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XIII Encontro Regional de Agroecologia do Nordeste crato/ce Cartilha Preparatoria

Cartilha do xiii era nordeste crato

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Page 1: Cartilha do xiii era nordeste crato

XIII Encontro Regional de Agroecologia do

Nordeste crato/ce–

Cartilha Preparatoria

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A juventude do campo e da cidade: semeando a transforma o queçã

sonhamos!

Construtores do ERACrato/CE

Quadra chuvosa de 2013

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“Ordem e progresso”

Zé Pinto

Esse é o nosso paísEssa é a nossa bandeira

É por amor a essa pátria BrasilQue a gente segue em fileira

Queremos mais felicidadesNo céu deste olhar cor de anilNo verde esperança sem fogoBandeira que o povo assumiuNo verde esperança sem fogoBandeira que o povo assumiu

Amarelos são os campos floridosAs faces agora rosadas

Se o branco da paz se irradiaVitória das mãos calejadas

Se o branco da paz se irradiaVitória das mãos calejadas

Esse é o nosso paísEssa é a nossa bandeira

É por amor a essa pátria BrasilQue a gente segue em fileira

Queremos que abrace essa terraPor ela quem sente paixão

Quem põe com carinho a sementePra alimentar a nação

Quem põe com carinho a sementePra alimentar a nação

A ordem é ninguém passar fomeProgresso é o povo feliz

A Reforma Agrária é a voltaDo agricultor à raiz

A Reforma Agrária é a voltaDo agricultor à raiz

Esse é o nosso paísEssa é a nossa bandeira

É por amor a essa pátria BrasilQue a gente segue em fileira

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➢Apresentação ----------------------------------------------------------------------------➢Construtores do ERA -------------------------------------------------------------------◦ABEEF -----------------------------------------------------------------------------------◦ENEBio ----------------------------------------------------------------------------------◦ENEV ------------------------------------------------------------------------------------◦FEAB ------------------------------------------------------------------------------------◦LPJ ---------------------------------------------------------------------------------------◦MST --------------------------------------------------------------------------------------➢O Beato Zé Lourenço, o Caldeirão e o desejo do povo pela terra ---------------➢Padre Cícero e seus preceitos ---------------------------------------------------------➢Informações importantes --------------------------------------------------------------➢Grade do XIII ERA Nordeste – Crato -----------------------------------------------➢Dia a dia ---------------------------------------------------------------------------------➢Pré-ERA's -------------------------------------------------------------------------------➢Textos para os Pré-ERA's -------------------------------------------------------------◦A necessidade da ressignificação da relação sociedade natureza e a proposta da agroecologia. --------------------------------------------------------------------------◦O protagonismo da juventude no semiárido: a experiência do coletivo regional do Cariri, Seridó e Curimataú. -----------------------------------------------◦Criatividade da juventude é fundamental. ------------------------------------------◦Falta da estrutura e possibilidade faz com que jovens abandonem o campo. --◦Educação do Campo. ------------------------------------------------------------------◦Eu quero é luta. -------------------------------------------------------------------------◦Movimentos sociais consideram Política Nacional de Agroecologia insuficiente. -------------------------------------------------------------------------------◦Por que a tecnologia não chega no campo? ----------------------------------------◦Agroecologia versus tecnologia - verdade ou mito? ------------------------------◦Lutadoras do campo. ------------------------------------------------------------------◦ENEBio e agroecologia. --------------------------------------------------------------◦Agroecologia e medicina veterinária de mãos dadas. -----------------------------➢Sugestões para complementar o estudo ---------------------------------------------➢Contato dos Construtores do ERA ---------------------------------------------------➢Campanhas que os Construtores do ERA constroem ------------------------------

indice

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O Encontro Regional de Agroecologia (ERA) é um ambiente de inserção no debate sobre agroecologia, pensado inicialmente para os estudantes dos cursos das agrárias, mas que no decorrer de sua história vem se reinventando e atraindo novos sujeitos para essa construção.

Para o nosso XIII ERA Nordeste além da participação da FEAB, ENEBio, ABEEF e ENEV teremos também uma atuação mais próxima dos movimentos camponeses pertencentes a Via Campesina – como o MST, MAB e MPA – e dos(as) Quilombolas da região do Cariri cearense.

Tendo como horizonte uma maior interação entre os atores da construção da agroecologia no Brasil e um fortalecimento dessas organizações, através da aproximação de novas pessoas interessas em construir esse grande movimento em defesa de nossa natureza e pela soberania alimentar.

Nesse encontro traremos como temática a “Juventude do campo e da cidade: semeando a transformação que sonhamos!” entendendo que a juventude cumpre um papel importante e é protagonista dessa revolução agroecológica

por ser ela quem construirá hoje o que viveremos no amanhã. Sendo ainda @s jovens personagens importantes na existência de inúmeras experiências agroecológicas que deram e continuam dando cada vez mais certo na agricultura hoje.

Dessa forma o encontro trará debates sobre a situação da juventude em nosso país e sobre o seu papel na construção da agroecologia, além de como se dá a inserção do jovem no campo brasileiro e de como ele é explorado e exterminado pelo agronegócio, que aniquila toda a perspectiva de produção e reprodução de sua vida. Além de tratar sobre o êxodo dessa juventude, as relações de gênero, acesso a educação e outros serviços.

Entendendo que a agroecologia é além de uma forma de produção, que junta ciência e técnica, é também política, dessa maneira trazemos as oficinas e vivências com o intuito de preparar os encontristas para serem capazes de reproduzir e utilizar em seus locais de inserção as técnicas agroecológicas. Assim convidamos todos e todas a virem para o nosso Cratinho de açúcar, terra abençoada pelo Padim Ciço construir junto da gente a agroecologia que sonhamos e que queremos!!!

“A vida tava tão boa” (Coco Raízes de Arco Verde)

A vida tava tão boa, pra quê mandou me chamarEu tava no juazeiro, no sertão do cearáA vida tava tão boa, pra quê mandou me chamarTava no crato, de crato para monteiroDe monteiro para o crato, e do crato pra juazeiro.Depois do crato eu voltei para monteiro.De monteiro para o crato, e do crato pra juazeiro.A vida tava tão boa, pra quê mandou me chamarEu tinha só 13 anos, você pode acreditarA vida tava tão boa, pra quê mandou me chamarQuando minha mãe morreu, eu só pensava em chorar.A vida tava tão boa, pra quê mandou me chamarParti para o juazeiro pensando em trabalhar.A vida tava tão boa, pra quê mandou me chamarFiquei com a minha tia na roça eu fui plantar.A vida tava tão boa, pra quê mandou me chamarEsse coco é todo meu, você pode acreditar.A vida tava tão boa, pra quê mandou me chamarCanto coco e canto roda para a moçada brincar.A vida tava tão boa, pra quê mandou me chamar

Eu sou de uma terra que o povo padeceMas n o esmorece e procura vencer.ãDa terra querida, que a linda caboclaDe riso na boca zomba no sofrerN o nego meu sangue, n o nego meu nomeã ãOlho para a fome, pergunto o que h ?áEu sou brasileiro, filho do Nordeste,Sou cabra da Peste, sou do Cear .á

Patativa do Assaré

Apresenta oçã

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Associa o brasileira dos estudantes de Engenharia florestalçã

A Associação Brasileira dos Estudantes de Engenharia Florestal – ABEEF é uma entidade sem fins lucrativos que or-ganiza e articula @s estudantes de Engenharia Florestal a nívelnacional,regional e local, preocupada com uma melhor forma-ção técnica,política e ética dos estudantes, para que estes possam compreender e atuar sobre a realidade social de nosso país, uma vez que a Universidade nos moldes atuais, cada vez menos cumpre papel de construção de sujeitos críticos à realidade na qual estão inseridos. Assim, ao longo de sua história a Associação atuou em torno do objetivo de construir uma sociedade justa, igualitária, sem exploradores e explorados e que utilize os recursos naturais de forma equilibrada, harmônica e sustentável. E esses objetivos se mantém firmes, e definem o horizonte de trabalho de nossa organização bem como a nossa forma de atuação.

Para isso, a ABEEF tem a universidade como principal área de atuação, entendendo que todos devem ter direito a uma educação pública, gratuita, autônoma e de qualidade. Mas, e claro, não enxerga a universidade como uma bolha isolada dentro da sociedade e por isso expande seus horizontes para além de seus muros. Nesse sentido, a ABEEF vem estreitando laços com os movimentos sociais populares ligados ao campo, principalmente os que estão inseridos na VIA campesina (como MST, MAB, etc.), à floresta e à cidade, além de estreitar ainda mais os laços com outras entidades do Movimento Estudantil.

Executiva Nacional dos Estudantes de Biologia

A ENEBio - Entidade Nacional dos Estudantes de Biologia, reorganizada em 2007, é composta por diversas escolas do Brasil e vem durante estes 5 anos construindo o Movimento Estudantil da Biologia, colocando em debate os principais problemas que encontramos nesta sociedade, no meio ambiente e também em nossa formação e educação.

Ela reconhece em sua carta de princípios o desacordo com a exploração do homem pelo homem e da natureza pelo homem, e bem como qualquer forma de mercantilização de recursos naturais, pessoas e valores, como acontece no sistema capitalista. Defende a construção da agroecologia como instrumento de luta, com o intuito de despertar uma nova ética ecológica nos seres humanos, que priorize valores socialmente justos, ambientalmente seguros e economicamente viáveis. Reconhece também a luta contra as opressões, seja ela de classe, origem

Construtores do era

Companheiro(a)” Erick FeitosaAo te verme vejoPois meus sonhoscorrem nas suas veias,seu grito de indignaçãovibra na minha gargantae sai tão alto quanto o teu.Seu inimigo é meu inimigoSeus outros companheiros também são meus companheirosOs teus passos rumo a utopia realda libertação do nosso POVOnão serão dados solitários e doloridosPois estarei do teu ladocaminharei ao teu lado.A caminhada será coletiva,as dores será divididase as alegrias multiplicadas.Por FimCompanheiro(a),Confesso!Olho no teu olhoe sinto a confiançade que nunca estaremos sóenquanto estivermos em movimento.

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nacional, gênero, etnia, religião, orientação sexual e política. Luta por uma educação para tod@s, gratuita, laica, socialmente referenciada e de qualidade, com caráter emancipatório e transformador e acredita na organização coletiva como forma de superação das contradições sociais. A Entidade então se propõe a promover a luta pela superação desse modelo social, articulando discussões pertinentes à formação do sujeito biólogo, dentro dessa perspectiva, para que cada vez mais estudantes possam ser protagonistas da transformação que queremos para nossa sociedade, com visão e posicionamentos políticos críticos a respeito dos fatos do Brasil e do mundo.

Com o objetivo de fortalecer cada vez mais a troca de experiências e massificar nossas discussões (proporcionando a construção de novos valores e as relações de companheirismo), a ENEBio realiza todos os anos Encontros Nacionais e Encontros Regionais de Biologia, ENEB e EREB respectivamente, onde deliberamos sobre as ações da nossa entidade, como também os Conselhos Nacionais e Regionais, CONEBio e COREBio respectivamente, onde organizamos e planejamos nossas atividades ao longo do ano. Além disso, para instrumentalizar nossa militância, proporcionando uma formação crítica mais aprofundada sobre temas importantes para transformação social e alteração do modelo vigente, a ENEBio realiza Cursos de Formação Política da Biologia (CFPBio) e em Agroecologia (CFA), organiza os Estágios Interdisciplinares de Vivência (EIV) em diversos estados.

Em 2013, estaremos construindo uma Campanha Nacional com o seguinte tema: “Formação Profissional: Nosso verde não é negócio”. Tendo duas escolas compondo a Gestão da Articulação Nacional: a UFS e a UFLA.

Necessário ressaltar a importância das parcerias da ENEBio, resultado de uma construção diária e concreta de lutas e articulações com alguns Movimentos Sociais Populares, em especial com componentes da Via Campesina, e com outras executivas de curso, como a FEAB (Federação dos Estudantes de Agronomia do Brasil) e a ABEEF (Associação Brasileira dos Estudantes de Engenharia Florestal). Essa aproximação mostra uma identificação cada vez maior de nossa Entidade com as causas populares e o

Povo Brasileiro, colocando o papel protagonista que a juventude tem a cumprir dentro e fora da universidade.

A ENEBIO representa os estudantes de biologia do Brasil que se identificam com a luta pela transformação da sociedade, para que vivamos num mundo mais justo e sustentável, com maior equidade social e onde reconheçamos o ser humano como integrante da natureza e agente transformador da mesma, e convida a todos e todas as estudantes de biologia de nosso país, a lutar!

Executiva nacional dos estudantes de veterin riaá

A Executiva Nacional dos Estudantes de Veterinária é a entidade máxima que representa todos os estudantes de Medicina Veterinária do Brasil. Além disso, é o ambiente de confraria das atividades desses estudantes que tem o intuito de se organizarem para se articularem e assim conciliar o curso com as necessidades sociais atuais.

O MEV, Movimento Estudantil da Veterinária, se iniciou na década de 50, juntamente com os estudantes de Agronomia onde formaram o Diretório Central dos Estudantes de Agronomia e Veterinária do Brasil (DCEAVB) durando aproximadamente seis anos e se desencorpando assim, em dois, o DCEAB (Agronomia) e o DCEVB (Veterinária).

Durante anos, ocorriam-se Congressos Brasileiros dos Estudantes de Veterinária (C.B.E.V) nas escolas do Brasil, mas devido ao Regime Militar em 1964, as entidades de Veterinária se

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desarticularam. Em 1982, quando a sociedade estava se rearticulando, encontrou-se a necessidade da criação de uma Entidade representativa dos estudantes de Veterinária, e assim, durante o III Encontro Nacional dos Estudantes de Veterinária, em Curituba – PR é fundada a ENEV.

A Executiva atualmente se encontra num processo de reorganização e rearticulação. A Coordenação Nacional se encontra nas escolas UFBA, UECE e UFSM. É posto em pautas a necessidade de participar mais intensamente do M.E. Geral e estreitar os laços de coletividade através da articulação dos CEBEV’s (Conselho de Entidade de Bases de M. Veterinária).

“E assim, a história se segue, do passado ao presente, apontando um novo futuro.”

Federa o dos estudantes de agronomia do brasilçã

A FEAB – Federação dos Estudantes de Agronomia do Brasil – nossa quarentona, tem muita coisa para contar de sua jornada. Altos e baixos, muita luta travada.

Viemos nesses 40 anos organizando a estudantada, fazendo formação e realizando lutas. Levantando e balançando as nossas bandeiras que são: Educação; Gênero e sexualidade; Agroecologia; Juventude, cultura, valores, raça e etnia; Relações internacionais; Movimentos sociais populares; Ciência e tecnologia; História e

comunicação.Uma caminhada de mãos dadas com o povo. Rumando a construção de projeto de vida

para o campo brasileiro, construindo a Agroecologia, que traz consigo novas formas de relação da camponesa e do camponês entre si e com a natureza. Lutando pela soberania alimentar e social de nossa nação.

Ser militante da FEAB é ser lutador e lutadora do povo. Defendendo diariamente os interesses da classe trabalhadora e do campesinato. Se transformando em novos homens e novas mulheres. Ajudando na edificação de uma sociedade sem preconceitos, sem opressões e sem exploração.

Levante popular da juventude

O Levante Popular da Juventude é um movimento social de jovens militantes voltado para a luta de massas em busca da transformação social. SOMOS A JUVENTUDE DO PROJETO POPULAR, e nos propomos a ser o fermento na massa jovem brasileira. Somos um grupo de jovens que não baixam a cabeça para as injustiças e desigualdades.

A nossa proposta é organizar a juventude onde quer que ela esteja. Deste modo, nos organizamos a partir de três campos de atuação: 1) no meio estudantil secundarista e universitário; 2) nas periferias dos centros urbanos e 3) nos setores camponeses.

Nosso principal objetivo é multiplicar grupos de jovens em diferentes territórios e setores sociais, fazendo experiências de organização, agitação e mobilização.

O Levante organiza a juventude para fazer denúncias à sociedade por meio de ações de Agitação e Propaganda (agitprop), ou seja, várias técnicas de comunicação e expressão da juventude com o povo, como músicas, grafismo (graffite), dança, teatro, fanzines, faixas, adesivos,

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murais, gritos de luta, etc.O diferencial do Levante é que não elegemos bandeiras prioritárias, mas nos colocamos ao

lado das mobilizações que reivindicam melhores condições de vida para a juventude brasileira. Num contexto onde falta quase tudo na vida cotidiana do jovem, nosso método é mostrar que sem a organização coletiva e luta nenhuma conquista verdadeira é possível.

A perspectiva que o Levante oferece é a possibilidade de estar organizado/a coletivamente para viver e para lutar. Fora da organização as ações isoladas de um indivíduo, por mais justas que sejam, não tem sucesso. Portanto, o que o Levante possibilita às pessoas é o reconhecimento da sua condição de sujeitos e a construção de possibilidades para que estes recuperem a sua capacidade de intervenção política.

Movimento dos trabalhadores rurais sem terra

O Movimento Sem Terra está organizado em 24 estados nas cinco regiões do país. No total, são cerca de 350 mil famílias que conquistaram a terra por meio da luta e da organização dos trabalhadores rurais.

Mesmo depois de assentadas, estas famílias permanecem organizadas no MST, pois a conquista da terra é apenas o primeiro passo para a realização da Reforma Agrária. Os latifúndios desapropriados para assentamentos normalmente possuem poucas benfeitorias e infra-estrutura, como saneamento, energia elétrica, acesso à cultura e lazer. Por isso, as famílias assentadas seguem organizadas e realizam novas lutas para conquistarem estes direitos básicos.

