Caracterização físico-química e desenvolvimento de metodologia

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  • 1

    UNIVERSIDADE DE SO PAULO FACULDADE DE CINCIAS FARMACUTICAS

    Programa de Ps-Graduao em Frmaco e Medicamentos rea de Produo e Controle Farmacuticos

    Caracterizao fsico-qumica e desenvolvimento de metodologia para

    avaliao da dissoluo intrnseca de albendazol e mebendazol

    Roxana Lili Roque Flores

    Dissertao para obteno do grau de MESTRE

    Orientador:

    Prof. Assoc. Humberto Gomes Ferraz

    So Paulo

    2011

  • 2

  • 3

    Roxana Lili Roque Flores

    Caracterizao fsico-qumica e desenvolvimento de metodogia para

    avaliao da dissoluo intrnseca de albendazol e mebendazol

    Comisso Julgadora

    da

    Tese para obteno do grau de Mestre

    Prof. Assoc. Humberto Gomes Ferraz

    orientador/presidente

    ____________________________

    1o. examinador

    ____________________________

    2o. examinador

    So Paulo, __________ de _____.

  • 4

    Ao meu maior tesouro, minha me Maria Gregoria Flores Ramos, meu exemplo

    de superao que desde o incio da minha vida me guiou. Agradeo de corao tudo o

    que a senhora fez e faz por mim. Obrigada pelo amor incondicional e por ter trabalhado

    para me dar uma educao.

    A meu irmo Juan Eduardo pelo seu carinho, sua compreenso, pelos longos

    anos de distncia e por apoiar nossa me durante minha ausncia neste perodo.

  • 5

    Agradecimentos

    Agradeo principalmente a Deus, pela oportunidade de vida, sade e por fazer

    realidade este sonho, muito obrigada!

    Ao meu orientador, Prof. Assoc. Humberto Gomes Ferraz, pela oportunidade,

    apoio e orientao.

    Universidade de So Paulo e a sua Faculdade de Cincias Farmacuticas pela

    estrutura e oportunidade.

    Ao Conselho Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento (CNPq) pela bolsa

    concedida.

    Ao Prof. Dr. Carlos Paiva e sua aluna Selma e ao Prof. Dr. Fabio Furlan, pelas

    anlises de difrao de raio-X e auxlio.

    Ao Prof. Assoc. Jivaldo do Rosrio Matos pela amizade, dedicao e por me

    ajudar em muitos momentos.

    Ao Prof. Assoc. Helio Stefani pela amizade, confiana e motivao.

    .

    Aos professores do Laboratrio de Farmacotcnia, Profa. Dra. Cristina Serra,

    Profa. Dra. Vladi Consiglieri, Profa. Dra. Silvia Storpirts, Profa. Dra. Valentina Porta,

    Profa. Dra. Valria Velasco e ao Prof. Dr. Andr Baby pela recepo e amizade.

    Aos meus professores do Peru, Prof. Dr. Julio Chirinos, Profa. Dra. Mercedes

    Jave e ao Prof. Dr. Alejandro Pino por me ensinarem.

  • 6

    Aos colegas do grupo, Profa. Dra. Leticia Rodrigues, Patrcia Rivas, Ktia Ito,

    Leandro Giorgetti e em especial a Michele Georges Issa pelas valiosas sugestes,

    auxlio e amizade.

    Aos meus colegas que j concluram o curso, George Gualberto, Andrea Ikeda,

    Ana Lcia Nobusa, Ana Paula Zerbini, Artur Lopes e Helder de Oliveira, pelo auxlio e

    amizade.

    Aos estagirios, Fagner Magalhes, Missael Silva, Cinthia Alves, Bruno

    Camardella e aos que j concluram seu trabalho, Vanessa, Patrcia Bosomba, Arthur

    Massabki e Silmara Macena, pela amizade e disposio.

    Claudinia Pinto, Eremita Santos e Edgar pela amizade e disposio.

    Aos funcionrios da faculdade, Elizabeth Paiva, Jorge Lima, Angela e David pela

    disposio.

    funcionria Leila Aparecida Bonadio pela amizade e valiosa colaborao na

    procura de material bibliogrfico.

    Aos colegas do Laboratrio, Jose Eduardo Gonalves, Guilherme Tavares,

    Marcelo e Marize Gouveia, Paula Souza, Carla Pedriali, pela convivncia, apoio e

    amizade.

    minha querida Doralice de Jesus Santos pela amizade, companhia e torcida.

    s minhas amigas Vanesa Chacon, Delia Luna e Adelaida Viza pela ajuda,

    companheirismo e amizade.

    Aos meus amigos Angel, Mnica e seu filho Sebastian pela sincera amizade.

  • 7

    s minhas amigas da faculdade, Mara, Sughey, Keyla, Yuliana, Pamela, Carol,

    Glenny, Jamily e Araceli por todas nossas alegrias, por construir a verdadeira amizade

    e por se alegrarem com as minhas conquistas mesmo distantes, muito obrigada.

    s minhas grandes amigas Tatiana Balogh e Talita Monteiro pela sincera

    amizade, companheirismo, torcida e por me ajudarem em muitos momentos.

    Aos meus amigos, Fbio Ikuno, Mateus Costa, Fabio Ito e ao senhor Hirossi

    Sannomiya pela amizade e pelos divertidos e inesquecveis momentos, muito obrigada.

    minha tia Dominga, minhas primas Yulisa, Milagros e Flor Salom e meus

    queridos Aarn e Sebastian pelo carinho, incentivo e torcida.

    Ao meu pai, Pedro, por me fazer acreditar, desde minha infncia, que os sonhos

    existem.

    Agradeo principalmente as pessoas mais importantes da minha vida, minha

    me e meu irmo, porque, sem o apoio e a torcida de vocs nada disto teria dado certo

    e nada valeria pena. Amo vocs, famlia!

    E a todos os familiares e amigos que comemoram comigo a concluso deste

    trabalho, muito obrigada.

  • 8

    RESUMO

    O presente trabalho teve como objetivo desenvolver metodologia para avaliao da

    dissoluo intrnseca (DI) de amostras de albendazol (ABZ) e mebendazol (MBZ),

    empregando-se o mtodo de disco rotativo. Inicialmente foi realizada a caracterizao

    fsico-qumica dos frmacos, empregando-se os ensaios de termogravimetria (TG),

    calorimetria exploratria diferencial (DSC), difratometria de raios X (DRX), microscopia

    eletrnica de varredura (MEV), densidade verdadeira, rea superficial e tamanho de

    partcula, para sete amostras de ABZ e oito de MBZ. Com as anlises de DRX e DSC

    foi possvel verificar a presena dos polimorfos I e II, alm de outras estruturas

    cristalinas nas amostras de ABZ. Em relao ao MBZ foi possvel identificar os

    polimorfos A, C e a mistura destes polimorfos. Mediante o ensaio de solubilidade,

    verificou-se que as amostras que possuem o polimorfo C foram as mais solveis nos

    meios de HCl 0,1N e suco gstrico. Finalmente, desenvolveu-se a metodologia para a

    avaliao da DI de ABZ e MBZ. Para avaliar o impacto das condies de ensaio na DI,

    escolheu-se uma amostra de ambos frmacos, que foi submetida a diferentes ensaios

    conforme delineamento experimental ortogonal de Taguchi do tipo L9(34). Verificou-se

    que tanto para o ABZ quanto para o MBZ, a varivel que apresentou maior impacto na

    velocidade de dissoluo intrnseca (VDI) foi o meio de dissoluo. Dessa maneira,

    selecionaram-se as condies para a realizao dos ensaios comparativos entre as

    amostras (diferentes fornecedores). Observou-se que as amostras que apresentam o

    polimorfo II (ABZ) e o C (MBZ) so aquelas que mostraram maiores valores de VDI. As

    condies empregadas para o estudo da VDI das amostras dos frmacos permitiram

    evidenciar diferenas entre os polimorfos demonstrando que a tcnica de dissoluo

    intrnseca vivel na caracterizao das formas polimrficas de ABZ e MBZ.

    Palavras-chave: albendazol, mebendazol, dissoluo intrnseca, polimorfismo.

  • 9

    ABSTRACT

    The purpose of this study was to develop a methodology for evaluating the intrinsic

    dissolution (ID) of samples of albendazole (ABZ) and mebendazole (MBZ), employing

    the rotating disk method. Initially, a physicochemical characterization of seven samples

    of ABZ and eight samples of MBZ was carried out through thermogravimetric tests (TG),

    differential scanning calorimetry (DSC), X-ray diffraction (XRD) and scanning electron

    microscopy (SEM), as well as evaluations of true density, surface area and particle size.

    With the XRD and DSC analyses, it was possible to ascertain the presence of

    polymorphs I and II, as well as other crystalline structures in the ABZ samples. With

    regards to MBZ, it was possible to identify polymorphs A and C, as well as a mixture of

    these polymorphs. With the execution of a solubility test, it was ascertained that the

    samples with polymorph C were the most soluble in the HCl 0.1N and gastric acid

    media. Finally, a methodology for the evaluation of the ID of ABZ and MBZ was

    developed. In order to evaluate the impact of the test conditions on ID, samples of both

    drugs were chosen, which were then subjected to different tests, according to the L9 (34)

    Taguchi experimental orthogonal array. It was ascertained that for both ABZ and MBZ,

    the variable with the greatest impact on the intrinsic dissolution rate (IDR) was the

    dissolution medium. Accordingly, the conditions for the execution of comparative tests

    between the samples were selected (different suppliers). It was observed that the

    samples that presented the polymorph II (ABZ) and C (MBZ) were also those that

    presented the greatest IDR values. The conditions employed for the IDR study of the

    drug samples enabled differences between the polymorphs to be ascertained, thus

    demonstrating that the intrinsic dissolution technique is viable for the characterization of

    polymorphic forms of ABZ and MBZ.

    Keywords: albendazole, mebendazole, intrinsic dissolution, polymorphism.

