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Carvão mineral - combustível de ontem

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CARVÃOO combustível de ontem

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Coordenação geral:Kathia Vasconcelos Monteiro

Coordenação técnica:Lúcia Ortiz

Pesquisa e edição:Sílvia Franz Marcuzzo

Consultoria Editorial:José Fonseca / ViaMídia

Design Gráfico:Clô Barcellos / Libretos

Ilustrações e mapas:Ricardo Machado

Revisão:Luís Augusto Junges Lopes

Impresso no BrasilTiragem: 2.000 exemplares

(Foto/capa: Tadeu Santos)Lago no interior de área de disposição de rejeitos

piritosos do carvão no sul de Santa Catarina

(Foto/contracapa: Tadeu Santos)Lago vermelho em área de depósitos de rejeito

da mineração no sul de Santa Catarina

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) –Núcleo Amigos da Terra Brasil – Porto Alegre

Fotos:Tadeu Santos, Paulo Backes, Lúcia Ortiz

C331 Carvão : o combustível de ontem / Coordenadora geral Kathia VasconcelosMonteiro - Porto Alegre : Núcleo Amigos da Terra Brasil, 2004.

1. Carvão - Meio Ambiente. 2. Carvão - Combustível. 3. Energia. I.Monteiro, Kathia Vasconcelos. II. Núcleo Amigos da Terra Brasil.

CDU 622.33 : 504.03

Ficha Catalográfica elaborada pela bibliotecária Andréa Fontoura da Silva. CRB 10/1416

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Realização

Apoio

Porto Alegre, RS /BrasilOutono de 2004

Membro da Federação

Parceria

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PREFÁCIODe acordo com matéria publicada na imprensa recentemente, foi fecha-

da a última mina de carvão da França, numa cerimônia carregada de sim-bolismo e tristeza, encerrando uma era iniciada com a Revolução Industrial(jornal “O Estado de S.Paulo”, de 24 de abril de 2004). O fenômeno ocor-rido na França já foi visto em outros países europeus, a exemplo da Alema-nha e Inglaterra, por motivação semelhante.

Não há dúvida de que a questão da energia é crucial na história da Hu-manidade, ainda que nem sempre tenhamos, como cidadãos, noção emnosso cotidiano do seu significado. Há poucos anos, o Brasil enfrentou oapagão, uma crise provocada pelo aumento da demanda de energia emfunção da estabilidade da moeda – o real, traduzida no crescimento davenda de eletrodomésticos, sem que a sociedade naquele momento tivesseconsciência de que uma enorme infra-estrutura existe para que possamosexercer atividades cotidianas típicas da nossa época.

Essa infra-estrutura está ancorada fundamentalmente no potencialhidroelétrico nacional e, de fato, o que ocorreu foi a tomada de decisão degerar energia, independentemente de qualquer consulta à sociedade, aindaque se procurou atribuir o apagão a fenômenos climáticos, ou seja, estiagemem algumas regiões do país. Apenas quando a situação se tornou extrema-mente crítica, o governo deu conhecimento da gravidade do momento eobteve da população uma resposta digna de nota, ou seja, redução drásticado consumo com esforço proporcionalmente reduzido.

Em outras palavras, a crise do apagão trouxe uma verdadeira lição decidadania e educação ambiental, na medida em que demonstrou que a so-

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ciedade tem capacidade de conservar energia usando recursos naturais cominteligência, e ainda trouxe ao cidadão comum a idéia de que a “tomada decasa” está ligada a uma hidroelétrica, e que esta, por sua vez, depende danatureza para gerar energia. E mais: muita coisa poderia ter sido feita emtermos de conservação de energia no país antes do apagão, trazendo enor-mes benefícios para o contribuinte e para a sociedade de maneira geral,posto que a geração de energia sempre acarreta custos, muitos deles trans-feridos para as futuras gerações.

De 1992 para cá, fortaleceram-se as evidências científicas de que a Hu-manidade é responsável pelas mudanças climáticas globais desde a Revolu-ção Industrial, e que essas serão, de acordo com o IPCC – Intergovernmental

Panel on Climate Change, extremamente graves: aumento da temperaturamédia do Planeta de 3,5 a 5,8 °C, elevação do nível do mar sem preceden-tes conhecidos, aumento de doenças como a malária e a dengue, enfim,cenários de gravidade reconhecida pela comunidade científica.

No Brasil, verificou-se recentemente o fenômeno “Catarina”, que atingiuo litoral de Santa Catarina e norte do Rio Grande do Sul, quando umapequena área de instabilidade atmosférica formou-se começando a confi-gurar-se com uma circulação ciclônica, o que demonstra que teremos con-seqüências graves em função das mudanças climáticas globais, sem que te-nhamos estudos a respeito das nossas vulnerabilidades em relação às mu-danças climáticas globais.

No contexto internacional, ainda há enormes dúvidas sobre a entradaem vigência do Protocolo de Quioto, o qual, embora tenha metas modestasem comparação àquelas que seriam necessárias para a estabilização do sis-

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tema climático, enfrenta resistência por parte dos Estados Unidos, principalemissor de carbono no mundo por possuir uma matriz energética extrema-mente dependente de combustíveis fósseis.

Diante desse quadro, é de indiscutível importância colocar para a socie-dade brasileira o tema energia, e mais particularmente a participação docarvão em nossa matriz energética. Se, de um lado, temos que ofereceralternativas ao país no que tange às suas demandas legítimas, não podemosdesconsiderar que temos compromisso com o que chamamos “CidadaniaPlanetária”, direitos e deveres com as futuras gerações. Estes foram negli-genciados por nossa sociedade pelo fato de que se perdeu a consciência deque, no mundo contemporâneo, nossas decisões geram cada vez mais con-seqüências irreversíveis, ou quando muito com ônus que não são devida-mente contabilizados.

O uso do carvão certamente é um bom exemplo do que estamos falan-do, como este livro demonstra com propriedade. Se no passado estivésse-mos diante dos mesmos questionamentos, haveria sempre circunstânciasatenuantes, a ignorância dos impactos globais de sua queima e pouco co-nhecimento dos impactos locais e regionais de seu uso e de todo o ciclo deprodução. Entretanto, como justificá-lo nos dias atuais, diante da exaustivademonstração da existência de alternativas mais sustentáveis?

Do ponto de vista científico, uma publicação recente denominada “Car-vão e Meio Ambiente”, sob a responsabilidade do Centro de Ecologia daUniversidade Federal do Rio Grande do Sul, reuniu especialistas de váriasáreas e demonstrou que, na própria região da exploração do carvão no suldo país, há sinais de que a população local tem preocupação com a ativida-

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de carbonífera, ainda que tenha legítima expectativa de que outras ativida-des econômicas possam vir a se instalar na região. Aliás, quem a conheceverifica com facilidade que o passivo ambiental das atividades carboníferaslá está como prova irrefutável de que não é possível reproduzir modelos deexploração de recursos naturais absolutamente superados.

Portanto, é inegável que esta publicação tem como mérito principal catalisarum exercício de reflexão direcionado a influenciar a tomada de decisão deque o país necessita realizar com relação à sua matriz energética. Ao fazê-lo, está concretamente elaborando a construção da Cidadania Planetária àqual nos referimos, na medida em que coloca em discussão o direito aomeio ambiente sadio e equilibrado das populações afetadas pela decisão noâmbito local e regional. Simultaneamente, invoca o mesmo direito em rela-ção às futuras gerações pelo fato de que as emissões geradas trazem conse-qüências indiscutíveis à estabilidade do clima do planeta.

Com este exercício, fortalecemos as nossas chances de uma sociedademais sustentável.

Fabio FeldmannAmbientalista, Secretário Executivo do Fórum Brasileirode Mudanças Climáticas, Deputado Constituinte e ex-Secretário do Meio Ambiente do Estado de São Paulo.

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Apresentação 10

I. O que é e onde está o carvão 11II. A importância histórica do carvão 14III. O carvão em um mundo em transformação 16IV. O lado perverso do carvão 24V. Tecnologias – o carvão pode ser limpo? 32VI. O carvão e as mudanças climáticas 54VII. Qualidade e geração de emprego 58VIII. Aspectos econômicos 60IX. Alternativas 63X. Idéias para o século XXI 68

Anexo – Propostas para uma Economia Solar Global 69

SUMÁRIO

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“É à energia fóssil que a economia mundial devesua prosperidade, mas é esta mesma base energéticaque agora a arrasta à perdição”

Hermann Scheer (Economia Solar Global)

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APRESENTAÇÃO

Este livro visa preencher uma lacuna na informação de quem precisa sabersobre as implicações de uma possível e equivocada expansão do uso docarvão mineral na matriz energética brasileira. Queremos mostrar o ladopouco conhecido do carvão aos formadores de opinião e tomadores dedecisão, revelar a cadeia de impactos negativos de seu uso como fonte deenergia e apresentar argumentos e alternativas que possam contribuir parauma política energética sustentável.

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I . O QUE É E ONDE ESTÁ

O CARVÃOO carvão mineral vem de troncos,

raízes, galhos e folhas de árvores queviveram há centenas de milhões deanos, as quais ficaram submersas emambientes pantanosos. Enquanto o car-vão tem origem nos vegetais terrestres,o petróleo é matéria orgânica de plân-cton, acumulada no fundo dos ocea-nos, soterrada e preservada por milhõese milhões de anos. Ambos, carvão epetróleo, são combustíveis não-reno-váveis originados da fossilização dabiomassa, em um longo processo, notempo geológico.

A qualidade do carvão depende danatureza da matéria vegetal, do clima,da localização geográfica e da evolu-ção geológica da região onde é encon-trado. As regressões e transgressõesmarinhas, a circulação de águas salo-bras, a deposição sedimentar e as

O carvão mineral é uma rocha combustível, contendoelevados teores de Carbono (50% a 95%), formadapela preservação de matéria vegetal por compactação,variação de temperatura e pressão. Ocorre geralmenteem camadas estratificadas, que vão de poucoscentímetros a centenas de metros de espessura, e suacor varia do marrom ao preto. Há carvões em todos osperíodos geológicos do Siluriano ao Quaternário, emreservas calculadas em mais de um trilhão de toneladasespalhadas por todos os continentes.

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transformações físico-químicas tam-bém concorrem para a sua formaçãoe composição.

O carvão mineral, constituído prin-cipalmente por Carbono, Oxigênio eHidrogênio, classifica-se geralmente emquatro tipos: a turfa (com cerca de 60%de Carbono), o linhito (70%), a hulhaou carvão betuminoso (80 a 85%) e oantracito (90%). Nesta ordem, aumentatambém seu grau de compactação ediminui a concentração de Hidrogênio.

Praticamente 90% das reservas mun-diais de carvão mineral encontram-seno hemisfério norte (Rússia 56,5%,EUA 19,5%, China 9,5%, Canadá7,8%, Europa 5%, África 1,3%, outrospaíses 0,4%). Entre os maiores produ-tores, destacam-se a China, os EstadosUnidos, a Índia, a Austrália, a Áfricado Sul, a Rússia e a Polônia. Nessemeio, a posição do Brasil como produ-tor de carvão mineral é inexpressiva. Aorganização britânica UK Coal lista os dezmaiores produtores mundiais:

Produção anual de carvãodos principais produtores mundiais

I . O QUE É E ONDE ESTÁ O CARVÃO

(Posição/ País / Milhões de toneladas anuais)

1º / China / 1.171

2º / EUA / 899

3º / Índia / 310

4º / Austrália / 238

5º / África do Sul / 225

6º / Rússia / 169

7º / Polônia / 102

8º / Ucrânia / 81

9º / Indonésia / 79

10º / Cazaquistão / 71

Dados de novembro de 2002 (1)

Tabela 1:

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Segundo o World Coal Institute, oBrasil participa com apenas 0,2% naprodução mundial de carvão mineral.As reservas brasileiras, além de poucoexpressivas, são de baixa qualidade, oque dificulta tanto o seu aproveitamen-to como fonte de energia, como parafins siderúrgicos.

No Brasil, as jazidas de carvão selocalizam principalmente nos três esta-dos do Sul. Há milhões de anos, emuma parte da região hoje ocupada pe-los estados do Paraná, de Santa Cata-rina e do Rio Grande do Sul, havia am-

bientes costeiros com deltas, lagunas eum clima sazonal temperado. A maiorparte dos atuais continentes ainda en-contrava-se unida no supercontinenteGondwana, quando camadas sedi-mentares se depositaram numa grandeárea deprimida hoje chamada BaciaSedimentar do Paraná. Ali, ainda noPeríodo Permiano da Era Paleozóica,entre 240 e 280 milhões de anos atrás,formaram-se jazidas de carvão.

O ambiente em que foram forma-dos os carvões brasileiros determinousuas características e possíveis aplica-

O Carvão Brasileiroções nos dias de hoje. Os pântanos cos-teiros estavam sujeitos ao avanço de du-nas litorâneas e da água do mar, ricaem sais dissolvidos. Formou-se, assim,um carvão com alto teor de cinzas ,

e de enxofre e ferro, disseminados naforma de um mineral chamado pirita .

Tais características conferiram aocarvão brasileiro um alto conteúdo deimpurezas (teor de cinzas em torno de40 e 55% e de Enxofre geralmenteentre 1 e 2,5%, chegando a 5,5%) eum baixo poder calorífico (normalmen-te entre 3.000 e 4.500 cal/g).

Matéria mineral inerte, não-carbonosa,composta basicamente por silicatos e

quartzo.

Sulfeto de Ferro – FeS2 – a pirita contémtambém elementos-traço que podem

apresentar elevado potencial detoxicidade quando liberados no ambiente

natural.

ALTO CONTEÚDO DE IMPUREZAS(teor de cinzas em torno de 50% e de Enxofre geralmente entre 1% e 2,5%)

(normalmente entre 3.000 e 4.500 cal/g)

O carvão brasileiro

I . O QUE É E ONDE ESTÁ O CARVÃO?

