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Anais do V encontro do Núcleo Regional Sul da Sociedade de Arqueologia Brasileira – SAB/Sul. De 20 a 23 de novembro de 2006, na cidade de Rio Grande, RS CASAS SUBTERRÂNEAS EM TAIÓ, SC, BRASIL Marcus Vinícius Beber Fúlvio Vinícius Arnt Desde o ano de 2004 o Instituto Anchietano de Pesquisas vem realizando pesquisas arqueológicas no Município de Taió, Estado de Santa Catarina. A área caracteriza-se pela transição ecológica entre o Planalto, onde predomina a Mata com Araucária, e a encosta onde predomina a Mata Atlântica. Neste contexto de transição foram identificados sítios líticos com material típico da Tradição Umbu e sítios com Casas subterrâneas. Neste trabalho apresentamos os dados obtidos na escavação de um dos sítios com casas subterrâneas, bem como elementos que permitem compreender e caracterizar esses assentamentos em um ambiente de transição ecológica e cultural. Introdução O Município de Taió situa-se no Alto Vale do Rio Itajaí, Estado de Santa Catariana, é conhecido mundialmente pelo seu patrimônio Paleontológico, que culminou com a criação criação do Museu Municipal Paleo-Arqueológico e Histórico Prefeito Bertoldo Jacobsen. As pesquisas arqueológicas no Município iniciaram no segundo semestre de 2003 quando o Laboratório de Geologia da UNISINOS, a partir de um projeto de levantamento do patrimônio paleontológico, encontra artefatos líticos, especialmente pontas de projétil, que acabou pelo levaram ao contato com o Instituto Anchietano de Pesquisas – IAP - para que assumisse a pesquisa arqueológica. Desta forma em abril de 2004 realizamos um levantamento preliminar cujo objetivo era avaliar a potencialidade de implantação de um projeto Arqueológico, bem como assessorar na criação do Museu Municipal. Assim, em junho de 2004 iniciou-se formalmente o Projeto Taió. O objetivo geral desse projeto é contribuir para o conhecimento das populações indígenas do Sul do Brasil e o seu desenvolvimento através do tempo. Mais especificamente, buscamos compreender o sistema de assentamento dos sítios encontrados no município alvo da pesquisa. O Município de Taió está situado no Alto Vale do Rio Itajaí, Estado de Santa Catarina (coordenadas: 27°06'59'' de latitude Sul e 49°59'53'' de longitude Oeste). Ocupa uma área de 661,5 km², com uma altitude média de 346 m, entretanto, seus pontos mais altos podem chegar a 800 m sobre o nível do mar. Em termos hidrográficos compõe o Alto Vale do Rio Itajaí do Oeste, afluente do Rio Itajaí que deságua no Oceano Atlântico. No Estado de Santa Catarina a pesquisa arqueológica possui uma tradição de mais de meio século, voltada principalmente para o litoral, onde procurou compreender o fenômeno dos Sambaquis. O volume de pesquisas em outras regiões do Estado foi bem menor e a maioria visava cumprir as exigências de projetos de grande porte, como linhas de transmissão de energia, barragens ou estradas. Nesse contexto, as áreas do planalto foram pouco estudadas e até a década de 1990, sendo possível citar apenas os trabalhos desenvolvidos pelos Professores Walter Piazza, Alroino Eble e pelo Pe. João Alfredo Rohr, S.J. O primeiro desenvolveu pesquisas no âmbito do PRONAPA, quando em 1965 iniciou os trabalhos no Vale do Rio Itajaí, onde encontrou diversos sítios, entre eles: sambaquis de fauna marinha e fluvial, abrigos sob rocha e sítios abertos, sem encontrar cerâmica em nenhum deles. (Piazza, 1969) Em 1974, Piazza apresentou os trabalhos desenvolvidos no litoral norte do Estado e no Planalto de Canoinhas, para o PRONAPA. No litoral norte foram localizados 61 sítios, sendo 3 de fases pré-cerâmicas: Saguaçu, Saí e Acaraí todas associadas a sambaquis; e 3 de fases

CASAS SUBTERRÂNEAS EM TAIÓ, SC, BRASIL - SABSul/simposio/planalto/5.pdf · Rancho Queimado, Atalanta, Imbuia, Ituporanga, Bom Retiro e Alfredo Wagner. Em alguns desses foram encontrados

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Anais do V encontro do Núcleo Regional Sul da Sociedade de Arqueologia Brasileira – SAB/Sul.

