Carlos Yoba A educação social e a contribuição das famílias em Angola

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A educação social e a contribuição das famílias em Angola.

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    A educao social e a contribuio das famlias em Angola.

    Carlos Pedro Clver Yoba1

    Francisco Antnio Macongo Chocolate2

    Resumo

    Presente trabalho teve como espao de pesquisa a regio de Cabinda, Repblica de Angola. Com um olhar voltado para as iniciativas desenvolvidas no campo social, o objetivo do mesmo foi analisar a contribuio da instituio famlia como parceira ativa da pedagogia social na educao dos filhos, a partir do ponto de vista do trabalho social. Na sua centralidade, aborda a contribuio das famlias no processo de educao e orientao educativa dos filhos/educandos na sociedade angolana. Nessa perspectiva, a discusso voltou-se em torno da seguinte questo: Como os pais contribuem na educao dos filhos/educandos? Direccionou-se a reflexo sobre os dados obtidos atravs da aplicao de um questionrio a 36 crianas da 4 classe do ensino primrio (4 srie do ensino fundamental no Brasil) de uma escola particular e, numa pesquisa descritiva com nfase na abordagem qualitativa. Constatou-se no final do presente trabalho, que as crianas apresentavam dificuldades de aprendizagem, apatia, desnimo e extroverso como conseqncia de pouco acompanhamento dos pais/tutores nas suas atividades escolares e na observncia de uma convivncia conflituosa nos seus lares. Situao contrria a esta, deveu-se ao acompanhamento dos pais/tutores nas suas jornadas educativas e na observncia de uma convivncia harmoniosa no lar. Fica evidente, a partir dos resultados que para o desenvolvimento e aproveitamento escolar satisfatrio das crianas extremamente importante que os pas/tutores dem uma ateno particular atravs de um acompanhamento constante e sistemtico na educao dos filhos. O dilogo, as visitas na escola, a ajuda na

    1 Pr-Reitor para Cooperao Internacional da Universidade Lueji ANkonde-Lunda Norte. E-mail:

    [email protected]. 2 Licenciado em Psicologia da Educao pelo Instituto Superior de Cincias da Educao de Cabinda

    (Angola), Mestrando em Psicologia Educacional pelo Centro Universitrio Fieo (UNIFIEO) Osasco, So Paulo

    (Brasil). E-mail: [email protected].

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    soluo das dificuldades escolares so entre outros os meios essenciais para se alcanar esse desiderato.

    Palavras-chave: Educao, famlia, pais/tutores, filhos/educandos. Social education and the contribution of the families in Angola

    Abstract

    The present paper has had as the researching space the region of Cabinda, Republic of Angola. Having the view on the efforts developed in the social field, the aim of the paper is to analyze the contribution of the family institution as an active partner of social pedagogy on the childrens education, from the point of view of social work. In its central part, it addresses the contribution of the families for the processes of childrens/pupils education and educational guidance in the Angolan society. Under this perspective, the discussion has been based on the following issue: How do the countries contribute to the childrens/pupils education? It has been directed to the observation on the data obtained through the applying of a questionnaire to 36 children from the 4th grade of primary school (4th grade of basic education in Brazil) in a private school, and on a descriptive research emphasizing the qualitative approach. It has been found, in the end of present paper, that the children showed learning difficulties, apathy, discouragement and outgoing disposition as a consequence of little parents/tutors attendance on their school activities and on the observation of cohabitation full of conflicts in their homes. Due to parents/tutors attendance on their educational journey and on the observation of harmonious cohabitation, there was an opposing situation. Its obvious, from the results, that for the childrens satisfactory scholars development and benefit, it is extremely important that the parents/tutors give constant and methodical attention to their childrens education. Dialogs, visits to school and help on the difficulties from school are, among others, the essential ways to reach this wish.

    Keywords: education, family, parents/tutors, children/pupils

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    Introduo

    O presente trabalho tem como objetivo analisar a contribuio da instituio famlia como parceira ativa da pedagogia social na educao dos filhos a partir do ponto de vista do trabalho social, no mbito da pedagogia social.

