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UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALFENAS - MG Instituto de Ciências da Natureza Curso de Geografia Licenciatura CECÍLIA RICARTE BENTO VALDIRENE DE FREITAS ESTUDOS SOCIAIS URBANOS: UMA ANÁLISE DA DINÂMICA E SEGREGAÇÃO SOCIOESPACIAL DO BAIRRO SANTOS REIS ALFENAS /MG Alfenas - MG 2014

CECÍLIA RICARTE BENTO VALDIRENE DE FREITAS …Val... · a monografia apresentada como parte dos requisitos para aprovação na disciplina de Trabalho de Conclusão de Curso II e

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALFENAS - MG

Instituto de Ciências da Natureza

Curso de Geografia – Licenciatura

CECÍLIA RICARTE BENTO

VALDIRENE DE FREITAS

ESTUDOS SOCIAIS URBANOS: UMA ANÁLISE DA

DINÂMICA E SEGREGAÇÃO SOCIOESPACIAL DO BAIRRO

SANTOS REIS – ALFENAS /MG

Alfenas - MG

2014

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CECÍLIA RICARTE BENTO

VALDIRENE DE FREITAS

ESTUDOS SOCIAIS URBANOS: UMA ANÁLISE DA

DINÂMICA E SEGREGAÇÃO SOCIOESPACIAL DO BAIRRO

SANTOS REIS – ALFENAS /MG

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado

como parte dos requisitos para obtenção do

título de Licenciatura em Geografia pelo

Instituto de Ciências da Natureza da

Universidade Federal de Alfenas - MG.

Orientador: Prof. Dr. Flamarion Dutra

Alves

Alfenas – MG

2014

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CECÍLIA RICARTE BENTO

VALDIRENE DE FREITAS

ESTUDOS SOCIAIS URBANOS: UMA ANÁLISE DA

DINÂMICA E SEGREGAÇÃO SOCIOESPACIAL DO BAIRRO

SANTOS REIS – ALFENAS /MG

A Banca examinadora abaixo-assinada aprova

a monografia apresentada como parte dos

requisitos para aprovação na disciplina de

Trabalho de Conclusão de Curso II e

obtenção do título de Licenciatura em

Geografia pela Universidade Federal de

Alfenas (UNIFAL-MG). Área de

concentração: Geografia Humana.

Aprovada em:

Prof. Dr. Flamarion Dutra Alves

Universidade Federal de Alfenas Assinatura:

Prof.ª Dr. ª Ana Rute do Vale

Universidade Federal de Alfenas Assinatura:

Prof.ª MSC. Marina de Oliveira Penido

Universidade Federal de Alfenas Assinatura:

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Dedicamos este trabalho a nossa família e

a todos que de algum modo nos

incentivaram e nos acompanharam nessa

longa caminhada, em especial aos

moradores do bairro Santos Reis que

foram fundamentais para concretização da

nossa pesquisa.

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AGRADECIMENTOS

Agradecemos primeiramente a Deus por se fazer presente em todos os momentos de

nossa vida.

Aos nossos pais, pelo apoio e incentivo.

Aos nossos professores e amigos que nos ajudaram ao longo da jornada.

E, principalmente, ao orientador Prof. Dr. Flamarion Dutra Alves, por dividir

conosco sua experiência e também aos moradores do bairro Santos Reis pela receptividade e

compartilharem suas histórias.

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RESUMO

O espaço urbano é dinâmico e repleto de interações sociais, onde cada particularidade

representa o modo de vida da população local. As desigualdades sociais e a segregação

socioespacial são temas de discussão de vários geógrafos e estudiosos, mas só se tornou

relevante com a chamada Geografia Crítica e Humanística nos anos 1980. Com a cidade

média isso não se faz diferente, o presente trabalho propõe-se a estudar Alfenas - MG com

enfoque no Bairro Santos Reis, que este foi construído na década de 1950 e se tornou, assim,

um dos bairros mais antigos da cidade. Busca-se através de pesquisa bibliográfica e da linha

fenomenológica, trazer considerações a respeito da segregação socioespacial do lugar, onde

são visivelmente perceptíveis as desigualdades existentes no Bairro Santos Reis em

comparação com os demais bairros vizinhos. Além disso, é plausível de discussão e análise a

percepção da população local a respeito da expansão e valorização urbana que vem ocorrendo

nas proximidades do bairro, juntamente com a construção do Condomínio Residencial

Floresta e o Bairro Jardim Aeroporto.

Palavras chaves: Lugar, Segregação socioespacial, cidade média.

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ABSTRACT

Urban space are dynamic and full of social interactions, where each feature represents the

local population lifestyle. Social inequalities and spatial segregation are topics of discussion

in many geographers and scholars, but it only becames relevant with Critical Geography and

Humanistic in 1980. With the medium population cities so do not do different, this paper

proposes to study Alfenas city - MG focusing on Neighborhood of Santos Reis, where it was

built in the 1950s and became one of the oldest neighborhoods in the city. Its search looks

forthrough bibliographic research and phenomenological line brings considerations about

socio-spatial segregation of the place where it is visibly noticeable inequality in

Neighborhood Santos Reis compared to other neighborhoods. Moreover, it is interesting to

discuss and analyze the perception of the local population about the urban expansion and

urban enhancement that has occurred nearby neighborhood, along with the construction of the

Condomínio Residencial Floresta and the Jardim Aeroporto neighborhood.

Keywords: Location, Social Segregation, middle city.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1- Imagem de satélite do bairro Santos Reis ....................................................... 10

Figura 2 - Mapa da Microrregião de Alfenas no Estado de Minas Gerais ..................... 16

Figura 3 - Evolução urbana do município de Alfenas (MG) entre 1900 a 2000. ........... 19

Figura 4 - Cidade de Alfenas na década de 1950. .......................................................... 20

Figura 5 - Evolução urbana de Alfenas (1900-2000). .................................................... 20

Figura 6 - Terrenos do bairro ano de 2013 ..................................................................... 23

Figura 7 - Igreja Santos Reis. ......................................................................................... 23

Figura 8 - Foto das casas do bairro na década de 1970. ................................................. 38

Figura 9 - Morador do Santos Reis na “Mina” que abastecia o bairro. .......................... 39

Figura 10 - Morador na rua de terra do bairro (1960) .................................................... 41

Figura 11- Rua do bairro (2013). .................................................................................... 41

Figuras 12 e 13 - Terrenos vazios do Jardim Aeroporto em divisa com Santos Reis .... 44

Figura 14 - Santos Reis e Jardim Aeroporto................................................................... 45

Figura 15 - Santos Reis entre Jardim Aeroporto e Residencial Floresta. ....................... 45

Figura 16 – Parte do Santos Reis, Residencial Floresta e Jardim Aeroporto ................. 46

Figuras 17 e 18 - Fim de tarde em uma das ruas no Santos Reis.. ................................. 48

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1- PIB dos municípios da microrregião de Alfenas .......................................... 17

Gráfico 2- Crescimento Populacional de Alfenas entre 1940 - 2010 ............................. 18

Gráfico 3- Escolaridade dos moradores entrevistados ................................................... 31

Gráfico 4- Cor autodeclarada dos moradores ................................................................. 32

Gráfico 5- Quantidade de pessoas por residência ........................................................... 32

Gráfico 6- Renda Familiar aproximada .......................................................................... 33

Gráfico 7- Ocupação funcional dos moradores entrevistados ........................................ 34

Gráfico 8- Tipo de residência dos moradores ................................................................. 34

Gráfico 9- Tempo de residência no bairro ...................................................................... 35

Gráfico 10- Período aproximado das construções das residências ................................. 35

Gráfico 11- Origem das pessoas entrevistadas ............................................................... 36

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SUMÁRIO

1- INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 10

2 - OBJETIVOS ............................................................................................................ 12

2.1 - OBJETIVO GERAL .............................................................................................. 12

2.2 - OBJETIVOS ESPECÍFICOS ................................................................................. 12

3 - JUSTIFICATIVA .................................................................................................... 13

4 - METODOLOGIA ................................................................................................... 14

5 - ÁREA DE ESTUDO ............................................................................................... 16

5.1 - Bairro Santos Reis .................................................................................................. 19

5.1.1 - Pesquisas de demandas realizadas no bairro Santos Reis no ano de 2006 .......... 21

5.1.2 - Contribuições de órgãos públicos para a possível melhoria do bairro

Santos Reis ..................................................................................................................... 23

6 - QUESTÕES TEÓRICAS DA SEGREGAÇÃO SOCIOESPACIAL E

URBANIZAÇÃO .......................................................................................................... 25

7 - APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS ............................................................ 30

7.1 - Características da população entrevistada no bairro Santos Reis .......................... 30

7.2 - Discussões a respeito do espaço vivido pelos moradores ...................................... 36

7.3 - Discussões a respeito de exclusão e mudanças urbanas na percepção

dos moradores ................................................................................................................. 42

8 - CONCLUSÃO ......................................................................................................... 49

REFERÊNCIAS ........................................................................................................... 51

APÊNDICE ................................................................................................................... 52

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1 INTRODUÇÃO

O bairro Santos Reis localiza-se no município de Alfenas no estado de Minas Gerais,

onde ele se tornou interessante como foco de pesquisa, pois apresenta características sociais e

culturais distintas dos demais. Como podemos observar na Figura 1, apesar de sua pequena

extensão ele traz uma rica história desde a sua origem. Na atualidade apresenta visivelmente

características particulares, sendo um dos mais antigos de Alfenas com uma grande

concentração de famílias negras.

Figura 1- Imagem de satélite do bairro Santos Reis

Fonte: Google Earth, 2010.

A cidade de Alfenas, com 77.618 habitantes, segundo estimativa do Instituto

Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2013) é considerada uma cidade média devido a

sua importância para as cidades vizinhas exercendo uma polaridade e centralidade regional. A

cidade média é importante para a região onde se localiza, pois se relaciona com os demais

centros, sendo um polo econômico de relações e funções sociais. Como aponta Corrêa (2007,

p. 30): “Admite-se que a cidade média apresente interações espaciais intensas, complexas,

multidirecionais e marcadas pela multiescalaridade”. Assim o processo econômico é um dos

fatores que contribuem para a sua qualificação de cidade média.

Nesse passo, considerando a importância dos estudos sociais nota-se que o espaço

urbano não é homogêneo e as desigualdades de acesso a bens e serviços tendem a ser

estudados e analisados de maneira crítica em busca de uma contribuição social, levando em

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consideração a opinião da população local. A esse propósito, a área de estudo e análise é o

bairro Santos Reis no município de Alfenas, onde devido a todo seu contexto histórico de

construção, e atual momento de expansão urbana não mostra acompanhar o desenvolvimento

dos bairros vizinhos e da cidade como um todo.

O espaço urbano é dinâmico e atende a várias demandas da sociedade naquele espaço

físico. Assim de acordo com Marques (2005), os capitais podem ser divididos em dois

grandes grupos, sendo primeiro aqueles na qual consideram o espaço urbano sendo não

central em suas atividades e em segundo formado por grupos de pessoas que usam o espaço

urbano como matéria-prima, ou seja, são importantes para a construção do espaço urbano

contribuindo para o processo de valorização. Alguns capitais são os responsáveis pela

produção do ambiente no espaço, assim subdivide-se como podemos analisar em Marques

(2005, p. 28):

[...] esses capitais produtores do ambiente construído podem ser

subdivididos em três grupos que têm características muito diferentes entre si:

os envolvidos com a produção imobiliária (proprietários de terra,

construtores de edificações, financeiras, imobiliárias e incorporadores), os

construtores de infra-estrutura urbana (viária, drenagem e canalização,

grandes estruturas, etc.) e os envolvidos com a promoção de serviços

urbanos (como transportes e limpeza urbana).

