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7/27/2019 Carta Programa Canto Geral 2014
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CARTA-PROGRAMA
CAnTO 2
014
GeRAl
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ndiCe
2 CAnTO GeRAl 2014
ConjunturaAs Manifestaes de JunhoA Polcia Militar e ROTA
Democratizao da MdiaMundo do trabalho
3
ApresentaoCanto Geral8A Universidade que queremosCotas!Para que a voz dos estudantes seja ouvida
GrevePermanncia EstudantilDa Universidade Extensionista Verdadeira Universidade
10
O XI que queremosColegiada: A gesto que queremos!Tesouraria ParticipativaComisses e Reunies Abertas
14
Para alm das ArcadasCopa e Olimpadas para quem?Desmilitarizao da PMO Direito Memria e a Comisso da Verdade da So FranciscoDireito e FeminismoEleies de 2014 e Reforma PolticaCultura e Poltica LGBT
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COnjunTuRA
Vrias causas podem ser apontadas para maniesta-
es que ocorreram por todo o pas em junho e julho des-
te ano: a diculdade da mobilidade urbana, cujo exemplo
maior o transporte pblico, que, via de regra, est em ps-
simas condies e tem pouca prioridade de investimento
em melhorias, impedindo o pleno direito de ir e vir da maior
parte da populao brasileira; ou a necessidade de mais
atores sociais terem direito voz nos grandes veculos decomunicao, tendo em vista a capacidade de repercus-
so/reproduo da interpretao da realidade ao modo
que convm para os interesses oligopolizados. Entretanto,
trs contradies relacionadas entre si devem ser aqui res-
saltadas e analisadas sob a viso de quem esteve nas mo-
bilizaes em So Paulo, iniciadas e organizadas pelo Mo-
vimento Passe Livre (MPL): o papel desempenhado pela
polcia militar; a resposta da maquina estatal a essa movi-
mentao; e o poder que a mobilizao de massa pode ter.
A polcia militar teve papel undamental nos atosem So Paulo, mas a quem estava servindo? A Polcia
o principal brao armado do Estado brasileiro para ques-
tes internas, sendo um recurso para manter a ordem
social posta. Assim, a PM cumpre, sempre, o papel de
garantir os interesses objetivos da classe que detm o
controle da mquina estatal, lanando mo da violncia
legal para isso. No dicil perceber nas maniestaes
que ocorreram aqui esse carter: o intuito era impedir
que as maniestaes contra o aumento da passagem
atingissem seu objetivo. Por isso oram duramente repri-
midas enquanto juntavam algumas dezenas de milha-res de pessoas. Em outras palavras, no era do interesse
do governo estadual, nem to pouco do municipal, que
essa movimentao ganhasse corpo na sociedade e ti-
vesse visibilidade, a ponto de se utilizar da ora para tal.
Essa contradio nos leva ao segundo ponto: a alta
de respostas demanda objetiva da populao organi-
zada por parte da burocracia estatal. Num contexto no
qual os atos j ganhavam ora e s aumentavam, ne-
nhum dos governos com a possibilidade de responder
demanda social levantada o zeram. Pelo contrrio, o-
ram esses mesmos os responsveis pela represso con-
tra a populao que se maniestava. Mas por que ser
que PSDB e PT se uniram nesse momento? Com certeza
uma srie de clculos polticos oram realizados para
lidar com essa situao e nortear suas decises. Entre-
tanto h algo de comum em ambos os casos: so esses
que controlam o aparato burocrtico do poder executi-
vo do governo estadual e municipal, respectivamente.
A burocracia tem como essncia a reproduo de umaorganizao, mantendo-a viva e uncional. A burocratizao
excessiva realizada para garantir a manuteno de quem
controla e/ou detm o conhecimento tcnico para gerir as
instncias das instituies no poder, aastando ainda mais a
populao em geral, que no est inclusa dentro desse rol.
No novidade a crtica lentido trazida com a bu-
rocratizao das instituies. Apesar disso, o que no se diz
que sua velocidade tem relao com seu objetivo: con-
servar o status quo. Por esse motivo, a burocracia sempre
se mostra lenta e travada s questes que no so priori-dade para quem a comanda, podendo demorar anos para
As Manifestaes de Junho
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No dia 3 de setembro de 2013 a Cmara Munici-
pal de So Paulo aprovou uma homenagem s Rondas
Ostensivas Tobias de Aguiar (ROTA). A Salva de Prata
uma condecorao pelos relevantes servios pres-
tados pela tropa de elite da polcia militar paulista. O
projeto de autoria do ex-chee da ROTA e atual ve-
reador pelo PSDB, coronel Paulo Telhada. A votao
oi tumultuada e ocorreu sob protestos de militantes
do movimento negro e ativistas de direitos humanos.
Para entendermos o motivo de tais protestos, im-
portante a apresentao de dados sobre essa instituio.
A ROTA, como a conhecemos hoje, oi criada em 1970
com a nalidade de combater os grupos que lutavamcontra a ditadura militar. Perdura at os dias de hoje, a-
zendo vtimas e enxergando naquelas(es) excludas(os)
da sociedade verdadeiras e verdadeiros inimigas(os)
de guerra. Age, portanto, como uma importante en-
grenagem da poltica do aparelho punitivo, de manei-
ra dolosa, carregada de uma imensa e latente inteno
de promover um controle social atravs de homicdios.
As Rondas Ostensivas Tobias Aguiar so hoje asmaiores responsveis pelas execues de civis e agem de
orma absolutamente autoritria e arbitrria. Um levan-
tamento eito pelo jornal Folha de S. Paulo indica que a
ROTA matou 104,5% mais pessoas no primeiro semestre
de 2012 quando em comparao com o mesmo perodo
de 2010, o que comprova o aumento da violncia letal.
Nesse sentido, homenagear a ROTA signica necessa-
riamente legitimar a violncia e brutalidade do Estado.
A Polcia Militar tem demonstrado, com sua atuao
truculenta, que a alta letalidade policial tende a vitimarinocentes e incapaz de combater a criminalidade. Ape-
sar de passar a ideia de pacicao, acaba espalhando
terror especialmente nas comunidades mais pobres. Se-
gundo relatrio da Ouvidoria da Polcia Militar, no Estado
de So Paulo a polcia matou 6% a mais do que todas as
polcias dos Estados Unidos juntas, considerando que a
Segundo relatrio da Ouvidoria da Polcia Militar, no Estado de So Paulo a polcia matou 6% a mais do
que todas as polcias dos Estados Unidos juntas, considerando que a populao de So Paulo 8 vezesmenor que a dos EUA.
COnjunTuRAtais demandas sejam atendidas. No contexto de uma so-
ciedade como a nossa, quem mais tem interesse em man-
ter a burocracia e o poder de reproduo das instituies
sociais so os donos das riquezas. Ou seja, eles so quem
mais se utiliza do Estado para atingir seus ns, por meio, porexemplo, dos contratos de prestao de servio de trans-
porte coletivo em uma cidade. Vale, ento, nos ocarmos
na movimentao da burocracia durante as maniestaes.
Em um primeiro momento, oi dito que seria im-
possvel revogar o aumento por questes orament-
rias e o movimento oi reprimido. Mesmo assim a mo-
bilizao continuou aumentando. Depois o preeito
chamou uma Audincia Pblica Extraordinria, convidan-
do o MPL. Entretanto, novamente, barreiras burocrticas
oram impostas ao pleito da mobilizao, que continuoua aumentar. Por ltimo, diante da enorme mobilizao
em torno da reivindicao, no houve mais como no
aceitar o que estava sendo demandado por parte da po-
pulao e oi revogado o aumento da passagem, sendo
apresentada essa deciso para a populao com ambos
os governantes preeito e governador lado a lado.
Aqui saltamos ltima contradio a ser explorada: o
poder da mobilizao de massa rente ordem das coisas.Mesmo com diversas impossibilidades jurdico-adminis-
trativas para se atingir o objetivo da movimentao pol-
tica encampada pelo MPL e os demais maniestantes a
reduo da taria, a organizao e a ao direta da popula-
o conseguiram romper os muros que pareciam impedi-
-los. Mais, ao se lanarem de maneira articulada contra a
deciso dos governos em questo, oi possvel escancarar
os interesses que existem por trs da burocracia de nossa
sociedade capitalista: o imobilismo social e a manuteno
da ordem. A grande lio, portanto, que a movimentao
e a organizao por meio de aes polticas com um deter-minado m so a maior ora que temos contra este estado
de coisas. No a prpria burocracia que resolver os seus
problemas, mas sim o enretamento direto com sua real ace
que pode galgar mudanas estruturais em nossa sociedade.
A Polcia Militar e a ROTA
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A mdia tem papel undamental no debate poltico
brasileiro, sendo capaz de defnir a agenda a ser discutida
pelo pas e de moldar a opinio pblica. Tendo em vista o
princpio democrtico da liberdade de expresso, contra-
ditrio que, em uma sociedade diversifcada e multitnica
como a nossa, haja concentrao da produo de contedo
veiculado por mdia nas mos de poucas pessoas so cer-
ca de seis amlias que controlam 70% da imprensa do pas.
Essa ormao de oligoplios de mdia no Brasil estligada relao promscua orjada historicamente entre o
empresariado do setor e o poder pblico, principalmente
durante a ditadura civil-militar de 1964 a 1985. Chega-se si-
tuao absurda de as Organizaes Globo, apoiadoras do re-
gime ditatorial, hoje possurem rdio, tev e mdia impressa.
O controle da mdia por poucos empobrece o debate
poltico, econmico e cultural no pas, homogeneizando
as opinies e ideologias veiculadas. Temas como reorma
agrria e valorizao das tradies culturais de origem
aricana e indgena, por exemplo, so constantemente ig-norados e manipulados em avor dos interesses de quem
COnjunTuRApopulao de So Paulo 8 vezes menor que a dos EUA.
Dentre as e os que sorem com a atuao da Polcia
Militar est principalmente a populao negra. Ao anali-
sarmos o perl das vtimas, podemos notar claramenteque so homens, pobres, jovens e negros, ainda que as
mulheres tambm no escapem desse recorte. O Mapa da
Violncia 2012 evidencia que os jovens negros tem cerca
de 3 vezes mais chance de sorer violncia que os brancos.
Na cidade de So Paulo, segundo o IBGE, 56% dos jovens
vtimas de homicdio so negros. Esse nmero atinge 71%
no caso de jovens negros mortos em conronto com a po-
lcia.