Com esta dimensão nacional, as famílias assentadas e acampadas organizam-se numa estrutura participativa e democrática para tomar as decisões no MST. Nos assentamentos e acampamentos, as famílias organizam-se em núcleos que discutem a produção, a escola, as necessidades de cada área. Destes núcleos, saem os coordenadores e coordenadoras do assentamento ou do acampamento. A mesma estrutura se repete em nível regional, estadual e nacional. Um aspecto importante é que as instâncias de decisão são orientadas para garantir a participação das mulheres, sempre com dois coordenadores, um homem e uma mulher. E nas assembleias de acampamentos e assentamentos, todos têm direito a voto: adultos, jovens, homens e mulheres.

Da mesma forma nas instâncias nacionais. O maior espaço de decisões do MST é o Congresso que ocorre a cada 5 anos. No mais recente, o V Congresso, participaram mais de 15 mil pessoas. É no Congresso que são definidas as linhas políticas do Movimento para o próximo período e avaliado o período anterior. Estas definições são sintetizadas nas palavras de ordem de cada Congresso e que se estendem para o período seguinte. O V Congresso Nacional definiu como linha para este próximo período: “Reforma Agrária, por Justiça Social e Soberania Popular”. Foi aprovado ainda o novo programa de Reforma Agrária defendido pelo Movimento, após dois anos de debates e estudos nos assentamentos e acampamentos. Além do Congresso, a cada dois anos, o MST realiza seu encontro nacional, onde são avaliadas e atualizadas as definições deliberadas no Congresso.

Além dos Congressos, Encontros e Coordenações, as famílias também se organizam por setores para encaminharem tarefas específicas. Setores como Produção, Saúde, Gênero, Comunicação, Educação, Juventude, Finanças, Direitos Humanos, Relações Internacionais, entre outros, são organizados desde o nível local até nacionalmente, de acordo com a necessidade e a demanda de cada assentamento, acampamento ou estado.

O sertão foi meu ensino de tudo quanto eu queria,por isso é que aprovo a fraseque Aristóteles previa:O homem é para o que nascemas o meio influencia.

Pedro Ernesto FilhoAcademia dos Cordelistas do Crato

Cadeira Nº 15

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Falar sobre o Caldeirão é falar sobre o Beato José Lourenço, já que aquela comunidade foi formada e sedimentada sob sua liderança influente e aglutinadora. Em torno de sua figura se constroem muitas memórias expressas num conjunto de narrativas populares, através da literatura de cordel, mas principalmente na linguagem oral.

Paraibano de nascença, Zé Lourenço era negro e descendente de escravos (certamente já trazia em seu sangue a resistência e a sede por findar com as injustiças impostas para o povo). Trabalhou durante anos como agricultor em grandes fazendas de sua região, chegando a Juazeiro do Norte no ano de 1889, ano de grande efervescência religiosa com as

primeiras romarias que levaram os peregrinos a cidade pelos ditos milagres que vinham acontecendo por obra do Padre Cícero. Daí então se tornou amigo do Padre e entrou para uma ordem de penitentes, mais tarde a partir de orientações de Padre Cícero, Zé Lourenço conseguiu arrendar um lote de terra no sítio Baixa Dantas, município de Crato e com ajuda dos inúmeros trabalhadores rurais que peregrinavam para o local, transformou o sítio em um bom lugar para se viver, sendo importante produtor e fornecedor dos mais variados alimentos.

Em 1914 com o confronto ocorrido na Sedição de Juazeiro, as influências do Padre Cícero que era de oposição ao Governo do atual eleito Franco Rabelo levaram o mesmo a aprisioná-lo, causando revolta aos peregrinos que se uniram a jagunços e formaram uma grande brigada com o apoio do Deputado Floro Bartolomeu na defesa do Padre. Faltaram mantimentos na cidade, mas a produção da Comunidade no Baixa Danta conseguiu suprir durante a batalha. Nesse mesmo período ocorreram saques ao sítio por meio dos jagunços, destruindo e prejudicando grande parte da produção, mas com o todo esforço dos trabalhadores o sistema de produção voltava a funcionar sem grandes dificuldades.

No ano de 1926 o lugar foi vendido e o Beato, desapropriado sem qualquer indenização. Todos seguiram para a Chapada do Araripe e fundaram o então conhecido “Caldeirão da Santa Cruz do Deserto”. De 1926 a 1936, Zé Lourenço guiou uma reforma agrária de origem popular no Cariri, uma experiência de caráter comunista no interior cearense contando com mais de 1500 trabalhadores rurais, um grande feito que muitos autores caracterizam por movimento messiânico, bem como foi Canudos (1896-1897) no sertão baiano e o Contestado (1912-1916) entre Santa Catarina e o Paraná.

Segundo dados da pesquisa de Cordeiro (2008), era uma área de aproximadamente 900 hectares, no sopé da chapada do Araripe, região semiárida e escassa de água, mostrando grandes desafios para a produção agrícola por possuir um solo excessivamente pedregoso e íngreme.

A comunidade ganhou o nome de Caldeirão pela existência de grandes pedras que armazenavam as águas da chuva.

O Caldeirão era uma terra improdutiva até a chegada do beato e seu povo. A agricultura era diversificada e tudo que era colhido/produzido eram bens comuns, provando que apesar das condições adversas, o sertanejo tem a destreza de conviver com a seca. Cada homem produzia de acordo com a suas habilidades e recebia conforme a sua precisão. Era uma comunidade autossustentável, com grandes exemplos da prática agroecológica que materializava uma utopia de soberania popular, servindo de refúgio para os trabalhadores que padeciam na falta de terra e água, o Caldeirão tornou-se um local de amparo social e espiritual que tinha como lema “Terra de trabalho e oração”.

Havia um grande pomar das mais variadas frutas da região, roças de milho, cana de açúcar, mandioca, feijão. Para o abastecimento de água no Caldeirão foram construídos dois grandes açudes no local. Também trabalhavam com casa de farinha, engenho de cana onde produziam a rapadura, armazéns para serem guardados os cereais que alimentavam durante os longos períodos de estiagem (Como por exemplo, a grande Seca de 1932), criação de animais domésticos, e, além disso, os ofícios eram uma prática de grande importância: oficinas de ferragem, artesanato,

O Beato Z Louren o, o Caldeir o e o desejo do povo pela terraé ç ã

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carpintaria e curtume. O Brasil vivia nesse momento o Estado Novo de Vargas e foi precisamente este poder de

organização do Caldeirão que assombrou a elite política da época. No ano de 1936 a comunidade foi invadida por militares e destruída, os trabalhadores não possuíam armamentos para defesa e sendo assim, muitos foram mortos ou presos e levados à capital, outros fugiram mata adentro. Tentaram ainda refundar uma sociedade organizada na “Mata dos Cavalos” também na Chapada do Araripe. Lá se encontravam o Beato e parte de sua gente que conseguiu refúgio, vivendo clandestinamente e sendo alvo de grandes perseguições e chacinas.

Após tantas idas e vindas, em 1938 voltam a habitar a antiga localidade do Sítio Caldeirão, sendo expulsos por ordem judicial dois anos depois. A próxima parada era o Sítio União já no estado do Pernambuco, onde o Beato e seus seguidores restantes compraram um lote e conseguiram finalmente viver em paz até o ano de sua morte, em 1946, quando todos ficaram dispersos devido à ausência do líder.

O histórico das lutas e da experiência do Caldeirão é ainda um espelho e grande referência inclusive para o MST – Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra. Na região do Cariri, no ano de 1991, muitos camponeses e camponesas se articularam e ocuparam aquela terra antes tão criadora e que se encontrava ociosa desde o fim da comunidade.

Dentro desse processo veio a conquista do Assentamento 10 de Abril, que recebeu esse nome pela data em que as 96 famílias reocuparam as terras e durante 15 dias permaneceram em acampamento pela reforma agrária. De acordo com Silva (2009), o então Governador do Estado do Ceará, Ciro Gomes (1991-1994), desapropriou duas fazendas vizinhas ao Caldeirão, entregando a posse das Fazendas Gerais e Carnaúba Gerais aos camponeses. Dessa forma, o Assentamento é vinculado jurídica e administrativamente ao Governo do Estado do Ceará por intermédio do Instituto de Desenvolvimento Agropecuário do Ceará – IDACE. , vitória para os camponeses.

Hoje, o 10 de Abril conta com o trabalho de aproximadamente 36 famílias na sua constante construção. Há trabalho na horta comunitária de produção orgânica, onde os produtos são vendidos na Feira Agroecológica organizada pela Associação Cristã de Base – ACB (ONG cratense), farmácia viva, plantio de fruteiras, roçados, criação de caprinos, apicultura; Cada qual com suas atividades postas de acordo com as suas condições e habilidades, com muito gosto e sede por transformação.

Começar a entender todos os aspectos (cultura, religião, ancestralidade, política, dentre outros) nos quais se inserem a realidade do camponês ao longo da história é o início da compreensão das suas demandas e da luta pela construção de um modelo para o campo, modelo que traga justiça pra sua gente, saúde e qualidade de vida. O agricultor está aí pra mostrar, e ele quer Agroecologia.

“Viva Ibiapina, viva Antônio Conselheiro, Zé Lourenço vida viva do sítio do Caldeirão.” (Afilhados do Padre Cícero).

Referências:CORDEIRO, D. S. A. Caldeirão da Santa Cruz:

Memórias de uma utopia comunista no nordeste brasileiro. VI Congresso Português de Sociologia. Universidade Nova de Lisboa. Junho de 2008.

SILVA, J. J da, ALENCAR, F. A. G. de; Do sonho à devastação, onde tudo se (re)constrói: Experiências e Memórias nas Lutas por Terra da Região do Cariri – CE. Revista NERA – ano 12 nº. 14 – janeiro/junho de 2009 – ISSN: 1806-6755.

Sugestão de Filme: O Caldeirão da Santa Cruz do Deserto de Rosemberg Cariry (1986).

Dona Zezé – Assentamento 10 de Abril

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O Padre Cícero foi um homem nascido em Crato, mas que viveu a maior parte de sua vida em Juazeiro do Norte, cidade vizinha. Foi padre, político e cidadão ao mesmo tempo. Coisas que lhe tornaram um homem muito controverso, mas com toda certeza é um ícone importante da região do Cariri. Teve papel importante no desenvolvimento econômico regional e no surgimento do Caldeirão de Santa Cruz do Deserto, emprestando a terra onde o Beato José Lourenço construiria a sua comunidade e viveria no comunismo primitivo.

Seus feitos e sua fama perduram até hoje. Além de inúmeros causos que se somam a sua história. Reza a lenda que o Padre Cícero era metido a fazer previsões do futuro, como num dado dia em que ele chegou em Juazeiro e começou a dizer que chegaria um dia em que pássaros de metal voariam no céu. Remetendo aos aviões que ele mesmo já havia visto em uma de suas viagens ao sul. De uma coisa sabemos. É que tudo que ele falava o povo levava em conta.

Outro de seus feitos foi deixar para as gerações futuras suas impressões sobre a caatinga nordestina. Fazendo surgirem seus preceitos ecológicos, que são ecoados até hoje.

Preceitos Ecológicos do Pe. Cícero1-Não derrube o mato, nem mesmo um só pé de pau.Não toque o fogo no roçado nem na caatinga.3-Não cace mais e deixe os bichos viverem.4-Não crie o boi nem o bode soltos, faça cercados e deixe o pasto descansar para se refazer.5-Não plante em serra acima nem faça roçado em ladeira muito em pé, deixe o mato protegendo a terra para que a água não a arraste e se perca a sua riqueza.6- Faça uma cisterna no oitão de sua casa para guardar a água de chuva.

7-Represe os riachos de cem em cem metros, ainda que seja com pedra solta.8-Plante cada dia pelo menos um pé de angico, de caju, de sabiá ou de outra árvore qualquer, até que o sertão todo seja uma mata só.9-Aprenda a tirar proveito das plantas da caatinga, como a maniçoba, a favela e a jurema; elas podem ajudar a conviver com a seca.10-Se o sertanejo obedecer a estes preceitos, a seca vai aos poucos se acabando, o gado melhorando e o povo terá sempre o que comer.11-Mas, se não obedecer, dentro de pouco tempo o sertão todo vai virar um deserto só.

Padre cicero e seus preceitos

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Informa es importantesçõ

Informes para as brigadas:

-Tirar um chefe da brigada Que sera o responsavel Por fazer o credenciamento E sera o contato da brigada com A CO;-Avisar o quanto antes a confirmacao da vinda ao era;-solicitar 200 km a mais no onibus para o deslocamento ate a vivencia;-proibido o uso de bebidas alcolicas e de drogas no local do evento.

Esperamos voces!!!

O que trazer?

-kit militante (copo, talher e prato / lencol e colchonete);-kit higiene pessoal;-Barraca pois teremos camping (mas para quem n o tiver teremos ãalojamento);-rem dios de uso pessoal;é-sementes, livros, filmes, etc. Para o balaio cultural;-pandeiro, viol o, zabumba, latas e ãmuitos mais instrumentos para fazer a nossa alegria;-e muita vontade em construir esse projeto para o campo brasileiro.

“A alegria está na luta, na tentativa, no sofrimento envolvido e não na vitoria propriamente dita.” Mahatma Gandhi

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Grade Dia 01/05 - Quarta

Dia 02/05 - Quinta

Dia 03/05 - Sexta

Dia 04/05 - Sábado

Dia 05/05 - Domingo

Manhã Chegada / Credenciamento

Painel I / Tribos

Mesa redonda e Tribos

Oficina do Ato Vivências

Tarde Chegada / Credenciamento

Gênero Painéis paralelos / Oficinas

ATO Público Plenária final / Encerramento e avaliação

Noite Abertura / Tribos

Reunião das Organizações

Preparação da socialização das Tribos

Socialização das Tribos

Balaio Cultural

Fim de Noite

Balaio Cultural

Balaio Cultural

Balaio Cultural

Balaio Cultural

Pega o beco!

Grade do xiii era nordeste- crato

“Se ser político é reclamar das injustiças. Então, eu sou

político.” Patativa do Assaré

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Manha e tarde: Chegada e credenciamentoNesse espaço é importante que o chefe de delegação recolha os RG's de toda a delegação e se

encaminhe a Secretaria do ERA para poder ou credenciar e receber os kit's dos encontristas ou então para poder inscrever, credenciar e aí receber os kit's dos encontristas. A CO encaminhará cada delegação para os alojamentos e para as áreas de camping. Além de esclarecer quaisquer dúvidas que possam vir a aparecer.

Noite: Abertura / TribosAbertura

A CO dará as boas vindas a todos e todas @s encontristas com muita alegria e diversão. Teremos aqui a abertura oficial do nosso XIII ERA Nordeste. Com direito a uma prova de nossa cultura e dos nossos sabores. Nosso encontro terá uma abertura diferente do que costumava acontecer nos anteriores. A nossa abertura será numa praça pública, garantindo a interação com a sociedade local desde o início do evento e apresentando o mesmo para a população.

TribosAs tribos são grupos menores e servem para que @s encontristas possam se reunir durante os

espaços do encontro, como o Painel I e a Mesa redonda para poderem debater e aprofundar mais sobre a temática de cada espaço, além da realização de algumas tarefas inerentes ao funcionamento do encontro, como alvorada e disciplina. As tribos serão suas famílias durante o ERA e é com eles que vocês passaram uma parte do tempo. As tribos são muito importantes para os processos de interação e aprendizagem, pois nelas @s encontristas estarão em contato com pessoas das mais variadas regiões e saberes. A CO divulgará no ato do credenciamento como serão divididas as tribos.

Balaio Cultural:É muito comum encontrarmos no sertão e mesmo nas cidades o bom e velho balaio. O

sertanejo com sua criatividade e sabedoria usa o balaio para um tudo: para guardar objetos variados, carregar comida e até vender pão em outras comunidades. E num se engane que tem balaio pra todo gosto: de cipó, de casca de cana e até de folhas de dendezeiro. Na cidade ele já não tem a mesma serventia, virou mais um artigo de artesanato ou decoração, que é muito popular, mas se você olhar bem em algumas situações ele ainda é utilizado igualzinho antigamente, como no carrego de mercadorias na feira, quando as mulheres contratam os meninos para levarem suas coisas até em casa em troca de umas moedas.

No nosso ERA acontecerá ao fim de cada dia o Balaio Cultural, que é o espaço de trocas de experiências culturais, onde nós estaremos apresentando um pouco da cultura regional e nordestina, além de trocar sementes, livros, filmes, entre outras coisas. Esse é também o espaço onde provaremos a culinária caririense e dançaremos o velho rala bucho até dar uma dor. Terão ainda exposições artísticas e uma sala de vídeos, para quem curte uma coisa mais de leve.

Dia a dia

01/05 - quarta

“Somos o que fazemos, principalmente o que fazemos para mudar o que somos.” Eduardo Galeano

“Cada passo em cada tempo. Criar um pouco por dia. Avançar com humildade. Banhar-se de rebeldia.” Ademar Bogo

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Manha: Painel I: Os desafios da juventude na atual conjuntura e as políticas públicas.

Nesse painel será debatido sobre o que o Estado brasileiro pensa e propõe para a juventude de nosso país. Além de trazer a conjuntura, evidenciando onde está e o que tem feito hoje a juventude do campo e da cidade. Qual o papel da juventude? Como estão as políticas publicas para a juventude do campo? Como se encontra o acesso do jovem à educação? Os impactos dos projetos da agricultura (agronegócio e agroecologia) na Juventude. No decorrer do painel @s encontristas se dividem em suas tribos para poder debater e profundar o tema exposto pelos painelistas.

Tarde: GêneroA tarde será dividida em duas. Durante a primeira parte da tarde

haverá um espaço de Auto-organização para a mulherada, enquanto para a macharada haverá um espaço de gênero e patriarcado. Já na segunda parte da tarde mulheres e homens se juntam para um debate sobre as Lutas das Mulheres Camponesas e quais os desafios que estão postos para as mulheres na construção da Agroecologia.

Noite: Reunião das organiza õesçA reunião das organizações é um momento em que pessoas da

mesma organização, porém de variados estados nordestinos podem se sentar e debater sobre a situação das organizações e da construção da Agroecologia em seus locais de origem. Além de tirarem encaminhamentos que possam vir a ajudar na construção das organizações.