Os elementos de separação entre os grupos podem ser observados na obra de

Marques (2005, p. 35):

[...] Ao contrário, partimos da convicção de que separação e desigualdade de

acesso se constroem mutuamente, sendo, portanto, processos indissolúveis,

que precisam ser pensados dinamicamente. Em nossas cidades, os grupos

não apenas se localizam separados entre si em espaços homogêneos

internamente e distantes uns dos outros como, por causa disso, ocorre um

acesso diferenciado desses grupos às oportunidades e aos equipamentos

vigentes na cidade, com muitas consequencias negativas para os grupos

sociais segregados, embora isso também ocorra, os processos parecem ser

mais dinâmicos, e os diferenciais de acesso também são causa da separação

[...].

O tema apresentado é importante para se conhecer a formação do espaço urbano e a

compreensão de que este é constituído de inúmeras desigualdades sociais, analisando se assim

a formação e expansão da cidade de Alfenas, com enfoque no bairro Santos Reis, onde será

possível trabalhar assuntos como a segregação socioespacial, e a influência da construção do

condomínio Residencial Floresta e do bairro Jardim Aeroporto de acordo com a percepção da

população do lugar.

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2 OBJETIVOS

2.1 OBJETIVO GERAL

Analisar a dinâmica urbana do bairro Santos Reis a partir das ideias de percepção do

autor Yi-Fu Tuan (1980, 1983) e a história oral relatada pelos moradores com relação à

segregação socioespacial.

2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

● Levantar aspectos gerais do processo de urbanização do município de Alfenas -

MG e sua importância regional como cidade média.

● Apontar as formas da segregação socioespacial no bairro Santos Reis, tanto pelos

aspetos econômicos, culturais, serviços e lazer.

● Discutir a relação do lugar e do espaço vivido tendo como referência a percepção

da população.

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3 JUSTIFICATIVA

Este estudo visa levar em consideração as opiniões e percepções do lugar vivenciado

pelos moradores, pois eles são os responsáveis pela construção de uma identidade local. O

bairro Santos Reis é um lugar repleto de particularidades, pois sua população possui hábitos

que se diferem do restante da cidade de Alfenas. É o menor bairro da cidade, contendo apenas

6 (seis) ruas e aproximadamente 1100 habitantes, mas isso não faz com que ele passe por

despercebido.

Desde a origem do atual bairro Santos Reis tem-se relatos de que seus moradores são

excluídos, pois são pessoas simples e humildes que habitam aquele lugar. Por isso, juntamente

com as mudanças que vem ocorrendo na atualidade, tornou-se interessante fazer um estudo

sobre o modo de vida daquela população e pesquisar sobre quais os sentimentos que os levam

a permanecer no lugar mesmo com as dificuldades encontradas.

O tema para a Geografia é importante, pois proporciona uma visão holística acerca

do espaço envolvendo aspectos físicos e humanos e não se pode deixar de relacionar esses

conteúdos, buscando relacionar os aspectos sociais com o aumento da urbanização.

O modo de vida da população e a sociedade são plausíveis de discussão e análises de

vários autores, a pesquisa busca contribuir para uma análise crítica do tema, onde as

desigualdades sociais podem passar por despercebidas pelo “olhar normalizador” dos

indivíduos.

Assim sendo, verificou-se a importância desse trabalho no bairro Santos Reis,

município de Alfenas, em busca de analisar e contribuir para os debates em Geografia

Urbana, Cultural e Social.

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4 METODOLOGIA

A pesquisa desenvolveu-se em etapas onde o levantamento e a revisão dos materiais

bibliográficos foram primordiais para o embasamento teórico, propiciando maior

conhecimento a respeito do tema. A realização também abrangeu coletas de dados e pesquisa

de campo.

Na primeira fase da pesquisa, foi realizado um resgate histórico do município de

Alfenas e do bairro Santos Reis, para um melhor entendimento do lugar e dos processos de

ocupação e transformação do espaço urbano.

Na segunda etapa foram levantados temas de grande significância para a pesquisa,

como: cidades médias, urbanização, segregação socioespacial, exclusão e lugar. Assim,

revisões bibliográficas a respeito desses temas foram importantes para auxiliar no

desenvolvimento da pesquisa, buscando trazer para o contexto da cidade de Alfenas os efeitos

que tais conceitos podem trazer para a população do lugar estudado.

Posteriormente, foram coletados dados secundários disponíveis na Prefeitura

Municipal de Alfenas e no IBGE. Os dados primários foram coletados através de entrevistas

feitas com moradores do bairro Santos Reis, totalizando 35 questionários semiestruturados

com os moradores, para se obter dados quantitativos e qualitativos (subjetivo)1.

A pesquisa e análise proposta serão norteadas também com ideias do autor Yi-Fu

Tuan (1980, 1983), que discute em suas obras o ponto de vista da percepção, amor pela

natureza trazendo assim atitudes e valores na vivência do indivíduo. Tuan (1983) salienta

como o homem conhece o espaço e o lugar, onde considera que o lugar é a segurança do

indivíduo e que a experiência humana é fundamental para conhecer um determinado espaço

fazendo com que ele se torne “lugar” para a pessoa que ali vive. Nas palavras de Tuan (1983,

p. 6) expressa que “O que começa como espaço indiferenciado transforma-se em lugar à

medida que o conhecemos melhor e dotamos de valor”.

A experiência da população que vive no bairro Santos Reis deve ser primordial para

a conclusão da pesquisa, uma vez que relatos orais, fotos, memórias, construções, entre outros

objetos ligados a esses moradores são importantes para o resgate histórico da vivência da

população.

1 As questões subjetivas podem se tornar um fator limitante, pois é quanto a real opinião dos entrevistados, estes

podem sentir-se constrangidos em expressar suas reais opiniões.

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Em considerações a respeito do espaço vivido e sua importância para o lugar, Tuan

(1983, p. 10) afirma que:

A experiência é constituída de sentimento e pensamento[...] É uma tendência

comum referir-se ao sentimento e pensamento como opostos, um registrando

estados subjetivos, o outro reportando-se à realidade objetiva. De fato, estão

próximos às duas extremidades de um continuum experiencial, e ambos são

maneiras de conhecer.

A pesquisa no bairro ressalta o cotidiano dos moradores, o modo de vida, as

dificuldades e superações. Um conjunto de sentimentos que tornam o ambiente um lugar com

características próprias. Assim como Tuan (1980, 107) cita“ [...] “topofilia” é um neologismo,

útil quando pode ser definida em sentido amplo, incluindo todos os laços afetivos dos seres

humanos com o meio ambiente material”.

Além do material quantitativo e qualitativo os mapas, imagens e fotografias

utilizadas no trabalho são oriundos de fontes variadas, sendo algumas retiradas de outras

pesquisas e outras de própria autoria, que podem ser verificadas na fonte exposta em cada

imagem.

Portanto, a pesquisa partiu de uma análise sobre a dinâmica urbana da cidade de

Alfenas, com enfoque no bairro Santos Reis, onde uma possível segregação socioespacial

espacial poderia estar acontecendo no lugar. Vários fatores podem ser influenciadores para

que esse fenômeno aconteça, e para isso a pesquisa buscou levar em consideração a opinião

dos moradores, desenvolvendo uma história oral, pois estes são diretamente atingidos,

vivenciando a cada dia as experiências das transformações urbanas.

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5 ÁREA DE ESTUDO

O município de Alfenas está localizado no sul do estado de Minas Gerais (Figura 2),

pode ser considerada uma cidade média devido a sua importância para as cidades vizinhas,

onde funciona como um polo ligando as cidades e fornecendo para elas bens e serviços que

atendam as suas demandas, segundo a Teoria dos Lugares Centrais de Walter Chirstaller

(1933) no domínio das atividades de serviço na região.

Baseados nas informações coletadas na Leitura Técnica e Comunitária do Plano

Diretor da Prefeitura de Alfenas de 2006 serão descritos aspectos gerais do desenvolvimento

histórico e geográfico do município.

Alfenas localiza-se a uma altitude média de 840m acima do nível do mar, ocupando

uma área de 849, 2 km² de extensão, possui uma densidade demográfica de 82, 37 hab./km².

O município é constituído pela sede e pelo distrito Barranco Alto, e os municípios que fazem

parte da microrregião de Alfenas são: Machado, Paraguaçu, Carmo do Rio Claro, Poço

Fundo, Serrania, Areado, Alterosa, Conceição da Aparecida, Divisa Nova, Carvalhópolis e

Fama (figura 2).

Figura 2 - Mapa da Microrregião de Alfenas no Estado de Minas Gerais.

Fonte: DANTAS (2011, p. 10)

Assim, de acordo com o censo do IBGE, foi possível relacionar os PIB (Produto

Interno Bruto) desses municípios, nos setores da agricultura, indústria e serviços, como

podemos observar no Gráfico 1. Alfenas para o contexto das cidades de sua microrregião

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exerce influência de cidade média em vários setores, principalmente saúde e educação,

lembrando que teve maior visibilidade com a instalação das universidades.

Gráfico 1 – PIB dos municípios da microrregião de Alfenas (em mil reais)

Fonte: Censo Demográfico IBGE, 2010.

Alfenas como qualquer outra cidade do mundo contemporâneo está sujeita a

mudanças e transformações atendendo a diferentes valores. A estruturação urbana geralmente

se dá pela modificação do espaço rural para o urbano, porém suas justificativas são complexas

resultando em uma dinâmica própria. Segundo Sposito (2008, p. 13) “para compreender a

cidade é preciso, finalmente, ir além da regressão do tempo, à busca de sua gênese, e proceder

a uma análise das diferentes manifestações urbanas no mundo presente”.

Segundo informações retiradas da Leitura Técnica (PREFEITURA MUNICIPAL DE

ALFENAS, 2006) a cidade de Alfenas teve sua consolidação em meados do século XIX, foi

marcada pela construção da Capela em homenagem a São José e Nossa Senhora das Dores. A

partir da primeira metade do século XX alguns fatores foram favoráveis ao desenvolvimento

do município como a construção do grupo escolar Minas Gerais, atualmente Coronel José

Bento; o serviço telefônico; a construção de um ramal com uma Estação Ferroviária e a

Escola Federal de Odontologia.

De 1950 a 1959, a área de ocupação da sede do município praticamente dobrou

passando de 2,6 km² para 4,8 km². Um dos fatores para tal crescimento foi à implantação do

loteamento Jardim São Carlos. Esse empreendimento circundou pela primeira vez, a nascente

de um córrego, o do Pântano (Leitura Técnica, PREFEITURA MUNICIPAL DE ALFENAS,

2006).

0100,000200,000300,000400,000500,000600,000700,000800,000900,000

INDÚSTRIA

AGROPECUÁRIA

SERVIÇOS

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18

Um fato importante na década de 1960 foi a transformação na região devido à

construção da Usina Hidrelétrica de Furnas. A represa inundou uma área de 1.440 Km no sul

de Minas. Em Alfenas onde a via de transporte era feita pelo sistema ferroviário ficou

comprometida, sendo necessárias construções de rodovias, no entanto, o distrito Barranco

Alto ficou isolado sendo o transporte realizado por balsa em condições precárias. De outro

ponto de vista a represa proporcionou crescimento urbano, devido os emigrantes das áreas

alagadas ou de outras áreas atraída por empregos e investimento na área de turismo (Leitura

Técnica, PREFEITURA MUNICIPAL DE ALFENAS, 2006)

Observando o gráfico 2, percebe-se que Alfenas é uma cidade que está em constante

evolução populacional. Até 1950 a população rural sobressaía em relação à urbana. A partir

da década de 60 ocorre o predomínio da população urbana, tendo seu crescimento

progressivo.

Gráfico 2- Crescimento Populacional de Alfenas entre 1940 - 2010.

