Upload
joao-suzart
View
215
Download
0
Embed Size (px)
Citation preview
8/17/2019 Carta de Acolhimento
1/5
Queridos alunos do Curso de Pós-graduação Lato Sensu emPsicoterapia Analítica (19º CPA) sejam bem-vindos.
A inclusão da Psicologia Analítica (ou, da abordagem junguiana) nosCursos Universitários do Estado da Bahia era praticamente nula na década de 90,até que há 20 anos foi criado o Instituto Junguiano da Bahia (IJBA), que sob achancela da Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública, mantida pela Fundaçãopara o Desenvolvimento das Ciências (FBDC), formou a primeira turma deanalistas junguianos de Salvador. A partir daí, alguns profissionais formados peloIJBA foram convidados para ministrar aulas em diferentes Faculdade dePsicologia. Marca-se assim o pioneirismo do IJBA NA Bahia, dentro e fora dosmeios acadêmicos.
Contamos com coordenadores que a cada ano buscam aperfeiçoar mais apratica didática junto aos renomados professores residentes em São Paulo, e aosnossos professores baianos que constituem uma equipe sólida e coesa.
No início desse curso, a disciplina Fundamentos da Psicologia Analítica (FPA) é comum a diversas turmas e, por isso, durante os seis primeiros meses osalunos das diversas formações assistem as aulas juntos. Esse é um momento emque a convivência com os que seguem outros cursos se torna necessária. Já naprimeira aula, haverá uma explanação geral da teoria para que os estudantes sefamiliarizem com os principais conceitos e a práxis psicoterápicas. Depois cadatema será trabalhado isoladamente e com mais profundidade. A disciplina FPAvai de abril a setembro e tem a carga horária de 90 horas. No final será feita umaavaliação por meio de um seminário em que os alunos apresentarão o trabalhorecomendado, em grupo ou individualmente.
A disciplina seguinte chama-se Psicologia Junguiana Avançada (PJA) edentro dela vamos aprender:
o A Psicologia Junguiana e a Alquimia;o Aprofundamento em Tipos Psicológicos;o Desenvolvimento da Personalidade;o Tópicos Contemporâneos em Psicologia Analítica;o Estudo do Inconsciente Coletivo por meio dos Mitos, Contos de
Fadas, Lendas, Romances e outras obras literárias;o Estudo das Religiões e Textos Arcaícos;o Espiritualidade e Ética;o Estudo dos Sonhos e Imaginação Ativa;
o
Psicologia Analítica e Arte;o Tanatologia;o Psicopatologia Junguiana;o Psicossomática Junguiana;o Aspectos Clinicos da Análise Junguiana;o A Função Transcendente e o Processo de Individuação;o Aprofundamento em Alquimia;
Essa disciplina tem uma carga horaria de 260 horas. Durante o ano de2017 haverá aulas na sexta-feira à tarde, no período que vai de março adezembro.
No ano de 2018 haverá duas disciplinas: Psicologia Analítica Aplicada
(PAA) com a carga horaria de 165 horas e Metodologia Científica (MC) com 40horas.
8/17/2019 Carta de Acolhimento
2/5
A disciplina Psicologia Analítica Aplicada (PAA) consiste em:o Procedimentos e Práxis da Psicologia Analítica;o O Treinamento no Trabalho Clinico com o Jogo de Areia;o O Treinamento no Trabalho Clinico com os Sonhos e a Imaginação Ativa;o Estudo de Casos;o
Grupos de Supervisões dos Casos Clínicos atendidos pelo alunopsicoterapeuta;
o Treinamento em outras técnicas psicoterápicas;
Nos últimos seis meses do curso, período de maior atividade na ClinicaEscola, as atividades ocorrerão apenas nos sábados (manhã e tarde). A turmaserá subdividida em grupos menores e cada pequeno grupo terão um supervisororientador que tem como objetivo preparar o aluno para o exercício da condiçãoem ser um Analista de Orientação Junguiana.
Critérios para a aprovação:
Frequentar 75% das aulas.Obter do professor orientador das supervisões a aprovação.Apresentar o Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) por meio de uma
monografia.Com as Atividades Programadas e Atendimentos Clínicos (212 horas),
o curso terá uma carga total de 770 horas.
Sejam todos muito benvindos a família IJBA. Desejamos a todos excelentepermanência entre nós. Esperamos que o curso agora iniciado seja mais do quesimples aquisição de conhecimentos mas também transformador em suas vidascomo temos ouvido de tantos alunos ao concluírem a formação.