Manha: Mesa Redonda: Qual o papel da juventude na constru ão da agroecologia?“ çEssa mesa vem mostrar a agroecologia como uma alternativa. Como a Juventude se coloca na

luta pela agroecologia, trazendo experiências exitosas. Mostrar pra juventude que existe alternativa e perspectiva de permanência no campo, com qualidade de vida. E que não basta a luta institucional por políticas públicas, mas que se trata de uma luta maior por um projeto para o campo brasileiro que necessita de transformações profundas na sociedade. Pensar a agroecologia de forma multifacetada, dentro da imensa gama de possibilidades, desde a produção ao beneficiamento da produção, da educação popular, da educação contextualizada. Mostrar a agroecologia dentro do campo da sua complexidade.

Tarde: Painéis Paralelos / OficinasPainéis Paralelos

Nesse momento acontecem vários painéis ao mesmo tempo com as mais diversas temáticas. Os painéis que teremos no nosso ERA serão:

02/05 - Quinta

03/05 - Sexta“Poeta, cantô da rua, que na cidade nasceu, cante a cidade que é sua, que eu canto o sertão que é meu.”

Patativa do Assaré

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1. Biodiversidade e sementes Crioulas.2. Economia verde.3. Mapeamento das Comunidades Rurais Negras e Quilombolas do

Cariri Cearense.4. Educação Popular.5. Formação profissional(campanha pela da curricularização da

extensão).6. Grandes Projetos no Nordeste.7. Campanha permanente contra o uso de agrotóxicos e pela vida.8. Produção Agroecológica e nutrição de plantas.9. Associativismo e cooperativismo.10. Sexualidade.11. Cotas

12. Práticas na medicina alternativa.13. Políticas públicas para a convivência com o

semiárido.14. Produção animal na agroecologia.15. Sistemas Agroflorestais.

OficinasAs oficinas vem para ajudar no aprendizado

prático das técnicas agroecológicas, para que estejamos preparados para atuar no campo, além de nos preparar para mostrar na prática as pessoas de nossas universidades, assentamentos, escolas e comunidades, que não acreditam no potencial da Agroecologia. No nosso ERA teremos as seguintes oficinas:1. Fitoterápicos e Plantas Medicinais.2. Cromatografia do Solo.3. Defensivos Naturais.4. Práticas e tecnologias de convivências com o semiárido.5. Compostagem e manejo ecológico do solo.

6. Prática de agroecologia urbana.

7. Homeopatia. 8. Bioconstrução. 9. Sistema PAES.10. Teatro do Oprimido.11. AgitProp.12. Beneficiamento de produtos agroecológicos.13. Acesso à comunicação e mídia livre.14. Tinta de solo. 15. Reaproveitamento de alimentos.

Noite: Prepara ão da Socializa ão ç ç das TribosNesse momento as tribos irão se reunir para preparar a socialização de tudo que foi debatido

durante o encontro para mostrar o quanto aprenderam e como aprenderam. Essa socialização, que acontecerá no dia seguinte, deverá ser preparada de maneira lúdica, como uma peça, música e cordel.

“Sonha e será livre de espírito. Luta e serás livre na vida.”

Che Guevara

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Manha: Oficina do ATO PúblicoNessa manhã nos reuniremos primeiramente na plenária para explicar como e onde vai ser o

nosso ato. Depois explicaremos como e onde funcionarão as oficinas para o ato. Cada encontrista escolhe de qual oficina irá participar de acordo com a demanda de cada uma. Pedimos que as escolas que puderem, trazer materiais para ajudar nas oficinas do nosso ato. O ATO público é uma das partes mais importantes de nosso encontro. É o momento em que saímos as ruas para dialogar com a sociedade e mostrar o nosso projeto, que é a Agroecologia. Aqui usaremos tudo que aprendemos durante o ERA e toda a bagagem que já tínhamos para poder conversar com as pessoas. As oficinas são:1. Clowns.2. Batucada.3. Saúde.4. Segurança.5. Estêncil.6. Lambe.7. Cartazes.8. Palavras de ordem e músicas.9. Comunicação.10. Registro.

Tarde: ATO PúblicoNessa tarde sairemos por um bairro

do Crato para dialogar com a população e mostrar para a sociedade o que viemos aprendendo durantes os dias do encontro. É o momento de mostrarmos que existe sim outra alternativa para o campo brasileiro e de que ela é viável. As pautas e a metodologia do ato serão informadas no dia pela CO.

04/05 - sabado

“A liberdade é como a manhã. Há os que esperam dormindo que ela chegue, porém há os que despertam e caminham a noite para alcançá-la.”

Subcomandante Marcos - EZLN

“Liberdade” - Carlos Marighella

Não ficarei tão só no campo da arte,e, ânimo firme, sobranceiro e forte,tudo farei por ti para exaltar-te,serenamente, alheio à própria sorte. Para que eu possa um dia contemplar-tedominadora, em férvido transporte,direi que és bela e pura em toda parte,por maior risco em que essa audácia importe. Queira-te eu tanto, e de tal modo em suma,que não exista força humana algumaque esta paixão embriagadora dome. E que eu por ti, se torturado for,possa feliz, indiferente à dor,morrer sorrindo a murmurar teu nome.

Marcha dos Povos na Cúpula. Mais de 80 mil pessoas nas ruas do Rio de Janeiro.

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Noite: Socializa ãoçAgora iremos fazer a socialização que preparamos com muito carinho no dia anterior para que

todos e todas as encontristas possam ficar sabendo o que nossa tribo debateu e aprendeu durante todos esses dias. Aqui apresentaremos também a identidade de nossa tribo.

Manha: VivênciasNo domingo estaremos saindo de dentro

do local onde acontecerá o nosso ERA para desbravar as terras caririenses. Conhecer a Floresta Nacional do Araripe e as experiências exitosas de Agroecologia aqui em nossa região, além de conhecer locais de alta relevância cultural, como o Caldeirão de Santa Cruz do Deserto, terra onde viveu o grande Beato José Lourenço. Em breve disponibilizaremos pelo blog quais serão as vivências.

Tarde: Plenária final / Avalia ão / EncerramentoçPlenária final

Nessa plenária faremos os encaminhamentos finais do nosso ERA, como cartas de apoio.

Avalia ãoçLogo após esses dois espaços anteriores voltaremos a nos reunir com nossas tribos para

fazermos a avaliação do ERA. Que depois será sistematizada em um documento só para encaminhar para as organizações e para a futura CO.

EncerramentoAqui faremos o encerramento oficial do nosso ERA. Além de fazer os agradecimentos, passar

as impressões da CO e se despedir desse povo lindo que vai vir ao nosso encontro.

Noite: Pega o beco povo!Nesse momento as delegações começam a retornar para os seus locais de origens.

05/05 - domingo

“A vida do viajante”

Minha vida é andarPor esse paísPra ver se um diaDescanso felizGuardando as recordaçõesDas terras por onde passeiAndando pelos sertõesE dos amigos que lá deixei

Chuva e solPoeira e carvãoLonge de casaSigo o roteiroMais uma estaçãoE a alegria no coração

Mar e terra,Inverno e verãoMostre o sorrisoMostre a alegriaMas eu mesmo nãoE a saudade no coração

Minha vida é andarPor esse paísPra ver se um diaDescanso felizGuardando as recordaçõesDas terras por onde passeiAndando pelos sertõesE dos amigos que lá deixei.

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Para garantirmos uma uma melhor participação dos/as encontristas, é importante que as organizações pensem com bastante carinho na preparação dos grupos que virão ao ERA, cuidando para que todos os/as participantes se apropriem tanto do conteúdo, quanto da metodologia, e assimpossibilitando que todos e todas da delegação façam intervenções e possam aproveitar ao máximo de nosso encontro.

Há alguns anos, os grupos que participam dos ERAs realizam os Pré-ERAs, que são espaços nos quais organizamos nossa delegação para a vinda ao encontro, apresentando como este funciona e também realizando debates sobre a Agroecologia e as principais linhas temáticas do evento.

A realização desses espaços preparatórios para o ERA já ajudaram e ainda vão continuar ajudando na formação e consolidação de grupos organizados em torno das executivas e movimentos sociais, além das outras formas de organização, como CA's, DA's, Grêmios Estudantis e Grupos de Agroecologia.

Cada grupo tem total liberdade de organização deste espaço, porém gostaríamos de daralgumas dicas - que representam o acúmulo de diversas organizações - de como organizar a reunião (e o momento de estudo) e também sobre algumas metodologias participativas.

I. DICAS PARA ESTUDO INDIVIDUAL OU COLETIVORetirado da cartilha “Trabalho de base. Teoria e prática. Coletânea de Textos.” CEPIS, Maio de 2005.

1. Rotina de Estudo: marcar um horário e um dia facilita a escolha dos espaços reservado para os estudos.2. Tempo de estudo: recomenda-se que por vez, se use no estudo, no mínimo 45 e no máximo, 60 minutos.3. Garantir o material: cada pessoa deve ter e zelar por sua cópia individual do texto, livro, desenho.4. O dia bom: as pesquisas mostram que não se programa estudo em dias de cansaço; no sábado,por exemplo.5. Ambiente favorável: lugar com claridade, agradável, sem gente passando, sem barulho, que concentre.6. Postura confortável: apoiar o material sentar-se em vez de deitar-se, posição relaxada, pés apoiados. 7. Uma lição de cada vez: porque isso ajuda a entender, gravar e fazer uma aplicação prática do conteúdo.8. Folhear o texto: para se ter uma visão do conjunto – olhar o autor, os títulos, palavras, desenhos.9. Fazer anotações: marcando as passagens importantes, os destaques, as novidades, o que se gosta, as dúvidas.10. Voltar ao texto: várias vezes para apreender a mensagem, as ideias, fatos, informações e exemplos.11. Fazer resumo: significa repetir com as próprias palavras as principais ideias, colocando asopiniões pessoais.

pr -erasé

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12. Discutir no coletivo: as dúvidas, interpretações e divergências surgidas no estudo devem seresclarecidas.13. Recordar lição anterior: é necessário repetir o já estudado, antes de continuar ou se começaruma leitura.Observação: O plano individual, para ter mais resultado, deve articular-se com o plano coletivo deestudo.

Passos para o estudo em grupo

Em muitos casos, a organização popular precisa preparar militantes para atuarem como monitores que ajudem os iniciantes na compreensão do conteúdo e no esclarecimento das dúvidas. Nesse caso, esses multiplicadores devem ter uma preparação que os ajude no repasse criativo e dinâmico do conteúdo.

Para o estudo grupal, sugerimos os seguintes passos:• É indispensável ter uma coordenação que estimule e facilite a participação de todas as pessoas.• Leitura integral do texto para ter uma visão de conjunto do conteúdo. Pode ser um bloco, de um

capítulo ou do todo. Em voz alta, com uma ou várias pessoas lendo.• Reler em pequenos grupos, por proximidade para fixar o assunto e permitir o debate e o

aprendizado.• Realização de um plenário onde as pessoas possam expressar e debater suas opiniões.• Identificar o tema central a coordenação recolhe e ordena a compreensão que as pessoas tiveram

da leitura.• Destacar ideias principais até chegar à ideia central da leitura, vendo argumentos e exemplos

ligados a essa ideia.• Anotar dúvidas, impressões, passagens, questões despertadas pela leitura e sua discussão.• Resumir no grupo e no plenário, em palavras-chave, frases curtas ou até desenhos as ideias mais

importantes.• Interpretar juntos tentando comparar/associar as ideias do texto com as do grupo e com outras

leituras.• Aprender a criticar no sentido de formar opiniões próprias e de fazer apreciações sobre o texto.• Tirar conclusões e aprendizados que poderão ser usados na prática das pessoas e do grupo.• Encaminhar a próxima etapa do plano de estudos.

Estudo em grupo

Um estudo eficaz, sem ser chato, exige:a) Uma preparação aprimorada• A convocação das pessoas é parte determinante em qualquer atividade popular. Funciona quando

é feita pelo contato e o convencimento direto. Avisos gerais ou escritos servem apenas para recordar a convocação pessoal.

• O local da reunião deve ser um espaço aconchegante, que acomode bem as pessoas e um ambiente que expresse o tema a ser debatido: cartazes, símbolos, músicas, poemas...

• Preparação das pessoas encarregadas de animar o debate – elas devem estudar bem o assunto, preparar material de apoio e sugerir dinâmicas participativas.

• Disciplina consciente – Por respeito às pessoas que comparecem, o estudo deve começar e terminar na hora marcada.

b) Uma coordenação firme• O processo da reunião é de responsabilidade coletiva. Mas, é comandada pela coordenação. Por

isso, para a coordenação, chegar na hora, significa chegar antes da hora marcada.• Participar e não assistir é a finalidade do estudo. A coordenação anima a socialização do debate,

questiona as afirmações, resume e complementa sem sair do tema principal.• Coordenar não é passar a palavra. É preparar, acolher, animar, sintetizar, garantir o rumo, facilitar

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a participação, possibilitar a tomada de decisão.c) Uma realização eficiente• Começar na hora marcada, com entusiasmo, de forma que eleve o astral do grupo.• Não exceder hora e meia – para não perder o poder de concentração. Se continuar, pausa, com

amenidades.• Abordar os temas (análise, opinião, sugestões, encaminhamentos) de forma clara e direta.• Evitar o monólogo. Frear, com jeito, o ímpeto de quem adora ouvir o eco da própria voz.• Evitar a discussão entre duas ou entre algumas pessoas, possibilitar que todas as pessoas falem

estimular as caladas e as tímidas e conter falas que se desviam do assunto.• Só seguir adiante se o assunto foi bem discutido e concluído.• Encerrar a reunião de forma agradável, na hora combinada.

d) Encaminhamentos das decisões• Deixar claro as conclusões do estudo, as tarefas a serem encaminhadas, as responsabilidades e os

prazos.• Encarregar gente para acompanhar e cobrar as providências.• Combinar as próximas atividades

Observação: Você pode modificar ou acrescentar dicas tiradas da sua própria experiência.

II. TÉCNICAS PARTICIPATIVASRetirado da cartilha “Concepção de Educação Popular do CEPIS” do Centro de Educação Popular do Instituto Sedes Sapientiae, Junho 2008.

Técnicas são recursos pedagógicos usados no processo educativo, para facilitar o aprendizado. São procedimentos didáticos, dinâmicas e instrumentos técnicos para o uso desses recursos. Como já foi dito, Educação Popular não se confunde com o uso de procedimentos – dinâmicas de grupo, recursos audiovisuais – que facilitam a integração e geram entusiasmo nas pessoas. Os instrumentos ajudam no processo de tradução, reconstrução e criação coletiva do conhecimento da realidade. A “euforia do participativo” é enganosa, porque, por si, não prepara ninguém para ser protagonista, para entender a realidade social ou para comprometer-se com a transformação social. Às vezes, contribui para que as pessoas sejam manipuladas. Chefes bonzinhos consultam, ouvem a opinião, e o trabalhador não desconfia que isso só facilita o aumento da produção e riqueza dos patrões.

O uso de recursos pedagógicos não é neutro – a maneira de fazer uma atividade pode afirmar ou negar seus objetivos. Quando a Educação Popular insiste no uso dos recursos pedagógicos, tem clareza de que os instrumentos servem para ajudar na incorporação de conteúdos, de forma participativa e crítica. Os desenhos, vídeos, dramatizações, poemas... São caminhos para alcançar um objetivo. Da mesma forma, as dinâmicas não devem ser vistas como um recurso tático e atrativo para animar pessoas e grupos; são recursos para estimular a participação e a cooperação mútua. Entre as técnicas pedagógicas estão:1. Dinâmicas de Grupo

São as várias formas de movimentar as pessoas presentes, em uma atividade e fazê-las participantes, presentes de corpo, mente e coração. Facilitam o entrosamento, o conhecimento mútuo, a construção de confiança e o intercâmbio de ideias e de experiências. Algumas dinâmicas da Educação Popular.

A MísticaA mística de um Movimento é o conjunto

de motivações e princípios que alimentam a sua existência. Enquanto dinâmica, ajuda a recordar os valores, princípios e exemplos, baseados em convicções que unem a classe

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oprimida. Pode ser feita a qualquer hora, sempre ligada ao assunto do dia. Deve ser curta, simples, bonita e, sobretudo, participada. Em forma de canto, poema, gesto, mensagem, silêncio, testemunho. Não pode virar um show para ser assistido ou para engrandecer quem a preparou.

A ApresentaçãoUsa-se dinâmicas de apresentação para quebrar o gelo, facilitar o conhecimento das pessoas

presentes, ouvir as expectativas, revelar identidades, saber o que as pessoas fazem, pensam e sentem. Para evitar a formalidade ou a exibição, onde as pessoas se escondem atrás de cargos e títulos. Existem diferentes e criativas formas de apresentação e os educadores devem ir criando outras de acordo com o grupo e o objetivo da reunião.

A DramatizaçãoServe para iniciar ou verificar se um

assunto foi assimilado. Num encontro sobre relações sociais de gênero, os grupos podem encenar como vive uma família. Ao analisar a apresentação, o grupo pode refletir como se dão as relações sociais de poder. Encenar como fazer uma reunião ajuda a ver os acertos, vícios e papéis que acontecem na realidade e o comportamento de diversos atores.

Alongamentos e BrincadeirasSão feitas para descontrair, divertir,

promover o entrosamento. Servem como exercícios para o corpo – alongamentos, danças, capoeira...; ajuda na movimentação do plenário, além de uma oportunidade de revelar habilidades e talentos das pessoas presentes.

