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1 Minha cara Elisângela, Imagino que a ti tenha sido reservada apenas o encargo de nos convidar, enquanto professores da casa, para o Seminário Secularização e Sagrado que se realizará no próximo dia 29 de setembro e, em atenção à sua gentileza, lamento em lhe dizer que eu, não só como professor dessa conceituada Universidade, mas também como homem, me recuso a assisti-la, principalmente porque não percebo em quê poderia me ser útil ouvir o Sr. Candido Antonio José Francisco Mendes de Almeida falar, uma vez que não vejo coisa alguma que, com ele, eu poderia aprender a ponto de me elevar como ser humano. Isso porque apreendi em minha alma o Provérbio citado em Rabelais, Gargântua: “os maiores eruditos não são os mais sábios”. Com efeito, quando penso no Sr. Candido Mendes, que aliás me recuso a utilizar o pronome de tratamento “Magnífico Reitor” eis que para tanto, para mim, pressupõe méritos que ele, realmente, não tem, sou levado aos ensinamentos de Montaigne em Les Essais, que muito apropriadamente observou que “os primeiros assentos são ocupados, geralmente, pelos homens menos capazes e que, dificilmente as grandezas de sua fortuna se acham misturadas com a competência”. Todavia, não compreendo como um personagem Candido Mendes pode ser, como percebi em alguns de seus textos publicados no site da Academia Brasileira de Letras, um Tonel sem Fundo de contradição, tal como aquele que inutilmente tentavam as Danaides encher quando condenadas ao Inferno; não compreendo como um personagem Candido Mendes pode se auto-intitular “humanista” pois que, de humanidade nos mostra que pouco conhece ou tem eis o sacrifício que, sem sentir, impõe aos seus professores e funcionários, fazendo deles, típicos “Idiotas Úteis” preconizado por Lênin.

Carta a elisangela

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Minha cara Elisângela,

Imagino que a ti tenha sido reservada apenas o encargo de

nos convidar, enquanto professores da casa, para o Seminário

Secularização e Sagrado que se realizará no próximo dia 29 de

setembro e, em atenção à sua gentileza, lamento em lhe dizer que

eu, não só como professor dessa conceituada Universidade, mas

também como homem, me recuso a assisti-la, principalmente

porque não percebo em quê poderia me ser útil ouvir o Sr.

Candido Antonio José Francisco Mendes de Almeida falar, uma vez

que não vejo coisa alguma que, com ele, eu poderia aprender a

ponto de me elevar como ser humano.

Isso porque apreendi em minha alma o Provérbio citado em

Rabelais, Gargântua: “os maiores eruditos não são os mais

sábios”.

Com efeito, quando penso no Sr. Candido Mendes, que aliás

me recuso a utilizar o pronome de tratamento “Magnífico Reitor”

eis que para tanto, para mim, pressupõe méritos que ele,

realmente, não tem, sou levado aos ensinamentos de Montaigne

em Les Essais, que muito apropriadamente observou que “os

primeiros assentos são ocupados, geralmente, pelos homens

menos capazes e que, dificilmente as grandezas de sua fortuna se

acham misturadas com a competência”.

Todavia, não compreendo como um personagem – Candido

Mendes – pode ser, como percebi em alguns de seus textos

publicados no site da Academia Brasileira de Letras, um Tonel

sem Fundo de contradição, tal como aquele que inutilmente

tentavam as Danaides encher quando condenadas ao Inferno; não

compreendo como um personagem – Candido Mendes ‑ pode se

auto-intitular “humanista” pois que, de humanidade nos mostra

que pouco conhece ou tem eis o sacrifício que, sem sentir, impõe

aos seus professores e funcionários, fazendo deles, típicos “Idiotas

Úteis” preconizado por Lênin.

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Não me disponho a ouvir falar uma pessoa que, por ter

recebido tantos cérebros alheios, tão fortes e tão grandes, foi

obrigado a comprimir o seu próprio, contraindo-o, estreitando-o

para dar lugar aos dos outros. Pessoas como essa visam apenas a

nos encher a cabeça de ciência, sobre o discernimento e a virtude

pouco falam, pois, geralmente, não a têm. Esquecem, porém, que

qualquer outra ciência é prejudicial para quem não tem a Ciência

da Bondade; esquecem, porém, que o proveito de nosso estudo

está em com ele nos termos tornado melhores e mais sensatos.

