8
Rev. bras. Educ. Fís. Esp., São Paulo, v.22, n.3, p.211-18, jul./set. 2008 • 211 Intensidade de sessões Introdução Intensidade de sessões de treinamento e jogos oficiais de futebol CDD. 20.ed. 796.073 796.33 Daniel Barbosa COELHO * Vinícius de Matos RODRIGUES * Luciano Antonacci CONDESSA * Lucas de Ávila Carvalho Fleury MORTIMER * Danusa Dias SOARES * Emerson SILAMI-GARCIA * *Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional, Universidade Federal de Minas Gerais. Resumo No treinamento esportivo, a intensidade é um dos componentes mais determinantes da carga de treinamento. Entretanto, poucos estudos investigaram a intensidade de esforço (IE) de sessões de treinamento freqüentemente utilizadas por treinadores e preparadores físicos de futebol. O objetivo desse estudo foi identificar e comparar a IE de duas sessões de treinamento (coletivo e campo reduzido) com a IE de jogos de uma competição oficial de futebol. A freqüência cardíaca (FC) de oito atletas juvenis, pertencentes a um clube da primeira divisão do futebol brasileiro, foi medida e registrada durante duas sessões de treinamento (coletivo e campo reduzido) e durante seis jogos de uma competição oficial. A IE registrada nos jogos da competição oficial (166 + 3 bpm e 84 + 1,3 %FC máx ) foi maior em comparação com a IE registrada durante o treinamento coletivo (150 + 3 bpm e 75 + 1,8 %FC máx ). Não houve diferença entre a IE dos jogos da competição oficial e a IE do treinamento em campo reduzido (157 + 5 bpm e 79 + 2,6 %FC máx ). A semelhança entre as IEs do treinamento em campo reduzido e dos jogos oficiais registradas no presente estudo sugere que esta atividade pode ser utilizada como um estímulo específico de treinamento aeróbico para o futebol. UNITERMOS: Freqüência cardíaca; Campo reduzido; Coletivo. A medida da freqüência cardíaca (FC) é usada como método válido e prático para se estimar a de- manda fisiológica durante diversas atividades, in- clusive no futebol (BANGSBO, 1994; CAPRANICA, TESSITORE, GUIDETTI & FIGURA, 2001; ESPOSITO & IMPELLIZZERI, 2004). Com o desenvolvimento de monitores portáteis de FC que armazenam as in- formações sem a necessidade da utilização de monitores de pulso, o que é proibido pelas regras desse esporte, tornou-se possível a caracterização da demanda fisiológica associada com os jogos. De fato, diversos estudos identificaram a intensidade de es- forço (IE) dos jogos de futebol com o uso da FC (ALI & FARRALLY, 1991; HELGERUD, ENGEN, WISLOFF & HOFF, 2001; MOHR, KRUSTRUP, NYBO, NIELSEN & BANGSBO, 2004; O'CONNOR, 2002; TUMILTY, 1993). O conhecimento mais detalhado da IE na qual os atletas de futebol realizam suas atividades durante o jogo é importante para que os treina- mentos sejam aperfeiçoados, o que poderia levar a um melhor desempenho nos jogos. Esse fato justi- fica o crescente interesse dos pesquisadores sobre esse tema (WILMORE & HASKELL,1972). Geralmente os programas de treinamento no futebol são estruturados para incorporarem três principais áreas: tática, técnica e física (FLANAGAN & MERRICK, 2002). Apesar de freqüentemente serem realizadas sessões de treinamento direcionadas para cada uma dessas áreas, é possível integrá-las em um treinamento, poupando tempo e

Carga Física Em Atletas de Futebol

Embed Size (px)

DESCRIPTION

O presente artigo fala sobre a utilização das cargas sobre atletas da modalidade de futebol durante a periodização esportiva.

Citation preview

  • Rev. bras. Educ. Fs. Esp., So Paulo, v.22, n.3, p.211-18, jul./set. 2008 211

    Intensidade de sesses

    Introduo

    Intensidade de sesses de treinamento

    e jogos oficiais de futebol

    CDD. 20.ed. 796.073

    796.33Daniel Barbosa COELHO*

    Vincius de Matos RODRIGUES*

    Luciano Antonacci CONDESSA*

    Lucas de vila Carvalho Fleury MORTIMER*

    Danusa Dias SOARES*

    Emerson SILAMI-GARCIA*

    *Escola de Educao

    Fsica, Fisioterapia e

    Terapia Ocupacional,

    Universidade Federal

    de Minas Gerais.