A formação de gruposÉ uma dinâmica para envolver todas as pessoas, para mastigar o assunto discutido, verificar

seu entendimento, aprofundar um tema, comparar o estudado com a vida e tirar conclusões para a prática. Para levantar questões, o cochicho em plenário, ajuda. Se a tarefa do grupo é a leitura de um texto, é melhor que se faça fora do plenário, em divisão por crachá, cor, número, mútua escolha, vizinhança... Sempre com grupos pequenos e pergunta clara, para que cada pessoa possa dar sua opinião. O resultado pode vir num cartaz a ser explicado em plenário.2. O uso da poesia e da música

A forma poética e musical emociona, envolve, desarma e aproxima, porque pega as pessoas por dentro. Para participar as pessoas precisam conhecer ou ter uma cópia em mãos. Devem ser recitadas ou cantadas, no momento e ambientes adequados. A experiência da primeira leitura pública bem feita e solene, seguida de leitura coletiva, tem sido proveitosa. Pode ser no começo, meio ou fim da atividade sempre ligada ao assunto tratado. Cada região ou grupo pode e deve ter sua própria seleção.

O uso de recursos áudios-visuaisQuando se fala que o “o povo tem que entender o que eu digo, tem que ver o que eu digo”,

reforça-se a ideia de que “a comparação é a cesta aonde o povo leva a mensagem para casa”, ou que “um só olhar vale mais do que mil palavras”. Este recurso vale por ser mais atrativo, provocar várias interpretações, revelar a experiência das pessoas; porque, mesmo sem escolaridade, se pode captar a mensagem. No processo de aprendizagem, 60% são recebidos pela visão; 20% pela audição; 10% pelo tato; 5% pelo olfato; 5% pelo paladar.

Por isso, o poder da mídia. Entre os diversos recursos áudios-visuais, lembramos:Desenho, cartaz, filme...

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Quando usados como recurso pedagógico, servem para motivar o estudo sobre um tema ou ilustrar um assunto debatido, serve para iniciar ou ilustrar um debate sobre o tema. O desenho e/ou cartaz pode ser feito na hora ou pode vir preparado. As pessoas devem ter cópia e/ou boa visão do recurso que está sendo utilizado. A leitura individual, em grupos e em plenário, ajuda a desmontar a imagem ou a história. Após a exibição do filme é importante um debate sobre ele. O uso de imagens é um bom exercício para aprender e ensinar, pelos modos diferentes de ver, pelo debate, por reunir pontos de concordância e discordância, por sugerir lições para

a prática concreta. É necessário verificar se a mensagem foi captada e se foi refletida a relação do recurso audiovisual com o assunto tratado.

O uso de mensagens, provérbios e parábolasSão recursos usados para reflexão, ou como provocação, conforme o tema. Exemplo: “Quando

o rico mata o pobre, o defunto é que vai em cana”; “Se o boi soubesse a força que tem, ninguém dominava ele”. Após sua leitura pública, solene, individual e coletiva, a pessoa sublinha o aspecto que achou importante, comunica ao vizinho, ao grupo e ao plenário. Quem coordena o debate deve estar atento para recolher e sistematizar as contribuições, em diálogo com o grupo e sempre questionando as afirmações.

O uso de textosÉ importante para um estudo mais aprofundado sobre um tema, além de um exercício de

leitura e sistematização do que foi lido. A leitura pode ser em grupo ou individual e possibilita a criação do hábito de leitura e da continuidade da formação sem a presença do educador. Enfim, as técnicas participativas, os meios, os métodos e até os instrumentos pedagógicos estão intimamente vinculados ao fim do qual eles são o caminho. Por isso, é indispensável que os participantes da ação educativa se apropriem do conteúdo, da metodologia e, inclusive, do funcionamento dos instrumentos.

A necessidade da ressignificação da relação sociedade/natureza e a proposta da agroecologia

Contribuição da escola de Castanhal-PA, NTP de Agroecologia 2011-2012,Hueliton Pereira Azevedo; Amanda Rayana da Silva Santos; Renan da Silva Cunha.

O mundo contemporâneo atravessa uma crise sem precedentes. Não se trata de um fenômeno conjuntural, mas do esgotamento de um projeto civilizacional que tem o seu fundamento no ato de acumular riquezas nas mãos de minorias, sem considerar os limites naturais e humanos necessários a sua própria reprodução. Em face da abrangência, profundidade e complexidade dessa crise, já se tornou lugar comum à afirmação de que nos encontramos diante de uma encruzilhada histórica. De fato, a combinação de uma população mundial crescente e cada vez mais urbanizada com a degradação acelerada dos recursos naturais e as mudanças climáticas globais molda um cenário perturbador que nos confronta com dilemas decisivos.

Como alimentar uma população mundial crescente? Como manter os níveis de produtividade

Textos para os pr -erasé

Texto 1

“A primeira condição para modificar a realidade é conhecê-la.”

Eduardo Galeano

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alcançados pela agricultura industrial sem dar continuidade ao uso intensivo de combustíveis fósseis e a deterioração da base biofísica que sustenta os processos produtivos da agricultura? Como construir mecanismos de adaptação de sistemas agrícolas às já inevitáveis mudanças climáticas globais? Para dar respostas a essas indagações é necessária uma mudança do modelo convencional de agricultura para estilos de agricultura de base ecológica e mudanças nos padrões de consumo e de uso dos recursos. Enquanto essas mudanças forem sendo materializadas, nosso papel é manter a produtividade da terra agrícola, a longo prazo, da superfície mundial cultivável. Isso requer a produção sustentável de alimentos, que é alcançada segundo Gliesman (2000) através de práticas agrícolas alternativas, orientadas pelo conhecimento em profundidade dos processos ecológicos que ocorrem nas áreas produtivas e nos contextos mais amplos das quais elas fazem parte.

Apesar de termos presenciado uma significativa elevação da produtividade e da produção, a fome persiste em todo o globo e não podemos em hipótese alguma confiar nos meios convencionais de aumentar a produtividade, para ajudar a satisfazer a necessidade de alimentos de uma população mundial em expansão. Isso por que esse modelo de agricultura está construído sob dois objetivos: a maximização da produção e do lucro. Em vista disso, um conjunto de práticas (cultivo intensivo do solo, monocultura, irrigação, aplicação de fertilizantes inorgânicos, controle químico de pragas e manipulação genética de plantas cultivadas) foi desenvolvido sem considerar as consequências não intencionais, de longo prazo, e sem considerar a dinâmica ecológica dos agroecossitemas. Portanto, todas às práticas da agricultura convencional tendem a comprometer a produtividade futura em favor da alta produtividade no presente. Em face disso, além da produtividade qual é o problema que precisamos equacionar para resolver a fome no mundo?

A realidade da condição atual da relação entre a sociedade e a natureza. As sociedades humanas em qualquer que seja a sua condição e o seu nível de complexidade não existem em um vazio ecológico, mas sim afetam e são afetadas pelas dinâmicas, ciclos e fluxos da natureza. A natureza definida aqui como aquilo que existe e se reproduz independente da atividade humana pela qual ao mesmo tempo representa uma ordem superior ao da matéria. Isso supõe o reconhecimento de que os seres humanos organizados em sociedade respondem não só a fenômenos e processos de caráter exclusivamente social, mas também são afetados pelos fenômenos da natureza.

Nessa perspectiva as sociedades humanas produzem e reproduzem as suas condições materiais de existência a partir de seu metabolismo com a natureza em uma condição que é pré-social, natural e eterna. Este fenômeno implica em um conjunto de processos por meio dos quais os seres humanos organizados em sociedade, independente de sua situação no espaço (formação social) e no tempo (momento histórico), se apropriam, circulam, transformam, consomem e excretam, matérias e energias provenientes do mundo natural.

A compreensão desse processo de relação da sociedade com a natureza é fundamental para entender, como se encontra essa relação no atual momento e a necessidade de sua ressignificação. Chegamos pela primeira vez na história da humanidade em um momento que a quantidade de recursos que as sociedades consomem (apropriação) hoje, é maior do à capacidade que a natureza tem de repor e, além disso, a quantidade de produtos eliminados (excreção) pelas sociedades é superior à capacidade que a natureza possui de reciclar e disponibilizar novamente.

Assim, precisamos repensar a forma como estabelecemos o contato com a natureza e de como a transformamos. Para isso, precisamos entre outras coisas desmistificar os mitos que envolvem a atual relação das sociedades com a natureza. O primeiro deles é o mito da desconexão do homem com a natureza, que determina que os seres humanos sejam entidades desligadas do meio em que vivem. O segundo é o mito da natureza infinita, que prevê que os recursos não se esgotam e, portanto, podemos explorar sem limites. O terceiro é o que defende que a floresta preservada é um empecilho para o desenvolvimento, sustentando assim a necessidade de simplificação dos agroecossistemas em uma lógica industrializadora. Esses “mitos” constituem um conjunto de concepções que legitimam a exploração irracional e inconsequente dos recursos naturais em nome de um “desenvolvimento” pautado apenas no crescimento econômico em detrimento da sustentabilidade.

Os desafios das ciências agrárias frente ao atual contexto

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No contexto atual são muitos os desafios postos ao campo das ciências agrárias. Porém, os aspectos que merecem maior atenção são: a interdisciplinaridade, o trabalho e a pesquisa.

A interdisciplinaridade

Esse contexto de crises interconectadas que vivemos (energética, ecológica, civilizatória e econômica) e a necessidade de mudanças na direção da sustentabilidade, exigem da academia uma revisão de seus pressupostos metodológicos e epistemológicos que guiam as ações de pesquisa e desenvolvimento. Nesse sentido, é de fundamental importância que cada vez mais as ciências agrárias movam-se no sentido de rever a lógica cartesiana de ciência que tem permeado esse campo científico ao longo do tempo.

Essa concepção de ciência permitiu à humanidade realizar notáveis avanços no campo científico; as grandes descobertas científicas e o desenvolvimento tecnológico atual são inegavelmente tributários dessa concepção científica. Hegemônica no pensamento científico, ela é fortemente embasada na disciplinaridade, no reducionismo, na especialização, na validação experimental e na priorização dos aspectos quantitativos.

No entanto, o avanço da ciência, sobretudo no decorrer do século XX, apontou para as limitações desta concepção científica. A impossibilidade de explicar e compreender comportamentos e fenômenos naturais ditos complexos (como, por exemplo, os eventos climáticos, o funcionamento dos seres vivos, os ecossistemas, etc.) passa a evidenciar as limitações e restrições da abordagem analítica/cartesiana na pesquisa científica.

Edgar Morin, ao participar de um colóquio, em 1979, apresentou de maneira clara e direta essa “crise” da ciência clássica cartesiana no decorrer da segunda metade do século XX:

Este método (cartesiano) efetivamente conduziu a ciência a descobertas extraordinárias. Falso em seu princípio, ele se mostrou fecundo em um primeiro momento. É aí que reside um dos paradoxos da história. A obsessão atomista, ou seja, a ideia obsessiva de que é preciso encontrar a menor unidade que será o “tijolo” a partir do qual se poderia reconstruir o universo, essa obsessão conduziu, assim mesmo, à descoberta da molécula, do átomo, da partícula e, atualmente, ela nos conduz, não mais à busca da unidade elementar, mas à busca dos paradoxos fundamentais, ou seja, à complexidade da base. A passagem do elementar ao fundamental é ao mesmo tempo a passagem da simplicidade à complexidade. O mesmo ocorreu na biologia. A obsessão pela unidade de base nos fez passar do organismo à célula e, em seguida, da célula à biologia molecular, e a biologia molecular acreditou encontrar finalmente o elementar nas interações entre moléculas, na interação química. Em uma reviravolta absolutamente inacreditável, é essa mesma biologia molecular que, no fundo, nos apresentou os problemas fundamentais da organização autônoma da vida. (...) Assim, princípios insuficientes impulsionaram a descoberta e, ao mesmo tempo, eles mesmos provocaram seu próprio desmantelamento. Esses princípios ultrapassados sobrevivem, enquanto o novo princípio, o princípio da complexidade, ainda não emergiu completamente! O princípio “morto” ainda não está “morto”,e o princípio “vivo” ainda não vive (p. 98-9)

Morin (1977), ao afirmar que “o todo é superior ao todo, o todo é inferior ao todo”, sintetiza de maneira exemplar um importante preceito que orienta a abordagem sistêmica. Assim, em decorrência de fluxos e interações internas, a abordagem sistêmica considera que o comportamento de um objeto pode ser diferente da soma dos comportamentos dos elementos que compõem esse objeto.

Nesse sentido, a abordagem sistêmica, apresenta-se como um “novo” método para a compreensão e o estudo de fenômenos complexos. Sem se contrapor à abordagem analítica/ cartesiana, e sem negá-la, a abordagem sistêmica propõe-se a ser uma metodologia “que permita

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reunir e organizar os conhecimentos com vistas a uma maior eficácia da ação” (ROSNAY, 1975). Esse caminho rumo a uma abordagem interdisciplinar que diminua o “estranhamento” entre as disciplinas, que possibilite reflexões sistêmicas e não unilineares, que não fragmente a visão dos profissionais, que alimente a necessidade de uma ciência cada vez mais envolvida com a realidade concreta e com a emancipação das pessoas, necessita ser cada vez mais presente na formação dos profissionais da área das ciências agrárias.

Pesquisa

A pesquisa científica tem representado um instrumento legitimador do modelo de produção agrícola convencional. Isso tem ocorrido, entre outros fatores, através do desenvolvimento de pressupostos epistemológicos e metodológicos que impossibilitam a construção de uma visão mais humana e complexa da realidade. Nesse sentido, Gomes (2012) defende que é necessário promover essa revisão dos pressupostos da ciência que guiam as ações de pesquisa e desenvolvimento, para isso, elenca alguns elementos necessários a essa tarefa, sendo eles: uma ruptura epistemológica, rigor no uso de conceitos e o uso do método.

A agroecologia é considerada uma disciplina científica que transcende os limites da própria ciência, ao pretender incorporar questões não tratadas pela ciência clássica (relações sociais de produção, equidade, segurança alimentar, autoconsumo, qualidade de vida, sustentabilidade, etc.) e esta, por sua vez, se restringiu á aplicação de pressupostos metodológicos.

Aceitar que os conhecimentos produzidos em outros contextos, além daqueles considerados científicos, também são válidos, significa colocar em discussão os referenciais mais caros à ciência clássica (e aos próprios pesquisadores). Se a ciência não representa a única fonte de conhecimento válido, se os conhecimentos tradicionais e os saberes cotidianos também devem ser considerados na produção do conhecimento agroecológico, então é necessário promover uma articulação entre o conhecimento científico e os outros saberes empíricos. Isto não é uma coisa fácil, se considerarmos a formação dos pesquisadores, a cultura e a estrutura das instituições. Falar sobre as mesmas coisas não significa, necessariamente, ter a mesma visão de mundo ou a mesma intenção. Por exemplo, tratar as pessoas como se fossem semelhantes, não significa necessariamente, um tratamento justo. Esta consideração é importante para que na pesquisa agroecológica não se incorra no mesmo equívoco da pesquisa clássica, que pretendia uma tecnologia de caráter universal, sem considerar as especificidades de cada grupo de agricultores. A agroecologia incorpora a diversidade e a diferença, por isso é muito mais complexa.

Outra consideração relevante é o uso indiscriminado do termo sustentabilidade, que está sendo transformado ou usado, com o propósito de “crescimento econômico sustentável” através dos mecanismos de mercado, sem preocupar-se com a internalização das condições da sustentabilidade econômica nem de incorporar os diversos processos que estão implicados na própria sustentabilidade como o ambiente, o tempo ecológico de produtividade e regeneração da natureza, os valores culturais e humanos, a qualidade de vida, entre outros. Neste sentido, a consideração única dos valores e medições de mercado como indicadores de sustentabilidade, acabou seguindo caminho contrário a sustentabilidade quando consideradas as dimensões sócio-ambientais. Ou seja, a noção de sustentabilidade se divulgou e vulgarizou até formar parte do discurso oficial e do sentido comum. Este mimetismo discursivo, gerado pelo uso retórico do conceito, escamoteou o sentido epistemológico da sustentabilidade (Leff, 2000).

O método científico tem sido mais usado, no seu sentido convencional, que é visualizar um fato (ou fenômeno) que deve ser repetido várias vezes, buscando obter o maior número possível de detalhes sendo, realizada, portanto, com a maior precisão possível. Deve-se tomar o cuidado com os “vícios” para ocorra uma observação correta do fato; em muitos casos, a pessoa ver o que deseja ver, e não o que está ocorrendo de fato.

Por outro lado, o uso do “método” numa perspectiva não-convencional, adotou uma postura relativista, quase ao estilo da epistemologia anarquista de Feyerabend (1992), o “vale tudo”, que agiu corretamente ao abominar as heranças do empirismo, do racionalismo, do positivismo e do mecanicismo, mas não chegou a contribuir para a flexibilização no uso do método convencional. Ao

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não fazê-lo, também ficou na “aparência’’, pois a falta de “rigor’’, ou de organização do trabalho (como deve ser a atividade de pesquisa), também impede de identificar as “causas”.

Para citar um exemplo prático, é que um grupo de investigadores, “mais cartesiano”, não conhece ou não estudou a teoria da trofobiose (Chaboussou, 1987). O outro, mais “generalista”, quase tudo justifica em seu nome. Se o diálogo tivesse ocorrido, talvez a “caixa-preta” tivesse sido aberta, contribuindo para elucidar muitos problemas que ainda hoje continuam sem solução. Ainda sobre o “método”, é claro que sua aplicação foi responsável por muitos êxitos científicos. Entretanto, se for concebido em seu sentido estreito, identificado exclusivamente com o método experimental, seu alcance fica radical e automaticamente limitado. Ademais, o método não substitui o talento, mas o complementa: o investigador de talento cria novos métodos, o inverso não ocorre. Para o caso da pesquisa em agroecologia, não se trata nem de abolir o método convencional nem de trabalhar de forma anárquica, mas de construir “um método” flexível o suficiente para incorporar a complexidade em questão.

Trabalho

No intercâmbio com a natureza, o ser humano produz os bens de que necessita para viver, aperfeiçoa a si mesmo, gera conhecimentos, padrões culturais, relaciona-se com os demais e constitui a vida social. Na relação dos seres humanos para produzirem os meios de vida pelo trabalho, não significa apenas que, ao transformar a natureza, transformamos a nós mesmos, mas também que a atividade prática é o ponto de partida do conhecimento, da cultura e da conscientização (Frigotto, 1985). Na perspectiva dos interesses da classe trabalhadora, o estudo e o debate para aqueles que se dedicam ao trabalho educativo e de qualificação deve se pautar em dois aspectos: a impossibilidade de desenvolver as dimensões educativas do trabalho dentro do sistema capitalista e a compreensão do trabalho como princípio educativo.