“Saber de cor é não saber: é conservar o que foi entregue à

guarda da memória”, nos dizia Montaigne... O verdadeiro espelho

de nossos discursos é – e o nosso Reitor deveria saber disso – o

curso de nossas vidas!

De que nos servirá ter a pança cheia de comida, se ela não for

digerida? Se não se transformar dentro de nós? Se não nos fizer

crescer e fortalecer? De que nos servirá ter a cabeça cheia de

informações se com elas não crescemos e fortalecemos

moralmente o nosso ser?

Não compreendo, também, como alguém poderia ser eleito

“imortal” na Academia Brasileira de Letras quando, diante dos

fatos, comprova ser “imoral”. Fico pensando se aqueles que o

elegeram conhecem quem realmente foi eleito, o que me induz a

indagar, sem qualquer ofensa, das duas uma, ou as pessoas que o

escolheram não conhecem de fato o personagem “Candido

Mendes” ou têm elas as mesmas “qualidades” que ele. Igualmente

indago, em relação à sua eleição como uma das maiores

personalidades do Mundo...

Montaigne ao descrever “o homem”, se perguntava:

“Por que, ao avaliar um homem, o avaliais totalmente recoberto e

empacotado? Ele nos exibe apenas as partes que não são suas, e

oculta-nos as únicas pelas quais podemos realmente julgar sobre

sua valia. O que buscais é o valor da espada, não da bainha; talvez

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não désseis um vintém por ele, se o tivesses desnudado. É preciso

julgá-lo por si mesmo, não por seus adereços.”

Bem sabia o ensaísta que “o pedestal não é a estátua”.

Posso me contentar, contudo, que, “para o bem geral da

nação”, sua “imortalidade” é, apenas, um mero “título” e, em

qualquer momento, a Cadeira 35 da Academia Brasileira de Letras

estará vaga...

Toda essa usurpação do meio necessário à sobrevivência dos

professores e funcionários da Universidade Candido Mendes me

lembra uma passagem do Sermão do Bom Ladrão, pregado nos

idos de 1655 pelo Padre Antônio Vieira, em que ele relatou um

diálogo entre um certo pirata e Alexandre Magno. Dizia mais ou

menos assim:

“Navegava Alexandre em uma poderosa armada no intuito de

conquistar a Índia; e como fosse trazido à sua presença um pirata,

que por ali andava roubando os pescadores, repreendeu-o muito

Alexandre de andar em tão mau ofício; porém, o pirata, que não

era medroso, respondeu assim: Basta, senhor, porque eu que

roubo em uma barca sou ladrão, e vós que roubais em uma

armada, sois imperador? E assim é. O roubar pouco é culpa, o

roubar muito é grandeza: roubar com pouco poder faz os piratas,

o roubar com muito, os Alexandres. Os outros ladrões roubam um

homem, estes roubam cidades e reinos; os outros, furtam debaixo

do seu risco, estes sem temor, nem perigo; os outros, se furtam,

são enforcados, estes furtam e enforcam. Quantas vezes se viu em

Roma ir a enforcar um ladrão por ter furtado um carneiro, e no

mesmo dia ser levado em triunfo um cônsul, ou ditador por ter

roubado uma província! E quantos ladrões teriam enforcado

estes mesmos ladrões triunfantes?”

Essa usurpação dos meus salários – o último que recebi foi

em março de 2010 e, hoje, meados de setembro, digo que sequer o

décimo-terceiro salário de 2008 foi pago integramente e nem um

centavo do décimo-terceiro salário de 2009 ‑ me lembra também

uma frase de um poeta francês, pela qual evidenciou a crua

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realidade de que “a noção de Direito é tão forte que os homens,

mesmo quando o violam, simulam respeitá-lo”.

Talvez por isso, nos textos e títulos do Sr. Reitor,

encontremos muito os termos “Direito” e “Justiça”!

Se somarmos aos meus salários inadimplidos, o FGTS que,

desde 2002 quando fui admitido como professor da Universidade

Candido Mendes, nunca foi depositado, tenho um crédito, vencido

e não pago, de quase R$60.000,00. Esse é o exemplo de uma

pessoa digna?

Ninguém precisa ou precisou me obrigar a entrar em sala de

aula e cumprir o trabalho que tanto gosto; será preciso, então,

obrigar a quem dele aproveita – Sr. Candido Mendes ‑ pagar-me

por isso?