    Resumo

    No treinamento esportivo, a intensidade um dos componentes mais determinantes da carga detreinamento. Entretanto, poucos estudos investigaram a intensidade de esforo (IE) de sesses detreinamento freqentemente utilizadas por treinadores e preparadores fsicos de futebol. O objetivodesse estudo foi identificar e comparar a IE de duas sesses de treinamento (coletivo e campo reduzido)com a IE de jogos de uma competio oficial de futebol. A freqncia cardaca (FC) de oito atletasjuvenis, pertencentes a um clube da primeira diviso do futebol brasileiro, foi medida e registradadurante duas sesses de treinamento (coletivo e campo reduzido) e durante seis jogos de uma competiooficial. A IE registrada nos jogos da competio oficial (166 + 3 bpm e 84 + 1,3 %FC

    mx) foi maior em

    comparao com a IE registrada durante o treinamento coletivo (150 + 3 bpm e 75 + 1,8 %FCmx

    ). Nohouve diferena entre a IE dos jogos da competio oficial e a IE do treinamento em campo reduzido(157 + 5 bpm e 79 + 2,6 %FC

    mx). A semelhana entre as IEs do treinamento em campo reduzido e dos

    jogos oficiais registradas no presente estudo sugere que esta atividade pode ser utilizada como umestmulo especfico de treinamento aerbico para o futebol.

    UNITERMOS: Freqncia cardaca; Campo reduzido; Coletivo.

    A medida da freqncia cardaca (FC) usadacomo mtodo vlido e prtico para se estimar a de-manda fisiolgica durante diversas atividades, in-clusive no futebol (BANGSBO, 1994; CAPRANICA,TESSITORE, GUIDETTI & FIGURA, 2001; ESPOSITO &IMPELLIZZERI, 2004). Com o desenvolvimento demonitores portteis de FC que armazenam as in-formaes sem a necessidade da utilizao demonitores de pulso, o que proibido pelas regrasdesse esporte, tornou-se possvel a caracterizao dademanda fisiolgica associada com os jogos. De fato,diversos estudos identificaram a intensidade de es-foro (IE) dos jogos de futebol com o uso da FC(ALI & FARRALLY, 1991; HELGERUD, ENGEN, WISLOFF& HOFF, 2001; MOHR, KRUSTRUP, NYBO, NIELSEN

    & BANGSBO, 2004; O'CONNOR, 2002; TUMILTY,1993). O conhecimento mais detalhado da IE naqual os atletas de futebol realizam suas atividadesdurante o jogo importante para que os treina-mentos sejam aperfeioados, o que poderia levar aum melhor desempenho nos jogos. Esse fato justi-fica o crescente interesse dos pesquisadores sobreesse tema (WILMORE & HASKELL,1972).

    Geralmente os programas de treinamento nofutebol so estruturados para incorporarem trsprincipais reas: ttica, tcnica e fsica (FLANAGAN& MERRICK, 2002). Apesar de freqentementeserem realizadas sesses de treinamento direcionadaspara cada uma dessas reas, possvel integr-lasem um treinamento, poupando tempo e

    Joo MouraHighlight

    Joo MouraHighlight

    Joo MouraHighlight

    Joo MouraHighlight

    Joo MouraHighlight

    Joo MouraHighlightMas mesmo assim a FC em campo reduzido foi menor que a de competio 79% contra 84%.

    Joo MouraHighlight

    Joo MouraHighlight

    Joo MouraHighlight

    Joo MouraHighlight

    Joo MouraHighlight

  • 212 Rev. bras. Educ. Fs. Esp., So Paulo, v.22, n.3, p.211-18, jul./set. 2008

    COELHO, D.B. et al.

    propiciando o desenvolvimento integral e especficodos atletas (BANGSBO, 1994; HOFF, WISLOFF, ENGEN,KEMI & HELGERUD, 2002).

    No entanto, cada tipo de treinamento ir determinaruma demanda fisiolgica especfica aos jogadores. Porisso essencial quantificar a demanda fisiolgica nassesses de treinamento para que os pesquisadores etreinadores possam aplicar de forma correta cada tipode treinamento (ENISELER, 2005).