Outro ponto a ser destacado como as e os
contrrias(os) condecorao oram tratadas/os pelos po-
liciais na Cmara. A vota-
o ocorreu sob protestos
de ativistas de direitos hu-
manos e gritos de apoiado-
ras e apoiadores do coro-
nel Telhada. O presidente
da Cmara, Jos Amrico
Dias, por mais de uma vez
mandou os policiais mi-
litares que trabalham na
Casa retirarem ativistas doplenrio. A ordem gerou
indignao nas e nos ma-
niestantes que tentaram
evitar a expulso dos cole-
gas. Pessoas oram arrasta-
das e agredidas durante a
atuao policial. O mesmo
rigor, porm, no se veri-
cou contra os apoiadores do coronel Telhada.
So por esses e muitos outros motivos que o Canto
Geral se coloca contra tal homenagem ROTA e ao lado
dos movimentos contra o genocdio da populao negra epobre na perieria de So Paulo, inclusive na construo do
Ato Contra a Militarizao da Cmara Municipal no dia 2 de
outubro. Continuaremos na luta em avor da desmilitariza-
o da polcia brasileira, para que as pessoas no percam
suas vidas de orma banal, autoritria e arbitrria como
tem acontecido devido triste atuao da Polcia Militar.
Enquanto a Salva de Prata oi aprovada na Cmara, nas
perierias a populao negra e pobre sore diariamente
com o pnico, plvora, pescoo, peito e pulmes perura-
dos. At quando?
Democratizao da Mdia
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detm os meios de comunicao. Nesse sentido, os monop-
lios ou oligoplios de mdia, alm de erirem a Constituio,
prejudicam o direito inormao livre e diversifcada em
benecio da busca por lucro das empresas de comunicao.
inadivel, portanto, que a regulao das comu-
nicaes seja eita no Brasil, buscando condies para a
ormao de uma opinio pblica onde mais vozes sejam
ouvidas e participem do debate pblico. Algumas medi-
das possveis seriam a re-
gulao da propriedade
cruzada, ou seja, o direito
de um mesmo grupo eco-
nmico possuir ao mes-
mo tempo rdios, tevs,
jornais e internet; o fmda permisso de polticos
serem donos ou scios
de emissoras de rdio e
tev; a mudana nos pro-
cedimentos de concesso
das licenas de radiodi-
uso e a mudana nos
critrios de distribuio de verbas pblicas, a fm de
omentar rdios e grupos de mdia comunitrios.
Nesse sentido, vemos o Brasil muito atrasado emrelao a outros pases latino-americanos, como Vene-
zuela, Argentina, Equador e Bolvia. Os governos desses
pases enrentaram as tradicionais elites controladoras
dos grandes meios de comunicao, consolidando mar-
cos regulatrios antimonopolistas para o setor. Enquan-
to que em territrio nacional presenciamos uma alta
de vontade poltica do Poder Executivo e Legislativo em
enrentar os ortes interesses econmicos e polticos dos
grandes grupos de comunicao, os quais se apoiam
na liberdade de imprensa para manipular a opinio
pblica, bloquear o debate e manter seus privilgios.
Diante de uma evidente insufcincia e parcialidade
da mdia tradicional, iniciativas de grupos de mdias alter-nativas se destacaram durante as mobilizaes de junho
no Brasil. A rede de jornalismo independente Mdia Ninja
(Narrativas Independentes, Jornalismo e Ao), por exem-
plo, transmitiu ao vivo maniestaes em todo o Brasil
como orma de contrapo-
sio cobertura tenden-
ciosa da mdia tradicional,
que manipulou imagens
e buscou deslegitimar o
movimento com as acu-
saes de vandalismo.
Tendo em vista que a
busca por uma mdia mais
plural e aberta participa-
o de todos as parcelas
da sociedade representa
uma medida estratgica
para o avano democrti-
co do pas, essencial que nos coloquemos ao lado dos
movimentos sociais e de outros setores da sociedade ci-
vil na luta pela regulao das comunicaes no Brasil. Umdos primeiros passos apoiar o Projeto de Lei de Inicia-
tiva Popular para democratizao das comunicaes, que
precisa de, no mnimo, 1.3 milho de assinaturas para
ingressar no Congresso Nacional. uma proposta unda-
mental que tem como pressuposto a necessidade de se
pr fm concentrao monoplica da mdia, com equi-
lbrio entre os trs setores envolvidos: o estatal/pblico,
o privado/lucrativo e o social/comunitrio no lucrativo.
Tramita na Cmara Federal, em regime de urgncia, o
projeto de lei 4330, que visa regulamentar a atividade de
terceirizao dos servios. Pela regulamentao vigente
smula 331 do Tribunal Superior do Trabalho, o trabalho
terceirizado s pode ser praticado nas atividades meio,
aquelas que no so a nalidade econmica da empresa.
Dezenove dos 26 ministros do Tribunal Superior do Traba-
lho (TST) assinaram ocio enviado ao presidente da Co-
misso de Constituio, Justia e Cidadania da Cmara dosDeputados, o qual entende sobre o PL que ao permitir a
generalizao da terceirizao para toda a economia e a
sociedade, certamente provocar gravssima leso social
de direitos sociais trabalhistas e previdencirios no Pas.
preciso atentar para o ato de que, com o avano do
neoliberalismo a partir da dcada de 90, o Brasil tem passa-
do por um cenrio de aumento das terceirizaes. Dados do
DIEESE, Departamento Intersindical de Estatsticas e Estu-
dos Socioeconmicos, indicam que cerca de 10 milhes de
trabalhadoras(es), praticamente um tero do todo da classe
trabalhadora com carteira assinada, so terceirizadas(os).
Esse avano preocupante na medida em que o
COnjunTuRA
Mundo do Trabalho
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trabalho terceirizado representa um retrocesso s e aos
trabalhadoras(es) na busca de assegurar seus direitos tra-
balhistas. O trabalho terceirizado surge como um enme-
no de precarizao das relaes de trabalho no intuito de
baratear os custos de mo de obra para determinado tra-
balho e consequentemente aumentar a lucratividade do
empregador. Se antes dele a relao de trabalho se dava
pelo binmio empregador-empregado, agora se acrescen-
tou um elemento intermedirio, uma empresa prestadora
de servio terceirizado. Nesse cenrio, ao uma empresa(tomadora) contratar o servio de outra (terceirizadora),
os/as trabalhadores/as so explorados/as para gerar lucros
duplamente, tanto pela empresa que contrata o servio,
quanto para empresa que organiza a prestao do servio.
Prova disso so as disparidades salariais entre um
trabalhador contratado diretamente e um terceirizado.
Tendo que enrentar uma jornada de trabalho de 3 ho-
ras a mais por semana, o trabalhador terceirizado ganha
27% a menos que o trabalhador direto, alm de car em
mdia 2,6 anos a menos no emprego, e sob maior ris-co de acidentes trabalho cerca de 80% dos acidentes
registrados ocorrem nos trabalhadores terceirizados.
essencial destacar que o trabalho terceirizado atinge
massivamente a base social de homens e mulheres negros/
as que realizam, por exemplo, atividades invisibilizadas de
limpeza e segurana. Tambm, h outras tareas invisibili-
zadas como as do telemarketing e Call Center que possuem
predominncia dos gays para realizao de atendimentos
telenicos. Em todos esses casos, em razo dos salrios re-
duzidos, uma rotina exaustiva de trabalho e sobretudo pelaalta rotatividade, as(os) terceirizadas(os) no conseguem
sequer adquirir vnculos com o ambiente de trabalho, tam-
pouco com seus e suas colegas, impossibilitando assim a
organizao deles e delas na luta por mais direitos eetivos .
No mbito da nossa Faculdade, presenciamos uma
srie de abusos s(aos) trabalhadores/trabalhadoras ter-
ceirizados/as. Primeiramente, em vrios meses do ano
houve sucessivos atrasos no pagamento dos salrios pela
empresa HIGILIMP (terceirizadora de limpeza), prejudican-
do seriamente a vida dos e das trabalhadores e trabalha-
doras. Diversas violaes ocorrem bem debaixo dos nos-
sos olhos: na busca pelo conhecimento de seus direitos, a
uncionria Lurdinha oi arbitrariamente transerida para
outra unidade, por ter sido vista conversando com uncio-
nrio dirigente do Sindicato dos Trabalhadores da USP. A
uncionria Quitria tambm oi transerida em situao
semelhante, quando procurou companheiros do SINTUSP
para reivindicar seu direito de pagamento de rias, que
no tinha sido eetuado, embora suas rias j tenham se
acabado. Vale lembrar que esses uncionrios membros do
SINTUSP esto sendo vtima de uma clara perseguio po-
ltica, com processos de sindicncia abertos recentemente.
Essa lgica de sucessivas transerncias tem um obje-
tivo claro: servir de ameaa aos trabalhadores, deixando-os
ainda mais impotentes rente ao poder da empresa. A un-
cionria Quitria, por exemplo, oi transerida para um local
de trabalho muito distante de sua casa; ela mesma arma ter
muito medo de ter que sair sozinha muito cedo de seu bairro
rumo ao local de trabalho para onde ora transerida. Isso de-
monstra uma estratgia que claramente serve para que ela,
diante de sua impotncia, pea demisso, alm de servir de
esprio exemplo punitivo s(aos) demais trabalhadoras(es).No obstante, a empresa ALBATROZ, responsvel
pela vigilncia da Faculdade, recentemente emitiu ad-
vertncias ormais a 11 uncionrios/as do turno notur-
no, em razo de uma suposta pichao giz num dos
quadros da aculdade na poca dos piquetes da greve.
Mesmo a aculdade no tendo comprovado o ocorrido
quando solicitada, os/as uncionrios/as oram prejudi-
cados e culpados, sendo responsabilizados pela supos-
ta omisso da segurana ao patrimnio da aculdade.
Tendo essas questes em vista, surgiu como acmuloda mobilizao da greve dos estudantes deste semestre, uma
comisso para discutir a questo das(os) trabalhadoras(es)
terceirizadas(os) na aculdade, que j vem tomando medi-
das para prestar apoio poltico eetivo a esse setor acad-
mico, e que como primeira ao, produziu um maniesto
que acompanha um abaixo assinado a m de exigir a retira-
da das advertncias injusticadas aos(s) terceirizados(as)
da segurana e a extino imediata da sindicncia contra
os membros do SINTUSP que se deu como orma de per-
seguio poltica. Nesse sentido, o Canto Geral declara
apoio s aes dessa comisso, na busca de lutarmos
contra a violao dos direitos dos(as) trabalhadores(as).