  • 10

    SUMRIO

    Captulo 1 - Influncia do polimorfismo na dissoluo intrnseca

    de frmacos ......................................................................................................... 12

    Resumo ................................................................................................................. 13

    1. Introduo ......................................................................................................... 14

    2. Dissoluo intrnseca ........................................................................................ 15

    2.1. Sistema de disco rotativo ............................................................................... 17

    2.2. Mecanismo de velocidade de dissoluo intrnseca ....................................... 18

    2.3. Determinao da velocidade de dissoluo intrnseca ................................... 20

    3. Polimorfismo e dissoluo intrnseca ................................................................ 20

    4. Fatores intrnsecos que influenciam a velocidade de dissoluo intrnseca...... 22

    4.1. Velocidade de rotao .................................................................................... 22

    4.2. Meio de dissoluo ......................................................................................... 22

    5. Concluso ......................................................................................................... 23

    6. Referncias ....................................................................................................... 23

    Captulo 2 - Caracterizao fsico-qumica e avaliao de polimorfos em

    amostras comerciais de albendazol .................................................................. 26

    Resumo ................................................................................................................. 27

    1. Introduo ......................................................................................................... 28

    2. Material e Mtodos ............................................................................................ 29

    2.1. Materiais ......................................................................................................... 29

    2.2. Difratometria de raios X .................................................................................. 29

    2.3. Termogravimetria ........................................................................................... 30

    2.4. Calorimetria Exploratoria Diferencial .............................................................. 30

    2.5. Densidade verdadeira .................................................................................... 30

    2.6. Determinao da rea superficial ................................................................... 30

    2.7. Anlises de Tamanho de partcula ................................................................. 31

    2.8. Microscopia eletrnica de varredura .............................................................. 31

    3. Resultados e discusso..................................................................................... 31

    4. Concluso ......................................................................................................... 40

    5. Referncias ....................................................................................................... 41

  • 11

    Captulo 3 - Caracterizao fsico-qumica e avaliao de polimorfos em

    amostras comerciais de mebendazol ................................................................ 43

    Resumo ................................................................................................................. 44

    1. Introduo ......................................................................................................... 45

    2. Material e Mtodos ............................................................................................ 46

    2.1. Materiais ......................................................................................................... 46

    2.2. Difratometria de raios X .................................................................................. 46

    2.3. Termogravimetria ........................................................................................... 47

    2.4. Calorimetria Exploratoria Diferencial .............................................................. 47

    2.5. Solubilidade .................................................................................................... 47

    2.6. Densidade verdadeira .................................................................................... 48

    2.7. Determinao da rea superficial ................................................................... 48

    2.8. Anlises de Tamanho de partcula ................................................................. 48

    3. Anlises multivariada ........................................................................................ 48

    4. Resultados e Discusso .................................................................................... 49

    5. Concluso ......................................................................................................... 61

    6. Referncias ....................................................................................................... 61

    Captulo 4 - Desenvolvimento de metodologia para avaliao da dissoluo

    intrnseca de amostras de albendazol e mebendazol com caractersticas

    fsico-quimicas distintas..................................................................................... 63

    Resumo ................................................................................................................. 64

    1. Introduo ......................................................................................................... 65

    2. Materiais e Mtodos .......................................................................................... 67

    2.1. Materiais ......................................................................................................... 67

    2.2. Planejamento experimental ............................................................................ 67

    2.3. Dissoluo intrnseca ..................................................................................... 69

    2.3.1. Execuo dos ensaios................................................................................. 69

    3. Resultados e Discusso .................................................................................... 70

    4. Concluso ......................................................................................................... 79

    5. Referncias ....................................................................................................... 79

  • 12

    Captulo 1

    INFLUNCIA DO POLIMORFISMO NA DISSOLUO INTRNSECA DE

    FRMACOS

  • 13

    RESUMO

    O presente trabalho tem como objetivo realizar uma reviso da literatura sobre

    dissoluo intrnseca (DI), com enfoque, sobretudo, nos aspectos relacionados sua

    utilizao para caracterizao de frmacos com estruturas cristalinas diferentes

    (polimorfos). A DI uma tcnica que permite determinar a velocidade de dissoluo

    (VD) de uma substncia pura e pode ser realizada em dois aparatos: no sistema de

    disco rotativo (Aparato de Wood) e no sistema de disco fixo. executada em

    condies especficas, em que parmetros como rea superficial, temperatura,

    velocidade de agitao e pH do meio so mantidos constantes durante todo o ensaio de

    dissoluo. O resultado expresso em unidade de massa dissolvida por segundo por

    centmetro quadrado. A velocidade de dissoluo intrnseca (VDI) de frmacos

    importante na caracterizao de frmacos slidos. Diferentes formas cristalinas

    (polimorfos) podem influenciar a estabilidade fsica, a VD e, portanto, a

    biodisponibilidade do frmaco. Estudos relacionados caracterizao de polimorfos de

    um mesmo frmaco, empregando a tcnica de DI, mostraram a importncia da VDI

    destes polimorfos. A partir das informaes da literatura pode-se considerar a DI como

    uma ferramenta til na caracterizao de polimorfos.

    Palavras-chave: dissoluo intrnseca, polimorfismo.

  • 14

    1. Introduo

    O desenvolvimento de uma forma farmacutica requer o conhecimento das

    propriedades fsico-qumicas do frmaco e de todos os excipientes a serem utilizados

    (ANSEL et al., 2007). Assim, problemas que se apresentam durante as etapas de

    produo e absoro do frmaco pelo organismo podero ser evitados. Dentre as

    propriedades fsicas do frmaco encontra-se a estrutura cristalina, considerada um fator

    importante na etapa de pr-formulao, pois diferentes formas cristalinas (polimorfos)

    podem influenciar na estabilidade fsica, na solubilidade, na velocidade de dissoluo e,

    portanto, na biodisponibilidade do frmaco (ANSEL et al., 2007).

    O polimorfismo definido como a habilidade de um material slido cristalino de

    existir em, no mnimo, duas estruturas cristalinas diferentes. Essas variaes da forma

    cristalina tm sua origem nas condies fsico-qumicas especficas em que o frmaco

    obtido, ou seja, no processo ou sequncia de sntese, como purificao, cristalizao,

    secagem e estocagem do frmaco, como tambm no processo de produo de

    medicamentos (FLORENCE; ATTWOOD, 2003). Essas diferentes formas cristalinas

    obtidas podem gerar modificaes nas caractersticas fsicas do slido, tais como

    estabilidade, densidade, ponto de fuso e solubilidade, alm de modificar as

    propriedades eltricas e pticas, dureza e sua presso de vapor (SIGNHAL;

    CURATOLO, 2004).

    Atualmente, investigam-se dois tipos de polimorfismo: o polimorfismo

    conformacional e o polimorfismo por empacotamento. O primeiro ocorre quando

    molculas rgidas adotam conformaes distintas nas diferentes estruturas cristalinas.

    O segundo ocorre em molculas rgidas que podem reunir-se em diferentes estruturas

    de trs dimenses atravs de diferentes mecanismos intramoleculares (VIPPAGUNTA;

    BRITTAIN; GRANT, 2001).

    As transformaes das formas polimrficas podem causar problemas na

    formulao, afetando, assim, a qualidade, a estabilidade, a dissoluo e a

    biodisponibilidade do frmaco. Esta uma das consequncias mais importantes, j que

    diferentes formas polimrficas de um mesmo frmaco podem apresentar diferenas na

    velocidade de dissoluo (VD) e, portanto, na biodisponibilidade, particularmente

  • 15

    quando o frmaco pouco solvel (ANSEL et al., 2007). Portanto, sua identificao e

    sua caracterizao na indstria farmacutica so de fundamental importncia para

    garantir a qualidade dos medicamentos.

    A velocidade de dissoluo intrnseca (VDI) vem sendo utilizada na

    caracterizao de frmacos no estado slido (YU et al., 2004) e definida como a

    velocidade de dissoluo de uma substncia pura sob condies de rea superficial

    constante, podendo ser determinada atravs da tcnica de dissoluo intrnseca (DI).

    A dissoluo intrnseca (DI), por sua vez, pode ser realizada em dois aparatos:

    no sistema de disco rotativo, mais conhecido como Aparato de Wood, e no sistema de

    disco fixo. realizada em condies especficas, em que parmetros, como rea

    superficial, temperatura, velocidade de agitao, pH e fora inica do meio, so

    mantidos constantes durante todo o ensaio de dissoluo. O resultado expresso em

    unidade de massa dissolvida por segundo por centmetro quadrado (PELTONEN et al.,

    2003; YU et al., 2004; UNITED STATES PHARMACOPOEIA, 2009; AVDEEF;

    TSINMAN, 2008).

    A DI vem sendo considerada como uma ferramenta importante na avaliao da

    solubilidade de polimorfos metaestveis, uma vez que permite determinar, atravs de

    seus perfis de dissoluo, a transformao de uma forma polimrfica instvel a outra

    estvel durante o ensaio de dissoluo (PARK et al., 2010).

    Assim, o presente trabalho tem como objetivo realizar uma reviso da literatura

    sobre dissoluo intrnseca, com enfoque, sobretudo, nos aspectos relacionados sua

    utilizao na caracterizao de frmacos com estruturas cristalinas diferentes

    (polimorfos).

    2. Dissoluo intrnseca

    As propriedades fsico-qumicas do frmaco, tais como cristalinidade,

    polimorfismo, pka, coeficiente de partio e solubilidade, tm papel importante na VDI,

    j que podem afetar a VD, a absoro e, como consequncia, a biodisponibilidade do

    frmaco. Portanto, a VDI torna-se uma ferramenta til para o desenvolvimento de novos

  • 16

    produtos farmacuticos (YU et al., 2004; ANSEL et al., 2007; UNITED STATES

    PHARMACOPOEIA, 2009).

    O conhecimento da VDI de frmacos importante, no s na predio de

    problemas de absoro relacionados biodisponibilidade, como tambm na

    determinao de parmetros termodinmicos associados transio de fase cristalina

    (entalpia, entropia, etc.), pois frmacos de diferentes estruturas cristalinas podem

    apresentar grandes diferenas de energia livre, que levariam a diferenas significativas

    na VDI. Adicionalmente, tambm apresenta importncia no estudo do efeito do pH na

    solubilizao de frmacos pouco solveis, j que os mesmos podem apresentar

    solubilidade varivel em funo do pH (YU et al., 2004).