    Na preparao fsica, a intensidade das ativida-des um dos principais componentes da sobrecar-ga e determina quase sozinha a existncia ou node adaptaes positivas (DENADAI, 2000). Assim,um dos objetivos dos programas de treinamentono futebol regular adequadamente a intensidadedo treinamento (SASSI, REILLY & IMPELLIZZERI,2004). Diante disso, alguns estudos investigarammtodos de treinamento para os futebolistas.HELGERUD et al. (2001) avaliaram a intensidade deesforo em jogos realizados antes e aps um pero-do de quatro semanas de treinamento aerbiointervalado intensivo a 95% da freqncia cardacamxima (%FC

    mx), e verificaram que a intensidade

    foi maior aps o treinamento. MACHADO, SANZ eCAMERON (2003) concluram que a adio do trei-namento contnuo no limiar de lactato aumenta odesempenho de jogadores de futebol. No entanto,mesmo que os treinamentos sugeridos pelos estu-dos citados tenham surtido efeitos positivos de adap-tao ao treinamento, os mtodos utilizados noforam os mais especficos para atletas de futebol.

    Os programas de treinamento com objetivo depreparao fsica para jogadores de futebol deveriamincluir atividades fsicas especficas, tais como jogosmodificados e jogos treino contra times oponentes como objetivo de simular as situaes reais de jogo(ENISELER, 2005). Seguindo essa recomendao econsiderando a intensidade como parmetrodeterminante, alguns estudos investigaram sesses detreinamento em campo reduzido (CAPRANICA et al.,2001; HOFF et al., 2002; IMPELLIZZERI, RAMPININI &MARCORA, 2005; MILES, MCLAREN, REILLY &YAMANAKA, 1993; REILLY & WHITE, 2004; SASSI, REILLY& IMPELLIZZERI, 2004), freqentemente utilizadospelos treinadores e preparadores fsicos. Entretanto,alm de serem poucos os estudos disponveis naliteratura sobre esse tema, diferentes metodologiasforam empregadas, com variaes no nmero dejogadores, jogos femininos, masculinos e mistos. Almdisso, alguns estudos no indicaram a IE dostreinamentos em valores individualizados em %FC

    mx,

    como recomendado (KARVONEN & VUORIMAA, 1988),o que dificulta comparaes e at mesmo a aplicaoprtica.

    Portanto, o objetivo desse estudo foi identificare comparar a IE de duas sesses de treinamento (co-letivo e campo reduzido), freqentemente utiliza-das no futebol profissional masculino, com a IE dejogos de uma competio oficial de futebol, repre-sentada como o monitoramento da FC em valoresindividualizados apresentados em %FC

    mx e tam-

    bm em batimentos por minuto (bpm).

    Mtodos

    Amostra

    Participaram do estudo 26 atletas do sexo mas-culino, da categoria juvenil, pertencentes a um clubeda primeira diviso do futebol brasileiro, que man-tm treinamentos regulares e participao em com-peties reconhecidas pela Confederao Brasileirade Futebol (CBF). Entretanto, para a anlise dosdados foram utilizados apenas os atletas que parti-ciparam durante todo o tempo dos jogos oficiais edos treinamentos avaliados. Dessa forma, oito atle-tas foram selecionados. As caractersticas desses atle-tas esto descritas na TABELA 1. Destes atletas,dois eram pertencentes a cada posio desempe-nhada por eles em campo, que eram as posies deatacante, zagueiro, lateral e meio-campo.

    TABELA 1 - Caractersticas antropomtricas ecapacidade aerbia da amostra.

    Este estudo foi aprovado pelo Comit de tica emPesquisa (COEP) da Universidade Federal de MinasGerais (ETIC-476/2004) e respeitou todas as normasestabelecidas pelo Conselho Nacional da Sade (Res.196/96) envolvendo pesquisas com seres humanos.Todos os atletas voluntrios assinaram um Termo deConsentimento Livre e Esclarecido onde confirma-ram estarem cientes dos objetivos e mtodos utiliza-dos e da possibilidade de abandonar o estudo aqualquer momento sem a necessidade de justificativa.

