Carta de Acolhimento

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  • 8/17/2019 Carta de Acolhimento

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    Queridos alunos do Curso de Pós-graduação Lato Sensu emPsicoterapia Analítica (19º CPA) sejam bem-vindos.

    A inclusão da Psicologia Analítica (ou, da abordagem junguiana) nosCursos Universitários do Estado da Bahia era praticamente nula na década de 90,até que há 20 anos foi criado o Instituto Junguiano da Bahia (IJBA), que sob achancela da Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública, mantida pela Fundaçãopara o Desenvolvimento das Ciências (FBDC), formou a primeira turma deanalistas junguianos de Salvador. A partir daí, alguns profissionais formados peloIJBA foram convidados para ministrar aulas em diferentes Faculdade dePsicologia. Marca-se assim o pioneirismo do IJBA NA Bahia, dentro e fora dosmeios acadêmicos.

    Contamos com coordenadores que a cada ano buscam aperfeiçoar mais apratica didática junto aos renomados professores residentes em São Paulo, e aosnossos professores baianos que constituem uma equipe sólida e coesa.

    No início desse curso, a disciplina Fundamentos da Psicologia Analítica (FPA) é comum a diversas turmas e, por isso, durante os seis primeiros meses osalunos das diversas formações assistem as aulas juntos. Esse é um momento emque a convivência com os que seguem outros cursos se torna necessária. Já naprimeira aula, haverá uma explanação geral da teoria para que os estudantes sefamiliarizem com os principais conceitos e a práxis psicoterápicas. Depois cadatema será trabalhado isoladamente e com mais profundidade. A disciplina FPAvai de abril a setembro e tem a carga horária de 90 horas. No final será feita umaavaliação por meio de um seminário em que os alunos apresentarão o trabalhorecomendado, em grupo ou individualmente.

    A disciplina seguinte chama-se Psicologia Junguiana Avançada (PJA) edentro dela vamos aprender:

    o  A Psicologia Junguiana e a Alquimia;o  Aprofundamento em Tipos Psicológicos;o  Desenvolvimento da Personalidade;o  Tópicos Contemporâneos em Psicologia Analítica;o  Estudo do Inconsciente Coletivo por meio dos Mitos, Contos de

    Fadas, Lendas, Romances e outras obras literárias;o  Estudo das Religiões e Textos Arcaícos;o  Espiritualidade e Ética;o  Estudo dos Sonhos e Imaginação Ativa;

    Psicologia Analítica e Arte;o  Tanatologia;o  Psicopatologia Junguiana;o  Psicossomática Junguiana;o  Aspectos Clinicos da Análise Junguiana;o  A Função Transcendente e o Processo de Individuação;o  Aprofundamento em Alquimia;

    Essa disciplina tem uma carga horaria de 260 horas. Durante o ano de2017 haverá aulas na sexta-feira à tarde, no período que vai de março adezembro.

    No ano de 2018 haverá duas disciplinas: Psicologia Analítica Aplicada 

    (PAA) com a carga horaria de 165 horas e Metodologia Científica (MC) com 40horas.

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      A disciplina Psicologia Analítica Aplicada (PAA) consiste em:o  Procedimentos e Práxis da Psicologia Analítica;o  O Treinamento no Trabalho Clinico com o Jogo de Areia;o  O Treinamento no Trabalho Clinico com os Sonhos e a Imaginação Ativa;o  Estudo de Casos;o

     

    Grupos de Supervisões dos Casos Clínicos atendidos pelo alunopsicoterapeuta;

    o  Treinamento em outras técnicas psicoterápicas;

    Nos últimos seis meses do curso, período de maior atividade na ClinicaEscola, as atividades ocorrerão apenas nos sábados (manhã e tarde). A turmaserá subdividida em grupos menores e cada pequeno grupo terão um supervisororientador que tem como objetivo preparar o aluno para o exercício da condiçãoem ser um Analista de Orientação Junguiana.

    Critérios para a aprovação:

    Frequentar 75% das aulas.Obter do professor orientador das supervisões a aprovação.Apresentar o Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) por meio de uma

    monografia.Com as Atividades Programadas e Atendimentos Clínicos (212 horas),

    o curso terá uma carga total de 770 horas.

    Sejam todos muito benvindos a família IJBA. Desejamos a todos excelentepermanência entre nós. Esperamos que o curso agora iniciado seja mais do quesimples aquisição de conhecimentos mas também transformador em suas vidascomo temos ouvido de tantos alunos ao concluírem a formação.

