1. o e Famlia: Casament ento e Obrigaes Encantam srie
2. e l b e n c s a r mento e famlia: casa es encantamento e
obriga
3. casamento e famlia: encantamentos e obrigaes Srie 45 Anos
Categoria: Casamento | Famlia | Vida crist Copyright Editora
Ultimato Todos os direitos reservados Primeira edio eletrnica: Maio
de 2013 Capa: Ana Cludia Nunes Publicado no Brasil com autorizao e
com todos os direitos reservados pela Editora Ultimato Ltda Caixa
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4. SUMRIO Parte 1 Casamento beleza e transcendncia Por que nos
casamos? Repdio e Novo Casamento Parte 2 Casamento: parceria
completa O casamento na era patriarcal Abrao e Sara Isaque e Rebeca
Jac e Raquel Parte 3 Casamento: encantamento com obrigaes e
obrigaes com encantamento Felicidade e fidelidade no casamento o
que mais importante? A Orao e os problemas conjugais
5. Apresentao A srie 45 Anos coloca disposio dos leitores uma
seleo de ttulos em formato digital (e-book), dedicados celebrao de
datas especiais em 2013. Casamento e Famlia Encantamento e Obrigaes
quer celebrar e reafirmar o casamento e a famlia como projetos
inaugurados pelo prprio Deus. Lembra os casamentos dos tempos
bblicos e os desafios da famlia nos nossos dias. Mostra a beleza e
os compromissos, fala de sexualidade e de renncia, de conflitos
conjugais e de espiritualidade. Os textos aqui reunidos foram
publicados originalmente na revista Ultimato Casamento e Famlia
Encantamento e Obrigaes o quarto e-book da srie 45 Anos, inaugurada
com Era uma Vez um Natal sem Papai Noel, um devocionrio para o ms
de dezembro. O segundo ttulo da srie, Igreja Evanglica identidade,
unidade e servio, publicado em fevereiro, lembra o legado e a
influncia do bispo Robinson Cavalcanti; e, em abril, com terceiro
volume da srie, Nem Tudo Sexta-Feira, celebramos e entendemos
melhor a Pscoa crist. Os editores
6. Parte 1
7. Casamento beleza e transcendncia S ob o ponto de vista
cristo e bblico, o casamento uma instituio natural, inaugurada por
Deus logo aps a criao do homem e da mulher, que une duas pessoas de
sexos diferentes, para viverem em companhia agradvel, at que a
morte ou a infidelidade contumaz e irreversvel de um ou de ambos os
cnjuges os separe, com a finalidade saudvel de perpetuar a espcie e
passar para os filhos as idias de um Deus no criado, Todo-poderoso,
criador e sustentador de todas as coisas visveis e invisveis,
Senhor e amigo do homem. Assim posto, o casamento de origem divina,
heterossexual, monogmico, estvel e, salvo casos rarssimos (os que
detm da parte de Deus o dom do celibato espontneo), indispensvel
para a realizao interior do homem e da mulher.
8. 8 Casamento e Famlia Encantamento e Obrigaes Qualquer
comportamento diferente indica a intromisso do pecado original
provocado pela queda do homem e do pecado atual e pessoal. A prova
disso que, j em Gnesis, encontram-se vrias aberraes progressivas,
luz da organizao inicial do matrimnio: o incio da poligamia (4.19),
o incio da libertinagem (6.2), o incio da sodomia (19.5), o incio
da relao sexual entre pai e filhas (19.30-38), o incio do estupro
(34.2), o incio da relao sexual entre enteado e madrasta (35.22), o
incio da prostituio (38.12-19) e o incio do desrespeito aos
compromissos conjugais (39.7-20). S no se menciona algum caso de
bestialidade (prtica sexual com animais), que, talvez, j tivesse
acontecido, j que um dos mandamentos de Deus probe que algum se
deite com animais (Lv 18.23). Jesus Cristo engloba todas essas
novidades na rea do sexo como relaes sexuais ilcitas (Mt 5.32),
expresso que aparecer outra vez por ocasio do conclio de Jerusalm
(At 15.20, 29). Salvo essas relaes sexuais ilcitas, o que fica o
sexo lcito a relao inteira de um homem com sua esposa ou de uma
mulher com o seu esposo, em todas as reas, inclusive na troca de
experincias sexuais, sempre que desejadas, no importando se delas
vir ou no uma gravidez. preciso perder a noo multissecular aberta
ou oculta no mais fundo da conscincia humana de que a relao lcita
algo menos santo, ou apenas permitido ou tolerado por Deus. O
desejo de acariciar, apalpar, despir e manter um intercurso sexual
com o cnjuge natural, faz parte da criao de Deus e antecede a queda
da raa humana (Gn 2.24). natural para ambos os sexos, no apenas
para o homem. O que faz a grande diferena entre relaes sexuais
ilcitas e relaes sexuais lcitas, sem as inovaes antinaturais, o
matrimnio.
9. Por que nos casamos? P assados centenas de sculos, ainda
recebemos bonitos e originais convites de casamento, alguns deles
carregados de romantismo. Afinal, por que continuamos a nos casar,
a despeito de alguns pronunciamentos esdrxulos que se l nas
revistas e se ouve na televiso, aqui e acol, tanto de pessoas fteis
como de pessoas de formao acadmica, ambas sem orientao religiosa e
temor do Senhor? Amor Ainda nos casamos por causa do amor, que o
sentimento que predispe duas pessoas de sexo oposto a se
aproximarem e a permanecer juntas. Segundo o Dicionrio tcnico de
psicologia,
10. 10 Casamento e Famlia Encantamento e Obrigaes amor aquele
sentimento cuja caracterstica dominante a afeio e cuja finalidade a
associao ntima de outra pessoa com a pessoa amante. Evidentemente,
esse amor est ligado de forma ntima sexualidade humana, como ensina
a psicanlise e como se pressupe na prpria Bblia. Um provrbio francs
diz que o amor o como sarampo, todos temos de passar por ele. O
amor mais do que a mera amizade. Da a frase de La Bruyre: Quando o
amor nos visita, a amizade se despede. Embora fosse um casamento
arranjado, a Bblia diz que Isaque amou a Rebeca (Gn 24.67).