    Valores em mdia e desvio padro.

    nedadI)sona(

    arutatsE)mc(

    arudroG%OV

    xm2

    Lm( . gk .1- nim 1- )

    8 5,61 + 5,0 0,571 + 5,6 6,9 + 3,2 3,65 + 7,2

    Joo MouraHighlight

    Joo MouraHighlight

    Joo MouraHighlight

    Joo MouraHighlight

    Joo MouraHighlightCargas de esforo de cunho descontnuo seriam, quando adequadamente dosadas, mais especficas aos atletas de futebol.

    Joo MouraHighlight

    Joo MouraHighlight

    Joo MouraHighlight

    Joo MouraHighlight

    Joo MouraHighlight

    Joo MouraHighlight

    Joo MouraHighlightQuantificado de que forma?

    Joo MouraHighlight

  • Rev. bras. Educ. Fs. Esp., So Paulo, v.22, n.3, p.211-18, jul./set. 2008 213

    Intensidade de sesses

    Procedimentos

    A FC dos jogadores foi medida e registrada du-rante duas sesses de treinamento (coletivo e cam-po reduzido) e durante seis jogos de umacompetio oficial. Todos os atletas tiveram a FCregistrada nos treinamentos e em pelo menos qua-tro dos seis jogos oficiais. As FCs mdias dos trei-namentos foram comparadas com as FCs mdiasdos jogos oficiais. A FC mdia dos jogos avaliadosfoi considerada como %FC

    mx e valores absolutos

    em bpm.Os jogos oficiais transcorriam de acordo com as

    regras oficiais da CBF, para esta categoria, que con-sistia em dois tempos de 40 minutos, mais acrsci-mos se necessrio, em campo gramado com medidasoficiais.

    O treinamento coletivo foi realizado com n-mero de atletas de um jogo normal, 11 contra 11 eno campo com medidas padro. A durao destaatividade foi de 50 minutos.

    O treinamento em campo reduzido foi realiza-do por trs equipes com oito atletas em cada, emum espao correspondente a um quarto das medi-das de um campo de futebol oficial. Esta atividadefoi contnua, dividida em cinco fases de 10 minu-tos, sendo interrompida rapidamente somente paraa troca das equipes, tendo em vista que jogavamduas por vez, e com reposio de bola constantepelos companheiros de time que no estavam jo-gando. Os atletas deste estudo participaram de qua-tro das cinco fases da atividade

    Para a medida e registro da FC, utilizou-se umconjunto de cardiofreqencmetros (Polar ElectroOy, Polar Team System, Finland). Esse equipamentopermite o registro da FC durante uma atividadesem a utilizao de um monitor de pulso, o que proibido em jogos pelas regras do futebol poroferecer risco a integridade do atleta, de seus

    companheiros e adversrios. A taxa de amostragemde FC registrada foi de 5 s em 5 s.

    Os cardiofreqencmetros foram colocados jun-to ao peito dos jogadores antes do incio dos jogose dos treinamentos. Ao trmino das atividades, eleseram recolhidos pelo pesquisador. Posteriormenteos dados armazenados eram transferidos para umcomputador por meio de um aparelho interface,catalogados e analisados no software PolarPrecision Performance SW 3,0.

    Foram avaliadas as FC do primeiro e segundotempo dos jogos oficiais e dos treinamentos para adeterminao da FC mdia de cada atividade.

    A FCmx

    foi determinada como a maior FCencontrada dentre as duas situaes descritas a seguir:

    1. Teste para a estimativa do consumo mximooxignio (VO

    2mx) (MARGARIA, AGHEMO & PIERA

    LIMAS, 1975): consistiu em percorrer uma distn-cia pr-determinada em terreno plano no menortempo possvel. No presente estudo utilizou-se adistncia de 2400 m em um local j conhecido pe-los atletas;

    2. FCmx

    durante os jogos avaliados: a maior FC decada jogador registrada ao longo dos jogos avaliadosneste estudo foi considerada como a FC

    mx durante os

    jogos (ANTONACCI, MORTIMER, RODRIGUES, COELHO,SOARES & SILAMI-GARCIA, 2007).

    A FCmx

    determinada foi utilizada para arelativizao da IE, representada como a FC regis-trada nos jogos e treinamentos.

