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Caracterização Antropométrica e Bioquímica de uma amostra com
Acidente Vascular Cerebral
Anthropometric and Biochemical Characterization of a Hospitalized
Sample with Stroke
Autora:
Carmen Marisa Gonçalves Ramos da Costa
Orientada por:
Dra. Sílvia Pinhão
Estudo descritivo de uma serie de casos
Porto, 2010
i
Dedicatória
O tempo nem sempre está a nosso favor.
Dedico este trabalho a todas as pessoas que contribuíram para que ele
fosse entregue dentro do prazo desejado… mais palavras para quê? Elas
sabem quem são…
ii
Agradecimentos
Um agradecimento muito especial à Dr.ª. Sílvia Pinhão pela pessoa fantástica
que foi durante todo o percurso de realização deste estudo, em particular nos
momentos mais críticos. Com a sua ajuda fui ultrapassando “passo a passo”
todos os obstáculos encontrados! A sua preocupação, disponibilidade e
amizade nunca serão esquecidas!
Agradeço à Mestre Sónia Mendes pela amizade, pelos incentivos e conselhos
dados.
Agradeço à D. Cristina Moreira por toda a preocupação e compreensão
demonstrada, principalmente nos momentos mais críticos. Trabalhar com uma
pessoa tão amiga e humana é meio caminho para as coisas correrem bem!
Obrigada pela sua força.
Obrigada à Dr.ª. Manuela Leite, Directora do Serviço de Medicina Física e de
Reabilitação do Hospital da Prelada, e a toda a equipa que permitiu a
realização deste estudo: ao Dr. Gonçalo Borges, ao Dr. Edgar Tamegão, ao Dr.
Rúben Almeida, ao Dr. Luís Capa, à Enf.ª Graça Alves e sua equipa, aos
auxiliares de acção médica e às administrativas.
Agradeço ao “Mestre da Estatística”, Bruno Oliveira, pela disponibilidade e
ajuda dada no tratamento estatístico.
Agradeço Dr.ª. Marta Azevedo pela disponibilidade e ajuda dada no
tratamento da bibliografia.
Agradeço à minha família e aos meus amigos todo o apoio, em especial,
obrigada Heloísa!
E porque quem está mais perto é quem mais sofre também, agradeço-te Hugo
por todo o apoio e compreensão em todos os momentos, especialmente nos mais
difíceis.
iii
Índice
Dedicatória .......................................................................................................... i
Agradecimentos .................................................................................................. ii
Lista de Abreviaturas .......................................................................................... v
Resumo .............................................................................................................. 1
Abstract .............................................................................................................. 1
1. Introdução .................................................................................................... 3
1.1. Tipos de Acidentes Vasculares Cerebrais (AVC) .................................. 4
1.2. Factores de risco ................................................................................... 5
1.3. Antropometria ........................................................................................ 7
1.4. Avaliação bioquímica ............................................................................ 8
1.5. Alimentação e ou nutrição ................................................................... 10
2. Objectivos .................................................................................................. 11
3. Material e Métodos .................................................................................... 11
3.1. Recolha de dados sócio-demográficos e da história clínica ................ 11
3.2. Avaliação antropométrica .................................................................... 12
3.3. Avaliação bioquímica .......................................................................... 13
3.4. Recolha da história alimentar .............................................................. 13
3.5. Análise estatística ............................................................................... 14
4. Resultados ................................................................................................. 14
4.1. Dados sócio-demográficos e história clínica ....................................... 14
4.2. Avaliação antropométrica .................................................................... 18
4.3. Avaliação bioquímica .......................................................................... 19
4.4. História alimentar ................................................................................ 21
5. Discussão .................................................................................................. 22
iv
5.1. Limitações ........................................................................................... 33
6. Conclusões ................................................................................................ 34
7. Glossário .................................................................................................... 36
8. Referências Bibliográficas .......................................................................... 39
9. Índice de Anexos ....................................................................................... 45
v
Lista de Abreviaturas
• AIT: Acidente Isquémico Transitório;
• AJ: Altura do Calcanhar-Joelho;
• AVC: Acidente Vascular Cerebral;
• cm: Centímetro(s);
• DC: Doença cerebrovascular;
• dL: Decilitro(s);
• DM: Diabetes Mellitus;
• g: Grama
• c-HDL: High-density Lipoprotein (em português, glicoproteína de elevada
densidade);
• HP: Hospital da Prelada – Dr. Domingos Braga da Cruz;
• HTA: Hipertensão Arterial;
• IMC: Índice de Massa Corporal;
• kg: Quilograma(s);
• c-LDL: Low-density Lipoprotein (em português, lipoproteína de baixa
densidade);
• m: Metro(s);
• MFR: Medicina Física e de Reabilitação;
• mg: Miligrama(s);
• n: Número
• OMS: Organização Mundial de Saúde;
• Pa: Perímetro da Anca;
• Pc: Perímetro da Cintura.
vi
1
Resumo
Introdução: Entre todas as doenças cerebrovasculares, o Acidente Vascular
Cerebral (AVC) é considerada a doença mais agressiva. Em Portugal, o AVC é a
principal causa de morte e uma razão importante de internamento hospitalar. O
IMC elevado, o perímetro da cintura (Pc) e distúrbios na função renal, glicídica e
lipídica têm sido relacionados com o AVC. Objectivo: Caracterizar,
antropométrica e bioquimicamente, doentes com antecedentes de AVC, em
regime de internamento hospitalar. Participantes e métodos: Avaliaram-se 29
doentes internados num serviço de Medicina Física e de Reabilitação, sob o ponto
de vista antropométrico (IMC, Pc e perímetro da anca) e bioquímico (função renal,
lipídica e glicose em jejum). Resultados: A maioria dos doentes adultos
apresenta excesso de peso ou obesidade, enquanto que a maioria dos idosos se
encontra no intervalo da magreza. A maioria das mulheres apresenta risco
aumentado de recorrência de AVC, (PC=95,5+15cm). A maioria dos doentes tem
alteração da função renal e, em média, um em cada seis doentes possui
creatinina sérica elevada. Cerca de 20% dos doentes apresentava valores
elevados de triacilgliceróis e c-LDL e mais de um terço dos doentes apresentava
valores de c-HDL diminuídos. Conclusão: Este estudo permitiu identificar
situações de risco em doentes com AVC, que podem ser resolvidas ou
melhoradas se devidamente combatidas por uma equipa multidisciplinar.
Palavras-Chave: AVC, antropometria, função renal, glicose em jejum, perfil
lipídico.
2
Abstract
Introduction: Among all cerebrovascular diseases, stroke is considered the most
aggressive one. In Portugal, stroke is a leading cause of death and a major reason
for hospitalization. The high BMI and waist circumference (Wc) as well as changes
in renal, glucose and lipid profile have been related to this disease. Aim: To
describe, anthropometric and biochemically, patients hospitalized with previous
stroke. Sample and Methods: The sample of this study is composed by 29
patients who were admitted in the department of Physical Medicine and
Rehabilitation. We conduced an anthropometric (BMI, waist and hip
circumference) and biochemical (renal function, lipid and fasting glucose)
evaluation. Results: The majority of the patients in adulthood have overweight or
obesity, although patients in geriatric ages were in slimness ranges. The majority
of women, have a high risk of a recurrent stroke (Wc = 95.5±15 cm). Most of the
patients had renal dysfunction and, one in six of them, was found to have levels of
serum creatinine elevated. About 20% of patients had high levels of triglycerides
and c-LDL and almost a third of them had values of c-HDL decreased.
Conclusion: The present study describes risk situations in patients with stroke,
which can be solved or improved if properly approached by a multidisciplinary
team.
Keywords: stroke, anthropometry, renal function, fasting glucose, lipid profile.
3
1. Introdução
No Mundo, a Doença Cerebrovascular (DCV) é considerada um importante
problema de saúde pública (1). Na maioria dos países desenvolvidos, é a terceira
principal causa de morte e o principal motivo neurológico de incapacidade crónica
em adultos (2). Em Portugal, a taxa de mortalidade por DCV é elevada, tanto para
homens como para mulheres, sendo a principal causa de morte (cerca de 20% da
mortalidade total) e uma razão importante de internamento hospitalar (2-3).
O cérebro exige um suprimento constante de glicose e oxigénio (substância
limitante), o que é conseguido através da circulação sanguínea (4). As DCV’s são
constituídas por um amplo grupo de doenças caracterizadas pela interrupção do
fluxo sanguíneo ao cérebro, entre as quais se encontra o Acidente Vascular
Cerebral (AVC). As DCV’s mais importantes, devido ao impacto sobre a saúde
das populações, são as que têm como base patogénica a aterosclerose e
Hipertensão Arterial (HTA) (5). A grande maioria das mortes por DCV deve-se a
AVC’s (6). Nos países mais desenvolvidos, o AVC é considerado a doença mais
agressiva entre todas as DCV (5).
O termo DCV refere-se, então, a qualquer anormalidade do cérebro causada por
um processo patológico dos vasos sanguíneos. Sob o ponto de vista clínico,
existem três principais causas para as DCV’s: trombose, embolismo e hemorragia
(4). Sob o ponto de vista da fisiologia e da anatomia patológica, as DCV’s resultam
do comprometimento da circulação sanguínea cerebral por isquemia (obstrução
dos vasos) ou hemorragia (rompimento dos vasos) (1, 4-5). Algumas formas de DCV
hipertensiva combinam aspectos de ambos os processos (4).