    O mtodo usualmente empregado para determinar a VDI o de superfcie

    constante, por intermdio de um disco de rea conhecida (0,5 cm) contendo o frmaco

    em p compactado em seu interior. O resultado expresso em unidades de massa

    dissolvida por centmetro quadrado por segundo (PELTONEN et al., 2003; ANSEL et

    al., 2007; UNITED STATES PHARMACOPOEIA, 2009).

    interessante observar que a VDI considerada um fenmeno de velocidade e

    no de equilbrio, portanto, acredita-se que a VDI esteja mais bem correlacionada com

    a VD in vivo do que com a solubilidade. A partir disso, Yu et al. (2004) compararam

    resultados encontrados de DI de 15 frmacos com a solubilidade j descrita pelo

    Sistema de Classifio Biofarmacutica (SCB). Os autores observaram boa correlao

    entre os resultados e, assim, sugeriram o uso da VDI como forma de estimar a

    solubilidade de frmacos. No entanto, para doses extremamente altas ou baixas, os

    autores observaram discrepncias entre os mtodos, pois frmacos com solubilidade de

    1 g/mL so classificados, segundo o SCB, como compostos de alta solubilidade,

    desde que sua dose seja de 0,25 mg ou menos, e, segundo a VDI, foram classificados

    como de baixa solubilidade.

    A VDI apresenta como vantagem a utilizao de pequenas quantidades de

    frmaco, podendo ser empregada para avaliao da solubilidade na etapa de pr-

  • 17

    formulao, quando quantidades mnimas de frmaco so disponibilizadas para a

    realizao dos ensaios (STEELE, 2001).

    Os sistemas utilizados na DI so versteis e permitem estudar as caractersticas

    de compostos farmacuticos sob uma variedade de condies de ensaio. Ambos os

    sistemas incluem as seguintes caractersticas: so adaptveis para serem usados em

    equipamentos de dissoluo e utilizam uma matriz modelo que mantm o compactado

    durante o ensaio de dissoluo, apresentando superfcie conhecida (0,5 cm2), que pode

    ser colocada em uma posio fixa dentro da cuba, diminuindo-se a variao das

    condies hidrodinmicas. A diferena entre os dois sistemas a origem do fluxo do

    meio de dissoluo. No sistema de disco rotativo, o fluxo gerado pela rotao da

    matriz dentro do prprio lquido. No sistema de disco estacionrio o fluxo gerado pelo

    dispositivo de agitao, constitudo por uma p (UNITED STATES PHARMACOPOEIA,

    2009).

    importante evitar as alteraes do fluxo do meio e a formao de bolhas de ar

    na superfcie do frmaco exposta na matriz, j que tais condies poderiam alterar os

    resultados de VDI. O tempo necessrio para realizao de um ensaio de DI varia de

    acordo com as caractersticas fsico-qumicas do frmaco. Normalmente, o ensaio de

    frmacos solveis se encerra quando 50 a 75% dos mesmos apresentam-se dissolvidos

    sem que haja desprendimento do compactado da matriz; para frmacos pouco solveis

    essa porcentagem pode ser menor (UNITED STATES PHARMACOPOEIA, 2009).

    2.1 Sistema de disco rotativo

    A DI pode ser realizada, normalmente, no sistema de disco rotativo, mais

    conhecido como Aparato de Wood (VIEGAS et al., 2001). Este sistema composto

    por uma puno, uma placa de superfcie e uma matriz fabricada em ao resistente,

    que apresenta uma cavidade, que serve como depsito da amostra. O ensaio da DI

    consiste basicamente em compactar o frmaco dentro da matriz com auxlio de uma

    prensa hidrulica, formando uma pastilha que no se desintegra e que apresenta uma

    rea de exposio definida (0,5 cm). A matriz fixada na haste e esta acoplada ao

    equipamento de dissoluo, sendo necessria a definio de alguns parmetros, como:

  • 18

    presso de compactao, meio de dissoluo, volume e rotao (UNITED STATES

    PHARMACOPOEIA, 2009).

    2.2 Mecanismo de velocidade de dissoluo intrnseca

    Visto que o mecanismo de VDI assemelha-se ao mecanismo de dissoluo de

    um frmaco, necessria uma breve reviso dos conceitos de VD para a melhor

    compreenso da VDI. A dissoluo de um frmaco ocorre sob influncia da difuso.

    Segundo a Lei de Fick, o fluxo de uma substncia diretamente proporcional ao

    gradiente de concentrao. Durante a dissoluo, as molculas da fase slida se

    dissolvem e a soluo que est em contato direto com o slido se satura (Cs); portanto,

    as molculas do soluto migram por camadas limtrofes ou estticas que circulam o

    slido em direo ao seio da soluo (C). O transporte dessas molculas para o seio da

    fase lquida influenciado pela difuso que ocorre lentamente. Devido ao movimento

    lento, as molculas do soluto da superfcie do slido no conseguem se deslocar para o

    seio da soluo, mudando a concentrao da soluo nas camadas limtrofes, o que se

    explica com a lei de difuso de Fick, conforme apresentado abaixo (AULTON, 2005):

    Equao:

    dC = k(Cs C) dt ou (1)

    dC = kC dt

    Onde k a constante de velocidade, C a diferena de concentrao da soluo

    entre a superfcie slida (Cs) e o centro da soluo (C).

    Durante a dissoluo, a soluo que est em contato com o slido estar

    saturada (Cs). Se a concentrao do seio da soluo (C) for maior do que Cs, a soluo

    estar supersaturada. Portanto, as molculas de slido se movimentaro da soluo

  • 19

    para a superfcie do slido. E se C for menor que Cs, as molculas se movero do

    slido em direo soluo (AULTON, 2005).

    Segundo a equao de Noyes e Whitney, que foi desenvolvida com base na lei

    de difuso de Fick de 1897 e modificada em 1904 por Nernst e Brunner, a velocidade

    de transferncia de massa de soluto (dm/dt) desenvolvida atravs de camadas de

    difuso esttica, que diretamente proporcional rea superficial do frmaco exposto

    ao meio da dissoluo (A) e diferena de concentrao (C) pela camada limtrofe, e

    inversamente proporcional espessura da camada (h).

    Equao:

    dm = k1A(Cs-C) dt h (2)

    Onde k1 conhecido como coeficiente de difuso.

    Durante a dissoluo, quando o soluto for removido do meio de dissoluo a uma

    velocidade maior do que ele se dissolve, o termo (Cs-C) da equao 2 se tornar

    prximo ao valor de Cs. E quando o volume do meio de dissoluo for to grande que C

    no exceda 10% do valor de Cs, pode-se, tambm, aproximar o termo Cs-C do valor de

    Cs. Dessa maneira, em ambos os casos citados, a dissoluo ocorre sob condies sink

    (CCs/10

    (BANAKAR, 1992).

  • 20

    Condies sink so, normalmente, empregadas na determinao da VDI de

    substncias puras. importante ressaltar que no momento em que so aceitas as

    condies sink, a VDI deve ser independente da espessura da camada limtrofe e do

    volume do meio de dissoluo. Portanto, a VDI mede as propriedades intrnsecas do

    frmaco somente em funo do meio de dissoluo, ou seja, pH, fora inica e contra

    ons (AULTON, 2005). Se, durante o processo de dissoluo, so mantidas constantes

    a viscosidade do meio (V) e a velocidade rotacional da amostra, a VD (dc/dt) para uma

    rea superficial constante (A) no ser alterada, permanecendo com o mesmo valor, de

    forma que poder ser relacionada somente solubilidade. Em condies sink Cs>>>C a

    concluso :

    Equao:

    dc = A K1Cs dt V (4)

    Onde K1 a constante de VD, Cs a concentrao de saturao. Dessa maneira, a VDI

    expressa pela seguinte equao:

    VDI = K1Cs (mg cm2 min-1) (5)

    2.3 Determinao de velocidade de dissoluo intrnseca

    A VDI determinada experimentalmente pela quantidade de frmaco dissolvido

    em cada intervalo de tempo. Esses valores so representados em um grfico de

    concentrao versus tempo e, atravs da regresso linear dos pontos, se obtm o valor

    da VD, mediante a inclinao da reta em unidades de massa/s-1. Posteriormente, esse

    valor ser dividido pela rea superficial do frmaco exposto na matriz (0,5 cm2),

    obtendo-se, assim, o valor da VDI em unidades de massa/cm2/s-1 (UNITED STATES

    PHARMACOPOEIA, 2009).

    3. Polimorfismo e velocidade de dissoluo intrnseca

    A VDI pode ser influenciada por fatores inerentes ao frmaco, tais como

    polimorfismo, hidratao, solvatao e tamanho de partcula; e por fatores extrnsecos,

  • 21

    tais como velocidade de rotao, temperatura e meio de dissoluo (UNITED STATES

    PHARMACOPOEIA, 2009).

    Estudos recentes, baseados na cristalizao da nimesulida com diferentes

    solventes orgnicos, descreveram que as formas polimrficas obtidas atravs da

    cristalizao influenciaram na VDI deste frmaco. Os autores observaram diferenas

    entre os perfis de dissoluo dos polimorfos II e I, mostrando valores de VDI de 13,6 e

    5,7 g/min/cm-2, respectivamente (SANPHUI; SARMA; NANGIA, 2011).

    O efeito das formas polimrficas na VDI foi observado por Sehic et al. (2010). Os

    autores caracterizaram trs amostras de carbamazepina (CBZ) e evidenciaram, durante

    a realizao dos ensaios de DI, transformaes cristalinas da CBZ anidra CBZ

    diidratada na superfcie dos compactados, sendo estes analisados antes e depois dos

    ensaios de dissoluo, atravs de microscopia eletrnica de varredura. Essas

    transformaes de fases foram sinalizadas pelas alteraes da inclinao da reta, o que

    resultou na diminuio da VDI da CBZ anidra.

    A influncia do polimorfismo na VDI tambm foi observada por Park et al. (2010),

    que caracterizaram trs formas cristalinas de fluconazol, duas anidras (formas I e II) e

    uma monoidratada. Os autores observaram que o polimorfo anidro II apresentou maior

    VDI quando comparado aos demais, o que foi evidenciado mediante a alterao da

    inclinao da reta, 20 minutos aps a realizao do ensaio. Os autores correlacionaram

    este acontecimento transformao da forma polimrfica anidra II metaestvel para a

    forma monoidratada do fluconazol. Anlises de DSC da superfcie dos discos,

    realizadas aps os ensaios de DI, confirmaram atravs de suas curvas de DSC

    transformaes cristalinas do polimorfo anidro II para a forma monoidratada.