    Anlise estatstica

    Para a anlise dos dados foi aplicada uma Anli-se de Varincia de um fator (one-way) seguida doteste de post-hoc de Tukey, quando apropriado.Os dados referentes ao monitoramento da FC soapresentados como mdia e erro padro. O nvelde significncia adotado foi p < 0,05.

    Joo MouraHighlight

    Joo MouraHighlight

    Joo MouraHighlight

    Joo MouraHighlightcomo foi determinada ou estimada a FC mxma dos atletas?

    Joo MouraHighlight

    Joo MouraHighlight

    Joo MouraHighlight

    Joo MouraHighlight

    Joo MouraHighlight

    Joo MouraHighlight

    Joo MouraHighlight

  • 214 Rev. bras. Educ. Fs. Esp., So Paulo, v.22, n.3, p.211-18, jul./set. 2008

    COELHO, D.B. et al.

    Resultados

    Como mostra a TABELA 2, a IE registradadurante os jogos da competio oficial foi maiorem comparao com a IE registrada durante otreinamento coletivo. No houve diferena entrea IE dos jogos da competio oficial e a IE dotreinamento em campo reduzido.

    TABELA 2 - Intensidade de esforo (IE) ao longo das trssituaes analisadas atravs domonitoramento da freqncia cardaca (FC)representada em valores absolutos embatimentos por minuto (bpm) e comopercentual da FC mxima (%FC

    mx).

    Valores apresentados como mdia e erro padro.

    * Diferena (p < 0,05) em relao IE dos jogos oficiais.

    O monitoramento da FC nas trs situaesavaliadas foi ilustrado em seus respectivos grficosque foram, Jogos oficiais (FIGURA 1), coletivos(FIGURA 2) e campo reduzido (FIGURA 3).

    siaicifosogoJ oviteloC odizuderopmaCaidM + PE

    )mpb(661 + 3 051 + *3 751 + 5

    aidM + PECF%(

    xm)

    48 + 3,1 57 + *8,1 97 + 6,2

    FIGURA 1 - Monitoramento da freqncia cardaca (FC) em batimentos por minuto (bpm) de um dos jogadoresque participou do estudo durante um dos jogos oficiais.

    FIGURA 2 - Monitoramento da freqncia cardaca (FC) em batimentos por minuto (bpm) de um dos jogadoresdurante o jogo coletivo.

    A linha escura no eixo

    X representa a durao

    do primeiro (42 min) e

    do segundo tempo de

    jogo (43 min), e a FC

    mdia de cada tempo

    apresentada sobre a

    mesma. A durao dos

    tempos de jogo me-

    nor que 45 min pelas

    regras dessa categoria.

    Joo MouraHighlight

    Joo MouraHighlight

    Joo MouraHighlight

  • Rev. bras. Educ. Fs. Esp., So Paulo, v.22, n.3, p.211-18, jul./set. 2008 215

    Intensidade de sesses

    FIGURA 3 - Monitoramento da freqncia cardaca (FC) em batimentos por minuto (bpm) de um terceirojogador durante o jogo em campo reduzido. O jogador avaliado participou de quatro dos cincoestmulos da atividade.

    Discusso

    Identificou-se no presente estudo que a IE, re-presentada como bpm e %FC

    mx, foi menor em jo-

    gos coletivos de futebol, freqentemente utilizadospara treinamentos, em comparao com jogos ofi-ciais desta modalidade. J o treinamento em cam-po reduzido produziu valores de FC semelhantesaos valores de FC dos jogos oficias. Essa caracters-tica se manteve quando os valores de FC foram apre-sentados em bpm ou %FC

    mx.

    A partir dos resultados obtidos pde-se identifi-car que as sesses de treinamento avaliadas foramrealizadas em uma IE intermediria (70-85 %FC

    mx)

    para atletas de futebol (COELHO, 2005; HELGERUDet al., 2001), e consideradas como alta para indiv-duos saudveis (ACSM, 1998).

    Entretanto, HOFF et al. (2002) registraram umaIE de 91,3 %FC

    mx em um jogo em campo reduzi-

    do com duas equipes compostas por cinco jogado-res cada e com constante reposio de bola. possvel que a menor IE encontrada no presenteestudo seja devido ao maior nmero de atletas emcada equipe em comparao com HOFF et al.(2002). Com isso, os jogadores teriam uma menorparticipao efetiva no jogo, o que diminuiria a IErealizada por cada atleta. Esse fato foi descrito porSASSI, REILLY e IMPELLIZZERI (2004), que registra-ram uma maior IE no treino com equipes compos-tas por quatro jogadores em comparao com otreino com equipes compostas por oito jogadores.