A COORDENAÇÃO E EQUIPE
8/17/2019 Carta de Acolhimento
3/5
O QUE É A PROFISSÃO DE PSICOTERAPEUTA
Por Carlos São Paulo
Fazer o outro conhecer a si mesmo é uma tarefa considerada muito nobre na humanidade. É o
poder
de
revelar
ao
outro
as
razões
do
sofrimento
da
alma
(alma
é
o
termo
usado
pelos
junguianos quando se referem a psique e desejam sublinhar um movimento na sua
profundidade) e, com isso, cria‐se a possibilidade de existir o abuso de poder. O dramaturgo
francês, Corneille, no século XVI, escreveu: “aprende a te conhecer e desce dentro de ti
mesmo”. Os antigos alquimistas diziam que ninguém transforma ninguém, mas que ninguém
se transforma sozinho; então descer dentro de si mesmo é uma aventura que necessita da
ajuda de um mestre experimentado, um analista, o seu analista. Jung conta em sua
autobiografia, que a cada 15 dias ia visitar um grande amigo, Théodore Flournoy, pedagogo e
humanista suíço em quem tinha grande confiança para lhe expor suas descobertas, suas
dificuldades e seus sonhos. Jung parecia saber instintivamente talvez, que o conhecimento de
si mesmo
se
efetua
na
relação
com
o outro
e os
outros.
Quem está buscando se conhecer, muito provavelmente experimenta um sofrimento em sua
alma e poucos seguem o que magistralmente Gabriel Garcia Marquez afirmara; “Converte‐te
numa pessoa melhor e assegura‐te de saber quem és antes de conhecer mais alguém e
esperar que essa pessoa saiba quem és”. Foi a psicose que fez nascer a psicologia analítica de
C. G. Jung, enquanto a histeria fez nascer a psicanálise. Foram esses mestres, Freud e Jung que
deram a alma o direito de existir para o homem moderno, desenvolvendo essa psicologia que
conhecemos hoje; alma essa que até então esteve abandonada a si mesma e fora das
considerações ditas científicas.
Em psicologia analítica, os conteúdos da psique que foram negados ou reprimidos criam uma
dinâmica chamada de “Projeção” fazendo o indivíduo ver no outro tudo aquilo que foi
“evitado” ver em si mesmo. Essa questão leva a necessidade no profissional, atuando como
analista, viver a sua própria experiência de análise com outro colega. O profissional, portanto,
com as suas emoções, tensões, obsessões, depressões, fantasias, sonhos e ambições, enfrenta
a tarefa de lidar com tudo isso em função do outro e aprender a viver uma relação sadia e
existencial com esta outra dimensão do Si‐mesmo.
Para se tornar analista não é suficiente, claro, fazer um curso, submeter‐se a uma análise
didática ou
pessoal
e exibir
um
currículo
com
tantos
anos
de
análise;
precisa
ser
capaz
de
adquirir uma relação vital com o Si‐mesmo, e, sobretudo, ser fiel às suas próprias inspirações.
Chamamos em Psicologia Analítica de Si‐mesmo ao centro de toda a personalidade. Jung
define assim; “O Si mesmo representa o objetivo do homem inteiro, a saber, a realização de
sua totalidade e de sua individualidade, com ou contra sua vontade. A dinâmica desse processo
é
o
instinto,
que
vigia
para
que
tudo
o
que
pertence
a
uma
vida
individual
figure
ali,
exatamente,
com
ou
sem
a
concordância
do
sujeito,
quer
tenha
consciência
do
que
acontece,
quer não.” O caminho para se chegar ao conhecimento de si mesmo é como alcançar o
horizonte, não tem fim, ou seja, nunca se chegará lá. A vocação do psicoterapeuta é, portanto,
dedicar a sua vida, seu tempo e sua inteligência, ao trabalho para o conhecimento de si
mesmo, para
os
outros
e com
os
outros.
8/17/2019 Carta de Acolhimento
4/5
O cotidiano do psicoterapeuta é muito desafiador e exige demais de si mesmo. O segredo
profissional e, sobretudo a privacidade, exige que o terapeuta guarde muitas coisas para si
próprio. É uma vocação, uma exigência interior de certas pessoas na vida, uma paixão. Jung
nos diz que a função do trabalho terapêutico é a de humanizar o divino e espiritualizar o
humano.
O analista e psicoterapeuta tem duas ações a fazer; intervir acrescentando, ou então, como o
escultor, retirar o excesso do mármore bruto para dali surgir a criação. Para essa última ação, o
seu trabalho com os sonhos, por exemplo, poderá levá‐lo a reconhecer junto ao sonhador,
toda expressão criativa acobertada pelo mármore bruto, assim como ao utilizar‐se dos seus
conhecimentos filosóficos, antropológicos e sociológicos agirá na ação de acrescentar algo
àquela alma pedinte.
É da responsabilidade do analista não se colocar de forma a induzir o seu cliente a tê‐lo como
um ser especial e divino; como também reconhecer que o seu trabalho não é um vôo livre, há
de ter
uma
direção.
A
sua
tarefa
é como
acontece
na
alquimia;
solve
e coagula.
O
jogo
de
poder também é de sua responsabilidade saber evitar, assim como a mágica, o mistério e a
autoridade. Precisa reconhecer quando erra e entender que a psicoterapia não é estar a
procura de um “insight”, e sim, dentre muitas tarefas, pensar no lugar do paciente e com a
cabeça do paciente para chegar a uma compreensão junto com ele, da sua tarefa de alquimista
para solver e coagular.
