim, este trabalho busca avaliar se, através

deles, poder-se-á atingir a outra parte da indústria da construção, aquela que supre o

déficit habitacional não atendido pelo mercado imobiliário, submetido a legislações e

normas.

A pesquisa foi feita através de revisão bibliográfica, visitas técnicas e discussões

em grupo focal, realizado em 2007, na Escola Politécnica da Universidade Federal da

Bahia, gravado e transcrito na íntegra. Foram colhidos subsídios e foram debatidas as

ideias de especialistas de diversas áreas, tais como arquiteto, estruturalista, projetista de

instalações elétricas, de instalações hidráulicas, de ar condicionado, incorporadores,

construtores, orçamentistas, corretores de imóveis, moradores de edificações

residenciais de alto luxo, profissionais das áreas de educação, jurídica, marketing e

jornalismo. Além disto, foram levantadas as recentes alterações das especificações dos

imóveis e sua aceitação pelo mercado. Essas alterações serão objeto de comentários

feitos na dissertação.

1.1 ESTRUTURA DO TRABALHO

Este trabalho está estruturado da maneira que se segue. Após esta introdução,

tem-se o capítulo 2, que contextualiza o cenário atual da utilização da água nas

edificações, o modelo de gestão urbano, os riscos de escassez e uma análise da

importância de captar diretamente a água de chuva, salientando os benefícios.

Comentam-se o surgimento dos prédios ambientalmente melhores e os modelos de

certificação que enfatizam o aumento da eficiência do suprimento de água e energia,

entre outras, e a disseminação crescente destes conceitos. Através de exemplos de

práticas de captação no mundo e no Brasil, enfatiza-se a possibilidade de utilização

desta alternativa, em consonância com a preocupação e com a exposição crescente dos

temas relacionados com o impacto ambiental que vem sendo causado pelo homem.

No capítulo 3, apresenta-se um modelo para a cidade de Salvador, simulando a

captação em edificações verticais e condomínios horizontais, ilustrando-a com o

possível retorno financeiro e a necessidade de avaliar os benefícios de forma mais

Page 19: captação predial de

18  

 

 

ampla. Simula-se o potencial de captação da cidade e também a importância da captação

nas novas construções, considerando o crescimento da cidade.

O capítulo 4 focaliza o modo como acontecem o surgimento e a renovação de

marcas e produtos que se tornam sucesso, buscando, neste mecanismo, o entendimento

de como estimular o uso de especificações ambientalmente mais corretas nos imóveis.

Apresenta-se o modelo atual de inserção de novos equipamentos nos empreendimentos

imobiliários, na busca das empresas pela diferenciação do seu produto. Também se

apresenta a teoria de emulação social de Thorstein Veblen, com a influência do estilo

de vida das classes mais favorecidas nas classes menos favorecidas. Considerando-se a

existência de um consumidor consciente e a ampliação, na mídia, da exposição de temas

ligados ao meio ambiente, apresentam-se os resultados de pesquisas sobre o consumo,

traçando paralelo com ideias obtidas sobre captação direta de água de chuva, em grupo

focal com diversos profissionais da área imobiliária e afins.

No capítulo 5, de acordo com conceitos de Michael Porter, avalia-se a estratégia

da diferenciação no imóvel, com a inclusão de especificações ambientalmente mais

corretas, e a diferenciação da própria empresa, na associação da estratégia de negócio

com a causa ambiental, avaliando custos e benefícios.

No capítulo 6, prosseguindo com a utilização de conceitos de Porter, avalia-se a

reconfiguração do setor de imóveis de alto padrão, partindo de empresa líder. De acordo

com ThorsteinVeblen, avalia-se a influência desses prédios de alto padrão sobre os

outros setores da produção de imóveis e a repercussão ampla no mercado informal,

através do operariado.

O levantamento de oportunidades e ameaças ao ambiente externo, em

cruzamento com pontos fortes e fracos do ambiente interno (de acordo com observações

da autora), permite que se ressaltem algumas ações para contrapor as ameaças e reforçar

as oportunidades para a modificação do setor construtivo e a ampliação do uso da

captação direta e outras especificações ambientalmente mais corretas.

Apresentam-se, por fim, as recomendações e conclusões no capítulo 7.

Estas recomendações apontam para a introdução de especificações que traduzam

o cuidado ambiental, inicialmente em edificações de alto luxo e assim poderiam ser

influenciados os outros segmentos do mercado formal. Através do aprendizado no

canteiro de obras, os operários poderiam levar estes conceitos para o mercado informal,

onde também atuam, em suas próprias residências ou para terceiros.

Page 20: captação predial de

19

2 UTILIZAÇÃO DE ÁGUA EM EDIFICAÇÕES

Este capítulo contextualiza o modelo atual de abastecimento urbano e as dificuldades

que enfrenta, diante do crescimento da demanda e das mudanças climáticas, por ser

centralizado. Nesse contexto, a captação direta de água de chuva se apresenta como

alternativa suplementar ao abastecimento, já havendo exemplos desta captação e de seus

benefícios, assim como já surgem os edifícios chamados “verdes”, muitos dos quais buscando

certificações ambientais. De acordo com a crescente ênfase conferida a esses novos modelos,

que têm um olhar mais acurado sobre vários aspectos, reavaliam-se também as instalações

para consumo de água.

2.1 CENÁRIO DA UTILIZAÇÃO DA ÁGUA

Mesmo considerando toda a dependência da água para o desenvolvimento econômico

e para sua sobrevivência, as sociedades vêm degradando este recurso natural, de várias

formas, nas suas múltiplas utilizações.

A ampliação da demanda, principalmente nos grandes centros, e o lançamento de

resíduos líquidos e sólidos em rios, lagos, represas, etc., vêm contribuindo para deteriorar a

qualidade das reservas de água. A Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e

Cultura (Unesco), em 2003, estimou que 18.000 km3/ano poderão se degradar se a poluição

crescer tanto quanto a população (REBOUÇAS, 2004).

Neste início de século, cresce a conscientização para a necessidade do

desenvolvimento sustentável. Villiers (2002, apud MAY, 2004) assinala que apenas um

terço da água que flui para o mar pode ser consumida pelo homem e, desta, mais da metade já

está sendo utilizada. Segundo este autor,

Page 21: captação predial de

20

[... a] Population Action International sustenta que o número de pessoas vivendo em estado crítico de falta de água era de 436 milhões em 1997, e segundo suas projeções, a porcentagem da população mundial vivendo em estado crítico de falta de água vai quintuplicar ate 2050 (VILLIERS, 2002, apud MAY, 2004).

O fato é que a análise do volume total de água existente no mundo revela que apenas

2,7% representam a disponibilidade de água doce. Deste pequeno percentual, 77,20%

encontram-se em estado sólido, outra parte está em forma de vapor, restando, portanto, uma

pequena parte para consumo humano.

No Brasil, existe forte desequilíbrio entre locais com grande oferta de água e a

necessidade de consumo pela população. Com a urbanização crescente, a disparidade tende a

elevar-se significativamente. Pode-se fazer uma estimativa dessa elevação quando se verifica

a progressão do crescimento dos grandes centros populacionais: em 1940, a população das

cidades representava 30% do total e, em 1996, 75% já viviam nas cidades (HERRMAN 1999,

apud MAY, 2004).

A perspectiva é a de que esta tendência de crescimento de grandes centros urbanos

brasileiros continue se intensificando, pois os cidadãos, em busca de emprego, são atraídos,

cada vez mais, pelas megalópoles e, mesmo não encontrando as facilidades esperadas nas

grandes cidades, as migrações não se interrompem e o consumo dos recursos naturais cresce

sem planejamento. Tanto a agricultura como as indústrias se ampliam para atender às novas

demandas, alterando seus processos para ganhos de escala e, em paralelo, estão aumentando a

geração de resíduos, efluentes industriais, rurais e urbanos.

Além da urbanização sem planejamento, o desequilíbrio entre distribuição

demográfica e concentração de águas, a elevada perda decorrente dos processos utilizados no

abastecimento público, o desperdício característico dos hábitos da população, entre outros

fatores, resultam nas dificuldades de abastecimento, na escassez e nos gastos elevados.

A conclusão preliminar a que se chega é a de que precisa ser pensado um modelo de

gestão de água compatível com os recursos do país e com as necessidades de preservação da

saúde da população. Não é possível ignorar que Israel, com 470 m3/hab/ano, não sofre com a

escassez de água como Pernambuco que tem 1270 m3/hab/ano. É evidente que existe um

problema de gestão no Brasil (TOMAZ, 2001).

Na Semana Internacional da Água, realizada em Estocolmo, em 2006, cujo tema

central se intitulou Para além do rio – a partilha de benefícios e responsabilidades, o

presidente do Instituto Internacional de Gestão da Água (IWMI), Prof. Asit Biswas, afirmou

que

Page 22: captação predial de

21

Os últimos 50 anos de práticas de gestão de água não servem de modelo para enfrentar a falta de água no futuro. Precisamos de mudanças radicais nas instituições e organizações responsáveis pela gestão dos recursos hídricos da Terra e um modo muito diferente de pensar sobre gestão da água. (Apud MÁ..., 2006).

O Fundo Mundial da Natureza (WWF) também apontou, no mesmo evento, a má

gestão dos recursos hídricos, como causa para a escassez e suas conseqüências (MÁ..., 2006).

Repensar o modelo vigente de gestão da água exige uma mudança na forma de

consumo desse recurso e a utilização de outras fontes. Mesmo no Brasil, que conta com 12%

da água doce do planeta (TOMAZ, 2003) e possui aquíferos como o Guarani (maior

manancial de água doce subterrânea transfronteiriço do mundo que se distribui entre os

Estados de Goiás, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio

Grande do Sul), a situação do abastecimento não é confortável e a falta de água não vai atingir

apenas São Paulo e Recife (SILVA, 2003).

Continua prevalecendo no país a tendência para as grandes obras de infraestrutura que

geralmente beneficiam uma pequena parte da população, deixando para a outra parte os

impactos ambientais e sociais resultantes. Desde a Segunda Guerra Mundial, cerca de 45 mil

grandes barragens foram construídas, gerando 20% da eletricidade mundial e irrigando

campos que produzem 10% do alimento mundial. No entanto estima-se que um número

situado entre 40 a 80 milhões de pessoas que viviam desses rios foram profundamente

afetadas (JOHNSTON, apud WOLF e outros, 2005, p. 105-106).

Nesta lógica predominante, considera-se como recurso hídrico apenas a água que corre

pelos rios e grandes aquíferos, com captação e distribuição feitas em obras caras. Acredita-se

ainda que a solução dos problemas de distribuição virá do aumento da oferta de água em

grandes obras. No entanto, açudes como o de Orós, no Ceará que, depois de construído,

permaneceu 20 anos sem ter uma tomada de água. A cidade de São Raimundo Nonato, no

Piauí, castigada com a seca, dista 43 km do açude Petrônio Portela, com 181 milhões de m3

(REBOUÇAS, 2004).

O abastecimento urbano, pensado em termos de sistemas centralizados, precisa ser

reavaliado, pois, nesse sistema, o custo é elevado, tanto nas obras de infraestrutura, de

operação e de energia elétrica, como na distribuição e no tratamento da água, para a totalidade

dos usos, sendo que muitos desses usos nem necessitam da água potável.

Esses custos públicos retornam para a população, quando poderiam ser encontradas

outras fontes para utilização em destinos não nobres. A captação de águas pluviais, nas

cidades, traria economia na utilização da água distribuída, além de contribuir, de alguma

forma, para a prevenção das inundações urbanas, que já acontecem nos grandes centros.

Page 23: captação predial de

22

A possibilidade de localizar o reservatório de águas nos níveis mais altos da edificação

traria uma redução adicional no consumo da energia elétrica. Cada metro cúbico de água não

bombeado representa uma tonelada a menos no transporte vertical. A captação direta e

adequação das instalações hidráulicas das edificações, traria a redução do consumo de água

potável das redes, diminuindo a pressão sobre os mananciais. (COHIM, 2007). Além deste

ganho, tem-se também, com sistemas descentralizados de abastecimento, o ganho energético

da rede.

2.2 A IMPORTÂNCIA DA CAPTAÇÃO DIRETA DA ÁGUA DE CHUVA

Verificando-se o que vem sendo feito, em outros países, em busca de melhor gestão

dos recursos hídricos, encontra-se, entre outras soluções, a captação direta de água de chuva

como fonte suplementar à provida pelas redes públicas, o que traria inúmeros benefícios como

os que a seguir se descrevem.Os dois primeiros benefícios a ser mencionados são a vantagem

coletiva da diminuição do consumo de água e energia do sistema público, nas operações

de tratamento, bombeamento e distribuição das redes, seguida da possibilidade de

redução do consumo de energia nas edificações, com o posicionamento do reservatório

elevado e com a distribuição da água por gravidade.

A importância da redução do consumo energético no sistema público, decorrente do

abastecimento centralizado, não tem sido devidamente considerada. A descentralização do

abastecimento urbano, com a captação direta para o consumo de água não potável, poderá

significar grande redução no consumo não só de água das redes, mas também de energia.

No livro Água e energia: aproveitando as oportunidades de eficientização de água e

energia não exploradas nos sistemas de águas municipais, publicado pelo Institute of

International Education (ALLIANCE TO SAVE ENERGY (ASE), 2002), apresenta-se o

consumo energético mundial decorrente de bombeamento e tratamento de água, como sendo

entre 2 a 3%.

Os resultados desses dois benefícios, certamente, também irão refletir-se diretamente

nas despesas mensais dos usuários, tanto pelo aproveitamento da água captada, como na

redução do gasto da energia. Vale ressaltar que, no Brasil, considerar a redução de gastos

mensais do usuário final, principalmente na habitação popular, pode ser significativo.

Ao considerar os benefícios que podem ser incorporados nas edificações para a

redução das taxas condominiais, Raphael Pileggi, secretário-executivo do Qualihab, o

programa paulista de qualidade na habitação, com a Companhia Paulista de Desenvolvimento

Page 24: captação predial de

23

Habitacional e Urbano do Estado de São Paulo (CDHU), exemplifica, como incentivo, a

implantação de atributos tecnológicos que favoreçam o controle dos consumos, buscando

tornar as despesas compatíveis com a renda dos moradores e permitir que o adquirente da

unidade habitacional possa permanecer nela (PILEGGI, 2006).

Se o poder público avaliar melhor este último benefício, poderá contribuir para o

surgimento de legislação, com ou sem incentivos ou subsídios. Reduzir o consumo de água e

a inadimplência nos programas de habitação, certamente minimizará os custos para a

sociedade, para o governo, para as instituições financeiras e para as seguradoras.

Várias medidas que promovam redução de despesas ao longo da vida das construções

precisam ser levadas em consideração, inclusive quando se avalia o custo de implantação do

sistema de captação e sua taxa de retorno. Como grande parte dos responsáveis pelas

construções não são os moradores finais das unidades, costuma-se avaliar apenas os custos

iniciais.

Nos imóveis construídos para vendas, é preciso que as empresas avaliem os custos das

edificações ao longo do tempo, também observando a pós-ocupação, podendo, além de

ressaltar o aspecto da redução de gastos, ser capitalizado o apelo ambiental como ganho de

imagem e força de vendas.

As obras públicas, planejadas e construídas para o usuário final, poderiam valer-se do

uso destas tecnologias de racionalização de consumo. Assim, com o exemplo, seria

expandido o conhecimento de soluções que visam o bem comum além do benefício

decorrente das reduções de custo operacional. A indústria também poderia reduzir o custo de

produção pelo aumento da escala no consumo.

Aparece, em terceiro lugar, a possibilidade de contribuir para a redução das

enchentes urbanas, necessidade que se revela, principalmente, em áreas muito adensadas,

onde a impermeabilização das construções não permite escoamento rápido.

O benefício no controle das inundações em centros urbanos é ponto importante. Em

São Paulo, por exemplo, com a lei n. 13. 276 de 4 de janeiro de 2002, voltada para a

drenagem urbana, verifica-se que as construções acima de 500 m2 são obrigadas a construir

“piscininhas” para evitar alagamentos. Calcula-se a necessidade de um financiamento de US$

9 bilhões para piscinões que acumulem água pluvial e possam liberá-la, controladamente,

depois das enxurradas. A questão é que estes piscinões também resultam em novos

problemas, uma vez que aqueles existentes já enfrentam problemas de lixo e lama

(SICKERMANN, 2005). Incentivar, portanto, a captação direta é contribuir parcialmente para

a solução do problema da macrodrenagem.

Page 25: captação predial de

24

O quarto benefício, o de obter a preservação dos recursos hídricos da região onde

se localiza a bacia, é particularmente importante para o Estado da Bahia, pois a captação

poderá contribuir para preservar a bacia do Paraguaçu que abastece parcialmente a Cidade do

Salvador. Se parte do abastecimento fosse suprida com a água captada na própria cidade,

situada em região úmida, haveria considerável economia da água da barragem, situada em

zona semiárida.

A vantagem que a descentralização do abastecimento traz para a adaptação às

mudanças climáticas em curso constitui o quinto benefício que se pode enumerar.

O abastecimento centralizado depende, para atender ao consumo, das precipitações, na

área de captação do manancial, pois é através delas que os mananciais são repostos. Esta

precipitação vem sofrendo sérias mudanças, em vários aspectos, tais como intensidade, local,

frequência, tempo de precipitação, volume, diferenças observadas nos períodos de secas e

enchentes.

As estruturas de abastecimento ora existentes foram planejadas com base em

comportamentos históricos, que estão em mudança. Isto poderá levar o abastecimento urbano

a dificuldades, vez que todo ele é estruturado sobre uma série histórica de precipitação, em

alteração (MATTHEWS, 2008).

Portanto, com estruturas de reservação espacialmente distribuídas e independentes,

planejadas nas novas edificações que surgem nos centros urbanos em crescimento, pode-se

contribuir para contrapor as dificuldades que a mudança no regime das chuvas sofrerá, sem

histórico que possa lastrear previsões a respeito das precipitações. Assim promove-se a

adaptação às mudanças climáticas e também a mitigação, reduzindo-se o peso ambiental com

o gasto energético decorrente dos sistemas de abastecimento.

Esta avaliação sobre a interferência da mudança climática no suprimento urbano de

água torna-se cada vez mais preocupante, em face de estudos que descrevem as mudanças

que estão ocorrendo nas precipitações. Avaliação desenvolvida na Austrália, pela Water

Corporation of Western Austrália, apresentado em artigo intitulado Climate change and water

supply, mostra uma série comparativa de precipitações de 1911 a 2005. No gráfico abaixo,

observam-se as diferenças, considerando os períodos de 1911 a 1974, de 1975 a 1996 e o de

1997 a 2005 (PITTOCK, 2008). Assim, evidencia-se, em maior período de tempo, a diferença

no ciclo das chuvas.

Page 26: captação predial de

25

Figura 2.1 - Série comparativa de precipitações entre 1911 e 2005, na Austrália (PITTOCK, 2008, apud

ALLEY, 2007 p.16).

Por fim, mas não menos importante, aparece o benefício de contribuir com a

sustentabilidade ambiental das edificações, criando e difundindo a cultura da

racionalização do uso da água, que é um recurso natural finito.

A utilização de tecnologia amigável com o ambiente, disseminando conceitos de

preservação de recursos naturais, contribui para reforçar hábitos de preservação. Iniciar o

processo de conscientização com essas tecnologias já disponíveis poderá levar a população a

buscar outras oportunidades de aprender e implantar formas harmônicas de convivência entre

o meio ambiente e as construções.

Tudo isso aponta para a necessidade de encontrar estratégias que possam disseminar

técnicas e métodos para captação direta e utilização da água de chuva, contribuindo assim

com uma medida não convencional que trará excelentes resultados para o desempenho das

redes de abastecimento.

No entanto, mesmo com a divulgação de várias pesquisas e estudos mostrando tantos

benefícios e com a existência de incipientes sinais de uma legislação em favor da otimização

de processos de uso da água, não se verifica, ainda, no Brasil, aplicação significativa da

captação direta das águas de chuva no meio urbano.

O que favorece a prática da captação no Brasil é que 90% da área oferecem índices

pluviométricos entre 1.000 e 3.000mm/ano. Chuvas escassas ocorrem em apenas 400.000 km2

do Nordeste (de 400 mm e 800 mm/ano). É desta região, com baixo índice pluviométrico, que

se retira, hoje, água e energia para abastecer a Cidade do Salvador.

Page 27: captação predial de

26

De acordo com a recomendação formulada pelo Conselho Econômico e Social das

Nações Unidas (NU, 1985, apud REBOUÇAS, 2004) “a não ser que exista grande

disponibilidade, nenhuma água de boa qualidade deve ser utilizada para usos que toleram

águas de qualidade inferior”.

Este preceito determina uma avaliação sobre como é utilizada a água potável do

abastecimento urbano para todos os tipos de consumo, inclusive lavagem de carros, rega de

jardins e descargas em bacias sanitárias. Utilizar a água de chuva para esses usos não nobres,

evidentemente, racionalizaria o uso das citadas redes urbanas.

Também não pode ser desprezado o fato de que, em edificações com o sistema

implantado, a água de chuva também pode ser captada da fachada. Além das paredes externas,

a depender do destino que se pretende dar à água, podem ser consideradas as áreas referentes

a playground descoberto, acessos de veículos, etc.

A implantação efetiva desses sistemas de captação direta, que contribuem para a

sustentabilidade das edificações, poderá acelerar a conscientização sobre o amplo impacto

causado pela indústria da construção civil, despertando a população para novos hábitos e

demandas nas construções.

Seja por exigência de legislação futura ou decisão estratégica da empresa, é necessário

adequar-se às novas demandas, pois as edificações consomem dois quintos da energia

mundial e cerca de um sexto da água (LOVINS, 2007).

É necessário, portanto, o desenvolvimento de práticas para uma mudança sistêmica,

que inclua legislação, tecnologia, ética nas atividades empresariais e consumo (CAPRA,

2002).

Novas formas de produzir e novas concepções estão sendo postas em prática em vários

países, mas a tendência não é recente. Já na década de 1970, surgiram prédios em que se

pratica a otimização do uso de água e de energia: são os chamados green buildings ou

‘construções mais sustentáveis’, concebidos para trazer menos impacto ambiental.

2.3 EDIFÍCIOS VERDES: EXEMPLOS NO MUNDO E TENDÊNCIAS NO BRASIL

No Brasil, aumenta o uso de técnicas e materiais que tornam os edifícios

ambientalmente mais corretos, também chamados green buildings. Medidas que promovem

eficiência no consumo de água e energia já estão presentes no mercado, com demandas

sinalizadas pelo governo, consumidores, ambientalistas, ações de responsabilidade social das

Page 28: captação predial de

27

empresas. Tudo isto é incentivado por estratégia de marketing, consciência ecológica, ou

obrigação legal (CAPELLO, 2006).

Esta tendência pode ser também estimulada por exemplos internacionais. Nos Estados

Unidos, a tendência de otimização do uso de energia e água iniciou-se, na década de 1970,

com a construção dos green buildings, estimulados pela crise no petróleo e pelos incentivos

governamentais, em várias escalas.

Pode-se, de forma geral, dizer que o green building é uma edificação que busca

aumento da sua eficiência em relação ao uso de recursos, com o objetivo de reduzir os

impactos socioambientais, durante todo o ciclo de vida. São observados os aspectos referentes

à localização, ao projeto, à construção, à operação, aos resíduos e à desconstrução (THE

SOLAIRE, 2006).

Alguns países europeus, os Estados Unidos, o Canadá, a Austrália e o Japão

desenvolveram sistemas próprios de avaliação do impacto ambiental gerado pelas suas

edificações, tais como o sistema americano Leadership in energy and environmental design

(Leed), criado pelo U. S. Green Building Council (USGBC), organização não governamental

voltada para a sustentabilidade das edificações. Este sistema de avaliação foi apoiado por

várias categorias da indústria da construção, o que favoreceu a sua implantação.

Hoje, muitos prédios são certificados pelo Leed e demonstram interesse pelos vários

aspectos dos cuidados com o meio ambiente. Tem-se como exemplo o The Solaire, (THE

SOLAIRE, 2006), em Nova York, que contou, desde a fase de projeto, com cuidados

envolvendo a utilização da água (reuso, captação e uso de equipamentos eficientes), a

racionalização com o consumo de energia – que chega a um gasto de até 67% a menos nos

horários de pico.