    Durante o exerccio das nossas atividades profissionais como dirigentes escolares, pesquisadores de problemas sociais e professores, em cerca de dois meses de aulas numa classe da 4 srie do ensino fundamental, verificamos que um grupo de crianas apresentava-se mais expressivo, descontrado, alegre e conseqentemente com melhores resultados em termos de aproveitamento escolar. Porm, na mesma classe e sala de aula, outro grupo3, se demonstrava mais aptico, triste, desinteressado e, com os resultados escolares menos satisfatrios.

    Em conversas preliminares com as referidas crianas (as que apresentavam resultados menos satisfatrios), e numa observao do material didtico de apoio (cadernos, livros etc.) constatou-se que o problema no residia na professora e nem to pouco na escola, pois na sua maioria apresentavam as matrias desorganizadas, trabalhos de casa no realizados, entre outros aspectos.

    Durante um trabalho ainda preliminar, a descrio da sua famlia (das crianas) sempre era feita com certa timidez e apatia, com pouco sentimento de pertena e participao no seio da mesma. Estas constataes, induziram para um trabalho mais profundo e pormenorizado em relao ao problema que se apresentava, na escola, em busca de uma soluo consentnea.

    Partindo do principio de que os pais/tutores so os primeiros educadores e, tendo em conta a necessria parceria entre famlia e escola colocou-se a seguinte

    3 Cerca de metade da turma

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    questo: Como se avalia a contribuio dos pais na educao dos filhos? Esta questo ser abordada sob o prisma da educao social numa perspectiva de fortalecimento dos vnculos familiares e sociais de crianas e adolescentes em idade escolar em Cabinda-Angola.

    Est claro que primeiro na famlia e posteriormente na escola onde se adquirem, desenvolvem e se fortalecem os vnculos sociais, entendidos fundamentais para o processo de emancipao, de autonomia, promoo de direitos de cidadania, bem como na formao da personalidade do sujeito.

    de realar que o aprimoramento e fortalecimento deste vnculo tornam-se de suma importncia para o aperfeioamento das polticas iniciais da educao e no desenvolvimento da cidadania, que por sua vez, desempenha um valioso papel no processo de transformao dos indivduos e da sociedade no geral.

    Nas suas discusses tericas, Afonso (2001) sustenta que historicamente, existem trs tipos de educao: Educao formal, Educao Informal ou familiar e educao no-formal. Assim sendo, a educao formal aquela que proporcionada pela escola, onde os contedos so sistematizados, organizados e obedecendo a uma seqncia lgica.

    Para abundar mais dados sobre o assunto, Caro & Guzzo (2004) e Brando (1981), defenderam que o surgimento da instituio escolar, trouxe consigo o saber elitizado e a excluso de segmentos j marginalizados pela sociedade.

    A educao informal caracterizada por um processo permanente e no sistematizado, sendo determinado pelas vrias formas de aprendizagem que ocorrem nas diversas experincias da vida das pessoas no seio familiar. Este tipo de educao desenvolve-se em diferentes ambientes como, a famlia, igrejas, grupo de trabalho e de amigos, entre outros.

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    Finalmente, a educao no-formal ou ainda educao social postulado e defendido no mbito da pedagogia social, 4 sendo um tipo de educao que ocorre fora dos marcos da escola e que se preocupa no resgate dos valores e idias do segmento da populao excluda e desfavorecida.

    Para o presente trabalho assumida a segunda forma de educao citado por Afonso, ou seja, a educao informal ou familiar. A famlia como primeira instncia da educao, exerce um papel importante no processo de socializao e desenvolvimento dos indivduos que dela fazem parte. Na sua vertente restrita, ela apresenta aos indivduos as concepes, objetivos e finalidades educativas essenciais para a vida.

    fundamental abordar (justificativa), este tema para se entender o ritmo de aprendizagem e desenvolvimento do indivduo, sua insero e convivncia com os outros, pois permite conhecer a histria de vida do indivduo a partir da famlia, porque nela onde se comea a dar os primeiros passos para o aprendizado.

    Famlia: considerada como a instituio bsica e fundamental da sociedade. o grupo nuclear e, ao mesmo tempo, o mais antigo e primitivo. Alves (1996).

    O Relatrio para a UNESCO da Comisso Internacional sobre Educao para o Sculo XXI citado por Jacques Delors (2006) sublinha que a famlia constitui o primeiro lugar de toda e qualquer educao e assegura, por isso, a ligao entre o afetivo e o cognitivo, assim como a transmisso das normas e valores.