Cansado estou de ser tão ludibriado o que resulta na

desconfiança total em relação ao Sr. Reitor e às suas inúmeras

promessas descumpridas inclusive a mais recente acerca de

supostos empréstimos para quitação de obrigações trabalhistas

que induziram alguns professores a reiniciar este semestre, que

demonstram que a palavra de um homem, para o Sr. Candido

Mendes, não parece valer muito. Isso me remete a Kant, que

analisou sob o prisma de seu Imperativo Categórico o “Suposto

Direito de Mentir” e, ao concluir, relatou que se “mentir” fosse

tornado uma máxima aceitável a ponto de legitimar a todos os

homens esse expediente, a linguagem faleceria pois os homens,

sabendo que todos poderiam legitimamente “mentir”, não mais

saberão quando estarão diante ou não da verdade: tudo poderia

ser falso...

Montaigne sabe que o homem resulta dos costumes e critica

o educador que tanto se esforça em formá-lo conforme uma

tradição, ainda que não apto a pensar, pois “tinha [o educador]

como objetivo fazer-nos não bons e sábios, mas eruditos” e o pior

é que os primeiros lugares nem sempre são freqüentados por

pessoas boas e sábias, mas quase sempre são por pessoas

eruditas.

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A minha educação que me levou às profissões que gosto e

que exerço com, sem modéstia, muita competência é,

diferentemente da de tantos outros, a mesma que me preparou,

antes, para ser homem.

Percebo que a Universidade Candido Mendes está falida.

Porém, percebo antes, a falência moral do seu Reitor, embora

esta, provavelmente, jamais será decretada perante à sociedade.

Esclareço, se for do interesse de alguém, que estou

elaborando (embora desnecessária às questões trabalhistas),

uma Notificação Extrajudicial não só à Sociedade Brasileira de

Instrução, mas também ao seu Presidente, ao seu Vice-Presidente

e ao seu Diretor Financeiro por suas respectivas

responsabilidades, bem como ao Reitor e Vice-Reitor da

Universidade Candido Mendes no intuito de resolver – amigável e

administrativamente ‑ as dívidas trabalhistas inadimplidas junto

a mim.

Sem deixar de lembrar, entretanto, da inteligência do artigo

7º, inciso X da Constituição Federal que tipifica, in casu, a conduta

dos dirigentes da Instituição para com seus professores e

funcionários como “Crime de Retenção Dolosa de Salário”.

Se necessário for, porém, a propositura de ação judicial, que

assim seja, ressaltando que estou ciente das prerrogativas da

impunidade pois concordo, em gênero, número e grau com Platão

que, em sua República, observou há mais de 2.500 anos atrás, que

a “justiça nada mais é do que a conveniência do mais forte”...

Lembro de Dionísio que zombava dos oradores que tanto se

aplicavam em falar de justiça, não em fazê-la!

Contudo, faço minha a indagação de Platão, ainda em sua

República: “Poderia alguma coisa revelar uma falta de educação

mais vergonhosa do que possuir tão pouca justiça dentro de nós

mesmos a ponto de se tornar necessário obtê-la dos outros que,

desse modo, se tornam nossos senhores e juízes?”.

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E, acaso eu nada receba “dos meus Direitos”, pelo menos não

tenho de que me envergonhar... Aliás, a única coisa que me

envergonhou nesses anos de magistério na Universidade Candido

Mendes não está relacionada diretamente com o meu ofício; a

única coisa que me envergonhou foi sentar ao lado do Sr. Reitor

numa cerimônia de Colação de Grau de uma Turma de Direito, por

ele presidida, pois disso não pude me furtar em atenção aos

alunos que me homenagearam como seu Paraninfo.

Acaso o vosso orador se sinta ofendido com “as desculpas”

que ora justifico a minha ausência ao Seminário, esclareço que

melhor assim do que eu mesmo me ofender por ouvi-lo falar;

acaso o vosso orador se sinta ofendido com “as desculpas” acima,

sugiro que ele pelo menos tente – pois duvido que consiga – se

colocar no lugar dos professores e funcionários que o sustentam

as extravagâncias, como a distribuição despudorada de títulos

Doutor Honoris Causa e, então, saberá o Sr. Candido Mendes de

Almeida o que é ser ofendido.