Na maioria dos casos, o AVC manifesta-se clinicamente de forma aguda, uma vez
que os sinais e sintomas característicos da lesão neurológica revertem antes das
4
primeiras 24horas (limite convencional) desde o aparecimento das manifestações,
tratando-se, portanto, de um ataque isquémico transitório (AIT) (5). Ou seja, os AIT
não são mais do que episódios curtos de isquemia cerebral (4, 7-8). Segundo a
Organização Mundial de Saúde (OMS), trata-se de um AVC quando há
desenvolvimento rápido de sintomas e ou sinais de disfunção neurológica, focais
ou globais, que perduram por um período superior a 24 horas, sem outra causa
aparente que a de origem vascular (6). Quando o AVC provoca a morte até ao fim
dos primeiros 28 dias (limite também convencional) é designado de AVC letal (5).
Entre 10 a 20% dos doentes com AIT sofreram AVC nos 6 a 12 meses seguintes
e em cerca de 25% dos AVC’s isquémicos e 8% dos AVC’s hemorrágicos ocorre
um AIT prévio. Nos sobreviventes de um AVC, o risco de recorrência é maior
durante o primeiro ano, correspondendo a cerca de 10% (6, 9).
Os AVC’s podem ser transitórios ou permanentes e, segundo a área afectada,
globais ou focais (4). As artérias sujeitas à interrupção do fluxo sanguíneo podem
ser intra ou extracranianas (8). A área comprometida determina se o doente se vai
manter assintomático ou desenvolver uma hemiplegia, deficiência sensitiva,
cegueira, afasia, entre outros. Estas deficiências evoluem com o tempo, sendo o
desfecho fatal ou caracterizado por melhorias lentas durante um período de
meses (4).
1.1. Tipos de Acidentes Vasculares Cerebrais (AVC)
Consoante a causa, existem dois tipos principais de AVC: o isquémico e o
hemorrágico (1, 4-6). Em populações caucasianas, cerca de 80% dos AVC’s são
isquémicos e resultam geralmente da oclusão de uma artéria cerebral ou, menos
frequentemente, da redução da perfusão sanguínea (hipoxia). A causa pode ser
5
uma trombose, embolia ou tromboembolia (4, 6, 8). A maioria dos AVC’s trombóticos
é consequência de um processo aterosclerótico nas grandes artérias cerebrais
(carótida, cerebral média e basilar). A embolia cerebral geralmente resulta da
fragmentação de um coágulo de vasos ateroscleróticos ou de trombos de origem
cardíaca (4, 6-7). 85% dos AVC resultam de um tromboembolismo, que pode ser
agravado pela aterosclerose, HTA, Diabetes Mellitus (DM) e Gota (7).
O AVC hemorrágico é menos comum, mas mais fatal (4, 6). Este tipo de AVC
ocorre devido à ruptura de um vaso cerebral, comprometendo a circulação
sanguínea cerebral (6). Estas hemorragias podem ocorrer em qualquer parte do
Sistema Nervoso Central, no entanto, existem dois tipos principais de AVC’s
hemorrágicos: os intracerebrais (10 a 15% dos AVC’s) e os subaracnóideios (5%
dos AVC’s), consoante ocorram no parênquima cerebral ou espaço
subaracnóideio, respectivamente (4, 6-7). A hemorragia subaracnóideia ocorre mais
comummente como resultado da ruptura de um aneurisma de um vaso dentro do
espaço subaracnóideio (4, 7).
1.2. Factores de risco
Muitos são os factos que sugerem que o AVC se deve, em parte, a factores de
risco potencialmente modificáveis (5, 9). Calcula-se que cerca de 80% dos AVC’S
podem ser preveníveis e que cerca de 50% das mortes cerebrovasculares, antes
dos 70 anos de idade, poderão ser evitadas (9).
Entre os factores de risco encontra-se as características biológicas idade (1, 4-7, 9-10)
e sexo (1, 6, 10); as características fisiológicas, como a HTA (1, 4-11); os antecedentes
de cardiopatologias (fibrilação auricular, doença valvular, enfarte do miocárdio,
entre outras) (1, 4-10); a DM (1, 4-5, 7-10); dislipidemias (5-7, 9-10), a obesidade(1, 5, 7, 9-10), a
6
hiperhomocisteinemia (5, 9), a hiperuricemia e o hipotiroidismo (9); as características
comportamentais, como o tabagismo actual ou passado (1-2, 4-10); o consumo
excessivo de álcool (1, 5-6, 9-10), o uso de anticoncepcionais orais (1, 7-10) e a
inactividade física (5-6, 9-10); e as características sociais, como a educação (6), a
classe social (6) e a raça (1, 6, 10). São medidas antropométricas consideradas
factores de risco: o Índice de Massa Corporal (IMC) superior a 27kg/m2 em
mulheres, o ganho de peso superior a 11kg em mulheres com idade superior a 16
anos e a relação Perímetro da cintura - Perímetro da anca (Pc-Pa) superior a 0.92
em homens (7). A existência de história familiar nos pais e irmãos está associada a
um maior risco de AVC e afectam sobretudo pessoas mais novas (12-13). O papel
da hereditariedade é muito controverso, mas visto que os factores genéticos
influenciam os factores de risco, sem dúvida a hereditariedade terá um papel
significativo na predisposição para o AVC (9-10). Como referido anteriormente, a
ocorrência de um AIT é factor de risco para o AVC e este para a ocorrência de um
novo AVC (6, 9-10).
Ambos os tipos de AVC ocorrem mais frequentemente em indivíduos com idade
avançada e HTA (4, 6-7, 9). A idade é o factor de risco mais significativo (7, 9), pelos
efeitos cumulativos do envelhecimento, associados ao carácter progressivo e ao
aumento do número de factores de risco com a idade (11). A incidência do primeiro
AVC sobe exponencialmente com a idade (9). Cerca de 50% dos AVC’s ocorrem
em pessoas com mais de 75 anos e, em termos globais, 5% da população com
mais de 65 anos é afectada. O segundo factor de risco mais importante é a HTA,
estando esta presente em cerca de 70% dos AVC’s (6). A HTA causa várias
anormalidades nas paredes dos vasos, tornando-as mais vulneráveis a rupturas
(4). No entanto, a HTA sistólica é um factor de risco maior que a HTA diastólica (14).
7
Entre os hipertensos, cerca de 80% dos AVC são isquémicos (trombóticos ou
embólicos). (6)
1.3. Antropometria
A obesidade, tal como a idade, é um factor de risco independente da
aterosclerose e logo das doenças relacionadas como o AVC (15). A semelhança
entre a obesidade e o envelhecimento, relativamente aos patomecanismos
activados, sugere que a obesidade, pelo menos a nível vascular, pode ser
considerada como tendo efeito consistente no “envelhecimento prematuro” (15).
O índice de Quetelet, também designado de IMC, é uma forma útil e prática de
avaliar a obesidade, no entanto, não distingue o peso associado ao músculo ou à
gordura corporal. Por essa razão, e por que a forma pela qual a gordura está
distribuída pelo corpo, é mais importante na determinação do risco individual de
doenças que a gordura corporal total, é importante avaliar o IMC em associação
com indicadores de distribuição da gordura corporal. Os indivíduos idosos
necessitam de maior reserva de tecidos, que os protegem contra a desnutrição, e
apresentam maior susceptibilidade a doenças, por isso, os pontos de corte do
IMC para idosos recomendados são superiores (16-17).
A determinação da distribuição da gordura corporal tem relevância clínica, uma
vez que a obesidade abdominal se relaciona com um elevado risco
cardiovascular, isto é, com o desenvolvimento de doenças cardiovasculares e
metabólicas (16). Tanto o Pc como a razão Pc/Pa são frequentemente utilizados na
avaliação da distribuição da gordura corporal (7, 16). No entanto, alguns estudos
recomendam o Pc como medida isolada, tendo em consideração que esta se
encontra fortemente correlacionada com o IMC e que parece predizer melhor o
8
tecido adiposo visceral do que a razão Pc/Pa. O Pc correlaciona-se estreitamente
com o IMC e a razão Pc/Pa (16). Outros, porém, consideram as medidas
antropométricas reconhecidas como fortes indicadores de gordura corporal o IMC
e a razão Pc/Pa(7).
1.4. Avaliação bioquímica
Dados sobre a associação entre função renal e doentes com AVC são
controversos e escassos (18-19). No entanto, ambas as doenças compartilham
factores de risco como a HTA, a DM e o tabagismo (19). Evidências recentes
sugerem que a função renal reduzida pode prever a sobrevida após o AVC
isquémico agudo, independente dos factores de risco clássicos (20). Elevados
níveis de creatinina têm sido associados ao aumento da mortalidade (21-22). O nível
de creatinina plasmática é geralmente usado como teste à função renal, no
entanto, segundo um estudo recente (2009), a sua função é afectada por outros
factores, para além da taxa de filtração glomerular (23). Por isso, o nível de
creatinina é um inadequado teste de rastreio para a função renal, sendo preferível
usar a taxa de filtração glomerular na detecção de disfunção renal precoce (23). A
relação entre a ureia e o AVC continua em aberto, não estando ainda claro se a
relação entre ambos é causal ou meramente circunstancial (24). Segundo alguns
estudos, o ácido úrico desempenha um papel importante nas reacções agudas de
stresse oxidativo, como o AVC isquémico agudo (24-25), enquanto noutros, embora
seja um dos anti-oxidantes mais importantes no plasma e pareça ser um
neuroprotector em modelos animais, os resultados em humanos são controversos
(26-27). No entanto, a maioria dos estudos epidemiológicos relata uma associação
9
significativa entre níveis elevados de ácido úrico e o aumento de doenças
cardiovasculares (24, 28-29).