Fonte: Leitura Técnica Plano Diretor, Prefeitura Municipal de Alfenas, 2006)

De 1970 a 1979, houve a implantação dos loteamentos de classe média “Vista

Alegre”, “Jardim Aeroporto” e média alta com o condomínio fechado “Jardim da Colina” e

também a implantação do conjunto habitacional do “Pôr do Sol” (PREFETURA

MUNICIPAL DE ALFENAS, 2006). Recentemente, em 2013, a construção do condomínio

fechado “Residencial Floresta”.

O grande número de estudantes inflacionou o mercado imobiliário, valorizando o

aluguel das propriedades e a população de baixa renda não conseguindo pagar os altos valores

sendo forçada a morar nas regiões periféricas à norte e oeste do município. Os estudantes da

Unifenas (Universidade José do Rosário Vellano) ocupam a região do bairro Vila Teixeira,

0

10,000

20,000

30,000

40,000

50,000

60,000

70,000

80,000

1940 1950 1960 1970 1980 1991 1996 2000 2010

URBANO

RURAL

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enquanto os alunos da Unifal (Universidade Federal de Alfenas) se concentram à região

central da cidade, ainda, com a criação da Unidade II da Unifal possivelmente os estudantes

se concentrarão nas proximidades dos bairros Pinheirinho e Santa Clara, ou seja, uma área

periférica da cidade.

Atualmente Alfenas atende aos propósitos da expansão em favor do desenvolvimento

e da modernidade. A cidade é um polo importante que atende a região nos setores

econômicos, de saúde, cultura e educação. As universidades presentes junto dos demais

setores fazem com que cresça o fluxo de pessoas e como consequência o desenvolvimento.

Como podemos observar na figura 3 o crescimento de Alfenas do ano de 1900 aos anos 2000,

e em destaque o bairro Santos Reis constituído na década de 1950.

Figura 3- Evolução urbana do município de Alfenas (MG) entre 1900 a 2000.

Fonte: Leitura Técnica (PREFEITURA M. DE ALFENAS, 2006).

5.1 Bairro Santos Reis

Foi construída a Capela dos Santos Reis, em homenagem aos reis magos na segunda

década do século XX, constituindo, assim, o nome existente no bairro. O local foi pouco a

pouco se expandindo em torno da capela, moldando-o, já incorporado ao perímetro urbano, as

casas eram compostas por moradias rústicas e cobertas de sapé. No período de 1940 a 1949, a

cidade de Alfenas já ocupava a área de quatro micro-bacias, aproximando-se das nascentes

dos córregos da Pedra Branca e do Pântano e transpondo, pela primeira vez, o limite de um

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curso d’água, com a construção do aeroporto segundo Leitura Técnica (PREFEITURA

MUNICIPAL DE ALFENAS, 2006)

A capela dos Santos Reis foi construída em 1917, pelo Sr. Antônio Júlio de Souza

Dias (Tonico Folia) no local que na época era conhecido como região dos Aflitos 2. Foi

celebrada a primeira missa no dia 27 de dezembro do mesmo ano de sua construção pelo

Revmo. Vigário Pe. João Batista Van Roogem. Hoje a capela é considerada patrimônio

cultural da cidade, o bairro é chamado pelo mesmo nome da Igreja e é responsável pelas

festas de Folia de Reis (SECRETARIA DE HABITAÇÃO DA PREFEITURA DE

ALFENAS).

O bairro Santos Reis localiza-se na porção sul do município de Alfenas, este foi

incorporado ao município na década de 1950, sendo assim um dos primeiros bairros da cidade

citada (Figura 4 e 5), lembrando que não foram encontrados registros históricos para

comprovar a data precisa da origem do povoado, mas segundo relatos dos moradores já existia

antes desta data. Assim, de acordo com os moradores até a década 1970 não possuía nenhum

tipo de serviço público como: água encanada, luz, esgoto, asfalto, estas, ocorreram

gradativamente ao bairro em meados da década de 1970.

Figura 4- Cidade de Alfenas na década de 1950. Figura 5- Evolução urbana de Alfenas (1900-2000).

Fonte: Leitura Técnica (PREFEITURA M. DE ALFENAS, 2006).

2 Segundo informações da população, a região do bairro Santos Reis era chamado de Aflitos devido a apelidos

colocados pelos moradores do outros bairros de Alfenas. Eles eram chamados de Aflitos devido as condições de

vida que levavam e durante um período a taxa de mortalidade dos moradores eram grandes devido a muitas

doenças que ainda não tinham como tratá-las.

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21

Ao compararmos as imagens as figuras 4 e 5 junto dos relatos dos moradores

podemos perceber que as infraestruturas citadas pelos moradores só chegaram em meados da

década de 1970, vieram juntamente com a construção do bairro Jardim Aeroporto. Alguns

relatos como o da Senhora M.G. (52 anos): “Então, aqui só passou asfalto depois que

construíram o bairro Jardim Aeroporto né, porque para eles saírem da casa deles não iam

querer passar no barro né!” Se referindo que foi conveniente aos moradores de classe média

alta.

Atualmente com a expansão urbana o bairro Santos Reis faz divisa com o Jardim

Aeroporto, o condomínio Residencial Floresta e o centro, mesmo com a expansão urbana que

se deu no município de Alfenas, o bairro não se desenvolveu como os demais, apresentando

assim construções mais precárias e falta de acesso a alguns bens e serviços, como veremos

mais adiante.

5.1.1 Pesquisas e demandas realizadas no bairro Santos Reis no ano de 2006

Visto a importância de um estudo do bairro Santos Reis na atualidade faz-se

necessário buscar dados a respeito de estudos já realizados no lugar. Para isso, foi feito

levantamento através da Leitura Comunitária do Plano Diretor Participativo elaborado pela

Associação dos Municípios do Lago de Furnas (ALAGO), onde este firmou convênio com

Furnas Centrais Elétricas S.A, tendo como interveniente o Ministério das Cidades, com o

objetivo de viabilizar a elaboração ou a revisão dos planos diretores dos municípios

associados.

Para a elaboração da Leitura Comunitária do Plano Diretor Participativo, foi

proposto o maior número de participação da população possível, onde se subdividiu a cidade

de Alfenas - MG em nove microrregiões denominadas de Grupos, ficando sob

responsabilidade da Fundação de Apoio a Cultura, Ensino, Pesquisa e Extensão de Alfenas

(FACEPE), vinculada á Universidade Federal de Alfenas (UNIFAL), integrar as equipes de

Acompanhamento, Coordenação e Elaboração/ Revisão dos Planos Diretores Participativos

dos municípios da Região do Lago de Furnas.

O bairro Santos Reis compreende a Região Sul, juntamente com o bairro Jardim

Aeroporto, Santa Inês, Formosa, Bosque dos Ipês, entre outros. Assim, de acordo com a

participação da população dos bairros, algumas demandas foram solicitadas, na qual algumas

questões mais relevantes para a pesquisa irão ser colocadas a seguir para posterior análise.

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Os temas em debate para elaboração do Plano Diretor Participativo (2006) foram:

saúde, limpeza e saneamento, educação, segurança, transporte e acessibilidade, regularização

fundiária, lotes vazios, fábricas e indústrias, telefonia, impostos e taxas, áreas verdes,

recreação e lazer, emprego e renda.

A seguir serão expostas algumas questões levantadas pelo Plano Diretor Participativo

(2006), na qual serão colocadas algumas demandas do bairro Santos Reis na referida data.

Assim, pode ser notado que a população alegava dificuldade de acesso a serviços de

ambulância; o bairro não tem bueiros, toda a água da chuva escorre pelas ruas causando

problemas erosivos; lotes vagos viram depósitos de lixo; a creche da localidade precisa de

ampliação; falta transporte escolar para as crianças; a quadra do Santos Reis tem uma

iluminação precária; afirmam que falta compreensão das manifestações culturais no bairro,

pois a igreja considera as manifestações um ato de bagunça; pouca circulação de ônibus

coletivos; poucos telefones públicos no bairro; necessita asfaltar a pista que vai para Fama até

o campinho devido muita poeira; revitalização do córrego; criação de uma horta comunitária,

entre outros assuntos questionamentos levantados pelos moradores do bairro Santos Reis.

(PREFEITURA MUNICIPAL DE ALFENAS, 2006).

É possível observar a percepção da população local a respeito dos temas levantados,

logo, nas falas dos moradores podemos ressaltar os seguintes questionamentos retirados da ata

no Plano Diretor Participativo, realizado no dia 27 de julho 2006, na creche do bairro Santos

Reis:

[...] relataram ainda a existência por parte de alguns moradores do Jardim

Aeroporto preconceito e exclusão, principalmente no Telecentro que foi

criado na região entre o Jd. Aeroporto e Santos Reis. [...] disseram que o bairro é muito bom para morar, mas existe uma rejeição

do bairro Santos Reis pelo resto da cidade. [...] Um problema levantado pelo grupo foi a existência de muitos animais de

rua (cães e gatos), pois as pessoas de outros bairros vêm soltá-los nesta

região quando não os querem mais. [...] A senhora Michele disse que no Telecentro, os professores não querem

dar aula por que as crianças estão descalças. (PREFEITURA MUNICIPAL,

2006).

Nota-se a percepção da população ao se tratar de temas relacionados ao seu cotidiano busca-

se mais adiante através de questionários analisar se realmente houve mudanças a respeito de

melhorias no bairro Santos Reis, e assim consequentemente, analisar se na atualidade ainda

ocorre a segregação sociespacial e quais as possíveis melhorias que o bairro vem recebendo.

Através dos trabalhos de campos foram coletados dados e imagens do bairro Santos Reis na

data atual, na qual estará disposta a seguir. Nas figuras 6 e 7 foram observadas algumas

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características do bairro, onde é perceptível nos dias atuais a falta de cuidados com os terrenos

vazios e a igreja de Santos Reis à qual deu origem ao nome do bairro.

Figura 6:Terrenos do bairro ano de 2013 Figura 7: Igreja Santos Reis.

Foto: Denis Rodrigues (2013) Foto: Denis Rodrigues (2013)

Será trabalhada a partir da percepção dos moradores e pesquisas em órgãos públicos

a relação e vivência da população no bairro Santos Reis e suas demandas para o lugar.

5.1.2 Contribuições de órgãos públicos para a possível melhoria do bairro Santos Reis

O bairro Santos Reis faz parte da ZEIS (Zona Especiais de Interesse Social)

conforme nos termos da Lei Municipal 4.332, de 06 de setembro de 2011, que no art. 1° ficam

instituídas em determinados bairros do Município a ZEIS- 1, pelo objeto de política pública

para população alfenense, em regiões ocupadas desordenadamente, nas quais existe interesse

público em promover programas habitacionais de urbanização e regularização fundiária,

urbanística e jurídica visando uma melhoria de qualidade de vida de seus habitantes e a sua

integração à malha urbana (PREFEITURA MUNICIPAL DE ALFENAS, 2013).

Segundo informações da Secretaria de Habitação e Participação Popular de Alfenas o

PPI (Projeto Prioritário de Investimento) visa à regularização de Assentamentos Precários,

Indenização de lotes e benfeitorias, Regularização Fundiária, Melhoria de Condições de

Habitabilidade, Construção de Equipamentos Comunitários, Pavimentação de Via em Malha

Urbana, Recuperação de Paralelepípedos em Malha Urbana, Drenagem, Construção de

Gabião, e Paisagismo.