O modelo difusionista inovador de extensão rural, por exemplo, tem provocado a expropriação dos camponeses do processo de produção do conhecimento que gera as tecnologias que eles passam a utilizar e tem expropriado esses mesmos trabalhadores da autonomia em gerenciar essas inovações a partir do potencial endógeno de seus agroecossistemas, pelo fato de se tratarem de pacotes pré-desenvolvidos sob os quais os agricultores tem que acessar acriticamente.

Frente a isso, na construção do conhecimento agroecológico entende-se que a natureza é transformada pelos seres humanos a partir dos processos de trabalho. Assim, o processo de produção de tecnologias deve ser adaptado às condições endógenas do sistema social produtivo dos agricultores, de forma que possibilite a adequação dessas inovações e possibilite a inserção dessas populações no processo de construção do conhecimento e produção das tecnologias e inovações.

A FEAB possui uma importante contribuição nesse debate. Os estágios interdisciplinares de vivência (EIVs) tem sido uma ferramenta importante na construção de um processo de formação pautado na realidade concreta, desfragmentada e reflexiva. Principalmente por se tratar de um momento que possibilita aos estudantes vivenciar o trabalho dos camponeses que, de forma maestral, trabalham tanto nos processos produtivos quanto na gestão da unidade de produção. Essa experiência possibilita também aos estudantes entender a dimensão ontológica (inerente ao ser) do trabalho, percebendo que este, de modo necessário, transcende o objetivo meramente profissional, tratando-se, portanto da própria essência do homem.

A alternativa agroecológica

Contrapondo-se ao padrão convencional de desenvolvimento agrícola fundamentado no paradigma da Revolução Verde, no final do século XX ganhou corpo em defesa de formas mais sustentáveis de produção agricola um processo inicialmente identificado como “agricultura alternativa”. A partir da década de 1990, na América Latina, essa denominação foi substituída pela de “Agroecologia”.

A Agroecologia enfatiza o desenvolvimento e a manutenção de processos ecológicos complexos capazes de subsidiar a fertilidade do solo, bem como a produtividade e a sanidade dos

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cultivos e criações. O nível de ruptura com os sistemas convencionais pode variar bastante entre as iniciativas de promoção da Agroecologia, podendo ir desde simples medidas de redução ou substituição do uso de insumos agroquímicos até a completa reestruturação da lógica de organização técnica e econômica dos agroecossistemas, estabelecendo forte analogia estrutural e funcional com os ecossistemas naturais nos quais estão inseridos.

O alto grau de especificidade local implica que o desenvolvimento dos agroecossistemas pela perspectiva agroecológica se faz com a forte contribuição de dinâmicas locais de inovação e não por meio da difusão de soluções técnicas universais, tal como designado no paradigma da Revolução Verde. A busca da eficiência agroecológica depende da manutenção de agroecossistemas complexos, com alta diversificação de culturas e criações, o que se consegue por meio de associações, rotações e sucessões de espécies. Esse tipo de sistema impõe limites ao tamanho das unidades produtivas e às possibilidades de mecanização das operações de manejo. Por essa razão, cobra a execução de trabalhos qualificados, flexíveis e atentos aos detalhes de manejo, o que significa que o trabalho é realizado de forma inseparável à gestão do sistema. Ao contrário dos sistemas convencionais que são dependentes do emprego intensivo de capital, sendo o trabalho essencialmente mecânico e separado do processo de gestão.

Em síntese, a agricultura familiar camponesa é, por excelência, a base sociocultural para a generalização da alternativa agroecológica, pois conseguem integrar trabalho e gestão em um processo indivisível, que é condição básica para o manejo da complexidade inerente à prática agroecológica. Muito embora, princípios da Agroecologia possam ser empregados por grandes produtores empresariais, o nível de eficiência econômica e ecológica nessas unidades de produção tende a ser muito menor do que quando aplicados em pequenas unidades de gestão familiar.

Segundo levantamento realizado na Universidade de Sussex, Inglaterra, mais de 1,4 milhões de agricultores em todo o mundo adotam princípios da Agroecologia. O estudo identificou aumentos médios de 100% na produtividade em centenas de projetos após a adoção desses princípios, com registros de 400% de aumento em situações mais avançadas na transição agroecológica. Além da boa produtividade, os sistemas manejados segundo o enfoque agroecológico, são sistemas com balanço energético positivo e altamente poupador de energia de origem fóssil; recuperam e conservam a fertilidade dos solos sem uso de insumos externos, além de serem resistentes aos processos erosivos; funcionam como sumidouro de carbono e não emitem ou emitem poucos gases de efeito estufa; integram-se funcionalmente à vegetação natural, dando maior estabilidade aos microclimas onde estão inseridos; são livres de contaminação química causada por agrotóxicos e fertilizantes solúveis e da poluição genética causada pelos organismos geneticamente modificados.

Segundo a Avaliação Internacional sobre Ciência e Tecnologia Agrícola para o Desenvolvimento (IASSTD, 2009) o conjunto desses efeitos positivos indica que a generalização da Agroecologia é uma estratégia consistente para que a crise do modelo convencional seja enfrentada estruturalmente, a começar pelo desafio de alimentar uma população mundial crescente em condições adequadas e sustentáveis. De forma ainda mais explícita, o relator das Nações Unidas para o Direito Humano à Alimentação divulgou, em 2010, um relatório em que afirma que a Agroecologia pode a um só tempo aumentar a produtividade agrícola e a segurança alimentar, melhorar a renda de agricultores familiares e conter a tendência de erosão genética gerada pelaagricultura industrial (DE SCHUTTER, 2010).

O principal desafio à generalização da perspectiva agroecológica é de natureza política e não técnica. Ele se apresenta diante da necessidade de superação do poderio político, econômico e ideológico dos setores do agronegócio que sustentam a permanência e a expansão do modelo da agricultura industrial. Entre outros efeitos negativos, a dinâmica expansionista da lógica do agronegócio tem sido a principal responsável pela desaparição da agricultura familiar camponesa em todo o mundo. Isso não significa apenas a diminuição do número de unidades produtivas familiares que poderiam ingressar em trajetórias de transição agroecológica, mas implica também a perda da cultura camponesa e de povos e comunidades tradicionais, elemento essencial para a construção de conhecimentos agroecológicos ajustados às mais variadas peculiaridades socioambientais.

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O protagonismo da juventude no semiárido: a experiência do Coletivo Regional do Cariri, Seridó e Curimataú (PB)

Ghislaine Duque e Maria da Glória Batista de AraújoTexto original obtido da Revista Agriculturas, v. 8 – n. I, março de 2011.

Atualmente, muitos jovens enfrentam desafios para permanecer no meio rural. O grande desejo de ter uma vida melhor e estável incentiva muitos a deixarem suas origens. No entanto, a migração geralmente tem sido uma alternativa frustrada para a sobrevivência de jovens que saem de suas comunidades.

Essa realidade vem mudando a partir da revalorização do potencial da juventude camponesa na área de atuação do Coletivo Regional do Cariri, Seridó e Curimataú paraibano (ou apenas Coletivo), entidade que articula organizações de agricultores e agricultoras familiares camponeses presentes nessas regiões em defesa da agricultura familiar sustentável e segundo o princípio da convivência com o semiárido.

Este artigo se propõe a mostrar como os jovens se inserem na consolidação do território de abrangência do Coletivo, envolvendo-se nas mais variadas atividades com a consciência de que estão colaborando para o futuro da região. Essa, digamos, missão lhes dá estímulo e melhora sua autoestima, uma vez que passam a vislumbrar possibilidades concretas para levar uma vida digna ao praticarem uma agricultura em bases agroecológicas.

O contexto socioambiental

O desenvolvimento rural sustentável no semiárido constitui um enorme desafio pelas características naturais e sociais da região. A primeira questão que apontamos, já bem conhecida, está ligada às secas, que se caracterizam não apenas pela limitada pluviometria, mas sobretudo por sua irregularidade.

Mesmo nessas condições, a agricultura familiar continua sendo a atividade geradora de trabalho e renda para boa parte da população rural ativa. É no semiárido que se encontra o maior número de estabelecimentos agrícolas familiares do Brasil. Entretanto, a estrutura fundiária é extremamente com centrada: 42% do número total de unidades familiares do país ocupam apenas 4,2% do total da área agrícola (Censo Agropecuário 1995/96). Para completar o quadro, as elites agrárias detêm as maiores cotas de poder, gerando dependência econômica e política das famílias pobres em relação ao acesso à terra, à água e à segurança e soberania alimentar.

Essa situação é particularmente desafiante no território do Cariri, Seridó e Curimataú paraibano. As condições edafoclimáticas são as mais extremas, a estrutura agrária está entre as mais concentradas e as organizações de produtores caracterizam-se por sua fragilidade e vulnerabilidade frente às estruturas do poder público municipal. Muitas famílias dependem ainda dos grandes proprietários para terem oportunidades de trabalho e favores diversos.

O Coletivo Regional do Cariri, Seridó e Curimataú paraibano

O protagonismo da juventude se dá com muita força no Coletivo, organização cuja origem remonta aos anos 1980, quando as Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) tiveram forte atuação na região. Seu foco era a evangelização, mas além da fé abarcava as dimensões da política e da ação sociotransformadora. Esse dinamismo foi acompanhado por segmentos progressistas da Igreja Católica, dos Sindicatos de Trabalhadores Rurais (STRs) e de ONGs que organizaram grupos de evangelização, bancos de sementes comunitários, mutirões para construção e melhoria de

Texto 2

“Se a educação sozinha não pode transformar a sociedade, tampouco sem ela a sociedade muda.”

Paulo Freire

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reservatórios de água, etc. Essas ações foram se expandindo para comunidades rurais de vários municípios. Mesmo com a desarticulação das CEBs, a ação não parou. Segmentos da Igreja Católica local, o STR de Soledade e ONGs, como o Patac e a Pracasa, continuaram de-senvolvendo atividades voltadas para melhorar a qualidade de vida dos camponeses, principalmente por meio da construção (ou melhoria) de equipamentos de armazenamento de água de chuva, a exemplo das cisternas de placas, da criação de Fundos Rotativos Solidários (FRSs) e de Bancos de Sementes Comunitários (BSCs).

Conforme as iniciativas de convivência com o semiárido se irradiavam, foi se configurando, no município de Soledade, um espaço de gestão participativa denominado Coletivo Municipal de Educação Solidária de Soledade e Entorno. Formado em 1998 por agricultores experimentadores e lideranças, sua primeira ação coletiva foi a gestão de recursos dos FRS.

Esse espaço de gestão participativa se ampliou à medida que comunidades rurais e famílias agricultoras assessoradas pelo Patac realizavam atividades de intercâmbio de experiências e de conhecimentos. Em 2004, essa rede se fortaleceu com o aumento da experimentação agroecológica orientada para valorizar as riquezas locais. Suas iniciativas foram sendo cada vez mais reconhecidas, tais como a disseminação de práticas de conservação e o uso dos recursos naturais (com ênfase no resgate e na valorização das sementes locais, assim como na produção e estocagem de forragem diversificada); captação da água de chuva e uso sustentável das águas para consumo humano e produção vegetal e animal; uso e conservação da biodiversidade local. São práticas até hoje fundamentais e estratégicas para a permanência das famílias e para o enfrentamento dos períodos de estiagem prolongada, mas, sobretudo, são formas de resistência e luta em defesa da cultura e do modo de vida camponês no semiárido.

É desse movimento de resistência e luta que foi se constituindo a identidade do Coletivo. Em alguns anos se agregaram progressivamente associações comunitárias, STRs, igrejas e entidades de apoio de aproximadamente 300 comunidades rurais de dez municípios do semiárido paraibano. Consolida-se, assim, um grupo para defender um projeto político e técnico que fortaleça redes locais de inovações agroecológica, contrapondo-se ao modelo que separa a agricultura da natureza.O Coletivo também atua junto à Articulação do Semiárido Paraibano (ASA Paraíba), à Articulação do Semiárido Brasileiro (ASA Brasil) e à Articulação Nacional de Agroecologia(ANA), o que permite que as famílias participem de debates e ações num nível muito mais amplo. Esse processo de organização é marcado pela participação e interatividade dos jovens de várias comunidades rurais.

Temas mobilizadores

Em 2006, a partir de um processo de formação e reflexão sobre as principais ações estratégicas que estavam mobilizando os agricultores e agricultoras e suas organizações na região, foram identificados três temas mobilizadores: água; criação animal; e sementes, plantas e frutas. Foram criadas então suas respectivas comissões temáticas, visando melhor organizar a gestão participativa do Coletivo e contando com forte participação dos jovens.

O envolvimento dos jovens

Os jovens começaram a se envolver em compromissos sociais a partir de seu engajamento na pastoral. Hoje, assumem responsabilidades nas comissões temáticas do coletivo, participando de suas reuniões de avaliação e planejamento. Há também representantes dos jovens integrando a coordenação do Coletivo, que tem o papel de articular as ações promovidas, assim como de representá-lo institucionalmente.

Mas os jovens não deixaram de contribuir nas suas comunidades e municípios, nos sindicatos, nas paróquias e, finalmente, na ASA. O papel deles nas diversas instâncias organizativas do Coletivo consiste em mobilizar outros jovens e a comunidade em geral, monitorar atividades e levantar dados (número de bancos de sementes, por exemplo), contribuir na elaboração de estratégias para aperfeiçoar os processos de formação e desenvolver atividades específicas, como experimentação ou beneficiamento de frutas.

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Na Comissão Água, por exemplo, os jovens assumem responsabilidades na coordenação e também como instrutores nas oficinas de gerenciamento de recursos hídricos. Na Comissão Criação Animal, acompanham as atividades de formação e monitoram a produção, o beneficiamento e os estoques de forragens armazenados em silos e fenos, bem como o número de comunidades e de famílias envolvidas nessas atividades. Já na Comissão Sementes, Plantas e Frutas, dedicada ao manejo sustentável da biodiversidade, contribuem para o resgate de variedades de sementes locais que foram selecionadas e cultivadas por várias gerações de agricultores.

Nos últimos três anos, aliás, os jovens têm desempenhado papel expressivo no processo de formação sobre a recuperação e a valorização das sementes da paixão e, ao mesmo tempo, têm atuado para construir uma consciência coletiva crítica e ativa frente às iniciativas que põem em risco as variedades locais e a biodiversidade nativa. Na prática, dedicam-se ao levantamento e inventário das sementes e das plantas da caatinga, sistematizando conhecimentos sobre seus diversos usos. Nessa área de atuação, o uso e a conservação das plantas medicinais é um campo particularmente importante; os jovens participaram da identificação de mais de 200 espécies usadas na prevenção e no tratamento de doenças das famílias e dos rebanhos.

Além disso, estão identificando e mapeando os guardiões do patrimônio genético que conservam raças de animais ou plantas raras. Nesse processo, foram identificadas 117 guardiãs e guardiões de mais de 90 espécies de plantas cultivadas, sendo 51 de plantas medicinais e frutíferas. Identificaram também três guardiões e guardiãs de raças animais que atualmente estão sob risco de extinção na região.

Outra frente de atuação dos jovens é o beneficiamento e a comercialização da produção. Sete grupos, constituídos principalmente por jovens e mulheres, estão valorizando frutas nativas e naturalizadas, tais como umbu, caju e acerola, para a produção de polpas, doces, geleias, sucos e compotas. Essa produção beneficiada destina-se tanto ao consumo das famílias como à venda para o mercado local e para o mercado institucional por meio do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e do Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae).

Igualdade de gênero e permanência no campo: temas para a juventude

Em meio aos esforços do Coletivo para promover a igualdade de gênero, a participação dos jovens tem sido fundamental, um vez que mais da metade deles é composta por mulheres. Seu papel vem sendo reconhecido por todos, pois estão comprovando sua capacidade de atuar na organização,articulação, construção e condução de um processo de desenvolvimento sustentável na região. Dessa forma, no interior de suas famílias, embora ainda predomine a dominação masculina dos adultos, as intervenções dos jovens articulados à dinâmica do Coletivo já ganham destaque.

Entretanto, resta ainda o desafio de fortalecer o protagonismo juvenil nas escolas, que sequer valorizam a cultura da agricultura familiar. Nesse espaço, questionam-se as perspectivas para a permanência dos jovens no campo em razão das limitadas dimensões das propriedades (consequência da partilha por herança) e da falta de investimentos públicos que possibilitem alternativas de trabalho e renda.

Mas muitos já perceberam que as inovações técnicas orientadas pela perspectiva agroecológica permitem valorizar ao máximo os espaços reduzidos das parcelas e, diante disso, vários jovens declararam querer permanecer no campo.

Por fim, é importante frisar que, ao participarem ativa mente da construção de um território agroecológico, os jovens expressam e reafirmam a existência e a continuidade histórica da agricultura familiar camponesa, assim como as capacidades locais de conduzir projetos de desenvolvimento local e de promoção da Agroecologia no semiárido paraibano.

Ghislaine Duqueprofessora de sociologia,

pesquisadora do CNPq e membro da diretoria do PatacMaria da Glória Batista de Araújo

coordenadora do Patac

“É difícil, é pesado, mas não é impossível!”Dona Ana

Quilombola

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“Criatividade da juventude é fundamental”, afirma dirigente do MST

9 de agosto de 2012Por José Coutinho Júnior

Da Página do MST

O MST organiza a 3ª Jornada Nacional da Juventude Sem Terra, no mês de agosto, para estimular a construção de debates e espaços de organização da juventude.

A jornada abre espaços de discussão dos jovens dos acampamentos e assentamentos do Movimento, desde questões do cotidiano, a participação na organização e o papel da juventude como força política de transformação.

"A criatividade da juventude é fundamental para transformar as relações sociais e criar uma nova sociedade", afirma o coordenador do Coletivo de Juventude do MST, Raul Amorim.