Acaso ele, o Sr. Reitor veja algum dano à sua pose de

intelectual nos fatos e na indignação que ora publico, que ele

ponha de lado o seu egoísmo, ponha de lado o seu egocentrismo e

saiba que eu, sim, sofro não só os danos morais pela condição que

me impôs, mas também os danos materiais dela oriundos.

Seria louvável a postura do Sr. Reitor de se colocar no lugar

de seus professores e funcionários para, tenta imaginar, como

eles estão vivendo e, no meu caso, cujo último salário recebido foi

pago em março de 2010 e que, portanto, “deve” – em função da

inadimplência vil do Sr. Reitor ‑ custear todas as minhas despesas

e de minha família durante seis meses... O salário de março deve

pagar as despesas, essenciais ou não, dos meses de abril, maio,

junho, julho e agosto?!...

Também, o que esperar de uma pessoa que fere o próprio

irmão, como vimos naquela ação judicial, processo nº

2008.001.156034-9, na qual o Juízo da 5ª Vara Cível da Comarca

da Capital determinou a redução do “pró-labore mensal” do Sr.

Reitor Candido Antonio José Francisco Mendes de Almeida, para

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“míseros” ‑ coitado ‑ R$100.000,00 que tanto o aborreceu?!...

Ainda bem que o seu irmão, autor daquela ação não teve o mesmo

destino de Abel...

O Sr. Candido Mendes, tal como denunciou Maquiavel, parece

ter por princípio a assertiva de que “os fins justificam os meios”,

para, então, continuar a viajar, a homenagear, a discursar, a

jantar, a viver bem independentemente das conseqüências de sua

irresponsabilidade conosco, constituindo assim seus “fins”

justificando para tanto “os meios”: estes, o estado de penúria de

seus professores e funcionários dentre os quais, alguns, inclusive,

já foram notificados de despejo, inscritos nos órgãos de restrição

ao crédito e outras mazelas mais.

A passividade do corpo docente da Universidade Candido

Mendes diante desses fatos parece mostras o acerto do filósofo

renascentista Etienne de La Boétie em seu Discours de la

Servitude Volontaire, no qual tentou compreender como tantos se

submetem à vontade de apenas Um – o Monarca.

Sugiro que, por prudência, seja lembrado aos alunos que

assistirão a Palestra Carreiras Jurídicas: Ingresso e

Possibilidades da Profissão que será realizada no próximo dia 15

de setembro – com o fim único de esclarecê-los – que dentre as

“Carreiras Jurídicas”; que dentre as “Possibilidades da Profissão”

não está o magistério na Universidade Candido Mendes pois o

professor, lá, que depender exclusivamente do seu salário, não

vingará!

Por fim, digo aqueles que eventualmente entendam excessiva

a minha resposta às ofensas desferidas cruelmente pelo Sr. Reitor,

que estou ciente de que todas as ações fora dos limites habituais

estão sujeitas a interpretação desfavorável, muito aquém do que

elas realmente valem uma vez que o vulgo não as alcança. Assim,

como por exemplo, dizer ao Sr. Reitor o que ele necessita ouvir e

não as bajulices às quais está tão acostumado a receber e a

praticar.

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Receba Elisângela, as minhas sinceras desculpas por este

desabafo e receba, também, o meu abraço cordial,

Professor Carlos Magno

C/c ao Reitor da Universidade Candido Mendes, ao Vice-Reitor

da Universidade Candido Mendes, ao Vice-Presidente da

Sociedade Brasileira de Instrução, ao Diretor da Faculdade de

Direito, ao Diretor Financeiro, ao Coordenador Geral da

Faculdade de Direito, ao Boletim Comunitário da Universidade

Candido Mendes, aos Professores da Faculdade de Direito, aos

Funcionários, ao Ministério da Educação-MEC, à Coordenação de

Aperfeiçoamente de Pessoal de Nível Superior-CAPES, à

Associação Nacional das Universidades Particulares-ANUP, à

Academia Brasileira de Letras, à Presidência da República, à

ALERJ e aos Deputados Paulo Ramos e Flávio Bolsonaro, ao

Ministério Público do Trabalho, à Folha.com, à União Estadual dos

Estudantes-UNE, ao SinPro-Rio, à Redação do Sistema Brasileiro

de Televisão.