Outros exemplos de certificação pelo Leed são os prédios que serão feitos na área

anteriormente ocupada pelo World Trade Center, conforme informação passada pelo governo

de Nova York, na apresentação dos projetos, em setembro de 2006 (McKEOUGH, 2006).

Também a Academia de Ciências da Califórnia, que recebeu certificado Leed de Platina,

capta em cobertura vegetal, que também contribui com o isolamento térmico. Este prédio

consome 35% menos em energia do que o considerado nas leis da Califórnia.

Vários outros exemplos de prédios que buscam mais ecoeficiência poderiam ser

citados, com ou sem certificações ambientais. Ressalta-se a importância do uso dessas

tecnologias para tornar as edificações mais amigáveis com o seu entorno e assim adequar

soluções que proporcionem a demanda de crescimento das cidades de forma mais sustentável.

Page 29: captação predial de

28

Como exemplo de outros sistemas de certificação, é preciso mencionar o Building

establishment environmental assessment method (Breeam), do Reino Unido, que já tinha

submetido à avaliação 30% dos prédios de escritórios do país (SILVA; SILVA; AGOPYAN,

2003) e o Aqua, método adaptado do modelo francês pela Fundação Vanzolini e USP para

utilizá-lo em edificações brasileiras.

Estas certificações, se bem acolhidas, poderão trazer o benefício de esquematizar o

cuidado com vários aspectos, desde a origem dos insumos, passando pelos processos, pelo

baixo impacto durante todo o ciclo de vida, chegando até a desconstrução (BRASIL..., 2008).

O mundo assiste ao surgimento desta nova modalidade de prédios, concebidos para

causar menos impacto sobre o meio ambiente e construídos com base em princípios e

conceitos que orientam sobre a necessidade de preservação dos recursos naturais.

Os responsáveis por essas edificações buscam adequá-las a exigências pré-

estabelecidas, seguindo critérios que se escalonam desde a fase do projeto e que abrangem

todo o seu ciclo de vida. Esses critérios contemplam a inovação no projeto e no processo

construtivo, a escolha de materiais ecologicamente corretos, transportados de forma mais

eficiente, o aumento da eficiência no uso dos recursos, como, por exemplo, água e energia, a

qualidade do ambiente interno, da localização, a segurança ambiental dos processos de

remoção dos resíduos e de remoção e renovação da edificação no final da sua vida útil.

Em 2003, a revista Ambiente Construído, da Associação Nacional de Tecnologia do

Ambiente Construído (Antac), publicou o trabalho cujo título é Avaliação de edifícios no

Brasil: da avaliação ambiental para avaliação da sustentabilidade, discorrendo sobre os

sistemas internacionais de avaliação (SILVA; SILVA; AGOPYAN, 2003). Nele, é citada a

integração do Brasil no Green Building Council (GBC), grupo que busca um protocolo único,

internacionalmente pactuado, de avaliação de desempenho das edificações. Também são

feitas considerações sobre a introdução de avaliação ambiental no Brasil.

A partir daí, é cada vez maior o número de empreendimentos registrados no U.S.

Green Building. O primeiro registro ocorreu no ano de 2004, seguido de três outros em 2005 e

quatro, em 2006. Em 2007, registraram-se 39 prédios. Em 2008, 56 outros registros e, em

2009, até o mês de março, 20 novos prédios já foram registrados (GBC BRASIL, 2009).

Em maio de 2007, a empresa Jones Lang Lasalle, que também atua no Brasil, no

gerenciamento de edificações, declarou que “três anos atrás, os clientes queriam saber quanto

o green building ia custar, e agora quanto ele decresce em custos” (WINSTON, 2008). Assim,

pode-se verificar que o maior atrativo dos green buildings serão, cada vez mais, as reduções

Page 30: captação predial de

29

de custo que essa modalidade de construção trará, considerando sua ocupação (WINSTON,

2008).

Vale salientar que o desenvolvimento desses sistemas de certificação no país poderá

representar um incentivo a pesquisas sobre o impacto das edificações, além de possibilitar o

levantamento e a análise das práticas construtivas e a formulação de critérios adequados para

as avaliações no país.

Como o uso da água é um fator importante nessas avaliações, considera-se que a

formalização dos sistemas avaliativos intensificaria a busca da otimização do consumo,

contemplando novas fontes, dentre as quais a água de chuva.

Este novo olhar sobre as edificações não contempla apenas o conforto para seus

usuários, em termos de aparatos tecnológicos, mas, também, objetiva usar a tecnologia para

fazer um melhor entrosamento entre a edificação e o seu entorno e utilizar os esses avanços

para preservar os recursos naturais.

2.4 EXEMPLOS DE UTILIZAÇÃO DE CAPTAÇÃO DIRETA DE ÁGUA DE CHUVA NO MUNDO

Para exemplificar a captação direta da água de chuva é oportuno enumerar algumas

experiências internacionais. Esta prática apresenta perspectivas de crescimento e aceitação

cada vez maior, já tendo a indústria da construção desenvolvido produtos específicos para

essa finalidade.

Como exemplo de captação direta em centro urbano, pode ser citada a Kogarah Town

Square, na Austrália. Esta área tem apenas 400 moradores, apesar de abrigar mais de 10.000

trabalhadores e 4.000 estudantes. É, portanto, um centro com intensa atividade diurna, mas

vazio durante a noite e nos finais de semana.

Nesta comunidade, foram desenvolvidas pelo poder público junto com a iniciativa

privada, diretrizes para revitalizar a área dentro de conceitos de sustentabilidade, buscando

oportunidades de crescimento cultural e desenvolvimento econômico. Para isso, considerou-se

que existem três maneiras de racionalizar o consumo da água urbana, quais sejam:

a) utilizando-se fontes alternativas para uso que não requer potabilidade;

b) usando equipamentos eficientes, que requerem baixo consumo de água;

c) usando menos água através de modificação dos hábitos.

Com base nestas premissas, procedeu-se à captação, tanto da água dos telhados como

nas superfícies pavimentadas (inclusive das ruas), de forma separada, mesmo com um índice

Page 31: captação predial de

30

pluviométrico médio de 600 mm/ano. Aliando-se ao uso de equipamentos racionais de

consumo, foi obtida, nesta comunidade, a redução de 58% no uso da água potável

(KOGARAH TOWN SQUARE, 2006).

O edifício The Solaire, em Nova York, representa um exemplo da prática de captação

de água de chuva utilizada em conjunto com outras medidas, visando a reduzir o impacto

ambiental das edificações (THE SOLAIRE, 2006).

Outro país que oferece vários exemplos de captação é a Índia. A cidade de Bangalore,

no Estado de Karnataka, com 6 milhões de habitantes e média anual de 846 mm de chuva,

tornou obrigatória, em 2004, a captação de água de chuva em novas obras, especificando

inclusive opções de sistema de captação para telhados, terraços e superfícies pavimentadas.

Estima-se que, em 5 mil casas e 500 apartamentos, já sejam captados 900 milhões de litros de

água por ano. Em 15 parques, 74 milhões de litros (VISNAWATH, 2005).

Nos levantamentos efetuados em Bangalore, se for considerada somente a área

metropolitana de 597 km2, já se obtém uma incidência de chuva de 1 383 milhões de litros por

dia, mais do que 1 310 milhões que são bombeados por dia para a cidade.

Para a concepção do modelo dessa cidade, foi definida uma estrutura conceitual, que

sistematiza as etapas para implantação de um sistema de captação, considerando aspectos

técnicos, comportamentais, educativos, legais e econômicos (VISNAWATH, 2005).

Na França, onde existem projetos para edifícios de uso coletivo, como escolas,

ginásios, estádios, shopping centers, já existe uma experiência em um conjunto de 12

edifícios de três pavimentos, com 15 reservatórios de 1m3 cada. Em caso de falta de água, os

prédios podem ser atendidos por rede de abastecimento (GOUVELLO, 2003, apud

CAMPOS, 2004).

Na Suécia, obtém-se, com a utilização da água de chuva em descargas sanitárias,

lavagem e jardins, uma redução de 45% do consumo de água potável residencial

(VILLAREAL; DIXON 2004 apud COELHO FILHO; MOREIRA, 2005).

No Reino Unido, usa-se água de chuva nas descargas de vasos sanitários, o que

representa 30% do consumo residencial, segundo avaliação de modelo monitorado por 12

meses (FEWKES, 1998).

Na Baviera, Alemanha, 93% da água consumida é captada. Estudo feito evidencia

que, a depender do custo do sistema de captação, o abastecimento de água para uso

doméstico, descentralizado, com captação no ponto de consumo, é muito mais vantajoso, em

comparação com os custos de suprimento de água obtida em locais distante (HERRMANN;

HASSE, 1997).

Page 32: captação predial de

31

Também na Alemanha, outro estudo desenvolvido mostra a eficiência do sistema de

captação para reduzir o consumo de água da rede de abastecimento. Este reporta o

desenvolvimento, nos últimos dez anos, na produção de artefatos destinados à captação,

contando o mercado, na época do estudo, com a concorrência de mais de 100 produtores, o

que representa um crescimento econômico significativo. Segundo o líder de mercado dos

reservatórios, citado no mesmo artigo, “durante os últimos 10 anos eles tinham instalado mais

de 100 000 pontos de captação, o que ofereceria um estoque de mais de 600.000 m3”. Nas

avaliações sobre uma possível redução de uso do abastecimento da rede urbana, com tanques

de 4 m3 a 6 m3, chega-se, segundo o mesmo estudo, a índices de 30% a 60%, a depender dos

hábitos de consumo e do tamanho da área de captação (HERMANN, SCHIMIDA, 2000).

Um estudo de caso do Reino Unido, feito em supermercado com grande área de

captação, confirma as expectativas de retorno do investimento com o sistema, embora tal

retorno varie em função do tamanho da reservação e do local em que esta se situa, pois, sendo

elevada, reduz também o consumo de energia (CHILTON et al., 2000).

Estima-se que os Estados Unidos utilizarão, até 2010, 42% de água de chuva. Na

Alemanha, onde os sistemas mais antigos datam de 20 anos, espera-se um percentual de 45%,

até 2010 (INTERNATIONAL ENVIRONMMENTAL TECHNOLOGY CENTRE (IETC),

apud TOMAZ, 2003). Neste último país, as leis favorecem a captação e o manejo para usos

não potáveis, mas proíbem sua ingestão (GNADLINGER, 2005).

Em Toronto, Canadá, o Toronto Healthy House é independente do sistema de

saneamento municipal. A água potável vem da chuva e o esgoto tratado supre as outras

demandas. Observa-se, em imagens do projeto disponíveis no site (CMHCS..., 2005), que

nele ainda se bombeia toda a água proveniente da chuva, mesmo com a observância do

princípio de preservar ao máximo os recursos naturais. A localização do reservatório de água

no alto da edificação agregaria mais eficiência ao sistema. Na Austrália, usa-se a água de

chuva para beber e existem normas detalhadas para todas as etapas, desde a captação,

havendo também especificações sobre a qualidade da água (GNADLINGER, 2005).

Segundo Campos (2004, p.25) a importância dada, no Japão, à captação de água de

chuva pode ser vista em vários exemplos de obras executadas:

a) na Prefeitura de Sumida, só em 1993, foram economizados 11 mil m3 de água,

sendo 51,5% de água de chuva;

b) no Ginásio de Tóquio, construído em 1983, com 46 755 m2, com capacidade de

armazenamento de 1 000 m3, a água da chuva abastece as descargas de vasos

sanitários;

Page 33: captação predial de

32

c) no Ginásio de Fukuoka, construído em 1993, com 69 130 m2 e capacidade de

armazenamento de 1 800 m3, abastece as descargas dos vasos e irrigação de

jardins;

d) no Ginásio de Nagoia, construído em 1997, com 69 mil m2 e com capacidade de

armazenamento de 1 500 m3, a água pluvial abastece as descargas dos vasos e

irrigação dos jardins;

e) no edifício da Editora Toppan Ltda, em Sumida, apresentado na Conferência

Mundial do Meio Ambiente, no Rio de Janeiro, em 1992, com 13 270 m2 de área

construída, um reservatório para águas pluviais, subterrâneo, de 356 m3,

possuindo um sensor de chuva e neve que elimina automaticamente a chuva

inicial, alimenta os vasos sanitários e, também com sistema de válvulas

automático, fecha a entrada de águas pluviais, quando está cheio, e abre, também

automaticamente, se necessário, para entrada de água da rede pública

(FENDRICH, OLIYNIK, 2002);

f) a Biblioteca da Universidade de Sophia, freqüentada por cerca de 5 mil pessoas

por dia, com um telhado de 2 340 m2, implantou sistema de captação para

utilização em vasos sanitários com investimento de U$$ 130 mil, retornável em

oito anos (FENDRICH, OLIYNIK, 2002).

O grupo Raindrops, que nasceu da Conferência Internacional para Aproveitamento da

Água de Chuva em Tóquio, realizada em Sumida, em 1994, com 8 mil pessoas do Japão e de

26 outros países, afirma que, em Tóquio, o volume de água que cai como chuva é maior que o

consumido pelo povo e, portanto, o grupo sugere a construção de milhares de minirrepresas

(tanques de aproveitamento de água de chuva) ao invés de grandes represas que devastam

(MURASE, 2002).

Certamente a captação contribuirá para que o modelo atual de consumo dos recursos

naturais nos prédios seja reavaliado, favorecendo um amadurecimento do senso critico sobre

os impactos causados pela indústria da construção civil. Esta nova forma de planejar

edificações, que está sendo desenvolvida em várias partes do mundo, precisa ser aprofundada

cada vez mais.

2.5 EXEMPLOS DE CAPTAÇÃO NO BRASIL

No Brasil, foram feitos estudos para avaliar o potencial de redução de utilização das

redes com a utilização da água de chuva. Bressan e Martini (2005) avaliaram o potencial

Page 34: captação predial de

33

médio de economia de água tratada, em cidades de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e

Espírito Santo.

Como resultado deste trabalho, foi obtido um potencial de economia de 12% a 92%

em cidades do Estado de São Paulo e 19% a 33% no Estado do Rio de Janeiro. Em São Paulo,

por exemplo, 36,3% dos municípios tiveram potencial de economia de mais de 50%. Estes

números avaliam a redução no sistema público, considerando-se a captação em todos os

pontos de consumo.

O mesmo tipo de estudo foi realizado por Ghisi (2005) para tentar avaliar o potencial

máximo de reservação para residências no Brasil. Assim como fizeram Bressan e Martini

(2005), foram usadas estimativas de áreas totais de telhados, por cada região do país.

Esses trabalhos evidenciam a possibilidade de redução na utilização das redes públicas

através da ação de sistemas de captação direta de água de chuvas, com análise detalhada do

consumo, considerando o número de residências, a população e a estimativa de área de

telhados. No entanto, a total ampliação da disponibilidade hídrica indicada pelo artigo não

será alcançada, pois isto supõe que todos os telhados, em todos os pontos, funcionem como

área de captação.

Avalia-se, portanto, que não há condições de se chegar ao potencial de economia

sinalizado, pois, na concepção dos citados trabalhos, todos os apartamentos e casas existentes,

nas cidades em questão, estariam fazendo a captação. No entanto, com a ampliação e o

aprofundamento dos estudos, e com a difusão da prática de captação, pode-se considerar que

as novas construções, que nascem a cada dia, configurando a nova cidade, poderão oferecer

racionalmente a utilização suplementar de água de chuva com ganhos para a rede de

abastecimento urbana.

O trabalho de Ghisi (2005), assim como o de Bressan e Martini (2005), servem para

ilustrar o máximo potencial de economia que poderia existir com a captação, evidenciando

que não se pode desprezar a água de chuva como fonte alternativa.

Na Lavanderia da Paz, em São Paulo, coletam-se 500 mil l/mês de água, que são

filtrados e utilizados na lavagem de roupas. Há 30 anos, o processo foi implantado. A área do

telhado é de 1,4 mil m2 (MAY, 2004).

O Ventura Corporate Towers, prédio de escritórios de alto padrão que está em

construção no Rio de Janeiro, oferece sistema de retenção das águas pluviais (FIGUEROLA,

2007).

Planeja-se, para 2014, com obra no estádio Maracanã, entre outras especificações, um

reservatório de captação da água de chuva, para a irrigação. Em Vitória-ES, uma unidade da

Page 35: captação predial de

34

Petrobras, também armazenará água pluvial, em lago, para utilização em irrigação. (HORTA,

2008).

Em Salvador, o edifício. Solar da Cardeal, entregue em setembro de 2008, com 16

apartamentos de dois quartos e 48 apartamentos de um quarto, armazena, em reservatório

inferior, 10 m3 de água de chuva, coletada em telhado de 411m2. A água coletada destina-se a

irrigação e lavagem de pisos. Além deste, o Civil Business, também entregue em 2008, com

22 salas de 140 m2 e 22 salas de 115 m2, armazena 16 m3 de água captada, sendo 12 m3 em

reservatório inferior, e 4 m3 em reservatório superior, destinando-a para os usos de irrigação,

lavagem de pisos e vasos sanitários (AZEVEDO FILHO, 2008).

Os exemplos e estudos citados neste capítulo salientam como a utilização da captação

direta de água de chuva pode contribuir, suplementando as redes públicas, na preservação da

água como recurso natural, sendo também um primeiro passo para implantação de práticas

mais sustentáveis nas edificações, em consonância com o momento atual.

A busca por essas práticas pode também ser vista nos exemplos dos novos edifícios

que revelam, desde a sua concepção, a preocupação com o meio ambiente e nos modelos de

certificação ambiental, que vem sendo aplicados em vários países.

Page 36: captação predial de

35

3 SISTEMAS DE CAPTAÇÃO DIRETA DE ÁGUA DE CHUVA

Neste capítulo, ao lado de um breve histórico dos sistemas de captação direta de água

de chuva, descrevem-se os seus componentes e comentam-se alguns estudos sobre benefícios

dessa prática. Em seguida, são sintetizados alguns relatos de pesquisas sobre o conhecimento

e a aceitação da captação direta. Por fim, efetuam-se simulações de sistemas de captação,

buscando avaliar as compensações em redução de uso da água potável das redes públicas.

Tais simulações foram realizadas em edificação vertical, em condomínio horizontal,

incluindo uma sobre qual seria o potencial total de captação que teria a Cidade do Salvador,

se tivesse toda a sua área de telhado a serviço da reservação e outra sobre o potencial de

captação que se atingiria se todos os novos domicílios a tivessem praticado a partir do ano

2000 até 2007.

3.1 HISTÓRICO DA CAPTAÇÃO DIRETA

O homem capta água de chuva há muito tempo, e os registros de sistemas de captação

indicam que há 2000 anos, no deserto de Negev, hoje Israel, a prática era comum. Existem

outras evidências do uso da captação no período romano e, também na América Latina, a água

era recolhida pelos incas, maias e astecas (PHILLIPI et al., 2006). Reservatórios escavados

para acúmulo de água de chuva, na ilha de Creta, sinalizam que o uso de água de chuva

remonta a 3000 a.C. (TOMAZ, 2003).

A chegada das redes urbanas de abastecimento levou a população ao abandono da

prática e à perda do saber de como captar e acumular a água em cisternas, deixando esta

tecnologia para uso no meio rural (NOBREGA, 2005).

Peter John Coombes, em 2002, na tese intitulada Rainwater tanks revisited: new

opportunities for urban water cycle management apresenta a evolução do abastecimento na

Page 37: captação predial de

36

Austrália, mostrando a resistência inicial da população ao sistema de abastecimento pago e a

pressão dos poderes públicos para obter a adesão dos cidadãos a ele.

O autor informa que o sistema de abastecimento público instalado trabalhava com

sério déficit financeiro, decorrente dos gastos da operação. Por isso, a população, em 1890, foi

obrigada a se conectar à rede pública e estimulou-se a prática de desfazer os reservatórios de

captação. Coombes avalia que daí se originou a resistência ao uso da água de chuva na

Austrália, pois a campanha de incentivo à adesão às redes públicas, feita pelo governo, visava

a garantir a sobrevivência dos sistemas públicos, que surgiram muito em função dos

problemas com incêndios frequentes. Assim, com taxas, legislação e críticas à captação, o

governo reafirmava que a água do sistema era melhor que a obtida das chuvas (COOMBES,

2002).

Hoje, com a sinalização de escassez da água, volta-se a buscar fontes alternativas para

atender também ao meio urbano, complementando o abastecimento das redes. Entre essas

fontes, está a água de chuva.

Entretanto, não se trata de uma simples coleta. Há necessidade de avaliação e de

adoção de um sistema eficiente, adequado às modernas edificações, considerando as

singularidades das estruturas, a localização da área de reservação, a distribuição da água

captada, a possibilidade de suplementação com a água potável, a redução do gasto em energia

para bombeamento, a garantia da qualidade, o benefício financeiro para a edificação durante a

fase de ocupação, o benefício para a cidade como um todo, considerando a suplementação às

redes públicas e a contribuição na drenagem, etc. A correta escolha do sistema depende de

cada projeto e da utilização que se pretende.

A norma NBR 15 527 da ABNT, Água de chuva: aproveitamento de coberturas em

áreas urbanas para fins não potáveis, em vigor a partir de 24 de outubro de 2007, menciona

as circunstâncias e finalidades em que águas de chuva podem ser utilizadas, após tratamento

adequado, como, por exemplo, em “descargas em bacias sanitárias, irrigação de gramados e

plantas ornamentais, lavagem de veículos, limpeza de calçadas e ruas, limpeza de pátios,

espelhos d'água e usos industriais” (ABNT/NBR 15 527, p. 5), remetendo o leitor para a

observância das normas e regulamentação abaixo indicadas:

a) Portaria n.18, de 25 de março de 2004, do Ministério da Saúde (norma de

qualidade de água para consumo humano);

b) ABNT NBR 5626: 1998, Instalação predial de água fria;

c) ABNT NBR 10844: 1989, Instalações prediais de águas pluviais;

Page 38: captação predial de

37

d) ABNT NBR 1221 3:1992, Projeto de captação de água de superfície para

abastecimento público;

e) ABNT NBR 12214: 1992, Projeto de sistema de bombeamento de água para

abastecimento público;

f) ABNT NBR 12217:1994, Projeto de reservatório de distribuição de água para

abastecimento público (ABNT/NBR 15 527, p. 5).

3.2 COMPONENTES DO SISTEMA DE CAPTAÇÃO

O funcionamento de qualquer sistema de captação de água pluvial depende de

elementos variáveis que vão determinar sua qualidade. São eles: superfície de captação,

tubulações para distribuição da água, acessórios, bombeamento, procedimentos de

manutenção e tratamento, tipo de reservatório com cobertura e dispositivos de esgotamento e

inspeção.

3.2.1 Superfície de captação

A captação de água pode ser feita em superfícies muito diferenciadas, como por

exemplo, em:

a) telhados de diversos materiais: telha cerâmica, fibrocimento, alumínio,

orgânicos, lajes em concreto, etc., variando também o coeficiente de runoff,

definido como o quociente entre volume de água que escoa na superfície e volume

precipitado;

b) áreas pavimentadas, pouco indicadas em virtude de a exposição a contaminantes

ser maior;

c) represas, que não serão estudadas neste trabalho, cujo foco é a edificação urbana.

O tamanho da superfície de captação influi diretamente no volume que pode ser

captado. É vulnerável à contaminação, por se tratar de superfície externa, exposta a animais,

ambientes poluídos, etc. Estudos complementares poderão ser desenvolvidos avaliando-se a

captação em fachadas, o que trará grande contribuição quando se trata de edificações

verticais.

Page 39: captação predial de

38

3.2.2 Tubulações e calhas para distribuição da água

Toda a rede de distribuição deve estar obrigatoriamente identificada e não deve haver

pontos de contato com a água potável. As mais utilizadas são aquelas feitas em PVC ou em

metal (alumínio ou aço galvanizado). Todo o procedimento é definido na NBR 10 844

(ABNT, 1989).

Detalhes sobre a coleta de águas pluviais em cidades, tais como em guias, sarjetas,

rasgos, que podem ser adaptados para áreas descobertas das edificações podem ser vistos em

Botelho (2004).

3.2.3 Acessórios

Consideram-se como acessórios as telas, os filtros para remoção de materiais

grosseiros desde o by pass inicial, que promovem a eliminação das primeiras chuvas para

garantir a qualidade da água, com lavagem da área da captação.

A automatização do by pass inicial poderá melhor garantir a qualidade do

funcionamento do descarte inicial. Em edificações, considera-se imprescindível tal

automatização para garantir o funcionamento do sistema, evitando que a água acumulada se

perca em uma falha da administração do edifício. Este descarte pode ser efetuado com

dispositivos de simples controle.