conhecidssima a histria de que Jac amou a Raquel com tal
intensidade que trabalhou 14 anos para o sogro a fim de t-la como
esposa (Gn 29.18 e 30). As Escrituras ainda registram o amor de
Mical, filha de Saul, por Davi (1 Sm 18.20) e o de Elcana por Ana
(1 Sm 1.5). A paixo o amor elevado ao seu mais alto grau de
intensidade, podendo sobrepor-se lucidez e razo. No o caminho mais
indicado para o casamento, porque imediatista e simplifica tudo. Na
paixo, o sexo fica sozinho e impera sua maneira, sem outras
evidncias de amor, como aconteceu com Amnom, que violentou a mulher
pela qual se dizia enamorado e, depois, mandou-a embora. Parceria
Ainda nos casamos por causa da parceria. No fomos criados para
permanecer sozinhos. So clssicas e reveladoras as conhecidas
palavras de Deus a respeito da criao da mulher: No bom que o homem
viva sozinho. Vou fazer para ele algum que o ajude como se fosse a
sua outra metade (Gn 2.18, BLH). O amor, e a sexualidade em seu
bojo, no a nica razo do casamento, ainda que muito forte. A unio
das duas metades para formar uma s carne no se faz apenas por meio
do sexo. Isso enfraqueceria o casamento e o tornaria vulnervel. O
matrimnio uma associao de idias, de vontade, de propsitos, de
alvos, de religio, de sacrifcios, de derrotas, de vitrias, de
sangue e suor. Em torno
11. por que nos casamos? da criao e educao dos filhos. Em torno
da f. Em torno da economia do lar. Em torno da sade da famlia. Em
torno do trabalho. Em torno do lazer. Em torno da felicidade
coletiva. A associao pequena a princpio, mas pode aumentar para
trs, para quatro,para cinco ou para mais pessoas (os pais e os
filhos). A associao no significa igualdade de temperamentos, de
aptides, de energia e de gostos. Mas significa obrigatoriamente
ideais comuns, buscados a dois. Essa parceria, preparada desde a
ecloso do amor antes do casamento (namoro e noivado), uma vez
preservada e abastecida, talvez d mais fora ao casamento do que o
amor em si. Santidade Ainda nos casamos por causa da santidade
pessoal. Tanto a sexualidade como a sede interior de Deus so
caractersticas de nascena. Uma no precisa machucar a outra.
Zacarias e Isabel eram justos diante de Deus e irrepreensveis em
todos os preceitos e mandamentos do Senhor (Lc 1.6). Mas isso nunca
os impediu de ter relaes sexuais, mesmo depois da velhice, quando
Deus curou a esterilidade de Isabel para ela dar luz a Joo Batista,
o maior entre os nascidos de mulher (Lc 7.28). Alm da razo dada
pelos cientistas a favor de uma unio monogmica, heterossexual e
estvel evitar as doenas sexualmente transmissveis e o temvel HIV ,
os cristos tm o compromisso de no prejudicar o seu relacionamento
com Deus por meio de uma relao sexual promscua. Por causa da
impureza, ensina o apstolo Paulo, cada um tenha a sua prpria
esposa, e cada uma, o seu prprio marido (1 Co 7.2). Talvez Paulo
tenha se inspirado naquele provrbio de Salomo: Beba a gua da tua
prpria cisterna e das correntes de teu poo (Pv 5.15). Para ficarmos
sob a proteo das normas e no sob o bombardeio dos mpetos, ns nos
obrigamos a homologar a lei de Deus, juntando-nos dentro de um
acordo de exclusividade e fidelidade mtuas. 11
12. 12 Casamento e Famlia Encantamento e Obrigaes Santidade
aquele estilo de vida que no fere os mandamentos e imita o Senhor:
Sede santos, porque Eu sou santo (1 Pe 1.16). Em todas as reas.
Inclusive na rea da sexualidade. por isso que Paulo diz que os
solteiros e os vivos, tanto do sexo masculino como do sexo
feminino, caso no se dominem, que se casem, porque melhor casar do
que viver abrasado (1 Co 7.8-9).
13. Repdio e novo casamento Por que o judeu Saaraim repudiou
suas duas esposas e se casou de novo? E st registrado na Bblia que
certo judeu da tribo de Benjamim chamado Saaraim repudiou suas
mulheres Husim e Baara e se casou de novo com Hodes, da qual teve
sete filhos (1 Cr 8.8). A razo pela qual ele fez isso no revelada.
luz do Sermo do Monte, a nica justificativa aceitvel para tal
comportamento seria a prtica de relaes sexuais ilcitas da parte das
primeiras mulheres de Saaraim (Mt 5.32). Hoje em dia, o repdio
praticado tanto pelo esposo como pela esposa, talvez mais por
iniciativa daquele do que desta. Por que uma esposa rejeita seu
marido? Por que um marido rejeita sua esposa? As razes so inmeras e
por vezes muito complexas. Vo desde o choque de temperamentos at o
adultrio.
14. 14 Casamento e Famlia Encantamento e Obrigaes A
sensibilidade feminina no suporta por muito tempo maridos brutos,
bbados, malandros, egostas, explosivos e paqueradores. A
sensibilidade masculina no suporta por muito tempo esposas
desleixadas, ciumentas, gastadeiras, impacientes, briguentas e
mandonas. No h casamento que tolere infidelidade no confessada e
repetida, tanto do esposo como da esposa. O mesmo acontece quando a
preferncia sexual dos cnjuges homossexual. A enfermidade crnica do
esposo ou da esposa, ainda que provoque grandes problemas, no
deveria acabar com o matrimnio. Mas isso s acontece quando o amor
conjugal forte como a morte (Ct 8.6) e o desprendimento alcana
nveis muito altos. Casamentos costumam acabar quando h demasiada
interferncia da parte dos pais dos esposos ou quando estes se mantm
demasiadamente carentes de pai e me e demasiadamente apegados a
eles. Quando no h perdo mtuo, tambm no h continuidade no casamento.
Porque os cnjuges no so perfeitos e sempre cometem injustias em seu
relacionamento. Os choques de temperamento, de formao e de herana
gentica s sero superados por meio de tolerncia e perdo de ambos os
lados. Outro imprevisto que pode balanar o casamento a esterilidade
feminina ou masculina. Essa foi a experincia de Abrao e Sara, Jac e
Raquel, Elcana e Ana. Em alguns casos, o problema inverso. O nmero
alto demais de filhos pode esgotar a sade da mulher e abalar a
economia domstica. A soluo no o repdio e o novo casamento.
Primeiro, porque isso contrrio lei de Deus e ao bom senso, alm de
custar um preo muito alto para os cnjuges e para os filhos.
Segundo, porque, sem as necessrias correes, que poderiam salvar o
primeiro casamento, o matrimnio seguinte continua a correr o mesmo
risco de acabar. Antes de se encontrar com Jesus Cristo, junto
fonte de Jac, a mulher samaritana tinha sido repudiada por cinco
diferentes maridos (Jo 4. 17-18). O que evita de fato o repdio so a
santidade de vida e a prtica do amor intenso de ambos os cnjuges o
amor de 1 Corntios 13: paciente, bondoso, que tudo sofre, tudo cr,
tudo espera, tudo suporta. como afirmam os Provrbios (10.12) e a
Primeira Epstola de Pedro (4.8): O amor cobre multido de
pecados.
15. Parte 2
16. Casamento: parceria completa C omo ideal a ser levado a
srio e bem usufrudo, o casamento um contrato de parceria de durao
contnua, assumido espontaneamente entre um homem e uma mulher, por
fora e obra daquele sentimento que acompanha o ser humano desde a
criao, a que se d o nome de amor. Casamento no dominao de um sobre
o outro. Nem dele nem dela. parceria. Parceria a vida inteira.