    A importncia da VDI na caracterizao de frmacos com diferentes estruturas

    cristalinas tambm foi observada para os pseudopolimorfos de nevirapina, em que

    compostos recristalizados com diferentes solventes apresentaram valores de VDI

    superiores s amostras livres de solventes (PEREIRA et al., 2007).

    Estudos realizados por Chan e Grant (1989) demonstraram que o polimorfismo

    foi um dos principais fatores que influenciou na determinao da VDI do cido adpico.

  • 22

    Eles observaram, na cristalizao deste composto com cido oleico e gua, diferenas

    na VDI das amostras obtidas. Estas diferenas foram explicadas pelas transformaes

    ocasionadas aos cristais durante o processo de cristalizao, devido utilizao do

    cido oleico, que introduziu impurezas na rede cristalina do cido adpico, mudando,

    assim, a estrutura deste cristal. Os autores concluram que essas diferenas de VDI

    tambm poderiam ser atribudas ao estresse dos cristais, ocasionado pela

    compactao, que reduziria a concentrao e a eficcia da energia dos polimorfos

    (CHAN; GRANT, 1989).

    4. Fatores extrnsecos que influenciam a velocidade de dissoluo intrnseca

    4.1 Velocidade de rotao

    A influncia da velocidade de rotao na VDI do diclofenaco sdico foi observada

    por Bartolomei et al. (2005). Eles caracterizaram duas formas cristalinas deste frmaco,

    o diclofenaco sdico anidro e o diclofenaco sdico hidratado. Em tal estudo, foram

    comparados os perfis de dissoluo obtidos em 50 rpm e 100 rpm. Foram encontradas

    grandes diferenas de VDI nestes ensaios. A DI realizada baixa velocidade de

    rotao promoveu melhor discriminao entre as diferentes formas de diclofenaco. Nos

    experimentos conduzidos a 100 rpm, foram observadas diferenas de 5%, enquanto

    que para os ensaios realizados a 50 rpm, essa diferena foi de 35% (BARTOLOMEI;

    BERTOCCHI; RODOMONTE, 2005).

    4.2 Meio de dissoluo

    Estudos demonstraram que o pH um dos fatores que mais influenciam a VDI,

    podendo ocasionar diferentes perfis de dissoluo. Um estudo observou, nos ensaios

    de DI de sulfametoxazol realizados em vrios pH, valores de VDI distintos. Houve

    melhor comportamento do frmaco em pH bsico (7,6) do que em pH cido. Tal fato

    explicado pela dissociao molecular do frmaco no meio bsico, j que o

    sulfametoxazol apresenta, na sua estrutura, grupos funcionais cidos, resultando,

    assim, maior VDI em meio alcalino (DAHLAN; McDONALD; SUNDERLAND, 1987).

  • 23

    Outros estudos demonstraram, atravs da alterao da inclinao da reta de

    josamicina, a influncia do pH do meio na VDI, quando o frmaco era submetido a

    diferentes faixas de pH (1,2 7,5) e a diferentes velocidades de rotao (50, 100, 200 e

    300 rpm). Esta influncia foi mais notvel, quando eles empregaram a mesma

    velocidade de rotao para os diferentes meios de dissoluo, demonstrando, assim,

    que a VDI da josamicina dependia tanto do pH do meio como da velocidade de rotao

    (SKINNER; KANFER, 1992).

    6. Concluso

    A partir das informaes da literatura, pode-se considerar a DI como uma

    ferramenta til na caracterizao de polimorfos, uma vez que ela permite diferenciar

    atravs da VDI o comportamento de dois ou mais polimorfos de um mesmo frmaco.

    7. Referncias bibliogrficas

    AULTON, M.E. Delineamento de formas farmacuticas. 2 ed. Porto Alegre: Artmed,

    2005. p.34,35,133.

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  • 24

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  • 26

    Captulo 2

    CARACTERIZAO FSICO-QUMICA E AVALIAO DE POLIMORFOS

    EM AMOSTRAS COMERCIAIS DE ALBENDAZOL

  • 27

    RESUMO

    O albendazol (ABZ) um benzomidazlico de amplo espectro, para o qual foram

    reportadas duas formas polimrficas (I e II). A forma I apresenta maior solubilidade que

    a II, sendo considerada o polimorfo metaestvel temperatura ambiente. O objetivo do

    presente trabalho foi investigar a presena destes polimorfos em amostras comerciais

    do frmaco. Realizou-se, neste estudo, a caracterizao fsico-qumica de sete

    amostras de ABZ, avaliando-se termogravimetria (TG), calorimetria exploratria

    diferencial (DSC), difrao de raios X (DRX), microscopia eletrnica de varredura

    (MEV), densidade verdadeira, rea superficial e tamanho de partcula. As anlises de

    DRX e as curvas de DSC apresentaram comportamentos caractersticos dos polimorfos

    I e II do ABZ, confirmando a presena dos dois polimorfos do frmaco nas amostras

    estudadas. Observou-se a presena do polimorfo II nas amostras 1 e 4 e nesta ltima

    encontrou-se, tambm, a existncia de outra estrutura cristalina ainda no descrita na

    literatura. A presena do polimorfo I foi encontrada na amostra 5. As amostras 3 e 7

    apresentaram uma mistura de ambos polimorfos, enquanto que as amostras 2 e 6

    apresentaram o polimorfo I e novas estruturas cristalinas.

    Palavras-chave: albendazol, polimorfismo

  • 28

    1. Introduo

    As infeces parasitrias encontram-se ainda muito disseminadas no mundo,

    apesar dos avanos no campo de medicamentos antiparasitrios. Isso se deve s

    baixas condies de saneamento e ao desconhecimento destas infeces pela

    populao (AWASTHI et al., 2003; DAYAN, 2003).

    O albendazol (ABZ) um benzimidazlico de amplo espectro, considerado o

    carbamato de benzimidazol mais moderno, usado mundialmente, tanto contra

    nematdeos intestinais e teciduais, como tambm contra as formas larvrias de certos

    cestdeos, alm de seu amplo uso para o tratamento da helmintase em seres

    humanos (GOODMAN, 2007).

    O ABZ (C12H15N3O2S), representado na FIGURA 1, possui a designao qumica

    5-metilpropiletil-2-carbamato de benzimidazol. Apresenta-se comercialmente na forma

    de comprimidos de 400 e 200 mg, como tambm em suspenso de 200 mg/5 mL

    (KOROKOLVAS; FRANA, 2009; MERCK INDEX, 2006).

    FIGURA 1. Estrutura qumica de ABZ

    Em relao solubilidade o ABZ relativamente insolvel em gua e na maioria

    dos solventes orgnicos (MERCK INDEX, 2006) e pequenas diferenas na solubilidade

    tendem a causar grande efeito na sua absoro e na sua biodisponibilidade

    (MWAMBETE et al., 2004). O ABZ apresenta baixa solubilidade e baixa/alta

    permeabilidade podendo ser classificado como frmaco de classe II ou IV pelo Sistema

    de Classificao Biofarmacutica (SCB) (LINDENBERG; KOPP; DRESSMAN, 2004).

  • 29

    Recentemente, estudos de caracterizao do ABZ indicaram que este apresenta

    duas formas polimrficas (formas I e II) e que a forma I mais solvel que a forma II a

    25C, sendo definida como o polimorfo metaestvel temperatura ambiente (PRANZO

    et al., 2010).

    As propriedades do estado slido tm um papel importante na solubilidade e na

    velocidade de dissoluo de frmacos, principalmente dos que se apresentam em

    diferentes estruturas cristalinas (polimorfismo), j que estas podem influenciar na

    velocidade de dissoluo, na absoro e, consequentemente, na biodisponibilidade.

    Alm disso, tambm podem afetar outras propriedades importantes, como a densidade,

    a compactao, o escoamento do p e a estabilidade fsica do frmaco (VIPPAGUNTA;

    BRITTAIN; GRANT, 2001).

    Assim, considerando-se a importncia do polimorfismo e suas implicaes para

    a produo de medicamentos e a recente descrio de duas formas polimrficas

    distintas para o ABZ, o presente trabalho tem por finalidade investigar a presena

    destes polimorfos em amostras comerciais do frmaco.

    2. Material e Mtodos

    2.1 Materiais

    Sete amostras de ABZ foram obtidas de diferentes indstrias farmacuticas

    brasileiras. As amostras foram designadas com nmeros de 1 a 7 para ocultar a

    identidade das empresas.

    2.2 Difratometria de raios X

    As amostras foram prensadas em um porta-amostra de plstico e os dados

    foram coletados em um difratmetro da Bruker, modelo D8-Focus, de raio 200,5 mm,

    com tubo de gerao CuK, filtro de nquel (para absorver as radiaes branca e K),

    comprimento de onda mdio = 1,5418 (Cu K), com fenda de divergncia de 0,2

    mm e fenda de espalhamento de 8 mm, fenda Soller primria e secundria de 2,5,

    com detector sensvel a posio (PSD) LynxEye, com aceitao angular de 4.1,

  • 30

    operando em 40 kV e 40 mA de tenso e corrente do tubo, respectivamente. A

    varredura, em modo contnuo, foi feita com tempo de exposio de 2 s por passo mdio

    (~0,02 em 2) na faixa entre 3 e 60 (2). O tempo total de aquisio foi da ordem de

    1:40 h.

    2.3 Termogravimetria (TG)

    As curvas TG foram obtidas em equipamento TGA 2950 (TA Instruments, New

    Castle, USA) no intervalo de temperatura de 25C a 600C empregando razo de

    aquecimento de 20C/min e sob atmosfera dinmica de nitrognio, com vazo de 100

    mL/min-. Utilizou-se um cadinho de platina contendo massa de entre 15 a 17 mg.

    2.4 Calorimetria Exploratria Diferencial (DSC)

    As curvas DSC foram obtidas em equipamento DSC 2920 (TA Instruments, New

    Castle, USA) no intervalo de temperatura de 25C a 300C empregando razo de

    aquecimento de 10C/min e sob atmosfera dinmica de nitrognio, com vazo de 50

    mL/min-. Utilizou-se uma cpsula de alumnio fechada contendo massa de entre 2 a 3

    mg.