São considerados também acessórios todos os equipamentos instalados no sistema que

contribuem para a qualidade da água.

3.2.4 Bombeamento

Habitualmente, a distribuição da água desde o ponto de coleta até o de uso é feita por

um sistema de bombeamento. Entretanto, para assegurar o caráter sustentável da edificação,

deve ser avaliada a possibilidade da colocação dos reservatórios em pontos elevados, para que

a distribuição dispense o bombeamento, fazendo com o que o sistema melhore a eficiência

energética da edificação.

Page 40: captação predial de

39

3.2.5 Manutenção do sistema e tratamento

Campos (2004) enumera alguns procedimentos adotados no edifício Paul Klee, tema

do seu trabalho. Observe-se que nenhuma das sugestões acarreta custo elevado que venha a

inviabilizar o sistema:

a) limpeza das calhas, procedimento que já é necessário em qualquer edificação para

evitar entupimentos e que deve ser mais frequente em áreas com árvores, de

maneira que contribua para a qualidade da água armazenada;

b) limpeza do filtro;

c) limpeza do reservatório de acumulação, além de inspeção frequente para

identificação de possíveis fissuras, procedimento que também já faz parte da

rotina dos condomínios;

d) manutenção e verificação nas bombas e acessórios do sistema;

e) manutenção de sinalização indicativa “Água não potável”, próximo das torneiras

externas existentes;

f) inclusão das orientações da manutenção no Manual do proprietário, que já é um

documento entregue aos proprietários de imóveis.

Além desses, há a possibilidade de realização de tratamentos específicos que serão

determinados em função da qualidade da água coletada e do seu destino final.

A norma ABNT 15 527 sugere a freqüência de realização dos procedimentos de

manutenção dos diversos componentes do sistema, no item 5, da tabela 2, como se segue:

a) dispositivo de descarte de detritos: inspeção mensal, limpeza trimestral;

b) dispositivo de descarte do escoamento inicial: limpeza mensal;

c) calhas, condutores verticais e horizontais: manutenção semestral;

d) dispositivos de desinfecção e bombas: manutenção mensal;

e) reservatório: limpeza e desinfecção anual.

Page 41: captação predial de

40

3.2.6 Reservatório

O reservatório é componente de significativo custo do sistema de captação e, portanto,

seu correto dimensionamento, especificação e localização constituem parte importante da

viabilidade do sistema.

Na determinação do volume, precisa ser também avaliado o componente custo. O

volume ideal encontrado deve garantir o melhor desempenho no abastecimento, com o menor

investimento. Também na determinação dos pontos que serão abastecidos, deverá ser feita

criteriosa avaliação, comparando-se possibilidades de atendimento.

Para o dimensionamento do reservatório, precisam ser considerados:

a) superfície de captação: telhado, fachadas, terraços, etc., com a sua área de

contribuição;

b) coeficiente de runoff;

c) quantidade necessária de água através de previsão de consumo;

d) quantificação da população a que se destina;

e) disponibilidade da água, através dos índices pluviométricos diários em uma série

histórica;

f) localização do reservatório na edificação, buscando a melhor distribuição da carga

na estrutura, sobretudo porque, projetos novos, se o reservatório é colocado logo

abaixo do telhado, pode ser evitado também o custo do bombeamento;

g) o material de fabricação que pode ser em concreto moldado no local, pré-

fabricado, fibra de vidro, e aço galvanizado, decisão que deve considerar

localização, custo, volume necessário.

Nas análises desenvolvidas nesta dissertação será utilizado o modelo Teclim de

dimensionamento.

3.2.6.1 Aplicação do modelo Teclim para dimensionamento do reservatório

O balanço hídrico diário modelo Teclim possibilita efetuar os cálculos sequenciais

para vários volumes de reservatórios de água captada, buscando assim o dimensionamento

mais econômico. Também oferece a correspondente redução na demanda de água potável da

unidade em estudo.

Page 42: captação predial de

41

O modelo foi apresentado no artigo Captação direta de água de chuva no meio urbano

para usos não potáveis, apresentado no 24. Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e

Ambiental. Neste artigo é explicado o método:

[...] utilizando o software MS Excel permite ao usuário entrar com dados de consumo, serie de precipitação diária, área de captação e coeficiente de captação, tendo como resposta taxa de atendimento à demanda anual para diferentes volumes de reservatórios. A ferramenta permite ainda entrar com a capacidade de reservação e verificar o atendimento ao consumo a partir desta. È possível também acompanhar o balanço hídrico diário calculado a partir de gráficos. Simulações e comparações entre os resultados foram realizadas para diversas faixas de consumo e diferentes regimes pluviométricos” ( COHIM; KIPERSTOK, ALMEIDA, 2007, p. 9)

Os dados necessários para entrada no sistema são: área de cobertura da edificação

estudada, consumo diário de água per capita, total e não potável para possível substituição por

água de chuva captada, série histórica da pluviometria diária, coeficiente de runoff.

O volume do reservatório será adotado com base nas informações do sistema. Busca-

se o volume ideal, que pode ser definido como aquele que ofereça a melhor relação custo-

benefício. Acima do volume ideal, o ganho para o abastecimento deixa de ser significativo.

3.3 ALGUNS ESTUDOS SOBRE BENEFÍCIOS DE SISTEMAS DE CAPTAÇÃO

As avaliações dos amplos benefícios e do retorno do investimento propiciados pela

adoção de sistemas de captação dependem significativamente de muitas variáveis e oscilam a

depender de cada projeto.

Não se pode deixar de considerar que os serviços de fornecimento de água e energia,

que dependem de recursos naturais, tendem a ter seu preço aumentado e que a legislação e as

posturas municipais deverão estimular cada vez mais o uso racional dos recursos, tornando

mais frequentes o uso de implementos ambientalmente mais corretos, principalmente no

tocante ao consumo de água. Assim, as edificações que os utilizarem estarão mais aptas para

isto em menor espaço de tempo.

Para demonstrar as possibilidades da variação na relação custo-benefício da captação

direta, apresentam-se, a seguir, sínteses de estudos de vários autores sobre os benefícios

financeiros advindos do uso da água captada.

São vários os resultados obtidos. Em todos, são reconhecidos os benefícios mais

amplos, para o meio urbano, seja para a redução do custo das redes de abastecimento, seja

para o meio ambiente, seja para a prevenção de inundações seja em relação aos ganhos

energéticos.

Page 43: captação predial de

42

O Case study of a rainwater recovery system in a commercial building with a large

roof (CHILTON, et al., 1999) relata um tempo de retorno de 12 anos para investimentos no

sistema de captação. Esse tempo de retorno financeiro é discutido em função do tamanho de

tanques e da superfície de captação, podendo, segundo os autores, chegar a quatro anos.

Sobre tempo de retorno, os mesmos autores consideram que se, como benefício,

apenas é considerada a redução do custo no consumo da água, o tempo de retorno do

investimento pode parecer longo. No entanto, quando outros benefícios são considerados, tais

como redução da demanda da água potável com a conseqüente redução na ampliação das

redes, o investimento é interessante.

No artigo Rainwater utilization in Germany: efficiency, dimensioning, hydraulic and

environmental aspects Thilo HERRMANN e Uwe SHIMIDA (2000) reiteram a concepção

de que as reduções de custo precisam ser avaliadas de forma mais ampla, pois se discute o

custo comparativo entre estoques centralizados e descentralizados de água. Eles utilizam

trabalhos de Herrmann e Hasse (1997) e de Deltau e Stratmann (1998) para reafirmar que o

estoque de água descentralizado concorre economicamente com o centralizado, além de

contribuir para a efetiva redução na inundação urbana. Neste mesmo artigo, afirma-se que o

consumo que pode ser substituído no uso domestico é avaliado entre 30% a 60%, usando

reservatórios de 4m3 a 6m3.

O artigo A dual mode system for harnessing roofwater for non-potable uses (APPAN,

2000), avaliando a captação de água em Singapura, que tem índice pluviométrico médio anual

de 2250mm e 84% da população vivendo em edifícios, conclui que a adoção do sistema

proporciona uma redução de 12,4% no gasto mensal com água.

No livro Uso racional da água em edificações encontra-se, no capítulo 3,

Aproveitamento da água de chuva - PROSAB, a informação de que o consumo energético

oscila entre 25% a 45% do custo total da operação do sistema de abastecimento. Sendo assim,

este sistema descentralizado acumula os benefícios para o consumidor final, assim como para

as redes urbanas de distribuição, além de contribuir para evitar enchentes (PHILIPPI et al.,

2006).

O Instituto Akatu, em boletim publicado em outubro de 2007, com o titulo Novidades

para banheiros, avalia o benefício financeiro que teria uma família com a redução no gasto

com água. Segundo esta avaliação, respaldada em dados do IBGE, uma família, no Brasil,

gasta em média, no ano 2007, com água, R$ 166,20. Se esta família economizar 20% do

consumo e aplicar mensalmente o valor correspondente, ao final de cinco anos vai

economizar quase mil reais, considerando aplicação na poupança (INSTITUTO AKATU,

Page 44: captação predial de

43

2007). Esta avaliação reforça a idéia da redução de gastos com água como um componente de

sustentabilidade social.

O artigo intitulado Aproveitamento de água pluvial para usos não potáveis em

instituição de ensino: estudo de caso em Florianópolis � SC, destaca a viabilidade

econômica de sistema instalado no Senai/Florianópolis, que apresentou retorno de

investimento em 4 anos e 10 meses, referente à economia mensal de água potável gerada e

ao custo total de implantação do sistema. Além do ganho financeiro, os autores ressaltam os

“benefícios ambientais imediatos por preservar os recursos hídricos da região”

(MARINOSKI; GHISI, 2008, p. 83-84).

A constatação de que os benefícios da captação não podem ser avaliados apenas em

cálculo de pay-back no empreendimento, é o que ressaltam Cohim e Kiperstok (2007),

utilizando dados do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento - SNIS (BRASIL,

2006): “o índice de perdas na Embasa, de 1998 a 2004 ficou em torno de 40%. Segundo a

mesma fonte, a tarifa média praticada por esta concessionária em 2004 foi de R$1,21/m³,

porém a despesa total por m³ faturado foi de R$1,38, sendo que deste valor um pouco mais de

15% é gasto com energia elétrica.” Os autores prosseguem, com a previsão de que: [...] em função dos custos de implantação e operação de sistemas públicos de abastecimento de água, a utilização de fontes substitutivas representa também uma alternativa vantajosa às concessionárias, permitindo que o recurso economizado seja empregado na modernização e eficiência do sistema. Permitindo com isso que maior parte da população tenha acesso á água em quantidade e qualidade necessária aos diversos usos” (COHIM; KIPERSTOK; ALMEIDA, 2007, p.11).

3.4 SIMULAÇÕES DE SISTEMAS DE CAPTAÇÃO

Para uma avaliação dos benefícios da captação em edificações de alto padrão, serão

analisados os resultados de alguns processos de simulação, como se segue:

a) simulação de sistema em edificação residencial, vertical, situada na Vitória, em

Salvador;

b) simulação de sistema em condomínio horizontal de casas, situado na Alameda da

Praia de Tramandaí, com Alameda Praia de Guaratuba, em Itapuã, Salvador;

c) simulação de captação ampla na cidade de Salvador, considerando a área coberta

de telhados da cidade como a área de captação, de forma total, buscando

evidenciar o potencial benefício que poderia advir;

Page 45: captação predial de

44

d) simulação de captação em área de telhado equivalente ao crescimento da cidade

nos últimos 7 anos, buscando mostrar o benefício que poderia advir com a

implantação nas novas construções face ao grande crescimento da cidade.

Para o cálculo do consumo na edificação vertical, já completamente habitada, foram

obtidos os dados e os projetos com usuários e projetista de instalações. Primeiro, foi feito o

levantamento do número total da população residente, incluindo empregados, e dos valores

referentes ao pagamento mensal à Embasa. Na coleta de dados, houve dificuldade para a

obtenção da freqüência do uso dos equipamentos sanitários e, por isso, foi feita uma

estimativa, baseada em literatura. A avaliação de freqüência de uso foi realizada a partir de

adaptações efetuadas pela autora, segundo a realidade das edificações estudadas, que

possibilitaram estimar o consumo do prédio. Na edificação horizontal, não completamente

habitada, os dados foram levantados junto à empresa incorporadora e foram calculados a

partir dos projetos recebidos.

Tabela 3.1 - Demanda residencial de água não potável

Demanda Faixa Unidade Interna Vaso sanitário, volume 6 a 15 L/descarga Vaso sanitário, frequência 4 a 6 Descarga/hab/dia Máquina de lavar roupa - volume 100 a 200 L/ciclo Máquina de lavar roupa - frequência 0,2 a 0,3 Carga/hab/dia Externa Rega de jardim, volume 2 L/dia/m2 Rega de jardim, frequência 8 a 12 Rega/mês Lavagem de carro, volume 80 a 150 L/lavagem/carro Lavagem de carro, frequência 1 a 4 Lavagem/mês Fonte: TOMAZ (2000) adaptado, apud PHILLIPI et al, (2006)  

3.4.1Simulação em edificação vertical

A edificação vertical de alto padrão em que se fez a simulação está situada na Vitória,

em Salvador, Bahia: trata-se do edifício Fellini, com um apartamento de quatro suítes por

andar, com 24 apartamentos-tipo e uma cobertura, quatro garagens por apartamento,

totalizando cem vagas. Playground com guarita de segurança, piscina, salão de ginástica,

Page 46: captação predial de

45

sauna, salão de festas, parque infantil, jardins, situados no nível da Vitória. Píer com bar e

área para eventos situada no nível do mar. Área de jardins na ligação entre os dois níveis.

Na avaliação gasto de água, foram considerados:

a) consumo nas garagens com lavagem dos carros;

b) consumo nos vasos nos sanitários dos empregados do prédio;

c) consumo, nas áreas comuns, da água destinada à rega dos jardins;

d) consumo nos vasos sanitários das áreas de lazer;

e) consumo nos vasos sanitários dos apartamentos.

Page 47: captação predial de

46

Tabela 3.2 – Dados adotados para simulação do aproveitamento de água de chuva no Ed. Fellini

Dados Valor unidades Total de apartamentos 25 unidades População residente ( moradores)¹ 100 pessoas Consumo médio no prédio² 1.036,00 m³/mês Consumo total de água por morador, em 2007 340,60 litros/pessoa.dia Custo mensal com água no condomínio² 3.078,33 Reais Capacidade atual do reservatório inferior³ 84,00 m³ Capacidade atual do reservatório superior³ 48,20 m³ Área de telhado para captação³ 220,00 m² Área de fachada sudoeste³ 1.377,00 m² Área de fachada nordeste³ 1.985,00 m² Demanda nas áreas comuns

Empregados do prédio – diurnos¹ 7 pessoas Empregados do prédio – noturnos¹ 3 pessoas Consumo de água em litros por descarga sanitária, em cada uso 4 6,00 litros Acionamento de descargas, por empregado, por turno 4 3 unidades Consumo dos empregados em descargas 5,40 m³/mês Área de jardins³ 600,00 m² Consumo por metro quadrado de jardim/rega 4 2,00 litros Freqüência de regas mensais 4 15 regas Consumo para rega de jardins 18,00 m³/mês Quantidade de veículos no prédio 100 unidades Numero de lavagem por veículos, por mês¹ 15 lavagens Consumo por lavagem por carro 4 15,00 litros Consumo na lavagem de carros 22,50 m³/mês Eventos no pier por mês 4 8 unidades Visitantes por evento, media 4 6 pessoas Consumo dos visitantes do pier 0,86 m³/mês Total do consumo das áreas comuns 46,76 m³/mês Demanda da área privativa

População de empregados dos aptos 25 pessoas Consumo médio na área privativa do apartamento 39,57 m³/mês Consumo médio por apartamento, por dia 263,80 litros/dia Frequência de uso de descarga por morador 4 6 unidades Consumo dos moradores em vaso sanitário 108,00 m³/mês Consumo dos empregados dos aptos. em vaso sanitário 4 27,00 m³/mês Consumo total em descargas sanitárias na área privativa dos aptos. 135,00 m³/mês Potencial para aproveitamento de água de chuva

Total de água potável a ser substituído por água de chuva 181,76 m³/mês Percentual máximo que poderia ser suprido com água de chuva 17,54 % Custo máximo que poderia ser economizado, usando % máximo de suprimento 540,09 Reais/mês Quant. de água, por dia, que pode ser suprida com água de chuva 5.975,80 litros/dia Quant. de água, por morador que pode ser suprida com água de chuva 59,76 litros/pessoa.dia ¹ Valor informado pelo condomínio ; ²Valor retirado da conta da Embasa; ³Valor retirado das plantas arquitetônicas do empreendimento; 4 Valor estimado.

Dimensionamento do reservatório e cálculo do volume que pode ser suprido com a

captação, usando o modelo Teclim de dimensionamento:

Page 48: captação predial de

47

Tabela 3.3 – Dados de entrada e saída do modelo para simulação do aproveitamento de água de chuva no Ed. Fellini

1 1 ¹ 1

1Produção: volume de água de chuva possível de ser captado para a área de captação adotada.

Tabela 3.4 – Cálculo do benefício para o aproveitamento de água de chuva no Ed. Fellini em valores

Dados Valores Unidades Consumo total 15.539,9 m³/ano Volume substituído 308,8 m³/ano Valor anual 36.939,96 Reais Percentual economizado 2,48 % Valor anual economizado 917,56 Reais

Em valor, tem-se anualmente uma economia prevista de R$ 917,56. Observa-se que,

em decorrência da pequena área de telhado, a relação “produção x demanda” é baixa.

O gráfico abaixo, reproduzido com a função de ilustrar um dos recursos deste modelo,

apresenta a relação do volume com demanda atendida, oferecendo informações para a escolha

do volume ideal.

Como pode ser visto, acima de determinada capacidade de reservatório, o

atendimento não cresce significativamente. O volume ideal pode ser definido como aquele

volume acima do qual não há significativo aumento no atendimento da demanda. No exemplo

em questão, a escolha recaiu sobre o índice de 9 m3.

Dados Valores Unidades Entrada (input)

População 125,0 pessoas Área de captação 220,0 m² Coef de captação 0,85 Consumo total per capita 340,6 litros/pessoa.dia Consumo total 15.539,9 m³/ano Demanda per capita para água de chuva 59,8 litros/pessoa.dia Demanda total para água de chuva 2.728,4 m³/ano Capacidade do reservatório 9,0 m³

Saída (output) Volume captado 328,5 m³/ano

Relação produção¹/demanda para água de chuva 12 % Demanda para água de chuva atendida 11,3 % Volume médio substituído 308,8 m³/ano Demanda total substituída 2,0 % Volume a ser atendido pela rede pública 15.231,1 m³/ano

Page 49: captação predial de

48

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

0,00 20,00 40,00 60,00 80,00 100,00 120,00

Dem

anda

ate

ndid

a

Volume do Reservatório (m³)

Demanda Atendida (M I) Transbordo/Prod. Do Telhado (M I)Demanda Atendida (M II) Transbordo/Prod. Do Telhado (M II)Atendimento Médio

Figura 3.1 – Gráfico do volume do reservatório x demanda para água de chuva atendida

resultante da simulação do aproveitamento de água de chuva no Ed Fellini

Apenas como ilustração, simula-se a captação na área de fachadas do mesmo edifício,

como sendo uma potencial área para captação , e admite-se, nesta simulação 50% do

coeficiente de runoff utilizado para telhados, vez que não foram encontrados trabalhos que

definam a relação entre volume de água que escoa em superfícies verticais, volume

precipitado e posicionamento da fachada.

Com esta simulação, pretende-se levantar a discussão sobre o potencial da captação

em fachadas, que poderá ser objeto de trabalhos futuros, considerando o crescimento das altas

edificações que vêm surgindo. A norma brasileira ABNT 15 527 não define a captação em

superfície vertical, detendo-se apenas nos estudos sobre captação nas superfícies horizontais.

Assim, define área de captação, no item 3.3, como “área, em metros quadrados, projetada na

horizontal da superfície impermeável da cobertura onde a água é captada.”

Utilizando-se o mesmo método de dimensionamento e considerando apenas o

consumo das áreas comuns, no nível do playground e pier, obtém-se, com o mesmo volume

de acumulação, no nível inferior, um atendimento equivalente a 6,3% do total da demanda de

água potável (com a captação no telhado, encontrou-se 2,5%) e 47,4% da demanda por água

não potável.

Page 50: captação predial de

49

Tabela 3.5 – Dados de entrada e saída do modelo para simulação do aproveitamento de água de chuva no Ed. Fellini considerando como área de captação as fachadas

¹Produção: volume de água de chuva possível de ser captado para a área de captação adotada.

0%

20%

40%

60%

80%

100%

0,00 20,00 40,00 60,00 80,00 100,00 120,00

Dem

anda

Ate

ndid

a

Volume do Reservatório (m³)

Demanda Atendida (M I) Transbordo/Prod. Do Telhado (M I)Demanda Atendida (M II) Transbordo/Prod. Do Telhado (M II)Atendimento Médio

Figura 3.2 � Gráfico do volume do reservatório x atendimento da demanda para água de chuva

atendida resultante da simulação do aproveitamento de água de chuva no Ed Fellini considerando como área de captação as fachadas

3.4.2 Simulação em condomínio horizontal

Nesta simulação, foi estudado o Condomínio Villa Costeira, situado na Alameda da

Praia de Tramandaí, com Alameda Praia de Guaratuba, em Itapuã, Salvador Bahia. O

condomínio foi parcialmente entregue em 2008. É constituído de 40 casas de quatro suítes,

Dados Valores Unidades Entrada (input)

População 125,0 pessoas Área de captação 3.362,0 m² Coef de captação 0,43 Consumo total per capita 340,6 litros/pessoa.dia Consumo total 15.539,9 m³/ano Demanda per capita para água de chuva 59,8 litros/pessoa.dia Demanda total para água de chuva 2.728,4 m³/ano Capacidade do reservatório 9,0 m³

Saída (output) Volume captado¹ 2.539,3 m³/ano

Relação produção¹/demanda para água de chuva 93,1 % Demanda para água de chuva atendida 38,7 % Volume médio substituído 1.056,9 m³/ano Demanda total substituída 6,8 % Volume a ser atendido pela rede pública 14.482,9 m³/ano

Page 51: captação predial de

50

com quatro opções de plantas. São casas de dois pavimentos e a cobertura é em telha

cerâmica. Trata-se de condomínio de alto luxo, com grande área de jardins individualizados

por lote. Também dispõe de clube e guarita de segurança, cuja captação não foi estudada.

Esta simulação contempla a captação e reservação individualizada, por casa, segundo

dois modelos:

a) o que considera como uso apenas os consumos de área externa � rega de

jardins e lavagem de veículos �, caso em que o reservatório pode permanecer

no nível do terreno, sendo, portanto, mais econômica;

b) o que considera como uso, além dos citados na alínea a), o consumo

proveniente das descargas em vasos sanitários, caso em que parte do

reservatório precisa estar acima do teto do primeiro pavimento.

Tabela 3.6 – Dados adotados para simulação do aproveitamento de água de chuva no Condomínio Villa Costeira

Dados Valores Unidades Total de unidades habitacionais 40 unidades População residente (moradores) 160 pessoas Expectativa de empregados nas unidades 40 pessoas Estimativa do consumo de água em descarga, por acionamento. 6 litros Estimativa da frequência de uso diário das descargas por morador/empregado 5 unidades Consumo total em descarga 180 m³/mês

Estimativa de eventos em cada casa, por mês 2 unidades Estimativa de visitantes por evento 6 pessoas Consumo total de visitantes 8,64 m³/mês

Área de jardins 12.035,92 m² Estimativa de consumo por metro quadrado de jardim 2 litros Estimativa de frequência de regas mensais 15 Rega/mês Consumo na rega de jardins 361,08 m³/mês

Estimativa da quantidade de veículos 102 unidades Estimativa de numero de lavagem por veículos, por mês 15 unidades Gasto por lavagem, por carro, com "mangueira” (medição simulada) 45 litros Consumo total da lavagem de carros 68,85 m³/mês

Consumo de jardins e garagens 429,93 m³/mês Consumo em descargas, na área privativa das unidades 188,64 m³/mês Demanda total poderá ser suprida com captação de água de chuva 618,57 m³/mês

Page 52: captação predial de

51

3.4.2.1 Captação apenas para lavagem de veículos e regas de jardim

Simula-se a seguir a captação para uso no andar térreo, em lavagem de veículos e jardins.