Os pacientes, muitas vezes, em suas fragilidades, buscam encontrar um ser humano especial
que os ajude a viver de acordo com as suas fantasias e os alivie de qualquer sofrimento. No
entanto, ao contatarem como por encanto com uma figura perdida no tempo e no espaço,
vivem‐na
através
daquele
psicoterapeuta,
ou
então,
buscam
a figura
humana
ideal,
cujo
modelo é retirado das regiões mais abissais da alma e projetam no analista. Também, os
desafios de suas experiências passadas vão se misturando naquela figura do presente que
parece reativar experiências prazerosas ou ameaçadoras e, por tudo isso, surge um campo
relacional que precisa ser compreendido por analista e analisando.
Muitos indivíduos desesperados, e com suas almas desorganizadas, buscam uma
transformação imediata e mágica, ou ainda, experimentam os vários caminhos que prometem
soluções sem a necessidade de entrar em contato com a consciência de uma personalidade
fragmentada, pois mexer nesses fragmentos incomodam muito. Evitando esse sofrimento,
também evitariam,
infelizmente,
a evolução
da
alma.
No
entanto,
quando
se
tem
um
analista,
este pertence necessariamente a uma escola, mas considerando a complexidade da alma
humana, nunca haverá uma verdade absoluta. As escolas, na nossa época, são o equivalente às
correntes espirituais do passado. Assim, escolher um analista é a questão de se sentir em casa
e ter ressonância interior; é o que importa na hora de cada um fazer a sua escolha. As
instituições jurídicas em si não têm um valor, valem somente pela qualidade das pessoas que
as representam.
O psicoterapeuta por sua vez pode seguir um caminho atrelado aos conhecimentos médicos
da farmacologia e neurologia, além da psicologia; enquanto outros se afastam desse saber e
se voltam
à filosofia,
além
da
psicologia.
Inumeros
são
os
desafios
a esse
profissional
que
precisa de muito mais do que o conhecimento da medicina, filosofia, antropologia, sociologia e
8/17/2019 Carta de Acolhimento
5/5
psicologia. Sua tarefa é também de se sentir capaz de perceber uma unidade funcional com
todos os seus fragmentos. Sua consciência adaptativa às exigências externas, tanto do campo
familiar quanto do social, não pode deixar de contemplar e se harmonizar às diretrizes de uma
natureza que habita seu ser portador de uma sabedoria inata.
É durante
o trabalho
analítico
que
o
analisando
descobre
a sua
vocação,
e assim,
sem
perceber, a análise pessoal se transforma em análise didática. O analista pode orientá‐lo em
suas leituras, para que, de forma gradativa, adquira os conhecimentos necessários para
realizar o seu trabalho. Assim, estar em análise e fazer um bom curso de especialização na
abordagem analítica são os primeiros passos para a construção de um bom psicoterapeuta.
Vivemos em uma sociedade capitalista e utilitarista, com mecanismos governamentais,
regendo através dos conselhos, o comportamento daqueles que visam resolver questões da
saúde do homem. Assim, ainda estamos longe de ter encontrado uma maneira adequada para
atender aos que não estão vinculados nos conselhos de psicologia ou medicina e se descobrem
vocacionados para
esse
tipo
de
trabalho.
No
entanto,
aos
poucos
vão
surgindo
algumas
soluções; a exemplo da Filosofia Clinica, dos Arteterapeutas e os Psicopedagogos, dentre
outros.
O senso comum ainda enxerga o profissional psicoterapeuta como necessário para alguns e
desnecessário para outros. A necessidade de uma psicoterapia habitualmente é atribuida aos
portadores de distúrbios mentais ou àqueles com uma vida cheia de infortúnios. Muitos são os
processos psicoterapeuticos moldados para uma sociedade que exige objetividade e exclui a
subjetividade, a exemplo dos convênios que exigem saber quantas sessões serão necessarias
para resolver as dificuldades do paciente e qual o CID (Código Internacional de Doenças).
A psicoterapia visa resolver questões específicas na vida de um cliente; enquanto que a
análise não tem fim e visa um trabalho religioso do ponto de vista junguiano; o “Re‐ligare” que
significa ligar‐se ao Si‐mesmo. Esse sagrado, cuja veneração exige um mergulho no
inconsciente, facilita ao homem uma verdadeira evolução da alma. Sabemos o quanto o
homem, possuidor de um nível de consciência evoluido, tem um comportamento social muito
mais Cristão, podendo assim amar o próximo tanto quanto a ele mesmo.
Esperamos contar com uma humanidade fazendo progresso no mundo interior, tanto quanto
vem acontecendo no saber científico com todas as descobertas. Héstia, uma deusa da
mitologia grega,
sempre
era
representada
em
seus
ritos,
pela
chama
de
uma
lareira,
significando a experiência de uma família harmoniosa. Esse é o convite para que cada homem
se volte a essa chama interior e encontre essa paz tão necessária para a experiência mais
verdadeira de ser humano.
A humanidade precisa de bons analistas, e o homem moderno de viver o Re‐ligare. A formação
de um analista pode contribuir para um bom desenvolvimento ético e a consciência de um
percurso, que deverá continuar ao longo de sua vida. A experiência da vida com consciência
torna‐se assim a parte mais importante da formação de um analista. Analista é sinônimo de
responsabilidade e respeito por si e muito mais pelo outro.