A doença cardiovascular é a principal causa de morte a longo prazo em doentes
de AVC e o metabolismo glicídico está fortemente associado ao risco de doença
cardiovascular (30). Os pontos de corte para o diagnóstico de DM surgem a partir
do valor limiar para o desenvolvimento de complicações microvasculares (31).
Os distúrbios no metabolismo lipídico são factores de risco da aterosclerose, que
tem um papel importante na ocorrência do AVC isquémico (32). O tratamento
precoce e agressivo da dislipidemia é um componente importante na abordagem
multifactorial da prevenção do AVC (33). No entanto, alguma controvérsia
permanece relativamente aos níveis séricos de lipídos e risco de AVC (34-36).
Alguns autores relacionam a hipercolesterolemia com o risco de AVC (9, 36-37). No
entanto, segundo alguns estudos, o colesterol não é um factor de risco para o
AVC, por não se encontrarem evidências ou por as associações encontradas
serem fracas (34, 38-39). Também alguns estudos sugeriam que a hipocolesterolemia
estava relacionada com o AVC hemorrágico (9), no entanto, alguns autores
sugerem que a associação encontrada poderá estar na dependência de hábitos
etílicos superiores a 30g por semana, sendo a hipocolesterolemia, tal como o
AVC hemorrágico, um efeito colateral do álcool e não uma causa de AVC
hemorrágico (40).
Elevados valores de Low-density Lipoprotein (c-LDL) e baixos valores de High-
density lipoprotein (c-HDL) são factores de risco do AVC, principalmente
isquémico (9, 33, 37, 39). No caso do c-HDL a relação estabelecida é diferente entre
homens e mulheres (34). Em vários estudos, a elevação dos triacilgliceróis está
10
igualmente associada ao AVC isquémico (9), embora o seu papel como factor de
risco não esteja bem definido (41).
1.5. Alimentação e ou nutrição
Tendo em consideração a prevalência de AVC e suas complicações associadas,
o tratamento nutricional destes doentes não pode ser ignorado. O fundamento
para o tratamento nutricional do AVC é a prevenção primária, que pode ser
realizada com recurso a meios dietéticos e ou alterações de outros
comportamentos de estilos de vida (7). A nutrição e a dieta podem influenciar o
risco de AVC por vários mecanismos, nomeadamente pela redução de alguns
factores de risco importantes, como a HTA, a DM e a dislipidemia (9-10).
A alimentação deve ser rica em hortícolas, fruta (13, 42-43), peixe (44-46), produtos
lácteos pobres em gordura (47-48), cereais pouco processados e azeite (dieta
mediterrânica) (10, 49). Isto é, deve ser pobre em sódio, colesterol, gorduras
saturadas e trans (hidrogenados naturais e industriais) e rica em fibras, potássio,
magnésio ou cálcio (8, 47-49). Isto porque estes constituintes podem afectar
favoravelmente alguns factores de risco do AVC, nomeadamente a pressão
arterial, a insulinoresistência e o processo aterosclerótico (10, 47). O consumo
privilegiado de gorduras polinsaturadas não hidrogenadas e ácidos gordos do tipo
n-3 tem um efeito protector (49). Entre os factores considerados protectores do
AVC encontra-se também o consumo de flavonóides do chocolate e chá (preto e
verde) (50-51) e o consumo moderado de álcool, especificamente para o AVC
isquémico (12-13, 52-53). Vários métodos podem ser utilizados para avaliar o
consumo alimentar dos indivíduos, não existindo um método de avaliação ideal
(16).
11
2. Objectivos
Foi objectivo principal caracterizar antropométrica e bioquimicamente os doentes
com AVC internados no serviço de Medicina Física e de Reabilitação (MFR) do
Hospital da Prelada (HP). Foram também objectivos:
• Conhecer a frequência de doentes com AVC internados no serviço de MFR;
• Identificar características pessoais e antecedentes clínicos;
• Conhecer os hábitos alimentares anteriores ao AVC.
3. Material e Métodos
Para a realização deste estudo, solicitou-se autorização à comissão de ética do
HP e o consentimento informado (Anexo A) (54) dos doentes ou familiares dos
mesmos, caso estes apresentassem redução das capacidades cognitivas. O
critério de selecção foi estar internado, no serviço de MFR do HP, por qualquer
motivo relacionado com antecedentes de AVC, durante o período de recolha de
dados, o que correspondeu a aproximadamente dois meses e meio (14 de Abril
de 2010 a 2 Julho de 2010). Foram critérios de exclusão a impossibilidade de
fazer a avaliação antropométrica e bioquímica e a não prestação de
consentimento informado. A recolha dos dados baseou-se num protocolo
estruturado para o efeito (Anexo B). Inicialmente, fazia-se o levantamento de
todos os doentes em regime de internamento no serviço e do respectivo motivo
de internamento. Não foi possível obter todos os dados para toda a amostra.
3.1. Recolha de dados sócio-demográficos e da história clínica
Foram seleccionados os doentes com antecedentes de AVC e procedeu-se à
recolha dos dados sócio-demográficos e da história clínica. A história clínica
12
obteve-se por consulta do processo clínico e ou entrevista ao próprio ou a um
familiar próximo, sempre que necessário, por diminuição da capacidade cognitiva
do doente. Baseou-se na recolha de informações sobre o diagnóstico e
intercorrências clínicas, que podiam afectar o estado nutricional do doente ou ser
consequências dele. Considerou-se adultos os indivíduos com idades entre os 18
e 64 anos, e idosos os indivíduos com mais de 65 anos (55). Fez-se o registo da
terapêutica farmacológica actual (56).
3.2. Avaliação antropométrica
Cada doente foi avaliado sob o ponto de vista antropométrico no que respeita ao
peso, altura, IMC, Pc e Pa. De forma a eliminar a variabilidade inter-
observacional, todas a medições foram efectuadas pelo mesmo investigador.
Uma vez que se tratava de doentes portadores de deficiências, com mobilidade
reduzida e na sua maioria idosos, a pesagem foi efectuada numa balança
apropriada para pesar cadeiras de rodas, e os doentes foram pesados sem
calçado e, sempre que possível, com roupa leve, descontando-se depois o peso
da cadeira. Para obter o peso dos doentes, usou-se, então, um terminal de
pesagem da marca Bilanciai ob Group®, modelo EV22, ligado a uma plataforma
de pesagem que pesava no mínimo 4kg e no máximo 2000kg (erro entre 200-
500g). Pelos mesmos motivos, a altura foi auto-reportada ou obtida por avaliação
indirecta, através da altura calcanhar - joelho (AJ) (16, 57-58). A medição da AJ
realizou-se segundo metodologia padronizada (57, 59). As fórmulas usadas para
estimar a altura foram as de Chumlea (idosos com 60 a 90anos) (16, 60).
O IMC foi determinado pela divisão do peso (kg) pelo quadrado da altura (m). (61)
Os doentes com idades compreendidas entre os 18 e os 65 anos foram
13
classificados por IMC, segundo os critérios da OMS (tabela 8, Anexo C) (61-62), e
os indivíduos com idade superior a 65 anos, segundo os critérios preconizados
por Lipschitz (tabela 9, Anexo C) (16-17).
As medições do Pc e do Pa também foram obtidas segundo metodologia
padronizada(7, 16). Determinou-se a razão Pc/Pa dividindo-se o Pc (cm) pelo Pa
(cm) (16). Considerou-se risco elevado quando o Pc era superior a 102cm em
homens e a 88cm em mulheres (7, 12, 16, 37, 63) e quando a relação Pc/Pa era
superior a 1 em homens e a 0.85 em mulheres (7, 16).
3.3. Avaliação bioquímica
A caracterização bioquímica incluiu os parâmetros creatinina, ureia, ácido úrico,
glicose em jejum, triacilgliceróis, colesterol total, c-LDL, c-HDL. Estes dados foram
obtidos por análises ao sangue e à urina e foram realizados no laboratório de
análises clínicas do HP. Os valores de c-LDL foram obtidos pela equação de
Friedewald (64) e a taxa de filtração glomerular pela fórmula de Gockroft-Gault (65).
Os valores de referência foram os apresentados pelo laboratório onde se realizou
as análises.
3.4. Recolha da história alimentar
A história alimentar também foi recolhida por entrevista ao próprio ou a um
familiar próximo, sempre que necessário, por diminuição da capacidade cognitiva
do doente, e referia-se ao período de tempo anterior à ocorrência do AVC.
Baseava-se essencialmente na recordação de um dia alimentar habitual e da
frequência alimentar de um grupo de alimentos específico (doces, açúcar, frituras,
enchidos e fumados, molhos com gordura, sumos e ou refrigerantes, excluindo os
14
sumos de fruta, bebidas alcoólicas e água). A avaliação do consumo alimentar,
neste estudo, foi apenas qualitativa.
3.5. Análise estatística
Os dados foram tratados e analisados no software informático SPSS (Statistical
Package for Social Sciences) para o Windows, na versão 16.0. Fez-se uma
análise descritiva dos dados, calculando-se a frequência para as variáveis
apresentadas. Para estimar o efeito provocado por certas variáveis no tipo de
AVC, fez-se uma regressão logística pelo método de recuo passo a passo
(Backward stepwise). Recorreu-se ao test t de Student para comparar médias de
amostras emparelhadas. O nível de significância considerado foi de 5% (p <0.05).