    2.5 Densidade verdadeira

    Para a determinao da densidade verdadeira se empregou um picnmetro de

    hlio modelo Ultropycnometer 1000 (Quantachrome Instruments, Boynton Beach,

    USA). Utilizou-se porta-amostra de alumnio, em que se acondicionou o material. A

    quantidade de amostra utilizada foi de, aproximadamente, 2,0 gramas. O valor da

    densidade verdadeira foi proporcionado, automaticamente, pelo equipamento.

    2.6 Determinao da rea superficial

    Para a anlise da rea superficial das amostras de albendazol foi empregado

    equipamento Nova 2200e Surface Area & Pore Size Analizer (Quantachrome

    Instruments, Boynton Beach, USA), utilizando-se nitrognio ultrapuro como gs de

    anlise. Empregou-se porta-amostra de vidro previamente calibrado, sendo a

    quantidade de amostra utilizada de 0,9 a 1,4 gramas.

  • 31

    2.7 Anlise de tamanho de partcula

    As anlises foram realizadas em equipamento Particle Size Analyzer 1090 (Cilas,

    Orleans, Frana), no mdulo de via mida, sendo necessrio o desenvolvimento de

    mtodo de preparo para o meio dispersante e para as amostras. O meio utilizado para a

    leitura e o preparo das amostras foi uma soluo aquosa do frmaco. Para a

    preparao das anlises, empregaram-se 60 mg de ABZ e 40 mL de gua. Aps adio

    do meio dispersante, as amostras foram deixadas sob agitao por dez minutos,

    seguidos de trinta segundos de ultrassom, tempo suficiente para permitir a disperso

    adequada das partculas.

    2.8 Microscopia eletrnica de varredura

    A morfologia das amostras foi observada em Microscpio Eletrnico de

    Varredura (MEV), modelo LEO 440I (Carl Zeiss, Cambridge, England), empregando,

    como fonte emissora, o filamento de tungstnio. As amostras foram montadas em

    suportes de alumnio (stubs), em fita condutora de dupla face de carbono com um

    filme de, aproximadamente, 15 nm de espessura. As condies das anlises foram de

    20 kV e 150 pA, operadas a alto vcuo.

    3. Resultados e Discusso

    Os difratogramas de raios X (FIGURA 2) das amostras 1 e 4 indicam picos de

    difrao em torno de 7,0, 10,5 e 25 (2), o que, de acordo com Pranzo et al. (2010),

    caracteriza a presena do polimorfo II. Alm disso, observou-se, no difratograma da

    amostra 4, um pico de difrao em 32,0 (2), que parece indicar a presena de

    alguma outra estrutura cristalina, tambm presente nesta amostra.

    Por outro lado, comparando os picos de difrao dessas amostras com os da

    amostra 5, pode-se observar diferena na forma do pico em 25 (2) e presena de um

    pico em 12, que no se apresentaram nas amostras 1 e 4. Segundo Pranzo et al.

    (2010), a existncia destes picos de difrao caracterstica do polimorfo I. Entretanto,

    ao redor de 3 (2), um pico pequeno foi observado, o que pode ser indicativo de outra

    estrutura cristalina presente nesta amostra.

  • 32

    Com relao s amostras 2 e 6, estas apresentaram, alm dos picos de difrao

    caractersticos do frmaco (7,9 e 17,5), pequenos picos em 11,5, 19,7, 20,8 e

    24,8, na posio 2, que parecem indicar a existncia de novas formas cristalinas do

    ABZ. Por outro lado, na amostra 3 foram encontrados picos de difrao caractersticos

    do polimorfo I, na faixa de 11 a 12(2), e do polimorfo II, ao redor de 25(2).

    No difratograma da amostra 7, observou-se que o formato do pico a 25 (2),

    bem como a presena de dois picos pequenos na faixa de 11,0 a 12,0 (2),

    evidenciam a presena do polimorfo II (PRANZO et al., 2010).

  • 33

    1

    Albendazol 1

    2Theta ()555045403530252015105

    Inte

    nsid

    ade

    (con

    tage

    ns)

    60,000

    50,000

    40,000

    30,000

    20,000

    10,000

    Albendazol 2

    2Theta ()555045403530252015105

    Inte

    nsid

    ade

    (con

    tage

    ns) 250,000

    200,000

    150,000

    100,000

    50,000

    Albendazol 3

    2Theta ()555045403530252015105

    Inte

    nsid

    ade

    (con

    tage

    ns) 140,000

    120,000

    100,000

    80,000

    60,000

    40,000

    20,000

    Albendazol 4

    2Theta ()555045403530252015105

    Inte

    nsi

    dade (

    conta

    gens)

    80,000

    70,000

    60,000

    50,000

    40,000

    30,000

    20,000

    10,000

    Albendazol 5

    2Theta ()555045403530252015105

    Inte

    nsi

    dade (

    conta

    gens) 140,000

    120,000

    100,000

    80,000

    60,000

    40,000

    20,000

    Albendazol 6

    2Theta ()555045403530252015105

    Inte

    nsid

    ade

    (con

    tage

    ns)

    250,000

    200,000

    150,000

    100,000

    50,000

    Albendazol 7

    2Theta ()555045403530252015105

    Inte

    nsi

    dade (

    conta

    gens) 120,000

    100,000

    80,000

    60,000

    40,000

    20,000

    FIGURA 2. Difratogramas das sete amostras de ABZ analisadas e plotadas no

    programa de refinamento de estruturas Topas Academic V4.1. Em destaque picos

    caractersticos do polimorfo II (linha slida) nas amostras 1 e 4, e do polimorfo I (linha

    tracejada) na amostra 5.

    2

    3

    4

    5

    6

    7

  • 34

    As curvas TG das amostras de ABZ (FIGURA 3) indicaram que o processo de

    decomposio trmica ocorreu em trs eventos. O primeiro, entre 175 e 235C, o

    segundo, entre 235 e 350C, e o terceiro, entre 350 e 400C. Embora todas as curvas

    tenham apresentado o mesmo perfil, os dados termogravimtricos obtidos mostraram

    que a perda de massa total variou de 63,39 a 69,98%, sendo os menores valores

    observados para as amostras 2 e 4 e os maiores valores para as amostras 1 e 7,

    indicando processo de decomposio trmica mais acentuado neste caso (TABELA 1).

    FIGURA 3. Curvas TG das amostras de ABZ, razo de aquecimento 20C/min, com

    intervalo de temperatura de 25C at 600C sob atmosfera dinmica de N2.

  • 35

    TABELA 1 - Dados sobre a temperatura de decomposio das amostras de ABZ

    As curvas de DSC das amostras de ABZ so apresentadas na FIGURA 4. Todas

    as amostras apresentaram um pico endotrmico, bem definido, na faixa de 175 a

    220C, caracterstico da fuso com decomposio do frmaco (PRANZO et al., 2010;

    ALASANI et al., 2007; KALAISELVAN et al., 2006; MALAN; DE VILLIERS; LTTER,

    1997). Para as amostras 2, 3, 5 e 6, este evento se apresentou como um nico pico

    bem definido, enquanto que para as amostras 1 e 7 o mesmo evento foi observado em

    dois picos. A ocorrncia deste evento foi correlacionada com a primeira perda de massa

    da curva TG (FIGURA 3), na qual se observou claramente que prximo a 185C houve

    degradao do frmaco.

    Em relao s curvas de DSC das amostras 1 e 4, estas indicaram, na faixa de

    140 a 165C, a ocorrncia de dois eventos discretos, sendo o primeiro endotrmico

    (Tpico = 155C) e o segundo exotrmico (Tpico = 165C). De acordo com Pranzo et al.

    (2010), estes eventos correspondem, respectivamente, fuso da forma polimrfica II e

    recristalizao da forma I. De fato, nenhum evento de perda de massa foi observado na

    anlise termogravimtrica (FIGURA 3) nesta faixa de temperatura, confirmando ter

    havido apenas uma transio cristalina. A curva DSC evidenciou, tambm, um terceiro

    evento endotrmico, entre 175 e 220C, caracterstico da fuso com decomposio

    trmica da forma polimrfica I.

    Por outro lado, a amostra 4 apresentou um evento endotrmico ao redor de 70 a

    85C. Este evento est sendo descrito pela primeira vez neste trabalho e poderia

    Amostras

    1 Evento 2

    Evento 3

    Evento

    Resduo (%) Tpico DTG

    (C) Perda de massa (%)

    Tpico DTG (C)

    Perda de massa (%)

    Tpico DTG (C)

    Perda de massa (%)

    1 238 14,8 354 30,1 407 23,3 23,3

    2 239 14,3 351 22,3 405 26,2 27,8

    3 234 14,1 353 25,8 407 25,2 26,1

    4 235 14,3 354 22,0 407 26,0 28,7

    5 241 14,2 357 27,2 403 24,4 25,1

    6 238 14,4 357 25,6 405 24,0 26,6

    7 235 14,3 351 29,8 401 24,2 24,6

  • 36

    indicar a presena de um solvato ou de uma estrutura cristalina ainda no reportada na

    literatura. A presena do solvato no foi confirmada pela curva TG, pois no houve

    perda de massa que indicasse a sada da gua de solvataco. Entretanto, o

    aparecimento de um pequeno pico no espectro de DRX em 32,4 (2) corrobora a

    hiptese da presena de uma nova estrutura cristalina na amostra (FIGURA 2).

    FIGURA 4. Curva DSC das amostras de ABZ, razo de aquecimento 10C/min, no

    intervalo de temperatura de 25C at 300C sob atmosfera dinmica de N2. Em

    destaque evento endotrmico caracterstico do polimorfo II (linha slida) nas amostras 1

    e 4.

    Para a densidade verdadeira (TABELA 2) verificou-se que os valores mais

    elevados foram registrados para as amostras 1 e 4 (polimorfo II), enquanto 3 e 7

    (polimorfo I e II) apresentaram mais baixa densidade.

    Segundo Signhal e Curatolo (2004), o polimorfo mais estvel apresentar maior

    densidade de empacotamento cristalino, devido organizao de seus tomos. Neste

  • 37

    trabalho, as amostras 1 e 4 (polimorfo II) foram as que apresentaram valores de

    densidade verdadeira mais elevados. Portanto, o polimorfo II poderia ser considerado a

    forma mais estvel do ABZ.