Parceria total. Parceria em tudo: Na troca de atenes Na manuteno da
paz Na liberdade da queixa Na generosidade do perdo No progresso da
cordialidade
17. Casamento: parceria completa Na economia do lar No governo
da casa Nas responsabilidades domsticas Nas compras e nas vendas Na
eventualidade das mudanas No traar dos alvos Na semeadura
prolongada Na colheita dos frutos Na alegria e na fartura Na adorao
e nas aes de graa No planejamento familiar Na realizao sexual Nos
nomes dados aos rebentos Na educao dos filhos No exemplo a ser
mostrado Na devoo religiosa Na santificao do lar No aperfeioamento
do carter Na privao da soberba Na caminhada rumo plenitude da
salvao Nos cuidados com a sade No sofrimento da doena No derramar
das lgrimas No enfrentamento da morte Na maneira de lidar com as
perdas Um casamento assim, caracterizado pela parceria a vida
inteira, pela parceria total, chega aos 25 anos, chega aos 30 anos,
chega aos 50 anos, chega aos 70 anos, como o do arquiteto Oscar
Niemeyer. Em um casamento assim, comemoram-se todas as festas de
aniversrio da unio: as bodas de madeira, estanho, cristal,
porcelana, prata, prola, coral, esmeralda, rubi, ouro, 17
18. 18 Casamento e Famlia Encantamento e Obrigaes diamante,
ferro e brilhante. Um casamento assim, s a morte acaba com ele. Em
alguns casos, nem a morte acaba com o casamento: antes de morrer no
incio de maio, o jurista e acadmico Raymundo Faoro, de 78 anos,
determinou que os restos mortais de sua esposa Pompia fossem
colocados no mesmo caixo, na altura de sua cabea. A parceria uma
estratgia essencialmente crist, apropriada no s para a relao
conjugal (entre o marido e a esposa), mas tambm para a relao
familiar (entre pais e filhos, avs e netos, tios e sobrinhos, irmo
e irmo, primo e primo) e para a relao eclesial (entre pessoas
ligadas entre si no pelo sangue, mas pela adoo, por terem recebido
graciosamente o direito de se tornarem filhos de Deus). A prtica da
parceria explcita na teologia do Novo Testamento. A expresso uns
aos outros aparece vrias vezes nas Epstolas de Paulo, Pedro e Joo:
Amem-se sinceramente uns aos outros, porque o amor perdoa
muitssimos pecados (1 Pe 4.8). Dediquem-se uns aos outros com amor
fraternal (Rm 12.10). Aceitem-se uns aos outros, da mesma forma que
Cristo os aceitou, a fim de que vocs glorifiquem a Deus (Rm 15.7).
Consolem-se uns aos outros com essas palavras (1 Ts 5.18, quando
Paulo se refere ressurreio dos mortos e sbita transformao dos vivos
por ocasio da parsia). Vivam em paz uns com os outros (1 Ts 5.13).
Levem os fardos pesados uns dos outros e, assim, cumpram a lei de
Cristo (Gl 6.2). Exortem-se e edifiquem-se uns aos outros, como de
fato vocs esto fazendo (1 Ts 5.11). Sirvam-se uns aos outros
mediante o amor (Gl 5.13). Sirvam uns aos outros, cada um conforme
o dom que recebeu, como bons despenseiros da multiforme graa de
Deus (1 Pe 4.10, ARA). Pratiquem a hospitalidade uns com os outros,
sem murmurar (1 Pe 4.9, EP). Tenham uma mesma atitude uns para com
os outros (Rm 12.16).
19. Casamento: parceria completa Deixemos de julgar uns aos
outros. Em vez disso, faamos o propsito de no colocar pedra de
tropeo ou obstculo no caminho do irmo (Rm 14.13). Sejam humildes
uns para com os outros (1 Pe 5.5). Sadem uns aos outros com beijos
de santo amor (1 Pe 5.14). A parceria a vida inteira, a parceria
total, comea no amor, trafega pela renncia, exterioriza-se no beijo
aquele gesto singelo, incontido e inefvel e afasta para sempre a
idia, o desejo e a necessidade da separao e do divrcio! 19
20. O casamento na era patriarcal N a linguagem religiosa e em
sentido restrito, o nome patriarca dado aos trs primeiros pais da
nao de Israel: Abrao, Isaque e Jac. Chama-se de era patriarcal o
perodo de tempo que comea com o nascimento de Abrao na Mesopotmia e
termina com a morte de Jac no Egito. A histria toda enche uns 300
anos e ocupa mais de trs quartos do primeiro livro da Bblia (Gnesis
12 a 50). A data precisa difcil de estabelecer, mas alguns
estudiosos colocam-na na metade da Idade do Bronze, entre os anos
1.900 a 1.600 a.C. Em nenhum outro lugar da Bblia h tantas
informaes sobre problemas conjugais como na histria familiar de
Abrao e Sara, Isaque e Rebeca, e Jac e Raquel. Os detalhes so
numerosos e muito esclarecedores. Nada escondido. Os atritos entre
marido e mulher, entre esposa e concubina, entre sogro e nora,
entre genro e sogro, entre pais e filhos, entre irmos e irms so
narrados exaustivamente.
21. O casamento na era patriarcal Problemas provocados pela
esterilidade feminina, pela poligamia, pela inveja, pela vingana,
pelas decises precipitadas, pelo favoritismo, pelas trapaas mtuas,
por escndalos sexuais graves, pelo estupro, pelo risco de perder a
esposa em favor de outro homem, pelo controle da natalidade, pela
viuvez e pelo novo casamento vm tona com a maior clareza possvel.
No bojo de toda misria humana h tambm lances admirveis, como o amor
sincero e sacrificial, a prtica do perdo, a firmeza de carter, a
solicitude, o aprendizado e o crescimento na f em Deus e na comunho
com Ele. Na verdade, os casamentos da era patriarcal so um precioso
laboratrio de pesquisa para quem quer melhorar o seu matrimnio.
Basta tomar conhecimento dos erros cometidos por seus personagens e
fechar corajosamente as portas para eles. Verifique a exatido
destas palavras nos artigos a seguir. 21
22. Abrao e Sara Problemas conjugais provocados pela beleza,
pela esterilidade e pela precipitao O mais famoso ancestral dos
judeus, dos cristos e dos muulmanos, o pai na f das trs religies
monotestas do planeta, era um homem bem casado, mas no sem srios
problemas conjugais. As esposas gostam de ouvir de seus maridos que
elas so bonitas. Foi isso que o noivo disse noiva no poema atribudo
a Salomo: Como voc linda, minha querida! (Ct 4.1). Abrao fez a
mesma declarao a Sara: Bem sei que voc bonita (Gn 12.11). Em dois
momentos e lugares diferentes, o casal passou por uma situao muito
constrangedora. Exatamente porque a beleza de Sara chamava a ateno
de todo mundo, ela foi como que seqestrada tanto por Fara, no
Egito, como por Abimeleque, em Gerar. A mulher de Abrao s no foi
molestada sexualmente por esses dois reis porque Deus protegeu o
casal (Gn 12.10-20; 20.1-18).