O bairro Santos Reis foi beneficiado com alguns itens do programa. Reformou 100

casas, sendo que algumas foram demolidas e reconstruídas devido à precariedade dos

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24

imóveis, algumas casas ainda eram de adobe. Atualmente mais oito famílias serão

beneficiadas com o auxílio para as reconstruções de suas casas. Outra iniciativa do poder

público no bairro foi o URIAP (Programa de Urbanização, Regularização e Integração de

Assentamentos Precários). O programa interveio, em 2007, no Córrego Pedra Branca que

passa pelo referido bairro e as famílias ao entorno foram relocadas devido ocuparem área de

risco (SECRETARIA DE HABITAÇÃO DA PREFEITURA DE ALFENAS, 2013).

A secretária municipal de habitação no momento executa o Programa de

Regularização Fundiária da cidade de Alfenas, instituído pela lei municipal nº 3. 912, de 12

de Julho de 2006, direcionam-se aos bairros urbanos da cidade que possuem lotes aforados3

em seus domínios, pertencentes ao patrimônio público. Tem a finalidade de legalizar a

situação jurídica (direito ao uso e posse do seu imóvel), integração dos mesmos ao sistema

econômico e possibilidade de transferência de posse e propriedade estendida aos seus

descendentes. Como o bairro é um dos mais antigos da cidade, sua origem não foi planejada e

sua expansão foi desordenada. O programa aplica medidas técnicas administrativas e jurídicas

necessárias à efetivação dos assentamentos irregulares. No bairro são 60 lotes aforados, no

momento foram realizadas 05 escrituras, 20 estão em andamento e os restantes estão em

processo jurídico devido serem lotes menores que 125 metros quadrados, segundo

informações do coordenador técnico do Programa de Regularização Fundiária.

3 Lotes aforados: pertencentes à Prefeitura Municipal de Alfenas, concedidos à parte da população, pelos

governos anteriores por meio do instrumento de Concessão de Uso, ou só verbalmente.

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6 QUESTÕES TEÓRICAS DA SEGREGAÇÃO SOCIOESPACIAL E

URBANIZAÇÃO

O processo de urbanização no Brasil é caracterizado pela expansão das

indústrias, na qual trouxe principalmente para a região Sudeste grande quantidade de

pessoas que se deslocavam em busca de oportunidades de trabalho. Segundo Sposito

(2000, p.10) “A cidade é o território-suporte para a atividade industrial, por se constituir

num espaço de concentração e por reunir as condições necessárias a esta forma de

produção”. Trata-se, portanto, de uma urbanização recente, pois a partir de 1970 que

esse processo se deu com maior ênfase no Brasil, a esse propósito, cidades médias

começam a se destacar no âmbito das discussões urbanas, devido a sua importância em

uma escala local e regional.

Para Corrêa (2007) o conceito de cidade média só poderá ser definido com a

relação entre tamanho, funções e espaço intra-urbano. A partir da relação entre o

tamanho demográfico e as funções estabelecidas pela cidade é possível definir a

pequena, média, grande cidade e a metrópole. A dimensão do espaço intra-urbano está

relacionada com o tamanho demográfico, quanto maior o seu tamanho maior será a

distância entre o centro e a periferia da cidade, assim aumentando a densidade

demográfica mais forte será a diferenciação entre as classes sociais no espaço urbano.

Vale ressaltar definições a respeito da cidade média, pois para se compreender

uma realidade local faz-se necessário uma abstração, levando-se em consideração

aspectos levantados na obra de Corrêa (2007) como: Tamanho Absoluto, a Escala

Espacial de Referência e a dimensão temporal.

Assim, buscando exemplificar brevemente cada uma delas segundo Corrêa

(2007), o Tamanho Absoluto é aquele em que a quantidade de habitantes não é o único

fator para se denominar uma cidade média em escala global, pois é relativo e sua função

muda de um determinado país para outro. A Escala Espacial de Referência é aquela em

que uma determinada cidade média em comparação com outros lugares, (mesmo em

escala nacional), não possa ser considerada cidade média com a comparação em outros

lugares. E a última definição apontada é a Dimensão Temporal, ou seja, uma cidade

média com o passar do tempo e com as mudanças ocorridas no espaço poderá mudar-se

de categoria. Assim, Alfenas no atual momento de estudo é considerada uma cidade

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média, onde seu tamanho absoluto e sua função com as demais cidades vizinhas é

importante para a região, tanto no setor econômico quanto nos setores de educação e

saúde.

A definição de periferia é bastante complexa, pois diferentes autores á

conceituam com enfoques diferenciados, levando em consideração a participação do

Estado na construção desse espaço social. Assim, para alguns esse espaço é considerado

homogêneo, mas para outros tem-se a idéia de uma periferia complexa e heterogênea.

(MARQUES, 2005).

Segundo Marques (2005), os primeiros estudos sociais urbanos surgiram nos

anos 1970 e 1980, com um enfoque marxista, ou seja, os temas urbanos levados a

sociologia se originaram com a constituição do mercado de trabalho, onde no contexto

brasileiro era momento de desenvolvimento com a transição de uma sociedade rural

para uma sociedade urbana, surgindo consequentemente a pobreza, e diferenças nas

classes sociais geradas pela intensa industrialização. A literatura com enfoque para os

contextos sociais urbanos eram traduzidos, visando enquadrar o caso brasileiro que

buscava evidenciar que os padrões de acumulação capitalista desenvolvido pelo regime

militar geravam não apenas crescimento econômico, mas também pobreza e

desigualdades sociais. A partir dos anos 1980 se começou estudos com enfoque aos

espaços periféricos. Como podemos analisar nas palavras de Marques (2005, p. 23):

[...] De forma paralela, a antropologia brasileira se debruçou intensamente

sobre o tema, desenvolvendo uma linha de trabalho rica e detalhada a

respeito dos moradores da periferia, seu cotidiano e suas visões sobre a

sociedade, seus espaços e suas vidas[...].

Para Marques (2005) definir o conceito de segregação é uma negação a

homogeneidade da periferia, para isso o autor nos coloca três processos distintos de

segregação, sendo eles em primeiro momento a segregação que implica um total

isolamento e apartação, assim ligados à ideia de gueto ou cidadela, onde existem

barreiras físicas que impedem o acesso de certos grupos sociais a outros

estabelecimentos; em segundo sentido segregação significa desigualdade de acesso, com

enfoque a falta de acesso a políticas públicas ou de condições de vida de uma forma

geral; em terceiro sentido, segregação significa separação, ou homogeneidade interna e

heterogeneidade externa na distribuição dos grupos no espaço, assim trata-se de

investigar os padrões de semelhança e diferença na distribuição dos grupos sociais no

espaço, considerando alguma clivagem (renda, escolaridade, raça, etc).

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A pobreza é outro tema a ser conceitualizado, dependendo da visão de autores,

o bairro Santos Reis pode ou não ser considerado que sua população seja pobre. A

pobreza pode ser considerada tanto econômica quanto de falta de acesso a serviços e

bens da sociedade, as oportunidades dentro do setor urbano é outro fator que gera como

consequência a segregação espacial. As desigualdades sociais são comuns nos espaços

urbanos, em uma cidade média não se faz diferente, visto que fatores como valorização

imobiliária e oportunidades econômicas levam a alguns membros da população urbana a

se aglomerarem em certos espaços dentro da cidade. Com a aglomeração de classes

econômicas semelhantes gera-se consequentemente a periferia, onde sua população

tende a ter um acesso menos favorecidos no mercado social da cidade onde habitam.

Dentre os estudos sobre pobreza e segregação urbana, faz se interessante

ressaltar os seus impactos na sociedade, que passam muitas vezes por despercebido com

um olhar normalizado da população, nas palavras de Marques (2005, p.42):

Na relação entre segregação e pobreza, um tipo específico de desigualdade

espacial ganha relevância especial: as desigualdades de acesso. Os

diferenciais de acesso tendem a crescer á medida que aumenta a

homogeneidade das diversas regiões da cidade, acompanhando as distâncias

entre as oportunidades em geral e os grupos sociais mais pobres e mais mal

posicionados na estrutura social. Dois conjuntos principais de diferenciais de

acesso estão aqui presentes - acesso ao mercado de trabalho (que gera

oportunidades diferenciadas) e acesso às políticas públicas (que geram as

amenidades e os serviços que caracterizam a vida urbana).

As segregações espaciais podem ocorrer por diferentes influências e no caso do

bairro Santos Reis pode ser proporcionado por fatores externos de especulação

imobiliárias. Assim, como o caso do bairro Jardim Aeroporto que é altamente

valorizado e com a construção do condomínio Residencial Floresta poderá contribuir

para que o bairro Santos Reis fique no meio de ambos segregados e sua população

servindo de mão de obra para trabalhos domésticos nas residências ao redor. Como

exposto na obra de Martins (2005, p. 46) um dos fatores de segregação é colocado

como:

O segundo tipo de segregação e da desigualdade no Brasil enfoca o

papel do mercado de terras, da incorporação imobiliária e da indústria

da construção. O conjunto de estudos sob essa rubrica não é tão

homogêneo quanto o primeiro, e poderia ser dividido em pelo menos

dois subgrupos. O primeiro conjunto de trabalhos inclui estudos que

enfatizam os incorporadores e suas lógicas. De acordo com essa linha

de raciocínio, a estrutura urbana seria explicada em grande parte por

tais atores, que controlariam as melhores localizações, especulariam

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com terra urbana e lucrariam (bastante) com as mudanças de uso de

terrenos, glebas e mesmos bairros inteiros.

Fatores como a exclusão, pobreza e classes sociais são plausíveis de discussão,

na obra de Martins (2012) ele traz considerações a respeito desses temas, nota-se que é a

própria sociedade que cria condições de exclusão e inclusão, na medida em que cria

condições que privilegia certos indivíduos na sociedade. No atual momento de

globalização se faz necessário pensar nas diferentes formas de acesso a bens, serviços e

modos de vida da população. A globalização não é igualitária, pois somente as

sociedades com poder econômico mais elevado poderão ter acesso a suas vantagens.

A cidade de Alfenas assim como outras contemporâneas, ao longo dos anos

desde a sua origem até os dias atuais sofre transformações em aspectos econômicos,

sociais e políticos e sua dinâmica urbana continua em mutação. Para Sposito (2008) a

cidade não se resume em aspectos físico ou econômicos, sociais e culturais, embora

para um melhor entendimento seja melhor estudar cada um desses aspectos em

particular, mas para o autor, a cidade vai além da simples combinação e articulação

entre estes aspectos. A Revolução Industrial foi marcante na mudança das formas da

cidade, com a revolução técnico-científica as cidades médias foram redefinidas. Em sua

obra cita os agentes produtores do espaço: os proprietários dos meios de produção,

proprietários fundiários, promotores imobiliários, o Estado e os grupos excluídos, todos

esses agentes são responsáveis pela dinâmica urbana. A cidade é um fenômeno

complexo e em movimento. Para ele a cidade tem a capacidade de articular, não apenas

como território, mas como sujeito ativo. Na atualidade outras temáticas entraram em

cena, como as questões ambientais, violência urbana, aspectos de modernização entre

outros tornando a cidade ainda mais complexa.

As mudanças ocorridas na atualidade fazem com que o pesquisador encontre

desafios na pesquisa sobre cidade média. Segundo Sposito (2006, p.144) “[...]

ampliação das possibilidades de telecomunicações redefine os papéis das cidades

médias e os fluxos que a partir delas e até ela se desenham estabelecidos com cidades

próximas e distantes”. O pesquisador define o objeto de estudo as escalas de tempo e

espaço, segue a problemática da pesquisa, faz os recortes baseados nas hipóteses, porém

no decorrer do estudo essa metodologia é redefinida várias vezes. Na pesquisa que

envolve a cidade de Alfenas, foi-se necessário conhecer sua gênese e evolução para

poder compreender fatos atuais, como cita Sposito (2006) que outro desafio para o

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pesquisador é estabelecer recortes para a análise da problemática em foco que deve ser

pensado em relações á outros tempos. É necessário estabelecer a relação do teórico com

o empírico, e também algumas vezes a experiência pessoal do pesquisador pode

dificultar ou facilitar no momento da elaboração do resultado.

