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1 Rio, 22 de dezembro de 2010. Excelentíssimos senhores, Peço a V.Sas. inicialmente, desculpas por escrever-lhes a todos no mesmo email mas, em função da singularidade do assunto, não vejo qualquer prejuízo nesse contato que tento, agora, estabelecer. A relação dos destinatários do presente email segue ao final deste. Após aprovação, em 2001, no concurso público promovido pela Universidade Candido Mendes, passei a lecionar Direito Processual Civil no início de 2002. Porém, a Universidade, que se encontra pelo menos o Campus Centro numa acentuada crise financeira, chegou ao extremo de beirar o início de um semestre sem ter pago nenhum salário do semestre anterior. Digo isso porque estou hoje, às vésperas do final do ano de 2010, sem salários desde junho; o último salário recebido por mim foi aquele, referente a maio do mesmo ano. Não recebi, sequer, o Décimo-terceiro salário de 2009... Não obstante, o reitor da Universidade Candido Mendes e Presidente da sua Mantenedora, Sociedade Brasileira de Instrução, continua a promover eventos à expensas da Instituição, tais como distribuição de Títulos Doutor Honoris Causas , conferência da Academia da Latinidade para a qual convidou intelectuais estrangeiros e, claro, continua a viajar mundo afora como se não houvesse qualquer problema que demande a sua atenção. Na semana passa, o reitor Candido Mendes estava na Holanda, como informaram alguns... Eu, diferentemente dos demais Professores da Instituição, resolvi demonstrar a minha indignação com a situação que nos é imposta por esse reitor e reclamar providências, há muito atrasadas. E, legitimando a minha dúvida acerca da real situação financeira da Universidade Candido Mendes, observo que os demais Campi estão pagando seus professores e funcionários o que, sendo a mesma fonte pagadora a Mantenedora Sociedade Brasileira de Instrução não faz qualquer sentido e suscita muitas especulações... Todavia, da referida Carta Aberta que enviei em setembro de 2010, quando resolvi publicar a minha indignação ao declinar do convite para ouvir o reitor falar, embora tenha despertado a sua ira que acarretou no procedimento

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Rio, 22 de dezembro de 2010. Excelentíssimos senhores, Peço a V.Sas. inicialmente, desculpas por escrever -lhes a todos no mesmo email mas, em função da singularidade do assunto, não vejo qualquer prejuízo nesse contato que tento, agora, estabelecer. A relação dos destinatários do presente email segue ao final deste. Após aprovação, em 2001, no concurso público promovido pela Universidade Candido Mendes, passei a lecionar Direito Processual Civil no início de 2002.

Porém, a Universidade, que se encontra pelo menos o Campus Centro numa acentuada crise financeira, chegou ao extremo de beirar o início de um semestre sem ter pago nenhum salário do semestre anterior. Digo isso porque estou hoje, às vésperas do final do ano de 2010, sem salários desde junho; o último salário recebido por mim foi aquele, referente a maio do mesmo ano. Não recebi, sequer, o Décimo-terceiro salário de 2009.. .

Não obstante, o reitor da Universidade Candido Mendes

e Presidente da sua Mantenedora, Sociedade Brasileira de Instrução, continua a promover eventos à expensas da Instituição, tais como distribuição de Títulos Doutor Honoris Causas , conferência da Academia da Latinidade para a qual convidou intelectuais estrangeiros e, claro, c ontinua a viajar mundo afora como se não houvesse qualquer problema que demande a sua atenção. Na semana passa, o reitor Candido Mendes estava na Holanda, como informaram alguns.. .

Eu, diferentemente dos demais Professores da

Instituição, resolvi demonstrar a minha indignação com a situação que nos é imposta por esse reitor e reclamar providências, há muito atrasadas.

E, legitimando a minha dúvida acerca da real situação

financeira da Universidade Candido Mendes, observo que os demais Campi estão pagando seus professores e funcionários o que, sendo a mesma fonte pagadora – a Mantenedora Sociedade Brasileira de Instrução – não faz qualquer sentido e suscita muitas especulações.. .

Todavia, da referida Carta Aberta que enviei em

setembro de 2010, quando resolvi publicar a minha indignação ao declinar do convite para ouvir o reitor falar, embora tenha despertado a sua ira que acarretou no procedimento

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administrativo para deliberação sobre a minha eventual demissão, restaram, apenas, algumas “ameaças” do reitor no sentido de me processar, inclusive criminalmente por difamação e injúria.. .