De 20 a 23 de novembro de 2006, na cidade de Rio Grande, RS

CASAS SUBTERRÂNEAS EM TAIÓ, SC, BRASIL Marcus Vinícius Beber

Fúlvio Vinícius Arnt

Desde o ano de 2004 o Instituto Anchietano de Pesquisas vem realizando pesquisas arqueológicas no Município de Taió, Estado de Santa Catarina. A área caracteriza-se pela transição ecológica entre o Planalto, onde predomina a Mata com Araucária, e a encosta onde predomina a Mata Atlântica. Neste contexto de transição foram identificados sítios líticos com material típico da Tradição Umbu e sítios com Casas subterrâneas. Neste trabalho apresentamos os dados obtidos na escavação de um dos sítios com casas subterrâneas, bem como elementos que permitem compreender e caracterizar esses assentamentos em um ambiente de transição ecológica e cultural.

Introdução

O Município de Taió situa-se no Alto Vale do Rio Itajaí, Estado de Santa Catariana, é conhecido mundialmente pelo seu patrimônio Paleontológico, que culminou com a criação criação do Museu Municipal Paleo-Arqueológico e Histórico Prefeito Bertoldo Jacobsen.

As pesquisas arqueológicas no Município iniciaram no segundo semestre de 2003 quando o Laboratório de Geologia da UNISINOS, a partir de um projeto de levantamento do patrimônio paleontológico, encontra artefatos líticos, especialmente pontas de projétil, que acabou pelo levaram ao contato com o Instituto Anchietano de Pesquisas – IAP - para que assumisse a pesquisa arqueológica.

Desta forma em abril de 2004 realizamos um levantamento preliminar cujo objetivo era avaliar a potencialidade de implantação de um projeto Arqueológico, bem como assessorar na criação do Museu Municipal.

Assim, em junho de 2004 iniciou-se formalmente o Projeto Taió. O objetivo geral desse projeto é contribuir para o conhecimento das populações indígenas do Sul do Brasil e o seu desenvolvimento através do tempo. Mais especificamente, buscamos compreender o sistema de assentamento dos sítios encontrados no município alvo da pesquisa.

O Município de Taió está situado no Alto Vale do Rio Itajaí, Estado de Santa Catarina (coordenadas: 27°06'59'' de latitude Sul e 49°59'53'' de longitude Oeste). Ocupa uma área de 661,5 km², com uma altitude média de 346 m, entretanto, seus pontos mais altos podem chegar a 800 m sobre o nível do mar. Em termos hidrográficos compõe o Alto Vale do Rio Itajaí do Oeste, afluente do Rio Itajaí que deságua no Oceano Atlântico.

No Estado de Santa Catarina a pesquisa arqueológica possui uma tradição de mais de meio século, voltada principalmente para o litoral, onde procurou compreender o fenômeno dos Sambaquis. O volume de pesquisas em outras regiões do Estado foi bem menor e a maioria visava cumprir as exigências de projetos de grande porte, como linhas de transmissão de energia, barragens ou estradas.

Nesse contexto, as áreas do planalto foram pouco estudadas e até a década de 1990, sendo possível citar apenas os trabalhos desenvolvidos pelos Professores Walter Piazza, Alroino Eble e pelo Pe. João Alfredo Rohr, S.J.

O primeiro desenvolveu pesquisas no âmbito do PRONAPA, quando em 1965 iniciou os trabalhos no Vale do Rio Itajaí, onde encontrou diversos sítios, entre eles: sambaquis de fauna marinha e fluvial, abrigos sob rocha e sítios abertos, sem encontrar cerâmica em nenhum deles. (Piazza, 1969)

Em 1974, Piazza apresentou os trabalhos desenvolvidos no litoral norte do Estado e no Planalto de Canoinhas, para o PRONAPA. No litoral norte foram localizados 61 sítios, sendo 3 de fases pré-cerâmicas: Saguaçu, Saí e Acaraí todas associadas a sambaquis; e 3 de fases

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cerâmicas: Araquari, Piraí – ambas semelhantes à Fase Ibirama, identificada no terceiro ano do PRONAPA pelo mesmo autor –, e Itapocu, da subtradição Corrugada da Tradição Tupiguarani.