4. Resultados
Entre 14 de Abril e 2 de Julho de 2010, estiveram internados, no serviço de MFR
do HP, 113 doentes, 61 mulheres (54.0%) e 52 homens (46.0%), com idades
compreendidas entre os 17 e os 93 anos, sendo a idade média 61 (16 anos) (112
doentes). Dos 113 doentes, 32 (28.3%) foram internados devido a patologias
relacionadas especificamente com o AVC.
4.1. Dados sócio-demográficos e história clínica
A amostra é constituída apenas por 29 doentes, uma vez que 3 doentes
preenchiam os critérios de exclusão. Dos 29 doentes, 19 são mulheres (65.5%) e
10 são homens (34.5%), variando a idade entre os 37 e 84 anos. A idade média
foi de 65 (14 anos). A maior parte da amostra tem entre 65 e 84 anos, ou seja, a
15
amostra é maioritariamente idosa (Figura 1). Todos os doentes são de raça
caucasiana.
Figura 1. Distribuição da amostra (n = 29) por idades.
As características gerais da amostra encontram-se na tabela 1, onde se pode
verificar que a maioria dos doentes são casados, mais de um terço tem o ensino
primário e que são todos da região Norte do país. A profissão predominante é a
de reformado.
A maior parte da amostra teve um AVC do tipo isquémico (52.0%). Tendo em
consideração a data de recolha dos dados e o tempo desde a ocorrência do
primeiro AVC, grande parte da amostra teve o AVC há mais de 1 ano (Tabela 1).
A patologia associada mais frequente é a HTA, seguida das dislipidemias e DM
(Tabela 1). Verificaram-se ainda patologias do foro emocional, cognitivo,
pulmonar, hepático, renal, neurológico, intestinal, entre outras. Os doentes
apresentam também frequentemente: disartrias, disfagias, dispepsias, afasias,
paresias faciais, hemi, bi ou tetraparesias, hemipostesias, hemiplegias,
hemianópsias, descontrolo dos esfíncteres e alterações sensitivas. Um em cada
cinco doentes (20.7%) apresenta alterações cognitivas (estado confusional ou
16
demência). Também um em cada cinco doentes (20.7%) é afásico. A maior parte
dos doentes desloca-se numa cadeira de rodas (Tabela 1).
Um em cada cinco doentes refere ter antecedentes familiares de AVC (26
doentes). A maioria da amostra refere ter um trânsito intestinal normal e não ter
quaisquer queixas digestivas, no entanto, grande parte da amostra refere ter
obstipação e cerca de um quarto refere sofrer de azia (Tabela 1).
Relativamente à terapêutica farmacológica, a maior parte da amostra toma de 6 a
10 medicamentos (Tabela 1). Os fármacos tomados pela maioria dos doentes são
os analgésicos, os anti-piréticos, os anti-hipertensores, os psicofármacos e os
anti-ácidos e anti-ulcerosos (Tabela 10, Anexo D).
Antes de ter ocorrido o AVC, 27.6% da amostra era fumadora e 6.9% estava
diagnosticada como tendo antecedentes de alcoolismo (29 doentes).
Em relação à actividade física praticada semanalmente, a maior parte da amostra
refere não fazer qualquer actividade física programada, para além da do dia-a-dia
(Tabela 1).
Tentou estimar-se se algumas variáveis estavam relacionadas com tipo de AVC,
através de uma regressão logística por método de recuo passo a passo. As
variáveis em estudo foram o sexo, a idade, os antecedentes de DM, HTA,
dislipidemia, cardiopatologias, tabagismo e alcoolismo. Verificou-se que no
modelo final nenhuma das variáveis tinha uma relação estatisticamente
significativa com o tipo de AVC (Tabela 11, Anexo D).
Tendo em consideração os doentes com alta médica, em média o internamento
durou 78±15 dias (de 6 a 203 dias), tendo a maioria recebido alta entre o primeiro
e o terceiro mês de internamento (Tabela 1).
17
Tabela 1. Caracterização sócio-demográfica e da histórica clínica da amostra. Legenda:
AVC – Acidente Vascular Cerebral; n – número.
Dados sócio-demográficos e história clínica n Frequência
Estado civil
Casado (a) 17 68.0% Viúvo (a) 5 20.0% Solteiro (a) 1 8.0% Divorciado (a) 2 4.0% Total 25 100.0%
Escolaridade
Nenhuma 1 4.5% Ensino primário 8 36.4% Ensino básico – 2º ciclo 2 9.1% Ensino básico – 3º ciclo 4 18.2 Ensino secundário 2 9.1% Ensino Superior 5 22.7% Total 22 100.0%
Localização geográfica
Porto 15 51.7% Vila Nova de Gaia 2 6.9% Paços de Ferreira 2 6.9% Gondomar 2 6.9% Outras cidades do Norte 8 27.6% Total 29 100.0%
Profissão
Costureira 2 7.7% Doméstica 5 19.2% Reformado 6 23.1% Outras profissões 13 50.0% Total 26 100.0%
Intervalo de tempo desde o AVC
1 Mês 4 14.8% De 1 a 3 meses 5 18.5% De 3 a 6 meses 3 11.1% De 6 meses a 1 ano 2 7.4% Mais de 1 ano 13 48.2% Total 27 100%
Patologias associadas ao AVC
Hipertensão arterial 26 89.7% Diabetes Mellitus 11 37.9% Dislipidemias 13 44.8% Cardiopatologias 7 24.1%
Situação motora
Autónomo 2 6.9% Marcha com ajuda técnica 3 10.3% Em cadeira de rodas 23 79.3% Acamado 1 3.5% Total 29 100.0%
Trânsito intestinal
Obstipação 11 42.3% Normal 15 57.7% Diarreia 0 0% Total 26 100.0%
Queixas digestivas
Sem queixas 17 65.4% Náuseas 2 7.7% Vómitos 1 3.8% Azia 7 26.9% Outros 1 3.8%
Terapêutica farmacológica (número de fármacos
tomados)
De 1 a 5 3 10.3% De 6 a 10 16 55.2% De 10 a 15 8 27.6% Mais de 16 2 6.9% Total 29 100.0%
Actividade física
Nenhuma actividade física programada 19 76.0% 1 a 2 vezes por semana 4 16.0% 3 a 4 por semana 1 4.0% Diariamente 1 4.0% Total 26 100.0%
Tempo de internamento dos doentes com alta médica
Menos de 1 mês 1 10.0% De 1 a 3 meses 6 60.0% De 3 a 6 meses 2 2.0% Mais de 6 meses 1 1.0% Total 10 100.0%
18
4.2. Avaliação antropométrica
Comparando a altura auto-reportada com a altura calculada através da altura do
joelho, conclui-se que a diferença entre ambas é estatisticamente significativa (p
<0.05). O mesmo resultado se obteve para o IMC (Tabela12 a 14, Anexo D), o
que levou a que se avaliasse apenas o IMC dos doentes com a altura auto-
reportada.
Enquanto o valor médio de IMC para os adultos se situa no intervalo do excesso
de peso, o valor médio de IMC para os idosos situa-se no intervalo de IMC normal
(Tabela 2). Mais de metade da amostra encontra-se com excesso de peso, mais
de um quarto apresenta obesidade e cerca de 10% apresenta baixo peso (Figura
2). A maioria das mulheres (55.5%) apresenta um IMC superior a 27kg/m2 (22
doentes). Em relação aos idosos, apenas 20% se situa no excesso de peso
(Figura 3).
Tabela 2. Estatística descritiva do índice de massa corporal (IMC) (21 doentes). Legenda:
A – adultos; I – idosos; n – número; dp – desvio padrão.
Variável n Média (dp) Mínimo - Máximo
IMC (kg/m2) A 11 26.8 (5.2) 16.4 - 33.8 I 10 22.2 (6.0) 15.2 - 33.6
Figura 2. Distribuição das classes de IMC dos
adultos (n = 11). Legenda: BP – baixo peso;
Figura 3. Distribuição das classes de
IMC dos idosos (n = 10).
19
Contrariamente ao que acontece nos homens, a média do Pc das mulheres
coloca-as com risco aumentado de complicações metabólicas (Tabela 3).
Analisando pelos pontos de corte, verificou-se que a maioria das mulheres tem
um Pc superior a 88 cm e que nenhum dos homens ultrapassa os 102 cm (Tabela
4). Relativamente à relação Pc/Pa, mais uma vez as mulheres se encontram, em
média, com risco aumentado (Tabela 3) e a maioria tem uma relação Pc/Pa
superior a 0.85. Apesar de a média nos homens apontar para uma relação Pc/Pa
inferior a um, um em cada sete homens encontra-se no intervalo de risco (Tabela
4).
Tabela 3. Estatística descritiva das variáveis PC e razão Pc/Pa (21 doentes). Legenda:
Pc – Perímetro da cintura; Pa – perímetro da anca; n – número; dp – desvio padrão.
Tabela 4. Frequência do Pc e da razão Pc/Pa por sexo (21 doentes). Legenda: n – número,
Pc – Perímetro da cintura, Pa – Perímetro da anca.
4.3. Avaliação bioquímica
Olhando para os resultados das análises bioquímicas dos participantes, verificou-
se que, em média, o c-LDL se encontra acima das recomendações e que o c-HDL
se encontra abaixo (Tabela 5). Quando se avaliam os resultados tendo em
Ob – obesidade.