    TABELA 2 - Valores de densidade verdadeira (g/mL), rea superficial (m2/g) e dimetro

    mdio de partculas (m) das amostras de ABZ. Os valores entre parnteses indicam os

    respectivos desvios-padro (DP)

    Amostras Densidade ASBET Dimetro mdio

    1 (1,50 0,01) 13,840 (9,84 0,27)

    2 (1,35 0,01) 7,056 (5,94 0,12)

    3 (1,35 0,01) 9,268 (3,64 0,02)

    4 (1,54 0,01) 14,300 (12,42 0,12)

    5 (1,36 0,01) 7,149 (10,81 0,11)

    6 (1,36 0,01) 5,300 (8,70 0,01)

    7 (1,33 0,01) 10,560 (2,74 0,07)

    Na FIGURA 5 so apresentadas as fotomicrografias das amostras de ABZ.

    Observou-se que as amostras 1, 3 e 6 apresentaram partculas cristalinas,

    aproximadamente esfricas e de superfcie rugosa. Enquanto a amostra 2 apresentou a

    aglomerao de cristais com aparncia de plaquetas densamente aderidas sobre uma

    superfcie esfrica. Com relao amostra 4, observou-se o acmulo de partculas em

    forma de escamas, dispersas sobre uma superfcie. A amostra 7 apresentou partculas

    menores que as demais amostras, de formato irregular e dispersas.

    Comparando-se as amostras 3, 5 e 7, que possuem o polimorfo I em sua

    composio, observa-se que quanto maior a rea superficial menor o valor obtido

    para densidade verdadeira. Isso poderia ser atribudo as suas diferentes morfologias

    (FIGURA 5), ou seja, partculas mais esfricas (3 e 5) acarretariam maior densidade do

    que partculas irregulares (amostra 7).

  • 38

    FIGURA 5. Fotomicrografias de microscopia eletrnica de varredura das amostras de ABZ, aumento de 7.500 vezes

    ABZ-4

    ABZ-7

    ABZ-5 ABZ-6

    ABZ-1 ABZ-2 ABZ-3

  • 39

    Na TABELA 3 so apresentados os dimetros das partculas nas porcentagens

    10, 50 e 90%. Pode-se observar que as amostras 4 e 5 apresentaram maior tamanho

    de partcula nos trs porcentagens. A distribuio granulomtrica apresentada na

    FIGURA 6, em que se observa claramente que a amostras 4 apresenta curva bimodal

    bem definida, a amostra 5 mostrou curva de distribuio granulomtrica multimodal com

    maior amplitude, indicando a presena de partculas mais heterogneas.

    Por outro lado, a amostra 7 apresentou maior grau de micronizao, quando

    comparada s demais, nas porcentagens de 0,5 e 0,9%, indicando uma distribuio

    granulomtrica mais homognea, uma vez que, a sua curva unimodal e com

    amplitude reduzida. As demais amostras apresentam distribuies bimodais e portanto,

    maior heterogeneidade de suas partculas.

    TABELA 3 - Dimetro a 10, 50 e 90% das partculas em m das amostras de ABZ. Os

    valores entre parnteses indicam os respectivos desvios-padro (DP) de trs

    determinaes

    Amostras d(0,1) d(0,5) d(0,9)

    1 (0,93 0,03) (4,21 0,12) (25,90 0,23)

    2 (0,37 0,01) (4,45 0,06) (13,12 0,32)

    3 (0,73 0,02) (2,49 0,06) (9,19 0,07)

    4 (1,89 0,12) (12,29 0,14) (23,54 0,06)

    5 (1,33 0,01) (7,53 0,02) (25,49 0,23)

    6 (1,33 0,02) (6,98 0,05) (18,61 0,03)

    7 (0,85 0,03) (2,28 0,08) (5,33 0,07)

  • 40

    FIGURA 6. Distribuio granulomtrica das sete amostras de ABZ obtidas pelo mtodo

    de disperso lquida.

    Embora a amostra 1 (polimorfo II) tenha apresentado maior tamanho de partcula

    do que a amostra 7 (polimorfo I e II), sua rea superficial foi maior (TABELA 2). Este

    fato poderia ser atribudo a sua morfologia (FIGURA 5), como se sabe, a forma da

    partcula influencia na rea superficial mais do que o tamanho de partcula (LOWELL et

    al., 2004).

    5. Concluso

    Os resultados obtidos indicaram que as amostras analisadas apresentaram as

    duas formas polimrficas do ABZ, alm da presena de outras formas cristalinas ainda

    no descritas na literatura. As amostras 1 e 4 apresentaram o polimorfo II e nesta ltima

    encontrou-se, tambm, a existncia de outra estrutura cristalina. A amostra 5

    correspondeu ao polimorfo I, as amostras 3 e 7 apresentaram a mistura das duas

    formas polimrficas. Em relao s amostras 2 e 6, estas apresentaram o polimorfo I e

    novas formas cristalinas.

  • 41

    6. Referncias bibliogrficas

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  • 42

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  • 43

    Captulo 3

    CARACTERIZAO FSICO-QUMICA E AVALIAO DE POLIMORFOS

    EM AMOSTRAS COMERCIAIS DE MEBENDAZOL

  • 44

    RESUMO

    O mebendazol (MBZ) um anti-helmntico de amplo espectro, insolvel em gua, para

    o qual so relatadas trs formas polimrficas (A, B e C). A forma C destaca-se como a

    melhor opo para a indstria farmacutica, pois sua solubilidade suficiente para

    alcanar uma boa biodisponibilidade. O presente trabalho teve como objetivo identificar

    os polimorfos existentes em amostras comerciais de MBZ. Foram realizadas anlises

    de solubilidade, termogravimetria (TG), calorimetria exploratria diferencial (DSC),

    densidade verdadeira, rea superficial, tamanho de partcula e difratometria de raios X

    (DRX). Os resultados mostraram que o MBZ mais solvel nos meios de HCl 0,1N e

    suco gstrico. Os difratogramas de raios X e DSC confirmaram a presena dos

    polimorfos A (amostras 1, 5, e 8) e C (amostras 2, 4, 6 e 7). Alm disso, encontrou-se

    uma mistura das duas formas polimrficas na amostra 3.

    Palavras-chave: mebendazol, caracterizao fsico-qumica.

  • 45

    1. Introduo

    A infeco por helmintos considerada uma doena crnica, que prejudica

    gravemente a sade dos habitantes dos pases tropicais ou subtropicais de baixa renda

    econmica. Estima-se que mais da metade da populao mundial possa estar infestada

    por helmintos gastrointestinais, sobretudo nos pases em desenvolvimento, onde

    existem condies precrias de saneamento bsico e baixo nvel educacional da

    populao (RANG et al., 2007; GEARY et al., 2010).

    O mebendazol (MBZ) (FIGURA 1) um anti-helmntico de amplo espectro que

    possui atividade larvicida e ovicida. til no tratamento da ascaridase, enterobase,

    tricurase, ancilostomase e tenase (GEARY et al., 2010). Sua designao qumica

    metil 5-benzoil benzimidazol-2-carbamato e apresenta-se comercialmente na forma de

    comprimidos de 100 mg e suspenses de 100 mg/5mL (KOROKOLVAS; FRANA,

    2009).

    FIGURA 1. Estrutura qumica de MBZ

    Muito embora o MBZ apresenta baixa solubilidade, o frmaco designado como

    classe II ou IV de acordo com o Sistema de Classificao Biofarmacutica (SCB), uma

    vez que sua permeabilidade no esta adequadamente estabelecida (LINDENBERG;

    KOPP; DRESSMAN, 2004).

    O MBZ apresenta trs formas polimrficas: A, B e C, que foram caracterizadas

    por Himmelreich, Rawson e Watson (1977) atravs de estudos de difrao de raios X e

    anlise trmica. Segundo Costa et al. (1991), estas formas cristalinas possuem

    diferenas de solubilidade em sistemas bifsicos octanol-tampo pH 1,2 e pH 7,3. O

    mesmo comportamento foi observado em cido clordrico 0,03N, no qual a forma B

    apresentou-se mais solvel do que C e esta mais solvel que A. Resultado semelhante

  • 46

    foi observado no estudo de Swanepoel et al. (2002), quando a solubilidade desses

    polimorfos foi medida em cido clordrico 0,1M a 30C.

    Sabe-se que as formas polimrficas de um mesmo frmaco podem apresentar

    diferentes propriedades fsico-qumicas, tais como solubilidade, velocidade de

    dissoluo, estabilidade fsica, entre outras (VIPPAGUNTA; BRITTAIN; GRANT, 2001).

    Portanto, uma avaliao dos polimorfos presentes em amostras comerciais de MBZ

    muito importante para a produo de formas farmacuticas que contenham o frmaco.

    Assim, o presente trabalho tem como objetivo identificar os polimorfos existentes em

    amostras comerciais de MBZ.

    2. Material e Mtodos

    2.1 Materiais

    Oito amostras de MBZ foram obtidas de diferentes indstrias farmacuticas

    brasileiras e designadas com nmeros de 1 a 8. Empregaram-se os meios tampo

    citrato pH 3,0, tampo acetato pH 4,5, tampo fosfato pH 5,8 e tampo fosfato

    potssico pH 6,8 para os ensaios de solubilidade, que foram preparados conforme

    indicado pela Farmacopeia Americana (THE UNITED STATE PHARMACOPEIA, 2009).

    Alm disso, utilizaram-se outros meios, tais como HCl 0,1N, HCl 0,01N, suco gstrico

    pH 1,2, lauril sulfato de sdio (LSS), nas concentraes de 0,1%, 0,5% e 1% e gua

    deionizada.

    2.2 Difratometria de raios X (DRX)

    As anlises de DRX foram realizadas na linha D10B-XPD do Laboratrio

    Nacional de Luz Sncontron (LNLS) (Campinas, So Paulo). Para a realizao das

    anlises, as amostras foram acondicionadas em capilares de vidro de borosilicato de

    0,7 mm de dimetro, temperatura ambiente, durante 5 segundos de irradiao e

    passo angular de 0,01. O comprimento de onda empregado foi de =1,239277 . Os

    resultados foram plotados no programa de refinamento de estruturas Topas Academic

    V4.1.

  • 47

    2.3 Termogravimetria (TG)

    Para a anlise termogravimtrica foi empregado equipamento TGA 2950 (TA

    Instruments, New Castle, USA) no intervalo de temperatura de 25C a 600C. Utilizou-

    se um cadinho de platina no qual a amostra foi pesada e acondicionada. A quantidade

    de mebendazol analisada foi de 15 a 17 mg, na razo de aquecimento de 20C/min.,

    sob atmosfera dinmica de nitrognio, com vazo de 100 mL/min.