23. Abrao e Sara O problema mais complexo, mais desgastante e
mais prolongado, porm, foi provocado por uma precipitao da esposa,
dez anos depois de terem abandonado para sempre os parentes e a
terra natal, em obedincia ao chamado de Deus. Porque nunca
engravidava, apesar das promessas de Deus de que teriam uma
descendncia to numerosa como o p da terra (Gn 13.16) ou como as
estrelas do cu (Gn 15.5), Sara, num repente de entusiasmo e de
abnegao, ofereceu ao marido a sua criada pessoal para que ela desse
a ele um filho. Ento, Abrao foi para o quarto de Hagar, para a cama
de Hagar e se deitou com ela, provavelmente mais de uma vez, porque
no todo dia que uma mulher tem condies de engravidar (Gn 16.1-4).
Uma vez grvida do marido da patroa, Hagar comeou a se sentir
importante e a desprezar Sara. A a coisa complicou e muito. Sara
brigou com Abrao: Por sua culpa Hagar est me desprezando (Gn 16.5,
NTLH). No era bem assim. Todavia Abrao deu total liberdade mulher e
ela passou a maltratar de tal modo a criada grvida, que Hagar achou
por bem fugir para o deserto em direo ao Egito, de onde era. Ali,
junto a um poo, o anjo do Senhor (esta a primeira referncia a anjo
em toda a Bblia), apareceu a Hagar e dispensou todo cuidado
fugitiva. Aconselhou-a a voltar para casa e submeter-se patroa.
Disse que ela estava grvida de um menino, a quem ela deveria dar o
nome de Ismael, e ainda acrescentou que a criana seria como um
jumento selvagem e teria uma enorme descendncia. Emocionada, Hagar
disse ao anjo: Tu s o Deus-que-me-v, pois eu vi Aquele-que-me-v. O
poo passou a se chamar Poo daquele que vive e me v (Gn 16.13,14,
EP). Sara foi obrigada a conviver com Hagar at o nascimento da
criana, quando o marido estava com 86 anos (Gn 16.16). Depois foi
obrigada a conviver no s com Hagar, mas tambm com o menino dela,
que era filho de seu marido, por um longo perodo de tempo (14
anos), at o nascimento de Isaque, o filho da promessa, quando Abrao
estava com 100 anos (Gn 21.5). Por ltimo, foi obrigada a conviver
com a ex-criada e com o meio-irmo do seu prprio filho at a grande
festa do desmame de Isaque, provavelmente trs anos depois do
nascimento dele, 23
24. 24 Casamento e Famlia Encantamento e Obrigaes conforme o
costume da poca. Foram mais de 17 anos de convivncia incmoda para
ambas as mulheres e de circunstncias difceis para o relacionamento
conjugal de Abrao e Sara. A convivncia entre as duas mulheres no
acabou em beijos e abraos. Hagar e Ismael foram expulsos da fazenda
por Abrao a pedido da esposa, s porque na festa do desmame Sara viu
Ismael, de 17 anos, rindo de Isaque, de 3 anos. No foi fcil para
Abrao satisfazer o desejo de Sara, que j no se referia a Hagar como
serva (Gn 16.2), mas como escrava (Gn 21.10). Isso perturbou demais
Abrao, registra o texto sagrado, pois envolvia um filho seu (Gn
21.11). No dia seguinte exigncia de Sara, Abrao colocou uma mochila
de couro com gua e alguns pes sobre os ombros daquela que lhe dera
o primeiro de todos os filhos e a despediu. A me e o filho foram se
afastando cada vez mais da porteira sob o olhar de Abrao at
desaparecerem por completo, cena exatamente oposta da parbola do
Filho Perdido, em que o pai se pe junto porteira para ver o filho
se aproximando cada vez mais at poder abra-lo e beij-lo (Lc 15.20).
Abrao e Sara comemoraram bodas de madeira (cinco anos de
casamento), estanho (10), cristal (15), porcelana (20), prata (25),
prola (30), coral (35), rubi (40), safira (45), ouro (50),
esmeralda (55) e diamante (60). Quase certamente comemoraram tambm
bodas de platina (65), vinho (70), brilhante (75) e outras sem
nome. Quando saram de Ur dos Caldeus (ao norte do Iraque), os dois
j estavam casados no se sabe por quanto tempo. Na ocasio, Abrao
tinha 75 anos (Gn 12.2) e Sara, dez anos mais nova que ele, 65 (Gn
17.17). O casamento s acabou com a morte de Sara, aos 127 anos (Gn
23.1) 62 anos depois da sada de Ur, 51 anos depois do nascimento de
Ismael e 37 anos depois do nascimento de Isaque. Abrao, o vivo da
mulher bonita, fez questo de sepultar a esposa na terra prometida,
mas ainda no recebida, no em tmulos alheios, porm numa propriedade
funerria prpria. Ele comprou uma rea onde havia uma caverna e um
bonito arvoredo, por um preo muito alto (400 moedas de prata, o
equivalente a 4,5 quilos do precioso metal), 23 vezes mais cara que
a propriedade comprada
25. Abrao e Sara por Jeremias em Anatote por 17 moedas de prata
(Jr 32.9), muitos anos depois. Conhecida como a Caverna de Macpela,
esse lugar tornou-se o cemitrio de toda a famlia. L foram
sepultados o prprio Abrao (38 anos mais tarde), Isaque e Rebeca,
Jac e Lia (Gn 25.9; 49.29-32; 50.13). 25
26. Isaque e Rebeca Problemas conjugais provocados pelas noras
e pelo favoritismo I saque, o filho da promessa, era um quarento
quando se casou com Rebeca, neta do irmo de Abrao, residente na
Mesopotmia (atual Iraque). A essa altura, Sara havia morrido trs
anos antes e Abrao j no era vivo. O casamento de Isaque foi
precedido de muitos cuidados e muita orao. Os noivos se juntaram
certos da inequvoca direo de Deus. Mas Isaque no se ligou a Rebeca
apenas porque era a mulher indicada: ele tambm a amou (Gn 24.67).
semelhana de Sara, Rebeca era muito bonita (Gn 24.16) e solcita. O
primeiro problema do casal foi a esterilidade de Rebeca durante os
primeiros 20 anos de casamento. Todavia Rebeca no arranjou nenhuma
Hagar para o marido. Isaque fez questo de
27. Isaque e Rebeca enfrentar a situao adversa por meio da
orao. O Senhor ouviu o perseverante clamor de Isaque, e Rebeca
engravidou. Quando nasceram os gmeos Esa e Jac, o casal comemorava
suas bodas de porcelana (20 anos) e Isaque estava com 60 anos (Gn
25.26). Houve um episdio desagradvel que poderia ter sido evitado
se Isaque tivesse aprendido com o erro do pai. Estando muito tempo
em Gerar, Isaque espalhou a notcia de que Rebeca era sua irm. Mas
ele se traiu, ao ser flagrado em carcias ntimas com sua esposa pelo
olhar indiscreto do rei de Gerar do alto de uma janela (Gn 26.8).