COnjunTuRA
O trabalho terceirizado surge como um enmeno de precarizao das relaes de trabalho no intuitode baratear os custos de mo de obra para determinado trabalho e consequentemente aumentar a
lucratividade do empregador.
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O Canto Geral surgiu em 2012 em um contexto de
crise de representatividade do movimento estudantil.
A apatia do Resgate a rente da gesto do XI de Agos-
to, ignorando acontecimentos importantssimos, como,
por exemplo, a retirada violenta dos moradores de rua
da porta do Largo a mando da preeitura ez com que
inmeros estudantes se movessem para mudar essa
situao. A partir disso, construmos, junto a diversas
entidades, um Ato Viglia na rente do Largo em res-
posta Operao Espantalho. Cerca de 70 pessoas
passaram a noite do lado de ora da So Francisco, no
apenas tendo maior contato com uma realidade antes
ignorada por nossos olhos, mas tambm se tornando
participantes ativos das mudanas sociais que buscam.
Entendemos que a estrutura burocrtica congu-rada atualmente no nosso Centro Acadmico engessa a
atuao dos ranciscanos e ranciscanas rente poltica,
dentro e ora dos muros da aculdade. A chapa estatut-
ria, que az com que os grupos polticos percam tempo e
energia na disputa presidencial; o calendrio tradicional
de atividades do XI a ser cumprido durante o ano; as in-
meras tareas da tesouraria de mais de 8 milhes de reais
concentradas nas mos de apenas dois estudantes so al-
guns exemplos do que impede que o CA, que deveria ser o
centro organizador das mobilizaes estudantis, cumpra
esse papel, sem se prender a minscias que distanciam
aqueles que esto na gesto dos/das demais estudantes.
APResenTAO
8 CAnTO GeRAl 2014
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A ormao de nosso grupo se deu com reuni-
es abertas na aculdade, nas quais, atravs do ba-
lano do modelo de poltica ento colocado, pude-
mos elaborar um programa baseado na participao
e democracia. Prezamos por espaos horizontais,
onde se possa azer um debate pblico e sincero so-
bre os problemas da Universidade e da sociedade.
Porm, de nada vale a mais qualicada discusso se
no conseguirmos transorm-la em ao. Um dos pro-
blemas mais graves do movimento estudantil ranciscano
hoje no conseguir dar consequncia aos debates tra-
vados, tratando apenas momentnea e protocolarmente
questes de suma importncia. Exemplo atdico da situ-
ao exposta a coalizao estudantil ormada pelo XI de
Agosto durante as maniestaes de junho. Criada paraaglomerar estudantes de diversas instituies na luta por
democracia e contra os avanos conservadores que se re-
velaram, oi simplesmente abandonada depois das rias.
Queremos o movimento estudantil que se some
ao movimento da sociedade. No de orma a dirigi-la,
criando lutas prprias, sem contextualizar com os em-
bates reais. Mas que saiba o seu papel de mobilizar o
espao da Faculdade de Direito, para que esta, de or-
ma organizada, participe das lutas alm de suas Arca-
das e, desta maneira, traga para nossa realidade situa-
es que antes no conseguiriam seu espao por aqui.
Entretanto, a estrutura de poder da Universidadede So Paulo vai ao sentido contrrio de qualquer ten-
tativa de tornar esse espao democrtico e participativo.
Seja no modo como o ensino jurdico est congurado,
com aulas meramente expositivas e ns mercadolgi-
cos, sem uma ormao que eetivamente devolva para
a sociedade todos os recursos tributrios investidos
em nosso aprendizado; seja na alta de democracia na
seleo dos candidatos, enquanto a maior parte das
instituies brasileiras j aderiu ao sistema de cotas.
A greve em agosto provou que no basta obser-var de longe para que mudanas aconteam. Para que
transormemos de ato a nossa realidade necessrio
que a poltica eita aqui extrapole as medidas da mera
representao. Nesse sentido, o Canto Geral se coloca
enquanto um coletivo de esquerda, eminista e anti-
-racista comprometido em construir um movimento es-
tudantil participativo que, a partir de espaos abertos
e horizontais, organize os estudantes na luta por uma
Universidade que tenha a cara do povo que a nancia.
APResenTAO
Nesse sentido, o Canto Geral se coloca enquanto um coletivo de esquerda, eminista e anti-racista compro-metido em construir um movimento estudantil participativo que, a partir de espaos abertos e horizontais,
organize os estudantes na luta por uma Universidade que tenha a cara do povo que a fnancia.
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Discutir cotas se perguntar que modelo de Univer-
sidade a nossa sociedade precisa. Se concordarmos que a
superao das mazelas de nossa sociedade passa por uma
universidade em que ela possa se ver representada, ento
concordaremos que cotas so necessrias. No nos deve ser
natural aceitar que o Secretrio de Segurana Pblica quechea a instituio responsvel pelo cotidiano genocdio da
juventude negra tenha sado de nossa aculdade, o que seu
elitismo.
A trajetria do Movimento Negro na luta pelas aes
armativas remonta aos perodos de reorganizao da re-
sistncia ditadura e da luta pela redemocratizao, anal
para aqueles em que a exceo da violncia, marginalizao
e do preconceito sempre oi regra, no interessa outra de-
mocracia seno a material.
Neste sentido se deu a deciso pela constitucionali-
dade das cotas raciais pelo STF em 2012. Porm a intransi-
gncia do governo do estado, bem como das universidades
estaduais paulistas, em abrir canais de dilogo com o movi-
mento negro, mesmo enquanto 62% da populao apoian-
do cotas com critrios racial, econmico e de origem escolar
(segundo o IBOPE, a pedido do governo paulista).Por isso mesmo, apoiamos o abaixo-assinado do proje-
to de lei de iniciativa popular que institui cotas para negros,
ndios e estudantes da rede pblica e pessoas com decin-
cia, Protagonizado pelo Frente Pr Cotas de Estado de So
Paulo. A meta coletar 200 mil assinaturas at o dia 20 de
novembro, dia em que se celebra o dia da conscincia ne-
gra.
Para o Canto Geral, prioridade do movimento estu-
dantil que se pretenda transormador dar peso ao PL de
Cotas.
A univeRsidAde Que QueReMOs
A questo no por que cotas?, mas cotas pra quem?. A Sociedade brasileira extremamente injusta e constru-
da em cima de suas desigualdades. A cotas raciais se inserem em algo mais amplo que so as polticas afrmativas, vol-
tadas para setores da sociedade que oram historicamente marginalizados, como os negros e os indgenas, em detrimen-
to de suas importantes contribuies para o desenvolvimento econmico e social do pas. As cotas raciais no vm como
privilgio mas como direito dessas populaes enorme divida que o Estado brasileiro tem conosco. (Maria Jos Menezes - NCN)
Cotas!
Vivemos tempos conturbados na nossa universidade.
A greve na So Francisco oi a primeira das mobilizaes que
comearam a tomar conta da USP: a Escola de Artes, Cin-
cias e Humanidades (EACH) tambm entrou em greve e a re-
cente ocupao da Reitoria culminou na paralisao de cur-
sos como Relaes Internacionais, Arquitetura e Urbanismo,
Farmcia, Pedagogia, Letras e Cincias Sociais. A diculdade
de dilogo com as instncias deliberativas da universidade,alm de posturas antidemocrticas por parte dos gestores
so atores que esto presentes, em maior ou menor impor-
tncia, nas demandas de todos estes estudantes mobilizados.
A constante batalha contra a burocracia universi-
tria parece sempre culminar num ponto bastante es-
pecco: a orma como so escolhidos os componentes
dos nossos rgos deliberativos e os gestores mais po-
derosos dentro dessa estrutura. A luta por diretas paraReitor e Diretor e pelo aumento da representatividade
Para que a voz dos estudantes seja ouvida
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discente nos rgos so bandeiras antigas do movimen-
to estudantil e trazem tona diversos pontos sobre un-cionamento, gesto, espaos de deciso e participao
na universidade, bem como sobre a sua prpria uno.
Hoje, a escolha do Reitor, denida atravs do Decreto
no. 6283, de 1934 da USP, acontece em duas ases. Primei-
ro, a Secretaria Geral da Universidade organiza uma lista
com oito possveis nomes a serem eleitos pelo Conselho
Universitrio (CO), Conselhos Centrais e Congregaes das
Unidades. Depois, na segunda ase, apenas o CO e o Con-
selho Central 0,94% da comunidade universitria - votam
e denem trs nomes que sero encaminhados para o Go-vernador do Estado sancionar e decidir o prximo reitor.
O atual reitor Joo Grandino Rodas props em julho
desse ano, que ocorressem mudanas nesse processo elei-
toral, estendendo a possibilidade de voto a todos, com vias
de torn-lo mais democrtico e participativo. Essa mu-
dana mascara o ato de que a maior parte da comunida-
de universitria continuar alheia gesto da USP, uma vez
que a composio do conselho que pouco representati-
va para os estudantes e uncionrios - e a orma de indica-
o se mantm. Pode inuenciar, tambm, na autonomia eauto-organizao das categorias, com a proposta de que a
USP se responsabilize pelas eleies de seus representantes.
A impossibilidade de votarmos e elegermos dire-
tamente o Reitor de nossa universidade, bem como de
termos maior representao nas instncias de poder da
USP, evidencia uma poltica interna antidemocrtica, que
veta a participao da maioria, e ainda se estrutura em
resqucios de perodos de echamento poltico. Se no
podemos participar ativamente das decises tomadas
pela universidade desde as polticas gerais, at a gestonanceira e os projetos consequentemente somos bar-
rados de, institucionalmente, disputar a uno da USP.
Dessa orma, acaba sendo comum a incidncia de agen-
tes externos hoje na nossa universidade: a presena de un-
daes que se utilizam de prdios pblicos para gerar lucros
sem que tenham sido aceitas pela comunidade acadmica
e a prpria apario de projetos empresariais que visam in-
uenciar nas linhas de pesquisa e o prprio espao da acul-
dade sem que sejam debatidos com os estudantes e uncio-
nrios no so coincidncia. So reexo de uma estrutura que
no se prope a permitir que aamos parte de decises que
inuenciaro diretamente na nossa ormao acadmica.
Por isso essa pauta to relevante. Por nos possi-
bilitar exercer o direito democrtico de escolher nosso
representante e tambm por escancarar a necessidade
de reivindicarmos mais democracia nas instncias deli-
berativas, que nos possibilitem inuenciar mais nos ru-
mos da USP, para que e pra quem serve a universidade.