    2.4 Calorimetria Exploratria Diferencial (DSC)

    Na anlise calorimtrica das amostras empregou-se o equipamento DSC 2920

    (TA Instruments, New Castle, USA) no intervalo de temperatura de 25C a 350C.

    Utilizou-se uma cpsula de alumnio fechada, na qual a amostra foi acondicionada. A

    quantidade de mebendazol analisada foi de aproximadamente 3,0 mg, na razo de

    aquecimento de 10C/min., sob atmosfera dinmica de nitrognio com vazo de 50

    mL/min.

    2.5 Solubilidade

    A solubilidade do frmaco foi determinada pelo mtodo do equilbrio, no qual um

    excesso de frmaco colocado em um solvente e agitado em temperatura constante

    por perodo prolongado, at que se atinja o equilbrio.

    As anlises foram executadas em triplicata, mediante o emprego de frascos

    plsticos com tampa, para os quais foram transferidos 50 mg de MBZ e 20 mL do meio.

    Estas suspenses foram submetidas a agitao em equipamento Tecnal TE-420

    (Tecnal, Piracicaba, SP, Brasil) a 150 rpm por 72 horas, temperatura constante de

    37C. Posteriormente, as suspenses foram filtradas e analisadas por

    espectrofotometria ultravioleta, em espectrofotmetro UV-Vis Cary 50 (Vankel, North

    Caroline, USA).

    Analisaram-se, inicialmente, duas amostras de MBZ (2 e 7) escolhidas ao acaso,

    e, a partir dos resultados obtidos, foram selecionados os seguintes meios nos quais o

  • 48

    frmaco apresentou maior solubilidade: suco gstrico, HCl 0,01N, HCl 0,1N e lauril

    sulfato de sdio (LSS), nas concentraes de 0,1, 0,5 e 1%.

    2.6 Densidade verdadeira

    Para a determinao da densidade verdadeira foi empregado picnmetro de

    hlio modelo Ultropycnometer 1000 (Quantachrome Instruments, Boynton Beach,

    USA). A quantidade de amostra utilizada foi de aproximadamente 2,0 gramas.

    2.7 Determinao da rea superficial

    As anlises de rea superficial foram conduzidas em equipamento Nova 2200e

    Surface Area & Pore Size Analizer (Quantachrome Instruments, Boynton Beach, USA),

    utilizando-se nitrognio ultrapuro como gs de anlise. Empregou-se porta-amostra de

    vidro previamente calibrado e a quantidade de amostra utilizada foi de 0,9 a 1,4g.

    2.8 Anlise de tamanho de partcula

    As anlises foram realizadas no equipamento Particle Size Analyzer 1090 (Cilas,

    Orleans, Frana) no mdulo de via mida. Para a conduo dos ensaios utilizou-se o

    analisador granulomtrico com dois lasers, abrangendo a faixa de leitura de 0,04 a 500

    m. O meio utilizado para a leitura e o preparo das amostras foi uma soluo aquosa do

    frmaco. Para a preparao dos ensaios se empregou 60 mg de MBZ e 40 mL de gua.

    Aps adio do meio dispersante, as amostras foram deixadas sob agitao por dez

    minutos, seguidos de trinta segundos de ultrassom, tempo suficiente para permitir a

    disperso adequada das partculas.

    3. Anlises multivariada

    Foram realizadas anlises multivariadas de agrupamento hierrquico e

    componentes principais, sendo utilizadas as variveis densidade verdadeira, rea

    superficial, solubilidade em HCl 0,1N e dimetro mdio de partcula em software

    Statistica 10.0. Para as anlises de agrupamento foi adotada a medida da distncia

    euclidiana, para avaliao de semelhana entre os grupos e o mtodo de Ward, como

    estratgia de agrupamento. Nas anlises de componentes principais foram

  • 49

    considerados os maiores valores para a criao das variveis latentes ortogonais (CP1

    e CP2) e dos grficos bidimensionais, de modo a reter maior quantidade de informaes

    das variveis originais.

    4. Resultados e Discusso

    Na FIGURA 2 so apresentados os difratogramas de raios X das amostras de

    MBZ, nos quais possvel observar que as amostras 1, 5 e 8 apresentaram picos de

    difrao em 6,15 na posio 2, caracterstico do polimorfo A (FERREIRA et al., 2010).

    No entanto, as amostras 2, 4, 6 e 7 apresentaram picos em 3,94 (2), uma

    caracterstica do polimorfo C. Em relao amostra 3, observou-se a mistura dos dois

    polimorfos (A e C), uma vez que esta apresentou picos de difrao tanto em 3,94,

    como em 6,15. Porm, uma avaliao mais detalhada aponta, tambm, a existncia de

    picos bastante discretos em 6,15, nas amostras 4, 6 e 7, o que parece indicar que o

    polimorfo A tambm est presente, mesmo que em pequenas quantidades.

    Diante de tais resultados, foi realizada uma quantificao das formas

    polimrficas, por intermdio da medida da intensidade dos picos de difrao de cada

    amostra. Assim, verificou-se que as amostras 4, 6 e 7 apresentaram 3,09, 1,16 e

    5,12% do polimorfo A, respectivamente (TABELA 1). As amostras 1 e 5 apresentaram

    100% deste polimorfo , enquanto que a amostra 2 apresentou 100% do polimorfo C.

    Estes dados so coerentes com os difratogramas de raios X ( FIGURA 2).

    TABELA 1 - Porcentagem de massa dos polimorfos A e C encontrados nas amostras

    de MBZ, obtidas atravs da intensidade emitida pelos picos de DRX das amostras

    Amostras Polimorfo A (%) Polimorfo C (%)

    1 100,00 0,00 2 0,00 100,00 3 52,57 47,43 4 3,09 96,91 5 100,00 0,00 6 1,16 98,39 7 5,12 94,88 8 99,88 0,12

  • 50

    FIGURA 2. Difratogramas de raios X das oito amostras de MBZ, plotadas no programa

    de refinamento de estruturas Topas Academic V4.1.

  • 51

    A anlise termogravimtrica (FIGURA 3 e TABELA 2) indicou que as amostras de

    MBZ foram termicamente estveis em temperaturas inferiores a 210C e que a

    decomposio trmica ocorreu em dois eventos, sendo o primeiro na faixa de 225 a

    255C e o segundo ao redor de 300 a 345C. Observou-se, tambm, que o processo de

    decomposio trmica das amostras foi semelhante, o que no permitiu diferenci-las.

    Com relao porcentagem de perda de massa, verificou-se que as amostras

    apresentaram perda na faixa de 14,70 a 15,70%, para o primeiro evento, e de 26,50 a

    27,50%, para o segundo evento. A porcentagem de resduo encontrou-se na faixa de

    57,60 a 59,50%.

    FIGURA 3. Curva TG das amostras de MBZ, razo de aquecimento 20C/min, no

    intervalo de temperatura de 25C at 600C sob atmosfera dinmica de N2.

  • 52

    TABELA 2 - Dados sobre a temperatura de decomposio das amostras de MBZ

    As curvas de DSC das amostras de MBZ (FIGURA 4) mostraram a ocorrncia de

    dois eventos endotrmicos bem definidos: o primeiro, na faixa de 250 a 265C, e o

    segundo, entre 304 e 330C. Este ltimo encontra-se dentro da faixa de fuso do

    frmaco (KUMAR et al., 2008; SWANEPOEL et al., 2002).

    Relacionando as curvas DSC destas amostras (FIGURA 4) com as curvas TG,

    pode-se verificar que o primeiro evento endotrmico esta associado primeira perda de

    massa na curva termogravimtrica (FIGURA 3). Porm em aparelho convencional de

    medio de ponto de fuso se observou fuso aparente com escurecimento do

    material, que corresponderia fuso com decomposio do frmaco na curva DSC

    (FIGURA 4). O segundo evento endotrmico corresponde decomposio do frmaco

    com carbonizao.

    As curvas de DSC das amostras 2, 4, 6 e 7 apresentaram a ocorrncia de um

    evento exotrmico situado na faixa de 190 e 195C, tpico do polimorfo C. Estudos

    relacionados caracterizao de MBZ indicaram que a forma polimrfica C muito

    estvel sob condies ambientais. Entretanto, quando submetida ao estresse trmico,

    ocorre a converso para a forma mais estvel (forma A), devido transio cristalina

    que acontece em torno de 200 a 225C (VILLIERS et al., 2005). Este fato foi observado

    nas curvas DSC destas amostras, onde o polimorfo C se converteu ao polimorfo A na

    faixa de 190 a 212C. Mediante estas informaes, pode-se dizer que o primeiro evento

    Amostras

    1 Evento 2

    Evento

    Resduo (%) Tpico DTG (C)

    Perda de massa (%)

    Tpico DTG (C)

    Perda de massa (%)

    1 252 15,0 341 11,3 58,9

    2 242 15,5 340 12,1 57,9

    3 244 15,7 344 11,8 65,7

    4 244 15,3 337 12,0 57,7

    5 245 15,5 344 12,6 59,5

    6 245 15,0 336 12,0 58,1

    7 243 14,7 334 11,9 58,3

    8 248 15,0 342 11,7 58,5

  • 53

    endotrmico das amostras corresponde fuso com decomposio do polimorfo A e o

    segundo a decomposio do frmaco.

    FIGURA 4. Curvas DSC das amostras de MBZ, razo de aquecimento 10C/min, no

    intervalo de temperatura de 25C at 350C sob atmosfera dinmica de N2.

    As informaes obtidas atravs das curvas de DSC confirmaram os resultados

    de DRX, j que as amostras 2, 4, 6 e 7 apresentaram comportamento tpico do

    polimorfo C e as amostras 1, 5 e 8 comportamento caracterstico do polimorfo A.

    Porm, na amostra 3, o ensaio de DSC indicou curva caracterstica do polimorfo A

    enquanto que o espectro de DRX revelou a existncia dos dois polimorfos (A e C).

    O ensaio de solubilidade (FIGURA 5) indicou que o MBZ mais solvel nos

    meios HCl 0,1N e suco gstrico. Para os meios contendo tensoativo, a solubilidade

    aumentou proporcionalmente concentrao de LSS. Assim, selecionaram-se os meios

    mais solveis para os ensaios de solubilidade de todas as amostras.