Abimeleque estava de olho em Rebeca e queria lev-la para o palcio
certo de que ela era irm, e no esposa, de Isaque. Porque Rebeca
amava mais a Jac do que a Esa e porque Isaque amava mais a Esa do
que a Jac (Gn 25.28), a harmonia conjugal e familiar tornou-se cada
vez mais difcil. O casamento de Esa com duas mulheres hititas no
ano em que os pais comemoravam bodas de diamante (60 anos)
complicou ainda mais a vida do casal, pois as duas noras
amarguravam a vida de Isaque e de Rebeca (Gn 26.25). O caldo
entornou quando Isaque resolveu abenoar Esa e no Jac, e quando
Rebeca resolveu enganar o marido em favor de Jac e em detrimento de
Esa. A famlia estava dolorosamente partida: de um lado Isaque e
Esa; do outro, Rebeca e Jac. Os esforos em contrrio de um e de
outro produziram muita sujeira tica: engano, mentira, trapaa,
desrespeito pelas cs e pela cegueira de uma pessoa idosa, ira,
desejo de vingana etc. Para evitar o pior a repetio do que
acontecera com Caim e Abel , Jac fugiu para a casa dos avs
maternos, na Mesopotmia, onde viveu muitos anos. Esa, por sua vez,
para agradar o pai, foi casa de Ismael, seu tio paterno, e tomou
para si mais uma mulher. Chamava-se Maalate e era, como ele, neta
de Abrao (Gn 28.1-9). A essa altura, Isaque, que era meio-irmo de
Ismael, tinha mais seis meios-irmos, pequenos, filhos de Quetura,
segunda esposa de Abrao (Gn 25.1-4). 27
28. Jac e Raquel Problemas conjugais provocados pelas trapaas
do sogro, do marido, da mulher e dos filhos P arece que a
Mesopotmia nunca saiu por completo da cabea de Abrao e sua famlia.
Afinal ali haviam ficado os parentes comuns do patriarca e de sua
mulher. No havia melhor lugar para arranjar esposa para Isaque e
esposa para Jac. Alm de bonitas, as mulheres do cl de Ter, pai de
Abrao e descendente distante de No, provavelmente conheciam o
projeto de Deus para aquele ramo da famlia que abandonara a regio
em busca de outras paragens. No caso de Isaque, foi o servo mais
velho da casa que viajou at a Mesopotmia em busca de uma esposa
para o filho de seu patro. No caso de Jac, ele mesmo foi para a
terra de seus avs maternos e de seus bisavs paternos. Rumo
Mesopotmia Porque saiu de casa fugido de seu irmo, depois de ter
enganado vergonhosamente o pai e Esa, e porque ia para uma terra
dis-
29. Jac e Raquel tante sem ter a menor previso de quando
voltaria, Jac estava muito emotivo. Ainda bem que recebeu uma injeo
da graa de Deus no primeiro pernoite, quando o Senhor lhe prometeu
uma grande descendncia e a sua companhia. Ao chegar Mesopotmia, viu
pela primeira vez sua prima Raquel, que era pastora de ovelhas. Ele
mesmo removeu a pedra da boca do poo e deu de beber s ovelhas do
tio Labo, num gesto de gentileza com a jovem. Depois beijou Raquel,
comeou a chorar alto e contou-lhe que ele era filho de Rebeca, a
irm do pai dela. Pouco depois, Jac j tinha onde morar e emprego
certo, graas a Labo, que o abraou e beijou. Em menos de um ms, Jac
j havia se apaixonado por Raquel, que era bonita de rosto e de
porte. O dote seria pago com servio. Depois de 7 anos de trabalho,
Jac sentiu-se no direito de receber a mo de Raquel e deitar-se com
ela. Mas o sogro o enganou, dando-lhe a filha mais velha, Lia, que
tinha olhos meigos. Porque a noiva era guardada velada at a noite
de npcias, Jac teve relaes com Lia na certeza de que estava na cama
com Raquel. S pela manh, descobriu a astcia do sogro e foi tomar
satisfaes com ele. Passada a semana de festas nupciais, Labo
deu-lhe tambm Raquel, sob a condio de trabalhar mais 7 anos em sua
fazenda (Gn 29 1-30). Uma vida infeliz Poucos casamentos comeam to
mal quanto o de Jac. Deve ser o cumprimento da lei da semeadora e
ceifa: O que o homem semear, isso tambm colher (Gl 6.7). Pouco
antes de ser duramente enganado pelo sogro e por aquela que deveria
ser apenas sua prima e cunhada, mas agora era tambm sua esposa, Jac
enganara vergonhosamente o pai e o irmo. Essa forte propenso para a
mentira e o embuste estava no sangue da famlia de Jac, pelo lado da
me, e no poupou nem Rebeca nem Labo nem Jac nem Lia nem os filhos
de Jac. Ao que tudo indica, o casamento comeou, continuou e
terminou mal. Talvez tenha sido esta uma das razes pelas quais
29
30. 30 Casamento e Famlia Encantamento e Obrigaes Jac foi
obrigado a confessar ao fara: Os anos de minha vida foram poucos e
infelizes (Gn 47.9, EP). Amando uma mas vivendo a contragosto com
duas irms com problemas de relacionamento entre elas nunca
resolvidos (como os que haviam entre ele e seu irmo gmeo Esa), Jac
se viu em papos-de-aranha a vida inteira. Por no ser estril como a
irm, Lia engravidou quatro vezes seguidas, sempre com a esperana de
conquistar o amor do marido, o que se pode ver pelo nome que ela
dava aos meninos (Gn 29.31-35). Por exemplo, quando nasceu Rben,
ela disse: Agora, certamente, meu marido me amar. Ao nascer o
quarto filho, Lia ainda insistiu: Agora, finalmente, meu marido se
apegar a mim, porque j lhe dei trs filhos. Raquel passou a ter
inveja da irm, entrou em desespero e desafiou o marido: D-me filhos
ou morrerei! Irritado, Jac devolveu: Por acaso estou no lugar de
Deus, que a impediu de ter filhos? A, Raquel deve ter se lembrado
da feliz idia de sua tia-av e generosamente ofereceu sua criada
particular para ser a terceira esposa do marido. Bila logo
engravidou e deu um filho a Jac. Raquel assumiu a maternidade do
recm-nascido e tomou o nome de Deus em vo (tal qual o marido,
quando este disse ao pai que o cabrito era a caa que Deus havia
colocado no seu caminho), ao exclamar: Deus me fez justia, ouviu o
meu clamor e deu-me um filho (Gn 30.6). Lia e Zilpa versus Raquel e
Bila A essa altura, Lia no conseguia engravidar e, porque no queria
perder a guerra, fez o mesmo que a irm e a tia-av: deu a Jac a sua
criada particular para ser a quarta esposa dele. Zilpa gerou dois
filhos seguidos para Jac, que foram assumidos por Lia. A guerra
familiar no acabou a; ficou ainda mais suja quando Raquel desejou
as mandrgoras (plantas tidas como capazes de favorecer a
fertilidade feminina) que eram da irm e lhe props: Vamos fazer uma
troca: voc me d as mandrgoras, e eu deixo que voc durma com Jac
esta noite (Gn 30.15, NTLH). Ao chegar do campo, Lia explicou ao
marido que a vez era dela vista do negcio feito com a irm. Nessa
noite, a filha mais velha de
31. Jac e Raquel Labo engravidou pela quinta vez. Pouco tempo
depois teve mais uma criana, cujo nome revela seu desejo incontido
e intil de ser amada por Jac: Agora dominarei meu marido, pois lhe
dei seis filhos (Gn 30.20, EP). S depois do nascimento de dez
meninos (seis de Lia, dois de Bila e dois de Zilpa) e de pelo menos
uma menina que Raquel, por obra e graa de Deus, engravidou e deu
luz a Jos, que seria o mais virtuoso e o mais bem-sucedido dos
filhos de Jac. Alguns anos mais tarde, Raquel deu mais um filho ao
marido, cuja alegria foi misturada com uma tristeza muito grande,
pois a querida ex-pastora de ovelhas morreu do parto a caminho de
Belm, onde Jesus nasceria quase dois milnios depois (Gn 35.16-19).