Para alm disso, consideramos que uma univer-
sidade mais democrtica tambm uma universidade
que produza teoria e tecnologia em prol da populao
que a sustenta, e que seja por ela permeada. E isso s
ser possvel quando o acesso USP or verdadeiramen-
te democratizado, com cotas raciais e sociais que permi-
tam um ambiente mais rico e verdadeiramente popular.
Para avanarmos nessa questo, preciso que os es-
tudantes tomem esse debate pra si, mas tambm que,
em dilogo com as outras categorias proessores e ser-
vidores ormulem uma proposta coletiva, anal, quan-
tos mais ormos envolvidos nisso, maior ser nossa condi-
o de intervir na poltica. Apenas com a unidade entre
todas as categorias possvel vislumbrar uma mudan-a e maior participao para denir os rumos da USP!
A univeRsidAde Que QueReMOs
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A univeRsidAde Que QueReMOs
GREVE!Dentro do debate de universi-
dade, que propomos aqui estabelecer
como programa, undamental azer-mos uma anlise de como o processo
da greve da So Francisco este ano se
deu e quais oram seus ganhos e dicul-
dades. A nossa greve, que um marco
histrico j pelo ato de ser a primeira
em mais de dez anos, demonstrou es-
sencialmente duas coisas: a necessida-
de de as e os estudantes se mobilizarem
para terem avanos concretos em rela-
o a seu ensino e sua participao na
universidade e tambm que a estrutura
de poder burocrtica e autoritria da a-
culdade e da universidade o principal
entrave para qualquer processo modi-
cador da nossa realidade universitria,
como oi visto em relao pauta dos
60 creditos livres, um dos eixos da greve.
A situao do problema das ma-
trculas no nova, mas este semestre
ela atingiu um limite insustentvel para
todos(as). Acompanhando a mudanana conjuntura nacional, as e os estu-
dantes adotaram de a greve, um dos
mtodos mais radicalizados ao qual
se poderia recorrer, para exigir da bu-
rocracia universitria uma resoluo
para esta questo, avanando ainda na
presso por uma ormao melhor a
partir da exigncia do aumento do n-mero de crditos livres e do debate de
um novo Plano Poltico Pedaggico. O
Canto Geral esteve presente e construiu
os espaos da greve por entender que
a soluo para todas estas questes
passa por ns nos mobilizarmos e ter-
mos uma postura combativa perante
o jeito como nossa ormao tratada
nesta aculdade, j que o dilogo era
um mtodo que j havia sido esgotado.
A burocracia mostrou-se um gran-
de inimigo das e dos estudantes, sendo
que todas as reivindicaes estudantis
eram pautas que precisariam passar
por todas as estruturas da aculdade
para serem aprovadas, principalmente
a questo dos crditos livres, que at
hoje no oi resolvida e ainda passa
pelos rgos universitrios. O choque
dos estudantes com a estrutura deno-ta que a luta era tambm contra esta
estrutura antidemocrtica, por mais
poder decisrio na mo dos estudantes
e menos concentrao de poder e auto-
ridade na mo de poucos proessores.
Por isso, pensamos que o un-
damental para tirar desta greve, para
alm das vitrias que ela teve e damobilizao ocorrida, a conscin-
cia de que s conseguiremos eetivar
e avanar nas conquistas em relao
a nossa universidade se lutarmos por
eleies diretas e paritrias para rei-
tor e diretor e aumentarmos o po-
der das e dos estudantes e tambm
das(os) trabalhadoras (os) em relao
aos rgos colegiados na estrutura.
undamental que o debate de
eleies diretas para diretor e reitor
se vincule discusso de um progra-
ma que permita aos ocupantes desses
cargos se comprometerem com de-
terminadas pautas, de orma a coleti-
vizar e democratizar o debate acerca
do modelo de Universidade que que-
remos. S assim poderemos participar
eetivamente na construo e eeti-
vao de uma nova grade, na discus-so sobre crditos livres, polticas de
incluso, aes armativas e apoio s
extenses, de modo a caminhar no sen-
tido de uma universidade verdadeira-
mente pblica, popular e democrtica.
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H muito tempo que na academia se prioriza a produo
de um conhecimento positivista, pautado pela racionalidade sis-
tmica supostamente neutra e descolada dos conitos sociais.
Cada vez mais, a universidade brasileira se distancia do contex-
to em que est inserida e se torna surda aos apelos do povo que
a sustenta. Nela, o conhecimento produzido de orma acrticae alienada, os estudantes so tratados como capital humano
do mercado de trabalho e direcionados s grandes empresas.
Dado esse quadro em que as instituies de ensi-
no superior se mostram incapazes de ormar prossionais
socialmente responsveis e comprometidos com a cons-
truo de um Brasil mais justo e igualitrio, torna-se de
suma importncia a valorizao de projetos de extenso
que quebrem com esse paradigma e retomem a real na-
lidade da universidade pblica, gratuita e de qualidade.
A extenso deendida pelo Canto Geral uma exten-
so de carter popular, capaz de estabelecer um dilogo
aberto entre o meio universitrio e a sociedade em que est
inserido. A extenso parte da compreenso de que o conhe-
cimento produzido na universidade deve estar a servio da
comunidade que o sustenta e que sua uno estabele-
cer a ponte de unio entre o saber acadmico e o saber po-
pular. A promoo da extenso universitria a nase do
carter pblico da universidade, sendo, portanto, crucial.
Na realidade da So Francisco, percebemos que a ex-
tenso enrenta diversas diculdades, como alta de recur-
sos e a no correspondncia entre os crditos cedidos e a
dedicao necessria construo dos projetos. Nesse sen-
tido necessria a valorizao da extenso enquanto par-
te integrante do currculo acadmico, garantindo que os
alunos tenham contato com a realidade em que esto in-
seridos e aprendam a partir dela. O Canto Geral entende a
importncia dessas atividades e da articulao do Frum
de Extenso na luta por um novo modelo universitrio.
A univeRsidAde Que QueReMOs
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Motivo de propulso da Greve das Federais em 2012, a de-
cincia de recursos destinados permanncia estudantil um
dos marcos da ltima gesto da reitoria. O papel da Universida-de no se encerra em assegurar o ensino gratuito, mas tambm
garantir condies para que a/o estudante permanea nela.
So Paulo a cidade mais cara do Brasil, os altos ndices de es-
peculao imobiliria e o consequente aumento no preo dos
servios az com que os custos com moradia e alimentao se-
jam um impasse para a concluso do curso de muitas pessoas.
A Casa do Estudante, nossa moradia estudantil, oi
inaugurada em 1949 e hoje carece de uma reorma estru-
tural. Fiaes expostas e paredes mal conservadas so uma
realidade muito pouco conhecida pela maior parte dosranciscanos e ranciscanas. Hoje, a Casa recebe apenas 5%
do repasse de verbas do XI de Agosto, o que mal d pra pa-
gar a sua manuteno. Esse mais um dos motivos que de-
monstra a urgncia de uma rediviso peridica de verbas.
O bandejo outro assunto relativo permanncia estu-
dantil que necessita de ateno. Transerido do poro para o 2I
do prdio anexo atravs de uma articulao entre a gesto Res-
gate e o diretor Rodas em 2009, possui alguns problemas relati-
vos a direitos trabalhistas. Apesar do avano necessrio devido
s condies de salubridade do espao antigo, a contrapartida
negociada por aquela diretoria oi a de terceirizao do bande-jo noturno e deve ser revista. Atualmente, os uncionrios da
empresa prestadora recebem menos da metade dos salrios e
encargos que os uncionrios administrados pelo COSEAS. Alm
disso, o tempo de atendimento desse perodo escasso, permi-
tindo que o aluno e a aluna coma somente at as 19h, o que in-
viabiliza alguns/algumas estudantes de azerem essa reeio e
conciliarem com seus trabalhos e demais atividades. papel do
XI de Agosto mobilizar e pressionar para uma mudana substan-
cial do bandejo, tanto na expanso seu horrio de atendimento
e da eetivao do atendimento no ca da manh, quanto paraque o trabalho eetuado pelos servidores no seja precarizado.
Por m, a pr-aluno, conta com pouqussimos com-
putadores em relao ao nmero de estudantes, o que az
com que durante as avaliaes sempre haja uma imensa
la espera do seu uso. Isso sem contar no baixssimo n-
mero de impresses (30 pginas mensais) garantidos pela
Faculdade, sendo esta a quantidade diria propiciada na
Faculdade de Filosoa, Letras e Cincias Humanas (FFLCH).
Permanncia Estudantil
Da Universidade Extensionista Verdadeira UniversidadeNuma sociedade cuja quantidade e qualidade de vida assentam em confguraes cada vez mais complexas de saberes, a legi-
timidade da universidade s ser cumprida quando as atividades, hoje ditas de extenso, se aproundarem tanto que desapaream
enquanto tais e passem a ser parte integrante das atividades de investigao e de ensino. (Boaventura de Souza Santos)
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As maniestaes de junho, ao colocar milhes de pesso-
as s ruas, sobretudo jovens, puseram em questionamento o
papel das entidades representativas no mbito estatal e social
rente s necessidades da populao. O carter diuso e es-
pontneo que assumiram sintoma da averso poltica quese incorporou ao senso comum brasileiro, alm da incapacida-
de apresentada pelas lideranas polticas de compreenderem
as demandas e darem voz e coerncia a elas.
As reivindicaes populares de junho, embora reais e
legtimas, resultam claramente do mago do senso comum,.
Surgiram os protestos a partir da pauta da taria de nibus,
verdade, mas logo se encontravam cartazes pela educao;
pela sade; pelo m da corrupo. justamente a isso que
se deveriam se prezar as lideranas e os intelectuais: dotarem
de coerncia e unidade determinado aspecto do pensamen-
to popular. E nisso, o nosso Centro Acadmico XI de Agosto
amarga a alta de protagonismo e o mais proundo desprop-
sito em relao ao que deveria representar.
Se nos ltimos anos j notamos uma grande perda do
protagonismo do XI no cenrio poltico estudantil, as manies-
taes de junho nos mostraram que, muito embora a gesto
tivesse assinalado alguma preocupao em ormular espaos
e discusses, absteve-se das ruas na maior parte do tempo e
da disputa de conscincias e mentes das e dos ranciscanos.
A nalidade de trazer para dentro do Territrio Livre a ora
das maniestaes e levar para ora das Arcadas o movimento
estudantil que reivindicamos oi simplesmente inexistente na
prtica da atual gesto.