UM BAIXO PODER CALORÍFICO

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II . A IMPORTÂNCIA

HISTÓRICA

Hoje, as evidências de que a suautilização gera problemas ambientais,em nível local e planetário, são tantasque muitos países protagonistas da Re-volução Industrial encaram o carvão deforma diferente. Já em 1952, quandoo carvão era utilizado intensamente nasindústrias e residências, numa únicasemana de altíssima poluição morreram

do carvãoO carvão teve um importante papel na história dodesenvolvimento. Com a escassez das florestas, osingleses começaram a utilizar hulha para alimentar suasmáquinas, em substituição ao carvão vegetal. Em 1698,surgiu a primeira máquina a vapor para fins industriaisutilizando o carvão mineral. Desde então, a queimadireta do carvão foi a principal alavanca da RevoluçãoIndustrial.

4 mil pessoas na capital inglesa. Entredezembro daquele ano e março de1953, a poluição atmosférica em Lon-dres causou a morte de 12 mil mora-dores(2 ). Nas décadas de 70 e 80, In-glaterra e França desenvolveram umprograma de abandono do carvão mi-neral, que teve como principal objeti-vo a redução da poluição ambiental.

No Brasil, o carvão mineral foi des-coberto em 1827, na localidade deGuatá, município de Lauro Müller,Santa Catarina. Em 1904, foi criada aComissão de Estudos das Minas deCarvão de Pedra do Brasil. Mas somen-te a partir das I e II Guerras Mundiais éque a indústria do carvão se estabele-ceu no Brasil. Teve seu ápice na déca-da de 70, quando experimentou um rá-pido crescimento em resposta à crisemundial do petróleo. Assim, no século

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passado, movidas por essa economia,muitas cidades nasceram, cresceram emunicípios se emanciparam, comoCandiota, Hulha Negra, Minas doLeão, Butiá e Arroio dos Ratos, no RioGrande do Sul, e Criciúma, LauroMüller e Siderópolis, em SantaCatarina.

Estima-se que as reservas de carvãobrasileiro sejam da ordem de 32,4 bi-lhões de toneladas – o que equivale,em termos de recursos energéticos, a2,5 bilhões de toneladas de petróleo,sendo que, no Brasil, as reservas de pe-tróleo são de cerca de 1,5 bilhão detoneladas. Quase 90% dessas jazidas seencontram no Rio Grande do Sul, amaior parte na região de Candiota.Devido ao seu baixo poder calorífico eao alto teor de cinzas e Enxofre, o car-vão nacional só é competitivo com osde outros países na produção de ener-gia quando as usinas termelétricas fi-cam próximas ao ponto de extração docombustível. São as chamadas Usinasde Boca de Mina.

Já o mercado mundial oferece gran-de variedade de carvões para exporta-ção, mais baratos e melhores que o bra-sileiro. Com a abertura do mercado e

com a desregulamentação do setorcarbonífero na década de 90, qualquerusina ou companhia no Brasil podepassar a usar carvão importado parareduzir custos, o que invalida o argu-mento da geração de empregos na mi-neração. A queima de carvão nacionalcom geração de lucros não é possívelhoje sem subsídios.

Ao mesmo tempo em que existemargumentos que põem em dúvida acompetitividade do carvão, seja no Bra-sil ou no exterior, há evidências de queos custos sociais, ambientais e de saúdepública são muito mais altos do que osdo uso de combustíveis e tecnologiasrenováveis na produção de energia.

Empresários da mineração de carvão da região de Criciúma, SC (1939)

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Entretanto, o crescimento do con-sumo no mundo não é uniforme. Oconsumo “per capita” de energia noBrasil tem crescido a uma taxa anualde 2,2% nos últimos anos, mas o paísnão precisa repetir a trajetória de de-senvolvimento seguida pelos países quesão hoje industrializados, nos quais oelevado consumo de energia de origemfóssil resultou em sérios problemasambientais.

A queima de carvão e petróleo éresponsável por 85% do Enxofre lan-çado na atmosfera (causa principal dapoluição urbana e da chuva ácida) epor 75% das emissões de Dióxido deCarbono (ou gás carbônico – CO2),causadoras do “efeito estufa”(3 )

III . O CARVÃO EM UM MUNDO

EM TRANSFORMAÇÃO

O consumo de energia no mundo cresce 2% ao ano epoderá dobrar em 30 anos se prosseguirem astendências atuais. A principal conseqüência disso seriao aumento do consumo de combustíveis fósseis e dapoluição ambiental em todos os níveis – local, regionale global. Nome que se dá à retenção da radiação

infravermelha (calor) emitida pela superfícieda Terra por alguns gases na atmosfera,como o Dióxido de Carbono (CO2), o

Metano (CH4) e o Óxido Nitroso (N2O),que têm a propriedade de absorver ondas

infravermelhas e impedir que elas sedissipem pelo espaço. Isso eleva a

temperatura do planeta, como numa estufade plantas. O aumento acelerado da

concentração desses gases, devido à queimade combustíveis fósseis e ao desmatamento

de florestas nas últimas décadas, vemprovocando o aquecimento global.

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De todos os combustíveis fósseis, ocarvão é o que lança na atmosfera amaior quantidade de CO2, além deóxidos de Nitrogênio e Enxofre, porunidade de energia gerada. Em segun-do lugar, vem o petróleo e, por último,o gás natural. Segundo dados do WorldWatch Institute, o petróleo corres-ponde a 43% das emissões globais re-lacionadas à energia e contém 23% amenos de Carbono por unidade deenergia gerada do que o carvão. Já ogás natural representa 21% das emis-

A substituição gradual doscombustíveis por outros queproduzam menos Carbono

por unidade de energia –tendência mundial, como se

observa no gráfico 1(4)

sões globais relacionadas à energia econtém 44% a menos de Carbono porunidade de energia em comparação aocarvão(4 ).

A maior facilidade de transporte e aqueima mais eficiente do petróleo e dogás natural em comparação ao carvão,com menor emissão de poluentes porenergia gerada, concorrem para a “des-carbonização” da economia.

Este processo deve evoluir parauma geração de energia sem qualqueremissão de Carbono, com a futura uti-

Gráfico 1

lização de Células de Hidrogênio, so-madas às demais fontes renováveis jáviáveis economicamente nos dias dehoje. Esta tendência, ao contrário doque muitos advogam, não deverá pro-vocar perdas econômicas, pois, coma expansão das energias renováveis,seus custos de geração tendem a di-minuir. E, como mostra o gráfico 2, aevolução da descarbonização da ma-triz energética não tem afetado o cres-cimento da economia mundial nas úl-timas décadas.

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III . O CARVÃO EM UM MUNDO EM TRANSFORMAÇÃO

Gráfico 2Por outro lado, os custos sociais e

ambientais da produção de energia con-vencional, como a poluição do ar, dosolo e da água, o impacto na saúde hu-mana e a destruição de ecossistemas, ra-ramente são computados nos preços daenergia. Nas termelétricas, soma-se oimpacto ambiental da mineração, doprocessamento e da combustão do car-vão ao enorme consumo de água, umbem cada vez mais escasso.

Por esses motivos, países desenvolvi-dos buscam alternativas de geração deenergia. Estimativas preocupantes sobreaumento do consumo global de ener-gia, crescimento populacional, urbani-zação e expansão industrial exigem me-didas de planejamento e, principalmen-te, de conservação e uso eficiente daenergia. A reestruturação da economiaglobal já começou, e a mudança da erado combustível fóssil para a era dosrenováveis pode ser percebida pelas ta-xas de crescimento dessas fontes deenergia, observadas já na última déca-da do século passado (Tabela 2).

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Fonte Taxa média de crescimento anual (%)

Energia Eólica 25,1

Energia Solar 20,1

Gás Natural 1,6

Petróleo 1,2

Energia Nuclear 0,6

Carvão -1,0

Tabela 2: Tendências globais no uso de energia1990-2000

Fonte: World Watch Institute (5)

A Alemanha é um exemplo dessatransição. Os alemães, que se compro-meteram a baixar suas emissões deCO2, pelos níveis de 1990, em 21% até2010, pretendem fazer isso utilizandofontes de energia renovável. O país,terceira maior economia do mundo,lançou um pacote de medidas que re-gulamentam o acesso dos produtoresde energia renovável à rede e as obri-gações de concessionárias, que promo-

vem incentivos fiscais, disseminam in-formação e educação ambiental, incen-tivam o envolvimento dos interessadose mudam a abordagem governamen-tal, especialmente quanto a normas elicenciamentos, no âmbito da políticaenergética(6 ).

O Brasil contraria as tendênciasmundiais, ao planejar expandir o setortermelétrico, com uma ampliação ex-pressiva do parque gerador a gás e a

carvão. O carvão participa com 1,45%na matriz energética brasileira e o se-tor quer chegar a 5%, lançando mão,para tanto, de um poderoso lobby embusca de mais subsídios, isenção fiscal,garantias e financiamentos públicosnacionais.

É interessante observar o particularinteresse de indústrias multinacionais naexploração do setor carbonífero e naobtenção de benefícios financeiros noBrasil nos últimos anos. São empresassediadas em países desenvolvidos –como Alemanha, Itália, Bélgica e Fran-ça –, comprometidos em reduzir suasemissões de gases de efeito estufa e,portanto, em processo de abandonodas indústrias carbono-intensivas.

Indústrias carbono-intensivas sãoaquelas que emitem grande quantidade

de carbono por unidade de energiagerada ou por unidade de produção;

entre elas, estão as usinas termelétricas acarvão e as empresas siderúrgicas que

utilizam caldeiras a carvão para afundição do ferro.

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Localizaçãogeográfica dasjazidas de carvãono sul do Brasil

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Tabela 3: Usinas termelétricas a carvão no Brasil

Nome Localização Potência Empresa País de origem Condição Emissão CO2 *

EM OPERAÇÃO

UTE São São Jerônimo, RS 20 MW CGTEE Estatal nacional Em operação 0,1 milhãoJerônimo desde 1953 de ton/ano

UTE Charqueadas Charqueadas, RS 72 MW Tractebel Bélgica / França Em operação 0,4 milhão(Termochar) (Grupo Suez) desde 1968 de ton/ano

UTE Candiota II Candiota, RS 446 MW CGTEE Estatal nacional Em operação 2,2 milhõesdesde 1974 de ton/ano

UTE Jorge Capivari de Baixo, SC 856 MW Tractebel Bélgica / França Fase1 /1965 4,2 milhõesLacerda I e II (Grupo Suez) Fase 2/1997 de ton/ano

UTE Figueira Norte Velho, PR 20 MW COPEL Estatal paranaense Operação de 0,1 milhão1963 a 2003 de ton/ano

TOTAL 1.114 MW 7 mi tonCO2/ano

A Tabela 3 fornece informações so-bre as empresas envolvidas nas usinasa carvão em funcionamento e em pla-nejamento no Brasil. Mostra a potên-

cia e a localização dessas usinas, a con-dição atual para operação e seu expres-sivo percentual de contribuição para asemissões brasileiras de CO2.

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PLANEJADAS

UTE Jacuí Charqueadas, RS 350 MW Tractebel Bélgica / França LI da FEPAM,(Grupo Suez) RS emitida em 1,7 milhão

21/12/2001 de ton/ano

UTE Candiota Candiota, RS 350 MW CGTEE / Estatal nacional Em licenciam. 1,7 milhão III Alstom / / EUA / no IBAMA de ton/ano

Steag AG Alemanha (p/ 2007)

UTE Seival Candiota, RS 550 MW Steag AG / Alemanha / LP do IBAMACopelmi Brasileira (mista) emitida em 2,7 milhões de

dez/2001 ton/ano

CTSul Cachoeira do Sul 650 MW CMEC China Em estudopara obter alicença da 3,2 milhõesFEPAM, RS de ton/ano

USITESC Treviso, SC 440 MW Carboníferas Privada Em licenciam.Criciúma e nacional na FATMA 2,2 milhõesMetropolitana de ton/ano

UTE Figueira II Norte Velho, PR 127 MW COPEL / Estatal LP do IAP 0,6 milhãoINEPAR / paranaense PR emitida em de ton/anoCambuí 2001

19,1 mi tonTOTAL 2.467 MW CO2/ano

Nome Localização Potência Empresa País de origem Condição Emissão CO2 *

Tabela 3/continuação

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REJEITADAS PELA POPULAÇÃO / ÓRGÃOS LICENCIADORES

UTE Paranaguá Paranaguá, PR 700 MW Chile Vetada por 3,5 milhõesplebiscito de ton/anopopularem 1997

UTE Sepetiba Porto de Sepetiba, 1.250 MW INEPAR & Itália LP da FEEMA 6,2 milhõesItaguaí, RJ Enelpower anulada em de ton/ano

novembrode 2002

TOTAL 1.950 MW 9,7 mi tonCO2 / ano

TOTAL GERAL 5.531 MW 35,8 miton CO2 /ano

* Emissões de CO2 em milhões de ton/ano, calculadas com base na estimativa do COPPE (Coordenação do Programa de Pós-graduação de Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro) para a UTE Sepetiba, considerando um fator de capa-cidade de 65%.Siglas: LP: Licença Prévia/ LI: Licença de Instalação

Nome Localização Potência Empresa País de origem Condição Emissão CO2 *

Tabela 3/continuação

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IV. O LADO PERVERSO

DO CARVÃOOs maiores problemas do carvão quase nunca sãocomputados na estimativa de custos da energia gerada.São deixadas de lado as questões cruciais de saúdepública, as doenças ocupacionais de trabalhadores e osmales gerados ao longo do processo – do ruído deexplosões na mineração à contaminação por resíduosda combustão que afetam vastas áreas em torno dasmineradoras e usinas termelétricas. Faz-se vista grossaà degradação de solos e paisagens e à contaminaçãode águas e atmosfera.

24

A história do uso do carvão mostracomo ele pode afetar áreas naturais,comprometer a disponibilidade e a qua-lidade de recursos hídricos, destruir opotencial turístico de regiões inteiras,criar conflitos com comunidades locais,reduzir a biodiversidade e degradar frá-

Elementos que se encontram nanatureza em pequenas

concentrações que, quandoliberados ou concentrados no

ambiente pela ação do homem,apresentam grandes riscos à saúde

e à vida.

geis ecossistemas. A região sul de San-ta Catarina, por exemplo, entrou parao rol das 14 áreas mais poluídas dopaís(7 ), e a bacia do rio Araranguá foiirremediavelmente comprometida pe-los resíduos de carvão.