    Alm de HOFF et al. (2002), outros estudos in-vestigaram a IE de jogos de futebol em campo re-duzido. CAPRANICA et al. (2001) identificaram a IErealizada por jogadores de futebol de 11 anos deidade, enquanto MILES et al. (1993) registraram aIE em um jogo feminino com quatro jogadoras.No entanto, a IE avaliada nos dois estudos citadosfoi apresentada em valores absolutos de FC e noem valores relativos de %FC

    mx, como recomenda-

    do (KARVONEN & VUORIMAA, 1988), dificultando acomparao com o presente estudo.

    Os resultados do presente estudo diferem doestudo de ENISELER (2005), que encontrou valoresde FC menores em treinamentos em camporeduzido (135 28 bpm) em comparao com jogosoficiais (157 19 bpm). Essa diferena pode serdevido ao fato de que ENISELER (2005) utilizou 11jogadores em cada equipe, ao contrrio do presenteestudo que utilizou oito jogadores. Comodemonstrado por SASSI, REILLY e IMPELLIZZERI(2004), um nmero maior de atletas nos jogos emcampo reduzido faz com que a IE do treinamentodiminua. Alm disso, a IE registrada por ENISELER(2005) no treinamento em campo reduzido (135 28 bpm) foi menor em comparao com o presenteestudo (157 5 bpm e 79 2,6 %FC

    mx). No

    entanto, essa comparao torna-se difcil j queENISELER (2005) tambm no apresentou osresultados em valores relativizados como %FC

    mx,

    As linhas escuras no

    eixo X sob a linha de

    FC representam a du-

    rao de cada fase e a

    FC mdia durante cada

    uma das cinco fases do

    treinamento em que o

    atleta participou apre-

    sentada sobre as mes-

    mas.

    Joo MouraHighlightEm termos de especificidade da intensidade da carga de esforo mostra-se melhor que trabalho coletivo.

    Joo MouraHighlight

    Joo MouraHighlight

    Joo MouraHighlightportando alm de reduzir as dimenses do campo reduzir tambm o nmero de jogadores tende a elevar a intensidade.

    Joo MouraHighlight

    Joo MouraHighlight

    Joo MouraHighlight

  • 216 Rev. bras. Educ. Fs. Esp., So Paulo, v.22, n.3, p.211-18, jul./set. 2008

    COELHO, D.B. et al.

    o que seria mais adequado (KARVONEN & VUORIMAA,1988).

    De acordo com BARBANTI, TRICOLI e UGRINOWITSCH(2004), seria interessante para o desempenho em umamodalidade esportiva, que a IE do treinamento fossesimilar ou maior do que aquela imposta nas situaesde competio. Portanto, a semelhana entre as IEsdo treinamento em campo reduzido e dos jogos oficiaisregistradas no presente estudo sugere que um estmuloespecfico de treinamento aerbico para essamodalidade foi alcanado nesta atividade. J ESTEVE-LANAO, FOSTER, SEILER e LUCIA (2007) noidentificaram que as altas intensidades fossem fatoresdeterminantes no aumento do rendimento decorredores espanhis de meio-fundo, ao monitorargrupos que treinaram com programas comintensidades diferentes por um longo tempo (cincomeses). Deve-se considerar a diferena entre asespecificidades da modalidade avaliada no presenteestudo, classificada como intermitente de alta-intensidade relativo tambm a fatores como fora evelocidade determinantes, e as corridas.

    Tendo sido identificado que a IE dos treinamen-tos em campo reduzido representada em valoresabsolutos e relativizados no foi diferente da IE dejogos oficiais, supe-se como implicao deste acha-do, que estas atividades podem representar um es-tmulo de treinamento aerbio semelhante (HOFFet al., 2002) ou, s vezes, at mais intenso e espec-fico para o futebol em comparao com outros ti-pos de treinamentos, como o treinamento aerbicointervalado (SASSI, REILLY & IMPELLIZZERI, 2004).Pode-se sugerir tambm que jogos em campo re-duzido podem substituir em parte este tipo de trei-namento, com o objetivo de manter ocondicionamento fsico durante a temporada com-petitiva (REILLY & WHITE, 2004).