Se queremos um XI que no se resuma a atuaes pro-
tocolares e pouco eetivas rente a momentos como estes que
marcaram o ano de 2013 no Brasil, tambm queremos um XI
que esteja na vanguarda dos processos polticos e dos anseios
das e dos estudantes para dentro da nossa Faculdade. A rela-o da administrao da Faculdade com o corpo estudantil, ao
se transormar num gargalo que impossibilitou a eetivao
das matrculas, exigiu de ns uma resposta coletiva e organi-
zada, resultando num movimento crescente que no s de-
fagrou uma greve, mas que tambm avanou em discusses
como a reormulao da grade curricular, a implementao
de um novo Projeto Poltico Pedaggico e alterao na orma
com que os estudantes e uncionrios se relacionam com os
rgos colegiados, por meio do aumento da participao des-
ses setores e pelo voto direto e paritrio para diretor(a).
Fazer com que essas lutas sejam vitoriosas depende de
uma confuncia de atores e de um enorme empenho do
corpo estudantil, mas essencial que o XI de Agosto estejaconectado a esses processos, antevendo, catalisando e dando
conseqncia a esses anseios. Se a gura de um presidente
durante a greve j se ez desnecessria, quando no mera-
mente ormal, no se pode admitir que uma gesto escolha
pela inrcia quando se exige mudanas. Uma entidade que
no se arrogue meramente representativa, mas que se preten-
da maior participao possvel das e dos estudantes deve,
antes de tudo, ter responsabilidade com o papel poltico-ins-
titucional que deve exercer, nunca se esquivando nas aes
ou suspendendo as lutas travadas, mas preenchendo o Pteo
O xi Que QueReMOs
Nossa capacidade de mudana no pode mais caber na Salinha do XI e no pode se restringir a dez pessoas.Nossa voz no pode mais ser alada apenas por um(a) presidente(a) e deve ecoar cada vez mais dentro e ora
das Arcadas. esse o XI que queremos!
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de braos e mentes e avanando nas reivindicaes colo-
cadas. Um XI que no se limite conduo de Assemblias
e reunies, mas que aa com que elas tenham sentido a
cada um das e dos ranciscanos e que seus resultados se-
jam o avano eetivo do nosso Movimento Estudantil.
Se a cabea pensa onde os ps pisam, ns, do Canto
Geral, devemos buscar cada vez mais com que as lutas das
ruas sejam a nossa luta, e que os problemas dos estudantes
sejam os problemas de uma gesto. Nossa capacidade de
mudana no pode mais caber na Salinha do XI e no pode
se restringir a dez pessoas. Nossa voz no pode mais ser a-lada apenas por um(a) presidente(a) e deve ecoar cada vez
mais dentro e ora das Arcadas. esse o XI que queremos!
O xi Que QueReMOs
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Quando olhamos para os parti-
dos e instituies estatais, notamos
que dierenas em menor ou maior
grau na orma como se estruturam ese elegem seus representantes se re-
fetem em alteraes substanciais na
orma como a poltica eita. No Movi-
mento Estudantil no dierente, Por
isso, possvel dizer que o modo como
um coletivo estudantil se organiza in-
ternamente pode ser considerado um
importante indicativo de como se dar
a sua atuao.
Primeiramente, uma perguntaessencial a ser eita : qual a uno
dos cargos do XI? O Estatuto do XI nos
responde de orma clara.
Sob a presidncia recaem as obri-
gaes de representar pblica e juridi-
camente a entidade, ormalizar a con-
tratao e demisso dos uncionrios,
transmitir o cargo ormalmente ao seu
substituto legal sempre que estiver
impedido presidir as eleies de dire-toria e Conselho Fiscal.
As/os Diretoras/es Gerais substi-
tuem a presidncia caso haja impedi-
mentos o vacncia do cargo.
J a tesouraria obrigada a
autorizar recebimentos e despesas,
executar o planejamento econmico
aprovado pela diretoria, movimentar
conjuntamente contas bancrias emnome da entidade, apresentar balan-
cete bimestral da entidade, rubricar os
livros contbeis da entidade e assinar
os respectivos termos de abertura e
encerramento e, por m, comunicarpor escrito aos membros do Conselho
Fiscal sobre todos os resgates de cotas
eetuados perante o Fundo de Investi-
mento.
As secretarias so divididas no
cargo de Secretria/o Geral e de Or-
ganizao. O primeiro secretaria as
Assembleias Gerais e as reunies da
diretoria, lavra as atas de Assembleias
Gerais as assina juntamente com apresidncia e secretaria as eleies de
diretoria e Conselho Fiscal. O segundo
substitui o primeiro em suas unes,
com exceo do encargo de secreta-
riar as eleies para a diretoria e Con-
selho Fiscal. Alm disso, h as obriga-
es de organizar e ter sob sua guarda
o arquivo do XI, organizar e manter em
dia a correspondncia da entidade,
providenciar para os novos associadoscpia dos estatutos do CA e providen-
ciar para os associados a identidade
acadmica.
Apesar de maante, zemos
questo de enumerar todas as un-
es. Nenhuma escapou. Dado isso, a
refexo que se az necessria : qual
a real necessidade dessas unes se-
rem to compartimentadas? Por que a
diretoria do XI de agosto, que j possuiestatutariamente o carter de rgo
colegiado em suas decises, precisa
de uma diviso rgida, ormal e buro-
crtica de unes? Qual o prejuzo se
em algum momento essas unes o-rem exercidas de orma menos hierar-
quizada e estanque?
No bastasse a burocratizao da
diviso de unes, que no cotidiano
da gesto notamos que tais unes
no so as nicas e mesmo estas no
so exclusivamente cumpridas por
aqueles que oram escolhidos para tal,
importante pontuar alguns male-
cios que a chapa estatutria gere ao XIe ao Movimento Estudantil da Sanran.
Uma vez que a escolha da(do)
presidenta(e) no se d de orma ale-
atria, mas meritocrtica, o que per-
cebemos todos os anos uma intensa
disputa de carter pessoal dentro dos
coletivos para chancelar quem en-
cabear a chapa. Muitas vezes - ou
quase sempre-, os candidatos sequer
divergem acerca da orma como geriro XI ou deu ma plataorma poltica am-
pla, mas ainda assim criam dierencia-
es permeadas por egolatrias e auto-
promoes, enxergando muitas vezes
a gesto do XI enquanto um ttulo ou
honraria, e no uma responsabilidade
meramente poltica e representativa.
Para alm disso, tal como a
mquina do XI est colocada, a(o)
presidente(a), alm dos outros dire-tores, necessariamente precisam ter
Colegiada: A gesto que queremos!
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disposio nanceira necessria para
estarem na gesto, seja pela demanda
exclusiva gerada pelo carter pblico
do presidente, seja pelos deveres so-
ciais decorrentes do cargo. Ou seja,
para alm da necessidade de se cons-truir primordialmente enquanto gura
pblica ao longo do ano, o que faz
com que debate de ideias, to essen-
cial nossa Faculdade, se apequene
a imagens e retrica, para isso o pre-
sidente do XI precisa ter acilidade -
nanceira.
No toa podemos dizer que,
em 102 anos de histria, tivemos
apenas quatro mulheres presidindo
o XI, alm de no haver registros nos
anais do XI de Agosto de um presi-
dente que tenha sido negro (para
no alarmos sobre a quantidade de
homens presidentes e mulheres secre-
trias).
Se junho nos demonstrou algo
acerca das deasagens das instncias
representativas numa sociedade de-
mocrtica, que o aastamento das
pessoas aos rgos decisrios gera
necessariamente incompreenso e
alienao. Mais do que uma gura que
nos represente e que seja uma lide-
rana poltica, precisamos de braos
e mentes dispostos a gerir o XI com
responsabilidade e dedicao e azercom que o nosso movimento de ato
se movimente. Num espao to rico
de ideias como o XI, no podemos nos
valer de uma lgica to ultrapassada
para gerir uma entidade com tanto
potencial. Por isso, cumpre ressaltar
que uma gesto colegiada deve, assim
como o Canto Geral pretende, buscar
uma Reorma Estatuinte que dinami-
ze no s o modo como se compe a
gesto, mas a melhor orma que o XIse organize para ser realmente um ins-
trumento de lutas, e no uma mqui-
na infada de tareas burocratizantes.
Sorteamos os cargos entre mem-
bros do grupo comprometidos a reali-
zar uma gesto do XI e apresentamos
uma chapa com cargos por nica e ex-
clusiva obrigao imposta pelo Estatu-
to do CA. Nas nossas reunies de gru-
po, e assim como ser na gesto, todas
as vozes tero a mesma importncia e
todas as ideias sero igualmente de-
endidas e questionadas.
Os deveres burocrticos atinen-
tes aos cargos do XI sero cumpridos
tal como exigidos, como as assinaturasde documentos, mas todas as outras
unes sero realizadas no a m de
termos uma gesto que cria excelen-
tes retricos e administradores de ta-
belas e grcos, mas uma gesto que
cumpre seus deveres com responsabi-
lidade e pode, com tranquilidade, ca-
talisar os anseios e as necessidades de
um movimento combativo e de lutas.
Se o XI pra lutar, vamos azer
dele nossa melhor erramenta e exigir
daqueles que o gere responsabilidade
e comprometimento ao invs de dis-
cursos enlatados e imagens bem cons-
trudas, construindo um movimento
que altere de ato a realidade dentro
e ora das Arcadas e que consiga atrair
cada vez mais as e os ranciscanas(os)
para a vida poltica da aculdade.
essa a gesto que queremos!
O xi Que QueReMOs
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Tesouraria Participativa
No que se reere ao modelo de XI de Agosto, acreditamos
que hoje a atual organizao colocada insuciente para as
demandas das/dos estudantes da FDUSP. Um XI orte, atuante,
aberto participao de todas/os estudantes, visando ser re-
erncia na organizao e mobilizao dos estudantes dentro
e ora da aculdade. Essa insucincia do modelo se d tanto
na orma como hoje se estrutura o Centro Acadmico, como
tambm na atuao das gestes recentes que o ocuparam.
No plano estrutural, a tesouraria de nosso CA a expres-
so mais clara de um modelo insuciente, apresentando uma
regulamentao engessada, indisponvel comunidade da a-
culdade. Exemplo claro disso o Programa de Participao do
Aluno, que dispe sobre as regras do Oramento Participativo
(OP) e o Fundo de Iniciativas Acadmicas (FIA).
Ele obriga o XI a realizar ambos OP e FIA, partes consti-
tutivas do Programa de Participao do Aluno (PPA). A verba
que possibilita a realizao plena do PPA advm do Fundo de
Investimento do XI (FIXI); no entanto, dierentemente do restodo undo, o PPA possui uma regra de clculo prpria. Caso ren-
desse igual ao restante do undo, estima-se que a verba para o
PPA chegaria em torno de R$25.000,00, realidade dierente da
atual, em que chega prxima de R$10.000,00.