“Debater o papel da juventude é definir um posicionamento de classe, pois a maioria da juventude se encontra junto à classe trabalhadora. Há uma diversidade na juventude, que não está dissociada na luta de classes“, avalia.

Abaixo, leia a entrevista completa à Página do MST.

Qual o objetivo da Jornada Nacional da Juventude Sem Terra?O objetivo da jornada é estimular a organização e o processo criativo da juventude, além de

criar momentos de formação, com debates sobre temas mais amplos - como a globalização e o funcionamento do agronegócio - até temas do dia a dia dos jovens, como a diversidade sexual, aborto e questões de gênero.

O elemento novo dessa jornada é o seu caráter consultivo. Não há uma programação dada pelo Movimento. A jornada abre espaço para debates sobre a realidade e trocas de experiência. Por isso, não debatemos o que o Movimento quer de sua juventude, mas o que a juventude quer com o projeto de Reforma Agrária.

Que tipo de ações devem acontecer durante a jornada?Há uma diversidade de ações possíveis. Os acampamentos de juventude, por exemplo, são

espaços para os jovens se organizarem, realizando debates e encontros. Também ocorrem atividades dentro das escolas, como torneios esportivos, de futebol, vôlei, xadrez, e seminários para debater a agroecologia, os desafios da juventude e nosso projeto de Reforma Agrária.

Além disso, vamos ter oficinas de teatro, música, audiovisual, fotografia, rádio, que ajudam a estimular uma criação da comunicação popular e uma reflexão sobre o tipo de comunicação hegemônica que temos na nossa sociedade.

Por fim, vai haver um momento de luta, onde as oficinas serão transformadas em elementos de agitação e propaganda, dando a identidade da juventude nas lutas. A jornada tem um caráter interno, mas ao mesmo tempo nós construímos esse dia de luta, no qual a nossa juventude vai se juntar com outras organizações de juventude do campo e da cidade para se mobilizar.

Quais os temas serão discutidos na jornada?Um dos principais temas da jornada é a educação, principalmente as escolas no campo. Dentro

da investida do agronegócio e do neoliberalismo, há um claro projeto de redução da população camponesa. Isso teve como reflexo um sucateamento das escolas no campo. Quem mora no campo e precisa estudar é obrigado a se locomover para a cidade. O nosso embate vai no sentido de construir um modelo de educação para o campo e para a juventude camponesa. Não queremos só o acesso a educação, mas uma educação voltada para o campo.

Texto 3

“Ser jovem e não ser revolucionário é uma contradição genética”

Che Guevara

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A dificuldade que as escolas enfrentam são grandes: 94% delas não tem internet com banda larga; 15% não tem energia elétrica e 50% dos professores não tem graduação. Pensar a educação do campo é pensar no tipo de escola que queremos para formar o campesinato. Na jornada, estamos estimulando que a juventude tenha consciência do seu papel. A construção da educação no campo perpassa pela auto-organização da juventude, seja em grêmios, grupos de teatro ou conselhos de classe, que agreguem professores e direção para a construção de uma educação no campo de qualidade.

Mais temas são debatidos na jornada?Um tema importante é o trabalho com geração de renda, que além de visar a autonomia dessa

juventude, possa promover o protagonismo, não só dentro da estrutura familiar, mas também na construção dos assentamentos. A juventude deve pensar que tipo de assentamento quer e se inserir no processo produtivo e político dos assentamentos, como na luta pelas agroindústrias.

A jornada mostra o espírito de luta da juventude, que precisa se organizar tanto internamente como com a juventude de outros movimentos do campo ou da cidade. A juventude é um ator político, que pensa os novos desafios impostos pela luta de classes.

Qual a importância da organização da juventude no MST?Toda geração tem o direito de pensar seu tempo com a sua força, a partir da sua realidade. A

juventude precisa conhecer seu papel. Esse processo de organização não pode ser paralelo ao da luta de classe ou das organizações políticas.

Os jovens do campo, segundo dados oficiais de 2010, totalizam 8,1 milhões de pessoas. Destes, 2,4 milhões se encontram em extrema pobreza. A classe dominante utiliza isso para criar uma leitura da realidade de que o desenvolvimento da sociedade está na cidade, e o campo é atrasado, o que causa a migração para a cidade.

Mais de 40% da juventude na cidade também se encontre na pobreza. Se a maioria da juventude se encontra nessas condições, debater o papel da juventude é definir um posicionamento de classe, pois a maioria da juventude se encontra junto à classe trabalhadora. Há uma diversidade na juventude, que não está dissociada das condições impostas pela luta de classes.

Nesse sentido, a organização da juventude serve para potencializar a reflexão da realidade, a formação política, a diversidade de conhecimentos. Deve ser um espaço de amadurecimento político para enfrentar a nova fase do capitalismo financeiro, aliado aos bancos e empresas transnacionais. Não é um processo a parte da luta de classes, mas um momento de preparação, que estimula a criatividade da juventude. A criatividade da juventude é fundamental para transformar as relações sociais e criar uma nova sociedade.

Como a juventude pode contribuir para criar novas formas de luta política?Na recente organização da juventude, acumulamos bastante no espaço da agitação e

propaganda, porque é onde trazemos os elementos artísticos e da comunicação. Para isso, é preciso ter criatividade. Um exemplo importante é a luta do Levante Popular da Juventude, movimento ao qual nos somamos, que usa o elemento criativo do esculacho para realizar suas ações. Isso mostra que as formas de luta não estão paradas. A juventude pode contribuir na criação de formas diferenciadas e criativas para enfrentar o capital.

“Malditas sejam todas as cercas!Malditas todas as propriedades privadas

que nos privam de viver e de amar!Malditas sejam todas as leis, amanhadas por umas poucas mãos, para ampararem

cercas e bois e fazerem da terra escrava e escravos os homens!”

Dom Pedro Casaldáliga

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Falta de estrutura e possibilidade faz com que jovens abandonem o campo

31 de agosto de 2012Por José Coutinho Júnior

Da Página do MST

Os jovens rurais brasileiros continuam a abandonar a agricultura e o meio rural para tentar a sorte nas cidades. Esse êxodo não é fruto apenas de uma lógica que dita que a cidade é o mundo das possibilidades, enquanto o campo é uma área atrasada, mas principalmente de questões materiais e estruturais de um modelo agrícola predominante junto com práticas políticas que excluem o jovem da produção rural e minam suas possibilidades de ter uma vida digna no campo.

Segundo o militante da Pastoral da Juventude Rural (PJR) e do coletivo de jovens da Via Campesina, Paulo Mansan, “os fatores que levam a essa saída são principalmente estruturantes. Em primeiro lugar, o jovem não tem acesso à terra: a maior parcela de jovens que está saindo do campo são sem terras”.

Os problemas encontrados na falta de políticas e incentivo para a Reforma Agrária afetam diretamente a juventude. Segundo Mansan, o jovem é um dos maiores prejudicados pela paralisação da Reforma Agrária. “O caminho que ele encontra no final é acabar trabalhando como empregado e ganhar um salário mínimo na cidade do que tentar continuar na luta pela terra”.

Para que o jovem possa ficar no campo, é necessário que a Reforma Agrária vá além da distribuição de terras, afirma a pesquisadora Natacha Eugênia Janata. “Precisamos de uma Reforma Agrária que tenha estratégias para dar um retorno e segurança financeiros. Além disso, deve existir uma estrutura de saúde, educação e cultura voltadas aos jovens e à realidade no campo. A permanência do jovem no campo é uma consequência do cumprimento desses fatores”.

Enquanto essas políticas não são postas em prática, a realidade do jovem no campo se agrava: dados do programa Brasil sem Miséria apontam que de um total de 8,2 milhões de jovens rurais, 2,3 milhões vivem em situação de miséria, com renda mensal de 70 reais ou menos.

Sem um lote próprio e condições estruturais dignas, o jovem não consegue obter uma renda fixa no campo e vai para a cidade. Segundo Natacha, “É uma questão de sobrevivência. O jovem tem a necessidade de uma renda mensal, e a cidade oferece a ele um vínculo empregatício e um salário, mesmo que seja baixo. A agricultura não dá a ele as relações materiais que a cidade dá”.

Inclusão

É difícil para o jovem obter um lote de terra hoje pela Reforma Agrária, pois o cadastro do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) privilegia agricultores que aguardam a terra por mais tempo e que tem uma família constituída, fatores que excluem os mais novos de obter um pedaço de terra.

Apesar de concordar com a priorização feita pelo Incra, Mansan admite que é necessário pensar em formas de acabar com a exclusão da juventude advinda dele. “É preciso pensar em uma forma de assentar o jovem, como por exemplo, assentar vários jovens em um único espaço”.

Segundo Willian Clementino, secretário de políticas agrícolas da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (CONTAG), as organizações sociais e o Incra estão discutindo formas de inclusão da juventude no cadastro. “Nos últimos dois anos incidimos bastante na norma de seleção do Incra. Hoje há um grupo de trabalho na entidade que discute as normas de seleção e como potencializar o acesso da juventude à terra”.

A exclusão do jovem não se dá apenas no acesso à terra, mas na falta de voz em relação à tomada de decisões e participação nos lotes da família. Segundo Mansan, essa lógica “é uma coisa

Texto 4

“Não é a consciência do homem que lhe determina o ser, mas, ao contrário, o seu ser social que lhe determina a consciência.”

Karl Marx

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que os movimentos têm que desconstruir, porque é muito predominante. As relações patriarcais dificultam a permanência do jovem, pois quando não há um processo bem discutido de cooperativismo, quem controla os recursos da família e até mesmo os frutos do trabalho do jovem no lote é quem coordena a família.

Dessa forma, o jovem acaba tendo dificuldade de ter renda própria. Esse fator contribui para sua saída, pois longe dos pais, o que ele ganhar é dele, podendo até mandar dinheiro para ajudar a família. A sensação de sair do lote contribui na busca da independência desse patriarcalismo. Para quebrar isso, nós temos que construir novas práticas de cooperativismo”.

Para Natacha, “a juventude é parte da classe trabalhadora, mas se encontra na transição entre adulto e criança. Entrar no mercado de trabalho é difícil: o jovem acaba fazendo o trabalho braçal nos lotes familiares, mas não tem acesso direto aos frutos dos seus trabalhos. Eles querem trabalhar no campo, mas a sua vontade acaba sendo podada pelos adultos. O jovem participa, mas sua opinião não é decisiva; ele quer estar incluído no campo, mas para isso acontecer de fato, as suas decisões precisam ser levadas em conta”.

Quais soluções?

A não permanência da juventude no campo preocupa os agricultores mais velhos com relação ao destino da propriedade: se não há ninguém da família que tenha vontade de herdá-la, o que vai acontecer com ela? Uma resposta ao problema da sucessão vem sendo cursos técnicos, que capacitam os jovens a se tornarem empreendedores. No entanto, esta lógica individualista transforma o lote em um simples negócio, além de sua eficácia ser questionável.

De acordo com Mansan, “não que o jovem não tenha que saber administrar sua propriedade, mas querer resolver o seu problema sozinho não é possível. A solução está nas práticas onde se desenvolve o cooperativismo, o associativismo, onde o jovem é integrante de um grupo que coletivamente consiga produzir as práticas de um campo diferente, um campo onde tem gente e onde ele viva com qualidade de vida. Essa é a grande luta. Essa história do empreendedorismo, nós podemos perceber que 80, 90% dos casos não dão certo. Sozinho o jovem não consegue resolver tudo”.

Para que o jovem possa não apenas suceder os pais, mas ser capaz de pensar e experimentar novas formas de agricultura, ele precisa ser reconhecido como agente político no campo, tão capaz de produzir quanto os adultos. Se isso for concretizado, os benefícios são grandes. Willian aponta que “a juventude hoje no campo é protagonista das experiências alternativas no campo. As maiores experiências de agroecologia, de lidar com a terra, produzir alimentos sem veneno, exploração do turismo rural, com potencial sustentável, econômico e financeiro tem sido experiências da juventude”.

Exemplos desse protagonismo, cita Willian, são jovens do Maranhão que fizeram um curso de capacitação na CONTAG, e depois arrendaram um terreno coletivamente, onde começaram uma produção agroecológica; jovens no sul do país que trabalhavam com fumo, mas abandonaram a produção para iniciar o trabalho com agroecologia, e jovens que trabalham com o turismo rural, mostrando às pessoas o que é e como funciona a agricultura familiar.

A capacidade da juventude em criar, segundo Mansan, se dá porque “ela está no momento de buscar novas experiências. O jovem está mais aberto ao sonho e num processo de encantamento maior, e é aí que nós temos que, juntamente com a juventude organizada, provar que o campo é o lugar que deve ser construído coletivamente e que a juventude tem um papel determinante, tanto para inovar quanto pela sucessão”.

“São as ideias que nos unem, são as ideias as que nos fazem um povo combatente, são as ideias as que nos fazem já não só individualmente, mas sim coletivamente revolucionários, e é então […] quando um povo jamais pode ser vencido...”

Fidel Castro

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Uma visão sobre Educação do Campo no contexto da realidade brasileira.Contribuição do Núcleo de Trabalho Permanente em Educação (FEAB Fortaleza)

“Me movo como educador, porque, primeiro,

me movo como gente (...) “ Paulo Freire

A frase acima, citada pelo educador e filósofo brasileiro Paulo Freire, evidencia com clareza a importância da existência de uma educação referenciada nas demandas do povo, e nos faz refletir que, a forma de educar da qual ele menciona, não está ligada a um ensino que se restringe as salas de aula, mas sim em uma educação que possibilite a construção de uma sociedade mais justa, e principalmente, que respeite cada pessoa em seu meio social. Essa definição de educação citada por Paulo Freire está intimamente ligada ao conceito de Educação do Campo, mas para entendê-la é necessário um olhar mais amplo sobre o assunto, e para isso, é essencial resgatar algumas perguntas que envolvem desde a compreensão de sua metodologia até a sua interpretação. Diante desse contexto devemos então nos perguntar, o que é “Educação do campo”? O que a diferencia de “Educação Rural”? De que forma está inserida a educação contextualizada dentro da educação do campo?

A educação do campo nasceu como forma de crítica à atual situação da educação no Brasil, e principalmente, para contrapor o modelo de aprendizagem que está colocado em nossa sociedade, onde atualmente, os maiores beneficiados são o agronegócio e os grandes latifundiários. Com isso, é perceptível a importância de uma educação voltada para povo que trabalha e vive no campo, e sente a real importância de haver um método educacional de acordo com a sua realidade. É nesse contexto de educação diferenciada e voltada para os camponeses, que nasce a chamada Educação do Campo.

Deste modo, a Educação do Campo se distingue de Educação Rural, não só em metodologia, mas em todo o seu contexto de intencionalidades. A concepção de educação rural surge através de iniciativas de políticas públicas, onde a definição do que é área rural é estabelecida através de sensos de pesquisa e o investimento do governo em estrutura e ensino transforma o espaço restrito a escolas desestruturadas e professores mal remunerados. A Educação Rural afirmada por políticas públicas desconsidera a realidade e cultura das pessoas que vivem no campo, despreza as suas individualidades e insere conceitos urbanos que não contribuem para uma educação voltada aos camponeses.

Por outro lado temos a Educação do Campo, protagonizada e construída diretamente pelos movimentos sociais populares e que traz uma visão transformadora, capaz de formar o povo como agente crítico e político. Saindo do papel de apenas ouvinte e passando a estar dentro do processo. Conhecendo e estudando a partir do lugar onde vive, dos problemas enfrentados na região, problematizando situações, abordando a cultura, a religião e os costumes locais no dia-a-dia, aproximando-se da realidade camponesa, e não urbana. Através disso, a Educação do Campo deixa de ser para o povo e torna-se do povo, apontando para um processo profundo de transformação social. E assim, tornando-a parte essencial em um projeto popular para o Brasil.

Apesar de a educação ser um direito de todos, até o ano de 2011, mais de 24 mil escolas do campo foram fechadas. Por outro lado, o analfabetismo representa 9,7% do total da população brasileira. No Nordeste a situação se agrava ainda mais, e a taxa de analfabetismo chega a 18,7% entre pessoas com mais de 15 anos.¹ Isso representa um retrocesso nas políticas públicas para o campo e alerta para a criação de iniciativas que visem mudar essa situação, como a campanha nacional “FECHAR ESCOLA É CRIME”, criada pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST), que tem como objetivo evitar o fechamento das escolas do campo, lutar por melhorias nas escolas já existentes e buscar qualidade na educação pública.

É importante entender que a luta por educação no campo está diretamente ligada à luta por melhorias de vida no campo, isto é, desenvolvimento no âmbito educacional significa também

Texto 5“Lutarei pelo bom, pelo justo e pelo melhor ainda.”

Olga Benário Prestes

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benefícios para o campo. Por essa razão, é essencial que o desenvolvimento do qual falamos seja voltado para a agricultura familiar, para agroecologia, para a realidade dos camponeses e trabalhadores. E isso só é possível com pressão social, e através de uma luta onde os personagens principais desse processo são os movimentos sociais, os jovens estudantes do campo e da cidade, as tribos indígenas, os povos quilombolas e todo o povo brasileiro que almeja um novo projeto popular para o nosso país.

“Entre tijolos de areia uma nova escola se ergue,das mãos de homens e mulheres que se misturam ao cimento

e enquanto sobem as paredes, avançamos nossa lutaforjando novos sujeitos, nessa construção da vida

O que construímos? Com suor e com beleza construímos a nós mesmos; Construímos nossos sonhos; Construímos nossa história;

Num projeto coletivo, construímos um novo homem, construímos uma nova mulher, construímos um novo campo,

construímos uma nova educação, construímos a Educação do Campo!”- Paulo Roberto

FEAB FortalezaNúcleo de Trabalho Permanente em Educação

Referências1 (Os dados são da PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) 2009, do Censo Escolar do INEP/MEC (2002 a 2009), e da Pesquisa de Avaliação da Qualidade dos Assentamentos da Reforma Agrária INCRA, 2010).