    A Lei Constitucional angolana (recentemente aprovada pela Assemblia Constituinte de Angola) consagra no seu Artigo 35. (Famlia, casamento e filiao) o seguinte teor:

    4 Este um pensamento fortemente defendido no Brasil e alguns pases da Amrica Latina, sustentado pelo

    Pedagogia do oprimido de Paulo Freire. Ressalta-se que este postulado embora seja referncia

    pedaggica em Angola, no assumido o termo oprimido ou excludo dentro do processo educativo

    actual, salvo numa relao ao perodo colonial.

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    1. A famlia o ncleo fundamental da organizao da sociedade e objeto de especial proteo do Estado, quer se funde em casamento, quer em unio de fato, entre homem e mulher.

    2. Todos tm o direito de livremente constituir famlia nos termos da Constituio e da lei.

    3. O homem e a mulher so iguais no seio da famlia, da sociedade e do Estado, gozando dos mesmos direitos e cabendo-lhes os mesmos deveres.

    4. A lei regula os requisitos e os efeitos do casamento e da unio de fato, bem como os da sua dissoluo.

    5. Os filhos so iguais perante a lei sendo proibida a sua discriminao e a utilizao de qualquer designao discriminatria relativa filiao.

    6. A proteo dos direitos da criana, nomeadamente, a sua educao integral e harmoniosa, a proteo da sua sade, condies de vida e ensino, constituem absoluta prioridade da famlia, do Estado e da sociedade.

    7. O Estado, com a colaborao da famlia e da sociedade, promove o desenvolvimento harmonioso e integral dos jovens e adolescentes, bem como a criao de condies para a efetivao dos seus direitos polticos, econmicos, sociais e culturais e estimula as organizaes juvenis para a persecuo de fins econmicos, culturais, artsticos, recreativos, desportivos, ambientais, cientficos, educacionais, patriticos e do intercmbio juvenil internacional.

    Referncias sobre a famlia encontraram-se ainda, no cdigo da famlia sob tutela do Ministrio da Famlia e Promoo da Mulher no artigo 1 a 5, destes, citamos o artigo 2;

    1. A famlia deve contribuir para a educao de todos os seus membros no esprito de amor ao trabalho, do respeito pelos valores culturais e do combate a concepes ultrapassados no seio do povo, da luta contra a explorao e a opresso e de fidelidade a ptria e revoluo;

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    2. A famlia deve contribuir para o desenvolvimento harmonioso e equilibrado de todos os seus membros para que cada um possa realizar plenamente a sua personalidade e as suas aptides no interesse de toda a sociedade.

    Para a realidade angolana e de acordo com a legislao em vigor, a famlia configura o ncleo da sociedade. Isto quer dizer que a famlia constitui o ponto de partida e chegada de toda a sociedade. Ela pode ser tomada como sendo o sustentculo da sociedade porque sem a procriao que se efectua no seio familiar, no se pode construir uma sociedade.

    Nesta base de concepes, destaca-se que o homem e a mulher (progenitores), so elementos fundamentais, sendo os mesmos iguais no seio da famlia, gozando dos mesmos direitos e assumindo os mesmos deveres. Os pais j no so os senhores absolutos da lei e da ordem, nem os nicos cuidadores dos bens da famlia. Por seu turno, as mes no so unicamente as protetoras do lar e zeladoras da educao e formao dos filhos, pois hoje esta tarefa deve ser realizada em conjunto.

    profunda a convico, de que toda a estrutura existencial do pas passa atravs da organizao e funcionamento consentneos da famlia. A existncia de uma famlia endmica transfere endemia sociedade, afetando a funcionalidade deste macro meio com conseqncias imprevisveis.

    Est evidente que no seio familiar onde nasce e cresce o sujeito, recebendo dela as primeiras influncias educativas e instrutivas, porque atravs dela (famlia) como meio de socializao que o homem penetra na sociedade e estabelece contactos com outros grupos sociais.

    Tudo quanto se pode entender, que a famlia, tem a elevada responsabilidade de contribuir para o desenvolvimento harmonioso e equilibrado de todos os seus membros, no sentido de que cada um possa formar adequadamente a sua

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    personalidade e participar ativamente na transformao da sociedade na qual est inserido.