    A COORDENAÇÃO E EQUIPE

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     O QUE É A PROFISSÃO DE PSICOTERAPEUTA 

    Por Carlos São Paulo 

    Fazer o outro conhecer a si mesmo é uma tarefa considerada muito nobre na humanidade. É o 

    poder 

    de 

    revelar 

    ao 

    outro 

    as 

    razões 

    do 

    sofrimento 

    da 

    alma 

    (alma 

    é 

    termo 

    usado 

    pelos 

     junguianos  quando  se  referem  a  psique  e  desejam  sublinhar  um  movimento  na  sua 

    profundidade) e, com  isso, cria‐se a possibilidade de existir o abuso de poder. O dramaturgo 

    francês,  Corneille,  no  século  XVI,  escreveu:  “aprende  a  te  conhecer  e  desce  dentro  de  ti 

    mesmo”. Os antigos alquimistas diziam que ninguém transforma ninguém, mas que ninguém 

    se  transforma  sozinho; então descer dentro de  si mesmo é uma aventura que necessita da 

    ajuda  de  um  mestre  experimentado,  um  analista,  o  seu  analista.  Jung  conta  em  sua 

    autobiografia, que a cada 15 dias ia visitar um grande amigo, Théodore Flournoy, pedagogo e 

    humanista  suíço  em  quem  tinha  grande  confiança  para  lhe  expor  suas  descobertas,  suas 

    dificuldades e seus sonhos. Jung parecia saber instintivamente talvez, que o conhecimento de 

    si mesmo

     se

     efetua

     na

     relação

     com

     o outro

     e os

     outros.

     

    Quem está buscando se conhecer, muito provavelmente experimenta um sofrimento em sua 

    alma e poucos seguem o que magistralmente Gabriel Garcia Marquez afirmara; “Converte‐te 

    numa  pessoa  melhor  e  assegura‐te  de  saber  quem  és  antes  de  conhecer  mais  alguém  e 

    esperar que essa pessoa saiba quem és”. Foi a psicose que fez nascer a psicologia analítica de 

    C. G. Jung, enquanto a histeria fez nascer a psicanálise. Foram esses mestres, Freud e Jung que 

    deram a alma o direito de existir para o homem moderno, desenvolvendo essa psicologia que 

    conhecemos  hoje;  alma  essa  que  até  então  esteve  abandonada  a  si  mesma  e  fora  das 

    considerações ditas científicas. 

    Em psicologia analítica, os conteúdos da psique que foram negados ou reprimidos criam uma 

    dinâmica  chamada  de  “Projeção”  fazendo  o  indivíduo  ver  no  outro  tudo  aquilo  que  foi 

    “evitado” ver em  si mesmo. Essa questão  leva a necessidade no profissional, atuando como 

    analista, viver a sua própria experiência de análise com outro colega. O profissional, portanto, 

    com as suas emoções, tensões, obsessões, depressões, fantasias, sonhos e ambições, enfrenta 

    a  tarefa de  lidar com  tudo  isso em  função do outro e aprender a viver uma  relação  sadia e 

    existencial com esta outra dimensão do Si‐mesmo. 

    Para  se  tornar  analista  não  é  suficiente,  claro,  fazer  um  curso,  submeter‐se  a  uma  análise 

    didática ou

     pessoal

     e exibir

     um

     currículo

     com

     tantos

     anos

     de

     análise;

     precisa

     ser

     capaz

     de

     adquirir uma relação vital com o Si‐mesmo, e, sobretudo, ser fiel às suas próprias inspirações. 

    Chamamos  em  Psicologia  Analítica  de  Si‐mesmo  ao  centro  de  toda  a  personalidade.  Jung 

    define assim; “O Si  mesmo  representa o objetivo do homem  inteiro, a saber, a  realização de 

    sua totalidade e de sua individualidade, com ou contra sua vontade.  A dinâmica desse  processo 

    é 

    instinto, 

    que 

    vigia 

     para 

    que 

    tudo 

    que 

     pertence 

    uma 

    vida 

    individual  

     figure 

    ali, 

    exatamente, 

    com 

    ou 

    sem 

    concordância 

    do 

    sujeito, 

    quer  

    tenha 

    consciência 

    do 

    que 

    acontece, 

    quer   não.”  O  caminho  para  se  chegar  ao  conhecimento  de  si  mesmo  é  como  alcançar  o 

    horizonte, não tem fim, ou seja, nunca se chegará lá. A vocação do psicoterapeuta é, portanto, 

    dedicar  a  sua  vida,  seu  tempo  e  sua  inteligência,  ao  trabalho  para  o  conhecimento  de  si 

    mesmo, para

     os

     outros

     e com

     os

     outros.