Tabela 3.7 – Dados de entrada e saída do modelo para simulação do aproveitamento de água de chuva no Condomínio Villa Costeira atendendo a lavagem de veículos e regas de jardim

¹Produção: volume de água de chuva possível de ser captado para a área de captação adotada.

0%

20%

40%

60%

80%

100%

0,00 50,00 100,00 150,00 200,00 250,00 300,00

Dem

anda

Ate

ndid

a

Volume do Reservatório (m³)

Demanda Atendida (M I) Transbordo/Prod. Do Telhado (M I)

Demanda Atendida (M II) Transbordo/Prod. Do Telhado (M II)

Atendimento Médio

Figura 3.3 � Gráfico do volume do reservatório x atendimento da demanda para água de chuva atendida

resultante da simulação do aproveitamento de água de chuva no Condomínio Villa Costeira atendendo a lavagem de veículos e regas de jardim

Dados Valores Unidades Entrada (input)

População 200 pessoas Área de captação 9.063,0 m² Coef de captação 0,85 Consumo total per capita 350,0 litros/pessoa.dia Consumo total 25.550,0 m³/ano Demanda per capita para água de chuva 81,0 litros/pessoa.dia Demanda total para água de chuva 5.913,00 m³/ano Capacidade do reservatório 120,0 m³

Saída (output) Volume captado¹ 13.531,2 m³/ano

Relação produção¹/demanda para água de chuva 229 % Demanda para água de chuva atendida 76,3 % Volume médio substituído 4.510,6 m³/ano Demanda total substituída 17,6 % Volume a ser atendido pela rede pública 21.039,4 m³/ano

Page 53: captação predial de

52

Na situação anterior, optou-se por reservatório de 3m3 por casa, totalizando 120m3 no

condomínio. Obteve-se um atendimento de 76,1% da demanda que pode ser suprida com água

de chuva. Este número representa 17,6% do consumo total de água das casas.

3.4.2.2 Captação da água para vasos sanitários, lavagem de veículos e regas de jardim

Ao realizar a simulação mantendo-se, nesta opção, a mesma área de reservação,

obteve-se um atendimento de 67,4% da demanda de água não potável. Este resultado

representa 21,6% do consumo total do condomínio, ou seja, apenas 4,0% acima da avaliação

anterior. Observe-se que, nesta alternativa, faz-se necessário o reservatório elevado,

aumentando o custo do sistema.

Tabela 3.8 – Dados de entrada e saída do modelo para simulação do aproveitamento de água de chuva no

Condomínio Villa Costeira atendendo a vasos sanitários, lavagem de veículos e regas de jardim

¹Produção: volume de água de chuva possível de ser captado para a área de captação adotada.

Dados Valores Unidades Entrada (input)

População 200 pessoas Área de captação 9.063,0 m² Coef de captação 0,85 Consumo total per capita 350,0 litros/pessoa.dia Consumo total 25.550,0 m³/ano Demanda per capita para água de chuva 112,0 litros/pessoa.dia Demanda total para água de chuva 8.176,0 m³/ano Capacidade do reservatório 120,0 m³

Saída (output) Volume captado¹ 13.531,2 m³/ano

Relação produção¹/demanda para água de chuva 165,5 % Demanda para água de chuva atendida 67,6 % Volume médio substituído 5.525,8 m³/ano Demanda total substituída 21,6 % Volume a ser atendido pela rede pública 20.024,2 m³/ano

Page 54: captação predial de

53

0%

20%

40%

60%

80%

100%

0,00 50,00 100,00 150,00 200,00 250,00 300,00 350,00 400,00

Dem

anda

Ate

ndid

a

Volume do Reservatório (m³)

Demanda Atendida (M I) Transbordo/Prod. Do Telhado (M I)

Demanda Atendida (M II) Transbordo/Prod. Do Telhado (M II)

Atendimento Médio

Figura 3.4 � Gráfico do volume do reservatório x atendimento da demanda para água de chuva atendida resultante da simulação do aproveitamento de água de chuva no Condomínio Villa Costeira atendendo a vasos

sanitários, lavagem de veículos e regas de jardim

Neste ponto, é necessário ressaltar que os benefícios de potenciais reduções no

consumo nos condomínios, apresentados nestes estudos referem-se apenas ao benefício

financeiro direto do usuário da unidade habitacional, não contemplando outros ganhos como,

por exemplo, o consumo de energia nas redes de abastecimento, a preservação da água nos

mananciais, e possibilidade de contribuir positivamente nas inundações urbanas.

3.5 AVALIAÇÃO DO POTENCIAL DA CIDADE DE SALVADOR: CAPTAÇÃO AMPLA

Com o crescimento populacional dos grandes centros, a construção de novas unidades

habitacionais tem incremento significativo, aumentando a área impermeabilizada das cidades.

Em artigo que estuda a captação direta no âmbito urbano, demonstra-se esta diminuição das

áreas permeáveis, relacionada com o aumento de população e volume de água para

escoamento. São utilizadas por Cohim, Kiperstok e Almeida as duas figuras abaixo para

ilustrar a situação.

Page 55: captação predial de

54

Figura 3.5 � O balanço hídrico urbano e a água de chuva. Fonte: adaptado de Urban water management in India: the role of rainwater harvesting por Cohim;

Kiperstok; Almeida (2007, p. 4).

5

15

25

35

45

55

65

0 50 100 150 200 250

Impermeabilidade(%

)

DensidadePopulacional  (hab/ha)

Tucci  et  al

São  Paulo

Curitiba

Porto  Alegre

Curva  Média

Figura 3.6 � Relação entre a densidade populacional e impermeabilização. Fonte: Campana, N. A., 1995, apud Cohim; Kiperstok; Almeida (2007, p.4)

Deduz-se, desses dados, o aumento da demanda por infraestrutura de drenagem

pluvial. Na tabela 3.9 pode ser observado o incremento de população na cidade de Salvador

no período 1970-2000.

Page 56: captação predial de

55

Tabela 3.9 – População residente em Salvador e Região Metropolitana

Município, Região Metropolitana, colar, núcleo e área de expansão Ano Habitantes

Salvador - BA 1970 1.007.195 1980 1.502.013 1991 2.075.273 2000 2.443.107

Salvador (Região Metropolitana) 1970 - 1980 - 1991 - 2000 3.021.572

Fonte: BRASIL, IBGE (2007, tabela 200)

Segundo o Censo de 2000, na década de 1990, a cidade recebeu 367 834 novos

habitantes. Este número supera a população total da cidade de Vitória da Conquista, terceira

no Estado em população, com 308 204 habitantes de população estimada em outubro de 2007

(BRASIL, IBGE, 2007). ).

Também de acordo com estimativa divulgada em outubro de 2007, a população de

Salvador era de 2 892 625 habitantes (BRASIL, IBGE, 2007). Este acréscimo já significa, em

relação a 2000, um incremento de 449 518 habitantes. Este número aproxima-se da população

de Feira de Santana, a segunda maior do Estado, estimada em 571 997, também em outubro

2007.

Em estudo das cidades de Santa Catarina, foi obtida a média de redução possível no

uso da água potável de 69%, variando em faixa de 34% a 92%. Citam-se também neste artigo

(GHISI; MONTIBELLER; SCHMIDT, 2005) trabalhos feitos na Alemanha, por Herrmann e

Schimida, com potencial de redução obtido variando de 30% a 60%, dependendo da área de

telhado. Para a Austrália, agora mencionando pesquisa de Coombes (2002), os autores

informam que foi obtido o percentual de 60% e, na Inglaterra, Fewkes (2006) chegou a 57%.

Para ilustrar e demonstrar a importância e o potencial da captação na cidade de Salvador,

simula-se a captação ampla na cidade, considerando-se um volume de reservatórios de 0,5m3

por unidade domiciliar. Obteve-se um atendimento com água de chuva de 22 910 604,00

m³/ano. Também para ilustrar a importância deste volume, calcula-se que, considerando um

consumo de 200 litros por dia por habitante, este volume captado equivaleria, ao atendimento

de uma cidade com 313 843 habitantes.

Page 57: captação predial de

56

Tabela 3.10 – Dados adotados para simulação do potencial de aproveitamento de água de chuva em Salvador

Dados Valor unidades População ¹ 2.428.388 habitantes Numero total de pessoas em apartamentos e cômodos ¹ 707.221 habitantes Numero total de pessoas em casas ¹ 1.721.167 habitantes Numero de apartamentos e cômodos ¹ 212.918 unidades Numero de casas ¹ 438.375 unidades Numero de domicílios 651.293 unidades % casas¹ 67,29 % % apartamentos e cômodos ¹ 32,71 % Pessoa por unidade habitacional 3,73 pessoas/resid. Área de telhado em casas ² 81,00 m² Área de telhado em apartamentos ² 15,00 m² Área de telhado por pessoa em apartamentos 4,02 m²/morador Área média de telhado/residencia ³ 59,41 m² Área total de telhado 4 38.694.228,94 m² ¹ Fonte: IBGE, Contagem da população 2007 e Estimativas da população 2007 ² Fonte: GHISI, 2004. p.4 ³ Área média de telhado considerada = % casas x 85m² + % aptos x 15m2 4 Área total de telhado = Área média de telhado x Numero de domicílios

Tabela 3.11 – Dados de entrada e saída do modelo para simulação do aproveitamento de água de chuva em Salvador

¹Produção: volume de água de chuva possível de ser captado para a área de captação adotada.

Dados Valores Unidades Entrada (input)

População 2.428.388 pessoas Área de captação 38.694.228 m² Coeficiente de captação 0,85 Consumo total per capita 200,0 litros/pessoa.dia Consumo total 177.272.324 m³/ano Demanda per capita para água de chuva 46,0 litros/pessoa.dia Demanda total para água de chuva 40.772.635 m³/ano Capacidade do reservatório (0,5m3/residência) 325.646,50 m³

Saída (output) Volume captado¹ 57.771.011 m³/ano

Relação produção¹/demanda para água de chuva 141,7 % Demanda para água de chuva atendida 56,2 % Volume médio substituído 22.910.604 m³/ano Demanda total substituída 12,9 % Volume a ser atendido pela rede pública 154.361.720 m³/ano

Page 58: captação predial de

57

0%

20%

40%

60%

80%

100%

0 200000 400000 600000 800000 1000000 1200000 1400000 1600000 1800000

Demanda Atendida

Volume do Reservatório (m³)Demanda Atendida (M I) Transbordo/Prod. Do Telhado (M I)

Demanda Atendida (M II) Transbordo/Prod. Do Telhado (M II)

Atendimento Médio

Figura 3.7 � Gráfico do volume do reservatório x demanda para água de chuva atendida resultante da simulação do aproveitamento de água de chuva em Salvador

O cálculo acima mostra o potencial volume que pode ser captado diretamente, pois

considera todas as residências atuais da cidade como ponto de captação e, portanto, tem difícil

concretização.

No entanto, ao avaliar com base no crescimento da cidade, é viável prever que o

volume que pode ser suprido, nas novas edificações que surgem, é um demonstrativo de

possível benefício que a introdução do uso da captação direta pode trazer às redes de

abastecimento.

Apresenta-se abaixo, também como ilustração, um resumo do volume de água que

poderia ter sido substituído, se a captação tivesse sido implantada no ano de 2000, para as

novas construções. Considerou-se o período de sete anos, entre 2000 e 2007. Nesse período, a

Cidade do Salvador aumentou sua população em 449 518 habitantes.

Page 59: captação predial de

58

Tabela 3.12 – Dados de entrada e saída do modelo para simulação do aproveitamento de água de chuva em Salvador considerando a implantação para as novas construções no período entre 2000 e 2007.

¹ Produção: Volume de água de chuva possível de ser captado para a área de captação adotada.

A simulação demonstra que essas novas residências, se efetuassem a captação,

poderiam economizar 56,2% da água não potável ou 12,9% do consumo total, com um

reservatório de apenas 0,5 m3 por unidade habitacional. O volume anual de água potável que

poderia ser substituído seria de 4.243.051,8 m3/ano, que equivalem ao consumo total de uma

cidade com 58 124 habitantes, estimando-se um consumo de 200 litros por dia, por habitante.

Aqui, é preciso ressaltar a importância de ações paralelas de racionalização nos

projetos, com modernos equipamentos de baixo consumo, tais como descargas de duplo

comando, torneiras com fluxos controlados, etc., campanhas de conscientização para o bom

uso e trabalhos para reduzir as perdas ao longo das redes, que favoreceriam ainda mais a

redução da demanda por água potável.

Assim, as empresas de saneamento, responsáveis pelo gerenciamento da água,

contariam com esta fonte suplementar e poderiam ser reduzidos os investimentos para suprir

as novas demandas, assim como a operação do sistema.

Dados Valores Unidades Entrada (input)

População 449.518 pessoas Área de captação 7.159.749 m² Coef de captação 0,85 Consumo total per capita 200,0 litros/pessoa.dia Consumo total 32.814.814,0 m³/ano Demanda per capita para água de chuva 46,0 litros/pessoa.dia Demanda total para água de chuva 7.547.407,2 m³/ano Capacidade do reservatório (0,5 m³/residência) 60.057,00 m³

Saída (output) Volume captado¹ 10.689.603 m³/ano

Relação produção¹/demanda para água de chuva 141,6 % Demanda para água de chuva atendida 56,2 % Volume médio substituído 4.243.051,8 m³/ano Demanda total substituída 12,9 % Volume a ser atendido pela rede pública 28.571.762,2 m³/ano

Page 60: captação predial de

59

3.6 A QUALIDADE DA ÁGUA DE CHUVA E ACEITAÇÃO PELA POPULAÇÃO

Pesquisa intitulada Águas no Brasil: visão dos brasileiros, encomendada pela WWF,

realizada em 2004, ouviu 1 000 pessoas, em todas as regiões. Entre os municípios

pesquisados, 44% tinham mais que 100 000 habitantes (IBOPE, 2005).

Questionados sobre a “possibilidade de problemas com o abastecimento de água,

levando em conta a forma como a água é utilizada e a quantidade disponível”, 90% dos

entrevistados, “concordam que o Brasil terá problemas com abastecimento de água”.

Quando foi solicitada uma resposta espontânea, com até duas opções, para pergunta

sobre os maiores problemas ambientais do Brasil, 52% citaram “poluição da água”. Entre os

entrevistados com mais de 10 salários mínimos de renda, este percentual sobe para 70%.

Quando foram questionados sobre “principal fator para agravamento do problema da

água no país”, em questão espontânea, para várias opções de resposta, apenas 4%

consideraram a “falta de política do governo para a água” e 1% citou “poucas fontes e

reservas de água”. As demais respostas estão ligadas ao consumo, poluição, etc., mostrando

pouca reflexão sobre a gestão da água e fontes alternativas.

Na pergunta sobre “quais seriam os meios pelos quais se pode evitar o desperdício de

água no domicílio”, em resposta espontânea, surgiram as seguintes alternativas:

a) diminuir o tempo de banho – 31%;

b) fechar a torneira ao escovar dentes e fazer barba – 26%;

c) consertar vazamentos/torneira pingando – 16%;

d) usar máquina de lavar com carga máxima – 15;%;

e) não lavar calçada com mangueira/ usar vassoura – 15%;

f) lavar louças em bacias -11%;

g) aproveitar a água usada para outros fins ( lavar quintal, regar plantas,

descargas, etc.) – 9%;

h) não lavar carro com mangueira 8%;

i) utilizar aparelhos que economizem água/ reaproveitem – 4%;

j) aproveitar a água de chuva – 3%.

Considerando que os primeiros itens têm sido recentemente divulgados em campanhas

publicitárias e educativas, no intuito de reduzir desperdícios, oferecendo portanto benefício

direto, os itens sinalizados, de reuso e captação, evidenciam conhecimento da população do

uso da água de chuva como alternativa para redução do consumo das redes.

Page 61: captação predial de

60

Pesquisa realizada na cidade de João Pessoa, na Paraíba, apresentada em dissertação

de mestrado que estudou viabilidade técnica, econômica e social do aproveitamento da água

de chuva, sinaliza sua aceitação pela população. De acordo com a pesquisa, [...] somando-se o percentual das pessoas que já utilizam águas pluviais com aquele

relativo às pessoas que utilizariam águas pluviais em residências caso tivessem

conhecimento da opção, a parcela de utilização aumentaria para quase dois terços,

(65,63%) dentre a população pessoense, demonstrando um alto nível de aceitação da

opção (DIAS, 2007, p. 96).

Os que declararam rejeição ao uso da água, citaram como principal motivo a falta de

incentivo, a dificuldade para captar e a falta de interesse com o processo técnico da captação.

Esta pesquisa foi desenvolvida de acordo com plano de amostragem, em 2006, em 800

domicílios. Entre os resultados obtidos, destacam-se alguns que podem ser considerados

importantes para a linha de argumentação desta dissertação.

Em primeiro lugar, 66,10% declaram conhecer a captação. Segmentando-se por

escolaridade, os grupos que apresentaram o maior conhecimento da técnica, são aqueles cujos

membros têm nível de escolaridade superior incompleto e os “sem instrução”. Segmentando-

se por idade, o maior conhecimento é entre pessoas de 30 a 40 anos, decrescendo o

conhecimento para grupos de maior idade.

Em segundo lugar, para os usuários da captação, o destino da água é maior para

limpeza (93,08%), rega de jardim (59,17%), bacias sanitárias (48,44%), lavagem de carro

(31,49%) e outros usos (4,15%)

Sobre tratamentos da água captada, 69,52% declararam não fazer tratamentos. Parte

justifica sua atitude por achar que, para os usos que realizam, a água não precisa do

tratamento, outro grupo menor, por não ter conhecimento e apenas 0,8% do total declararam

que não efetuam tratamentos para não onerar o sistema (DIAS, 2007)

Com a evidência desta pesquisa, podemos inferir algum conhecimento da população

sobre a captação direta? Quais os receios que poderiam advir da implantação da captação?

Haveria algum conceito que poderia levar a população a rejeitar esta utilização?

Na pesquisa de João Pessoa, foram citados como motivos para não utilizar, a falta de

incentivos, a dificuldade na captação, a falta de interesse e o perigo de contaminação apenas

para 1,67% do grupo, que representa 0,8% do total (DIAS, 2007).

A respeito da qualidade da água de chuva, que supostamente poderia gerar receios e

rejeição quanto ao seu uso, Tomaz (2003) indica que ela pode ser avaliada em quatro pontos:

antes de chegar ao solo, após escorrer no telhado, no reservatório e no ponto de uso.

Page 62: captação predial de

61

Os receios sobre a qualidade da água captada vêm sendo debatidos, e já existem

estudos sobre esses quatro pontos. Pesquisas com sistemas experimentais no Centro de

Técnicas de Construção Civil da Escola Politécnica da USP vêm mostrando resultados

interessantes. Esse estudo, que aproveita a água de chuva para fins não potáveis, obtém

amostras em coletores automáticos e sequenciais que são avaliadas pelo Instituto Adolfo Lutz.

Nesta avaliação, são identificadas a acidez e também a presença de coliformes fecais em 50%

das amostras. Esses coliformes são explicados por fezes de animais nos telhados (QUINTO,

2005).

Essas análises pautam sugestões para o consumo não potável da água de chuva, sem

prejuízo da saúde, prevendo-se para isto o descarte do primeiro milímetro de cada chuva

(PHILLIPI et al., 2006).

Este descarte, da primeira água coletada, é uma forma prática para prevenir contra a

poeira e a fuligem que se acumulam em áreas de coleta como telhados, contaminando-a. As

condições de limpeza da área de coleta e a qualidade do ar da região de captação devem ser

consideradas no tocante às utilizações possíveis dessas águas. (FENDRICH; OLIYNIK,

2002).

A ABNT (NBR 5626) determina a separação e a identificação das tubulações

destinadas à água pluvial e à água potável, assim como os reservatórios próprios. Esta

separação garante o não-cruzamento das instalações, reservando-se a água pluvial para os

usos não potáveis para os quais ela se destinará. Já a NBR 15 527 Água de Chuva –

aproveitamento de coberturas em áreas urbanas para fins não potáveis, oferece parâmetros de

qualidade de água para o uso não potável.

São vários os parâmetros que devem ser utilizados para a avaliação e para a análise da

qualidade da água, tais como:

a) físicos: turbidez, cor, odor, sólidos dissolvidos;

b) químicos: pH, dureza, DBO;

c) biológicos: bactérias heterotróficas, coliformes totais, coliformes fecais.

Para a escolha dos parâmetros, segundo Rebello (2005), podem ser estabelecidos os

critérios abaixo e, para limites, os índices das legislações:

a) aceitação do usuário frente ao aspecto estético da água: a cor ou turbidez pode

conferir aspecto desagradável e assim acarretar questionamento da qualidade;

b) potencial risco à saúde do usuário: fungos e bactérias poderiam significar risco em

uma ingestão acidental;

Page 63: captação predial de

62

c) potencial risco às instalações: a dureza ou o pH, muito altos ou muito baixos

podem causar prejuízos materiais.

A resolução 274 do Conama (CONAMA, 2000) define o grau de contato do ser

humano com água e, para a pluvial, as análises encontradas partem do entendimento de que

este contato ocorrerá como “primário”.

As principais fontes de contaminação dos sistemas de captação, tais como presença de

matéria orgânica na superfície de captação ou calhas, fissuras nos componentes do sistema,

acesso de animais, pessoas ou poluentes no reservatório, contato com esgotos, podem ser

minoradas, quando não completamente evitadas, com a manutenção sistemática nas

instalações.

Nas cidades, em virtude da existência de poluentes atmosféricos, pode-se encontrar

um pH ácido, porém ao entrar em contato com a superfície de captação, há a interação com as

substâncias ali presentes, tendo como resultado o aumento do valor de pH, atingindo

neutralização (MAY, 2004). A qualidade da água de chuva está associada à presença de

poluentes atmosféricos e a substâncias e organismos presentes na superfície de captação.

Próximo à costa, são encontrados elementos como sódio, potássio, magnésio, cloro e cálcio.

Distante desta, os elementos presentes são de origem terrestre, como sílica, alumínio e ferro, e

de origem biológica, como nitrogênio, fósforo e enxofre (TOMAZ, 2003). Em áreas urbanas,

em virtude da presença de poluentes no ar, provenientes de veículos automotores e das

indústrias, são detectadas, nas águas pluviais, substâncias como dióxido de enxofre e óxido de

nitrogênio, chumbo e zinco. Esta contaminação também pode ter origem de poeiras e fuligens

depositadas nas áreas de coleta (TOMAZ, 2005).

Este trabalho não pretende se aprofundar na qualidade da água de chuva captada

diretamente, tema discutido em vários outros trabalhos. Discute-se a possibilidade de uso e

aceitação por parte da população.

Conclui-se, portanto, com as simulações apresentadas, que o sistema de captação,

quando for devidamente planejado e executado, pode representar fonte alternativa

suplementar para os consumos de água não potável, contribuindo para a redução da demanda

sobre a rede urbana, permitindo que a água potável destine-se a consumos mais nobres e pode

contribuir também, de alguma forma, para a prevenção das inundações urbanas.

Apesar de a simulação de benefício financeiro da captação na área de telhado, em

edificação vertical, não apontar compensação significativa, estudos podem ser desenvolvidos

para que, nessas edificações, seja possível efetuar-se a captação nas áreas de fachada, que

representam grandes superfícies.

Page 64: captação predial de

63

Também deve ser considerado que, avaliando-se o benefício de forma mais ampla para

a cidade, considerando-se o vertiginoso crescimento e demandas que virão, é evidente a

grande contribuição que pode significar. Para estímulo à ampliação do uso da captação, nas

edificações verticais, em que o benefício financeiro direto para o usuário não é significativo,

será estudado o estímulo ao uso como estratégia de marketing da empresa, na próxima seção.

Nos condomínios horizontais, com grandes áreas para rega de jardins e maior área de

captação por usuário, a análise de pay-back se mostra mais atrativa, evidenciando, mais ainda,

a viabilidade financeira de utilização da captação. Vale ressaltar que, segundo dados do

IBGE, o percentual de domicílios tipo casa, chega a 67,29% em Salvador e a 72,06% quando

se considera toda a Região Metropolitana. Neste caso, a compensação financeira poderá

constituir-se como um estímulo ao uso, aliada também à estratégia de marketing da empresa,

como será visto no capítulo seguinte.