Os carvões contêm altos teores deSílica, Ferro, Enxofre, Alumínio e, embaixas concentrações, praticamente to-dos os elementos da tabela periódica.Sua mineração, beneficiamento e com-bustão produzem uma variedade de re-síduos ricos em elementos-traço

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O USO DO CARVÃO• compromete a disponibilidade e a qualidade

de recursos hídricos,• destrói o potencial turístico de regiões inteiras,• cria conflitos com comunidades locais,• reduz a biodiversidade e• degrada frágeis ecossistemas.

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como Cádmio, Zinco, Cobre, Níquel,Arsênio, Chumbo, Mercúrio, Cromo,Selênio e em compostos orgânicos deelevado potencial de toxicidade. As ca-racterísticas físico-químicas desses resí-duos implicam em impactos significati-vos em ecossistemas terrestres e aquáti-cos. Eles podem mudar a composiçãoelementar da vegetação e penetrar nacadeia alimentar. A degradação do soloe da água pela drenagem ácida que seforma, quando esses resíduos ricos emEnxofre ficam expostos à ação do ar edas chuvas, pode continuar avançandopor dezenas e até centenas de anos.

A legislação classifica o materialparticulado em Partículas Totais emSuspensão, Partículas Inaláveis e Fuma-ça. As frações menores, inaláveis(PM10), penetram profundamente noaparelho respiratório e são as mais pe-rigosas. No caso do carvão, o impactodo material particulado começa com amineração, que provoca imensas nu-vens de poeira. As partículas em sus-

Impactos de alguns poluentes gerados pelautilização do carvãoMaterial Particulado (MP)

pensão na poeira potencializam os efei-tos dos gases poluentes presentes noar. Essa poeira afeta a capacidade de osistema respiratório remover as partí-culas do ar inalado, que ficam retidasnos pulmões.

A queima do carvão produz gran-des volumes de partículas muito finas,que carregam consigo hidrocarbonetose outros elementos. As partículas ab-sorvem o Dióxido de Enxofre do ar e,com a umidade, formam-se partículasácidas, nocivas para o sistema respira-tório e o meio ambiente. Os efeitos damistura são mais devastadores do queos provocados isoladamente pelo ma-terial particulado e pelo Dióxido deEnxofre.

Dióxido de Enxofre (SO2)

Há evidências de que o Dióxido deEnxofre contribui para o surgimento eagrava doenças respiratórias. Esse gás

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irritante está associado a bronquitescrônicas, longos resfriados e interferên-cias no sistema imunológico. O SO2produz danos agudos e crônicos nasfolhas das plantas, dependendo do tem-po de exposição e da concentração dopoluente. Ele também danifica tintas,corrói metais e expõe as camadas des-cobertas ao ataque da oxidação.

Óxidos de Nitrogênio(NOx)

Dos Óxidos de Nitrogênio, todoseles perigosos para a saúde, o NO2, ouDióxido de Nitrogênio, é o que apre-senta motivos para as maiores preocu-pações. Altamente solúvel, ele penetraprofundamente no sistema respiratório,dá origem a substâncias carcinogênicas,como as nitrosaminas, e pode provo-car câncer. Seus efeitos agudos inclu-em edema e danos ao tecido pulmo-nar e às vias respiratórias. Causa tam-bém sintomas semelhantes aos de

enfisema pulmonar, irritações nos olhose nariz e desconforto nos pulmões.

Além de afetar a saúde humana, osóxidos de nitrogênio são precursores daformação, por combinação foto-química, de um outro elemento: o ozô-nio (O3) de baixa altitude. Em alta alti-tude, o ozônio forma a camada prote-tora da nossa atmosfera mas, em baixaaltitude, é um gás tóxico, causador deinúmeros problemas respiratórios eirritações cutâneas.

Monóxido de Carbono(CO)

O Monóxido de Carbono interferena capacidade de transportar Oxigênioaos tecidos do corpo dos seres huma-nos. A intoxicação por CO provoca sin-tomas parecidos com o da anemia e dahipoxia, que é uma deficiência de Oxi-gênio nos tecidos corporais capaz deimpedir a função fisiológica. Tambémocasiona problemas no sistema nervo-

so central. Foi demonstrado, experi-mentalmente, que a pessoa exposta aoCO pode ter diminuídos seus reflexose acuidade visual e sua capacidade deestimar intervalos de tempo. Acima de1000 ppm (partes por milhão), o CO éaltamente tóxico e potencial causadorde ataques cardíacos e de morte. Suasprincipais vítimas são os idosos, as cri-anças e os enfermos das regiões me-tropolitanas.

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Os efeitos mais perigosos da polui-ção atmosférica estão associados à saú-de pública. No Brasil, há poucos da-dos que cruzem informações am-bientais e de saúde, embora algumasdoenças estejam definitivamente asso-ciadas às atividades carboníferas.

Segundo a Fundação Nacional deSaúde (Funasa), a Pneumoconiose dosTrabalhadores de Carvão (PTC), do-ença causada pela aspiração do pó deSílica e carvão ocorre com maior fre-qüência, no Brasil, nos estados doParaná, de Santa Catarina e do RioGrande do Sul, onde estão concentra-das as maiores bacias carboníferas dopaís. Somente na região de SantaCatarina, existem mais de 3000 casosde PTC(8 ).

Um estudo de pneumologia realiza-do no Rio Grande do Sul em 1989, com-parando a saúde dos moradores de duas

A poluição e a saúde públicacidades do Baixo Jacuí – Charqueadase Arroio dos Ratos –, mostrou que emCharqueadas a população sofria maiscom os efeitos da poluição. A 60 quilô-metros de Porto Alegre, Charqueadastem três empresas que geram energia apartir do carvão. O estudo mostra umaestreita e dramática relação entre explo-ração e uso do carvão e má qualidadede vida: alta freqüência de tosse pro-longada e crônica, doenças de pele,lacrimejamento, prurido nasal e ocular.Todos esses indicadores alcançaram ní-veis mais críticos nos dias empoeirados.E os efeitos nocivos dos poluentes deCharqueadas (um município de 73km2)provaram ser mais amplos do que sesuspeitava, quando foi medida a incidên-cia de ataques de falta de ar com chia-do no peito, no município de Arroio dosRatos (432km2)(9 ).

No Hospital das Clínicas de São

Paulo, quatro ou cinco dias depois quemedições alertam para um aumento dapoluição na cidade, o número de cri-anças atendidas com “doenças do tra-to respiratório baixo” aumenta em 20%,informou o jornal Folha de S.Paulo em15/06/03. Essas doenças incluem asma,bronquite, bronquiolite e pneumonia.O período de quatro ou cinco dias é otempo médio do processo inflamatórioprovocado pela poluição. No pronto-socorro do Instituto da Criança daque-le mesmo hospital, foram atendidas6.142 crianças afetadas pela poluiçãodo ar, apenas no mês de julho de 2002.Em pesquisa feita ao longo de dois anospor Sylvia Costa Lima Farhat, médicaassistente do PS do Instituto da Crian-ça e integrante do Laboratório de Po-luição da USP, foi constatado que oscinco poluentes mais comuns na cida-de tinham “culpa” igual nas doenças das

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crianças: material particulado (MP),dióxido de Nitrogênio (NO2),monóxido de Carbono (CO), dióxidode Enxofre (SO2) e uma transforma-ção do NO2 pela luz solar, o gás ozô-nio (O3) – todos gerados pela queimade combustível fóssil(10 ).

Um estudo divulgado nos Estados Unidosem outubro de 2000 estima em 30 mil onúmero de mortes causadas anualmentepela poluição das usinas termelétricas.

(Death, Disease & Dirty Power:Mortality and Health Damage Due to Air Pollution

from Power Plants http://cta.policy.net/fact/mortality/findings.vtml)

A chuva ácida ocorre quando subs-tâncias como o Dióxido de Enxofre(SO2) e Óxidos de Nitrogênio reagemquimicamente com o ar e a água, napresença da luz solar, e formam ácidosSulfúrico (H2SO4) e Nítrico (HNO3),que são varridos da atmosfera pela chu-va. Assim, o pH da água, ou mesmodo orvalho e do granizo, é alterado.

O termo “chuva ácida” foi cunhadoem 1852, por um quími-co escocês, RobertAngus Smith, para des-crever a poluição emManchester, Inglaterra,causada pela queima decarvão. A percepçãoglobal da acidez da chu-va só generalizou-se, to-davia, a partir da déca-da de 1950. Porque,sendo a água e o solocapazes de neutralizar

por muito tempo as adições de ácidose bases, só passados muitos anos, o pHde diversos ecossistemas mudou dras-ticamente e lagos e florestas começa-ram a morrer. O Hemisfério Norte teveflorestas inteiras afetadas, monumentosarquitetônicos desgastados e abiodiversidade drasticamente reduzida.Muitos lagos não têm mais peixes e aágua não pode ser consumida. A Flo-resta Negra alemã e os Grandes La-gos, no Canadá e nos Estados Unidos,dão exemplo dessa mudança.

A atmosfera em torno de terme-létricas a carvão é carregada de mate-rial particulado, Óxidos de Enxofre eNitrogênio. Estes dois últimos são osagentes que contribuem para a forma-ção da chuva ácida. O Dióxido de En-xofre e os Óxidos de Nitrogênio po-dem ser transportados a mais de 3000km de distância, dependendo do ven-to, da altura das chaminés, da freqüên-

A Chuva Ácida

IV. O LADO PERVERSO DO CARVÃO

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mcia das chuvas e das condições atmos-féricas. A exportação de chuvas ácidaspara regiões não-produtoras de polui-ção não é incomum e tem causado pro-blemas internacionais. Assim como ospaíses da Europa Ocidental exportamacidez para a remota Escandinávia, oUruguai reclama ao governo do RioGrande do Sul das emissões da usinade Candiota, que estariam caindo emforma de chuva ácida sobre o seu ter-ritório. No Brasil, Cubatão, em SãoPaulo, é a mais conhecida das regiõescontaminadas pela chuva ácida.

Na mineraçãoA mineração pode alterar significa-

tivamente a paisagem e o ecossistema.A extração do carvão facilita a erosãoe acidifica o solo. Ela inibe o cresci-mento da vegetação e torna o ambi-ente impróprio para a agricultura. Oresultado é o assoreamento das dre-nagens e a contaminação das águas.Por isso, é importantíssimo prever, an-tes de se degradar uma área, como elapode ser recuperada após a exaustãoda jazida.

Depois de extraído do subsolo, ocarvão provoca complicações por ondepassa. O vento nas pilhas de rejeito damineração e nos depósitos de cinzas dacombustão (que, por vezes, retornamàs cavas das minas) forma nuvens depoeira poluente. A lavra e o bene-ficiamento resultam em drenagens áci-das que matam os rios. Os recursos

A contaminação ambientale a alteração da paisagem

hídricos sofrem durante todo o proces-so. É o caso do Rio Tubarão, em SantaCatarina, que nasce no pé da Serra doRio do Rastro, próximo das áreas demineração, e vai desembocar no com-plexo lagunar de Santo Antônio, em La-guna. Durante décadas, também osdejetos de lavagem do carvão foramjogados em suas águas e ainda hoje,sempre que chove, escorre uma lamade resíduos amarelados de Enxofre eferrugem das encostas escalavradas.Exemplo ainda mais significativo é o rioMãe Luzia, recentemente apontadocomo o único caso no mundo a apre-sentar quatro cores no seu curso deágua. Somente sua nascente está pre-servada e em todo o seu curso apre-senta águas ácidas.

A drenagem ácida polui as águas nasáreas de mineração de carvão. A alte-ração do pH das águas libera os ele-

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Processo de separação de partículasatravés da formação de uma espuma

sobrenadante que arrasta as partículasde uma espécie, mas não as de outra.

mentos tóxicos que ficam dissolvidos,aumentando os riscos para os seres vi-vos. Quanto maior o conteúdo de piritano carvão e nas rochas expostas, maioré o potencial de geração de ácidos.

O baixo pH da água e as elevadasconcentrações de Sulfato e metais sãoa conseqüência das drenagens dosefluentes dos lavadores de carvão e dadisposição de rejeitos na região sul deSanta Catarina(11 ). Estes parâmetros,que estão em desacordo com a legisla-ção vigente(12 ), apontam a deterioraçãoda qualidade das águas também nasregiões carboníferas do Rio Grande doSul. Na região do Baixo Jacuí, os ma-nanciais subterrâneos foram afetados eboa parte da sub-bacia do Arroio doConde está comprometida. Em Can-diota, RS, diversos pesquisadores ob-servaram a queda do padrão de qua-lidade das águas superficiais, a jusantedas zonas de lavra(13 ).

Além de todos esses efeitos adver-sos, a extração de carvão pode afetarmuitos aspectos do ciclo hidrológico

no que concerne à quantidade e à dis-ponibilidade de água. Em alguns ca-sos, a mineração requer o bom-beamento de água da mina, o quepode rebaixar o lençol freático. Assimcomo as centrais termelétricas, as plan-tas de beneficiamento também utilizamenormes volumes de água para remo-ver matérias e impurezas do carvãoque, muitas vezes, são lançadas nocurso d´água(14 ).

O carvão nacional, ao ser extraídodas minas, geralmente é britado e lava-do para a retirada de impurezas antesde ser utilizado nas usinas ou em cal-deiras industriais. Uma exceção é ocarvão de Candiota, que é utilizadosem beneficiamento, no seu estado bru-to (ou ROM – Run of Mine).

No beneficiamento, a matéria orgâ-nica (com baixa densidade) é separa-da da matéria mineral (argilas, quartzoe pirita) por processos gravimétricos.Mais raramente, para aproveitar fraçõesmais finas do carvão, utiliza-se o pro-cesso de flotação.

Ambos os processos utilizam a água,que é parcialmente reaproveitada. Aágua que contém os rejeitos é filtradamas não totalmente reutilizada, pois,com o tempo, o aumento da concentra-ção de sais dissolvidos provenientes docarvão beneficiado pode provocar a cor-rosão dos equipamentos utilizados(15 ).