No Planalto de Canoinhas foram localizados 6 sítios arqueológicos, às margens de nascentes e cursos de águas, e foram caracterizados como sítios de habitação os que se apresentavam cobertos, e sítios oficina àqueles encontrados em locais abertos. Estes sítios e seus artefatos levaram o pesquisador ao estabelecimento da fase pré-cerâmica Itaió:

A fase Itaió se identifica pela indústria lítica, notadamente pelas pontas-de-flechas de quartzo, de calcedônia ou de arenito endurecido, além de artefatos de lascas, ou ainda, raspadores e batedores de arenito endurecido. Obteve-se 2 datações de C-14; A.D. 1290 e 1660 (SI-537 e 536).” (Piazza, 1974 : 61)

Concomitantemente, Alroino Eble esteve no Vale do Itajaí durante as décadas de 1960 e

1970, levantando mais de 78 sítios arqueológicos. Desses 12 localizavam-se no então município de Taió. Segundo Farias (2005), o material lítico e cerâmico coletados pelo pesquisador (e depositados no acervo do Museu Universitário Oswaldo Rodrigues Cabral – UFSC) apontam para a tecnologia desenvolvida por grupos pré-coloniais vinculados à Tradição Umbu e grupos ceramistas horticultores.

Por sua vez, Pe. João Alfredo Rohr, de 1966 e 1971 localizou ao menos 67 sítios, nos Municípios de Petrolândia, Urubici, Rancho Queimado, Atalanta, Imbuia, Ituporanga, Bom Retiro, Alfredo Wagner, Lages e São Joaquim.

No Município de Bom Retiro, Rohr (1984) levantou 16 sítios, em Alfredo Wagner mais 6, em Urubici 39. Identificou ainda 15 abrigos, distribuídos entre os Municípios de Urubici, Petrolândia, Rancho Queimado, Atalanta, Imbuia, Ituporanga, Bom Retiro e Alfredo Wagner. Em alguns desses foram encontrados contas em osso, trançados, fragmentos de cerâmica, pontas de flecha, adornos em conchas, além de ossos humanos. Nesse tempo também foram identificadas ao menos 19 Galerias Subterrâneas e em algumas delas foram encontrados fragmentos de cerâmica, artefatos líticos e também petroglifos.

Na década de 1980, o trabalho de mestrado de Maria José Reis levanta 104 sítios, nos Municípios de Lages, Bom Retiro, São José do Cerrito, Ponte Alta do Sul, Concórdia, Chapecó, São Carlos, Palmitos, Pinhalzinho, Ipumirim, Joaçaba, Lacerdópolis, Ouro, Capinzal e Água Doce.

Ao observar a distribuição espacial desses sítios, percebe-se que estão localizados nos divisores dos diferentes cursos d’água formadores dos rios principais, especialmente o Rio Canoas, o Rio Caveiras e o Rio dos Índios. O resultado do seu trabalho foi um levantamento sistemático de uma área limitada, uma documentação invejável, entretanto, permanecem questões como: distribuição espacial, a diacronia e/ou sincronia, funcionalidade.

No lado do Rio Grande do Sul, em contexto ecológico semelhante, foram importantes os trabalhos de levantamento por ocasião das obras da represa da hidroelétrica de Barra Grande, realizados no ano de 1984, por Arno Kern, José O. de Souza e Fernando Seffner no Vale do Rio Pelotas, (Município de Vacaria e Bom Jesus); além das pesquisas desenvolvidas por Pedro Augusto Mentz Ribeiro no Município de Esmeralda, e retomadas por Silvia Copé, nos anos de 2001 e 2002. Em Bom Jesus, Mentz Ribeiro e equipe (Mentz Ribeiro et al., 1994) escavaram o sítio RS-AN-03, retomado mais tarde pela equipe da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, coordenada por Silvia Copé (Copé & Saldanha, 2002).

No Município de Vacaria, foram realizados trabalhos no final da década de 1960, no escopo do PRONAPA, por Eurico Miller. Mais tarde, na década de 1980, Arno Kern e equipe, e, finalmente, o IAP desde 1998, retomam e desenvolvem projetos no município.

Além destes trabalhos temos ainda os relativos ao Projeto UHE Barra Grande, (Scientia Ambiental; NUPArq/UFRGS & Itaconsult, 2002), e a UHE Quebra Queixo (Caldarelli & Herberts, 2002).