Para Sposito (2000) a formação da cidade teve sua essência desde os tempos

remotos, quando os homens necessitavam de fixar moradias, primeiro nas cavernas,

depois nas aldeias, porém ainda não podiam ser considerados como cidades. Segundo

ela, para ser considerada cidade era necessário a divisão do trabalho, organização

política e passagem do excedente alimentar, ou seja, uma sociedade dividida em classes,

uma instituição social e uma relação de exploração e dominação. Portanto, a

desigualdade presente nas cidades vem desde a antiguidade e predomina até os dias de

hoje.

Após o feudalismo se deu o renascimento das cidades sob o capitalismo, a

reativação do comércio e atividades econômicas. Com o capitalismo industrial a

urbanização tomou ritmos acelerados, a cidade se tornou espaço de produção, pois nela

se encontra a concentração de capital e força de trabalho. Segundo Sposito (2001, p.50)

“não se deve falar de urbanização via industrialização apenas do aumento da população

nas cidades, mas sim o processo da passagem do capitalismo mercantil e dos banqueiros

para o capitalismo industrial ou concorrencial”. O crescimento das cidades devido a

migração campo/cidade causou uma disputa por espaço, as cidades se expandiram e

criaram as periferias. O que é possível observar nas cidades atuais, não apenas nas

grandes metrópoles, mas também nas cidades médias, como Alfenas, as desigualdades

fazem com que a população de maior poder aquisitivo ocupe um território estratégico

enquanto os menos favorecidos ocupam lugares sem qualidade e infraestrutura.

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7 APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS

Através dos materiais coletados e das entrevistas realizadas, foi possível

analisar essa pesquisa e ressaltar a influência das desigualdades urbanas no modo de

vida da população local. Logo, serão descritos na pesquisa dados a respeito da

população, economia e infra-estrutura do bairro, também serão ressaltadas algumas

entrevistas que se fizeram relevantes para o objetivo da mesma. Os demais dados serão

explanados de forma geral, visto que todos contribuem para uma conclusão final a

respeito do tema.

A seguir estarão dispostos os resultados dos questionários semiestruturados

aplicados no bairro Santos Reis, onde primeiramente serão expostos os dados obtidos

através das questões fechadas, tal escolha se foi necessária para que houvesse uma

maior facilidade para tabular os dados em tabelas.

Para tabular os dados obtidos, utilizaram-se os recursos de um software de

análise estatística e um software de criação de gráficos e tabelas.

7.1 Características da população entrevistada no bairro Santos Reis

Para a explanação dos resultados das questões fechadas é interessante ressaltar

que os imóveis do bairro são principalmente residenciais, não havendo atividades de

comércio e serviço, contendo apenas um pequeno bar e mercearia que atende a

necessidade de alguns produtos para os moradores. Assim, dos 35 questionários

aplicados 34,3% (12 pessoas) eram do sexo masculino e 65,7% (23 pessoas) do sexo

feminino. Como a entrevista aconteceu de maneira aleatória e sem cálculos estatísticos

as idades dos entrevistados foram variadas, mas ressaltando que a maioria dos

entrevistados (45,7% ou 16 pessoas) era acima de 60 anos, sendo assim importantes na

contribuição dos relatos de experiências vividas.

Ao analisarmos o gráfico de escolaridade dos entrevistados, podemos chegar a

conclusão que a maioria das pessoas, aproximadamente 68% não completaram o Ensino

Fundamental e 14% nem frequentaram a escola (Gráfico 3) quando questionados sobre

a causa desses efeitos, os de idade mais elevada disseram que na infância o acesso a

escola era muito restrito e que as condições precárias que suas famílias viviam era quase

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impossível estudar, a maioria cursou 2ª ou 3ª séries do Ensino Fundamental I. Ao passo

que, devido às condições econômicas e sociais que esses indivíduos viviam eram

levados a se casar muito cedo e também era necessário que começassem a trabalhar

ainda quando crianças para ajudar os pais a cuidarem da família, que também vale

ressaltar o número de filhos que era numeroso. Os mais jovens possuem uma

escolaridade mais elevada, mas quando questionados o motivo de não continuar os

estudos, notou-se que estes não conseguem ver um curso superior acessível, e que

pararam os estudos para ingressar no mercado de trabalho (doméstica, balconista,

servente de pedreiro, entre outras atividades), dentre os entrevistados 100% das pessoas

frequentaram somente escola pública.

Gráfico 3- Escolaridade dos moradores entrevistados.

Fonte: Trabalho de Campo

Quanto a cor dos entrevistados um percentual de 28,6% (10 pessoas) se

consideram brancos, 51,4% (18 pessoas) pardos e 20% (7 pessoas) pretos (Gráfico 4).

14.3

68.6

5.7 5.7 5.7

.0

10.0

20.0

30.0

40.0

50.0

60.0

70.0

80.0

Não frequentou Ens. Fund.Incompleto

Ens. Fund.Completo

Ens. MédioIncompleto

Ens. MédioCompleto

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Gráfico 4- Cor autodeclarada dos moradores

Fonte: Trabalho de Campo (2013)

Para analisarmos o perfil socioeconômico dos moradores foram feitas duas

perguntas consideradas pertinentes para o entendimento da mesma, assim, buscamos

saber a quantidade de pessoas por residência, (Gráfico 5), qual a renda mensal

aproximada da família, (Gráfico 6), levando-se em consideração a renda de todos os

moradores da residência que trabalhassem formalmente (carteira assinada) ou

informalmente (sem carteira assinada).

Gráfico 5- Quantidade de pessoas por residência.

Fonte: Trabalho de Campo (2013).

28.6

51.4

20.0

.0

10.0

20.0

30.0

40.0

50.0

60.0

Branco Pardo Preto

2.9

28.6

17.1 17.1

8.6

22.9

2.9

.0

5.0

10.0

15.0

20.0

25.0

30.0

2 Pessoas 3 Pessoas 4 Pessoas 5 Pessoas 6 Pessoas Acima de 6Pessoas

MoraSozinho

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Gráfico 6- Renda Familiar aproximada4.

Fonte: Trabalho de Campo (2013)

De acordo com os Gráficos 5 e 6, podemos observar que a maioria das

residências possuem de 2 (dois) à 5 (cinco) moradores e que a renda aproximada da

família gira em torno de 1 a 3 salários mínimos, levando-se em consideração o salário

mínimo atual de R$ 678,00. Assim, individualmente as pessoas entrevistadas vivem

aproximadamente com 1 (um) salário mínimo ou menos, fazendo com que necessitem

cada vez mais de auxilio do poder público, como por exemplo nas reformas de suas

residências como veremos mais adiante.

Como podemos observar no Gráfico 7, a maioria dos entrevistados, 42,9% são

aposentados, 31,4% exercem algum tipo de trabalho e 20% desempregados, de acordo

com relatos, os aposentados representam um fator importante na contribuição da renda

familiar, muitas vezes sendo eles os responsáveis pela maior economia das residências.

Os moradores entrevistados e que exercem atividades remuneradas, quando

questionados sobre o local onde trabalham o resultado foi que quase na sua totalidade

exercem em outros bairros da cidade, entre eles o bairro Jardim Aeroporto e na

construção do condomínio Residencial Floresta.

4 O valor do salário mínimo em 2013 é R$678,00.

11.4

77.1

8.62.9

.0

10.0

20.0

30.0

40.0

50.0

60.0

70.0

80.0

90.0

1 Salário Mínimo 1 a 3 SaláriosMínimos

3 a 5 SaláriosMínimos

NS/NR

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34

Gráfico 7- Ocupação funcional dos moradores entrevistados

Fonte: Trabalho de Campo 2013

Foi possível comprovar que o bairro Santos Reis é desde a sua origem um lugar

onde seus moradores são uma “família”, onde um mesmo terreno é repartido e passado

de pais para filhos de gerações em gerações. Não se percebe especulação imobiliária no

lugar, e isso se deve também pelo falta de interesse da população de se mudar. As casas

são quase todas próprias, sendo uma pequena minoria vivendo em casas alugadas

(Gráfico 8). Algumas das residências não possuem escrituras, mas somente

Aforamentos, onde de acordo com a Secretaria de Habitação 2013, a Prefeitura está

doando os terrenos que os pertenciam para os moradores, um total de 5 casas já foram

legalizadas e 20 estão em andamento e o restante estão em processo jurídico, pois são

lotes de menos de 125 m².

Gráfico 8- Tipo de residência dos moradores

Fonte: Trabalho de Campo 2013

2.9

42.9

2.9

20.0

31.4

.0

5.0

10.0

15.0

20.0

25.0

30.0

35.0

40.0

45.0

Estudante Aposentado Autonômo Desempregado Outros

88.6

11.4

.0

10.0

20.0

30.0

40.0

50.0

60.0

70.0

80.0

90.0

100.0

Própria e Quitada Alugada

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35

De acordo com a pesquisa realizada pôde-se chegar à conclusão de que não

ocorre muita rotatividade de moradores, pois como 80% da população residem há mais

de 20 anos no bairro, eles ali nascem, crescem e até se casam e continuam a morar no

lugar (Gráfico 9 e 11). As construções são antigas (Gráfico 10), algumas inclusive

relatam que foi uma das primeiras casas no bairro. As primeiras construções do Santos

Reis eram feitas de sapé e adobe (tijolo feito pelos próprios moradores), e nos últimos

anos as casas passaram por reformas pela Prefeitura Municipal.

Gráfico 9- Tempo de residência no bairro

Fonte: Trabalho de Campo 2013

Gráfico 10- Período aproximado das construções das residências

Fonte: Trabalho de Campo 2013

5.72.9

11.414.3

25.7

8.6

31.4

.0

5.0

10.0

15.0

20.0

25.0

30.0

35.0

inferior a 5anos

entre 5 e10 anos

entre 10 e20 anos

de 20 a 30anos

de 30 a 40anos

de 40 a 50anos

acima de50 anos

37,1

14.3

22.9

17.1

8.6

.0

5.0

10.0

15.0

20.0

25.0

30.0

35.0

40.0

de 1950 a1960

de 1960 a1970

de 1970 a1980

de 1980 a1990

NS/NR

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36

Gráfico 11- Origem das pessoas entrevistadas

Fonte: Trabalho de Campo 2013

As características socioeconômicas dos moradores de pouca escolaridade

somadas a uma renda familiar baixa, num contexto onde as residências são próprias e

com elevado número de moradores por lotes. Assim sendo, essas características

distingue o bairro dos demais a seu entorno.

7.2 Discussões a respeito do espaço vivido pelos moradores

Através da pesquisa em campo foi verificado que o bairro realmente tem um

diferencial comparado com o restante da cidade. É composto basicamente por algumas

famílias, várias pessoas entrevistadas tinham algum parentesco (filhos, netos, sobrinhos,

genros, noras) e já moram no bairro há muitos anos. Entre elas poucas eram as pessoas

que vinham de outros lugares ou que se mudaram recentemente. Foi possível perceber

as diferentes percepções delas diante do mesmo lugar. Segundo Tuan (1980, p. 06) “são

mais variadas as maneiras como as pessoas percebem e avaliam essa superfície. Duas

pessoas não vêem a mesma realidade. Nem dois grupos sociais fazem exatamente a

mesma avaliação do meio ambiente.”

É interessante a história desse povoado devido as circunstâncias em que ele foi

formado, pelas dificuldades enfrentadas pelos moradores para sobrevivência de suas

famílias, como mostra nos relatos dos moradores entrevistados. Entre os entrevistados

teve maior destaque os relatos dos idosos, que com detalhes descreveram a história do

bairro com suas lembranças do passado até nos dias de hoje.