Eu quero é Luta!8 de agosto de 2012

Da Página do MST

Vocês já repararam que muita gente diz que nós jovens dos assentamentos e acampamentos só queremos saber de música, esporte e festa e não nos interessamos por nada “sério”? E ainda que a música que a gente ouve é ruim, que não é da “nossa cultura camponesa”?

Já pensaram nisso? Mas será que a cultura, a arte e o lazer também não são uma parte muito importante das nossas vidas? E qual é mesmo a nossa cultura camponesa que os mais velhos tanto gostam de falar?

Não é nada simples responder essas questões. Afinal, para falarmos sobre música, cultura, festas, temos que refletir sobre tudo o que fazemos na vida, o nosso modo de viver. Não dá para separar as coisas. Se olhar- mos para a origem, a cultura tem a ver com o cultivo da terra, logo com o trabalho.

Então, não podemos dizer que não se trata de coisa séria. Pelo contrário, antes as músicas, o teatro, as festas, mesmo os esportes, tinham tudo a ver com o trabalho no campo, os plantios, as colheitas etc. Todos e todas eram produtores de cultura.

O que acontece é que as coisas foram se modificando bastante. Quando olhamos, por exemplo, para as músicas que ouvimos hoje, a maioria não tem muito a ver com o nosso modo de viver. O comum é ouvir músicas sobre mulheres bandidas e homens traídos. Sem falar no sucesso do “eu quero tchú, eu quero tchá...”

Vocês acham que essa é a nossa realidade? Em geral, o ritmo é tão contagiante que nem prestamos atenção nas letras... mas a maioria de nós está fora dessa história de homem traído ou mulher que gosta de apanhar, não é?!

Na maioria das vezes, somos apenas consumidores e meros espectadores da cultura, que passa na televisão, nos grandes shows, nos jogos de futebol milionários, ou mesmo da nossa própria comida, roupas...

Não é verdade? Quantos de nós abrem mão de fazer uma programação com o grupo de amigos

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e jovens do assentamento para ficar em casa pra ver televisão ou trocar mensagens no celular?A questão é que essas músicas, as novelas e outros programas que passam na televisão,

mesmo muita coisa que tem na internet, tentam manipular nossos desejos, ficam a toda hora nos dizendo que para sermos felizes temos que comprar cada vez mais coisas. E que devemos ficar em casa e esperar que a vida melhore, que não precisamos nos organizar coletivamente para lutar pelos nossos direitos, ou mesmo para nos divertir.

Ouvimos ainda que a vida no campo é um fardo, é só trabalho pesado, que as pessoas são atrasadas, não têm acesso à tecnologia, e que o melhor é ir para a cidade.

Vocês lembram de ter visto algum programa na televisão que fale de como os assentamentos podem ser um lugar muito bom para viver, trabalhar, estudar, se divertir, ter acesso à internet, ter um grupo de teatro, uma banda de música? É difícil isso passar, né? E olha que tem assentamentos com bem mais coisas. Mas, em geral, só mostram o quanto as grandes fazendas do agronegócio produzem, com suas super máquinas e venenos (e sem precisar de gente).

O campo é espaço apenas de produção ou um lugar para viver? Vamos aceitar isso quietos e acreditar que esse é o único jeito de se viver? Vamos ficar só ouvindo as músicas que querem que a gente ouça, porque gera mais lucro, e seguir a onda do momento?

A juventude sempre teve muita garra, muita energia e vontade de fazer e criar coisas novas e transgredir as regras. Por isso, nossa cultura, nossa música, nossa roupa, nossas festas têm que mostrar isso.

Não precisamos ficar à espera. Por que não produzir nossas próprias músicas e fazer nossas festas diferentes? Não precisa ser como as festas “antigas”, só moda de viola, como os mais velhos às vezes querem. Por que não juntar diferentes ritmos e usar a tecnologia? Será que dá para juntar a viola com hip hop e música eletrônica? Vamos experimentar! Muitos jovens nos assentamentos já estão fazendo música, poesia, teatro, pintando, até mesmo fazendo vídeos.

Nossas famílias têm uma história de luta. Então, nossa vida e nossa cultura têm que ser também de luta, de resistência e de festa, alegre e coletiva. Feita por todos e para todos.

Por isso, estas coisas são muito importantes e sérias - na vida e na luta. Da mesma forma que temos que lutar para que a terra e os alimentos não sejam tratados como meras mercadorias, temos que lutar para que a cultura também não seja.

Precisamos discutir, estudar, aprender e experimentar. Fica aqui o desafio: por que não montar grupos de cultura nos assentamentos e nas escolas?

Movimentos sociais consideram Política Nacional de Agroecologia insuficiente

12 de setembro de 2012 do site do MSTPor Viviane TavaresDa EPSJV/Fiocruz

Esperada por diversos movimentos sociais, a Política Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica (PNAPO) foi instituída pelo decreto 7.794 no dia 21 de agosto. Prevista para sair em junho, durante a Cúpula dos Povos, sua publicação foi adiada por quase três meses e avaliada como tímida.

Com o objetivo de integrar, articular e adequar políticas, programas e ações da produção agroecológica e orgânica, a política tem como diretrizes a promoção da soberania e segurança alimentar e nutricional, do uso sustentável dos recursos naturais, a conservação dos ecossistemas naturais e recomposição dos ecossistemas modificados, a valorização da agrobiodiversidade e dos produtos da sociobiodiversidade e estímulo às experiências locais, além das questões da participação da juventude e da redução das desigualdades de gênero.

No entanto, questões consideradas fundamentais para a Articulação Nacional de Agroecologia (ANA), o Conselho Nacional de Segurança Alimentar (Consea) e a Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco) foram deixados de lado como, por exemplo, o plano de redução de uso de

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“É preciso que eu suporte duas ou três lagartas, se quiser conhecer as borboletas.”

O Pequeno Príncipe

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agrotóxico no Brasil com banimento das substâncias já proibidas em diversos países, a definição de áreas contínuas de produção agroecológica, além de apoio à pesquisa e assistência técnica deste modelo. "Propomos um programa específico para as mulheres, uma vez que elas têm um papel fundamental na transição agroecológica, mas a política trouxe uma abordagem muito sutil. É preciso reconhecer o papel das mulheres que hoje ainda são vistas apenas como apoio nestas atividades", acrescenta a presidente do Consea, Maria Emilia Pacheco.

Alguns movimentos sociais também apresentaram seu ponto de vista sobre a PNAPO. Em moção publicada durante o I Encontro Unitário dos Trabalhadores, Trabalhadoras e Povos do Campo, das Águas e das Florestas: por Terra, Território e Dignidade realizado em agosto, a função social da terra e a promoção do acesso à água como um bem de domínio público são lembradas como reivindicações não contempladas pela política. Segundo o documento, a participação da sociedade também foi restringida. "Tivemos duas grandes decepções em relação à questão da participação da sociedade civil, a primeira delas é que a política define a criação de uma comissão e não a de um conselho, como nós havíamos solicitado. Além disso, na sua composição, ela foi definida como paritária, enquanto apostávamos na composição de 2/3, assim como é constituído o Consea e que temos experiências muito positivas", explica Maria Emilia.

Ganhos

A Parte 1 do Dossiê da Abrasco - Agrotóxicos, Segurança Alimentar e Saúde lançado em abril no World Nutrition Rio 2012 indicava para a criação de uma política de agroecologia como uma forma de promoção da saúde. "Pelo olhar da saúde coletiva, a gente percebe que o nosso modelo agroecológico pode evitar algumas causas dos problemas de contaminação por agrotóxico, por exemplo, que está associado ao modelo de agricultura quimificado, baseado na revolução verde. A agroecologia é uma proposta de alteração do modelo, então, pela primeira vez, a gente começa a ver aparecer políticas que sinalizam e apontam nesta direção", comentou Fernando Carneiro, da Abrasco.

Maria Emilia lembra ainda que as diretrizes da Política Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional também apontavam para a implantação de sistemas sustentáveis de base agroecológica. "A produção da agroecologia inclui também a produção de hábitos alimentares com características mais regionais, portanto, mais saudáveis, permitindo a sustentabilidade dos sistemas alimentares", explicou.

Ela ainda ressalta que uma dos destaques positivos desta política é encontrado no artigo 12, no qual propõe alterações sobre o Sistema Nacional de Sementes e Mudas - SNSM, aprovado pelo Decreto nº 5.153, em relação à dispensa de inscrição no Registro Nacional de Sementes e Mudas (RENASEM), facilitando assim a multiplicação de sementes ou mudas para distribuição, troca e comercialização em diferentes estados. "É fundamental ter um programa de conservação da biodiversidade, e podemos ver pouco deste reconhecimento nesta parte da política, que reconhece existência da semente crioula e nativa. Antes víamos um restrição do direito dos agricultores, que, agora, está tendo mais flexibilidade, incentivando assim esta produção e comercialização", analisa.

Próximos passos

De acordo com Fernando Carneiro, da Abrasco, é preciso agora criar a Comissão Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica (CNAPO) para que os objetivos da política passem a se concretizar. "Sem dúvida esta política é uma conquista dos movimentos que, ao longo de anos, vêm pensando e propondo questões, mas ela precisa da criação de Comissão urgente para que a política não se reduza a apenas uma carta de intenções", analisa. Caberá à Comissão Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica (CNAPO), dentre outras competências, a elaboração e o acompanhamento da PNAPO e do Plano Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica (PLANAPO), além de propor diretrizes, objetivos e prioridades do plano ao Poder Executivo Federal.

A definição das prioridades também é apontada pela representante do Consea como um dos primeiros passos a serem tomados. "Quando nós fizemos e encaminhamos sugestões à política, estas vinham acompanhadas de medidas prioritárias que não foram acatadas. Agora essas prioridades

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devem ser definidas o quanto antes para que possamos negociar com o governo e começar a concretizar a elaboração do PLANAPO que o decreto prevê", aponta a representante do Consea. Ela explica ainda que para instituir a Comissão Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica é preciso pressionar o governo para a criação de uma portaria que a regulamente. Para tal, a ANA e o CONSEA já estão em articulação e com audiências previstas com o Ministro do Desenvolvimento Agrário, Pepe Vargas e com ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República do Brasil, Gilberto de Carvalho para as próximas semanas.

Por que a tecnologia não chega no campo?8 de agosto de 2012Da Página do MST

Computadores, celulares, câmeras fotográficas, projetores de filmes, filmadoras, videogames e televisores de última geração... Os jovens do campo querem ter acesso a essas tecnologias. A televisão, novelas e filmes diariamente fazem propaganda das novas tecnologias. Esse é um dos motivos que leva boa parte da juventude que vive no campo a querer mudar para as cidades.

Mas será que os jovens do campo precisam ir até a cidade para ter acesso a tudo isso? Não seria melhor que todas as pessoas que vivem no campo e na cidade tivessem as mesmas condições de acesso à tecnologia?

A vida no campo não é melhor nem pior que na cidade. Na cidade, as pessoas trabalham muito, têm pouco tempo livre e o salário é pouco. Você deve conhecer alguém que mudou do campo para a cidade, pergunte se lá não tem problemas?

E a tecnologia, você sabe como ela é produzida? A tecnologia não foi criada pelas empresas, é fruto do trabalho humano desenvolvido ao longo da história para melhorar a humanidade. Desde os satélites no espaço sideral ao chip dos celulares, carros, tratores, maquinários agrícolas, etc; o trabalho de homens e mulheres está presente em tudo.

Na sociedade capitalista as empresas transformaram a tecnologia em um produto de consumo. Assim, os trabalhadores pobres do campo e da cidade, que não têm dinheiro para comprá-las, não têm acesso às mesmas. Aumentado as diferenças entre ricos e trabalhadores. Por você acha que isso acontece?

Uma família que mora nas periferias urbanas não consegue pagar 100 reais por mês para um pacote de internet. Sem contar que antes precisa comprar um computador, que está ficando mais barato, mas depois de um ano já está velho e travando...

É impossível discutir o acesso às novas tecnologias da informação sem a democratização da internet. A universalização da internet banda larga – pública, gratuita e de qualidade – é fundamental para permitir aos assentados essa ferramenta.

A proposta do governo federal é implantar um Plano Nacional de Banda Larga (PNBL).O plano foi criado em 2010 e promete a instalação de telecentros com internet nos

assentamentos e acampamentos de Reforma Agrária. Mas até agora quase nada saiu do papel. Por que será que até hoje os governos não instalaram o que prometeram?

Precisamos cobrar do governo federal a garantia desse acesso à internet nos assentamentos. Todos queremos celular, computador e internet para nos comunicar com o mundo. Mas por que não montar uma rádio comunitária no assentamento?

No assentamento, uma rádio pode ser um instrumento importante para os camponeses comunicarem-se entre si e com quem vive na cidade, fortalecer a cultura camponesa, além de ajudar na organização de quem vive no campo.

A Lei de rádios comunitárias está fora da realidade do meio rural hoje no Brasil, pois essas rádios só podem atingir o raio de 1 km e ter um transmissor com potência máxima de 25 watts. Quando instalada nos assentamentos, esse modelo de rádio não consegue atingir as famílias da maioria assentadas, que vivem em lotes, distantes.

Da mesma forma que lutamos pela terra e por Reforma Agrária, também é importante criar

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tecnologias alternativas e outros mecanismos para montar rádios comunitárias e lutar pelo acesso às novas tecnologias da informação, como a internet. Para isso, também precisamos de políticas públicas que democratizem a comunicação no campo e na cidade.

Somente com luta e organização essas transformações serão possíveis. Em vez de mudar para a cidade, vamos nos organizar e fazer do campo um lugar bom de viver, com acesso à comunicação, às novas tecnologias da informação, à cultura, lazer, esporte, educação etc.

A juventude Sem Terra tem papel fundamental nessa batalha. E você, o que acha? Pronto para a luta?

Agroecologia versus Tecnologia: verdade ou mito?Lívio DiegoFEAB e LPJ

Desde a revolução verde e com o advento do agronegócio que se criou uma falsa separação entre a agricultura alternativa (hoje agroecologia) e o uso de tecnologias. Como se as pessoas que defendem e constroem no dia a dia a agroecologia fossem contra todo e qualquer avanço tecnológico.

Dessa forma algumas perguntas voltam à aparecer com toda força. A quem serve a tecnologia? Para onde vão os financiamentos públicos na pesquisa? Qual o papel dos pacotes tecnológicos? O que empresas privadas fazem dentro de universidades públicas? Os questionamentos são muitos e nem tudo está totalmente esclarecido. Ainda há muita coisa por ser descoberta.

No entanto já da para saber a resposta para algumas dessas perguntas. Por exemplo sabemos a serviço de quem a tecnologia está e posso lhes falar que não é a serviço do povo. Quase a totalidade do que é pesquisado pelas universidades públicas e pelos órgãos de pesquisa do Estado brasileiro hoje vai para as corporações capitalistas, principalmente as multinacionais e transnacionais. No agronegócio – representante do capitalismo no campo – temos alguns exemplos, como a Bayer, Syngenta e Monsanto.

Lembrando que além dos centros de pesquisas públicas (universidades, EMBRAPA, etc.) as empresas ainda contam com estabelecimentos de pesquisa próprios. O lance é que esses também contam com ajuda do Estado, através das parcerias público privada, da isenção fiscal e dos pareceres técnicos favoráveis de órgão ambientais no sentido de liberar áreas para o uso das empresas mesmo que o estudo sobre os impactos não esteja tão condizente com a realidade por exemplo.

Só para se ter ideia do poder político e econômico que essas empresas tem peguemos a Monsanto como exemplo. Elá tem sua sede nos Estados Unidos da América, mas está em também outros 60 países. Atingiu uma cifra de US$ 11,7 bilhões de lucro em 2009 (se contarmos com o que não é declarado o valor é muito maior).¹ Além de usar parte do seu poder para fazer lobby (comprar os políticos) para aprovarem leis que facilitem a comercialização de seus produtos, mesmo que esses produtos não tenham passados por testes suficientes para comprovarem sua conformidade com os padrões de segurança e saúde.² Fora que sempre os órgãos públicos responsáveis tendem a dar parecer favorável. Salve alguns casos em que diretores da ANVISA por exemplo se colocaram contra a liberação de alguns agrotóxicos, mas estes logo rodaram.

E a situação tem piorado dentro das universidades públicas, que historicamente é o local do “pensamento livre”, onde o tripé do ensino, pesquisa e extensão devem estar voltados para a solução dos problemas de nossa sociedade, mas como isso pode acontecer se empresas privadas estão cada vez invadindo com mais força as universidades, através de financiamentos enormes nos laboratórios e departamentos.

Aí fica a pergunta. Para quem vão servir essas pesquisas? Para os agricultores que lidam diariamente com os problemas do campo ou para a empresa que pagou? Qual o interesse dessas empresas? Resolver os problemas do camponês ou apenas obter lucros?

Quanto aos financiamentos públicos nem é preciso especular muito. Mesmo com os avanços

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obtidos nos últimos anos ainda temos muito pelo o que lutar, inclusive para garantir o que já ganhamos, como no caso do Programa 1 milhão de Cisternas (P1MC) cujo o governo está querendo modificar a metodologia do programa que atualmente implanta cisternas de placa para as cisternas de plástico, acabando assim com a participação das famílias na implantação da mesma. Participação essa que se dá desde a mobilização da comunidade para a construção das cisternas (são as próprias famílias as responsáveis) até a formação técnica e política das famílias envolvidas. Onde nas formações se debate as questões de gênero, divisão sexual do trabalho, lutas sociais e técnicas agrícolas por exemplo. Além disso privatizando essa implantação e tornando-as mais caras (o gasto com as de plástico é de R$ 5 mil enquanto as de placa custam R$ 3 mil), além de que as cisternas de plástico são bem menos duráveis e exigem um custo maior de manutenção. Dinheiro esse que sai do bolso das famílias.