    Outros valores assumidos como morais, culturais, resumidos no amor ao trabalho, o respeito ao prximo, o amor Ptria, tm o seu incio formativo no seio da famlia, sendo esta, responsvel pela sua educao, desenvolvimento e consolidao.

    Do ponto de vista moral, este procedimento constituiu um verdadeiro desafio, dadas dificuldades de ordem poltica, econmica, social e cultural, a crise de valores que os ncleos familiares em Angola enfrentam no contexto das grandes mudanas da sociedade contempornea.

    No mundo atual, e em conseqncia das transformaes velozes que se assistem, muitas sociedades, desde as chamadas desenvolvidas s designadas menos desenvolvidas, declararam a existncia de crise de valores.

    Inicialmente, se poderia assumir que a crise de valores somente se verificasse na influncia das culturas e sociedades desenvolvidas sobre aquelas em vias de desenvolvimento, no entanto, este conceito tomou outras propores, passando a influncia ser em ambas as culturas.

    Em estudos realizados, defende-se que para a formao dos valores muito importante que a alternativa didtica que se assuma possua coerncia entre os seus fundamentos filosficos, sociolgicos e psicolgicos, e que se detenham tambm na histria do legtimo pensamento educativo de cada pas, que se interessou em diferentes momentos histricos em formar valores para a conservao e defesa das identidades nacionais e educativas, mesmo quando no exista um sustento terico apropriado para tal, (Justo Rodrigues, 2007. P. 1).

    Nesse sentido, e ainda segundo o referido autor, corresponde ao professor atual recriar e reinventar a teoria de acordo com as novas circunstncias histricas.

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    Mas de uma coisa estamos seguros, necessrio fortalecer a formao dos valores na sociedade e em especial na escola

    Embora adotando os valores positivos do modernismo, as famlias de Cabinda enfrentam grande dilema neste aspecto porque possuem usos e costumes que se traduzem em rituais tradicionais fortemente enraizados.

    Deste modo, os pais jogam um papel importante no processo da formao e da educao dos filhos, proporcionando a estes as oportunidades que lhes permitiro obter uma viso clara sobre o mundo. O contacto com as informaes e a observao de hbitos e valores dignos no lar, habilita a criana/adolescente a aprofundar e eliminar o que no tem grande importncia par si, na base das oportunidades de obteno de conhecimentos consentneos.

    Os pais/tutores e a educao dos filhos/educandos.

    A criana ao nascer no tem a noo do bem e do mal, mas leva consigo as predisposies que podem desenvolver-se como virtudes ou como defeitos. Para o efeito, Colombo (2000: 85) afirma que o exerccio e o exemplo dos pais no lar, fundamental para a criao e o desenvolvimento da virtude da temperana o que conduz no futuro a prtica do bem e do mal e no desenvolvimento harmonioso de sua personalidade.

    Diversos estudos comprovam de forma fiel que as atitudes dos pais tm influncias decisivas nas caractersticas sociais das crianas. Segundo Ruiz (2002), pas com traos anti-sociais da personalidade, alm de no transmitirem uma imagem positiva aos filhos, podem ter dificuldades para dar mostras de aprovao e incentivo para as boas atitudes de seus filhos, no respeitam sua autonomia e espao social, alm de disciplinarem inadequadamente, com excesso de permissividade quando devem ser mais fortes e exageradamente agressivos quando no precisam.

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    Por seu turno, muitas mes confundem o papel materno com a permissividade extrema em busca da simpatia dos seus filhos. Outras, por vezes, pretendem com essa absoluta falta de limites para seus filhos, serem tidas por moderas e joviais. Nos primeiros perodos de vida, a me trata basicamente de satisfazer as necessidades vitais da criana como a alimentao e o afeto. Paralelamente a isto, vo se formando comportamentos em correspondncia a manifestao da agressividade, da dependncia ou independncia do indivduo em relao aos objetos ou seres que lhe rodeiam.

    medida que a criana vai mudando, as relaes com que os seus pais vo se tornando mais intensas, complexas e subtis, porque a prpria vida lhe proporciona novos conhecimentos e experincias.