Assuntos como estes devem ser objeto de anlise em As-
sembleia Geral Extraordinria, a m de tornar mais acessvel e
rentvel o uso dessas verbas, pilar undamental da participa-
o estudantil nas gestes do XI.
Alm de uma regulamentao que impossibilita um
acesso mais proveitoso, no que se reere a postura dos gru-
pos que ocupem o CA, as gestes do XI de Agosto tm de ter
comprometimento com o OP e o FIA, abrindo os editais com a
devida antecedncia e transparncia. No o que vericamos
se analisarmos o que ez a ltima gesto. O edital do OP oi lan-
ado somente em setembro, pouco mais de um ms das elei-
es para o CA. Se analisarmos o regulamento do Oramento
Participativo, notaremos que h a regra expressa de que a Di-
retoria do Centro Acadmico XI de Agosto deve lanar Edital
de Convocao e realizar o pleito de votao dos projetos para
o Oramento Participativo no primeiro semestre letivo, sendoo Edital convocado at a 1 semana de abril e a divulgao pr-
via intensa, sob pena de anulao do pleito. Logo, ca claro a
alta de compromisso que a gesto Resgate de 2013 teve com
o OP. O Canto Geral se compromete a dar seriedade e gran-
de importncia ao OP, entendemos que o dinheiro do XI deve
ser aproveitado de orma mais democrtica possvel pelas/os
ranciscanas/os. Inmeros projetos culturais e ans poderiam
ser melhor realizados caso as gestes exibilizassem e am-
pliassem o uso do PPA em proveito das/os estudantes.
Por m, outro pilar da participao estudantil a cotalivre de xerox. Neste ano, enrentamos grande resitncia da
gesto em providenciar subsdios para a participao poltica
livre dentro das arcadas. A poltica se realiza no debate pblico
intenso de ideias, tolher a liberdade de imprimir panetos e
similares colabora para um espao pblico poltico decitrio
na So Francisco.
Alis, vivemos um dcit democrtico no que tange ao
espao pblico da aculdade. A situao da cota de xerox oi
agravada quando, no incio do segundo semestre, oi proibida
a colagem de cartazes nas paredes da aculdade. Dessa orma,
dentro de um esoro de valorizao do espao pblico comoterritrio democrtico para que o debate poltico ocorra, o
Canto Geral assume o compromisso de ornecer cota livre
de xerox. Por m, necessrio deixar claro que a cota livre em
muito pouco onera o XI de Agosto. Experincias de gestes
anteriores demonstram que essencialmente uma escolha
poltica, e no tcnica, meramente nanceira, uma gesto no
ornecer a cota livre.
Rediviso de Verbas
A FDUSP historicamente reconhecida por sua grandedinamicidade. Entre extenses e outras atividades extraclasse,
a So Francisco sempre oereceu uma ampla gama de ormas
das/os estudantes expandirem sua graduao. Invariavelmen-
te essas atividades pressupem algum investimento. O CA XI
de Agosto deve ajudar a custear essas atividades. Na atualida-
de, isso, de ato, ocorre; mas de orma limitada.
Desde a rediviso de verbas de 2008, quando oi delimi-
tado o percentual que cada entidade existente poca teria
de acesso ao FIXI, so contempladas somente a Atltica, o
Departamento Jurdico, a Academia de Letraz, a Casa do Es-tudante, o Servio de Assessoria Jurdica Universitria (SAJU),
o Ncleo de Estudos Internacionais (NEI) e o Teatro do Largo.
Nota-se que o nmero de entidades reduzido em relao ao
que temos hoje. Observamos uma clara incompatibilidade en-
tre a atual realidade da aculdade e a politica de manter essa
diviso.
Portanto, o Canto Geral se compromete em sua gesto
do XI de Agosto a realizar um debate com a comunidade
acadmica a m de rever a rediviso de verbas de 2008 de
orma democrtica e amplamente participativa, por meiode uma Assembleia Geral dos Estudantes.
Diga-se de passagem, que nesta mesma rediviso de
2008, cou raticado o entendimento de que o CA XI de Agos-
to deveria ter o compromisso de destinar parte de suas ver-
bas para a manuteno eetiva e suciente das atividades do
Juizado Especial Cvel hoje, Juizado Especial Federal, que
unciona no edicio anexo So Francisco. necessrio rever
tambm qual a necessidade de se manter esse Juizado. Ele
visa beneciar somente advogados que trabalhem no centro
e a Justia Federal. O XI paga os uncionrios deste Juizado, oque demonstra claramente que o JEF onera a gesto e ocupa
um espao valioso para atividades estudantis.
CAnTO GeRAl 2014 17
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A experincia do ano de 2013 conrma que dentro do
Movimento Estudantil a melhor orma de se deliberar e pro-
mover o debate em termos democrticos e abertos. Reuniesabertas e ormas horizontais de participao se tornaram uma
constante na So Francisco e em demais universidades pbli-
cas, seja para as reunies acerca do investimento privado na
aculdade, ocorridas durante o primeiro semestre, seja para a
construo de um novo grupo para Representao Discente,
ou at mesmo a experincia com os Comandos de Greve e Mo-
bilizao
Logo, o Canto Geral deende que uma gesto do CA re-
alize reunies abertas sempre, com vistas a intensicar a par-
ticipao poltica nas Arcadas. Visando concretiz-las melhor,
propomos trs comisses para o CA XI de agosto que operem
na lgica de reunies abertas: Comisso de Centro, de Cultura
e Integrao e de Finanas.
O xi Que QueReMOs
18 CAnTO GeRAl 2014
Comisses e Reunies Abertas
Comisso de Centro
O Centro de So Paulo sore de inmeros probelemas que batem portade nossa aculdade. So problemas relacionados com o direto moradia,
especulao imobiliria, segurana pblica, ao consumo de drogas.A Faculade de Direito no pode ser indierente a essas questes, deverda comunidade ranciscana pensar constantemente o que pode ser eitoem relao a todas essas questes do Centro.
Para tanto, criaremos a comisso de Centro, responsvel por idealizar erealizar projetos e debates que possam viabilizar a participao diretadas e dos estudantes em ormas de agir na tentativa de superao dosproblemas j arrolados que assolam a regio central de So Paulo hoje.
Comisso de Finanas
Por m, apresentamos nossa proposta de Comisso de Finanas. Seguin-do o mesmo escopo de empoderar as e os estudantes, pretendemos
com essa comisso azer os estudantes conhecer mais a tesouraria do
XI de Agosto. A ltima gesto pouco ez para que todas e todos tives-
sem propriedade das nanas do XI. As reunies abertas duraram pou-
cos meses, e eram muito conusas, alm disso, os balanos apresentados
eram pouco claros, terminando por mais obscurecer o debate do que
realmente colocar s claras o que estava sendo eito e apropriar os e as
estudantes dos problemas e permiti-los pensar a tesouraria de seu pr-
prio Centro Acadmico.
Atrelado Comisso de Finanas, est o Conselho de Tesouraria, que
criaremos com todas as tesourarias de entidades junto ao Centro Acad-mico. Nosso intuito possibilitar que seja eita uma prestao de contas
recproca entre XI e entidades, alm de viabilizarmos uma melhor orma
de solucionar os problemas nanceiros das entidades. Notamos, ao lon-
go do ano de 2013, que as entidades apresentavam muitas demandas
em reunies de tesouraria, sendo que as ltimas no eram sucientes
para resolver os problemas. Acreditamos que uma orma coletivizada
de tratar essas questes a melhor orma para que todas as entida-
des, conjuntamente, solucionem seus problemas que tambm devem
ser problemas do XI de Agosto.uma orma coletivizada de tratar essas
questes a melhor orma para que todas as entidades, conjuntamente,
solucionem seus problemas que tambm devem ser problemas do XI deAgosto.
Comisso de Cultura e Integrao
Um centro acadmico desta aculdade deve nos omentar estas de conraternizao universit-
ria, como tambm deve incentivar maniestaes
culturais e de lazer dentro e ora dos muros da So
Francisco.
Nesta comisso ser possvel se discutir de orma
horizontal as estas que devero ser eitas no poro,
alm daquelas tradicionalmente eitas ora da acul-
dade; quanto se gastar com as estas; de que ma-
neira se organizaro as maniestaes culturais tra-
dicionais dessa aculdade, includo aqui o grito do
peru, peruada, dia da matrcula; discutir e omentardebates, projetos de lazer estudantil e projetos de
cultura e extenso.
Basicamente, o que se pretende com essa comisso
levar e elevar a discusso de cultura e lazer de or-
ma horizontal. Pretende-se atravs dessa comisso
possibilitar que as ranciscanas e ranciscanos pos-
sam omentar as estas, lazer e maniestaes cultu-
rais que elas/eles queiram.
Isso se torna no s undamental para uma melhor
escolha daquilo que ser eita, como tambm possi-
bilitar uma melhor discusso daquilo que ser eita,e no dentro de uma salinha dos escolhidos.
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CAnTO GeRAl 2014 19
PARA AlM dAs ARCAdAs
Copa e Olimpadas para quem?
O Brasil est prestes a vivenciar dois eventos de pro-
pores gigantescas: a Copa do Mundo de 2014 e as Olim-
padas de 2016. simples perceber que em geral esse tipo
de megaevento vem acompanhado de intensas trans-
ormaes no plano urbano e no legislativo, sendo im-
possvel no associar a Copa a novos projetos de cidade.
E quais seriam as perspectivas do Brasil nesse quadro?Primeiramente, se a questo habitacional brasileira j
grave do jeito que est, os grandes projetos de alterao ur-
banstica tem muito potencial para pior-la. Para os movimen-
tos de moradia, o mais preocupante o salto no nmero de
remoes oradas: dados dos Comits Populares da Copa
espalhados pelo Brasil estimam entre 170 e 200 mil remoes
relacionadas a obras para a inraestrutura dos eventos. Em
geral, as reas removidas apresentam valorizao imobiliria
recente, e so compostas majoritariamente por amlias que
j habitavam no local de orma pacca e por mais de 5 anos.Para alm disso, a questo do trabalho precarizado se so-
bressai no contexto das grandes obras realizadas. Estdios e ro-
dovias vm sendo construdos por empresas que se utilizam de
operrios empregados e sub-empregados em pssimas condi-
es de trabalho, embolsando os recursos pblicos e se apro-
veitando do pressionamento da FIFA quanto ao atraso nas cons-
trues para justicar a violao dos direitos dos trabalhadores.
tambm preocupante o contedo da Lei Ge-
ral da Copa que oi aprovada em 2012, revelia dos mo-
vimentos populares. Entre outras medidas claramen-te incompatveis com a nossa legislao, esta lei cria
reas de exclusividade, das quais esto excludos os vende-
dores ambulantes e onde a segurana ser intensicada.