Mesmo depois de filtrada, essa águaainda contém metais dissolvidos e édescartada nos cursos d’água. Maispreocupante do ponto de vista am-biental é o descarte dos rejeitos dobeneficiamento ricos em pirita. Suadissolução pela ação da chuva e do arlibera elementos tóxicos para o meioambiente, comprometendo grandesáreas, como é o caso do Banhado daEstiva dos Pregos, em Capivari de Bai-xo, Santa Catarina.

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Uma pesquisa do departamento de Geologia da provínciachinesa de Shanxi, de onde foram retiradas desde 1980mais de 5,4 bilhões de toneladas de carvão (30% daprodução do país), constatou uma diminuição drástica derecursos hídricos. A mineração do carvão estácontaminando 625 milhões de toneladas de águassubterrâneas por ano naquela região. Segundoespecialistas, essa água contaminada poderia abastecer,com a média de 30kg de água por pessoa por dia, umacidade de 14,52 milhões de habitantes.

(China Coal News - http://www.chinacoalnews.com/2002/ccn/ccn14/Shanxi.htm)

Na queimaOs resíduos sólidos resultantes da

queima do carvão na indústria car-bonífera – cerca da metade do volumeminerado e queimado, no caso doscarvões nacionais – são constituídos pordois tipos de cinzas: as leves ou volan-tes e as pesadas. Quando não são re-movidos devidamente, de modo a per-mitir seu confinamento, ocorre a lixi-viação, uma forma de erosão químicaque carrega os elementos do solo, in-cluindo substâncias tóxicas, para as

drenagens adjacentes. As cinzas pro-duzidas pela queima, que concentrammetais pesados, acabam parando noscursos d´água, provocando assorea-mento e alta contaminação do solo. Amata ciliar da maioria dos rios da re-gião carbonífera de Santa Catarina edo Rio Grande do Sul, por exemplo,está completamente alterada.

No Rio Grande do Sul, a FundaçãoEstadual de Proteção AmbientalHenrique Luis Roessler (FEPAM), emtrês anos de estudos, constatou que a

região do Baixo Jacuí está ameaçadapelo processamento de carvão. A área,de Guaíba a Minas do Leão, apresenta38 depósitos de resíduos e cinzas aban-donados, a maioria esquecida pelosempreendedores. A FEPAM identifi-cou, só em Charqueadas, 24 depósi-tos, além de mais quatro em SãoJerônimo, três em Arroio dos Ratos,seis em Butiá e um em Minas doLeão(16 ).

No complexo mina/usina de Can-diota, onde os subprodutos de argila ecinza podem ser aproveitados pela in-dústria cimenteira, 10% da cinza leve écomercializada e o restante vai para ascavas de minas. Grande parte dessematerial pouco coeso é facilmenteerodida a cada chuva, assoreando cur-sos d’água.

Por mais que se avalie o passivoambiental de empresas que abandonamáreas mineradas e depósitos de rejeitos,bem como o gasto em saúde públicapara tratar problemas decorrentes damineração e queima do carvão, essesvalores são praticamente incalculáveis.

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V. TECNOLOGIAS – O CARVÃO PODE

SER LIMPO?É interessante avaliar as opções tecnológicas que hojepropõem tornar a atividade carbonífera um pouco maislimpa. Certamente, grande parte dos impactos pode serreduzida ou mitigada quando técnicas e planejamentoadequados são aplicados. Mas não existem soluçõesmilagrosas capazes de fazer o carvão deixar de ser umadas fontes energéticas de maior impacto ambiental.

MineraçãoA mineração de carvão pode ser fei-

ta a céu aberto ou em minas subterrâ-neas. O primeiro sistema é o que ofe-rece menores custos e maior seguran-ça de trabalho. Antigamente, a mine-ração ao ar livre era feita pela retiradada cobertura de solo e da extração dascamadas de carvão em percursos espi-rais. As máquinas iam de fora para den-tro da área a ser minerada retirando ominério e, ao final, abandonavam acava da mina, sem qualquer tipo derecuperação. Até hoje, a maior partedas áreas assim exploradas se encontrasem nenhuma recuperação ambiental.

Hoje, a mineração é feita, geralmen-te, a céu aberto em sistema de tiras.Enquanto uma faixa do terreno é mi-32

Page 34: Carvão mineral - combustível de ontem

nerada, a topografia da faixa anterior érecomposta, facilitando a recuperaçãoda paisagem destruída pelo avanço damina. Assim, pode-se ter uma recons-tituição satisfatória da topografia e dapaisagem, ainda que a qualidade daágua e a química do solo sejam altera-das nestes locais, comprometendo seususos futuros.

As cavas das minas a céu aberto tam-bém podem ser usadas para a disposi-ção final de resíduos, desde que a áreaseja adequadamente preparada. Nasminas subterrâneas, ainda que a alte-ração da paisagem não seja tão drásti-ca quanto na mineração a céu aberto,os custos são muitas vezes proibitivos,encarecendo a energia gerada, devidoaos elevados gastos com a logística eoperação das minas.

Quando as camadas de carvão sãoprofundas, a mineração exige, além daretirada de material sólido do subsolo,o bombeamento e descarte da água

subterrânea, alterando o regime hídricoda área. A conseqüência desse proce-dimento pode, muitas vezes, ser o re-baixamento e o alagamento dos terre-nos adjacentes na fase de exaustão dasminas. Uma série de exemplos de co-lapsos da cobertura das áreas minera-das, com danos às obras civis cons-

Em 11 de outubro de 2000, no Kentucky, EUA, numa áreaminerada de 30 hectares, da Martin County CoalCorporation, o rompimento de uma barreira de contençãoliberou 940 milhões de litros de resíduos, que escorrerampara as galerias de uma mina de carvão subterrânea e para osrios e riachos das proximidades. Embora não tenha havidoperda de vidas humanas, os danos ambientais foram altos etodo o suprimento de água da região teve de serinterrompido.

(“Coal Waste Impoundments: Risks, Responses, and Alternatives (2002)”,Commission on Geosciences, Environment and Resources (CGER), National

Academy of Sciences, National Academy of Engineering, Institute ofMedicine, National Research Council (EUA), http://www.nap.edu/catalog/

10212.html)

truídas e/ou inutilização para fins agrí-colas, na região sul de Santa Catarina,é conhecida. Tais situações levaram apopulação afetada a lutar pela criaçãode áreas de proteção ambiental, alcan-çando a proibição da mineração emlocais estabelecidos pelas autoridadesdo município de Criciúma(17 ).

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QueimaA indústria do carvão usa o termo

clean coal, que literalmente significacarvão limpo, para referir-se ao con-junto de tecnologias e processos quediminuem os impactos ambientais as-sociados à mineração, ao proces-samento e à utilização do carvão.

A indústria afirma que essas tec-nologias reduzem as emissões po-luentes para a atmosfera, devido prin-cipalmente ao aumento da eficiênciadas termelétricas. Mas, apesar de ame-nizar os impactos ambientais, o cleancoal não torna o carvão uma fonte deenergia limpa. O tratamento e a dispo-sição final dos resíduos de mineraçãoe combustão continuam sendo proble-mas de difícil e cara solução.

Na combustão do carvão, ainda sãoemitidas grandes quantidades de ma-terial particulado inalável (PM10) egases de Nitrogênio e Enxofre, mesmodepois da passagem por filtros que po-deriam – em condições ideais – reter99% dos poluentes.

No caso da Usina Termelétrica deJacuí, por exemplo, as tecnologiasempregadas não serão capazes de im-

pedir o lançamento na atmosfera de até34 gramas de material particulado porsegundo, de acordo com o EIA-RIMAdo empreendimento(18 ). Mesmo seoperar com 50% da capacidade pre-vista, a usina ainda lançará na atmosfe-ra 17 gramas de material particuladopor segundo ou 1,46 tonelada por dia.

A queima de combustível pulveriza-do é o método mais usado para gerareletricidade a partir do carvão. O car-vão é pulverizado e injetado com arnuma caldeira. O vapor superaqueci-do que daí resulta move as turbinas egera eletricidade. Atualmente, em todoo mundo, quase todas as usinas elétri-cas a carvão usam esse sistema. Já astecnologias de “queima limpa” incluemnovos processos, como o de leitofluidizado.

Uma alternativa para a combustãoé a gaseificação. Quando o carvão en-tra em contato com vapor e Oxigênio,as reações termoquímicas produzemum gás combustível, principalmenteMonóxido de Carbono e Hidrogênio,cuja queima serve para acionar turbi-nas. Há, ainda, os sistemas híbridos,combinando tecnologias de gasei-ficação e de combustão. Num primei-ro estágio, a maior parte do carvão égaseificada e aciona uma turbina. Nosegundo, queimam-se os resíduos paraproduzir vapor. No entanto, o grau deeficiência desses sistemas “limpos” va-ria entre 45% e 50%.

E há, também, as tecnologias emestágios iniciais de desenvolvimento,como as células combustíveis, com altopotencial energético e baixa emissão deDióxido de Carbono. As células com-bustíveis permitem que o Hidrogênio,extraído do gás natural, do metanol oudo carvão, reaja eletroquimicamentecom o Oxigênio do ar para gerar ele-

No método do leito fluidizado, o carvãoqueima numa camada de partículas

aquecidas suspensas por pressão e amistura constante produz uma combustão

mais completa, com menor emissão deNOx para a atmosfera.

V. TECNOLOGIAS – O CARVÃO PODE SER LIMPO?

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Page 36: Carvão mineral - combustível de ontem

tricidade. Ainda assim, o processo deobtenção do Hidrogênio a partir doscombustíveis fósseis gera a liberação deCarbono como resíduo.

A maneira e a freqüência com queas indústrias do carvão usam os termos“queima limpa” e “emissão zero” ofus-cam mais do que auxiliam na percep-ção da realidade. A “queima limpa”refere-se a reduções de emissão, en-quanto o termo “emissão zero” nãopode ser aplicado à queima do carvão,onde eliminar as emissões atmosféricasé atualmente impossível.

Vale ressaltar que todas as usinas emplanejamento ou implementação noBrasil (Tabela 3, Capítulo III) utilizamo sistema de combustão de carvão pul-verizado e não as tecnologias maismodernas de queima aqui menciona-das. Ainda assim, denominam-se cleancoal technologies, referindo-se apenasaos sistemas mais eficientes de filtragem,lavagem e retenção de gases e materialparticulado resultantes da combustão.

No caso das usinas de Jacuí eCandiota III, a utilização desse termo éainda mais duvidosa, visto que prevê-

em apenas uma adaptação de equipa-mentos comprados da Inglaterra e daFrança, respectivamente, no início dadécada de 80, quando esses países es-tavam em processo de abandono docarvão mineral como forma de contera poluição ambiental. Já um materialde divulgação da Companhia de Ge-ração Térmica de Energia Elétrica(CGTEE), sobre a usina termelétricaa carvão de São Jerônimo, RS, anun-cia investimentos num novo sistema quea levará a ter emissão zero “de efluenteslíquidos”, enquanto as tecnologias dequeima e retenção de poluentes atmos-

féricos empregadas nesta planta commais de 30 anos de operação são bas-tante obsoletas.

O relatório do Energy Research andDevelopment Corporation (ERDC) afirmaainda que “as tecnologias clean coal dealta eficiência não oferecem grandesreduções de emissão de Dióxido deCarbono (CO2)”. Portanto, mesmo re-duzindo significativamente a poluiçãoatmosférica local em termos de gasesde Nitrogênio e Enxofre e de materialparticulado, a indústria segue comouma relevante fonte de contribuição aoefeito estufa.

Segundo a análise probabilística de riscos de Gordon J. AubrechtII, do Departamento de Física da Ohio State University, EUA,uma única usina de 1 GW, movida a carvão, causa 25 mortes,60.000 casos de doenças respiratórias e US$ 12 milhões emdanos a propriedades, além de emitir uma quantidade de NOxequivalente à emissão de 20.000 automóveis por ano, produzircinzas e lama residual. “Nuclear proliferation through coalburning”,

Gordon J. Aubrecht, II, Physics Education Research Group, Department of Physics,Ohio State University EUA, http://www.physics.ohio-state.edu/~aubrecht/

coalvsnucMarcon.pdf

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Dispersão das emissões atmosféricas da Usina Presidente Médici(Candiota II), em Candiota, RS

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Nuvem de poluiçãosobre a região de Candiota, RS

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Área de depósito de rejeitos do carvão em mina abandonada em Criciúma, SC

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Alterações napaisagem pela

mineração edisposição de

resíduos docarvão na região

sul de SantaCatarina:

municípios deForquilhinha e

Criciúma.

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Área degradada pelocarvão em Criciúma.

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Aspecto da paisagemda Mina do Seival, em

Candiota, RS,abandonada.

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Coloração vermelha no leito do rio Mãe Luzia,em Siderópolis, SC, denuncia o grau de contaminação e acidez das águas.

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42 Rio Mãe Luzia, em Treviso, SC.

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Lago ácido no interiorde área de disposição de rejeitos

do carvão em Siderópolis, SC.

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44 Lago ácido no interior da Mina do Seival em Candiota, RS.

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Água contaminada pela drenagem ácida da mineraçãocorta áreas de Mata Atlântica em Lauro Müller, SC.

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46 Contaminação das águas em torno de área minerada em Seival, RS.

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Rejeito da indústria carbonífera em Candiota, RS.

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Explosão para extração de carvão na mina de Candiota em Bagé.

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48Estrada que corta mina a céu aberto em

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Empresa em Criciúma adota medidasde controle ambiental.

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mOperação da Minade Candiota, RS.

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Lago em área demineração a céu

aberto recuperada emButiá, RS.

Aterro sanitário emminas de carvão

em Butiá, RS.

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Vista da UsinaPresidente Médiciem Candiota, RS.