Variável n Média (dp) Mínimo - Máximo
PC (cm) Mulheres 14 95.5 (15.3) 68.0 - 114.0 Homens 7 91.7 (10.1) 70.0 - 103.0
Razão Pc/Pa Mulheres 14 0.9 (0.1) 0.7 - 1.1 Homens 7 0.9 (0.1) 0.8 - 1.0
Homens Mulheres Frequência n Pc n Frequência
100% 7 Intervalo normal 4 28.6% 0% 0 Intervalo de risco 10 71.4%
Razão Pc/Pa 85.7% 6 Intervalo normal 3 21.4% 14.3% 1 Intervalo de risco 11 78.6%
20
consideração os pontos de corte, com base nos valores recomendados, verifica-
se que mais de um terço dos doentes tem o c-HDL baixo, um em cada cinco
doentes tem a glicose em jejum, os triacilgliceróis e o c-LDL elevado, 17.9% tem a
creatinina elevada, 14.3% tem a ureia e o ácido úrico elevado e que 3.6% tem
colesterol total elevado (Tabela 6). A maior parte dos doentes apresentam uma
diminuição ligeira ou moderada da taxa de filtração glomerular, realçando-se que
42.3% apresenta uma diminuição moderada (Tabela 7).
Parâmetros bioquímicos n Média (dp) Mínimo -
Máximo Valores de referência
(mg/dl) Creatinina (mg/dL) 28 0.90 (0.2) 0.67 - 1.35 0,4- 0,9
Ureia (mg/ dL) 28 34 (11.7) 16 - 69 17- 43 Ácido úrico (mg/ dL) 28 5.0 (1.5) 2.7 - 8.0 2,2-6,8
Glicose em jejum (mg/ dL) 28 97 (26.9) 68 - 172 70- 110
Triacilgliceróis (mg/ dL) 28 140 (80.7) 58 - 409
<150: Baixo (desejado) 150-199: Moderado (aceit.)
200-499: Elevado ≥500: Muito elevado
Colesterol total (mg/ dL) 28 171 (44.2) 77 - 282
<190: Baixo (desejado) 190-239: Moderado (aceit.)
≥240: Elevado
Colesterol c-LDL (mg/ dL) 26 102 (32.9) 33 - 193
<100: Baixo (desejado) 100-129: Moderado (aceit.)
≥130: Elevado Colesterol HDL
(mg/ dL) 27 43 (9.4) 27 - 74 >60: Baixo (desejado) <40: Elevado
Tabela 5. Estatística descritiva das variáveis bioquímicas. Legenda: n – número; dp –
desvio padrão; aceit. - Aceitável.
21
Parâmetros n Baixo (%) Normal (%) Elevado (%)Creatinina 28 0 82.1 17.9
Ureia 28 3.6 82.1 14.3 Ácido úrico 28 0 85.7 14.3
Glicose em jejum 28 3.6 75.0 21.4 Parâmetro n Baixo Moderado Elevado
Triacilgliceróis 28 67.9 10.7 21.4 Colesterol total 28 71.4 25.0 3.6
c-LDL 26 53.9 26.9 19.2 c- HDL 27 37.0 59.3 3.7
Tabela 6. Frequência dos parâmetros bioquímicos, segundo os valores de referência
divulgados pelo laboratório de análises. Legenda: c-LDL - lipoproteínas de baixa
densidade; c-HDL - lipoproteínas de elevada densidade; n – número.
Taxa de Filtração Glomerular n Frequência Valores referência (ml/min/1.73m2)
Normal ou aumentada 7 26.9% >90 Ligeiramente diminuída 8 30.8% 60-89
Moderadamente diminuída 11 42.3% 30-59 Total 23 100% <15
Tabela 7. Frequência da taxa de filtração glomerular (54). Legenda: n – número.
4.4. História alimentar
Na avaliação dos hábitos alimentares, verificou-se que mais de um terço dos
doentes fazia apenas três refeições por dia (Figura 4, Anexo D). Todos os
doentes faziam as refeições do almoço e jantar e a maioria tomava o pequeno-
almoço e comia a meio da tarde (Figura 5, Anexo D).
Apenas uma pessoa (4.3%) da amostra (n = 23) referiu ser alérgico às proteínas
do leite de vaca. Os alimentos mais mencionados como preteridos foram o leite
simples e os iogurtes e os mais mencionados como preferidos foram os bolos e
outros doces e o pão (Tabela 15, Anexo D).
Quanto aos hábitos alimentares diários, a maior parte da amostra (n =23) referiu
que consumia produtos lácteos (60%), fruta (73.9%), hortícolas “no prato” (65.2%)
e sopa (69.6%), tendo a totalidade mencionado o consumo de carne ou peixe ou
22
ovos e cereais e derivados ou tubérculos. A maior parte da amostra referiu ingerir
menos de 1 litro de água por dia (Tabela 16, Anexo D). Relativamente aos hábitos
alimentares semanais (Tabela 17, Anexo D), a maior parte da amostra usava
açúcar diariamente e nunca comia molhos com gordura ou bebia sumos e ou
refrigerantes. A maioria dos doentes referiu nunca ou raramente comer doces,
enchidos e fumados e comer frituras 1 a 3 vezes por semana ou frequentemente.
De referir ainda que, no entanto, cerca de um terço dos doentes referiu comer
doces 1 a 3 vezes por semana. 39.1% da amostra referiu ingerir bebidas
alcoólicas diariamente e 43.5% referiu nunca beber.
5. Discussão
Considera-se relevante a frequência de doentes internados, no serviço de MFR
do HP, devido a patologias especificamente relacionadas com o AVC (mais de um
quarto da população).
As características sócio-demográficas da amostra devem ser levadas em
consideração, uma vez que podem influenciar a ocorrência de AVC. A maioria dos
doentes são casados e grande parte são reformados, o que pode influenciar, por
exemplo, os hábitos criados, tanto alimentares como na prática de actividade
física. Segundo um estudo, para qualquer idade e nível educacional, indivíduos
casados tem um IMC maior do que os indivíduos que nunca casaram (66). Em
geral, tanto mulheres como homens casados tinham maior probabilidade de ter
excesso de peso e obesidade do que os que nunca tinham casado, ou seja, os
resultados indicam uma associação significativa entre o estado civil e o IMC, em
ambos os sexo(66). O nível de educação é um factor de risco independente para a
obesidade abdominal (67). Grande parte da amostra tem baixa escolaridade,
23
resultado concordante com o obtido num estudo em que a prevalência de
obesidade abdominal estava negativamente associada ao nível educacional (67).
A idade avançada é por si só um factor de risco (1, 4-7, 9-10). Observando a idade
média da amostra, verificou-se que esta se encontra no limite entre a idade adulta
e idosa (55), mas a amostra é maioritariamente idosa. A média de idades dos
doentes com AVC é superior à do total de doentes internados.
Ao contrário do que acontece com os homens, a frequência de mulheres
internadas por AVC é superior à do total de mulheres. Apesar da maior parte da
amostra ser do sexo feminino, os homens têm maior risco, apresentando, em
geral, maior incidência de AVC que as mulheres, para a mesma idade. (1, 10-11). A
taxa de incidência de AVC encontrada num estudo de base populacional realizado
no Norte de Portugal (1999-2000) foi superior no sexo masculino (11). No entanto,
a tendência para o sexo masculino ter maior risco da ocorrência de AVC reduz-se
com o passar da idade, chegando a se inverter após os 80 anos (1), e a taxa de
mortalidade por DVC é maior nas mulheres em vários países Europeus (3). Estes
dados são concordantes com o facto de a amostra ser hospitalar e
maioritariamente idosa.
Existe uma maior incidência de AVC na raça negra e hispano-americana (68), na
raça negra deve-se à maior prevalência de HTA e DM nessa etnia (1). Porém,
todos os doentes deste estudo são de raça caucasiana, não tendo sido
encontrada na literatura referencia a qualquer risco acrescido por isso.
A amostra é constituída por doentes da região Norte, sendo a maioria da cidade
do Porto. Num estudo de base populacional realizado em duas áreas geográficas,
rural e urbana, do Norte de Portugal (1999-2000), a incidência de AVC encontrada
foi superior nas áreas rurais, após ajustamento para a idade e sexo e para a
24
população padrão Europeia (11). A população portuguesa em geral apresenta
maior incidência de AVC do que algumas populações europeias (11). Os resultados
obtidos podem ser explicados pela proximidade de acessos deste hospital.
A maioria dos doentes internados teve um AVC do tipo isquémico, no entanto, a
diferença encontrada é pequena (a diferença é de 2%) e a proporção de AVC’s
hemorrágicos é maior que a encontrada na literatura (6). A ocorrência de AVC
isquémico pode estar relacionada com os níveis de tensão arterial e colesterol
sanguíneo, onde parece haver uma relação inversa (9). Por conseguinte, é
plausível que, em áreas com elevada prevalência de HTA, baixa ingestão de
colesterol e pouco acesso a medicação, ou outros mecanismos de controlo da
pressão arterial, poderão ocorrer mais AVC isquémicos do que hemorrágicos (9).
Verificou-se que a frequência de AVC’s hemorrágicos em Portugal é superior à
encontrada em outros países ocidentais, na qual a frequência não atinge
normalmente os 10%. A elevada prevalência de HTA em Portugal é um dos
factores responsáveis por esta diferença. Menos de metade da amostra teve o
AVC há mais de um ano, o que significa que a maioria dos doentes ainda se
encontra no período de maior risco de recorrência do AVC (6, 9).
A maior parte da população está diagnosticada com HTA, que é dos principais
factores de risco modificáveis (6), o que pode ser explicado pela elevada
prevalência de HTA em Portugal (69). O tratamento da HTA reduz o risco de AVC,
estando inclusive nos muito idosos demonstrado um efeito positivo, o que sugere
que não existe um limiar de idade acima do qual não se deva tratar a HTA (14, 70).