Embora eu não o tema, nem tema a eventual demissão, imagino se não estaria o reitor Candido Mendes olvidando do adágio nemo auditur propriam turpitudinem allegans ou, em português claro, “a ninguém é dado alegar a própria torpeza” que, como lembra Sílvio Rodrigues, fundamenta decisões dos Tribunais pátrios quando em exame de imoralidades.

Até mesmo porque não houve, sequer, qualquer o fensa

à honra subjetiva do reitor ou injúria como ele tanto se esforçou por, assim, entender. Os fatos falam por si e eles não podem ser refutados segundo a lógica. Ademais, há que se ressaltar a inexistência de reprovabilidade de minha conduta em face d as circunstâncias concomitantes aos fatos que indicam a legítima expressão do meu Direito de Resistência.

Ontem, me disseram que todos os funcionários do

IUPERJ foram demitidos.. . E ninguém parece se importar.. .

Também, os “funcionários do IUPERJ” são APENAS "funcionários" não é?!. . Estou, particularmente, tentando abrir os olhos do reitor da Universidade Candido Mendes e Presidente da SBI.. . Obviamente, ele não vê que o que eu estou tentando fazer não é para agre di-lo. Não tenho interesse algum nisso, até mesmo porque, como já lhe disse, sou professor e advogado; não um gladiador.

Mas, por contrariar seus interesses mostrando -lhe que ele precisa “pagar” aqueles que trabalham, que dão seu suor e tempo de vida para sobreviver, ele não consegue (ou não quer) entender, principalmente se, para nos pagar, tiver de deixar de viajar, de promover encontros e demais bajulações.. .

E simplesmente, faz-de-conta que ninguém está

passando necessidades há muito e, agora, numa época que deveria ser de alegria, passando apertos.. . Tenho colegas que estão com os nomes nos Órgãos de Restrição ao Crédito; outro teve a ordem de despejo por não pagar o aluguel.. . E finge-se que essas coisas não estão acontecendo.

Os ascensoristas do prédio Assembléia nº 10, que levam a todos para as faculdades só receberam o décimo -terceiro salário de 2009 depois da minha primeira Carta, em setembro de 2010.. . E esse pessoal talvez não receba ne m mil reais.. .

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Enquanto isso, promove-se Conferência da Academia da Latinidade, Cerimônias para distribuição de Título Doutor Honoris Causa . . . Abre-se novos Campi em Encantado; em Santa Cruz.. . E, no final, talvez alguém enriqueça!

É muita inversão de valores!

Mas, por enquanto, parece que estou só nessa empreitada.. . O que, em verdade, não me inibe.. . Até mesmo porque, há muito tempo, apreendi a moral do poeta turco Nazim Hikmet que respondeu a uma jornalista que havia lhe p erguntado se teria valido a pena passar mais da metade de sua vida preso por defender seus ideais políticos: “Se eu não me queimo, se tu não te queimas, se nós não nos queimamos, como as trevas se tornarão luz? ”

E, para não comprometer qualquer colega, só dou ciência das minhas investidas no momento que envio as Cartas embora entenda, como diz o poeta, que “ um mais um é sempre mais do que dois”. . .

Sobral Pinto, certa vez, falou:

“O advogado só é advogado quando tem coragem de se opor a os poderosos de todo gênero que se dedicam à opressão pelo poder. É dever do advogado defender o oprimido. Se não o faz, está apenas se dedicando a uma profissão que lhe dá sustento e à sua família. Não é advogado .”

E, provavelmente, aquele ou aqueles a quem estou contrariando me tenham como “petulante” por querer receber pelo meu trabalho.. . Por querer ver um saldo direfente de R$0,00 na minha conta do FGTS.. . Mas, como já se perdeu a noção moral básica de “certo e errado”, isso seria apen as uma decorrência lógica!

Necessário talvez, lembrar ao reitor Candido Mendes

que, embora seja uma pessoa influente, ele não é onipotente. É, sim, muito prepotente!

Não tenho, Excelentíssimo, a mínima vocação para

pelego.. . E M S E N D O A S S I M , estou anexando abaixo os três

emails que considero os mais contundentes, enviados ao reitor Candido Mendes e à comunidade acadêmica, para ROGAR-LHES, não só a paciência na leitura, necessária à compreensão exata da situação de alguns Professores e Funcionários da Universidade Candido Mendes, mas também para, acaso esteja ao seu alcance, prestar a ajuda necessária à persuasão desse reitor a cumprir

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suas obrigações trabalhistas pois somente o Campus Centro, segundo parece, vem pas sando por tal dificuldade financeira; os demais Campi estão pagando seus Professores, embora a Mantenedora – SBI – seja a mesma.

Desde logo, meu muito obrigado, Professor Carlos Magno Siqueira Melo