    Mtodo

    Caracterizao do estudo.

    O presente estudo caracteriza-se como uma pesquisa descritiva com nfase na abordagem qualitativa. A escolha desta rea deve-se ao fato de que os estudos descritivos procuram descrever com a maior exatido possvel os fatos e fenmenos de uma determinada realidade sociocultural.

    A abordagem qualitativa atua em nveis de realidade e tem como objetivo trazer a luz dados, indicadores e tendncias observveis de um determinado fato (SERAPIONI, 2000). Com esta abordagem trabalharam-se as informaes obtidas, por meio do questionrio aplicado com descries detalhadas de situaes em confronto com a literatura, que d sustentao anlise deste tema.

    Populao e amostra.

    A populao deste estudo constituiu-se em alunos da 4 Classe (4 Srie do Ensino fundamental no Brasil), do Colgio Dom Domingos Franque, Instituio sita na Rua

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    das Foras Armadas Bairro Povo Grande, vulgarmente conhecido como Aeroporto na cidade de Cabinda-Angola. O Colgio Dom Domingos Franque uma Instituio de Ensino particular, criado sob Decreto n 43/02 de 03 de Setembro por meio do Despacho de 08 de Outubro do Ministrio da Educao da Repblica de Angola tendo como Alvar (licena) n 45/08. A mesma ministra aulas do Ensino Primrio e I Ciclo do Ensino Secundrio.

    Dados obtidos junto da direo da referida escola, do conta que estavam matriculados no ano Acadmico 2009, um total de 1.268 alunos desde a Iniciao a 12 Classe. Desse nmero 98 alunos, sendo 54 masculinos e 44 femininos freqentavam a 4 Srie do Ensino fundamental.

    A amostra foi constituda por 36 alunos sendo 22 (61%) meninos 14 (39%) meninas que correspondem a uma turma das trs existentes nesta Instituio. As idades dos alunos variam entre 9 a 12 anos, cuja escolha deveu-se ao fato de ser nela onde se apresentavam maiores problemas de aprendizagem dos alunos, relativamente s outras duas existentes no mesmo perodo em anlise.

    Instrumento de Coleta de dados

    As informaes foram coletadas por meio de um questionrio construdo especificamente para este estudo. O mesmo foi formulado a partir de referencial emprico, cuja validade e confiabilidade foram asseguradas por uma linguagem clara, direta, simples e sem ambigidade em torno do assunto pesquisado. Portanto, considera-se que o questionrio apresenta um instrumento cientificamente utilizvel para este tipo de pesquisa, tendo em conta os objetivos preconizados e as caractersticas dos elementos envolvidos na mesma.

    O questionrio foi conduzido duma forma direta pelo fato as perguntas serem respondidas diretamente pelas prprias crianas/adolescentes, sem qualquer interferncia ou ajuda. Considerando a idade das mesmas e o seu nvel de escolaridade, foram elaboradas perguntas com alternativas de mltipla escolha

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    onde os mesmos limitaram-se apenas a escolher as alternativas que melhor se adequava a sua situao de vida.

    Procedimentos de estudo.

    A coleta de dados foi realizada no perodo de Fevereiro-Maro de 2009. No decorrer do mesmo, a equipa da pesquisa, junto com a direo da escola e a professora da classe, realizou vrios encontros com os alunos, com os pais e encarregados de educao das crianas a fim de esclarecer sobre a inteno da realizao da referida pesquisa. A equipa assegurou aos pais e encarregados de educao sobre os objetivos da realizao da pesquisa e, de igual modo, assegurou o sigilo relativamente s informaes que seriam colidas na referida pesquisa, sendo usadas apenas para fins acadmicos. Depois de apresentao do questionrio aos pais, os mesmos consentiram que os seus filhos respondessem assinalando a alternativa que melhor lhes convinha.

    A aplicao do instrumento aos participantes foi realizada na sala de aula por meio de um instrumento auto-explicativo realizado para o efeito. Antes da aplicao do referido instrumento, foi realizada uma dinmica com os alunos, como meio de familiarizar os mesmos e de assegurar um ambiente harmonioso.