Atualmente, para o Vale e Alto Vale do Itajaí temos as pesquisas realizadas por Farias (2005) e Beber, Arnt e Rosa (2005). O Projeto Taío

Contando com a colaboração do pesquisador associado Jefferson L. Z. Dias da FACCAT, da Diretoria e Curadoria do Museu Bertoldo Jacobsen, da equipe do Laboratório de

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Geologia/UNISINOS, e informações obtidas com a população local, foi possível identificar até o momento 18 sítios arqueológicos além de muitas outras indicações.

Destes, 17 são sítios líticos superficiais (um deles tem uma casa subterrânea), um com 12 casas subterrâneas e 1 montículo. Dos sítios líticos superficiais 14 possuem pontas-de-projétil, confeccionadas sobre seixos e lascas de matéria-prima variada.

Neste artigo nos concentramos nos sítios em que são encontradas as casas subterrâneas. O Sítio INDUMA

Situa-se a poucos metros da casa de campo do proprietário da Indústria de papel e papelão INDUMA, no alto do vale, na nascente do Ribeirão Palmital que foi represado para formar a lagoa que abastece a fabrica de papelão.

Em termos de paisagem, encontra-se na borda do vale permitindo fácil acesso tanto ao ambiente de planalto como o de encosta. Na vegetação se percebe a transição das formações típicas de planalto como a mata ombrófila mista para a mata ombrófila densa que caracteriza a encosta.

A casa 1 possui 5,15cm no maior diâmetro e 3,5 no menor, sua profundidade é de 85cm. Nela percebe-se um aterro em seu entorno, especialmente no lado inferior, como para elevar a borda da casa. Está a 12,3m da Casa 2.

A casa 2 possui 4,6m do maior diâmetro e 4,5 no menor, o que podemos considerá-la como circular. Sua profundidade é de 1,3m e apresenta um aterro na borda mais baixa. A distância da casa 3 é de 6m.

A casa 3 são duas casas geminadas, sendo uma com 4,9 de diâmetro e 1,37 de profundidade e a outra com 3,7 de diâmetro e 0,7 de profundidade. As paredes que dividem é mais baixa que o entorno formando assim uma depressão total de 7,6m de comprimento com duas partes mais baixas e uma pequena divisão entre elas. A distância da casa 4 é de 6,5m, sendo que esta última possui 4,4 de diâmetro e 1,4 de profundidade.

Da mesma forma que a casa 3 a 5 também é um conjunto de duas casas geminadas. A primeira depressão é de 3 m de diâmetro e 60cm de profundidade e a segunda 4,5m de diâmetro por 95 cm de profundidade. A parede que divide as duas depressões possui 33cm de profundidade. O comprimento total da estrutura é de 8,5m.

Entre as casas 5 e 4 possui um acumulo de terra de cerca de 50cm ao menos, que pode provir tanto de uma como de outra casa.

A casa 6 possui 4,7m de diâmetro e 1,2m de profundidade. Seu formato é circular, e está ao lado da casa 7 que possui um formato oval, mais parecendo duas casas geminadas sem, entretanto, que haja uma divisão nítida entre elas. Suspeitamos que seja uma duas casas geminadas porque percebermos dois pontos mais profundos da casa um com 0,65m e outro com 0,9m. O comprimento é de 6,9 e a largura 5,6.

Circundando as casas 6 e 5 percebe-se um aterro formando como que uma trincheira na parte mais baixa do terreno. Seguramente trata-se do entulho das casas que foi acumulado do lado de fora permitindo nivelar as bordas e acumulando o rejeito. Outro acúmulo percebe-se entre as 5 e 6 também.

A 21,10 m do centro da casa 6 encontramos um montículo, com 4,10m de comprimento por 2,5 de largura e cerca de 50cm de altura. Seu formato é elipsoidal e possui uma valeta em um de seus lados, valeta que deve ter proporcionado o sedimento para sua construção.

A 8 possui 5 m de diâmetro por 1,3 de profundidade, e apresenta uma forma circular. A 9 está situada a 7,6 cm da anterior e possui 3,9 de diâmetro por 90cm de profundidade. A 29,3m da 8 encontramos a casa 10, pouco visível dada sua pequena profundidade de cerca de 20cm, o diâmetro é de 3m. Um pouco mais afastada desta, a 26,4m está a casa 11, com 4,3m de diâmetro e 98cm de profundidade. A casa 12 está a 16,5m da casa 9 e possui 3m de diâmetro e cerca de 50cm de profundidade.