  • 54

    FIGURA 5. Quantidade de MBZ solubilizada (mg/mL) em suco gstrico (Suco G.), cido

    clordrico (HCl) 0,1N, HCl 0,01N, tampo citrato pH 3,0, tampo acetato pH 4,5, tampo

    fosfato pH 5,8, tampo fosfato potssico pH 6,8, gua deionizada, lauril sulfato de sdio

    (LSS), nas concentraes de 0,1%, 0,5% e 1%, para as amostras 2 e 7.

    As amostras 2, 4, 6 e 7 apresentaram maior solubilidade em HCl 0,1N e suco

    gstrico que as demais (FIGURA 6) e os resultados das anlises de DSC e DRX das

    mesmas indicaram a presena do polimorfo C na porcentagem de 100%, 96,91%,

    98,39% e 94,88%, respectivamente. Esse fato poderia explicar a maior solubilidade

    destas amostras, j que o polimorfo C mais solvel do que o A. A amostra 3

    apresentou baixa solubilidade, que pode ser explicada pela existncia do polimorfo A e

    pela menor porcentagem do polimorfo C (47,43%). As amostras 1, 5 e 8

    corresponderam forma polimrfica A, o que explicaria a baixa solubilidade das

    mesmas.

  • 55

    FIGURA 6. Quantidade de MBZ solubilizada (mg/mL) em cido clordrico (HCl)

    0,1N, suco gstrico (Suco G.), HCl 0,01N e lauril sulfato de sdio (LSS), nas

    concentraes de 0,1%, 0,5% e 1%, para as amostras 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7 e 8.

    Os valores de densidade verdadeira (TABELA 3) indicaram que as amostras 1, 2

    e 7 apresentaram maior densidade, enquanto que a amostra 8 a de menor densidade.

    Observou-se, tambm, semelhana de valores entre as amostras 3, 4, 5 e 6. Pelos

    resultados apresentados, pode-se dizer que a densidade verdadeira destas amostras

    no influenciada pela estrutura cristalina do frmaco, j que amostras com maior

    densidade pertencem tanto ao polimorfo A (amostra 1) como ao C (amostras 2 e 7).

    Na TABELA 3, apresentam-se, tambm, os valores de rea superficial e dimetro

    mdio de partcula. Comparando-se as amostras 2, 4, 6 e 7, que apresentam o

    polimorfo C em sua composio, observou-se que, quanto maior a porcentagem

    deste polimorfo (TABELA 1), maior a rea superficial.

    Com relao s amostras 1, 5 e 8 (polimorfo A), no se verificou

    proporcionalidade entre os valores de rea superficial e a porcentagem do polimorfo A.

  • 56

    Apesar das trs amostras apresentarem praticamente a mesma quantidade dessa

    forma polimrfica.

    TABELA 3 - Valores de densidade verdadeira (g/mL), rea superficial (m2/g) e dimetro

    mdio de partculas (m) das amostras de mebendazol. Os valores entre parnteses

    indicam os respectivos desvios-padro (DP)

    Amostras Densidade ASBET Dimetro mdio

    1 (1,46 0,01) 5,80 (5,95 0,16) 2 (1,47 0,01) 17,18 (11,90 0,31) 3 (1,44 0,01) 22,16 (8,24 0,34) 4 (1,43 0,01) 7,95 (5,58 0,20) 5 (1,45 0,01) 16,61 (3,69 0,04) 6 (1,43 0,01) 9,01 (7,43 0,53) 7 (1,47 0,01) 6,80 (5,22 0,22) 8 (1,42 0,01) 7,11 (3,83 0,09)

    Na TABELA 4 esto apresentados os dimetros das partculas a 10, 50 e 90%.

    Verificou-se que a amostra 2 apresentou maior tamanho de partcula nos trs

    porcentagens. Na FIGURA 7, observa-se claramente que a amostra 2 apresenta

    distribuio granulomtrica unimodal, bem definida, na faixa de 10 a 25 m, mostrando

    distribuio homognea de suas partculas.

    Por outro lado, observou-se que as amostras 5 e 8 apresentaram menor

    tamanho de partcula quando em comparao s demais. Alm disso, verificou-se que

    nas porcentagens a 10 e 50% a amostra 5 indicou grau de micronizaco superior

    amostra 8; entretanto, na porcentagem de 90% esse grau foi inferior. Pode-se observar

    que estas amostras apresentaram distribuio granulomtrica bimodal, na faixa de 0,1 a

    10 m, indicando claramente que se tratam de amostras micronizadas.

    As amostras 1, 3, 4, 6 e 7 possuem maior grau de micronizaco em relao a 2,

    como observado pelos menores dimetros apresentados (TABELA 4). Entretanto, esse

    grau de micronizaco foi menor, quando comparado ao das amostras 5 e 8. Alm disso,

    observou-se curva granulomtrica bimodal, mostrando, assim, uma distribuio

    heterognea de suas partculas.

  • 57

    TABELA 4 - Dimetro a 10%, 50% e 90% das partculas em m das amostras de MBZ.

    Os valores entre parnteses indicam os respectivos desvios-padro (DP) de trs

    determinaes

    Amostras d(0,1) d(0,5) d(0,9)

    1 (1,02 0,05) (4,38 0,16) (13,05 0,30)

    2 (1,76 0,05) (10,81 0,15) (23,82 0,85)

    3 (1,00 0,04) (6,44 0,17) (18,17 0,85)

    4 (0,81 0,03) (3,66 0,19) (13,39 0,35)

    5 (0,40 0,01) (2,36 0,02) (9,58 0,19)

    6 (0,99 0,07) (4,19 0,22) (18,96 0,22)

    7 (0,88 0,01) (3,54 0,23) (12,16 0,31)

    8 (0,76 0,06) (2,88 0,07) (8,46 0,26)

    FIGURA 7. Distribuio de tamanho de partcula das oito amostras de MBZ obtidas pelo

    mtodo de disperso lquida.

    Quando so comparados os resultados de tamanho de partcula (TABELA 3)

    com os dados de solubilidade (FIGURA 6), verifica-se que o tamanho de partcula no

    teve impacto direto sobre a solubilidade do MBZ, pois amostras com maior tamanho

  • 58

    apresentaram maior solubilidade (2, 3 e 6). Assim, verificou-se que a solubilidade, neste

    caso, determinada pela forma cristalina do frmaco, j que as amostras que

    apresentaram maior solubilidade corresponderam ao polimorfo C.

    De acordo com a anlise de agrupamento apresentada na FIGURA 8, verifica-se

    que possvel a diviso das amostras em dois (A e B) ou at cinco (I, II, III, IV e V)

    grupos em relao aos dados de densidade, rea superficial, solubilidade e dimetro

    mdio das partculas.

    FIGURA 8. Dendograma obtido pela anlise hierrquica de agrupamento mostrando a

    diviso das amostras em dois (A e B) ou at em cinco (I, II, III, IV e V) grupos.

    Na anlise de componentes principais foi possvel a construo de um nico

    grfico bidimensional (FIGURA 9), formado pela combinao das componentes (CP1 e

    CP2) que, juntas, continham 75 % das informaes das variveis originais. A correlao

    das variveis e as componentes principais so apresentadas na TABELA 5.

    A B

    I II III IV V

  • 59

    Mediante a anlise de componentes principais foi possvel reduzir as

    informaes obtidas pelas quatro anlises realizadas (densidade, rea superficial,

    solubilidade e dimetro mdio de partcula) em duas novas variveis (CP1 e CP2) de

    modo a aproximar as amostras mais semelhantes, gerando uma distribuio mais

    coerente em relao anlise de agrupamento.

    Em relao a CP1, a varivel com maior poder de discriminao o dimetro

    mdio (-0,49), que, por apresentar correlao negativa, est relacionada com as

    amostras situadas mais esquerda do grfico. No caso da CP2, as variveis com maior

    poder de discriminao so a rea superficial (0,73) e a solubilidade (-0,51), sendo a

    primeira correlacionada positivamente, responsvel pela discriminao das amostras

    que se localizam na parte superior do grfico, e a segunda correlacionada

    negativamente, discriminante das amostras situadas na parte inferior.

    TABELA 5 - Correlao entre as variveis originais e as componentes principais (CP1 e

    CP2)

    Variveis CP1 CP2

    Densidade -0,325244 -0,212885

    ASBET -0,257501 0,735011

    Solubilidade -0,350354 -0,517340

    Dimetro mdio -0,495644 0,123527

  • 60

    FIGURA 9. Grfico bidimensional das variveis ortogonais (CP1-CP2) mostrando a

    distribuio das amostras analisadas. Em predominncia aos polimorfos C (linha

    slida), A (linha tracejada) e mistura de ambos (linha pontilhada).

    Embora, seja possvel encontrar amostras de polimorfos A e C prximas no

    grfico bimodal, as amostras que contm o polimorfo C esto situadas na regio inferior

    e do lado esquerdo do grfico, enquanto que as amostras que apresentam o polimorfo

    A, localizam-se na regio superior do lado direito do grfico, indicando regies de

    concentrao diferente para as duas formas polimrficas.

    Se essa distribuio fosse relacionada apenas com a solubilidade, a separao

    das diferentes formas polimrficas seria mais evidente, uma vez que como estudado, a

    solubilidade foi a nica varivel que influenciada pela forma polimrfica, enquanto que

    a densidade, tamanho de partcula e rea superficial no mostram alguma diferena.

  • 61

    Entretanto, ainda assim, foi possvel com a anlise de componentes principais, separar

    amostras de formas polimrficas distintas.

    4. Concluso

    As amostras comerciais de MBZ apresentaram duas formas polimrficas (A e C).

    O polimorfo A foi encontrado nas amostras 1, 5 e 8, enquanto que o polimorfo C, em

    maior porcentagem, nas amostras 2, 4, 6 e 7. A amostra 3 apresentou a mistura de

    ambas formas polimrficas em porcentagem semelhantes.

    5. Referncias bibliogrficas

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    crystal transformation of the pharmaceutically preferred polymorphism C of

    mebendazole. Journal of Pharmaceutical and Biomedical Analysis, v.38, p.435-441,

    2005.

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    mebendazole. Australian Journal of Pharmaceutical Sciences, v.6, p.123-125, 1977.

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    Determination of Mebendazole Form A Using High-Resolution