Obras da termelétrica Jacuí I em Charqueadas,paralisadas desde a década de 80.(Á

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VI. O CARVÃO E AS MUDANÇAS

CLIMÁTICAS

Passada mais de uma década da Eco92 e dois anos da Cúpula Mundial so-bre Desenvolvimento Sustentável(Rio+10), muitos países estão se em-penhando para intervir no quadro demudanças climáticas, porque as previ-sões são assustadoras. A comunidadecientífica assegura que as transforma-ções já estão acontecendo. Condiçõesclimáticas extremas serão cada vez maiscomuns – o aumento de secas em de-terminadas regiões e de chuvas emoutras, o aumento da freqüência e in-tensidade de furacões, etc. O nível domar subirá em razão do derretimentode geleiras e das calotas polares. Osimpactos sobre a economia e a saúdedas populações serão desastrosos: au-mento da incidência de moléstias, comodengue e malária, perdas de colheitas,

As emissões anuais de Carbono pela queima decombustíveis fósseis atingiram, em 2001, 6,55 bilhõesde toneladas, elevando a concentração de CO2 – oprincipal gás causador do efeito estufa – na atmosferapara 370,9 partes por milhão, segundo o World WatchInstitute. Essas concentrações atmosféricas de CO2atingiram “o nível mais alto alcançado em pelo menos420.000 anos, e provavelmente em 20 milhões deanos”. Elas seguem aumentando, e novos recordes sãoregistrados a cada ano(19 ). Como o CO2 absorve o caloremitido pela superfície da Terra, esse aumento provocamudanças climáticas.

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deslocamentos de áreas agricultáveis,disputas por terras, alagamento de re-giões costeiras. O planeta terá um nú-mero cada vez maior de refugiadosambientais.

Estima-se que, atualmente, o núme-ro de pessoas deslocadas de suas ter-ras por razões ambientais seja da or-dem de 25 milhões – maior do que onúmero de refugiados políticos deslo-cados por perseguições e guerras civis,que são cerca de 22 milhões.O núme-ro de refugiados ambientais pode che-gar a 150 milhões em 2050(20 ).

Com o aumento do nível do mar,muitas ilhas oceânicas tendem a desa-parecer e sua população deverá ficardespatriada, entre elas as ilhasMaldivas, Kiribati, Tuvalu, Marshalls edezenas de estados do Caribe. Aproxi-madamente, 1 milhão de pessoas de-verão ser, para sempre, retiradas de

seus locais e entre 46 e 50 milhões es-tarão em situação crítica. Esse efeito,somado ao aumento das chuvas emcertas regiões, colocará em risco áreasdeltaicas em países como Indonésia,Tailândia, Paquistão, Moçambique,Gâmbia, Senegal e Suriname. Na Chi-na, Shangai e 96% da região poderãoser completamente inundadas, afetan-do cerca de 30 milhões de pessoas quedeverão ser deslocadas. Cerca de 142milhões de pessoas que habitam as zo-nas costeiras da Índia deverão aban-donar seus territórios. Em Bangladesh,onde, em setembro de 1988, as inun-dações fluviais deixaram 1/3 do paísinundado e 50 milhões de pessoas semcasa, cerca de 7% do território ficarápermanentemente inundado devido aoaumento do nível do mar. O Egito po-derá perder entre 12 e 15% de suasterras agricultáveis(21 ). O Brasil não estálivre dessas catástrofes, como demons-tram os efeitos climáticos registrados noPaís nos primeiros meses de 2004: chei-

As pessoas afetadas pelos efeitos dasmudanças climáticas e por outros

desastres ambientais podem serreconhecidas como refugiados, já

que se vêem obrigadas a abandonaro local onde vivem em resultado

dessas catástrofes. A Convenção deGenebra protege as pessoas que são

forçadas a deixar seu Estado deorigem e não podem retornar a ele.

Com o aumento do nível do mar,1 milhão de pessoas deverão ser,para sempre, retiradas de seuslocais e entre 46 e 50 milhõesestarão em situação crítica.

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IV . O CARVÃO E AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS

as no Nordeste, seca no Sul e a passa-gem do fenômeno Catarina, coinciden-temente atingindo a região carboníferade Santa Catarina.

O último relatório do Painel Inter-governamental sobre Mudanças Climá-ticas (IPCC), escrito por mais de milcientistas e revisado por um númeroainda maior de especialistas que asses-soram as Nações Unidas, foi publica-do em 2001. O relatório considera“praticamente certo” que as emissõespela queima de combustíveis fósseis vãodeterminar as concentrações de CO2no planeta durante o século 21. E afir-ma que essas emissões precisam serreduzidas em, pelo menos, 70% ao lon-go dos próximos 100 anos. O aumen-to da temperatura global neste séculopoderá ficar entre 1.4 e 5.8 graus cen-tígrados, segundo os cientistas. Comtanto aquecimento, as projeções cien-tíficas mostram cenários relativamentecatastróficos, do ponto de vista das mu-danças climáticas, local e globalmen-te(22 ).

Acordo internacional segundo o qualos países industrializados devem

reduzir suas emissões de gases-estufaem 5,2% em relação aos níveis de

1990 entre 2008 e 2012.

Catarina foi o nome dado ao primeiro furacão registrado nahistória do Atlântico Sul, que atingiu a região sul de SantaCatarina e o norte da costa do Rio Grande do Sul em março de2004, provocando um prejuízo estimado em R$ 1 bilhão, onde32 mil residências foram atingidas e 393 destruídas.

http://noticias.terra.com.br/brasil/interna/0%2C%2COI287060-EI306%2C00.html

O Protocolo de Quioto poderáentrar em vigor em 2004, caso seja ra-tificado pela Rússia. Entre os mecanis-mos para o alcance das metas nacio-nais, pelo menos seis países – Dinamar-ca, Finlândia, Itália, Holanda, Norue-ga e Suécia – já estão aplicando impos-tos sobre as emissões de Carbono,desencorajando assim a indústria doscombustíveis fósseis. Vários outros es-tudam essas medidas e alguns, como aAlemanha, já oferecem subsídios e fi-nanciamentos públicos para as energiasrenováveis.

Os países em desenvolvimento nãosão obrigados à mesma redução de

emissões, por não serem os principaisresponsáveis pelo quadro atual de mu-danças climáticas. Entre esses países,o Brasil é um dos maiores emissores,juntamente com a China e a Índia, quetêm o carvão mineral como fonte im-portante na sua matriz energética.

O desmatamento e a queima de flo-restas são responsáveis por 2/3 das atu-ais emissões brasileiras de CO2, mas as

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emissões derivadas de combustíveisfósseis devem aumentar, com a expan-são da geração de energia termelétrica.Segundo Bermann (2002), se todas as62 centrais termelétricas previstas para2005 entrassem em operação, incluin-do as térmicas a gás do Plano Prioritáriode Termeletricidade previsto em 2001,poderia haver um aumento de 100 mi-lhões de toneladas anuais nas emissõesbrasileiras de CO2, ou seja, de 30% dasemissões atuais provenientes da quei-ma de combustíveis fósseis, lenha ecarvão vegetal(23 ). Conforme a Tabela3, as novas usinas a carvão, sozinhas,poderiam contribuir com quase 20%desse acréscimo de emissões.

Assim, mesmo que a maioria dospaíses signatários do Protocolo deQuioto alcance suas metas de redução– através da aplicação de impostos so-bre Carbono/energia e da imple-mentação de projetos de fontes alter-nativas e de políticas de eficiênciaenergética –, como ficará a situaçãoglobal, caso a emissão de gases de efeitoestufa seja simplesmente transferida,através da migração das indústrias/usi-nas altamente poluentes para os paísesem desenvolvimento? Configura-se aíum caso de injustiça climática e ambien-tal, pois as populações dos países em

desenvolvimento, menos preparadaspara enfrentar as conseqüências dasmudanças climáticas, são expostas à

poluição local causada pelas indústriassujas já obsoletas para os padrões dospaíses industrializados.

“A Usina Termelétrica de Sepetiba teria emissões de Óxidos deNitrogênio na faixa de 600 a 650 mg/m3 (...). No entanto, éinteressante observar que, na Itália, país-sede da empresaresponsável pela engenharia do projeto, o limite de emissãopara novas usinas é de 200 mg/m3. (...) Ou seja, se o projetoda Usina Termelétrica de Sepetiba fosse apresentado na Itália,não seria aprovado por não cumprir as normas de emissão deDióxido de Enxofre e Óxidos de Nitrogênio. (...) Repetia-se,portanto, mais uma lamentável tentativa de adotar tecnologiasindustriais ‘’sujas’’ em países cujo rigor ambiental não é tãoacentuado quanto nos países mais industrializados. (...) Não sepode esquecer também das elevadas emissões de Dióxido deCarbono (CO2), principal gás causador do efeito estufa. Se aUsina Termelétrica de Sepetiba operasse com fator decapacidade de 65%, as emissões de CO2 seriam de cerca de17 mil toneladas por dia! (...) O Rio de Janeiro demonstrouque não aceita mais os impactos ambientais negativos daenergia do passado, apontando a direção a ser seguida poruma política energética realmente sustentável no país.”

Luiz Pinguelli Rosa – ex- presidente da Eletrobrás, quando diretor da Coppe/UFRJ –, Márcio Macedo Costa, pesquisador da Coppe/UFRJ – e EmilioLèbre La Rovere, coordenador do Centroclima/Coppe/UFRJ, em artigo

“Rio+10 é aqui”, publicado no Jornal do Brasil, em 10/11/2002.

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VII. QUALIDADE E GERAÇÃO DE

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Os incentivos do governo federalpara ampliar a produção do carvão, emresposta ao “choque do petróleo”, nadécada de 70, ampliaram os postos detrabalho, mas isso, ao contrário de serum grande acontecimento, revelou-setão danoso quanto a intensificação detodos os problemas decorrentes da mi-neração. Em Santa Catarina, essa ex-pansão provocou uma maior incidên-cia de casos de pneumoconiose, umadoença causada pela aspiração do póde Sílica e carvão nos locais de explo-são ou de trabalho de grandes fura-deiras, cortadeiras e carregadoras nasminas subterrâneas.

Os riscos e as condições de traba-lho exigem que se paguem aos minei-ros altos seguros de periculosidade einsalubridade. No Brasil, a aposenta-

Um dos argumentos dos defensores do carvão é ageração de emprego. Um estudo da Fundação GetúlioVargas calculou que os cerca de 14 mil empregosdiretos e indiretos que seriam gerados durante os 36meses de construção de uma usina termelétrica seriam,na fase de operação, reduzidos a cerca de 150 postosde trabalho(24 ).

EMPREGO

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doria dos trabalhadores em mina a céuaberto é dada aos 25 anos de serviço,e aos 15 em mina subterrânea.

Com a utilização de processos aúmido nessas operações, o quadro te-ria melhorado. O jornal O Estado, deSanta Catarina, (10 e 11/01/1998) in-formava, no entanto, que mais de trêsmil trabalhadores estavam com a doen-ça e que pelo menos 88 já haviammorrido, apenas no município de Cri-ciúma. Também foram registrados al-tos índices de doenças respiratórias,além de deficiências neurológicas con-gênitas, como a anencefalia.

Condição em que não há abóbadacraniana e os hemisférios cerebrais ounão existem, ou se apresentam como

pequenas formações aderidas à base docrânio. Uma reportagem do jornal DiárioCatarinense, de 1995, revelou que entre1979 e 1984 foram registrados 18 casos

de anencefalia, o que foi considerado umíndice altíssimo – um para cada 200

nascidos, enquanto a média tolerável,segundo a literatura médica, é de um para

cada dois mil nascidos.

Em Criciúma,também foram

registrados altosíndices de

doençasrespiratórias.

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Forma de Geração Preço estimado em MW/horaHidrelétrica (nova) * R$ 90,00Hidrelétrica (velha) * R$ 10,00Termelétrica a gás * R$ 111,00Termelétrica a carvão (nova) * R$ 138,00Termelétrica a carvão (velha) * R$ 55,00Biomassa do bagaço de cana ** R$ 93,77Biomassa de resíduos de madeira ** R$ 101,00Biomassa da casca de arroz ** R$103,20Pequena Central Hidrelétrica (PCHs) ** R$ 117,02Eólica ** R$ 180,18 a R$ 204,35

A energia termelétrica acarvão apresenta um dosmaiores custos de geração,mesmo quando comparadaàs novas fontes renováveiscomo a biomassa e aspequenas centraishidrelétricas – PCHs(ver Tabela 4).

VIII. ASPECTOS

ECONÔMICOSTabela 4:Preço da geração de energia através do carvãomineral em comparação às fontes renováveis

FONTES: * Dados fornecidos pela Secretaria de Minas, Energia e Comunicações do Rio Grandedo Sul, em outubro de 2003. ** Dados fornecidos pelo Ministério de Minas e Energia, no

lançamento do PROINFA – Programa de Incentivo às Fontes Alternativas, em março de 2004.60

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A termoeletricidade foi uma saídatão cogitada durante o racionamentode energia que se criou um programaemergencial de construção determelétricas. Os altos custos do gásnatural, cotado em dólar, e da geraçãoa carvão inviabilizam a maior parte dosprojetos de usinas termelétricas. Alémdisso, a grande quantidade de águaexigida para refrigerar os sistemaspotencializa o custo ambiental da ge-ração de energia.

No Brasil, uma série de dispositivoslegais incentiva o uso do carvão. Em2000, instituiu-se o Programa de Incen-tivo à Utilização de Carvão Mineral nosEstados do Paraná, Santa Catarina e RioGrande do Sul(25 ). Em 2002, foi criadaa Conta de Desenvolvimento Ener-gético – CDE, inicialmente destinada asubsidiar energia das novas fontesrenováveis e os programas de uni-versalização, mas que, posteriormen-te, foi direcionada para aumentar a pro-dução e a competitividade da energia

produzida, inclusive, a partir do carvãomineral nacional. Em outubro de 2003,a medida provisória 127 veio regula-mentar a lei do ano anterior: a partirde 2004, o carvão será 100% subven-cionado pela CDE, que deve arreca-dar R$ 1,6 bi / ano. As térmicas a car-vão receberão 30% do valor total e,deste percentual, 15% irão para as no-vas usinas.