     

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    O  cotidiano  do  psicoterapeuta  é muito desafiador  e  exige  demais de  si mesmo. O  segredo 

    profissional e,  sobretudo  a privacidade, exige que o  terapeuta  guarde muitas  coisas para  si 

    próprio. É uma vocação, uma exigência  interior de certas pessoas na vida, uma paixão.  Jung 

    nos  diz  que  a  função  do  trabalho  terapêutico  é  a  de  humanizar  o  divino  e  espiritualizar  o 

    humano. 

    O analista e psicoterapeuta tem duas ações a fazer; intervir acrescentando, ou então, como o 

    escultor, retirar o excesso do mármore bruto para dali surgir a criação. Para essa última ação, o 

    seu  trabalho  com os  sonhos, por exemplo, poderá  levá‐lo  a  reconhecer  junto  ao  sonhador, 

    toda expressão  criativa acobertada pelo mármore bruto, assim como ao utilizar‐se dos  seus 

    conhecimentos  filosóficos,  antropológicos  e  sociológicos  agirá  na  ação  de  acrescentar  algo 

    àquela alma pedinte. 

    É da responsabilidade do analista não se colocar de forma a induzir o seu cliente a tê‐lo como 

    um ser especial e divino; como também reconhecer que o seu trabalho não é um vôo livre, há 

    de ter

     uma

     direção.

     A

     sua

     tarefa

     é como

     acontece

     na

     alquimia;

     solve

     e coagula.

     O

      jogo

     de

     

    poder  também é de sua  responsabilidade saber evitar, assim como a mágica, o mistério e a 

    autoridade.  Precisa  reconhecer  quando  erra  e  entender  que  a  psicoterapia  não  é  estar  a 

    procura de um “insight”, e sim, dentre muitas  tarefas, pensar no  lugar do paciente e com a 

    cabeça do paciente para chegar a uma compreensão  junto com ele, da sua tarefa de alquimista 

    para solver e coagular. 

    Os pacientes, muitas vezes, em suas  fragilidades, buscam encontrar um ser humano especial 

    que os ajude a viver de acordo com as suas fantasias e os alivie de qualquer sofrimento.  No 

    entanto, ao  contatarem  como por encanto  com uma  figura perdida no  tempo e no espaço, 

    vivem‐na

     através

     daquele

     psicoterapeuta,

     ou

     então,

     buscam

     a figura

     humana

     ideal,

     cujo

     

    modelo  é  retirado  das  regiões  mais  abissais  da  alma  e  projetam  no  analista.  Também,  os 

    desafios  de  suas  experiências  passadas  vão  se misturando  naquela  figura  do  presente  que 

    parece  reativar  experiências prazerosas ou  ameaçadoras  e, por  tudo  isso,  surge um  campo 

    relacional que precisa ser compreendido por analista e analisando. 

    Muitos  indivíduos  desesperados,  e  com  suas  almas  desorganizadas,  buscam  uma 

    transformação imediata e mágica, ou ainda, experimentam os vários caminhos que prometem 

    soluções  sem a necessidade de entrar em contato com a consciência de uma personalidade 

    fragmentada,  pois  mexer  nesses  fragmentos  incomodam  muito.  Evitando  esse  sofrimento, 

    também evitariam,

     infelizmente,

     a evolução

     da

     alma.

     No

     entanto,

     quando

     se

     tem

     um

     analista,

     

    este  pertence  necessariamente  a  uma  escola,  mas  considerando  a  complexidade  da  alma 

    humana, nunca haverá uma verdade absoluta. As escolas, na nossa época, são o equivalente às 

    correntes espirituais do passado. Assim, escolher um analista é a questão de se sentir em casa 

    e  ter  ressonância  interior;  é  o  que  importa  na  hora  de  cada  um  fazer  a  sua  escolha.  As 

    instituições  jurídicas em si não têm um valor, valem somente pela qualidade das pessoas que 

    as representam. 