    J o treinamento coletivo produziu uma IE menorem comparao com os jogos oficiais. Mesmo essasendo uma atividade comumente utilizada nostreinamentos e de grande valor para o aperfeioamentotcnico e ttico dos jogadores, pode no representarum estmulo to eficiente no aperfeioamento emanuteno da capacidade aerbia.

    Abstract

    Intensity of training sessions and of official soccer matches

    The intensity of individual workout sessions is one of the most determinant components of the trainingload. However, only a few studies have investigated the intensity of the effort (IE) of training sessionsfrequently used by soccer and conditioning coaches. The purpose of this study was to compare the IE oftwo different training sessions, training game (TG) and modified game (MG), with the IE of officialsoccer matches. The heart rate (HR) of eight U-17 players, from first division Brazilian Soccer club, wasmeasured and registered during two training sessions (TG and MG) and during 6 matches of an officialcompetition. The IE during the matches of the official competition (166 + 3 bpm and 84 + 1.3 %HR

    max)

    was higher than TG (150 + 3 bpm and 75 + 1.8 %HRmax

    ). However, no difference was found betweenthe IE of official soccer matches and MG (157 + 5 bpm and 79 + 2.6 %HR

    max). Considering that the IE

    of the MG was similar to that found in official games, it may be considered as being a specific trainingstimulus for developing the aerobic capacity of soccer players.

    UNITERMS: Heart rate; Soccer match; Modified game; Training game.

    Nota

    Apoio financeiro: CAPES, CNPq, FAPEMIG e Ministrio do Esporte.