No possvel uma denio precisa do que ser a se-
gurana pblica no Brasil durante os megaeventos. O ex-
pressivo aumento na presena ostensiva da Polcia Militar
no trato com a populao e a possibilidade de o Exrcito vir
a intervir em distrbios da ordem pblica caso a polcia no
consiga az-lo demonstram um claro recrudescimento da
poltica de segurana pblica nos nveis estadual e nacional.
Os impactos dos megaeventos em nosso pas esto
apenas comeando a se apresentar. Com a nalizao das
obras e a intensicao da atuao da Polcia Militar no ano
de 2014 os movimentos relacionados moradia e direitos
humanos preveem um aumento signicativo das mobiliza-
es populares contra as violaes de direitos. At 2012 j
havia acontecido 18 greves trabalhistas nas 12 cidades quesediaro jogos no prximo ano, e a tendncia que este n-
mero aumente com a presso para o trmino das obras.
Por isso o Canto Geral apoia e se prope a construir em
conjunto com movimentos que debatem os impactos dos
megaeventos e a mobilizam a populao em torno dessas
pautas, como o Comit Popular da Copa de So Paulo. Para
ns undamental que o XI de Agosto esteja inserido nas
mobilizaes populares que acontecero em 2014, seja ca-
paz de discutir este tema com os estudantes e construir um
trabalho consistente e responsvel em conjunto com os mo-vimentos populares em deesa dos direitos do povo brasileiro.
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20 CAnTO GeRAl 2014
Amarildo, servente de pedreiro mo-
rador da avela da Rocinha, no oi mais
visto aps ser levado a sede da UPP para
vericao de documento. Enquanto
a polcia arma que oi dispensado logo
aps apresentar o RG, a amlia e conhe-
cidos denunciam seu desaparecimento.
Investigaes recentes concluem que
Amarildo oi torturado e morto dentro
da Unidade, durante procedimento deinvestigao da polcia.
Quem Amarildo? Segundo dados
da prpria Polcia Militar, o ndice de mor-
tes em conrontos com a polcia de duas
por dia. Segundo dados comparados da
Secretaria de Vigilncia da Sade (SVS) e
Sistema de Inormaes de Mortalidade
(SIM), de 2002 at 2010 o nmero de ho-
micdios vitimando brancos oi reduzido
em 33%, enquanto a porcentagem dehomicdios contra negros aumentou em
23%. Segundo o prprio SIM, do total de
jovens mortos pela polcia de So Paulo
em 2010, 71% eram negros.
No mapa de regies por ndice de
mortalidade em conronto que a polcia,
podemos perceber que o maior nmero
de homicdios ocorrem nas regies mais
pobres e periricas das cidades. No Rio
de Janeiro, por exemplo, o BOPE uma
polcia especializada em subir a avela
ainda mais truculentos, so um desta-
camento especial para lidar com o lado
negro da cidade maravilhosa. Em So
Paulo a ROTA no atua de maneira muito
dierente, j que ambos os batalhes o-
ram criados pela ditadura com propsitos
semelhantes.
A histria de Amarildo a histria
de muitos brasileiros: pobres, moradores
e moradoras da perieria, negras e negros,
so o grupo mais vitimado pela violncia
da Polcia Militar. Se durante as manies-
taes de junho nos assustamos com a
truculncia da Polcia, temos que lembrar
que na perieria as balas no so de bor-
racha, e que os crimes ali cometidos no
so levados a pblico.
A quem serve a Polcia Militar? Apolcia militar nasce junto com o AI-5,
quando da estruturao da violncia do
estado. Treinada para reprimir em nome
da ordem e do progresso, a PM at hoje
conserva treinamento militar, para com-
bater um inimigo, ormando um ver-
dadeiro exercito contra as populaes
marginalizadas. Encampando uma verda-
deira poltica de extermnio, a Polcia Mi-
litar surge como brao armado do Estado
contra a populao pobre e negra: sem
educao, emprego ou moradia, tornam-
-se um problema a ser eliminado.
Por esse motivo, muitos movimen-
tos sociais lutam pela desmilitarizao da
polcia. A idia principal acabar com o
treinamento militar de nossas polcias, de
orma a limitar a poltica de extermnioencampada em nosso pas. No dia-a-dia
das avelas, nas reintegraes de posse
violentas, ou nas maniestaes nas ruas,
a Polcia Miliar vem cumprindo o papel de
brao armado do Estado, sem qualquer
respeito com os mais bsicos direitos hu-
manos.
A reestruturao da segurana p-
blica undamental para a consolidao
de uma verdadeira democracia. Junto a
bandeira de cotas raciais na Universida-
de, o Canto Geral se coloca junto ao mo-
vimento pela desmilitarizao das nossas
polcias, de orma a combater o racismo
institucional e na sociedade, assim como
colocar um m no genocdio que hoje
cometido contra nossa populao preta,
pobre e peririca.
Em cada morro uma histria dierente
Que a polcia mata gente inocente
Banditismo por uma questo de classe
Nao Zumbi
Desmilitarizao da PM
PARA AlM dAs ARCAdAs
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Integrando o debate de gnero ao qual nos pro-pomos, de extrema importncia a discusso do Direi-to por uma perspectiva eminista. Nesse sentido, a des-criminalizao do aborto, o estatuto do nascituro, a leiMaria da Penha, o assdio no estgio e as mulheres na Facul-dade so alguns temas importantes de serem elencados para
a discusso sobre a gura da mulher no mbito do Direito.
Descriminalizao do aborto
A previso do tipo penal de abortoem nosso cdigo, longe de ser uma cons-truo neutra, reete e endossa toda umaestrutura social patriarcal e machista. Acriminalizao da conduta uma orma deinterveno do Estado sobre a sexualidadeda mulher que, mantida desde a entradaem vigor do Cdigo (em 1940), reproduz
a lgica na qual so sempre os outros sejam eles o pai, o marido, a Igreja ou, porque no, o Estado os responsveis pelatutela das escolhas das mulheres. Tal crimi-nalizao uma garantia do paradigma damaternidade como destino inexorvel damulher e, ainda que a interveno puniti-va muitas vezes no se eetive, a tipica-o contribui para a estigmatizao socialdaquelas que optam por realizar o aborto.
No bastasse a tipicao ser um
instrumento de controle da sexualidadeeminina, ela tambm mascara que a crimi-
nalizao do aborto , hoje no Brasil, uma questo de sadepblica. A proibio da prtica no signica que ela deixe deexistir no plano concreto da realidade e, no caso do aborto issono menos verdade: milhares de mulheres realizam abortos,e no deixam de az-lo por ser uma prtica criminalizada. Noentanto, tais abortos so eitos ilegalmente (visto a tipicao),
sendo em grande parte das vezes sem a estrutura e os cuida-dos necessrios - sobretudo nos casos de mulheres pobres.
Relembrar o passado undamental para que con-
sigamos superar os erros do presente. Quando ala-
mos na militarizao da Polcia, carregamos com essaexpresso todo o aparato ideolgico-repressor criado
ainda no imprio e implementado durante a Ditadura.
Ao nos mobilizamos em 2012 para a criao de uma
Comisso da Verdade na So Francisco, na esteira da criao
de diversas outras Comisses estatais e institucionais, avan-
amos o debate no apenas no sentido de investigar os mor-
tos e desaparecidos dentro das Arcadas, mas principalmente
no papel que a So Francisco teve enquanto ormuladora do
pensamento jurdico e na ormao de quadros da Ditadura,
como Gama e Silva e Buzaid. O grupo de estudo que sobre -
veio dessa mobilizao (Projeto Memria Institucional) e a
ampliao de debates relativos justia de transio, pro-
va a necessidade de rearmarmos alhas e incompletudes.Numa aculdade em que proessores ainda escrevem
em suas lousas homenagens Revoluo de 64 no dia 1
de abril, papel de um movimento estudantil combativo or-
talecer a luta pelo direito memria e consolidar na histria
nossos reais erros e acertos. Ns, do Canto Geral, no deixa-
remos com que a Comisso da Verdade da So Francisco
(CVSF) seja esquecida. Para alm dos eventos e dos debates
a serem omentados, papel da gesto do XI pressionar a
diretoria da Faculdade para a renomeao imediata dos pro-
essores CVSF e a continuao dos trabalhos j iniciados.
CAnTO GeRAl 2014 21
PARA AlM dAs ARCAdAsO Direito Memria e a Comisso da Verdade da So Francisco
Direito e Feminismo
7/27/2019 Carta Programa Canto Geral 2014
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Dessa maneira, gritante o nmero de mulheres que mor-
rem ou cam com algum tipo de sequela em consequncia
de procedimentos abortivos realizados de maneira precria.
Descriminalizar o aborto, portanto, no uma apo-logia ao aborto, como alguns insistem em dizer, mas,
sim, uma garantia sade e ao exerccio de escolha damulher sobre seu prprio corpo uma vez reconhe-cido o direito de abortar, a mulher poder exercer suaescolha com relao maternidade, de acordo com
seus valores e crenas, e ter o respaldo do Estado, sejapara levar a gravidez adiante, seja para interromp-la.
PARA AlM dAs ARCAdAs
22 CAnTO GeRAl 2014
O projeto de lei para a criao de um Estatuto doNascituro trouxe recentemente e de maneira mais ao-rada o debate sobre a relao entre Direito e gnero. OPL 479/07 prope o reconhecimento de direitos do em-brio desde o momento da concepo, o projeto garantesua proteo integral e a prioridade absoluta de sua ex-pectativa do direito vida. ou seja, em outras palavras oprojeto acabaria por sobrepor os direitos de um embrioaos direitos de uma mulher adulta.
Assim, o projeto d ensejo, por exemplo, penali-zao de mulheres que praticarem at mesmo interrup-es de gravidez hoje permitidas: o aborto em casos degravidez provocada por estupro ou para salvar a vida dagestante, excees do prprio CP/40, e o aborto em casode eto anencalo, como pacicoucadode na recente
deciso do STF. Nos casos relativos gravidez provocada
por estupro, o PL, alm de penalizar a pessoa que aborta,prev a concesso de penso alimentcia vtima, situa-o considerada absurda pelos movimentos eministasde todo o pas.