68,6

8.6 8.6 8.65.7

.0

10.0

20.0

30.0

40.0

50.0

60.0

70.0

80.0

Alfenas Outras Cidadesdo Sul de MG

Outras Regiõesde MG

Zona Rural Outro Estado

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37

Entre eles serão citados os relatos de Sr. J. S. (68 anos) natural de Alfenas; Sr.

F. S. (77 anos) sua origem é do norte de Minas Gerais; Sra. B. P. (idade não relatada)

sua origem é da zona rural de Alfenas e Sra. T. L. (76 anos) que também veio da zona

rural de Alfenas; todos citados residem no bairro a mais de 50 anos. O Sr. J. L (62 anos)

foi nascido e criado no bairro; Sra. G. S. (91 anos) é a mais antiga moradora, reside no

local desde quando tinha 6 meses de vida. Além dos idosos serão citados relatos de

moradores com menos idade, que usaram argumentos críticos em relação ao bairro,

como a Sra. M. G. (52 anos) residente há 25 anos, sua origem é de Paraguaçu; Sra. L. S.

(59 anos) residente há 34 anos, sua origem é da zona rural de Carmo do Rio Claro; Sra.

S. C. (39 anos) e a jovem B. O. (23 anos) ambas nascidas e criadas no bairro.

Um desses moradores sentado em um banquinho em baixo de uma árvore na

porta de sua casa conta:

Meu terreno foi doação do falecido Sebastião do Camilo (fazendeiro),

isso tudo aqui pra cima era dele, quando vim pra cá o bairro tava

começando, era barro, tinha uma cava funda lá onde é o postinho hoje.

As casas eram de sapé, pau a pique barreado com a mão e a Igreja já

tinha. Antigamente sabe o que o povo fazia? Pra desce até o córgo,

carçava sapato e depois carçava garrocha quando chegava lá embaixo

que tirava de tanto barro. O córgo era aberto e tinha uma pinguela pra

atravessa. (J.S. , 68 anos)

As casas eram feitas de pau a pique, com reboque de barro e cobertas de sapé,

não tinham ruas, eram apenas trilhos e quando chovia tinha muito barro, como esse

morador explica que era necessário calçar outra proteção encima dos sapatos pra descer,

atravessar a pinguela e não chegar com os sapatos cheios de barro no centro da cidade.

Na figura 8 é possível observar ao fundo, as casas mais próximas feitas de

adobe (espécie de tijolo de barro feito pelos próprios moradores), segundo relato do Sr.

J. L. (62 anos) as ruas já existiam, porém eram de terras, sem calçamento e quando

chovia formava muito barro, além do mato que crescia insistentemente. Apesar das

dificuldades eram felizes, a família era unida e também não havia televisão, mas o rádio

de pilhas fazia a alegria das crianças e adultos.

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38

Figura 8 - Foto das casas do bairro na década de 1970.

Fonte: Cedida pelo morador José dos Reis de Lima- bairro Santos Reis.

Naquele tempo era comum doação de terrenos por fazendeiros e tinham

também aqueles que eram comprados por preços mais acessíveis. Um problema comum

é a situação irregular que se encontra esses terrenos, poucas casas são escrituradas.

Como mostra na fala de Sr. J. S. “as casas não têm escrituras, antigamente era tudo meu,

agora a minha filha mora do lado. A prefeitura disse que ia arrumar, mas parece que não

deu metragem ta no advogado pra arrumar...”.

Outros moradores complementam como era a situação do bairro naquela época

como Sr. J. L.:

[...] não tinha luz não tinha nada, nem água encanada, alguns tinham

poço, mas quem não tinha buscava água na mina. Aqui era só trilho

buscava água do outro lado na cabeça, lavava roupa do outro lado da

mina. No tempo de chuva ás vezes a pessoa buscava água lá embaixo

e quantas vezes tava subindo com a lata d’água, chegava aqui

escorregava e tinha que voltar pra buscar mais.

Conversando com os moradores do bairro, vários relatos foram colocados a

respeito da década de 1950 a 1970, entre eles o que lembraram com maior ênfase é uma

mina de água na beira do córrego Pedra Branca (Figura 9). Essa mina foi uma fonte de

vida daquela população por muito tempo, pois os moradores dependiam dela para tudo,

visto que não existia naquela época água encanada e o lugar de suas residências não era

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39

propício para a construção de poços no quintal. Segundo Tuan (1983) a experiência de

um lugar pode ser percebido os cinco sentidos; tato, olfato, paladar, audição e visão.

Cada um desses sentidos nos remete a sensações que com o tempo se tornam

lembranças e trazendo consigo sensações de bem estar para com um determinado lugar.

Assim, acontecimentos simples como buscar a água na mina, para aquelas pessoas

ficaram marcadas em suas memórias e apesar de na atualidade encontrar-se desativada

devido a contaminações, as pessoas se recordam com muitos detalhes a respeito do

passado. “Os acontecimentos simples podem com o tempo se transformar em um

sentimento profundo pelo lugar”. (TUAN, 1983, p. 158)

Figura 9- Morador do Santos Reis na “Mina” que abastecia o bairro.

Fonte: Cedida pelo Morador José dos Reis de Lima- bairro Santos Reis.

Diante dos relatos foi possível perceber o envolvimento dos moradores e o que

aquelas falas representavam para eles. Segundo Tuan (1980, p. 114):

A consciência do passado é elemento importante no amor pelo lugar.

A retórica patriótica sempre tem dado ênfase às raízes de um povo.

Para intensificar a lealdade se torna a história visível com

monumentos na paisagem e as batalhas passadas são lembradas, na

crença de que o sangue dos heróis santificou o solo. Os povos

analfabetos podem estar profundamente afeiçoados ao seu lugar de

origem.

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40

Todas as aquelas dificuldades enfrentadas pelos moradores foram marcadas em

seu ser e implicitamente se consideravam vitoriosos, como é possível perceber na fala

dessa moradora:

Gosto de morar aqui porque comprei esse terreninho de tanto anda

pela cidade buscando mala de roupa na cabeça, buscava aques malão

de roupa dos outro pra lavar, buscava na segunda ia entregar na

quarta. Tinha que busca água lá do outro lado na cabeça, lavei muita

roupa e nunca tive uma queixa de que deixei uma gola de camisa

encardida. (G. S. 91 anos)

Os moradores mais antigos entrevistados são analfabetos ou não terminaram o

ensino fundamental, vários foram os motivos citados, entre eles podemos ressaltar o

relato da Sra. B. P. que é analfabeta: “não frequentei a escola porque morava na roça e a

escola era muito longe [...]”. Assim, acontecia com muitas pessoas, faltavam

oportunidades, pois moravam na zona rural e as escolas eram distantes de suas casas,

consequentemente, abandonaram os estudos e iam trabalhar.

As mulheres casavam cedo e tinham muitos filhos, algumas vezes o sofrimento

só aumentava, porque nem sempre eram felizes no casamento. Como cita essa

moradora:

Quando eu casei tinha 12 anos de idade, naquele tempo fazia

casamento de mocinha de 12, 13 anos. Meu marido bebia muito, ia

trabaia chegava lá ficava bebendo e eu que pegava no serviço pra

mode ele ganha o dia, fui pelejando... uma vez ele pegou uma chácara

pra tomar conta mais quem tocou foi eu sozinha [...]. (G. S., 91 anos)

Segundo os relatos dos moradores a situação econômica melhorou, ainda assim

gradualmente, apenas com o surgimento do bairro Jardim Aeroporto. Uma moradora

que mudou para o Santos Reis no final da década de 1970, conta como era ainda a

situação do bairro:

Quando vim morar aqui não tinha nem luz, usava vela, lamparina,

aqui era tudo de chão, as casas eram tudo muito ruim, pequenininha,

feita de barro, feita de abobro, cobertas de sapé. A igreja era mais

pequeninha de madeira eu ajudava limpar lá, dia de domingo a gente

cantava lá na missa também. Era só buraco e trio, passava carro de

boi, ai na frente era um bananal, nem se tivesse carro não subia aqui

não. A última filha que eu ganhei foi cesárea, ai quando eu sai do

hospital eles me trouxeram de carro até lá em baixo e foi preciso dois

homens me ajudar se não eu caia no barro (risos). (L. S., 59 anos)

Em relação às mudanças ocorridas no bairro, a maioria dos moradores

entrevistados ressalta que hoje “tem tudo pra se viver”: asfalto, energia elétrica, água e

esgoto encanados e transporte coletivo. São agradecidos pelo funcionamento do posto

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41

de saúde do lugar e pela prefeitura que reformou suas casas. Como foi observado nas

falas dos moradores Sr. F. S. “hoje melhorou demais da conta, de primeiro pra consulta

tinha que ir lá pra cima, hoje tem pertinho” da Sra. L. S. “aqui tem circular, igreja,

postinho de saúde, tem creche, tem o supermercado Alvorada que é pertinho, tem

padaria pertinho” e da Sra. T. L. “Fui criada aqui, foi meu pai que comprou o terreno,

casei e continuo aqui. Criei 8 filhos nessa casa que antes tinha 4 cômodos, dormia 4 em

uma beliche só. Agora minha casa foi reformada com ajuda da prefeitura.”

Para a população daquele lugar as mudanças que ocorreram com o tempo

foram positivas, visto que devido a residirem no bairro há muitos anos as lembranças do

passado estão ligadas á ruas de terra, barro, falta de água encanada e esgoto, entre outras

dificuldades daquela época vivida. Através da Figura 10, podemos observar um pouco

das características físicas do bairro Santos Reis na década de 1960. Ao compararmos a

foto antiga com a imagem do mesmo lugar nos dias atuais (Figura 11), podemos

analisar as mudanças ocorridas descritas pela população. A visão dos moradores é

distinta de quem está de fora, como já dizia Tuan (1983, p. 21):

[...] Quando residimos por muito tempo em determinado lugar,

podemos conhecê-lo intimamente, porém a sua imagem pode não ser

nítida, a menos que possamos também vê-lo de fora e pensemos em

nossa experiência. A outro lugar pode faltar o peso da realidade

porque o conhecemos apenas de fora – através dos olhos de turistas e

da leitura de um guia turístico. [...]

Figura 10- Morador na rua de terra do bairro (1960) Figura 11- Rua do bairro (2013)

Fonte: Cedida pelo Morador José R. Lima - Santos Reis Fonte: Trabalho de Campo 2013

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Assim, para quem está de fora das vivências cotidianas do bairro conseguem

perceber a necessidade de mais algumas melhorias no lugar, mas os moradores o vêem

com um olhar normalizador.

7.3 Discussões a respeito de exclusão e mudanças urbanas na percepção dos

moradores

A cidade de Alfenas com o passar dos anos adquiriu seu crescimento e

desenvolvimento. Os moradores do bairro Santos Reis presenciaram essas mudanças,

por ser um dos mais antigos da cidade. No entanto, essa dinâmica refletiu e continua

refletindo no lugar onde eles vivem. Diante das transformações ocorridas cada morador

identifica e interpreta essas mudanças a sua maneira. Segundo Tuan (1980, p. 07): “dos

cinco sentidos tradicionais, o homem depende mais conscientemente da visão do que

dos demais sentidos para progredir no mundo” como exemplo a moradora Sra. G. S. (91

anos) que mesmo com menor grau de instrução (analfabeta) tem a percepção de analisar

as mudanças na paisagem. Em sua casa mostrando a vista de sua porta da cozinha fala:

Tudo ali era cerrado, tudo mato, ali busquei muita lenha na cabeça,

panhei muito café[...] Chegava lá na bica da mina tava cheio de gente

lavando roupa, aquele riberão com a água limpinha... Depois o povo

veio mudando pra cá e eu já morava aqui, hoje é cidade encheu de

casa.”