No Rio Grande de Sul, uma das prio-ridades de investimentos para 2002 (se-gundo a Lei de Diretrizes Orçamentári-as, Artigo 14) era o de “ampliar o usodo carvão mineral para fins energéticos,possibilitando o abastecimento de no-vas unidades termoelétricas (CandiotaIII, Jacuí I e Seival)”. Essas usinas têm,ainda, a possibilidade de receber doBanco Nacional de DesenvolvimentoEconômico e Social (BNDES) financia-mentos de até 70% do seu custo de cons-trução, mesmo havendo o envolvimentode grandes empresas multinacionais nosnegócios. Para Candiota III, as previsões

orçamentárias, com destinação de recur-sos públicos, agora figuram também noPlano Plurianual de Investimentos (PPA2004-2007) do atual Governo Federal.

Como se justificam todos esses in-centivos, tendo em vista os custosaltíssimos do processamento do carvão,os quais só podem ser compensadosatravés de subsídios que, em últimaanálise, são pagos por toda a popula-ção? Ninguém consegue medir o cus-to – para a população, para o governoe também para as empresas – de re-mediar os problemas da extração e douso do carvão na geração de energia.Há um grande passivo ambiental e fortecompetição de preços, em decorrên-cia de projetos mal-estruturados, agra-vados pela oscilação dos preços e pelaqualidade do carvão nacional.

Os subsídios globais para combus-tíveis fósseis estão na ordem de US$120 bilhões por ano, e o gás é o me-nos subsidiado. Os subsídios ao car-vão vêm perdendo apoio até mesmo

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onde o produto é da mais alta quali-dade, como na Inglaterra. É a própriarevista The Economist, nicho do maisrigoroso pensamento capitalista, queelege o carvão inimigo ambientalNº1: “A maneira desnecessariamentesuja, insalubre e ineficiente com queusamos energia é a maior fonte de de-gradação ambiental. Por isso é que fazsentido começar uma mudança lentapara longe da atual utilização imundade combustíveis fósseis, em direção aum futuro mais limpo, de baixo Car-bono. (...) Em países pobres, onde anorma são má-ventilação, usinas deenergia ineficientes e fuliginosas cal-deiras a carvão, a poluição do ar é umadas principais causas evitáveis de mor-te. Ela afeta também alguns dos paí-ses ricos. De Atenas a Pequim, o im-pacto de finas partículas emitidas pelaqueima de combustíveis fósseis, espe-cialmente do carvão, é hoje uma dasmaiores preocupações de saúde pú-blica”(26 ).

Os defensores do carvão alegamque podem controlar a quantidade deenergia produzida, ao contrário do queocorre em uma hidrelétrica, que depen-de da quantidade de chuvas. Essa mes-ma vantagem é também apresentadapor alternativas limpas como a energiaeólica e a da biomassa de resíduos agrí-colas. A maior disponibilidade dessas

“O sonho de energia mais limpa nunca será realizadoenquanto for mantida a tendência para as tecnologiassujas. Para começar, os governos têm de eliminar ossubsídios perversos que, de fato, incentivam o consumode combustíveis fósseis. Alguns desses subsídios, como odinheiro dado (...) à indústria do carvão, vãoclamorosamente na direção errada. Outros são menosóbvios, mas não menos nocivos.”

Do artigo Environmental Enemy No. 1, edição de 4 de julho de 2002

fontes, em muitas regiões, coincide jus-tamente com os períodos de seca e debaixa nos reservatórios das hidrelétri-cas. O redirecionamento dos financia-mentos públicos, incentivos e subsídiospara as fontes renováveis poderia, en-tão, assegurar a geração de energia ede empregos de forma descentralizadae com menores impactos ambientais.

VIII. ASPECTOS ECONÔMICOS

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IX . ALTERNATIVAS

No Brasil, o Programa de Incentivoàs Fontes Alternativas (PROINFA)(27),recentemente regulamentado, apóstramitação no Congresso Nacional, temcomo objetivo ampliar a participaçãodas novas fontes renováveis na matrizenergética nacional e instalar, até de-zembro de 2006, 3.300 MW, geradospor “fazendas de vento”, pequenas cen-trais hidrelétricas (PCH) e usinas tér-micas de biomassa. A idéia é suprir comenergia limpa e renovável de fontes al-ternativas, numa segunda fase, até 10%da matriz energética brasileira. A ofer-ta dessas fontes no Brasil é praticamenteinesgotável.

Em pleno século XXI, há outras opções energéticas,que causam menos danos ao ambiente e podemsubstituir o uso do carvão, contribuindo também paraa geração de empregos. O apoio político para formasde geração de energia renovável também está em alta.Vários países promulgaram novas leis, abrindomercados para a energia renovável. O futuro requerprojetos que levem em consideração não apenas osrecentes avanços tecnológicos da energia eólica,células de combustível e geradores a Hidrogênio, mastambém a necessidade de estabilização do clima. Umexemplo deste esforço é a realização da 1ª

Conferência Mundial sobre Energias Renováveis, queocorrerá em junho de 2004, na Alemanha.

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Energia EólicaO mundo, hoje, utiliza dez vezes

mais energia dos ventos do que há dezanos. À medida que caem os custos degeração eólica e crescem as preocupa-ções com a mudança climática, maispaíses se voltam para essa tecnologia.

Com o PROINFA, o Brasil poderáiniciar o aproveitamento de seu surpre-endente potencial eólico, estimado em143.000 MW. Será um grande passo,na mesma direção de países como Ale-manha, Espanha, Estados Unidos, Di-namarca e Índia, onde esse tipo deenergia limpa vem crescendo à razãode 25% ao ano, alcançando o nível dos“gigawatts”.

Energias renováveis, como a eólica,também estimulam as economias locais.Elas proporcionam mais empregos porunidade de capacidade, mais receitaturística e maior produtividade do queas convencionais. Podem ainda contri-buir para a renda em pequenas propri-edades rurais, pelo arrendamento de

parte da propriedade para a instalaçãode turbinas.

Na Alemanha, a indústria eólicacriou 40 mil empregos, contra 38 milda indústria de energia nuclear. NaCalifórnia, EUA, um estudo concluiuque o aumento do uso de tecnologiasde energia renovável, em vez da conti-nuação de atividades com gás natural,poderia aumentar quatro vezes o nú-mero de empregos.

No Brasil, o Ceará é um dos poucosestados que investiu na instalação defazendas eólicas. Mais de 1.000 MWem projetos eólicos estão em fase de pla-nejamento ou licenciamento no Paraná,no Rio de Janeiro e também no RioGrande do Sul, onde o Atlas Eólico pro-duzido pelo governo local prevê um po-tencial de 15.000 MW. A primeira fasedo PROINFA deverá subsidiar a insta-lação de 1.100 MW em projetos eólicosno país, embora mais de 7.000 MW játenham sido autorizados pela AgênciaNacional de Energia Elétrica (ANEEL).

BiomassaQualquer matéria de origem vege-

tal que possa ser usada como fonte deenergia é chamada biomassa. Entretan-to, a priorização do uso de resíduos jádisponíveis pode baratear os custos eevitar impactos ambientais de mono-culturas extensivas para este fim.

Cascas de arroz, resíduos de madei-ra, bagaços de cana, renováveis em in-tervalos relativamente curtos de tem-po, hoje movimentam usinas no Brasil,que geram, em média, 10 MW cada.Uma usina de biomassa desse portepode ser implantada em seis meses, semexigir estudos sócio-ambientais comple-xos, gerando de 25 a 30 empregos di-retos, com até 95% da mão-de-obralocal para montagem e operação. Taisempreendimentos são economicamen-te viáveis e têm o custo da energia ge-rada inferior ao custo do MWh dasusinas a carvão.

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No Rio Grande do Sul, o potencialestimado somente com a utilização dacasca de arroz, que resolve um proble-ma ambiental de destinação de resíduosagrícolas, é de 180 MW. Isso repre-senta 5% do consumo médio de ener-gia do Estado. O subproduto da quei-ma da casca de arroz, que é a Sílica,pode ainda ser recuperado como im-portante matéria-prima para as indús-trias eletrônicas, de cerâmica e vidro.

Estima-se que, nas regiões Sudestee Nordeste, o potencial de geraçãoatravés do bagaço da cana-de-açúcarpossa alcançar até 10 mil MW.

Em Santa Catarina, o Banco Regio-nal de Desenvolvimento do ExtremoSul (BRDE) liberou R$ 49,4 milhõespara a implantação da usina LagesBioenergética, que operará combiomassa da indústria madeireira. Oinvestimento total será de R$ 80 mi-lhões. A energia elétrica da usina, queterá 28 MW de capacidade instalada,deve ser negociada com a Celesc(Centrais Elétricas de Santa Catarina)

por 13 anos. O vapor da térmica, cer-ca de 25 t/h, será fornecido para duasdas maiores indústrias madeireiras daregião, a Batistella e a Sofia. Emcontrapartida, elas fornecerão 30% docombustível necessário para operar aplanta. Em 2004, a termelétrica serácapaz de abastecer uma cidade com178 mil residências, aproveitando doisterços do resíduo das indústrias demadeira(28 ).

Pequenas CentraisHidrelétricas (PCHs)

As Pequenas Centrais Hidrelétricas(PCHs) são definidas, no Brasil, comocentrais com potência de até 30 MWe 3 km2 de área máxima de reservató-rio e representam um potencial deacréscimo ao parque energético de até9 mil MW. Entretanto, este potencialdeve ser visto com cautela, pois peque-nas centrais com áreas de alagamentoque afetem áreas agricultáveis, densa-mente habitadas, importantes para a

conservação da biodiversidade, ou umconjunto de PCHs numa mesma baciahidrográfica, podem causar danos so-ciais e ambientais comparáveis aos dasgrandes hidrelétricas.

No Rio Grande do Sul, o BRDE temfinanciado diversos projetos de hidre-létricas de pequeno porte. Nos últimosquatro anos, o agente liberou R$ 32milhões para sete empreendimentos,cuja capacidade instalada total chega a25,29 MW. Os financiamentos se con-centram em cooperativas. Em 1999, aCreral (Cooperativa Regional de Ele-trificação Rural do Alto Uruguai) rece-beu R$ 504 mil para o projeto deR$640 mil da usina Abaúna, de 0,8MW. A Creluz (Cooperativa de Ener-gia e Desenvolvimento Rural do Mé-dio Uruguai) conseguiu empréstimo deR$ 900 mil para o projeto de R$ 1,3milhão da usina Linha Granja Velha, de1 MW. Além de gerar energia de me-nor impacto, essas unidades fixam ascomunidades rurais no campo, compossibilidade de desenvolvimento.

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Atualmente, 211 pequenas usinasoperam no Brasil. No final de 2003,163 aguardavam autorização daANEEL e 44 estavam com a constru-ção autorizada. A viabilização desses207 novos projetos elevaria a capaci-dade instalada das PCHs de 899 MWpara 3.258 MW.

Energia SolarA quantidade de energia do Sol que

chega até nós em 1 ano é superior a10.000 vezes o consumo anual deenergia bruta da humanidade. A ques-tão é como aproveitá-la.

Várias tecnologias foram desenvol-vidas para o aproveitamento da ener-gia solar, em torno de dois sistemas prin-cipais, o fotovoltaico e o térmico. Ascélulas fotovoltaicas atuais transformamem eletricidade cerca de 15% da ener-gia solar que as atinge. Avanços técni-cos tendem a melhorar sua eficiência ereduzir seu custo. Na produção deenergia térmica, simples aparelhos de

aquecimento, como aqueles utilizadosem residências para o aquecimento deágua, podem retornar, em forma decalor, cerca de 80% da energia solarque os atinge. Esses sistemas não con-somem qualquer tipo de combustível,não geram nenhum tipo de emissão,não precisam ter partes móveis, nãofazem barulho e nem emitem nenhu-ma substância tóxica ou nociva ao meioambiente.

HidrogênioA economia do Hidrogênio cresce

rapidamente. Carros movidos por cé-lulas combustíveis (fuel cells) já estãochegando ao mercado, bem como asbaterias compactas, geradoras de ener-gia para edifícios comerciais e residên-cias. Geradores eletrolíticos de Hidro-gênio, se movidos por turbinas eólicase painéis solares, podem realmente eli-minar o perigo que representam para ahumanidade os sujos e obsoletos com-bustíveis fósseis.

As grandes companhias de petróleo,segundo a revista Fortune (29 ), já co-meçaram a investir silenciosa mas pesa-damente na tecnologia do Hidrogênio.Outras grandes corporações tambémestão seguindo o mesmo caminho. En-tre elas, encontram-se a UnitedTechnologies, a General Electric, a DuPont e todas as principais fábricas deautomóveis.

A fonte de obtenção do Hidrogênioa ser utilizado nas células combustíveispode determinar o quão “limpa” essatecnologia será. Além da água, umaoutra fonte de Hidrogênio imediata-mente disponível são os combustíveisfósseis que, no entanto, liberam CO2para a atmosfera. A indústria alega queo Hidrogênio obtido da água atravésda energia de fontes renováveis limpasnão é competitivo, uma vez que os cus-tos são, inicialmente, mais altos. Mas,especialistas calculam que, em meadosdeste século, as energias limpas com-petirão com vantagem com as demais

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na produção de Hidrogênio. E, até lá,com um mínimo de conscientização eresponsabilidade nas altas esferas dopoder, metade das fontes energéticasmundiais já será renovável.

Eficiência energética econservação

Além de expandir a geração da ener-gia ou promover a substituição das fon-tes convencionais pelas energiasrenováveis, deve-se aumentar a ofertade energia disponível por meio dogerenciamento da demanda, bem comoplanejar um futuro com maior conser-vação e uso racional da energia.

No Brasil, muitas indústrias já em-pregam programas voluntários de efi-ciência energética e de substituição decombustíveis por outros menospoluentes (por exemplo, a troca de car-vão por gás ou de gás por biomassa).Os consumidores residenciais colabo-ram substituindo equipamentos por

outros de menor consumo de eletrici-dade e gás, incentivados pelos progra-mas PROCEL (Programa Nacional deConservação de Energia Elétrica) eCONPET (Programa Nacional daRacionalização do Uso dos Derivadosdo Petróleo e do Gás Natural). Mas oGoverno Federal, juntamente com asempresas geradoras e distribuidoras,tem ainda muito que fazer pararepotencializar as hidrelétricas existen-tes e reduzir as perdas do sistema elé-trico na geração, transmissão a longasdistâncias e distribuição da energia elé-trica. Medidas neste sentido poderiamaumentar a oferta de energia em até12.000 MW – a mesma quantidadede energia produzida por Itaipu! –, sema necessidade de novos empreendi-mentos de geração.