    O psicoterapeuta por sua vez pode seguir um caminho atrelado aos conhecimentos médicos 

    da farmacologia e neurologia, além da psicologia; enquanto outros se afastam desse saber  e 

    se voltam

     à filosofia,

     além

     da

     psicologia.

     Inumeros

     são

     os

     desafios

     a esse

     profissional

     que

     

    precisa de muito mais do que o conhecimento da medicina, filosofia, antropologia, sociologia e 

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    psicologia. Sua  tarefa é também de se sentir capaz de perceber uma unidade  funcional com 

    todos os seus fragmentos. Sua consciência adaptativa às exigências externas, tanto do campo 

    familiar quanto do social, não pode deixar de contemplar e se harmonizar às diretrizes de uma 

    natureza que habita seu ser portador de uma sabedoria inata. 

    É durante

     o trabalho

     analítico

     que

     o

     analisando

     descobre

     a sua

     vocação,

     e assim,

     sem

     

    perceber, a análise pessoal se transforma em análise didática. O analista pode orientá‐lo em 

    suas  leituras,  para  que,  de  forma  gradativa,  adquira  os  conhecimentos  necessários  para 

    realizar o  seu  trabalho. Assim, estar em análise e  fazer um bom  curso de especialização na 

    abordagem analítica são os primeiros passos para a construção de um bom psicoterapeuta. 

    Vivemos  em  uma  sociedade  capitalista  e  utilitarista,  com  mecanismos  governamentais, 

    regendo através dos conselhos, o comportamento daqueles que visam  resolver questões da 

    saúde do homem.  Assim, ainda estamos longe de ter encontrado uma maneira adequada para 

    atender aos que não estão vinculados nos conselhos de psicologia ou medicina e se descobrem 

    vocacionados para

     esse

     tipo

     de

     trabalho.

     No

     entanto,

     aos

     poucos

     vão

     surgindo

     algumas

     

    soluções;  a  exemplo  da  Filosofia  Clinica,  dos  Arteterapeutas  e  os  Psicopedagogos,  dentre 

    outros. 

    O  senso comum ainda enxerga o profissional psicoterapeuta como necessário para alguns e 

    desnecessário para outros. A necessidade de uma psicoterapia habitualmente é atribuida aos 

    portadores de distúrbios mentais ou àqueles com uma vida cheia de infortúnios. Muitos são os 

    processos psicoterapeuticos moldados para uma sociedade que exige objetividade e exclui a 

    subjetividade, a exemplo dos convênios que exigem saber quantas sessões serão necessarias 

    para resolver as dificuldades do paciente e qual o CID (Código Internacional de Doenças). 

    A  psicoterapia  visa  resolver  questões  específicas  na  vida  de  um  cliente;  enquanto  que  a 

    análise não tem fim e visa um trabalho religioso do ponto de vista  junguiano; o “Re‐ligare” que 

    significa  ligar‐se  ao  Si‐mesmo.  Esse  sagrado,  cuja  veneração  exige  um  mergulho  no 

    inconsciente,  facilita  ao  homem  uma  verdadeira  evolução  da  alma.  Sabemos  o  quanto  o 

    homem, possuidor de um nível de consciência evoluido, tem um comportamento social muito 

    mais Cristão, podendo assim amar o próximo tanto quanto a ele mesmo. 

    Esperamos contar com uma humanidade fazendo progresso no mundo interior, tanto quanto 

    vem  acontecendo  no  saber  científico  com  todas  as  descobertas.  Héstia,  uma  deusa  da 

    mitologia grega,

     sempre

     era

     representada

     em

     seus

     ritos,

     pela

     chama

     de

     uma

     lareira,

     significando a experiência de uma família harmoniosa. Esse é o convite para que cada homem 

    se  volte  a  essa  chama  interior  e  encontre  essa  paz  tão  necessária  para  a  experiência mais 

    verdadeira de ser humano. 

    A humanidade precisa de bons analistas, e o homem moderno de viver o Re‐ligare. A formação 

    de um analista pode  contribuir para um bom desenvolvimento ético e a  consciência de um 

    percurso, que deverá continuar ao  longo de sua vida. A experiência da vida com consciência 

    torna‐se assim a parte mais  importante da  formação de um analista. Analista é sinônimo de 

    responsabilidade e respeito por si e muito mais pelo outro.