    Para se evitar interpretaes inadequadas e como forma de suprir as possveis dvidas por parte dos alunos, os aplicadores leram as perguntas uma por uma sem, no entanto, interferir na resposta do aluno, pelo que, s passava para outra quando todos tivessem terminado de assinalar a alternativa que mais lhes convinha. Os aplicadores procuraram deixar claras as crianas que s poderiam escolher uma das alternativas e que no tivessem medo de responder, pois, os seus pais no saberiam das suas respostas. Aps assinarem as alternativas, terminado as perguntas os aplicadores recolheram os questionrios.

    Resultados.

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    Em funo das questes formuladas a partir do questionrio elaborado para esta pesquisa, os referidos resultados foram apresentados em tabelas que ao mesmo tempo representam as categorias de anlise criadas em relao a cada uma das perguntas do questionrio aplicado, com as suas respectivas freqncias e percentagens. As freqncias indicam o nmero de respostas ou o parecer dado pelos alunos alvos da pesquisa em relao pergunta.

    A tabela 1 que configura a primeira categoria em anlise neste estudo, apresenta os dados referentes a distribuio das crianas em lares.

    Tabela -1 Tutoria

    Fr

    %

    Pai e Me 12 33

    Pai 4 11

    Me 6 17

    Pai e Madrasta 3 8

    Me e Padrasto 7 19

    Tio ou Tia 2 6

    Irmo ou irm 2 6

    36 100

    Os dados relativos categoria dois visita a escola por parte dos pas/encarregados de educao, podem ser visualizados na tabela 2:

    Tabela - 2

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    Fr %

    Sim 17 47

    No 3 8

    Muito pouco (pois esto sempre fora de casa)

    9

    25

    S mente no final do ano para saber o resultado final

    7

    19

    36 100

    A ajuda ou no dos pais/encarregados de educao na soluo das dificuldades que os alunos encontram durante as aulas pode ser observada na tabela trs (3) que ao mesmo tempo se configura na categoria trs Colaborao dos pais

    Tabela - 3

    Fr

    %

    Sim 13 36

    No 5 14

    Algumas vezes 18 50

    36 100

    Na categoria quatro (4) e por meio da tabela com o mesmo nmero, podem ser visualizados os dados relativos s pessoas que prestam auxilio na soluo das dificuldades que os alunos apresentam relativamente ao contedo apresentado em sala de aula.

    Tabela 4

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    Fr %

    Pai ou me, tio ou tia 9 25 Irmos 15 42 Amigos 5 14

    Colegas de sala 7 19

    36 100

    A forma como os pais ou encarregados de educao gerem/solucionam os conflitos dentro do lar apresentado na tabela cinco (5), categoria 5- Soluo de conflito no seio familiar. Tabela 5

    Fr

    %

    Conversam 12 33

    Batem de imediato 11 31

    s vezes conversam mas sempre acabam batendo

    13

    36

    36 100

    Discusso

    Relativamente categoria tutoria, as percentagens nos mostram que apenas 33% das crianas vivem com os seus pais e comutativamente 67% das mesmas convivem apenas com um dos progenitores e em outras circunstncias com membros familiares diretos (Tio, Tia, irm ou irmo).

    Atendendo a situao de instabilidade sociopoltica a que esteve mergulhado o pas, esta situao em parte pode ser compreendida. Ainda sim, no deixas de ser

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    preocupante, pois, muitos desses parentes no tm dado um acompanhamento devido a estes menores.

    Estudos comprovam que as crianas e os adolescentes referem muito pior entendimento no geral com o elemento oposto dos educadores (padrasto, madrasta, tio, tia, etc.) Ruiz (2002), Fernandes (1998). O ambiente de conflito entre estes e os adolescentes, cria nos mesmos sentimentos de revolta que reduz a vontade de estudar, de continuar a viver, o que resulta muitas vezes na fuga de casa, numa tentativa de chamar ateno os seus educadores.

    Relativamente categoria visita a escola, os resultados observam que apenas 47% dos pais/encarregados de educao visitam a escola dos seus educando participando, desse modo, na vida e nos problemas atinentes a educao dos mesmos. Os outros 53%, reconhecem a importncia da escola, e mantm os seus educando nela, esperando lamentavelmente que a escola faa tudo cabendo aos mesmos apenas esperar pelo resultado final.