Para um futuro próximo, o chuveiroelétrico – grande vilão do consumoresidencial – deverá ser substituído porsistemas de aquecimento solar, a bio-massa ou a gás natural. O planejamen-

to urbano será realizado de modo queas edificações possam aproveitar ascondições ideais de iluminação e con-forto térmico, reduzindo, assim, a de-manda por energia nas cidades.

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X. IDÉIAS PARA O

Nos países em desenvolvimento, como o Brasil, asenergias renováveis podem fornecer eletricidade maisbarata e rápida, com geração de empregos, semdepender tanto da expansão de linhas de transmissão eda construção de novas usinas. Muitos componentesdos sistemas solares, das fazendas eólicas e usinas debiomassa são fabricados ou montados nesses países.

A tendência mundial aponta para oestabelecimento de metas para o aban-dono do carvão como fonte energética,a eliminação de subsídios e incentivosaos combustíveis fósseis e a inclusão depadrões de emissão de CO2 na legisla-ção ambiental.

É preciso implementar programas deeficiência e conservação energética, degeração descentralizada e de distribui-ção de energia renovável, que reduzama demanda pela energia convencionaldas termelétricas e grandes hidrelétricas.Enquanto isso, o carvão poderá ser utili-zado de outras formas, como na obten-ção de grafite e de materiais cerâmicos,cuja base é o Carbono, e que servempara uma infinidade de produtos.

SÉCULO XXI

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Albert Einstein, um dos mais famosos físicos de todos os tempos,certa vez, resumiu sua experiência de vida na seguinte frase: ’É im-possível resolver um problema com os mesmos ingredientes quecausaram este problema’. E Max Planck, outro físico famoso, con-cluiu: ’Uma Nova Verdade científica não triunfa porque convence a opo-sição e a faz ver a luz; triunfa porque seus oponentes eventualmentemorrem e cresce uma nova geração familiarizada com ela’.

O fato é que a civilização está numa encruzilhada, pois estamosna divisa existencial do atual sistema global de energia – pelas se-guintes razões:

1) As energias fósseis convencionais estão no fim. Quem tentarprolongar a vida do sistema de energia fóssil usando as chamadasenergias fósseis não-convencionais, como areias oleosas ou bolhasde metano do fundo dos oceanos, romperá definitivamente a resis-tência dos sistemas ecológicos regionais e da ecosfera global.

2) A opção nuclear só pode falhar. O descarte permanente dequantidades cada vez maiores de lixo radioativo, por mais de dezmil anos, é irresponsável. Qual é o sistema de segurança que podefuncionar durante tanto tempo? Além do mais, o uso civil de ener-gia atômica continua sendo a ponte da proliferação de armas atômi-cas que precisa ser definitivamente isolada.

3) A queima de biomassa sem o replantio imediato – como se

ANEXO

Propostas para umaEconomia Solar Global

O presidente do Conselho Mundial deEnergia Renovável (WCRE) e membrodo parlamento alemão, HermannScheer, autor do livro Economia SolarGlobal, sugere que rompamos a cadeiade dependência com os combustíveisfósseis. Suas propostas, apresentadas aseguir, para a construção de umaeconomia mundial sustentável plugadadiretamente na energia solar, são sériase realistas. O núcleo de suas idéias estácontido numa fala dirigida à convençãoanual do ACRE (Conselho Americanode Energia Renovável), em 9 de julhode 2003, em Washington.

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pratica em muitas regiões do Terceiro Mundo – erode o solo, dáinício à desertificação e provoca migração em massa para favelassuperlotadas – os vestíbulos para o inferno da espécie humana.

4) A curva de energia fóssil e a de reservas de urânio baratas sãodecrescentes. Apenas a energia renovável pode evitar que as curvasde demanda e de oferta se cruzem nas próximas décadas. Se a ener-gia renovável não for introduzida em larga escala em tempo hábil,riscos de crise econômica global e guerras brutais surgirão comoconseqüência. A Harvard Business School já alertava para essesriscos na década de 70.

5) Uma futura opção por fusão atômica é inviável. Ninguém queapóia a fusão atômica aceita falar sobre custos. Eles seriam de três adez vezes ainda mais altos que os da fissão nuclear. Ninguém falasobre a incompatibilidade de reatores de 100.000 MW ou maiscom as estruturas democráticas, econômicas, sociais ou da econo-mia de mercado. Todos ignoram o prognóstico do ex-chefe do Cen-tro de Plasma-Fusão do MIT, M. L. Lidsky, de que “se o programade fusão produzir um reator, ninguém vai querê-lo”. E ignoram o fatode que não há nenhuma necessidade de outra opção energética seaproveitarmos o potencial solar, que é 15 mil vezes maior que oconsumo anual de energia fóssil e nuclear no mundo.

6) Porque se energia é uma necessidade básica da vida, seriauma visão míope e uma regra econômica perigosa deixar as deci-sões para o abastecimento futuro de energia à mercê de forças demercado baseadas nos custos de energia atuais. Os custos de ener-gias convencionais em extinção vão subir. Os custos das energiasrenováveis vão baixar, porque representam quase que exclusiva-mente custos tecnológicos, com exceção da biomassa. Todos os

custos de tecnologia são decrescentes ao longo do processo de pro-gresso tecnológico e produção de massa.

7) Energias fósseis e atômica convencionais têm múltiplos efeitosmacroeconômicos colaterais negativos – tais como a necessidade dese proteger cada vez mais as linhas de transmissão globalizadas con-tra ataques, o altíssimo consumo de água nas atividades de minera-ção, extração e aquecimento de usinas termelétricas, o custo finan-ceiro de importações e os danos para a saúde e o meio ambiente.Em contrapartida, fontes de energia renovável têm múltiplos bene-fícios macroeconômicos e macrosocietais, porque ajudam a evitartodos esses efeitos negativos que acabam de ser mencionados.

8) Somente com energias renováveis poderemos alcançar umaverdadeira eficiência energética. Na rede global de energias con-vencionais, das minas e poços até o consumidor, cobrindo, muitasvezes, distâncias de mais de dezenas de milhares de quilômetros,muita energia se perde. Só com cadeias curtas de energia, baseadasno uso de energias renováveis locais, as perdas energéticas podemser radicalmente reduzidas.

9) A demanda global de energia aumenta mais rapidamente doque a introdução de energias renováveis. Isto é, a civilização conti-nua a correr para a armadilha das energias fósseis e atômica, mes-mo com a implementação do Protocolo de Quioto.

10) As energias convencionais, em todas as partes do mundo,recebem grandes quantias de dinheiro público para pesquisa e de-senvolvimento, com proteção militar de custos. São US$ 300 bi-lhões anuais em subsídios e uma legislação feita sob medida parafavorecê-las. Em contrapartida, as energias renováveis são politica-mente discriminadas. Em todo o mundo, nos últimos 20 anos, me-

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nos de US$ 50 bilhões foram gastos para a promoção das energiasrenováveis.

Todos esses fatos significam que as energias renováveis são mui-to mais do que uma opção adicional ao velho sistema energético.Elas são a alternativa, a solução completa e capaz de suprir todas asnossas necessidades energéticas. A estratégia primordial em todosos lugares precisa ser a sua promoção.

Posto que os problemas e perigos da civilização estão na Terra enão na Lua nem em Marte, é mais importante promover as energiasrenováveis do que programas espaciais.

Ignorar todos os benefícios e oportunidades estratégicas para apopulação simplesmente por causa de alguns altos custos iniciais éum comportamento lunático e autístico em relação à energia, com-binado com idéias curtas sobre a economia. A idéia mais limitada eerrônea sobre energias renováveis é o preconceito de que elas se-riam um ônus econômico. A necessidade mais urgente é a de supe-rar essas barreiras mentais, inclusive psicológicas, causadas por umaatitude de superioridade dos protagonistas da energia convencionale uma atitude de inferioridade de muitos protagonistas das energiasrenováveis.

Temos de esclarecer nossas sociedades sobre as oportunidadesincomparáveis que as energias renováveis estão oferecendo. É im-possível convencer as pessoas apenas com o desenvolvimento deboas tecnologias e instrumentos práticos. Uma boa estratégia semfilosofia é como uma igreja sem religião.

A mudança para as energias renováveis é um desafio espiritual ecultural. O desafio prático consiste em desenvolver instrumentospolíticos e financeiros para transformar benefícios macropolíticos,

macroeconômicos e macrosocietais em vantagens e benefícios indi-viduais. Para convencer as pessoas, é preciso falar não apenas delucro, mas de qualidade de vida.

Durante a Rio+10, a Cúpula Mundial sobre DesenvolvimentoSustentável das Nações Unidas, em Joanesburgo, em agosto de2002, o chanceler alemão convidou todos os governos para umaConferência Internacional sobre Energias Renováveis. Eu tive aoportunidade de inspirá-lo a dar esse passo. Além disso, a iniciativafoi também lançada para o chamado grupo de “países com idéiasem comum”, que declararam sua vontade de promover as energiasrenováveis com mais vigor do que a Resolução Final da Conferên-cia de Joanesburgo sugeria. A idéia dessa iniciativa surgiu no Con-selho Mundial de Energias Renováveis, em junho de 2002, emBerlim. O Plano de Ação para Proliferação Global das EnergiasRenováveis propõe doze medidas internacionais concretas. A primei-ra delas é estabelecer uma Agência Internacional de EnergiasRenováveis para superar a duplicidade do sistema internacional, oqual possui organizações intergovernamentais para as energias nucle-ar e fósseis, mas não para energias renováveis. O plano global defen-de todos os profundos motivos para a construção de uma Era Solar.

Essa Era Solar virá, mais cedo ou mais tarde. Se vier mais tarde,os problemas que teremos de enfrentar, no mundo inteiro, serãopiores. Se vier mais cedo, será melhor para a sociedade e para araça humana. O termo “era” é usado geralmente no sentido de algotransitório, uma época que emerge e entra em declínio, e tem algu-ma característica especial. É o caso da era atômica e da era fóssil. Otempo esgotou. Assim que a era solar for estabelecida, ela se tornarásinônimo de uma sociedade global que faz verdadeiramente justiça

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ao termo sustentabilidade. Ela caracterizará todo o futuro.A premissa comum a todo avanço inovador para as energias

renováveis é que somos compelidos a rever maneiras e métodos dediscutir e implementar energias renováveis. Do meu ponto de vista,deveríamos seguir as seguintes regras:

Primeiro, dimensionar e visar à substituição total das energiasfósseis e nuclear. A possibilidade de suprir completamente as de-mandas energéticas com fontes de energia renovável vem de umareserva natural extraordinariamente rica e variada, acompanhadade um otimismo tecnológico a esse respeito. Essa possibilidade pre-cisa ser mostrada, mundialmente e para cada país. Ao enfatizar isso,não é necessário fazer um cálculo exato. Nenhum economista sérioestá em condições de prever o custo futuro da conversão fotovoltaicada energia solar, porque, por exemplo, ninguém pode prever nemas aplicações nem seus diferentes impactos sobre os custos, nem avelocidade com que esses custos vão cair em função da produçãoem massa, nem outros desenvolvimentos tecnológicos. Basta o es-boço inicial da possibilidade de substituir todas as energias conven-cionais – a fim de suplantar a mitologia de serem elas indispensá-veis. Se a sociedade e seus atores tomarem consciência da possibili-dade de cobertura total oferecida pelas energias renováveis, cadavez mais tomadores de decisão abandonarão a idéia obsessiva deque mais investimentos em larga escala, com o comprometimentode capitais a longo prazo, são necessários para usinas convencio-nais. Quanto mais livrarmos nossas mentes desta noção, mais espa-ço haverá para instaurar, com imaginação e criatividade, a era solare maior será o interesse do mundo dos negócios e da criação empromover e investir nas energias renováveis.

Em segundo lugar, ter uma visão ampla da energia. Discutir energiaseparadamente, como matéria especial, enjaula o intelecto. É umerro fundamental deixar a discussão da energia apenas para atecnologia da energia ou para especialistas em economia energética.Lembrem-se do que escreveu o suíço Friedrich Dürrenmatt, PrêmioNobel de Literatura, em “Os físicos”: “Os métodos da física perten-cem aos físicos, os resultados pertencem a todos. O que pertence atodos só pode ser resolvido por todos”. As emissões de CO2 não sãoo único problema da energia fóssil. A contaminação radioativa nãoé o único problema da energia atômica. Muitos outros perigos sãocausados pelo uso das energias atômica e fósseis: de cidades poluí-das à erosão de áreas rurais, de poluição das águas à escassez edesertificação, de migrações em massa a assentamentos superlotados,da segurança de vida dos indivíduos à segurança dos estados. Osistema energético atual é o núcleo desses problemas e, por isso, aenergia renovável é o núcleo de suas soluções. Isto é, política emacroeconomicamente nada é melhor e mais barato do que a subs-tituição das energias convencionais pelas renováveis. Para as energi-as brandas, é necessária uma linha estratégica dura.

Em terceiro lugar, calculem os sistemas energéticos, não apenasas usinas de energia. A comparação geralmente usada na economiaenergética entre custos de investimento por kilowatt-hora é analiti-camente superficial. Em vez de comparar aplicações isoladas detecnologia, os sistemas de energia devem ser comparados entre si,calculando os custos totais da energia convencional na sua longarede de abastecimento – em comparação com os custos de fornecerenergia solar com uma curta rede de abastecimento, se for o caso.Entre 70 e 80% dos custos de fornecimento convencional de ener-

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gia não vêm dos custos da geração elétrica propriamente dita. Aprodutividade da utilização da energia solar está na eliminação, par-cial ou total, desses 70 a 80%. A fachada fotovoltaica de um edifícioque substitui uma fachada convencional não é mais baseada no pre-ço por kilowatt-hora, mas, sim, no preço por metro quadrado rela-tivo aos custos de fachada convencional, mais os ganhos da energiasolar. E com vários novos tipos de tecnologias de coleta descentrali-zada de energia – não apenas Hidrogênio –, combinados comtecnologias de informação, as energias renováveis criarão uma novarevolução tecnológica com novas soluções sinergéticas e de eficiên-cia em direção a uma verdadeira nova economia, a sociedade deinformação solar.