A apresentao e debate do PL 479/07 dialoga ne-cessariamente com a discusso sobre o exerccio de esco-lha da mulher sobre seu corpo, visto que viola os direitoshumanos e reprodutivos da mulher, assim como prevretrocessos na legislao penal vigente e na discussosobre o.
A proposta de proteo integral s clulas embrio-nrias, se aprovada, poderia implicar ainda na proibioda utilizao de contraceptivos de emergncia (plulas dodia seguinte), j que estes podem agir mesmo aps a or-mao do zigoto, e tambm poderiam car ameaadas as
pesquisas com clulas-tronco embrionrias.
Estatuto do nascituro
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CAnTO GeRAl 2014 23
PARA AlM dAs ARCAdAs
Assdio no estgio e as mulheres na Faculdade
Para alm do mbito estritamente legal do Direito, o machismo se revela tambm nas relaes que travamos: seja naFaculdade, seja no estgio. No raro ouvirmos queixas de diversas mulheres que se sentem oprimidas no ambiente de traba-lho so alvos de olhares, de julgamentos, de cantadas. Tratam-se de expresses de uma objeticao que, recorrentemente,recai sobre a mulher e seu corpo.
Um exemplo de caso de assdio no estgio que vivemos nesse ano oi o da jovem estudante de Direito da PUC, VivianeAlves Guimares. A jovem, segundo indicam anotaes suas antes de cometer suicdio, teria sido estuprada por um colegadurante esta de conraternizao do escritrio no qual trabalhava. O escritrio em questo, o Machado Meyer, pouco contri-buiu poca para as investigaes policiais, possivelmente acobertando o agressor da jovem.
Quanto aculdade, so dois os elementos que desejamos analisar: um reerente s proessoras e outro s alunas. Asproessoras so minoria no corpo docente e sensvel uma dierena de julgamentos eitos pelos alunos e pelas alunas emrelao a elas. raro ouvir uma discusso, por exemplo, sobre a beleza de um proessor, enquanto, no caso das proessoras, o
julgamento da aparncia tende a at mesmo preceder o da qualidade de suas aulas.
Com relao s estudantes, interessante pontuar o tratamento que elas recebem em ambientes de estas. So recor-rentes, nesses espaos, o desrespeito, os julgamentos constantes e a objeticao de seus corpos. Nesse sentido, tendo emvista que estamos a poucos dias de duas das mais icnicas estas da So Francisco, nas quais as posturas machistas tendem ase agravar ainda mais, vale lembrar que o no de uma mulher signica, exatamente, no.
A violncia domstica muito mais que um problemacontingente, atomizado ou apenas de determinadas rela-
es conjugais: um problema social, que ocorre reiterada-
mente nos ncleos amiliares, e que opera como demonstra-
o do poder patriarcal sobre as mulheres. A violncia contra
a mulher pode ser entendida como uma orma de exerccio
do poder que aos homens conerido pela lgica machista
de nossa sociedade, dentro da qual seria justicvel que
eles zessem uso da ora para corrigir determinadas
posturas das mulheres. O tolhimento da mulher por meio
da agresso opera como um mecanismo de garantir que ela
continue exercendo os papis a ela impostos social e histori-camente os trabalhos reprodutivos e restritos ao ambiente
privado.
A lei Maria da Penha surge, nesse cenrio, como uma
estrutura de rompimento da recorrente postura estatal, pela
qual o Estado tende a eximir-se de qualquer orma de inter-
veno no mbito amiliar, justicando-se pela tradicional
separao pblico-privado. Dessa maneira, a lei conere tra-
tamento dierenciado quela que historicamente oprimida
em relaes desiguais e rearma as mulheres enquanto su-
jeitos de direito.
Lei Maria da Penha
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PARA AlM dAs ARCAdAs
24 CAnTO GeRAl 2014
Reorma Poltica e
Soberania Popular
O tema da reorma poltica a
ser realizada no Brasil polmico e
controverso. Enquanto resposta do
Governo Federal s maniestaes
de junho, esta oi uma proposta
que parece atender aos anseios
daqueles que oram s ruas, mas
at que ponto?
A obrigatoriedade de pari-
dade de gnero na poltica se az
urgente: apenas 8,77% da CmaraFederal composta por mulhe-
res, e no Senado apenas 14,81%.
Tambm a exclusividade do nan-
ciamento pblico essencial para
que os programas polticos sejam
cada vez menos inuenciados pe-
los interesses das empresas, e cada
vez mais pelos reais necessidades e
anseios do povo brasileiro.
Mas acima de tudo isso, de-endemos que a reorma poltica
se d no sentido se construir uma
nova orma de azer poltica, ali-
cerada na democracia direta e na
soberania popular, desenvolvendo
cada vez mais e melhores instru-
mentos de participao dos sujei-
tos polticos e da sociedade.
Para que tudo isso acontea,
e nos termos que o povo brasileiroquer, undamental que nos mo-
bilizemos. Os protestos de junho
expuseram as limitaes de nossas
instituies na orma em que esto
colocadas, e devemos aproveitar o
momento de discusso sobre a re-
orma poltica para debater a undo
os problemas do Brasil e convert-
-lo num processo de mobilizao e
educao poltica para todos ns.
Aps os movimentos de junho
deste ano, parece que j oi dada a
largada para as eleies de 2014. Pe-
culiarmente, est se ormando um
cenrio que aparentemente rompe
um pouco com a dicotomia entre PT
e PSDB que vinha se ormando nos
ltimos anos nacionalmente, mas
apenas aparentemente. De um lado
temos Acio Neves, candidato liga-
do aos setores mais conservadores
da sociedade, que colocam os inte-
resses econmicos acima de qual-
quer projeto poltico para o Brasil.
Do outro lado temos Dilma Roussef,
que vem de um primeiro mandato
contnuo ao projeto lulista, que ga-
rantiu uma srie de melhorias para
os setores menos avorecidos econo-
micamente com a particularidade de
construir-se dentro da ordem e sem
grandes quebras de paradigmas. Em
contraposio, temos aqueles que se
apresentam como novo, mas que no
undo sabemos que esto muito mais
prximos da velha poltica. Recente-
mente, Marina Silva que tanto alava
de uma renovao poltica, ao ver o
racasso de seu novo partido se jun-
ta a Eduardo Campos e ao PSB. No
s essa aliana programtica que
os aproxima da velha poltica, mas
tambm o envolvimento direto com
o banqueiro Setbal do Ita e o em-
presrio Guilherme Leal da Natura.
Por que Acio Neves e o PSDB
so um atraso poltico? Usando junho
para responder essa questo, vemos
dentre as pautas menos genricas
exigidas pela populao um certo
desconorto em relao aos servios
pblicos em geral. Entraram com
maior destaque nessas pautas sa-
de, transporte e educao. Nos anos
FHC, que Acio e Alckmin parecem
lembrar com tanta saudade, a classe
trabalhadora soreu derrotas histri-
cas por conta do avano do neolibe-
ralismo, assim, reivindicaes como
essas dos servios essenciais oram
deixadas de lado em detrimento do
ortalecimento da iniciativa privada.
Foram os anos de maior esplio eco-
nmico: as unes do Estado oram
reduzidas apenas gesto do apa-
relho, a reorma da previdncia oi
realizada e o ator previdencirio oi
criado. A maneira PSDB de governar
a orma do reducionismo, da au-
sncia de dilogo e da precarizao:
reduzem o setor pblico a uma mera
administrao de bens, que tem que
ter resultados e saldos positivos.
Temos grandes divergncia
com essa maneira de governar. A po-ltica estadual do PSDB reete direta-
mente na ausncia de democracia na
USP, sendo uma reproduo da ma-
neira com que os governos tucanos
tm no dilogo com quem reivin-
dica melhorias. Reete tambm na
resistncia que as universidades es-
taduais apresentam contra um pro-
jeto srio e eetivo de cotas raciais.
Eleies de 2014
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PARA AlM dAs ARCAdAs
Os anos recentes mostraram um avano do undamen-
talismo religioso e do conservadorismo contra a temticaLGBTT no Brasil. A demonstrar isso, um dos exemplos maiscomentados deste ano: o projeto da cura gay, propostopelo deputado Joo Campos (PSDB-GO), que oi pauta devotao da Comisso de Direitos Humanos e Minoria, pre-sidida, paradoxalmente, pelo pastor e deputado Marco Fe-liciano, conhecido nacionalmente por lamentveis opiniesracistas, machistas e homobicas.
Tal projeto carrega consigo uma carga muito negativaacerca da sexualidade. Ele no apenas alseia, por meio deum discurso cienticista, os conitos e contradies em que
a/o LGBTT submetida/o socialmente, como tambm tentaconerir prpria diversidade sexual carter patolgico. Oprojeto oi, por ora, arquivado pela Cmara, aps orte pres-so popular, mas se engana quem acha que essa oi uma vi-tria denitiva: o projeto pode vir a tona a qualquer momen-to, em uma conjuntura propcia para que ele seja aprovado,representando um retrocesso inestimvel para as LGBTT.
H de se questionar a inuncia signicativa que abancada evanglica exerce no Congresso: objetivando azervaler seus interesses sectrios, erem a laicidade do Estado,to undamental para um Estado que se pretende democr-
tico e de Direito. Utilizam-se, ademais, de uma suposta liber-dade de expresso absoluta para destilar agresses homo-
bicas contra pessoas LGBTT - o que no admissvel, pois
sabido que nenhum princpio absoluto, sobretudo quandose propaga um discurso de dio que ere outros princpiosbasilares do Direito.
Prova disso oi a presso exercida pelo conservado-rismo que conseguiu barrar o material produzido pelo MECdestinado a combater a homoobia nas escolas. O Kit Esco-la Sem Homoobia, consistia em um material paradidtico,com apostilas, livros, vdeos e cartazes, construdo em con-
junto de diversas ONGs, movimento LGBT e o prprio MEC.Ele demonstrava uma poltica acertada para combater a pr-tica de violncia e discriminao no mbito do ensino m-
dio, que visava a conscientizao por meio da educao. Ora,vivemos em um contexto que, em cada escola brasileira, hpelo menos um menino ou menina sorendo com a violnciasica e verbal, no s por parte de alunos, como tambm deproessores e uncionrios. So jovens que sequer discutemacerca de orientao sexual nos lares e podem acabar natu-ralizando e reproduzindo uma lgica discriminatria contraas LGBT. A prpria Unesco avaliou, a poca, da seguinte or-ma o projeto: Os materiais do Projeto Escola Sem Homoo-bia esto adequados s aixas etrias e de desenvolvimentoaetivo-cognitivo a que se destinam, de acordo com a Orien-
tao Tcnica Internacional sobre Educao em