    Constata-se que fruto das alteraes sociais e as mudanas sucessivas dos prprios sistemas ou regimes polticos dos estados, a famlia sofre grandes transformaes. Diminuiu o nmero de filhos por casal, o casamento tornou-se mais instvel com um nmero crescente de divrcios, aumentando as famlias mono parentais e reconstrudas, as mulheres passaram a ter uma atividade profissional, estudarem at mais tarde, auferindo de independncia econmica e relegando muitas vezes a maternidade para segundo plano. Tudo isso, faz com que os pais fossem mais ausentes do que presentes no lar e na participao direta sobre a vida escolar dos filhos, remetendo esta tarefa a terceiros.

    Sendo os pais os primeiros educadores, os mesmos precisam colaborar com os professores, supervisionando nas tarefas escolares dos filhos, exigindo a realizao das tarefas e dos estudos, no permitindo que dem trabalho na sala de aula ou faltem por qualquer coisa. Devem os pais ser presentes escola, acompanhando de perto o desempenho dos filhos/educando. A criana deve sentir-se sempre acolhida nas suas preocupaes pelos seus tutores, e nunca sentir-se largada

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    dentro da escola. Para uma educao compartilhada, preciso que os pais sejam mais participativos na vida escolar de seus filhos, conhecerem os seus professores e em conjunto traarem atividades para a evoluo do filho. (Direitos da criana, 2008)

    O mais importante o dilogo. Apesar dessa correria desenfreada em busca de melhores condies de vida para as famlias, mesmo chegando tarde do trabalho, importante que observe o material escolar do filho, estar atento sobre a maneira como escreve e resolve as atividades escolares. Se for ausente durante a semana recompense essa ausncia no final de semanal, ouvindo o seu filho, pois o seu apoio muito importante para o futuro do mesmo. Dessa forma, estaremos a colaborar na educao das nossas crianas. A misso educativa dos pais uma tarefa de extrema importncia e de vital da transcendncia, por se constituir numa misso essencial de todo pai. Porm, apesar de ser uma atividade to fundamental, muitos pais, por comodismo ou negligncia, perderam a conscincia dessa grande responsabilidade de serem os primeiros e os principais educadores dos filhos.

    Os resultados expressam que poucos, ou seja, apenas 25% dos pais/tutores, prestam auxlio aos filhos/educandos na resoluo das dificuldades que os mesmos encontram na escola, comportamento que em nada ajuda o crescimento dos filhos.

    Deve-se mostrar um verdadeiro interesse pelo aprendizado dos filhos, participando das reunies escolares, acompanhando os deveres de casa, indagar sobre as suas aulas e o que teria aprendido, por se configurar em algo extremamente importante para a criana, porque percebe a preocupao dos pais para com ela, o que incentiva a sua participao na escola.

    Enquanto crianas, o lazer e o convvio com os colegas tm uma importncia primordial no processo de socializao e formao. PAIS (1993:123) refere que as culturas juvenis so fortemente viradas para o lazer, de certa forma em oposio ao saber tradicional da escola e da famlia, que privilegia a ordem e a certeza, o ensino e a transmisso de conhecimentos e experincias entre pares.

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    Embora haja certa continuidade na transmisso de valores de pais para filhos, a verdade que as crianas de hoje adquirem a sua identidade no s dentro, mas tambm fora da famlia, atravs de discursos variados que a escola e a famlia nem sempre integram. Todavia, a famlia no se pode demitir do seu papel e atribuir responsabilidades aos outros agentes educativos na formao dos seus descendentes.

    Os pais e encarregados de educao como tutores e mentores de todas as formas educativas dos filhos, devem estar dotados de conhecimentos aprofundados e reconhecidos que conferem aos mesmos, o direito de julgar e decidir sobre determinadas situaes conflituosas que ocorrem no seio da famlia. No obstante que historicamente e em todas as culturas a famlia sempre soube como educar os seus filhos, preciso considerar que especialmente em ambiente de extrema pobreza, constata-se uma perda de identidade da famlia e conseqentemente muito baixo o nvel de informao existente sobre o mundo das crianas, adolescentes e jovens, segundo ALVES (1996:224). imprescindvel que se observem os princpios de uma convivncia salutar no seio familiar onde a participao dos pais deve-se fazer sentir de maneira efetiva na vida das crianas.