Em quarto lugar, motivem novos parceiros de negócios para ener-gias renováveis. Como a otimização do uso de energias renováveissignifica a substituição das energias nuclear e fósseis primárias portecnologias de conversão solar, a indústria da energia altamente con-centrada não é a única parceira conveniente para a mudança. Aindústria da energia também pode mudar do papel de provedor deenergia para o papel de provedor de tecnologia. Mas, dificilmente,a indústria de energia convencional fará isso, porque seus interessesestão muito mais ligados às velhas estruturas e formas de investi-mento. Portanto, as principais candidatas são as indústrias cujo cam-po de atividade atual esteja relativamente próximo das tecnologiasde conversão solar: a indústria de motores, a indústria de vidro, aindústria de materiais elétricos, a indústria eletrônica, a indústria demateriais de construção, as companhias de engenharia mecânica ede usinas, de implementos agrícolas (para colheita de biomassa) e,não menos, de engenharia agronômica e florestal. Nossos fazendei-

ros vão se tornar produtores combinados de alimentos, energia ematéria-prima, e estarão ecologicamente integrados. Nossos fazen-deiros serão os sheiks do petróleo de amanhã.

Em quinto lugar, mostrem as oportunidades de implementaçãorápida. A experiência convencional de que uma nova fonte de energialeva muitas décadas para se estabelecer não se aplica às energiasrenováveis. Ao mesmo tempo em que exige grande quantidade decapital humano, ela não requer toda a infra-estrutura necessária àsredes de energia fóssil e nuclear.

A instalação de uma usina de energia fóssil ou nuclear requerdez anos ou mais, enquanto que a instalação de um moinho devento, incluindo sua base, talvez leve uma semana. A energiarenovável é fornecida em módulos. Isso significa que as energiasrenováveis podem ser implantadas muito mais rapidamente do queos especialistas em energia convencional presumem. Não há ma-neira mais rápida de suplantar uma crise de abastecimento de ener-gia do que através de energias renováveis. As energias renováveisoferecem, ao contrário do que pensam muitos especialistas em ener-gia convencional, soluções a curto prazo. Quanto tempo é realmen-te necessário é uma questão muito fácil de responder: não muito, setivermos uma grande estratégia de energias renováveis.

Em sexto lugar, respeitem as leis econômicas da natureza antesdas leis do mercado. A liberalização dos mercados de energia refe-re-se à superação dos monopólios regionais e estruturas de merca-do de energia existentes, que favorecem as velhas energias. As ener-gias renováveis terão custos diferentes em diferentes lugares. Suaprodutividade depende dos diversos recursos energéticos naturaisdisponíveis em cada caso. Portanto, para poder usar completamen-

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te o seu potencial no campo dos recursos energéticos comerciais,elas precisam ter um esquema de preços politicamente definido elegitimado que seja montado numa escala regressiva nos estágiosiniciais, diferenciados de acordo com seus diferentes níveis técnicosde desenvolvimento e por regiões ou países. A prioridade das leisinalteráveis da natureza sobre as leis de mercado ou de planejamen-to é mandatória. Não podemos agir contra as leis da natureza pormuito tempo. A natureza parece ser mais fraca, mas é mais forte alongo prazo. Ela parece poder ser calculada, mas suas reações sãoincalculáveis. Ela parece poder ser dominada, mas nos dominará.Ela parece ser muito tolerante, mas já começou a reagir desastrosa-mente. No contexto das energias renováveis, não devemos pensarnas categorias de mercados de energia mas nos novos mercados detecnologia.

Diante dos fatos sobre a situação mundial de energia e de algu-mas indicações de caminho para os protagonistas das energiasrenováveis, lembremo-nos das seguintes mensagens:

Todos os tipos de vida exigem energia a qualquer hora. Essaexigência básica da vida só pode ser realmente satisfeita pelas ener-gias renováveis – mas não pelas energias atômica e fósseis.

Um número crescente de pessoas não acredita mais que as ca-tástrofes climáticas e ambientais globais possam ser evitadas. Brotamvisões fatalistas e de “fim do futuro” que envenenam a atmosferasocial. Apenas com energias renováveis podemos estimular novasesperanças – mas não com energias fadadas a se esgotar.

É um direito humano usar o tipo de energia que não afete nega-tivamente a saúde pública. Esse direito só pode ser garantido pelaenergia renovável – mas não pelo atual sistema energético.

Todos os nossos filhos e netos têm o direito de não ter condiçõesde vida piores do que as nossas. Isso pode ser alcançado apenascom energias renováveis – mas não com energias atômica e fósseis.

Todas as nações têm direito à autodeterminação, que requer in-dependência energética. Isso só é possível com energia renovável –mas não com as estruturas energéticas convencionais, globalmentemonopolizadas e concentradas.

Todas as pessoas querem ter energia para manter o seu modo ea sua qualidade de vida. Conseguir isto – não apenas para umaminoria mas para todos – só é possível com energia renovável – masnão com energia atômica e fóssil.

O sentido de uma sociedade democrática é ter uma vida comumbaseada em dois valores: liberdade individual e condições sociaisaceitáveis. Liberdade individual sem tocar e restringir as condiçõesde vida de outras pessoas só pode ser alcançada com energiarenovável – mas não com velhas energias em exaustão.

Os apoiadores e promotores das energias convencionais podemter mais influência até aqui. Mas os protagonistas das energiasrenováveis têm a idéia superior para o futuro.

Para citar Stanislav Lec: A maioria das pessoas começa cedo de-mais a dar início ao que realmente importa na vida tarde demais. Jáé muito tarde, mas a situação ainda pode ser revertida.

Nosso trabalho é voltado para assumir a responsabilidade demudar o sistema energético de hoje, antes que seja realmente tardedemais. Obrigado pelo esforço.

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(1) WORLD coal producers. [S. l.]: UKCOAL, 2002. Disponível em:

<http://www.rjb.co.uk/prod/world.htm>.Acesso em: mar. 2004.

(2) BUCHDAHL, Joe. Health effects ofurban air pollution. Atmospheric, Climate &Environment Information Programme, ARIC.England: Manchester Metropolitan University,1996. Disponível em:

<http://www.chem.brown.edu/chem12/Air/airhealth.html>. Acesso em: mar. 2004.

(3) GOLDEMBERG, José. Energia no Bra-sil. Disponível em:

< h t t p : / / w w w . e b a p e . f g v . b r / c i d s /NOVO%20DEBATE%20EnergiaGoldemberg.html>. Acesso em: mar. 2004.

(4) DUNN, Seth. Descarbonizando a eco-nomia energética. In: BROWN, Lester R. (dir.proj.). Estado do mundo, 2001. Relatório doWorld Watch Institute sobre o avanço em dire-ção a uma sociedade sustentável. Salvador: Uni-versidade Livre da Mata Atlântica/UMA, 2001.p. 89-110.

(5) ESTADO do mundo, 2001. Relatório doWorld Watch Institute sobre o avanço em dire-ção a uma sociedade sustentável. Salvador: Uni-versidade Livre da Mata Atlântica/UMA, 2001.

(6) ESTADO do mundo, 2003. Relatório doWorld Watch Institute sobre o avanço em dire-ção a uma sociedade sustentável. Salvador: Uni-versidade Livre da Mata Atlântica/UMA, 2003.

(7) BRASIL. Decreto nº. 85.206, de 25 desetembro de 1980. Altera o artigo 8 do decreto76.389, de 3 de outubro de 1975, que dispõesobre as medidas de prevenção e controle da po-luição industrial. Senado Federal, Subsecretariade Informações, Brasília, DF, 25 set. 1980. Dis-ponível em:

<http://wwwt.senado.gov.br/servlets/NJUR.Filtro?tipo=DEC&secao=NJUILEGBRAS&numLei=085206&data>. Acesso em: mar. 2004.

(8) BRASIL. Ministério da Saúde. FundaçãoNacional de Saúde. Disponível em:<http://www.funasa.gov.br/>. Acesso em: mar.2004.

(9) ANDRADE, Pedro Paulo de. Estudo dosefeitos da poluição ambiental aérea sobre asaúde da população, entre duas cidades daRegião Carbonífera do Rio Grande do Sul:Charqueadas e Arroio dos Ratos. 1989. Disser-tação (Mestrado em Pneumologia) – Curso dePós-Graduação em Pneumologia da UFRGS,Porto Alegre.

(10) BIANCARELLI, Aureliano. Poluição sereflete nas crianças em 5 dias. Folha de São Pau-lo. São Paulo, 15 jun. 2003. Disponível em:<http://www1.folha.uol.com.br/folha/cotidiano/ult95u76813.shtml>. Acesso em: maio 2004.

(11) TEIXEIRA, Elba Calesso; PIRES,Marçal José Rodrigues (Coord.). Meio Ambi-ente e carvão: impactos da exploração e utiliza-ção. Porto Alegre: FINEP/CAPES/PADCT/GTM/ PUCRS/UFSC/FEPAM, 2002. 498 p.(Cadernos de Planejamento e Gestão, 2).

(12) CONSELHO NACIONAL DO MEIOAMBIENTE. Resolução 020/1986. ResoluçõesCONAMA 1984-1991, 4º edição, Brasília,1992.

(13) Ver nota 11.

(14) Ver nota 11.

(15) Ver nota 11.

(16) BINOTTO, Raquel Barros et al. Ava-liação ambiental da Região do Baixo Jacuí, RS,Brasil: localização, descrição e caracterização dosresíduos provenientes das atividades deprocessamento de carvão. Porto Alegre: FEPAM/CIENTEC, 1999. 39 p.

NOTAS

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(17) Ver nota 11.

(18) M.R.S. ESTUDOS AMBIENTAISLTDA. Estudos ambientais complementares eatualização do EIA-RIMA da UsinaTermelétrica Jacuí: relatório do impactoambiental, v. 9. [S. l.]: M.R.S., set. 2000. 159 p.

(19) CONCENTRAÇÃO de dióxido decarbono atinge recorde. O Estado de S. Paulo.São Paulo, 21 de mar. 2004. Disponível em:<http://www.estadao.com.br/ciencia/noticias/2004/mar/21/51.htm>. Acesso em: 21 mar.2004.

(20) KIRBY, Alex. Climate victims ‘arerefugees’. BBC News, London, Oct. 1st, 2003.Disponível em: <http://news.bbc.co.uk/1/hi/sci/tech/3155796.stm>. Acesso em: mar. 2004.

(21) – MYERS, N. Environmental Refugeesin a Globally Warmed World. BioScience,Washington, v. 43, n. 11, Dec. 1993.

Disponível em: <www.greenpeace.org/~climate/database/search.html>. Acesso em:mar. 2004

(22) CLIMATE change 2001: IPCC thirdassesment report. Intergovermental Panel onClimate Change. Apresenta informações cientí-ficas, técnicas e socio-econômicas para enten-

der mudanças no clima, impactos potenciais eopções para alívio e adaptação. Disponível em:<http://www.grida.no/climate/ipcc_tar/>. Aces-so em: mar. 2004.

(23) BERMANN, Celio. Energia no Brasil:para quê? para quem?: crise e alternativas paraum país sustentável. São Paulo: Livraria da Físi-ca, 2002.

(24) CHAZAN, David Turik; CUNHA, JoséCarlos Carvalho da; ZACAN, Fernando Luiz.Contribuição do Comitê Brasileiro para oWorld Coal Study . [S. l.]: World EnergyCouncil, Comitê Brasileiro, 2002.

(25) BRASIL. Decreto de 31 março de 2000.Institui o Programa de Incentivo à Utilização deCarvão Mineral nos Estados do Paraná, SantaCatarina e Rio Grande do Sul, e dá outras provi-dências. Senado Federal, Subsecretaria de In-formações, Brasília, DF, 31 mar. 2000. Disponí-vel em:

<http://wwwt.senado.gov.br/servlets/NJUR.Filtro?tipo=DEC&secao=NJUILEGBRAS&numLei=000000&data>. Acesso em: mar.2004.

(26) ENVIRONMENTAL Enemy N. 1.Economist.com, London, Jul. 4th 2002. Dispo-nível em: <http://www.economist.com/opinion/

displayStory.cfm?story_id=1213432>. Acessoem: mar. 2004.

(27) BRASIL. Agência Nacional de EnergiaElétrica, Lei 10.438, de 26 de abril de 2002.Disponível em: <http://www.aneel.gov.br/cedoc/lei200210438.pdf>. Acesso em: maio2004.

(28) BANCO Regional de Desenvolvimen-to do Extremo Sul. Apresenta notícias sobrea ins t i tu ição. Disponível em: <http://www.brde.com.br/asse_noticias.asp>. Acessoem: maio 2004.

(29) STIPP, David. The coming hydrogeneconomy. Fortune, USA, Nov. 2001. Disponí-vel em: <http://www.fortune.com/fortune/information/contactfortune>. Acesso em: mar.2004.

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FREITAS, Clarice Umbelino de; PEREIRA,Luiz Alberto Amador; SALDIVA, Paulo Hiláriodo Nascimento. Vigilância dos efeitos na saú-de decorrentes da poluição atmosférica: estu-do de factibilidade. São Paulo: Secretaria de Es-tado da Saúde de São Paulo/USP/CETESB,[199-?].

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STIPP, David. The coming hydrogeneconomy. Fortune Magazine, Nov. 2001.

TONNES of problems. The Economist,Apr. 2003.

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AGRADECIMENTOS

Agradecemos a todas as pessoas que, de alguma maneira, contribuíram para arealização desta publicação, em especial Alcides Farias, André Canale, EduardoRodrigo Ramos Santana, Hans Dieter Rahn, Heinrich Frank, Leandro Fagundes,Sérgio Dialetachi, Tadeu Santos.

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Livro composto emDellaRobbia, 10/11, impressona Gráfica Nova Prova, sobre

papel Reciclato 80gr/m2,com pré-impressão e fotolitosVS Digital, em maio de 2004

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