Ao contrário do restante da cidade o bairro em questão não evoluiu, ficou

estagnado e as melhorias vieram em passos muito lentos, e ainda, o crescimento da

cidade promoveu a desigualdade social e a segregação. Com a formação do bairro

Jardim Aeroporto fez se necessário algumas melhorias como o asfalto, pois passou a ser

caminho para que os novos moradores pudessem transitar. Mesmo que indiretamente

alguns moradores entrevistados tiveram essa percepção, pois alguns deles relacionaram

as mudanças com o surgimento do bairro Jardim Aeroporto. Como a Sra. T. L.: “Antes

não tinha nem rua, só barreira, quando eu casei minha casa era de sapé, não tinha esgoto

era fossa, depois veio o Jardim Aeroporto, agora tem asfalto, água encanada tudo

direitinho [...]”.

Os relatos mais acentuados de exclusão por parte dos moradores de outros locais

da cidade em relação ao Santos Reis, foram de pessoas ativas na sociedade e no

mercado de trabalho. Há muito tempo o bairro já era considerado violento e as pessoas

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tinham medo de ir até o lugar segundo o relato da moradora B. O. (23 anos) quando se

refere aos moradores do centro da cidade: “antigamente o pessoal de cima tinha medo

de descer aqui, medo de violência, brigas [...] não tinha uma visão muito boa daqui [...]

mas pra mim esse é o bairro mais sossegado de Alfenas.” A mesma moradora se sente

discriminada quando procura por emprego, relata que encontra dificuldade, que na

maioria das vezes é a mesmo situação: “eles perguntam: onde cê mora? Daí eu falo

Santos Reis, então eles falam: ah não precisamos mais.” Entre os aposentados não foi

relatado esse tipo de insatisfação, somente o Sr. J. L. (62 anos) relata um episódio na

infância: “sofria quando era rapaizinho novo no futebol e ia jogar nos outros bairros, os

colegas gritavam: sai daí aflitos, quenta sol (apelidos que davam aos moradores do

bairro)[...] mas daí eu xingava também e ficava tudo bem. Pra arrumar emprego nunca

atrapalhou não.” (Lembrando que o mesmo sempre ocupou subempregos na cidade ou

na zona rural). Uma moradora ressentida também relata outro fato em que ela se sentiu

excluída:

Uma vez que eu fui comprar um fogão a gás em uma loja lá em cima

(centro), porque a primeira casa que tinha aqui no jardim Aeroporto eu

trabalhei de doméstica. Então a moça falou como ia ser a forma de

pagamento, eu falei eu ia dar uma entrada e parcelar o restante. Ela

falou qual bairro você mora? [...] Então ela foi lá pra dentro e voltou

dizendo pra eu aguardar que ela ia fazer uma pesquisa que depois era

pra eu passar lá pra ver se a compra ia ser aprovada e eu fiquei muito

chateada. Depois ela pediu pra me dar o recado que vendia mais eu

não comprei lá, pois comprei em outro lugar! A gente é pobre mais é

honesto! (L. S. 59 anos)

Ainda mais frequentes e enérgicos foram os relatos de descaso e exclusão

quando se referiam ao bairro vizinho Jardim Aeroporto. De início em sua formação

foram necessários os serviços prestados dos moradores do Santos Reis, como pedreiros,

serventes, pintores e ainda hoje de empregada doméstica, babá entre outros. Segundo a

entrevistada Sra. M. G. (52 anos): “quando formou o bairro Jardim Aeroporto saiu um

assunto de que eles queriam colocar muro dividindo os bairros. Era pra dividir mesmo!

Só que por onde as pessoas iam passar pra trabalhar?” A mesma moradora mostrando os

terrenos vazios do Jardim Aeroporto que fazem divisa com o Santos Reis comenta:

“esses terrenos não foram construídos e o dono tem dificuldade pra vender, porque

ninguém quer morar perto do nosso bairro” (figura 12 e 13). Segundo Martins (2012)

não se trata de um novo dualismo entre excluídos e incluídos. A sociedade que exclui é

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mesma sociedade que inclui e integra, que cria formas também desumanas de

participação, na medida em que delas faz condições de privilégios não de direitos.

Figura 12 e 13- Terrenos vazios do Jardim Aeroporto em divisa com Santos Reis.

Fonte: Denis Rodrigues

Entre os relatos de uma moradora ela citou que houve uma época que nem como

empregada doméstica eles queriam empregar e quando ocorre qualquer roubo eles

culpam os moradores dos Santos Reis, segundo B. O.: “quando tem algum roubo lá eles

pensam que é gente daqui do bairro[...]” , e M. G. defende os moradores de seu bairro:

“aqui tem gente que bebe mas ladrão aqui não tem [...].” Os dois bairros não tem

nenhum tipo de relação social como fala Sra. M. G.:

O Jardim Aeroporto é separado, as crianças não se misturam. As

crianças daqui são abeiudas, a gente fala: não vai no Jardim

Aeroporto! Mas criança é curiosa, lá tem piscina, coisas que eles não

conhecem daí eles vão mas logo voltam correndo por causa do

guardinha. Se elas ficam circulando perto das casas, eles chamam a

polícia [...].

Nas figuras 14 e 15 nota-se a desigualdade existente entre o bairro Santos Reis

e o Jardim Aeroporto, é facilmente observado as diferenças nas construções das casas.

Como no relato dos moradores, apesar da proximidade entre eles, as pessoas não se

relacionam socialmente. Os relatos de relacionamento entre essas pessoas giravam em

torno do mercado de trabalho, onde alguns dos moradores prestam serviços de

empregada doméstica, pedreiros e serventes para o bairro Jardim Aeroporto, também as

crianças são proibidas de se relacionar e brincar no Jardim Aeroporto, sendo muitas

vezes retiradas do lugar pelos vigias de guarda municipal.

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45

Figura 14 - Santos Reis e Jardim Aeroporto Figura 15 – Parte dos Santos Reis, Jardim

Fonte: Denis Rodrigues Aeroporto e Residencial Floresta

Fonte: Denis Rodrigues

Segundo Tuan (1970, p. 160) “a cidade natal é um lugar íntimo. Pode ser

simples, carecer de elegância arquitetônica e de encanto histórico, no entanto nos

ofendemos se um estranho a critica”. Assim, para aquelas pessoas o bairro é um lugar

íntimo onde ocorrem as relações de amizades e sentimentos e se alguém o critica

instintivamente as defendem.

Quanto à percepção deles em relação ao condomínio Residencial Floresta (figura

16), as respostas foram semelhantes, alguns pensam que vai melhorar assim como

houve uma melhora quando surgiu o Jardim Aeroporto, porém uma melhora não

diretamente voltada ao seu bairro, mas que de certa forma se beneficiarão. Como B. O.

responde: “acho que vai ter mais segurança, policiamento, emprego, porque eles são

ricos né? Daí serve pra gente também.” Outros não percebem ainda nenhuma mudança

ou relação com o novo condomínio, devido se encontrar em fase de construção.

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Figura 16 - Santos Reis entre Residencial Floresta, Jardim Aeroporto e Centro.

Fonte: www.sequoia.imb.br

Poucos foram os entrevistados que questionaram os problemas do bairro e suas

necessidades, entre eles a Sra. M.G. que com seu instinto de liderança, já algum tempo

trabalha para organizar uma associação de bairro para lutar pelas suas demandas.

Segundo ela, o que mais lhe incomoda: “é o abandono o descaso com a gente. É muita

sujeira, terrenos sujos, muitos bichos, tem cobra, escorpião. A quadra é mal iluminada,

o único lugar para as pessoas se divertir, às vezes fica ocupada por usuários de drogas e

a prefeitura não investe em melhorias”. Outras moradoras complementam como a B. O.:

“falta tudo, não tem padaria, açougue, não tem comércio tem que ir no centro comprar

essas coisas. Hoje tem circular mais custa dinheiro e a gente não tem dinheiro pra andar

sempre” e a S. C. “tem a creche mais não tem escola pras crianças maiores”.

Algumas dessas demandas já tinham sido questionadas no plano diretor

participativo, porém até o momento foram poucas as soluções. Uma das melhorias

citadas foi da Sra. T. L.: “antigamente o córgo tinha um cheiro insuportável, mas agora

eles trataram. Tinha também umas casas de família antiga que teve que sair, falaram que

tava em área de risco, a minha acho que não tem risco não mais mesmo se tivesse eu

não sairia.” Assim é possível perceber o sentimento pelo lugar e sua casa, como dizia

Tuan (1980, 114) “assim como algumas pessoas são relutantes em abandonar o seu

velho casaco por um novo, algumas pessoas- especialmente idosas- relutam em

abandonar seu velho bairro por outro com casas novas”.

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47

Durante as entrevistas os moradores demonstraram boa vontade e descreveram

seus sentimentos pelo lugar e sua cultura. As festas de Folia de Reis e congadas estavam

presentes em vários relatos, se orgulham de terem sido reconhecidos na região pela sua

cultura e sentem tristeza em saber que essa tradição está se perdendo. Segundo

Francisco (2010, p. 45) “Há um sentimento de perda e saudosismo, principalmente por

parte dos moradores mais antigos, a respeito da extinção da festa que vivenciaram e era

tradicional desde a inauguração da capela”. Como mostra o relato da Sra. S. C.:

Tenho muitas lembranças de quando meu pai era vivo, a Igreja não era

assim [...] era bem pequeninha tinha uma figueira na frente, a gente

era criança ficava lá embaixo brincando [...]depois começou as festas

dos Santos Reis, tinha uma festa muito grande em fim de ano vinha

muita gente de tudo quanto é lugar, ainda tem, mais não é como antes

[...].

Os moradores que moram há muitos anos criaram suas raízes naquele lugar, a

maior parte foi herança dos pais e cada espaço do bairro é marcado por

lembranças passadas como cita a Sra. T. L.:

Tenho muitas lembranças daqui da minha infância, do meu

casamento, criei meus filhos, muitas lembranças boas, mas também

ruim. Antigamente tinha mais liberdade, eu era feliz porque tinha meu

pai minha mãe, e hoje eu sou feliz também porque tenho meus filhos

meus netos e bisnetos.

No entanto, esses moradores ao longo do tempo vão sendo substituídos pelas

novas gerações e passando por transformações como diz a Sra. T. L. “aqui no bairro

morava algumas famílias, mas os mais velhos vão morrendo e as pessoas vão

renovando, porque é criança nascendo, criança crescendo, vai mudando...”.

O futuro do bairro é incerto, mas o importante é que ainda mantém suas

características diferenciadas, como diz o Sr. F. S. “quando chega a tarde o povo senta

aqui na rua e fica conversando, tem lugar que não pode né? A gente fica com a casa

aberta até meia-noite e nunca ninguém roubou nada” Sra. L. S. “é um lugar sossegado,

todo mundo é muito humilde não tem perigo de nada” e a Sra. M. G. completa “todo

mundo conhece todo mundo aqui. É uma comunidade pobre mais unida!”. Nas figuras

17 e 18 observamos o cotidiano dos moradores, onde aos fins de tarde se reúnem em

momentos de lazer, comprovando os relatos anteriormente citados.

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48

Figura 17 e 18: Fim de tarde em uma rua no Santos Reis.

Fonte: Trabalho de campo

Os moradores no seu dia a dia foram definindo a identidade daquele lugar,

pessoas humildes, trabalhadoras e unidas pelos mesmos objetivos: criar seus filhos e

cuidar de suas famílias. Muitas delas talvez incapazes de lutar pelos seus direitos, de ir e

vir ou de uma moradia digna, emprego, de saneamento básico e segurança, sendo

concedidos pelos órgãos públicos apenas quando esses interesses passaram a ser

também de outra classe social. Mesmo em condições de segregados, nem todos

percebem o fato da exclusão, mas cada um mantém a esperança no que acredita.