Page 65: captação predial de

64

4 RENOVAÇÃO DOS IMÓVEIS DE ALTO PADRÃO: USO DE NOVAS ESPECIFICAÇÕES AMBIENTALMENTE MAIS CORRETAS

Discute-se, neste capítulo, se, além da análise de pay back, com bom prazo de retorno

ou uma boa relação custo x benefício, outros fatores podem influenciar o uso ou não-uso de

novas especificações ambientalmente mais corretas.

Através da análise do mecanismo de renovação e do sucesso das marcas, procura-se

identificar o tipo de estímulo que pode levar ao uso destas especificações nos imóveis,

buscando os fatores que fazem com que determinados produtos, serviços ou atributos se

transformem em objetos de desejo e, assim implantados, disseminar-se no mercado como um

todo.

Essa busca de inclusão ou renovação de marcas, seja por leitura de demanda, seja por

criação de demanda, visam a evidenciar a possibilidade e a necessidade de saltos de

qualidade, agregando valor aos produtos de sucesso já existentes e criando novos produtos

que ainda podem ser pensados no mercado imobiliário. Por isso, foi feito um levantamento de

alguns exemplos de novos atributos inseridos nas edificações, destacando-se algumas

alterações já percebidas.

Para ampliar o entendimento sobre o consumo e o consumidor, registra-se e comenta-

se a influência que têm a mídia e algumas pesquisas sobre o consumidor mais consciente,

fato que poderá valorar diferenciadamente o imóvel concebido com conceitos de

sustentabilidade.

Page 66: captação predial de

65

4.1 A INSERÇÃO DE NOVAS ESPECIFICAÇÕES EM EMPREENDIMENTOS – BUSCA DA RENOVAÇÃO PARA DIFERENCIAÇÃO NO PRODUTO

Observar o setor da produção de forma ampla, leva-nos a uma percepção sobre novos

hábitos e novas demandas que caracterizam o que se denomina “moda”: alguns produtos se

transformam, sem que se possa explicar exatamente por que, em objetos de desejo do

consumidor e sucesso de vendas para o produtor.

Muitas vezes, esses produtos foram desenvolvidos em consonância com a leitura do

momento, suas necessidades e lacunas, ainda que, no ato da sua criação, parecessem

contraditórios com a lógica dos produtos concorrentes vigentes.

Outras vezes, a preferência recai sobre produtos que foram concebidos sem que

houvesse sinalização do mercado consumidor quanto ao desejo específico de possuí-los.

Aparelhos como videocassete, celulares, biotecnologia, eram impensáveis 30 anos atrás

(KIM; MAUBORGNE, 2005).

Observa-se, em diferentes tipos de empreendimentos imobiliários, que a introdução de

novas especificações, prática hoje já consolidada, busca diferenciação do produto, com a

conseqüente aceitação pelo mercado e a criação da demanda dos novos itens inseridos,

embora muitos deles sejam de alto custo para todos. Assim, é possível verificar como isso

ocorre, analisando os resultados da inserção de algumas dessas especificações, como se faz a

seguir, listando tanto as que atendem consumo de conforto, como medidas que melhoram o

desempenho ambiental.

Inserção de comandos eletrônicos em portões: colocados como equipamentos que

aumentam a segurança e reduzem os custos com atendimento nas portarias, eles não

suprimiram, nos edifícios de médio e alto padrão, a existência do porteiro, ou seja, não

promoveram a redução do custo da administração do condomínio. Aumentaram o custo do

construtor e os gastos do morador com mais um equipamento, depois de terem sido vistos

como úteis e necessários. Hoje aparecem em todos os prédios, até naqueles em que o porteiro

pode perfeitamente escutar o visitante e atendê-lo presencialmente, muitas vezes desprezando

o equipamento.

Os geradores de energia deveriam oferecer a possibilidade de ter elevadores

funcionando e alguns pontos de iluminação nos apartamentos em momentos de falta da

energia elétrica. Por esta razão, transformaram-se em demanda do comprador e fator

influenciador de venda, mesmo com pouco uso e custo significativo de manutenção.

Page 67: captação predial de

66

Medidores individuais de consumo de água: colocados como elemento redutor do

custo da cota condominial, vêm sendo inseridos pelos construtores e exigidos pelos

compradores de forma bem ampla. É um exemplo claro de equipamento que atrai o

comprador e se transforma em apelo de vendas. Onera o custo do construtor e também não o

beneficia economicamente de forma direta, vez que o retorno obtido será para o morador

final. Neste caso, também observa-se a existência de legislação, seguindo uma tendência do

mercado, pois, em algumas cidades, tal inserção já é obrigatória.

“Bordas infinitas” em piscinas: trazendo o esmero de nova estética, vêm sendo

inseridas em prédios de alto padrão, pois são consideradas como um bom apelo de vendas.

Também trazem aumento de custo ao construtor e aumento de gastos para o comprador, vez

que se trata de mais uma instalação para ser mantida pelo condomínio.

Os salões de festas e ginástica também surgiram em prédios de alto padrão e hoje

existem em quase todas as edificações residenciais, equipados com mais ou menos requinte, a

depender do prédio.

Grandes áreas de lazer: a incorporação de quadras para esportes, parques infantis,

etc., surgidas também em prédios de alto padrão, hoje já estão inseridas em imóveis de

diferentes padrões, até em conjuntos habitacionais populares e se transformaram em apelo de

vendas. Observa-se que, em grande parte dos lançamentos do ano de 2008, a publicidade

explora mais os vários equipamentos de lazer do que a planta do apartamento em si, como era

praxe há alguns anos.

Espaços gourmet: observando o momento atual, quando se considera o prazer

gastronômico como um requinte, valorizando-se os grandes chefes de cozinha ou mesmo as

“confrarias” – espécie de clube em que grupos de amigos se reúnem e preparam refeições

especiais, com equipamentos sofisticados –, inseriu-se, nas edificações, este conceito de

“espaço gourmet”, oferecendo aos moradores a possibilidade de receber convidados para

preparar alimentos de forma diferenciada, associando requinte e conforto. Pode-se observar a

diferença entre esses espaços e as copas e áreas de serviço existentes nos salões de festas mais

antigos, nos quais o espaço apenas abrigava pessoal de serviço, garçons, etc.

Iluminação de áreas comuns controladas por sensores de presença: aproveitando a

demanda por redução de custo de energia, inseriu-se nos halls e áreas de passagem o controle

por sensores, traduzindo o cuidado com o consumo, que atrai o comprador, sinalizando

possível redução com os custos pós-ocupação. Pode-se supor que, em curto prazo, ter-se-á

iluminação de áreas externas obtidas da energia solar ou da energia eólica, ainda não

Page 68: captação predial de

67

disponíveis em larga escala, mas que, provavelmente, por imitação de modelos estrangeiros,

não tardarão a chegar.

A forma de aquecimento de água evoluiu, nos empreendimentos de alto padrão, de

aquecedores elétricos individuais nos apartamentos, para caldeiras centrais nos condomínios e

provavelmente tenderão para o uso de energia solar, ainda pouco difundido nos prédios em

Salvador.

A instalação para aparelhos de ar condicionado “tipo janela”: iniciou-se oferecendo

apenas um ponto elétrico na suíte principal, evoluiu inserindo “caixa de concreto ou em fibra”

para instalá-lo sem rasgos na fachada e hoje se prevê, durante a construção, a instalação dos

aparelhos tipo split, que direcionam a unidade externa para área previamente preparada, sem o

inconveniente de deixá-lo exposto, interferindo na estética externa. Os fabricantes, atentos às

demandas, desenvolveram produtos que também se adaptam às caixas externas em

edificações antigas. A previsão de sua instalação já é feita para todos os quartos e, mais

recentemente, em salas, nos apartamentos de alto padrão. É outro exemplo de aumento no

custo da construção, assumido no empreendimento e entendido como facilitador da venda.

Também limita a escolha do futuro morador, pois já impossibilita a escolha do aparelho de

janela, que tem preço reduzido. Este acréscimo de custo não foi impeditivo para sua

implantação e difusão, vez que foi traduzido como modernidade. Observa-se, também, que as

edificações antigas, tentando equiparar-se ao modelo das novas, rasgam suas fachadas,

expondo tubulações e as unidades externas, para poder utilizar os novos equipamentos.

Assim, comprometem muitas vezes a estética em prol de dispor da mesma tecnologia.

Inúmeros outros itens começam a surgir, tais como: áreas comuns mobiliadas,

brinquedotecas, lan-house, sala de projeção de filmes, aquecimento de piscinas, deck

molhado, saunas, duchas, fitness center e salas para massagens com ambientação similar a

spas urbanos, salas para estudos e bibliotecas, sistemas de circuito interno de TV digital,

estacionamentos para visitantes, salões de festas infantis, juvenis e de adultos separados, pista

para velotrol e para caminhadas, refeitório para funcionários, fornos para pizzas e

churrasqueiras no espaço gourmet, serviço especializado para administração para o

empreendimento, chamado de “gerenciamento de facilities”, controle de parte dos serviços no

sistema de pay-per-use, tais como, lavanderia, babás, pet-shop, lavagem de carro, etc..

Acopladas a shopping centers, surgem grandes edificações residenciais e de

escritórios, criando núcleos de habitação que conjugam moradia, trabalho, diversão e compras

em grandes áreas fechadas, usando como atrativo a segurança contra a violência das cidades e

conforto do deslocamento sem trânsito urbano. Esses espaços, chamados também de bairros

Page 69: captação predial de

68

planejados, são “minicidades artificiais”, pois não oferecerão aos seus habitantes o uso do

espaço público e nem a diversidade na convivência de pessoas de várias classes sociais e

interesses.

Poderiam ser citados muitos outros modelos de estruturas que se consolidaram. Vão-se

sobrepondo, traduzindo o conceito de novo, até levando, muitas vezes, os indivíduos a tentar

fazer a adequação dos seus imóveis ao novo modelo ou à troca dos imóveis por outros que

apresentam este novo padrão e traduzem outro patamar de status. Esta inclusão, muitas vezes,

oferece aumento de custo para o construtor e também para o morador final e, ainda assim,

tornou-se de uso comum, em função do apelo com que foi colocada e da demanda que criou.

Os diversos incorporadores, atentos aos produtos lançados pela concorrência, vão

adaptando seus produtos a essas tendências e, assim, os imóveis vão se alterando no tempo,

tendo inclusive seu valor atrelado ao que possui de implementos ditos “sofisticados”

“modernos” ou “funcionais”. É evidente a diferença no valor de revenda entre os novos e os

antigos imóveis, não somente associada a sua conservação, mas também ao que ele traduz em

suntuosidade na aparência e adequação aos novos modelos. O tamanho dos apartamentos,

sensivelmente maior nas construções mais antigas, deixou de ser um fator de determinante da

atração para a compra, substituído, hoje, pelos equipamentos e pelos novos elementos

inseridos, inclusive em áreas comuns.

Estes exemplos buscam deixar claro que não é a rigorosa análise de pay back, com

bom prazo de retorno ou uma boa relação custo x benefício que determinam a inserção,

aceitação ou descarte de novas especificações e equipamentos. O uso de implementos, como

agregador de valor ao imóvel, colocado corretamente no apelo de vendas, pode trazer o

sucesso da sua implantação de forma mais ampla. Assim, trazem associação com a

sofisticação, esmero estético ou conforto ou segurança ou inserção de novas tecnologias,

traduzindo modernidade, atendendo ao desejo do comprador de associar sua moradia com

luxo, status.

Os exemplos citados de inserções de novas especificações são evidências claras de que

o mercado imobiliário já busca a diferenciação do produto, através de itens que, no

entendimento atual do incorporador, possam agregar valor ao imóvel, seja na aparência, seja

quanto a seu desempenho.

Para diferenciar-se na aparência, renovam-se materiais como revestimentos,

pavimentações, cores das fachadas, esquadrias e vidros, mobiliário de áreas comuns, estilo

arquitetônico, ferragens de portas, louças e metais sanitários, bancadas para cozinhas, etc.

Page 70: captação predial de

69

Para diferenciar o desempenho da edificação, são inseridos novos equipamentos, e

renovados alguns dos existentes, através de atualização tecnológica, como já foi mencionado

nos exemplos deste capítulo. Muitos deles são inseridos nas áreas comuns, dotando o prédio

de estrutura de lazer, que se amplia a cada dia, até na subdivisão de espaços que existiam,

como vários salões de festas destinados a faixas etárias distintas, levando o adquirente ao

entendimento de que, junto com seu apartamento ou casa, está recebendo toda uma ampla

estrutura para seu deleite, com um padrão de sofisticação que ele deseja.

Uma comparação do conceito de produto desenvolvido por Levitt, citado por Hooley

e Saunders (1996), no livro Posicionamento competitivo, com as inovações recentemente

introduzidas nos imóveis, evidencia que as mudanças, na sua maioria, representam alterações

no “produto esperado”, levando ao cliente um novo padrão estético e alterações tecnológicas

que atendem ao mesmo desejo.

As modificações, por exemplo, criadas pelos revestimentos mais onerosos, como

mármores diferenciados, adornados com bordas e diagramações especialmente detalhados,

modelos novos para alisares, rodapés, ferragens e portas vêm ao encontro do desejo de

sofisticação que traduz status. Louças e metais sanitários renovam o design com custo

elevado em relação a modelos mais antigos e são utilizados como forma de diferenciar

lavabos e suítes. Observa-se a inclusão da palavra mansão no nome dos prédios, que parece

sugerir outra associação do luxo com o prédio. Várias outras especificações alteram-se,

buscando este requinte na aparência.

Considera-se que existe uma grande possibilidade de oferecer mais, alterando

significativamente o desempenho do “produto potencial”, na sua pós-ocupação, através,

inclusive, de uma nova relação do prédio com o seu entorno, abarcando novos aparatos que

traduzirão conforto e modernidade, consolidando a marca, a reputação do incorporador,

podendo levar ao destaque da empresa.

Discorrendo sobre renovação nas marcas, Gilles Lipovetsky (2005, p. 82) aponta a

contradição necessária: “perpetuar uma tradição e inovar, ser fiel a uma herança sendo

moderna”. Assim, afirma a renovação necessária, com a utilização das técnicas aprendidas,

valorização do passado e, ao lado disto, inovação, rejuvenescimento.

Pode-se assim também supor que o mercado imobiliário pode rever as características

dos seus lançamentos, observando as tendências do mundo atual. Uma dessas tendências, a

preservação do meio ambiente já é clamada, inclusive pela mídia.

Page 71: captação predial de

70

4.2 A DIVULGAÇÃO DA CAUSA AMBIENTAL: INFLUÊNCIA DA MÍDIA

A necessidade de avaliação da influência da mídia sobre o tema é defendida no livro

Ecológicas manhãs de sábado, de Thales de Andrade. Segundo o autor “o pensamento social

necessitaria adentrar equipadamente nesse espaço de encontro entre ambiente e espetáculo, de

maneira a detectar mais acuradamente os mecanismos e implicações dessas tendências”.

(ANDRADE, 2003).

Hoje em dia, as exigências de qualidade dos produtos, de proteção ao meio ambiente,

e respeito aos direitos do consumidor são temas recorrentes em todos os veículos de

comunicação. A causa ambiental tem destaque internacional, não apenas nas organizações não

governamentais, mas, também, no alto escalão político de inúmeros países, inclusive das

grandes potências mundiais, que renovam o assunto a cada encontro, buscando tratados,

protocolos, compromissos.

No Brasil, a chegada da TV por assinatura, paga, oferecendo canais cuja programação

está voltada para assuntos ambientais, tais como o National Geografic Channel e o Animal

Planet, têm levado às classes A e B programas sobre os limites do planeta, pondo o público

em contato com esses temas de forma valorativa.

O espaço dedicado pela mídia nacional triplicou o número de artigos com menções

somadas de mudança climática, efeito estufa e aquecimento global em 2007 (INSTITUTO

MARKET ANALYSIS, 2007).

A mesma pesquisa evidencia que no tocante ao número de pessoas que atribuem muita

gravidade aos problemas do meio ambiente, pula-se de 48%, no final dos anos 1990, para

74%, em 2003 e 84%, em 2007. A pesquisa considera, neste crescimento, a correlação de

98% com a evolução do número de artigos na mídia nacional (INSTITUTO MARKET

ANALYSIS, 2007).

Bourdieu (1996, p. 29-30), na sua avaliação sobre o poder dos meios de comunicação,

especificamente sobre a televisão, considera que Caminha-se cada vez mais rumo a universo em que o mundo social é descrito-prescrito pela televisão. A televisão se torna o árbitro do acesso à existência social e política. (...) é preciso cada vez mais produzir manifestações para a televisão, isto é manifestações que sejam de natureza a interessar às pessoas de televisão, dadas as suas categorias de percepção, e que retomadas, amplificadas por elas, obterão sua plena eficácia.

Lipovetsky (2006) discute e afirma o poder da própria publicidade para despertar uma

tomada de consciência dos cidadãos para os problemas. Segundo o autor, o “alerta midiático”

influencia “normas e ideais aceitos por todos, mas pouco ou insuficientemente praticados [...]

Page 72: captação predial de

71

explora o que está no germe, tornando-o mais atrativo para mais indivíduos” (LIPOVETSKY.

2006, p. 195).

Featherstone (1995, apud PORTILHO, 2005) afirma que os grupos aspirantes e

aprendizes de novo consumo, de qualquer classe que sejam, são ensinados pelas revistas,

jornais, livros e programas de TV, aperfeiçoando assim o estilo de vida para o novo estilo de

consumo. Os profissionais que trabalham nos meios de comunicação, design, publicidade e

TV, são chamados de “novos intermediários culturais”, pois produzem “novos bens

simbólicos”.

A respeito da repercussão do que é divulgado pelos meios de comunicação,

transcreve-se aqui depoimento de profissional da área na reunião do grupo focal, confirmando

esta percepção: [...] em determinado momento, um presidente do Brasil falou que nós tínhamos carroças ao invés de carro. Apesar de ser dito por quem foi dito, isso trouxe uma provocação nacional. O brasileiro talvez não se apercebesse de que ele dirigia carroças e não carros, ele não desejava aquilo que ele não conhecia, ele não tinha próximo a ele, então era muito longe tudo o que era possível, era muito distante da sua realidade. Quando o poder público entrou, ele abriu as possibilidades e que isso se tornou acessível e também a mídia, obviamente contribuiu para dar conhecimento a tudo isso, olha o tamanho do mercado automobilístico que o Brasil se tornou [...].

A tendência de que os meios de comunicação usem mais e mais temas voltados para a

ecologia é evidente. Como foi afirmado por Bourdieu (1996, p. 39): “[...] Em suma, há

objetos que são impostos aos telespectadores porque se impõem aos produtores; e se impõem

aos produtores porque são impostos pela concorrência com outros produtores”. Seja porque

todas as empresas concorrentes adotaram o meio ambiente nas suas pautas, seja por perceber,

cada uma independentemente, a audiência que geram, o fato é que é evidente a proliferação de

programas tipo documentário, as inserções em novelas e seriados, além das matérias

jornalísticas tratando do assunto.

O mesmo autor discorre ainda sobre o caráter potencializador dos meios de

comunicação, que difundem, junto a vários tipos de público, os temas nela divulgados: [...] no caso de disciplinas aparentemente mais independentes, como a história ou a antropologia, ou a biologia, ou a física a arbitragem da mídia se torna cada vez mais importante na medida em que a obtenção de créditos pode depender de uma notoriedade da qual já não se sabe muito bem o que deve à consagração da mídia ou à reputação dos olhos dos pares. (BOURDIEU,1996, p. 86).

Além da mídia, conteúdos ambientais, ministrados às crianças nas escolas,

desenvolvem um novo tipo de consumidor, que interferirá no futuro, quando fizer as suas

escolhas de compra. Já no presente, interferem no comportamento dos adultos, pois as

crianças levam para suas moradias o conhecimento adquirido, pondo-o em prática nos simples

cuidados do dia-a-dia, e manifestam sua preocupação, sensibilizando os adultos que não

Page 73: captação predial de

72

receberam estes ensinamentos, surpreendendo a família com novos valores de respeito e

cuidado com o meio ambiente.

Observa-se, também, a inclusão de temas ligados à responsabilidade social e

ambiental, em premiações e eventos. Em 2008, na Bahia, a Ademi-Ba incluiu o prêmio

Responsabilidade social à empresa do setor imobiliário que desenvolveu projetos com

colaboradores. Neste aspecto, vê-se o olhar também para a sustentabilidade social, que não

pode ser deixada à margem do avanço tecnológico.

Essa massificação dos apelos de conservação dos recursos poderá ser capitalizada por

empresas que adotem práticas construtivas mais sustentáveis, desde que devidamente

utilizadas como apelo de vendas ou institucional, atraindo um público sensibilizado pela

repercussão destes temas.

Para prosseguir na avaliação de criação de valor para o consumidor de imóveis com

atributos ambientais, apresentar-se-á, ainda que resumidamente, algumas pesquisas sobre o

consumidor consciente.

4.3 PESQUISAS SOBRE O CONSUMIDOR CONSCIENTE

Para discutir o tema, serão comentadas pesquisas que se referem ao consumidor

consciente, através de seus comportamentos e desejos sinalizados pelas escolhas que fazem.

Em primeiro lugar, aparecem três pesquisas realizadas pelo Instituto Akatu entre os

anos de 2003 e 2006. A primeira, intitulada Descobrindo o consumidor consciente, foi

realizada em Belém, Belo Horizonte, Brasília, Curitiba, Fortaleza, Goiânia, Porto Alegre,

Recife, Rio de Janeiro, Salvador e São Paulo, através de 1 000 entrevistas, dados colhidos em

novembro 2003.

A segunda – Consumidores conscientes: o que pensam e como agem (janeiro de

2005) – realizou-se com 600 consumidores de São Paulo, Porto Alegre e Recife. Não usou

amostra representativa da população, apenas foi trabalhado o grupo dos mais comprometidos

e dos conscientes, que representam, segundo a pesquisa anterior, 43% da população adulta

brasileira das regiões metropolitanas.

A terceira apresenta resultados de um trabalho de cooperação com a Faber Castell,

voltado para identificar o estágio em que se encontrava o consumidor brasileiro rumo ao

consumo consciente, avaliando a evolução deste comportamento, comparando-o com

resultados das pesquisas de 2003 e 2005. Esta pesquisa, intitulada Como e por que os

brasileiros praticam o consumo consciente, foi realizada em onze cidades principais das cinco

Page 74: captação predial de

73

regiões do país, entrevistando 1 275 adultos de todas as classes sociais, buscando-se também

os fatores motivacionais para o consumo consciente.

Esta última, avaliando comportamentos, fundamenta-se na teoria de Maslow (1970).

Segundo esta teoria, os indivíduos buscam inicialmente a satisfação das necessidades básicas

de alimentação, subsistência biológica, física, segurança e, somente depois delas, procuram

preencher aquelas relacionadas com aspectos coletivos e solidários, emblemáticos do

consumo consciente. Este último é o perfil correspondente ao pós-materialista que, segundo a

pesquisa, se for corretamente estimulado, poderá ter mais sensibilidade no seu ato de

consumo.

Adicionalmente, será considerada a análise qualitativa feita com 90 formadores de

opinião, nas cinco regiões do país, coordenada por Samyra Crespo, em 1997, cujo título é O

que o brasileiro pensa do meio ambiente, do desenvolvimento e da sustentabilidade

(CRESPO et al., 1998).

Serão também analisadas as observações de Elyette Roux sobre o estudo exploratório

qualitativo, de abrangência internacional, realizado pelo Cofremca, instituto de pesquisas

francês, para o Comitê Colbert, em 1992, intitulado Relatório sobre o luxo e evolução das

mentalidades e sobre o estudo quantitativo intitulado Estudo de imagem, sobre as

representações e os consumidores do luxo, realizado pelo Instituto Risc, que se iniciou em

1993 e foi renovado regularmente em 1995, 2000 e 2001 (ROUX, 2005).

Por fim, serão considerados os dados obtidos através do grupo focal, realizado em

2007, com profissionais do mercado imobiliário de Salvador, com a finalidade de obter dados

para esta dissertação de mestrado. A pesquisa levantou idéias de especialistas de diversas

áreas, tais como arquiteto, estruturalista, projetistas de instalações elétricas, de hidráulica, de

ar condicionado, incorporadores, construtores, orçamentistas, corretores de imóveis,

moradores de edificações residenciais de alto luxo, profissionais das áreas de educação,

jurídica, de marketing e de jornalismo. As entrevistas com o grupo foram gravadas e os

depoimentos, transcritos na íntegra.