A cobertura vegetal é grama e alguns pinheiros. Segundo o proprietário a área nunca foi arada, de tal forma que a superfície apresenta a sua morfologia original. Quanto a distância da

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água, atualmente está a pouco menos de cinqüenta metros da margem da represa, entretanto, deveria estar mais distante, mas o reservatório não permite dizer a distância original.

Em janeiro de 2006 tivemos oportunidade de escavar 3 destas casas (a saber: 5, 5A e 6), em níveis artificiais de 10 cm distribuídos em quadrantes, dois em cada uma. Além disso, fizemos 9 testes, do tipo “janelas” de 1 x 1 m no entorno das casas, em distâncias regulares de 10 m. O pouco material proveniente destas escavações ainda está em fase de análise. Porém o carvão coletado no fundo da casa n° 5, resultou numa datação por C14 de 650 ± 50 anos A.P. (Beta 214107).

A partir dessa intervenção, podemos afirmar a mesma tendência de formato cônico para o piso das casas, bem como a movimentação de terra proveniente do feitio das casas a fim de conformar um terraço aplanado na parte mais baixa da elevação onde estão implantadas, já confirmada para casas subterrâneas nos projetos Vacaria e São Marcos.

Um fenômeno que se apresenta, e que é relativamente novo, é a questão do pequeno (e único) montículo ao sul da concentração de casas, ser na verdade uma estrutura semi-lunar, defendida por Schmitz (2005) e Schmitz et al. (2005). Porém, para resolvermos essa questão devemos proceder novos testes na área. Além disso, ainda resta esclarecermos se existe alguma relação com os sítios líticos com pontas, que estão muito próximos à aldeia.

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Sítio HCR-HIMASA

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O sítio HCR-HIMASA está na localidade conhecida como Alto Ribeirão da Vargem nas terras da empresa de papel HCR/HIMASA.

A fim de tornarem-se auto-suficientes na produção de energia para a fabricação de papel, na década de 1960, a HCR/HIMASA construiu duas pequenas barragens de contenção, aprofundando as ribeiras mais elevadas do Ribeirão da Vargem com tratores.

O sítio situa-se nas margens desta represa. A combinação da ação antrópica, da água da chuva, e das elevações e vazantes da represa, fizeram com que o solo fosse escavado aos poucos, formando uma “praia” entre a lâmina d’água e a vegetação da margem, deixando a mostra uma grande área com lascas e núcleos depositados no seu local original. Pode se observar, dessa forma, áreas de lascamento bem definidos, além da várias estruturas como fogueiras e manchas de solo queimado (16 áreas, com ou sem material lítico associado).

A casa subterrânea está a cerca de 60 m da margem da represa em área de campo e possui formato oval como 14 m no maior comprimento e 10 no menor. A profundidade atinge 1,9 metros, não se observa marcas de estacas nem de apoio das travessas do telhado.

Na superfície não foi encontrado cerâmica ou qualquer vestígio arqueológico, mas seguramente trata-se de um fenômeno antrópico a julgar pela movimentação de terra que se observa no seu entorno.

Trata-se de uma casa isolada, sem outra nas proximidades. Não foi possível proceder a escavação até o momento. Entretanto, chama atenção pelas dimensões e pela sua proximidade com sítios líticos densos a poucos metros. A relação e a interação entre estes diferentes tipos de assentamentos é questão a ser estudada.

Considerações Finais

O trabalho realizado nos sítios do município de Taió consistiu de registro, coleta sistemática do material em superfície, escavação de estruturas subterrâneas, entrevistas com os proprietários e da documentação com desenho e fotografia das várias coleções de pontas-de-projétil. Algumas dessas coleções já fazem parte do acervo do Museu Municipal, e outras ainda estão sob a guarda dos seus “proprietários”.

A pesquisa com as casas subterrâneas neste contexto especial, onde encontramos muitos outros tipos de assentamentos propõem questões relativas à organização de um sistema de assentamento complexo que os dados disponíveis não nos fornece condições de vislumbrar completamente. Apenas temos hipóteses que a continuidade dos trabalhos permitirá responder.

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Agradecimentos: Sônia Sapelli e Rita de Cássia Chaves, Museu Páleo-Arqueológico e Histórico Prefeito

Bertoldo Jacobsen, Prefeitura Municipal de Taió, Brigada Militar de Santa Catarina, Indústria de Papel e Papelão INDUMA, Indústria de Papelão e Reciclagem HCR/HIMASA, Sr. Irineu e Sra. Maria Stela Piazera.

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