Filhos sem o temor do Senhor Os filhos, nascidos e criados com
muita fartura mas com o mnimo de exemplo da parte do pai e das
quatro mes, deram muito trabalho e tristeza a Jac. Um deles, Rben,
o primognito, teve a ousadia de deitar-se com Bila, a terceira
esposa do pai e me de dois de seus irmos (D e Naftali), uma mulher
muito mais velha que ele (Gn 35.22). Din, filha de Lia, foi
agarrada e violentada por um homem chamado Siqum, filho do chefe de
uma das terras de Cana. Esse crime provocou outro crime: dois irmos
de Din, por parte de me, Simeo e Levi, mataram traio Siqum, o pai
dele e todos os homens daquela regio. Alm do aspecto moral, essa
matana criou uma situao muito perigosa para Jac, pois atraiu contra
ele o dio dos cananeus (Gn 34.1-21). Jud, o quarto filho, era um
sem-carter. Depois de vivo, deitou-se, como o pai, com uma mulher
que tinha o rosto encoberto, na certeza de que era uma prostituta
cultual e a engravidou. Trs meses depois, soube que a nora Tamar,
tambm viva, estava grvida. Sem ainda saber que Tamar era a tal
mulher que se fez de prostituta para se engravidar dele, Jud mandou
queimar a nora e os gmeos que estavam no ventre dela. Uma vez
exposto ao escndalo, Jud voltou atrs e a mulher foi poupada (Gn
38.1-30). 31
32. 32 Casamento e Famlia Encantamento e Obrigaes Uma das
maiores tristezas de Jac foi o desaparecimento de Jos, o primeiro
dos dois nicos filhos da nica esposa que ele amou. Era seu filho
predileto, o filho de sua velhice (Gn 37.3). O rapaz tinha 17 anos
quando foi vendido por seus prprios irmos para uma caravana de
ismaelitas (descendentes de Ismael, filho do bisav deles por parte
de Agar). Seguindo a tradio da famlia, os autores desse crime
mataram um bode, mergulharam no sangue a tnica de Jos e a mandaram
para o pai para que ele mesmo conclusse que o filho fora devorado
por um animal selvagem (Gn 37.12-36). Naturalmente h uma explicao
para o fato de que os piores filhos de Jac foram todos os quatro
primeiros filhos de Lia (Rben, Simeo, Levi e Jud). Eles nasceram de
um casamento provocado por uma emboscada, sem amor e carregado de
ressentimento. Cresceram em um ambiente de competio, de guerra, sem
aproveitar as lies do passado, as experincias dolorosas de seus
pais, avs (Isaque e Rebeca) e bisavs (Abrao e Sara). Da Mesopotmia
ao Egito via Cana Os 20 anos passados na Mesopotmia foram muito
sofridos para Jac ( ele quem o diz). Solteiro, nos 7 primeiros
anos, e casado, nos ltimos 13. Trabalhando para o sogro mais de
dois teros do tempo (14 anos) e para ele mesmo apenas 6 anos. A
metade do tempo a servio do sogro foi para pagar o dote de um
casamento que ele no pediu nem desejou. A cada 17 meses, o sogro
mudava a bel prazer o seu salrio. No campo, muito calor de dia e
muito frio noite; em casa, insnia e atrito com as mulheres (Gn
31.28-42). Economicamente valeu a pena, pois Jac ajuntou um rebanho
de bois e jumentos, de ovelhas e cabras to grande que poderia
aplacar a ira de seu irmo gmeo, oferecendo-lhe 550 cabeas de gado e
mais algumas crias de camelas de leite (Gn 32.13-15). Provavelmente
o melhor perodo da vida de Jac foram os 17 anos de velhice que ele
passou no Egito sob a proteo de Jos e do fara. Apesar de todos os
problemas, a famlia do patriarca
33. Jac e Raquel permaneceu unida. O farrancho todo Jac, suas
mulheres secundrias (Raquel e Lia j haviam morrido), seus filhos e
noras e seus netos (33 de Lia, 16 de Zilpa, 14 de Raquel e 7 de
Bila) foram residir na regio de Ramasss, a melhor do Egito. Ali,
ele se reencontrou com Jos, o filho de seu grande amor, aquele que
estava desaparecido havia 13 anos, do qual se dizia que fora morto
por um animal selvagem. Aquele que nunca lhe deu trabalho nem
dores. Aquele que nunca matou ningum (ao contrrio de Simeo e Levi),
aquele que nunca se deitou com Bila nem com Zilpa (ao contrrio de
Rben) nem com a nora (ao contrrio de Jud), nem sequer com a mulher
de Potifar, que se entregou vrias vezes a ele (Gn 39.7-15). Aquele
que suportou a injustia alheia (dos irmos, de Potifar e do chefe
dos copeiros do fara), dos 17 aos 30 anos de idade. Uma famlia
unida, apesar dos pesares Na velhice, Jac no perdeu por completo a
memria. Mesmo doente e no leito de morte, ele reuniu todos os
filhos, do mais velho (de uns 60 anos) ao mais novo (de uns 50
anos), e os abenoou um por um, misturando histria com profecia.