A escolha dos profissionais foi feita segundo sua reputação profissional, sendo eleitos

profissionais de destaque nas diversas áreas do mercado de Salvador, contemplando-se todas

as áreas envolvidas nos projetos de alto padrão. Na sessão deste grupo, foi apresentado

inicialmente o tema, captação direta de água de chuva. Em seguida, dois estudos

comparativos: sobre um prédio existente em Salvador, com seu consumo atual e simulação da

captação, com previsão de acréscimo de custos construtivos e redução de gastos se a captação

Page 75: captação predial de

74

tivesse sido implantada e sobre uma situação hipotética, a da captação em toda a Cidade de

Salvador, com volumes captados decorrentes.

4.3.1 Existe de fato consumidor consciente?

Considera-se consumo consciente como sendo o ato ou decisão de consumo (compra

ou uso de serviços ou de bens industriais ou naturais) praticado por um indivíduo, levando em

conta o equilíbrio entre sua satisfação pessoal, as possibilidades ambientais e os efeitos

sociais de sua decisão (INSTITUTO AKATU, 2003, p.7).

O consumo assim praticado leva o consumidor a transformar-se no “novo ator social”,

como afirma Portilho (2005, p. 165). Esta autora também nos fornece vários aportes sobre

este novo consumo, tal como as que se transcrevem a seguir.

“Parte da solução, de fato está em suas mãos [...] O consumidor verde já existe e já

está tendo um tremendo impacto. [...] O consumidor poderia ter um papel significante

enfrentando os problemas que mais o preocupam”. (ELKINGTON; HAILES, 1991, p. 214-

215, apud PORTILHO, 2005, p. 164).

“Ao lado das grandes manifestações do movimento ecológico, acreditamos que está

nascendo um novo ator social: o consumidor responsável” (FABIO FELDMANN, então

Secretário do Meio Ambiente de São Paulo e MARCELO SODRÉ, então Coordenador do

Programa Consumidor e Meio Ambiente da Secretaria do Meio Ambiente de São Paulo.

Extraído do texto produzido para apresentação brasileira de publicação da Consummers

International, 1998, p. 10, apud PORTILHO, 2005, p. 164).

“A entrada dos consumidores no cenário ambiental, como um novo ator desse

processo, se traduziu em mudanças importantes sob o ponto de vista estratégico: eles

começaram a pressionar e influenciar. As empresas ficaram sabendo que estavam sob

observação, não só das comunidades e dos governos, mas também de seus clientes”

(Depoimento de empresário entrevistado na pesquisa O que o brasileiro pensa do meio

ambiente, do desenvolvimento e da sustentabilidade, apud CRESPO et al., 1998, p. 81).

Essas afirmativas evidenciam que a prática de um consumo consciente dissemina-se e

está se tornando familiar junto ao público, e a importância que este entendimento poderá

trazer.

Na pesquisa realizada junto ao grupo focal, destaca-se, em dois depoimentos, o

surgimento de um comprador dotado de um senso crítico diferenciado, que poderia, através de

Page 76: captação predial de

75

apelo correto, ser estimulado a dar mais valor a um produto que representasse a prática de um

consumo sustentável. São eles: [...] existe uma demanda de audiência e um interesse do publico na TV aberta que caracteristicamente é uma TV para classes C, D e E. Cada vez mais essa demanda ela é crescente; se vocês recapitularem só da Globo: Globo Repórter, totalmente ambiental, Fantástico, quadros ambientais; e, você vai para Globo Ciência e Globo ecologia e aí você vai passeando na programação, cada vez mais. Não é assim, porque existe uma ideologia lá dentro, é uma empresa que é comercial e procura ter audiência e só tem audiência aquilo que interessa o interesse do público [...]. (Depoimento de profissional de mídia obtido na pesquisa realizada junto ao grupo focal).

[...] Então, eu digo que hoje as crianças e os jovens eles não compram ainda, mas são filhos de adultos que compram e adultos responsáveis vão ouvir seus filhos, acredito eu.Talvez possa estar aqui uma visão, ainda um pouco, de educadora, uma visão tanto humanista, mas essa é a minha visão e eu acredito que hoje eles já tem esse poder de estarem argumentando, de estarem conciliando idéias com os pais e dentro de uma nova perspectiva pensar junto com esse pai - pai essa é a opção mais correta mesmo que seja mais cara nesse momento porque o mundo que vai ser deixado para mim precisa cuidar disso- Então eu penso que agente precisa entrar nessa vertente também, precisa cuidar de sair um pouco dessa visão mais mercadológica e pensar nessa vida mesmo, que esta ai que está posta com muito estresse. As crianças estão extremamente medrosas em relação a isso e essa é a minha visão de educadora [...] (Depoimento de profissional de educação de jovens, obtido na pesquisa realizada junto ao grupo focal).

A pesquisa do Instituto Akatu (2003), efetuada para avaliação do consumo de forma

geral, fornece uma visão sobre o “consumo consciente” do brasileiro, metropolitano, inclusive

dos influenciadores de compras. Assim, suas conclusões podem delinear um perfil do

consumidor de imóveis, assim como os influenciadores na concepção do produto, como

projetistas, profissionais de venda, e outros.

Os dados dessa pesquisa permitem considerar que, em comparação com os resultados

obtidos nos estudos do ano anterior, tanto existe avanço da conscientização do consumidor

quanto crescimento numérico do grupo.

Segundo os dados da mesma pesquisa, observou-se, em 2003, fortalecimento dos

conceitos de solidariedade, sustentabilidade e coletividade em comparação com a pesquisa de

2002, quando foi apontado como principal fator de mobilização a satisfação imediata das

necessidades.

Na pesquisa, foram selecionados 13 comportamentos e, em função do número de

comportamentos que os questionados disseram “fazer sempre”, foram constituídos os grupos

dos conscientes (6%), dos comprometidos (37%), dos iniciantes (54%) e dos indiferentes

(3%). Esta mesma classificação será usada nas pesquisas posteriores do Instituto Akatu, que

também serão comentadas.

Page 77: captação predial de

76

Destacam-se abaixo alguns comportamentos, valores avaliados, afirmativas dos

sujeitos abordados nas pesquisas e os do grupo focal, para entendimento da relação do

consumidor com o meio ambiente, especialmente no tocante a água e a energia.

A economia de água é considerada de forma positiva. Do total pesquisado, 94%

sinalizam que “economizar energia e água é uma maneira de preservar o meio ambiente”.

(INSTITUTO AKATU, 2003).

“Um dos comportamentos mais consolidados é o uso racional da energia, o que é

explicado, na pesquisa, pela experiência do “apagão” de 2001, com o racionamento do

consumo, fartamente noticiado pela mídia.” (INSTITUTO AKATU, 2003, p. 40).

De acordo com Elyette Roux (2005), o estudo do Instituto Risc já sinaliza a chegada

significativa dos jovens com alto poder de consumo na Europa. Segundo o estudo, 37% dos

clientes europeus ocasionais e 46% dos clientes regulares têm menos de 35 anos. Esses novos

jovens, com certeza, chegaram à idade adulta trazendo na sua bagagem valores outros para

embasar sua relação com o planeta. Tais valores, certamente, se traduzirão em

comportamentos coerentes com os ideais da sustentabilidade do meio ambiente.

Na pesquisa do Instituto Akatu (2003), foi testada a coerência entre os valores

sinalizados e os comportamentos adotados no cotidiano pelos indivíduos, ou seja, entre o

discurso e a prática. Observa-se, no geral, um percentual menor se comportando de acordo

com os valores sinalizados. No grupo dos conscientes, como era de se esperar, existe maior

coerência entre valores e atitudes.

No grupo focal desenvolvido, na fala do corretor de imóveis, observa-se que já é

percebida a existência de público consumidor com maior coerência entre o discurso e a

prática no que se refere à escolha da moradia: [...]As pessoas que podem se dar o luxo de se mudar de Salvador para morar em Villas, no Litoral Norte, coisas desse tipo, que é a tendência, a depender da atividade dele, pode fazer isso então é um público que tem uma outra cabeça, digamos assim, não é aquele executivo que sai estressado. É um cara que tem uma atividade onde ele pode gerenciar melhor o tempo, pode se dar o luxo de levar o filho para escola, enfim, tem profissões que permitem esse romantismo, aí nessa hora essa pessoa também tem a cabeça preparada para solidariedade, porque essa pessoa tem a cabeça preparada para qualidade de vida,. É o tipo de moradia que ela quer, o próprio condomínio horizontal integra mais do que o condomínio vertical. O condomínio vertical conscientemente distancia as pessoas, quem busca o condomínio horizontal está buscando isso, àquela coisa da pracinha, de se encontrar com o amigo bater uma bola juntos, aquilo de cidade pequena que a gente se encontrava na pracinha, tem um saudosismo por trás dessa moradia de casa. Então se você pegar um público que já está com a cabeça preparada para esse tipo de economia, mesmo que ela não lhe dê um retorno muito de pronto, você vai aculturando [...].

Page 78: captação predial de

77

Os dados da pesquisa do Instituto Akatu (2003) também permitem a diferenciação

entre os comportamentos testados, identificando em cada um a predominância de certos

traços:

a) eficiência - sua adoção resulta em benefício direto e de curto prazo para o

consumidor. Ex.: fecha a torneira enquanto escova os dentes, usa o verso do papel

já utilizado;

b) reflexão – sua adoção resulta em benefícios em médio prazo para o consumidor.

Ex: planeja a compra de alimentos;

c) solidariedade – sua adoção não resulta em benefício direto ou imediato para o

consumidor, mas trará para a coletividade e futuras gerações. Ex.: separa o lixo

para reciclagem.

É interessante avaliar o resultado do comportamento daqueles que “costumam usar o

verso de folhas de papel já utilizadas”, pensado inicialmente como um comportamento

vinculado ao conceito de “eficiência”. Afirma a pesquisa que, neste caso, [...]os grupos se apresentam mais alinhados com os comportamentos de reflexão [...]. Uma possível explicação reside na ambigüidade desse comportamento: embora se baseie em consumo racional, o benefício da adoção desse comportamento pelo consumidor é pouco expressivo.

Por isso, exige uma reflexão que vai além do benefício em si, como a consideração de que o desperdício está associado a um diferencial de consciência que leva em conta a cadeia produtiva do papel, que inclui questões como o uso da água em grandes proporções na fabricação de papel e a preservação da madeira de reflorestamentos.

De modo similar, pode-se pensar na captação de água pluvial em edificações verticais,

em que a área de telhado não é significativa e, portanto, o benefício financeiro direto também

não é. Ou seja, é preciso que o consumidor adote um comportamento de “reflexão” ou de

“solidariedade”, para que o custo com a captação seja bem acolhido. O processo de captar

estaria ligado a uma conscientização especial do consumidor. Seria necessária uma reflexão

sobre a possibilidade de suplementar o abastecimento da rede urbana, uma contribuição para

controle da inundação, a não-utilização de água potável para fins menos nobres.

Segundo o Instituto Akatu (2003), os participantes concordaram que as empresas

deveriam se preocupar mais com o meio ambiente. Este percentual foi de 94% entre os

conscientes, 95% entre os comprometidos, 94% entre os iniciantes e 87% entre os

indiferentes.

Outro dado importante é a informação de que 72% dos entrevistados apontam como

razão para pagar mais por um produto o fato de que a empresa tenha projetos em favor do

meio ambiente.

Page 79: captação predial de

78

Sobre a relação com o preço do produto, “um terço dos consumidores conscientes

declara apreciar roupas de grife e está disposto a pagar mais caro por produto que simbolize

maior status” (INSTITUTO AKATU, 2003, p. 40). A pesquisa avalia que “entre os

“conscientes”, é grande o componente das classes A/B, em que o consumo é ligado a questões

de riqueza e status” (INSTITUTO AKATU, 2003, p. 33). É significativo observar a

vinculação do consumo com o status que pode agregar.

Esta relação do consumo com o status leva a questionamento sobre os benefícios

imediatos ao consumidor, na adoção dos comportamentos “eficientes”. No consumo

associado à riqueza, o retorno parece ser transferido para o que é sentido como prazer, status,

ostentação, refinamento, raridade. Pelo consumo ostentatório, faz-se exibição de riqueza e

consome-se menos o produto em si que o estatuto social que ele traduz (VEBLEN, 1983).

Com base neste conceito sobre consumo ostentatório, observa-se que nos imóveis vêm

sendo acoplados novos implementos e tecnologias, que modificam o produto, buscando

atender à demanda pelo status que o imóvel considerado de luxo traduz.

No entanto como definir um atributo, produto ou serviço, como luxo, levando o

consumidor a encontrar nele os benefícios emocionais e sensações que não encontra em outro

similar?

Como se pode, a partir dos conceitos de criação de marca, transpor este conhecimento

e tornar atrativos os produtos ecologicamente mais corretos?

Os dados das pesquisas e todas as afirmativas aqui transcritos buscam evidenciar que

o momento é propício para o desenvolvimento de produtos com apelo ambiental, como os

imóveis, que teriam, assim, na mídia, o apelo amplificado pelo tempo que os veículos de

comunicação vêm destinando ao tema, podendo assim construir-se um novo valor simbólico

para o imóvel ecologicamente mais correto.

Da pesquisa realizada pelo Instituto Akatu em 2006, publicada em 2007, é relevante

destacar mais alguns dados.

Um em cada três, já demonstra “percepção dos impactos coletivos ou de longo prazo

nas suas decisões de consumo, para além dos aspectos da economia ou benefícios pessoais

imediatos” (INSTITUTO AKATU, 2006, p.13).

Entre os brasileiros, cresceu em 69% o percentual de reconhecimento de selos de

certificação, seja de produtos, seja de instituições, no período 2003 a 2006: passou de 19%

para 32%.

Fica evidenciada a diferença de adesão ao consumo consciente em função da classe

social: “consumidores das classes sociais mais baixas – D/E – exibem uma probabilidade três

Page 80: captação predial de

79

vezes menor de adesão ao consumo consciente. Ao contrário, nas classes altas, – A/B –

triplicam as chances do consumo consciente” (INSTITUTO AKATU, 2006, p. 70).

Em teoria sobre “emulação social”, desenvolvida e apresentada em primeira edição em

1899, Thorstein Veblen (1983) enumera as distinções usadas pelos indivíduos, desde os

grupos primitivos até a constituição de classes, por ele chamadas classe ociosa e classe

trabalhadora. O ócio, considerado uma espécie de atividade, se praticava sob a forma de

exercício de talentos eruditos, a música doméstica, o cuidado com o vestuário e com as

normas de cerimonial, que traziam respeitabilidade. Esses códigos de conduta eram ditados

pelos indivíduos da classe mais rica que lhes deu a forma que servia para os de menor poder

aquisitivo.

Quando o ambiente em que viviam os indivíduos se ampliou, a forma de expor a

distinção também se modificou, passando a incluir a exibição de bens, a fim de impressionar

os muitos observadores efêmeros e satisfazer-se com a observação deles. Esta avaliação de

Veblen, desenvolvida no final do século dezenove, pode ainda ser observada nas cópias de

produtos considerados como “de grife”, exibidos como símbolos de status, que são

consumidas nas classes de menor poder aquisitivo, seguindo a moda.

Na pesquisa O que o brasileiro pensa do meio ambiente, do desenvolvimento e da

sustentabilidade (CRESPO, 1998), obteve-se o seguinte depoimento de profissional da área

médica, que também evidencia a influência entre as classes sociais e traça um paralelo com a

tendência externa de separar regiões mais desenvolvidas e menos desenvolvidas: [...] O referencial do povo é sempre o de cima. Quando os ricos começarem a exigir qualidade ambiental, porque são a elite e têm mais informação, os outros vão querer também! Na Europa isso é impressionante. O que está acontecendo lá, daqui a três anos estará acontecendo aqui. É o mercado quem manda!” (CRESPO, 1998, p. 81).

Além de apresentar a repercussão dos costumes e desejos das classes mais abastadas

nas classes de menor poder aquisitivo, Veblen também tece comentários sobre a ampliação do

consumo, avaliando que pode ser mais difícil diminuir escalas de gastos do que estendê-la e

que alguns gastos, tidos como desperdício quando incorporados ao consumo, tornam-se parte

da vida, proporcionando ganho espiritual e “podem se tornar mais indispensáveis do que

muitos gastos que provêem apenas as necessidades “inferiores” do bem estar físico ou do

sustento” (VEBLEN, 1983, p.49).

Por fim, para encerrar os comentários sobre a pesquisa do Instituto Akatu 2006,

merecem registro as diretrizes sugeridas para a disseminação do consumo consciente:

“Aproveitar os motivadores de curto prazo. Manter atenção às oportunidades conjunturais e

situações em que – a partir de eventos presentes nos meios de comunicação de massa – seja

Page 81: captação predial de

80

possível uma sensibilização e mobilização para consumo consciente” (INSTITUTO AKATU,

2006, p. 72).

Esta recomendação remete mais uma vez ao momento atual, quando os “motivadores

de curto prazo” já estão em plena atuação.

Com base nos resultados das pesquisas citadas, pode-se assegurar que o conceito do

“consumo consciente” está consolidado, levando os indivíduos a comportamentos coerentes

com seus valores?

Segundo a mesma pesquisa, um fenômeno, para se tornar estável, atravessa cinco

grandes fases, que se transcrevem abaixo, de forma resumida:

“A primeira: surge o fenômeno, o público toma conhecimento e fica influenciado pela

mídia e pelos agentes que o disseminam.

A segunda: a depender da regularidade do assunto na mídia, o público se familiariza.

Passivamente vai se identificando sem convergir comportamentos com princípios.

A terceira: estabiliza-se a preferência e postura do público com o fenômeno.

A quarta: é a maturidade da opinião pública, vem com a percepção das conseqüências

pessoais.

A quinta: consolida-se o fenômeno como conceito e os indivíduos adotam posturas

estáveis no assunto.” (INSTITUTO AKATU, 2006, p. 48).

O Instituto Akatu (2006) avalia que o consumo consciente encontra-se na transição da

primeira para as duas subsequentes, explicando assim, as diferenças entre princípios e

comportamentos.

Considerando, portanto, o estágio em que se encontra o fenômeno “consumo

consciente”, que, neste estágio, o público encontra-se influenciado pela mídia e pelos agentes

disseminadores e o destaque que o tema tem obtido nos meios de comunicação, de forma

contundente, pode-se imaginar que a utilização da captação direta, junto com outros atributos

de apelo ambiental, associando-se à preservação de recursos naturais e também o benefício

econômico na redução de gastos do condomínio, poderá tornar-se uma vantagem competitiva,

tanto para a edificação quanto para o incorporador.

Comparativamente, pode-se fazer alusão ao conceito de “oceano azul” ou seja, uma

nova demanda que garante crescimento rentável, surgido tanto fora de setores existentes como

em ampliação da fronteira de mercado já existente (KIM; MAUBORNE, 2005).

Conclui-se que a viabilidade da inserção da captação direta nas edificações verticais

não terá seu sucesso necessariamente dependente da “relação custo x benefício financeiro”.

Poderá ser estimulada como renovação de especificações de imóveis que, tornando-os

Page 82: captação predial de

81

ambientalmente mais corretos e ao mesmo tempo mais atraentes, poderão transformar estes

atributos em desejo do consumidor, assim como são desejados materiais de acabamentos ou

outros itens tidos como luxo.

Considerando a teoria exposta e os dados das pesquisas, é lícito concluir que as classes

mais abastadas têm a possibilidade de melhor acolher e reconhecer as especificações

ambientalmente mais corretas e as demandas de preservação do meio ambiente, pois se

encontram com suas necessidades básicas já atendidas.

De acordo com Veblen e no entendimento de que as escolhas de classes mais

abastadas influenciam as classes de menor poder aquisitivo, pode-se considerar que a adoção

inicial de produtos oriundos de prática de desenvolvimento sustentável em prédios de alto

luxo poderá levá-los a se tornar objeto de desejo de muitos consumidores. Assim, tais

produtos poderão ser incluídos em outras edificações, traduzindo um conceito de

modernidade e status.

Com o aproveitamento do momento em que a mídia divulga e apoia as idéias em torno

da sustentabilidade, a inclusão de especificações ambientalmente mais corretas em edificações

de alto padrão poderá criar uma aura de desejo em torno do produto, como se observa quando

se trata de objetos considerados de luxo, na associação do imóvel com a causa ambiental.

Page 83: captação predial de

82 5 ESTRATEGIA DE NEGÓCIO DA EMPRESA INCORPORADORA ASSOCIADA À

CAUSA AMBIENTAL

O objetivo deste capítulo é discutir a elaboração de uma estratégia que amplie a prática

de inclusão da captação direta da água de chuva em edificações de alto padrão, associada a

outras especificações ambientalmente mais corretas, como forma de promover uma

renovação do produto.

O pressuposto da discussão é o de que, com a inserção dessas novas especificações,

consolide-se uma diferenciação do produto e da empresa, trazendo-lhe vantagem competitiva

e levando ao mercado o conceito de construções mais sustentáveis.

Para realizar tal avaliação, além de ouvir profissionais da área, foram consultados

estudos de custo dessa inclusão como fator influenciador na implantação da estratégia.

5.1 MODIFICAÇÃO NO MERCADO IMOBILIÁRIO ATRAVÉS DE ESTRATÉGIA DE NEGÓCIO DE EMPRESA LÍDER

O mercado imobiliário de alto padrão em Salvador é composto de muitas empresas

concorrentes, sem liderança efetiva, e que não oferecem significativa diferenciação entre os

produtos que são substancialmente similares. A inserção de um novo item na especificação

técnica de um projeto, por uma empresa, rapidamente é copiada por outra e torna-se usual.

Considera-se que uma estratégia eficaz em indústrias assim fragmentadas pode ser

“aumentar o valor adicionado do negócio mediante prestação de mais serviços com a venda,

envolvimento em alguma operação final de fabricação do produto” (PORTER, 1986, p. 201).

Assim, a oferta de produtos que agregam a oportunidade de uma pós-ocupação mais racional,

adequada ao momento atual, implementado com tecnologias que manterão seu valor de

Page 84: captação predial de

83 revenda mais estável, poderá favorecer a estratégia da diferenciação, podendo destacar o

produto e a empresa, possibilitando a ampliação do lucro.

Os imóveis são produtos dotados de alta diferenciação no tocante a “parâmetros de

design”, e as mudanças buscam atrair o gosto dos compradores. Buscar característica

inovadora significativa é uma maneira efetiva de competir (KOTLER, 1996). Considera-se

que é preciso buscar não apenas uma inovação tecnológica ou modificação de modelos

arquitetônicos, mas criar um novo valor, dando um salto de qualidade para o comprador. Isso

tornará o imóvel potencialmente diferenciado e se refletirá na imagem da empresa.

Trata-se, portanto, de mais que agregar valor ao imóvel. É preciso que também se opte

pela diferenciação da empresa, através da associação da imagem do incorporador com a

responsabilidade ambiental, construindo uma imagem de valor diferente daquela das outras

organizações.

Para tanto, as especificações dos prédios, colaborando para tornar a estratégia ainda

mais distintiva, receberiam novas tecnologias, produtos e serviços alinhados com a causa

ambiental como, por exemplo, a captação direta de águas pluviais, que teve seus benefícios já

descritos nesta dissertação. A associação de vários itens que traduzam uma preocupação

ambiental na edificação foi levantada também no grupo focal desenvolvido para este trabalho,

como pode ser visto no depoimento transcrito abaixo, de profissional ligada à área de

desenvolvimento de incorporadores e construtores. Esta afirmativa enfatiza muito bem a

importância da junção de vários atributos ambientais, criando um novo apelo para o imóvel e

atratividade para a idéia: [...] Eu acho que esse entendimento da grife ambiental ele vem associado a uma série de ações ambientalmente corretas ligadas à captação de águas pluviais, ligadas ao aproveitamento de energias alternativas e aí resta saber, como seria este atributo estudado isoladamente ou agindo isoladamente ou um conjunto de atributos ambientais politicamente corretos atuando num empreendimento. Será que ele sozinho, ele montaria a grife ou ele daria a sustentação a esta grife, ou seria um conjunto de elementos que desse suporte a essa grife? Eu acho que pelo menos se deve estudar a interferência dessas outras tecnologias para o sucesso da implantação dessa estratégia. Até porque em alguns o ganho energético é bem maior do que o ganho com a água [...] eu acho que vale a pena registrar, para no mínimo avaliar como as outras poderiam favorecer essa estratégia [...].