    Joo MouraHighlight

    Joo MouraHighlight

  • Rev. bras. Educ. Fs. Esp., So Paulo, v.22, n.3, p.211-18, jul./set. 2008 217

    Intensidade de sesses

    Referncias

    ALI, A.; FARRALLY, M. Recording soccer players' heart rates during matches. Journal of Sports Sciences, London, v. 9,p 183-9, 1991.AMERICAN COLLEGE OF SPORTS MEDICINE (ACSM). Position Stand. The Recommended quality of exercisefor developing and maintaining cardiorespiratory and muscular fitness, and flexibility in healthy adults. Medicine andScience in Sports Exercise, Madison, v.30, n.6, p.975-91, 1998.ANTONACCI, L.; MORTIMER, L. F. ; RODRIGUES, V. M.; COELHO, D.B.; SOARES, D.D. SILAMI-GARCIA,E. Competition, estimated, and test maximum heart rate. Journal of Sports Medicine and Physical Fitness, Torino,v.47, p.418-21, 2007.BANGSBO, J. The physiology of soccer, with special reference to intense intermittent exercise. Acta PhysiologicaScandinavica, Stockholm, v.151, 1994. Suplementum 619.BARBANTI, V.J.; TRICOLI, V.; UGRINOWITSCH, C. Relevncia do conhecimento cientfico na prtica do treina-mento fsico. Revista Paulista de Educao Fsica, So Paulo, v.18, p.101-9, 2004.CAPRANICA, L.; TESSITORE, A.; GUIDETTI, L.; FIGURA, F. Heart rate and match analysis in pre-pubescentsoccer players. Journal of Sports Sciences, London, v.19, n.6, p.379-84, 2001.COELHO, D.B. Determinao da intensidade relativa de esforo de jogadores de futebol de campo durante jogosoficiais, usando-se como parmetro as medidas da freqncia cardaca. 2005. 114f. Dissertao (Mestrado em Educa-o Fsica) - Universidade Federal de Minas Gerais. Belo Horizonte, 2005.DENADAI, B.S. (Org.). Avaliao aerbia: determinao indireta da resposta do lactato sangneo. Rio Claro: Motrix, 2000.ENISELER, N. Heart rate and blood lactate concentrations as predictors of physiological load on elite soccer players duringvarious soccer training activities. Journal of Strength and Conditioning Research, Champaign, v.19, n.4, p.799-804, 2005.ESPOSITO, F.; IMPELLIZZERI, F.M. Validity o heart rate as an indicator of aerobic demand during soccer activitiesin amateur soccer players. European Journal Applied Physiology, Berlin, v.93, p.167-72, 2004.ESTEVE-LANAO, J.; FOSTER, C.; SEILER, S.; LUCIA, A. Impact of training intensity distribution on performancein endurance athletes. Journal of Strength and Conditioning Research, Champaign, v.21, n3, p.943-9, 2007FLANAGAN, T.; MERRICK, E. Quantifying the work-load of soccer players. In: WORLD CONGRESS OF SCIENCEAND FOOTBALL, 4., 1999, Sydney. Proceedings... London: E & FN Spon, 2002. p.341-9.HELGERUD, J.; ENGEN, L.C.; WISLOFF, U.; HOFF, J. Aerobic endurance training improves soccer performance.Medicine and Science in Sports Exercise, Madison, v.33, n.11, p.1925-31, 2001.HOFF, J.; WISLOFF, U.; ENGEN, L.C.; KEMI, O.J.; HELGERUD, J. Soccer specific aerobic endurance training.British Journal of Sports Medicine, Loughborough, v.36, p.218-21, 2002.IMPELLIZZERI, F.M.; RAMPININI, E.; MARCORA, S.M. Physiological assessment of aerobic training in soccer.Journal of Sports Science, London, v.23, p.583-92, 2005.KARVONEN, J.; VUORIMAA, T. Herat hate and exercise intensity during sports activities; practical application. SportsMedicine, Auckland, v.5, p.303-12, 1988.MACHADO, M.; SANZ, A.L.; CAMERON, L.C. Lactacidemia no futebol. Fitness e Performance Journal, Rio deJaneiro, v.2, n.6, p.357-63, 2003.MARGARIA, R.; AGHEMO, P.; PIERA LIMAS, F. A simple relation between performance in running and maximalaerobic power. Journal of Applied Physiology, Bethesda, v.38, n.2, p.351-2, 1975.MILES, A.; McLAREN, D.; REILLY, T.; YAMANAKA, K. An analysis of physiological strain in four-a-side women'ssoccer. In: WORLD CONGRESS OF SCIENCE AND FOOTBALL, 2., 1991, Eindhoven. Proceedings... London: E& FN Spon, 1993. p.140-5.MOHR, M.; KRUSTRUP, P.; NYBO, L.; NIELSEN, J.J.; BANGSBO, J. Muscle temperature and sprint performanceduring soccer matches - beneficial effect of re-warm-up at half-time. Scandinavian Journal of Medicine and Science inSports, Stockholm, v.14, p.156-62, 2004.O'CONNOR, D. Time motion analysis of elite touch players. In: WORLD CONGRESS OF SCIENCE ANDFOOTBALL, 4., 1999, Sydney. Proceedings... London: E & FN Spon, 2002. p.126-36.REILLY, T.; WHITE, C. Reability of heart rate recorded during soccer training. Journal of Sports Science, London,v.22, n.6, p.559, 2004.SASSI, R.; REILLY, T.; IMPELLIZZERI, F. A comparison of small-sided games and interval training in elite professionalsoccer players. Journal of Sports Science, London, v.22, n.6, p.562, 2004.

  • 218 Rev. bras. Educ. Fs. Esp., So Paulo, v.22, n.3, p.211-18, jul./set. 2008

    COELHO, D.B. et al.

    ENDEREO

    Daniel Barbosa CoelhoLaboratrio de Fisiologia do Exerccio

    Escola de Educao Fsica, Fisioterapia e Terapia OcupacionalUniversidade Federal de Minas Gerais

    Av. Presidente Antnio Carlos, 662731270-901 - Belo Horizonte - MG - BRASIL

    e-mail: [email protected]

    Recebido para publicao: 04/01/2007

    1a. Reviso: 10/03/2008

    2a. Reviso: 04/08/2008

    3a. Reviso: 15/08/2008

    Aceito: 03/09/2008

    TUMILTY, D. The relationship between physiological characteristics of junior soccer players and performance in a gamesimulation. In: WORLD CONGRESS OF SCIENCE AND FOOTBALL, 2., 1991, Eindhoven. Proceedings... London:E & FN Spon, 1993. p.281-6.WILMORE, H.J.; HASKELL, W.L. Body composition and endurance capacity of professional football players. Journalof Applied Physiology, Bethesda, v.33, n.5, p.564-7, 1972.