Lembrou-se dos predicados, dos defeitos, dos escndalos de cada um
deles e fez um resumo maravilhoso da vida de Jos, a rvore frutfera
beira de uma fonte, cujos galhos passam por cima do muro (Gn
49.1-33). E ento morreu e foi reunido aos seus antepassados. Teve o
enterro mais longo, mais concorrido e mais sofisticado da histria
do povo de Deus. Alm de todos os familiares (exceto as crianas
menores), todos os conselheiros do fara, as autoridades da sua
corte e todas as autoridades do Egito, em carruagens e a cavalo,
foram ao sepultamento de Jac em Cana (o mesmo trajeto que seria
feito muitos anos depois por todos os descendentes de Jac, por
ocasio do xodo). O corpo embalsamado de Jac, de 147 anos, foi
colocado na caverna de Macpela, no cemitrio arborizado comprado por
Abrao, onde j estavam seus avs (Abrao e Sara), seus pais (Isaque e
Rebeca) e sua segunda esposa (Raquel). (Gn 50 7-14.) 33
34. 34 Casamento e Famlia Encantamento e Obrigaes Apesar da
guerra familiar, da diversidade das mulheres (esposas e concubinas,
mulheres de primeira classe e mulheres secundrias), da diversidade
dos rebentos (filhos legtimos e filhos ilegtimos) e dos dois crimes
sexuais cometidos em famlia a famlia de Jac foi impressionantemente
unida, o que no aconteceu com a famlia de Isaque e de Abrao!
35. Parte 3
36. Casamento: encantamento com obrigaes e obrigaes com
encantamento P odemos ter trs vises a respeito do casamento: a viso
demasiadamente otimista, a viso demasiadamente pessimista e a viso
prudentemente realista. A viso demasiadamente otimista a viso
romntica demais, de alguns anos atrs, presente nos enredos de
certos romances de amor e de certas novelas. As mulheres falam em
prncipe encantado e os homens, em a mulher de meus sonhos ou a
mulher de minha vida. As histrias de amor dessa linha focalizam
quase sempre apenas a fase de conquista e terminam com a duvidosa e
eufrica declarao: E foram felizes
37. Casamento: encantamento com obrigaes e obrigaes com
encantamento para sempre. A esse respeito oportuno transcrever um
pargrafo do artigo Os casamentos de Charles e jogos subterrneos, do
conhecido psicanalista Contardo Calligaris, publicado na Folha de
So Paulo: Romances e filmes de amor, em sua esmagadora maioria,
narram as peripcias dos amantes at que consigam se juntar. Depois
disso, parece bvio que eles vivam felizes para sempre. Infeliz e
freqentemente, nos consultrios de psicoterapeutas e psicanalistas,
a histria dos casais depois do carto-postal inicial contada em
verses bem menos sorridentes. Est dentro desse contexto a histria
do ndio Peri e da no-ndia Ceci, no romance O Guarani, de Jos de
Alencar, escrito em 1857. E tambm a histria dos adolescentes Romeu
e Julieta, que se apaixonaram num baile de mscaras em Verona e no
dia seguinte se casaram em segredo, j que suas famlias eram
inimigas entre si. A pea de William Shakespeare escrita em 1595
termina em tragdia: primeiro Romeu comete suicdio na suposio de que
a amada esteja morta; depois Julieta, em face da morte do amado,
tambm se mata. A desvantagem da viso exageradamente otimista que os
nubentes so muito ingnuos e se casam despreparados. No admitem
dificuldade posterior alguma e no tomam medidas preventivas. O
abandono do romantismo ou do otimismo exagerado talvez tenha ido
longe demais. Colocamos na mesma bacia as vantagens e as
desvantagens e jogamos tudo fora. A viso demasiadamente pessimista
Hoje prevalece a viso demasiadamente pessimista do casamento. Em
vez de frases romnticas, colecionamos ditados e conceitos
chocantes: O amor eterno enquanto dura; Quando a pobreza bate
porta, o amor voa pela janela; O amor faz passar o tempo e o tempo
faz passar o amor. E ouvimos conselhos absurdos: Se no fosse
bobamente moralista, teria tido mais amantes e menos maridos
(Elizabeth 37
38. 38 Casamento e Famlia Encantamento e Obrigaes Taylor,
atriz); Hoje o que eu consideraria ideal seria poder ter duas, trs,
quatro mulheres, amigas, namoradas eventuais, e elas terem dois,
trs, quatro homens (Jos Angelo Gaiarsa, psiquiatra); Se a gente
pensar bem, o casamento nunca foi necessrio (Flvio Gikovate,
psicoterapeuta). Por essa razo, casa-se cada vez menos e cada vez
mais tarde. Ao mesmo tempo separa-se cada vez mais (de 81.130
divrcios e 76.200 separaes judiciais em 1991 passamos para 129.520
divrcios e 99.690 separaes em 2002). Metade dos casamentos na
Inglaterra acaba antes de completar 18 meses. Entre os americanos,
o ndice de divrcio de 50%. Pela mesma razo, o nmero de unies
consensuais tem aumentado das unies celebradas no ano 2000 no
Brasil, 70,5% foram oficializadas, enquanto que 29,5% foram
informais. A viso prudentemente realista Do ponto de vista cristo,
o casamento uma instituio natural, inaugurada por Deus logo aps a
criao do homem e da mulher. Une duas pessoas de sexos diferentes
para viverem em companhia agradvel uma da outra, at que a morte ou
a infidelidade contumaz e irreversvel de um ou de ambos os cnjuges
os separe. Mesmo fora do meio cristo, considera-se que o casamento
bom para a sade fsica e mental e para a vida sexual. Pessoas
casadas tm cncer e problemas cardacos mais raramente e vivem mais,
de acordo com a revista alem Neus Leben, que se baseou em dados
cientficos. Entre os casados, o nmero de suicdios menor. Ser
casado, conclui a pesquisa, um dos fatores que mais podem
influenciar a felicidade pessoal. E, ao contrrio do que se afirma
com freqncia que nada mais prejudicial realizao sexual do que ser
fiel a vida inteira, estudos demonstram que pessoas casadas fazem
mais sexo do que os solteiros e que a qualidade de vida sexual dos
casados significativamente melhor. A viso prudentemente realista do
casamento no simplria como a viso demasiadamente otimista e menos
negativa do que
39. Casamento: encantamento com obrigaes e obrigaes com
encantamento a viso demasiadamente pessimista. A Bblia a exalta
sobre estas outras. Primeiro, a Palavra de Deus valoriza tanto o
casamento que em seu cnon h um livro que descreve o amor apaixonado
de um homem e uma donzela, que trocam entre si juras de amor e
elogios de beleza fsica e sensual. Trata-se do Cntico dos Cnticos,
o mais belo dos 1.005 poemas da lavra de Salomo. Segundo, logo no
primeiro livro da Bblia, conta-se a histria das trs famlias da era
patriarcal (1900-1600 a.C.), sem se esconder os problemas domsticos
de Abrao e Sara, Isaque e Rebeca, e Jac e Raquel. O trecho todo
ocupa trs quartos do livro de Gnesis (do captulo 12 ao 50).