O depoimento acima ratifica a idéia da introdução do apelo ambiental, respaldado em

atributos vários que traduzam o respeito ao meio ambiente. O conceito de alto padrão em

edificações também se tem consolidado em uma conjugação de características que aumentam

o custo, mas, mesmo assim, vão sendo incorporadas e transformam-se em demanda. Muitas

especificações se consolidaram nos prédios dessa mesma maneira.

Page 85: captação predial de

84

A forma de diferenciar-se tem se alterado ao longo do tempo. Logo após a Revolução

Industrial, padronizar e produzir em larga escala, em um mercado que apenas demandava

emprego, era diferenciar. Depois, com um mercado mais exigente, passou-se a oferecer preço

competitivo, qualidade e personalização, ou seja, a diferenciação continuava no produto. A

partir da década de 1970, passa-se a diferenciação também para a empresa, com cobranças do

mercado em relação à responsabilidade social e ambiental (SOUZA, 2006).

A responsabilidade das empresas com o meio ambiente, quer seja pela obrigatoriedade

de leis que vêm surgindo, quer seja para atender aos apelos da sociedade, é fato nos dias de

hoje. A empresa que observar esta força e torná-la uma oportunidade poderá liderar o

processo de mudança dentro da indústria da construção civil e, assim, conseguir uma

exposição positiva e uma vantagem competitiva no setor. Observe-se que a construção dessa

vantagem não necessariamente implica em investimentos elevados, mas apenas de

reconhecimento de uma tendência e posicionamento favorável.

5.2 O CUSTO COMO FATOR INFLUENCIADOR DA IMPLANTAÇÃO DA ESTRATÉGIA

É na fase de idealização do empreendimento, que antecede o desenvolvimento dos

projetos, que as especificações podem ser melhor definidas e sua implantação otimizada.

Nessa fase, define-se o perfil do imóvel que será posteriormente projetado e avaliado em

termos de custo. Faz-se necessário que, nessas análises dos custos, avalie-se a influência das

especificações de materiais, equipamentos, instalações, detalhes arquitetônicos e construtivos,

também na fase da operação do prédio, após a sua ocupação, quando se podem agregar

resultados significativos, tanto em redução como em aumento de gastos para o morador final.

Gráficos com a distribuição dos custos ao longo da vida útil de empreendimento

comercial, e também a possibilidade de interferência nas edificações de forma geral, nas

suas diversas fases, podem ser vistos nas imagens seguintes.

Page 86: captação predial de

85

Figura 5.1 – Gráfico da possibilidade de interferência no custo total de um edifício (residencial ou

comercial) durante sua vida útil. Fonte: CEOTTO, 2008

Figura 5.2 – Gráfico do custo total de um edifício comercial durante sua vida útil. Fonte: CEOTTO, 2008

É, portanto, na fase de idealização inicial, de baixo custo e de curta duração, que mais

se pode interferir na qualidade das novas edificações. A integração da estratégia de negócio da

incorporadora com a estratégia ambiental, mais facilmente evidenciará as especificações de

natureza preservacionista que caracterizarão o novo empreendimento, pois já farão parte das

diretrizes gerais da empresa, ratificando assim o seu compromisso com o meio ambiente.

1 3 50 anos (Vida útil do Projeto)

< 0,2% 0,8%

14%

80%

5%

1 3 50 anos (Vida útil do Projeto)

100%

80%

15%

5%

Page 87: captação predial de

86 Estudos detalhados e validados sobre essas comparações poderão ser desenvolvidos no futuro,

comprovando-se efetivamente as atuais avaliações apresentadas. O gráfico da possibilidade de

interferência no custo total de um edifício durante sua vida útil, apresenta percentuais e fases

para todos os tipos de edificação, inclusive as comerciais ( CEOTTO, 2008).

Em virtude do fato de que, no Brasil, a prática do uso de equipamentos

ambientalmente mais corretos é recente, não foram encontrados trabalhos referenciados que

comparem o custo desses implementos com o custo de construção convencional. Para ilustrar,

apresentam-se informações de um estudo de custo na tabela 5.1, por tópicos, avaliados como

agregadores de melhoria no desempenho ambiental (BIANCHI, 2008).

Este estudo oferece um panorama de custo comparativo entre algumas especificações

ambientalmente mais corretas, com o custo direto de construção convencional, totalizando

3,71% a mais, no total da construção para a inclusão das citadas características.

Resumidamente, lista-se abaixo os tópicos de especificações e projetos estudados e

alterados para o estudo apresentado:

a) iluminação e ventilação natural;

b) conceitos de instalação elétrica, e hidráulica, ambos disponíveis em dezenas de

publicações;

c) conceito “Meu estilo BKO” de economia para reuso da água de pré-aquecimento

de chuveiro (10,9 l de água por dia por habitante – refere-se a captação de água

fria, que normalmente é perdida, enquanto aguarda-se a água aquecida );

d) vegetação, área permeável acima de mínimos;

e) brizes, piso elevado, área verde / terra na cobertura;

f) programas em obra;

g) treinamentos e campanhas;

h) acréscimo de custo, com as interferências e programas feitos: R$ 980.924;

i) custo absorvido em construção / incorporação R$ 490.000;

j) 3,71 % do custo de construção será o investimento total;

k) 1,86 % é o porcentual atribuído, neste estudo, à sustentabilidade (por

determinação da empresa, 50% do custo das especificações ambientalmente mais

corretas foi assumido como custo da construção e os 50% restantes atribuídos ao

investimento com a sustentabilidade da edificação).

Não foram encontrados outros estudos comparativos mais detalhados desses custos.

Observe-se que o percentual apresentado compara o custo das novas especificações

exclusivamente com o custo direto da construção convencional, não incluindo portanto as

Page 88: captação predial de

87 despesas indiretas de construção, nem as despesas do empreendimento, o que, obviamente,

reduziria o percentual calculado.

Questionado na referida apresentação sobre os custos de produção de stands de

vendas, que são descartados após o processo, o apresentador informou que planejam alterar

este processo, utilizando centro de vendas único, não descartável, o que levaria a uma redução

de custo da ordem de R$1.5milhão, contra o acréscimo de R$ 980.924,00 das especificações

ambientalmente mais corretas.

Este exemplo demonstra claramente que precisam e podem ser estudadas as inclusões

das referidas especificações em paralelo com exclusões de outros itens, ratificando assim o

que afirmam Kim e Mauborgne (2005).

Estes autores desenvolveram ferramenta que permite que se elabore nova curva de

valores em função do comprador, a “ferramenta das quatro ações”: eliminar, reduzir,

aumentar e criar. Esta ferramenta se apóia em quatro perguntas:

a) questões para avaliar como reduzir custo:

- quais os fatores que o setor considera incorporados devem ser eliminados?

- que fatores devem ser reduzidos com relação ao padrão do setor?

b) questões para avaliar como aumentar o valor e criar demanda:

- que fatores devem ser aumentados em relação ao padrão do setor?

- que fatores não oferecidos pelo setor devem ser criados?

Page 89: captação predial de

88

Tabela 5.1 – Comparação de custos convencionais e custos adicionais originados pelos tópicos de sustentabilidade

CÓDIGO SERVIÇOS CUSTOS ACRÉSCIMO

(%) Convencionais Adicionais 102 Preparação do terreno 386.972,12 32.550,00 8,41% 103 Fundações / contenções 1.881.306,66 11.500,00 0,61% 104 Supra- estrutura 6.836.093,95 82.150,00 1,93% 105 Alvenarias / fechamentos 1.360.128,34 0,00% 106 Esquadrias de madeira 551.479,70 15.500,00 2,81% 107 Esquadrias de ferro 147.361,20 0,00% 108 Esquadrias de alumínio 2.747.559,18 85.000,00 3,82% 109 Ferragens 231.047,19 0,00% 110 Vidros 302.234,43 0,00% 111 Coberturas 6.430,00 24.567,00 382,07% 112 Impermeabilização e tratamentos 793.717,62 7.680,00 0,97% 113 Revestimentos de paredes 1.630.722,80 0,00% 114 Revestimentos de forro 311.906,20 0,00% 115 Revestimentos de fachada 977.793,23 120.000,00 22,50% 116 Revestimentos de piso 1.396.620,37 112.000,00 15,18 % 118 Pinturas 603.704,50 0,00% 119 Aparelhos, louças, metais e acessórios 347.295,05 78.450,00 22,59% 120 Mármores e granitos 377.346,81 0,00% 121 Instalações elétricas 1.827.517,00 42.300,00 2,31% 122 Instalações hidráulicas 1.944.894,10 66.777,00 3,43% 123 Instalações mecânicas 709.188,65 0,00% 124 Ar condicionado /exaustão / pressurização 179.274,00 0,00% 125 Complementação da obra 808.071,04 302.450,00 4,02% 129 Sistemas complementares 47.499,70 0,00%

1 Custo direto 26.406.163,82 980.924,00 3,71% Fonte: BIANCHI, 2008.

No mesmo fórum, apresentações de outras empresas reportavam um acréscimo de 5%

a 7% sobre o custo convencional, nos itens que estudaram para tornar as construções

ambientalmente mais corretas.

Também como ilustração, vejam-se dados da Tishman Speyer Properties, levados ao

mesmo Fórum. Foram reportados dados comparativos, medidos em pós-ocupação, por essa

empresa, na operação das edificações que planeja e administra. Esses dados demonstram que

o acréscimo inicial na construção, com especificações que a tornam ambientalmente mais

correta, recompensa financeiramente o usuário na operação do edifício.

Page 90: captação predial de

89

Tabela 5.2 – Custo comparativo de operação em edifício residencial, 3 quartos, com 120 m2

ADMINISTRAÇÃO CONVENCIONAL EDIFÍCIO VERDE ECONOMIA

Condomínio R$ 5,0/m2 R$ 3,0/m2 R$ 2,0/m2 Concessionárias R$ 3,0/m2 R$ 2,0/m2 R$ 1,0/m2 Total R$ 8,0/m2 R$ 5,0/m2 R$ 3,0/m2

Fonte: CEOTTO, 2008

A redução no custo da operação do edifício com mais atributos ambientais, pode ser

capitalizada no cálculo da valorização do imóvel que traga os atributos ambientalmente mais

corretos. Para exemplificar, o estudo faz simulação utilizando os dados de acréscimo na

construção e redução na operação.

Considera-se que com o valor de R$ 426/m2, em aplicação financeira, com taxa de

0,7% ao mês, tem-se a diferença de $3,00/m2 para compensar a perda de valor no custo da

operação. Sendo assim, se o preço do convencional é de R$ 3.000/m2, o edifício

ambientalmente mais correto poderá custar R$ 3.426/m2, o que significa valorização de 14%.

Ou seja, com investimento de 5% a 7%, decorrentes de um aumento no custo de construção,

tem-se um aumento no preço de venda de 2,5% a 3,0%, segundo avaliação da Tishman, em

obras executadas (CEOTTO, 2008). No entanto, o preço de venda pode valorizar em 14%.

Tabela 5.3– Custo comparativo de operação de edifício comercial

OPERAÇÃO CONVENCIONAL EDIFÍCIO VERDE ECONOMIA

Água/esgoto R$ 6,0/m2 R$ 3,0/m2 R$ 3,0/m2 Energias R$ 4,0/m2 R$ 2,5/m2 R$ 1,5/m2 Total R$ 10,0/m2 R$ 5,5/m2 R$ 4,5/m2 Fonte: CEOTTO, 2008

Com a mesma forma de cálculo utilizada para o edifício residencial, considera-se que

com o valor de R$ 710/m2, em aplicação financeira, com taxa de 0,7% ao mês, tem-se a

diferença de $4,5/m2, para compensar a perda na operação.

Considera-se também o aumento de 3% a 7% no custo de construção, que representa

1,5 a 4% no custo do projeto e que o valor médio de aluguel convencional é de R$ 60/m2.

Tem-se, portanto que a redução de R$ 4,5/m2, na operação, representa valorização de

7,5%, com um investimento de 1,5 a 4% custo de projeto pode valorizar 7,5% no preço do

aluguel (valor do projeto).

Page 91: captação predial de

90

No que se refere à avaliação das novas especificações a serem implantadas, a

Tishman Speyer Properties considera aquelas relacionadas à redução dos consumos de água e

energia como de significativa importância para reduzir o impacto ambiental da edificação e

contribuir para a redução do custo de operação.

Apenas como ilustração, apresenta-se estudo da Tishman Speyer Properties em que

são comparados o custo dos implementos que recompensam financeiramente a operação, com

o gasto da sua implantação, situando a retenção e a reserva de águas de chuva como de baixo

custo e alto impacto positivo no meio ambiente, nas edificações residenciais. Considera como

médio custo e alto impacto positivo no meio ambiente o aproveitamento desta água.

Tabela 5.4 – Alternativa de solução e seus impactos – edifícios residenciais

Impacto positivo no meio ambiente

Impacto nos custos

Alto Médio Baixo

Alto Tratamento total de esgoto Energia solar para aquecimento de água

Aproveitamento de águas de chuva Metais sanitários de baixo consumo Medição individual de gás Medição individual de água Tratamento superficial no piso das garagens.

Retenção de água de chuva (sem aproveitamento) Lâmpadas de alta eficiência Peças sanitárias de baixa vazão Separação de lixo para reciclagem

Médio Reciclagem de água de banho e lavatório para uso em bacias sanitárias

Automatização da irrigação de áreas verdes Automação da iluminação nas áreas comuns Vidro laminado

Fachadas de cores bem claras Cobertura vegetal no térreo Isolamento térmico de coberturas

Baixo Isolação térmica de fachadas Uso de vidro insulado

Automação de elevadores

Uso de madeira reciclada nos móveis e revestimentos Revestimentos de pisos e paredes facilmente laváveis.

Fonte: CEOTTO, 2008 O Sistema francês de certificação ambiental, baseado no Le référentiel technique de

certification bâtiments tertiaires - Démarche HQE®, elaborado por Certivea, adaptado para o

Brasil no âmbito de um convênio de cooperação com a nomenclatura Certificação da

construção sustentável - processo AQUA, pela Fundação Vanzolini, na categoria de avaliação

número 5, que trata da gestão da água, apenas oferece o nível excelente a prédios que

Page 92: captação predial de

91 otimizem o consumo da água potável, através de sistemas economizadores e inclusão da água

não potável para usos que não requeiram potabilidade.

Segundo o mesmo referencial, caso seja impossível o uso da água não potável, faz-se

necessária a justificativa e a demonstração de “que o uso de água não potável foi compensado

por outras ações mais importantes que visam a economia do recurso natural água”

(FUNDAÇÃO VANZOLINI, 2007, p. 107).

5.3 VANTAGEM COMPETITIVA NA ASSOCIAÇÃO COM CAUSA AMBIENTAL

No entendimento de Michael Porter (1986), para construir uma vantagem competitiva,

a empresa precisa buscar, uma competência que lhe seja peculiar e diferenciar-se nela. Não se

trata apenas de aperfeiçoar o processo, o que certamente evidencia uma “eficácia

operacional”, mas também criar uma posição competitiva única, que leve a um

posicionamento vantajoso.

Entende-se, portanto, que a estratégia de negócio da empresa, associada com a causa

ambiental, evidenciada pela oferta de produtos ecologicamente mais corretos, através

procedimentos na produção, atividades de apoio e especificações nos projetos, poderá gerar

uma diferenciação, com uma proposição de valor diferente, desde que:

a) a empresa assuma seu compromisso com a causa ambiental, tanto na linha de

produção como no design do produto;

b) permaneça atenta a novos atributos e atividades que reforcem o compromisso;

c) haja continuidade da estratégia, com aperfeiçoamento constante.

(PORTER, 2007).

Para este autor, a associação da estratégia empresarial com a responsabilidade

ambiental corporativa, pode trazer sinergia entre objetivos econômicos e socioambientais,

conduzindo a empresa à diferenciação, consolidando benefícios para a competitividade e

condições ambientais.

Não se pretende detalhar aqui planejamento estratégico de incorporadoras, mas

apenas evidenciar a possibilidade de relacionar as diretrizes do negócio com a

responsabilidade socioambiental da empresa, potencializando resultados. Esta possibilidade

de geração de vantagem competitiva através do plano de responsabilidade social e empresarial

foi defendida por Porter e Kramer (2006).

Souza Filho et al. (2007) demonstram esta possível associação, comparando as

clássicas estratégias empresariais de Porter, ou seja, diferenciação, liderança por custos e

Page 93: captação predial de

92 enfoque, com as estratégias sociais de Husted e Allen (2001), que podem ser usadas na busca

de vantagem competitiva: diferenciação de produtos através da responsabilidade

socioambiental, liderança em custo, utilizando tecnologia e processos inovadores para

aproveitamento das oportunidades socioambientais e interação estratégica entre empresas e

órgãos reguladores.

Ressalta-se que o encaixe dos já citados atributos ambientais, desde que bem

contextualizados em campanhas publicitárias, poderão levar a uma associação positiva,

colocando-os em destaque, associando-os ao significado do cuidado com o meio ambiente,

criando o desejo em torno deles e determinando o reforço da marca do incorporador.

No próximo capítulo, serão apresentados elementos sobre a ampliação do uso de

especificações ambientalmente mais corretas, e sobre a forma como isto pode repercutir no

mercado imobiliário em geral, partindo da ‘empresa líder’.

Page 94: captação predial de

93 6 AMPLIAÇÃO DO USO DA CAPTAÇÃO DIRETA DE ÁGUA DE CHUVA NAS

EDIFICAÇÕES

Ao longo desta dissertação, a partir do pressuposto de que, com a inserção de novas

especificações vinculadas ao conceito de construção ambientalmente mais correta, vem sendo

defendida a idéia de que as empresas podem construir uma diferenciação de seus produtos e

de si mesmas de maneira a construir uma vantagem competitiva e ainda influenciar o mercado

a trilhar o mesmo caminho. Nesta linha de raciocínio, este capítulo discutirá a maneira como é

possível realizar-se a mudança no setor de construções partindo de uma empresa líder, de

acordo com teoria de Michael Porter (PORTER, 1986; PORTER, 2007).

Para uma empresa que adotar a estratégia de negócio aliada à causa ambiental,

apresentam-se matrizes de oportunidades e ameaças (no ambiente externo à empresa),

fragilidades e potencialidades (no seu ambiente interno), assim como é preciso planejar

cuidadosamente as etapas do processo produtivo, porque elas precisam alinhar-se com a

estratégia adotada com essa finalidade.

Além das observações sobre a reconfiguração no que diz respeito ao mercado formal,

também se abordam aspectos do mercado informal das construções, sobretudo seu histórico e

suas tendências de que decorre a possibilidade de vir a ser também atingido pelas mudanças

rumo a construções mais sustentáveis.

6.1 A MODIFICAÇÃO NO SETOR PARTINDO DE UMA EMPRESA LÍDER

Pelo que se viu até aqui, a ampliação do uso de especificações ambientalmente mais

corretas, mencionadas no capítulo anterior, por iniciativa da empresa líder, ainda não garante

a totalidade das necessárias mudanças na filosofia de trabalho do setor da construção. Resta o

desafio de, depois que forem adotadas essas práticas sustentáveis em empresa construtora do

Page 95: captação predial de

94 segmento de alto padrão, fazer com que as práticas tenham repercussão sobre todo o setor,

inclusive na produção informal.

Segundo Porter (1986), a estratégia de uma empresa poderá influenciar toda a

indústria na qual ela se insere, mudando paradigmas do setor. Para ele, a mudança da estrutura

de uma indústria pode ser alavancada por uma empresa que, respondendo de pronto a forças

externas, leve outras empresas a segui-la, já construindo para si uma vantagem competitiva.

Assim, a leitura dessas forças e o pioneirismo nas reações representam a inovação e a

mudança estrutural (PORTER,1986).

Espera-se, assim, que o mercado possa reagir, buscando similaridade, configurando-se

pelo seu exemplo, sendo levado pela empresa líder a um patamar diferente.

É possível então supor que a adoção de sistemas de captação direta de água de chuva e

outros equipamentos que visam atender a demandas ambientais, depois de assimilados por

uma empresa do segmento de alto luxo, possam se expandir em outras edificações deste

segmento.

A associação de especificações ambientalmente mais corretas com o conceito de “alto

padrão”, pode estimular o desejo dos compradores de possuir imóvel com características

semelhantes. Isto pode fazer com que os incorporadores de outros segmentos da indústria da

construção civil venham a incorporar essas especificações. Estudos sobre a influência das

escolhas das classes mais abastadas nas classes menos favorecidas foram discutidos no

capítulo 4, apontam para esta tendência.

As considerações apresentadas ali permitem confirmar a hipótese de que a inclusão de

produtos e recursos ambientalmente mais corretos teria vantagens se fosse iniciada em

edificações de alto padrão, promovendo a reconfiguração deste segmento e sua expansão para

outros tipos de edificação. Consolidada a demanda, esses equipamentos ambientais poderão

ser transformados em objetos de desejo.

6. 2 RECOMENDAÇÕES PARA AMPLIAÇÃO DO USO DE CAPTAÇÃO DIRETA E OUTROS ATRIBUTOS

SUSTENTÁVEIS

Para evidenciar as vantagens que terá a empresa que adotar a associação da sua

estratégia de negócio com a causa ambiental, apresenta-se uma análise situacional, de acordo

com conceitos de Michael Porter, citados no livro Estratégia competitiva, levantando-se as

possíveis ameaças e oportunidades do mercado, em cruzamento com potencialidades e

Page 96: captação predial de

95 fragilidades, observadas em empresas-padrão do ramo incorporação de alto luxo (PORTER,

1986). A partir desse cruzamento, sugerem-se ações que podem reforçar as potencialidades e

minimizar as fragilidades, apresentadas em forma de matriz, no quadro 6.1 a seguir.

Os conceitos de oportunidades e ameaças ao negócio, no ambiente externo a empresa e

as potencialidades e fragilidades, no seu ambiente interno, foram também definidos por

Hooley e Saunders, no livro Posicionamento competitivo. Esses autores consideram que

oportunidades surgem, muitas vezes, em mudanças no mercado, como por exemplo, com

novas preocupações do mercado consumidor (HOOLEY; SAUNDERS, 1996).

Philip Kotler, desenvolvendo o conceito de oportunidades e ameaças, no seu livro

Administração de marketing, define ameaça como sendo um “desafio atribuído a uma

tendência ou desenvolvimento desfavorável que levaria, na ausência de uma ação de

marketing defensiva, deterioração das vendas ou dos lucros.” (KOTLER, 1996, p.84).

Os autores definem potencialidades e fragilidades como sendo a competência, ou sua

falta, que a empresa possui ou não, para aproveitamento da oportunidade e contraposição às

ameaças, vindos dos vários atores que compõem o ambiente externo.

As ameaças, oportunidades, potencialidades e fragilidades consideradas para o

ambiente externo e interno da empresa, assim como as ações, foram levantadas com base no

conhecimento da autora desta dissertação, que atuou em empresa incorporadora de imóveis de

alto padrão por 25 anos e acompanha o setor, nos últimos 5 anos, através de vinculação

gerencial com a mesma empresa. Além disto, no desenvolvimento deste trabalho, manteve

contato permanente com incorporadores, projetistas e entidades de classe. Participou também

de cursos e seminários da categoria, na Bahia, em São Paulo e Nova York, levantando dados,

dificuldades e características de grandes empresas e escritórios de projetos e também sobre

novos sistemas de certificações ambientais.

Na matriz a seguir delineada, considerando que a ampliação do uso da captação direta

de água de chuva poderá vir acompanhada da inserção de outros atributos ambientais, simula-

se uma análise situacional de empresa que ofereça o imóvel dotado de especificações

ambientalmente mais corretas.

Page 97: captação predial de

96

Quadro 6.1 � Matriz de análise situacional de empresas

Ambiente Interno Ambiente Externo Fragilidades Oportunidades Ameaça

Não ter histórico de ganhos financeiros resultantes das inovações pós-ocupação

Empresas líderes em outros estados, principalmente as incorporadoras que administram os imóveis começam a mapear resultados obtidos

Tarifas, como por exemplo, da água, são baixas não tornando o pay back muito favorável.

Ação: desenvolver avaliação comparativa inicial e posterior ao acompanhamento; buscar no mercado de outros estados números já obtidos

Ação: utilizar outros recursos economizadores, potencializando os ganhos e efetuar mensurações conjuntas. Apresentar resultados conjuntos.

Necessário investimento no processo produtivo para racionalizar o uso dos recursos naturais

Desenvolvimento de programas por parte de entidades de classe, universidades e instituições voltados para eficientização dos canteiros de obras

Dificuldade de oferecer treinamentos ao operariado por conta do elevado turn over e terceirização.