Segundo Martins (2012) a exclusão moderna é um problema social porque abrange a

todos: a uns porque os priva do básico para viver com dignidade, como cidadãos; a

outros porque lhes impõe o terror da incerteza quanto ao próprio destino e ao destino

dos filhos e dos próximos. A verdadeira exclusão está na desumanização da própria

sociedade contemporânea.

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8 CONCLUSÃO

Com o estudo realizado pôde-se analisar a importância da cidade de Alfenas

para as demais cidades de sua microrregião e dar enfoque na percepção dos moradores

do bairro Santos Reis com relação à segregação socioespacial. As desigualdades sociais

podem ser observadas no cotidiano das pessoas, e com a cidade média ela não se faz

diferente.

A pesquisa abrangeu a percepção de 35 pessoas, e a partir da opinião explanada

por elas um breve retrospecto histórico a respeito da origem e do modo de vida da

população pôde ser elaborado, ao passo que, por meio das lembranças relatadas pelos

moradores, percebe-se que esses se identificam com o lugar, apropriando com riquezas

de detalhes do modo de vida adquirido no decorrer do tempo.

O bairro Santos Reis é segregado se comparado com os demais bairros

vizinhos, ele é homogêneo em seu interior e ao seu exterior é heterogêneo e

diferenciado, em relação aos aspectos físicos das casas, renda salarial dos moradores,

raça, escolaridade entre outros.

Através das entrevistas e da pesquisa realizada foi comprovado que apesar de

ser um dos mais antigos, não acompanhou o desenvolvimento do restante da cidade. A

infraestrutura só chegou em meados da década de 1970, devido á construção do bairro

Jardim Aeroporto, antes disso levavam uma vida sofrida enfrentando muitas

dificuldades para satisfazer necessidades básicas pra se viver.

As melhorias foram chegando lentamente, como por exemplo: água encanada,

luz, esgoto, asfalto e mais recentemente as reformas das casas e o tratamento do

córrego. Porém, ainda falta para a população comércio, escola e condições para que

possam perceber que o acesso à universidade é possível, mudando a sua realidade e

ampliando o seu censo crítico.

Em meio as grandes dificuldades encontradas pelos moradores, eles sempre

demonstraram gostar do lugar. Existem fatores que contribuem com esse sentimento de

pertencimento com o lugar, como exemplo, o fato de o bairro ser constituído em sua

grande maioria por familiares, com suas festividades culturais, proporcionam uma

particularidade quase extinta no mundo moderno.

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Quando questionados a respeito da construção do bairro Jardim Aeroporto

(Classe Média Alta) na década de 1970 e o Condomínio Residencial Floresta (Classe

Alta) ainda em construção no ano de 2013, a maioria dos entrevistados não sabia relatar

quais seriam as mudanças para o bairro Santos Reis, visto que, os que expressavam

alguma opinião acham que possivelmente poderá ocorrer melhoria no lugar, como

ocorreu com o asfalto que na percepção deles só chegou depois da construção do bairro

Jardim Aeroporto.

Segundo Martins (2012) a percepção em relação à segregação socioespacial

vivenciada pelos moradores é diferente da nossa visão de pesquisadores, ao passo que,

para aqueles que estão inseridos no meio é difícil notar as desigualdades existentes entre

eles, como comprovamos através das entrevistas e dos relatos dos moradores. Assim,

conclui-se que para os entrevistados o modo de vida da população está condizente com

as suas realidades, e não percebem que as mudanças ao seu redor podem afetar

diretamente no seu cotidiano, visto que as políticas públicas poderiam auxiliá-los na

valorização da população.

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REFERÊNCIAS

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Cidades Médias: Espaços em transição. São Paulo: Expressão Popular, 2007. (p. 23-33).

DANTAS, Mayara Fontes. Impactos da Modernização da Agricultura na Estrutura

Agrária Sulmineira na Microrregião de Alfenas- MG. Projeto (Trabalho de

Conclusão de Curso no Instituto de Ciências da Natureza) – Universidade Federal de

Alfenas, Alfenas. 2011.

FRANCISCO, Keylla Patrícia. Do Rural ao Urbano, uma Análise Sócio-espacial do

Bairro Santos Reis no Município de Alfenas- MG. Projeto (Trabalho de Conclusão de

Curso no Instituto de Ciências da Natureza) – Universidade Federal de Alfenas,

Alfenas, 2010.

MARQUES, E. Elementos conceituais da segregação, da pobreza urbana e da ação

do Estado. In: MARQUES, e TORRES, H. (org.). SÃO PAULO: Segregação, pobreza

e desigualdades sociais. SP: Ed: Senac, 2005 ( p. 19-56).

MARTINS, J. S. A sociedade vista do abismo: Novos estudos sobre exclusão,

pobreza e classes sociais. In: MARTINS, J. S. 4 ed. Petrópolis, RJ: vozes, 2012.

PREFEITURA MUNICIPAL DE ALFENAS. Plano Diretor Participativo de Alfenas

(MG). Leitura Comunitária. Alfenas: Secretaria de Planejamento e Coordenação, 2006.

______Plano Diretor Participativo de Alfenas (MG). Leitura Técnica. Alfenas:

Secretaria de Planejamento e Coordenação, 2006 a.

______Plano Diretor Participativo de Alfenas (MG). Proposta de Revisão

Participativa do Plano Diretor de Alfenas. Alfenas: Secretaria de Planejamento e

Coordenação, 2006 b.

PREFEITURA MUNICIPAL DE ALFENAS- Secretária de Habitação e Participação

Popular, 2013.

SPOSITO, Eliseu Savério. Redes e Cidades. São Paulo: Ed.Unesp, 2008, p.12-37.

SPOSITO, Maria Encarnação Beltrão. Capitalismo e Urbanização. São Paulo:

Contexto, 2001 (Repensando a Geografia).

SPOSITO, Maria Encarnação Beltrão. Cidades: O desafio metodológico da

abordagem interescalar no estudo de cidades médias no mundo contemporâneo.

V.3, n.5, 2006, p.143-157.

TUAN, Yi-Fu. Espaço e Lugar: A perspectiva da experiência. São Paulo: Difel,

1983.

TUAN, Yi-Fu. Topofilia: um estudo da percepção, atitudes e valores do meio

ambiente. São Paulo: Difel, 1980.

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APÊNDICE

Questionário com os moradores do bairro Santos Reis:

NOME:_____________________________________________________________

1. SEXO:

( ) Masculino ( ) Feminino

2. COR:

( ) Branco ( ) Pardo ( ) Preto ( ) Amarelo

3. IDADE:

( ) até 17 anos ( ) 18 a 23 anos ( ) 24 a 29 anos ( ) 30 a 39 anos ( ) 40 a 49

anos( )50 a 59 anos ( ) acima de 60 anos ( ) NS / NR

4. ESCOLARIDADE:

( ) Não frequentou a escola ( ) Ensino fundamental incompleto ( ) Ensino

fundamental completo ( ) Ensino médio incompleto ( ) Ensino médio completo ( )

Ensino superior incompleto ( ) Ensino superior completo ( ) Pós-Graduação

5. QUAL É A RENDA TOTAL (APROXIMADA) DE SUA FAMÍLIA?

( ) Até R$ 678,00

( ) de R$ 678,00 a R$2034,00 (de 1 a 3 salários mínimos)

( ) de R$ 2034,00 a R$ 3390,00 (de 3 a 5 salários mínimos)

( ) de R$ 3390,00 a R$6780,00 (de 5 a 10 salários mínimos)

( ) de R$ 6780,00 a R$ 13560,00 (de 10 a 20 salários mínimos)

( ) mais de R$3560,00 (acima de 20 salários mínimos)

( ) NS / NR

6. VOCÊS (MORADORES) RECEBEM ALGUM TIPO DE INCENTIVO OU

BOLSA POR PARTE DO PODER PÚBLICO? SE SIM, ESPECIFIQUE QUAL?

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

7. OCUPAÇÃO:

( ) Estudante ( ) Professor ( ) Servidor Público ( ) Aposentado(a) ( )

Autônomo ( ) Empresário ( ) Desempregado( ) Outros:___________

8. ONDE É SEU LOCAL DE TRABALHO?

( ) Zona Rural ( ) Centro de Alfenas ( ) Outros bairros ___________ ( ) Outra

Cidade_________ ( ) Não se aplica

9. SUA ESCOLARIDADE BÁSICA FOI:

( ) Escola Pública ( ) Escola Privada ( ) Não se aplica

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10. SUA GRADUAÇÃO É/ FOI:

( ) Escola Pública ( ) Escola Privada ( ) Não se aplica

11. QUAL É SEU TIPO DE RESIDÊNCIA?

( ) Apartamento ( ) Casa ( ) Kitnet ( ) outra _______

12. SUA RESIDÊNCIA É:

( ) Própria e quitada ( ) Financiada ( ) Alugada ( ) Emprestada ( ) Outro_____

13. ANO DA CONSTRUÇÃO DA CASA:

( ) De 1950 á 1960 ( ) de 1960 á 1970 ( ) 1970 á 1980 ( ) 1980 á 1990 ( ) 1990 á 2000

( ) de 2000 á 2010 ( ) de 2010 á 2013

14. VOCÊ DIVIDE A SUA RESIDÊNCIA COM MAIS PESSOAS? QUANTAS?

( ) 1 pessoa ( ) 2pessoa ( ) 3 pessoas ( ) 4 pessoas ( ) 5 pessoas ( ) Acima de 5

pessoas ( ) Mora sozinho

15. HÁ QUANTOS ANOS VOCÊ RESIDE NO BAIRRO?

( ) Inferior a 5 anos ( ) Entre 5 e 10 anos ( ) Entre 10 e 15 anos ( ) 15 e 20 anos ( ) 20

e 25 anos ( ) 25 e 30 anos ( ) 30 e 35 anos ( ) 35 e 40 anos ( ) 40 e 45 anos ( ) 45 e

50 anos ( ) acima de 50 anos

16. SUA ORIGEM É DE QUAL CIDADE/ ESTADO/ REGIÃO?

( ) De Alfenas ( ) outras cidades do Sul de MG ( ) outras regiões do estado de MG

( ) zona rural ( ) Outro estado___________

17. POR QUE DECIDIU MORAR NO BAIRRO SANTOS REIS?

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

18. VOCÊ GOSTA DO BAIRRO SANTOS REIS?

( ) Sim

Pq?___________________________________________________________________

_____________________________________________________________________

( ) Não

Pq?___________________________________________________________________

______________________________________________________________________

19. EM SUA OPINIÃO QUAIS SÃO AS VANTAGENS E DESVANTAGENS DE

SE MORAR NO BAIRRO SANTOS REIS?

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

20. TEM VONTADE DE MORAR EM OUTRO BAIRRO? POR QUÊ?

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

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21. PARA VOCÊ É POSSÍVEL PERCEBER ATUALMENTE, O FENÔMENO

DA VALORIZAÇÃO NO BAIRRO SANTOS REIS?

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

22. OCORREU ALGUMA MUDANÇA COM A CONSTRUÇÃO DO

CONDOMÍNIO RESIDENCIAL FLORESTA E DO BAIRRO JARDIM

AEROPORTO PERTO DA RESIDÊNCIA DE VOCÊS?

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

23. PARA VOCÊ O BAIRRO SANTOS REIS POSSUI A INFRA-ESTRUTURA

ADEQUIADA PARA SE VIVER? (ÁGUA, LUZ, ESGOTO, ASFALTO,

TRANSPORTE, COMÉRCIO...) SEMPRE FOI ASSIM?

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

24. VOCÊ JÁ SOFREU ALGUM TIPO DE EXCLUSÃO POR SER DO

BAIRRO?

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

OBRIGADO PELA COLABORAÇÃO!