Portanto, que haja um equilbrio entre o sonho apaixonado do Cntico
dos Cnticos e a realidade do dia-a-dia do livro de Gnesis, um
balano entre encantamento mtuo e obrigaes mtuas. isso que nos leva
e nos prende viso prudentemente realista do casamento. Tem razo
aquele que acrescentou passagem do Cntico dos Cnticos o amor to
forte como a morte (Ct 8.6) estas palavras: mas tem a fragilidade
do vidro! 39
40. Felicidade e fidelidade no casamento o que mais importante?
A pesar da origem divina, da beleza e da bno do casamento, ele no
um relacionamento fcil. Alis, muito difcil. As muitas separaes e os
muitos divrcios, bem como a tendncia cada vez maior de unies
temporrias e informais, sem compromissos mtuos, o comprovam. O
casamento parece muito simples e muito fcil na fase de descoberta
da pessoa amada. Parece muito fcil nas fases seguintes de aproximao
progressiva (namoro, noivado e casamento), na lua-de-mel e nos
primeiros anos de vida conjugal. O casamento difcil por vrias
razes, especialmente por causa das diferenas entre os cnjuges. So
duas pessoas de sexos diferentes fisiologia diferente, sentimentos
diferentes, momentos crticos diferentes, emoes diferentes. So duas
pessoas de temperamentos
41. Felicidade e fidelidade no casamento o que mais importante?
diferentes no h duas pessoas iguais nem entre aquelas que tm o
mesmo pai e a mesma me, e a mesma educao. So duas pessoas de
histricos diferentes at mesmo quando so da mesma raa, da mesma
religio, da mesma ptria, da mesma cultura e do mesmo nvel
socioeconmico. Um cnjuge no pode submeter o outro. Nem o homem nem
a mulher. Ambos precisam aprender a arte de conviver viver em comum
com outrem em intimidade, em familiaridade (Aurlio), viver com ou
ao lado do cnjuge. Ningum precisa ter medo de ler os deveres
conjugais apontados por Paulo em Efsios 5.22, 33. Nem as mulheres,
nem os homens, nem os pastores, a no ser que a leitura seja
machista (problema antigo) ou feminista (problema moderno). Paulo
muito equilibrado e combina a submisso feminina com o amor
masculino, ou este com aquela. Gasta duas vezes mais palavras com o
marido que com a esposa. E a referncia para ambos o casamento de
Jesus Cristo com a Igreja. Os ministros religiosos que celebram
casamento precisam mudar o discurso de anos a fio. Temos enfatizado
mais a fidelidade do que a realizao pessoal dos cnjuges. nosso
dever dar a mesma importncia fidelidade e felicidade, pois uma leva
outra e vice-versa. A felicidade conjugal torna quase impossvel o
adultrio, e a fidelidade conjugal torna quase impossvel a abertura
de feridas de cura demorada e sofrida. 41
42. A Orao e os problemas conjugais N o s de amor e sexo viver
o casal, mas tambm de orao, de muita e sbia orao. mais necessrio
aprender a orar do que aprender a dormir com o cnjuge. Marido e
mulher precisam aprender a orar juntos e a ss. Algum acrescentou
passagem de Cntico dos Cnticos de Salomo de que o amor forte como a
morte (Ct 8.6) as palavras mas tem a fragilidade do vidro. Isso
nunca esteve no texto bblico, porm, todos devemos confessar que
expressa alguma verdade. O amor est em baixa hoje em dia. No se
acredita muito nele. Dizemos uma poro de provrbios que encostam o
amor na parede, como vimos na viso demasiadamente pessimista. No
entanto, h ditados mais otimistas. Aqui est um exemplo: Onde manda
o amor, no h outro senhor. O mais equilibrado de todos declara que
o amor antigo no enferruja, e, se enferrujar, limpa-se. a que entra
a orao para limpar a ferrugem do amor, para acabar com a ferrugem
do matrimnio.
43. A Orao e os problemas conjugais A licena para termos a
ousadia de nos dirigir a Deus em orao vem do prprio Deus. Ele que
tomou a iniciativa de abrir esse canal de comunicao entre o
totalmente pecador e o totalmente santo, por meio do sacrifcio
expiatrio de Jesus Cristo. Ningum pode se esquecer da promessa de
Deus: Se voc me chamar, eu responderei (Jr 33.3, BLH). Nem da
repetio disso nas palavras de Jesus: Peam e recebero, procurem e
acharo, batam e a porta se abrir (Mt 7.7, BLH). Nem da observao
bvia de Tiago: [Vocs] no conseguem o que querem porque no pedem a
Deus (Tg 4.2, BLH). A orao tem de ser precisa, consciente e
fervorosa. Tiago cita um exemplo: Se algum tem falta de sabedoria,
pea a Deus, e Ele dar porque generoso e d com bondade a todos (Tg
1.5, BLH). No lugar da palavra sabedoria, posso colocar um monte de
outras palavras, como, por exemplo: Se algum, cujo matrimnio se
enferrujou, pea a Deus, e Ele desenferrujar o amor. Somos
acostumados e incentivados a pedir apenas bnos mais simples e com
sabor mais materialista, como sade, melhor condio financeira,
acumulao de bens de consumo etc. Mas no oramos, pelo menos com a
mesma freqncia, para acabar com as mgoas conjugais,com os conflitos
conjugais ou com o desnimo conjugal. No oramos contra a ferrugem e
deixamos que ela destrua o casamento. Seja qual for o problema, em
qualquer rea, em qualquer circunstncia e em qualquer momento,
contra esse problema que precisamos orar, a ss ou juntos.
Precisamos ter coragem de orar sobre situaes tremendamente
complexas, tais como a perda do primeiro amor, fantasias sexuais
fora do casamento, dificuldades no relacionamento sexual, cimes,
monotonia, impacincia, orgulho, mau carter do cnjuge com o qual se
vive, desejos adulterinos e da por diante. Se contamos todas essas
dificuldades a um psicoterapeuta, por que no podemos cont-las ao
prprio inventor do casamento? O servo de Abrao pediu a Deus que o
ajudasse a localizar a esposa de Isaque entre os parentes da
Mesopotmia (Gn 24.12-14). Isaque orou por vinte anos para Deus pr
fim na esterilidade de 43
44. 44 Casamento e Famlia Encantamento e Obrigaes Rebeca (Gn
25.19-21). Ana orou por sua esterilidade e por seus aparentemente
insolveis problemas domsticos(1 Sm 1.9-18). A todos Deus ouviu na
hora certa. assim que precisamos orar para destruir os pontos de
ferrugem que esto aqui e ali, com preciso, com humildade, com
insistncia, com f. A prtica da orao no deixa o vidro quebrar nem a
ferrugem tomar conta daquilo que, um dia, foram os nossos mais
felizes e emocionantes momentos!
45. Sobre o autor ELBEN M. LENZ CSAR diretor-fundador da
Editora Ultimato e redator da revista Ultimato. autor de, entre
outros, Prticas Devocionais, Refeies Dirias com Jesus, Para
(Melhor) Enfrentar o Sofrimento e Por Que (Sempre) Fao o Que No
Quero?. Caixa Postal 43 | 36570-000 | Viosa-MG Tel.: 31 3611-8500 |
Fax: 31 3891-1557 www.ultimato.com.br