Grande parte dos doentes encontram-se diagnosticados com dislipidemias, que é
um dos factores de risco mais controversos (9). Estudos populacionais prévios que
não encontraram associação entre o nível de colesterol e a taxa de AVC, não
25
separavam os doentes por tipos de AVC (37). Cerca de um quarto dos doentes
estão também diagnosticados com antecedentes de patologias cardíacas, o
terceiro principal factor de risco. (6)
É ainda de referir que não existe uma dicotomia estanque, do género “este valor
não faz mal, este valor mais uma décima é um risco”, mas sim um contínuo de
risco (10). Uma pequena redução dos níveis médios de tensão arterial ou colesterol
plasmático pode acarretar um enorme ganho na diminuição de incidência de AVC
e isso poderá ser progressivamente alcançado com simples medidas dietéticas e
de manutenção de actividade física regular, como caminhar (10, 14).
Mais de um quarto dos doentes estão diagnosticados com DM. O nível de
hiperglicemia e o tempo desde o aparecimento da DM são factores de risco
adicionais (9). Os diabéticos apresentam maior susceptibilidade à aterosclerose e
maior prevalência de factores de risco ateroscleróticos, como HTA e dislipidemias,
por isso, o controlo da glicemia é tão importante quanto o rigoroso controlo da
tensão arterial ou dos níveis de colesterol (10, 12). Segundo os dados do estudo
multicêntrico Diabetes Control and Complications Trial, os indivíduos que se
encontravam em tratamento intensivo para a DM apresentam quase metade do
número de eventos cerebrovasculares dos doentes tratados convencionalmente,
embora as diferenças não tenham sido estatisticamente significativas. A
consequente redução de alguns factores de risco cardiovasculares sugere um
potencial efeito benéfico do tratamento intensivo da doença macrovascular em
doentes com DM insulino - dependente (7, 71).
Um em cada cinco doentes tem antecedentes familiares de AVC, o que realmente
é concordante com o facto de os factores genéticos, e logo a hereditariedade, ser
um dos factores de risco para a ocorrência de AVC.
26
O AVC é uma doença mais incapacitante do que mortal (6, 9). Um terço dos
doentes que sobrevivem a um AVC agudo ficam com incapacidades importantes,
necessitando, muitas vezes, dos cuidados de terceiros (2). Após o AVC, os
doentes podem ter as suas capacidades motoras e cognitivas reduzidas,
demência avançada e reduzida capacidade de deglutição, entre outras
situações(72). Todas as outras patologias e situações clínicas encontradas nestes
doentes devem também ser levadas em consideração, uma vez que condicionam
todo o estado clínico do doente. Por exemplo, o facto de um doente apresentar
disfagia pode reflectir-se no seu estado nutricional e logo na avaliação
antropométrica e bioquímica (1). O facto de, por restrições motoras, a maior parte
dos doentes se encontrar numa cadeira de rodas ou acamado, também se
repercute no estado clínico do doente, em específico no estado nutricional.
Pela análise dos fármacos administrados, constata-se que a maior parte da
amostra apresenta alterações do foro emocional, o que se pode reflectir ao nível
do estado clínico dos doentes, em particular no estado nutricional. Para além de
anti-hipertensores, cerca de 13.9% dos idosos toma anti-agregantes plaquetários,
como o ácido acetilsalicílico, que apresentam eficácia na prevenção secundária
do AVC.
A maioria dos doentes apresenta mobilidade reduzida, o que podia levar a
queixas de trânsito intestinal desregulado, no entanto, a maioria dos doentes tem
o trânsito intestinal regular, o que pode ser explicado pelo facto de cerca de um
terço da amostra tomar modificadores da motilidade intestinal. As queixas
digestivas (náuseas, vómitos e azia) referidas por alguns doentes podem estar
relacionadas com efeitos secundários à terapêutica farmacológica prescrita.
27
Antecedentes de tabagismo e consumo excessivo de álcool estavam também
presentes na amostra. O tabagismo é um dos principais factores de risco
modificáveis, sendo também a exposição ao fumo ambiental do tabaco um factor
de risco independente para o AVC (6). O risco aumenta com o número de cigarros
fumados e diminui com a interrupção. (10) O consumo excessivo de álcool é factor
de risco para todos os tipos de AVC e o consumo moderado (máximo de 1 bebida
para as mulheres e 2 para os homens por dia) será protector (12, 52). O tipo de
bebida alcoólica pode influenciar o risco, sendo o efeito protector mais consistente
para o vinho e em menor grau para a cerveja do que para outras bebidas (12). A
redução do consumo excessivo de álcool reduz o risco de AVC (52-53).
Relativamente à actividade física, a maior parte dos doentes assume que não
fazia nenhuma, para além da do dia-a-dia, mas sabe-se que a actividade física é
benéfica na prevenção do AVC e na correcção de muitos factores de risco
vascular, como a HTA, a DM e dislipidemias (63).
Nenhuma das variáveis sexo, idade, antecedentes de HTA, DM, dislipidemias,
cardiopatologias, tabagismo e consumo de álcool, teve efeito significativamente
estatístico no tipo de AVC ocorrido. Este resultado pode ser explicado pela falta
de poder estatístico, dado o reduzido número da amostra. Pensa-se também que
a medicação e dose administrada possam ter influenciado os resultados, isto é,
possam ser variáveis confundidoras, excepto para a idade.
O papel da obesidade parece ser de menor importância, mas pode estar a ser
subestimado (9). A obesidade afecta marcadamente o perfil de risco, isto é,
influencia negativamente muitos dos outros factores de risco (9). Devido às
mudanças recentes na demografia mundial e ao declínio do estado de saúde da
população a nível mundial, a par do envelhecimento da população, a obesidade
28
continuará a aumentar nos próximos anos (15). Em média, os adultos encontram-
se no excesso de peso, salientando-se que um quarto apresenta obesidade, que
a maioria das mulheres apresenta um IMC superior a 27kg/m2 e que nos doentes
idosos um quinto apresenta IMC superior a 27.5 kg/m2. O excesso de peso está
associado, de forma proporcional, a um maior risco de AVC, para além de estar
associado à HTA, DM e dislipidemias (73).
Em geral, a maioria das mulheres apresenta risco aumentado de ocorrência de
AVC. Segundo a razão Pc/Pa, uma minoria dos homens se encontra no intervalo
de risco. No entanto, pequenas diferenças na medição do Pc e da Pa podem levar
a importantes diferenças na interpretação dos resultados (16). Num estudo
realizado com adultos de raça caucasiana e negra os resultados obtidos foram
semelhante, tendo obtido uma média de 27.7kg/m2 de IMC, 96.8cm de Pc e 0.92
de razão Pc/Pa (74).
Na análise dos indicadores bioquímicos tem de se ter em consideração que estes
podem ser influenciados pelas doenças ou complicações, pela terapêutica
farmacológica ou pelo stresse (75). A maior parte da amostra toma um número
considerável de fármacos, encontrando-se entre estes anti-diabéticos orais e
hipolipimiantes.
Relativamente à função renal, cerca de um em cada seis doentes têm valores
elevados de creatinina e um em cada sete doentes tem valores elevados de ácido
úrico e ureia. Segundo alguns estudos, doentes com AVC agudo apresentam
disfunção renal (18-19). Noutro estudo a função renal comprometida mostrou estar
associada a uma maior taxa de mortalidade (20). Segundo alguns autores, estes
elevados níveis de creatinina estão associados a um maior risco de mortalidade
(21-22). Num estudo recente (2010), a gravidade do AVC correlacionava-se com os
29
níveis de creatinina plasmática (19). A média dos valores de creatinina encontra-se
no limite superior dos valores desejados. Segundo Wannamethee e al., elevados
níveis de creatinina plasmática, mesmo dentro da normalidade, são um marcador
de risco aumentado de doença cerebrovascular, tanto em indivíduos normotensos
como hipertensos (21). Estes resultados indicam que o comprometimento subtil da
função renal contribui para aumento do risco de AVC (21). Num estudo realizado
em doentes de AVC isquémico, apesar de os doentes se encontrarem com
valores de creatinina no intervalo considerado normal, há uma prevalência
substancial de doentes com função renal significativamente anormal (23). O
mesmo pode ter acontecido com a nossa amostra, isto é, apesar de apresentarem
valores de creatinina no intervalo considerado normal, não se pode dizer que a
função renal esteja normal, pois quase metade dos doentes apontam para uma
taxa de filtração glomerular diminuída. A estimativa da taxa de filtração glomerular
como método de triagem para a detecção precoce de disfunção renal em doentes
com AVC é preferível à estimativa de nível sérico de creatinina (23). Valores
elevados de ureia, para além de creatinina, foram também encontrados no estudo
de Kavalci (19) . Niveis moderados de ácido úrico parecem estar associados com o
aumento da incidência de AVC, em individuos de meia idade, sem doença
vascular prévia (29). Esta associação parece aumentar gradualmente com os
níveis de ácido úrico (29). No entanto, num outro estudo recente (2009) em
doentes com AVC isquémico, nenhuma relação foi encontrada entre os níveis de
ácido úrico e o risco de ocorrência do AVC isquémico (76). Hozawa sugere que o
ácido úrico é um preditor independente do AVC isquémico entre individuos que
não usam diuréticos, mas que este não pode ser causado apenas pelo valor
elevado de ácido úrico (77) e Dimitroula refere que níveis elevados de áido úrico
30
plasmático estão independentemente associados a um risco aumentado de morte
prematura na fase aguda do AVC (78) . Noutro estudo, também em doentes com
AVC isquémico, encontrou-se uma forte correlação negativa entre os níveis
plasmáticos de ácido úrico e o tempo de permanencia hospitalar e uma fraca
correlação com a severidade do AVC (25).