Ação: inserir-se nos trabalhos oferecidos que buscam otimizar processos de produção, redução de resíduos, treinamentos, etc.

Ação: identificar no operariado alguns profissionais com conhecimento instalado e promover treinamentos internos – buscar articulação setorial

Aumento do custo do imóvel decorrente da inserção das novas especificações.

Maior aceitação no mercado de dos produtos ambientalmente mais corretos.

Custo dos equipamentos e insumos atingindo o custo da obra

Ação: aprimorar o material de vendas para divulgação dos benefícios e treinamento do pessoal de vendas e corpo técnico que interage com o cliente.

Ação: avaliação criteriosa das especificações sobre o que deve ser incluído, substituído ou excluído, na busca do equilíbrio orçamentário.

Dificuldade no desenvolvimento dos projetos ambientalmente mais corretos face ao pouco conhecimento instalado no assunto

Cursos, treinamentos e exemplos vindos de outros países chegam ao país.

Instabilidade do mercado, que não permite tempo de maturação dos projetos, dificultando o planejamento.

Ação: promover o desenvolvimento do corpo técnico e buscar projetistas engajados com o tema.

Ação: desenvolver premissas que possam nortear projetos, pautando exigências que auxiliarão no briefing do empreendimento

Page 98: captação predial de

97

Ambiente Interno Ambiente Externo Potencialidades Oportunidades Ameaça

Poder ter o imóvel com características e apelo ecologico

Com a valorização da ecologia, pessoas estão mais atentas a produtos ambientalmente corretos.

Desconhecimento por parte dos compradores sobre as novas especificações que trazem efetivos ganhos ambientais e redução de despesas na pós-ocupação.

Ação: busca contínua de aprimoramento de especificações que traduzam no conceito de ambientalmente mais correto”, prospectando novos produtos e tecnologias.

Ação: treinamento do corpo de vendas e marketing, tanto sobre as novas especificações, como na importância do cuidado com o meio ambiente.

Existe conhecimento instalado e verbas para publicidade, divulgações.

A reverberação na mídia da necessidade de cuidar do meio ambiente, pode potencializar a imagem do produto e empresa.

O descrédito em relação a divulgação de produtos com especificações mais sustentáveis, pelo uso equivocado do assunto por varias empresas

Ação: associação da imagem da empresa com causas programas ambientais que tenham credibilidade.

Ação: clareza na divulgação do produto, apresentando os benefícios de forma indiscutível, técnica, e diferenciada.

Grandes possibilidades de ações na linha de produção, com repercussão no mercado.

Existe tendência de valorizar empresa socioambientalmente responsável, com premiações selos, etc.

Descrédito em selos ambientais, pelo histórico no pais de outras certificações que não tiveram credibilidade

Ação: assumir o compromisso com a causa ambiental, reafirmando-o, tanto no produto, como na linha de produção

Ação: avaliar criteriosamente a adoção de selos para os produtos antes de firmar a imagem da marca no mercado

Existe conhecimento instalado sobre evolução das especificações dos imóveis ao longo do tempo.

A diferença de preços entre imóveis novos e usados demonstra que ter imóveis com especificações atuais é importante.

Desconhecimento dos compradores sobre características dos imóveis que o manterão "atualizado"

Ação: efetuar treinamento do pessoal de vendas, com subsídios de especificações que se incorporaram e hoje são indispensáveis.

Ação: evidenciar os atributos que manterão o imóvel atualizado, tanto no momento da venda como em material publicitário.

Para exemplificar as várias etapas do processo produtivo que precisam estar em

consonância com a estratégia, apresenta-se, no quadro 6.2, o demonstrativo das atividades

principais e de apoio que compõem a cadeia de valor, definido por Michel Porter, para o setor

de construção de imóveis, englobando o processo da incorporação imobiliária (PORTER,

2007).

Considera-se que todas as atividades, ou processos produtivos e administrativos,

listados na cadeia de valor, devem ser adequados à estratégia empresarial, encaixando-se e

Page 99: captação predial de

98 reforçando-se mutuamente, oferecendo uma proposição de valor exclusiva e continuamente

aprimorada.

Ainda de acordo com os conceitos de Porter, indicam-se, nesta cadeia de valores,

algumas atividades que vinculam o empreendimento com a sociedade, podendo causar

impactos socioambientais. A depender de como tais atividades são executadas, os impactos

podem ser positivos ou negativos, podem acontecer em qualquer fase: no planejamento,

durante a obra, no uso e operação da edificação, nas reformas e, finalmente, na descontrução.

Além das atividades no canteiro de obras, também os fornecedores, prestadores de

serviço e projetistas contribuem, positiva ou negativamente para os impactos causados.

Na adequação de todas as atividades empresariais com a racionalização do uso de

recursos naturais, poderá ser consolidado o aprendizado do operariado no tocante aos

conceitos de sustentabilidade, possibilitando o entendimento de novos valores e importância

das especificações.

Quadro 6.2 � Etapas do processo produtivo

Ativ

idad

es d

e ap

oio

Infraestrutura da empresa (p.ex., financiamento, planejamento, relação com investidores)

Mar

gem

Valor aquilo que os

compradores estão

dispostos a pagar.

Gestão dos recursos humanos (p.ex., recrutamento, treinamento, sistema de remuneração Desenvolvimento tecnológico (p.ex.,desenvolvimento e design dos produtos, teste, design do processo, pesquisa de materiais e especificações, pesquisa de mercado) Compras institucionais (p.ex. componentes, maquinário, publicidade, serviços)

Ativ

idad

es p

rinc

ipai

s

Aquisição e

ocupação do solo

Construção Marketing e vendas Fechamento Serviço pós-

venda

Identificar mercados atraentes, conseguir terrenos,

obter direitos

de posse e alvarás, preparar

local

Projeto, engenharia, cronograma e gestão do processo de construção

Geração de leads,

maquetes, força de vendas,

personalização para cliente

p.ex. financiamento para cliente,

contrato, escritura

p.ex. entrega do imóvel, garantias,

reclamações dos clientes, avaliações no pós-ocupação, retroalimentação.

Fonte: PORTER, 2007

Para exemplificação das possíveis atividades dentro da cadeia de valor, foram

utilizados o Referencial técnico do processo Aqua de certificação, adaptado pela Fundação

Vanzolini, conceitos de Michael Porter (2007), além da experiência da autora em edificações.

Page 100: captação predial de

99

Exemplos de atividades que carecem de observação para avaliação dos impactos que

geram:

a) atividades de apoio:

- infraestrutura da empresa: práticas de contabilidade, gestão da empresa,

transparência, lobbying, controle de documentos, segurança na rastreabilidade.

- gestão de recursos humanos: práticas de terceirização, saúde e segurança do

trabalho, treinamento dos operários, planejamento x turn over, remuneração,

políticas de contratação e recolhimento de encargos sociais, direitos trabalhistas,

- desenvolvimento tecnológico: práticas de prospecção, desenvolvimento e

aprimoramento dos produtos, relacionamento com centros de pesquisas,

consultores, universidades, fornecedores, incentivo ao desenvolvimento interno

dos processos, controles de qualidade,

- compras institucionais: práticas de tomadas de preços e avaliação ampla dos

fornecedores de produtos e serviços, prospecção de produtos com baixo impacto,

processo transparente em compras e contratações;

b) atividades principais:

- aquisição e uso do solo: atendimento a exigências legais, análise econômica,

- construção: nesta etapa, todos os processos podem causar efetivo impacto,

desde a relação com o entorno, passando por planejamento, implantação,

processos produtivos, geração dos resíduos, incômodos e poluição durante a

obra e após a ocupação, uso de recursos naturais, até os confortos para o

usuário, como higrotérmico, acústico, iluminação, olfativo, qualidade do ar

interno, acessos a redes publicas, manutenções pós-ocupação,

- marketing e vendas: anúncios claros e verídicos, práticas de preços,

informações para consumidor,

- fechamento: contratos claros, financiamentos para cliente, documentação para

as unidades vendidas,

- serviços pós-venda: garantia do imóvel, atendimento aos clientes.

Na observação, no planejamento e no aprimoramento das atividades, a empresa poderá

estar aumentando sua capacitação, em paralelo com o aprofundamento da sua estratégia.

Associar, portanto, a estratégia de negócio de uma empresa incorporadora de alto padrão com

a causa ambiental, poderá levá-la a uma distinção de produto, da imagem institucional e ao

aumento da lucratividade. Se a empresa conseguir criar um imóvel capaz de gerar tendências,

Page 101: captação predial de

100 poderá levar o mercado a reagir, reconfigurando o setor. Além desta transformação nas outras

empresas, o operariado, no aprendizado direto, poderá levar a prática ao mercado informal.

6.3 A REPERCUSSÃO NO MERCADO INFORMAL

Além da reprodução nas construções do mercado formal, pode-se considerar que o

operariado, envolvido nas obras, entrará em contato com essas inovações, assimilando suas

práticas, e poderá, dentro das suas possibilidades, incorporá-las nas habitações de baixa renda.

É de conhecimento geral que este tipo de construção “informal” é conduzido sob a

orientação de profissionais treinados no mercado formal.

O déficit habitacional descrito por SOUZA (2000) como a “relação entre população e

número de habitações existentes, difere da efetiva demanda, ou seja, a possível aquisição do

imóvel, que requer intenção e possibilidade de obtenção da habitação” .

Este déficit, em 93% dos casos, situa-se na faixa dos que ganham até 5 salários

mínimos. Portanto, o benefício que poderá advir das interferências na legislação, através de

suas várias instâncias, não atingirá, de imediato, o setor da construção civil como um todo

(BERNASCONI, 2008). No programa de construção popular chamado Minha casa minha

vida, não existe recomendação para uso de captação de água de chuval, demandando apenas,

“medição individualizada de água e gás, e aquecimento solar nas unidades, certificado pelo

Inmetro e Qualisol (CEF, 2010).

No livro Limites do habitar, Ângela Gordilho Souza, discorrendo sobre formas de

moradia e intervenções públicas no Brasil, citando Ribeiro, com dados sobre a difusão da

propriedade privada, informa que a moradia dos brasileiros passou de 26,4% de domicílios

próprios em 1940, para 54,5% em 1980. No entanto, como é comentado pela autora, “a

privatização ocorreu prioritariamente por ocupações informais [...] mantendo-se como

alternativa habitacional paralela aos circuitos do mercado formal, até os dias atuais (SOUZA,

2000, p. 40).

Para ampliar o entendimento da informalidade que envolve a moradia, mencionam-se,

em uma breve retrospectiva histórica das normas e formas de ocupação da cidade de Salvador,

desenvolvida por Souza (2000), alguns problemas da segregação urbana e localizam-se as

raízes da exclusão de muitos do mercado formal das construções.

Nessa análise, encontra-se o surgimento do incorporador, que nasce após a Lei de

Terras de 1850. Esta lei proporcionou o parcelamento e a vendas de áreas que se

Page 102: captação predial de

101 transformaram em loteamentos, fazendo surgir o segmento de criação de produtos para o

mercado imobiliário: a incorporação. Muitos desses produtos localizavam-se em subúrbios

que se situavam fora do alcance das normas de uso e ocupação, diferentemente de outras

regiões da cidade.

Na sua análise, Souza apresenta a dificuldade de muitos em adquirir o seu lote, apesar

da grande oferta, surgindo então a favela e o loteamento clandestino. Seguiram-se várias

tentativas de produção de habitação social, através da intervenção do Estado, com programas

que passaram dos Institutos de Aposentadoria e Previdência (IAP), nos anos trinta, para a

Fundação da Casa Popular (FCP) em 1946, para o Banco Nacional da Habitação (BNH), com

seus financiamentos para classes de renda mais alta, e para as Cooperativas Habitacionais

(Cohabs), para aquelas de renda mais baixa. Na vigência do BNH, de 1964 a 1986, foram

produzidas 4,5 milhões de unidades. Deste número, apenas 250 mil foram destinadas a faixas

com renda de 1 a 3 salários mínimos (AZEVEDO, apud SOUZA, 2000).

Os programas de tentativa formal de produção de habitação popular não obtiveram o

sucesso necessário. A informalidade para construção das moradias que não obedecem a

normas urbanísticas, assim como a ilegalidade das muitas que não possuem sequer os títulos

de posse da terra (SOUZA, 2000), é uma realidade nas grandes cidades, inclusive em

Salvador, foco deste trabalho.

A evidente participação dos operários da indústria da construção civil na construção

informal pode ser observada em depoimentos de favelados da zona oeste carioca: “Foi um

pedreiro daqui que me ajudou, construindo um barraquinho pra mim. Foi onde vivi até hoje”.

Em outro depoimento, observa-se: O lucro das feiras tem destino certo. Para a casa de dona Argentina, os gastos de R$ 2.330 foram com material de construção e mão-de-obra de pedreiro e ajudante. Fora as doações conseguidas com a realização de um bingo organizado pelo projeto. As casas de material de construção da região e outras pessoas interessadas em ajudar contribuíram com sacos de cimento, mais de um milheiro de tijolos; areia; pedra; canos; azulejo; portas, janela; louça sanitária. (MIGUEL; HOMERO, 2004).

Em dissertação sobre construção de moradias na favela da Rocinha, no Rio de Janeiro,

Leitao (2004) reporta-se à utilização do operário na produção das unidades em que já se

encontram pequenos prédios de alvenaria. Segundo o autor, já existe, além da autoconstrução,

um mercado imobiliário informal, “um mercado que, ao mesmo tempo, se assemelha e se

diferencia daquele praticado na cidade oficial” (LEITAO, 2004).

Esses depoimentos evidenciam a atuação de operários da construção civil no mercado

informal. Através deles, será possível atingir, assim, a outra parte da indústria da construção,

Page 103: captação predial de

102 aquela que supre o déficit habitacional não atendido pelo mercado imobiliário formal,

submetido a legislações e normas.

Considera-se que a aplicação dos conceitos de sustentabilidade, de forma ampla, no

ambiente construído, poderá ocorrer com o aprendizado do operariado das grandes obras, que

levará para as construções que também executa, dentro da informalidade, quase sempre na

periferia das cidades.

Os operários executores das obras do mercado formal, absorvendo os conceitos e

formas de execução poderão então inseri-los no contexto dos outros serviços que executam,

ampliando definitivamente as boas práticas, por compreendê-los, e não por imposição efetiva,

já que este nicho do mercado não se submete a nenhum tipo de aprovação ou formalidade

legal.

Conclui-se que, partindo de empresas líderes de mercado, muitos segmentos já se

transformaram e poderá a construção civil também se renovar. Com a consolidação da

vantagem competitiva da empresa e efetivada a similaridade pelas empresas concorrentes do

mesmo padrão, espera-se que os outros segmentos da indústria da construção também se

modifiquem, buscando incorporar os mesmos implementos ambientalmente mais corretos,

ampliando a renovação para toda a indústria.

Além disto, no preparo e no saber do operariado da construção civil, que também é

responsável pelas construções informais e constitui grande parte das edificações da cidade,

poderá estar sendo consolidada uma nova relação da indústria com o meio ambiente, trazendo

benefícios para toda a sociedade.

Page 104: captação predial de

103

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS E RECOMENDAÇÕES

A partir dos dados apresentados aqui, chega-se à conclusão de que precisa ser

reavaliado o modelo de abastecimento urbano da água, feito por distribuição centralizada,

através de grandes redes, que tem elevado custo, tanto na implantação, como na operação e

distribuição da água tratada, para muitos usos que sequer necessitam da água potável. É

preciso também rever a lógica predominante, pela qual se acredita que a solução dos

problemas de distribuição virá unicamente através de grandes obras e que o recurso hídrico é

apenas a água que corre pelos rios. O crescimento dos centros urbanos continua se

intensificando e o consumo dos recursos naturais cresce sem planejamento.

A captação direta de águas pluviais, nas cidades, como fonte suplementar às redes

públicas, representa alternativa para uso em destinos não nobres e traz benefícios tais como:

a) a vantagem coletiva da economia da quantidade de água potável distribuída e na

energia do sistema de distribuição, reduzindo os gastos que recaem sobre a

população;

b) a possibilidade de redução do consumo de energia nas edificações, decorrente do

posicionamento do reservatório elevado e da distribuição da água por gravidade;

c) a possibilidade de contribuir com a sustentabilidade ambiental das edificações e,

pela difusão da ideia, de representar um primeiro passo para implantação de outras

práticas mais sustentáveis;

d) a possibilidade de contribuir, de alguma forma, com a redução das enchentes

urbanas, o que já acontece nos grandes centros;

e) a vantagem da descentralização do abastecimento para adaptação às mudanças

climáticas em curso, pois, com a captação direta de água de chuva, pode-se

contribuir para facilitar o enfrentamento das dificuldades que a mudança no

Page 105: captação predial de

104

regime das chuvas sofrerá, alterando o histórico pluviométrico que lastreou

estudos das estruturas de captação.

Considerando esses benefícios, o estudo procurou mostrar como difundir a prática da

captação direta de água de chuva em edificações urbanas, tornando este sistema usual, em

paralelo a tantos outros equipamentos e serviços que vêm sendo inseridos nas novas

construções.

Como ilustração do crescimento da demanda e do potencial benefício, avaliou-se, no

período de 2000 a 2007, na cidade de Salvador, o que poderia ter ocorrido para as redes de

abastecimento, se a captação direta tivesse se iniciado nas novas construções deste período.

Nestes 7 anos, a cidade aumentou sua população em 449 518 habitantes. Este número

aproxima-se da população de Feira de Santana, a maior do interior da Bahia, com população

estimada em 571 997 habitantes, também em outubro de 2007.

A simulação conclui que a cidade poderia ter economizado, com reservatório de

apenas 0,5 m3 por unidade habitacional, o volume equivalente ao consumo de uma cidade de

58 124 habitantes, estimando-se um consumo de 200 litros por dia, por habitante.

Através das pesquisas que comprovam o surgimento de uma conscientização maior em

relação ao impacto ambiental e também da observação do momento atual, quando repercutem,

inclusive na mídia, os riscos das mudanças climáticas, do efeito estufa e de tantos outros

danos causados ao meio ambiente, conclui-se, da leitura das oportunidades e ameaças deste

cenário, que a disseminação dos princípios de sustentabilidade para a construção civil poderá

iniciar-se através de empresa incorporadora de alto padrão, que associe a responsabilidade

ambiental a sua estratégia de negócio.

Esta empresa, ao promover uma sinergia entre objetivos econômicos e

socioambientais, será conduzida à diferenciação, consolidando benefícios para a

competitividade e para as condições ambientais, além de influenciar o setor.

Citam-se, como exemplos, nesta dissertação, muitas especificações que surgem nos

imóveis e são rapidamente copiadas em vários empreendimentos, para demonstrar como

novos atributos se transformam em objetos de desejo do consumidor e sucesso de vendas

para o produtor. Estas inclusões, muitas vezes, oferecem aumento de custo para o construtor e

também para o morador final e, ainda assim, tornam-se de uso comum, em função do apelo

com que são colocadas e da demanda que criam.

Assim, os imóveis vão se adaptando às novas tendências, alterando seu valor de

acordo com os implementos ditos “sofisticados” “modernos” ou “funcionais” que possuem.

Page 106: captação predial de

105

Estes exemplos deixam claro que não é a rigorosa análise de pay back, que determina

a inserção, aceitação ou descarte de novas especificações e equipamentos. Os exemplos

citados são também evidências claras de que o mercado imobiliário já busca a diferenciação

do produto, através de itens que, no entendimento atual do incorporador, possam agregar

valor ao imóvel, seja na aparência ou no desempenho.

Assim, evidenciam-se outros fatores, além da análise de pay back, que podem

influenciar o uso de novas especificações ambientalmente mais corretas. Em consonância com

a leitura do momento, podem ser inseridas estas especificações, como, por exemplo, a

captação direta de água de chuva, alterando o desempenho do “produto potencial”, na sua

pós-ocupação, através, de novos aparatos que traduzirão conforto e modernidade,

consolidando a marca, a reputação do incorporador, podendo levar ao destaque da empresa.

As edificações de alto padrão, inserindo a captação direta de água de chuva e outras

especificações ambientalmente mais corretas, podem exercer influência sobre a ampliação do

uso dessas práticas, considerando, de acordo com as teorias expostas nesta dissertação, que

este padrão cria um estilo que passa a ser seguido pelos outros segmentos da indústria da

construção, como pode ser visto pelos atributos que inclui e que passam a ser usuais.

Deste modo, haverá benefício para a empresa incorporadora que adote a associação da

sua estratégia de negócio com a causa ambiental, ofertando produtos ambientalmente mais

corretos, vez que o momento é propício, tanto pela repercussão, na mídia, dos assuntos

ligados ao meio ambiente, como pela sinalização do crescimento do consumo consciente.

Assim traduzirá uma estratégia que trará diferenciação, com uma proposição de valor

diferente.

A empresa poderá, revendo potencialidades e fragilidades, atividades principais e de

apoio, descritas nesta dissertação, diferenciar-se no mercado, ganhando prestígio de imagem e

vantagem competitiva. Com a imitação das empresas concorrentes, o segmento de alto padrão

poderá reconfigurar-se, criar um estilo que se refletirá na indústria da construção como um

todo.

Por outro lado, através da exposição às novas práticas e aos novos conceitos nos

predios, o operariado será levado a um aprendizado que pode vir a ser aplicado no mercado

informal em que atua muitas vezes, produzindo unidades habitacionais feitas à margem de

legislações e posturas municipais. Assim, na leitura do momento e das demandas atuais, na

junção do conhecimento técnico com o conhecimento social, os atributos ambientais poderão

disseminar-se a partir do mercado de alto luxo e chegar até a habitação de baixa renda.

Page 107: captação predial de

106

Estudos devem ser realizados para captação direta da água de chuva em fachadas das

edificações verticais em que os benefícios financeiros não são significativos. Estas edificações

oferecem grandes superfícies de fachadas, em comparação à área de telhados, podendo, desta

forma, melhorar a relação custo-benefício, já mais evidente em casas com maior área de

cobertura.

Estes estudos poderão ser desenvolvidos através de experimentos acompanhados,

mensurando-se comparativamente o volume captado por área de telhado e fachada. Também

podem ser desenvolvidos no acompanhamento de estudos de caso, em edificações urbanas,

que instalem a captação em suas superfícies verticais, e possibilitem a mensuração dos

volumes captados ao longo de um período.

Também precisam ser acompanhados, apurados e estudados os custos relativos à

inserção de especificações ambientalmente mais corretas nas edificações, assim como as

despesas da edificação na pós-ocupação, para que se possam desenvolver melhor as

avaliações dos benefícios financeiros desses atributos, comparando tais despesas com aquelas

de outros prédios que não contemplem estes atributos.

Este custo de inserção, de acordo com teoria e exemplos expostos nesta dissertação,

deve ser avaliado comparativamente com especificações atuais que podem ser excluídas, ou

alteradas, elaborando-se uma nova curva de valores, com levantamentos dos itens que devem

ser eliminados ou reduzidos e os que podem ser inseridos, para adicionar valor ao imóvel e

diferenciar a empresa, através da associação da sua imagem com a responsabilidade

ambiental, construindo uma imagem diferente daquela das outras organizações.

Também é necessária a difusão do conhecimento sobre os benefícios, inclusive

financeiros na pós-ocupação, que as novas especificações ambientalmente mais corretas

trazem aos imóveis, junto ao pessoal de vendas e ao de agências de publicidade, responsáveis

por campanhas de divulgação, pois, como influenciadores de compra e formadores de opinião,

contribuirão para o sucesso do produto e para o entendimento do consumidor quanto à

diferença do produto oferecido.

Finalmente, podem ser realizadas pesquisas junto aos moradores, na pós-ocupação,

buscando avaliar a percepção que têm do imóvel adquirido, para identificar o que é sentido

como benefício oriundo das especificações inseridas, monitorando a satisfação com o imóvel.

Esta seria uma forma de conhecer e de compreender melhor o cliente e de obter subsídios para

orientar os projetistas, incorporadores, profissionais de venda e agências de publicidade, no

Page 108: captação predial de

107

momento da concepção de novos imóveis, quando as mudanças podem ser planejadas, com

menor custo, conforme os levantamentos apresentados.

Assim, poderia ser complementado o conhecimento de soluções que visam ao bem

comum, além do benefício financeiro decorrente das reduções de custo operacional, ao longo

do tempo, levando os empreendimentos imobiliários a causar menor impacto ambiental.

Page 109: captação predial de

108

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