    Observa-se pelos dados da tabela cinco que muitos pais para buscar a autoridade e o respeito na famlia com praticam atos que comprometem o relacionamento com os restantes membros da famlia, esquecendo-se que o homem como agente e sujeito das transformaes sociais, culturais, polticos econmicos, tem um papel de extrema importncia no processo de desenvolvimento e assentamento humano YOBA (2003:1).

    O ambiente democrtico no lar deve caracterizar-se por uma permissividade geral muito associada ao afeto. Os pais proporcionam os filhos um slido apoio emocional, evitam tomar decises arbitrrias, e mantm muito contacto com a criana Ruiz (2002: 76).

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    Nestes tipos de lares, as crianas so recompensadas pela sua curiosidade, sua atitude independente, sua capacidade de expressar opinies, idias e sentimentos, se lhes permite participar em discusses e decises da famlia, e isto garante que as crianas se tornem ativas, competitivas, extrovertidas e criativas.

    Nos lares com carter autoritrio, os pais so controladores e restringem o comportamento dos filhos, pelo que o modelo de educao no permite que sejam gratificadas e, inclusive costumam ser castigadas quando mostram curiosidade, naturalidade ou quando tentam fazer os seus direito. Ruiz (2002:79)

    Aparentemente, nos lares onde reina o conformismo se eliminou na criana a possibilidade de expressar abertamente o que faz delas, extrovertidas e sem qualquer esprito de iniciativa.

    Pelo exposto, deve-se garantir que cada famlia assegura a todos a possibilidade de se auto realizar em termos de acesso aos bens econmicos e socioculturais disponveis. necessrio que se elabore uma poltica que garanta o exerccio da cidadania no seio familiar, como por exemplo, leis que estimulam o registro do nascimento dos filhos, que habilitam a formao intelectual e profissional, a obrigatoriedade do um acompanhamento na educao dos filhos/educandos por parte dos pais/tutores.

    extremamente importante que as famlias ofeream incentivos sobre a educao no respeito da coisa pblica assumida como bem comum, no cultivo de valores cvicos socialmente aceites por todos e que assentam nos bons valores culturais e tradicionais de que so originrios.

    Concluso

    Os resultados encontrados do conta: 1. As crianas que apresentam dificuldades de aprendizagem, apatia,

    desnimo e introverso, evidenciam o pouco acompanhamento dos pais/tutores nas suas atividades escolares e na observncia de uma

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    convivncia conflituosa nos seus lares, contrariamente quelas que beneficiam de acompanhamento dos pais/tutores nas suas jornadas educativas, com observncia de uma convivncia de harmonia no lar;

    2. Os pais/tutores devem prestar uma ateno particular no acompanhamento da educao dos filhos, com recurso ao dilogo, as visitas a escola, a ajuda na soluo das dificuldades escolares;

    3. Os sinais de desestruturao observados nas famlias so conseqncia dos divrcios e as ausncias constantes dos pais/tutores em casa, o que conduz um nmero considervel de crianas viver apenas com um dos progenitores e/ou outros parentes prximos;

    4. As ausncias dos pais nos lares fazem com que as crianas se sintam abandonadas e procurem ajuda nos grupos mais prximos, o que compromete a estabilidade necessria ao pleno desenvolvimento das mesmas;

    5. A falta de uma habitao condigna, de rendimento suficiente para a educao dos filhos, faz com que muitos pais/tutores estejam ausentes de casa e com isso distante do acompanhamento da educao dos seus filhos remetendo essa misso para terceiros;

    6. Ante a crise de valores generalizada no mundo atual e na famlia o Governo de Angola em estreita cooperao com os seus parceiros nacionais e internacionais, tem encetado iniciativas tendentes a refletir sobre a relao conjugal e a educao das crianas, assim como a assistncia na sade;

    7. A famlia em colaborao com o Estado deve assegurar a proteo e igualdade para que as crianas atinjam o seu integral desenvolvimento fsico e psquico, garantindo um futuro desenvolvimento sustentvel da sociedade;

    8. A famlia em Cabinda-Angola em colaborao com o estado deve educar as crianas dentro da cidadania, respeitando os preceitos culturais e sociais da sua populao.

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