Em relação à glicose em jejum, cerca um quinto dos doentes apresenta valores
elevados. Este resultado pode ser explicado pelo facto de muitos dos doentes
estarem medicados para a DM, com insulina ou anti-diabéticos orais, e, portanto,
provavelmente bem controlados metabolicamente. Num estudo realizado com
doentes de AVC crónico, a prevalência de disfunção no metabolismo glicídico,
subestimado em função da glicose em jejum, foi extremamente elevada (79). Num
outro estudo a associação entre glicose em jejum e eventos cerebrovasculares
isquémicos, em doentes com antecedentes de doenças aterotrombóticas, pode
ser traduzida por uma curva em J (31).
Relativamente à avaliação lipídica, estudos sugerem que a normalização dos
valores de colesterol total, c- LDL, c-HDL e triacilgliceróis diminuam a
possibilidade de recorrência de AVC’s isquémicos (9), o tipo de AVC mais
frequente na nossa amostra. Cerca de um quinto dos doentes, apresentam
valores elevados de c-LDL, mas poucos doentes apresentam valores elevados de
colesterol total, facto que é concordante com os resultados de alguns estudos em
que são os valores do c-LDL, e não os de colesterol total, que reflectem
diferenças estatisticamente significativas entre doentes com AVC isquémico e
controlos (9). Segundo um estudo de Mirghani, a hipercolesterolemia não é um
factor de risco independente para o AVC isquémico, mas pode interagir com
outros factores de risco, principalmente a HTA (35). Com base na mortalidade após
31
o AVC estar inversamente relacionada com os níveis de colesterol (36). Mais de
um terço dos doentes apresenta valores baixos de c-HDL e cerca de um quinto
valores elevados de triacilgliceróis. É de realçar que, ao contrário do que acontece
com os outros parâmetros, os valores de c-HDL desejados são os elevados,
estando os valores mais baixos relacionados com um maior risco arteriosclerótico.
Num estudo efectuado, os doentes de AVC isquémico internados no ambulatório
de neurologia, do Centro Clínico da Universidade de Sarajevo, apresentam
valores significativamente menores de c-HDL (32), resultados concordantes com os
obtidos neste estudo. Segundo Hayashi, baixos valores de c-HDL é um
importante factor de risco para as DCV, principalmente em doentes diabéticos e
idosos (80). Noutro estudo também a diminuição do nível sérico de c-HDL se
apresenta como um importante factor de risco para o AVC, em todos os doentes
com DM tipo 2 (81). Alterações nos valores de triacilgliceróis plasmáticos durante o
AVC agudo podem reflectir o estado nutricional dos doentes, tornando-se útil no
prognóstico o acompanhamento da variação dos seus níveis (82).
Seria interessante ter incluído outros parâmetros na avaliação bioquímica, como a
hemoglobina glicosilada A1C, a insulina, a homocisteinémia, a lipoproteina a,
entre outros, mas dadas as limitações económicas, tal não foi possível.
Segundo o estudo em Framingham, os imigrantes rapidamente adquirem as taxas
de incidência de AVC dos seus países de adopção, evidenciando que os factores
ambientais, como a dieta, podem ser importantes na sua génese e prevenção (9).
Relativamente aos hábitos alimentares anteriores ao AVC, apenas uma minoria
refere limitações alimentares por alergias e ou intolerâncias. A maioria refere um
consumo diário de produtos lácteos, fruta, hortícolas “no prato”, sopa e açúcar.
Todos comiam diariamente carne ou peixe ou ovos e cereais e derivados ou
32
tubérculos. Como referido anteriormente, o consumo de frutas, vegetais e
produtos lácteos pobres em gordura está associado a um efeito protector do
organismo contra AVC (13, 42, 49), no entanto, relativamente aos produtos lácteos
nada se sabe quanto ao seu teor lipídico. O consumo excessivo de açúcar pode
ser preocupante no aumento do risco de AVC nos diabéticos (10, 12). Nada se pode
constatar relativamente ao consumo de peixe e cereais pouco processados.
Apesar de nada se encontrar na literatura relativamente à ingestão água e risco
de AVC, neste estudo verificou-se que a maioria dos doentes apresentava uma
baixa ingestão diária de água, resultado este que poderá ser explorado em futuros
estudos. Apesar do consumo diário de açúcar, a ingestão de doces não era
frequente, ao contrário do que acontecia com as frituras. Este consumo regular de
frituras poderia estar associado a um consumo aumentado de sódio, gordura
saturada e trans. A ingestão de enchidos e fumados também não era frequente. A
maior parte dos doentes nunca ou raramente comia molhos com gordura ou bebia
sumos e ou refrigerantes. A frequência de ingestão de álcool apresenta uma
tendência bipolar, isto é, enquanto boa parte da amostra refere que bebia
diariamente bebidas alcoólicas, a outra refere que nunca bebia. Quanto à
ingestão diária de álcool não se pode constatar um efeito de risco ou protector,
uma vez que não se tem a informação da quantidade nem do tipo de bebidas
consumidas.
A maioria dos doentes fazia entre quatro e seis refeições por dia, no entanto, mais
de um terço fazia apenas 3 refeições, o que se pode traduzir em muitas horas de
jejum. As refeições que a maior parte dos doentes não faziam eram a do meio da
manhã e da ceia. Para a baixa frequência de merenda da manhã pode ter
contribuído o facto dos doentes se levantarem tarde, tendo dificuldade de incluir
33
essa refeição no seu dia alimentar. A baixa frequência da ceia pode ser explicada
pelo facto de os doentes se deitarem relativamente cedo, uma vez que a amostra
é maioritariamente idosa, ou pelo facto de o jantar se realizar tarde. Cerca de 40%
dos doentes não faziam a refeição do meio da tarde, o que também pode indicar
um longo período de jejum.
Teria sido interessante avaliar quantitativamente a ingestão alimentar dos
doentes, para uma melhor caracterização dos hábitos alimentares. O período de
internamento médio destes doentes supõe-se razoável para aplicação de
terapêuticas alimentares preventivas.
5.1. Limitações
Alguns dados foram obtidos retrospectivamente por consulta do processo clínico,
ou seja, foram previamente recolhidos por outrem, que desconhecia a posterior
utilização da informação na realização deste estudo.
O facto de os doentes apresentarem afasias e ou alterações cognitivas
impossibilitou ou dificultou a recolha dos dados sócio-demográficos e da história
alimentar, pois como foi necessário recorrer-se a um familiar próximo, os
resultados podem não ser tão fiáveis. O facto de a amostra ser reduzida pode ter
limitado a estimativa de alguma relação entre algumas variáveis e o tipo de AVC.
A balança usada para a pesagem não era muito precisa (erro entre 200-500g).
Apesar de com o envelhecimento a composição corporal do indivíduo se alterar,
por falta de estudos suficientes com idosos, é sugerido o uso dos mesmos pontos
de corte do adulto na avaliação do Pc e da razão Pc/Pa (16). A medição do Pc
pode não ter sido correctamente realizada, pois é muito difícil aplicar a norma em
indivíduos com excesso de peso e idosos (16).
34
6. Conclusões
Este trabalho de investigação só foi possível de realizar devido à existência de
uma equipa multidisciplinar. Embora com as limitações inerentes ao tipo de
estudo, nomeadamente à sua natureza retrospectiva e à possibilidade de viés de
informação, fornece informações relevantes sobre os doentes com AVC
internados no serviço de MFR do HP. É um estudo descritivo que pode servir de
base para a realização de outros estudos.
A maioria dos doentes é do sexo feminino, idosa, casada e com baixa
escolaridade. A proporção de doentes com AVC isquémico e hemorrágico é
semelhante, tendo o episódio ocorrido, em grande parte dos doentes, há mais de
um ano. Observou-se a presença de vários factores de risco para o AVC, como a
idade avançada, a HTA, as dislipidemias, a DM, antecedentes de
cardiopatologias, o sedentarismo e o tabagismo.
Conclui-se que grande parte dos adultos se encontra com excesso de peso, que
cerca de um quarto apresenta obesidade e que cerca de um quarto dos idosos
apresenta também excesso de peso. Em geral as mulheres são as que
apresentam maior risco de recorrência de AVC. Na avaliação bioquímica, conclui-
se que aproximadamente um em cada seis doentes tem os indicadores da função
renal elevados e que cerca de um terço dos doentes apresenta baixos valores de
c-HDL. Cerca de um em cada cinco doentes tem a glicose em jejum, os
triacilgliceróis e o c-LDL igualmente elevados.
Quanto aos hábitos alimentares anteriores ao AVC, a maioria dos doentes fazia
entre quatro e seis refeições por dia, sendo as refeições menos frequentes os
lanches da manhã e a ceia. A maior parte da amostra consumia diariamente
lacticínios, fruta, hortícolas “no prato”, sopa e açúcar. Em geral, a ingestão diária
35
de água era baixa e a de frituras frequente. O consumo de bebidas alcoólicas
dividiu a amostra entre os que bebiam diariamente e os que nunca bebiam.
Em suma, este estudo permitiu identificar situações de risco actual, que podem
ser resolvidas ou melhoradas se combatidas por uma equipa multidisciplinar.
36
7. Glossário
Acidente Vascular Cerebral (AVC): início agudo de deficit neurológico global ou
focal que dura mais de 24horas, na maioria das vezes precedido de ataques
isquémicos transitórios, e é atribuível a doenças da neurovasculatura intra e
extracraniana (7).