Outro grande problema do financiamento público está na disponibilidade de crédito para os agricultores familiares, pois para que estes agricultores acessem essas fonte de crédito eles tem que se adequar a pacotes tecnológicos pré-definidos com as sementes, agrotóxicos, tratores, insumos e implementos, inclusive as vezes sendo indicada até a marca ou distribuidor.

Assim o agricultor é forçado a entrar em uma lógica de produção diferente da qual ele está preparado para atuar. O que muitas vezes faz com que ele fique devendo ao banco e tenha problemas para pagar. Além das dificuldades para a mulher ou o jovem acessar esses créditos, devido a burocracia patriarcal de nosso sistema que torna a mulher e o jovem dependentes do homem (que teoricamente tem o papel de marido e pai, respectivamente), excluindo-se a possibilidade de tipos diferentes de famílias, como também a independência desses sujeitos.

Lembrando que a diferença entre a verba destinada ao agronegócio e a agricultura familiar é gigantesca. Levando-se em conta investimentos da administração direta - Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento e operações de crédito subsidiadas de bancos estatais - Banco do Brasil e BNDES -, o governo já repassou para o agronegócio, desde 2003, R$ 106,1 bilhões. O valor equivale a mais de dez vezes o orçamento de R$ 11,4 bilhões previsto para o programa Bolsa Família em 2009, duas vezes e meia o orçamento de R$ 41,6 bilhões do Ministério da Educação e é 78,3% superior ao orçamento do Ministério da Saúde. O montante representa, também, 133% a mais do que os R$ 45,46 bilhões destinados pelo governo, no mesmo período, para a agricultura familiar e reforma agrária.³

Dessa forma podemos constatar que o problema de acesso e desenvolvimento de tecnologias por parte da agroecologia está diretamente ligado a toda essa problemática anteriormente citada, mas que mesmo com tudo isso a agroecologia se mostra cada vez mais preparada e capaz de substituir por completo o agronegócio.

¹ Dados obtidos no site oficial da Monsanto.² Dados obtidos no documentário “O mundo segundo a Monsanto”.³ Dados obtidos da ASSINAGRO (Associação Nacional dos Engenheiros Agrônomos do INCRA).

LUTADORAS DO CAMPO

A mulher camponesa é aquela que de uma ou de outra maneira, produz o alimento e garante a subsistência da família. É a pequena agricultora, a pescadora artesanal, a quebradeira de coco, as extrativistas, as arrendatárias, meeiras, ribeirinhas, posseiras, bóias-frias, diaristas, parceiras, sem terras, acampadas, assentadas e as assalariadas rurais. É a mulher que compõe a unidade produtiva camponesa centrada ao núcleo familiar, o qual, por um lado se dedica a uma produção agrícola e artesanal com o objetivo de satisfazer as necessidades familiares e subsistência, e por outro lado comercializar parte de sua produção para garantir recursos necessários à compra de produtos e serviços que pela agricultura não são garantidos.

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Nesse contexto da atuação da mulher no campo surgem como caráter organizativo das camponesas, o Movimento das Mulheres Camponesas (MMC) que foi constituído em março de 2004, por ocasião de seu primeiro congresso nacional, mas sua caminhada vem desde a primeira metade da década de 80, tomando como referência as lutas históricas das mulheres trabalhadoras e das iniciativas que as envolviam para quebrar preconceitos e violência em casa e em lutas sociais, referência que também deu origem a outros movimentos e entidades feministas.

O MMC nasceu como movimento autônomo, com atuação específica junto às mulheres da roça. Isso porque, ao menos nos últimos 10 mil anos, a sociedade patriarcal relegou às mulheres lugares e papéis tidos como secundários

se comparadas aos homens. E as mulheres camponesas são ainda mais excluídas — seja do acesso ao estudo e ao conhecimento, seja de seus próprios direitos sociais como cidadãs.

Muitas mulheres camponesas assumem jornada dupla ou até tripla de trabalho. Fazem aquilo que é necessário e indispensável para a sobrevivência da população. Esse trabalho, considerado “serviço”, lhes é atribuído automaticamente, como se fosse inerente à condição feminina. É um trabalho não valorizado nem valorado financeiramente. Um trabalho que impõe uma sobrecarga, em geral repetitiva, exigente e de muita responsabilidade. Um trabalho que faz com que as mulheres vivam infelizes, fiquem depressivas e adoeçam. Um trabalho que é uma forma de violência e que a sociedade, como um todo, costuma não perceber ou ignorar.

É a partir de espaços específicos das mulheres que o MMC afirma ser necessário fazer uma reapropriação do que é negado e “roubado” das camponesas. Isso significa mexer em algo enraizado, discutir o “ser mulher” e o “ser homem”, questionar os papeis dos gêneros na história, saber por que se chegou a um tipo de relação no qual as mulheres são excluídas dos espaços de decisão e levadas à obediência e à submissão.

Daí a missão que se atribui o MMC: “A libertação das mulheres trabalhadoras de qualquer tipo de opressão e discriminação”. Isso se concretiza na organização, formação e implementação de experiências de resistência popular nas quais as mulheres sejam protagonistas de sua história. Essa luta é pela construção, junto com os homens, de uma sociedade baseada em novas relações sociais entre os seres humanos, e destes com a natureza.

Esse texto foi elaborado por Karol Maia e Jullyanna Pereira, militantes da FEAB – Crato durante a gestão do NTP de Movimentos Sociais Populares e tomaram como fonte para elaboração do mesmo o artigo “Feminismo Camponês” de Isaura Isabel Conte que é dirigente do Movimento de Mulheres Camponesas do Rio Grande do Sul.

“Enquanto nós, mulheres, não tivermos voz e vez, prevalecerá ainda a relação opressor-oprimido: opressão de homens sobre outros homens e destes sobre as mulheres, as crianças e a natureza.”

ENEBio e AgroecologiaViviane LealAN ENEBio

Agroecologia: Ciência, técnicas agrícolas sustentáveis, instrumento de luta, respeito à natureza e diversas outras explicações poderiam ser colocadas aqui, mas cabe a nós refletirmos sobre as mesmas de modo a não limitarmos a agroecologia a determinados cursos acadêmicos, ou a estudos relacionados ao plantio. A Agroecologia é uma ciência constituída de teorias e metodologias ecológicas, de caráter interdisciplinar no trabalho com a questão agrária. Utiliza-se de técnicas que vêm a natureza como algo sistêmico onde tudo está interligado, inclusive nós, fazendo parte da teia da vida.

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O atual modelo agrícola baseado nas grandes monoculturas, na exploração da mão-de-obra e na destruição da diversidade, vem sendo implantado desde o final da 2º guerra mundial, com a conhecida “revolução verde”, que sobre o pretexto de produzir alimentos para a população que crescia na época, iniciou uma intensa mecanização no campo e a utilização de agrotóxicos e transgênicos nas plantações. Hoje observamos de maneira clara que os altos ganhos produtivos através desse modelo mecanizado foram alcançados por meios injustificáveis. Tanto ambientalmente quanto socialmente.

A produção não é distribuída para quem realmente precisa e o que temos é a fome dos povos e a desertificação de áreas superexploradas. A agroecologia vem apoiando um processo de transição agrícola, trazendo consigo princípios socialmente justos, conceitos ecologicamente corretos (relação intrínseca das questões ambientais junto a questão agrária) e técnicas economicamente viáveis. Ela leva em consideração aspectos como a cultura camponesa e a atuação política através da organização social, sendo pautada na ética sustentável.

Os estudantes de biologia já vêm discutindo a Agroecologia há algum tempo dentro dos Encontros Regionais e Nacionais e Cursos de Formação, e visto que as universidades obedecendo à lógica do capital não trazem esta discussão, esses espaços tentam suprir esta e outras lacunas na formação d@ biólog@.

Temos uma ferramenta importante dentro da ENEBio, o GTP, onde uma escola fica responsável por estudar, trabalhar e difundir materiais e discussões, promovendo um aprofundamento da Entidade na Agroecologia.

Além disso, em parceria com outras Entidades Estudantis como a ABEEF (Associação Brasileira de Estudantes de Engenharia Florestal) e FEAB (Federação dos Estudantes de Agronomia do Brasil) e juntamente com Movimentos Sociais Populares realizamos espaços neste sentido, como o CFA - Curso de Formação em Agroecologia - com a proposta de trazer debates e conhecimentos acerca desta ciência e minimizar a dicotomia existente entre Grupos Agroecológicos (GA’s) e Movimento estudantil (ME) dentro das universidades, já que a agroecologia é instrumento de luta pela transformação social que o ME almeja e a agroecologia descontextualizada deste referencial transformador pode ser apropriada pelo capital, se limitando a produção de alimentos saudáveis, como o caso dos produtos orgânicos. Também construímos juntos, o ERA – Encontro Regional de Agroecologia – que acontece em todo país e une estudantes de diversas áreas pra agitar a bandeira da agroecologia dentro da universidade e para além dela.

Técnicas como compostagem (produção de adubo natural), SAF’s (Sistemas Agroflorestais), defensivos naturais, cobertura seca entre outras, são utilizadas na agroecologia. Ela busca Experiências acumuladas através do conhecimento popular, bem como estudos científicos e tecnológicos que proporcionem sua efetivação.

Para finalizar, colocamos aqui que a agroecologia além da mudança de técnicas e relações com o meio, propõe uma real mudança de paradigma, lutando pela ideia de justiça social, soberania alimentar, respeito á natureza e ás relações que criamos e recriamos o tempo todo entre as pessoas e o restante do mundo que nos cerca.

“Tu és eternamente responsável pelo que cativas.”

O Pequeno Príncipe

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Agroecologia e Medicina Veterinária de mãos dadas.Talita Silva

ENEV - Cruz das Almas/BA

A Agroecologia é uma ciência de natureza multidisciplinar, que objetiva a construção de modelos de agricultura com bases ecológicas, a criação de métodos para o desenvolvimento rural, tendo-se como referência ideais de sustentabilidade, e a soberania alimentar, sendo uma importante ferramenta na disputa por um projeto de sociedade. Diante disso, podemos afirmar que a Agroecologia abrange diversas áreas, sejam Agrárias, Biológicas ou Humanas, assim como engloba todo e qualquer Movimento Social e Organização que procurem somar nesta pauta.

De acordo com esses conceitos, surgem questionamentos sobre o papel dos(as) Profissionais da Veterinária atrelados à construção da Agroecologia. Perguntamos-nos qual seria a atuação destes indivíduos, visto que a formação profissional nas Universidades é geralmente voltada para a industrialização e mercantilização dos serviços de cuidado animal em grandes produções pecuárias.

As atividades exercidas pelos indivíduos na área de bem-estar animal foram reconhecidas profissionalmente há alguns anos atrás, apesar de seu papel na sociedade ter sido constante desde os tempos primórdios, onde se tinham a utilização de animais como meios de transporte e a necessidade de pessoas destinadas a cuidar da saúde desses animais.

Dentre as diversas competências do Médico e da Médica Veterinária, destacamos algumas relacionadas com o meio ambiente: inspeção e fiscalização sanitária e higiênica das tecnologias industriais e dos comércios de alimentos de origem animal; a defesa da fauna, em especial, no controle da exploração das espécies de animais silvestres; prática da educação rural relativa à pecuária; assistência técnica e sanitária dos animais; pesquisas relativas à produção animal; e etc.

Os exercícios destes e destas profissionais são essenciais e harmônicos entre Agrônomos(as), Biólogos(as), Engenheiros(as) Florestais, Engenheiros(as) Ambientais(as) e até profissionais da área de saúde, por exemplo.

Na Agropecuária, podemos exemplificar o importante papel do(a) Veterinário(a) no desenvolvimento de uma exploração pecuária sustentável, baseada no manejo racional dos recursos naturais, na pecuária orgânica, na destinação dos dejetos e resíduos produzidos, etc. E é através de um dos princípios agroecológicos que o desenvolvimento de pastagens é livre da utilização de Agrotóxicos e traz para a produção pecuária um alimento saudável para os animais. O uso de agrotóxicos nessas pastagens é um grande ciclo venenoso: degrada o solo, que em médio prazo não terá nutrientes suficientes para desenvolver um capim de boa qualidade, e acarreta numa contaminação direta do capim que o animal está se alimentando, podendo trazer problemas à saúde humana, quando a carne contaminada for consumida posteriormente, assim como o leite ou outros alimentos derivados dos animais. Além disso, o agrotóxico desestabiliza todo o organismo do animal, causando doenças como infertilidade, cânceres, tumores, má formação fetal, lesões neurológicas e etc.

O modelo de produção vigente, o Agronegócio, é totalmente dependente do uso de agrotóxicos e de outros insumos químicos, não se preocupando em nada com o bem-estar animal ou com a saúde humana e sendo um sistema que visa produção em grande escala, que tem como objetivo apenas o lucro financeiro. Um exemplo é o investimento em produção de gados com altas taxas de aplicação de hormônios de crescimento que acelera a obtenção do produto final, mas gera uma carne insalubre que é destinada à alimentação humana. A Agroecologia é um projeto que vem em combate a este modelo e que tem responsabilidade com a soberania alimentar tanto na produção de alimentos provenientes dos vegetais quanto da carne vinda da pecuária pelas mãos dos pequenos produtores.

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O veterinário Laérzio Chiezorin solta na natureza o tamanduaí, menor espécie de tamanduá do mundo (Márcio James/Divulgação Semcom)

Nas diversas áreas do país e nos diversos biomas, há um grande avanço na criação de projetos que visam manejo animal ecológico e sustentável. Um bom exemplo é o Projeto Caatinga, que objetiva a fixação do camponês através da criação de empregos e geração de renda no campo, garantindo o manejo da caatinga em bases sustentáveis e revertendo o seu processo de degradação, onde há a atuação crucial do(a) médico(a) veterinário(a) na preservação do bem-estar dos animais que sobrevivem nesse bioma. Tendo como finalidade a preservação ambiental, há um destaque da importância desse profissional também em projetos de preservação de faunas, como o Projeto TAMAR, em toda a costa brasileira, e o Projeto de Preservação do Mico-Leão-Dourado, no Rio de Janeiro. Esses projetos são essenciais para conseguirmos manter o equilíbrio do biossistema e o(a) médico(a) veterinário(a) atua diretamente na preservação dessas espécies assim como da natureza, pois os animais exercem um papel importante na manutenção desse equilíbrio. São eles que dispersam as sementes “plantando” árvores ou controlam populações de espécies, que podem ser prejudiciais às lavouras e criações quando em excesso. A ausência desses animais pode acarretar num grande prejuízo à natureza e à própria humanidade.

O profissional e a profissional da veterinária com consciência agroecológica tem um papel fundamental na extensão rural e na assistência técnica na agricultura familiar, auxiliando numa produção pecuária alternativa ao modelo explorador do agronegócio que encontramos hoje. E é diante de todas essas possibilidades de atuação social que fica evidente como a vasta contribuição destes profissionais na ciência torna-se de extrema importância para construção de sistemas alternativos ao industrial-explorador e de um projeto de sociedade sustentável, que contemple os trabalhadores e as trabalhadoras do campo, que gere alimentos saudáveis e que preserve a diversidade do nosso ecossistema, fonte das riquezas naturais que nos oferecem as trocas e a vida.

Produção pecuária do agricultor familiar José Veildo dos Santos, de Serra do Ramalho

Eu sou de uma terra que o povo padeceMas não esmorece e procura vencer.Da terra querida, que a linda caboclaDe riso na boca zomba no sofrerNão nego meu sangue, não nego meu nomeOlho para a fome, pergunto o que há?Eu sou brasileiro, filho do Nordeste,Sou cabra da Peste, sou do Ceará.

Sertão, arguém te cantô,Eu sempre tenho cantadoE ainda cantando tô,Pruquê, meu torrão amado,Munto te prezo, te queroE vejo qui os teus mistéroNinguém sabe decifrá.A tua beleza é tanta,Qui o poeta canta, canta,E inda fica o qui cantá.

Simbora povo construir o ERA mais lindo desse Nordeste!!!

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Sugest es para complementar o estudoõ

FILMES INTERESSANTES:

-O veneno est na mesaá-O mundo segundo Monsantoà-Nas terras do bem virá-Abuela Grillo-Anel de Tucum-Sementes da liberdade-Terra o filme–-Alimentos S.A.-Food Matters-Agrofloresta o: outro çãjeito de fazer agricultura no semi- ridoá-Terra em transforma o çã –Agroneg cio ou óAgroecologia?

LIVROS INTERESSANTES:

-Plantas doentes pelo uso de agrot xicosó-Agroecologia: bases cient ficas para uma íagricultura sustent velá-Um testamento agr colaí- rvores geneticamente modificadasÁ-Transg nicos: as sementes do malê-Revolu o agroecol gica: o movimento de çã ócampon s a campon sê ê-Agrot xicos, trabalho e sa deó ú-Agroecologia e os desafios da transi o çãagroecol gicaó-Pastoreio Racional Voisin-A quest o agr ria no Brasil (volumes de 1 ã áa 5)

“Os cientistas dizem que somos feitos de átomos só que um passarinho me contou que somos feitos de histórias.

Eduardo Galeano

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Contatos dos Construtores do era

Blog:eracrato2013.blogspot.com.br

Telefones:Alyne (88)9713-2907Lívio (88)9917-1880Todos dois TIM E-mail:

[email protected]

P gina facebook:á

Era Nordeste-Crato 2013

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Campanhas que os construtores do Era constroem

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Bom povo, esperamos que essa cartilha que fizemos com o maior carinho possa ajudar na preparação de vocês para virem para o NOSSO ERA 2013!!! Mais ainda, esperamos que esse material possa servir para toda a jornada de vocês.

Desde o ano passado que a gente vem se esforçando e se doando para a construção do nosso encontro. Esperamos que vocês gostem de tudo que estamos preparando para vocês. Tamo suando a camisa para garantir os facilitadores, a grana e tudo o mais. Mas temos certeza que no final tudo sairá como planejamos.

Não vemos a hora de nos encontrarmos com todas e todos vocês!Então companheirada, é isso. Nós Construtores do XIII ERA Nordeste

convidamos todas e todos para o nosso encontro.

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