Afasia: compreensão ou comunicação prejudicada ou ausente devido a uma
lesão no hemisfério cerebral dominante (7).
Antropometria: ciência de medir o tamanho, peso e proporções do corpo.
Considera-se um indicador directo do estado nutricional (7, 59).
Ataque isquémico transitório: Breve ataque de disfunção cerebral de origem
vascular sem defeito neurológico persistente (dura apenas de breves minutos a
horas, com duração inferior a 24 horas) (7, 9).
Aterosclerose: uma forma de arteriosclerose; um processo completo de
espessamento e estreitamento das paredes arteriais causado pelo acumulo de
lipídos, principalmente colesterol oxidado, na camada intima ou interna em
combinação com tecido conjuntivo e calcificação (7).
AVC embólico: oclusão de uma artéria por uma placa de colesterol, privando
parte do cérebro do seu suprimento normal de oxigénio (7).
AVC isquémico focal: redução ou interrupção do fluxo sanguíneo numa área
localizada. (4)
AVC isquémico global: redução generalizada da perfusão cerebral, como na
paragem cardíaca, choque e hipotensão severa. (4)
AVC trombótico: ruptura de uma placa de colesterol de uma artéria com
consequente agregação de plaquetas para coagular a artéria já estreitada. (7)
37
Azia: ardência retroesternal relacionada com o refluxo de líquido gástrico para o
esófago (7).
Disartria: incapacidade de articulação correcta das palavras devido ao
comprometimento da língua ou outro músculo essencial à fala (7).
Disfagia: dificuldades de deglutição (7).
Dispepsia: termo genérico usado para descrever um desconforto epigástrico
após as refeições, também conhecido como indigestão (7).
Embolismo: deslocamento de um êmbolo, com consequente obstrução de uma
artéria distal de menor calibre (4, 8).
Factor de risco modificável: atributo ou exposição que pode ser modificado por
intervenção, reduzindo a probabilidade de doença (10).
Factor de risco: “aspecto do comportamento ou estilo de vida, exposição
ambiental, característica inata ou hereditária pessoal ou populacional que, pelas
evidências epidemiológicas, se sabe estar relacionado com um estado de saúde
considerado importante para ser prevenido” (83).
Hemianopsia: cegueira em metade do campo visual (7).
Hemiparesia: fraqueza que afecta apenas um lado do corpo (7).
Hemiplegia: incapacidade de movimentar o membro superior e inferior de um
lado do corpo (84).
Hemorragia Subaracnóideia: sangramento que ocorre no espaço
subaracnóideio, normalmente como resultado da ruptura de um aneurisma nas
artérias na base do cérebro (7).
Prevenção primária para o AVC: “estratégias direccionadas para indivíduos sem
patologia coronária ou AVC, mas com um ou mais factores de risco importantes e
38
estabelecidos para estas patologias. Pretende-se prevenir um primeiro evento
coronário ou vascular cerebral” (10).
Risco: “probabilidade de um resultado na sequência de uma exposição” (83).
Trombo: agregação dos factores sanguíneos, primeiramente as plaquetas e
fibrina, que, se pequenas, contribuem para o crescimento da placa e, se grandes,
podem obstruir o vaso sanguíneo (7).
Tromboembolia: deslocamento de um trombo que se soltou do seu local de
formação com consequente obstrução de uma artéria distal de menor calibre (4, 8).
Trombose: formação de um trombo com consequente obstrução do vaso
sanguíneo (4, 8).
39
8. Referências Bibliográficas
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9. Índice de Anexos
Anexo A: Exemplar da declaração de consentimento informado ..................... 47
Anexo B: Protocolo para a recolha de dados ................................................... 49
Anexo C: Materiais e Métodos ......................................................................... 51
Anexo D: Resultados ........................................................................................ 53
46
47
Anexo A: Exemplar da declaração de consentimento informado
48
49
Anexo B: Protocolo para a recolha de dados
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51
Anexo C: Materiais e Métodos
IMC (kg/m2) Classificação <18,50 Baixo peso
<16,00 Severo 16,00 a 16,99 Moderado 17,00 a 18,49 Ligeiro
18,50 a 24,99 Intervalo normal ≥ 25,00 Excesso de peso
25,00 a 29,99 Pré-obesidade ≥ 30,00 Obesidade
30,00 a 34,99 Classe I 35,00 a 39,99 Classe II
≥40,00 Classe III Tabela 8. Estado nutricional de adultos segundo o índice de massa corporal (IMC)
(adaptado de WHO, 1995, WHO, 2000 and WHO 2004). (16)
IMC (kg/m2) Classificação < 22 Magreza
22 a 27 Eutrofia < 27 Excesso de peso
Tabela 9. Estado nutricional de idosos segundo o índice de massa corporal (IMC).
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Anexo D: Resultados
Classificação dos fármacos n % Analgésicos 23 79.3 Anti-piréticos 22 75.9 Anti-hipertensores 20 69.0 Psicofármacos 19 65.5 Anti-ácidos e Anti-ulcerosos 18 62.1 Anti-dislipidémicos 13 44.8 Anti-inflamatórios 11 37.9 Anti-coagulantes e Anti-trombóticos 11 37.9 Modificadores da motilidade gastrointestinal 10 34.5 Anti-epilépticos e Anti-convulsionantes 8 27.6 Insulinas 8 27.6 Anti-depressores 7 24.1 Anti-diabéticos orais 6 20.7 Relaxantes musculares 6 20.7 Anti-bacterianos 5 17.2 Produtos e suplementos alimentares especializados 5 17.2 Anti-agregante plaquetário 4 13.8 Cardiotónico 4 13.8 Tabela 10. Principais classes de fármacos (56) tomados pelos doentes da amostra (n =
29). Legenda: n – número.
Teste Omnibus do Coeficiente de Modelos
Qui-quadrado Sig.
Passo 1 Passo 6,940 0,543 Bloco 6,940 0,543 Modelo 6,940 0,543
Passo 9a Passo -1,691 0,194 Tabela 11. Regressão logística por método de recuo passo a passo (29 doentes, p <0.05).
Um valor negativo de Qui-quadrado indica que o valor de Qui-quadrado diminuiu em relação
ao passo anterior. Legenda: sig. - significado estatístico.
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Estatística de amostras emparelhadas
Amostras emparelhadas n Média Desvio padrão Erro médio padrão
Par 1 Altura auto-reportada 20 1,6405 0,07749 0,01733 Altura calculada pela altura do joelho 20 1,5959 0,06221 0,01391
Par 2
IMC calculado com a altura auto-reportada 20 24,397 6,0341 1,3493
IMC calculado com a altura obtida pela altura do joelho
20 25,6702 5,97410 1,33585
Tabela 12. Estatística descritiva das amostras emparelhadas altura auto-reportada e
altura calculada pela altura do joelho e IMC calculado com a altura auto-reportada e com
a altura obtida pela altura do joelho (20 doentes). Legenda: IMC – índice de massa
corporal; n – número.
Correlações de amostras emparelhadas Amostras emparelhadas n Correlação p
Par 1 Altura auto-reportada & Altura calculada pela altura do joelho 20 0,828 0,000
Par 2 IMC calculado com a altura auto-reportada & IMC calculado com a altura obtida pela altura do joelho
20 0,979 0,000
Tabela 13. Correlação das amostras emparelhadas (20 doentes, p <0.05). Legenda: n –
número; p – significância estatística.
Tabela 14. Teste t de Student para amostras emparelhadas (20 doentes, p <0.05). Legenda:
AJ – altura do joelho; IMC – índice de massa corporal; p – significância estatística.
Amostras emparelhadas
Diferenças emparelhadas
p Média Desvio
padrão Erro médio
padrão
Limites do intervalo de confiança na diferença a 95%
Inferior Superior Par 1
Altura auto-reportada - Altura calculada pela AJ 0,04457 0,04345 0,00972 0,02423 0,06490 0.000
Par 2
IMC calculado com a altura auto-reportada & IMC calculado com a altura obtida pela AJ
1,27338 1,23012 0,27506 -1,84909 -0,69766 0.000
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Tabela 15. Alimentos preteridos e preferidos antes do AVC mais mencionados pela
amostra (n = 23).
Quantidade de água Frequência (%) Menos de 1 litro 73.9 De 1 a 1.5 litros 21.7 Mais de 1.5 litros 4.3
Tabela 16. Ingestão de água antes do AVC (23 doentes).
Alimentos Nunca Raro 1 a 3 vezes por semana Frequente Diário
Doces (%) 30.4 30.4 30.4 8.8 0.0Açúcar (%) 21.7 0.0 8.7 0.0 69.6Frituras (%) 8.7 8.7 43.5 34.8 4.3Molhos com gordura (%) 73.9 4.3 8.7 13.1 0.0Enchidos e ou fumados (%) 26.1 34.8 21.7 17.4 0.0Sumos e ou refrigerantes (%) 65.2 13.1 8.7 4.3 8.7Bebidas alcoólicas (%) 43.5 13.1 4.3 0.0 39.1
Tabela 17. Frequência do consumo de alimentos específicos antes do AVC (23 doentes).
Gráfico 4. Número de refeições realizadas
diariamente pela amostra (n = 23) antes do
acidente vascular cerebral (AVC).
Gráfico 5. Tipo de refeições realizadas
diariamente pela amostra (n = 23) antes do
acidente vascular cerebral (AVC).
Alimentos preteridos Percentagem Alimentos preferidos Percentagem Leite simples 17.4% Bolos e outros doces 21.7%
Iogurtes 13.0% Pão 13.0% Bananas 8.7% Sopa 8.7% Fígado 8.7% Legumes 8.7%
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